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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


ESCOLA POLITÉCNICA
MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA

ESTUDO DA EFICÁCIA DA ADIÇÃO DE CARVÃO ATIVADO NA PERFOR-


MANCE DE BARREIRAS MINERAIS COMPACTADAS PARA CONTENÇÃO
DE HIDROCARBONETOS

Raúl Andrés Guerrero Ávila

Salvador
2017
ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


ESCOLA POLITÉCNICA
MESTRADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL URBANA

ESTUDO DA EFICÁCIA DA ADIÇÃO DE CARVÃO ATIVADO NA PERFOR-


MANCE DE BARREIRAS MINERAIS COMPACTADAS PARA CONTENÇÃO
DE HIDROCARBONETOS

Raúl Andrés Guerrero Ávila

Dissertação apresentada ao
mestrado em Engenharia Ambiental Urbana
como requisito parcial à obtenção do título
de MESTRE EM ENGENHARIA
AMBIENTAL URBANA

Orientador: Prof. Dr. Sandro Lemos Machado


Agência Financiadora: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES)

Salvador
2017
iii

G924 Guerrero, Raúl Andrés


Estudo da Eficácia da Adição de Carvão Ativado na
Performance de Barreiras Minerais Compactadas para Contenção
de Hidrocarbonetos / Raúl Andrés Guerrero. -- Salvador, 2017.
153 f. : il

Orientador: Sandro Lemos Machado.


Dissertação (Mestrado - Mestrado em Engenharia Ambiental
Urbana) -- Universidade Federal da Bahia, Escola Politécnica,
2017.

1. Carvão Ativado. 2. Permeabilidade Saturada. 3. Super-


fície Especifica. 4. Líquidos Hidrocarbonetos. I. Machado,
Sandro Lemos. II. Título.
iv

DEDICATÓRIA

A minha mãe amada, Orlandina Ávila Rodriguez, por sempre ter me


aconselhado e apoiado em cada etapa da minha vida.
v

RAÚL A. GUERRERO

Engenheiro Civil, formado pela Universidade Católica de Honduras, UNICAH


(2011).

“Seja profundo ou superficial, vermelho ou preto, areia ou argila, o solo é a liga-


ção entre o núcleo rochoso da terra e os seres vivos em sua superfície. É o
ponto de apoio para as plantas que germinam. Nisso alude o nosso principal
motivo pelo interesse em solos.”

Roy W. Simonson
vi

BANCA EXAMINADORA
vii

AGRADECIMENTOS

A Deus por sempre ter guardado e abençoado minha vida, além de colocar as
pessoas certas no caminho.
A minha querida mãe, Orlandina Avila, pelo amor, sabedoria, esforço, trabalho
e dedicação para brindar o melhor dela para mim e apoiar sempre cada uns
das minhas escolhas.
A meu pai, Raul Alfonso Guerrero Suarez del Real, por ter me ensinado tanto
em tão pouco tempo de vida juntos. Agradeço a cada uns dos momentos
vividos a seu lado e pelo exemplo de homem que foi.
Ao Dr. Sandro Lemos Machado, ilustre orientador, pela sua paciência,
dedicação, motivação e compreensão, sendo um verdadeiro líder como poucos
e referência absoluta na área da geotecnia.
À Dra. Míriam Carvalho e aos técnicos no laboratório de solos da Universidade
Católica de Salvador pelo grande apoio e aporte para a realização deste
trabalho.
Aos colegas e amigos obtidos no GEOAMB, Adriano, André, Antônio, Atila,
David, Fernando, Gustavo, Jeová, José Domingos, Mario Sérgio, Nicole,
Ramile, Rafael, Ricardo, Rita, Victor e Zênite pela convivência, paciência,
colaboração e ajuda emprestada sempre que precisada ao longo do tempo de
mestrado.
A todos meus familiares que tem acredito em mim e meus sonhos, com
menção especial às minhas avós, Juana de Jesus Rodriguez e Maria Elena
Suarez del Real de Guerrero.
Às novas amizades feitas desde o meu primeiro dia aqui em Salvador,
brasileiros e estrangeiros, com menção especial de Renê Garcia, irmão na fé e
amigo incondicional em todo tempo.
Aos pastores e os irmãos na fé da igreja Batista do Garcia como Oscar,
Cleunice, Uhana, Maressa, Caique, Vanessa, Gabriel e Marieli sendo pessoas
que refletem o amor do nosso Senhor Jesus ao próximo.
viii

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo principal avaliar a influência da


adição de carvão ativado (CA) a ser utilizado em barreiras minerais compacta -
das, visando a diminuição do coeficiente de permeabilidade aos líquidos (orgâ-
nicos) hidrocarbonetos atingindo o valor máximo de 1x10 -06 cm·s-1. Para isso,
este trabalho avaliou a utilização de CA como aditivo orgânico em solos tropi-
cais (naturais) visando alterar suas características geotécnicas, e possibilitar
seu uso como barreira hidráulica ao fluxo de derivados de petróleo (óleo diesel)
em caso de disposição acidental no solo. Foram selecionados dois tipos de so-
los, sendo o primeiro conformado de uma matriz argilosa (solo residual do Gra-
nulito/Gnaisse, RGG) e o segundo de comportamento arenoso (solo sedimen-
tar da formação Terciária Barreiras, TBA). Baseados nestes solos diversas mis-
turas foram produzidas com três tipos de CA, segundo a granulometria, (carvão
ativado granular, CAG; carvão ativado em pó, CAP; e carvão ativado em pó
moído, CAPM) a diferentes teores de adição (0%, 5%, 10% e 20%) referente à
massa (base seca) da amostra. Os experimentos de percolação avaliaram o
comportamento resultante do coeficiente de permeabilidade ou permeabilidade
saturada (ksat), bem como foram estudados os índices físicos do solo. Foi ob-
servada uma relação direta entre a diminuição da granulometria do CA e a re-
dução do ksat nas amostras. Os resultados apresentaram uma resposta favorá-
vel à adição das frações orgânicas no solo para fins de redução do coeficiente
de permeabilidade ao óleo diesel, escolhido como hidrocarboneto de referên-
cia, principalmente para o CA derivado do rejeito da casca de coco submetido à
moagem extra, para maior redução da sua granulometria. Diante disso, pode-
se dizer que o uso de adições de CA na escala micrométrica, pode ser uma al-
ternativa eficaz e menos onerosa em favor do meio ambiente atendendo a uma
necessidade da indústria petroleira no Brasil. Considerando que a distância de
transporte (frete) é um dos principais componentes na formação de preços para
a confecção de barreiras minerais, o uso de adições orgânicas como uma bar-
reira hidráulica aos fluidos de interesse pode se tornar atrativa.

Palavras-chave: carvão ativado; permeabilidade saturada; superfície especifica;


granulometria; líquidos hidrocarbonetos.
ix

EFFICIENCY STUDY OF ACTIVATED CHARCOAL AMENDMENTS TO


ENHANCE COMPACTED MINERAL-BARRIER PERFORMANCE AGAINST
HYDROCARBON FLUID POLLUTANTS

ABSTRACT

This study aimed to evaluate the influence of activated charcoal (AC)


amendments to reduce permeability coefficients, ideally no greater than 1×10-06
cm·s-1, within compacted mineral-barreirs against hydrocarbon (organic) fluids.
Therefore, AC amendments were evaluated in tropical (native) soils to enhance
geotechnical properties and ease their use as a hydraulic barrier against
petroleum-based liquid flow when accidentally released into soil. Two type of
soils were utilized: granulite-gnaisse residuum soil (RGG) with clayey formation
and tertiary sedimentary soil (TBA) with sand predominance. Based on these
soils, mixtures were made using three types of AC, classified according to
particle-size (granular activated charcoal, GAC; powdered activated charcoal,
PAC; and grinded-powder activated charcoal, GPAC) at different amendment
contents (0%, 5%, 10% and 20%) based on the (dry) mass of the sample.
Percolating tests evaluated the outcome performance of the permeability
coefficient (ksat) of each sample, as well as the index properties. A direct
relationship between the AC’s particle-size decrease (surface area increase)
and ksat decrease was witnessed. Hereby results presented an encouraging
acceptance of the embedded organic product, especially for the GPAC based
from coconut-shell waste, to decrease the permeability of the soil towards diesel
fuel, chosen as the referenced hydrocarbon fluid. Therefore, it can be stated
that the use of amendments with micro-sized particles of AC can serve as an
efficient and low-cost alternative, as well as environmentally beneficial,
complying to a long-time requirement within the Brazilian petroleum industry. In
addition, transportation (freight) cost is one of the main components for price
fixing in mineral barrier elaboration, thus, the use of AC amendments for this
purpose emerges as an attractive and feasible solution.

Keywords: activated charcoal; permeability coefficient; surface area; particle-


size; hydrocarbon fluids
x

SUMÁRIO

Pág.
BANCA EXAMINADORA....................................................................................vi
AGRADECIMENTOS.........................................................................................vii
RESUMO...........................................................................................................viii
ABSTRACT.........................................................................................................ix
SUMÁRIO.............................................................................................................x
ÍNDICE DE TABELAS........................................................................................xii
ÍNDICE DE FIGURAS........................................................................................xiv
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS.......................................................................xix
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................1
2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................4
2.1 Solos: Composição e Características.........................................................4
2.1.1 Superfície Específica e Limites de Consistência.................................8
2.2 Principais grupos argilominerais...............................................................12
2.2.1 A Caulinita...........................................................................................12
2.2.2 A Ilita...................................................................................................13
2.2.3 A Montmorillonita................................................................................14
2.3 Cargas superficiais nos Argilominerais.....................................................16
2.3.1 Ponto de Carga Zero..........................................................................17
2.4 Teoria da Camada Dupla..........................................................................18
2.4.1 Modelo Gouy-Chapman.....................................................................19
2.4.2 Modelo de Stern.................................................................................20
2.5 Comportamento hidráulico dos líquidos hidrocarbonetos em solos.........23
2.5.1 Destilados Leves (LNAPL): Gasolinas...............................................25
2.5.2 Destilados Médios..............................................................................26
2.5.3 Óleo de Combustível Pesado.............................................................27
2.9 A Permeabilidade em Solos......................................................................27
2.10 A Permeabilidade em Meios Granulares.................................................31
2.11 A Permeabilidade em Meios Argilosos....................................................33
2.12 O Carvão Ativado e suas aplicações......................................................43
3. DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL.......................................................47
3.1 Escolha dos materiais: Coleta..................................................................49
xi

3.1.1 Fluidos Permeantes:...........................................................................49


3.1.1.1 Caracterização dos Fluidos.............................................................49
3.1.2 Carvão Ativado:..................................................................................52
3.1.3 Solos:..................................................................................................53
3.2 Preparação dos materiais.........................................................................54
3.2.1 Carvão Ativado...................................................................................54
3.2.1.1 Caracterização do Carvão Ativado..................................................58
3.2.2 Preparação dos Solos........................................................................64
3.2.2.1 Ensaios de Caracterização dos Solos............................................66
3.2.2.2 Caracterização da Mineralogia dos Solos.......................................71
3.2.3 Caracterização das Misturas Solo/CA: Limites de Atterberg ou de
Consistência................................................................................................77
3.3 Ensaios de Compactação e preparação das amostras............................78
3.4 Ensaios de permeabilidade: Delineamento, preparação e montagem.....81
3.4.1 Correção do teor de umidade ao ODC..............................................89
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................93
4.1 Índices Físicos...........................................................................................93
4.1.1 Amostras permeadas com Água Deionizada – ADI...........................93
4.1.2 Amostras permeadas com Óleo Diesel Comercial – ODC................95
4.2 Ensaios de Permeabilidade a Carga Variável...........................................98
4.2.1 Amostras permeadas com Água Deionizada – ADI...........................98
4.2.2 Amostras permeadas com Óleo Diesel Comercial – ODC..............102
4.3 Modelo para prever a permeabilidade em meios argilosos....................107
4.3.1 Previsão do ksat em amostras de solo sem adição de carvão ativado
...................................................................................................................108
4.3.2 Previsão do ksat em amostras de solo com adição de carvão ativado
...................................................................................................................109
5. CONCLUSÕES.............................................................................................113
6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS..........................................115
7. REFERÊNCIAS............................................................................................116
8. ANEXOS.......................................................................................................127
xii

ÍNDICE DE TABELAS

Pág.
Tabela 1. Comparativa de Escalas para a Classificação de Solos......................7
Tabela 2. Estimativa dos valores de SE para os principais argilominerais..........8
Tabela 3. Solubilidade dos constituintes BTEX..................................................26
Tabela 4. Capacidade de Adsorção do Carvão Ativado aos Líquidos Orgânicos.
............................................................................................................................44
Tabela 5. Valores de μ e Ck para o ODC segundo a temperatura.....................51
Tabela 6. Propriedades dos Fluidos a 27 oC......................................................51
Tabela 7. Informação descritiva dos componentes que conformam o moinho de
bolas....................................................................................................................55
Tabela 8. Resultados obtidos nos ensaios de caracterização do CA................64
Tabela 9. Massa requerida por tipo de solo segundo ensaio delimitado...........66
Tabela 10: Normas utilizadas nos ensaios de caracterização física..................67
Tabela 11. Resumo dos resultados de caracterização dos solos estudados.....68
Tabela 12. Resultados da análise de FRX nos solos RGG e TBA.....................73
Tabela 13. Estimativa da fração constituinte da mineralogia segundo o tipo de
solo......................................................................................................................76
Tabela 14. Resultados dos LA obtidos nas misturas solo/CA............................78
Tabela 15. Resultados dos ensaios de compactação nas amostras feitos com
solo RGG............................................................................................................80
Tabela 16. Resultados dos ensaios de compactação nas amostras feitas com
solo TBA..............................................................................................................80
Tabela 17. Teores de umidade e STV encontrados para o solo RGG e suas adi-
ções.....................................................................................................................90
Tabela 18. Teores de umidade e STV encontrados para o solo TBA e suas adi-
ções.....................................................................................................................90
Tabela 19. Resumo dos teores de umidade referente às amostras de RGG....94
Tabela 20. Resumo dos teores de umidade referente às amostras de TBA.....94
Tabela 21. Resumo dos índices físicos das amostras de RGG.........................94
Tabela 22. Resumo dos índices físicos das amostras de TBA..........................95
Tabela 23. Resumo dos teores de umidade correspondentes às amostras de
RGG....................................................................................................................96
xiii

Tabela 24. Resumo dos teores de umidade correspondentes às amostras de


TBA.....................................................................................................................96
Tabela 25. Resumo dos índices físicos nas amostras do solo RGG.................97
Tabela 26. Resumo dos índices físicos nas amostras do solo TBA...................97
Tabela 27. Resumo dos valores de ksat experimentais à ADI das amostras de
RGG..................................................................................................................100
Tabela 28. Resumo dos valores de ksat experimentais à ADI das amostras de
TBA...................................................................................................................101
Tabela 29. Resumo dos valores experimentais de ksat ao ODC nas amostras
de RGG.............................................................................................................105
Tabela 30. Resumo dos valores experimentais de ksat ao ODC das amostras
de TBA..............................................................................................................106
Tabela 31. Resultados do coeficiente de permeabilidade previsível ao ODC nas
amostras de solo sem adição de CA................................................................109
Tabela 32. Resultados do coeficiente de permeabilidade previsível ao ODC nas
amostras de solo com adição de CA................................................................111
xiv

ÍNDICE DE FIGURAS

Pág.
Figura 1. Escala granulométrica e curva de distribuição das partículas sólidas
segundo a ABNT (Pinto, 2000).............................................................................6
Figura 2. Relação entre os LA e a SE do solo na região do Quebec (Locat et
al.,1984)..............................................................................................................11
Figura 3. Ilustração da estrutura atômica referente à caulinita (Adaptado: Grim,
1959)...................................................................................................................12
Figura 4. Ilustração da estrutura atômica da ilita (Adaptado: Grim, 1959)........14
Figura 5. Ilustração da estrutura atômica da montmorillonita (Adaptado: Grim,
1959)...................................................................................................................15
Figura 6. Ilustração do tamanho e estrutura de cada partícula dos grupos argilo-
minerais: a) caulinita; b) ilita; c) montmorillonita (Adaptado: Das, 2010)...........16
Figura 7. Ilustração da carga desenvolvida na superfície argilosa dependente
do pH e o Ponto de Carga Zero (Adaptado: Greenland e Mott, 1978; Stumm e
Morgan, 1981).....................................................................................................17
Figura 8. Ilustração da Camada dupla iônica (Adaptado de Zeta Meter Inc.,
1977)...................................................................................................................19
Figura 9. (a) Variação da espessura em função da concentração eletrolítica ao
redor da partícula sólida. (b) Variação da espessura em função da polaridade
do fluido intersticial (Adaptado: Fang, 1997)......................................................21
Figura 10. Ilustração da distribuição dos cations próximos nas superfícies argi-
lominerais segundo o modelo (Adaptado: Arnold, 1978)...................................22
Figura 11. Distribuição Vertical das Fases dos Hidrocarbonetos na Subsuper-
fície (Adaptado: Lundy e Gogel, 1988)...............................................................24
Figura 12. Faixas de variação do coeficiente de permeabilidade segundo a
classificação do solo (Adaptado: Casagrande e Fadum, 1940).........................28
Figura 13. O coeficiente de permeabilidade em relação ao: a) WP b) IP (Adap-
tado: Benson et al, 1994)....................................................................................30
Figura 14. Coeficiente de permeabilidade em relação à energia de compacta-
ção e o grau de saturação inicial (Benson e Trast, 1995)..................................31
Figura 15. Resultados dos ensaios realizados para a determinação do ksat em
relação a gasolina comercial (Machado, 2008)..................................................35
xv

Figura 16. Resultados dos ensaios realizados para a determinação do ksat em


relação ao óleo diesel (Machado, 2008)............................................................35
Figura 17.Relação entre kexp e kNutting em função do IP (Cardoso, 2011).....37
Figura 18. Valores do coeficiente de permeabilidade experimentais e previstos
pelo modelo de Cardoso (2011).........................................................................38
Figura 19. Curvas dos coeficientes de permeabilidade em função do teor (base-
ado na massa) de bentonita (Oliveira 2001; Cardoso 2011)..............................39
Figura 20. Validação da modelagem com valores de coeficiente de permeabili-
dade experimentais e da literatura (Machado et al., 2016)................................42
Figura 21: Esquema do procedimento e avaliação experimental para cada CP:
a) Etapa I; b) Etapa II..........................................................................................48
Figura 22: Viscosímetro e câmara de banho Brookfield utilizada na obtenção da
μ para ambos fluidos permeantes......................................................................50
Figura 23. Dispositivo de osmose reversa utilizado para deionizar a água potá-
vel na EP-UFBA..................................................................................................52
Figura 24. Lugar de coleta das amostras de solo: a) EP-UFBA; b) Estrada
CIA/Aeroporto.....................................................................................................54
Figura 25. Moinho de bolas utilizado para diminuir a granulometria do CAG....55
Figura 26. Processo de moagem do CAG: a) Amostra de CAG coletada; b) Co-
locação do CAG dentro do moinho de bolas; c) Amostra obtida após de 120 mi-
nutos; d) Liquidificador industrial utilizado; e) Amostra final de CAG.................57
Figura 27. Pesagem do CAP retido segundo a peneira utilizada no procedimen-
to.........................................................................................................................58
Figura 28. Curva característica da análise granulométrica do CAP...................59
Figura 29. Curva característica da análise granulométrica do CAG, antes e de-
pois do processo de moagem empírico..............................................................60
Figura 30. Picnômetro Micromeritics utilizado na determinação do valor de den-
sidade para o CAG.............................................................................................61
Figura 31. Determinação da massa específica dos grãos do CAP e CAPM: a)
Extração do ar com a bomba de vácuo; b) Amostras atingindo a temperatura
ambiente.............................................................................................................62
Figura 32. O permeabilímetro ACMEL empregado na estimativa da SE dos ma-
teriais utilizados..................................................................................................62
xvi

Figura 33. Processo de secagem empregado nas amostras deformadas coleta-


dos em campo....................................................................................................65
Figura 34. Preparação dos solos no GEOAMB: a) Destorroamento; b) Peneira-
mento..................................................................................................................66
Figura 35. Curva característica da análise granulométrica do solo RGG..........69
Figura 36. Curva característica da análise granulométrica do solo TBA...........69
Figura 37. Reta de fluxo na obtenção do WL para o solo RGG.........................70
Figura 38. Reta de fluxo na obtenção do WL para o solo TBA..........................70
Figura 39. Carta de plasticidade de Casagrande (1932) integrando os solos
RGG e TBA.........................................................................................................71
Figura 40. Dispositivos utilizados para a identificação de elementos e minerais
nos solos RGG e TBA: a) Analisador portátil FRX; b) Difratômetro de raios-X. 72
Figura 41. Amostra do solo RGG no recipiente antes de ser inserida no difratô-
metro Bruker D2 Phaser.....................................................................................74
Figura 42. Gráfico de intensidade dos principais minerais identificados no solo
RGG....................................................................................................................75
Figura 43. Gráfico de intensidade dos principais minerais identificados no solo
TBA.....................................................................................................................75
Figura 44. Ensaios dos limites de Atterberg ou de Consistência: a) Limite de
plasticidade, WP ; b) Limite de liquidez, WL......................................................77
Figura 45. Esquema descritivo dos ensaios de permeabilidade delineados por
amostra...............................................................................................................82
Figura 46. PPR ranhurados utilizados ao longo da parte experimental do estu-
do........................................................................................................................83
Figura 47. Estrutura final de PPR prévio ao processo de saturação e execução
do ensaio de permeabilidade..............................................................................83
Figura 48. Colocação do o-ring dentro da tampa do PPR: a) Tampa sem o-ring;
b) Tampa com o-ring...........................................................................................84
Figura 49. Procedimento de colocação do filtro: a) Geotêxtil em contato com o
material compactado; b) Pedrisco utilizado segundo o fluido permeante; c) Co-
locação de geotêxtil entre o pedrisco e a tampa prévia ao fechamento............85
Figura 50. Preparação do CP prévia execução do ensaio de permeabilidade: a)
Preenchimento do PPR; b) Processo de saturação com o fluido permeante....86
xvii

Figura 51. Processo do ensaio de permeabilidade a carga variável: a) CPs se-


gundo o fluido permeante (parte superior os ensaiados com ODC e a inferior
com ADI; b) Reservatórios fixos contendo os líquidos permeantes; c) Buretas
graduadas e fixadas............................................................................................87
Figura 52. Procedimento após da finalização do ensaio de permeabilidade: a)
Pesagem do CP saturado; b) Extração da amostra compactada......................88
Figura 53. Determinação do teor de umidade na amostra: a) pesagem da
amostra; b) colocação na estufa; c) Forno mufla para as amostras ensaiadas
com ODC............................................................................................................89
Figura 54. Amostra RGG95% - CAPM5% prévio processo de secagem ao
ODC....................................................................................................................97
Figura 55. Gráfico da influência da adição do CAG no ksat utilizando ADI.......98
Figura 56. Gráfico da influência da adição do CAP no ksat referente a ADI.....99
Figura 57. Correlação entre a SE e o ksat utilizando a ADI como fluido perme-
ante...................................................................................................................102
Figura 58. Gráfico da influência da adição do CAG no ksat utilizando ODC...103
Figura 59. Gráfico da influência da adição do CAP no ksat utilizando ODC.. .104
Figura 60. Correlação entre a SE e o ksat utilizando o ODC como fluido perme-
ante...................................................................................................................106
Figura 61. Previsão dos valores de ksat em relação aos ksat experimentais nas
amostras de solo RGG e TBA sem adição de CA pelo modelo de Machado et
al. (2016)...........................................................................................................108
Figura 62. Previsão dos valores de ksat em relação aos ksat experimentais nas
amostras de solo RGG e TBA com as adições de CA pelo modelo de Machado
et al. (2016).......................................................................................................110
Figura 63. Amostra RGG a 100% compactada na EPI permeada à ADI.........128
Figura 64. Amostra RGG a 100% compactada na EPM permeada à ADI.......128
Figura 65. Amostra RGG95% - CAPM5% permeada ao ODC........................128
Figura 66. Amostra RGG95% - CAPM5% permeada à ADI.............................129
Figura 67. Amostra RGG90% - CAP10% permeada à ADI..............................129
Figura 68. Amostra RGG90% - CAG10% permeada ao ODC.........................129
Figura 69. Amostra RGG80% - CAP20% permeada à ADI..............................130
Figura 70. Figura 65. Amostra TBA a 100% permeada à ADI..........................130
Figura 71. Amostra TBA90% - CAG10% permeada à ADI...............................130
xviii

Figura 72. Amostra TBA90% - CAP10% permeada à ADI...............................131


Figura 73. Amostra TBA80% - CAG20% permeada à ADI...............................131
Figura 74. Amostra TBA80% - CAP20% permeada à ADI...............................131
xix

SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

A Atividade
Ag Areia
Ar Argila
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ADI Água Deionizada
Al Alumínio
ANP Agência Nacional de Petróleo
ASTM American Society for Testing and Materials Standards
BET Método Brunauer, Emmett, Teller
BR Brasil
BTEX Composto formado pelos hidrocarbonetos Benzeno, Tolueno,
Etil-benzeno e os Xilenos
cm Centímetro (L)
Ca Cálcio
Ca2+ Íon de Cálcio
CAG Carvão Ativado Granular
CAP Carvão Ativado em Pó
CAPM Carvão Ativado em Pó Moído
Cl Cloro
CP Corpo de prova
CPS Contagens por segundo (Counts per second)
CTC Capacidade de troca de cations
DRX Técnica de difração de raios-X
e Índice de vazios (-)
EPA Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection
Agency)
EPI Energia Proctor Intermediaria
EPM Energia Proctor Modificada
EUA Estados Unidos de América
Exp. Linha referencial para valores de permeabilidade do modelo de
Machado et al. (2016)
Fe Ferro
FR França
FRX Técnica de fluorescência de raios-X
g Constante gravitacional
GA Geórgia (Estado pertencente aos EUA)
Gs Densidade Relativa dos Grãos
GEOAMB Laboratório de Geotecnia Ambiental
H Hidrogênio
H+ Cátion de Hidrogênio
IBAMA Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IEP Ponto Isoelétrico
IF Instituto de Física
IP Índice de Plasticidade
k Coeficiente de permeabilidade (LT-1)
K Coeficiente de permeabilidade intrínseca (LT-1)
Kb Constante de Boltzmann
xx

kf Coeficiente de permeabilidade ao fluido permeante (LT-1)


kN Quilonewton (F)
ksat Coeficiente de permeabilidade saturada (LT-1)
ksat_ca Coeficiente de permeabilidade saturada com adição orgânica
(LT-1)
ksat_sa Coeficiente de permeabilidade saturada sem adição orgânica
(LT-1)
kV Kilovoltios
L Litros
LA Limites de Atterberg (de consistência)
LABCAT Laboratório de Catalise e Materiais
LAMUME Laboratório Multiusuário de Microscopia Eletrônica
LEDMA Laboratório de Ensaios em Durabilidade dos Materiais
Lim. Limite
m Metro (L)
MA Massachusetts (Estado pertencente aos EUA)
Max. Máximo
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
Mf Massa final
Mg Manganésio
Mg2+ Íon de Manganésio
Mi Massa inicial
Min. Mínimo
min Minuto (T)
Mmufla Massa após o processo de secagem a 600 °C
Mmufla* Massa corrigida considerando a matéria orgânica da amostra
após o processo de secagem a 600 °C
Mn Manganês
n Porosidade
NBR Norma Brasileira
ncp Número de corpos de prova
ne Concentração Eletrolítica
N2 Nitrogênio
O2 Oxigênio
OR Oregon (Estado pertencente aos EUA)
ODC Óleo Diesel Comercial
Pd Pedregulho
PCZ Ponto de Carga Zero
pH Potencial Hidrogeniônico
PPR Permeâmetro de Parede Rígida
PVC Policloreto de Vinil
R$ Unidade monetária brasileira (Real)
RPM Revoluções por minuto
s Segundo (T)
SC Santa Catarina (Estado brasileiro)
SE Superfície Especifica (L2M-1)
SEint Superfície Especifica Interna (L2M-1)
SEext Superfície Especifica Externa (L2M-1)
SEM Superfície Especifica Modificada (L2M-1)
SEtotal Superfície Especifica Total (L2M-1)
Si Silício
xxi

SI Sistema Internacional
Sri Grau de Saturação Inicial
Srf Grau de Saturação Final
SP São Paulo (Estado brasileiro)
St Silte
STV Sólidos Totais Voláteis
TX Texas (Estado pertencente aos EUA)
UCSAL Universidade Católica de Salvador
UFBA Universidade Federal da Bahia
VMP Valor Máximo Permitido
w Teor ou conteúdo de umidade (%)
wd Teor de umidade referente ao óleo diesel (%)
wH2O Teor de umidade referente à água (%)
WI Wisconsin (Estado pertencente aos EUA)
wtotal Teor de umidade referente ao óleo diesel e a água (%)
WL Limite de Liquidez (%)
WP Limite de Plasticidade (%)
XVIII Número romano dezoito (18)
XX Número romano vinte (20)
% Simbolo para representar Porcentagem
° Simbolo para representar Grau
°C Temperatura em unidades Celsius (T)
°K Temperatura em unidades Kelvin (T)
Å Angstroms (L)
∆M Diferencia de massas (M)
ε Constante Dielétrica (-)
εw Constante Dielétrica da água (-)
εf Constante Dielétrica do fluido permeante (-)
 Densidade do material (ML-3)
ca Densidade do carvão ativado (ML-3)
f Densidade do fluido (ML-3)
Ø Diâmetro (L)
µ Viscosidade dinâmica (ML-1T-1)
µf Viscosidade dinâmica do fluido permeante (ML -1T-1)
µw Viscosidade dinâmica da água (ML-1T-1)
µm Micrômetros (L)
1

1. INTRODUÇÃO

A contaminação de solos e lençóis freáticos, devido ao derramamento


de líquidos hidrocarbonetos, ocorre impulsionada pelas más práticas operacio-
nais e pelos padrões de segurança ineficientes. Somente no ano 2013 foi regis-
trada pelo Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno-
váveis (IBAMA), o vazamento de 472,53 m3 de óleo diesel no Brasil. As conse-
quências decorrentes deste tipo de acidente são alvo de muitos estudos devido
à frequência com que estes eventos acontecem, convertendo-se em uma fonte
permanente de contaminação a níveis elevados para o meio ambiente (Shabir
et al., 2008; Tiehm et al., 2010).
Na atualidade, o mercado financeiro mundial é regido pela indústria pe-
troleira; as atividades relacionadas com esta indústria vão desde a extração,
transporte, processamento e armazenagem do petróleo até sua utilização final.
O manejo apropriado deste produto e os seus derivados, reduz a probabilidade
de propagações no meio ambiente, evitando riscos à saúde humana. Portanto,
qualquer tipo de infraestrutura destinada à retenção de hidrocarbonetos, deve
estar devidamente adequada, minimizando ao máximo o risco de contamina-
ção.
Precisa-se de técnicas de proteção ambientais para minimizar o impacto
de vazamentos dos líquidos hidrocarbonetos, além de planos de contingência e
mitigação para recuperar zonas atingidas no menor tempo possível. Em tal
caso, as características físico-químicas do fluido e as propriedades geotécnicas
do solo serão os principais componentes que influenciarão a interação entre o
fluido poluente e o meio poroso.
Destacam-se como características físico-químicas dos líquidos a densi-
dade, viscosidade, constante dielétrica, tensão superficial, volatilidade, solubili-
dade e o coeficiente de partição octanol/água, bem como a granulometria, den-
sidade, mineralogia e conteúdo de matéria orgânica presente no solo receptor.
Além disso, quando os líquidos hidrocarbonetos são disponibilizados no meio
receptor, formam-se várias fases de contaminação, podendo estas serem livre
2

(fase hidrocarboneto), adsorvida (aderida às partículas sólidas), dissolvida na


água, vaporizada (dissolvida no ar) ou condensada (Forte, 2007).
Os solos, de forma geral, apresentam uma capacidade limitada na ad-
sorção/retenção de líquidos poluentes, exigindo a adoção de medidas preventi-
vas como camadas protetoras ou barreiras minerais com materiais capazes de
atingir as especificações mínimas. Esta prática se emprega frequentemente
através da remoção do solo nativo, substituindo-os por camadas compactadas
de solo como os argilominerais que possuem características geotécnicas apro-
priadas. A subsuperfície deve ser resguardada para evitar que os movimentos
dinâmicos do ciclo hidrológico transportem sustâncias perigosas nas águas
subterrâneas e aquíferos adjacentes (Huling e Weaver, 1991).
O presente estudo se fundamenta na necessidade de se atender as nor-
mas ambientais para as estruturas (diques) de contenção de líquidos hidrocar-
bonetos ou combustíveis. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técni-
cas (ABNT) na NBR 7505:1/2000, o solo oriundo deve possuir um coeficiente
de permeabilidade máximo de 1x10 -06 cm·s-1 (referenciado à água a 20 ºC).
Além disso, o estudo é voltado para aquelas regiões que não possuem solos
com características geotécnicas adequadas, incrementando, assim, o risco am-
biental e os custos de prevenção, remediação e mitigação. Os estudos geotéc-
nicos, possibilitam ter um maior conhecimento sobre os comportamentos, inte-
rações e fenômenos que ocorrem entre o meio receptor e os fluidos poluentes,
o que facilita a criação de barreiras minerais mais efetivas e econômicas, evi-
tando a contaminação da subsuperfície no caso da ocorrência de vazamentos.
Dois tipos de solos são objeto deste estudo, o primeiro de natureza argi-
losa (solo residual do Granulito/Gnaisse, RGG) e o segundo de natureza areno-
sa (solo sedimentar da formação terciária de barreiras, TBA). Visando a obten-
ção de coeficientes de permeabilidade menores do estabelecido na norma, o
carvão ativado (CA) foi adicionado para avaliar a performance e determinar o
seu efeito na permeabilidade dos solos aos fluidos de interesse. Os carvões ati-
vados de origem vegetal aqui utilizados são: carvão ativado granular (madeira),
CAG; e carvão ativado em pó (rejeito da casca verde do coco), CAP. Cada
amostra foi preparada com teores de 5%, 10% e 20% de CA, podendo analisar
3

assim a influência da proporção solo/CA mais conveniente segundo a perfor-


mance e factibilidade.
Ensaios de permeabilidade foram realizados para cada amostra, sendo
ela saturada e percolada com dois fluidos de interesse: a água e o óleo diesel.
Também, os índices físicos de cada grupo de amostras foram obtidos, compa-
rando-os antes e depois da execução do ensaio. As variações nas característi-
cas (granulometria, superfície especifica, origem) do CA e a sua influência na
retenção (adsorção) do óleo diesel são alvo deste estudo.
Este trabalho possui 7 capítulos principais: introdução, revisão da litera-
tura, metodologia, resultados e discussões, conclusões, sugestões para futuros
trabalhos e as referências. Apresenta-se, na revisão da literatura no capítulo 2,
uma síntese sobre a estrutura e características dos solos com foco prioritário
nos de matriz argilosa; classificação e comportamento dos hidrocarbonetos na-
teoria 1 subsuperfície; a permeabilidade e os seus fatores; interação entre flui-
do/solo; e a utilização do CA como material de remediação ambiental e princi-
pais características.
No capítulo 3 se apresenta a metodologia desenvolvida, sendo descritos
os materiais e os métodos utilizados para atingir os objetivos específicos do tra-
balho. No capítulo 4 são apresentados os resultados obtidos dos ensaios de
forma resumida, além das análises e interpretação destes dados. Por último,
apresentam-se as conclusões e as sugestões de trabalhos futuros nos capítu-
los 5 e 6, respectivamente, além das referências bibliográficas e anexos apre-
sentados nos capítulos subsequentes, 7 e 8.
4

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Solos: Composição e Características

O solo, para efeitos da engenharia, pode-se definir como aquele agrega-


do solto formado por grãos minerais e a matéria orgânica degradada conjunta-
mente com a água e o ar que ocupam os espaços intersticiais e que pode ser
escavado sem o uso de explosivos (Das, 2010). A formação dos solos é resul-
tado do intemperismo das rochas através dos fenômenos de decomposição
química ou desintegração mecânica. Quanto à natureza das partículas dos so-
los, as frações grossas são predominantemente de grãos silicosos, enquanto
os minerais dos silicatos de alumínio, que ocorrem nas frações argilosas per-
tencem aos três grupos principais: caulinita, montemorilonita e ilita (Caputo,
1988).
Os primeiros estudos realizados no solo foram praticados nas areias, co-
meçando nos inícios do século XVIII. No ano 1717 o engenheiro Francês, Henri
Gautier (1660 – 1737), estudou as inclinações naturais dos solos quando trope-
çou acidentalmente numa pilha tentando formular o procedimento de desenho
para muros de contenção. Os resultados obtidos foram que a areia apresenta,
quando seca, uma inclinação natural de 31 o e uma massa unitária aproximada-
mente de 18,1 kN·m-3, estando este material sem impurezas. No entanto, os
primeiros resultados de modelos de laboratório foram produzidos em 1746 por
François Gadroy.
A partir de 1776 a grande maioria dos estudos na área da geotecnia
eram realizados por pesquisadores e cientistas na França, sendo entre os mais
destacados Charles A. Coulomb (1736 – 1806), Jacques F. Français (1775 –
1833), Alexandre Collin (1808 – 1890) e Jean V. Poncelet (1788 – 1867). Res-
salta-se que o principal foco destes pesquisadores surgiu a partir do desenvol -
vimento de estudos focados na modelagem teórica da pressão lateral que atin-
ge os muros de contenção baseado na falha da superfície do solo.
Os primeiros resultados de testes de laboratório registrados na literatura
sugerem a partir de 1856, conhecido como o período clássico da mecânica de
solos. Uns dos pesquisadores mais influentes e importantes neste período foi
5

Henri P.G. Darcy (1803 – 1858), que no ano 1856 publicou um estudo de per-
meabilidade aplicado em filtros de areia. Este estudo deu origem ao termo co-
nhecido como coeficiente de permeabilidade ou condutividade hidráulica en-
contrado no solo, um parâmetro de grande importância nos estudos geotécni-
cos.
Durante o início do século XX, o cientista sueco Albert M. Atterberg
(1846-1916), definiu a fração argilosa como a porcentagem por massa das par-
tículas com tamanho menor que 2 micrômetros (µm). Além disso, Atterberg ex-
plicou e representou de forma numérica a consistência dos solos coesivos es-
tabelecendo os parâmetros de limite de liquidez (W L) e plasticidade (WP), além
da contração do solo, que em seu conjunto são referenciados como os limites
de Atterberg (LA) ou de consistência (Atterberg, 1911). O índice de plasticidade
(IP) definido por Atterberg resulta da diferença entre o W L e o WP, expressados
em termos de porcentagem, sendo um parâmetro de grande importância nos
estudos geotécnicos para a caracterização e avaliação de solos.
Atualmente, classifica-se o solo em duas categorias principais, segundo
o seu tamanho e forma das partículas sólidas: grossos e finos. Dentro dos so-
los grossos encontram-se as areias, pedregulho, pedra de mão e matacão,
submetidos às forças gravitacionais devido a sua grande massa, apresentando
uma baixa superfície especifica. Enquanto que dentro dos solos finos se encon-
tram as argilas e siltes, sendo que o tipo de mineral de formação determinará a
forma de cada partícula sólida com altos valores de superfície especifica.
O comportamento dos agregados ou solos finos, rege-se pelas forças
moleculares ou elétricas, influindo de forma significativa nas interações electro
– químicas quando em presença de moléculas a um determinado fluido. A Figu-
ra 1 ilustra a escala granulométrica segundo a classificação de solos da ABNT
e o exemplo da curva de distribuição das partículas sólidas obtida através do
ensaio de peneiramento padronizado.
6

Figura 1. Escala granulométrica e curva de distribuição das partículas sólidas segundo


a ABNT (Pinto, 2000).

Importante ressaltar que o tipo de intemperismo influencia na granulome-


tria, estrutura e comportamento do solo. Em termos gerais, pode-se dizer que
partículas com dimensões até 0,001 mm são obtidos através do intemperismo
físico (variações de temperatura, repuxo coloidal, ciclos gelo/degelo, alívio de
pressões), enquanto que as partículas sólidas menores que 0,001 mm provém
do intemperismo químico (hidrólise, hidratação, carbonatação).
A relação entre o tamanho da partícula esta diretamente relacionada às
forças que predominaram o comportamento do solo. Estabelece-se que quanto
maior for a relação entre a área e volume ou massa das partículas sólidas, mai-
or será a predominância das forças elétricas. A Tabela 1 apresenta a comparati-
va de escalas internacionais para a classificação do solo.
7

Tabela 1. Comparativa de Escalas para a Classificação de Solos.


Escala da Sociedade Internacional de Ciência do Solo – (Atterberg)
2,0 mm 0,2 0,02 0,002
Areia Grossa Areia Fina Silte
Partícula
Areia Muito Areia Areia Areia Areia Muito Argila
Sólida Silte
Grossa Grossa Média Fina Fina
2,0 mm 1,0 0,5 0,25 0,10 0,05 0,002
Escala do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – U.S.D.A.
Fonte: Das, 2010.

Sabe-se que a fração das argilas constituem a fração mais fina da classi-
ficação de solos, comumente com partículas de diâmetro (Ø) inferior a 2 μm. O
meio argiloso é uma mistura porosa composta de ar e água que ocupa 40% do
volume e o restante é conformado pela matéria orgânica degradada e minerais
inorgânicos. Os minerais de solos argilosos, ou argilominerais, são muito reati-
vos devido a sua ampla área superficial ou superfície especifica (SE) e pela
carga elétrica que possuem.
As argilas desenvolvem uma característica “plástica” quando em contato
com certa quantidade de água (Grim, 1953). Diante disso, quando um solo con-
tem uma quantidade preponderante de argilominerais, os fenômenos associa-
dos entre as interações das partículas sólidas e as moléculas do fluido se dará
pelo comportamento eletroquímico (Soga, 2003).
Os componentes sólidos que dominam o comportamento hidráulico dos
solos argilosos são a matéria orgânica, o tipo de argilominerais, as substitui-
ções isomórficas neles presentes, assim como os cátions adsorvidos pelos ar-
gilominerais na interação solo – liquido. Geralmente, a matéria orgânica viabili-
za um sistema de maior porosidade nos solos argilosos. Além disto, a distribui-
ção dos poros e o tamanho destes influencia na permeabilidade dos solos argi-
losos (Brown & Anderson, 1983).
8

2.1.1 Superfície Específica e Limites de Consistência

A SE é definida como a área superficial por massa unitária do solo ou


partícula sólida, normalmente expressada em metros quadrados por grama
(m2·g-1). Fenômenos como a adsorção física molecular, expansão e contração
do solo, retenção e fluxo da água, assim como a capacidade de troca de cati-
ons (CTC) estão relacionados diretamente a este fator ou parâmetro (Carter et
al., 1986).
Particularmente para os argilominerais, os valores de SE são relativa-
mente altos devido a sua reduzida granulometria e à formação intracristalina
das partículas sólidas, proporcionando, na maioria dos casos, superfícies exter-
nas e internas. Observa-se, na Tabela 2 os valores de SE dos principais argilo-
minerais estudados na área da geotecnia.

Tabela 2. Estimativa dos valores de SE para os principais argilominerais.


Superfície Específica
Argilomineral
Interna (m2·g-1) Externa (m2·g-1) Total (m2·g-1)
Esmectita (2:1) 750 50 800
Vermiculita (2:1) 750 <1 750
Ilita (2:1) 5 25 30
Clorito (1:1) 0 15 15
Caulinita (1:1) 0 15 15
Fonte: van Olphen e Fripiat, 1979.

Conforme se observa na Tabela 2, os valores de SE variam de forma


considerável entre cada argilomineral. Diante disto, estabelece-se uma relação
inversamente proporcional tal que, quanto maior é o valor da SE menor será a
granulometria encontrada nas partículas sólidas do solo em estudo. Também,
destaca-se que a SE está diretamente relacionada com a influência das forças
que interagem nas partículas sólidas, de forma que quanto menor seja a SE,
menor será a influência das forças elétricas sobre os fluidos favorecendo às
forças gravitacionais.
9

Um dos procedimentos adotados na determinação dos valores de SE de


um determinado solo, se dá pelo método de adsorção do gás nitrogênio (N 2),
conhecido também como fisissorção. As moléculas de N 2 são atraídas pelas
forças entre os átomos da superfície sólida, consequentemente, a quantidade
de gás adsorvida permite realizar a estimativa da SE. O método foi primeira-
mente estabelecido por Langmuir (1918) empregando a seguinte equação:

P/V =1/ k 2⋅V m + P/V m (1)

Onde V é o volume de gás adsorvido por grama do adsorvente [L 3]; P é a pres-


são empregada durante o processo [FL-2]; k2 é uma constante [-]; e Vm é o volu-
me de gás adsorvido por grama tendo uma única camada ou monocamada mo-
lecular formada [L3]. Por conseguinte, a SE é determinada através do traço
gráfico das variáveis P/V em relação a P a uma temperatura constante.
Os resultados obtidos mediante a equação 1 são baseados na suposi-
ção de que somente uma camada molecular é adsorvida e que a temperatura é
constante durante o processo de adsorção da monocamada. Diante disso, os
pesquisadores Brunauer, Emmett e Teller (1938) derivaram um modelo, atual-
mente conhecido como a equação ou método BET.
Os autores partiram do modelo de Langmuir (1918), embora sugerindo
uma teoria de adsorção multi-molecular de camadas, contrário à proposta da
monocamada. Desta forma, conseguiram realizar a estimativa da quantidade
de moléculas diversas que foram adsorvidas por camada pela superfície sólida
do material. A equação 2 apresenta o modelo BET proposto para o calculo da
SE:

P/V ( Po −P)=(1/V m⋅C )+[(C−1)P /V m⋅CP o ] (2)

Onde V é o volume de gás adsorvido [L 3]; P é a pressão empregada [FL-2]; Vm é


o volume de gás necessário para uma única camada molecular sobre a super-
fície completa do adsorvente [L3]; Po é a pressão do gás necessária para a satu-
ração na temperatura ajustada do ensaio [FL -2], enquanto que C se deduz da
seguinte expressão:
10

C=exp[ E1−E 2 ]/ RT (3)

Onde E1 é a energia calorífica de adsorção da primeira camada do adsorvente;


E2 é a energia calorífica da liquefação do gás; R é a constante do gás; e T é a
temperatura absoluta.
Em consequência, este modelo assume que a energia calorífica de ad-
sorção de todas as camadas moleculares após a primeira são semelhantes à
energia da liquefação. Além disso, quando em estado de equilíbrio, a taxa de
condensação na superfície sólida é igual à taxa de evaporação da primeira ca-
mada e as subsequentes. Segundo Carter et al., (1986) este modelo é mais
confiável com pressões relativas (P/Po) entre 0,05 – 0,45. Por conseguinte, a
estimativa da SE resultará multiplicando o Vm pela área transversal da molécula
adsorvente, sendo que o valor de Vm é obtido interceptando o talude linear da
curva resultante da plotação entre P/V(Po – P) e P/Po.
Diversas técnicas derivadas do método BET são utilizadas para estimar
o valor da SE em solos e minerais. Consideram-se como componentes adsorti-
vos para a realização dessas técnicas adicionais: a água, etano, amônia e ga-
ses vários semelhantes ao N2. Os estudos de Quirk (1955) indicaram que quan-
do moléculas polares (água ou amônia) são utilizadas, a adsorção é mais inten-
sa, conseguindo penetrar entre as superfícies internas do solo, providenciando
estimativas mais precisas do valor da SE. Diante disso, a água quando em pre-
sença dos argilominerais sofre uma adsorção de tal magnitude que ela se ten -
de a deslocar para os setores de maior carga elétrica (presença de cations).
Os LA também são parâmetros ligados diretamente à mineralogia e ao
teor de argila encontrado no solo. Estes limites refletem a interação entre as
partículas sólidas e as moléculas da água através da mudança de seu estado
físico ou consistência. Outro aspecto importante dos LA esta relacionado ao va-
lor da SE do argilomineral evidenciado pelo valor do IP resultante, embora não
de forma proporcional. Por exemplo, observa-se que o valor da SE da montmo-
rillonita é 40 vezes, em media, maior que a caulinita, não obstante o IP sofre
uma variabilidade somente entre 2 a 3 vezes.
11

Vários estudos apresentam a utilização dos LA para prever a estimativa


da SE mediante o uso de equações empíricas, embora esta previsão só seja
válida para solos com características físico – químicas semelhantes (Hammel
et al., 1983). Locat et al. (1984) apresentam uma modelagem entre a SE e LA
sobre um estudo realizado na região de Quebec (Canadá) para solos argilosos
a diferentes teores de umidade, sendo definida pela equação (4) e ilustrada na
Figura 2.

W L=0,80⋅SE+12 (4)

Onde WL é o limite de liquidez (%) e SE é a superfície especifica [L 2·M-1].

Figura 2. Relação entre os LA e a SE do solo na região do Quebec (Locat et al.,1984).

Lambe (1969) observou uma forte influência entre o tipo de argilomineral


e os valores dos LA, além de evidenciar um incremento no valor da SE (caulini-
ta < ilita < montmorillonita) a medida que a granulometria do argilomineral dimi-
nuía. Desta forma, afirma-se que uma diminuição no tamanho da partícula sóli-
da resultará no aumento nos valores de WL e WP (White, 1949).
12

2.2 Principais grupos argilominerais

2.2.1 A Caulinita

Na área da geotecnia existem 3 grupos principais de argilominerais clas-


sificados segundo a sua composição mineralógica: caulinita, ilita e montmorillo-
nita. O primeiro, a caulinita, tem a sua estrutura cristalográfica formada por uma
sucessão de camadas ou lâminas de tetraedros de silício e octaedros de alumí-
nio (silica-gibbsita) (ver Figura 3).

Figura 3. Ilustração da estrutura atômica referente à caulinita (Adaptado: Grim, 1959).

Os minerais que compõem este grupo são a caulinita, haloisita, dickita e


nacrita, todos conformados pela camada estrutural tipo 1:1. Estas camadas,
encontram-se firmemente empacotadas, com ligações de hidrogênio que impe-
dem sua separação e a penetração de moléculas de água no interior delas.
Cada camada possui uma espessura de 7,2 Å e apresentam valores de SE en-
tre 10 – 70 m2·g-1 (Carter et al., 1986). A densidade relativa dos grãos (G s), defi-
13

nida como a razão entre as massas ou pesos específicos da parte sólida e o


volume de água a 4 oC, da caulinita é de 2,6 [adimensional, (-)] (Das, 2010).
A caulinita apresenta valores típicos de W L entre 35 – 100 %, WP entre
20 – 40 %, e IP entre 15 – 60 %. Burmister (1949) classificou o IP de forma
qualitativa, iniciando pela caulinita que se considera como um solo de plastici-
dade média (valor mínimo do IP: 15 %) até a montmorillonita de muita alta plas-
ticidade (valor máximo do IP: 60 %). Outra característica importante dos argilo-
minerais é a carga negativa que eles possuem nas superfícies das partículas
sólidas, gerada pela substituição isomórfica e pela interrupção na continuidade
estrutural localizadas nas bordas da partícula, embora exista a possibilidade
que algumas partículas sólidas tenham cargas positivas.
As caulinitas são eletricamente neutras, não apresentando substituições
isomorfas. A sua CTC é baixa (3 – 15 mE·100g-1), de tal forma que qualquer
ocorrência de carga deverá ser originada pelo rompimento nas arestas do cris-
tal, ou pela dissociação do H+ ligado aos cátions estruturais (Grim, 1968). A
CTC é um índice bastante utilizado em áreas como a agronomia e as ciências
da terra com uma função similar à dos índices de consistência.

