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SENSIBILIDADE AMBIENTAL NA SOCIEDADE DE RISCO:


COMPREENSÕES PARA UMA NOVA RACIONALIDADE

Ruan Didier Bruzaca∗

INTRODUÇÃO

As estruturas da sociedade de risco representam uma expressa necessidade de


repensar o comportamento humano em relação à natureza. Não mais é possível sustentar
a previsibilidade das relações de causa e efeito, pois agora prevalecer um campo
pautado na incerteza e insegurança. Neste compasso, os embasamentos científicos que
dizem respeito às questões de ordem ambiental são visivelmente insuficientes,
protelando o esgotamento dos recursos naturais, a degradação de ecossistemas, dentre
outros problemas de ordem natural.
Assim sendo, resta o questionamento da possibilidade de transpor tal problema.
Dar-se-á enfoque à alternativa que advoga pela inserção da sensibilidade nas relações
com a natureza. Com isso, será possível uma mudança nos padrões éticos e morais,
resultando na busca por um maior cuidado ecológico. Para tal, é necessário superar os
preceitos modernos que protelam a indiferença e frigidez em relação aos aspectos
ecológicos.
A necessidade e precisão da sensibilidade são visíveis na atividade judicial.
Neste viés, algumas jurisprudências já demonstram a manifestação de inserir um
sentimento de cuidado em relação à natureza. Observa-se a superação da preferência por
parâmetros exclusivamente técnicos e cientificamente elaborados, buscando-se na
inclusão de um respeito ecologicamente inerente, possibilitando a concretização de um
meio justo e equilibrado.
Ao se falar de sensibilidade busca-se uma nova racionalidade ambiental,
desgarrada daqueles ulteriores preceitos da modernidade, excludentes e simplificadores.
Pretende-se aflorar o sentimento de proteção ambiental, complacente com as


Acadêmico do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB, São Luís, MA.
Membro do grupo de pesquisa “Direito e meio ambiente”. Membro do “Programa de Assessoria Jurídica
Universitária Popular” – PAJUP. E-mail: ruandidier@yahoo.com.br.
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necessidades ecológicas, compassivo em relação às gerações futuras e compadecido


com a esperança das gerações presentes.

1. SOBRE A CONJUNTURA DA SOCIEDADE DE RISCO: ASPECTOS PARA


UMA NOVA CONCEPÇÃO ECOLÓGICA

A sociedade de risco remete a uma nova concepção nas relações sociais. Não
mais se calca a particularidade, mas sim a universalidade em relação às ameaças, ou
seja, supera-se a individualização e parte-se para a globalização dos danos. Remete-se
agora à incerteza proveniente do desenvolvimento industrial, necessitando de uma nova
formulação da cientificidade com o intuito de minimizar as degradações.
Por começo, a leitura do risco representa a releitura do mundo. O contexto das
mazelas sociais e ambientais traduz-se em um emaranhado de atos que a relação
tradicional de causa e efeito não podem abarcar. Não obstante, aceitar ou rechaçar as
atividades poluidoras provém de proposituras cognitivas, sendo estas científicas ou não,
influindo sobremaneira na sociedade.
Primeiramente destaca-se a substituição do contexto da produção da riqueza
social pelas características dos riscos produzidos pelo modelo técnico-científico (BECK,
1998, p. 25). Visualiza-se então a mudança de preocupações. O que é posto em pauta
agora são as conseqüências da evolução científica e tecnológica, resultando na
preocupação com a segurança.
Entretanto, não se podem olvidar as conseqüências advindas da produção da
riqueza social. Esta sem dúvidas remete ao contexto de desigualdade na exposição dos
riscos. Apesar do caráter global dos mesmos, atingindo até mesmo aqueles que os
produzem, parte da sociedade não possui as mesmas condições de superar certos danos
tais quais os detentores da riqueza e do poder.
Sobre tal fato, Leff (2006, p. 48) destaca:

