TV DESTINO

Central Destino de Produção Capítulo 10

MENINAS DO BRASIL
“O ELEITOR”

UMA NOVELA DE
RAMON FERNANDES
IDEIA ORIGINAL
RYNALDO NASCIMENTO

ESCRITA POR
Ramon Fernandes

DIREÇÃO DE
Teresa Lampreia e Carlo Milani

DIREÇÃO GERAL
DENISE SARACENI

Personagens deste capítulo

ALBERTO GLÓRIA MARY-LOU UZIEL
BRUNO HUGO MURILO VICENZO
CELESTINO HUMBERTO NELINHA VIÚVA-NEGRA
CINDY JANETE NINA WANDA
CLARICE LAURO ROBERTA
FABIANA MANDRAKE TELMA
FREDERICO MARCELA TEREZA

Participação neste capítulo

RÔMULO/ SALES/ PADRE/ SENHOR/ MULHER MISTERIOSA

Atenção
“Este texto é de propriedade intelectual exclusiva da TV DESTINO LTDA. e por conter informações
confidenciais, não poderá ser copiado, cedido, vendido ou divulgado de qualquer forma e por qualquer
meio, sem o prévio e expresso consentimento da mesma. No caso de violação do sigilo, a parte infratora
estará sujeita às penalidades previstas em lei e/ou contrato.”
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 2

CENA 01. SÃO PAULO. USP. FRENTE. EXTERIOR. TARDE

UM TAKE RÁPIDO DA FRENTE DA USP EM CLOSE.
FUNDE PARA:

CENA 02. USP. CANTINA. EXTERIOR. TARDE

EM UMA DAS CANTINAS DA USP, VICENZO COM UNS AMIGOS EM UMA
MESA. CORTA PARA MARCELA VINDO SOZINHA.
MARCELA — Ai droga. Acho que esqueci o dinheiro.
MARCELA ABRE A BOLSA E VAI OLHANDO PARA O SEU INTERIOR,
ENQUANTO ANDA SEM OLHAR PARA FRENTE. VICENZO SE DESPEDE DOS
AMIGOS E VEM AO SEU ENCONTRO SEM PERCEBER A MOÇA. ELE OLHA
PARA O LADO E OS DOIS ACABAM SE ESBARRANDO.
MARCELA — Ai! (grita) Seu idiota! Não olha por onde anda?
VICENZO — (tom) Você também não.
OS DOIS SE ENCARAM.
VICENZO — Marcela?!
MARCELA — (ri) Hei!
OS DOIS RIEM SE OLHANDO. NO CASAL.
CORTA PARA:

CENA 03. FAVELA. CASARÃO DE CELESTINO. SALA. INTERIOR.

TARDE
CELESTINO COM DUAS MALAS. UMA EM CADA MÃO. MURILO E GLÓRIA
EM CENA.
CELESTINO — Eu estou indo agora para mais uma “Missão de Cristo” no
interior e vai ficar tudo como sempre ficou nessas ocasiões.
CELESTINO PEGA UMA CHAVE E ENTREGA PARA GLÓRIA.
CELESTINO — Dona Glória, a senhora fica com a chave do nosso templo.
GLÓRIA PEGA A CHAVE EUFÓRICA. CELESTINO ENTREGA OUTRO MOLHO
PARA MURILO.
CELESTINO — E você fica com as de casa, meu filho. Juízo hein.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 3

GLÓRIA — (eufórica) Pode deixar pastor. Vou ter o maior juízo

possível!
CELESTINO — Eu estava falando com o meu filho, dona Glória.
GLÓRIA CONCORDA E BAIXA OS OLHOS SEM GRAÇA. MURILO RI.
MURILO — Deixa comigo pai.
CELESTINO — Bom espero que nenhum dos dois me decepcione. Dona
Glória, fica de olho nesse menino aqui em casa sozinho, por
favor.
GLÓRIA — Sim Senhor! (corta) Quer dizer, sim pastor.
GLÓRIA RI SEM GRAÇA. MURILO BUFA, MAS DISFARÇA. NELE.
CORTA PARA:

CENA 04. USP. CANTINA. EXTERIOR. TARDE

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 02. VICENZO SURPRESO DÁ UM BEIJO
EM MARCELA.
VICENZO — Desculpa, eu tava distraído.
MARCELA — Culpa minha também. Que cabeça né. Mas você não
estuda de manhã?
VICENZO — Estudo. Eu emendei hoje por causa de um trabalho, coisas
da Arquitetura. Nos toma um tempo enorme.
MARCELA — Imagino. Eu no segundo semestre já estou louca, imagina
quando chegar lá pelo quinto, sexto.
VICENZO — (ri) Vai estar maluca. Eu estou no quarto, não estou tão
avançado assim, mas acho que posso construir uma casinha
de cachorro.
OS DOIS RIEM.
MARCELA — O papo tá muito bom, mas agora eu vou tomar um lanche,
preciso, necessito, minha barriga pede socorro. (ri) Você veio
da cantina?
VICENZO — Sim, mas se quiser eu posso te fazer companhia.
MARCELA SORRI E VICENZO FICA SEM GRAÇA. SOBE MÚSICA: “BOM
DIA” – SCRACHO.
VICENZO — Tava com uns amigos, mas confesso que nem comi nada.
Morto de fome!
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 4

MARCELA — E o seu trabalho?

