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da janela lateral

santiago garcia
DirEitOS AutOrAiS
O presente ebook (livro digital em formato pdf) foi editado e publicado pelo próprio autor, a partir de
redes sociais online e blog próprios. É livre o compartilhamento desse trabalho apenas na íntegra, em seu
arquivo original, não sendo permitido o particionamento ou a utilização das imagens desvinculadas do
conteúdo aqui apresentado originalmente, sob possibilidade de sanções legais às quais o autor tem pleno
direito assegurado.

todas as imagens são de propriedade intelectual de Santiago Naliato garcia e foram registradas de sua
antiga residência, em São José do rio preto-Sp, entre o período de 17 de abril de 2011 a 09 de junho de
2013. Edição de “da janela lateral”: julho e agosto de 2013.

BiOgrAfiA iNfOrMADA pElO AutOr


Santiago Naliato garcia é graduado em Jornalismo, especialista em uso Estratégico das Novas tecnologia
em informação e mestre na linha de pesquisa produção de Sentido na Comunicação Midiática, sendo toda
sua formação realizada pela universidade Estadual paulista “Júlio de Mesquita filho” - uNESp.

da janela lateral Exerceu no campo profissional atividade em assessoria de imprensa por seis anos, passou por jornais
e revista de pequeno e médio porte atuando como editor, redator e fotógrafo. Atualmente é professor
universitário, ministrando, entre tantas disciplinas, fotografia em diversas linhas: fotojornalismo, fotografia
publicitária, fotografia básica, linguagem e estética fotográfica.

realiza, ainda, aulas particulares de fotografia e cursos especializados em fotografia publicitária (gastro-
Santiago Naliato garcia santiagarcia@gmail.com
nomia, moda, still, book) na região de São José do rio preto-Sp.
E fotografa todo e qualquer tipo de coisa por paixão.

AgrADECiMENtOS
Aos meus familiares, em especial aos meus pais, sempre presentes e me apoiando.

tenho, ainda, a sorte de ter feito amigos competentes em diversas áreas, cujo profissionalismo e boa
COpYrigHt 2013 vontade sempre estão presentes e foram, em algum momento, importantes na construção direta ou indi-
todos os direitos reservados. É proibida reta dessa ebook, seja pelas ideias, seja pelo apoio. A eles meu muito obrigado: Alexandre Costa (pelas
a reprodução física não autorizada de conversas sobre essa paixão que é a fotografia), Dhay Oliveira (pelo release para a imprensa), Marcelo
parte ou total do conteúdo desse ebook. Arede (e as tantas consultas sobre diagramação), Marcos Andersen (um grande fotógrafo e amigo ao qual
sempre recorro), Marcos Antieli (pela revisão gramatical exata), renata Sbrogio (pelas dicas de composição
e publicação), Sarina lopes (autora da minha foto na próxima página).
minha janela lateral
Casei-me há exatos 30 dias. Nessas poucas semanas terminei a mudança do meu antigo apartamento
alugado, de solteiro, para um novo apartamento próprio, de casado. É uma nova fase na qual, aos
poucos, vou me adaptando. Acontece que há poucos dias fui fazer a vistoria de entregada daquele
apartamento e olhei, pela última vez, daquela janela lateral. E me dei conta que aquelas centenas de
pores-do-sol e tantas outras situaçãos que pude observar não se repetirão mais da mesma forma em
meu novo lugar. Bem que já nem se repetiam ali, mesmo eu sentado no mesmo sofá, na mesma cadeira,
deitado no meu colchão de solteiro ou tomando a mesma taça de vinho tinto.

E foi a partir desse movimento de ideias que algumas outras somadas a sentimentos foram surgindo
vagarosamente e se acumulando... até que não me sentia mais a vontade guardando tudo isso apenas
comigo e pensei: “Vou aproveitar tantas imagens e montar um ebook para compartilhar com quem
consegue ver o mesmo que eu me eduquei a ver”. Confesso que me empolguei com a ideia e corri para
o computador. Comecei agrupando no notebook todos os arquivos que fui encontrando e totalizei 1134
imagens em quase cinco gigas de HD. Mas acho que esse número ainda cresce.

Selecionei pouco mais de 35 imagens digitais e apenas uma fotografia analógica (que encerra esse
ebook) e juntamente com elas trarei um pequeno texto sobre as ocasiões dos cliques. É um relato das
minhas escolhas na ação do registro da imagem e não uma explicação do que é certo ou errado, até
porque essa discussão já acontece em outros âmbitos e não é meu objetivo realizá-las. Eu mesmo
muitas vezes tenho e trago mais dúvidas sobre minhas escolhas do que certezas. Não gosto de certe-
zas. E para não perder o costume de professor de fotografia trarei as informações técnicas, sugestões
e impressões sobre meu próprio trabalho. Mas não se engane: o que pode parecer uma simples aula é,
na verdade, um monte da minha saudade que registrei e que divido com vocês.

santiago garcia
22 de julho de 2013
iMAgEM DE ABErturA
A imagem é apresentada já com trata-

Como ler mento, quando houve, e sua edição é


detalhada na página seguinte. É apresen-

esse ebook tada em uma tela inteira para viabilizar


alta qualidade e leitura adequadas.

DAtA
Dia, mês, ano, hora, minuto e exatos se-
títulO DO tExtO gundos do registro segundo informações
Abre o texto. Alguns são indicativos, com do equipamento.
a demarcação do ano em questão.

iMAgEM OrigiNAl - SEM EDiÇãO


A primeira imagem representa o arquivo
tExtO original, sem passagem por nenhum pro-
Com linguagem interpessoal, o texto grama de edição. É identificado pela tarja
retrata as experiências do autor, sejam preta com informações técnicas.
pessoais, sejam profissionais.

iMAgEM EDitADA - MESMA DA ABErturA


As demais imagens contêm alguma edi-
ção, descritas no texto ao lado “Caracte-
rísticas técnicas”. São apresentadas na
CArACtEríStiCAS tÉCNiCAS mesma página da imagem original para
Ainda com linguagem impessoal, ilustra facilitar a compração entre os diferentes
as técnicas aplicadas e as escolhas do arquivos e as edições realizadas. uma
autor no ato da captação das imagens espécie de “antes e depois”.
e também o porquê das suas decisões
na edição.

Boa leitura!
2011, o primeiro ano

10 de junho de 2011, 18h00


Depois de sete anos morando em repúblicas (mo- fechado para hóspedes temporários. Era um prédio
radias coletivas), tomei a decisão de procurar um baixo, de três andares, no meio de uma grande
lugar só para mim. Estava cansado das constantes cidade e cuja vista aponta para uma pequena área
mudanças e dos diversos problemas decorrentes ainda descampada. Uma das últimas de Rio Preto.
da convivência com algumas pessoas, coisas co-
muns na vida de república. Antes de 2011, eu já E foi por esse pedaço aberto que tive a graça de
morava sozinho, mas sempre recebi amigos que estar em um local que me chamava a contem-
precisavam de algum lugar temporário, mesmo que plação, que me abria a observação e reflexão, que
por algumas semanas, meses ou períodos de quase me pedia, às vezes aos gritos, para que levantasse
um ano. minha máquina. Assim, atendi a diversos deles,
sem saber qual mais me encantou. E por mais que
O apartamento cuja janela lateral era somente os dias se repetissem, os Sóis se pussessem, eles
minha foi o primeiro espaço unicamente meu, continuavam, incessantemente.

1/20”, F5.6, ISO320, WB Manual 9090K, 18-105mm em 105mm


A técnica aplicada
Essa imagem feita logo após o Sol se pôr é um bom ponto de partida justamente por não ter nada de
especial na sua exposição: 1/20, F5.6, ISO360 e uma lente básica de kit 18-105mm em 105mm. Minha câmera é
uma Nikon D90, mas para quem ama a fotografia o único equipamento que fará a diferença é o desafio, buscando
fazer o melhor com aquilo que se tem. Afinal, ver uma imagem capturada por uma câmera é sentir a impressão
daquele que fez o registro sobre uma imagem vista, um acontecimento em seu curso e impressões pessoais que
são contadas de diversas maneiras. Sistematicamente, jamais pode ser a “realidade”, como muita gente ainda
acredita, nem mesmo sua representação. É uma informação gerada pelo trabalho de um especialista que carrega
suas intenções e valores e os aplicam naquele resultado imagético.

A primeira imagem AO LADO é o arquivo original; já a segunda é resultado do processamento digital. Fui
relutente em aplicar editores eletrônicos nas minhas imagens digitais no início da minha passagem para o equipa-
mento eletrônico, uma vez que busco sempre o melhor na imagem matriz. Mas hoje, aceito melhor esses recursos
e busco aplicá-los com bom senso, como creio ter feito na imagem que abre essa passagem pela minha janela.

Para conseguir o efeito que representasse melhor a cena que vi foi preciso aumentar a temperatura de cor,
acrescentar preto e escurecer as sombras. Nas áreas claras, aumentei a exposição, saturando, ainda, as cores
vermelho, laranja e amarelo. Alinhei o horizonte e, na imagem que ilustra a página anterior, fiz um corte para deixar
a imagem mais alongada. O resultado obtido ressalta o entardecer e delineia a cidade como uma contra-luz.
Chamando a atenção

12 de agosto de 2011, 6h51,05’’


Tenho o costume de dormir no chão da sala, em colchonete, herança
dos tempos de república nos quais não havia sofá para todos e nos
virávamos pelo chão. Eu já estava no apartamento há dois meses
quando fui acordado bem cedo, antes das 7h da manhã, por batidas
na janela. Como morava no 3º andar, acordei com o coração acele-
rado e assustado, pois seria impossível alguém subir tal altura e entrar
pela sacada sem ter más intenções. Me virei e pela fresta aberta vi o
inesperado: um pássaro estranho, que me encarava de frente, e batia
com o bico no vidro . In-ces-san-te-men-te.

Me recuperei do susto e notei sua aparência estranha. No mesmo


instante, lembrei que o meu equipamento estava no quarto. Fui de-
vagar e quieto buscá-lo e fiz essas imagens ainda distante, com uma
teleobjetiva.

Foram situações como essas que foram me despertando em relação


ao lugar privilegiado em que eu estava. Acordar com esse pássaro -
que até hoje não sei o nome - bicando o vidro da janela foi algo muito
inusitado. Por beirar um local ainda repleto de árvores e pasto, diversos
animais apareceram e se mostraram cada qual a seu jeito. Um outro
fato curioso foi quando ouvi um barulho parecendo uma pipoca estou-
rando. Fui procurando e vi que havia um gavião sobre minha bicicleta
bicando o selim de gel. Cada “pipoca estourando” era, na verdade, um
pedaço de gel que o pássaro tirava com seu forte bico.

A técnica aplicada
1/25”, F5.6, ISO1000, WB Auto, 18-105mm em 105mm

GRAÇAS A TECNOLOGIA DIGITAL, ALGUNS EFEITOS são fáceis para se reproduzir, como presente nas cores vermelha, laranja e amarela e não funciona se aplicado dessa maneira
um efeito mais frio na imagem que representa com satisfação a sensação de amanhecer ao conceito de tempratura Kelvin, já que de acordo com esse conceito uma temperatura
ou de frio em uma paisagem. No texto acima eu explicava que o tal pássaro me acordou Kelvin avermelhada é, na relação de temperatura, justamente a mais baixa. Mas isso fica
pela manhã. Portanto, a imagem deveria reproduzir a sensação correspondente (segunda para outro ebook. O que importa aqui é que graças à facilidade dos editores de imagem
imagem acima). Esse é um conceito cultural e localizado. Céu nublado em uma região foi fácil “esfriar” a imagem, ou seja, puxá-la mais próxima ao azul do que ao laranja/
fria vai naturalmente “esfriar” a temperatuda da imagem de uma fotografia enquanto um vermelho. Esquentar ou esfriar uma imagem transmite diferentes sensações para quem
amanhecer na África, naturalmente, já mostra um tom mais alaranjado, mais “quente”. observa uma fotografia e é preciso estar atento ao efeito que se quer alcançar.
Esse conceito está apresentado culturalmente, portanto, refere-se a sensação de quente
A mudança

13 de agosto de 2011, 19h45,51’’


No dia seguinte ao aparecimento do pássaro mis- segunda, a queda da árvore à esquerda, cujos
terioso em minha janela, minha máquina e lentes galhos tampavam boa parte da cidade; a terceira,
ainda estavam sobre o sofá. Eu me arrumava para a composição de alguns prédios já erguidos al-
sair e aproveitar o sábado com minha namorada terando significativamente minha visão e fazendo
quando olhei para fora e vi algumas estrelas que companhia para os dois prédio amarelos que se
se destacavam no anoitecer. Tive a ideia de tentar vê nessa imagem, no canto direito.
uma longa exposição, fazer aquela imagem linda
cujas estrelas formam riscos magníficos na foto- Hoje, três anos depois, percebo que meu registro
grafia. falho se transformou, com o tempo, em uma do-
cumentação sobre a mudança do cenário urbano.
Não deu certo e desisti por ali, pois não tinha Tanto a fotografia quanto as imagens digitais ad-
muito tempo para fazer essa técnica. Entretanto, o quirem novas funções e significados com o passar
valor dessa imagem “errada” está na transforma- do tempo. Elas deixam o status de mero registro
ção pela qual essa paisagem viria a passar. Até o e podem se tornar verdadeiros documentos, as-
momento da minha saída, destaco três: a primeira sim como podem representar sentimentos vividos
foi o início da construção de grandes prédios nesse naquela ação fotográfica e que se transformam
espaço visível que mudaria a vista dessa janela; a com o tempo. 30’’, F3.5, ISO200, WB Auto, 18-105mm em 18mm

A técnica aplicada
OPTEI POR ALTERAR POUCOS ELEMENTOS nessa imagem. Basicamente reduzi a exposição original para aumentar o efeito
de imagem noturna. Para reforçar mais essa sensação, escureci mais as sombras e acrescentei preto na imagem. Sobre as
cores, reduzi um pouco a saturação do amarelo, laranja e vermelho para que o prédio no canto direito não ficasse muito
destacado no geral, um efeito que atribuo ao balanço de branco (abaixo). Por último, aumentei um pouco a saturação do
azul que, juntamente com as outras escolhas na manipulação, resultou em um leve escurecimento do céu.

