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São Luís/MA
Caderno
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T
razemos uma proposta que diz respeito às nossas necessidades e desafios como
trabalhadores e trabalhadoras da rede Federal de Educação Profissional, Científica
e Tecnológica. Iniciaremos apresentando uma análise da conjuntura para fundamen-
tar nossa posição e nossa proposta.
1 Entendemos como condições subjetivas duas principais dimensões: a consciência de classe dos indivíduos e o nível
de organização desses indivíduos em torno de um programa histórico de classe
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Desafios do Núcleo Sindical de Base: proposta de aproximação com a base
2º ENCONTRO: 20/06/2018 - 08:30h até 12h Mediador: Thiago Augusto Divardim de Oliveira
Roda de conversa, leitura e debate sobre os (IFPR/Curitiba)
documentos.
a) Leitura imprescindível: Lei 5154/2004, lei 7º ENCONTRO: 08/08/2018 - 08:30h até 12h
que altera as diretrizes e bases da educação Roda de conversa, leitura e debate sobre os
nacional permitindo a existência do Ensino documentos.
Técnico Integrado ao ensino médio. a) Leitura imprescindível: Concepção do ensino
b) Leitura imprescindível: Lei 11.892/2008, lei médio integrado (Marise Ramos)
de criação dos Institutos Federais. b) Leitura complementar: Projetos de
c) Leitura complementar: Documento de base reformulação do Ensino Médio e inter-
do Ensino Médio Inovador (EMI). relações com a Educação Profissional: (im)
d) Leitura complementar: Decifrar textos para possibilidades do Ensino Médio Integrado
compreender a política: subsídios teórico- (Monica Ribeiro da Silva).
metodológicos para análise de documentos.
(SHIROMA, CAMPOS e GARCIA, 2005) 8º ENCONTRO: 15/08/2018 - 08:30h até 12h
Palestra de encerramento.
3º ENCONTRO: 27/06/2018 - 08:30h até 12h Tema: “A importância da formação humana no
Palestra: “O Ensino Médio como um campo âmbito da educação profissional técnica de nível
de disputas: as políticas, seus formuladores e médio”
proposições após a LDB de 1996”. Palestrante: Prof. Drº João Celso Ferreti
Palestrante: Prof. Drª Monica Ribeiro da Silva
(UFPR) 9º ENCONTRO: 22/08/2018 - 08:30h até 12h
Roda de conversa, impressões sobre o curso,
4º ENCONTRO: 04/07/2018 - 08:30h até 12h avaliação (participação necessária para emissão
Roda de conversa, leitura e debate sobre os de certificado).
documentos.
a) Leitura imprescindível: Parecer do Conselho O objetivo geral desse curso foi realizar um
Nacional de Educação (CNE) 05/2011, levantamento de demandas dos professores do En-
Diretrizes Curriculares Nacionais para o sino Técnico Integrado ao Ensino Médio no que diz
Ensino Médio. respeito à ampliação qualitativa da compreensão
b) Leitura imprescindível: “As políticas públicas dos documentos que regem, orientam e fornecem
de educação profissional no Brasil entre diretrizes ao trabalho na Educação Profissional
2003-2014” (capítulo IV da tese de Lucas B. Científica e Tecnológica em nível Médio, assim
Pelissari). como auxiliar em uma perspectiva colaborativa não
só a compreensão do conteúdo dos documentos,
5º ENCONTRO: 24/07/2018 - 08:30h até 12h mas também a compreensão dos contextos polí-
Palestra: “Áreas do conhecimento e fragilização tico-econômicos em que foram elaborados esses
das especificidades científicas no novo contexto documentos, além disso, o curso pretende esta-
da EPCT”. belecer as relações entre o âmbito legislativo das
Convidadas: Maria Auxiliadora Moreira dos políticas da educação com os impactos na práxis
Santos Schmidt (UFPR) das relações de ensino e aprendizagem do Ensino
Técnico Integrado ao Ensino Médio, tendo como
6º ENCONTRO: 06/08/2018 - 08:30h até 12h subsídios centrais para essas análises e compre-
Mesa de debate. Tema: “Egressos e evasão no EPCT”. ensões o conhecimento científico e epistemológico
Convidados(as): Candida Santos Lima (IFPR/ no que se relaciona as ciências de maneira geral e
Curitiba) e Lucas Pelissari (IFMG) mais especificamente as ciências da educação.
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Atender, enquanto sindicato, as demandas sua totalidade). A práxis do homem não é ativida-
específicas da base através de um curso de for- de prática contraposta à teoria; é determinação da
mação docente é uma possibilidade de diálogo que existência humana como elaboração da realidade.”
aproxima os professores e professoras filiadas das 2
(1976, p.222). A práxis pôde ser observada em
políticas que pautam no tema educação pública e nosso curso no depoimento do prof. G. (professor
de qualidade no Brasil. Nesse sentido, para além de de Matemática com larga experiência em cursos
uma formação acadêmica pautamos nossos esfor- de engenharia em universidades particulares. En-
ços na intenção de fomentar frentes de trabalho em trou no IF em 2013). Em um de nossos encontros
uma perspectiva colaborativa para continuar com ele disse: “Eu nunca tinha enxergado a educação
as discussões dentro do campus, independente do desse jeito”, se referindo ao Ensino Médio como
envolvimento do NSB ou do sindicato. Procuramos um campo de disputas políticas e ideológicas.
instrumentalizar nossos docentes para analisarem, Quando o prof. G. fez essa fala, entendemos
interpretarem e compreenderem a documentação que é como se na, e pela práxis, ele tivesse feito um
que oferece parâmetros, orientam e dão diretrizes movimento do real ao abstrato e novamente ao
para o trabalho na Educação Básica, mais especi- real. Ou seja, da experiência dele na relação com a
ficamente a etapa do Ensino Médio e sua oferta iniciativa privada, sua entrada no IFPR, a escolha
na modalidade Técnico Integrado. de sair do privado e ficar no IFPR, ao momento
A metodologia pautada em organização de em que se debruça teoricamente para elaborar
palestras, conferências e mesas de debates com a realidade e passa por um processo de desvelar,
intelectuais que possuem pesquisas e produção tentado romper com aquilo que ele pensava como
reconhecida na área da educação com um foco realidade concreta, mas que estava na aparência,
epistemológico pautado no materialismo históri- na pseudo-concreticidade.