VICENZO — Depois eu termino. Tem tempo...
MARCELA — (sorri) Certeza?
VICENZO — Só se você não quiser a minha companhia, daí vou ter que
me retirar.
MARCELA — (bate em seu ombro) Para com isso, seu bobo. Eu te
adoro./ (se corta) Adoro a sua companhia.
VICENZO AFIRMA QUE SIM COM A CABEÇA E RI. OS DOIS SE
ENCAMINHAM PARA A CANTINA. CONVERSANDO.
CORTA PARA:

CENA 05. PRÉDIO DE HUMBERTO. FRENTE. EXTERIOR.

ENTARDECENDO
TAKE PARA LOCALIZAÇÃO. COMECINHO DE NOITE EM SÃO PAULO. VAI
CESSANDO A MÚSICA.
CORTA PARA:

CENA 06. APARTAMENTO DE HUMBERTO. SUÍTE DO CASAL.

INTERIOR. NOITE
JANETE VEM DO BANHEIRO DA SUÍTE. SECANDO SEUS CABELOS COM A
TOALHA. HUMBERTO ENTRA EM CASA.
JANETE — Que susto, Humberto.
HUMBERTO — Sou tão assustador assim, querida?
JANETE VAI PARA A PENTEADEIRA.
JANETE — Não disse isso. Você ultimamente deu para colocar
palavras na minha boca.
HUMBERTO — Como se eu precisasse disso, Janete.
ELE VAI ATÉ O BANHEIRO E VOLTA DE LÁ SEM CAMISA.
HUMBERTO — Hoje eu conversei com o Frederico por telefone e lembrei-
me da Irene.
JANETE — Da Irene? Ela morreu há dez anos e você foi lembrar
justamente dela? Que estranho.
HUMBERTO — Como eu ia esquecer a mulher que você traiu a amizade?
(ri sarcástico) Inesquecível!
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 5

JANETE O ENCARA NERVOSA.

JANETE — (entre dentes) Nunca mais repita isso Humberto. Conversa
besta a esta altura do campeonato não leva a lugar nenhum.
HUMBERTO — Meu amor, eu só pensei na Irene.
HUMBERTO A ABRAÇA DE COSTAS. JANETE LÍVIDA.
HUMBERTO — Ainda mais agora com o Hélio pesquisando o nosso
passado não é verdade? Meio difícil não se lembrar dela, do
Sales, das nossas festas (suspira) Ah, as nossas festas.
Lembra delas, Janete? E as viagens então? Aquela para
Bariloche lembra?
JANETE — (saindo do abraço) Para com isso, Humberto. Para com
essa conversa toda que está me aborrecendo.
HUMBERTO — Porque, meu amor? Achei que esta viagem em especial de
dois casais à Bariloche significasse algo para você. (tom
agressivo) Já que foi nela que eu flagrei você e o Sales em
um quarto de hotel transando.
JANETE GRITA HISTÉRICA E TAMPA OS OUVIDOS.
JANETE — Chega! Cala a boca! Eu não quero mais escutar nada!
HUMBERTO SENTA-SE NA CAMA. JANETE VAI SE ACALMANDO E COMEÇA
A CHORAR DISCRETAMENTE.
HUMBERTO — É fácil negar a verdade, Janete. (pausa) Você traiu a
amizade da Irene e o nosso casamento.
JANETE — Humberto./
HUMBERTO — (levanta-se) Vou tomar um banho, licença.
HUMBERTO SAI EM DIREÇÃO AO BANHEIRO, ENQUANTO JANETE CHORA
DESOLADA NA CAMA.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 07. SÃO PAULO. AVENIDA QUALQUER. EXTERIOR. NOITE

EM UMA AVENIDA QUALQUER PASSA O CARRO DE JANETE A TODA
VELOCIDADE. ENTRA SONOPLASTIA: “THAT I WOULD BE GOOD” –
ALANIS MORISSETTE. O VEÍCULO ULTRAPASSA VÁRIOS OUTROS PELA
AVENIDA.
FUNDE PARA:
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 6

CENA 08. CARRO DE JANETE. INTERIOR. NOITE

JANETE CHORA ATÔNITA APÓS A DISCUSSÃO. A MÚSICA AGORA VEM DO
PLAY-BACK DO RÁDIO. ELA DIRIGE A ESMO, PASSA A MÃO PELO ROSTO,
CABELOS. PARECE DESESPERADA. PENSA NO QUE HUMBERTO LHE
FALOU.
JANETE — Eu não podia ter feito isso com eles... Não com eles.
EM JANETE ARRASADA.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 09. HOTEL. QUARTO. INTERIOR. TARDE

ATENÇÃO: ESTE É UM FLASHBACK A SER GRAVADO. IMAGEM
ENVELHECIDA. SALES (ATOR DA PRIMEIRA FASE) ESTÁ COM UM COPO
DE BEBIDA NA MÃO. OLHA PELA JANELA DO HOTEL. NEVE CAINDO LÁ
FORA. A PORTA SE ABRE E JANETE (MAIS NOVA) ENTRA. ELE SE VIRA E
SORRI.
SALES — Pensei que ia demorar muito. Imagino o trabalho que teve
para enrolar o Humberto.
JANETE — (por cima) Não fala nada. Só me beija, por favor. Me beija
antes que eu me arrependa.
SALES DEIXA O COPO DE BEBIDA SOB UM MÓVEL E BEIJA JANETE A
JOGANDO NA CAMA. OS DOIS VÃO ARRANCANDO AS ROUPAS COM
VORACIDADE.
CORTA PARA:

