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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCHS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DCH

CURSO DE PSICOLOGIA

FATIMA ROCÍO ESPÍNOLA ARZAMENDIA

O VÍNCULO MÃE-BEBÊ NAS SITUAÇÕES DE NASCIMENTO PRÉ-TERMO

CAMPO GRANDE – MS
2012
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FATIMA ROCÍO ESPÍNOLA ARZAMENDIA

O VÍNCULO MÃE-BEBÊ NAS SITUAÇÕES DE NASCIMENTO PRÉ-TERMO

Trabalho de conclusão de curso apresentado


como requisito parcial para a obtenção do título
de Bacharel em Psicologia-Formação de
Psicólogo pela Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul.

Orientadora: Professora Doutora Alexandra


Ayach Anache.

CAMPO GRANDE - MS
2012
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FÁTIMA ROCÍO ESPÍNOLA ARZAMENDIA

O VÍNCULO MÃE-BEBÊ NAS SITUAÇÕES DE NASCIMENTO PRÉ-TERMO

Orientadora: Profa. Dra. Alexandra Ayach Anache

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Programa graduação em Psicologia, do Centro


de Ciências Humanas e Sociais, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como
requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Psicologia-Formação de Psicólogo.

Aprovado em:

COMISSÃO EXAMINADORA

Profa. Dra. Alexandra Ayach Anache


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Orientadora

Prof. Kátia Regina Bazzano da Silva Rosi


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Dra. Vivian Caroline Klein


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Campo Grande,_____de__________de 2012.


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Dedico este trabajo a mis padres, abuelos


y a Rafael, esta conquista no la habría
logrado sin el esfuerzo de todos ustedes.
5

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Nossa Senhora de Fátima, por me iluminar o caminho quando


mais precisei de seu apoio e consolo.

Aos meus pais, por ter desempenhado eficazmente seu papel de me segurar, dando os
instrumentos necessários para enfrentar as situações que chegaram, e que ainda virão.

Ao Rafael, a pessoa que certamente mais teve que agüentar minhas angustias ao longo
destes cinco anos, e que sempre esteve do meu lado mesmo estando longe fisicamente.

À Professora Alexandra, por sua dedicação para que sempre possamos dar o melhor de
nós, por ter me dado a oportunidade de descobrir áreas da psicologia pelas quais me
apaixonei, e sobre as quais ainda pretendo aprender mais.

Aos meus professores, pois cada um deles me apresentou uma possibilidade de olhar o
mundo, me demonstrando que sempre existem várias maneiras de encarar uma situação.

Aos meus colegas, por todas as experiências vividas ao longo do curso, pois também
representam uma parte especial dos meus dias de faculdade, e que cada um com sua própria
personalidade, certamente não esquecerei.

A tudo aquilo que ganhei, mas, sobretudo aos que perdi nesta viagem, perdas que me
fizeram mais forte, e me ensinaram que nunca poderemos preencher um espaço vazio, mas
sempre poderemos fazer desses espaços uma parte do que somos.
6

“Allí donde el cuidado materno fracasa, la


debilidad del ego infantil se hace evidente”.
(WINNICOTT, 1965, p. 63).
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RESUMO

Todos os anos nascem aproximadamente quinze milhões de bebês pré-termo no mundo,


aumentando a necessidade de olhar para as condições em que estes bebês e suas mães
estabelecem o primeiro contato, devido a que correspondem a um fenômeno cada vez mais
comum em unidades de cuidados intensivos. Certamente esta particularidade de um
nascimento pré-termo obriga a mãe e ao seu bebê a estabelecer um primeiro contato num
ambiente de hostilidade para os dois, e que incide na formação desse vínculo primário. Este
trabalho procurou entender o vínculo que se estabelece entre as mães e os bebês que sofrem
intercorrências numa situação de prematuridade no nascimento. Participaram desta pesquisa
mães de crianças nascidas pré-termo internadas em UTI Neonatal, ou em acompanhamento
pelo Programa de Assistência ao Desenvolvimento de Crianças Nascidas Prematuras do
Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. A partir de entrevistas semi-estruturadas realizadas neste contexto, pôde-se perceber o
abalo que mãe e bebê sofrem numa situação de nascimento de risco, que afeta a primeira
interação entre os dois. As entrevistas foram filmadas e depois analisadas desde a perspectiva
psicanalítica, e através de análise dos episódios vídeo-gravados. A teoria psicanalítica
winnicottiana contribuiu para compreender o fenômeno de estabelecimento deste vínculo
mãe-bebê.

Palavras-chave: Relação mãe-bebê. Nascimento prematuro. Psicanálise.


8

ABSTRACT

Every year born about fifteen million pre-term babies in the world, increasing the need to look
at the conditions which these babies and their mothers establish the first contact, as
corresponding to an increasingly common phenomena in intensive care units. A peculiarity of
preterm birth requires for the mother and her baby to establish a first contact in a hostile
environment for them, and that affects the formation of this primary bond. This study tried to
understand the bond that occurs between mothers and babies who suffer complications on a
situation of preterm born. Participated in this study mothers of children born preterm,
hospitalized in Neonatal Intensive Care Unit, or monitoring by the Program of Assistance to
Development of Preterm Infants of the University Hospital Maria Aparecida Pedrossian at the
Federal University of Mato Grosso do Sul. Since semi-structured interviews conducted in this
context, we could realize the shock that mother and baby suffer in a situation of risk birth,
which affects the first interaction between both. The interviews were videotaped and then
analyzed from a psychoanalytic perspective, as well as through analysis of video-recorded
episodes. Winnicott’s psychoanalytic theory helped to understand the phenomenon of the
establishment of mother-infant bond.

Key-words: Mother-infant bond. Preterm born. Psychoanalysis.


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RESUMEN

Todos los años nacen aproximadamente quince millones de bebés prematuros en el mundo,
aumentando la necesidad de mirar hacia las condiciones en que estos bebés e sus madres
establecen el primer contacto, debido a que corresponden a um fenómeno cada vez más
común en unidades de cuidados intensivos. Verdaderamente esta particularidad de un
nacimiento prematuro obliga a la madre y a su bebé a establecer un primer contacto en un
ambiente de hostilidad para los dos, e que incide en la formación de ese vínculo primario.
Este trabajo buscó entender el vínculo que se establece entre madres y bebés que sufren
complicaciones en una situación de prematuridad en el nacimiento. Participaron de esta
pesquisa madres de niños nacidos prematuros internados en Unidad de Tratamientos
Intensivos Neonatales, o en acompañamiento por el Programa de Asistencia al Desarrollo de
Niños Nacidos Prematuros del Hospital Universitario Mária Aparecida Pedrossian de la
Universidad Federal de Mato Grosso do Sul. A partir de entrevistas semi estructuradas
realizadas en este contexto, se pudo percibir el impacto que la madre y el bebé sufren en una
situación de nacimiento de riesgo, que afecta a la primera interacción entre ambos. Las
entrevistas fueron filmadas y después analisadas desde la perspectiva psicoanalítica, e a través
de análisis de los episódios video grabados. La teoria psicoanalítica winnicottiana contribuyó
para comprender el fenómeno de establecimento de este vínculo materno-infantil.

Palabras clave: Relación materno-infatil. Nacimiento prematuro. Psicoanálisis.


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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

HC/FMRP-USP – Hospital das Clinicas / Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto –


Universidade de São Paulo
OMS – Organização Mundial da Saúde
UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
UTIN – Unidade de Tratamento Instensivo Neonatal
11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 12

2 O NASCIMENTO PRÉ-TERMO............................................................................. 17

2.1 GESTAÇÃO.............................................................................................................. 19
2.2 O PARTO PRÉ-TERMO........................................................................................... 20

3 O VÍNCULO MÃE-BEBÊ NA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA................... 26

4 MÉTODO.................................................................................................................... 38

4.1 FUNDAMENTAÇÃO DA METODOLOGIA DE PESQUISA............................... 38


4.2 SUJEITOS DA PESQUISA.......................................................................................39
4.3 LOCAL DE PESQUISA............................................................................................ 40
4.4 INSTRUMENTOS..................................................................................................... 40
4.5.1 Entrevista semi-estruturada................................................................................ 40
4.5.2 Análise de Episódios............................................................................................. 41
4.5 PROCEDIMENTOS.................................................................................................. 43

5 APRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA............................................ 44

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS............................................................................... 50

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 57

REFERÊNCIAS............................................................................................................. 59

ANEXOS......................................................................................................................... 62

ANEXO A – ROTEIRO DE ENTREVISTA............................................................... 63


ANEXO B – ROTEIRO DE ANÁLISE DE EPISÓDIOS.......................................... 64
ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO......... 65
ANEXO D – CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
EM PESQUISA COM SERES HUMANOS................................................................ 68
12

 INTRODUÇÃO

O interesse com as pesquisas na área de neonatologia de risco surgiu a partir da


experiência de participar e trabalhar no Programa de Assistência ao Desenvolvimento de
Crianças Nascidas Prematuras, cujas atividades são desenvolvidas na Unidade de Tratamento
Intensivo Neonatal (UTIN) e no ambulatório de pediatria do Hospital Rosa Maria Pedrossian
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Através desta experiência, pude
conhecer o papel do psicólogo na assistência às mães e seus bebês, e a maneira em que este
atendimento pode melhorar a qualidade do desenvolvimento da criança nascida prematura.

O trabalho que vem sendo desenvolvido pela psicologia, dentro do campo da pediatria,
está focalizando cada vez mais a assistência às mães e crianças nascidas prematuras. Neste
sentido, a partir do referencial teórico da psicanálise, é necessária a compressão e o
conhecimento da formação do vínculo primário, mãe-bebê, e suas peculiaridades nestas
situações. Uma compreensão, que segundo a teoria, é fundamental para estabelecer condições
mais saudáveis para o bebê e seu desenvolvimento.

Sobre este tema, numa pesquisa feita com mães de bebês nascidos prematuros que
apresentam ou não indicadores clínicos de ansiedade e depressão, realizada por psicólogos da
Universidade de São Paulo observou-se que as mães dos bebês internados em UTIN como
conseqüência de sua prematuridade apresentam quadros de ansiedade, que muitas vezes são
provocados, ou no caso de já estarem presentes no momento do nascimento, são agravados
pela condição de risco da criança.

Segundo os mesmos há na literatura ainda poucos estudos relacionados aos aspectos


subjetivos que dizem respeito à experiência emocional da mãe do bebê nascido prematuro.

Há uma lacuna na literatura relativa à análise da relação entre a experiência materna


associada com os indicadores emocionais e as condições de saúde neonatal do bebê,
as características pessoais maternas e os indicadores do contexto ambiental (PINTO;
PADOVANI; LINHARES, 2009, p. 76).

A partir desse estudo, os autores observaram que mães de bebês nascidos prematuros
preocupam-se mais com os problemas decorrentes da prematuridade do bebê. Através de um
estudo realizado por PINTO e cols (2009) no Berçário de Médio Risco do Hospital das
Clinicas / Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (HC/FMRP-
13

USP), os autores apontaram que as mães que apresentam indicadores clínicos de ansiedade
mostram-se com expectativas neutras1 no que se refere às características físicas e
comportamentais da criança. Enquanto que mães sem indicadores clínicos de ansiedade
expressavam sua preferência por gênero. As características positivas se achavam aludidas ao
desenvolvimento e sua evolução. No entanto as características negativas com respeito ao
nascimento pré-termo se encontraram em ambos os grupos. Este resultado nos diz muito da
necessidade das mães na compreensão do quadro clinico do bebê. Suas expectativas e duvidas
com a saúde da criança também implicam na interação e no tipo de vínculo que ela estabelece
com seu bebê.

Em sua maioria as mães destes bebês apresentam concepções positivas no que diz
respeito ao desenvolvimento e evolução do seu filho(a), no entanto a fragilidade do bebê é o
que mais chama sua atenção e as preocupa. Ao mesmo tempo os sentimentos e reações que
estas mães expressam dependem de sua condição psíquica particular. O que leva a refletir
sobre a necessidade de acompanhamento das mães que apresentam estes indicadores clínicos
de ansiedade, o que certamente poderia melhorar sua disposição para o estabelecimento de um
vinculo sadio com seu bebê.

Com estas pesquisas compreende-se que a prematuridade do bebê internado em UTIN


afeta a condição psíquica da mãe destes bebês, e por conseqüência o vinculo primário que a
díade estabelece, enquanto que a melhora no quadro clinico do bebê também provoca reações
e sentimentos positivos nas mães.

[...] as concepções positivas maternas acerca do bebê associaram-se


significativamente a maior idade gestacional dos bebês, menor tempo de internação
na UTIN e menor nível de ansiedade materna do tipo estado. Por outro lado,
expectativas negativas e reações e/ou sentimentos negativos relacionaram-se à
menor idade gestacional dos bebês (PINTO; PADOVANI; LINHARES, 2009, p.
80).

As expectativas positivas das mães com respeito à condição dos bebês facilitam o
estabelecimento do vinculo primário;

Esses aspectos revelam um lado otimista nas mães que pode atuar como facilitador
para o enfrentamento das adversidades decorrentes da prematuridade e do
1
As expectativas neutras neste sentido se referem ao interesse da mãe sobre as características físicas e
comportamentais do bebê, assim como a preferência pelo gênero. Expectativas que não demonstraram
interesse sobre o que diz respeito ao desenvolvimento do bebê, ou ao problema da prematuridade.
14

distanciamento do seu bebê devido à internação hospitalar (PINTO; PADOVANI;


LINHARES, 2009, p. 80).

Outro fator que também contribui com a necessidade de acompanhamento para estas
mães, foi o fato destes autores observarem que os indicadores clínicos de ansiedade e
depressão nas mães dos bebês prematuros, em sua maioria, apresentaram-se em conseqüência
do problema de prematuridade de seus filhos(as). “[...] os indicadores emocionais de
ansiedade e depressão estavam relacionados mais à história contemporânea do nascimento do
bebê do que à história de saúde mental pregressa materna” (PINTO; PADOVANI;
LINHARES, 2009, p. 80).

E ao mesmo tempo apontam que:

Embora esse tipo de ansiedade tenha característica transitória, deve-se atentar para
que os sintomas não sejam intensificados e tornem-se crônicos, afetando
negativamente o estado de saúde mental das mães de neonatos prematuros e o
cuidado ao bebê (PINTO; PADOVANI; LINHARES, 2009, p. 80).

