You are on page 1of 12

Instituto Superior Técnico

Departamento de Engenharia Electrotécnica e de


Computadores

FUNDAMENTOS DE TELECOMUNICAÇÕES

Victor Barroso
Professor Catedrático
Associado

19
2010
5.2 Transmissão Analógica por Modulação de Portadoras Sinusoidais

Modulação é o processo pelo qual se faz depender do sinal a transm itir (mensagem) um
dos parâmetros característicos de uma portadora sinusoidal: am plitude, frequência e fase. O
objectivo é transferir o conteúdo informativo do sinal modulante, normalmente do tipo passa-
baixo, para bandas do espectro de frequências m uito afastadas da orig em. Por efeito da
modulação resultam, entre outros, os seguintes efeitos:

• maior eficiência da radiação do sinal a transmitir;


• maior imunidade face à presença do ruído e de interferências;
• melhor aproveitamento do espectro de frequências.

Consideremos o processo

P (t ) = A c cos(2πf c t + Θ c ) , (5.20)

onde A c é a am plitude, f c é a frequência (H z) e Θ c é a fase (rad), m odelada com o uma


variável aleatória uniform e num interv alo de com primento 2π. Com o se sabe, as funções
amostra do processo (5.20) são periódicas, com período

1
Tc = (5.21)
fc

e frequência angular (rad/seg)

ω c = 2πf c . (5.22)

É fácil v erificar que o processo P(t ) é estacionário de seg unda ordem em sentido lato.
Com efeito,


1
m P = E Θc {P (t )} =

−π

A c cos(2πf c t + θ)dθ = 0 (5.23)

e
R P (τ) = E Θ c {P (t )P (t − τ)}

1
= A c2

−π

cos(2πf c t + θ) cos(2πf c (t − τ) + θ) (5.24)

A c2
= cos(2πf c τ) .
2

O espectro de potência é, portanto,

A c2
G P (f ) = [δ(f + f c ) + δ(f − f c )] . (5.25)
4

No que seg ue v amos assum ir que o sinal m odulante (m ensagem) x (t ) é um a função


amostra de um processo passa-baixo X (t ) , estacionário de segunda ordem em sentido lato, de
média nula, e com largura de banda B.

5-11
5.2.1 Modulação de Amplitude

Na modulação de amplitude (AM5) a amplitude instantânea da portadora sinusoidal varia


linearmente com o sinal modulante

X AM (t ) = A c [x dc + X (t )]cos(2πf c t + Θ c ) , (5.26)

onde x dc é uma constante. A Figura 5.10 mostra o diagrama de blocos do modulador de AM.

x (t ) x AM (t )
⊕ ⊗
x dc p(t )

Figura 5.10: Modulador de AM

O processo X (t ) é naturalm ente independente da v ariável aleatória Θ c e, portanto,


também da portadora P(t ) . Daqui resulta que a autocorrelação do processo definido em
(5.26) é, tendo em conta (5.24),

R X AM (τ) =
A c2 2
2
[ ]
x dc + R X (τ) cos(2πf c τ) , (5.27)

onde R X (τ) é a autocorrelação de X (t ) . Tendo em conta (5.25) e usando as propriedades da


transformada de Fourier, concluímos que o espectro de potência do sinal de AM é

G X AM (f ) =
A c2 2
4
{[
x dc δ(f + f c ) + G X (f + f c ) + x dc
2
] [
δ(f − f c ) + G X (f − f c ) , ]}
(5.28)
onde G X (f ) é o espectro de potência de X (t ) . A Figura 5.11 ilustra em termos dos espectros
de potência o efeito da modulação de amplitude.