CENA 10. FAVELA DO URUBU. EXTERIOR. NOITE

ESTAMOS EM UMA PARTE FORA DA FAVELA, COMO SE FOSSE A ENTRADA
DA MESMA. TEM UMA LADEIRA NA FRENTE E UMA RUA LOGO MAIS PARA
FORA DA FAVELA QUE DÁ PARA OUTRO BAIRRO. CORTA PARA O CARRO
DE JANETE QUE VEM PASSANDO POR ALI. CLOSE NA ESTRADA, O CARRO
PASSA POR UMA GARRAFA QUEBRADA E FURA O PNEU DO CARRO. O
VEÍCULO VAI PARANDO LENTAMENTE. ENCERRA SONOPLASTIA. CORTA
PARA O VIDRO DO CARRO DE JANETE QUE VAI BAIXANDO.
JANETE — (preocupada) O pneu furou. E agora, meu Deus?
JANETE ENCARA A FAVELA LOGO A FRENTE.
JANETE — Como eu vou sair desse lugar?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 7

EM JANETE PREOCUPADA.
CORTA PARA:

1º INTERVALO COMERCIAL

CENA 11. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. NOITE

PONTOS DA CIDADE DURANTE A NOITE. UM PAGODE ROLANDO AO
FUNDO.
FUNDE PARA:

CENA 12. SÃO CRISTÓVÃO. BAR. INTERIOR. NOITE

O PAGODE VEM DE UMA RODA DE SAMBA QUE TOCA NO BAR.
MOVIMENTAÇÃO POR ALI. GARÇOM SERVINDO AS MESAS. EM UMA DAS
MESAS ESTÃO REUNIDOS: WANDA, UZIEL E ALBERTO. WANDA E UZIEL
TOMAM UMA CERVEJA E ALBERTO ÁGUA.
ALBERTO — Cada roubada que vocês me metem, hein. Programinha de
índio vir para o bar e ficar tomando água enquanto vocês
tomam a cervejinha de vocês.
WANDA — Olha o que o médico recomendou Beto. Sem exageros
com a bebida e não reclama que você já tomou uma esta
semana que eu vi. Tá pensando que eu sou boba é?
ALBERTO — (ri) Só uma não mata ninguém.
UZIEL — Portanto a sua cota já preencheu esta semana.
ALBERTO — Vocês são chatos.
WANDA — Vê se pode Uziel. A gente aqui prezando pela sua saúde e
você ainda nos chama de chatos. Brincadeira...
ALBERTO — E vamos parar com essa conversa de doenças, hospital e
remédios porque isso não serve de chamariz para a mulherada
em volta.
UZIEL — Concordo!
ALBERTO E UZIEL SE CUMPRIMENTAM CÚMPLICES E RIEM. WANDA FAZ
EXPRESSÃO CONTRARIADA, MAS RI TAMBÉM.
WANDA — Cês homens são todos iguais mesmo. Mesmo doentes
estão sempre caçando.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 8

UZIEL — Tem coisa melhor que mulher? Se tiver Deus fez e

guardou só para ele.
ALBERTO — Não blasfeme velho!
ALBERTO RI. UZIEL OLHA PARA A RUA EM FRENTE AO BAR: DO PV DELE
VÊ UMA MULHER. NÃO TEMOS UMA VISÃO PRIVILEGIADA DELA, APENAS
SUA SILHUETA E O ROSTO À MEIA-LUZ. UZIEL ARREGALA OS OLHOS.
UZIEL RECONHECEU A MULHER E FICA PREOCUPADO. SOBE
SONOPLASTIA DE SUSPENSE.
ALBERTO — Eu acho que já vou para casa. Sem cerveja não tem
nenhuma graça ficar nesse bar.
WANDA — Pensei que nós íamos beliscar alguns petiscos. Vamos
Alberto?
ALBERTO — Tá, por mim tudo bem. E você Uziel?
UZIEL COM OS OLHOS FIXOS NA MULHER DO OUTRO LADO DA RUA.
ALBERTO E WANDA PERCEBEM.
WANDA — (ri) Foi só falar em mulher que o seu Uziel ficou todo
animado, paquerando aquela mulher ali.
UZIEL — (assustado) O que?! Eu, eu vou ter que ir agora.
ALBERTO — Ir para onde homem? Que loucura é esta?
UZIEL LEVANTA-SE ABALADO E VAI SAINDO SEM LIGAR PARA OS
AMIGOS.
UZIEL — Amanhã nós falamos.
WANDA — Ô seu Uziel!
UZIEL SAI RAPIDAMENTE DO BAR. WANDA E ALBERTO SE ENTREOLHAM
SEM ENTENDER. UZIEL SAI EM DIREÇÃO CONTRÁRIA À MULHER QUE
TAMBÉM SAI PARA OUTRO LADO.
ALBERTO — Não entendi mais nada.
WANDA — Será que foi por causa daquela mulher que estava parada
do outro lado, Alberto?
ALBERTO — (dá de ombros) Vai saber.
ALBERTO BEBE UM GOLE DE ÁGUA.
WANDA — (pensativa) Estranho...
ELA AINDA OLHA PARA ONDE UZIEL SAIU E FICA PENSATIVA.
CORTA PARA:
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 9