Todavia reforçando a necessidade do trabalho do psicólogo dentro da UTI Neonatal,


Carvalho et al. (2009 apoud PINTO; PADOVANI; LINHARES, 2009, p. 81) afirmam que
“Após intervenção psicológica envolvendo essas modalidades, durante a hospitalização do
bebê na UTIN, mães de bebê pré-termo podem reduzir o nível de ansiedade-estado”. Uma vez
mais, o trabalho do psicólogo poderia ser fundamental no tratamento das angustias e fantasias
provocadas nas mães como conseqüência da condição de risco do bebê, e na evolução da
saúde do mesmo.

A quantidade de intercorrências e procedimentos médicos que os bebês sofrem durante


a internação em UTIN, também influenciam o estabelecimento do vínculo, já que as mães
cujos bebês sofrem um maior número de intercorrências, têm menos contato com os
filhos(as), seja devido a sua condição de risco ou pelo tempo limitado em que podem
acompanhá-los dentro da UTIN.

Em outra pesquisa desenvolvida no Setor de Neonatologia do HC/FMRP – USP com


mães e seus bebês nascidos prematuros de muito baixo peso (inferior a 1.500 g), os
pesquisadores observaram claramente que as crianças nascidas prematuras apresentam uma
15

condição diferenciada no seu desenvolvimento, em comparação com crianças nascidas a


termo.

[...] o risco biológico neonatal não é, por si só, uma variável preditora direta com
efeito independente para problemas em quaisquer áreas do desenvolvimento. [...] As
características do ambiente familiar e social da criança podem agir atenuando ou
agravando o risco biológico (FRAGA et al, 2008, p. 342).

Neste sentido o vínculo estabelecido com a mãe representa um fator fundamental na


evolução do caso. Os mesmos autores também defendem a idéia de que “[...] o
desenvolvimento da criança é produto da interação entre fatores biológicos, psicológicos e
sociais” (FRAGA et al., 2008, p. 336). Assim, o bebê pré-termo interage com seu meio antes
de estar totalmente preparado, e sua condição de risco influencia e, ao mesmo tempo é
influenciada no contexto no qual irá se desenvolver.

Ainda confirmando o que vem sendo observado nas pesquisas e no trabalho diário do
psicólogo dentro da UTIN, os autores apontam para a preocupação com a saúde psíquica da
mãe que está acompanhando esse bebê. “Após o nascimento do bebê e durante sua internação
na unidade de tratamento intensivo neonatal, as mães de bebês nascidos pré-termo apresentam
ansiedade elevada” (FRAGA et al., 2008, p. 336).

Os autores encontraram que a ansiedade que se apresenta nas mães como


conseqüência da condição de risco do bebê pode vir a influenciar de maneiras diferentes em
cada aspecto do desenvolvimento de seu filho(a).

[...] as mães mais ansiosas podem interagir com seus filhos de forma intrusiva e
restritiva com relação as oportunidades de exercitar determinadas habilidades
relevantes para o desenvolvimento motor (por exemplo, o andar) e cognitivo (por
exemplo, a noção de permanência do objeto) (FRAGA et al., 2008, p. 343).

Assim entende-se que: “Os indicadores emocionais maternos apresentaram relações


diversas com as áreas de desenvolvimento da criança” (FRAGA et al., 2008, p. 343). Com
esta pesquisa os autores demonstram o quanto à condição emocional da mãe influencia no
desenvolvimento da criança nascida pré-termo. E da mesma forma, percebe-se que o vínculo
estabelecido entre a mãe e o bebê pré-termo corresponde a uma interação que tem suas
particularidades, especialmente ao ser comparada com o vínculo que estabelece uma mãe e
um bebê nascido a termo. Diferenças que este trabalho visa objetivar.
16

No entanto, pode-se observar que ainda é preciso desenvolver pesquisas ao respeito da


formação do vínculo mãe-bebê, devido à importância desta relação para o desenvolvimento da
criança.

A partir da experiência de trabalho no ambiente hospitalar, eu tive a oportunidade de


conhecer um pouco mais da rotina de mães e bebês recém-nascidos internados em UTIN, e
observei a necessidade de acolhimento e informação que estas mães têm. Assim, como a
ajuda do trabalho do psicólogo na possibilidade de estabelecer um vínculo seguro entre a mãe
e o bebê, atmosferas que pertencem ao campo da psicologia e que abrem uma nova inserção
do trabalho do psicólogo.

Neste sentido o presente trabalho procurou entender o vínculo que se estabelece entre
as mães e os bebês que sofrem intercorrências numa situação de prematuridade no
nascimento.

A partir deste estudo buscou-se a possibilidade de apoiar os profissionais da área da


saúde, assim como as mães de crianças nascidas prematuras, para a compreensão do
estabelecimento do vínculo materno, qual é a sua importância para o desenvolvimento do
bebê, e, posteriormente a proposição de ações que visem um bom desenvolvimento psíquico
da criança, através da análise da importância e influência dos cuidados maternos para a
formação do vínculo mãe-bebê.

Para alcançar os objetivos propostos foram realizadas três entrevistas semi-


estruturadas (roteiro em anexo A) com mães de crianças nascidas prematuras, a fim de trazer
ao contexto do atendimento as sensações e os sentimentos vivenciados a partir do nascimento
do bebê. Assim, como observações da interação mãe-bebê no contexto de atendimento.

Participaram da pesquisa Três (3) mães e seus bebês nascidos pré-termo com peso
igual ou inferior a 1500 gramas no momento do nascimento, na faixa etária de 0 a 2 anos, que
atualmente se encontram em acompanhamento pelo “Programa de Assistência ao
Desenvolvimento de Crianças Nascidas Prematuras”, que tem como coordenadora a Prof. Dr.
Alexandra Ayach Anache, e cujas atividades estão sendo desenvolvidas no ambulatório
17

pediátrico e na UTIN do Hospital Maria Aparecida Pedrossian da UFMS, em Campo Grande-


MS, locais onde também foi realizado este estudo.

Na primeira parte serão apresentadas as características do nascimento pré-termo, os


estágios de uma gestação e o impacto do parto pré-termo no desenvolvimento da criança.
Logo o trabalho discorre sobre o conceito de vínculo de Pichon-Rivière e o vínculo mãe-bebê
a partir da perspectiva winnicottiana, assim como o conceito de apego de John Bowlby, que se
demonstra conseqüente da formação do vínculo primário.

As últimas partes apresentam o método de pesquisa utilizado, uma apresentação dos


casos para ilustrar a análise, os resultados do trabalho realizado, e posteriormente as
considerações elaboradas a partir deste estudo.
18

2 O NASCIMENTO PRÉ-TERMO

Quando uma mãe descobre que está grávida, começa a se inserir em sua vida a nova
criança que está a caminho. No início, ela tem uma imagem daquilo que o seu bebê poderá
ser, assim, só existe a fantasia do ser que está se formando, e o que a mãe espera, no caso de
uma gravidez desejada, é que nada de ruim possa acontecer com seu bebê, e que percorra por
um período de gravidez sadio.

Segundo as teorias que serão discutidas ao longo deste trabalho, durante os últimos
meses da gravidez, e os primeiros depois do parto, mãe e bebê constituem uma unidade. A
criança parece fazer parte da mãe, esta se identifica com o bebê, e sabe o que ele está
sentindo. É este tipo de vínculo que encontramos na teoria, e tentamos observá-lo na prática.
Para Maldonado (2000 apoud SANTOS; ZELLERKRAUT; OLIVEIRA, 2008) a partir do
momento em que a mãe percebe consciente ou inconscientemente a gravidez ocorre a relação
materno-filial e as comunicações na rede de intercomunicação familiar iniciando-se a vivencia
da gestação.

E o que acontece então quando nada ocorre da maneira esperada? A criança chega de
modo abrupto, e ainda correndo risco de vida, ou é necessária a sua permanência no hospital
devido a uma condição mais debilitada. Certamente esta particularidade de um nascimento
pré-termo obriga a mãe e ao seu bebê a estabelecer um primeiro contato, nos casos em que
isto é possível, num ambiente de hostilidade para os dois, e que incide na formação desse
vínculo primário.

A preocupação com o nascimento pré-termo vem crescendo na atualidade, já que


segundo os últimos dados da Organização Mundial da Saúde em 2012, todos os anos nascem
aproximadamente quinze milhões de bebês pré-termo no mundo, aumentando a necessidade
de olhar para as condições em que estes bebês e suas mães estabelecem o primeiro contato,
devido a que correspondem a um fenômeno cada vez mais comum em unidades de cuidados
intensivos.

Segundo Howson (2012) mais de um em dez bebês nascidos no ano de 2010 foram
nascidos pré-termo, correspondendo a estimativa de quinze milhões de nascimentos
prematuros ao ano.
19

Ao abordar este assunto, a partir dos conhecimentos da psicologia, é sabido que “Os
bebês e as mães sofrem uma tremenda variação, em suas condições, após o acontecimento
natalício” (WINNICOTT, 1982, p. 21).

Desta forma, há de se pensar o abalo sofrido no vínculo que a mãe do recém nascido e
ele, vêm construindo desde a gestação, de uma maneira em que a criança não é aquilo que a
mãe esperava antes do tempo. “[...] as mães, a não ser que estejam psiquiatricamente doentes,
se preparam para a sua tarefa bastante especializada durante os últimos meses de gravidez”.
(WINNICOTT, 2002, p. 30).

No caso de uma mãe de bebê prematuro, esta preparação não se deu de maneira
saudável, pois os acontecimentos chegaram antes do esperado, seu tempo de preparação se viu
interrompido pela chegada de um bebê que não está pronto, para uma mãe que, também, ainda
pode não estar pronta.

2.1 GESTAÇÃO

São vários os fatores que incidem nas condições do crescimento fetal, podendo
corresponder a fatores genéticos, maternos, ambientais ou placentários, e que desencadeiam
no nascimento prematuro.

Assim, desde a concepção o bebê passa por vários estágios ao longo de sua gestação,
no caso de um bebê nascido a termo, este período acontece por aproximadamente 38 semanas.

Segundo Bee (2003), o primeiro dos estágios ao longo dessa gestação é o estágio
germinal, onde o óvulo é fertilizado e percorre a trompa até chegar ao útero, aqui ocorre a
diferenciação das células e a implantação. Processo que compreende entre dez dias, e até duas
semanas desde a concepção.

Após a implantação ter se completado, começa o estágio embrionário, que dá


continuidade para a formação dos órgãos, ainda que de maneira rudimentar. Este estágio se
20

estende por aproximadamente seis a oito semanas, e quando a formação preliminar de órgãos
estiver completa, tem seu inicio a seguinte fase.

O estágio fetal é aquele que compete aos sete meses restantes da gestação. Nesta fase
“Todos os sistemas primitivos de órgãos são refinados” (BEE, 2003, p. 75).

Devido aos possíveis fatores que dão origem a um parto prematuro, citados
anteriormente, a uma condição de risco, ou, ainda, se existem problemas de saúde na mãe, o
parto acontece antes do total desenvolvimento dessas fases da gestação. Desta maneira o bebê
que foi tirado antes do tempo, é obrigado a continuar seu desenvolvimento fetal, fora do útero
de sua mãe.

O nascimento pré-termo expõe o recém-nascido à vida extra-uterina antes de suas


funções fisiológicas estarem suficientemente amadurecidas para enfrentar o
ambiente externo, exigindo auxílio de aparelhos e monitoramento artificiais para a
sua sobrevivência, em um tratamento intensivo, prolongado e com procedimentos de
alta complexidade na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) (KLEIN,
2009, p. 29).

2.2 O PARTO PRÉ-TERMO

No primeiro momento depois do parto, o recém-nascido é observado e avaliado pela


equipe médica, identificando seu peso, estatura, idade gestacional, e se existem condições de
risco, etc. Assim, recebem vários tipos de classificações que os derivam para receber os
procedimentos precisos, se estes forem necessários.

Os neonatos, de acordo com o peso, podem atualmente ser classificados como


apropriados para a idade gestacional (AIG), pequenos para a idade gestacional (PIG)
(também designado pequeno para a data), ou grande para a idade gestacional (GIG).
Ao mesmo tempo, podem ser identificados como pré-termo (< 38 semanas de
gestação), a - termo (38 – 42 semanas de gestação) ou pós-termo (> 42 semanas de
gestação). (KLAUS; FANAROFF, 1990, p. 62).

Neste sentido, hoje se estabelecem critérios diferentes de classificação para recém


nascidos pré-termo e para os nascidos de baixo peso. “Para a Organização Mundial de Saúde,
1961 e American Academy of Pediatrics, 1967, o limite entre pré termo e termo situa-se em
37 semanas completas” (RAMOS; LEONE, 1986, p. 11). Estes bebês nascidos pré-termo
podem ou não corresponder à característica do baixo peso ou do muito baixo peso ao nascer.
21

Bebês denominados de baixo peso são aqueles nascidos com peso igual ou inferior a
2500 g no momento do nascimento, e os nascidos com peso igual ou inferior a 1500 g, são os
denominados bebês de muito baixo peso (LINHARES et al. 1999).

Uma das condições mais observadas em bebês nascidos prematuros é o baixo peso.
Estes bebês compartilham algumas características, como por exemplo, as dificuldades
respiratórias. No entanto, aproximadamente o oitenta por cento, dos bebês com baixo peso no
nascimento, sobrevivem podendo receber alta. Nestes casos Bee afirma “quanto menor o peso
no nascimento, maior o risco de morte neonatal” (BEE, 2003, p. 107). E, todavia se observa
que ao longo do seu desenvolvimento, alguns desses bebês que sobrevivem, podem apresentar
problemas importantes. Muitos destes problemas estão sendo o foco das pesquisas recentes no
campo da psicologia.

Olhando para as condições em que se tratavam as crianças nascidas pré-termo em anos


anteriores, observamos que essa preocupação com os cuidados neonatais é bastante recente.
Nas décadas de 1950 e 1960, os pacientes eram separados por áreas nos hospitais, e isto se
devia ao medo de contagio de doenças graves e epidemias presentes. A situação levou a
muitos pacientes internados ao isolamento e separação extremos. Neste contexto as
maternidades também foram separadas, e os bebês eram colocados em outras enfermarias,
longe de seus pais e familiares. Brum e Schermann (2004) afirmam que só a partir da década
de 1970, surgiu o interesse pelos cuidados da família, permitindo o contato com a mãe e a
família. A partir disto o cuidado e o estimulo dado ao contato dos bebês com suas mães foi
surgindo nas maternidades.

