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PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

DIVISÃO DO CÓDIGO DO PROCESSO PENAL

Parte Geral: disposições gerais; sujeitos processuais; medidas de coação

Parte Especial: inquérito; instrução; julgamento; recursos

PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

1. Princípios atinentes à promoção processual

a. Princípio da oficialidade

O princípio da oficialidade está contido no art. 48º, que consagra a legitimidade do Ministério
Público (MP) na promoção do processo penal, devendo-se atentar às restrições constantes nos
arts. 49º a 52º (procedimentos dependentes de queixa e acusação particular).

As atribuições do MP estão previstas no art. 53º, que prevê a colaboração com o tribunal,
na descoberta da verdade e na realização do direito, obedecendo em todas as intervenções
processuais a critérios de objetividade. Assim, cabe-lhe: receber as denúncias, as queixas e as
participações e apreciar o seguimento a dar-lhes; dirigir o inquérito; deduzir a acusação, sustentá-
la efectivamente na instrução e no julgamento; ou arquivar o inquérito; impor recurso, ainda que
no exclusivo interesse da defesa; promover a execução das penas e das medidas de segurança.

Todavia, o princípio da oficialidade possui limitações, tendo esta ligação com a natureza dos
crimes. Quanto à natureza do crime: se o tipo legal nada disser, a natureza é pública; se o tipo
legal estipular a necessidade de queixa, a natureza é semi-pública; se o tipo legal estipular a
necessidade de acusação particular, o crime é particular.

 Crimes públicos: ao receber a notícia do crime (por conhecimento próprio, intermédio dos
OPC ou mediante denúncia obrigatória/facultativa), o MP promove oficiosamente o processo
penal. Não é possível desistir do processo. Ex.: Homicídio.

 Crimes semi-públicos: para que o MP promova o processo penal, é necessário que exista
uma queixa oferecida pelo ofendido. Ex.: Ofensa à integridade física. É possível desistência
da queixa (art. 51º)

 Crimes particulares: para que o MP promova o processo penal, é necessário que exista
uma queixa oferecida pelo ofendido (art. 50º/1), dedução de acusação particular e
constituição de assistente. É possível a desistência da queixa ou da acusação particular
(art. 51º). Ex.: Injúria

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b. Princípio da legalidade

Toda a atividade desenvolvida deve observância estrita aos termos da lei, não havendo lugar a
juízos de oportunidade e arbítrio. O MP está obrigado a proceder a abertura do inquérito sempre
que tenha notícia de crime (art. 48º e art. 262º/2); a deduzir acusação sempre que recolha indícios
suficientes da prática de um crime (art. 283º).

Deste princípio deriva o princípio da imutabilidade da acusação pública, segundo o qual a


acusação não pode ser retirada a partir do momento em que um tribunal foi chamado a
pronunciar-se sobre ela.

Relacionado com o princípio da legalidade, a atuação do MP pode ser fiscalizada e controlada,


através de duas vias:

 Instrução: a instrução visa a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de


arquivar o inquérito em ordem de submeter ou não a julgamento (art. 286º/1). Trata-se,
pois, de um controle judicial das suas decisões desencadeada pelo arguido/assistente (art.
287º/1).

 Intervenção hierárquica: tem lugar quando o MP profere despacho e arquivamento, sendo


sua decisão controlada não através do RAI, mas antes hierarquicamente. Assim, nos termos
do art. 278º, o imediato superior hierárquico do magistrado do MP, oficiosamente ou a
requerimento do assistente/denunciante com faculdade de se constituir assistente (que
optam por não requerer abertura de instrução), pode determinar que seja formulada
acusação ou que as investigações prossigam.

Existem certas limitações ao princípio da legalidade relacionadas com mecanismos de


desjudiciarização da justiça, tais como o arquivamento em caso de dispensa de pena (art. 280º) e
a suspensão provisória do processo (art. 281º). São mecanismos válidos para a pequena e média
criminalidade, uma vez que apesar de o MP ter recolhido indícios suficientes para deduzir
acusação, decide não levá-lo a julgamento.

c. Princípio da acusação

O princípio da acusação (art. 32º/5) é uma garantia de imparcialidade e objetividade, impondo


que a entidade que julga não é a mesma entidade que investiga. Todavia, o princípio da acusação
admite que o juiz ordene, oficiosamente ou a requerimento, a produção de todos os meios de prova
cujo conhecimento se lhes afigure necessário à descoberta da verdade e à boa decisão da causa.

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As implicações do princípio da acusação são:

 A dedução da acusação é pressuposto de toda a atividade jurisdicional. Assim, o juiz apenas


decide uma questão quando lhe for requerido pelo MP (art. 283º) ou pelo assistente (art.
285º/1).

 É a acusação que define e fixa o objeto do processo e, por consequência, os poderes de


cognição do tribunal e a extensão do caso julgado. Trata-se da vinculação temática do
tribunal, onde se consubstanciam os princípios da identidade, da unidade, indivisibilidade
e consunção (em caso de esquecimento da apreciação de determinados fatos, o trânsito em
julgado da decisão consome-os, considerando-se os mesmos conhecidos) do objeto do
processo. Assim, o objeto do processo deve manter-se mesmo, desde a acusação até ao
trânsito em julgado da sentença, de forma a manter o arguido protegido contra
alargamentos arbitrários da atividade acusatória do tribunal.

2. Princípios atinentes à prossecução ou decurso do processo

a. Princípio da investigação/verdade material

Este princípio é diretamente relacionado com matéria de provas, traduzindo no poder-dever que
incumbe ao tribunal de esclarecer os fatos sujeitos a julgamento, podendo oficiosamente ordenar
os meios de prova (para além dos oferecidos pela acusação e defesa) para a descoberta da verdade
e boa decisão da causa.

b. Princípio do contraditório (art. 32º/5, CRP; art. 327º, CPP e art. 61º/1/b, CPP)

Tal princípio constitui um princípio basilar de todo o Estado de Direito, impondo que o juiz não
pode decidir um processo sem facultar ao arguido a possibilidade de se defender. O contraditório
assume relevo em todo o processo penal, não apenas na instrução e julgamento, mas também na
fase do inquérito (apesar de ser ténue).

c. Princípio da suficiência (art. 7º, CPP)

Associado à ideia de completude, o processo penal deve ser adequado a conhecer todas as questões
cuja solução se revele necessária para a solução do caso. Assim, sendo suscitadas questões de
outra natureza (questões de direito civil, administrativo…), deverá o juiz delas conhecer, sem
necessidade de enviar para outro tribunal.

Assim, há a necessidade de as questões prejudiciais serem resolvidas dentro do processo.


Questões prejudiciais são aquelas que, embora integradas no processo penal, possuem objeto ou
natureza diferente do da questão principal do processo, sendo suscetíveis de constituírem objeto

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de um processo autónomo (resolução prévia é indispensável para se conhecer em definitivo da


questão principal). Existem dois sistemas para o tratamento das questões prejudicais não penais
em processo penal: (a) sistema de conhecimento obrigatório das questões prejudiciais; (b) sistema
da tese da devolução obrigatória.

O CPP adotou uma tese intermediária, ao estabelecer o art. 7º que “o processo penal é promovido
independentemente de qualquer ouro e nele se resolvem todas as questões que interessarem à
decisão da causa”. Há algumas exceções constantes no nº2, conferindo ao juiz a possibilidade de
suspensão do processo caso a questão prejudicial possa não ser convenientemente resolvida no
processo penal. Parte da doutrina entende que se trata de um poder-dever vinculado, pelo que
estando verificadas tais circunstâncias o juiz deve suspender a instância e enviar para o tribunal
competente; há quem entenda que é um poder discricionário (art. 400º, CPP).

Os requisitos para o envio da questão prejudicial ao tribunal competente são (art. 7º/2):

 A resolução da questão seja essencial para o conhecimento da existência do crime.

 Questão seja séria, de tal forma que não possa ser suficientemente resolvida pelo juiz penal.

 A suspensão pode ser ordenada oficiosamente pelo Tribunal ou requerida pelo MP,
assistente ou arguido após a acusação ou RAI.

 Apesar de se permitir o envio da questão ao tribunal competente, o objetivo é assegurar o


menor dano possível ao princípio da suficiência. Daí o nº4 estabelecer que o tribunal marca
o prazo da suspensão, podendo ser prorrogado até um ano se a demora na decisão não for
imputável ao assistente ou arguido. Findo o prazo da suspensão e não tendo sido resolvida,
a questão será decidida pelo tribunal penal (forma caso julgado formal). Deve haver a
intervenção do MP de forma a promover o rápido andamento da questão prejudicial.

d. Princípio da concentração

O processo deve desenrolar-se de modo unitário e continuado no espaço e no tempo. Assim, a


audiência de discussão e julgamento deve decorrer no mesmo espaço físico (concentração espacial)
e de modo contínuo, suspendendo-se e interrompendo-se nos casos estritamente necessários
(concentração temporal).