CENA 13. CASA DE UZIEL. COZINHA. INTERIOR. NOITE

UZIEL ENTRA APRESSADO EM CASA E TRANCA A PORTA COM A CHAVE.
PEGA UM COPO DE ÁGUA E BEBE TRÊMULO. ESCORASSE NA PIA,
DEIXANDO O COPO ALI POR CIMA.
UZIEL — O que será que ela veio fazer aqui?!
ESFREGA O ROSTO PREOCUPADO.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 14. ONG MENINAS DO BRASIL. SALA DE ROBERTA E

CLARICE. INTERIOR. NOITE
CLARICE, ROBERTA, TELMA E FABIANA SENTADAS POR ALI EM UMA
REUNIÃO INFORMAL.
CLARICE — Eu sei que ninguém gosta de ficar aqui até mais tarde para
reuniões, mas foi preciso meninas.
FABIANA — Reuniões estas que estão ficando cada vez mais
frequentes.
ROBERTA — (por cima) Imagina Clarice, nós estamos aqui pra isso.
TELMA — (sorri) Apoiado!
CLARICE — (olha p/ Fabiana) Obrigada.
FABIANA — E dessa vez é sobre o que, Clarice?
CLARICE — Então meninas, eu tive analisando o nosso quadro de
funcionários, contribuintes e afins dos últimos anos e cheguei
à conclusão que atualmente o nosso time está mais
desfalcado.
ROBERTA — Isso quer dizer que./
CLARICE — Que vamos ter que contratar novos profissionais.
TELMA — Desculpa me meter, Clarice, mas como contratar sem ter
como pagar um salário fixo? Os contribuintes como você
mesmo disse estão aqui quase a nenhum. Fazem porque
gostam de ajudar na causa, como eu.
FABIANA — Ninguém vai trabalhar de graça, Clarice. Se nós quisermos
contratar profissionais bons para a ONG temos que atraí-los
para isso.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 10

ROBERTA — Concordo com elas, amiga. Para atrairmos estes

profissionais temos que oferecer algo semelhante a um
pagamento, mas que não seja necessariamente um salário
alto.
CLARICE — É... Tenho que concordar com vocês. (pausa) Eu estive
pensando muito nestes dias em bolar uma campanha
publicitária para a ONG. O que vocês acham?
FABIANA — Sinceramente, eu acho estranho. Sim, estranho uma ONG
que a princípio é sem fins lucrativos lançar uma campanha
publicitária.
TELMA — Mas Fabiana, muitos órgãos fazem isso, porque não a
Meninas do Brasil?! Eu acho válido, Clarice.
FABIANA — Você não conta, é bajuladora.
TELMA — (se exalta) E você é uma grossa, uma estúpida Fabiana!
ROBERTA — Hei meninas, por favor!
TELMA — Pra mim, já deu. (levanta) Licença garotas.
CLARICE — Não Telma, não vai. Fica você é parte importante da nossa
ONG. Nós te acolhemos aqui para te ajudar e agradecemos a
sua ajuda até agora. Não vai sair por causa de uma
discussãozinha a toa.
TELMA — Desculpa, mas eu estou com um pouco de dor de cabeça
também. Podem contar comigo para o que der e vier. O que
vocês decidirem está ótimo pra mim.
TELMA SAI. FABIANA BUFA.
FABIANA — Que drama...
ROBERTA — Mas eu tenho que concordar com ela, Fabi. O que está
acontecendo com você? Antes era alegre e agora ficou assim
rabugenta por tudo.
FABIANA — Roberta... Me desculpa, eu acho que estou trabalhando
demais, tô estressada.
CLARICE — Se quiser pode descansar alguns dias até se sentir
preparada para colaborar com a gente.
CLARICE LANÇA UM OLHAR PARA FABIANA QUE BAIXA A CABEÇA
CONSTRANGIDA.
FABIANA — Não precisa. (pausa) Eu apóio as decisões tomadas.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 11

FABIANA SORRI SEM GRAÇA. CLARICE E ROBERTA SE ENTREOLHAM E

CONCORDAM.
CORTA PARA:

CENA 15. APARTAMENTO DE BRUNO. SALA. INTERIOR. NOITE

BRUNO SENTADO EM FRENTE A TELEVISÃO, ASSISTE AO TELEJORNAL. A
CAMPAINHA TOCA. ELE ESTRANHA.
BRUNO — Quem será? O porteiro nem interfonou...
BRUNO ATENDE A PORTA E É LAURO.
LAURO — Oi pai, desculpa vir sem avisar.
BRUNO — (abraça-o) Ah, só podia ser você. O porteiro nem
interfonou.
LAURO — O senhor e a mamãe recebem tanta gente no apartamento
que se o porteiro for parar para avisar toda vez que sobe
alguém aqui...
BRUNO — Verdade, mas isso não deveria acontecer. A segurança
hoje em dia não está salva nem nos prédios.
LAURO — Aliás, muito menos neles. Muito menos.
LAURO SENTA NO SOFÁ COM O PAI. TEREZA ENTRA VINDA DA COZINHA.
TEREZA — Quem é Bruno? (vê Lauro) Ai, meu filho, nem ligou.
OS DOIS SE ABRAÇAM. ELE RI.
LAURO — Nossa que recepção, mãe. Nada agradável.
TEREZA — Não é nada disso, você sabe que te adoro ver aqui em
casa. Mas é que se você tivesse avisado eu tinha feito um
jantar mais caprichado. O de hoje tá (faz mais ou menos)
meio assim.
LAURO — Para com isso, dona Tereza. Eu não sou de luxo, a senhora
sabe.
TEREZA — Eu sei, mas vem senta. Porque a Clarice ou a Marcela não
vieram com você? A Marcela é uma desnaturada, nunca vem
visitar a avó.
BRUNO — Verdade. Depois que começou a faculdade, pensa só
nesses estudos.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 12

