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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

VANDI CORREIA DE BRITO NETO

ESPIRITISMO: UMA RELIGIÃO BRASILEIRA

São Paulo
2015
VANDI CORREIA DE BRITO NETO

ESPIRITISMO:
Uma Religião Brasileira

Trabalho apresentado a Universidade


Presbiteriana Mackenzie para obtenção
de nota na disciplina História das
Religiões 2.

São Paulo
2015

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SUMÁRIO

1. HISTÓRIA....................................................................................................... 02
2. FUNDAMENTOS BÁSICOS ........................................................................ 06
3. ESPIRITISMO NO BRASIL ........................................................................ 07
4. CONCLUSÃO................................................................................................. 11

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1. HISTÓRIA

O espiritismo bebe em religiões antigas e dá origem a uma religiosidade eclética


e individualizada que tem ganhado muito espaço nas últimas décadas, principalmente no
ocidente.

Trata-se de um sistema variado, com elementos que sempre existiram no mundo


religioso e filosófico, mas que começou a ser organizado como um sistema e como um
movimento religioso em 1848, devido a fenômenos psíquicos produzidos pelas irmãs
Fox. Estes fenômenos foram interpretados como manifestações de espíritos humanos
desencarnados, que queriam se comunicar com os vivos (CHAMPLIN, 1991).

Nos Estados Unidos da América, o movimento estabeleceu sua sede em nacional


em Washington D.C., em 1893. Desde então o movimento se internacionalizou. Apesar
do acontecido na casa do Fox, este não foi o único marco espiritismo. Arthur Conan Doyle
(1955, p.37), em a História do Espiritismo diz:

[...] é impossível fixar uma data para as primeiras aparições de uma


força inteligente exterior, de maior ou menor elevação, influindo nas
relações humanas. Os espíritas tomaram oficialmente a data de 31 de
março de 1848 como o começo das coisas psíquicas, porque o
movimento foi iniciado naquela data. Entretanto não há época na
história do mundo em que não se encontrem traços de interferências
preternaturais e seu tardio reconhecimento pela humanidade. A única
diferença entre esses dois episódios e o moderno movimento é que
aqueles podem ser apresentados como casos esporádicos de extraviados
de uma esfera qualquer, enquanto os últimos têm as características de
uma invasão organizada... Uma data deve ser fixada para início da
narrativa e, talvez, nenhuma melhor que a história do grande vidente
sueco Emmanuel Swedenborg, a partir de 1744, que possui bons títulos
para ser considerado o pai do nosso novo conhecimento dos fenômenos
supranormais".
O autor, neste livro, vai analisando em ordem crescente toda a fenomelogia
mediúnica. Relata as experiências de Edward Irving (1830 a 1833), as de Andrew Jackson
Davis (a partir de 1844), as das irmãs Fox (fenômeno de Hydesville, em 31.03.1848), e
assim por diante. O próprio lançamento deste livro em 18 de abril de 1857, é um marco
para o espiritismo.

Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon em 3 de outubro de 1804 e


encontrou sua vocação na Suíça. O pai, o juiz católico Jean-Baptiste-Antoine Rivail, e a
mãe, a dona de casa Jeanne Duhamel, enviaram o menino Hippolyte, de apenas 10 anos,
para estudar no Instituto de Yverdon, no castelo de Zahringenem, fundado e mantido pelo

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pedagogo Johan Heinrich Pestalozzi. Na volta, instalou-se em Paris em 1820 e, quatro
anos depois, começou a dar aulas. Lecionava matemática, física, química, astronomia,
anatomia e francês.

O professor convivia com problemas financeiros recorrentes. A partir da década


de 1830, passou a reforçar a renda escrevendo gramáticas e aritméticas – e até mesmo
uma peça, chamada Uma Paixão de Salão, levada aos palcos em 1843. Também começou
a usar os conhecimentos de matemática para administrar a contabilidade de pequenas
companhias, como o teatro Les Folies Marigny, nos Champs-Élysées. Ali eram realizados
espetáculos muito em voga em meados do século 19 – com uma mistura de magnetismo
e experiências elétricas e mecânicas (CHAMPLIN, 1991).

A história do espiritismo como conhecemos começa quando, um dia, andando


pelas ruas de Paris, Hippolyte Léon Denizard Rivail encontrou-se com um amigo de nome
Carlotti, que lhe descreveu uma série de eventos extraordinários, supostamente
provocados pela ação direta de espíritos.

