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Mestrado em Teologia ITG – Instituto Teológico Gamaliel

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Mestrado em Teologia ITG – Instituto Teológico Gamaliel

Apresentação

V
ocê está começando o estudo da disciplina Didática. Mas o que é, afinal de contas,
“Didática”? São “receitas”, ou um conjunto de técnicas para ensinar? Por que o
conhecimento dessa disciplina é importante para a formação de professores? De que
forma ela pode contribuir para o ensino das Ciências Naturais e da Matemática?

Pretendemos que este curso lhe dê subsídios para responder a essas e outras questões.
Para tanto, caracterizaremos o pensamento didático, situando-o no terreno mais amplo da
Pedagogia e abordando aspectos de sua evolução histórica. A seguir, trataremos de
temas e assuntos relacionados às recentes reformas educacionais e aos resultados das
pesquisas das áreas de ensino de Ciências e Matemática. Por fim, discutiremos aspectos da
organização do trabalho dos professores.
Esperamos que a Didática possa contribuir significativamente em sua formação,
ajudando a promover uma reflexão constante sobre o fazer docente.
Além da leitura das aulas e da realização das atividades presentes em cada uma delas,
você também deverá executar certas “Práticas” (assim identificadas ao longo das
aulas) previstas na carga horária total da disciplina.

Objetivos
O principal objeto desta aula é oferecer a você uma visão
preliminar e abrangente sobre a Didática enquanto disciplina
pedagógica, com objeto e temas de estudo próprios.
Esperamos, ainda, que você conheça aspectos da
origem histórica do pensamento didático e seja capaz de
perceber a importância dessa disciplina
para a sua formação como
professor.

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Caracterizando a Didática

Atividade 1

Leia os dois pequenos diálogos (fictícios) abaixo. O primeiro, entre dois estudantes
de graduação em História.

− Ei, você já “pagou” a disciplina de “História Moderna e Contemporânea I”?


− Não, ainda não... Vai ser oferecida este semestre?
− Vai, sim. Por aquele professor do departamento... não lembro o nome! Acho que é
Manoel.
− Ih... então não vou “pagar” este semestre, não. Dizem que ele é um ótimo historiador, mas não tem
didática.
E o segundo, entre um pesquisador e um aluno do Ensino Médio:
− Estamos fazendo uma pesquisa sobre a qualidade das aulas do Ensino Médio. Você pode
responder a algumas perguntas?
− Claro...
− Quais as matérias de que você mais gosta, e por quê?
− História, Geografia e Ciências. Acho que gosto de ler, saber do passado, do que aconteceu...
Geografia também é legal, a gente aprende sobre os diferentes lugares, as regiões... Ciências eu
gosto porque o professor é legal! Ele ensina bem...
− O que tem que ter um professor pra “ensinar bem”?
− Sei lá... acho que tem que entender a matéria, ser legal com os alunos, ter paciência. E tem que ter
didática, né? Tem gente que não tem “jeito” pra dar aula, não...

E agora, procure responder às questões abaixo.

Que visão sobre a “didática” é passada pelos diálogos? O que parece


1 significar, para os personagens, “ter didática”?

Você já presenciou diálogos como esses? Em que situações?

Você concorda com a visão apresentada nos diálogos? Qual a sua


3 visão pessoal sobre a didática?

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Prática
Faça uma breve entrevista informal (munido apenas de um bloco de notas e
uma caneta), com três pessoas diferentes, acerca do significado da palavra
‘didática’. Sugestão: escolha pessoas com vivências e idades diferenciadas,
como, por exemplo, alguém mais velho da família (pai, mãe etc.), um professor
de uma escola pública da sua região e um aluno do Ensino Médio.
Como produto, produza um texto comparando as visões entre si, estabelecendo
semelhanças e diferenças entre elas.