LAURO — Vocês são uns reclamões, carentes de neta isso sim. (ri) A
Marcela está mesmo se dedicando muito aos estudos e a
Clarice...
FAZ EXPRESSÃO CHATEADA.
LAURO — A Clarice como sempre só tem tempo para a bendita
ONG. Nem pra mim ela tem mais tempo, parece que não se
importa mais com o nosso casamento.
BRUNO — Não fala isso, Lauro. A Clarice sempre te amou tanto.
LAURO — Amou pai. Eu não sei se ama mais.
TEREZA — Ama sim, que bobagem! É claro que a Clarice te ama, mas
ela tem que cuidar da ONG. Ela tem uma vida paralela e você
sabia quando casou com ela. Sabia que a Clarice era muito de
ajudar mais os outros, cuidar dos problemas dos outros do
que os dela própria.
LAURO — Eu sabia onde tava me metendo, não é verdade?
TEREZA — Mas mesmo assim, a Clarice te ama muito. Vocês não têm
brigado por causa disso, não é?
LAURO — Não. Até para brigar com a minha mulher ela tem que
marcar horário na agenda com a Fabiana. Olha que irônico.
TEREZA — Tem um autor que eu não me lembro qual é agora que
dizia uma frase muito bonita sobre isso. É assim: “No
momento que paramos de lutarmos uns pelos outros,
perdemos a nossa humanidade”. Tenta compreender.
LAURO — Será mãe?
BRUNO — Ouve a sua mãe, rapaz. Ela não costuma errar.
BRUNO PISCA PARA TEREZA QUE RETRIBUI. LAURO SORRI INDECISO.
CORTA PARA:

CENA 16. FAVELA. BORDEL. SALÃO. INTERIOR. NOITE

FESTINHA PRIVÉ ROLANDO. APENAS ALGUNS FREQUENTADORES, SÃO
DIFERENTES DOS TRAFICANTES HABITUAIS. MAIS BEM ARRUMADOS E
COM MAIS DINHEIRO. MENINAS NO SALÃO. CINDY BEBE NO COPO DE UM
CLIENTE, ESTÁ SENTADA NO SEU COLO. MARY-LOU DANÇA AGARRADA
A UM VELHO SENHOR. NINA SÓ FISCALIZANDO. MÚSICA ERÓTICA
ROLANDO DE FUNDO.
FUNDE PARA:
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 13

CENA 17. BORDEL. QUARTO DE CINDY. INTERIOR. NOITE

ABRIMOS JÁ NO ATO SEXUAL ENTRE CINDY E O SENHOR DA CENA
ANTERIOR. ELE POR CIMA DELA, TRANSAM LOUCAMENTE. ELA FINGE
GOSTAR, RI PARA ELE. O SENHOR VAI FORÇANDO CINDY E ELA VAI
PERCEBENDO ALGO DE ERRADO. ELE FORÇANDO AINDA MAIS, COMEÇA
A MACHUCÁ-LA. CINDY O EMPURRA DE CIMA DELA.
SENHOR — Qual é garota?! (indo para cima) Eu paguei, eu quero te
comer!
CINDY — Você tá me machucando.
CINDY TENTA EMPURRAR O SENHOR NOTORIAMENTE BÊBADO. ELE DÁ
UM TAPA NA CARA DE CINDY QUE VOA PARA O OUTRO LADO DO
QUARTO. CINDY LEVANTA-SE RAPIDAMENTE E TENTA FUGIR.
SENHOR — (tom) Você não vai escapar piranha.
O SENHOR A SEGURA PELOS CABELOS E A JOGA NA CAMA. CINDY GRITA
DESESPERADA. ALGUNS SEGUNDOS DEPOIS E NINA ENTRA NO QUARTO.
NINA — O que tá acontecendo aqui?
CINDY EMPURRA NOVAMENTE O ASQUEROSO.
SENHOR — Eu paguei Nina e esta sua garota vagabunda não quer dar
pra mim.
CINDY CHORA.
NINA — Cindy, o que você tá pensando garota? O cliente pagou,
ele tem direitos sobre você.
CINDY — (chora) Eu não posso, Nina. Este homem me machucou,
tentou a força.
SENHOR — São meus direitos!
NINA — Êpa! Não de machucar as minhas meninas. (pausa) Vamos
fazer assim, eu entrego a parcial pro senhor e não falar mais
disso.
SENHOR — (tom) Eu quero o meu programa! Eu paguei! Nina, eu sou
cliente antigo.
NINA O ENCARA. CINDY CHORA.
CORTA PARA:
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 14

