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A primeira palestra do Professor José Antônio Frias tratou dos métodos de coleta
e análise de dados em ambientes digitais, os quais podem ser adequados à pesquisa
quantitativa devido a uma visão estatística no seu processo de coleta, síntese e análise. O
Professor Frias salientou a amplitude provável da capacidade das tecnologias atuais de
registro de dados que transitam pela internet atualmente, e a facilidade com qual esses
dados podem ser recuperados, inclusive, para fomentar pesquisas diversas a respeito do
comportamento das pessoas para com os dados, bem como a precisão de sua recuperação.
Inicialmente, o Professor Frias apresentou diversos aspectos que podem ser
medidos na análise das ações dos usuários da internet como: tempo de conexão e resposta,
persistência do usuário, buscas com satisfação e também com resultados sem registro
algum recuperado, ruído informativo, mas especialmente, os aspectos que compõem um
perfil de comportamento dos usuários nos ambientes digitais, entre outros.
Em seguida, o Professor Frias abordou as iniciativas que propõem livre acesso a
dados padronizados registrados nesses ambientes digitais para que sejam posteriormente
analisados, com objetivos diversos dentre eles: a disponibilização dos dados, em formato
padrão, produzidos pelo setor público para que sejam reutilizados; bem como a
disponibilização do acesso livre a tais dados com vistas a promover a construção de
cidadania através da publicidade da informação pública. Tais iniciativas são a RISP
(Reutilización de la Información del Sector Público), e Open data que trata do direito de
acesso aos dados, respectivamente associadas aos objetivos descritos anteriormente.
Na sequência, fora apresentado o conceito de Data set, o qual que remete ao
agrupamento dos dados em blocos indexados e classificados para facilitar sua recuperação,
sob os critérios de afinidade em sua descrição, frequência de sua utilização, formato e
licença de usos entre outros. Para que tais dados sejam agrupados e disponibilizados foram
apresentados alguns formatos de padrões de dados para esses ambientes digitais, a
exemplo de XML (Extended Markup Language), RDF (Resource Description Framework),
entre outros. A partir das iniciativas de acesso livre aos dados na Internet, o Professor Frias
apresentou um breve histórico da Informação pública, bem como dados abertos da
Comissão Europeia, as conjunturas que regulamentam o registro, acesso e recuperação dos
dados e um panorama da eclosão e impacto de tais políticas de informação no mundo.
No entanto, cabe ressaltar que a informação pública pode e deve ser utilizada
com diversas finalidades, haja vista o fato de que tem sido utilizada tanto para delimitar um
perfil de usuários de informação com vistas ao consumo, como enquanto meio de
“empoderamento” cidadão, entretanto, em vários países subdesenvolvidos não foram
apontados no mapa do Professor Frias como países que adotaram as políticas de
informação pública, demonstrando a pertinência das mesmas para o desenvolvimento
econômico, social, tecnológico, e político desses países.
Todavia, é possível inferir que foram enumerados argumentos sobre a
importância da Informação pública, tais como: as oportunidades de negócio e de expansão
do mercado, o fomento ao desenvolvimento de políticas públicas que promovem cidadania
através da transparência da informação, participação cidadã, e eficiência administrativa;
melhoria dos sistemas de Saúde; fomento ao avanço da Ciência e tecnologia, bem como
dos sistemas de aprendizagem; e finalmente, a fluidez na comunicação em todas as esferas
de governança. Entretanto, não foram apresentados os caminhos percorridos para se
construir e avançar na defesa de políticas de informação pública para os países menos
abastados, embora tenha apresentado uma cronologia para tal processo na Espanha, mas
ainda há uma lacuna sobre quem foram os precursores na defesa pela abertura de acesso
aos dados e através de quais processos os espanhóis alcançam avanços desta natureza na
esfera política.
Para finalizar a primeira parte, o Professor Frias apresentou o Big data, ou
volume massivo de dados estruturados e não estruturados, os quais ainda não são
armazenados e processados pelas tecnologias de que dispõem os países da União
Europeia; tratou de sua definição e de uma visão panorâmica das informações que se tem
acerca dos armazenamento e tráfego de dados na internet, e fundamentalmente quais
dados podem ser medidos e sua finalidade. O Big data Big Data pareceu numa visão mais
superficial estar voltado mais para sínteses estatísticas que nos levam a compreender e
prever os fenômenos do que explicar porque e como eles se dão, daí compreende-se a
adequação desses tipos de técnicas à pesquisa qualitativa. Ao final desta parte da
apresentação, foram apresentados os principais motores de registro de dados, os quais têm
ampla possibilidade de fornecer dados sobre o comportamento das pessoas na internet, a
exemplo do Google (Pesquisa e tradutor), Amazon.com, Walmart, entre outros. Por fim, são
descritos os riscos, as ferramentas, a importância, a possibilidade de análise e quais tipos
de dados é possível analisar, o diferencial, os motivos que tornam o Big data tão eficiente.
Para finalizar, o Professor Frias mostrou a possibilidade de explorar as
interações virtuais como objeto de pesquisa, as quais requerem técnicas específicas, e
cujos conceitos ele chamou de Etnografia virtual ou Netnografia. Segundo o Professor Frias,
Netnografia seria um método de estudar comunidades e relações que ocorrem na rede, cujo
objetivo seria de estudar ciberculturas e comunidades virtuais e explorar diferentes aspectos
das interações sociais na rede, bem como do próprio comportamento dos pesquisadores. Tal
metodologia passaria pela identificação dos fóruns eletrônicos afins aos objetivos do estudo,
que são de ordens diversas, desde estabelecer indicadores e índices acerca da participação
de membros da comunidade virtual em fóruns específicos, até a observar-se a relação dos
perfis estruturais de participação e os padrões que resultam da análise de conteúdo, que
atentam especialmente para dissidências e confluências no que concerne a ascensão e
distribuição das pesquisas científicas.
