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25 a
São Luís/MA

Caderno
São Luís/MA
julho 18

Valdemir Alves Junior Nildo Manoel da Silva Ribeiro


(PROIFES-Sindicato) (APUB-Sindicato)
Diretor de Assuntos Sindicais Nilton Ferreira Brandão
Humberto José Lourenção (SINDIEDUTEC)
PROIFES - Federação de Sindicatos
(ADAFA-Sindicato) Otávio Bezerra Sampaio
de Professores e Professoras de
Diretor de Assuntos Educacionais (SINDIEDUTEC)
Instituições Federais de Ensino
das Escolas Militares Paulo Machado Mors
Superior e de Ensino Básico
(ADUFRGS-Sindical)
Técnico e Tecnológico.
CONSELHO DELIBERATIVO Pedro Alves D´Azevedo
Alexsandro Galeno Araújo Dantas (ADUFRGS-Sindical)
DIRETORIA
(ADURN-Sindicato) Raquel Nery Lima Bezerra
Nilton Brandão (SINDIEDUTEC-PR)
Amarilio Ferreira Junior (APUB-Sindicato)
Presidente e Diretor
(ADUFSCar-Sindicato) Roberto dos Santos da Silva
de Assuntos Jurídicos
Antônio Luiz Ferrari (ADAFA) (SIND-PROIFES)
Luciene Fernandes (APUB-Sindicato)
Arkley Bandeira (SIND-UFMA) Rodrigo Elias Bianchi
Vice-presidente
Daniel Christino (ADUFG-Sindicato) (ADUFSCar-Sindicato)
Gil Vicente Reis de Figueiredo
Eduardo Rolim de Oliveira Valdemir Alves Junior
(ADUFSCar-Sindicato)
(ADUFRGS-Sindical) (SIND-PROIFES)
Secretário e Diretor
Flávio Alves da Silva Vanderlei Carraro
de Políticas Educacionais
(ADUFG-Sindicato) (ADUFRGS-Sindical)
Maria do Socorro da Costa Coelho
Francisco Wellington Duarte Veridiana Brianezi Dignani de Moura
(SINDPROIFES-PA)
(ADURN-Sindicato) (ADUFG-Sindicato)
2º Secretário
Geci Jose Pereira Da Silva
Gilka Silva Pimentel
(ADUFG-Sindicato) CONSELHO FISCAL
(ADURN-Sindicato)
Gil Vicente Reis de Figueiredo Abraão Garcia Gomes (
Diretora de Comunicação e Diretora
(ADUFSCar-Sindicato) ADUFG-Sindicato)
de Assuntos Educacionais do Ensino
Gilka Silva Pimentel Auristela Felix de Oliveira Teodoro
Básico, Técnico e Tecnológico
(ADURN-Sindicato) (APUB-Sindicato)
Flávio Alves da Silva
Humberto José Lourenção (ADAFA) Ciro Bachtold (SINDIEDUTEC)
(ADUFG-Sindicato)
Jairo Alfredo Genz Bolter Dimas dos Reis Ribeiro (SIND-UFMA)
Tesoureiro e Diretor de Assuntos
(ADUFRGS-Sindical) Guilherme Augusto Spiegel Gualazzi
Educacionais do Magistério Superior
João Bosco Araújo da Costa (ADAFA)
Eduardo Rolim de Oliveira
(ADURN-Sindicato) Luam Oliveira Santos (SIND-PROIFES)
(ADUFRGS-Sindical)
Joviniano Soares de Carvalho Neto Maria Angela Fernandes Ferreira
2º Tesoureiro e Diretor
(APUB-Sindicato) (ADURN-Sindicato)
de Relações Internacionais
Luciene da Cruz Fernandes Paulo Artur Konzen Xavier
Gastão Clóvis Lima Correia
(APUB-Sindicato) de Mello Silva (ADUFRGS-Sindical)
(SindUFMA)
Maria do Socorro da Costa Coelho Renato José de Moura
Diretor de Aposentadoria
(SINDPROIFES-PA) (ADUFSCar-Sindicato)
e Previdência
EQUIPE DO XIV DO ENCONTRO DELEGADOS DE DIRETORIA
Guilherme da Silva Fernandes ЇЇ Manoel Messias Ferreira Junior - SIND-UFMA
(Comunicação - ADUFG-Sindicato) ЇЇ Humberto José Lourenção - ADAFA-Sindicato
Kalyne Menezes ЇЇ Enio Pontes de Deus- ADUFC - Sindicato
(Comunicação - ADUFG-Sindicato) ЇЇ Flávio Alves Silva - ADUFG-Sindicato
Manoela Teixeira Frade Almeida ЇЇ Vanderlei Carraro - ADUFRGS-Sindical
(Comunicação - ADUFRGS-Sindical) ЇЇ Amarilio Ferreira Junior - ADUFSCar,Sindicato
Maria Regina Milani ЇЇ Francisco Wellington Duarte - ADURN-Sindicato
(Secretariado - ADUFSCar-Sindicato) ЇЇ Luciene da Cruz Fernandes - APUB-Sindicato
Jana Beserra de Sá Vasconcelos ЇЇ Otávio Bezerra Sampaio - SINDIEDUTEC
(Comunicação - ADURN-Sindicato) ЇЇ Juliana Silva Ramires - SIND-PROIFES
Lissiany de Oliveira Silva ЇЇ Maria do Socorro da Costa Coelho - SINDPROIFES-PA
(Comunicação - ADURN-Sindicato)
Celita Martins de Castro DELEGADOS ELEITOS
(Comunicação - SIND-PROIFES) ЇЇ Marina Pelegrini- ADAFA-Sindicato
Hellan Cleytson da Silva Aureliano ЇЇ Serigne Ababacar Cissé - ADUFG-Sindicato
(Comunicação - ADURN-Sindicato) ЇЇ Romualdo Pessoa Campos Filho - ADUFG-Sindicato
Vitor Xavier Alcântara ЇЇ João Batista de Deus - ADUFG-Sindicato
(Assessor - APUB-Sindicato) ЇЇ Luis Antonio Serrão Contim- ADUFG-Sindicato
Anaíra Lôbo e Pinheiro ЇЇ Mario Ernesto Piscoya - ADUFG-Sindicato
(Comunicação - APUB-Sindicato) ЇЇ Abraão Garcia Gomes - ADUFG-Sindicato
Bruno de Vizia Ignacio Oliveira ЇЇ Paulo Machado Mors - ADUFRGS-Sindical
(Comunicação - PROIFES - Federação) ЇЇ Francisco Leandro Soares Fuchs - ADUFRGS-Sindical
Viviane Pereira de Freitas ЇЇ Pedro Alves d’Azevedo - ADUFRGS-Sindical
(Secretariado - ADURN-Sindicato) ЇЇ Lúcio Olímpio de Carvalho Vieira - ADUFRGS-Sindical
Margarethe Macedo de Souza ЇЇ Eduardo de Oliveira da Silva - - ADUFRGS-Sindical
(Secretariado - PROIFES - Federação ЇЇ Lúcia Couto Terra - ADUFRGS-Sindical
Andréa Munemassa ЇЇ Jessie Sobieski da Costa - ADUFRGS-Sindical
(Jurídico - ADURN-Sindicato) ЇЇ Maria Cristina da Silva Martins - ADUFRGS-Sindical
Rodrigo Guedes Casali ЇЇ Lúcio Hagemann - ADUFRGS-Sindical
(Jurídico - PROIFES - Federação) ЇЇ César Bastos de Mattos Vieira - ADUFRGS-Sindical
Francisco Domingos dos Santos ЇЇ Aray Miguel Feldens - ADUFRGS-Sindical
(assessor- PROIFES - Federação) ЇЇ José Antônio Salvador - ADUFSCar,Sindicato
Lucio Silva ЇЇ Ana Candida Martins Rodrigues - ADUFSCar,Sindicato
(Colaborador-SIND-UFMA) ЇЇ Matilde Alzeni dos Santos Melo - ADUFSCar,Sindicato
Javier Andres Claros Chavarria ЇЇ Thais Fernanda Leite Madeira - ADUFSCar,Sindicato
(Colaborador-SIND-UFMA) ЇЇ Ana Lúcia Brandl - ADUFSCar,Sindicato
Graciela Violeta Majluf Rossel ЇЇ Dirceu Ribeiro de Faria - ADURN-Sindicato
(Colaboradora-SIND-UFMA) ЇЇ Darlio Inacio Alves Teixeira - ADURN-Sindicato
Flávia Martins Silva ЇЇ Ruthineia Diógenes Alves U. Lins - ADURN-Sindicato
(Colaboradora-SIND-UFMA) ЇЇ Alex Reinecke de Alverga - ADURN-Sindicato
ЇЇ Isaura de França Brandão - ADURN-Sindicato
Identidade visual do Caderno de Textos ЇЇ Edna Maria da Silva - ADURN-Sindicato
Lissiany de Oliveira Silva ЇЇ Roberval Edson Pinheiro de Lima - ADURN-Sindicato
Diagramação e Proj. Gráfico do Caderno de Textos ЇЇ Joviniano Soares de Carvalho Neto - APUB-Sindicato
Vitor Gomes Pimentel ЇЇ João Augusto de Lima Rocha - APUB-Sindicato
ЇЇ Leopoldina Cachoeira Menezes - APUB-Sindicato ЇЇ Pedro Alves d´Azevedo - ADUFRGS-Sindical
ЇЇ Manoel Marcos Freire D’aguiar Neto ЇЇ Eduardo Rolim de Oliveira - ADUFRGS-Sindical
- APUB-Sindicato ЇЇ Paulo Artur Konzen Xavier de Mello Silva (CF) -
ЇЇ Silvia Lucia Ferreira - APUB-Sindicato ADUFRGS-Sindical
ЇЇ Marta Licia Teles Brito De Jesus - APUB-Sindicato ЇЇ Gil Vicente Reis de Figueiredo (CD-PROIFES) -
ЇЇ Emanuel Lins Freire Vasconcelos - APUB-Sindicato ADUFSCar,Sindicato
ЇЇ Marcos Paulo Rosa - SINDIEDUTEC ЇЇ Rodrigo Elias Bianchi (CD-PROIFES) -
ЇЇ Nilton Ferreira Brandao - SINDIEDUTEC ADUFSCar - Sindicato
ЇЇ Claudia Dell Agnolo Petry - SINDIEDUTEC ЇЇ Aluisio Finazzi Porto - ADUFSCar,Sindicato
ЇЇ Josimar Priori - SINDIEDUTEC ЇЇ Fátima Maria B. dos Santos - ADUFSCar,Sindicato
ЇЇ Adnilra Selma M. da Silva Sandeski - SINDIEDUTEC ЇЇ Marcos Antonio Sanches Vieira -
ЇЇ Dalvani Fernandes - SINDIEDUTEC ADUFSCar,Sindicato
ЇЇ Rogério Martins Marlier - SINDIEDUTEC ЇЇ Gilka Silva Pimentel - ADURN-Sindicato
ЇЇ João Alves Pacheco - SIND-PROIFES ЇЇ Raquel Nery Lima Bezerra - APUB-Sindicato
ЇЇ José Guilherme da Silva - SINDPROIFES-PA ЇЇ Nildo Manoel da Silva Ribeiro - APUB-Sindicato
ЇЇ Aluízio Fernandes Junior - SINDPROIFES-PA ЇЇ Andréa Batista de Andrade Castelo Branco -
APUB-Sindicato
OBSERVADORES ЇЇ Claudia Feio da Maia Lima - APUB-Sindicato
ЇЇ Leonardo Silva Soares - SIND-UFMA ЇЇ Helyom Rogério Reis V.da Silva Teles - APUB-Sindicato
ЇЇ Arkley Marques Bandeira - SIND-UFMA ЇЇ Mírian Sumica Carneiro Reis - APUB-Sindicato
ЇЇ Natalino Salgado Filho - SIND-UFMA ЇЇ Andréa Beatriz Hack de Goes - APUB-Sindicato
ЇЇ Gastão Clovis Lima Correia - SIND-UFMA ЇЇ Auristela Félix de Oliveira Teodoro - APUB-Sindicato
ЇЇ Dimas dos Reis Ribeiro - SIND-UFMA ЇЇ Rutildes Moreira da Fonseca - APUB-Sindicato
ЇЇ Marcos Antonio Ferreira de Araújo - SIND-UFMA ЇЇ Ciro Bachtold - SINDIEDUTEC
ЇЇ Lorena Carvalho M. de Azevedo - SIND-UFMA ЇЇ Elize Bertella - SINDIEDUTEC
ЇЇ Josefa Melo e Sousa Bentivi Andrade - SIND-UFMA ЇЇ Livia Lara Da Cruz - SINDIEDUTEC
ЇЇ Antonio Cappi Navarro - SIND-UFMA ЇЇ Rafael Gil Ferques - SINDIEDUTEC
ЇЇ Ana Paula Ribeiro de Jesus - SIND-UFMA ЇЇ Ezequiel Moura - SINDIEDUTEC
ЇЇ Cenidalva Miranda de Sousa Teixeira - SIND-UFMA ЇЇ Valdemir Alve Junior - SIND-PROIFES
ЇЇ Antonio Carlos Leal de Castro - SIND-UFMA ЇЇ Reginaldo Tadeu Soeiro de Faria - SIND-PROIFES
ЇЇ César Augustus Labre L, de Freitas - SIND-UFMA ЇЇ Wilson Erbs - APUFSC Sindical
ЇЇ Clever Luiz Fernandes - SIND-UFMA ЇЇ Valmir José Oléias - APUFSC Sindical
ЇЇ Jocelio dos Araújo Santos - SIND-UFMA ЇЇ Jovelino Falqueto - APUFSC Sindical
ЇЇ José Carlos Aragão Silva - SIND-UFMA ЇЇ Flávio da Cruz - APUFSC Sindical
ЇЇ Sandra Maria Barros Alves Melo - SIND-UFMA ЇЇ Bernardo Walmott Borges - APUFSC Sindical
ЇЇ Marcos Fábio Belo Matos - SIND-UFMA ЇЇ Nelson da Silva Aguiar - APUFSC Sindical
ЇЇ Raimundo Nonato Martins Fonseca - SIND-UFMA ЇЇ Maria Stella Brandão Goulart - APUBH Sindicato
ЇЇ Felipe Sávio Cardoso Teles Monteiro - SIND-UFMA ЇЇ Maria Rosaria Barbato - APUBH Sindicato
ЇЇ Jadir Machado Lessa - SIND-UFMA ЇЇ Ana Elisa Cruz Corrêa - APUBH Sindicato
ЇЇ Nelio Alves Guilhon - SIND-UFMA ЇЇ Mario Marcos Sampaio Rodarte - APUBH Sindicato
ЇЇ José Roberto Cardoso da Cunha - ADUFC - Sindicato ЇЇ Helder de Figueiredo e Paula - APUBH Sindicato
ЇЇ Daniel Christino - ADUFG-Sindicato ЇЇ Julianna Ferreira Cavalcanti - ADUFEPE Sindicato
ЇЇ Geovana Reis - ADUFG-Sindicato ЇЇ Fernando José do Nascimento - ADUFEPE Sindicato
ЇЇ Marley Apolinário Saraiva - ADUFG-Sindicato ЇЇ José Edeson de Melo Siqueiro - ADUFEPE Sindicato
ЇЇ Jairo Alfredo Bolter - ADUFRGS-Sindical
São Luís/MA
julho 18

TEMA 1 CONJUNTURA NACIONAL E AS 43 CIÊNCIA E TECNOLOGIA FATOR DE


PERSPECTIVAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS CONVERGÊNCIA E ESTRATÉGIA DE
EXPANSÃO
09 DESAFIOS DO NÚCLEO SINDICAL DE BASE: Luciene da Cruz Fernandes,
PROPOSTA DE APROXIMAÇÃO COM A BASE Raquel Nery Bezerra
Dalvani Fernandes, Joviniano Soares de Carvalho Neto
Thiago Augusto Divardim de Oliveira Nildo Manoel da Silva Ribeiro

15 PROIFES – FEDERAÇÃO: CAMINHOS 47 BREVE ANÁLISE DA LUTA


SINUOSOS DE UM PROJETO DE DE CLASSES NO BRASIL
DEMOCRATIZAÇÃO DO MOVIMENTO Otávio Bezerra Sampaio
DOCENTE
Francisco Wellington Duarte 51 FIM DA EC 95 E REFORMA FISCAL SOLIDÁRIA:
ELEMENTOS DE UM ENFRENTAMENTO
19 HISTÓRIA DO PROIFES EM FOCO: INEVITÁVEL
14 ANOS DE LUTA E CONQUISTAS Gil Vicente Reis de Figueiredo
Gilka Silva Pimentel
61 RESGATE HISTÓRICO DE
25 A ATIVIDADE SINDICAL DOCENTE EM MOVIMENTOS DE CAMINHONEIROS
TEMPOS DA EMENDA CONSTITUCIONAL 95: Otávio Bezerra Sampaio
TEMPO DE RADICALIZAÇÃO?
Luis Antônio Serrão Contim , TEMA 2 - OS IMPACTOS DAS REFORMAS
Luciana Silva Rocha Contim DO ESTADO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: OS
Flávio Alves da Silva DESAFIOS DO MOVIMENTO DOCENTE

31 EXPANSÃO DO PROIFES COMO NOVA 67 AS RECENTES AMEAÇAS À AUTONOMIA DOS


ALTERNATIVA SINDICAL DE RESISTÊNCIA INSTITUTOS FEDERAIS
AOS ATAQUES DO GOVERNO A EDUCAÇÃO Eduardo de Oliveira da Silva
SUPERIOR E A SOCIEDADE
Socorro Coelho 71 PELO FORTALECIMENTO DO ENSINO
MÉDIO INTEGRADO E DO TRABALHO
39 PROIFES: 2018.2 - 2019.1. DESAFIOS DOCENTE NA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO
PARA ALÉM DO HORIZONTE DE EVENTOS PROFISSIONAL CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
Lúcio Olímpio de Carvalho Vieira Adnilra Sandeski, Amarildo Magalhães
índice de textos
TEMA 3 - CAMPANHA SALARIAL, CARREIRAS E
ASSUNTOS DE APOSENTADORIA

127 PROFESSORES EM DEFESA DA


75 A FÚRIA NORMATIVA DO GOVERNO
UNIVERSIDADE E DE UM PROJETO NACIONAL
GOLPISTA,UM ATAQUE FRONTAL À
Joviniano S. de Carvalho Neto
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA
Eduardo Rolim de Oliveira
131 A REFORMA DA PREVIDÊNCIA TEM QUE
CONTINUAR NA PAUTA DERROTAMOS
83 PRECARIZAÇÃO, PRODUTIVISMO
TEMER,
E ADOECIMENTO NO TRABALHO DOCENTE
MAS NÃO GANHAMOS A GUERRA CONTRA
Josimar Prori
O MERCADO FINANCEIRO
Eduardo Rolim de Oliveira
87 FORMAÇÃO DE EDUCADORES NAS IES
PÚBLICAS AÇÃO ESTRATÉGICA DE
133 OS APOSENTADOS E O PROCESSO
INTERESSE DO MOVIMENTO DOCENTE
ELEITORAL DE 2018 LUTAS, DESAFIOS E
Raquel Nery e Marta Lícia Jesus Tales
ESTRATÉGIAS
Abraão Garcia Gomes
93 REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
137 OS SINDICATOS E OS SEUS APOSENTADOS
UM PROJETO EM XEQUE?
Freire d’Aguiar Neto, Manoel Marcos
Prof. Dr. João Alves Pacheco

139 OS DESAFIOS PARA AS PROFESSORAS DO


101 REFORMA DO ENSINO MÉDIO E BASE
EBTT DA UFSCAR
CURRICULAR NACIONALE O SEQUESTRO DA
Thais Fernanda Leite Madeira
FORMAÇÃO DAS NOSSAS JUVENTUDES
Gabriella Pizzolante da Silva
Thiago Augusto Divardim de Oliveira
Adriana M. Caram,
Elizabete dos Santos
Danitza Dianderas da Silva,
Nathalia Denari
105 OS IMPACTOS DAS REFORMAS DO
ESTADO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA:
145 NEGOCIAÇÕES DOS DOCENTES FEDERAIS:
OS DESAFIOS DO MOVIMENTO DOCENTE
CONQUISTAS DO PROIFES E PROPOSTA PARA
Enio Pontes de Deus
2019.
Gil Vicente Reis de Figueiredo
107 O PROIFES NA CRES 2018
Conselho Deliberativo do PROIFES Federação
145 REGISTRO DE PONTO PARA A CARREIRA
EBTT. MESMAS ATRIBUIÇÕES DO
MAGISTÉRIO SUPERIOR, MAS UM
TRATAMENTO DIFERENTE.
Valdemir Alves
TEMA 4 - PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
E O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO

151 DA NECESSIDADE DE UMA POLÍTICA 181 PERSPECTIVAS DO MOVIMENTO SINDICAL


DE ESTADO CONSISTENTE PARA O DOCENTE E INTERSECCIONALIDADE
FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA Luciene da Cruz Fernandes
BRASILEIRA Nildo Manoel da Silva Ribeiro
João Augusto de Lima Rocha
185 DIAGNÓSTICO DOS/DAS PROFESSORES(AS)
157 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO FILIADOS/
Isaura de França Brandão S AOS SINDICATOS FEDERADOS AO
Matilde Alzeni dos Santos PROIFES:INTERSECÇÃO ENTRE GÊNERO, RAÇA
E SEXUALIDADE GT DIREITOS HUMANOS:
161 PROPOSTAS DA CONAPE 2018 E AÇÕES GÊNERO, RAÇA/ETNICIDADE E SEXUALIDADE
CONCRETAS DO PROIFES NO PERÍODO Thais Fernanda Leite Madeira,
ELEITORAL. Luciene da Cruz Fernande
Gil Vicente Reis de Figueiredo Ângela Brito, Jessie Sobieski

TEMA 5 - DIREITOS HUMANOS E SUAS 189 CAPACITAÇÃO 130 ANOS DE ABOLIÇÃO:


PERSPECTIVAS NO MOVIMENTO SINDICAL NOSSA ABOLIÇÃO É A EDUCAÇÃO
Angela Ernestina Cardoso de Brito,
165 CAPACITAÇÃO E FORMAÇÃO Luciene da Cruz Fernandes
POLÍTICA EM DIREITOS HUMANOS Thais Madeira, Leopoldina Menezes
Angela Ernestina Cardoso de Brito, Nildo Ribeiro
Leopoldina Cachoeira Menezes
193 PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E A
169 A IMPORTÂNCIA DO GT DIREITOS UNIVERSIDADE
HUMANOS:RAÇA/ETNICIDADE, GÊNERO E Luciene da Cruz Fernandes
SEXUALIDADES NO CONTEXTO SINDICAL. Nildo Manoel da Silva Ribeiro
Juliana Silva Ramires
197 O MOVIMENTO SINDICAL NA LUTA PELOS
173 GT DIREITOS HUMANOS, RAÇA, ETNICIDADE, DIREITOS HUMANOS: POSSIBILIDADES DE
GÊNERO E SEXUALIDADES ATUAÇÃO
Juliana Melo, Livia Lara da Cruz
Oswaldo Negrão
Alex Reinecke de Alverga 201 ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO:
ENFRENTAMENTO E PROPOSIÇÕES
175 MULHERES EM ESPAÇOS DE PODER: Marcos Paulo Rosa
Thais F. L. Madeira ,
Maria Inês Rauter Mancuso
Matilde Ribeiro
tema
1
Conjuntura
Nacional e as
perspectivas
dos Movimentos
Sociais
Desafios do Núcleo
Sindical de Base:
proposta de aproximação com a base
_________________________________________________________________________________________________________________________________
DALVANI FERNANDES
IFPR/Curitiba - SINDIEDUTEC

THIAGO AUGUSTO DIVARDIM DE OLIVEIRA


IFPR/Curitiba - SINDIEDUTEC

T
razemos uma proposta que diz respeito às nossas necessidades e desafios como
trabalhadores e trabalhadoras da rede Federal de Educação Profissional, Científica
e Tecnológica. Iniciaremos apresentando uma análise da conjuntura para fundamen-
tar nossa posição e nossa proposta.

ANÁLISE DE CONJUNTURA SINDICAL


Temos entendido e defendido que os sindicatos precisam realizar esforços para se aproximar mais de
suas bases, de maneira qualitativamente crítica. Isso resulta da constatação de que, de modo geral, as
direções sindicais estão distante de suas bases. A não filiação de parte significativa dos trabalhadores
e a não aderência da massa dos sindicalizados nas atividades, lutas, atos e manifestações promovidas
pelos sindicatos é a prova prática desse distanciamento.
Esta é a evidência irrefutável de nossa realidade. A questão, portanto, é: quais as causas dessa
conjuntura? Muitas teses são levantadas e todas merecem análise material cuidadosa. Entretanto,
sem prejuízo de outras ponderações, trazemos em tela uma reflexão que consideramos importante.
Trata-se dos resquícios do ciclo sindical e político fundado numa política de conciliação de classes,
que atinge o sindicalismo diretamente. Podemos citar alguns reflexos causados pelo fluxo intenso
de dragar as lideranças para dentro do governo, provocando, dentre outros problemas: afastamento
dessas lideranças de suas bases e condução centralizada da ação sindical.
Este movimento esvaziou tanto nas direções sindicais quanto em suas bases a compreensão
da construção de uma esquerda capaz de romper com o poder de Estado para superação das rela-
ções sociais de produção vigentes. Na medida em que se fortalecia a ideia de utilizar o Estado para
administração dos problemas gerados pelo sistema, a luta sindical contribuiu para um retrocesso
das condições subjetivas1 da classe trabalhadora, ou seja, a política sindical do recente ciclo da luta
de classes no país não construiu o fortalecimento da consciência de classe e de instâncias de organi-
zação da classe trabalhadora.
Em contrapartida, o atual cenário político produzido pelo golpe institucional acirra as
condições objetivas (ou seja, essencialmente as contradições materiais desiguais) para um
avanço consistente de uma política efetivamente da classe trabalhadora. Entretanto, como
já apontado anteriormente, não se tem um avanço nessa direção exatamente por faltar às
condições subjetivas, que se configuraram como déficit do ciclo anterior.

1 Entendemos como condições subjetivas duas principais dimensões: a consciência de classe dos indivíduos e o nível
de organização desses indivíduos em torno de um programa histórico de classe

11
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

NOSSA POSIÇÃO NOSSA PROPOSTA


Diante da análise do quadro conjuntural com- Os núcleos sindicais de base tem sido uma forma
preendemos que nossa primeira diretriz é cami- de avançar com essas aproximações, e é nesse
nharmos para o fortalecimento das condições sentido que defendemos o fortalecimento dos
subjetivas. E a primeira ferramenta para essa núcleos como forma de aproximação do movi-
tarefa é a luta teórica. Trata-se de produzirmos mento sindical com a base. Afinal, os sindica-
formulações rigorosas e fundamentadas no ma- tos podem debater a carreira, as condições de
terialismo histórico e dialético. Não tergiversar trabalho, a política nacional, o financiamento e
nos princípios da compreensão da luta de classes podem ser também, um instrumento forte de
se iludindo com posições conciliatórias que, mes- organização e formação dos trabalhadores e
mo ao atender demandas imediatas dos estratos trabalhadoras. Essa aproximação é positiva
mais vulneráveis, como perspectiva histórica pro- para o sindicato, para a instituição e para a so-
longa a situação de exploração e dominação de ciedade como um todo.
toda a classe trabalhadora. Trazemos para socializar com os colegas
A formulação deve estar acompanhada da uma experiência do Núcleo Sindical de Base
formação e do estudo, pois caso contrário tende (NSB) do IFPR/Campus Curitiba, que procurou
a se encastelar e não se propagar entre os su- articular esses interesses em um curso deno-
jeitos políticos. No caso dos IF’s, avaliamos que minado: “Panoramas do Ensino Médio Técnico
professores e professoras participarão mais, es- Integrado: epistemologias, legislação e políticas”.
tarão mais próximos dos debates se os mesmos Esse curso é resultado de um trabalho coletivo.
perceberem sentido e significado para o nosso Identificamos a demanda de vários servidores
trabalho. Todos nós sabemos que as políticas sobre a necessidade de compreender as mudan-
de âmbito nacional influenciam em nosso dia ças do Ensino Médio. A partir disso submetemos
a dia, mas precisamos aproximar a discussão um projeto ao SINDIEDUTEC (nosso sindicato) e
política dos debates sobre legislação, sobre o ao COPE/IFPR (Comitê de Pesquisa e Extensão)
conhecimento, sobre as condições materiais e para atender essas necessidades a partir de um
intelectuais de trabalho, de maneira objetiva: curso de extensão. Com essa triangulação entre a
das nossas condições, planos, possibilidades e BASE – Núcleo de Base – Sindicato, conseguimos
objetivos como docentes da rede IF. E ao mes- elaborar um curso que tem sido recebido posi-
mo tempo localizar esses debates em relação às tivamente pela instituição e pela comunidade.
condições mais amplas (da sociedade). O formato “curso de extensão” foi impor-
Outra dimensão de nossa posição é a orga- tante, pois a partir dele podemos emitir cer-
nização, fruto necessário e consequente da for- tificados para a comunidade acadêmica que
mação e dos estudos, fundamentados nas for- podem ser utilizados, inclusive, na progressão
mulações. Acreditamos que esse fluxo parte da docente. O SINDIEDUTEC colaborou com o fi-
construção de consensos entre os sujeitos para nanciamento do projeto, após reunião com a
depois buscar se pôr em movimentação. Ressal- diretoria aprovaram R$ 5.000,00 para compra
tando que a organização perpassa formas asso- de passagens e estadia dos professores e pro-
ciativas que não devem se restringir à instituciona- fessoras palestrantes no curso. Para o curso
lidade sindical, embora possa ser complementar. preparamos o seguinte cronograma:
Após esse ciclo de formulação, formação,
estudo, organização avaliamos que momentos 1º ENCONTRO: 15/06/2018 - 08:30h até 12h
agitativos (paralisações, greves, ocupações, por Palestra de abertura: “Institutos Federais: bases
exemplo) poderão ter melhor qualidade e densi- epistemológicas, limites e possibilidades na
dade, pois não serão apenas participantes, mas conjuntura atual”.
sujeitos construtores desses momentos. Palestrante: Prof. Drª Marise Ramos (UERJ)

12 São Luís/MA
julho 18
 Desafios do Núcleo Sindical de Base: proposta de aproximação com a base

2º ENCONTRO: 20/06/2018 - 08:30h até 12h Mediador: Thiago Augusto Divardim de Oliveira
Roda de conversa, leitura e debate sobre os (IFPR/Curitiba)
documentos.
a) Leitura imprescindível: Lei 5154/2004, lei 7º ENCONTRO: 08/08/2018 - 08:30h até 12h
que altera as diretrizes e bases da educação Roda de conversa, leitura e debate sobre os
nacional permitindo a existência do Ensino documentos.
Técnico Integrado ao ensino médio. a) Leitura imprescindível: Concepção do ensino
b) Leitura imprescindível: Lei 11.892/2008, lei médio integrado (Marise Ramos)
de criação dos Institutos Federais. b) Leitura complementar: Projetos de
c) Leitura complementar: Documento de base reformulação do Ensino Médio e inter-
do Ensino Médio Inovador (EMI). relações com a Educação Profissional: (im)
d) Leitura complementar: Decifrar textos para possibilidades do Ensino Médio Integrado
compreender a política: subsídios teórico- (Monica Ribeiro da Silva).
metodológicos para análise de documentos.
(SHIROMA, CAMPOS e GARCIA, 2005) 8º ENCONTRO: 15/08/2018 - 08:30h até 12h
Palestra de encerramento.
3º ENCONTRO: 27/06/2018 - 08:30h até 12h Tema: “A importância da formação humana no
Palestra: “O Ensino Médio como um campo âmbito da educação profissional técnica de nível
de disputas: as políticas, seus formuladores e médio”
proposições após a LDB de 1996”. Palestrante: Prof. Drº João Celso Ferreti
Palestrante: Prof. Drª Monica Ribeiro da Silva
(UFPR) 9º ENCONTRO: 22/08/2018 - 08:30h até 12h
Roda de conversa, impressões sobre o curso,
4º ENCONTRO: 04/07/2018 - 08:30h até 12h avaliação (participação necessária para emissão
Roda de conversa, leitura e debate sobre os de certificado).
documentos.
a) Leitura imprescindível: Parecer do Conselho O objetivo geral desse curso foi realizar um
Nacional de Educação (CNE) 05/2011, levantamento de demandas dos professores do En-
Diretrizes Curriculares Nacionais para o sino Técnico Integrado ao Ensino Médio no que diz
Ensino Médio. respeito à ampliação qualitativa da compreensão
b) Leitura imprescindível: “As políticas públicas dos documentos que regem, orientam e fornecem
de educação profissional no Brasil entre diretrizes ao trabalho na Educação Profissional
2003-2014” (capítulo IV da tese de Lucas B. Científica e Tecnológica em nível Médio, assim
Pelissari). como auxiliar em uma perspectiva colaborativa não
só a compreensão do conteúdo dos documentos,
5º ENCONTRO: 24/07/2018 - 08:30h até 12h mas também a compreensão dos contextos polí-
Palestra: “Áreas do conhecimento e fragilização tico-econômicos em que foram elaborados esses
das especificidades científicas no novo contexto documentos, além disso, o curso pretende esta-
da EPCT”. belecer as relações entre o âmbito legislativo das
Convidadas: Maria Auxiliadora Moreira dos políticas da educação com os impactos na práxis
Santos Schmidt (UFPR) das relações de ensino e aprendizagem do Ensino
Técnico Integrado ao Ensino Médio, tendo como
6º ENCONTRO: 06/08/2018 - 08:30h até 12h subsídios centrais para essas análises e compre-
Mesa de debate. Tema: “Egressos e evasão no EPCT”. ensões o conhecimento científico e epistemológico
Convidados(as): Candida Santos Lima (IFPR/ no que se relaciona as ciências de maneira geral e
Curitiba) e Lucas Pelissari (IFMG) mais especificamente as ciências da educação.

São Luís/MA
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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

Atender, enquanto sindicato, as demandas sua totalidade). A práxis do homem não é ativida-
específicas da base através de um curso de for- de prática contraposta à teoria; é determinação da
mação docente é uma possibilidade de diálogo que existência humana como elaboração da realidade.”
aproxima os professores e professoras filiadas das 2
(1976, p.222). A práxis pôde ser observada em
políticas que pautam no tema educação pública e nosso curso no depoimento do prof. G. (professor
de qualidade no Brasil. Nesse sentido, para além de de Matemática com larga experiência em cursos
uma formação acadêmica pautamos nossos esfor- de engenharia em universidades particulares. En-
ços na intenção de fomentar frentes de trabalho em trou no IF em 2013). Em um de nossos encontros
uma perspectiva colaborativa para continuar com ele disse: “Eu nunca tinha enxergado a educação
as discussões dentro do campus, independente do desse jeito”, se referindo ao Ensino Médio como
envolvimento do NSB ou do sindicato. Procuramos um campo de disputas políticas e ideológicas.
instrumentalizar nossos docentes para analisarem, Quando o prof. G. fez essa fala, entendemos
interpretarem e compreenderem a documentação que é como se na, e pela práxis, ele tivesse feito um
que oferece parâmetros, orientam e dão diretrizes movimento do real ao abstrato e novamente ao
para o trabalho na Educação Básica, mais especi- real. Ou seja, da experiência dele na relação com a
ficamente a etapa do Ensino Médio e sua oferta iniciativa privada, sua entrada no IFPR, a escolha
na modalidade Técnico Integrado. de sair do privado e ficar no IFPR, ao momento
A metodologia pautada em organização de em que se debruça teoricamente para elaborar
palestras, conferências e mesas de debates com a realidade e passa por um processo de desvelar,
intelectuais que possuem pesquisas e produção tentado romper com aquilo que ele pensava como
reconhecida na área da educação com um foco realidade concreta, mas que estava na aparência,
epistemológico pautado no materialismo históri- na pseudo-concreticidade.
co e dialético, foi essencial para envolver os/as do- Entendemos, através do exemplo do prof. G.,
centes no debate político e na compreensão das que o curso pode ser um exemplo de transforma-
lutas que o sindicato e suas federações encapam. ção do processo de compreensão da realidade
Nesse sentido, compartilhamos alguns re- que se afina com a postura sindical.
sultados parciais dessa experiência. Karel Ko- Dito isso, deixamos como proposta que o
sik nos fala sobre a práxis, no livro “A dialética do PROIFES apóie e estimule esse tipo de ação de
concreto”: “A práxis na sua essência e universali- aproximação entre sindicatos e suas bases, para
dade é a revelação do segredo do homem como que tenhamos filiados e filiadas conscientes da
ser onto-criativo, como ser que cria a realidade importância de se envolverem nas lutas políticas.
(humano-social) e que, portanto, compreende a em defesa de uma educação pública, gratuita,
realidade (humana e não humana, a realidade na democrática e de qualidade.

2 KOSIK. Karel. Dialética do concreto. São Paulo; Editora Paz e Terra; 1976.

14 São Luís/MA
julho 18
PROIFES – Federação:
Caminhos Sinuosos de um
Projeto de Democratização do
Movimento Docente
_________________________________________________________________________________________________________________________________
FRANCISCO WELLINGTON DUARTE
Presidente do ADURN-Sindicato

A
Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de
Ensino Superior e de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (PROIFES-Federação),
criado em fins de 2011, completou seu sexto ano de vida em meio a uma das maiores
crises políticas da história do Brasil Republicano, e com o país mergulhado num vergonhoso
Regime de Exceção, fruto do Golpe de Maio de 2016, em que as forças mais reacionárias e
conservadoras assumiram o poder e iniciaram o desmonte de todas as políticas sociais mais
avançadas, construídas entre 2003 e 2015.
São seis anos de consolidação da Federação como representação qualificada do conjunto
de professores das universidades e institutos federais e se insere numa profunda mudança
qualitativa do papel que deve ter uma entidade que se pretenda representar os interesses
de mais de 120 mil docentes, espalhados pelo país afora e num permanente enfrentamento,
no campo da sobrevivência legal, com o Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior,
o ANDES-Sindicato que, a despeito de defender resolutamente a pluralidade sindical, desde
2008 tenta colocar obstáculos à existência da Federação e cassar os registros sindicais dos
Sindicatos que se libertaram dele e se tornaram autônomos e independentes, numa clara
contradição ao seu discurso.
Não bastasse essa luta constante contra um inimigo externo, que quer a sua extinção
como entidade sindical, o PROIFES-Federação teve e tem de enfrentar um doloroso processo
de aceitação de sua existência e de sua representação, por boa parte dos docentes, que ainda
o vê como um “aparelho petista”, muito embora um rápido olhar na estrutura da Federação e
nas suas instâncias de representação desfaça essa imagem distorcida, e, pior ainda, o desco-
nhece completamente, fruto, nesse caso, da crise de representação do movimento sindical
como um todo, que tem afetado o sindicalismo mundial desde os anos 90.
As raízes do nascimento da Federação podem ser encontradas principalmente no atro-
fiamento político que sofreu o ANDES-SN, cada vez mais alinhado às postulações da extre-
ma-esquerda que, diante da impossibilidade de criar um partido forte o suficiente para se
tornar a “vanguarda revolucionária”, optou por aparelhar as estruturas sob seu comando, entre
elas o Sindicato Nacional, rapidamente colocadas sobre a influência do trotskysmo morenis-
ta do PSTU e do seu braço no movimento social e sindical a Coordenação Nacional de Lutas
(CONLUTAS). Esse atrofiamento e radicalização do Movimento Docente se acirraram com a
chegada de Lula ao poder e de suas primeiras decisões que confrontaram os interesses dos
servidores públicos de uma maneira geral.
A criação do PROIFES-Fórum não apenas alterou a correlação de forças existentes dentro
do Movimento Docente, como mudou a forma de como se processaram as lutas seguintes. Em
2006, o PROIFES-Fórum participou da negociação que criou a Classe de Professor Associa-

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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

do, que mitigou um represamento de progressão de muita pressão, o governo retomou o processo
sofrido há mais de 20 anos pelos doutores. Em negocial em julho, aceitando parte das demandas
2007, assinou sozinho o acordo para o Magisté- da Federação e utilizando a ferramentas de con-
rio Superior (MS) que garantiu, nos três anos se- sulta eletrônica a todos os professores filiados,
guintes, uma recuperação salarial nos melhores compreendendo 43 instituições, 36 universidades
patamares em duas décadas. Esta negociação e 07 institutos federais, em um total de 5.222 pro-
recuperou, ainda, a paridade entre ativos e apo- fessores e destes 74% indicaram para a Federa-
sentados, uma reivindicação de 10 anos. ção que assinasse o acordo, o que efetivamente
No ano de 2008, assinou a criação da Carrei- foi feito, sem a presença do Sindicato Nacional,
ra de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tec- mergulhado no obscurantismo da radicalidade
nológico (EBTT), fazendo a inédita equiparação esquizofrênica da “maior de todas as greves”.
entre os professores do Ensino de 1º e 2º graus Vale ressaltar que em 2011 a Federação ob-
com os do Magistério Superior, algo que parecia teve o fim de duas gratificações (a GEMAS e a
utópico. Já em 2011, compreendendo os limites GEDBT), que foram incorporadas ao Vencimento
da ação sindical assinou, novamente respaldado Básico, melhorando as possibilidades de ganhos
por ampla consulta nacional direta, acordo emer- a partir de um piso salarial e em 2012 um acordo
gencial no qual além de reajuste de 4%, houve a de três anos, consolidando um novo tipo de ne-
incorporação da última gratificação que tínhamos gociação sobre carreiras e salários no Movimen-
no contracheque. to Docente, ao mesmo tempo que conseguiu-se
Nesse mesmo ano o Fórum optou por criar o, uma restruturação na carreira do Ensino Básico,
Sindicato dos Professores do Ensino Superior Pú- Técnico e Tecnológico (EBTT) e a criação do Pro-
blico Federal (PROIFES-Sindicato), para funcionar fessor Titular como classe, ou seja, a partir do
taticamente como um espaço em que professores mérito acadêmico.
e professoras de entidades não pertencentes ao E finalmente, já nos estertores do governo
Fórum, pudessem ser representados, o que pro- Dilma e sob forte pressão devido a recessão pa-
vocou internamente muita confusão dado o fato trocinada pela equipe econômica do Governo, o
de que o entendimento de que se formava uma PROIFES-Federação conseguiu arrancar um novo
nova entidade sindical com a mesma forma do acordo em dezembro de 2015, reestruturando a
Sindicato Nacional, poderia ressuscitar o modelo carreira do Magistério Superior em três anos e
vertical abandonado em 2004. conseguindo reajustes em 2016 e 2017, compro-
Ao mesmo tempo que criava esse “espaço vando a eficácia da tática utilizada desde 2004.
transitório”, aprovou-se a transformação do Fó- Ocorre que após mais de duas décadas sob
rum em Federação (o que viria a se concretizar a égide de um sindicato nacional verticalizado,
em 2011) e a discussão do caráter da nova Federa- em que as entidades que a compunham eram
ção acabou provocando a dissensão do APUBH- “seções sindicais”, ou seja, meras caixas de res-
-Sindicato, que deixou posteriormente o Fórum sonância do centro dirigente, cristalizou-se uma
e durantes anos tentou articular o Movimento percepção de que qualquer nova entidade que
Docente Independente e Autônomo (MDIA), uma nascesse desse movimento, teria o mesmo DNA,
operação completamente fracassada. o mesmo invólucro, o mesmo conteúdo centralista
Ao longo de todos esses anos as negociações e antidemocrático.
foram duras, geralmente longas e sempre marca- Um dos elementos que dificultaram e difi-
das por longas discussões com os representan- cultam a “aceitação” do PROIFES-Federação está
tes do governo, bastando lembrar a de 2011, que na própria informação sobre o que vem a ser uma
se arrastou durantes meses e levou o Conselho federação dentro das regras sindicais vigentes.
Deliberativo do PROIFES-FEDERAÇÃO a indicar, Na legislação que está sendo destruída pelos
em junho de 2012, greves nas suas bases, e depois golpistas de 2016, as federações são entidades

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julho 18
 A atividade sindical docente em tempos da Emenda Constitucional 95

sindicais de segundo grau, que representam a (inciso III, art. 17, Estatuto PROIFES-Federação).
maioria absoluta de um grupo de atividades ou A Federação, ao construir esse novo coletivo,
profissões idênticas, similares ou conexas. Na es- concretizou a proposta, surgida nos idos de 2004,
trutura sindical brasileira, estão entre o sindicato que era o de criar um Novo Movimento Docente.
e a confederação que representa determinada ca- A representatividade, portanto, vem do próprio
tegoria. As federações, por meio do agrupamento sindicato, livre inclusive para escolher os modelos
de sindicatos, podem coordenar os interesses de de indicação, o que enseja, na prática, discussões
suas entidades filiadas. Contudo, é importante internas que podem fortalecer a aplicação de
destacar que não possui direito de representação instrumentos democráticos mais participativos.
da categoria representada por esses sindicatos. Obviamente que uma construção absoluta-
E aqui vem o grande debate que ainda permanece mente conflitante com o modelo vigente até então,
insuficiente: o que é a Federação? em meio a pesadas disputas contra o Governo Dil-
Parece uma pergunta incoerente, mas quan- ma principalmente, provocaram críticas internas
do se observam os debates internos nos sindica- que apontavam para o velho discurso andesiano, de
tos e nos fóruns da Federação, nota-se claramente que a Direção da Federação “protegia” o governo ou
que a confusão de entendimento do que é uma Fe- que o “petismo” era a corrente dominante dentro da
deração de Sindicatos e Sindicatos está presente Federação, fazendo emergir discursos da necessi-
e interfere nos discursos e nas demandas tanto dade de retirar as principais lideranças, por serem
das direções dos sindicatos, como dos próprios “petistas” ou por terem criado um pequeno grupo
membros do Conselho Deliberativo. dirigente em torno de si e que dirigia a Federação
Talvez a dificuldade se deva a uma insuficien- a partir dos interesses “cutistas” e ou “petistas”.
te leitura nos Estatutos da federação, que mostra A realidade provou ser o contrário. As chama-
claramente que sua representação se refere aos das “velhas lideranças” na verdade expressavam
SINDICATOS, o que devolve a estes a soberania a própria realidade do Movimento Docente, que
de sua política, tolhida pela verticalidade do Sin- tendencialmente se concentram devido ao fato do
dicato Nacional, em que as deliberações do con- peso das tarefas que são entregues a esse pequeno
selho de ulemás revolucionários determinavam a grupo, disposto a sacrificar, em primeiro lugar, suas
cada sessão que se cumprisse as determinações carreiras acadêmicas na medida em que fica basi-
do “centro dirigente”, uma versão rocambolesca camente impossível cumprir as funções diretivas
tupiniquim do Angka, infalível e onipresente. da Federação e prosseguir na sua carreira docente,
Na Federação, a responsabilidade política com ensino, pesquisa, extensão e administração.
é centrada nas direções dos seus sindicatos que Consequentemente poucos estão disponíveis a
estão apenas obrigados a respeitar o Estatuto da se dedicar à Direção da Federação e as chamadas
Federação, não existindo a “ordem superior”, ou “velhas lideranças” acabaram ocupando o espaço.
seja, a construção política nasce das bases sindi- Ora, mas se o centro dirigente é o Conselho
cais, que se fortalecem no debate e fortalecem a Deliberativo, e se o Conselho Deliberativo é forma-
Federação, trazendo para esta a riqueza dos de- do por membros indicados pelos respectivos sindi-
bates que por ventura venham surgir nas bases. catos, o processo de renovação dos dirigentes não
A criação de um Conselho Deliberativo foi deve, de forma alguma, surgir a partir da Diretoria,
uma das maiores criações da Federação, na medi- mas sim dos próprios sindicatos que devem, nas
da em que democratizou o processo de discussão suas especificidades, construir e capacitar novas
política e sindical, retirando o poder da Direção de lideranças dispostas a encarar o fortalecimento
tudo decidir e tudo fazer, cabendo a esse colegia- da Federação.
do, inclusive, rever decisões tomadas pela Direto- As idas e vindas da Federação, como a saída
ria Executiva, por meio de recurso fundamentado da APUBH-Sindicato e da ADUFMS-Sindicato; da
por sindicato federado ao PROIFES-Federação saída e da entrada da ADUFC-Sindicato; da cria-

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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

ção de sindicatos fora das entidades tradicionais, ambiente cada vez mais coletivo, democrático,
como ocorreu no PA e no MA; a recente possibili- onde os debates, de todos os temas de interesses
dade de aproximação com a ADUFEPE, que pode dos docentes possam ser debatidos de maneira
ou não se concretizar numa futura filiação desta; urbana, respeitando-se o direito à divergência e
na espera da decisão da APUSFSC-Sindicato, essa tarefa deve partir do Conselho Deliberativo,
que permanece próximo à Federação mas não que pode aprofundar discussões temáticas sobre
define sua entrada, mostram que o espaço po- como construir instrumentos para melhor fazer
lítico da Federação ainda está em um processo chegar aos professores das IFES, informações so-
inicial de construção e a transição sequer pode bre o que é como funciona o PROIFES-Federação.
ser considerada como iniciada, na medida em que Num momento em que estamos vivendo
é necessário que os atuais sindicatos federados num Regime de Exceção e que os ataques fron-
passem a entender o propósito da Federação, tais aos direitos dos trabalhadores ameaçam
como um grande articulador das ações gerais dos destruir as organizações sindicais, fortalecer a
sindicatos defendendo os interesses acadêmicos, Federação é, antes de tudo, uma estratégia de
políticos, econômicos, culturais e sociais dos pro- sobrevivência da própria representação docente
fessores ativos e aposentados das Instituições que, nessa nova fase de luta, apresenta-se, tam-
Federais de Ensino Superior (IFES). bém, como defensora da universidade pública
A expansão do PROIFES-Federação deve ser federal e isso só será possível com o completo
encarada como uma tarefa a ser compartilhada engajamento de todos os sindicatos federados
por todos os sindicatos, cabendo a ele criar um num movimento de consolidação da Federação.

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julho 18
História do
Proifes em foco:
14 anos de luta e conquistas
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GILKA SILVA PIMENTEL
Vice- presidente – ADURN-Sindicato | NEI-UFRN

RESUMO
Esse texto pretende realizar uma cronologia da história do PROIFES, da origem até os
dias atuais. Iniciamos a linha de tempo a partir de 2004 quando um grupo de professo-
res, por meio de suas associações, decide criar um novo espaço sindical de organização
plural e democrática dos docentes das instituições federais de ensino superior deno-
minado Fórum de Professores das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). O
PROIFES surge como possibilidade e alternativa a um movimento docente então rígido.
Sua origem é marcada pelos princípios de pluralidade, descentralização, independência
e democracia. Para preservar a possibilidade de ter uma representação sindical que
não tivesse a característica sectária, em setembro de 2008 é criado o sindicato nacio-
nal, hoje Sindproifes. Nos anos posteriores, até os dias atuais, o PROIFES se consolida
nas mesas de negociação com o governo como interlocutor propositivo dos docentes
das IFES, capaz de negociar. Em julho de 2012 nasce o PROIFES-Federação. Nos anos
subsequentes, até os dias atuais, todas as conquistas de carreira e reajustes salariais
são assinadas e negociadas pelo PROIFES.

Palavras chave – história do PROIFES - linha de tempo – conquistas do PROIFES-Federação

E
sse texto é dedicado principalmente aos novos e jovens professores e profes-
soras que hoje fazem parte do PROIFES-Federação, por meio dos seus sindi-
catos federados, e tem também a intenção de registrar, atualizar e evidenciar
a trajetória histórica da nossa Federação, já escrita e publicada pela entidade em do-
cumentos e folders que a registram até 2012. O acordo de 2015, por exemplo, está pu-
blicado na página da entidade em forma de notícia. O objetivo deste texto é, portanto,
atualizar a cronologia das principais conquistas do PROIFES, com especial atenção
ao último acordo negociado pela Federação com o governo federal, que se desdobra
em 2018 e 2019 numa conjuntura de incertezas e dificuldades.
Este texto é, ainda, parte integrante de um projeto maior, denominado PROIFES
15 Anos, que pretende, por meio de um conjunto de ações de comunicação, destacar
a trajetória da Federação, seu crescimento, consolidação e desafios, de 2004 aos
dias atuais. Para marcar esse calendário, que se completa oficialmente em 2019, o
PROIFES realizará uma série de ações, tais como: o lançamento de um selo come-
morativo; a produção de um vídeo sobre os 15 anos; a criação de uma revista e de um
livro com a cronologia, imagens e histórias dos 15 anos do PROIFES; uma exposição
de fotos itinerante, que passará, ao longo dos próximos 15 meses, por cada um dos
sindicatos federados.

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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

A história do PROIFES-Federação se en- ЇЇ 2006 - Nesse ano o PROIFES é responsá-


trelaça entre ideias, sonhos e possibilidades na vel pela criação da classe de Associado,
construção de um novo movimento docente. No que possibilitou que professores e pro-
final da década de 1990 muitos docentes de di- fessoras doutoras, retidos na classe de
ferentes universidades não aceitavam mais o adjunto IV há mais de 20 anos, pudessem
enrijecimento do Andes Sindicato Nacional e sua fazer a progressão. Importante e subs-
incapacidade política em negociar fora da lógica tancial conquista foi á elevação dos in-
grevista. centivos à titulação em 50% e também
Neste sentido, é importante registrar que o da gratificação de incentivo à docência
PROIFES se constituiu, então, a partir dos prin- – GED para pensionistas e aposentados.
cípios de pluralidade, descentralização, indepen- ЇЇ 2007 – O PROIFES assinou sozinho o
dência e democracia. Por mais difíceis que pos- acordo que recuperou em três anos os
sam ser os embates e debates, não abrimos mão salários dos docentes nos melhores pa-
dos espaços plurais de discussão e expressão de tamares das duas últimas décadas. Me-
cada ideia, de cada associação, de cada sindicato. rece destaque a conquista da paridade
Assim, fomos nos construindo na dialética, entre ativos e aposentados que, desde
buscando romper o abismo entre teoria e prática. 1998, eram tratados de forma desigual.
Com postura propositiva, pautada na negociação ЇЇ 2008 - Criação da carreira do Ensino
e no diálogo, fomos sendo respeitados e reconhe- Básico, Técnico e Tecnológico – EBTT.
cidos entre os pares, nas mesas de negociação Vitória histórica para os antigos profes-
com o governo, em eventos nacionais e interna- sores e professoras da carreira de 1º e 2º
cionais de educação superior. graus. Foi possível pela primeira vez ter
Em julho de 2012 nasce o PROIFES – Fede- uma carreira equiparada à de Magistério
ração. Somos jovens como entidade, mas expe- Superior na estrutura e remuneração. A
rientes na capacidade política, na visão orgânica conquista da isonomia entre as carreiras
e sistêmica de pensar uma universidade pública, definitivamente marca o protagonismo
gratuita, laica e de qualidade para todos e todas do PROIFES na luta e defesa das creches,
que nela ingressarem. das Escolas de Aplicação e das Escolas
Ao longo desses 14 anos o PROIFES se es- vinculadas às universidades públicas.
tabeleceu como referência representativa dos ЇЇ 2008 - Em setembro ocorre a fundação
docentes, no conjunto do Movimento Sindical do Sindicato Nacional dos Professores
Brasileiro e Latino-americano, assim como entre do Ensino Público Federal, na cidade de
as instituições de educação espalhadas pelo país. São Paulo. A criação do sindicato nacio-
Para entender melhor esse percurso, veja- nal, hoje SIND-PROIFES, nos permitiu
mos essa breve cronologia: termos uma representação nacional dos
ЇЇ 2004 - Como reflexo de uma postura crí- docentes das IFES que não tivesse uma
tica e independente sobre o movimento característica sectária.
docente surge o Fórum de Professores ЇЇ 2010 – Percepção da necessidade de ter-
das Instituições Federais de Ensino Su- mos uma Federação que pudesse reunir
perior. os diversos sindicatos que estavam sen-
ЇЇ 2005 – Várias associações docentes se do fundados nas Universidades. Forta-
vinculam ao PROIFES Fórum. São elas: lecimento da ideia de construção de um
ADUFSCAR, ADUFMS, APUBH, ADUFR- modelo que pudesse defender nacional-
GS, ADUFG. A ADURN, ADUNB, ADU- mente as reivindicações e interesses dos
FEPE, ADUFC, SESDUF- RR oferecem docentes nas universidades federais do
apoio político. Brasil.

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 História do Proifes em foco: 14 anos de luta e conquistas

ЇЇ 2011 - Houve a Incorporação da GEMAS nhecimento de Saberes e Competências -


(MS) e GEDBT (EBTT) ao vencimento bá- CPRSC (portaria 491) e implementação do
sico. Uma importante vitória, tendo em RSC; Negociação da Lei 12.863/2013, com
vista que essas gratificações em futu- correções na carreira, atendendo à solicita-
ras conjunturas poderiam ser suprimi- ção da comunidade.
das do contracheque já que não faziam ЇЇ 2014 – Em vigência o cumprimento do acor-
parte do VB. do de 2012. Encerrando em março de 2015.
ЇЇ 2012 – Em 2 de agosto o PROIFES assinou o ЇЇ 2015 - Em 2 de dezembro o PROIFES-Fede-
termo de acordo de três anos que assegurou ração, após intensa negociação, assina um
reajustes acima da inflação, e que permitiu acordo pelo qual aceitava, como as demais
aos docentes terem uma variação em rela- entidades signatárias, o índice de reajuste
ção aos salários de 2012. De 13% a 32% em de 10,8% em dois anos, o reajuste dos be-
março de 2013; 19% a 36% em 2014; 25% a nefícios para janeiro de 2016, e uma restru-
44% em março de 2015. turação da carreira dividida em três etapas,
levando a estrutura lógica da carreira à pata-
Esse foi, sem dúvida, nenhuma um período mares mais lineares. Em uma consulta nacio-
fértil de conquistas para os docentes das IFES. nal no dia 26 de novembro de 2016, 4.262 do-
Vamos enumerá-las: centes de 125 Instituições Federais de Ensino
1. Aumento do percentual do Vencimento Bási- de todo o país votaram. Desse total, 3.739
co – VB. Maior valor total em 20 anos; votaram perfazendo um percentual de 88%
2. Redução de níveis em ambas as carreiras; No a favor da assinatura do acordo. O acordo de
MS as classes de auxiliar e assistente passam 2015 vigorou por dois anos em relação aos
a ter dois níveis. No EBBT a redução ocorreu reajustes salariais. Nesse ano os docentes
nas classes DI e DIII; das IFES obtiveram um reajuste médio su-
3. Manutenção da isonomia das duas carreiras perior ao recebido pelos demais servidores
(EBTT e MS); públicos federais, que conseguiram 15,6%,
4. Criação da classe de titular dentro da carrei- como resultado do acordo de 2012.
ra docente; ЇЇ 2016 - Vigência do acordo de reajustes sala-
5. Manutenção da promoção acelerada por ti- riais com aumento de 5,5% em agosto. Au-
tulação; mento do auxilio alimentação, assistência à
6. Criação do Reconhecimento de Saberes e saúde e assistência pré-escolar, além da Pro-
Competências – RSC para a carreira do EBTT, gressão e Promoção Funcional nas Carreiras
valorizando o trabalho e a experiência dos a partir da conclusão dos interstícios, cumpri-
docentes; dos pelo docente os necessários requisitos.
7. Instalação de um GT docente para resolver ЇЇ 2017 – Pagamento em janeiro da segunda
as pendências do termo de acordo que não parcela, de 5,0%, do reajuste salarial, e pa-
haviam sido resolvidas. gamento, em agosto, de 1/3 da primeira par-
cela da restruturação da carreira. Em 16 de
ЇЇ 2013 - Nesse ano houve a regulamentação fevereiro de 2017 a Federação entregou ao
das progressões e promoções (portaria 554) então Ministro da Educação, Mendonça Filho,
a partir das diretrizes para avaliação de de- a pauta de reivindicações dos docentes das
sempenho para fins de progressão e promo- Universidades e Institutos Federais. O docu-
ção; critérios para a promoção da classe de mento entregue solicita o Cumprimento dos
titular e serem estabelecidos pelos regula- pontos pendentes do Acordo 19/2015, firma-
mentos de cada instituição (portaria 982); do pelo PROIFES-Federação com o governo
Criação do Conselho Permanente de Reco- federal em 2015.

