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CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-

COMPORTAMENTAL

TEREZINHA PIRES QUEIROZ

EMOÇÕES NA DEPRESSÃO

São Paulo
2016
TEREZINHA PIRES QUEIROZ

EMOÇÕES NA DEPRESSÃO

Trabalho de conclusão de curso de especialização


Área de concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental
Orientadora: Profª. Drª. Renata Trigueirinho Alarcon
Coorientadora: Profª. Drª. Eliana Melcher Martins

São Paulo
2016
QUEIROZ, Terezinha Pires
A Terapia Cognitivo Comportamental Focada Em Emoção para
Tratamento da Depressão – revisão bibliográfica – 2016
38 f. + CD-ROM

Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) - Centro de


Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). 2016.
Orientação: Prof.ª Dr. ª Renata Trigueirinho Alarcon
Coorientação: Prof.ª Dr. ª Eliana Melcher Martins

1. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL FOCADA EM MOÇÃO


2. EMOÇÃO, SENTIMENTO, HUMOR. 3. DEPRESSÃO. 4. FARMACOTERAPIA
E EMOÇÃO. 5. LIVRO IMPRESSO. 6. E-BOOK. I. Queiroz, Terezinha Pires.
II. Alarcon, Renata Trigueirinho, orient. III. Martins, Eliana Melcher,
coorient. IV. Título.
TEREZINHA PIRES QUEIROZ

EMOÇÕES NA DEPRESSÃO

Monografia apresentada ao CETCC – Centro


de Estudos de Terapia Cognitivo-
Comportamental de São Paulo, como pré-
requisito para obtenção do grau de especialista
e Terapia Cognitivo comportamental.

BANCA EXAMINADORA:

Parecer:_____________________________________________________________
Professor____________________________________________________________

Parecer:_____________________________________________________________
Professor(a)__________________________________________________________

São Paulo, _____de_________de 2016.


AGRADECIMENTOS

A Deus primeiramente pela força e perseverança para prosseguir, minha


família pelo apoio, carinho e colaboração, a meus colegas de classe dos quais
guardarei doce lembrança, especialmente a Rosângela S. T. Calegaro pelo incentivo
e confiança.
A Eliana Melcher diretora da CETCC pela compreensão e apoio. A orientadora
Renata T. Alarcon pela atenção e paciência na condução deste trabalho, a todos os
professores pelo ensino da Terapia Cognitivo Comportamental.
Traze à tua lembrança o que
pode te dar esperança.

Lament. de Jeremias, 3: 21.


RESUMO

Os males da mente são os mais prejudiciais e limitantes entre todos os grupos de


doenças, e a Depressão é a mais incapacitante de todas, afeta a família, rouba da
economia a energia, trabalho e o talento das pessoas. Para a compreensão dessa
patologia e formas de tratamento foram realizadas pesquisas bibliográficas, de
textos e de artigos científicos e da Terapia Cognitivo-Comportamental focada em
Emoção, tendo em vista serem mais facilmente identificadas do que os
pensamentos. Para a compreensão desse fator, foi realizado Estudo das Emoções,
das Técnicas que a TCC utiliza para normaliza-las, do Tratamento Farmacológico
que muito contribui na estabilização dos sintomas depressivos.

Palavras-Chave: Depressão. Emoção. Terapia Cognitiva. Comportamental.


ABSTRACT

The evils of mind are the most harmful and limiting between all groups of diseases,
and depression is the most disabling of all, affects the family, steals from the
economy to energy, labor and talent of the people. To the understanding of this
pathology and forms of treatment were conducted bibliographic research, texts and
scientific articles and cognitive-behavioral therapy focused on Emotion, in order to be
more easily identified than the thoughts. To the understanding of this factor, was
carried out study of the Emotions, of the techniques that the CBT uses to normalize
them, of pharmacological treatment which greatly helps in stabilizing the depressive
symptoms.

KEYWORDS: Depression. Emotion. Cognitive Behavioural. Therapy


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8

2 OBJETIVO ............................................................................................................ 10

3 METODOLOGIA ................................................................................................... 11

4 RESULTADOS ...................................................................................................... 12
4.1 Conceito de Depressão ................................................................................ 12
4.2 Emoção, sentimento, humor ......................................................................... 17
4.3 A Terapia Cognitivo Comportamental focada em emoção para o tratamento
da depressão ........................................................................................................ 20
4.3.1 Regulação Emocional nos Processos Psicoterapêuticos ................... 22
4.4 Farmacoterapia e emoção ............................................................................ 30

5 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 33

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 36

ANEXOS ................................................................................................................... 38
8

1 INTRODUÇÃO

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a Depressão atinge 15%


da população mundial, em mulheres chega a 25%, até 2020 será a 2º causa de
incapacitação do mundo (Jornal Folha de S.Paulo, de dois de dez. de 2015). Na
população infantil e adolescentes é um problema crescente com maior incidência em
crianças do sexo masculino em idade escolar.
Os males da mente são as mais prejudiciais e limitantes entre todos os grupos
de doenças e a Depressão é a mais incapacitante de todas, além de colocar enorme
peso em suas famílias ainda rouba da economia a energia, trabalho e o talento das
pessoas; o resultado para a economia é gigantesco, em média perdem cerca de oito
dias de trabalho por mês, contra apenas dois da população saudável (Jornal Folha
de São Paulo, de dois de dez. de 2015.).
Neste trabalho será apresentado o conceito de emoção, da depressão e seus
sintomas, a frequência com que se manifestam, a etiologia, classificação e
patogenia; história da Terapia Cognitiva Comportamental, sua contribuição,
ferramentas e eficácia no tratamento do Transtorno Depressivo com enfoque nas
distorções das emoções.
Identificamos as emoções através da cognição, mas se elas estiverem
exacerbadas poderão embotar o entendimento e a pessoa com depressão pode
muitas vezes se tornar refém das emoções distorcidas, comprometendo seu
equilíbrio e memória levando-a a ter problemas de aprendizagem, contrair doenças
físicas, psicossomáticas e muitas vezes a ter ideias suicidas e até mesmo a praticar
o suicídio (BECK; ALFORD, 2011).
Os sentimentos são nossos aliados quando os reconhecemos e
compreendemos, eles nos apontam o caminho para onde estamos indo, podemos
validá-los ou não, daí a relevância da TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental)
focada nas emoções que será apresentada neste trabalho.
Beck delineou os fundamentos da abordagem psicoterápica chamada Terapia
Cognitivo-Comportamental que se tornou a modalidade de tratamento psicossocial
mais pesquisada e validada em todo o mundo, não só no tratamento da depressão,
mas em ampla variedade de problemas psicológicos (KNAPP et al., 2008).
Baseado nessa teoria abrangente do ser humano (biopsicossocial), mas com
principal foco nas emoções, serão apresentadas as técnicas cognitivas-
9

comportamentais mais utilizadas; serão vistos ainda artigos e revistas científicas


sobre depressão e farmacoterapia com propósito de aumentar a resposta ao
tratamento.
10

2 OBJETIVO

Como a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) focada em emoção tem


sido usada para o tratamento da depressão.
11

3 METODOLOGIA

O trabalho é bibliográfico e a metodologia utilizada é análise de conteúdo,


estudar os sintomas da depressão e da abordagem cognitivo comportamental e
farmacológica empregadas no tratamento deste transtorno tendo como parâmetro o
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, 5. Ed. (2014). Para
o desenvolvimento deste trabalho foram consultados livros texto especializados,
periódicos e artigos científicos encontrados nas bases de dados do scielo, pepsico,
periódicos capes e pubmed.
Com base nas novas Diretrizes de Depressão do DSM-5, foram excluídas
publicações e artigos anteriores a data de edição do mesmo que diferem dos
conceitos atuais.
Palavras-chave em inglês: Depression, Emotions, Cognitive behavioral
therapy.
Palavras-chave em português: Depressão, Emoção, Terapia Cognitivo-
Comportamental.
12

