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A ruptura de Kant com o pensamento cristã. Muito mais delicada. Se Kant não era grego, óbvio,
a ruptura com o pensamento cristão é pisando em ovos. Kant é cristão. É formado em teologia.
Preparação sacerdotal evangélica luterana. Rompe com algumas coisas do pensamento filosófico
cristão. Mas era um devoto.
Tradicionalmente os fiéis cristão devem respeitar certas regras pois assim obedecem a Deus.
Fundamento último da moral cristã é teológico: deus quer. Kant propõe um fim desse fundamento
teológico da ética. Para Kant, Deus é uma questão de fé. Fé é ter certeza sobre coisas que não
podemos demonstrar. Ética é certeza sobre coisas que devemos e podemos demonstrar. Deus e
Ética são duas coisas diferentes. Um é certeza sem demonstração, outro certeza com
demonstração. Não pode a ética ter fundamento em deus pois isso significaria aceita-las sem
demonstração, e isso fere o pensamento humanístico.
Crítica que Kant faz às tentativas de demonstrações de deus. São idiotas. 1) São frágeis e
equivocadas pois deus não se deixa demonstrar; 2) imagina se não fossem frágeis. Se de fato
conseguíssemos demonstrar, nesse caso deus deixaria de ser uma questão de fé e estaríamos assim
blasfemando contra um dos principais dogmas do cristianismo que é ter fé em deus. Demonstrar
deus é blasfemar contra o que mais deus pediu. Se fosse possível, claro, mas não é.
Como demonstrar a ética sem deus? A religião nos limites da simples razão (Immanuel Kant).
Fim do fundamento teológico. A ética não pode ter fim último em deus pois deus não se deixa
demonstrar.
Se obedeces a deus, obedece por que? 1) Ou porque quer se dar bem quando morrer. 2) porque
vai que, né. Aposta de Pascal. Esse vai que né é uma esperança. Fé, esperança e amor. Virtudes
cristãs. Agradece a deus pelo que vai ganhar depois. Pensa-se numa vantagem futura, garantir
meu prazer eterno ou então é por medo. De duas uma: ou por esperança de se dar bem ou medo
de se dar mal. Esperança e temor são dois lados da mesma moeda. O temor de se dar mal é a
esperança de se dar bem.
Se age bem por causa disso isso aí vc é uma bosta: egoísta, interesseiro, pequeno. Vou comer uma
óstia para ganhar uma semana no paraíso. Dignidade tem como primeira característica:
desinteresse. Fundar uma vida digna na vontade de deus é fazer de você uma espécie de
barganheiro de quinta com a divindade. Ajudei a velhinha atravessar a rua, vê se tá olhando aí.
Talvez compensa aquela vez que...juntei 5...para orgia.
A ideia do desinteresse é indissociável com a ideia de descolamento da natureza. Obedecer por
causa de deus, não se sai da moral utilitarista de Stuart Mill: aumentar prazer e diminui a dor (só
trocar por paraíso e inferno). Não descolou da natureza, não saiu muito da animalidade. É agir
como um coelho que quer trepar. Tem 500 coelhinhas nuas num luar ali. O Coelho vai babando.
Você põe o que vc quiser. Tem virgem, uva, pasta de dente, camisa. Utilitarismo.
Isso tá impregnado no senso comum.
Anciã cuidada pela sobrinha. Stuart Mill, e a moral, ela agiu bem? Aumentou a felicidade no
mundo. Sem dúvida. É um consequencialista. E vc Kant, ela agiu bem? Não dá pra responder.
Nas duas grandes teorias utilitarismo e kantismo ninguém olha pro que o cara fez: cuidar da velha.
Mills olha para depois e Kant olha para antes (por que?). Pode ser do caralho ou asqueroso.
Asqueroso quando a velha é rica e você tá de olho para quando ela morrer. Quando ela é bem
legal: interessado na boa vida.
Novela atrás de novela o vilão é o agir interessadamente. O mocinho é quem age
desinteressadamente: Gandhi, Madre Teresa, Clóvis. Não pensa na glória, na fama, no dinheiro.
Nada. Desinteresse é o primeiro grande atributo da moral kantiana.
O cara te dá carona e cobra alguma coisa. Paia. Vc não para para qualquer um. Mesmo preço do
taxi? Uma beijoca? Imoral! Digno seria agir sem interesse.