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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS

XXVI SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS


GOIÂNIA – GO, 11 A 15 DE ABRIL DE 2005
RESERVADO AO CBDB

DESAFIOS DE RECUPERAÇÃO SUBAQUÁTICA DO CONCRETO

Walton PACELLI de Andrade


Consultor Independente - Engeconsol Engenharia de Concreto e Solos Ltda

RESUMO

Neste trabalho é feita uma abordagem sobre os desafios de recuperação de


concretagem subaquática de estruturas de concreto em grandes profundidades.

Para a simulação de concretagens subaquáticas a grandes profundidades foi


desenvolvido um equipamento no Laboratório de Concreto de Furnas em Goiânia,
que possibilitou o conhecimento do comportamento do concreto lançado com coluna
de água de até 90m de profundidade, até o presente.

Algumas recuperações de concreto são abordadas para situações desafiadoras


como: 1) guias de comporta a grandes profundidades e 2) fissuras que atravessam o
corpo da barragem.

ABSTRACT

This paper presents an approach about the chalenges for underwater concrete repair
in deep water.

A Laboratory equipment was developed by the engineering team of Furnas Concrete


Laboratory located in Goiânia, to simulate underwater concrete placement in deep
water. This device has enabled the research of concrete´s behavior under
waterpressure equivalent of a water column up to 90 m.

Some concrete rehabilitations are discussed for chalenge situations such as 1)


second stage of the intake guides, in deep water; 2) high pressure seepage
waterthighing in cracking in the dam body.

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1. INTRODUÇÃO

A recuperação das guias de comporta da Tomada de Água da UHE Porto Colômbia,


realizada em 2000, foi executada com concreto subaquático com muito sucesso. Em
decorrência deste trabalho foram realizadas pesquisas no Laboratório de Concreto
de Furnas Centrais Elétricas, localizado em Goiânia, que além de subsidiarem esta
obra, possibilitaram o conhecimento das propriedades do concreto quando lançado a
grandes profundidades [1;2;3].

A impermeabilização da Barragem do Rio Descoberto da CAESB de Brasília foi


outro exemplo bem sucedido de recuperação subaquática, só que, realizada a seco,
através de uma cortina de vedação feita com furos secantes do coroamento até a
rocha da fundação, próxima ao paramento de montante da barragem. Os furos da
cortina foram preenchidos com aplicação de argamassa de alto desempenho, pelo
processo de tremonha (tremie) [4].

O desafio de estender estes tipos de recuperação subaquática para outras obras é


abordado juntamente com o da recuperação de fissuras que transpassam o corpo da
barragem apresentando grandes percolações de água.

Nesta última situação além de se utilizar a tecnologia de concreto subaquático, na


sua composição são utilizados aditivos hiperplastificantes, associados com
antidirpersantes subaquáticos e fibra de aço.

O desenvolvimento de aditivos hiperplastificantes associados a aditivos


andispersantes subaquáticos (antiwhashout admixture) abriu novo horizonte para
que a recuperação de concreto subaquático, por propiciar maior plasticidade bem
como grande coesão as misturas empregadas nestas recuperações.

São sumarizados os estudos de laboratório que foram apresentados em outros


Congressos e Seminários [5;6;7], complementados com estudos posteriores visando
sua aplicação para as duas situações em pauta.

Nestes estudos foi utilizado um equipamento para a simulação de concretagem


subaquática, com concretos fabricados com estes aditivos de ultima geração e
complementados, neste Trabalho, com os resultados obtidos com adição de fibras
de aço para produzir um concreto com alta tenacidade para ser aplicado em cortina
de impermeabilização de fissuras.

2. EQUIPAMENTO PARA SIMULAR CONCRETAGEM SUBAQUÁTICA EM


LABORATÓRIO

Um equipamento de laboratório foi construído pela equipe de engenheiros do


Laboratório de Concreto de Furnas, para simular o lançamento do concreto em
águas profundas.