4 RESULTADOS

4.1 Conceito de Depressão

Beck e Alford (2011) na 2 edição do livro “Depressão: causas e tratamento”


fazem um referencial do que foi dito no passado sobre melancolia e que hoje
chamamos de depressão:

A primeira descrição clínica de melancolia foi feita por Hipócrates no século


IV a.C, e também se referiu as oscilações semelhantes a mania e
depressão. (Aretaeus, um médico que viveu no século II d.C., descreveu o
paciente melancólico como “triste, consternado, insone. Eles emagrecem
por causa de sua agitação e perda de sono reparador. Em idade mais
avançada queixam-se de milhares de futilidades e desejam a morte”. É
digno de nota que Aretaeus delineou especificamente o ciclo maníaco-
depressivo. Algumas autoridades acreditam que ele antecipou a síntese de
Kraepelin da psicose maníaco-depressiva. No século II d.C., Plutarco
apresentou uma descrição particularmente vívida e detalhada da
melancolia:
Ele vê a si mesmo como alguém que os deuses odeiam e perseguem
com sua raiva. Um mal muito pior o aguarda; ele não ousa tentar evitar ou
remediar tal mal, por medo de encontrar-se lutando contra os deuses. O
médico e o amigo consolador são afastados. “Deixe-me “, diz o infeliz, “eu, o
ímpio, o amaldiçoado, odiado pelos deuses, sofrer meu castigo”. Senta-se
ao relento, enrolado em aniagem ou em trapos imundos. Vez ou outra rola
nu sobre a sujeira, confessando sobre um ou outro pecado. Ele comeu ou
bebeu algo errado. Fez alguma coisa ou outra que o Ser Divino não
aprovou. Os festejos em homenagem aos deuses não lhe trazem prazer e
sim enchem-no de medo ou pavor. (Zilboorg).
No início do século XIX, Pinel descreveu a melancolia da seguinte maneira:
Os sintomas geralmente abarcados pelo termo melancolia são
taciturnidade, um ar pensativo sério, suspeitas soturnas e amor à solidão.
Esses traços, sem dúvida, parecem distinguir a personalidade de alguns
homens com boa saúde e frequentemente em circunstâncias prósperas.
Contudo, nada pode ser mais abominável do que a figura do melancólico
remoendo seus imaginários infortúnios. Se ademais possuído e poder, e
dotado de uma disposição perversa e de um coração sanguinário, a
imagem torna-se ainda mais repulsiva. (BECK; ALFORD, 2011).

Esses relatos são semelhantes ao que temos hoje nas descrições dos
sintomas depressivos: humor (triste, consternado, inútil), autopunições (“o
amaldiçoado, odiado pelos deuses”), comportamentos autodepreciativos (“enrolado
em trapos imundos”, “rola nu sobre a sujeira”), desejo de morrer, sintomas físicos e
vegetativos (agitação, perda de apetite, insônia) e delírios de ter cometido pecados
imperdoáveis. Segundo Beck poucas são as síndromes psiquiátricas com descrições
clínicas tão precisas e permanentes (BECK; ALFORD, 2011).
13

Transtorno Depressivo Maior, segundo o DSM-5 (2014), inclui o transtorno


disruptivo da desregulação do humor, transtorno depressivo maior (incluindo o
episódio depressivo maior), transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno
disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância e ou
medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição médica, e transtorno
depressivo especificado e não especificado.
Para o propósito deste trabalho será abordado o transtorno depressivo maior,
pois segundo o DSM-5 (2014), representa a condição clássica desse grupo de
transtornos, que é caracterizado por preencher cinco ou mais dos nove sintomas
descritos, por pelo menos duas semanas consecutivas e que pelo menos um dos
sintomas (1)humor deprimido e (2)perda de interesse ou prazer” estejam presentes,
e estes sintomas destoam do funcionamento anterior (saudável) do indivíduo: Humor
deprimido quase todos os dias, na maior parte dos dias, Acentuada diminuição do
interesse ou prazer, Perda ou ganho significativo de peso (em crianças, considerar o
insucesso em obter o ganho de peso esperado), Insônia ou hipersonia quase todos
os dias, Agitação ou retardo psicomotor (observável por outras pessoas), Fadiga ou
perda de energia, Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada
(que podem ser delirantes), Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar ou
indecisão, Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer),
ideação suicida (DSM-5, 2014).
Estes sintomas acontecem quase todos os dias na maior parte do dia e
causam sofrimento e prejuízo social e profissional para o indivíduo e família, e não
são atribuídos por efeito de substâncias químicas como remédios, drogas ou outra
enfermidade. Os pacientes com TDM fazem alusão ao sentimento de que tudo lhes
parecem fútil ou sem importância e muitas vezes se referem ao “sentimento de não
ter sentimento”, acreditam que perderam de forma irreversível a capacidade de
sentir alegria. O mundo é visto “sem cores”, sem matizes de alegria (DEL PORTO,
1999).
Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável ou rabugento ao invés
de triste e perda de interesse em atividade que anteriormente eram prazerosas
(DSM-5, 2014).
Distingue-se duas modalidades de depressão, a depressão maior que é a
mais grave e o transtorno distímico que é uma forma crônica de depressão, de baixa
intensidade, de origem neurótica (causada por estresse ambiental), está presente
por pelo menos dois anos na maior parte dos dias (com períodos ocasionais e curtos
14

de bem-estar). Diferenciam-se da seguinte forma: se a depressão se iniciar com um


episódio maior completo é transtorno depressivo maior crônico; se o início for leve e
mais insidioso (doença que, de início não manifesta sintomas específicos, mas que,
aos poucos vai se agravando) e levou pelo menos 2 anos para alcançar as
proporções do TDM, o diagnóstico é distimia (DSM-5, 2014; POWELL et al., 2008).
O Transtorno Depressivo Maior (TDM) pode ainda se manifestar com
diferentes características:
a) Sintomas ansiosos: Quando apresentar pelo menos dois dos seguintes
sintomas: sentir-se nervoso, inquieto, dificuldade de concentração, temor
que algo terrível aconteça, medo de perder o controle sobre si mesmo).
Altos níveis de ansiedade aumenta o risco de suicídio (DSM-5, 2014).
b) Depressão Maior com características mistas: Quando há alteração do
comportamento usual do indivíduo (mania ou hipomania). Quando está
associada a um episódio depressivo maior pode significar fator de risco
para desenvolvimento de transtorno bipolar (DSM-5, 2014).
c) Depressão Maior com características melancólicas: Mais comum nos
casos graves e em pacientes internados; humor se agrava no período da
manhã, e apresenta prostração profunda ou alterações psicomotoras,
desesperança e culpa excessiva ou inadequada (DSM-5, 2014).
d) Depressão Maior com características atípicas: Difere em alguns aspectos
dos sintomas comuns da depressão, pois a reatividade do humor melhora
ante eventos ou atividades prazerosas; sensibilidade maior a rejeição que
é um traço do caráter do indivíduo, mas que é potencializada durante esta
fase podendo resultar em prejuízos sociais e profissionais. Pode
manifestar a paralisia de chumbo, isso é, uma sensação de peso nos
braços ou pernas por uma hora ou mais por dia. Tais características são
mais comuns nos transtornos depressivos com padrão sazonal e
transtornos bipolares (DEL PORTO, 1999).
e) Depressão maior com início no periparto: O início dos sintomas de humor
deprimido ocorre durante a gravidez ou nas quatro semanas seguintes ao
parto. Segundo DSM-V, (2014) 50% dos episódios depressivos maiores
no “pósparto” começam antes do parto e depois que uma mulher teve um
episódio no pós-parto, as chances de recorrência é de 30 a 50%. Com
frequência têm ansiedade grave e até mesmo ataque de pânico, o
infanticídio está associado a episódios psicóticos.
15

