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INTRODUÇÃO
1
MacCORMICK, Neil. SUMMERS, Robert. Interpretation and Justification. In:
Interpreting statutes: a comparative study. Org. Idem. Aldershot, Brokfield, Hong Kong,
Singapore, Sydney: Dartmouth, 1992. p. 511.
2
ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In: Recht, Vernunft, Diskurs: Studien zur
Rechtsphilosophie. 1. Aufl. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. p. 71-92.
3
MACHADO, Hugo de Brito. Coord. Imunidade tributária do livro eletrônico. São Paulo:
Informações Objetivas. 1998. MARTINS, Ives Gandra da Silva. Imunidades Tributárias. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais: Centro de Extensão Universitária, 1998 (Pesquisas
tributárias, Nova série; n. 4).
2
princípios constitucionais fundamentais; o “livro eletrônico” consistiria num
simples meio, equivalente ao livro, para garantir a liberdade de expressão e de
informação; de acordo com o Supremo Tribunal Federal, a imunidade em
apreço deveria ser interpretada de acordo com a finalidade que visa a alcançar;
o “livro eletrônico” significaria, hoje, aquilo que o “livro” representou ontem.
4
NINO, Carlos Santiago. La validez del derecho. Buenos Aires: Astrea, 1985. p. 126.
3
Não se pretende apenas descrever como os argumentos estão
sendo de fato aplicados pela doutrina e pela jurisprudência na interpretação
jurídica. O fato de eles estarem sendo empregados dessa ou daquela forma
não quer dizer que não poderiam ou deveriam ser utilizados de outra maneira.
Este trabalho pretende explicar, outrossim, como os argumentos podem e
devem ser utilizados na interpretação jurídica. 5 Para alcançar esse propósito
utilizou-se um verdadeiro caso-limite, que proporciona a análise dos vários
argumentos empregados na interpretação jurídica.
5
BYDLINSKI, Franz. Juristische Methodenlehre und Rechtsbegriff. 2. ed. Wien-New
York: Springer, 1991. p. 554. ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In: Recht, Vernunft,
Diskurs: Studien zur Rechtsphilosophie. 1. ed. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. p. 78.
6
Sobre classificações em geral, ver: CARVALHO, Paulo de Barros. IPI - Comentários
sobre as Regras Gerais de Interpretação da Tabela NBM/SH (TIPI/TAB). Revista Dialética de
Direito Tributário (12): 53 e ss., São Paulo, 1996.
4
Como será demonstrado, não basta mencionar qual o argumento
que está sendo empregado para justificar a escolha das premissas utilizadas
na interpretação. Dizer que a linguagem, o sistema, o legislador constituinte ou
resultados práticos decidem determinada interpretação é simplesmente
pretender sejam unidirecionais argumentos que fluem em várias direções.
7
ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In: Recht, Vernunft, Diskurs: Studien zur
Rechtsphilosophie. 1. ed. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. p. 71-92. MÜLLER, Friedrich.
Juristische Methodik. 7. ed. Berlin: Duncker und Humblot. 1997. p. 216-303. BYDLINSKI, Franz.
Juristische Methodenlehre und Rechtsbegriff. 2. ed. Wien-New York: Springer, 1991. p. 553-
566. GUASTINI, Riccardo. Distinguendo: studi di teoria e metateoria del diritto. Torino:
Giappichelli, 1996. p. 173-190. MacCORMICK, Neil. SUMMERS, Robert. Interpretation and
Justification. In: Interpreting statutes: a comparative study. Org. Idem. Aldershot, Brokfield,
Hong Kong, Singapore, Sydney: Dartmouth, 1992.
8
BYDLINSKI, Franz. Juristische Methodenlehre und Rechtsbegriff. 2. ed. Wien-New
York: Springer, 1991. p. 553.
