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Estudo de custo-rendimento do processamento de queijo minas frescal, Neves-Souza e Silva

ESTUDO DE CUSTO-RENDIMENTO DO PROCESSAMENTO


DE QUEIJOS TIPO MINAS FRESCAL COM DERIVADO
DE SOJA E DIFERENTES AGENTES COAGULANTES1
R. D. NEVES-SOUZA2,*, R.S. S. F. SILVA3

RESUMO
O desenvolvimento de alimentos é uma constante nas indústrias, nas universidades e nos institutos de pesquisa visando otimizar
processamentos, agregar diferentes ingredientes em produtos já existentes, entre outros fatores. Após o desenvolvimento de um
produto, informações adicionais podem ser obtidas pela determinação do rendimento e do custo do produto final. O objetivo deste
trabalho foi estimar o rendimento e o custo de queijos Minas frescal tradicionais e adicionados de extrato hidrossolúvel de soja
desengordurado (EHS) processados com coalho bovino e com coagulante microbiano (Aspergillus niger var. awamori). A introdução de
8% do EHS (em relação ao teor de sólidos totais do leite) no queijo Minas frescal processado com coalho bovino proporcionou
rendimento em gramas de sólidos totais por litro de leite (g ST/L) superior de 16,67% em relação ao queijo Minas frescal tradicional
processado com o mesmo coalho. O queijo tipo Minas frescal processado com coagulante microbiano e com 8% de EHS apresentou
rendimento (g ST/L) superior de 16,54%, quando comparado ao seu tradicional. O custo das formulações-base (kg de queijo/100L de
leite) processadas com coalho bovino e com coagulante microbiano foi US$ 36,75 e US$ 37,50, respectivamente, ao passo que os queijos
tradicionais processados com os mesmos agentes coagulantes apresentaram custo equivalente a US$ 35,12 e US$ 35,36.
Palavras-chave: queijo Minas frescal; queijo com derivado de soja; quimosina produzida por fermentação; coagulante microbiano;
extrato hidrossolúvel de soja.

SUMMARY
STUDY OF COST AND YIELD OF MINAS LIKE FRESH CHEESE PRODUCED WITH ADDED FAT FREE SOYBEAN HYDRO-SOLUBLE
EXTRACT POWDER WITH CURD FORMED BY DIFFERENT COAGULANTS AGENTS. Food products development occur in industries,
universities and research centers with the aim of optimizing processes, to include different ingredients to existing products or for other
reasons. After developing a product, additional information may be obtained by determining yield and cost of the final product. The
objective of this research was to estimate yield and cost of traditional Minas fresh cheese and those produced with added fat free
soybean hydro-soluble extract powder (SEP), with curd formed by rennet or microbial coagulant (Aspergillus niger var. awamori). Minas
fresh cheese with addition of 8% of SEP (in relation to total milk solids), processed with rennet had a yield (g TS/L) 16.67% higher in
comparison to the traditional cheese processed with the same rennet. The cheese processed with microbial coagulant and 8% of SEP
had a yield (g TS/L) 16.54% higher, when compared to the traditional cheese. The cost of the basic formulations with 8% of SEP (kg of
cheese/100L of milk) processed with rennet or with microbial coagulant was US$ 36.75 and US$ 37.50 respectively, whilst that the
traditional cheeses, processed with the same coagulants cost US$ 35.12 and US$ 35.36.
Keywords: Minas fresh cheese cheese with soybean derivative; chymosin produced by fermentation; microbial coagulant; hydro-
soluble soybean extract.