A oralidade, imediação e análise de provas exigem uma audiência unitária e continuada, na qual
haja uma apreciação conjunta e esgotante de toda a matéria do processo. Se não existissem os
limites a convicção que se deve formar no espírito do juiz quebrar-se-ia.

Tal princípio tem consagração no art. 328º, que prevê que “a audiência é contínua, decorrendo
sem qualquer interrupção ou adiamento até ao seu encerramento”. O nº 2 admite algumas

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exceções admitindo que se façam interrupções estritamente necessárias para efeitos de


alimentação, repouso dos participantes, admitindo-se a sua retoma no dia útil imediatamente
posterior, se a audiência não puder ser concluída no mesmo dia. Isto não comporta quaisquer
problemas quanto ao material probatório, pelo que as provas assentes não voltarão a ser
questionadas.

O mesmo não se passa com as situações de adiamento previstas no art. 328º/3, CPP:

 Interrupção da audiência até ao máximo de 8 dias: não há necessidade de reapreciação


da prova, retomando-se a audiência a partir do último ato processual praticado (art. 328º/4,
CPP)

 Interrupção da audiência entre 8 a 30 dias (inclusive): é necessário que o juiz profira um


despacho que justifique o adiamento. Reaberta a audiência, o juiz decide se é ou não
necessário repetir a prova já produzida, não sendo permitida a renovação de toda prova
produzida (art. 328º/5, CPP).

 Interrupção da audiência por mais de 30 dias: a prova produzida terá que ser repetida
novamente, uma vez que perdeu a validade (art. 328º/6, CPP).

3. Princípios atinentes à prova

a. Princípio da investigação

O tribunal tem a competência de investigar todos os indícios para se chegar à verdade material, o
que vem prescrito no art. 340º/1, CPP, que prevê que “tribunal ordena oficiosamente ou a
requerimento, a produção de todos os meios de prova, cujo o conhecimento se lhe afigura
necessário à descoberta da verdade material e à boa decisão da causa”. Afloramentos do princípio:

 Possibilidade de o juiz requerer oficiosamente prova pericial (art. 154º/1)


 Possibilidade de o juiz requerer oficiosamente a prova documental (art. 164º/2)
 Possibilidade de o juiz ordenar oficiosamente as buscas e revistas (art. 174º)
 Possibilidade de o juiz ordenar oficiosamente inquéritos (art. 267º)
 Possibilidade de o juiz praticar todos os atos necessários ao desenrolar da instrução (art.
290º/1)
 Possibilidade de o juiz ordenar oficiosamente o exame local (art. 154º).

O esclarecimento da matéria de fato não pertence exclusivamente às partes, recaindo também ao


juiz a investigação para a obtenção da verdade material. Isto não se opõe ao princípio do
acusatório, uma vez que não limita a atividade probatória do MP, assistente ou arguido. Há, pois,

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uma inexistência de ónus de prova, uma vez que não impende nem sobre a acusação nem sobre
a defesa o ónus de afirmar, contradizer e impugnar fatos. Esta posição compreende-se
perfeitamente, porque à luz do art. 315º o arguido não tem qualquer obrigação ou dever de
contestar, não lhe advindo qualquer consequência desfavorável na sua ausência. Ainda que em
sede de processo penal, possa existir um pedido de indenização cível, não há qualquer ónus de
contestar. Há autores que defendem a existência de ónus da prova material: sempre que o juiz
tenha dúvidas sobre certos fatos, deve absolver o arguido. F. DIAS entende que não é correta essa
afirmação, pois é uma aplicação do princípio autónomo do in dúbio pro reo.

Portanto, como está em causa a procura de uma verdade material e não uma verdade formal, como
sucede no processo civil, o resultado do processo não está diretamente relacionado com o
comportamento processual do arguido.

Nota: o princípio do inquisitório tem um papel subsidiário no que refere à audição das
testemunhas, pois o art. 348º estabelece que as mesmas são primeiramente inquiridas por quem
as apresente e só num segundo momento pelos restantes sujeitos processuais.

b. Princípio da livre apreciação da prova

A produção da prova tem o objetivo de oferecer ao tribunal as condições necessárias para a


formação da convicção sobre a (in)existência dos fatos. Uma coisa é a produção de prova (modo
como esta se produz), outra coisa é a valoração da prova (modo de articulação das diferentes
formas de prova).

Vigora no ordenamento português o sistema de livre apreciação da prova (art. 127º): o valor e força
dos meios probatórios não podem ser corretamente aferidos a priori, com caráter de generalidade,
devendo ser apreciados in casu (atendendo as particularidades concretas). Apesar de ser um
conceito indeterminado (regras de experiência e livre convicção) apreciação da prova não deve ser
feita de modo arbitrário, devendo ser a decisão fundamentada e tomada de modo consciente e
objetivo. As exceções ao princípio da livre apreciação da prova são:

 Prova testemunhal (art. 128º): apenas vale como limitação os casos do testemunho do ouvir
dizer ou da chamada prova indireta.
 Prova pericial (art. 163º/1)
 Prova documental faz prova plena.
 O silêncio nunca pode prejudicar o arguido (arts. 6º/1/c e 343º/1).
 A confissão livre integral implicará um encurtamento do processo, pois passa-se para as
alegações orais. Na confissão parcial, o processo segue os seus trâmites normais.

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c. Princípio in dubio pro reo

O juiz não se encontra vinculado aos fatos apresentados pelas partes, tendo o dever de investigação
de forma a descobrir a verdade material (juiz, oficiosamente, deve instruir e esclarecer os fatos
sujeitos a julgamento). Findo o julgamento, não tendo o juiz certeza sobre a veracidade dos fatos,
deve decidir favoravelmente ao réu, absolvendo-o.

A origem do princípio reside na presunção de inocência até ao trânsito em julgado da decisão (art.
32º/3, CRP). Tal princípio vale apenas em relação à prova dos fatos, não tendo aplicação nas
questões de direito. Como tem aplicação apenas em relação a fatos, este princípio é válido para
efeito de determinação dos elementos fundamentadores e agravantes da incriminação, para as
causas de exclusão da ilicitude e da culpa, às condições objetivas de punibilidade, bem como às
circunstâncias modificativas em geral. Apesar da aplicação do princípio in dubio pro reo, estar
apenas circunscrito à matéria de facto, não se encontra fora da competência dos tribunais
superiores que conheçam exclusivamente matéria de direito.

Como exceção a este princípio, apontam-se os crimes previstos nos arts. 164º e 165º, nos quais a
não obtenção da prova, atua em desfavor do arguido. A doutrina tem defendido que este princípio
não se aplica aos pressupostos processuais, contudo, F. Dias, tem sido defensor, que em dois
casos particulares se deve admitir a sua aplicação:

 Quando depender da prossecução do crime, por exemplo em casos de prescrição.


 Quando tal implique submeter ou não o arguido em julgamento.

4. Princípios atinentes à forma

a. Princípio da oralidade e imediação

Objetivando uma tomada de decisão justa, rápida e em conformidade com os direitos do arguido,
o princípio da oralidade estabelece a necessidade de se chegar a uma decisão pela via oral
(discussão oral da matéria probatória). E isto permite um contato mais direto entre o juiz e demais
sujeitos processuais, sobretudo na fase de julgamento.

O princípio da imediação objetiva garantir uma relação de proximidade comunicativa entre o


tribunal e os intervenientes processuais. Deve o juiz ter contato direto e imediato com toda matéria
de fato e prova, de forma a formar a sua convicção.

Manifestações do princípio da oralidade e da imediação: arts. 96º, 298º, 348º, 350º, 355º, 360º,
363º, 423º.

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Limitações ao princípio da oralidade:

 Possibilidade de leitura em audiência de declarações prestadas pelo arguido anteriormente


(arts. 96º/1, 356º, 357º).
 Possibilidade de julgamento do arguido à revelia, sem sua presença, sob produção de prova
unicamente documental (arts. 333º e 334º).

b. Princípio da publicidade (arts. 211º e 206º, CRP; art. 321º, CPP)

As audiências dos tribunais são públicas, ou seja, o público em geral pode assistir à realização
dos atos processuais (sob pena de nulidade – art. 86º/1). É também permitida a consulta e
obtenção de certidões (art. 86º/6/c). O objetivo de tal princípio é dissipar qualquer possibilidade
de existência de desconfianças sobre a aplicação da justiça, sua independência e imparcialidade.
Todavia, são admitidas exceções à publicidade, nomeadamente:

 Inquérito - JIC pode, a requerimento do arguido/assistente/ofendido e ouvido o MP,


determinar a sujeição do inquérito a segredo de justiça, quando a publicidade prejudicar
os direitos dos sujeitos e participantes.
 Audiências: oficiosamente ou a requerimento do MP/arguido/assistente pode haver
exclusão de publicidade, fundamentada em grave dano à dignidade das pessoas, moral
pública, normal decurso do ato. Os processos relativos a crimes de tráfico de pessoas e
crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual decorrem, em regra, com exclusão da
publicidade.