A preocupação com a saúde mental das crianças nascidas pré-termo aumenta a partir
dos estudos que autores vêm realizando ultimamente, alguns afirmam que “em muitos casos
de distúrbios psiquiátricos, existe uma incidência significativamente elevada de ausência de
formação de uma ligação afetiva ou de prolongadas – e tal vez repetidas – rupturas dessa
ligação” (SCHUBERT, 2002, p. 35).

Conforme Brum e Schermann (2004) estudos realizados na Califórnia e Cleveland


demonstraram a importância do contato com as mães e a contribuição para o desenvolvimento
mais sadio destas crianças, o que permitiu a presença mais constante das mães nas unidades
22

intensivas neonatais. Ao mesmo tempo, a classificação do peso das crianças ao nascer foi feita
para identificar os casos de maior ou menor risco neonatal.

Segundo Aylward (2002 apud CREPALDI; LINHARES; PEROSA, 2006, p. 109,


grifos do autor):
A Academia Americana de Pediatria definiu quatro grandes grupos de crianças em
condição de risco neonatal, a saber: a) o prematuro; b) o recém-nascido que
necessita de suporte tecnológico; c) o recém-nascido com problema irreversível e
expectativa de morte; d) o recém-nascido em condições familiares adversas. Os
neonatos pré-termo, com menos de 37 semanas de idade gestacional, e que
apresentam o peso abaixo de 1.500 gramas (denominados de muito baixo peso)
podem estar incluídos nas quatro referidas condições de risco.

Estudos indicam esta primeira fase como a mais propensa para o desencadeamento de
transtornos no desenvolvimento da criança, e isto explica a preocupação dos profissionais da
área pela qualidade dos cuidados que o bebê possa receber durante e depois do período de
internação.

Kleinman (1992, apud Brum; Schermann, 2004, p. 462) assinala que:

Crianças de baixo peso ao nascer são aproximadamente 50% mais propensas a terem
sérios problemas de desenvolvimento do que outras doenças. Crianças de muito
baixo peso ao nascer (quase todas pré-termo) são de grande risco para mortalidade e
morbidade.

Atualmente o avanço na tecnologia, também traz benefícios para a área da saúde,


muitas condições de risco, que antigamente eram irreversíveis, hoje contam com a ajuda de
aparelhos que são essenciais para a sobrevivência de pacientes internados. Isto, da mesma
maneira, aportou uma melhoria decisiva nas condições de tratamento no que diz respeito ao
campo da neonatologia.

Nas últimas duas décadas, verifica-se um aumento progressivo e significativo dos


índices de sobrevivência de crianças pré-termo com muito baixo peso. Para tanto,
estas passam por período de internação prolongada, de 60 dias em média, em
unidade de tratamento intensivo neonatal (UTIN). (CREPALDI; LINHARES;
PEROSA, 2006, p. 111).

Assim autores afirmam que “Os avanços nos cuidados obstétricos e neonatais e na
tecnologia levaram, gradualmente, a uma melhora considerável na qualidade de sobrevivência
para até mesmo os bebês de muito baixo peso” (Brum; Schermann, 2004, p. 463). Estes
mesmos avanços deram inicio à preocupação com a qualidade da interação mãe-bebê dentro
23

da UTIN, pois se tornando a atenção cada vez mais mecanizada, surge a questão do contato
que o bebê e a mãe precisam estabelecer nos primeiros momentos depois do parto, e que se
dificulta devido aos procedimentos necessários numa condição de risco.

Diferente de um bebê nascido a termo, durante o período em que a criança nascida


prematura encontra-se internada, ela sofre intercorrências, ou seja, procedimentos invasivos e
dolorosos2, que, no entanto, precisa para sobreviver. Procedimentos que, ao mesmo tempo,
correspondem normalmente à atmosfera do ambiente que rodeia este bebê internado. Estas
adversidades representam condições que “se constituem em risco para transtornos do
desenvolvimento”. (CREPALDI; LINHARES; PEROSA, 2006, p. 111).

Autores apontam que as diferentes condições neonatais podem atenuar ou agravar


riscos no desenvolvimento da criança. Hoje se percebe que este primeiro período do bebê é
fundamental para os prognósticos do seu desenvolvimento.

No manual elaborado pelo Ministério da Saúde sobre o Método Mãe Canguru, atenção
humanizada ao recém-nascido de baixo peso (2002), e que vem sendo cada vez mais utilizado
pelas equipes de saúde, justifica-se o contato pele a pele do bebê com sua mãe, já que
conforme demonstraram estudos das neurociências, a ligação segura mãe-bebê, cria uma
função biológica protetora que resguarda a criança dos efeitos que o estresse3 provoca nela.

Nesse sentido é muito importante compreender o nível de risco na saúde de uma


criança internada em UTIN. Assim podem-se assinalar os fatores que são levados em conta na
hora da avaliação sobre os riscos no desenvolvimento do recém-nascido que permanece
internado em UTIN, “a) o status de admissão do neonato na UTIN [...] b) os tipos de
intervenções médicas necessárias [...] c) as seqüelas por ocasião da alta hospitalar [...]”.
(Aylward, 2002 apud CREPALDI; LINHARES; PEROSA, 2006, p. 111)

Como considerado por Brum e Schermann (2007), a recuperação da criança internada


em UTIN se relaciona diretamente à formação de vínculos afetivos, e certamente este vínculo
corresponde em maior proporção aos cuidados maternos que pode receber. O toque pele a

2
“A experiência de dor é considerada uma das principais condições de estresse para os neonatos pré-termo
durante a sua internação na UTIN” (KLEIN, 2009, p. 37).
3
Pesquisas já comprovaram que “o estresse aumenta o nível de cortisol e este, por sua vez, afeta o cérebro, o
metabolismo e o sistema imunológico” (SCHUBERT, 2002, pp. 35-36).
24

pele e os cuidados, diminuem os níveis de estresse no bebê, isto não somente possibilita uma
evolução para o estado de saúde da criança, ao mesmo tempo, diminui os níveis de ansiedade
da mãe. Desta maneira o vínculo que vem a ser construído pelos dois se transforma numa
relação de apego seguro para o bebê, que dá mais probabilidades de uma rápida recuperação.

Na literatura, hoje é mais freqüente encontrar o discurso que defende o


estabelecimento dos primeiros contatos com o bebê. “As relações iniciais entre o bebê e seus
pais são consideradas o protótipo de todas as relações sociais futuras” (SCHUBERT, 2002, p.
35). Com o primeiro contato entre a mãe e o bebê iniciam-se vários eventos sensoriais e
hormonais, como a sensação que o bebê tem de se sentir protegido, a diminuição do estresse
(da mãe e do bebê), que são positivos para o desenvolvimento, e que facilitam o
estabelecimento do vínculo. No entanto, no nascimento pré-termo, é necessária a ajuda da
equipe de saúde para que este contato seja possível, e muitas vezes, pode ser adiado pela
situação de risco da criança.

Da mesma forma podemos observar que a mãe, tanto quanto a criança nascida pré-
termo, encontra-se vulnerável, e em ocasiões a mesma se vê barrada na sua condição de mãe,
por não poder brindar à criança todos os cuidados que uma mãe, numa situação de nascimento
que não implica riscos, poderia dar. Estas percepções se intensificam, sobretudo, se a mãe já
teve experiência de partos anteriores, que não apresentavam condições de risco, como pôde
ser observado durante a realização desta pesquisa. Neste sentido “[...] a percepção da mãe,
tanto em relação ao seu bebê quanto à sua capacidade de cuidados para com o bebê, influencia
a qualidade da interação mãe-bebê” (Brum e Schermann, 2007, p. 13)

Ao pensar numa situação de risco para o bebê esta percepção da mãe e de sua
capacidade pode afetar negativa ou positivamente o vínculo entre os dois, pois o suporte que a
mãe dará para seu filho depende de sobre maneira de sua condição para estabelecer o primeiro
contato. Ao mesmo tempo, observa-se que o ambiente hospitalar é hostil para a mãe, da
mesma forma em que o é para o bebê, o que muitas vezes inibe a ligação afetiva com o este.

Alguns autores também assinalam para a impressionante capacidade de interação do


bebê desde as primeiras horas de vida, e a relação estreita de vínculo com a mãe que favorece
esta interação.
25

Mesmo sendo tão importante, esse programa inato das capacidades da criança
depende da presença de um ambiente mínimo esperado, sendo essencial a formação
do elo afetivo e da oportunidade de pais e bebês desenvolverem um padrão mútuo de
entrosamento de comportamento de apego (Bee, 1997 apud BRUM;
SCHERMANN, 2004, p. 460).

A partir disto as autoras apresentam o conceito de sensitividade materna, “A mãe


muito sensitiva é bastante atenta aos sinais da criança e responde a eles pronta e
apropriadamente”. (Ainsworth et al, 1978 apud Brum; Schermann, 2004, p. 460). O que se
refere à maneira na qual a mãe interpreta e responde aos sinais emitidos pelo bebê, que
demonstra necessário o apoio às mães neste sentido, visando uma maior sensitividade com o
bebê, especialmente a aquelas mães menos sensitivas com os sinais da criança.

No entanto, a preocupação das mães, e o fato de se sentirem desnorteadas diante da


situação de parto pré-termo, são compreensíveis, pois o nascimento abrupto do bebê, antes do
esperado, provoca uma mudança de planos que as coloca frente a uma situação, por vezes,
desconhecida.

Estudos mostram que o nascimento de um bebê pré-termo normalmente representa


um momento de crise para a família, um período limitado de tempo de desequilíbrio
e/ou de confusão, durante o qual os pais podem ficar temporariamente incapazes de
responder adequadamente. (SCHUBERT, 2002, p. 41)

Com os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos nas áreas tanto da psicologia, como
também da neonatologia, percebe-se que hoje, a equipe de saúde em UTIN preocupa-se cada
vez mais, não somente com a sobrevivência da criança internada, mas também com os
vínculos futuros e seu desenvolvimento saudável.

Os momentos de crise normalmente devem-se ao fato de mudança nos planos, ou de


acontecimentos não esperados da forma em que acontecem. É assim que a concepção da mãe
sobre o filho imaginário e o recém nascido real que tem em sua frente, são claramente
diferentes.

Abordando o fenômeno dentro deste contexto surge a necessidade de investigá-lo mais


profundamente desde uma perspectiva que ajude a entender a formação desse vínculo em sua
origem.
26

3 O VÍNCULO MÃE-BEBÊ NA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA

A teoria psicanalítica sempre deu atenção aos vínculos que os seres humanos
estabelecem uns com outros ao longo da vida, e que refletem na formação do seu caráter e das
escolhas que conduzem seu futuro.

Se bem Freud4 não se dedicou à observação e investigação direta das fases de


desenvolvimento numa criança, ele serviu-se da análise de seus pacientes para reconstruir a
infância destes. Dessa maneira era possível ver o quanto as primeiras experiências
participavam do sofrimento do sujeito.

Mas tarde outros estudiosos centraram seu trabalho nas primeiras relações que a
criança estabelece com o mundo, procurando entender de que maneira influenciam no
desenvolvimento. ”A psicanálise sempre foi unânime em reconhecer a importância das
primeiras relações na vida de um bebê como a base para o desenvolvimento” (BRUM;
SCHERMANN, 2004, p. 458).

Analisando a situação na qual se constrói o primeiro vínculo que o bebê estabelece


com sua mãe, e as posteriores contribuições de um vínculo seguro no desenvolvimento desta
criança, faz-se necessária a compreensão da maneira em como o ser humano começa a
perceber o que se encontra em sua volta, logo após o nascimento, e de que forma suas
necessidades e angústias são reconfortadas.

Neste sentido, alguns autores apontam que, “As primeiras relações estão vinculadas à
formulação de que todos os bebês desenvolvem um forte vínculo com a mãe ou mãe substituta
(cuidador primário)” (BRUM; SCHERMANN, 2004, p. 458). A necessidade da compreensão
deste vínculo reside em que o bebê ao nascer recebe os cuidados de um cuidador, seja este a
mãe como no sentido deste estudo, ou algum outro ser que desempenhe esse papel. Na teória

4
O médico e psicanalista vienense, fundador da psicanálise, abriu caminhos em sua obra para o estudo do
inconsciente nas crianças, que depois foram retomados por seus seguidores. Em sua obra, Freud (1901-
1095/2006) apresenta os escritos sobre a teoria do desenvolvimento psicosexual, descrevendo as fases oral,
anal, fálica e genital; teoria que desenvolveu a partir do estudo de seus casos clínicos. Posteriormente a partir
do exposto em Além do Princípio do Prazer de 1920, Freud (1923-1925/2006) apresenta os estudos sobre o
Ego e o Id, que também deram origem as teorias que depois seriam apresentadas sobre a psicanálise de
crianças. Freud refere-se à consciência como “a superfície do aparelho mental” (FREUD, 2006, p. 33, grifos
do autor), enfatizando a importância dos fenômenos do inconsciente.
27

psicanalítica temos observado a ênfase deste primeiro vinculo, entendendo que suas
conseqüências podem se refletir positiva ou negativamente no desenvolvimento infantil.

O psiquiatra e psicanalista Pichon-Rivière referiu-se ao vínculo como “a maneira


particular pela qual cada indivíduo se relaciona com outro ou outros, criando uma estrutura
particular a cada caso e a cada momento” (PICHON-RIVÈRE, 2000, p. 3). Através das
estruturas psíquicas de cada individuo podemos observar particularidades nos diferentes tipos
de vínculos que o ser humano pode estabelecer.

No caso deste trabalho, pode-se pensar que a estrutura psíquica materna especificará o
tipo de vínculo que ela poderá constituir com seu bebê, no entanto, o papel do ambiente
também implica no jogo de variáveis para o estabelecimento deste vínculo.

Investigando o conceito de vínculo podemos partir de um denominado vínculo normal,


até chegar a alterações do mesmo que o caracterizam como patológico. Pichon-Rivière afirma
que “em nenhum paciente se apresenta um tipo único de vínculo; as relações de objeto e todas
as relações estabelecidas com o mundo são mistas”. (PICHON-RIVIÈRE, 2000, p. 5)5. Vê-se
então, a necessidade de enxergar as diferentes dimensões em que o vínculo se estabelece. Ao
mesmo tempo, o autor observa que não podem existir vínculos entre objetos totalmente
diferenciados, pois, entre estes deve existir uma primeira união simbiótica para que esse
vínculo possa se estabelecer.

