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OAB 1ª FASE XVII EXAME

Direito Civil
Cristiano Sobral

DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES quem compra um apartamento assume as


obrigações de pagar condomínio, até mesmo
1. INTRODUÇÃO aquelas que estejam em atraso.

O direito das obrigações é o ramo do Direito Cuidado: a obrigação propter rem não se
Civil que se ocupa em estudar a relação consubstancia apenas no pagamento de valor
jurídica que existe entre devedor e credor, pecuniário. Deve ser uma obrigação
onde este pode exigir daquele o cumprimento devedor/credor, mas esta pode ser
de uma prestação, consubstanciada em um dar (dinheiro ou
que pode consistir em um dar, um fazer ou um qualquer bem), um fazer ou um não fazer.
não fazer. Assim sendo, o respeito às limitações dos
direitos de vizinhança são obrigações propter
A obrigação tem, portanto, três elementos: rem, pois consistem em obrigações de não
devedor, credor e vínculo jurídico. O vínculo fazer do proprietário para respeito a direito de
jurídico é a ligação que existe entre o devedor vizinhos.
e o credor, que é composta por dois
elementos: débito e responsabilidade. 2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES
Significa que há duas questões ligando
devedor e credor: a existência de uma dívida As modalidades de obrigações decorrem de
(débito) e a possibilidade de cobrança judicial dois tipos de classificações: básica e especial.
em caso de inadimplemento Em uma classificação básica, a depender da
(responsabilidade). natureza da prestação, a obrigação pode ser
Tema importante diz respeito à obrigação de três tipos: obrigação de dar, obrigação de
natural. É a obrigação em que o vínculo fazer e obrigação de não fazer.
jurídico é formado apenas pelo débito, não Em uma classificação especial, o CC trata de
existindo responsabilidade. Existe uma dívida, mais três tipos de modalidades: obrigação
mas, se não for cumprida a prestação, o credor alternativa, obrigação divisível ou indivisível e
não tem o poder de exigi-la judicialmente. obrigação solidária.
No entanto, se adimplida espontaneamente ou 2.1. Obrigação de dar
até mesmo por engano, não se pode exigir
devolução, pois o débito existe (art. 882 do A obrigação de dar é aquela em que a
CC). É o que chamamos de soluti retentio prestação do devedor consiste na entrega de
(retenção de pagamento). Exemplo de um bem. A obrigação de dar pode ser de dois
obrigação natural: dívida de jogo ou aposta. tipos: dar coisa certa ou dar coisa incerta. Na
A obrigação propter rem (em razão da coisa), obrigação de dar coisa certa, o devedor tem a
como o nome sinaliza, é direito obrigacional prestação de entregar um bem específico.
(confrontando devedor e credor) e não direito Por exemplo, quando alguém vende o cavalo
real. Todavia, tem uma especificidade: é a campeão de sua fazenda. Já a obrigação de
obrigação que surge em razão da aquisição de dar coisa incerta é aquela em que o devedor
um direito real. Ao se adquirir um direito real, assume a obrigação de dar um gênero em
seu titular adquire algumas obrigações de certa quantidade - por exemplo, quando
devedor perante credor. alguém vende três cavalos de sua fazenda.
Exemplos: obrigação de pagar condomínio 2.1.1. Obrigação de dar coisa certa
quando se adquire o direito de propriedade de
um apartamento ou o dever que o proprietário É a obrigação de dar um bem específico, não
tem de indenizar o possuidor que realiza servindo outro de mesma espécie, como
benfeitorias em seu imóvel, nos termos quando uma pessoa vende o cavalo campeão
destacados em direitos reais neste livro. de sua fazenda. Na verdade, há dois tipos de
obrigação de dar coisa certa: dar e restituir.
Como a obrigação propter rem surge por força A razão é que quando tenho a obrigação de
da titularidade de um direito real, acompanha devolver um bem que recebi, não posso impor
o bem se houver transferência dele, ou seja, o a entrega de outro de mesma espécie.
novo titular do direito real a assume. Exemplo: Portanto, tenho obrigação de dar coisa certa

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tanto quando tenho que entregar um cavalo antes da entrega, quem dela se beneficiará
que vendi quanto quando tenho que devolver será o dono.
um cavalo que me foi emprestado.
Vamos analisar, com base no macete
O tema vem previsto entre os arts. 233 e 242 apresentado, as regras dos arts. 234 a 242 do
do CC, onde um único tema é tratado: perda CC. Qual a consequência da perda,
ou deterioração do bem depois que assumo a deterioração ou melhora do bem antes da
obrigação de dar, mas antes da efetiva tradição, no caso da prestação de dar e no
entrega. Como é obrigação de dar coisa certa, caso da prestação de restituir?
não sendo possível a entrega de outro bem a) Prestação de dar, perda do bem, com culpa
equivalente, qual é a consequência? Quem do devedor (art. 234): Devedor de um carro por
suporta o prejuízo? tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega
É isso que a prova exigirá de você saber e as o destrói porque provoca um acidente com
possibilidades são muitas, pois pode ser com perda total do carro por dirigir embriagado.
culpa ou sem culpa do devedor, pode ser um Será devedor no equivalente (devolve o valor
dar ou um restituir, pode ser perda ou recebido ou não o recebe) acrescido de perdas
deterioração ou até mesmo uma melhora no e danos.
bem.
b) Prestação de dar, perda do bem, sem culpa
Questão recorrente em certames, apresento do devedor (art. 234): Devedor de um carro por
um macete para que você, caro leitor, conheça tê-lo vendido ao credor, mas antes da entrega
todos os casos previstos nos citados artigos. o carro cai em uma ribanceira por ser levado
Basta conhecer uma regra básica, à qual pela correnteza da inundação provocada por
somamos duas regras acessórias lógicas: violenta tempestade. Consequência: resolve-
se a obrigação, o que significa desfazer o
REGRA BÁSICA: Se o devedor teve culpa na negócio. Veja que o dono (devedor do carro)
perda do bem, a regra sempre será a mesma: sofreu a perda, pois ficou sem o carro e sem o
deverá pagar ao credor o equivalente dinheiro.
acrescido de perdas e danos. Se o devedor
não teve culpa na perda do bem, a regra será c) Prestação de dar, deterioração do bem, com
sempre a mesma: res perit domino (a coisa culpa do devedor (art. 236): Devedor de um
perece para o dono), será dele o prejuízo. E carro por tê-lo vendido ao credor, mas antes da
quem é o dono? Depende se a obrigação é de entrega o amassa ao bater por dirigir
dar ou de restituir. embriagado. O credor poderá escolher entre
Na obrigação de dar, antes da entrega o dono receber o equivalente mais perdas e danos ou
é o devedor, pois a aquisição da propriedade aceitar o bem no estado em que se acha
só se dá com a entrega do bem. Na obrigação acrescido de perdas e danos, incluindo o
de restituir, o dono é o credor, pois ele sempre abatimento do valor em razão da deterioração.
foi o dono, uma vez só ter emprestado para o d) Prestação de dar, deterioração do bem, sem
devedor. culpa do devedor (art. 235): Devedor de um
carro por tê-lo vendido ao credor, mas antes da
REGRA ACESSÓRIA 1: Se ao invés de perda, entrega o carro é amassado por bater em um
houver apenas deterioração do bem, a poste ao ser levado pela correnteza da
solução é a mesma, mas com uma diferença: inundação provocada por violenta tempestade.
ele poderá optar entre a solução da perda Consequência: credor poderá optar em
supramencionada ou receber o bem resolver a obrigação (desfazer o negócio) ou
deteriorado, abatendo-se o valor da aceitar o carro amassado, abatendo do seu
deterioração. preço o valor perdido pela deterioração. Note
que é o dono (devedor do carro) que sofre a
REGRA ACESSÓRIA 2: Se a coisa perece perda, pois ficou sem dinheiro e com o carro
para o dono, a coisa também melhora para o amassado ou sem o carro pagando pela
dono, ou seja, se, ao invés da perda ou deterioração.
deterioração, houver uma melhora no bem

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e) Prestação de dar, melhora do bem (art. i) Prestação de restituir, deterioração do bem,


237): Devedor de uma fazenda por tê-la sem culpa do devedor (art. 240): Devedor de
vendido ao credor, mas antes da entrega o um carro por tê-lo recebido emprestado do
bem se valoriza em razão do acréscimo de credor, mas antes da entrega o carro é
terra trazido pela correnteza das águas amassado por bater em um poste ao ser
(fenômeno chamado de avulsão). O vendedor levado pela correnteza da inundação
poderá pedir aumento de preço, pois é o dono provocada por violenta tempestade. O dono é
e ele se beneficia com a vantagem. o credor, que sofrerá a perda, pois a lei diz que
Se o comprador não aceitar pagar o ele receberá o bem deteriorado sem direito de
acréscimo, poderá o vendedor resolver a indenização.
obrigação, ou seja, desfazer a venda. E se, ao
invés de melhoramento ou acrescido, o bem j) Prestação de restituir, melhora do bem (art.
deu frutos? Os frutos percebidos ou colhidos 241 e 242): Devedor de uma fazenda por tê-la
antes da tradição são do devedor, pois ele recebida emprestada do credor, mas antes da
ainda é dono do bem, mas se pendente entrega o bem se valoriza em razão do
quando da tradição, será do credor, pois o bem acréscimo de terra trazido pela correnteza das
acessório segue a sorte do bem principal. águas (fenômeno chamado de avulsão). Por
Assim, se o devedor vende uma cadela para evidente, será do credor o ganho, pois ele é o
entregar tempo depois e antes da entrega fica dono do bem, recebendo-o de volta valorizado,
prenha, se na época da entrega o filhote já desobrigado de indenizar.
nasceu será do vendedor, mas se estiver na Se para o melhoramento ou acréscimo houve
barriga da cadela na época da entrega, será do trabalho do devedor, é benfeitoria, razão pela
comprador. qual o art. 242 do CC determina aplicar as
regras do direito de indenização que o
f) Prestação de restituir, perda do bem, com possuidor de boa-fé e de má-fé tem em razão
culpa do devedor (art. 239): Devedor de um das benfeitorias que faz no bem (sobre isso,
carro por tê-lo recebido emprestado do credor, ver o capítulo próprio na parte de direitos reais
mas antes da entrega o destrói porque provoca neste livro, quando da abordagem dos efeitos
um acidente de perda total do carro por dirigir da posse).
embriagado. Será devedor no equivalente 2.1.2. Obrigação de dar coisa incerta
(indeniza o valor do carro) acrescido de perdas
e danos. É a obrigação de dar um gênero em certa
quantidade, como na venda de três cavalos de
g) Prestação de restituir, perda do bem, sem uma fazenda. Em dado momento, os bens a
culpa do devedor (art. 238): Devedor de um serem entregues deverão ser escolhidos, o
carro por tê-lo em empréstimo do credor, mas que chamamos de concentração da prestação.
antes da entrega o carro cai em ribanceira A quem cabe a escolha? A quem definido no
levado pela correnteza da inundação contrato.
provocada por tempestade. O dono é o credor Se nada for dito, a escolha caberá ao devedor,
e ele sofre a perda, ou seja, o devedor não terá que não poderá escolher o pior nem ser
que indenizá-lo da perda do carro. obrigado a escolher o melhor.

h) Prestação de restituir, deterioração do bem, Feita a escolha, a obrigação de dar coisa


com culpa do devedor (art. 240): Devedor de incerta se transforma em obrigação de dar
um carro por tê-lo recebido emprestado do coisa certa, aplicando-se as regras que lhe são
credor, mas antes da entrega o amassa ao próprias.
bater por dirigir embriagado. O credor poderá No entanto, se antes da escolha o bem se
escolher entre receber o equivalente mais perder ou se deteriorar, mesmo que por caso
perdas e danos ou aceitar o bem no estado em fortuito ou motivo de força maior, o devedor
que se acha acrescido de perdas e danos, não se exime de cumprir a prestação, pois o
incluindo o abatimento do valor em razão da gênero não perece, podendo o bem ser
deterioração. substituído por outro da mesma espécie para
ser entregue ao credor.

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se tratar de intervenção meramente estética ou


2.2. Obrigação de fazer embelezadora.
2.3. Obrigação de não fazer
A obrigação de fazer é aquela em que a
prestação do devedor consiste na realização A obrigação de não fazer é uma obrigação a
de uma atividade, como na contratação da uma abstenção, por exemplo, não levantar um
prestação de um serviço. A obrigação de fazer muro divisório. Se o devedor descumprir a
pode ser de dois tipos: personalíssima obrigação, fazendo o que se obrigou a não
(infungível) ou não personalíssima (fungível). fazer, deverá indenizar o credor em perdas e
Será personalíssima quando só o devedor danos?
puder cumprir a prestação, como na Nem sempre, pois às vezes se tornou
contratação de um pintor famoso para pintura impossível, sem culpa do devedor, abster-se
do retrato do credor em um quadro. Será não do ato. Nesse caso, apenas se resolve a
personalíssima quando não só o devedor, mas obrigação (volta ao estado anterior do
outra pessoa também puder cumprir a negócio), não tendo que indenizar perdas e
prestação, como a contratação de um pintor danos. Exemplo: a pessoa se viu obrigada a
para pintura das paredes de uma casa. levantar o muro para impedir que a água
invadisse sua casa.
Por que diferenciar? Se for obrigação Se, porém, simplesmente decidiu fazer o que
personalíssima e o devedor se recusa a se obrigara a não fazer, será condenado a
cumpri-la ou por sua culpa se tornou indenizar perdas e danos e, se o fizer, consistir
impossível, responde por perdas e danos. Se em uma obra, poderá o credor pedir
for obrigação não personalíssima, poderá o judicialmente para desfazê-la. Se for urgente,
credor optar em reclamar indenização por poderá mandar desfazer independente de
perdas e danos ou mandar executar às custas autorização judicial, buscando em juízo o
do devedor. ressarcimento.
Como isso é feito? Ajuizamento de ação com 2.4. Obrigações alternativas
orçamento do serviço, pedindo condenação do
devedor do fazer a pagar. Todavia, se for A obrigação alternativa é aquela que
urgente, poderá o credor mandar executar o compreende duas ou mais prestações, mas se
fato independente de prévia autorização extingue com a realização de apenas uma
judicial, buscando em juízo depois o delas. Exemplo: obrigação de dar um carro ou
ressarcimento do que foi gasto. uma moto.
A quem cabe a escolha de que prestação
As obrigações de fazer podem ser cumprir? Em regra ao devedor, pois a
classificadas em obrigação de meio e de obrigação se extingue com ele cumprindo uma
resultado ou de fim. Nas obrigações de ou outra prestação. Todavia, o contrato pode
resultado, o devedor se vincula a atingir prever que a escolha cabe ao credor. É o que
determinado resultado, sob pena de diz o art. 252 do CC, que completa: não pode
inadimplemento e, consequentemente, dever o devedor obrigar o credor a receber parte em
de indenizar perdas e danos. uma prestação e parte em outra.
Já na obrigação de meio, o devedor não se
vincula a atingir determinado resultado, mas Importante: o que ocorre quando uma ou todas
sim a corresponder no meio para atingi-lo, ou as prestações não puderem ser cumpridas? A
seja, a empregar a diligência na busca do resposta irá variar se a escolha cabia ao
resultado. Não responde se o resultado não for devedor ou ao credor.
atingido, apenas se não empregou a diligência
necessária. a) Impossibilidade de uma das prestações: Se
Um advogado ou um médico tem obrigação de a escolha couber ao devedor, subsiste a
meio, enquanto que, segundo a jurisprudência obrigação com a outra prestação (art. 253 do
do STJ, o cirurgião plástico, embora seja um CC).
médico, tem obrigação de resultado, quando Mesma solução, se a escolha couber ao credor
e a impossibilidade se deu sem culpa do

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devedor. Todavia, se por culpa dele, o credor coobrigados (art. 259 do CC). Exemplo: se
poderá exigir a prestação subsistente ou o duas pessoas devem um cavalo, qualquer um
valor em dinheiro da prestação impossibilitada, deles pode ser cobrado, mas quem pagar
acrescido de perdas e danos (art. 255 do CC). poderá cobrar do outro, em dinheiro, metade
Exemplo: devedor de um carro ou uma moto do valor do animal.
destrói a moto ao dirigir embriagado.
Consequência: se a escolha cabe ao devedor, Havendo mais de um credor em obrigação
obrigação simples de dar o carro; se cabe ao indivisível, qualquer um deles poderá cobrar a
credor, pode cobrar o carro ou o valor em dívida por inteiro, tornando-se devedor perante
dinheiro da moto mais perdas e danos. Se a os demais credores nas suas respectivas
moto foi destruída acidentalmente, mesmo partes em dinheiro (art. 261 do CC).
cabendo a escolha ao credor, obrigação
simples de dar o carro. 2.6. Obrigações solidárias

b) Impossibilidade de ambas as prestações: Na pluralidade de credores ou devedores em


Se a escolha couber ao devedor e este tiver obrigação indivisível, todos são obrigados ou
culpa, ficará obrigado a pagar o valor da têm direito a toda dívida por ser fisicamente
prestação que se impossibilitou por último, impossível dividir o objeto da prestação.
acrescido de perdas e danos (art. 254 do CC). Todavia, é possível haver obrigação divisível
Se a escolha couber ao credor e o devedor em que todos são obrigados ou têm direito a
culpado, poderá reclamar o valor de qualquer toda a dívida por determinação da lei ou da
uma delas acrescido de perdas e danos (art. vontade das partes: é a obrigação solidária.
255 do CC, in fine).
No entanto, se ambas as prestações tornaram- Imagine dois amigos devendo vinte mil reais a
se impossível sem culpa do devedor, um credor.
independe de quem cabe a escolha: extinta Em tese, cada um deve dez mil reais, mas, se
estará a obrigação, ou seja, desfeito o negócio for obrigação solidária, o credor pode cobrar
jurídico (art. 256 do CC). toda a dívida de qualquer deles (quem paga se
2.5. Obrigações divisíveis e indivisíveis sub-roga nos direitos do credor perante os
demais devedores).
Obrigação divisível é aquela em que pode ser Por outro lado, se um devedor deve vinte mil
fracionado o objeto da prestação, o que não é reais a dois amigos, em tese, deve dez mil
possível na obrigação indivisível. Como reais para cada um deles, mas, se for
exemplo, a obrigação de dar dinheiro é obrigação solidária, qualquer dos credores
obrigação divisível e a obrigação de dar um pode cobrar toda a dívida (quem recebe se
cavalo é obrigação indivisível. torna devedor perante os demais credores).

Só há importância em determinar o tipo de Portanto, haverá solidariedade quando houver


obrigação quando houver pluralidade de mais de um devedor ou mais de um credor
devedores e/ou credores. Sendo obrigação obrigados ou com direito à totalidade da dívida.
divisível, não há problema, pois cada um cobra A solidariedade não se presume, resultando
ou é cobrado em sua parte (se não for apenas da lei ou da vontade das partes. A
determinada a parte que cabe a cada um, solidariedade pode ser ativa ou passiva, a
presume-se dividida em partes iguais). depender se a pluralidade está no pólo ativo ou
Entretanto, sendo obrigação indivisível, como passivo da obrigação.
cada um cobrará ou será cobrado em sua
parte, já que o objeto não pode ser dividido? 2.6.1. Solidariedade ativa

Havendo mais de um devedor em obrigação É a obrigação em que há mais de um credor,


indivisível, cada um responde por toda a cada um deles com direito a toda a dívida. No
dívida, pois não há como fracionar a cobrança. vencimento, qualquer credor pode se antecipar
Agora, aquele que pagar a dívida, sub-roga-se e cobrar toda a dívida ou, enquanto nenhum
nos direitos do credor perante os demais

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deles a cobrar, o devedor se libera pagando a 2.6.2. Solidariedade passiva


qualquer deles.
Quem receber, responde perante os demais É a obrigação em que há mais de um devedor,
credores, tornando-se devedor nas partes que cada um deles obrigados a toda a dívida.
lhes cabe. Significa que o credor tem direito de exigir de
qualquer deles o valor total da dívida, mas
O mesmo ocorre se um dos credores remitir quem pagar se tornará credor dos demais
(perdoar) a dívida. Devedor deve trinta mil devedores nas suas respectivas partes
reais a três credores solidários e um deles (internamente não há solidariedade).
perdoa toda a dívida. Se o credor optar cobrar apenas parcialmente
Este se tornará devedor de dez mil reais a de um dos devedores solidários, os demais
cada um dos demais credores, como se ele continuam obrigados solidariamente pelo
tivesse se antecipado e cobrado o devedor resto.
(art. 272 do CC). Cuidado: é diferente quando
credor solidário perdoa sua parte. Nesse caso, Se um dos devedores solidários falecer, a
subsiste a solidariedade para os demais solidariedade é transferida aos seus
credores depois de sua parte ser descontada. herdeiros? Não, pois, como visto, a
No exemplo citado, o devedor continua a dever solidariedade é personalíssima.
vinte mil reais a dois credores solidários. Significa que os herdeiros só podem ser
A solidariedade é personalíssima, ou seja, se cobrados na quota que corresponde ao seu
um dos credores falecer e deixar herdeiros, quinhão hereditário. Todavia, há duas
estes não se tornarão credores solidários. exceções: se a obrigação for indivisível (ex:
Significa que cada um de seus herdeiros só devedores solidários devem um cavalo) ou se
poderá exigir e receber a quota que os herdeiros forem cobrados juntos através do
corresponder ao seu quinhão hereditário. espólio, pois o direito das sucessões preceitua
Imagine um devedor devendo trinta mil reais a que o espólio se sub-roga nos deveres do de
três credores solidários, sendo que um deles cujos.
morre deixando dois filhos.
Os filhos não poderão cobrar os trinta mil, pois Atenção: a lei dá tratamento diferente quanto à
não se tornam credores solidários. Cada um só manutenção da solidariedade no que se refere
poderá cobrar a parte que lhe cabe na ao pagamento de perdas e danos e de juros
herança, ou seja, cada um só pode cobrar que podem ser irradiados da obrigação, pois
cinco mil reais. nas perdas e danos não subsiste a
solidariedade. Mas nos juros, sim.
Todavia, em dois casos, os herdeiros poderão
cobrar a dívida toda: se a obrigação for Se devedores solidários têm obrigação de dar
indivisível (exemplo: o devedor deve um um carro e, por culpa de um deles, este é
cavalo aos três credores solidários) ou, destruído, a obrigação se converte no
segundo jurisprudência do STJ, se os pagamento do valor equivalente acrescido de
herdeiros cobrarem juntos através do espólio, perdas e danos. No valor equivalente, todos
pois no direito das sucessões aprendemos que continuam devedores solidários, mas pelas
o espólio se sub-roga nos direitos do de cujos. perdas e danos só responde o culpado (art.
279 do CC).
Nos termos do art. 271 do CC, convertendo-se Todavia, se um dos devedores solidários dá
a prestação em perdas e danos, nelas causa a acréscimo de juros ao valor devido,
subsistem a solidariedade. Imagine um todos respondem solidariamente pelo valor
devedor de um carro a três credores solidários, dos juros, pois o pagamento de juros é uma
mas o destrói ao dirigir embriagado. Trata-se obrigação acessória e o acessório segue a
de obrigação de dar coisa certa com perda do sorte do principal (art. 280 do CC).
bem por culpa do devedor.
Conforme visto, torna-se devedor no Importante (art. 285 do CC): Conforme vimos,
equivalente acrescido em perdas e danos, no o devedor solidário que paga a dívida pode
que permanecerá havendo a solidariedade. cobrar dos demais devedores a parte que lhes

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cabe (se nada for dito, presume-se dividida em fé ao antigo credor, ele estará desobrigado, só
partes iguais). Todavia, se a dívida solidária restando ao verdadeiro credor cobrar do
interessar exclusivamente a um dos devedores cedente, que indevidamente recebeu o
solidários, responderá este por toda a dívida pagamento.
quando da ação regressiva aos demais
credores. Em regra, o cedente não responde pela
O exemplo típico é o contrato de fiança. solvência do devedor, ou seja, caso o
Quando há renúncia ao benefício de ordem, cessionário não consiga receber o crédito em
devedor principal e fiador são devedores razão da insolvência do devedor, não poderá
solidários. Se o fiador for cobrado, poderá cobrar a dívida do cedente. No entanto, ele
cobrar em regresso do devedor principal não responderá se vier expresso no contrato.
só a metade da dívida, mas sim sua totalidade, Quando o cedente não responde pela
pois é uma dívida contraída no seu exclusivo solvência do devedor, a cessão é chamada de
interesse. cessão de crédito pro soluto; quando o cedente
Da mesma forma, sendo caso de mais de um responde pela solvência do devedor, é
fiador e um deles sendo cobrado pela dívida, chamada de cessão de crédito pro solvendo.
só terá ação regressiva contra o devedor
principal na totalidade da dívida, não tendo Embora o cedente, em regra, não responda
ação contra os demais co-fiadores. pela solvência do devedor, ele responde pela
3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES existência do crédito, ou seja, se ceder um
crédito que não existe, aí sim poderá ser
Haverá transmissão da obrigação quando cobrado pelo cessionário. O cedente
houver uma substituição subjetiva em seus responderá pela existência do crédito tendo o
polos, ou seja, uma troca de devedor ou de cedido gratuita ou onerosamente.
credor. São dois os tipos de transmissão das Se ceder de forma onerosa, responderá tendo
obrigações: cessão de crédito e assunção de agido de má-fé ou até mesmo de boa-fé, pois
dívida. recebeu pela cessão, devolvendo o valor
Na cessão de crédito há uma substituição no auferido. No entanto, na cessão gratuita,
polo ativo, ou seja, há uma troca de credores, como nada recebeu em troca, só responderá
pois o credor cede a um terceiro o seu crédito. se tiver procedido de má-fé, ou seja, se sabia
Na assunção de dívida há uma substituição no da inexistência do credito que cedeu.
polo passivo, ou seja, uma troca de devedores,
pois um terceiro assume a obrigação do Por fim, na cessão de crédito vigora o princípio
devedor. da oponibilidade das exceções pessoais
3.1. Cessão de crédito contra terceiros. O que significa isso? Quando
o cessionário cobrar a dívida do devedor, este
A cessão de crédito se caracteriza pela poderá se defender alegando as defesas
substituição no polo ativo da obrigação, pessoais que cabiam contra o cedente (art.
havendo uma troca de credores em razão da 294 do CC).
alienação, gratuita ou onerosa, de um crédito Exemplo: o devedor comprou um carro usado
a um terceiro, que se tornará o novo credor da do credor, mas não vai pagar porque
obrigação. apresentou vício redibitório. Só que o credor
A lei permite a cessão do crédito quando a isso cedeu o crédito a um terceiro, que é quem
não se opuser a natureza da obrigação, a lei cobra a dívida. O devedor poderá se defender
ou o acordo das partes. Quem cede o crédito contra o cessionário alegando o vício
é chamado de cedente e quem o recebe é redibitório, mesmo sendo uma defesa pessoal
chamado de cessionário. contra o cedente.
3.2. Assunção de dívida
A cessão do crédito independe da
concordância do devedor. A assunção de dívida se caracteriza pela
A lei exige apenas a notificação da cessão, substituição no polo passivo da obrigação,
para que ele não pague à pessoa errada. Caso havendo uma troca de devedores. A lei permite
o devedor não seja notificado e pague de boa-