5
B- Proposta de classificação
1 - Quadro esquemático
sintáticos
Lingüísticos Ling. ordinária
semânticos
Ling. técnica
Imanentes
contextuais
Institucionais Sistemáticos
jurisprudenciais
Históricos
Transcendentes
semânticos
Genéticos
teleológicos
9
ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In: Recht, Vernunft, Diskurs: Studien zur
Rechtsphilosophie. 1. ed. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. p. 87.
10
BORGES, José Souto Maior. O Direito como fenômeno lingüístico, o problema de
demarcação da ciência jurídica, sua base empírica e o método hipotético-dedutivo. In: Ciência
Feliz. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife. 1994. p. 135.
6
3 - Argumentos institucionais
11
GUASTINI, Riccardo. Distinguendo: studi di teoria e metateoria del diritto. Torino:
Giappichelli, 1996. p. 175.
12
MacCORMICK, Neil. SUMMERS, Robert. Interpretation and Justification. In:
Interpreting statutes: a comparative study. Org. Idem. Aldershot, Brokfield, Hong Kong,
Singapore, Sydney: Dartmouth, 1992. p. 513.
13
TORRES, Heleno Taveira. GARCIA, Vanessa Nobell. Tributação e imunidade dos
chamados “livros eletrônicos”. In: MACHADO, Hugo de Brito. Coord. Imunidade tributária do
livro eletrônico. São Paulo: Informações Objetivas. 1998. p. 86.
7
constitucional não configuram livros (e. g. livros em branco, caderno em espiral,
livro ponto, livro de atas). 14
14
CARRAZZA, Roque Antonio. Livro eletrônico - Imunidade Tributária - Exegese do art.
150, VI, “d”, da Constituição Federal. In: MACHADO, Hugo de Brito. Coord. Imunidade tributária
do livro eletrônico. São Paulo: Informações Objetivas. 1998. p. 233.
15
TORRES, Ricardo Lobo. Imunidade tributária nos produtos de informática. In:
MACHADO, Hugo de Brito. Coord. Imunidade tributária do livro eletrônico. São Paulo:
Informações Objetivas. 1998. p. 200.
16
BULYGIN, Eugenio. Sull’interpretazione giuridica. In: Analisi e Diritto 1992: recerche
di giurisprudenza analitica. Org. Paolo Comanducci e Riccardo Guastini. Torino: Giappichelli,
1992.
17
CARVALHO, Paulo de Barros. Proposta de modelo interpretativo para o direito
tributário. In: Revista de Direito Tributário (70):42, São Paulo: Malheiros.
18
SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Imunidade tributária como limite objetivo e as
diferenças entre “livro” e “livro eletrônico”. In: MACHADO, Hugo de Brito. Coord. Imunidade
tributária do livro eletrônico. São Paulo: Informações Objetivas. 1998. p. 54.
8
(2) Argumentos sistemáticos
19
ALEXY, Robert. Theorie der juristischen Argumentation. 2. ed. Frankfurt am Main:
Suhrkamp, 1991. p. 295.
20
ÁVILA, Humberto Bergmann. A distinção entre princípios e regras e a redefinição do
dever de proporcionalidade. RDA, 215:151-179. 1999.
21
GUASTINI, Riccardo. Distinguendo: studi di teoria e metateoria del diritto. Torino:
Giappichelli, 1996. p. 180.
22
FREITAS, Juarez. A interpretação sistemática do Direito. São Paulo: Malheiros,
1995. p. 57.
9
Também se incluem nesse grupo os argumentos relativos ao
lugar onde o dispositivo se encontra no documento legislativo (argumento
topográfico) e à constância terminológica. 23
23
GUASTINI, Riccardo. Distinguendo: studi di teoria e metateoria del diritto. Torino:
Giappichelli, 1996. p. 190.