1 – INTRODUÇÃO genética. Sua obtenção se dá pela fermentação de mi-


crorganismos transgênicos [3]. Este processo, conhe-
A escolha do agente coagulante na produção de cido como FPC (Fermentation Produced Chymosin) foi de-
queijos é relevante porque ao lado de enzimas produzi- senvolvido a partir de Aspergillus niger var. awamori.
das por bactérias, láticas ou não, as enzimas do agente Inicialmente foi denominado de coagulante genético e
coagulante influenciam na degradação protéica e umas recentemente passou a ser considerado como um
são mais proteolíticas que outras [8]. A pepsina bovi- coagulante microbiano, de acordo com informações do
na, por exemplo, é uma das mais proteolíticas, é me- fabricante. Está sendo comercializado em diversos paí-
nos específica que a quimosina e, pode hidrolisar ex- ses pela Chr. Hansen com o nome de CHY-MAX [6].
cessivamente as caseínas, contribuindo com a Apesar das vantagens, especialmente no aumento do
diminuição do rendimento e promovendo sabor amargo rendimento, a aplicação na indústria queijeira é pe-
ao produto, além de causar redução na vida-útil do quei- quena. O coalho bovino ainda é o mais utilizado no
jo [8, 9]. proces-samento de queijos, entretanto algumas pes-
Para minimizar esses problemas foi produzido um quisas estão sendo desenvolvidas com o objetivo de
agente coagulante composto de 100% de quimosina comparar a influência dos diferentes tipos de agentes
utilizando-se das modernas técnicas de engenharia coagulantes, ¾ bovino e microbiano ¾ exercida sobre
os parâmetros físico-químicos e sobre o rendimento de
alguns tipos de queijos [3, 21], inclusive com o queijo
1.
Recebido para publicação em 23/03/2004. Aceito para publicação em
Minas, um produto tipicamente nacional [23, 24, 25].
17/01/2005 (001314). É o terceiro queijo mais fabricado no Brasil, em 2003
2.
Cursos de graduação e pós-graduação na área de Nutrição da Univer- foram produzidas 31.762 toneladas [1, 5]. Possui uma
sidade Norte do Paraná – UNOPAR, Av. Paris, 675, Jd. Piza, Londrina/ das mais simples tecnologia de fabricação, mesmo as-
PR, CEP: 86041-100; e-mail: rejane.souza@unopar.br
sim as técnicas industriais foram sofrendo modifica-
3.
Programa de Mestrado e Doutorado em Ciência de Alimentos da Uni-
ções, ao longo dos anos, visando à melhoria de quali-
versidade Estadual de Londrina – UEL.
* A quem a correspondência deve ser enviada.
dade, o aumento no rendimento e à padronização do
produto [4, 13, 14, 15, 19, 20, 22, 29, 30, 33, 34]. Além