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que terceiro assuma a dívida do devedor, mas leigo, pois pagamento é coloquialmente usado
exige a concordância expressa do credor. no sentido de dar dinheiro.
No entanto, independe de consentimento do Pagamento em sentido técnico é cumprir a
devedor, podendo a assunção de dívida ser prestação, seja um dar (dinheiro ou qualquer
por delegação (com consentimento do outro bem), um fazer ou até um não fazer.
devedor) ou por expromissão (sem
consentimento do devedor). No entanto, a obrigação pode ser extinta por
meios anormais, havendo extinção da
O terceiro que assume a obrigação é chamado obrigação de uma forma alternativa, de uma
de assuntor. forma diferente do que o cumprimento da
Quando ele assume a obrigação, o devedor prestação.
primitivo está exonerado, pois deixou de ser o São as formas anormais de extinção da
devedor. Todavia, há um caso em que o obrigação: pagamento em consignação,
devedor primitivo não estará exonerado, pagamento com sub-rogação, imputação de
podendo ser cobrado pelo credor: se a cessão pagamento, dação em pagamento, novação,
foi feita a quem insolvente e o credor a aceitou compensação, confusão e remissão.
por não saber do fato.
4.1. Pagamento
Com a assunção de dívida, salvo
consentimento expresso do devedor primitivo, Pagamento é o meio normal de extinção da
estarão extintas as garantias dadas por ele, obrigação, ou seja, o cumprimento da
afinal ele não é mais o devedor. Se a prestação (dar, fazer ou não fazer). O CC inicia
substituição vier a ser anulada, restaura-se o o tema abordando quem deve pagar (chamado
débito do devedor primitivo, com todas as de solvens) e a quem se deve pagar (chamado
garantias que existiam. de accipiens).
Exceção: não retornarão as garantias dadas
por terceiros, por exemplo, hipoteca de um O CC trata de quem deve pagar, mas, na
bem de terceiro. Exceção da exceção: a verdade, o que se estabelece são regras
garantia dada por terceiro poderá retornar, sobre quem pode pagar. A obrigação pode ser
caso ele soubesse da causa que gerou paga por qualquer pessoa que tenha algum
anulação da substituição. tipo de interesse, ou seja, pelo devedor ou por
um terceiro. A lei, no entanto, estabelece
O assuntor, como novo devedor, poderá alegar consequências diferentes para o pagamento
que tipo de defesa ao ser cobrado pelo sendo feito pelo devedor, por terceiro
credor? Com efeito, a defesa pode ser de dois interessado ou por terceiro não interessado.
tipos: comum ou pessoal. Será comum quando Quando se fala em terceiro interessado ou não
for defesa de qualquer pessoa que venha a ser interessado, fala-se em interesse jurídico, pois,
cobrado pelo credor (ex. prescrição da dívida). se o terceiro paga, algum tipo de interesse ele
Por outro lado, será defesa pessoal quando for tem. O terceiro será interessado quando puder
exclusiva de uma pessoa (ex. compensação ser cobrado pela dívida.
de dívida). Assim, um fiador que paga a dívida do
O assuntor, ao ser cobrado, poderá se valer afiançado é um terceiro interessado, mas o pai
das defesas comuns ou das suas pessoais, que paga a dívida de um filho maior de idade,
não podendo se valer das defesas pessoais embora tenha um interesse sentimental, é
que cabiam ao devedor primitivo (art. 302 do considerado um terceiro não interessado.
CC).
4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS Se o devedor efetuar o pagamento, extinta
OBRIGAÇÕES estará a obrigação e ele estará exonerado.
Se um terceiro pagar, também estará extinta,
O meio normal de extinção da obrigação é o mas ele poderá reaver o valor pago, embora
devedor cumprir a prestação, o que de forma diferente a depender de quem pagou:
chamamos de pagamento. Note que o sentido se terceiro interessado, sub-roga-se nos
técnico de pagamento difere do seu sentido direitos do credor; se terceiro não interessado,

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apenas tem direito de reembolso, não se sub- quitação. O instrumento da quitação é o recibo,
rogando nos direitos do credor. que sempre pode ser por instrumento
Em ambos os casos, o terceiro cobra do particular. Se o credor se recusar a dar
devedor o que pagou por ele, mas diferem quitação, o devedor pode legitimamente reter
porque, ao se sub-rogar nos direitos do credor, o pagamento enquanto não lhe for dada.
terá as garantias especiais dadas a ele, o que
não ocorre no mero direito de reembolso. Assim sendo, em regra, quem prova o
Detalhe: isso ocorrerá se o terceiro pagar em pagamento é o devedor, apresentando o
seu nome, pois se pagar em nome do devedor, recibo recebido como instrumento da quitação.
é considerado uma mera ajuda, não tendo No entanto, em três casos haverá presunção
direito de reaver o que pagou. de pagamento, dispensando o devedor de
A quem se deve pagar? O pagamento deve ser provar que pagou. Ocorre que é uma
feito ao credor ou a quem de direito o presunção relativa, ou seja, aquela que admite
represente. Se o pagamento foi feito à pessoa prova em contrário.
errada, pagou-se mal e quem paga mal, paga Desta forma, sendo um dos casos de
duas vezes, pois o verdadeiro credor poderá presunção de pagamento, não se fixa uma
cobrá-lo. verdade absoluta de que existiu pagamento,
No entanto, em dois casos, o pagamento feito mas sim uma inversão do ônus da prova, pois
a um terceiro libera o devedor: se o credor o devedor não precisa provar que pagou, mas
confirmar o pagamento ou tanto quanto provar o credor pode provar que o devedor não
ter se revertido ao credor. pagou.
São os três casos de presunção de
Há um caso em que o pagamento é feito a um pagamento:
terceiro e o devedor está liberado, mesmo que
o credor não confirme nem se prove a reversão a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for em
em seu benefício. quotas periódicas, a quitação da última
É o caso do pagamento feito ao chamado estabelece, até em prova em contrário, a
credor putativo. Putativo vem de putare, que presunção de estarem solvidas as anteriores;
significa crer, acreditar. Haverá credor putativo
quando se paga de boa-fé a quem não é o b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capital
credor, ou seja, se pagou à pessoa errada, sem fazer reserva que os juros não foram
mas havia motivos para acreditar ser ele o pagos, estes se presumem pagos; e
credor. Um exemplo já foi visto quando da
abordagem do tema cessão de crédito. c) Art. 324 do CC: a entrega do título firma
Vimos que o devedor não precisa concordar, presunção do pagamento, presunção que
mas deve ser notificado da cessão de crédito pode ser elidida no prazo de sessenta dias.
para saber que o credor mudou. Vimos que se
não for notificado e de boa-fé pagar ao Para se efetuar o pagamento, importa saber o
cedente, ele está exonerado e a razão é lugar do cumprimento da obrigação. É nesse
simples: pagou a credor putativo. lugar que se devem reunir credor e devedor na
data marcada, não podendo o devedor
No que se refere ao objeto do pagamento, este oferecer nem o credor exigir o cumprimento em
será o cumprimento da prestação. O credor lugar diverso.
não é obrigado a aceitar prestação diversa da
que lhe é devida, ainda que mais valiosa, No direito comparado, há dois tipos de
afirma o art. 313 do CC. Ainda que a obrigação obrigação: quérable ou portable. A obrigação
seja divisível, como dever dinheiro, não pode o quérable (chamada no Brasil de quesível) é
credor ser obrigado a receber nem o devedor aquela que deve ser cumprida no domicílio do
ser obrigado a pagar por partes, se assim não devedor e obrigação portable (chamada no
se ajustou. Brasil de portável) é aquela que deve ser
cumprida no domicílio do credor.
Quem paga tem direito de receber uma prova No Brasil, conforme previsão do art. 327 do
de que pagou. É o que chamamos de CC, em regra as obrigações devem ser

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cumpridas no domicílio do devedor, ou seja, extinguindo a obrigação com relação ao credor


são quesíveis ou quérable. Poderá ser portável originário.
ou até em outro local a depender da vontade A ideia é: A deve a B e um terceiro C paga essa
das partes, da lei, da natureza da obrigação ou dívida e agora A deve a C, pois este se sub-
das circunstâncias. rogou nos direitos de B.
Como exemplo, o art. 328 do CC determina
que se o pagamento consistir na entrega de Como é uma simples substituição no polo
um imóvel ou de prestações relativas a ele ativo, o vínculo se mantém e o novo credor
deverá ser cumprido onde situado o bem. tem todos os privilégios e garantias que tinha
o credor originário (art. 349 do CC).
4.2. Pagamento em consignação No entanto, é possível que um terceiro pague
dívida alheia e não se sub-rogue nos direitos
Consignação de pagamento significa o do credor, caso em que terá mero direito de
depósito judicial ou em estabelecimento reembolso contra o devedor, por não ser um
bancário da coisa devida, o que a lei equipara dos casos de pagamento com sub-rogação.
a pagamento, extinguindo a obrigação. O A diferença é que poderá cobrar dele o que
devedor tem não só o dever de pagar, mas pagou, mas sem ter os privilégios e garantias
também o direito de fazê-lo para evitar as do credor originário, pois surge um novo
consequências de sua mora. vínculo, uma nova obrigação (de reembolso),
A consignação em pagamento é, portanto, um extinguindo a obrigação primitiva.
valioso instrumento para o devedor não
suportar os encargos moratórios. A sub-rogação pode ser de dois tipos: legal ou
convencional, a depender se decorre de lei ou
Poderá o devedor consignar pagamento da vontade das partes.
basicamente quando houver mora do credor O CC prevê, em art. 346, os casos em que a
ou algum risco para o devedor na realização sub-rogação se opera de pleno direito, ou seja,
do pagamento direto. se um terceiro paga a dívida, ele se sub-roga
Nesse sentido, o art. 335 do CC arrola casos automaticamente nos direitos do credor
de cabimento da consignação em pagamento: primitivo, independente da vontade das partes.
se o credor se recusar sem justa causa a Se a lei não prevê como caso de sub-rogação,
receber o pagamento ou não puder recebê-lo, teria o terceiro mero direito de reembolso, mas
se o devedor tiver dúvida sobre quem é o as partes poderão prever a sub-rogação,
verdadeiro credor ou se o credor for passando o terceiro a ter os privilégios e
desconhecido, entre outros. garantias do credor primitivo, o que não
existiria no mero direito de reembolso.
Feito o depósito, a princípio, suspende a
incidência dos encargos moratórios, mas o Como exemplo, trago um caso visto no estudo
devedor deverá propor ação judicial para do pagamento. Se terceiro interessado paga a
discussão da matéria, podendo o credor dívida do devedor, sub-roga-se
impugnar o pagamento, pois só exonera o automaticamente nos direitos do credor,
devedor se observados os mesmos requisitos mantendo-se os privilégios e as garantias (art.
exigidos para validade do pagamento. 346, III, do CC).
Se julgado improcedente, o depósito não terá Se terceiro não interessado paga a dívida do
efeito. O processo tem procedimento especial devedor, apenas terá direito de reembolso,
previsto no CPC. não se sub-rogando nos direitos do credor
(sem os privilégios e garantias do credor
4.3. Pagamento com sub-rogação originário).
No entanto, se o terceiro não interessado
Pagamento com sub-rogação é a operação pagar a dívida do devedor condicionado a sub-
pela qual o crédito se transfere com todos os rogar-se nos direitos do credor, haverá
seus acessórios a um terceiro que paga dívida pagamento com sub-rogação convencional e
alheia. Sub-rogar é substituir, o que significa terá o novo credor os privilégios e garantias do
que haverá aqui uma substituição de credor, credor primitivo (art.347, II, do CC).

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pagamento a sub-rogar-se nos direitos do


4.4. Novação credor.
4.5. Imputação ao pagamento
Novação é o meio de extinção da obrigação
pelo surgimento de uma nova obrigação. A Se um devedor tem várias dívidas diferentes
novação pode ser de dois tipos: objetiva ou com um credor, mas não lhe entrega valor
subjetiva. suficiente para pagamento de todas, é preciso
A novação é objetiva quando a nova obrigação identificar quais as dívidas foram extintas.
difere da obrigação anterior pela substituição
da prestação (ex. obrigação de dar dinheiro Imputação ao pagamento é a indicação da
transformada em obrigação de fazer ou dívida a ser paga quando uma pessoa se
obrigação veiculada em cheque substituída encontra obrigada por dois ou mais débitos
por obrigação veiculada em nota promissória). com o mesmo credor, sem poder pagar todos
A novação será subjetiva quando a nova eles. Note que imputação ao pagamento não é
obrigação difere da obrigação anterior pela bem um meio de extinção da obrigação, mas
substituição do credor (novação subjetiva sim a determinação de que obrigação está
ativa) ou do devedor (novação subjetiva extinta quando nem todas forem pagas.
passiva).
Antes de a lei definir quais obrigações estão
Importante: qual a diferença entre pagamento extintas (imputação legal), as partes têm o
com sub-rogação e novação subjetiva ativa? direto de definir (imputação convencional).
Em ambos os casos, há troca do credor, mas Assim, em primeiro lugar, quem define é o
diferem porque no pagamento com sub- devedor. No seu silêncio, o credor define em
rogação o vínculo se mantém, havendo quais dá quitação.
apenas a troca de credor, enquanto que na Se nenhum deles definir, a lei definirá,
novação, extingue-se o vínculo anterior, estabelecendo a seguinte ordem: (i) primeiro
surgindo uma nova obrigação com um novo se pagam os juros vencidos e só depois o
vínculo. capital; (ii) pagamento imputado às dívidas
Consequência: no pagamento com sub- vencidas há mais tempo; (iii) se todas vencidas
rogação se mantém para o novo credor os no mesmo tempo, a imputação será na mais
privilégios e garantias do credor primitivo, onerosa (maiores juros ou multas);
enquanto que na novação, extinguem-se os (iv) se todas no mesmo tempo e mesmos ônus,
privilégios e garantias do credor primitivo, não a lei não dá solução, mas jurisprudência diz ser
as tendo o novo credor. de forma proporcional em cada uma das
obrigações.
Do exposto acerca da sub-rogação e novação, 4.6. Dação em pagamento
podemos chegar a uma conclusão: quando o
pagamento é efetuado por um terceiro, seja Dação em pagamento é a forma de extinção
interessado ou não interessado, ele poderá da obrigação através da qual o credor aceita
reaver do devedor primitivo o que por ele receber prestação diversa da que lhe é devida.
pagou. Conforme visto, nos termos do art. 313 do CC,
A diferença é que quando o pagamento é feito o credor não é obrigado a aceitar prestação
por terceiro interessado, há pagamento com diversa da contratada, ainda que mais valiosa.
sub-rogação, enquanto que no pagamento Porém, nada impede que o credor aceite
feito por terceiro não interessado, há novação, prestação diversa, caso em que haverá
pois se extingue o vínculo anterior, surgindo extinção da obrigação de uma forma anormal,
uma nova obrigação com um novo vínculo (a que não pelo pagamento, chamada de dação
obrigação de reembolso). em pagamento.
Por isso, o terceiro interessado terá os
privilégios e garantias do credor primitivo, mas Conforme será visto em contratos neste livro,
o terceiro não interessado não, a não ser que evicção é a perda judicial ou até administrativa
se valha do pagamento com sub-rogação de um bem em razão de vício jurídico anterior
convencional, ou seja, condicionando o à alienação. Quem vende não poderia ter

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vendido e quem compra perde para um dívida do credor contra ele, mas o fiador pode
terceiro, buscando do alienante uma compensar sua dívida para o credor (é dele
indenização. devedor porque é fiador) com a dívida que o
Se o devedor dá coisa diversa em pagamento credor tem com o afiançado, ou seja,
e o credor a perde pela evicção, restabelece- não com ele, pois o fiador não é devedor em
se a obrigação primitiva, ficando sem efeito a causa própria, mas mero garantidor de uma
quitação dada, ressalvados os direitos de dívida do afiançado (art. 371 do CC).
terceiro (art. 359 do CC). 4.8. Confusão e Remissão

4.7. Compensação Confusão é a forma de extinção das


obrigações por reunirem na mesma pessoa a
Compensação é a forma de extinção das qualidade de credor e devedor. Imagine um pai
obrigações entre duas pessoas que são, ao que deve uma quantia em dinheiro a seu filho,
mesmo tempo, credora e devedora uma da que é seu único herdeiro.
outra. O meio normal de extinção da obrigação Com a morte do pai, o filho assume o débito,
é o pagamento, ou seja, o cumprimento da mas ele próprio é o credor, gerando extinção
prestação. da obrigação pela confusão. A confusão pode
Todavia, quando duas pessoas são devedoras se verificar a respeito de toda a dívida (total)
e credoras uma da outra, não há sentido que ou só de parte dela (parcial). No exemplo
os pagamentos sejam feitos para extinção das citado, se são dois filhos, tendo o credor um
obrigações. Compensam-se as dívidas e irmão, só haverá extinção da obrigação
extintas estão as obrigações até onde se relativa à metade da dívida (espólio é devedor
compensarem. de metade do valor para o filho credor).

A compensação pode ser de dois tipos: legal Remissão é a forma de extinção da obrigação
ou convencional, a depender se decorre da lei com o perdão da dívida pelo credor. Cuidado:
ou da vontade das partes. A compensação não confunda remissão com remição. A causa
legal se dará automaticamente, bastando de extinção da obrigação é a remissão, é o ato
presentes os requisitos legais, quais sejam: de remitir, que significa perdão, perdoar.
reciprocidade das obrigações (um deve ao Remição ou ato de remir não é causa de
outro e vice versa), liquidez e vencimento das extinção da obrigação, pois significa resgate,
prestações e envolverem bens fungíveis entre resgatar.
si (não basta serem bens fungíveis, Tanto na confusão quanto na remissão há um
devem ser substituíveis entre si, ou seja, aspecto importante para você saber sobre
homogêneos, por exemplo, dinheiro por obrigações solidárias. Confusão ou remissão
dinheiro ou saca de café por saca de café, não entre credor e um dos devedores solidários ou
podendo ser dinheiro por saca de café). entre o devedor e um dos credores solidários:
Mesmo ausentes tais requisitos, ainda sim mantém-se a solidariedade entre os demais,
poderá haver compensação, mas será descontada a parte remitida ou da confusão
convencional, por depender da vontade das parcial.
partes.
Nada impede, portanto, haver compensação Exemplo: Imagine três devedores solidários
de uma dívida vencida com outra a termo, com em trinta mil reais ao pai de um deles
bens infungíveis ou de natureza diferente (solidariedade passiva). Com a morte do pai ou
(dinheiro por saca de café), mas será do filho ou se o pai perdoar só a dívida do filho,
compensação convencional, onde o que os outros dois devedores serão solidários em
importa é a vontade das partes. vinte mil reais. Da mesma forma, imagine que
um devedor deve trinta mil reais a três
A reciprocidade é um requisito para a credores solidários, sendo um deles o pai do
compensação legal, ou seja, devedor deve ao devedor (solidariedade ativa).
credor e vice-versa, mas há uma exceção: Com a morte do pai ou do filho ou se o pai
quando envolver o fiador. O devedor somente perdoar só a dívida do filho, os outros dois
compensa sua dívida para o credor com a credores serão solidários em vinte mil reais.

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paga no lugar e na forma devida. Note ainda


5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES não haver mora só do devedor, mas também
do credor, que ocorre quando este não quiser
5.1. Diferença entre inadimplemento e mora injustificadamente receber o pagamento,
sendo o pagamento em consignação a solução
Quando o devedor não cumpre a prestação, para o devedor se livrar dos encargos da mora.
estamos diante do inadimplemento, que pode
ser de dois os tipos: absoluto ou relativo. Segundo art. 395 do CC, configurada a mora,
O inadimplemento é absoluto quando a o devedor pode purgá-la, cumprindo a
prestação não é cumprida e não é mais útil ao prestação acrescida dos encargos moratórios.
credor que o devedor a cumpra - por exemplo, Todavia, se a prestação tornar-se inútil ao
contratação de cantor para cantar em um credor, este poderá enjeitá-la e pedir perdas e
casamento que não comparece à cerimônia. danos. A razão é simples: se inútil ao credor,
O inadimplemento é relativo quando a deixou de ser mora e se transformou em
prestação não é cumprida, mas ainda é útil ao inadimplemento absoluto.
credor que o devedor a cumpra, por exemplo,
não pagamento de uma dívida em dinheiro no Como exemplo, imagine uma costureira que
dia do vencimento. O inadimplemento absoluto deixa de entregar o vestido de noiva no prazo
é chamado simplesmente de inadimplemento estipulado. É caso de mora ou
e o inadimplemento relativo é chamado de inadimplemento? Depende. Se ainda não
mora. houve a cerimônia, em razão de a data
marcada lhe ser bastante anterior, o caso é de
Note que a diferença entre inadimplemento e mora;
mora reside no critério de utilidade para o se já houve a cerimônia, em razão da data
credor. Em ambos os casos, a prestação não marcada ter sido na véspera do casamento, o
é cumprida, sendo inadimplemento se a caso é de inadimplemento, caso em que o
prestação não é mais útil ao credor e mora se credor poderá rejeitar a coisa e pedir perdas e
a prestação ainda é útil ao credor. danos, pois ao se tornar inútil a ela, a mora se
transformou em inadimplemento absoluto.
Por que diferenciar mora e inadimplemento?
Se o caso é de inadimplemento, como a Completa a ideia de mora o art. 396 do CC,
prestação não é mais útil ao credor, a única que preceitua não incorrer em mora o devedor
solução é o pagamento de indenização por quando não haja fato ou omissão imposta a
perdas e danos (ar. 389 do CC). Por outro lado, ele. Significa que a mora é o não cumprimento
se o caso é de mora, cabe o que chamamos culposo da obrigação. Se não há culpa, não há
de purgação ou emenda da mora. O que é mora.
isso? É cumprir a obrigação, porque ainda útil Se uma conta do devedor só pode ser paga no
para o credor, acrescido dos encargos banco e o vencimento cai em um domingo, ao
moratórios. se pagar no dia seguinte, não há de se falar em
Purga-se a mora pagando-se com retardo, mora, tanto que se paga sem encargos
acrescido de: correção monetária, juros de moratórios.
mora, perdas e danos decorrentes da mora e
eventual honorários de advogado (art. 395 do O art. 397 do CC nos faz perceber haver dois
CC). tipos de mora: ex re e ex persona.
5.2. Mora A mora ex re é automática, ou seja, é aquela
que independe de ato do credor para o
O art. 394 do CC diz que se considera em mora devedor ser constituído em mora (interpelação
o devedor que não efetuar o pagamento e o judicial ou extrajudicial, notificação, protesto ou
credor que não quiser recebê-lo no tempo, citação do devedor). Por sua vez, a mora ex
lugar e forma que a lei ou a convenção persona é aquela que precisa de um dos
estabelecer. citados atos do credor para o devedor ser
Note haver mora não apenas quando não se constituído em mora. Quando a mora é ex re e
paga no tempo devido, mas também se não se quando é ex persona?

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Apenas em dois casos, estará desobrigado de


Há dois tipos de obrigações: com dia certo de indenização: quando provar isenção de culpa
vencimento e sem dia certo de vencimento. no seu atraso (evidente, pois nesse caso não
Quando a obrigação tem um dia certo de há mora, pois a mora é o não cumprimento
vencimento, o devedor não precisa ser culposo da obrigação) e se provar que o dano
constituído em mora por ato do credor, pois o ocorreria mesmo se a prestação tivesse sido
simples não pagamento no vencimento o cumprida no tempo, lugar ou forma devida, ou
constitui em mora (dies interpellat pro homine, seja, mesmo se não houvesse mora.
ou seja, o próprio dia interpela o devedor).
Por outro lado, quando a obrigação não tem b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): A
dia certo de vencimento, o devedor só estará mora do credor, ou seja, se o credor se recusar
em mora se for constituído por ato do credor. injustificadamente a receber o pagamento,
Assim, quando a obrigação é com dia certo de gera três efeitos: (i) retira do devedor isento de
vencimento, a mora é ex re e quando a dolo a responsabilidade pela conservação da
obrigação é sem dia certo de vencimento, a coisa (só indeniza perda ou deterioração do
mora é ex persona. bem se teve dolo, não respondendo se teve
culpa stricto sensu, ou seja, imprudência,
O art. 398 do CC demonstra que a mora é ex negligência ou imperícia);
re quando a obrigação não cumprida decorre (ii) obriga o credor a ressarcir o devedor das
de ato ilícito. Com efeito, ato ilícito civil é despesas que teve para conservar o bem; e (iii)
causar dano a alguém, gerando ao causador o sujeita o credor a receber o bem pela
dever de indenizá-lo. Poderíamos pensar ser estimação mais favorável ao devedor se o seu
caso de mora ex persona, pois o devedor deve valor oscilar entre o dia estabelecido para o
ser constituído em mora por um ato do credor, pagamento e o da sua efetivação.
propondo ação judicial (citação válida constitui 5.3. Responsabilidade Civil Contratual
o devedor em mora).
No entanto, tal entendimento é equivocado, Responsabilidade civil é o dever de indenizar
pois a lei diz que essa mora é automática, um prejuízo causado. Há dois tipos de
independendo de qualquer ato do credor. O responsabilidade civil: contratual e
art. neste momento em análise diz que nas extracontratual.
obrigações provenientes de ato ilícito, A responsabilidade civil contratual é aquela em
considera-se o devedor em mora desde que o que há um contrato entre as partes, ou seja,
praticou (a responsabilidade de reparar o dano um contratante não cumpre o contrato,
fixada na sentença judicial retroage à data do causando prejuízo ao outro contratante,
ato para aplicar os efeitos da mora). gerando dever de indenização.
A responsabilidade civil extracontratual,
Os arts. 399 e 400 do CC trazem dois efeitos também chamada de aquiliana, é aquela em
da mora, um para mora do devedor e outro que não existe um contrato entre quem causa
para a mora do credor: e quem sofre o dano, como no caso de alguém
bater no carro de outrem, tendo que indenizá-
a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC): lo. Responsabilidade civil extracontratual é
O devedor em mora responde pela tema do capítulo responsabilidade civil.
impossibilidade da prestação, ainda que esta Responsabilidade civil contratual é estudada
se dê por caso fortuito ou força maior. aqui em obrigações, pois ocorre diante de
Se a prestação do devedor se torna impossível mora e inadimplemento.
sem culpa do devedor, simplesmente se
resolve a obrigação sem qualquer ônus a lhe O contratante que não cumpre o contrato será
ser imposto. Todavia, se a impossibilidade civilmente responsabilizado, mas apenas se
ocorrer durante seu atraso, o devedor ficará isso gerar um dano ao outro contratante, pois
obrigado a indenizar o credor pela responsabilidade civil é o dever de indenizar
impossibilidade da prestação, mesmo que esta um dano causado.
tenha se dado por caso fortuito ou por força Conforme o art. 402 do CC, o inadimplente
maior. deverá indenizar não só o dano emergente,

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mas também os lucros cessantes, que são os Em ambos os casos só há responsabilidade


dois tipos de dano material. Dano emergente: civil diante da existência de culpa do devedor,
prejuízo efetivamente experimentado; lucro mas na responsabilidade civil contratual, a
cessante: o que se legitimamente se deixou de culpa é presumida. Todavia, é uma presunção
ganhar. A eles se acrescenta dano moral. relativa, ou seja, aquela que admite prova em
contrário, representando, assim, a inversão do
Diante de inadimplemento, seja absoluto ou ônus da prova. Na responsabilidade civil
relativo, quem não cumpre o contrato contratual, basta ao contratante provar que o
causando dano ao outro contratante deverá outro não cumpriu o contrato.
indenizá-lo. A questão é: a responsabilidade Se este não teve culpa no inadimplemento, ele
civil contratual é subjetiva (depende de culpa) que prove. Por outro lado, se é
ou objetiva (independe de culpa)? responsabilidade civil extracontratual
subjetiva, a vítima do dano, ao cobrar perdas e
A responsabilidade civil contratual é subjetiva, danos, deverá provar que o agressor teve
pois só há mora se o não cumprimento da culpa ao causar o dano, pois esta não é
prestação for culposo. Significa que não há presumida.
mora e, portanto, não há responsabilidade civil
contratual, se não houver culpa do contratante Quando se diz que a responsabilidade
em não cumprir a prestação. subjetiva exige a culpa, usa-se o termo culpa
O mesmo ocorre com o inadimplemento em sentido amplo, ou seja, é o dolo ou a culpa
absoluto, que pode ser culposo (com culpa do em sentido restrito (imprudência, negligência
devedor) ou fortuito (sem culpa do devedor), ou imperícia). A princípio, não há diferença na
mas, em regra, só haverá obrigação de responsabilidade civil contratual se o
indenizar se o devedor teve culpa no inadimplemento foi por dolo ou por culpa.
inadimplemento. O art. 404 do CC diz que não interfere no valor
Se um cantor é contratado para cantar no da indenização se por dolo ou culpa, pois o
casamento e propositalmente não aparece na valor da indenização será o valor do dano
cerimônia, será responsabilizado em perdas e sofrido. No entanto, a lei consagrou uma
danos, mas se não cumpriu o contrato porque diferença entre inadimplemento doloso ou
foi sequestrado na véspera, não há de se falar culposo no negócio jurídico benéfico, ou seja,
em dever indenizatório. no contrato gratuito.