f) Depressão Maior com padrão sazonal: Está relacionada a determinada


estação do ano, outono ou inverno e desaparece na primavera ou no
verão, isto tem ocorrido por pelo menos dois anos e não está ligado a
nenhum estressor social e/ou familiar ocorridos nesses períodos. A
prevalência da depressão sazonal aumenta em maiores latitudes, sendo
os jovens os mais predispostos (DSM-5, 2014).
g) Transtorno depressivo maior com características psicóticas:
 Congruente com o humor: Delírios e alucinações típicos de
inadequação pessoal, ou seja, culpa, doença, morte, niilismo
(aniquilamento, pessimismo, ceticismo) ou punição merecida.
 Incongruente com o humor, ou seja, sem relação com os temas de
humor depressivo, temas de perseguição, delírio de estar sendo
controlado. Esses casos se aproximam dos estados esquizoafetivos
(DEL PORTO, 1999).
 As alucinações que acompanham o quadro depressivo, são em geral
transitórios e não elaborados e costumam ser mais coerente com o
humor depressivo (DSM-5, 2014).
h) Transtorno depressivo maior com comportamento catatônico: Quando há
uma redução acentuada na reatividade aos estímulos ambientais,
resistência a instruções (negativismo), postura rígida, inapropriada ou
bizarra, até falta total de respostas verbais e motoras, movimentos
estereotipados repetidos, olhar fixo, caretas, mutismo, eco na fala. Estes
sintomas podem ocorrer em outros transtornos mentais como na
esquizofrenia e transtorno bipolar (DEL PORTO, 1999).

Quanto ao desenvolvimento, o transtorno depressivo maior pode ocorrer em


qualquer idade, mas frequentemente tem início na puberdade podendo também ter
início na terceira idade. A remissão total é pouco provável, geralmente permanece
um ou dois sintomas em graus leves. A cronicidade dos sintomas aumenta o risco,
de desenvolver transtornos de personalidade, ansiedade e abuso de substâncias
químicas (álcool e/ou drogas). O monitoramento dos sintomas diminui o risco de
recaídas e aumenta a probabilidade de remissão completa dos sintomas. A
recuperação é mais rápida para aqueles que começaram o tratamento no início ou
pouco tempo após o início das manifestações da doença, e mais demoradas para
16

aqueles com sintomas mais graves e com comorbidades (a existência de outra (s)
doença (s) além do distúrbio primário) (DSM-5, 2014).
O risco de recorrência é mais baixo à medida que aumenta a duração da
remissão. O risco é mais alto em quem teve um episódio anterior grave naqueles
que passaram por múltiplos episódios. A persistência de sintomas ainda que leves é
forte preditor de recorrência. Depressões em idades precoces (infância e
adolescência) tem mais probabilidade de desenvolver transtorno de personalidade
(DSM-5, 2014).
Existe a probabilidade de tentativas de suicídio durante os episódios
depressivos maiores, principalmente quando há histórico de ameaças e tentativas,
embora as estatísticas de suicídios completos não estejam associadas a tentativas
anteriores. A presença de transtorno borderline aumenta o risco de tentativas. O
risco de suicídio completo é maior no sexo masculino, ser solteiro ou viver sozinho e
ter sentimentos acentuados de desesperança (DSM-5, 2014; BECK; ALFORD,
2011).
A prevalência de depressão em mulheres é de duas a três vezes maiores do
que em homens, segundo estudos realizados em diferentes países (FLECK et al.,
2003).
Os familiares de primeiro grau de indivíduos com TDM tem risco de 2 a 4
vezes mais de desenvolver a doença que a população em geral, os riscos são mais
altos para as formas de início precoce e recorrente. A herdabilidade é de
aproximadamente 40%, e o traço de personalidade neuroticismo (afetividade
negativa) somado a eventos estressores tais como morte de pessoas importantes
para o indivíduo (principalmente em idade precoce), assalto, sequestro, estupro,
desemprego, doenças, problemas conjugais, divórcio, financeiro, no trabalho, com
drogas, e outros, são fortes preditores do desenvolvimento do transtorno depressivo
maior (DSM-5, 2014; FEITOSA, 2014).
As doenças depressivas podem alterar em maior ou menor grau o
desempenho das atividades do indivíduo, seja na esfera profissional, escolar, social
ou familiar. No início, a maioria das pessoas ainda conseguem desempenhar suas
funções, mas à medida que a doença progride isso vai se tornando cada vez mais
difícil. As perturbações nas esferas afetivas, cognitivas, motivacionais e fisiológicas,
incapacitam ou dificultam muito a produtividade do indivíduo com TDM, outro fator
17

agravante é que esses indivíduos têm mais dores e doenças físicas, aumentando as
licenças médicas, absenteísmo e afastamentos (DSM-5, 2014).
Segundo Beck e Alford (2011) o transtorno depressivo maior é a principal
causa de invalidez nas economias de mercado consagrados ao redor do mundo.
As Diretrizes da Associação Médica Brasileira para o tratamento da depressão
(2003) afirmam que é um transtorno incapacitante e que comparada às principais
condições médicas crônicas só tem equivalência ás doenças isquêmicas cardíacas
graves.

4.2 Emoção, sentimento, humor

Percebemos o mundo através de nossos cinco sentidos (visão, audição,


paladar, olfato e tato), a maneira como percebemos a nós mesmos e aos outros
passam por esses sentidos (GUZ, 1990).
As emoções humanas sempre foram cantadas em versos e em prosas,
escritas e estudadas por escritores, compositores, poetas e cientistas de todas as
épocas em todo o mundo (SENE-COSTA, 2011).
Os sentimentos tornam a humanidade parentes uns dos outros, na medida
que todos temos sentimentos e emoções e podemos nos compreender mutuamente.
Eles podem colorir ou obscurecer a nossa percepção do mundo, na verdade eles
são o nosso mundo. A expressão dessas emoções demonstra o temperamento e
personalidade, ou seja, nossa maneira de ser na vida (SENE-COSTA, 2011).
O neurologista Antônio Damásio (2004) descreve:

Os sentimentos não são uma mera decoração das emoções, qualquer coisa
que possamos guardar ou jogar fora. Os sentimentos podem ser e,
geralmente são, revelações do estado da vida dentro do organismo.
[...] considerando a vida como uma acrobacia na corda bamba, a maior
parte dos sentimentos são expressões de uma luta contínua para atingir o
equilíbrio. [...] na existência do dia a dia os sentimentos revelam,
simultaneamente, a nossa grandeza e a nossa pequenez (SENE-COSTA,
2011).

Embora sentimento e emoção se relacionem, são diferentes na medida que


sentimento está orientado para o interior, para a subjetividade e emoção para o
exterior, o observável e aprendido no processo de socialização (GUZ, 1990).
18

Segundo Abreu (2005), as emoções são divididas em primárias e


secundárias, as primárias são inatas, evolutivas e partilhada por todos; elas são:
“medo, raiva, amor, alegria, espanto, surpresa, nojo ou repugnância”. Podem ser
desadaptativas, quando as pessoas as expressam de maneira intensa e equivocada
a ponto de se arrependerem por tê-las expressado (Psicologado.com/psicologia-
geral/introdução as-emoções).
As emoções secundárias resultam de aprendizagem social, da interação com
o meio ambiente, e são: ciúme, inveja, vergonha, culpa, orgulho etc. e podem servir
para encobrir ou atua como defesa contra as emoções primárias. Greenberg e
Safran (1987) sugerem que alguns indivíduos expressam “emoções instrumentais” –
ou seja, sua expressão emocional “objetiva” provocar reações nos outros, por
exemplo, uma paciente pode chorar a fim de fazer os outros sentirem-se culpados,
mas sua emoção encoberta, mais primária é medo.
Para Abreu (2005), as emoções secundárias podem ser usadas pelo indivíduo
para se proteger das primárias que muitas vezes são vistas como vergonhosas,
ameaçadoras, embaraçosas ou dolorosas. Quando uma pessoa procura evitar ou
negar o que realmente está sentindo, acaba piorando ainda mais a situação e
tornando as emoções desadaptativas, pois levam o indivíduo a se auto desorganizar
(psicologado.com/psicologia-geral/introdução as-emoções).
As emoções primárias representam respostas emocionais diretas a estímulos
do mundo, enquanto as secundárias representam emoções sobre outras emoções
(LEAHY et al., 2013).
Segundo Newen, as emoções cumprem funções de grande importância:
prepara-nos para ações; possibilita avaliarmos os estímulos do ambiente de maneira
extremamente rápida, ajuda no controle e administração das relações sociais; são
formas de expressão típicas que indicam aos outros as próprias intenções
(psicologado.com/psicologia-geral/introdução as-emoções).
Craig (2003) descreve Emoções Homeostáticas como sentimentos evocados
por estados internos corporais, cada um modulando nosso comportamento (sede,
fome, sentimento de calor, ou frio, de sono, desejo de sal e ar; cada uma é um sinal
do corpo dizendo “coisas não estão certas em mim, preciso de
bebida/comida/movimento para obter sombra/calor/dormir/comer/respirar”). Nós
começamos a sentir uma emoção homeostática quando um desses sistemas sai do
19

