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Direito Civil
Cristiano Sobral
O direito das obrigações é o ramo do Direito Cuidado: a obrigação propter rem não se
Civil que se ocupa em estudar a relação consubstancia apenas no pagamento de valor
jurídica que existe entre devedor e credor, pecuniário. Deve ser uma obrigação
onde este pode exigir daquele o cumprimento devedor/credor, mas esta pode ser
de uma prestação, consubstanciada em um dar (dinheiro ou
que pode consistir em um dar, um fazer ou um qualquer bem), um fazer ou um não fazer.
não fazer. Assim sendo, o respeito às limitações dos
direitos de vizinhança são obrigações propter
A obrigação tem, portanto, três elementos: rem, pois consistem em obrigações de não
devedor, credor e vínculo jurídico. O vínculo fazer do proprietário para respeito a direito de
jurídico é a ligação que existe entre o devedor vizinhos.
e o credor, que é composta por dois
elementos: débito e responsabilidade. 2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES
Significa que há duas questões ligando
devedor e credor: a existência de uma dívida As modalidades de obrigações decorrem de
(débito) e a possibilidade de cobrança judicial dois tipos de classificações: básica e especial.
em caso de inadimplemento Em uma classificação básica, a depender da
(responsabilidade). natureza da prestação, a obrigação pode ser
Tema importante diz respeito à obrigação de três tipos: obrigação de dar, obrigação de
natural. É a obrigação em que o vínculo fazer e obrigação de não fazer.
jurídico é formado apenas pelo débito, não Em uma classificação especial, o CC trata de
existindo responsabilidade. Existe uma dívida, mais três tipos de modalidades: obrigação
mas, se não for cumprida a prestação, o credor alternativa, obrigação divisível ou indivisível e
não tem o poder de exigi-la judicialmente. obrigação solidária.
No entanto, se adimplida espontaneamente ou 2.1. Obrigação de dar
até mesmo por engano, não se pode exigir
devolução, pois o débito existe (art. 882 do A obrigação de dar é aquela em que a
CC). É o que chamamos de soluti retentio prestação do devedor consiste na entrega de
(retenção de pagamento). Exemplo de um bem. A obrigação de dar pode ser de dois
obrigação natural: dívida de jogo ou aposta. tipos: dar coisa certa ou dar coisa incerta. Na
A obrigação propter rem (em razão da coisa), obrigação de dar coisa certa, o devedor tem a
como o nome sinaliza, é direito obrigacional prestação de entregar um bem específico.
(confrontando devedor e credor) e não direito Por exemplo, quando alguém vende o cavalo
real. Todavia, tem uma especificidade: é a campeão de sua fazenda. Já a obrigação de
obrigação que surge em razão da aquisição de dar coisa incerta é aquela em que o devedor
um direito real. Ao se adquirir um direito real, assume a obrigação de dar um gênero em
seu titular adquire algumas obrigações de certa quantidade - por exemplo, quando
devedor perante credor. alguém vende três cavalos de sua fazenda.
Exemplos: obrigação de pagar condomínio 2.1.1. Obrigação de dar coisa certa
quando se adquire o direito de propriedade de
um apartamento ou o dever que o proprietário É a obrigação de dar um bem específico, não
tem de indenizar o possuidor que realiza servindo outro de mesma espécie, como
benfeitorias em seu imóvel, nos termos quando uma pessoa vende o cavalo campeão
destacados em direitos reais neste livro. de sua fazenda. Na verdade, há dois tipos de
obrigação de dar coisa certa: dar e restituir.
Como a obrigação propter rem surge por força A razão é que quando tenho a obrigação de
da titularidade de um direito real, acompanha devolver um bem que recebi, não posso impor
o bem se houver transferência dele, ou seja, o a entrega de outro de mesma espécie.
novo titular do direito real a assume. Exemplo: Portanto, tenho obrigação de dar coisa certa
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tanto quando tenho que entregar um cavalo antes da entrega, quem dela se beneficiará
que vendi quanto quando tenho que devolver será o dono.
um cavalo que me foi emprestado.
Vamos analisar, com base no macete
O tema vem previsto entre os arts. 233 e 242 apresentado, as regras dos arts. 234 a 242 do
do CC, onde um único tema é tratado: perda CC. Qual a consequência da perda,
ou deterioração do bem depois que assumo a deterioração ou melhora do bem antes da
obrigação de dar, mas antes da efetiva tradição, no caso da prestação de dar e no
entrega. Como é obrigação de dar coisa certa, caso da prestação de restituir?
não sendo possível a entrega de outro bem a) Prestação de dar, perda do bem, com culpa
equivalente, qual é a consequência? Quem do devedor (art. 234): Devedor de um carro por
suporta o prejuízo? tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega
É isso que a prova exigirá de você saber e as o destrói porque provoca um acidente com
possibilidades são muitas, pois pode ser com perda total do carro por dirigir embriagado.
culpa ou sem culpa do devedor, pode ser um Será devedor no equivalente (devolve o valor
dar ou um restituir, pode ser perda ou recebido ou não o recebe) acrescido de perdas
deterioração ou até mesmo uma melhora no e danos.
bem.
b) Prestação de dar, perda do bem, sem culpa
Questão recorrente em certames, apresento do devedor (art. 234): Devedor de um carro por
um macete para que você, caro leitor, conheça tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega
todos os casos previstos nos citados artigos. o carro cai em uma ribanceira por ser levado
Basta conhecer uma regra básica, à qual pela correnteza da inundação provocada por
somamos duas regras acessórias lógicas: violenta tempestade. Consequência: resolve-
se a obrigação, o que significa desfazer o
REGRA BÁSICA: Se o devedor teve culpa na negócio. Veja que o dono (devedor do carro)
perda do bem, a regra sempre será a mesma: sofreu a perda, pois ficou sem o carro e sem o
deverá pagar ao credor o equivalente dinheiro.
acrescido de perdas e danos. Se o devedor
não teve culpa na perda do bem, a regra será c) Prestação de dar, deterioração do bem, com
sempre a mesma: res perit domino (a coisa culpa do devedor (art. 236): Devedor de um
perece para o dono), será dele o prejuízo. E carro por tê-lo vendido ao credor, mas antes da
quem é o dono? Depende se a obrigação é de entrega o amassa ao bater por dirigir
dar ou de restituir. embriagado. O credor poderá escolher entre
Na obrigação de dar, antes da entrega o dono receber o equivalente mais perdas e danos ou
é o devedor, pois a aquisição da propriedade aceitar o bem no estado em que se acha
só se dá com a entrega do bem. Na obrigação acrescido de perdas e danos, incluindo o
de restituir, o dono é o credor, pois ele sempre abatimento do valor em razão da deterioração.
foi o dono, uma vez só ter emprestado para o d) Prestação de dar, deterioração do bem, sem
devedor. culpa do devedor (art. 235): Devedor de um
carro por tê-lo vendido ao credor, mas antes da
REGRA ACESSÓRIA 1: Se ao invés de perda, entrega o carro é amassado por bater em um
houver apenas deterioração do bem, a poste ao ser levado pela correnteza da
solução é a mesma, mas com uma diferença: inundação provocada por violenta tempestade.
ele poderá optar entre a solução da perda Consequência: credor poderá optar em
supramencionada ou receber o bem resolver a obrigação (desfazer o negócio) ou
deteriorado, abatendo-se o valor da aceitar o carro amassado, abatendo do seu
deterioração. preço o valor perdido pela deterioração. Note
que é o dono (devedor do carro) que sofre a
REGRA ACESSÓRIA 2: Se a coisa perece perda, pois ficou sem dinheiro e com o carro
para o dono, a coisa também melhora para o amassado ou sem o carro pagando pela
dono, ou seja, se, ao invés da perda ou deterioração.
deterioração, houver uma melhora no bem
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devedor. Todavia, se por culpa dele, o credor coobrigados (art. 259 do CC). Exemplo: se
poderá exigir a prestação subsistente ou o duas pessoas devem um cavalo, qualquer um
valor em dinheiro da prestação impossibilitada, deles pode ser cobrado, mas quem pagar
acrescido de perdas e danos (art. 255 do CC). poderá cobrar do outro, em dinheiro, metade
Exemplo: devedor de um carro ou uma moto do valor do animal.
destrói a moto ao dirigir embriagado.
Consequência: se a escolha cabe ao devedor, Havendo mais de um credor em obrigação
obrigação simples de dar o carro; se cabe ao indivisível, qualquer um deles poderá cobrar a
credor, pode cobrar o carro ou o valor em dívida por inteiro, tornando-se devedor perante
dinheiro da moto mais perdas e danos. Se a os demais credores nas suas respectivas
moto foi destruída acidentalmente, mesmo partes em dinheiro (art. 261 do CC).
cabendo a escolha ao credor, obrigação
simples de dar o carro. 2.6. Obrigações solidárias
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cabe (se nada for dito, presume-se dividida em fé ao antigo credor, ele estará desobrigado, só
partes iguais). Todavia, se a dívida solidária restando ao verdadeiro credor cobrar do
interessar exclusivamente a um dos devedores cedente, que indevidamente recebeu o
solidários, responderá este por toda a dívida pagamento.
quando da ação regressiva aos demais
credores. Em regra, o cedente não responde pela
O exemplo típico é o contrato de fiança. solvência do devedor, ou seja, caso o
Quando há renúncia ao benefício de ordem, cessionário não consiga receber o crédito em
devedor principal e fiador são devedores razão da insolvência do devedor, não poderá
solidários. Se o fiador for cobrado, poderá cobrar a dívida do cedente. No entanto, ele
cobrar em regresso do devedor principal não responderá se vier expresso no contrato.
só a metade da dívida, mas sim sua totalidade, Quando o cedente não responde pela
pois é uma dívida contraída no seu exclusivo solvência do devedor, a cessão é chamada de
interesse. cessão de crédito pro soluto; quando o cedente
Da mesma forma, sendo caso de mais de um responde pela solvência do devedor, é
fiador e um deles sendo cobrado pela dívida, chamada de cessão de crédito pro solvendo.
só terá ação regressiva contra o devedor
principal na totalidade da dívida, não tendo Embora o cedente, em regra, não responda
ação contra os demais co-fiadores. pela solvência do devedor, ele responde pela
3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES existência do crédito, ou seja, se ceder um
crédito que não existe, aí sim poderá ser
Haverá transmissão da obrigação quando cobrado pelo cessionário. O cedente
houver uma substituição subjetiva em seus responderá pela existência do crédito tendo o
polos, ou seja, uma troca de devedor ou de cedido gratuita ou onerosamente.
credor. São dois os tipos de transmissão das Se ceder de forma onerosa, responderá tendo
obrigações: cessão de crédito e assunção de agido de má-fé ou até mesmo de boa-fé, pois
dívida. recebeu pela cessão, devolvendo o valor
Na cessão de crédito há uma substituição no auferido. No entanto, na cessão gratuita,
polo ativo, ou seja, há uma troca de credores, como nada recebeu em troca, só responderá
pois o credor cede a um terceiro o seu crédito. se tiver procedido de má-fé, ou seja, se sabia
Na assunção de dívida há uma substituição no da inexistência do credito que cedeu.
polo passivo, ou seja, uma troca de devedores,
pois um terceiro assume a obrigação do Por fim, na cessão de crédito vigora o princípio
devedor. da oponibilidade das exceções pessoais
3.1. Cessão de crédito contra terceiros. O que significa isso? Quando
o cessionário cobrar a dívida do devedor, este
A cessão de crédito se caracteriza pela poderá se defender alegando as defesas
substituição no polo ativo da obrigação, pessoais que cabiam contra o cedente (art.
havendo uma troca de credores em razão da 294 do CC).
alienação, gratuita ou onerosa, de um crédito Exemplo: o devedor comprou um carro usado
a um terceiro, que se tornará o novo credor da do credor, mas não vai pagar porque
obrigação. apresentou vício redibitório. Só que o credor
A lei permite a cessão do crédito quando a isso cedeu o crédito a um terceiro, que é quem
não se opuser a natureza da obrigação, a lei cobra a dívida. O devedor poderá se defender
ou o acordo das partes. Quem cede o crédito contra o cessionário alegando o vício
é chamado de cedente e quem o recebe é redibitório, mesmo sendo uma defesa pessoal
chamado de cessionário. contra o cedente.
3.2. Assunção de dívida
A cessão do crédito independe da
concordância do devedor. A assunção de dívida se caracteriza pela
A lei exige apenas a notificação da cessão, substituição no polo passivo da obrigação,
para que ele não pague à pessoa errada. Caso havendo uma troca de devedores. A lei permite
o devedor não seja notificado e pague de boa-
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que terceiro assuma a dívida do devedor, mas leigo, pois pagamento é coloquialmente usado
exige a concordância expressa do credor. no sentido de dar dinheiro.