Importante: O art. 393 do CC dispõe que “o Nos termos do art. 392 do CC, se o contrato é
devedor não responde pelos prejuízos oneroso, o contratante inadimplente responde
resultantes do caso fortuito ou de força maior, por não ter cumprido o contrato por dolo ou por
se expressamente não se houver por eles culpa, mas, se for um contrato benéfico ou
responsabilizado” Note que, conforme visto, a gratuito, a parte que não é favorecida (aquela
responsabilidade civil contratual é subjetiva, que não recebe nada em troca) só responde
mas as partes podem expressamente prever pelo inadimplemento se agiu com dolo, ou
no contrato que o inadimplente responderá seja,
mesmo que não tenha cumprido o contrato por não será responsabilizado civilmente pelo não
caso fortuito ou motivo de força maior, ou seja, cumprimento do contrato por culpa em sentido
sem ter tido culpa, pois caso fortuito ou motivo estrito.
de força maior são situações inevitáveis, que o
inadimplente não podia impedir, Assim sendo, ao doar um bem, o doador só
como no caso do cantor contratado para cantar responde pela impossibilidade de entregar a
em um casamento que não cumpre a coisa doada, caso tenha agido dolosamente,
obrigação por ter sido sequestrado na véspera. por exemplo, se destruiu intencionalmente
esse bem.
Qual a diferença, então, entre Não responderá o doador, se o bem se
responsabilidade civil contratual e quebrou porque foi negligente ao usá-lo, caso
responsabilidade civil extracontratual em que simplesmente se resolverá a
subjetiva?

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obrigação, desfazendo a doação sem qualquer locatário devolver as chaves antes do fim do
dever indenizatório ao doador. contrato,
Se o contrato for de compra e venda e a coisa será uma cláusula penal compensatória, pois
se perde com culpa do devedor, vimos que a o locatário pagará uma multa por não ter
solução é dar o equivalente acrescido de cumprido sua prestação, pelo menos em parte.
perdas e danos, que será devido tanto no caso Por outro lado, se houver no contrato uma
de dolo quanto de culpa, ou seja, se quebrou multa em razão do locatário atrasar o
propositalmente ou se por negligência, pois pagamento do aluguel por não pagar no dia do
compra e venda é contrato oneroso. vencimento, será uma cláusula penal
5.4. Cláusula Penal moratória, pois o pagamento da multa é para o
retardamento no cumprimento da prestação.
Conforme vimos, tanto o inadimplemento Note que há dois tipos de cláusula penal, cada
quanto a mora podem gerar responsabilidade uma com uma finalidade específica. A
civil contratual. Em caso de inadimplemento, o cláusula penal compensatória tem a função de
contratante deverá indenizar o outro em compensar o contratante por não ter o outro
perdas e danos causados pelo não contratante cumprido sua prestação. Já a
cumprimento do contrato e, em caso de mora, cláusula penal moratória tem a função de
o devedor poderá purgá-la, intimidar, pois o contratante pagará uma multa
cumprindo a prestação com retardado, se retardar o cumprimento da prestação.
acrescida de perdas e danos causados pela
mora, correção monetária, juros de mora e O art. 408 do CC demonstra que a cláusula
honorários advocatícios. penal é uma prefixação de perdas e danos e
que a responsabilidade civil contratual é
O grande problema na responsabilidade civil subjetiva, pois diz que incorre de pleno direito
contratual é provar o valor da indenização, ou na cláusula penal o devedor que culposamente
seja, a extensão do prejuízo causado pelo não deixe de cumprir a obrigação ou que se
cumprimento do contrato. constitua em mora.
Para resolver esse problema, a lei traz como Significa que, em caso de inadimplemento, o
solução a cláusula penal, que é uma multa outro contratante pode executar a multa,
prefixando o valor das perdas e danos em independente de provar a extensão do dano
razão da mora ou do inadimplemento. em ação de conhecimento. E a lei vai mais
longe ainda com o art. 416 do CC, prevendo
Cláusula penal, portanto, é um pacto inserido que sequer é necessário provar que houve
no contrato, impondo multa ao devedor que dano, se este foi prefixado no contrato.
não cumpre ou que retarda o cumprimento da
prestação. Uma questão pode ser levantada: se o prejuízo
Note que há multa tanto para o caso de mora do contratante for maior do que o valor da
quanto de inadimplemento. Assim, há dois multa, poderá ele cobrar a diferença? A
tipos de cláusula penal: moratória e princípio não, pois o parágrafo único do art.
compensatória. A cláusula penal moratória é 416 do CC diz que só poderá cobrar eventual
para prefixar perdas e danos em razão da valor a mais, se esta possibilidade estiver
mora, ou seja, pelo retardamento no expressa no contrato.
cumprimento da obrigação, e a cláusula penal Se assim for, o valor da multa já é objeto de
compensatória é para prefixar perdas e danos execução e o valor a mais deverá ser provado
em caso de inadimplemento absoluto, ou seja, em ação de conhecimento para seguir a
pelo não cumprimento da prestação. execução por título executivo judicial. Se não
houver permissivo contratual, limita-se a
Como exemplo, imaginemos um contrato de executar a multa.
locação, cuja prestação do locatário é pagar,
durante três anos, mil reais por mês ao Há importante diferença na cobrança da
locador. Se no contrato houver uma multa no cláusula penal a depender se compensatória
valor de três meses de aluguel para o caso do ou se moratória (arts. 410 e 411 do CC): no
inadimplemento o credor cobra cláusula penal

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compensatória ou o cumprimento da prestação Arras significam sinal, ou seja, é aquilo que é


enquanto que na mora o credor cobra entregue por um dos contratantes ao outro
cumprimento da prestação e cláusula penal como princípio de pagamento quando da
moratória. celebração do contrato para confirmação do
acordo.
No caso da cláusula penal compensatória, A vantagem do adiantamento de um sinal é
havendo inadimplemento, esta se converterá confirmar o negócio, pois se houver
em alternativa a benefício do credor, ou seja, desistência, aquele que desistiu perderá o
este poderá escolher entre cobrar do valor das arras para compensar os prejuízos.
contratante inadimplente a multa ou o Se quem deu o sinal desistir, não poderá
cumprimento da prestação. cobrá-lo de volta; se quem o recebeu desistir,
No exemplo do cantor contratado para cantar devolverá o valor em dobro (como recebeu
no casamento, diante do não comparecimento arras, a perda efetiva será no valor das arras)
à cerimônia, o contratante poderá cobrar a
multa ou pedir para cantar depois, por São dois os tipos de arras: confirmatória e
exemplo, no aniversário dele que será na penitenciais. A diferença decorre se no
semana seguinte. contrato existe ou não cláusula de
Sendo cláusula penal moratória, sobrevindo arrependimento.
mora, o credor pode exigir o cumprimento da
prestação acrescido da multa, pois, se não a) Arras confirmatórias: As arras serão
pagou a dívida no dia, o credor a cobrará confirmatórias quando não houver previsão no
acrescido da multa com os demais encargos contrato de direito de arrependimento.
moratórios. É o normal, pois as partes celebram um
contrato não esperando que a outra parte
Para fechar o tema, é preciso saber que o juiz desista. Assim, estipulam um valor de sinal a
pode reduzir o valor da cláusula penal ser pago imediatamente para confirmar o
compensatória em dois casos previsto no art. negócio. Se quem deu arras desistir, perderá o
413 do CC: sinal dado, mas se quem desistir foi quem
recebeu o sinal, devolverá o dobro do valor.
a) Se o valor é manifestamente excessivo: O
art. 412 do CC estipula um valor máximo da b) Arras penitenciais: As arras serão
cláusula penal compensatória ao afirmar que penitenciais quando houver previsão no
ela não pode exceder o valor da obrigação contrato de direito de arrependimento.
principal. No entanto, mesmo dentro desse Qualquer das partes terá direito de se
limite, o juiz poderá reduzi-la a pedido da parte arrepender, mas tem um preço para isso, ou
se manifestamente excessivo segundo as seja, o valor das arras. Se quem desiste deu
circunstâncias do caso. arras, perderá o sinal dado, mas se quem
desistir foi quem recebeu o sinal, devolverá o
b) Se a prestação tiver sido cumprida em parte: dobro do valor.
a função da cláusula penal compensatória é
compensar o contratante pelo fato do outro não Ora, tanto nas arras confirmatórias como
ter cumprido a prestação. Assim, se este penitenciais, a consequência é a mesma: se
cumpre parte da prestação, a compensação quem desiste deu arras, perderá o sinal dado,
deve ser apenas da parte não cumprida. mas se quem desiste foi quem recebeu o sinal,
Exemplo: se o contrato de locação diz que o devolverá o dobro do valor. Então, pergunto:
locatário deve pagar multa de três meses de para que diferenciar uma da outra?
aluguel se devolver as chaves antes do fim do
contrato, caso ele devolva tendo cumprido Para o caso do prejuízo com a desistência ser
metade do contrato, não deverá arcar com maior que o valor fixado a título de arras. Se
toda a multa, mas apenas metade dela. forem arras confirmatórias, não há previsão de
direito de arrependimento e posso cobrar o
5.5. Arras prejuízo que a desistência me acarretar. Como

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já me beneficiei do valor das arras, cobro aleatório (aleatório atípico). O contrato é


apenas o prejuízo que tive a mais. naturalmente aleatório quando for da sua
No entanto, se forem arras penitenciais, há no essência ser aleatório, por exemplo, contrato
contrato previsão de direito de de seguro. O contrato é acidentalmente
arrependimento, sendo fixado um preço para aleatório quando for da sua essência ser
isso, ou seja, o valor de arras, não podendo o comutativo, mas é aleatório em razão de uma
prejudicado cobrar eventual valor a mais que circunstância que lhe é específica.
tenha tido de prejuízo com a desistência do Exemplo: contrato de compra e venda é
outro contratante. comutativo, mas o contrato de compra e venda
de uma safra que está sendo plantada é
Diferença: nas arras confirmatórias (quando aleatório, pois não se sabe qual será a
não há direito de arrependimento), o quantidade da produção.
contratante pode cobrar indenização
suplementar, enquanto que não poderá fazê-lo Os arts. 458 a 461 do CC trazem dois tipos de
nas arras penitenciais (quando há direito de contratos de compra e venda atipicamente
arrependimento), pois se fixou um preço para aleatórios: compra e venda de coisa futura e
isso. de coisa exposta a risco.
2.2. Contrato oneroso e gratuito
a) Compra e venda de coisa futura: O contrato
a) Contrato oneroso: é aquele em que as de compra e venda de coisa futura é aleatório,
partes ganham algo equivalente à sua pois não se sabe se a coisa virá a existir e em
prestação, ou seja, há equilíbrio econômico que quantidade.
entre as partes porque ambos perdem e Pode o contratante assumir o risco da coisa
ganham na mesma proporção econômica, por não vir a existir, pagando mesmo assim o
exemplo, contrato de compra e venda. preço (chamado de contrato de compra e
venda emptio spei) ou assumir o risco de vir a
b) Contrato gratuito: é aquele em que a parte existir em qualquer quantidade, pagando o
não ganha algo equivalente à sua prestação, preço se vier a existir em quantidade inferior à
ou seja, há desequilíbrio econômico, pois uma esperada, mas não pagando se nada do
das partes só ganha e uma das partes só avençado vier a existir (chamado contrato de
perde, por exemplo, contrato de doação. compra e venda emptio rei speratae).
Em ambos os casos, não pagará o preço se
2.3. Contrato comutativo e aleatório menos do esperado vier a existir por culpa ou
dolo do contratante. Como exemplo, pense na
a) Contrato comutativo: é aquele em que as compra de peixes que ainda serão pescados,
partes podem antever os seus efeitos, ou seja, em que se paga o preço mesmo que nenhum
ao celebrar o contrato, já sabem os efeitos que peixe seja pescado (emptio spei) ou se vier em
serão produzidos. Exemplo: contrato de qualquer quantidade, só não pagando se
compra e venda, pois já se sabe que um nenhum vier (emptio rei speratae).
entrega o bem e que outro entrega o preço. Em nenhum dos dois casos pagará, se o
insucesso total ou parcial decorreu de dolo ou
b) Contrato aleatório: é aquele em que as culpa do pescador.
partes não podem antever os seus efeitos, ou
seja, ao celebrar o contrato não há como saber b) Compra e venda de coisa exposta a risco: O
os efeitos que serão produzidos. A razão é contrato de compra e venda de coisa exposta
simples: contrato aleatório é o contrato de risco a risco é de coisa que já existe, mas é
(álea significa risco). atipicamente aleatório, pois o comprador
Exemplo: contrato de seguro, pois o segurado assume o risco exposto.
pode ou não receber a indenização, a Exemplo: compra de cerâmica a ser
depender se ocorre ou não o sinistro, o que transportada em navio, cujo risco de vir a se
não se sabe quando o contrato é celebrado. quebrar o comprador assuma. Deverá pagar
O contrato aleatório pode ser naturalmente todo o preço, mesmo que alguns venham
aleatório (aleatório típico) ou acidentalmente quebrados, a menos que dolosamente o

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vendedor se aproveite, colocando alguns já a) Contrato entre presentes: é aquele em que


quebrados. proposta e aceitação se dão em tempo real,
2.4. Contrato consensual e real sendo firmado não só entre pessoas
fisicamente presentes, mas também por
O contrato se forma, em regra, quando a uma telefone ou meio de comunicação semelhante
proposta se seguir uma aceitação, ou seja, (vídeo conferência, chats, entre outros).
com o acordo de vontade das partes. Essa
regra é quebrada em alguns casos, quando o b) Contrato entre ausentes: é aquele em que
acordo de vontades não é suficiente para a proposta e aceitação não se dão em tempo
formação do contrato, real, cujos principais exemplos são aqueles
o que só ocorre com a prática de um ato formados por carta ou por e-mail.
posterior: a entrega do bem objeto da
prestação. 3. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS

a) Contrato consensual: é aquele que se forma 3.1. Princípio da autonomia da vontade


com o acordo de vontades das partes. É a
regra em matéria de contratos, por exemplo, o As partes são livres para contratar, ou seja,
contrato de compra e venda. contratam se quiserem, com quem quiserem
e sobre o que quiserem. Isso decorre de
b) Contrato real: é aquele que se forma com a simples razão: contrato é um acordo de
tradição, ou seja, com a entrega do bem, que vontades.
se segue ao acordo de vontade das partes. O limite para suas atuações é a lei e, como
São três os contratos reais: mútuo, comodato veremos mais à frente, o interesse social e a
e depósito. boa-fé.
2.5. Contrato de execução instantânea, 3.2. Princípio da obrigatoriedade e a teoria da
continuada e diferida imprevisão (pacta sunt servanda x cláusula
rebus sic stantibus)
a) Contrato de execução instantânea: é aquele
que é cumprido em uma só vez, no momento As partes contratam se quiserem, mas, se
da celebração do contrato (exemplo: compra e contratarem, são obrigadas a cumprir o
venda com pagamento à vista). contrato. O contrato faz lei entre as partes, o
que traduz o conhecido pacta sunt servanda,
b) Contrato de execução continuada: é aquele ou seja, os pactos devem ser cumpridos.
em que a prestação é cumprida em cotas Essa é a noção básica do princípio, mas o seu
periódicas (exemplo: compra e venda com estudo pode e deve ser aprofundado. O atual
pagamento parcelado). CC adotou o princípio do pacta sunt servanda,
mas não de forma absoluta, pois foi mitigado
c) Contrato de execução diferida: é aquele em pela previsão da chamada cláusula rebus sic
que a prestação é cumprida em uma só vez, stantibus.
mas no futuro (exemplo: compra e venda com Para entender essa cláusula, é necessária
pagamento a prazo). uma breve análise histórica. Desde a origem
2.6. Contrato entre presentes e entre ausentes dos contratos, vigora o princípio do pacta sunt
servanda, ou seja, o contrato sempre fez lei
É uma classificação que se refere à formação entre as partes. No entanto, a Idade Média foi
do contrato. Pelos nomes, parece que uma época que ameaçou a sobrevivência
depende se as partes estão ou não na desse princípio, pois foi um período marcado
presença física um do outro. por constantes guerras e conflitos feudais,
Não é bem assim, pois há tecnologias que o que inviabilizava o cumprimento de um
fazem com que uma conversa entre pessoas contrato. Por isso, naquela época, tornou-se
distantes seja como se estivessem fisicamente comum vir nos contratos com prestação que se
presentes, pois proposta e aceitação se dão prolongava no tempo uma cláusula liberando o
em tempo real. contratante em caso de ocorrer uma guerra ou
conflito feudal, permitindo-lhe pedir o fim do

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contrato. Rebus sic stantibus significa “coisa c) Fato superveniente e imprevisível: A


assim ficar”, ou seja, o contratante é obrigado resolução do contrato só terá lugar se o
a cumprir o contrato, desequilíbrio das prestações decorrerem de
mas apenas se a coisa assim ficar. um fato superveniente que as partes não
A inovação do atual CC foi tornar a cláusula podiam prever quando da celebração do
rebus sic stantibus implícita aos contratos, contrato.
quando passou a prever a teoria da imprevisão Atenção: não confunda teoria da onerosidade
ou da onerosidade excessiva. Se um contrato excessiva com lesão e estado de perigo.
for assinado e sobrevier fato imprevisível que Nesses defeitos do negócio jurídico, o ato já
o desequilibre, tornando-o excessivamente nasce viciado, enquanto que na aplicação da
oneroso para uma das partes e com extrema teoria ora em estudo, o contrato nasce
vantagem para a outra, poderá aquela pedir a conforme a lei, mas se vicia por fato
resolução do contrato (art. 478 do CC). superveniente. A consequência disso é que na
O exemplo típico é o contrato de leasing de um lesão e no estado de perigo o contrato é
carro, com valor atrelado ao dólar (locação anulado, enquanto que na teoria da imprevisão
com opção de compra ao fim do contrato ele é objeto de resolução.
mediante pagamento de valor residual). O Nos citados vícios da vontade, como o ato é
dólar vale um real e passa do dia para noite invalidado, a sentença anulatória retroage à
para dois reais, dobrando o valor a ser pago. data da prática do ato, desfazendo todos os
Poderá ser pedida a resolução do contrato com efeitos produzidos, inclusive os anteriores à
base na teoria da imprevisão ou da anulação. Na resolução do contrato pela
onerosidade excessiva. onerosidade excessiva, a sentença não
São os elementos necessários para incidência deveria retroagir, só aniquilando os efeitos a
da teoria da imprevisão ou da onerosidade partir da resolução. Todavia, por expressa
excessiva: previsão legal,
efeitos anteriores à resolução serão desfeitos,
a) Contrato de execução continuada ou pois a lei determina que a sentença retroaja à
diferida: A teoria da imprevisão se aplica a data da citação, ou seja, só são preservados
contratos cuja execução se prolongue no os efeitos anteriores à citação.
tempo, ou seja, quando a execução é Importante lembrar que o contrato atingido
continuada ou diferida no tempo. pela teoria da imprevisão ou onerosidade
Como o contrato de execução instantânea tem excessiva pode se manter, sem ser objeto de
prestações cumpridas quando da celebração resolução, o que ocorrerá se o contratante
do contrato, estas não serão atingidas pelo fato beneficiado concordar com a redução do seu
imprevisível superveniente. ganho, reequilibrando as prestações.
3.3. Princípio da relatividade dos efeitos dos
b) Prestação excessivamente onerosa para contratos
uma das partes: É a ideia da teoria, a
excessiva onerosidade para uma das partes, O contrato só produz efeitos em relação às
desequilibrando o contrato. partes. É por isso que dizemos que o direito
c) Extrema vantagem para a outra parte: Para contratual é inter parte (entre as partes),
a resolução dos contratos, não basta este ter diferente dos direitos reais, que são direitos
ficado muito oneroso para uma das partes. É oponíveis erga omnes (contra todos).
preciso que, concomitantemente, tenha havido Significa que o contratante só pode opor seu
extrema vantagem para a outra parte. Assim direito contratual ao outro contratante e não a
sendo, se o contratante perde seu emprego e pessoas estranhas à relação contratual, pois
consegue outro recebendo metade do salário só as partes podem ter direitos e deveres
anterior, o contrato fica excessivamente frutos do contrato que celebraram.
oneroso para ele, 3.4. Princípio da função social do contrato
mas não poderá pedir a resolução pela
onerosidade excessiva porque não houve O contrato não interessa apenas às partes
extrema vantagem para a outra parte. contratantes, mas sim a toda sociedade,
porque ele repercute no meio social. Essa é a

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ideia do princípio da função social do contrato, quiserem, mas a limitação à autonomia da


que reflete a atual tendência de sociabilidade vontade não se dá apenas pela lei,
do direito, ou seja, mas também pelo interesse social.
de subordinação da liberdade individual em Imagine um contrato para a construção de uma
função do interesse social. Assim sendo, se o obra de vulto ou de uma indústria. Não
contrato repercute negativamente para a obstante estejam observados os requisitos
sociedade, o juiz pode nele intervir para legais de validade (agente capaz, objeto
preservação do interesse coletivo. possível, determinado ou determinado e forma
Como exemplo, podemos pensar em um prescrita ou não defesa em lei), alguns
contrato com juros excessivamente elevados. questionamentos podem ser feitos: e os
Não é ruim apenas para a parte devedora, mas reflexos ambientais? E os reflexos
para toda a sociedade, pois aumenta o risco de trabalhistas? E os reflexos sociais? E os
inadimplemento, o que aumenta ainda mais os reflexos morais, ou seja,
juros, o que dificulta a circulação do crédito, no âmbito dos direitos da personalidade? Por
diminuindo os investimentos produtivos e melhor que seja o contrato do ponto de vista
fazendo com que o Estado não se desenvolva. econômico para os contratantes, não se pode
O juiz, chancelar como válido um negócio negativo
sob o fundamento da função social do contrato, para a sociedade em razão do desrespeito de
poderá intervir nessa relação entre leis ambientais, que pretenda fraudar leis
particulares, trazendo os juros para valor de trabalhistas ou que viole a livre concorrência,
mercado. as leis do mercado ou postulados de defesa do
O CC, em várias oportunidades, tem regras consumidor, mesmo sob o pretexto da livre
que refletem essa tendência da sociabilidade iniciativa.
do direito. É o caso, por exemplo, da teoria da Analisando os exemplos supramencionados,
imprevisão, podendo o juiz pôr fim ao contrato podemos verificar que um contrato que não
em razão do seu desequilíbrio econômico pela cumpre a sua função social pode ser bom
superveniência de um fato imprevisível. O apenas para uma das partes, como ocorre com
mesmo ocorre no caso de lesão e estado de o contrato com juros excessivos. Neste caso,
perigo, podendo o juiz invalidar o contrato, caberá ao contratante prejudicado pedir a
por uma das partes ter assumido obrigação tutela jurisdicional com base na função social
excessivamente onerosa em razão de do contrato. No entanto,
determinadas circunstâncias que forçam a até mesmo quando o contrato for bom do ponto
contratação. de vista econômico para ambas as partes,
Isso demonstra a preocupação socializante do poderá ser alvo de intervenção do juiz, caso
atual CC, pois, mesmo preenchidos os contrarie o interesse social, como é o caso de
requisitos formais de validade do negócio um contrato muito lucrativo, mas que gera
jurídico, a lei pretende amparar um dos danos ambientais ou que fraude leis
contratantes da esperteza ou ganância do trabalhistas. A questão é: nesse caso de mútuo
outro ou do prejuízo econômico imprevisível benefício, a quem caberá pedir a intervenção
com extrema vantagem para o outro judicial?
contratante. Qual a razão disso? O papel de guardião do princípio da função
O Poder Judiciário só pode chancelar social do contrato deve recair sobre os ombros
contratos que respeitem não só regras formais do Ministério Público. A princípio, o parquet
de validade jurídica, mas, sobretudo, normas não teria legitimidade ativa para pedir a
superiores de cunho moral e social. intervenção do juiz no contrato, por tratar-se de
Essa concepção social do contrato chega ao interesse privado. Todavia, como o contrato
seu ápice quando o CC, já em seu primeiro tem uma função social, não podendo
artigo sobre contratos, diz que a função social prejudicar a sociedade como um todo, o
do contrato representa uma limitação na interesse passa a ser coletivo, legitimando a
liberdade de contratar (art. 421 do CC). As atuação ministerial.
partes são livres para, dentro dos limites Com efeito, o princípio da função social do
legais, colocarem no contrato as cláusulas que contrato possibilita uma nova tendência de
controle dos contratos inaugurada pelo atual

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CC: o dirigismo judicial dos contratos. O que Imagine um casal de noivos que compra suas
significa isso? O contrato sempre sofreu alianças em uma joalheria, optando por um
controle externo, limitando a atuação dos modelo que é feito com ouro amarelo e ouro
contratantes. Até então, prevalecia o controle branco. Satisfeitos com a bela aliança, no dia
feito pela lei, razão pela qual esse controle é da festa do noivado, um casal de amigos
chamado de dirigismo legal dos contratos. informa que toda aliança com ouro branco fica
Pense, como exemplo, no contrato de locação, amarelada com o decorrer do tempo.
onde a lei do inquilinato limita a atuação do Revoltados,
locador. Hoje, com o CC vigente, prevalece o reclamam junto à joalheria, que diz nada poder
dirigismo judicial dos contratos, ou seja, não é fazer. Os noivos poderão pedir a resolução do
a lei que controla o contrato, mas sim o juiz, na contrato de compra e venda, devolvendo as
análise do caso concreto. alianças e recebendo seu dinheiro de volta, em
O que torna isso possível é a utilização das função da quebra da boa-fé do vendedor, que
chamadas cláusulas gerais ou conceitos não informou um relevante aspecto do
jurídicos indeterminados, que tem como contrato, que interferiria na escolha do modelo
exemplo a função social dos contratos. São da aliança ou na própria realização do negócio.
expressões vagas em seu conteúdo, exigindo O princípio que rege os contratos é o princípio
do aplicador do direito uma análise do caso da boa-fé objetiva, mas, em realidade, existem
concreto para suprir a vacância. A lei diz que o dois tipos: a objetiva ou a subjetiva. A
contrato deve atender a função social, ou seja, subjetiva, como o nome sinaliza, é a boa-fé
não pode ir contra o interesse social. interior, psicológica, ou seja, o que o
O que é atender ou ir contra o interesse social? contratante acredita ser correto. Já a objetiva
A lei não enumera casos, preferindo usar uma lhe é exterior, ou seja, é agir de forma correta,
expressão vaga, permitindo ao juiz dizer, segundo um padrão normal de conduta. A boa-
analisando o contrato, se ele atende ou não o fé que rege os contratos é a objetiva,
interesse social. pois é mais segura, uma vez que não depende
Em conclusão, não se pretende aniquilar o do que pensa o outro contratante, mas sim em
princípio da autonomia da vontade ou o pacta verificar se o contratante agiu seguindo um
sunt servanda, mas temperá-lo, tornando-os comportamento normal das pessoas.
mais vocacionados ao bem-estar comum, sem O que é um comportamento normal? Como
prejuízo do interesse econômico pretendido saber se o contratante agiu seguindo um
pelas partes contratantes. A lei relativiza o padrão normal de conduta? É o juiz que dirá na
princípio do pacta sunt servanda com regras análise do caso concreto. Com efeito, vimos
específicas, como a cláusula rebus sic que a tendência atual em matéria de controle
stantibus ou com a previsão da lesão ou do contratual é o chamado dirigismo judicial dos
estado de perigo, mas também relativiza contratos, em substituição da antiga
permitindo intervenção judicial em uma relação prevalência do dirigismo legal. Cabe ao juiz
que deveria interessar unicamente às partes controlar os contratos,
do contrato, mas que interessa a toda a o que lhe é permitido a partir do uso de
sociedade, pois a lei diz que o contrato tem cláusulas gerais ou de conceitos jurídicos
uma função social. indeterminados, que são expressões vagas,
3.5. Princípio da boa-fé objetiva reclamando suprimento da vacância pelo
aplicador do direito na análise do caso
Este princípio vem consagrado no art. 422 do concreto. É o caso não só da função social dos
CC, que obriga as partes contratantes a contratos, mas também da boa-fé objetiva. A
agirem de boa-fé quando da celebração de um lei obriga as partes a agirem de boa-fé, sem,
contrato. A palavra chave do princípio é no entanto,
confiança, que significa parceria contratual. A enumerar as condutas permitidas e proibidas
ideia é que os contratantes não são lutadores, sob esse aspecto. Esse papel caberá ao juiz,
um querendo prejudicar o seu adversário, que poderá intervir em um contrato, podendo
mas sim parceiros, porque um confia no outro, até resolvê-lo, mesmo tendo sido observados
uma vez que são obrigados a agir conforme os os requisitos formais de validade em uma livre
ditames da boa-fé. negociação entre particulares.