2º INTERVALO COMERCIAL

CENA 18. FAVELA DO URUBU/ CARRO DE JANETE. EXTERIOR-

INTERIOR. NOITE
FOCALIZAÇÃO DA ENTRADA DA FAVELA. JANETE ESTÁ EM SEU CARRO,
CABEÇA NO VOLANTE, QUASE EM DESESPERO. CORTA PARA HUGO QUE
VEM PASSANDO POR ALI, ENTRANDO NA FAVELA. AVISTA O CARRO E
VAI SE APROXIMANDO. BATE NO VIDRO. CORTA PARA JANETE
DESESPERADA. ELA GRITA.
JANETE — (grita) Socorro! Vai embora! Vai embora!
HUGO — [off] Calma moça, eu só quero ajudar.
JANETE — Vai embora, você não vai me matar!
HUGO — [off] Matar? A senhora está bem?
JANETE SAI DO CARRO COM AS MÃOS PARA CIMA. ENSAIA UM CHORO.
JANETE — Pelo amor de Deus, moço. (pausa) Olha, o senhor pode
levar o meu carro, as minhas jóias, mas não me mata. Eu te
imploro!
JANETE JÁ VAI TIRANDO AS JÓIAS, QUANDO HUGO OLHA PARA ELA SEM
ENTENDER. CORTA PARA: HUGO JÁ TERMINANDO O CONSERTO DO PNEU
DO CARRO DE JANETE, QUANDO ELA MAIS CALMA ESTÁ ALI FORA
OLHANDO PARA ELE. SONOPLASTIA: “LA HORMIGUITA” – JUAN LUÍS
GUERRA.
JANETE — Olha moço, me desculpa, mas eu pensei que./
HUGO — (ri) Fica tranquila dona. Nem todo mundo que mora na
favela é bandido não.
JANETE — É eu percebi.
HUGO — A sorte da senhora é que esse meu amigo mecânico, o
Tripé, fecha a oficina tarde e eu ainda pude pegar essas
ferramentas.
HUGO TERMINA E OLHA PARA JANETE QUE FICA SEM GRAÇA. MEXE NA
BOLSA.
JANETE — Quanto foi o serviço?
HUGO — Não dona, não foi nada não. Não fiz isso para cobrar da
senhora, a senhora quando ver o outro em necessidade só
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 15

ajude também, melhor pagamento. (pausa) Pensando melhor

vou te cobrar só uma coisa
JANETE — O que?
HUGO — Que a senhora chegue aqui na favela um dia desses para
eu mostrar para a senhora que existe gente honesta e
trabalhadora aqui.
JANETE — (ri) Tudo bem, eu aceito. Mas me diga qual o seu nome?
HUGO — É Hugo. E o seu?
JANETE — Janete, meu nome é Janete.
HUGO — Bonito nome.
JANETE VAI CUMPRIMENTÁ-LO, MAS HUGO BEIJA A MÃO DELA. ELA FICA
SEM GRAÇA E SORRI.
HUGO — Agora eu já vou.
JANETE — Obrigada mesmo e desculpa pelo que aconteceu. Mil
perdões.
HUGO APENAS SORRI. EM JANETE.
CORTA PARA:

CENA 19. BORDEL. FRENTE. EXTERIOR. NOITE

ENCERRA SONOPLASTIA ANTERIOR. CINDY E MARY-LOU EM FRENTE AO
BORDEL, ENQUANTO ROLA A FESTINHA LÁ DENTRO.
MARY-LOU — E o que aconteceu? Ele cobrou o programa?
CINDY — O que cê acha Mary?!
MARY-LOU — A madrinha também não vale nada hein.
CINDY — Tudo bem, já estou acostumada mesmo. Mas agora eu não
vou ficar mais me sujeitando a isso.
MARY-LOU — Pelo seu filho né amiga?!
CINDY FAZ SINAL PARA QUE ELA SE CALE.
CINDY — (por cima) Pelo amor de Cristo, Mary! Não diga mais isso,
se ela ouvir eu sou expulsa daqui com uma mão na frente e a
outra se sabe lá onde.
MARY-LOU — Já te falei Cindy. Uma hora vai ser inevitável, a barriga
vai aparecer e cê vai ter que explicar tudo.
CINDY — Dou meu jeito.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 16

MARY-LOU — (continua) Obra do divino espírito santo não cola mais

amiga.
CINDY A ENCARA E CHORA DESOLADA. MARY-LOU SE SOLIDARIZA E A
ABRAÇA. NAS DUAS.
CORTA PARA:

CENA 20. SEDE DO PARTIDO PTS. FRENTE. EXTERIOR. NOITE

NA FRENTE DA SEDE DO PARTIDO, MAIS UM POUCO AFASTADO DA
ENTRADA PRINCIPAL SE ENCONTRA UM CARRO. CAM VAI SE
APROXIMANDO DO VEÍCULO E NA DIREÇÃO ESTÁ RÔMULO. OLHOS FIXOS
NA ENTRADA DO PARTIDO.
RÔMULO — O senhor não quis me ajudar, mas eu vou cobrar essa
ajuda de outra forma. Todo mundo tem um rabo preso,
deputado. (pausa) Qual será o seu?
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 21. SEDE DO PARTIDO PTS. ANTE-SALA. INTERIOR.