co e dialético, foi essencial para envolver os/as do- Entendemos, através do exemplo do prof. G.,
centes no debate político e na compreensão das que o curso pode ser um exemplo de transforma-
lutas que o sindicato e suas federações encapam. ção do processo de compreensão da realidade
Nesse sentido, compartilhamos alguns re- que se afina com a postura sindical.
sultados parciais dessa experiência. Karel Ko- Dito isso, deixamos como proposta que o
sik nos fala sobre a práxis, no livro “A dialética do PROIFES apóie e estimule esse tipo de ação de
concreto”: “A práxis na sua essência e universali- aproximação entre sindicatos e suas bases, para
dade é a revelação do segredo do homem como que tenhamos filiados e filiadas conscientes da
ser onto-criativo, como ser que cria a realidade importância de se envolverem nas lutas políticas.
(humano-social) e que, portanto, compreende a em defesa de uma educação pública, gratuita,
realidade (humana e não humana, a realidade na democrática e de qualidade.
2 KOSIK. Karel. Dialética do concreto. São Paulo; Editora Paz e Terra; 1976.
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PROIFES – Federação:
Caminhos Sinuosos de um
Projeto de Democratização do
Movimento Docente
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FRANCISCO WELLINGTON DUARTE
Presidente do ADURN-Sindicato
A
Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de
Ensino Superior e de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (PROIFES-Federação),
criado em fins de 2011, completou seu sexto ano de vida em meio a uma das maiores
crises políticas da história do Brasil Republicano, e com o país mergulhado num vergonhoso
Regime de Exceção, fruto do Golpe de Maio de 2016, em que as forças mais reacionárias e
conservadoras assumiram o poder e iniciaram o desmonte de todas as políticas sociais mais
avançadas, construídas entre 2003 e 2015.
São seis anos de consolidação da Federação como representação qualificada do conjunto
de professores das universidades e institutos federais e se insere numa profunda mudança
qualitativa do papel que deve ter uma entidade que se pretenda representar os interesses
de mais de 120 mil docentes, espalhados pelo país afora e num permanente enfrentamento,
no campo da sobrevivência legal, com o Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior,
o ANDES-Sindicato que, a despeito de defender resolutamente a pluralidade sindical, desde
2008 tenta colocar obstáculos à existência da Federação e cassar os registros sindicais dos
Sindicatos que se libertaram dele e se tornaram autônomos e independentes, numa clara
contradição ao seu discurso.
Não bastasse essa luta constante contra um inimigo externo, que quer a sua extinção
como entidade sindical, o PROIFES-Federação teve e tem de enfrentar um doloroso processo
de aceitação de sua existência e de sua representação, por boa parte dos docentes, que ainda
o vê como um “aparelho petista”, muito embora um rápido olhar na estrutura da Federação e
nas suas instâncias de representação desfaça essa imagem distorcida, e, pior ainda, o desco-
nhece completamente, fruto, nesse caso, da crise de representação do movimento sindical
como um todo, que tem afetado o sindicalismo mundial desde os anos 90.
As raízes do nascimento da Federação podem ser encontradas principalmente no atro-
fiamento político que sofreu o ANDES-SN, cada vez mais alinhado às postulações da extre-
ma-esquerda que, diante da impossibilidade de criar um partido forte o suficiente para se
tornar a “vanguarda revolucionária”, optou por aparelhar as estruturas sob seu comando, entre
elas o Sindicato Nacional, rapidamente colocadas sobre a influência do trotskysmo morenis-
ta do PSTU e do seu braço no movimento social e sindical a Coordenação Nacional de Lutas
(CONLUTAS). Esse atrofiamento e radicalização do Movimento Docente se acirraram com a
chegada de Lula ao poder e de suas primeiras decisões que confrontaram os interesses dos
servidores públicos de uma maneira geral.
A criação do PROIFES-Fórum não apenas alterou a correlação de forças existentes dentro
do Movimento Docente, como mudou a forma de como se processaram as lutas seguintes. Em
2006, o PROIFES-Fórum participou da negociação que criou a Classe de Professor Associa-
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do, que mitigou um represamento de progressão de muita pressão, o governo retomou o processo
sofrido há mais de 20 anos pelos doutores. Em negocial em julho, aceitando parte das demandas
2007, assinou sozinho o acordo para o Magisté- da Federação e utilizando a ferramentas de con-
rio Superior (MS) que garantiu, nos três anos se- sulta eletrônica a todos os professores filiados,
guintes, uma recuperação salarial nos melhores compreendendo 43 instituições, 36 universidades
patamares em duas décadas. Esta negociação e 07 institutos federais, em um total de 5.222 pro-
recuperou, ainda, a paridade entre ativos e apo- fessores e destes 74% indicaram para a Federa-
sentados, uma reivindicação de 10 anos. ção que assinasse o acordo, o que efetivamente
No ano de 2008, assinou a criação da Carrei- foi feito, sem a presença do Sindicato Nacional,
ra de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tec- mergulhado no obscurantismo da radicalidade
nológico (EBTT), fazendo a inédita equiparação esquizofrênica da “maior de todas as greves”.