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proposta, não perdendo, portanto, sua


Atenção: Conforme o art. 422 do CC, a boa-fé natureza contratual de bilateralidade.
deve nortear o comportamento dos O aderente é parte mais fraca nessa relação
contratantes não só no momento da conclusão contratual. Para garantir a isonomia material
do contrato, mas também durante a sua ou real, o CC lhe confere duas proteções:
execução. É o fundamento da chamada a) Art. 423: quando houver no contrato de
responsabilidade civil pós-contratual. Às adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias,
vezes, um contrato produz efeitos após a sua deve ser adotada uma interpretação mais
celebração, devendo a boa-fé perdurar favorável ao aderente.
enquanto durarem esses efeitos. b) Art. 424: são nulas as cláusulas em um
Imagine que uma pessoa compre um carro contrato de adesão que estipulem a renúncia
junto a uma concessionária. O carro quebra, do aderente de um direito seu resultante da
mas não existe peça para reposição e o própria natureza do negócio.
comprador não poderá mais utilizá-lo. Ele Exemplo: contrato de depósito é aquele em
poderá pedir a resolução do contrato alegando que o depositante entrega temporariamente ao
quebra da boa-fé objetiva em razão de não ter depositário a guarda e conservação de um
informado fato que poderia ocorrer após a bem, que tem o dever de devolver o bem tal
execução do contrato. como recebido. Note que é um direito do
Importante: embora não mencionado depositário receber o bem tal como entregou
expressamente no art. 422 do CC, a boa- fé ao depositário. Sendo o estacionamento em
deve nortear o comportamento dos estabelecimentos comerciais um contrato de
contratantes até mesmo antes da proposta. É depósito e de adesão,
o fundamento da chamada responsabilidade é nula a cláusula que diz não haver
civil pré-contratual, que será analisada a seguir responsabilidade pelos objetos deixados no
nas considerações sobre a formação dos interior do veículo.
contratos. Exemplo típico é a proibição da 4.2. Contratos atípicos
propaganda enganosa.
O contrato celebrado a partir de uma O CC, nos arts. 481/853, trata da
propaganda enganosa poderá ser resolvido a regulamentação das várias espécies de
requerimento da parte prejudicada, pois a boa- contrato. Não há como a lei prever todo tipo de
fé já deve fazer-se presente mesmo durante as contrato, pois este resulta do acordo de
negociações preliminares para uma futura vontade das partes, que são livres para
contratação. negociar de acordo com suas necessidades.
4. PRELIMINARES Ademais, as alterações da lei não conseguem
acompanhar o surgimento de novos contratos
O CC trata da teoria geral dos contratos a partir em razão da dinâmica social.
do seu art. 421, iniciando com questões Contratos típicos são aqueles previstos e
preliminares. De todos os princípios vistos, regulamentados em lei, enquanto que os
trata do princípio da função social dos contratos atípicos não os são. São lícitos os
contratos e da boa-fé objetiva. A seguir, trata contratos atípicos em razão do princípio da
de três temas: contrato de adesão, contratos autonomia da vontade.
atípicos e pacto sucessório, o que passamos a Que normas são aplicadas a eles, já que não
abordar. há regulamentação específica em lei? Nos
4.1. Contratos de adesão termos do seu art. 425, as normas gerais do
CC, tanto da sua parte geral quanto da teoria
Contrato de adesão é o contrato elaborado geral dos contratos, ora em estudo.
unilateralmente por uma das partes 4.3. Pacto Sucessório
contratantes, opondo-se ao contrato paritário,
em que elas elaboram conjuntamente as Pacto sucessório é o contrato que tem por
cláusulas do contrato. Não é um negócio objeto herança de pessoa viva, sendo também
jurídico unilateral, pois o aderente, chamado de pacta corvina ou pacto de
embora não tenha o poder de negociar as abutres. Nos termos do art. 426 do CC, é um
cláusulas do contrato, tem que aceitar a

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contrato proibido por lei, sendo inválido se negociações preliminares, chamada de fase
praticado. A questão é: será nulo ou anulável? de puntuação, que poderá culminar na
A lei proíbe a prática sem dizer, no entanto, se formulação de uma proposta, que, se aceita,
nulo ou anulável, razão pela qual é formará o contrato. São as fases que
considerado nulo pela lei, conforme prevê o passamos a estudar.
art. 166, VII, do CC. 5.1. Fase de puntuação e a responsabilidade
Note não poder ser objeto de contrato herança pré-contratual
de pessoa viva, ou seja, após morte do de
cujos, após a abertura da sucessão, Fase de puntuação é a fase de negociações
os herdeiros podem negociar seus quinhões preliminares que antecedem a proposta,
hereditários, mesmo antes da individualização marcada por conversações prévias,
obtida ao fim do inventário com o formal de ponderações, reflexões, sondagens, cálculos e
partilha, sendo considerado por lei um contrato estudos de viabilidade de negociação futura.
de bem imóvel (art. 80, II, do CC). Pode resultar, inclusive, em uma minuta
5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS contratual se alguns pontos acordados forem
reduzidos a termo, ou seja, a escrito (difere da
O contrato se forma, em regra, quando a uma proposta, pois esta é completa, uma vez bastar
proposta se seguir uma aceitação, seja com um sim para o contrato se formar).
o acordo de vontades das partes. Como Sobrevindo uma proposta à fase de
exceção, temos os contratos reais, em que puntuação, esta vincula o proponente, pois, se
este acordo não é suficiente para a formação a outra parte a aceitar,
do contrato, o que só ocorre com um ato o contrato estará formado e ambos estarão
posterior: a tradição, ou seja, obrigados em seus termos.
a entrega do bem. É o caso de três tipos A questão é: podemos falar em
contratuais: mútuo, comodato e depósito. responsabilidade civil nesta fase de
Não confunda a formação do contrato com a negociações preliminares pela não conclusão
sua validade. O contrato se formar significa do contrato? Em regra não, pois não há
passar a existir no mundo jurídico, obrigando qualquer problema em se iniciarem
as partes ao seu cumprimento, enquanto que negociações e se perceber a inviabilidade ou
ser válido é estar de acordo com a lei e, inconveniência da contratação.
portanto, Todavia, em alguns casos, pode haver
apto a produzir seus regulares efeitos. O art. responsabilidade civil extracontratual ou
107 do CC prevê que a validade dos contratos aquiliana, pois não há ainda um contrato,
não exige forma especial, senão quando a lei sendo chamada de responsabilidade civil pré-
exigir, ou seja, o contrato se forma com o contratual.
simples acordo de vontades, mas, em alguns Quando isso ocorre? Quando, nas
casos, sua validade reclama uma forma negociações preliminares, uma das partes cria
especial para produzir efeitos. Assim, na outra a justa expectativa de contratação e,
destacando que em alguns casos deve haver sem qualquer justificativa, por mero capricho,
uma forma especial do contrato, não formaliza a proposta. O fundamento é a
o que tratamos aqui é do momento da sua quebra da boa-fé objetiva na fase das
formação, pois passando a existir no mundo negociações preliminares. Há um abuso de
jurídico, obriga as partes ao seu cumprimento, direito, que é considerado pela lei ato ilícito a
sob pena de responsabilidade civil contratual, ensejar responsabilidade civil (art. 187 c/c art.
ou seja, indenização de perdas e danos em 927, ambos do CC). Ora, ao criar a justa
razão da mora ou do inadimplemento (tema expectativa de contratação, legitima a outra
tratado em obrigações, para onde remetemos parte a contrair gastos e até a recusar outras
sua leitura). propostas, e não concluir o contrato sem
O CC trata do tema formação dos contratos qualquer justificativa é causar o que
nos arts. 427/435, mencionando a proposta e chamamos de “dano de confiança”, em razão
a aceitação. Todavia, a formação do contrato da quebra da boa fé objetiva, que deve nortear
não é composta apenas por esses dois atos. o comportamento dos contratantes até mesmo
Normalmente existe uma fase prévia, de antes da proposta.

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Como exemplo, cito um caso cobrado em Se o contrato definitivo tem que ser por
prova. Imagine que durante anos um escritura pública, nada impede que o pré-
fabricante de extrato de tomate distribui contrato seja por instrumento particular.
gratuitamente sementes de tomate entre Qual a importância do pré-contrato? Em
agricultores de uma região, procurando-os na princípio, a responsabilidade civil na fase de
época da colheita para celebrar com eles negociações preliminares é extracontratual,
contrato de compra e venda de toda a pois ainda não há um contrato. No entanto, se
produção de tomate. No décimo ano distribuiu celebrarem um pré-contrato, as partes
as sementes, mas não apareceu para compra transformarão essa responsabilidade pré-
da safra. contratual em contratual antes mesmo da
Procurada pelos agricultores, recusou-se, sem celebração do contrato definitivo, pois o pré-
qualquer justificativa, a celebrar o contrato. contrato é um contrato.
Nesse caso, há responsabilidade civil pré- Qual a vantagem? A parte prejudicada não
contratual aquiliana do fabricante de extrato de precisará provar a culpa do inadimplente no
tomate, tendo que indenizar os agricultores em descumprimento do contrato nem tampouco o
razão dos prejuízos que resultaram da não dano, seja sua própria existência, seja a sua
contratação, como os custos da produção e extensão. Você lembra o que vimos a respeito
eventual recusa de venda para outros do tema?
compradores. Lembrando: tanto a responsabilidade civil
O fundamento da responsabilidade pré- extracontratual (em regra) como a contratual
contratual é a violação do princípio da boa-fé são subjetivas, mas esta tem culpa presumida.
objetiva nessa fase de negociações Assim, se o caso é de responsabilidade
preliminares anterior à proposta, pois o contratual, basta ao contratante prejudicado
fabricante criou nos agricultores a justa provar o inadimplemento, sem precisar provar
expectativa de contratação e, sem qualquer que o outro teve culpa no descumprimento do
justificativa, por mero capricho, não formalizou contrato (este poderá elidir sua
a proposta de compra e venda. responsabilidade provando não ter tido culpa,
5.2. Pré-contrato ou contrato preliminar pois a presunção de culpa é relativa, admitindo
prova em contrário, o que representa inversão
O pré-contrato, também chamado de contrato do ônus da prova). Por outro lado, se é caso
preliminar ou pacto de contrahendo, é um de responsabilidade civil extracontratual
contrato em que as partes assumem a subjetiva, a vítima do dano, ao cobrar perdas e
obrigação de celebrar um contrato definitivo no danos, deverá provar que o agressor teve
futuro, por não ser possível a contratação culpa em causá-lo. Assim sendo, a
agora ou por não ser o melhor momento. responsabilidade civil contratual é mais
Exemplo: Um time de futebol quer contratar um vantajosa para quem sofre o dano,
jogador. Não pode celebrar um contrato pois não precisará provar o difícil elemento
definitivo agora, pois ele tem contrato em vigor subjetivo da culpa. Além disso, como há um
com outro clube. No entanto, poderão celebrar contrato, podemos pré-fixar as perdas e danos
um pré-contrato, em que se obrigam a em uma cláusula penal, dispensando a parte
contratar ao término do contrato em vigor. prejudicada de provar não só o dano, mas,
Caso o jogador negocie seu passe com outro sobretudo, a sua extensão.
clube ou este não queira mais contratá-lo, No supramencionado exemplo da compra dos
haverá descumprimento do contrato, devendo tomates, o fabricante, por ser fase anterior à
arcar com perdas e danos, que provavelmente proposta, tem responsabilidade civil
virá pré-fixada em uma cláusula penal. extracontratual, somente sendo
Importante: O pré-contrato deve ter os responsabilizado civilmente se os agricultores
mesmos elementos do contrato definitivo, à provarem a justa expectativa de contratação e
exceção de um deles: a forma. As partes e o a recusa sem qualquer justificativa,
objeto são os mesmos, mas a forma não mas também a sua culpa na não celebração do
precisa ser a mesma. contrato. No entanto, se na fase de
negociações preliminares, as partes reduzirem
as bases do contrato a escrito em um pré-

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contrato, bastarão provar que o fabricante conversados apenas alguns pontos do


assinou um pré-contrato e que houve contrato, a fase é de puntuação.
inadimplemento, além de sequer precisar O aspecto mais importante da proposta é o seu
provar o dano e a sua extensão, pois poderão aspecto vinculatório, ou seja, a proposta
executar direto a cláusula penal. obriga o proponente. Se eu faço uma proposta,
O mesmo ocorre no exemplo da contratação crio na outra parte a justa expectativa de
do jogador de futebol. Se o clube apenas contratação, que pode levá-la a contrair gastos
conversa em negociações preliminares, e até a recusar outras propostas. Feita a
acertando as bases de um futuro contrato, proposta, o proponente a ela se obriga, ou
pode ser que, ao final do contrato em vigor, o seja, se houver aceitação, não poderá alegar
atleta quebre a confiança e resolva desistência ou arrependimento,
permanecer no clube que está ou contratar podendo o aceitante pedir em juízo a execução
com outro. Para responsabilizá-lo civilmente, forçada do contrato ou indenização por perdas
deverá provar que o atleta não contratou e danos. Já é responsabilidade civil contratual,
culposamente, mas, pois com a aceitação o contrato se formou,
se assinar um pré-contrato, bastará comprovar passando a existir no mundo jurídico. A
o inadimplemento, sem sequer precisar provar proposta só obriga o proponente e a aceitação
o dano e a sua extensão. passa a obrigar ambas as partes.
5.3. A proposta A questão é: a proposta sempre obriga o
proponente? Não, pois nos termos do art. 427
O contrato se forma quando a uma proposta se do CC a proposta não obriga o proponente em
seguir uma aceitação. É raro uma pessoa três casos:
fazer uma proposta e a outra simplesmente a
aceitar, pois é normal se sucederem a) Se isso resultar dos termos da proposta: se
sucessivas contrapropostas até culminar em no próprio corpo da proposta vier expressa a
uma aceitação final. não obrigatoriedade, não cria justa expectativa
Essa fase de sucessivas contrapropostas a de contratação na outra parte.
partir de uma proposta é chamada de fase de b) A depender da natureza do negócio: há
policitação ou fase de oblação. Isso dá nome certos negócios jurídicos que, por sua
aos atores envolvidos: quem faz a proposta é natureza, não obrigam o proponente, como
chamado de proponente ou de policitante e proposta de venda de produto com quantidade
quem a aceita é chamado de aceitante ou de limitada em estoque, a partir do fim do estoque.
oblato. c) A depender de determinadas circunstâncias:
Na fase de policitação, não deixa de haver uma existem certas circunstâncias que fazem com
negociação entre as partes, o que já acontece que a proposta deixe de ser obrigatória,
na fase de puntuação. Ora, qual a diferença estando elas elencadas no art. 428 do CC - a
entre a fase de puntuação e a fase de primeira delas para contrato entre presentes e
policitação na formação dos contratos? É a as três restantes para contrato entre ausentes,
existência de uma proposta. A fase de a saber:
puntuação é a fase de negociações (i) se feita proposta sem prazo à pessoa
preliminares, ou seja, anterior à proposta. Já a presente e esta não foi imediatamente aceita;
fase de policitação se dá após a proposta,
sucedendo-se sucessivas contrapropostas. A (ii) se feita proposta sem prazo a pessoa
pergunta se mantém: como saber se uma ausente e tiver decorrido tempo suficiente para
conversa entre as partes já configura uma chegar a resposta ao conhecimento do
proposta ou apenas negociações preliminares, proponente;
que até pode resultar em uma minuta, se
reduzido a termo? É a seriedade da proposta. (iii) se feita proposta com prazo à pessoa
Significa que a proposta é pronta e acabada, ausente e esta não expedir a resposta no
abordando todos os elementos do contrato, prazo;
pois basta um sim para a formação do (iv) se feita uma proposta entre ausentes e
contrato. Se isso já existe, é fase de antes dela ou simultaneamente chegar ao
policitação; se ainda não existe, sendo conhecimento da outra parte a sua retratação.

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Em razão do princípio da relatividade de seus


A proposta fixa o local de formação do contrato efeitos, o contrato só atinge as partes, ou seja,
(art. 435 do CC). A importância em saber o só quem é parte pode ter direito e deveres que
local de sua formação é determinar qual lei dele decorrem. Todavia, há três contratos em
será aplicada ao contrato. que um terceiro é por ele atingido,
5.4. A aceitação pois terão direitos e deveres decorrentes de
um contrato em que não celebraram
Se a proposta obriga apenas o proponente, a originariamente:
aceitação vincula também o aceitante, pois ela 6.1. Estipulação em favor de terceiro: É o
faz o contrato se formar, passando a existir no contrato em que um dos contratantes estipula
mundo jurídico, estando ambas as partes um terceiro para quem o outro contratante
obrigadas ao seu cumprimento nos termos da deverá cumprir a prestação. É um terceiro ao
responsabilidade civil contratual. contrato tendo um direito dele decorrente.
A aceitação pode ser expressa ou tácita. Exemplo: contrato de compra e venda em que
Expressa é a aceitação inequívoca, podendo o estipulante determina a entrega do bem para
ser escrita, verbal ou até gestual (ex. leilão). um beneficiário. Se a prestação não for
Tácita é a aceitação presumida pela prática de cumprida, o estipulante poderá exigi-la em
um ato incompatível com a não aceitação. juízo.
Exemplo: doação de vaso não aceita de forma O beneficiário também tem esse poder, desde
expressa, mas o donatário manda buscá-lo na que não haja essa restrição no contrato. Caso
casa do doador e o coloca exposto em sua tenha sido retirado do beneficiário esse poder,
sala. É por isso que o art. 111 do CC prevê que poderá o estipulante exonerar o devedor de
o silêncio, cumprir a prestação. E a substituição do
embora não seja a regra, até pode valer como beneficiário é possível? Sim, independente da
aceitação, mas apenas quando as anuência dele e do outro contratante, se
circunstâncias indicarem que a pessoa aceitou reservar esta faculdade no contrato.
tacitamente e, evidente, a lei não exija 6.2. Promessa de fato de terceiro: É o contrato
aceitação expressa. em que um dos contratantes promete que um
Conforme visto, a proposta obriga o terceiro cumprirá a prestação para o outro
proponente. No entanto, essa obrigatoriedade contratante. É terceiro ao contrato com um
não é eterna, mas sim pelo prazo dado. Se dever dele decorrente. Exemplo: contrato por
houver aceitação fora do prazo ou até mesmo meio do qual uma das partes promete que seu
com modificações, o proponente não é irmão, um cantor famoso, concederá uma
obrigado a concordar, mas se quiser poderá entrevista exclusiva a um programa de rádio.
aceitá-la. Por isso, dizemos que a aceitação Se o terceiro não cumprir a prestação,
fora do prazo ou com modificações tem o promitente responde por perdas e danos,
natureza de nova proposta. mesmo que tenha feito todos os esforços para
O contrato se forma quando a uma proposta se o cumprimento da prestação. O promitente não
seguir uma aceitação. Se o contrato é entre responderá, mas sim o terceiro, se este aceitar
presentes, fácil será determinar o momento, a prestação e depois não cumpri-la. Ademais,
pois proposta e aceitação se dão em tempo o promitente não responde pelo
real. E se o contrato for entre ausentes, descumprimento da prestação do terceiro se,
quando se dá sua formação? Em regra, pendendo sua aceitação, forem casados e, a
quando a aceitação é expedida, pois é quando depender do regime de bens do casamento,
o aceitante perde o controle de sua vontade. a cobrança sobre o promitente recair de
Como exceção, o contrato entre ausentes se alguma forma sobre o terceiro.
forma quando a resposta chegar ao 6.3. Contrato com pessoa a declarar: É o
proponente, se assim convencionado entre as contrato em que um dos contratantes pode
partes. indicar uma pessoa que irá assumir a sua
6. CONTRATOS QUE PRODUZEM EFEITOS posição no contrato. É um terceiro ao contrato
A TERCEIROS tendo direitos e deveres que dele decorrem.
Exemplo: uma pessoa quer comprar uma
casa, cujo dono jamais lhe venderá por

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problemas pessoais, podendo se valer de uma c) O alienante responde por eles mesmo que a
pessoa para contratar com o proprietário, aquisição do bem tenha se dado em hasta
inserindo no contrato cláusula que lhe permite pública, ou seja, através da venda pública de
indicá-lo a assumir sua posição no contrato. bem penhorado em processo de execução.
Essa indicação deve ser feita em quinze dias, 7.1. Vícios Redibitórios
se outro prazo não for estipulado, mas tem
efeito retroativo à data da celebração do Aqui a responsabilidade é diante da existência
contrato, pois o indicado assume os direitos e de defeitos materiais, ou seja, o bem está
deveres do contrato desde a sua celebração e quebrado. Importante você não confundir a
não apenas a partir da sua nomeação. disciplina civil dos vícios redibitórios com a
Esse contrato exige muita confiança entre disciplina consumerista. Sendo o CDC uma lei
quem indicará e quem será indicado, pois se especial em relação ao CC,
não houver nomeação ou se esta não for só aplicamos suas regras quando inaplicáveis
aceita pelo indicado, o contrato produz efeitos as regras do CDC. Quando, então, aplicamos
entre os contratantes originários. as regras dos vícios redibitórios previstas no
7. GARANTIAS IMPLÍCITAS IMPOSTAS AO CC?
ALIENANTE Quando não houver relação de consumo, o
que ocorre em dois casos: (i) quando o
Quando uma pessoa aliena um bem, deve alienante não é fornecedor, como ocorre na
garantir ao adquirente, em nome da boa-fé venda ocasional de um bem usado, pois ser
objetiva, o seu normal uso e fruição, bem como fornecedor exige habitualidade da negociação;
a garantia de que não o perderá para terceiros e (ii) quando o adquirente não for consumidor,
por razões de direito. Assim sendo, como ocorre no caso de alguém adquirir um
o alienante responde perante o adquirente do bem para renegociação, pois o CDC afirma
bem tanto por defeitos materiais como por que só é consumidor quem adquire um bem
defeitos jurídicos. como destinatário final. Aqui nos
O alienante, responder por defeito material é concentraremos na disciplina civil do tema,
responder por vício redibitório, ou seja, o bem deixando as regras da relação de consumo
apresenta um defeito físico que o torna inútil ao para um estudo específico do tema.
seu uso ou que lhe diminui o valor. Por sua Por definição, vícios redibitórios são defeitos
vez, ocultos que tornam o bem impróprio para o
responder por defeito jurídico é responder pela uso a que se destina ou que lhe diminuem o
evicção, ou seja, quem alienou o bem não valor. Note que na disciplina civil, diferente da
poderia tê-lo feito e o adquirente o perdeu para relação de consumo, o alienante só responde
um terceiro, podendo buscar uma indenização por defeitos ocultos, ou seja, que não poderia
do alienante. ter sido facilmente detectado pelos órgãos dos
Procederemos aqui ao estudo em separado do sentidos, pois se o vício era aparente,
vício redibitório e da evicção. No entanto, de presume-se que o adquirente o admitiu, pois
plano, merecem destaque três observações dele ciente.
comuns a ambos os institutos, pois são Note que o vício redibitório é um defeito
questões muito recorrentes em prova e que material que pode tornar o bem impróprio para
merecem sua especial atenção: o seu uso ou que pode apenas lhe diminuir o
a) O alienante responde por eles mesmo que valor. Portanto, haverá vício redibitório tanto
não haja previsão expressa em contrato, pois no defeito oculto em um motor de um carro que
são garantias implícitas, que decorrem de lei e o faz não mais funcionar, como também no
não da vontade das partes. defeito oculto de uma máquina que produz
b) O alienante responde por eles apenas determinado produto, diminuindo a sua
diante de alienações onerosas. Atenção: a produção, embora ela ainda funcione.
doação é uma alienação gratuita, mas o Assim sendo, o adquirente pode reclamar do
alienante responderá por eles quando a vício redibitório em juízo optando por uma de
doação for com encargo, o que a lei chama de duas ações judiciais:
doação onerosa. a) Ação Redibitória: ação judicial em que se
pede para redibir o contrato, ou seja, desfazer

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o negócio jurídico. Trata-se de anulação e não ele se soma, pois, se houver garantia
de declaração de nulidade, pois a lei impõe convencional,
prazo para reclamá-lo, sob pena de o prazo de garantia legal só se inicia quando
convalescimento. este for encerrado.
b) Ação Quanti Minoris ou Ação Estimatória: 7.2. Evicção
ação judicial em que se pede abatimento do
preço, ou seja, o adquirente quer permanecer Evicção é a perda ou desapossamento judicial,
com o bem, mas quer devolução do valor da ou excepcionalmente administrativo, de um
desvalorização em razão do defeito oculto ou, bem, em razão de um defeito jurídico anterior
se ainda não pagou, descontá-lo quando do à alienação. Quem alienou o bem não poderia
pagamento. Nessa ação se apura o valor a ser tê-lo feito, e o adquirente o perdeu, tendo ação
abatido do preço, o que justifica o seu nomem de indenização contra o alienante.
iuris: “estimar” “quanto menos” vale o bem. O adquirente que perde o bem é o evicto, e o
Detalhe importante: o alienante responde por terceiro que dele o toma é o evictor.
vícios redibitórios estando ele de má-fé ou até Exemplo: estelionatário invade terreno e,
mesmo de boa-fé, ou seja, sabendo ou não do falsificando a escritura pública, vende-o. O
defeito oculto. A diferença é que apenas diante verdadeiro dono ajuíza ação reivindicatória
da má-fé será obrigado a indenizar perdas e reclamando seu terreno. Ao se constatar a
danos. Nos termos do art. 443 do CC, se o falsidade da escritura pública, o comprador
alienante agiu de boa-fé, apenas ressarcirá o perderá judicialmente o imóvel,
adquirente dos gastos que teve com o negócio o que chamamos de evicção, tendo apenas
em si, ou seja, direito indenizatório contra o alienante.
devolução do valor recebido e ressarcimento
das despesas do contrato. Se o alienante Note que a evicção pode se dar
procedeu de má-fé, não só devolverá o valor excepcionalmente através de uma perda
recebido, mas também indenizará o adquirente administrativa do bem, pois, em alguns casos,
de todas as perdas e danos decorrentes do a jurisprudência do STJ tem admitido a
vício redibitório. evicção independente de decisão judicial.
Qual o prazo que tem o adquirente para Destaque para o caso em que há apreensão
reclamar vício redibitório em juízo? Depende policial da coisa em razão de furto ou roubo
do bem adquirido: trinta dias para bem móvel anterior à alienação, podendo o caso ser
e um ano para bem imóvel. A princípio, o prazo resolvido no próprio âmbito da delegacia.
se inicia quando da entrega efetiva do bem e Exemplo: ladrão que vende carro roubado,
não quando da alienação, pois só com o seu sendo o evicto parado em uma blitz e o carro
uso é que ele consegue perceber o defeito levado à delegacia e devolvido ao seu real
oculto. dono.
No entanto, se o adquirente já tinha a posse do Informação importante: Nos termos do art. 448
bem, o prazo se iniciará quando da prática do do CC, as partes podem por cláusula expressa
ato, pois é quando adquire legitimidade para reforçar, diminuir ou até excluir a
reclamação em juízo, mas os prazos serão responsabilidade do alienante pela evicção.
reduzidos à metade, por já ter tido contato com Cuidado, pois a exclusão só valerá se o evicto
o bem. Além disso, se for um defeito oculto que foi informado do risco da evicção e o tenha
por sua natureza seja de difícil percepção, o assumido (art. 449 do CC).
prazo só se inicia quando o adquirente dele Ao perder o bem, o evicto poderá cobrar
tiver ciência. indenização do alienante. A regra é o
Todavia, a lei confere um prazo máximo para ressarcimento da integralidade do dano do
ciência do defeito a se somar ao prazo de evicto, o que lhe permite cobrar do alienante
reclamação: cento e oitenta dias para bem não só a devolução do que pagou pelo bem,
móvel e um ano para bem imóvel. Por fim, não como também as perdas e danos em razão da
se esqueça que eventual prazo de garantia evicção, os frutos que eventualmente tenha
convencional oferecida pelo alienante não sido obrigado a restituir ao evictor e o que
substitui o prazo de garantia legal, mas sim a gastou com custas judiciais e honorários
advocatícios (art. 450 do CC).