São Luís/MA
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21
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

retroatividade do efeito financeiro das pro-


Dentre os pontos a serem cumpridos, estão: gressões e promoções, nos termos acordados
1. Dispensa de Controle de Frequência dos pro- pelo PROIFES-Federação com o Governo Fe-
fessores do Magistério do Ensino Básico. Téc- deral.
nico e Tecnológico (EBTT) em isonomia com 11. Proposta de reajuste salarial para a negocia-
os professores do Magistério Superior (MS), ção de 2017, a vigorar em janeiro de 2018:
mediante a alteração do Decreto 1.590/1995, 12. Reajuste salarial que reponha a inflação ha-
conforme consta da Cláusula sexta do Acordo vida desde março de 2015, descontados os
19/2015. reajustes de 5,5% e 5,0%, respectivamente
2. Fim da exigência de conclusão de estágio concedidos em agosto de 2016 e janeiro de
probatório para a promoção acelerada dos 2017 conforme previstos no Acordo 19/2015.
professores que estavam na Carreira em 13. Valorização salarial adicional de 5% para os
01/03/2013; docentes em regime de Dedicação Exclusiva.
3. Reenquadramento dos professores aposen- 14. Reposição da inflação de 2018, em reajuste
tados da Classe C (adjunto) do Magistério a vigorar em janeiro de 2019, ano que se en-
Superior na Classe D (associado); cerra a reestruturação das Carreiras do MS
4. Regra de transição na Carreira do EBTT para e do EBTT, conforme Lei 13.325/2016.
compensar a mudança de 18 para 24 meses 15. Continuidade do processo de reestruturação
de interstício de progressão ou promoção; das Carreiras do MS e do EBTT. Reestrutura-
5. Adicional de difícil lotação como incentivo à ção a ser implantada a partir de 2020, visando
fixação de docentes em locais de difícil lota- os pontos já propostos pelo PROIFES-Fede-
ção; ração: a) steps constantes entre níveis de
6. Redefinição dos critérios de concessão do 5% e entre classes de 10%; b) Relação entre
auxílio-transporte; Retribuição de Titulação e Vencimento Básico
7. Criação de programas de qualificação para (RT/VB), em todos os regimes de trabalho, de
os docentes das duas carreiras; 10%, 20%, 50% e 120% para aperfeiçoados,
8. Extensão do direito ao Reconhecimento de especialistas, mestres e doutores, respecti-
Saberes e Competências (RSC) para os pro- vamente;. c) Relação entre DE e 20h de 120%.
fessores aposentados da Carreira de EBTT 16. Enquadramento para a carreira do EBTT dos
em isonomia com os ativos e implantação do professores dos ex- territórios da carreira do
RSC para os professores da Carreira do Ma- Ensino Básico Federal – EBF que ficaram de
gistério Superior, incluindo os aposentados, fora da lei 13.325/2016.
consideradas aplicáveis ao MS os parâmetros
do EBTT; ЇЇ 2018 – Pagamento, em agosto, de 1/3 da se-
9. Possibilidade dos professores do MS, a gunda parcela da restruturação da carreira.
exemplo do que ocorre com os do EBTT de Incerteza em relação ao cumprimento do
chegarem à Classe D, com denominação de pagamento dessa parcela, tendo em vista a
Professor Associado, independentemente aprovação da Emenda à Constituição (EC) 95
da Titulação. em 2016, após o golpe parlamentar, jurídico
10. Garantia da aplicação da Cláusula quarta do e midiático que afastou a presidente Dilma
Acordo 19/2015 que garantiu a retroativida- Rousseff. A EC 95 congela gastos em saúde
de dos efeitos financeiros das progressões e educação por 20 anos. De lá para cá o país
e promoções, que ainda não está sendo pra- mergulhou rapidamente em um imenso e
ticada por algumas IFE, ainda que o Art. 1º da profundo retrocesso político, social, e, so-
Lei 13.325/2016 tenha criado os Art. 13-A e bretudo, em direitos e políticas sociais. Por
15-A da Lei 12.772/2008, que garantem esta isso, o PROIFES-Federação, por meio de seu

22 São Luís/MA
julho 18
 História do Proifes em foco: 14 anos de luta e conquistas

Conselho Deliberativo, defende a revogação e os mais experientes, todas e todos que aqui
da EC 95 como uma das principais bandeiras estão é porque não desistiram de lutar.
de luta para o próximo período. Embora perplexos, estamos aqui, juntos,
ЇЇ 2019 - Em agosto, se cumprido o acordo, mesmo num tempo infeliz da nossa história em
acontecerá o pagamento de 1/3 da terceira que estamos sendo subtraídos em tenebrosas
e última parcela da restruturação da carreira. transações. Não estamos distraídos, nem dor-
mindo. Estamos alertas e ativos! Nestes e nos
Esta breve cronologia, plena de conquistas próximos 15 anos, nos próximos muitos anos,
para uma entidade ainda jovem, reflete anos de nossa luta viverá.
intensas negociações, nem sempre fáceis, ou
vitoriosas. Mas, sobretudo, reflete também a REFERÊNCIAS
disposição do PROIFES-Federação em ter o di- PROIFES-Federação. 10 anos de PROIFES. Folder.
álogo como princípio, à negociação como meio, 2014.
e a defesa dos docentes, das IFES e da educa-
ção brasileira pública, gratuita, de qualidade e PROIFES-Federação. 10 anos de renovação. 2014
socialmente referenciada como fim.
Para os próximos anos e períodos, o futuro Adurn-Sindicato. Em Foco - Cronologia
do Brasil do golpe se avizinha com muitas incer- comentada. Ed. ago.16.
tezas, confrontos e medos, que nos colocam o
desafio de ampliar a luta, manter a resistência, www.proifes.org.br. PROIFES assina acordo com
revogar os retrocessos. o governo que reestrutura salários e carreiras dos
Quero dedicar esse texto e o vídeo a todos e docentes federais. http://www.proifes.org.br/
todas nós professoras e professores que viemos noticias-proifes/proifes-assina-acordo-com-o-
para o XIV Encontro Nacional do PROIFES-Fe- governo-que-reestrutura-salarios-e-carreiras-
deração. Os novos e os antigos, os mais jovens dos-docentes-federais/.2015

São Luís/MA
julho 18
23
São Luís/MA
julho 18
A atividade sindical
docente em tempos da
Emenda Constitucional 95:
Tempo de radicalização?
_________________________________________________________________________________________________________________________________
LUIS ANTÔNIO SERRÃO CONTIM - Adufg Sindicato
LUCIANA SILVA ROCHA CONTIM - Adufg Sindicato
FLÁVIO ALVES DA SILVA - Adufg Sindicato

1 O MOVIMENTO SINDICAL DOCENTE EM


UNIVERSIDADES E INSTITUTOS FEDERAIS NO BRASIL.
O movimento sindical docente atual começa com a organização dos docentes em Associa-
ções. O associativismo foi a primeira forma de agrupamento de operários na Inglaterra, com
a Revolução Industrial, antes, o que existia eram sociedades secretas. A necessidade de uma
representação dos docentes no Brasil, que integravam o então chamado terceiro grau, fez
com que, ainda na década de 1960, antes do golpe militar de 1964, já fossem criadas as pri-
meiras Associações de Docentes, sendo o caso da Associação de Docentes da Universidade
Federal do Paraná (ADUFPR, Fundada como Associação dos Professores da Universidade do
Paraná – APUP em 1960) e a Associação dos Professores da Universidade Federal de Viçosa
(ASPUV, Fundada como APUREMG - Associação dos Professores da Universidade Rural do
Estado de Minas Gerais em 1963). Em seguida, já durante a ditadura instalada no país, outras
associações de docentes surgiram (1).
No final da década de 1970 e início dos anos 80, com a retomada das lutas e ações sociais
de trabalhadores e da sociedade civil em geral, o movimento dos trabalhadores em educa-
ção de todos os níveis de ensino avançou na sua organização, tanto no setor público como no
privado. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que passou a permitir que os
funcionários públicos pudessem se organizar em sindicatos, várias Associações de profes-
sores e técnicos-administrativos das redes públicas municipais, estaduais e federal trans-
formaram-se em sindicatos (2).
O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) é
um sindicato que representa professores de ensino superior e ensino básico, técnico e tec-
nológico no país, fundado como associação em 1981 e adquirindo o status de sindicato em
1988, atuando por meio de suas seções sindicais. Suas propostas para a universidade brasi-
leira foram construídas a partir dos problemas históricos vivenciados pela maioria dos traba-
lhadores e, em não apartar o trabalho acadêmico da realidade social, vinculando, na prática,
a luta dos docentes às lutas de outros trabalhadores, que reivindicam emprego, transporte,
moradia, terra, educação e saúde (3).
O PROIFES Federação (Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Ins-
tituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico) foi criado no
ano de 2004 como uma estrutura alternativa ao ANDES, a partir do desejo de muitos profes-
sores de Instituições Federais de Ensino Superior por uma renovação do movimento sindical
docente. O PROIFES propõe uma organização que realmente represente os interesses desses

25
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

docentes, tanto nos assuntos relativos à carreira, antipopulares começaram a ser implementadas
salário e melhores condições de trabalho, quanto no Brasil, sob a justificativa de ajustes fiscais ne-
na busca por uma educação nacional de qualida- cessários. Essas medidas abrangeram um drás-
de. O PROIFES foi determinante nas negociações tico corte em programas sociais do governo bra-
salariais e de carreira com o governo federal em sileiro, atingindo áreas essenciais como saúde,
2006, culminando no acordo de 2007, e na manu- educação e segurança pública.
tenção das negociações, firmando novo acordo O ato mais nefasto deste governo se concre-
salarial em 2012, resultando na Lei 12.863/2013, tizou com a aprovação da Emenda Constitucional
com correções na carreira. Em 2015 foi negociado (EC) 95, que congelou os gastos sociais por vinte
pelo PROIFES-Federação com o Governo Federal, anos, colocando em risco todo o Sistema Educa-
nos termos do Acordo 19/2015, que se transformou cional Brasileiro em todos os seus níveis e com-
na Lei 13.325/2016, um aumento de 10,8% em dois prometendo a aplicação do PNE (Plano Nacional
anos (2016 e 2017) e a reestruturação da carreira da Educação). “Se for cumprir todas as metas do
em 3 parcelas (2017, 2018 e 2019) para restabele- PNE é preciso chegar, em dez anos, a 10% do Pro-
cimento definitivo da lógica na tabela salarial. O duto Interno Bruto (PIB) destinados à educação.
governo até então, não negociou nenhum aumento Mas a EC 95 vai reduzir, no melhor dos cenários,
salarial para 2018 e 2019 (4). os investimentos em 25% nos próximos 10 anos, e
Como princípios norteadores de sua ação no pior cenário, cerca de 35% no mesmo período.
sindical docente, o PROIFES defende os “princí- A conclusão é a inviabilização de universidades e
pios de pluralidade, descentralização, indepen- institutos federais brasileiros se dará a curtíssi-
dência e democracia, buscando desde a sua funda- mo prazo, já a partir de 2018”, alerta o professor
ção a abertura de espaços plurais de discussão e Gil Vicente da ADUFSCAR (5).
de expressão, construindo assim uma nova forma Segundo o professor Nilton Brandão (pre-
de organização, contrária à costumeira política de sidente do PROIFES Federação), a estratégia
utilizar os docentes como massa de manobra para do governo Temer é sucatear o serviço público
objetivos partidários, e de deflagrar greves como brasileiro para favorecer a atuação do mercado
condição preliminar, não como último recurso”. privado em áreas como a Educação e a Saúde.
Com esta nova postura, adotou “uma política “Precarizam o serviço público, convencem a po-
ao mesmo tempo firme e propositiva que, sempre pulação de que ele não funciona, o que favorece
fundada na consulta democrática, levou à con- o mercado privado, que aparece como alterna-
solidação de grandes vitórias”. Adicionalmente, tiva para a população que precisa dos serviços.
o PROIFES, juntamente com entidades parcei- É preciso eleger uma bancada de deputados e
ras (CNTE, CONTEE, CAMPANHA, UNE, UBES e senadores comprometidos com a revogação da
outras), tem articulado ações junto aos poderes Emenda Constitucional 95. Sem revogá-la, a edu-
legislativo, executivo e judiciário brasileiros, com cação pública brasileira não terá futuro” (6).
o objetivo de elevar a qualidade do sistema de E não se dando por satisfeito, após a recen-
educação nacional, desde as creches, passando te “greve dos caminhoneiros”, ocorrida no fim de
pelos ensinos fundamental e médio, tecnológico, maio deste ano, o governo decidiu subsidiar parte
superior, de pós-graduação e também pela política do valor do óleo diesel no país com recursos pú-
de pesquisa científica e tecnológica no país (4). blicos, favorecendo os acionistas da Petrobrás,
resultando num desconto de R$ 0,46 por litro do
2 O GOVERNO TEMER E AS óleo diesel nas refinarias. Foi então publicada a
MEDIDAS ANTIPOPULARES. Medida Provisória 838 (MP 838), concedendo o
Após o impeachment de Dilma Russeff em 2016 desconto no diesel e retirando os recursos ne-
e a posse de Michel Temer como presidente da cessários, aproximadamente R$ 9 bilhões, prin-
república, uma série de medidas governamentais cipalmente de áreas como Educação e Saúde. A

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 A atividade sindical docente em tempos da Emenda Constitucional 95

retirada destes recursos, em prol dos acionistas e trabalho, jornadas de trabalho, igualdade de direi-
do valor de mercado da Petrobrás, principalmente tos e oportunidades e, principalmente, um estado
após o efeito devastador da EC 95, praticamente democrático que garanta uma vida digna a todos.
inviabiliza os sistemas públicos de educação e O mundo contemporâneo, em plena globali-
saúde no país nos próximos anos. zação, liberalização da economia e o retrocesso da
No cenário atual, o PROIFES tem trabalhado precarização das relações de trabalho, exige que
principalmente para entabular negociações so- sejam utilizadas estratégias sindicais inovadoras,
bre reposições salariais e de ajustes na carreira eficientes, que combatam a desregulamentação
docente, e se posicionado firmemente pela re- do trabalho e que abram o caminho a uma mudan-
vogação da EC 95 e contra as mudanças na apo- ça negociada. As iniciativas precisam partir da
sentadoria dos servidores públicos. Apesar das base, a fim de terem raízes reais. Contudo, tam-
repetidas tentativas, os esforços do PROIFES em bém precisam de um forte compromisso do topo,
entabular negociações têm esbarrado na negativa a fim de transcender a resistência à mudança e
do governo federal em negociar qualquer pauta atingir o grau de coordenação necessário para
que exija aporte de recursos públicos. intervir nas grandes empresas e para influenciar
as políticas governamentais (7).
Dentro da perspectiva da luta sindical docen-
3 ESTRATÉGIAS DE LUTA SINDICAL te por um sistema de ensino público de qualidade,
Historicamente, o movimento sindical desem- laico e democrático, a plenária da Conferência
penhou um papel crucial na luta por salários jus- Nacional Popular da Educação - Conape 2018,
tos, pela segurança e pela saúde do trabalhador, redigiu a “Carta de Belo Horizonte”. O Manifesto
por jornadas de trabalho justas, pela igualdade ressalta que a luta pela educação não pode estar
de direitos, etc. Não obstante, muitos governos desatrelada daquela em defesa da restauração
passaram a se comportar de maneira hostil aos do Estado Democrático de Direito, com o com-
sindicatos. Na década de 1980, o presidente ame- bate sem tréguas aos pesados retrocessos que
ricano Ronald Reagan enfrentou o movimento o governo federal tem impingido à educação e
dos controladores de tráfego aéreo e a primei- às áreas sociais no Brasil. No Plano de Lutas di-
ra ministra britânica Margareth Thatcher en- vulgado destaca-se, de uma forma geral, a luta
frentou fortemente a mobilização dos mineiros. contra a EC 95, o PNE como centro das políticas
A estratégia de ação destes governantes foi a públicas educacionais, dentre outras lutas comuns
criação de leis que enfraqueceram a posição dos por uma educação brasileira de qualidade, laica,
sindicatos, incluindo normas que dificultaram a re- pública e socialmente referenciada. Do ponto de
alização de greves. No Brasil, O Supremo Tribunal vista do trabalhador da educação, reafirmou-se a
Federal (STF), seguindo um caminho semelhante, luta contra a Reforma da Previdência, a Reforma
considerou legítima a possibilidade de órgãos Trabalhista, a Terceirização e todos os ataques
públicos cortarem o salário de servidores em aos direitos trabalhistas.
greve desde o início de sua paralisação, inclusive A grande questão que começa a se confi-
em instituições de ensino. gurar no cenário brasileiro da luta sindical dos
O movimento sindical enfrenta atualmente profissionais da educação é “Como podemos lu-
o desafio de preservar o essencial das suas con- tar de forma eficaz? ”. Temos verificado nos últi-
quistas do século passado e de encontrar novas mos anos um crescente desgaste do instrumento
formas de organização e de ação, adequadas para “greve” na luta sindical docente. No cenário atual,
a era da globalização e do mundo digital/virtual. podemos dizer que a greve nas universidades e
Esta questão é primordial, pois estão em jogo os institutos federais agrava a precarização do ser-
direitos fundamentais dos trabalhadores, tais viço prestado por essas instituições à sociedade,
como salários decentes, segurança e saúde no principalmente àquela porção mais carente da

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27
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

população que consegue o acesso à essas insti- O debate que se trava em algumas instân-
tuições. Na prática, a greve no cenário atual acaba cias sindicais é falso. Não se trata de negociar
significando instrumento de desmobilização da ou não com o governo de turno. Trata-se, sim, de
base e comprometimento da qualidade do serviço acumular força organizada para derrotar a polí-
prestado à população. tica antitrabalhista. Agora mais do que nunca, a
Com nossas universidades e institutos fe- unidade de ação é a arma da classe trabalhadora
derais em greve, por mais justas que sejam as para enfrentar e derrotar a ofensiva em curso.
reinvindicações das categorias, acabamos por Portanto, existe uma outra saída ou a hora é de
ajudar a reforçar as alegações de ineficiência dos radicalizar a luta com todas as forças e meios de
serviços públicos, normalmente levantadas por que dispomos? (8)
agentes do governo, interessados na privatização Agora uma provocação. O que significa a vol-
dos serviços de educação e saúde públicos. Outra ta do crescimento do ANDES-SN no cenário na-
grande dificuldade atual tem sido a mobilização cional, como, por exemplo, a eleição de diretorias
da base para atos e manifestações públicas, até ligadas ao Andes na APUBH e na ADUNB? Será
mesmo para a participação em assembleias! Na que o posicionamento mais duro e a radicalização
prática sindical, é clara a percepção da terceiri- do discurso andesino tem correspondido mais
zação da luta sindical da base para os dirigentes aos anseios de nossa base docente? Por que o
de sindicatos, lamentável realidade. Como mobi- Proifes não cresce, mesmo tendo feito e assi-
lizar a base? Como lutar eficazmente no cenário nado todos os acordos desde 2006? O Proifes
atual? Como iniciar movimentos paredistas com está na contramão do ditado popular, que diz: É
tão pouco respaldo da base? Como mobilizar, or- para frente que se anda? Por que? O Proifes vai
ganizar e legitimar a luta? continuar a reboque do Andes? Vai continuar in-
vestindo mais tempo e mais dinheiro na política
4 A FILOSOFIA DA RADICALIZAÇÃO internacional, em vez de cuidar da sua própria
SINDICAL E O CRESCIMENTO DO ANDES expansão e sobrevivência?
NO CENÁRIO NACIONAL ATUAL
A classe trabalhadora e suas organizações estão
diante da maior ofensiva do capital para eliminar 5 E O PROIFES?
direitos e conquistas duramente alcançados nas
últimas décadas. A atual ofensiva do capital tra- E agora, José?
vestido de governo tem conduzido as condições A festa acabou,
de trabalho para a era pré CLT, promulgada em a luz apagou,
1943. Os trabalhadores brasileiros estão diante o povo sumiu,
de uma brutal e desumana ofensiva para preca- a noite esfriou,
rizar as condições de trabalho e desestruturar e agora, José?
a legislação protetiva contida na CLT. e agora, você?
A atual ofensiva ocorre no momento de uma você que é sem nome,
profunda recessão no país, com o desemprego que zomba dos outros,
crescente, o que fragiliza, relativamente, a força você que faz versos,
organizada do movimento de resistência dos tra- que ama, protesta?
balhadores. Essa escalada desumanizadora, que e agora, José?
ganhou mais força com o governo Temer, opera (Carlos Drummond de Andrade)
em duas frentes básicas: eliminar os entraves
para a exploração desenfreada do capital e minar A partir da análise e das provocações apresen-
a organização sindical, via uma pretensa reforma tadas acima, colocamos como propostas à ação do
trabalhista. PROIFES Federação e dos sindicatos federados:

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 A atividade sindical docente em tempos da Emenda Constitucional 95

1. Trabalhar efetivamente na mobilização da sentados pelo chicote, ou mesmo tecer dis-


base, dos docentes, em cada universidade e cursos, notas e cartas, prevendo e analisando
instituto federal representado pelos sindi- o efeito do chicote no lombo não são estraté-
catos federados, buscando estratégias ino- gias muito efetivas. Precisamos partir para a
vadoras para tal, adaptadas a cada realidade ação, já! Ações inovadoras e efetivas!
local. Precisamos encontrar elos de ligação,
de interesse comuns, que atraia os filiados REFERÊNCIAS
para a mobilização. Um bom exemplo é a ação Maues, O (2015) O Sindicato da Educação Superior
da ADUFG contra cortes de insalubridade na e as Políticas Educacionais. Germinal: Marxismo e
UFG, UFJ e UFCat; Educação em Debate, Salvador, v. 7, n. 2, p. 252-262.
2. Buscar estratégias mais efetivas de luta da ca-
tegoria, alternativas ao movimento paredista Peixoto, M G; Petta, M C L (2018) ANDES, SINPROs
– greve – como opção “lógica”, onde possamos e CONTEE: Recuperando a história. http://
agregar mais a base e evitar desgastes e em- sinprominas.org.br/noticias/andes-sinpros-e-
bates entre o funcionalismo e a sociedade e a contee-recuperando-a-historia/
opinião pública. Um exemplo eficaz foram as
estratégias de luta da Frente dos Servidores www.andes.org.br
Federais do Estado de Goiás (FSF-GO) contra
a reforma da previdência, focado no desgaste www.proifes.org.br
da imagem de políticos favoráveis à reforma;
3. Concentrar os esforções na análise e nas estra- https://www.proifes.org.br/noticias-proifes/a-
tégias de ação dentro dos sindicatos federados ec-95-inviabilizara-a-educacao-brasileira-em-
e na conjuntura nacional, e menos na política todos-os-niveis-afirma-proifes-na-conape-2018/
internacional, que agrega muito pouco e pro-
duz poucos resultados práticos internamente; https://www.proifes.org.br/noticias-proifes/a-
4. Com a atual ineficiência da estratégia negocial educacao-publica-brasileira-nao-tera-futuro-diz-
com um governo que se nega a sentar à mesa presidente-do-proifes-sobre-a-ec-95/
e, quando o faz, é para informar que não há
negociação, o PROIFES precisa buscar uma Kloosterboer, D. (2008) Estratégias sindicais
postura mais agressiva de luta no cenário na- inovadoras. Lisboa: Instituto Ruben Rolo.
cional. Seguindo o dito popular, precisamos
“esperar pelo melhor mas nos preparar para o https://miltoncompolitica.wordpress.
pior”, precisamos encarar que a perda de mais com/2017/03/26/movimento-sindical-radicalizar-
direitos é iminente e simplesmente esperar a-luta-para-garantir-o-direito-ao-trabalho-digno/

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Expansão do Proifes
como nova alternativa
sindical de Resistência
aos ataques do governo a Educação
Superior e a Sociedade
_________________________________________________________________________________________________________________________________
SOCORRO COELHO
UFPA - Presidente - SINDPROIFES-PA

O CONTEXTO
É com satisfação que saudamos os delegados e observadores do XIV Encontro Nacional do
PROIFES Federação. Esse é um momento impar que reúne professores (as) das Instituições
Federais de Ensino Superior-IFES para debater e pensar perspectivas para as lutas do mo-
vimento docente em face do contexto de crise estrutural do Estado Brasileiro. Afirmamos
tratar-se de uma crise estrutural pelo fato das instituições, da constituição Brasileira e a so-
ciedade em geral estarem sendo atingidas pelas medidas governamentais e pelo Congresso
nacional. Politicas e leis que afetam estruturalmente a vida de toda a população brasileira,
sobretudo, com a aprovação da Emenda Constitucional 95 que congela os investimentos
na área da social por 20 anos.
A Democracia brasileira foi abalada desde a derrubada da Presidente Dilma Rousseff
pelo Congresso nacional com a quebra da à institucionalidade democrática, abrindo espaço
para que o governo Temer desferisse na população golpes em série e toda sorte de violações
aos direitos humanos. Tudo isso de comum acordo com aquele que deveria ser o guardião da
constituição; o Supremo Tribunal Federal.
Um dos mais recentes episódios é ilustrativo da postura persecutória por parte do Juiz
Sérgio Moro em relação à forma como se comportou diante do alvará de soltura do Presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva. O respeito à hierarquia e independência entre os poderes e as
instancias estão em flagrante desordem. O Brasil encontra se em Estado de Exceção. Como
que um juiz em férias de seu trabalho não sendo parte do mais do processo descumpre or-
dens superiores? Seu comportamento revela a perseguição política ao Ex- presidente e sua
postura de militante político partidário do PSDB. A postura da lava jato tem feito muitas vi-
timas, dentre elas destaco que a suicídio de LUIZ CARLOS CANCELLIER DE OLIVO, Reitor
da Universidade Federal de Santa Catarina em consequência de uma prisão midiática, injus-
ta, sem provas referente a acusações de fatos irregulares ocorridos antes da sua gestão.
O magnifico reitor CANCELLIER foi conduzido algemado à Polícia Federal, sofreu fortes
crueldades, passou por revista íntima e sem ser julgado legalmente foi vestido com roupa de
presidiário e encarcerado numa prisão de segurança máxima, conforme foi denunciado pelo
Desembargador Lédio Rosa de Andrade. Sendo afastado da função de reitor e proibido de
entrar na universidade na qual era lotado como servidor público e gestor. Fato de maior humi-
lhação e arbitrariedade. Até hoje os responsáveis pela prisão ilegal e morte não foram punidos.
Sugiro que o XIV Encontro Nacional do PROIFES Federação seja dedicado a resistência aos

31
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

ataques a Democracia Brasileira e a MEMORIA apresentando proposições e conseguindo im-


de LUIZ CARLOS CANCELLIER DE OLIVO. portantes vitorias para os docentes do Magis-
Vivemos um quadro de retrocesso político tério Superior (MS) e Educação Básica técnica e
com grotesca investidas na educação por intermé- tecnológica (EBTT), tais como a implementação
dio das Reformas que vem desconstruindo todos da carreira e da RSC respectivamente. Ser prota-
os programas sociais destinados a população ao gonista neste processo de resistência aos golpes
longo dos governos Lula e Dilma. Por mais críticas em série significa, acima de tudo se apresentar
que se tenha aos programas desse período, eles aos docentes das IFES como alternativa a partir
foram capazes de implementar políticas como da visibilidade de ações realizadas. O proifes deve
o REUNI, as cotas para negros, indígenas, desti- se apresentar como alternativa sindical na luta e
nando 50% das vagas nas universidades federais de resistência ao golpismo.
e Institutos à escola pública. O governo Temer Destaco importantes premissas que carac-
desde o golpe tem seguido a risca uma agenda de terizam a prática politica do PROIFES - Federação:
desejo do mercado financeiro internacional, cujo
objetivo é o desmonte do Estado e a criminaliza- A. PLURALISMO SINDICAL:
ção dos movimentos sociais e partido políticos, Como ações realizadas destacamos o pleno exer-
em especial o Partido dos Trabalhadores-PT. cício no cotidiano da Federação PROIFES, o Cará-
ter plural da entidade- em que a todo o momento
Qual o papel dos movimentos sociais em os membros dos sindicatos federados constroem
especial de uma Federação como o PROIFES a pluralidade tendo como base um dos objetivos
nesse contexto de alto grau de autoritarismo contidos no estatuto da entidade que afirma;
no Brasil? “Defender, intransigentemente e por princípio,
Para inicio de reflexão é importante destacar o direito a divergência e o respeito as diferen-
que cabe ao PROIFES resistir e ser forte prota- ças de ideias e opiniões” (Estatuto, Art 4º .£ II). O
gonista na luta juntamente com os movimentos exercício desse princípio tem provocado no inte-
sociais para assegurar às novas gerações, educa- rior da instancia maior da Federação (Conselho
ção de qualidade que propicie formação técnica de Dirigentes- CD) fortes debates do ponto de
e exercício da cidadania na busca pela restau- vista político e epistemológico, o que qualifica
ração da democracia brasileira, entre os quais, a a discussão proporcionando momentos de for-
autonomia didático científica que se opõe fron- mação dos membros do CD.
talmente ao projeto “escola sem partido”, como O exercício cotidiano do Pluralismo Sindi-
se a educação como diz o saudoso Paulo Freire cal do PROIFES é árduo, mas o consenso dentro
não fosse um “ato político”. da federação é perseguido constantemente.
É falso o discurso dos autores do projeto “es- Esse princípio ajuda para que os sindicatos
cola sem partido” de que a educação está isenta federados dentro das IFES sejam de todos os
de influência política, esta é uma forma eficiente professores (as) e não apenas de docentes de
de colocá-la a serviço dos interesses partidários filiação a determinado partido político. Essa
o que é incorreto, pois retira da escola a possibili- postura na prática sindical marca um dos di-
dade dos docentes trabalharem diferentes abor- ferenciais dos filiados do PROIFES de vários
dagens e concepções dos conteúdos curriculares. outros sindicalistas que fazem do sindicato
A educação não é neutra. “correia de transmissão” de partidos (os) . Como
É neste contexto que creditamos ao PROI- consequência dessa prática se observa o aban-
FES a responsabilidade de interlocutor importan- dono pela categoria docente. A falta de trans-
te do segmento de docentes do ensino superior parência na gestão desses sindicatos sobre os
uma vez que ao longo de uma década e meia acu- recursos arrecadados e aplicados são exem-
mulou a experiência de dialogar com governos, plos de muitas criticas dos docentes.

32 São Luís/MA
julho 18
 Expansão do Proifes como nova alternativa sindical de resistência

Ao defender a descentralização, indepen- Estaduais e nas próprias CONAEs já realizadas


dência e autonomia dos sindicatos federados, o ao longo da existência da Federação. Os filiados
PROIFES abriu espaços democráticos de discus- do PROIFES estiveram como palestrantes em
são como meio de exercício da pluralidade inau- Conferencias locais, nacional de educação contri-
gurando uma nova forma organizativa no interior buindo como intelectuais em todos os níveis de
do movimento sindical. Desta forma, a Federação ensino, apresentando artigos, fruto do amadure-
na prática combate o uso de sindicatos para fins cimento teórico no interior do GT educação e em
partidários, a banalização do mais nobre instru- seus grupos de pesquisa no interior das Universi-
mento de lutas dos trabalhadores (as) que é a dades e Institutos Federais. É nos GTs onde são
greve e a falta de transparência nas receitas e produzidos estudos, projetos de pesquisas e pa-
despesas do sindicato. receres referentes aos temas que necessitamos
Neste sentido, o conselho fiscal do PROIFES de aprofundamento para subsidiar a posição, as
Federação é formado por professores (as) que ações e argumentos da entidade. Sem sombra de
tem orientado a entidade na gestão dos recursos dúvida, é possível afirmar, que temos um quadro
recebidos no sentido de fornecer diretrizes sobre de importantes intelectuais dentro da Federação
o melhor caminho para manter a transparência e que além do trabalho acadêmico realizado, sem
registro político e técnico do investimento na luta carga horária para militar nos sindicatos estão a
sindical aplicado. disposição de cuidar da categoria docente e se
colocar organicamente a serviço da construção
B GRUPOS DE TRABALHO- GT: de uma sociedade que ofereça bem estar, saúde
É uma das ações que consideramos mais relevan- e educação á população.
te da Federação. Tem projetado o PROIFES inter- Isso não significa dizer que outros trabalha-
nacionalmente como o ocorrido na Conferencia dores não tenham condições de produzir estudos
Regional de Ensino Superior – CRES 2018, onde que a Federação tem apresentado ao movimento
teve atuação positiva com uma bancada de quase social em geral. A capacidade elaborativa e anun-
30 docentes presentes em todos os eixos da re- cio de conhecimento novo, não é prerrogativa só
ferida conferencia. É importante destacar, que o daqueles quem estão nas universidades e institu-
GT educação teve forte atuação na preparação da tos de pesquisa. Como afirma Gramsci,
bancada do PROIFES para participar do evento, a Todos os homens são intelectuais, poder-
direção da Federação dedicou um dia da pauta de se-ia dizer então: mas nem todos os
reunião do CD para que a bancada do PROIFES em homens desempenham na sociedade a
função de intelectuais.Quando se distingue
Córdoba Argentina- pais que sediou a CRES 2018,
entre intelectuais e não intelectuais, faz –
tivesse preparação técnica e política para que, se referencia, na realidade, tão- somente
da melhor forma representasse os docentes da á imediata função social da categoria
carreira do Magistério Superior e EBTT na maior profissional dos intelectuais, isto é, leva-se
em conta a direção sobre a qual incide o peso
conferencia de educação da América Latina. Esse
maior da atividade profissional específica, se
momento de estudos se constitui espaços de for- na elaboração intelectual ou se no esforço
mação politica e técnica que a Federação oferta muscular – nervoso. (GRAMSCI: 1988, P.07).
aos seus filiados. Tais ações projetaram o PROI-
FES por intermédio da atuação de qualidade de Ao destacarmos essa ação dos GTs da Fe-
seus representantes nas audiências públicas, deração, afirmamos que além da qualidade téc-
nos seminários e em diversos eixos temáticos, nica e política, o PROIFES possibilita sua apro-
em especial, na educação. O PROIFES cumpriu ximação com os novos e jovens docentes, em
importante papel no Fórum Nacional de Educa- especial os recém ingressos, fruto do REUNI.
ção- FNE, na Conferencia Popular de Educação- Essa é uma das marcas bastante positiva da
CONAPE e em todas as Conferencias Municipais, nossa Federação.

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33
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

C. ATUAÇÃO NO CONGRESSO: tares”. Foram inúmeras reuniões em gabinetes


DIALOGO COM PARLAMENTARES de parlamentares. A cada parlamentar visitado
Ao assumir a presidência da República Brasileira, o PROIFES entregava um documento específico
Temer e seus aliados no congresso desferiram á solicitando que os parlamentares não votassem
população Brasileira uma série de golpes que atin- na Reforma da Previdência e que defendessem a
giram a estrutura do Estado. Em menos de um ano, Universidade a Educação Pública.
importantes programas sociais e a Constituição Essa ação foi de grande aprendizado, uma
Brasileira foram extintos ou sofreram grosseiras vez que na prática era perceptível quais os parla-
modificações. No caso da Educação houve em mentares que tinham um mandato voltado para a
poucos meses de presidência a Dissolução do FNE população, de respeito aos direitos do cidadão e
do qual foram banidas importantes entidades, compromisso com o desenvolvimento da nação.
entre elas o PROIFES e associações científicas. Neste sentido, Rios e Peluso da Universidade
O ensino Médio de forma autoritária e a revelia de Sarmiento ao falar da meritocracia na
Universidade e a importância da mesma na
das Secretarias de Estado de Educação foi Re-
formação de potencial técnico para o mundo
formado, apresentação do Projeto Escola sem do trabalho destacam,El poder, la riqueza
Partido, a Reforma da previdência que acaba com y la fuerza de uma nácion dependen de la
aposentadoria, destacando que trabalhadores da capacidade industrial,, moral e intelectual
de los indivíduos que la componen; y la
iniciativa privada sofreram o duro golpe que elimi-
educación pública no debe tener outro fin
nou a Consolidação da Leis Trabalhistas-CLT, em que el aumentar estas fuerzas de producción,
uma clara demonstração pela elite internacional de acción y de dirección, aumentando cada vez
e nacional que a formação intelectual do cidadão, más el número de indivíduos que las poscan.
(Rios & Peluso: 2018 p.05).
ofertada pelas organizações educativas públicas
como um direito universal chegava ao fim. As ações no congresso deram visibilidade
O ano de 2017 foi de resistências e mobili- ao PROIFES Federação nas universidades e Ins-
zações das quais o PROIFES e sindicatos fede- titutos, assim como, credibilidade junto aos parla-
rados deliberaram por atuar em duas frentes de mentares que fazem parte da “Frente Parlamentar
batalhas. Nas ruas e no congresso abordando os Mista em Defesa da Previdência”. A comunidade
parlamentares não só em Brasília, más em suas acadêmica percebeu a grande atuação da Fede-
bases eleitorais em todos os Estados da fede- ração na Câmara de Deputados e Senadores, que
ração brasileira. somada à luta dos movimentos sociais e Centrais
As atividades no congresso referente às Sindicais fizeram com que o governo suspendesse
audiências públicas foram frutos de importan- a votação da Reforma da Previdência.
tes articulações do PROIFES com lideranças de Destacamos que a deliberação do CD do
bancadas dos parlamentares no congresso. É PROIFES do dia 26 de janeiro de 2018 em forta-
importante destacar que em muitos momentos lecer todos os movimentos de resistência aos
estivemos sozinhos como entidade neste traba- cortes dos direitos e em defesa da democracia,
lho, em função de vários sindicatos entenderem com ações nas ruas e no Congresso foi acertada
que era perda de tempo e recursos financeiros e teve reconhecimento entre os filiados e simpa-
conversar com quem já estava vendido em troca tizantes da Federação.
de emendas parlamentares liberadas pelo presi- Estamos na metade do ano de 2018 e o que se
dente Temer. A visão de que o parlamento é um observa é a continuidade de golpes atrás de golpe
espaço importante de poder onde é decidido contra o povo. A Federação já definiu no seu CD a
a vida da nação, contribuiu para que de forma luta pela revogação da Emenda Constitucional 95.
consensual os sindicatos federados ao PROIFES A Federação produziu estudos demonstrativos
estivessem em Brasília várias vezes em ações das graves consequências da referida Emenda e
denominadas “corpo a corpo com os parlamen- danos à população por 20 anos em que perdurar a

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 Expansão do Proifes como nova alternativa sindical de resistência

emenda do teto. É necessário continuar debaten- sulta aos seus filiados. A consulta eletrônica tem
do nas IFES o seu conteúdo, assim como ajudar a previsão estatutária. É utilizada em quase todos
população entender da necessidade de renovação os sindicatos da Federação. Não anula em alguns
de parlamentares no próximo pleito eleitoral que casos, a consulta em urna presencial. Às vezes sua
se avizinha. Nossa Federação é apartidária, más apuração é realizada em assembleia geral onde
não é apolítica. Como servidores públicos temos coroa o resultado do pleito em clara demons-
o dever de nos preocupar em eleger parlamenta- tração de garantia da participação de todos (as)
res que defendam os interesses da população, filiados (as) estando os mesmos na universidade
em especial se comprometam com a revogação onde é lotado ou em qualquer lugar do mundo em
da emenda 95. que o professor esteja. A ADUFRGS, a ADURN é
Um dos mais recentes medidas foi à publica- um exemplo bem sucedido dessa atividade sendo
ção de portarias e notas técnicas (NT), como a nº rotineira entre seus filiados. Essa ação caracteri-
2556 referente à Progressão e Promoção dos do- za o PROIFES Federação como uma alternativa
centes que altera os procedimentos processuais sindical conectada com as mudanças sociais e
de solicitação de progressão funcional, inclusive tecnológicas. A mídia digital está presente no
impedindo progressão por titulação com a ata de cotidiano da sociedade e seu uso tem ajudado na
defesa de dissertação ou tese. Outra medida que resolução de problemas. A mídia digital ajuda a
afronta a autonomia universitária foi a portaria aproximar e mobilizar as pessoas, sem obstante
nº 193/2018 expedida pelo Ministério do Planeja- abdicar da mobilização na rua.
mento que permite o remanejamento obrigatório O perfil docente jovem oriundo da política
de servidores Federais com objetivo de racionali- REUNE usa com destreza as redes sociais, criando
zar a gestão pública. Todos esses ataques foram aplicativos, simulando experimentos comparti-
coroados pela apresentação no congresso da Lei lhados para debates em grupos de pesquisas de
de Diretrizes orçamentárias- LDO que entre ou- instituições estrangeiras de forma simultânea,
tros prejuízos proibia o reajuste salarial de ser- esse docente recebe muito bem o PROIFES Fe-
vidores e criação de cargos e concursos. deração alegando o caráter inovador de sua prá-
A pressão durante a votação da LDO/2019 tica sindical.
teve importante atuação do PROIFES com as Quem faz criticas ao PROIFES sobre a utili-
demais entidades percorrendo o congresso para zação de urna eletrônica em consultas aos seus
conversar com lideranças das bancadas dos par- filiados, esquece as bancas de defesas de disser-
tidos de oposição ao governo, chamando atenção tações e teses realizadas com presença de mem-
para votação da LDO e os prejuízos causados ao bros online, atuam em cursos que oferecem for-
serviço público. mação a distancia sem nenhum questionamento.
A Federação PROIFES em conjunto com os Ressaltamos que todos os acordos assina-
movimentos sociais obteve vitória no congresso, dos sobre reajuste salarial e carreira do PROIFES
na medida em que foi retirado do texto o artigo com o governo foram primeiramente apresenta-
que proibia o reajuste salarial e a contratação dos e debatidos com seus sindicatos filiados, em
de novos servidores. Tal contexto comprova o seguida submetidos à votação por intermédio de
protagonismo do PROIFES e sua experiência no urna eletrônica sendo amplamente referendados
diálogo com parlamentares e com governos. Esse com toda lisura que o pleito exige.
protagonismo nos fez conquistar a reestruturação
da carreira negociada no acordo de 2015. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSIÇÕES
A situação politica brasileira é grave, vivemos sob
D. CONSULTA ELETRÔNICA a ditadura das togas, o amanhã é incerto, inclusive
É uma das formas mais interativa, rápida, preo- pode nem haver eleições “livres” para presidente.
cupada com o meio ambiente e inclusiva de con- Os movimentos sociais devem está preparados

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35
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

para qualquer novidade nesse sentido na medida res. Essa baixa votação sugere espaços para ser
em que um representante das elites e do capi- ocupados pelo PROIFES Federação uma vez que
tal financeiro não consolide como candidatura os filiados dos ANDES não atenderam o chamado
forte para se contrapor a forte candidatura do nem da oposição e nem da situação, em uma clara
preso político Lula. Esse campo de incertezas demonstração que esses não os representam.
abre caminho para a construção de narrativas A Federal do Amazonas é a segunda maior
que possibilitem o esclarecendo sobre os ataques AD do ANDES e onde concentram os agressores
aos direitos adquiridos e exercendo o papel pe- do PROIFES mais ferinos, perdendo apenas para
dagógico que cabe ao sindicato. Esclarecer seus a Federal do Pará em termos de ataques a nossa
filiados sobre seus direitos, deveres é compromis- Federação. Em ambos os casos é onde a ANDES
so social com o país. Para tanto, apresentamos mantem uma média de 250 militantes fieis a enti-
duas proposições que o Encontro Nacional deve dade e registra a maior participação de votantes
analisar com carinho. da região Norte( 28,05%). Se trabalharmos com
Expandir suas ações a outras regiões e insti- a hipótese de que 60% desses votantes sejam
tuições onde os docentes das IFES estão órfãos. aposentados, cabe ao PROIFES ter uma política
As eleições para o ANDES demostrou o grau de para os docentes recém-ingressos nas IFES nessa
descrédito que essa entidade vem recebendo de região. Destacando que existe na IFES da região
seus filiados. Chamo atenção para o quadro abaixo Norte uma parcela significativa do quadro docen-
contendo o ultimo resultado eleitoral dessa en- te oriundos da região sul e sudeste do Brasil que
tidade na região Norte e no Acre, dos quase 500 migraram em busca de oportunidades do empre-
filiados compareceram apenas 15,23% dos eleito- go ofertados as IFES por intermédio do REUNI.

QUADRO Nº 01-ELEIÇÕES PARA DIRETORIA DO ANDES-SN BIÊNIO 2018/2020


Nº de
Regional Norte I Chapa 1 % Chapa 2 % Brancos Nulo Votantes
Eleitor
ADUFAC 499 62 81.58% 10 13,16 2 2 76
ADUA 912 204 79,69% 45 17,58 6 1 258
SIND-UEA 275 33 78,57% 8 19,05 0 1 42
SESDUF-RR 441 78 74,29% 24 22,86 1 2 105
ADUNIR 258 80 71,43% 25 22,32 5 2 112
TOTAL 2.385 457 77,33% 112 18,95% 14 8 581
FONTE: ANDES 2018

Observando a tabela Norte II do mapa elei- de atenção da ADUFPA tenha provocado uma
toral, observa-se que foi onde houve mais per- cisão, da mesma forma, precisamos saber como
das para a ANDES. A entidade não evoluiu em está à atuação do SINASEFE no Instituto Federal
termos de filiação, pelo contrário, houve queda local. Nossa sugestão é que a nossa Federação
vertiginosa no número de filiados na ADUFPA e concentre os olhos para a região do Tapajós e
UFRA, sem contar que é um território importan- Alter do Chão, no estado do Pará em termos de
te do ANDES localizado em Santarém - primei- ampliação das bases da Federação nessa região.
ro campus Universitário da UFPA no interior do No caso da UFPA o resultado estava na nossa
estado que foi transformado em Universidade. previsão, pois Influenciamos fortemente para desfi-
A UFOPA, estranhamente não aparece no mapa liação em torno de 300 docentes, mesmo com ações
de apuração. Tal situação precisa ser investigada. ainda tímida, mas o pleito é revelador de que apesar
Trata-se de uma instituição com grande número de uma campanha festiva e bem mobilizada propor-
de docentes afastada da capital há tres dias de cionada pelas duas chapas, os filiados não se viram
barco. É possível que a distância, somado a falta representados para votar em nenhuma das duas.

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 Expansão do Proifes como nova alternativa sindical de resistência

A parti desse panorama de baixa votação e A própria oposição não foi reconhecida como
adesão dos docentes nesse Pleito eleitoral, con- RENOVAÇÃO em função de laços estreitos com a
sideramos importante inferir sobre os desafio e atual direção. O resultado foi à ausência dos filia-
possibilidades relativas a expansão do PROIFES dos no processo eleitoral, tendo comparecido nas
Federação na região Norte: urnas 26,43% dos filiados. A chapa 01 cuja direção
está há 13 anos obteve 258 votos e os RENOVADOS
A)  A ADUFPA com toda máquina de duas centrais obtiveram 98
padece de descredito com uma receita de 93.570 votos. Comparativamente 10 votos a mais dos dois
divulgada no calor do pleito eleitoral não tem re- professores do SINDPROIFES-PA eleitos como
torno para o filiado. O atendimento ao docente delegados ao XIV Encontro Nacional da federação.
limita-se a um espaço de três salas nas depen- Acreditamos que o SINDPROIFES-PA tem campo
dências da UFPA. Ao longo dos mais de 30 anos fértil para consolidar o PROIFES no estado e aju-
de existência, possuem apenas uma casa própria dar na expansão em toda região. Vamos trabalhar
adquirida há 04 anos cuja finalidade e localização para fazer uma ampla campanha de filiação para ter
os filiados desconhecem. A oposição acusa essa nossa própria receita e contribuir com a Federação,
direção partidária de ter financiado a eleição de se tornando um abraço organizativo da categoria
quatro parlamentares. docente do ensino superior no Norte do Brasil.

QUADRO Nº 02-ELEIÇÕES PARA DIRETORIA DO ANDES-SN BIÊNIO 2018/2020


Regional Nº de
Chapa 1 % Chapa 2 % Brancos Nulo Votantes
Norte II Eleitor
ADUFPA 1.381 258 70.68 98 26,85 2 7 365
ADUFRA 84 9 56,25 6 37,50 1 0 16
SINDUEPA 130 29 67,44 14 32,56 0 0 43
SINDUFAP 214 56 61,54 33 36,26 2 0 91
SINDUNIFESSPA 103 44 69,84 16 25,40 2 1 63
TOTAL 1.912 396 68,51 167 28,89 7 8 578
FONTE: ANDES 2018

B) PERFIL DOS DOCENTES RECÉM- po grande de recém-professores (as) atuando em


INGRESSOS NAS IFES: todos os campi da capital e interior. O que pensam
Expandir, crescer a Federação exige saber para esses docentes da sobre Universidade? Sobre
onde e conhecer o alvo dessa expansão. No caso organização sindical? Carreira docente? Con-
da região Norte a política do REUNI foi altamente cepção de Universidade? Cultura? Seus hábitos,
combatida pelo ANDES. É nessa região que os dificuldades vivenciadas no cotidiano da carreira
ataques mais veementes aconteceram inclusive docente? Desconhecemos.
com registro de manifestações da entidade do- Sugerimos um pesquisa da federação a ser
cente e parcela da direção do DCE UFPA. Ao ser realizada nos sindicatos federados com objeti-
aprovada a proposta pelo Conselho superior da vo de colher o perfil do docente recém ingres-
UFPA os concursos e propostas pedagógicas de so nas IFES. Conhece-los (as) e de fundamental
curso foram viabilizados. A partir da publicação importância para a federação pensar a política
dos editais a instituição em especial no interior de filiação desses docentes a partir de suas es-
expandiu suas atividades tendo a frente um gru- pecificidades.

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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

REFERÊNCIAS a 100 años de la Reforma. Volumen 1. Buenos


GRAMCI. A. Os Intelectuais e a Organização Aires. Argentina 2018.
da Cultura. Tradução Carlos Nelson Coutinho,
1989. RJ. PROIFES. F. Pressão do PROIFES impede
proibição de reajuste a servidores na LDO 2019.
RIOS,L. & PELUSO, N. Meritocracia: Y e la Disponível em www.proifes.org.br/noticias-
Universidad, Qué? In Instituto de Estudios proifes. Acesso em 14 de julho de 2018 as
Y Capacitación, Federaçión Nacional de 3h.35min.
Docentes Universitários. La universidad hoy,

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Proifes:
2018.2 - 2019.1
Desafios para além do horizonte de eventos
_________________________________________________________________________________________________________________________________
LÚCIO OLÍMPIO DE CARVALHO VIEIRA
Vice-presidente da ADUFRGS-sindical
IFRS – Campus Porto Alegre

F
aremos este encontro em momento extremamente difícil. Vivemos numa profunda
crise política, por conta de um governo que perdeu toda a credibilidade, uma crise
econômica e social geradora de desemprego decorrentes de erros sucessivos, espe-
cialmente por falta de projetos de desenvolvimento para o país que alterassem a estrutura
produtiva, redefinisse o modal de transporte, modificasse o sistema tributário, tornando-o
mais justo socialmente e promovesse uma profunda reforma político-partidária.
Será nessa conjuntura que devemos aprovar um conjunto de propostas que sejam ca-
pazes de fazer avançar nossas lutas em defesa da democracia, da educação, das instituições
federais de ensino, em defesa do trabalho docente valorizado, dando continuidade ao apri-
moramento da nossa carreira, defendendo a reposição das perdas inflacionárias acumuladas
nos últimos anos e reforçando a autonomia das IFEs.
Devemos, igualmente, nos irmanarmos com todos os setores sociais em defesa do cum-
primento das metas previstas no Plano Nacional da Educação. Cerrarmos fileiras na luta pela
revogação da Emenda Constitucional 95, que congela os recursos destinados às áreas sociais
(saúde, educação, seguridade social). Desencadearmos campanha pela eleição de deputados
e senadores comprometidos com essas causas.
Será necessário reafirmarmos nossa posição contra a reforma da previdência que pre-
judica aqueles que trabalharam e contribuíram para a previdência social e tem o direito a uma
aposentadoria digna.
Qualquer se seja governo que venha a ser eleito o movimento sindical deve manter-se
independente e mobilizado. Não podemos nos confundir com partidos políticos. Devemos
continuar nossa luta em defesa de um estado democrático, soberano e contra a corrupção.  
Esta mensagem foi apresentada aos professores filiados à Adufrgs no chamamento
à votação para delegado a este IV Encontro Nacional. A proposição geral foi aprovada. A
questão a partir de agora será a materialização das lutas. Como, neste cenário difícil, fazer
prevalecer os interesses sociais frente aos distintos interesses corporativos e às particula-
ridades político-partidárias?
As eleições que se avizinham pautam inevitavelmente este segundo semestre, exata-
mente neste momento em que realizamos este Encontro. Está evidente o tensionamento
que verificamos de buscar alinhar objetivos sindicais aos interesses político-partidários
mais imediatos. O risco de uma decisão desta natureza é, mais uma vez, perdermos a noção
da luta mais ampla pela transformação da sociedade, reforçando a visão ingênua de que nes-
te momento, qualquer projeto nacional progressista passa por uma única alternativa. Não
fosse o fato de que grande parte dos problemas que vivenciamos hoje são decorrentes de
erros perpetrados por estes mesmos atores (e não faltarão explicações para justifica-los

39
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

enquanto faltarão o reconhecimentos dos erros Ao mesmo tempo, o fato de atuarmos


e desvios), assim como a replicação neste evento nestes dois últimos anos, em situação ex-
de diretrizes fundadas em avaliações limitadas tremamente difícil dificultando em muito as
poderá provocar a estagnação da nossa ação reivindicações salariais, soubemos manter as
sindical – colocando-a num primeiro momento na mobilizações em torno das questões referen-
expectativa de resultados eleitorais favoráveis tes a defesa da educação em geral das IFEs
e, em segundo momento, independentemente especificamente. A defesa das condições de
dos resultados, reféns deles, reproduzindo-os trabalho incluindo o combate às diferentes
aos erros passados. O essencial será pautar- formas de discriminação, permitiu uma maior
mos nossa luta de sorte à unir os diferentes aproximação com diferentes setores dos
sentimentos políticos que tenham como fator professores que vinha se mantendo aparta-
central, no plano geral, a defesa da democracia, dos das atividades sindicais por não identi-
do estado de direito, do reforço às instituições ficarem nas pautas as suas reivindicações.
democráticas, do revogação da EC 95, da defesa Os GTs de educação e de direitos humanos
do Plano Nacional de Educação, do ensino pú- são exemplos de movimentos que fizemos
blico e gratuito, como dever do estado, como acertadamente.
bem social e direito humano, em todos os níveis, Frente ao quadro atual algumas propos-
garantindo a sua qualidade. tas de ação:
Certamente não podemos nos furtar de
orientar as ações políticas a serem impetra- PROPOSTAS DE AÇÃO
das pelos sindicados federados e por outros No plano político geral
que nos apoiam. Isto significa apresentar um 1. Orientar o voto em candidatos identificados
Programa de Ação, a partir deste evento, que com a defesa da democracia, revogação da EC
inclua, no plano imediato a defesa da eleição de 95 e defesa do PNE, da educação como bem
deputados e senadores comprometidos com a público, direito humano, gratuita, de qualidade
defesa das nossas lutas (no campo das nossas e de responsabilidade do estado.
lutas específicas da defesa do PNE pela revo- Ações:
gação da EC 95). ЇЇ Participar e promover eventos que defen-
Para que tais decisões tenham o poder de dam esta posição.
influenciar a sociedade será necessário que ЇЇ Articular com outras entidades atos que
nossa federação se torne ainda mais represen- convirjam para estas bandeiras.
tativa e forte politicamente.
Isso implica em reconhecer que o que vem No plano geral sindical
viabilizando o Proifes, como entidade sindical, 1. Reforçar nossas alianças com as entidades ge-
é seu caráter plural dentro do campo demo- rais de representação de professores (CNTE,
crático e de defesa da educação nos marcos CONTEE) e, nos estados, com as suas asso-
anteriormente descritos. Esta pluralidade se ciadas.
materializou na estrutura interna da nossa fede- 32 Reforçar a nossas relações com as entida-
ração, que refutou o modelo partidarizado das des de representação nacionais de reitores
direções tradicionais que hoje orientam a maio- das universidades e institutos federais bem
ria das organizações sindicais nacionais. Além como das entidades de pesquisa (SBPC, ABC,
disso, tem sido a nossa capacidade também de ANPED) e, nos estados com seus represen-
convergir para o essencial, deixando de lado o tantes.
que divide e impossibilita a cobertura nacional 3. Buscar estabelecer relações com parlamen-
de nossas decisões – aqui não existe “centralis- tares de diferentes partidos, identificados
mo democrático”, há o convencimento político. com nossas bandeiras.

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 Proifes: 2018.2 – 2019.1 – Desafios para além do horizonte de eventos

Ação: No plano sindical interno


Promover atos em defesa das bandeiras comuns 1. Modernizar os meios de comunicação entre o
tais como o que já realizamos durante a organiza- sindicato, seus associados e a categoria em geral
ção a CONAPE e da CRES. Instigar o congresso para dar maior agilidade às informações.
nacional para organizar frentes parlamentares 2. Incentivar os sindicatos afiliados para que re-
em defesa das questões por nós aprovadas nes- produzam nas suas estruturas internas espaços
te encontro. discussão e produção de material semelhantes
aos GTs existentes no Proifes.
No plano sindical específico 3. Estruturar mecanismos de identificação de de-
1. Estreitar as relações com entidades mandas da categoria para além das questões
sindicais de professores federais que salariais e de carreira que sirvam para ampliar
ainda não se filiaram ao nossa identificação com nossas bases.
Proifes-Federação. Ações:
2. Diversificar as ações em defesa das pau- ЇЇ Fortalecer as relações intersindicais no plano
tas dos professores, de forma criati- da comunicação, promovendo troca de expe-
va, buscando o reconhecimento social riências e apoios.
da importância dos servidores públicos ЇЇ Encaminhar aos sindicatos os materiais pro-
para a garantia dos serviços públicos de duzidos nos GTS para subsidiar os debates.
qualidade. ЇЇ Estimular a troca de informações entre os
Ação sindicatos, mediado pela federação, sobre
Organizar reuniões, atos e manifestações em experiencias locais que tem auxiliando nesta
conjunto com a comunidade escolar. identificação.

São Luís/MA
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São Luís/MA
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Ciência e Tecnologia
fator de convergência e
estratégia de expansão
_________________________________________________________________________________________________________________________________
LUCIENE DA CRUZ FERNANDES - APUB
RAQUEL NERY BEZERRA - APUB
JOVINIANO SOARES DE CARVALHO NETO - APUB
NILDO MANOEL DA SILVA RIBEIRO -APUB

D
esde a sua fundação a atuação do PROIFES gerou muitas conquistas para os e as
docentes. Destacamos: reposição da inflação do período negociado; reajustes acima
da inflação; elevação do teto salarial; equiparação entre as carreiras de magistério
superior e EBTT; incorporação da GAE e VPI ao vencimento básico (VB), entre outras. Tudo
isto quando tínhamos um governo democrático popular em que era possível haver negocia-
ção, quando a luta dos trabalhadores resultava em conquistas reais. Mas o movimento da
história nos trouxe outro cenário que é tão adverso que tem nos obrigado a avaliar o que
somos e temos feito e planejar os próximos passos.
O objetivo desta tese é, a partir de uma avaliação sobre nossas conquistas recentes, deli-
near a forma de enfrentar os desafios e movimentos que deverão se impor no próximo período.

DECISÕES ACERTADAS E SEUS DESDOBRAMENTOS


O PROIFES teve um papel importante durante a luta contra o golpe em 2016, fazendo sua
denúncia e participando junto com os demais trabalhadores da resistência democrática que
iniciou desde então. Com isso, os seus sindicatos de base se somaram às diversas iniciativas
de resistência construídas em muitas IES federais pelo Brasil.
Apesar de ter conseguido ampliar seu respaldo em razão do correto posicionamento na
conjuntura, diferente da posição vacilante de outras entidades, o PROIFES ainda é pequeno
para o tamanho dos desafios colocados pela atual conjuntura. Torna-se, pois, necessária e
fundamental sua expansão diante de um cenário em que o movimento docente conta com
um conjunto de sindicatos sem representação nacional e outros com muitas divergências
em relação as suas representações.
Ainda em março de 2016 foi idealizado e proposto pela Apub Sindicato o seminário “Or-
ganização do Movimento Docente”, que reuniu membros de diversas entidades representa-
tivas de professores e professoras da educação superior para compartilhar experiências e
articular estratégias para fortalecer o movimento docente no país. O objetivo do evento era
conhecer a situação de cada entidade, pensar em uma agenda comum e reunir forças e ideias
de mobilização, uma dificuldade corrente com a base. A diretoria da Apub à época trazia como
sugestão de mobilização, dentre outras, realizar ações voltadas para a formação política; uma
agenda de debates; participação mais efetiva na SBPC; e Seminário Nacional para discutir
a expansão universitária. Muitos aproveitaram o momento para informar aos demais sobre
os desafios e dificuldades enfrentados por suas entidades, enfatizando o contexto de dispu-
ta e polarização no movimento sindical docente, o que produzia conflitos para as diretorias

43
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

e confusão na base. Foi defendida a criação de verno federal para garantir condições de fun-
um discurso político alternativo a esta polariza- cionamento das instituições de ensino superior
ção e definido que esse discurso reconhecesse e de pesquisa. Além disso, a iniciativa induziu ao
os avanços que a Universidade teve nos últimos debate sobre qual modelo de desenvolvimento
anos com a expansão e políticas de inclusão, ao queremos para o Brasil, um modelo em que os
tempo em que se fizesse uma reflexão crítica a ambientes de ensino superior e de pesquisa cien-
respeito do que se tornou e de qual o seu papel tífica sejam fundamentais na busca de soluções
na sociedade. O desafio que se apresentava no para combater a pobreza, a violência, melhorar a
momento era apresentar para a base alternativas saúde e a educação da população e proporcionar
concretas de atuação sindical. maior eficiência e sustentabilidade socioambien-
Logo após esse seminário concretizou-se tal nos projetos que visam ao crescimento do país
o golpe e uma conjuntura nova de impacto para e à diminuição das desigualdades.
a educação, em especial a educação superior, se As primeiras articulações da campanha se
impôs, com cortes de verbas (principalmente a EC deram com a organização das atividades da Mar-
95 e a consequente inviabilização dos 10% do PIB cha da Ciência, movimento internacional que aqui
destinados à educação) – para as universidades e no Brasil contou com a participação das comuni-
para a ciência e tecnologia. Essa conjuntura trou- dades científicas de mais de 20 cidades. A cam-
xe novas dificuldades e reduziu drasticamente a panha também tratou de articular grupos da so-
possibilidade de conquistas de aumentos reais na ciedade civil organizada, professores, estudantes
remuneração (comprometendo avanço na carrei- e técnicos, mobilizando-os através da coleta de
ra com promoções e progressões) e da expansão assinaturas, compartilhando conteúdos de de-
no quadro de servidores e serviços públicos. Tudo núncia sobre os cortes na Ciência e Tecnologia
isso articulado com um projeto marcado pelo nas redes sociais, organizando eventos para de-
entreguismo e pela venda do patrimônio nacio- bate sobre o tema e instalando o “tesourômetro”
nal, enfraquecendo o setor da indústria e fragili- - painéis eletrônicos atualizados diariamente em
zando um projeto de desenvolvimento nacional. que se apresentam os valores dos cortes na área
O golpe rompeu com a relação construída nos da ciência e tecnologia.
anos anteriores, ainda que incipiente, entre a tec- A APUB foi, e ainda é, a única entidade do
nologia e o desenvolvimento nacional.  Nordeste a construir a campanha e instalar o te-
As reflexões construídas ao longo do seminá- sourômetro. Ao fim dessa fase, participamos de
rio organizado pela APUB se somaram à participa- ato em Brasília em que foram entregues as assi-
ção da campanha Conhecimento sem Cortes, jun- naturas coletadas, e de uma audiência pública
to com ADUFRJ, APUBH e ADUnB, uma campanha em que tivemos a oportunidade de aprofundar a
de mobilização social aberta e supra partidária discussão e ampliar a denúncia sobre os cortes
promovida por professores universitários, cien- que desde então só se aprofundam. Como forma
tistas, estudantes, pesquisadores e técnicos em de pensar a continuidade dessa campanha após
oposição à redução dos investimentos federais essa primeira fase, realizamos uma nova reunião
nas áreas de ciência, tecnologia e humanidades com a participação de outras entidades (ADUNB,
e ao sucateamento das universidades públicas e ADUFRJ, APUBH, ADUFEPE, ADUFG e ADUFC).
dos institutos de pesquisa no Brasil. Levantamos ainda algumas considerações
O objetivo da campanha era monitorar e de- sobre a desejada “unidade na luta”. É sabido que
nunciar os cortes de orçamento e suas consequ- a fragmentação da mobilização das forças popu-
ências negativas para a sociedade brasileira, além lares foi um fator que pesou negativamente nas
de sensibilizar a população para o que se produz tramas políticas que culminaram no golpe, um
nas universidades e nos institutos de pesquisa. período em que as separações e divergências
Com isso, reuniu-se apoio para pressionar o go- se tornaram mais profundas. Desde então, da-

44 São Luís/MA
julho 18
 Ciência e Tecnologia – fator de convergência e estratégia de expansão

das as ações do governo golpista, tem-se falado e fortalecimento de ações na área;


em contextos e lugares diferentes que apenas a 2. Concepção e execução de atividades de exten-
reunificação dessas forças é capaz de realizar o são e diálogo com a sociedade civil, no sentido
devido enfrentamento da atual conjuntura, ainda de dar visibilidade ao papel que a ciência e a
que os posicionamentos e a fragmentação ten- tecnologia têm no nosso cotidiano, engajando
dam a se manter. a sociedade na sua defesa.
Isto posto, compreendemos que o tema da 3. Inserção da discussão no interior da platafor-
ciência e tecnologia é suficientemente forte e ma operária e camponesa, que articula movi-
capaz de sensibilizar e promover convergências. mentos sociais e sindicatos para fazer a de-
Devemos considerar os passos que foram dados fesa das nossas estatais, da nossa soberania,
na campanha Conhecimento sem Cortes e a atual do desenvolvimento nacional e dos recursos
situação das entidades envolvidas. do pré-sal para a educação e saúde.
É muito importante que o PROIFES e os seus 4. Estabelecimento do diálogo dessa campanha
sindicatos se somem a essa campanha, que en- com o projeto Brasil Popular e o seu GT de
contra na conjuntura viabilidade e condições favo- Ciência e Tecnologia, com o objetivo de am-
ráveis, como forma de denunciar o desmonte que pliar o alcance da campanha Conhecimento
está se aprofundando nessa área. Além disso, que sem Cortes
executem uma ação que permita unificar o movi- 5. Produção de materiais pedagógicos para dia-
mento docente e as universidades em torno des- logar com a população sobre esse tema, como
se tema extremamente sensível e mobilizador. O cartilhas, vídeos, animações etc.
tempo urge: essa janela de oportunidade precisa 6. Articulação do tema da ciência e tecno-
ser bem aproveitada, para o bem do movimento logia com a educação básica, conforme
docente, da ciência e tecnologia e da soberania e as proposições da tese do GT Educação
desenvolvimento de nosso povo e país. da APUB, promovendo formulações con-
ceituais e metodológicas que, através de
Nesse sentido, propomos: estratégias de comunicação institucional
1. A imediata instituição do GT Ciência e Tecno- e no diálogo direto com a base, induzam
logia do PROIFES e a formulação, também ao fortalecimento da identidade das li-
imediata, de um plano de trabalho com ações cenciaturas, sua intersecção com a educa-
de articulação com outras entidades e o in- ção básica intensificando as implicações
centivo para a criação de GTs como esse nos e desdobramento dessas ações no campo
sindicatos federados, com vistas à construção da ciência e tecnologia do país.

São Luís/MA
julho 18
45
São Luís/MA
julho 18
Breve análise da luta
de classes no Brasil
_________________________________________________________________________________________________________________________________
OTÁVIO BEZERRA SAMPAIO
IFPR - Presidente do SINDIEDUTEC-Sindicato

O
objetivo deste texto foi resumir brevemente alguns posicionamentos teóricos re-
centes, em relação à formação da sociedade brasileira, numa perspectiva de luta
de classes e, a partir daí, procurou-se ilustrar os projetos políticos em disputa no
cenário nacional.
Souza (2017) define as classes sociais não somente com base na renda, mas também na
cultura e nas relações sociais que foram sendo definidas ao longo da história. Nessa pers-
pectiva, o Brasil possui quatro classes sociais, constituídas ao longo de sua história: a elite,
os trabalhadores, a classe média e a ralé de novos escravos. Esse autor destaca ainda que
durante o período colonial (1500 – 1822), existiam basicamente duas classes sociais, os se-
nhores de engenhos e os escravos.
A sociedade era patriarcal, onde o chefe de família, dono de terras e de escravos, era a
autoridade absoluta em seus domínios, inclusive sobre a Igreja, que dependia economica e
politicamente do senhor de engenho.
A família patriarcal era a representante legítima da sociedade brasileira, formada pelo
senhor de engenho e sua família nuclear, bem como pelos filhos bastardos, dependentes,
agregados, escravos domésticos e da lavoura. Durante este período hegemonia da classe
dominante era exercida pela violência, sem qualquer controle social, dominados pela agres-
sividade, libertinagem e avidez. Essa forma de domínio foi a semente essencial que impul-
sionou a formação social e cultural da sociedade brasileira, que germinou e herdou o sistema
econômico baseado na escravidão, onde as relações interpessoais são fundadas na dor alheia,
o não reconhecimento da alteridade e na perversão do prazer. Foi sádica a relação do homem
português com as mulheres índias e negras; era sádica a relação do senhor com as próprias
mulheres brancas, com os próprios filhos, os seres que mais sofriam depois dos escravos.
Nesse período as funções de confiança, de controle do trabalho e caça de negros fugidos,
além de serviços militares em brigas por limites de terras eram exercidos pelos mestiços e
agregados da família poligâmica ampliada do senhor de engenho. Decorre daí a geneologia
da classe média, que começa a se constituir no Brasil moderno, a partir de 1808, com a vinda
da Coroa Portuguesa, quando o Brasil passa a ser o centro do império português e quando
também tem início à abertura comercial para a Europa, criando-se neste período o mercado
capitalista competitivo e o Estado burocrático centralizado (Souza, 2017).
Para Gilberto Freire a casa grande do senhor de engenho e a senzala dos escravos são
transferidas para sobrados e mocambos das cidades em construção. Com a urbanização o
poder patriarcal deixa de ser pessoal ou da família do senhor de engenho e assume a forma
estatal, tendo o imperador como figura central. Nessa sociedade nascente as antigas posi-
ções polares, senhor de engenho e escravos, perdem peso relativos e os estratos intermedi-
ários da antiga sociedade, quase sempre mestiços, passam a formar o elemento médio, que
se aventuram no capital cultural, artesanal e nos estudos, a exemplo do mulato bacharel, que

47
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

assume as funções de Estado. Pode-se perceber presidenta Dilma Rousseff e prendendo o ex-pre-
aqui a semente da formação de uma classe decisi- sidente Lula, sem qualquer prova contra ambos,
va para a construção do Brasil moderno: a classe é a mesma elite e classe média que calam diante
média. Esta classe já aponta para um mecanismo da corrupção dos políticos e dos seus próprios
de distinção em relação as classes subalternas. partidos, a exemplo do PSDB, do PMDB e seus
Desse modo, o processo de incorporação aliados. Todos eles amplamente denunciados por
do mestiço à nova sociedade foi paralelo ao pro- corrupção e protegidos pela mídia burguesa, pelo
cesso de proletarização e demonização do negro. legislativo e pelo judiciário. Nesse caso, é total-
Para Souza (2017) esta é a pré-história da “ralé mente aplicável a conhecida frase de Maquiavel:
brasileira”, a diferença hoje é que esta classe é Aos amigos, os favores; aos inimigos, a Lei.
composta por negros e mestiços de todas as co- Assim também foi na década de 30, quando
res, mostrando que a antiga “raça condenada” se Getúlio Vargas assumiu o poder com o apoio de
transformou em “classe condenada”, lumpesinato elites regionais subordinadas e setores da classe
ou exército industrial de reserva. Ela serve as clas- trabalhadora, que se rebelaram contra o estado
ses incluídas como elemento para dois tipos de mais rico – São Paulo, criando uma sociedade mo-
distinção, uma simbólica, para provocar o prazer derna, implementando uma política de industriali-
da “superioridade” e do mando; e a outra material zação, instituições de pesquisa, de planejamento
e pragmática, no sentido de criar uma classe sem e leis trabalhistas. A elite burguesa criada com o
futuro, que pode ser explorada a preço vil. Aos desenvolvimento industrial do período Vargas
escravos e seus descendentes, a ralé de hoje, foi foi a mesma que o levou ao “suicídio” em 1954;
deixado o achaque, o deboche cotidiano, a piada que colaborou com o golpe e o regime militar, de
suja, a provocação tolerada e incentivada por 1964 a 1985 e é a mesma que persegue o projeto
todos, as agressões e os assassinatos impunes. popular do PT e que deu o Golpe em 2016.
Quando a classe média vai as ruas a partir de Souza (2017) reitera que as contradições e
junho de 2013 e posteriormente usa a corrupção os conflitos centrais de uma sociedade são sem-
como pretexto, o verdadeiro objetivo é o ódio pre relações de dominação entre classes sociais.
encoberto e dissimulado contra a inclusão social Entretanto no contexto atual a elite demonizou o
da “classe condenada”, contra o projeto político marxismo e a noção de luta de classes, que por sua
do Partido dos Trabalhadores no poder, que pela vez foi deixada em segundo plano pela esquerda.
primeira vez na história brasileira iniciou um pro- Para Ridenti (1994) não há unanimidade entre
cesso de inclusão da “classe condenada”. A cor- os marxistas sobre o conceito de classes sociais.
rupção seletiva comandada pela farsa da lava Num sentido amplo, as classes sociais identificam
jato foi uma fachada para encobrir os verdadei- os grandes grupos humanos que se relacionam e
ros interesses da classe média, que tinha como lutam entre si para produzir o próprio sustento,
objetivos estratégicos ganhar força nas relações criando relações de dominação para apropriar-se
de poder, interrompendo o projeto popular de in- do excedente gerado além do mínimo necessário
clusão da “classe condenada”. Tanto é assim, que à subsistência.
o combate a corrupção desencadeado pela elite, Marx definiu a luta de classes como a for-
foi exclusivamente contra os políticos e o Partido ça motriz da história humana, o combustível da
dos Trabalhadores, quando ocupou o poder, entre mudança do mundo social e entende que a luta
2003 a 2016, decorrente da ascensão da classe de classes só acabará com o fim do capitalismo,
trabalhadora nos anos 80. e por consequencia, o fim da divisão de classes
A mesma elite que usou e mobilizou a classe sociais. Entende ainda que as classes têm fins
média, a mídia burguesa e amplos setores da es- políticos claramente definidos e que buscam rea-
trutura do estado, como o legislativo, o judiciário e lizar seus objetivos fazendo opções estratégicas
a polícia federal contra o PT, inclusive cassando a em situações de escolha.