24
BORGES, José Souto Maior. Imunidade tributária dos produtos de informática
(ICMS/IPI/ISS), Repertório IOB de Jurisprudência, nº 24/96, p. 545. CARRAZZA, Roque
Antonio. Livro eletrônico - Imunidade Tributária - Exegese do art. 150, VI, “d”, da Constituição
Federal. In: MACHADO, Hugo de Brito. Coord. Imunidade tributária do livro eletrônico. São
Paulo: Informações Objetivas. 1998. p. 230.
25
ENGISH, Karl. Einführung in das juristische Denken. 8. ed. Stuttgart; Berlin; Köln:
Kohlhammer, 1983. p. 79.
26
CANARIS, Claus-Wilhelm. Die Feststellung von Lücken im Gesetz. 2. ed. Berlin:
Duncker und Humblot, 1983. pp. 82 e ss.
10
o exposto já basta para demonstrar que os argumentos teleológicos,
dependendo da finalidade e da técnica interpretativa, também não decidem a
questão de saber se o “livro eletrônico” se enquadra na imunidade dos “livros”,
embora reste evidente, quanto a eles, a existência de uma confluência em
direção ao enquadramento dos “livros eletrônicos” na imunidade em pauta.
27
Recurso Extraordinário n. 144900-4, Primeira Turma, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ
26.09.97.
11
apesar deles não serem classificados pelo Código Tributário Nacional como
impostos sobre o patrimônio. 28
28
Recurso Extraordinário nº 89.590, Primeira Turma, Relator: Ministro Rafael Mayer.
DJ 10.09.79.
29
Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 155822-0, Primeira Turma, Relator:
Ministro Ilmar Galvão, DJ 02.06.95. Recurso Extraordinário nº 116.188-4 - SP, Primeira Turma,
Relator: Ministro Sydney Sanches, DJ 16.03.1990.
30
Recurso Extraordinário nº 221.395-8, Segunda Turma, Relator: Ministro Marco
Aurélio, DJ 12.05.2000.
31
Recurso Extraordinário nº 108.796, Segunda Turma, Relator: Ministro Carlos
Madeira, DJ 12.09.86.
32
Recurso Extraordinário n. 190.761-4, Tribunal Pleno, Relator: Ministro Marco Aurélio,
DJ 12.12.97.
33
Recurso Extraordinário nº 101.441, Tribunal Pleno, Relator: Ministro Sydney
Sanches, DJ 19.08.88.
12
papel utilizado diretamente na confecção dos bens referidos, como também
insumos nela consumidos como são os filmes e papéis fotográficos. 34
34
Recurso Extraordinário n. 190.761-4, Tribunal Pleno, Relator: Ministro Marco Aurélio,
DJ 12.12.97.
35
Recurso Extraordinário n. 193.883-8, Primeira Turma, Relator: Ministro Ilmar Galvão,
DJ 01.08.97.
36
Recurso Extraordinário nº 77.867, Segunda Turma, Relator: Ministro Leitão de Abreu,
DJ 08.01.75.
37
Recurso Extraordinário nº 109.484, Segunda Turma, Relator: Ministro Célio Borja,
DJ: 27.05.88.
38
Recurso Extraordinário nº 102.141, Segunda Turma, Relator: Ministro Carlos
Madeira, DJ 29.11.85.
39
Recurso Extraordinário nº134.573, Primeira Turma, Relator: Ministro Moreira Alves,
DJ 29.09.95.
13
aos tributos que repercutem economicamente sobre o contribuinte de direito,
excluindo da imunidade aqueles que repercutem sobre o contribuinte de fato,
como no caso de ICMS na venda de bens fabricados por entidade de
assistência social. 40
40
Recurso Extraordinário n. 191.067-4, Primeira Turma, Relator: Ministro Moreira
Alves, DJ 03.12.99.
41
Recurso Extraordinário nº 129.930, Segunda Turma, Relator: Ministro Mário
Guimarães, DJ 16.08.91.