No entanto, independe de consentimento do Pagamento em sentido técnico é cumprir a
devedor, podendo a assunção de dívida ser prestação, seja um dar (dinheiro ou qualquer
por delegação (com consentimento do outro bem), um fazer ou até um não fazer.
devedor) ou por expromissão (sem
consentimento do devedor). No entanto, a obrigação pode ser extinta por
meios anormais, havendo extinção da
O terceiro que assume a obrigação é chamado obrigação de uma forma alternativa, de uma
de assuntor. forma diferente do que o cumprimento da
Quando ele assume a obrigação, o devedor prestação.
primitivo está exonerado, pois deixou de ser o São as formas anormais de extinção da
devedor. Todavia, há um caso em que o obrigação: pagamento em consignação,
devedor primitivo não estará exonerado, pagamento com sub-rogação, imputação de
podendo ser cobrado pelo credor: se a cessão pagamento, dação em pagamento, novação,
foi feita a quem insolvente e o credor a aceitou compensação, confusão e remissão.
por não saber do fato.
4.1. Pagamento
Com a assunção de dívida, salvo
consentimento expresso do devedor primitivo, Pagamento é o meio normal de extinção da
estarão extintas as garantias dadas por ele, obrigação, ou seja, o cumprimento da
afinal ele não é mais o devedor. Se a prestação (dar, fazer ou não fazer). O CC inicia
substituição vier a ser anulada, restaura-se o o tema abordando quem deve pagar (chamado
débito do devedor primitivo, com todas as de solvens) e a quem se deve pagar (chamado
garantias que existiam. de accipiens).
Exceção: não retornarão as garantias dadas
por terceiros, por exemplo, hipoteca de um O CC trata de quem deve pagar, mas, na
bem de terceiro. Exceção da exceção: a verdade, o que se estabelece são regras
garantia dada por terceiro poderá retornar, sobre quem pode pagar. A obrigação pode ser
caso ele soubesse da causa que gerou paga por qualquer pessoa que tenha algum
anulação da substituição. tipo de interesse, ou seja, pelo devedor ou por
um terceiro. A lei, no entanto, estabelece
O assuntor, como novo devedor, poderá alegar consequências diferentes para o pagamento
que tipo de defesa ao ser cobrado pelo sendo feito pelo devedor, por terceiro
credor? Com efeito, a defesa pode ser de dois interessado ou por terceiro não interessado.
tipos: comum ou pessoal. Será comum quando Quando se fala em terceiro interessado ou não
for defesa de qualquer pessoa que venha a ser interessado, fala-se em interesse jurídico, pois,
cobrado pelo credor (ex. prescrição da dívida). se o terceiro paga, algum tipo de interesse ele
Por outro lado, será defesa pessoal quando for tem. O terceiro será interessado quando puder
exclusiva de uma pessoa (ex. compensação ser cobrado pela dívida.
de dívida). Assim, um fiador que paga a dívida do
O assuntor, ao ser cobrado, poderá se valer afiançado é um terceiro interessado, mas o pai
das defesas comuns ou das suas pessoais, que paga a dívida de um filho maior de idade,
não podendo se valer das defesas pessoais embora tenha um interesse sentimental, é
que cabiam ao devedor primitivo (art. 302 do considerado um terceiro não interessado.
CC).
4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS Se o devedor efetuar o pagamento, extinta
OBRIGAÇÕES estará a obrigação e ele estará exonerado.
Se um terceiro pagar, também estará extinta,
O meio normal de extinção da obrigação é o mas ele poderá reaver o valor pago, embora
devedor cumprir a prestação, o que de forma diferente a depender de quem pagou:
chamamos de pagamento. Note que o sentido se terceiro interessado, sub-roga-se nos
técnico de pagamento difere do seu sentido direitos do credor; se terceiro não interessado,
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apenas tem direito de reembolso, não se sub- quitação. O instrumento da quitação é o recibo,
rogando nos direitos do credor. que sempre pode ser por instrumento
Em ambos os casos, o terceiro cobra do particular. Se o credor se recusar a dar
devedor o que pagou por ele, mas diferem quitação, o devedor pode legitimamente reter
porque, ao se sub-rogar nos direitos do credor, o pagamento enquanto não lhe for dada.
terá as garantias especiais dadas a ele, o que
não ocorre no mero direito de reembolso. Assim sendo, em regra, quem prova o
Detalhe: isso ocorrerá se o terceiro pagar em pagamento é o devedor, apresentando o
seu nome, pois se pagar em nome do devedor, recibo recebido como instrumento da quitação.
é considerado uma mera ajuda, não tendo No entanto, em três casos haverá presunção
direito de reaver o que pagou. de pagamento, dispensando o devedor de
A quem se deve pagar? O pagamento deve ser provar que pagou. Ocorre que é uma
feito ao credor ou a quem de direito o presunção relativa, ou seja, aquela que admite
represente. Se o pagamento foi feito à pessoa prova em contrário.
errada, pagou-se mal e quem paga mal, paga Desta forma, sendo um dos casos de
duas vezes, pois o verdadeiro credor poderá presunção de pagamento, não se fixa uma
cobrá-lo. verdade absoluta de que existiu pagamento,
No entanto, em dois casos, o pagamento feito mas sim uma inversão do ônus da prova, pois
a um terceiro libera o devedor: se o credor o devedor não precisa provar que pagou, mas
confirmar o pagamento ou tanto quanto provar o credor pode provar que o devedor não
ter se revertido ao credor. pagou.
São os três casos de presunção de
Há um caso em que o pagamento é feito a um pagamento:
terceiro e o devedor está liberado, mesmo que
o credor não confirme nem se prove a reversão a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for em
em seu benefício. quotas periódicas, a quitação da última
É o caso do pagamento feito ao chamado estabelece, até em prova em contrário, a
credor putativo. Putativo vem de putare, que presunção de estarem solvidas as anteriores;
significa crer, acreditar. Haverá credor putativo
quando se paga de boa-fé a quem não é o b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capital
credor, ou seja, se pagou à pessoa errada, sem fazer reserva que os juros não foram
mas havia motivos para acreditar ser ele o pagos, estes se presumem pagos; e
credor. Um exemplo já foi visto quando da
abordagem do tema cessão de crédito. c) Art. 324 do CC: a entrega do título firma
Vimos que o devedor não precisa concordar, presunção do pagamento, presunção que
mas deve ser notificado da cessão de crédito pode ser elidida no prazo de sessenta dias.
para saber que o credor mudou. Vimos que se
não for notificado e de boa-fé pagar ao Para se efetuar o pagamento, importa saber o
cedente, ele está exonerado e a razão é lugar do cumprimento da obrigação. É nesse
simples: pagou a credor putativo. lugar que se devem reunir credor e devedor na
data marcada, não podendo o devedor
No que se refere ao objeto do pagamento, este oferecer nem o credor exigir o cumprimento em
será o cumprimento da prestação. O credor lugar diverso.
não é obrigado a aceitar prestação diversa da
que lhe é devida, ainda que mais valiosa, No direito comparado, há dois tipos de
afirma o art. 313 do CC. Ainda que a obrigação obrigação: quérable ou portable. A obrigação
seja divisível, como dever dinheiro, não pode o quérable (chamada no Brasil de quesível) é
credor ser obrigado a receber nem o devedor aquela que deve ser cumprida no domicílio do
ser obrigado a pagar por partes, se assim não devedor e obrigação portable (chamada no
se ajustou. Brasil de portável) é aquela que deve ser
cumprida no domicílio do credor.
Quem paga tem direito de receber uma prova No Brasil, conforme previsão do art. 327 do
de que pagou. É o que chamamos de CC, em regra as obrigações devem ser
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vendido e quem compra perde para um dívida do credor contra ele, mas o fiador pode
terceiro, buscando do alienante uma compensar sua dívida para o credor (é dele
indenização. devedor porque é fiador) com a dívida que o
Se o devedor dá coisa diversa em pagamento credor tem com o afiançado, ou seja,
e o credor a perde pela evicção, restabelece- não com ele, pois o fiador não é devedor em
se a obrigação primitiva, ficando sem efeito a causa própria, mas mero garantidor de uma
quitação dada, ressalvados os direitos de dívida do afiançado (art. 371 do CC).
terceiro (art. 359 do CC). 4.8. Confusão e Remissão
A compensação pode ser de dois tipos: legal Remissão é a forma de extinção da obrigação
ou convencional, a depender se decorre da lei com o perdão da dívida pelo credor. Cuidado:
ou da vontade das partes. A compensação não confunda remissão com remição. A causa
legal se dará automaticamente, bastando de extinção da obrigação é a remissão, é o ato
presentes os requisitos legais, quais sejam: de remitir, que significa perdão, perdoar.
reciprocidade das obrigações (um deve ao Remição ou ato de remir não é causa de
outro e vice versa), liquidez e vencimento das extinção da obrigação, pois significa resgate,
prestações e envolverem bens fungíveis entre resgatar.
si (não basta serem bens fungíveis, Tanto na confusão quanto na remissão há um
devem ser substituíveis entre si, ou seja, aspecto importante para você saber sobre
homogêneos, por exemplo, dinheiro por obrigações solidárias. Confusão ou remissão
dinheiro ou saca de café por saca de café, não entre credor e um dos devedores solidários ou
podendo ser dinheiro por saca de café). entre o devedor e um dos credores solidários:
Mesmo ausentes tais requisitos, ainda sim mantém-se a solidariedade entre os demais,
poderá haver compensação, mas será descontada a parte remitida ou da confusão
convencional, por depender da vontade das parcial.
partes.
Nada impede, portanto, haver compensação Exemplo: Imagine três devedores solidários
de uma dívida vencida com outra a termo, com em trinta mil reais ao pai de um deles
bens infungíveis ou de natureza diferente (solidariedade passiva). Com a morte do pai ou
(dinheiro por saca de café), mas será do filho ou se o pai perdoar só a dívida do filho,
compensação convencional, onde o que os outros dois devedores serão solidários em
importa é a vontade das partes. vinte mil reais. Da mesma forma, imagine que
um devedor deve trinta mil reais a três
A reciprocidade é um requisito para a credores solidários, sendo um deles o pai do
compensação legal, ou seja, devedor deve ao devedor (solidariedade ativa).
credor e vice-versa, mas há uma exceção: Com a morte do pai ou do filho ou se o pai
quando envolver o fiador. O devedor somente perdoar só a dívida do filho, os outros dois
compensa sua dívida para o credor com a credores serão solidários em vinte mil reais.
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Importante: O art. 393 do CC dispõe que “o Nos termos do art. 392 do CC, se o contrato é
devedor não responde pelos prejuízos oneroso, o contratante inadimplente responde
resultantes do caso fortuito ou de força maior, por não ter cumprido o contrato por dolo ou por
se expressamente não se houver por eles culpa, mas, se for um contrato benéfico ou
responsabilizado” Note que, conforme visto, a gratuito, a parte que não é favorecida (aquela
responsabilidade civil contratual é subjetiva, que não recebe nada em troca) só responde
mas as partes podem expressamente prever pelo inadimplemento se agiu com dolo, ou
no contrato que o inadimplente responderá seja,
mesmo que não tenha cumprido o contrato por não será responsabilizado civilmente pelo não
caso fortuito ou motivo de força maior, ou seja, cumprimento do contrato por culpa em sentido
sem ter tido culpa, pois caso fortuito ou motivo estrito.
de força maior são situações inevitáveis, que o
inadimplente não podia impedir, Assim sendo, ao doar um bem, o doador só
como no caso do cantor contratado para cantar responde pela impossibilidade de entregar a
em um casamento que não cumpre a coisa doada, caso tenha agido dolosamente,
obrigação por ter sido sequestrado na véspera. por exemplo, se destruiu intencionalmente
esse bem.
Qual a diferença, então, entre Não responderá o doador, se o bem se
responsabilidade civil contratual e quebrou porque foi negligente ao usá-lo, caso
responsabilidade civil extracontratual em que simplesmente se resolverá a
subjetiva?
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obrigação, desfazendo a doação sem qualquer locatário devolver as chaves antes do fim do
dever indenizatório ao doador. contrato,
Se o contrato for de compra e venda e a coisa será uma cláusula penal compensatória, pois
se perde com culpa do devedor, vimos que a o locatário pagará uma multa por não ter
solução é dar o equivalente acrescido de cumprido sua prestação, pelo menos em parte.
perdas e danos, que será devido tanto no caso Por outro lado, se houver no contrato uma
de dolo quanto de culpa, ou seja, se quebrou multa em razão do locatário atrasar o
propositalmente ou se por negligência, pois pagamento do aluguel por não pagar no dia do
compra e venda é contrato oneroso. vencimento, será uma cláusula penal
5.4. Cláusula Penal moratória, pois o pagamento da multa é para o
retardamento no cumprimento da prestação.