48 São Luís/MA
julho 18
 Breve análise da luta de classes no Brasil

Para Perissinotto (2017) a análise de classe CONSIDERAÇÕES FINAIS


pretende entender os fenômenos sociais e polí- A elite e a classe média brasileira germinaram e
ticos a partir das relações entre classes sociais herdaram a cultura e o sistema econômico basea-
situadas no processo produtivo. Uma das tarefas do na escravidão, onde as relações interpessoais
da análise de classe consiste em demonstrar as são fundadas na dor alheia, não reconhecimento
estruturas e os mecanismos exatos de dominação da alteridade e na libertinagem. Assim como os
e exploração nas sociedades humanas. estratos intermediários, os mestiços, do perí-
A formação popular tem o marxismo como odo da escravidão procuravam se diferenciar
ideologia e instrumental para interpretar a re- dos escravos, a classe média, que é descenden-
alidade com intenção de transformá-la. O mar- te dos mestiços, alimenta o ódio e o preconceito
xismo constitui uma teoria crítica da sociedade em relação a classe trabalhadora e a “classe dos
atual racista, sexista, colonialista e imperialista. condenados”.
É a teoria que se coloca a serviço do projeto de Sempre que a classe trabalhadora assume
emancipação humana e da utopia que propõe a o poder no Brasil, a elite, com o apoio da classe
criação de um mundo realmente humano. média, da mídia e do poder judiciário, promove
O marxismo não é um dogma, pode e deve ser golpes militares ou civis, em prejuízo dos traba-
criticado, ampliado, melhorado. O que não pode lhadores. Foi assim com Getúlio Vargas, foi assim
é, em nome da liberdade de crítica, introduzir o com Lula e com Dilma.
discurso pós-moderno, atrativo e sedutor, que se As contradições e os conflitos sociais são
disfarça para legitimar a dominação. A formação expressões da luta de classes. Representam a
deve contribuir para o ”desvelamento”, para a in- força motriz da história e o combustível que le-
terpretação e para o conhecimento da realidade vará ao fim do capitalismo e ao fim da divisão da
que está muito além das aparências. A formação sociedade de classes.
tem um sentido transformador das pessoas e da A ideologia marxista, a formação humana e
realidade, ajudando a organizar e elevar o nível de solidária, a elevação do nível de consciência e a
consciência do povo. Uma das tarefas principais organização dos trabalhadores são fundamentais
da formação é eliminar os resquícios da ideologia e indispensáveis para a construção de um novo
burguesa presente na consciência dos trabalha- sistema político, o socialismo.
dores e de suas lideranças (ENFF, 2007). Os sindicatos e seus dirigentes devem assu-
Para o Papa Francisco, “em nossa sociedade mir o desafio histórico, colocando-se ao lado da
capitalista avançada o sindicato corre o risco de classe trabalhadora, da ”classe condenada”, dos
se extraviar de sua natureza profética de defen- explorados e dos oprimidos, desmascarando a
der os últimos [os excluídos] e parecer-se com as elite, o sistema capitalista e fortalecendo o pro-
instituições e poderes que deveria criticar [as eli- jeto político dos trabalhadores.
tes]”. “Talvez a nossa sociedade não compreenda
os sindicatos porque não os vêem lutar onde ainda REFERÊNCIAS
‘não há direitos’: nas periferias existenciais”. “Os ENFF, A Política de Formação de Quadros.
sindicatos, com o passar dos tempos, acabaram Guararema, São Paulo. 2007. 112p.
tornando-se muito parecidos com a política, ou
melhor, com os partidos políticos, à sua linguagem LOPES, M.; Papa: sindicatos não podem abandonar
e ao seu estilo. a profecia e se tornarem parecidos com o sistema.
Por fim, os dirigentes sindicais devem encarar
seu “desafio histórico”, em “dar voz a quem não a https://outraspalavras.net/maurolopes/2017/06/28/
tem”, defender a causa dos refugiados “e dos des- papa-sindicatos-nao-podem-abandonar-a-profecia-
cartados” e “desmascarar os poderosos que piso- e-se-tornarem-parecidos-com-o-sistema/, em 02 de
teiam os direitos dos trabalhadores mais frágeis”. maio de 2018.

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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

Perissinotto, R. M; O 18 Brumário e a Análise de Classe Cortez Editora. São Paulo. 1994. 118p.
Contemporânea. Lua Nova, São Paulo, 2007. 43p.
Souza, J.; A Elite do Atrazo: da escravidão a Lava
Ridenti, M.; Classes Sociais e Representação. Jato. Rio de Janeiro. Leya. 2017. 239p.

50 São Luís/MA
julho 18
Fim da EC 95 e
Reforma Fiscal Solidária:
elementos de um
enfrentamento inevitável
_________________________________________________________________________________________________________________________________
GIL VICENTE REIS DE FIGUEIREDO
ADUFSCar/PROIFES

1 SEM A REVOGAÇÃO DA EC 95 O PLANO


NACIONAL DE EDUCAÇÃO NÃO SERÁ IMPLANTADO
O Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado em 2014 como fruto de pressão da sociedade
civil organizada constitui, apesar de diversas fragilidades que só podem ser superadas con-
frontando os interesses do setor privado na área, a melhor legislação já aprovada, do ponto
de vista daqueles que defendem a educação pública, gratuita, universal e de qualidade.
Entretanto, para que o PNE deixe de ser uma lei e passe a se tornar uma realidade, inú-
meros são os desafios a enfrentar.
O maior deles refere-se ao financiamento que, prevê a lei sancionada, deveria passar dos
cerca de 6% para 10% do PIB/ano, até 2024.
Para que isso seja possível seria preciso aumentar a fração das riquezas produzidas pelo
Brasil a serem destinadas à educação.
Com a mudança constitucional imposta pela Emenda à Constituição 95 (EC 95), contudo,
resulta que precisamente o contrário do previsto no PNE irá acontecer, caso esse dispositivo
não seja revogado.
Essa é uma constatação fácil de ser demonstrada. Basta, para isso, considerar as proje-
ções contidas no documento “Impactos do Novo Regime Fiscal – Subsídios à análise da Pro-
posta de Emenda Constitucional, PEC 241/2016”, da Consultoria de Orçamento e Fiscalização
Financeira da Câmara dos Deputados (“Estudo Técnico nº 12/2016”). De fato, essa publicação
prevê o crescimento real do PIB nos próximos 10 anos; e, como pela EC 95 o valor real a ser
destinado a todas as áreas sociais permanecerá congelado nesse período (e quiçá até por
20 anos), resulta que a razão entre essa parcela congelada e o PIB, sempre crescente, cairá
de forma progressiva.

51
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

O gráfico abaixo apresenta a simulação posto pela EC 95, supondo-se que o mesmo se
decorrente da utilização dos dados contidos aplique, de forma correspondentemente linear,
no texto em questão e do congelamento im- à educação.

No gráfico acima, a curva azul indica a trajetó- diferente da vigente naqueles países. De fato,
ria que teria que ter o investimento em educação o IBGE informou, em sua publicação de 2013,
até 2025, supondo-se que fossem alcançadas as os seguintes dados e projeções:
metas de 7% até 2019 e 10% do PIB/ano até 2025, ЇЇ Em 2000: população até 24 anos (idade
conforme prevê o PNE; enquanto que a curva ver- escolar), 86.551.364, 49,9% da população
melha representa a simulação da destinação de total, 173.448.346;
recursos à educação, anualmente e como percen- ЇЇ Em 2050 (projeção): população até 24
tual do PIB, caso seja mantida em vigor a EC 95. anos, 55.920.281, 24,7% da população to-
Fica evidente que, nesse contexto, não se- tal, 226.347.688.
rão alcançadas as metas previstas no PNE e,
muito menos, a qualidade aí preconizada (como Logo, em 5 décadas, a proporção de crian-
definida a partir do Custo Aluno Qualidade), que ças e jovens em idade escolar cairá pela metade,
depende da elevação de investimento por alu- atingindo os níveis que, hoje, são verificados nos
no, em termos do PIB Per Capita (PPC), o que chamados ‘países desenvolvidos’ (a maioria dos
igualmente estará inviabilizado. que compõem a OCDE). Além disso, há que con-
siderar que, num momento inicial, será preciso
2 SÃO DE FATO NECESSÁRIOS 10% um investimento maciço, para fazer frente às
DO PIB/ANO PARA A EDUCAÇÃO? defasagens históricas que todos conhecem. De
Uma questão que importa esclarecer é a que mais a mais, estudos cuidadosos já publicados
se refere à efetiva necessidade de alcançar pelo PROIFES demonstram que para atingir as
10% do PIB/ano para a educação. Um dos ar- metas do PNE com a qualidade aí requerida são
gumentos apresentado contra essa demanda necessários valores próximos a 10% do PIB.
é que, nos países da OCDE, a média de inves- Para indicar brevemente a metodologia utiliza-
timentos é levemente inferior a 6% do PIB/ da, mostramos a seguir, a título de exemplo, os dados
ano. Entretanto, tal defesa não se sustenta, relativos à Educação Infantil – Creche: evolução do
por vários motivos. O primeiro deles é que a atendimento a crianças até 3 anos (Quadro 1) e investi-
pirâmide etária, no Brasil, é profundamente mento por aluno e como percentual do PIB (Quadro 2).

52 São Luís/MA
julho 18
 Fim da EC 95 e Reforma Fiscal Solidária: elementos de um enfrentamento inevitável

Quadro 1
Meta: alcançar 50% da faixa etária (atendimento total) até 2024.
Hipóteses: 1) Expansão garantida pela esfera pública; 2) População – conforme estimativa IBGE.
Educação Infantil - Creche: Censo Escolar, 2002 - 2014 (INEP) + previsões PNE até 2024.
Ano Pública Privada Total Pop. 0 - 3 a % Públ. % Priv. % total
2002 773.964 435.204 1.209.168 13.949.248 5,5% 3,1% 8,7%
2003 767.505 470.053 1.237.558 13.948.915 5,5% 3,4% 8,9%
2004 844.066 504.171 1.348.237 13.854.872 6,1% 3,6% 9,7%
2005 879.117 535.226 1.414.343 13.674.889 6,4% 3,9% 10,3%
2006 917.460 510.482 1.427.942 13.430.360 6,8% 3,8% 10,6%
2007 1.050.295 529.286 1.579.581 13.140.456 8,0% 4,0% 12,0%
2008 1.143.430 608.306 1.751.736 12.817.170 8,9% 4,7% 13,7%
2009 1.252.765 643.598 1.896.363 12.476.742 10,0% 5,2% 15,2%
2010 1.353.736 710.917 2.064.653 12.136.425 11,2% 5,9% 17,0%
2011 1.470.507 828.200 2.298.707 11.807.606 12,5% 7,0% 19,5%
2012 1.611.054 929.737 2.540.791 11.499.318 14,0% 8,1% 22,1%
2013 1.730.877 999.242 2.730.119 11.218.585 15,4% 8,9% 24,3%
2014 1.830.291 1.061.685 2.891.976 10.967.387 16,7% 9,7% 25,4%
2015 2.036.918 1.061.685 3.098.603 10.749.733 18,9% 9,9% 28,8%
2016 2.243.545 1.061.685 3.305.230 10.569.033 21,2% 10,0% 31,3%
2017 2.450.172 1.061.685 3.511.857 10.422.908 23,5% 10,2% 33,7%
2018 2.656.799 1.061.685 3.718.484 10.307.128 25,8% 10,3% 36,1%
2019 2.863.426 1.061.685 3.925.111 10.215.867 28,0% 10,4% 38,4%
2020 3.070.053 1.061.685 4.131.738 10.141.731 30,3% 10,5% 40,7%
2021 3.276.680 1.061.685 4.338.365 10.079.253 32,5% 10,5% 43,0%
2022 3.483.307 1.061.685 4.544.992 10.024.074 34,7% 10,6% 45,3%
2023 3.689.934 1.061.685 4.751.619 9.971.704 37,0% 10,6% 47,7%
2024 3.896.561 1.061.685 4.958.246 9.916.492 39,3% 10,7% 50,0%
Educação Infantil, Creche: Censo Escolar, 2015 – 2017 (INEP)
Ano Pública Privada Total Pop. 0 - 3 a % Públ. % Priv. % total
2015 1.936.614 1.106.934 3.043.548 10.749.733 18,0% 10,3% 28,3%
2016 2.081.924 1.151.815 3.233.739 10.569.033 19,7% 10,9% 30,6%
2017 2.226.173 1.180.623 3.406.796 10.422.908 21,4% 11,3% 32,7%

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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

Quadro /2
Educação Infantil - Creche: evolução investimentos PNE (PPC e total), até 2024.
Ano Pública % PPC PPC total População % PIB (PNE)
2002 773.964 11,9% 92.141 176.303.919 0,05%
2003 767.505 11,4% 87.650 178.741.412 0,05%
2004 844.066 11,8% 99.344 181.105.601 0,05%
2005 879.117 12,0% 105.701 183.383.216 0,06%
2006 917.460 13,9% 127.222 185.564.212 0,07%
2007 1.050.295 15,3% 160.349 187.641.714 0,09%
2008 1.143.430 16,5% 188.258 189.612.814 0,10%
2009 1.252.765 17,8% 222.676 191.480.630 0,12%
2010 1.353.736 18,8% 254.216 193.252.604 0,13%
2011 1.470.507 19,9% 292.638 194.932.685 0,15%
2012 1.611.054 21,7% 349.197 196.526.293 0,18%
2013 1.730.877 22,8% 395.230 198.043.320 0,20%
2014 1.830.291 21,8% 398.969 199.492.433 0,20%
2015 2.036.918 23,5% 479.048 200.881.685 0,24%
2016 2.243.545 25,2% 566.237 202.219.061 0,28%
2017 2.450.172 27,0% 660.534 203.510.422 0,32%
2018 2.656.799 28,7% 761.940 204.759.993 0,37%
2019 2.863.426 30,4% 870.454 205.970.182 0,42%
2020 3.070.053 32,1% 986.078 207.143.243 0,48%
2021 3.276.680 33,8% 1.108.810 208.280.241 0,53%
2022 3.483.307 35,6% 1.238.651 209.380.331 0,59%
2023 3.689.934 37,3% 1.375.600 210.441.362 0,65%
2024 3.896.561 39,0% 1.519.659 211.459.352 0,72%

Vê-se no Quadro 1 que o total cumprimento Da mesma forma, podem ser calculados os
do PNE (sob as hipóteses explicitadas) se da- percentuais a serem investidos em cada nível
ria com o atendimento pela rede pública, em e modalidade de ensino. O investimento total
2024, de 3.896.561 crianças de até 3 anos, de em 2024, estimado por meio da metodologia
forma a, juntamente com o atendimento pela indicada, é de aproximadamente 10% do PIB/
rede privada, alcançar a meta de 50% do total ano. Em 2050, quando a pirâmide etária brasi-
de crianças (projeção IBGE) naquele ano. E, no leira irá se aproximar daquela hoje vigente para
Quadro 2, observa-se que o investimento pú- os países da OCDE, o investimento necessário
blico total no Ensino Infantil – Creche deverá ficará entre 6% e 6,5% do PIB (dependendo da
passar de 0,20% do PIB/ano, em 2014, para fixação de metas posteriores), com os mesmos
0,72% do PIB/ano em 2024, de forma a cum- parâmetros de atendimento e qualidade.
prir o investimento de 39% do PPC por criança,
por ano, conforme indicam os estudos tanto da 3 DE ONDE VIRIAM OS RECURSOS
Campanha Nacional pelo Direito à Educação NECESSÁRIOS PARA A EDUCAÇÃO E
quanto do PROIFES. DEMAIS ÁREAS SOCIAIS?
Nota-se, também, dos dados acima, que o Pelo exposto acima, o PNE prevê a destinação
atendimento público informado pelo INEP/MEC – além dos 6% PIB/ano vigentes em 2014 – de
em 2017 é cerca de 225.000 crianças abaixo do es- outros 4% PIB/ano adicionais, no período de
tipulado pelo PNE (sob as hipóteses explicitadas). uma década. A educação, contudo, não é a única

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área social que demanda recursos. Para alcan- o inaceitável nível de injustiça que hoje permeia
çar um atendimento igualmente universal e de o processo de arrecadação dos recursos que
qualidade na saúde pública, para zerar o déficit compõem o Orçamento da União. Os dados que
habitacional, e demais desafios sociais, certa- apresentamos a seguir são extraídos do exce-
mente será necessário investir, no curto prazo, lente e recém-publicado documento da ANFIP
pelo menos mais 10% do PIB/ano (todas as áre- (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da
as). A pergunta que se coloca nesse contexto é: Receita Federal do Brasil) / FENAFISCO (Fede-
de onde viriam esses recursos e quais enfren- ração Nacional do Fisco Estadual e Distrital), inti-
tamentos seriam necessários para viabilizar as tulado “Reforma Tributária Solidária: A Reforma
respectivas políticas públicas? Necessária”. Em primeiro lugar, há que descons-
Para lidar com a essa pergunta, desdobra- tituir o mito de que a Carga Tributária no Brasil
remos a resposta em duas teses: como arreca- é uma das mais altas do planeta. Essa afirmação
dar mais cobrando de quem tem mais; e como é falsa, como demonstra o Quadro 3 abaixo: a
destinar menos a quem já tem demais. Antes de maioria dos países citados têm carga tributária
passar a esses pontos, porém, é preciso expor total maior do que a do Brasil.

Quadro 3
Países Renda Patrimônio Consumo Outros Total CT
Dinamarca 63,1 4,1 31,6 1,2 100 45,9
França 23,5 9,0 24,3 43,2 100 45,2
Bélgica 35,7 7,8 23,8 32,7 100 44,8
Itália 31,8 6,5 27,3 34,4 100 43,3
Suécia 35,9 2,4 28,1 33,6 100 43,3
Noruega 39,4 2,9 30,4 27,3 100 38,3
Holanda 27,7 3,8 29,6 38,9 100 37,4
Alemanha 31,2 2,9 27,8 38,1 100 37,1
Portugal 30,2 3,7 38,4 27,7 100 34,6
Espanha 28,3 7,7 29,7 34,3 100 33,8
Reino Unido 35,3 12,6 32,9 19,2 100 32,5
Japão 31,2 8,2 21,0 39,6 100 30,7
Estados Unidos 49,1 10,3 17,0 23,6 100 26,2
Coreia do Sul 30,3 12,4 28,0 29,3 100 25,2
Irlanda 43,0 6,4 32,6 18,0 100 23,1
Chile 36,4 4,4 54,1 5,1 100 20,5
Média 35,8 6,6 29,8 27,9 100,0 35,1
Brasil 21,0 4,4 49,7 24,9 100 32,6

CT = Carga Tributária Total, como percentual do PIB.


Fonte: Reforma Tributária Solidária - Reforma Necessária (ANFIP / FENAFISCO)

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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

Dessa tabela deduz-se ainda um outro fato, tre todos os países, aqui se cobram os menores
mais importante ainda. No Brasil se cobram im- impostos sobre a renda. O gráfico que se segue
postos abusivos sobre o consumo – os maiores compara o Brasil, os Estados Unidos e a média
dentre todos os países listados. E, também en- dos países acima.

Para finalizar estas considerações iniciais, isenção que invade a parcela do rendimento con-
reproduzimos abaixo trecho do documento da siderado como mínimo existencial, e a reduzida
ANFIP / FENAFISCO: alíquota máxima do imposto praticada no Brasil
“Em grande medida, o caráter regressivo (27,5%) na comparação internacional.”
do imposto sobre a renda no Brasil decor-
re de três fatores principais, enumerados 3.1 COMO ARRECADAR MAIS
a seguir. COBRANDO DE QUEM TEM MAIS.
A revogação da EC 95 – da qual não se pode
Em primeiro lugar, dois fatores introduzi- abrir mão de nenhuma maneira – é uma pré-
dos em 1995 (Lei nº 9.249) que propiciam a ele- -condição absolutamente essencial nas atuais
vada desoneração tributária das classes mais circunstâncias; mas é preciso entender que não
favorecidas: é será suficiente para propiciar as mudanças
ЇЇ O mecanismo que permite às empresas a de- fundamentais que levem o País a um futuro de
dução de juros sobre o capital próprio (uma menos injustiça social.
suposta “despesa financeira” das empresas É de máxima importância, portanto, que o
com juros pagos sobre o seu próprio capital). Brasil, no curtíssimo prazo, realize Reforma Tri-
ЇЇ A permissão para a completa isenção dos butária que altere radicalmente a situação atu-
lucros e dividendos distribuídos aos sócios al, na linha do que é apontado no documento da
e acionistas das empresas, inclusive quando ANFIP /FENAFISCO. Independentemente disso,
destinados ao exterior. contudo, citamos adiante vários mecanismos que
poderiam ser cogitados como fonte dos recursos
Em segundo lugar, as diversas brechas legais que devem ser destinados às áreas sociais, em
para mitigar a taxação do lucro presentes nos um quadro de pós-revogação da EC 95.
três regimes de tributação das pessoas jurídicas É preciso fazer com que a exploração dos
(simples; lucro presumido; e lucro real). imensos recursos que o País tem possa contri-
Em terceiro, a inadequada progressão da ta- buir de forma significativa para a melhoria dos
bela de incidência do IRPF, com o baixo limite de serviços essenciais.

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Assim, a Lei nº 12.858/13 destinou 50% do gões), ou seja, 10,8 PIBs (o PIB projetado para 2018
Fundo Social (criado pela Lei da Partilha) e de é R$ 6,66 trilhões). Portanto, adotando alíquota
75% dos Royalties e Participações Especiais da de apenas 0,10% - pouco mais da quarta parte do
União para a educação e saúde. Em previsão feita que era a CPMF – arrecadar-se-ia valor superior
em 2014 (por Paulo César Ribeiro Lima, Consul- a 1,0% do PIB / ano.
tor Legislativo da Câmara Federal para a área de Em relação ao patrimônio, a Constituição
energia), em 2024 seria possível obter, por essa Federal (CF) de 1988 (Art.153, inciso VII) autoriza
via, cerca de 0,8% do PIB/ano. Entretanto, o o Governo a cobrar um imposto sobre grandes
PLS 131 (José Serra, 2016) retirou a obrigatorie- fortunas e prevê que lei complementar discipline
dade da Petrobrás atuar como operadora, com a matéria, regulamentando-a. Entretanto, nos 30
30% de participação mínima nos consórcios do anos já decorridos após a promulgação da CF de
Pré-sal, o que pode afetar essa previsão (que está, 1988 a regulamentação não aconteceu: nenhuma
obviamente, suscetível a outras variáveis, como das iniciativas enviadas ao Congresso Nacional
o preço internacional do petróleo). prosperou. Uma delas, o PLC 48/2011, se aprova-
No Brasil, os royalties sobre a exploração da, renderia 0,3% do PIB / ano. De acordo com
das riquezas minerais são muito baixos: ferro, 2%; esse PL, 70% desses recursos viriam (em reais
alumínio, 3%; manganês, 3%; ouro, 1%; pedras de 2012) de fortunas superiores a R$ 116 milhões.
preciosas, 0,2%. Para efeito de comparação, os Registre-se que no Brasil, de acordo com dados
valores no Canadá variam entre 3% e 9% e nos do IBGE (2012), 901 pessoas com riqueza média
Estados Unidos entre 5% e 12,5%. Um novo ‘Mar- de R$ 620 milhões cada uma detinham patrimônio
co da Exploração Mineral’ poderia elevar a CFEM equivalente a 13% do PIB (daquele ano).
(Contribuição Financeira sobre a Exploração de No tocante a desonerações tributárias, o
Recursos Minerais); diversas previsões apontam auge foi em 2012, quando alcançaram R$ 142 bi.
para valores adicionais de 0,4% do PIB/ano. Em 2016, foram de R$ 91 bi, montante superior a
Por outro lado, poder-se-ia reinstituir a 1,5% do PIB / ano.
CPMF – não da forma em que existiu, atingindo Em resumo: os itens acima mencionados,
a todos por igual, mas sim como uma contribuição somados, chegam a 5,4% do PIB / ano, mais do
progressiva, em que movimentações de menor que suficientes para financiar uma educação de
monta fossem isentas e os grandes fluxos finan- qualidade em todos os níveis e modalidades e,
ceiros fossem taxados em percentuais crescen- além disso, dar forte impulso aos investimentos
tes. Vale lembrar que, em 2007, ano em que antiga em saúde pública.
CPMF foi extinta, arrecadou-se, por esse meca- Isso sem falar na criação de mecanismos
nismo, R$ 36,5 bilhões, ou 1,4% do PIB / ano. objetivando evitar manobras fiscais que redu-
A taxação sobre especulação financeira em zam a contribuição tributária das pessoas jurí-
bolsa de valores (BOVESPA) é outro instrumento dicas, além de uma nova legislação que aumente
capaz de arrecadar recursos de alta monta. O volu- as alíquotas de contribuição para rendas muito
me das transações em bolsa (ações, opções, con- elevadas – como mencionado pelo documento da
tratos e minicontratos de índice, de dólar, juros, ANFIP / FENAFISCO. E, claro, sem mencionar a
etc.) é astronômico. Em 2015 alcançou R$ 60,58 sonegação fiscal conhecida por todos, que atinge
trilhões, ou 10,3 PIBs. Já entre 25 de junho e 06 de valores igualmente descomunais.
julho de 2018 a média de movimento diário foi de
R$ 284,3 bilhões (ver http://www.bmfbovespa. 3.2 COMO DESTINAR MENOS
com.br/pt_br/servicos/market-data/consultas/ A QUEM JÁ TEM DEMAIS.
mercado-de-derivativos/resumo-das-operaco- O que já foi dito acima, entretanto, está longe de
es/resumo-por-produto/), o que aponta para um ser tudo: o Brasil utiliza imensos recursos para
total anualizado de R$ 71.644 bilhões (252 pre- remunerar os detentores da Dívida Pública. O

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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

Gráfico 1 abaixo mostram os valores dos juros e Isso produziu transferência de recursos para
encargos da dívida, que flutuaram, entre 2008 e os rentistas na taxa média de cerca de 3,5% do
2016, na faixa 5% a 7% - a mais alta do planeta. PIB/ano.

Gráfico 1

Gráfico 2

Apesar disso, o valor da dívida (como per- como mecanismo de redistribuição de renda, rumo
centual do PIB) continua crescendo, como mostra a um futuro menos injusto. Entretanto, a manuten-
o Gráfico 2. A CF 88 possibilita, em seu Art.71, a ção da EC 95 levará, de imediato, a um desastre sem
realização de auditorias, como a necessária em precedentes em todas as áreas sociais: educação,
relação ao pagamento da Dívida Pública. Já é pas- saúde e previdência – dentre outras. O impacto
sada a hora de realizar tal auditoria. sobre as Universidades e Institutos Federais será
devastador – e os efeitos dessa medida já se fazem
4 QUAIS SERÃO OS EFEITOS IMEDIATOS sentir com força, neste ano de 2018. Isso não se
DA EC 95 SOBRE O SISTEMA DE IFES? dará apenas porque o percentual a ser destinado
Está absolutamente claro que a revogação da EC à educação irá recuar para pouco mais de 5% em
95 não resolverá, por si só, os problemas de fundo uma década – e provavelmente para pouco mais
do País, que demandam a implantação de uma Re- de 4% em duas décadas (se continuar a vigência
forma Fiscal Embora uma ‘Reforma Fiscal Solidária’, da EC 95).

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 Fim da EC 95 e Reforma Fiscal Solidária: elementos de um enfrentamento inevitável

Esse é aliás, o valor que vigorava durante lá para cá houve uma imensa expansão do sis-
o governo Fernando Henrique Cardoso, nos tema de IFES, como demonstram os Gráficos
anos 90. Só que há uma diferença básica: de 3 e 4 abaixo.

Gráfico 3

ES Pública = cruzes (cinza, à distância; marrom, presencial; vermelho = total). ES Privado = triângulos (azul claro, à distância;
verde escuro, presencial; verde claro, total). Total geral = bolas (azuis escuras). Fonte: INEP/MEC.

Gráfico 4

Fonte: INEP/MEC (Sinopses Ensino Superior).

O fim das contratações e a violenta contra- as IFES e num inimaginável recuo para o País,
ção real de recursos e de salários que está a cami- tanto em termos de formação de profissionais de
nho, agora que temos um forte quadro qualificado excelência quanto de produção de conhecimen-
e atuante, com o conjunto de IFES embaladas em to – ambos essenciais para o desenvolvimento
mais de uma década de expansão, com cursos técnico, científico e social do Brasil.
abertos e em implantação, com campi inconclu- A EC 95 – se não for extinta – irá promover
sos, com edifícios em meio à construção, redun- um apagão na educação no País, em todos os ní-
dará num desastre de enormes proporções para veis, e, de forma particularmente cruel, no ensino

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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

superior público federal – um dos segmentos que Acrescente-se a isso outras decorrências
mais se expandiu no passado recente: é como inevitáveis: congelamento de contratações nas
colocar em marcha à ré um carro que acabou de IFES, enquanto durar a EC 95; congelamento no-
engatar uma primeira. minal dos salários (idem) e forte redução do nú-
Os cortes de investimento já estão sendo mero de bolsas.
dramáticos, e o quadro irá piorar nos anos vin-
douros: 5 QUE FAZER?
ЇЇ Orçamento de investimento das Universi- Esse caminho só tem volta se pudermos eleger
dades, 2015: 13 bilhões de reais; presidente e Congresso Nacional capazes de re-
ЇЇ Orçamento de investimento das Universi- verter a EC 95 e os atuais rumos privatistas.
dades, 2017: 8,7 bilhões de reais; Revogar a EC 95 é o mínimo obrigatório, que
ЇЇ Orçamento de investimento das Universi- tem que acontecer de imediato, se quisermos que
dades, 2018: 5,9 bilhões de reais. a educação e o Brasil tenham futuro. Apenas isso,
ЇЇ Orçamento de investimento dos Institu- contudo, não será de forma nenhuma suficiente.
tos, 2015: 7,9 bilhões de reais; Não é admissível continuar apostando em
ЇЇ Orçamento de investimento dos Institu- alianças com aqueles que não se dispõem a enfren-
tos, 2017: 3,7 bilhões de reais; tar os imensos privilégios das elites financeiras que
ЇЇ Orçamento de investimento dos Institu- sempre dominaram o País, e nem os fortíssimos in-
tos, 2018: 2,8 bilhões de reais. teresses estrangeiros dos que sempre pilharam as
Conclusão: a inviabilização de Universidades riquezas nacionais. E, como sabemos, no Congresso
e Institutos Federais brasileiros se dará a curtís- Nacional esses hoje são a grande maioria – até por-
simo prazo, já a partir deste ano de 2018. que efetivamente representam precisamente esses
Os cortes no custeio seguem igual tendência. mesmos interesses. Não é possível seguir de mãos
Neste ano já começam a eclodir conflitos internos dadas com aqueles que querem manter e aprofun-
de grandes proporções em várias IFES, já que não dar o fosso que os separa da população brasileira.
há recursos para bancar simultaneamente os gas- Temos, nestas eleições, que cobrar dos can-
tos básicos (como pagamento de energia, água, didatos aos mais diversos cargos que se compro-
etc.), serviços essenciais como vigilância e limpe- metam com a revogação da EC 95; mas, muito para
za, e incentivo para que os alunos provenientes além disso, temos que deles exigir o compromisso
de famílias com menor poder aquisitivo possam de lutar pela reversão do modelo de perpetuação
se manter nas instituições. das injustiças que há séculos aqui perduram.
Não é por outra razão que a grande imprensa O PROIFES e seus sindicatos têm que fazer sua
– que tem apoiado, em sua essência, as mudan- parte, ainda que modesta, nessa difícil luta. Nos cabe
ças advindas com o golpe político que inverteu as explicitar um programa em defesa de uma educa-
prioridades votadas nas urnas em 2014 – já pauta ção universal, gratuita e de qualidade, em todos os
com insistência o ‘ensino pago nas IFES’. níveis. E nos cabe cobrar dos candidatos adesão a
Em Ciência e Tecnologia o quadro é bastante esse programa, usando de todos os meios ao nosso
semelhante: se tomarmos o orçamento de 2013 dispor para divulgar da forma mais ampla possível
como 100, o de 2017 será 50 e o de 2018, 40. quais candidatos devem merecer o nosso voto.

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Resgate histórico
de movimentos de
caminhoneiros
_________________________________________________________________________________________________________________________________
OTÁVIO BEZERRA SAMPAIO
IFPR - SINDIEDUTEC-Sindicato

O
objetivo principal desse trabalho foi analisar, dentro de uma perspectiva histórica, o
impacto político do movimento dos caminhoneiros no Brasil, em 2018, nos Estados
Unidos, nas décadas de 50 a 70 e no Chile nos anos 70.
A história dos caminhoneiros e de suas lutas nos Estados Unidos pode ser ilustrada, em
parte, no filme “Hoffa”, que conta a história de Jimmy Hoffa, um poderoso líder sindical, que
presidiu, entre 1957 e 1971, o Sindicato Nacional dos Motoristas de Caminhões dos Estados,
com cerca de dois milhões de filiados. Em 1982, Hoffa desapareceu misteriosamente, sem
que o seu sumiço tenha sido esclarecido até os dias atuais. A política do sindicato e de seu
líder gerava muitas controvérsias, inclusive a de fazer acordos com setores da máfia, com o
objetivo de fortalecer a luta dos caminhoneiros. Foi assim que Hoffa conseguiu um acordo
histórico entre vários sindicatos do país. Após esta conquista, foi condenado e preso por um
longo período, acusado de fraude e tentativa de suborno. Posteriormente, em 1971, foi per-
doado pelo presidente Richard Nixon, entretanto foi impedido de regressar a atividade sin-
dical. Reconhecendo seus méritos, o sindicato dos caminhoneiros (Teamsters) lhe concedeu
uma indenização.
No Chile, em 1972, os caminhoneiros fizeram uma greve que durou 26 dias e con-
tribuiu para agravar a crise econômica pela qual passava o país. Esta greve contribuiu
para derrubar o governo de esquerda e resultou no golpe de Estado que retirou o pre-
sidente Salvador Allende do poder. Ele havia sido eleito em 1970 com uma plataforma
de nacionalização de serviços, como o sistema de saúde e da indústria mineral, além
de propor a redistribuição de terras. Em agosto de 1973, um ano depois da primeira
greve, 40.000 caminhoneiros voltariam a paralisar o país, ao lado de outros 210.000
donos de pequenos negócios e empresários. A instabilidade e a crise econômica le-
varam o presidente Allende a ser deposto pelo exército e pela força nacional em 11 de
setembro de 1973, numa tomada de poder que incluiu o bombardeio do palácio pre-
sidencial de La Moneda e o suicídio de Allende, em um dos episódios mais violentos
da história do Chile.
O filme “F.I,S.T” - Federation Interstate Truckers, retrata o começo do movimento
operário dos Estados Unidos, nos anos 30 e a maior greve de caminhoneiros, em 1978,
contra a companhia de transporte de cargas, Consolidated, onde são reivindicadas
melhores condições de trabalho, pagamento de horas extras, plano de saúde para os
caminhoneiros e seus familiares. A greve iniciou de forma pacífica, entretanto os pa-
trões utilizaram a violência, inclusive causando a morte de uma liderança sindical. Os
caminhoneiros se associaram a um mafioso local, como estratégia de contra-atacar
as arbitrariedades dos patrões. Dessa forma conseguiram superar a resistência das
empresas, conquistando assim várias reivindicações trabalhistas.

61
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

No Brasil, em 1989, os caminhoneiros se po- que não acreditavam em crime de responsabili-


sicionaram fortemente a favor da candidatura de dade votaram a favor do impeachment.
Fernando Collor de Mello, candidato do Partido da Em 21 de maio de 2018, durante o governo
Reconstrução Nacional (PRN), de alinhamento de Michel Temer, os caminhoneiros autônomos e
ideológico à direita, auto-denominado de “O Ca- das transportadoras de cargas no Brasil iniciam
çador de Marajás”. Fernando Collor derrotou o uma greve em âmbito nacional, que foi chamada
candidato da esquerda, Luiz Inácio Lula da Sil- de “locaute” ou Crise do Diesel. Os grevistas se
va no segundo turno e, três anos depois, sofreu manifestaram contra os reajustes nos preços
impeachment, sendo cassado pelo Senado. dos combustíveis, principalmente do óleo die-
Ainda no Brasil, entre fevereiro e março de sel, praticados pela Petrobras, com frequência
2015, no primeiro ano do segundo mandato da diária; pelo fim da cobrança de pedágio por eixo
Presidenta Dilma Rousseff, dezenas de cidades fi- suspenso e pelo fim do PIS/Cofins1 sobre o diesel.
caram sem abastecimento de combustível e de A paralisação e os bloqueios de rodovias em 24
alguns gêneros alimentícios em razão de uma estados e no Distrito Federal causaram desabas-
série de protestos de caminhoneiros. Entidades tecimento de alimentos e de remédios em todo
como a Confederação Nacional dos Transporta- país, escassez e alta de preços da gasolina, com
dores Autônomos (CNTA) e a União Nacional dos longas filas para abastecer.
Caminhoneiros engrossaram os protestos, que Apesar da pesquisa realizada pela CNT (2016)
tinham como pauta a redução do preço do óleo identificar o combustível como um dos principais
diesel, melhores condições de financiamento dos custos operacionais dos veículos (94,5%) e uma
veículos e a criação de um frete mínimo. das principais reivindicações dos caminhoneiros
A segunda onda de paralisação ocorreu em (66,7%), o governo Temer, tendo Pedro Parente
novembro do mesmo ano, quando os caminho- como presidente da Petrobrás, desconsiderou
neiros bloquearam rodovias em ao menos 12 Es- esta realidade e contraditoriamente estabeleceu
tados, reivindicando o impeachment da presi- uma política que, de um lado reduziu em cerca de
dente Dilma Rousseff. Segundo Fábio Roque, 25% a capacidade de beneficiamento de deriva-
um dos líderes do movimento no Rio Grande do dos de petróleo pela Petrobrás, por outro lado,
Sul, o Comando Nacional do Transporte (CNT), alinhou os preços dos combustíveis ao mercado
que convocou o movimento por meio das redes internacional. “Desde que Pedro Parente impôs
sociais é crítico ao governo e pede o afastamento uma política de preços alinhada ao mercado in-
da presidente. “Somos apartidários e sem cunho ternacional, a Petrobrás já reajustou mais de 200
político. Nós lutamos pela salvação do país, e isso vezes os preços dos derivados nas refinarias”
só será feito a partir da deposição da Dilma, seja (Federação Única dos Petroleiros – FUP, 2018).
por renúncia ou por impeachment”. Durante a greve dos caminhoneiros, formou-
Apesar de Dilma Housseff ter sido reeleita -se uma frente composta pela base dos caminho-
democraticamente, em 2014, com 54,5 milhões neiros (funcionários, terceirizados e autônomos),
(51,64%) de votos válidos, em dois de dezembro o patronato da indústria agrícola de exportação e
de 2015 teve início o seu processo de impeach- empresários de transporte, que destituiu Pedro
ment, quando o então Presidente da Câmara dos Parente da presidência da Petrobras, em 01de
Deputados, Eduardo Cunha, aceitou a denúncia junho de 2018.
por crime de responsabilidade. Após três meses Pesquisa realizada pela Datafolha, em 30 de
de tramitação do processo iniciado no Senado, em junho de 2018, ouviu 1.500 pessoas e concluiu que
31 de agosto de 2016, a presidenta Dilma Rousseff apesar dos efeitos da greve dos caminhoneiros,
teve seu mandato cassado, sem ter cometido cri- 87% dos brasileiros apóiam o movimento. Ape-
me algum. Destaque-se que até mesmo senadores nas 10% são contrários, 2% indiferentes e 1%

1 PIS – Programa de Integração Social. COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.

62 São Luís/MA
julho 18
 Resgate histórico de movimentos de caminhoneiros

não souberam opinar. e empregados de frota, em todas as regiões do


Quatro dias após o início da greve, o minis- Brasil. Os resultados desta pesquisa foram siste-
tro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal matizados em um documento com 100 páginas e
Federal (STF), concedeu liminar proibindo o blo- publicado na internet. A CNT conclui que “os resul-
queio de rodovias e autorizando o uso de força tados do levantamento reforçam a recomendação
da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Militar do aprimoramento nas campanhas de combate
e da Força Nacional. Na ação, proposta pela Ad- ao uso de drogas, direção segura, redução de aci-
vocacia-Geral da União, o magistrado também dentes e treinamento profissional”. Entretanto,
autorizou a cobrança de multas para quem des- quando se faz uma análise mais cuidadosa dos
cumprisse as ordens. dados da pesquisa, constata-se que as recomen-
Na tentativa de acabar com a greve, sete dações feitas pela CNT não encontram amparo
dias após o seu início, o presidente Michel Te- nos dados pesquisados, visto que, o combate
mer propôs reduzir o preço do litro do diesel em ao uso de drogas, uma das recomendações da
R$ 0,46 e isentar o pagamento de pedágio para CNT, teve apenas 2,5% dos caminhoneiros que
eixos suspensos de caminhões vazios. Publicou confirmaram consumir bebida alcoólica, eventu-
em 27 de maio, em edição extra do Diário Oficial almente, durante a jornada de trabalho e 26,5%
da União, três medidas provisórias, MPs 831, 832 e que responderam ter experimentado substân-
833, que foram negociadas com os caminhoneiros. cias ou drogas. Quanto a redução de acidentes,
Em 30 de maio o governo publicou mais outra recomendação da CNT revela que 9,8%
três medidas provisórias, MPs 836, 838 e 839, dos motoristas se envolveram em pelo menos
cujo objetivo foi compensar os gastos que serão um acidente de trânsito nos últimos dois anos e
gerados pelo acordo, que inclui a redução dos tri- 1,1% se envolveram em dois acidentes.
butos sobre o óleo diesel, acarretando uma deso- Causa estranheza que mesmo 94,5% dos ca-
neração de cerca de R$ 4,01 bilhões aos cofres minhoneiros autônomos considerarem o combus-
públicos e uma das MPs corta inclusive despe- tível como um dos principais custos operacionais
sas com investimentos e em áreas sociais. Com com os veículos e 66,7% reivindicarem a “redução
base na MP 839/2018, o Ministério de Minas e de taxas e impostos no consumo de combustível”,
Energia receberá R$ 9,5 bilhões para financiar a CNT não tenha feito recomendação alguma para
despesas com o subsídio ao óleo diesel (Agência o item combustível. Causa ainda mais estranheza
Senado, 2018). que “redução de taxas e impostos no consumo
de combustível”, tenha sido a principal pauta de
QUEM SÃO OS CAMINHONEIROS NO BRASIL reivindicação da greve dos caminhoneiros em
Segundo Lima (2018) existem dois milhões de ca- 2018 e que este item esteja inserido e escrito na
minhoneiros no Brasil, que representam cerca de pesquisa da CNT exatamente como reivindicado
3,4% da população de homens economicamente e negociado na greve de 2018.
ativa, 58% destes trabalham com carteira assina- Com base nos dados da pesquisa, questiona-
da, 28% são autônomos e são responsáveis pelo -se: porque o combustível foi identificado como
transporte de 61% das mercadorias. Na China um dos principais custos operacionais com os
o transporte de mercadorias por rodovias é de veículos e era a principal reivindicação dos cami-
40%; nos EUA, 32% e na Rússia é de apenas 8%. nhoneiros, no entanto a CNT não publicou estes
Em pesquisa realizada pela Confederação resultados?
Nacional do Transporte – CNT (2016), denominada
“Pesquisa CNT Perfil dos Caminhoneiros 2016”, CONCLUSÃO
foram realizadas 86 perguntas sobre o profis- Como conseqüência das suas condições objetivas,
sional e sobre a atividade de caminhoneiro; foram historicamente os caminhoneiros foram manipu-
entrevistados 1.066 caminhoneiros autônomos lados por forças políticas reacionárias. Foi assim

São Luís/MA
julho 18
63
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais

nos Estados Unidos, de 1957 a 1971, quando o Sin- REFERÊNCIAS


dicato Nacional dos Motoristas de Caminhões, Confederação Nacional do Transporte – CNT;
para reagir as agressões dos patrões, para con- Pesquisa CNT Perfil dos Caminhoneiros 2016.
seguirem vencer a resistência das empresas e 2016. 100p. http://cms.cnt.org.br/Imagens%20
obterem conquistas trabalhistas, se associaram CNT/PDFs%20CNT/Pesquisa%20de%20
a setores da máfia. Foi assim no Chile, em 1972, Perfil%20dos%20Caminhoneiros/Pesquisa_
quando os caminhoneiros apoiaram o golpe contra CNT_de_Perfil_dos_Caminhoneiros_2016_
o governo de Salvador Allende, que contou inclu- Completo.pdf. Retirado da internet em 01 de
sive com o apoio financeiro dos EUA. junho de 2018.
Nos anos 90, no Brasil, os caminhoneiros
apoiaram a campanha de Fernando Collor. Em Federação Única dos Petroleiros – FUP; http://
2016 os caminhoneiros apoiaram o golpe contra www.fup.org.br/ultimas-noticias/item/22775-
o governo de Dilma Housseff. Em 2018 a grande pedro-parente-afronta-o-povo-e-aumenta-de-
maioria dos caminhoneiros foi manipulada pelos novo-a-gasolina. Retirado da internet em 01 de
patrões das empresas de transporte de cargas junho de 2018.
(locaute) que, em nome da redução do preço do
óleo diesel, se aliaram aos golpistas para partici- Agência Senado, Governo edita mais três MPs
par da pilhagem aos cofres públicos e defenderam para atender caminhoneiros. Edição de 01 de
a intervenção militar no Brasil. junho de 2018. https://www12.senado.leg.br/
Por fim, pode-se concluir que a greve dos ca- noticias/materias/2018/06/01/governo-edita-
minhoneiros em 2018 foi pensada dois anos antes mais-tres-mps-para-atender-caminhoneiros.
e prenunciada a partir da pesquisa realizada em Retirado da internet em 27 de junho de 2018.
2016. Prova disso foi a não publicação, por parte
da CNT, da reivindicação dos caminhoneiros para Lima, L.; O mercado de trabalho dos
baixar os custos operacionais dos caminhões por caminhoneiros no Brasil. Janeiro de 2018.
meio da redução do preço do combustível, prin- https://rpubs.com/lucaslima/dissertacao.
cipal reivindicação da greve de 2018. Retirado da internet em 02 de junho de 2018

64 São Luís/MA
julho 18
tema
2
Os impactos das
reformas do
Estado na
Educação Brasileira:
Os desafios do
Movimento Docente
As recentes ameaças
à autonomia dos
Institutos Federais
_________________________________________________________________________________________________________________________________
EDUARDO DE OLIVEIRA DA SILVA
ADUFRGS Sindical

O
s Institutos Federais constituem um novo paradigma na formação profissional em
nosso país, e surgiram para complementar a lacuna existente entre a Universidade
e a formação básica, numa perspectiva de Educação Pública, Laica, Gratuita e de
Excelência, e ao mesmo tempo, inclusiva. Sua criação se dá com a Lei 11.892 de 29 de de-
zembro de 2008, a qual institui a Rede Federal de Educação Profissional, tendo como base
a estrutura dos antigos CEFETs, Escolas Técnicas e Escolas Agrotécnicas Federais.
Em sua lei de criação destaca-se o oferecimento de formação em diversos níveis, da edu-
cação básica até a pós-graduação, visando desenvolver e fortalecer os arranjos produtivos
locais, pela formação cidadã, a pesquisa aplicada, a inovação e a extensão tecnológica. Atu-
almente existem 38 Institutos Federais, os quais contam com 643 campi localizados em 568
municípios, ofertam 11.264 cursos, de nível técnico à pós-graduação, e registram a matrícula
de mais de 1 milhão de estudantes. São 43 mil professores e 34 mil técnicos-administrativos.
Se por um lado sua estrutura é complexa e abrangente, com número e estrutura compa-
ráveis às Universidades Federais, por outro é uma instituição ainda jovem, que completou 10
anos de existência em 2018. Suas raízes ainda não estão suficientemente firmadas na reali-
dade educacional brasileira, e por isso tem sido vítima de ameaças à sua autonomia, em grau
muito maior que a Universidade. Este texto tratará dos casos mais flagrantes e recentes de
ataques à a Instituição, mas que se não tiverem uma resposta clara por parte da comunida-
de e das representações sindicais, será apenas a porta aberta para a institucionalização do
desmonte desta Rede.
No seu último dia de mandato, o então Ministro da Educação Aloísio Mercadante insti-
tuiu a famigerada Portaria n° 17 de 11 de maio de 2016, sendo publicada no DOU em 13 de maio
de 2016, com a assinatura do então Secretário Marcelo Machado Feres, da SETEC. Cabe res-
saltar o contexto político do momento, em que Dilma é afastada com a instauração do pro-
cesso de Impeachment no Senado, e Temer assumindo interinamente já com seu Ministério
indicado, partir de 12 de maio, tendo dentre estes Ministros, Mendonça Filho. Pelo texto da
Portaria, haveriam 180 dias para as alterações serem implementadas, prazo encerrado em
outubro de 2016.
Esta Portaria define diretrizes gerais para a regulamentação das atividades docentes,
representadas pela sigla RAD, exclusivamente para os professores da Carreira Docente
do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT). Definir diretrizes gerais à primeira vista
não parece ser algo nocivo, muito pelo contrário. Entretanto, o seu princípio desta Portaria
fere justamente a Lei de Criação 11.892/2008 no que compete à autonomia administrativa,
patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar previstas. Em seu texto, a lei igno-

67
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

ra em termos gerais as especificidades de cada Ofício n°143/2016 junto à Secretária da SETEC


Instituto. O estabelecimento de cargas horárias Eline Neves Braga Nascimento, solicitando a pror-
mínimas e a medida básica de 60 minutos para rogação do prazo de implementação para julho de
as atividades docentes atinge inclusive a Lei de 2017, e relata a necessidade de ajustes da portaria
Diretrizes e Bases (DB 9394/96). É imposto ao em função de especificidades dos Instituto Fede-
docente a burocratização de seu trabalho, o qual rais que não são contempladas por tal Portaria.
deve obedecer um Plano com metas a serem atin- Em 13 de maio de 2017 foi publicada a Portaria
gidas e resultados esperados. O tempo destinado SETEC nº 14. Esta nova portaria criou um Grupo de
á Pesquisa e Extensão também são diminuídos Trabalho para revisar e apresentar uma proposta
pela maximização da carga horária em sala de aula. de alteração da Portaria nº 17/2016.
A Portaria 17 nada mais é do que parte da Em julho de 2017, foi estabelecido um Grupo
campanha existente contra os servidores públi- de Trabalhado de entidades representativas e
cos, como desculpa de que há uma justa cobrança sindicais junto do MEC para ajustar a Portaria, e
por parte da população de que haja maior controle infelizmente o PROIFES não participou, em detri-
nos orçamentos, maior produtividade dos servi- mento de outras entidades sindicais que se pro-
ços, mas com uma interpretação completamente põem a representar os professores da Carreira
equivocada, confundindo a real natureza do traba- EBTT. A lamentável não participação de nossa
lho docente com uma mera lotação de horas com Federação teve consequências, e o GT não atingiu
maximização de produção no sentido tecnicista. os resultados que seriam esperados.
Em outras palavras, tira autonomia do docente e Finalmente, é emitida a Portaria n°31 de 27 e
de sua instituição com a falsa justificativa de au- julho de 2017, que estende o prazo de adaptação
mentar a qualidade da Educação Pública. às regras da Portaria 17 até outubro de 2017. Nes-
Nossa Federação respondeu, em parte, à te momento, as Reitorias de diversos Institutos
ameaça desta Portaria. Em 21 de maio, o PROI- estão em vias de regulamentação e implemen-
FES Federação publicou uma nota ressaltando tação da RAD, causando inúmeros transtornos
os prejuízos causados por esta portaria para a e situações de assédio moral pela adequação
qualidade da educação. No XII Encontro Nacio- forçada de uma legislação que não é adequada
nal do PROIFES, realizado entre os dias 4 e 7 de a todas as realidades.
agosto de 2016 em Natal-RN, foram aprovadas Alguns apontamentos devem ser feitos fren-
dentre suas deliberações: te à situação atual. A Lei 11.892/2008, que cria os
“Estabelecer como tarefa política a nossa Institutos Federais, em seu artigo 1º, parágrafo
luta em defesa da autonomia das Instituições único, expressa claramente que essas institui-
de Ensino que se materializa, entre outras, pelo ções terão natureza jurídica de autarquia e que
repúdio às proposições conservadoras como a são detentoras de autonomia administrativa,
“Escola sem partidos” e a Portaria 17, do MEC, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e
assinada em 11 de maio do corrente ano, que re- disciplinar.
duz a gestão dos IFs à centralização autoritária A autonomia dos Institutos foi também re-
do controle dos professores”. centemente ameaçada por um velado projeto de
Também foi aprovado neste Encontro que reestruturação da Rede Federal.
“A revogação da Portaria 17/2016 e de toda Um infame arquivo com o nome “Rearranjo
e qualquer medida que engesse a atividade do- Rede Federal 02-02-18” na forma de uma apresen-
cente que deve ser definida no interior de cada tação intitulada “Simulações para Reordenamen-
Instituição, garantindo autonomia universitária to das Unidades da Rede Federal de Educação
e gestão democrática.” Profissional, Científica e Tecnológica” com a assi-
Em 20 de outubro de 2016, o Presidente do natura da SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFIS-
CONIF Marcelo Bender Machado protocolou o SIONAL E TECNOLÓGICA – SETEC Diretoria de

68 São Luís/MA
julho 18
 As recentes ameaças à autonomia dos Institutos Federais

Desenvolvimento da Rede Federal de Educação e recente, alvo dos olhos ávidos do mercado de
Profissional, Científica e Tecnológica – DDR, e o empresas educacionais, por exemplo. É sabido
selo do Governo Federal acabou por vazar entre que tal governo é conivente e parceiro dos gru-
grupos de WhatsApp e de maneira inesperada se pos mercantis da educação, e com uma boa base
tornou pública. Ninguém pode garantir a veracida- para aprova-la no Congresso, não teria pudores
de do documento, mas a consistência de seus ar- de alterar a Lei para torna-la receptiva a estes
gumentos e o detalhamento das informações que grupos a agradar o apetite do Mercado.
contém mostra que em algum momento, na pior Conclui-se por fim que as ameaças à auto-
das hipóteses, foi sim cogitada tal reestruturação, nomia do Instituto Federal, o qual recentemente
por mais que o Governo negue. Também mostra completou apenas 10 ano de existência, são na
que a época de informações rápidas e vazamentos verdade ameaças à sua Lei Criadora. O PROIFES,
que vivemos tem lá suas vantagens, ainda mais enquanto entidade que participou recentemente
quando se trata de discussões e informações que da III CRES defendendo a Educação Pública, tem
se pretende esconder do grande público. um compromisso moral com esta defesa.
Fato é que embora tal possibilidade tenha
sido entendida por muitos docentes como jus- PROPÕE-SE:
tificável ou até bem-vinda, pois ela colocaria Que passe a ser bandeira de luta da Federação
fim a certas distorções geográficas produzidas não só a defesa da autonomia dos Institutos
pela condução política utilizada no momento Federais, na mesma perspectiva que se alme-
da criação da Rede Federal, por outro lado, de- ja a defesa da Autonomia universitária, mas
ve-se alertar para um lado muito mais obscuro também, e de maneira portanto mais ampla,
implícito nesta proposta de reestruturação. O a defesa intransigente da Lei de Criação dos
significado por trás é que, de certa forma, o Go- Institutos Federais.
verno atual se sente muito à vontade para fazer Acrescento que, para que esta defesa seja
alterações na Lei de Criação dos Institutos Fede- efetiva, a Federação deve-se utilizar dos instru-
rais, pois outra forma não haveria de produzir tal mentos que sempre foram a marca do Novo Mo-
“Reestruturação”. Mexer na lei de criação é um vimento Docente: a política, a negociação e a par-
risco muito maior que perece. É abrir a pesada ticipação nas discussões junto ao Governo que
tampa de uma “caixa de pandora”, que permite definem o futuro das Instituições Educacionais
deixar desprotegida uma rede tão ainda frágil em nosso país.

São Luís/MA
julho 18
69
São Luís/MA
julho 18
Pelo fortalecimento
do Ensino Médio
Integrado
e do trabalho docente na Rede
Federal de Educação Profissional
Científica e Tecnológica.
_________________________________________________________________________________________________________________________________
ADNILRA SANDESKI
IFPR - SINDIEDUTEC
AMARILDO MAGALHÃES
IFPR - SINDIEDUTEC

E
ste texto foi escrito a partir do I Seminário Nacional do Ensino Médio Integrado,
que foi pensado pelo Fórum de Dirigentes de Ensino – FDE, pela Câmara de Ensino
do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional,
Científica e Tecnológica (CONIF) e foi realizado em setembro de 2017 em Brasília e contou
com a Organização do Instituto Federal de Brasília – IFB. Seu objetivo foi refletir sobre os
principais desafios apresentados para o Ensino Médio Integrado no contexto das recentes
transformações ocorridas na legislação educacional brasileira.
Neste ano, o II Seminário Nacional do Ensino Médio Integrado está marcado para o perío-
do de 07 a 09 de agosto de 2018, o Fórum de Dirigentes de Ensino do CONIF, deliberou sobre a
necessidade de promoção de debates sobre os novos marcos legais para o ensino médio e seus
possíveis impactos sobre a realidade do ensino médio integrado. Definiu-se como objetivo do
evento discutir currículo, formação de professores, avaliação, indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão.
Sua realização anual, nasceu com o intuito de atender a uma demanda latente da comuni-
dade acadêmica e dos movimentos estudantis, como também de toda a sociedade que almeja
aprofundar a compreensão sobre os impactos da reforma do ensino médio na vida de estudantes,
professores e comunidade escolar.
É indiscutível que as reformas educacionais brasileiras imprimiram um novo perfil de traba-
lhador no interior das instituições educativas, principalmente no interior dos Institutos Federais
e da universidade pública brasileira. A associação do conceito das reformas educacionais com o
trabalho docente precisa estar vinculada com as políticas educacionais, pois o trabalho do pro-
fessor é influenciado de tempo em tempos pelo que a sociedade estipula como regra geral para
o planejamento educacional. As reformas educacionais são fruto de políticas educacionais, por
isso, que o resultado do planejamento das políticas públicas se materializa por meio das reformas
educacionais.
É nesse contexto de reformas que escrevi este texto para que esta temática do fortaleci-
mento do Ensino Médio Integrado na Rede Federal de Educação Profissional de Ciência e Tec-
nologia – EPCT, e o fortalecimento do trabalho docente também sejam pautas de defesa e de
luta pelo PROIFES.

71
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

A análise da legislação indica os fundamen- Nessa perspectiva, o Ensino Médio In-


tos ontológicos de educação que orientam os tegrado surge como uma possibilidade de reali-
Cursos Integrados, bem como a base legal que de- zação mais inteira de um processo educacional,
termina sua oferta, em especial a Lei 11.892/2008 neste nível e âmbito, visto que busca cumprir o
e a Resolução CNE/CEB nº 06/2012. Por outro papel do desenvolvimento da capacidade de re-
lado, entendemos que a Legislação educacional flexão ampla, de cultura geral, de visão ampliada
vigente garante a continuidade de oferta, mesmo de mundo e, nem antes ou depois, mas ao mesmo
com a edição da Lei 13.415/2017 que alterou a LDB. tempo, desenvolver habilidades específicas para
O CONIF através do Fórum de Dirigentes o trabalho – que, dessa forma, não é cego ou alie-
de Ensino - FDE criou o GT dos Cursos Integra- nado, é um trabalho oriundo de reflexão crítica.
dos que elaboraram uma minuta de Parâmetros Os cursos integrados ofertados pela rede fede-
Gerais dos Cursos Técnicos Integrados da Rede ral, constituem-se, dessa forma, importantes flancos
Federal de EPCT. A minuta tem como propósito de resistência ao neotecnicismo pedagógico e ao
oportunizar uma discussão do tema e possibili- neoliberalismo econômico que sustentam a reforma
tar contribuições de toda a Rede Federal para a do ensino médio imposta pela Lei 13.415/2017. Por
constituição dos parâmetros. isso, é fundamental o engajamento dos educadores
O GT teve como base na sua pesquisa os e educadoras representados pelo Proifes-Federa-
dados da Plataforma Nilo Peçanha- PNP e esta ção em sua defesa. Fortalecer essa forma de ofer-
demonstra que a Rede Federal de EPCT precisará ta educacional e repudiar concretamente todas as
ampliar a oferta de vagas para cursos integrados tentativas de sua precarização é mostrar a toda à
para garantir a prioridade de vagas desta forma nação que os filhos e filhas de trabalhadores pre-
de organização de ensino, dentro dos 50% pre- cisam de uma formação integral, omnilateral e po-
vistos para a oferta de Cursos Técnicos. litécnica e não podem ser objeto de uma formação
Nessa perspectiva, é de fundamental im- reducionista que acentua a injusta divisão de classes
portância considerar o que estabelece a Lei imposta pela sistemas político-econômicos que, há
11.892/2008: cinco séculos, depredam esta nação.
Art. 7º Observadas as finalidades e Isso não se faz sem o combate igualmente
características definidas no art. 6º desta
acirrado contra toda forma de precarização do
Lei, são objetivos dos Institutos Federais:
I – Ministrar educação profissional técnica trabalho docente que, no âmbito da rede federal de
de nível médio, prioritariamente na forma educação profissional científica e tecnológica, são
de cursos integrados, para os concluintes representados entre outros, pelo reconhecimento
do ensino fundamental e para o público da
do “notório saber” embutido na reforma do ensi-
Educação de Jovens e adultos;
(…) no médio e pela predatória Portaria Setec/Mec
Art. 8º No desenvolvimento da sua ação 17/2016, que coloca sob ameaça as características
acadêmica, o Instituto Federal, em cada fundamentais da carreira EBTT consignados, ao
exercício, deverá garantir o mínimo de 50%
preço de muita luta, na Lei 12.772/2012.
de suas vagas para atender aos objetivos
definidos no inciso I do caput do art. 7º. Á guisa de conclusão e de exortação à luta,
são primordiais as palavras de Bertold Brecht:
Na PNP as matrículas em Cursos Técnicos “Desconfiai do mais trivial, na aparência singe-
representam 53,81% do total de matrículas e as lo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
matrículas em Cursos Integrados, por sua vez, Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é
representam 24,1% do total de matrículas. Por- de hábito como coisa natural, pois em tempo de
tanto, passados dez anos da criação dos Institu- desordem sangrenta, de confusão organizada, de
tos Federais, a prioridade de oferta em relação arbitrariedade consciente, de humanidade desu-
aos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio manizada, nada deve parecer natural nada deve
ainda não se concretizou. parecer impossível de mudar.”