Este autor explica que para compreender o vínculo normal deve-se partir da análise de
uma das características das relações de objeto: “o objeto diferenciado e o objeto não-
diferenciado”. (PICHON-RIVIÈRE, 2000, p. 14). Entendendo a partir desta distinção as
relações de independência e de dependência, que se encontram no contexto da formação do
vínculo. “Considera-se que um objeto, em uma relação adulta normal, é um objeto
diferenciado, ou seja, que tanto o objeto quanto o sujeito têm uma livre eleição de objeto”
(PICHON-RIVIÈRE, 2000, p. 14). No caso de um bebê recém nascido a não-diferenciação é
extrema, e suas primeiras relações de objeto apresentarão para ele diferentes possibilidades de
estabelecer vínculos com o mundo.

5
Com respeito às relações de objeto, Freud não chegou a estabelecer uma noção de objeto única em termos
conceituais. Em recursos da língua alemã, ele apresenta noções que anunciam uma variedade do uso de objeto
em sua teoria, da mesma maneira o objeto pode ser variável e indeterminado e aquele através do qual a pulsão
atinge seu alvo, o qual satisfaz seu desejo (COELHO, 2001).
28

A necessidade que a mãe tem de conhecer o seu bebê logo nos primeiros momentos,
também implica no estabelecimento de um bom vínculo primário. No nascimento, mãe e
bebê, sofrem uma abrupta separação, e seus primeiros contatos servem de alicerce para a
reparação desse rompimento e a construção do vínculo que ajudará o bebê a se inserir de
maneira segura no mundo.

A primeira relação do bebê com o peito da mãe, como já foi colocado, condiz com
uma situação extrema de não-diferenciação, que, segundo Pichon-Rivière (2000), em primeiro
momento é parasitária, para logo se tornar simbiótica, e posteriormente conseguir a
diferenciação. Chega-se à pergunta sobre o que acontece então, quando esta ordem é anulada,
a mãe tem pouco ou está privada de contato com o bebê, como aconteceria quando se
apresenta uma condição de risco da criança. Este primeiro contato entre a mãe e o bebê, é sem
duvida, fundamental na construção do vínculo após o nascimento, se constitui num momento
importante, tanto para a mãe, quanto para o bebê, que ainda se encontra indiferenciado do
próprio corpo dela.

Quando a criança depende totalmente de seu objeto mãe deposita partes internas
nela, e quando a mãe faz o mesmo, ou seja, deposita na criança partes internas dela,
ocorre entre ambas um entrecruzamento de depósitos, criando para cada uma delas
dificuldades para reconhecer o que é propriamente seu (PICHON-RIVIÈRE, 2000,
p. 14).

Este entrecruzamento acontece durante a formação do vínculo mãe-bebê, e saber se, as


especificidades deste entrecruzamento acarretam conflitos psíquicos na mãe da criança
nascida prematura que prejudicam o estabelecimento do vínculo nesta situação particular, é o
essencial para entender o impacto desta situação no desenvolvimento psíquico de uma
criança.

Por outro lado, encontra-se que a amamentação não se constitui no único meio pelo
qual a criança se relaciona com a mãe nas primeiras horas de vida. A mãe também representa
o aconchego e a segurança que o bebê tinha antes do nascimento e que perdeu ao se encontrar
num lugar estranho e ameaçador que representa esta nova situação para ele.

Freud, em sua obra, já se referia à situação de vinculação primaria, “Na teoria dos
instintos, a vinculação com a figura materna é vista como impulso secundário, ou seja, que o
29

bebê se liga à mãe afetivamente como conseqüência de esta ser o agente de suas satisfações
fisiológicas básicas” (BRUM; SCHERMANN, 2004, p. 458). Inicialmente a psicanálise das
primeiras vinculações centrou-se neste sentido, mas ao longo do tempo os estudos foram
evoluindo apresentando novas concepções.

Em 1950 John Bowlby apresentou a Teoria do Apego, a qual “propõe que o vínculo da
criança com sua mãe é um produto da atividade de um certo número de sistemas
comportamentais que têm a proximidade com a mãe como resultado previsível” (BOWLBY,
1990, p. 193). A partir deste, são vários os estudos que se têm realizado sobre o tema,
objetivando a compreensão dessa necessidade que mãe e criança têm de consolidar os
vínculos desde cedo.

Outros autores que seguem na mesma direção, continuaram ampliando os


conhecimentos sobre o apego e a vinculação mãe-bebê. Assim encontramos que “os
comportamentos de vinculação objetivam a proximidade com as figuras de apego para a
obtenção de segurança e apoio psicológico – características básicas para a sobrevivência”
(ABREU, 2005, p. 50). De acordo com esta visão o vínculo começa a se desenvolver nas
primeiras experiências com as figuras centrais de vinculação, que proximamente a orientarão
nos seus futuros laços afetivos.

“O vínculo da criança com sua mãe não é movido pela busca da satisfação de um
desejo, mas um produto da atividade de certo número de sistemas cuja meta principal é a
busca de proximidade” (ABREU, 2005, p. 52). Dessa forma, entende-se a importância da
proximidade física do bebê com a sua mãe dentro de períodos de tempo em que isto seja
possível.

Segundo a teoria de Bowlby (1990), posteriormente, a criança mais velha, já após ter
desenvolvido a habilidade de engatinhar, permanece perto da mãe durante um tempo
suficiente para se sentir segura e depois passa a explorar o meio circundante. O que indicaria
que neste momento a mãe é vista pela criança como uma base de segurança, à qual pode
retornar quando sentir-se insegura. Para tal fim é preciso que este vínculo entre a mãe e a
criança seja estabelecido de maneira em que o filho esteja seguro de que o apoio e o
reconforto estarão presentes nesta figura ao procurar-los.
30

A partir de estudos realizados por diversos autores percebe-se que a relação entre a
mãe e o seu bebê tem uma influência decisiva nos vínculos que esta criança irá construir no
presente e no futuro. Bolwby (1990) expõe que o comportamento de apego na criança é, ao
mesmo tempo, mediado por outros diferentes tipos de comportamento (por exemplo: chorar,
chamar, balbuciar, agarrar-se etc.). E assim, entende-se que:

Desde uma fase inicial do desenvolvimento, cada um desses tipos de comportamento


tem como resultado previsível a proximidade com a mãe. Mais tarde, passam a estar
organizados em um ou mais sistemas superordenados e freqüentemente corrigidos
para a meta (BOWLBY, 1990, p. 261).

Da mesma forma Abreu aponta que:

Uma vez reputados como positivo, o contato e o intercâmbio afetivos criarão uma
relação em uma atmosfera de equilíbrio e tranqüilidade. Todavia, sempre que for
sentido como desagradável e doloroso provocará comportamentos de refração e
afastamento (ABREU, 2005, p. 55).

Brum e Schermann acrescentam que “[...] para Bowlby, a formação do apego não é
uma conseqüência da satisfação das necessidades fisiológicas básicas como postula Freud”
(BRUM; SCHERMANN, 2004, p. 459).

Ao mesmo tempo, as autoras apontam que “é necessária a existência de uma relação


de afeto e de apego como fator primário para um adequado desenvolvimento” (BRUM;
SCHERMANN, 2004, p.459).

Neste contexto encontra-se a idéia de que “A partir da dependência nos primeiros


meses e a formação de um apego seguro, ocorre a independência posterior” (BRUM;
SCHERMANN, 2004, p. 461). O que pode ajudar na orientação às mães da importância do
estabelecimento deste vínculo, e também frisa a necessidade de seu estabelecimento.

Pelo asseguramento repetido de que suas necessidades físicas e emocionais serão


satisfeitas, o bebê começa a desenvolver um sentimento de confiança básica e apego
que o conduz à construção da independência (BRUM; SCHERMANN, 2004, p.
461).

Da mesma forma o psicanalista René Spitz (1945):


[...] observou que os bebês que eram alimentados e vestidos, mas não recebiam
afeto, nem eram segurados no colo ou embalados, apresentavam a síndrome por ele
denominada hospitalismo. Esses bebês tinham dificuldades no seu desenvolvimento
31

físico, faltava-lhes apetite, não ganhavam peso e, com o tempo, perdiam o interesse
por se relacionar, o que levava a maioria dos bebês ao óbito. Spitz descreveu,
portanto, o resultado da ausência dos pais e do afeto como fator determinante no
desenvolvimento com prognóstico reservado (SPITZ, 1945 apoud BRUM;
SCHERMANN, 2004, p. 458)

Nos começos do século XX o pediatra e psicanalista Donald W. Winnicott iniciou seu


trabalho com a psicanálise de crianças, transformando-se mais tarde em um de seus maiores
expoentes. “Ele entendia o desenvolvimento de um modo tradicional, como uma interação de
aspectos das tendências inerentemente determinadas com o ambiente” (GROLNICK, 1993, p.
37).

Winnicott (2002) aponta para a dependência absoluta do bebê ao nascer e a


importância do ambiente neste inicio. A maneira em como o bebê utilizará este ambiente
depende absolutamente dos seus primeiros vínculos humanos.

O bebê ainda não estabeleceu uma divisão entre aquilo que constitui o não-Eu e o
Eu, de tal forma que, no contexto especial dos relacionamentos iniciais, o
comportamento do meio ambiente faz parte do bebê da mesma forma que o
comportamento de seus impulsos hereditários para a integração, para a autonomia e
a relação com objetos, e para uma integração psicossomática satisfatória.
(WINNICOTT, 2002, p. 80).

Em sua obra Os Processos de Maturação na Criança6 (1965, tradução nossa), em nota


de rodapé o mesmo afirma que “Não existe nada que possa chamar-se criança”
(WINNICOTT, 1965, p. 44, tradução nossa)7, com esta afirmação ele se refere ao fato de que
ao encontrar uma criança estamos frente ao cuidado materno que fez desse ser uma criança.
Ele faz alusão ao papel do cuidado materno como necessário para dar força e estabilidade ao
ego que está se formando, e ao controle dos impulsos do id8.

Ao mesmo tempo Winnicott refere-se à contenção que o cuidado materno


proporciona frente a angustia da perda de seus primeiros objetos de vinculação. “Nesta
primeira fase a angustia não está relacionada com a castração ou à separação, mas bem se

6
“El Processo de Maduración en el Niño”. Publicado em português com o título “O Ambiente e seus
processos de Maturação”.
7
“No existe nada que pueda llamarse niño” (WINNICOTT, 1965, p. 44).
8
Nos escritos de Freud sobre o Ego e o Id ele descreve que se bem o id corresponde à parte inconsciente do
psiquismo, “É fácil ver que o ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo
externo, [...] o ego procura aplicar a influência do mundo externo ao id e às tendências deste, e esforça-se
por substituir o princípio de prazer, que reina irrestritamente no id, pelo princípio de realidade” (FREUD,
2006, p. 38).
32

refere a coisas muito diferentes; de fato se trata de uma angustia relativa à possibilidade de
aniquilamento” (WINNICOTT, 1965, p. 46, tradução nossa)9.

Winnicott (1965) também aponta para a concepção de que o individuo nasce com um
potencial que segundo as condições poderá se desenvolver. Este potencial hereditário, que
inclui a tendência ao crescimento e desenvolvimento só irá aparecer a partir do cuidado
materno, ou de quem representa esse papel.

Os pais não podem ser os motores acionados do desenvolvimento; eles podem tão
somente facilitá-lo, oferecendo firmeza, amor, empatia, frustração suficiente, e
confronto com a realidade e a agressão (GROLNICK, 1993, p. 37).

Segundo a teoria winnicottiana a maturação implica mais numa questão de integração.


“Na psicologia do desenvolvimento emocional os processos de maturação do individuo
precisam de um ambiente de facilitação para que possam concretizar-se” (WINNICOTT,
2002, p. 32).

Assim, estes processos de maturação na criança abrangem “a integração do eu, a


psique que habita o corpo e a relação objetal” (WINNICOTT, 2002, p. 32).

Da mesma forma aponta para três funções da mãe que seriam as responsáveis pelo
bom desenvolvimento destes processos: “segurar, manipular, e apresentar o objeto”
(WINNICOTT, 2002, p. 32).

Sobre estas funções da mãe Winnicott (2002) assinala para o sentido amplo do termo
“segurar” o bebê. Assim afirma que: “um bebê a quem seguram bem é muito diferente de
outro, cuja experiência de ser segurado não foi muito positiva” (WINNICOTT, 2002, p. 30).

O psicanalista propôs o termo holding (segurar) para se referir as atitudes e ações da


mãe de sustentar o bebê. Para ele o sustentar da mãe “capacita o pequeno ser a formar um
sentido de continuidade” (GROLNICK, 1993, p. 124). Mas, a importância de sustentar esse
bebê reside principalmente em suas conseqüências.

9
“En esta primera fase la angustia no está relacionada con la castración o la separación, sino que se refiere a
cosas muy distintas; de hecho se trata de una angustia relativa a la possibilidad de aniquilamiento”
(WINNICOTT, 1965, p. 46).
33

Assim “tudo isso inclina-se ao estabelecimento de um self unitário, mas não pode ser
enfatizado em demasia que o que ocorre neste estágio tão inicial depende da cobertura ao ego
dada pela mãe na dupla mãe-bebê” (Winnicott, 1962 apud GROLNICK, 1962, p. 124, grifo
do autor). Neste sentido “É possível afirmar que o ego da criança é fraco, mas de fato ele é
forte graças ao apoio que lhe proporciona o cuidado materno” (WINNICOTT, 1965, p. 63,
tradução nossa) 10.

Desta forma, defende que ao segurar adequadamente o bebê, o que implica numa
identificação com a criança, a mãe torna-se capaz de atuar no papel de um ego auxiliar desde
o primeiro momento. Já “a criança que não passou por esta experiência ou precisou
desenvolver prematuramente o seu ego, ou, tal vez, tenha se tornado extremamente confusa”
(WINNICOTT, 2002, p. 32).