42
Recurso Extraordinário nº 238.570, Segunda Turma, Relator: Ministro Néri da
Silveira. Revistra Trimestral de Jurisprudência do STF nº 171/356.
43
Recurso Extraordinário nº 74.032, Segunda Turma, Relator: Ministro Bilac Pinto, DJ
16.02.73.
44
Recurso Extraordinário nº 71.009, Segunda Turma, Relator: Ministro Antônio Neder,
DJ 08.03.74.
45
Recurso Extraordinário nº 104.563, Primeira Turma, Relator: Ministro Oscar Correa,
DJ: 05.09.86.
14
livros, a Primeira Turma entende que a tinta especial para jornais não está
abrangida pela imunidade. 46
46
Recurso Extraordinário nº 215.435, Primeira Turma, Relator Moreira Alves.
47
Recurso Extraordinário n. 177657-9, Segunda Turma, Rel. Min. Carlos
Velloso, DJ 30.05.97.
48
GUASTINI, Riccardo. Distinguendo: studi di teoria e metateoria del diritto. Torino:
Giappichelli, 1996. p. 176.
15
b) Argumentos institucionais transcendentes
49
ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In: Recht, Vernunft, Diskurs: Studien zur
Rechtsphilosophie. 1. ed. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. p. 87.
50
MÜLLER, Friedrich. Juristische Methodik. 7. ed. Berlin: Duncker und Humblot. 1997.
p. 245.
51
GUASTINI, Riccardo. Distinguendo: studi di teoria e metateoria del diritto. Torino:
Giappichelli, 1996. p. 178.
16
ligado à proposta aprovada, sustentar que o “livro eletrônico” teria tido sua
imunidade rejeitada; de outro, pode-se, aqui voltando a atenção para a suposta
finalidade que o legislador constituinte teria pretendido atingir, defender a
imunidade apenas dos livros feitos em papel. Embora sejam ambos
argumentos genéticos, eles são de espécies diferentes: enquanto o primeiro
avalia o pretenso significado do projeto (argumento genético semântico-
subjetivo), o segundo examina a pressuposta finalidade da proposta
(argumento genético teleológico-subjetivo). É dizer: simplesmente fazer
menção à vontade do legislador não é bastante para justificar nenhuma
conclusão.
4 - Argumentos não-institucionais
52
MacCORMICK, Neil. SUMMERS, Robert. Interpretation and Justification. In:
Interpreting statutes: a comparative study. Org. Idem. Aldershot, Brokfield, Hong Kong,
Singapore, Sydney: Dartmouth, 1992. p. 521. ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In:
Recht, Vernunft, Diskurs: Studien zur Rechtsphilosophie. 1. ed. Frankfurt am Main: Suhrkamp,
1995. p. 89.
17
II. EMPREGANDO OS ARGUMENTOS JURÍDICOS
53
KAUFMANN, Arthur. Rechtsphilosophie. 2. ed. München: Beck, 1997. p. 47.
54
LOOSCHELDERS, Dirk. ROTH, Wolfgang. Juristische Methodik im Prozess der
Rechtsanwendung. Berlin: Duncker und Humblot, 1996. p. 194.
18
racionalmente demonstrável a desunião de argumentos que se encontram
amalgamados.
55
MacCORMICK, Neil. SUMMERS, Robert. Interpretation and Justification. In:
Interpreting statutes: a comparative study. Org. Idem. Aldershot, Brokfield, Hong Kong,
Singapore, Sydney: Dartmouth, 1992. p. 516.
56
CARVALHO, Paulo de Barros. Proposta de modelo interpretativo para o direito
tributário. In: Revista de Direito Tributário (70):42, São Paulo: Malheiros.