[...] as transformações do processo de trabalho geradas pela cientifização da


produção não eliminam as relações sociais de produção capitalista [...]
fundadas no poder sobre os meios de produção de um classe capitalista que
hoje baseia seu poder econômico e político na capitalização da natureza e na
propriedade privada do conhecimento científico e tecnológico.
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Assim sendo, uma coisa não exclui a outra. A análise da sociedade de risco,
tendo em vista os problemas decorrentes do desenvolvimento, acarretando em uma
solidariedade das ameaças constantes, não pode excluir as conseqüências provenientes
das relações de produção na sociedade. As duas concepções complementam-se na
medida em que reconhece fatores como o cerceamento da liberdade e a seletividade dos
riscos.
Não obstante, a teoria da sociedade de risco traduz-se na tomada de consciência
da insuficiência do modelo de produção, abeirada pela insegurança e sustentada pelo
uso ilimitado dos bens ambientais, bom como outros fatores que englobam a crise
ambiental (LEITE; AYALA, 2010, p. 113). Neste viés, já é possível vislumbrar um
novo cuidado, com o intuito de instaurar o bem estar socioambiental.
A instabilidade presente na sociedade de risco é expressa, pois caracterizada pela
incerteza. Cotidianamente, os indivíduos e o meio ambiente são expostos aos efeitos,
por vezes invisíveis, resultantes da industrialização e dos avanços técnicos científicos.
Deve-se ter em mente que o risco não pode ser resumido à lógica simplista de causa e
efeito, mas sim analisado pela complexidade dos atos e danos.
Na visão ecológica da ação do indivíduo, esta começa a escapar de suas
intenções em razão do universo das interações e pelo apossamento por parte do meio
ambiente, freqüentemente acarretando no efeito bumerangue (MORIN, 2007, p. 80-81).
Ocorre exatamente o mesmo quando se trata da sociedade de risco, sendo que os atos
provenientes do desenvolvimentismo acabam refletindo em danos posteriores e
solidários.
O modelo de produção acarreta na utilização desenfreada dos bens ambientais,
bem como outros fatores que acarretam na protelação da crise ambiental. Observam-se
aqui os padrões da produção dos danos. Em relação aos bens ambientais, a retenção do
acesso e manipulação por poucos acabam determinando os ricos arcados por todos,
figurando-se um regime excludente e desigual.
Leite (2010, p. 115) destaca:

Os riscos possuem, agora, grande aptidão de expor uma série indeterminada


de sujeitos a estados de desfavorabilidade, estendendo-se potencialmente em
uma escala global, e afetando, também, os membros das futuras gerações,
com resultados de decisões atribuíveis à limitada participação de membros
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desta geração, responsáveis pela proliferação de riscos globais,


intergeracionais.

Como foi destacado anteriormente, trata-se agora de um risco global, não mais
individual, inserindo-se também as conseqüências relacionadas às gerações futuras.
Neste contexto, deve-se solapar a ausência de responsabilização daqueles que
concorrem com os danos. Tal fato é recorrente, logo que a autoria e a os efeitos são, no
mais das vezes, imperceptíveis.
O fato é que se protela a existência de uma injustiça presente e até mesma futura.
Poucos são aqueles que detêm os meios de produção, que influem no desenvolvimento
técnico-científico e que se beneficiam com eles. De forma desigual, as gerações futuras
e o restante da sociedade acabam arcando com os danos provocados pelo individualismo
e irresponsabilidade de certos particulares.
Não obstante, os indivíduos da geração atual possuem papel importantíssimo na
concretização da justiça socioambiental. Entretanto, nos riscos reconhecidos
socialmente presenciam-se os interesses daqueles que participam do processo de
modernização, atribuindo-se um nexo com efeitos dispares a tais riscos (BECK, 1998,
p. 33).
Por ser o conhecimento um dos pontos primordiais no que tange a relação com o
meio ambiente, é primordial que o mesmo não seja ditado pelos indivíduos que
produzem a maioria dos riscos presentes na sociedade. Caso contrário, impossibilita-se
o reconhecimento adequado das necessidades ambientais.
A democracia também possui um papel determinante. Esta é primordial para
debater, de forma pública, certos temas, mas é insuficiente para uma ação pública que
repercute na percepção dos problemas pela sociedade (BAUMAN, 1998, p. 83). Na
perspectiva do risco, a participação da população no que tange o reconhecimento e a
aceitação daquele resta defasada.
Neste compasso, presencia-se sobre maneira a existência de uma apatia social,
principalmente em relação ao meio ambiente. Não se constata uma conscientização, mas
sim uma reprodução de pensamentos conexos com as relações de domínio e poder. É
expresso o déficit de sujeitos com capacidade de superar a racionalização objetiva.
A inexistência de limites advindos da violência social resulta em uma
democracia sem sujeitos, sem cidadãos, sem conjuntura, que não encontram sua
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identidade e não sabem participar (WARAT, 2004, p. 255). O resultado deste contexto é
uma sociedade totalmente injusta e desigual. Não se propicia um meio de oportunidades
semelhantes, mas sim de dominação. Tanto a natureza quanto os seres humanos sofrem
pela impossibilidade das manifestações democráticas.
Tal é resultado da proliferação de um pensamento dominante que será abordado
mais adiante. Entretanto, cabe ressaltar desde já que a imposição da racionalidade
científica, tolhendo as manifestações da subjetividade, repercute no desconhecimento
das peculiaridades e necessidades do meio. Neste viés, presencia-se a inexistência de
um bem estar ambiental, logo que o homem mede o seu comportamento tendo em vista
a coisificação e o reducionismo imposto à natureza.
Na mesma senda, as desigualdades deste contexto de fragilidade democrática,
proveniente das relações sociais, proliferam-se na medida em que o Estado faz-se
ausente. Nesta concepção, as incertezas e vulnerabilidades provenientes do mercado são
redefinidas como assunto privado, devendo os indivíduos combatê-las com seus
recursos particulares (BAUMAN, 2005, p. 67).
Na sociedade de risco, no qual os mesmo são tidos como globais, é necessária
uma solidariedade para que se superem os problemas provenientes da modernização. A
ausência do Estado e a inexistência de instrumentos para combater as injustiças sociais
repercutem no contexto de uma resistência individualizada. Neste compasso, arcarão
com os danos aqueles que não detêm os meios de produção e que possuem sua liberdade
cerceada pelo mercado.
Neste viés, é evidente a satisfação de poucos em desfavor da saúde, da bem estar
e da qualidade de vida de todos. A opinião pública influenciada pelos interesses e
necessidades de um determinado grupo social acarreta na impossibilidade de pleitear
um meio ambiente justo e equilibrado.
Assim sendo, não se pode esquecer as influências que incidem sobre
conhecimento em razão dos interesses daqueles que derem o poder. No advento de um
saber e de uma sociedade calcada nas relações de domínio e opressão, dificilmente a
compreensão ambiental conseguirá superar o estado atual de crise ecológica.
Dessa forma, a constatação do risco deve ser uma simbiose, integrando
concepções diversas, tal qual a racionalidade do cotidiano e a racionalidade dos
especialistas (BECK, 1998, p. 35). Em uma sociedade do risco em que todos estão
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sujeitos aos riscos advindos das evoluções e desenvolvimentos da tecnologia e da


