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Abstract: The aim of this study is to present and to analyze the differences between
traditional Thomism and traditionalist Thomism. In order to achieve this
objective, the study was divided into three parts: Defining concepts: tradition
and traditionalism; Traditional Thomism and traditionalist Thomism: conceptual
differences; The difference between traditional Thomism and traditionalist
Thomism. Finally, by way of conclusion, it is stated that both the traditional
Thomism as the Thomism traditionalist have their mistakes and excesses, but
these two expressions should be seen as a proof of the vitality of the
(neo)Thomism, a proof that the (neo)Thomism is capable of causing extensive
debates, disputes and controversies in society, in the Church and in the field of
ideas.
Keywords: Traditional Thomism. Traditionalist Thomism. Differences.
INTRODUÇÃO
inicia na segunda metade do século XIX e chega, com vigor, até a segunda
década do século XXI.
De acordo com vários estudiosos 2, a encíclica Aeterni Patris provocou
uma grande profusão de estudos sobre a escolástica (também conhecida como
neotomismo)3 e, por conseguinte, o surgimento de universidades e outros
centros de estudos e de cultura voltados para a pesquisa em torno de temas
que envolvem o pensamento escolástico e principalmente estudos sobre a
obra de Tomás de Aquino (1225-1274), um pensador e místico cristão do
século XIII. Nela o Papa Leão XIII recomenda, entre outras coisas, a
restauração e um renascimento dos estudos escolásticos. Para ele, na
modernidade, é preciso haver um renascimento dos estudos aprofundados
sobre o homem, Deus, a natureza e o cosmo. E uma das melhores correntes
filosóficas que podem proporcionar tal renascimento é a escolástica.
Justamente a escolástica, que é a “[...] filosofia, da qual, sem dúvida, em grande
parte depende a reta razão das outras ciências”4.
Em grande medida, sem entrar nas discussões sobre as origens e as
causas mais remotas do surgimento do neotomismo, afirma-se que a
publicação da Aeterni Patris provocou, como consequência, um retorno aos
estudos escolásticos-tomistas5 e que, por causa disso, em muitos ambientes
intelectuais e místicos, dentro e fora da Igreja, houve uma revolução no campo dos
estudos tomistas6.
Um dos mais surpreendentes frutos do neotomismo é o
desenvolvimento dentro do próprio movimento tomista, de duas correntes
que, em muitos sentidos, possuem pontos comuns e profundas divergências.
Essas duas correntes são o tomismo tradicional e o tomismo tradicionalista. Por isso,
D., renovado pelo advento do cristianismo, em tese, deve ser capaz de ajudar
o homem a construir a sociedade e a cultura modernas.
A tradição é o espírito da conservação da cultura, dos valores éticos, da
filosofia, da teoria política e jurídica herdada das sociedades antigas,
especialmente da sociedade greco-romana. Na perspectiva de alguns teóricos,
a Igreja é a instituição que, por essência e por dever ético, deve conservar,
manter e propagar os valores morais, a cultura e o pensamento antigos. Sobre
essa questão, é esclarecido:
12 BARROSO, G. Espírito do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1936, p. 263-
264.
13 JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar,
1993, p. 270.
14 Sobre a lei natural, recomenda-se consultar: FINNIS, J. Lei natural e direitos naturais. São
Leopoldo: UNISINOS, 2007. SOUSA, J. P. G. Direito natural, direito positivo e Estado de direito.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1977. MARITAIN, J.; COUTINHO, A. Os direitos do
homem e a lei natural. Rio de Janeiro: José Olympio, 1950. MARTINS, I. G. S. Lei positiva e
lei natural. In: Caderno de Direito Natural, Pará, n. 1, p. 27-37, 1985. Sobre as influências e as
relações entre a obra de Tomás de Aquino e a lei natural, recomenda-se consultar:
CORRÊA, A. Há um Direito Natural? Qual o seu conteúdo?. In: CORRÊA, A. Ensaios políticos e
filosóficos. São Paulo: Convívio/EDUSP, 1984, p. 5-43. CORRÊA, A. Concepção tomista do
direito natural. In: CORRÊA, A. Ensaios políticos e filosóficos. São Paulo: Convívio/EDUSP,
1984, p. 141-250. CORRÊA, A. S. Tomás e o regime da lei. In: CORRÊA, A. Ensaios
políticos e filosóficos. São Paulo: Convívio/EDUSP, 1984, p. 319-322. FINNIS, J. Direito
natural em Tomás de Aquino. Porto Alegre: Safe, 2007.