COMO ORIGINALMENTE ESSA FOTOGRAFIA seria um teste para uma longa exposição das estrelas, eu não me preocupei
com o balanço de branco, deixando-o no modo automático. Essa escolha certamente afetou a imagem em geral. Predo-
minantemente azul, a coloração do céu pode ter elevado a compensação das cores quentes, resultando na necessidade
de reduzir tal saturação na edição. Essa minha escolha técnica somente se tornou uma “falha” com o valor que essa
imagem adquiriu com o tempo. Incrível, não?

A relação do fotógrafo com o tempo é subjetiva: dos dois, apenas o segundo tem domínio sobre o primeiro, en-
quanto apenas o primeiro deles pode fazer um registro de sua passagem. A discussão é filosófica, a relação é cotidiana.
O grande feito dessa imagem é somente apreendido com sua relação com outra imagem, de anos depois, que trago ao
final desse ebook.
Fogo na Terra

08 de set. de 2011, 11h04,13’’


Cerca de um mês depois da minha tentativa frus- das chamas no capim seco, típico dessa época de
trada de captar lindamente as estrelas (e que três inverno sem muitas chuvas.
anos depois, na composição desse livro, ainda não
consegui fazer como queria) fui acordado nova- Creio que o fogo começou com algum dos vizi-
mente pelo cotidiano que rondava minha janela. nhos que, certamente, jogou uma bituca de cigarro.
Dessa vez o pequeno apartamento estava todo Afirmo isso pois era visível que o fogo partiu da
cheio de fumaça e um calor anormal. beirada do muro e também porque constantemente
eu presenciava pessoas fumando nas janelas e
Apreensivo, sai correndo do quarto e fui para a sala jogando o cigarro naquele espaço. Um péssimo
buscando o foco do incêndio. Percebi rapidamen- comportamento que acabou com a estrutura de
te que toda aquela fumaça e calor eram decorrente algumas árvores ali, que caíram, algum tempo de-
do fogo médio no pasto da pequena área descam- pois, em virtude também desse incidente. Um fato
pada vizinha ao prédio. Os bombeiros já estavam lamentével, totalmente evitável, mas que rendeu
presentes e trabalhavam bem para conter o avanço boas imagens.

1/125”, F13, ISO200, WB Auto, 18-105mm em 105mm

A técnica aplicada
Para conseguir mais profundidade de campo, nessas tomadas eu optei por trabalhar com a lente bem fechada.
Com essa ação eu consegui foco em todas as áreas da imagem, que era o efeito que eu priorizei. Mas é possível fazer
diferente: as teleobjetivas têm como característica a formação de um bokeh (desfoque) acentuado e caso a distância
focal escolhida fosse algo em torno de 15 a 18mm. A abertura da lente em uma composição similar a essa não traria
diferenças grandes na relação área de foco e efeito de desfoque. Aproveitei esse incêndio para tomar algumas vistas
tendo as árvores e os pa´ssaros nela em primeiro plano focado e a queimada em segundo plano desfocado. Nesse
último caso, foi preciso regular o equipamento de outra forma, abrindo mais a lente para um F5.6 e usando um pouco
de zoom, algo como 35mm, para que o efeito leve de desfoque (bokeh) se formasse na imagem; leve, pois queria que
o caminhão de bombeiros, ao fundo, ficasse com sua forma reconhecivel (é possível forçar tanto o bokeh ao ponto
do desfoque transformar as formas presentes em simples manchas cromáticas. Esse efeito é reforçado aumentando
ao máximo a abertura da lente, aumentando a distância focal - zoom - e distanciando os objetos entre si).

Já em relação ao tratamento da imagem que escolhi, quis reforçar o queimado mostrando a área que sofreu
combustão. Para isso, acrescentei na edição bastante preto e aumentei o efeito das sombras (essa técnica tamb´´em
funciona muito bem em estúdio, quando a luz dos flashes invadem um pouco o assunto deixando-o um pouco opaco).
Subi um pouco a temperatura de cor, esquentando a imagem, e realcei um pouco mais a imagem em geral, saturando
as cores vermelho, laranja e amarelo.
Divirta-se fotografando

11 de set. de 2011, 15h50,43’’


Um dia resolvi fazer um furo na tampa de plásti- Apesar de vivermos nos tempos da informação,
co do corpo da máquina com o diâmetro de um somente após eu fazer essa pinholle de forma
alfinete e encaixei na máquina. De imediato vi as descompromissada que eu busquei informações
formas, bem escuras e apagadas, no visor. Subi o na Internet e com amigos sobre como melhorar a
ISO e baixei a velocidade; a fotometria não fun- técnica adaptada para o digital. E poucos deles
cionava, pois não havia mais a abertura da lente. já haviam experimentado. Não dá dinheiro, sabe,
Mas graças ao monitor LCD das máquinas digitais e gasta muito tempo brincar com essas coisas,
regulei a exposição conferindo instantaneamente então pouca gente se interessa.
o resultado. Isso que fiz chama-se “pinholle” (bu-
raco de alfinete) e é uma das técnicas e práticas Depois dessa experiência, aumentei o furo na tam-
fotográficas mais antigas que existe. pa do corpo da máquina de um furinho de agulha
para uns 4 ou 6mm. A imagem não mais se for-
Já brinquei diversas vezes com Pinholle. Há di- mava e foi preciso tornar mais preciso o buraco
versos tutoriais na internet, apostilas xerocadas para melhorar um pouco a formação da imagem.
que vão de mão em mão e até mesmo uma prosa Para isso, usei um pedaço de alumínio recortado
pelo celular resolve a falta de informação. Não de uma lata de refrigerante preta no qual refiz o
1/15”, F-- ISO400, WB Auto, Pinholle Digital
há segredo e até crianças de uma escola aqui, de furo com o alfinete. Como o diâmetro do alumínio
São José do Rio Preto, já fizeram essa experiência. é bem menor que o da tampa da máquina, a luz
Tive a oportunidade de relembrar uma professora passou com mais facilidade e formou um pouco
- pelo telefone - sobre qual o tempo adequado melhor a imagem no plano focal. Mas essas fotos
para revelar o papel, que química comprar e outros fazem parte de outra experiência fotográfica...
pormenores.

A técnica aplicada
TIVE ALGUMAS SURPRESAS NA PRIMEIRA experiência com Pinholle digital. Uma delas foi saber, de forma mais do
que nítida, a quantidade de sujeira que havia no meu sensor (imagem menor ao lado). Como toda imagem é um
trabalho e uma escolha, cuja mostra está carregada do anseio de que o outro reconheça na imagem aquilo que se
captou e quer demonstrar, escolhi por editar a imagem dessa experiência para um formato mais quadrado e sem
os pontos de sujeira do sensor. Aumentei, ainda, um pouco a claridade da imagem, o preto, clareei as sombras
e saturei apenas o azul e esquentei um pouquinho a cena aumentando a sensação de temperatura na edição,
coisa que poderia (e gostaria) de ter feito ainda na máquina. Não dei muita atenção na composição uma vez que
o meu foco era testar o Pinholle em si.

TREINAR AS TÉCNICAS, APRENDER COM AS FALHAS e reconhecer na aprendizagem os caminhos para sempre me-
lhorar aquilo que se faz é essencial para quem quer se tornar um fotógrafo consciente e conhecedor da fotografia
em todas as suas características e potencialidade.
Nuvens de mil megatons

02 de out. de 2011, 16h07,11’’


São José do Rio Preto é uma cidade cujo clima é árvore dona desses galhos que se vê no canto
quente e seco em grande parte do ano. Também superior. Não notei que a árvore havia caido na
é bem conhecida pelos temporais rápidos que noite que cheguei em casa, coisa que somente no
alagam as avenidas da cidade na temporada das dia seguinte vim a perceber quando olhei para fora
chuvas. O problema está muito mais ligado à e algo estava estranho aos olhos. Ou melhor, algo
infraestrutura da cidade (ou suas falhas) do que à não estava mais aos olhos... Por um breve tempo
força das tempestades. De qualquer forma, rende lamentei não ter mais seus galhos para emoldurar
boas imagens, sejam elas trágicas mas com bom boa parte do tempo que dançava à minha frente.
valor jornalístico, sejam estéticas, com suas nu-
vens pesadas com forte precipitação. Mas durou pouco a tristeza, logo percebi o quanto
a vista havia sido “aberta” sem aqueles galhos. A
Da minha vista, as nuvens me impressionavam partir daquele momento, passei a fotografar como
constantemente. Vi tantos formatos, tantas ca- se existisse outra janela, outra cidade a minha
racterísticas diferentes, tantas formas em suas frente. Claro que prefiriria a árvore ainda de pé. A
formas... Registrei diversas delas e várias chuvas, propósito, já faz quase um ano que ela caiu e con-
suaves e fortes. Uma delas, ocorrida enquanto tinua viva. Ela não foi removida e suas raízes ainda
1/100”, F5.6, ISO200, WB Auto, 18-105mm em 45mm
eu ministrava aula em outra cidade, arrancou a nutrem minimamente a vida ali ao chão.

A técnica aplicada
VALE A MESMA DICA PARA CONSEGUIR BOA profundidade de campo (fotos nítidas em todas as áreas) em imagens como
essa, ou seja: não é necessário usar pequenas aberturas como F11 ou F16 desde que use uma lente em grande angular.
Usando aberturas maiores a quantidade de luz que entra é maior (ou valores de aberturas menores: F1.8 representa uma
lente extremamente aberta enquanto F2 representa uma lente minimamente aberta), o que torna possível usar um ISO
menor e uma velocidade mais alta.

As nuvens e toda superfície mais escura tende a apresentar um ruído bem aparente. Tenho gostado de algumas
imagens com ruído aparente e me convencido que é o grão que não tenho mais. É a bola da vez nos efeitos de reforço
da imagem que, se bem usado, gera imagens belas. No caso desse registro acredito que reforçou a dramaticidade da
imagem, que era a sensação que vivi quando levantei meu equipamento nessa vez.

Na edição fiz algumas escolhas para reforçar ainda mais o peso que a nuvem deveria ter na imagem, que não era
muito apresentado na imagem original (acima, à direita). Aumentei o preto, escureci as sombras, tirei um pouco a satura-
ção geral e esquentei um pouco a temperatura de cor, embora parece justamente o oposto. Um erro meu nessa tomada
foi ter fotografado com o WB no automático, o que gerou por parte da máquina uma tentativa de balancear o branco
com a presença de um tom que ela julgou adequado. Ao puxar o contraste, o tom azulado (ao invés do cinza) apareceu.
Na hora marcada

06 de nov. de 2011, 17h27,33’’


Diversos fatos, no mínimo incomuns, marcaram a a diversidade da fauna e flora que resiste ao avanço
minha vida nesse apartamento, que era cercado de da construção civil. Maritacas, Garças, Andorinhas,
árvores e natureza dentro de uma grande cidade. Gaviões e até aves raras como o Urutal vinham a
Coisas que eu imaginava acabadas, só que não. minha janela.
Logo no primeiro dia, por exemplo, diversas mari-
tacas e outros pássaros passaram nos galhos das As maritacas foram gentis demais comigo e fun-
árvores. Confesso que no princípio cheguei a ficar cionavam como meu despertador. Todos os dias,
incomodado, tão desacostumado com essas ou- apareciam em dois horários: de manhã, logo pelas
tras vidas dividindo o condomínio que eu estava. 7h ou 7h30 e no final da tarde, nunca antes das 17h
Mas logo isso mudou, e bem rápido. e nunca depois das 19h. Quando o horário de verão
se iniciava, os pássaros pareciam chegar atrasados
Cresci em uma cidade pequena e nele ávores, ani- ao nosso encontro, perdendo a hora de dizer um
mais e pássaros sempre foram uma constante. Em olá e soltar seu canto estridente. Daquela janela,
Rio Preto, esse contato todo havia sido reduzido pude sentir o relógio da natureza funcionando mais
para cães e gatos domésticos. Mas, aos poucos, do que em outro lugar. E pude registrar isso ao
olhando melhor para essa cidade, fui percebendo meu jeito. 1/80”, F20, ISO400, WB Auto, 18-105mm em 105mm

A técnica aplicada
CONFESSO QUE ESSE PANNING FOI AO ACASO, já que eu não havia planejado aplicar essa técnica nessa ocasião. Eu
estava descompromissadamente fotografando as maritacas que estavam ali naquele dia quando a última delas voou.
Automaticamente acompanhei o movimento e fiz o clique, mas quase perco a ave no enquadramento.

PANNING É O NOME DADO A AÇÃO de acompanhar um objeto em movimento no mesmo sentido e com uma velo-
cidade de obturador suficiente para manter paralisado o assunto em primeiro plano e os demais planos borrados,
como nessa imagem.

