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POESIA, PROSA E ARTES BRASILEIRAS

NO ROMANTISMO
A busca da identidade nacional

Profº Me. Alexandre Santos


A LINGUAGEM DA POESIA ROMÂNTICA
Nela, predominam as funções emotiva e
poética da linguagem.
Normalmente, os textos são centrados no
EU das personagens, do Eu poético e do
artista.
Na poesia, o Eu lírico expressa seus
sentimentos interiores e reflete sobre seus
desejos, ânsias e insatisfações.
Na enunciação, observam-se abundância
de adjetivos, de diminutivos, de pronomes
e verbos de primeira pessoa.
As metáforas são enaltecedoras e as
comparações com elementos da natureza
são incessantes.
Ocorre um frequente clima de idealização.
A visão idealizada da realidade levou o romântico a
adotar uma postura ufanista, nativista, diante da natureza
e da cultura brasileira.
O ufanismo se reveste portanto de uma visão exagerada,
enaltecedora do Brasil, com o objetivo de criar uma
imagem positiva do país.
Assim o Brasil é visto como uma nação jovem e nova com
amplas possibilidade de afirmação num cenário, em que,
à época, as maiores potências eram França e Inglaterra.
 No Romantismo, o nativismo se reveste de um forte
sentimento patriótico, portanto, uma espécie de
nacionalismo ufanista que, mais tarde, será alvo de
paródias por parte dos modernistas.
Na poesia da primeira geração, é comum a idealização da
natureza e do índio, em que ambos se confundem com a
visão que os poetas têm da pátria.
O amor, na visão da primeira geração, também é visto de
maneira idealizada, em que prevalece a visão
neoplatônica já esboçada por Camões no Classicismo.
Canção do Exílio, Gonçalves Dias
"Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem primores,
Onde canta o Sabiá; Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar — sozinho, à noite —
Não gorjeiam como lá. Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas, Onde canta o Sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Em cismar, sozinho, à noite, Que não encontro por cá;
Mais prazer encontro eu lá; Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá."
Onde canta o Sabiá.
O ÍNDIO EM GONÇAVES DIAS
Meu canto de morte
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
CANÇÃO DO TAMOIO
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.

Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?
O pessimismo da segunda geração romântica decorre de um intenso e profundo
mal-estar do artista diante da realidade concreta.
O Eu revela-se frustrado diante de uma realidade que se oferecia com amplas
possibilidades de realizações plenas e individuais.
A consequência é isolamento, a solidão e o tédio, acompanhados de um
sentimento de impotência que os leva a um estado de morbidez e ao desejo de
morrer.
Do ponto de vista individual e subjetivo é a geração mais revolucionária
produzida pelo Romantismo, visto que, via de regra, o poeta aponta a morte
como solução para os problemas que afligem o Eu.
Assim sendo, os escritores e artistas vão produzir obras em que a temática
principal é a morte que aparece como uma fuga da realidade concreta, solução
para os problemas imediatos e uma atitude transcendental.
A imagem do desejo de dilaceramento do corpo e seu aniquilamento total
aparece com frequência nas obras desta geração, não raro, através de atitudes
macabras e satânicas.
Outra imagem recorrente gira em torno do estímulo a uma vida fora totalmente
das convenções, destacando-se a boemia, a orgia e o satanismo como os temas
mais abordados, tudo isso em protesto às regras e normas do mundo concreto
que se tornam insuportáveis para o Eu.
Adeus, meus sonhos!
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!
Álvares de Azevedo
Minha desgraça
Minha desgraça, não, não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco....

Não é andar de cotovelos rotos,


Ter duro como pedra o travesseiro....
Eu sei.... O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro....
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que o meu peito assim blasfema,
E' ter para escrever todo um poema,
E não ter um vintém para uma vela.
Álvares de Azevedo
O poeta moribundo
Poetas! amanhã ao meu cadáver
Minha tripa cortai mais sonorosa!...
Façam dela uma corda e cantem nela
Os amores da vida esperançosa!
Cantem esse verão que me alentava...
O aroma dos currais, o bezerrinho,
As aves que na sombra suspiravam,
E os sapos que cantavam no caminho!

Coração, por que tremes? Se esta lira


Nas minhas mãos sem força desafina,
Enquanto ao cemitério não te levam,
Casa no marimbau a alma divina!