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Ainda dentro da regra da indenização da Por fim, fechando o tema evicção, precisamos
integralidade do dano, o alienante responderá entender o que é evicção parcial, tema que é
perante o evicto por eventual valorização do tratado no art. 455 do CC. Haverá evicção
bem entre a época da alienação e da evicção. parcial quando o evicto perder apenas parte do
Se o bem se desvalorizou, o evicto cobrará do que adquiriu na alienação,
alienante o preço que lhe pagou, por exemplo, quando compra cem cabeças de
mas se houver valorização, cobrará o valor do gado e perde vinte ou trinta delas pela evicção.
bem da época em que se evenceu, ou seja, da Qual a consequência?
época em que perdeu o bem pela evicção. Depende se a evicção é considerável ou
Mais uma vez, ainda dentro da regra da irrisória, pois uma coisa é perder uma ou duas
indenização da integralidade do dano, ainda cabeças de gado, outra é perder noventa
que o bem esteja deteriorado, o evicto poderá delas. Se a perda for considerável, o evicto
cobrar do alienante o valor total do bem, a pode pedir a rescisão do contrato ou restituição
menos que tenha sido causado dolosamente da parte do preço correspondente ao
por ele, quando só poderá cobrar do alienante desfalque sofrido, ou seja, devolver o que
o valor que passou a valer o bem. Note que, se sobrou e cobrar devolução do que pagou ou
a título de culpa em sentido estrito a ficar com o
deterioração, que sobrou e cobrar apenas o equivalente à
ainda assim o evicto cobrará do alienante o sua perda. Se, no entanto, a perda for irrisória,
valor integral do bem. só poderá o evicto cobrar a indenização pela
Conforme será visto no estudo da posse no perda sofrida, permanecendo com o que
capítulo de direitos reais deste livro, para onde sobrou.
remetemos a sua leitura, o possuidor que 8. EXTINÇÃO DO CONTRATO
realiza benfeitorias no bem e vem a perdê-lo,
tem direito de ser indenizado quando as Extinção do contrato é o fim de sua existência,
benfeitorias forem necessárias e úteis. é a sua morte, é o seu desaparecimento do
É o caso que ocorre aqui, pois o evicto tem a mundo jurídico. Extinção é o gênero, que
posse do bem e a perde para o evictor. contempla várias espécies, pois é a expressão
Assim, se ele realizou benfeitorias necessárias mais ampla para o fim do contrato, seja pela
ou úteis no bem antes da perda, poderá causa que for.
reclamar indenização do evictor. O art. 453 do Quando falamos em extinção do contrato, esta
CC diz que o evicto pode cobrar do alienante o pode se dar, em princípio, por duas formas
que gastou com benfeitorias necessárias e diferentes: por causa anterior ou
úteis, se não foram abonadas, ou seja, se não superveniente à formação do contrato.
foram pagas pelo evictor. No entanto, Se a causa de extinção do contrato é anterior
completa o art. 454 do CC, se as benfeitorias ou até concomitante à sua formação, temos
foram feitas pelo alienante e abonadas, ou um caso de imperfeição do contrato, pois ele já
seja, nasceu viciado.
pagas ao evicto pelo evictor, o valor será
deduzido quando o evicto cobrar a indenização Nesse caso, o contrato é inválido, podendo ele
do alienante. ser nulo ou anulável, a depender do vício. Não
é tema para aqui ser visto, pois é assunto da
Para cobrar o direito que da evicção lhe parte geral do direito civil, para onde
resulta, o evicto poderá denunciar ao alienante remetemos sua leitura.
da lide, para, em caso de sentença decretando Se a causa de extinção do contrato é
a perda do bem, já determine o juiz na superveniente à sua formação, estamos
sentença a indenização por ele devida ao tratando de um contrato perfeito, ou seja, que
evicto. Em havendo sucessivas vendas antes se formou de forma válida, não sendo caso de
de o dono reclamar o bem, poderá o evicto nulidade nem de anulabilidade. O contrato
cobrar indenização não só do alienante perfeito pode ser extinto de duas formas
imediato, diferentes: por execução ou por inexecução do
mas também qualquer dos anteriores (art. 456 contrato.
do CC).

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Execução do contrato é quando ele é concomitantes à formação do contrato, caso


cumprido, o que pode ocorrer pelo pagamento de invalidade e não de inexecução, quando
ou até pelas formas anormais de extinção das pressupomos um contrato perfeito.
obrigações, quais sejam: pagamento em Outros autores mencionam rescisão como
consignação, pagamento com sub-rogação, uma espécie de resolução do contrato,
novação, imputação ao pagamento, dação em significando a resolução culposa ou voluntária,
pagamento, compensação, confusão ou ou seja, quando o contrato é extinto por
remissão. inadimplemento culposo do outro contratante.
Também não é tema para aqui ser tratado, pois O conselho é evitar o uso do termo rescisão,
é assunto de obrigações, para onde pois, como não há consenso, é um risco
remetemos a sua leitura. desnecessário em prova.
O caso é de inexecução quando não há
cumprimento de um contrato perfeito, que é o 8.1. Resilição do contrato
tema que aqui estudamos. Perceba a
impropriedade do CC ao tratar do tema sob o Conforme visto, resilição do contrato ocorre
título “da extinção dos contratos”, quando, na quando há extinção do contrato unicamente
verdade, deveria tê-lo intitulado de em razão da vontade das partes. A resilição
“inexecução dos contratos” ou até mesmo “da pode ser unilateral ou bilateral, a depender se
extinção dos contratos pela inexecução”. a vontade é de apenas um dos contratantes ou
A inexecução pode causar três tipos de de ambos.
extinção do contrato: resilição, resolução e Não se discute aqui culpa da parte fazendo
rescisão. Vamos definir cada um dos institutos, surgir uma causa de extinção do contrato, pois
para em seguida aprofundar o estudo. não há causa jurídica que motive o seu fim,
a) Resilição: extinção do contrato por vontade simplesmente não quero ou não queremos
de um ou de ambos os contratantes, ou seja, é mais.
quando eu termino o contrato porque quero ou a) Resilição unilateral: ocorre quando apenas
quando terminamos porque queremos, sem ter uma das partes não quer mais manter o
qualquer razão jurídica para isso. Exemplo: contrato, sem precisar externar qualquer razão
celebrei contrato de aluguel pelo prazo de três para isso. O art. 473 do CC diz que se opera
anos e decido resili-lo com dois anos por mediante denúncia notificada à outra parte, ou
questão pessoal. seja, o contratante deve notificá-la
b) Resolução: extinção do contrato em razão formalmente. A resilição unilateral do contrato
do inadimplemento da outra parte, ou seja, um pode se dar quando a lei permitir ou quando
dos contratantes não cumpre o contrato, houver expressa previsão no contrato.
legitimando a outra parte pedir sua resolução. Há casos em que a lei permite a resilição
Exemplo: mesmo contrato de aluguel de três unilateral do contrato, razão pela qual não será
anos, resolvido pelo locador em razão do devedor em perdas e danos à outra parte. Por
inquilino não pagar o aluguel. exemplo: o direito de revogação de contrato de
c) Rescisão: não há consenso na doutrina mandato. Pode a lei não permiti-la, mas a
sobre o significado de rescisão do contrato. vontade das partes sim, quando inserem no
Muitos usam o termo rescisão como sinônimo contrato cláusula permissiva, podendo ou não
de extinção do contrato, até mesmo por causa ser fixada uma multa a ser paga ao outro
antecedente, sendo, inclusive, o sentido que contratante se esta ocorrer.
caiu no gosto popular, que só fala em rescisão Se não houver previsão legal nem contratual,
do contrato quando este chega ao fim. Autores a parte não poderá unilateralmente resilir o
clássicos, como Orlando Gomes e Caio Mário, contrato, podendo ser o caso de reclamação
no entanto, com base na doutrina italiana, judicial para sua execução forçada. Exemplo:
ensinam que rescisão em sentido técnico só contrato de locação em que há previsão
ocorre quando um contrato é extinto em caso apenas para o locatário o resilir, tendo o
de lesão ou de estado de perigo. locador que esperar o fim do contrato pela total
Modernamente, esse não é o entendimento, execução.
até porque são defeitos do negócio jurídico, b) Resilição bilateral: ocorre quando a extinção
portanto, causas antecedentes ou do contrato se dá unicamente por vontade,

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mas de ambas as partes, sendo chamado de mesmo que não tenha nele cláusula
distrato. É um acordo das partes, pondo vim à permissiva expressa. Sendo contrato unilateral
avença contratual, sem se externar qualquer ou plurilateral, necessária a cláusula resolutiva
causa para isso, razão pela qual, em princípio, expressa no contrato, para que uma das partes
nenhuma das partes deve qualquer possa pedir a resolução em razão do
indenização ao outro contratante. Importante inadimplemento ou mora da outra parte.
sobre o tema é o art. 472 do CC, Há vantagem da cláusula resolutória expressa
que diz que o distrato deverá ser feito na em relação à implícita, o que justifica sua
mesma forma exigida para ser feito o contrato. inserção inclusive no contrato bilateral. Vindo
Como exemplo, se o contrato de compra e expressa no contrato, haverá extinção
venda de um imóvel de valor superior a trinta automática do contrato em caso de
salários mínimos deve ser por escritura inadimplemento, enquanto que, se implícita,
pública, o distrato assim também deve ser. depende de interpelação judicial (art. 474 do
8.2. Resolução do contrato CC). Além disso, vindo expressa no contrato,
já se insere cláusula penal prefixando o valor
Resolução do contrato é a sua extinção em da indenização por perdas e danos.
razão do inadimplemento ou da mora da outra 8.2.1. Exceção de contrato não cumprido
parte. Aqui o contrato não termina apenas em (exceptio non adimplenti contractus)
razão da vontade das partes, pois há uma
causa que autoriza uma delas a pedir sua Se uma das partes é inadimplente, legitima a
extinção: o não cumprimento do contrato. outra a pedir a resolução do contrato. Agora,
Esse descumprimento pode ser com culpa ou imagine que antes disso o inadimplente ajuíze
sem culpa do contratante inadimplente, o que uma ação cobrando o cumprimento da
faz com que existam dois tipos de resolução do prestação da outra parte. O que ela poderá
contrato: com culpa (voluntária) ou sem culpa fazer? Sendo um contrato bilateral,
(involuntária). A grande diferença é que no poderá alegar a exceção de contrato não
caso de resolução culposa, o inadimplente cumprido, ou seja, que não cumprirá sua
será devedor de perdas e danos junto com a prestação em razão do autor da ação não ter
resolução, cumprido a sua. A razão já foi exposta: como o
o que não será devido quando a resolução não contrato bilateral é sinalagmático, a prestação
for culposa. Perceba que aqui falamos de mora de uma das partes é causa da prestação da
e de inadimplemento, tema que abordamos no outra parte, razão pela qual quem não cumpre
estudo das obrigações neste livro, valendo a sua prestação não pode exigir o
lembrar que só há mora e inadimplemento cumprimento da prestação da outra parte (art.
indenizáveis em perdas e danos quando com 476 do CC).
culpa do devedor, pois, se sem culpa, apenas 8.2.2. Resolução sem culpa ou involuntária
haverá resolução do contrato.
Cláusula resolutória é a cláusula que permite A extinção do contrato se dá pelo
ao contratante resolver o contrato diante do inadimplemento da outra parte, sem ela ter
inadimplemento da outra parte. O contrato tido culpa no descumprimento contratual. Aqui
pode trazer uma cláusula resolutória expressa, não há indenização por perdas e danos, mas
mas esta também pode ser implícita aos apenas resolução do contrato, pois o
contratos. contratante quer cumprir o contrato, mas não
Quando isso ocorre? consegue. Isso ocorre em dois casos:
Todo contrato bilateral tem implícita a cláusula caso fortuito ou motivo de força maior e no
resolutória. A razão é que todo contrato caso de aplicação da teoria da imprevisão ou
bilateral é sinalagmático, o que significa que a da onerosidade excessiva.
prestação de uma das partes é causa da a) Caso fortuito ou motivo de força maior: são
prestação da outra parte. Como uma das situações inevitáveis, insuperáveis, que
partes só cumpre a sua prestação porque a impedem o contratante de cumprir sua
outra cumpre a sua, o descumprimento prestação. Imagine contrato de compra e
autoriza a outra parte pedir a resolução do venda de produto agrícola,
contrato,

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que não pôde ser entregue em razão de A resolução com culpa não pode ser bilateral,
violenta tempestade que destruiu toda a apenas podendo ser unilateral. Se ambas as
plantação. Não há culpa no inadimplemento, partes tiverem culpa no inadimplemento, a
havendo simples resolução do contrato, culpa será daquele que primeiro tinha a
retornando as partes ao estado em que se obrigação de cumprir sua prestação. A razão
encontravam antes de sua celebração, sem disso é o princípio da exceção de contrato não
direito de indenização da parte prejudicada. cumprido, pois, se houver prestações
Cuidado: há dois casos em que haverá simultâneas e um dos contratantes não
resolução sem culpa do contratante cumpre sua prestação,
inadimplente, por decorrer de caso fortuito ou o outro está legitimado a não cumprir a sua
motivo de força maior, mas que haverá dever prestação.
indenizar o outro contratante em perdas e 8.3. Efeitos no tempo da resolução e da
danos, o que já foi visto neste livro, em resilição dos contratos
obrigações, para onde remetemos sua leitura:
(i) quando houver previsão expressa no Havendo resolução do contrato, essa decisão
contrato impondo o dever de indenizar perdas tem efeito retroativo ou não retroativo?
e danos pelo seu descumprimento, mesmo em Depende se o contrato for de execução
razão de caso fortuito ou motivo de força maior instantânea, diferida ou continuada.
(art. 393 do CC); e Se o contrato é de execução única, ou seja, de
(ii) quando a impossibilidade da prestação se execução instantânea ou até diferida, a
dá por caso fortuito ou motivo de força maior decisão produz efeitos retroativos ou ex tunc,
que ocorre durante a mora do contratante (art. desfazendo-se o que foi feito até então, pois
399 do CC). resolver o contrato é fazer retornar ao estado
b) Teoria da imprevisão ou da onerosidade em que as partes se encontravam antes da sua
excessiva: o tema já foi visto neste livro, neste celebração. Assim, se estamos diante da
capítulo dos contratos, quando do estudo do resolução de um contrato de compra e venda,
princípio da obrigatoriedade mitigado pela o comprador devolve o bem e o vendedor
cláusula rebus sic stantibus, para onde devolve o dinheiro recebido, buscando-se
remetemos a sua leitura. É resolução do eventual indenização diante da perda ou
contrato sem culpa, pois acontece fato deterioração do bem ou até em razão de algum
superveniente e imprevisível que desequilibra melhoramento por que passou.
economicamente o contrato, Se, no entanto, o contrato for de execução
legitimando o pedido de resolução do contrato prolongada no tempo, ou seja, de execução
pelo fato da lei não exigir mais o seu continuada, os efeitos serão não retroativos ou
cumprimento. ex nunc, mantendo-se os efeitos até então
8.2.3. Resolução com culpa ou voluntária (que, produzidos. A razão disso é evitar um
para alguns autores, é a rescisão) enriquecimento sem causa de um dos
contratantes. Imagine um contrato de locação:
A extinção do contrato se dá pelo se a resolução tivesse efeito retroativo,
inadimplemento da outra parte, tendo ela culpa faria com que o locador devolvesse o valor
no descumprimento do contrato. Exemplo: recebido durante o contrato, não tendo como o
contrato de aluguel resolvido em razão do inquilino devolver o tempo que usou o bem, o
inquilino não ter pago o aluguel porque não que lhe geraria um enriquecimento sem causa
quis ou porque foi negligente. por ter alugado o imóvel por um tempo sem por
A diferença para a resolução não culposa é isso pagar.
que aqui o inadimplente, além de suportar a O efeito retroativo (ex tunc) da resolução dos
resolução do contrato, deve pagar indenização contratos de execução instantânea ou diferida
por perdas e danos ao outro contratante e o efeito não retroativo (ex nunc) da resolução
(embora isso possa ocorrer na resolução sem dos contratos de execução continuada valem
culpa, mas por exceção nos casos tanto para a resolução com culpa quanto para
supramencionados). a resolução sem culpa. A única diferença entre
eles é que na resolução culposa o

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inadimplente será devedor de indenização por b) Contrato oneroso – gera repercussão


perdas e danos, econômica com a sua elaboração para ambas
o que não ocorre, em regra, na resolução sem as partes.
culpa. c) Contratos aleatórios ou comutativos – regra
Cuidado com um detalhe: no caso da geral, os contratos são comutativos em razão
resolução sem culpa decorrente da aplicação das prestações serem certas. No entanto, a
da teoria da imprevisão ou da onerosidade possibilidade de risco não está completamente
excessiva, para cuja abordagem remetemos excluída.
sua leitura, seja contrato de execução
continuada ou diferida, o efeito será, d) Contrato consensual – nasce do consenso
por expressa previsão legal, retroativa, mas entre as partes, uma delas será responsável
até à data da citação do processo em que o em aceitar o preço e a outra a contraprestação.
contratante pede a sua resolução (a teoria não e) Contrato formal ou informal – a compra e
se aplica aos contratos de execução venda de bens imóveis com valor superior a
instantânea). trinta salários mínimos federais deverá ser
E se o caso for de resilição do contrato, a sempre por escritura pública. Todavia, se
decisão tem efeito retroativo ou não inferior, a mesma poderá ser feita por
retroativo? Quando falamos em resilição, instrumento particular.
estamos falando de contrato de execução
continuada, pois na resilição o contratante f) Contrato instantâneo ou de longa duração –
quer interromper o cumprimento da sua o instantâneo se consumará com a prática do
prestação prolongada no tempo. Por isso, a ato, o de longa duração, necessita de tempo
resilição do contrato tem efeito não retroativo para se exaurir.
ou ex nunc,
não se desfazendo os efeitos produzidos até g) Contrato paritário ou de adesão – será
então, mas apenas afastando a produção de paritário quando as partes estiverem em pé de
efeitos daí para frente, até porque não há igualdade; já o contrato de adesão ocorre
qualquer causa jurídica a gerar o seu término, assim que uma das partes estipula as
apenas o acordo de vontades em acabar com cláusulas e a outra terá somente como escolha
um contrato que produziu efeitos normalmente a aceitação das mesmas.
até então. 1.3. Elementos constitutivos
CONTRATOS EM ESPÉCIE
a) Partes: capazes (aptidão genérica) e a
Por Cristiano Sobral legitimação (aptidão específica).
b) Coisa: deve ser disponível para sua
1. COMPRA E VENDA (arts. 481 a 532 do CC) comercialização dentro do mercado. O objeto
tem de ser lícito e determinado ou
1.1. Conceito determinável. Segundo previsão do artigo 483
do Código Civil, o objeto do contrato para ser
A definição do contrato de compra e venda negociado no mercado poderá também ser
está conceituada de maneira clara e objetiva futuro.
no artigo 481 do Código Civil: c) Preço: justo, certo, determinado e em
moeda corrente, de acordo com o artigo 315
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um do Código Civil. Tal elemento possui ainda
dos contratantes se obriga a transferir o algumas regras especiais:
domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe
certo preço em dinheiro. c.1) preço por avaliação – art. 485 do Código
1.2. Natureza jurídica Civil;

a) Contrato bilateral ou sinalagmático – c.2) preço à taxa de mercado ou de bolsa – art.


proporciona, reciprocamente, obrigações para 486 do Código Civil;
ambas as partes.

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c.3) preço por cotação – art. 487 do Código vender a sua parte a terceiros sem notificar o
Civil; outro proprietário da res. O artigo 504 da lei
civil salienta a observância do direito de
c.4) preço tabelado e médio – art. 488 do preferência.
Código Civil; 1.6. Regras especiais da compra e venda

c.5) preço unilateral – art. 489 do Código Civil. a) Venda por amostra, por protótipos ou por
1.4. As despesas e riscos do contrato modelos – se a venda ocorrer dessa forma, o
vendedor assegurará ter a coisa as qualidades
Salvo cláusula em contrário, as despesas de que a elas correspondem. Essa é a regra do
escritura e o registro ficarão sob a artigo 484 da lei civil.
responsabilidade do comprador, e as da b) Venda a contento e sujeita à prova –
tradição, a cargo do vendedor. E quanto aos entende-se que é aquela realizada sob
riscos? Até o momento da tradição, os riscos condição suspensiva, ainda que tenha
da coisa cabem por obrigação ao vendedor, e recebido a coisa. Aquele que recebe a coisa
os do preço, ao comprador. será considerado como comodatário. Assim,
Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato em caso de descumprimento da mesma,
de contar, marcar ou assinalar coisas, que poderá o alienante propor ação para recuperar
comumente se recebem, contando, pesando, a posse. Observe os artigos 509 a 512 do
medindo ou assinalando, e que já foram postas CC/2002.
à disposição do comprador, correrão por conta c) Venda ad mensuram e ad corpus – a ad
deste. Compete também ao comprador os mensuram (art. 500, caput) é aquela em que o
riscos das referidas coisas, preço do bem é medido pela área. Em caso de
se estiver em mora de as receber, logo que descumprimento da mesma, prevê a lei a
ordenadas no tempo, lugar e pelo modo possibilidade de algumas ações. Quais são
ajustados. Essa é a previsão legal. elas? Ação ex empto (complementação da
1.5. Restrições à compra e venda área), Ação Redibitória (extinguir o negócio),
Ação Estimatória ou Quanti Minoris
a) Venda de ascendente para descendente – (abatimento).
prevê o diploma civil: art. 496. Essas ações têm o prazo de um ano
decadencial, consoante previsão do artigo
Art. 496. É anulável a venda de ascendente a 501. Na venda ad corpus (art. 500, § 3º), as
descendente, salvo se os outros descendentes metragens e a área são apenas para localizar
e o cônjuge do alienante expressamente o bem, mas não influenciam no preço. Nessa
houverem consentido. Parágrafo único. Em venda não são cabíveis as Ações
ambos os casos, dispensa-se o consentimento retromencionadas.
do cônjuge se o regime de bens for o da 1.7. Cláusulas especiais ou pactos adjetos
separação obrigatória.
Conforme previsto, a lei destaca a a) Retrovenda ou cláusula de resgate – por
anulabilidade, mas em quanto tem tempo? meio dos arts. 505 a 508 da lei civil, podem ser
Deve ser ressaltado o prazo estipulado no observados esse pacto acessório. A mesma
artigo 179 da lei civil, afastando a Súmula n. recai sobre bens imóveis e o prazo máximo
494 do STF. para o retrato será de três anos.
b) Venda de bens sob administração – é Não se trata de cláusula personalíssima, pois
proibida pelo artigo 497 do Código Civil. Nesse a mesma é cessível e transmissível a herdeiros
caso, destaca-se a nulidade! e legatários.
b) Cláusula de preempção, preferência ou
c) Venda entre cônjuges – reza o artigo 499: prelação – Os artigos 513 a 520 do CC
“Art. 499. É lícita a compra e venda entre estabelecem esse pacto adjeto que poderá
cônjuges, com relação a bens excluídos da recair sobre bens móveis e imóveis. O prazo
comunhão.” para o exercício do pacto não poderá exceder
d) Venda de parte indivisa em condomínio – a cento e oitenta dias para os bens móveis e
não pode um condômino de coisa indivisível dois anos para os imóveis.

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Uma vez pactuado a cláusula e inexistindo d) Contrato formal ou informal, solene ou não
prazo estipulado, o direito de preempção solene – a lei não impõe maiores formalidades
caducará, se a coisa for móvel, não se para a sua celebração;
exercendo nos três dias, e, se for imóvel, não
se exercendo nos sessenta dias subsequentes e) Contrato translativo – a transmissão da
à data em que o comprador tiver notificado o coisa ocorrerá com a tradição, trazendo
vendedor. Tal direito é personalíssimo, pois consigo no contrato.
não se pode ceder nem passa aos herdeiros.
c) Cláusula de venda com reserva de domínio f) Contrato oneroso – apresenta repercussão
– a previsão encontra-se nos artigos521 a 528 econômica.
do CC. Recai sobre bens móveis e será 3. CONTRATO ESTIMATÓRIO (arts. 534 a
estipulada por escrito, dependendo de registro 537 do CC)
no domicílio do comprador para valer contra
terceiros. O comprador do bem só alcançará a 3.1. Conceito
propriedade depois de pagas todas as Esse contrato pode ser chamado também de
parcelas. venda em consignação, tem por finalidade
Uma vez descumprida a mesma e constituído vender, em nome próprio, bens móveis de
o comprador em mora, poderá o vendedor propriedade de terceiros.
propor ação de cobrança ou busca e O proprietário/consignante dará somente a
apreensão para recuperar a posse do bem. posse do bem ao vendedor/consignatário, não
d) Venda sobre documentos ou trustreceipt – sendo entregue o domínio da coisa. Sua
por intermédio dos arartigo 529 ao 532, previsão está nos artigos 534 a 537 do Código
verifica-se a venda em que a tradição da coisa Civil.
é substituída pela entrega de um título que a 3.2. Natureza jurídica
representa.
a) Contrato bilateral ou sinalagmático –
2. TROCA OU PERMUTA (art. 533 do CC) caracterizado pela reciprocidade nas
obrigações entre os contratantes.
2.1. Conceito
b) Contrato oneroso – proporciona
Nessa modalidade contratual prevista no artigo repercussão econômica.
533 da lei civil, as partes pactuam suas
obrigações, remunerando-se, através da c) Contrato real –concretizado com a efetiva
compensação dos ofícios estabelecidos por entrega do bem.
cada uma delas.
Difere do contrato de compra e venda, pois na d) Contrato comutativo – as partes são
permuta a contraprestação é feita pelo cientificadas de suas obrigações no ato da
pagamento de um preço em dinheiro. elaboração.
2.2. Natureza jurídica
e) Contrato informal ou não solene –a lei não
a) Contrato bilateral ou sinalagmático – impõe maiores formalidades para a sua
apresenta, reciprocamente, deveres para celebração.
ambas as partes, que se obrigam a dar uma
coisa recebendo outra diferente de dinheiro. f) Contrato instantâneo e temporário – o
b) Contrato comutativo – as partes se primeiro se consuma com a prática do ato, já o
cientificam de suas obrigações no ato da segundo se efetua por meio do termo final para
elaboração, por serem certas e determinadas a venda da coisa consignada.
no ato da celebração. 3.3. Efeitos e regras

c) Contrato consensual – ocorre com a – É análogo a uma obrigação alternativa, pois


manifestação das partes. o vendedor/consignatário poderá devolver o
valor inicialmente estimado ou a própria coisa.