Há, ainda, a possibilidade de juiz afastar a presença de certas pessoas da audiência, conforme
prevê os arts. 87º, 322º e 323º, CPP.

De forma a garantir o cumprimento da publicidade, o art. 88º permite que os órgãos de


comunicação social acompanhem o processo (desde que não ponha em causa o segredo de justiça).
Assim, “é permitida aos órgãos de comunicação social, dentro dos limites da lei, a narração
circunstanciada do teor de atos processuais que se não encontrem cobertos por segredo de justiça
ou a cujo decurso for permitida a assistência do público em geral”. A lei confere uma latitude
ampla de atuação aos órgãos de comunicação social, mas com o limite inultrapassável que não
ponha em causa a consistência e eficácia do direito, da defesa do arguido ou a posição punitiva
do estado. Não obstante destas exceções, a leitura da sentença será sempre pública (art.87º/5).

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ACÓRDÃO DE FIXAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA Nº 1/2015

Preenchimento dos requisitos: (a) 2 acórdãos em contradição (Tribunal da Relação de Évora de


07.12.2012 e Tribunal da Relação de Coimbra de 04.05.2011); (b) trânsito em julgado dos acórdãos; (c)
domínio da mesma legislação; (d) interposição do recurso no prazo de 30 dias posteriores ao trânsito em
julgado do acórdão recorrido.

O TRE decidiu que, havendo uma deficiente descrição dos fatos integradores do elemento subjetivo do
tipo, pode o juiz integrar a acusação por recurso à racionalidade e normalidade dos comportamentos
humano. Trata-se de uma alteração não substancial dos fatos, pois não redunda em imputação de crime
diverso. Por sua vez, o TRC entendeu que é vedado ao julgador o aditamento à acusação de fatos que
integrem os elementos subjetivos do tipo, pois configuraria uma alteração substancial (art. 359º, CPP).

A falta de descrição, na acusação, dos elementos subjetivos do crime, nomeadamente dos que se
traduzem no conhecimento, representação ou previsão de todas as circunstâncias da factualidade típica,
na livre determinação do agente e na vontade de praticar o fato com o sentido do correspondente desvalor,
não pode ser integrada, em julgamento, o recurso ao mecanismo do art. 385º, CPP.

SUJEITOS PROCESSUAIS

Os sujeitos processuais são entidades que, pela sua importância, conformam diretamente o
objeto do processo, porque possuem um conjunto de direitos autónomos e independentes que lhe
permitem influenciar a tramitação e marcha do processo.

Os meros participantes processuais são as entidades que praticam atos processuais singulares,
cujo o conteúdo processual se esgota na própria atividade, pelo que embora colaborem no processo
não têm a faculdade de iniciativa ou decisão.

1. Ministério Público (arts. 48ºe ss)

A Magistratura do MP é paralela à magistratura judicial, mas é dela independente. Está sujeita ao


princípio da legalidade e hiparquia, sendo que quem superintende a sua atuação é o Conselho
Superior do Ministério Público, tendo este poder disciplinar. O MP, organicamente e
hierarquicamente, divide-se em (art. 9º, LOSJ):

 Procurador Geral da República


 Vice-Procurador Geral da República
 Procuradores Gerais Adjuntos

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 Procuradores da República
 Procuradores Adjuntos.

No STJ, TC, STA e Tribunal de Contas, o MP é representado pelo Procurador Geral da República
e por Procuradores Gerais Adjuntos. Nos Tribunais da Relação pelo Procurador Geral Distrital e
por Procuradores Gerais Adjuntos; no TCA por Procuradores Gerais Adjuntos. Nos tribunais de
competência territorial alargada, nos juízos centrais e locais e nos TAC e tribunais tributários, por
Procuradores Gerais Adjuntos, por Procuradores da República e por Procuradores Adjuntos.

Segundo o art. 48º, o Ministério Público tem legitimidade para promover o processo penal,
competindo a ele a investigação e dedução de acusação/arquivamento do processo com as
restrições constantes dos arts. 49º a 52º. O MP tem que proceder à investigação da existência de
um crime, de forma a determinar os seus agentes e recolher provas (art. 262º/1). Assim:

 Crimes públicos – quando tem notícia do crime, o MP tem o dever de promover a ação
penal. À luz do art. 241º, a notícia do crime pode ser obtida através de: (a) conhecimento
próprio (decurso de processo crime pode surgir indícios da prática de outro crime); (b) auto
de notícia lavrado pelas entidades policiais (art. 248º); (c) denúncia, feita pelo próprio ou
por qualquer pessoa que tenha conhecimento de um crime. Após as diligências de
investigação, cabe ao MP a decisão sobre a acusação ou arquivamento do processo.
 Crimes semi-públicos – o MP só pode promover o processo criminal quando seja
apresentada queixa pelo ofendido (art. 49º). Posteriormente, o processo é dirigido pelo MP
e, após a realização de todas as diligências, o MP decide sobre a acusação ou arquivamento
do processo.
 Crimes particulares – o MP só tem legitimidade para promover o processo criminal se
ofendido ou outras pessoas se queixem, se constituam assistentes e deduzam acusação
particular. Nos crimes particulares, a decisão de acusar pertence ao assistente (art. 285º).
O MP procede a todas as diligências necessárias à descoberta da verdade, acusa
conjuntamente com a acusação particular e recorre autonomamente das decisões judiciais
(art.50º).

De destacar que, de acordo com o princípio da legalidade e objetividade, ao MP não interessa a


condenação, mas antes a obtenção de uma decisão justa (descoberta da verdade material e
realização da justiça).

 Queixa e acusação particular

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Nos termos do artigo 48.º é ao MP a quem cabe legitimidade para promover o processo penal, com
as restrições constantes dos artigos 49.º a 52.º Isto significa que a legitimidade do MP para
conduzir o processo sofre restrições nos casos em que o crime em causa seja um crime particular
ou de natureza semi-pública. Assim sucede, porque nos casos em que o procedimento depender
de queixa, do ofendido ou de outras pessoas, é necessário que essas pessoas dêem conhecimento
do facto ao MP, para que este mova o processo, artigo 49.º CPP.

As disposições legais relativas à queixa, aplicam-se quer aos crimes particulares quer aos crimes
de natureza semi-pública, artigo 117.

DA TITULARIDADE DO DIREITO DE QUEIXA, ARTIGO 113.º CP

Tem legitimidade para apresentar queixa: a. O ofendido3, considerando-se como tal, o titular dos
interesses que a lei especialmente quis proteger; b. Os herdeiros do ofendido, se este falecer sem
ter apresentado queixa; c. O representante legal, nos casos em que o ofendido seja menor de 16
anos e não tenha discernimento para compreender o significado do exercício do direito de queixa;

QUEM PODE APRESENTAR QUEIXA, ARTIGO 49.º CPP

1. O ofendido; 2. Mandatário judicial, desde que munido com procuração com poderes gerais; 3.
Mandatário munido com procuração com poderes especiais para o acto de apresentação de queixa.
4. Gestão de negócios: apesar da lei não prever directamente, admite-se que se possa apresentar
queixa mediante o instituto da gestão de negócios, dependendo a validade da mesma, da
ratificação pelo ofendido. Esta situação, poderá até ser comum, nos crimes contra a propriedade,
em que o ofendido por não saber da prática do crime.

EXTENSÃO DOS EFEITOS DA QUEIXA, ARTIGO 114.º CPP A apresentação de queixa contra um
dos comparticipantes no crime, torna o procedimento criminal extensivo aos restantes. Da mesma
forma, nos termos do artigo 115/3 o não exercício tempestivo do direito de queixa relativamente a
um dos comparticipantes no crime, aproveita aos restantes, sempre que quanto a estes seja
necessário a apresentação de queixa, isto e, se o crime não for público.

CADUCIDADE DO DIREITO DE QUEIXA, ARTIGO 115.º CPP O direito de queixa não e eterno,
caduca, no seguintes casos: 1. No prazo de 6 meses a contar da data em que o titular tiver tido
conhecimento do facto ou dos seus autores; 2. No prazo de 6 meses a contar da data em que o
ofendido se tenha tornado incapaz. Não é necessário que exista sentença a declarar a
incapacidade, basta que exista mera incapacidade de facto. 3. No prazo de 6 meses a contar da
data em que o ofendido faleceu.