equilíbrio, e o sentimento nos induz a fazer o que for necessário para retomarmos o
equilíbrio (psicologado.com/psicologia-geral/introdução as-emoções).
Emoção numa perspectiva cognitiva é determinada pelo modo como
representamos a situação e pela avaliação pessoal que lhe damos. Essa
interpretação depende dos nossos quadros cognitivos e da nossa história pessoal
que nos induz numa interpretação da situação. As emoções não devem ser tratadas
como fatos embora possamos validá-las ou não, sentimos raiva porque temos uma
razão para isso ou não deveria estar com raiva, estamos felizes porque algo de bom
aconteceu ou estou feliz apesar da situação não ser tão boa (LEAHY, 2013).
Ainda segundo Leahy (2013) apesar das emoções terem duração
relativamente breve, elas podem se autoperpetuar. Quando uma emoção persiste
durante dias, ela se torna um estado de humor. Diferente das emoções, os estados
de humor necessitam de eventos causadores claros. Os estados de humor duram
dias, meses e anos. A depressão é um estado de humor, mas a tristeza é uma
emoção.
De acordo com Sadock e Sadock (2007), humor é uma disposição de ânimo,
aparece sempre com adjetivo bom e mau; bom humor, mau humor, logo é um estado
emocional que é experimentado e relatado de forma subjetiva e observado pelas
pessoas ao redor. Pode ser representado por humor eutímico (estado normal do
humor); disfórico (humor desagradável, inquieto); expansivo (expressão exagerada
de humor, sem limitações, superestimado); depressivo (sentimento psicopatológico
de tristeza); irritável (sentimento de incômodo, de hostilidade, raiva). (SENE-COSTA,
2011).
Segundo Lara, (2004) o que define se o humor está sadio é o quanto ele está
adequado a situação real (SENE-COSTA, 2011).
De acordo com Vaitsman (1998) “os alicerces da vida emocional começam no
cérebro e se estendem ao sistema imunológico”. Pesquisas feitas pelos
neurocientistas Antônio Damásio e Joseph LeDoux, indicam que a maioria das
emoções – como a raiva e o medo – têm origem bioquímica. As pesquisas de
LeDoux sobre o funcionamento cerebral explicam, por exemplo, que alguém seja
capaz de detectar o perigo antes mesmo que uma situação de ameaça aconteça.
Isso significa que a reação bioquímica é anterior a emoção (LOPES, 2011).
Para Ballone (2005):
20

O ser humano possui em seu cérebro uma estrutura chamada sistema


límbico, responsável pelas emoções e sentimentos. O sistema límbico
quando recebe um estímulo sensitivo (audição, paladar, visão, olfato, tato)
envia essas “informações” para o tálamo e hipotálamo que elaboram
respostas aos estímulos através do sistema endócrino e do sistema nervoso
e do sistema nervoso autónomo (SNA). Automaticamente produzem
respostas, ativando esses sistemas, e então temos um estado, que são as
emoções e sentimentos manifestos. Sistema límbico é o nome dado ás
estruturas cerebrais que coordenam o comportamento emocional e os
impulsos motivacionais e é formado por diversas estruturas localizadas na
base do cérebro. Esse sistema é responsável também pelos aspectos da
identidade pessoal e por funções ligadas a memória.
(psicologado.com>psicologia geral).

4.3 A Terapia Cognitivo Comportamental focada em emoção para o tratamento


da depressão

Beck (1956) em suas pesquisas na tentativa de comprovar empiricamente a


teoria Freudiana de hostilidade retro fletida (eu preciso sofrer), e de localizar a
configuração psicológica precisa da depressão para desenvolver uma forma de
psicoterapia breve, voltada especificamente para o alívio desta psicopatologia,
concluiu que ao contrário, o deprimido não quer sofrer, mas tendiam a evitar
comportamentos de rejeição ou desaprovação em favor de respostas evocando
aceitação e aprovação dos outros.
Beck concluiu também o que os faziam sofrer, ou seja os seus próprios
pensamentos negativos sobre si mesmos. Chegou a essa conclusão pela análise
dos diálogos dos seus pacientes depressivos, que eram de uma autocrítica acirrada,
interpretação equivocada de experiências positivas em negativas o que parecia ser a
expressão final da hostilidade auto direcionada culminando as vezes em desejos
suicidas (BECK, 1967).
Mas o que ocorre na mente de um indivíduo que o leva a ter pensamentos
que lhe causam tantos sofrimentos? Nesse sentido Freud estava certo quando se
refere a retroalimentação do sofrimento. Pois para Beck pensamentos negativos, isto
é, disfuncionais provocam sentimentos (de tristeza e frustração) que por sua vez
produzem reações fisiológicas (desagradáveis) que provocam atitudes que
reforçarão os pensamentos e sentimentos num ciclo vicioso (BECK, 1967).
A mente investigativa do Dr. Beck queria saber o que os pacientes deprimidos
tinham em relação aos outros não deprimidos que os faziam funcionar assim;
aplicando seus novos conhecimentos em seus pacientes ensinou-os a refutar e a
questionar seus pensamentos buscando evidências se eram verdadeiros ou não,
21

esses pacientes tiveram significativas melhoras. Transmitiu seus achados para seus
residentes que aplicaram em seus pacientes e constataram a eficácia do método,
estava nascendo uma nova abordagem para tratamento da depressão (BECK,
1967).
Continuando suas investigações, Dr. Beck chegou a compreensão de que os
pacientes tinham pensamentos automáticos negativos sobre si mesmos, atribuindo-
se qualificações negativas e que tinham o mesmo raciocínio em relação ao outro (as
pessoas não apreciam o que meu trabalho) e do mundo tendo uma visão negativa
do futuro implicando em desesperança (As coisas nunca vão melhorar). Essa tríade
cognitiva negativa em momentos de estresse acompanhado de predisposição
genética combinada com fatores ambientais, sociais e psicológicos culminariam,
numa depressão. Nesse estado o paciente potencializa suas frustrações e minimiza
suas realizações.
Uma descoberta leva a outra e verificou-se que a tríade cognitiva não se
limitava apenas a depressão, mas a tantos outros transtornos mentais (BECK,
1967).
A depressão afeta o ser humano num todo, sua saúde física e mental, bem
como família, trabalho, estudos e relações sociais ficam totalmente comprometidos
como resultado de emoções negativas em ebulição (BECK; ALFORD, 2011)
Felizmente a Farmacoterapia e a TCC ajudam a estabilizar os sintomas
somáticos e as emoções para poder adequar os pensamentos e crenças à realidade
e assim, ajudar o paciente a voltar a funcionar em níveis menos sofríveis. É
propósito desse trabalho compreender como a terapia cognitiva comportamental
trabalha com as emoções na depressão que é uma doença multifacetada (BECK;
ALFORD, 2011).
As distorções depressivas representam o modo como o paciente interpreta os
eventos da vida e estão relacionadas com a tríade cognitiva do indivíduo (visão de si
mesmo, do outro e do mundo) essas representações distorcem a realidade de tal
forma que parecem naturais, verdadeiras; elas são consequências de regras e
pressupostos absolutistas e inflexíveis, que são aprendidos na infância e reforçados
ao longo da vida do indivíduo, formando crenças centrais que modelam os estilos
de pensamentos e promovem erros cognitivos (BECK; ALFORD, 2011).
Estas são as principais distorções depressoras: Inferência Arbitrária
(conclusão antecipada e com poucas evidências), Abstração Seletiva (tendência da
22

pessoa a escolher evidências de seu mau desempenho), Supergeneralização


(tendência a considerar que um evento ou desempenho negativo ocorrerá outras
vezes), Personalização (atribuição pessoal geralmente de caráter negativo),
Magnificação ou Minimização (aumento da intensidade do evento desagradável ou
diminuição dos efeitos de eventos agradáveis), Rotulação (colocar um rótulo em si
mesmo, numa pessoa ou situação) Raciocínio Emocional (presumir que sentimento
são fatos). Se os pacientes puderem dizer a si mesmos “Estou tirando conclusões
precipitadas” ou “Estou exagerando”, serão capazes de reduzir a força da cognição
depressiva (BECK; ALFORD, 2011; KNAPP et al., 2008).
Schereiber (1978) afirma que as distorções negativistas dos pacientes
depressivos podem ser igualadas em importância aos sintomas básicos da
depressão.