72 São Luís/MA
julho 18
 Pelo fortalecimento do Ensino Médio Integrado

REFERÊNCIAS da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho


BRASIL. Conselho Nacional de Educação. 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção
Resolução nº 06 de 20 de setembro de 2012. Define e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Valorização dos Profissionais da Educação, a
Profissional Técnica de Nível Médio. Disponível em: Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e
docman&view= download&alias=11663- o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967;
rceb006-12-pdf&category_slug=setembro-2012- revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e
df&Itemid=30192>; Acesso em: 20.jun.2018. institui a Política de Fomento à Implementação
de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral.
BRASIL; Lei 11.892, de 28 dezembro de 2008. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/
Institui a Rede Federal de Educação Profissional, fed/lei/2017/lei-13415-16-fevereiro-2017-784336-
Científica e Tecnológica, cria os Institutos publicacaooriginal-152003-pl.html>. Acesso em
Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá 29.jun.2018.
outras providências. Disponível em: < http://www.
planalto.gov.br/ccivil _03/_ato2007-2010/2008/ FDE. Fórum dos Dirigentes de Ensino. Conselho
lei/l11892.htm>. Acesso em 1.jul.2018. Nacional dos Dirigentes das Instituições da Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e
BRASIL. 13.415 de 17 de fevereio de 2017. Tecnológica. Parâmetros para o Currículo dos
Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro Cursos Integrados na Rede Federal de EPCT:
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases minuta. (no prelo)

São Luís/MA
julho 18
73
São Luís/MA
julho 18
A Fúria normativa do
governo golpista,
um ataque frontal à Autonomia
Universitária
_________________________________________________________________________________________________________________________________
EDUARDO ROLIM DE OLIVEIRA
ADUFRGS-Sindical

A AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA
A Autonomia Universitária é um princípio constitucional, garantido pelo Art. 207 da CF1988,
que reza:
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão.§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros,
na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)

Não obstante a realidade de que é um fato consuetudinário no direito brasileiro a


necessidade de regulamentação dos princípios constitucionais por instrumentos infra-
constitucionais, essa sempre foi uma grande polêmica no movimento docente, onde as
correntes responsáveis deste, as que não são principistas e rasas nas análises, historica-
mente acreditaram na necessidade de regulamentação do Art. 207.
Ainda que se possa ter argumentos teóricos que suportam ambas visões sobre a
necessidade de regulamentação, a prática - importante critério da verdade - dos 30 anos
de Constituição mostra que pouco a pouco a autonomia foi sendo cada vez menos garan-
tida. Os sucessivos governos foram sempre criando mecanismos que violam o princípio
constitucional, e, dentre os exemplos mais candentes que temos para demonstrar essa
tendência de crescente diminuição da autonomia estão a perda do direito de nomear
os procuradores das Universidades. Prerrogativa que os reitores perderam, com a es-
truturação da Advocacia Geral da União (AGU), pela Lei 10.480/2002, que hoje nomeia,
orienta e decide o posicionamento das procuradorias, que na realidade são apenas se-
ções da Procuradoria Geral Federal (PGF) conforme os arts. 10 e 11 dessa Lei. Este novo
preceito legal deixou as Universidades, que deveriam ser entidades autônomas, reféns
das diretrizes governamentais, transformando-as em apenas mais um órgão de governo,
despindo-as da sua real natureza, que é de serem órgãos de Estado, por força do poder
constituinte originário.
O Projeto de Lei Orgânica das Universidades e Institutos Federais do PROIFES-Fede-
ração, aprovado no X Encontro Nacional em 2014 prevê a mudança do Art. 15 dessa Lei, que
passaria a dar às Universidades (e Institutos) Federais a mesma autonomia de assistência
jurídica que hoje é dada só ao Banco Central do Brasil, dentro do espírito neo-liberal do
Governo FHC, que aliás não foi alterada, no que tange a esta matéria nos governos do PT.
Reza assim o Art. 7º do Projeto de Lei Orgânica do PROIFES-Federação:

75
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

Art. 7o A “Universidade Federal” possuirá nicação, normalmente on line, e áudios, processos,


uma Procuradoria Jurídica independente, conduções coercitivas, por sinal agora ilegais, são
cujos procuradores serão servidores da
IFES, admitidos por concurso público de
colocadas em holofotes. Os vazamentos seleti-
provas e títulos e cujo procurador chefe será vos acabam com reputações, e as pessoas são
escolhido e nomeado pelo Reitor dentre os “condenadas” sem julgamento. Este estado de
procuradores concursados; exceção que vivemos no Brasil é uma afronta à
Parágrafo Único: O art. 15 da Lei nº 10.480,
de 2 de julho de 2002, passa a vigorar com a
democracia e à república, e tem levado inclusive
seguinte redação: “Art. 15. O disposto nos arts. à tragédias, sendo o caso mais emblemático o
10 e 11 desta Lei não se aplica à Procuradoria- suicídio do Reitor da Universidade Federal de
Geral do Banco Central do Brasil e às Santa Catarina.
Procuradorias Jurídicas das Universidades
Federais”.
Ainda nesse contexto temos a fúria norma-
tiva do Ministério do Planejamento, Desenvolvi-
Outro exemplo típico é a crescente e perma- mento de Gestão (MPDG), órgão que deixou de ser
nente ação dos ditos “órgãos de controle”, que exa- o espaço da negociação com os servidores para
cerbam de seu papel. Uma das formas mais bem ser o órgão violador da autonomia universitária,
acabadas que demonstram esta tese é a afronta por excelência. Aqui serão analisadas normas
ao direito adquirido, lastreado em decisões judi- que ignoram o papel próprio das instituições de
ciais transitadas em julgado, que são anuladas de ensino e a natureza particular do fazer docente,
ofício por acórdãos do tribunal de Contas da União ao arrepio do Art. 207 da CF1988.
(TCU), que se arroga papel de Tribunal judicial, com Por essas razões ratificamos a posição já
presumido poder de reformar sentenças, quando histórica do PROIFES-Federação, que da mesma
não passa de um órgão assessor do Poder Legis- forma que a ANDIFES, defende e tem proposta
lativo na análise das contas. de Lei Orgânica das Universidades e Institutos
O correto fluxo das decisões deveria res- Federais. Nesse Anteprojeto de Lei estão as vaci-
peitar sempre a autonomia das Universidades nas contra vários dos males acima citados, como
e o respeito à sentença irrecorrível. No limite o a independência das procuradorias, a inviolabili-
TCU deveria apontar apenas as irregularidades dade e irredutibilidade dos orçamentos e a recu-
eventualmente existentes e, se assim entendesse, peração do papel de Estado das instituições, que
deveria levar sua posição ao judiciário, Poder que recuperariam o direito de eleger os dirigentes e
é também desrespeitado com essas determina- de regulamentar progressões e concessões de
ções do TCU às Universidades, as quais as Admi- adicionais, como por exemplo o de insalubrida-
nistrações são compelidas a cumprir, sob pena de, além de deliberarem autonomamente sobre
de glosa de contas e processos administrativos. cursos e currículos.
Finalmente, no meio do atual processo de
caça às bruxas ao qual os servidores públicos têm A RETROATIVIDADE DAS
sido submetidos, por arte dos órgãos modernos PROGRESSÕES E PROMOÇÕES
de repressão pseudo-moralista que se transfor- Quando da negociação da Lei 12.772/2012 este
maram o Ministério Público e a Polícia Federal, tema ficou subsumido pela consideração que
que em seu furor jurídico midiático, praticam o se tinha à época que a obviedade do texto legal
princípio de que “todos são culpados até prova bastava para que a obviedade das interpretações
em contrário”, que viola a boa tradição do direi- simples fosse consagrada. Assim sendo, parecia
to romano que apregoa que negativa non sunt óbvio o entendimento de que ao definir o prazo
probanda ou, em bom português, que o ônus da de dois anos de interstício para progressão ou
prova cabe ao acusador. promoção fosse o balizador da data em que os
Hoje as operações da PF e do MPF são sem- professores adquiriam o direito aos efeitos na
pre matérias de capa dos grandes meios de comu- carreira e os financeiros advindos da respecti-

76 São Luís/MA
julho 18
 A Fúria normativa do governo golpista

va mudança de nível e classe, com o conhecido “Art. 15-A. O efeito financeiro da progressão
limite da prescrição quinquenal, que nunca fora e da promoção a que se refere o caput do
art. 14 ocorrerá a partir da data em que o
questionada. docente cumprir o interstício e os requisitos
Infelizmente o que é óbvio para os que vivem estabelecidos em lei para o desenvolvimento
a vida real das universidades, não o é para os que na carreira.”
vivem nos corredores de Brasília, protegidos pelo
manto da pretensa autoridade sobre instituições Isso parecia ter pacificada a questão e o pró-
que para a Constituição são autônomos, mas que
prio MPDG definiu em 2016 que as portarias de
para os burocratas de plantão não são. Ainda mais
progressão e promoção emitidas após a data de
quando estes estão investidos de um rigor fisca-
publicação da Lei 13.325/2016, ou seja, 01/08/2016
lista onde nenhum direito importa só o que im-
eram apenas declaratórias, isto é, serviam apenas
porta é o corte de investimentos para alimentar
para consagrar juridicamente o direito à mudança
o “monstro do superávit primário”.
de nível ou classe e que, sim, o direito aos efeitos
Assim, quando se constatou que uma série
financeiros daí decorrentes era inquestionável,
de Universidades e Institutos Federais estavam
em respeito ipsis litteris à Lei 13.325/2016.
retroagindo os efeitos das progressões e pro-
Não que nossas assessorias jurídicas tives-
moções à data em que o professor entrava com
sem aceitado que os efeitos financeiros anterio-
o processo ou a data da emissão da portaria, ig-
res à essa data tinham se perdido, ao contrário,
norando os interstícios de dois anos, ou no má-
as ações na justiça continuaram normalmente.
ximo àquele no qual o professor completava a
Uma divergência interna ao governo, contudo
pontuação necessária, subtraindo do professor
permaneceu, em relação à promoção por titula-
os recursos devidos pelo governo, o PROIFES-
ção, que é decorrente da conclusão de mestrado
-Federação incluiu essa pauta na negociação de
e doutorado.
2015 e, após amplo processo de debate na Mesa
O MEC, com toda a autoridade de órgão se-
de Negociação, chegou-se ao Acordo 19/2015,
torial da Educação, que supostamente tem mais
que em sua Cláusula quarta preconiza:
Cláusula quarta. O efeito financeiro da
conhecimento da questão, entendia que a data
progressão e da promoção ocorrerá a partir da defesa do curso de pós-graduação é a data
da data em que o docente cumprir o interstício em que a promoção devia ser considerada, e os
e requisitos estabelecidos em lei para o efeitos financeiros estavam garantidos o que,
desenvolvimento na carreira.
aliás, é óbvio para quem tem um mínimo conhe-
cimento da formação acadêmica, e bastava a ata
Tal princípio de reconhecimento do direito
da defesa para dar o direito. Já o MPDG, órgão
à retroatividade foi incluído na Lei 13.325/2016,
central de pessoal, não especializado, entendia
sancionada sem vetos por Michel Temer em
que apenas na data em que o diploma fosse ex-
29/07/2016, que em seu Art. 1º, cria dois novos
pedido o professor teria o direito à promoção,
artigos na Lei 12.772/2012, o Art, 13-A para a Car-
não importando quanto tempo levasse para que
reira do Magistério Superior e o 15-A para a Car-
o mesmo fosse expedido, o que foge totalmente
reira do EBTT:
à alçada do docente e, portanto, nada tem a ver
Art. 1o A Lei nº 12.772, de 28 de dezembro
com o mérito e o esforço acadêmico, que são
de 2012, passa a vigorar com as seguintes os motivos pelos quais a obtenção de um título
alterações: causa o direito a uma promoção.
“Art. 13-A. O efeito financeiro da progressão Eis que em 2018 tudo mudou, e um “Édito
e da promoção a que se refere o caput do
art. 12 ocorrerá a partir da data em que o
Real” foi expedido pelo MPDG ao arrepio da Lei
docente cumprir o interstício e os requisitos e com um ar de total desprezo à Autonomia Cons-
estabelecidos em lei para o desenvolvimento titucional das Universidades. Através da Nota
na carreira.” Técnica 2556/2018-MP, que objetivava à dita “Uni-

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77
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

formização de entendimentos referentes à con- dos docentes das instituições federais


cessão de progressão funcional aos docentes das de ensino expedidas e/ou publicadas em
data anterior à 1º de agosto de 2016 é
instituições federais de ensino”, que foi publicada constitutiva, não produzindo, portanto,
após mudança de posição do MPDG ao responder efeitos retroativos, nos termos da Nota
a um processo administrativo de um Instituto Fe- Técnica nº 33/2014/CGNOR/DENOP/
deral que questionava a decisão anterior do pró- SEGEP/MP, de 11/02/2014 e do Parecer
nº 217/89, da SEPLAN.
prio MPDG. Essa NT foi comunicada urbi et orbi d) a reposição ao erário em virtude dos
pelo Ofício Circular nº 53/2018-MP, de 27/02/2018, pagamentos realizados a título de efeitos
onde o Ministério informa que nada mais é como retroativos à data do requerimento
antes e que agora todas as Universidades devem da progressão funcional, pode ser
dispensada, conforme Súmula TCU nº 249;
ignorar a data de interstício em que o professor e) o direito à progressão funcional é
cumpriu os requisitos para promoção. efetivamente constituído somente após
O referido Ofício Circular, cujos termos re- análise favorável da comissão avaliadora
levantes são repetidos abaixo, cria um entendi- e não meramente declarado por ela,
conforme entendimento do DEPCONSU
mento novo totalmente absurdo, que desconhece constante do Parecer nº 00001/2015/
totalmente a realidade das avaliações de desem- DEPCONSU/PGF/AGU, de 25/02/2015;
penho, que está no item h: f ) somente serão aceitas para fins de
1.  Refiro-me aos processos administrativos comprovação da titulação, a apresentação
nº 00832.000019/2016-39 e de diploma de conclusão de cursos de
00407.005562/2013-08, nos quais se mestrado e doutorado, de acordo com
discutiu a divergência de entendimentos o Ofício Circular nº 4/2017/GAB/SAA/
jurídicos acerca da concessão de SAA-MEC;
progressão funcional aos docentes das g) não é cabível a retroatividade dos efeitos
instituições federais de ensino. financeiros a partir de conclusão do curso;
2.  Esta Secretaria de Gestão de Pessoas h) a avaliação de desempenho é item
- SGP adota os posicionamentos do indissociável para fins de comprovação
Departamento de Coordenação e das exigências legais para a progressão
Orientação de Órgãos Jurídicos da funcional;
Consultoria Geral da União - DECOR/CGU/ i) não há possibilidade de acúmulo de
AGU, constantes da NOTA nº 00104/2017/ interstícios para fins de concessão de
DECOR/CGU/AGU, 18 de agosto de 2017, progressão funcional em mais de um nível
e do Parecer nº 00042/2017/DECOR/ por vez, tendo em vista a determinação
CGU/AGU, de 24 de maio de 2017, cujas normativa que exige o cumprimento
conclusões são as seguintes: cumulativo dos seguintes critérios:
a) a partir de 1º de agosto de 2016, a  I - interstício de 24 (vinte e quatro) meses
natureza das portarias de concessão de efetivo exercício em cada nível; e
de progressão ou promoção funcional  II - aprovação em avaliação de desempenho.
que forem expedidas e/ou publicadas j) a vigência do art. 16 do Decreto nº 94.664,
têm natureza meramente declaratória, de 1987, encerrou-se a partir de 31 de
vez que os efeitos financeiros das dezembro de 2012, data de publicação da
concessões deverão retroagir à data em Lei nº 12.772, que passou a regulamentar
que o docente cumprir o interstício e os inteiramente a matéria.
requisitos estabelecidos em lei para o 3. A partir desta data, ficam revogadas as
desenvolvimento na carreira; disposições da Nota Técnica nº 33/2014/
b) os docentes que tiverem completado o CGNOR/DENOP/SEGEP/MP, de 11 de
interstício e cumprido todos os requisitos fevereiro de 2014, e a concessão da
estabelecidos em lei em data anterior a progressão funcional por titulação aos
1º de agosto de 2016, só terão direito aos servidores das instituições federais de
efeitos financeiros decorrentes de tal ensino estão condicionadas à observância
progressão ou promoção a partir desta das orientações enumeradas neste Ofício-
data; Circular.
c) a natureza das portarias de concessão Todos sabemos que o papel das comissões
de progressão ou promoção funcional
de avaliação nas progressões e promoções nas

78 São Luís/MA
julho 18
 A Fúria normativa do governo golpista

classes A a D (MS) e D I a D IV (EBTT) é meramen- este tema foi objeto de acordo entre o governo
te declaratório, ou seja, é verificada a pontuação e entidade que representa os docentes das IFEs,
necessária para que o docente tenha o direito à o PROIFES-Federação, expresso no Termo de
mudança de nível ou classe. Tal processo está Acordo 19/2015.
disciplinado na Portaria 554/2013-MEC, onde
não é requerido nenhum processo de defesa ou ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE,
avaliação subjetiva que condicione a progressão PERICULOSIDADE, IRRADIAÇÃO IONIZANTE E
ou promoção. O que as comissões de avaliação GRATIFICAÇÃO POR TRABALHOS COM
fazem é verificar o prazo mínimo de interstício (24 RAIOS-X OU SUBSTÂNCIAS RADIOATIVAS
meses) e faz a contagem dos pontos e é apenas Já é recorrente a tentativa do Governo Federal de
isso que acaba constando do parecer da Comissão retirar dos servidores públicos federais o direito
de Avaliação. Se o docente atingiu a pontuação aos adicionais de insalubridade, periculosidade
prevista na regulamentação ele tem o direito à e de uso de radiações ionizantes e, na impossi-
progressão ou promoção, sendo que, como reco- bilidade legal de retirá-los tenta, através do Mi-
nhece o próprio Ofício Circular no item a, os efei- nistério do Planejamento, diminuir seu valor. A
tos financeiros são devidos na data do interstício, última tentativa nesse sentido se deu em 2012
com a ressalva de que o MPDG só aceita isso a quando o Ministério do Planejamento, Orçamen-
partir de 01/08/2016 e as assessorias jurídicas to e Gestão (MPOG) da época, sem apresentar
exigem a retroatividade dos efeitos financeiros isso aos servidores, incluiu na MP dos reajustes
até o prazo máximo da prescrição quinquenal e uma proposta de valores fixos, dos respectivos
os efeitos na Carreira desde a data em que o do- benefícios, o que não conseguiu levar a cabo gra-
cente completou 2 anos da última progressão ou ças à forte reação do PROIFES-Federação e das
completou os pontos. demais entidades sindicais, que unificadamente
Não há nas regras nacionais que regula- repudiaram tal proposta, e conseguiram manter
mentam as progressões ou promoções nas os valores nas formas percentuais então vigen-
classes A a D (MS) ou D I a D IV (EBTT) nenhuma tes, no Congresso Nacional.
menção a avaliação de mérito pela comissão, O argumento dos representantes do governo
diferente da contagem de pontos. Aqui inclusi- é que esses adicionais só existem porque as condi-
ve é importante citar que a Portaria 554/2013- ções de ambiente de trabalho não são adequadas
MEC, que foi negociada com o PROIFES-Fede- e que em sua opinião as causas de insalubridade
ração, respeita a Autonomia Universitária pois e periculosidade deveriam ser eliminadas com
delega à decisão dos Conselhos Superiores das ações gerenciais, o que levaria à perda da necessi-
IFEs a definição das pontuações e inclusive dá dade destes “ganhos”. Esse argumento foi forte-
às IFEs a possibilidade da introdução de um mente contestado pelo PROIFES-Federação na
critério a mais para a avaliação. Assim, não é Mesa de Negociação. O PROIFES reiteradamente
aceitável essa nova visão do MPDG de que a apresentou a total incapacidade de normativas
data do parecer da Comissão de Avaliação seja gerais, para todo o serviço público, de refletir
o balizador da retroatividade, até porque esse as particularidades das instituições de ensino e
prazo de avaliação independe do mérito e do pesquisa e as características próprias do fazer
esforço do docente. docente, seja no ensino, na pesquisa ou na exten-
Igualmente, a reafirmação da exigência do são, atividades indissociáveis da Universidade,
diploma de mestrado ou doutorado é totalmente como está previsto no próprio Art. 207 da CF1988.
descabida. Tal decisão do MPDG viola e Lei e, pior, Não é cabível para docentes que se ocupam
é uma prática anti-sindical que despreza o que permanentemente de aulas práticas em áreas
está previsto na Convenção 151 da Organização como química, biologia, física e áreas afins, além
Internacional do Trabalho (OIT), na medida que das áreas da saúde ou das engenharias terem que

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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

passar por verificação de tempo de exercício nas com raios-x ou substâncias radioativas, são de
atividades, que além disso são exercidas da mes- caráter transitório, enquanto durar a exposição,
ma forma nas suas atividades de pesquisa, exten- ignorando, no caso da insalubridade e de radia-
são e prestação de serviço. Essas atividades são ções os danos permanentes à saúde.
rotineiras e próprias da natureza do trabalho, e Já no Art. 9º, se caracteriza a total incon-
não cessam e não mudam em toda a sua carreira, gruência da norma com a natureza do trabalho
mesmo quando estão em cargos administrativos, docente, pois define, em relação aos adicionais
visto que não abandonam suas atividades como de insalubridade e de periculosidade, a diferen-
pesquisadores. ciação entre exposição eventual ou esporádica.
Da mesma forma, não é cabível que os ar- Quando o servidor se submete a circunstâncias
gumentos de que as condições de insalubridade ou condições insalubres ou perigosas, por tempo
ou periculosidade poderiam ser afastadas por inferior à metade da jornada de trabalho mensal
simples ações gerenciais. Este argumento igno- e a exposição habitual, que é aquela em que o
ra completamente a natureza da pesquisa e da servidor submete-se a circunstâncias ou condi-
fronteira do conhecimento, onde o docente não ções insalubres ou perigosas por tempo igual ou
tem como evitar ensinar seus alunos que terão superior à metade da jornada de trabalho men-
que lidar com essas situações na vida profissional sal, a condição em que será devido o adicional
ou deixar de lidar com agentes químicos e bioló- respectivo, fazendo com que os professores que
gicos. Ou fontes de perigo em suas atividades de trabalham em tempo integral em ensino, pesquisa
pesquisa, quando justamente a exposição é mais e extensão, tenham que comprovar se exercem
frequente e necessária, o que mostra o total des- atividades insalubres ou perigosas em um certo
cabimento do argumento. número de horas, como se o trabalho docente
Por fim, a temporalidade dos adicionais de fosse um trabalho de rotina.
insalubridade e de raios-X, que podem ser retira- E isso é mais grave porque a cada semestre
dos e não são mantidos quando da aposentadoria, as cargas horárias docentes são mudadas, mas a
despreza os danos permanentes à saúde dos do- exposição é sempre permanente, pela natureza do
centes, que muitas vezes sofrem danos perma- trabalho. A própria ON admite que exista a expo-
nentes à saúde e frequentemente são acometidos sição permanente que é aquela que é constante,
de doenças profissionais daí decorrentes. durante toda a jornada laboral. O problema é que
Por estas razões, mais uma vez o MPDG ata- o que está ocorrendo nas perícias em todo o País
ca a autonomia universitária ao impor às IFEs re- é que este tipo de exposição não é a considerada
gras gerais aplicadas a todos os servidores, sem para os novos pedidos de adicionais, e os docentes
atentar para a natureza própria do fazer docente, têm sido obrigados a comprovar tempo e os adi-
no ensino, na pesquisa e na extensão. A Orienta- cionais têm sido negados para os novos docentes,
ção Normativa 4/2017, de 14/02/2017, apresenta criando situações de condições não isonômicas
os mesmos defeitos das normativas anteriores e entre docentes novos e antigos, já que os laudos
não atende às necessidades das IFEs. Em especial em vigor não têm prazo de validade, como reza o
citam-se os seguintes pontos: próprio Art. 10 da ON.
‘O Art. 2º define explicitamente que a carac- No Art. 11 a ON retira o direito aos adicionais
terização da insalubridade e da periculosidade de insalubridade e periculosidade quando o ser-
nos locais de trabalho respeitará as normas es- vidor ocupar função de chefia ou direção, com
tabelecidas para os trabalhadores em geral, sem atribuição de comando administrativo, exceto
levar em conta as especificidades acima citadas. quando respaldado por laudo técnico individual
No Art. 4º define que os adicionais de insa- que comprove a exposição em caráter habitual ou
lubridade, de periculosidade e de irradiação io- permanente. Isso gera uma situação esquizofrêni-
nizante, bem como a gratificação por trabalhos ca em que no momento em que o docente recebe

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 A Fúria normativa do governo golpista

a portaria com a FG ou a CD, automaticamente promoções.


perde os benefícios, que devem novamente ser 3. O PROIFES-Federação deve convocar reu-
requeridos e que são pagos, ao menos por enquan- nião do Fórum Jurídico Nacional, de sorte a
to, retroativamente. Isso gera uma desnecessá- preparar ação coletiva nacional que garanta
ria ação burocrática uma vez que a condição de a retroatividade das progressões e pro-
professor e pesquisador não muda. O que ocorre moções, como prevê a Lei 13.325/2016 e o
é que a burocracia não conhece a Universidade e Termo de Acordo 19/2015. Adicionalmente
ignora a natureza do fazer docente. a Federação deve orientar os sindicatos
federados no sentido de que interponham
PROPOSTAS ações judiciais em nome de seus filiados
O XIV Encontro Nacional do PROIFES-Federa- para garantir seus direitos à retroatividade
ção decide: das progressões e promoções.
1. Reafirma a proposta de Ante-projeto de 4. O PROIFES-Federação deverá estudar al-
Lei Orgânica das Universidades e Insti- ternativas jurídicas para evitar os prejuízos
tutos Federais e orienta a Diretoria e o aos docentes em relação à não concessão
Conselho Deliberativo da entidade a deba- dos adicionais devidos para os que traba-
terem eventuais atualizações do referido lham em condições insalubres e perigosas,
projeto. E, igualmente o PROIFES-Fede- em função das normativas que não levam
ração deve ampliar as articulações com em conta a natureza própria das IFE e as
a ANDIFES, o CONIF e os parlamentares, características do trabalho docente. Ao
com vistas a que este tema avance no Con- mesmo tempo deverá se preparar e levar
gresso Nacional, como forma de garantir a esta questão ao MPDG para consignar sua
autonomia das IFEs, nos termos da Consti- posição e tentar, pela via da negociação,
tuição Federal. mudar essa situação. Por fim, este tema
2. O PROIFES-Federação deve se posicionar deverá ser incorporado no projeto de Lei
duramente junto ao MPDG exigindo o res- Orgânica das Universidades e Institutos
peito ao Acordo 19/2015 e à Lei 13.325/2016, Federais do PROIFES-Federação, de sorte
revogando as normas atuais que não reco- que se garanta pela via legal a autonomia
nhecem a retroatividade das progressões e das IFE para definir tais benefícios.

São Luís/MA
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São Luís/MA
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Precarização,
produtivismo e
adoecimento no
trabalho docente
_________________________________________________________________________________________________________________________________
JOSIMAR PRORI1
IFPR – Campus Paranavaí

“[...] há que se ponderar que a ideia de estabilidade no trabalho e nas relações, que está ligada
a uma estabilidade psíquica cedeu lugar à competição, à luta cotidiana por reconhecimento, à
sobrecarga de atividades e à obrigação implícita e explícita por cumprir e conformar-se às regras,
o que os coloca em uma posição de vulnerabilidade” (OLIVEIRA, PEREIRA e LIMA, 2017, p. 611).

C
ada vez é maior o número de professores que enfrentam problemas de saúde físi-
ca e mental associados às suas condições de trabalho. Cansaço, dores, prejuízos
vocais, alterações no sono, insônia, enxaqueca, taquicardia, crises gástricas, es-
tresse, sobrecarga e estafa, insatisfação com o trabalho, frustração, síndrome do pânico,
síndrome de burnout, ansiedade, depressão figuram entre as principais enfermidades
apresentadas por nossa categoria. Tais males, embora com feições e em contextos dis-
tintos, afetam tanto docentes da educação básica, quanto da graduação e pós-gradua-
ção brasileira.
Pretendo neste texto apresentar um esboço de algumas reflexões sobre esta temática,
não com a perícia de um especialista, mas com a angústia de um observador participante,
que experimentou na própria carne as contradições do sistema de pós-graduação no Brasil
na condição de estudante e que também vivenciou a condição de professor inicialmente na
educação básica na rede estadual do Paraná e na rede superior privada e posteriormente
no Instituto Federal do Paraná (IFPR). Busco trazer um conjunto de questões para serem
estudadas e aprimoradas em conjunto com profissionais da área da saúde do trabalhador
e com a vivência concreta de todos os docentes.
Embora a preocupação com a saúde docente pelo movimento sindical venha sendo
tematizada pelo menos desde o final dos anos 1990 pela Confederação Nacional dos Tra-
balhadores em Educação (CNTE), tal questão ainda permanece como secundária nas lutas
sindicais. No entanto, o aprofundamento da crise do capitalismo mundial, da crise política
e econômica nacional e a reforma neoliberal implementada, em geral, no Estado brasileiro
e, em específico, nas políticas educacionais desde o primeiro mandato de Fernando Hen-
rique Cardoso tem colaborado sobremaneira para o aprofundamento do adoecimento
docente, que passa a assumir preocupantes contornos coletivos.

1 Professor de sociologia do Instituto Federal do Paraná – Campus Paranavaí. Graduado e mestre em ciências sociais
pela Universidade Estadual de Maringá. Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos. Autor de A
luta faz a lei: reflexões sobre política, movimentos sociais e associações de moradores em Sarandi-PR.

83
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

É cada vez mais plausível afirmar que todos tal receituário, promovendo uma reforma no Es-
os professores - desde os que atuam na pré-esco- tado brasileiro, privatizando inúmeras empresas,
la até em cursos de doutorado - estão suscetíveis adotando um modelo gerencial de gestão pública
a problemas de saúde em decorrência de sua ati- e introduzindo as orientações dos organismos in-
vidade laboral. Existem especificidades de cada ternacionais na educação brasileira. Tal processo
nível educacional. Os vínculos de contrato são não foi refreado pelos 13 anos de governo petista,
diversos. Os níveis de segurança, estabilidade, re- tampouco, como diferente não poderia ser, pelo
muneração e perspectiva de futuro variam. Ainda ilegítimo governo Michel Temer.
assim, embora aqueles com vínculos temporários Tais reformas modificaram sobremaneira as
experimentem um maior grau de precarização em condições objetivas e subjetivas da classe traba-
seu trabalho, tanto estes quanto os estáveis, tan- lhadora docente, como demonstra Sguissardi e
to os da educação básica quando os da superior, Silva Junior (2009) ao tratarem do ensino superior
vêm sofrendo variadas formas de adoecimento. federal. O mundo do trabalho em nossa época é
Gouvea (2016), ao revisar a atuação sindical caracterizado pelo desemprego estrutural, pela
nesta temática, salienta que o principal problema informalidade, instabilidade e incerteza quanto
de saúde dos trabalhadores da educação é o men- ao futuro. Causa ainda maior preocupação a re-
tal. A mesma pesquisadora informa que uma das forma trabalhista realizada por Michel Temer e a
pesquisas feita pela CNTE (a Retrato da Escola liberação das terceirizações para atividades fins,
3), 30% dos educadores relataram problemas o que pode abrir as portas deste tipo de vínculo
de saúde, o que significa que praticamente um empregatício para os trabalhadores docentes.
terço destes trabalhadores não estão saudá- Constrói-se neste contexto uma ideologia
veis. Oliveira, Pereira e Lima (2017), por sua vez, individualista e falsamente meritocrática que
ao versarem especificamente sobre o caso do transfere a responsabilidade do sucesso ou do
magistério superior, destacam que num conjunto fracasso meramente para causas individuais.
de pesquisas por elas estudadas, 45,1% dos ca- Prega-se que é necessário estar atualizado, em
sos de adoecimento foi psicossomático, outros constante processo de inovação e criatividade e
35,2 % foi adoecimento psíquico e emocional, que os mais esforçados conquistam as melhores
enquanto 19,7% foi físico-corporal. posições. Sair da zona de conforto torna-se um
Trabalho com a hipótese de que o aprofun- mantra para a acumulação flexível de capital. Se
damento das patologias docentes está inscrito oculta, porém, a produção de uma massa de de-
num contexto de reformas estatais globalizantes, sempregados permanentes, os quais, a despei-
neoliberais e de reestruturação produtiva cujo to da inexistência de vagas de trabalho em suas
ponto fulcral é a flexibibilização, a alta especiali- áreas, são culpabilizados pelo próprio fracasso.
zação, o estabelecimento de metas, a precariza- A título de ilustração, em concurso público para
ção e a desestabilização, as quais se expressam professor de biologia no Instituto Federal do Pa-
na sobrecarga, no produtivismo acadêmico, na raná no ano de 2017 houve 988 concorrentes para
privação das horas de convívio familiar e de la- uma única vaga. Outro foi o caso de uma também
zer e no comprometimento do planejamento a bióloga pós-doutoranda que passou e entregar
médio e longo prazo. seu currículo no semáforo depois de ter sua bolsa
A chamada reestruturação produtiva che- de pesquisa interrompida2.
gou ao Brasil no início dos anos 1990. Embora Neste contexto, podemos identificar a cha-
tenha sido Fernando Collor de Melo (1990-1992) mada alienação, isto é, o fenômeno por meio do
o presidente a abrir as fronteiras nacionais para qual o trabalho apresenta-se como estranhado ao
o padrão neoliberal de acumulação, foi Fernando trabalhador que o produz. Enquanto o produto de
Henrique Cardoso (1995-2002) quem aprofundou seu trabalho, ao transformar-se em mercadoria e

2 Veja, entre outros, a reportagem de Grandelle (2017).

84 São Luís/MA
julho 18
 Precarização, produtivismo e adoecimento no trabalho docente

lucratividade, ganha centralidade, o trabalhador mana, feriados e férias que poderiam ser devo-
torna-se mais uma peça na engrenagem capi- tados ao lazer, à família, ao descanso e a viagens
talista. É inegável que os docentes, como parte são preenchidos com a parte do trabalho que não
da classe trabalhadora, estão também subme- restou tempo para fazer na escola.
tidos a estas condições. Estão vulnerabilizados O magistério superior – embora em geral
e pressionados pelos índices de produtividade, não conviva com a mesma quantidade de turmas e
pelo individualismo e pela competividade. São alunos que a educação básica – igualmente encon-
premidos a se ajustarem a ideologia neoliberal tra-se sobrecarregado. A ideologia produtivista
individualista e competitiva. Além disso, cada que tem premiado a quantidade em detrimento
vez é maior a pressão dos governos federal e es- da qualidade faz com que as 40 horas de traba-
taduais pela redução dos direitos docentes. No lho nem de longe sejam suficientes para cumprir
caso do Paraná, por exemplo, o governo estadual todas as atividades docentes. O contrato de dedi-
encontrou no regime de trabalho PSS (Processo cação exclusiva – quando existente – que deveria
Seletivo Simplificado), uma ardilosa maneira de ser para o profissional somente não se dedicar a
desestabilizar boa parte dos quadros docentes outras atividades laborais acaba ganhando verda-
tanto do ensino superior quanto da educação de literal ao passo que as atividades profissionais
básica estadual. invadem as demais dimensões da vida do sujeito:
Ao menos um terço dos professores da rede tantas são as férias, feriados, finais de semanas,
básica neste estado são contratados de manei- madrugadas e toda hora vaga gasta para dar conta
ra temporária. Alguns são contratados a partir do alto número de orientandos, para cumprir as
de meados de fevereiro e demitidos no final de metas do programa de pós-graduação, publicar o
dezembro. Outros são contratados por apenas número mínimo de artigos determinado pela CA-
alguns meses. Desta maneira o governo se deso- PES, para ler as teses, dissertações e monografias
briga de pagar plano de carreira. Férias e 13°, por das quais fará parte da banca examinadora, para
sua vez, somente são pagos proporcionalmente fechar os pareceres para revistas acadêmicas e
ao período de contrato. No ensino superior, a si- órgãos de fomento e concluir todos os relatórios
tuação é semelhante. Docentes são contratados e demais demandas burocráticas.
com prazo máximo de dois anos, depois dos quais Inevitavelmente o sacrífico das relações fa-
precisam passar por um novo processo seletivo miliares, a ausência de tempo livre, a sobrecarga
e, se forem aprovados, iniciar um novo vínculo, de trabalho, o estresse e os conflitos gerados pelo
sempre com o salário inicial da carreia. sistema de competição entre os pares redundam
Tais políticas se concretizam nas condições nos mais variados tipos de adoecimento. Agrava
de trabalho cotidianas vivenciadas pelos docen- ainda mais o quadro o fato de que a estrutura
tes. Educadores do ciclo básico enfrentam salas pressiona os trabalhadores até para que evitem
superlotadas, possuem salários achatados, en- faltas mesmo em casos de cuidados médicos.
frentam os riscos da violência urbana que não Pesa sobre o docente a obrigatoriedade de repo-
hesitam em invadir as escolas, sofrem com pro- sição de aulas, ainda que falte com justificativa
blemas de infraestrutura, com falta de políticas médica. Foi por essa razão, por exemplo, que uma
de reciclagem e são forçados a fazerem a gestão professora fez sua cirurgia numa sexta-feira e na
de um ambiente que mais se parece a um depósi- segunda de manhã da semana seguinte estava em
to abandonado de crianças e adolescentes. Além sala no primeiro horário. O transtorno de ter que
disso, o trabalho não acontece apenas enquanto se deslocar por mais de 100 km para se submeter
está na escola. O baixo ou inexistente número de a uma perícia médica do órgão em que trabalha e
horas para as atividades didático-pedagógicas e a necessidade de repor as aulas a forçaram a de-
burocráticas obriga o trabalhador a levar serviço sistir de cumprir seus 15 dias de licença médica,
para a sua casa, de modo que muitos finais de se- pondo em risco a sua recuperação.

São Luís/MA
julho 18
85
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

São tantos e graves os casos de adoecimento Escolar e Educacional, São Paulo, v. 21, n. 3,
docente, que se impõe para a categoria a necessi- setembro/dezembro, 2017. Disponível em: <
dade de trazer este tema para o centro da pauta. http://www.scielo.br/pdf/pee/v21n3/2175-3539-
É certo que o remédio para tais problemas são pee-21-03-609.pdf >. Acesso: 4 jul. 2018.
grandes e coletivos. Pensar políticas de saúde
para o trabalhador requer pensar também polí- GOUVEA, Leda Aparecida Vanelli. As condições
ticas educacionais e socialmente estruturais. É de trabalho e o adoecimento de professores
necessário lutar pela mudança da política educa- na agenda de uma entidade sindical. Saúde e
cional individualista, produtivista e meritocrática. debate, Rio de Janeiro, v. 40, n° 111, out-dez 2016.
É urgente desconstruir a ideologia produtivista. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/
É necessário reduzir a carga de trabalho docente sdeb/v40n111/0103-1104-sdeb-40-111-0206.pdf
e criar sistemas de prevenção e amparo à saúde >. Acesso em: 4 jul. 2018.
do professor. É preciso, ainda, acabar com meca-
nismos que pressionem o trabalhador a trabalhar SGUISSARDI, Valdemar; SILVA JÚNIOR, João dos
mesmo doente, como a obrigação da reposição Reis. Trabalho Intensificado nas Federais: pós-
de aula. Igualmente importante, especialmente graduação e produtivismo acadêmico. São Paulo:
para as cidades do interior, que as distâncias en- Xamã, 2009.
tre o local de trabalho e órgãos de perícia média
sejam reduzidos. GRANDELLE, Renato. Com bolsa de estudos
atrasada, bióloga distribui currículo na rua.
REFERÊNCIAS Oglobo.globo.com, 2017. Disponível em: <https://
OLIVEIRA, Amanda da Silva; PEREIRA, Maristela oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/com-
de Souza; LIMA, Luana Mundim. Trabalho, bolsa-de-estudos-atrasada-biologa-distribui-
produtivismo e adoecimento dos docentes nas curriculo-na-rua-20767098>. Acesso em: 01 jul
universidades públicas brasileiras. Psicologia 2018.

86 São Luís/MA
julho 18
Formação de
educadores nas IES
públicas
ação estratégica de interesse
do movimento docente
_________________________________________________________________________________________________________________________________
RAQUEL NERY BEZERRA
APUB Sindicato

H
á uma grande mobilização das forças políticas progressistas em torno das impli-
cações da Emenda Constitucional 95, que alterou o regime fiscal do país e conge-
lou os gastos públicos por 20 anos. Como é sabido, os setores mais sensíveis, do
ponto de vista social, são os da saúde e da educação. Esta tese tem o objetivo de analisar
um dos aspectos desse cenário, ocupando-se especificamente da questão dos professores
da Educação Básica e sua formação. Partimos do pressuposto de que o novo regime fiscal
impõe determinadas medidas cuja manutenção precisa se apoiar em concepções políticas
e modos de organizar o sistema de ensino brasileiro e que nossa categoria dispõe de ferra-
mentas específicas para resistir e combater essa configuração política e ideológica em curso.
A despeito de o tema EDUCAÇÃO ser, pela sua própria natureza, do interesse de uma
federação que congrega sindicatos de professores, nossa discussão demanda justificativas.
Poderia ser suficiente, por exemplo, considerar os seguintes dados estatísticos1:
a. que as licenciaturas ocupam em torno de um quarto das matrículas (26,61%) de
toda a rede federal de ensino, composta, além dessa categoria acadêmica, pelos
bacharelados (65,89% das matrículas), pelos cursos tecnológicos (5,66%) e pelas
áreas básicas de ingresso (2,67%);
b. que as “funções docentes” em universidades públicas correspondem a 35,4% do
total dos docentes vinculados a alguma IES e que, destas, 84% são de docentes
em regime de dedicação exclusiva (nas IES privadas, esse número corresponde a
menos de ¼). Considerando como se estruturam as licenciaturas nas IES públicas,
isto é, dentro do paradigma disciplinar, e que seus docentes são lotados em depar-
tamentos de unidades identificadas por campo de conhecimento, infere-se que um
número significativo desses docentes atuem em alguma licenciatura;
c. que desses dados pode-se inferir ou projetar as possíveis consequências de iniciati-
vas como a do deputado carioca Thiago Turetti (PSC),
d. que propôs, através de uma “ideia legislativa”2, a Extinção dos cursos de humanas
nas universidades públicas, uma vez que, argumenta ele, são cursos baratos que

1 Apesar de o Censo da Educação Superior 2018 já ter sido anunciado, o governo ainda não disponibilizou o resumo
técnico, de modo que os dados que empregamos ainda são os de 2015.
2 “Ideia legislativa” é uma ferramenta de participação civil, na forma de “sugestões de alteração na legislação vigente
ou de criação de novas leis.” Segundo o site Ideia Legislativa, as ideias que recebem 20 mil apoios são encaminhadas
para a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), para receberem parecer.

87
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

facilmente poderão ser realizados em tas capazes de atender às demandas da corrida
universidades privadas. Ainda segundo espacial, enquanto nas décadas mais recentes,
a proposta, “a medida consiste em focar marcadas por sérias questões ambientais que
em cursos de linha (medicina, direito, en- provocaram críticas ao modelo de desenvolvi-
genharia e outros). Os cursos de huma- mento vigente, fizeram surgir naquele país pro-
nas poderão ser realizados presencial- postas curriculares com ênfase nas relações entre
mente e à distância em qualquer outra ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente.
instituição paga”. A despeito de não ter Também como acontecimentos posteriores à
chegado nem a 50% de sua meta (rece- 2ª Guerra Mundial, toma-se como exemplar as
beu 7.385 apoios num período de quatro relações entre desenvolvimento nacional e edu-
meses de consulta) sabe-se que tal ideia cação básica ocorridas no Japão e na Coreia do
ecoa tentativas anteriores, cujos pressu- Sul. À rapidez com que questionamos os traços
postos respaldaram o sucateamento da da cultura e práticas pedagógicas desses países
IES federais durante a década de 1990. corresponde a constatação do seu espantoso de-
senvolvimento tecnológico, gerador de riquezas
Dados como esses já seriam suficientes para e consequente bem estar social.
por as licenciaturas e, consequentemente, a Edu- Historiadores da ciência, no entanto, pro-
cação Básica, na pauta dos assuntos diretamente põem que o fator determinante para o desenvol-
relacionados à categoria do magistério superior vimento da tecnologia no Século XX tenham sido
e suas demandas de mobilização. Mas não é disso as guerras, tendo em vista que os interesses des-
que se trata. ses conflitos foram capazes de induzir a pesquisa
científica para o atingimento de determinados fins:
EDUCAÇÃO E CIÊNCIA E TECNOLOGIA assim, temos certos desenvolvimentos da física,
Podemos iniciar nossa proposição salientando da química, da biologia molecular que deram no
pelo menos uma das razões pelas quais deve-se radar, nos satélites, na web, na agroindústria etc.
considerar a educação formal como um campo (SANCHEZ RON, citado por TEIXIDÓ GOMEZ)3
estratégico para um projeto de nação que busque Por outro lado, não é possível ignorar, num
a justiça, a equidade e o bem de seu povo: sem momento historicamente mais recente, a expe-
ela não pode haver desenvolvimento científico e riência finlandesa, cujos excelentes indicadores
tecnológico. As relações entre uma boa educação educacionais estão bem documentados pelas
básica e o desenvolvimento da ciência e tecnolo- análises da OCDE, tanto quanto sua indústria
gia não parecem formar uma ideia consensual, avançada de alta tecnologia. Considera-se que
embora alguns fatos históricos e dados mais re- sua riqueza material e capacidade tecnológica
centes nos apontem, se não para uma relação de são consequências de uma profunda reforma
causalidade, pelo menos para a educação como educacional, gestada por um pacto nacional e
um fator de impacto considerável. executada inicialmente nos seus povoados mais
São conhecidos os movimentos estratégicos remotos até chegar aos centros urbanos. Atual-
executados pelos Estados Unidos nos currículos mente, menos de 3% de sua população obtém
da educação básica durante a Guerra Fria, e os sua educação formal em escolas particulares.
evidentes resultados em termos de tecnologia (BRITTO, 2013)
aeroespacial e poderio militar. Segundo Bezerra Cabe-nos afirmar, no entanto, que nenhuma
(2014) Os Estados Unidos marcaram seu período dessas experiências precisam funcionar como
posterior à Segunda Grande Guerra com uma modelo para concepções de educação e toma-
reforma curricular determinada a formar cientis- das de decisão em termos de políticas públicas

3 Paradoxalmente, o mesmo autor postula que é ao desenvolvimento científico que devemos o ter prosperado ideias como a de
justiça, democracia e direitos civis.

88 São Luís/MA
julho 18
 Formação de educadores nas IES públicas

e modos de organização dos nossos sistemas No que diz respeito à formação dos profes-
de ensino. Somos um país em cujo solo germi- sores e o ensino superior, o referido documento
naram as ideias e as ações de Anísio Teixeira e evidencia a existência de “[...] um descompromisso
Paulo Freire. Mas somos, igualmente, o país em do Estado com os princípios básicos que devem
que esses indivíduos, por causa de suas ideias e orientar as universidades e os institutos fede-
ações, sofreram perseguição política. É preciso rais, o ensino, pesquisa e extensão, bem como
reconhecer, portanto, que temos um problema as demais instituições de ensino superior, pré-
a equacionar e que ele é tanto de caráter prático -condição para a construção de um projeto de
quanto político-ideológico. soberania do país, por meio da valorização de
Reconhecemos a importância estratégica seus/as docentes, formação adequada de profis-
da educação básica mas nossos indicadores (os sionais e produção de conhecimentos e saberes
das avaliações e os sociais) mostram que não de qualidade com vistas à produção de ciência e
conseguimos avançar. Embora haja consenso tecnologia voltadas aos interesses da nação. [...]
sobre a importância da educação, e os discur- Na prática, as políticas do atual governo apontam,
sos de todos dão a ela o estatuto de panaceia, neste momento, para a desprofissionalização
destacamos uma contradição, dentre algumas do magistério e dos/as demais profissionais da
outras, que ocorre no interior mesmo de nossas educação, em todos os níveis.”
instituições, que é o modo como atuamos nessa Dito isto, aprofundamos algumas questões
área, considerando nossas licenciaturas, seus diretamente relacionadas aos desafios definidos
currículos e o papel simbólico que exercem. Por na CONAPE/2018 que, para tanto, questiona o pa-
essa razão indagamos: pel que vem sendo desempenhado historicamen-
1. Qual o papel das IES públicas para o campo te pelas IES federais na formação dos professores
estratégico da educação formal e de que da Educação Básica, com o objetivo de discutir
modo essas instituições constituem-se a necessidade de envolver as universidades e
como possibilidade de enfrentamento os institutos federais em ações que evidenciem
do problema da EB? um posicionamento político capaz de barrar os
2. por que as IES públicas deveriam lutar pelo projetos de desvalorização da formação inicial
protagonismo nesse campo de atuação? e continuada de professores em curso.
3. Essas questões apontam inevitavelmente Os discursos e ações disseminadas ou incen-
para o campo da formação docente. tivadas pelo governo ilegítimo de Michel Temer
visam explicitamente retomar um processo his-
FORMAÇÃO DE PROFESSORES: HISTÓRICO, tórico de desvalorização e deslegitimação da im-
CONCEPÇÕES E ATUAÇÃO DAS IES PÚBLICAS portância de termos professores bem formados
A construção da Conferência Nacional Popular em IES públicas. A descaracterização de projetos
de Educação (CONAPE), em maio de 2018, foi de formação como o PIBID (e seu desdobramento
um processo coletivo que envolveu a articu- no programa “Residência Pedagógica”, importan-
lação de 35 entidades da sociedade civil que te meio de violação da autonomia universitária e
defendem a educação pública democrática. vinculação dos currículos à BNCC), a defesa do
Dentre essas entidades, é importante destacar “notório saber” em lugar de uma formação sóli-
a participação do PROIFES e o seu protagonis- da para os professores, a ampliação de prazo do
mo. No Plano de Lutas aprovado na CONAPE atendimento à Resolução do CNE 02/2015, entre
2018, a questão da formação dos professores é outras iniciativas, devem ser interpretadas como
apresentada acertadamente, junto com tantas parte de um mesmo projeto e não de maneira
outras necessidades dos profissionais da edu- pontual e isoladas. Elas têm efeitos negativos
cação, quais sejam: formação, carreira, salários diretamente na identidade dos professores e
e condições de trabalho. de suas instâncias formativas, pois visam a de-

São Luís/MA
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

sobrigar o Estado do investimento em formação cursos de licenciatura tem sido feito por diferen-
de professores, deixando o Brasil sem um projeto tes atores e setores políticos da sociedade. Para
de nação para a educação vinculado ao fortale- além da dimensão técnica e de atendimento das
cimento das instituições públicas em todos os exigências de normatização do CNE que, em 2002,
níveis de ensino. definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Historicamente, a formação de docentes Formação de Professores, é preciso refletir sobre
para o ensino das “primeiras letras” em cursos a existência ou não de um projeto de formação de
específicos foi proposta apenas no final do Sé- professores da educação básica – polivalentes e
culo XIX, com a criação das Escolas Normais, que especialistas - defendido pelas universidades e
faziam parte do nível secundário e depois vieram institutos públicos federais.
a ser integradas ao ensino médio profissionalizan- Retomemos a proposta de Thiago Turetti
te (GATTI, 2010). Tais instituições, como se sabe, (PSC) que tinha em mente a extinção dos cursos
continuaram responsáveis pela formação dos de Filosofia, História, Geografia, Sociologia, Ar-
professores dos anos iniciais do ensino funda- tes e Artes Cênicas das universidades públicas.
mental e da educação infantil, com muitas idas e Como as IES públicas se posicionaram a respeito
vindas, e os detalhes e os desdobramentos desse da proposta, que se articula com a privatização da
processo fazem parte da dificuldade do País em formação de professores e com a desvalorização
assumir a formação dos professores polivalentes e o aligeiramento dessa formação?
como um projeto estratégico do Estado. A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
Como face da mesma moeda, a preocupação cação Nacional (Lei n. 9.394 de 1996) foi definida
com a formação dos professores para o “secun- a formação de nível superior como uma exigência
dário” data o início do século XX. Segundo Gatti, mínima para a atuação na docência. Atualmente,
Até então, esse trabalho era exercido por a demanda por escolarização no Brasil aumentou,
profissionais liberais ou autodidatas, mas
quantitativa e qualitativamente: são 2,2 milhões
há que considerar que o número de escolas
secundárias era bem pequeno, bem como de professores atuando na Educação Básica. Veja-
o número de alunos. No final dos anos de mos o que tem acontecido com as matriculas, por
1930, a partir da formação de bacharéis nas exemplo, no curso de Pedagogia, o terceiro curso
poucas universidades então existentes,
brasileiro em número de ingressantes (depois de
acrescenta-se um ano com disciplinas da área
de educação para a obtenção da licenciatura, Direito e Administração4), onde a participação
esta dirigida à formação de docentes para na formação dos professores é cada vez maior
o “ensino secundário” (formação que veio a das IES privadas.
denominar-se popularmente “3 + 1” (GATTI,
De acordo com Freitas (2014), das 307 mil
2010, p. 1356)
matrículas em cursos presenciais de pedagogia,
Nisso está a origem da estrutura curricular 42,9% delas (131.850) estão concentradas em fa-
de nossas licenciaturas, bem como nossa dificul- culdades privadas, 8% (26.762) em centros uni-
dade em assumir o papel estratégico no engaja- versitários privados e 14,4% em universidades
mento necessário pela luta em defesa de uma privadas. As IES públicas concentram apenas
identidade profissional dos docentes, que tenha 33,9% das vagas, com 104.323 matrículas. Os
como base um ensino desafiado pela resolução dados relativos aos cursos a distância, na outra
de questões de pesquisas e propostas de exten- face do mesmo problema, demonstram a priva-
são com as escolas básicas, cooperando para a tização da formação: 87,4% das matrículas em
melhoria da qualidade de todas as instituições e cursos de pedagogia no setor privado, das quais
agentes envolvidos. 61% em universidades, 27,3% em centros univer-
Um intenso trabalho de crítica e de defesa sitários e aproximadamente 12% em faculdades.
da superação desse modelo de formação nos As IES públicas concentram apenas 12,6% das

4 Dados do Censo da Educação Superior 2015.

90 São Luís/MA
julho 18
 Formação de educadores nas IES públicas

matrículas em cursos de pedagogia a distância. ALGUMAS PROPOSIÇÕES


De acordo com a mesma autora, por outro lado, Entendemos que a luta sindical precisa tomar para
nas instituições públicas não é assegurado aos si a tarefa de entender a complexidade que envolve
licenciandos o acesso, a permanência e o sucesso a formação de professores e convencer a comunida-
nos estudos e iniciação na carreira com apoio ao de interna e externa às IES públicas federais de que
processo de construção de sua identidade como perderemos todos, caso não haja a defesa e o com-
educador das novas gerações. promisso com o desenvolvimento dos professores
Impressiona e preocupa, no contexto brasi- e das instituições públicas de diferentes níveis de
leiro, o tamanho da participação de determinados ensino, que mesmo considerando suas especificida-
setores da iniciativa privada no campo da for- des, tendo em comum a luta para o fortalecimento
mação docente, tanto quanto a baixa qualidade de uma identidade profissional docente implicada
dessa formação (salvo algumas exceções). Esses com os destinos da educação pública no nosso país.
setores são os principais interessados na mercan-
tilização da educação (tópico predominante nos Por isso, considerando as ferramentas polí-
trabalhos da III CRES ocorrida em junho de 2018, ticas e intelectuais de que dispomos, propomos
em Córdoba, com importante representação do que nosso movimento docente se engaje nesse
PROIFES). Os projetos de curso dessas IES, se- campo através de:
guindo a tradição das licenciaturas, aprofundam a. elaborações intelectuais que explicitem as
sua fragilidade porque fragmentados entre as áre- relações entre a educação básica de quali-
as disciplinares e níveis de ensino (GATTI, 2010), o dade e um projeto de nação soberana (isto
que por sua vez revela que o Brasil não conta com é, capaz de desenvolver e executar seus pró-
um acertado projeto coletivo, vinculado à garan- prios interesses científicos e tecnológicos),
tia do direito à educação de responsabilidade do tendo em vista o papel estratégico das IES
Estado. Denunciamos a gravidade dessa situação públicas;
afirmando junto com Severino (2009): b. monitoramento atencioso das metas do PNE
O compromisso da Universidade com o que contemplam os desafios relacionados
ensino básico não é só aquele decorrente
ao profissional da educação básica, na for-
de sua atribuição institucional, daquela
tarefa técnica de formar os professores, ma de ações políticas que ampliem e forta-
como prossionais do ensino. Ele é muito leçam interesses em comum com entidades
mais profundo e radical. Trata-se de um representativas desses profissionais, como
compromisso ético-político com a educação,
a CNTE (o que pressupõe que docentes do
mola propulsora do processo civilizatório.
Não se trata de uma opção da Universidade magistério superior não são uma categoria
se vai se preocupar com isso ou não. Deixar de à parte e acima de outros educadores, mas
assumir responsabilidades diretas e incisivas que formamos um único contingente);
em relação a essa problemática é uma traição
c. comprometimento conceitual e prático nas
a seu próprio destino. Ela precisa ser lugar
prioritário de se pensar modelos e caminhos lutas políticas que tem ocorrido no interior
da educação básica do país. (SEVERINO, de nossas IES em defesa da qualificação e
2009, p. 261) fortalecimento da formação inicial docente,
Chegamos, então ao ponto de retomarmos o que pressupõe mudanças de paradigma em
as questões que guiaram nossa discussão: Qual nossos currículos de licenciatura, bem como
o papel das IES públicas para o campo estraté- mobilizações pela institucionalização e esta-
gico da educação formal e de que modo essas bilização do financiamento de programas de
instituições constituem-se como possibilidade iniciação à docência e outras iniciativas que
de enfrentamento do problema da EB? Por que articulem essa formação com as instituições
as IES públicas deveriam lutar pelo protagonismo de educação básica.
nesse campo de atuação? Salvador, 08 de julho de 2018.

São Luís/MA
julho 18
91
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

REFERÊNCIAS 2000, págs. 823-826
BEZERRA, R. N. L. Escrevivendo ciências na
escola : tópicos sobre o ensino-aprendizagem FNPE. Documento Final da CONAPE: Plano de
da escrita em contexto de letramento científico Lutas. Minas gerais, 29 de junho de 2018. Disponível
. 199 f. Orientadora: Prof.a Dr.a Iracema Luiza de em: http://fnpe.com.br/docs/documentos/docs-
Souza. Tese (doutorado) – Universidade Federal conferencia/fnpe-conape2018-documento-final-
da Bahia. Instituto de Letras, Salvador, 2014. planodelutas.pdf (Acesso em: 7 jul 2018).

BRITTO, Tatiana Feitosa de. O que é que a Finlândia GATTI, Bernadete. Formação de Professores no
tem? Notas sobre um sistema educacional de alto Brasil: características e problemas. Educação
desempenho. Brasília, DF: Senado Federal, Centro e Sociedade. Campinas, v. 31, n. 113, out.-dez,
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scielo.br/pdf/es/v31n113/16.pdf (Acesso em:
DRUMMOND, Carlos. Os descaminhos das 7 jul 2018).
Humanidades. Carta Capital. https://www.
cartacapital.com.br/economia/o-descaminho- SEVERINO, Antonio Joaquim. Expansão do ensino
das-humanidades (Acesso em: 7 jul 2018). superior: contextos, desafios, possibilidades.
Avaliação. Campinas; Sorocaba, SP, v. 14, n. 2, jul.
Francisco Teixidó Gómez. Llull: Revista de la 2009, p. 253-266. Disponível em: http://www.
Sociedad Española de Historia de las Ciencias scielo.br/pdf/aval/v14n2/a02v14n2.pdf (Acesso
y de las Técnicas, ISSN 0210-8615, Vol. 23, Nº 48, em: 8 jul 2018)

92 São Luís/MA
julho 18
Rede Federal
de Educação
Profissional, Científica
e Tecnológica
Um Projeto em xeque?
_________________________________________________________________________________________________________________________________
PROF. DR. JOÃO ALVES PACHECO
IFSP – Campus Guarulhos

I. INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende analisar os riscos ao modelo de educação profissional pro-
posto com a instituição da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.
Para tanto, apresentará uma breve introdução com o objetivo de estabelecer o contexto
na qual as instituições federais de educação estão inseridas, com ênfase no acirramento
de retomada das medidas reformistas neoliberais pós impeachment de 2016.
Inicialmente, propõe-se como hipótese para o trabalho a afirmação de que modelo
de educação profissional proposto no Governo Lula e consubstanciado no setor público
por meio dos Institutos Federai é incompatível com o projeto de nação adotado pelo Go-
verno Temer, que o promove por meio do aprofundamento das políticas neoliberais, com
ênfase nas privatizações de ativos da União e empresas estatais, na redução do tamanho
do Estado e na adoção de soluções via mercado.
Tal estratégia foi formalizada através da aprovação da Emenda Constitucional 95, de
15 de dezembro de 2016 que instituiu um Novo Regime Fiscal (NRF) que expira em 2036.
Nesse período, congelará as despesas primárias, que tratam do pagamento de pessoal
e encargos sociais, água, luz, telefone, limpeza, vigilância, pessoal terceirizado, material
de consumo, aquisição de equipamentos, material permanente, construções, aquisição de
imóveis etc. Isso significa que, a partir de 2018, elas só poderão ser reajustadas, no máxi-
mo, pela inflação do ano anterior, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA).
Essa legislação inviabiliza a implantação de políticas nas áreas sociais, comprome-
tendo os avanços implementados nos governos Lula e Dilma, embora mantenha intacto
o pagamento da dívida pública.
O desmonte das instituições públicas é realizado por meio do arrocho orçamentário,
que sucateia a infraestrutura e pela não reposição dos quadros de servidores públicos.
Adicionalmente implementa a adoção de indicadores de desempenho para as instituições
sem qualquer comprometimento com objetivos de inclusão social que inspiraram a cria-
ção delas, implantando uma lógica gerencial pautada em resultados de curto prazo, que
acabam por modificar o perfil institucional e principalmente, a população alvo.
É importante notar que essa guinada neoliberal, temperada com pitadas de conser-
vadorismo, não se limita aos entes públicos, mas permeia todo o tecido social e seu lado

93
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

mais perverso foi a implantação de uma (contra) da por meio da Lei nº 1.093. Os contratos são
reforma trabalhista que se caracterizou pela válidos por um (01) ano, pois é muito mais ba-
retirada de vários direitos, pela legitimação rato a administração contratar um professor
da terceirização, da flexibilização da jornada e pelo prazo do ano letivo, sem o registro na
pelo ataque às organizações dos trabalhado- Carteira de Trabalho e sem o recolhimento do
res. No que tange ao trabalho docente, vale a Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, do
pena indicar as várias dimensões por meio das que manter regularmente um professor efe-
quais esses ataques se materializam e que se- tivo na função, que recebe salário no período
rão apresentados a seguir. das férias escolares. Além disso, os profes-
sores contratados recebem apenas as horas
II. EXPANSÃO DO EAD trabalhadas no período de seu contrato e têm
A expansão da educação do ensino a distância que cumprir períodos de afastamento após o
na Educação Superior tem sido crescente con- término dos contratos.
forme reportagem da Agência Brasil de 28 de Em relação à educação profissional, uma
maio de 2017, que com base no Censo da Educa- outra face desse processo é a forma de contra-
ção Superior de 2015, que indicou um aumento tação dos professores do Centro Paula Souza,
de 3,9% no número de matrículas em relação rede responsável no estado de São Paulo pela
a 2014. A rede privada concentra mais de 90% oferta da educação profissional e tecnológica,
dessas matrículas, com 1.265.359 alunos. que administra as escolas técnicas (ETECs) e
Contudo, o uso das chamadas TICs (Tec- as Faculdades de Tecnologia (FATECs).
nologias de Informação e Comunicação) na Embora a seleção seja realizada por meio
educação, que usualmente são apresentadas de concurso público, os docentes são contra-
como uma solução para ampliar o acesso dos tados como celetistas e horistas, e exceto pela
estudantes, também se mostram efetivas em disciplina para qual prestaram o concurso, de-
precarizar o trabalho docente por meio do au- pendem em cada semestre da atribuição de ou-
mento do número de alunos por professores, tras disciplinas para completar a carga horária,
com turmas de 150 ou até 200 alunos, resul- resultando em que ministrem aulas em mais de
tando no aumento da jornada docente sem a uma unidade da rede ou em escolas particulares,
correspondente remuneração. superando muitas vezes a jornada de 40 horas.
Assim, a empresa contrata o docente para Importante enfatizar que esses docentes não
uma jornada de 12 horas que, no entanto, acaba contam com qualquer ajuda de custo para as
trabalhando muito mais para concluir as diver- refeições ou assistência médica, sendo-lhes
sas atividade que lhe são atribuídas, em um típi- vedada inclusive o atendimento médico no Hos-
co processo de extração de mais valia absoluta. pital do Servidor Público Estadual.
Outra estratégia é a contratação de tuto-
res e mediadores com salários inferiores aos IV. BREVE CENÁRIO DA EDUCAÇÃO
dos professores ou até mesmo efetuando uma PROFISSIONAL NO BRASIL
contratação disfarçada, por meio da oferta de A educação básica foi universalizada no Brasil,
bolsas para graduandos, graduados e/ou pós- sendo atualmente oferecida pelas redes federal,
-graduandos. estadual, municipal e particular. De acordo com
dados da PNAD/IBGE de 2016, 99,2% da popu-
III. PROFESSORES lação de 6 a 14 anos frequenta a escola; na faixa
TEMPORÁRIOS E HORISTAS etária de 6 a 10 e de 11 a 14 anos, o atendimento
A contratação de professores temporários na é de 99,5% e de 98,9%, respectivamente. De
Rede de Educação Básica do estado de São acordo com o último censo escolar, a oferta por
Paulo já é uma prática comum, regulamenta- dependência se divide em:

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 Rede Federal - Um projeto em xeque

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do BRASIL/INEP 2017

No que tange à educação profissional de ní- médio regular, normal/magistério, integrado à


vel médio, o país conta com cerca de 1,8 milhão EJA de níveis fundamental e médio, Projovem Ur-
de alunos matriculados, e nesse número estão bano e FIC fundamental, médio e concomitante.
inclusos os estudantes dos cursos técnico con- A distribuição dessa população é apresentada
comitante e subsequente, integrado ao ensino no Gráfico 2:

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do BRASIL/INEP 2017

Dessa população, 58,8% dos alunos frequen- las em 2017. O gráfico 03 apresenta a evolução das
tam escolas públicas, universo em que os Institutos matrículas dessa modalidade a partir de 2014, ano
Federais representam 19,7%, com 347.813 matrícu- de aprovação do Plano Nacional da Educação - PNE:

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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do MEC/INEP 2017

Já o gráfico 4 mostra a sua distribuição por setor:

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do BRASIL/INEP 2017


Esses dados indicam uma queda considerá- A seguir são apresentados os dados distribuídos
vel no quadriênio, principalmente na rede privada. por rede e tipo de curso no biênio 2016/2017:

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do BRASIL/INEP 2017

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 Rede Federal - Um projeto em xeque

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do BRASIL/INEP 2017

Observa-se que em ambas as redes há uma Técnico Médio Integrado. A seguir é apresentada
redução no nº de matrículas e que cabe a rede pú- tabela contendo valores constantes do orçamen-
blica a maior oferta, particularmente a do Curso to no biênio 2016/2017 para os Institutos Federais.

Fonte: Elaborado pelo autor com dados da Nota Técnica 02/2017

Embora se observe um acréscimo de R$ 2,0 da Universidade Federal de Goiânia, publicado


bilhões (+17,6%) em relação ao orçamento de em 2017 e, que após diversas análises de contas
2016, isso é consequência do aumento das des- públicas conclui que:
pesas com pagamento de pessoal ativo (R$ 1,5 Pode-se afirmar, portanto, que, analisando a
evolução dos recursos financeiros associados
bilhão, +27,3%), da contribuição da União para o
ao MEC nos anos de 2014, 2015, 2016 e 2017
custeio do regime de previdência de seus servi- — quatro anos dos dez anos do PNE (2014-
dores (R$ 264,3 milhões, +23,7%) e de aposen- 2024) —, a possibilidade do cumprimento
tadorias e pensões (R$ 206,3 milhões, +20,0%). do conjunto de suas metas é muito remota,
uma vez que os valores financeiros não
No entanto, também se nota a redução conside-
foram reajustados por percentuais nem
rável de todas as demais rubricas, incluindo a de iguais à inflação medida pelo IPCA nos anos
investimento, comprometendo a expansão da de 2015 e 2016 e, no ano de 2017, a LOA 2017
rede. Apesar disso, houve aumento no número também não previu recursos financeiros que
propiciassem o desenvolvimento de ações
de vagas no período pela rede pública.
que objetivassem a execução das metas do
Nesse sentido, é importante resgatar a meta PNE (2014-2024).
11 do Plano Nacional de Educação – PNE propõe
triplicar a oferta de educação profissional técnica Além do diagnóstico feito por Amaral obser-
de nível médio, com 50% da expansão no segmen- va-se em alguns campi movimentos no sentido
to público, significando atingir cerca de 5.200.00 de modificação da missão institucional como
até 2024, o que pela tendência observada e pela resultado das medidas de arrocho orçamentário
redução do investimento público, torna-se bas- e implantação de indicadores de desempenho es-
tante improvável. Corrobora com essa previsão sencialmente econômicos. Desse modo, instados
trabalho efetuado por Nelson Cardoso Amaral pela necessidade de ajustar as instituições ao

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97
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

novo figurino demandado pelo MEC, observa-se VIII realizar e estimular a pesquisa aplicada, a
movimentos no sentido de reposicionar os campi, produção cultural, o empreendedorismo,
o cooperativismo e o desenvolvimento
por meio da oferta de cursos com maior prestí- científico e tecnológico;
gio social, como os bacharelados em engenharia
em período integral, ou em outra via, por meio do São estes incisos que estabelecem que a
fechamento de cursos técnicos nas modalidades instituição deve conjugar o ensino, a pesquisa
subsequente e/ou concomitante e tecnológicos, e a extensão para a consecução de seu papel
consubstanciando uma espécie de “elitização” de agente de desenvolvimento. Os objetivos,
dos Institutos. que constam do Art. 7º reforçam esse ideário,
que incorpora uma visão abrangente e eman-
V MODELO EM XEQUE cipadora para a educação profissional, que
Nesse ponto, será retomada a hipótese proposta supera o binômio aprender/fazer e assume a
inicialmente objetivando compreende-la e de- pesquisa como parte fundamental do saber
bate-la no contexto proposto. Dessa forma, é humano. Soma-se a tal perspectiva, a exten-
essencial detalhar o que se entende por modelo são, propiciando a integração e permitindo a
de educação profissional que os Institutos repre- prospecção e o encaminhamento de soluções
sentam. A legislação de criação da rede pode ser para problemas concretos. Os balizadores
um bom ponto de partida e assim serão resgata- completam a missão, dando ênfase ao aten-
dos alguns extratos da Lei 11.892 de 29/12/2008, dimento do ensino médio técnico.
que norteiam a missão da instituição, começando Entretanto, a materialização de tal pro-
pelos incisos I e II do Art. 6 nos quais se afirma que posta exige um corpo docente qualificado,
a instituição deve: preferencialmente com dedicação exclusiva,
I ofertar educação profissional e tecnológica, infraestrutura condizente e quadro de servi-
em todos os seus níveis e modalidades, dores adequado e alinhado com as necessida-
formando e qualificando cidadãos com
des dos discentes, a fim de que a conjunção
vistas na atuação profissional nos diversos
setores da economia, com ênfase no pretendida saia do papel. Aliado a isso, pro-
desenvolvimento socioeconômico local, gramas de assistência estudantil e de bolsas
regional e nacional; completariam a proposta. Nesse sentido,
II desenvolver a educação profissional e
é possível afirmar que se não totalmente,
tecnológica como processo educativo
e investigativo de geração e adaptação pelo menos em parte as instituições foram
de soluções técnicas e tecnológicas contempladas.
às demandas sociais e peculiaridades Na verdade, relatos de colegas que traba-
regionais;
lharam em outras redes de ensino dão conta
de que os campi dos Institutos reúnem boas
Ou seja, lhe é atribuído o estatuto de agente condições para a oferta de uma educação
de desenvolvimento em diversos níveis. Seguindo: pública de qualidade e que além disso, as-
V  constituir-se em centro de excelência na
oferta do ensino de ciências, em geral, seguraria uma qualificação técnica para os
e de ciências aplicadas, em particular, jovens. Além disso, a adoção da pesquisa e
estimulando o desenvolvimento de espírito extensão como parte do processo educativo é
crítico, voltado à investigação empírica;
fundamental para fomentar o desenvolvimen-
VI  qualificar-se como centro de referência
no apoio à oferta do ensino de ciências nas to científico e tecnológico do país.
instituições públicas de ensino, oferecendo Contudo, a leitura do tópico IV indica que o
capacitação técnica e atualização arrocho orçamentário e de gestão por resulta-
pedagógicaaosdocentesdasredespúblicas
dos objetivam inviabilizar a proposta educativa
de ensino;
VII desenvolver programas de extensão e de dos Institutos e convergindo com o resgate da
divulgação científica e tecnológica; prescrição do Banco Mundial para a educação

98 São Luís/MA
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 Rede Federal - Um projeto em xeque

superior encampada pelos Governos de Fernan- 24782017000400200&lng=pt&nrm=iso>.


do Henrique Cardoso, constante do documen- Acessos em  10  jul.  2018.   Epub  09-Out-
to intitulado Higher Education in Developing 2017.  http://dx.doi.org/10.1590/s1413-
Countries, Peril and Promise (WORLD BANK, 24782017227145.
2000), na qual se defende a estratificação para
a criação, acesso e difusão do conhecimento BRASIL. INEP: Censo Escolar 2017: Notas
conforme segue: Estatísticas. Disponível em: < http://download.
[...] países e indivíduos com renda inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/
superior deveriam produzir e ter acesso
notas_estatisticas/2018/notas_estatisticas_
a conhecimento de alta qualidade,
enquanto que os de baixa renda deveriam Censo_Escolar_2017.pdf> . Acesso em: 08 de
assimilar a produção. Essa é a divisão julho de 2018.
social e econômica proposta pelo Banco:
os de baixa renda têm que se especializar
BRASIL. Lei 11.892 de 29/12/2008: Institui
na “capacidade de aceder e assimilar o
conhecimento novo”. a Rede Federal de Educação Profissional,
Nesse aspecto, instituições como as do Científica e Tecnológica, cria os Institutos
Sistema S ou mesmo as unidades do Centro Pau- Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e
la Souza em São Paulo estariam bem alinhadas dá outras providências. Disponível em:< http://
com essa proposição, inclusive no que tange à www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
precarização crescente do trabalho docente. 2010/2008/lei/l11892.htm>. Acesso em 10
de julho de 2018.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modelo de educação profissional materiali- FORTUNA, D. MOURA, F.O. MEC divulga
zado nos Institutos Federais está em xeque? dados do Censo Escolar da educação
A questão que motivou essa breve pesquisa básica. Disponível em :< https://
deve ser respondida positivamente. Tal infe- w w w. c o r r e i o b ra z i l i e n s e . c o m . b r / a p p /
rência decorre das diversas transformações noticia/eu-estudante/ultimasnoticias_
observadas na realidade de um país de capita- geral/63,104,63,78/2018/01/31/ensino_
lismo dependente como o Brasil. Projetos que educacaobasica_interna,656887/
ousam contrariar a lógica de exclusão vigente, mec-divulga-pesquisa-sobre-censo-escolar-
procurando assegurar condições dignais para da-educacao-basica.shtml>. Acesso em 06 de
os atores envolvidos no processo educativo, julho de 2018.
invariavelmente tornam-se objeto de ataques
e questionamento. TANNO, C. R. Nota Técnica nº 2. Consultoria
Não obstante esse diagnóstico, o obje- de Orçamento e Fiscalização Financeira da
tivo do trabalho foi o de desvelar alguns dos Câmara dos Deputados. Disponível em: http://
elementos dessa ameaça, objetivando unir www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/
esforços para defender os Institutos e a pro- estudos/2017/nt02-2017-ministerio-da-
posta que eles representam. educacao-despesas-autorizadas-para-2017.
Acesso em 07 de julho de 2018.
REFERÊNCIAS
AMARAL, N. C. Com a PEC 241/55 (EC 95) O B S E RVATÓ R I O D O P N E . E d u c a ç ã o
haverá prioridade para cumprir as metas Profissional. Disponível em:< http://www.
do PNE (2014-2024)?. Rev. Bras. Educ., Rio observatoriodopne.org.br/metas-pne/11-
de Janeiro ,  v. 22,  n. 71,  e227145,    2017 educacao-profissional>. Acesso em 10 de
.   Disponível em <http://www.scielo.br/ julho de 2018.
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-

São Luís/MA
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

TOKARNIA, M. Educação superior a distância cresce de-2015>. Acesso em: 09 de julho de 2018.
em ritmo acelerado. Agência Brasil publicado em
28/05/2017. Disponível em:< http://agenciabrasil.ebc. WORLD BANK. Higher Education in Developing
com.br/educacao/noticia/2017-05/educacao-superior- Countries: Peril and Promise. Washington, D.C.:
distancia-cresce-em-ritmo-acelerado-mostra-censo- 2000.