2.2.2 A Ilita

A ilita ou mica fina está conformada por uma lâmina de alumínio ligada a
duas lâminas de silício, uma acima da outra, interligadas por íons de potássio
(estrutura tipo 2:1) como apresentado na Figura 4. O equilíbrio das cargas ne-
gativas, dadas pelos íons de potássio, é obtido através da troca de alumínio
pelo silício nas camadas tetraédricas sem alterar a estrutura cristalográfica, fe-
nômeno conhecido como substituição isomórfica. A moscovita e a biotita são al-
guns dos minerais do grupo das ilitas com uma CTC entre 10 – 50 mE·100g-1.
14

Figura 4. Ilustração da estrutura atômica da ilita (Adaptado: Grim, 1959).

Geralmente, as partículas sólidas da ilita possuem medidas laterais entre


1.000 – 5.000 Å e espessuras entre 50 – 500 Å, com uma densidade relativa,
Gs, de 2,80 e uma SE aproximadamente de 80 m 2·g-1 (Das, 2010). Valores típi-
cos dos limites de consistência apresentados pela ilita são os seguintes: W L en-
tre 60 – 120 %, WP entre 35 – 60% e o IP entre 25 – 60%, que segundo a clas -
sificação qualitativa de Burmister (1949), consideram-se solos de alta a muita
alta plasticidade.

2.2.3 A Montmorillonita

A montmorillonita ou esmectita possui uma estrutura semelhante à ilita,


(estrutura 2:1), porém se diferenciando na substituição isomórfica do alumínio
pelo magnésio e ferro, nas camadas octaédricas, conforme se observa na Figu-
ra 5. A ausência de íons de potássio, o qual atribui grande rigidez à estrutura da
ilita, possibilita atrair uma quantidade significativa de água nos poros localiza-
dos entre cada camada. Os argilominerais pertencentes a este grupo são a es-
mectita, beidelita, nontronita, hectorita, saponita, vermiculita e a bentonita.
15

Figura 5. Ilustração da estrutura atômica da montmorillonita (Adaptado: Grim, 1959).

As dimensões laterais da montmorillonita se encontram entre 1000 –


5000 Å, com uma espessura de 10 a 50 Å, além de apresentar um valor de SE
de até 810 m2·g-1 (Carter et al., 1986) e um G s entre 2,65 – 2,80. O WL varia en-
tre 100 – 900 %, o WP entre 50 – 100 % e o IP entre 50 – 800 %, segundo Bur-
mister (1949) este solo seria considerado de muita alta plasticidade. Na Figura
6 se apresenta uma ilustração gráfica a escala correspondente aos tamanhos e
conformação estrutural das partículas dos argilominerais aqui referidos.
16

Figura 6. Ilustração do tamanho e estrutura de cada partícula dos grupos


argilominerais: a) caulinita; b) ilita; c) montmorillonita (Adaptado: Das, 2010).

2.3 Cargas superficiais nos Argilominerais

As camadas dos argilominerais, normalmente, contém uma carga super-


ficial, decorrente de diversos fenômenos tais como: i) substituição isomórfica na
formação dos minerais, referida também como carga permanente; e ii) a carga
variável, causada pela dissociação da hidroxila na superfície da argila, que é
dependente do pH do meio (Evangelou, 1998).
A carga permanente produzida comumente pela troca de íons, também
pode ser originada pelas imperfeições estruturais e a carga de adsorção nas
superfícies dos argilominerais, podendo ser gerada pelas reações químicas
que ocorrem nesta região, além da absorção de íons surfactantes (Stumm e
Morgan, 1981). Em consequência, a carga elétrica resultante do fluido, causa-
da pela reação entre as superfícies, pode ser tanto negativa como positiva, de-
pendendo da estrutura dos silicatos, pH e a salinidade da solução. No caso que
o valor do pH seja baixo, observa-se uma disposição para a troca de ânions; no
caso de um valor do pH alto, observa-se uma disposição para a troca de cá-
tions, conforme o ilustrado na Figura 7 (Stumm e Morgan, 1981).
17

Figura 7. Ilustração da carga desenvolvida na superfície argilosa dependente do pH e


o Ponto de Carga Zero (Adaptado: Greenland e Mott, 1978; Stumm e Morgan, 1981).

A influência do pH na carga elétrica superficial em argilas de estrutura


2:1, como a esmectita, é menor que 1%. Porém, em argilominerais como a cau-
linita, onde a quantidade de substituição isomorfa é nula, a influência do pH na
carga elétrica superficial é predominante. As partículas da fração argilosa en-
contrada no solo, normalmente possuem carga eletronegativa, dando origem a
reações de permuta catiônica.

2.3.1 Ponto de Carga Zero

O pH no qual a carga total é nula ou zero se denomina ponto de carga


zero (PCZ) ou também conhecido como ponto isoelétrico (IEP), (Gast, 1977). A
importância do PCZ baseia-se em que este determinará o valor do pH influenci-
ando o tipo de troca entre os minerais, sejam cátions ou ânions. Além disto, de-
vido à carga limitada que existe na superfície, salvo que o pH esteja dentro do
PCZ, os minerais que contenham superfícies de carga oposta serão atraídos
um com outro, e os minerais que contenham superfícies com a mesma carga
elétrica se repelirão entre eles. Por conseguinte, o PCZ influencia a quantidade
de água que se deposita nas camadas internas das argilas, enquanto que o va-
lor do pH contribui à formação de suspensões coloidais.
18

2.4 Teoria da Camada Dupla

A teoria da camada dupla foi desenvolvida inicialmente para coloides e


busca explicar as interações entre as superfícies dos argilominerais, os cátions
nas camadas integradas e a solução que rodeia as partículas do solo. Baseia-
se, no modelo de Gouy – Chapman, e sendo logo depois refinado pelo modelo
de Stern. Em solos finos, a presença da dupla camada difusa promove o surgi-
mento de diversos fenômenos eletrocinéticos no solo como consequência da
aplicação do campo elétrico gerado pelo desbalanceamento das cargas elétri-
cas superficiais (Mergulhão, 2002).
A camada dupla corresponde à aquela região onde os íons positivos da
solução e a superfície de solo com carga negativa interagem. Além disto, des-
creve-se como a camada em torno das partículas na qual as moléculas da
água são atraídas a íons de solo, e ambos à superfície das partículas. As ca-
racterísticas desta dependem da valência dos íons presentes na água, da con-
centração eletrolítica, da temperatura e da constante dielétrica do meio (Sousa,
2012).
As moléculas do líquido adsorvido nas partículas sólidas não participam
do processo de fluxo, de forma que, segundo seja a dimensão do microporo,
este pode ser obstruído por duas camadas duplas adjacentes formadas duran-
te a interação, impedindo a passagem do fluido. A substituição de um fluido in -
tersticial por outro, que conduzisse a uma menor espessura da camada dupla,
tenderia aumentar a permeabilidade do solo ao fluido em questão, pois parte
do microporo estaria disponível para a ocorrência de fluxo.
O comportamento e as propriedades da camada dupla dependem signifi-
cativamente do tipo de argilomineral e da composição química da solução. Se-
gundo Ruhl e Daniel (1997) as características dos líquidos percolantes que ten-
dem a contrair a camada dupla, levando a um aumento da permeabilidade são:
a baixa constante dielétrica (ε), a elevada concentração eletrolítica (água salo-
bra ou hipersalinas) e a predominância de cátions multivalentes (Ca 2+ e Mg2+).
Segundo Santos (1975), a presença de íons dissolvidos no líquido em
que a argila está dispersa afeta as partículas de argilominerais de três manei-
ras diferentes, que podem ocorrer simultaneamente: i) influencia na camada
19

d’água adsorvida, quanto à espessura e à orientação; ii) concessão de carga


negativa à partícula argilosa; iii) permissão de clivagem ou separação das partí-
culas em partículas menores, geralmente, paralelamente ao plano basal, for-
mando lâminas mais finas. A Figura 8 apresenta uma exemplificação da cama-
da dupla e a sua interação iônica. No lado esquerdo se ilustra a mudança da
densidade de carga ao redor da partícula, enquanto que no lado direito a distri-
buição de íons positivos e negativos ao redor da partícula com carga ilustrada.

Figura 8. Ilustração da Camada dupla iônica (Adaptado de Zeta Meter Inc., 1977).

2.4.1 Modelo Gouy-Chapman

As superfícies argilosas contém cargas superficiais predominantemente


negativas, e, quando estas são colocadas em uma solução, os cátions da solu-
ção são atraídos pela superfície argilosa de forma a se obter um balanceamen-
to nas cargas. Consequentemente, a concentração dos cátions será maior na
superfície das partículas da argila que na solução. Por outro lado, devido às di-
ferenças de concentração catiônica, estes tenderão a se propagar da superfície
argilosa para a solução, por gradientes na sucção osmótica. Desta forma pode-
se dizer que as forças de difusão ou osmóticas tendem a deslocar os íons na
20

direção oposta do campo magnético gerado pelas cargas de superfície (Eslin-


ger e Pevear, 1988).
O resultado eletrostático líquido desta atração e da propagação dos cá-
tions é um ponto de equilíbrio no qual a região ao redor das partículas de solo
contém uma camada de espessura específica. No caso de ter uma diminuição
na concentração de cátions e que estes se encontram dispersos e desprendi-
dos das superfícies das partículas, o ponto de equilíbrio será obtido através da
interação entre estes e a solução. Por conseguinte, existem somente duas ca-
madas com cargas elétricas apresentadas neste modelo: a carga negativa da
superfície da partícula argilosa e a carga positiva dos cátions na camada difusa
(propagação) formando assim a camada dupla. A espessura da camada de
Gouy dependerá da carga elétrica na superfície das partículas argilominerais e
da salinidade (força iônica) da água.

2.4.2 Modelo de Stern

O modelo de Stern é uma variação do modelo de Gouy-Chapman, que


considera o fato que os cations têm um tamanho finito e que alguns íons po-
dem ser seletivamente atraídos para as superfícies dos argilominerais. Neste
modelo, próximo à superfície negativa da partícula argilosa existe uma camada
de cátions fixos adsorvidos seletivamente pela partícula do solo. Esses cátions
são fixos e não fazem parte da camada de cations móveis (camada difusa). A
carga negativa da superfície argilosa é balanceada pela soma das cargas posi-
tivas na camada Stern e na camada difusa. A orientação das moléculas da
água ao redor das partículas de solo proporciona as propriedades plásticas dos
argilominerais. Consequentemente, quanto maior seja a distância entre as su-
perfícies das partículas, menor será a força de atração entre a água e o solo.
Diante disso, pode-se afirmar que a espessura da camada dupla exerce
influência no comportamento das partículas sólidas. Portanto, espessuras me-
nores tendem a favorecer às forças de atração possibilitando maiores valores
de resistência do solo. No que diz respeito à influência da espessura da cama-
da dupla nos valores de permeabilidade, contudo, observa-se que quanto me-
nor a espessura da camada dupla, maior o espaço disponível para o fluxo de
fluidos permeantes aumentando, em consequência, a permeabilidade do solo.
21

Por conseguinte, a equação (5) pode ser empregada para realizar a estimativa
desta espessura:

t=
√ ε⋅K b⋅T
8⋅π⋅ne⋅e2⋅v 2
(5)

Onde t é a espessura da camada dupla geralmente em unidades de Å [L]; Kb é


a constante de Boltzmann [razão entre a constante dos gases e o número de
Avogadro]; T é a temperatura absoluta [ oK]; ne, é a concentração eletrolítica na
solução [íons c·m-3]; e, a carga elementar; v, é a valência iônica em solução; Ɛ,
é a constante dielétrica [-]. A Figura 9 apresenta a ilustração dos fatores que in-
fluenciam na espessura da camada dupla.

Figura 9. (a) Variação da espessura em função da concentração eletrolítica ao redor


da partícula sólida. (b) Variação da espessura em função da polaridade do fluido
intersticial (Adaptado: Fang, 1997).
22

Destaca-se, na Figura 9.b que a espessura da camada dupla aumenta


conforme aumenta o valor da ɛ do fluido intersticial, sendo que a água, por sua
alta polaridade, acaba gerando camadas de maior espessura. Desta forma, a
Figura 10 ilustra a ocorrência da distribuição dos cations ao redor das partícu-
las sólidas dos argilominerais segundo o modelo (teoria) da camada dupla.

Figura 10. Ilustração da distribuição dos cations próximos nas superfícies


argilominerais segundo o modelo (Adaptado: Arnold, 1978).
23

2.5 Comportamento hidráulico dos líquidos hidrocarbonetos em solos

Os líquidos hidrocarbonetos são substâncias orgânicas que contém ape-


nas átomos de carbono e hidrogênio nas cadeias de conformação estrutural.
Em concentrações significativas podem ter efeitos mutagênicos e cancerogêni-
cos para os seres humanos e animais, além de deteriorar as propriedades do
solo receptor, tornando a sua remoção ainda mais complicada (Breus e
Mishchenko, 2006).
O fluxo dos líquidos hidrocarbonetos na subsuperfície depende das pro-
priedades dos líquidos e das características físico – químicas do meio poroso.
No meio granular, as propriedades dos líquidos hidrocarbonetos que mais inter-
ferem na sua mobilidade são a densidade, viscosidade e tensão interfacial
(Mercer e Cohen, 1990). Enquanto que no meio argiloso, a polaridade dos líqui-
dos, medida pela constante dielétrica, surge também como fator fundamental
(Budhu et al.,1991).
Os líquidos hidrocarbonetos de petróleo são fluidos derivados do óleo
cru, os quais são refinados mediante diversos processos químicos, constitu-
indo-se de misturas de até centenas de compostos, as quais podem ser classi-
ficadas a partir de sua composição e propriedades físicas da seguinte forma:
destilados leves (gasolinas), destilados médios (óleos tipo diesel comercial) e
destilados pesados (óleo de combustível pesado).
Existe também uma nomenclatura distintiva para os hidrocarbonetos,
normalmente conhecidos como fase líquida não aquosa (NAPL), que ocorrem
como uma fase separada e não (completamente) miscível quando em contato
com a água e o ar, devido sua baixa solubilidade e às diferenças nas proprieda-
des físico – químicas da água e dos NAPLs (fortemente relacionado ao fator de
polaridade), dando como resultado a formação de uma interface física entre
ambos fluidos originando uma tensão interfacial.
Os NAPLs são classificados como leves, (LNAPL), possuindo uma den-
sidade menor que a água, e densos, (DNAPL), os quais têm densidades maio-
res que a água. A densidade influencia diretamente no comportamento do con-
taminante na subsuperfície. Os DNAPL tendem a migrar de forma descendente
pela força gravitacional até que uma barreira impermeável seja encontrada,
24

movimentando-se segundo a topografia do substrato impermeável. A solubilida-


de também influencia no fluxo dos NAPL, as moléculas altamente solúveis são
rapidamente distribuídas na água subterrânea e tendem a ser menos volatiliza-
das (Vasconselos, 2008).
Quando um NAPL é disponibilizado na subsuperfície, este percolará
através da zona não saturada ou vadosa, sendo que uma fração do hidrocarbo-
neto será retido pelas forças capilares ocupando entre 2 – 20% dos poros in-
tersticiais disponíveis (Falta et al., 1989). O processo de migração contínua até
que uma barreira física (camada de baixa permeabilidade) seja encontrada ou
até que a migração do LNAPL seja afetada pelas forcas exercidas pelo empuxo
d’água deslocada próximo ao lençol freático. Uma vez que a franja capilar seja
atingida, o LNAPL pode deslocar-se de forma lateral como uma camada de li-
vre fase e contínua, ao longo da margem superior da zona saturada (lençol fre-
ático) devido às forças gravitacionais e capilares (EPA, 1995). A Figura 11 ilus-
tra de forma geral as fases dos hidrocarbonetos quando vazados desde um re-
servatório à subsuperfície.

Figura 11. Distribuição Vertical das Fases dos Hidrocarbonetos na Subsuperfície


(Adaptado: Lundy e Gogel, 1988).
25

Quanto às propriedades dos solos que influenciam no fluxo ou transporte


dos líquidos hidrocarbonetos, tem-se a porosidade, teor de argila, pressão capi-
lar, permeabilidade, umedecimento e a saturação à água. Além disso, as condi-
ções físicas do meio, também, contribuem na migração e dispersão dos produ-
tos derivados de petróleo, sendo que todas estas propriedades ou variáveis
afetam na interação entre o fluido e o meio receptor.

2.5.1 Destilados Leves (LNAPL): Gasolinas

As gasolinas são misturas de hidrocarbonetos de petróleo e outros aditi-


vos químicos, como os álcoois e o éter. A elevada mobilidade da gasolina se
deve, principalmente, ao fato que os seus componentes tendem a ter baixos
pesos moleculares, baixas viscosidades e limites de solubilidade em água rela-
tivamente elevados.
Geralmente os compostos de hidrocarbonetos encontrados na gasolina
ficam entre 4 a 10 átomos de carbono por molécula. A gasolina, é constituída
por hidrocarbonetos mono-aromáticos tais como o benzeno, tolueno, etilbenze-
no e xilenos, denominadas coletivamente como BTEX. Estes constituintes são
liberados inicialmente quando a gasolina entra em contato com a água subter-
rânea devido à alta solubilidade que possuem em relação aos outros constituin-
tes da gasolina.
Segundo a Portaria MS 518/2004 do Ministério de Saúde brasileiro, o
benzeno é considerado o constituinte mais tóxico dos hidrocarbonetos, com um
valor de referência máximo de 5 μg·L-1 estabelecido como padrão de potabilida-
de. A Tabela 3 apresenta os valores de solubilidade dos constituintes BTEX ob-
tidos por Andrade (2009), ressaltando que para o grupo dos xilenos, o único
constituinte apresentado é o para-xileno. Além disso, são apresentados os va-
lores máximos permitidos (VMP) estabelecidos na portaria, previamente menci-
onada, como padrões de potabilidade e qualidade em relação à água apta para
consumo humano.
26

Tabela 3. Solubilidade dos constituintes BTEX


Constituintes Solubilidade (mg·L-1) VMP (μg·L-1)
Benzeno 1700 5
Tolueno 530 170
Etilbenzeno 170 200
Para-xileno 150 300
Fonte: Andrade, 2009

A gasolina comercial brasileira se diferencia na sua composição química


quando comparada à de outros países. A partir do final da década de 90 a
Agência Nacional do Petróleo (ANP) concedeu a alteração da quantidade de ál-
cool (etanol) de 22% para 24% na composição da gasolina, possibilitando o au-
mento da solubilidade dos BTEX (Corseuil e Alvarez, 1996).
O etanol adicionado na composição da gasolina comercial brasileira se-
gundo a engenharia do petróleo, é uma sustância química empregada em
quantidades menores para melhorar a performance do combustível primário
dentro de um processo químico. O etanol é considerado como um cossolvente
ou composto oxigenado, miscível na água de forma parcial ou completa (Castro
Filho, 2007).
O efeito do cossolvente ou a cossolvência, define-se como a influência
de compostos oxigenados na solubilidade de um soluto qualquer. Consequen-
temente, a cossolvência reduz a polaridade da fase aquosa, reduzindo o coefi-
ciente de atividade, possibilitando uma maior concentração de compostos orgâ-
nicos hidrofóbicos na água como demostrado em vários estudos (Grooves,
1988; Ji e Brusseau, 1988; Borges, 2002). Outra característica importante ob-
servada é que quando em presença dos cossolventes a tensão superficial é di-
minuída, provocando um aumento na mobilidade da fase não aquosa, além de
reduzir o grau de saturação residual desta fase (Demond e Roberts, 1991).

2.5.2 Destilados Médios

Os destilados médios podem conter até 500 componentes individuais,


com uma tendência a serem mais densos, menos voláteis, solúveis e móveis
devido à sua viscosidade maior quando comparados com a gasolina. Exemplos
27

deste tipo de líquidos são o óleo diesel, querosene, combustível de avião (jetfu-
el) e os óleos para combustível mais leves. Os BTEXs são encontrados, geral -
mente, como vestígios de impurezas nesta categoria. Geralmente, não são en-
contrados nas plumas dos sítios afetados por eventos de contaminação antigos
devido aos processos de biodegradação, evaporação e dissolução que aconte-
cem entre o fluido e a água subterrânea.

2.5.3 Óleo de Combustível Pesado

Estes líquidos são similares aos destilados médios tanto em composição


como nas suas características físicas. Contudo, são ainda mais viscosos e são
praticamente insolúveis na água subterrânea, sendo, portanto, considerados
quase fixos na subsuperfície. A maioria dos compostos nestes líquidos tem
mais de 14 átomos de carbono e alguns até 30. Do mesmo jeito que as catego-
rias anteriores, compostos leves estão presentes somente em pequenos vestí-
gios devido a sua biodegradabilidade e dispersão.

2.9 A Permeabilidade em Solos

A partir da realização de seus experimentos pioneiros, Darcy concluiu


que a velocidade de descarga da água é diretamente proporcional ao gradiente
médio da energia através do solo e ao coeficiente de permeabilidade. Após es-
tas observações, feitas empregando areais limpas, ele propôs uma equação
(6), conhecida desde então como a lei de Darcy.

v =−k×i h (6)

Onde v é a velocidade de descarga da água [LT-1]; k é o coeficiente de permea-


bilidade do solo [LT-1], ih é o gradiente médio de energia através do solo [adi-
mensional].
Na Figura 12 se apresentam as faixas de variação dos valores típicos
para o valor de k segundo o tipo de solo (Casagrande e Fadum, 1940). As ca-
racterísticas de escoamento ou drenagem são definidos como bons dentro da
faixa de 1 x 102 – 10-02, pobres entre 10-03 – 10-07 e impermeáveis entre 10-07 –
10-09. Destaca-se que para o caso da confecção de barreiras minerais, alvo
deste trabalho, o principal objetivo é a impermeabilização e não a drenagem.
28

Figura 12. Faixas de variação do coeficiente de permeabilidade segundo a


classificação do solo (Adaptado: Casagrande e Fadum, 1940).

Diversos são os fatores que condicionam o valor de k à água e a outros


fluidos segundo o tipo de solo, sendo os mais influentes os seguintes (LAMBE
e WHITMAN, 1969):
• Estrutura do solo
• Tortuosidade dos vazios
• Temperatura ambiente
• Distribuição e tamanho das partículas
• Mineralogia
• Umidade natural do solo
• Grau de saturação (ou umidade) de compactação e densidade seca
máxima
Destes todos, o teor de umidade na moldagem e o peso específico seco
obtido no processo de compactação são variáveis de controle experimental,
porquanto o foco é prevenir futuras contaminações pelo uso de barreiras
minerais compactadas. Estes fatores, em conjunto com a granulometria e
mineralogia, regem os valores de k, pelo menos no que concerne ao meio
poroso.
Em solos não saturados e fluidos água/ar, o conteúdo de água modifica
a permeabilidade do solo, visto que a seção de líquido disponível ao fluxo é
modificada. Assim, a obtenção da curva de condutividade hidráulica à água é
necessária para a realização de simulações de fluxo na zona não saturada ou
vadosa. A curva de condutividade hidráulica possui como valor máximo a
permeabilidade unifásica ou saturada do solo (solo saturado à água), sendo
que o k decresce à medida que o solo seca.
29

Para o caso de fluxo multifásico, o teor do fluido mais molhante (normal-


mente a água) influenciará na permeabilidade do fluido menos molhante (nor-
malmente o NAPL). Neste caso a permeabilidade obtida será a permeabilidade
efetiva, a qual se obtém pelo produto da permeabilidade relativa por uma per-
meabilidade de referência (normalmente a permeabilidade unifásica do fluido
em questão). Este é essencialmente o caso dos ensaios realizados em amos-
tras compactadas de solo na umidade ótima. É de se supor que o conteúdo de
água influenciará na permeabilidade ao NAPL (óleo diesel). O foco deste traba-
lho está na permeabilidade obtida para o NAPL nas condições de compactação
na umidade ótima especificamente, pelo que o valor de k será tratado de forma
idêntica ao valor de permeabilidade unifásica.
Mesri e Olson (1971) verificaram que em solos argilosos a permeabilida-
de é influenciada por variáveis mecânicas e físico-químicas. As variáveis físico-
químicas influenciam na dispersão ou na agregação das partículas de argila.
Isto ocorre porque a molécula de água, com um grande momento dipolo, liga-
se fortemente à partícula sólida de grande área superficial (as argilas). Nesse
meio, a maior parte do líquido existente nos poros se torna um filme adsorvido,
sendo mantida no lugar por atrações intermoleculares de vários tipos, conforme
já discutido nos itens que versam sobre carga superficial e a camada dupla. A
existência de uma camada de água adsorvida sobre a superfície das partículas
do solo reduz eficazmente o tamanho dos canais dos poros livres para o fluxo,
diminuindo a capacidade do fluido se mover através do solo.
Fluidos que têm polaridades menores do que a água, como é o caso de
muitos líquidos orgânicos, são menos fortemente ligados aos minerais do solo,
e assim fluem mais facilmente através dos poros interstícias. Para Budhu et al.
(1991), os fatores potencialmente importantes nas propriedades hidráulicas de
solos argilosos permeados por líquidos orgânicos, são as propriedades dos
permeantes, a composição físico-química do solo e a natureza da adsorção do
permeante pelas partículas sólidas.
No que refere à distribuição do tamanho das partículas, a permeabilida-
de é influenciada pelo tamanho dos vazios, nos quais o fluxo ocorre sofrendo
mudança pela proporção relativa entre as diferenças de tamanho das partículas
30

sólidas. Segundo Benson et al (1994), quando o solo é bem graduado e a fra -


ção argilosa governa o comportamento hidráulico, existe uma alta probabilida-
de de se encontrar valores baixos de k. As Figuras 13.a e 13.b, apresentam os
resultados dos estudos feitos por Benson et al. (1994), sobre a variação da per-
meabilidade em relação à água e aos LA (WL e IP).

Figura 13. O coeficiente de permeabilidade em relação ao: a) WP b) IP (Adaptado:


Benson et al, 1994).