É comum, como vimos nos diálogos da Atividade 1, e como você deve ter percebido nas
entrevistas da Prática, associarmos a palavra ‘didática’ ao ensino, mas quase sempre como algo
(provavelmente, um conjunto de “técnicas”...) que o indivíduo (professor) deve “possuir”, “ter”.
Assim, o bom professor é visto como alguém que “tem didática”, o que normalmente parece
ser uma espécie de “dom natural” ou uma “arte”.
Por outro lado, sabe-se que a disciplina Didática faz parte dos currículos dos cursos de
Pedagogia e das Licenciaturas, sendo, portanto, um conjunto de saberes aparentemente
constituído e sistematizado. Será, então, que ao cursar tal disciplina, o futuro profissional do
ensino passa a “ter didática”, mesmo que não tivesse o “dom”? O que se estuda em tal
disciplina? Qual o seu objeto?
Os pedagogos e teóricos da educação não concordam plenamente entre si quanto a uma
definição de ‘didática’. Mas, isso não é um problema, porque, ao invés de uma “definição”,
busca-se entender a Didática como um corpo de conhecimentos que evoluiu histórica e
socialmente, e que comporta hoje múltiplas compreensões, embora com importantes pontos em
comum.
Vejamos a seguir dois pequenos trechos, de autoria de dois importantes educadores da
área de Didática.

“Didática para nós é uma reflexão sistemática sobre o processo de ensino-aprendizagem que acontece na
escola e na aula, buscando alternativas para os problemas da prática pedagógica.” (MASETTO, 1997, p.
13)

“A Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela investiga os fundamentos, condições e modos
de realização da instrução e do ensino. A ela cabe converter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em
objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos
entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos.”
(LIBâNEO,
1994, p. 25-26)

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É importante que não tomemos esses trechos como definições! Os autores citados
procuram caracterizar a Didática ao longo de suas obras, e não apenas com esses trechos!
Ainda assim, é possível caracterizar o “fenômeno ensino” como o objeto de estudo da
Didática enquanto disciplina. Note que isso abre um leque muito grande de temas, assuntos
e conhecimentos específicos que passam a fazer parte do campo da Didática.
Vejamos o porquê.
O ensino é um fenômeno complexo. Ocorre na escola, mas não apenas nela. É uma prática
social, portanto, condicionada por fatores históricos, políticos e econômicos. Considerar o
ensino como objeto de estudo significa, então, em princípio, trazer para o debate todos os
potenciais e reais fatores que podem influenciá-lo e determiná-lo. Desse modo, passa a ser
relevante para a Didática conhecimentos oriundos da Filosofia, da Antropologia, da Sociologia,
da Política, da Psicologia, entre outras áreas. Mais especificamente, podemos pensar em
“sub-áreas” – como Psicologia da Educação ou História da Educação – que contemplam
saberes de interesse para a Didática. Também estão aí incluídas as metodologias específicas
das disciplinas, por exemplo.
Vemos, assim, que o campo da Didática é muito amplo, no sentido de que essa disciplina
faz uso de uma gama significativamente grande de outros saberes para tentar constituir sua
especificidade. A Didática pode ser vista, nesse sentido, como uma espécie de “disciplina
integradora”, como a Figura 1, a seguir, tenta mostrar.

Psicologia

Sociologia

Psicologia da
Educação
Sociologia da
Educação

DIDÁTICA Metodologia do
Ensino de Ciências

História da
Educação
Filosofia da
Educação

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A Figura 1 é, obviamente, uma aproximação. Além de não esgotar as diversas áreas que
compõem o terreno da Didática, a figura não explicita outros vínculos, como os existentes entre
Sociologia e Psicologia, ou entre essa última e a Filosofia da Educação, por exemplo.
Até aqui vimos que o objeto de estudo da Didática é o ensino, em sua totalidade, e que ela faz uso
de saberes de diversas áreas do conhecimento humano. Poderíamos, então, perguntar: mais
especificamente, o que a Didática vai estudar? Que temas são do seu interesse?
Como “teoria do ensino”, a Didática acaba por preocupar-se com diversos temas e
problemas relacionados ao ensino, por exemplo:
1. o currículo escolar;
2. aspectos psicológicos do processo ensino-aprendizagem;

3. organização do trabalho pedagógico na escola;

4. motivação dos alunos para aprender;

5. ensino em espaços não-formais;

6. objetivos e fins do processo educativo;

7. planejamento do ensino;

8. relacionamento interpessoal na escola;

9. uso de novas tecnologias no ensino;

10. entre outros.