O mesmo autor, também, discorre sobre o que ele chamou Preocupação materna
primária, estado no qual segundo Winnicott (1965), as mães colocam-se no lugar do bebê,
identificam-se com este, e assim podem ir ao encontro das necessidades básicas do recém
nascido. Este fenômeno é essencial para a criança, pois é através dele que a mãe se identifica
com ela e pode compreender as necessidades do seu bebê.

Nesse sentido, Winnicott (2002) chama a atenção ao fato de que se o bebê é deixado
só por muito tempo, sejam horas ou minutos, sem contato com outros, eles passam por
experiências que são descritas como morrer ou ser feito em pedaços, assim como perder a
esperança de ter novos contatos.

Desta maneira, quando a mãe se adapta ao reconhecimento de necessidades de seu


bebê, ele não passa por estas experiências, pois sua “independência é reconhecida e as suas
necessidades básicas são satisfeitas” (WINNICOTT, 2002, p. 76). Já mais tarde, a qualidade
do suporte e a convivência com seu meio ajudam a criança a sair do estado de fusão com a
mãe, e a maneira pela qual estabeleceu estes primeiros laços possibilitam sua segurança.

10
Es posible afirmar que el ego de la criatura es débil, pero de hecho es fuerte gracias al apoyo que le
proporciona el cuidado materno (WINNICOTT, 1965, p. 63).
34

Aqui se encontra a importância do olhar da mãe no bebê que tem a sua frente, pois é
através dela que o bebê irá se reconhecer. “No desenvolvimento emocional individual, o
precursor do espelho é o rosto da mãe.” (WINNICOTT, 1975, p. 153). Isto se refere ao papel
que desempenha o meio ambiente nos primeiros momentos de vida do bebê, e, sobretudo o
papel do cuidado materno.

O enunciado puro é este: nas primeiras fases do desenvolvimento emocional do bebê


humano, um papel vital é desempenhado pelo meio ambiente, que, de fato, o bebê
ainda não separou de si mesmo (WINNICOTT, 1975, p. 153).

Assim o autor frisa novamente o papel da mãe na diferenciação do bebê com seu meio,
e afirma que é ela quem proporciona a ajuda que o filho necessita para a diferenciação do não-
eu, e é através dela que o bebê poderá enxergar o mundo.

É neste sentido que após a mãe ter saído da fase de preocupação materna primária, se
volta para a criação de um ambiente sustentador amenizando os impactos das frustrações do
meio. A mãe suficientemente boa proporciona este espaço para a criança. Esse espaço é o
mundo intermediário no qual “aparecem os objetos e fenômenos transicionais11 e, finalmente
terceiros participantes” (GROLNICK, 1993, p. 49), e é nesse mundo que logo passará a existir
a vida imaginária e simbólica.

Uma justificativa interessante para importância de prestar atenção ao vínculo que se


estabelece entre a mãe e o bebê, é exatamente o conceito winnicottiano de Mãe
Suficientemente Boa. “Mães suficientemente boas, enquanto sempre presentes, de algum
modo, substituem um ambiente sustentador mais constante, empaticamente flexível”
(GROLNICK, 1993, p. 40).

Nesta fase de suporte, ou holding, o ego não integrado da criança passa a se constituir
como uma integração estruturada12. Winnicott assinala para a condição fundamental de
cuidado materno, a criança que se encontra neste caminho chega a experimentar por vezes,
estados de não integração, e neste sentido as experiências acumuladas de um cuidado materno
11
“Área intermediária de experiência, entre o polegar e o ursinho, entre o erotismo oral e a verdadeira relação
de objeto, entre a atividade criativa primária e a projeção do que já foi introjetado, entre o desconhecimento
primário de dívida e o reconhecimento desta” (WINNICOTT, 1975, p. 14). Neste espaço a criança cria seu
objeto, mas ao mesmo tempo o objeto também deve estar aí disposto para ser criado.
12
A partir desta afirmação Winnicott (1965) aponta que é aqui que a palavra “desintegração” faz sentido, uma
coisa que não acontecia antes que a integração do ego esteja presente.
35

estabelecido condicionam sua integração. “O resultado do andamento normal do


desenvolvimento da criança durante esta fase consiste na conseqüência do que poderíamos
denominar seu ‘status ou condição de unidade’” (WINNICOTT, 1965, p. 50, grifos do autor,
tradução nossa)13.

Como foi exposto anteriormente é na fase do holding que a criança se encontra em


dependência dos cuidados maternos. Winnicott classificou o estado de dependência da criança
em dois tipos, a dependência absoluta e a dependência relativa.

No estado de dependência absoluta, a criança não poderia ser consciente da


necessidade dos cuidados maternos. “No começo, a criança depende por completo da provisão
física aportada pela mãe viva, seja em seu ventre ou por meio dos cuidados que presta ao filho
uma vez nascido” (WINNICOTT, 1965, p. 101, tradução nossa)14.

Dentro deste contexto o psicanalista assinalou o papel do meio ambiente no


desenvolvimento, pois esse meio possibilita os processos de maturação15, mas ao mesmo
tempo, não define o destino da criança, pois o meio dá assas para o desenvolvimento de seu
potencial, e no primeiro momento é a mãe quem proporciona este ambiente.

Ainda nesta primeira fase a mãe tem a missão de proteger a continuidade existencial
da criança, e sobre este ponto Winnicott afirma que “Com a ausência relativa de reações ante
ameaças, etc., as funções corporais da criança proporcionam uma boa base sobre a qual
edificar um ego corporal. Desta maneira se coloca a quilha para a saúde mental no futuro”
(WINNICOTT, 1965, p. 103, tradução nossa)16. É neste ponto que se encontra a importância
de uma fase de dependência absoluta bem sucedida, na maneira que for possível.

Depois de evoluir da primeira fase de dependência com a mãe, o bebê passa a


desenvolver uma dependência relativa, aqui a criança já percebe o cuidado materno, sente a

13
“El resultado de la marcha normal del desarrollo de la criatura durante esta fase consiste en la consecución
de lo que podriamos denominar su ‘status o condición de unidad’” (WINNICOTT, 1965, p. 50, grifos do
autor).
14
“Al principio, la criatura depende por completo de la provisión física aportada por la madre viva, ya sea en
su vientre o por medio de los cuidados que presta al hijo una vez nascido” (WINNICOTT, 1965, p. 101).
15
Ao falar deste termo, Winnicott (1965) se refere a uma evolução do ego e, portanto da personalidade.
16
“Con la ausencia relativa de reacciones ante amenazas, etcétera, las funciones corporales de la criatura
proporcionan una buena base sobre la que edificar un ego corporal. De esta manera se coloca la quilla para la
salud mental en el futuro” (WINNICOTT, 1965, p. 103).
36

necessidade dele. Ou seja, esta criança vai se adaptando aos cuidados da mãe, os quais no
melhor dos casos tendem a diminuir aos poucos.

Neste sentido a criança recebe ganhos com cada fase, na primeira consiste em
que “[...] o processo de desenvolvimento da criança não sofre nenhuma deformação”
(WINNICOTT, 1965, p. 105, tradução nossa)17, na segunda fase, ela se torna consciente de
sua dependência, para posteriormente compreender a necessidade do cuidado materno.

Observa-se que, no caso de se apresentarem conseqüências e prejuízo nas primeiras


vinculações do bebê com a mãe:

O bebê que está se tornando uma criança ou um adulto leva consigo a memória
latente de um desastre ocorrido com o seu eu, e muito tempo e energia são gastos em
organizar a vida de tal forma que esta dor não volte a ser experimentada.
(WINNICOTT, 2002, p. 77).

Numa hipótese pior, como a experiência que pode trazer uma condição de risco
neonatal, “o desenvolvimento da criança como pessoa é distorcido para sempre, e em
conseqüência a personalidade é deturpada, ou o caráter é deformado” (WINNICOTT, 2002, p.
77).

Winnicott (2002) assinala que o verdadeiro problema é a ansiedade que as falhas


básicas de adaptação produzem no bebê, e que se resumem nos sentimentos de ser feito em
pedaços, estar caindo, o isolamento e a disjunção entre psique e soma. Neste sentido diz da
privação que conforma as falhas não-corrigidas do meio ambiente.

Desta forma, seguindo o autor, se as coisas correrem mal e não forem logo corrigidas,
se referindo ao ambiente externo, o desenvolvimento do bebê será deturpado, e a
comunicação entre a criança e o meio entrará em colapso. Esta posição defende o trabalho do
psicólogo no estabelecimento de uma atmosfera mais segura nos casos de nascimentos que
implicam uma condição de risco.

Brum e Schermann também apontam para a diferença entre as teorias de Bowlby e


Winnicott:

17
“[...] el proceso de desarrollo de la criatura no sufre ninguna deformación” (WINNICOTT, 1965, p. 105).
37

De acordo com as idéias de Winnicott, a dependência é máxima no nascimento e


tende a diminuir ao longo da vida, apesar de seguir sempre de alguma forma
presente. Na teoria de Bowlby, o apego está ausente no nascimento e começa, com
os meses, a adquirir força (BRUM; SCHERMANN, 2004 p. 459).

Não obstante, a idéia de Winnicott (1975) de que o bebê vê nos olhos da mãe a si
mesmo, é a que defende a necessidade de valorizar o vínculo com a mãe, que guiará esta
criança num desenvolvimento seguro, e que representa seu primeiro contato com o mundo
exterior.

Da mesma maneira que foi apresentado anteriormente, será a mãe que refletirá o meio
ambiente que rodeia o bebê, e depende em grande parte dela a forma em que este receberá as
impressões que vêm de fora.
38

4 MÉTODO

4.1 FUNDAMENTAÇÃO DA METODOLOGIA DE PESQUISA

Esta pesquisa visou compreender o vínculo que a mãe estabelece com o bebê nascido
prematuro, o interesse surgiu a partir da necessidade percebida no trabalho do psicólogo e
demais profissionais da área da saúde, com respeito aos cuidados para que esse primeiro
contato do bebê com o mundo se estabeleça de maneira mais segura.

Ao trabalhar com fenômenos subjetivos, cujo impacto na psique do sujeito depende da


qualidade das relações construídas na vida, a pesquisa qualitativa:

Visa abordar o mundo ‘lá fora’ (e não em contextos especializados de pesquisa,


como os laboratórios) e entender, descrever e, às vezes, explicar os fenômenos
sociais ‘de dentro’ de diversas maneiras diferentes 18 (BANKS, 2009, p. 8).

Este trabalho utiliza um método de pesquisa hipotético-dedutivo, pois se entende que


este método:

Se inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula
hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de
fenômenos abrangidos pela hipótese (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 106).

Através das falas dos sujeitos foi possível compreender o contexto em que esse
primeiro vínculo se estabeleceu e a partir disto observou-se de que maneira evoluiu ao longo
do tempo transcorrido, desde o nascimento da criança. É nesse contexto que o pesquisador,
com sua prática clínica, pode retirar aqueles elementos subjetivos que se apresentam no
acontecimento deste fenômeno.

Como apontam alguns autores, em pesquisa é importante o entrelaçamento da


observação e a coleta de dados a partir dos instrumentos utilizados.

Nem tudo o que o informante diz deve ser tomado como “verdade”; trata-se da
verdade dele, do ponto de vista dele, que precisa ser confrontado com outros olhares
e com a prática observada no campo pelo pesquisador (DUARTE, 2004, p. 223).

18
Aqui o autor cita as várias técnicas utilizadas na coleta de dados em pesquisa qualitativa, dentre estas se
encontra a análise de experiências de indivíduos e grupos; a observação e descrição de interações, e análise
desse material; e a investigação de documentos.
39

Este trabalho apresenta um caráter qualitativo e explicativo do fenômeno que visou


compreender, já que neste sentido, a pesquisa investiga elementos subjetivos, e a partir de sua
interpretação, aporta conclusões. Em fim procurou-se entender o fenômeno que encontramos
na teoria, e observamos de que maneira ele acontece na pratica.

4.2 SUJEITOS DA PESQUISA

Devido ao limite de tempo em que se pôde entrar em contato com os sujeitos para a
posterior realização das entrevistas, participaram da pesquisa Três (3) mães de bebês nascidos
pré-termo com peso igual ou inferior a 1500 gramas no momento do nascimento, na faixa
etária de 0 a 2 anos, que se encontram em acompanhamento pelo “Programa de Assistência ao
Desenvolvimento de Crianças Nascidas Prematuras”19, em andamento, que tem como
coordenadora a Prof. Dr. Alexandra Ayach Anache, e cujas atividades estão sendo
desenvolvidas no ambulatório pediátrico e na UTIN do Hospital Maria Aparecida Pedrossian
da UFMS, em Campo Grande – MS.

A definição da faixa etária dos bebês se deve a que encontramos nos estudos
realizados por autores da teoria psicanalítica, que a duração das primeiras fases importantes
para o estabelecimento do vinculo da mãe com o bebê se dá entre seis meses e dois anos de
idade. “Quando a criança alcança os dois anos de idade, se produziram já alguns
acontecimentos que a preparam para se deparar com a perda” (WINNICOTT, 1965, p. 106,
tradução nossa)20. O que representa uma possibilidade maior de lidar com as frustrações do
meio.

Ao mesmo tempo optou-se por trabalhar com mães de bebês com peso igual ou
inferior a 1500 gramas, pois eles constituem uma maioria nos atendimentos feitos pela equipe
de psicologia no “Programa de Assistência ao Desenvolvimento de Crianças Nascidas
Prematuras”.

19
Através deste programa pretende-se a construção de ações que focalizem os bebês nascidos pré-termo e seus
cuidadores, a fim de prevenir problemas de desenvolvimento, aprendizagem e saúde mental na vida destas
crianças. O programa integra o conjunto de atividades realizadas pelo Laboratório de Educação Especial da
UFMS.
20
“Cuando la criatura alcanza los dos años de edad, se han producido ya algunos acontecimentos que la
preparan para enfrentarse con la pérdida” (WINNICOTT, 1965, p. 106).
40

4.3 LOCAL DE PESQUISA

O estudo foi realizado no Núcleo do Hospital Universitário Maria Aparecida


Pedrossian da UFMS, mediante a devida a autorização do responsável pelos setores de
ambulatório pediátrico e UTIN, locais onde as mães foram entrevistadas e as observações
foram feitas.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres
Humanos da UFMS em data 9 de novembro de 2011 (Anexo D).

4.4 INSTRUMENTOS

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas (Anexo A) com as mães das crianças, a


fim de trazer ao contexto de atendimento as sensações e os sentimentos vivenciados durante a
gravidez e a partir do nascimento da criança. As mesmas entrevistas foram filmadas para
posterior avaliação.