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Nota 1: nos casos em que sejam vários os titulares do direito de queixa, o prazo para a caducidade,
conta-se autonomamente para cada um deles. Aliás, o assistente não é obrigado a deduzir
acusação contra todos os participantes, artigo 285.º CPP.

Nota 2: A caducidade do direito de queixa, apenas se aplica aos crimes de natureza privada ou
semi-público. O objectivo da caducidade é incentivar a pacificação social, no sentido, que uma vez
passados os 6 meses, não se poderá reagir criminalmente contra o infractor.

Nota 3: Em relação aos crimes públicos, a caducidade não se aplica, estabelecendo a lei, quanto
a estes prazos de prescrição, atendendo à moldura penal abstracto. O artigo 118.º CP estabelece
os casos em que o procedimento criminal se extingue por prescrição.

DA RENÚNCIA OU DESISTÊNCIA DO DIREITO DE QUEIXA, ARTIGO 115.º CP

O direito de queixa não pode ser exercido se o titular do mesmo, a ele expressamente renunciar
ou se tiver praticado factos donde a renúncia necessariamente se deduza (tácito). Entende-se por
exemplo que, há renúncia ao direito de queixa, nos casos em que haja dedução em separado, em
tribunal cível, do pedido de indemnização cível, artigo 72/2 CPP. O assistente, pode desistir da
queixa, até à publicação da sentença da 1.ª instância, desde que o arguido não se oponha. Por
isso, assim que tenha conhecimento da desistência de queixa, a entidade competente, notifica o
arguido, para em cinco dias, declarar, sem necessidade de fundamentação, que a ela se opõe,
sendo que a falta de declaração equivale a não oposição, artigo 51/2 CPP. A desistência impede
que a queixa seja renovada. A desistência de queixa, relativamente a um dos comparticipantes
no crime, aproveita aos restantes, salvo oposição destes, e no caso em que também não possam
ser perseguidos sem queixa. Nos casos em que o titular do direito de queixa, tenha renunciado a
este, não podem os herdeiros, em caso de morte, iniciar procedimento criminal, artigo 113/2.

QUAL A ENTIDADE COMPETENTE PARA HOMOLOGAR A DESISTÊNCIA DA QUEIXA? ARTIGO


1.º CPP Na fase de inquérito, a competência caberá ao MP, se nos encontrarmos na fase de
instrução, a competência, caberá ao juiz de instrução, em sede de julgamento da causa, a
competência cabe ao juiz da causa.

Pode também deduzir recurso da decisao final no interesse do arguido (art. 401º/1/a), poder este
que resulta do estatuto subrdinado ao dever de legalidade e objetividade, posi ele representa o
Estado no controle da legalidade (art. 3º, Estatuto dos Magistrados do MP).

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Nos casos de crime semi-público ou de crime particular a intervenção do MP cessa com a

homologação da desistência de queixa; a homologação cabe ao MP (na fase de inquérito) ao

JIC (fase de instrução) ao presidente do tribunal (fase de julgamento). A entidade competente

O MP tem legitimidade para promover o processo penal, sendo que a falta da promoção

do procedimento criminal dá lugar a nulidade insanável nos termos do artigo 119.º/b) – a

este propósito ver o Assento 1/2000, que refere entre outras questões, que em crime semi

público o MP não se pode limitar a acompanhar a acusação pelo o assistente, sob pena de

nulidade insanável nos exacta determinação da alínea b) do artigo 119.º.

Contudo, quando o procedimento criminal depender de queixa (crime semi-público), o

MP não pode promover o procedimento criminal sem que a mesma seja apresentada – artigo

49.º.

13
PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça n.º 15/2016


Pº 5241/11.2TDLSB -A.S1 (II)

Relator: Souto de Moura

O MINISTÉRIO PÚBLICO (Mº Pº) junto do Tribunal da Relação de Lisboa interpôs recurso extraordinário para
fixação de jurisprudência, obrigatório por força do n.º 5, do art. 437.º, do Código de Processo Penal (CPP),
afirmando a oposição entre o acórdão de que recorreu, da 9.ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa,
proferido a 16/10/2014, nos presentes autos, e o acórdão tirado a 19/3/2013, pelo Tribunal da Relação do Porto
e no Pº 1594/07.5TASTS.P1, que assim se considerou acórdão fundamento.
A questão sobre que se considera haver oposição reside em saber, se um ofendido que é advogado, para se
constituir assistente em processo-crime, tem que estar representado nos autos por outro advogado. (...)

C - DECISÃO
Termos em que se acorda no Pleno das Secções Criminais do Supremo Tribunal de Justiça em revogar o
acórdão recorrido e fixar jurisprudência nos seguintes termos:
Nos termos do artigo 70.º, n.º 1, do Código de Processo Penal, o ofendido que seja advogado e pretenda
constituir-se assistente, em processo penal, tem de estar representado nos autos por outro advogado.
O acórdão recorrido deverá ser substituído por outro que aplique a jurisprudência fixada.
Sem custas, em face da procedência do recurso e por o recorrente ser o Mº Pº.
Supremo Tribunal de Justiça, 26 de Outubro de 2016. - José Adriano Machado Souto de Moura (Relator) -
António Henriques Pires da Graça (Revendo a posição anterior atento o disposto nos artigos 81.º, n.º 2 e 83.º
n.os 2 e 3 da Lei n.º 145/2015, de 9 de Setembro, (novo Estatuto da Ordem dos Advogados) e a unidade do
sistema jurídico) - Raul Eduardo do Vale Raposo Borges - Isabel Celeste Alves Pais Martins - Manuel Joaquim
Braz - Isabel Francisca Repsina Aleluia São Marcos - Helena Isabel Gonçalves Moniz Falcão de Oliveira (com
voto de vencida que junta) - Nuno de Melo Gomes da Silva - Francisco Manuel Caetano - Manuel Pereira
Augusto de Matos - Maria Rosa Oliveira Tching - José Vaz Santos Carvalho - José António Henriques dos
Santos Cabral - António Jorge Fernandes de Oliveira Mendes - António Silva Henriques Gaspar (Presidente).
TRP – advogado não pode agir emcausa propria,devendo constituir advogado.

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PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

TRL – advogadopodeagir em causa propria.

Houve oposicao relevante (2 acoraos assentes em solucoes opostas, swndo estaoposicao


expressa – não basta posicoesiplicitas, a oposicao deve respeitar àdecisao e não aos
fundametnos)

Questao de direito- art70/1 não exigeoutorga de procuracao doogendido a outro advogado.


Arredou consideracoesrelativasaleiprocessual civil, na qual épermidi oao advogado
advogaremcauapropria.

mesma factualidade, mesma ordem juridica, transito emjulgadoda decisao.

MP alegou a tese da desncessidade de constituicai: a constiuicaocomoassitente


representa a formaizacao neecssaria a uma realizacaomais conssitente eefeiba dos direitos
da vitima. Énecessarioque a constituicao ocorra dentro de certos prazos, pagametnode taxa
de justi e representcaojuicairai. Como poe intervri noprocesso, praticando determiando
atos(acusar, RAI, intervencao de juri, particpar na audeicnai de juglamenot), eve ser
representadoporadvogado (pessoalegalmente ahbitilada no conhecimetno do direito, caapz
de assegurar os interesses). O ofendido advogado é uficientmeet esclarecido ecapaz deavaliar
se eta emcondicoesdeintervir no processo.

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PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

PROVA E MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA

1. Objeto da prova (art. 124º, CPP)

O art. 124º, CPP prevê que “constituem objeto da prova todos os fatos juridicamente relevantes para a
existência ou inexistência do crime, a punibilidade ou a não punibilidade do arguido e a determinação da pena
ou da medida de segurança aplicáveis”. Assim, são três os fatos que são objeto de prova:

 Demonstrativos da existência ou não de crime (apurar se houve crime)


 Demonstrativos da punibilidade ou não do arguido (apurar se “A” cometeu o crime)
 Influentes na determinação da pena ou medida de segurança (apurar qual a pena/medida vai ser
aplicada).

Ex.: (A) atropela (M), tendo vindo este a morrer. Para saber se o crime é um homicídio doloso ou homicídio
por negligência, será necessária uma análise das provas. No caso de (M) ter se atirado voluntariamente para
a frente do carro, não há homicídio, mas antes um crime de dano praticado por (M).

