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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO – UFRRJ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

História do Brasil III

Plano de Aula: a História no Brasil República: usos e concepções.

MARLON FERREIRA DOS REIS 201631030-6

SEROPÉDICA

2018
Plano de Aula
Tema: A História no Brasil República: usos e concepções.
Público alvo: Alunos universitários.
Número de alunos: 30 indivíduos.
Duração da aula: quatro tempos de cinquenta minutos
Objetivo Geral:
 Explicitar a concepção de história nas primeiras décadas da República.
Objetivos específicos:
 Demonstrar que a concepção de história republicana existe numa tentativa de
“ordenação do tempo” através da representação e imaginação da nação.
 Explicitar os diferentes olhares para a República e seu processo histórico.
 Demonstrar a concepção de história em Rocha Pombo, analisando seu verbete.
 Treinar a leitura crítica e a capacidade de utilizar uma bibliografia como
instrumento para pensar uma fonte.
Metodologia:
Primeiramente, para a realização da aula será necessário a leitura prévia de três trabalhos,
os quais irei disponibilizar previamente: parte da introdução da obra “Um estilo de História
(...)” de Fernando Nicolazzi, o artigo “Revolta e proclamação como molduras da história (...)”
de Francisco Gouvea de Sousa e parte do segundo capítulo da dissertação de mestrado “O Brasil
imaginado em José Francisco da Rocha Pombo” de Renato Edson Oliveira.1
Chegado o dia, com a bibliografia solicitada satisfatoriamente lida; o fluxo inicial da aula
se dará na forma de uma aula expositiva com finalidade de: (1) explicitar os objetivos da aula,
para que assim os estudantes compreendam a linha de raciocínio que me levou a organizar o
tempo da forma que o fiz; (2) contextualizar o tema da aula em questão historicamente, no
sentido de realizar um brevíssimo panorama da conjectura social e intelectual nas primeiras
décadas da Primeira República; (3) discutir/debater os pontos gerais dos textos lidos,
solucionando, sempre que possível, as dúvidas que surgirem eventualmente. Tenho a