Curioso e ainda descrente, Rivail começou a freqüentar algumas reuniões – e teria


visto seu ceticismo virar picadinho ao observar mesas e outros objetos ganharem
movimento sem a ajuda de qualquer pessoa ou mecanismo especial. Disposto a entender
esses fenômenos, Rivail mergulhou no estudo de várias correntes do misticismo e
começou (num gesto que viria confirmar suas inclinações científicas) a experimentar e
repetir vários daqueles que seriam fenômenos de comunicação com o mundo dos mortos.

Foi na casa da senhora Plainemaison, na Rue Grange Batelière, número 18. Ali o
professor ficou impressionado. As mensagens tinham linguagem diferente da que os
médiuns usavam no dia a dia e com um grau de conhecimento da vida privada dos
visitantes que não tinham como possuir. O pesquisador então elencou uma nova hipótese:
a de que a realidade visível não é a única que existe. E que espíritos são tão reais quanto
o mundo microscópico e as forças físicas invisíveis, como a lei da gravidade (GASPAR,
2002).

Numa das sessões que presenciava, Rivail ouviu de um médium que ele já fora
um celta chamado Allan Kardec. E que, como Kardec, ele deveria reunir os muitos
ensinamentos e conclusões dos últimos séculos numa doutrina que propagasse os ideais
de Cristo e trouxesse alívio para os corações dos homens. Imbuído desse espírito, Kardec
começou a trabalhar na síntese que gerou o Espiritismo.

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Por serem reais, apesar de invisíveis, os espíritos seguem leis, da mesma forma
que os seres de carne e osso. “Entrevi naquelas aparentes futilidades qualquer coisa de
sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo”, ele
relataria anos depois, para concluir que a força que movia aqueles móveis apresentava
perguntas que mereciam resposta. “Há ou não uma força inteligente? Eis a questão. Se
essa força existe, o que é? Qual será sua natureza e sua origem? Está além da
humanidade?” (KARDEC, 2001)

Durante 20 meses, o professor dedicou as horas vagas a entrevistar dez diferentes


espíritos, principalmente por intermédio de três garotas, Ruth Japhet, de 20 anos (que
havia enchido 50 cadernos com mensagens dos espíritos), e as irmãs Julie e Caroline
Baudin, de 14 e 16 anos. Fazia a elas perguntas como “Onde se pode encontrar a prova
da existência de Deus?” e “O que é espírito?” Na casa dos Boudin, na Rue Rochechouart,
ele se apresentava todas as terças-feiras, com novas perguntas, ou as mesmas, para cruzar
e checar as respostas. Ele não tinha mediunidade – aliás, foi o professor quem cunhou o
termo “médium” para definir os intermediários entre os espíritos os seres humanos.

Rivail alega que teve a oportunidade de entrevistar os espíritos do filósofo


Sócrates, do apóstolo de Jesus João Evangelista, do sacerdote Vicente de Paulo e do
cientista e político Benjamin Franklin. Um dos interlocutores mais recorrentes era o
espírito que se apresentava com o nome Zéfiro.

Em 1857, Kardec trouxe à luz O Livro dos Espíritos. É a partir dessa obra que se
pode falar em Espiritismo (a palavra, aliás, é um neologismo cunhado pelo próprio Kardec
para diferenciar a nova religião dos inúmeros espiritualismos que estavam na moda). E –
outro elemento de diferenciação com as demais religiões – tinha a retórica livremente
inspirada no vocabulário e no método expositivo dos livros de ciências naturais do século
XIX. Uma linguagem sintética, facilmente compreensível e nada hermética.

Rivail não queria assumir a autoria da coleção de respostas – preferia se apresentar


apenas como codificador e editor.

E também queria diferenciar seu trabalho pedagógico com essa nova vertente de
pesquisa. Daí Rivail ter adotado o pseudônimo que se lê na capa da primeira edição de O
Livro dos Espíritos: “Princípios da doutrina espírita sobre a imortalidade da alma, a
natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a

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vida futura e o porvir da Humanidade – segundo os ensinos dados por Espíritos superiores
com o concurso de diversos médiuns – recebidos e coordenados por Allan Kardec”.

