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O Livro de Gênesis

Introdução

ESCOPO GERAL DA BÍBLIA:


CRIAÇÃO
QUEDA
REDENÇÃO
CONSUMAÇÃO

Por que a necessidade do livro de


Gênesis: o povo sai do Egito com os
deuses do Egito, os elementos eram
considerados deuses.
O livro de Gênesis apresenta Deus como
criador de todas as coisas.

Paulo em Atos 17:18 e 24. Deus criador


e Senhor.

O que o livro de Gênesis não é:

1-Gênesis 1 não é um tratado


primariamente apologético: Um dos
frequentes equívocos que se comete ao ler
Gênesis 1 é entende-lo como
primariamente apologético. Muito
embora, Gênesis 1 tenha grande valor
apologético, esse não parece o propósito
do autor do relato, nem mesmo a
compreensão dos seus primeiros leitores:
Gênesis foi escrito para o povo de Deus,
não para os infiéis. “Aqueles que se
recusam a aceitar o criacionismo não o
fazem por falta de provas (Rm.1.18ss), ou
por causa do seu grande conhecimento
(Sl.14.1), mas por falta de fé (Hb.11.3).
Gênesis é mais uma declaração que uma
defesa”.

2-Gênesis 1 não é um tratado


científico: Ainda que o Deus revelado
nas escritas é o mesmo que se revela na
natureza e que Sua Auto-revelação não é
contraditória, Deus revelou-se a Moisés
(ou a outras pessoas antes dele que
preservaram sua declaração oralmente)
de modo que pudesse ser compreendido
corretamente diante do conhecimento
que ele dispunha. Não faria sentido para
Deus manifestar-se a Moisés de acordo
com o conhecimento científico de nossa
era, pois seus leitores primários seriam
incapazes de compreendê-lo. Portanto,
ainda que o valor científico desse relato
ainda seja fundamental para a
apologética cristã, esse não é o caráter
fundamental desse texto.

3-Gênesis 1 é o relato inspirado por


Deus para revelar-se ao Seu povo:
Eventualmente a falta de atenção ao
contexto histórico de Gênesis nos força a
compreender o texto for a de sua origem:
Aqueles que saíam do Egito, certamente
precisavam conhecer o Deus que os
retirava da escravidão. O Grande “Eu
Sou” também é o criador e originador de
todas as coisas, povos e culturas, e
precisava ser conhecido mais
amplamente.

A. Visões sobre a Criação


1. Criacionismo Científico:
Defensores da criação da Terra jovem
acreditam que Deus criou a terra em seis
dias literais, e que todo o universo é de
aproximadamente 10.000 anos de idade.
Acredita-se também que a maioria dos
fósseis foram formados durante o dilúvio
de Noé, que eles vêem como uma
catástrofe mundial (Gn 6:17; 7:21-23).
Criacionistas aplicar os seus métodos
científicos para a conta de inundações em
Gênesis 6-9 e estão convencidos de que a
atual condição da terra, que dá a
aparência de ser muito mais velha, reflete
a catastrófica destruição causada pelo
dilúvio de Noé.
Sugiro a leitura do livro “Onde tudo
começou” de Adauto Lourenço.

2. Criacionismo histórico:
Deus criou o universo durante um tempo
indeterminado, que o autor chama “o
princípio” (Gn 1:1).
Esse “princípio” não foi uma questão de
tempo, mas um período de tempo, com
toda a probabilidade de um longo período
de tempo.
Após esse período de tempo, Deus passou
a preparar a terra “como um lugar para
os seres humanos a habitar”.
Essa visão compreende 1:2-2:4 como
uma descrição da preparação de Deus do
Jardim do Éden, ou mais
especificamente, a Terra Prometida.

3. Criacionismo Progressivo:
Os defensores desta posição de dia-era
acreditam que o dia em Gênesis 1 não se
referem a seis períodos literais de 24
horas, mas a seis períodos
indefinidamente longos séculos.
Acredita-se que o universo tem entre oito
a desesseis bilhões de anos e que a vida
começou na Terra há 3,5 bilhões de anos
atrás.
Criacionistas Progressivos salientam
que a palavra hebraica para dia (yom) é
usado em três diferentes maneiras na
narrativa da criação (1:4-5; 2:4). Nesses
três versos, yom é usado para descrever
um período de 12 horas, um período de
24 horas, e durante todo o período de
criação.
Criacionistas Progressivos também citam
o Salmo 90:4 e 2 Pedro 3:8 como prova de
que “dias” no calendário de Deus são
muito mais do que os nossos dias.