Acresce o nº 2 que “se tiver lugar pedido civil, constituem igualmente objeto da prova os fatos relevantes para
a determinação da responsabilidade civil”.

2. Legalidade da prova (art. 125º, CPP)

O princípio da legalidade da prova dispõe que “são admissíveis as provas que não forem proibidas por lei”.
Assim, o que a lei não proibir é considerado meio de prova. Ex.: Não pode ser usado como meio de prova as
declarações de uma pessoa que não foi devidamente constituída arguida (art. 58º/4, CPP).

3. Métodos proibidos de prova (art. 126º, CPP)

O art. 126º, nº 1, CPP determina quais são os métodos proibidos de prova, prevendo como cominação a
nulidade sanável. Estabelece que “são nulas, não podendo ser utilizadas, as provas obtidas mediante
tortura, coação, ou em geral, ofensa da integridade física ou moral das pessoas”. O nº2 estabelece os casos
em que há ofensa a integridade física ou moral das pessoas, sendo uma proibição absoluta. Assim, “são
ofensivas da integridade física ou moral das pessoas as provas obtidas, mesmo que com consentimento delas,
mediante:

(a) Perturbação da liberdade de vontade ou de decisão através de maus tratos, ofensas corporais,
administração de meios de qualquer natureza, hipnose ou utilização de meios cruéis ou
enganosos.
(b) Perturbação, por qualquer meio, da capacidade de memória ou de avaliação. Ex.: A lei permite
os agentes infiltrados (infiltram-se num meio restrito para recolher provas), mas já não permite os

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PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

agentes provocadores (inserem-se num grupo para provocar o crime), pois sem a atuação do agente
o crime não teria acontecido.
(c) Utilização da força, fora dos casos e dos limites permitidos pela lei. Ex.: Ameaçar o arguido de
que não poderá falar com o seu advogado; ameaçar de que vai apanhar x anos de prisão, etc.
(d) Ameaça com medida legalmente inadmissível e, bem assim, com denegação ou
condicionamento da obtenção de benefício legalmente previsto;
(e) Promessa de vantagem legalmente inadmissível.

Por sua vez, o nº 3 estabelece que “ressalvados os casos previstos na lei, são igualmente nulas, não podendo
ser utilizadas, as provas obtidas mediante intromissão na vida privada, no domicílio, na correspondência ou
nas telecomunicações sem o consentimento do respectivo titular”. Trata-se, pois, de uma proibição relativa,
uma vez que a lei ressalva os casos em que existe despacho judicial a autorizar a referida intromissão ou os
casos em que há consentimento do titular, deixando de haver nulidade.

Relativamente ao nº 4, “se o uso dos métodos de obtenção de provas previstos neste artigo constituir crime,
podem aquelas ser utilizadas com o fim exclusivo de proceder contra os agentes do mesmo”. Ex.: (A) é
torturado para prestar declarações e confessa. Tal confissão não pode ser valorada e os agentes que o
torturaram poderão ser perseguidos criminalmente com base nessa prova.

Conclusão: Não existem provas proibidas, mas antes métodos proibidos de obtenção de prova. Ex.: Prova
por confissão é admitida, contudo não pode ser obtida mediante tortura.

Ex.1.: Relativamente à constituição de arguido, quando esta é realizada pelos OPC, deve a autoridade
judiciária ser comunicada no prazo de 10 dias para a apreciação e posterior validação (também no prazo de
10 dias). Nos termos do art. 58º, nº5, CPP, “a omissão ou violação das formalidades previstas nos números
anteriores (constituição de arguido) implica que as declarações prestadas pela pessoa visada não podem ser
utilizadas como prova”. Excepcionalmente, prevê o art. 58º, nº 6, CPP que “a não validação da constituição
de arguido pela autoridade judiciária não prejudica as provas anteriormente obtidas”, ou seja, havendo
constituição de arguido pelo OPC, mas não havendo validação por parte da autoridade judiciária, aprova
produzida pode ser admitida, pois os DLG do arguido estão salvaguardados

Ex.2.: Depoimento indireto previsto no art. 129º, CPP. A testemunha do “depoimento de ouvir dizer” deve
ser capaz de indicar a pessoa ou a fonte através das quais tomou conhecimento dos fatos, sob pena de não
poder ser utilizado como meio de prova (nº3). O juiz pode chamar a depor a pessoa determinada e, caso não
o faça, o depoimento produzido inicialmente não pode, naquela parte, servir como meio de prova (salvo se a
inquirição não for possível por morte, anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade de serem
encontradas).

4. Livre apreciação da prova (art. 127º, CPC)

O art. 127º, CPP consagra o princípio da livre apreciação da prova, que determina que “salvo quando a lei
dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade

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PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

competente”. De notar que a livre convicção não é o mesmo que livre arbítrio, devendo o modo como a livre
convicção é formada estar fundamentada, ou seja, a livre apreciação determina a obrigatoriedade da
fundamentação das razões de fato e de direito que dão como provado ou não determinado fato. Em caso de
incumprimento da obrigação de fundamentação, há lugar a nulidade nos termos o art. 314º, CPP.

5. Meios de prova

O CPP admite diferentes meios de prova: prova documental, prova testemunhal, prova por declaração do
arguido ou assistente, prova pericial (subtraída ao princípio da livre apreciação da prova – art. 163º, CPP),
prova por acareação, prova por reconstituição de fato.

5.1. Prova testemunhal

(a) Objeto e limites do depoimento (art. 128º): “a testemunha é inquirida sobre fatos de que possua
conhecimento direto e que constituam objeto da prova”. São inquiridas porque prestam juramento, sendo
obrigadas a responder com a verdade, sob pena de crime de falsas declarações; contudo, não são obrigadas
a responder quando das respostas resultar a sua responsabilização penal (art. 132º, nº2). Assim, a
testemunha deve relatar o que viu ou o que sabe, não devendo dar opinião. À luz do princípio da imediação,
o juiz deve ter contato direto com a testemunha, de forma a lhe permitir criar uma convicção sobre a mesma,
devendo, para tanto, a inquirição ser feita em tribunal (excepcionalmente admite-se a videoconferência).

As testemunhas podem ser detidas para ser presentes a inquirição, sempre que do seu comportamento
resulte que esta não se apresentaria livremente. Estando na fase de julgamento, o juiz emite mandado de
detenção; na fase de inquérito compete ao MP a promoção do mandado para a testemunha ser detida para
efeitos de inquirição.

Acresce o nº 2 que: “salvo quando a lei dispuser diferentemente, antes do momento de o tribunal proceder à
determinação da pena ou da medida de segurança aplicáveis, a inquirição sobre factos relativos à
personalidade e ao carácter do arguido, bem como às suas condições pessoais e à sua conduta anterior, só é
permitida na medida estritamente indispensável para a prova de elementos constitutivos do crime,
nomeadamente da culpa do agente, ou para a aplicação de medida de coacção ou de garantia patrimonial”.
Trata-se de testemunhas que depõem sobre fatos relativos à personalidade e ao caráter do arguido,
podendo ser positivas ou não. Tais testemunhas são ouvidas no momento de determinação da sanção,
resultando que o arguido vai ser punido. Este tipo de testemunho não é admitido na instrução, porque esta
fase está apenas relacionada com a confirmação ou não da acusação ou do arquivamento (art. 291º, nº 4;
art. 284º e art. 315º, CPP)

O art. 348º, CPP prevê as regras para a inquirição de testemunhas. A regra é que a inquirição da
testemunha é feita pela parte que a apresenta, sendo depois sujeita a contra-interrogatório. Todavia, a
inquirição das testemunhas menores de 16 anos (art. 349º, CPP) é “levada a cabo apenas pelo presidente”,
podendo os “juízes, jurados, MP, defensor e advogados do assistente e partes civis pedir ao presidente que
formule à testemunha perguntas”.

18
PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

(b) Depoimento indireto (art. 129º, CPP): “Se o depoimento resultar do que se ouviu dizer a pessoas
determinadas, o juiz pode chamar estas a depor e, se não o fizer, o depoimento produzido não pode, naquela
parte, servir como meio de prova, salvo se a inquirição das pessoas indicadas não for possível por morte,
anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade de serem encontradas” (nº1). Esta disposição, também
“aplica-se ao caso em que o depoimento resultar da leitura de documento de autoria de pessoa diversa da
testemunha (nº2), ou seja, terá que ser chamada a pessoa que produziu o documento. “Não pode, em caso
algum, servir como meio de prova o depoimento de quem recusar ou não estiver em condições de indicar a
pessoa ou a fonte através das quais tomou conhecimento dos fatos (nº3).