Observa-se, uma diminuição acelerada do k entre a faixa de 10 – 30%


de WL e o IP. Porém, a permeabilidade torna-se menos sensível a estes parâ-
metros depois de atingir o 40% para o W L e 30% para o IP. Esta tendência é a
esperada pois, como apresentado na seção 2.2.1, os LA estão diretamente re-
lacionados com a mineralogia dos solos e o teor de finos (siltes e argila). Um
aumento no teor de argila, como visto por Oliveira (2001), ou na presença de
argilominerais mais ativos, com redução no tamanho dos microporos resulta
em uma diminuição do coeficiente de permeabilidade (Lambe, 1954; Benson et
al., 1994). Também, Benson e Trast (1995), apontam que a composição do solo
pode afetar significativamente o valor de k. A Figura 14, apresenta como as di-
ferentes energias de compactação e o grau de saturação inicial afetam o valor
de k encontrado nas argilas estudadas.
31

Figura 14. Coeficiente de permeabilidade em relação à energia de compactação e o


grau de saturação inicial (Benson e Trast, 1995).

A Figura 14 mostra a tendência decrescente do coeficiente de permeabi-


lidade, k, com o aumento do grau de saturação inicial e mediante a aplicação
de uma maior energia de compactação. Especialmente quando o solo for com-
pactado na faixa úmida da curva de compactação, onde o fluxo é controlado
pelo tamanho, forma e a conectividade dos micróporos. Além disso, quando o
teor de umidade incrementa acima da umidade ótima, junto com um alto esfor-
ço (energia) de compactação, o valor de k diminui. Benson e Trast (1995), afir-
maram que todas as amostras estudadas, quando compactadas com grau de
saturação inicial maior que 85%, atingiram coeficientes de permeabilidades me-
nores que 1x10-09 m·s-1, atingindo os valores mínimos de referência estabeleci-
dos na normativa para as barreiras minerais no Brasil.

2.10 A Permeabilidade em Meios Granulares

O físico estado-unidense Perley G. Nutting (1934) realizou vários experi-


mentos de fluxo em permeâmetros com diferentes tipos de fluido, empregando
amostras do mesmo solo, em condições de laboratório iguais com um mesmo
gradiente hidráulico. Nutting identificou diferentes taxas de fluxo, quando o flui-
do era diferente, concluindo, assim, que as propriedades do fluido, a viscosida-
32

de e densidade influenciaram no valor da taxa de percolação. A partir dos estu-


dos realizados, Nutting propôs a seguinte equação, para determinar o coefici-
ente de permeabilidade, k, no solo granular:

K⋅ρ⋅g
k= (7)
μ

Onde g é a constante de aceleração gravitacional [LT-2]; ρ é a densidade do flui-


do [ML-3]; µ é a viscosidade absoluta ou dinâmica do fluido [ML -1T-1]; e K, o coe-
ficiente de permeabilidade absoluta ou intrínseca [L 2].
A permeabilidade intrínseca, K, é considerada como aquela propriedade
do meio poroso, independente das características do fluido percolante (Corey,
1956). Além disto, se considera uma constante representativa das característi-
cas apenas do meio granular, devido ao tamanho dos seus poros (Fetter,
2001). Consequentemente, depende do tamanho dos grãos, arranjo, forma e
distribuição dos poros encontrados (Daniel, 1993). A equação (8) de Kozeny-
Carman relaciona o K com as propriedades geométricas do meio poroso base-
ada no conceito de raio hidráulico (Hillel, 1971; Klar, 1984).

n3
K= 2 (8)
C × a2 × ( 1−n )

Onde n é a porosidade do meio [-]; C é o fator de forma [-]; a é a superfície es-


pecífica exposta ao fluido (área superficial por unidade de volume) [L 2L-3].
A equação (7) de Nutting é comumente empregada em prever o valor de
k a obter para um segundo fluido a partir de um valor conhecido previamente
para um fluido referencial, sendo ambos de diferente densidade e viscosidade,
dentro de mesmo meio granular ou de características semelhantes. O parâme-
tro K é apresentado como a propriedade somente do meio (poroso) granular
que rege o escoamento de fluidos através dos seus poros, independentemente
do fluido utilizado na sua determinação. Diante disso, conhecido o valor de K
do meio granular poderia ser feito o cálculo do k para outro fluido de interesse,
empregando os valores conhecidos da ρ e μ desse fluido.
33

2.11 A Permeabilidade em Meios Argilosos

Diversos estudos têm demostrado que o valor de K estabelecido por


Nutting (1934) é valida apenas para meios granulares. Nas argilas este modelo
é limitado para a sua aplicação devido à interferência das cargas elétricas en-
contradas na superfície das argilas alterando o valor de k previsível e o obtido
experimentalmente. Deste modo, existe uma forte limitação em aplicar-se a de-
finição de Nutting (1934) em meios finos para se calcular o K quando a fração
argilosa do solo é predominante, fenômeno demonstrada nos estudos realiza-
dos por Hillel (1971), Fernandez e Quigley (1985), Schramm et al. (1986), Oli-
veira (2001) e Cardoso (2011), dentre outros.
De acordo com Oliveira (2001) nas argilas não se observa a indepen-
dência entre o K e o líquido permeante, devido ao excesso de cargas elétricas
dos argilominerais e a sua grande superfície específica, e ainda em função das
propriedades elétricas dos fluidos, fazendo com que os fenômenos de intera-
ção elétrica fluido/sólidos tenham grande influência no coeficiente de permeabi-
lidade. Quanto maior for a constante dielétrica dos fluidos permeando sedimen-
tos argilosos, maior será a propensão das argilas de adsorver o líquido. Este
parâmetro, pertencente aos líquidos, influencia fortemente a quantidade de mo-
léculas do fluido adsorvido pelas partículas argilosas, fator que também deter-
mina o grau de expansividade da argila.
Para investigar a influência da constante dielétrica sobre os coeficientes
de permeabilidade Budhu et al. (1991) realizaram experimentos nos quais o va-
lor do K era determinado para os líquidos orgânicos utilizado e a água. A partir
dos resultados obtidos, propuseram uma equação empírica, (9), relacionando a
razão das permeabilidades intrínsecas (Kp/Kw), com a constante dielétrica (ε) do
fluido. Nesta equação, os subscritos p e w representam os valores relacionados
ao líquido orgânico e a água, respectivamente.

εp
Kp
=e
( ε
λ 1−
w
) (9)
Kw
34

Onde λ [-] é uma constante que depende do tipo de solo e do histórico de ten -
sões do mesmo. A definição do valor de λ não foi claramente estabelecido na
equação (9), porém através de dados experimentais obtidos por outros pesqui-
sadores, se definiram os seguintes valores: λ = 7 para a montemorilonita; λ = 6
para a ilita; e λ = 1 para a caulinita. Enquanto, que para os resultados obtidos
por Fernandez e Quigley (1985), em território Canadense, os valores estabele-
cidos foram: λ = 4,5 para a argila proveniente de Lockport; e λ = 8 para a argila
de Sarnia.
Em relação à influência da ε, Budhu et al. (1991) concluíram que esta
pode não ser o único fator responsável pelo comportamento hidráulico do con-
junto solo/fluido no meio argiloso. Esta asseveração foi confirmada posterior-
mente por Oliveira (2001) identificando a influência do teor de argila e de um
parâmetro de dimensão [L2] ligado ao tamanho de poro, além da influência de
ρ, μ e ε, como sugerido por Kozeny – Carman (1937).
De forma sucinta, estabelece-se que para o meio argiloso, o coeficiente
de permeabilidade absoluta depende das propriedades geotécnicas do solo as-
sim como a sua afinidade, dado pelas cargas eléctricas encontradas na super-
fície da partícula sólida e a constante dielétrica do líquido permeante. Conse-
quentemente, uma maior afinidade é obtida segundo aumenta a ε e tensão su-
perficial do fluido, assim como a SE das partículas de solo.
Nutting (1934) não considerou a interação destes fenômenos na super-
fície das partículas devido a que o modelo proposto foi somente para os meios
porosos granulares, nos quais a influencia da polaridade dos líquidos permean-
tes é inexistente. Diante disso, o seu modelo, equação 7, é restringida a ser
aplicada em solos granulares (grossos) ou ao caso que o líquido permeante te-
nha uma interação semelhante com o solo (valores próximos da ε).
Visando ilustrar o efeito da ε do líquido permeante no valor de k, Macha-
do (2008) relacionou dados experimentais do coeficiente de permeabilidade
para diferentes tipos de solo em relação aos valores de coeficiente de permea-
bilidade obtidos a partir da equação 7, sendo referidos como permeabilidade
saturada (ksat) para efeitos deste trabalho.
35

Consequentemente, as Figuras 15 e 16 apresentam o estudo de Macha-


do (2008) onde os triângulos vermelhos são os valores de k experimentais e a
reta de cor azul apresenta os valores de k sat obtidos mediante o modelo de Nut-
ting (1934). A Figura 15 apresenta os ensaios realizados a partir do uso da ga-
solina comercial e a água como líquido permeantes, enquanto que a Figura 16
utilizou-se o óleo diesel e a água.

Figura 15. Resultados dos ensaios realizados para a determinação do k sat em relação
a gasolina comercial (Machado, 2008).

Figura 16. Resultados dos ensaios realizados para a determinação do k sat em relação
ao óleo diesel (Machado, 2008).
36

De forma geral, a medida que o teor de argila aumenta, assim também


aumentará o erro da estimativa do coeficiente de permeabilidade para diferen-
tes fluidos utilizando o modelo de Nutting (1934). Observa-se em ambas Figu-
ras apresentadas por Machado (2008) que os erros maiores foram para as
amostras de solo de tipo Massapê (presença de argilominerais 2:1) sendo de
1.000 vezes no caso da utilização da gasolina comercial (ε = 9,06) e de 10.000
vezes quando utilizado o óleo diesel (ε = 2,13), (Machado, 2008). Diante disso,
evidencia-se claramente a influencia da constante dielétrica na permeabilidade
dos meios porosos argilosos.
Oliveira (2001) propõe na equação (10) um modelo matemático para de-
terminar o coeficiente de permeabilidade, k, em meios argilosos baseado na
equação de Nutting (1934) e o modelo proposto por Bear (1972) para determi -
nar o valor de K. Ressalta-se que o parâmetro d 2 [L2] sugerido originalmente por
Bear (1972) para o meio granular, expressado através de d 102, foi mudado para
um termo mais genérico, de acordo com Oliveira (2001), estabelecido como B,
mostrando-se dependente da interação entre as moléculas do líquido permean-
te e as superfícies dos argilominerais.

g 1 n³ B
k =ρ ( )[ ] (10)
μ 5 (n−1)2 εN

Onde ρ é a densidade do líquido; μ é a viscosidade do líquido; ց é a constante


de aceleração gravitacional; n é o teor de argila do solo; B é o parâmetro de di-
mensão associado à área de um poro representativo, não definido experimen-
talmente. No que concerne à influência da ε nos valores de k no meio argiloso,
considera-se a inserção desta variável (inversamente proporcional) elevada a
um exponente N semelhante ao adotado por Schramm et al. (1986).
Cardoso (2011), dando seguimento aos estudos realizados e alguns dos
resultados obtidos por Oliveira (2001), compilou resultados de ensaios de per-
meabilidade para diferentes classificações de solos (condição indeformada e
compactada), com diferentes fluidos permeantes: água, etanol, gasolina comer-
cial, óleo diesel e óleo combustível. Foram determinados por Cardoso (2011)
em misturas de areia e bentonita os valores de W L e IP para aproveitar os resul-
37

tados obtidos no estudo de Oliveira (2001), além de ensaios de caracterização


e de permeabilidade à água. A Figura 17 apresenta os resultados obtidos por
Cardoso (2011) a partir da relação entre o coeficiente de permeabilidade, k, ob-
tido experimentalmente e o valor da permeabilidade intrínseca de Nutting
(1934), kNutting, em função do IP do solo.

Figura 17.Relação entre kexp e kNutting em função do IP (Cardoso, 2011).

A Figura 17 os líquidos orgânicos de baixa ε (gasolina não adulterada,


óleo diesel, óleo combustível e tetracloreto de carbono) foram agrupados com a
cor azul para os símbolos correspondentes, enquanto que os líquidos orgâni-
cos com maior valor de ε (etanol e gasolina comercial) foram apresentados ge-
ralmente na região inferior do gráfico quando comparadas com os resultados
obtidos nas amostras de baixa polaridade.
De acordo com os resultados logrados no estudo de Cardoso (2011), di-
versos modelos matemáticos foram avaliados para conseguir modelar os resul-
tados experimentais mediante a utilização dos valores de W L e o IP do solo,
concluindo na seguinte equação (11):
38

b
k ε IPe+ f ×IP
log( )=a×( εw −1) × (11)
k Nutting c +d×IP e+f ×IP

Valores de a = 0,0035; b = 0,1; c = 0,005; d = 0,001; e = 0,42; e f = 0,008 foram


obtidos empregando o método dos mínimos quadrados com uma correlação
(R2) de 0,91.
Pode-se destacar que a equação 11 consegue explicar de forma ampla o
comportamento evidenciado pela utilização dos diferentes líquidos permeantes.
A Figura 18 apresenta os resultados previsíveis de k a partir do uso do modelo
proposto por Cardoso (2011).

Figura 18. Valores do coeficiente de permeabilidade experimentais e previstos pelo


modelo de Cardoso (2011).

Destaca-se que para os 20 tipos de solos ensaiados por Cardoso (2011)


através do seu modelo foi possível prever o coeficiente de permeabilidade em
relação aos líquidos orgânicos de interesse empregando os índices e parâme-
tros geotécnicos facilmente determinados em laboratório. Além disso, nenhum
modelo na literatura foi encontrado antes do estudo de Cardoso (2011) que fos-
39

sem considerados os parâmetros geotectônicos do solo, assim como as propri-


edades do líquido permeante.
A Figura 19 apresenta os coeficientes de permeabilidade experimentais
obtidos a partir das misturas de bentonita e areia realizados por Oliveira (2001),
com os fluidos de gasolina (não adulterada), tetracloreto de carbono, óleo die-
sel, gasolina comercial e etanol, além dos resultados obtidos por Cardoso
(2011) em relação à água. As curvas apresentam uma tendência semelhante
para cada um dos líquidos estudados, sendo esta a diminuição do valor de k
quando o teor de bentonita é aumentado.

Figura 19. Curvas dos coeficientes de permeabilidade em função do teor (baseado na


massa) de bentonita (Oliveira 2001; Cardoso 2011).

Estes ensaios de permeabilidade foram feitos com amostras de bentoni-


ta (grupo da montmorillonita) e areia, em diferentes proporções (baseado na
massa), identificando uma redução nos valores de k de 1x10-04 a 1x10-08 cm·s-1,
quando o teor de bentonita foi incrementando de 0 a 20%. Não obstante, quan-
do este teor foi incrementado acima de 20%, o k foi praticamente invariável.
Uma explicação deste fenômeno pode ser ilustrada pelo revestimento das par-
tículas das argilas nas partículas das areias, o que dá como consequência que
o solo apresente um comportamento hidráulico mais semelhante à argila. Além
40

disso, observa-se na Figura 19 que quanto maior o valor de ε do fluido, menor


será o valor de k no meio argiloso, validando assim a teoria da camada dupla.
Machado et al. (2016), após de coletar 533 dados de ensaios de perme-
abilidade em amostras pertencentes a diferentes setores dentro do estado da
Bahia, estabeleceram uma equação, totalmente empírica, baseada no modelo
de Nutting (1934). Pacotes estatísticos foram utilizados em função das caracte-
rísticas do solo, tais como: IP, índice de vazios (e) e grau de saturação (S r); en-
quanto que os parâmetros do líquido permeante considerados neste modelo fo-
ram a ε, µ e ρ. Além disso, este modelo, expressado pela equação (12), consi-
dera a interação fluido/solo (kexp, knutting), e kref).

b −cIP k ref
k exp εw [ log( )]
IP k e
log ( )=a( ε −1) [1−exp c+ IP k + w
[d log( ref )+ ]] (12)
k nutting c + IP k w 1−Srw

Onde a, b, c, d e kref são parâmetros de valores constantes para o ajuste do mo-


delo. O parâmetro Srw, refere-se ao grau de saturação do solo à água, que em-
pregado neste modelo representa a influência do teor de umidade residual da
água encontrada no solo em relação à permeabilidade do NAPL.
Esta adaptação tem como alvo prever o coeficiente de permeabilidade
de, k, para fluidos que possuem diferentes valores de ε no meio argiloso, uma
vez conhecido o coeficiente de permeabilidade à água (k w) e feito o calculo do
k do fluido desejado utilizando a equação (7) de Nutting (1934). Segundo os
autores várias ferramentas estatísticas foram empregadas, na procura da me-
lhor correlação de variáveis entre o solo e o fluido. Diante disso, os parâmetros
que apresentaram melhor correlação de valores com as razões de permeabili-
dade foram: o logarítmico de k w, IP e a relação entre a constante dielétrica
d’água (ɛw) e o fluido permeante (ɛf).
Machado et al. (2016) também propõem uma equação adicional, (13),
para determinar a ɛ resultante da interação do sistema com os fluidos miscíveis
à água (como o Etanol), os quais tendem mudar o valor de ε da solução pela
mistura que acontece nos poros intersticiais. Nessa equação, estima-se a pola-
ridade do fluido intersticial como a média ponderada do volume do meio poroso
ocupado pelo líquido miscível.
41

ε=εw S rw +(1−S rw )εf (13)

Onde ɛf e ɛw são as constantes dielétricas do fluido miscível e da água, respec-


tivamente.
A partir disto, as equações (12) e (13) são relacionadas para calcular o
coeficiente de permeabilidade para um fluido qualquer diretamente (k f), toman-
do como base o kw obtido no meio argiloso. Nesta abordagem os parâmetros
como a densidade e viscosidade, tanto da água como o do fluido permeante
são considerados, dando como resultado a seguinte expressão (14):

b −cIP k ref
εw [
c+ IP
log ( )]
kw IP k ref e
[a ( ε −1 ) [ 1−exp [ d log(
ρ μ˙ +
c+IP
)+
k w 1−Srw
]]]
(14)
k f = ρ f μw 10
˙
w f

Segundo Machado et al. (2016) os resultados obtidos através da utiliza-


ção da equação 14 apresentaram uma forte correlação (R 2= 0,914), conside-
rando um intervalo de confiança do 90%. Obteve-se um erro ou variabilidade
máxima de 6,4 vezes entre os coeficientes de permeabilidade previsto (k prev) e o
experimental (kexp). Ressalta-se, ainda, que a maior parte dos valores fora do
intervalo de confiança foram obtidos especificamente para o solo tipo Massapê.
Ou seja, mediante a utilização da equação (14), ocorreu uma diminuição na
margem de erro potencial na previsão do k, passando de 100,000 vezes para
6,4 vezes, melhorando significativamente a previsão do valor de k para os líqui-
dos hidrocarbonetos.
A Figura 20 apresenta os dados experimentais coletados por diferentes
pesquisadores (Brown et al., 1985; Fernandez e Quigley, 1985; Schramm et al.
1986; Amarasinghe et al., 2012) em comparação aos resultados previstos pela
equação (14), sendo os parâmetros ajustados mediante o banco de dados utili-
zado por Machado et al. (2016).
42

Figura 20. Validação da modelagem com valores de coeficiente de permeabilidade


experimentais e da literatura (Machado et al., 2016).

Evidencia-se uma performance satisfatória do modelo de Machado et al.


(2016), mesmo com 10% dos dados experimentais fora do intervalo de confian-
ça. De acordo com os autores, isto pode ter sido motivado pelo uso de procedi-
mentos experimentais diferenciados na obtenção dos valores de k, como por
exemplo, o uso de ensaios de adensamento para a sua obtenção, ou inclusive
a consideração de outros parâmetros do solo, como o CTC, que tiveram de ser
transformados em valores de IP, contribuindo para uma maior dispersão na pre-
visão dos valores de k.
43

2.12 O Carvão Ativado e suas aplicações

O carvão ativado (CA) define-se como aquele produto com alto teor de
carbono sendo tratado por processos físicos (pirolise ou dióxido de carbono) ou
químicos a altas temperaturas (acima de 700 oC) para, assim, realizar uma oxi-
dação adicional parcialmente nas superfícies do grão (Boehm, 1994). Embora,
existam outras nomenclaturas para referenciar materiais ricos em carbono
como carvão preto (black carbon) e biochar, sendo diferenciados pela matéria
prima utilizada para gerar o produto final. Por exemplo, o biochar é produzido a
partir de madeira ou resíduo fecal tratado pelo processo de pirolise com limita -
da aplicação de oxigênio, enquanto que o carvão preto é produzido a partir de
processos de combustão utilizando matérias primas com alto conteúdo de car-
bono puro como o grafite (Schmidt e Noack, 2000). Para efeitos deste trabalho
a nomenclatura utilizada foi de carvão ativado, CA, para referenciar o produto
utilizado para a adição no solo.
As propriedades físicas do CA são estimuladas por diversos fatores, sen-
do os principais os seguintes: a taxa de aquecimento e temperatura utilizada
durante o processo de ativação; tempo de retenção; e a taxa de fluxo de insu -
mos complementares (nitrogênio, dióxido de carbono, vapor, etc.). Consequen-
temente estes fatores influenciaram a superfície especifica, SE, a distribuição
dos poros e densidade do material (Pandolfo et al., 1994; Byrne e Nagle, 1997).
Destaca-se, ainda, que as dimensões dos poros determina a capacidade de
adsorção, além da estrutura química que interfere na interação electro – quími-
ca entre a superfície do CA e as moléculas que entrem em contanto segundo a
polaridade do fluido (Costa, 2006).
A Tabela 4 apresenta a capacidade de adsorção do CA a alguns líquidos
orgânicos de baixa constante dielétrica, mediante os registros das concentra-
ções do afluente e efluente no meio aquoso. Ressalta-se, que os valores da ε
aqui apresentados correspondem para uma temperatura em torno de 20 oC, ex-
cetuando o valor do Fenol cujo valor esta fixado a uma temperatura de 40 oC
(Clippers Control Inc., 2011).
44

Tabela 4. Capacidade de Adsorção do Carvão Ativado aos Líquidos Orgânicos.


Poluente ε (-) Afluente (μgL-1) Efluente (μgL-1)
Fenol 15,0 63.000 <100
2.400 <10
40.000 <10
Tetracloreto de Car- 2,2 61.000 <10
bono 130.000 <1
73.000 <1
1,1,2-Tetracloretano 2,5 80.000 <10
Tetracloretileno 44.000 12
70.000 <1
1,1,1-Tricloroetano 7,5 1.000 <1
3.300 <1
12.000 <5
143.000 <1
115 1
Benzeno 2,3 2.800 <10
400 <1
11.000 <100
Fonte: Canter, L. W. e Knox, R. C., 1985; Clipper Controls Inc., 2011.

