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Roberto Leher 1
1. Considerações metodológicas
Cardoso tinha clareza de que a proposta de LDB em discussão na Câmara não era
compatível com seu projeto mais amplo, pois ao fortalecer o conceito de sistema
nacional de educação a nova lei acabaria reforçando o papel do Estado Federal na
educação e o controle do Estado sobre o setor privado. Para as forças que dirigiam
seu governo, no lugar de um sistema nacional, melhor seria estruturar iniciativas
descentralizadas e fragmentadas, adaptadas a situações específicas, por meio de
diferentes tipos de instituições para a massa de trabalhadores, tendo como
pressuposto que essa força de trabalho desempenharia atividades características
do trabalho simples ou de reduzido caráter abstrato, corroborando, grosso modo,
as proposições educacionais feitas pelo Banco Mundial desde os anos 1980.
Ademais, esta opção asseguraria maior liberdade aos empreendedores
educacionais privados. Em relação à educação da maioria da população
prevaleceria, no geral, a diretriz de que esta deveria ser “minimalista”, aligeirada e
superficial, dotada de caráter pragmático e utilitarista.
Para não repassar recursos aos estados a União não hesitou em burlar a Lei do
FUNDEF, corrigindo o valor do custo-aluno-ano conforme um índice inferior ao
previsto na referida Lei. A não correção do valor do FUNDEF provocou um calote
da União de R$ 12,8 bilhões no período 1998-2002. Acrescente-se a isso a
Desvinculação de Receitas da União, aprovada em 1994, que ampliou o saqueio
governamental das verbas educacionais. Criada sob o nome de Fundo Social de
Emergência esta medida foi sendo prorrogada sucessivamente (pelas Emendas
Constitucionais 10 [1996], 17 [1997], e 27 [2000]), a desvinculação acarretou
imensos prejuízos ao financiamento da educação ao desobrigar 20% da receita de
impostos e contribuições, reduzindo a obrigação constitucional do governo federal
de aplicação em manutenção e desenvolvimento de 18% para 14,4%, o que
implicou em uma perda superior a R$ 40 bilhões no período de seu governo.
das finanças do período Cardoso, confirmaram que seu governo seguiria a mesma
trilha aberta por Cardoso, embora promovendo ajustes que fortalecessem a
governabilidade, aliás, o principal motivo que levou setores de Washington e da
alta burguesia a verem com bons olhos sua eleição e seu governo (Leher, 2003).
Com o início do novo governo, a antiga unidade de ação dos sindicatos do serviço
público começou a se desfazer, situação que se agravou na educação. Os sindicatos
dirigidos pelas correntes da base governista, em especial do PT e do PC do B, como
a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação - CNTE, Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino – CONTEE, e parte da
Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Públicas
Brasileiras –FASUBRA Sindical, bem com da direção majoritária da União Nacional
dos Estudantes, rapidamente atuaram no sentido de desconstituir o FNDEP,
intento realizado com êxito no Fórum Social Mundial (FSM) de 2005 3. Alegando
que não tinham mais acordo com determinados eixos e princípios do PNE:
Proposta da Sociedade Brasileira, as entidades dirigidas pela base do governo se
afastaram do Fórum. As tensões entre as entidades que atuavam no Fórum se
agudizaram com a política de parcerias público-privadas na educação encampada
pelo segundo ministro da educação, Tarso Genro, e por seu Secretario Executivo,
Fernando Haddad. O Programa Universidade para Todos (ProUni) previa quase
que total isenção tributária para todas as instituições de ensino superior privadas,
incluindo, portanto, as ditas sem fins lucrativos (comunitárias, filantrópicas e
3A ruptura ocorreu na Plenária do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, em Porto Alegre-RS,
26 de Janeiro de 2005 – Auditório da Unafisco.
confessionais) e as explicitamente mercantis (particulares). O ProUni foi o pomo da
discórdia entre as entidades, pois afrontava um princípio basilar do FNDEP: verbas
públicas para as escolas públicas. O operativo do governo em defesa desse
programa pode ser explicado pelo lugar que o mesmo ocuparia nas políticas
governamentais, como analisado adiante.