Eu morro qual nas mãos da cozinheira


O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia.
Álvares de Azevedo
Do ponto de vista temático, os condoreiros constroem uma poesia centrada
em assuntos grandiosos: Monarquia, República, Liberdade, Escravidão,
Educação e Progresso.
Escritores românticos, como Castro Alves, farão uma obra engajada, do ponto
de vista político, ao defenderem o fim da Monarquia e a construção de uma
sociedade republicana, apontando para os ideais de Liberdade e para a
construção de uma realidade calcada na educação e no progresso.
O condoreirismo é um estilo que ocorre com a terceira geração romântica,
formada principalmente por Castro Alves e Sousândrade.
Mesmo numa dimensão exagerada, o negro aparece na poesia da terceira
geração em sua própria condição de escravo e sofrendo os horrores do sistema
escravocrata.
A luta constante do homem em busca de uma sociedade igual, humana e livre
será também um tema recorrente à terceira geração, aparecendo poemas
exaltando as guerras da libertação e os ideais de liberdade e de igualdade.
A linguagem condoreira é exaltada, inflamada e grandiloquente, em que os
poemas são para serem declamados em praça pública, funcionando como um
discurso político de temática grandiosa, buscando o grande e o alto, daí o
nome condoreiro.
“São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus…
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão…”
Navio Negreiro, Castro Alves
“Foi hoje que o Lusitano,
Que o filho de além do mar,
Despertou com forte brado
A Pátria que era a sonhar,
Que nem sequer escutava
A liberdade a expirar.
E o brado: — "Livres ou mortos"
Lá nos bosques retumbou;
E mais contente o Ipiranga
As suas águas rolou;
E o eco d'alta montanha
Todo o Brasil ecoou.”
Ao sete de setembro, Castro Alves.
“Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo... ( ... )

Viu Guttenberg também.


Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares”
O livro e a América, Castro Alves
O PROMETEU
Inda arrogante e forte, o olhar no sol cravado,
Sublime no sofrer, vencido — não domado,
Na última agonia arqueja Prometeu.
O Cáucaso é seu cepo; é seu sudário o céu,
Como um braço de algoz, que em sangueira se nutre,
Revolve-lhe as entranhas o pescoço do abutre.
Pra as iras lhe sustar... corta o raio a amplidão
E em correntes de luz prende, amarra o Titão.

Agonia sublime! ... E ninguém nesta hora


Consola aquela dor, naquela angústia chora.
Ai! por cúm'lo de horror!... O Oriente golfa a luz,
No Olímpo brinca o amor por entre os seios nus.
De tirso em punho o bando das lúbricas bacantes,
Correm montanha e vai em danças delirantes.
E ao gigante caído... a terra e o céu (rivais!...)
Prantos lascivos dão... suor de bacanais.
Castro Alves
NAVIO NEGREIRO
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!...


Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
... Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!
Castro Alves
O VIDENTE
O séc’lo é grande... No espaço
Há um drama de treva e luz.
Como o Cristo — a liberdade
Sangra no poste da Cruz.
Um corvo escuro, anegrado,
Obumbra o manto azulado,
Das asas d'águia dos céus...
Arquejam peitos e frontes...
Nos lábios dos horizontes
Há um riso de luz... É Deus.

Às vezes quebra o silêncio


Ronco estrídulo, feroz.
Será o rugir das matas,
Ou da plebe a imensa voz?...
Treme a terra hirta e sombria. . .
São as vascas da agonia
Da liberdade no chão?...
Ou do povo o braço ousado
Que, sob montes calcado,
Abala-os como um Titão?! ...
Castro Alves
O ROMANCE ROMÂNTICO
O SÉCULO DO FOLHETIM
A mistura de gêneros literários, no Romantismo, proporcionou o
aparecimento do gênero artístico-literário denominado romance.
Nascem também, nessa época, as crônicas, as novelas, a crítica
literária e o teatro brasileiro, denominado de comédia popular.
As narrativas romanescas do século XIX, em sua grande maioria,
atendia às expectativas do público leitor urbano.
Estruturalmente, eram tradicionais, com início, meio e fim, e a
trama era organizada em torno de um conflito de ordem amorosa.
Os temas e a linguagem dos romances obedecem aos parâmetros
do Romantismo brasileiro.
ALENCAR, A BUSCA DA IDENTIDADE NACIONAL
ALENCAR, A BUSCA DA IDENTIDADE NACIONAL
ALENCAR, A BUSCA DA IDENTIDADE NACIONAL
AS ARTES PLÁSTICAS
NO ROMANTISMO
A MISSÃO FRANCESA NO BRASIL
ACADEMIA BRASILEIRA DE ARTES
A Fundação da Villa de Santos - 1545, Benedito Calixto. "Proclamação da República", 1893, de Benedito Calixto (1853-1927).
Jean Baptiste Debret

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