entre os professores do Ensino de 1º e 2º graus Vale ressaltar que em 2011 a Federação ob-
com os do Magistério Superior, algo que parecia teve o fim de duas gratificações (a GEMAS e a
utópico. Já em 2011, compreendendo os limites GEDBT), que foram incorporadas ao Vencimento
da ação sindical assinou, novamente respaldado Básico, melhorando as possibilidades de ganhos
por ampla consulta nacional direta, acordo emer- a partir de um piso salarial e em 2012 um acordo
gencial no qual além de reajuste de 4%, houve a de três anos, consolidando um novo tipo de ne-
incorporação da última gratificação que tínhamos gociação sobre carreiras e salários no Movimen-
no contracheque. to Docente, ao mesmo tempo que conseguiu-se
Nesse mesmo ano o Fórum optou por criar o, uma restruturação na carreira do Ensino Básico,
Sindicato dos Professores do Ensino Superior Pú- Técnico e Tecnológico (EBTT) e a criação do Pro-
blico Federal (PROIFES-Sindicato), para funcionar fessor Titular como classe, ou seja, a partir do
taticamente como um espaço em que professores mérito acadêmico.
e professoras de entidades não pertencentes ao E finalmente, já nos estertores do governo
Fórum, pudessem ser representados, o que pro- Dilma e sob forte pressão devido a recessão pa-
vocou internamente muita confusão dado o fato trocinada pela equipe econômica do Governo, o
de que o entendimento de que se formava uma PROIFES-Federação conseguiu arrancar um novo
nova entidade sindical com a mesma forma do acordo em dezembro de 2015, reestruturando a
Sindicato Nacional, poderia ressuscitar o modelo carreira do Magistério Superior em três anos e
vertical abandonado em 2004. conseguindo reajustes em 2016 e 2017, compro-
Ao mesmo tempo que criava esse “espaço vando a eficácia da tática utilizada desde 2004.
transitório”, aprovou-se a transformação do Fó- Ocorre que após mais de duas décadas sob
rum em Federação (o que viria a se concretizar a égide de um sindicato nacional verticalizado,
em 2011) e a discussão do caráter da nova Federa- em que as entidades que a compunham eram
ção acabou provocando a dissensão do APUBH- “seções sindicais”, ou seja, meras caixas de res-
-Sindicato, que deixou posteriormente o Fórum sonância do centro dirigente, cristalizou-se uma
e durantes anos tentou articular o Movimento percepção de que qualquer nova entidade que
Docente Independente e Autônomo (MDIA), uma nascesse desse movimento, teria o mesmo DNA,
operação completamente fracassada. o mesmo invólucro, o mesmo conteúdo centralista
Ao longo de todos esses anos as negociações e antidemocrático.
foram duras, geralmente longas e sempre marca- Um dos elementos que dificultaram e difi-
das por longas discussões com os representan- cultam a “aceitação” do PROIFES-Federação está
tes do governo, bastando lembrar a de 2011, que na própria informação sobre o que vem a ser uma
se arrastou durantes meses e levou o Conselho federação dentro das regras sindicais vigentes.
Deliberativo do PROIFES-FEDERAÇÃO a indicar, Na legislação que está sendo destruída pelos
em junho de 2012, greves nas suas bases, e depois golpistas de 2016, as federações são entidades
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A atividade sindical docente em tempos da Emenda Constitucional 95
sindicais de segundo grau, que representam a (inciso III, art. 17, Estatuto PROIFES-Federação).
maioria absoluta de um grupo de atividades ou A Federação, ao construir esse novo coletivo,
profissões idênticas, similares ou conexas. Na es- concretizou a proposta, surgida nos idos de 2004,
trutura sindical brasileira, estão entre o sindicato que era o de criar um Novo Movimento Docente.
e a confederação que representa determinada ca- A representatividade, portanto, vem do próprio
tegoria. As federações, por meio do agrupamento sindicato, livre inclusive para escolher os modelos
de sindicatos, podem coordenar os interesses de de indicação, o que enseja, na prática, discussões
suas entidades filiadas. Contudo, é importante internas que podem fortalecer a aplicação de
destacar que não possui direito de representação instrumentos democráticos mais participativos.
da categoria representada por esses sindicatos. Obviamente que uma construção absoluta-
E aqui vem o grande debate que ainda permanece mente conflitante com o modelo vigente até então,
insuficiente: o que é a Federação? em meio a pesadas disputas contra o Governo Dil-
Parece uma pergunta incoerente, mas quan- ma principalmente, provocaram críticas internas
do se observam os debates internos nos sindica- que apontavam para o velho discurso andesiano, de
tos e nos fóruns da Federação, nota-se claramente que a Direção da Federação “protegia” o governo ou
que a confusão de entendimento do que é uma Fe- que o “petismo” era a corrente dominante dentro da
deração de Sindicatos e Sindicatos está presente Federação, fazendo emergir discursos da necessi-
e interfere nos discursos e nas demandas tanto dade de retirar as principais lideranças, por serem
das direções dos sindicatos, como dos próprios “petistas” ou por terem criado um pequeno grupo
membros do Conselho Deliberativo. dirigente em torno de si e que dirigia a Federação
Talvez a dificuldade se deva a uma insuficien- a partir dos interesses “cutistas” e ou “petistas”.
te leitura nos Estatutos da federação, que mostra A realidade provou ser o contrário. As chama-
claramente que sua representação se refere aos das “velhas lideranças” na verdade expressavam
SINDICATOS, o que devolve a estes a soberania a própria realidade do Movimento Docente, que
de sua política, tolhida pela verticalidade do Sin- tendencialmente se concentram devido ao fato do
dicato Nacional, em que as deliberações do con- peso das tarefas que são entregues a esse pequeno
selho de ulemás revolucionários determinavam a grupo, disposto a sacrificar, em primeiro lugar, suas
cada sessão que se cumprisse as determinações carreiras acadêmicas na medida em que fica basi-
do “centro dirigente”, uma versão rocambolesca camente impossível cumprir as funções diretivas
tupiniquim do Angka, infalível e onipresente. da Federação e prosseguir na sua carreira docente,
Na Federação, a responsabilidade política com ensino, pesquisa, extensão e administração.