4.3.1 Regulação Emocional nos Processos Psicoterapêuticos

A riqueza da experiência humana é uma mescla de sentimentos e emoções.


Sem o jogo das emoções não haveria qualquer excitação com as
descobertas, qualquer diversão em situações humorísticas, qualquer
entusiasmo ao ver uma pessoa amada. Os seres humanos operariam em
um nível puramente “cerebral”, destituído das nuances de sentimento que
tornam suas vidas vibrantes em lugar de mecânicas (BECK, 1977).

Nesse aspecto a pessoa deprimida é como um ser puramente “cerebral”: ela


pode entender o sentido de uma piada, mas não a sentir divertida, ela descreve as
características atraentes de seu esposo (a) ou filhos (as) sem um sentimento de
satisfação, ela pode reconhecer o atrativo de um alimento – mas sem experimentar
um sentimento de satisfação (BECK, 1977).
Embora a capacidade da pessoa deprimida de raciocinar com sentimentos
positivos e realistas estejam embotadas, ela experimenta extremas vibrações de
emoções desagradáveis. É como se sua mente estivesse programada para
sentimentos de tristeza, apatia e infelicidade (BECK, 1977).
Portanto, ao lidar com o paciente deprimido, não podemos perder de vista a
gravidade de sua perda e a limitação de sua capacidade para sentir prazer, afeto,
alegria e diversão, essa aparente insensibilidade traz grande sofrimento para a
pessoa com depressão (BECK, 1977).
A meta da terapia cognitiva é aliviar a dor emocional e outros sintomas da
depressão, o meio é focalizar as interpretações errôneas, comportamentos auto
23

derrotistas e atitudes disfuncionais do paciente. No entanto, o terapeuta deve ser


sensível às emoções desagradáveis intensificadas do paciente. Ele precisa ser
capaz de empatizar (sentir o mesmo que a outra pessoa) com as experiências
emocionais dolorosas do paciente bem como ser capaz de identificar suas cognições
falhas e a ligação entre pensamentos e sentimentos negativos; deve estar alerta a
indícios de diversão e satisfação a fim de romper o ciclo disfuncional, aumentando
as emoções agradáveis e sempre que possível, deve-se atiçar as brasas do afeto e
gratificação do paciente (BECK, 1977).
O paciente deve ser conscientizado que pensamentos negativos não causam
a depressão, mas são parte dela e que a depressão exagera e intensifica processos
presentes em todos nós; isso traz alívio ao paciente e contribui para um
relacionamento terapêutico de igualdade e cooperação (BECK, 1977).
A TCC disponibiliza diversas técnicas para regulação emocional que será
realizada em acordo com o paciente que participará ativamente desse processo.
Essas técnicas irão proporcionar o rompimento desse ciclo dos pensamentos
automáticos negativos, das ruminações, do isolamento social, da procrastinação e
esquiva, ensinando os pacientes a questionar, desafiar as suposições nas quais
estão baseados, buscando evidências a favor e contra, desenvolver habilidades
sociais e de enfrentamento, identificar emoções e distorções cognitivas e assim
flexibilizar os padrões de pensamento em níveis mais suportáveis (BECK, 1977).
As emoções são de natureza multidimensional, por isso a escolha das
técnicas a serem empregadas deve ser feita com base nos problemas e no paciente
(LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013). Terapia do Esquema Emocional (TEE):
Todos nós experimentamos sentimentos de tristeza, ansiedade, medo e até falta de
esperança. Todavia, um importante “próximo passo” ao responder às emoções de
um paciente é: “ O que você faz, pensa ou sente após ter a emoção? Young (1990),
propôs um modelo de esquema que enfatiza esquemas individuais, independente
dos transtornos de personalidade. Os indivíduos adotam três adaptações aos “
esquemas mal adaptativos precoces” – esquiva, compensação ou manutenção,
sendo que manutenção consiste no fato de busca de experiências que reforcem o
esquema. (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013).
Neste modelo, os indivíduos diferem em suas interpretações da experiência
emocional e podem tentar lidar com elas por meio de esquiva experiencial
(supressão, entorpecimento, evitação e fuga), estratégias cognitivas inúteis
24

(preocupação e ruminação excessiva), busca de apoio social (tentativas tanto


adaptadas quanto desadaptadas de validação. Os esquemas emocionais constituem
“filosofias” individuais sobre as emoções; onde o indivíduo tenta legitimar, controlar,
suprimir, expressá-las, tolerá-las ou autocontradizer-se. (LEAHY; TIRCH;
NAPOLITANO, 2013).
Vamos considerar que uma pessoa está com raiva e frustrada e sente-se
magoada por coisas desagradáveis que lhe disseram:

Reagimos a essa pessoa normalizando sua emoção (“muitas pessoas


ficariam incomodadas com isso”), validando seus sentimentos de mágoa.
Nós a convidamos a expressar essas emoções: “Conte-me o que está
sentindo a respeito disso. Eu quero ajudar”. Conectamos suas emoções aos
seus valores mais elevados: “ “Você se sente assim porque é sensível e as
coisas têm valor para você”. Nesse exemplo o terapeuta oferece a
“validação ideal”, estimulando a expressão da emoção, ajudando a pessoa
a dar nomes àqueles sentimentos e oferecendo uma relação segura de
respeito e cuidado para que ela se expresse. (LEAHY; TIRCH;
NAPOLITANO, 2013).

Temos esquemas para reagirmos as emoções dos outros e as nossas


próprias. O processo normalizador é o de que emoções dolorosas e conflitantes
podem ser aceitas, expressas e consideradas normais. Uma reação problemática às
emoções de tristeza e raiva pode torna-las patológicas considerando-as como
exclusivas e de duração indefinida, esmagadoras e prejudiciais, constrangedoras ou
um sinal de fraqueza, como se precisassem ser suprimidas ou controladas. A TEE
oferece formas construtivas e significativas para lidar com a experiência emocional e
um leque de técnicas de intervenção tais como: Identificação de Esquemas
Emocionais, Nomeação e Diferenciação de Emoções Possíveis, Normalização da
Emoção, Percepção de que as Emoções são Temporárias, Como Aumentar a
Aceitação da Emoção, Como Tolerar Sentimentos Mistos, Exploração das Emoções
Como Metas, Abertura de Espaço para a Emoção, Escada de Significados Elevados
(LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013).
Atenção Plena (Mindfulness): É uma técnica de meditação muito usada pela
TCC e tem origem nas práticas meditativas orientais e passou a fazer parte da
medicina comportamental a partir do programa de redução de estresse, é mais
conhecida como “treinamento de atenção plena” é muito efetiva para ajudar os
pacientes a lidarem com emoções difíceis (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013;
KABAT-ZINN, 2010 apud WILLIAMS; PENMAN, 2015).
25