19
sistemáticos, não há razão suficiente para o recurso a outros argumentos. 57
Não é noutro sentido que a doutrina constrói as etapas na argumentação
jurídica: só se recorre à próxima etapa se a anterior for insuficiente para a
justificação da interpretação. 58
Lingüísticos
Sistemáticos
Históricos
Genéticos
Práticos
57
LARENZ, Karl. CANARIS, Claus-Wilhelm. Methodenlehre der Rechtswissenschaft. 3.
ed. Berlin: Springer, 1995. p. 163 e ss. BYDLINSKI, Franz. Juristische Methodenlehre und
Rechtsbegriff. 2. ed. Wien-New York: Springer, 1991. p. 553.
58
LARENZ, Karl. CANARIS, Claus-Wilhelm. Methodenlehre der Rechtswissenschaft. 3.
ed. Berlin: Springer, 1995. p. 163 e ss. LOOSCHELDERS, Dirk. ROTH, Wolfgang. Juristische
Methodik im Prozess der Rechtsanwendung. Berlin: Duncker und Humblot, 1996. p. 175.
59
FREITAS, Juarez. A interpretação sistemática do Direito. São Paulo: Malheiros,
1995. p. 49.
60
AARNIO, Aulis. Denkweisen der Rechtswissenschaft. Wien, New York: Springer,
1979. p. 140.
20
Justamente porque os argumentos não são autônomos entre si,
mas interagem de diversas formas, é preciso aprimorar um modelo de etapas
sucessivas e subsidiárias na interpretação, que pressupõe autonomia dos
argumentos entre si, em favor de um modelo de interação e de valoração dos
argumentos.
1. Quadro esquemático
Coincidência
Unidirecional Força justificativa reforçada
Cumulação
2. Interação multidirecional
61
MacCORMICK, Neil. SUMMERS, Robert. Interpretation and Justification. In:
Interpreting statutes: a comparative study. Org. Idem. Aldershot, Brokfield, Hong Kong,
Singapore, Sydney: Dartmouth, 1992. p. 528.
21
branco. O importante é que essa ambigüidade é apenas revelada por uma
interpretação teleológico-sistemática.
2. Interação unidirecional
62
ÁVILA, Humberto Bergmann. A distinção entre princípios e regras e a redefinição do
dever de proporcionalidade. Revista de Direito Administrativo, (215):168, 1999.
63
MacCORMICK, Neil. SUMMERS, Robert. Interpretation and Justification. In:
Interpreting statutes: a comparative study. Org. Idem. Aldershot, Brokfield, Hong Kong,
Singapore, Sydney: Dartmouth, 1992. p. 528.
22
mesma direção. Quando isso ocorrer, a interpretação ganha uma força
justificativa acumulada. 64
64
MacCORMICK, Neil. SUMMERS, Robert. Interpretation and Justification. In:
Interpreting statutes: a comparative study. Org. Idem. Aldershot, Brokfield, Hong Kong,
Singapore, Sydney: Dartmouth, 1992. p. 516.
65
ALEXY, Robert. Juristische Begründung, System und Kohärenz. In: Rechtsdogmatik
und praktische Vernunft. Symposium zum 80. Geburtstag von Franz Wieacker. Org. von Okko
Behrends. Göttigen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1989. p. 99.
66
BYDLINSKI, Franz. Juristische Methodenlehre und Rechtsbegriff. 2. ed. Wien-New
York: Springer, 1991. p. 557. FREITAS, Juarez. A interpretação sistemática do Direito. São
Paulo: Malheiros, 1995. p. 105.
23
interpretação. 67 A idéia é simples: os argumentos têm sua força justificativa na
medida em que eles são fundados em valores constitucionalmente
instituídos. 68
67
ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In: Recht, Vernunft, Diskurs: Studien zur
Rechtsphilosophie. 1. ed. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. p. 90.
68
MacCORMICK, Neil. SUMMERS, Robert. Interpretation and Justification. In:
Interpreting statutes: a comparative study. Org. Idem. Aldershot, Brokfield, Hong Kong,
Singapore, Sydney: Dartmouth, 1992. p. 532.