A escolha do obturador, do ISO e da abertura não foram feitas para um Panning adequado com as carac-
terísticas que eu tinha no momento, mas foi o que eu estava usando e mesmo assim busquei o efeito. Na edição,
aumentei um pouco a temperatura de cor, a saturação e um pouco do realce da imagem. Ao recortar um pequeno
pedaço, o ruído apareceu demais, então o reduzi um pouco na edição buscando voltar ao da imagem original e sem
ultrapassar esse limite.

DE TODA FORMA, QUANDO RECORTADO o pássaro da sua imagem original, o efeito conseguido me agradou. Se
escapa da qualidade técnica o registro que a imagem pode alcançar hoje, sobra subjetividade em poder se parecer
com uma pintura digital.
O som que se vê

20 de nov. de 2011, 18h58,01’’


Sempre disse nas aulas para que os alunos tam- De tão quieta a cidade ouvi com o vento o barulho
bém ouvissem as imagens. Parece loucura, não? das folhas do pasto sob as árvores que dão de lado
Embora seja uma primazia da visão poder enxer- com minha janela. Me lembrei das plantações de
gar as imagens, já consegui boas delas escutan- trigo que costumava ver. Quando em tempo de
do primeiro. Exemplos disso são os pa´ssaros da colheita, o barulho do vento chacoalha os cachos
minha janela; a maioria me chamou a atenção cheios daquele grão e o barulho é algo sublime hoje
pelo canto. Se não fosse o canto, por exemplo, eu na lembrança. Se não fosse pelo barulho que me
jamais teria localizado o Urutal e nem fotografado acordou, eu provavelmente não teria sequer parado
seu filhote, caso que conto em página por vir. aqueles instantes para olhar pela janela e contem-
plar por um minuto uma beleza sem tamanho.
Essa é uma das últimas imagens que fiz em 2011.
É uma composição muito simples, mas um ótimo Graças a esse barulho e a minha contemplação
exemplo para levar a essa discussão sobre escutar naquele dia descobri um ninho novo de passarinho
antes de ver. Era final de um domingo e eu estava em um dos galhos da árvore (que em poucos dias
em casa. Nesse dia, me lembro, ventava bastante caiu por causa de uma noite de forte chuva). Teria
em minha cidade. Eu havia cochilado e acordei visto isso a tempo se não tivesse escutado?
1/500”, F5.6, ISO500, WB Auto, 18-105mm em 105mm
com aquele silêncio que somente um domingo
pode dar.

A técnica aplicada
Esse EXEMPLO vale muito para discutir algumas outras questões sobre fotografia ou registro de imagens do que para
discutir qualquer técnica em si. Não há segredo algum nessa tomada e o arranjo que fiz para obter a exposição só me deixa
alerta em relação ao balanço de branco que deveria ter feito manualmente.

OS EFEITOS CONSEGUIDOS NESSA EXPOSIÇÃO, basicamente, deram um ruído acentuado na imagem, e o ajuste automático
da imagem somado às configurações que fiz na máquina uma acentuada na saturação (observe a imagem original, mais
“forte”). Eu preferi reduzir um pouco a saturação para obter uma imagem um pouco mais suave, muito embora as cores
saturadas sejam uma preferência minha nesse momento. Acrescentei um pouco de preto, escureci as sombras e reduzi um
pouco o ruído na edição para dissimular as alterações entre os contrastes da imagem.

A ALTA VELOCIDADE DE OBTURADOR que usei mascara o movimento das folhas. Parece que não havia vento, mas havia
e estava forte. Ficaria lindo o efeito com um obturador muito lento, mas não adotei essa técnica pois, como disse, havia
avistado o novo ninho de passarinho e fiquei o restante de luz que havia esperando o passarinho entrar no ninho. Não
consegui boas fotos do passarinho e perdi a chance de fotografar com um obturador bem lento e conseguir aquelas fan-
tásticas fotos borradas com movimento.
2012, o segundo ano

18 de fev. 2012, 19h19,58’’


Como sempre, em nossa hora marcada, lá esta- Constantemente observo os profissionais em even-
va ela. Mas dessa vez eu estava diferente: havia tos que participo. Fico observando e escutando.
comprado uma 80-200mm e estava louco para Pelo flash que está usando, pelo direcionamento
conseguir boas fotos. E lembro que me questionei: da cabeça ou acessórios acoplados, pela veloci-
- “Como vivi esse tempo todo sem uma 200mm?”. dade do obturador e pela quantidade de disparos
É realmente uma lente incrivel, que comprei com eu já consigo sacar o que a pessoa está fazendo.
muito custo, usada, revirando por São Paulo algo Claro que não tenho o dom de adivinhar, mas dá
bom e barato. Achei! para ter uma noção. E muitas vezes escuto dois,
três disparos de uma mesma cena sem alteração
Essa imagem é a antecessora da imagem Capa nas configurações do equipamento ou sequer do
desse EBOOK. Após ela me olhar assim, baixou assunto, que permanece imóvel... Todos para quem
a cabeça como se procurasse entender o que eu eu já perguntei o porquê quase me convenceram
fazia e então “Tchatcha”, abre e fecha meu obtu- da necessidade de duplicar o clique. Os motivos
rador e tenho a imagem que abre esse relato do são vários, tantos, e por isso eu ainda trabalho
meu dia a dia em minha janela. Optei por publicar de outra forma. O meu jeito é observar, prever, e
esse outro clique para mostrar que a repetição dos estar pronto para o clique certo. Perco mais fotos
disparos é importante em alguns momentos, mas parando para beber água do que sistematizando 1/400”, F2.8, ISO320, WB Auto, 80-200mm em 200mm
não como tenho visto por aí. meus cliques.

A técnica aplicada
A REGRA DO TERÇO NÃO É UMA REGRA como é comum a gente encontrar escrito por ai. Está mais para uma sugestão
acredito. Mesmo assim ainda é uma dica de ouro para compor uma imagem com harmonia. Especula-se que deriva da
“divina proporção”, ou de números que regiriam harmoniosamente algumas coisas no universo.

MISTÉRIOS A PARTE, FUNCIONA MUITO BEM e é amplamente utilizada. Reveja algumas das fotos desse ebook com a visão
da regra do terço que é a seguinte: divida uma imagem em 3 partes (vide imagem inferior). Para cada terço haveria uma
indicação de como trabalhar essa harmonia. Eu usei a que coloca o objeto na linha horizontal inferior (como quem diz “olhe
para o espaço maior, o céu, que amplidão) e em um dos quatro pontos de cruzamento das linhas verticais e horizontais,
os chamados “pontos de ouro” ou seja, locais onde seguramente se pode encaixar o assunto da fotografia. Se pessoas, o
rosto; se pores-do-sol, o sol e por ai vai.

MAS MUITAS VEZES EU EXTRAPOLO ESSAS sugestões e encaixo os elementos um pouco mais além desses limites. É minha
forma de transgredir essas regras loucas do mundo sem maiores consequências. Por exemplo, ao invés de colocar o hori-
zonte na linha inferior do terço para mostrar um belo entardecer e o Sol em um dos cruzamentos das linhas eu o coloco um
pouco abaixo dessa linha e o Astro Rei bem no centro. Afinal regras existem para serem quebradas também, não?
Não falta, sobra luz

22 de maio de 2012, 3h23,47’’


Quem faz seus cliques a noite sempre enfrenta O que está errado é a medição da luz, que toda
a falta de luz e tenta suprir essa falta de algum câmera traz embutida em seu sistema. Nas pro-
jeito. Quando uma lua, linda, aparece no céu, fissionais (ou mesmo em algumas semi) é possível
corremos para registrar. Quantas vezes eu fiz isso! escolher o tipo de medição que basicamente fun-
É um momento de introspecção e um deleite para ciona de três formas: pontual, média (ou parcial) e
os olhos... Mas comumente essas fotos do nosso geral. Creio que as câmeras domésticas tendem a
satélite sai um simples clarão sem forma alguma. medir a luz existente de maneira mediana ou geral
Tem explicação? e isso faz com que o clarão sem forma da lua seja
registrado indiscriminadamente.
É claro que tem. Muitas pessoas já se queixaram a
mim de que não conseguem uma imagem da Lua Em um equipamento profissonal, a medição pon-
porque de noite falta luz suficiente. Na verdade é tual, ou seja, de apenas uma pequenina área do
justamente o oposto: há luz mais do que suficiente enquadramento, dá a configuração certa para
para um registro de uma Lua cheia. A quantidade uma exposição correta. Assim se ajustam as con-
de luz refletida por ela é tanta que basta olhar para figurações necessárias de abertura, velocidade do
um descampado fora da cidade: parece dia! obturador e ISO para um bom clique. E costumam
ser como registrar imagens em um dia muito claro. 1/4000”, F2.8, ISO100, WB Auto, 80-200mm em 200mm

A técnica aplicada
Essa imagem foI FEITA no limite máximo de velocidade do obturador da minha câmera D90. E mesmo assim foi preciso
usar um ISO baixo para conseguir uma exposição adequada. Há dois fatores a ressaltar: o primeiro é a necessidade de
uma velocidade alta para que a lua não saia tremida. O que não é difícil, uma vez que o reflexo da luz do Sol é tão forte
que exige mesmo uma configuração assim. A segunda é a abertura; como usei uma grande abertura, tive que fazer o foco
manual para ir acertando o melhor contorno possível.

ALGUMAS LENTES PASSAM UM POUCO no seu foco da distância “Infinito” que supostamente focaria qualquer distância
acima da maior distância limite menor ao infinito. Isso é necessário para que o sistema interno da lente funcione, eu
imagino. Mas acarreta um problema técnico: pode passar o ajuste de foco. Portanto, nem sempre o automático vai ser
satisfatório nesse caso.

POR ISSO ESCOLHI uma LENTE MAIS FECHADA, para ganhar pontos no foco, mas ganhei alguns ruídos que não gostei e
não achei a imagem - nas circunstâncias que eu fotografei nesse dia - tão boa quanto com abertura grande e foco manual.
O recorte que dei na imagem mostra que nem sempre uma lente longa (como minha 80-200mm) é capaz de aproximar
tanto a Lua. Grande parte das fotografias ou imagens que vemos por ai tem uma edição, um recorte no tamanho do quadro
original (um zoom digital) para trazer a Lua mais para perto. Mas que fica linda mesmo assim, fica!
O olho, câmera extraordinária

20 de nov. de 2011, 18h58,01’’


Se existem tantas técnicas e maneiras de se registrar uma O HDR é um claro exemplo da insuperável maravilha que é
imagem, devemos isso à insuperável capacidade humana de o corpo humano. HDR significa “Alto Alcance Dinâmico” e
enxergar. O nosso olho é de longe, muito longe, a máquina nada mais é que a capacidade de distinguir as formas, cores
mais perfeita para ver (no sentido de potencial de apreensão e texturas de todas as partes de qualquer coisa que podemos
de formas, cores e distribuição de todas as demais caracterís- registrar em uma única imagem. Diz-se que uma imagem tem
ticas que existem) e pouca gente se dá conta disso. alto alcance dinâmico quando é possível ver tanto os detalhes
presentes numa sombra de uma árvore (como a grama com
Esse movimento de ver e distinguir esses detalhes em qual- pouca luz) quanto as folhas diretamente atingidas pela luz
quer que for a situação é uma característica inata do ser do sol em uma mesma imagem. Os atuais equipamentos de
humano. Basta olhar para o escuro e vemos seus detalhes. registro carecem desse potencial, uns mais, outros menos.
Olhamos para qualquer coisa fortemente iluminada e também Os programas de edição ajudam a melhorar esse alcance,
vemos os detalhes imediatamente. Mas a criação mecânica conseguido nos tempos da película com variações nas re-
do homem não pode fazer isso e é preciso, então, escolher o velações, químicas, produtos, filtros e nas marcas e tipos
que se quer mostrar e ajustar o equipamento que se tem para de filmes. Em casos específicos, é possível recorrer para a
isso. Que invenção mais limitada! imagem HDR, apresentada nesse exemplo.

A técnica aplicada
As três imagens mostram a prioridade que escolhi: a primeira eu priorizei o Sol e seus efeitos sobre o céu e as nuvens; a segunda aquilo que chamamos
na fotografia como médias luzes, (ou meio tons), ou seja, tudo que está entre o muito claro e o muito escuro. Por último, as formas e texturas presentes nas
partes mais escuras da imagens, dando a elas uma claridade que nosso olho enxerga, mas que o equipamento somente registra se for programado para tal.

FEITAS ESSAS ESCOLHAS, É PRECISO observar nas três imagens que conforme tomamos nossas escolhas renunciamos a outras: Na 1ª imagem, por
querer registrar de forma visível as informações do céu, eu perdi totalmente as informações das árvores e do pasto, recuperdas apenas na 3ª imagem.
Assim, em cada uma dessas imagens há uma prioridade e uma renúncia.

É A JUNÇÃO DESSAS TRÊS PERCEPÇÕES que leva o nome de HDR. Para conseguir juntar essas três imagens e formar a apresentada na página anterior,
recomenda-se a utilização de programas específicos, como o Photoshop e tantos outros que oferecem o recurso. É preciso, na tomada das fotografias,
que se use um tripé (mas alguns programas reajustam as variações longitudinais e latitudinais automaticamente) e registre-se a cena em um curto intervalo
de tempo (segundos de diferença).