ciência, não se pode excluir do processo cognitivo as instâncias sociais, devendo-se
sempre proceder a um diálogo entre os saberes.
Não se pode olvidar a legitimidade das manifestações subjetivas presentes na
sociedade. Por vezes, as mesmas não passam de reproduções, do retrato advindo das
relações de domínio e opressão. Ainda que não seja tomado desta forma, deslegitima-se
do debate o conhecimento do indivíduo que não faz parte do ciclo científico. Tal é
inconcebível, devendo-se tomar o conhecimento proveniente das mais variadas
realidades.
Os riscos oscilam na pluralidade de valores e de interesses, logo que a relação de
causa e efeito remete a diversas interpretações (BECK, 1998, p. 38). Não obstante, tal
como já assentado, deve-se reconhecer quem possui o papel determinante na concepção
do risco. A pluralidade resume-se à unidade e ao consenso ditado por daqueles que
detém os meios de produção e que concorrem na produção dos perigos advindos da
modernização.
O consenso que cerca o reconhecimento ou não dos riscos, bem como a sua
aceitabilidade, surge por concepções totalmente incompatíveis com as necessidades da
sociedade e do meio ambiente. Trata-se de uma ditadura do saber proveniente das
relações de domínio social, sendo expressa uma apatia social frente às injustiças
socioambientais.
Assim sendo, é inevitável reconhecer o déficit democrático presente no processo
de decisão que acarreta na proliferação de ameaças, bem como em efeitos na escala
espacial e temporal de difícil constatação (LEITE; AYALA, 2010, p. 116). Visto desta
forma, é necessária a superação da concepção ecológica calcada nos preâmbulos dos
interesses daqueles que ditam a modernização e o desenvolvimento tecnológico e
científico.
Neste compasso, presencia-se uma impropriedade das questões que permeiam o
meio ambiente. O reconhecimento e a aceitabilidade dos danos ecológicos acabam
refletindo, em razão das relações de domínio e poder, os interesses de certos
particulares. Exclui-se tanto a natureza como a sociedade de tais determinações.
Deste modo, parte-se agora a análise da sensibilidade em relação ao meio
ambiente, fazendo a contraposição com a cultura instaurada pelas concepções da
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modernidade. Para tal, critica-se a racionalidade presentes nas estruturas da sociedade,


evidenciando suas insuficiências e conseqüências.

2. SENSIBILIDADE AMBIENTAL: PARA UMA NOVA RACIONALIDADE

O intuito de se abordar a sensibilidade ambiental é enfatizar as conseqüências da


racionalidade científica, principalmente na ceara da opinião pública. Em termos gerais,
trata-se de questionar as heranças do pensamento advindo da modernidade, reduzindo e
mecanizando a natureza. É somente na inversão desses conceitos que se vislumbrará um
novo cuidado com o meio ambiente.
Por começo pretende-se questionar a validade da racionalidade que impede um
comportamento mais delicado em relação ao meio ambiente. Nesse compasso, aborda-
se a conseqüência incidental da influência de valores econômicos e individuais na
construção de uma racionalidade dita neutra e objetiva. Isto conduz sobremaneira a um
comportamento totalmente avesso às necessidades ambientais.
No contexto da sociedade de risco não se dá diferente. É evidente a necessidade
de uma sensibilidade ambiental na medida em que predomina uma racionalidade
científica insuficiente, mas legitimada para determinar os riscos. Aquela, por elevar de
forma exclusiva a razão, acaba extirpando do sujeito parte de sua humanidade,
impedindo que o mesmo adentre em certas necessidades ecológicas. Reconhecer e
aceitar os riscos parte deste pressuposto, ou seja, são construídos por uma razão que
descarta a compreensão mais complacente do real.
Steigleder (2004, p. 59-60) assenta:

A sensibilidade humana em relação ao Mundo Natural reflete a racionalidade


vigente, pelo que, em uma sociedade pautada pelo desenvolvimento
econômico a qualquer preço, haverá uma tendência à minimização dos
impactos ambientais; ou, então, estes serão relegados à população excluída
das promessas da modernidade, permanecendo uma minoria
confortavelmente alheia aos processos de devastação ambiental que seu
modelo produtivo gera, como reflexo direto de um modo de viver
individualista.