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disso, tem sido estudada a introdução de sólidos de prever o rendimento de fabricação, independente de
leite [7, 26] e de soja [23, 27, 28, 32] no processamento haver diferença na composição do leite utilizado, além
visando, principalmente, aumento no rendimento. destes dados se tornarem passíveis de uso em qual-
Diante disso, este trabalho teve como objetivo es- quer lugar, uma vez que sempre expressarão o que acon-
timar o custo e o rendimento de queijos Minas frescal tece com cada elemento do leite [13].
tradicionais e com extrato de soja desengordurado em Para estabelecer as cifras de transição da gordura,
pó processados com coalho bovino e com coagulante da proteína e dos sólidos totais do leite e da mistura
microbiano. (leite + EHS) para os respectivos queijos foram consi-
deradas as composições centesimais do leite e da mis-
2 – MATERIAIS E MÉTODOS tura, bem como as perdas de cada constituinte pelo
soro (item 2.2), seguindo as quantificações citadas por
FURTADO & WOLFSCHOON-POMBO [13].
2.1 – Técnica de fabricação dos queijos
O queijo Minas frescal, utilizado como referência, 2.4 – Rendimento
foi processado seguindo-se as recomendações de FUR- O rendimento de cada queijo (tradicionais e com
TADO & LOURENÇO-NETO [12]. EHS) foi estimado de duas maneiras:
Foram utilizados oito litros de leite tipo C, ¾ marca a) em litros de leite necessários para a elaboração de
Tamalat, produzido pelo Lacticínio Tamarana Ltda. ¾, um quilo de queijo (L/kg). Neste caso, dividiu-se o
com teor médio de gordura de 3%. Empregou-se coalho volume de leite empregado pela soma da massa
bovino em pó (Há-LA pó, Naturen) de acordo com as dos queijos obtidos [24];
recomendações do fabricante. Adicionou-se cloreto de
cálcio (Merk) a partir de uma solução aquosa (p/v), na b) em gramas de sólidos totais de queijo por litro de
proporção de 0,2g/L de leite, e 1% de cultura lática leite (g ST/L), conforme SABOYA et al. [26]. Para
mesofílica, homofermentativa do tipo “O” (Chr. Hansen isto empregou-se a equação 1.
Indústria e Comércio Ltda.) em relação ao total de leite
utilizado. O processo de salga foi realizado diretamen- R (g ST/L) = P x ST x 1 (1)
te no leite, com o emprego de cloreto de sódio iodado V
(Cisne), na proporção de 1,5% em relação ao volume R = rendimento; P = quilos de queijos obtidos;
inicial de leite. ST = percentagem de extrato seco dos queijos;
Os queijos tipo Minas frescal acrescidos de extrato V = volume de leite utilizado.
hidrossolúvel de soja (EHS) desengordurado em pó
2.5 – Custo dos queijos
(Olvebra Industrial S.A. de Porto Alegre/RS), baseou-
se na metodologia empregada por NEVES-SOUZA [23]. Estimou-se o custo dos queijos Minas frescal tra-
A quantidade de EHS empregada foi de 8% em relação dicionais e de cada formulação-base por meio da iden-
ao teor de sólidos totais do leite. Uma formulação-base tificação das quantidades empregadas de matérias-pri-
foi processada com 8L de leite; 452mg de coalho bovi- mas (leite e derivado de soja), e coadjuvantes
no, 75g de EHS, 4,0g de cloreto de cálcio, 120g de clore- tecnológicos (agentes coagulantes, cloreto de cálcio,
to de sódio e 8mL de cultura lática. A única diferença cloreto de sódio e cultura lática), em unidades coeren-
que houve no desenvolvimento da formulação-base al- tes de massa, necessários para cada tratamento. A partir
ternativa foi a substituição do coalho bovino por 1,9mL destes valores calculou-se o custo para processar 100L
de coagulante microbiano. Cada tratamento foi realiza- de leite. Os resultados foram expressos em dólares
do em triplicata. americanos.

2.2 – Composição centesimal 2.6 – Análise estatística


Os teores de umidade, proteínas totais, gordura, O teste de Tukey foi empregado para comparar as
cinzas totais e carboidratos totais do leite, da mistura médias obtidas a partir de cada análise e pelo teste t,
(leite + EHS), dos queijos tradicionais, dos queijos acres- compararam-se os dados dos queijos tradicionais com
cidos de EHS processados com coalho bovino e com os dados dos queijos acrescidos de EHS.
coagulante microbiano, e dos respectivos soros, que
foram obtidos a partir de cada um destes queijos, fo- 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
ram determinados seguindo-se a metodologia oficial da
A.O.A.C. [2]. Estes dados foram utilizados para estimar
as cifras de transição (item 2.3). 3.1 – Rendimento dos queijos
Estão apresentadas nas Tabelas 1 e 2 as cifras de
2.3 – Cifras de transição transição obtidas nos processamentos dos queijos Mi-
As cifras de transição fornecem uma idéia da re- nas frescal com coalho bovino e com coagulante micro-
tenção dos componentes do leite no queijo e informam biano, e dos queijos com EHS processados com os mes-
as perdas que ocorreram no soro, permitindo assim mos agentes coagulantes, respectivamente, assim como
o rendimento em gramas de sólidos totais por litro de