4. Evolução Teísta:
Defensores da evolução teísta ensinam
que as plantas, animais e homem
evoluiram gradualmente a partir de
formas inferiores, mas que Deus
supervisionou o processo.
Enquanto os criacionistas da Terra-jovem
e Terra-velha acreditam que Deus criou
formas de vida, por ordem divina, os
evolucionistas teístas acreditam que
Deus usou a evolução, ou algo
semelhante, para fazer parte de sua obra.
A maioria dos evolucionistas teístas tem
dificuldades em passagens como Gênesis
1:1-1:24 por argumentar que Deus criou
formas vivas indiretamente, usando as
leis da natureza.
Por sua própria confissão, evolucionistas
teístas tem uma abordagem poética ou
alegórica na interpretação de Gênesis
1:1-2:4. Proponentes: C. S. Lewis,
Howard Van Till e Francis Collins.
Sugiro a leitura do livro “A Linguagem de
Deus” de Francis Collins.

5. Design Inteligente:
Uma nova escola de pensamento está a
evoluir (desculpem o trocadilho).
É conhecido como o movimento do
“design inteligente”.
é uma hipótese pseudocientífica, baseada
na assertiva de que certas características
do universo e dos seres vivos são melhor
explicadas por uma causa inteligente, e
não por um processo não-direcionado (e
não estocástico) como a seleção natural;
e que é possível a inferência inequívoca
de projeto sem que se façam necessários
conhecimentos sobre o projetista, seus
objetivos ou sobre os métodos por esses
empregados na execução do projeto.

Entre os primeiros argumentos


atestados para a existência de um
projetista do Universo estão aqueles
documentados na filosofia grega.
No século IV a.C., Platão propôs um
"demiurgo" que era bom e sábio como o
criador e primeira causa do cosmos, em
seu tratado Timeu.
Aristóteles também desenvolveu a ideia
de um criador-designer do cosmos,
frequentemente chamado de "Motor
Imóvel", em seu trabalho filosófico
Metafísica.
Em De Natura Deorum, ou "Sobre a
Natureza dos Deuses" (45 a.C.), Cícero
afirmou que "o poder divino deve ser
encontrado no princípio de uma razão
que permeia toda a natureza".
B. Contexto histórico do Relato da
Criação

Visões das culturas a respeito da


criação do mundo:
Os astecas acreditavam que, antes do
presente, existiam outros mundos
formados por quatro sóis, cada um com
um tipo de habitante.

Na mitologia maia, Tepeu e Gucumatz (o


Quetzalcoatl dos astecas) são referidos
como os criadores, os fabricantes, e os
antepassados. Eram dois dos primeiros
seres a existir e se diz que foram tão
sábios como antigos.
Mitologia Egipcia – vídeo exibir

Contudo, YHWH salvaguardou de modo


coerente com o contexto histórico do
Seu Povo quando deu a conhecer de
Moisés Sua visào da criação.
Sobre esse assunto, Merril Unger diz:
“Muito cedo os povos se desviaram
daquelas primeiras tradições da raça
humana, e em climas e temperaturas
variadas, têm-nas modificado de acordo
com sua religião e modo de pensar. As
modificações com o tempo resultaram na
corrupção da tradição pura e original. O
relato de Gênesis não é o único inalterado,
mas em qualquer lugar sustenta a
inerrante impressão da inspiração divina
quando comparado às extravagâncias e
corrupções de outros relatos. A narrativa
bíblica, podemos concluir, representa a
forma original que deve ter sido assumida
por essas tradições.”

O Significado do Relato da Criação


para os primeiros leitores

Tendo conhecido um pouco da


cosmogonia egípcia, é evidente que o
relato de Gênesis mostra-se em grande
parte distinto deles.
Muito embora alguns estados similares
pudessem ser encontrados (oceano
primevo como uma alusão à expressão
“face das águas”), a santidade de YHWH
é claramente mantida no relato de
Gênesis.