A primazia da economia frente às necessidades ambientais é expressa. Não há


um equilíbrio, mas sim a exclusão das considerações ecológicas em favor de um modelo
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desenvolvimentista e degradante. Não se abre a possibilidade de uma reflexão sobre a


natureza que supere a racionalidade vigente na sociedade, sendo esta calcada pelo
individualismo e imediatismo advindos da economia.
Na sociedade de risco é visível que os excluídos tem maior probabilidade de
arcar com as ameaças provenientes do desenvolvimento. Assim, aqueles que se valem
de uma posição socialmente privilegiada pouco se preocupam com os riscos que eles
produzem de forma direta ou concorrente. O modelo de produção acarreta em tais
desigualdades, que perduram em razão desta consciência insensível.
A dominação da natureza conduziu a destruição desta, sendo o poder destrutivo
fomentado pelo comportamento baseado no comércio e na racionalidade científica
(SANTOS, 2007, p. 56). Neste compasso, a crise ambiental é protelada na medida em
que existe a reprodução desta racionalização, que pende para as necessidades
individuais e econômicas, sendo insuficiente para considerar as complexidades
ecológicas.
O pensamento dominante é então sustentado por tais preceitos científicos que se
coadunam com as necessidades do mercado. O saber não necessariamente corresponde
aos critérios científicos. O conhecimento deixa de ser preciso, pois o que está em jogo
não é a efetividade frente às necessidades do mundo, mas sim contemplar os interesses
de um determinado grupo na sociedade.
Neste viés, a cientificidade embasada em tais moldes fica deficitária. Vivendo
em uma sociedade de risco deve-se ter em vista o perdurar da incerteza. Na medida em
que as respostas a tais indeterminações não tem o intuito de evitar as ameaças e até
mesmo de restaurar os danos, em razão do predomínio da racionalidade científica
abordado, acaba-se protelando tal estado de degradação e injustiça.
A capacidade da ação não foi acompanhada pela capacidade de previsão, sendo
esta muito menos científica que aquela (SANTOS, 2007, p. 58). Desta forma, a
previsibilidade das conseqüências da ação humana é latente. A ciência, ao tentar de
forma racional responder tal questão, acaba não reconhecendo as suas limitações e, da
mesma maneira, não consegue transpor para um comportamento sensível em relação ao
mundo.
A indeterminação presente na sociedade de risco necessita de uma nova
formulação de respostas. Estas não poderão ser aquelas advindas da racionalidade
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científica parcial e reducionista, que desconsidera o incerto. É necessário agora adentrar