Nesse dia, dado a velocidade que o Sol se punha, usei não mais do que 10 segundos entre um clique e outro. As configurações foram: ISO200,
F14, 18-105mm em 18mm e nos tempos de oburador: 1/40”, 1/15” e 1/6”, respectivamente (de cima para baixo). Não aconselho alterar a exposição pelo
ISO pois pode dar variação de ruído, e nem alterar a abertura para não ter alteração na profundidade de campo entre as exposições, mesmo esse efeito
sendo reduzido com a utilização desse escolha focal (18mm).
Emoldurando suas vistas

14 de dez. de 2012, 16h19,46’’


Uma outra técnica gostosa para brincar é tentar na televisão, sem vontade de fuçar na Internet, mas
emoldurar seu objeto com aquilo que estiver dis- com a minha boa e velha vista da janela lateral.
ponível. Já emoldurei assuntos em tantas coisas, Olhei para fora tentando procurar os ninhos de
até em “S2” feito por fãs que, de tão bacana, virou passarinhos que sabia existir nas árvores. Queria
capa de CD! É um processo de busca e é preciso me certificar que ainda estavam ali mesmo após a
educar a mente para prever quais elementos po- forte chuva. Sou, praticamente, tanto chocadeira
dem ser usados em primeiro plano para realizar desses ovos que ali foram postos quanto as mães
tal composição. passarinhos.

Confesso que das vezes que construi esse tipo de Foi então que vi, por entre os galhos, um dos
imagem a metade eu devo ao acaso. Mas a outra prédios emoldurado pela árvore. Havia parado de
metade é puro treino e percepção. O que algumas chover mas as nuvens pretas e pesadas continua-
pessoas veem como alguém na frente da lente eu vam no céu. Me lembrei de uma fotografia que ha-
enxergo a possibilidade de uma moldura, mesmo via visto em um livro, com o céu totalmente negro
que seja todo preto. Pessoas em um show, braços em situação similar a que eu via, e tentei reproduzir
erguidos, o que pode atrapalhar a visão “limpa” é isso em imagem digital. Em vão. Em todo caso,
para mim uma grande oportunidade. Certo dia eu esse clique rendeu um exemplo bom para uma 1/1000”, F5.6, ISO320, WB Manual, 80-200mm em 200mm
estava em casa em uma tarde preguiçosa. Nada breve explicação sobre composição.

A técnica aplicada
NESSA IMAGEM PRECISEI RECORRER a um programa de edição. Mesmo a exposição sendo boa, não tinha o impacto visual
que aquela vista dava. A atmosfera estava tão límpida que era possível ver todos os elementos da cidade de forma clara e
nítida, sem fumaça, sujeira ou poeira entre mim e os objetos.

Fiz a imagem com o balanço de branco no manual, mas mesmo assim as nuvens escuras sairam um pouco azuladas.
Foi uma falha, creio que se insistisse um pouco mais teria um resultado um pouco melhor, enfim.

Apesar das folhas NO PRIMEIRO PLANO terem saído claras e desfocadas, resultado da escolha da abertura utilizada,
preferi escurecê-las um pouco na edição. Essa medida direciona melhor o olhar diretamente para o prédio e não abre
espaço para leituras rápidas nas áreas iluminadas. Alguns estudos afirmam que os pontos claros chamam ligeiramente mais
a atenção em relação aos elementos escuros, vistos em um segundo momento.

DESSA FORMA, ESSAS ESCOLHAS tanto na tomada da imagem original quando na sua edição levam a uma imagem com
um impacto visual um pouco maior em relação a imagem original, cujo olhar se perdia na leitura geral da imagem igualmente
clara. Direcionar o olhar é possível e recomendado. Afinal, fazemos imagens com nossos valores agregados a elas e não
representamos a realidade pura e simplesmente, coisa impossível de se fazer.
Chá da tarde

14 de dez. de 2012, 16h17,09’’


Está na hora de alimentar a fome! Sempre que eu estava no por ali. Ela estava sozinho e eu acompanhei seus pulos de galho
apartamento exercia o hábito estabelecido de vez ou outra ir em galho por alguns minutos. De repente percebi outro pássaro
para a janela dar uma olhadinha lá fora. Bisbilhotar o acaso e vi que eles interagiam. Não percebi que se tratava de um chá
tornou-se um prazeroso ato quando associado às possíveis da tarde, a princípio imaginei que estivessem brincando.
capturas de imagens. E foi numa dessas eventualidades que
vi diversas espécies de pássaros. Alguns mais bonitos, outros Mesmo assim fiz o registro e confesso que somente depois pude
mais esquisitos, e alguns se alimentando bem a minha frente. perceber que estavam se alimentando. Fiquei de olho e a cada
sinal de movimento, qualquer que fosse, eu clicava continuada-
Algumas vezes era possível examinar a cena, pensar o que fa- mente. Havia programado a câmera para disparos sequênciais
zer, escolher técnicas, aberturas, ISOS. Outras vezes eu corria e foi de grande ajuda essa escolha. Fiz cerca de 15 imagens e 1/400”, F7.1, ISO200, WB Auto 80-200mm em 200mm
e usava tudo automático mesmo. Nessa tarde de sexta-feira em algumas, como essa escolhida, acabei pecando em relação
resolvi dar uma passada de olho lá fora. Era um dia de céu à composição. Confesso que me preocupo tanto com o recorte
estável, sem chuvas, temperatura constante já há alguns dias. no tempo (o disparo em si) que por vezes me deixo esquecer de
outras coisas... Mas nada que uma ediçãozinha não resolva, não?
Lembro que a princípio nada havia me chamado a atenção, nem
mesmo a presença desse pássaro que ainda não havia passado

A técnica aplicada
ESSAS IMAGENS tornaram-se MAIS UMA FERRAMENTa para discutir composição e enquadramento. De forma geral, apenas amenizei
a saturação do azul e acrescentei um pouco de temperatura na imagem, o que gerou uma pelugem um pouco mais amarelada nos
pa´ssaros.

A GRANDE DISCUSSÃO NESSAS IMAGENS, ao meu ver, concentra-se na adequação dos pássaros na regra do terço. De imediato há
duas opções básicas: Cruzamento dos terços nos pontos inferiores ou superiores. A minha escolha de reenquadramento no cruza-
mento superior tem explicação. A imagem original oferece ambas as opções, mas com um elemento que para mim é significativo: na
imagem do meio (que não é minha escolha final, vide imagem da página anterior ou imagem menor inferior) a colocação das aves
no cruzamento do terço inferior mistura as aves com muitos elementos na imagem (galhos, galhos e mais galhos). Minha escolha de
recolocá-los no canto superior parte da orientação de alguns profissionais em “limpar” alguns dos elementos desnecessários ou não
visualmente significantes para que o assunto principal em si tenho uma maior ênfase.

Isso ficar claro, na minha opinião, nos exemplos que trago ao lado. No reposicionamento que a imagem do meio oferece,
os pássaros perdem um pouco o destaque porque se misturam aos demais elementos da cena. Na imagem abaixo, porém, eles recebem
um pouco mais de atenção. Um pouco de destaque para essa natureza tão linda!
As suas vantagens

22 de dez. 2012, 1h35,04’’


Aquela árvore que sempre tampava minha visão tipo de conhecimento deriva do saber teórico,
havia caído. Não sei bem em qual dia, mas en- da sistematização das atividades práticas. Não é
contrei entre minhas fotos uma longa exposição sair apertando botão e aceitando os efeitos que
que a mostra no chão. Me lembro que na ocasião a máquina dá: é saber os efeitos possíveis e os
eu havia feito imagem do tipo para ver se aquele reproduzir e a partir disso fazer algo diferente para
borrão escuro no chão era a tal árvore. E era sim. que possa chamar de seu.

Nesse mesmo dia, segundo meus arquivos, outra Preciso confessar que nesse dia eu não havia
fotografia foi tirada: essa que trago nesse exem- pensado esses efeitos nas luzes, uma vez que
plo. Há algumas vantagens em conhecer algumas eu queria registrar esse prédio todo espelhado
técnicas e, para mim, talvez a mais importante e os reflexos que via nele. Aumentei a abertura
delas é ter a consciência do possível resultado da lente para não perder o foco e de imediato os
de nossas escolhas. Isso no sistema analógico riscos nas luzes apareceram. Tanto gostei que fiz
era fundamental, bem como na necessidade de apenas duas exposições. Estava seguro de que
uma rápida tomada de decisão para não per- uma delas seria a minha escolhida e a trago agora
der aquele clique. A intuição sempre ajuda, mas para ser vista.
é preciso conhecimento. E saber seguro. Esse 30’’, F13, ISO800, WB Manual 80-200mm em 200mm

A técnica aplicada
uma das técnicas que gosto em imagens noturnas é quando fecho mais a íris e esse efeito nos pontos de luz direta apa-
rece. Há uma outra forma de alcançar esse resultado: usar um filtro na frente da lente. Também é possível colocar em pro-
gramas de edição e vejo muitas produções de joias e semijoias com esse efeito, para dar aquele ar de brilho, polimento, etc.

NO ANTES E DEPOIS AO LADO, é possível notar algumas alterações de imediato e outras nem tanto. Estão aparentes:
a alteração no balanço de branco, o reforço na saturação da cor azul e verde. A mudança nos tons do céu derivada
dessas escolhas que fiz. Menos aparente está a redução do nível de ruído da imagem. Como alguns pontos mais escuros
acabaram mais claros na minha edição (como a faixa de árvores entre o prédio em construção e o prédio espelhado), os
ruídos apareceram demasiadamente naquele espaço. Eu particularmente não gostei do efeito e o reduzi cerca de 10% do
valor total possível. O suficiente para dissimulá-los sem começar a dar um efeito borrado nos demais pontos da imagem.

Se a sua câmera tiver controle de abertura da íris, faça o teste: fotometre a cena dando um valor maior (daí o
termo “prioridade”) para a abertura da lentes, como F13, usado nessa fotografia. Feito isso, faça a foto e veja o efeito.
Depois, faça o mesmo teste usando o menor valor para a abertura, como F3.5 - priorizando uma abertura maior na lente
- e compare os efeitos. Melhor! Me encaminhe as duas fotos para o email que publiquei na abertura desse livro e vamos
estudar os efeitos juntos!
Fogo na Terra

25 de dez. de 2012, 3h42,03’’


Era véspera de Natal, meu último natal solteiro. Era um tempo de
instrospecção e eu estava melancólico e triste por não poder corres-
ponder à altura dos tantos cartões lindos que circulavam pela Internet,
tanto nas redes sociais quanto via email.

Estava dormindo mais uma vez na sala, de janela aberta, quando


acordei de madrugada ainda com aquela melancolia. Natal deixa a
gente meio assim mesmo. Mas quando olhei para fora tive um susto.
Em pouco tempo minha árvore de Natal particular se formaria lá. Esse
pinheiro pode ser visto em outras imagens atrás de uma árvore. É a tal
árvore que fora arrancada pela chuva. Já sem ela, a vista que se abriu
permitiu que eu fizesse esse registro. E em plena noite de nascimento
do Cristo. Fôra minha estrela Dalva!

Levantei correndo e busquei todo o equipamento. Tinha pouco tempo


para fazer minhas escolhas mas elas foram tão naturalmente se apre-
sentando na manipulação das lentes e outros acessórios que diria ser
apenas mais uma parte desse presente.

A estrela que colocamos sobre nosso pinheirinho, dentro de nossas


casas, foi colocada sobre uma árvore enorme, a 50 metros de casa,
oferecendo essa vista nas primeiras horas do dia 25 de dezembro.
Durou pouco, pois a Lua desceu naquela meia hora que fiquei ali,
admirando... e logo sumiu no horizonte... É ou não é para se sentir
abençoado com isso?

25’’, F11, ISO400, WB Auto, 80-200mm em 92mm

A técnica aplicada
FOI UMA DAS POUCAS VEZES QUE A TÉCNICA EM SI não era importante para mim. Dado parte do tempo, apenas seu brilho ou uma pequena parte dela exposta. Rapidamente
a representatividade que a cena tinha para minha vida, naquele momento essa seria a escolhi manter o registro do pinheiro e da cidade e sabia que poderia estourar a Lua
fotografia não tirada, guardada apenas em minha lembrança e contada como se fosse na edição. Coisa fácil, e daria o efeito que demonstraria com mais exatidão aquilo que
uma das coisas que sequer saberia como contar. Mas automaticamente tomei algumas eu estava vendo. Sabendo que uma íris bem fechada daria esses raios nas luzes, logo
decisões e é nesse ponto que a experiência é insuperável. Falamos sobre alcance di- escolhi uma abertura que desse o efeito desejado. Mais uma vez não me importei com
nâmico e seria impossível retratar a Lua e as sombras ao mesmo tempo. Um HDR não o balanço de branco, dado a velocidade que a Lua caia. Logo ela não estaria mais no
mostraria o satélite tão lindo como era, e não representaria de forma majestosa o que eu topo do meu pinheirinho particular...
via. Até porque havia nuvens no céu e elas encobriam a forma da Lua deixando, em boa
Foi, foi, foi

28 de dez. 2012, 18h26,41’’


Uma das coisas mais lindas que já vi e ouvi. Ele encontrar o bicho. Postei no Facebook e um aluno
cantava de madrugada, também com hora mar- o reconheceu: Urutau.
cada. Normalmente próximo ao amanhecer, mas
antes que os demais pássaros. Algumas vezes Diz-se que é uma ave rara, que canta solitariamente
soltava seu canto em meio a madrugada. Foi à noite como se soltasse um lamento e daí teria
assim da primeira vez, não me lembro a hora, mas surgido diversas lendas. E saiba que interessante:
acordei, mais uma vez, assustado. Um pouco mais semanas depois, quando já havia me acostumado
do que das outras vezes, pois dormia com a janela ao bicho, seu canto e sua presença sempre imóvel
aberta e seu canto reverberou com força dentro ali, fui viajar. Na volta, antes de subir para o apar-
do apartamento. E parecia um grito, um lamento. tamento, resolvi dar uma olhada no galho seco
em que o pássaro se alojou e tive uma pequena
Nesse primeiro dia outros vizinhos também saíram surpresa: havia um filhote de Urutau, que imitava,
na janela procurando saber de onde vinha e quem desde muito jovem, o comportamento da mãe.
era o dono daquele canto de três ou cinco notas,
sempre decrescentes*. E ninguém sabia dizer o Posso dizer que ouvi seus primeiros pios, roucos e
nome daquele pássaro. Com muito custo, em uma sem sentido algum. Já treinava para me acordar de
1/2000”, F4, ISO200, WB Auto, 80-200mm em 200mm
segunda cantoria, consegui localizá-lo disparando madrugada com um lamento que de triste tornou-
a máquina com a íris fechada e com o flash bem se tão belo por essa história.
forte por toda a árvore. Gerei uma grande imagem
que, no visor LCD, fui procurando pixel a pixel, até *Tem no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=ylPiq-7W5Iw

A técnica aplicada
A imagem do filhote foi coisa simples para se fazer. Como era um dia muito claro, mesmo com ISO baixo e um
pouco de fechamento da íris foi preciso usar um obturador bem alto. Essa lente 80-200mm é ótima, mas apresenta
algumas efeitos que não me agradam. Um deles é a dificuldade para conseguir uma imagem nítida com velocidades
médias. A outra é da focagem; por diversas vezes tive dificuldade no foco automático e manual, tendo recorrido a uma
abertura menor para ganhar um pouco de campo focal, mesmo perdendo definição e percebendo um efeito que se
assemelha à difração (ao olho nu, uma espécie de falta de nitidez) ou mesmo da instabilidade do foco.