1
NICOLAZZI, Fernando. Um estilo de História. A viagem, a memória, o ensaio: sobre Casa-grande
& senzala e a representação do passado. Editora Unesp: Sp, 2011, p. 1-13; SOUSA, Francisco Gouvea
de. Revolta e proclamação como molduras da história: escrita da história e olhares para a
República entre os sócios do IHGB. Revista História da Historiografia: Ouro Preto, agosto, 2015, p.
213 – 230; OLIVEIRA, Renato Edson. O Brasil Imaginado em José Francisco da Rocha Pombo.
Universidade Federal de Goiás, 2015, p. 20-65 (dissertação de mestrado).
expectativa de que essa primeira etapa da aula se dê no período de tempo aproximado entre
1h30min (hora e meia) e 2h (duas horas).
A “segunda parte” da aula repousará na divisão da turma em seis grupos compostos de
aproximadamente cinco indivíduos; após esta divisão, distribuirei o verbete escrito pelo
intelectual Rocha Pombo (o que significa um texto de três páginas para cada grupo) e darei um
tempo de trinta/quarenta minutos para que todos os estudantes sejam capazes de ler a fonte.
Solicitarei que os alunos leiam a mesma utilizando a bagagem bibliográfica passada para a aula,
ou seja, que atentem-se aos aspectos presentes na fonte que foram salientados de alguma forma
pelos autores passados e discutidos anteriormente – para além disto, farei questão de apontar
que os alunos são livres para ressaltar pontos que os mesmos achem relevantes ou interessantes
de serem mencionados.
Após a leitura da fonte, com o tempo restante da aula (num cenário pessimista, algo em
torno de uma hora e vinte minutos) abrirei espaço para que os alunos explicitem os aspectos
que foram captados pelos mesmos; suas constatações, seus apontamentos, as passagens e ideias
que acharam interessantes e, principalmente, as partes do texto nas quais fora notada a presença
das exposições das hipóteses e ideias dos autores lidos como bibliografia para a aula. Assim, os
minutos finais da aula passarão com a leitura critico-reflexiva do verbete de Rocha Pombo e
sobre concepções da história.
Avaliação:
Será passado, para fazer em casa, a realização de um ensaio descrevendo as concepções
de história na Primeira República, utilizando a fonte de Rocha Pombo e os textos lidos como
base (deixando aberto a possibilidade para o uso de outros textos no corpo do trabalho, inclusive
outras fontes que atendam a proposta de explicitar uma determinada concepção de história).
Nesse ensaio deverá conter uma análise similar a realizada na sala de aula, relacionando a fonte
e a bibliografia utilizada.
Nesta avaliação serão cobrados os seguintes requisitos: (1) coerência argumentativa, (2)
objetividade em relação ao tema, (3) capacidade reflexiva e (4) a demonstração da capacidade
de enxergar a fonte utilizando uma bibliografia lida. Todos esses critérios serão explicitados
previamente, para que assim os alunos estejam cientes de como eu irei enxergar suas produções.
Materiais didáticos utilizados:
1. Texto Impresso (ou na forma digital).
2. Lousa.
3. Giz/Piloto.
4. O verbete de Rocha Pombo.
5. Marcadores para o texto (opcional).
6. Caderno (opcional)
Texto da aula:
(Primeira parte da aula)
No panorama social e intelectual brasileiro, como aponta Maria Tereza C. de Mello, a
difusão de uma cultura democrática e científica no final do Império criou uma disponibilidade
mental e afetiva à ideia de república no Brasil. A Proclamação da República, para muitos
indivíduos, é vista como um episódio de “modernização à brasileira”; a palavra “república” no
oitocentos fora associada, por muitos grupos, às ideias de liberdade, progresso, ciência, entre
tantas outras. As “novas ideias” que penetraram a sociedade brasileira davam novos
significados ao ideal de progresso (e ao positivismo já existente), que transcendiam agora as
relações materiais. Essas novas ideias foram capazes de renovar as mentalidades de muitas
pessoas que existiam no contexto sócio-político do Brasil republicano.2

A autora aponta que a década de 80 é marcada por uma grande atividade de inteligência,
jornais independentes se multiplicaram em função de um público ampliado. Em suma, a nova
cultura chegou a um público mais amplo por decorrência da imprensa, das conferências públicas
e da literatura – ocupando o espaço de cafés e ruas, pouco a pouco a cultura imperial fora
desmoronando. “As ‘novas idéias’ chegaram ao público encarnadas nas ‘questões’, nas
polêmicas e na literatura que, na década de 1880, ampliou seu público e ganhou mais espaço,
adentrando os jornais”3 – é nessa situação também que se insere o periódico no qual Rocha
Pombo publicara seu verbete em 1906, o “Brazil Moderno”.

Nesse sentido, o Rio sentira de forma mais intensa as mudanças do período; era um centro
da efervescência de novas aspirações e novas dificuldades que iluminavam a realidade da
época: pela primeira vez fluminenses estavam envolvidos com a política do país e da cidade.
Essa nova consciência ampliada caracterizava o Rio de Janeiro republicano. Misturavam-se
vários pensamentos europeus, uns já populares e outros ganhando força, como o socialismo e o
anarquismo. Mais difícil, no entanto, é mensurar o impacto da proclamação na mentalidade da

2
MELLO, Maria Tereza Chaves de. A modernidade republicana. Tempo, v. 13, n. 26, 2009.
3
Ibidem. p. 21.
elite; de fato, houvera uma sensação de libertação, a saída da figura patriarcal do imperador
resultou na emancipação de seus “filhos” controlados.4