em um comportamento sensível, antes descartada no meio científico, para que assim
seja possível compreender as reais necessidades ecológicas.
A sensibilidade então se traduz nas manifestações humanas que repercutem em
uma percepção de mundo que adentra em um conhecimento aprofundado, com a
promessa de compreender intrinsecamente a realidade. Neste compasso, supera-se a
racionalidade advinda da modernidade, ultrapassando o método das significações
técnicas, e constrói-se um saber que conduz a um cuidado mais condizente com as
necessidades ecológicas
Entretanto, a racionalidade científica aqui tratada é totalitária, pois nega o caráter
racional às formas de conhecimento que estão de encontro com seus princípios
(SANTOS, 2009, p. 21). A idéia de inserir a sensibilidade na razão é uma dessas
exclusões. As concepções ecológicas são enquadradas em tal modelo científico e são
impedidas de transcender a uma sensibilidade que a elas deveriam ser inerentes.
O reducionismo e o determinismo dos atos devem ser suplantados com o intuito
de tomar como consciência considerações sensíveis, que adentram além da lógica e dos
dados previamente estabelecidos. As concepções da certeza e ordem advindas da
modernidade não mais abarcam as necessidades presentes na sociedade contemporânea.
Das heranças do pensamento moderno pode-se destacar o resultado final do
pensamento objetivado, que “contém a arbitrariedade do fim do subjetivismo que é
estranho à coisa; ele esquece a coisa e, por isso mesmo, inflige-lhe a violência”
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 159). A proposta de uma sensibilidade ambiental
supera a idéia de desconhecer a natureza. No modelo científico da modernidade, a
conseqüente violência e dominação dos bens ambientais advinham exatamente desta
relação entre o sujeito e o objeto.
Destarte, com o intuito de superar esta violência imposta natureza, que protela
crise ambiental e injustiça na sociedade, é necessário rever as bases da racionalidade
científica. É necessário pensar agora em outra forma de conhecer o mundo, pois não
mais se trata de um mundo dado, mecanizado e determinável, tal qual se prelecionava
na modernidade.
A coisificação e o domínio da natureza acarretam no desconhecimento da
mesma em seu âmago. A ela são atribuídos símbolos que não contemplam os problemas
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resultantes dos atos humanos. Neste viés, a reprodução por parte dos membros da
sociedade acarreta na impossibilidade de pleitear um meio justo.
Em tempos de desordem e desonra, da inconsciência das usuras, da necessidade
de memória e afirmação emancipatória, necessita-se de uma sensibilidade para efetuar a
experiência da esperança (WARAT, 2004, p. 259). O que se enfatiza é que, frete à
instabilidade do mundo, não se está mais diante do caráter determinável dos fatos, mas
sim em um contexto de expectativas.
Assim sendo, em relação aos riscos e ameaças provenientes da modernização, as
respostas da ciência antiquada não contemplam as necessidades sociais. A esperança
relaciona-se com a incerteza, com o improvável. Neste compasso, a racionalidade
científica, que tudo quer provar e comprovar, não abarca as necessidades de uma
sociedade constituída pela indeterminação e pela insegurança.
É de se notar como característica do conhecimento científico que o mesmo “é
antes aproximado que verdadeiro” (MARQUES NETO, 2001, p. 50). Entretanto, na
cultura moderna, a mesma era tomada como resposta de todas as coisas. O homem,
posto no centro do universo, atribui-se a capacidade de responder todas as questões do
mundo por meio da razão, tornando absolutos e inquestionáveis suas conclusões.
A importância da racionalidade científica é inquestionável, mas o modelo que a
mesma é embasada acaba desconsiderando as manifestações e a conscientização de um
agir ético mais adequado. Não é só por meio da ciência e da razão que é possível
compreender o mundo. Para uma visão sensibilizada do meio ambiente, deve-se ir
remeter ao âmago de algumas questões que só seriam presenciadas por outros meios de
manifestação do saber.
Um novo pensamento que visa aflorar a sensibilidade deve superar a redução do
conhecimento em um estudo teórico, com significações objetivamente construídas
(WARAT, 2004, p. 264). O conhecimento reduzido é totalmente impróprio para
contemplar os danos e os perigos da modernização, mas certamente é legitimado para
tal, produzindo uma consciência totalmente equivocada na sociedade.
É neste viés que se pretende instaurar uma nova consciência em relação ao meio
ambiente. Não se trata de coisificar a natureza, mas sim de compreendê-la da forma
mais adequada possível, ou seja, considerar a sua complexidade e a sua incerteza. Neste
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caso, superam-se os percalços provenientes do conhecimento cego, que desconsidera as


propriedades ecológicas.
Sobre tal fato, Steigleder (2004, p. 62) destaca:

Já em sociedades em que a sensibilidade para as questões ecológicas


encontre-se desenvolvida, a própria opinião pública não permitirá que as
degradações ambientais permaneçam sem reparações. São sociedades em que
a noção de cidadania ecológica apresenta-se implementada, como uma reação
à exclusão social multifacetária, traduzindo atitudes baseadas numa crítica
profunda, complementar e atualizada da própria civilização.