ACRESCENTEI PRETO E ESCURECI, mais uma vez, as sombras em um esforço para direcionar o olhar para o Urutau.
Retirei um pouco a saturação do azul e de outras cores, como púrpura e magenta, na tentativa de diminuir a atenção
que o céu azul tomava e do contorno dos raios UVs que marcaram a ave, mesmo usando um filtro UV(c) Hoya. De
qualquer forma, está ai o animalzinho, tão belo e estático como ele realmente é.
2013, o último ano

04 de jan. 2013, 18h27,57’’


2013, para mim, começou como O ano. Diferentemente de to- nos faz pensar em nossos segredos... Nesse dia, a luz que pude
dos os anos e projetos que podemos postergar por mais algum ver foi sobrenatural. Confesso que me senti pequeno e creio
tempo, esse era o ano do meu casamento. A data já estava ter sido esse o sentimento que outras pessoas também tiveram
marcada desde setembro de 2012, quando reservamos o dia e uma vez que as redes sociais foram bombardeadas com imagens
hora na igreja. desse mesmo fato, mas de ângulos diferentes e por pontos-de-
vista diferenciados. E comunguei com todos eles.
A partir de janeiro, todos os meses até a data do casamento
passaram com uma velocidade que não imaginei que passariam. Nas três fotos ao lado é possível ver:
O tempo voou. Indício de que a espera e a ansiedade eram 1 - A imagem original;
maiores do que eu acreditava que seriam. Preciso dizer que me 2 - Uma edição que a manteve colorida, com acréscimo de 1/1000”, F13, ISO200, WB Auto, 18-105mm em 34mm
senti privilegiado quando, logo no começo desse 2013 mágico alguns elementos, como preto, redução de sombras e aumento
para mim, eu fora surpreendido com alguns dias de “Luz Divina”. de contraste;
Esse é o termo que popularmente lemos quando procuramos 3 - A edição transposta em preto e branco, escolhida para ser a
saber o nome desse tipo de luz natural. foto que representasse aquela cena.

Não há segredo nisso, em essência tem a mesma temperatura de


cor, luminosidade dos raios “normais” mas é bonito demais. E

A técnica aplicada
FIZ ESSE REGISTRO PENSANDO E VENDO EM PRETO E BRANCO. Desde o clique inicial até o último (73 disparos), fotografei observando
a imagem de forma diferenciada. É preciso treino para ver as coisas desprovidas de cores. Há até um exercício que vi certa vez em
um livro, que ensinava a cerrar os olhos levemente até ver apenas o contraste e as formas; isso eliminaria boa parte da percepção
de cores e ajudaria na coompreenção dos tons em PB.

A MINHA ESCOLHA EM DEIXAR ESSE REGISTRO sem cores deriva da necessidade que senti em mostrar novamente aquilo que eu vi,
ou seja, em reapresentar uma cena que fora vista por mim. Não é uma tentativa de mostrar a realidade, pois trata-se de um momento
passado no qual - a partir dessa fotografia - apenas eu me relacionei diretamente. Portanto, um dos meios que encontrei para
reforçar o sentimento de grandiosidade da imagem foi deixá-la sem cores, apenas com tons preto e branco. Isso reforça o tom de
sobriedade e de dramaticidade na imagem.

FIZ O REGISTRO E ADICIONEI na edição um simulador de grão para reforçar o drama. Acrescentei preto e eliminei as áreas de sombra
nos prédios. Nessa edição, optei por deixá-los pretos, em efeito de contraluz, pois não queria fazer dessa imagem um HDR e queria
reforçar o efeito que a luz impactava sobre a paisagem. Talvez tenha exagerado. Seria bacana um feedback dos leitores sobre isso.
Fevereiro é mês de brincadeiras

16 de fev. de 2013, 20h06,48’’


No mês em que me casei, junho, o Sol já estava ou se oculta diante das minhas escolhas técnicas
completamente posto e a noite presente às 18h30. e pessoais. Pode até ser que o produto dessa re-
Mas como tudo é brincadeira em fevereiro, mês de lação seja capaz de estabelecer uma outra relação
carnaval, já se passava das 20h e ainda havia luz com o passado ou com o futuro. Porém, creio
para brincar de captar imagens. Postei esse mesmo que essa relação não se configura entre o técnico
clique no Facebook, mas com outra edição e os que realizou o registro (ou o fotógrafo) e o tempo,
comentários surgiram. mas sim tal produto, decorrente do seu trabalho
e o tempo. Me pareceu mais uma brincadeira de
Mais do que falar sobre técnicas, meu objetivo aqui fevereiro isso, difícil de explicar para os outros.
é discutir ou apresentar discussões sobre fotografia
e captura digital. Outro dia comentei minha indig- Há muitas ideias acerca dos registros de imagens
nação frente a uma leitura que eu fizera na qual e da fotografia. Além disso, tantas práticas que
a autora descrevia a relação do fotógrafo como cada prática configura uma nova ideia. Creio haver
uma relação direta com o passado. Era o texto de espaço para todas. E tudo isso fora de brincadeira.
uma filósofa. Minha revelia estava justamente na
afirmação de tal autora que me pareceu um con- Pois bem. Como parece que brincadeira é o que
1/125”, F2.8, ISO200, WB Auto, 80-200mm em 105mm
tra-senso pois ia de encontro com tudo aquilo que não falta, procurem um cachorro nessa imagem.
minha prática significa para mim. Eu - enquanto Ficar buscando formas e animais em nuvens é a
fotógrafo - me relaciono é com o presente. Minhas preferência dos meus amigos e parentes nas mí-
ações são sobre o presente e é ele quem se mostra dias sociais online!

A técnica aplicada
Para variar um pouco as escolhas anteriores, resolvi apresentar essa imagem com a
cidade visivel abaixo do terço inferior. Na edição, alterei pouca coisa: precisei tirar um pouco
do preto e puxar para cima as sombras de modo que os prédios se tornassem visíveis.

RETIREI, AINDA, A SATURAÇÃO DAS CORES para que não tivesse invasão de azul e magente,
cores presentes nas médias luzes desse entardecer. O balanço de branco estava no auto-
mático, mas essa foi uma ação consciente, uma vez que, mesmo no WB manual, as nuvens
- nessa ocasião - não azularam como de costume. Portanto, resolvi desprender mais tempo
na composição do que na regulagem do branco. Uma decisão que tomei baseado em uma
aferência prévia.
É uma questão de luz

01 de mar de 2013, 19h17,02’’


O mês do meu aniversário começou com essa visão no fim de tarde.
Chuva, luz divina e uma coisa qualquer a mais no céu. Foi a primeira vez
que eu vi tal fenômeno: nuvens fazendo sombras nelas mesmas. Não sei
as causas, mas pensando na questão de iluminação fica fácil entender.
Como a sombra projetada é dura (contornos bem definidos) e aparente-
mente se dirige do canto inferior esquerdo para o canto superior direito
(uma vez que o Sol estava próximo ao horizonte), creio que havia uma
formação de nuvens mais densas e mais baixas do que as nuvens nas
quais a sombra se projetou.

Para mim, o curioso nessa imagem é a tripla composição que podia ob-
servar: além da projeção majestosa da sombra subindo aos céus, havia
uma massa de chuva no canto inferior direito e uma pequena luz divina
no canto inferior esquerdo, local da imagem no qual o Sol se punha. Fiz
outras imagens, tanto verticais quanto horizontais, mas somente encon-
trei essa imagem vertical nos arquivos, devo tê-las movido para algum
HD e como a busca resultou em apenas uma imagem - e essa imagem
era uma de minhas favoritas mesmo - me dei por satisfeito.

Não estou certo se a imagem passa uma forte sensação aos leitores,
ou ao menos a sensação que me transmitiu no momento em que eu
notei tal formação. Foi mais uma das vezes em que saí correndo da sala
para buscar o equipamento no quarto, receoso de que tal situação não
se extendesse por muito mais tempo. É uma questão de não perder o
clique. E tudo era uma questão de luz.

1/320”, F11, ISO200, WB Manual, 18-105mm em 18mm


A técnica aplicada
CONFESSO QUE FALAR EM ESCOLHAS TÉCNICAS EM EVENTOS INESPERADOS é uma discussão um pouco uma velocidade de obturador maior. Se perdesse essa nuvem escura mais baixa do enquadramento,
acadêmica demais para mim, tema de debates, motivação para preparação pessoal. Na prática - na correria uma vez que ela passava vagarosamente, mas constante, eu não sei se teria outra dessa para conseguir
do dia a dia - o que não pode faltar é o registro. A maneira de regular o equipamento, as escolhas, podem uma rica composição. E como o dia ainda estava muito claro, não foi preciso sequer aumentar o ISO.
acontecer de forma natural ou, então, improvisadas. Confesso que um HDR nesse dia ficaria lindo, mas
não o fiz porque as nuvens baixas, mais negras, se movimentavam e isso consequentemente borraria minha O ajuste de branco foi feito no modo manual, pois, em situações como essa, a máquina (a
composição. Decidi pelo simples clique, priorizando o desenho que se formava nas nuvens mais altas. Essa minha) tende a azular demasiadamente os pontos escuros. Mesmo assim, as partes mais escuras das
decisão limitou minha exposição em uma regulagem em que o céu azul deveria aparecer, ou seja, era preciso nuvens ganharam um tom um tanto quanto azul. Não puxei na edição totalmente para o preto pois
diafragmar a máquina (fechar a íris), ao mesmo tempo em que não poderia perder a informação das nuvens, não achei necessário. Esse resultado me agradou.
ou seja, os detalhes, a textura, a forma e as nuances delas. E para paralisar o movimento das nuvens, usei
Dia frio, bom lugar

15 de mar. de 2013, 17h07,26’’


Um dia frio já foi motivo para compor canções e aproximar corações.
Para mim, também já foi razão para gerar imagens e fazer fotos. Com as
águas de março fechando o verão, minha cidade foi, aos poucos, espa-
çando mais as chuvas que caiam no começo do ano. Uma das últimas
frentes de chuva que vieram e permaneceram por alguns dias foi essa
mostrada aqui. Lembro que estava deitado no sofá da sala, cochilando,
quando acordei com o barulho do vento. Lá fora, a fina camada de água
no ar transformou minha paisagem urbana em um quadro subjetivo.

Para ter as formas da cidade novamente identificadas, era preciso um


pouco de esforço ao olhar. Foi quando lembrei daquela discussão do al-
cance dinâmico, ou seja, da capacidade da máquina em enxergar aquilo
que a programamos para ver. Decidi tentar captar apenas a forma de um
dos prédios da minha vista, registrando seu contorno, sem os detalhes
que somente uma visão limpa, sem água ou poeira entre o sensor e os
objetos, poderia dar.

Essa imagem, em especial, deu trabalho para encontrar. Esse arquivo


estava na pasta temporária que o Lr. salva quando editamos as ima-
gens e por sorte eu o encontrei em um backup que fiz no dia 02 de
abril. Backups! Outro tema importantíssimo. É preciso, mas boa parte
das pessoas só dá falta quando seu computador tem um pirepaque. Já
passei por isso e hoje realizo cópias rotineiramente. Admito que durmo
bem mais tranquilo, sem passar frio algum na espinha.