O projeto e a construção deste equipamento foi desenvolvido compartilhadamente, a


partir de uma concepção deste relator, com a parceria do Técnico Especializado
Guilherme Leroy (in memorian), para simular concretagens subaquáticas em
laboratório. A evolução deste projeto foi feita gradualmente, tendo sido iniciada com

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a moldagem de corpos de prova submersos sem pressão. Posteriormente, foi feita a
aplicação de água com pressão, através do aparelho de estudo de permeabilidade
(modelo do Bureau of Reclamation), em uma mistura de concreto fresco, para se
avaliar a influencia da pressão exercida pela água na resistência do concreto. Na
seqüência das pesquisas, utilizou-se um protótipo do equipamento com duas
campânulas que se comunicavam através da abertura de uma válvula. Na
campânula superior se colocava o concreto fresco e na inferior, água. A campânula
superior com o concreto fresco era vedada e nela aplicada uma pressão equivalente
à coluna de água pretendida. A abertura da válvula entre as duas campânulas
forçava o concreto a penetrar na campânula inferior e expulsar a água através de
uma tubulação provida de uma válvula. Na expulsão da água o concreto sofria um
pequeno turbilhonamento antes da sua saída pela válvula na extremidade do tubo.

O equipamento foi sendo ajustado e aperfeiçoado, de modo a simular um


lançamento subaquático sem o turbilhonamento da água na campânula inferior, e
sua retirada garantindo que a pressão estipulada fosse mantida durante esta
operação. A sua configuração final é mostrada nas Figuras 1 e 2.

Resumidamente o equipamento ficou com a seguinte configuração: duas câmaras


sendo a superior onde o concreto fresco é colocado para receber pressão
(equivalente aquela da coluna de água onde os reparos serão efetuados) e a inferior
que é preenchida com água e submetida à mesma pressão. Entre estas duas
câmaras há um tubo metálico de 10cm de diâmetro e 2 m de comprimento, com
duas válvulas. Quando estas estão abertas, todo o sistema fica sob a mesma
pressão. A altura da coluna de concreto fresco no tubo entre as campânulas é
suficiente para preencher, com a ação da gravidade, a câmara inferior simulando a
colocação do concreto por tremonha (tremie).

O equipamento pode trabalhar com qualquer pressão, e já foi utilizado para simular
a pressão subaquática equivalente a uma coluna de água de 90m.

Na simulação da concretagem é produzido um cilindro de concreto submerso de


31cm de diâmetro por 71cm de altura. Quando se pretende estudar a aderência
entre o concreto novo e o velho o corpo de prova é moldado em uma forma
prismática, onde é colocada uma laje de concreto envelhecido, para verificar a
aderência entre eles.

A simulação da concretagem permite que se ajuste dosagens com diferentes


combinações de aditivos, visando um concreto adequado para aplicação
subaquática.

Para caracterização das propriedades do concreto endurecido são extraídos


testemunhos do cilindro concretado, com diâmetro de 7,6cm com altura de 15,2cm,
após o concreto ter sido submetido à cura na câmara úmida.

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1

3
2
4

6
EquipamentoEquipment
para Simulação de Lançamento
for Underwater Subaquático
Placement de Concreto
Simulation
1 – Câmara1superior para concreto
Upper Chamber fresco
for Fresch (Volume
Concrete de 85
- ( Volume dm³)
of 85 dm³ )

2 – Câmara2inferior
Lowerpara águaforpressurizada
Chamber Pressurized Water ( Volume of 24 dm³ ) for bond studies
( Volume of 58 dm³ ) for drill cores
(Volume de 24 dm³) para estudos de aderência
3 10 cm Diameter Pipe ( Volume of 14 dm³ )
(Volume de 58 dm³) para testemunhos de sondagem
4 Control Valves
3 – Tubo com diâmetro de 10 cm com 2 m de comprimento(Vol. de 14 dm³)
5 High Pressurized Compressed Air
4 – Válvulas de controle
6 Stair
5 – Tubo de ar e pulmão a alta pressão
6 – Escada

Concretagem
FIGURA 1: Equipamento para Simulação de Lançamento Submersa
Submerso do Concreto
APARELHO SIMULADOR:
Ensaio:
Manômetro
- Enche-se a campânula
inferior com água, aplica-se
pressão e fecha-se os
494

120
3
registros
Plataforma
1195

Manômetro
- Coloca-se o concreto na
62

Manômetro
campânula superior e a
fecha.
236 250
3400
150

4
2000
3195

Manômetro
1140

- Aplica-se a mesma pressão


na câmara superior e
2000

6
1833

1
2
inferior.
200
764

240 240

5 - Abre-se chave de saída


17

d’água.
100

Manômetro
Tubo galvanizado 2 1/2"
- Fecha-se a chave após a
SEÇÃO A-A água ser expulsa da câmara
Seção do aparelho inferior pelo concreto.
FIGURA 2: Seção do Aparelho Simulador