A falta de sensibilidade reflete na compreensão dos elementos naturais como


máquina. Consubstanciada na concepção de natureza como objeto, perpetua-se a
desconsideração das complexidades, excluindo a observação das particularidades do
meio ambiente. Não se presencia um cuidado ambiental, demonstrando a
despreocupação com os danos causados à natureza.
A sociedade, embasada por concepções que respeitam o meio ambiente, que
considera suas complexidades e particularidades, acaba reconhecendo a importância da
proteção da natureza. Neste compasso, desgarrando-se da insensibilidade advinda da
herança moderna e corroborada pela ética individualista, pode-se presenciar a
manifestação de uma cidadania preocupada com o bem estar ambiental.
No entanto, as sociedades sustentadas pela exclusão e domínio social não são
capazes de atribuir à natureza tal cuidado. Não será averiguado a emergência de uma
sensibilidade, mas tão somente a propagação das compreensões de mundo que
permitem a degradação ambiental. A impossibilidade de libertação frete às opressões e
dominações sociais resulta na dificuldade em identificar e deter os problemas de ordem
socioambientais
Desvencilhando-se das preposições e determinações da racionalidade científica,
superando as relações de domínio e opressão, a sociedade poderá aflorar sua capacidade
sensível aos problemas ecológicos. Neste compasso, a busca pela efetivação da justiça
socioambiental será mais adequada, mais válida. Os danos e os perigos em relação ao
meio ambiente serão tomados de forma mais consciente e precisa.
A opinião pública não mais será aquele discurso advindo da imposição dos
valores de certos particulares. Estes se apropriaram da racionalidade científica e
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difundem seus interesses pela sociedade para fazer valer seus interesses. É na inversão
dessas concepções que se presencia uma efetiva mobilização social, calcada em uma
sensibilidade em relação aos problemas ecológicos.
Nesta senda, reconhece-se a opressão presente na sociedade e suas
conseqüências. Deve-se partir para um viés crítico, que busca superar os ditames da
uma racionalidade completamente parcial e destrutiva. Possibilitando um saber de
cunho ecológico, a sensibilidade determinará uma conscientização ambiental mais
satisfatória, ou seja, um resguardo mais pontual em relação ao meio ambiente.
É na superação desta cultura racionalista que se estruturará uma nova
consciência em relação ao meio ambiente. Pela mudança no âmbito do conhecimento
será possível incidentalmente uma mudança de comportamento na esfera jurídica.
Visualizar-se-á a superação dos preceitos da racionalidade moderna e econômica em
favor de uma sensibilidade em face das necessidades ecológicas.
Do contrário, A imposição de tal compreensão de mundo na sociedade impedirá
a conscientização das conseqüências dos atos humanos no meio ambiente, sendo que a
população pouco se importará em sanar os problemas ambientais. Os interesses
utilitaristas e econômicos da classe dominante acabam assim determinando a
conscientização publica, em razão de um processo histórico de domínio, submissão e
opressão na sociedade.
Assim sendo, destacada a necessidade de uma nova racionalidade, pautada na
sensibilidade, parte-se para a análise concreta dos efeitos e promessas desta inversão.
Para tal, analisar-se-á no âmbito do direito ambiental a necessidade de uma
interpretação mais condizente com as necessidades ambientais, constatando-se esta
virada no âmbito jurisprudencial.

3. A ATIVIDADE JUDICIAL ECOLOGICAMENTE SENSÍVEL:


CONCRETIZANDO UM BEM ESTAR SOCIOAMBIENTAL

Destacada, no contexto da sociedade de risco, a conveniência de um


conhecimento que ultrapassa as concepções lógicas e que adentra, por meio da
sensibilidade, no âmago das complexidades do mundo, resta necessária averiguar a sua
eficiência. Analisando algumas jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça pode-se
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observar uma superação das ulteriores concepções reducionistas e utilitaristas em


relação ao meio.
É de se ressaltar que as jurisprudências, predominantemente, remetem a um
descuidado em relação ao meio ambiente. De forma frequente, as vantagens e interesses
econômicos, utilitários e imediatistas conduzem à supressão das necessidades
ambientais. No entanto, o que se analisa aqui são as manifestações de sensibilidade
presentes em certos julgados, mesmo sendo uma visão minoritária.
Perpassando pelas características de uma interpretação mais ecológica observa-
se a presença da sensibilidade em relação aos problemas de ordem ambiental. A
consideração das necessidades e peculiaridades do meio, antes invisíveis pela cegueira
de um conhecimento esfacelado e destituído de uma razão sensível, é agora
indispensável para a persecução de um meio justo.
Atualmente, pela atividade judicial no Brasil, é possível afirmar que existe “uma
manifestação de afirmação de sensibilidade ecológica da função judicial no Direito
ambiental brasileiro” (LEITE; AYALA, 2010, p. 307). Neste compasso, presenciam-se
focos de interpretações que adentram no cerne das peculiaridades ecológicas, superando
os conceitos advindos das influências do mercado e do desenvolvimento.
Trata-se de uma resposta em razão das ameaças e dos danos iminentes, pois é no
contexto da sociedade de risco que se necessita de uma interpretação e compreensão de
mundo ecologicamente satisfatória. Do contrário, será presenciada a protelação de uma
crise ambiental, pondo em xeque a qualidade de vida das gerações presentes e futuras,
bem como a existência do convívio saudável no meio.
Destaca-se como exemplo o julgado do Supremo Tribunal de Justiça em:

Os estudos acadêmicos ilustram que a queima da palha da cana-de-açúcar


causa grandes danos ambientais e que, considerando o desenvolvimento
sustentado, há instrumentos e tecnologias modernos que podem substituir tal
prática sem inviabilizar a atividade econômica. (STJ. REsp 1.094.873/SP.
Rel. Min. Humberto Martins)