(c) Vozes públicas e convicções pessoais (art. 130º, CPP): “Não é admissível como depoimento a reprodução
de vozes ou rumores públicos” (nº1). Acresce o nº 2, de acordo com o princípio absoluto da tipicidade, que
“a manifestação de meras convicções pessoais sobre os factos ou a sua interpretação só é admissível nos
casos seguintes e na estrita medida neles indicada: (a) Quando for impossível cindi-la do depoimento sobre
factos concretos; (b) Quando tiver lugar em função de qualquer ciência, técnica ou arte; (c) Quando ocorrer no
estádio de determinação da sanção”. Assim, relacionado com o art. 128º, CPP, só vai contribuir para a
condenação depois do fato ser dado como assente.

(d) Capacidade e dever de testemunhar (art. 131º, CPP): “Qualquer pessoa que se não encontrar interdita
por anomalia psíquica tem capacidade para ser testemunha e só pode recusar-se nos termos previstos na lei”
(nº1). Portanto, não basta a anomalia psíquica, sendo necessária a interdição. Além disso, não há qualquer
idade mínima ou máxima para ser capaz de testemunhar. Quanto ao dever de testemunhar, este resulta da
própria previsão legal, que estabelece que a pessoa só pode recusar-se a testemunhar nos termos previstos
na lei.

Nos termos do nº 2, “a autoridade judiciária verifica a aptidão física ou mental de qualquer pessoa para
prestar testemunho, quando isso for necessário para avaliar a sua credibilidade e puder ser feito sem
retardamento da marcha normal do processo”.

“Tratando-se de depoimento de menor de 18 anos em crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual de


menores, pode ter lugar perícia sobre a personalidade” (nº3). “As indagações, referidas nos números
anteriores, ordenadas anteriormente ao depoimento, não impedem que este se produza” (nº4)

(f) Deveres gerais das testemunhas (art. 132º, CPP): os deveres das testemunhas são quatro, salvo de a lei
dispuser de forma diferente.

 Dever de comparecer: “se apresentar, no tempo e no lugar devidos, à autoridade por quem tiver sido
legitimamente convocada ou notificada, mantendo-se à sua disposição até ser por ela desobrigada”
 Dever de prestar juramento perante as autoridades judiciárias: “prestar juramento, quando
ouvida por autoridade judiciária”
 Dever de obedecer às indicações: “obedecer às indicações que legitimamente lhe forem dadas
quanto à forma de prestar depoimento”
 Dever de responder com a verdade: “responder com verdade às perguntas que lhe forem dirigidas”.

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PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

O nº 2 estabelece que “a testemunha não é obrigada a responder a perguntas quando alegar que das
respostas resulta a sua responsabilização penal”, ou seja, a testemunha pode se recusar a incriminar a si
própria. E o nº3 prevê que “para o efeito de ser notificada, a testemunha pode indicar a sua residência, o
local de trabalho ou outro domicílio à sua escolha”.

Destaca-se o fato de que, com a nova reforma, as testemunhas podem-se fazer “acompanhar de advogado,
que a informa, quando entender necessário, dos direitos que lhe assistem, sem intervir na inquirição” (nº4),
não podendo “acompanhar a testemunha (…) o advogado que seja defensor de arguido no processo”, devido
ao conflito de interesses dos sujeitos processuais (nº5).

(g) Impedimentos (art. 133º, CPP): exceção ao art. 131º, CPP, que prevê a capacidade de depor, o art. 133º
prevê que “estão impedidos de depor como testemunhas”:

 “Arguido e coarguidos no mesmo processo ou em processos conexos, enquanto mantiverem


aquela qualidade”. O arguido não pode depor como testemunha porque não está sujeito ao dever
de verdade e pode exercer o seu direito ao silêncio e à não autoincriminação. Os coarguidos prestam
declarações, mas até que ponto poderá ser valorada a prova produzida pelo coarguido quando o
outro coarguido se remete ao silêncio? É preciso atender ao princípio da não autoincriminação; o
fato de o ônus da prova ser do MP e não do arguido, faz com que o mesmo não tenha que contribuir
para a verdade material. Todos estes fatores concorrem para a tese que defende que as declarações
do coarguido não podem ser valoradas enquanto prova contra o coarguido que se remete ao silêncio,
sem que haja outros meios que provem a verdade material das declarações proferidas. Acresce que
os defensores desta tese baseiam a sua convicção no art. 345º, nº4, CPP
 “Pessoas que se tiverem constituído assistentes, a partir do momento da sua constituição.”
Os assistentes não depõem como testemunhas porque estão impedidos. Apenas prestam
declarações e estão vinculados ao dever de verdade, apesar de não prestarem juramento (sob pena
de crime de falsas declarações).
 “Partes civis”
 “Peritos, em relação às perícias que tiverem realizado.”

Prevê o nº 2 do referido artigo que “em caso de separação de processos, os arguidos de um mesmo crime ou
de um crime conexo, mesmo que já condenados por sentença transitada em julgado, só podem depor como
testemunhas se nisso expressamente consentirem.” Isto significa que podem testemunhar, mas não estão
obrigadas a depor como testemunhas.

(h) Recusa de parentes e afins (art. 134º, CPP): exceção ao dever de testemunhar, “podem recusar-se a
depor como testemunha”:

 Os descendentes, os ascendentes, os irmãos, os afins até ao 2º grau, os adotantes, os adotados


e o cônjuge do arguido
 Quem tiver sido cônjuge do arguido ou quem, sendo de outro ou do mesmo sexo, com ele conviver
ou tiver convivido em condições análogas às dos cônjuges, relativamente a factos ocorridos durante o
casamento ou a coabitação. Assim, enquanto forem casados, o cônjuge pode recusar-se a depor

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PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

sobre todas as matérias, mas deixando de ser casados, só cônjuge só pode recusar-se a depor sobre
fatos ocorridos durante o casamento. Quanto a união de fato, apenas é enquadrável nesta alínea.

Acrescenta o nº 2 que “a entidade competente para receber o depoimento adverte, sob pena de nulidade, as
pessoas referidas no número anterior da faculdade que lhes assiste de recusarem o depoimento”.

(i) Segredo profissional (art. 135º, CPP): “os ministros de religião ou confissão religiosa e os
advogados, médicos, jornalistas, membros de instituições de crédito e as demais pessoas a quem a lei
permitir ou impuser que guardem segredo podem escusar-se a depor sobre os fatos por ele abrangidos.”

(j) Segredo de funcionários (art. 136º, CPP): “os funcionários não podem ser inquiridos sobre fatos que
constituam segredo e de que tiverem tido conhecimento no exercício das suas funções”.

(l) Segredo de Estado (art. 137º, CPP): “as testemunhas não podem ser inquiridas sobre fatos que constituam
segredo de Estado” (nº1), ou seja, “os fatos cuja revelação, ainda que não constitua crime, possa causar dano
à segurança, interna ou externa, do Estado Português ou à defesa da ordem constitucional.” (nº2)

(m) Regras da inquirição (art. 138º, CPP): “o depoimento é um ato pessoal que não pode, em caso algum, ser
feito por intermédio de procurador” (nº1), além de não poderem ser feitas “perguntas sugestivas ou
impertinente, nem quaisquer outras que possam prejudicar a espontaneidade e a sinceridade das respostas”
(nº2). Assim, as perguntas feitas às testemunhas não devem conter em si as respostas, pois não se pode
conduzir o depoimento.

A inquirição incide sobre os “elementos necessários à identificação da testemunha, sobre as suas relações
de parentesco e de interesse com o arguido, ofendido, assistente, partes civis e outras testemunhas, bem
como sobre quaisquer circunstâncias relevantes para avaliação da credibilidade do depoimento; se for
obrigada a juramento, deve prestá-lo, após o que depõe nos termos e dentro dos limites legais (nº3). Podem
ser “mostradas às testemunhas quaisquer peças do processo, documentos que a ele respeitem, instrumentos
com que o crime foi cometido ou quaisquer outros objetos apreendidos” (nº4). “Se a testemunha apresentar
algum objeto ou documento que puder servir a prova, faz-se menção e junta-se ao processo ou guarda-se
devidamente” (nº5).

5.2. Declarações do arguido, do assistente e das partes civis

Declarações do arguido, do assistente e das partes civis:

“Declarações e notificações do assistente e das partes civis – art. 145º: Os assistentes e as


partes civis estão proibidas de ser interrogadas como testemunhas. Mas esta proibição só
ocorre a partir do momento em que são constituídos assistentes, pois antes dessa condição
podem depor como testemunhas valorando-se o seu depoimento tendo-se em conta que
estamos perante uma pessoa com interesse na causa.

21
PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

Nos termos do n.º4 e n.º2, o assistente e as partes civis não prestam juramento mas estão
obrigadas a dizer a verdade. Esta é a principal diferenças entre o depoimento prestado pelo
assistente e partes civis e pelas testemunhas.