FABRO, C. Karl Rahner e l'ermeneutica tomística. Piacenza: Divus Thomas, 1972. Para alguns
estudos que demostram a centralidade do Aquinate na obra de Cornelio Fabro e, ao
mesmo tempo, como a sofisticada interpretação que Fabro fez dessa obra, recomenda-se
consultar: FERRARO, C. Panorâmica fabriana. In: Aquinate, Niterói, n. 4, 2007, p. 136-142.
SANGUINETE, J. J. Santo Tomás y el pensamiento moderno según Cornelio Fabro. In:
Sapientia, n. XVVII, 2011, p. 289-296. BENAVIDES, C. E. O ser em Tomás de Aquino
desde la perspectiva de Cornelio Fabro. In: Azatea, Revista de Filosofia, n. 16, 2014, p. 111-
131.
27 Sobre a pesquisa e a interpretação que Jacques Maratain fez da obra de Tomás de
Aquino, recomenda-se consultar: MARITAIN, J. El humanismo existencial de Santo
Tomás De Aquino. In: Estudos de Filosofia, n. 1, p. 11-26, 2012. MARITAIN, J. Visión
tomista de la educación. Buenos Aires: Instituto Jacques Maritain, 2001. Sobre a importância, a
influência e o tomismo desenvolvido por Jacques Maratain, recomenda-se consultar:
POISSON, J. M. H. Jacques Maritain en el tomismo contemporáneo. Buenos Aires:
Instituto Jacques Maritain, 2002.
28 VÉLEZ-RODRÍGUEZ, R. Panorama do pensamento político brasileiro na
contemporaneidade. op., cit, p. 13.
29 Sobre a produção tomista de Leonardo Van Acker, consultar: VAN ACKER, L. O
tomismo e o pensamento contemporâneo. São Paulo: Convívio, 1983.
30 Sobra à produção tomista de Fernando Arruda Campos, consultar: CAMPOS, F. A.
Tomismo e neo-tomismo no Brasil. São Paulo: Grijalbo, 1968. CAMPOS, F. A. Tomismo hoje. São
Paulo: Loyola, 1989. CAMPOS, F. A. Tomismo no Brasil. São Paulo: Paulus, 1998.
31 Sobre a produção tomista de Dom Odilão Moura, recomenda-se consultar: MOURA,
D. O. Ideias católicas no Brasil: direções do pensamento católico do Brasil no século XX. São
Paulo: Convívio, 1987.
32 Sobre a obra tomista de Urbano Zilles, recomenda-se consultar: ZILLES, U. A filosofia
neotomista e sua influência no Brasil. In: Grandes tendências da filosofia do século XX e sua
influência no Brasil. Caxias do Sul: EDUCS, 1987.
33 Sobre a produção tomista de Henrique Cláudio de Lima Vaz, recomenda-se consultar:
LIMA VAZ, H. C. Fisionomia do século XIII e São Tomás de Aquino. In: Presença
Filosófica, São Paulo, n. 1-3, p. 21-39, 1974. LIMA VAZ, H. C. Tomás de Aquino: pensar a
metafísica na aurora de um novo século. In: Síntese Nova Fase, Belo Horizonte, v. 23, n. 73,
p. 159-207, abr./jun. 1996. LIMA VAZ, H. C. Presença de Tomás de Aquino no horizonte
Grupos tradicionalistas
Grupos aprovados: Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP), Fraternidade
Sacerdotal São Felipe Neri (FSSFN), Filhos do Santíssimo Redentor, Instituto
de Cristo Rei e Suma Sacerdote, Instituto do Bom Pastor, Oratório de
46 Para uma visão do tomismo produzido por Marcel Lefebvre, recomenda-se consultar:
LEFEBVRE, M. A vida espiritual segundo São Tomás de Aquino. Niterói: Permanência, 2006.
Sobre a crítica que ele realizou ao concílio vaticano II e a sua defesa da tradição,
recomenda-se consultar: CHALET, J. A. Lefebvre: o bispo rebelde. Rio de Janeiro: Difel,
1977.
47 MAYER, D. A. C. Carta Pastoral Aggornamento e Tradição. In: Dom Antônio de Castro
Mayer: quarenta anos de episcopado. Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro: Padres de
Campos, 1988, p. 15.
48 Sobre a obra de Plínio Corrêa de Oliveira, profundamente influenciada e de forte
conteúdo tomista, recomenda-se consultar: OLIVEIRA, P. C. Baldeação ideológica inadvertida e
diálogo. 5 ed. São Paulo: Vera Cruz, 1974. OLIVEIRA, P. C. Acordo com o regime comunista para
a Igreja: esperança ou auto-demolição? São Paulo: Vera Cruz, 1974. OLIVEIRA, P. C. A
Igreja do silêncio no Chile: a TFP andina proclama a verdade inteira. 3 ed. São Paulo: Vera
Cruz, 1977. OLIVEIRA, P. C. A Igreja ante a escalada da ameaça comunista: apelo aos bispos
silenciosos. 3 ed. São Paulo: Vera Cruz, 1977. OLIVEIRA, P. C. Tribalismo indígena, ideal
comuno-missionário para o Brasil no século XXI. São Paulo: Vera Cruz, 1977. OLIVEIRA, P. C.