3.1 Aliança com os empresários para a formação das crianças e jovens e para a
definição do que é dado a pensar na universidade
Como destacado em outro artigo4, essa investida sobre a educação pública vem
sendo efetivada por meio de entidades âncoras em que um pequeno grupo de
gestores se reveza na direção das mesmas. Assim, por exemplo, Milú Villela, do
Instituto Itaú Cultural, é presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo
(novembro de 2009), do Faça Parte-Instituto Brasil Voluntário e agora também
do Comitê Executivo do “Compromisso Todos pela Educação”. As entidades que
organizam essa ofensiva ocultam seu caráter corporativo e empresarial por meio
da filantropia, da responsabilidade social das empresas e da ideologia do
interesse público. As mais relevantes são: a) o Instituto Ayrton Senna
(respaldado por corporações do setor financeiro, do setor agro-mineral, do setor
de agroquímicos, editoras interessadas na venda de guias e manuais, provedores
de telefonia, informática e internet, engajadas no cyber-rentismo)5; b) a
4 LEHER, Roberto Desafios para uma educação para além do capital. Revista Margem Esquerda, SP:
Boitempo Ed. (no prelo).
5 . Ale (combustíveis), Banco Triângulo, Bradesco Capitalização, Brasil Telecom, Celpe, Coelba,
Cosern, Credicard, Grendene, HP Brasil, Instituto Unibanco, Instituto Vivo, Instituto Votorantim,
Intel, Lenovo, LIDE - Grupo de Líderes Empresariais / Empresários pelo Desenvolvimento
Fundação Roberto Marinho, principal grupo de comunicação localizado no Brasil
(e que não publiciza seus apoiadores); c) a Fundação Victor Civita, vinculada a
um grupo econômico que, entre outras, edita uma revista que vem difundindo
que a educação é um tema técnico-gerencial (Revista Nova Escola), apoiada pelas
editoras, pelo capital financeiro, agro-mineral, pelas corporações da área de
informática etc.6; d) Grupo Gerdau que, por meio de Jorge Gerdau Johannpeter,
preside o Movimento e que outrora foi organizador do Movimento Brasil
Competitivo (2001) que, em certo sentido foi o germe do “Movimento Todos pela
Educação” em conjunto com o Programa de Promoção da Reforma Educacional na
América Latina e no Caribe (PREAL)7, Itaú - Social, que, valendo-se, como as
demais, de isenções tributárias, atua no setor educacional objetivando
implementar as parcerias público-privadas na educação básica por meio das
Escolas Charter8. Compõem ainda o Conselho de Governança da iniciativa outras
representações do capital: Fundação Bradesco, Grupo Pão de Açúcar, FEBRABAN,
SESC, ABN Amro, Fundação Educar DPaschoal, Faça Parte-Instituto Brasil
Voluntário, Grupo Ethos, entre outros.
Humano, Martins Distribuidora, Microsoft Educação, Nívea, Oracle, Santa Bárbara Engenharia,
Siemens, Suzano, Vale de Rio Doce.
6 . Alfabetização Solidária, Bovespa, Cosac Naify, Editora Ática, Editora Scipione, EDP, Fundação
Bradesco, Fundação Cargill, Fundação Educar DPaschoal, Fundação Telefônica, Gerdau, Instituto
Unilever, Intel, Itautec, Microsoft, OSESP, Rádio Bandeirantes, SESI.
7 . “As atividades do PREAL são possíveis por meio do generoso apoio da United States Agency for
International Development (USAID), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da GE
Foundation, da International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA) e do
Banco Mundial, entre outros”. (PREAL, Boletim da Educação no Brasil, 2009)
8 . As escolas "charter" são construídas e geridas por entidades privadas, filantrópicas, mas as
matrículas e mensalidades de seus alunos são pagas pelos Estados que são responsáveis por
monitorar seu desempenho. Entre as medidas previstas, cabe salientar a autonomia para
contratar professores, elaborar currículos próprios e mudar a carga horária.