Averigua-se aqui o reconhecimento dos danos causados ao meio ambiente em


relação à atividade da queima da palha de cana-de-açúcar. Apesar de ser um ato
economicamente rentável, julgou-se contrária a tal concepção. Não se pode deixar de
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considerar que sem essa sensibilidade frente aos gravames ecológicos certamente seria
observada a primazia dos valores econômicos.
Não se trata exatamente de se jogar ao acaso, mas sim ao perigo incerto e
determinado que, na medida em que os atos humanos distanciam-se de um
posicionamento ecologicamente sensato, resultará em resultados catastróficos. A cultura
moderna determinou um comportamento humano em relação à natureza totalmente
artificial e mecanicista, impedindo um comportamento mais delicado e humanizado.
Negocia-se o meio ambiente, seja por meios econômicos, seja pelos poderes
públicos (OST, 1997, p. 133). Neste viés, o comportamento antropocêntrico e utilitarista
está imiscuído nas decisões. Não se pode deixar de reconhecer aqui a inexistência de
cuidado com o meio ambiente, resultando em uma atitude incompatível, sustentada por
uma racionalidade científica insuficiente.
Assim sendo, na medida em que se encontram manifestações e interpretações
coerentes com as necessidades ecológicas é possível afirmar pela existência de um
comportamento mais sensível. O homem no centro das coisas, a economia como
instrumento de medida e do fator imediato dos desejos são superados para sustentar uma
racionalidade híbrida, para além da teoria racional da informação.
O conhecimento é mal formulado, pois pautado na distinção entre os saberes e,
quando considerados justos, são tidos como inadequados, mas quando separados, são
considerados convenientes (LATOUR, 2001, p. 11). Esta é a predominante
desconsideração do híbrido, pois se descarta as concepções tidas como incompatíveis,
advogando-se pela exclusão das manifestações de conhecimento de fontes diversas.
No entanto, quando se supera as barreiras das fragmentações e
incomunicabilidade do conhecimento, adentra-se na complexidade e, consecutivamente,
em um saber mais conciso e adequado. O diálogo e a intercomunicação de fontes do
conhecimento antes tidas como incompatíveis remete a uma nova compreensão do
mundo, é o que se pretende ao dialogar a sensibilidade e a racionalidade
Neste compasso, destaca-se:

Por séculos prevaleceu entre nós a concepção cultural distorcida que


enxergava nos manguezais lato sensu (= manguezais stricto sensu e
marismas) o modelo consumado do feio, do fétido e do insalubre, uma
modalidade de patinho-feio dos ecossistemas ou antítese do Jardim do Éden.
(STJ. REsp 650.728/SC. Rel. Min. Herman Benjamin)
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Neste julgado, defendeu-se pela tutela dos manguezais, considerados como áreas
de preservação permanente. O primeiro ponto a ser destacado é o caráter negativo dado
a tais áreas. A mesma era tomada não pelas suais qualidades intrínsecas, mas sim pela
aparência. Tal concepção foi protelada pela sociedade, não havendo a preocupação em
destacar a sua importância para a manutenção da vida.
Por conseguinte, é de se averiguar novamente um foco de sensibilidade na
jurisprudência brasileira. Não obstante o fato de essas áreas serem de preservação
permanente, existe expressa flexibilização em tal caráter. Assim sendo, neste julgado
observa-se o contrário, pois os manguezais são tomados pelas suas qualidades em si, tal
qual deveriam ser as demais áreas de preservação permanente. O equilíbrio do
ecossistema, a biodiversidade, as fontes hídricas, dentre outros aspectos, devem ser
destacados, superando o produto de uma razão objetivada em desfavor da natureza.
A racionalidade jurídica ambiental deve “ultrapassar o olhar técnico, dogmático
e monodisciplinar” (LEITE, 2008, p. 131). Esta concepção nos leva à idéia de uma
sensibilidade ecológica. Presente nas jurisprudências já citadas, a superação das
fragmentações da ciência e exclusão das demais disciplinas conduzem para uma
compreensão mais precisa em relação ao meio ambiente.
Os meios para manifestar as sensibilidades são vários. No entanto, abordam-se
primordialmente as mudanças das estruturas do conhecimento para que se considerem
as complexidades presentes no meio ambiente. Nesta visão, a sensibilidade ambiental
busca uma compreensão que vai além da informação reproduzida e que adentra nas
considerações éticas e morais.
Considerar as complexidades ambientais repercute na necessidade de inverter o
estado de objeto atribuído à natureza. Na medida em que se considera o homem como
senhor das coisas, o mesmo faz-se valer de suas atribuições de significados para se
relacionar com o mundo. Tal fato resume-se em uma arbitrariedade e violência contra o
meio ambiente.
Ao se relacionar com a natureza, o ser humano deve utilizar de concepções que
transcendam a significância exclusivamente antropocêntrica. Deste modo, o dialogo
entre homem e natureza será evidenciada, sendo que as simbologias terão sentido não só
para o homem, como também serão conexos com as necessidades ecológicas.
217