Os primeiros exemplares do livro deixaram a Tipografia de Beau, na cidade de


Saint-Germain-en-Laye, apresentado da seguinte maneira: “A crença espírita, ou o
espiritismo, consiste em acreditar nas relações entre o mundo físico e os seres do mundo
invisível, ou espíritos”. Rapidamente, Kardec suplantaria Rivail em fama e
reconhecimento: a primeira edição da obra inaugural do espiritismo, vendida a 3 francos
a unidade, foi esgotada em dois meses.

Em 1º de abril de 1858, reuniu as dezenas de seguidores que havia arregimentado


com a publicação do livro e fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Enquanto
recebia visitas de médiuns, mais ou menos sérios, cartas pedindo ajuda e textos
psicografados, novas traduções e edições eram publicadas. Na Espanha, o bispo de
Barcelona, Antônio Palau y Termens, mandou confiscar todos os exemplares de O Livro
dos Espíritos e organizou um auto de fé: as obras foram empilhadas e queimadas em praça
pública. Em 1864, a Igreja Católica inseriu a obra no Index Librorum Prohibitorum, a
lista de livros proibidos para seus fiéis (GASPAR, 2002).

Kardec melhorou sua situação financeira com a venda de seus livros e trocou de
casa diversas vezes. A última mudança seria para um terreno que ele havia comprado na
Avenida Ségur para construir seis pequenas casas para seu sucessor e seguidores espíritas
de poucos recursos. A residência da família ficou pronta rapidamente, mas ele não chegou
a morar lá.

Depois de publicar uma segunda edição de O Livro dos Espíritos, bastante


ampliada, e outros quatro livros, Kardec faleceu, aos 64 anos, por volta das 11h de 31 de
março de 1869, quando um aneurisma se rompeu, um dia antes da mudança definitiva
para a Avenida Ségur. Na época, ele trabalhava numa obras sobre as relações entre o
magnetismo e o espiritismo. Os restos de Kardec estão no Cemitério Père-Lachaise. Na
lápide, ficou gravado seu novo nome, e não Rivail, e seu lema: “Nascer, morrer, renascer
ainda e progredir sem cessar. Esta é a lei” (SOUTO MAIOR, 2013).

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2. FUNDAMENTOS BÁSICOS

Para entender o Espiritismo, é preciso saber que a base de toda a religião está exposta
nas cinco obras seminais de Allan Kardec, que são: O Livro dos Espíritos (1857), O Livro
dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno
(1865) e A Genese (1868). Desde esse nascimento na França oitocentista, o Espiritismo
reivindica não apenas um status de religião, mas também de ciência e de filosofia. Ou
seja: é uma fé e uma doutrina cujas manifestações – contato com espíritos, regressões a
vidas passadas e textos psicografados – poderiam ser comprovadas através do método
dedutivo herdado da ciência.

Segundo o Espiritismo, todo homem é um médium, um canal de comunicação


entre os vivos e os espíritos. Por isso, não existe um papa espírita nem qualquer tipo de
hierarquia dentro da religião (a ausência de paramentos e cerimoniais também é uma
característica “racionalista” dentro da fé espírita). Nos centros espíritas, por exemplo, a
função de liderança geralmente está reservada ao médium mais experiente ou ao próprio
fundador do centro.

A simplicidade pregada pelo Espiritismo também estaria explicitada pela


inexistência de grandes rituais de passagem como casamentos, batismos e enterros. Isso
porque os espíritas acreditam ser desnecessário o vínculo com Deus – “a inteligência
suprema”, como prega Allan Kardec. Céu, inferno e diabo virtualmente não existem no
horizonte espírita. Isso porque o Bem e o Mal podem estar dentro de cada um, sem que
haja a necessidade de uma localização para cada um.

O espiritismo ensina que Deus é o Criador, causa primária de todas as coisas. A


Suprema Inteligência. É eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e
bom.

Sobre a imortalidade da alma ou espírito, acreditam que o espírito é o princípio


inteligente do Universo, criado por Deus, para evoluir e realizar-se individualmente pelos
seus próprios esforços. Como espíritos já todos os humanos já exisitiriam antes do
nascimento e continuarão a existir depois da morte do corpo.

Criado simples e sem nenhum conhecimento, o espírito é quem decide e cria o seu
próprio destino. Para isso, ele é dotado de livre-arbítrio, ou seja, capacidade de escolher
entre o bem e o mal. Tem a possibilidade de se desenvolver, evoluir, aperfeiçoar-se, de

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tornar-se cada vez melhor, mais perfeito, como um aluno na escola, passando de uma
série para outra, através dos diversos cursos. A isso chamam de reencarnação. Essa
evolução requer aprendizado, e o espírito só pode alcançá-la encarnando no mundo e
reencarnando, quantas vezes necessárias, para adquirir mais conhecimento, através das
múltiplas experiências de vida. O progresso adquirido pelo espírito não é somente
intelectual, mas, sobretudo, o progresso moral.