9 BRASIL. Lei de Inovação Tecnológica, LEI N o 10.973, de 2 de Dezembro de 2004. Outras medidas
relacionadas a esta lei: Lei 11.080/2004 (institui o Serviço Social Autônomo denominado Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI), Lei 11.196/2005 (“dispõe sobre incentivos
fiscais para a inovação tecnológica”, “Lei do Bem”) e Lei 11.487/2007 (“altera a Lei no 11.196/05
para incluir novo incentivo à inovação tecnológica e modificar as regras relativas à amortização
acelerada para investimentos vinculados a pesquisa e ao desenvolvimento”).
10 . Lei no 11.079, de 30 de dezembro de 2004, “institui normas gerais para licitação e
contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública”. Esta lei foi
insistentemente reivindicada pelo FMI, aprofundando o Plano Diretor da Reforma do Estado de
Cardoso.
em projetos de “interesse comum” com as empresas para acelerar a incorporação
de tecnologias. Com a “Lei do Bem” as empresas podem investir diretamente nas
ICT com verbas públicas, por meio de isenções tributárias (como da Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido), objetivando a aquisição de serviços, assessoria e
projetos dirigidos aos seus fins mercantis. As empresas podem ir às compras nos
laboratórios das instituições públicas! Não é demais registrar que os investimentos
da Lei de Inovação são operacionalizados por um órgão regulador, o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Industrial, cujo conselho deliberativo é
compartilhado pelo governo e pelos empresários.
Por tudo o que foi dito sobre a inovação tecnológica é coerente a edição do Decreto
5.205, de 14/9/2004, que regulamenta as fundações de apoio privadas nas
instituições federais, eximindo-as de licitação, facultando-as contratar, por meio
das fundações “complementarmente pessoal não integrante dos quadros da
instituição”, bem como auferir bolsas de ensino, de pesquisa e de extensão,
inclusive para pessoal do quadro permanente. Estas fundações institucionalizam
nichos privados assegurando ao capitalismo acadêmico um ambiente jurídico
apropriado aos seus fins: o lucro.
3.2 Programa Universidade para Todos: subsídio público para a mercantilização
11 . Instrução Normativa SRF nº. 456, de 5 de outubro de 2004: Art. 1º A instituição privada de
ensino superior, com fins lucrativos ou sem fins lucrativos não beneficente, que aderir ao
Programa Universidade para Todos (ProUni) nos termos dos arts. 5º da Medida Provisória nº.
213, de 2004, ficará isenta, no período de vigência do termo de adesão, das seguintes
contribuições e imposto:
I - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); II - Contribuição para o
PIS/Pasep; III - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); e IV - Imposto de Renda da
Pessoa Jurídica (IRPJ).
seriam de 25% das vagas; na medida provisória nº 213, de 10 de setembro de
2004, o total de bolsas integrais caiu vertiginosamente para 10% e, finalmente, na
versão final, votada no Congresso (Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005) em
acordo com a bancada governista, a contrapartida despencou para 4,25% de bolsas
integrais. Vitórias acachapantes dos que fazem da educação um negócio lucrativo!
Outra benesse para o setor empresarial foi a garantia de isenções tributárias para
qualquer instituição que venha aderir ao programa, independentemente das vagas
disponibilizadas. Por isso, as privadas sempre tentam incorporar o menor número
possível de estudantes ao programa. Com efeito, o percentual de vagas do ProUni é
fortemente descendente, mostrando que, após a vitória na redução do percentual
de vagas previstas em lei, os empresários aprenderam a burlar, com a conivência
governamental, as contrapartidas legais:
Tabela 1
Tabela 2
Tabela 3
Tabela 4
Ainda conforme o mencionado relatório do TCU dos 15.876 cursos oferecidos por
meio do ProUni, 5.501 (ou 34,65% dos cursos) nunca foram avaliados pelo ENADE.
Dos 10.375 cursos que oferecem bolsas e foram avaliados pelo ENADE, 1,7%
receberam nota 1; 19% nota 2; 40,8% nota 3; 11% nota 4; 0,7% nota 5 e 17,4%
ficaram sem conceito - SC. Concretamente, 20,9% dos cursos avaliados possuem
nota menor que 3 no ENADE e apenas 11,7% ficaram com conceitos 4 e 5.