GX (f)

-B 0 B f
(a)

G X c (f )
[
A c2 2
4
x dc δ(f + f c ) + G X (f + f c ) ] 4
[
A c2 2
]
x dc δ(f − f c ) + G X (f − f c )

-fc 0 fc f

(b) BT = 2B

Figura 5.11: Espectros de potência da mensagem (a) e do sinal de AM (b)


5
AM – Amplitude Modulation

5-12
Como se vê, a modulação de amplitude envolve uma translação espectral do espectro do sinal
modulante para a frequência da portadora. V erifica-se tam bém que a larg ura da banda de
transmissão é

B T = 2B . (5.29)

De (5.27) ou de (5.28) podem os tam bém concluir que a potência de transm issão de um
sistema de AM vale

A c2 2
PT =
2
(x dc + P X , ) (5.30)

onde PX é a potência do processo X (t ) .


A Figura 5.12 dá exemplos de sinais de AM g erados a partir da m esma mensagem x (t ) .
A vermelho está representada a envolvente do sinal de AM

A (t ) = A c x dc + X(t ) . (5.31)

x (t )
(a)
t

(b)
t

(c)
t

Figura 5.12: Modulação de Amplitude: (a) mensagem, (b) sinal AM sobremodulado, (c) sinal
AM não sobremodulado

No caso do sinal sobremodulado (Figura 5.12 (b)), onde se fez x dc = 0 , a envolvente tem uma
forma diferente da mensagem original e a portadora apresenta inversões da fase sempre que o
sinal x (t ) passa por zero. Ao contrário, quando não há sobremodulação (Figura 5.12 (c)), ou
seja, quando

∀t : x dc + x (t ) ≥ 0 , (5.32)

a envolvente e a mensagem original têm a mesma forma.

5.2.1.1 Receptor Coerente

A translação espectral induz ida pela m odulação de am plitude pode ser usada para
proceder à desm odulação do sinal de A M. A Fig ura 5.13 m ostra o diag rama da blocos do
receptor coerente.

5-13
H(f)
XR(t) 1 XD(t)

B f

2 cos(2πf c t )

Figura 5.13: Receptor coerente

Suponhamos que à entrada tem os um a am ostra do sinal de AM definido em (5.26).


Então, o sinal na saída do multiplicador é

y(t ) = 2A c [x dc + x (t )] cos(2πf c t + θ) cos(2πf c t )


= A c [x dc + x (t )]cos(4πf c t + θ) + A c [x dc + x (t )] cos θ .

O filtro passa- baixo elim ina a com ponente de alta frequência (em 2f c ) e o condensador
bloqueia a componente contínua, pelo que a saída do receptor será

x D (t ) = A c x (t ) cos θ .

Note-se que θ é a diferença de fase entre a portadora e o oscilador local e pode tomar
qualquer v alor no interv alo [− π,+ π] , em particular π 2 , o que resultaria na anulação da
saída. É portanto necessário que o receptor sej a coerente em fase com a portadora . A
sincronização de fase é um problema muito importante, mas não irem os abordá-lo aqui. D e
qualquer modo, estando garantida a coerência de fase entre a portadora e o oscilador local, a
saída do receptor coerente de AM será

x D (t ) = A c x (t ) . (5.33)

5.2.1.2 Detector de Envolvente

Como v imos, no caso em que não há sobrem odulação, isto é, quando se verifica a
condição (5.32), a form a da env olvente coincide com a da mensagem original. Portanto,
qualquer sistema capaz de extrair a env olvente da portadora poderá funcionar com o
desmodulador de amplitude. Este é o caso do sistema representado na Figura 5.14.

XR(t) FPBx AR(t) XD(t)


LB = B
rectificador

Figura 5.14: Detector de envolvente

5-14
5.2.1.3 Exemplos

Neste parág rafo v amos ilustrar com alg uns exem plos as técnicas de modulação e de
desmodulação discutidas nos parágrafos anteriores. A Fig ura 5.15 dá exem plo de um sinal
gerado pela fonte e do respectivo espectro. Neste exemplo, a portadora é modulada de modo a
não ocorrer sobremodulação. A Figura 5.16 mostra o sinal de A M e também o seu espectro.
Este inclui uma risca em f c que resulta da soma da componente contínua x dc .

x (t )