Assim, considerando o pano de fundo


histórico e religioso temos por certo que o
relato de Gênesis tem dois propósitos:
(1) Corrigir a cosmologia aprendida no
Egito durante o tempo em que estiveram
por lá;
(2) apresentar YHWH como único Deus
capaz de criar.

1. Promover correção:
Diante da cosmologia egípcia, e pelo
tempo que passaram em sujeição ao
domínio egípcio, não seria estranho que o
Povo de Deus tivesse sido contaminado
pela visão altamente religiosa do Egito.
Isso é claramente percebido nas
declarações de fidelidade a YHWH e nas
diversas advertências para o povo
abandonar os ídolos que carregavam.
“Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor
teu Deus requer de ti, senão que temas o
Senhor teu Deus, que andes em todos os
seus caminhos, e o ames, e sirvas ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração e
de toda a tua alma” (Dt. 10.12)

“Agora, pois, temei ao Senhor e servi-o com


integridade e com fidelidade; deitai fora os
deuses aos quais serviram vossos pais
dalém do Eufrates e servi ao Senhor.” (Js.
24:14)

Por isso, não podemos descartar que


Deus em sua Sabedoria está a corrigir a
visão sobre a cosmologia do seu povo,
para que possam reconhecê-lo como
Senhor exaltado acima de todos os falsos
deuses que haviam conhecido no Egito.
Assim, “não era suficiente honrar a
Yahweh simplesmente como um deus, um
entre muitos. Nem poderia ser concebido
isso do Deus de Israel. Só Yahweh é
Deus. Não há outro Deus. Ele é o criador
dos céus e da terra. Ele não é
simplesmente superior aos deuses das
nações em derredor. Somente Ele é Deus”.
Essa visão permeia todo o Pentateuco:

“Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é


o único Senhor” (Dt. 6:4)

O Deus exaltado acima da criação é o


Deus único que não precisa de
mediadores para sua Criação, em
distinção dos deuses egípcios (Dt.4.32).
Ele não exerce seu poder de modo erótico,
ou até mesmo promíscuo na criação, Ele
em santidade mostra-se superior
moralmente (Lv.11.45).
Além disso, Ele está além de sua
Criação e lhe é superior.
Por isso “a tendência em se começar a
confundir Deus com Sua criação foi uma
parte dos pensamentos do mundo antigo.
Ele deve ser honrado como o Deus da
criação, não apenas Deus na criação.
Todas as tentativas de se visualizar ou
humanizar a Deus na forma de alguma
coisa criada foram tendências em
equiparar Deus com Sua criação. Creio
que foi assim com o bezerro de ouro de
Arão ”.

2. Promover Informação:
Negativamente, Gênesis corrige muitas
concepções populares erradas a respeito
de Deus.
Positivamente, retrata(apresenta) Seu
caráter e Seus atributos.

Deus é soberano e Todo-Poderoso.


Distintamente das cosmogonias de
outros povos antigos, não há nenhuma
batalha na criação descrita em Gênesis
um.

Deus não enfrentou forças opostas para


criar a terra e o homem. Deus criou com
uma simples ordem “Haja…”
Há ordem e progresso. Deus não faz
experiência, mas, ao invés disso,
habilmente molda a criação conforme
Seu projeto onisciente.
Deus não é simplesmente energia, mas
uma Pessoa. Ainda que devamos ficar
atemorizados pela transcendência de
Deus, devemos ficar também pela Sua
imanência.

Isto é refletido no fato de que Ele criou o


homem à sua própria imagem (1:26-28).
O homem é um reflexo de Deus. Nossa
personalidade é simplesmente uma
sombra da personalidade de Deus. No
capítulo dois Deus deu a Adão uma tarefa
significativa, com uma companheira
como auxiliadora. No terceiro capítulo
aprendemos que Deus tinha comunhão
diária com o homem no jardim (cf. 3:8).

Deus é eterno. Enquanto que outras


criações são vagas ou errôneas no que
concerne à origem de seus deuses, o Deus
de Gênesis é eterno. O relato da criação
descreve Sua atividade no princípio dos
tempos (do ponto de vista humano).
Deus é bom. A criação não teve lugar
num vácuo moral.
A moralidade foi tecida dentro da
estrutura da criação. Repetidamente é
encontrada a expressão “e era bom”.
Bom implica não somente em utilidade e
complexidade, mas em valores morais.
Aqueles que sustentam pontos de vista
ateístas sobre a origem da terra não vêem
nenhum outro sistema de valores a não
ser o que é sustentado pela maioria das
pessoas.
A bondade de Deus é refletida em Sua
criação, a qual, em seu estado original,
era boa. Mesmo hoje, a graça e a bondade
de Deus são evidentes (cf. Mt. 5:45; At.
17:22-31).