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O procedimento de moldagem do ensaio de simulação de concretagem submersa
sob pressão se resume a:

 Encher a campânula inferior (5) com água, aplicar pressão e fechar os registros;
 Colocar o concreto na campânula superior (3) e fechá-la;
 Aplicar a mesma pressão nas campânulas superior e inferior;
 Abrir a chave de saída d’água (6);
 Fechar a chave após a água ser expulsa da campânula inferior pelo concreto, na
mesma pressão do ensaio. A câmara fica cheia de concreto;
 Abrir o registro de pressurização na campânula superior.

Para estudar a aderência entre o concreto novo e velho foi desenvolvida uma
câmara adicional onde pudesse colocar uma laje de concreto velho na qual se
procedia a um jateamento de areia úmida, para simular o tratamento do substrato
antes de receber o concreto do reparo.

Depois de concluída a construção deste equipamento, foram simuladas


concretagens subaquáticas para a verificação da aderência entre o concreto velho e
o novo.

Uma pesquisa complementar foi conduzida posteriormente, para simular a


concretagem de uma cortina de concreto com fibra para vedação de percolação do
concreto em fissura transpassante no corpo de uma barragem. A pressão utilizada
neste experimento foi a equivalente a uma coluna de água de 70m de altura.

Alguns trabalhos apresentados em Congressos e Seminários [5;6;8] já mostraram


este equipamento.

3. ESTUDOS DE LABORATÓRIO

3.1. ADITIVOS PARA LANÇAMENTO E REPAROS SUBAQUÁTICOS

a) De acordo com KHAYAT [9;10;11], o lançamento subaquático é a associação de


aditivos modificadores de reologia (Rheology-modifying - RMAs), que são
polímeros solúveis em água, que aumentam a viscosidade da água da mistura e
aumentam a habilidade da pasta do cimento em reter seus constituintes em
suspensão. Os aditivos são também conhecidos como aditivos anti-dispersantes
ou anti-exsudação;

b) Aditivos modificados reologicamente, comumente usados em materiais à base de


cimento, incluem: polisacarídeos de fontes microbiais, como goma welan;
derivados de celulose, como metil celulose; polímeros acrílicos, como produtos
de hidrólise parcial de poliacrilamida, copolímero de acrilamida; acrilato de sódio,
que contém acrilamida como componente principal.

Derivados de celulose são normalmente utilizados em conjunto com redutor de


água de faixa ampla à base de melamina.

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Tais aditivos já foram incorporados ao concreto destinado à colocação e reparos
subaquáticos, e implementado na produção de concreto muito fluido,
extremamente trabalhável.

3.2. PESQUISAS DA QUALIDADE DO CONCRETO SUBAQUÁTICO DE SUA ADERÊNCIA AO


SUBSTRATO, QUANDO LANÇADO A 90M DE PROFUNDIDADE

As pesquisas subseqüentes ao trabalho de recuperação da UHE Porto Colômbia


feitas pelo Laboratório de Concreto de Furnas [5;6] visaram o conhecimento das
propriedades do concreto lançado a profundidade de 90m.

Além do ajuste das dosagens do concreto para lançamento subaquático, foram


estudados aditivos de concreto para lançamento subaquático (antiwashout
admixtures – aditivo antidispersante para lançamento subaquático, associado a
hiperplastificantes de última geração).

Após o ajuste da dosagem foram pesquisadas as propriedades do concreto.

Os principais resultados obtidos nesta pesquisa foram enfatizados pelos autores e


transcritos a seguir [5]:

Todos os concretos atingiram abatimentos superiores a 20 cm, apresentando


características adequadas para o auto-adensamento. Soma-se a isso, o fato de
que o emprego de aditivos antidispersantes subaquáticos, reduziu significativamente
a exsudação e a separação dos constituintes do concreto, além de aumentar a sua
viscosidade.

O equipamento de simulação de concretagem subaquática funciona eficientemente,


e através dele foram investigados diferentes fatores que podem influenciar o
comportamento do concreto nessas condições.

