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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HISTÓRIA DA AMÉRICA I
PROF. DR. LUIZ ESTEVAM DE OLIVEIRA FERNANDES
ALUNOS: ANA CAROLINA MARQUES DE SOUZA
ELIAS THEODORO MATEUS

A Fênix e a Virgínia
Pocahontas na colonização inglesa do século XVII

Mariana, 06 de abril de 2013


A Fênix e a Virgínia
Pocahontas na colonização inglesa do século XVII

É conhecido no mundo moderno que as nações sempre buscam um mito


fundador, que se encontram em tempos remotos, às vezes imemoriais, a heroicidade de
seus pais fundadores. Em diferentes níveis de distorção, os acontecimentos primordiais
de uma determinada nação são, de certo modo, romantizados por aqueles que escrevem
sobre o passado nacional. Esse tipo de discussão foi particularmente intenso no século
XIX, potencializada, sobretudo, pelo espírito nacionalista que vogava na Europa e, por
extensão, na América. Os heróis do passado eram, geralmente, intrincados à natureza 1.
No caso americano, de um modo geral, as narrativas sobre o passado estavam eivadas
de bucolismo e saudosismo dos tempos em que europeus e índios se encontraram, no
final do século XV. Com relação à questão da natureza, orgulho americano nascia como
louvor dos méritos físicos do país, e não como ostentação de uma herança histórica ou
de uma antiguidade mítica2. Por isso a presença constante da natureza nas diversas
narrativas sobre o passado americano.

1
Para pensarmos uma aproximação: a literatura indigenista do século XIX, no Brasil, encontrou a
fundação da nação brasileira nos seu passado indígena. O mais ilustrativo exemplo é o romance de José
de Alencar, Iracema. Neste romance, o autor narra a formação do povo brasileiro a partir do encontro
entre a índia Iracema e o português Martin. Do amor dos dois nasce Moacir, o filho da dor.
2
Havia certo consentimento nos debates em torno do Novo Mundo, no século XIX, que a “geografia” se
sobrepunha à “história”. Para o assunto ver GERBI, Antonello, O Novo Mundo. História de uma
polêmica (1750-1900). São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 151.
Não obstante a isso, como herdeiros que somos das correntes nacionalistas do
século XIX, procuramos a afirmação de nossa identidade a partir das matrizes do
passado, identidade que se baseia no legado dos outros situados distantes de nós no
tempo. Convém aqui dar espaço para a retórica da alteridade, pois é no discurso do
outro que muitos sujeitos do presente buscam a consistência de suas identidades. Os
sujeitos do presente sabem que são diferentes dos sujeitos do passado, entretanto estão
ligados de algum modo.

Ou seja, o si-mesmo, que representa aqui a identidade mais própria, só


é pensável a partir da alteridade, ou, melhor ainda, só é pensável como
alteridade. Isto significa dizer que a identidade e a diferença se
constituem como uma dupla inseparável e indiscernível. 3

Foi na costa leste da parte setentrional da América4 que se estabeleceram os


primeiros núcleos de povoamento inglês, sob a monarquia de Jaime I, da Inglaterra.
Mais precisamente na parte leste e central do atual EUA. A costa oriental da Virgínia se
configura por uma série de ilhas, baías e reentrâncias. Ao longe se veem os montes
Apalaches e a região é irrigada por vários rios, e os principais são o James e o Potomac.
A costa leste se caracteriza, em oposição ao terreno acidentado do oeste, por baixas
altitudes, terreno pouco acidentado e solo muito fértil. Não é por menos que em seus
relatos, John Smith fala da fertilidade da terra e que muito milho se plantava e se colhia.
Sobre o primeiro espaço efetivamente ocupado pelos ingleses, em 1607, isto é, a
península onde se ergueu a cidade de Jamestown, Smith diz que a colônia se localizava
“sobre uma fértil península, a qual, se bem outrora malfadada pelo ar insalubre, nos
pareceu tão sadia quanto qualquer outra parte do País” 5. Ainda sobre as relações do
homem com o espaço, a Virgínia possui o clima temperado, com as quatro estações bem
definidas. Verões quentes e invernos frios, às vezes rigorosos, todavia o oceano