4.4.1 Entrevista semi-estruturada

Devido a este estudo estar analisando um aspecto subjetivo do vínculo entre mães e
seus bebês pré-termo, optou-se por utilizar uma entrevista semi-estruturada, já que
proporcionaria à mãe e ao pesquisador os eixos importantes para a compreensão do
estabelecimento desse vínculo.

Em psicologia, a entrevista clinica é um conjunto de técnicas de investigação, de


tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos
psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar
aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (CUNHA, 2003, p. 45).

As técnicas semi-estruturadas são relativamente novas, ampliam a visão do


entrevistador sobre o tema que está sendo tratado, e ajuda a identificar aquilo que o paciente
precisa trazer no momento. É importante que o entrevistador seja treinado para que possa
avaliar estas questões no contexto do atendimento, e ao mesmo tempo lidar com a
transferência e resistências que possam estar surgindo (CUNHA, 2003).
41

Entrevistas semi-estruturadas são assim denominadas porque o entrevistador tem


clareza de seus objetivos, de que tipo de informação é necessária para atingi-los, de
como essa informação deve ser obtida (perguntas sugeridas ou padronizadas),
quando ou em que seqüência, em que condições deve ser investigada (relevância) e
como deve ser considerada (utilização de critérios de avaliação) (CUNHA, 2003, p.
49).

No que se refere à análise de dados coletados a partir de uma entrevista semi-


estruturada, Duarte (2004) recomenda uma análise a partir de um conjunto de informações
organizadas em eixos temáticos que se articulam com o objetivo central da pesquisa. E a
partir disto dividi-las em subeixos temáticos mais precisos.

Desta maneira “Cabe ao pesquisador atribuir sentido àquele mosaico, tendo como
referência seus pressupostos teóricos, sua filiação acadêmica, seus objetivos de pesquisa etc.”
(DUARTE, 2004, pp. 222-223).

4.4.2 Análise dos episódios

No presente trabalho optou-se, além da utilização de um roteiro de entrevista semi-


estruturada, por uma metodologia de coleta dos dados a partir das gravações em vídeo das
entrevistas realizadas com as mães.

Conforme Pedrosa e Carvalho (2005) trabalhos que utilizam este método como
levantamento de dados para pesquisa, definem o episódio pelo conteúdo deste através de uma
categorização previa dos elementos que serão analisados nas gravações.

Ao mesmo tempo “A delimitação do episódio, seu início ou seu fim, pode ser clara,
identificando-se um fato a partir do qual se articula uma seqüência interativa” (PEDROSA;
CARVALHO, 2005, 432). O que quer dizer que a partir do que acontece após um fato
original, isto configura o episódio, e nos traz a necessidade de revê-lo para identificar essa
origem.

Muitas vezes torna-se confuso identificar o fim de um episodio e o começo de outro,


entender qual fato foi o primeiro a desencadear os outros. Por isso é necessário nestes casos
estabelecer arbitrariamente o inicio de um episodio para ser analisado.
42

O recorte dos episódios para serem transcritos e analisados vão depender do foco da
pesquisa, e daquilo que o trabalho visa investigar. No caso deste estudo os critérios utilizados
para analise são aqueles que correspondem à observação da interação da mãe com o bebê, e a
suas reações ao relembrar a situação de parto e internação, assim como aqueles que
correspondem aos questionados pelo roteiro de entrevista.

Da mesma forma os dados transcritos para analise também devem corresponder ao


interesse da pesquisa. Aqui as autoras, a partir de uma pesquisa sobre a interação entre
crianças num mesmo espaço de brincadeiras, optaram pela regra de que “somente eram
transcritos em detalhes os comportamentos que fossem esclarecedores para a compreensão
das regulações no espaço interacional” (PEDROSA; CARVALHO, 2005, p. 434). O que
aponta para o fato de não descrever ações irrelevantes para a pesquisa.

É também possível acrescentar as impressões do pesquisador às transcrições, neste


caso podem-se utilizar frases que expliquem determinadas reações que trazem ao pesquisador
a idéia de aquilo que pode tê-la provocado. Em pesquisas mais objetivas este tipo de
comentário subjetivo não poderia ter lugar.

No caso deste trabalho as impressões subjetivas do pesquisador implicam num dado


fundamental para a compreensão do que se procura investigar, pois requer a participação na
pesquisa de uma pessoa treinada no sentido de apalpar aqueles sentimentos trazidos pelas
mães, que a situação de nascimento de risco de seu filho provocou nelas.

A análise qualitativa dos episódios começa a partir da transcrição, é aqui que vão
surgindo as perguntas, e são procuradas as respostas na revisão do mesmo episódio até as
primeiras serem respondidas.

Esta análise corresponde a elementos que compõem um processo em foco, já que:

À medida que o pesquisador se expõe repetidamente ao fluxo interacional


videogravado, é provável que lhe ocorram determinadas impressões que conduzem a
certas perguntas; a análise buscará nos episódios elementos que esclareçam o
processo ou processos pertinente(s) a essas perguntas. (PEDROSA; CARVALHO,
2005, p. 436).
43

O detalhamento dos fatos ocorridos dentro de um episódio também depende do


objetivo da pesquisa. Neste sentido elaborou-se uma adaptação a partir do roteiro apresentado
por Pedrosa e Carvalho (2005) para descrição dos episódios videogravados (anexo B).

4.5 PROCEDIMENTOS

A coleta dos dados para pesquisa foi realizada de maneira individual, no contexto de
atendimento psicológico ambulatorial e em UTIN, com as mães, após o consentimento das
participantes, mediante a assinatura do termo livre e esclarecido (anexo C). Para tal efeito, as
entrevistas foram filmadas, a fim de facilitar sua posterior análise. Em média, a aplicação das
entrevistas semi-estruturadas teve uma duração de dezoito minutos com cada sujeito.

O trabalho de campo esteve dividido em etapas:

1. Coleta de informações e seleção dos participantes para a pesquisa;


2. Entrevista semi-estruturada com as mães das crianças nascidas
prematuras;
3. Analise das informações obtidas durante a pesquisa;
4. Elaboração de conclusão sobre o estudo;
5. Apresentação do material.

A análise, por sua vez, esteve organizada da seguinte forma:

1. Transcrição das entrevistas realizadas;


2. Análise dos episódios vídeo-gravados;
3. Análise qualitativa do conteúdo representado nas entrevistas a partir da
abordagem psicanalítica;
4. Apresentar resultados;
5. Elaborar conclusões a partir dos resultados obtidos.
44

5 APRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA21

JULIA E LARISSA

A mãe Julia chegou com a filha Larissa, de dois anos de idade, para a consulta de
rotina no ambulatório pediátrico, enquanto aguardavam o atendimento do pediatra, foram
convidadas a participar da pesquisa, a mãe mostrou-se interessada e aceitou participar. Larissa
parecia uma criança bastante inquieta, quando entrou na sala ofereci lápis de cor e umas
folhas, perguntei se ela gostava de desenhar, Julia disse que ela adorava e pediu para a filha
que sente do lado e desenhe, enquanto a mãe teria uma conversa. Assim Larissa ficou
desenhando durante o tempo em que durou a entrevista.

Julia tem 33 anos, disse que pelo menos é o que ela acha, é casada e dedica-se a cuidar
dos filhos. Disse que enquanto estava na faculdade engravidou do primeiro filho e não
concluiu seus estudos. Julia, o marido e os dois filhos moram em Camapuã, interior do estado,
mas a família do marido mora em Campo Grande. Uns anos antes da segunda gravidez, Julia
sofreu um acidente cardiovascular, e a partir disto o médico a proibiu de ter mais filhos.

No entanto, Julia queria muito ter outro filho, e contrariando as recomendações do


médico, engravidou por segunda vez. Desde a primeira consulta o médico a alertou de que
seria uma gravidez de risco, e a orientou a procurar profissionais especializados nessa área,
em Campo Grande.

Após conseguir atendimento com um médico especializado, passou a maior parte do


tempo consultando na capital, durante este tempo ficava em casa de sua sogra. Já nas
consultas o médico disse para Julia, que esta teria que tomar uma injeção de um medicamento
anticoagulante, duas vezes por dia, e que seria melhor para ela ficar internada, pois no
hospital ela iria receber de graça. Assim Julia ficou internada até o momento do parto.

Quando foi fazer um ultrasom de rotina, o médico disse que teria que fazer uma
cessaria logo, mas que ela não estava em condições de receber uma anestesia localizada, e,
portanto fariam o parto com anestesia geral. Como o parto do primeiro filho foi normal, Julia

21
Os nomes dos sujeitos aqui apresentados foram trocados a fim de preservar a identidade dos participantes.
45

tem medo de cirurgia, e preferiu a anestesia geral no momento em que o médico indicou. E
quando Larissa nasceu foi direto para UTIN, devido a sua condição debilitada.

Julia disse não se lembrar de nada do aconteceu momentos antes do parto, nem de
nenhum procedimento. Só lembra-se desde o momento em que acordou, já no quarto. Quando
o médico chegou, Julia perguntou se ele tinha feito a laqueadura. O médico respondeu que
não, porque ela teve uma hemorragia, devido ao seu problema de coagulação, e não teve
tempo de fazer-la. Julia queria ter feito a laqueadura, pois ela sempre soube que a gravidez
seria de risco, e não queria voltar a passar por isso.

Na UTIN, Larissa foi entubada, e ficou dentro da incubadora. Pelo que Julia se
lembrava, ela ficou ali mais ou menos um mês, mas ela visitava a filha todos os dias. Julia
voltou a se lembrar de que Larissa não ficou por muito tempo na incubadora, e passou mais
dias no berçário. Só que ao mesmo tempo, disse não lembrar direito de nada do aconteceu
durante esses dias.

Durante esse tempo Julia ia ao banco de leite para tirar seu leite, pois Larissa não
mamava direito no peito, e sim através da seringa. No entanto ela ficava preocupada, porque
achava que esses poucos mililitros não poderiam satisfazer a bebê.

Um fato marcante que ela afirmou lembrar-se muito bem foi o que aconteceu no natal
e na noite de ano novo. Ela fez questão de passar com a filha, ficou segurando a mão dela, e
falando para ela que elas ficariam ali “juntinhas”. E ainda acrescentou que isso foi muito
importante, pois disse que apesar de tudo, as enfermeiras sempre deram liberdade para ela
chegar perto e ficar junto à Larissa. No tempo em que Larissa ficou internada, toda a família
fazia questão de ir visitá-la. Os familiares sempre estiveram expectantes à volta das duas.

Julia disse que sempre acreditou que Larissa “ficaria boa” logo, pois mantinha um
pensamento positivo com respeito à sua evolução. No entanto esta experiência representava
para ela algo totalmente novo. O parto do seu primeiro filho não deu complicações, e disse
que em tudo, Larissa é diferente do seu primeiro filho. Ela é menor do que ele, sempre dava
mais trabalho, pois como era tão pequena, ela não se sentia muito segura para cuidar dela
normalmente, e precisava de ajuda para algumas coisas, como por exemplo, dar banho.
46

Com respeito ao desenvolvimento atual de Larissa, Julia disse que ela a vê muito bem.
Ela afirmou que Larissa parece ter um “QI” a mais que a gente, parece a “mulher aranha”,
pois sobe por todas as partes da casa, é muito brincalhona, ativa e não para quieta.
Acrescentou, ainda, que todo mundo fala o quanto Larissa é “danada”, mas todos, até os
vizinhos, gostam muito dela.

Já depois de finalizar a entrevista, antes de sair da sala, Julia fez questão de me


mostrar a câmera que sempre leva com ela, onde tira fotos e filma tudo o que Larissa faz.
Tenta fotografar e filmar sempre que a filha está fazendo alguma “arte”, como ela disse. E,
ainda, continuou me contando das travessuras que faz no quintal da casa. Julia disse acreditar
que Larissa será uma pessoa muito ativa, daquelas que gosta de fazer muitas coisas, e que será
boa em tudo que faça.

CAMILA E HEITOR

A mãe Camila entrou na sala convidada pela equipe de psicologia que faz o
acompanhamento do desenvolvimento de seu filho, aceitou participar da pesquisa, mas se
mostrou um pouco tímida ao saber que seria filmada.

Carregava o filho Heitor no colo, a criança apresentava visivelmente deficiências


conseqüentes de sua situação de nascido pré-termo. Camila é casada, tem vinte e dois anos, e
só dedica-se a cuidar do filho em casa.

Com cinco meses de gestação, a pressão de Camila começou a subir, e no momento a


médica não passou nenhum remédio para ela. Naquele tempo teve um começo de aborto, e
durante toda a gravidez sentiu muita dor.

Nos últimos meses da gravidez já sabia que seria uma gestação de risco, como
apresentava sintomas de pré-eclâmpsia, os médicos tiveram que realizar uma cessaria pouco
antes de chegar aos sete meses de gestação. Camila não se lembrava de nada do parto,
somente da dor que sentiu durante a gravidez, e o corte depois da cirurgia.

Rapidamente depois do parto, Heitor foi levado para UTIN, ele não respirava por si
próprio, e por causa do seu baixo peso ficou internado em incubadora por quinze dias, depois
47

passou para o berçário, onde ficou por mais três dias. Durante esse tempo ela não conseguiu
amamentar, Heitor se alimentava pela sonda.

Desde os primeiros momentos, Camila tentou estabelecer um contato com a criança


em UTIN, mas como estava com muita dor depois do parto, as visitas na UTIN não eram
freqüentes. Só depois de o bebê ter ido para o berçário de meio risco, ela pôde interagir mais
com seu filho. Durante os dias em que Heitor passou internado, os avôs visitavam os dois, já o
pai tinha que trabalhar e não podia visitá-los.

Camila disse sempre ter se preocupado muito com o estado de saúde de seu filho, mas
como nos primeiros dias depois do parto ainda estava muito sensível com as dores, foram os
dias mais difíceis.

Quando Heitor se recuperou de uma infecção que adquiriu, recebeu alta. Já em casa,
mesmo sendo o primeiro filho de Camila, a mesma disse que não teve maiores problemas para
se adaptar à nova rotina de ser mãe. Conseguia cuidar de Heitor, e amamentou durante seis
meses.