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– A coisa deve ser móvel e livre para a) pura e simples (art. 543 do CC) – o ato
alienação, não podendo estar gravada com possui liberdade plena, não se submetendo a
cláusula de inalienabilidade. condição, termo ou encargo;

Atenção! Nesta relação contratual, o b) contemplativa (art. 540, 1ª parte, do CC) – o


consignante possui o domínio, transferindo ao doador efetua a mesma por mera liberalidade,
consignatário somente a posse do bem móvel. expressando o motivo;
4. DOAÇÃO (arts. 538 a 554 do CC) c) remuneratória (art. 540, 2ª parte, do CC) –
se origina da realização de serviços prestados,
4.1. Conceito cujo pagamento o donatário não pode ou não
deseja cobrar;
A sua definição encontra-se melhor
conceituada no artigo 538 do Código Civil: d) ao nascituro (art. 542 do CC) – é válida
desde que aceita pelo seu representante legal.
Considera-se doação o contrato em que uma Trata-se de modalidade que depende,
pessoa, por liberalidade, transfere do seu necessariamente, de condição suspensiva
patrimônio bens ou vantagens para o de outra. para vigorar, pois condiciona a validade do
4.2. Natureza jurídica contrato de doação ao nascimento do feto com
vida;
a) Contrato unilateral/bilateral – apresenta
obrigação somente para uma das partes; e) ao absolutamente incapaz (art. 543 do CC)
porém, no caso de doação modal, ocorre uma – trata-se de doação pura, não há necessidade
imposição para aquele que recebe bens ou da aceitação do donatário, pois se presume
vantagens de um ônus. que o incapaz aceitou, inexistindo prova em
contrário (iure et iure);
b) Contrato gratuito – a doação será, em regra,
gratuita (excepcionalmente haverá a doação f) de ascendente a descendente ou de um
modal, conferindo vantagens a ambas as cônjuge ao outro (art. 544 do CC) – está
partes). relacionado ao adiantamento da legítima, visto
que confere às doações o valor, que dele em
c) Contrato consensual –é formado pela vida receberam, sob pena de sonegação. Não
manifestação de vontade das partes. confundir esse tipo de doação com a inoficiosa
prevista no artigo 549 da lei civil;
g) em forma de subvenção periódica (art. 545
d) Contrato real – ocorre sempre que a doação do CC) – trata-se de pagamentos mensais
envolver bem de pequeno valor seguido de sua (trato sucessivo) realizados pelo doador ao
tradição (doação oral/manual); donatário, extinguindo-se com o falecimento
de uma das partes, exceto no caso de
e) Contrato comutativo – acontece quando as falecimento do doador, que poderá
partes são cientificadas de suas obrigações no estabelecer aos seus herdeiros a continuação
ato da elaboração; dos pagamentos ao favorecido;

f) Formal e solene – desde que a doação de h) propter nuptias (art. 546 do CC) – é aquele
bem imóvel seja superior a 30 salários direcionado para as núpcias, ou seja, aplicado
mínimos. para casamento futuro, não vigendo o contrato
em caso de não consumação do mesmo;
g) Formal e não solene – todas as vezes que o i) com cláusula de reversão ou retorno (art. 547
bem imóvel for superior a 30 salários mínimos, do CC) – trata-se de contrato de doação intuitu
porém não há necessidade de escritura personae, desde que a mesma esteja
pública. direcionada somente ao donatário, pois caso
4.3. Espécies de doação ele venha a falecer antes do doador, o bem
retornará ao patrimônio deste, ainda que tenha
alienado o imóvel antes da morte;

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j) universal (art. 548 do CC) – é nula tal Conforme o artigo 564 da lei civil, as doações
modalidade, pois a lei veda a doação pelo que não serão revogadas por ingratidão serão:
doador se ele não possuir bens suficientes a) as puramente remuneratórias;
para a sua subsistência. Tal medida visa b) as oneradas com encargo já cumprido;
tutelar a qualidade de vida do doador (regra em c) as que se fizerem em cumprimento de
sintonia com o princípio da dignidade da obrigação natural;
pessoa humana); d) as feitas para determinado casamento.
5. LOCAÇÃO DE COISAS (art. 565 e segs., do
l) inoficiosa (art. 549 do CC) – significa que a CC)
doação efetuada ultrapassou o quinhão
disponível para testar. Note: O doador tem R$ 5.1. Conceito
200 mil reais e faz uma doação de R$ 120 mil É o contrato em que o locador cede ao
reais, o ato será válido até os R$ 100 mil reais locatário determinado bem, objetivando que o
e nulo com relação aos R$ 20 mil. Atenção! A mesmo use e goze da coisa de forma contínua
Ação de redução é a que tem como objetivo a e temporária, mediante o pagamento de
declaração de nulidade da parte inoficiosa. aluguel.
5.2. Natureza jurídica
m) do cônjuge adúltero ao seu cúmplice (art.
550 do CC) – é a doação feita entre amantes, a) Bilateral ou sinalagmático – as partes
geralmente por pessoas casadas com possuem vantagens e desvantagens
impedimento de contrair união estável, sendo recíprocas.
anulável no prazo decadencial de dois anos. A
anulabilidade do contrato poderá ser proposta b) Oneroso – é essencialmente econômico,
pelo cônjuge traído ou também pelos herdeiros isto é, por meio da cobrança de alugueres.
necessários.
Todavia, a mesma poderá ser convalidada no c) Comutativo – as partes são cientificadas de
caso dos cônjuges estarem separados de fato; suas obrigações no ato da celebração do
contrato de locação.
n) conjuntiva (art. 551 do CC) – trata-se da
doação de um determinado bem a dois ou mais d) Consensual – a vontade das partes é a
donatários, os quais se tornarão cotitulares do essência do contrato,
bem; e) Informal e não solene – inexiste
obrigatoriedade de escritura pública como
o) modal ou onerosa (art. 553 do CC) – é também de contrato escrito.
aquela em que o doador atribui ao donatário
um encargo, o qual se torna elemento modal f) Execução continuada – as prestações
do negócio jurídico; perduram com o passar do tempo.

p) à entidade futura (art. 554 do CC) – a g) Típico – caracterizado por possuir


entidade deverá se constituir regularmente regulamentação legal no Código Civil.
com a inscrição dos atos constitutivos no
respectivo registro no prazo máximo de dois h) Paritário ou de adesão – será paritário
anos; no entanto, se ela não estiver quando as partes estiverem em pé de
devidamente composta dentro desse prazo o igualdade no ato de estabelecer as cláusulas
contrato poderá caducar. contratuais e de adesão assim que uma das
4.4. Revogação da doação partes estipular as cláusulas e a outra somente
puder aderi-las para que se possa obter o
São os casos definidos nos artigos 555 ao 564 objeto do contrato.
do Código Civil e merecem ser conferidos! 5.3. Pressupostos

4.5. Hipóteses de irrevogabilidade por a) coisa;


ingratidão b) temporariedade;

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c) aluguel. poder, o aluguel que o locador arbitrar, e


responderá pelo dano que ela venha a sofrer,
5.4. Dos deveres do locador embora proveniente de caso fortuito.
Parágrafo único. Se o aluguel arbitrado for
O locador é obrigado a entregar ao locatário a manifestamente excessivo, poderá o juiz
coisa alugada, com suas pertenças, em estado reduzi-lo, mas tendo sempre em conta o seu
de servir ao uso a que se destina, assegurando caráter de penalidade.
a utilização pacífica da coisa. Devendo o 5.9. A aquisição do bem por terceiro e a
locatário, durante o período contratual, manter cláusula de vigência
a coisa no estado em que se encontra, salvo
se previsto diversamente em cláusula. Se o bem – objeto do contrato – for alienado
5.5. O direito potestativo da redução durante a vigência do contrato de locação, o
proporcional do aluguel ou a resolução do adquirente não ficará obrigado a respeitá-lo, se
contrato nele não for consignada a cláusula da sua
vigência, no caso de alienação, e não constar
Conforme preceitua o artigo 567 da lei civil, se de registro.
durante a locação a coisa alugada for 5.10. A sucessão na locação
deteriorada,
sem culpa do locatário, a este caberá pedir Destaca o artigo 577 da lei civil:
redução proporcional do aluguel, ou resolver o Art. 577. Morrendo o locador ou o locatário,
contrato, caso já não sirva a coisa para o fim a transfere-se aos seus herdeiros a locação por
que se destinava. tempo determinado.
5.6. Dos deveres do locatário 5.11. Indenização por benfeitorias

Os deveres legais estão elencados no rol do Exceto disposição em contrário, o locatário


artigo 569 do Código Civil: goza do direito de retenção, no caso de
a) servir-se da coisa alugada para os usos benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias
convencionados ou presumidos, consoante a úteis, se estas houverem sido feitas com
natureza dela e as circunstâncias, bem como expresso consentimento do locador, conforme
tratá-la com o mesmo cuidado como se sua prevê o artigo 578 da lei civil.
fosse; 5.12. A locação na Lei n. 8.245/91
b) pagar pontualmente o aluguel nos prazos
ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o Esta lei se aplica somente nas relações
costume do lugar; locatícias de imóvel urbano, consoante
c) levar ao conhecimento do locador as previsto em seu artigo 1º.
turbações de terceiros, que se pretendam
fundadas em direito; 5.12.1. Ações inquilinárias ou locatícias
d) restituir a coisa, finda a locação, no estado
em que a recebeu, salvas as deteriorações 5.12.1.1. Conceito
naturais ao uso regular. São quatro as ações previstas na lei de
5.7. Locação por prazo determinado locações: a de despejo, a consignatória de
alugueres e encargos locatícios, a revisional
De acordo com a regra prevista no artigo 573 de aluguel e a renovatória de imóveis não
do Código Civil, esta modalidade cessa de residenciais.
pleno direito com o fim do prazo estipulado, Além dessas, poderão ser propostas também:
independentemente de notificação ou aviso. a ação de execução dos encargos locatícios,
conforme disposto no artigo. 585, inciso V, do
5.8. Aluguel pena CPC, e a indenizatória, pelo locatário em face
do locador, alegando que o imóvel locado
Reza a norma civilista: apresentava defeitos causadores tanto de
danos morais quanto de materiais.
Art. 575. Se, notificado o locatário, não restituir
a coisa, pagará, enquanto a tiver em seu

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Portanto, a Lei n. 8.245/91 é uma norma d) No polo passivo figurará o locatário,


híbrida, pois cuida de aspectos materiais, sublocatário e/ou quem o tenha legitimamente
procedimentais, como também processuais. substituído.
5.12.1.2. Lei do inquilinato: aspectos gerais

Algumas questões relevantes devem ser e) É permitido o deferimento de medidas


analisadas no estudo da Lei 8.245/91. O liminares inaudita altera pars, conforme § 1º do
primeiro ponto a ser analisado é o juízo artigo 59 da Lei n. 8.245/91.
competente para propor as ações de despejo. f) O despejo também poderá ocorrer por
Aqui se aplica a regra de competência do foro denúncia cheia ou vazia. A primeira ação está
da situação da coisa, baseada no artigo 47 da lei do inquilinato; já a
disposta no artigo 95 do CPC, por trazer maior segunda está disposta no artigo 6º desta lei;
facilidade ao juízo a proximidade com o bem
objeto do desalijo. g) Pode ser proposta ação de despejo por falta
Como previsto pelo artigo 58 da Lei n. de pagamento ou por infração contratual;
8.245/91, o valor da causa para a propositura pedido para uso próprio; ausência de
da ação de despejo corresponderá a 12 meses conservação ou deterioração do imóvel locado
de aluguel, ou, na hipótese do inciso II do ou, ainda, realizar obras sem o consentimento
artigo 47, a três salários vigentes por ocasião do locador.
do ajuizamento.
h) A sentença tem caráter mandamental por
Segundo recente entendimento do STJ, o dispensar a sua fase final de liquidação.
despejo para uso próprio poderá ser proposto 5.12.1.3.2. Ação consignatória de aluguéis e
nos Juizados Especiais Cíveis, posto que os acessórios na locação (art. 67 da Lei n.
incisos do artigo 3º da Lei n. 9.099/95 não são 8.245/91)
cumulativos e o inciso III do mesmo artigo não
possui limite de valor tanto para bens imóveis a) Esta ação tem por característica evitar a
como para os alugueres vencidos ou inadimplência do locatário através do depósito
vincendos, se os mesmos existirem. efetuado em juízo quando proposta a exordial.
Por último, deve ser esclarecido que o recurso
contra sentença proferida, nesses casos, será b) Transcorre pelo rito especial.
o de apelação e deverá ser recebido somente c) Caracteriza-se como uma ação que visa ao
no efeito devolutivo, permitindo assim o pagamento indireto da obrigação e tem como
diploma legal, a execução provisória do parte autora o locatário.
julgado.
d) Diversamente da ação consignatória
5.12.1.3. Espécies prevista no CPC, esta modalidade não tem
caráter dúplice, pois a lei preceitua o
5.12.1.3.1. Ação de despejo (arts. 59 a 66 da cabimento de reconvenção nos termos do
Lei n. 8.245/91) inciso VI do artigo 67 da lei do inquilinato.
a) É a única ação que o locador pode sugerir 5.12.1.3.3. Ação revisional de aluguel (arts. 68
para recuperar o imóvel objeto da locação. a 70 da Lei n. 8.245/91)

b) Tem natureza de ação de rescisão de a) Pode ser ofertada tanto pelo locador,
dissolução contratual, com natureza buscando o aumento do valor dos alugueres,
eminentemente pessoal e não possessória ou como poderá ser proposta pelo locatário com
real. o objetivo de reduzi-los.

c) Segue o rito ordinário, consoante artigo 59 b) Este benefício poderá ser utilizado somente
da Lei n. 8.245/91. pelo prazo de três anos, ainda que a ação
tenha sido proposta pela parte contrária.
c) Segue o rito sumário, conforme artigo 68 da
lei do inquilinato.

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f) Não sendo renovada a locação, o juiz


d) O juiz fixará o aluguel provisório por meio determinará a expedição de mandado de
dos elementos fornecidos pelo autor da ação, despejo, dentro do prazo de 30 (trinta) dias
que será devido desde a citação. para a desocupação voluntária, se houver
pedido na contestação.
e) Na audiência de conciliação, consoante 6. EMPRÉSTIMO
recente alteração pela Lei n. 12.112/09, deverá
ser apresentada a contestação, contendo a 6.1. Aspectos gerais
contraproposta; caso exista discordância
quanto ao valor pretendido, tentará o juiz a Esse tipo de contrato abrange tanto o
conciliação; em caso de impossibilidade, comodato como o mútuo. Ambos os institutos
determinará a realização de perícia, se se assemelham por terem como objeto a
necessária, designando, desde logo, audiência entrega da coisa para ser usada e restituída ao
de instrução e julgamento. dono originário ao final do negócio
f) O aluguel fixado em sentença retroage à estabelecido. Diferenciam-se em razão da
citação e as diferenças devidas durante a ação natureza da coisa emprestada, pois se o bem
de revisão abrangerá os alugueres vincendos, for fungível o contrato será de mútuo e, se o
bem como os vencidos e não pagos; as mesmo for infungível, comodato.
mensalidades locatícias serão pagas com 6.2. DO COMODATO (EMPRÉSTIMO DE
correção monetária exigível a partir do trânsito USO) (arts. 579 a 585 do CC)
em julgado da decisão que fixar o novo
aluguel; como também serão descontados os 6.2.1. Conceito
alugueres provisórios já satisfeitos.
g) No final da ação locatícia serão cobradas as A melhor definição está expressa no artigo 579
diferenças locatícias entre o aluguel provisório do CC:
e o definitivo. Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito
de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a
h) A ação de despejo poderá ser tradição do objeto.
fundamentada pelo inadimplemento dos 6.2.2. Natureza jurídica
alugueres provisórios.
5.12.1.3.4. Ação renovatória de contrato (arts. a) Real – se perfaz com a tradição do bem
71 a 75 da Lei n. 8.245/91) infungível.
b) Gratuito – como disposto acima, ainda que
a) Esta ação visa à renovação compulsória do o comodatário efetue o pagamento dos
contrato de locação escrito, e não residencial, encargos de comodato (p. ex., condomínio,
por prazo determinado, vigendo no mínimo de IPTU, dentre outros), este contrato é
forma ininterrupta pelo prazo de 5 anos, considerado gratuito.
com exploração da mesma atividade pelo
prazo mínimo de três anos, devendo esta c) Informal e não solene – não possui
demanda correr no rito ordinário. formalidade prevista em lei.
b) Ela deverá ser proposta no prazo máximo
de 1 ano e 6 meses após o término do contrato. d) Unilateral – confere obrigações somente ao
comodatário.
c) A legitimidade ativa é do locatário.
e) Personalíssimo – extingue-se com a morte
d) Nesta demanda será fixado o aluguel do comodatário.
provisório a ser devido após o término da
vigência do contrato de locação. f) Fiduciário – como o próprio nome diz, é
baseado na confiança entre o comodante e
e) O aluguel fixado na sentença poderá ser comodatário.
cobrado imediatamente, independentemente 6.2.3. Legitimação para celebrar o contrato
da propositura do recurso.

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Em regra, todos os bens imóveis/móveis são


passíveis de ser objeto de contrato de Só é possível a existência da solidariedade no
comodato, no entanto, excepcionalmente a lei contrato de comodato no caso de duas ou mais
dispõe que não poderão dar em comodato, pessoas serem, simultaneamente,
sem autorização especial, os bens confiados à comodatárias da mesma coisa, ficando
guarda dos tutores, curadores e todos os solidariamente responsáveis para com o
administradores de bens alheios, em geral. comodante.
6.2.4. Prazo determinado e indeterminado 6.3. DO MÚTUO (EMPRÉSTIMO DE
CONSUMO) (arts. 586 a 592 do CC)
Nos casos pactuados por prazo determinado,
não poderá o comodante suspender o uso e 6.3.1. Conceito
gozo da coisa emprestada antes de findo o
prazo convencional, salvo se houver uma O conceito do contrato de mútuo está previsto
urgente necessidade reconhecida pelo juiz. no artigo 586 do Código Civil:
Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas
O comodato poderá não ter prazo fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao
convencionado, e nesse caso se presumirá o mutuante o que dele recebeu em coisa do
prazo através da necessidade da utilização da mesmo gênero, qualidade e quantidade.
coisa. 6.3.2. Natureza jurídica
6.2.5. Obrigações do comodatário e o
chamado aluguel-pena a) Unilateral – gera obrigações somente para
uma das partes, neste caso, o mutuário.
O comodatário tem como obrigação conservar
o imóvel como se seu fosse, não podendo usá- b) Gratuito – só traz ônus para o mutuante; o
lo em desacordo com o contrato ou a sua mutuário irá devolver sem ônus.
natureza, sob pena de responder por perdas e Excepcionalmente esta modalidade contratual
danos. será onerosa, nas situações de mútuo
Este será notificado para que dessa forma seja feneratício ou, como é popularmente
constituído em mora, respondendo tanto pelo conhecido, empréstimo em dinheiro.
atraso quanto também pelos alugueres da
coisa que forem arbitrados pelo comodante até c) Informal e não solene – por inexistir previsão
a efetiva entrega das chaves, caracterizando, legal sobre a forma de celebração, podendo
nesse caso, uma espécie de cláusula penal ser feito por instrumento particular.
típica do contrato de comodato.
6.2.6. Responsabilidade do comodatário d) Real – se concretiza com a entrega do bem
fungível.
Em situação de eminente risco da perda dos 6.3.3. A transferência da coisa
bens do comodante e do comodatário, e, este
último, tendo somente como salvaguardar os Este contrato se caracteriza pela transferência
seus pertences abandonando os do do domínio da coisa emprestada ao mutuário,
comodante, deverá ser responsabilizado pelo que assume todos os riscos do bem fungível
dano ocorrido, desde a tradição.
ainda que se trate de caso fortuito ou força 6.3.4. Mútuo feito à pessoa menor
maior. Vale enfatizar, que mesmo nestes
casos, não será suprimida a culpa do O mútuo realizado por menor de idade, quando
comodatário que pretere a coisa alheia não autorizado por seus responsáveis legais,
emprestada em prol de seus pertences. isto é, aqueles que possuem a sua guarda, não
6.2.7. Despesas do contrato poderá ser reivindicado, nem pelo menor nem
tampouco por quem possui a sua guarda.
Não é possível o comodatário recobrar do Todavia, essa regra possui 5 exceções:
comodante as despesas feitas com o uso e a) se o representante legal do menor
gozo da coisa emprestada. posteriormente ratificar a necessidade do
6.2.8. A solidariedade no contrato mútuo;

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b) se o menor se viu obrigado a contrair o a) se for de produtos agrícolas, até a próxima


empréstimo para os seus alimentos habituais colheita quando já estiverem prontos para o
em razão da ausência de seu representante consumo ou para a semeadura;
legal;
b) pelo prazo de 30 dias, se ele for de dinheiro;
c) se o menor tiver bens ganhos com o seu
trabalho, observando-se que a execução do c) se for de qualquer outra coisa fungível
credor não lhes poderá ultrapassar as forças; sempre que declarar o mutuante.
7. DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO (arts. 593 a
d) se o empréstimo reverteu em benefício do 609 do CC)
menor;
7.1. Conceito
e) se o menor obteve o empréstimo
maliciosamente. São aquelas reguladas pelo Código Civil,
como toda espécie de serviço ou trabalho
6.3.5. A garantia no mútuo e a exceptio non lícito, material ou imaterial que pode ser
adimplenti contractus contratada mediante retribuição, e que não
esteja sujeita às leis trabalhistas ou à lei
Verificando o mutuante que o mutuário poderá especial.
inadimplir com o mesmo o contrato firmado,
poderá este exigir a garantia legal, podendo 7.2. Natureza jurídica
ser ela real ou fidejussória, com o objetivo de
buscar maior segurança jurídica. a) Bilateral – gera deveres a ambas as partes.
Contudo, mesmo adimplindo o contrato, se o
mutuário não cumprir com seu mister, a dívida b) Comutativo – as partes possuem o prévio
vencerá antecipadamente ante a exceptio non conhecimento das obrigações contratuais.
rite adimpleti contractus, como disposto no
artigo 477 do Código Civil. c) Personalíssimo/intuitu personae – deve ser
6.3.6. O mútuo feneratício ou mercantil e a prestado somente pelas partes que pactuaram
limitação de juros os termos do contrato.

Versa sobre o mútuo destinado a fins d) Oneroso – possui repercussão econômica.


econômicos, cujos juros cobrados presumir-
se-ão devidos, podendo até chegar ao limite e) Informal/não solene – não tem previsão
previsto no artigo 406 do Código Civil, sob legal quanto à sua forma, podendo ser verbal,
pena de redução. escrito, ou por instrumento particular.
Segundo entendimento do STJ, os contratos
bancários, que não foram regulamentados f) Consensual – deriva da vontade comum das
pela legislação específica, poderão possuir partes.
juros moratórios no limite de 1% para se 7.3. Objeto do contrato
convencionar. Além disso, a simples
estipulação de juros remuneratórios superiores Como informado anteriormente, é toda espécie
a 12% ao ano não traz indícios de abusividade. de serviço ou trabalho lícito, material ou
imaterial que pode ser contratada mediante
O STF ainda entende que a Lei de Usura (DL retribuição.
n. 22.626/33) não é aplicável às instituições 7.4. A remuneração (a não presunção de
bancárias (Súmula n. 596 do STF). gratuidade)
6.3.7. Prazo para a realização do pagamento
do mútuo A remuneração será, em regra, paga após a
prestação do serviço, podendo ser
Inexistindo convenção entre as partes, o convencionada de forma diversa, ou seja, o
mútuo será devido:

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pagamento poderá se concretizar no início dos Quando nesta modalidade de contrato não se
trabalhos ou, estabelecer a tarefa que o prestador de serviço
também, ser dividido em três parcelas, deverá executar, entende-se que o mesmo se
efetuando o pagamento de 1/3 no início, outros obrigou a todo e qualquer serviço compatível
1/3 durante a execução dos serviços e o com as suas forças e condições.
restante ao final. 7.9. Responsabilidade pela ruptura culposa do
No que tange aos valores devidos, se inexistir contrato
estipulação prévia e muito menos a
possibilidade de acordo entre as partes, Não poderá o prestador de serviço contratado
deverá ser proposta ação para que o juiz por tempo certo ou por obra determinada se
arbitre a remuneração de acordo com o ausentar sem justa causa antes de preenchido
costume do lugar, o tempo de serviço e sua o tempo ou concluída a obra.
qualidade.
7.5. Prazo máximo do contrato Dessa forma, terá o contratante direito à
retribuição vencida, através das perdas e
Prevê a lei civil no caput de seu artigo 598: danos. Essa punição também se aplicará para
o caso do prestador ser despedido por justa
causa.
Art. 598. A prestação de serviço não se poderá 7.10. Perdas e danos
convencionar por mais de quatro anos, embora
o contrato tenha por causa o pagamento de Nas hipóteses em que o prestador de serviço
dívida de quem o presta, ou se destine à for despedido sem justa causa, o contratante
execução de certa e determinada obra. Neste será obrigado a lhe pagar a integral retribuição
caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por vencida acrescida da metade da remuneração
findo o contrato, ainda que não concluída a a que caberia a ele, caso pudesse cumprir com
obra. o termo legal do contrato.
7.6. Resilição do contrato 7.11. A declaração formal da dissolução do
contrato
O prazo para estabelecer a resilição contratual
ficará ao arbítrio de ambas as partes, mediante Ao final do contrato, o prestador de serviço tem
prévio aviso. Entretanto, a lei estipula prazos o direito de exigir da outra parte uma
gerais, caso as partes não pactuem declaração, afirmando que as obrigações
previamente tais limites: contraídas foram finalizadas, bem como se for
despedido sem ou com justa causa.
a) oito dias de antecedência, nas hipóteses de 7.12. Exigência de capacitação
remuneração fixada por tempo de um mês, ou
mais; Nas hipóteses de prestação de serviço por
pessoa que não possua título de habilitação ou
b) quatro dias de antecedência, se a não satisfaça requisitos estabelecidos em lei,
remuneração for ajustada por semana ou não poderá ser cobrada retribuição
quinzena; correspondente ao trabalho executado por
quem o prestou.
c) quando a contratação tenha sido por prazo Se o serviço for prestado de boa-fé, o juiz
inferior a sete dias, poderá ser avisado na arbitrará compensação razoável, exceto
véspera. quando a proibição da prestação de serviço
7.7. Inexecução do contrato resultar de lei de ordem pública.
7.13. Formas de extinção do contrato
A lei civil dispõe que não será contado o tempo
em que o prestador de serviço não tenha A lei civil estabeleceu algumas formas de
efetuado a sua tarefa. extinção do contrato, dentre elas consta a
7.8. Amplitude do contrato morte de qualquer das partes, escoamento do
prazo contratualmente determinado,
conclusão da obra,

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rescisão do contrato mediante aviso prévio, f) Instantâneo ou de longa duração – o primeiro


inadimplemento de qualquer das partes ou se consumará com a prática do ato, já o
impossibilidade da continuação do contrato segundo necessita de tempo para se exaurir.
motivada por força maior. g) Não personalíssimo – sua execução pode
7.14. Aliciamento do prestador de serviço ser confiada a terceiros, sob a
responsabilidade do empreiteiro.
Atente-se para a leitura do artigo 608 do 8.3. Espécies
Código Civil:
Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas a) de lavor – neste contrato o empreiteiro
em contrato escrito a prestar serviço a outrem somente contribui com o seu trabalho;
pagará a este a importância que ao prestador
de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de b) mista – o empreiteiro contribui com o seu
caber durante dois anos.” trabalho, mas também com os materiais
7.15. Alienação do prédio agrícola e suas necessários para a sua realização;
consequências
c) de projeto – a obrigatoriedade do
Não implica a rescisão do contrato quando o empreiteiro é somente entregar o seu projeto
prédio agrícola, local da prestação de serviços, final;
é alienado, salvo no caso em que o prestador
opte em continuar com o adquirente da d) instantânea – é estabelecida remuneração
propriedade ou com o contratante inicial. fixa para a execução da obra;
8. EMPREITADA (arts. 610 a 626 do CC)
e) por medida/ad mensuram – nesta
8.1. Conceito modalidade, a fixação do preço é determinada
pelas etapas realizadas, isto é, a remuneração
Trata-se de contrato em que o é proporcional ao trabalho executado;
contratado/empreiteiro se obriga, sem
subordinação ou dependência, a realizar f) por administração – na qual o empreiteiro se
pessoalmente ou por terceiros determinada encarrega da execução do projeto,
obra para o dono ou para o empreiteiro pesquisando preço, profissionais, dentre
contratado, com material próprio ou fornecido outros aspectos, sendo remunerado de forma
pelo dono da obra, mediante remuneração fixa ou através de um percentual sobre o custo
determinada ou proporcional ao trabalho da obra.
executado. 8.4. Deveres e direitos do dono da obra
8.2. Natureza jurídica
Quando a obra for concluída de acordo com o
a) Bilateral – gera deveres a ambas as partes. que foi pactuado inicialmente, o dono da obra
será obrigado a aceitá-la, podendo rejeitá-la
b) Comutativo – possui o prévio conhecimento caso o empreiteiro se afaste das instruções
das obrigações contratuais. recebidas, dos planos dados ou das regras
técnicas em trabalhos de tal natureza.
c) Oneroso – proporciona repercussão
econômica. 8.5. Responsabilidade do empreiteiro

d) Informal e não solene – não há previsão Existem três pontos a serem analisados:
legal expressa quanto à sua forma, podendo
ser verbal, escrito ou por instrumento a) Consoante o artigo 617 do CC:
particular.
Art. 617. O empreiteiro é obrigado a pagar os
e) Consensual – deriva da vontade comum das materiais que recebeu, se por imperícia ou
partes. negligência os inutilizar.

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b) O empreiteiro responderá durante o f) Personalíssimo – o contrato será ajustado de


irredutível prazo de cinco anos, pela solidez e acordo com o depositário, podendo ser
segurança do trabalho, como também em afastado quando o depositário for pessoa
razão dos materiais utilizados; contudo decairá jurídica.
o direito do dono da obra que não propuser a
ação contra o empreiteiro, nos 180 dias g) Temporário – pode ser estipulado prazo final
seguintes ao aparecimento do vício ou defeito; ou não nesta modalidade de contrato.
cumpre ressaltar que tal responsabilidade é 9.3. Modalidades
objetiva segundo a norma do artigo 618 do CC,
cuja obrigação é de resultado. a) voluntário – decorre da autonomia da
c) Se a obra ficar paralisada sem justo motivo vontade das partes;
resolve-se em perdas e danos, podendo o
empreiteiro suspender a obra nos casos do b) necessário – não resulta da autonomia da
artigo 625 do CC. vontade, sendo subdividido em:
8.6. Subempreitada
b.1) legal – origina-se do direito positivo;
Esta modalidade contratual não possui b.2) miserável – sucede de calamidade
natureza personalíssima, podendo a execução pública;
da obra ser confiada a terceiros, desde que os b.3) hospedeiro – depende da guarda das
mesmos não assumam a direção ou bagagens de hospedes;
fiscalização do serviço, ficando limitados os
danos resultantes de defeitos durante o c) regular – deriva de bem infungível e
irredutível prazo de cinco anos. inconsumível;
9. DEPÓSITO (arts. 627 a 652 do CC)
d) irregular – oriunda de bem fungível ou
9.1. Conceito consumível;
e) judicial – possui como finalidade resguardar
Neste contrato, o depositário recebe um objeto a coisa até a decisão final judicial, derivando
móvel para guardar até que o depositante o de mandado judicial;
reclame, sendo em regra gratuito,
exceto se houver convenção em contrário e for f) bem indivisível – diz o artigo 639 da lei
fruto de atividade negocial ou se o depositário civilista:
o praticar por profissão.
Art. 639. Sendo dois ou mais depositantes, e
9.2. Natureza jurídica divisível a coisa, a cada um só entregará o
depositário a respectiva parte, salvo se houver
a) Real – depende da entrega da coisa. entre eles solidariedade.
g) fechado – conforme o artigo 630 do Código
b) Unilateral – somente gera obrigações a uma Civil:
das partes, todavia excepcionalmente na Art. 630. Se o depósito se entregou fechado,
hipótese do artigo 643 do Código Civil, poderá colado, selado, ou lacrado, nesse mesmo
se tornar contrato bilateral imperfeito. estado se manterá.”
9.4. Direitos e deveres do depositário
c) Gratuito – regra geral onera somente uma
das partes, havendo extraordinariamente A lei traz ao longo do texto os seguintes
remuneração ao depositário. direitos:

d) Informal – não obstante o deposito a) o depositante terá o direito de obter a


voluntário se provar por escrito, não há restituição sobre as despesas necessárias;
regramento específico para a sua celebração.
e) Não solene – pode ser feito por instrumento b) direito de retenção do bem depositado para
particular. o caso de inadimplemento;

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c) ser remunerado, nas hipóteses que é devida a) Unilateral – gera somente obrigações ao
a remuneração. mandatário.