Os baixos valores de ε identificados nas substâncias apresentadas na


Tabela 4 indicam a potencialidade que o CA oferece para reter ou atrair líquidos
hidrocarbonetos sobre os argilominerais. Diante disso, pode-se dizer que a utili-
zação de CA como material para remover poluentes com baixa constante die-
létrica resultará fatível visando a sua incorporação no meio poroso para a pro-
teção da subsuperfície e a água subterrânea.
Entretanto, a depender da origem da formação do CA, estes serão mais
seletivos dependo do tipo de poluente que entre em contato (Robinson, 1979).
Contudo, são vários os fatores que afetam o grau de adsorção do CA, alguns
dos principais fatores são os seguintes (Knox et al., 1984): a) Solubilidade do
poluente (sendo os insolúveis mais favoráveis para a adsorção); b) O pH da
água, influenciando o grau de ionização do poluente; c) Características do ad-
sorvente; d) Propriedades dos poluentes.
45

A capacidade de adsorção do CA depende de interações, tais como: a


força dipolar, as ligações de hidrogênio e as diferenças de pH (Bandosz e Ania,
2006). A agência de proteção ambiental dos Estados Unidos de América (US-
EPA) recomenda a utilização do CA na remoção de compostos orgânicos, sen-
do considerado como umas das melhores tecnologias disponíveis (Nicholas,
2002).
O CA é comumente classificado segundo o tamanho do grão (granulo-
metricamente), sendo de granular (CAG) e em pó (CAP). Para distinguir cada
categoria, estabelece-se que o CAP apresenta uma granulometria típica entre
15 – 25 μm, enquanto que para o CAG o tamanho do grão varia de 1 a 5 mm
(Menendez-Diaz et al., 2006). Por conseguinte, as técnicas de remediação,
costumam utilizar o CAG em reatores e o CAP em tratamento de água (consu-
mo humano e residuais), gerando lodos, através da filtração ou assentamento
dos poluentes, facilitando a sua remoção (Ehrenfeld and Bass, 1984). Também,
o CA tem sido empregado para a remediação de solo contaminado através da
remoção de líquidos orgânicos voláteis (hidrocarbonetos de petróleo, solventes
clorados) e na adsorção de poluentes orgânicos em águas subterrâneas (Kho-
dadoust et al.,1999; Pradhan e Srivastava,1997).
O CA tem sido utilizado para diversas aplicações com propósitos espe-
cíficos devido a sua composição química e à capacidade de reação com outros
heteroátomos (como o oxigênio e hidrogênio). Segundo Bandosz e Ania (2006),
os átomos de carbono, encontrados em qualquer material, estão agrupados en-
tre camadas de anéis aromáticos fusionadas com um grau de planaridade con-
dicionado pelo teor de grafite neles. Além disto, grande importância dá-se à
composição química das superfícies do CA, sendo estas características as
grandes condicionantes para a sua aplicação. Por este motivo, o CA é conside-
rado como um dos melhores adsorventes aos líquidos orgânicos pela sua ca-
racterística hidrofóbica, alta SE (800 – 1200 m 2g-1) e estrutura microporosa (Va-
silyeva et al., 2006).
Assim, o CA se apresenta como um material de remediação ambiental
de líquidos hidrocarbonetos dissolvidos em água subterrânea, produzindo uma
redução nas concentrações do poluente de 96% e 99% utilizando CAG e CAP,
46

respectivamente, sendo que o tempo de contato influencia na adsorção dos li-


quidos hidrocarbonetos (Ayotamuno et al., 2006).
As técnicas que empregam o CA apresentam uma abordagem promisso-
ra, sendo possível a sua utilização durante o pré-tratamento, tratamento total
ou na limpeza de efluentes. De tal forma, que quando os poluentes orgânicos
entram em contato com a superfície do CA, conseguem se aderir devido às for-
ças físicas e químicas (natureza oleofilica e a afinidade para o CA) que ocor-
rem entre eles (Nielsen, 1983). Diante disto, a capacidade de adsorção do CA
emerge como uma tecnologia com alto potencial para a remediar os problemas
de contaminação em solos, assim como tem sido utilizados em corpos aquosos
destinados a sítios de rejeito para resíduos perigosos (Touhill et al., 1982).
Como os poluentes orgânicos se aderem à superfície do CA, no presen-
te estudo, as adições de CA em solos nativos (tropicais) se apresentam como
uma opção interessante visando funcionar como uma barreira hidráulica para
proteger a subsuperfície, assim como o lençol freático em áreas de armazena-
mento de líquidos hidrocarbonetos através da implementação de diques de
contenção. Vários estudos recentes têm focado a sua atenção na adição de CA
em solos contaminados por poluentes químicos como técnica de biorremedia-
ção, obtendo resultados satisfatórios na redução destes poluentes a concentra-
ções permitidas segundo a legislação ambiental correspondente (Brändli et
al.,2008; Meynet et al., 2012; Mossa, 2013).
47

3. DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL

Este capítulo apresenta os procedimentos desenvolvidos neste trabalho


para o estudo da influência da adição de CA na redução do coeficiente de per -
meabilidade em barreiras minerais compactadas permeadas por fluidos deriva-
dos de petróleo. Nesta seção são apresentados os procedimentos e resultados
preliminares obtidos com o uso da metodologia desenvolvida especificamente
para este trabalho.
Esta fase do trabalho abrange desde a coleta das amostras deformadas
em campo, a preparação de amostras compactadas com diferentes teores de
adição de CA, bem como a execução de ensaios de permeabilidade a carga
variável em permeâmetros de parede rígida (PPR) no laboratório, finalizando
com a determinação dos índices físicos de cada amostra ensaiada.
Foi utilizada a infraestrutura (aparelhagem, ferramentas, equipamento)
dos seguintes laboratórios: Geotecnia Ambiental (GEOAMB) da Escola Politéc-
nica da Universidade Federal da Bahia (EP-UFBA); de Solos da Universidade
Católica de Salvador (UCSAL); e, de Ensaios em Durabilidade dos Materiais
(LEDMA) da EP-UFBA.
A Figura 21 apresenta o fluxograma dos procedimentos delineados no
presente trabalho, sendo divididos em duas etapas: Etapa I) coleta, caracteriza-
ção e preparação dos materiais previamente à montagem dos ensaios de per-
meabilidade. Foram preparadas amostras de solo nas seguintes proporções:
solo a 100%; solo a 90% com CA a 10%; e solo a 80% com CA a 20%.; Etapa
II) montagem e execução dos ensaios de permeabilidade por corpo de prova
(CP), desmontagem do CP avaliando os índices físicos inicias e finais.
Ressalta-se, ainda, a realização de ensaios de permeabilidade empre-
gando adições de CAP a base do rejeito da casca verde de coco, com moagem
adicional empregando um moinho especializado de alta performance, atingindo
uma concentração de solo do 95% e 5% do material resultante. O baixo teor de
adição foi devido às restrições da quantidade de material disponível, além da
previsão de uma redução no valor de k devido ao aumento da SE, dispensando
48

o uso de misturas com maiores teores para efeitos de validação da hipótese


deste estudo.

a)

b)
Figura 21: Esquema do procedimento e avaliação experimental para cada CP: a)
Etapa I; b) Etapa II.
49

3.1 Escolha dos materiais: Coleta

3.1.1 Fluidos Permeantes:

Dois foram os fluidos selecionados para a realização dos ensaios de per-


meabilidade: i. água fornecida pela distribuidora EMBASA sendo deionizada
(ADI) através de osmose reversa posteriormente; ii. óleo diesel comercial
(ODC). A escolha destes dois fluidos se dá pelo interesse de avaliar o efeito
das adições de CA na permeabilidade à água, tida como fluido de referência na
normativa nacional, e ao óleo diesel, adotado como NAPL de referência devido
à baixa polaridade que possui, analisando assim também a influência da cons-
tante dielétrica nos valores de k.

3.1.1.1 Caracterização dos Fluidos

Os valores de viscosidade absoluta ou dinâmica (μ) dos fluidos foram


obtidos mediante a aparelhagem disponível no GEOAMB. Para isto, o valor da
densidade dos fluidos (ρf) foi previamente obtido por meio de uma proveta com
100 mL de fluido utilizando uma balança de precisão de 0,001 g. Posteriormen-
te, após determinado o valor de ρf, foi empregado o viscosímetro modelo DV2T
do fabricante Brookfield Engineering Laboratories (Middleboro, MA, EUA), para
determinação dos valores experimentais de μ em unidades de centi-poise (cP),
equivalentes a mPa·s no sistema internacional (SI). Apresentam-se as etapas
empregadas para a utilização da aparelhagem e a determinação do valor de μ
para diferentes temperaturas:
i. Nivelamento e calibração do viscosímetro.
ii. Colocação da haste cilíndrica (sensor) do dispositivo (modelo ULA e re-
presentada com código 00 para efeitos de calibração no viscosímetro).
iii. Inserção dos dados inicias como a frequência de rotação (RPM) deseja-
da e o valor ρf (g·cm-3) correspondente ao fluido em estudo.
iv. Execução do ensaio com o intervalo de tempo previamente estabelecido
(neste caso foram definidos 70 s).
50

Para determinar os valores de μ a diferentes temperaturas, foi utilizada


uma câmara de banho do mesmo fabricante, Brookfield (ver Figura 22), que
permite esfriar ou aquecer o fluido na temperatura desejada durante a execu-
ção do teste.

Figura 22: Viscosímetro e câmara de banho Brookfield utilizada na obtenção da μ para


ambos fluidos permeantes.

Utilizaram-se temperaturas variando entre 20 oC a 40 oC, aguardando-se


de 15 a 30 min para atingir e estabilizar a temperatura desejada. Além disso, foi
considerada uma velocidade de 50 RPM e 100 RPM para o ODC e a ADI, res-
pectivamente. Ressalta-se que para obter um resultado de μ satisfatório o valor
do torque após finalizado o teste, precisa se localizar entre 10 a 100% do fundo
da escala, indicado pelo fabricante. Em geral, para se adequar a este intervalo,
varia-se a frequência de rotação, empregando-se as maiores frequências para
os fluidos de menor viscosidade.
A importância da obtenção dos valores de μ a diferentes temperaturas
se deve à influência dela no cálculo k que varia em função da temperatura am-
biente, logrando obter um resultado mais representativo e que possa ser refe-
renciado a uma temperatura de 20 oC pelo cálculo do coeficiente de correção
(Ck), o qual é em função da temperatura ambiente durante a execução do en -
saio de permeabilidade. A Tabela 5 apresenta os valores de Ck obtidos para o
ODC a diferentes temperaturas, enquanto que para a ADI os valores de C k em-
pregados foram aqueles estabelecidos pela norma NBR n o.145145/2000.
51

Tabela 5. Valores de μ e Ck para o ODC segundo a temperatura.


Temperatura (oC) μ (cP) Ck (-)
20 3,97 1
24 3,68 0,9275
28 3,39 0,8551
32 3,11 0,7826
34 2,96 0,7463
Fonte: Autor

Destaca-se que os resultados obtidos para a viscosidade do ODC duran-


te o ensaio de viscosidade foram utilizados para determinar uma linha de ten-
dência (linear) com um R 2 de 0,99 e assim obter a equação (15), com a qual
pode-se calcular o Ck a qualquer temperatura (t) dada em graus Celsius.

μ=−0,071937 t+5,409195 (15)

A Tabela 6 apresenta as propriedades físico – químicas da ADI e do


ODC utilizados durante a parte experimental. Estes valores são apresentados a
uma temperatura referencial de 27 oC, com exceção da ε, cujo valor veio do es-
tudo de Oliveira (2001), a uma temperatura referencial de 29 oC.

Tabela 6. Propriedades dos Fluidos a 27 oC.

Fluido ρf (g·cm-3) μ (mPa·s) ε*


ADI 0,985 0,95 80,08
ODC 0,825 3,41 2,13
Fonte: Autor

A água utilizada para a realização dos ensaios é aquela recebida na EP-


UFBA pela rede de distribuição pública da Empresa Baiana de Águas e Sanea-
mento (EMBASA) a temperatura ambiente. Previamente à realização dos en-
saios, a água foi deionizada com o uso de um dispositivo de osmose reversa
produzido pelo fabricante Eletro Eletrônica Gehaka Ltda. (São Paulo, SP, BR),
modelo OS10-LX, diretamente ligado à rede de distribuição no GEOAMB, con-
forme a Figura 23.
52

Figura 23. Dispositivo de osmose reversa utilizado para deionizar a água potável na
EP-UFBA.

A ADI apresentou uma condutividade elétrica de 0,05 μS·cm-1 a 25 ºC e


foi armazenada em um reservatório plástico de 20 L, sendo utilizada durante o
processo de saturação das amostras e execução dos ensaios de permeabilida-
de. O ODC foi adquirido em um posto comercial de venda de combustíveis,
tentando-se diminuir a variabilidade das propriedades do fluido pela compra de
grandes volumes de cada vez (40 L no mínimo).

3.1.2 Carvão Ativado:

Os produtos para as adições orgânicas nos solos foram selecionados


após diversas considerações, priorizando principalmente que os resultados ex-
perimentais obtidos em condições de laboratório possam ser replicados em
campo. Consequentemente, o CA foi considerado como uma opção atraente
devido a sua condição oleofílica e a sua alta SE e porosidade, além da geome-
tria irregular da própria partícula, permitindo se adaptar a um arranjo entre par-
tículas mais facilmente. Outros materiais orgânicos, como o PET ou PVC tam-
bém foram aventados, mas foram descartados devido às dificuldades na procu-
ra de tecnologias viáveis para realizar uma moagem efetiva para atingir as gra-
nulometrias desejadas.
Desta forma, foram procurados diferentes fornecedores regionais de CA,
sendo encontrados dois que apresentaram características de controle de quali-
dade mínimas do produto. As duas classificações de CA (CAG e CAP) foram
53

utilizados como aditivo orgânico ao solo neste trabalho, adquiridos segundo a


seguinte informação:
i. O CAG de origem vegetal (madeira) foi obtido pelo fornecedor Casa dos
Filtros (vendas01@abf-filtros.com.br) na cidade de Salvador – BA. A re-
ferência granulométrica deste material especificada pelo fabricante foi de
5,66 mm – 3,36 mm.
ii. O CAP de origem vegetal (rejeito da casca verde de coco) foi adquirido
através do fornecedor Bahiacarbon Agro industrial LTDA (saul.bacar-
bon@gmail.com), localizado em Valença – BA. Este carvão é feito a
base do rejeito da casca verde de coco gerado na região e reaproveita-
do por esta empresa sendo disponibilizado no mercado regional para
sua aquisição.
Particularmente, deu-se ênfase à adição de CAP devido ao menor tamanho do
grão quando comparada ao CAG. De acordo com o observado na revisão da li-
teratura, materiais oleofílicos que possuem baixa granulometria tendem apre-
sentar interações mais fortes aos líquidos orgânicos, sendo semelhantes às
apresentadas entre as moléculas da água e as superfícies dos argilominerais,
ajudando a atingir os requisitos desejados em termos de diminuição do k no
solo.

3.1.3 Solos:

Na realização deste estudo, foram escolhidos solos com as seguintes


características:
i. Solo residual oriundo da alteração do embasamento cristalino, aqui de-
nominado de solo residual do granulítico – gnaisse (RGG), de caracte-
rística argilosa, sendo a amostragem feita no talude do terreno de fundo
da EP-UFBA, Salvador – BA (conforme Figura 24.a).
ii. Solo de sedimento terciário da formação de barreiras (TBA), constituído
por sedimentos areno – argilosos com argilas cauliníticas (bilaminares,
não expansivas), tendo sido amostrado na região do Centro Industrial de
Aratu (CIA), Salvador – BA (conforme Figura 24.b).
54

a) b)
Figura 24. Lugar de coleta das amostras de solo: a) EP-UFBA; b) Estrada
CIA/Aeroporto.

Os solos descritos foram escolhidos devido à diferença da matriz consti-


tuinte previamente identificada entre eles, visando a obter resultados referenci-
ais tanto para solos arenosos (TBA) como argilosos (RGG), localizados proxi-
mamente a Salvador. Desta forma, a análise baseada nos resultados obtidos
será mais concludente e aproveitável para os fins pretendidos.
Por último, os procedimentos e técnicas experimentais utilizados ao lon-
go da execução deste trabalho, para cada um dos materiais aqui mencionados,
estão devidamente descritos neste capítulo, sendo principalmente fundamenta-
dos nas normas padrão da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

3.2 Preparação dos materiais

3.2.1 Carvão Ativado

Especificamente para o CAG estabeleceu-se uma metodologia empírica


visando diminuir a granulometria dos grãos, isto na procura de uma mistura
solo/carvão mais homogênea, assim como o aumento da SE do material. Para
o CAP não foi necessária esta preparação prévia devido à granulometria propí-
cia já observada desde a aquisição.
O procedimento de moagem do CAG empregou um moinho de bolas
mediante o sistema de jarro e esferas de porcelana do fabricante Quimis Apa-
relhos Científicos, modelo Q298 – 1 (São Roque, SP, BR) providenciado pelo
LEDMA na EP-UFBA. A aparelhagem constituiu-se pelos seguintes componen-
55

tes: base rotativa de correias (150 RPM no rolo de tração), o jarro de alumínio e
as esferas de porcelana, cujos componentes estão descritos na Tabela 7.

Tabela 7. Informação descritiva dos componentes que conformam o moinho de bolas.


Componente Descrição
Base Rotativa Marca: Quimis; Modelo: Q298-1
Jarro Material: Aço; Volume: 17.462 cm3
Esferas Material: Porcelana; Diâmetro: 3,81 cm
Fonte: Autor

Um total de 32 esferas de porcelana foram empregadas durante o proce-


dimento de moagem, conforme a Figura 25.a, correspondentes às indicações
do fabricante segundo o volume do corpo do moinho. A quantidade de CAG a
ser inserida no dispositivo por batelada durante o processo de moagem foi de -
terminada após 3 testes experimentais variando o tempo do ensaio entre 1 a 4
horas. Também, a massa da amostra foi definida depois de ser observada uma
mudança representativa no tamanho do grão.

a) b)
Figura 25. Moinho de bolas utilizado para diminuir a granulometria do CAG.

Cada um dos componentes foi devidamente inspecionado, evitando


comprometer e alterar as características intrínsecas das amostras de CAG in-
seridas no dispositivo. O processo de moagem do CAG se deu da seguinte for-
ma:
56

i. Coleta de uma amostra de CAG variando entre 3,0 – 4,0 kg mediante


quarteamento (ver Figura 26.a).
ii. Inserção no moinho da amostra obtida de CAG colocando as esferas de
porcelana em camadas intercaladas, contendo até 5 bolas no máximo
(ver Figura 26.b).
iii. Acionamento do equipamento para moer a amostra de CAG por um tem-
po estimado de 120 minutos.
iv. Separação de 300 – 400 g da amostra resultante do processo de moa-
gem e trituramento por 30 segundos em um liquidificador industrial (ver
Figura 26.d). Ressalta-se o cuidado durante o procedimento quanto ao
aquecimento do liquidificador provocado pelo atrito entre o CAG e o me-
tal.
v. Coleta de duas amostras representativas para a realização do ensaio
granulométrico após o processo de moagem, embora pela inspeção vi-
sual é possível observar uma redução no tamanho do grão conforme se
observa na Figura 26.e.

a) b) c)

d) e)
57

Figura 26. Processo de moagem do CAG: a) Amostra de CAG coletada; b) Colocação


do CAG dentro do moinho de bolas; c) Amostra obtida após de 120 minutos; d)
Liquidificador industrial utilizado; e) Amostra final de CAG.

No que concerne ao CAP, que já possuía uma granulometria menor, pro-


videnciou-se a realização de um processo de moagem experimental profissio-
nal para diminuir ainda mais o tamanho dos grãos deste material, visando avali-
ar o efeito do incremento da SE nos valores de k. Para este intento, vários for-
necedores de moinhos foram abordados dentro e fora do Brasil, sendo localiza-
da a companhia Netzsch (https://www.netzsch-grinding.com/pt) com sede no
estado de Santa Catarina, a qual se ofereceu para uma campanha de moagem
de teste.
Uma amostra devidamente embalada de 10 kg de CAP foi então enviada
pelo serviço nacional de correios desde Salvador – BA até Pomerode – SC. Foi
estabelecida pelo fabricante uma moagem experimental mediante o umedeci-
mento da amostra utilizando a água como meio condutor e um moinho agitador
horizontal de laboratório, modelo Labstar, visando a máxima redução da granu-
lométrica a uma escala micrométrica.
A solução de moagem empregada foi de 1,5 kg de CAP e 5,0 kg de
água, estabelecida pela equipe de pesquisa da empresa. Segundo o observado
durante a execução do procedimento, o CAP aumentou a sua viscosidade após
30 minutos de moagem, sendo que após de 120 minutos de ter iniciado o en-
saio a bomba apresentou dificuldades de bombeamento devido à alta viscosi-
dade e aeração do produto, segundo o relatado pela empresa.
Contudo, obtiveram-se resultados satisfatórios, atingindo um Ø inicial
médio de 278 μm sendo reduzido até 3,78 μm, correspondente ao 90% das
partículas sólidas da amostra ensaiada. Nota-se que o CAP resultante deste
procedimento de moagem será referenciado daqui em diante como carvão ati-
vado em pó moído (CAPM).
58

3.2.1.1 Caracterização do Carvão Ativado

3.2.1.1.1 Analise Granulométrica

A norma NBR 7181/2016 foi empregada para realizar a caracterização


da granulometria das partículas sólidas, tanto para o CAG como para o CAP
(ver Figura 27), através do procedimento de peneiramento. No caso específico
do CAG, foram realizados os ensaios de caracterização granulométrica antes e
depois do processo de moagem experimental, verificando, assim, a efetividade
na redução do tamanho no grão pelo processo de moagem adotado.

Figura 27. Pesagem do CAP retido segundo a peneira utilizada no procedimento.

A Figura 28 apresenta a curva da análise granulométrica obtida para a


amostra do CAP, destacando que para o CAPM a granulometria adotada foi
aquela fornecida pela empresa Netzsch, sendo em torno de 3,78 μm para 90%
das partículas sólidas. Diante disso, segundo a classificação de solo da escala
U.S.D.A., apresentada na Tabela 1, o CAPM assemelha uma composição gra-
nulométrica da silte (entre 50 e 2 μm), porém o tamanho das partículas sólidas
do CAPM apresentam mais proximidade à fração da argila (< 2 μm).
59

Figura 28. Curva característica da análise granulométrica do CAP.

Observa-se na Figura 28 que as partículas do CAP são majoritariamente


inferiores a 0,25 mm, sendo que 75% destas se encontram localizadas na faixa
de 0,149 – 0,074 mm e 20% apresentam tamanho granulométrico inferior a
0,074 mm (classificação de agregados finos). Segundo a classificação granulo-
métrica da ABNT (NBR 6502/1995) este material assemelha a uma granulome-
tria de um solo areno – silto/argiloso.
Em termos mais simplificados a composição deste material, de acordo
com a escala da U.S.D.A., está conformada da seguinte forma: 5% de areia
média; 60% de areia fina; e 35% de areia muito fina. Nota-se que a peneira de
menor Ø aqui utilizada foi a #200 (0,074 mm), por conseguinte não foi possível
comparar a quantidade de grãos semelhantes às frações de silte e argila.
Na Figura 29 se apresentam as curvas granulométricas identificadas an-
tes e depois do processo de moagem experimental empregado nas amostras
de CAG, ilustrando a eficiência obtida na redução do tamanho dos grãos.
60

Figura 29. Curva característica da análise granulométrica do CAG, antes e depois do


processo de moagem empírico.

Conforme se observa na Figura 29, o CAG que inicialmente possuía


uma granulométrica entre 5,66 – 2,38 mm, assemelhando os grãos classifica-
dos de pedregulho (acima de 2,0 mm), após aplicado o procedimento de moa -
gem, teve as suas partículas reduzidas significativamente, dando como resulta-
do mais do 90% das partículas sólidas passando pela peneira Mesh #8 (2,38
mm) e 10% dos grãos sendo menores que o Ø de 0,074 mm. Na escala da
U.S.D.A a composição do CAG moído se assemelha às seguintes frações do
solo: 5% pedregulho; 15% areia muito grossa; 35% areia grossa; 20% areia
média; 15% areia fina; e 10% areia muito fina.

3.2.1.1.2 Determinação da Densidade e Superfície Específica

Para determinar a densidade real das partículas ou densidade dos grãos


(ρca) nas amostras de CAG, o picnômetro de sistema do deslocamento de gás
produzido pelo fabricante Micromeritics, modelo Accupyc II 1340 (Norcross,
GA, EUA) foi empregado e disponibilizado pelo LEDMA na EP-UFBA (conforme
Figura 30).
61

Figura 30. Picnômetro Micromeritics utilizado na determinação do valor de densidade


para o CAG.

O picnômetro Micromeritics mede a densidade ou volume do material


através da técnica do deslocamento de gases inertes (hélio ou nitrogênio). A
amostra é vedada dentro do compartimento do dispositivo de volume predefini-
do e uma quantidade específica do gás é admitido. Cinco estimativas são reali-
zadas para se calcular a média do valor de densidade final pelo volume do gás
deslocado e a massa (base seca) da amostra.
No que concerne ao CAP e CAPM a realização do ensaio para determi-
nar o valor de ρca mediante a utilização do picnômetro a gás hélio se mostrou
impraticável devido à granulometria muito fina do material. Por conseguinte,
este parâmetro foi determinado pelo procedimento geotécnico tradicional apli-
cado a solos de acordo com a norma NBR 6508/1984, procedimento realizado
no Laboratório de Geotecnia na EP-UFBA. Contudo, as amostras foram deixa-
das mais tempo na bomba de vácuo do que o estabelecido pela norma para
certificar a extração do ar, conforme a Figura 31.
62

a) b)
Figura 31. Determinação da massa específica dos grãos do CAP e CAPM: a) Extração
do ar com a bomba de vácuo; b) Amostras atingindo a temperatura ambiente.

Foi utilizado o equipamento do fabricante ACMEL (Champlan, FR), mo-


delo Blaine – BSA1; conforme Figura 32 disponibilizado no LEDMA – EP-
UFBA, para a obtenção dos valores de SE do CAG, CAP e CAPM. Ressalta-se
que os valores obtidos por este dispositivo correspondem à SE externa de cada
um dos carvões ativados.

Figura 32. O permeabilímetro ACMEL empregado na estimativa da SE dos materiais


utilizados.
63

O procedimento de operação do permeabilímetro tipo Blaine, baseia-se


na norma ASTM – C: 204 – 07 (equivalente à UNE – EN: 196-6:2010). Este
aparelho tem como função principal a determinação da SE de produtos cimentí-
ceos ou materiais pulverizados, por conseguinte as estimativas da SE são vol-
tadas para identificar de forma externa, contrário ao método BET.
A quantidade de amostra requerida para o ensaio foi baseado no valor
de ρ do material calculado pelo dispositivo (variando de 1 a 3 g). Os resultados
obtidos foram estimados a partir da média resultante de duas leituras, sendo
estas ajustadas a uma temperatura de 20 oC. O intervalo de tempo entre leitura
foi de 1 a 231 s, de acordo com o tamanho do grão ensaiado.
Complementarmente, outra análise das propriedades físicas foi realizada
para determinar a SE interna e o volume total de poros (V p) dos materiais aqui
utilizados. Diante disso, utilizou-se o método de fisissorção do N 2 mediante o
modelo BET. Para isto, uma amostra de cada material, em torno de 10 g foi le-
vada no laboratório de Catalise e Materiais (LABCAT) no departamento de quí-
mica da UFBA (Campus Ondina). Seguidamente, empregou-se o equipamento
de adsorção gasosa do fabricante Micromeritics, modelo ASAP 2020 (Norcross,
GA, EUA) para determinar a SE interna e o V p, a partir da integração de técni-
cas automatizadas.
De forma geral, este procedimento consiste em calcular o volume de N 2
necessário para cobrir a amostra do material em apenas uma monocamada. A
quantidade do gás adsorvido na monocamada determinará, por meio das ad-
sorções e dessorções sob diferentes pressões relativas, o valor da área super-
ficial específica, SE, em relação à massa da amostra ensaiada e variáveis
constantes predefinidas no equipamento. A Tabela 8 apresenta os resultados
obtidos da ρca, Vp e SE interna e externa a partir da metodologia descrita nesta
seção.
64

Tabela 8. Resultados obtidos nos ensaios de caracterização do CA.


Material ρca (gcm-3) SEext (m2g-1) SEint (m2g-1) SEtotal (m2g-1) Vp (cm3g-1)
CAG 1,77 0,25 905 905,25 0,457
CAP 1,71 0,73 908 908,73 0,464
CAPM 1,67 1,76 942 943,76 0,573
Fonte: Autor

Ressalta-se que os valores de SE são detalhados segundo o procedi-


mento empregado. A estimativa da SE feita pelo permeabilímetro ACMEL esta
representada como SEext, enquanto que SEint foi nomeado para a estimativa fei-
to pelo método BET. Além disso, estabelece-se a SE total como resultado da
soma de ambas estimativas obtidas. Os valores correspondentes ao CAG fo-
ram obtidos das amostras resultantes do processo de moagem, sendo este o
tamanho do grão utilizado ao longo da preparação dos CPs.

3.2.2 Preparação dos Solos

Efetuaram-se coletas de amostras deformadas de dois tipos de solos


(RGG e TBA) em duas localizações diferentes dentro da região metropolitana
de Salvador – BA, feita pela equipe do GEOAMB, para efetuar a caracterização
física (granulometria, massa específica dos sólidos, LA); os ensaios de com-
pactação e os ensaios de permeabilidade a carga variável. Após a realização
da coleta, as amostras foram espalhadas dentro do GEOAMB em um espaço
coberto e devidamente acondicionado procurando a passagem contínua de ar
conforme se observa na Figura 33.
65

Figura 33. Processo de secagem empregado nas amostras deformadas coletados em


campo.