Os assistentes e partes civis podem requerer a sua inquirição para que as suas declarações
fiquem a constar do processo. Por outro lado, eles também podem ser chamados por uma
autoridade judiciária – n.º1.

Nos termos do n.º5, para serem notificados, o assistente e as partes civis devem indicar a
sua residência, local de trabalho ou outro domicílio à sua escolha. O efeito disto é que o
assistente e partes civis vão ser notificadas, quando a lei o permitir, por via postal simples,
para a morada que indicarem. Este é alias um dos casos excepcionais em que se admite a
notificação por via postal simples. Quando se altera a morada indicada, deve-se fazer esta
alteração nos termos do n.º6. Note-se que esta é a única disposição que o CPP nos diz que
uma alteração só pode ser feita por dois meios: 1- Entrega do requerimento na secretaria;
2- Via postal registada

Note-se que aqui o art. 150º do CPC não tem aplicação, porque só se aplica quando o CPP
nada diga, e, nesta situação, diz expressamente.

“Declarações do arguido: regras gerais” – 140º: Para que as declarações do arguido possam
ser valoradas no processo é fundamental que tenham sido respeitadas as formalidades de
constituição como arguido – n.º4 do art. 58º.

O n.º1 consagra a liberdade do depoimento do arguido, salvo se forem necessárias cautelas


para prevenir o perigo de fuga ou actos de violência.

Reza o n.º2 que às declarações do arguido é correspondentemente aplicável o disposto nos


artigos 128º e 138º, salvo quando a lei dispuser de forma diferente. Isto significa que é
inquirido sobre os factos (128º) e que o depoimento dele é um acto pessoal (138º), ou seja,
as declarações do arguido só podem ser prestadas por ele.

O n.º3 dispõe que o arguido, em caso algum, presta juramento. Isto também acontece que o
assistente e as partes civis, mas, enquanto aqueles estão obrigados a dizer a verdade o
arguido não o está, salvo quanto: 1- À sua identidade; 2- Aos seus antecedentes criminais.
Estas são as únicas situações em que o arguido está sujeito ao dever de verdade sob pena de
responder criminalmente, nos termos do art. 61º n.º3 b).

Mas isto não significa que o arguido possa mentir. O arguido tem direito ao silêncio e a não
responder sobre determinado facto ou questões que lhe sejam colocadas. Mas optando por

22
PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

responder, o mesmo deve responder com verdade, fazia sentido que o mesmo prestasse
juramento se as restantes partes o fazem.

“Primeiro interrogatório judicial do arguido detido” – art. 141º: Antes de mais, importa
distinguir detenção de prisão. O arguido só é preso quando for condenado ou lhe for aplicada
uma medida de coacção de prisão preventiva. Assim, no início do processo o arguido está
apenas detido.

Durante o inquérito, quando o arguido está em liberdade é ouvido pelo MP e na instrução


pelo juiz de instrução – art. 144º.

Mas quando está detido, existem dois tipos de primeiros interrogatórios:

1- Judicial (141º): é ouvido pelo juiz. A lei diz que o arguido é interrogado pelo juiz de
instrução, se não tiver que ser julgado de imediato. Ora, a lei faz esta ressalva por causa dos
processos sumários e sumaríssimos, onde o julgamento é feito de imediato.

2- Não judicial (143º): é ouvido pelo MP. A este aplica-se as regras do primeiro interrogatório
judicial do arguido detido.

Nos termos no n.º 1 do artigo 141.º, em processo comum o primeiro interrogatório judicial
de arguido detido, tem que ter lugar nas primeiras 48 horas seguintes à detenção. Não
interessa se o interrogatório de prolonga por mais 3 ou 4 dias, pois ele apenas tem que se
iniciar nas 48 horas seguintes.

Para além disto, tem que se indicar ao arguido os motivos da detenção e respectivas provas
e fundamentos. “Indicação circunstanciada dos motivos da detenção e das provas que o
fundamentam.”

O n.º2 reitera que o interrogatório é feito “exclusivamente” pelo juiz. Assim, só o juiz é que
faz perguntas. O MP e o defensor assistem, presenciam o interrogatório.

O arguido tem que se identificar por completo. Esta será a primeira coisa a fazer neste
interrogatório n.º 3. Para além da identificação, o arguido também deve ser questionado
acerca se já esteve preso, detido ou condenado por algum crime. Pois uma pessoa pode ter
sido condenada sem ter ido presa. Caso o juiz suspeite que o arguido está a mentir quanto
à sua identificação pode pedir-lhe o BI ou outro documento oficial de identificação.

Todas estas questões são as únicas a que o arguido tem que responder (não tem direito ao
silêncio quanto a estes factos) e responder com verdade (61º n.º3 b)), sem que isso colida
com o seu direito ao silêncio – 61º n.º1 c). Note-se que aquele dever e este direito são
perfeitamente conciliáveis nestes termos. Após a identificação, deve-se dar inicio ao

23
PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

depoimento, mas antes o juiz tem que informar o arguido dos direitos referidos no art. 61º
n.º1, explicando-lhe o seu conteúdo se necessário – n.º4. Veja-se que apesar de o arguido já
ter sido informado destes direitos no momento da sua constituição, a lei exige que o juiz o
informe novamente. De entre os seus direitos, o arguido também vai ser informado da
obrigatoriedade de defensor no 1º interrogatório judicial do arguido detido – 61º e) e 64º a).

Depois de lhe explicar tudo isto, o juiz conhece dos motivos da detenção e comunica-os ao
arguido expondo-lhe os factos que lhe são imputados.

Por exemplo, no caso Casa Pia os arguidos foram confrontados com os factos das fls 69 a
80, 300 a 350 sem que lhe tivessem explicado quais eram esses factos. Ora, isto não pode
ser feito desta forma.

O n.º5 inicia-se com uma expressão no condicional: “prestando declarações”. Ora, isto está
no condicional porque o arguido só presta declarações se entender, gerindo o seu direito ao
silêncio que está na sua total disponibilidade. – 61º N.º1 c). Caso entenda prestar
depoimento, o arguido pode confessar ou negar os factos ou a sua participação neles e
indicar as causas que possam excluir a sua ilicitude ou culpa, bem como quaisquer
circunstancias que possam relevar para a determinação da sua responsabilidade ou medida
de pena. Portanto, o arguido presta declarações daquilo que entender e no sentido que
entender, dizendo tudo aquilo que possa excluir a sua ilicitude ou culpa, ou a medida da
sanção. Para que o arguido decida se deve ou não prestar declarações deve, ser previamente
informado, pelo juiz dos factos concretos que lhe são informados, para que este possa
delinear a sua estratégia de defesa. Caso o juiz não indique todos os factos que sabe, nem
efectuar qualquer justificação, a situação configura um caso de irregularidade ou de nulidade
para quem entenda que estamos perante a omissão de um acto legalmente devido

De qualquer dos modos, em ambos os casos, a irregularidade/nulidade deve ser arguida antes
da finalização do acto, para, ficar em acta.

Se o interrogatório é feito exclusivamente pelo juiz, o MP e o defensor, durante o


interrogatório abstêm-se de falar, podendo o juiz permitir que prestem esclarecimentos –
n.º6. e esclarecimento quanto a respostas dadas e não elaborar novas perguntas. Todavia,
podem sempre intervir para arguir nulidades. Findo o interrogatório, o MP e o defensor
podem requerer ao juiz que formule questões que entendam relevantes para a descoberta da
verdade. Assim, se o defensor entender que é necessário algum esclarecimento requer ao
juiz que questione o arguido sobre determinada questão. Note-se que temos sempre que
requerer ao juiz que interrogue e alegar que tal seja essencial para a descoberta da verdade,
pois neste interrogatório o defensor e o MP nunca podem interrogar o arguido directamente.

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PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

Feito o requerimento, o juiz decide se o defensor faz ou não o requerimento para que seja
feita mais uma questão na presença do arguido. Pois se entender que o arguido pode ser
influenciado por aquele requerimento manda retirar o arguido da sala – n.º6. Esta decisão
do juiz é feita por despacho irrecorrível. Em suma, temos aqui 3 momentos: 1- O defensor
pede para fazer um requerimento; 2- O juiz decide se a pergunta é feita ou não na presença
do arguido; 3- O juiz decide se vai pedir esse esclarecimento ao arguido. Note-se que ambas
as decisões são feitas por despacho irrecorrível.6

Este primeiro interrogatório judicial do arguido detido é um dos casos em que o arguido
pode ser interrogado das 00H00 às 06H00

“Juiz de instrução competente” – art. 142º:

Este primeiro interrogatório deve ser feito pelo juiz competente para os actos de instrução.
Todavia, quando não seja possível apresentar o arguido aquele dentro do prazo previsto de
48 horas, a lei permite que se apresente a outro juiz que não aquele – n.º1.