Título do Livro

O título “Gênesis”, que significa


literalmente “começo” e vem da palavra
grega “γενέσις”.
Esse título foi dado ao livro pela tradução
grega do Velho Testamento, chamada
Septuaginta.
O título hebraico para esse livro é retirado
das primeiras palavras do livro:
“berēshith” e significa “no princípio”.
Esse título é certamente apropriado, pois
além de demonstrar o princípio do
universo, do homem e do povo de Deus,
Gênesis também “prepara o terreno
para a plena compreensão da fé
bíblica”.

O Autor do Livro
Enquanto nenhuma declaração é dada
sobre quem teria escrito esse livro, a
tradição sempre tem dito que o autor
desse livro é Moisés. Evidências para isso
tem-se encontrado:

Estrutura e Conteúdo do Livro


Uma das características marcantes do
livro é a forma como esse livro foi
estruturado.

Do ponto de vista da história, duas


categorias são claramente reconhecidas
na estrutura do livro:

(1) Nos capítulos de 1.1-11.26


encontramos a história das origens de
modo geral e

(2) de 11.27-50.26 lemos a história da


origem do povo judeu – a história dos
patriarcas.
Sobre essa estrutura John Hartley diz:
“Gênesis 1-11 é um prefácio à história da
salvação, tratando da origem do mundo,
da humanidade e do pecado. Gênesis 12-
50 reconta as origens da história da
redenção no ato de Deus escolher os
patriarcas, juntamente com as promessas
da terra, posteridade e aliança”.
Contudo, Moisés como hábil escritor
também deixou uma clara estrutura
literária para seu primeiro livro: com o
uso de uma palavra específica, Moisés
pode marcar dez blocos de texto onde
agrupou o conteúdo do seu livro.

Essa palavra hebraica é “tôledôt”, que


significa gerações, genealogia.
Em “cada uma dessas seções [Moisés]
relata o que aconteceu com à(s) pessoa(s)
mencionada(s), ou seus descendentes”.

Normalmente essa palavra é


acompanhada de uma genealogia,
conquanto também possa apresentar o
desenvolvimento de algo que já foi
iniciado.

Esse é o caso de Gn.2.4: “Esta é a história


das origens dos céus e da terra, no tempo
em que foram criados: Quando o SENHOR
Deus fez a terra e os céus”.
Nessa ocasião Moisés faz um uso
metafórico da palavra “tôledôt” para
expressar que os céus foram gerados
(criados) pelo Próprio Deus.

É interessante observar que a estrutura


história e a estrutura literária foram de
tal forma ajustadas que para a primeira
parte (a história primeva) Moisés usou
cinco “tôledôt”, enquanto que para a
segunda parte (história patriarcal) ele o
fez mais cinco vezes. Seguindo essa
sugestão, podemos observar a estrutura
do livro da seguinte forma:

I. HISTÓRIA PRIMEVA - (Gn.1.1-


11.26)

Criação do Universo (1.1-


2.3)
As gerações do céu e da terra (2.4-
4.26)
As gerações de Adão (5.1-
6.8)
A geração de Noé (6.9-
9.29)
As gerações dos filhos de Noé (10.1-
11.26)

2.HISTÓRIA DOS PATRIARCAS


(Gn.11.27-50.26)

As gerações de Terá (11.27-


25.11)
As gerações de Ismael
(25.12-18)
As gerações de Isaque (25.19-
35-29)
As gerações de Esaú
(36.1-43)
As gerações de Jacó (37.1-
50.26)

É importante lembrar que um dos


recursos literários que Moisés usa na
composição de Gênesis é apresentar em
primeiro lugar um conjunto de
informações sobre personagens que
terão sua história continuada no seu
relato.
Por exemplo, “a genealogia de Caim (4.17-
24) precede a de Sete (4.25,26); as
linhagens de Jafé e Cão (10.1-8)
aparecem antes de Sem (10.21,22); a
genealogia de Ismael (25.12-15) antecede
a de Isaque (25.19) e a de Esaú (36.1-10)
precede a de Jacó (37.2)”.

