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Introdução
Neste trabalho, procuramos fazer uma análise geral sobre o grupo terrorista libanês
Hezbollah. Durante o desenvolvimento, tentamos, ao máximo, nos afastar de vieses que
pudessem alterar nossa visão desse grupo, trazendo assim, uma análise mais neutra e teórica.
Vamos analisar as questões telúricas da guerra, fazendo uma conexão entre os autores
estudados em aula e as novas informações que conseguimos arrecadar ao redor do tema.
Faremos um breve histórico da organização (relataremos seus objetivos, suas
motivações, sua formação, etc.), analisaremos seu objetivo estratégico e faremos, também,
uma análise estatística sobre os ataques e sobre os terroristas.
Por se tratar de um tema tão controverso onde existem muitas informações
divergentes disponíveis, vamos nos basear no site da Chicago Project on Security & Threats
para manter essa análise o mais concisa o possível.
Desenvolvimento
1) Histórico
O Hezbollah surge no sul do Líbano em 1982 em um período extremamente
conturbado da história do país, que havia acabado de mergulhar em uma guerra civil e de ter
parte de seu território ocupado pelo exército israelense nos anos de 1978 e 1982. Para
entender a construção deste momento histórico e o consequente surgimento do grupo é
necessário considerar a história do Líbano, e a constituição demográfica de algumas regiões
do país que possuem uma maioria de muçulmanos xiitas.
No início do século XX, ao final da primeira guerra mundial, a região se torna
protetorado francês, com seu território unido à Síria, devido a queda do Império Turco
Otomano e da assinatura do acordo Sykes-Picot e da Conferência de San Remo, em 1916 e
1920, respectivamente. O domínio francês durou até o ano de 1943 e a saída completa das
tropas francesas aconteceu em 1947. Como legado importante deste período fica o chamado
“Pacto Nacional” que resultou na divisão de cargos administrativos entre os principais grupos
religiosos do país, ficando definido que, aos cristãos maronitas, caberia a escolha do
presidente, já aos muçulmanos sunitas, a escolha do primeiro ministro e, aos muçulmanos
xiitas, a escolha do presidente do parlamento.
Durante o período desde a independência até os anos 1970, o sul do país se tornou
uma região com grande concentração de refugiados palestinos fugidos dos confrontos com
Israel a partir da guerra árabe-israelense de 1948. Em 1970, devido a um combate entre o
exército jordaniano e as forças da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), em um
conflito denominado “Setembro Negro”, as lideranças da organização também migraram para
o Líbano, e passaram a exercer bastante influência nas regiões que possuem maioria xiita.
Estas regiões também correspondem às partes mais pobres do país.
A forte presença da OLP em algumas regiões e o governo libanês sendo controlado
pelos cristãos maronitas ocasionou uma escalada de tensões no país que levou em 1975 ao
início de uma guerra civil entre os dois grupos, após uma sequência de ataques que atingiram
ambos os lados. Em um primeiro momento, a OLP e o exército sírio combateram as forças
das lideranças cristãs até 1978 quando ocorre uma intervenção internacional no conflito e a
assinatura de um cessar-fogo.
Em 1982, um braço do Fatah denominado Abu Nidal realizou um ataque que tinha
como alvo o embaixador israelense em Londres à época. Esse episódio levou a uma escalada
no conflito, que por fim levou a chamada “Operation Peace for Galilee”, por meio da qual
Israel ocupou parte do território libanês com o objetivo de destruir bases de operações da
OLP. Este é o contexto no qual surge o Hezbollah, como uma amálgama de vários grupos da
região que passam a combater a invasão israelense no sul do país e a presença de tropas
ocidentais no Líbano.
O Irã passou também a apoiar o grupo, inclusive o deixando na tutela da guarda
nacional. Em 1983, o grupo realiza ataques contra bases pertencentes a países ocidentais.
A guerra civil no Líbano chega ao fim nos anos 90 com o Acordo de Taif, que foi
responsável por acertar as bases para uma reforma política e a saída das tropas sírias que
permaneceram na região durante quase todo o conflito. Este acordo também previa a
desmilitarização de todas organizações guerrilheiras combatendo no país, porém, o Hezbollah
foi a única organização que ainda pôde continuar com os seus armamentos.
Apesar do fim da guerra civil, Israel continuava ocupando os territórios ao sul do
Líbano, e portanto, os conflitos ainda continuavam na região, estes que atingiram seu ápice
em 1996 com a operação “Grapes of Wrath” onde militares israelenses realizaram ataques
aéreos e terrestres contra alvos do Hezbollah e acabaram por atingir um centro de refugiados
em Qana matando 108 pessoas. Durante este período também ocorreram ataques importantes
realizados pelo grupo em regiões fora do Oriente Médio, sendo eles em Buenos Aires, um
responsável pela morte de 81 pessoas, e outro em Londres.
Israel acaba deixando o território libanês em 2000, o que significou uma vitória do
Hezbollah liderando a resistência na região. O grupo se torna uma força política bem
consolidada no Líbano, tendo entrado pela primeira vez nas eleições em 1992 e sempre
mantendo representação no congresso.
Em 2005 ocorre o assassinato do ex-Primeiro Ministro, Rafiki Hariri, que havia sido
responsável pela reestruturação da cidade de Beirute e que era apoiado pela Arábia Saudita. A
autoria foi creditada aos sírios, e o episódio acabou levando a novos conflitos entre grupos
fiéis a Hariri, grupos apoiados pelos Sauditas e o Hezbollah apoiado pelo Irã e Síria.
Conclusão
Partindo da análise dos dados do CPOST, dos nossos conhecimentos sobre a história
recente do Líbano e de conhecimentos teóricos adquiridos por meio de leituras e aulas ao
longo da graduação, concluímos que o Hezbollah comprova, de certa forma, questões
colocadas por Robert Pape sobre as motivações do terrorismo. Em contraponto à narrativa
dominante, que traça um perfil de terrorismo vinculado ao islamismo, gerando reações de
intolerância religiosa generalizadas em diversos países, os dados analisados sugerem que a
maioria das ações do Hezbollah não está vinculada com questões religiosas, mas com
questões estratégicas e políticas.
Observamos que 60% dos ataques foram reações de protesto à invasão israelense do
território libanês -- uma questão política clara e pontual. Além disso, o fato de que 80% dos
ataques suicidas vinculados ao Hezbollah ocorrerem no Líbano e grande parte durante o
período da ocupação israelense do território. Isso remonta ao caráter telúrico da ação violenta
colocado por Schmitt, que fala sobre a ação civil violenta como tentativa de instaurar ou
preservar a autodeterminação de um país.
É claro que optamos por analisar mais profundamente os ataques inseridos na
Campanha contra Israel, não apenas por representarem a maior parte dos ataques da
Hezbollah, mas pelo fato de comporem a narrativa de uma vitória desse tipo de ação. De
qualquer forma, não deixa de chamar a atenção o fato de 2 dos 10 ataques cometidos pelo
grupo terem ocorrido fora do território libanês, o que indica que, embora motivado pela
questão da ocupação israelense no Líbano, o grupo não se limita a essa campanha, mas
aumenta seus horizontes sem comprovar o clichê do terrorismo religioso.
Bibliografia