é centrada nas direções dos seus sindicatos que Consequentemente poucos estão disponíveis a
estão apenas obrigados a respeitar o Estatuto da se dedicar à Direção da Federação e as chamadas
Federação, não existindo a “ordem superior”, ou “velhas lideranças” acabaram ocupando o espaço.
seja, a construção política nasce das bases sindi- Ora, mas se o centro dirigente é o Conselho
cais, que se fortalecem no debate e fortalecem a Deliberativo, e se o Conselho Deliberativo é forma-
Federação, trazendo para esta a riqueza dos de- do por membros indicados pelos respectivos sindi-
bates que por ventura venham surgir nas bases. catos, o processo de renovação dos dirigentes não
A criação de um Conselho Deliberativo foi deve, de forma alguma, surgir a partir da Diretoria,
uma das maiores criações da Federação, na medi- mas sim dos próprios sindicatos que devem, nas
da em que democratizou o processo de discussão suas especificidades, construir e capacitar novas
política e sindical, retirando o poder da Direção de lideranças dispostas a encarar o fortalecimento
tudo decidir e tudo fazer, cabendo a esse colegia- da Federação.
do, inclusive, rever decisões tomadas pela Direto- As idas e vindas da Federação, como a saída
ria Executiva, por meio de recurso fundamentado da APUBH-Sindicato e da ADUFMS-Sindicato; da
por sindicato federado ao PROIFES-Federação saída e da entrada da ADUFC-Sindicato; da cria-
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ção de sindicatos fora das entidades tradicionais, ambiente cada vez mais coletivo, democrático,
como ocorreu no PA e no MA; a recente possibili- onde os debates, de todos os temas de interesses
dade de aproximação com a ADUFEPE, que pode dos docentes possam ser debatidos de maneira
ou não se concretizar numa futura filiação desta; urbana, respeitando-se o direito à divergência e
na espera da decisão da APUSFSC-Sindicato, essa tarefa deve partir do Conselho Deliberativo,
que permanece próximo à Federação mas não que pode aprofundar discussões temáticas sobre
define sua entrada, mostram que o espaço po- como construir instrumentos para melhor fazer
lítico da Federação ainda está em um processo chegar aos professores das IFES, informações so-
inicial de construção e a transição sequer pode bre o que é como funciona o PROIFES-Federação.
ser considerada como iniciada, na medida em que Num momento em que estamos vivendo
é necessário que os atuais sindicatos federados num Regime de Exceção e que os ataques fron-
passem a entender o propósito da Federação, tais aos direitos dos trabalhadores ameaçam
como um grande articulador das ações gerais dos destruir as organizações sindicais, fortalecer a
sindicatos defendendo os interesses acadêmicos, Federação é, antes de tudo, uma estratégia de
políticos, econômicos, culturais e sociais dos pro- sobrevivência da própria representação docente
fessores ativos e aposentados das Instituições que, nessa nova fase de luta, apresenta-se, tam-
Federais de Ensino Superior (IFES). bém, como defensora da universidade pública
A expansão do PROIFES-Federação deve ser federal e isso só será possível com o completo
encarada como uma tarefa a ser compartilhada engajamento de todos os sindicatos federados
por todos os sindicatos, cabendo a ele criar um num movimento de consolidação da Federação.
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História do
Proifes em foco:
14 anos de luta e conquistas
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GILKA SILVA PIMENTEL
Vice- presidente – ADURN-Sindicato | NEI-UFRN
RESUMO
Esse texto pretende realizar uma cronologia da história do PROIFES, da origem até os
dias atuais. Iniciamos a linha de tempo a partir de 2004 quando um grupo de professo-
res, por meio de suas associações, decide criar um novo espaço sindical de organização
plural e democrática dos docentes das instituições federais de ensino superior deno-
minado Fórum de Professores das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). O
PROIFES surge como possibilidade e alternativa a um movimento docente então rígido.
Sua origem é marcada pelos princípios de pluralidade, descentralização, independência
e democracia. Para preservar a possibilidade de ter uma representação sindical que
não tivesse a característica sectária, em setembro de 2008 é criado o sindicato nacio-
nal, hoje Sindproifes. Nos anos posteriores, até os dias atuais, o PROIFES se consolida
nas mesas de negociação com o governo como interlocutor propositivo dos docentes
das IFES, capaz de negociar. Em julho de 2012 nasce o PROIFES-Federação. Nos anos
subsequentes, até os dias atuais, todas as conquistas de carreira e reajustes salariais
são assinadas e negociadas pelo PROIFES.
E
sse texto é dedicado principalmente aos novos e jovens professores e profes-
soras que hoje fazem parte do PROIFES-Federação, por meio dos seus sindi-
catos federados, e tem também a intenção de registrar, atualizar e evidenciar
a trajetória histórica da nossa Federação, já escrita e publicada pela entidade em do-
cumentos e folders que a registram até 2012. O acordo de 2015, por exemplo, está pu-
blicado na página da entidade em forma de notícia. O objetivo deste texto é, portanto,
atualizar a cronologia das principais conquistas do PROIFES, com especial atenção
ao último acordo negociado pela Federação com o governo federal, que se desdobra
em 2018 e 2019 numa conjuntura de incertezas e dificuldades.
Este texto é, ainda, parte integrante de um projeto maior, denominado PROIFES
15 Anos, que pretende, por meio de um conjunto de ações de comunicação, destacar
a trajetória da Federação, seu crescimento, consolidação e desafios, de 2004 aos
dias atuais. Para marcar esse calendário, que se completa oficialmente em 2019, o
PROIFES realizará uma série de ações, tais como: o lançamento de um selo come-
morativo; a produção de um vídeo sobre os 15 anos; a criação de uma revista e de um
livro com a cronologia, imagens e histórias dos 15 anos do PROIFES; uma exposição
de fotos itinerante, que passará, ao longo dos próximos 15 meses, por cada um dos
sindicatos federados.