As modestas metas do PNE do governo Cardoso previam 30% dos jovens, na faixa
etária de 18 a 24 anos, matriculados na educação superior, meta que deveria ser
alcançada em 2011. A estratégia de Cardoso foi investir no crédito subsidiado para
que os jovens pudessem adquirir o chamado serviço educacional. Lula da Silva foi
mais generoso com o setor mercantil: ampliou o FIES e criou o ProUni, mas, ainda
assim, ambos não chegaram sequer a metade da meta legal.
Tabela 5
Esses valores referem-se aos juros subsidiados, mas a estes é preciso acrescentar a
inadimplência, parcialmente coberta pela União. Em 2007, dos 467 mil contratos
ativos, 55 mil contratos estavam em atraso, totalizando R$ 498,5 milhões. O FIES
teve uma execução de 685,5 milhões de reais em 2007. O Plano Plurianual (PPA)
2008-2011 aponta como meta do FIES atingir 700 mil beneficiários em 2011, com
100 mil novos beneficiários a cada ano, o que significa aumentar em quase 50% o
número de contratos ativos existentes em 2007. Cabe destacar que no final do
governo Cardoso, inequivocamente comprometido com o setor privado, o FIES
possuía 200 mil contratos. A Lei 11.552 de 2007 possibilitou o financiamento pelo
FIES de até 100% dos encargos para os estudantes que são bolsistas parciais do
Programa Universidade para Todos (ProUni), inclusive para os que possuem bolsa
complementar de 25% oferecidas pelas IES participantes deste mesmo
programa12, atestando a complementaridade dos programas.
A regressividade dos tributos faz com que os mais pobres paguem mais tributos
que os mais ricos. Entretanto, as verbas públicas seguem sendo carreadas para
os ricos, demonstrando o caráter classista do Estado e do governo Lula da Silva.
O gráfico abaixo permite uma visão de conjunto da proporção dos gastos do
Executivo Federal.
Gráfico 1
Cabe observar que a distribuição dos gastos públicos, por função, comprova a
permanência da política de distribuição do fundo público em benefício do capital
por meio dos juros da dívida pública (35,57%). Se fossem consideradas as
despesas com refinanciamento da dívida esse índice chegaria a 47% do total
(Boletim da Auditoria Cidadã da Dívida, 2009). As exceções são os gastos de
pessoal e da previdência. Não casualmente, uma nova geração de contra-
reformas está em gestação no próximo governo, objetivando o congelamento dos
gastos de pessoal (PLP 549/2009) e de uma nova (contra) reforma da
previdência. A função educação flutua em uma mesma ordem de grandeza,
conhecendo um leve acréscimo em 2008 e 2009.
Gráfico 2
Gráfico 3
A expansão verificada foi tão modesta em ordem de grandeza que a mesma não
se refletiu na variação dos gastos em educação em relação ao PIB (Gráfico 4).
Com efeito, examinado o orçamento do Ministério da Educação em relação ao
PIB é possível constatar empiricamente que não houve esforço adicional de
verbas públicas para a educação.
Gráfico 4
Tabela 6
Embora desde meados dos anos 1990 o Banco Mundial tenha recomendado a
diferenciação da educação superior pública como fundamental para acabar com o
considerado anacrônico modelo europeu (indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão e gratuidade) 15, somente com o REUNI tal objetivo foi
encaminhado de modo direto e concreto.
17. A proposta de um curso “genérico” e de curta duração foi defendida por Cláudio Moura Castro
e, mais sistematicamente, por Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE, na gestão Cardoso.
Ver GÓIS, 2002. Em linhas gerais, a mesma alternativa é defendida no modelo Universidade Nova,
difundida pelo reitor da UFBa, em 2007.
18 . A expressão educação terciária foi adotada pelo Banco Mundial, a partir de 2002, objetivando
Brasil.
20. O projeto intitulado Universidade Nova foi apresentado em um seminário na UFBa como se
fosse de autoria de um pequeno grupo de reitores, embora, como ficou evidente posteriormente,
estivesse sendo articulado junto com o MEC. A proposta prevê um genérico Bacharelado
Interdisciplinar invertebrado massificado, de 2 a 3 anos, no qual o estudante ganharia um
Plano Universidade Nova de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais Brasileiras (versão de março de 2007).
diploma que o habilitaria a seguir seus estudos, se aprovado em seleção, conforme seu perfil
“vocacional”.