Conforme vimos, tanto o inadimplemento Note que há dois tipos de cláusula penal, cada
quanto a mora podem gerar responsabilidade uma com uma finalidade específica. A
civil contratual. Em caso de inadimplemento, o cláusula penal compensatória tem a função de
contratante deverá indenizar o outro em compensar o contratante por não ter o outro
perdas e danos causados pelo não contratante cumprido sua prestação. Já a
cumprimento do contrato e, em caso de mora, cláusula penal moratória tem a função de
o devedor poderá purgá-la, intimidar, pois o contratante pagará uma multa
cumprindo a prestação com retardado, se retardar o cumprimento da prestação.
acrescida de perdas e danos causados pela
mora, correção monetária, juros de mora e O art. 408 do CC demonstra que a cláusula
honorários advocatícios. penal é uma prefixação de perdas e danos e
que a responsabilidade civil contratual é
O grande problema na responsabilidade civil subjetiva, pois diz que incorre de pleno direito
contratual é provar o valor da indenização, ou na cláusula penal o devedor que culposamente
seja, a extensão do prejuízo causado pelo não deixe de cumprir a obrigação ou que se
cumprimento do contrato. constitua em mora.
Para resolver esse problema, a lei traz como Significa que, em caso de inadimplemento, o
solução a cláusula penal, que é uma multa outro contratante pode executar a multa,
prefixando o valor das perdas e danos em independente de provar a extensão do dano
razão da mora ou do inadimplemento. em ação de conhecimento. E a lei vai mais
longe ainda com o art. 416 do CC, prevendo
Cláusula penal, portanto, é um pacto inserido que sequer é necessário provar que houve
no contrato, impondo multa ao devedor que dano, se este foi prefixado no contrato.
não cumpre ou que retarda o cumprimento da
prestação. Uma questão pode ser levantada: se o prejuízo
Note que há multa tanto para o caso de mora do contratante for maior do que o valor da
quanto de inadimplemento. Assim, há dois multa, poderá ele cobrar a diferença? A
tipos de cláusula penal: moratória e princípio não, pois o parágrafo único do art.
compensatória. A cláusula penal moratória é 416 do CC diz que só poderá cobrar eventual
para prefixar perdas e danos em razão da valor a mais, se esta possibilidade estiver
mora, ou seja, pelo retardamento no expressa no contrato.
cumprimento da obrigação, e a cláusula penal Se assim for, o valor da multa já é objeto de
compensatória é para prefixar perdas e danos execução e o valor a mais deverá ser provado
em caso de inadimplemento absoluto, ou seja, em ação de conhecimento para seguir a
pelo não cumprimento da prestação. execução por título executivo judicial. Se não
houver permissivo contratual, limita-se a
Como exemplo, imaginemos um contrato de executar a multa.
locação, cuja prestação do locatário é pagar,
durante três anos, mil reais por mês ao Há importante diferença na cobrança da
locador. Se no contrato houver uma multa no cláusula penal a depender se compensatória
valor de três meses de aluguel para o caso do ou se moratória (arts. 410 e 411 do CC): no
inadimplemento o credor cobra cláusula penal
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CC: o dirigismo judicial dos contratos. O que Imagine um casal de noivos que compra suas
significa isso? O contrato sempre sofreu alianças em uma joalheria, optando por um
controle externo, limitando a atuação dos modelo que é feito com ouro amarelo e ouro
contratantes. Até então, prevalecia o controle branco. Satisfeitos com a bela aliança, no dia
feito pela lei, razão pela qual esse controle é da festa do noivado, um casal de amigos
chamado de dirigismo legal dos contratos. informa que toda aliança com ouro branco fica
Pense, como exemplo, no contrato de locação, amarelada com o decorrer do tempo.
onde a lei do inquilinato limita a atuação do Revoltados,
locador. Hoje, com o CC vigente, prevalece o reclamam junto à joalheria, que diz nada poder
dirigismo judicial dos contratos, ou seja, não é fazer. Os noivos poderão pedir a resolução do
a lei que controla o contrato, mas sim o juiz, na contrato de compra e venda, devolvendo as
análise do caso concreto. alianças e recebendo seu dinheiro de volta, em
O que torna isso possível é a utilização das função da quebra da boa-fé do vendedor, que
chamadas cláusulas gerais ou conceitos não informou um relevante aspecto do
jurídicos indeterminados, que tem como contrato, que interferiria na escolha do modelo
exemplo a função social dos contratos. São da aliança ou na própria realização do negócio.
expressões vagas em seu conteúdo, exigindo O princípio que rege os contratos é o princípio
do aplicador do direito uma análise do caso da boa-fé objetiva, mas, em realidade, existem
concreto para suprir a vacância. A lei diz que o dois tipos: a objetiva ou a subjetiva. A
contrato deve atender a função social, ou seja, subjetiva, como o nome sinaliza, é a boa-fé
não pode ir contra o interesse social. interior, psicológica, ou seja, o que o
O que é atender ou ir contra o interesse social? contratante acredita ser correto. Já a objetiva
A lei não enumera casos, preferindo usar uma lhe é exterior, ou seja, é agir de forma correta,
expressão vaga, permitindo ao juiz dizer, segundo um padrão normal de conduta. A boa-
analisando o contrato, se ele atende ou não o fé que rege os contratos é a objetiva,
interesse social. pois é mais segura, uma vez que não depende
Em conclusão, não se pretende aniquilar o do que pensa o outro contratante, mas sim em
princípio da autonomia da vontade ou o pacta verificar se o contratante agiu seguindo um
sunt servanda, mas temperá-lo, tornando-os comportamento normal das pessoas.
mais vocacionados ao bem-estar comum, sem O que é um comportamento normal? Como
prejuízo do interesse econômico pretendido saber se o contratante agiu seguindo um
pelas partes contratantes. A lei relativiza o padrão normal de conduta? É o juiz que dirá na
princípio do pacta sunt servanda com regras análise do caso concreto. Com efeito, vimos
específicas, como a cláusula rebus sic que a tendência atual em matéria de controle
stantibus ou com a previsão da lesão ou do contratual é o chamado dirigismo judicial dos
estado de perigo, mas também relativiza contratos, em substituição da antiga
permitindo intervenção judicial em uma relação prevalência do dirigismo legal. Cabe ao juiz
que deveria interessar unicamente às partes controlar os contratos,
do contrato, mas que interessa a toda a o que lhe é permitido a partir do uso de
sociedade, pois a lei diz que o contrato tem cláusulas gerais ou de conceitos jurídicos
uma função social. indeterminados, que são expressões vagas,
3.5. Princípio da boa-fé objetiva reclamando suprimento da vacância pelo
aplicador do direito na análise do caso
Este princípio vem consagrado no art. 422 do concreto. É o caso não só da função social dos
CC, que obriga as partes contratantes a contratos, mas também da boa-fé objetiva. A
agirem de boa-fé quando da celebração de um lei obriga as partes a agirem de boa-fé, sem,
contrato. A palavra chave do princípio é no entanto,
confiança, que significa parceria contratual. A enumerar as condutas permitidas e proibidas
ideia é que os contratantes não são lutadores, sob esse aspecto. Esse papel caberá ao juiz,
um querendo prejudicar o seu adversário, que poderá intervir em um contrato, podendo
mas sim parceiros, porque um confia no outro, até resolvê-lo, mesmo tendo sido observados
uma vez que são obrigados a agir conforme os os requisitos formais de validade em uma livre
ditames da boa-fé. negociação entre particulares.
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contrato proibido por lei, sendo inválido se negociações preliminares, chamada de fase
praticado. A questão é: será nulo ou anulável? de puntuação, que poderá culminar na
A lei proíbe a prática sem dizer, no entanto, se formulação de uma proposta, que, se aceita,
nulo ou anulável, razão pela qual é formará o contrato. São as fases que
considerado nulo pela lei, conforme prevê o passamos a estudar.
art. 166, VII, do CC. 5.1. Fase de puntuação e a responsabilidade
Note não poder ser objeto de contrato herança pré-contratual
de pessoa viva, ou seja, após morte do de
cujos, após a abertura da sucessão, Fase de puntuação é a fase de negociações
os herdeiros podem negociar seus quinhões preliminares que antecedem a proposta,
hereditários, mesmo antes da individualização marcada por conversações prévias,
obtida ao fim do inventário com o formal de ponderações, reflexões, sondagens, cálculos e
partilha, sendo considerado por lei um contrato estudos de viabilidade de negociação futura.
de bem imóvel (art. 80, II, do CC). Pode resultar, inclusive, em uma minuta
5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS contratual se alguns pontos acordados forem
reduzidos a termo, ou seja, a escrito (difere da
O contrato se forma, em regra, quando a uma proposta, pois esta é completa, uma vez bastar
proposta se seguir uma aceitação, seja com um sim para o contrato se formar).
o acordo de vontades das partes. Como Sobrevindo uma proposta à fase de
exceção, temos os contratos reais, em que puntuação, esta vincula o proponente, pois, se
este acordo não é suficiente para a formação a outra parte a aceitar,
do contrato, o que só ocorre com um ato o contrato estará formado e ambos estarão
posterior: a tradição, ou seja, obrigados em seus termos.
a entrega do bem. É o caso de três tipos A questão é: podemos falar em
contratuais: mútuo, comodato e depósito. responsabilidade civil nesta fase de
Não confunda a formação do contrato com a negociações preliminares pela não conclusão
sua validade. O contrato se formar significa do contrato? Em regra não, pois não há
passar a existir no mundo jurídico, obrigando qualquer problema em se iniciarem
as partes ao seu cumprimento, enquanto que negociações e se perceber a inviabilidade ou
ser válido é estar de acordo com a lei e, inconveniência da contratação.
portanto, Todavia, em alguns casos, pode haver
apto a produzir seus regulares efeitos. O art. responsabilidade civil extracontratual ou
107 do CC prevê que a validade dos contratos aquiliana, pois não há ainda um contrato,
não exige forma especial, senão quando a lei sendo chamada de responsabilidade civil pré-
exigir, ou seja, o contrato se forma com o contratual.
simples acordo de vontades, mas, em alguns Quando isso ocorre? Quando, nas
casos, sua validade reclama uma forma negociações preliminares, uma das partes cria
especial para produzir efeitos. Assim, na outra a justa expectativa de contratação e,
destacando que em alguns casos deve haver sem qualquer justificativa, por mero capricho,
uma forma especial do contrato, não formaliza a proposta. O fundamento é a
o que tratamos aqui é do momento da sua quebra da boa-fé objetiva na fase das
formação, pois passando a existir no mundo negociações preliminares. Há um abuso de
jurídico, obriga as partes ao seu cumprimento, direito, que é considerado pela lei ato ilícito a
sob pena de responsabilidade civil contratual, ensejar responsabilidade civil (art. 187 c/c art.
ou seja, indenização de perdas e danos em 927, ambos do CC). Ora, ao criar a justa
razão da mora ou do inadimplemento (tema expectativa de contratação, legitima a outra
tratado em obrigações, para onde remetemos parte a contrair gastos e até a recusar outras
sua leitura). propostas, e não concluir o contrato sem
O CC trata do tema formação dos contratos qualquer justificativa é causar o que
nos arts. 427/435, mencionando a proposta e chamamos de “dano de confiança”, em razão
a aceitação. Todavia, a formação do contrato da quebra da boa fé objetiva, que deve nortear
não é composta apenas por esses dois atos. o comportamento dos contratantes até mesmo
Normalmente existe uma fase prévia, de antes da proposta.
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Como exemplo, cito um caso cobrado em Se o contrato definitivo tem que ser por
prova. Imagine que durante anos um escritura pública, nada impede que o pré-
fabricante de extrato de tomate distribui contrato seja por instrumento particular.
gratuitamente sementes de tomate entre Qual a importância do pré-contrato? Em
agricultores de uma região, procurando-os na princípio, a responsabilidade civil na fase de
época da colheita para celebrar com eles negociações preliminares é extracontratual,
contrato de compra e venda de toda a pois ainda não há um contrato. No entanto, se
produção de tomate. No décimo ano distribuiu celebrarem um pré-contrato, as partes
as sementes, mas não apareceu para compra transformarão essa responsabilidade pré-
da safra. contratual em contratual antes mesmo da
Procurada pelos agricultores, recusou-se, sem celebração do contrato definitivo, pois o pré-
qualquer justificativa, a celebrar o contrato. contrato é um contrato.
