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1979
Edição da
Agência Portuguesa de
Revistas
Angola, que sofre de vários males, só poderá encontrar a solução para o seu
desenvolvimento se conseguir primeiro a paz. A paz condiciona qualquer
desenvolvimento económico. E a paz só poderá ser conseguida pelos angolanos. Não é
o reconhecimento do regime de Luanda no exterior; não será o reconhecimento do
MPLA pelos Estados Unidos da América ou, eventualmente, pela República Popular da
China e pelos países africanos ainda relutantes em dar esse passo, que resolverá o
problema da paz. A paz é um problema interno, angolano, um problema que só os
angolanos podem resolver.
Já ouvimos falar de "anos" de Agricultura e de Alfabetização, mas eles não foram mais
do que anos de guerra.
Aqueles que pensam que Angola pode desempenhar um papel importante na África e no
Mundo, devido à sua posição estratégica e às suas riquezas, deviam empenhar-se na
procura de soluções para a questão da paz.
A questão de Cabinda
A Rússia, por exemplo, que tem demonstrado uma visão expansionista no mundo, está
em Angola através da presença de tropas do Pacto de Varsóvia, os alemães de Leste, e
de um corpo expedicionário de cubanos, com mais de vinte e oito mil homens. A Rússia
está presente. Desempenha em Angola, como noutras partes de África, um papel
policial. Mas uma política bem delineada dentro de uma Frente Unida poderá permitir
que se atenue a sua interferência nefasta. Na fase de combate, é necessário que os
movimentos que lutam, não só em Angola mas no resto da África e, possivelmente no
mundo, contra a tendência expansionista da União Soviética, encontrem uma plataforma
comum. Há forças angolanas que devem coligar-se; há forças da Namíbia e do
Zimbabwé que estão ameaçadas; há forças no Lemene do Sul que resistem; e há outras
forças, noutras partes do mundo, que resistem igualmente à expansão soviética.
Se, no plano interno, cabe a cada país encontrar a fórmula mais indicada para atenuar a
interferência da União Soviética, no plano africano-internacional torna-se urgente que
todas as forças anti-imperialistas cooperem, combatendo em comum e elevando a sua
voz de uma forma uníssona. É preciso que o nosso combate não seja tido como um acto
de desespero de cada grupo, mas função política de libertação dos povos.
Existe no Ocidente, que tem os Estados Unidos da América como dirigente máximo,
uma ausência de vontade para se afirmarem princípios e defenderem valores que
fizeram do Ocidente aquilo que ele é.
Concordamos com certos analistas eminentes do Ocidente, que afirmam que a Rússia
não deseja a guerra. De facto, ela não deseja a guerra, mas deseja o mundo. Não adopta,
por isso, uma estratégia que vise a destruição daquilo que cobiça. A sua táctica é
desarmar a vontade daqueles que pretendem resistir. Cabe aos órgãos de informação do
Ocidente a sensibilização permanente da opinião pública para o perigo que a Europa
corre se perder a África.
Há, ainda, o problema dos Estados moderados africanos, dos Estados realistas. Esses
países encontram-se preocupados com a falta de apoio da parte daqueles que poderiam
moralmente ajudá-los. Alguns, conhecem já agitações internas, que provocaram quedas
de regimes e onde a União Soviética ganhou terreno. É frustrante e doloroso que países
amigos do Ocidente sejam sempre tidos como "reaccionários", até pela informação dos
próprios países ocidentais, e que a regimes minoritários e radicais, como o de Luanda,
se chame "progressistas". É essa injustiça na pauta de valores que encoraja a subversão
levada a cabo pela União Soviética.