Propósito

“O propósito do primeiro livro do


Pentateuco é fornecer um breve sumário
da história da revelação, desde o princípio
até que os israelitas foram levados para o
Egito e estavam a ponto de se tornarem em
nação teocrática”.
De forma prática, Gênesis parece
demonstrar, do início ao fim, quem é o
Deus que chamou a Moisés para liderar
o Povo.

É nesse texto que Moisés registra


YAHWEH como o Deus que é poderoso
para Criar, Julgar e Punir, Retribuir,
Chamar, Restaurar e Salvar Seu povo.
Gênesis é um relato da Personalidade e
Caráter de YAHWEH como Deus
Poderoso, Cuidadoso, Amoroso e
Soberano.

De forma anacrônica Moisés parece


deixar a Soberania de Deus estampada
nas páginas de Gênesis, de modo que, na
primeira parte de seu livro ele
demonstra quão longe o homem por suas
forças pode ir, enquanto que na segunda
parte ele demonstra quanto Deus faz
para resgatá-los.

Assim, estamos falando que, após a


Criação, nos primeiro 11 capítulos de
Gênesis nós vemos a degradação do ser
humano: Na Queda vemos a soberania de
Deus e a sentença de todo ser humano;
No Dilúvio a justa retribuição história de
Deus; e em Babel vemos a soberania de
Deus na distribuição.
Até que, em Abraão o processo de
regeneração inicia e parece reverter a
cena:
Em Abraão vemos a soberania de Deus
na Eleição; Em Isaque a soberania de
Deus na Separação;
Em Jacó a soberania de Deus é percebida
no cuidado; e
em José vemos a soberania de Deus no
controle da situação.

É como se o livro tivesse sido escrito para


apresentar o caráter de Deus como
chefe da Teocracia que Ele irá formar a
partir de um povo exilado no Egito,
retirando-os soberanamente do domínio
egípcio.
É óbvio que Moisés faz isso, enquanto
registra os acontecimentos do seu povo.

Mensagem
Poucas pessoas foram capazes de
resumir a mensagem de um livro tão
grande em tão poucas palavras de modo
tão impressionante: Carlos Osvaldo tem
sintetizado a mensagem do livro da
seguinte maneira:

“A eleição e separação de Israel como


povo pactual se deu em um contexto de
conflito entre o propósito Benevolente do
Criador e a vontade rebelde das criaturas,
a quem Ele pune com justiça e restaura
com amor[12]”

Teologia de Gênesis
Como temos dito que esse livro é uma
Auto-Revelação de Deus para o povo de
Israel, não poderíamos deixar de falar de
Sua Pessoa como apresentada por ele.
Sobre isso, House diz:

“Certamente tornou-se visível um retrato


nítido de Deus. Ele é a única divindade
que atua nesses relatos. Só Deus cria, de
maneira que só Ele julga o pecado,
chama, dirige e abençoa Abraão e seus
descendentes, e proteje e livra em todas
as circunstâncias o povo agora chamado
Israel. Esse Deus comunica-se com o
povo alternadamente emanando ordens,
fazendo promessas e dando orientação,
Ele trabalha para tirar o pecado que
atribula toda a raça humana. Esse Deus
não tem qualquer começo, rival, limites
de tempo ou espaço, falha moral, ou
interesses ocultos[13]”

Deus é Criador:
Em Gênesis não difícil falar em um Deus
Criador: “No princípio criou Deus os céus
e a terra”. O relato da criação em Gênesis
é realizado em duas etapas para ressaltar
a Pessoa do Criador: Enquanto o primeiro
relato aponta para um fato (há um
Criador de todas as coisas) o segundo
relato mais específico sobre a criação do
homem apresenta o Criador como zeloso,
atencioso e relacional. Essa descrição de
Deus é certamente uma demonstração do
Seu poder e de Seu cuidado graciosos.
Entretanto, é válido dizer que a descrição
da criação demonstra a ordem e a
dignidade dela. “Enquanto outras
histórias da criação tendem a tratar a
raça humana como fonte de irritação
para o panteão e o mundo criado como
alo que os deuses não pensaram
inicialmente, Gênesis 1.1-2.3 apresenta a
ordem criada como resultado da atividade
intencional da parte do Deus único[14]”.