Nesse caso, há responsabilidade civil pré- Qual a vantagem? A parte prejudicada não
contratual aquiliana do fabricante de extrato de precisará provar a culpa do inadimplente no
tomate, tendo que indenizar os agricultores em descumprimento do contrato nem tampouco o
razão dos prejuízos que resultaram da não dano, seja sua própria existência, seja a sua
contratação, como os custos da produção e extensão. Você lembra o que vimos a respeito
eventual recusa de venda para outros do tema?
compradores. Lembrando: tanto a responsabilidade civil
O fundamento da responsabilidade pré- extracontratual (em regra) como a contratual
contratual é a violação do princípio da boa-fé são subjetivas, mas esta tem culpa presumida.
objetiva nessa fase de negociações Assim, se o caso é de responsabilidade
preliminares anterior à proposta, pois o contratual, basta ao contratante prejudicado
fabricante criou nos agricultores a justa provar o inadimplemento, sem precisar provar
expectativa de contratação e, sem qualquer que o outro teve culpa no descumprimento do
justificativa, por mero capricho, não formalizou contrato (este poderá elidir sua
a proposta de compra e venda. responsabilidade provando não ter tido culpa,
5.2. Pré-contrato ou contrato preliminar pois a presunção de culpa é relativa, admitindo
prova em contrário, o que representa inversão
O pré-contrato, também chamado de contrato do ônus da prova). Por outro lado, se é caso
preliminar ou pacto de contrahendo, é um de responsabilidade civil extracontratual
contrato em que as partes assumem a subjetiva, a vítima do dano, ao cobrar perdas e
obrigação de celebrar um contrato definitivo no danos, deverá provar que o agressor teve
futuro, por não ser possível a contratação culpa em causá-lo. Assim sendo, a
agora ou por não ser o melhor momento. responsabilidade civil contratual é mais
Exemplo: Um time de futebol quer contratar um vantajosa para quem sofre o dano,
jogador. Não pode celebrar um contrato pois não precisará provar o difícil elemento
definitivo agora, pois ele tem contrato em vigor subjetivo da culpa. Além disso, como há um
com outro clube. No entanto, poderão celebrar contrato, podemos pré-fixar as perdas e danos
um pré-contrato, em que se obrigam a em uma cláusula penal, dispensando a parte
contratar ao término do contrato em vigor. prejudicada de provar não só o dano, mas,
Caso o jogador negocie seu passe com outro sobretudo, a sua extensão.
clube ou este não queira mais contratá-lo, No supramencionado exemplo da compra dos
haverá descumprimento do contrato, devendo tomates, o fabricante, por ser fase anterior à
arcar com perdas e danos, que provavelmente proposta, tem responsabilidade civil
virá pré-fixada em uma cláusula penal. extracontratual, somente sendo
Importante: O pré-contrato deve ter os responsabilizado civilmente se os agricultores
mesmos elementos do contrato definitivo, à provarem a justa expectativa de contratação e
exceção de um deles: a forma. As partes e o a recusa sem qualquer justificativa,
objeto são os mesmos, mas a forma não mas também a sua culpa na não celebração do
precisa ser a mesma. contrato. No entanto, se na fase de
negociações preliminares, as partes reduzirem
as bases do contrato a escrito em um pré-
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problemas pessoais, podendo se valer de uma c) O alienante responde por eles mesmo que a
pessoa para contratar com o proprietário, aquisição do bem tenha se dado em hasta
inserindo no contrato cláusula que lhe permite pública, ou seja, através da venda pública de
indicá-lo a assumir sua posição no contrato. bem penhorado em processo de execução.
Essa indicação deve ser feita em quinze dias, 7.1. Vícios Redibitórios
se outro prazo não for estipulado, mas tem
efeito retroativo à data da celebração do Aqui a responsabilidade é diante da existência
contrato, pois o indicado assume os direitos e de defeitos materiais, ou seja, o bem está
deveres do contrato desde a sua celebração e quebrado. Importante você não confundir a
não apenas a partir da sua nomeação. disciplina civil dos vícios redibitórios com a
Esse contrato exige muita confiança entre disciplina consumerista. Sendo o CDC uma lei
quem indicará e quem será indicado, pois se especial em relação ao CC,
não houver nomeação ou se esta não for só aplicamos suas regras quando inaplicáveis
aceita pelo indicado, o contrato produz efeitos as regras do CDC. Quando, então, aplicamos
entre os contratantes originários. as regras dos vícios redibitórios previstas no
7. GARANTIAS IMPLÍCITAS IMPOSTAS AO CC?
ALIENANTE Quando não houver relação de consumo, o
que ocorre em dois casos: (i) quando o
Quando uma pessoa aliena um bem, deve alienante não é fornecedor, como ocorre na
garantir ao adquirente, em nome da boa-fé venda ocasional de um bem usado, pois ser
objetiva, o seu normal uso e fruição, bem como fornecedor exige habitualidade da negociação;
a garantia de que não o perderá para terceiros e (ii) quando o adquirente não for consumidor,
por razões de direito. Assim sendo, como ocorre no caso de alguém adquirir um
o alienante responde perante o adquirente do bem para renegociação, pois o CDC afirma
bem tanto por defeitos materiais como por que só é consumidor quem adquire um bem
defeitos jurídicos. como destinatário final. Aqui nos
O alienante, responder por defeito material é concentraremos na disciplina civil do tema,
responder por vício redibitório, ou seja, o bem deixando as regras da relação de consumo
apresenta um defeito físico que o torna inútil ao para um estudo específico do tema.
seu uso ou que lhe diminui o valor. Por sua Por definição, vícios redibitórios são defeitos
vez, ocultos que tornam o bem impróprio para o
responder por defeito jurídico é responder pela uso a que se destina ou que lhe diminuem o
evicção, ou seja, quem alienou o bem não valor. Note que na disciplina civil, diferente da
poderia tê-lo feito e o adquirente o perdeu para relação de consumo, o alienante só responde
um terceiro, podendo buscar uma indenização por defeitos ocultos, ou seja, que não poderia
do alienante. ter sido facilmente detectado pelos órgãos dos
Procederemos aqui ao estudo em separado do sentidos, pois se o vício era aparente,
vício redibitório e da evicção. No entanto, de presume-se que o adquirente o admitiu, pois
plano, merecem destaque três observações dele ciente.
comuns a ambos os institutos, pois são Note que o vício redibitório é um defeito
questões muito recorrentes em prova e que material que pode tornar o bem impróprio para
merecem sua especial atenção: o seu uso ou que pode apenas lhe diminuir o
a) O alienante responde por eles mesmo que valor. Portanto, haverá vício redibitório tanto
não haja previsão expressa em contrato, pois no defeito oculto em um motor de um carro que
são garantias implícitas, que decorrem de lei e o faz não mais funcionar, como também no
não da vontade das partes. defeito oculto de uma máquina que produz
b) O alienante responde por eles apenas determinado produto, diminuindo a sua
diante de alienações onerosas. Atenção: a produção, embora ela ainda funcione.
doação é uma alienação gratuita, mas o Assim sendo, o adquirente pode reclamar do
alienante responderá por eles quando a vício redibitório em juízo optando por uma de
doação for com encargo, o que a lei chama de duas ações judiciais:
doação onerosa. a) Ação Redibitória: ação judicial em que se
pede para redibir o contrato, ou seja, desfazer
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o negócio jurídico. Trata-se de anulação e não ele se soma, pois, se houver garantia
de declaração de nulidade, pois a lei impõe convencional,
prazo para reclamá-lo, sob pena de o prazo de garantia legal só se inicia quando
convalescimento. este for encerrado.
b) Ação Quanti Minoris ou Ação Estimatória: 7.2. Evicção
ação judicial em que se pede abatimento do
preço, ou seja, o adquirente quer permanecer Evicção é a perda ou desapossamento judicial,
com o bem, mas quer devolução do valor da ou excepcionalmente administrativo, de um
desvalorização em razão do defeito oculto ou, bem, em razão de um defeito jurídico anterior
se ainda não pagou, descontá-lo quando do à alienação. Quem alienou o bem não poderia
pagamento. Nessa ação se apura o valor a ser tê-lo feito, e o adquirente o perdeu, tendo ação
abatido do preço, o que justifica o seu nomem de indenização contra o alienante.
iuris: “estimar” “quanto menos” vale o bem. O adquirente que perde o bem é o evicto, e o
Detalhe importante: o alienante responde por terceiro que dele o toma é o evictor.
vícios redibitórios estando ele de má-fé ou até Exemplo: estelionatário invade terreno e,
mesmo de boa-fé, ou seja, sabendo ou não do falsificando a escritura pública, vende-o. O
defeito oculto. A diferença é que apenas diante verdadeiro dono ajuíza ação reivindicatória
da má-fé será obrigado a indenizar perdas e reclamando seu terreno. Ao se constatar a
danos. Nos termos do art. 443 do CC, se o falsidade da escritura pública, o comprador
alienante agiu de boa-fé, apenas ressarcirá o perderá judicialmente o imóvel,
adquirente dos gastos que teve com o negócio o que chamamos de evicção, tendo apenas
em si, ou seja, direito indenizatório contra o alienante.
devolução do valor recebido e ressarcimento
das despesas do contrato. Se o alienante Note que a evicção pode se dar
procedeu de má-fé, não só devolverá o valor excepcionalmente através de uma perda
recebido, mas também indenizará o adquirente administrativa do bem, pois, em alguns casos,
de todas as perdas e danos decorrentes do a jurisprudência do STJ tem admitido a
vício redibitório. evicção independente de decisão judicial.
Qual o prazo que tem o adquirente para Destaque para o caso em que há apreensão
reclamar vício redibitório em juízo? Depende policial da coisa em razão de furto ou roubo
do bem adquirido: trinta dias para bem móvel anterior à alienação, podendo o caso ser
e um ano para bem imóvel. A princípio, o prazo resolvido no próprio âmbito da delegacia.
se inicia quando da entrega efetiva do bem e Exemplo: ladrão que vende carro roubado,
não quando da alienação, pois só com o seu sendo o evicto parado em uma blitz e o carro
uso é que ele consegue perceber o defeito levado à delegacia e devolvido ao seu real
oculto. dono.
No entanto, se o adquirente já tinha a posse do Informação importante: Nos termos do art. 448
bem, o prazo se iniciará quando da prática do do CC, as partes podem por cláusula expressa
ato, pois é quando adquire legitimidade para reforçar, diminuir ou até excluir a
reclamação em juízo, mas os prazos serão responsabilidade do alienante pela evicção.
reduzidos à metade, por já ter tido contato com Cuidado, pois a exclusão só valerá se o evicto
o bem. Além disso, se for um defeito oculto que foi informado do risco da evicção e o tenha
por sua natureza seja de difícil percepção, o assumido (art. 449 do CC).
prazo só se inicia quando o adquirente dele Ao perder o bem, o evicto poderá cobrar
tiver ciência. indenização do alienante. A regra é o
Todavia, a lei confere um prazo máximo para ressarcimento da integralidade do dano do
ciência do defeito a se somar ao prazo de evicto, o que lhe permite cobrar do alienante
reclamação: cento e oitenta dias para bem não só a devolução do que pagou pelo bem,
móvel e um ano para bem imóvel. Por fim, não como também as perdas e danos em razão da
se esqueça que eventual prazo de garantia evicção, os frutos que eventualmente tenha
convencional oferecida pelo alienante não sido obrigado a restituir ao evictor e o que
substitui o prazo de garantia legal, mas sim a gastou com custas judiciais e honorários
advocatícios (art. 450 do CC).
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Ainda dentro da regra da indenização da Por fim, fechando o tema evicção, precisamos
integralidade do dano, o alienante responderá entender o que é evicção parcial, tema que é
perante o evicto por eventual valorização do tratado no art. 455 do CC. Haverá evicção
bem entre a época da alienação e da evicção. parcial quando o evicto perder apenas parte do
Se o bem se desvalorizou, o evicto cobrará do que adquiriu na alienação,
alienante o preço que lhe pagou, por exemplo, quando compra cem cabeças de
mas se houver valorização, cobrará o valor do gado e perde vinte ou trinta delas pela evicção.
bem da época em que se evenceu, ou seja, da Qual a consequência?