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História do Proifes em foco: 14 anos de luta e conquistas
Conselho Deliberativo, defende a revogação e os mais experientes, todas e todos que aqui
da EC 95 como uma das principais bandeiras estão é porque não desistiram de lutar.
de luta para o próximo período. Embora perplexos, estamos aqui, juntos,
ЇЇ 2019 - Em agosto, se cumprido o acordo, mesmo num tempo infeliz da nossa história em
acontecerá o pagamento de 1/3 da terceira que estamos sendo subtraídos em tenebrosas
e última parcela da restruturação da carreira. transações. Não estamos distraídos, nem dor-
mindo. Estamos alertas e ativos! Nestes e nos
Esta breve cronologia, plena de conquistas próximos 15 anos, nos próximos muitos anos,
para uma entidade ainda jovem, reflete anos de nossa luta viverá.
intensas negociações, nem sempre fáceis, ou
vitoriosas. Mas, sobretudo, reflete também a REFERÊNCIAS
disposição do PROIFES-Federação em ter o di- PROIFES-Federação. 10 anos de PROIFES. Folder.
álogo como princípio, à negociação como meio, 2014.
e a defesa dos docentes, das IFES e da educa-
ção brasileira pública, gratuita, de qualidade e PROIFES-Federação. 10 anos de renovação. 2014
socialmente referenciada como fim.
Para os próximos anos e períodos, o futuro Adurn-Sindicato. Em Foco - Cronologia
do Brasil do golpe se avizinha com muitas incer- comentada. Ed. ago.16.
tezas, confrontos e medos, que nos colocam o
desafio de ampliar a luta, manter a resistência, www.proifes.org.br. PROIFES assina acordo com
revogar os retrocessos. o governo que reestrutura salários e carreiras dos
Quero dedicar esse texto e o vídeo a todos e docentes federais. http://www.proifes.org.br/
todas nós professoras e professores que viemos noticias-proifes/proifes-assina-acordo-com-o-
para o XIV Encontro Nacional do PROIFES-Fe- governo-que-reestrutura-salarios-e-carreiras-
deração. Os novos e os antigos, os mais jovens dos-docentes-federais/.2015
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A atividade sindical
docente em tempos da
Emenda Constitucional 95:
Tempo de radicalização?
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LUIS ANTÔNIO SERRÃO CONTIM - Adufg Sindicato
LUCIANA SILVA ROCHA CONTIM - Adufg Sindicato
FLÁVIO ALVES DA SILVA - Adufg Sindicato
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docentes, tanto nos assuntos relativos à carreira, antipopulares começaram a ser implementadas
salário e melhores condições de trabalho, quanto no Brasil, sob a justificativa de ajustes fiscais ne-
na busca por uma educação nacional de qualida- cessários. Essas medidas abrangeram um drás-
de. O PROIFES foi determinante nas negociações tico corte em programas sociais do governo bra-
salariais e de carreira com o governo federal em sileiro, atingindo áreas essenciais como saúde,
2006, culminando no acordo de 2007, e na manu- educação e segurança pública.
tenção das negociações, firmando novo acordo O ato mais nefasto deste governo se concre-
salarial em 2012, resultando na Lei 12.863/2013, tizou com a aprovação da Emenda Constitucional
com correções na carreira. Em 2015 foi negociado (EC) 95, que congelou os gastos sociais por vinte
pelo PROIFES-Federação com o Governo Federal, anos, colocando em risco todo o Sistema Educa-
nos termos do Acordo 19/2015, que se transformou cional Brasileiro em todos os seus níveis e com-
na Lei 13.325/2016, um aumento de 10,8% em dois prometendo a aplicação do PNE (Plano Nacional
anos (2016 e 2017) e a reestruturação da carreira da Educação). “Se for cumprir todas as metas do
em 3 parcelas (2017, 2018 e 2019) para restabele- PNE é preciso chegar, em dez anos, a 10% do Pro-
cimento definitivo da lógica na tabela salarial. O duto Interno Bruto (PIB) destinados à educação.
governo até então, não negociou nenhum aumento Mas a EC 95 vai reduzir, no melhor dos cenários,
salarial para 2018 e 2019 (4). os investimentos em 25% nos próximos 10 anos, e
Como princípios norteadores de sua ação no pior cenário, cerca de 35% no mesmo período.
sindical docente, o PROIFES defende os “princí- A conclusão é a inviabilização de universidades e
pios de pluralidade, descentralização, indepen- institutos federais brasileiros se dará a curtíssi-
dência e democracia, buscando desde a sua funda- mo prazo, já a partir de 2018”, alerta o professor
ção a abertura de espaços plurais de discussão e Gil Vicente da ADUFSCAR (5).
de expressão, construindo assim uma nova forma Segundo o professor Nilton Brandão (pre-
de organização, contrária à costumeira política de sidente do PROIFES Federação), a estratégia
utilizar os docentes como massa de manobra para do governo Temer é sucatear o serviço público
objetivos partidários, e de deflagrar greves como brasileiro para favorecer a atuação do mercado
condição preliminar, não como último recurso”. privado em áreas como a Educação e a Saúde.