Tomemos como exemplo os itens 3 e 7, “organização do trabalho pedagógico na escola”
e “planejamento do ensino”.
A escola tem um papel fundamental na sociedade, no que diz respeito à conquista da
cidadania por todos. O acesso dos sujeitos ao conhecimento sistematizado e à promoção do
desenvolvimento individual em diversas áreas (motora, afetiva, social, cognitiva etc.) são
princípios da ação pedagógica. Para que esses princípios concretizem-se, é necessário organizar
o trabalho pedagógico na escola.
Para isso, é preciso, dentre outras coisas, conhecer as leis e normas que regem a
educação nacional, ter clareza dos fins e propósitos do processo educativo, estabelecer metas e
objetivos adequados à realidade local, envolver a comunidade nas ações da escola, mobilizar recursos
materiais e humanos para promover as ações desejadas. Assim, a “organização do trabalho
pedagógico na escola” surge como condição para o bom andamento do processo de ensino que
ocorre no espaço escolar. É, portanto, um tema (ou assunto) para a Didática, enquanto disciplina
pedagógica.

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A organização do trabalho pedagógico implica planejamento. O ato de planejar deve


ser compreendido como uma forma de organizar as ações, e não como uma atividade
burocrática. Precisa envolver todos os atores do processo educativo (diretores, professores,
alunos, comunidade escolar) e ser pensado para diferentes níveis e propósitos (planejamento
da escola como um todo, das diferentes séries, das disciplinas etc.). A qualidade e eficiência
do ensino dependem, portanto, de uma boa organização das ações, ou seja, de um bom
planejamento. Daí que o “planejamento do ensino” seja também um tema (ou assunto) da
disciplina Didática.

Atividade 2
Escolha outro item da nossa breve lista de “temas” da Didática (excetuando-
se o 3o e o 7o), justificando por que ele deve ser objeto de preocupação
dessa disciplina. Para tanto, use suas palavras, levando em consideração a
caracterização feita até agora sobre a Didática.

Atividade 3
Realize uma pequena pesquisa sobre “didática” em livros da área de
1 educação que tratem do tema. Veja o que dizem os autores sobre
essa disciplina, como (e se) a definem, e que temas associam a ela
(sugestão: vá a uma biblioteca e procure – em “título” ou “assunto”
– pela palavra ‘didática’).
Quais as principais semelhanças e diferenças entre as visões que
você obteve e aquela apresentada aqui? Escreva um pequeno texto
a esse respeito.

Retome o item 1, mas, agora, pesquisando no espaço virtual da


Internet (sugestão: coloque a palavra ‘didática’ num site de busca).

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que ocorre nas escolas, há certamente características que são
A compartilhadas nacionalmente, enquanto outras são regionais
ou mesmo locais. Pensando em ITG –uma escola da Gamaliel
sua
t
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comunidade, apresente aspectos didáticos de dois tipos:

i a) aqueles que você considera que sejam compartilhados, em


maior ou menor grau, nacionalmente;

v b) e aqueles que você considera que sejam


exclusivamente locais.
i
d
a
d
Você deve ter percebido, pela nossa caracterização da Didática, que o rol de
conhecimentos abarcado por essa disciplina pedagógica é muito grande. Isso

e
é muito importante para ser assinalado, pois é preciso ter consciência que
o estudo da Didática não pode se esgotar apenas num semestre letivo, no
conjunto de umas poucas aulas. Ao contrário, o profissional da educação deve
estar em contínuo e constante processo de formação, incluídos aí os
conteúdos dessa disciplina.
4 Em função disso, o que privilegiar?
Neste curso, especificamente, faremos um recorte particular da
Didática. Iniciando com elementos da história do pensamento didático,
privilegiaremos tópicos relacionados ao ensino na atual conjuntura de
N
reformas educacionais no Brasil. Dada a característica primordial deste
a
curso – de formação inicial de professores de Ciências da Natureza e
Matemática –, abordaremos, também, tópicos particulares das áreas de
a
Ensino de Ciências e Ensino de Matemática (aliás, essas áreas detêm
ç
conhecimentos específicos dentro da Didática, a ponto de podermos falar
ã
em Didática das Ciências ou Didática da Matemática como sub-áreas). Mais
o
adiante, trataremos de alguns aspectos do que se costuma chamar de
“Didática instrumental” ou “técnica”.
p
e
d
a
g
ó
g
i
c
a

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Mercantilismo

Doutrina econômica, em
voga no século XVII, que
enfatizava a importância
do comércio exterior
para a economia de um
país. Defendia a ação
do Estado em favor da
expansão das exportações
e de seu monopólio
por companhias de
comércio, e da restrição
às importações (Dicionário

Origens históricas da Didática


Aurélio Eletrônico, versão
3.0, Novembro de 1999,
verbete ‘mercantilismo’).