3
HENRIQUES, Fernanda. A alteridade como mediação irrecusável: uma leitura de Paul Ricoeur.
Universidade de Évora, ano, p. 3. Disponível em http://www.filosofia.uevora.pt/fhenriques/alteridade.pdf
4
Em se tratando de interpretações de viajantes que se seguiram no século XVIII e XIX, pouco se pode
apreender da paisagem original aquando da chegada dos primeiros colonos, pois “na América do Norte,
os colonos haviam eliminado florestas, drenado pântanos e cultivado a terra” (CAÑIZARES-
ESGUERRA, p. 51), ou seja, o espaço havia se transformado de forma radical. Para tanto, uma maneira
de conhecer a descrição física do espaço, muitas vezes só podemos contar com a descrição dos primeiros
colonizadores. Todavia estamos cientes de que tais testemunhos devem ser submetidos à crítica histórica.
Para o assunto ver CAÑIZARES-ESGUERRA, Jorge. Como escrever a história do Novo Mundo:
historiografia, epistemologias e identidades no mundo atlântico. São Paulo: Edusp, 2011.
5
SYRETT, Harold C. (org). Documentos históricos dos Estados Unidos. Tradução Octavio Mendes
Cajado. São Paulo: Editora Cultrix, 1980, p. 8.
Atlântico contribui para regular a sensação térmica. Chuvas durante o ano todo e a terra
entrecortada por uma rica bacia hidrográfica.
Nesta terra fértil e agradável aos olhos dos colonizadores, que os puritanos
diziam ser a terra prometida das escrituras, vivia a filha do chefe da tribo Powhatan,
Pocahontas, a Fênix da Virgínia6. Este não era seu nome original. O cognome significa
“a metida”, o que já revela sobre o caráter da menina, possivelmente bastante viva. Seu
verdadeiro nome era Matoaka. O fato mais conhecido de sua trajetória de vida, e que até
hoje se ensina nas escolas americanas, é o de ter salvado o capitão John Smith de uma
execução sumária. Há controvérsias sobre isso, mas é impossível desvincular o caráter
romântico deste acontecimento da fundação dos Estados Unidos da América da
memória já cristalizada acerca dele. Na época, Pocahontas deveria ter entre 11 e 13
anos. Foi com Smith que a menina aprendeu a língua e os costumes ingleses. Pouco foi
o tempo que permaneceram juntos. Em 1609, Smith retorna a Inglaterra para se tratar de
um acidente que sofrera.
Em 1612, a vida da jovem ganha um novo contorno. Torna-se prisioneira de um
novo grupo de ingleses e foi mantida numa prisão em Jamestown. Lá, o capitão John
Rolfe se apaixonou pela índia e resolveu se casar com ela. Teve que pedir uma
autorização para o rei, que foi concedida. Pocahontas, mesmo feita prisioneira, recebeu
educação britânica na doutrina cristã e nos costumes. Foi batizada com o nome cristão
de Rebeca. Teve um filho com Rolfe, chamado Thomas Rolfe. O casamento dos dois
resultou num acordo de paz entre a tribo de Powhatan e os colonos.
Em 1616, Rolfe, Rebeca e o filho viajam para a Inglaterra. Pocahontas, já na
Europa, descobriu que Smith estava vivo, mas, ao que tudo indica, não se encontrou
com seu antigo tutor de costumes. Smith mandou uma carta a rainha Ana pedindo que
recebesse muito bem a Pocahontas, pois ela foi “muitas vezes protetora dele e de toda a
Colônia” 7. Foi assim que o rei Jaime I recebeu a índia endoculturada nos padrões
britânicos.
O jornalista e pesquisador norte-americano Tony Horwitz ao se referir a
Pocahontas no momento de sua vida em que conheceu a Inglaterra diz que

Àquela altura, é possível que ela não se sentisse mais índia.


Pocahontas conhecera os ingleses ao longo da metade de seus vinte
anos e vivera entre eles, como Rebecca Rolfe, durante os últimos três.
6
Na história geral da Virgínia, de John Smith, é assim que ele se refere à Pocahontas.
7
SYRETT, op. cit. p. 8.
Mulher excepcionalmente intrépida - a imagem espelhada de John
Smith -, ela havia habitado três mundo distintos no breve espaço de
tempo de sua vida: Tsenacomacoh (o nome índio do reino de
Powhatan), a Virginia colonial e a Inglaterra da dinastia Stuart. Depois
de ter cruzado o Atlântico, Pocahontas deu sinais de querer ficar. Em
janeiro de 1617, um londrino escreveu que John Rolfe estava se
preparando para voltar a Virginia com sua esposa “muitíssimo contra
a vontade dela”. 8