Com esta nova postura, adotou “uma política “Precarizam o serviço público, convencem a po-
ao mesmo tempo firme e propositiva que, sempre pulação de que ele não funciona, o que favorece
fundada na consulta democrática, levou à con- o mercado privado, que aparece como alterna-
solidação de grandes vitórias”. Adicionalmente, tiva para a população que precisa dos serviços.
o PROIFES, juntamente com entidades parcei- É preciso eleger uma bancada de deputados e
ras (CNTE, CONTEE, CAMPANHA, UNE, UBES e senadores comprometidos com a revogação da
outras), tem articulado ações junto aos poderes Emenda Constitucional 95. Sem revogá-la, a edu-
legislativo, executivo e judiciário brasileiros, com cação pública brasileira não terá futuro” (6).
o objetivo de elevar a qualidade do sistema de E não se dando por satisfeito, após a recen-
educação nacional, desde as creches, passando te “greve dos caminhoneiros”, ocorrida no fim de
pelos ensinos fundamental e médio, tecnológico, maio deste ano, o governo decidiu subsidiar parte
superior, de pós-graduação e também pela política do valor do óleo diesel no país com recursos pú-
de pesquisa científica e tecnológica no país (4). blicos, favorecendo os acionistas da Petrobrás,
resultando num desconto de R$ 0,46 por litro do
2 O GOVERNO TEMER E AS óleo diesel nas refinarias. Foi então publicada a
MEDIDAS ANTIPOPULARES. Medida Provisória 838 (MP 838), concedendo o
Após o impeachment de Dilma Russeff em 2016 desconto no diesel e retirando os recursos ne-
e a posse de Michel Temer como presidente da cessários, aproximadamente R$ 9 bilhões, prin-
república, uma série de medidas governamentais cipalmente de áreas como Educação e Saúde. A
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A atividade sindical docente em tempos da Emenda Constitucional 95
retirada destes recursos, em prol dos acionistas e trabalho, jornadas de trabalho, igualdade de direi-
do valor de mercado da Petrobrás, principalmente tos e oportunidades e, principalmente, um estado
após o efeito devastador da EC 95, praticamente democrático que garanta uma vida digna a todos.
inviabiliza os sistemas públicos de educação e O mundo contemporâneo, em plena globali-
saúde no país nos próximos anos. zação, liberalização da economia e o retrocesso da
No cenário atual, o PROIFES tem trabalhado precarização das relações de trabalho, exige que
principalmente para entabular negociações so- sejam utilizadas estratégias sindicais inovadoras,
bre reposições salariais e de ajustes na carreira eficientes, que combatam a desregulamentação
docente, e se posicionado firmemente pela re- do trabalho e que abram o caminho a uma mudan-
vogação da EC 95 e contra as mudanças na apo- ça negociada. As iniciativas precisam partir da
sentadoria dos servidores públicos. Apesar das base, a fim de terem raízes reais. Contudo, tam-
repetidas tentativas, os esforços do PROIFES em bém precisam de um forte compromisso do topo,
entabular negociações têm esbarrado na negativa a fim de transcender a resistência à mudança e
do governo federal em negociar qualquer pauta atingir o grau de coordenação necessário para
que exija aporte de recursos públicos. intervir nas grandes empresas e para influenciar
as políticas governamentais (7).
Dentro da perspectiva da luta sindical docen-
3 ESTRATÉGIAS DE LUTA SINDICAL te por um sistema de ensino público de qualidade,
Historicamente, o movimento sindical desem- laico e democrático, a plenária da Conferência
penhou um papel crucial na luta por salários jus- Nacional Popular da Educação - Conape 2018,
tos, pela segurança e pela saúde do trabalhador, redigiu a “Carta de Belo Horizonte”. O Manifesto
por jornadas de trabalho justas, pela igualdade ressalta que a luta pela educação não pode estar
de direitos, etc. Não obstante, muitos governos desatrelada daquela em defesa da restauração
passaram a se comportar de maneira hostil aos do Estado Democrático de Direito, com o com-
sindicatos. Na década de 1980, o presidente ame- bate sem tréguas aos pesados retrocessos que
ricano Ronald Reagan enfrentou o movimento o governo federal tem impingido à educação e
dos controladores de tráfego aéreo e a primei- às áreas sociais no Brasil. No Plano de Lutas di-
ra ministra britânica Margareth Thatcher en- vulgado destaca-se, de uma forma geral, a luta
frentou fortemente a mobilização dos mineiros. contra a EC 95, o PNE como centro das políticas
A estratégia de ação destes governantes foi a públicas educacionais, dentre outras lutas comuns
criação de leis que enfraqueceram a posição dos por uma educação brasileira de qualidade, laica,
sindicatos, incluindo normas que dificultaram a re- pública e socialmente referenciada. Do ponto de
alização de greves. No Brasil, O Supremo Tribunal vista do trabalhador da educação, reafirmou-se a
Federal (STF), seguindo um caminho semelhante, luta contra a Reforma da Previdência, a Reforma
considerou legítima a possibilidade de órgãos Trabalhista, a Terceirização e todos os ataques
públicos cortarem o salário de servidores em aos direitos trabalhistas.
greve desde o início de sua paralisação, inclusive A grande questão que começa a se confi-
em instituições de ensino. gurar no cenário brasileiro da luta sindical dos
O movimento sindical enfrenta atualmente profissionais da educação é “Como podemos lu-
o desafio de preservar o essencial das suas con- tar de forma eficaz? ”. Temos verificado nos últi-
quistas do século passado e de encontrar novas mos anos um crescente desgaste do instrumento
formas de organização e de ação, adequadas para “greve” na luta sindical docente. No cenário atual,
a era da globalização e do mundo digital/virtual. podemos dizer que a greve nas universidades e
Esta questão é primordial, pois estão em jogo os institutos federais agrava a precarização do ser-
direitos fundamentais dos trabalhadores, tais viço prestado por essas instituições à sociedade,
como salários decentes, segurança e saúde no principalmente àquela porção mais carente da
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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
população que consegue o acesso à essas insti- O debate que se trava em algumas instân-
tuições. Na prática, a greve no cenário atual acaba cias sindicais é falso. Não se trata de negociar
significando instrumento de desmobilização da ou não com o governo de turno. Trata-se, sim, de
base e comprometimento da qualidade do serviço acumular força organizada para derrotar a polí-
prestado à população. tica antitrabalhista. Agora mais do que nunca, a
Com nossas universidades e institutos fe- unidade de ação é a arma da classe trabalhadora
derais em greve, por mais justas que sejam as para enfrentar e derrotar a ofensiva em curso.
