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Nos caminhos do Texto: Atos de Leitura
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Coleção Mestrado em Lingüística
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Nos caminhos do Texto: Atos de Leitura
1 Tomo aqui cidades letradas tal como propõe Angel Rama (1985). Em ensaio
que mostra como se deu o controle de populações na América espanhola e
portuguesa, desde o início de sua colonização, o autor define essas cidades
como: “(...) o anel protetor do poder e o executor de suas ordens: uma plêiade
de religiosos, administradores, educadores, profissionais, escritores e múltiplos
servidores intelectuais. Todos os que manejavam a pena estavam estreitamente
associados às funções do poder (...)” (p. 43). Rama atribui a supremacia da cidade
das letras, dentre outros fatores, à sacralização das letras, e por conseqüência,
da escritura, dentro da tendência gramatológica da cultura européia. A cidade
letrada era uma cidade escriturária que representava uma minoria dentro da
“cidade real”. Era rodeada na vida social por anéis de populações que não
dominavam a escrita. Assim, via-se não só em situação minoritária dentro da
sociedade, mas em necessidade de exercer uma atitude defensiva dentro de um
meio hostil. Fazia-o apoiando-se no manejo uma “língua minoritária”, aos
moldes das metrópoles: “O uso dessa língua [escrita e ‘pura’] purificava uma
hierarquia social, dava provas de uma proeminência e estabelecia um cerco
defensivo em relação a um contorno hostil e, sobretudo, inferior” (p. 58). De
acordo com Rama, o purismo lingüístico “(...) foi a obsessão do continente no
transcurso de sua história” (p. 61).
2 O conceito de norma culta tem sido utilizado, no senso comum, como sinônimo
daquela presente nos instrumentos lingüísticos como gramáticas e dicionários,
ou seja, como sinônimo de norma prescritiva. Mas, para os sociolingüistas
brasileiros, metodologicamente, norma culta é considerada a norma utilizada
por falantes que possuem nível universitário.
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5 Como essas categorias já são “senso comum” nos estudos do discurso no Brasil,
evito discorrer sobre elas aqui, para o bem do leitor. Um texto introdutório a essas
heterogeneidades é Dominique Maingueneau (1993) – remeto o leitor interessado
a este texto e aos escritos da autora.
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Luiz Costa Pereira Jr. não distingue as opiniões das autoridades ci-
tadas, no entanto poderia fazê-lo, porque os discursos diretos presentes
nesta matéria, dos lingüistas Possenti, Neves e Brandão, do gramático
Bechara e do psicólogo Rosa, apresentam uma postura descritiva em
relação ao que se chama “gerundismo”, enquanto as outras pessoas
citadas consideram esse uso “um problema” – a diferença essencial
é que o primeiro grupo vê esse uso do gerúndio como uma forma
gramatical que reflete as relações sociais (se há problema, é com essas
relações, não com a forma gramatical em si), já o segundo grupo vê
problemas na construção, tratando-a como:
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REFERÊNCIAS
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