Nos termos do n.º2, mesmo que o interrogatório não seja feito pelo juiz de instrução
competente, pode-se aplicar medidas de coacção.

Em suma: 1º- O arguido tem de estar detido; 2º- Tem que ser ouvido no prazo máximo de 48
horas; 3º- É o juiz que faz o interrogatório; 4º- É obrigatória a assistência de defensor e do
MP que não fazem perguntas mas podem arguir nulidades – 120º n.º3 a). O defensor também
pode aconselhar o arguido a não responder a questões e requerer esclarecimentos; 5º- Antes
de responder a quaisquer perguntas o arguido tem direito a saber todos os factos que lhe
são imputados.

“Primeiro interrogatório não judicial de arguido detido” – art. 143º: Este é quase igual ao
interrogatório judicial, com a diferença que não é feito pelo juiz mas pelo MP.

O arguido detido se não tiver de ser apresentado ao juiz de instrução (regra) é apresentado
ao MP – n.º1. A opção entre o interrogatório judicial ou não judicial depende do MP, é este
que decide.

O n.º2 dispõe que se aplica tudo o que se disse para o outro interrogatório7 sempre que tal
for aplicável. O formador entende que pelo menos o n.º 4 deve considerar-se aplicável. A
questão do defensor assume aqui particular relevo. Não se sabe se a presença do mesmo é
ou não obrigatória.

Não nos podemos socorrer do artigo 144/4, porque o arguido está em liberdade; Não nos
podemos socorrer do artigo 144/4 porque o arguido não está preso. A não ser que por preso

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se entenda detido. No limite, vamos pela remissão para o 141 quando no n.º 4 manda referir
os direitos do arguido, sendo um deles o direito a ser assistido por defensor.

Se o MP não ordena imediatamente a libertação (pode ordená-la nos casos em que o


procedimento criminal dependa de queixa) não pode manter o arguido ali – n.º3 -, mas
providencia que ele seja levado ao juiz. O máximo que o MP pode fazer é aplicar TIR e deixar
o arguido em liberdade. Caso entenda que o mesmo se deve manter detido, tem o mesmo
que ser presente ao JIC para validação da prisão. Assim, há o seguinte trajecto: 1- Detenção;
2- 1º Interrogatório não judicial; 3- 1º Interrogatório judicial.

Nos casos de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada o MP pode


determinar que o detido não comunique com pessoa alguma, salvo defensor, antes do 1º
interrogatório judicial – n.º4.

“Outros interrogatórios” – art. 144º: Nos interrogatórios subsequente são feitos, no


inquérito, pelo MP e, na instrução, pelo respectivo juiz – n.º1.

Nos termos do n.º2, os órgãos da polícia criminal também podem fazer interrogatórios
subsequentes quando o MP tenha delegado a sua realização. Isto só no caso do arguido estar
em liberdade, porque se estiver detido tem que ser ouvido pelo MP (??). O n.º 3 estabelece
que os interrogatórios de arguido preso são sempre feitos com a assistência de defensor.
Em conformidade com o estabelecido nos artigos 141.º e 143.º caso o interrogatório seja
judicial a presença será obrigatória, sendo extrajudicial, o arguido deve ser informado da
possibilidade do seu acompanhamento.

De todas estas declarações é lavrado o auto fiel de todo o que se passou e assinado por (95º):
- Arguido; - O MP; - O defensor (cuja constituição foi obrigatório se, por exemplo, o arguido
era menor de 21 anos); - O funcionário judicial.

Note-se que o advogado só assina autos e não actas. O auto designa-se acto quando respeite
ao debate instrutório e à audiência de julgamento – art. 99º n.º2.

5.3. Prova por acareação (art. 146º, CPP)

A acareação consiste no confronto de depoimentos, sendo utilizada quando estes são contraditórios.
Normalmente, este tipo de prova é inconclusiva, tendo relevância para que a contradição fique expressa em
ata. Quando envolve o arguido, este pode recusar-se a falar.

Assim, prevê o art. 146º, nº 1, CPP que “é admissível acareação entre coarguidos, entre o arguido e o
assistente, entre testemunhas ou entre estas, o arguido e o assistente sempre que houver contradição

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PRÁTICAS PROCESSUAIS PENAIS

entre as suas declarações e a diligência se afigurar útil à descoberta da verdade”. As regras relativas à
acareação também se aplicam às partes civis (nº2).

“A entidade que presidir à diligência, após reproduzir as declarações, pede às pessoas acareadas que as
confirmem ou modifiquem e, quando necessário, que contestem as das outras pessoas, formulando-lhes em
seguida as perguntas que entender convenientes para o esclarecimento da verdade” (nº4). Assim, é a entidade
que preside a diligência que tem que fazer a acareação, sem prejuízo do nº3, que dispõe que “a acareação
tem lugar oficiosamente ou a requerimento”.

Ac. TRC de 2-06-2009

1. A acareação é um meio de prova admissível que depende de duas condições: haver contradição entre
as declarações e a diligência afigurar-se útil à descoberta da verdade.

2. Este meio de prova é subsidiário dos meios de prova declaratórios e o seu valor probatório é de
apreciação livre pelo tribunal.

3. A existência de contradição entre depoimentos não determina, obrigatória e necessariamente, a


realização de acareação, impondo-se a necessidade da mediação de um juízo sobre a utilidade dessa
diligência probatória.

5.4. Prova por reconhecimento

(a) Reconhecimento de pessoas (art. 147º, CPP): “quando houver necessidade de proceder ao
reconhecimento de qualquer pessoa, (1) solicita-se à pessoa que deva fazer a identificação que a descreva,
com indicação de todos os pormenores de que se recorda. (2) Em seguida, é-lhe perguntado se já a tinha visto
antes e em que condições. (3) Por último, é interrogada sobre outras circunstâncias que possam influir na
credibilidade da identificação.”

Só se recorre ao n.º2 se a identificação feita nos termos do n.º1 não for segura ou cabal. Este
nº fala no alinhamento Nos termos do n.º3, o reconhecimento é feito com um espelho em
que o identificado não veja o seu identificador.

Nos termos do n.º4, se o reconhecimento não obedecer a todos estes passos não tem valor
como meio de prova. Assim, se o auto que se lavrou não tiver correspondência com este
artigo não tem valor como prova.

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2 - Se a identificação não for cabal, afasta-se quem dever proceder a ela e chamam-se pelo menos duas pessoas que apresentem as maiores
semelhanças possíveis, inclusive de vestuário, com a pessoa a identificar. Esta última é colocada ao lado delas, devendo, se possível, apresentar-
se nas mesmas condições em que poderia ter sido vista pela pessoa que procede ao reconhecimento. Esta é então chamada e perguntada sobre se
reconhece algum dos presentes e, em caso afirmativo, qual.
3 - Se houver razão para crer que a pessoa chamada a fazer a identificação pode ser intimidada ou perturbada pela efectivação do reconhecimento
e este não tiver lugar em audiência, deve o mesmo efectuar-se, se possível, sem que aquela pessoa seja vista pelo identificando.
4 - As pessoas que intervierem no processo de reconhecimento previsto no n.º 2 são, se nisso consentirem, fotografadas, sendo as fotografias
juntas ao auto.
5 - O reconhecimento por fotografia, filme ou gravação realizado no âmbito da investigação criminal só pode valer como meio de prova quando
for seguido de reconhecimento efectuado nos termos do n.º 2.
6 - As fotografias, filmes ou gravações que se refiram apenas a pessoas que não tiverem sido reconhecidas podem ser juntas ao auto, mediante o
respectivo consentimento.
7 - O reconhecimento que não obedecer ao disposto neste artigo não tem valor como meio de prova, seja qual for a fase do processo em que
ocorrer.

Nota: Em primeiro interrogatório judicia de arguido detido é necessária a assistência de


defensor. Mas, já no primeiro interrogatório não judicial de arguido detido não é necessária
a assistência de defensor, salvo nos casos do artigo 64º.

Quanto a esta última cumpre

referir que há crimes que pela sua natureza não admitem a sua reconstituição (v.g. os crimes

de incêndio); esta prova é muito usada nos acidentes de viação, cfr. artigo 150.º CPP. A

reconstituição é diferente do exame ao local, na medida em que o exame é um meio de

obtenção de prova e não um meio de prova como a reconstituição. A este propósito veja-se o

Acórdão do Supremo Tribunal proferido no caso Joana.

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