reinvindicações das categorias, acabamos por Portanto, existe uma outra saída ou a hora é de
ajudar a reforçar as alegações de ineficiência dos radicalizar a luta com todas as forças e meios de
serviços públicos, normalmente levantadas por que dispomos? (8)
agentes do governo, interessados na privatização Agora uma provocação. O que significa a vol-
dos serviços de educação e saúde públicos. Outra ta do crescimento do ANDES-SN no cenário na-
grande dificuldade atual tem sido a mobilização cional, como, por exemplo, a eleição de diretorias
da base para atos e manifestações públicas, até ligadas ao Andes na APUBH e na ADUNB? Será
mesmo para a participação em assembleias! Na que o posicionamento mais duro e a radicalização
prática sindical, é clara a percepção da terceiri- do discurso andesino tem correspondido mais
zação da luta sindical da base para os dirigentes aos anseios de nossa base docente? Por que o
de sindicatos, lamentável realidade. Como mobi- Proifes não cresce, mesmo tendo feito e assi-
lizar a base? Como lutar eficazmente no cenário nado todos os acordos desde 2006? O Proifes
atual? Como iniciar movimentos paredistas com está na contramão do ditado popular, que diz: É
tão pouco respaldo da base? Como mobilizar, or- para frente que se anda? Por que? O Proifes vai
ganizar e legitimar a luta? continuar a reboque do Andes? Vai continuar in-
vestindo mais tempo e mais dinheiro na política
4 A FILOSOFIA DA RADICALIZAÇÃO internacional, em vez de cuidar da sua própria
SINDICAL E O CRESCIMENTO DO ANDES expansão e sobrevivência?
NO CENÁRIO NACIONAL ATUAL
A classe trabalhadora e suas organizações estão
diante da maior ofensiva do capital para eliminar 5 E O PROIFES?
direitos e conquistas duramente alcançados nas
últimas décadas. A atual ofensiva do capital tra- E agora, José?
vestido de governo tem conduzido as condições A festa acabou,
de trabalho para a era pré CLT, promulgada em a luz apagou,
1943. Os trabalhadores brasileiros estão diante o povo sumiu,
de uma brutal e desumana ofensiva para preca- a noite esfriou,
rizar as condições de trabalho e desestruturar e agora, José?
a legislação protetiva contida na CLT. e agora, você?
A atual ofensiva ocorre no momento de uma você que é sem nome,
profunda recessão no país, com o desemprego que zomba dos outros,
crescente, o que fragiliza, relativamente, a força você que faz versos,
organizada do movimento de resistência dos tra- que ama, protesta?
balhadores. Essa escalada desumanizadora, que e agora, José?
ganhou mais força com o governo Temer, opera (Carlos Drummond de Andrade)
em duas frentes básicas: eliminar os entraves
para a exploração desenfreada do capital e minar A partir da análise e das provocações apresen-
a organização sindical, via uma pretensa reforma tadas acima, colocamos como propostas à ação do
trabalhista. PROIFES Federação e dos sindicatos federados:
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Expansão do Proifes
como nova alternativa
sindical de Resistência
aos ataques do governo a Educação
Superior e a Sociedade
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SOCORRO COELHO
UFPA - Presidente - SINDPROIFES-PA
O CONTEXTO
É com satisfação que saudamos os delegados e observadores do XIV Encontro Nacional do
PROIFES Federação. Esse é um momento impar que reúne professores (as) das Instituições
Federais de Ensino Superior-IFES para debater e pensar perspectivas para as lutas do mo-
vimento docente em face do contexto de crise estrutural do Estado Brasileiro. Afirmamos
tratar-se de uma crise estrutural pelo fato das instituições, da constituição Brasileira e a so-
ciedade em geral estarem sendo atingidas pelas medidas governamentais e pelo Congresso
nacional. Politicas e leis que afetam estruturalmente a vida de toda a população brasileira,
sobretudo, com a aprovação da Emenda Constitucional 95 que congela os investimentos
na área da social por 20 anos.
A Democracia brasileira foi abalada desde a derrubada da Presidente Dilma Rousseff
pelo Congresso nacional com a quebra da à institucionalidade democrática, abrindo espaço
para que o governo Temer desferisse na população golpes em série e toda sorte de violações
aos direitos humanos. Tudo isso de comum acordo com aquele que deveria ser o guardião da
constituição; o Supremo Tribunal Federal.
Um dos mais recentes episódios é ilustrativo da postura persecutória por parte do Juiz
Sérgio Moro em relação à forma como se comportou diante do alvará de soltura do Presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva. O respeito à hierarquia e independência entre os poderes e as
instancias estão em flagrante desordem. O Brasil encontra se em Estado de Exceção. Como
que um juiz em férias de seu trabalho não sendo parte do mais do processo descumpre or-
dens superiores? Seu comportamento revela a perseguição política ao Ex- presidente e sua
postura de militante político partidário do PSDB. A postura da lava jato tem feito muitas vi-
timas, dentre elas destaco que a suicídio de LUIZ CARLOS CANCELLIER DE OLIVO, Reitor
da Universidade Federal de Santa Catarina em consequência de uma prisão midiática, injus-
ta, sem provas referente a acusações de fatos irregulares ocorridos antes da sua gestão.
O magnifico reitor CANCELLIER foi conduzido algemado à Polícia Federal, sofreu fortes
crueldades, passou por revista íntima e sem ser julgado legalmente foi vestido com roupa de
presidiário e encarcerado numa prisão de segurança máxima, conforme foi denunciado pelo
Desembargador Lédio Rosa de Andrade. Sendo afastado da função de reitor e proibido de
entrar na universidade na qual era lotado como servidor público e gestor. Fato de maior humi-
lhação e arbitrariedade. Até hoje os responsáveis pela prisão ilegal e morte não foram punidos.