Reforma
Protestante como disciplina
Movimento religioso
do começo do séc. O ensino e a aprendizagem, como processos sociais, são certamente tão antigos
XVI que rompeu com a
Igreja Católica Romana,
quanto as primeiras sociedades humanas. Na realidade, é possível identificarmos, inclusive,
originando numerosas aspectos desses processos em outras espécies animais, além do Homo sapiens.
igrejas cristãs dissidentes
(Dicionário Aurélio No entanto, desde as épocas mais remotas, a ação pedagógica de “ensinar” esteve
Eletrônico, versão 3.0, vinculada às tradições de cada povo ou comunidade, à religião e aos rituais, às necessidades
Novembro de 1999,
práticas, de uma forma mais ou menos espontânea. Desse modo, a “didática” como uma
verbete ‘reforma’).
atividade planejada e intencional é algo relativamente recente na História. Os teóricos da área
Heliocentrismo costumam concordar em situar o “surgimento” da Didática como disciplina no século XVII.
Sistema cosmológico Vejamos o que diz, por exemplo, Libâneo:
proposto por Nicolau
Copérnico, mas que tem Na chamada Antigüidade Clássica (gregos e romanos) e no período medieval também se
suas raízes na Antigüidade
desenvolvem formas de ação pedagógica, em escolas, mosteiros, igrejas, universidades.
(com Aristarco de Samos),
Entretanto, até meados do século XVII não podemos falar de Didática como teoria do
e que postula ser o Sol o
centro do Universo, com ensino, que sistematize o pensamento didático e o estudo científico das formas de
os demais astros (planetas ensinar. (LIBâNEO, op.cit., p. 57)
e estrelas) girando ao seu
redor. Qual o “marco” dessa época para a Didática?
O século XVII representa um período de profundas transformações políticas, sociais,
científicas, filosóficas, religiosas e econômicas, no mundo ocidental. O mercantilismo e a
expansão marítima européia, a formação dos Estados Nacionais, a reforma protestante,
a proposta heliocêntrica são diferentes aspectos dessas transformações. É nessa época
que João Amós Comenius (1592-1670) escreveu a primeira obra clássica sobre Didática: a
Didática Magna, publicada em 1657.

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Comenius era um “homem do século XVII”, sintonizado parcialmente com os ideais da


Modernidade que estavam por surgir. Pastor protestante, natural da Boêmia (atual República
Tcheca), considerava a educação como um caminho para a salvação, uma formação para a
vida eterna. “Ser homem” era, para ele, conhecer as coisas do mundo, e não apenas uma
pequena área do saber. Disso decorre a importância do processo educativo tanto para a Comenius
criação da identidade individual quanto para a socialização do indivíduo. A educação teria Para falar desse autor,
como uma de suas finalidades a transformação do indivíduo e da sociedade. adotaremos como
referência principal o
Em sua Didática Magna, que tinha a pretensão de apresentar a “arte de ensinar tudo a trabalho de Kulesza
(1992).
todos”, ele propõe uma série de princípios e regras que deveriam nortear a educação. Entre
outras coisas, Comenius defende uma escola para todos, ou seja, a universalização do ensino Tábula rasa
(princípio da igualdade). Além disso, considerava a escola como espaço (locus) privilegiado
‘Tábula rasa’ é uma
da educação, e a figura do professor como a do profissional específico e qualificado para a expressão muito usada em
ação de educar. Preocupou-se em estabelecer princípios para o ensino das ciências e um Educação que simboliza
um estado de vazio
planejamento escolar com vários “graus” de ensino vinculados aos graus de desenvolvimento
completo da mente. Para
do indivíduo. Comenius, a mente não
estaria nesse estado de
Para Comenius, o conhecimento vem dos sentidos, é trabalhado pela razão e iluminado vazio absoluto antes de
pela fé. Em função disso, considera que o conhecimento verdadeiro provém de uma qualquer experiência, mas
“observação correta” das coisas. Daí que o seu método de ensino – que ele pretendia “claro teria a potencialidade de
moldar-se, ajustar-se às
e único” – fosse baseado na observação da natureza e dos fenômenos, no olhar das próprias experiências sensíveis.
coisas e não na consulta aos livros. É por meio dos sentidos que se estabelece o contato
Indução
entre a natureza e a mente. Esta, por sua vez, não é uma “tábula rasa”, mas “moldável”.
Vemos, assim, que a epistemologia subjacente à proposta comeniana apresenta uma forte Francis Bacon (1561-
1626) procurou, no
ênfase empirista e sensorialista (nesse terreno, Comenius foi influenciado pelo pensamento
alvorecer da ciência
de Francis Bacon e pela idéia de “indução”). moderna, estabelecer um
método de investigação
Ainda que várias de suas idéias tenham sido superadas, principalmente no que se refere da natureza baseado na
à compreensão psicológica do processo de ensino e aprendizagem, Comenius foi realmente indução experimental.
avançado para a época, podendo ser considerado o precursor da Didática como disciplina Para ele, deveria se
partir da experimentação
pedagógica. Num período em que o catolicismo dominava e a educação católica voltava-se à para se chegar às
formação das classes dirigentes, com privilégio do latim, Comenius propôs a educação para hipóteses que, testadas,
todos e o uso do vernáculo. levariam à formulação
de leis e princípios
Apesar da Didática Magna só ter sido traduzida para o português em 1954, a obra de gerais. Sinteticamente,
o método baconiano
Comenius chegou a exercer certa influência no Brasil, ainda no início da República. Autores
iria da experiência para
como Rui Barbosa e Fernando de Azevedo interessaram-se por suas idéias que, identificadas a racionalização, e do
com o “método ativo e intuitivo”, foram em parte adotadas pela chamada Escola Nova e particular para o geral.