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leite (g ST/L) e, também, em litros de leite necessários Os valores encontrados para os parâmetros dispos-
para a produção de um quilograma de queijo (L/kg). tos na Tabela 1 não coincidem com os dados obtidos
por ROSSI et al. [24], especialmente o rendimento, tanto
TABELA 1. Transição dos componentes do leite para os queijos em L/kg (5,47) como em g de ST/L (62,02), alcançado
tradicionais e rendimento dos processos nos tratamentos para o tratamento com coagulante microbiano. Estas
com coalho bovino e com coagulante microbiano diferenças podem estar relacionadas mais com as eta-
pas de corte da massa e ao tratamento empregado na
Queijo Tradicional com Queijo Tradicional com
Parâmetros massa que ao tipo de agente coagulante. Além disto,
coalho bovino coagulante microbiano
as tecnologias de fabricação empregadas também apre-
sentaram diferenças, já que os referidos autores utili-
a a
Transição das proteínas (%) 72,33 73,00
Transição da gordura (%) 85,33
a
85,33
a
zaram 2% de sal em relação ao volume de leite e adicio-
Transição de Sólidos Totais (%) 52,79
a
53,30
a
naram ácido lático em substituição à cultura lática, ao
Rendimento em g de ST/L 65,87
a
67,17
b
passo que neste trabalho a concentração de sal foi de
Rendimento (L/kg) 6,09
a
6,00
a 1,5% e a cultura lática foi empregada.
ST = sólidos totais. Comparando-se as cifras de transição entre os dois
a,b...
médias com a mesma letra superescrita, na mesma linha, não são estatistica-
mente diferentes (p<0,05). tipos de queijos com EHS (Tabela 2) nota-se que foi se-
guida a mesma tendência dos queijos tradicionais (Tabe-
la 1), no entanto houve diferença (p<0,05) na transição da
Não houve diferenças (p<0,05) na retenção de pro-
gordura além da diferença encontrada no rendimento em
teínas, gordura e sólidos totais, bem como no rendi-
gramas de sólidos totais por litro (Tabela 2).
mento (L/kg), quando se comparou o queijo Minas
frescal tradicional processado com coalho bovino e com
coagulante microbiano (Tabela 1). TABELA 2. Transição dos componentes da mistura
(leite + EHS) para os queijos e rendimento dos processos
A cifra de transição de gordura do queijo Minas
nos tratamentos com coalho bovino e com coagulante
frescal processado com coalho bovino está bem abaixo
microbiano
do valor informado (92,29%) no estudo desenvolvido por
SABOYA et al. [26] que trabalharam com a mesma téc-
nica de fabricação aqui realizada. Estes autores relata-
ram uma menor perda da quantidade de gordura no soro
(apenas 0,3 g/100mL) e o leite empregado apresentava
3,24g de gordura/100mL, ao passo que no presente tra-
balho perdeu-se em média 0,52g de gordura/100mL e o
leite utilizado nos processamentos apresentou menor
quantidade deste nutriente (média de 3,00g/100mL). A
presença de maior quantidade de gordura no soro en-
contrada no presente trabalho, também, pode ser
explicada por diferenças que geralmente podem acon- ST = sólidos totais.
a,b...
médias com a mesma letra superescrita, na mesma linha não são estatistica-
tecer durante o corte e o tratamento da massa, duas mente diferentes (p<0,05).
etapas importantes para a fabricação de queijos, se-
gundo FURTADO [10]. Neste experimento, o corte foi A retenção de proteínas (76,86 e 77,41%) nos quei-
feito manualmente, não sendo possível a padronização jos adicionados de EHS foi maior (p<0,05) se compara-
do tamanho dos grãos, causando provavelmente maior da aos respectivos tradicionais (72,33 e 73,00%). Isto
perda de gordura. ocorreu em conseqüência da presença das proteínas
O rendimento em g de ST/L do queijo Minas frescal de soja na massa dos queijos. O mesmo efeito se deu
processado com coagulante microbiano foi 1,97% supe- com a transição de sólidos totais dos queijos acresci-
rior, em termos relativos, àquele processado com coa- dos de EHS (Tabela 2) pelo teste t (p<0,05), que também
lho bovino (Tabela 1), sendo estatisticamente significa- pode ser explicado em virtude do maior teor protéico
tivo (p<0,05). Não houve diferença (p<0,05), entretanto, dos mesmos.
quando a comparação foi realizada com os valores obti- Houve, porém, menor transição da gordura (76,00 e
dos para o rendimento em L/kg. Em termos relativos, 79,00%) para os queijos acrescidos de EHS. Verificou-se
contudo, a diferença é de 1,5%, o que corresponde ao diferença (p<0,05) entre os valores obtidos para a tran-
aumento preconizado pelo fabricante, a favor do sição de gordura nos dois tratamentos com EHS (Tabe-
coagulante microbiano [6], e isto pode resultar em be- la 2). Possivelmente, por causa da presença do derivado
nefícios econômicos numa produção em larga escala. de soja, a estrutura da coalhada formada foi incapaz de
O rendimento em g de ST/L encontrado por SABOYA aprisioná-la adequadamente na matriz protéica, e por
et al. [26], também, foi superior (67,86g ST/L) ao en- isso sua perda no soro foi mais elevada, aproximada-
contrado nesta pesquisa (Tabela 1), e isto se deve ao mente 0,90g/100mL, em relação aos soros obtidos du-
fato da maior transição de gordura do leite para o quei- rante o processamento dos queijos tradicionais (0,58 e
jo conseguida pelos autores. 0,60g/100mL). A menor retenção de gordura em queijos