0 t

X(f )

0 f

Figura 5.15: Mensagem e respectivo espectro

x AM (t )

X AM (f )

0 fc f

Figura 5.16: Sinal de AM sem sobremodulação e respectivo espectro

0 2f c f

Figura 5.17: Sinal na saída do misturador do receptor coerente e respectivo espectro

5-15
Como se v ê na Fig ura 5.13, onde se representa o diag rama de blocos do receptor
coerente, o sinal de AM é m ultiplicado pela réplica da portadora g erada localm ente. O
resultado desta operação está ilustrada na Fig ura 5.17. Como se vê, o espectro do sinal
resultante tem uma componente na banda de base e outra na banda centrada em 2f c . O sinal
de saída do receptor coerente x̂ (t ) está representado na Fig ura 5.18 (note- se que a
componente contínua não foi elim inada), bem como o respectivo espectro X̂(f ) . Chama-se a
atenção para o facto de o filtro usado não ser ideal, pelo que o sinal reconstruído apresenta
alguma distorção quando comparado com o sinal original.

X̂(f )
x̂ (t )

0 f t
x (t )
Figura 5.18: Saída do receptor coerente

Na Figura 5.19 está representado o sinal de saída do detector de env olvente. Mostra-se
também o sinal na saída do rectificador. Mais um a vez se chama a atenção para a ligeira
distorção apresentada pelo sinal x̂ (t ) que se deve à operação de filtragem.

saída do rectificador
x̂ (t )

t t
x (t )

Figura 5.19: Saída do detector de envolvente

5.2.2 Modulação de Ângulo

A m odulação de âng ulo consiste em faz er v ariar a fase instantânea de uma portadora
sinusoidal linearmente com o sinal modulante. Tal pode ser feito actuando directamente sobre
a fase ou sobre a frequência, gerando-se um sinal PM6 ou FM 7, respectiv amente. Vam os
designar

Θ (t ) = 2πf c t + Φ (t ) (5.34)

por fase instantânea da portadora.

Sinal PM. Neste caso

X PM (t ) = A c cos(2πf c t + Φ (t )) , (5.35)

6
PM – Phase Modulation
7
FM – Frequency Modulation

5-16
onde o desvio instantâneo de fase

Φ (t ) = ϕ ∆ X (t ) (5.36)

é proporcional ao sinal fonte. ϕ ∆ é o índice de modulação em fase.

Sinal FM. Neste caso, X FM (t ) tem a mesma forma definida em (5.35), agora com

1 dΦ (t )
= F (t ) = f ∆ X (t ) , (5.37)
2π dt

onde F (t ) é o desvio instantâneo de frequência, e f ∆ é o índice de modulação em frequência.


Portanto, podemos escrever

 t

X FM (t ) = A c cos 2πf c t + 2πf ∆ X(τ)dτ  .

∫ (5.38)
 
 −∞ 

5.2.2.1 Relação entre PM e FM

Tendo em conta as definições (5.35), (5.36) e (5.37), é fácil verificar que um modulador
de fase pode ser realizado a partir de um modulador de frequência, como se ilustra na Fig ura
5.20. O desm odulador de fase pode tam bém ser realiz ado usando um desmodulador de
frequência como se vê na Figura 5.21.


x (t ) d x (t ) x PM (t )
Modulador
dt FM

Modulador PM

Figura 5.20: Modulador PM realizado a partir de um modulador FM


x PM (t ) x (t ) x (t )
Desmodulador t

FM ∫−∞ (•)dt
Desmodulador PM

Figura 5.21: Desmodulador PM realizado a partir de um desmodulador FM

5-17
5.2.2.2 Modulador de FM

O modulador de frequência pode ser realiz ado com um VCO8, isto é, um oscilador que
gera uma sinusoide cuj a frequência instantânea v aria linearmente com atensão de entrada. A
Figura 5.22 mostra a característica do VCO. A inclinação da recta é naturalmente determinada
pelo índice de modulação f ∆ .