NOITE
FREDERICO AO TELEFONE. NELINHA EM SUA MESA, UM OLHO NO
COMPUTADOR EM FRENTE O OUTRO NO DEPUTADO.
FREDERICO — (tel.) É isso Marina, eu tenho uma reunião agora com o
Humberto. Reunião mensal, você sabe como é, meu amor.
(pausa) Não, não vai ser aqui no partido, vai ser na casa do
Peixoto. (pausa) Mais confortável, meu amor. (pausa
nervosa) Acho desnecessário você aparecer por lá, você
deveria descansar e estar preparada porque as eleições se
aproximam. (pausa/ri) Você sempre me compreende querida,
eu te amo meu amor. (pausa) Amor de toda a vida.
NELINHA RI. FREDERICO MANDA BEIJO PARA A SECRETÁRIA.
FREDERICO — (tel.) Beijos. (desliga) Vamos para a nossa reunião dona
Nelinha?
NELINHA — (se aproximando) É pra já chefinho.
NELINHA SORRI BEM SAFADA PARA ELE E O AGARRA. OS DOIS TROCAM
UM BEIJO BEM QUENTE.
FREDERICO — Vem, vamos indo porque não tenho muito tempo com
você hoje.
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 17

NELINHA — Uma pena...

FREDERICO A PEGA PELA MÃO E ELES VÃO SAINDO. ELE DÁ UM TAPA NA
BUNDA DELA. ELA RI. SAEM.
CORTA PARA:

CENA 22. SEDE DO PARTIDO PTS. FRENTE. EXTERIOR. NOITE

NELINHA E FREDERICO SAEM JUNTOS DA SEDE. BEM PRÓXIMOS E RINDO
MUITO. CORTA PARA O CARRO DE RÔMULO. ELE SORRI COMEMORANDO.
RÔMULO — Bingo! Sabia que não ia demorar muito para encontrar um
podre desse político safado... Agora você me paga Frederico
de Castro!
FREDERICO E NELINHA ENTRAM NO CARRO DO DEPUTADO E SAEM DO
LOCAL RAPIDAMENTE. RÔMULO TAMBÉM DÁ A PARTIDA EM SEU CARRO
E SAI DO LOCAL. SONOPLASTIA DE AÇÃO.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 23. PORTO ALEGRE. RUAS. EXTERIOR. NOITE

O CARRO IMPORTADO DE FREDERICO CRUZA RUAS E AVENIDAS DE
PORTO ALEGRE. CORTA PARA O TRÂNSITO E MAIS ATRÁS DO CARRO DO
DEPUTADO ESTÁ O CARRO DE RÔMULO. ATENTO NA DIREÇÃO. CORTES
DESCONTÍNUOS DE ÂNGULOS DIFERENTES DOS DOIS VEÍCULOS. O
CARRO DE RÔMULO CHEGA A FICAR COLADO AO LADO DO DE
FREDERICO. NO VEÍCULO DO DEPUTADO, ELE BEIJA NELINHA. RÔMULO
VÊ E SORRI.
CORTA PARA:

CENA 24. FAVELA DO URUBU. EXTERIOR. NOITE

TOMADAS DA FAVELA À NOITE. SONOPLASTIA: “TOUCH YOU IF I
COULD” – JUSTIN TIMBERLAKE. ÚLTIMA TOMADA NA FRENTE DO
CASARÃO DE CELESTINO.
CORTA PARA:

CENA 25. CASARÃO DE CELESTINO. COZINHA. INTERIOR.

NOITE
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 18

MURILO ENTRA NA COZINHA E ACENDE A LUZ. VAI ATÉ A GELADEIRA E

PEGA UMA MAÇÃ.
MURILO — Saco! Nada pra fazer...
VAI ATÉ A PIA E COMEÇA A LAVAR A FRUTA.
MURILO — Não fosse essa favela desgraçada eu podia até sair hoje.
DESLIGA. CAM DÁ CLOSE NO INTERIOR DA PIA. A ÁGUA NÃO VAI PARA
DENTRO. MURILO ESTRANHA. MEXE NO RALO DA PIA, MAS A ÁGUA NÃO
VAI.
MURILO — Só me faltava essa. Encanamento entupido é demais pra
minha cabeça.
BUFA E SAI.
CORTA PARA:

CENA 26. CASARÃO DE CELESTINO. SALA. INTERIOR. NOITE

MURILO COME A MAÇÃ. CHUTA UM MÓVEL UM SENTA NO SOFÁ. ALGUNS
SEGUNDOS E TEM UMA IDEIA.
MURILO — Hei. Como diz meu pai, para tudo tem solução.
MURILO RI E ROÇA A BARBA. SOBE SONOPLASTIA ANTERIOR.
MURILO — Nesse caso uma bela solução. (ri) Murilinho, você é um
gênio. Um gênio!
MURILO DEIXA A FRUTA ALI E SAI RAPIDAMENTE DE CASA.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 27. FAVELADO URUBU. CASA DE TRIPÉ. FRENTE.