época em que perdeu o bem pela evicção. Depende se a evicção é considerável ou
Mais uma vez, ainda dentro da regra da irrisória, pois uma coisa é perder uma ou duas
indenização da integralidade do dano, ainda cabeças de gado, outra é perder noventa
que o bem esteja deteriorado, o evicto poderá delas. Se a perda for considerável, o evicto
cobrar do alienante o valor total do bem, a pode pedir a rescisão do contrato ou restituição
menos que tenha sido causado dolosamente da parte do preço correspondente ao
por ele, quando só poderá cobrar do alienante desfalque sofrido, ou seja, devolver o que
o valor que passou a valer o bem. Note que, se sobrou e cobrar devolução do que pagou ou
a título de culpa em sentido estrito a ficar com o
deterioração, que sobrou e cobrar apenas o equivalente à
ainda assim o evicto cobrará do alienante o sua perda. Se, no entanto, a perda for irrisória,
valor integral do bem. só poderá o evicto cobrar a indenização pela
Conforme será visto no estudo da posse no perda sofrida, permanecendo com o que
capítulo de direitos reais deste livro, para onde sobrou.
remetemos a sua leitura, o possuidor que 8. EXTINÇÃO DO CONTRATO
realiza benfeitorias no bem e vem a perdê-lo,
tem direito de ser indenizado quando as Extinção do contrato é o fim de sua existência,
benfeitorias forem necessárias e úteis. é a sua morte, é o seu desaparecimento do
É o caso que ocorre aqui, pois o evicto tem a mundo jurídico. Extinção é o gênero, que
posse do bem e a perde para o evictor. contempla várias espécies, pois é a expressão
Assim, se ele realizou benfeitorias necessárias mais ampla para o fim do contrato, seja pela
ou úteis no bem antes da perda, poderá causa que for.
reclamar indenização do evictor. O art. 453 do Quando falamos em extinção do contrato, esta
CC diz que o evicto pode cobrar do alienante o pode se dar, em princípio, por duas formas
que gastou com benfeitorias necessárias e diferentes: por causa anterior ou
úteis, se não foram abonadas, ou seja, se não superveniente à formação do contrato.
foram pagas pelo evictor. No entanto, Se a causa de extinção do contrato é anterior
completa o art. 454 do CC, se as benfeitorias ou até concomitante à sua formação, temos
foram feitas pelo alienante e abonadas, ou um caso de imperfeição do contrato, pois ele já
seja, nasceu viciado.
pagas ao evicto pelo evictor, o valor será
deduzido quando o evicto cobrar a indenização Nesse caso, o contrato é inválido, podendo ele
do alienante. ser nulo ou anulável, a depender do vício. Não
é tema para aqui ser visto, pois é assunto da
Para cobrar o direito que da evicção lhe parte geral do direito civil, para onde
resulta, o evicto poderá denunciar ao alienante remetemos sua leitura.
da lide, para, em caso de sentença decretando Se a causa de extinção do contrato é
a perda do bem, já determine o juiz na superveniente à sua formação, estamos
sentença a indenização por ele devida ao tratando de um contrato perfeito, ou seja, que
evicto. Em havendo sucessivas vendas antes se formou de forma válida, não sendo caso de
de o dono reclamar o bem, poderá o evicto nulidade nem de anulabilidade. O contrato
cobrar indenização não só do alienante perfeito pode ser extinto de duas formas
imediato, diferentes: por execução ou por inexecução do
mas também qualquer dos anteriores (art. 456 contrato.
do CC).
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mas de ambas as partes, sendo chamado de mesmo que não tenha nele cláusula
distrato. É um acordo das partes, pondo vim à permissiva expressa. Sendo contrato unilateral
avença contratual, sem se externar qualquer ou plurilateral, necessária a cláusula resolutiva
causa para isso, razão pela qual, em princípio, expressa no contrato, para que uma das partes
nenhuma das partes deve qualquer possa pedir a resolução em razão do
indenização ao outro contratante. Importante inadimplemento ou mora da outra parte.
sobre o tema é o art. 472 do CC, Há vantagem da cláusula resolutória expressa
que diz que o distrato deverá ser feito na em relação à implícita, o que justifica sua
mesma forma exigida para ser feito o contrato. inserção inclusive no contrato bilateral. Vindo
Como exemplo, se o contrato de compra e expressa no contrato, haverá extinção
venda de um imóvel de valor superior a trinta automática do contrato em caso de
salários mínimos deve ser por escritura inadimplemento, enquanto que, se implícita,
pública, o distrato assim também deve ser. depende de interpelação judicial (art. 474 do
8.2. Resolução do contrato CC). Além disso, vindo expressa no contrato,
já se insere cláusula penal prefixando o valor
Resolução do contrato é a sua extinção em da indenização por perdas e danos.
razão do inadimplemento ou da mora da outra 8.2.1. Exceção de contrato não cumprido
parte. Aqui o contrato não termina apenas em (exceptio non adimplenti contractus)
razão da vontade das partes, pois há uma
causa que autoriza uma delas a pedir sua Se uma das partes é inadimplente, legitima a
extinção: o não cumprimento do contrato. outra a pedir a resolução do contrato. Agora,
Esse descumprimento pode ser com culpa ou imagine que antes disso o inadimplente ajuíze
sem culpa do contratante inadimplente, o que uma ação cobrando o cumprimento da
faz com que existam dois tipos de resolução do prestação da outra parte. O que ela poderá
contrato: com culpa (voluntária) ou sem culpa fazer? Sendo um contrato bilateral,
(involuntária). A grande diferença é que no poderá alegar a exceção de contrato não
caso de resolução culposa, o inadimplente cumprido, ou seja, que não cumprirá sua
será devedor de perdas e danos junto com a prestação em razão do autor da ação não ter
resolução, cumprido a sua. A razão já foi exposta: como o
o que não será devido quando a resolução não contrato bilateral é sinalagmático, a prestação
for culposa. Perceba que aqui falamos de mora de uma das partes é causa da prestação da
e de inadimplemento, tema que abordamos no outra parte, razão pela qual quem não cumpre
estudo das obrigações neste livro, valendo a sua prestação não pode exigir o
lembrar que só há mora e inadimplemento cumprimento da prestação da outra parte (art.
indenizáveis em perdas e danos quando com 476 do CC).
culpa do devedor, pois, se sem culpa, apenas 8.2.2. Resolução sem culpa ou involuntária
haverá resolução do contrato.
Cláusula resolutória é a cláusula que permite A extinção do contrato se dá pelo
ao contratante resolver o contrato diante do inadimplemento da outra parte, sem ela ter
inadimplemento da outra parte. O contrato tido culpa no descumprimento contratual. Aqui
pode trazer uma cláusula resolutória expressa, não há indenização por perdas e danos, mas
mas esta também pode ser implícita aos apenas resolução do contrato, pois o
contratos. contratante quer cumprir o contrato, mas não
Quando isso ocorre? consegue. Isso ocorre em dois casos:
Todo contrato bilateral tem implícita a cláusula caso fortuito ou motivo de força maior e no
resolutória. A razão é que todo contrato caso de aplicação da teoria da imprevisão ou
bilateral é sinalagmático, o que significa que a da onerosidade excessiva.
prestação de uma das partes é causa da a) Caso fortuito ou motivo de força maior: são
prestação da outra parte. Como uma das situações inevitáveis, insuperáveis, que
partes só cumpre a sua prestação porque a impedem o contratante de cumprir sua
outra cumpre a sua, o descumprimento prestação. Imagine contrato de compra e
autoriza a outra parte pedir a resolução do venda de produto agrícola,
contrato,
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que não pôde ser entregue em razão de A resolução com culpa não pode ser bilateral,
violenta tempestade que destruiu toda a apenas podendo ser unilateral. Se ambas as
plantação. Não há culpa no inadimplemento, partes tiverem culpa no inadimplemento, a
havendo simples resolução do contrato, culpa será daquele que primeiro tinha a
retornando as partes ao estado em que se obrigação de cumprir sua prestação. A razão
encontravam antes de sua celebração, sem disso é o princípio da exceção de contrato não
direito de indenização da parte prejudicada. cumprido, pois, se houver prestações
Cuidado: há dois casos em que haverá simultâneas e um dos contratantes não
resolução sem culpa do contratante cumpre sua prestação,
inadimplente, por decorrer de caso fortuito ou o outro está legitimado a não cumprir a sua
motivo de força maior, mas que haverá dever prestação.
indenizar o outro contratante em perdas e 8.3. Efeitos no tempo da resolução e da
danos, o que já foi visto neste livro, em resilição dos contratos
obrigações, para onde remetemos sua leitura:
(i) quando houver previsão expressa no Havendo resolução do contrato, essa decisão
contrato impondo o dever de indenizar perdas tem efeito retroativo ou não retroativo?
e danos pelo seu descumprimento, mesmo em Depende se o contrato for de execução
razão de caso fortuito ou motivo de força maior instantânea, diferida ou continuada.
(art. 393 do CC); e Se o contrato é de execução única, ou seja, de
(ii) quando a impossibilidade da prestação se execução instantânea ou até diferida, a
dá por caso fortuito ou motivo de força maior decisão produz efeitos retroativos ou ex tunc,
que ocorre durante a mora do contratante (art. desfazendo-se o que foi feito até então, pois
399 do CC). resolver o contrato é fazer retornar ao estado
b) Teoria da imprevisão ou da onerosidade em que as partes se encontravam antes da sua
excessiva: o tema já foi visto neste livro, neste celebração. Assim, se estamos diante da
capítulo dos contratos, quando do estudo do resolução de um contrato de compra e venda,
princípio da obrigatoriedade mitigado pela o comprador devolve o bem e o vendedor
cláusula rebus sic stantibus, para onde devolve o dinheiro recebido, buscando-se
remetemos a sua leitura. É resolução do eventual indenização diante da perda ou
contrato sem culpa, pois acontece fato deterioração do bem ou até em razão de algum
superveniente e imprevisível que desequilibra melhoramento por que passou.
economicamente o contrato, Se, no entanto, o contrato for de execução
legitimando o pedido de resolução do contrato prolongada no tempo, ou seja, de execução
pelo fato da lei não exigir mais o seu continuada, os efeitos serão não retroativos ou
cumprimento. ex nunc, mantendo-se os efeitos até então
8.2.3. Resolução com culpa ou voluntária (que, produzidos. A razão disso é evitar um
para alguns autores, é a rescisão) enriquecimento sem causa de um dos
contratantes. Imagine um contrato de locação:
A extinção do contrato se dá pelo se a resolução tivesse efeito retroativo,
inadimplemento da outra parte, tendo ela culpa faria com que o locador devolvesse o valor
no descumprimento do contrato. Exemplo: recebido durante o contrato, não tendo como o
contrato de aluguel resolvido em razão do inquilino devolver o tempo que usou o bem, o
inquilino não ter pago o aluguel porque não que lhe geraria um enriquecimento sem causa
quis ou porque foi negligente. por ter alugado o imóvel por um tempo sem por
A diferença para a resolução não culposa é isso pagar.
que aqui o inadimplente, além de suportar a O efeito retroativo (ex tunc) da resolução dos
resolução do contrato, deve pagar indenização contratos de execução instantânea ou diferida
por perdas e danos ao outro contratante e o efeito não retroativo (ex nunc) da resolução
(embora isso possa ocorrer na resolução sem dos contratos de execução continuada valem
culpa, mas por exceção nos casos tanto para a resolução com culpa quanto para
supramencionados). a resolução sem culpa. A única diferença entre
eles é que na resolução culposa o
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c.3) preço por cotação – art. 487 do Código vender a sua parte a terceiros sem notificar o
Civil; outro proprietário da res. O artigo 504 da lei
civil salienta a observância do direito de
c.4) preço tabelado e médio – art. 488 do preferência.
Código Civil; 1.6. Regras especiais da compra e venda
c.5) preço unilateral – art. 489 do Código Civil. a) Venda por amostra, por protótipos ou por
1.4. As despesas e riscos do contrato modelos – se a venda ocorrer dessa forma, o
vendedor assegurará ter a coisa as qualidades
Salvo cláusula em contrário, as despesas de que a elas correspondem. Essa é a regra do
escritura e o registro ficarão sob a artigo 484 da lei civil.
responsabilidade do comprador, e as da b) Venda a contento e sujeita à prova –
tradição, a cargo do vendedor. E quanto aos entende-se que é aquela realizada sob
riscos? Até o momento da tradição, os riscos condição suspensiva, ainda que tenha
da coisa cabem por obrigação ao vendedor, e recebido a coisa. Aquele que recebe a coisa
os do preço, ao comprador. será considerado como comodatário. Assim,
Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato em caso de descumprimento da mesma,
de contar, marcar ou assinalar coisas, que poderá o alienante propor ação para recuperar
comumente se recebem, contando, pesando, a posse. Observe os artigos 509 a 512 do
medindo ou assinalando, e que já foram postas CC/2002.