bastante utilizadas no ensino de Ciências.


Na aula seguinte, teremos a oportunidade de analisar algumas das principais correntes
do pensamento didático ao longo da História. Veremos que as teorias do ensino oscilaram
entre privilegiar a atividade do professor, a atividade do aluno e o método de ensino.

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Atividade 5
A partir do que foi apresentado sobre Comenius, tente apontar alguma de suas idéias
e propostas que permanecem atuais, e outras que pareçam superadas.
Justifique sua resposta.
sua resposta

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Leituras Complementares
Para que você possa aprofundar seus conhecimentos sobre o tema apresentado
nesta aula, indicamos as referências a seguir.

CANDAU, V. M. (org.). A didática em questão. Petrópolis: Vozes,


1986.
Esse conjunto de textos, organizados por Vera Candau, é um marco na
história recente da Didática no Brasil. Resultado de um seminário realizado na PUC-
SP em 1982, no qual se discutiu e se refletiu sobre os novos rumos da Didática a
partir do processo de redemocratização do país, essa publicação contém artigos dos
principais autores nacionais do campo da Didática, e tornou-se um dos trabalhos mais
citados nos anos que se seguiram. Ganhou, recentemente, uma nova edição.

LIBâNEO, J. C. Educação: pedagogia e didática – o campo investigativo da pedagogia e


da didática no Brasil: esboço histórico e buscas de identidade epistemológia e
profissional. In: PIMENTA, S. G. (org.). Didática e formação de professores: percursos
e perspectivas no Brasil e em Portugal. São Paulo: Cortez, 1997.
O autor inicia abordando a problemática da identidade no campo do
conhecimento pedagógico, defendendo que a Pedagogia seja uma das “ciências da
educação” que busca integrar e dar coerência a todas elas, sendo o seu objeto o
fenômeno educativo em seu conjunto. A seguir, Libâneo faz uma retrospectiva histórica
dos estudos teóricos da Pedagogia no Brasil, dos jesuítas à década de noventa do século
passado. Aponta a necessidade de se buscar uma identidade epistemológica para esse
campo e procura diferenciar o “pedagógico” do “didático”, caracterizando-os.

OLIVEIRA, M. R. N. S. Elementos teórico-metodológicos no processo de construção


e reconstrução da didática (por uma nova teoria da prática pedagógica escolar). In:
OLIVEIRA, M. R. N. S. (org.). Didática: ruptura, compromisso e pesquisa. Campinas:
Papirus, 1995.
Partindo de uma concepção dialético-materialista do ensino, Maria Rita
Oliveira defende que a Didática rompa com o tecnicismo e volte-se a uma prática
educativa transformadora da realidade social. A autora pensa o ensino na
perspectiva da prática social, como uma “totalidade concreta”. As diversas
dimensões do fenômeno ensino (histórica, ideológica, antropológica e
epistemológica) delineariam os elementos teórico- metodológicos do campo da
Didática.