A atenção plena aumenta a aceitação das emoções tal como elas são e no
momento que surgem sem fazer julgamentos e sem tentativas de controlar ou
suprimir, mas tão somente tolerar e experimenta-las. Envolve prestar atenção nas
experiências de forma diferente do habitual, uma observação focada e flexível, de
momento a momento, do fluxo de pensamentos, sentimentos e sensações corporais
que se apresentam e que temos consciência. Passamos a experimentar os
pensamentos como pensamentos (e não fatos), emoções como emoções (não como
verdades) e as sensações físicas como sensações físicas; toda essa percepção
deve ocorrer sem julgamentos (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013; KABAT-ZINN,
2010 apud WILLIAMS; PENMAN, 2015).
A meditação com atenção plena contrasta com “modo de fazer” e “modo de
ser”. Quando fazemos nossas atividades objetivando metas, tentando efetuar
mudanças no meio e correr atrás de objetivos, podemos dizer que estamos
operando no “modo de fazer”. Segal et al. (2002) ressaltaram que o “modo fazer”
entra em ação quando a mente não está satisfeita com o estado da realidade que se
encontra. Quando desejamos obter o que não temos ou afastar o que não
queremos, nossas mentes entram nesse modo. Um sentimento ou impulso negativo
é ativado, e a mente entra em ação, com base nos padrões habituais de
pensamento, sentimento e comportamento para atingir o objetivo (LEAHY; TIRCH;
NAPOLITANO, 2013).
Quando tentamos suprimir sentimentos, pensamentos e eventos mentais, eles
com frequência se intensificam e se apresentam mais repetidamente na consciência
(WEGNER; SCHNEIDER; CARTER; WHITE, 1987, apud LEAHY; TIRCH;
NAPOLITANO, 2013).

As características do “modo de fazer” costumam ser falta de satisfação,


monitoramento compulsivo da própria situação, pressa, autocrítica e
esforços fúteis para mudar o que não pode ser mudado. Quando aplicamos
o “modo fazer” às emoções, podemos lutar para nos livrar dos sentimentos
desagradáveis, mas acabamos criando uma onda crescente de sofrimento
que aumenta o tamanho e intensidade em proporção semelhante à força e
persistência da luta (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013).

O modo de prestar atenção é chamado de “modo de ser”. Nesse estado, não


focamos a busca de metas ou objetos no mundo dos fenômenos, apenas
observamos o fluxo da consciência, sem julgar, descrever ou avaliar. Desse modo
podemos ter um contato mais profundo com nossa existência presente; praticar esta
26

técnica consiste no aumento da atenção, da clareza de percepção e do espírito de


disposição para aceitar a realidade presente de forma como ela é, e assim, podemos
vivenciar mais plenamente a riqueza do que significa estar vivo (LEAHY; TIRCH;
NAPOLITANO, 2013).
Atenção plena é uma prática e não somente um conceito abstrato e para seu
cultivo citamos algumas técnicas: Escaneamento Corporal, Atenção Plena
Respiratória, Ampliação do Espaço - Exercício de Aceitação Consciente dos
Pensamentos e Emoções, Espaço Respiratório de Três Minutos, Espaço de três
Minutos para o Manejo da Respiração, Atenção Plena do Movimento, Atenção Plena
na Cozinha (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013). Redução do Estresse: O
endocrinologista Hans Selye (1974, 1978) identificou a síndrome de adaptação geral
como sequência de reações ao estresse. O estresse é descrito como uma reação
psicofisiológica complexa; qualquer situação que gere um estado emocional forte,
levando a uma quebra da homeostase, exigindo alguma adaptação, é chamada de
estressor (BORGES; LUIZ; DOMINGOS, 2009).
Os estressores podem ser classificados em internos e externos. Os internos
se caracterizam pelo modo de ser da pessoa, isto é, se é ansiosa, depressiva, com
crenças disfuncionais ou não. Os estressores externos, independem das
características pessoais ocorrem por fatores externos ao corpo e a mente do
indivíduo e ainda são classificados por fases de Alerta, Resistência, Exaustão e
Quase-Exaustão (BORGES; LUIZ; DOMINGOS, 2009).
Na fase de Alerta, a pessoa utiliza mais força e energia para enfrentar a
situação estressora, o organismo se prepara para lutar, fugir ou paralisar. Se esse
estresse for constante, o organismo tenta readaptar-se buscando a homeostase
interna e entra na fase de Resistência, quando o organismo utiliza grande
quantidade de energia podendo gerar uma sensação de desgaste, cansaço e falta
de memória. Se o indivíduo conseguir adaptar-se, o processo é interrompido sem
sequelas. Se as defesas do organismo cedem, ele não consegue restabelecer a
homeostase interna iniciando a fase de Quase Exaustão, este é um estágio mais
crítico, pois as doenças começam a se manifestar, não tão graves como na fase de
exaustão, podendo ocorrer oscilações de momentos de tranquilidade e momentos
de desconforto, cansaço e ansiedade. Se o estressor for mantido o indivíduo entra
na fase de Exaustão. (BORGES; LUIZ; DOMINGOS, 2009).
27

Na fase de Exaustão, as doenças se agravam tanto em níveis psicológicos


(depressão, ansiedade), quanto físico (úlcera, gastrite, hipertensão arterial, tensão
muscular, vitiligo e outros). O estresse não é uma doença a ser tratada e sim um
facilitador para que se desenvolvam doenças as quais o indivíduo esteja
predisposto, em função da queda da imunidade associada a vulnerabilidade
genética e ambiental (BORGES; LUIZ; DOMINGOS, 2009).
A base do treino de controle do stress é uma modalidade da Terapia Cognitivo
Comportamental que tem como objetivo mudar hábitos nocivos de vida e de
comportamentos com a identificação dos estressores internos e externos do
paciente e ainda identificando as estratégias que o paciente utiliza para lidar com
esses estressores; para isso dispõe de técnicas de execução relativamente fácil que
serão aprendidas no consultório e praticadas em casa para alívio de tensão física e
emocional tais como: Autotranquilização, Técnica de Relaxamento Muscular
Progressivo, Respiração Diafragmática, Programação de Atividade e Previsão de
Prazer, Gerenciamento do Tempo, Relaxamento e Imagens Mentais Positivas,
Intensificação das experiências Positivas pelo uso da Atenção Plena, Manejo de
Fissuras e Impulsos: Surfar sobre os Impulsos (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO,
2013).
Como Melhorar o Processamento das Emoções: A terapia focada nas
emoções (TFE) é de curta duração com base nas teorias da emoção e do apego e
tem função de regulação emocional como “um laço regulador dos afetos”
(GREENBERG, 2002). Condiz também com a teoria do esquema emocional que
ressalta a importância da relação terapêutica na identificação das crenças e
esquemas emocionais e nas estratégias para se lidar com esses conteúdos.
Na TFE, a relação terapêutica é tida como processo central na qual a
mudança torna-se possível. Para Greenberg e Watson (2005), a relação terapêutica
opera de duas formas principais, primeiro a regulação emocional está intimamente
ligada na dinâmica “terapeuta-paciente” como díade tranquilizadora, pois o paciente
pode internalizar as vivências que surgirem desse vínculo. Segundo, a relação
terapêutica pode incrementar habilidades específicas pois o terapeuta trabalha de
forma altamente cooperativa, como um treinador que acompanha a direção das
emoções, facilitando gradualmente, o acesso das emoções mais difíceis conforme a
capacidade do paciente de suportá-las (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013).
28