Contudo, para alguns indivíduos da elite, como parte dos sócios do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, “a República foi uma ausência, como a cadeira de D. Pedro II que
permaneceria vazia até mesmo quando, alguns anos depois, o IHGB retomaria o contato com a
vida do governo”.5 Em palavras concisas, uma parcela dos sócios desse instituto sentia a falta
da figura do imperador D. Pedro II e acabavam por enxergar a república como um desencontro
dentro do processo histórico rumo ao progresso. A ideia de progresso circundava tanto os
intelectuais favoráveis à república quanto os que se punham contra a mesma, era típico desse
regime o pensamento teleológico e ordenado por leis que regiam a História rumo a um futuro
simbólico. Como por exemplo, lemos nessa passagem: “Também o mar da História está sujeito
às leis/ Imutáveis, fatais, que a natureza fez/ Desde a elaboração do Cosmo, do universo,/
Quando o poema da vida apenas tinha um verso”.6
(Segunda parte da aula)
Os olhares para a república foram construídos pela concepção de história já existente
antes da própria proclamação, os letrados inseriam-se em tradições de pensamento, metodologia
e escrita. A ideia de “Nação seria um consenso a ser disputado [...]”7; de forma semelhante
afirma a autora Sueann Caufield, dizendo que as primeiras décadas da República trouxeram
consigo os debates acerca da imagem que deveria simbolizar a nação; quais virtudes, qualidades
e culturas deveriam ser exaltados e explicitados como sendo representantes da cultura
brasileira.8

Existia no tecido social brasileiro a necessidade de unicidade nos discursos, de uma


autoridade central que todos respeitassem e enxergassem como legítima. E, da mesma forma,
existia também a necessidade de unicidade do passado. O que significava dizer que era preciso

4
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
5
SOUSA, Francisco Gouvea de. Revolta e proclamação como molduras da história: escrita da
história e olhares para a República entre os sócios do IHGB. Revista História da Historiografia: Ouro
Preto, agosto, p. 214, 2015.
6
MELLO, Maria Tereza Chaves de. Op. Cit., p. 22.
7
SANTOS, Ivan Norberto dos. A historiografia amadora de Rocha Pombo: embates e tensões na
produção historiográfica brasileira da Primeira República. Universidade Federal do Rio de Janeiro: Rj,
p, 219, 2009. (Dissertação de Mestrado).
8
CAUFIELD, Sueann; Em defesa da honra – modernidade, moralidade e nação no Rio de Janeiro
(1918-1940). Editora da UNICAMP/CECULT: Campinas/S.P, 2000.
construir um discurso que conectasse todos os brasileiros do período republicano; a República
precisava ser legitimada por “acontecimentos de nossa história”.9
É nesse cenário intelectual, que se insere José Francisco de Rocha Pombo, intelectual
escritor, com passagem no IHGB, mas que possuía uma relação com a escrita da história
anterior ao seu período no instituto. Como diz Ivan Norberto dos Santos:
Ainda que dialogando com um conjunto de leituras amplamente
compartilhado pelo meio intelectual brasileira, as suas concepções acerca da
História apresentam características multifacetadas, que se relacionam de
forma tensa e cambiante, com aproximações e distensões, às também
complexas proposições manifestas pelos sócios do Instituto, e, de forma mais
ampla, pelo conjunto da intelectualidade do seu tempo.10
Para este autor, seria “através da história que se compreenderiam as razões da
mentalidade colonial que ainda predominava nas populações”.11 Rocha Pombo se inseria na
perspectiva positivista da história, porém não negando seu lado artístico; a História não seria,
ainda, uma ciência, mas sim viria a ser num futuro. Com sua produção historiográfica, Rocha
Pombo pretendia fazer avançar a História, que corria concomitante à evolução das civilizações.
Como diz Santos: “Em todo caso, mobilização do termo moderno por Rocha Pombo informa
ao seu leitor que a sua História não se filiaria ao que se conceberia como um sentido antigo
desse gênero de produção”.12
Pombo acreditava que não seria possível “fazer-se uma grande nação sem unidade, não
apenas de língua, de raça, de crenças, mas principalmente sem unidade de temperamento, de
tendências e de espírito”.13 A história cumpriria assim um papel pedagógico, nos termos do
conceito de história como “mestra da vida” de Cícero, fundamental na formação de uma
nacionalidade, sendo assim mais importante que a simples demonstração dos fatos – ideal típico
do historicismo. Em outras palavras, se explicarmos o presente pelo passado, se construirmos
o presente pelo passado, então explicaremos e construiremos o futuro pelo presente.
Sendo assim, podemos concluir, portanto, que o Brasil nas primeiras décadas da república
era uma arena de disputas não só políticas, mas também intelectuais. Disputas estas que lutavam
pela dominação de um discurso do passado capaz de ordenar e encaminhar a Nação. A