Enquanto retornavam da Inglaterra para a Virgínia, a vida de Pocahontas é


abortada precocemente. Faleceu em Gravesend, Kent, na Inglaterra, em 23 de março de
1617. E lá mesmo ganhou um túmulo cristão9.
John Smith foi um dos personagens centrais no mito de fundação da América.
Segundo sua autobiografia, considera a si mesmo o responsável direta ou indiretamente
pelos progressos da Inglaterra no Novo Mundo10. Há relatos afirmam que Smith era um
“falastrão baixinho e barbudo, ex-condenado, artista da fuga e um exímio assassino”
(HORWITZ, 2008): ou seja, a história da origem inglesa na América depende um
gabarola do qual não existem muitas dificuldades para não se gostar ou duvidar11.
Porém, demonstrou que o tipo de homem como ele – com certa repulsa pela
hierarquia e feito por si mesmo – era o tipo necessário para a consolidação do Sonho
Americano12.
Quando da partida de Smith para a América em 1606, a Inglaterra ainda
disputava o território do atual Estados Unidos com outras nações – como os espanhóis
na Flórida e os franceses no Maine, Massachusetts e interior do estado de Nova York,
detendo apenas reivindicação de posse da Virginia e de um trecho da costa do
Pacífico13.
Os colonos se viram confrontados por vários imprevistos e obstáculos tanto na
chegada como no estabelecimento inicial da colônia. Nos primeiros meses, a colônia

8
HORWITZ, Tony. Uma longa e estranha viagem: rotas dos exploradores norte-americanos. Rio de
Janeiro: Rocco, 2010, p. 352.
9
No local onde Pocahontas faleceu e foi enterrada se ergueu uma estátua dela em tamanho natural. Igreja
de São Jorge, Gravesend, Inglaterra.
10
HORWITZ, op. cit. p. 332
11
Idem. Ibidem.
12
Nesse ponto podemos questionar a visão de Sérgio Buarque de Holanda de que a colonização puritana
foi feita pelo tipo de homem “trabalhador”, enquanto a hispânica foi realizada pelo tipo “aventureiro”.
Entretanto, a personalidade de Smith não se limita a esse enquadramento feito pelo historiador brasileiro,
como veremos adiante. Sobre o assunto, ver HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 10 ed.
Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1976. 154 p.
13
HORWITZ, op. cit. p. 333
quase fracassou duas vezes devido a vários fatores: má escolha do terreno, ataques
indígenas, lutas internas entre os colonos, entre outros.
Contudo, em setembro de 1607, quando a maioria dos povoadores já estava
morta, a colônia foi salva pelos indígenas, que trouxeram alimentos. A partir desse
momento John Smith assumiu o abastecimento do forte e partiu em busca de
negociações de alimentos com as diversas tribos que viviam nas margens dos rios da
região. Foi em uma dessas empreitadas que Smith foi capturado pela tribo de Powhatan
e, teoricamente, salvo por Pocahontas, a filha do chefe da tribo14.
Existem divergências quanto à veracidade do relato de John, pois ainda há a
suspeita de ele foi adaptado do relato de um espanhol que passou por situação
semelhante; ou mesmo se havia de fato uma tentativa de execução por parte da tribo, já
que existe a possibilidade de que a suposta execução era somente uma encenação, parte
de um ritual nativo para testar a coragem de seus cativos15.
Entretanto, independentemente de Pocahontas ter salvado a vida de John Smith,
ela de fato salvou Jamestown. Ela foi de fundamental importância em determinadas
ocasiões, nas quais avisou os colonos de emboscadas feitas por sua tribo, negociou
alimentos em troca “bugigangas”, entre outros. Foi com sua ajuda somada à liderança
de Smith que a empresa inglesa começou a se firmar. E foi devido a sua partida que a
mesma foi à beira da ruína de novo, sendo salva novamente por uma frota de 150
colonos com provisões16.
Se há de se questionar a confiabilidade da “salvação” de John por Pocahontas,
que dirá de um suposto romance entre os dois. O que se sabe de um romance
envolvendo Pocahontas é com um colono chamado John Rolfe, com o qual conviveu
durante o período que foi feita prisioneira pelos ingleses em 161317. Apesar da
importância que Rolfe teve para a sobrevivência da Virginia – transformou a colônia
num “negócio promissor” – durante os séculos seguintes à sua morte, ele foi
gradualmente apagado da memória americana18.