69
ÁVILA, Humberto Bergmann. Medida Privisória na Constituição de 1988. Porto
Alegre: Sérgio Fabris, 1997. p. 48 e 51.
24
Diante da relação existente entre os argumentos empregados na
interpretação e os princípios constitucionais fundamentais, pode-se formular
algumas regras prima facie de interpretação. Prima facie no sentido de que
podem ser vencidas por razões contrárias. 70 Nessa hipótese, porém, as
maiores razões deverão ser seguidas de uma fundamentação justificativa.
70
ALCHOURRÓN, Carlos. Condicionalidad y la representation de las normas juridicas.
In: Analisis logico y derecho. Alchourrón y Bulygin. Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1991. p. 270.
71
ALEXY, Robert. Juristische Interpretation. In: Recht, Vernunft, Diskurs: Studien zur
Rechtsphilosophie. 1. ed. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1995. p. 90.
72
BYDLINSKI, Franz. Juristische Methodenlehre und Rechtsbegriff. 2. ed. Wien-New
York: Springer, 1991. p. 563.
25
O problema, contudo, é que os argumentos lingüísticos e
sistemáticos não fluem só numa direção: há tanto argumentos a favor da
imunidade do “livro eletrônico” (o “livro eletrônico” é usado como uma espécie
de “livro”; a inserção do “livro eletrônico” na classe dos “livros” evita a
contradição com princípios constitucionais fundamentais; o “livro eletrônico”
consistiria num simples meio, equivalente ao livro, para garantir a liberdade de
expressão e de informação, o Supremo Tribunal Federal interpretaria de modo
amplo as imunidades), como há argumentos contra ela (a expressão “e o papel
destinado a sua impressão” afastaria da imunidade qualquer objeto que não
fosse feito de papel; o vocábulo “CD-ROM” teria acepção técnica diversa da de
“livro”; o Supremo Tribunal Federal já teria decidido só haver livro onde há
papel).
73
PECZENIK, Aleksander. Grundlage der juristischen Argumentation. Wien; New York:
Springer, 1983. p. 180 ss.
74
RAZ, Joseph. The Relevance of Coherence. In: Ethics in the public domain: essays in
the morality of law and politics. Oxford: Clarendon, 1996. p. 288.
75
BYDLINSKI, Franz. Fundamentale Rechtsgrundsätze. Wien; New York: Springer,
1988. p. 127. Idem, System und Prinzipien des Privatrechts. Wien, New York: Springer, 1996. p.
41 e 43. DWORKIN, Ronald. Law’s Empire. Cambridge: Harvard, 1986. p. 219, 225. VOGEL,
Klaus. Worldwide vs. source of taxation of income - A review and re-evaluation of arguments.
International Tax Review (Org.) Fred C. de Hosson, Offprint from Intertax 8-11/1988, p. 393.
GUASTINI, Riccardo. Le fonti del diritto e l’interpretazione. Milano: Giuffrè, 1993. p. 42.
26
situa no âmbito de um fim cuja realização é determinada por um princípio, é
também revelar que a regra é valiosa. 76
76
MacCORMICK, Neil. Legal Reasoning and legal theory. Oxford: Clarendon, 1995. p.
152.
77
BORGES, José Souto Maior. Pró-dogmática: por uma hierarquização dos princípios
constitucionais. Revista de Direito Público, (1): 145, São Paulo: Malheiros, 1993.
27
CONCLUSÃO
28
justificar uma interpretação mediante o recurso às decisões do Supremo
Tribunal Federal. Nessa hipótese, porém, caberá a pergunta: quais decisões,
as que interpretam restritivamente ou extensivamente as imunidades? Por
último — mas não por fim —, pode-se lançar mão da vontade do legislador
para fundamentar uma decisão de interpretação. Ainda assim, restará a dúvida:
em qual sentido? Vontade do legislador ligada ao significado de determinada
expressão ou relacionada a determinada finalidade que ele pretendia atingir?