Os seres não lembram das existências passadas e nisso também se manifesta a


sabedoria de Deus. Se lembrassem do mal que fizeram ou dos sofrimentos que passaram,
dos inimigos que os prejudicaram, não teriam condições de viver entre eles atualmente.
Pois, muitas vezes, os inimigos do passado hoje são seus filhos, seus irmãos, seus pais,
seus amigos que, presentemente, se encontram juntos uns dos outros para a reconciliação.

A reencarnação, desta forma, é a oportunidade de reparação. Pelo mecanismo da


reencarnação alega-se que Deus não castiga. São os Homens os causadores dos próprios
sofrimentos, pela lei de “ação e reação” (CARNEIRO, 1996).

Os espíritos são seres humanos desencarnados e continuam sendo como eram


quando encarnados: bons ou maus, sérios ou brincalhões, trabalhadores ou preguiçosos,
cultos ou medíocres, verdadeiros ou mentirosos. Eles estão por toda parte. Não estão
ociosos. Pelo contrário, eles têm as suas ocupações. Através dos denominados médiuns,
o espírito pode se comunicar, se puderem e se quiserem.

Os diferentes mundos, disseminados pelo espaço infinito, constituem as inúmeras


moradas aos Espíritos que neles encarnam. As condições desses mundos diferem quanto
ao grau de adiantamento ou de inferioridades dos seus habitantes.

3. ESPIRITISMO NO BRASIL

Às 22h30 de 17 de setembro de 1865, apenas oito anos depois da fundação oficial do


espiritismo na França, foi realizada em Salvador a primeira sessão da doutrina no Brasil,
liderada por um jornalista, Luís Olímpio Teles de Menezes. No mesmo ano, surgiu o
primeiro centro do país. Em pouco tempo, a visão científica, filosófica e religiosa de Allan
Kardec se transformaria em uma religião tipicamente brasileira, divulgada por
intelectuais nas maiores cidades.

Os primeiros experimentadores da mediunidade, no Brasil, saíram da Homeopatia,


com os médicos Bento Mure, francês, e João Vicente Martins, português, aqui chegados

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em 1840, que aplicavam passes em seus clientes e falavam em Deus, Cristo e Caridade,
quando curavam.

José Bonifácio, o patriarca da Independência, também cultor da homeopatia, é um dos


primeiros experimentadores do fenômeno espírita. Em 1844, o Marquês de Maricá
publicou um livro com os primeiros ensinamentos de fundo espírita divulgados no Brasil
(ARAIA, 1996).

O grupo mais antigo que se constituiria no Rio de Janeiro, para cultivar o fenômeno
espírita, foi o de Melo Morais, homeopata e historiador, por volta de 1853. Portanto,
quando da publicação de "O Livro dos Espíritos", já havia no Brasil meio favorável ao
seu entendimento e divulgação.

Araia (1996) conta que em 1863 o Espiritismo era comentado com seriedade e o
"Jornal do Commércio", maior órgão da imprensa da Capital do Império, que publicava
em 23 de setembro, artigo favorável à nova Doutrina. Os primeiros centros espíritas, nos
moldes preconizados por Kardec, surgem na Bahia (Grupo Familiar do Espiritismo), no
Rio de Janeiro e em outros estados, a partir de 1865.

A Sociedade Grupo Confúcio, de curta existência, realizou a primeira tradução das


obras de Kardec, por Joaquim Carlos Travassos (Fortúnio); a mesma associação prestava
primeira assistência gratuita homeopata e recebeu aquela que seria a primeira revelação
do Espírito Guia do Brasil- o Anjo Ismael.

Em 2 de janeiro de 1884 é fundada a FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. A


iniciativa coube a Augusto Elias da Silva, que recebeu o apoio de Ewerton Quadros,
Xavier Pinheiro, Fernandes Figueira, Silveira Pinto e outros. Interessante que, apesar de
sua denominação de Federação, não contava a instituição com qualquer filiação de outras
entidades.