à disposição do comprador, correrão por conta c) Venda ad mensuram e ad corpus – a ad
deste. Compete também ao comprador os mensuram (art. 500, caput) é aquela em que o
riscos das referidas coisas, preço do bem é medido pela área. Em caso de
se estiver em mora de as receber, logo que descumprimento da mesma, prevê a lei a
ordenadas no tempo, lugar e pelo modo possibilidade de algumas ações. Quais são
ajustados. Essa é a previsão legal. elas? Ação ex empto (complementação da
1.5. Restrições à compra e venda área), Ação Redibitória (extinguir o negócio),
Ação Estimatória ou Quanti Minoris
a) Venda de ascendente para descendente – (abatimento).
prevê o diploma civil: art. 496. Essas ações têm o prazo de um ano
decadencial, consoante previsão do artigo
Art. 496. É anulável a venda de ascendente a 501. Na venda ad corpus (art. 500, § 3º), as
descendente, salvo se os outros descendentes metragens e a área são apenas para localizar
e o cônjuge do alienante expressamente o bem, mas não influenciam no preço. Nessa
houverem consentido. Parágrafo único. Em venda não são cabíveis as Ações
ambos os casos, dispensa-se o consentimento retromencionadas.
do cônjuge se o regime de bens for o da 1.7. Cláusulas especiais ou pactos adjetos
separação obrigatória.
Conforme previsto, a lei destaca a a) Retrovenda ou cláusula de resgate – por
anulabilidade, mas em quanto tem tempo? meio dos arts. 505 a 508 da lei civil, podem ser
Deve ser ressaltado o prazo estipulado no observados esse pacto acessório. A mesma
artigo 179 da lei civil, afastando a Súmula n. recai sobre bens imóveis e o prazo máximo
494 do STF. para o retrato será de três anos.
b) Venda de bens sob administração – é Não se trata de cláusula personalíssima, pois
proibida pelo artigo 497 do Código Civil. Nesse a mesma é cessível e transmissível a herdeiros
caso, destaca-se a nulidade! e legatários.
b) Cláusula de preempção, preferência ou
c) Venda entre cônjuges – reza o artigo 499: prelação – Os artigos 513 a 520 do CC
“Art. 499. É lícita a compra e venda entre estabelecem esse pacto adjeto que poderá
cônjuges, com relação a bens excluídos da recair sobre bens móveis e imóveis. O prazo
comunhão.” para o exercício do pacto não poderá exceder
d) Venda de parte indivisa em condomínio – a cento e oitenta dias para os bens móveis e
não pode um condômino de coisa indivisível dois anos para os imóveis.
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Uma vez pactuado a cláusula e inexistindo d) Contrato formal ou informal, solene ou não
prazo estipulado, o direito de preempção solene – a lei não impõe maiores formalidades
caducará, se a coisa for móvel, não se para a sua celebração;
exercendo nos três dias, e, se for imóvel, não
se exercendo nos sessenta dias subsequentes e) Contrato translativo – a transmissão da
à data em que o comprador tiver notificado o coisa ocorrerá com a tradição, trazendo
vendedor. Tal direito é personalíssimo, pois consigo no contrato.
não se pode ceder nem passa aos herdeiros.
c) Cláusula de venda com reserva de domínio f) Contrato oneroso – apresenta repercussão
– a previsão encontra-se nos artigos521 a 528 econômica.
do CC. Recai sobre bens móveis e será 3. CONTRATO ESTIMATÓRIO (arts. 534 a
estipulada por escrito, dependendo de registro 537 do CC)
no domicílio do comprador para valer contra
terceiros. O comprador do bem só alcançará a 3.1. Conceito
propriedade depois de pagas todas as Esse contrato pode ser chamado também de
parcelas. venda em consignação, tem por finalidade
Uma vez descumprida a mesma e constituído vender, em nome próprio, bens móveis de
o comprador em mora, poderá o vendedor propriedade de terceiros.
propor ação de cobrança ou busca e O proprietário/consignante dará somente a
apreensão para recuperar a posse do bem. posse do bem ao vendedor/consignatário, não
d) Venda sobre documentos ou trustreceipt – sendo entregue o domínio da coisa. Sua
por intermédio dos arartigo 529 ao 532, previsão está nos artigos 534 a 537 do Código
verifica-se a venda em que a tradição da coisa Civil.
é substituída pela entrega de um título que a 3.2. Natureza jurídica
representa.
a) Contrato bilateral ou sinalagmático –
2. TROCA OU PERMUTA (art. 533 do CC) caracterizado pela reciprocidade nas
obrigações entre os contratantes.
2.1. Conceito
b) Contrato oneroso – proporciona
Nessa modalidade contratual prevista no artigo repercussão econômica.
533 da lei civil, as partes pactuam suas
obrigações, remunerando-se, através da c) Contrato real –concretizado com a efetiva
compensação dos ofícios estabelecidos por entrega do bem.
cada uma delas.
Difere do contrato de compra e venda, pois na d) Contrato comutativo – as partes são
permuta a contraprestação é feita pelo cientificadas de suas obrigações no ato da
pagamento de um preço em dinheiro. elaboração.
2.2. Natureza jurídica
e) Contrato informal ou não solene –a lei não
a) Contrato bilateral ou sinalagmático – impõe maiores formalidades para a sua
apresenta, reciprocamente, deveres para celebração.
ambas as partes, que se obrigam a dar uma
coisa recebendo outra diferente de dinheiro. f) Contrato instantâneo e temporário – o
b) Contrato comutativo – as partes se primeiro se consuma com a prática do ato, já o
cientificam de suas obrigações no ato da segundo se efetua por meio do termo final para
elaboração, por serem certas e determinadas a venda da coisa consignada.
no ato da celebração. 3.3. Efeitos e regras
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– A coisa deve ser móvel e livre para a) pura e simples (art. 543 do CC) – o ato
alienação, não podendo estar gravada com possui liberdade plena, não se submetendo a
cláusula de inalienabilidade. condição, termo ou encargo;
f) Formal e solene – desde que a doação de h) propter nuptias (art. 546 do CC) – é aquele
bem imóvel seja superior a 30 salários direcionado para as núpcias, ou seja, aplicado
mínimos. para casamento futuro, não vigendo o contrato
em caso de não consumação do mesmo;
g) Formal e não solene – todas as vezes que o i) com cláusula de reversão ou retorno (art. 547
bem imóvel for superior a 30 salários mínimos, do CC) – trata-se de contrato de doação intuitu
porém não há necessidade de escritura personae, desde que a mesma esteja
pública. direcionada somente ao donatário, pois caso
4.3. Espécies de doação ele venha a falecer antes do doador, o bem
retornará ao patrimônio deste, ainda que tenha
alienado o imóvel antes da morte;
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j) universal (art. 548 do CC) – é nula tal Conforme o artigo 564 da lei civil, as doações
modalidade, pois a lei veda a doação pelo que não serão revogadas por ingratidão serão:
doador se ele não possuir bens suficientes a) as puramente remuneratórias;
para a sua subsistência. Tal medida visa b) as oneradas com encargo já cumprido;
tutelar a qualidade de vida do doador (regra em c) as que se fizerem em cumprimento de
sintonia com o princípio da dignidade da obrigação natural;
pessoa humana); d) as feitas para determinado casamento.
5. LOCAÇÃO DE COISAS (art. 565 e segs., do
l) inoficiosa (art. 549 do CC) – significa que a CC)
doação efetuada ultrapassou o quinhão
disponível para testar. Note: O doador tem R$ 5.1. Conceito
200 mil reais e faz uma doação de R$ 120 mil É o contrato em que o locador cede ao
reais, o ato será válido até os R$ 100 mil reais locatário determinado bem, objetivando que o
e nulo com relação aos R$ 20 mil. Atenção! A mesmo use e goze da coisa de forma contínua
Ação de redução é a que tem como objetivo a e temporária, mediante o pagamento de
declaração de nulidade da parte inoficiosa. aluguel.
5.2. Natureza jurídica
m) do cônjuge adúltero ao seu cúmplice (art.
550 do CC) – é a doação feita entre amantes, a) Bilateral ou sinalagmático – as partes
geralmente por pessoas casadas com possuem vantagens e desvantagens
impedimento de contrair união estável, sendo recíprocas.
anulável no prazo decadencial de dois anos. A
anulabilidade do contrato poderá ser proposta b) Oneroso – é essencialmente econômico,
pelo cônjuge traído ou também pelos herdeiros isto é, por meio da cobrança de alugueres.
necessários.
Todavia, a mesma poderá ser convalidada no c) Comutativo – as partes são cientificadas de
caso dos cônjuges estarem separados de fato; suas obrigações no ato da celebração do
contrato de locação.
n) conjuntiva (art. 551 do CC) – trata-se da
doação de um determinado bem a dois ou mais d) Consensual – a vontade das partes é a
donatários, os quais se tornarão cotitulares do essência do contrato,
bem; e) Informal e não solene – inexiste
obrigatoriedade de escritura pública como
o) modal ou onerosa (art. 553 do CC) – é também de contrato escrito.
aquela em que o doador atribui ao donatário
um encargo, o qual se torna elemento modal f) Execução continuada – as prestações
do negócio jurídico; perduram com o passar do tempo.
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b) Tem natureza de ação de rescisão de a) Pode ser ofertada tanto pelo locador,
dissolução contratual, com natureza buscando o aumento do valor dos alugueres,
eminentemente pessoal e não possessória ou como poderá ser proposta pelo locatário com
real. o objetivo de reduzi-los.
c) Segue o rito ordinário, consoante artigo 59 b) Este benefício poderá ser utilizado somente
da Lei n. 8.245/91. pelo prazo de três anos, ainda que a ação
tenha sido proposta pela parte contrária.
c) Segue o rito sumário, conforme artigo 68 da
lei do inquilinato.
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pagamento poderá se concretizar no início dos Quando nesta modalidade de contrato não se
trabalhos ou, estabelecer a tarefa que o prestador de serviço
também, ser dividido em três parcelas, deverá executar, entende-se que o mesmo se
efetuando o pagamento de 1/3 no início, outros obrigou a todo e qualquer serviço compatível
1/3 durante a execução dos serviços e o com as suas forças e condições.
restante ao final. 7.9. Responsabilidade pela ruptura culposa do
No que tange aos valores devidos, se inexistir contrato
estipulação prévia e muito menos a
possibilidade de acordo entre as partes, Não poderá o prestador de serviço contratado
deverá ser proposta ação para que o juiz por tempo certo ou por obra determinada se
arbitre a remuneração de acordo com o ausentar sem justa causa antes de preenchido
costume do lugar, o tempo de serviço e sua o tempo ou concluída a obra.
qualidade.
7.5. Prazo máximo do contrato Dessa forma, terá o contratante direito à
retribuição vencida, através das perdas e
Prevê a lei civil no caput de seu artigo 598: danos. Essa punição também se aplicará para
o caso do prestador ser despedido por justa
causa.
Art. 598. A prestação de serviço não se poderá 7.10. Perdas e danos
convencionar por mais de quatro anos, embora
o contrato tenha por causa o pagamento de Nas hipóteses em que o prestador de serviço
dívida de quem o presta, ou se destine à for despedido sem justa causa, o contratante
execução de certa e determinada obra. Neste será obrigado a lhe pagar a integral retribuição
caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por vencida acrescida da metade da remuneração
findo o contrato, ainda que não concluída a a que caberia a ele, caso pudesse cumprir com
obra. o termo legal do contrato.
7.6. Resilição do contrato 7.11. A declaração formal da dissolução do
contrato
O prazo para estabelecer a resilição contratual
ficará ao arbítrio de ambas as partes, mediante Ao final do contrato, o prestador de serviço tem
prévio aviso. Entretanto, a lei estipula prazos o direito de exigir da outra parte uma
gerais, caso as partes não pactuem declaração, afirmando que as obrigações
previamente tais limites: contraídas foram finalizadas, bem como se for
despedido sem ou com justa causa.
a) oito dias de antecedência, nas hipóteses de 7.12. Exigência de capacitação
remuneração fixada por tempo de um mês, ou
mais; Nas hipóteses de prestação de serviço por
pessoa que não possua título de habilitação ou
b) quatro dias de antecedência, se a não satisfaça requisitos estabelecidos em lei,
remuneração for ajustada por semana ou não poderá ser cobrada retribuição
quinzena; correspondente ao trabalho executado por
quem o prestou.
c) quando a contratação tenha sido por prazo Se o serviço for prestado de boa-fé, o juiz
inferior a sete dias, poderá ser avisado na arbitrará compensação razoável, exceto
véspera. quando a proibição da prestação de serviço
7.7. Inexecução do contrato resultar de lei de ordem pública.
7.13. Formas de extinção do contrato
A lei civil dispõe que não será contado o tempo
em que o prestador de serviço não tenha A lei civil estabeleceu algumas formas de
efetuado a sua tarefa. extinção do contrato, dentre elas consta a
7.8. Amplitude do contrato morte de qualquer das partes, escoamento do
prazo contratualmente determinado,
conclusão da obra,
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d) Informal e não solene – não há previsão Existem três pontos a serem analisados:
legal expressa quanto à sua forma, podendo
ser verbal, escrito ou por instrumento a) Consoante o artigo 617 do CC:
particular.