Ao passar o tempo, e com as consultas médicas, foi percebendo que seu filho estava
mais atrasado no desenvolvimento para uma criança de sua idade, então entendeu que Heitor
apresentava um comprometimento maior, mas ainda não sabia qual era o problema.

Hoje, com dois anos, Heitor ainda não aprendeu a andar sozinho, consegue ficar
sentado por pouco tempo, mas Camila disse acreditar que muito de sua condição depende dele
psicologicamente. Parece que Heitor não se esforça para conseguir apreender, já levou ele
para fazer fisioterapia, e a partir disso já obteve melhores resultados, é por isto que ela
afirmou acreditar que com seu esforço, ele pode melhorar.

Camila disse ter fé em seu filho, mais do que em aquilo que os médicos falam. Ela
acredita que ele pode melhorar em seu desenvolvimento com esforço e empenho para
consegui-lo. Mas, ao mesmo tempo afirmou ser muito difícil de cuidar dele agora que ele está
crescendo, para ela, ele continua do mesmo jeito que ele nasceu, com poucas melhoras. Ela
continua sem saber ao certo sobre o diagnóstico de Heitor.
48

AMANDA E IGOR

Durante as visitas à UTIN, conheci Amanda, a convidei para participar da pesquisa, e


ela se mostrou muito interessada. Fomos até uma sala, onde expliquei sobre o objetivo deste
estudo, a mãe aceitou e começou logo a falar sobre a gravidez.

Amanda tem trinta e cinco anos, é casada, não trabalha fora, e cuida da casa. Tem dois
filhos mais velhos, de dezenove e dezessete anos. Sempre quis engravidar do terceiro filho, e
tentou bastante. Antes de Igor, teve dois abortos, e depois de um tratamento conseguiu
engravidar. Foi uma gravidez complicada, com três meses teve um sangramento, e ficou de
repouso. Com cinco meses, teve outro e descobriu que tinha uma complicação obstétrica
chamada placenta previa. Durante toda a gravidez sentiu muito enjôo, e chegou a sofrer três
tentativas de aborto espontâneo.

Aos seis meses teve um susto ao saber que já teria que fazer o parto, ao fazer um
ultrasom de rotina o médico disse que já seria transladada para o hospital, quando chegou ao
HU foi muito bem tratada pelos médicos e enfermeiras, levou anestesia localizada, e foi um
parto rápido. O bebê não estava encaixado no canal vaginal, e através do ultrasom percebeu-
se que ele apresentava sofrimento fetal e a pressão de Amanda estava alta.

Depois do parto, a mãe viu Igor rapidamente, ele foi levado diretamente para UTIN
pela falta de oxigênio. Ficou internado por vinte e quatro dias, durante este tempo Amanda
disse ter colocado seu filho “nas mãos de Deus”. Mesmo que Igor tenha estado em
incubadora, Amanda sempre ficava por perto, falava para ele que tinha que sobreviver e que
toda a família o espera.

Neste momento da entrevista Amanda começou a chorar, disse que se bem Igor já
passou para o berçário, até hoje sente muita angustia, afirmou que a situação pela que está
atravessando afeta muito o emocional de toda mãe. Por dentro se sente ficar em pedaços, e
tem que conviver todos os dias com a incerteza, estando preparada para sair ou não. Cada dia
é único, um de cada vez, disse.

Até esse momento Igor não conseguia amamentar, estava recebendo leite por um tubo,
já que ainda não sugava com força. Amanda tirava leite todos os dias para ele, ela
49

acompanhava Igor o máximo de tempo possível, e o pai e os irmãos, também os visitavam


sempre. A mãe disse que toda a família estava ansiosa esperando a volta dos dois.

Igor precisava ganhar peso para receber alta, mas Amanda achava melhor ele ficar
todo o tempo que seja necessário, até ele ficar saudável, para não ter que voltar. A mãe disse
que tudo aquilo que ela podia fazer para melhorar o desenvolvimento de seu bebê, ela tem
feito. Também disse que toda esta experiência a fez reaprender a ser mãe, nenhum de seus
filhos mais velhos nasceram prematuramente, nunca tinha passado por isto. Mas ao mesmo
tempo, disse que cada filho é diferente, e não tem como comparar.

Amanda disse acreditar que Igor será vencedor, disse que Deus prometeu para ela, e
está cumprindo, já que Igor melhora a cada dia. A mãe descreveu seu sentimento com sendo
algo inexplicável, que de fora ninguém se imagina na situação, é uma angustia de vê-lo com
vários aparelhos em volta, e depois já sem eles e melhor, é uma alegria e um alívio que ela
não consegue explicar.
50

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O conteúdo das entrevistas foi analisado desde uma perspectiva psicanalítica


winnicottiana. Optou-se pela utilização desta abordagem, pois Winnicott, conforme discutido
no capitulo anterior, focalizou grande parte de sua obra sobre o vínculo que se estabelece
entre a mãe e o bebê.

O roteiro de entrevista teve por objetivo a investigação das questões ligadas á


gravidez, parto e internação, e os primeiros dias após a alta hospitalar, procurando conhecer o
contexto no qual se estabeleceram os primeiros contatos com o bebê.

A partir da observação das situações de nascimento pré-termo, percebeu-se que,


sobretudo as mães de primeira viagem, que não têm o suficiente conhecimento acerca do bebê
logo nos primeiros dias, precisam da orientação e dos cuidados daqueles que tem mais
experiência cuidando de um bebê. É fundamental a atenção dos profissionais da área, pois
eles estão preparados para lidar com o nascimento.

No obstante o nascimento de uma criança sempre implica para a mãe uma nova
oportunidade de reaprender a maternidade. Como foi exposto no caso de Amanda e Igor, a
mãe afirmou que depois de um período longo após a última gravidez que levou à termo, a
experiência de ser mãe novamente se mostrava nova para ela, e todavia muito diferente.

Nos casos, como o de Julia, em que a mãe também já teve outros filhos, o nascimento
pré-termo do novo bebê, da mesma maneira, implica uma realidade totalmente diferente aos
partos anteriores. É neste sentido que muitas dessas mães se mostram desnorteadas com
respeito aos cuidados que esse bebê pré-termo precisa, e ao mesmo tempo em que aumenta
sua ansiedade e fragilidade frente a esta situação.

Ao pensar em fragilidade, esta pode ser vista no último caso, Amanda, no momento da
entrevista, passava por todas as angustias dos primeiros dias em internação, já no segundo
caso apresentado, Camila ainda leva consigo essa angustia, conseqüente das complicações que
seu filho sofreu com o parto pré-termo.
51

As diferentes novas sensações que o bebê experimenta após o nascimento, o


submergem numa angustia e precisa ser reconfortado por aquele único ser que lhe é familiar.
Tudo aquilo que é sentido e vivenciado pelo recém nascido ao longo dos dias ou semanas em
que ele permaneça em internação são multiplicados, e a angustia só tende a aumentar se ele
não receber esse reconforto por parte da mãe. As suas primeiras relações com o meio que o
rodeia não estarão contribuindo para seu posterior desenvolvimento seguro.

Como visto na teoria, a rotina estabelecida pela mãe, para os horários de sono e
alimentação, ajuda o bebê a organizar seu novo mundo. Numa situação de internação
prolongada, esta rotina poderá ser freqüentemente contaminada pelos contínuos
procedimentos que uma condição de risco requer. É, portanto, imprescindível se questionar
sobre as possibilidades de dar mais espaço para o desenvolvimento deste comportamento.

Para a mãe, conhecer seu bebê após o nascimento é uma necessidade de alívio de que
tudo ocorreu bem. Um parto no momento não esperado, ou a necessidade de lidar com
situações de risco para a criança, representa a certificação de que as coisas não aconteceram
como a mãe previra. Assim, vários sentimentos são despertados nessa mãe, tanto de culpa,
quanto de desespero. E ao mesmo tempo é necessário se preocupar com o impacto destes
sentimentos nos primeiros contatos com o bebê.

O nascimento do bebê pré-termo configura-se em uma situação de "crise


psicológica" na família, a qual passa a enfrentar uma situação imprevisível e
ansiogênica geradora de sentimento de impotência e de estresse, especialmente na
mãe (LINHARES et al, 2000, p. 61).

No caso de Julia e Larissa, o discurso da mãe deu mais foco para tudo que ela sofreu
durante a gravidez e depois do parto. Em todo momento a mãe parecia fazer muito esforço
para se lembrar do que aconteceu, o que pareceu ser uma defesa na hora de trazer lembranças
de dias confusos que não gostaria de viver novamente.

Ao mesmo tempo, durante a entrevista a mãe parecia mostrar mais atenção à filha em
todo momento, o que foi possível constatar no final, quando fez questão de mostrar as fotos e
vídeos, demonstrando o quanto gosta de retratar tudo que Larissa faz.

Somente a partir da insistência para lembrar mais sobre o período de internação, Julia
começou a relembrar de mais detalhes, e falou também, das impressões que teve dos médicos,
52

neste ponto ela parecia reter aquilo que a deixava com mais esperanças de ver sua filha
saudável, já que afirmou sempre haver tido expectativas positivas sobre o quadro da criança.

Situação que pôde ser observada nas entrevistas e visitas à UTIN, onde as mães
demonstram e admitem sentir-se fragilizadas, como o fez Amanda, num entorno estranho para
elas, e no qual estas não possuem um domínio das rotinas ou dos procedimentos, insegurança
que as envolve numa angustia com respeito à saúde do seu bebê. Se bem elas afirmaram
sempre ter tido esclarecimento do quadro da criança por parte da equipe, ainda persiste o
medo e a necessidade de fazer algo a mais para ajudar o bebê.

O conceito de holding no caso de Julia e Larissa, também se pode ver representado,


pois aqui o suporte dado pela mãe à filha não veio sozinho. Julia afirmou ter se sentido
insegura nos primeiros dias depois do nascimento de Larissa, impossibilitada para realizar os
cuidados, que com seu primeiro filho fazia de forma normal. Julia também precisava de um
holding, que pôde receber dos familiares. Neste sentido é possível observar o quanto é
necessário para a mãe, neste momento de fragilidade, a presencia de um suporte externo à
díade.

Ao mesmo tempo analisando o discurso das mães nas entrevistas percebe-se que o
conceito próprio de ser mãe, que estas mulheres obtiveram ao longo de suas experiências de
vida, coloca-se em perspectiva para o estabelecimento do vínculo com seus bebês. Se uma
mãe que está precisando de suporte, recebe este suporte, seja por parte dos familiares ou da
própria equipe de saúde, esta segurança é repassada ao bebê nesse vínculo.

Como foi visto anteriormente o papel de espelho do olhar da mãe, representa um fator
fundamental no desenvolvimento do bebê, sabe-se que nem sempre ela poderá agir como mãe
suficientemente boa, e mesmo uma mãe que se coloca à disposição para desempenhar
excelentemente seu papel de mãe, não se verá livre de certos fracassos. Nestes casos, ao longo
de sua vida, o bebê irá encontrar outros objetos que possam dar o holding que não teve
inicialmente, o bom alicerce ajuda num desenvolvimento mental seguro.

Pode-se relacionar esta situação com as palavras de Winnicott, “A mãe está olhando
para o bebê e aquilo com o que ela se parece se acha relacionado com o que ela vê ali”
(WINNICOTT, 1975, p. 154, grifos do autor). Certamente Larissa pôde ter visto através de
53

sua mãe todas as expectativas que ela possuía para seu bom desenvolvimento, e assim pode-se
pensar que o estabelecimento favorável deste vínculo ajudou a filha a internalizar o cuidado
materno.

No obstante, muitas vezes existe uma inibição na ligação afetiva mãe-bebê, fato que
poderia estar acontecendo com Camila e Heitor, onde a mãe parece atribuir à criança os
comprometimentos que apresenta em seu desenvolvimento, ao que parece estar negando que
Heitor possa apresentar alguma deficiência. A experiência de parto pré-termo por si só, deixa
as mães sensíveis, e, além disto, mães como Camila, ainda tem que enfrentar outras
circunstâncias.

Autoras como Brum e Schermann (2007) concordam com a necessidade da promoção


de ações que facilitam os cuidados maternos, uma intervenção que pode ser realizada pela
equipe de psicologia, sobre tudo no que diz respeito à formação do vínculo que ajuda no
desenvolvimento tanto físico, quanto psíquico da criança internada.

Nesse sentido percebe-se a importância de facilitar a formação do vínculo, como


observam outros autores, “A criança é vulnerável e as mães estão fragilizadas para o
enfrentamento da tarefa de cuidar do bebê, que muitas vezes é permeada por insegurança e
superproteção” (LINHARES et al., 2000, p. 62). Muitas vezes a percepção das mães sobre o
estado de saúde debilitado do seu bebê, acabam levando a mãe a desenvolver o que foi
denominado por Brazelton (1994 apoud LINHARES et al., 2000) como síndrome da criança
vulnerável dando ênfase somente nas deficiências que o filho apresenta, superprotegendo e
afirmando sua vulnerabilidade.

Se bem no discurso de Camila, o problema de Heitor pode ser tão somente


psicológico, pode-se observar na maneira em como interage com ele, que a mãe percebe os
problemas que Heitor apresenta, dando a impressão de se frisar mais em aquilo que ele não
consegue fazer. Ao colocar a responsabilidade de melhorar, diretamente sobre os esforços do
filho, Camila se distancia de seu vínculo com ele.

Como foi visto no estudo sobre as teorias das primeiras relações de objeto do bebê, o
meio ambiente desempenha um papel importante no desenvolvimento dos processos de
54

maturação da criança. Sobre este ponto Winnicott (1965) afirma que diferentes falhas na
adaptação do bebê ao meio representam um fator traumático, dificultando a integração.

Desta forma ele argumenta a maneira em que estas falhas podem contribuir no
desenvolvimento de transtornos mentais posteriores, já que “É nas fases precoces quando se
colocam os cimentos da saúde mental do individuo” (WINNICOTT, 1965, p. 317, tradução
nossa)22. E este ponto é fundamental ao abordar o caso de crianças nascidas pré-termo,
“crianças nascidas com idade gestacional abaixo de 37 semanas e com peso abaixo de 1500g
constituem-se em um grupo de risco, podendo ser identificados sinais de vulnerabilidade na
criança” (LINHARES et al., 2000, pp. 65-66).