21 A meta proclamada é expandir a rede das 140 escolas existentes, em 2002, para 354 escolas,
agosto de 2008.
23. Projeto de Lei Complementar nº. 92, de 2007 – regulamenta o inciso XIX do art. 37 da
Constituição Federal, parte final, para definir as áreas de atuação de fundações instituídas pelo
poder público. Projeto de autoria do Poder Executivo.
instituições de ensino superior e de C&T, e que, sendo aprovado, institucionalizaria
a mudança jurídica da universidade pública de sua atual condição de autarquia ou
de fundação pública para fundação de direito privado: o mesmo objetivo
pretendido por Bresser Pereira.
No caso das IFES, o REUNI adianta-se ao projeto das fundações estatais, fixando
metas de desempenho a serem alcançadas (planos de reestruturação, Art. 3 o,
decreto 6.096/2007), com base em duas condicionalidades:
Não é difícil demonstrar que as verbas previstas para o REUNI pouco alteram
esse quadro. A tabela 6 e o gráfico 5, a seguir apresentados, indicam os enormes
limites dos recursos adicionais do programa, particularmente em função do
brutal sucateamento dos últimos governos. Como o modesto recurso está
atrelado às metas de expansão, as universidades vivem um quadro paradoxal:
novos prédios para expansão estão sendo construídos ao lado de instalações
degradadas e sucateadas para a enorme maioria dos cursos já existentes.
Gráfico 5
O grau de estagnação dos recursos das universidades federais pode ser melhor
dimensionado se compararmos as verbas das Federais com o orçamento das três
universidades paulistas. Estas possuem um orçamento de R$ 5,5 bilhões (2007),
mais da metade do orçamento total das 54 IFES e das novas instituições e campi
que foram criados.
Tabela 7
4. Problemas e desafios
De fato, muitos dos novos postos de trabalho não estão demandando realmente
elevada escolarização científica, tecnológica e histórico-social. A escolaridade
formal muitas vezes é um requisito para garantir que o trabalhador tenha certas
disposições disciplinares e determinada sociabilidade, mas não conhecimentos
sobre os fundamentos do trabalho. A expropriação do conhecimento dos
trabalhadores é vista, antes, como positividade, tendo em vista o grau de
exploração do trabalho existente no país. No capitalismo dependente vale a
fórmula: mais expropriação, mais exploração. Isso explica o motivo pelo qual os
setores dominantes não realizaram uma verdadeira reforma educacional no Brasil.
Existe uma nefasta sinergia entre o padrão de acumulação e a precariedade
generalizada da educação popular, a despeito dos enunciados dos movimentos
empresariais em prol da educação.
Tabela 10
São quinze anos de política social-liberal. A agenda de Cardoso foi radicalizada nas
isenções tributárias para o setor empresarial (ProUni), na expansão da rede de
educação tecnológica de curta duração (agora muito semelhante aos community
colleges estadunidenses, inspirados no convênio de cooperação do MEC com a
USAID), no grau de massificação do uso da educação a distância (Universidade
Aberta do Brasil, liberalização da modalidade no setor privado-mercantil), na
expansão das matrículas das universidades federais por meio de um contrato de
gestão – o Programa de Reestruturação das Universidades Federais – e no
aprofundamento do deslocamento do par ciência e tecnologia como pesquisa e
desenvolvimento (inovação), ressignificando a universidade como lócus de venda
de serviços de baixa relevância tecnológica e científica.
Referências
BRASIL. Lei nº. 10.172 de 9/1/01. Aprova o Plano Nacional de Educação, 2001.
GÓIS, Antônio Sociólogo defende curso de curta duração para carentes. FSP,
03/06/2002.
HELENE, Otaviano. Análise dos indicadores de conclusão escolar nas últimas 5
décadas. Revista ADUSP, n.º 46, janeiro de 2010.
LEHER, Roberto. Desafios para uma educação para além do capital. III Seminário
Internacional Margem Esquerda, Educação e Socialismo, USP, 20/08/2009.
WEBER, Demétrio MEC reduz a taxa de juros do FIES. O Globo, p. 10, 4 de maio de
2010.