Inicialmente, foi utilizada tubulação de 150 mm para aplicação do concreto no


aparelho de simulação obtendo-se resultados satisfatórios. Quando se utilizou
tubulação de diâmetro de 76 mm, foi necessário aumentar o teor de argamassa do
concreto de dimensão máxima característica (Dmáx) 19 mm para evitar a
segregação da mistura durante o ensaio. Na seqüência dos estudos contatou-se que
a Dmáx de 9,5 ou 12,5mm era a mais indicada para concretagens subaquáticas.

Através de análise microscópica, constatou-se verificar maior compacidade dos


concretos mantidos sob pressão em relação aos mantidos sem pressão.

Observou-se que houve um expressivo ganho de resistência do concreto submerso


mantido sob pressão em relação aos demais concretos.

No prosseguimento das pesquisas [6] obteve-se o concreto que atendeu às


premissas pretendidas, ou seja, as dosagens atingiram os valores de resistência
previstos de fc28 = 25 a 30 MPa com relação A/C = 0,44.

O uso de aditivos especiais, tais como hiperplastificantes e antidispersantes foi


fundamental para o sucesso da pesquisa.

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Foram realizadas intensivas simulações de concretagens com o equipamento
durante a pesquisa, o que garantiu e respaldou tecnicamente o processo, utilizando
para isto a melhor dosagem estudada, a qual foi baseada nos teores ótimos
estudados para os aditivos.

Foram feitas extrações do concreto subaquático (campânula prismática), tendo


como parâmetro diferentes orientações de junta da placa de concreto com o
concreto submerso lançado para que, com os dados dos ensaios triaxiais e
uniaxiais, se obtivesse a coesão e o ângulo de atrito entre as juntas destes
concretos de diferentes idades. Estes ensaios juntamente com os ensaios de tração
simples mostram que a aderência entre os dois concretos pode ser garantida
quando adequadamente aplicado.

3.3. PESQUISAS COMPLEMENTARES DE LABORATÓRIO UTILIZANDO CONCRETO COM FIBRA


DE AÇO

A utilização de técnica de concretagem subaquática utilizando microconcreto com


fibra de aço, é uma alternativa atraente e ainda não utilizada no Brasil para
recuperar fissuras que atravessam o corpo da barragem.

A idéia de utilizar a associação do lançamento subaquático de concreto com fibra é


de se poder lançar o concreto submerso pelo coroamento da barragem, utilizando o
processo da tremonha (tremie) uma vez que a fissura transpassa o corpo da
barragem.

A fissura transpassante, cria uma junta de contração, provocando abertura e


fechamento das partes do bloco de concreto formados, de acordo com as variações
sazonais da temperatura. Esta movimentação das partes fissuradas exige que se
utilize um concreto que possa resistir aos esforços resultantes destas variações
sazonais e na eventualidade de se fissurar novamente o concreto utilizado na
vedação e não sofra nova separação, daí a utilização de fibra de aço para aumentar
a sua tenacidade.

Os estudos complementares efetuados foram conduzidos em laboratório e


apresentados no trabalho da Referência [12], para demonstrar que o concreto com
fibra além de resistir melhor aos esforços, depois fissurado, ainda apresenta
resistências significativas com aberturas de fissuras de 1,5, 3 e 5mm, para um
microconcreto reforçado com 40 kg/m³ de fibra de aço. Os valores obtidos podem
ser sumarizados:

As resistências à flexão equivalentes aos deslocamentos de 1,5 mm, 3mm e 5mm


do microconcreto com 40 kg/m 3, foram de 105%, 93% e 67% respectivamente, em
relação ao microconcreto de referência (sem fibra de aço).

3.4. A SIMULAÇÃO DA CONCRETAGEM SUBMERSA COM FIBRA DE AÇO EM LABORATÓRIO

Para simular a concretagem subaquática com fibra de aço para vedação de fissura
em barragem, foi feita uma simulação em Laboratório utilizando o equipamento
mostrado no item 2. Foi preparado um corpo-de-prova prismático na pista

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experimental de CCR do Laboratório de Furnas que pode ser visualizada na
seqüência de Figuras 3 a 8.