Art. 617. O empreiteiro é obrigado a pagar os
e) Consensual – deriva da vontade comum das materiais que recebeu, se por imperícia ou
partes. negligência os inutilizar.
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c) ser remunerado, nas hipóteses que é devida a) Unilateral – gera somente obrigações ao
a remuneração. mandatário.
Súmula Vinculante n. 25. É ilícita a prisão civil a) Judicial – possui a finalidade de representar
de depositário infiel, qualquer que seja a perante o Poder Judiciário o outorgante.
modalidade do depósito.
9.7. Extinção do depósito b) Legal – não há instrumento por decorrer da
lei.
O presente contrato será extinto por resilição
unilateral, pelo término do prazo estabelecido, c) Escrito – materializado por instrumento
pelo perecimento da coisa, morte do público ou particular.
depositário e pela incapacidade civil do
depositário. d) Verbal – inexiste documento escrito, sendo
Importante se faz mencionar a Lei n. 2.313/54, evidenciado por prova testemunhal.
prevendo que após o prazo de 25 anos, se a
coisa não for reclamada, os bens serão e) Expresso e tácito – o primeiro se forma
recolhidos ao Tesouro Nacional. explicitamente através de sua forma, podendo
10. DO MANDATO (arts. 653 a 692 do CC) ser verbal ou escrito, entretanto, o segundo se
dá com a definição dos deveres em
10.1. Conceito decorrência de outra pessoa.
f) Aparente – terá o mandatário o dever de
Esta modalidade contratual ocorre enquanto remunerar, adiantar as despesas necessárias,
alguém substitui outra pessoa, com poderes reembolsar as despesas feitas na execução do
legais necessários confiados para agir em mandato, ressarcir os prejuízos, honrar os
nome do representado, atuando consoante compromissos em seu nome assumidos,
sua vontade. vincular-se com quem seu procurador
10.2. Natureza jurídica contratou, responsabilizar-se solidariamente
nas hipóteses legais, pagar a remuneração do
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– Teoria da equivalência das – risco proveito – todo ônus deve ser suportado
condições/conditio sinequa non – nesta teoria por quem recebe o bônus;
não há diferença entre os antecedentes do
resultado danoso, de forma que tudo irá – risco profissional – deriva das relações de
concorrer para o evento considerado trabalho;
causador. Ela não é adotada em nosso
ordenamento. – risco excepcional – origina-se de atividades
– Teoria da causalidade adequada – adotada que exigem elevado grau de perigo;
pelo CC/02 nos artigos 944 e 945, para esta – risco integral – modalidade mais elevada de
teoria, considera-se como causa todo e responsabilidade objetiva por não admitir
qualquer evento que haja contribuído para a exclusão de culpabilidade, em razão de o
efetiva ocorrência do resultado. Portanto, para agente ser o responsável universal, adotado
que ela possa ser adotada, deve-se estar excepcionalmente no ordenamento jurídico
diante de uma causa adequada e apta à nas seguintes formas:
efetivação do resultado.
– Teoria do dano direto e imediato – segundo – dano ambiental: art. 225, § 3º, CF/88 c/c o
essa teoria, será indenizável todo o dano que art. 14, § 1º, da Lei n. 6.931/81, defende que o
se filia a uma causa, ainda que remota, desde dano ambiental deverá ser reparado
que necessária, encontrando respaldo no independentemente de culpa;
artigo 403 do atual Código Civil. – seguro obrigatório – DPVAT: Lei n. 6.194/74
2.4.1. Concorrência de causas com posterior alteração pela Lei n. 8.441/92
estabelece indenização às vítimas de acidente
a) Subsequentes – é causado pela prática de de veículos automotores independente de
conduta oriunda de um ato fundamentando por culpa ou de identificação do veículo automotor;
prática posterior.
b) Complementares – é gerado pela a prática – danos nucleares – art. 21, inciso XXIII, “d”,
da conduta de dois ou mais agentes que, sem CF, responsabilidade civil por danos
a ajuda do outro, não seria atingido o fim nucleares, na qual também foi adotada a teoria
pretendido. do risco integral.
4. Responsabilidade por ato próprio
c) Cumulativas – não haveria necessidade da
conduta dos agentes somarem-se, em razão Transcorre por ato do próprio agente, ora
de que ambas atingiriam o objetivo-fim da causador do dano. Está disposta nos artigos
mesma maneira. 939 e 940 do CC.
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ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que previstas no atual diploma civil, que
houver cobrado. E, ainda, se litigar sem transformou em responsabilidade objetiva.
ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais A norma abrange não somente a relação de
do que for devido, emprego, mas toda e qualquer outra relação
ficará obrigado a pagar ao devedor o empregatícia com subordinação, chamada de
equivalente do que dele exigir. Em ambos os preposição.
casos, fica ressalvado se já tiver ocorrido a
prescrição. Referente aos donos de hotéis, hospedarias,
A diferença entre o artigo 940 do Código Civil casas ou estabelecimentos onde se albergue
e o parágrafo único do artigo 42 da Lei n. por dinheiro, mesmo para fins de educação,
8.078/90, é que o primeiro somente é aplicável pelos seus hóspedes, moradores e
a cobranças judiciais e o segundo, a todas as educandos, alguns pontos merecem destaque.
judiciais e extrajudiciais. A responsabilidade é objetiva como acima
5. Responsabilidade por ato de outrem ou mencionado. Os hotéis, em especial,
responsabilidade indireta responderiam também, caso o CC/02 não
dispusesse sobre essa matéria, de maneira
De acordo com os ditames do artigo 932 da objetiva, por força do artigo 14 da Lei n.
norma civilista, é o caso que terceiros praticam 8.078/90, visto que está presente o risco da
o ilícito e o responsável legal responde pelo atividade desenvolvida.
fato, isto é, responde (Haftung) mesmo sem ter
contraído o débito (Schuld). Tanto nos casos dos hospitais, clínicas e
O CC/02 adotou para esses casos a outros estabelecimentos similares, bem como
responsabilidade objetiva, conforme redação nas escolas, enquanto estiverem no referido
do artigo 933. local, aplica-se a teoria da guarda.
A responsabilidade solidária prevista no artigo Quando o paciente nos hospitais for menor ou
942 da lei civil é aplicável nos casos dos adolescente, deverá ser observado o artigo 12
incisos III, IV e V do artigo 932. da Lei n. 8.069/90 do ECA:
Os pais irão responder pelos atos dos filhos Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento
que estiverem sob sua guarda e companhia, à saúde deverão proporcionar condições para
mesmo que provarem não agir com a permanência em tempo integral de um dos
negligência. pais ou responsável, nos casos de internação
A responsabilidade será objetiva, e os pais irão de criança ou adolescente.
substituir os filhos, consoante a Teoria da Atualmente, estão na moda os casos de
Substituição. bullying, que consiste em apertadíssima
A responsabilidade do tutor e curador pelos síntese na prática infantil de deboche com
pupilos e curatelados que se acharem sob sua isolamento da pessoa naquela comunidade,
autoridade e companhia é aplicada nos geralmente ocorrendo nos colégios. Logo há
mesmos moldes que a responsabilidade dos responsabilidade pedagógica do
genitores. Importante ressaltar que inexiste estabelecimento de ensino, sob pena de
proibição legal sobre direito de regresso em infração administrativa, conforme artigo 245 do
face dos pupilos ou curatelados. ECA:
No caso do empregador ou comitente, por Art. 245. Deixar o médico, professor ou
seus empregados, serviçais e prepostos, no responsável por estabelecimento de atenção à
exercício do trabalho que lhes competir ou em saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou
razão dele, o CC/02 inovou. creche, de comunicar à autoridade competente
os casos de que tenha conhecimento,
Anteriormente, a aplicação do Código Civil de envolvendo suspeita ou confirmação de maus-
2002, nesses casos, havia a responsabilidade tratos contra criança ou adolescente. Pena –
por culpa in elegendo, como culpa presumida multa de três a vinte salários de referência,
na forma da Súmula n. 341 do STF que, ao aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
final, resultava nas mesmas consequências Em relação aos que gratuitamente houverem
participado nos produtos do crime, será
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Diferente da culpa concorrente da vítima, a e) nas hipóteses dos artigos 25 e 51, inciso I,
culpa exclusiva da vítima ocorrerá quando ela da Lei n. 8.078/90;
concorrer sozinha para a ocorrência do evento
danoso. Há previsão legal neste sentido no f) nas condições do artigo 247 da Lei n.
artigo 14, § 3º, inciso II, da Lei n. 8.078/90. 7.565/86 (Código Brasileiro de Aeronáutica);
Um exemplo seria um consumidor que compra
uma passagem para um determinado horário e Requisitos para a validade da cláusula de não
não comparece. A companhia não é obrigada indenizar:
a devolver o valor da passagem em razão do
serviço ter sido prestado adequadamente e o a) bilateralidade do consentimento;
consumidor não ter se beneficiado pelo seu
não comparecimento. b) que não colida com preceito de ordem
Já a culpa concorrente, prevista no artigo 945 pública;
do Código Civil, ocorrerá se a vítima tiver
concorrido culposamente para o evento c) igualdade das partes;
danoso. A indenização será fixada tendo-se
em conta a gravidade de sua culpa em d) inexistência do escopo de eximir o dolo ou a
confronto com a do autor do dano. culpa grave do estipulante;
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40 – Art. 928: o incapaz responde pelos 49 – Art. 1.228, § 2o: a regra do art. 1.228, §
prejuízos que causar de maneira subsidiária 2o, do novo Código Civil interpreta-se
ou excepcionalmente como devedor principal, restritivamente, em harmonia com o princípio
na hipótese do ressarcimento devido pelos da função social da propriedade e com o
adolescentes que praticarem atos infracionais disposto no art. 187.
nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança 50 – Art. 2.028: a partir da vigência do novo
e do Adolescente, no âmbito das medidas Código Civil, o prazo prescricional das ações
sócio-educativas ali previstas. de reparação de danos que não houver
41 – Art. 928: a única hipótese em que poderá atingido a metade do tempo previsto no Código
haver responsabilidade solidária do menor de Civil de 1916 fluirá por inteiro, nos termos da
18 anos com seus pais é ter sido emancipado nova lei (art. 206).
nos termos do art. 5o, parágrafo único, inc. I, 189 – Art. 927: Na responsabilidade civil por
do novo Código Civil. dano moral causado à pessoa jurídica, o fato
42 – Art. 931: o art. 931 amplia o conceito de lesivo, como dano eventual, deve ser
fato do produto existente no art. 12 do Código devidamente demonstrado.
de Defesa do Consumidor, imputando 190 – Art. 931: A regra do art. 931 do novo CC
responsabilidade civil à empresa e aos não afasta as normas acerca da
empresários individuais vinculados à responsabilidade pelo fato do produto
circulação dos produtos. previstas no art. 12 do CDC, que continuam
43 – Art. 931: a responsabilidade civil pelo fato mais favoráveis ao consumidor lesado.
do produto, prevista no art. 931 do novo 191 – Art. 932: A instituição hospitalar privada
Código Civil, também inclui os riscos do responde, na forma do art. 932 III do CC, pelos
desenvolvimento. atos culposos praticados por médicos
44 – Art. 934: na hipótese do art. 934, o integrantes de seu corpo clínico.
empregador e o comitente somente poderão 192 – Arts. 949 e 950: Os danos oriundos das
agir regressivamente contra o empregado ou situações previstas nos arts. 949 e 950 do
preposto se estes tiverem causado dano com Código Civil de 2002 devem ser analisados em
dolo ou culpa. conjunto, para o efeito de atribuir indenização
45 – Art. 935: no caso do art. 935, não mais se por perdas e danos materiais, cumulada com
poderá questionar a existência do fato ou dano moral e estético.
quem seja o seu autor se essas questões se 159 – Art. 186: O dano moral, assim
acharem categoricamente decididas no juízo compreendido todo o dano extrapatrimonial,
criminal. não se caracteriza quando há mero
46 – Art. 944: a possibilidade de redução do aborrecimento inerente a prejuízo material.
montante da indenização em face do grau de 377 - O art. 7o, inc. XXVIII, da Constituição
culpa do agente, estabelecida no parágrafo Federal não é impedimento para a aplicação
único do art. 944 do novo Código Civil, deve do disposto no art. 927, parágrafo único, do
ser interpretada restritivamente, por Código Civil quando se tratar de atividade de
representar uma exceção ao princípio da risco.
reparação integral do dano, não se aplicando 378 - Aplica-se o art. 931 do Código Civil, haja
às hipóteses de responsabilidade objetiva. ou não relação de consumo.