Neste sentido percebe-se que os cuidados maternos que Larissa recebeu de sua mãe e
da família desde o começo, assim como o holding que Amanda estaria recebendo, também de
sua família e da equipe de saúde, foram determinantes para a evolução destes casos. As
condições de gestação e as complicações que sofreram depois do parto todas as crianças que
participaram do estudo representaram um primeiro contato hostil com o ambiente externo. No
primeiro caso, hoje encontramos uma criança segura, que enxerga em sua mãe alguém a quem
pode retornar sempre que precise.

Já no segundo caso o vínculo que a mãe e o bebê estabeleceram se demonstra mais


comprometido, ao que parece Camila não consegue se identificar com as necessidades de seu
filho. Neste caso questiona-se sobre a maneira na qual pôde ter acontecido o processo
denominado por Winnicott (1965) como preocupação materna primaria.

É neste contexto que se encontra a idéia de Brum e Schermann de que a partir da


formação de um apego seguro nos primeiros meses de vida, é que acontece a independência
posterior. Assim o sentimento de segurança no “colo” materno persiste, e mostra uma criança
curiosa, sem medo ao desapego, devido a que os cuidados da mãe suficientemente boa já
foram internalizados. Corresponde à psicologia orientar as mães neste sentido, para que
possam compreender a importância de uma base segura.

22
“Es en las fases precoces cuando se colocan los cimientos de la salud mental del individuo” (WINNICOTT,
1965, p. 317).
55

Se bem seria necessária uma análise mais exaustiva dos conteúdos inconscientes da
mãe Camila para poder afirmar outras considerações a respeito desse caso, é provável que o
comprometimento do vínculo com Heitor apresente incidências da história de vida dessa mãe.
No entanto as complicações do inicio da vida de Heitor fragilizam ainda mais os laços que
Camila estabeleceu com ele.

Como assinala a psicanálise, a mãe deve proporcionar ao bebê o ambiente facilitador,


no qual irá evoluir nos seus processos de maturação. A mãe tendo que se preocupar
inteiramente com a criança e se identificando com ela nestes primeiros momentos, também se
encontra vulnerável frente a este ambiente hostil. Os ganhos obtidos no desenvolvimento da
criança a partir do estabelecimento de um vinculo seguro podem ser imensos.

Quando há o desenvolvimento de apego seguro, como postulam Ainsworth et al,


tem-se a idéia de um importante fator no bom prognóstico do desenvolvimento
afetivo, social e cognitivo de crianças [...]se os pais estiverem presentes, envolvidos
nos cuidados de seus filhos, e se estabelecerem uma relação de apego seguro, estes
bebês terão uma maior e mais rápida probabilidade de recuperação (BRUM;
SCHERMANN, 2007, p. 13).

Já para Julia o fato de ter recebido o apoio da equipe médica e dos familiares, a ajudou
a manter expectativas positivas com respeito ao desenvolvimento de Larissa. Da mesma
forma em que Amanda disse o quanto é importante para ela o trabalho realizado pela equipe
de psicologia. É possível perceber a necessidade das mães de serem acompanhadas pela
equipe de psicologia, pois é o saber dos psicólogos que pode aportar seu olhar para a
subjetividade de cada mãe a fim de facilitar a interação com seu bebê. “Neste sentido,
promover um senso de competência nos cuidados maternos, bem como avaliá-los revelam-se
importantes questões” (BRUM; SCHERMANN, 2007, p. 13).

Ao mesmo tempo o vínculo que o psicólogo estabelece com as mães, é também


fundamental no acompanhamento, já que sem esse prévio rapport, é difícil a compreensão
daquilo que a mãe precisa nesse momento. Cunha et al. (2010) afirmam que o suporte dado a
mães de bebês pré-termo abre o espaço para que estas possam manifestar suas emoções,
dificuldades e expectativas, e que isto contribui com o processo de adaptação durante a
internação do bebê. Situação percebida na entrevista realizada à mãe Amanda, onde ela
encontrou um espaço para expressar aquilo que sentia nesse momento.
56

A importância da intervenção do psicólogo nestes casos reside, não somente em


facilitar a interação-mãe bebê, ao mesmo tempo em que se permite o vínculo primário, em
conseqüência, aportaria uma melhor qualidade de vida para a mãe e seu bebê ao longo de seu
desenvolvimento, pois as falhas, como já foi abordado anteriormente, continuam ao longo de
suas vidas. “A insegurança gerada nesta etapa pode perdurar, interferindo no cuidado à
criança no curso do seu desenvolvimento” (LINHARES et al., 2000, p. 66).
57

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho colocou seu foco no primeiro tipo de vínculo que o ser humano
estabelece desde seu nascimento, a partir do qual surgem todas as percepções do mundo
exterior, e que dá a base para suas relações posteriores.

Foi possível perceber que no caso de um recém nascido, não-diferenciado de seus


primeiros objetos de relação, um ambiente hostil representa um primeiro contato com o
mundo que deixará suas impressões ao longo do seu desenvolvimento. Desta maneira, criar
condições propícias para que o bebê se desenvolva adequadamente, e possibilitar a construção
de um vínculo seguro propiciando um ambiente saudável, parecem ser estratégias necessárias
para o bom desenvolvimento da criança.

Se bem é entendida a necessidade dos vários procedimentos que o bebê nascido


prematuro sofre numa situação de internação, proporcionar um ambiente menos invasivo para
o estabelecimento deste vínculo, se constitui numa difícil tarefa para todos os profissionais da
área.

Foi percebido durante a realização deste trabalho que diversos fatores se encontram
envolvidos no estabelecimento do vínculo mãe-bebê, no entanto o suporte dado às mães no
momento do nascimento de seu filho e através dos primeiros contatos com este, possibilitam
que ocorra um estabelecimento de vínculo mais seguro, pois a partir desta ajuda na
identificação das necessidades de seu bebê, a mãe passa a se relacionar mais intimamente com
o desenvolvimento dele.

O trabalho do psicólogo nestes casos se demonstra necessário no acompanhamento ao


longo do desenvolvimento da criança. Possibilitar o suporte adequado para a mãe do bebê,
que sofreu diversas complicações no nascimento, se apresenta como precursor do suporte
posterior que ela dará ao filho. Conseqüentemente a criança terá a base para um apego seguro
e uma mãe suficientemente boa internalizada que fará de seu vínculo o espelho para interagir
com o mundo exterior.
58

Ainda resta um campo vasto para a psicologia se introduzir nas discussões a fim de
melhorar a qualidade da interação mãe-bebê. Pois a ela competem os processos subjetivos
envolvidos, dando seu aporte para a humanização das diferentes áreas da saúde.

Ao mesmo tempo, durante a pesquisa, observou-se, como as mães, mesmo muitas


delas sendo leigas em matéria de procedimentos médicos, ao longo do período em UTIN,
passam a descrever o estado de saúde da criança em termos médicos. Percebe-se que para
muitas delas o primeiro vínculo estabelecido passa pelo fato de tentar dominar, ou pelo menos
entender o que está acontecendo com o bebê. Assim, o quadro de saúde desta criança se
transforma na primeira imagem que a mãe tem de seu filho. Entender o que acontece, e de que
maneira se desenvolve essa criança, também fortalece o vinculo e ajuda na melhora do quadro
desse bebê.

A partir deste estudo encontrou-se a necessidade da presencia do psicólogo neste


contexto de atuação. Atualmente a psicologia já vem se incorporando cada vez mais às
equipes multidisciplinares em questão de tratar temas ligados à área hospitalar e à saúde como
um todo. O incremento das pesquisas dentro da área apresenta a contribuição de nossa ciência
para os demais profissionais da saúde, aumentando a credibilidade da competência ao se tratar
em sofrimento psíquico, concebendo o individuo como um todo complexo biopsicossocial.

Desta maneira a intervenção da psicologia nas UTIN está direcionada a abranger uma
gama extensa de possibilidades para sua atuação. Trabalho que começa desde o acolhimento
às mães, criando um ambiente suficientemente bom, a fim de facilitar os momentos de contato
mãe-bebê, possibilitando o estabelecimento do vínculo, dando suporte para as mães em
sentido dos cuidados que o bebê precisa receber dela, e participando das reuniões
multidisciplinares, trazendo a este campo as discussões que possam facilitar estas
intervenções no ambiente hospitalar.
59

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___ Os Bebês e suas Mães. Tradução: Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes,
2002.
62

ANEXOS
63

ANEXO A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Entrevista Semi-estruturada Para Pesquisa – O Vínculo Mãe-bebê nas Situações de


Nascimento Pré-termo

Mãe (representar com um número):


Idade:
Estado civil:
Nível de escolaridade:
Ocupação:
Criança (representar com um número):
Telefone para contato:

1. Conte-me como foi a sua gravidez?


2. Como foi o momento do parto?
3. Você já sabia que poderia se tratar de um parto prematuro?
4. Foi um parto normal ou cessaria? Quais foram as intercorrências sofridas?
5. O bebê ficou internado em UTI Neonatal? Se ficou, por quanto tempo? Como foi
esse período para você?
6. Quem acompanhou a criança durante o tempo que esteve hospitalizada?
7. Foi possível estabelecer um contato nesses primeiros dias? Como era este
contato, e como você o vivenciou?
8. Naquele momento, quais eram suas duvidas e angustias?
9. Depois da alta, como foi o período de adaptação em casa?
10. Você se sentia segura com a criança?
11. A criança é amamentada no peito ou na mamadeira?
12. Durante o período que passo na UTIN, você podia amamentar?
13. Qual é a sua opinião sobre o desenvolvimento do seu filho?
14. Você conta com a ajuda de outras pessoas para cuidar dele/dela? Em caso
afirmativo pedir para mencionar.
15. Foi sua primeira gravidez?
16. Tem outros filhos? Em caso afirmativo, quantos? Se não, tem outros filhos?
Quantos?
17. Hoje como você se sente com relação ao seu filho(a)?
64

ANEXO B – ROTEIRO DE ANÁLISE DE EPISÓDIOS

Descrição dos Episódios

Entrevista (número)

Titulo: Episódio #
Data:
Duração:
Sujeitos Envolvidos:
Situação: (resumo do ambiente onde acontece o episódio).
Resumo: (síntese do episódio).
Descrição (descrição detalhada dos fatos acontecidos, incluindo os minutos e
segundos em que se desenrolam).
65

ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você esta sendo convidado a participar em uma pesquisa – “O Vínculo Mãe-Bebê


nas Situações de Nascimento Pré-termo”. Você precisa decidir se quer participar ou
não. Por favor, não se apresse em tomar a decisão. Leia cuidadosamente o que se
segue e pergunte ao responsável pelo estudo qualquer dúvida que você tiver. Este
estudo está sendo conduzido pela Prof. Dr. Alexandra Ayach Anache.

A finalidade deste estudo é entender o processo de vinculação entre a mãe e o seu


bebê nascido pré-termo. Outro propósito é construir propostas de atitudes que
favoreçam o estabelecimento do vínculo mãe-bebê em situações de nascimento de
risco e contribuir para o bom desenvolvimento da criança.

Poderão participar deste estudo, mães de bebês nascidos pré-termo com peso igual
ou inferior a 1500 gramas no momento do nascimento, em acompanhamento pela
equipe de psicologia, no ambulatório pediátrico do Hospital Universitário Maria
Aparecida Pedrossian da Universidade de Mato Grosso do Sul em Campo Grande -
MS.

Não podem participar deste estudo, pessoas que possuam diagnóstico de transtorno
psiquiátrico. Pessoas que estejam tomando medicamentos como ansiolíticos ou
antidepressivos. Menores de idade sem a autorização de pais ou responsáveis.
Pessoas que não atendam a critérios técnicos estipulados pelo pesquisador.

Você será entrevistado a fim de compreender a situação de nascimento do seu filho


e o vínculo estabelecido entre os dois. A entrevista será filmada e o que você disser
será registrado para posterior estudo. Após a entrevista será submetido a um breve
66

procedimento de avaliação psicológica que contextualiza aquilo que foi tratado na


entrevista.

Esta pesquisa esta sendo realizada a partir de estudos realizados sobre o tema que
indicam a importância do estabelecimento de um primeiro vínculo entre a mãe e o
bebê, e que é fundamental para o bom desenvolvimento da criança.

Você participará deste estudo durante os meses de Fevereiro de 2012 à Maio de


2012.

Deste estudo estarão participando 5 (cinco) mães de crianças nascidas pré-termo, e


que também se encontram em acompanhamento pela equipe de psicologia no
Ambulatório Pediátrico do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian.

Você poderá experimentar algum tipo de constrangimento ao responder questões


sobre o momento de nascimento do seu filho, e relembrar as sensações que a
situação lhe proporcionou.

Você não receberá nenhum tipo de compensação financeira pela sua participação
na pesquisa. Estará contribuindo para a ampliação de conhecimentos sobre o
contexto do nascimento pré-termo.

Se você concordar em participar do estudo, seu nome e identidade serão mantidos


em sigilo. A menos que requerido por lei, somente o pesquisador, a equipe do
estudo ou o Comitê de Ética independente terão acesso aos dados para verificar as
informações do estudo.

Você será informado periodicamente de qualquer nova informação que possa


modificar a sua vontade em continuar participando do estudo.

Para perguntas ou problemas referentes ao estudo ligue para a Prof. Dr. Alexandra
Ayach Anache ou a Fátima Rocío Espínola Arzamendia no Laboratório de Educ.
Especial, fone: (67) 3345-7579. Para perguntas sobre seus direitos como
participante no estudo chame o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
da UFMS, no telefone (67) 33457187.
67

Sua participação no estudo é voluntária. Você pode escolher não fazer parte do
estudo, ou pode desistir a qualquer momento. Você não perderá qualquer benefício
ao qual você tem direito. Você não será proibido de participar de novos estudos.

Você poderá ser solicitado a sair do estudo se não cumprir os procedimentos


previstos ou atender as exigências estipuladas.

Você receberá uma via assinada deste termo de consentimento.

Declaro que li e entendi este formulário de consentimento e todas as minhas dúvidas


foram esclarecidas, e que sou voluntário a tomar parte neste estudo.

Eu, __________________________________________, responsável legal por


____________________________________, declaro ter sido informado e concordo
com a sua participação, como voluntário, no projeto de pesquisa acima descrito.

Assinatura do
voluntario__________________________________________data__________Fone
______________________

Assinatura do pesquisador
_________________________________________________data___________
68

ANEXO D – CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA


COM SERES HUMANOS

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