Além disso, terá como dever: b) Gratuito – se não ficar estipulada


remuneração, exceto quando se tratar de
a) custodiar a coisa com o devido zelo; ofício ou profissão lucrativa do mandatário.

b) obter autorização do depositante para usar c) Oneroso – será cabível a remuneração


a coisa depositada; pactuada entre as partes e, na ausência, a
prevista em lei de acordo com a categoria
c) restituir o bem no prazo final, no local profissional, estabelecendo-se, ainda,
pactuado, se responsabilizando pela coisa até conforme os usos e costumes do lugar da
a sua efetiva entrega. celebração ou por arbitramento judicial.
9.5. Direitos e deveres do depositante d) Consensual – deriva da autonomia da
vontade das partes.
Como dever, consta o de pagar pelas
despesas referentes à manutenção do e) Comutativo – as partes já conhecem os seus
depósito, bem como sobre os prejuízos que a efeitos.
coisa gerar ao depositário. O depositário tem o
direito de ser ressarcido no caso de
deterioração do bem depositado. f) Preparatório – serve para preparar a prática
9.6. Da prisão do depositário infiel de um terceiro ato.

A presente matéria, objeto de antigas g) Informal e não solene – inexiste previsão


controvérsias, foi pacificada pela Súmula legal sobre o seu formato.
Vinculante n. 25 do STF estabelecendo que: 10.3. Espécies

Súmula Vinculante n. 25. É ilícita a prisão civil a) Judicial – possui a finalidade de representar
de depositário infiel, qualquer que seja a perante o Poder Judiciário o outorgante.
modalidade do depósito.
9.7. Extinção do depósito b) Legal – não há instrumento por decorrer da
lei.
O presente contrato será extinto por resilição
unilateral, pelo término do prazo estabelecido, c) Escrito – materializado por instrumento
pelo perecimento da coisa, morte do público ou particular.
depositário e pela incapacidade civil do
depositário. d) Verbal – inexiste documento escrito, sendo
Importante se faz mencionar a Lei n. 2.313/54, evidenciado por prova testemunhal.
prevendo que após o prazo de 25 anos, se a
coisa não for reclamada, os bens serão e) Expresso e tácito – o primeiro se forma
recolhidos ao Tesouro Nacional. explicitamente através de sua forma, podendo
10. DO MANDATO (arts. 653 a 692 do CC) ser verbal ou escrito, entretanto, o segundo se
dá com a definição dos deveres em
10.1. Conceito decorrência de outra pessoa.
f) Aparente – terá o mandatário o dever de
Esta modalidade contratual ocorre enquanto remunerar, adiantar as despesas necessárias,
alguém substitui outra pessoa, com poderes reembolsar as despesas feitas na execução do
legais necessários confiados para agir em mandato, ressarcir os prejuízos, honrar os
nome do representado, atuando consoante compromissos em seu nome assumidos,
sua vontade. vincular-se com quem seu procurador
10.2. Natureza jurídica contratou, responsabilizar-se solidariamente
nas hipóteses legais, pagar a remuneração do

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substabelecido e vincular-se a terceiro de boa- b) ser diligente na execução do contrato e


fé. indenizar no caso de prejuízo causado por sua
g) Salariado – trata-se de obrigação de meio, culpa ou de quem substabeleceu;
em que a remuneração se dá independente do
resultado-fim. c) prestar contas com o mandante,
transferindo as vantagens provenientes do
h) Geral – engloba todo o patrimônio do instrumento de mandato;
outorgante.
d) se identificar como mandatário perante
i) Especial – abrange um ou mais negócios do terceiros com quem tratar;
mandante. e) concluir a tarefa a que foi contratado.
10.6. Obrigações do mandante
j) Conjunto – quando há uma pluralidade de
mandatários que devem participar do ato É de extrema importância a leitura dos artigos
designado. 675 a 681 do CC, podendo ser enumerados
aqui os principais deveres:
l) Solidário – com cláusula in solidum, cada
mandatário poderá realizar o mister a) satisfazer todas as obrigações contraídas
independente dos demais. pelo mandatário, na conformidade do mandato
conferido, e adiantar a importância das
m) Fracionário – sempre que existir divisão de despesas necessárias à execução dele,
tarefas devidamente delimitada entre os quando necessário se fizer;
mandatários.
b) a pagar ao mandatário pela remuneração
n) Singular – preza pela existência de apenas ajustada e despesas da execução do mandato,
um outorgado. ainda que o negócio não surta o esperado
efeito, exceto tendo o mandatário culpa;
o) plural – sempre que vários são nomeados
no instrumento de mandato. c) é obrigatório o mandante ressarcir ao
10.4. Submandato mandatário as perdas que este sofrer com a
execução do mandato, sempre que não
Contrato acessório ao mandato principal, resultem de culpa sua ou de excesso de
devendo ser escrito, por meio do instrumento poderes;
de substabelecimento, e tem como objeto
obrigação de fazer fungível. Se houver d) o mandante ficará obrigado para com
reservas, tanto o mandatário quanto o aqueles com quem o seu procurador
submandatário podem realizar as tarefas. contratou, ainda que o mandatário contrarie as
Todavia, quando este instrumento for sem instruções originárias;
reservas, o mandatário revoga os seus
próprios poderes perante o mandante, e) o mandatário tem direito de retenção sobre
repassando-os para o submandatário. a coisa de que tenha a posse em virtude do
10.5. Obrigações do mandatário mandato, até se reembolsar do que no
desempenho do encargo despendido;
A lei civil estabelece as regras gerais de 10.7. Extinção do contrato
obrigações do mandatário nos artigos 667 a
674, cuja leitura se faz obrigatória, podendo O Código Civil regulamenta o tema nos artigos
ser listados aqui os principais deveres: 682 a 691 determinando a extinção nas
hipóteses de revogação, renúncia, morte de
a) agir em nome do mandante dentro dos uma das partes, interdição de uma das partes,
limites outorgados no instrumento de mandato; mudança de estado de uma das partes,
término do prazo e conclusão do negócio.
11. CONTRATO DE FIANÇA (arts. 818 a 839
do CC)

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e) É inerente à fiança o benefício de ordem,


11.1. Conceito qual seja, o fiador exigir que inicialmente seja
Trata-se de garantia fidejussória em que um executado o bem do devedor para
terceiro (fiador) passa a garantir pessoalmente posteriormente ter o seu patrimônio atingido.
perante o credor a dívida do devedor com seu
patrimônio, tendo dessa forma uma f) A solidariedade não se presume, decorre da
responsabilidade sem débito. lei ou da vontade das partes, logo inexiste
11.2. Natureza jurídica diploma legal dizendo que o devedor e o fiador
são solidários; se inexistir no contrato, não se
a) Gratuito – quem obtém o benefício deste poderá presumi-los solidários, pois isso
contrato é o credor, que tem o seu direito de violaria a regra legal.
crédito garantido. Porém, pode ser oneroso,
como no caso da fiança bancária. Nessa última g) A fiança poderá ser prestada conjuntamente
hipótese será aplicada as regras do CDC. a um só débito, por mais de uma pessoa,
importando o compromisso de solidariedade
b) Consensual – atende à autonomia da entre elas se declaradamente não se
vontade das partes. reservarem o benefício da divisão,
respondendo cada fiador unicamente pela
c) Formal – exige, minimamente, documento parte que proporcionalmente lhe couber no
escrito. pagamento.

d) Não solene – não há necessidade de h) O fiador também tem direito perante o


escritura pública. devedor de ser ressarcido de todas as perdas
e) Obrigação acessória – a sua existência e danos que vier a sofrer em razão da fiança.
depende de um contrato principal.
i) Poderá o fiador promover o andamento da
f) Típico – possui previsão legal. execução contra o devedor nos casos em que
o credor, sem justa causa, demorar a executar.
g) Fiduciário – essencialmente decorre da
confiança das partes. j) Segundo a doutrina majoritária, a renúncia
11.3. Seus efeitos e regras convencional é nula.

a) As dívidas futuras podem ser objeto de l) A obrigação do fiador passa para os


fiança, mas o fiador, nesse caso, não será herdeiros, mas fica limitado ao quinhão
demandado senão depois que se fizer certa e hereditário (forças da herança).
líquida a obrigação do principal devedor (art.
821 do CC). m) É o único contrato em que há compensação
sem reciprocidade de créditos e débitos,
b) A fiança poderá abranger a totalidade da podendo ser compensado com o credor o que
dívida (total) ou parte da dívida (parcial), sendo este deve ao afiançado.
a primeira ilimitada e a segunda limitada.
n) A desoneração de fiador em locação urbana
c) O credor possui o direito de examinar a é regulada pelo artigo 40 da Lei n. 8.245/91,
idoneidade da fiança, não podendo ser em que o fiador ainda responde no período de
obrigado a aceitá-lo se o mesmo não for 120 dias após a sua desoneração,
idôneo, domiciliado no município onde tenha enquanto a da lei civil, o fiador ficará obrigado
de prestar a fiança, por todos os efeitos da fiança, durante 60 dias
e não possua bens suficientes para cumprir a após a notificação do credor.
obrigação.
o) Não obstante discussões anteriores acerca
d) Se houver insolvência do fiador, o credor da constitucionalidade da penhora do único
poderá exigir a sua substituição. bem imóvel do fiador,

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o STF pacificou este entendimento acerca da


possibilidade, declarando a Conduta contrária ao direito positivado, tendo
constitucionalidade do artigo 3º, inciso VII, da por elementos a antijuridicidade, ou seja, o ato
Lei n. 8.009/90. ser contrário à ordem jurídica e o agente ser
11.4. Extinção da fiança imputável, respondendo pelo mesmo por
possuir maturidade e sanidade para a prática
São casos de extinção da fiança: dos atos civis.
2.1.1. Espécies
a) resilição unilateral;
a) indenizatório – busca a reparação do estado
b) morte; inicial da vítima (status quo ante);
b) invalidante – tem como objetivo a invalidade
c) O fiador pode opor ao credor as exceções do ato praticado de forma ilícita;
que lhe forem pessoais e as extintivas da c) caducificante – resulta na efetiva perda do
obrigação que competem ao devedor principal, direito;
se não provierem simplesmente de d) autorizante – a lei autoriza a prática de uma
incapacidade pessoal, salvo o caso do mútuo conduta em rejeição a um ilícito.
feito a pessoa menor; 2.2. Culpa

A culpa pode ser dividida em dois casos:


d) o fiador, ainda que solidário, ficará
desobrigado se, sem o seu consentimento, o a) culpa latu sensu: tem o dolo como sua
credor conceder moratória ao devedor; se por modalidade mais grave, podendo o mesmo ser
fato do credor, for impossível a sub-rogação encontrado nas seguintes formas:
nos seus direitos e preferências; se o credor, – dolo direto: o agente deseja a prática do
em pagamento da dívida, aceitar ilícito;
amigavelmente do devedor objeto diverso do
que este era obrigado a lhe dar, ainda que – dolo necessário: fala a respeito de um efeito
depois venha a perdê-lo por evicção; colateral típico decorrente do meio escolhido e
admitido, pelo autor, como certo ou
e) em caso de ser invocado o benefício da necessário;
excussão e o devedor, retardando-se à
execução, cair em insolvência, ficará – dolo eventual: o agente, com a sua conduta,
exonerado o fiador que o invocou, se provar assume o risco do ilícito.
que os bens por ele indicados eram, ao tempo b) culpa strictu sensu (mera culpa): o agente
da penhora, suficientes para a solução da pratica o ilícito com a ausência do dever de
dívida afiançada; cuidado, gerando as seguintes espécies:
RESPONSABILIDADE CIVIL – negligência – a conduta é caracterizada pelo
1. Conceito desleixo;
– imprudência – a conduta é omissiva;
A matéria a ser estudada vincula-se ao dever – imperícia – é a falta de habilidade técnica.
de não causar prejuízo injustamente,
buscando-se a indenização pelos danos Diante do tema abordado, constata-se a
sofridos, com a finalidade de reparação na existência de uma classificação referente à
medida do injusto causado resultante da graduação, em que a culpa poderá ser: grave
violação do dever de cuidado. em razão do erro grosseiro, leve diante de falta
2. Pressupostos evitável e, ainda, levíssima ante a falta de
atenção extraordinária. Sendo a indenização
a) ato ilícito ou conduta; obrigatória em qualquer um desses graus (in
b) culpa; lege Aquilia et levissima culpa venit).
c) dano; 2.2.1. Espécies de culpa strictu sensu
d) nexo causal.
2.1. Ato ilícito ou conduta

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a) contratual – violação de um dever jurídico b) lucros cessantes – atinge o patrimônio futuro


originariamente estabelecido; (ganho esperável), impedindo seu
crescimento.
b) extracontratual ou aquiliana –aquela que 2.3.1.2. Dano incerto
ocorre sem qualquer estabelecimento de
relação jurídica originária; Segundo entendimento do STJ, não se pode
c) in comitendo – em cometer, culpa por agir indenizar um dano incerto, em razão da própria
com imprudência; natureza da responsabilidade civil, que é a
efetiva reparação de dano causado ao
d) in omitendo –culpa em omitir; patrimônio.
2.3.1.3. Dano material futuro
e) in vigilando – culpa pela vigilância;
Inexiste a possibilidade desta modalidade,
f) in eligendo – culpa pela escolha; uma vez que somente se pode exigir
reparação por danos causados e não por
g) in custodiando – culpa pela custódia, por danos a causar, isto é, que poderão acontecer
guardar; futuramente, inexistindo lesão patrimonial.

h) presumida – a culpa, nesse caso, é 2.3.1.4. Dano moral


essencial para o dever de reparar, geralmente
a lei já faz o juízo de presunção, não sendo a É uma espécie de dano, extrapatrimonial, por
mesma adotada pelo CC/02, e, nas situações violação aos direitos inerentes à pessoa,
de previsão em leis esparsas, a doutrina contidos nos direitos da personalidade.
entende que se considera caso de 2.3.1.4.1. Formas de fixação
responsabilidade objetiva;
2.3.1.4.1. Compensatório
i) concorrente –hipótese em que o agente e a
vítima contribuem para a prática do evento São analisados dois requisitos
danoso, sendo devida, segundo a doutrina, a concomitantemente: extensão do dano +
divisão proporcional dos graus de culpa entre condições pessoais da vítima.
eles. 2.3.1.4.2. Punitiva
2.3. Dano
Neste outro ponto, existem dois requisitos:
As espécies de dano existentes são: material, condições econômicas + grau de culpa do
moral, estético, coletivo e social e a perda de ofensor.
uma chance. 2.3.1.4.2.1. Punitive damages

Traduzido para a língua portuguesa, danos


2.3.1. Espécies punitivos, seria aquilo que a doutrina chama de
“dano moral punitivo”.
2.3.1.1. Dano material Defende-se o entendimento de que tal instituto
seja possível se o juiz entender que diante da
Trata-se de uma efetiva lesão patrimonial, proporcionalidade entre a culpa e o dano é
podendo ser total ou parcial, suscetível de cabível indenização com o objetivo de punir o
avaliação pecuniária. agente pela prática.
2.3.1.1.1. Danos emergentes e lucros
cessantes Todavia, parte da doutrina possui
posicionamento diverso, interpretando que se
a) danos emergentes – do latim damnum inexiste previsão no CC/02, logo, não é
emergens, significa a perda efetivamente possível ser adotado, sob pena de configurar
sofrida; enriquecimento sem causa como disposto no
artigo 884 do CC.

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2.3.1.4.2. Dano moral direto e indireto ou autos do processo n. 2008.61.00.029505-0,


ricochete distribuído perante a 6ª Vara Federal Cível de
São Paulo.
Ocorre o dano moral direto quando o ofendido 2.3.1.4.6. Prova do dano moral
é diretamente atingido nos seus direitos da
personalidade. O sofrimento, a dor e o trauma Segundo entendimento pacífico do STJ, o
provocados pela morte de um ente querido dano moral é chamado de in re ipsa
podem gerar o dever de indenizar. (presumido), ou dano na própria coisa,
Assim tem se posicionado o Superior Tribunal bastando demonstrar unicamente o fato.
de Justiça (STJ) ao julgar os pedidos de 2.3.1.4.7. A quantificação dos danos morais
reparação feitos por parentes ou pessoas que
mantenham fortes vínculos afetivos com a No momento de fixar o quantum debeatur, o
vítima. Trata-se de dano moral reflexo ou magistrado deverá estabelecer uma reparação
indireto, também denominado dano moral por equitativa, baseada na culpa do agente, na
ricochete. extensão e na gravidade do prejuízo causado,
2.3.1.4.3. Dano moral à pessoa jurídica bem como na capacidade econômica das
partes.
Não é pacífico o ponto de vista da matéria A indenização deve apresentar um critério de
abordada, sendo majoritário o entendimento razoabilidade, proporcionalidade e ao mesmo
de que é possível que a pessoa jurídica possa tempo necessária à condenação do agente.
sofrer dano moral, conforme dispõe a Súmula 2.3.1.5. Dano estético
n. 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer É a efetiva lesão à integridade corporal da
dano moral.” vítima e, podendo ser indenizável, o dano deve
2.3.1.4.4. A não possibilidade de incidência de ser duradouro ou permanente ou, em alguns
imposto de renda casos, impedir as capacidades laborativas.
O STJ sumulou o seu entendimento no verbete
O dano moral é uma recomposição de lesão, n. 387, em que: “É lícita a cumulação das
ainda que extrapatrimonial, e por tal motivo a indenizações de dano estético e dano moral.”
sua indenização não significa um acréscimo 2.3.1.6. Perda de uma chance
patrimonial, não incidindo desse modo no
imposto de renda sobre as verbas recebidas a Ocorre quando a vítima possui uma chance
título de ressarcimento pelos danos causados. séria e real, englobando tanto o dano moral
2.3.1.4.5. Dano moral coletivo e social. quanto o material. Exemplificando: nas
Diferenças. Posicionamento da jurisprudência Olimpíadas de Atenas em 2004, o maratonista
do STJ Vanderlei Cordeiro de Lima estava liderando a
prova,
O dano moral coletivo é a lesão até que por volta do 36º km de prova, um padre
extrapatrimonial aos direitos da personalidade irlandês o empurrou desconcentrando-o e
de um determinado grupo, como, por exemplo, retirando o ritmo da prova, fazendo com que o
discriminação sexual, atleta conquistasse apenas o bronze.
etnia, religião, dentre outras. Já o dano moral Outro grande exemplo de perda de uma
social envolve a sociedade, ou seja, um grupo chance foi caso no programa “Show do Milhão”
indeterminado, não se podendo medir a (REsp. n. 788.459/BA), em que foi questionada
quantidade de pessoas lesionadas. Um grande ao participante uma pergunta que não possuía
exemplo, a ação civil pública movida pelo resposta correta. Nesse sentido, o STJ
MPF/SP, em face da Rede TV, por ter entendeu por reduzir a indenização para o
entrevistado ao vivo a vítima Eloá no cativeiro valor de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco
momento antes de seu assassinato. mil reais)
Nesta ocasião, foi impossível medir a de acordo com a probabilidade matemática de
quantidade de pessoas no país que estavam o participante acertar, o que, data vênia, saiu
assistindo ao programa, sendo indiscutível, de graça para quem teria o dever de pagar um
ainda, a exposição da vítima em rede nacional, milhão de reais.
argumentos estes objetos da discussão nos 2.4. Nexo causal

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g) Supervenientes – surgem após o evento


É o vínculo ou relação de causa e efeito entre danoso.
a conduta e o resultado, existindo diversas 3. O risco
teorias, sendo adotada pela jurisprudência a
Teoria do Dano Direto e Imediato. No entanto, Há diversas espécies de risco dispostas no
é essencial listar as principais teorias ordenamento jurídico, devendo ser
existentes: mencionadas as principais:

– Teoria da equivalência das – risco proveito – todo ônus deve ser suportado
condições/conditio sinequa non – nesta teoria por quem recebe o bônus;
não há diferença entre os antecedentes do
resultado danoso, de forma que tudo irá – risco profissional – deriva das relações de
concorrer para o evento considerado trabalho;
causador. Ela não é adotada em nosso
ordenamento. – risco excepcional – origina-se de atividades
– Teoria da causalidade adequada – adotada que exigem elevado grau de perigo;
pelo CC/02 nos artigos 944 e 945, para esta – risco integral – modalidade mais elevada de
teoria, considera-se como causa todo e responsabilidade objetiva por não admitir
qualquer evento que haja contribuído para a exclusão de culpabilidade, em razão de o
efetiva ocorrência do resultado. Portanto, para agente ser o responsável universal, adotado
que ela possa ser adotada, deve-se estar excepcionalmente no ordenamento jurídico
diante de uma causa adequada e apta à nas seguintes formas:
efetivação do resultado.
– Teoria do dano direto e imediato – segundo – dano ambiental: art. 225, § 3º, CF/88 c/c o
essa teoria, será indenizável todo o dano que art. 14, § 1º, da Lei n. 6.931/81, defende que o
se filia a uma causa, ainda que remota, desde dano ambiental deverá ser reparado
que necessária, encontrando respaldo no independentemente de culpa;
artigo 403 do atual Código Civil. – seguro obrigatório – DPVAT: Lei n. 6.194/74
2.4.1. Concorrência de causas com posterior alteração pela Lei n. 8.441/92
estabelece indenização às vítimas de acidente
a) Subsequentes – é causado pela prática de de veículos automotores independente de
conduta oriunda de um ato fundamentando por culpa ou de identificação do veículo automotor;
prática posterior.
b) Complementares – é gerado pela a prática – danos nucleares – art. 21, inciso XXIII, “d”,
da conduta de dois ou mais agentes que, sem CF, responsabilidade civil por danos
a ajuda do outro, não seria atingido o fim nucleares, na qual também foi adotada a teoria
pretendido. do risco integral.
4. Responsabilidade por ato próprio
c) Cumulativas – não haveria necessidade da
conduta dos agentes somarem-se, em razão Transcorre por ato do próprio agente, ora
de que ambas atingiriam o objetivo-fim da causador do dano. Está disposta nos artigos
mesma maneira. 939 e 940 do CC.

d) Alternativas – não há como definir o agente Conforme o primeiro dispositivo, quem


causador do dano. demandar judicialmente contra devedor antes
de vencida a dívida, fora dos casos em que a
e) Preexistentes – a conduta do agente por si lei o permita, ficará obrigado a aguardar o
só não atingiria o resultado-fim se já existisse vencimento, bem como pagar as custas em
outra causa. dobro, sendo obrigado ainda a descontar os
juros, por serem, até o momento, indevidos.
f) Concomitantes – são causas geradoras do Já o segundo dispositivo, quem demandar
dano que são produzidas ao mesmo tempo. judicialmente por dívida já paga, ainda que
somente parte desta, ficará obrigado a pagar

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ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que previstas no atual diploma civil, que
houver cobrado. E, ainda, se litigar sem transformou em responsabilidade objetiva.
ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais A norma abrange não somente a relação de
do que for devido, emprego, mas toda e qualquer outra relação
ficará obrigado a pagar ao devedor o empregatícia com subordinação, chamada de
equivalente do que dele exigir. Em ambos os preposição.
casos, fica ressalvado se já tiver ocorrido a
prescrição. Referente aos donos de hotéis, hospedarias,
A diferença entre o artigo 940 do Código Civil casas ou estabelecimentos onde se albergue
e o parágrafo único do artigo 42 da Lei n. por dinheiro, mesmo para fins de educação,
8.078/90, é que o primeiro somente é aplicável pelos seus hóspedes, moradores e
a cobranças judiciais e o segundo, a todas as educandos, alguns pontos merecem destaque.
judiciais e extrajudiciais. A responsabilidade é objetiva como acima
5. Responsabilidade por ato de outrem ou mencionado. Os hotéis, em especial,
responsabilidade indireta responderiam também, caso o CC/02 não
dispusesse sobre essa matéria, de maneira
De acordo com os ditames do artigo 932 da objetiva, por força do artigo 14 da Lei n.
norma civilista, é o caso que terceiros praticam 8.078/90, visto que está presente o risco da
o ilícito e o responsável legal responde pelo atividade desenvolvida.
fato, isto é, responde (Haftung) mesmo sem ter
contraído o débito (Schuld). Tanto nos casos dos hospitais, clínicas e
O CC/02 adotou para esses casos a outros estabelecimentos similares, bem como
responsabilidade objetiva, conforme redação nas escolas, enquanto estiverem no referido
do artigo 933. local, aplica-se a teoria da guarda.
A responsabilidade solidária prevista no artigo Quando o paciente nos hospitais for menor ou
942 da lei civil é aplicável nos casos dos adolescente, deverá ser observado o artigo 12
incisos III, IV e V do artigo 932. da Lei n. 8.069/90 do ECA:

Os pais irão responder pelos atos dos filhos Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento
que estiverem sob sua guarda e companhia, à saúde deverão proporcionar condições para
mesmo que provarem não agir com a permanência em tempo integral de um dos
negligência. pais ou responsável, nos casos de internação
A responsabilidade será objetiva, e os pais irão de criança ou adolescente.
substituir os filhos, consoante a Teoria da Atualmente, estão na moda os casos de
Substituição. bullying, que consiste em apertadíssima
A responsabilidade do tutor e curador pelos síntese na prática infantil de deboche com
pupilos e curatelados que se acharem sob sua isolamento da pessoa naquela comunidade,
autoridade e companhia é aplicada nos geralmente ocorrendo nos colégios. Logo há
mesmos moldes que a responsabilidade dos responsabilidade pedagógica do
genitores. Importante ressaltar que inexiste estabelecimento de ensino, sob pena de
proibição legal sobre direito de regresso em infração administrativa, conforme artigo 245 do
face dos pupilos ou curatelados. ECA:
No caso do empregador ou comitente, por Art. 245. Deixar o médico, professor ou
seus empregados, serviçais e prepostos, no responsável por estabelecimento de atenção à
exercício do trabalho que lhes competir ou em saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou
razão dele, o CC/02 inovou. creche, de comunicar à autoridade competente
os casos de que tenha conhecimento,
Anteriormente, a aplicação do Código Civil de envolvendo suspeita ou confirmação de maus-
2002, nesses casos, havia a responsabilidade tratos contra criança ou adolescente. Pena –
por culpa in elegendo, como culpa presumida multa de três a vinte salários de referência,
na forma da Súmula n. 341 do STF que, ao aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
final, resultava nas mesmas consequências Em relação aos que gratuitamente houverem
participado nos produtos do crime, será

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responsabilizado objetivamente até a respondendo o agente pelos atos lícitos. Têm-


concorrente quantia da qual tirou o proveito se, como exemplos, o estado de necessidade,
efetivo, consagrando o Princípio da reparação a legítima defesa e o exercício regular do
do indevido. direito.
Deve ser ressaltada a norma do artigo 934 da
lei civil, que trata do direito de regresso. Por sua vez, as excludentes de
Somente no caso do inciso I do artigo 932 não responsabilidade rompem o nexo causal e
será cabível tal direito. Atenção! afastam o dever de indenizar. Exemplos: o
5.1. Independência das responsabilidades civil caso fortuito, a força maior e a culpa exclusiva
e criminal da vítima.
8.1. Estado de necessidade
A responsabilidade civil e criminal possui
comunicação, no entanto, irá prevalecer de Baseia-se na deterioração ou destruição da
forma absoluta o reconhecimento do fato e de coisa alheia, ou lesão à pessoa, com o fim de
autoria na justiça penal (art. 935 do CC). remover perigo iminente, quando as
Não corre a prescrição antes do trânsito em circunstâncias não autorizarem outra forma de
julgado da sentença penal condenatória (art. atuação. Nesse caso, o agente irá atuar com o
200 do CC) e esta formará título executivo fim de resguardar direito seu ou de outra
judicial na jurisdição civil, consoante pessoa em situação de perigo concreto.
disposição do CPC.
6. Responsabilidade por fato da coisa ou do Esta excludente foi regulamentada no artigo
animal 188, inciso II, c/c artigo 929, ambos do Código
Civil.
O dono de edifício ou construção responde 8.2. Legítima defesa
pelos danos que resultarem de sua ruína, se
esta provier de falta de reparos, cuja Este instituto preceitua que o agente, diante de
necessidade seja manifesta. situação de injusta agressão atual e iminente,
Aquele que habitar prédio, ou parte dele, a si ou a outra pessoa, age de forma moderada
responsabiliza-se pelo dano proveniente das a repelir o acometido. Tal forma de exclusão
coisas que dele caírem ou forem lançadas em de ilicitude encontra-se prevista no artigo 188,
lugar indevido. inciso I, 1ª parte, do diploma civil.
Quando não é possível identificar em um No caso da defesa gerar danos a terceiros,
prédio com diversos blocos o autor do deverá o agente, ainda que licitamente em sua
lançamento de objetos, a doutrina entende que defesa ou de outrem, indenizar o terceiro na
se aplica a Teoria da Pulverização dos Danos, forma dos artigos 929 e 930 do Código Civil.
respondendo todos os condôminos por não se 8.3. Exercício regular do direito
conseguir individualizar a conduta.
Presente no artigo 188, inciso I, 2ª parte, da
Já a responsabilidade por fato do animal se norma civilista, consiste na extrapolação dos
aplica também a teoria da guarda, devendo o fins colimados pela lei. Quando não for ilícito,
dono ou o detentor de animal ressarcir o dano será exercício regular do direito.
causado por este. Essa regra é aplicável tanto Ressalte-se que o estrito cumprimento do
ao adestrador quanto aos estabelecimentos dever legal não está previsto, dessa forma
especializados. deve ser encarado como uma espécie de
Para estes casos, são aplicáveis a isenção de exercício regular do direito.
responsabilidade mediante produção 8.4. Caso fortuito e força maior
probatória da culpa exclusiva da vítima ou
força maior. São institutos bem parecidos e podem ser
8. Excludentes de ilicitude e excludentes de conceituados da seguinte maneira:
responsabilidade
a) Caso fortuito – marcado pela
As excludentes de ilicitude afastam a ilicitude imprevisibilidade, advém de causa
da conduta, mas não o dever de indenizar, desconhecida.