A unicidade de Deus nos primeiros versos


de Gênesis também são também uma
descrição de contraste entre YAHWEH, o
verdadeiro Deus e os deuses pagãos. Até
por que, a descrição de Deus como
Criador auto-existente, solitário e auto-
suficiente difere gritantemente de outros
relatos antigos da criação. Falando sobre
a multiplicidade de deuses do paganismo,
LaSor, Hubbard e Bush afirmam que
“para eles a variedade de forças
personificava-se em deuses. Assim, uma
divindade era multipessoal, em geral
ordenada e equilibrada, mas às vezes
caprichosa, instável e temerária. O texto
de Gênesis 1 combate tal concepcção de
divindade. Ela retrata a natureza
surgindo de uma simples ordem de Deus,
o que é anterior a ela e dela
independente[15]”.

Outro detalhe sobre a Singularidade de


Deus como Criador é estampado no uso
do termo hebraico bärä’, que descreve
sua ação como trazendo a criação do
nada (ex nihilo[16]). Em Gn.1.1 não há
qualquer indicação de matéria pré-
existente que Deus teria formado, antes
“afirma que Deus criou, (bärä’) sem
nenhum esforço, todo o universo e tudo o
que nele há[17]”. Assim, “o termo
hebraico bärä’, ‘criar’, é uma palavra
chave, sendo empregada seis ou sete
vezes no relato da criação. Essa palavra
tem Deus como seu único sujeito no
Antigo Testamento, e não se fez nenhuma
menção do material a partir do qual se
cria algum objeto. Ela descreve um modo
de agir que não possui analogia humana.
Só Deus cria, assim como só Deus
salva[18]”

Deus é Soberano:
Sidlow Baxter quando comenta sobre
Gênesis diz: “Pelo fato de ter sido
colocado logo no início dos 66 livros,
Gênesis nos faz dobrar os joelhos em
obediência reverente diante de Deus, por
exibir perante os nossos olhos, e trovejar
em nossos ouvidos, aquela verdade que
deve ser aprendida antes de todas as
outras em nosso trato com Deus, em
nossa interpretação da história e em
nosso estudo da revelação divina, a saber
A SOBERANIA DIVINA[19]”.

A soberania de Deus é observada em


quase todos os eventos apresentados
nesse livro: Ele é o Criador Soberano, o
Juiz soberano sobre o pecado do homem,
na punição de Caim, no Dilúvio, em
Babel. Ele é o Soberano na separação e
eleição de Abraão como herdeiro das
promessas. Não havia qualquer
característica em Abraão digna da
atenção de Deus, mas em Sua Soberania
Deus o separa para dele fazer uma grande
nação. “O Senhor escolhe a Abrão da
mesma maneira como decide criar os
céus e a terra, ou seja, a partir da
liberdade absoluta resultante de ele ser o
Deus único, todo-suficiente e
independente[20]”.

Toda a história dos patriarcas é uma


demonstração da Soberania de Deus:
Abraão é eleito soberanamente por Deus;
Isaque é mantido soberanamente por
Deus; Jacó[21], o mais relutante de
todos, demonstra a Soberania de Deus na
Preservação de sua Promessa feita a
Abraão e em José podemos observar a
Soberania de Deus no controle das
situações para formar um povo Seu em
meio a um tempo de crise.

Até mesmo na tensão entre a Soberana


Vontade de Deus e da vontade rebelde de
suas criaturas, “o que o homem pecador
tenciona para o mal, YAHWEH é mais do
que capaz de suplantar para Seus
propósitos de bênção e bem estar para o
povo de Sua aliança[22]”. A soberania de
Deus é capaz de convergir a maldade do
homem para bênçãos para os Seus: Esse
retrato é vívido em Gênesis.

Deus é Justo:
No trato com a humanidade desde a
Criação, Deus demonstra sua habilidade
para exercer sua Justiça. Na retribuição
justa de Gn.3 vemos que Deus é severo
no trato com o pecado e na imposição das
punições para cada um dos participantes
da rebelião contra Ele no Éden.
Entretanto, é importante lembrar que
“quando Sua bondade original foi
desprezada no jardim do Éden em troca
da independência que as criaturas
queriam Dele, foi Deus quem tomou a
iniciativa de buscar o homem (3.8, 9), de
prometer a vitória definitiva sobre a
serpente pela semente da mulher (3.15) e
remediar a nudez e a vergonha do
primeiro casal[23]”. No exercício de sua
Justa punição, Deus não deixou de
manifestar sua Graça Salvadora: O maior
prejudicado na queda foi o próprio Deus,
pois Ele mesmo assume as piores
conseqüências da Queda e doa-se em
amor ao mundo.