9
SOUSA, Francisco Gouvea de. Op. Cit. p, 225.
10
Ibidem. p, 28.
11
OLIVEIRA, Renato Edson. O Brasil Imaginado em José Francisco da Rocha Pombo. Universidade
Federal de Goiás, p. 54, 2015. (Dissertação de Mestrado).
12
SANTOS, Ivan Norberto dos. Op. Cit. p, 27.
13
OLIVEIRA, Renato Edson. Op. Cit. p. 65
pluralidade de concepções e instrumentalizações da História se inseria numa rede de debates
realizada pelos letrados que produziam a escrita histórica brasileira. Rocha Pombo é apenas um
elemento dentro dessa rede, porém, tê-lo é ter uma possibilidade de representar uma experiência
social mais ampla do cenário do Brasil da Primeira República.
Trecho da fonte:
Nós hoje – porque esquecemos quasi tudo ou porque perdidos no conflicto da vida urbana nos
segregamos da terra – sentimos ás vezes que os homens antigos eram mais fortes e mais
heroicos, que tinham alma para gestos mais bellos e augustos e que viviam incendidos de
coragens mais brilhantes.
Mesmo concedendo muito a esta singullar ilusão propria do espirito humano e que faz crescer,
através do tempo, o vulto dos homens, o valor moral das gerações que desappareceram – o que
é incontestavel é que sem grandes qualidades, sem defeitos e virtudes excepcionaes, aquellas
gerações não teriam movimentos, nem realizariam obras que talvez nós hoje não seriamos
incapazes.
- Não nos iludamos, no emtanto, mais pela metade: a raça não degenerou: o que os nossos
antepassados tinham mais do que nós era exatamente aquella intensa paixão da terra, aquelle
anfan, aquelle exaitamento em que os punha na natureza...14
Bibliografia:
CAUFIELD, Sueann; Em defesa da honra – modernidade, moralidade e nação no Rio
de Janeiro (1918-1940). Editora da UNICAMP/CECULT: Campinas/S.P, 2000.
NICOLAZZI, Fernando. Um estilo de História. A viagem, a memória, o ensaio: sobre
Casa-grande & senzala e a representação do passado. Editora Unesp: Sp, 2011.
OLIVEIRA, Renato Edson. O Brasil Imaginado em José Francisco da Rocha Pombo.
Universidade Federal de Goiás, 2015. (Dissertação de Mestrado).
SANTOS, Ivan Norberto dos. A historiografia amadora de Rocha Pombo: embates e
tensões na produção historiográfica brasileira da Primeira República. Universidade Federal do
Rio de Janeiro: Rj, 2009. (Dissertação de Mestrado).
SOUSA, Francisco Gouvea de. Revolta e proclamação como molduras da história:
escrita da história e olhares para a República entre os sócios do IHGB. Revista História da
Historiografia: Ouro Preto, agosto, 2015.
Anexo:

14
Brazil Moderno [Periódico mensal], Rio de Janeiro, Maio de 1906. Último acesso em 06/04/2018:<
http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=101044&PagFis=1&Pesq= >

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