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c) diante dos hipossuficientes e vulneráveis;


b) Força maior – caracterizada pela
inevitabilidade, sobrevém de causa conhecida. d) nos casos dos artigos 424 e 734 do Código
8.5. Culpa exclusiva da vítima Civil;

Diferente da culpa concorrente da vítima, a e) nas hipóteses dos artigos 25 e 51, inciso I,
culpa exclusiva da vítima ocorrerá quando ela da Lei n. 8.078/90;
concorrer sozinha para a ocorrência do evento
danoso. Há previsão legal neste sentido no f) nas condições do artigo 247 da Lei n.
artigo 14, § 3º, inciso II, da Lei n. 8.078/90. 7.565/86 (Código Brasileiro de Aeronáutica);
Um exemplo seria um consumidor que compra
uma passagem para um determinado horário e Requisitos para a validade da cláusula de não
não comparece. A companhia não é obrigada indenizar:
a devolver o valor da passagem em razão do
serviço ter sido prestado adequadamente e o a) bilateralidade do consentimento;
consumidor não ter se beneficiado pelo seu
não comparecimento. b) que não colida com preceito de ordem
Já a culpa concorrente, prevista no artigo 945 pública;
do Código Civil, ocorrerá se a vítima tiver
concorrido culposamente para o evento c) igualdade das partes;
danoso. A indenização será fixada tendo-se
em conta a gravidade de sua culpa em d) inexistência do escopo de eximir o dolo ou a
confronto com a do autor do dano. culpa grave do estipulante;

É importante destacar que se houver previsão e) ausência da intenção de afastar obrigação


legal de responsabilidade objetiva não se inerente à função.
discute a culpa, exceto quando se tratar de Enunciados sobre Responsabilidade Civil.
culpa exclusiva da vítima ou culpa
concorrente. 37 – Art. 187: a responsabilidade civil
8.6. Fato de terceiro decorrente do abuso do direito independe de
culpa e fundamenta-se somente no critério
Como o próprio nome diz, um terceiro estranho objetivo-finalístico.
à relação jurídica entre a vítima e o fornecedor 38 – Art. 927: a responsabilidade fundada no
de bens ou serviços causa dano. Dessa forma, risco da atividade, como prevista na segunda
o fato de terceiro não exime o dever de parte do parágrafo único do art. 927 do novo
indenizar, mas permite o direito de regresso Código Civil, configura-se quando a atividade
em face do terceiro. normalmente desenvolvida pelo autor do dano
8.7. Cláusula de não indenizar causar a pessoa determinada um ônus maior
do que aos demais membros da coletividade.
Somente poderá ser utilizada nas hipóteses de 39 – Art. 928: a impossibilidade de privação do
responsabilidade contratual, em que uma das necessário à pessoa, prevista no art. 928,
partes estabelece cláusula visando ao traduz um dever de indenização eqüitativa,
afastamento do dever de indenizar quando informado pelo princípio constitucional da
ocorrer o dano. proteção à dignidade da pessoa humana.
Casos em que não será aceita: Como conseqüência, também os pais, tutores
e curadores serão beneficiados pelo limite
a) cada vez que seu conteúdo tiver por fim humanitário do dever de indenizar,
exonerar devedor que incorreria em de modo que a passagem ao patrimônio do
responsabilidade por dolo ou culpa grave; incapaz se dará não quando esgotados todos
os recursos do responsável, mas se reduzidos
b) se houver violação a interesse de ordem estes ao montante necessário à manutenção
pública; de sua dignidade.

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40 – Art. 928: o incapaz responde pelos 49 – Art. 1.228, § 2o: a regra do art. 1.228, §
prejuízos que causar de maneira subsidiária 2o, do novo Código Civil interpreta-se
ou excepcionalmente como devedor principal, restritivamente, em harmonia com o princípio
na hipótese do ressarcimento devido pelos da função social da propriedade e com o
adolescentes que praticarem atos infracionais disposto no art. 187.
nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança 50 – Art. 2.028: a partir da vigência do novo
e do Adolescente, no âmbito das medidas Código Civil, o prazo prescricional das ações
sócio-educativas ali previstas. de reparação de danos que não houver
41 – Art. 928: a única hipótese em que poderá atingido a metade do tempo previsto no Código
haver responsabilidade solidária do menor de Civil de 1916 fluirá por inteiro, nos termos da
18 anos com seus pais é ter sido emancipado nova lei (art. 206).
nos termos do art. 5o, parágrafo único, inc. I, 189 – Art. 927: Na responsabilidade civil por
do novo Código Civil. dano moral causado à pessoa jurídica, o fato
42 – Art. 931: o art. 931 amplia o conceito de lesivo, como dano eventual, deve ser
fato do produto existente no art. 12 do Código devidamente demonstrado.
de Defesa do Consumidor, imputando 190 – Art. 931: A regra do art. 931 do novo CC
responsabilidade civil à empresa e aos não afasta as normas acerca da
empresários individuais vinculados à responsabilidade pelo fato do produto
circulação dos produtos. previstas no art. 12 do CDC, que continuam
43 – Art. 931: a responsabilidade civil pelo fato mais favoráveis ao consumidor lesado.
do produto, prevista no art. 931 do novo 191 – Art. 932: A instituição hospitalar privada
Código Civil, também inclui os riscos do responde, na forma do art. 932 III do CC, pelos
desenvolvimento. atos culposos praticados por médicos
44 – Art. 934: na hipótese do art. 934, o integrantes de seu corpo clínico.
empregador e o comitente somente poderão 192 – Arts. 949 e 950: Os danos oriundos das
agir regressivamente contra o empregado ou situações previstas nos arts. 949 e 950 do
preposto se estes tiverem causado dano com Código Civil de 2002 devem ser analisados em
dolo ou culpa. conjunto, para o efeito de atribuir indenização
45 – Art. 935: no caso do art. 935, não mais se por perdas e danos materiais, cumulada com
poderá questionar a existência do fato ou dano moral e estético.
quem seja o seu autor se essas questões se 159 – Art. 186: O dano moral, assim
acharem categoricamente decididas no juízo compreendido todo o dano extrapatrimonial,
criminal. não se caracteriza quando há mero
46 – Art. 944: a possibilidade de redução do aborrecimento inerente a prejuízo material.
montante da indenização em face do grau de 377 - O art. 7o, inc. XXVIII, da Constituição
culpa do agente, estabelecida no parágrafo Federal não é impedimento para a aplicação
único do art. 944 do novo Código Civil, deve do disposto no art. 927, parágrafo único, do
ser interpretada restritivamente, por Código Civil quando se tratar de atividade de
representar uma exceção ao princípio da risco.
reparação integral do dano, não se aplicando 378 - Aplica-se o art. 931 do Código Civil, haja
às hipóteses de responsabilidade objetiva. ou não relação de consumo.
47 – Art. 945: o art. 945 do Código Civil, que 379 Art. 944 - O art. 944, caput, do Código Civil
não encontra correspondente no Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a
de 1916, não exclui a aplicação da teoria da função punitiva ou pedagógica da
causalidade adequada. responsabilidade civil.
48 – Art. 950, parágrafo único: o parágrafo 380 - Atribui-se nova redação ao Enunciado n.
único do art. 950 do novo Código Civil institui 46 da I Jornada de Direito Civil, com a
direito potestativo do lesado para exigir supressão da parte final: não se aplicando às
pagamento da indenização de uma só vez, hipóteses de responsabilidade objetiva .
mediante arbitramento do valor pelo juiz, 381 - O lesado pode exigir que a indenização,
atendidos os arts. 944 e 945 e a possibilidade sob a forma de pensionamento, seja arbitrada
econômica do ofensor. e paga de uma só vez, salvo impossibilidade
econômica do devedor, caso em que o juiz

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poderá fixar outra forma de pagamento, solidariamente responsáveis por tais atos,
atendendo à condição financeira do ofensor e ainda que estejam separados, ressalvado o
aos benefícios resultantes do pagamento direito de regresso em caso de culpa exclusiva
antecipado. de um dos genitores.
443) Arts. 393 e 927. O caso fortuito e a força 451) Arts. 932 e 933. A responsabilidade civil
maior somente serão considerados como por ato de terceiro funda-se na
excludentes da responsabilidade civil quando responsabilidade objetiva ou independente de
o fato gerador do dano não for conexo à culpa, estando superado o modelo de culpa
atividade desenvolvida. presumida.
444)Art. 927. A responsabilidade civil pela 452) Art. 936. A responsabilidade civil do dono
perda de chance não se limita à categoria de ou detentor de animal é objetiva, admitindo-se
danos extrapatrimoniais, pois, conforme as a excludente do fato exclusivo de terceiro.
circunstâncias do caso concreto, a chance 453) Art. 942. Na via regressiva, a indenização
perdida pode apresentar também a natureza atribuída a cada agente será fixada
jurídica de dano patrimonial. A chance deve proporcionalmente à sua contribuição para o
ser séria e real, não ficando adstrita a evento danoso.
percentuais apriorísticos. 454) Art. 943. O direito de exigir reparação a
445)Art. 927. O dano moral indenizável não que se refere o art. 943 do Código Civil
pressupõe necessariamente a verificação de abrange inclusive os danos morais, ainda que
sentimentos humanos desagradáveis como a ação não tenha sido iniciada pela vítima.
dor ou sofrimento. 455) Art. 944. Embora o reconhecimento dos
446) Art. 927. A responsabilidade civil prevista danos morais se dê, em numerosos casos,
na segunda parte do parágrafo único do art. independentemente de prova (in re ipsa), para
927 do Código Civil deve levar em a sua adequada quantificação, deve o juiz
consideração não apenas a proteção da vítima investigar, sempre que entender necessário,
e a atividade do ofensor, mas também a as circunstâncias do caso concreto, inclusive
prevenção e o interesse da sociedade.447) por intermédio da produção de depoimento
Art. 927. pessoal e da prova testemunhal em audiência.
As agremiações esportivas são objetivamente 456) Art. 944. A expressão “dano” no art. 944
responsáveis por danos causados a terceiros abrange não só os danos individuais, materiais
pelas torcidas organizadas, agindo nessa ou imateriais, mas também os danos sociais,
qualidade, quando, de qualquer modo, as difusos, coletivos e individuais homogêneos a
financiem ou custeiem, direta ou serem reclamados pelos legitimados para
indiretamente, total ou parcialmente. propor ações coletivas.
448) Art. 927. A regra do art. 927, parágrafo 457)Art. 944. A redução equitativa da
único, segunda parte, do CC aplica-se sempre indenização tem caráter excepcional e
que a atividade normalmente desenvolvida, somente será realizada quando a amplitude do
mesmo sem defeito e não essencialmente dano extrapolar os efeitos razoavelmente
perigosa, induza, por sua natureza, risco imputáveis à conduta do agente.
especial e diferenciado aos direitos de outrem. 458) Art. 944. O grau de culpa do ofensor, ou
São critérios de avaliação desse risco, entre a sua eventual conduta intencional, deve ser
outros, a estatística, a prova técnica e as levado em conta pelo juiz para a quantificação
máximas de experiência. do dano moral.
449) Art. 928, parágrafo único. A indenização 459) Art. 945. A conduta da vítima pode ser
equitativa a que se refere o art. 928, parágrafo fator atenuante do nexo de causalidade na
único, do Código Civil não é necessariamente responsabilidade civil objetiva.
reduzida sem prejuízo do Enunciado n. 39 da I 460) Art. 951. A responsabilidade subjetiva do
Jornada de Direito Civil. profissional da área da saúde, nos termos do
450) Art. 932, I. Considerando que a art. 951 do Código Civil e do art. 14, § 4o, do
responsabilidade dos pais pelos atos danosos Código de Defesa do Consumidor, não afasta
praticados pelos filhos menores é objetiva, e a sua responsabilidade objetiva pelo fato da
não por culpa presumida, ambos os genitores, coisa da qual tem a guarda, em caso de uso de
no exercício do poder familiar, são, em regra, aparelhos ou instrumentos que, por eventual

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disfunção, venham a causar danos a não, de algum dos poderes inerentes à


pacientes, propriedade.
sem prejuízo do direito regressivo do
profissional em relação ao fornecedor do Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que,
aparelho e sem prejuízo da ação direta do achando-se em relação de dependência para
paciente, na condição de consumidor, contra com outro, conserva a posse em nome deste e
tal fornecedor. em cumprimento de ordens ou instruções
Posse suas.
Conceito: A corrente que prevalece na doutrina Parágrafo único. Aquele que começou a
é a que sustenta ser a posse um Direito. comportar-se do modo como prescreve este
Domínio fático que a pessoa exerce sobre a artigo, em relação ao bem e à outra pessoa,
coisa. Essas são as premissas apresentadas presume-se detentor, até que prove o
por Miguel Reale: 1ª A posse é um domínio contrário.
fático, ou seja, um fato. 2ª Direito é um fato, 493)O detentor (art. 1.198 do Código Civil)
valor e norma. Conclusão: A posse é um pode, no interesse do possuidor, exercer a
Direito. autodefesa do bem sob seu poder.
Escolas da Posse:
Tema de prova! Ocupação irregular em area
Subjetiva: Savigny: poder direto ou imediato pública gera posse? STJ REsp 489.732- DF.
que a pessoa tem para dispor fisicamente de Diferença da transmudação para a interversão
um bem com a intenção de tê-lo para si e de da posse
defendê-lo contra a intervenção de quem quer
que seja. Aqui nos observamos a soma do A transmudação se encontra positivada no art.
CORPUS + ANIMUS DOMINI. 1.198, parágrafo único do Código Civil e a
Para essa teoria o locatário ou mesmo o interversão no art. 1.203 do Código Civil. Na
comodatário não seriam possuidores, pois não interversão ou inversão o que ocorre é
haveria qualquer intenção de se tornar mudança no título da posse preexistente.
proprietário. Também estariam impedidos de 237 – Art. 1.203: É cabível a modificação do
ingressar com as possessórias. título da posse –
Objetiva: Ihering. Para o defensor basta que a interversio possessionis – na hipótese
pessoa disponha fisicamente da coisa ou que em que o até então possuidor direto
tenha a mera possibilidade de exercer esse demonstrar ato exterior e inequívoco de
contato. Para essa corrente basta o CORPUS. oposição ao antigo possuidor indireto, tendo
Dessa forma o locatário será possuidor, por efeito a caracterização do animus domini.
podendo se valer das Ações possessórias.
OBS: Para as defensorias. Sustentar a teoria 301 – Art.1.198. c/c art.1.204. É possível a
de Raymond Saleilles. Teoria da Função conversão da detenção em posse, desde que
Social da Posse. A V Jornada. rompida a subordinação, na hipótese de
exercício em nome próprio dos atos
492) A posse constitui direito autônomo em possessórios.
relação à propriedade e deve expressar o Espécies de posse
aproveitamento dos bens para o alcance de a) Posse direta ou imediata é a daquele que
interesses existenciais, econômicos e sociais tem a coisa em seu poder, temporariamente,
merecedores de tutela. em virtude de contrato ou de direito real (a
Artigos que tratam do assunto: 1238 § único, posse do locatário, por exemplo, que a exerce
1242 § único, 1228 §§ 4º e 5º. Vamos analisar por concessão do locador – Código Civil, art.
em aula juntos? 1.197), o usufruto, a servidão.
b) Posse indireta ou mediata é a daquele que
Atenção! Não podemos confundir o Detentor cede o uso do bem (a do locador). O poder
com o Possuidor. fático é bem menos acentuado.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo
aquele que tem de fato o exercício, pleno ou Importante! !

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Posses paralelas ou desdobramento da posse. Penal. O vício dessa posse dá-se a partir do
Uma não anula a outra. Ambas são posses momento em que o possuidor precarista se
jurídicas (jus possidendi) e têm o mesmo valor. recusa a atender à revogação da situação
Tanto o possuidor direto quanto o indireto possessória que lhe foi conferida. Aqui importa
podem se valer dos remédios possessórios um dizer que o ônus da prova caberá ao
em face do outro ou de terceiros. Nesse demandante.
sentido, o entendimento das Jornadas de Nota!
Direito Civil: A posse somente é viciada em relação a uma
Art. 1.197. O possuidor direto tem direito de determinada pessoa, ou seja, seus efeitos são
defender a sua posse contra o indireto, e este inter partes, não havendo posse injusta em
contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo caráter erga omnes.
Código Civil) (Enunciado n. 76). Sobre o tema, a jurisprudência abaixo:

c) Posse justa ou limpa é a não violenta, Civil e processual civil. Possessória.


clandestina ou precária (Código Civil, art. Manutenção de posse. Possuidores que foram
1.200, rol taxativo). É adquirida legitimamente, impedidos de efetuar roçado em sua gleba de
sem vício jurídico externo. terras. Situação fática demonstrada através de
Nota! prova pericial. Possibilidade. Turbação
Em regra, posse justa é uma posse de boa-fé, incontroversa.
mas nada impede que haja uma posse justa Requisitos do art. 927 do Código de Processo
qualificada pela má-fé. Ex.: aquele que adquire Civil demonstrados. Sentença mantida.
uma propriedade de outrem sabendo ser o Recurso desprovido.
título proveniente de venda a non domino é A comprovação da posse anterior do autor e
possuidor de má-fé, mas sua posse é justa. da turbação praticada pelo réu induz ao
d) Posse injusta é adquirida viciosamente (vim, acolhimento do pedido de manutenção de
clam, ut precario). Ainda que viciada, não deixa posse (CPC, arts. 926 e 927).
de ser posse, visto que a sua qualificação é (...)
feita em face de determinada pessoa. Será De acordo com Sílvio de Salvo Venosa, “a
injusta em face do legítimo possuidor; será, posse exige, em princípio, que sua origem não
porém, justa e suscetível de proteção em apresente vícios. Posse viciada é aquela cujo
relação às demais pessoas estranhas ao fato. vício originário a torna ilícita.
Assim, mesmo que injusta, poderá ser feito uso Como alerta Pontes de Miranda (1971, v. 10,
das ações possessórias. p. 120), no mundo fático não existe o justo ou
Nota! o injusto. Estes são conceitos jurídicos.
A posse pode ser injusta e de boa-fé. Ex.: se Procede injustamente aquele que atenta
“A” furta um bem de propriedade de “B”, a sua contra o Direito” (Direito civil – direitos reais. 3.
posse será injusta e de má-fé. Todavia, se “A” ed. Atlas, 2003. v. V, p. 70). (TJSC, Apelação
transfere a posse a “C” e este desconhece o Cível n. 2005.008357-3, rel.
caráter vicioso da aquisição do bem, sua posse Desembargador Marcus Tulio Sartorato, Juiz
será de boa-fé, apesar de manter o caráter prolator Jeferson Osvaldo Vieira, 3ª Câmara de
injusto, que resulta da própria origem da Direito Civil, j. em 02.10.2007).
posse. Afirma-se diante da leitura do art. 1.238 do
Tipos de posse injusta: Código Civil que a posse derivada de atos de
– Violenta: adquirida com a força física ou violência ou clandestinidade poderá gerar
grave ameaça. Equipara-se ao roubo no usucapião extraordinária.
Código Penal. Pode-se perceber aqui a única hipótese em
– Clandestina: adquirida às ocultas, na calada que o detentor tem a tutela possessória contra
da noite, em estado de indefensão. Equipara- o ataque injusto de terceiros. Note-se que não
se ao furto do Código Penal. Com relação a autorizam posse a sua aquisição por atos
esse vício, é importante mencionar a regra do violentos, ou clandestinos,
art. 1.224 do Código Civil. senão depois de cessar a violência ou a
– Precária: adquirida com abuso de confiança. clandestinidade.
Equipara-se à apropriação indébita do Código

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Maria Helena Diniz nos informa que após um título, ou seja, aquele que tem a aparência de
ano e um dia do ato de violência e título hábil para transferir a posse ou o
clandestinidade, a posse deixa de ser injusta e domínio” (RT, 526:55). A autora explica ainda
passa a ser justa. Porém filiamo-nos à corrente que tal presunção é juris tantum porque, caso
defendida por Flávio Tartuce, que prega a apareça prova em contrário,
análise dessa cessação caso a caso, de desautoriza-se o possuidor (TJRN, Agravo de
acordo com a finalidade social da posse. Instrumento com Suspensividade n.
Carlos Roberto Gonçalves entende que a 2005.004718-2, rel. Desembargador João
posse precária não pode ser convalidada, pois Rebouças, 3ª Câmara Cível, j. em 24.11.2005,
a mesma representa um abuso de confiança. public. 22.03.2006).
Esse não é, porém, o entendimento exposto Nota!
nas Jornadas de Direito Civil. Em regra, posse justa é uma posse de boa-fé.
Art. 1.203. É cabível a modificação do título da Posse de boa-fé = aspecto psicológico +
posse – interversio possessionis – na hipótese aspecto ético.
em que o até então possuidor direto
demonstrar ato exterior e inequívoco de A respeito de justo título, consoante o art.
oposição ao antigo possuidor indireto, tendo 1.201 do Código Civil, observe-se
por efeito a caracterização do animus domini entendimento da Jornada de Direito Civil:
(Enunciado n. 237 da III Jornada de Direito Art. 1.201. Considera-se justo título para
Civil). presunção relativa da boa-fé do possuidor o
Marco Aurélio Bezerra de Mello segue o justo motivo que lhe autoriza a aquisição
mesmo entendimento do Enunciado acima, derivada da posse, esteja ou não materializado
informando que o abuso de confiança pode em instrumento público ou particular.
cessar por convenção das partes. Compreensão na perspectiva da função social
e) Posse de boa-fé configura-se quando o da posse (Enunciado n. 303 da IV Jornada de
possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que Direito Civil).
impede a aquisição da coisa. É de suma f) Posse de má-fé é aquela em que o possuidor
importância a crença do possuidor de se tem conhecimento dos vícios na aquisição da
encontrar em uma situação legítima. O Código posse. A posse de boa-fé se transforma em
Civil estabelece presunção (praesumptio iuris posse de má-fé desde o momento em que as
tantum) de boa-fé em favor de quem tem justo circunstâncias demonstrem que o possuidor
título (título hábil para transferir a propriedade). não mais ignora que possua indevidamente
Ex.: escritura de compra e venda (art. 1.201, (Código Civil, art. 1.202).
parágrafo único). Ex.: possuidor que adquire a Nota!
posse de determinado imóvel embasada em É importante neste tópico ser realizada a
título de domínio desconhecendo que o leitura dos seguintes artigos: 457, 1.214 e
mesmo é falso. 1.219, todos do Código Civil.
A seguir, jurisprudência sobre o tema: g) Posse nova é a de menos ano e dia. Não se
confunde com ação de força nova, que leva em
Processual civil. Posse provisória. Boa-fé. conta não a duração temporal da posse, mas
Justo título. Concessão de tutela antecipada. o tempo decorrido desde a ocorrência da
Liminar inaudita altera parte. Conjunto turbação ou do esbulho.
probatório favorável. Mandado de manutenção h) Posse velha é a de ano e dia ou mais. Não
de posse. Inteligência dos artigos 1.201 e se confunde com a ação de força velha
1.211 do Código Civil. Presença dos requisitos intentada depois de ano e dia da turbação ou
exigidos a amparar a decisão recorrida. esbulho.
Conhecimento e improvimento do recurso. Importante! !
Precedentes. A classificação de posse nova e posse velha
(...) só serve para fixar o procedimento da ação
Maria Helena Diniz trata ainda da presunção possessória, não tendo mais efeito na análise
juris tantum de boa-fé, ao transcrever a do direito material, consoante regra do art. 924
seguinte jurisprudência: “Presume-se que é do Código de Processo Civil. Enquanto não
possuidor de boa-fé aquele que tiver justo passado ano e dia da turbação e do esbulho,

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OAB 1ª FASE XVII EXAME
Direito Civil
Cristiano Sobral

a tutela possessória apenas pode ser Enunciado 238, 239 III CJF, Enunciado 495 V
requerida mediante o procedimento CJF.
estabelecido no art. 926 do Código de
Processo Civil, isto é, o chamado
procedimento especial. Quando a turbação ou
esbulho data mais de ano e dia, não se pode
concluir que o autor não terá direito à tutela
antecipatória. Tudo dependerá do caso
concreto.
A doutrina processualista nos informa que,
para ser conseguida a tutela antecipatória,
exige-se a prova dos requisitos do art. 927 do
Código de Processo Civil, somados à prova de
fato caracterizador da urgência.
Ainda sobre o tema, válida é a menção de que
o prazo só começa a ser contado a partir do
conhecimento da turbação ou do esbulho,
pois, em caso de não conhecimento, não
haverá abertura de prazo. O esbulho para se
concretizar, reúne uma série de atos
preparatórios, o prazo de ano e dia deve ser
contado do último ato praticado.
i) Posse natural é aquela que se constitui pelo
exercício de poderes de fato sobre a coisa.
j) Posse civil ou jurídica é a que assim se
considera por força da lei, sem a necessidade
de atos físicos ou materiais. É a que se
transmite ou se adquire pelo título (escritura
pública).
k) Posse ad interdicta é a que pode ser
protegida pelos interditos ou ações
possessórias, quando molestada, mas não
conduz à usucapião (a do locatário).
l) Posse ad usucapionem é a que se prolonga
por determinado lapso de tempo estabelecido
na lei, deferindo a seu titular a aquisição do
domínio.
Para que ocorra o deferimento da aquisição do
domínio, são necessários o animus e o corpus
e ainda a posse mansa e pacífica.
Efeitos da posse
• A proteção possessória, abrangendo a
autodefesa e a invocação dos interditos;
• Percepção dos frutos;
• Responsabilidade pela perda ou
deterioração da coisa;
• Indenização pelas benfeitorias e o direito de
retenção;
• A usucapião.

Atenção a Súmula 228 STJ, Enunciado 78, 79,


80 I CJF (prejudicada a Súmula 487 STF),

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