Da mesma forma o dilúvio revela Sua


Justa retribuição à intenção do homem
em contraposição à Lei Divina. Em sua
Justa Soberania, Deus estabelece o juízo
da rebeldia dos homens e os sentencia à
morte no Dilúvio. Entretanto, temos que
lembrar que Ele mesmo ofereceu 120
anos para o arrependimento dos seres
humanos em demonstração de que age
com paciência. Isso sem contar que Deus
havia deixado um modo para que os
homens pudessem ser libertos dessa
punição, pela fé na instrução que havia
dado a Noé (Hb.11.7). Assim, tanto a
Paciência quanto Graça são observadas
no exercício da Justiça de Deus[24].
Deve ser por isso que Ralph Smith diz:
“Três coisas são essenciais a um bom
juiz: autoridade e soberania; decisões
justas e imparciais; e a capacidade de
perceber e interpretar corretamente todas
as evidências. Javé tem as três
qualidades[25]”. Por isso, “a justiça de
YAHWEH reflete-se não tanto em
declarações sobre Seu caráter quanto nos
meios simples e diretos pelos quais Ele
julga a falta de conformidade do homem
com o padrão de conduta prescrito pelo
Criador[26]”.

Deus é Gracioso:
“Pelo contrário, ele opera exclusivamente
em benefício do mundo que não tem
intenção alguma de fazer o que é certo.
Neste caso a eleição demonstra a
misericordiosa bondade de Deus com o
mundo[27]”.

Por que Deus não opera sua disciplina


para com Jacó, que demonstra em sua
história não manter uma padrão de
conduta em nada parecido com o do seu
pai? “O fato mais consolador é que Deus
não mudou seu propósito, promessa ou
poder. O caráter divino continua intacto,
acentuando a sensação que o leitor tem
de respeito e expectativa diante do
futuro[28]”.

“A graça divina seleciona este homem


[Jacó] terrivelmente imperfeito, não por
causa de mérito algum de sua parte. O
amor determina a decisão, e esse amor é
tão grande por Jacó quanto é por Abraão
e Isaque, pois as promessas divinas feitas
anteriormente permanecem de pé[29]”.

“A graça intensifica-se quando o pacto de


YAHWEH com a humanidade se focaliza
em Abraão e sua linhagem: Ló é
preservado pela graça (19.1-31), Isaque é
poupado pela graça (cap.22), Jacó é
escolhido por graça (25.19-23; cf.
Rm.9.11, 12), assim como toda a família
patriarcal é libertada da corrupção e
miscigenação em Canaã pela provisão
graciosa que YAHWEH lhes faz de José
como vice-regente do Egito (caps.37-
50)[30]”

Deus é Único:
Em oposição ao conceito do Oriente
Médio Antigo, Gênesis apresenta um
Deus que é Único, “nenhuma outra
divindade questiona o direito divino de
criar; nenhuma outra divindade ajuda
Deus a criar nem se opõe à sua atividade
criadora. Desde o princípio, ou desde a
origem do tempo e da história, só Deus
existe ou age[31]”.

“A idéia da unicidade de Deus no Antigo


Testamento é singular e significativa.
Enquanto outros povos antigos achacam
que seus deuses eram muitos, cada um
tendo sua própria esfera de influência e
responsabilidade, o Israel antigo entendia
que seu Deus era um (indivisivo), como
todos os atributos e poderes da divindade
em si mesmo, governando todas as
esferas da existência[32]”
“A singularidade de YAHWEH aparece em
cores ainda mais brilhantes no fato de
que Ele é um Deus que, apesar de
transcendente e todo-poderoso, busca
um relacionamento com Suas criaturas e
a elas Se revela. Ele estabelece alianças
(cf. 9.8-17; 15.9-21; 17.1-27) e garante
seu cumprimento ao prover e proteger
milagrosamente a semente que havia
prometido (18.13-15; 22.15-18;
25.21)[33]

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