A cognição é vista como componente do processo emocional geral, mas não é


considerada único no papel regulador (GREENBERG, 2002). Nesse modelo,
emoções podem influenciar as cognições e cognições as emoções e ainda as
emoções podem ser usadas para regular outras emoções. Na TFE “considera-se
que a avaliação e a emoção ocorrem simultaneamente para gerar significados
emocionais” (GREENBERG, 2007).
Esta conceituação do funcionamento cognitivo-afetivo integrado e
interdependente pode ser entendido como uma forma de inteligência emocional. O
conceito de inteligência emocional foi definido como a habilidade do indivíduo de se
relacionar com as emoções em várias dimensões incluindo identificação, expressão,
avaliação e compreensão das emoções, geração de sentimentos emocionais,
regulação das emoções em si e nos outros e uso no conhecimento das emoções.
(GREENBERG, 2002; MATHEWS; ZEIDNER; ROBERTS, 2002; MAYER; SALOVEY,
1997 apud LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013).
As técnicas da TFE têm o propósito de intensificar e fortalecer o
processamento das emoções e da inteligência para que o paciente pense e sinta de
forma mais flexível e adaptativa, elas são: “Como Aumentar a Consciência das
Emoções e Registro de Pensamentos Emocionalmente Inteligentes (LEAHY; TIRCH;
NAPOLITANO, 2013).
Reestruturação Cognitiva: É de grande utilidade na mudança do humor pela
mudança de pensamento e pela avaliação dos mesmos, identificando as situações
que desencadeiam o sentimento depressivo. Os pensamentos automáticos
desadaptativos muitas vezes passam despercebidos, mas as emoções negativas
que eles causam são sentidas intensamente (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013).
O terapeuta explica e aplica técnicas aos pacientes para conectar seus
pensamentos e sentimentos às situações que os suscitaram buscando evidências a
favor e contra e ainda identificando e modificando distorções cognitivas e
pressupostos subjacentes e crenças centrais. Para isso terapeuta e paciente
desenvolvem uma parceria ativa, baseada na confiança, colaboração e equilíbrio
fazendo uso de intervenções que irão contribuir muito para esse fim, algumas delas
elas são: Distinção entre Pensamentos e Sentimentos, Categorização dos
Pensamentos Negativos, Avaliação dos Custos e Benefícios, Exame das Evidências,
Advogado de Defesa, Conselho que você daria a um Amigo, Descatastrofização,
Ganho de Tempo e outros que o terapeuta achar que pode vir a contribuir para o
29

bem-estar do paciente (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013; KNAPP et al., 2004).


Identificação e Refutação de Mitos Emocionais: Mitos Emocionais é um termo
usado pela Terapia Comportamental Dialética (TCD), quando se refere a crenças
equivocadas a respeito das emoções (LINEHAN, 1993b). Alguns pacientes têm a
tendência a avaliar negativamente suas reações emocionais, acreditam que as
emoções são incontroláveis ou intermináveis. Essas crenças podem fazer com que
os pacientes tenham medo e busquem a esquiva emocional através de álcool,
drogas (GRILO; WALKER; BECKER; EDELL; MCGLASHAN, 1977) e outras
manobras disfuncionais que agravarão o problema (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO,
2013).
Mitos emocionais como “ficar triste é errado” e “ mostrar emoções negativas é
sinal de fraqueza”, estão associados e um maior uso da supressão nos transtornos
mentais, aumenta também as preocupações que é uma forma de esquiva emocional
(LEAHY; NAPOLITANO, 2006). Os mitos emocionais podem ser considerados como
uma pequena parte do construto mais amplo dos esquemas, que se refere a
conceitos, avaliações, tendências de ação e estratégias interpessoais e de manejo
que são empregadas para lidar com as emoções (LEAHY, 2002, apud LEAHY;
TIRCH; NAPOLITANO, 2013).
As técnicas de regulação emocional empregadas na TCD são empregadas na
Terapia Cognitivo-Comportamental, principalmente a da mudança das interpretações
a fim de mudar ou diminuir a intensidade emocional. Alega-se que avaliações
extremas de si mesmo, dos outros e do ambiente contribuem para reações
emocionais extremas, assim como para a instabilidade de emoções, comportamento,
identidade e relacionamentos (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013).
A TCD ressalta que a regulação emocional é um conjunto de habilidades com
as quais o indivíduo não nasce, mas aprende no meio em que vive. Essas
habilidades incluem (mas não limitam) a capacidade de dar nome à emoção,
relacioná-la ao evento que a provocou, aumentar ou diminuir sua intensidade, inibir a
ação, em resposta a ela e a limitar o contato com estímulos emocionais ou
desencadeadores. A TCD além de oferecer uma teoria das emoções, ensina as
funções delas, pois aquilo que pensamos sobre as emoções afetam a forma como
lidamos com elas (LEAHY; TIRCH; NAPOLITANO, 2013).
Algumas técnicas para psicoeducação e de exposição para ajudar o paciente
a desafiar essas crenças são: Identificação dos Mitos Emocionais; Identificação da
30

Origem dos Mitos Emocionais; Apresentação de uma Teoria das Emoções ao


Paciente; Apresentação de um Modelo das Emoções ao Paciente; Como Ensinar
aos Pacientes sobre a Função da Emoção; Observação e Descrição das Emoções;
Postura de Não Julgamento das Emoções; Diferenciação entre Impulsos de Agir e
as Ações Praticadas; Experiência da Emoção como Uma Onda; Indução de
Emoções; Experimentos para testar Mitos Emocionais e Ação Oposta (LEAHY;
TIRCH; NAPOLITANO, 2013).

4.4 Farmacoterapia e emoção

O tratamento medicamentoso dos distúrbios depressivos é uma questão


delicada e relevante, muitas vezes o paciente com depressão hesita em buscar
tratamento porque sabe de antemão que terá de tomar os tão temidos remédios
controlados, (os antidepressivos têm pouco potencial para abuso). Esses temores
agravam ainda mais a doença, e o paciente espera chegar no limite com a piora dos
sintomas para procurar atendimento especializado. (FLECK et al., 2003).
Segundo Beck (1977) além da fama de remédios perigosos, há outra questão
que complica mais a ingestão dos psicotrópicos que são os efeitos colaterais, esses
efeitos são sentidos logo no início, já os efeitos benéficos levam de três a quatro
semanas para serem notados, muitas vezes o paciente está tão focado nos efeitos
colaterais que nem percebe a diminuição ou remoção de alguns sintomas da
depressão como melhora do sono, do apetite, da concentração, redução da
desesperança, culpa, preocupação suicida, fadigabilidade e do humor. Nesses
casos deve-se aplicar os Inventários (BDI, BAI, BHS, BSI) que comprovarão de
forma concreta que houve de fato melhoras no quadro geral de saúde do paciente.
Alguns pacientes alegam que fazem mais mal do que bem, e quando a
medicação começa a fazer efeito querem parar ou param por conta própria, pois
acham que não precisam mais (BECK, 1977).
De acordo com Beck (2011), isso acontece devido a vários fatores, o primeiro
é pela forma como os psicotrópicos são vistos pela maioria da população, ou seja,
são viciantes, perigosos tem que tomar por toda a vida e também porque os efeitos
colaterais são desagradáveis e porque não são devidamente informados ou se
esquecem porque o preconceito fala mais alto e também pelas distorções cognitivas
causadas pela depressão que leva o indivíduo a absolver somente os aspectos
31

negativos das informações (abstração seletiva) tanto do que se refere a medicação


quanto de si mesmo, chegando a se culpar por estar doente.
Outro extremo é pensar que os antidepressivos vão resolver todos os
problemas, ou que não vai resolver quaisquer problemas, essa polarização também
faz parte das distorções cognitivas dos distúrbios depressivos. Atualmente a mídia
tem reconhecido a eficácia da farmacoterapia, o que tende a diminuir o estigma
social em torno dos psicotrópicos (BECK; ALFORD, 2011).
As pesquisas científicas atuais, conceituam o transtorno mental como um
desequilíbrio “químico orgânico”, passível de ser reajustado através de medicação;
isso diminui muito o estigma social que sobrecai nos psicotrópicos, pois esse é o
propósito de todo tipo de medicação. Cabe aos médicos e aos psicoterapeutas
cognitivo-comportamentais psicoeducar os pacientes e seus familiares a respeito da
doença, dos efeitos colaterais imediatos que tendem a desaparecer e dos benefícios
mais duradouros que promoverá). É importante também salientar que a terapia
cognitiva comportamental e a farmacoterapia compartilham objetivos comuns que
são a extinção ou diminuição dos sintomas, a restauração das capacidades do
indivíduo e a prevenção de recaídas (BECK; ALFORD, 2011).
Vale salientar, resultados de estudos da TCC na depressão que apontaram
efeitos mais duradouros do que tratamento unicamente medicamentoso (POWELL et
al., 2008).
A farmacoterapia melhora sintomas neurovegetativos e a Terapia Cognitivo-
Comportamental melhora o controle do paciente sobre a doença, alterando crenças
irracionais, pensamentos negativos, automáticos e atitudes disfuncionais. Entretanto,
Wright, Thase (1992) propõe um modelo teórico de integração entre farmacoterapia
e TCC, baseados nas seguintes premissas:

1) Processos cognitivos são modeladores primários entre o ambiente


(experiências rotineiras, eventos vitais, relações interpessoais,
sistemas sociais) e o indivíduo.
2) Cognições disfuncionais podem ser resultado tanto de influências
ambientais como de influências biológicas.
3) Intervenções biológicas podem alterar cognições.
4) Intervenções cognitivas e comportamentais podem alterar processos
biológicos.