FIGURA 3: Furos ø de 76mm FIGURA 4: Montagem da campânula

FIGURA 5: Base da campânula FIGURA 6: Topo do CP prismático


preenchida com argamassa preenchido com argamassa

FIGURA 7: Extração do microconcreto FIGURA 8: Aspecto da aderência do


do substrato microconcreto ao substrato

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4. EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS DE CONCRETO SUBAQUÁTICO

4.1. DA RECUPERAÇÃO SUBAQUÁTICA DA UHE PORTO COLÔMBIA

A recuperação das guias dos stop logs com concreto subaquático na UHE Porto
Colômbia executada entre 3 de julho a 12 de setembro de 2000, já foi relatada em
congressos [1;2;3].

Alguns pontos desta experiência merecem ser enfatizados:

 Experiência da Equipe de Mergulhadores

A recuperação subaquática com mergulhadores, foi feita utilizando uma equipe de


mergulhadores altamente experiente. A supervisão e a segurança dos
mergulhadores foi feita em tempo integral, durante a execução.

 Estudos de Laboratório

O concreto utilizado na recuperação foi dosado minuciosamente utilizando aditivos


hiperplastificantes de última geração.

 Lançamento do Concreto com Tremonha

A experiência demonstrou que uma profundidade de 20m, era possível lançar o


concreto com tubulação de 10cm de diãmetro, transportando o concreto de
superfície até a forma. Para a aludida demonstração foi decisiva a simulação levada
a cabo na UHE Funil pelos signatários dos Trabalhos referenciados acima.

 Lançamento do Concreto com Dispositivo Especial

O procedimento mais comum para o lançamento do concreto subaquático é lançar o


concreto usando uma tremonha e um tubo de aço. Quando a profundidade é maior
do que 20 m e o volume a ser recuperado é relativamente pequeno, como em guias
de comportas, a coluna de concreto no tubo é maior do que aquela necessária para
encher a forma do concreto a ser restaurado.

Quando a profundidade ultrapassou 20m, a velocidade do concreto ao atingir a


forma e o volume necessário para o enchimento do reparo, ficava difícil de ser
controlado.

Para resolver este problema, um dispositivo foi desenvolvido para transportar o


concreto da superfície até o local de sua colocação. A Figura 9 mostra este
dispositivo, construído durante as obras de reparos de Porto Colômbia.

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( 4 x)
1
2
3
D=Variable 4
5
Fecho rápido
Fast latch

A=Maximum service height


Detalhe sem escala
No scale detail
6
1 Coupling to winch
1 –Dial - Artificial
Acoplamento para o guincho 7

2,12 m
2 lighting for evacuation dial
2 – Indicador visual do
3 Pressure equalizer Ø 20 to 40 mm
esvaziamento da câmara
4 Encasement lid with sealing gasket 8
3– Equalizador de pressão ø 20 a
5 Fast 40 mm
latch 9
64 Concrete
– Tampa com fechamento
container
7 Dialhermético

*H + 2,00 m
- Evacuation check
5– Fecho rápido
8 Fast clamp
6– Câmara para concreto 10
9 Flexible hose
7– Verificadores do esvaziamento
10 Sphere stop valve Ø 40 to 75 mm
da câmara 11
118 –Fast clamp Engate rápido
that couples to mold's valve
9– Mangueira flexível *H = Distance frommold's lower grouting nozzleto first placement level.
10 – Válvula de esfera ø 40 a 75
mm
Remarks:
11 – Engate rápido para
*H = distância
Device acoplamento da válvula
tested at Colômbia à válvula
HP,inferior
do concrete
with molde
do molde até o coasre
featuring primeiro nível dewith
aggregate lançamento
maximum diameter of
9.5 mm, slump of 26 cm and with the use of antiwashout and superplasticizing admixtures, top height
grouted
Nota: in the test, 2.00
Dispositivo meters.
testado na UHE Porto Colômbia, com concreto reparador com agregado graúdo com diâmetro
máximo de 9,5mm, consistência (slump) de 26 cm e com a utilização de aditivos antidispersante e
Ref.: Report DCT.T.I.10.037.2000-R0 - p. 9/33 - item 7.2
superplastificante. Grauteamento executado a 28 m de profundidade, em média

Ref.: RelatórioDevice for Underwater


DCT.T.10.037.2000-R0 Concrete Grouting
p. 18/35
No scale Sem escala

FIGURA 9: Dispositivo Especial para Lançamento de Concreto

4.2. IMPERMEABILIZAÇÃO DA BARRAGEM DO RIO DESCOBERTO

O trabalho [4], apresentado no 21º Congresso Internacional de Grandes Barragens,


relata a experiência bem sucedida do tratamento da percolação na Barragem do Rio
Descoberto, propriedade da CAESB de Brasília.