Para tal, a atribuição de sentidos deve ser determinada pelos mais diversos
âmbitos do conhecimento. Pretendendo superar a hierarquização presentes no conhecer,
tem-se como intuito uma nova concepção de saber ambiental, contemplando as
complexidades do meio ambiente e a participação popular.
É de se notar a insuficiência da racionalidade em prover uma visão da riqueza da
vida, sendo necessária a sensibilidade para compreender os fenômenos humanos
(FAGÚNDEZ, 2004, p. 245). Para adentrar na complexidade, antes invisíveis pelos
preceitos simplificadores da modernidade, é necessária a compreensão além do lógico,
partindo-se para o sentimento de cuidado e compaixão com o outro, com a natureza.
O sensível destacado nas ulteriores jurisprudências deixa claro um sentimento
intrínseco em relação à proteção da natureza, antes descartada e repudiada. Trata-se de
um avanço, levando em consideração que existe o predomínio da defesa de uma razão
motivada por padrões totalmente ilógicos no que tange a tutela de um bem estar
socioambiental.
A racionalidade pauta-se assim no objetivismo, extirpando do objeto a
sensibilidade, a razão e o sentido (LEFF, 2006, p. 125). Com o intuito de superar os
ditames desta cultura científica, a atividade judicial na esfera ambiental busca superar
essa ausência de sensibilidade e de sentido, bem como a inexistência de uma razão
sustentada pela complexidade e pela subjetividade.
A sensibilidade ecológica transgride para outra forma de conhecimento. Não
mais se cultua o conhecimento certo e absoluto, tal qual na modernidade. Pretende-se
integrar concepções que resultem na manifestação nas características mais humanizadas,
para que se possa adentrar em campos mais férteis da natureza. A ciência como
instrumento redutor impediu a comunicação entre os sentimentos de cuidado e a razão.
A necessidade de reconhecer a proteção do meio ambiente como necessária sucumbiu
em função desta racionalidade.
Há que se destacar que nenhuma ciência dispõe de toda a teoria para penetrar
aspectos da realidade (MARQUES NETO, 2001, p. 95). Diferente da modernidade
busca-se a complexidade, integrando e comunicando os diversos saberes, evitando o
descarte. Ser sensível também é reconhecer os problemas advindos do reducionismo,
logo que este considera a neutralidade como sustentáculo de seu desenvolvimento,
surgindo a indiferença em relação ao outro, à natureza.
218

Neste campo, Leff (2004, p. 63-64) destaca:

Os pontos de ancoragem teóricos vão deixando suas rígidas estruturas


enferrujadas. Antes do colapso, eles impregnam da sensibilidade e da
linguagem da pós-modernidade. Alem do problema de internalizar a
multicausalidade dos processos através da articulação de ciências e da
abertura das ciências ao conhecimento não-científico – uma hibridação entre
ciências, técnicas e saberes -. A complexidade ambiental emerge da sobre-
objetivação do mundo, de um processo de externalização do ser que
transborda toda compreensão e contenção possível pela ação de um sujeito,
por uma teoria de sistemas, um dialogo interdisciplinar, uma ética ecológica
ou uma moral solidária.

É nesse sentido que se pretende uma atividade judicial mais condizente com as
necessidades ecológicas. Na medida em que se instaura uma complexidade ambiental,
distancia-se da proposta de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. A
sustentação das estruturas da racionalidade moderna não suporta mais os problemas da
contemporaneidade, sendo necessária a construção de um conhecimento híbrido que
abarque tanto o científico quanto o não-científico.
A sensibilidade leva ao reconhecimento dos gravames advindos dos atos
humanos. Para tal, é necessária uma reformulação do agir ético, logo que este
determinará as decisões que dizem respeito ao meio ambiente. O sentimento passa a
substituir os elementos da modernidade, considerando-os insuficientes para a
compreensão das ameaças e riscos. Destarte, a mudança do agir humano repercute
sobremaneira no âmbito da inserção da sensibilidade na relação com a natureza.
Portanto, analisados os focos de sensibilidade em relação ao meio ambiente,
pode-se auferir a e sua conseqüente eficácia para a persecução de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado. A atividade judicial que supera as concepções insensíveis
da racionalidade científica advinda da modernidade é em si sensível, pois é condoído
pelos riscos, pelas ameaças e pelos danos causados pelos atos humanos, bem como
complacente com as necessidades ecológicas, com impressões éticas e morais.
219

CONCLUSÕES ARTICULADAS

Oportuno considerar que:

• Levando-se em consideração o contexto de incerteza e indeterminação presente na


sociedade de risco, a realização de uma tutela ambiental e social mais precisa resta
incompatível com o modelo da racionalidade científica advinda da modernidade,
deixando expressa a necessidade de sua superação;
• Com o intuito evitar a protelação da defesa de interesses provenientes das relações
de domínio e de poder, é necessário rever as bases da racionalidade científica
vigente, buscando assim a manifestação de um novo modelo que abarque as
necessidades ambientais em seu âmago;
• Com a inserção da sensibilidade, buscando-se um conhecimento híbrido que leve
também em consideração as manifestações éticas e morais que adentram nas
preocupações ecológicas, vislumbram-se uma persecução mais precisa de um meio
justo e equilibrado;
• É com a superação dos preceitos da racionalidade científica moderna que se
possibilitará um maior cuidado ambiental, sendo este pautado no sentimento, não só
na razão. Sendo assim, observam-se os efeitos da tal posicionamento quando da
análise de algumas jurisprudências que representam as manifestações da superação
da coisificação e reducionismo da natureza, possibilitando a proteção do meio
ambiente, buscando concretizar uma justiça socioambiental.

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