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contendo ingredientes de soja tem sido verificada por coagulante microbiano, portanto o custo desta formu-
diversos autores [11, 16, 17, 18, 23, 27, 28, 31, 32]. lação ficou em US$ 37,50. Comparando os custos das
formulações-base empregando-se 100L de leite, encon-
Outro parâmetro que apresentou diferença (p<0,05) trou-se uma diferença de US$ 0,75, o que representa
entre os tratamentos com EHS foi o rendimento ex- um aumento relativo de 2,04%. Como aconteceu com
presso em g de ST/L (Tabela 2) e, novamente, o queijo os queijos Minas frescal tradicionais, o rendimento da
processado com coagulante microbiano indicou maior formulação-base processada com coagulante também
rendimento. O uso deste coagulante promoveu um foi superior (1,86%), comprovando mais uma vez que
aumento relativo de 1,86% no rendimento em relação apesar do custo do coagulante ser bem superior
ao seu análogo processado com coalho bovino. Este (US$ 32,00 a 35,00/L) ao coalho bovino (US$ 3,00/kg),
resultado pode ser explicado pela maior retenção de não há comprometimento no custo.
gordura na coalhada. Quando a comparação do rendi-
mento foi feita com base na quantidade de litros de Estabelecendo-se um paralelo entre o custo dos
leite utilizada para processar um quilograma de queijo queijos tradicionais com coalho bovino e com coagulante
(L/kg), observou-se que foram necessários 4,76 e 4,69L microbiano, e dos queijos com adição de EHS com os
para processar um quilograma de queijo com coalho mesmos agentes coagulantes, estimou-se um custo
bovino e com coagulante microbiano, respectivamente. adicional aos últimos queijos citados igual a 4,64 e
Estes resultados, porém, não foram diferentes do pon- 6,05%, respectivamente.
to de vista estatístico (p<0,05). O aumento do custo de cada formulação em relação
Os rendimentos em litros de leite para processar aos tradicionais deve-se à introdução de EHS no pro-
um quilograma de queijo (L/kg) dos tratamentos com cessamento e aos teores mais elevados de agentes
EHS produzidos com coalho bovino e com coagulante coagulantes e cloreto de cálcio. Deve-se considerar,
microbiano foram, em termos relativos, 27,94% e 27,93% contudo, que essas formulações-base apresentaram
superiores aos seus controles, respectivamente. Tendo rendimento adicional – em g ST/L – ao redor de 16,5%.
em vista que o rendimento calculado g ST/L é um dado Além disto, o preço final ao consumidor poderia ser
mais confiável porque leva em consideração o teor de maior, uma vez que produtos com menor teor de gordu-
sólidos totais do leite, estimou-se também a percenta- ra, conseqüentemente, menos calorias, podem ser co-
gem de aumento nestes tratamentos, sendo 16,67% para mercializados como produtos light e apresentam pre-
o queijo com coalho bovino e 16,54% para o queijo com ços mais elevados que os tradicionais. O uso de EHS,
coagulante microbiano. Estes dados indicam que deriva- portanto, agregaria valor ao queijo final.
dos de soja aumentam o rendimento desse tipo de quei-
jo pelo fato de reterem maior teor de proteínas. 4 – CONCLUSÕES