A técnica aplicada 1/2500”, F2.8, ISO250, WB Auto, 80-200mm em 200mm

NOVAMENTE REDUZI A TEMPERATURA DE COR para criar uma sensação de chuva. Deixando a imagem mais sualizado essa imagem com outras alterações significativas como, por exemplo, acrescentando muito preto
azulada, creio que ela fica mais coerente com uma situação de chuva. Poderia conseguir resultado similar, por na imagem. Entretanto, ela ganhou uma silhueta nas árvores que não existem devido a lógica falta de um
exemplo, com uma ventania de areia. Entretanto, a estética seria mais aproximada do tom amarelo devido à cor ponto de luz que fosse capaz de causar tal efeito. Decidi, a partir dessas leituras feitas na imagem matriz,
caraterística da terra local. Optei por não deixar dúvidas sobre a natureza da chuva ao aplicar essa pequena não alterar a essência da imagem e trabalhar com o controle que fosse possível na edição.
alteração, de cerca de 15% na variação para o azul.
UMA IMAGEM COM ALTERAÇÕES QUE AFETAM sua essência podem causar uma sensação de estranhamento
E NÃO REALIZEI MAIS GRANDES ALTERAÇÔES na edição de imagens, ficando praticamente com a redução do nos leitores daquela fotografia. Algumas vezes esse efeito é bem-vindo, outras, nem tanto. É preciso cuidado
valor da temperatura Kelvin para dar a sensação de redução da temperatura visível como a única alteração e sensibilidade para trabalhar nesse limite já que agradar a todos é coisa difícil. Por isso meu foco tem
feita. Não foi alterado nenhum valor de contraste, saturação, realce, preto, nada, muito embora eu tenha vi- estado em passar a informação que eu quero de maneira que seja recebida pelo maior número de leitores.
Fogo no céu

27 de março de 2013
Meu aniversário. Meu presente? Esse pôr-do-sol. minha comemoração ou sequer uma do bolo de
Foi meu último aniversário solteiro: me casaria chocolate. Não me lembro se fui dar aula nesse
em menos de três meses. Os preparativos para dia ou não, mas meu desejo era não ter ido. Nos
o casamento já estavam quentes: convites, fami- próximos farei de tudo para ficar em casa e come-
liares de outras cidades, logística para enviar os morar com aqueles que me cercam todos os dias
envelopes e explicar como se chega até São José e que estão comigo caminhando e escrevendo
do Rio Preto (e reforçar para que não confundam - essa coisa de vida. O aniversário me estimula
de novo - com Ribeirão Preto). Tenho a sensação a refletir sobre minha caminhada mais do que o
de que certas coisas acontecem somente na hora Natal. Final de ano, além de todo o contexto re-
certa. Exemplos disso são meu pinheiro de natal ligioso, é época de euforia no mercado: a cidade
iluminado pela Lua e esse final de dia em pleno se agita, é tempo de férias e muita gente viaja.
meus 32 anos. Já nesse tempo todo meu, posso sentar e parar
um pouco para pensar nessas pernadas que dou
Não sei se foi uma coincidência eu ter feito nes- dia a dia e entender melhor como estou levando
se dia exatos 32 disparos dessa mesma janela... o pouco tempo de vida que tenho, aquele, que
brincadeira, foram 37. Mas não fiz nenhum da todos nós recebemos.
1/30”, F4, ISO400, WB Auto, 18-105mm em 22mm, 19h36,53’’

1/30”, F4, ISO400, WA Manual, 18-105mm em 22mm, 19h37,05’’ WB Manual em 5560K

A técnica aplicada
A IMAGEM ORIGINAL, da página anterior, NÃO É RECORTE DESSAS MENORES ao lado. Como não fiz nenhuma alte-
ração em nenhum editor de imagem eu não tinha porquê fazer comparativos, mantendo, assim, apenas a imagem original
registrada dia 27 de março, às 19h,38,16’’ para apresentação nesse ebook (página anterior) nas configurações: 1/30”, F8,
ISO400, WB Manual, 18-105mm em 105mm. Entretanto, decidi demonstrar a escolha da máquina pelo melhor balanço de
branco, apresentando ao lado esses dois exemplos de imagens registradas cerca de dois minutos depois.

NA PRIMEIRA IMAGEM ao lado, o balanço de branco estava programado para o modo automático e a imagem abaixo no
WB manual. Realizei entre essas duas imagens mais 3 cliques rápidos para conferir no visor a regulagem da temperatura
que mais se assemelhasse à opção automático. Não subi mais a temperatura para mostrar os efeitos de cada exposição
porque meu objetivo era apenas indicar qual temperatura Kelvin o equipamento estava aplicando no seu modo automático.

E foi dessa forma que cheguei em uma configuração bem próxima com a temperatura de 5560K. Note que, vi-
sualmente, as duas imagens estão bem semelhantes. É possível saber exatamente essas configurações do equipamento
utilizando programas leitores de EXIF - infos que toda câmera digital grava no arquivo de imagem - como o Opanda
(download gratuito diretamente no site do produtor: http://www.opanda.com/en/iexif/download.htm).
30’’, F11, ISO800, WB 3570K, 18-105mm em 22mm

As mudanças não pararam

04 de abr. de 2013, 04h31,42’’


De vez em quando a gente escuta de alguém que a correria está - ambos armazenados em um produto físico ou binário que re-
muita, que não sobrou tempo para isso, nem para aquilo. Eu presenta tempo passado. Mas eu, enquanto autor desse registro,
entendo todos os lado. Mas minha percepção sempre me abre - nessas circunstâncias - me afasto de qualquer relação com o
para lembrar de uma constante: o tempo sempre passa. No texto passado. Eu me relacionei, em ambas ocasiões, apenas com o
“A mudança,” um dos primeiros desse ebook, abro caminho para presente. Foi olhando para o presente e captando tecnicamente
trazer essa imagem que, se relacionada com aquela primeira, um pedaço selecionado daquilo que se fazia estar a minha fren-
abre debate para o que muitos autores afirmam: a relação do te que pude construir um material que, em confronto com algum
profissional de captação e do fotógrafo com o passado. Naquele lapso de tempo, remete a uma relação intrínseca.
texto ainda havia a árvore que sempre tampava minha visão e
também esses prédios com uma pequena faixa mais escura em A discussão vai longe, e minha vista da janela lateral sem a
seu topo. Eles estavam sozinhos, desacompanhados desses árvore na minha frente também. É dessa visada, dessa abertura,
outros dois prédios que foram erguidos no lapso temporal que as que fui recortando, aos poucos, todo o material que trago nessa
duas imagens feitas reproduzem aqui. publicação. Procure por eles na composição e os encontrará.
Relacione essas imagens com as imagens anteriores e também
Ora, nesse ponto o material que deriva do trabalho técnico poderá perceber suas interrelações e características que o tem-
resulta em uma ligação do tempo presente com o tempo futuro po foi gravando na paisagem.

A técnica aplicada
E sim, a hora está correta. tenho o hábito de dormir tarde de vez em quando. E numa noite assim eu vi as nuvens passarem baixas
e muito rápidas, então resolvi fazer essa longa exposição.

JÁ SABIA QUE O EFEITO DA LONGA EXPOSIÇÃO seria semelhante a um borrão no céu. Eu conhecia a técnica e já tinha visto fotografias e ou-
tras imagens assim o suficiente para formar em minha mente o resultado que esse trabalho daria. E saiu exatamente como eu havia pensado.

O EFEITO QUE PARECE UMA ÚNICA MASSA DE AR é, na verdade, muitas e muitas nuvens passageiras. Foi preciso 30 segundos para conseguir
esse efeito, que você pode ir testanto de 10 em 10 segundos e observando como o borrão vai se formando. Verá que as características vão
mudando, por isso é preciso praticar. A primeira imagem é a original, como foi captada pela máquina na exposição indicada na página. A
segunda imagem foi a imagem escolhida para ilustrar esse texto: Note que eu “puxei” as sombras (o que clareou bem a cena) e acrescentei
um pouco de preto para amenizar o ruído característico desse tipo de composição. Já a última imagem traz uma exposição igual à original,
mas com o balanço de branco em 4760K, o que resultou em uma fotografia mais quente.

Se você tiver a opção de ajustar a temperatura KELVIN (balanço de branco), faça esses testes e domine os acionamentos ma-
nuais da câmera. A grande vantagem disso é saber EXATAMENTE como seu equipamento funciona e aplicar no momento oportuno o efeito
que você quiser!
Meu rosto em contra-luz

10 de abr. de 2013, 18h57,59’’’’


Ah, o outono! Outra estação mais amarelada não notar o tempo voando. Sempre que paro nessas
há! Basta ver qualquer pôr-do-sol que será pos- horas, fico apreensivo. Especialmente quando vou
sível ver um cinturão mais avermelhado em todo fazer alguns cliques. É que o Sol cai muito depressa
o horizonte. Apesar da beleza estética, isso não mesmo. Pare qualquer dia um pouco antes daquele
é bom para pessoas com problemas respiratórios, momento que demos o nome de pôr-do-sol e note
que sofrem um pouco com o tempo seco. Em virtu- o quão pouco tempo ele demora para se aproximar
de desse tempo, há mais particulas em suspensão do horizonte e descer por completo. O tempo é
no ar e isso é um dos fatores desses fins de tarde rápido demais...
amarelados magníficos e dos românticos contor-
nos de luz nos rostos em contra-luz. A partir dessa percepção, note que as cores ficam
mais quentes. Mas não são só as cores que conse-
No dia a dia e sua correria até momentos antes guimos esquentar: também é um momento de co-
do pôr-do-sol raramente paramos para pensar e locar cabeça e coração no mesmo lugar e deixá-los
observar a natureza. Mas é justamente nesses mi- um equilibrar a temperatura do outro.
nutos que precedem o fim de tarde que podemos

1/125”, F13, ISO200, WB Auto, 80-200mm em 125mm

A técnica aplicada
Flare nada mais é que um reflexo na lente, ou melhor, nas lentes, uma vez que até mesmo as máquinas
mais simples podem contar com vários conjuntos de vidro ou cristal na constituição da sua objetiva. Há ainda
algumas peculiariedades como o reflexo ser uma luz que não refrata, mas aí o assunto se aprofunda demais e
meu objetivo nesse ebook é falar de forma mais geral sobre captura digital.

Foi com base nesse sol direto que me lembrei em produzir uma imagem com bastante flare. Eu particular-
mente sempre busco esse efeito, conseguido com qualquer fonte de luz. Em show também é possível conseguir
um bom efeito e até mesmo com flash dedicados. Sempre são lindos!

AS IMAGENS AO LADO MOSTRAM O REALCE DO EFEITO DE FLARE na edição. Aumentando um pouco o contraste
da imagem, ganhei certa definição nos contornos dos raios que refletiram nas lentes. Note ainda um acréscimo
do efeito estrelado na fonte de luz, ou seja, no Sol, também decorrente da abertura pequena da lente em F13.
Com um pouco de prática e treino é possível ir combinando os efeitos conseguidos com os diferentes tipos de
lentes e suas configurações.
Voar, voar, subir, subir

15 de abr. de 2013, 07h39,49’’


Todo entardecer era uma maravilha, um show Os pássaros sempre foram um espet´áculo à parte.
particular apresentado para quem olhasse por Do começo do dia, quando me acordavam com
aquela janela. Mas sempre foi preciso ter olhos seus cantos e iam procurar comida, ao fim do dia,
para enxergar isso, já que a vida em si nem sempre quando passavam longe, voando serenamente
nos dá motivo apenas para celebrar. Ver o belo voltando para casa, sempre me fizeram buscar
não é exercício de tristeza. Ver e enxergar, para analogias para encarar meu dia a dia. Foi fácil com
nós, são coisas distintas. Ver, ato natural; enxer- esses exemplos aprender sobre a necessidade da
gar, ato treinado, trabalhado, cultural. rotina para nossa sobrevivência, da ousadia do
voo para ver as coisas de outro ângulo, da cole-
Nos três anos que fiquei naquele apartamento tividade para fortalecer indivíduos tão delicados.
pude observar as variáveis da natureza, seja da
fauna, seja da flora. E sempre foi tão belo, mesmo E os exemplos não param. Busquei ao longo desse
quando o pasto pegou fogo, mesmo quando a tempo apenas guardar algumas lembranças de um
árvore caiu: o primeiro dos dois se reergueu, ficou lugar bacana para se viver. Não sabia que juntava
verdinho novamente; já o segundo deles perma- saudades.
nece lá, caido mas não foi cortado, e segue na 1/800”, F2.8, ISO250, WB Manual 5000K, 80-200mm em 200mm
sua luta pela sobrevivência.

A técnica aplicada
DUAS COISAS ME COMPROVAM QUE ESSES PÁSSAROS ACABARAM DE ACORDAR. A primeira delas e a mais lógica é a
leitura no EXIF do arquivo fotográfico. Uma combinação de zeros e uns que formam o arquivo digital. A segunda delas,
e para mim a mais gostosa, é saber que a represa municipal, local de descanso desses pássaros, estava à direita da
imagem, ou seja: no sentido oposto desse voo.

TODOS OS DIAS OS PÁSSAROS saíam da represa alçando voo para esse mesmo lado e somente no final da tarde re-
tornavam em direção oposta. Assim, se na imagem eles estivessem virados para a direita eu saberia - se estivesse do
ponto-de-vista em que eu estava - que eles estavam retornando para seus ninhos.