Os solos foram colocados sobre lona sintética limpa em uma única ca-
mada de 2,5 cm de espessura máxima, durante 2 – 3 dias, período de seca-
gem necessário para se atingir a umidade de equilíbrio com o ambiente (umida-
de higroscópica). Procurou-se, uniformizar o processo de secagem pelo revolvi-
mento constante das partículas de solo duas vezes por dia até alcançar a umi -
dade higroscópica, conferido por inspeção visual e táctil.
Em seguida, realizou-se o destorroamento e peneiramento do solo seco
ao ambiente com a peneira Mesh #10 (2 mm de abertura) (ver figura 34.a e
34.b), separando aquelas partículas que ficaram retidas na peneira e armaze-
nando o material restante em um recipiente hermético. Posteriormente, as par-
tículas retidas foram novamente destorroadas utilizando um compactador ma-
nual de madeira com uma massa de 3,60 kg e uma altura de queda entre 30 –
50 cm. Após esta etapa o solo foi novamente peneirado e o material retido foi
descartado.
66

a) b)
Figura 34. Preparação dos solos no GEOAMB: a) Destorroamento; b) Peneiramento

Na Tabela 9 se apresentam, de forma geral, as quantidades requeridas


de solo para os ensaios delineados neste trabalho.

Tabela 9. Massa requerida por tipo de solo segundo ensaio delimitado.

Tipo de Amostra Objetivo Massa (kg) No. de Amostras Total (kg)

Caracterização 2,00 1,00

Solo a 100% Ensaio de compactação 2,50 5,00 39,50

Moldagem dos CP 2,50 10,00

Ensaio de compactação 2,25 5,00


Solo90% - CA10% 33,75
Moldagem dos CP 2,25 10,00
Ensaio de compactação 2,00 5,00
Solo80% - CA20% 30,00
Moldagem dos CP 2,00 10,00

Fonte: Autor

3.2.2.1 Ensaios de Caracterização dos Solos

A Tabela 10 apresenta as normas ABNT utilizadas para a realização dos


ensaios de caracterização empregadas nos solos RGG e TBA. Cada amostra
foi obtida utilizando o procedimento de quarteamento prévio à realização dos
ensaios de caracterização visando obter uma maior representatividade das pro-
priedades e características intrínsecas dos solos.
67

Tabela 10: Normas utilizadas nos ensaios de caracterização física.


Norma Descrição do Ensaio
Amostras de solos – preparação para ensaios de compactação e
NBR 6457:2016
caracterização
Determinação da massa específica dos grãos de solos que pas-
sam na peneira de 4,8 mm (de acordo com a NBR NM ISO
NBR 6508:1984
2395:1997), por meio de picnômetro, através da realização de,
pelo menos, dois ensaios.
Método para análise granulométrica de solos, realizada por penei-
NBR 7181:2016
ramento ou por combinação de sedimentação e peneiramento.
NBR 6459:2016 Método para a determinação do limite de liquidez dos solos.
Método para a determinação do limite de plasticidade e para o cál-
NBR 7180:2016
culo do índice de plasticidade dos solos.
Define os termos relativos aos materiais da crosta terrestre, ro-
NBR 6502:1995 chas e solos, para fins de engenharia geotécnica de fundações e
obras de terra.
Fonte: Normas ABNT, 2016

A Tabela 11 apresenta os resultados obtidos nos ensaios de caracteriza-


ção em ambos solos, onde: pedregulho (P d), areia (Ar), silte (St) e argila (Ag).
Além disso, são apresentados os valores dos limites de Atterberg ou de consis-
tência (LA), massa específica dos grãos (ρs), superfície especifica (SEint) e a
classificação segundo o sistema unificado de classificação de solos (SUCS) e a
ABNT. Ressalta-se que para a determinação dos valores da SE, as amostras
foram peneiradas na Mesh #200 (0,074 mm), visando obter os valores da fra-
ção fina de cada solo utilizando o método BET.
68

Tabela 11. Resumo dos resultados de caracterização dos solos estudados.


Granulometria (%) LA (%) ρs SEint Classificação
Solo
Pd Ar St Ag WL WP IP (gcm-3) (m2g-1) SUCS ABNT
Argila-areno sil-
tosa com vestí-
RGG 3 26 15 56 90 48 42 2,818 89 MH
gios de pedre-
gulho.
Areia argilo-sil-
SC/ tosa com vestí-
TBA 1 77 7 15 23 18 5 2,716 33
SM gios de pedre-
gulho.
Fonte: Autor

Destaca-se a partir dos resultados da Tabela 11 que o solo RGG possui


uma fração argilosa de 56% e siltosa de 15%, dando como total 71% de partí -
culas consideradas como agregados finos (predominância das forças de intera-
ção eléctrica). Já, o solo TBA apresenta uma predominância da fração arenosa
com um 77%, correspondendo somente 22% a fração de agregados finos, de
forma que as forças gravitacionais são as favorecidas neste tipo de solo.
Nota-se que dentro da fração Ar, existem 3 subdivisões segundo a clas-
sificação SUCS: areia grossa (Ø entre 0,6 – 0,2 mm); areia media ( Ø entre 0,2
– 0,06 mm); e areia fina (Ø entre 0,06 – 0,002 mm). Diante disso, no solo TBA
encontrou-se um 9% de areia grossa, 39% de areia media e 29% de areia fina;
enquanto que no solo RGG foi encontrado 4% de areia grossa, 9% de areia
media e 13% de areia fina.
Conforme o observado na literatura os resultados de SE int obtidos estão
dentro das faixas correspondentes à caulinita e ilita para o solo TBA e RGG,
respectivamente, sendo considerandos resultados satisfatórios e coerentes. A
Figura 35 apresenta a curva granulométrica para o solo RGG, enquanto que
na Figura 36 se apresenta a correspondente ao solo TBA.
69

Figura 35. Curva característica da análise granulométrica do solo RGG.

Figura 36. Curva característica da análise granulométrica do solo TBA.

Evidencia-se, claramente a diferença entre as matrizes que conformam


ambos solos, permitindo avaliar os resultados de k sobre a influencia da adição
do CA, tanto no meio poroso granular e argiloso. Na sequência se apresentam
as retas de fluxo obtidas durante a realização do ensaio do W L como parte da
determinação dos AL. As Figuras 37 e 38 correspondem para o solo RGG e
TBA, respectivamente.
70

Figura 37. Reta de fluxo na obtenção do WL para o solo RGG.

Figura 38. Reta de fluxo na obtenção do WL para o solo TBA.

Conforme aos resultados de LA, o solo RGG apresenta valores em torno


de: WP de 48%, WL de 90% e o IP de 42%, sendo considerado, segundo Bur-
mister (1949), solo de muita alta plasticidade (IP: > 40%); enquanto que o solo
TBA os valores obtidos foram em torno de: W P de 18%, WL de 23% e o IP de
5%, sendo considerado como um solo entre ligeiramente, (IP de 1 a 5%), ou
pouco plástico, (IP de 5 a 10%) pela classificação de Burmister (1949). A Figura
39 apresenta a carta de plasticidade de Casagrande (1932) identificando a lo-
calização dos solos analisados.
71

60

Índice de Plasticidade (%)


50

RGG
40 CH

30

CL OH MH
20

10 CL-ML
ML
TBA
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Limite de Liquidez (%)
Figura 39. Carta de plasticidade de Casagrande (1932) integrando os solos RGG e
TBA.

De acordo com os critérios adotados pela classificação SUCS e a carta


de plasticidade de Casagrande (1932), obtiveram-se os seguintes resultados: i.
o solo RGG foi classificado como silte inorgânica (M) de alta plasticidade, (H),
devido ao valor de W L superior a 50%. ii. A classificação do solo TBA foi defini-
da como arenoso (S) com teor apreciável de finos (silte inorgânica, M, ou argila
inorgânica, C). Destaca-se, neste caso, o valor do IP estando na faixa 4 ≤ IP ≤
7% e localizado dentre as margens das linhas A e U, classifica-se com duas
simbologias, SC – SM.

3.2.2.2 Caracterização da Mineralogia dos Solos

A caracterização da mineralogia dos solos RGG e TBA foi realizada


através da utilização das técnicas de difração de raios-X (DRX) e da
fluorescência de raios-X (FRX). De forma geral, a técnica FRX tem sido
utilizada para análises qualitativas e quantitativas de elementos químicos
pertencentes a um determinado material, enquanto que a DRX possibilita a
identificação dos elementos constituintes da fase sólida cristalina desse
material. As técnicas foram empregadas com aparelhagem disponível na EP-
UFBA. Para a análise FRX foi utilizado o analisador portátil do fabricante
Oxford Instruments, modelo X-MET série 7500 (Austin, TX, EUA) providenciado
72

pelo GEOAMB, enquanto que o difratômetro feito pela empresa Bruker, modelo
D2 Phaser (Madison, WI, EUA), foi empregado para a DRX cedido pelo
LEDMA; conforme Figura 40.

a) b)
Figura 40. Dispositivos utilizados para a identificação de elementos e minerais nos
solos RGG e TBA: a) Analisador portátil FRX; b) Difratômetro de raios-X.

Para a análise realizada no FRX, da composição atômica dos solos,


utilizou-se uma amostra de 100 g por tipo de solo, e assim relacionar as
intensidades fluorescentes dos elementos encontrados na amostra com as
concentrações respectivas. A Tabela 12 apresenta os resultados obtidos pela
técnica aqui referenciada, detalhando os principais elementos químicos
identificados nas amostras ensaiadas.
73

Tabela 12. Resultados da análise de FRX nos solos RGG e TBA.


Concentração (%)
Elemento
RGG TBA
Al 40,64 31,52
Si 51,10 64,32
Cl 2,93 2,24
Ti 1,64 0,91
Fe 3,04 0,69
Co 0,66 0,33
Fonte: Autor

Verifica-se que os elementos alumínio (Al) e silício (Si), foram os de


maior concentração, sendo o esperado pela predominância destes elementos
na conformação da superfície terrestre. Destaca-se, a concentração de cloro
(Cl) encontrado nas amostras como consequência do ambiente (clima)
altamente úmido e tropical na região do litoral baiano. Por último, destaca-se
uma maior concentração de ferro (Fe) no solo RGG, indicando a formação de
argilominerais mais complexos quando comparado com o solo TBA. Não
obstante, concentrações de magnésio não foram identificadas no solo RGG
diminuindo, assim, a probabilidade de se encontrar argilominerais pertencentes
ao grupo da montmorillonita neste solo de matriz argilosa.
Os resultados obtidos pela análise FRX foram utilizados como suporte
para análise dos resultados da aplicação da técnica de difração de Raios-X
(DRX). Para aplicação do DRX uma amostra por solo com massa variando
entre 10 e 20 g foram coletadas e passadas pela peneira Mesh n o. 200
(abertura de 0,074 mm) visando obter uma melhor identificação da fração
cristalina (ver Figura 41).
74

Figura 41. Amostra do solo RGG no recipiente antes de ser inserida no difratômetro
Bruker D2 Phaser.

As amostras foram inseridas em recipientes especificados pelo fabrican-


te e colocadas dentro do dispositivo de análise. Cada ensaio foi realizado com
a faixa de varredura de 5º a 85º (2θ) com incremento de 0,02°/s. Posteriormen-
te, as fases identificadas nas amostras foram conferidas mediante o software
DIFFRAC plus-EVA, tendo o sistema Crystallography Open Database (COD)
como banco de dados padronizado para a realização de uma identificação
apropriada.
No ensaio de DRX, obtém-se como resultado um gráfico de intensidade
por ângulo difratado, sendo este utilizado para a identificação dos picos de in-
tensidade segundo as unidades estruturais constituintes da matéria que
compõe a amostra. As Figuras 42 e 43 apresentam os gráficos dos picos de
intensidades em contagens ou medições por segundo (CPS) dos principais mi-
nerais encontrados nas amostras do solo RGG e TBA, respectivamente. Nota-
se que os minerais apresentados em ambas figuras foram identificados após
apresentarem três picos de intensidade semelhantes.
75

Figura 42. Gráfico de intensidade dos principais minerais identificados no solo RGG.

Figura 43. Gráfico de intensidade dos principais minerais identificados no solo TBA.

Após identificar os principais minerais presentes nos solos, estimaram-


se as porcentagens deles utilizando o software de análise de perfis TOPAS,
baseado em um sistema não-linear de ajuste através de método dos mínimos
quadrados. Este software realiza a estimativa das concentrações mediante
uma análise quantitativa feita pelo método de Rietveld (Hill e Howard, 1987),
apresentando os resultados obtidos na Tabela 13.
76

Tabela 13. Estimativa da fração constituinte da mineralogia segundo o tipo de solo.


Fração (%)
Mineral
RGG TBA
Quartzo 0,40 2,78
Caulinita 2,07 3,26
Dickita - 6,59
Nacrita 8,67 19,47
Marcassita 10,07 -
Tridimita 3,29 -
Gibbsita 0,30 -
Cristobalita 0,40 -
Material Amorfo 74,80 67,90
Total 100 100
Fonte: Autor

Analisando os resultados da Tabela 13, observa-se que no solo TBA


houve a predominância de argilominerais pertencentes ao grupo das caulinitas
(caulinita, dickita e nacrita), embora a fração argilosa não é predominante, o
que dá como resultado que os argilominerais aqui identificados não exerçam
influência significativa na interação solo/liquido.
Para o solo RGG, observa-se uma maior abrangência entre os minerais
identificados. Argilominerais pertencentes ao grupo da caulinita foram também
identificados (caulinita e nacrita), além da presença mineral de natureza
metálica (marcassita), sendo o mais predominante identificado na análise e
menor quantidade os polimorfos da sílica (quartzo, tridimita e cristobalita). A
presença da gibbsita, sugere a presença de outros argilominerais não
identificados pertencentes ao grupo da ilita e possivelmente, em menor
quantidade, da montmorillonita.
O alto conteúdo de material amorfo encontrado nos solos, sugere a
presença de argilominerais paracristalinos não identificáveis, encontrados em
solos com alto intemperismo, sendo a cor vermelha indicativo de alta
pluviosidade (Bhattacharyya e Pal, 2015).
77

Confirma-se que os solos RGG e TBA são solos ferralíticos (latossolos),


localizados geralmente em regiões tropicais úmidas, e por conseguinte
encontrados de forma preponderante no estado da Bahia como apontado no
estudo de Volkoff (1975). Diante disso, estabelece-se que os resultados obtidos
na análise quantitativa e qualitativa através das técnicas aqui empregadas, são
coerentes com as propriedades físicas do solo e o observado na literatura.

3.2.3 Caracterização das Misturas Solo/CA: Limites de Atterberg ou de


Consistência

Os LA correspondestes às misturas de solos com as adições de CA fo-


ram obtidos empregando a norma NBR 7180/2016 conforme se observa na Fi-
gura 44. Estes ensaios foram realizados no laboratório de Solos da UCSAL e
de Geotecnia na EP-UFBA para observar a influência das adições de CA na afi-
nidade dos solos a água.

a) b)
Figura 44. Ensaios dos limites de Atterberg ou de Consistência: a) Limite de
plasticidade, WP; b) Limite de liquidez, WL.

Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 14, bem com o valor


da atividade (A) do solo definida como o resultado da razão entre o valor do IP
(%) e a fração argilosa (%) estimada no solo estudado (ver Tabela 11).
78

Tabela 14. Resultados dos LA obtidos nas misturas solo/CA.


Limites de Atterberg ou de Consistência
Amostra
WL (%) WP (%) IP (%) A (-)
RGG95% – CAPM5% 85 36 50 0,88
RGG90% – CAG10% 80 43 37 0,67
RGG90% – CAP10% 79 42 37 0,67
TBA90% – CAG10% 19 16 3 0,18
TBA90% – CAP10% 22 18 4 0,26
RGG80% – CAG20% 79 41 39 0,70
RGG80% – CAP20% 71 51 20 0,36
TBA80% – CAG20% 22 16 6 0,37
TBA80% – CAP20% 27 22 5 0,31
Fonte: Autor

Conforme a Tabela 14, os resultados das misturas do solo RGG – CA


apresentaram-se consistentes segundo o teor de adição do incorporado e se-
melhantes aos correspondentes para a ilita encontrados por Mitchell (1976) e
Skempton (1953), excetuando a amostra RGG80% - CAP20%, cujo valor de IP
apresenta uma diminuição abrupta, em torno de 20%, quando comparado ao
resto das misturas e ao solo RGG sem adição (IP do 42%).
Destaca-se, ainda, o aumento do IP no solo RGG sem adição para o
50% da mistura de RGG – CAPM com 5% de teor de adição, sugerindo uma
melhoria na interação solo/CA/liquido, vista pelo aumento do parâmetro A. Já,
no caso das misturas do solo TBA, evidencia-se o comportamento contrário
como resultado das adições de CAG e CAP, evidenciando uma baixa atividade,
A, devido ao pouco conteúdo de agregados finos.

3.3 Ensaios de Compactação e preparação das amostras

Os ensaios de compactação foram realizados segundo a norma ABNT


NBR 7182:86, calculando cada ponto da curva de compactação com material
sem reuso. Destaca-se, a utilização da energia Proctor modificado (EPM) no
processo de compactação dos CPs correspondente a cada amostra delineada
neste trabalho. Não obstante foi utilizada a energia Proctor intermediário (EPI),
79

para compactar CPs de amostras do solo RGG a 100%, visando avaliar o efeito
da energia de compactação no valor de k.
Desta forma, justifica-se a utilização das duas energias de compactação
nas amostras de RGG sem adição para analisar a influência que este fator pos-
sui na redução da porosidade (n) do solo, que por sua vez reflete na redução
do coeficiente de permeabilidade. Consequentemente, estes resultados serão
úteis para serem reproduzidos em campo na contenção dos líquidos de hidro-
carbonetos (diques de contenção).
Os CPs foram compactados a partir dos valores da massa específica
seca (dmax) e umidade ótima (wot) obtidas nos ensaios de compactação. Des-
taca-se que os valores da massa específica dos grãos ou densidade real (ρs)
para as misturas solo/CA, foram calculados empregando a equação 16 utilizan-
do parâmetros obtidos individualmente para cada tipo de CA e solo, expostos
com antecedência nas Tabelas 8 e 11, respectivamente.

Ms
ρs =
M ss M ca (16)
ρss + ρca

Onde ρs é a massa específica das partículas ou fase sólida [ML -3]; Ms é a mas-
sa seca total da amostra [M]; Mss é a massa seca das partículas de solo [M];
Mca é a massa seca das partículas do CA [M]; ρss é a massa específica das par-
tículas do solo [ML-3] e ρca é a massa específica das partículas do CA [ML-3].
Utilizou-se neste caso o termo seco com referência ao material na umi-
dade higroscópica, sendo misturado desta forma na preparação das amostras.
Na sequência, apresentam-se os resultados dos ensaios de compactação fei-
tos na UCSAL nas Tabelas 15 e 16, segundo as amostras preparadas com os
solos RGG e TBA, respectivamente.
80

Tabela 15. Resultados dos ensaios de compactação nas amostras feitos com solo
RGG.

Tipo de Amostras dmax (kN·m-3) wot (%) ρs (g·cm-3)

RGG 100% (EPI) 15,15 24,79 2,82


RGG 100% 15,49 22,61 2,82
RGG95% – CAPM5% 14,65 24,33 2,72
RGG90% – CAG10% 14,39 22,31 2,66
RGG90% – CAP10% 14,24 26,04 2,65
RGG80% – CAG20% 13,87 24,71 2,52
RGG80% – CAP20% 13,38 29,46 2,49
Fonte: Autor

Tabela 16. Resultados dos ensaios de compactação nas amostras feitas com solo
TBA.

Tipo de Amostras dmax (k·Nm-3) wot (%) ρs (g·cm-3)

TBA 100% 19,77 8,86 2,72


TBA90% – CAG10% 18,09 11,58 2,58
TBA90% – CAP10% 18,77 10,64 2,57
TBA80% – CAG20% 16,76 13,16 2,45
TBA80% – CAP20% 17,34 14,36 2,43
Fonte: Autor

Observa-se a alteração nos valores de dmax (aumento) e wot (redução)


devido à mudança da energia de compactação variando de EPI para EPM no
solo RGG sem adição. Estes resultados, estão em concordância com a tendên-
cia observada no estudo de Benson e Trast (1995) e demais estudos apresen -
tados, de forma geral, em livros da mecânica de solos. Baseado neste compor-
tamento, o resto das amostras e CPs foram compactadas na EPM somente,
havendo comprovado que esta energia de compactação é a melhor em termos
de redução de poros dificultando assim a passagem de líquidos permeantes
sendo principal objetivo na confecção de barreiras minerais.
81

Uma redução nos valores de ρs foi evidenciada quando o teor de CA foi


incrementado, atribuído à natureza orgânica do CA, sendo que as partículas
sólidas de produtos orgânicos geralmente apresentam menores valores de
peso específico. Ressalta-se que os valores de dmax e wot da amostra RGG95%
- CAPM5% foram obtidos pela interpolação entre as amostras RGG a 100% e
RGG90% - CAP10%, motivado pela falta de CAPM para confeccionar amostras
suficientes para determinar a curva de compactação representativa para esta
mistura.
Sabe-se que o dmax tem uma relação direta com os índices de vazios (e)
do solo, cuja influência é refletida de forma preponderante no coeficiente de
permeabilidade. As amostras compactadas na EPM, apresentadas nas Tabelas
15 e 16, evidenciam a influência da adição do CA, providenciando valores mai-
ores do dmax, bem como valores menores de w ot. Pode-se afirmar que quanto
maior o teor de adição do material orgânico, maior será a quantidade de água
para atingir a umidade ótima e, em consequência, menor será o peso específi-
co aparente seco da mistura, como constatado nos estudos de Lancaster et al.
(1996) e Franklin et al. (1973).
Contudo, dois aspectos são destacados: a) O incremento no dmax não im-
plica igual incremento no índice de vazios, e, comparado ao solo sem adição, já
que há uma redução na massa específica dos grãos; b) O efeito do aumento do
e pode ser compensado por uma maior interação com os fluidos pemeantes
(principalmente para o caso do ODC) resultante de uma maior SE.

3.4 Ensaios de permeabilidade: Delineamento, preparação e montagem

A Figura 45 ilustra o fluxograma com o delineamento experimental ado-


tado para a realização dos ensaios de permeabilidade a carga variável. Os en-
saios descritos e a quantidade de CPs preparados se apresentam segundo o
fluido permeante, considerando que por amostra foram preparados 5 CPs, ex-
cetuando as amostras de RGG95 – CAMP5%, sendo preparados 4 CPs so-
mente, por conta da baixa quantidade do material disponível.
82

Figura 45. Esquema descritivo dos ensaios de permeabilidade delineados por amostra.

A norma NBR 14545/2000 foi empregada para a determinação do coefi-


ciente de permeabilidade, k, dentro de cilindros de PVC ranhurados, os quais
foram utilizados como permeâmetros de parede rígida (PPR). Os PPR ranhura-
dos possuíam um Ø externo nominal médio de 11 cm, Ø interno nominal médio
de 9,7 cm e uma altura nominal média de 16,5 cm aproximadamente (ver Figu-
ra 46).
As amostras foram compactadas dentro dos PPR com uma altura efetiva
de 13 cm, em conseguinte o volume restante (3,5 cm) foi utilizado para a con -
fecção de filtros na parte superior (topo) e inferior (base). Ressalta-se que o vo-
lume final dos CPs foi similar ao obtido de amostras compactadas no cilindro
pequeno padrão do ensaio de compactação Proctor.
83

Figura 46. PPR ranhurados utilizados ao longo da parte experimental do estudo.

As ranhuras na parte interna da parede do PPR foram visadas para evi -


tar a ocorrência de fluxos preferenciais mediante o contato com as paredes in -
ternas e o CP compactado. Utilizou-se na montagem do ensaio um suporte que
consistia de 4 hastes metálicas e 2 tampas (caps), facilitando o processo de sa-
turação e execução do ensaio, como se observa na Figura 47. Este processo
de compactação foi feito no laboratório de solos da UCSAL, sendo devidamen-
te embalado e transportado até o GEOAMB na EP – UFBA.

Figura 47. Estrutura final de PPR prévio ao processo de saturação e execução do


ensaio de permeabilidade.
84

Durante a montagem do ensaio foi verificada a colocação do o-ring em


ambas tampas do PPR, objetivando vedar a conexão e evitar vazamento do
fluido permeante como ilustrado na Figura 48. Em seguida, colocou-se uma ca-
mada de geotêxtil não tecido no topo e na base do CP, estando em contato di-
reto com o material compactado.

a) b)
Figura 48. Colocação do o-ring dentro da tampa do PPR: a) Tampa sem o-ring; b)
Tampa com o-ring.

Para a confecção do filtro foi colocada uma camada de pedrisco (Ø = 3


mm), visando a uniformizar o fluxo influente e efluente no CP, conforme a Figu-
ra 49. Destaca-se, ainda, a colocação de uma porção de manta geotêxtil não
tecida adicional após a camada de pedrisco para evitar a passagem de material
e impedir a ocorrência de danos nos o-rings.
85

a) b) c)
Figura 49. Procedimento de colocação do filtro: a) Geotêxtil em contato com o material
compactado; b) Pedrisco utilizado segundo o fluido permeante; c) Colocação de
geotêxtil entre o pedrisco e a tampa prévia ao fechamento.

Prévio ao início do processo de saturação, cada CP foi preenchido no


topo com 100 – 150 mL do fluido permeante correspondente à amostra, confor-
me Figura 50.a. Desta forma, reduz-se o tempo de saturação dos CPs, especi-
almente nas amostras preparadas com solo RGG e as amostras misturadas
com a adição de CAP e CAPM, as quais teriam seu tempo de ensaio prolonga-
do em demasiado.
Em seguida, o fluido permeante escolhido, seja ODC ou ADI, foi introdu-
zido pela base do CP, criando um fluxo ascendente através de uma saída tubu-
lar de ¼ ’’ localizada no topo do CP, de acordo com a Figura 50.b. O processo
de saturação teve duração variando entre 1 e 10 dias, dependendo da energia
de compactação e da mistura de solo/CA, lembrando que, por se tratar de
PPR, não é possível realizar a saturação por contrapressão, e, portanto, o mé-
todo adotado foi saturação por percolação.
86

a) b)
Figura 50. Preparação do CP prévia execução do ensaio de permeabilidade: a)
Preenchimento do PPR; b) Processo de saturação com o fluido permeante.