Este trabalho foi relatado também na revista TÉCHNE 66 em setembro de 2002.

Na recuperação desta barragem foi empregada uma parede diafragma, feita com
furos secantes como mostra a Figura 10.

As Figuras 11 e 12 ilustram a execução da perfuração da parede diafragma.

FIGURA 10: Furos na Parede Diafragma

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FIGURA 11: Gabarito para FIGURA 12: Vista da Perfuração no
alinhamento usado na perfuração Coroamento da Barragem

5. RECUPERAÇÃO A GRANDES PROFUNDIDADES

A recuperação a grandes profundidades revela-se altamente complexa, onerosa e


difícil, devido ao alto grau de dificuldade de execução. No caso específico de guias
de comporta existe a possibilidade de recuperação a seco, podendo-se recorrer a
dois tipos de ensecamento.

O primeiro é o da utilização de comporta flutuante tipo Batel, que tem que ser
apoiada no concreto da guia das grades. Além do alto risco de acidente, a vedação
da comporta é altamente complexa.

A segunda alternativa para trabalhar a seco, seria a da utilização de uma campânula


metálica de seção semi-circular, que teria que ser fixada no concreto de 1º estágio
nos rasgos das comportas. Esta alternativa também é de difícil execução.

Resta a alternativa de se executar o reparo com mergulhadores. Os trabalhos bem


sucedidos de recuperação das guias das comportas da UHE Porto Colômbia
[1;2;3;7] encorajaram as pesquisas para a execução deste tipo de recuperação a
grandes profundidades.

F. BLÁZQUEZ PRIETO [13] descreve a tecnologia para obras subaquáticas


utilizando a tecnologia do mergulho saturado.

O método denominado “saturação” é baseado no fato de que chega uma hora em


que o gás inerte não é mais assimilado. Então, o período de descompressão não
aumenta, embora aumente a duração das condições de compressão; dessa forma, a
tarefa pode consumir muito tempo, desde que os mergulhadores mantenham-se
adequadamente pressurizados, seguindo esse método. Eles entram na câmara
hiperbárica, onde são pressurizados à pressão equivalente à da profundidade de
trabalho.

Os reparos duraram dois meses e foram extremamente complexos, pois foram


realizados pelo método de mergulho saturado, com a profundidade da zona de
trabalho de 80m, aproximadamente, em uma altitude de quase 900m acima do nível
do mar. Os aspectos a serem levados em conta para reparos subaquáticos foram
enfatizados por este autor:

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Aspectos a serem considerados no projeto:

- A importância de se possuir bastante informação sobre o trabalho e seus


arredores;
- A conveniência de se filmar ou fotografar as zonas;
- As condições prévias devem estar estabelecidas, para serem aceitas no custo de
reparos.

Aspectos a serem considerados no contrato:

- A necessidade de se ter custos independentes para as diferentes operações;


- A conveniência de se determinar os preços para período de espera;
- A importância de incluir, no contrato, o trabalho final das obras.

Aspectos a serem considerados na execução das obras:

- Se possível, é aconselhável adiantar ou adiar os trabalhos, de modo a ter o nível


mínimo do reservatório como vantagem;
- A necessidade da presença de alguém que se encarregue das obras, com
capacidade e experiência suficientes para resolver quaisquer problemas que
possam surgir durante as operações.
- A importância de se ter um VOD (veículo operado a distância), para a supervisão
do trabalho em tempo real.

Miachon et al [2;3] apresentam um lançamento de concreto muito bem sucedido


para a restauração das guias de comportas da tomada d’água da Usina Hidrelétrica
de Porto Colômbia, no Brasil.

O desenvolvimento de pesquisas avançadas em Laboratório, possibilitou o


conhecimento das propriedades do concreto subaquático e de sua aderência ao
substrato.

Na concretagem subaquática de uma guia, todo o trabalho de remoção do concreto


deteriorado, preparação do substrato, execução da fôrma e seu preenchimento com
concreto é feito por mergulhadores.