14
HORWITZ, op. cit. p. 341.
15
HORWITZ, op. cit. pp. 340-41.
16
HORWITZ, op. cit. p. 342.
17
HORWITZ, op. cit. p. 349.
18
HORWITZ, op. cit. p. 353.
Figura 1: Retrato de John Smith. Fonte: <http://www.charlescity.org/natives/nat-set-johnsmith.php> Acesso em
06 de abril de 2013

Alguns dos componentes do início da colonização inglesa nos permitem pensar


em alguns elementos do imaginário europeu, tais como a alteridade e a apropriação da
memória.
Os relatos produzidos no início do século XVI mostram que o pensamento
europeu sobre o Novo Mundo era povoado por grandes expectativas relacionadas
principalmente às grandes maravilhas que a nova terra poderia oferecer. Um exemplo
clássico é a lenda de Eldorado, uma suposta cidade escondida que possuía construções
feitas de ouro maciço e tesouros inimagináveis.
Já em meados do século XVI, é possível perceber nessas narrativas uma
decadência desses referenciais maravilhosos e uma maior preocupação com uma
narrativa voltada para a exposição das vicissitudes do Novo Mundo e seus habitantes. O
novo continente continuava exótico, mas as expectativas passadas começavam a dar
lugar às experiências vividas.19 As dificuldades enfrentadas pelos ingleses de
Jamestown são em parte relatadas na “História geral da Virginia”, onde se encontram
várias narrativas feitas por vários indivíduos, com interferências de John Smith. Sua

19
VIANA, Larissa Moreira. Material de apoio didático ao Ensino de História da América. Tema: os
relatos europeus sobre os índios na América. Apresentação. Site da ANPHLAC (Associação Nacional de
Pesquisadores e Professores de História das Américas), 2011. Disponível em <
http://anphlac.org/ver_gt_apresentacao.asp?codigo=304&bloco=2&tema=43> Acesso em 6 de abril de
2013.
confiabilidade é duvidosa, pois os autores eram tendenciosos e desinformados, e
também Smith se interessava principalmente em exibir seus “feitos grandiosos”:

[...] Todos descobrimos, então, o desaparecimento do Capitão Smith, e


seus maiores detratores puderam maldizer-lhe a perda; [...] até que
tudo foi devorado; negociamos então espadas, armas, peças, ou
qualquer coisa, com os Selvagens, cujos dedos cruéis tão amiúde se
empapavam em nosso sangue que, em consequência da crueldade
deles, da indiscrição dos nossos Governadores e da perda dos nossos
navios, de quinhentos que éramos, seis meses depois da partida do
Capitão Smith, já não passávamos de sessenta homens, mulheres e
crianças, miserabilíssimas e pobríssimas criaturas [...]20

Nessa passagem dois fatores vêm a


tona: a suposta grandiosidade com que Smith
dirigia a empresa inglesa e quais as
consequências de seu afastamento; e, mais
importante, a visão negativa que os colonos
tinham dos indígenas. Na grande maioria das
vezes, os relatores condenavam os modos de
vida e costumes dos índios, mas ainda assim
se dedicavam a narrar suas especificidades,
pois viam o conhecimento como uma espécie
de ferramenta para subordinar os nativos em
diversos momentos. No relato, entregam
armas e utensílios em troca de alimentos.
Essa visão preconceituosa dos hábitos
Figura 2: Mapa da colônia da Virginia em 1606. indígenas contribuiu para que os colonos
Disponível em
<http://www.libs.uga.edu/darchive/hargrett/maps/ adotassem uma prática que perdurou durante
1776w6.jpg> Acesso em 6 de abril de 2013.
toda a colonização inglesa na América: o
repúdio à integração do índio. Ainda que em determinadas situações o universo inglês
fosse favorável à figura indígena, não se promoveu em nenhum momento um projeto de
integração. O índio permaneceu sempre estranho aos olhos europeus21.