47 – Art. 945: o art. 945 do Código Civil, que 379 Art. 944 - O art. 944, caput, do Código Civil
não encontra correspondente no Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a
de 1916, não exclui a aplicação da teoria da função punitiva ou pedagógica da
causalidade adequada. responsabilidade civil.
48 – Art. 950, parágrafo único: o parágrafo 380 - Atribui-se nova redação ao Enunciado n.
único do art. 950 do novo Código Civil institui 46 da I Jornada de Direito Civil, com a
direito potestativo do lesado para exigir supressão da parte final: não se aplicando às
pagamento da indenização de uma só vez, hipóteses de responsabilidade objetiva .
mediante arbitramento do valor pelo juiz, 381 - O lesado pode exigir que a indenização,
atendidos os arts. 944 e 945 e a possibilidade sob a forma de pensionamento, seja arbitrada
econômica do ofensor. e paga de uma só vez, salvo impossibilidade
econômica do devedor, caso em que o juiz
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poderá fixar outra forma de pagamento, solidariamente responsáveis por tais atos,
atendendo à condição financeira do ofensor e ainda que estejam separados, ressalvado o
aos benefícios resultantes do pagamento direito de regresso em caso de culpa exclusiva
antecipado. de um dos genitores.
443) Arts. 393 e 927. O caso fortuito e a força 451) Arts. 932 e 933. A responsabilidade civil
maior somente serão considerados como por ato de terceiro funda-se na
excludentes da responsabilidade civil quando responsabilidade objetiva ou independente de
o fato gerador do dano não for conexo à culpa, estando superado o modelo de culpa
atividade desenvolvida. presumida.
444)Art. 927. A responsabilidade civil pela 452) Art. 936. A responsabilidade civil do dono
perda de chance não se limita à categoria de ou detentor de animal é objetiva, admitindo-se
danos extrapatrimoniais, pois, conforme as a excludente do fato exclusivo de terceiro.
circunstâncias do caso concreto, a chance 453) Art. 942. Na via regressiva, a indenização
perdida pode apresentar também a natureza atribuída a cada agente será fixada
jurídica de dano patrimonial. A chance deve proporcionalmente à sua contribuição para o
ser séria e real, não ficando adstrita a evento danoso.
percentuais apriorísticos. 454) Art. 943. O direito de exigir reparação a
445)Art. 927. O dano moral indenizável não que se refere o art. 943 do Código Civil
pressupõe necessariamente a verificação de abrange inclusive os danos morais, ainda que
sentimentos humanos desagradáveis como a ação não tenha sido iniciada pela vítima.
dor ou sofrimento. 455) Art. 944. Embora o reconhecimento dos
446) Art. 927. A responsabilidade civil prevista danos morais se dê, em numerosos casos,
na segunda parte do parágrafo único do art. independentemente de prova (in re ipsa), para
927 do Código Civil deve levar em a sua adequada quantificação, deve o juiz
consideração não apenas a proteção da vítima investigar, sempre que entender necessário,
e a atividade do ofensor, mas também a as circunstâncias do caso concreto, inclusive
prevenção e o interesse da sociedade.447) por intermédio da produção de depoimento
Art. 927. pessoal e da prova testemunhal em audiência.
As agremiações esportivas são objetivamente 456) Art. 944. A expressão “dano” no art. 944
responsáveis por danos causados a terceiros abrange não só os danos individuais, materiais
pelas torcidas organizadas, agindo nessa ou imateriais, mas também os danos sociais,
qualidade, quando, de qualquer modo, as difusos, coletivos e individuais homogêneos a
financiem ou custeiem, direta ou serem reclamados pelos legitimados para
indiretamente, total ou parcialmente. propor ações coletivas.
448) Art. 927. A regra do art. 927, parágrafo 457)Art. 944. A redução equitativa da
único, segunda parte, do CC aplica-se sempre indenização tem caráter excepcional e
que a atividade normalmente desenvolvida, somente será realizada quando a amplitude do
mesmo sem defeito e não essencialmente dano extrapolar os efeitos razoavelmente
perigosa, induza, por sua natureza, risco imputáveis à conduta do agente.
especial e diferenciado aos direitos de outrem. 458) Art. 944. O grau de culpa do ofensor, ou
São critérios de avaliação desse risco, entre a sua eventual conduta intencional, deve ser
outros, a estatística, a prova técnica e as levado em conta pelo juiz para a quantificação
máximas de experiência. do dano moral.
449) Art. 928, parágrafo único. A indenização 459) Art. 945. A conduta da vítima pode ser
equitativa a que se refere o art. 928, parágrafo fator atenuante do nexo de causalidade na
único, do Código Civil não é necessariamente responsabilidade civil objetiva.
reduzida sem prejuízo do Enunciado n. 39 da I 460) Art. 951. A responsabilidade subjetiva do
Jornada de Direito Civil. profissional da área da saúde, nos termos do
450) Art. 932, I. Considerando que a art. 951 do Código Civil e do art. 14, § 4o, do
responsabilidade dos pais pelos atos danosos Código de Defesa do Consumidor, não afasta
praticados pelos filhos menores é objetiva, e a sua responsabilidade objetiva pelo fato da
não por culpa presumida, ambos os genitores, coisa da qual tem a guarda, em caso de uso de
no exercício do poder familiar, são, em regra, aparelhos ou instrumentos que, por eventual
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Posses paralelas ou desdobramento da posse. Penal. O vício dessa posse dá-se a partir do
Uma não anula a outra. Ambas são posses momento em que o possuidor precarista se
jurídicas (jus possidendi) e têm o mesmo valor. recusa a atender à revogação da situação
Tanto o possuidor direto quanto o indireto possessória que lhe foi conferida. Aqui importa
podem se valer dos remédios possessórios um dizer que o ônus da prova caberá ao
em face do outro ou de terceiros. Nesse demandante.
sentido, o entendimento das Jornadas de Nota!
Direito Civil: A posse somente é viciada em relação a uma
Art. 1.197. O possuidor direto tem direito de determinada pessoa, ou seja, seus efeitos são
defender a sua posse contra o indireto, e este inter partes, não havendo posse injusta em
contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo caráter erga omnes.
Código Civil) (Enunciado n. 76). Sobre o tema, a jurisprudência abaixo:
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Maria Helena Diniz nos informa que após um título, ou seja, aquele que tem a aparência de
ano e um dia do ato de violência e título hábil para transferir a posse ou o
clandestinidade, a posse deixa de ser injusta e domínio” (RT, 526:55). A autora explica ainda
passa a ser justa. Porém filiamo-nos à corrente que tal presunção é juris tantum porque, caso
defendida por Flávio Tartuce, que prega a apareça prova em contrário,
análise dessa cessação caso a caso, de desautoriza-se o possuidor (TJRN, Agravo de
acordo com a finalidade social da posse. Instrumento com Suspensividade n.
Carlos Roberto Gonçalves entende que a 2005.004718-2, rel. Desembargador João
posse precária não pode ser convalidada, pois Rebouças, 3ª Câmara Cível, j. em 24.11.2005,
a mesma representa um abuso de confiança. public. 22.03.2006).
Esse não é, porém, o entendimento exposto Nota!
nas Jornadas de Direito Civil. Em regra, posse justa é uma posse de boa-fé.
Art. 1.203. É cabível a modificação do título da Posse de boa-fé = aspecto psicológico +
posse – interversio possessionis – na hipótese aspecto ético.
em que o até então possuidor direto
demonstrar ato exterior e inequívoco de A respeito de justo título, consoante o art.
oposição ao antigo possuidor indireto, tendo 1.201 do Código Civil, observe-se
por efeito a caracterização do animus domini entendimento da Jornada de Direito Civil:
(Enunciado n. 237 da III Jornada de Direito Art. 1.201. Considera-se justo título para
Civil). presunção relativa da boa-fé do possuidor o
Marco Aurélio Bezerra de Mello segue o justo motivo que lhe autoriza a aquisição
mesmo entendimento do Enunciado acima, derivada da posse, esteja ou não materializado
informando que o abuso de confiança pode em instrumento público ou particular.
cessar por convenção das partes. Compreensão na perspectiva da função social
e) Posse de boa-fé configura-se quando o da posse (Enunciado n. 303 da IV Jornada de
possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que Direito Civil).
impede a aquisição da coisa. É de suma f) Posse de má-fé é aquela em que o possuidor
importância a crença do possuidor de se tem conhecimento dos vícios na aquisição da
encontrar em uma situação legítima. O Código posse. A posse de boa-fé se transforma em
Civil estabelece presunção (praesumptio iuris posse de má-fé desde o momento em que as
tantum) de boa-fé em favor de quem tem justo circunstâncias demonstrem que o possuidor
título (título hábil para transferir a propriedade). não mais ignora que possua indevidamente
Ex.: escritura de compra e venda (art. 1.201, (Código Civil, art. 1.202).
parágrafo único). Ex.: possuidor que adquire a Nota!
posse de determinado imóvel embasada em É importante neste tópico ser realizada a
título de domínio desconhecendo que o leitura dos seguintes artigos: 457, 1.214 e
mesmo é falso. 1.219, todos do Código Civil.
A seguir, jurisprudência sobre o tema: g) Posse nova é a de menos ano e dia. Não se
confunde com ação de força nova, que leva em
Processual civil. Posse provisória. Boa-fé. conta não a duração temporal da posse, mas
Justo título. Concessão de tutela antecipada. o tempo decorrido desde a ocorrência da
Liminar inaudita altera parte. Conjunto turbação ou do esbulho.
probatório favorável. Mandado de manutenção h) Posse velha é a de ano e dia ou mais. Não
de posse. Inteligência dos artigos 1.201 e se confunde com a ação de força velha
1.211 do Código Civil. Presença dos requisitos intentada depois de ano e dia da turbação ou
exigidos a amparar a decisão recorrida. esbulho.
Conhecimento e improvimento do recurso. Importante! !
Precedentes. A classificação de posse nova e posse velha
(...) só serve para fixar o procedimento da ação
Maria Helena Diniz trata ainda da presunção possessória, não tendo mais efeito na análise
juris tantum de boa-fé, ao transcrever a do direito material, consoante regra do art. 924
seguinte jurisprudência: “Presume-se que é do Código de Processo Civil. Enquanto não
possuidor de boa-fé aquele que tiver justo passado ano e dia da turbação e do esbulho,
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a tutela possessória apenas pode ser Enunciado 238, 239 III CJF, Enunciado 495 V
requerida mediante o procedimento CJF.
estabelecido no art. 926 do Código de
Processo Civil, isto é, o chamado
procedimento especial. Quando a turbação ou
esbulho data mais de ano e dia, não se pode
concluir que o autor não terá direito à tutela
antecipatória. Tudo dependerá do caso
concreto.
A doutrina processualista nos informa que,
para ser conseguida a tutela antecipatória,
exige-se a prova dos requisitos do art. 927 do
Código de Processo Civil, somados à prova de
fato caracterizador da urgência.
Ainda sobre o tema, válida é a menção de que
o prazo só começa a ser contado a partir do
conhecimento da turbação ou do esbulho,
pois, em caso de não conhecimento, não
haverá abertura de prazo. O esbulho para se
concretizar, reúne uma série de atos
preparatórios, o prazo de ano e dia deve ser
contado do último ato praticado.
i) Posse natural é aquela que se constitui pelo
exercício de poderes de fato sobre a coisa.
j) Posse civil ou jurídica é a que assim se
considera por força da lei, sem a necessidade
de atos físicos ou materiais. É a que se
transmite ou se adquire pelo título (escritura
pública).
k) Posse ad interdicta é a que pode ser
protegida pelos interditos ou ações
possessórias, quando molestada, mas não
conduz à usucapião (a do locatário).
l) Posse ad usucapionem é a que se prolonga
por determinado lapso de tempo estabelecido
na lei, deferindo a seu titular a aquisição do
domínio.
Para que ocorra o deferimento da aquisição do
domínio, são necessários o animus e o corpus
e ainda a posse mansa e pacífica.
Efeitos da posse
• A proteção possessória, abrangendo a
autodefesa e a invocação dos interditos;
• Percepção dos frutos;
• Responsabilidade pela perda ou
deterioração da coisa;
• Indenização pelas benfeitorias e o direito de
retenção;
• A usucapião.
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