A saturação total do CP foi considerada atingida quando o fluido apre-


sentou uma vazão contínua por mais de 180 minutos através do conector de
¼’’ localizado na tampa superior. Para a realização dos ensaios, utilizou-se
uma pressão estimada de 20 kPa, a qual era mantida constante ao longo do
ensaio durante o processo de saturação e execução do ensaio. Além disso, bu -
retas graduadas de 25 mL foram empregadas para registrar o volume dos flui -
dos permeados desde a base do CP.
Após o início do ensaio, informações tais como o tempo decorrido, tem-
peratura ambiente e quantidade de volume permeado nas buretas foram regis-
tradas metodicamente. Calculou-se, o coeficiente de permeabilidade, k, utili-
zando a leitura registrada do volume percolado segundo o tempo, as cotas da
saída do fluido permeante do CP e o comprimento do CP, empregando a equa-
ção 17. Nota-se que por efeitos deste estudo e para discutir de forma mais
apropriada os resultados obtidos, define-se aqui em diante o termo k como per-
meabilidade saturada (ksat).

aL h
k sat =2,3⋅ ×log 0 (17)
A⋅Δ t h1
87

Onde ksat é o valor da permeabilidade saturada do CP [LT-1]; a é a área interna


da bureta (neste caso de vidro) [L2]; A é a seção transversal do CP [L2]; L é a
altura inicial do CP [L]; h0 é a carga hidráulica para t0 [L]; h1 é a carga hidráulica
para t1 [L]; Δt é o intervalo de tempo que o fluido permeante demora de h 0 a h1
[T]. A Figura 51 ilustra a implementação e execução dos ensaio de permeabili-
dade a carga variável feitos neste estudo.

ODC
ADI

a) b)

c)
Figura 51. Processo do ensaio de permeabilidade a carga variável: a) CPs segundo o
fluido permeante (parte superior os ensaiados com ODC e a inferior com ADI; b)
Reservatórios fixos contendo os líquidos permeantes; c) Buretas graduadas e fixadas.

Para considerar cada ensaio como finalizado, um mínimo de 4 leituras


de volume constante (estabilizados) foram registradas. Os registros foram reali-
zadas dentro de uma planilha única exclusiva a cada CP de forma manual e di-
gital (no software Libreoffice Calc) com leituras de volume visto na bureta com
0,5 mL de diferença entre cada uma, em relação ao intervalo de tempo.
88

Após obtenção das leituras constantes o valor de k sat foi calculado utili-
zando a média geométrica. Em seguida, o CP foi desmontado, limpado e pesa-
do, prévia remoção e destorroamento da amostra compactada dentro do PPR,
conforme a Figura 52.

a) b)
Figura 52. Procedimento após da finalização do ensaio de permeabilidade: a)
Pesagem do CP saturado; b) Extração da amostra compactada.

Para determinar os teores de umidade, w, foram coletadas 6 amostras


representativas do material destorroado, após da devida homogenização, den-
tro de recipientes de porcelana (cadinhos) no caso dos CPs ensaiados com
ODC, e recipientes metálicos (capsulas) para aqueles ensaiados com ADI. Em
seguida, cada recipiente com as amostras com ADI foi inserido na estufa a 100
ºC por um período de 24 horas e as amostras com ODC em outra estufa a 70
ºC por 48 horas.
No caso específico das amostras ensaiadas com ODC, estabeleceu-se
esta condicionante da temperatura devido à possibilidade de volatilização dos
compostos presentes no fluido e da matéria orgânica do solo. Após esta seca-
gem, os cadinhos foram introduzidos no forno (mufla) a 600 ºC por 120 minu-
tos, conforme a Figura 53. Registros da massa antes e depois de cada proces-
so de secagem foi realizada na planilha correspondente a cada CP ensaiado
segundo a sua identificação.
89

a) b) c)
Figura 53. Determinação do teor de umidade na amostra: a) pesagem da amostra; b)
colocação na estufa; c) Forno mufla para as amostras ensaiadas com ODC.

Ressalta-se, durante o processo de secagem na mufla, volatilizam-se os


compostos orgânicos do ODC e da matéria orgânica do solo, de foma que a
massa seca final é menor que a massa de sólidos iniciais encontradas nas
amostras. Para a correção desta distorção, o conteúdo da matéria orgânica ou
Sólidos Totais Voláteis (STV) de amostas, sem compactar (naturais), foi calcu-
lado seguindo a mesma metodologia descrita previamente. Em consequência,
os valores de umidade gravimétrica final tanto para ADI e ODC se consideram
coerentes, conforme detalhado no seguinte capítulo.

3.4.1 Correção do teor de umidade ao ODC

Inicialmente, realizou-se a correção do teor de umidade correspondente


ao ODC através da preparação de amostras utilizando os solos RGG e TBA
sem adições. A seguir, com as respectivas adições em cada solo nos teores de-
finidos na Tabela 15 e 16. Colocou-se, cada amostras dentro de cadinhos (6
em total) para realizar o processo de secagem (queima a 600 ºC por 120 min)
delineado para as amostras ensaiadas com ODC. As Tabelas 17 e 18 apresen-
tam os resultados obtidos durante as duas etapas de secagem, sendo calcula-
da a média aritmética das 6 amostras ensaiadas. Definiu-se, o teor de umidade
encontrado na primeira secagem como a umidade higroscópica (w hc), enquanto
que para o segundo processo se designou como STV.
90

Tabela 17. Teores de umidade e STV encontrados para o solo RGG e suas adições.
Amostra whc (%) STV (%)
RGG 100% 5,16 11,81
RGG95% – CAPM5% 5,16 13,33
RGG90% – CAG10% 4,72 17,29
RGG90% – CAP10% 5,15 14,87
RGG80% – CAG20% 5,68 19,41
RGG80% – CAP20% 5,19 16,24
Fonte: Autor

Tabela 18. Teores de umidade e STV encontrados para o solo TBA e suas adições.
Amostra whc (%) STV (%)
TBA 100% 0,36 2,12
TBA90% – CAG10% 1,11 4,30
TBA90% – CAP10% 1,27 6,26
TBA80% – CAG20% 1,92 5,30
TBA80% – CAP20% 2,39 8,96
Fonte: Autor

Conforme os resultados obtidos na Tabela 17, observa-se um valor ele-


vado de STV no solo RGG, considerando que, geralmente, a quantidade de
matéria orgânica varia de 1 a 5 % conforme o valor encontrado no solo TBA. O
alto teor de STV no RGG pode estar associado à alta presença de matéria or-
gânica superficial, por se tratarem de amostras coletadas a baixas profundida-
des e com alta concentração vegetal no entorno.
Os estudos de Franklin et al. (1973) apontam que solos que possuem te -
ores orgânicos acima de 10% são indesejáveis para trabalhos de compactação,
devido à forte redução no dmax e aumento no wot, como é verificado na Tabela
15. Contudo, esta observação não pode ser levado em conta neste trabalho
porque o foco principal é a avaliação do efeito de adição do CA na permeabili-
dade do solo. Embora, este fator tem que ser levado em conta na análise dos
resultados de permeabilidade no presente estudo.
91

Para determinar o teor de umidade final ao ODC (wd) em cada amostra,


foi necessário calcular o conteúdo de água (w H2O) com a correção do valor do
STV. Ressalta-se que as amostras ensaiadas com ODC foram compactadas na
umidade ótima, wot, sendo essa a quantidade de água presente no CP, embora
a equação 18 fosse empregada para corrigir e determinar o valor de w d e de
umidade total (wtotal).

M i−M f
w H 2 O= (18)
M mufla*

Onde wH2O é o teor de umidade correspondente à água após o ensaio [%]; M i é


a massa da amostra saturada após o ensaio, contendo os seguintes compo-
nentes: massa da fase sólida (as partículas de solo e CA), massa da água,
massa do óleo diesel e massa da matéria orgânica (sólidos totais voláteis) [M];
Mf é a massa da amostra após a secagem na estufa a 70 oC por 48 horas [M],
contendo os seguintes componentes: massa do óleo diesel e massa da matéria
orgânica (sólidos totais voláteis); Mmufla* é a massa corrigida da amostra após a
secagem no forno mufla [M] pelo valor de STV empregando a equação 19.

* STV
M mufla =M mufla⋅(1+ ) (19)
100

Onde Mmufla é a massa da amostra após da secagem no forno mufla a 600 oC


por 120 minutos [M]; STV é a massa da matéria orgânica volatilizada segundo
o apresentado nas Tabelas 17 e 18 [M]. Diante disto, determinou-se o conteúdo
gravimétrico do ODC (wd) nas amostras empregando a equação 20.

*
M f −M mufla
w d= * (20)
M mufla

Para determinar o conteúdo gravimétrico total da fase líquida (w total) retida na


amostra foi empregada a equação 21.
92

M i−M mufla*
w total= (21)
M mufla*

Onde wtotal é o teor de umidade da fase líquida retida no solo cujos componen-
tes são o wd e wH2O (%).
A disposição e percolação de hidrocarbonetos em solos, pode ocorrer
como um sistema tetra-fásico. Diante disso, encontram-se as fases gasosa,
sólida e líquida que consta de duas fases: a) fase aquosa em relação a água; e
b) fase livre não aquosa em relação ao líquido hidrocarboneto (ODC).
Embora, os líquidos hidrocarbonetos, de forma geral, podem ser fracio-
nados dentro das outras fases através da volatilização, adsorção ou dissolvên-
cia, a tendência destes fenômenos aconteceram nas amostras aqui ensaiadas
é desprezível devido ao confinamento, monitoramento e controle dos testes e
pela natureza do fluido (ODC) sendo de tipo destilado médio.
93

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Índices Físicos

São apresentados aqui, os índices físicos obtidos em cada amostra, sen-


do organizados da seguinte forma: peso específico seco (γd), grau de saturação
inicial (Sri) e final (Srf), grau de compactação (GC) índice de vazios (e) e a poro-
sidade (n). Para as amostras ensaiadas com ODC, apresenta-se os teores de
umidade referente à água (wH2O), diesel (wd) e total (wtotal). Enquanto que para
as amostras ensaiadas com ADI apresenta-se os teores de umidade referente
a água inicial (wi) e final (wtot).
Os valores de permeabilidade saturada, k sat, apresentadas nesta seção
foram obtidos empregando a média geométrica dos valores finais de cada CP
na amostra delimitada. Adotou-se um critério empírico para considerar se os
CPs seriam aceitáveis dentro do calculo, sendo o seguinte: a razão entre o va -
lor máximo e mínimo dos 5 CPs ensaiados pertencentes à amostra delineada,
deveria ser inferior a 10, caso contrário, o valor mais discrepante teria que ser
descartado, sendo que no mínimo 4 CPs deveriam ser considerados como
aceitáveis ou válidos para se calcular o valor médio dos resultados.

4.1.1 Amostras permeadas com Água Deionizada – ADI

A Tabela 19 apresenta os teores de umidades por amostra ensaiada


com ADI de solo RGG, além da diferença de massas (∆M) determinada pela
pesagem antes e depois do ensaio de permeabilidade. Enquanto que na Tabela
20 são os resultados correspondentes às amostras de solo TBA. Nota-se que
os resultados apresentados neste capítulo foram calculados a partir do conteú-
do gravimétrico (pesagem ou obtenção de massa) a partir da base seca segun-
do os procedimentos detalhados nas seções prévias.
94

Tabela 19. Resumo dos teores de umidade referente às amostras de RGG.


Amostra ∆M (g) wi (%) wtotal (%)
RGG 100% (EPI) 60,89 25,16 29,94
RGG 100% 114,14 22,75 30,68
RGG95% – CAPM5% 97,96 24,60 31,80
RGG90% – CAG10% 108,63 22,55 32,72
RGG90% – CAP10% 110,83 26,11 31,63
RGG80% – CAG20% 105,52 24,88 32,24
RGG80% – CAP20% 57,94 29,62 33,45
Fonte: Autor

Tabela 20. Resumo dos teores de umidade referente às amostras de TBA.


Amostra ∆M (g) wi (%) wtotal (%)
TBA 100% 31,33 8,86 9,92
TBA90% – CAG10% 47,85 11,66 13,68
TBA90% – CAP10% 22,31 10,72 11,55
TBA80% – CAG20% 64,96 13,39 17,02
TBA80% – CAP20% 18,94 14,59 15,26
Fonte: Autor

Com base nos teores de umidade apresentados nas Tabelas 19 e 20,


assim como os ensaios de compactação correspondente a cada amostra, fo-
ram calculados os índices físicos, conforme se observam nas Tabelas 21 e 22,
para o solo RGG e TBA, respectivamente.

Tabela 21. Resumo dos índices físicos das amostras de RGG.


Amostra γd (kN·m-3) GC (%) Sri (%) Srf (%) e (-) n (-)
RGG 100% (EPI) 14,93 100,46 83,26 99,06 0,85 0,46
RGG 100% 15,28 100,54 79,21 100,00 0,81 0,45
RGG95% - CAPM5% 14,41 100,20 78,40 99,44 0,85 0,46
RGG90% - CAG10% 14,14 100,17 70,96 100,00 0,85 0,46
RGG90% - CAP10% 14,03 100,41 81,21 96,51 0,85 0,46
RGG80% - CAG20% 13,63 100,16 77,05 97,96 0,81 0,45
RGG80% - CAP20% 13,15 100,20 85,83 95,10 0,86 0,46
Fonte: Autor
95

Destaca-se na Tabela 21 os resultados de Srf acima de 95% em todas as


amostras, e os valores de 100% atingidos com RGG a 100% na EPM e com o
10% de adição de CAG.

Tabela 22. Resumo dos índices físicos das amostras de TBA.


Amostra γd (kN·m-3) Gc (%) Sri (%) Srf (%) e (-) n (-)
TBA 100% 19,45 100,28 65,03 74,17 0,37 0,27
TBA90% - CAG10% 17,78 100,21 71,22 85,76 0,42 0,30
TBA90% - CAP10% 18,45 100,17 75,50 81,38 0,36 0,27
TBA80% - CAG20% 16,47 100,15 71,16 90,45 0,46 0,32
TBA80% - CAP20% 17,05 100,24 89,07 93,18 0,40 0,28
Fonte: Autor

A Tabela 22 mostra os valores de Srf, indicando uma maior dificuldade


em se obter a saturação das amostras de solo TBA. Pode-se notar também
que os valores de Srf aumentam diretamente com o aumento no teor de adição
do CA.
Para ambos solos, as Tabelas 21 e 22 mostram que os parâmetros Gc, e
e n obtidos nas amostras, apresentam valores consistentes como resultado do
máximo controle na preparação e compactação das amostras. Além disso, os
índices físicos se apresentam coerentes com os resultados apresentados por
Das (2010) correspondentes para argilas e areias siltosas, respectivamente. Di-
ante disso, evidencia-se uma maior compressibilidade do solo RGG que o TBA,
sem alguma mudança relevante neste aspecto pela adição de CA, mesmo
apresentando uma redução nos valores de γd.

4.1.2 Amostras permeadas com Óleo Diesel Comercial – ODC

Nesta seção são apresentados os valores dos índices físicos nas amos-
tras permeadas com ODC, incluindo os teores de umidade inicias e finais se-
gundo o fluido existente nas amostras, como exposto anteriormente. A Tabela
23 apresentas os resultados dos teores de umidade referentes às amostras do
solo RGG, enquanto que a Tabela 24 correspondem ao solo TBA.
96

Tabela 23. Resumo dos teores de umidade correspondentes às amostras de RGG.


Amostra ∆M (g) wH2O (%) wd (%) wtotal (%)
RGG 100% (EPI) 24,02 24,73 1,37 26,10
RGG 100% 27,16 22,83 1,28 24,11
RGG95% - CAPM5% 36,53 24,33 3,37 27,70
RGG90% - CAG10% 77,16 22,43 2,53 24,96
RGG90% - CAP10% 42,73 26,08 4,61 30,69
RGG80% - CAG20% 47,82 24,66 2,12 26,78
RGG80% - CAP20% 31,41 29,71 3,11 32,82
Fonte: Autor

Tabela 24. Resumo dos teores de umidade correspondentes às amostras de TBA.


Amostra ∆M (g) wH2O (%) wd (%) wtotal (%)
TBA 100% 22,45 8,80 0,53 9,33
TBA90% - CAG10% 28,02 11,69 3,02 14,71
TBA90% - CAP10% 15,70 10,77 1,41 12,18
TBA80% - CAG20% 47,58 13,43 0,74 14,17
TBA80% - CAP20% 14,87 14,71 0,58 15,29
Fonte: Autor

A partir dos resultados apresentados na Tabela 23, percebe-se que há


um aumento no teor de diesel final, wd, nas amostras com adição em compara-
ção com o solo a 100% de concentração e que este aumento é maior no caso
das adições com maior SE (CAP e CAPM). A mesma tendência pode ser ob-
servada nos valores de wtotal. Para o caso do solo TBA, w d não apresenta uma
tendência clara de variação, enquanto que maiores valores de w total são obtidos
para as misturas com adição, mas sem tendência clara de variação em função
dos teores adotados.
A variabilidade nos resultados, mais evidente nas amostras ensaiadas
com o solo TBA, pode ter como possível explicação o processo de homogeni-
zação, feito manualmente, que resulta em uma distribuição não satisfatória do
CA, principalmente nas misturas TBA/CAP, possibilitando a ocorrência de áreas
com partículas de solo sem serem envolvidas pelo CA, como evidenciado na
Figura 54.
97

Figura 54. Amostra RGG95% - CAPM5% prévio processo de secagem ao ODC.

As Tabelas 25 e 26 apresentam os resultados dos índices físicos obtidos


para as amostras de solo RGG e TBA, respectivamente.

Tabela 25. Resumo dos índices físicos nas amostras do solo RGG.
Amostra γd (kN·m-3) GC (%) Sri (%) Srf (%) e (-) n (-)
RGG 100% (EPI) 14,92 100,39 81,72 86,53 0,85 0,46
RGG 100% 15,35 101,05 80,38 84,93 0,80 0,44
RGG95% - CAPM5% 14,14 100,25 78,17 88,77 0,85 0,46
RGG90% - CAG10% 14,15 100,24 70,68 79,04 0,84 0,46
RGG90% - CAP10% 14,02 100,34 80,98 95,54 0,85 0,46
RGG80% - CAG20% 13,64 100,25 76,54 83,28 0,81 0,45
RGG80% - CAP20% 13,15 100,20 86,10 95,18 0,86 0,46
Fonte: Autor

Tabela 26. Resumo dos índices físicos nas amostras do solo TBA.
Amostra γd (kN·m-3) GC (%) Sri (%) Srf (%) e (-) n (-)
TBA 100% 19,43 100,17 64,35 68,49 0,37 0,27
TBA90% - CAG10% 17,78 100,20 71,32 90,29 0,42 0,30
TBA90% - CAP10% 18,46 101,07 76,10 86,78 0,36 0,27
TBA80% - CAG20% 16,48 100,21 71,49 75,56 0,46 0,32
TBA80% - CAP20% 17,05 100,25 89,82 92,89 0,40 0,28
Fonte: Autor
98

Conforme os resultados apresentados nas Tabelas 25 e 26, observa-se


um aumento no Srf motivado pela adição de CA, evidenciado, de forma mais
notável, nas amostras preparadas com CAP devido a sua maior SE. Este fato
se considera coerente de acordo à afinidade que o CA apresenta em relação
aos líquidos orgânicos como o ODC.

4.2 Ensaios de Permeabilidade a Carga Variável

4.2.1 Amostras permeadas com Água Deionizada – ADI

A Figura 55 apresenta os valores ksat segundo o teor de adição do CAG


nas amostras de RGG e TBA permeadas com ADI. Ressalta-se a adoção de
uma escala semilogarítmica com um ajuste exponencial dos dados experimen-
tais pelo método dos mínimos quadrados para apresentação dos gráficos reali-
zados a partir desta seção do trabalho.

Figura 55. Gráfico da influência da adição do CAG no ksat utilizando ADI.

Conforme se pode verificar na Figura 55 o ksat para as amostras de TBA


permeadas com ADI não apresentam uma tendência clara de variação em fun-
ção dos teores de CAG, enquanto que as amostras de RGG evidenciam um
leve aumento do ksat. Este comportamento se dá muito provavelmente pela afi-
nidade que a fração argilosa tem sobre a água, de forma que para o caso do
solo RGG, o uso de adições de CAG acaba por aumentar o valor de k sat.
99

Diante disso, nota-se que a adição do CAG acaba alterando a matriz das
amostras desde a perspectiva granulométrica, considerando que não existe in-
teração entre a superfície sólida das partículas do CAG e as moléculas da
água. Por conseguinte, quando o CAG é misturado com o solo RGG, torna-se
uma adição majoritariamente semelhante às partículas da areia muito grossa,
grossa e média (conforme a composição do CAG pela escala da U.S.D.A.), que
de acordo com Casagrande e Fadum (1940), valores de k sat para estes grãos
estão em torno de 1 x 10 -01 – 1 x 10-03 cm·s-1, aumentando assim o valor de k sat
para as amostras confeccionados com o solo RGG.
Para o caso do solo TBA o efeito das adições de CAG na permeabilida-
de foram nulos, evidenciando que as superfícies das partículas sólidas tanto de
TBA e CAG não apresentam interação nenhuma com as moléculas de água.
Consequentemente, o tamanho granulométrico de ambas partículas sólidas é
semelhante, sendo que a adição do CAG nas amostras de solo TBA mantêm a
mesma matriz arenosa do solo sem alterar o valor de k sat do mesmo. Na Figura
56 se apresenta o gráfico correspondente ao efeito das adições de CAP para
ambas amostras de solo.

Figura 56. Gráfico da influência da adição do CAP no ksat referente a ADI.

Na Figura 56 se observa uma redução do k sat à água para as amostras


do solo TBA com a adição do CAP, isto devido à menor granulometria apresen-
tada pelo adicionante quando comparado a este tipo de solo. Por conseguinte,
100

a matriz das amostras com o solo TBA, vê-se alterada pelos grãos do CAP que
assemelham a composição da areia fina e muito fina, majoritariamente, ajudan-
do a diminuir, até 36 vezes, o valor de ksat. Lembrando que segundo Casagran-
de e Fadum (1940) a faixa granulométrica do CAP apresenta coeficientes de
permeabilidade em torno de 1 x 10-04 – 1 x 10-06 cm·s-1.
Em contraste, as amostras do solo RGG com a adição do CAP não influ -
enciou os valores de ksat obtidos. Diante disso, evidencia-se que para solos
com teor de finos predominantes, a adição de CA não influencia na permeabili-
dade do solo à água. Diante disso, pode-se dizer que as forças de atração en -
tre as superfícies das partículas argilosas e as moléculas da água são mais
preponderantes ou fortes que a incorporação de CA, seja de partículas grossas
ou finas, até teores de 20% (baseado em termos de massa). Além disso, como
consequência do tamanho granulométrico do CAP, a matriz das amostras com
o solo RGG não é alterada de forma significativa, conseguindo atingir resulta-
dos semelhantes de ksat em cada uma das amostras ensaiadas.
As Tabelas 27 e 28 sumarizam os valores de ksat experimentais tendo a
ADI como fluido percolante. Também, são apresentados os valores de k sat míni-
mos e máximos em cada amostra ensaiada e o número de CPs (n cp) considera-
dos válidos.

Tabela 27. Resumo dos valores de ksat experimentais à ADI das amostras de RGG.
Valor Médio Valor Min. Valor Max.
Tipo de Amostras ncp
(cm·s-1) (cm·s-1) (cm·s-1)
RGG 100% (EPI) 4 6,70 E-08 3,39 E-08 2,14 E-07
RGG 100% 5 9,42 E-08 7,23 E-08 1,38 E-07
RGG95% - CAPM5% 4 7,67 E-08 3,85 E-08 2,92 E-07
RGG90% - CAG10% 5 7,40 E-07 4,84 E-07 1,45 E-06
RGG90% - CAP10% 5 1,68 E-07 8,18 E-08 2,94 E-07
RGG80% - CAG20% 5 1,20 E-06 9,69 E-07 1,75 E-06
RGG80% - CAP20% 4 1,80 E-07 1,41 E-07 2,17 E-07
Fonte: Autor
101

Tabela 28. Resumo dos valores de ksat experimentais à ADI das amostras de TBA.
Valor Médio Valor Min. Valor Max.
Tipo de Amostras ncp
(cm·s-1) (cm·s-1) (cm·s-1)
TBA 100% 4 1,26 E-05 3,84 E-06 3,13 E-05
TBA90% - CAG10% 5 1,37 E-05 3,73 E-06 3,45 E-05
TBA90% - CAP10% 4 5,14 E-07 2,08 E-07 1,01 E-06
TBA80% - CAG20% 5 1,80 E-05 7,37 E-06 4,50 E-05
TBA80% - CAP20% 5 3,50 E-07 2,38 E-07 4,86 E-07
Fonte: Autor

Destaca-se na Tabela 27 a inclusão dos resultados obtidos a partir dos


ensaios realizados com a amostra RGG95% - CAPM5%, não sendo represen-
tada nos gráficos previamente apresentados. Evidencia-se, conforme estes re-
sultados, valores de ksat na mesma faixa das outras duas amostras de RGG a
100%, isto pela pouca quantidade de material inserido na amostra, logrando
que o solo RGG mantenha as próprias características hidráulicas. Além disso, a
composição granulométrica do CAPM se assemelha às partículas da silte e ar-
gila, mantendo a matriz que rege o comportamento deste solo.
Para estabelecer uma correlação que evidencie de foma clara a influen -
cia da granulometria das partículas sobre os valores de k sat segundo o líquido
permeante, decidiu-se comparar os resultados previamente apresentados nas
Tabelas 27 e 28 com uma plotação de um parâmetro novo baseado no valor da
SEext (conforme a Tabela 8) vezes o teor de adição do CA, denominado aqui
como superfície especifica modificada (SEM). Neste caso, os resultados foram
adimensionalizados dividindo-se o valor de k sat obtido para o solo sem adição
(ksat_sa) pelo ksat obtido com o uso da adição correspondente (ksat_ca). Conforme
se pode observar na Figura 57, este parâmetro permite analisar conjuntamente
os resultados obtidos com o uso de CAG e CAP, o que prove ser a superfície
específica (granulometria) realmente a variável de maior importância na eficiên-
cia das adições orgânicas ao solo.
102

Figura 57. Correlação entre a SE e o ksat utilizando a ADI como fluido permeante.