20
SYRETT, op. cit. pp. 5-6.
21
KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI, Campinas: Editora
Contexto, Vol. 1, 2007. p. 25-69.
Ainda no tocante à opinião dos colonos a respeito dos nativos, podemos
classificar a relação amorosa de John Rolfe e Pocahontas enquanto um evento atípico,
pois quando John Rolfe, durante o auge de sua paixão por Pocahontas, escreveu uma
carta ao governador da colônia falando de seus sentimentos pela índia, o fez
considerando o perigo que isso implicava. Os ingleses consideravam a união com
nativos pagãos um grande pecado, e a exposição de seu amor por uma mulher que
descendia de um povo “bárbaro” e “maldito” poderia levar ao desprezo dos outros
colonos22.
No século XVIII, após uma consolidação das colônias inglesas, o que permitia
um número maior de intelectuais circulantes, levou a uma discussão ferrenha sobre o
que é denominado “Polêmica do Novo Mundo”, onde pensadores europeus e
americanos discutiam suas teorias sobre a natureza americana, incluso aspectos
geográficos tanto quanto dos nativos. Enquanto alguns naturalistas europeus (como De
Pauw e Buffon) pregavam a inferioridade e degeneração americanas – posteriormente,
esses autores serão refutados também por pensadores europeus – os americanos
negavam-na, e em alguns casos afirmavam o oposto: a inferioridade europeia. Muitos
americanos - incluindo Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, que se inseriram no
debate - viam seu continente com um romântico entusiasmo pela natureza. Para eles,
apenas na América, Natureza e Razão fixam em harmonia os módulos de uma
civilização mais verdadeira e humana, apenas ali floresce uma Virtude inimitável e a
promessa de um Progresso ilimitado23.
Em suma, procuramos apresentar alguns aspectos da relação entre colonos e
índios na formação de uma identidade a partir do contato. As apropriações de figuras do
passado nunca são ingênuas; têm sempre a sua intencionalidade engastada na memória.
No caso norte-americano, a figura de Pocahontas é reverenciada como um símbolo da
mãe-terra24, de quem descendem os filhos da nação. Não é por menos que várias
personalidades tentaram rastrear sua genealogia para encontrar a ancestralidade não na
Lady Rebeca, mas sim na Pocahontas. Dois casos são notáveis, sobretudo por se
tratarem de duas ex-primeiras damas: Edith Bolling Wilson e Nancy Regan. George
Bush também tentou, mas não conseguiu.

22
HORWITZ, op. cit. p. 349.
23
GERBI, Antonello, O Novo Mundo. História de uma polêmica (1750-1900). São Paulo: Companhia
das Letras, 1996. Capítulo 5: A segunda fase da polêmica.
24
MANCELOS, João de. O mito da Terra-Mãe-Deusa em The Bridge, de Harte Crane. Viseu, 1997.
BIBLIOGRAFIA

AMARAL, Arminda João de Seabra do. Visões da história e da arte em Herman


Melville: Timoleon, uma metáfora da América. Dissertação de Mestrado apresentada à
Faculdade de Letras, Universidade do Porto, 1999.

CAÑIZARES-ESGUERRA, Jorge. Como escrever a história do Novo Mundo:


historiografia, epistemologias e identidades no mundo atlântico. São Paulo: Edusp,
2011.

GERBI, Antonello. O Novo Mundo. História de uma polêmica (1750-1900). São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.

HARTOG, François. O espelho de Heródoto: ensaio sobre a representação do outro.


Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999.

HENRIQUES, Fernanda. -- «A Alteridade como Mediação Irrecusável – Uma Leitura


de Paul Ricoeur» In: http://www.filosofia.uevora.pt/fhenriques/alteridade.pdf

HORWITZ, Tony. Uma longa e estranha viagem: rotas dos exploradores norte-
americanos. Tradução Ana Deiró. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.

KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI,
Campinas: Editora Contexto, Vol. 1, 2007. p. 25-69

MANCELOS, João de Mancelos. O mito da Terra-Mãe-Deusa em The Bridge, de Hart


Crane. Máthesis. Universidade Católica Portuguesa, Viseu, 1997. pp. 141-165.

SYRETT, Harold C. (org). Documentos históricos dos Estados Unidos. Tradução


Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Editora Cultrix, 1980.

VIANA, Larissa Moreira. Material de apoio didático ao Ensino de História da América.


Tema: os relatos europeus sobre os índios na América. Apresentação. Site da
ANPHLAC (Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das
Américas), 2011. Disponível em
<http://anphlac.org/ver_gt_apresentacao.asp?codigo=304&bloco=2&tema=43> Acesso
em 6 de abril de 2013.

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