O fato de maior significação nos anais do espiritismo foi, sem dúvida, a adesão do
eminente político, médico e católico, Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, que
presidiu a Federação nos anos de 1888-89. A união dos espíritas, tão desejada por Bezerra
de Menezes, via-se prejudicada pela divergência entre "místicos"e "científicos".

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Após a Proclamação da República em 1889, surge o novo Código Penal (1890) no
qual o espiritismo (PIERUCCI, PRANDDI, 1996) era enquadrado como " transgressão
à lei, em alguns de seus dispositivos dúbios".

Finalmente, em 24 de fevereiro de 1891, a Constituição Republicana, constituiu o


Estado leigo, sem os liames que o ligavam à Igreja Católica. Como consequência o
Espiritismo e todas as religiões praticadas no Brasil, foram favorecidas.

Em 1897 são transferidos para a FEB os direitos autorais, para língua portuguesa, de
todas as obras de Kardec, fato importante para a difusão da Doutrina Espírita no Brasil.

No Brasil o embate sobre o lado científico e místico dentro do espiritismo foi vencido
aspecto religioso. E por dois motivos. Em primeiro lugar, o lado religioso funcionava
melhor para uma população ligada a um cristianismo que, em geral, convivia
tranquilamente com curandeiros, benzedeiros e cartomantes (ARAIA, 1996). A
preocupação científica e filosófica não o mesmo apelo para os brasileiros como tem o
lado religioso-ritualístico: tomar um passe, livrando-se das energias ruins se apresentaria
como mais conveniente do que adotar uma doutrina complexas e cheia de princípios
(PIERUCCI, 2001.

Em segundo lugar, o mais importante líder entre os espíritas depois de Allan Kardec
e antes de Chico Xavier, o ex-deputado Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti,
concordava com os místicos. Mas teve também o talento de não dispensar os científicos.
A Federação Espírita do Brasil, criada em 1884 pelo fotógrafo português Augusto Elias
da Silva, seria presidida duas vezes pelo doutor Bezerra e estimulou a publicação de livros
e textos de cunho acadêmico.

Nomes famosos da literatura nacional aderiram rápido. Os poetas Castro Alves e


Augusto dos Anjos, de um lado, se aproximaram da nova religião. Já José de Alencar e
Machado de Assis a atacavam – mas só depois de se darem ao trabalho de conhecê-la.
Augusto dos Anjos foi o mais empolgado: em sua cidade, Engenho do Pau D’Arco,
Paraíba, ele conduzia sessões, recebia espíritos e psicografava. Quando Chico Xavier
nasceu, em 1910, o hábito de receber romances do além já era disseminado e se tornaria
uma das marcas da nova religião, que, para muitos, já tinha muito pouco a ver com o que
Kardec havia imaginado.

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Atualmente, o trabalho iniciado por Kardec tem 13 milhões de seguidores no mundo.
A maioria, 3,8 milhões, está no Brasil.

CONCLUSÃO

Um ponto positivo da atuação do espiritismo é o interesse que se tem em promover o


conhecimento sobre a alma, além de seu profundo interesse por obras de caridade. Mas a
debilidade do espiritismo é que se faz da tentativa de comunicação com espíritos
desencarnados uma religião.

Os ensinos do espiritismo são comuns a outros sistemas e precisam ser julgados um


por um, e não como um grupo de ensino. Essa pluralidade de formação torna o estudo da
matéria complexo em sua essência.

O fato é que o mistério exercido pelo mundo espiritual, a capa de racionalidade vestida
pelos seus mestres e a possibilidade de se manter ligado a vida terrena através dos ciclos
de reencarnação, tem atraído os seres humanos no decorrer da história e, talvez sejam
estes os principais fatores que tornam o espiritismo uma doutrina tão atraente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAIA, Eduardo. Espiritismo. São Paulo: Ática, 1996.


CARNEIRO, Victor Ribas. ABC do Espiritismo. Paraná: Federação Espírita do
Paraná, 1996
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Candeia,
1996.
DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. São Paulo: Pensamento, 2004
GASPAR, Eneida D. Guia de Religiões Populares do Brasil. Rio de Janeiro: Pallas,
2002
PIERUCCI, Antônio Flávio. A Magia. São Paulo: Publifolha, 2001
PIERUCCI, Antônio Flávio; PRANDI, Reginalodo. A Realidade Social das Religiões
no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996
SOUTO MAIOR, Marcel. Kardec: A Biografia. São Paulo: Record, 2013

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