Guerreiros da Virgem, a réplica da autenticidade: a TFP sem segredos. São Paulo: Vera Cruz,
1985. OLIVEIRA, P. C. A propriedade privada e a livre iniciativa, no tufão agro-reformista. São
Paulo: Vera Cruz, 1985. OLIVEIRA, P. C. No Brasil, a reforma agrária leva a miséria ao campo e
à cidade: a TFP informa, analisa, alerta. São Paulo: Vera Cruz, 1986. OLIVEIRA, P. C.
Projeto de Constituição angustia o país. São Paulo: Vera Cruz, 1978. OLIVEIRA, P. C. Nobreza e
elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao patriciado e à nobreza romana. Porto:
Civilização, 1993. Com relação a um estudo que investiga e analisa o tomismo de Plínio
Corrêa de Oliveira, recomenda-se consultar: SANTOS, I. O tomismo limitante: o discurso-
ação de Plínio Corrêa de Oliveira. In: Aquinate, Niterói, v. 9, p. 192-210, 2009.
49 SANTOS. I. Atualidade de “Revolução e Contra-Revolução” de Plínio Corrêa de Oliveira. São
Paulo: Artpress, 2012, p. 33.
61 PAPA PAULO VI. Lumen Ecclesiae. No VII centenário de morte de Santo Tomás de Aquino,
op., cit, n. 18.
62 HOBSBAWM, E. A Invenção das tradições. In: HOBSBAWM, E.; RANGER, T.
(Orgs.). A invenção das tradições. 5 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997, p. 9-23.
mesmo herético. Por isso, a Igreja estaria agora viciando a maior crise de toda
a sua longa história.
As críticas que os grupos tradicionalistas fazem ao Concílio Vaticano II
ainda estão sendo analisadas e repensadas por especialistas (filósofos,
teólogos, sociólogos, etc). No entanto, o centro dessa crítica está localizado na
disputada dos limites da modernidade. Até que ponto a Igreja e os cristãos
devem aceitar ou repudiar a modernidade?
Até por criticar a modernidade, o tomismo tradicionalista vê com muita
cautela, até chegar ao nível da rejeição, o espírito de diálogo que o Concílio
Vaticano II promoveu com a modernidade e, por conseguinte, com os
elementos hostis a Igreja e aos cristãos.
A terceira diferença é a dimensão prática, a inserção no cotidiano e a
capacidade de influenciar a sociedade. É preciso ver que desde suas origens,
no século XIII, o tomismo sempre foi uma escola filosófica profundamente
preocupada com a dimensão da vida prática e, por conseguinte, lutou para
influenciar a sociedade. Em grande medida, a origem desse espírito do
tomismo é o realismo ôntico-ético-social encontrado no sistema aristotélico-
tomista.
De um lado, o tomismo tradicional chega à segunda década do século
XXI um tanto quando cansado. A geração de estudiosos tomistas que, na
primeira metade do século XX, liderada por nomes, como, por exemplo,
Étienne Gilson, Cornelio Fabro e Jacques Maritain, promoveu grandes ações
socioculturais e grandes debates de ideias, ou morreu ou então está velha e
tem dificuldades de continuar a luta e os ideais tomistas. Essa geração
envelhecida está passando o seu lugar para uma nova geração de tomistas
tradicionais, mas essa nova geração, por questões diversas, tem dificuldade de
se afirmar no cenário sócio-político-filosófico internacional. Sem contar que
em muitos ambientes universitários e culturais, inclusive dentro de ambientes
da própria Igreja, cresce uma rejeição ao tomismo e as diversas ações e
discussões derivadas dele. O tomismo é visto como uma filosofia cristã e pelo
fato da sociedade moderna ser, em sua essência, secular e até ateia, o tomismo
é rejeitado e até proibido em muitos espaços sócio-educativo-culturais.
Do outro lado, vê-se com alegria que as novas gerações têm profundo
interesse pelo pensamento antigo e medieval, pela arte e música sacra, pela
mística e pelo pensamento filosófico cristão. Durante o período que envolve
as décadas de 1950 a 1980 houve uma verdadeira cultura de destruição da
tradição, da filosofia cristã e até da própria Igreja. No entanto, o que se vê nas
primeiras décadas do século XXI é um renascimento, por parte da juventude,
pelo interesse em conhecer a tradição, a cultura cristã erudita, a doutrina e, no