Em suma, esta síntese apresenta a percepção da interlocutora no decorrer da
apresentação da primeira parte do ciclo de palestras do Professor Frias, a qual embora não
apresenta a metodologia mais adequada ao desenvolvimento do projeto de pesquisa por ela
proposto, ainda assim, fora de grande contribuição por ter apontado caminhos possíveis
para que os métodos das pesquisas quantitativas complementem a pesquisa qualitativa
positivamente, haja vista, os resquícios do olhar positivista sobre a pesquisa qualitativa
inclusive impondo-lhe tal complementação como requisito de validação no âmbito
internacional.
As duas últimas palestras ministradas pelo professor José Antônio Frias serão
aqui tratadas no mesmo tópico embora sejam igualmente importantes, tal como as duas
primeiras, no entanto, apresentam-se como complemento ou exemplo para a outra. Neste
sentido, no terceiro dia do ciclo de palestras foram apresentadas as peculiaridades do
sistema de formação Biblioteconomia e Ciência da Informação, e no quarto e último dia,
abordou-se alguns exemplos de suas pesquisas, sob a ótica da Ciência da Informação na
Espanha, porém, a partir de uma lente ainda mais peculiar que é o olhar do pesquisador do
Centro de Estudos da Mulher.
O Professor Frias apresentou-nos brevemente como se deu historicamente o
movimento da unificação do sistema europeu bem como as dificuldades encontradas diante
das diversas formas de conceber os cursos no campo da Documentação porque
peculiarmente na Espanha a Ciência da Informação esteve atrelada ao jornalismo, bem
como suas terminologias em cada país da União Europeia. Explicou como funciona o
sistema de Educação superior, bem como o modo como se organizam as universidades que
ofertam cursos convergentes para a Biblioteconomia e a Documentação. E explanou sobre a
saída que encontraram para conviver com as diferenças de um país para outro que foi o
sistema de valoração de créditos desde 2009, para os países da União Europeia.
Duas concepções que culminam em interdisciplinaridade foram apontadas como
abordada, a primeira, de que a Documentação deveria abarcar o que estivesse relacionado
ao documento, dai um diálogo entre Biblioteconomia e Arquivologia, e a segunda é a
possibilidade de uma formação polivalente, embora a área de Museologia não tenha ligação
direta , me termos de formação, com essas duas áreas. Entretanto, em dado momento uma
interlocutora cubana, apresentou uma situação extremamente nova, para a formação no
Brasil, quando relatou que em Cuba a formação é extremamente polivalente, de modo que o
bibliotecário permanece cinco anos estudando, mas qualifica-se para o exercício da
profissão seja em bibliotecas, arquivos ou museus, o que reafirma ainda mais a
interdisciplinaridade através de uma espécie de fusão, da qual forma-se um profissional que
é chamado de Bibliotecário. O que não se pressupõe almejado na realidade brasileira, mas
afirma uma identidade interdisciplinar entre as três Disciplinas.
Por fim, o Professor Frias Concluiu que embora as técnicas sejam distintas, as
Disciplinas ou áreas da Biblioteconomia, Museologia e Arquivologia compartilham o mesmo
princípio e confluem aos mesmos fins de prover de informação as comunidades seja quais
forem suas características e o tipo de informação, o princípio de tratamento e recuperação
da informação é comum.
Já no quarto dia do ciclo de palestras, o Professor Frias apresentou o resultado
várias pesquisas cujo aspecto comum foi conhecer o comportamento feminino e das
diferenças sexuais, bem como as relações intersubjetivas travadas no interior da
Universidade, na comunicação científica e outros. Foram apresentadas as fontes para o
estudo de gênero, a identificação da intolerância nas ferramentas de representação do
conhecimento e dos sistemas de recuperação da informação, a importância da leitura como
apropriação de informação para construção da identidade, a importância das bibliotecas
enquanto espaços simbólicos de representação para o combate a discriminação de Gênero.
O que considera-se primordial nos estudos apresentados pelo Professor Frias
neste último dia, foi a concepção que se tem da biblioteca ou dos espaços de informação e
cultura enquanto lugares de construção da identidade, de atribuição de valor e significação
de pertencimento a uma comunidade específica, e o processo de fazer uso e pensar esses
espaços como aparato de combate às discriminações de toda natureza, são e tornam-se
cada vez mais lugares de apropriação de bem simbólico para além da informação
acadêmica, utilitária, pedagógica, cultural, pois, constituem e consolidam-se como lugares
de ação política, de posicionar-se, de apropriar-se e construir uma imagem do outro, de si
mesmo e da comunidade a qual atribui sentido de pertença e de empenhar neste espaço
uma energia para o exercício da liberdade de escolhas e da cidadania para construção de
uma identidade individual que compõem uma identidade coletiva.
Desse modo, o ciclo de palestras do Professor José Antônio Frias encerra-se,
respondendo algumas perguntas, e provocando novas outras, apontando possíveis
caminhos para a construção de uma fazer científico, bem como, abordando várias
concepções sobre as metodologias de pesquisa e principalmente nos informando sobre
critérios de validação sobre os quais devemos ter clareza se queremos consolidar um
campo científico que visa transformações sociais, mas sobretudo primar pela qualidade dos
nossos processos e pela qualidade das nossas pesquisas.
REFERÊNCIAS