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julho 18
Reforma do
Ensino Médio e Base
Curricular Nacional
e o sequestro da formação das
nossas juventudes
_________________________________________________________________________________________________________________________________
THIAGO AUGUSTO DIVARDIM DE OLIVEIRA1
IFPR - Campus Curitiba - SINDIEDUTEC-Sindicato
ELIZABETE DOS SANTOS2
IFPR - Campus Curitiba - SINDIEDUTEC-Sindicato

C
omo membros do GT – Educação do Proifes, e do Núcleo Sindical de Base do Sindiedu-
tec – PR, temos nos dedicado a acompanhar as políticas da educação brasileira, com
posicionamentos críticos a qualquer atitude que vá à contramão de uma educação
pública, gratuita, de qualidade, democrática e inclusiva. Seja nos governos anteriores a rup-
tura do Estado democrático de direito, seja no contexto do golpe, temos nos esforçado para
defender a educação brasileira. Para compreender documentos e propostas dos governos
é necessário decifrar a política, ler os documentos e propostas na relação que constituem
com políticas e grupos que não se limitam apenas aos debates da educação.
É preciso analisar a conjuntura política nacional e internacional, perceber como discursos
já conhecidos no âmbito do neoliberalismo, se transformam para parecerem novos. Exemplo
disso, poderíamos citar as relações entre Organizações Sociais (OS’s), na defesa da gestão
privada do dinheiro público, discurso que passou a figurar na educação brasileira recentemen-
te, e as experiências da educação em outros países que já tentaram essa forma de gestão.
Hoje é de conhecimento público que os resultados não foram positivos3.
Discursos apresentados nas propagandas do Ministério da Educação (desde a MP
746/2016) mentem cotidianamente sobre os verdadeiros impactos da Reforma do En-
sino Médio e da Base Nacional Comum Curricular. Por isso é preciso que os sindicatos
federados, assim como qualquer cidadão que defenda a educação pública e os interes-
ses da classe trabalhadora, tenham consciência dessas mentiras e ajudem a esclarecer
a população. Por esses motivos apresentamos nossas percepções sobre as políticas
recentes da educação:

1 Professor do Instituto Federal do Paraná (Campus Curitiba), pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Educação
Histórica (LAPEDUH – UFPR), membro do Núcleo Sindical de Base do SINDIEDUTEC-Sindicato, e membro do GT –
Educação do PROIFES–federação.
2 Professora do Instituto Federal do Paraná (Campus Curitiba), membro do GT – Educação do PROIFES -Federação,
representante do Proifes no Fórum Nacional Popular de Educação.
3 Ver, por exemplo, o caso dos EUA. Diane Ravicht trabalhou em defesa desse tipo de política nos governos George
Bush (pai) e George W. Bush. Pensou que Obama revogaria esse tipo de política, mas ao contrário disso o presidente
ampliou os testes padronizados e a remuneração meritocrática. Ao perceber os resultados catastróficos desse tipo
de política passou a publicar textos críticos em relação a essas iniciativas. (https://diplomatique.org.br/escolas-pri-
vatizadas-desempenho-pifio/ acesso em 10/07/2018). Na linha de apoio da reportagem: “Em depoimento, a autora,
que já defendeu princípios como o da remuneração por mérito para os professores e a generalização dos testes de
avaliação, critica o sistema em que se encontram as chamadas chartes schools estadunidenses e as opções de Bush
e Obama para a educação”.

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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

1. Apesar da narrativa divulgada pelo MEC, Brasil e do Mundo. Apesar de um discurso


que simula a continuidade entre os traba- de renovação propagandeado pelo MEC,
lhos iniciados em 2015 em relação à Base o estabelecimento de conteúdos, com-
Nacional Comum Curricular, o atual do- petências e habilidades e o referencial da
cumento referente ao Ensino Médio não interdisciplinaridade e contextualização,
representa a construção e diálogo com na realidade são propostas já conhecidas
a sociedade que ocorreram nas versões e falhas. Ao invés de renovação, a propos-
anteriores. A BNCC do Ensino Médio que ta reedita as taxionomias, significando a
está sendo discutida agora nas audiên- definição de conteúdos e competências
cias públicas foi realizada por um grupo pré-determinadas, definidas a priori, ou
de especialistas sem diálogo com a socie- seja, nega a própria ideia defendida no
dade. As escolas, os estudantes, os sindi- documento em relação às necessidades
catos e as associações de trabalhadores atuais da juventude brasileira. Ao invés do
da educação, as comunidades escolares suposto diálogo com as necessidades dos
de maneira geral foram excluídas desse seres humanos para a formação para a
processo. vida, o que ocorre é a pré-determinação do
2. Somos contrários à centralidade dos com- trabalho com o conhecimento e o reforço
ponentes Português e Matemática que da capacidade de administrar a suposta
caracterizam essa versão da BNCC. É um autonomia dos indivíduos na relação com
erro absurdo defender que os jovens bra- o conhecimento.
sileiros tenham acesso prioritário a essas 4. Apesar da justificativa realizada pelo MEC
disciplinas quando a compreensão da vida da necessidade de uma BNCC com base na
em sociedade e a construção da autono- LDB (1996) e na meta 3 do Plano Nacional
mia dos seres humanos se dão na relação de Educação (2014 - 2024), nós nos per-
com diferentes conhecimentos científi- guntamos: a quem interessa essa BNCC
cos, culturais e filosóficos. A tentativa de e quem ela representa? Nossa compreen-
criar um mínimo divisor comum entre os são é de que o referencial das habilidades
jovens brasileiros na realidade aprofun- e competências, associadas à prioridade
dará as desigualdades entre as múltiplas das áreas de Português e Matemática re-
realidades educacionais. A BNCC, em con- presentam o esvaziamento da formação
junto com a lei 13.415 de fevereiro de 2017, humana dos jovens brasileiros, contempla
que alterou de maneira antidemocrática unilateralmente os interesses do empre-
as diretrizes e bases da educação brasi- sariado, coloca o povo brasileiro como sub-
leira, permitirá a ampliação das desigual- serviente do mercado e de uma formação
dades no processo formativo dos jovens administrada, por isso não representa os
brasileiros. interesses da sociedade.
3. O modelo de competências e habilida- 5. Esse posicionamento crítico e nossa re-
des defendido na BNCC, assim como o cusa a atual BNCC do Ensino Médio é re-
texto de justificativa da reforma do En- forçada ao perceber entre as justificativas
sino Médio4 representam um retrocesso do documento o atrelamento a macroava-
à década de 1990, ignorando as análises e liações internacionais realizadas por insti-
críticas de pesquisadores e pesquisado- tuições bancárias que não representam os
ras da educação. Essa retomada ignora interesses da sociedade brasileira. Criar
a produção científica de intelectuais do uma Base Nacional Comum Curricular que

4 Ver, por exemplo, texto exposição de motivos da MP 746/2016, motivo 24 em http://www2.camara.leg.br/legin/fed/me-


dpro/2016/medidaprovisoria-746-22-setembro-2016-783654-exposicaodemotivos-151127-pe.html acesso 10/07/2018.

102 São Luís/MA


julho 18
 Reforma do Ensino Médio e Base Curricular Nacional

é referenciada em avaliações poderá in- 8. Por fim, as alterações do artigo 36 da LDB


duzir os currículos para o desempenho realizadas pela lei 13.415/2017 agora com-
em tais avaliações, criando um processo plementada por esse documento da BNCC
estranho ao que o documento deveria re- do Ensino médio, significa um sequestro
presentar. O documento cita a multiplici- das possibilidades formativas da juventu-
dade das juventudes brasileiras, o que se de. Quando analisamos esses elementos
soma as multiplicidade dos “ensinos mé- no contexto da emenda constitucional 95
dios” brasileiros, e entre as justificativas torna-se evidente que não há interesses
está um elemento absolutizante e padro- em cumprir as metas do Plano Nacional de
nizador, isso é no mínimo incoerência e Educação (2014 – 2024), o que precisaria
contradição. de ampliação dos investimentos na área.
6. Essa contradição se materializa ao tra- Sendo assim, cai por terra a justificativa de
tar a juventude brasileira como “diversa”, uma BNCC ligada ao PNE, restando ape-
“ativa”, “participante”, “capaz de escolher nas intenções reducionistas da formação,
seus projetos de vida”, mas submete os assim como privatista e comprometida
jovens a necessidade de flexibilização com os interesses do mercado financeiro
frente a incertezas e mudanças do mer- internacional.
cado. Especula sobre uma juventude ativa
e participante, mas define, limita e con- Embasados nesses motivos nossas propos-
trola o processo educativo, diminuindo a tas são:
autonomia e estabelecendo elementos ЇЇ Que o PROIFES-Federação se manifeste
facilitadores de controle. contra a aprovação da BNCC do Ensino
7. A BNCC somada à lei 13.415/2017 com a Médio em todas as instâncias a que seja
proposição dos itinerários promoverá chamado para debater a educação bra-
lacunas na formação da juventude. De- sileira;
terminando ou condicionando precoce- ЇЇ Que as entidades federadas dialoguem
mente suas escolhas para a continuidade com a população brasileira sobre as men-
dos estudos ou para o exercício profis- tiras propagandeadas pelo atual governo.
sional, significará um retorno ao dualis- Para isso incentivar, organizar e finan-
mo histórico da educação no país, assim ciar eventos com esse propósito. (Ver,
como sua fragmentação. Além disso, ao por exemplo, o curso “PANORAMAS DO
contrário das propagandas, os jovens ENSINO MÉDIO: EPISTEMOLOGIA, LE-
não poderão escolher os itinerários de GISLAÇÃO E POLÍTICA” em texto assina-
acordo com as suas potencialidades, pois do pelos professores Dalvani Fernandes
o texto da LDB alterado pela lei 13.415 e Thiago Augusto Divardim de Oliveira
de 2017 é taxativo em apresentar que nesse cabderno de proposições);
ficará a cargo dos Sistemas de Ensino ЇЇ Que se reafirme a luta por investimento
a oferta dos itinerários de acordo com de 10% do PIB para a Educação pública;
a sua possibilidade. ЇЇ Que façamos a luta pela revogação da Re-
forma do Ensino Médio (lei 13.415/2017),
da BNCC e da Emenda Constitucional 95.

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Os Impactos das
Reformas do Estado na
Educação Brasileira:
Os Desafios do Movimento Docente
_________________________________________________________________________________________________________________________________
ENIO PONTES DE DEUS
Presidente ADUFC-Sindicato

O
governo federal que, nos últimos 10 anos, vinha investindo na melhoria da infra-
estrutura e nas atividades de ensino, pesquisa e extensão das Universidades
públicas brasileiras, após a posse do vice-presidente, Michel Temer, como Che-
fe do Executivo, optou por uma política econômica de cunho neoliberal, com medidas
duras contra todas as áreas sociais da administração pública federal.
Com o apoio do Congresso Nacional, o governo Temer aprovou uma Emenda à
Constituição Federal que contingencia por 20 anos os gastos do Governo Federal
nas áreas sociais. E educação, em todos os níveis, foi atingida. Especificamente a
educação superior (Universidades Federais e Institutos Federais) sofreram cor-
tes profundos.
Houve um contingenciamento, em abril de 2017, de R$ 42 bilhões nas contas pú-
blicas. Desse valor, R$ 4,3 bilhões atingiram o Orçamento do Ministério da Educação.
Para as áreas da Ciência e Tecnologia a situação tornou-se catastrófica. Do total de
recursos, que já vinham em queda desde 2010, os cortes representaram 44% do to-
tal investido nos segmentos, em 2016.
Os impactos, pode-se inferir, foram muito negativos. 300 mil pesquisadores fi-
caram com os seus recursos contingenciados, laboratórios, sobretudo das Universi-
dades Federais públicas praticamente fecharam, além da diáspora forçada de jovens
pesquisadores que necessitaram migrar para outros países sobe pena de terem os
seus trabalhos paralisados.
Outro aspecto que impactou negativamente as áreas de Ciência e Tecnologia foi
o esvaziamento dos recursos destinados às entidades de fomento à pesquisa, como
CNPQ e Capes. A Capes especialmente vem perdendo aproximadamente R$ 1 bilhão
por ano, desde 2015, com cortes de bolsas, investimentos e recursos de custeio.
Programas importantes como o “Ciência Sem Fronteiras”, foi praticamente ex-
tinto, com uma redução de 80% dos recursos destinados ao programa. Já o CNPq
recebeu em 2017 apenas R$ 56 milhões, dos R$ 400 milhões aprovados pelo Con-
gresso Nacional.
O cenário é preocupante, pois da forma como o atual governo federal vem tra-
tando as Universidades Públicas, o quadro de sucateamento não deve demorar a
surgir. Há o risco de instituições novas, fruto da recente expansão universitária se-
jam fechadas, levando um enorme prejuízo às comunidades atendidas, sobretudo
no interior do país.

105
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

PROPOSTAS: 5. Tornar pleno o exercício da autonomia uni-


1. É fato que o PROIFES-Federação, de ma- versitária, a partir da elaboração dos seus
neira acertada e responsável, propôs for- Planos de Desenvolvimento Institucional
malmente a luta pela revogação da Emen- que comportem a dimensão referida de
da Constitucional 95, que retira recursos planejamento e desenvolvimento do seu
das áreas sociais do Orçamento Fede- meio circundante;
ral. Todavia, proponho que seja realizada 6. Assegurar o acesso ao ensino superior
uma campanha publicitária, com ações nas da demanda expansiva e reprimida de
principais capitais, com apoio dos sindica- jovens e adultos, expandindo as ofertas
tos filiados, visando conscientizar a socie- no setor público, com a restauração das
dade acerca das consequências danosas condições de funcionamento das uni-
deste EC 95 para a sociedade. versidades, ampliando os recursos para
2. Proponho também um ciclo de palestras custeio e investimento e suprimindo o
nacional, com organização do PROIFES- déficit docente; otimizando e ampliando
-Federação e apoio dos sindicatos filiados, ainda as ofertas, especialmente no pe-
com o objetivo de levar personalidades ríodo noturno e com a criação de novos
ligadas ao tema para os estados, para de- cursos em áreas estratégicas;
bater o tema com as professoras, pro- 7. Criar linhas de crédito nacionais e regio-
fessores e demais interessados no tema. nais para o fomento e investimento em
3. Elaborar um documento (Nota de Repúdio) pesquisa básica e aplicada adequadas às
assinado pelo PROIFES-Federação, posi- necessidades da modernização produtiva
cionando-se contra as medidas neoliberais do país, bem como ampliar e diversificar
do governo federal, contra as privatizações os fundos setoriais;
e contra a EC a ser publicado nos principais 8. Incentivar as instituições de ensino para
jornais impressos do país. que os seus programas de expansão de
4. Reservar às universidades um papel estra- oferta contemplem uma perspectiva es-
tégico para o desenvolvimento nacional trutural para o desenvolvimento nacional,
assumindo a liderança, em parceria com ampliando igualmente as vagas para os
as representações políticas, sociais e eco- setores de Biodiversidade, Biotecnologia,
nômicas, de projetos de desenvolvimento Química, Saúde, Farmácia, Agricultura e Ve-
regionais e / ou microrregionais; terinária, Produção, Tecnologia e Serviços.

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O PROIFES
na CRES 2018
_________________________________________________________________________________________________________________________________
CONSELHO DELIBERATIVO DO PROIFES FEDERAÇÃO

O
Conselho Deliberativo do PROIFES Federação, reunido em 12 de maio de 2018, em
razão da participação de sua delegação na III Conferência Regional de Educação
Superior – CRES 2018, debateu os termos dessa participação a partir dos eixos que
organizaram a Conferência e, tendo participado do evento como a maior representação sin-
dical do Brasil (entre os dias 11 e 15 de junho, na cidade de Córdoba, Argentina), elaborou um
conjunto de proposições que serviram ao direcionamento/orientação da própria delegação,
cujos membros estiveram distribuídos nas plenárias dos eixos. Essas proposições são agora
apresentadas em seu XIV Encontro Nacional, com vistas à informação e instrumentalização
de sua base sobre o evento e suas principais discussões.

PALAVRAS INICIAIS
A CRES 2018 é a terceira de uma série de conferências que firmaram as bases da caracteri-
zação da educação superior como direito. A primeira foi em 1996, em Havana, e a segunda em
2008, em Cartagena das Índias, na Colômbia. Esta última, realizada em um período no qual
os países da América do Sul viviam momentos de avanço nas políticas sociais, em especial
no Brasil, na Argentina, no Uruguai, na Bolívia, no Equador e na Venezuela. Por essa razão, ha-
via um pensamento majoritário desses governos na defesa da Educação Pública, e assim, a
declaração da II CRES definiu claramente que a Educação não era mercadoria, de modo que
a posição da América Latina foi determinante para que a Conferência UNESCO de 2009 em
Paris consagrasse esse princípio.
O mundo mudou muito nestes 10 anos e hoje vivemos uma conjuntura muito desfavo-
rável para a defesa da educação como direito, na medida em que no Brasil, na Argentina e no
Chile, por exemplo, temos governos neoliberais e privatistas, governos cujo posicionamento
na Conferência não são semelhantes ao de Cartagena. Hoje vivemos uma grande onda de
mercantilização da educação em todo o mundo, com formas inclusive mais sofisticadas de
privatização, que não passam apenas pela compra de Universidades, mas pela inserção de
grupos privados no mercado editorial, na venda de consultorias e pacotes de formação de
professores, sobretudo nos sistemas de educação municipais, e na educação à distância. Ob-
serva-se no Brasil um grande aumento do financiamento público para o sistema privado, em
especial através do FIES, o que tem colaborado para o aumento percentual da participação
do setor privado na educação superior (hoje superior a 70% do total de matrículas). Vivemos
uma grande pressão pela globalização e pela liberação dos mercados, através de acordos mul-
tilaterais no seio da Organização Mundial do Comércio (OMC), cujas rodadas de negociação
sempre têm o princípio do aumento da liberação do comércio. Isso tem levado a que os países
signatários desses acordos, dentre os quais o Brasil, se submetam às determinações da OMC
e sofram retaliações da entidade, como compensações aos países ou blocos de países que se
sentem prejudicados por políticas nacionais de proteção a setores específicos de mercado,
como recentemente aconteceu com o Brasil, retaliado em função do programa Inovar Auto,

107
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

que previa um incentivo fiscal a empresas que cas da formação dos profissionais da Educação
tivessem um grau importante de nacionalização Básica, principalmente os professores, através
na produção de automóveis. das licenciaturas e das ciências da Educação.
Nisso consiste o perigo de termos interna- Da mesma forma que na Educação Básica,
cionalmente a educação considerada como com- o Ensino Superior no Brasil é oferecido pela ini-
modity, implicando que sobre ela provavelmente ciativa privada, como entidades com finalidade
incidirá regulação pela OMC. Nessa hipótese o de lucro ou não, mediante concessão do Estado.
Brasil poderia em tese ser punido por financiar Desse fato emerge a sensível questão sobre o
exclusivamente as Universidades Federais, por papel do Estado frente à provisão desse direito
exemplo, o que violaria a “livre concorrência”, so- fundamental, considerando, inclusive, as especifi-
frendo então uma punição pelo prejuízo que as cidades da Educação Superior frente à Educação
empresas privadas de educação estariam so- Básica (educação infantil, ensino fundamental e
frendo com uma espécie de “concorrência des- médio, além da educação profissional e a atenção
leal”. Na prática, o que tende a ocorrer é perda aos jovens e adultos não escolarizados na idade
de soberania nacional para definir como se da- típica), do que deriva a análise da qualidade da
ria o financiamento da educação. E mesmo que educação, sua relação com os entes e institui-
se consagrássemos em lei os 10% do PIB para a ções que a oferecem e os meios de obtenção
educação pública, isso seria proibido pela OMC, dos seus indicadores.
que opera sob o princípio da livre concorrência. Torna-se imperioso ponderar que o concei-
Este é então o grande debate no momento, a de- to de qualidade não é consensual, sobretudo, se
fesa da educação como um direito e a recusa a considerarmos que tem sido comum a utilização
que seja concebida como uma mercadoria. Esta de parâmetros de avaliação que desconsideram
foi a principal bandeira do PROIFES-Federação a história e os desafios do ensino superior nos
e das organizações sociais em Córdoba. diferentes países da região. A diversidade da de-
Isto posto, passamos às nossas proposi- manda e as características da educação superior
ções, observando cada um dos eixos temáticos em ALC precisa dar lugar a uma atitude que nos
da Conferência: leve à defesa incondicional da educação superior
como um direito, concebido como parte integran-
EIXO 1 - A EDUCAÇÃO SUPERIOR COMO te e indissociada da luta em defesa da educação
PARTE DO SISTEMA EDUCACIONAL NA ALC infantil, do ensino fundamental e médio.
A Educação Superior na ALC assume modelos va- É preciso igualmente considerar o acesso, a per-
riados de funcionamento, gestão e financiamento, manência e a pós-permanência no ensino superior
bem como de caracterização de oferta por ente como um direito de todos os cidadãos, tendo em
público/estatal ou não estatal. No Brasil, desde vista as populações que não tiveram acesso à uma
a Constituição de 1988, ela é parte do sistema de educação básica de qualidade, implicando em impedi-
educação, junto com a Educação Básica, sendo mento ou dificuldade de ingresso ao ensino superior e
prevista como direito fundamental, e é financia- indução a frequentar instituições privadas de ensino,
da pelos governos nas três esferas federativas. muitas vezes de qualidade duvidosa. Deve-se anali-
As universidades federais e os Institutos Tecno- sar a permanência dos indivíduos que não reúnem
lógicos são as maiores instituições de Educação as condições consideradas ideais para cursar este
Superior no Brasil e principais responsáveis pela nível de ensino. A pós-permanência é um conceito
produção de conteúdo científico e tecnológico em a ser introduzido no debate, visto que a orientação
todas as áreas. Além disso, essas instituições são aos egressos do ensino superior, tendo em vista a
as responsáveis pela produção de conhecimento inserção no mundo do trabalho e a necessidade de
no campo das humanidades e, estrategicamente, formação ao longo da vida, deve ser um horizonte
tem gestado as bases conceituais e metodológi- também dos sistemas de ensino superior na região.

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 PROIFES na CRES 2018

Além disso, é preciso assegurar que a amplia- a qualidade dos cursos ofertados e com o perfil
ção e diversificação da oferta do ensino superior dos egressos definidos nos diferentes cursos de
não pode nem deve representar prejuízos para graduação e pós-graduação. Além disso, é preciso
a qualidade e aperfeiçoamento das atividades defender que a pesquisa e a extensão devem ser
de responsabilidade do ensino superior, quais consideradas como um investimento na organi-
sejam, o ensino, a pesquisa, a extensão e, princi- zação e consolidação de sistemas de educação
palmente, o compromisso deste nível de ensino superior, pautadas no compromisso social com
com o desenvolvimento da ciência e tecnologia, o desenvolvimento da América Latina e Caribe.
bem como a responsabilidade com a formação de Para o aprofundamento da discussão so-
professores dos diversos níveis de ensino. Des- bre sistemas de ensino é preciso refletir sobre o
taque para a formação de professores que é um modelo de Estado que se deseja construir e/ou
elemento-chave para a construção soberana de fortalecer nos diversos países da América Lati-
um projeto de nação, visto que a escolarização na e Caribe. O passado comum de usurpação e
dos professores deve ocorrer nos cursos de gra- exploração das riquezas materiais e imateriais
duação e pós-graduação, permitindo a articulação desses países, por parte de seus colonizadores
entre ensino superior e educação básica. históricos e dos colonizadores que se formaram
De acordo com o site do CRES/2018, ocorreu e se firmaram contemporaneamente, com todos
no ano passado uma reunião preparatória para os novos atores que fazem parte da realidade
discussão desse eixo, da qual não consta parti- política e geoeconômica atual, desarticulam as
cipação de representantes do Brasil. No relato iniciativas que visam assegurar o direito à edu-
da reunião foi observada uma preocupação da cação pública, gratuita e de boa qualidade como
equipe responsável pela elaboração de propostas parte do pagamento de uma dívida social com a
para a CRES/2018 com “[...] Uma reflexão sobre o maioria da população formada por indígenas e
conceito de qualidade e a necessidade de promo- descendentes de africanos.
ver uma melhor coordenação do ensino superior A defesa da qualidade dos sistemas de en-
com o sistema educacional dos países da região sino superior, portanto, passa por um conceito
com diferentes níveis de ensino pós-secundário de Estado que destine investimentos, ações e
e do trabalho e meio ambiente produtivo”. Diante fiscalização na ampliação da oferta da educação
disso, deve-se questionar a onda de privatização superior e melhoria de todos os níveis e modalida-
do ensino superior como uma saída equivocada des de ensino do qual faz parte para a demanda
para a melhoria da qualidade deste nível de ensi- que precisa ser incluída nos sistemas de ensino.
no, haja vista os resultados desastrosos que vem A defesa que fazemos é de um sistema de ensino
sendo observados pelo movimento sindical dos superior inclusivo, por natureza, socialmente re-
docentes de nível superior no Brasil. ferenciado voltado para a cidadania, emancipação
No caso brasileiro denunciamos a configura- e estimulador da criticidade daqueles que dele
ção de oligopólios transnacionais que, priorizando participam direta e indiretamente.
o lucro, visam ao crescimento indiscriminado de
taxas de matrículas e à captação do fundo públi- EIXO 2 - EDUCAÇÃO SUPERIOR: DIVERSIDADE
co, sem compromisso com a qualidade do ensino CULTURAL E INTERCULTURALIDADE NA
ofertado, com os planos de carreira, com as con- AMÉRICA LATINA E NO CARIBE
dições de trabalho dos docentes e funcionários. O tema da relação entre educação superior, di-
O resultado tem sido a massificação do ensino, versidade cultural e interculturalidade é funda-
especialmente da modalidade à distância, devido mental diante da percepção de que o discurso
aos seus baixos custos e à precarização das rela- acerca dos direitos humanos, cujas origens his-
ções de trabalho com os envolvidos. Diante desse tóricas podem ser rastreadas no contexto das
quadro, é preciso firmar um compromisso com revoluções do século XVIII até o presente, não

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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

encontraram sua tradução na realidade concreta. da matriz eurocêntrica. Os estudos pós-coloniais,


Se resgatarmos o processo de conquista e co- referentes a estes saberes não hegemônicos, ain-
lonização da América pelos invasores europeus, da não consolidaram seu espaço nos currículos
justificado pela ideia de que os povos originários da educação superior, currículos que são fruto
viviam apartados da civilização e que, portanto, a das relações de colonialidade e que permanecem
violência cometida contra esses povos integrava provocando a subordinação dos saberes inter-
uma missão civilizatória destinada a levar a mo- culturais e o aniquilamento das possibilidades
dernidade a povos tidos como “selvagens”, obser- de reconhecimento de outros conhecimentos
varemos que a colonização da América Latina e como socialmente efetivos. Para Quijano (2005)
do Caribe levou ao estabelecimento, nessas re- é necessário superar a perspectiva colonialista
giões, de sociedades profundamente desiguais de produção de conhecimento e questionar a co-
em que o abismo entre as classes coincide, em lonialidade em todas as suas dimensões, promo-
grande medida, com as diferenças étnicas. Diante vendo a desconstrução do discurso, das práticas
dos desdobramentos desse processo, as ideias hegemônicas e das concepções eurocêntricas.
de que todos os homens nascem iguais e são Faz-se necessária, portanto, a defesa de um
igualmente portadores de direitos inalienáveis, sentido político que reconheça e estabeleça não
de dignidade inerente a todos os membros da apenas as condições de garantia do direito de
família humana, de igualdade de direitos do ho- todas e todos ao acesso às instituições educa-
mem e da mulher, etc., tornam-se abstrações e cionais, mas, mais do que isso, que identifique e
promessas não realizadas, cuja análise crítica é desenvolva políticas de transformação dessas
tarefa de todos nós, educadores e educadoras. instituições, para que o processo de inclusão não
No Brasil esta é uma condição que exige permaneça isolado de uma adaptação das mes-
das organizações sociais uma luta permanen- mas a uma realidade marcada pela diversidade
te, já que apenas na educação, 11,8 milhões de étnica, sexual e cultural.
pessoas são analfabetas e os dados da Pnad- A partir disto podemos salientar que o de-
-Contínua mostram que, em 2016, “cerca de 66,3 safio que ainda não foi assumido é para além da
milhões de pessoas de 25 anos ou mais de idade democratização da educação superior no Brasil,
(ou 51% da população adulta) tinham concluído pois se trata da inclusão da diversidade cultural
apenas o ensino fundamental. Além disso, me- e epistemológica, da promoção da intercultu-
nos de 20 milhões (ou 15,3% dessa população) ralidade, do descolonizar o saber disciplinar e
haviam concluído o ensino superior”. A pesquisa possibilitar o convívio e o diálogo intercultural e
também aponta as abissais diferenças de um interdisciplinar na educação superior. A descolo-
país com proporções territoriais continentais: nização das relações de poder e de conhecimento
no Nordeste concentram-se 52,6% de sujeitos depende dos múltiplos saberes existentes nas
que não haviam concluído o ensino fundamental. culturas e nas sociedades.
Além disso, apenas 8,8% de pretos ou pardos têm
nível superior. Portanto, quando trazemos o tema EIXO 3 - EDUCAÇÃO SUPERIOR,
de que, na atualidade, a diversidade cultural tor- INTERNACIONALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO
na-se um direito básico, não apenas de pessoas, REGIONAL DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE
mas de coletividades, estamos afirmando que O processo de internacionalização e integra-
a diversidade é um elemento fundamental dos ção entre países da América Latina e Caribe pela
direitos humanos. educação superior deve ter como balizamento
Sabemos que o modelo atual de educação uma ideia ou um conceito. Noutros termos, deve
superior não foi pensado para atender a todos/as, ser precedida por uma ética da universalidade e
antes a uma hegemonia não apenas sociocultural preservação das singularidades de cada país. É
e econômica, mas também epistêmica, herdeira preciso que construamos valores que garantam

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 PROIFES na CRES 2018

o reconhecimento do outro. Relembrando Kant idioma, levando à desmistificação do diferente,


a partir de sua Crítica da Razão Prática, é preci- aproximando as pessoas envolvidas.
so a construção de imperativos categóricos que Considerando esses pressupostos e expec-
garantam interesses e deveres de cada nação e, tativas, entendemos que uma política de Educa-
ao mesmo tempo, o princípio de uma legislação ção Superior na América Latina e Caribe deve ser
universal. Portanto, isso significa que as particu- construída a partir de políticas governamentais e
laridades de cada país sejam dialogizadas com também de inciativas de redes colaborativas de
aquelas comuns a todo continente Latino Ameri- Universidades, através de ações como:
cano e Caribe. Em segundo lugar, faz-se necessário a. Criação e consolidação de epistemologias
uma integração que contribua para reposicionar comuns para a formação de graduandos,
os países da ALC no processo de mundialização pós-graduandos e pós-doutorandos acom-
ou globalização cultural e econômica, ou seja, uma panhadas de Programas de mobilidade de
globalização que leve em conta uma geopolítica, estudantes e professores entre os países;
prioritariamente, numa lógica simétrica Sul-Sul, b. Criação de pós-graduações internacionais e
invertendo, assim, a hegemonia global de outros respectivos créditos e títulos reconhecidos
países que se orientam pela lógica assimétrica em toda ALC;
Norte-Sul. c. Política de Ciência e Tecnologia que contri-
O PROIFES reconhece o papel estratégico bua para o desenvolvimento econômico e
da educação superior para o enfrentamento das modernização da Região a partir de pes-
grandes questões sociais da ALC, como a pobreza, quisas comuns, destinação de recursos fi-
a profunda desigualdade social, a falta de acesso nanceiros para obtenção de equipamentos
à educação e os desafios ambientais, problemas e para pagamentos de bolsas aos pesquisa-
que caracterizam a região e de cuja superação vai dores. Uma C&T sintonizadas com os temas
depender o desenvolvimento e a soberania dos pertinentes ao presente e como prioridade
seus países, e está de acordo com os possíveis do Governos e suas Agências de fomentos.
caminhos definidos pelas várias entidades civis, Desta forma, evitar-se-á fuga de cérebros
governamentais, educacionais, sindicais e dos mo- da Região, destacadamente, para os EUA
vimentos populares participantes da conferência, e Europa. Incorporação aos programas de
no sentido de que a integração institucional (pela ensino, pesquisa e extensão de cientistas
via da mobilidade acadêmica, reconhecimento de estrangeiros, intelectuais e acadêmicos re-
títulos e iniciativas de cooperação recíproca em nomados nas Universidades da ALC;
relação a pesquisa científica e tecnológica) prio- d. Criação de Cátedras Itinerantes nas Uni-
rize tanto a superação dos problemas regionais versidades como forma de intercâmbios de
quanto a inclusão das populações a quem inten- saberes. Além de programas de ensino dos
cionalmente foi negado o acesso a essa etapa idiomas comuns e diversos na Região. Com
da educação. Além disso, a internacionalização ênfase em espanhol, português e dialetos
universitária tem o potencial de contribuir para indígenas;
o processo de paz entre os povos e o respeito à e. Otimização de Revistas indexadas interna-
diversidade cultural. A oportunidade de conhecer e cionalmente;
conviver com diferentes culturas e modos de vida f. Criação de uma Rede colaborativa das IES,
em um ambiente de pesquisa e de estudos tem que coordene as iniciativas de integração e
possibilitado maior tolerância entre os envolvidos de internacionalização;
no processo. Quando ocorre intercâmbio de alu- g. Internacionalização das ações políticas sindicais
nos e alunas, de pesquisadores e pesquisadoras, na ALC a partir de sindicatos, federações e asso-
dá-se não apenas a troca de conhecimento, mas ciações como forma de discutirem pautas comuns
também a troca cultural, o aprendizado de novo sobre carreira docente, política salarial etc;

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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

h. Definição de políticas de intercâmbio mais incapacidade de construções alternativas de um


concretas, através de programas de finan- Estado garantidor dos bens essenciais, com força
ciamento com periodicidade definida e política suficiente para agir na esfera da regula-
sem interrupção, para discentes da gra- ção dos mercados; tudo isso levou a oscilações
duação e da pós-graduação e docentes. políticas nos países da América Latina e Caribe.
Superado o período das ditaduras militares,
Os documentos resultantes da CRES, assim surgem os governos populistas de perfil de es-
nos pareceu, apontam para essas ações estraté- querda e, na sequência, a forte tendência a gover-
gicas, capazes de realizar nosso anelo de supera- nos de caráter conservador. Nenhum, neste breve
ção das questões históricas, culturais, políticas e espaço de tempo, conseguiu propor um Estado
epistemológicas que provocaram e perpetuaram capaz de dar sustentação a um projeto inovador
os processos de exploração, exclusão, injustiça que responda às demandas sociais básicas, tais
e desigualdade que marcam a história da ALC como saúde, educação de qualidade, seguridade
desde o Século XVI. social, habitação, mobilidade social, trabalho (não
apenas emprego), ao mesmo tempo que apre-
EIXO 4 - O PAPEL DO ENSINO SUPERIOR sente espaços que sejam atrativos do mercado.
FRENTE AOS DESAFIOS SOCIAIS DA ALC Importante frisar que a educação, em qual-
Definir um programa político que promova a Amé- quer de seus níveis de complexidade, deve man-
rica Latina e Caribe a um papel distinto daquele ter o caráter público para que consiga garantir o
que vem sendo resguardado pelos países centrais acesso universal e apresentar-se como meio de
e, em especial, pelos organismos transnacionais solucionar os problemas sociais. O estado capaz
que operam o grande capital e gerenciam os pro- de articular interesses coletivos sem sufocar os
jetos de desenvolvimento de cada canto do mun- interesses individuais é parte da resposta que
do segundo seus enunciados: esta pode ser uma passa pelo reforço das instituições que oferecem
tarefa em cuja construção as Universidade da ensino superior pelo seu papel de concentrador
Américas Latina e Caribe podem auxiliar. de conhecimento e inteligência; resposta essa
A partir dos anos 1980, quando irrompe a que passa pelo investimento no desenvolvimento
crise que leva à estagnação mundial dos países de tecnologias que respondam com agilidade às
centrais e colapsa o projeto de Estado mínimo na necessidades de novas formas de energia, novos
sua ilusão de substituir o Estado do bem-estar processos produtivos que reduzam os custos da
social, começa a busca de um projeto de Estado transformação da matéria prima em bens durá-
que sirva tanto para equacionar a questão do veis e/ou que agreguem valor nos processos de
mercado quanto para constituir-se em gerencia- intercâmbios internacionais.
dor dos interesses sociais, garantindo os direitos Também que estimule a criação de modelos
individuais – da propriedade. No entanto, esse de gestão do estado que confira transparência,
novo Estado a ser gestado não pode ser univer- amplie o aspecto público, por meio de novos me-
sal, dada as gigantescas diferenças regionais que canismos de controle e inibição de desvios de
foram se estabelecendo no mundo no pós-guerra. conduta, com destaque à corrupção provinda das
A concentração de renda, o aumento da miséria, relações promíscuas entre servidores públicos e
o crescimento desordenado do sistema finan- empresários inescrupulosos, tanto aqueles que
ceiro internacionalizado, a redefinição de papeis vendem serviços ao Estado quanto aqueles que
aos países – alguns reforçados como produtores se servem das benesses de legislação “vantajo-
de bens primários, confrontando-se com outros sa” para operar de forma predatória, com grande
como centros de inteligência e logística interna- prejuízo para a sociedade.
cional, coordenadores mundiais da movimentação Apenas uma Universidade autônoma, mas
do dinheiro entre nações; o crescente conflito e a também comprometida com projetos sociais de

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julho 18
 PROIFES na CRES 2018

caráter regional, sem perder sua capacidade de a pesquisa científica na América Latina e Caribe e
articulação internacional, será capaz de auxiliar permitir uma diminuição da dependência tecnoló-
na superação da grave crise que assola os países gica dos países produtores de Ciência e Tecnologia
da América Latina e Caribe. Qualquer solução ne- é a colaboração dos países do Continente no inter-
cessariamente passa pelo reforço da democracia câmbio de jovens pesquisadores, o investimento
como valor universal, tendo-a como um fim em si em laboratórios e a visita de cientistas oriundos de
e resposta para o momento de desenvolvimento países desenvolvidos, produtores de Ciência, obje-
das relações humanas no mundo do século XXI. tivando a troca de conhecimentos e experiências
(o que se articula com o ei. Outra ação importante
EIXO 5 - PESQUISA CIENTÍFICA E para fortalecer o desenvolvimento da Ciência e
TECNOLÓGICA E A INOVAÇÃO COMO MOTOR Tecnologia na América Latina e Caribe seria a ela-
DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, SOCIAL E boração de políticas de repatriação de cientistas
ECONÔMICO DA ALC dos países da Região, que se encontram nos países
O domínio do conhecimento científico, nas mais desenvolvidos, sobretudo nos Estados Unidos e no
diversas áreas da atividade humana, constitui-se Continente Europeu.
em fator crucial para alavancar os padrões sociais
e econômicos de qualquer sociedade. O desenvol- EIXO 6 - 100 ANOS DA REFORMA
vimento de pesquisas visando à identificação de UNIVERSITÁRIA DE CÓRDOBA
novos elementos capazes de oferecer a possibi- A III CRES ocorre no mesmo espaço onde há 100
lidade de criação de novos materiais; novos com- anos, 1918, a juventude da Federação Universitária
postos - um novo polímero - por exemplo; ou uma Nacional de Córdoba, Argentina, estava insurgen-
nova expressão genética de uma doença, que possa te e nos deixou um legado histórico, “O Manifesto
facilitar a sua compreensão. de Córdoba”, em que conclamava a liberdade para
É por meio do investimento em pesquisa os/as cidadãos/cidadãs da América, advertindo
científica que os países fortalecem os principais para o fato de, naquele momento estarem pisando
segmentos da sociedade. O desenvolvimento em uma revolução e rompendo as correntes que
de novas tecnologias pode transformar-se em os atavam à dominação monárquica e monásti-
novos produtos para a indústria, aqui entendi- ca, da qual as Universidades “eram” o fiel reflexo.
da no sentido Latu Sensu, alcançando todas as Reivindicavam um governo democrático e uma
variações, desde a indústria química, farma- universidade soberana.
cêutica, até o desenvolvimento de tecnologia A CRES 2018 ocorre em uma conjuntura
aeroespacial. mundial de retrocessos, com perdas de direitos
O domínio de tecnologias de ponta liberta e desfavorável à classe trabalhadora. O movimen-
os países da dependência da transferência do to estudantil, ao contrário de 1918, encontra-se
conhecimento tecnológico. Na prática, significa desmobilizado e em muitos casos atrelado a go-
que os países quem detém tecnologia afirmam vernos e estruturas de Estado, impossibilitado de
suas soberanias. No caso específico da América articular qualquer atividade, inclusive de realizar
Latina, a dependência científica e tecnológica é uma reunião dos estudantes, planejada para ocor-
gritante. Segundo a revista Nature (2014), apenas rer um mês antes da Conferência. Por outro lado,
o Brasil investiu acima de 1% do Produto Interno os movimentos sociais e sindicais presenciam
Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento. To- manobras sutis que visam ao estabelecimento
davia, ressalte-se que, apesar desta destinação, do paradigma da educação como mercadoria,
o Brasil ainda fica abaixo de países considerados segundo a tendência política de educação priva-
em desenvolvimento. da no âmbito dos governos que estão sob a égide
Nossa Federação entende e defende que um da UNESCO, a ser consolidada, definitivamente,
dos fatores que podem contribuir para impulsionar em Paris 2019. Elementos dessa política podem

São Luís/MA
julho 18
113
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente

ser observados em documentos da UNESCO, federados. Uma atividade de grande porte,


a exemplo dos Objetivos do Desenvolvimento complexa, povoada por muitos implícitos
Sustentável - ODS, que no item sobre educação políticos e algumas tensões (não é possível
de qualidade, se refere a “... preços acessíveis, in- identificar com clareza os interesses e movi-
cluindo universidades” e “... ampliar globalmente mentações dos governos no jogo político ali
o número de bolsas de estudo para países em encenado), mas marcada pela participação
desenvolvimento…”. Isto poderá significar finan- robusta e vibrante de representações dos
ciamento e privatização da educação, a exemplo setores progressistas, com destaque para o
do FIES, criado em 1999, no Brasil. movimento estudantil local. Além disso, sur-
Por fim, é nesse contexto histórico em que preendeu o teor e conteúdo dos documentos
as direções e as organizações dos trabalhado- finais, até este momento ainda em fase de
res não podem se acomodar, nem se distanciar revisão linguística. Esses textos, a cuja lei-
das bases, nem dos explorados e oprimidos. Não tura encomendamos nossas bases, devem
podem ficar parecidas com as instituições e os ser estudados e toda atenção deve ser dada
poderes que devem combater. às suas implicações e desdobramentos. Eles
apontam não apenas à Conferência de Paris
CONCLUSÃO 2019, mas principalmente à nossa vida (nos-
Num momento em que devemos comparti- sa, brasileira, e de nossos irmãos latinos e
lhar e avaliar nossa experiência de participa- caribenhos), em em perspectiva individual
ção de nossa delegação na CRES 2018, desta- e coletiva, e à manutenção e fortalecimento
camos a excelência da formação política que da nossa Democracia.
foi possível vivenciar, formação viabilizada
financeiramente pelos nossos sindicatos Brasília, 08 de julho de 2018.

114 São Luís/MA


julho 18
tema 3
Campanha salarial,
Carreiras e
Assuntos de
Aposentadoria
Professores em defesa
da Universidade e de
um Projeto Nacional
_________________________________________________________________________________________________________________________________
JOVINIANO S. DE CARVALHO NETO
APUB- Sindicato

A
defesa da universidade é parte indispensável da luta dos professores e seus sin-
dicatos pelo reconhecimento e valorização profissional. E a importância das insti-
tuições federais de ensino depende da função, e papel, que elas desempenham no
país onde têm sua sede. São afirmações que nos parecem óbvias, mas que cabe aprofundar.

A RELAÇÃO ESPECIAL ENTRE PROFESSORES E UNIVERSIDADE


“A minha morte foi decretada
quando fui banido da universidade”
(Luis Carlos Cancellier de Olivo – Reitor da UFSC – Bilhete de suicídio).

Os professores das IFES têm uma sintonia maior do que a grande maioria das catego-
rias profissionais com as instituições em que trabalham. Não que outros trabalhadores não
tenham, em vários graus, adesão aos objetivos das empresas empregadoras. A manutenção
e o sucesso da empresa pode ser parte de seu interesse profissional e sindical. Estamos, por
exemplo, vendo a dramática situação de milhares de desempregados (muitos engenheiros
formados na nossa universidade) depois do ataque seletivo as empresas de engenharia bra-
sileira, pela “Operação Lava Jato”.
O que sustentamos é que a situação dos professores das Instituições Federais de Ensino
Superior é diferente. Uma análise, a partir das fontes de satisfação no trabalho, que apren-
demos, há muito tempo, na Sociologia do Trabalho explica nossa posição. A satisfação viria
de 04 fontes e, sumariamente, analisaremos a situação do professor universitário federal
perante cada uma1.
Orgulho do trabalho – o professor pode sentir orgulho do trabalho que faz e da liberdade
que, dentro de alguns limites, tem para definir o seu conteúdo. Das aulas que dá, da liberdade
que tem para definir e enquadrar o assunto, da sua liberdade para escolher seus temas de
estudo e pesquisa, dos trabalhos que elabora e divulga para a sociedade. E dos alunos que
formou – é uma forte característica do professor referir-se aos seus antigos alunos que se
destacaram na vida.

1 A primeira vez que utilizamos este enfoque foi em 1967, em pesquisa contratada pela PETROBRÁS, ao Instituto de
Ciências Sociais da UFBA., na qual trabalhávamos como pesquisador (Auxiliar de Ensino). A motivação da PETRO-
BRÁS era entender porque, depois do golpe de 1964, se tornara a principal fornecedora de clientes para Clinicas
de saúde mental. Foram 2 relatórios sobre o DINOR – Distrito Norte da Região de Produção da Bahia. Um sobre
condições de trabalho e, outros a nosso cargo, avaliando a opinião dos trabalhadores sobre “satisfação (ou não) no
trabalho. A base teórica era insuspeita, sociólogo norte americano, o instrumento, longo questionário de pesquisa
de opinião. A Petrobrás nunca divulgou os relatórios. Anos depois, ainda na Ditadura Militar, a UFBA teria solicitado
autorização para publicar artigo com base no nosso relatório e recebido a negativa. Nestes 50 anos, o conhecimen-
to dos resultados da insegurança e do assedio moral no trabalho avançou. Em novo regime de exceção, quando a
pressão aumenta sobre os trabalhadores cabe recordar e atualizar estudos deste tipo.

117
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

Orgulho do grupo de trabalho – o professor da eleição da comunidade acadêmica, (condição


pode se orgulhar dos grupos e linhas de pesquisa aliás, que se está tentando ameaçar) eles que
em que insere, das redes nacionais ou internacio- comandam os cursos, pesquisas, atividades de
nais em que estes grupos participem, Departa- extensão. Defender as IFES é defender o trabalho
mento e Centros onde está lotado, da reputação que se faz, também é manter e melhorar suas con-
dos cursos, unidades e da universidade. dições de trabalho. Esta integração que, a nosso
Remuneração. É espaço de luta e ambi- ver, atinge o grau máximo com o professor e se
valência. A remuneração dos professores das estende, nas IFES, aos servidores técnicos admi-
IFES é inferior a de outras categorias, muitas nistrativos e estudantes, para o que contribui a
das quais (por exemplo, juízes, procuradores ou participação nas eleições (“consultas”) para diri-
auditores), formados pela Universidade. Mas, é gentes e dos órgãos colegiados. Algo similar, mas,
razoável se comparada a outras categorias de a nosso ver, de menor impacto social, ocorre entre
profissionais de nível superior, diferença que é os pesquisadores e os Institutos de pesquisa. Na
agravada em tempos de recessão e desempre- esfera privada, um exemplo maior da integração
go. Quando falamos razoável, não estamos nos com os objetivos da empresa é a relação entre os
referindo aos brasileiros ricos ou super ricos, petroleiros e a PETROBRÁS, com a dramática
nem a maioria que recebe, mensalmente, menos diferença de que os petroleiros estão lutando
de dois salários mínimos. contra uma política de desmonte, implantada por
Esta remuneração e carreira é um resultado uma diretoria da qual não participam.
e objetivo da luta sindical. Foi desta luta que re- As características da relação entre professo-
sultou a carreira única, a isonomia entre ativos e res e as universidades (ou IFES) tornou a defesa
aposentados, a valorização salarial da Pós-Gra- da universidade, na atual conjuntura, prioridade
duação e da Dedicação Exclusiva, a garantia de absoluta para o movimento sindical docente.
adicionais e gratificações, os reajustes obtidos
após mobilizações que incluíam greves e duras AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA.
negociações. É luta permanente, inclusive quan- 30 ANOS DE ATAQUES
do, como veremos, aumenta a pressão para, di- A Constituição Federal de 1988 afirmou a auto-
reta ou obliquamente, reduzir a remuneração nomia universitária no art. 207 que atualmente
dos professores. tem a seguinte redação:
Nesta luta, o professor universitário conta, “Art. 207.  As universidades gozam de
autonomia didático-científica, administrativa
também, com um outro tipo de remuneração, que
e de gestão financeira e patrimonial, e
aliás, divide com todos os demais professores. O obedecerão ao princípio de indissociabilidade
reconhecimento pela sociedade (o professor nas entre ensino, pesquisa e extensão”.
pesquisas aparece como categoria mais confiá- “§ 1º. É facultativo as universidades
admitir professores, técnicos e cientistas
vel) e pelos antigos alunos. Este reconhecimento
estrangeiros na forma da lei.
é capital social importante na luta política quando § 2º. O disposto neste artigo aplica-se
a fala é percebida como de professor, a partir do às instituições de pesquisa científica e
seu conhecimento. tecnológica”.

Integração com os objetivos da empresa. Nestes quase 70 anos de vigência da Cons-


É especialmente através dos professores que a tituição, a autonomia da Universidade sempre
universidade realiza seus objetivos de ensino, esteve sob ataque. Do MEC e do MPOG, dos ór-
pesquisa e extensão. Do mesmo modo, é através gãos de acompanhamento dos gastos públicos
do ensino, pesquisa e extensão, feitos na Univer- como a CGU – Controladoria Geral da República,
sidade, que o professor realiza a maior parte de do TCU – Tribunal de Contas da União e da AGU
seus objetivos como intelectual. São professores – Advocacia Geral da União que está substituin-
que dirigem a Universidade, na prática, a partir do as antigas Procuradorias das Universidades.

118 São Luís/MA


julho 18
 Professores em defesa da Universidade e de um Projeto Nacional

Estas instituições procuram impor crité- artigo era auto aplicável e era necessário apenas
rios e interpretações que, muitas vezes, violam defendê-la (posição majoritária na (o) ANDES) e
a autonomia da Universidade e a própria Cons- os que defendiam que se poderia aproveitar a
tituição. Revelam, frequentemente, um grande conjuntura que consideravam favorável para ela-
desconhecimento da natureza da universidade borar uma lei específica para as IFES que respei-
e pretendem enquadrá-la à planilhas e práxis de tasse suas especificidades e garantisse melhor
serviço público. Ocorre que na Universidade há a autonomia. Na segunda posição, a ANDIFES e
especificidade. o PROIFES apresentam minutas de projetos de
Dentre equipamentos diferentes para uma lei com semelhanças e diferenças entre si. Na
pesquisa, o critério principal não deve ser o me- do PROIFES, destacamos a ênfase pelo retorno
nor preço, mas a qualidade e atualização. No meio para as Universidades do direito de a possuir a
da pesquisa, em função dos resultados, se pode sua própria Procuradoria. O fato da Universidade
mudar o Plano de Trabalho e remanejar rubricas. ser defendida por Procurador da AGU, fragiliza a
As Fundações – e a CGU, elaborou grande administração universitária na sua capacidade de
cartilha onde boa parte das sugestões visava exercer sua autonomia contra pareceres e acór-
às fundações – devem ter maior flexibilidade de dãos de órgãos controladores, mesmo quando
atuação que as autarquias. Os professores uni- flagrantemente inconstitucionais, ilegais e con-
versitários têm garantias específicas definidas trários a natureza da universidade. Os gestores
na Constituição, nas leis, e pela própria natureza sabem que se ousarem e, por isso, serem acusa-
do seu trabalho. dos de prevaricação ou improbidade terão de,
A luta é antiga, registramos alguns casos que após seu mandato, contratar e pagar advogados
revelam o paradoxo da autonomia garantida na particulares. Como os reitores são professores,
Constituição, mas negada na prática. talvez chegue o dia em que recorram à assesso-
Os mandados de segurança que requeremos ria do seu sindicato. A defesa da reintrodução da
e obtivemos contra Reitores, a autoridade máxi- procuradoria na Universidade deve continuar na
ma, contra ações praticadas e impostas a eles por pauta como uma meta.
órgãos externos. Um exemplo seria o caso antigo No momento presente (2018) não cabe pro-
dos mandados contra a suspensão de pagamen- por lei específica. No caso atual, esta seria cer-
tos no governo FHC, determinado pelo Ministro tamente restritiva e não garantidora da autono-
Paulo Renato, que foi detido pelo STF. mia. A tarefa é resistir juridicamente com base
Outro exemplo seriam os mandados apre- na Constituição, na Lei de Diretrizes e Bases, no
sentados, em 2017, contra os Reitores da UFBA RJU, nos Estatutos e regimentos das universi-
e UFRB que, com base em Nota Técnica da CGU e dades. Politicamente, divulgando e obtendo o
ação do MPOG (no SIAPE), não procediam a apo- apoio de vários setores sociais contra ataques
sentadoria, nem a progressão de professores (as) e afirmando o papel da Universidade.
que já haviam se aposentado, há anos atrás, com
DE. São inúmeros os casos, e seria interessante 2 OS ATAQUES ATUAIS À
fazer um inventário destes casos de desconheci- AUTONOMIA DA UNIVERSIDADE
mento e desrespeito à natureza e autonomia da Os ataques contra a autonomia universitária se
Universidade. Para encerrar, um caso que consi- acentuaram na atual conjuntura do Brasil.
deramos limite e anedótico. O questionamento
de um técnico da CGU sobre a razão da Universi- ЇЇ Autonomia administrativa
dade não fazer licitação para professor visitante. As pressões sobre a autonomia administrativa
A percepção dos ataques à autonomia universi- cresceram com o aumento do poder e a dispu-
tária levaram, em passado recente, a debate no ta, em curso, por protagonismo entre os órgãos
movimento docente entre os que diziam que o de controle e investigação (CGU, TCU, Ministé-

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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

rio Público, Polícia Federal e Judiciário) no que pela dimensão dos abusos e pela tragédia que
é apresentado à sociedade, como luta contra a provocou – o seu suicídio.
corrupção incrustada no Estado. Tem sido muito O Reitor e a Vice-Reitora da UFMG – Uni-
mais do que isso. É a afirmação do poder de bu- versidade Federal de Minas Gerais, Jaime Antu-
rocracias a partir da difusão de uma visão autori- ro Ramires e Sandra Regina C de Almeida e mais
tária, persecutória e punitivista, que atropela os cinco pessoas foram conduzidas coercitivamente
direitos individuais e utiliza, inclusive por meios em 06/12/2017 por suspeita de desvio de “quatro
ilegais (os “vazamentos”, por exemplo), a mídia milhões” na construção e implantação do Memo-
para fabricar condenações e tentar destruir re- rial da Anistia Política do Brasil, na universidade o
putações. Agentes que procuram fazer com que que pode ser associada a paralisação da obra e ao
a opinião pública confunda suspeito com acusa- esvaziamento da Comissão da Anistia no gover-
do, acusado com condenado, independente da no Temer. Foi uma reafirmação do poder Polícia
apresentação de provas e da defesa feita pelos Federal, após a grande reação provocada pelos
seus advogados. Não esqueçamos casos de in- abusos praticados, em setembro, contra o Reitor
quéritos a que os advogados não tinham acesso da Universidade de Santa Catarina e, talvez por
porque “em segredo de justiça”, mas partes, se- isso, não se revestiu da truculência daquele caso.
lecionadas para acusar, saiam na mídia. Juízes e O Reitor da Universidade Federal de San-
policiais que abusaram de condições coercitivas, ta Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, foi
prisões temporárias e preventivas, apoiando-se preso em 14/09/2017, acusado de obstrução às
em suposto “clamor popular”. investigações de supostos desvios de projeto de
Juízes e policiais que arrogantemente con- Educação a Distância. Além da violação da auto-
sideraram como crime de obstrução de justiça, nomia universitária (parte das acusações eram
qualquer atitude que os atrapalhasse. sobre a prática de atos de sua competência como
Em síntese, uma política que pretende con- Reitor) foi uma demonstração da discricionarie-
vencer, que o principal problema do Brasil seria dade e insensibilidade de juízes e da prepotência,
a corrupção, que se concentraria na política, no violência e espetacularização da Polícia Federal.
Estado e nas instituições e agentes públicos, O Reitor, que não fora intimado a depor, teve
neles incluídos as Universidades públicas e os sua prisão decretada pela juíza Jandine Casol,
professores. Temos razões, inclusive pessoais, primeira vara federal de Florianópolis, a pedido
para afirmar que esta visão não é unânime no da Polícia Federal em inquérito conduzido pela
judiciário e demais instituições que, também, delegada Erika Marena, da coordenação da Lava
devem ser consideradas espaços de confronto Jato até 2016. O pedido alegava a possibilidade
de concepções.2 Mas, não há dúvida de que esta de interferência nas investigações. O Reitor foi
visão arbitrária e arrogante tem justificado, a preso, acorrentaram seus pés, algemaram suas
suspeição e ataques à autonomia administra- mãos, o desnudam e o submetem a revista íntima,
tiva da universidade. vestiram uniforme de presidiário e o ficharam.
Exemplos máximos de desrespeito aos di- A Polícia Federal alardeou nas redes sociais,
reitos humanos e à autonomia administrativa e as TVs veicularam que estavam combatendo o
foram as prisões dos Reitores da Universidade desvio de 80 milhões em projeto de Educação a
Federal de Santa Catarina e da Universidade Fe- Distância. Mentira porque este era o valor total re-
deral de Minas Gerais, por supostos crimes liga- passado entre 2008 e 2015, fato reconhecido pela
dos a projetos de Educação a Distância. O caso delegada na grande entrevista coletiva, logo após
do Reitor Cancellier foi o de maior repercussão a prisão. Dois dias depois, 14/09/2017, Marjorie

2 Professor de Direitos Humanos no Mestrado Profissional de Segurança Pública, Justiça e Cidadania, além de turmas univer-
sais, tivemos turmas de policiais, juízes e do Ministério Público. Em 2015, o MPE nos outorgou o Prêmio J. J. Calmon de Passos
de Direitos Humanos. Em 2018, a AJBD – Associação Brasileira de Juristas pela Democracia nos convidou para Mesa: Demo-
cracia, Judiciário e Estado de Exceção que promoveu no Fórum Social Mundial. Acompanhamos ações de associação dos
Juristas pela Democracia (checar nome com Sonha).

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 Professores em defesa da Universidade e de um Projeto Nacional

Freiberger, juíza substituta, revogou as prisões, das verbas para a ciência e tecnologia. Em res-
alegando que a delegada não apresentará fatos posta, foi lançada a campanha “Conhecimento
que as justificasse. Mas, incapaz de perceber a re- sem cortes”. Em vários locais do Brasil, inclusive
lação entre o professor e a universidade o proibiu em frente a Reitoria da UFBA, foi instalado um
de frequentá-la até o termino das investigações. painel eletrônico (“tesourômetro”) contabilizan-
Sob o peso da humilhação, o Reitor se suicidou do o corte de verbas para Ciência e Tecnologia.
em 02/10/2017. Foi um caso que ultrapassou os Neste painel, em 28/06/2018 constava o valor
limites, provocando grande reação da sociedade de 14.990.120.151,00 bilhões de reais. No 02 de
e até da grande imprensa que tem apoiado o que Julho, data em que os baianos comemoram a In-
se apresenta como combate à corrupção. dependência do Brasil na Bahia4, ineditamente as
Sete meses depois a Polícia Federal con- universidades federais e estaduais, a FIOCRUZ,
cluiu o inquérito procurando incriminar o Reitor a Academia Baiana de Ciência convocou marcha
sem apresentar provas da sua participação ou em defesa da ciência. A autonomia da gestão fi-
benefício financeiro recebido3. nanceira e patrimonial.
As universidades federais enfrentam cor-
ЇЇ A autonomia didática e científica tes de verbas e mecanismos que aumentam sua
Contra a autonomia didática científica o ataque de dependência financeira do governo. No caso,
maior repercussão foi a ação do MEC contra o curso apresentaremos a situação da UFBA, a partir
sobre o golpe de 2016, disciplina oferecida como do relatório apresentado e discutido no Conselho
optativa pelo Departamento de Ciência Política da Universitário5 (para o qual a APUB elege repre-
UNB – Universidade Nacional de Brasília. Ao ataque sentantes docentes) e de outras informações
se seguiam a reação. Em dezenas de Universidades, colhidas. As verbas de custeio de 2017 tiveram
inclusive na UFBA – Universidade Federal da Bahia, uma redução de 13% (treze por cento) sobre 2016
foram promovidos cursos semelhantes. Na UFBA, e, em 2018, de 5,5% sobre 2017, cumulativamente
o Reitor e o Coordenador do curso foram chama- representou um corte de cerca de 19% sobre 2016.
dos a dar explicações na Polícia Federal. Mas, foi Quanto às verbas de capital (para investi-
momento de afirmação da autonomia. Projetos mento), o corte foi maior. Em 2017, a UFBA re-
como “Escola sem Partido”, procuraram criar um cebeu 50%(metade) do que recebeu em 2016, e
clima de vigilância e delação contra professores em 2018) apenas 10% do que recebeu em 2016.
que, aliás, por outro lado, precisam, muitas vezes, Os restantes dos parcos recursos para a área
reciclar suas falas e métodos didáticos a partir de deveriam ser disputados no balcão do MEC por
pressões, algumas incorretas, do “politicamente projetos nos quais as universidades demonstras-
correto” e do que se vê como assédio moral. As sem, pelos critérios do governo, sua qualidade e
consequências sobre os estudantes nos cursos de competitividades. Esta visão elitizante, é refor-
mestrado e doutorado, apresentados em pesqui- çada quando sabemos que, em reunião no início
sas, são apenas um exemplo. O ataque à autonomia do maio deste ano, com a ANDIFES, diante de 63
científica vem por outros meios. Sempre esteve Reitores, o Ministro de Educação Rossieli Soares
algo limitada pelos editais e prazos da CAPES, da Silva defendeu que Assistência Estudantil não
FINEP, CNPQ, Fundações Estaduais. é função das Universidades e afirmou “nenhum
No momento, o ataque maior vem do corte Tostão para a assistência estudantil”. A nosso

3 Alguns exemplos da grande Imprensa. WEINBERG, mônica, PRADO, thiago, Crônicas de um Suicídio, VEJA 2556, 15/11/2017.
WEINBERG, mônica, BUSTAMANT, luiza, MOLICA, Fernando, a Segunda Morte, Veja 2580,02/05/2018. NUNES, Walter, PF liga
ex-Reitor de SC a esquema, mas não a presença provas em 817 páginas. FSP, 10/05/2018.
4 No 02 de Julho 1823, após mais de um ano de combates, o Exército libertador entrou em Salvador após derrota e retirada das
Forças Portuguesas. A vitória, que uniu brasileiros das várias classes sociais, desde o começo é oportunidade para cortejo de
caráter político e reivindicativo.
5 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – PRÉ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO. Relatório de gestão. Apresen-
tação ao Conselho Universitário. Salvador, 12/04/2018, 27 páginas.

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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

ver, é um modo de reduzir as políticas afirmati- do Poder Executivo que, após ter sido aprovada
vas. Naquele momento, os reitores ficaram sem na Câmara Federal, segue para tramitação no
ação e perguntas. Outras atividades no mesmo Senado Federal. Apresentada como fórmula para
sentido enfrentaram reações públicas. alcançar o equilíbrio dos gastos públicos, a PEC
241 limita, a partir de 2017, as despesas primá-
ATAQUES E DEFESA SÃO PARTE rias do Estado – educação, saúde, infraestrutura,
DE PROJETO GLOBAL / O CONGELAMENTO segurança, funcionalismo e outros – criando um
DOS GASTOS SOCIAIS teto para essas mesmas despesas, a ser aplica-
Os ataques à Universidade são parte de um do nos próximos vinte anos. Significa, na prática,
projeto global do governo que atinge os vários que nenhum aumento real de investimento nas
campos sociais e que, por isso, mesmo, ofere- áreas primárias poderá ser feito durante duas
cem oportunidades para lutas e alianças nes- décadas. No entanto, ela não menciona nenhum
tes campos, e para a elaboração de um projeto teto para despesas financeiras, como, por exem-
alternativo nacional. Nesta luta, a universidade plo, o pagamento dos juros da dívida pública. Por
como centro de produção do conhecimento nos que esse tratamento diferenciado? A PEC 241 é
vários campos, tem legitimação para aprofundar injusta e seletiva. Ela elege, para pagar a conta
e divulgar as análises sobre o projeto em curso, do descontrole dos gastos, os trabalhadores e
fornecer subsídios, teóricos e técnicos, para al- os pobres, ou seja, aqueles que mais precisam
ternativas. E os sindicatos, levando, inclusive, à do Estado para que seus direitos constitucionais
contribuição dos professores, tem condição de sejam garantidos. Além disso, beneficia os deten-
participar da luta contra os discursos dominan- tores do capital financeiro, quando não coloca
tes na mídia, ainda que inicialmente seguindo as teto para o pagamento de juros, não taxa grandes
leis contrapropaganda6. fortunas e não propõe auditar a dívida pública. A
Na análise do quadro geral, e campos de luta, PEC 241 supervaloriza o mercado em detrimento
devemos iniciar pelo enfrentamento do congela- do Estado. “O dinheiro deve servir e não governar!
mento dos gastos sociais promovido pela Emen- ” (Evangelii Gaudium, 58).
da Constitucional 95, que pretende vigorar por Diante do risco de uma idolatria do merca-
inéditos 20 Anos. Esta Emenda foi aprovada em do, a Doutrina Social da Igreja ressalta o limite e
fins de 2016, apesar da reação de setores mais a incapacidade do mesmo em satisfazer as ne-
conscientes, mas sem que a maioria da população cessidades humanas que, por sua natureza, não
percebesse as implicações do aprovado. são e não podem ser simples mercadorias (cf.
Sobre a EC 95, transcrevemos, inicialmen- Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 349). A
te, trechos da posição da CNBB – Conferência PEC 241 afronta a Constituição Cidadã de 1988.
Nacional dos Bispos do Brasil. Por três razões: Ao tratar dos artigos 198 e 212, que garantem um
a anterioridade, a precisão e a importância que limite mínimo de investimento nas áreas de saúde
damos a aliança com as Igrejas, na luta por cora- e educação, ela desconsidera a ordem constitu-
ções e mentes. Vale a transcrição7. cional. A partir de 2018, o montante assegurado
“O Conselho Permanente da Conferência para estas áreas terá um novo critério de correção
Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em que será a inflação e não mais a receita corrente
Brasília-DF, dos dias 25 a 27 de outubro de 2016, líquida, como prescreve a Constituição Federal”.
manifesta sua posição a respeito da Proposta de ( Nota assinada por Dom Sérgio da Rocha Arce-
Emenda à Constituição (PEC) 241/2016, de autoria bispo de Brasília Presidente da CNBB Dom Murilo

6 As leis de propaganda e contrapropaganda foram reconhecidas em livro clássico. Cf. DOMENACH, Jean Morais. A propaganda
política. Tradução Celso T. de Padua, SP, difusão européia do livro 1955, 137, pág
7 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Presidência. Nota da CNBB sobre a PEC 241, Brasília, 27/10/2016, 1
página. A nota é assinada por Dom Sérgio da Rocha Arcebispo de Brasília, presidente da CNBB, Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Vice-Presidente da CNBB Dom Leonardo Ulrich Steiner, OFM Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB.