EXTERIOR. NOITE
ESTAMOS NA RUA ONDE FICA A BORRACHARIA DE HUGO E ALGUMAS
CASAS À FRENTE, A CASA DE TRIPÉ. SUA KOMBI ESTÁ EM FRENTE.
MURILO VEM ANDANDO POR ALI. CHEGA NA FRENTE DA CASA E BATE
PALMAS. ALGUNS SEGUNDOS DEPOIS, TRIPÉ APARECE.
TRIPÉ — Murilo? O que você quer cara?
MURILO — Boa noite Tripé. Cara, cê não vai acreditar no que
aconteceu. O encanamento da pia lá de casa... Funfou, cara!
Cê pode dar uma ajudinha pra mim lá?
TRIPÉ — (nervoso) O seu pai não pode ver isso?
MENINAS DO BRASIL CAPÍTULO 10 PÁG.: 19

MURILO — Ele tá viajando. Viajou para uma daquelas missões de

Cristo, dele. (ri) Tô sozinho.
TRIPÉ OLHA PARA MURILO AINDA SEM SABER O QUE DIZER.
MURILO — Então cara. Vai me ajudar ou não?
TRIPÉ — Tá, tudo bem. Pode indo pra casa que eu chego já.
MURILO — (sorri) Sério mesmo?
TRIPÉ — (ri) Tô garantindo pô. Com o Tripé não tem tempo ruim.
Vai tranquilo.
MURILO CONCORDA COM A CABEÇA E TRIPÉ ENTRA EM CASA. MURILO
SE VIRA CONTRA A CASA E SORRI MALICIOSO.
MURILO — Não tem mesmo.
NO SORRISO DE MURILO.
CORTA PARA:

CENA 28. CASA DE JULIANO. QUARTO DE OTÁVIA. INTERIOR.

NOITE
PRIMEIRA VEZ QUE O AMBIENTE É MOSTRADO. TÍPICO QUARTO DE
GAROTA RICA COM TUDO O QUE SE PODE IMAGINAR. FOTOGRAFIAS E
QUADROS DE OTÁVIA POR TODOS OS LADOS. CLOSE NO MEGA- ESPELHO
DA PAREDE. VEMOS ALI OTÁVIA E SANDRO TRANSANDO. LENÇOL POR
CIMA DELES, NÃO MOSTRAR AS PARTES ÍNTIMAS. SANDRO POR CIMA DE
OTÁVIA A BEIJA COM PAIXÃO. ELA SE ENTREGANDO NAS SUAS
CARÍCIAS. OS DOIS BEM APAIXONADOS. ROLANDO QUALQUER MÚSICA
DE FUNDO, APENAS PARA ABAFAR OS GEMIDOS. FICAMOS UM TEMPO
NOS DOIS E CORTA PARA A PORTA. ALGUÉM BATE NA PORTA E ENTRA. É
ELIANA. ELA PARA NA PORTA E VÊ O CASAL. OTÁVIA ABRE OS OLHOS E
VÊ A GAROTA. EMPURRA SANDRO PARA O LADO DA CAMA.
OTÁVIA — Qual é Eliana, tá maluca?!
ELIANA — Desculpa Otávia. É que eu estou procurando o Vicenzo e
como não encontrei no quarto dele, achei que./
OTÁVIA — Achou errado não é Eliana! Cai fora, anda!
ELIANA — Hei, não faz a linha grossa também. Desculpa poxa. Foi
mal Sandro.
SANDRO CONCORDA. ELIANA SAI BATENDO A PORTA.
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OTÁVIA — (bufa) Garota sem noção. Entrar no quarto dos outros sem
avisar.
SANDRO — Ela já pediu desculpas amor. Deixa isso pra lá, vem aqui
com o seu gatinho, vem bebê.
SANDRO TENTA AGARRAR OTÁVIA QUE O REPELE.
OTÁVIA — Perdi o tesão.
SANDRO — (bufa) Pelo amor de Deus, Otávia. Não começa com
manha.
OTÁVIA — Me deixa Sandro!
SANDRO BUFA. OTÁVIA CRUZA OS BRAÇOS CHATEADA. NELA.
CORTA PARA:

CENA 29. PORTO ALEGRE. RUAS. EXTERIOR. NOITE

IMAGEM PANORÂMICA DE UMA AVENIDA MOVIMENTADA DA CIDADE.
ROLA SONOPLASTIA: “SUPER MULHER” – ANA CAÑAS. O CARRO DE
FREDERICO MAIS À FRENTE NO TRÂNSITO. ELE E NELINHA NO CARRO
CONVERSAM. CORTA EM EFEITO CHICOTE PARA O CARRO DE RÔMULO
QUE CONTINUA SEGUINDO O CASAL. CORTES EM OUTRAS RUAS DA
CIDADE, SEMPRE MOSTRANDO EM PANORÂMICA OS DOIS CARROS.
CORTA RAPIDAMENTE PARA:

CENA 30. PORTO ALEGRE. MOTEL. FRENTE. EXTERIOR. NOITE

O CARRO DE FREDERICO ENTRA EM UM MOTEL NA BEIRA DA ESTRADA. O
NOME NA FACHADA EM NEON FOSFORECENTE, BEM CHAMATIVO E
BREGA. ALGUNS SEGUNDOS E O CARRO DE RÔMULO PARA EM FRENTE.
CORTE PARA A SUA EXPRESSÃO PERVERSA. NELE. ONGELA.
CORTA PARA:

EFEITO FINAL: O ROSTO DE RÔMULO FICA CINZA, ENQUANTO O

PLANO DE FUNDO É PREENCHIDO COM AS CORES DA BANDEIRA DO
BRASIL.

FIM DO CAPÍTULO 10

Créditos sobem ao som de: “Invejoso – Arnaldo Antunes”.