Conforme se observa na Figura 57, evidencia-se, ainda mais, a pouca


interação que acontece entre o CA e as moléculas da água, mesmo obtendo
correlações (R2) discrepantes entre ambos tipos de solos. O baixo valor de R 2
(0,03) obtido para o solo TBA se deve às abruptas reduções de ksat quando mis-
turado com o CAP, atribuindo este comportamento ao aumento considerável de
partículas finas na mistura alterando a matriz do solo, além de aumentar signifi-
cativamente a SE da amostra, dificultando, a sua vez, a passagem das molécu -
las pelos poros encontrados.

4.2.2 Amostras permeadas com Óleo Diesel Comercial – ODC

A Figuras 58 apresenta os resultados de ksat segundo o teor de adição


de CAG nas amostras de solo RGG e TBA permeadas com ODC.
103

Figura 58. Gráfico da influência da adição do CAG no ksat utilizando ODC.

Conforme se observa na Figura 58, as linhas de tendência evidenciam a


ineficácia do CAG em reduzir satisfatoriamente o k sat ao ODC. Os resultados
demostram que a permeabilidade do solo RGG é mantida, mesmo quando o
teor de CAG é acrescentado. Considerando que o CAG aumentou levemente
valor de ksat à ADI devido à alteração da matriz do solo RGG, tal fenômeno não
foi observado ao ODC pela característica oleifílica do CA devido a sua super-
fície microporosa estruturada por anéis aromáticos condensados nos cristais de
grafite que conseguem atrair líquidos orgânicos (Snoeyink e Weber, 1967). Di-
ante disso, o valor de ksat não sofre variabilidade mesmo com a discrepância da
matriz granulométrica nas amostras, lembrando que mediante a adição do CAG
nas amostras de solo RGG o teor de argila é diminuído, o que tende a aumen-
tar a permeabilidade do solo.
No caso do solo TBA, apresentou-se um comportamento semelhante,
embora foi evidenciado um leve aumento do ksat com a adição do CAG, no en-
tanto podendo ser considerado como não perceptível. Diante disso, o fenôme-
no aqui evidenciado é semelhante ao apresentado nas amostras com solo
RGG. Porém, a diferença granulométrica das amostras de TBA e CAG é fator
determinante na permeabilidade, já que neste caso o arranjo das partículas
sólidas se vê condicionado pelo tamanho grosseiro dos grãos, possibilitando
uma passagem mais favorável ao líquido permeante. Consequentemente,
pode-se deduzir que adições de CAG não resultam eficazes para reduzir o k sat,
tanto em meios porosos arenosos como argilosos.
104

A Figura 59, apresenta o gráfico das adições de CAP segundo o teor em


relação aos valores de ksat ao ODC nas amostras com solo RGG e TBA.

Figura 59. Gráfico da influência da adição do CAP no ksat utilizando ODC.

Na Figura 59, observa-se a diminuição progressiva do ksat, bem como o


teor de adição para ambos solos, embora, uma maior queda da permeabilidade
foi evidenciada nas amostras de solo RGG. De acordo com os valores médios
obtidos de ksat, atingiram-se reduções em até 462 vezes, quando comparadas
as amostras de RGG a 100% e de RGG80% - CAP20%. Ressalta-se, também,
a influência que a energia de compactação possui na permeabilidade do solo,
tendo evidenciado uma discrepância de 2.534 vezes entre a amostra de RGG a
100% na EPI e de RGG80% - CAP20%. Em termos da matriz granulométrica,
as partículas do CAP tendem a produzir um melhor arranjo com as partículas
do solo RGG, já que o teor de finos é acrescentado na amostra, refletindo dire-
tamente na redução da permeabilidade do solo.
Para as amostras de solo TBA, menores reduções do k sat foram atingi-
das. Observa-se que a maior redução do k sat atingida foi de 83 vezes entre as
amostras de TBA90% - CAG10% e TBA80% - CAP20%. Não obstante, uma
discrepância menor foi obtida quando comparada a amostra de solo TBA a
100% e TBA80% - CAP20%, sendo somente de 13,75 vezes. Este comporta-
mento sugere uma falta de arranjo favorável, mais uma vez, entre as partículas
do solo TBA e CAP, de tal forma, pode-se dizer que solos grossos não possibili-
taram potenciar as capacidades adsortivas deste produto orgânico.
105

O fenômeno de adsorção evidenciado entre a superfície das partículas


do CAP e as moléculas de ODC é semelhante ao obtido em solos com predo-
minância de argilominerais quando expostos aos líquidos polares (alta ε). Dian-
te disso, valida-se a influência que a granulometria ou superfície especifica das
partículas possui na permeabilidade ao líquido permeante, como apontado em
vários estudos (Kozeny, 1927; Carman, 1937; Grace, 1953). A Tabela 29 apre-
senta os valores experimentais de ksat ao ODC das amostras com o solo RGG.

Tabela 29. Resumo dos valores experimentais de ksat ao ODC nas amostras de RGG.
Valor Médio Valor Min. Valor Max.
Tipo de Amostras ncp
(cm·s-1) (cm·s-1) (cm·s-1)
RGG 100% (EPI) 4 1,64 E-05 5,21 E-06 3,43 E-05
RGG 100% 5 2,99 E-06 1,36 E-06 5,08 E-06
RGG95% – CAPM5% 4 1,32 E-08 7,49 E-09 3,06 E-08
RGG90% – CAG10% 5 1,91 E-06 4,71 E-07 3,75 E-06
RGG90% – CAP10% 5 2,65 E-08 6,87 E-09 6,14 E-08
RGG80% – CAG20% 4 1,90 E-06 7,81 E-07 5,89 E-06
RGG80% – CAP20% 5 6,47 E-09 3,52 E-09 8,89 E-09
Fonte: Autor

Destaca-se na Tabela 29, a inserção da amostra RGG95% – CAPM5%,


cujos valores de ksat são semelhantes aos da amostra RGG90% – CAP10%.
Evidencia-se a efetividade obtida mediante o processo de moagem de alta per-
formance que foi visado para atingir grãos de CA na escala micrométrica. Além
disso, comprova-se que a medida que a granulometria do CA diminuí menores
teores de adição serão necessários. A Figura 30 apresenta os valores experi-
mentais de ksat obtidos nas amostras com solo TBA.
106

Tabela 30. Resumo dos valores experimentais de ksat ao ODC das amostras de TBA.
Valor Médio Valor Min. Valor Max.
Tipo de Amostras ncp
(cm·s-1) (cm·s-1) (cm·s-1)
TBA 100% 5 2,31 E-06 1,35 E-06 3,69 E-06
TBA90% – CAG10% 5 1,40 E-05 9,47 E-06 2,08 E-05
TBA90% – CAP10% 4 2,22 E-06 5,47 E-07 4,22 E-06
TBA80% – CAG20% 5 7,03 E-06 5,23 E-06 1,15 E-05
TBA80% – CAP20% 5 1,68 E-07 9,12 E-08 6,05 E-07
Fonte: Autor

A Figura 60 apresenta a correlação entre o parâmetro aqui delineado de


SEM em relação aos ksat para o ODC.

Figura 60. Correlação entre a SE e o ksat utilizando o ODC como fluido permeante.

Conforme a Figura 60, observa-se uma forte correlação das adições de


CA em relação ao ODC. Um maior valor de R2 é observado no solo TBA devido
à influência gradual que o CA proporciona neste tipo de solo segundo o incre-
mento no teor de adição e SE. No que concerne ao solo RGG, variações mais
abruptas são evidenciadas devido à utilização do CAP em relação ao CAG. Por
conseguinte, se foram consideradas somente as amostras de RGG com as adi-
ções de CAP e CAPM, a correlação resultante seria ainda mais forte que a evi-
denciada (R2 > 0,90).
107

Evidencia-se através dos resultados aqui obtidos uma melhor adequa-


ção do CA com baixa granulometria (alta SE) no meio poroso argiloso, em ter-
mos de favorecer a redução da permeabilidade aos líquidos hidrocarbonetos.
Portanto, obteve-se uma maior redução no valor de k sat ao ODC pela adição de
CAP no solo RGG, sendo que os valores de k sat atingidos na ordem de 1 x 10 -08
– 1 x 10-09 cm·s-1 são considerados como excepcionais em termos de permeabi-
lidade aos líquidos orgânicos.
O estudo de Machado (2011) evidenciou a dificuldade em atingir resulta-
dos semelhantes aos obtidos neste estudo mediante o uso de barreiras mine-
rais convencionais. O autor aponta que os menores valores de k sat atingidos ex-
perimentalmente foram na ordem de 1 x 10 -07 cm·s-1 mediante amostras de so-
los compactadas na EPM e com uma matriz de finos do 60%, havendo utilizado
bentonita (grupo da montmorillonita) na preparação destas amostras.
Consequentemente, este trabalho demostrou a viabilidade da utilização
de solos residuais tropicais com adições de CA para confeccionar barreiras or-
gânico-minerais s impermeáveis aos líquidos hidrocarbonetos, podendo ser re-
plicadas em campo nos diques de contenção atingindo as especificações míni-
mas da normativa ambiental vigente. Ressalta-se que para atingir os melhores
resultados em termos de baixa permeabilidade e menores custos associados à
preparação de barreiras orgânico-minerais, serão precisados solos com teores
de argila acima do 50% e adição de CA ao 5% (baseado na massa seca) com
grãos assemelhando ao tamanho da argila.

4.3 Modelo para prever a permeabilidade em meios argilosos

Visando detalhar de uma forma matemática a influência das adições do


CA na permeabilidade do solo, bem como providenciar uma análise mais deta-
lhada dos valores de ksat obtidos na parte experimental deste trabalho, empre-
gou-se o modelo proposto por Machado et al. (2016) para prever coeficientes
de permeabilidade em meios porosos argilosos.
108

4.3.1 Previsão do ksat em amostras de solo sem adição de carvão ativado

A equação 14 proposta pelos autores foi utilizada para calcular o coefici-


ente de permeabilidade previsível (k prev) nas amostras de solo ao líquido perme-
ante, baseado na permeabilidade à água como apontado na literatura. A Figura
61 apresenta os resultados do modelo pela plotação, na escala logarítmica, dos
valores de kprev em relação aos coeficientes de permeabilidade experimentais
obtidos neste estudo (kexp) para as amostras de solo RGG e TBA a 100%.

Figura 61. Previsão dos valores de ksat em relação aos ksat experimentais nas amostras
de solo RGG e TBA sem adição de CA pelo modelo de Machado et al. (2016).

Na Figura 61, observa-se que os três valores de k exp referenciados à ADI


estão acima da linha Exp., o que indica a utilização apropriada deste modelo
sendo que estes resultados são tomados como referência para prever a perme-
abilidade ao ODC das mesmas amostras. Diante disso, o modelo calculou o
mesmo valor de ksat ao ODC obtido experimentalmente na amostra RGG a
100% compactada na EPI, sendo a melhor previsão estimada, já que as outras
duas estimativas de solo a 100% na EPM saíram do limite inferior com tolerân -
cia de discrepância de 10 vezes entre o valor de k exp e kprev. A Tabela 31 apre-
109

senta os valores de kprev obtidos ao ODC por amostra de solo ensaiada, além
da razão entre os valores de kexp e kprev para representar a variabilidade obtida
com o emprego do modelo matemático.

Tabela 31. Resultados do coeficiente de permeabilidade previsível ao ODC nas


amostras de solo sem adição de CA.
Amostra kprev (cm·s-1) kexp/kprev (-)
RGG 100% (EPI) 1,30 E-05 1
RGG 100% 4,44 E-05 15
TBA 100% 6,32 E-05 27
Fonte: Autor

A maior discrepância obtida correspondeu à amostra de solo TBA, con-


forme a Tabela 31, sendo em torno de 30 vezes entre o valor de k sat experimen-
tal e o previsto pelo modelo de Machado et al. (2016). Isto, valida a sua imple-
mentação de forma exclusiva para meios porosos finos, mesmo com a discre-
pância evidenciada na amostra de solo RGG compactada na EPM, a qual em
termos de previsão de valores de permeabilidade, considera-se como um resul-
tado satisfatório ou tolerável quando comparado a outros modelos.

4.3.2 Previsão do ksat em amostras de solo com adição de carvão ativado

Adicionalmente foi avaliada a exatidão na previsão dos coeficientes de


permeabilidade para as amostras de solo misturadas com CA pelo modelo aqui
adotado. Visou-se quantificar a ingerência das adições de CA através de duas
variáveis: teor de adição e granulometria dos grãos. Consequentemente, a Fi-
gura 62 apresenta os valores de kprev em relação aos kexp, permeadas ao ODC e
à ADI, das amostras de solo RGG e TBA com as suas respectivas adições de
CA.
110

Figura 62. Previsão dos valores de ksat em relação aos ksat experimentais nas amostras
de solo RGG e TBA com as adições de CA pelo modelo de Machado et al. (2016).

Observa-se na Figura 62 valores plotados ao longo da linha Exp., os


quais correspondem às amostras permeadas com ADI, dando como resultado
uma razão de 1 obtida entre o kprev e kexp, corroborando, assim, a inserção satis-
fatória das variáveis no emprego da equação 14. Enquanto, que os pontos dis-
persos observados no gráfico, correspondem aos resultados obtidos para as
amostras com adições permeadas ao ODC.
As amostras de RGG com adições de CA, apresentaram as maiores dis-
crepâncias quando comparado às amostras de solo TBA. Diante disso, houve
um destaque das amostras de RGG com CAP e CAPM, respectivamente, ocu-
pando a plotação mais afastada da linha Exp., ultrapassando o limite inferior da
modelagem, conforme se observa na Figura 62. Este comportamento, dá-se
pela baixa granulometria dos grãos de CA, confirmando a forte influência que
existe do tamanho ou superfície especifica do grão sobre a permeabilidade re-
sultante no meio segundo seja a afinidade entre as partículas sólidas e as mo -
léculas do líquido permeante.
111

No entanto, discrepâncias menores foram evidenciadas nas amostras de


solo TBA, indicando a pobre adequação que a adição de CA teve neste solo,
independentemente da granulometria do grão orgânico. Por conseguinte, de-
duz-se que adições de CA não resultariam atrativas, em termos de
efetividade/custo, para a sua implementação em barreiras minerais-orgânicas
confeccionadas a partir de meios porosos granules. A Tabela 32 apresenta os
resultados de kprev obtidos utilizando o modelo de Machado et al. (2016) e a ra-
zão do kexp e kprev das amostras ensaiadas ao ODC.

Tabela 32. Resultados do coeficiente de permeabilidade previsível ao ODC nas


amostras de solo com adição de CA.
Amostra kprev (cm·s-1) kexp/kprev (-)
RGG95% – CAPM5% 1,95 E-05 1474
RGG90% – CAG10% 1,66 E-04 87
RGG90% – CAP10% 1,91 E-05 720
RGG80% – CAG20% 6,05 E-05 32
RGG80% – CAP20% 7,68 E-06 1187
TBA90% – CAG10% 3,65 E-05 3
TBA90% – CAP10% 4,83 E-06 2
TBA80% – CAG20% 7,88 E-05 11
TBA80% – CAP20% 1,69 E-06 10
Fonte: Autor

Conforme a Tabela 32, demostra-se a magnitude das discrepâncias obti-


das em ambos solos, destacando que a maior variabilidade foi evidenciada nas
amostras do solo RGG, especialmente com as adições de CAP e CAPM. Dian-
te disso, pode-se dizer que a medida que a granulometria do CA diminui, a dis-
crepância entre o valor calculado pelo modelo de Machado et al. (2016) au-
menta, padrão evidenciando pela amostra RGG95% – CAPM5% com uma dis-
crepância em torno de 1.500 vezes entre o valor experimental e o previsível.
Destaca-se que mesmo com a menor quantidade de adição orgânica do resto
de amostras, esta amostra conseguiu diferir de forma extraordinária a previsão
do modelo devido à diminuição da granulometria (aumento da SE).
112

Em contraste, as amostras preparadas a partir do solo TBA experimentar


as maiores discrepâncias deu-se nas amostras com maior teor de adição de
CA. Consequentemente, pode-se deduzir que a influência se deve à quantida-
de de CA inserido e não à granulometria do grão, haja vista a mesma variabili-
dade entre o kexp e kprev das amostras de TBA com as adições de CAG e CAP.
Finalmente, após da comparação entre os resultados de k sat obtidos ex-
perimentalmente e pelo modelo de previsão da permeabilidade adotado, pode-
se afirmar que para meios porosos argilosos a adição de CA de baixa granulo -
metria, influenciará preponderantemente as suas propriedades hidráulicas, me-
lhorando, assim, a retenção de líquidos orgânicos. Enquanto que para os meios
granulares, pode ser afirmado que a influência na redução da permeabilidade
será outorgada pelo teor de CA a ser inserido na mistura e não pela granulome-
tria dos grãos.
Consequentemente, conclui-se que as adições de CA em solos com pre-
dominância de partículas grossas, semelhante ao TBA, não seria uma opção
atraente para a sua incorporação ou utilização a fins práticos na confecção de
barreiras orgânico-minerais para diques de contenção pelos custos associados
para atingir resultados desejáveis. Diante disso, recomenda-se a utilização de
solos com predominância da fração argilosa, preparados a partir da mistura de
CA com uma granulometria semelhante às argilas.
113

5. CONCLUSÕES

Os ensaios realizados neste estudo evidenciaram a diminuição do coefi-


ciente de permeabilidade a partir da utilização de adições do CAP. Destaca-se
o baixo custo de compra no mercado deste material quando comparado ao
CAG, sendo de 5 R$/kg e 20 R$/kg (adquirido no período 2016.2), respectiva-
mente. A elaboração do CAP tem como matéria prima o resíduo gerado da cas-
ca verde de coco, sendo um produto abundante e de fácil aceso, de forma ge -
ral, no litoral baiano e nordestino. Por conseguinte, torna-se ainda mais interes-
sante a sua utilização para a confecção de barreiras orgânico-minerais, possibi-
litando a criação e implementação de tecnologias alternativas ou não convenci-
onais na confecção destas estruturas, além da vantagem colateral obtida pelo
reaproveitamento de resíduos orgânicos gerados na região.
Os resultados de permeabilidade aqui obtidos abrem a possibilidade de
confeccionar barreiras orgânico-minerais compactadas que possam favorecer a
retenção ou adsorção de líquidos com diferentes constantes dielétricas (polares
e apolares) simultaneamente, dando como resultado a criação de uma tecnolo-
gia inovadora e pioneira nesta área. Isto, foi demostrado através da amostra
RGG95% – CAPM5%, a qual apresentou valores de k sat em torno de 1x10-08
cms-1 para ambos líquidos permeantes. Consequentemente, solos com teores
de argila predominantes favoreceram a retenção de líquidos polares como a
água, enquanto que CA de granulometria semelhante à argila favorecerá na re-
tenção de líquidos apolares como os hidrocarbonetos.
As reduções da permeabilidade do solo atingidas ao óleo diesel foram
destacadamente melhores no meio poroso argiloso, após a adição de carvão
ativado com grãos de baixa granulometria (Ø em torno de 4 – 3 μm), alta super-
fície especifica (acima de 900 m2g-1) e microporosidade (0,464 cm3g-1). Desta
forma, sugere-se que estes parâmetros possam ser considerados como as es-
pecificações mínimas para qualquer outro produto orgânico a ser considerado
como aditivo, 5% de teor como máximo, em meios porosos argilosos.
Nota-se que os coeficientes de permeabilidade obtidos através das
amostras de ambos solos misturadas com CA de baixa granulometria, foram
114

valores conforme o requerido pela atual legislação ambiental brasileira. Conse-


quentemente, a gama de solos a serem considerados para a incorporação de
adições orgânicos é muito grande (entre 15% a 56% teor de argilas), facilitando
assim a confecção de barreiras minerais em lugares que não apresentam solos
considerados como desejáveis pelas suas características geotécnicas e hi-
dráulicas. Embora, recomenda-se a utilização de solos com predominância da
fração argilosa visando aumentar o grau de confiabilidade e segurança das re-
taguardas ambientais.
Evidenciou-se, mais uma vez, em conformidade com diversos estudos já
realizados sobre o tema, que o coeficiente de permeabilidade referenciado à
água, conforme o pautado na norma ABNT-NBR 7505-1/2000 não é represen-
tativo das condições de retaguarda ambiental no caso da contenção de líquidos
orgânicos apolares. Conforme apresentado neste trabalho, a amostra RGG
sem adição, compactada na EPI, apresentou um valor de permeabilidade satu-
rada à água em torno de 1x10 -08 cms-1, muito menor do que o prescrito na nor-
ma, no entanto obtendo-se, par o mesmo solo, um valor de permeabilidade ao
redor de 1x10-05 cms-1 para o óleo diesel comercial, acima portanto do valor
máximo permitido pela norma.
Por último, a equação proposta por Machado et al. (2016), demonstrou-
se satisfatória em prever coeficientes de permeabilidade para meios porosos fi-
nos sem adições orgânicas. Diante disso, corroborou-se através deste modelo
matemático que a adição de CA modifica a permeabilidade do meio poroso aos
líquidos não miscíveis, sendo a interação entre as superfícies dos grãos de CA
e as moléculas do líquido orgânico permeante estimulada pela granulometria.
Conclui-se que a medida que a granulometria do CA é diminuída (aumentando
assim a SE dos grãos), menores teores de adição no solo serão necessários,
bem como menores valores do coeficiente de permeabilidade serão atingidos
aos líquidos hidrocarbonetos.
115

6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Com base nos resultados encontrados, recomenda-se as seguintes con-


siderações ou recomendações para a implementação de trabalhos futuros:
i. Em vista da eficiência obtida na redução da permeabilidade para líqui-
dos não miscíveis através da utilização entre CA de baixa granulometria
e solo de formação argilosa, pode-se aprofundar na criação de faixas
granulométricas, tanto de CA como solo, para a confecção de barreiras
orgânico-minerais compactadas em diques de contenção.
ii. Ampliar a gama de matérias primas para a elaboração de carvão ativado
em pó a partir de resíduos orgânicos numa determinada região para rea-
proveitamento ambiental. Além de estabelecer uma moagem de alta per-
formance para volumes significativos do material e assim atingir as es-
pecificações do tamanho da partícula sólida.
iii. Determinar o tempo de contato necessário entre o contaminante e as
barreiras organico-minerais para conter/reter o líquido hidrocarboneto
para sua devida remoção no tempo apropriado sem comprometer cama-
das adjacentes de solo nem o lençol freático.
iv. Determinar um modelo para a previsão da permeabilidade em solos com
adições orgânicas segundo a superfície especifica e o volume total de
poros (internas e externas).
v. Realizar estudos que investiguem a viabilidade na incorporação de ou-
tros produtos orgânicos de menor custo (amido, lodo ativado) com os va-
lores mínimos dos parâmetros aqui apresentados.
116

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8. ANEXOS

Neste capítulo se apresentam imagens magnificadas até 2.000 vezes


das amostras de solo RGG e TBA, assim como as adições de CA nos teores
definidos. Estas imagens foram obtidas mediante aparelhagem disponibilizada
no Laboratório Multiusuário de Microscopia Eletrônica (LAMUME) localizado no
Instituto de Física (IF) da UFBA (Campus Ondina).
Utilizou-se o microscópio eletrônico de alta performance modelo JSM –
6610LV do fabricante JEOL (Boston, MA, EUA). De acordo com o fabricante
este aparelho consegue visualizar, de forma clara e rápida, partículas de até
200 mm de diâmetro com uma resolução de 3,0 nm a 30 kV.
Consequentemente, denomina-se de ensaio de Microscopia Eletrônica
de Varredura (MEV) à análise realizada que correspondem às imagens apre-
sentadas na sequência. Para isto, amostras entre 150 – 250 g foram prepara-
das e levadas dentro de recipientes vedados ao LAMUME. As amostras obtidas
para a análise, foram coletadas dos CPs validos ensaiados após desmontagem
do PPR.
Ressalta-se que prévio à realização do ensaio MEV, as amostras em
conjunto foram inseridas num vácuo automatizado (Fabricante: Denton; Mode-
lo: Desk V; Produzido em Moorestown, NJ, EUA) de 5 a 10 min, para adicionar
uma camada de material que melhora a condutividade da amostra ao ensaio.
Diante disso, foi visado ilustrar, através desta análise, o grau de homo-
genização ou adaptação que as partículas sólidas do solo e as suas adições
segundo o teor e o tipo de CA misturado, apresentaram para cada ensaio de
permeabilidade. Segundo se possa apreciar nas Figuras 63 à 74, existem mu-
danças na regularidade da superfície das amostras avaliadas, detalhando de
alguma forma o arranjo entre as partículas sólidas e os grãos de CA atingido
para cada caso em específico.
128

Figura 63. Amostra RGG a 100% compactada na EPI permeada à ADI.

Figura 64. Amostra RGG a 100% compactada na EPM permeada à ADI.

Figura 65. Amostra RGG95% - CAPM5% permeada ao ODC.


129

Figura 66. Amostra RGG95% - CAPM5% permeada à ADI.

Figura 67. Amostra RGG90% - CAP10% permeada à ADI.

Figura 68. Amostra RGG90% - CAG10% permeada ao ODC.


130

Figura 69. Amostra RGG80% - CAP20% permeada à ADI.

Figura 70. Figura 65. Amostra TBA a 100% permeada à ADI.

Figura 71. Amostra TBA90% - CAG10% permeada à ADI.


131

Figura 72. Amostra TBA90% - CAP10% permeada à ADI.

Figura 73. Amostra TBA80% - CAG20% permeada à ADI.

Figura 74. Amostra TBA80% - CAP20% permeada à ADI.

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