PORQUE ENTÃO EU GIREI HORIZONTALMENTE A IMAGEM NA PÁGINA ANTERIOR? Temos nosso sentido de leitura constru-
ído da esquerda para a direita, o que me fez optar por uma construção que acompanhasse esse sentido, o qual estamos
acostumados. Isso foi possível pois não há - nessa imagem - compromisso com questões espaciais e/ou geográficas.
Caso houvesse, eu manteria a direção do voo original. A ligeira inclinação das aves é para reforçar o sentido de alçar
voo, ou seja, subir aos céus. Ainda reforcei a saturação do azul, uma vez que a grande abertura da lente não privilegia a
saturação nesse caso. Realizei uma edição diferente da imagem das maritacas, nas quais retirei totalmente a saturação
do azul para construir um céu nublado ou cinza em pleno dia azul.
Estrelas em velocidade de dobra

17 de abr. de 2013, 04h32,33’’


Quem se lembra que nosso planetinha, ponto ia tomando minha taça. Poderia dizer que para
azul visto do espaço, é quem gira ao redor do cada risco visto na imagem eu já abri uma garrafa,
Sol? Quanto tempo gastamos olhando para o céu tantas foram. Mas bonito mesmo é olhar para esse
procurando estrelas cadentes, luzes piscando ou mesmo céu lá do meu interior, da minha cidade
qualquer outra coisa que nos chame a atenção natal. Pequena, não há tantas luzes como para cá,
ou que nos ocupe o tempo necessário dessa nessa rica região, cuja abundância tem se medido
contemplação? Calculando bem... é pouco, não? pelo progresso e pela extensão urbana.

Eu passo bastante. Pelo menos aponto minhas Há um observatório em Rio Preto. Nele, durante
lentes bastante para o céu. Olhando esses efeitos as seções de projeção, é simulada a retirada da
que a longa dá, me lembro dos filmes “Jornada claridade no céu gerada pelas luzes terrestres.
nas Estrelas”, cuja velocidade em dobra fazia todo O efeito visto é magnífico e nos deixa sem saber
o “parabrisa” da nave interestelar Enterprise se como mensurar o que é sabido: os olhos não
encher desses riscos. acreditam no que a ciência nos mostra. Mas basta
pouco tempo para perceber o quão impossível
Sempre que conseguia tempo para fazer essas seria abrir uma garra para cada estrela.
863’’, F14, ISO200, WB Auto, 18-105mm em 18mm
imagens eu abria um vinho razoável e aos poucos

A técnica aplicada
Por um longo tempo fui relutante em relação às grandes alterações em uma imagem que a tecnologia digital
oferece. Mas ainda bem que o tempo passa, como já falamos. Hoje eu não torço mais o nariz quando vejo uma imagem
alterada em sua essência ou com grande manipulação, desde que seja objetiva sua alteração, ou seja, desde que seja de
rápida compreensão. Permiti-me até acrescentar duas estrelinhas na edição, para reforçar a composição.

ESSA IMAGEM TEM 863’’ DE EXPOSIÇÃO, OU QUASE 14 MINUTOS. Fiz contrariando TODOS os conselhos que os entusiastas
da imagem digital deram nos fóruns e sites que pesquisei. Na verdade, não foi difícil. A opinião deles era praticamente
unânime: compre um controle remoto da câmera para conseguir exposição com mais de 30’’. Alguns outros diziam para
comprar cabo disparador, enfim.

NOVAMENTE VOLTEI MINHA PROCURA NAS BASES DO ANALÓGICO e lembrei de uma tecnologia essencial para rebobinar
os filmes antigamente: a fita crepe. Juntávamos as bobinas de filme e a película com durex ou com fita crepe, que fazia a
pressão necessária para puxar o filme. Juntando um mais um, vi que seria possível fazer a fita crepe segurar o botão de
disparo apertado pelo tempo que eu quissesse. E deu certo para acionar e manter o botão pressionado. Agora... como
eu interrompia o processo sem mexer na câmera? Conto no próximo ebook!
Ele sabe passar

03 de mai. de 2013, 18h43

15 de mar. de 2013, 17h07,26’’


Diversas músicas nos lembram da relação tempo e ima-
gem, tempo e fotografia. E uma de minhas preferidas
diz: “Eu bebo um pouquinho para ter argumento, mas
fico sem jeito, calado e ele ri. Ele zomba do quanto
eu chorei porque sabe passar e eu não sei”. Na voz
de Nana Caymmi, é a canção perfeita para representar
esse fato imutável.

E foi ouvindo ela que decidi fazer a minha representa-


ção sobre a passagem do tempo. Aproveitar o tempo,
curtir a vida, ganhou outro status nos dias de hoje.
Antigamente - bem antigamente - era uma questão de
sobrevivência e a expectativa de vida era mais curta.
Eu penso que aproveitar o tempo é saber viver e viver
bem, é usá-lo para fazer planos, traçar e cumprir metas
a médio e longo prazo, é viver o hoje pensando no
amanhã. É o extremo oposto da captação digital ou da
fotografia tradicional: as vemos para fazer uma ligação
com o passado, que é revivido novamente no instante
presente ao olhar um retrato.
Nas três imagens: 1/320”, F7.1, ISO200, WB Auto, 18-105mm em 38mm
O que fazemos - e talvez tudo o que podemos fazer - é
direcionar nossas ações buscando alcançar o resulta-
do delas. É entender as consequências como o fruto A técnica aplicada
construtor da nossa vida. Esse mesmo processo é o
movimento necessário para se compor um bom regis- ESSAS TRÊS IMAGENS ESTÃO EM SUA CAPTAÇÃO ORIGINAL, sem quaisquer efeitos ou alterações em programas de edição de
imagem. Elas não tem objetivo nenhum além de ser mero registro da passagem de tempo. Entre cada uma dessas imagens há um
tro. É claro que, vez ou outra, conseguimos um clique
intervalo de tempo de exatos 8 segundos. Mas ainda são imagens da minha janela lateral.
magnífico que faz parecer até que tudo conspirou a
nosso favor. E provavelmente conspirou mesmo. DO LADO DA PAREDE DE MINHA SALA HAVIA ESSE ESPELHO de energia. Já havia observado como o Sol projetava suas luzes e essas
paravam na estrutura da janela, formando essas sombras. Certo dia decidi registrar e configurei o equipamento uma única vez,
queria ver a alteração na temperatura de cor, na dureza da luz e na direção que ele projetaria sua sombra. Pare por um tempinho
e observe o efeito do pôr-do sol e a rapidez com que ele se vai. Não precisa olhar diretamente para ele. Olhe para sua sombra. Se
há luz, há sombra. Quando um vem o outro vai.

Essa percepção está mais visualmente identificada nos limites do espelho; note que, com o anoitecer, a sombra vai sendo
projetada para cima e começa a tocar no canto inferior ao mesmo instante em que toda a lateral da direita vai saindo da sombra. Oito
segundos para tão pouca mudança. Eu ensinei meus olhos a observar esse movimento e a perceber o vagaroso passar do tempo.
Sobre still, técnicas e ruídos

06 de mai. de 2013, 02h,35,39’’


O que uma pessoa pode fazer quando não tem o e sumindo. São extremos. Certa noite eu decidi
que registrar? Faltam festas, porês-do-sol bonitos, perder o medo do ruído e levar meu equipamento
chuvas, frio, pássaros, falta tudo. Em situações ao extremo para saber das características que
assim vale o exemplo de Nan Godin, que fotogra- meu sensor poderia me dar.
fava aquilo que tinha vontade, não importando a
luz disponível. Em momentos assim, de curiosidade, que apren-
demos mais. Tem sido assim para mim: toda
Certa vez estava no apartamento assistindo a dificuldade ultrapassada é uma facilidade acu-
outro passar das estrelas. Logo no início da noite mulada. Quando passar novamente por aquela
observei aquele brilho mais forte se pôr. Não, ele situação, creio que verei de outra forma, com uma
não é estrela, é Vênus, o planeta, o primeiro brilho postura do tipo - “ah... já passei por isso”. Isso é
que aparece e um dos primeiros que desce ao experiência, vivenciar. Simplesmente apertar bo-
horizonte na região onde moro. Já com a hora tão não é muito mais do que calejar o dedo.
mais avançada, outras formações vão aparecendo

2,5’’, F22, ISO6400, WB Auto, 80-200mm em 200mm

A técnica aplicada
AS DUAS IMAGENS GRANDES AO LADO também não tem edição. São os arquivos
originais. O aparente efeito que a imagem tem é decorrência apenas das escolhas
técnicas e truques fotográficos que revelo agora. A única diferença entre as duas
é o fundo iluminado. Ambas foram tiradas sobre uma mesa, refletindo a luz que
entrava pela janela, uma mistura de luz de luar e de lâmpada incandescente. O que
gerava a sombra era a borda da janela. Conforma a abria ou fechava, ela deixava
passar mais ou menos luz.

USEI O MÁXIMO ISO, A MENOR ABERTURA E MÁXIMA DISTÂNCIA FOCAL, tudo


objetivando buscar seus efeitos: Do ISO, o ruído; da abertura, o efeito de difração,
que se assemelha a uma perda de nitidez; da distância focal o reforço no acha-
tamento dos planos da imagem, uma vez que os elementos estão distantes entre
si na profundidade.

JÁ O TOM AMARELADO FOI CONSEGUIDO com uma técnica muito simples: a colo-
cação de uma meia calça feminina esticada cobrindo a lente. A imagem menor é
apenas um recorte ampliado para demonstrar em maior escala o efeito que o ruído
apresentou. Belíssimo quando acompanhado da meia calça.
Quantos pores-do-sol você viu hoje?

08 de mai. 2013, 18h49,23’’


“Muito tempo não tivesse outra distração que a vezes. Nesse dia, já organizando minhas coisas,
doçura do pôr-do-sol. Aprendi esse novo detalhe empacotando-as para minha mudança, eu cliquei
quando me disseste, na manhã do quarto dia: 177 vezes. Comecei às 18h05,34’’ e fiz meu último
‘Gosto muito de pôr-do-sol. Vamos ver um?’. clique às 18h51,40’’.
‘Mas é preciso esperar’.
‘Esperar o que?’. Fiz uma tomada de flare, enquadrei terços ver-
‘Que o Sol se ponha’ (...). ticais, horizontais e com inclinações, peguei o
‘Um dia eu vi o Sol se pôr quarenta e três vezes. Sol ainda sobre meu pinheiro e até depois de se
(...) Quando a gente está triste demais, gosta do pôr. Fiz, ainda, imagens de silhueta (como essa),
pôr-do-sol’. clareei os prédios e demais elementos do primeiro
‘Estava tão triste assim no dia dos quarenta e plano perdendo toda e qualquer referência de
três?’. Mas o princepezinho não respondeu”. que ali havia um Sol... Eu não veria mais quarenta
e três vezes aquele fim de tarde, então busquei
Essa passagem do livro de Saint-Exupéry sem- guardá-lo em tantas diferenciações fossem pos-
pre me encantou pela possibilidade de num dia síveis.
eu fazer imagens do pôr-do-sol quarenta e três 1/1600”, F9, ISO200, WB Manual 4350K, 80-200mm em 200mm

A técnica aplicada
TIVE TEMPO PARA PENSAR E APLICAR DIVERSAS TÉCNICAS NESSE DIA. Mas como gostaria de apresentar uma diversidade
de imagens nesse ebook, trouxe essa silhueta como exemplo, embora não seja a imagem que mais gostei desse dia. De
todos os quarenta e três pores-do-sol possíveis, precisava escolher apenas um.

FOTOGRAFIAS DE SILHUETAS TEM, COMO PRINCÍPIO BÁSICO, uma forte iluminação em contra-luz. É graças a essa luz que
conseguimos escurecer totalmente os elementos entre a máquina fotográfia e a fonte de luz em questão. Nessa imagem
trabalhei apenas com a luz do Sol, a mais forte fonte de iluminação que existe em nosso sistema solar.

EM RELAÇÃO A COMPOSIÇÃO, todas as minhas tomadas horizontais não me agradaram a posteriori. Escolhi essa, pois
foi possível editar e realocar o Sol no cruzamento dos terços inferior horizontal e posterior vertical. Mas me incomoda
a presença de outro elemento no terço anterior. Mesmo assim, creio que um pouco menos de árvore na imagem trouxe
um pouco mas de harmonia estética. Na edição, eu acrescentei um pouco de preto para reforçar as silhuetas e aumentei
ainda mais a temperatura de cor para 5350K , o que esquentou um pouco a imagem.
Hora da Ave-Maria

11 de mai. de 2013, 18h42,22’’

15 de mar. de 2013, 17h07,26’’


Quando adolescente, rezava a Ave Maria todos os dias
às 18h, acompanhando o alto-falante instalado na torre
da igreja da minha pequena cidade. Tão pequena que
toda a cidade ouvia a transmissão. O fim de tarde,
desde cedo, se tornou um momento de transição e de
reflexão cotidiana. Tenho nesses momentos de fim de
tarde uma oração silenciosa, de contemplação. Não há
como passar um fim de dia sem me sentir obrigado a
olhar e ver, e a levar meus olhos para tamanha beleza
dos céus.

Tenho apenas dois autorretratos dessa janela lateral: o


primeiro feito é o que encerra esse ebook, em preto e
branco. A fotografia foi tirado com uma Yashica Mat 124
G, filme 120mm Across que eu mesmo revelei, ampliei e
escaneei; já o segundo que consegui satisfatoriamente
é a imagem ao lado, digital.