78
WRIGHT, Georg Henrik von. Normen, Werte und Handlungen. Frankfurt am Main:
Suhrkamp, 1994. p. 126.
29
Exemplo paradigmático da função esclarecedora da especificação
dos argumentos é o caso das medidas provisórias. É verdade que há
argumentos a favor e contra a reedição e a convalidação de medidas
provisórias, como há argumentos também a favor e contra a existência de
limites materiais para sua edição. Não é menos verdade, no entanto, que os
argumentos lingüísticos (segundo o dispositivo constitucional, a medida
provisória só pode ser editada em casos de relevância e urgência, e perde
eficácia caso não seja convertida em lei em trinta dias) e os sistemáticos (a
Constituição dá primazia funcional ao Congresso Nacional, prevê uma
hierarquia axiológica do princípio democrático, estabelece a legalidade estrita e
mecanismos abreviadores do procedimento legislativo) terminaram sendo
suplantados, na prática constitucional brasileira, por argumentos meramente
práticos (o governo precisa de agilidade e flexibilidade para regular a
economia, por exemplo). 79
79
Sobre a interpretação sistemática da competência para editar medidas provisórias:
ÁVILA, Humberto Bergmann. Medida Privisória na Constituição de 1988. Porto Alegre: Sérgio
Fabris, 1997.
80
VILANOVA, Lourival. As estruturas lógicas e o sistema do direito positivo. São Paulo:
RT, 1977. BORGES, José Souto Maior. O Direito como fenômeno lingüístico, o problema de
demarcação da ciência jurídica, sua base empírica e o método hipotético-dedutivo. In: Ciência
Feliz. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1994. p. 138. CARVALHO, Paulo de
Barros. Curso de Direito Tributário. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 1 ss.
30
argumentação jurídica não aniquila a subjetividade; mantem-na sob controle
crítico. 81
O que deve ficar claro é que não se pode tolerar, num Estado
Democrático de Direito, uma “justificação” que, a pretexto de fundamentar uma
interpretação, termine por encobri-la. Ora, fundamentar é justamente proporcionar
acesso interpessoal às razões que motivaram determinada decisão de interpretação. Esse
esclarecimento é possível de ser feito; e deve ser levado a cabo não só pelo Poder
Judiciário, mas também pela doutrina. Fundamentar é, pois, como levar alguém para um
passeio informando-lhe o ponto de partida e o de chegada, o veículo de transporte e as
razões da viagem. Deixar de informar o passageiro a respeito disso é fazer aquilo que os
seqüestradores fizeram com Maruja, personagem do romance de GABRIEL GARCÍA
MARQUES: “No se veía ninguna luz. A Maruja le cubrieron la cabeza con una
chaqueta y la hicieron salir agachada, de modo que lo único que veía eran sus propios
pies avanzando, primero a través de un patio, y luego tal vez por una cocina de
baldosines”. 82
Observações:
1) Substituir “x” na referência bibliográfica por dados da data de efetivo acesso ao texto.
2) A REDE - Revista Eletrônica de Direito do Estado - possui registro de Número
Internacional Normalizado para Publicações Seriadas (International Standard Serial
Number), indicador necessário para referência dos artigos em algumas bases de dados
acadêmicas: ISSN 1981-187X
3) Envie artigos, ensaios e contribuição para a Revista Eletrônica de Direito do Estado,
acompanhados de foto digital, para o e-mail: rede@direitodoestado.com.br
81
GADAMER, Hans-Georg. “Vom Wort zum Begriff. Die Aufgabe der Hermeneutik als
Philosophie”. In: Die Moderne und die Grenze der Vergegenständlichung. Org. Bernd Klüser.
München: Bernd Klüser, 1996. p. 30.
82
MARQUES, Gabril García. Noticia de un secuestro. Buenos Aires: Editorial
Sudamericana, p. 16.
31