O transporte do concreto através do dispositivo mostrado na Figura 4, permite que


se programe a concretagem como na técnica da tremie. A fôrma deverá ter válvula
para receber o concreto pela sua extremidade inferior e uma tubulação na sua
extremidade superior para remover o concreto excedente.

A utilização de técnicas de mergulho saturado, de alta tecnologia, aliada ao emprego


de concreto com aditivos de última geração, conferem a esta alternativa, riscos
menores do que as anteriores. O risco envolvido é o inerente ao mergulho de
grande profundidade.

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6. RECUPERAÇÃO DE FISSURAS QUE ATRAVESSAM O CORPO DA
BARRAGEM

A recuperação de fissuras quando há percolação de águas, por sua complexidade,


exige a aplicação de técnicas especiais com minucioso planejamento. Quando a
vazão de percolação é relativamente baixa ou com baixa pressão, o emprego de
injeção de produtos químicos revela-se satisfatória para estancar a passagem da
água. Quando a vazão e a pressão da água são altas, a solução para a vedação da
percolação exige técnicas não convencionais, entre elas a colocação de
geomembrana no paramento de montante. A colocação de geomembrana, se feita a
seco, é uma técnica consagrada e de fácil execução, Se a colocação tiver que ser
feita subaquática, há que se associar à colocação da membrana, técnicas de
mergulho, inclusive o de mergulho com saturação.

A execução da cortina de vedação executada na Barragem do Rio Descoberto


mostrou ser possível a impermeabilização do corpo da barragem através de uma
cortina de concreto executada desde o coroamento até a rocha de fundação.

A execução de uma cortina de impermeabilização, é feita no corpo da barragem, a


uma distância de 1,0m do paramento de montante. O rasgo para a cortina deverá
ser feito a 1,5m de cada lado da fissura, para abranger com segurança a sua
trajetória uma vez que ela não é vertical. A trajetória da fissura pode ser melhor
avaliada pelos dois paramentos. A execução desta cortina, tem que ser feita
associando a técnica de concreto submerso (tremie) e o emprego de micro-concreto
ou argamassa de alto desempenho, com dosagem empregando aditivos de última
geração de hiperplastificante e antidispersante subaquático, e fibra de aço.

7. CONCLUSÕES

As experiências bem sucedidas de recuperação das guias de comporta da UHE


Porto Colômbia e da impermeabilização da Barragem do Rio Descoberto, mostraram
que os resultados obtidos nestas obras, ao lado de pesquisas de laboratório, tornam
viáveis e confiáveis a execução de obras subaquáticas.

O desafio de executar concretagem subaquática em situações inusuais, como em


guias de comporta a grandes profundidades e a vedação de percolação em fissuras
transpassantes no corpo da barragem, foi pesquisado em laboratório com resultados
muito satisfatórios.

O lançamento do concreto subaquático com mergulho saturado, possibilita a


recuperação de guias de comporta a grandes profundidades. O concreto lançado
nestas condições terá qualidade garantida, conforme comprovado em estudos de
laboratório.

No caso específico de vedação de fissuras com percolação intensa, a utilização de


argamassa reforçada com fibra de aço em uma cortina de impermeabilização, com
lançamento subaquático, através de tremonha (tremie), pode ser uma alternativa
viável para estancar a percolação pelo corpo da barragem, executada a seco.

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8. AGRADECIMENTOS

Queria manifestar meus agradecimentos a Furnas Centrais Elétricas pela


oportunidade de viabilizar as pesquisas que comprovaram a possibilidade de utilizar
ensaios de laboratório para lançamento do concreto subaquático.

Aproveito esta oportunidade para prestar uma homenagem póstuma ao grande


Técnico Guilherme Leroy, companheiro de mais de três décadas de profícuos
trabalhos no ramo de engenharia de barragens.

Ao meu amigo Élcio Antonio Guerra pela continuidade dos trabalhos do Guilherme
Leroy e pelo seu inestimável empenho na realização destas importantes pesquisas
para o concreto subaquático com fibra de aço.

No trabalho de digitação contei com a prestimosa colaboração de Vilmar Alves de


Souza ao qual manifesto além do apreço meus agradecimentos.

9. PALAVRAS-CHAVE

Recuperação subaquática, microconcreto, fibra de aço, fissuras transpassantes

10. BIBLIOGRAFIA
[1] FARAGE DO NASCIMENTO J. F., MIACHON FILHO G., PACELLI DE
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