F(t )

x (t ) x FM (t ) F(t ) = f c + f ∆ X(t )
fc
VCO
M

0 X (t )
Figura 5.22: Modulador FM e característica do VCO

FM de banda estreita. De (5.38), e supondo que f ∆ é tal que

t
ϕ(t ) = 2πf ∆ ∫ x(τ)dτ << 1 ,
−∞

então

x FM (t ) = A c cos(2πf c t ) cos ϕ(t ) − A c sin (2πf c t ) sin ϕ(t )


≈ A c cos(2πf c t ) − A c ϕ(t ) sin (2πf c t ) .

Isto significa que o sinal de FM (PM) de banda estreita não é m ais do que um sinal de AM
cuja largura de banda é dupla da larg ura de banda de ϕ(t ) . Note-se que a transform ada de
Fourier de ϕ(t ) é f ∆ X(f ) f e, portanto, o sinal de FM de banda estreita terá uma largura de
banda B T ≈ 2B , onde B é a largura de banda do processo fonte X (t ) .

FM de banda larga. No caso do sinal de FM de banda larga, temos

f ∆ >> B . (5.39)

A análise do sinal de FM de banda larg a não é simples, pelo que apresentaremos sem
demonstrar o facto essencial.
Aproximação quasiestacionária: consideremos o sinal modulante x (t ) , função amostra
de um processo estacionário X (t ) com largura de banda B e densidade de probabilidade da
amplitude X (t ) , f X (x ) , invariante no tempo. Se f c >> f ∆ >> B , então o espectro de potência
do sinal de FM é aproximadamente dado por

A c2 2   − f − f c   f − fc 
G X FM (f ) = f X   + f X    . (5.40)
2f ∆   f ∆   f∆  

8
VCO – Voltage Controlled Oscilator

5-18
Daqui decorre que a potência de transmissão vale

PT = A c2 2 (5.41)

e que a largura de banda de transmissão é aproximadamente dada por

B T ≈ 2f ∆ X (t ) max . (5.42)

Note-se que, verficando-se (5.39), concluím os que a larg ura de banda de transm issão dos
sistemas FM de banda larga é, de acordo com (5.42), muito maior do que a dos sistemas AM.

5.2.2.3 Discriminador de Frequência

Consideremos o sistem a da Fig ura 5.23, onde o detector de env olvente é o sistem a da
Figura 5.14.


x FM (t ) d x FM (t ) Detector x o (t )
de
dt Envolvente

Figura 5.23: Discriminador de frequência

Usando (5.38), podemos verificar que


x FM (t ) = −2πA c (f c + f ∆ x (t )) sin  2πf c t + 2πf ∆ 
t

 ∫ x(τ)dτ  ,
−∞

isto é, a saída do diferenciador não é mais do que uma portadora sinusoidal cuja envolvente,
de acordo com as hipóteses formuladas (f c >> f ∆ ) , vale 2πA c (f c + f ∆ x (t )) . Assim

x o (t ) = 2πA c f ∆ x (t ) .

5.2.2.4 Exemplos

A Figura 5.24 mostra um sinal de FM bem como o respectivo sinal modulante. O desvio
instantâneo de fase deste último está ilustrado na Figura 5.25.

mensagem sinal de FM

0 t 0 t

Figura 5.24: Modulação de frequência: mensagem e sinal de FM

5-19
desvio instantâneo de fase

0 t

Figura 5.25: Desvio instantâneo de fase do sinal de FM da Figura 5.24

Finalmente, a Figura 5.26 mostra o sinal de saída do discriminador de frequência, sobreposto


com a m ensagem original e dev idamente escalado. Os artefactos presentes nas extremidades
do referido sinal são resultado, não só do alg oritmo num érico de diferenciação usado na
simulação, mas também do filtro usado no detector de envolvente.

mensagem reconstruída

0 t

Figura 5.26: Sinal reconstruído pelo discriminador de frequência

5-20

You might also like