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 Professores em defesa da Universidade e de um Projeto Nacional

S. R. Krieger, SCJ Arcebispo de São Salvador da No âmbito do PROIFES, um estudo publi-


Bahia Vice-Presidente da CNBB Dom Leonardo cado pela ADUFSCAR12 contém análise, sinté-
Ulrich Steiner, OFM Bispo Auxiliar de Brasília tica e profunda dos resultados da aplicação da
Secretário-Geral da CNBB) EC 95. Esta inviabiliza orçamentariamente as
A CNBB também se manifestou contra as Universidades e Institutos Federais, impediria a
propostas da Reforma do Ensino Médio e a Re- implantação do PNE – Plano Nacional de Educa-
forma da Previdência. A Comissão Episcopal para ção. A análise da relação entre os investimentos
o Serviço da Caridade, de Justiça e Paz da CNBB nas áreas sociais e o PIB permitiria prever, em 10
lançou nota em 19/10/16 contra as mesmas refor- anos, a redução da parcela destinada às áreas
mas, solidarizando-se com os movimentos sociais sociais de 8,5% para 5,5% do PIB e o aumen-
e apelando para que as Pastorais Sociais se unam to das despesas com a dívida pública (de 3,5%
aos movimentos sociais8. O CONIC – Conselho para 4,5% do PIB). Quanto à educação, a EC 95
Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil, que reú- resultaria na redução do investimento dos atuais
ne a Igreja Católica e várias Igrejas Evangélicas, quase 6,5% do PIB para 5,5% em 10 anos e para
através do seu ex-Vice-Presidente, lançou nota 4,5 em 20 anos. A meta do PNE era elevar, em 10
contra a PEC 55 (PEC 241), em 21/11/20169. anos, para 10% do PIB.
Em 17/11/2016, o CONIC noticiou a posição No período de 10 a 20 anos serão dramatica-
contrária de várias entidades representativas do mente atingidos os serviços públicos. Mas, os resul-
Judiciário. Procuradores da República, Ministé- tados negativos se tornaram evidentes, já a partir de
rio Público, Auditoria Cidade da Dívida, Auditores 2018. A partir daí, o trabalho conclui que para obter
Fiscais contra a PEC em que detalha as críticas10. os recursos para a educação, além de se lutar pela
Acompanhando o andamento e apoiando-se em revogação da EC 95, se teria de aprovar medidas
notícia da Carta Capital, o CONIC notícia as mani- que enfrentasse o grande capital financeiro, os in-
festações de movimentos sociais e estudantes, em teresses estrangeiros, as empresas mineradoras e
frente ao Congresso, quando o gramado do mes- todos os que lucram com a concentração de renda e
mo virou campo de batalha, com a polícia jogando a regressividade dos impostos. Isto, para nós, signi-
centenas de bombas de gás e spray de pimenta nos fica construir, como alternativa, um projeto nacional.
manifestantes11.Houve resistência em todo o Brasil. Em junho de 2018, pronunciamento mos-
Por exemplo, em Salvador, a CESE – Coordenadoria tra os efeitos da PEC. Para a Coordenadora da
Ecumênica de Serviço e a ASA – Ação Social Arqui- Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
diocesana, promoveram um evento ecumênico na Andresia Poliane, a Emenda do teto já fez com
Igreja e manifestação na Praça fronteira. A APUB que a área de educação tenha 5 bilhões a me-
participou dessa manifestação. Foram eventos nos em comparação a 2017, isto quando 2,8 mi-
pontuais que a grande mídia não repercutiu, mas lhões de crianças e adolescentes estão fora do
que forneceram base para a continuidade da luta. sistema de ensino13. Uma das reivindicações e
O teto dos gastos públicos é parte básica de uma critérios do julgamento para o julgamento dos
política que se abate sobre todos os campos e, que, candidatos em 2018, deve ser o congelamento
deve ser analisado e enfrentado. dos gastos sociais.

8 Cf. Comissão da CNBB manifesta preocupação com cenário de retrocesso. Brasília, 21/10/2016, 2 pág.
9 Cf. Ex. Presidente do CONIC, emite nota contra a PEC 55 (PEC 241), Brasília, 21/11/2016. 2 Pág.
10 Magistrados e MP se posicionam contra a PEC 55/2016 (PEC 241), Brasília 17/11/2016, 2 páginas. Transcreve nota da Frente
associativa da magistratura do MP composta por 09 associações em parceria com 03 associações de auditores e fiscais de
tributos e a auditoria cidadã da dívida.
11 CONIC, Senado aprova em primeiro turno PEC 55 que congela gastos. Brasília, 30/11/2016, 3 pag.
12 COMUNICADO ADUFSCAR, 13/2018 de, 07 de maio de 2018, 9 págs. O trabalho utiliza o “Estudo Técnico no 12/2016, publicado
pela Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara.
13 Efeito do teto, desafio. In MAZZINI, Leonardo. Coluna Esplanada, Tribuna da Bahia, 21/06/2018, pág. 6.

São Luís/MA
julho 18
123
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

MOBILIZAÇÃO – A LUTA EM VÁRIOS CAMPOS que os poetas e humoristas) dominam lin-


As Instituições Federais de Ensino Superior- guagens que atingem o coração.
(IFES) através dos profissionais produz conhe- ЇЇ Saúde e Previdência Social, onde se pre-
cimento em vários campos e por isso pode ser um tende justificar a perda dos direitos dos
espaço de conhecimento, fundamentado e crítico trabalhadores, enfatizando a saúde como
que forneça subsídios para a construção de nar- mercadoria e a restrição do atendimento
rativas, muitas contra o projeto hegemônico nas dos benefícios. Nas universidades e na so-
grandes mídias. Os sindicatos podem contribuir ciedade há um grande acumulo de conheci-
divulgando, estimulando e articulando ações em mento e entidades voltadas para a defesa
vários campos. Dois inicialmente são prioritários da saúde pública. Foram eles os respon-
até porque neles à produção desenvolvida pelos sáveis pela criação do Sistema Único de
profissionais universitários é majoritária: Saúde – SUS e pela inclusão dos direitos
1. Educação na linha de valorização do à saúde na Constituição.
ensino público, valorização do trabalho ЇЇ Defesa das Engenharias e da Indústria
dos professores dos diversos níveis e Nacional, em uma perspectiva de defesa
na significação das universidades para da soberania nacional. A política de desin-
a sociedade. dustrialização, privatizações e abertura
2. A ciência e tecnologia, como instrumen- para compra por empresas estrangeiras,
to para a construção do futuro, a partir resulta em desemprego atual e futuro de
de problemas e trabalhos produzidos milhares de profissionais (Engenheiros e
no Brasil. Geólogos, por exemplo) e perda do controle
sobre áreas estratégicas. É uma luta nas
Evidentemente que nestes, como em todos quais, além dos professores participam
os demais campos sociais, a ação do movimento com destaque os sindicatos de engenhei-
docente deverá se articular na área a nível local, ros e petroleiros. A defesa da Petrobrás e
nacional e, até, internacional (Caso de IEA com da Eletrobrás são exemplos maiores desta
as entidades que atuam). Em outros campos a luta que é global.
contribuição dos profissionais e seus sindicatos
podem ser relevantes. Sumariamente, lembra- Ao tratar de alguns campos e frente de
mos alguns campos: luta não estamos esquecendo a importância
ЇЇ Direitos Humanos, enfrentando as amea- da reflexão e ação de profissionais de várias
ças não apenas aos direitos sociais e polí- áreas. Os economistas e administradores, por
ticos, mas também, e dramaticamente, aos exemplo, são fundamentais para a descons-
direitos individuais. Nesta área a atuação trução da teoria do mercado, como espaço da
inclui e ultrapassa os professores de direi- racionalidade e único ente capaz de garantir
to e ciências humanas para envolver todos a prosperidade. A contribuição dos biólogos
os professores e chegar à sociedade. fundamenta a defesa da vida e da natureza. O
ЇЇ Cultura e Artes, não apenas para defen- professor de cada área tem, como profissional
der a liberdade de criação, sob ataque do e cidadão, uma contribuição importante.
conservadorismo e da desvalorização dos A ação em cada área, mostra a dimensão e
artistas (proposta do fim do registro pro- a ameaça aos setores conservadores do traba-
fissional, por exemplo), mas como o espaço lho que pode ser feito a partir dos professores
privilegiado de afirmação da pluralidade das IFES, evidencia também a magnitude do
cultural e de visão e reflexão sobre as ri- desafio para o movimento docente. Tranquiliza-
quezas e dramas dos brasileiros. Os profis- dor é saber que muito do que propomos já está
sionais das artes cênicas (do mesmo modo sendo feito e parte do trabalho é fazer chegar

124 São Luís/MA


julho 18
 Professores em defesa da Universidade e de um Projeto Nacional

o conhecimento disto a todos os professores mais aos sindicatos e suas assessorias de


e à sociedade. comunicação, que poderiam apontar para
a fonte e a base científica.
CONDICIONANTES PARA ATUAÇÃO ЇЇ A necessidade de uma política de articu-
Diante do trabalho a ser feito cabem duas ob- lação. A luta atual, além de uma política
servações: em defesa da universidade envolve uma
ЇЇ Universidades e movimento docente na política de articulação. Primeiramente en-
produção de notícias. As universidades pú- tre: 1- Os professores da base do sindica-
blicas, diferentes das empresas particula- to, pois as análises devem chegar a cada
res de ensino não podem pagar propaganda professor; 2- Os próprios sindicatos de
nos meios de comunicação. A divulgação do professores das IFES; 3- As organizações
seu trabalho depende, em grande parte, da e sindicatos das várias áreas em que se
inserção sua e dos professores na socie- concentra a produção universitária. Além
dade, dos canais que possuem ou podem disso, é importante um diálogo com os vá-
desenvolver. Uma posição dos sindicatos rios campos sociais, a exemplo do campo
dos professores, aliás, já aprovado em En- jurídico, religioso e sindical, neste não só os
contro Nacional do Proifes, é a divulgação sindicatos dos servidores federais como os
das agendas e trabalhos desenvolvidos pe- da área privada, a começar pelas centrais
los professores nos vários campos. sindicais. Finalmente, cabem aproxima-
ЇЇ Enfrentando notícias falsas (Fake News) e ção e produção de subsídios para frentes
Pós Verdade). Nelas valem mais a emoção políticas, tanto específicas (movimentos
e as crenças do que os fatos verificáveis nacionalistas, ambientalistas, feministas,
cientificamente. Quanto às notícias falsas, negros e todos contra as discriminações),
a universidade tem a legitimação profis- quanto gerais, como a Frente Brasil Popular
sional e instrumentos (inclusive os cursos e a Frente Povo sem Medo. Um objetivo é
de comunicação e ciências da informação) a introdução, nas pautas dos partidos po-
para serem espaços de referência para a líticos e eleitorado, não só da questão da
desconstrução dos mesmos. Quanto às educação quanto da necessidade de um
Pós Verdades. temos uma vantagem. Se projeto nacional.
superarmos o distanciamento científico,
podemos revestir os dados de nossas aná- A AMPLITUDE DOS DESAFIOS
lises, baseados em fatos verdadeiros e ve- O desafio é grande, mas o significado de Univer-
rificáveis, de emoção. Para enfrentar Pós sidade tem a ver com a idéia de universalidade.
Verdades não basta apresentar os dados E a Universidade brasileira deve ser espaço de
– eles devem ser apresentados de modo a reflexão e produção, que auxilia os brasileiros
atingir a emoção e as crenças das pessoas. na escolha do seu futuro. O Brasil está em um
Os professores podem se preocupar, na momento tenso e crítico em relação a que país
divulgação dos seus trabalhos, com a fala queremos construir. É tarefa que deve ser en-
simples e direta, evitar o uso de termos frentada pela ampla mobilização de todos os
técnicos e enfatizar às suas consequên- professores.
cias para a população. A tradução para um
discurso mais publicitário e explicitamen- CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
te político, ainda que baseado em dados, As conclusões e recomendações do texto sinte-
pode provocar algum constrangimento à ticamente reuniremos em 06 itens, quais seja:
nossa postura de cientistas. Difundir es- 1. Os professores das universidades públicas
tas traduções nos parece função que cabe têm uma relação especial com elas. Para

São Luís/MA
julho 18
125
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

ativos e aposentados seu pertencimento do sindicato dos professores pode ser


a elas é parte importante e permanente da mais desenvolta, impõe-se a denúncia
sua identidade e afirmação pessoal. Valori- das ameaças e a mobilização da comu-
zá-los é parte da defesa da própria universi- nidade universitária (aliança com DCEs
dade. Isto implica divulgar e valorizar tanto e associações de sindicatos técnicos ad-
para ativos quanto para aposentados, suas ministrativos), das entidades científicas,
histórias, cursos, teses, obras e publicações profissionais dos movimentos sociais,
e manter espaços para sua democrática para denunciar as ameaças e obter apoio
participação. Este trabalho pode ser feito para a sua superação.
pelas universidades e sindicatos. No caso 3. O enfrentamento do projeto em curso no
dos aposentados, os sindicatos, em cuja país inclui a luta pela revolução da Emenda
base eles participavam com igualdade de Constitucional que congela os gastos so-
direitos em relação aos ativos podem de- ciais, mas a ultrapassa pela necessidade
sempenhar um papel estratégico. Para au- de um projeto nacional.
mentar a participação é necessário que as 4. Para a construção deste projeto é impor-
notícias importantes, muitas delas minimi- tante levantar os efeitos da política atual
zadas ou distorcidas pela mídia, cheguem nos vários campos e a luta dentro deles.
a todos os professores. Dois exemplos: 5. A universidade, como produtora de co-
as conclusões do CONAPE, Conferência nhecimento crítico, pode contribuir para
Nacional Popular da Educação (24 a 26/05 o enfrentamento das notícias falsas e o
de 2018) tiveram pequena divulgação e não Pós Verdade, com informações verídicas
identificamos na grande mídia, notícias re- e capazes de mobilizar, racional e emocio-
percutindo às conclusões da CRES (Con- nalmente, as pessoas.
ferência Regional da Educação Superior) 6. O enfrentamento do projeto de subalterni-
promovida pela UNESCO no centenário zação do Brasil e da exclusão social exige a
da revolta de Córdoba (11 a 15/06/2018), construção de um projeto nacional por uma
no qual houve importantes reafirmações ampla frente política – social. Para os sin-
da educação como direito de todos e da dicatos dos professores isto se traduz em
necessidade de controle das empresas de uma política de alianças e articulações. Ne-
educação. las devemos criar ou apoiar espaços e en-
2. A defesa das universidades e de sua au- contros (seminários, reuniões, congressos,
tonomia neste momento histórico é a programações conjuntas) especialmente
maior prioridade para o movimento do- entre organizações da área de educação.
cente. O exercício da sua autonomia di- (CNTE, CONTEE, IEAL – Internacional de
dática, científica, política administrativa Educação na América Latina) sindicatos
e a busca de recursos financeiros é um docentes das IFES, organizações da so-
desafio. A nível institucional, a ação dos ciedade civil, como a SBPC, OAB, CNBB,-
Conselhos Universitários, das Congre- CONIC, Associação Brasileira de Juristas
gações e Colegiados (e neles os profes- pela democracia, Associação dos Juízes
sores têm participação relevante) será pela democracia e demais entidades, mo-
importante para a necessária unidade. vimentos e personalidades que defendem
No nível social e político, e nesta a ação o Estado democrático de direito.

126 São Luís/MA


julho 18
A Reforma da
Previdência tem que
continuar na pauta
Derrotamos Temer, mas não
ganhamos a guerra contra o
mercado financeiro.
_________________________________________________________________________________________________________________________________
EDUARDO ROLIM DE OLIVEIRA
ADUFRGS-Sindical

O
PROIFES-Federação, juntamente com o conjunto do movimento sindical, com cam-
panhas de mídia, a atos de rua e pressão no Congresso Nacional conseguiu ter uma
importante vitória em 2017 e 2018 que foi o congelamento da tramitação da Refor-
ma da Previdência, um dos principais pontos da agenda privatizante do governo originado
do golpe de 2016.
Essa reforma, como muitas vezes demonstrado em estudos de várias entidades, não
tinha nada a ver com o propalado déficit da Previdência, pois sabe-se bem que a Previdên-
cia é por definição constitucional um dos pilares da Seguridade Social, junto com a Saúde
e a Assistência Social, que têm várias fontes de financiamento, além da contribuição dos
trabalhadores e dos empregadores. Sabe-se que esta conta foi, ao longo da última década,
altamente superavitária.
Se é verdade que este superávit caiu após 2014 isso se deu principalmente pela recessão
econômica que diminuiu fortemente a arrecadação do PIS e da COFINS, mas este momento
econômico é conjuntural, na medida que não houve desde 2004, data da Reforma da Previ-
dência de Lula, nenhuma mudança estrutural e demográfica no pais. Ou seja, a Reforma já foi
feita e desde 2004 não existe mais aposentadoria integral para os servidores, que inclusive
contribuem mesmo depois da aposentadoria. E, desde 2013, com a entrada em funcionamento
da Funpresp, não existe mais nenhuma diferença fundamental entre as regras de aposenta-
doria dos servidores e a do INSS.
E, se a questão central fosse déficit, o governo golpista de Temer não teria recuado e
teria proposto a Reforma da Previdência dos Militares, coisa que não teve coragem de fazer,
com a desculpa esfarrapada de que estes não se aposentam, e portanto devem manter a in-
tegralidade, ainda que contribuam bem menos que os demais servidores.
Outra mudança importante foi feita por Dilma, quando limita no tempo e no valor acu-
mulado, as pensões que já não eram integrais desde 2004. O que realmente importava na
Reforma de Temer era a diminuição pura e simples do valor das aposentadorias, de sorte a
abrir espaço para a previdência privada, dentro do programa capitaneado por Henrique Mei-
reles de destruição do serviço público e de abertura de todos os espaços públicos para que
fossem abocanhados pelos tubarões do mercado, na educação, na saúde, na exploração de
petróleo, na compra de terras por estrangeiros e assim por diante.

127
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

A Reforma proposta após o golpe era cruel, “responsabilidade previdenciária”, conceito que
pois os que mais seriam atingidos seriam os poderia ser discricionário, e que abria as portas
mais vulneráveis, os mais pobres, os mais idosos para o fim do Regime Próprio de Previdência dos
e as mulheres. A primeira versão da PEC ainda servidores, que poderia ser extinto, sem que o
criava uma absurda e ilógica regra de transição Tesouro Nacional garantisse o pagamento das
baseada apenas na idade sem levar em conta o aposentadorias dos atuais servidores.
tempo de contribuição, obrigava as pessoas a Por tudo isso, foi absolutamente cor-
trabalharem até morrer para ter valores muito reta a estratégia do PROIFES-Federação e dos
pequenos de aposentadoria, posto que na inicia- demais sindicatos de colocar a derrota da PEC
tiva privada o desemprego é alto e a rotativida- da Reforma da Previdência no centro da luta de
de no emprego idem. E ainda por cima acabava 2016 até o seu congelamento. É certo que a pul-
com o valor mínimo das pensões em um salário verização da capacidade de articulação política
mínimo, o que levaria os mais pobres à miséria. do presidente golpista após a denúncia da JBS em
E praticamente se impediria que os trabalhado- maio de 2017 ajudou muito a derrotar a reforma
res rurais se aposentassem. no Congresso, já que Temer teve que centrar a
A segunda versão amenizou um pouco as atenção na sua defesa, inclusive liberar mais de
mudanças para alguns casos, permitindo que pen- 30 bilhões em emendas e projetos para arquivar
sões e aposentadorias fossem acumuladas, mas as duas denúncias promovidas pelo Procurador
limitadas a apenas dois salários mínimos. Voltou Geral da República Rodrigo Janot.
o limite mínimo das pensões e acabou a regra de Mas é certo também que era uma pauta mui-
transição apenas pela idade e os rurais foram to impopular, pois a sociedade, inclusive a classe
retirados. Mas para os servidores públicos, pro- média, percebeu que seu futuro ficaria muito com-
fessores em especial, alguns itens até pioraram, prometido com aquela reforma, e isso foi muito
como a obrigatoriedade de se ter 65 anos para eficaz para convencer os parlamentares a não
se ter a aposentadoria integral, o que poderia aprovarem a proposta apresentada. Mesmo que
levar os servidores a terem que trabalhar até 10 a base do governo tivesse votos suficientes para
anos a mais, se quisessem manter seus direitos mudar a Constituição, como fizeram na EC.95,
adquiridos.Mas o que realmente mostra a face que congela os gastos sociais por 20 anos, con-
privatista desta Reforma foram dois itens pouco tra o que, aliás, a sociedade não se revoltou, por
comentados inclusive, mas que o PROIFES-Fe- não enxergar prejuízos diretos em seu bolso e se
deração alertou firmemente. A primeira era a deixou enganar pela mídia que apoiou o golpe e
abertura da previdência complementar para os defende o mercado financeiro.
bancos, retirando a exclusividade da Funpresp, o Não se pode dizer que se esteja em um mo-
que em pouco tempo poderia levar ao colapso des- mento de vitória dos trabalhadores, ao contrário,
ta entidade fechada de previdência que, mesmo pois a Reforma Trabalhista foi um duro golpe para
sendo de direito privado, é uma fundação pública, os trabalhadores, que viram acabar uma série
com controle público. E uma das características de direitos, de jornada de trabalho, de garantia
que ela tem para garantir o futuro das aposen- de emprego e de enfraquecimento dos sindica-
tadorias dos novos servidores é o seu caráter tos. Maldades que ainda em está em curso, com
fechado e a exclusividade que tem de ser a única a decisão do STF neste mês de junho de aceitar
entidade a receber a contrapartida do governo. a constitucionalidade do fim do imposto sindi-
Acabar com isso, como queria o governo golpis- cal. Tivemos ainda a mudança da lei de partilha, a
ta é apostar na sua falência e na transferência abertura para compra de terras por estrangeiros,
de enormes volumes de recursos públicos e do entre muitas outras medidas, combinadas com o
fundo garantidor das aposentadorias para os desmonte da saúde e da educação pública, decor-
bancos. A outra medida proposta era uma certa rência da EC95. Mas apesar disso é preciso sim

128 São Luís/MA


julho 18
 A Reforma da Previdência tem que continuar na pauta

que se reconheça como vitória dos trabalhadores certeza da viabilidade e controle da Funpresp
ao conseguirem barrar a Reforma da Previdência para os que ingressaram após 2013.
e a perda da validade da MP805 que acabava com Não podemos flexibilizar nenhum milíme-
os reajustes em 2018, a reestruturação das car- tro na defesa da garantia de que as regras de
reiras do MS e do EBTT entre eles. cálculo da aposentadoria dos servidores atu-
Com esta visão, de que tivemos uma vitória ais não sejam mudadas, como direito que as
nesse momento contra os golpistas, alertamos pessoas já têm e para o qual se prepararam.
para o fato de que não podemos nos descuidar, Não podemos aceitar surpresas e mudanças
pois a guerra continuará ano que vem e nos pró- de regras no meio do jogo. O mesmo vale para
ximos, a depender de quem vier a ser eleito em a preservação do direito dos já aposentados e
outubro de 2018. pensionistas, além de preservar as expectati-
Alckmin já afirmou claramente que é a favor vas de acumulação de benefícios que já estão
da Reforma da Previdência de Temer, e conhe- previstas, quando do cumprimento dos prazos
cendo a trajetória privatista do PSDB de FHC para suas aposentadorias.
sabemos bem o que ocorrerá se este chegar ao
Planalto. Ciro Gomes já disse que é preciso revisar PROPOSTAS:
a idade mínima e que é preciso diminuir o teto do O XIV Encontro Nacional do PROIFES-Federa-
RGPS (no que está de acordo com Alckmin) e ain- ção decide:
da aponta um referendo para a revogação da EC 1. Aprovar a continuidade da luta contra a
95, não se comprometendo de pronto com isso, Reforma da Previdência, independente-
o que mostra que sim haverá a necessidade de mente de quem vença as eleições presi-
muita resistência em caso de sua vitória. Marina e denciais, não aceitando mudanças nas re-
Bolsonaro são uma incógnita em relação a estes gras de cálculo de aposentadoria para os
temas, mas não se pode esperar de seus partidos atuais servidores. Manutenção do direito
compromisso claro com os servidores e menos de aposentadoria com o tempo de contri-
ainda com a revogação da EC 95. buição e idades hoje exigidas, nas regras
Se Lula puder ser candidato ou se o Partido atuais, sem pedágios ou períodos extras
dos Trabalhadores eleger o Presidente pode-se de contribuição. Garantia dos direitos vi-
até prever que haja negociação com os servidores gentes de acúmulo de benefícios. Garantia
em relação à reforma da previdência e na revo- da diferença de idade para as mulheres e
gação da EC 95, mas não podemos esquecer que aposentadoria especial para os profes-
Lula reformou a previdência em 2004, em nome sores e manutenção do valor mínimo das
de uma unificação dos sistemas, com o que o PT pensões equivalente a um salário mínimo.
concorda. E que Nelson Barbosa, quando minis- 2. Manter a luta pela garantia da valorização
tro do Planejamento defendia o teto dos gastos real do teto do RGPS, de sorte a aumentar
e enviou sem sucesso dois Projetos de Lei Com- as médias de aposentadoria dos trabalha-
plementar com este objetivo. dores e a possibilidade de aposentadorias
Assim sendo, o PROIFES-Federação deve maiores.
continuar tendo a luta contra a Reforma da Pre- 3. Exigir a garantia dos valores de aposenta-
vidência e na defesa de uma aposentadoria com doria e pensão dos inativos, sem possibi-
solidariedade geracional. No marco das leis e da lidade de desvinculação com o salário dos
realidade atual, lutar pela garantia dos direitos ativos (1ª e 2ª gerações de aposentados)
adquiridos dos servidores, de aposentadoria inte- e sem redução real de salários, com even-
gral, com paridade, para os que ingressaram antes tuais desvinculações ao teto do RGPS,
de 2004, dos 100% da média de 80% do tempo 4. Lutar pela garantia da manutenção da ex-
para os que ingressaram entre 2004 e 2013 e da clusividade da Funpresp como entidade

São Luís/MA
julho 18
129
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

de previdência complementar a receber da Funpresp-Exe para representantes dos


as contrapartidas do governo para as con- participantes nos conselhos Deliberativo
tribuições dos servidores, com a garantia e Fiscal da entidade em parceria com as
da manutenção de seu caráter público e demais entidades responsáveis de ser-
ampliação dos controles de sua operação, vidores públicos, como tem feito desde
com o reforço do papel dos representan- 2014 com sucesso.
tes dos servidores nos Conselhos Delibe- 5. Em função da atualidade e da centralidade
rativo e Fiscal da entidade. Manutenção da da luta pela manutenção do caráter públi-
política de PROIFES-Federação de apoio co da Previdência Social, deve-se ampliar o
aos representantes eleitos e à integra- escopo do trabalho do atual GT-Funpresp
ção destes em Grupo de Trabalho da en- para que possa debater todos os aspectos
tidade, como sustentáculo deste apoio e relevantes do tema, envolvendo a defesa
para o acompanhamento das atividades do RPPS e dos direitos dos professores e
da entidade. Manter a política acertada professoras que aderiram à Previdência
de incentivar e apoiar a candidatura de Complementar, passando a chamar-se
professores e professoras integrantes GT-Previdência.

130 São Luís/MA


julho 18
Os aposentados
e o processo
eleitoral de 2018
Lutas, desafios e estratégias
_________________________________________________________________________________________________________________________________
ABRAÃO GARCIA GOMES
ADUFG - Sindicato

INTRODUÇÃO
Os aposentados de maneira geral, e em particular, os professores aposentados das IFEs, têm
perdido ao longo de suas aposentadorias direitos os quais pensavam que estavam adquiridos.
Com a Emenda Constitucional 20/98 já tivemos o primeiro corte, que foi a cobrança dos ina-
tivos. Desse período até o momento, todos os governos, de uma forma ou outra, implemen-
taram medidas que prejudicaram consideravelmente o poder aquisitivo dos aposentados.
O cenário eleitoral de 2018 se dá meio a uma grande crise de representatividade e descré-
dito no papel do Estado como forma de resolver os graves problemas da sociedade brasileira.
Sendo assim, através da nossa participação na discussão e conhecimento destas questões,
convidamos, incentivamos e provocamos a nossa classe a estar presente neste processo elei-
toral, com o objetivo de contribuir no combate aos privilégios, mas, manter a luta na defesa
dos nossos direitos para defender nossa pauta, e portanto, proponho uma ampla campanha
a ser conduzida pelo Sindicato e Federação através de vídeos, seminários, palestras e o que
necessário for na busca de caminhos na defesa de nossos direitos.
A seguir, exponho alguns temas importantes, que considero relevantes em nossa luta
Campanha: Venha participar conosco “Não fuja da luta!”

A - TRIBUTAÇÃO DE INATIVOS:
Aposentadoria constitui um ato jurídico perfeito, qualquer mudança deste ato é modificação,
é violência da coisa consolidada tornando-a imperfeita, mas, mesmo assim, a lei de cobrança
dos inativos para a Previdência Social foi aprovado, assim como querem hoje, elevar a taxa de
contribuição dos SPFs ativos e inativos de 12 a 20% através de outra medida provisória ou pro-
jeto de lei a ser editado ainda este ano.
A contribuição dos inativos, foi tentada em 1999, através da Lei 9783/99, que foi, entretan-
to, considerada inconstitucional pelo STF, em votação unânime. Apesar do compromisso firma-
do, o Governo Federal obteve no Congresso a aprovação da EC 41 de 19 de dezembro de 2003.
Há quem diga que a contribuição dos inativos seria válida, sim, porque o aposentado deve
contribuir para formar reservas que possam custear a pensão para seus dependentes depois
de sua morte. O argumento, porém, é carente de razão. Primeiro, porque o direito à pensão não
depende de tais recolhimentos, tanto que, se o aposentado vier a falecer, dois meses depois da
concessão da aposentadoria, seus dependentes terão direito da mesma maneira. Aliás, quanto
mais tempo o aposentado sobreviver contribuindo, menores serão as possibilidades de restar
algum dependente que após a sua morte faça jus à uma pensão.

131
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

Como proposta de ação sugerimos a união dos maiores problemas do orçamento federal,
dos movimentos dos aposentados para lutar por decorrente das altas taxas de juros dos títulos
um PL (PL 555) e pela PEC 434 com o objetivo de públicos para o pagamento dos custos financei-
eliminar a contribuição dos 11%. Apoiar movimen- ros. Isso estrangula toda a possibilidade de qual-
tos no sentido de revogar esta tributação. quer recomposição salarial, uma vez que 70%
dos gastos com a Universidade é com pessoal.
B FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE Os recursos globais destinados para as universi-
SOCIAL (PREVIDÊNCIA) dades já diminuíram em 16%, consequentemente
Como a Reforma da Previdência é um assunto os salários não serão recompostos instaurando
que pode ser votado no Congresso ainda este um grande desafio em busca de solução para o
ano, devemos nos mobilizar para enfrentarmos enfrentamento a esta situação
mais este ataque aos nossos direitos. A discus-
são e conhecimento das propostas dos candida- AÇÕES PROPOSTAS:
tos ao Congresso, é de fundamental importância ЇЇ Lutar pela revogação da EC.95, pois, quem
para apoio ou não, de acordo com o que pensa- defende a educação pública deve apoiar
mos sobre a Seguridade Social, estabelecida esta ideia.
na Constituição de 98. Os dados da CPI sobre a ЇЇ Lutar por uma outra política financeira, com
Previdência que revelaram ausência de déficit, redução de juros, promoção do desenvol-
também deve ser debatido. E que se cumpra a vimento econômico e uma política justa de
constituição com relação ao financiamento da financiamento da Seguridade Social. Eximin-
Seguridade Social. do o trabalhador de pagar mais esta conta.
Na discussão desta Reforma, caso a mes- ЇЇ Auditar a dívida pública, com o objetivo de
ma venha a ser implementada, uma das questões conhecer a realidade e dimensão desta dí-
mais importantes é manter a possibilidade de vida. Auditoria esta que está prevista na
acumular pensão e aposentadoria. (Conforme a constituição desde 1988 (artigo 26 do ato
nova proposta pode-se fazer a opção pelo valor das disposições constitucionais transitórias)
maior dos proventos, desde que não ultrapasse que nunca foi cumprida. Portanto, assumir
o teto da Previdência Geral. Embora as questões o compromisso de apoiar o trabalho da co-
da reforma sejam preocupantes, esta é uma das missão “Auditoria Cidadã da Dívida Pública”.
mais injustas, em alguns casos que não permite o
acúmulo de pensão com aposentadoria. (teto de D  DATA BASE
R$ 5.531,31, RGPS). A saber: matéria que reclama indenização pela
Proposta de Ação: organizar um seminário ausência de revisão geral, conforme determina
com membros da CPI da Previdência e Promover o inciso X, do artigo 37 da CF, com redação dada
debates e acompanhar as propostas dos candida- pela EC 19, de 1988, segundo a qual “a remune-
tos sobre o tema. ração dos servidores públicos e o subsídio que
trata do &4º do artigo 39 somente poderão ser
C  POLÍTICA SALARIAL fixados ou alterados por lei específica, observa-
Salários: Emenda Constitucional 95: Esta é a do a iniciativa privativa em cada caso, assegura-
mãe de todas as maldades, pois, esta emenda da revisão geral anual, sempre na mesma data e
ao limitar o orçamento dos gastos fixos, pressio- sem distinção de índice) Relator Marco Aurélio
na o Estado a reduzir onde é mais fácil, ou seja, e vários Ministros já votaram.
as despesas sociais. Por outro lado, o custo da ЇЇ Ação: - Atuar para que a matéria a seguir
dívida pública com o pagamento de juros é um seja concluída este ano.

132 São Luís/MA


julho 18
Os sindicatos e os
seus aposentados
_________________________________________________________________________________________________________________________________
FREIRE D’AGUIAR NETO,
MANOEL MARCOS
APUB-Sindicato

U
ma brevíssima revisão histórica nos mostra que o nascimento do sindicalismo brasi-
leiro foi fortemente influenciado pela migração de trabalhadores vindos da Europa
para trabalhar no país. O final do século XIX marca a transição da economia nacional
até então basicamente rural com destaque para o plantio e a produção da cana de açúcar e
do café, desenvolvidos pelo braço escravo, e que sofre transformação com a introdução da
atividade manufatureira exercida pelo trabalhador assalariado, classe esta que surgiu após a
abolição da escravatura. Os imigrantes que aqui chegaram, vindos da Europa, tinham relativa
experiência com o trabalho assalariado e conhecimentos e direitos trabalhistas construí-
dos em seus países de origem. Lembremos que a industrialização naquele continente teve
início a partir do século XVIII e já na primeira e segunda década do século seguinte surgem,
na Inglaterra, as primeiras tentativas de organização de trabalhadores para lutar contra as
condições precárias de trabalho de então, com jornadas de até 16 horas diárias.
O Governo Vargas interfere diretamente no digamos incipiente sindicalismo, até aquela
época independente e ditado por iniciativa dos trabalhadores, criando o Ministério do Tra-
balho e editando várias normas que mudavam completamente a dinâmica dos sindicatos.
Uma dessas normas proibia a sindicalização dos funcionários públicos. Como quase tudo
surgido na “Era Vargas” tais iniciativas tiveram seus ferrenhos defensores e agressivos
detratores. Estes passaram a usar pejorativamente o termo “pelego” para definir aqueles
sindicalistas simpatizantes do governo ou os seus elementos infiltrados nos sindicatos
numa comparação com a manta de couro com pele de carneiro usada para forrar a sela
de montaria e tornar o assento mais confortável para o cavaleiro, largamente usada nos
pampas gaúchos e numa alusão mais que direta ao caudilho governante.
Os tempos se passaram e por conta de desvios políticos com subsequentes consequ-
ências de caráter também comercial, o Brasil conta hoje com mais de 16 mil sindicatos, (nos
Estados Unidos da América são 125!) muitos deles inexpressivos, esdrúxulos e sem repre-
sentatividade eficaz, mas vorazes na divisão do “bolo” anual de mais de 3,5 bilhões de reais.
Os funcionários públicos e dentre eles os professores de todos os níveis da educa-
ção formal, desde o ensino básico até o superior, também se organizaram em órgãos de
classe, inicialmente em associações mais tarde transformadas em sindicatos depois que
a Constituição de 1988 assegurou ao servidor público a livre associação sindical. Particu-
larmente os sindicatos dos professores do ensino superior sempre tiveram destacada
atuação ao longo de todos os anos de suas existências em diferentes momentos da his-
tória política do país.
Em tese escrita para o XIII Encontro, que teve honrosa coautoria do Professor Nilton
Brandão, destacamos alguns dos avanços expressivos alcançados nas lutas sindicais sob
a bandeira do PROIFES – Federação e não seria exagero transcrevê-las:

133
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

“Acordos que garantiram a reposição da biu a dinâmica dos sindicatos, fragilizando a sua
inflação do período negociado para todos atuação, refreando o seu espírito combativo e
os docentes; reajustes acima da inflação;
elevação significativa do teto salarial;
ensejando algumas vitórias menos expressivas e
equiparação entre as carreiras do Magistério sem resultados imediatos uma vez que eles eram
Superior e do Ensino Básico Técnico e prometidos pelo governo, nas mesas de nego-
Tecnológico; incorporação da GAE e VPI ao ciação, para implantação em datas posteriores.
Vencimento Básico (VB); aumento percentual
do VB na remuneração (com destaque para
Tenho plena certeza que esta observação
os professores com anuênios, em especial parecerá estranha e até mesmo absurda aos
para os aposentados antes de 1998 que olhos e ouvidos de muitos e, com inquestionável
possuem mais de vinte anuênios); fim das respeito às opiniões divergentes, não pretendo
gratificações produtivistas; paridade entre
ativos, aposentados e pensionistas; extinção
tratar como verdade absoluta e acabada. Vejo-a
da GED (novamente com vantagem adicional muito mais como motivo de reflexão que poderia
para aposentados com anuênios).” explicar, por exemplo, o aparente desinteresse
Apesar de todas estas vitórias e outras que dos associados pelos sindicatos retratado na
não foram citadas, acho que a luta sindical vive um pouca participação em assembleias, processos
momento singular que demanda muita reflexão eleitorais internos, sem falar da evasão e das di-
de todos. É, sem dúvida, função precípua de todo ficuldades de novas adesões.
sindicato a defesa intransigente dos direitos dos O país vive hoje um momento extremamente
seus associados tendo como ação complemen- delicado com uma grave crise ética, moral e po-
tar e não menos importante a atuação política lítica. As conquistas sociais que avançaram um
na defesa e construção do ambiente profissional pouco nos dois últimos decênios acabaram por
no qual está inserida a atividade do associado, retroceder soterradas pela corrupção sistêmica.
portanto, inerente a sua representatividade, no Às vésperas de uma eleição parlamentar e presi-
nosso caso, o ensino superior, segundo parâme- dencial os partidos e os candidatos, independen-
tros e condições que a dignifiquem, valorizem e temente do matiz ideológico, não apresentaram
ajude a promover o desenvolvimento científico ainda nenhum projeto minimamente capaz de
e tecnológico do país. modernizar o país, recuperar a sua capacidade de
A luta política de maior envergadura e gerar riquezas e empregos, de diminuir a injustiça
abrangência, sempre atenta à defesa da demo- social e eliminar privilégios de uns poucos “aben-
cracia e buscando contribuir para a diminuição çoados”. Não apresentaram ainda tal projeto e
das diferenças sociais e econômicas, é ativida- dificilmente apresentarão porque todos os entes
de subsidiária que deve ser exercida sempre políticos arraigados em Brasília e os pretendentes
sem qualquer engajamento partidário e nunca pensam e conduzem todo o processo eleitoral,
com caráter personalista. É obrigatoriamente desde a celebração das alianças até os discur-
suprapartidária e o apoio a este ou aquele partido sos em praça pública, dentro de uma perspectiva
político, quando necessário, deve ser temática, exclusiva de poder. NÃO SE DISCUTE A NAÇÃO!
circunstancial e transitória. Que os políticos profissionais não discutem
Infelizmente, nos últimos anos, exatamente a Nação é verdade, mas a sociedade organizada
a partir de 2003 essa “independência” política e, também não o faz de uma forma mais ampla ca-
por extensão, o vigor e a disposição para maiores paz de aglutinar numerosos e diferentes segmen-
enfrentamentos, foram sendo paulatinamente tos em torno de ideias e propostas de interesse
deixadas de lado e observou-se um crescente nacional. Está mais preocupada com as coisas
engajamento ou, melhor dizendo, uma maior iden- mais comezinhas do processo político eleitoral,
tificação político partidária dos sindicatos com mais envolvida com a procura de um líder que
a ideologia e as ações do partido hegemônico no apresente um Projeto de Nação do que com o de-
poder. Este comportamento de certa forma ini- senho desse mesmo Projeto para o qual surgiria

134 São Luís/MA


julho 18
 Os sindicatos e os seus aposentados

posteriormente, após discussões e o necessário profissional/produtivo, que não vão além de


amadurecimento e aperfeiçoamento o líder ca- uma homenagem aqui ou o convite para uma
palestra ali.
paz de implantá-lo construindo para tal fim uma
adequada estrutura parlamentar e administrativa. Todo o cabedal de conhecimentos armazena-
Nesse vácuo parece-me que os sindicatos dos, todo o capital intelectual que o professor acu-
têm diante de si um enorme desafio para o qual mula ao longo de sua carreira acadêmica, muitas
se impõe um enfrentamento calcado em ações vezes profícua, ativa, deixam de ser aproveitados,
lógicas e estruturadas, destituídas de paixões repartidos, tão logo ocorre a sua aposentadoria.
político-ideológicas para, sem desprezar as suas Sem falar naqueles professores que prorrogaram
funções precípuas de defesa dos associados, e se a sua jornada além do tempo mínimo exigido e fo-
reinventando como bem observou a presidente ram atingidos pela “compulsória” num processo
da APUB, Profa. Luciene Fernandes, em evento não raro indelicado e grosseiro que em muitos
recente, ajudar a encontrar soluções que possi- casos ganhou a alcunha de “expulsória”.
bilitem a construção de um país mais justo, com Os aposentados, muitos deles ainda lúci-
menor desigualdade social, no qual a educação dos, ativos, dispostos, com grande potencial para
seja realmente prioridade e que possa oferecer contribuir com a sociedade, sentem-se desesti-
oportunidades para os mais jovens atualmente mulados e menosprezados; no próprio ambiente
desiludidos e desencantados. universitário outrora tão familiar, são inúmeras
No plano interno, digamos no seu cotidiano as dificuldades para que o aposentado possa
“intramuros” os sindicatos precisam voltar os desenvolver alguma atividade excetuando um ou
olhos com mais cuidado para os seus aposentados outro programa pontual. Ademais, paira sobre os
que, em alguns casos, representam mais de 50% aposentados ameaça à sua capacidade de manter
dos associados. Diferentemente das sociedades uma vida digna diante das perspectivas contidas
orientais nas quais os idosos/aposentados são nas intimidações do governo que se renovam sem-
reverenciados e tratados com respeito e aten- pre: além da PEC 95, da Reforma da Previdência
ção pela vasta experiência e sabedoria acumu- momentaneamente em compasso de espera, mas
ladas em seus longos anos de vida, nas socieda- que será retomada tão logo surja uma oportuni-
des ocidentais a velhice e consequentemente a dade haja vista que todos os candidatos a presi-
aposentadoria a ela associada são tratados de dente defendem. A ameaça agora é a remoção
forma negativa, negligente, o que gera muitos daquela vantagem assegurada pelo Art. 192 da
preconceitos; os idosos estão desamparados Lei 8112/90. Há que se criar um “escudo jurídico”
pelo poder público e por vezes até mesmo pela com a participação dos setores competentes de
própria família. todos os sindicatos para evitar tais desmandos.
No já citado documento para o XIII Encontro Duas outras ações parecem necessárias e
tratamos desta questão e eu me permito aqui oportunas em defesa do aposentado:
transcrever parte do que escrevemos: ЇЇ Revisão do Estatuto do Idoso e análise da
“No nosso entender, a sociedade ocidental
não costuma tratar muito bem os seus idosos,
real aplicação do que está previsto no do-
dedicar a eles a atenção e consideração cumento. Partindo dessa análise, sugerir
por tudo que representam em termos de atualizações no que couber.
experiência de vida, de realizações, de ЇЇ Revisão dos Planos de Saúde: os absur-
transmissão de conhecimento, de dedicação
a inúmeras causas relevantes e, por extensão,
dos reajustes que ocorrem anualmente
aos seus aposentados. Com raras e honrosas estão inviabilizando a manutenção de um
exceções, para validar a regra, os aposentados plano assistencial mínimo não só pelo
são relegados a um plano secundário no idoso, mas também pela população de
ambiente social e a eles são reservados
papéis mais que irrelevantes no ambiente
um modo geral. O PROIFES deve coorde-

São Luís/MA
julho 18
135
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

nar uma ação conjunta com outros sindi- renegando as funções para as quais foi
catos no sentido de acompanhar, fiscali- criada defendendo interesses outros,
zar e cobrar do Congresso e da ANS que puramente mercantilistas, desprezando
os reajustes anuais acompanhem o IPC e o bem maior do ser humano que é a sua
que seja descartada a “inflação médica” saúde, não se coadunam com as expec-
ditada pelas seguradoras para justifi- tativas da sociedade para a legítima e
car os aumentos abusivos. O sentimen- correta atuação dos órgãos da adminis-
to reinante de que a ANS poderia estar tração pública

136 São Luís/MA


julho 18
Os desafios para
as professoras do
EBTT da UFSCar
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THAIS FERNANDA LEITE MADEIRA - ADUSFCar
GABRIELLA PIZZOLANTE DA SILVA - ADUSFCar
ADRIANA M. CARAM- ADUSFCar
DANITZA DIANDERAS DA SILVA- ADUSFCar
NATHALIA DENARI- ADUSFCar

D
esde a Lei 12.772 de 2012, o Magistério Federal é composto pelas carreiras do Ma-
gistério Superior e do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico - EBTT, sendo, portanto,
carreiras equiparadas. No entanto, muitos são os desafios para a atuação e valori-
zação da carreira EBTT dentro da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Atualmen-
te, na UFSCar, as professoras do EBTT estão lotadas na Unidade de Atendimento à Criança
– UAC, que é uma unidade universitária federal de educação infantil que atende crianças 3
meses a 5 anos e 11 meses.
Um dos grandes desafios é o reconhecimento de que as professoras do EBTT, de acordo
com a referida lei, podem e devem exercer todas as atividades praticadas pelos professores
do Magistério Superior, atuando no ensino, na pesquisa, na extensão e na gestão. Para tanto,
faz-se necessário que as professoras do EBTT sejam dispensadas do controle de frequên-
cia, nos horários em que não estão na sala de aula, tal como são os professores do Magistério
Federal, garantindo um tratamento isonômico entre as carreiras.
Cabe salientar que a atuação docente na UAC possui particularidades próprias que im-
possibilitam o controle de ponto e exigem maior flexibilização da carga horária de trabalho;
por exemplo, as docentes EBTT na UAC cumprem suas horas no ensino em suas turmas de
crianças no horário de funcionamento da unidade e dividem as demais horas entre atividades
de pesquisa, extensão e administração, mas também se dedicam à outras atividades consi-
deradas de ensino, tais como planejamento e preparação de materiais e instrumentos para
as aulas, reuniões pedagógicas, reuniões de estudo, reuniões individuais com a coordenação
pedagógica, atendimento às famílias das crianças e orientação de estágios. Nesse sentido,
as horas dedicadas às atividades de ensino são muito superiores às horas que as professoras
conseguem se dedicar às demais atividades.
Portanto, é importante frisar que a flexibilização de horários garantirá a prestação de
serviços de qualidade junto à Universidade, garantindo a articulação entre ensino, pesquisa,
extensão e administração, atividades fim da Universidade. Inclusive, as professoras do EBTT
são avaliadas por essas atividades e precisam ter garantido o direito de desenvolvê-las.
Diante do compromisso assumido pelo MEC e Ministério do Planejamento, Orçamen-
to e Gestão, quando da assinatura do Termo de Acordo n. 19/2015 (que foi convertido na Lei
13.325/2015) entre os referidos Ministérios e o PROIFES Federação, em que o Governo Fe-
deral, conhecedor da situação acima relatada, em que é forçoso se reconhecer o direito dos
professores do EBTT à dispensa do controle de jornada, sugerimos que o PROIFES reitera o

137
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

compromisso assumido, junto aos órgãos com- colegiados e de representação sindical. Por
petentes, de alteração do Decreto 1.590/1995 e isso, faz-se necessário e urgente a liberação
criação de um novo decreto específico para os de mais vagas EBTT que supram as demandas
docentes do EBTT. da Unidade, bem como, uma nova legislação
Além disso, salientamos que a docência que autorize a criação de um cadastro de pro-
na Educação Infantil é bastante complexa e fessoras (eventuais, substitutas, voluntárias
exige capacitação constante, mas que as pos- ou volante) que possam suprir as ausências
sibilidades de participação em atividades de quando necessário.
formação continuada são bastante difíceis, Por fim, destacamos a importância da pa-
visto a dinâmica atual de atuação na UAC, in- ridade e integralidade para os (as) professores
cluindo a falta de professoras na Unidade, o (as) que ingressaram após a EC nº 41/2003. Des-
que acaba afetando a participação das do- tacamos também que seja garantida o direito a
centes em cursos de qualificação profissional aposentadoria do (a) professor (a) EBTT quando
em quaisquer níveis, por exemplo. Essa falta completarem 25 anos de efetivo exercício na Edu-
de professoras também afeta diretamente a cação Básica, mantendo a idade mínima e com
garantia do direito à participação em órgãos proventos integrais.

138 São Luís/MA


julho 18
Negociações dos
docentes federais:
conquistas do PROIFES e
proposta para 2019.
_________________________________________________________________________________________________________________________________
GIL VICENTE REIS DE FIGUEIREDO
ADUFSCar

1 BREVE HISTÓRICO PRELIMINAR.


O PROIFES foi fundado em 15 de setembro de 2004. Desde logo credenciada para represen-
tar os docentes federais, a partir de sua postura aberta ao diálogo e à negociação, a entidade
alcançou as seguintes vitórias:
ЇЇ Criar (2006) a classe de professor associado (MS), que propiciou a possibilidade de
progressão e promoção de docentes represados, alguns deles, há mais de 20 anos como
adjunto 4;
ЇЇ Acabar (2007, 2008 e 2011) integralmente com todas as gratificações, incorporando-as
ao Vencimento Básico (VB) dos professores e valorizando-se os salários tendo por base
a progressão e a promoção na carreira, fundados no mérito acadêmico;
ЇЇ Eliminar (2008) o diferencial existente entre as remunerações de ativos e aposenta-
dos que, à época, resultava da existência de gratificações parciais para estes últimos;
ЇЇ Equiparar (2008) salarial e estruturalmente as carreiras do MS e do EBTT, cujos pro-
fessores, historicamente, recebiam salários irrisórios;
ЇЇ Criar (2012) o Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC), para os colegas do
EBTT;
ЇЇ Permitir (2012) a promoção para a nova classe de titular exclusivamente por critérios
de mérito acadêmico, sem necessidade da exigência burocrática da existência de vaga.

Ao mesmo tempo, os sucessivos acordos assinados levaram a uma progressiva recupe-


ração salarial, como demonstram os gráficos a seguir.
Nesses gráficos, considera-se os salários reais efetivamente recebidos a partir de ja-
neiro de 1.995.
Até junho de 2018, os valores recebidos foram deflacionados pelo índice do DIEESE.
A partir de julho de 2018 e até dezembro de 2018 consideram-se projeções que tomam
como hipóteses:
1. a inflação de 3,9% em 2018, conforme constante da pesquisa Focus publicada em 20
de junho de 2018;
2. a aplicação da legislação em vigor em agosto de 2018, conforme previsto na fase 2 do
acordo assinado pelo PROIFES em dezembro de 2015.

139
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

Além disso, no caso de docentes aposenta- considera-se os salários de ingressados em 1995


dos (Gráfico 1), considera-se os salários do adjunto (3 anuênios), como doutores / adjunto 1,com pro-
4, doutor, aposentado em 2015, com ingresso em gressão até titular (em maio de 2014).
1980 (18 anuênios). O salário de janeiro de 1995, em todos os
E, no caso dos docentes da ativa (Gráfico 2), casos, é tomado como sendo 100.

Gráfico 1:

Gráfico 2:

2 CAMPANHA 2015: A PROPOSTA bateu em suas instâncias uma proposta de re-


DO PROIFES-FEDERAÇÃO. composição salarial, reestruturação de carreiras,
Relembramos a seguir as reivindicações feitas valorização da dedicação exclusiva e melhoria
pelo PROIFES durante a Campanha Salarial de de condições de trabalho e de capacitação dos
2015, especificamente o que foi alcançado e o professores, bem como de correção de injusti-
que ficou pendente.O PROIFES, desde 2014, de- ças, e, também, de correção de procedimentos

140 São Luís/MA


julho 18
 Negociações dos docentes federais conquistas do PROIFES e proposta para 2019

e leituras jurídicas prejudiciais aos docentes. c4) Redefinir critérios para concessão do auxílio
O documento, consolidado em 2015, reivin- transporte, hoje totalmente inadequados;
dicava: c5) Criar programas de capacitação para as car-
reiras do MS e EBTT;
a. Reajustes salariais. c6) Garantir de que a (desejável) expansão das
a1) elevar o piso salarial (remuneração do au- universidades e institutos federais se dê
xiliar 1, graduado, em regime de trabalho de de forma a assegurar adequadas condições
20h) em 10% a partir de jan/2016; de trabalho para todos os docentes, dentre
a2) incorporar aos salários aumentos reais (aci- outras.
ma da inflação) de 2% em jan/2017; e
a3) agregar mais 2% de aumentos reais aos d. Correção de injustiças.
salários em jan/2018. d1) Reenquadrar docentes aposentados do MS
na classe de professor associado, já que, à
b. Reestruturação das carreiras e valorização época da criação da classe de professor as-
da DE (lógica da malha – todas as remune- sociado (maio de 2006), foram represados
rações dedutíveis a partir do piso salarial): na antiga classe de adjunto;
b1) implantar, a partir de janeiro de 2016 (MS e d2) Estender o RSC para os aposentados do EBTT;
EBTT) as seguintes relações percentuais: d3 Criar regra para compensar a mudança de
1. 5% entre os VBs de docentes em níveis interstício de 18 para 24 meses (EBTT), den-
subsequentes de uma mesma classe, e tre outras.
10% entre classes subsequentes;
2. entre a Retribuição por Titulação (RT) e o e. Correção de procedimentos e leituras
VB: 10% para aperfeiçoados, 20% para jurídicas prejudiciais aos docentes:
especialistas, 50% para mestres e 120% e1) Garantir efeitos financeiros e legais das pro-
para doutores; gressões e promoções retroativos à data
3. entre o VB do docente em regime de de- de conclusão dos interstícios, cumpridos
dicação exclusiva (DE) e o VB do docente os devidos requisitos;
em regime de 20h, 100%, e entre o VB e2) Revogar a exigência de conclusão do está-
do docente em regime de 40h e o VB do gio probatório para a mudança de regime
docente em regime de 20h, 40%. de trabalho, dentre outras.
b2) aumentar o percentual entre o VB do docen-
te em regime de dedicação exclusiva sobre 3 AS NEGOCIAÇÕES E VITÓRIAS
o do docente em regime de 20h: ALCANÇADAS.
1. de 100% para 110%, em janeiro de 2017; ЇЇ Reajustes salariais e reestruturação.
e ЇЇ Governo insistia em negociar índices por
2. de 110% para 120%, em janeiro de 2018. 4 anos, com índices de reposição aquém da
inflação prevista.
c. Melhoria de condições de ЇЇ Servidores em geral e PROIFES em particu-
trabalho e de capacitação. lar recusaram essa proposta.
c1) Revogar o controle de frequência no EBTT, ЇЇ Governo recuou, concordando em negociar
à semelhança do que já ocorre no MS; índices por 2 anos, mas ficou irredutível:
c2) Revogar a exigência de conclusão do está- 5,5% e 5,0%. Esses índices acabaram sen-
gio probatório para mudança de regime de do aceitos pelos representantes dos servi-
trabalho; dores, inclusive pelo PROIFES – que aceitou
c3) criar estímulos à retenção de professores postergar a demanda de incentivo aos do-
em locais de difícil lotação; centes em DE (2017/2018).

São Luís/MA
julho 18
141
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

ЇЇ Na negociação específica, o impacto da pro- ESE de 37,2%. Ou seja, os docentes


posta original do PROIFES era de 5,5bi em obtiveram 19% a mais.
2016, sendo 2bi para o reajuste (o governo ▪ Entre mar/2015 e dez/2016, os ser-
impôs esse montante, mas em 2 anos, e não 1 vidores obtiveram 10,8%, perdendo
ano) e 3,5bi p/reestruturação (2016). outros 4% para a inflação projetada.
ЇЇ Na negociação, ficou claro que o governo
iria disponibilizar no máximo 2 bilhões p/a DEMAIS REIVINDICAÇÕES:
reestruturação, e propunha que esta acon- QUESTÕES PENDENTES
tecesse em 3 anos. Dentre as demais propostas apresentadas pelo
ЇЇ O PROIFES então reformulou sua propos- PROIFES, eis o que foi possível pactuar no Termo
ta inicial, mantendo o essencial (dar estru- de Acordo:
tura lógica à carreira), reduzindo alguns Para implantação imediata:
percentuais dentre os inicialmente deman- c1) Revogar o controle de frequência no EBTT,
dados, que passaram a ser os seguintes à semelhança do que já ocorre no MS;
(impacto de cerca de 2 bilhões) – insistin- c2) Revogar a exigência de conclusão do está-
do na implantação em 2 anos. gio probatório para mudança de regime de
1. 5% entre os VBs de docentes em níveis trabalho;
subsequentes das classes de auxiliar e e1) Garantir efeitos financeiros e legais das pro-
assistente (classes D I e D II, respectiva- gressões e promoções retroativos à data
mente, no EBTT) e 4% entre as de ad- de conclusão dos interstícios, cumpridos os
junto e associado (D III e D IV no EBTT). devidos requisitos;
2. 5,5% quando da promoção para assis- e2) Revogar a exigência de conclusão do está-
tente e adjunto (promoção para D II e D gio probatório para a mudança de regime
III no EBTT), 25% para promoção para de trabalho, dentre outras. Para debate em
associado (D IV no EBTT) e 10% para um ‘Comitê de Trabalho’, no âmbito do MEC:
promoção para titular (mesmo cargo c3) Criar estímulos à retenção de professores
nas duas carreiras). em locais de difícil lotação;
3. RT de doutores: 115% (em vez de 120%). c4) Redefinir critérios para concessão do auxílio
ЇЇ O governo afinal aceitou essa proposta, transporte, hoje totalmente inadequados;
mas para implantação em 3 anos. Após c5) Criar programas de capacitação para as car-
referendo em ampla consulta, foi firmado reiras do MS e EBTT;
acordo em 2 dez/2015, que resultou em lei c6) garantir de que a (desejável) expansão das
recentemente publicada. universidades e institutos federais se dê de
ЇЇ A reestruturação produz reposição sala- forma a assegurar adequadas condições de
rial adicional média de 8,2%, em 3 anos trabalho para todos os docentes, dentre ou-
(agosto de 2017, agosto de 2018 e agosto tras;
de 2019); frise-se, contudo, que os salários d1) Reenquadrar docentes aposentados do MS
iniciais dos docentes não terão qualquer na classe de professor associado;
reajuste com essa reestruturação, durante d2) Estender o RSC para os aposentados do
todo o período. EBTT;
ЇЇ Os servidores públicos federais sofreram d3) Criar regra para compensar mudança de in-
forte arrocho nos últimos anos: terstício de 18 p/24 meses (EBTT).
▪ Entre jul/2010 e mar/2015, obtiveram
15,8%. Os docentes federais, 4% em BENEFÍCIOS.
2012 e mais 32,5% em 2013-15, totali- Foram aceitos pelo PROIFES os seguintes rea-
zando 37,8%, contra inflação do DIE- justes de benefícios (jan/16):

142 São Luís/MA


julho 18
 Negociações dos docentes federais conquistas do PROIFES e proposta para 2019

1. Auxílio-alimentação, de R$ 373,00 para que prevê para este ano inflação de 3,9%. Dessa
R$ 458,00; forma, chega-se ao índice de 23,15%.
2. Assistência à saúde, do valor médio de
R$ 117,78 para R$ 145,00; e O valor necessário para repor as perdas do
3. Assistência pré-escolar, do valor médio período é, assim, de 11,17%.
de R$ 73,07 para R$ 321,00.
CONTINUIDADE DA REESTRUTURAÇÃO
Constituído o governo Temer, contudo, após DA CARREIRA.
afastamento da presidente Dilma, parte das rei- Não há como propor nova alteração da carreira em
vindicações aceitas para ‘implantação imediata’ 2019, tendo em vista que há um acordo em vigên-
não foram efetivamente implementadas até o cia, em função do qual há uma reestruturação em
presente momento, bem como não foi criado o curso, que só estará concluída em agosto desse
‘Comitê de Trabalho’ no âmbito do MEC, confor- mesmo ano. Assim, a proposta é reivindicar que
me previsto no acordo assinado pelo PROIFES os aperfeiçoamentos da carreira que recuperem
em 2015. as nossas demandas originais, recompondo os
degraus entre classes e níveis que havíamos
4 PROPOSTA PARA CAMPANHA SALARIAL. proposto, bem como o RT/VB de doutor (115%
A proposta apresentada a seguir ao XIV Encontro para 120%), sejam implantados a partir de 2020.
Nacional do PROIFES para a campanha salarial é a Por outro lado, devemos retomar nossa pro-
decorrente naturalmente da que já consolidamos posta de valorização dos docentes em regime de
em Encontros anteriores do PROIFES, de forma a dedicação exclusiva, conforme defendemos na
complementar aquilo que foi negociado em 2015. campanha salarial de 2015. O percentual então
proposto foi de 5% adicionais para os docentes
REPOSIÇÃO DAS PERDAS em DE.
DEVIDAS À INFLAÇÃO
Inicialmente, há que calcular o índice de revisão PENDÊNCIAS DO ACORDO DE 2015.
salarial a ser reivindicado para todos os docentes Aqui devem ser consideradas todas as pendências
(Magistério Superior/MS e Ensino Básico, Técnico – tanto as relativas aos itens para ‘implantação
e Tecnológico/EBTT), a partir de janeiro de 2019, imediata’ que ainda não estão em vigor, quanto as
de modo a recompor as perdas inflacionárias que deveriam estar sendo discutidas no ‘Comitê
ocorridas entre março de 2015, data do último de Trabalho’ constante do acordo de 2015.
reajuste relativo ao acordo firmado pelo PROI- Em resumo, a proposta de campanha salarial
FES em 2012, e dezembro de 2018. apresentada ao XIV Encontro Nacional do PROI-
Esse índice resulta da comparação entre o FES é a que se segue.
reajuste obtido no acordo de 2015 e a inflação
real prevista para o período março de 2015 / de- PROPOSTA DE CAMPANHA SALARIAL
zembro de 2018. 1. Reposição salarial de 11,17% para to-
O percentual obtido no acordo de 2015 foi dos os docentes, em janeiro de 2019.
de 10,78%: 5,5% em agosto de 2016 e 5,0% em 2. Reestruturação das carreiras, a partir
janeiro de 2017, cumulativos. de 2020, de forma que os seguintes
Para a inflação relativa ao período março de parâmetros sejam alcançados (confor-
2015 – dezembro de 2018, leva-se em conta a já me proposta original de 2015):
ocorrida até junho de 2018 (de acordo com o índi- 1) Relação entre os VBs: 5% entre os
ce do DIEESE) e, ainda, as projeções futuras até VBs de docentes em níveis subse-
dezembro de 2018 – estas em consonância com a quentes de uma mesma classe, e
pesquisa Focus divulgada em 20 de junho de 2018, 10% entre classes subsequentes;

São Luís/MA
julho 18
143
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

2) R  etribuição por Titulação (RT): ele- VB sobre o do docente em regime


vação do percentual RT/VB (Ven- de 20h de 100% para 110%, em
cimento Básico) dos doutores de janeiro de 2019; e de 110% para
115% para 120%; 120%, em janeiro de 2020.
3) Valorização do VB do docente em 3. Retomada das negociações relativas a
regime de dedicação exclusiva: au- todas as pendências do Termo de Acor-
mentar a relação percentual desse do de 2 de dezembro de 2015.

144 São Luís/MA


julho 18
Registro de ponto
para a carreira EBTT.
Mesmas atribuições do
Magistério Superior, mas um
tratamento diferente.
_________________________________________________________________________________________________________________________________
VALDEMIR ALVES
SIND-PROIFES

A
questão do registro de ponto para a carreira do Ensino Básico, Técnico e Tec-
nológico (EBTT), não é um assunto novo, pois vem sendo discutido com o go-
verno há um bom tempo. Para entendermos a questão, precisamos voltar no
tempo, e relembrar a origem da carreira, e as mudanças ocorridas nas atividades dos
professores EBTT, tais como a os equiparação aos professores do Magistério Superior.
A Carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) é oriunda
da Carreira de Magistério de 1º e 2º Graus, das antigas escolas técnicas, que atuavam
no ensino médio e técnico. As atividades do professor basicamente estavam voltadas
para o ensino. Apesar de oferecer um ensino de altíssima qualidade, os professores não
tinham nenhum incentivo para buscar titulação, sendo que exerciam jornadas com mais
de 30 horas de trabalho dentro da sala de aula.
A Lei nº 11.784, de 22 de setembro de 2008, criou um novo plano de carreira, incluindo
o ensino tecnológico, o Plano de Carreira e Cargos de Magistério do Ensino Básico, Técnico
e Tecnológico, além do Plano de Carreiras de Magistério do Ensino Básico Federal. Com
essa nova carreira, criou-se a possibilidade dos Cefet’s (Centros Federais de Educação
Tecnológica) e também das escolas técnicas vinculadas às Universidades Federais, po-
der oferecer cursos superiores, mudando as atribuições dos professores. As atribuições,
segundo o artigo 111 da lei 11.784/2008, passaram a ser:
Art. 111 São atribuições gerais dos cargos que integram o Plano de Carreira e Cargos de Magistério
do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, sem prejuízo das atribuições específicas e observados
os requisitos de qualificação e competências definidos nas respectivas especificações:
I as relacionadas ao ensino, à pesquisa e à extensão, no âmbito, predominantemente, das
Instituições Federais de Ensino; e
II  as inerentes ao exercício de direção, assessoramento, chefia, coordenação e assistência na
própria instituição, além de outras previstas na legislação vigente.

Essa mudança nas atividades docentes alterou não apenas às atribuições do car-
go do professor, mas o seu perfil. Junto com as novas atividades a carreira também
mudou, principalmente ao agregar às atribuições de ensino, também as atividades
de pesquisa e extensão, condição fundamental para a reivindicação do PROIFES:
equiparação definitiva da carreira do EBTT com a carreira do Magistério Superior,
com a conseqüente valorização salarial e na progressão e promoção na carreira. A
valorização da titulação tornou a carreira muito mais atrativa para o professor, além
de mudar o perfil que passou a ser muito mais acadêmico e próximo do magistério
superior.