PENIN, S. T. S. O Ensino como “Acontecimento”. Cadernos de Pesquisa, no 98, pp. 14-23,


1996.
Nesse artigo, Sônia Penin analisa o “objeto” da Didática, defendendo que ele
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seja o “acontecimento ensino”, em toda a sua extensão e profundidade. Discute as


características da Didática como área do conhecimento em processo de
epistemologização. Nessa direção, defende um rompimento com a epistemologia
dominante (oriunda das Ciências Naturais), pois os parâmetros clássicos da investigação
científica não esgotariam o estudo dos eventos presentes no ensino.

PIMENTA, S. G. Para uma re-significação da didática – ciências da educação, pedagogia e


didática (uma revisão conceitual e síntese provisória). In: PIMENTA, S. G. (org.). Didática
e formação de professores: percursos e perspectivas no Brasil e em Portugal. São Paulo:
Cortez, 1997.
A autora propõe re-significar a Didática partindo da própria prática docente, rompendo com o
triângulo professor-aluno-conhecimento. Aponta a importância da discussão epistemológica
para a realização dessa tarefa, mas pensada a partir da prática, e não do ponto de vista
teórico. Discute o objeto e o campo de atuação da Pedagogia e da Didática. No caso da
última, defende que sua tarefa seja a de tomar o ensino como prática social e compreender o
seu funcionamento enquanto tal, sua função social e suas implicações estruturais.

Resumo
Nesta aula, você percebeu que a Didática, enquanto disciplina pedagógica, tem
como objeto de estudo o “fenômeno ensino”. Ela não é – como se costuma
pensar – um “conjunto de técnicas para ensinar”, mas constitui-se em um
corpo de conhecimentos amplo e complexo, que abraça saberes de diversas
outras áreas. Por isso, os temas e assuntos que lhe dizem respeito são também
variados e em grande número. Embora o ensino seja algo tão antigo quanto
as primeiras sociedades humanas, a Didática configura-se como disciplina no
século XVII, a partir da obra de João Amós Comenius.

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Auto-avaliação
Com base na leitura do texto e nas atividades desenvolvidas por você, faça uma
reflexão sobre o que aprendeu e analise os principais aspectos mencionados
nesta aula, considerando os seguintes itens:

n a visão adquirida sobre a Didática enquanto disciplina pedagógica;

n a origem e as características do pensamento didático;

n a importância dessa disciplina para a sua formação como professor.

Referências
CANDAU, V. M. (Org.). A Didática em Questão. Petrópolis: Vozes,
1986.

KULESZA, W. A. Comenius – a persistência da utopia em educação. Campinas:


Editora da
UNICAMP,
1992.

LIBâNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez,


1994.

LIBâNEO, J. C. Educação: pedagogia e didática – o campo investigativo da


pedagogia e da didática no Brasil: esboço histórico e buscas de identidade
epistemológia e profissional. In: PIMENTA, S. G. (Org.). Didática e Formação de
Professores: percursos e perspectivas no Brasil e em Portugal. São Paulo: Cortez,
1997.

MASETTO, M. T. Didática – a aula como centro. São Paulo: FTD,


4.ed.,1997.

OLIVEIRA, M. R. N. S. Elementos teórico-metodológicos no processo de


construção e reconstrução da didática (por uma nova teoria da prática pedagógica
escolar). In: OLIVEIRA, M. R. N. S. (Org.). Didática: ruptura, compromisso e
pesquisa. Campinas: Papirus, 1995.

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PENIN, S. T. S. O Ensino como “Acontecimento”. Cadernos de Pesquisa, no 98, p. 14-23,

1996. PIMENTA, S. G. Para uma re-significação da didática – ciências da educação,

pedagogia e
didática (uma revisão conceitual e síntese provisória). In: PIMENTA, S. G (Org.).
Didática
e Formação de Professores: percursos e perspectivas no Brasil e em Portugal. São
Paulo: Cortez, 1997.

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Anotações

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