No artigo Mente, Cérebro e a Prática Psicológica (2003), informa que a


neurociência tem descoberto a enorme importância do meio ambiente e das
32

relações sociais no desenvolvimento, organização e funcionamento do sistema


nervoso. Isso significa que não só, mas principalmente os psicólogos de uma forma
geral têm a oportunidade de promover alterações na atividade neural dos pacientes
através da reeducação sináptica, possivelmente através dos mesmos mecanismos
que os psicotrópicos (mas sem efeitos colaterais).
Evidências científicas das neurociências para a terapia cognitivo-
comportamental (scielo.br/paideia), narra “O intercâmbio da TCC com a neurociência
é o diálogo entre mente e cérebro: Pensamentos de medo aumentam a secreção de
adrenalina, e pensamentos de felicidade aumentam a secreção de endorfina. ”
Os avanços da neurociência vêm confirmar as premissas dos Dr. Writhe &
Thase de 1992, supracitadas.
33

5 DISCUSSÃO

Através de revisão bibliográfica, de livros especializados e de artigos


científicos, este trabalho teve objetivo de salientar a importância das emoções para o
ser humano quando esse se encontra com depressão. Todo seu ser padece
principalmente as emoções que são mais facilmente identificadas pelo próprio
indivíduo e por quem convive com ele. As emoções são um termômetro das
cognições. Para a TCC os afetos são congruentes com as cognições, embora um
possa influenciar o outro; certos indivíduos com vulnerabilidade cognitiva a temas de
perda e fracasso terão como consequência mais sentimentos e comportamentos de
tristeza, desesperança e isolamento social, isto é muita dor emocional.
De acordo com o pai da TCC Aaron T. Beck, a depressão é uma doença cujo
diagnóstico realizado a mais de dois mil anos pouco difere dos atuais, não é de se
estranhar, pois nos dias atuais chega a ser “comum” estar com depressão, chegando
a ser vista no meio psiquiátrico como o resfriado da psiquiatria (Guz, Isac 1990).
Pode-se concluir que, na antiguidade também era uma doença muito frequente
tornando compreensível o percentual que atinge nos dias atuais.
Esse conceito não muda a gravidade da doença e o ser humano com
depressão sofre físico, mental e emocionalmente lembrando ainda que a dor
emocional é maior que a dor física, pois essa pode ser tratada com analgésicos.
Felizmente a indústria farmacológica tem investido em pesquisas para tratar os
males da mente e podemos contar com antidepressivos, que apesar dos efeitos
colaterais tão temidos pelos pacientes, têm contribuído muito para o tratamento
desse mal.
O cérebro começa a ser mais entendido nos dias atuais graças ao avanço
técnico e a interdisciplinaridade da neurociência que reconhece a importância do
meio ambiente e dos relacionamentos sociais no desenvolvimento e funcionamento
do sistema nervoso, e que, qualquer prática psicológica e social relevante para o
indivíduo pode ocasionar alterações na atividade neural nesse indivíduo. Aqui
salienta-se a enorme importância da TCC no que se refere a reeducação sináptica,
na medida que ensina o indivíduo a reestruturar suas cognições e emoções, para
que tenha uma existência pautada em crenças mais funcionais e realistas.
Esse fato pode ser visto em casos de depressão leve e moderada, que
segundo a literatura especializada pode ser tratada somente com TCC. Porém, para
34

a depressão grave o indicado é terapia combinada, isto é, TCC e medicação.


Conclui-se que a TCC é necessária para tratamento de todo tipo de depressão, mas
nem toda depressão necessita de tratamento medicamentoso.
O que os psicotrópicos e a maioria dos psiquiatras não fazem, a TCC faz, isto
é, ensinar através do diálogo (psicoeducação) com paciente sobre seu distúrbio e
como isto afeta seu corpo e mente, e ainda contribui para amenizar e enfrentar a
doença e os sintomas de forma mais benevolente e assertiva na medida em que
diminui a autocrítica. No aspecto motivacional contribui para tirar o paciente do
ostracismo e trazê-lo para “fora” para a vida real, contribuindo com melhoras
gradativas da sua autoestima e eficácia. No aspecto emocional propriamente dito,
foram vistas inúmeras técnicas que são ferramentas para o terapeuta utilizar em
parceria com o paciente para reestruturar pensamentos e emoções e ainda contribuir
na prevenção de recaídas que pode acontecer com a maioria, muito embora o fato
do paciente se tornar seu próprio terapeuta diminui muito essa probabilidade.
35

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estado depressivo o indivíduo fica como num casulo envolto em


pensamentos negativos, ruminando desilusões, frustrações e fracassos emocionais,
sociais e funcionais, seu foco está no que não deu certo, nas falhas, nos erros, não
consegue nem imaginar uma luz no fim do túnel, se conseguisse seria sinal de
melhora. Os sintomas físicos não têm tanto impacto quanto os emocionais, e a
morte é vista como solução tanto para os que pensam em morrer quanto para os
que pensam e planejam se matar. A TCC focada em emoções é de significativa
importância nesses e em outros casos, pois a medicação ameniza as emoções
derrotistas, mas não as reestruturam como faz a TCC ensinando o paciente a lidar
com elas refutando-as buscando sua validade. Essas emoções negativas não são
extintas, mas perdem sua força pois o paciente aprende a não ser refém delas e
apesar de aceita-las não de forma resignada, mas de forma questionadora e
esclarecedora obtêm alivio da dor podendo se opor a comportamentos auto
derrotistas, as procrastinações, ruminações e outros.
Nesse processo a resiliência é fortalecida, aumenta a qualidade de vida e
diminui muito a probabilidade de recaídas.
Tendo em vista a eficácia e a abrangência da Psicoterapia Cognitivo-
Comportamental cientificamente comprovada, e os reflexos benéficos que isso pode
causar na sociedade, fato comprovado pela neurociência, seria interessante que o
poder público fizesse programas no sentido de torná-la mais acessível à
comunidade. Isso teria efeito nos cofres públicos e principalmente na qualidade de
vida das pessoas, diminuindo muito as filas de espera para tratamento tanto da
depressão quanto de outros males que surgem em decorrência do estresse que o
deprimido enfrenta devido a doença e a espera para tratamento, o que agrava a
doença e facilita o surgimento de tantas outras enfermidades e comorbidades a que
o paciente tem predisposição.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Rio de Janeiro. Ed. Sextante. 2015.
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ANEXOS

Termo de Responsabilidade Autoral

Eu Terezinha Pires Queiroz, afirmo que o presente trabalho e suas devidas

partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da responsabilidade autoral

sobre seu conteúdo.

Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de

Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob o

Título “Terapia Cognitivo-Comportamental Focada em Emoção para tratamento da

Depressão”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos em Terapia

Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu orientador e coorientador de quaisquer

ônus consequentes de ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por mim

praticadas, assumindo, assim, as responsabilidades civis e criminais decorrentes

das ações realizadas para a confecção da monografia.

São Paulo, __________de ___________________de______.

_________________________________________
Terezinha Pires Queiroz

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