145
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

O controle de ponto não se aplica aos do Plano Único de Classificação e Retribuição de


professores com atividades de ensino, pes- Cargos e Empregos como uma das exceções ao
quisa e extensão, pois o desempenho dessas controle de jornada entre os servidores da Admi-
funções normalmente não acontece em lugares nistração Pública Federal direta, das autarquias e
e períodos pré-determinados. Como diz a lei, a das fundações públicas federais, é o fato de que
atividade tem uma característica sui generis, que suas atividades não se limitam ao ensino, que por
coloca o professor em atividade de trabalho em si só já são incompatíveis com quaisquer forma
dias, horários e locais adversos, impossibilitando a de registro, mas também abrangem pesquisa,
definição de uma jornada fixa e passível de regis- extensão e gestão. Trata-se de uma jornada di-
tro. Não é raro vermos professores dedicando-se ferenciada, sui generis e desempenhada agora
a tarefas fora de seu horário de trabalho, na insti- de forma idêntica na carreira EBTT.
tuição, mas também em suas residências, tendo Em 1º de março de 2013, com a entrada em vi-
em vista a grande urgência de solução de diversas gor da Lei 12.772/2012 passaram a integrar o mes-
dificuldades que se apresentam diariamente. mo plano de carreira, que é o Plano de Carreiras
O reconhecimento desta natureza especial e Cargos de Magistério Federal, o que comprova
do trabalho docente está consagrado na alínea a grande similitude entre as carreiras do EBTT
e, do §7º, do art. 6º, do Decreto 1.590, de 10 de e do Magistério Superior.Basta analisarmos os
agosto de 1995: artigos 12, §4º e 14, §4º, todos da Lei 12.772/2012
§ 7º São dispensados do controle de para observarmos que as atividades exercidas por
freqüência os ocupantes de cargos: (Redação
ambas as carreiras (Magistério Superior e EBTT)
dada pelo Decreto nº 1.867, de 1996)
............ são praticamente idênticas, o que justifica que os
     e) de Professor da Carreira de Magistério professores do EBTT também não tenham con-
Superior do Plano Único de Classificação e trole de jornada, pois eles também (assim como
Retribuição de Cargos e Empregos. (Incluído
os docentes do MS), exercem as atividades de
pelo Decreto nº 1.867, de 1996)
ensino, pesquisa, extensão e gestão.
Este reconhecimento de que as atividades Com essa demanda justa, legal e urgente, o
de ensino, pesquisa e extensão são incompatíveis Proifes apresentou na negociação de 2015, a pro-
com o registro de ponto torna-se então uma ne- posta de equiparação da carreira EBTT a carreira
cessidade para a carreira do EBTT.Não bastasse do Magistério Superior no que se trata do registro
a compreensão de que a atividade acadêmica é de ponto, conseguindo que o governo assinasse
incompatível com o controle de ponto, com essa o acordo 19/2015, e reconhecendo o direito de
nova carreira focada com prioridade no regime de equiparação do EBTT ao Magistério Superior, na
dedicação exclusiva e no tripé ensino, pesquisa cláusula sexta do acordo, com a seguinte redação:
Cláusula sexta. O controle de frequência
e extensão, estas atividades impuseram uma
do professor da carreira do Magistério do
nova reflexão. Como manter o registro de ponto Ensino Básico, Técnico e Tecnológico terá o
incompatível com a atividade docente? As novas mesmo tratamento hoje dado ao professor
atribuições só agravaram a incompatibilidade en- da Carreira de Magistério Superior, com
alteração da legislação pertinente.
tre a função de professor da carreira EBTT, com
o registro de ponto.
Passamos então a ter um conflito que difi- A redação da Cláusula sexta contempla o
culta ou inviabiliza o trabalho do professor EBTT fato de que a inclusão dos professores de EBTT
que, obrigado a registrar o ponto, vê-se envolvi- na mesma regra do Magistério Superior, implicaria
do em uma burocracia que dificulta em muito na alteração do Decreto 1.590/95. Seu encaminha-
o desempenho de suas atividades.Sem dúvida, mento seria feito junto à Casa Civil, diferentemen-
dentre os motivos que justificaram a inclusão te do Projeto de Lei fruto do acordo 19/2015, que
do Professor da Carreira de Magistério Superior depois se tornou a Lei 13.325/16. Cabe ressaltar

146 São Luís/MA


julho 18
 Registro de ponto para a carreira EBTT

que para assinar o Acordo o governo submeteu to. O conselho superior do IFTO instituiu
a proposta do Proifes à Assessoria Jurídica do o registro de ponto eletrônico para os
MEC, que atestou a legalidade do assunto, antes professores. A ação teve negada a tutela
da sua assinatura. antecipada e aguarda decisão;
Naquele momento a questão do registro ЇЇ A procuradoria geral da União, emitiu pa-
de ponto EBTT estava resolvida, com a plena recer através do seu procurador Igor Cha-
concordância dos negociadores do governo, a gas de Carvalho, onde coloca que, “Diante
saber; MEC e Ministério do Planejamento. In- de todo o exposto, conclui-se e opina-se
clusive a redação dos termos que constariam no sentido da existência de razões jurídi-
na alteração do Decreto 1.590/95: a simples cas suficientes para que se dê tratamento
inclusão de mais um item no § 7º do artigo 6º: igual aos docentes do Ensino Básico, Téc-
  f) d e Professor da Carreira de Ensino nico e Tecnológico – EBTT, relativamente
Básico, Técnico e Tecnológico de que
aos docentes do Magistério Superior, no
trata a Lei 12.772 de 28/12/2012.
que tange à dispensa do controle de fre-
Logo após a assinatura do acordo, que quência. Ou seja, no sentido de se reco-
foi em dezembro de 2015, o país passou por nhecer os docentes do EBTT a dispensa
um período de grande tensão política, resul- do controle de frequência, na esteira de
tando no impeachment da presidenta Dilma idêntico reconhecimento já anteriormen-
em 2016. Os signatários do acordo não foram te deferido aos docentes do Magistério
hábeis o suficiente, ou não deram a prioridade Superior”.
devida para o cumprimento do acordo. Além ЇЇ Em reunião ordinária do Conif em 10 de
disso, o novo grupo político mudou ministros maio de 2017, o reitor do IFTO, pressio-
e secretários que, apesar de diversos pedidos nado pelo trabalho do Sind-Proifes junto
de audiências feitos pelo Proifes, não demons- a este instituto, solicitou esclarecimen-
tram interesse em resolver o problema, que tos ao representante da Secretaria de
persiste até a atualidade. Importante regis- Educação Tecnológica, SETEC (Romero
trar que o Proifes Federação e seus sindica- Raposo) sobre a equiparação no registro
tos, mantêm seu trabalho buscando efetivar de ponto da carreira EBTT com a carreira
o cumprimento da cláusula sexta do acordo, do Magistério Superior. O mesmo afirmou
com diversas ações sobre o tema, algumas que a consultoria jurídica do Mec concor-
com avanços importantes: da com essa solicitação e que essa pen-
ЇЇ Na Escola de Especialistas da Aeronáuti- dência estaria em fase de resolução, para
ca, uma unidade militar situada em Guara- publicação “nos próximos dias” em cum-
tinguetá interior do estado de São Paulo, prindo o estabelecido no acordo. Como se
o Sind-Proifes junto com a ADIFESP con- vê, mais uma fala sem compromisso dos
seguiu negociar com o comando da Aero- representantes do atual governo.
náutica a dispensa de registro de ponto ЇЇ O Instituto Federal de Educação, Ciência
dos professores da carreira EBTT para e Tecnologia de São Paulo, emitiu parecer
todas suas unidades, após nossa proposta através da sua procuradoria, onde deter-
ser aprovada pelo seu conselho jurídico. mina que não há óbices que impeçam a
ЇЇ No Instituto Federal de educação Ciência adoção do controle de frequência do EBTT;
e Tecnologia do Tocantins, o Sind-Proifes
impetrou ação requerendo que se cum- Podemos ver que o assunto foi largamente
pra o termo de acordo, e o tratamento discutido, avaliado e respaldado pelos órgãos
isonômico com a carreira do Magistério do governo, mas mesmo assim, continua sem
Superior no que tange ao registro de pon- solução. O XIV Encontro Nacional do PROI-

São Luís/MA
julho 18
147
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria

FES-Federação através de seus sindicatos, que se trata de registro de ponto da carreira


reafirma sua defesa no tratamento isonômi- EBTT, e exige do governo o cumprimento do
co com a carreira do Magistério Superior, no Acordo assinado.

148 São Luís/MA


julho 18
tema 4
Plano Nacional
de Educação e o
financiamento
da Educação
Da necessidade
de uma política de
Estado consistente
para o financiamento
da educação pública
brasileira1
_________________________________________________________________________________________________________________________________
JOÃO AUGUSTO DE LIMA ROCHA
APUB- Sindicato

O
Proifes Federação, entidade que congrega sindicatos de docentes das Ifes brasi-
leiras que se organizam nacionalmente de forma flexível, desde que respeitada a
autonomia de cada um de seus sindicatos associados, têm conduzido com sucesso
as lutas nacionais, na última década, das quais se beneficiaram todos os professores das
universidades e institutos federais do país, ativos ou aposentados.
Além da atuação mais propriamente sindical, são relevantes as contribuições do Proifes
para a educação brasileira, com destaque para a questão do financiamento do sistema edu-
cacional público, da creche à pós-graduação, e do município até à União. Tais contribuições
foram reconhecidas, principalmente, pelas Conferências Nacionais de Educação (CONAE’s),
de 2010 e 2014 e, também pela recentemente realizada Conferência Nacional Popular de Edu-
cação, em Belo Horizonte, de 24 a 26 de maio de 2018, no sentido de que foi bem sucedido o
esforço do Proifes de construir um quadro completo e atualizado de dados que permitem o
tratamento, tanto técnico quanto político, das necessidades educacionais do país a merecer
financiamento público.
Dada a situação vexatória na qual se encontra o quadro político-institucional, em nosso
país, cabe, urgentemente, ao Proifes, concentrar seus esforços na proposta ampla de reto-
mada das metas definidas no Plano Nacional de Educação (2014-2024) em vigor, aprovado
pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014.
Particularmente neste ano de campanha eleitoral para Presidente da República, será
necessário unir todos os setores democráticos em torno de um movimento capaz de com-
prometer os candidatos com a adoção de pontos cruciais, tanto sobre o financiamento da
educação pública, quanto da efetiva regulamentação da educação privada.
O financiamento da educação deve ser balizado na garantia da implementação do Plano
Nacional de Educação, que prevê a adoção de um percentual crescente, a partir do orçamento
nacional de 2015, até atingir a meta de 10% do PIB, em 2024. Isso passa, necessariamente,
pela revogação da Emenda Constitucional n° 095, de 15 de dezembro de 2016. Essa emenda
à Constituição, que foi aprovada imediatamente após o golpe parlamentar-jurídico-midiático
1 Tese apresentada ao XIV Encontro do Proifes Federação. São Luís, 24 a 28 de julho de 2018

151
TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação

que retirou a presidente Dilma Rousseff do poder, estar vigilante para que direitos adquiridos pela
congela a aplicação de recursos federais por 20 categoria não sejam suprimidos, mormente na
anos, pois obriga que a atualização orçamentária conjuntura em que o governo parece existir so-
dos gastos públicos, fixados no Orçamento Fede- mente para fazer cumprir os desígnios neoliberais
ral, particularmente nas áreas sociais, seja feita e antinacionais mais ortodoxos e nefastos contra
de forma que o índice de correção não ultrapasse os aos trabalhadores, a saber, a privatização das
o índice de inflação do ano anterior. empresas públicas a preços viks, o fortalecimento
Nesse quadro de desmonte do estado na- desembestado do capital improdutivo de rentis-
cional, impõe-se, que se examine urgentemente a tas e banqueiros – o malfadado mercado -, com
questão da política educacional, completamente a retirada, ao máximo, de recursos das mãos do
desfigurada, já que imersa num mar de leis e por- Estado, para mantê-lo atrelado aos interesses
tarias produzidas ao sabor dos acontecimentos. daqueles setores que parasitam os setores pro-
Para começar, urge redefinir-se a integração das dutivos da Nação.
três esferas federativas - União, estados, Distrito Tudo o que propõe a presente tese relacio-
Federal e municípios, na execução da política de na-se com financiamento público da educação,
educação, para que se estabeleçam, não somente em sentido amplo, razão pela qual a preocupação
os montantes das contribuições financeiras de com a política de financiamento não pode ser vista
cada uma das três esferas de poder, como tam- como alheia às atribuições sindicais específicas,
bém, a forma como deverá se dar tal interação, tanto de nossa entidade local, a Apub Sindicato,
na busca da mais eficiente e honesta aplicação quanto da nacional, o PROIFES- Federação.
dos recursos públicos, com vistas à realização A prioridade de nossa preocupação com a
dos fins planejados. manutenção e a consequente atualização dos
É preciso todo esforço político de nossas recursos destinados ao financiamento da edu-
entidades, preservado caráter suprapartidário cação brasileira, em particular no que refere à
de sua atuação, para que o governo a ser elei- manutenção das IFES, estende-se também ao
to proximamente tenha orientação contrária à apoio à s as pesquisas realizadas nessas institui-
do atual, isto é, que seja comprometido com os ções, que precisam continuamente de fomento, a
interesses nacionais e com a urgente inversão fim de que, principalmente, não venham a sofrer
da desigualdade social, que tem se agravado ra- descontinuidade.
pidamente. Na educação, é preciso, pois, que se O que tem de novo nesta tese, é a ênfase na
cumpra o programa gradual balizado pelas metas sugestão der que o tema do financiamento da
contidas no Plano Nacional de Educação, incluídas educação seja tratado pelo Proifes de modo mais
no Plano Nacional de Educação vigente, que é um amplo do que de costume. Para isso fundamento-
programa de Estado, não de governo. -me nos ensinamentos deixados pelo estadista
Se cabe a uma federação sindical, a exem- da educação Anísio Teixeira, tal como o chamava
plo do PROIFES defender precipuamente tanto o jurista e político Hermes Lima, cuja marca prin-
os interesses da educação pública democrática, cipal de sua reconhecida ação de homem público,
quanto os dos professores que representa, natu- educador e administrador em educação, era en-
ralmente as condições de trabalho e de salário nas volver estreitamente o tema da educação com o
instituições federais de educação, pela mesma da democracia. Isto quer significar que o financia-
razão cabe defender também, e intransigente- mento da educação, por exemplo, nunca deverá
mente, o pagamento justo dos proventos de apo- ser tratado como se fosse um mero tema técnico,
sentadoria dos trabalhadores em educação, no mas, ao contrário, como essencialmente político, a
setor público que, no caso do Brasil, são também fundamentar a concepção segundo a qual a cons-
bancados pelas verbas orçamentárias destinadas trução e a consolidação da educação pública tem
à educação. Nesse sentido, cabe ao Sindicato de ser gestada como se fosse uma questão de

152 São Luís/MA


julho 18
 Da necessidade de uma política de Estado consistente

Estado, intrinsecamente relacionada com o pro- incluindo-se os elementos da residência


cesso contínuo de construção e consolidação da humana, dos serviços de alimentação e saúde,
dos esportes e recreação, da biblioteca e
democracia. Além do mais, deve ser assegurado museu, do teatro e auditório, oficinas e
o controle social da aplicação dos recursos. Em depósitos, sem falar no que lhes é privativo,
síntese, o conteúdo técnico precisa estar subor- ou sejam as salas de aulas e os laboratórios.
dinado, segundo Anísio, ao contexto político, em A arquitetura escolar, por isso mesmo, inclui
todos os gêneros de arquitetura. É a escola, em
que o controle social deve ter papel proeminente. verdade, o lugar para aprender, mas aprender
É de Anísio, por exemplo, a ideia original de envolve a experiência de viver, e deste modo
fixar um percentual do orçamento público para ser todas as atividades da vida, desde as do
aplicado na educação. Isso foi aplicado por ele na trabalho até as de recreação e, muitas vezes,
as da própria casa.
Bahia, pela primeira vez no Brasil, quando ocupou,
de 1924 a 1929, a direção da educação estadual. A Se, no lado disto, considerarmos a
materialização dessa ideia, que passou a integrar população a que deve servir, ou seja, todas
as crianças de 6 a 12 anos, depois, sólida
várias Constituições Nacionais, daí para frente, percentagem dos que se acham entre os
encontra-se na Lei Estadual número 1846, de 14 13 e 18, no ensino médio, e, em proporção
de agosto de 1925, que deu sustentação á ampla substancial, os de 18 a 24 e ainda, por fim,
reforma da educação baiana que realizou, de 1925 percentagem que começa a ser considerável
de adultos, e tivermos em conta o exército
a 1929. Os artigos da lei em que está colocada a de professores, técnicos de toda ordem e
exigência de um percentual mínimo a ser aplicado pessoal necessários ao comando e execução
na educação são os seguintes: de tamanha atividade humana, podemos com
segurança reconhecer que se trata do mais
Art., 72 - A quota da receita municipal atribuída alto e mais complexo serviço existente em
ao serviço de instrução primária não poderá qualquer sociedade organizada.
ser inferior à sexta parte da renda ou receita
geral do município, excluída tão-somente a
receita com aplicação especial, que entrará
Também é dele a proposta original do pa-
apenas para aquele cálculo e cômputo com o râmetro que denominou de custo mínimo do
saldo ou diferença verificada entre a mesma aluno ou custo-aluno mínimo que, inicialmen-
receita e a despesa que pé especialmente te aplicado ao ensino primário. para Anísio, o
atribuída.
Art. 241. O Estado é obrigado a despender
parâmetro não era somente um instrumento
anualmente, no mínimo, a sexta parte de sua técnico a serviço do planejamento, capaz de
renda bruta tributária. balizar a maneira como deveria se dar a intera-
ção das três esferas administrativas do Esta-
Com uma formação humanista consistente, do, no contexto do0 planejamento educacional,
além de grande capacidade de convencimento, mas, também, um dado colocado a serviço das
para a busca da adesão a suas propostas, Anísio comunidades, a fim de que pudessem exercer,
coloca a questão da educação em termos bastan- caso o desejassem, apoiadas em base técnica,
te precisos, ao comparar a responsabilidade do o efetivo controle social das aplicações de re-
Estado com a educação, na paz, com a responsa- cursos na educação pública, desde o bairro, ou
bilidade do mesmo Estado, na guerra. Diz ele, no o pequeno povoado do interior, até o município,
artigo Plano e finanças da educação, em 1964: o estado e a União.
A escola, com efeito, compreende inversão Afirma ele, no artigo Custo mínimo da
econômica do mais alto vulto em edificações educação primária por aluno, de 1961: “... have-
e equipamento e emprega massa de pessoal ria de se estudar o custo mínimo da educação
técnico e de serviço, numeroso e diversificado,
primária por aluno, de acordo com Estado e
em proporções superiores, sem dúvida,
durante a paz, aos próprios serviços de defesa zona e, juntando-se os recursos municipais, os
de um país. Em suas edificações, constitui do Estado e os da União, elaborar o orçamen-
um dos mais complexos conjuntos, neles to mínimo da educação primária obrigatória”.

São Luís/MA
julho 18
153
TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação

E a seguir: dos Municípios e expõe um plano para conseguir


Esse custo mínimo da educação primária, por a aplicação mais adequada desses recursos pela
aluno, seria levantado com os índices locais, instalação de um mecanismo de financiamento
como se procede com relação ao custo mínimo
do nosso sistema escolar, transformando-os em
da alimentação nas diferentes zonas do
Estado. Efetuado o levantamento, as escolas fundos de educação, com administração especial
poderiam ser mantidas por um órgão comum autônoma exercida no âmbito federal, através do
local, que recebesse das três órbitas de poder MEC. As escolas passariam a ser municipais, cus-
da Federação os recursos necessários, ou
teadas pelos recursos dos municípios com ajuda
pelos três poderes independentemente. O
indispensável seria que as escolas fossem do Estado e governo federal e mais tarde expan-
de nível idêntico e pudessem melhorar e dir-se-ia à escola secundária e superior. Com tal
progredir em igualdade de condições. Para orientação ter-se-ia, não só a possibilidade de
isso, tornar-se-ia necessário o respeito às
levar a educação a todas as crianças brasileiras.
condições locais de salários e de custos,
ou seja, que a escola municipal, estadual ou 2 TEIXEIRA, Anísio. Bases para uma
federal tivesse seu orçamento controlado por programação de educação primária no
aquele custo mínimo e adequado da educação, Brasil. Revista Brasileira de Estudos
por aluno, a ser gradualmente elevado, desde Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.27, n.65,
que as condições financeiras o permitam, com jan./mar. 1957. p.28-46.
base nas rendas do Município, do Estado e da
União, de onde se devem retirar as parcelas de O autor sustenta que aos economistas com-
10 e 20% para o custeio da educação. Subindo
pete ajudar os educadores a organizar e progra-
essas rendas, subiria aquele soalho de custo
mínimo adequado. mar o sistema educacional, pois a educação não
é apenas um processo de formação e aperfeiçoa-
São apresentados, na sequência, resumos mento do homem, mas o processo econômico de
dos artigos da Revista Brasileira de Estudos Pe- desenvolver o capital humano da sociedade. A so-
dagógicos, ou Revista do Inep, em que Anísio Tei- ciedade moderna, de feição industrial, intensifica
xeira apresenta o conjunto de suas ideias originais a diversificação de funções e ocupações, exigindo
relacionadas com o financiamento educacional. uma educação mais variada e prolongada. A pe-
Foram elas que se conformaram ao Plano Na- dagogia intelectualista não corresponde a essa
cional de Educação (1963-1970) que concebeu e finalidade. E a escola brasileira não tem por sua
colocou em prática, a partir de 1963, naturalmente vez, condições para isso, em tal programa, urgindo,
interrompido em abril de 1964. A íntegra do Plano pois, a sua reforma. Analisa a sua situação com os
pode ser encontrada na edição mais recente de últimos dados estatísticos.
sua obra Educação não é privilégio, a cargo da 3 TEIXEIRA, Anísio. A municipalização do
ensino primário. Revista Brasileira de
Editora da UFRJ, em 2007, a partir da página 135.
Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro,
1 TEIXEIRA, Anísio. Sobre o problema v.27, n.66, abr./jun. 1957. p.22-43.
de como financiar a educação do povo
brasileiro; bases para discussão do Mais uma vez Anísio Teixeira recorda que a
financiamento dos sistemas públicos de Constituição Federal estipulou que a educação é
educação. Revista Brasileira de Estudos um direito de todos, competindo aos Municípios
Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.20, n.52, out.
/ dez. 1953. p.27-42.
e Estados provê-la e, à União, somente em caráter
supletivo. Sublinha que o propósito constitucional
Nessa obra se focaliza os delineamentos pre- seria, deste modo, conferir à educação o caráter
liminares e gerais do problema com elementos de de serviço local, em obediência à lei federal de di-
análise demográfica, estatística e comparativa, retrizes e bases. Defende que, em conformidade
incluindo os econômicos e sociais. Critica a deli- com esse princípio constitucional, se entregue
mitação constitucional dos recursos previstos em aos Municípios a responsabilidade pela educação,
porcentagens de receita da União, dos Estados e concedendo-lhes para isso os necessários recur-

154 São Luís/MA


julho 18
 Da necessidade de uma política de Estado consistente

sos previstos pela Constituição. Afirma que esta Em palestra proferida no Primeiro Encon-
seria a grande revolução que transformaria o país: tro dos Representantes dos Conselhos Estadu-
a descentralização educacional, a municipalização ais com o Conselho Federal de Educação, na qual
do ensino primário. Tratar-se-ia de uma reforma ressalta em extensão a importância com que os
de sentido não somente pedagógico ou adminis- serviços educativos devem ser considerados em
trativo, mas sobretudo político, pois reivindicava a uma sociedade. Procede a uma análise aprecia-
autonomia municipal, que só encontraria oposito- tiva do Plano Nacional de Educação em face da
res na velha mentalidade autocrata e centralista, Lei de Diretrizes e Bases, tendo em vista a ação
herança nefasta da colonização lusa. Conclui que articulada da União com os Estados e Municípios
é no município que deve estar a responsabilidade para a efetivação e o êxito do planejamento e do
da formação do brasileiro, por isso é que se deve financiamento da educação. Chama atenção, es-
confiar a escola ao município para ela possa se pecialmente, para o problema do prédio escolar
enraizar na comunidade, o que a tornará a sua mais como condição prioritária aos planos de extensão
importante instituição. escolar em nosso país.
4 TEIXEIRA, Anísio. Custo mínimo da È da iniciativa de Anísio Teixeira a proposta de
educação primária por aluno. Revista criação da primeira fundação estadual de apoio à
Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio
pesquisa, com recursos assegurados pela Cons-
de Janeiro, v.35, n.82, abr./jun. 1961. p.3-5.
tituição do Estado, referentes a um percentual
Nesse livro ele julga necessário relacionar da arrecadação estadual, a serem distribuídos
o dispositivo constitucional que manda reservar mensalmente.
as percentagens previstas de 10% a 20% das A Fundação para o Desenvolvimento da Ciên-
rendas tributárias da União para as despesas cia na Bahia foi criada através da Lei nº 347, de 13
relativas ao ensino com o outro dispositivo que de dezembro de 1950. Imediatamente implantada,
prescreve a educação obrigatória de todos os ela antecipou em 12 anos a implantação da funda-
brasileiros em idade escolar, determinando-se, ção equivalente de São Paulo, a Fapesp. Diz a lei:
para isto, o custo mínimo da evolução primária, Art. 1º - A Fundação para o Desenvolvimento
nas diferentes zonas do país, a criação de escolas da Ciência na Bahia, criada pela lei nº 347, de 13
de dezembro de 1950, do Estado da Bahia, com
de nível idêntico, mantidas por um órgão comum
autonomia administrativa e financeira, destina-
local, recebendo sucessivamente recursos do se a coordenar, estimular e assistir a pesquisa
Município, do Estado e da União. e o trabalho científico, em todos os seus ramos,
5 TEIXEIRA, Anísio. Bases preliminares para concorrendo para o desenvolvimento da
o Plano de Educação relativo ao Fundo ciência por métodos os meios a seu alcance.
Nacional de Ensino Primário. Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Em conclusão, convém que a presente con-
Janeiro, v.38, n.88, out./dez. 1962. p.97-107. tribuição seja considerada como uma sugestão
inicial para que, no exame do complexo quadro de
Aqui ele propõe que a ação federal, no que se
dispositivos legais em que está imersa a educação
refere ao ensino primário, concentre-se no auxílio
brasileira, não se deixe de levar em conta impor-
financeiro aos Estados. Sugere que a avaliação do
tantes conquistas anteriores, tais como aquelas
custo da educação primária obedeça aos mesmos
implantadas em nosso país por Anísio Teixeira, que
critérios que regulam os níveis do salário mínimo
foram abandonadas em razão da oposição ferrenha
para as diferentes regiões do país. Apresenta, a
que setores conservadores a elas dedicaram. Cabe
seguir, a discriminação orçamentária quanto aos
ao PROIFES - Federação, em sua trajetória consis-
recursos do Fundo do Ensino Primário para 1963.
tente de tratar as reivindicações sindicais aliadas
6 TEIXEIRA, Anísio. Plano e finanças da
educação. Revista Brasileira de Estudos ao conhecimento do contexto econômico e social
Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.41, n.93, jan./ em que se inserem, aprofundar-se no exame da
mar. 1964, p.06-16. proposta ora apresentada.

São Luís/MA
julho 18
155
São Luís/MA
julho 18
Plano Nacional
de Educação
_________________________________________________________________________________________________________________________________
ISAURA DE FRANÇA BRANDÃO
ADURN-Sindicato
MATILDE ALZENI DOS SANTOS
ADUFSCar

UM PLANO DE ESTADO COM PARTICIPAÇÃO POPULAR


Sancionado no dia 24 de junho de 2014 pela presidenta Dilma Rousseff, o PNE foi fruto de um
longo e histórico processo de construção participativa, que durou três anos e meio e delimi-
tou 20 metas que devem ser alcançadas para a melhoria da qualidade da Educação brasileira
nos próximos 10 anos. O PNE tem uma marca muito singular, que foi a articulação produzida
entre a sociedade civil organizada e o governo para, primeiro, a realização das Conaes (2010
e 2014), e, depois, a elaboração de um Plano que expressasse esses anseios dos diferentes
movimentos sociais – do campo, da educação, da ciência, da tecnologia. No entanto o que
temos constatado é que o PNE não é meta do atual governo, pois estamos vivenciando um
momento de profundos retrocessos e cortes orçamentários em áreas que deveriam ser prio-
ridade, tais como Educação, saúde e segurança.
Neste sentido faremos um breve relato acerca da meta 1 do PNE que propõe universalizar,
até 2016, a Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar
a oferta de Educação Infantil em Creches de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças
de até 3 anos até o final da vigência deste PNE.

METAS AMEAÇADAS
Além de submencionar o PNE, o governo o atual, que assumiu após o golpe, aponta para a
Desvinculação de Receitas da União (DRU) como uma das medidas para cobrir o déficit or-
çamentário e contornar a crise financeira do país, através da EC 95. A Constituição brasileira
prevê que o governo federal tem de gastar um mínimo do orçamento com algumas áreas,
entre elas Educação e Saúde. Acabar com essas vinculações constitucionais (que garantem
18% dos impostos arrecadados pela União para a Educação) inviabilizaria ainda mais a im-
plantação do PNE.
Esta é uma forma de pensar a educação apenas com o viés de que a mesma é um custo,
e não um investimento. A educação tem que ser prioridade não porque é um slogan de um ou
outro governo, mas sim, porque o Brasil tem sérios déficits nessa área, e sem uma educação
de qualidade o país não conseguirá superar as desigualdades sociais.

META 1
Universalizar, até 2016, a Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de
idade e ampliar a oferta de Educação Infantil em Creches de forma a atender, no mínimo, 50%
das crianças de até 3 anos até o final da vigência deste PNE.
Desde 2001, observa-se um crescimento constante na porcentagem de criança na
Educação Infantil, tendo atingido a marca de 90,5% em 2015 segundo dados da PNAD. Des-

157
TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação

se modo, em números absolutos, aproximada- avançou 2,6 pontos percentuais, o que aponta
mente 4,9 milhões das crianças brasileiras nes- que a Meta, que estipula a universalização do
te intervalo de idade estão na pré-escola. Nos acesso para a Educação Infantil, provavelmente
últimos 2 anos, de 2013 para 2015, o indicador não será cumprida. 

PORCENTAGEM DE CRIANÇAS DE 4 E 5 ANOS NA ESCOLA

PORCENTAGEM DE CRIANÇAS DE 4 E 5 ANOS NA ESCOLA

PORCENTAGEM DE CRIANÇAS DE 4 E 5 ANOS NA ESCOLA

158 São Luís/MA


julho 18
 Plano Nacional de Educação

PORCENTAGEM DE CRIANÇAS ENTRE 0 E 3 ANOS (Creche)

PORCENTAGEM DE CRIANÇAS ENTRE 0 E 3 ANOS (Creche)

PORCENTAGEM DE CRIANÇAS ENTRE 0 E 3 ANOS (Creche)

São Luís/MA
julho 18
159
TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação

PAINEL DA META

Neste contexto, a meta de universalização da (Brasil, 1996), no entanto, tais princípios, apesar
Pré-escola, não parece distante, no entanto res- de extremamente caros, ainda estão longe de se
saltamos que o percentual restante para atingir a concretizar, tendo em vista os cortes orçamentá-
meta significa cerca de 500 mil crianças e que as rios advindos da EC 95 e da falta de compromisso
desigualdades regionais são marcantes, também com a Educação da atual política de governo. É
chamamos a tenção para a qualidade da educação preciso salientar, ainda, que o foco não pode se
que é ofertada a estas crianças. restringir apenas à garantia de vagas, uma vez
Com relação a creche, crianças entre 0 e 3 que é fundamental atentar para a qualidade do
anos, as metas estão longe de serem alcança- ensino para garantir que as crianças tenham,
das. O Plano Nacional de Educação (2001-2010) de fato, um bom ambiente para o seu pleno de-
já estabelecia o atendimento de 50% até 2005, senvolvimento.
meta não alcançada e postergada para a vigência Propomos que, na luta pela revogação que
do plano atual. O déficit de vagas que até 2015 da EC 95, que o Proifes, assim como tem assu-
girava em torno de 2,4 milhões, ainda é latíssimo mido na prática, a defesa intransigente do PNE
para esta etapa da educação de crianças, soma-se e o cumprimento de suas metas, que se dedique
a isto o desafio de levanta dados mais precisos em particular ao cumprimento da meta 1 que re-
que permitam detalhar este atendimento de for- fere-se a universalização da a Educação Infantil,
ma mais precisa. assim como a ampliação da oferta de Creches,
Assim para que o direito a educação seja com profissionais capacitados para atender as
realmente contemplado, se faz necessária a demandas da infância e suas especificidades,
oferta de uma educação que tenha como prin- assim como espaços e materiais adequados para
cípios a igualdade de condições de oferta e a receber um público tão específico que são os
permanência na escola, bem como a garantia de bebês e as crianças bem pequenas de modo a
padrões mínimos de qualidade, conforme define assegurar a Educação Infantil e suas modalida-
a Constituição Federal (Brasil, 1988) e reitera a des como direito das crianças, e assim valorizar
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional a infância e seus profissionais.

160 São Luís/MA


julho 18
Propostas da
CONAPE 2018 e ações
concretas do PROIFES
no período eleitoral
_________________________________________________________________________________________________________________________________
GIL VICENTE REIS DE FIGUEIREDO
ADUFSCar- PROIFES

O
documento final da CONAPE, etapa nacional, fruto de um processo de construção
e articulação coletiva da sociedade civil e suas entidades – dentre as quais o PROI-
FES-Federação, que teve papel decisivo na organização do evento – apresentou os
eixos de um Plano de Lutas, que apresento ao final deste texto, de forma resumida.
Proponho ao XIV Encontro que, a partir da análise desse documento e da eventual
priorização de alguns dos eixos apontados, produza texto sintético a ser apresentado pelo
PROIFES e seus sindicatos a todos os candidatos a cargos eletivos nas eleições deste ano.
Proponho ainda que o PROIFES indique aos seus sindicatos um conjunto de ações polí-
ticas a ser adotada, respeitada a autonomia de cada qual, visando comprometer os mencio-
nados candidatos com essas propostas – tais como panfletagens, atos públicos, outdoors e
outros (a debater no XIV Encontro).
Proponho, finalmente, que o XIV Encontro Nacional do PROIFES retifique o cronograma
aprovado na última reunião do FNPE e indique a seus sindicatos a participação nas atividades
sugeridas, conforme couber e, mais uma vez, respeitada a autonomia de cada um:
ЇЇ Julho a 15 de agosto: Reuniões de avaliação da CONAPE 2018 pelos fóruns nos estados
e DF e organização dos encaminhamentos sugeridos pelo FNPE.
ЇЇ Julho a outubro: Realização de audiências públicas nas casas legislativas para debater
os documentos da CONAPE 2018 (Carta de Belo Horizonte e Documento Final).
ЇЇ 10 de agosto: Dia Nacional de Luta – Basta de desmonte das políticas públicas educa-
cionais! O petróleo é nosso!
ЇЇ 15 de agosto a 4 de outubro: Realização de debates com os/as candidatos/as.

Eixos resumidos:
ЇЇ A retomada da democracia e do Estado Democrático de Direito no Brasil.
ЇЇ A luta pela imediata revogação da Emenda Constitucional 95.
ЇЇ A imediata aprovação da auditoria da dívida pública e de uma reforma tributária e fiscal
que inverta prioridades, elevando impostos sobre renda e propriedade, e reduzindo a
taxação sobre o consumo.
ЇЇ A transformação do Fundeb em política permanente, que garanta a universalização e a
qualidade da educação escolar básica e valorização dos seus profissionais, sem redu-
ção de matrículas.
ЇЇ A luta por uma Assembléia Nacional Constituinte.

161
TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação

ЇЇ O fortalecimento da educação pública e o ЇЇ A luta contra a ‘Base Nacional Comum Curri-


fim do financiamento público para o setor cular’(BNCC), que exclui temas sociais sensí-
privado na área da educação. veis, como a discussão de gênero, e engessa
ЇЇ A regulamentação da educação privada, e homogeneiza o currículo.
como concessão pública sob a égide do ЇЇ A luta contra a Escola sem Partido, que pre-
Art. 209 da CF/88 e do Art. 7º da LDB, com cisa ser combatido para efetivar uma ver-
as mesmas exigências legais aplicadas à dadeira educação popular e emancipadora.
educação pública; ЇЇ A luta contra a ‘Reforma do Ensino Mé-
ЇЇ A implementação imediata dos 10% do PIB dio’ em curso, que reduz o currículo, limi-
e a retomada dos recursos do Pré Sal para tando o acesso dos jovens e adultos da
educação. classe trabalhadora à ciência, à cultura
ЇЇ A exigência de qualidade da educação e do e às tecnologias historicamente produ-
ensino, inclusive no ensino a distância e nos zidas pela humanidade, abrindo espaço
cursos de curta duração, impedindo tenta- para a ingerência do Banco Mundial e
tivas de tratar a educação, nesse âmbito, do BIRD.
como mera mercadoria. ЇЇ A luta contra a aprovação da Reforma da
ЇЇ A luta pela implantação urgente de planos Previdência, pela revogação da Reforma
de cargos e carreiras, em todos os sistemas Trabalhista, pelo fim da Terceirização, in-
de ensino. clusive na educação, e de todos os ataques
ЇЇ A luta incessante contra toda forma de cerce- aos direitos trabalhistas;
amento à liberdade de pensamento, projetos ЇЇ A luta pelo fim da interferência do Ministério
excludentes e conservadores, que ferem a au- da Educação no Fórum Nacional de Educa-
tonomia da instituições educativas, tanto na ção, com a reconstituição de sua composi-
educação básica quanto na educação superior. ção original.

162 São Luís/MA


julho 18
tema 5
Direitos
Humanos e suas
Perspectivas
no Movimento
Sindical
Capacitação e
formação política
em Direitos Humanos
_________________________________________________________________________________________________________________________________
ANGELA ERNESTINA CARDOSO DE BRITO
APUB
LEOPOLDINA CACHOEIRA MENEZES
APUB

A
tualmente, prevalece, dentro das universidades, a violência (de ordem psicológica,
moral, física, patrimonial, etc.) perpetrada contra mulheres, lésbicas, gays, bisse-
xuais, travestis e transexuais (LGBTT), negros e negras, indígenas, principalmente
através de insultos por parte de agressores que se localizam longe da vítima, o tipo mais
comum, através das redes sociais, ou mesmo nas salas de aulas, com atitudes discriminató-
rias Entre esses principais agressores estão servidores (docentes e técnicos), estudantes
e pessoal terceirizado das Instituições de Ensino Superior (IES).
A violência provocada pela intolerância a essas pessoas é tema de emergência e de ur-
gência. É imprescindível se debater tais acontecimentos de discriminação, motivados por um
discurso ultraconservador que se tem disseminado na atual conjuntura brasileira.
Em março do ano em curso, durante o Fórum Social Mundial, realizado em Salvador, o GT
Direitos Humanos do Proifes-Federação organizou um debate que se intitulou “A Inclusão das
Populações Negras e LGBTTQ nas Universidades e Institutos Federais: um desafio docente”,
do qual participaram uma pesquisadora sobre violência contra mulheres e travestis e 3 pro-
fessoras doutoras de IES de distintas regiões do Brasil, que lutam contra a discriminação e
a violência de gênero na carreira acadêmica. Como diz Megg Rayara de Oliveira Gomes, que
sempre se apresenta como travesti preta do gênero feminino, heterossexual: “Sou professora
de didática na UFPR, mas a minha presença naquele espaço não é pacífica, é sempre conflitu-
osa porque têm professoras que nem me cumprimentam” (apud COSTA, 2018).
Isso também ocorre no âmbito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o que torna
urgente o encaminhamento de medidas que coíbam tais acontecimentos. Entretanto, a mera
punição, embasada na legislação em vigor já bastante conhecida (BRASIL, 2001, 2006, 2015),
não é suficiente, fazendo-se necessária uma formação política voltada para os direitos hu-
manos, pois educar sempre é mais importante que punir.
Entre 2015 e 2017, no âmbito da UFBA, podemos relatar alguns casos a título de exemplo
que, inclusive, se tornaram públicos. Em outubro de 2015, um homem, apontado como aluno
da Instituição, foi detido depois de exibir a genitália no ônibus que serve aos estudantes da
UFBA (o Busufba), dentro do Campus de Ondina, em Salvador, conforme noticiado pelo Jor-
nal A Tarde no mesmo dia, sendo registrado Boletim de Ocorrência na Delegacia do Bairro.
Nos anos de 2015 e 2016, também vieram a público duas ocorrências no Campus da UFBA
em Salvador, conforme noticiado pela redação do G1/Bahia: um professor do Instituto de Fí-
sica foi acusado de assédio moral e sexual por alunas da Faculdade, o que já estava ocorren-
do, segundo as queixosas, por alguns semestres. Apesar de afastado durante a sindicância

165
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

para apurar os fatos denunciados, o professor foi cujos principais propósitos são conhecer o grau
reintegrado a suas atividades posteriormente. de satisfação do usuário, buscar soluções para
Segundo o jornalista Alexandro Mota do as questões levantadas, oferecer informações
Correio da Bahia (2015), a partir da repetição de gerenciais e sugestões aos dirigentes da Insti-
ocorrências semelhantes, tuição ou do órgão/unidade, mediar conflitos,
[...] o Diretório Central dos Estudantes (DCE) com vistas à melhoria dos serviços prestados e
criou uma Frente feminista, uma organização dos processos administrativos, das relações in-
das mulheres alunas e funcionárias da
terpessoais com seus públicos interno e externo.
universidade que promove escutas públicas
sobre casos de violação de direitos. O fórum Em Relatório sobre suas atividades, a Ou-
tem encontro semanal para debater melhorias vidoria da UFBA (2017, a ) atuou como mediado-
na política de mulheres na instituição a longo e ra inclusive nos casos de denúncias “no que diz
médio prazo, e entre as questões que buscam
respeito aos métodos didáticos, ao processo de
junto à Reitoria é a criação de uma Rede de
Atenção às Mulheres. comunicação do professor em sala de aula, pre-
conceitos diversos (raça, gênero, classe social,
Além disso, num aspecto mais amplo, da vio- curso de origem como os Bacharelados Interdisci-
lência e dos riscos a que a mulher está submetida plinares), assédio moral e sexual”. Ainda segundo
no seu dia a dia, uma aluna denunciou tentativa esse Relatório, sua atuação também ocorreu em
de estupro no mesmo Campus da UFBA, sendo situações de “conflitos entre estudantes, entre
socorrida pelos seguranças que trabalham na técnicos administrativos e entre técnicos e es-
área (UNIVERSITÁRIA..., 2016). tudantes. Os casos mais graves foram objeto de
O desrespeito às mulheres no meio univer- sindicância e/ou processo administrativo disci-
sitário, seja às professoras, funcionárias ou es- plinar. A estatística desses procedimentos fica
tudantes, levou à criação em 2015, por alunas da sob controle da Unidade Seccional de Correição”.
Faculdade de Direito da UFBA, do Coletivo Madás, De outro Relatório (UFBA, 2017 b) do setor
que desenvolveu uma campanha intitulada “Che- em que são discriminados 34 tipos de denúncias
ga de Assédio na Ufba”. Uma enquete realizada chegadas até a Ouvidoria da UFBA entre 2014 e
com 179 mulheres da instituição, professoras, 2017, avulta sobremaneira os casos de violência
estudantes e técnicas administrativas, revelou contra a mulher, que perfazem 22 desse total.
que mais da metade não se sente segura no am- Destacam-se, principalmente, entre eles, os casos
biente universitário e 60% das entrevistadas de violência contra alunas da Instituição, sendo 5
já haviam assistido a algum tipo de assédio em referentes a agressões (inclusive assédio sexu-
diversos setores (MIRANDA, 2017).. al) de servidores e seguranças, 5 relacionados
Outros dois grupos de mulheres foram for- a queixas de assédio moral e desrespeito por
mados a partir da necessidade de enfrentamento parte de professores e 5 relativos a atitudes de
dessas situações de insegurança, assédio, vio- agressividade e preconceito praticados por alu-
lência e desrespeito às mulheres. Na Faculdade nos, colegas da própria instituição.
Politécnica, em 2015, alunas do “Mulheres da Pó- Os 5 casos de racismo registrados na Ou-
lis” discutem em reuniões presenciais e na rede vidoria tem como denunciados tanto professo-
social situações relacionadas a denúncias nesse res/professoras como servidores incluindo um
âmbito. No ano seguinte, outro grupo, intitulado segurança. Uma denúncia contra um aluno foi
“Mães da UFBA”, também iniciou reuniões com o feita por uma professora. Os denunciantes tam-
mesmo objetivo, além do fato de, sendo mães, bém se queixam de comentários desfavoráveis
não encontrarem na instituição nenhum tipo de e preconceituosos divulgados por grupos que se
respaldo e apoio (SANTANA; VANIN, 2017). identificam com a Instituição e usam o Facebook.
Tanto na UFBA como, certamente, em outras Quanto aos 6 casos de homofobia registra-
IES federais, foi criado o sistema de Ouvidoria, dos, também os denunciantes acusam colegas

166 São Luís/MA


julho 18
 Capacitação e formação política em Direitos Humanos

professores, alunos de pós-graduação, servidores termos do § 8o do art. 226 da Constituição


e grupos da rede social mencionada. Federal, da Convenção sobre a Eliminação de
Como vimos, apesar da criação das Ouvi- Todas as Formas de Discriminação contra as
dorias e desses grupos específicos, motivados Mulheres e da Convenção Interamericana para
por situações pontuais em cada unidade, essas Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
atitudes continuam sendo praxe na instituição a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados
universitária como aqui exemplificado. Por isso, de Violência Doméstica e Familiar contra a
faz-se mister uma discussão mais ampla que en- Mulher; altera o Código de Processo Penal, o
volva todos os segmentos do ambiente universi- Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá
tário, principalmente os professores, no sentido outras providências. Disponível em: < http://
de entender, discutir e combater a violência e o www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
desrespeito em todos os seus níveis no âmbitos 2006/2006/lei/ l11340.htm >. Acesso em: 5
das instituições de ensino superior. jun. 2018.
Com o objetivo de formação para os direitos
humanos, já existe na UFBA, desde 2015, um “Pro- BRASIL. Lei n° 13104, de 9 de março de 2015
grama de Capacitação para a Promoção da Igual- [Lei Maria da Penha]. Altera o art. 121 do
dade Racial e de Gênero e do Respeito à Diversi- Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de
dade Sexual na Gestão Universitária”, dirigido ao 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio
corpo técnico-administrativo, sendo coordenado como circunstância qualificadora do crime de
por Iole Macedo Vanin, Coordenadora de Ações homicídio, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de
Afirmativas, Educação e Diversidade. julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol
Levando em conta o número de queixas re- dos crimes hediondos. Disponível em: < http://
lacionadas ao tema em questão no que se refere www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/
às atitudes docentes, que naturalmente não deve 2006/lei/l11340 >. Acesso em: 4 jun. 2018.
ser exclusividade da UFBA, considero importante
que projeto semelhante venha a ser estruturado COSTA, Laíssa. Sobreviventes. Notícias Proifes.
no âmbito docente de cada IES a partir de uma 27 mar. 2018.
sugestão do Proifes para todos os Sindicatos
de base. HOMEM é detido depois de exibir genitália no
Buzufba. A Tarde on line, 26 out. 2015.
REFERÊNCIAS
ALUNOS alegam que professor da Ufba é MIRANDA, Milena. Assédio sexual no meio
machista e homofóbico.G1/RedeBahia, 8 mar. acadêmico. Salvador, DRT/BA, 22 ago.2017.
2016. Da Redação.
MOTA, Alexandre. Professor da Ufba é afastado
BRASIL. Lei nº 10.224, de 15 de maio de 2001. após ser denunciado por alunas. Rede Bahia, 26
Altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro maio 2015. Disponível em: < alexandro.mota@
de 1940 – Código Penal, para dispor sobre o crime redebahia.com.br >. Acesso em: 6 jun. 2018.
de assédio sexual e dá outras providências.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ SANTANA, Luana Calasans de Souza; VANIN,
ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10224.htm>. Acesso Iole Macedo. A questão da violência contra
em: 6 jun. 2018. a mulher na Universidade Federal da Bahia.
Texto apresentado ao 13º CONGRESSO
BRASIl. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. MUNDOS DE MULHERES & SEMINÁRIO
Cria mecanismos para coibir a violência INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO 11,
doméstica e familiar contra a mulher, nos Florianópolis, 2017.

São Luís/MA
julho 18
167
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA). UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA).


Ouvidoria Geral da Reitoria. Relatório 2017. Ouvidoria Geral da Reitoria. Relatório 2017.
Salvador, 2017 b. Ouvidora: Denise Vieira da Silva. Salvador, 2017 b. Ouvidora: Denise Vieira da
Silva.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. Ouvidoria
Geral da Reitoria. Denúncias relacionadas à UNIVERSITÁRIA denuncia em rede social
violência contra mulheres, a pessoas LGBT e casos tentativa de estupro em campus da UFBA. G1/
de racismo. Salvador, 2017 a. Rede Bahia, ago. 2016. Da Redação.

168 São Luís/MA


julho 18
A importância do
GT Direitos Humanos:
Raça/Etnicidade, Gênero e
Sexualidades no contexto sindical.
_________________________________________________________________________________________________________________________________
JULIANA SILVA RAMIRES
SIND-PROIFES

D
iante da atual conjuntura de políticas sociais que o Brasil se encontra, torna-se cada
vez mais necessário debater sobre o tema: Direitos Humanos. A consciência uni-
versal dos direitos humanos tem se tornado necessária e amplamente divulgada
em diferentes contextos da nossa sociedade. Nessa linha, nosso grupo de trabalho agrega
constantemente desde 2017, ano de sua criação, pautas cada vez mais relevantes relaciona-
das ao nosso contexto laboral. Desta vocação, a Federação Nacional - PROIFES tem em sua
nobre missão, a esperada articulação através do Grupo de trabalho (GT) - Direitos Humanos-
Raça/Etnicidade, Gênero e Sexualidades um calendário profícuo para atender essa demanda.
A relevância do grupo de trabalho de direitos humanos no espaço sindical de professores
busca contribuir efetivamente com as discussões relacionadas ao tema e que permeiam os
espaços das instituições de ensino, muitas vezes, demandas da realidade do país, justificadas
pela acentuada desigualdade social e econômica. Acredita-se também que as contribuições de
estudos científicos dos professores agregam a “cientificidade” nas discussões, evidenciando
quantitativamente e qualitativamente os problemas existentes no país.
Assim, torna-se possível a propositura de ações efetivas de mudanças na sociedade,
considerando que os atores inseridos neste grupo de trabalho estão diretamente envolvidos
com a promoção da educação em nosso país, possibilitando a promoção da luta dos indivíduos
pelos direitos humanos que perpassa por questões concretas como raça, classe social, gênero,
religião e cultura nas instituições educacionais. A despeito disso, Gohn (2011, p.338) adiciona:
No Brasil, uma significativa parte desses militantes-denominados ativistas- têm chegado
aos cursos de pós-graduação e, mais recentemente, ocupam posições como professores e
pesquisadores nas universidades, especialmente as novas, criadas nessa década na área de
ciências humanas. Teses e dissertações vêm sendo produzidas por esses militantes/ ativistas/
pesquisadores.

Baruffi (2006, p.40) ratifica que “o compromisso com a promoção dos direitos humanos
passa obrigatoriamente pela educação e suas diferentes formas, inclusive a escola”. Torna-
-se importante ressaltar, que a percepção dos indivíduos em relação ao conceito de Direitos
Humanos inicia-se nos espaços educacionais, é nesse ambiente propício para desenvolver a
ideia política de base moral, com pessoas no mesmo contexto que inter-relacionam entre si,
respeitando os direitos individuais.
É necessário realizar uma reflexão da necessidade de trazer aos espaços sindicais as discus-
sões relacionadas aos direitos humanos, uma vez que esse tema é intrínseco à dignidade humana.
“Vale dizer, que só é possível conceber direitos humanos globais mediante a relativização e flexibili-
zação da soberania do Estado, em prol da universalização dos direitos humanos” (PIOVESAN, 2000).

169
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

Diante da relativização e da flexibilização do denominou de agir comunicativo. A criação


Estado em relação aos direitos humanos, cabe às e o desenvolvimento de novos saberes, na
atualidade, são também produtos dessa
entidades inseridas na sociedade monitorar os ca- comunicabilidade (GOHN, 2011, p. 335-336).
sos de violação de direitos fundamentais, buscan-
Enfim, os movimentos sociais podem ser en-
do as respostas nas instituições responsáveis por
tendidos como a mola propulsora da sociedade,
legitimar as denúncias. Contribuem eficazmente
exprimem as reações de resistência e a concep-
os sindicatos, na promoção desses espaços par-
ção da busca de novas propostas para formular
ticipativos e democráticos, promovendo pontual-
políticas públicas inovadoras através das ações
mente a atuação de sujeitos familiarizados com
coletivas. Diante dessa percepção, reforça-se que
as lutas e resistências dos ataques que afetam
o GT- Direitos Humanos exerce um papel impor-
diretamente os trabalhadores. Acrescenta-se à
tante no contexto do Proifes. Ainda utilizando-se
discussão, a visão de Santos (1989, p.11-12):
da referência de Gohn, 2011, (p. 336):
A luta pelos direitos humanos da terceira
geração, por forma de vida novas, mais Os movimentos realizam diagnósticos sobre
autênticas e mais autônomas, têm vindo a a realidade social, constroem propostas.
traduzir-se no que designamos por novos Atuando em redes, constroem ações coletivas
movimentos sociais, o movimento urbano, que agem como resistência à exclusão e
o movimento ecológico, o movimento lutam pela inclusão social. Constituem e
feminista, o movimento anti-nuclear, o desenvolvem o chamado empowerment de
movimento pacifista, o movimento anti- atores da sociedade civil organizada à medida
racista, o movimento estudantil, etc. que criam sujeitos sociais para essa atuação
em rede (GOHN, 2011, p.336).
Percebe-se que a atuação desses movimen-
Nessa perspectiva e como reflexo do
tos viabiliza o fortalecimento das lutas, mobilizam
comprometimento dos sujeitos inseridos no
a sociedade e buscam empenhar milhares de pes-
GT- Direitos Humanos, foram desenvolvidas
soas em criar novas formas de lutas, além de criar
ações que culminaram em promover o I En-
formas de aprofundar a democracia em nosso
contro Nacional do Proifes- Federação em
país. À luz de Santos (1989, p. 12) complementa:
Salvador, propiciando um espaço de debates
mas tanto no centro como na periferia o que
está verdadeiramente em causa é a criação
e formação política envolvendo os temas no
de novos espaços políticos, a ampliação do movimento docente. Os temas tiveram como
espaço público, a criação de novas identidades objetivo fomentar a elaboração de políticas
e de novos sujeitos coletivos capazes de afirmativas de respeito à diversidade e a in-
aprofundar a democracia no próprio processo
de luta pelo aprofundamento da democracia
clusão social nos sindicatos e também nas
(SANTOS,1989, p.12). universidades públicas, além de contribuir
com as discussões no sentido de superar o
No tocante aos movimentos sociais em nos- racismo, sexismo, homo e transfobia, e demais
so país, percebe-se uma nova dinâmica na sua atu- formas de violência e relações desiguais na
ação, esses movimentos utilizam de ferramentas sociedade. Para melhor elucidação dos de-
tecnológicas para disseminar suas pautas e bus- bates, organizaram as duas mesas: “Gênero,
car o apoio da sociedade. Além de buscar eleger Raça e Etnicidade no espaço sindical e movi-
representantes políticos que defendem a garantia mentos sociais” e “Raça, Etnicidade, Gênero
dos direitos humanos em nosso país. Nesse pon- e Sexualidades no trabalho docente”. Por fim,
to, Gohn (2011, p.335-336) informa: os encaminhamentos foram compilados na
Na atualidade, os principais movimentos “carta” final encaminhada às entidades junto
sociais atuam por meio de redes sociais,
aos professores e professoras.
locais, regionais, nacionais e internacionais ou
transnacionais, e utilizam-se muito dos novos Diante da repercussão exitosa do evento,
meios de comunicação e informação, como a tem-se a missão de organizar e promover a se-
internet. Por isso, exercitam o que Habermas

170 São Luís/MA


julho 18
 A importância do GT Direitos Humanos

gunda edição em 2018, buscando ter como em- GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais
basamento as premissas do GT-Direitos Huma- na contemporaneidade. Revista Brasileira de
nos que resguardam o compromisso de atuar no Educação. V.16 , n.47. maio-ago. 2011.
processo de conscientização e mobilização para
acabar com qualquer manifestação de machis- PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos globais,
mo, racismo, homofobia, transfobia e violências justiça internacional e o Brasil. Revista Fund. Esc.
de gênero no interior das Instituições de Ensino Super. Ministério Público Distrito Fed. Território,
Superior e na sociedade. Brasília, Ano 8, v. 15, p. 93-110, jan/jun 2000.

REFERÊNCIAS SANTOS, Boaventura de Sousa. Os direitos


BARUFFI, Helder. Direitos humanos e educação: humanos na pós-modernidade. Oficina número
uma aproximação necessária. Revista jurídica 10. Junho de 1989. Oficina do CES- Centro de
UNIGRAN. Dourados, MS. v.8, n.15. Jan-jun. 2006. Estudos Sociais de Coimbra

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São Luís/MA
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GT Direitos Humanos,
Raça, Etnicidade,
Gênero e Sexualidades
__________________________________________________________________________________________________________________________________
JULIANA MELO - ADURN/UFRN
OSWALDO NEGRÃO - ADURN/UFRN
ALEX REINECKE DE ALVERGA - ADURN/UFRN

O
Grupo de Trabalho “Direitos Humanos: Raça, Etnicidade, Gênero e Sexualidades” pretende
contribuir para refletir sobre os processos de acesso à educação formal e, dentro de suas
possibilidades, planejar estratégias e mecanismos capazes de ampliar e garantir o acesso
de pessoas historicamente excluídas desse contexto, como indígenas, negros, pessoas com defici-
ência, além de pessoas estigmatizadas por não se identificarem como o padrão heterossexual do-
minante. A proposta é analisar as relações entre esses fatores (etnicidade, negritude e gênero) à luz
das dinâmicas contemporâneas e da identificação de distintos modelos de sociabilidade e sensos
de dignidade e cidadania em nosso país.
Além de atual e importante academicamente, o debate justifica-se também por fortalecer o víncu-
lo entre ensino, pesquisa e extensão, buscando valorizar tanto uma perspectiva conceitual, como tam-
bém proveniente de um conhecimento de campo e resultado de um processo de interação face a face
com os grupos estudados - a serem posteriormente selecionados. Nesse sentido, o intuito é realizar
pesquisas de cunho qualitativo, nos quais as pessoas envolvidas possam refletir sobre suas trajetórias
de vida e escolares, sendo capazes de evidenciar como, em diferentes contextos e a partir de distintas
perspectivas individuais, os vetores raça/etnicidade e gênero se combinam e são (ou não) determinantes
para interferir e garantir (ou não) o acesso ao mundo acadêmico e ao mercado profissional qualificado.
Note-se, porém, que inicialmente optamos por focar a questão racial, pois há um consenso de
que os negros historicamente têm sido excluídos dos bancos escolares e isso tem uma série de con-
sequências que se perpetuam no tempo. Ao recuperar o debate proposto por Fernandes (2008), que
brilhantemente combateu o mito da democracia racial elaborado por Freyre (2001) e o atualizarmos
com as pesquisas realizadas por Carvalho (2006), por exemplo, podemos perceber como há uma re-
lação de continuidade entre o acesso à cidadania, à escola, a estigmatização e a exclusão racial. Essa
perspectiva, por sua vez, poderá ser complementada em seminários temáticos nos quais pretende-
mos abordar a inserção de docentes negros nas universidades brasileiras.
Ao refletir sobre a sociologia das relações raciais no Brasil, Carvalho, por exemplo, afirma que
vivemos em um verdadeiro apartheid racial, onde menos de 1.0% da população negra tem acesso aos
bancos universitários e/ou aos cargos de docência. Este apartheid, aliás, está tão estruturado em
nossa sociedade que sequer precisamos de normativas legais para garantir sua efetivação em termos
práticos, ao contrário do que aconteceu na África do Sul, por exemplo. Diante do contexto, pontua:
“O primeiro passo para qualificar a discussão é produzir um censo étnico-racial de todas as nossas
instituições superiores de ensino e pesquisa, para produzir, em seguida, diagnóstico e análise
minuciosa da história de cada instituição em busca de indícios da existência de mecanismos que
podem ter sido (e provavelmente foram) acionados até hoje para impedir aos negros o ingresso
na docência e na pesquisa. Enquanto não enfrentarmos nossa ignorância, não poderemos ir além

173
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

da mera identificação dos sintomas do de desigualdade étnica e racial, o qual não


confinamento racial acadêmico brasileiro melhorou apesar dos investimentos maciços
(...) O nosso racismo acadêmico específico do Estado no ensino superior, ao longo de toda
e vivo até hoje não foi apenas consequência a segunda metade do século passado. Dito de
do racismo gerado na estabilização da escola outro modo, a nossa categoria de cientistas
básica, mas também a produção combinada sociais que discutimos relações raciais está
de um mecanismo geral de exclusão racial imersa no problema da desigualdade racial.
planejado e executado com eficácia e Nossas universidades e nossa classe docente
aprimorado com o tempo (...)” (2006: 37). têm sido parte do problema racial brasileiro.
Somente a partir do momento em que nos
Diante desse contexto, por exemplo, podemos consideramos parte do problema, poderemos
passar a fazer parte da sua solução” (2006:48)
refletir sobre o fato de que a maior parte da popula-
ção carcerária brasileira é composta por uma maioria
Propor e articular um GT que enfrente as temáti-
de homens jovens e negros, provenientes de bairros
cas de Direitos Humanos no campo sindical, portanto,
periféricos. É também nesse grupo que encontramos
implica em uma aposta de ampliação no interior das
as taxas de mais baixa escolaridade. Pode-se afirmar,
pautas classistas, sendo capaz de dialogar com te-
aliás, que a maior parte das pessoas privadas de liber-
mas mais amplos que mobilizam a vida da sociedade
dade no Brasil são analfabetas e sequer conhecem o
e da classe trabalhadora, sem redundar em uma pul-
significado do termo democracia, por exemplo. Ou
verização da afirmação de identitarismos isolados.
seja, a relação entre acesso escolar, raça, etnicidade e
É com esta disposição que o ADURN- Sindica-
gênero precisa ser melhor refletida e problematizada
to criou este ano de 2018 o seu Núcleo de Direitos
e pode oferecer diferentes perspectivas para pensar
Humanos, Raça, Etnicidade, Gênero e Sexualidades.
a estrutura social e a questão da cidadania no país.
Para tanto, necessário se faz que as temáticas traba-
Ao tratar da população carcerária, por exem-
lhadas pelo Núcleo sejam importantes contribuições
plo, é possível notar uma relação entre o aumento
para a mobilização de novas frentes do movimento
da violência e maior letalidade de jovens negros e
docente, de ampliação do diálogo com a sociedade
evasão escolar? Quais são as dinâmicas e os sig-
e as questões que afligem a classe trabalhadora em
nificados envolvidos nessa relação? Ou seja, se a
tempos de aprofundamento do fascismo e ampliação
relação entre população prisional e escolaridade
do Estado de Exceção.
pode ser uma possibilidade de análise, o GT permite
refletir sobre uma gama muito maior de questões.
REFERÊNCIAS
Outrossim, propõe expandir as redes entre di-
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil.
ferentes universidades e refletir como se dão as re-
O longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização
lações entre raça, etnicidade e gênero em contextos
Brasileira, 2001.
regionalmente distintos, o que permitirá identificar
tanto as especificidades regionais como estruturais
CARVALHO, José Jorge. “O confinamento racial do
que se repetem. Também reitera a importância do de-
mundo acadêmico brasileiro”. REVISTA USP, São
bate acima proposto, valorizando uma perspectiva
Paulo, n.68, dezembro/fevereiro 2006.
ampla de Direitos Humanos, que assegura o valor à
vida e à dignidade para todos e convida a uma reflexão
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na
sobre nossos próprios sistemas de representações,
sociedade de classes: (o legado da “raça branca”).
o que é essencial. Assim, indica Carvalho:
São Paulo: Globo, 2008.
“Acredito que a crise de representação
que vivenciamos oferece a oportunidade
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 42 ed.
de renovação teórica e formulação de
propostas de inclusão étnica e racial. Mas, Rio de Janeiro: Recorde, 2001.
isso só será possível se admitirmos que
a academia contribuiu, no Brasil, para a
produção e a reprodução do nosso quadro

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julho 18
Mulheres em
espaços de poder:
Grupo de Trabalho Direitos Humanos:
Gênero, Raça e Etnias do
PROIFES - Federação
_________________________________________________________________________________________________________________________________
THAIS F. L. MADEIRA - ADUFSCar
MARIA INÊS RAUTER MANCUSO - ADUFSCar
MATILDE RIBEIRO - ADUFSCar

A
tualmente, há 09 países com chefes de Estado mulheres no mundo e 06 países go-
vernados por primeira-ministra. Na América Latina, que já teve quatro mulheres ao
mesmo tempo no comando dos seus países, e que foi uma referência para o mundo,
hoje encontra-se sem representatividade.
0s únicos países que tiveram mulheres presidentes escolhidas nas urnas foram o Brasil,
Nicarágua Panamá, Chile, Argentina e Costa Rica. Embora outras latino-americanas tenham
exercido o cargo em seus países por sucessão constitucional, por incumbência do Parlamento
ou regimes de fato em transição. No entanto, nenhuma mulher foi ditadora na América Latina,
onde, sobretudo nos anos 70 e 80, abundaram os regimes autoritários.
De acordo com dados da ONU Mulheres, continuam existindo diferenças nas porcen-
tagens da média de parlamentares dependendo da região do mundo. A ONU Mulheres, em
parceria com União Interparlamentar (UIP) divulgou o panorama sobre a participação política
das mulheres no mundo. Com apenas uma ministra, o Brasil ficou na 167ª posição no ranking
mundial de participação de mulheres no Executivo, que analisou 174 países.
Em relação ao ranking da participação no Congresso, o país ficou na 154ª posição, com
55 das 513 cadeiras da Câmara ocupadas por mulheres, e 12 dos 81 assentos do Senado pre-
enchidos por representantes femininas. As nações que apresentam maior percentual de
mulheres no Parlamento são Ruanda (63,8%), Bolívia (53,1%), Cuba (48,9%), Islândia (47,6),
Suécia (43,6%), Senegal (42,7%), México (42,4%), África do Sul (41,8%), Equador (41,6%) e
Finlândia (41,5%). No Parlamento brasileiro, há somente 10% de mulheres. Os Estados Unidos
detêm a 74ª colocação, com 19,4% de mulheres no Parlamento.
O Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI) com base no banco de dados primários do
Banco Mundial (Bird) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indicou que a participação de
mulheres no Parlamento federal brasileiro cresceu 87% entre janeiro de 1990 e dezembro
de 2016, passando de 5,3% para 9,9%, superando em 6% a média de crescimento mundial
no período. A média mundial subiu de 12,7%, em 1990, para 23%, em 2016. Apesar desse re-
sultado, segundo o estudo, o Brasil ficou na 97ª posição entre os países que mais elevaram
a participação de mulheres no Parlamento. Mesmo que a participação feminina na política
brasileira mantenha expansão média de 2,7% ao ano, como a verificada entre 1998 e 2016, a
organização não governamental PMI sinaliza que o Brasil só deverá alcançar a igualdade de
gênero no Parlamento Federal em 2080. No universo da pesquisa, em 66 anos de existência,
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a principal agência de

175
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

fomento à pesquisa no Brasil nunca teve uma re- Ao trazermos esse debate para contexto das
presentante mulher em sua presidência. Portanto, universidades federais brasileiras há 28,3% de rei-
a presença das mulheres também ainda é baixa toras. São 19 reitoras entre os 63 reitores. Se fizer-
nos principais órgãos consultivos da educação mos o recorte por raça, observamos que somente
superior, tais como o Conselho Deliberativo do agora em 2018 foi eleita a primeira mulher negra
CNPq e o Conselho Superior da CAPES. Segundo reitora na Universidade Federal do Sul da Bahia.
dados constantes no site do CNPq, atualmente o Na Academia Brasileira de Medicina, apesar
Conselho Deliberativo é composto predominan- de as mulheres serem maioria entre os forman-
temente por homens (83,33%), havendo apenas 3 dos, em torno de 55%, há apenas cinco delas entre
mulheres –o que corresponde a 16,67% do total de os 115 membros, o que representa 4,3%. Espe-
membros. Já a Diretoria Executiva do CNPq que é cificamente quanto a UFSCar, ressaltamos que
responsável pelo planejamento, acompanhamento em 45 anos de existência, apenas no ano de 2017
e avaliação de ações e programas implementados elegemos a primeira reitora mulher. No entanto,
pela instituição possui apenas 1 mulher dentre os ressaltamos que sua equipe de gestão e adminis-
seus 5 membros, o que corresponde a uma parti- tração ainda é chefiada por homens, conforme
cipação feminina de 20% no órgão. observamos na tabela 1.