O exemplo que trago nessa página foi registrado nos 1/200”, F18, ISO200, WB Auto, 80-200mm em
idos de 11 de maio, a quase 30 dias para meu casamen- 86mm, Flash SB900, Timer 10’’
to. A partir dali as coisas ficaram corridas para mim,
trabalhando na assistência da organização técnica do A técnica aplicada
Festival de Teatro de Rio Preto, ministrando as últimas
avaliações do semestre, organizando as últimas coi- Esse exemplo vale pela utilização do flash, recurso que até então eu pando a imagem para que nenhum elemento dispersasse a atenção do leitor
sas para receber os parentes e amigos de fora. Mas não havia utilizado nesse ebook. O mais importante é entender a resposta (compare as imagens e observe as diferenças).
eu queria esse registro. Faltava eu, o pôr-do-sol e o do seu equipamento com diferentes fontes de luz, com consequentes tem-
peraturas Kelvin diferentes. Já vi profissionais utilizarem cinco fontes de luz AS TRÊS IMAGENS REPRESENTAM MINHA SISTEMATIZAÇÃO PARA CONSEGUIR
pinheirinho juntos em uma mesma composição. Queria
diferentes ao mesmo tempo: flash dedicado, flash de estúdio, luz fluorescente UMA IMAGEM HARMONIOSA. A primeira foi meu primeiro registro. A partir
guardar uma imagem assim. dele me guiei para adequar a luz ao contexto em que eu estava. Para isso
e iluminação específica para estúdio de TV. Cada uma dessas luzes tem suas
próprias características e a máquina, por mais moderna que seja, vai enlou- adicionei um filtro de cor na frente do flash para esquentar sua temperatura
quecer na hora de priorizar um balanço de brando adequado. O resultado? apreendida. O resultado harmonioso somente foi possível porque foram
Creio que horas de edição em computador e um resultado pouco natural. respeitadas as características das diferentes luzes: do SB900 e do próprio
Sol. A temperatura do flash é balanciada para 5500K, próximo ao valor da luz
PROCURE USAR SEMPRE UMA OU DUAS FONTES DIFERENTES DE LUZ, como do meio dia, é branca. Já o pôr-do-sol está em 3100K e tem uma luz mais
nesse meu auto-retrato. A última imagem acima tem na edição um aumento alaranjada. Logo, era preciso equilibrar isso, priorizando uma fonte de luz e
na exposição e na claridade, com uma leve correção de ruído e da saturação. sua temperatura e adequando as outras fontes. Poderia ser feito via edição
Retirei alguns fios de cabelo que me incomodavam, um pedaço da blusa na no computador? Sim, claro. Mas eu não gosto de computadores tanto assim.
minha bochecha esquerda e alguns reflexos do flash na taça de vinho, lim-
Sem ela eu não vivo

11 de mai. de 2013, 19h54,26’’


Eu já estava morando praticamente em dois lugares: ainda no antigo
apartamento e já no novo, mas ainda não mobiliado. Meus móveis es-
tavam distribuidos meio a meio: havia apenas um sofá e um colchão no
novo, enquanto no velho havia geladeira e fogão. Às vezes a escolha era
ter água gelada para beber ou dormir confortavelmente.

Nesse período eu andei com meu equipamento todos os dias. Além de


toda a movimentação entre esses dois locais eu ainda trabalhava na
realização de um evento de grande porte na cidade, o que também me
rendeu boas fotos. Pessoalmente, me dividia entre algumas obrigações
profissionais e algumas urgência pessoais. Mas aos poucos tudo foi se
encaixando.

Sei que numa dessas passagens entre um apartamento e outro foi


possível esse registro. Já era noite, mas o registro do horizonte ainda
avermelhado, com uma longa exposição, saiu. De onde eu estava ainda
era possível colocar a Lua do outro lado da árvore, bastava eu me mover
para a janela da cozinha, dois metros ao lado eram o suficiente para
alterar o ponto-de-vista. Notei que nessa ocasião especial a Lua fazia
um pequeno aro luminoso, mas sua parte escura também era visível. Ela
estava diferente e linda. Ela estava de mudança.

A técnica aplicada 4’’, F3.5, ISO200, WB Manual 4550K, 80-200mm em 200mm

FOI BACANA ESSE REGISTRO, POIS PUDE APLICAR um recurso comumente utilizado, que é gerar uma imagem da NOVAMENTE ALTEREI A TEMPERATURA KELVIN da imagem geral para um tom mais frio, induzindo a assi-
Lua e aumentar seu tamanho no programa de edição para que ela se pareça maior do que realmente estava a milação de uma imagem realizada de noite. Essa percepção de tempo é válida na medida em que a longa
olho nu. E é simples: recortei -a cerca de dois pixels para dentro da sua margem e depois a ampliei ligeiramente. exposição esquentou demasiadamente a cidade e se não fosse por ela não seria possível a imagem ser
O efeito é esse. Há alguns exageros nesse tipo de composição, mas eu prefiro um meio termo nesses casos. coerente com meu registro; em Rio Preto, às 19h, praticamente já está de noite nessa época do ano. Creio
que uma falha minha na escolha do balanço de branco correto para a exposição reforçou ainda mais essa
OUTRAS MANIPULAÇÕES FORAM NECESSÁRIAS, como eliminar os pontos verdes e vermelhos que se formaram coloração. Mas o saber entre essas relações permite ao bom observador refletir sobre sua atividade e buscar
no céu e são apenas reflexos das luzes da cidade nos vidros da minha lente: também são flare, mas por não alternativas para uma composição adequada e eventuais correções posteriores via software.
atuarem a favor da imagem eles se transformam no tipo indesejado.
30’’, F16, ISO6400, WB Manual, 50mm fixa

Um taxi para a estação lunar

27 de mai. de 2013, 2h40,15’’


É estranho olhar e não ver. Também acho estranho olhar e a segunda são as mesmas, original e editada, respectivamente.
ver coisas que não existem. Confesso que essas duas coisas A última imagem ao lado foi tirada cerca de 15 minutos depois
me perturbam e, na essência da fotografia, um sentido irreal da primeira, com uma única alteração: a abertura da lente: na
pode muito bem ser construido. A fotografia, por muito tempo, primeira imagem, propositalmente subexposta, em F16; a última
se prestou também a isso, a revelar aquilo que não existe, a com F5.6. Dado ao ISO elevado, sequer precisou abrir muito
mostrar um sentido que sequer tem relação com a verdade. E a “50tinha” F1.8 (como é carinhosamente apelidada a lente
já há algum tempo a imagem digital herdou tal peculiaridade. 50mm fixa).
Diga uma mentira várias vezes e ela passa a ser verdade. Isso
me preocupa quando falo sobre fotografia pois muitas vezes eu Sobre o olhar e não ver ou ver coisas que não existem: no coti-
parto da minha experiência para compartilhar o pouco que pude diano ainda tenho essa dificuldade. Mentiras, ironias, falsidades,
aprender até agora, e fico com certo receio de que as minhas nem sempre consigo apreendê-las como eu gostaria. Faço des-
impressões gerem uma relação refutável. se fato uma analogia com a imagem: veja os exemplos ao lado.
Em decorrência da longa exposição e das características do
Nossas experiências não são verdades absolutas, a ciência vem meu registro, na última imagem vemos tanta luz que não vemos
nos provando isso há séculos e séculos. Não cabe aqui falar sombra, e uma não existe sem a outra para os nossos olhos. Na
sobre o que é a verdade, mas trago dois exemplos de verdades imagem acima, tirada de madrugada, a luz refletida pelo nosso
absolutas que tenho a partir da minha experiência: as duas fotos satélite era tanta que fazia sombra, mas não o suficiente a ponto
ao lado, que ilustram o que eu quero dizer. A primeira imagem e de revelar sua ausência.

A técnica aplicada
A primeira imagem é a tomada original subexposta de forma proposital. Ao fotografar com o ISO tão elevado (máximo da minha
câmera), a lente muito fechada e uma velocidade baixíssima de obturador, eu procurei forçar o ruído e o efeito de difração (pequeno
desvio da luz ao passar pela íris) para conseguir uma imagem diferente. A ideia era uma imagem de sombras projetadas pela luz da Lua
sem ser uma mesmice, conseguida na segunda imagem com a adição de um pouco de claridade, contraste e nitidez.

A TERCEIRA IMAGEM ESTÁ ORIGINAL, SEM QUALQUER EDIÇÃO. A única diferença técnica é que a fiz com uma abertura bem maior do
que a primeira, deixando passar mais luz. Entretanto, o efeito gerado foi a falta de sombras, preenchidas pela iluminação constante e
pelo próprio reflexo da luz em outras partes da mesma cena. É uma imagem enigmática, pois não há sombra, mas há diferentes tipos de
fontes de luz. A primeira fonte é a luz da Lua; já a segunda vem dos postes da rua. Note uma parte na lateral esquerda mais alaranjada
que as demais partes. Essa luz vem diretamente dos postes, e tem uma luz mais quente. A grama seca e o pouco pedaço de terra ao
fundo também recebiam sombras, suavizadas pela constante iluminação e pela longa exposição. É uma cena que não conseguimos
enxergar com os olhos, mas o equipamento pode ver. É uma cena que não existe. Não?
Árvores de vivas cores

08 de jun. de 2013, 18h41,47’’


Acompanhando minha mudança de janelas, resolvi dar ao penúltimo
fim de tarde um ar diferente. A constante relutância em trabalhar com
programas editores de imagens bem que poderia ser o equivalente a
mudar de apartamento: às vezes difícil, mas necessário. Confesso que
já sinto falta da minha antiga vista, mas não sinto falta daquela pouca
flexibilidade em trabalhar nas edições que fazia.

Nas publicações impressas, cada tipo de papel pede um determinado


tipo de tratamento das imagens, uma vez que há algumas caracterís-
ticas especificas. Exemplo disso é o papel jornal, que absorve muito
a tinta e oculta boa parte do ruído das imagens cujo efeito é mais
evidente. Porém, algumas impressões pedem um tipo de tratamento
diferenciado para sua melhor visualização, com menos magenta, mais
brilho, enfim, por aí vai.

Ultimamente tenho pensado sobre o óbvio: que os monitores atuais


também pedem tratamento diferenciado para a apresentação das
imagens nos mais diversos tipos de LCD, LED, OLED. Com essa ques-
tão em mente, tenho abusado um pouco mais na saturação das cores
e nos contrastes já na configuração da própria câmera.

Acho que boa parte das pessoas que gostam de dar seus cliques tem
uma linda imagem na câmera que, depois de passada para o com-
putador ou impressa, perdeu a graça. Ou então um apartamento que
tinha uma bela vista...

1/1250”, F8, ISO400, WB Manual 4760K, 80-200mm em 170mm


A técnica aplicada
APESAR DAS CONFIGURAÇÕES DIGITAIS existentes nos equipamentos mais modernos, com um quase estouro dos pontos mais claros próximos ao sol. Essa pequena alteração
eu não as alterei para a tomada dessa imagem. O modo de exposição da câmera não aumentou a saturação normal da imagem e me forçou a reduzir um pouco o valor geral
tinha nenhum aumento de contraste, brilho, saturação ou nitidez, nada. Mesmo assim, da saturação da imagem. Creio que permaneci no limite. Confesso que esse tipo de
a coloração nesse dia estava absurda, conforme mostra a imagem sem edição. edição ainda me causa certo estranhamento. Mas é um teste com esse tipo de mudança
que faço e uma opinião dos leitores seria um ótimo feedback!
MESMO ASSIM AUMENTEI OS VALORES ORIGINAIS acrescentando mais claridade e
branco na imagens, o que resultou em um ganho nos pontos mais claros das nuvens,
O fim da mudança

09 de jun. de 2013, 18h46,43’’


O dia 09 de junho foi o último dia em que cliquei Não são esses pixels que me causam tal saudade,
daquela janela lateral. Não tive minhas melhores mas o fato de eu ter sido testemunha de tantas
imagens, não era um dos dias mais bonitos, mas coisas lindas e vivido tantas coisas boas naquele
fiz um registro pensando na minha última relação lugar. E venho para esse novo espaço com a
com aquele espaço, minha última relação com expectativa de encontrar uma nova janela dessa,
aquele lugar. seja para fora, seja para a alma.

Essa vista simples mostra a visão que ficou limpa Essa mudança nada mais é que um recorte den-
com a queda da árvore (que deu visada para o tro de um espaço de tempo no qual eu mesmo
pinheirinho visto ao fundo, à esquerda), os pré- determinei: 2011 a 2013. Findado tal tempo, eu
dios novos construídos ao redor daquele primeiro pude reestabelecer a conexão entra essas datas,
(canto direito), e os galhos típicos do inverno. A podendo datar um começo, meio e fim. Todo esse
minha ação fotográfica me deu mais uns 30 minu- material agrupado tornou-se o resultado da minha
tos ali, olhando a vista. relação com o tempo presente, registrado graças
a uma tecnologia qualquer que o homem pôde
O fim desse processo de mudança - dentro dessa criar. Esse tempo é, na verdade, minha relação
1/250”, F13, ISO1600, WB Auto, 18-105mm em 18mm
dilatação do espaço de três anos - me remete aos com o tempo: o tempo que vivo nesse instante,
instantes ali parado, de introspecção. Esses mo- olhando esses pássaros tão belos dessa minha
mentos têm voltado em meus sonhos, e me pego nova janela.
em plena janela construindo minhas imagens.

A técnica aplicada
ENTRE AS OBJETIVAS QUE PRECISO está a olho de peixe, que produz um efeito tipo bolha
na imagem, distorcendo as linhas e formas. Sei que a usarei em poucas ocasiões, mas ela
reforça algumas sensações que eu gostaria de passar em minhas imagens profissionais.

ESSE EXEMPLO TRAZ O QUE SÃO AS DISTORÇÕES DAS FORMAS. Os elementos (o pinheiro,
prédio e a árvore) são reconhecidos pelas suas formas e não pelas suas cores, por exemplo,
mesmo estando levemente distorcidos. Esse efeito que simula uma lente grande angular
com distância focal abaixo de 15mm, caracterizando uma olho de peixe, foi feito no programa
de edição. Nesta, aumentei o preto para caracterizar o efeito da silhueta e retirei boa parte
das sombras existente. E pela última vez daquela janela não me preocupei com o ruído
causado pela tecnologia que utilizo para captar algumas imagens.
da janela lateral
santiago garcia

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