3.2 – Estimativa do custo dos queijos A inclusão do extrato hidrossolúvel de soja


desengordurado (EHS) em queijo tipo Minas frescal pro-
A quantidade de queijo (kg/100L leite) obtida para move maior transição de proteínas e sólidos totais e
cada tratamento, assim como o custo, em dólares ame- diminui a retenção da gordura. O queijo processado com
ricanos (US$), estão indicados na Tabela 3. EHS e com coalho bovino foi 16,67% superior no rendi-
Houve um aumento relativo no custo muito peque- mento (g ST/L) em relação ao queijo tradicional proces-
no, igual a 0,68%, e o rendimento em g ST/L foi 1,97% sado com o mesmo coalho. O mesmo ocorreu com o
superior para o queijo com coagulante microbiano (Ta- coagulante microbiano com rendimento de 16,54%.
bela 2). O queijo tradicional produzido com coagulante O custo das formulações-base (100kg queijo) pro-
microbiano, portanto, tem mais vantagem em relação cessadas com coalho bovino e com coagulante microbia-
ao custo de processamento. no foi US$ 36,75 e US$ 37,50, respectivamente, ao pas-
so que para os queijos tradicionais os custos foram
TABELA 3. Quantidade de queijo obtida (kg) e custo de cada equivalentes a US$ 35,12 e US$ 35,36, respectivamente.
formulação (US$)
Quantidade obtida para Custo para 100L 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Tratamentos
100L de leite (kg) de leite (US$)
Queijo tradicional com coalho bovino 16,41
a
35,12
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE QUEI-
JO. Informações sobre produção de queijo tipo Mi-
Queijo tradicional com coagulante
16,67
a
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microbiano
b
www.abiq.com.br>. Acesso em: 13 mar. 2003.
Queijo com EHS e com coalho bovino 21,19 36,75
[2] ASSOCIATION OFFICIAL ANALYSIS CHEMISTRY.
Queijo com EHS e com coagulante
22,21
b
37,50 Official methods of analysis of AOAC internatio-
microbiano nal: food composition; additives, natural contaminants.
a,b...
médias com a mesma letra superescrita, na mesma coluna não são estatistica- 16 th . ed. Virginia: Association Analytical Chemists,
mente diferentes (p<0,05). 1995. v. 2. cap. 33, p. 1-75.
[3] BARBANO, D. H; RASMUSSEN, R. R. Cheese yield
Como já citado na metodologia, a única diferença performance of fermentation-produced chymosin and
que houve no desenvolvimento da formulação-base al- other milk coagulants. J. Dairy Sci., Champaign, v. 75,
ternativa foi a substituição do coalho bovino pelo n. 1, p. 1-2, Jan. 1992.

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frescal por meio de ultrafiltração. Rev. ILCT, Juiz de
na fabricação de Minas frescal como alternativa de
Fora, v. 39, n. 235, p. 53-58, 1984.
melhoria de qualidade. In: SEMINÁRIO INTERNACIO-
NAL “QUEIJOS FRESCOS”, 1, Atibaia, 1998. Trabalho
apresentado. 6 – AGRADECIMENTOS
[20] LOURENÇO-NETO, J. P. de M.; SOBRAL, M. L. Uso de
culturas termófilas na fabricação de queijo minas frescal. Os autores agradecem ao Prof. Dr. Lúcio Alberto Forti
In: CONGRESSO NACIONAL DE LATICÍNIOS, 9. Juiz Antunes, da Chr. Hansen do Brasil, pelas valiosas suges-
de Fora, 1986. Anais. Juiz de Fora, 1986. tões apresentadas durante a execução desta pesquisa.

174 Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, 25(1): 170-174, jan.-mar. 2005

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