Tabela 1- Cargo de gestão em pró-reitorias quanto ao sexo. UFSCar. 2018


Pró-reitorias SEXO
Graduação Homem
Pesquisa Homem
Pós-Graduação Homem
Extensão Homem
Administração Homem
Gestão de Pessoas Homem
Assuntos Comunitários e Estudantis Homem
Administração Adjunto Contábil, Orçamento e
Homem
Finanças
Administração Adjunto de Compras, Contratos,
Homem
Abastecimento e Patrimônio

Se reduzirmos as discussões apenas entre vários os fatores a intervir na ascensão profissional,


os associados da ADUFSCar, podemos ressaltar independentemente das necessidades econômicas
que há mais docentes homens no ensino superior e da condição de atividade que a mulher exerce.
e na condição de titulares, do que docentes mu- A partir do estudo da Comissão Econômica para
lheres conforme a tabela 2. Como observamos a América Latina e o Caribe - CEPAL (2010), a conci-
na tabela 2 a situação civil e o sexo interferem na liação entre a vida profissional e familiar baseada na
progressão da carreira docente, ou seja, homens redistribuição das tarefas de cuidado entre o Estado,
docentes e casados estão em maior número nos o mercado e as famílias continua a ser o ponto cego
níveis associado e titular. das políticas públicas da América Latina e do Caribe.
A situação civil é uma variável discutida em Existe um lapso entre as obrigações legais para com
vários estudos e caracterizada por situações de o cuidado de ambos os cônjuges em relação com
desigualdade entre os sexos, de tal maneira que a seus descendentes e ascendentes e as normas, os
posição da mulher no âmbito da família se estende, serviços, a infraestrutura e as provisões disponíveis
em alguma medida, à sua posição no sistema de para sua realização. Nesta situação, as desigual-
produção e na ascensão profissional. Ao trabalhar dades de gênero são evidentes e, neste sentido, a
fora de casa, a mulher não está isenta do trabalho carga de trabalho não remunerado e os trabalhos e
doméstico e cuidado com os filhos, assim sendo, são cuidados domésticos recaem sobre as mulheres.

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 Mulheres em espaços de poder

Tabela 2. Associados da ADUFSCar quanto a sexo e condição de atividade,


situação civil e nível (adjunto, assistente, associado e EBTT)
SEXO Adjunto Assistente Associado Titular EBTT Total
Situação civil
(ativo)      
Solteiro 126 11 64 8 4 213
Homem 52% 36% 47% 1 2 48%
Mulher 48% 64% 53% 1 2 52%
Casado 296 15 258 92 19 680
Homem 57% 40% 58% 73% 6 58%
Mulher 43% 60% 42% 27% 13 42%
Divorciado 34 38 13 2 87
Homem 47% 47% 69% 1 51%
Mulher 53% 53% 31% 1 49%
Viúvo 3 2 1 1 7
Homem 1 1 1 3
Mulher 2 1 1 4
Total 459 28 361 114 25 987
Homem 55% 11 56% 69% 53%
Mulher 45% 17 44% 31% 47%

Ao analisarmos apenas a condição de ati- homens ainda estão entre a maioria dos docen-
vidade dos docentes titulares por sexo, obser- tes titulares, mesmo entre os aposentados e
vamos que mesmo após a Lei nº 12.772/2012 os os ativos.

Gráficos: Condição de atividade (TITULAR)


antes e após 2012 e ativos. ADUFSCar, 2018.

São Luís/MA
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TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

Analisando os dados apresentados acima, a composição racial da população brasileira. No


podemos apontar que são vários são os estu- entanto, em muitos formulários sindicais inexis-
dos que comprovam que os cargos de direção te a variável raça e identidade de gênero, mesmo
nas instituições educacionais são ocupados, em sendo o Brasil signatário de uma série de acordos
grande número, por homens (Demartini, Antunes, internacionais que determinam que devem ser
1993; Guerrero Serón, 1996;). Sobre isso, Guerrero levantados informações sobre características da
Serón comenta que “a superioridade aritmética população, portanto deve ser considerado a cor
feminina se vê neutralizada pela superioridade como variável associada a desigualdades sociais.
geométrica masculina” (1996, p.194). O Grupo de Trabalho Direitos Humanos: Gê-
Historicamente, o espaço público perten- nero, Raça e Etnias do PROIFES ressalta a impor-
ce aos homens, os estereótipos em relação ao tância da utilização de um formulário único entre
masculino e ao feminino “reforçam a tendência os sindicatos federados ao PROIFES e a adoção
a que as decisões políticas sejam predominante- de um conjunto de indicadores sociais para com-
mente uma tarefa de homens”, conforme dados por uma base de dados nacionais mínima para
da Comissão Econômica para a América Latina subsidiar pesquisas.
e o Caribe–Cepal (1999, p.21). Assim, a sub-re- Destacamos a igualdade de gênero no am-
presentação feminina expressa-se em todos os biente acadêmico e nos sindicatos é extrema-
âmbitos da vida pública, inclusive nos espaços mente relevante e necessário no contexto dos
da vida acadêmica. direitos civis e humanos, pois faz parte da con-
Se fizermos um recorte quanto à composi- temporaneidade a luta pelos direitos iguais, con-
ção racial dos docentes, verificamos que há uma tra a discriminação e a segregação entre os sexos,
exclusão de homens e, principalmente, mulheres pelo reconhecimento e respeito e pela paridade
negras no ambiente acadêmico. e isonomia nos espaços de poder, ou seja, pela
De acordo com relatório de pesquisa da equidade de gênero. Por isso propomos, neste
Fundação Carlos Chagas elaborado por Amélia sentido, o incentivo da representatividade de
Artes, os negros (pretos e pardos) representam mulheres, afrodescendentes, LGBT+ e outros
apenas 15,2% dos doutores titulados e 19,3% grupos identitários nos sindicatos federados
dos mestres, o que corresponde a 18,1% do to- para que aumente a capacidade de proposição
tal de titulados (Artes 2015, p. 45). Ao compa- de agendas e estabelecer alianças que lhes fa-
rar os dados do Censo de 2000 e 2010, Amélia voreçam.
Artes demonstrou que o percentual de negros
titulados na pós-graduação aumentou de 11% REFERÊNCIAS
em 2000 para 18,1% em 2010 (Artes, 2015, p. 43), ARTES, Amélia. Desigualdades de cor/raça e sexo
percentuais estes que estão longe de espelhar entre pessoas que frequentam e titulados na pós

178 São Luís/MA


julho 18
 Mulheres em espaços de poder

-graduação brasileira: 2000 e 2010. Relatório de em: <http://estatico.cnpq.br/painelLattes/


Pesquisa, Fundação Carlos Chagas, São Paulo, sexofaixaetaria/>. Acesso em: junho. 2018.
2015.
IBGE. Estatísticas de gênero: uma análise
COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA dos resultados do censo demográfico, 2010.
Y EL CARIBE. Participación, liderazgo y equidad Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/
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COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA DEMARTINI, Z. B. F.; ANTUNES, F. F. Magistério


LATINA E O CARIBE – CEPAL. Qué tipo de primário: profissão feminina, carreira mas-
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Etária e Grande Área de Atuação. Disponível drid: Síntesis, 1996. p.193-207

São Luís/MA
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Perspectivas
do Movimento
Sindical Docente e
Interseccionalidade
_________________________________________________________________________________________________________________________________
LUCIENE DA CRUZ FERNANDES
APUB
NILDO MANOEL DA SILVA RIBEIRO
APUB

N
ão é novidade que as mulheres têm cada vez mais participado da economia formal,
mas infelizmente continuam com pouca participação nos espaços de poder, como
legisladoras, gerentes e oficiais. As disparidades entre a população e as representa-
ções nos espaços de poder não são apenas em relação ao gênero. Questões como etnia, raça
e sexualidade também são determinantes no que diz respeito à ocupação desses lugares e às
decisões políticas. Este texto busca traçar e confrontar esta realidade, visando propor ações
de combate às desigualdades dentro do Proifes-Federação e no movimento sindical docente.
Segundo as pesquisas do Observatório de Igualdade de Gênero da América Latina e do
Caribe, o tempo médio destinado pelas mulheres ao trabalho não remunerado é muito maior
do que pelos homens nesses países. Só no Brasil, segundo dados de 2012, as mulheres dedi-
cam 26,3 horas/semanais contra 5,9 dos homens. Paralelamente, os dados do Observatório
explicitam a baixa participação das brasileiras em diferentes espaços de poder. Conforme a
pesquisa, temos apenas 10,7% de mulheres no legislativo e 18,2% no executivo e judiciário.
Já o relatório do The Global Gender (2017) revela que o Brasil aparece na posição 110 de
143 países no que diz respeito ao empoderamento político das mulheres, e na posição geral
90 quando se analisa a paridade de gênero – incluindo participação econômica/oportuni-
dades, realização profissional, saúde/sobrevivência e empoderamento político. Está atrás
de todos os países da América Latina analisados, como Bolívia (14), Argentina (21), Peru (33),
Uruguai (53) e Colômbia (59), exceto do Paraguai (113). O Brasil também fica atrás de alguns
países asiáticos e africanos, como Singapura, Mongólia, Etiópia e Marrocos.
A partir da análise dessas informações, é possível inferir que há uma relação direta en-
tre a responsabilização social das mulheres pelo trabalho doméstico e de cuidados, que as
mantêm por mais tempo no ambiente privado, e a manutenção da desigualdade de gênero
nos espaços públicos de poder e decisão.
O Brasil apresentou reversão em seu progresso em direção à paridade de gênero nes-
te ano, alcançando o maior patamar desde 2013. A Argentina continua sendo um dos países com
maior igualdade de gênero entre as maiores economias da América Latina e do Caribe. Atual-
mente, entre o grupo de países do G20, a França é a nação com o maior progresso em direção à
paridade de gênero, seguido pela Alemanha, o Reino Unido, o Canadá, África do Sul e Argentina.
Na figura abaixo podemos observar que a participação econômica/oportunidades e empodera-
mento político são os aspectos que mais distanciam o Brasil da paridade de gênero.

181
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

Figura 1 – Aspectos que distanciam a igualdade de gênero


(economia/oportunidades, educação e empoderamento político)

Fonte: http://www3.weforum.org/docs/WEF_GGGR_2017.pdf

Quando analisamos o posicionamento da ta de prioridade da Federação. Em 2017, também


Argentina e do Brasil na escala de igualdade de no Encontro Nacional, o Prof. Gil Vicente mostrou
gênero apresentada no The Global Gender (2017) no texto: “Questões de Gênero entre Filiados da
e os dados do Observatório de Igualdade de Gê- ADUFScar” que, nesta base de filiados, o per-
nero da América Latina e do Caribe, verificamos centual de professores associados é maior que
que a maior diferença entre estes dois países o de professoras, e a discrepância é ainda maior
não está no acesso à educação formal, visto que quando se analisa os professores titulares. No
o Brasil apresenta bons índices, inclusive na edu- entanto, quando se considera apenas as profes-
cação de nível superior, na relação entre homens e soras solteiras, esta situação se inverte.
mulheres, mas sim na participação das mulheres O texto “Desafios do movimento docente – o
no legislativo. Os números surpreendem: o Brasil papel das mulheres”, das Profas. Luciene Fernan-
apresenta 10,3% e a Argentina 39,9%. Ou seja, des e Matilde Santos, mostrou que na base do
podemos sugerir que a representação das mulhe- Proifes-Federação há um equilíbrio em relação
res nestes espaços pode redirecionar as políticas ao gênero, mas esta proporção não é refletida na
públicas em benefício da igualdade de gênero. executiva (30% de mulheres) e no seu conselho
No âmbito do movimento sindical, no ano deliberativo (20% de mulheres), demonstração
de 2016, a Profa. Luciana Elias, no texto “Mulher, da baixa representação feminina nos espaços
negra, docente e sindicalista”, enviado para o En- de tomada de decisão. Neste mesmo texto, com
contro Nacional do Proifes, chamou atenção para base no Encontro Mujeres em Espacios de Po-
a ausência de discussão sobre este tema, o que der, da Red de Trabajadoras de la Educacion da
poderia caracterizar uma despreocupação ou fal- IEAL (Internacional de la Educacion para America

182 São Luís/MA


julho 18
 Perspectivas do Movimento Sindical Docente e Interseccionalidade

Latina), da qual o Proifes é filiado, foi proposto Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério
que fossem debatidas políticas voltadas para a da Educação, e recolhido pelas instituições de
igualdade de gênero, como a criação de espaços ensino. Os dados abrangem instituições públicas
de organização de mulheres (coletivos, departa- e privadas. Do total de professores, 44% esco-
mentos e secretarias). lheram não declarar sua raça ao Censo.
Não foi possível avaliar aspectos como raça/ Ainda, podemos considerar a discriminação
etnicidade e sexualidade por falta de informações em relação à diversidade de sexualidades no que
na ficha de filiação. Essa situação precisa ser re- concerne a ocupação de espaços de poder, de ela-
vista pelos sindicatos federados, pois sem esses boração e decisão política. A heteronormativida-
dados, é impossível realizar um diagnóstico mais de também deve ser levada em conta como uma
preciso do perfil das e dos docentes a fim de ela- padronização que promove exclusões, repressão
borar políticas da entidade a partir dos anseios e e desigualdade. Nesse caso, faltam dados e es-
problemas enfrentados pela categoria. tudos - o que é fruto também da invisibilização
Segundo Carvalho (2005), se somarmos to- desta questão - que relacionem os números de
dos os professores de algumas das principais docentes LGBTT+ com a ocupação dos espaços.
universidades de pesquisa do país (por exemplo, Assim, entende-se que estas questões atu-
USP, UFRJ, Unicamp, UnB, UFRGS, UFSCAR e am de modo conjugado, estabelecendo diversas
UFMG), teremos um contingente de aproximada- formas de reprodução das desigualdades, o que
mente 18.400 acadêmicos, a maioria com douto- evidencia por sua vez a complexidade da socie-
rado. Esse universo está racialmente dividido en- dade. O conceito da sobreposição e não hierar-
tre 18.330 brancos e 70 negros (autodeclarados); quização das opressões foi denominado por fe-
ou seja, são 99,6% de docentes brancos para ministas negras como “interseccionalidade”, que
0,4% negros. E não há ainda um único docente visa compreender de que maneira o racismo, a
indígena. Dos oito mil pesquisadores do CNPq, discriminação de classe e o machismo/sexismo
o número de pesquisadores negros é irrisório, atuam em qualquer parte do mundo.
não passa de 0,1%. Nesse contexto, as questões do pluralismo e
Se considerarmos o cruzamento dessas da diversidade são fundamentais na forma como
questões – gênero e raça – verificaremos o apro- pensamos o que Lafer (1997) relatou sobre o que
fundamento das desigualdades. No processo de Hannah Arendt chama de “direito a ter direitos”,
constituição do sistema-mundo moderno/colo- ou seja, o anúncio do projeto de um sujeito que
nial, a questão racial aparece como um fator estru- se insere na esfera pública em uma sociedade
turante na divisão do trabalho. Segundo Quijano marcada pela disputa e pelo conflito. As múlti-
(2005), “raça, trabalho e sexo apresentaram-se plas necessidades ligadas às lutas individuais ou
como naturalmente associados, o que tem sido de grupos específicos se manifestam no plano
até o momento excepcionalmente bem-sucedido”. político como múltiplas pautas e reivindicações,
De acordo com a publicação dos dados cole- e a análise desse quadro deve levar em conta os
tados no Censo da Educação Superior (2016), há pontos de interseção formados pelo cruzamento
219 professoras doutoras pretas em cursos de dessas pautas. Sendo a luta por direitos, não há
pós-graduação do Brasil, o que representa ape- divergências nem divisões, há soma de forças.
nas 0,4% do total do corpo docente em todo país. Portanto, a interseccionalidade nos ajuda a
Quando somadas as mulheres pretas e pardas entender que a luta deve ser feita em todos os es-
com doutorado, que formam o grupo das negras, paços políticos e culturais, incluindo o movimento
não chegam a 3% do total de docentes. Os dados docente, com o objetivo de elaborar um modelo
foram coletados a partir da autodeclaração dos civilizatório que leve em conta as diferenças en-
professores e professoras, via questionário envia- tre gênero, raça, sexualidade, etc., sem que essas
do pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas diferenças se manifestem na forma de desigual-

São Luís/MA
julho 18
183
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

dade econômica ou no acesso aos espaços de Sinopse Estatística da Educação Superior 2016.
poder, superando o padrão moderno e colonial Brasília: Inep, 2017. Disponível em: http://portal.
que associou a determinados grupos posições inep.gov.br/basica-censo-escolar-sinopse-
e funções correspondentes em uma estrutura sinopse. Acesso em 07.07.2018
organizada hierarquicamente.
Cabe ao Proifes-Federação enfrentar o de- LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos
safio de discutir e combater, a partir de ações de- humanos: a contribuição de Hannah
terminadas, as desigualdades em todas as suas Arendt. Estudos Avançados. 1997:11(30), 55-65.
esferas de elaboração e deliberação, para tanto,
é necessário que o seu regimento seja revisto e OBSERVATÓRIO DE IGUALDADE DE GÊNERO
seja criada uma diretoria que trate da questão DA AMERICA LATINA E DO CARIBE. Indicadores.
posta – direitos humanos: gênero, raça/etnicidade Disponível em: < http:// https://oig.cepal.org/pt/
e sexualidade –, qualificando as políticas e ações indicadores>. Acesso em: 07/07/2018.
do movimento docente. É preciso assumir este
papel na busca pela superação das opressões QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder,
dentro do projeto de universidade pública, gra- eurocentrismo e América Latina. In: LANDER,
tuita, inclusiva, laica e democrática. Egardo (Org.). A colonialidade do saber:
eurocentrismo e ciências sociais - perspectivas
REFERÊNCIAS latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005.
CARVALHO, José Jorge. O confinamento racial
do mundo acadêmico brasileiro. Revista da USP, .WORLD ECONOMIC FORUM. GLOBAL
2005-2006. 68, 88-103. GENDER GAP REPORT 2017. Geneva: World
Economic Forum. Disponível em: http://weforum.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E org/reports/global-gender-gap-report-2017.
PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Acesso em 07.07.2018

184 São Luís/MA


julho 18
Diagnóstico dos/das
professores(as) do
Ensino Superior Brasileiro
filiados/as aos sindicatos
federados ao Proifes:
Intersecção Entre Gênero, Raça
e Sexualidade
_________________________________________________________________________________________________________________________________
GT DIREITOS HUMANOS: GÊNERO, RAÇA/ETNICIDADE E SEXUALIDADE
THAIS FERNANDA LEITE MADEIRA - ADUFScar
LUCIENE DA CRUZ FERNANDE - APUB
ÂNGELA BRITO - APUB
JESSIE SOBIESKI - ADUFRGS

A
última década do século passado registra avanços no sistema educacional brasileiro
no que diz respeito à inclusão dos assim denominados temas transversais – gênero,
raça/etnia e sexualidade –, que foram incluídos nos documentos que regem a edu-
cação, ainda que formulados de forma bastante genérica, por meio de frases como “respeito
à liberdade e apreço à tolerância” (LDB Nº 9.394).
Neste sentido, verifica-se um aumento de ações e de debates em torno da necessidade
de políticas educacionais voltadas para a promoção da equidade de gênero, da superação
das desigualdades étnico-raciais e regionais, de enfrentamento do racismo e do preconceito
em relação aos negros, LGBT+ e outros grupos identitários, assim como de políticas públicas
para adolescentes e jovens. A criação da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
(SPM), da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), e, no
âmbito do Ministério da Educação, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade (SECAD) representa esforços no sentido de traçar políticas e propostas educa-
cionais que possam efetivamente contribuir para a redução das desigualdades de gênero,
étnico-raciais e de classe nos diferentes níveis de ensino.
O desenvolvimento de ações concretas implica também em um sistema de acompa-
nhamento e avaliação, assim como de estudos teóricos e pesquisas empíricas que possam
contribuir para a fundamentação dos programas educacionais voltados para a redução das
desigualdades de gênero, étnico-raciais, da discriminação e do preconceito em relação às mu-
lheres, afrodescendentes e LGBT+. No entanto, estudos e pesquisas a respeito dessas temá-
ticas ainda são escassos no campo da educação ou não foram suficientemente desenvolvidos.
A escassez de informações em bases de dados sindicais e, principalmente, de sindica-
tos voltados para a categoria de professores no magistério superior abordando as variáveis
cor ou raça e identidade de gênero dificulta a criação de políticas públicas voltadas para a
promoção da equidade e diminuição do preconceito relacionado a questões de raça, etnia e
orientação sexual.

185
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

Para resolver essa escassez de informações os levantamentos oficiais coletam este dado, de
é preciso reconhecer e utilizar o quesito cor ou acordo com o sistema classificatório do IBGE,
raça/etnia, orientação sexual (homossexual, he- que utiliza o método da AUTOCLASSIFICAÇÃO
terossexual, bissexual, assexual e outros), identi- ou AUTODECLARAÇÃO, isto é, o(a) usuário(a)
dade de gênero (cisgênero, transgénero e outros) é quem indica a sua “cor ou raça/etnia” entre
e sexo (feminino, masculino ou intersexual) nos as possíveis.
formulários de cadastramento. Por isso a importância de utilizarmos as mes-
Para que isso aconteça é preciso reconhecer mas categorias, o que possibilita o cruzamento
a existência do racismo, a compreensão de como dos dados obtidos em todo o país. Assim, pode-
ele se manifesta e do o compromisso em abor- mos fazer comparações abrangentes e ter esta-
dá-lo. O reconhecimento do racismo é uma das tísticas em nível nacional. Além disso, antes de
etapas mais difíceis, pois a sociedade em geral definir essas categorias, o IBGE pesquisou as
nega a sua existência e tem uma visão equivo- cores mais declaradas pela população e concluiu
cada acerca das diferenças existentes entre os que deveria usar estas, pois a maioria delas já era
grupos étnico-raciais. O racismo incide de múlti- utilizada, desde a segunda metade do século XIX.
plas formas, em geral, de maneira implícita, por Assim, diante das discussões realizadas
isso é preciso compreender e identificar os seus Grupo de Trabalho Direitos Humanos: Gênero,
mecanismos de funcionamento. Ele se materializa Raça e Etnias do PROIFES, e considerando a
por intermédio da discriminação, que é um fenô- Lei n° 12.288, de 20 de julho de 2010, que insti-
meno social intrínseco às relações, com símbolos tui o Estatuto da Igualdade Racial, o Decreto n°
e códigos utilizados para a perpetuação das de- 65.810, de 8 de dezembro de 1969, que promulga
sigualdades. Trata-se, então, de transformar os a Convenção Internacional sobre a Eliminação
nossos próprios valores, crenças e concepções de todas as Formas de Discriminação Racial e
acerca dos diferentes grupos étnico-raciais, de os compromissos assumidos pelo Brasil na III
identidade de gênero e de orientação sexual. Conferência Mundial de Combate ao Racismo,
Um estudo realizado pelo IPEA (2008) – Ins- Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
tituto de Pesquisa Econômica Aplicada – relata Correlata, realizada em Durban, na África do Sul,
que a classificação de “cor ou raça/etnia” não é em 2001, quando foi adotada a “Declaração e o
invenção de agora. O primeiro Censo oficial bra- Programa de Ação de Durban”, que trata espe-
sileiro, realizado em 1872, utilizou as seguintes cificamente das políticas e práticas de coleta
categorias: preto, pardo, branco e caboclo. A ca- e desagregação de dados, pesquisas e estudos
tegoria caboclo, naquela época, foi usada para nessa área e o Decreto nº 8.727, de 28 de abril
classificar o grupo dos indígenas. Pardo designava de 2016  que dispõe sobre o uso do nome social
os mestiços; e, mais tarde, com a imigração asiá- e o reconhecimento da identidade de gênero de
tica, criou-se a categoria amarela para designar pessoas travestis e transexuais no âmbito da
os orientais/asiáticos. administração pública federal direta, autárqui-
Os levantamentos, tais como os censos ca e fundacional, verificou-se a necessidade de
e as pesquisas domiciliares realizados pelo elaborar um programa que subsidie o PROIFES
IBGE (2003) (Instituto Brasileiro de Geografia no empreendimento de trabalhar a organização
e Estatísticas), fornecem as informações ne- da nova cultura sindical de superação do racis-
cessárias para estudar as características da mo, sexismo, misoginia,  homofobia e demais
população brasileira e conhecer as suas con- formas de exclusão através dos seguintes pi-
dições de vida: moradia, saúde, educação, tra- lares: a) organização dos serviços, b) informar
balho etc. A “cor ou raça/etnia” faz parte das e comunicar a população em geral, c) cursos de
características das pessoas assim como sexo formação; d) produção de novos conhecimentos
e idade. Desde os anos 90, praticamente todos acerca das temáticas propostas.

186 São Luís/MA


julho 18
 Diagnóstico dos/das professores(as) do Ensino Superior Brasileiro filiados

Assim, abaixo, descrevemos um resumo do Adufc (nordeste), SindproifesPa (norte), Adufg


Projeto de Pesquisa “DIAGNÓSTICO DOS/DAS (centro-oeste) e Sindproifes, com professores
PROFESSORES (AS) DO ENSINO SUPERIOR de todas as regiões do país, incluindo o distri-
BRASILEIRO FILIADOS/AS AO SINDICATOS to federal. Análise estatística: os dados serão
FEDERADOS AO PROIFES: INTERSECÇÃO EN- tabulados e analisados através do programa
TRE GÊNERO, RAÇA E SEXUALIDADE”, que visa estatístico SPSS versão 20. As variáveis quanti-
conhecer melhor o perfil das e dos professores tativas serão representadas por média e desvio
filiadas e filiados aos sindicatos federados ao padrão quando apresentarem distribuição nor-
Proifes-Federação. A ideia inicial é que os pro- mal e mediana e intervalo interquartil quando
fessoras e professores pesquisadores registrem a distribuição for não-normal. Será a aplicado
como projeto de pesquisa nas suas Instituições o teste Kolgomorov-Smirnov para avaliação da
de trabalho. distribuição das variáveis. A comparação entre
os grupos será realizada pelo teste T-Student
RESUMO: ou pelos testes de Wilcoxon e Mann-Whitney.
O presente projeto de pesquisa integrará estu- Para as variáveis qualitativas, serão utilizados
dos e análises para aprimoramento do sistema os testes de qui-quadrado de Pearson ou teste
de classificação étnico-racial e de identidade de Exato de Fisher, dependendo da distribuição
gênero e será norteado pela busca de resposta dos dados. O nível de significância será de 5%.
da seguinte indagação: qual é, na atualidade da Desta forma, o Grupo de Trabalho Direitos
educação superior brasileira, o perfil sociodemo- Humanos: Gênero, Raça e Etnias do PROIFES
gráfico dos(as) professores(as) do ensino superior sugere que a Federação incentive e subsidie no
brasileiro filiados(as) aos sindicatos federados que for necessário para o desenvolvimento do
ao PROIFES? projeto de pesquisa em questão.

Objetivo: caracterizar o perfil sociodemográfico REFERÊNCIAS


dos (as) as) professores (as) do ensino superior Decreto que Promulga a Convenção Internacional
brasileiro filiados aos sindicatos federados ao sobre a Eliminação de todas as Formas de
PROIFES. Discriminação Racial. Decreto n° 65.810, de 8 de
dezembro de 1969. Disponível em: http://www2.
Método: trata-se de um estudo de investigação camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/
de caráter transversal com dados secundários. decreto-65810-8-dezembro-1969-407323-
A população alvo deste estudo será constituída publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em jun.2018
de professores e professoras de universidades
e institutos federais, ativos e aposentados, fi- Decreto que Dispõe sobre o uso do nome social
liados aos seus sindicatos de base, que por sua e o reconhecimento da identidade de gênero de
vez são filiados ao Proifes Federação. A coleta pessoas travestis e transexuais no âmbito da
de dados será realizada através de dados se- administração pública federal direta, autárquica
cundários a partir dos formulários preenchidos e fundacional. Decreto.nº 8.727, de 28 de abril de
para filiação dos mesmos e de dados do setor 2016. Disponível em http://www.planalto.gov.br/
pessoal das universidades e institutos fede- ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/D8727.
rais. A amostra será composta de professores htm. Acesso em jun.2018
e professoras de todas as regiões do país: sul,
sudeste nordeste, centro oeste, norte e distrito Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei n. 9394
federal. Esses pertencem aos seguintes sindica- de 20 de dezembro de 1996. Disponível em http://
tos federados: Adurgs e Sindiedutec (sul), Ufs- www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm.
car e Adafa (sudeste), Apub, Adurn, SindUfma e Acesso em jun.2018

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TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

Lei que Institui o Estatuto da Igualdade Racial. Lei THEODORO, Mário. (Org.) et al.As Políticas
n° 12.288, de 20 de julho de 2010. Disponível em Públicas e a Desigualdade Racial no Brasil –
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 120 Anos após a abolição. Brasília, Instituto de
2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em jun. 2018 Pesquisa Econômica Aplicada, 2008.

OSORIO, R. G. O sistema classificatório de Disponível em: http://www.ipea.gov.br/


cor ou raça do IBGE. Brasília, DF: Ministério sites/000/2/livros/Livro_desigualdadesraciais.
do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2003. pdf. Acesso em jun.2018
Disponível em: http://desafios2.ipea.gov.br/pub/
td/2003/td_0996.pdf. Acesso em jun.2018

188 São Luís/MA


julho 18
Capacitação
130 anos de abolição:
nossa abolição é a educação
________________________________________________________________________________________________________________________________
ANGELA ERNESTINA CARDOSO DE BRITO - APUB
LUCIENE DA CRUZ FERNANDES - APUB
THAIS MADEIRA - ADUFScar
LEOPOLDINA MENEZES - APUB
NILDO RIBEIRO - APUB

A
s dissimetrias de cor/raça e sexo no ensino superior brasileiro têm sido objeto de
reflexão de poucos autores nos últimos trinta anos. A preocupação com o recorte
racial está visivelmente ausente na recente literatura que descreve a entrada de
mulheres brancas ou negras na educação. No entanto, gênero e a raça são marcadores de-
terminantes para resultados desiguais na obtenção de status (Silva, 2008) e a promoção
social das mulheres negras é dificultada quando comparada à das mulheres brancas com a
mesma formação educacional (Lima, 1995).
Alguns estudos permitem considerar que há uma tendência na sociedade de classes
em naturalizar ideologicamente as desigualdades sociais e raciais. Neste caso as mulhe-
res negras são impactadas pelo entrecruzamento de múltiplas formas de discriminação
(interseccionalidade), como descrito por Creenshaw (2002), no processo de hierarquiza-
ção, baseada em critérios raciais, de gênero, de classe e de geração, derivado da lógica da
sexualidade heteronormativa.
Buscando inserir a interseccionalidade de gênero e raça como aspecto importante para
interpretação da disparidade entre negros e brancos, negras e brancas no ensino superior, é
possível avançar na interpretação do acesso dos(as) negros(as) nas cátedras do ensino su-
perior. Em 2006 Queiroz confirmou a concentração de mulheres negras nos cursos de menor
prestígio social e com menores oportunidades no mercado.
No entanto, em 2005, pudemos observar que, com a implantação da política de reserva
de vagas para estudantes oriundos de escolas públicas, sobretudo negros, na UFBA, houve
uma redução na participação feminina em quase todos os segmentos raciais. Contudo, as
mulheres autodeclaradas pardas foram o contingente que mais se beneficiou da política de
cotas. Elas representavam, em 2004, cerca de 49% das mulheres presentes na Universidade;
em 2005 sua participação se elevou para 60%. Enquanto isso, as mulheres pretas tiveram
apenas um discreto crescimento de 2,4 pontos percentuais, passando de um contingente
de 15,4% para 17,8%.
A comparação entre 2004 e 2005, considerando o gênero e a cor, nos cursos conside-
rados de “alto-prestígio”, mostrou que em cursos como o curso de Medicina, por exemplo,
as mulheres do segmento pardo tiveram um significativo avanço na sua participação. Em
2004, elas representavam 58% das mulheres aí presentes, passando a cerca de 73% em
2005. Uma elevação de quase 15 pontos percentuais. Surpreendentemente, para as pretas
houve uma redução na sua participação: de 5,5%, em 2004 para 2,8% em 2005. No curso de
Direito, considerado o segundo mais prestigiado da Instituição, elevou-se a participação das

189
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

mulheres negras no seu conjunto. Contudo a van- O GT Direitos Humanos do Proifes-Federa-


tagem foi das pardas que obtiveram uma eleva- ção traz como missão instaurar uma nova prática
ção na sua presença de 6,2 pontos percentuais, teórica e política no âmbito de suas ações, instan-
enquanto que para as prestas o aumento foi de do a mesma a cultivar novas formas de organiza-
apenas 2,8. No curso de Odontologia, contudo, ção através dos seguintes pilares: a) organizar os
houve uma expressiva elevação da presença de serviços; b) informar e comunicar a população em
mulheres negras. Aí o ganho foi significativo tan- geral; c) capacitar e d) produzir novos conhecimen-
to para pardas quanto para pretas. No curso de tos acerca das temáticas propostas incidindo na
Administração também se verificou uma elevação defesa de um projeto societário plural e que de-
na presença das mulheres negras, mas as pardas fenda os interesses das classes trabalhadoras, e
foram as beneficiadas. em particular atuar nos projetos educacionais do
A análise desse cenário aponta para o fato de ensino fundamental ao ensino superior.
que a política de cotas permitiu um maior acesso Desde a instalação do GT Direitos Humanos e
das mulheres negras aos cursos oferecidos pela o último Encontro Nacional do Proifes-Federação
UFBA, mesmo naquele grupo de cursos conside- conseguimos avançar, construindo com grande
rados de maior prestígio social, que se constitui sucesso o I Encontro Nacional do GT Direitos Hu-
justamente no espaço mais almejado do ensino manos, e aprovar as seguintes responsabilidades:
superior e pelo qual se travam as maiores disputas ЇЇ Colaborar  junto às Pró-reitorias de gestão
pelo ingresso. Contudo pode-se perceber também de pessoas das   IFES com a formação de
que esse ganho beneficiou principalmente as mu- professores e servidores técnico-adminis-
lheres autodeclaradas pardas. As mulheres auto- trativos nos temas propostos por esse GT.
declaradas pretas, que estavam em situação mais ЇЇ Incentivar a implantação e implementação
desfavorável, não lograram os mesmos benefícios, de cursos de aperfeiçoamento, especializa-
apresentando uma participação bastante reduzi- ção e mestrado no tocante à temática raça/
da, particularmente, nos cursos mais prestigiados. etnia conforme citado no Plano Nacional
Outro aspecto que tem se revelado preo- de Implementação das Diretrizes Curricu-
cupante com relação às mulheres negras é o co- lares Nacionais da Educação das Relações
tidiano vivido por esse segmento racial na Insti- Étnico-raciais e para o Ensino de História
tuição. A pesquisa realizada por Santos (2012) e Cultura Afro-Brasileira e Africana – Lei
traz informações que evidenciam um cotidiano 10.639 e 11.645.
marcado pela atuação do racismo e do sexismo, ЇЇ Incentivar a implantação e implementação
em que pese o empenho das mulheres negras de cursos de aperfeiçoamento, especializa-
em inserir-se nesse seletivo espaço do sistema ção e mestrado no tocante às temáticas de
de ensino e seu protagonismo no combate à dis- gênero e sexualidades.
criminação que atinge o grupo. ЇЇ Estimular que cada unidade federada pro-
Brito (2018) em estudo realizado sobre a in- mova o debate através de capacitação nos
serção de negros e negras nas cátedras, em todas moldes da formação sindical.
as áreas de conhecimento da UFBA, demonstrou  
que há um crescimento do número de mulheres Assim, com a finalidade de continuar avan-
brancas em relação aos homens brancos, entre- çando nas políticas do Proifes-Federação no que
tanto, ao se considerar a presença de mulheres e tange à pauta de Direitos Humanos, que consi-
homens negros, a participação ainda é pontual e deramos estruturante para o estabelecimentos
pouco expressiva. Embora as mulheres brancas das desigualdades no nosso País, propomos que
continuem sofrendo com o sexismo, conseguem, a entidade: a) participe na promoção de uma ca-
com mais facilidade que as mulheres e homens pacitação do GT direitos Humanos, sob a égide
negros, ingressar no ensino superior. reflexiva dos 130 anos da abolição e considerando

190 São Luís/MA


julho 18
 Capacitação 130 anos de abolição nossa abolição é a educação

a necessidade de atender ao cumprimento das CREENSHAW, K. Documento para o encontro de


Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 direcionadas às especialistas em aspectos da discriminação racial
diretrizes curriculares quanto à “obrigação das IES relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas.
de formar profissionais preparados para atuar (10:1), Florianópolis, Centro de Filosofia e Ciências
pela diminuição da desigualdade racial”, conforme Humanas e Centro de Comunicação e Expressão/
colocado no Estatuto da Igualdade racial 2.288/10 UFSC, 2002, p.171-188.
e Plano Nacional de Educação: lei 13.005/2014”; e
b) incentive os sindicatos federados a participar GONZALEZ, L. A mulher negra na sociedade
da Mesa Redonda com o tema 130 anos de abo- brasileira. In: LUZ, M. (Org.) O lugar da mulher.
lição: nossa abolição é a educação, no dia 29 de Rio de Janeiro: Graal, 1982.
outubro, na cidade de Salvador, com a presença
das seguintes palestrantes: Dra Eliane Cavalleiro Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E.,
– USP, Dra. Petronilha Beatriz Silva (relatora da & Tatham, R. L. Multivariate data analysis Upper
lei 10.639/03) e Dra. Angela Davis, bem como de Saddle River, NJ: Prentice hall. 1998.
outras atividades semelhantes.
Hayes, Bob E. “Medindo a satisfação do cliente.”
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BAIRROS, L. Lembrando Lélia Gonzalez. In:
Werneck , J.; Mendonça M.; White E. O livro da Santos, J. Reynaldo A. “Cronbach’s alpha: A tool
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2000. extension 37.2 (1999): 1-5.

BOURDIEU, Pierre. A escola conservadora: as Silva, Nilza N. “Amostragem probabilística: um


desigualdades frente à escola e à cultura. In: ______. curso introdutório.” Edusp. 1998.
Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1995.
QUEIROZ, D. M. Ações afirmativas na universidade
BRITO, A.E. C DE. A balança de Efa: uma análise brasileira e acesso de mulheres negras. Salvador:
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de negros e negras no magistério superior da
UFBA (2016-2017). Revista Gênero. V.18.n.1(2018). ROSEMBERG, F. Educação e gênero no Brasil
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1994, (mimeo).
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de Pesquisa. São Paulo, n° 47, p. 32-37, nov. 1983.

São Luís/MA
julho 18
191
São Luís/MA
julho 18
Pessoas com
deficiências e a
Universidade
_________________________________________________________________________________________________________________________________
LUCIENE DA CRUZ FERNANDES - APUB
NILDO MANOEL DA SILVA RIBEIRO - APUB

A
discussão sobre pessoas com incapacidade no âmbito das universidades envolve,
acima de tudo, inclusão social. Esta discussão pretende envolver não somente as
pessoas com deficiência em si, mas os demais atores envolvidos e nas práticas de
intervenções direcionadas a este grupo populacional.
Importante ressaltar que a OMS (2011), ratifica em seu Relatório Mundial sobre a Defi-
ciência, o conteúdo adotado pela Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pes-
soas com Deficiência (CDPD), tratando o assunto como uma questão de Direitos Humanos.
A integração social do indivíduo com deficiência é um grande desafio que tem sido ampla-
mente discutido nos últimos anos. Movimentos nesta direção foram desencadeados a partir
da década de 80, mais precisamente no ano de 1981, eleito o Ano Internacional da Pessoa Por-
tadora de Deficiência, o qual se tornou um verdadeiro marco na luta social das pessoas com
deficiência em defesa de seus direitos, buscando mostrar que a pessoa não é a deficiência.
Pessoas com deficiência obtiveram reconhecimento de sua condição, sobretudo, por
meios legais. A década de 1990 também foi importante para conquistas de direitos por par-
te das pessoas com deficiência. A Conferência Mundial de Educação para Todos, Tailândia
(1990) e a Declaração de Salamanca, Espanha (1994), trouxeram para o centro do debate a
condição de acesso escolar para todas as pessoas indistintamente. Nesse contexto o Brasil
buscou mudanças nas políticas educacionais e em outras áreas ligadas ao cuidado da pessoa
com deficiência. Mesmo com os avanços na elaboração das políticas inclusivas cabe analisar
a bibliografia e a legislação com relação ao ingresso e permanência de servidores públicos
com deficiência na universidade.
Existe um número grande de discussões sobre a temática da inclusão social da pessoa
com deficiência em diversos ambientes, salientando que diversas áreas do saber têm levan-
tado essa questão destacando a importância desse debate. Essa interdisciplinaridade envol-
vida faz com que não haja apenas uma vertente na análise crítica da situação, fortalecendo
as possibilidades de melhoria.
É fundamental também que a acessibilidade seja interpretada como elemento indis-
pensável para a inclusão social de todas as pessoas. Consideram-se vários aspectos como
respeito singular e plural das condições e situações de vida traduzindo-se em acessibilidade
na convivência pessoal. No âmbito externo, a acessibilidade ao espaço social e público define-
-se pelas facilidades físicas, materiais e de participação ativa nas mais variadas instâncias
do trânsito existencial, direta ou indiretamente, isto é, pessoalmente ou contando-se com a
mediação de recursos humanos, técnicos ou tecnológicos.
Não é concebível, pois, defender inclusão social abstraindo-se as condições básicas de
acessibilidade nos espaços sociais públicos ou que são compartilhados por todos. Conviver

193
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

implica a presença de duas ou mais pessoas, isso Houve uma evolução de conceitos e definições,
não depende apenas da vontade individual. Po- avanço da organização social e a necessidade do
dendo considerar a inclusão como base da vida respeito aos seus direitos fundamentais ganhou
social onde essas pessoas convivem. Ressalto a visibilidade como resultado desta organização.
inclusão social para as pessoas com deficiência No espaço público, essa igualdade de desi-
como fundamental, pois, entre outros aspectos, guais precisa ser assegurada nas mais variadas
melhora a autoestima, permite uma maior auto- situações. A equidade, enquanto em dos mais
nomia e independência, proporcionando um fator importantes princípios organizativos do Sistema
extremamente relevante para vida de qualquer Único de Saúde (SUS), nos dá a dimensão do quão
cidadão que é de aprender no relacionamento é importante que cada um seja contemplado em
com outras pessoas. suas necessidades e demandas específicas de
A proteção dos direitos dos cidadãos à edu- saúde. Necessária então a participação social de
cação, saúde, trabalho, lazer, à segurança e previ- todos na produção, gestão e fruição dos bens e
dência social está resguardada pela Constituição serviços de uma sociedade democrática.
Brasileira. A eliminação de barreiras de acesso No ambiente acadêmico, esse apoio também
nas ruas, edificações e transportes também fo- é necessário para que se desenvolvam as compe-
ram merecedores de atenção na elaboração da tências necessárias para a realização do seu pro-
Carta Magna e a igualdade das “pessoas com defi- jeto de vida, assegurando-lhe as condições para
ciência”, pelo menos perante a lei, ficou garantida enfrentar os grandes desafios desses espaços.
como possibilidade de integração. Mesmo consi- Esse ambiente pode ser um grande desafio ou
derando a pertinência das leis, isso não garante mesmo se constituir barreira para as pessoas
efeitos imediatos, pelo contrário, sua viabilidade com deficiência desde o seu ingresso até o de-
dependerá de uma rede complexa que exigirá de senvolvimento das suas rotinas. Aspectos extre-
todos os envolvidos, direta ou indiretamente, uma mamente relevantes quando as possibilidades de
(re) posição, na medida em que passa a revisar as crescimento dependem do desenvolvimento de
referências que fundamentam os conceitos e os habilidades, projetos, recursos, vagas em editais,
preconceitos de uma sociedade sobre determi- publicações, laboratórios e outros ambientes de
nada questão, assim como é preciso considerar, trabalho.
também, os aspectos políticos, econômicos, ins- Salienta-se que escolaridade, qualificação
titucionais, etc., que estão em jogo. Tais questões e mercado de trabalho estão firmemente de-
só serão enfrentadas a partir de uma ampla dis- pendentes de forma dinâmica e evolutiva. Essa
cussão da sociedade, permitindo uma reflexão escolaridade e qualificação profissional buscam
sobre a forma de agir com relação à diferença. atender o mercado de trabalho. Na universidade,
O preconceito relacionado às pessoas com o problema se amplia em virtude do desconheci-
deficiência configura-se como um mecanismo mento das especificidades do público interno em
de negação social, uma vez que suas diferenças geral e das pessoas com deficiência, em particular.
são ressaltadas como uma falta, carência ou im- A produção científica sobre o profissional
possibilidade. A condição das pessoas com de- docente com deficiência ainda é escassa, mas é
ficiência é um terreno fértil para o preconceito necessário avançar para que fortaleça o movimen-
em razão de um distanciamento em relação aos to de inclusão social. Compreender o mercado de
padrões físicos e/ou intelectuais que se defi- trabalho, as atividades que desenvolve, as condi-
nem em função do que se considera ausência, ções que o cercam, as barreiras, os facilitadores,
falta ou impossibilidade. Ainda que distante do as relações em seus departamentos e institutos.
ideal, o Brasil passou por profundas mudanças Aspectos pertinentes para ações específicas e
relacionadas às políticas públicas voltadas para tomadas de decisões procurando criar um am-
as pessoas com deficiência nos últimos anos. biente social favorável.

194 São Luís/MA


julho 18
 Pessoas com deficiências e a Universidade

Em determinadas regiões como Norte, Nor- PROPOSTA DE TRABALHO:


deste e Centro-oeste do país a ausência de pes- 1. Organizar seminários, palestras, fóruns
quisas se torna mais evidente. onde o tema da deficiência seja abor-
As dificuldades de colocação no mercado de dado;
trabalho são enraizadas por conta do preconcei- 2. Criar uma linha de trabalho sobre defi-
to social, na falta de conhecimento dos empre- ciência no GT de Direitos Humanos do
gadores e na subutilização dos potenciais das PROIFES;
pessoas com deficiência. Muitas vezes a prática 3. Realizar uma pesquisa nas Universida-
da docência é colocada em dúvida associada a des sobre professores com deficiência
falta de infraestrutura tanto arquitetônica como e suas condições de trabalho.
de equipamentos.
Necessário se faz compreender esse sujeito REFERÊNCIAS
em toda sua potencialidade, diminuindo o precon- ARAUJO, L.A.D. A Convenção sobre os Direitos
ceito e aumentando sua valorização. Para isso das Pessoas com Deficiência da ONU e seus
investimento em pesquisa com essa temática Reflexos na Ordem Interna Brasileira. In: DE
ajudarão a trilhar um caminho menos íngreme. LUCCA, N., MEYER-PFLUG, S. R.; NEVES, M.B.B.
Com certeza esse alcance não será apenas nas Direito Constitucional Contemporâneo. São
instituições de ensino, mas na sociedade como Paulo: Quartier Latin, 2012.
um todo.
Um fator importante para ser levado em con- BARBOSA, F.K. Professores com deficiência
sideração é o investimento do orçamento público física no ensino superior: estudo de trajetórias
que ajude na promoção da igualdade, criando fa- escolares. 2009. 95 f. Dissertação (Mestrado
cilitadores em várias instâncias e que as pessoas em Educação) – Universidade Metodista de São
com deficiência possam assim explorar suas po- Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em: <http://
tencialidades e avançar enquanto cidadão. Como ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/
essas questões serão garantidas com cortes de arq uivo.php?codArquivo=1975>. Aceso em 15.
orçamento no governo? 06. 2018.
Para combater a discriminação e promover
uma sociedade mais justa, igualitária e solidária, BARROS, A.C.C. Faces e contrafaces dos educadores
o orçamento de um governo pode e deve incor- comdeficiência.DissertaçãodeMestrado,Universidade
porar o combate às discriminações em relação a Federal de Uberlândia. 187 f.2003.
gênero, raça, etnia, casta, região, deficiência, mi-
gração, etc. A redução dos gastos públicos com BRASIL. Constituição. Constituição da República
políticas relevantes para pessoas com deficiência, Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado
significa menor esforço do Estado para garantia Federal, Centro Gráfico, 1988.
dos direitos sociais. Não podemos permitir no
Brasil um modelo de segregação das pessoas FARIAS, N.; BUCHALLA, C.M. A classificação
com deficiência que não garante seus direitos internacional de funcionalidade e saúde da
fundamentais. Organização Mundial da Saúde: Conceitos,
Existem então vertentes importantes para usos e perspectivas. Revista Brasileira de
serem trabalhadas, conscientização das pesso- Epidemiologia, São Paulo, 8(2). 2005.
as para que se diminuam as barreiras atitudi-
nais, fiscalização das normas de acessibilidade GLAT, E; PLETSCH. M.D. O papel da universidade
em seus aspectos mais amplos e acompanha- frente às políticas públicas para educação
mento do orçamento destinado às pessoas inclusiva. Revista Benjamin Constant. 10(29):
com deficiência. pp. 3-8, 2004.

São Luís/MA
julho 18
195
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a São Carlos: Ed. UFSCAR, p. 221-230. 2004.
manipulação da identidade deteriorada. 4. ed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1982. MIRANDA, T. G. Trabalho e deficiência: velhos
desafios e novos caminhos. In: MANZINI, E. J.
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M.T.M. (org). Inclusão de pessoas com deficiência RIBEIRO, N.M.S. et al. Análise do ambiente de
no ensino superior no Brasil: caminhos de lazer para portadores de deficiência física com
desafios. Fortaleza: EDUCERE, 2006. p. 39. alteração na locomoção, na cidade de Salvador.
Diálogos Possíveis, Salvador, 6(1): pp.235-242,
MAZZOTTA, M. J. S. Educação Especial no Brasil: 2007.
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transformando barreiras em oportunidades. In:
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MENDES, E. G. Constituindo um “locus” de
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196 São Luís/MA


julho 18
O movimento
sindical na luta pelos
Direitos Humanos:
possibilidades de atuação
_________________________________________________________________________________________________________________________________
LIVIA LARA DA CRUZ
IFPR - Campus Avançado Astorga

É
possível afirmar que o tema Direitos Humanos nunca esteve tão em voga no Brasil
quanto na nossa história recente? Considerando que, de acordo com o Instituto Da-
tafolha, o candidato à presidência Jair Bolsonaro alcançou, em junho de 2018 o pata-
mar de 17% das intenções de voto defendendo uma plataforma indiscutivelmente contrária
às reivindicações universalmente válidas para todos os seres humanos, justamente por “se-
rem humanos’ e independentemente do fato de serem reconhecidas pelas leis, sim. Autor
de frases como “Direitos Humanos: esterco da vagabundagem; “Quilombolas não servem
nem para procriar” ou ainda “Eu tenho cinco filhos, foram quatro homens, na quinta eu dei
uma fraquejada e veio uma mulher”, Bolsonaro pode ser considerado um grande represen-
tante daquilo que comumente é defendido pela turma do ‘Bandido bom é bandido morto”. O
fato é que os direitos humanos incomodam muita gente porque trazem em sua gênese uma
ideia radical e revolucionária: a de que esses direitos são igualmente válidos para todos, e
não somente para os poderosos ou os ricos.
Embora a origem primitiva dos Direitos Humanos possa se remeter a uma ética ou uma mo-
ral comum a todas as culturas e religiões, ou como o resultado de um longo processo de evolução
que ganhou força com a Revolução Francesa e resultou na primeira grande declaração de direitos
(1789), o movimento contemporâneo pelos Direitos Humanos teve origem na reconstrução da
sociedade ocidental ao final da segunda guerra mundial. Neste sentido, a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 1948, tentou responder às atrocidades que aconteceram durante a
segunda guerra mundial. A lista de trinta artigos que explicitam vários direitos não se trata de
um ato criador e sim de um ato de reconhecimento: os direitos por ela enunciados são inerentes
à natureza humana, mas por terem sido esquecidos ou ignorados, faz-se necessário torná-los
incontestáveis. Entretanto, apenas a constatação da existência desses direitos não garante sua
efetivação, o que implica em uma segunda etapa do processo. Assim, o que vemos em muitos
casos são os Direitos Humanos restritos ao campo da utopia, dos sonhos, longe de serem uma
realidade e por vezes podados pelas mais diversas formas de expressões antidemocráticas.
Nesse sentido, são representativos o assassinato da socióloga, feminista, defensora dos
direitos humanos e política brasileira Marielle Franco, em março de 2018 e do estudante Marcos
Vinícius da Silva, de 14 anos, que ia para a escola, uniformizado, e foi baleado na barriga em junho
último. Tanto Marielle quanto Vinícius eram, como Marielle costumava dizer “crias da Maré”, fa-
vela localizada na zona norte do Rio de Janeiro, e os crimes, flagrantes casos de desrespeito aos
Direitos Humanos, ocorreram justamente em um estado que se encontra sob intervenção militar
desde o começo de 2018.

197
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

Os Direitos Humanos, portanto, a despeito de de organização e defesa dos interesses da classe


serem universais, não estão, nem de longe, garanti- dos(as) trabalhadores(as) da educação básica, téc-
dos e os retrocessos, tais como temos observado nica e tecnológica do estado do Paraná, com sede
no Brasil de dois anos para cá, tais como: a EC 95 em Curitiba, considerando a importância da ação e
dos gastos públicos, mudanças nas leis trabalhistas, as possibilidades de desdobramento das propostas
aprovação da reforma do ensino médio, a iminente do GTdo PROIFES - Federação, constituiu, em junho
aprovação da PL do veneno, só para citar alguns de 2017 o Grupo de Trabalho denominado Direitos
exemplos são passíveis de acontecer a qualquer Humanos: Raça, Etnicidade, Gênero e Sexualidades,
momento. Sua permanência exige contínua vigilân- com a participação dos servidores Rosângela de
cia, reflexão, discussão, que se dá a partir de parti- Oliveira, Érika Pessanha, Joyce Muzi, Célia Mazza
cipação social, refletidos nas práticas educacionais de Souza e Otávio Bezerra Sampaio.
formais ou não formais . Para o combate ao preconceito e assédio em
Na educação formal, a formação em direitos suas mais diversas formas é preciso , além de unir
humanos será feita no sistema de ensino, desde a forças de forças, discutir e refletir sobre as temá-
escola primária até a universidade. Na educação in- ticas em questão, o GT de Direitos Humanos do
formal, será feita através dos movimentos sociais SINDIEDUTEC- Sindicato, promoveu, em outubro
e populares, das diversas organizações não-gover- de 2017, seu I Fórum de Direitos Humanos Raça, Et-
namentais – ONGs, dos sindicatos, dos partidos, das nicidade, Gênero e Sexualidades, que serviu como
associações, das igrejas, dos meios artísticos, dos etapa local do Encontro Nacional de Direitos Huma-
meios de comunicação de massa. Os sindicatos, nos ocorrido em Salvador, de 29 de novembro a 1 de
portanto, entram nessa última categoria. dezembro na Universidade Federal da Bahia , com o
As vulnerabilidades a serem enfrentadas no tema Negros e Negras no Ensino Superior. Na oca-
mundo do trabalho, área de ação das organizações sião, foram discutidos temas como a inserção das
sindicais, não são diferentes daquelas enfrentadas mulheres no mercado de trabalho e a persistência
cotidianamente em outros espaços sociais. Exem- das desigualdades salariais e de condições, espe-
plos de machismo, racismo, homofobia, discrimi- cialmente entre as mulheres negras, a necessidade
nações das mais diversas ordens, assédio moral e das lutas feministas e antirracistas se articularem
sexual, infelizmente não ocorrem de maneira isola- necessariamente à luta contra a desigualdade, o
da nas empresas, fábricas, escolas, universidades, movimento “Escola Sem Partido”, cujo um dos ob-
e exigem estratégias efetivas de enfrentamento. jetivos é limitar o debate sobre gênero nas escolas,
Nesse sentido, o SINDIEDUTEC - Sindicato, órgão e a inclusão e formação das pessoas transexuais.

Cartaz de divulgação do I Fórum de Direitos Humanos Raça,


Etnicidade, Gênero e Sexualidades - SINDIEDUTEC

198 São Luís/MA


julho 18
 O movimento sindical na luta pelos Direitos Humanos possibilidades de atuação

Uma vez que a atual desconstrução das con- como defensor dos Direitos Humanos e, por
quistas sociais no Brasil torna a discussão sobre conseguinte dos valores democráticos, já que
direitos humanos ainda mais urgente, ações como uma coisa não existe sem a outra, subsidiando
as descritas acima contribuem na formação de e ampliando a utilização de espaços que visem
uma “cultura de respeito à dignidade humana a construção de políticas institucionais que
através da promoção e da vivência dos valores contribuam na superação do racismo, sexis-
da liberdade, da justiça, da igualdade, da solida- mo, misoginia, homofobia e demais formas de
riedade, da cooperação, da tolerância e da paz” violência e exclusão.
(BENEVIDES, 2000). A formação desta cultura
significa, assim, criar, influenciar, compartilhar e REFERÊNCIAS
consolidar mentalidades, costumes, atitudes, e BENEVIDES, Maria Victoria. Educação em
comportamentos que decorrem, todos, dos va- Direitos Humanos: de que se trata? Palestra de
lores essenciais citados – e que devem se trans- abertura do Seminário de Educação em Direitos
formar em práticas. Humanos. São Paulo, 18/02/2000. Disponível em
A Educação em Direitos Humanos com- http://www.hottopos.com/convenit6/victoria.
preendida como uma educação de natureza htm
permanente, continuada e global, voltada para
a mudança e como inculcação de valores, “é BRASIL. Plano Nacional de Educação em Direitos
certamente uma utopia, mas que se realiza na Humanos (PNDH) - 2014. Brasília, DF: Comitê
própria tentativa de realizá-la, como afirma o Nacional de Educação, 2014.
educador Perez Aguirre, enfatizando que os
direitos humanos terão sempre, nas socieda- CARVALHO,José Sérgio de. Podem a ética e a
des contemporâneas, a dupla função de ser, cidadania ser ensinadas? Pro-Posições: Pro-
ao mesmo tempo, crítica e utopia frente à re- Posições: Revista da Faculdade de Educação,
alidade social (BENEVIDES, 2000). Objetiva- Revista da Faculdade de Educação, v. 13, n. 3, p.
mente, o movimento sindical deve se colocar 39, 2002.

São Luís/MA
julho 18
199
São Luís/MA
julho 18
Assédio Moral
no Trabalho:
Enfrentamento e Proposições
_________________________________________________________________________________________________________________________________

MARCOS PAULO ROSA


SINDIEDUTEC/IFPR

D
esde o seminário que abordou a temática do assédio moral nas instituições públicas,
ocorrido em novembro de 2015 em Porto Alegre, muito se avançou na abordagem
e soluções destes casos. A primeira edição, ocorrida no mesmo ano em Curitiba,
meados de março, resultou na publicação de um livro com diversos artigos de especialistas
na temática sob a perspectiva da psicologia, direito e sociologia.
A violência psicológica que vem acometendo diversos servidores na rede federal de
educação profissional, científica e tecnológica, tem levado ao afastamento para tratamen-
to de saúde, ainda, inúmeros pedidos de redistribuição ou remoção a pedido, com interesse
pessoal maquiando a verdadeira causa, o assédio.
Mesmo com o debate entre lideranças sindicais e representantes das categorias nestes
seminários, diversos casos ainda ocorrem de forma velada, silenciosa, causando danos irre-
paráveis nas relações de trabalho e na vida pessoal destes servidores. O medo é a principal
razão do silêncio e que impede de denunciar os assediadores.
São diversas situações de assédio já abordadas nas instituições, sendo a mais comum,
o uso abusivo do poder por gestores públicos. Este tipo é conhecido como assédio moral
descendente, quando se tem uma relação hierárquica de subordinação. O assédio ascen-
dente é mais raro.
Assédio é definido pelo dicionário como “insistência, teimosia junto a alguém”, ou seja, é
um ato repetitivo e prolongado. Assédio moral no trabalho é toda e qualquer conduta abusiva
(gesto, palavra, escritos, comportamento, atitude, etc.), que de forma intencional e frequente,
fira a dignidade e a integridade física ou psíquica de uma pessoa, ameaçando seu trabalho ou
degradando o clima organizacional. O assédio pode assumir tanto a forma de ações diretas
(acusações, insultos, gritos, humilhações públicas) quanto indiretas (propagação de boatos,
isolamento, fofocas e exclusão social).
Alguns juristas afirmam que para caracterizar o assédio moral deve se ter registros de
atos ocorridos entre 1 a 3 anos. O consenso reconhece que há 3 características que configu-
ram o assédio, sendo a conduta psicológica, repetitiva e com a finalidade de excluir a vítima.
Ainda que se possa qualificar servidores, gestores, sindicalistas, etc., o enfrentamento
de situações de assédio precisa avançar muito. A presença de base sindical representativa
da categoria, despersonifica o servidor e dá voz ao combate a práticas de assédio, tornando
possível a discussão e encaminhamento dos casos para apuração legal.
No Instituto Federal do Paraná – IFPR, o SINDIEDUTEC Sindicato, tem fomentado a dis-
cussão atuando próximo aos casos relatados por grupos de servidores nos 25 campi. Exemplo
disso é a participação efetiva do Sindicato nos seminários, como a primeira e segunda edi-
ção do Seminário - Estado, Poder e Assédio: relações de trabalho na administração pública,

201
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical

acontecidos em março e novembro de 2015, em tramitando nas instâncias de poder da instituição.


Curitiba e Porto Alegre, respectivamente. Na situação do Campus A, os servidores re-
lataram perseguição indireta do Gestor máximo
CASOS DE ATUAÇÃO através dos terceirizados da unidade. Os segu-
A instabilidade política do IFPR vivida desde 2013 ranças que faziam a guarda patrimonial ficavam
até o presente momento faz com que a democra- na guarita e anotavam a entrada e saída de veí-
cia seja um discurso bastante distante da realida- culos e servidores num caderno, como forma de
de. A conjuntura política nacional corrobora e cria controle ponto. Para auxiliá-los na identificação,
um efeito cascata nas autarquias da federação. A foi confeccionado um “carômetro” com a foto do
deflagração da Operação Sinapse diante o caso servidor e dados do veículo. Ora, é sabido que
de desvio de recursos da Educação a Distância, o docente EBTT teve a carreira equiparada com
término do mandato tampão de Reitor e julgado o Magistério Superior e este é livre de registro
ilegal em seu último ano de mandato, ainda, as ponto. Apesar da redação da lei ainda não ter sido
eleições para Reitor em 2015, suspensas e julga- alterada, esta matéria está resolvida com o Pa-
da em primeira instância em 2017 com senten- recer No 6282/2012 – AGU e Acórdão do Agravo
ça de nulidade do pleito, permitiu que houvesse de Instrumento No 11539 – TRF-5 que reconhece a
a disseminação da cultura do assédio moral na equiparação das carreiras e dispensa do registro
instituição. ponto. O caso ficou conhecido como “os cadernos
As relações entre sindicato e gestão, partem do cárcere”. A participação sindical in loco, neste
da dicotomia patrão-empregado, ainda que não caso, foi crucial para expor e denunciar os asse-
exista a figura patrão-empregador, mas assume diadores as instâncias competentes.
tal posto quando do poder autoritário. O sindicato Medidas coercitivas, isolamento de ser-
faz seu papel, independente da ação de gestão da- vidores, impedimento de manifestações e de
quela ou desta autarquia. E seu papel, é defender atividades sindicais, ameaças de ações judiciais
o servidor e garantir que o estado democrático e abuso de autoridade, foram apenas alguns
de direito realmente exista. dos atos cometidos pelo gestor pró tempore
O diálogo deve ser franco e aberto entre ges- do Campus B. A presença do Sindicato não foi
tão e sindicato, permitindo avanços e cumprimen- suficiente para abertura de diálogo. Com a troca
to da legislação vigente, garantindo o bem-estar de Reitor e a abertura de diálogo com o Sindica-
do servidor e a otimização das relações de traba- to, a troca de gestor na unidade resolveu toda
lho. Mas nem sempre este cenário é uma regra. a situação, ainda que se arrastem até os dias
Quando da mudança da gestão pró tempore atuais, diversos processos judiciais movidos
do IFPR, em julho de 2016, uma cortina de fuma- pelo ex-gestor da unidade contra a instituição
ça se desfaz e diversos casos de assédio e rela- e servidores locais.
ções de trabalho precárias foram desvendadas. Abuso de autoridade, uso indevido do veículo
A aproximação do sindicato junto à nova gestão e oficial, perseguição à servidores e alunos, foram
a abertura ao diálogo permitiu que a abordagem alguns dos diversos documentos anexados a um
fosse efetiva. dossiê entregue por um grupo de servidores e
A abertura para ouvir os servidores permi- alunos do Campus C ao Reitor com a troca de
tiu que as denúncias pudessem ser atendidas. gestão. Os documentos eram contundentes e
Outrora, não se havia diálogo com o SINDIEDU- apontavam uma série de infrações, além de rela-
TEC, impedindo avanços e reconhecimento des- tos de adoecimento de vários servidores e alunos.
tas situações. A presença do Sindicato na unidade, logo após a
Tratarei neste texto os campi como casos A, troca de gestor, e o trabalho da representação da
B e C, evitando a personalização dos fatos e dos base sindical, melhorou o clima organizacional e
envolvidos, já que existem casos que ainda estão as relações de trabalho.

202 São Luís/MA


julho 18
 Assédio Moral no Trabalho: Enfrentamento e Proposições

Há casos ainda de assédio horizontal, quan- as seguintes encaminhamentos:


do servidores que não exercem funções hierár- Proposição 1) Elaborar uma cartilha didática
quicas, buscam vantagem ou privilégios diante de combate ao assédio, apresentando os aspec-
o grupo que pertence. Novos casos de assédio tos das infrações jurídicas, psicológicas e sociais;
também foram relatados em outras unidade, de Proposição 2) Criar um canal no site para
forma mais pontual e com igual tratamento pelo que servidores possam relatar as situações de
SINDIEDUTEC. assédio, anexando documentos e/ou provas (fo-
tos, e-mails, vídeos) e que possam receber apoio
CONCLUSÃO sindical e jurídico para o enfrentamento;
Folders, cartazes, formação, ainda não são su- Proposição 3) Que aconteçam novas edições
ficiente para garantir que situações de assédio do Seminário - Assédio, Estado, Poder e relações
ocorram nas unidades do IFPR ou das autarquias de trabalho na administração pública, tal qual
da federação. É preciso conscientizar e criar uma promovido pelo SINDIEDUTEC em outros sindi-
cultura de combate às situações de assédio, ainda catos federados permitindo o debate, avanço nas
que não existam. ações de enfrentamento e divulgação das ações;
Criar canais de denúncias para que o servidor Proposição 4) Criar a semana do Combate
acometido pela ação assediadora, possa relatar, ao Assédio Moral nas Instituições Públicas de
ou ainda, o servidor que presenciar uma situação Ensino, com palestras sendo realizadas e sendo
de assédio, se solidarize com o colega e o faça. transmitidas por streaming pela rede social para
Assim, propomos que o PROIFES - Federa- todas as unidades que aderirem ao evento. Pro-
ção oriente através dos seus sindicatos federados mover com cartazes, folders e camisetas.

São Luís/MA
julho 18
203
PRO
25 de julho
17h30 - Credenciamento
19h - Abertura

GRA
21h30 -Jantar
26 de julho
9h às 13h - Debate Temas

MA
13h às 14h - Almoço
14h às 18h - Debate Temas
27 de julho

ÇÃO
9h às 13h - Debate Temas
13h às 14h - Almoço
14h às 18h - Debate Temas

HOTEL LUZEIROS
28 de julho
Rua João Pereira Damasceno, 2
Ponta do Farol, São Luís - MA, 65077-630
9h às 12h - Debate Temas Encerramento

www.encontronacionalproifes.com

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