Sugiro que o XIV Encontro Nacional do PROIFES Federação seja dedicado a resistência aos
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Expansão do Proifes como nova alternativa sindical de resistência
emenda do teto. É necessário continuar debaten- sulta aos seus filiados. A consulta eletrônica tem
do nas IFES o seu conteúdo, assim como ajudar a previsão estatutária. É utilizada em quase todos
população entender da necessidade de renovação os sindicatos da Federação. Não anula em alguns
de parlamentares no próximo pleito eleitoral que casos, a consulta em urna presencial. Às vezes sua
se avizinha. Nossa Federação é apartidária, más apuração é realizada em assembleia geral onde
não é apolítica. Como servidores públicos temos coroa o resultado do pleito em clara demons-
o dever de nos preocupar em eleger parlamenta- tração de garantia da participação de todos (as)
res que defendam os interesses da população, filiados (as) estando os mesmos na universidade
em especial se comprometam com a revogação onde é lotado ou em qualquer lugar do mundo em
da emenda 95. que o professor esteja. A ADUFRGS, a ADURN é
Um dos mais recentes medidas foi à publica- um exemplo bem sucedido dessa atividade sendo
ção de portarias e notas técnicas (NT), como a nº rotineira entre seus filiados. Essa ação caracteri-
2556 referente à Progressão e Promoção dos do- za o PROIFES Federação como uma alternativa
centes que altera os procedimentos processuais sindical conectada com as mudanças sociais e
de solicitação de progressão funcional, inclusive tecnológicas. A mídia digital está presente no
impedindo progressão por titulação com a ata de cotidiano da sociedade e seu uso tem ajudado na
defesa de dissertação ou tese. Outra medida que resolução de problemas. A mídia digital ajuda a
afronta a autonomia universitária foi a portaria aproximar e mobilizar as pessoas, sem obstante
nº 193/2018 expedida pelo Ministério do Planeja- abdicar da mobilização na rua.
mento que permite o remanejamento obrigatório O perfil docente jovem oriundo da política
de servidores Federais com objetivo de racionali- REUNE usa com destreza as redes sociais, criando
zar a gestão pública. Todos esses ataques foram aplicativos, simulando experimentos comparti-
coroados pela apresentação no congresso da Lei lhados para debates em grupos de pesquisas de
de Diretrizes orçamentárias- LDO que entre ou- instituições estrangeiras de forma simultânea,
tros prejuízos proibia o reajuste salarial de ser- esse docente recebe muito bem o PROIFES Fe-
vidores e criação de cargos e concursos. deração alegando o caráter inovador de sua prá-
A pressão durante a votação da LDO/2019 tica sindical.
teve importante atuação do PROIFES com as Quem faz criticas ao PROIFES sobre a utili-
demais entidades percorrendo o congresso para zação de urna eletrônica em consultas aos seus
conversar com lideranças das bancadas dos par- filiados, esquece as bancas de defesas de disser-
tidos de oposição ao governo, chamando atenção tações e teses realizadas com presença de mem-
para votação da LDO e os prejuízos causados ao bros online, atuam em cursos que oferecem for-
serviço público. mação a distancia sem nenhum questionamento.
A Federação PROIFES em conjunto com os Ressaltamos que todos os acordos assina-
movimentos sociais obteve vitória no congresso, dos sobre reajuste salarial e carreira do PROIFES
na medida em que foi retirado do texto o artigo com o governo foram primeiramente apresenta-
que proibia o reajuste salarial e a contratação dos e debatidos com seus sindicatos filiados, em
de novos servidores. Tal contexto comprova o seguida submetidos à votação por intermédio de
protagonismo do PROIFES e sua experiência no urna eletrônica sendo amplamente referendados
diálogo com parlamentares e com governos. Esse com toda lisura que o pleito exige.
protagonismo nos fez conquistar a reestruturação
da carreira negociada no acordo de 2015. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSIÇÕES
A situação politica brasileira é grave, vivemos sob
D. CONSULTA ELETRÔNICA a ditadura das togas, o amanhã é incerto, inclusive
É uma das formas mais interativa, rápida, preo- pode nem haver eleições “livres” para presidente.
cupada com o meio ambiente e inclusiva de con- Os movimentos sociais devem está preparados
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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
para qualquer novidade nesse sentido na medida res. Essa baixa votação sugere espaços para ser
em que um representante das elites e do capi- ocupados pelo PROIFES Federação uma vez que
tal financeiro não consolide como candidatura os filiados dos ANDES não atenderam o chamado
forte para se contrapor a forte candidatura do nem da oposição e nem da situação, em uma clara
preso político Lula. Esse campo de incertezas demonstração que esses não os representam.
abre caminho para a construção de narrativas A Federal do Amazonas é a segunda maior
que possibilitem o esclarecendo sobre os ataques AD do ANDES e onde concentram os agressores
aos direitos adquiridos e exercendo o papel pe- do PROIFES mais ferinos, perdendo apenas para
dagógico que cabe ao sindicato. Esclarecer seus a Federal do Pará em termos de ataques a nossa
filiados sobre seus direitos, deveres é compromis- Federação. Em ambos os casos é onde a ANDES
so social com o país. Para tanto, apresentamos mantem uma média de 250 militantes fieis a enti-
duas proposições que o Encontro Nacional deve dade e registra a maior participação de votantes
analisar com carinho. da região Norte( 28,05%). Se trabalharmos com
Expandir suas ações a outras regiões e insti- a hipótese de que 60% desses votantes sejam
tuições onde os docentes das IFES estão órfãos. aposentados, cabe ao PROIFES ter uma política
As eleições para o ANDES demostrou o grau de para os docentes recém-ingressos nas IFES nessa
descrédito que essa entidade vem recebendo de região. Destacando que existe na IFES da região
seus filiados. Chamo atenção para o quadro abaixo Norte uma parcela significativa do quadro docen-
contendo o ultimo resultado eleitoral dessa en- te oriundos da região sul e sudeste do Brasil que
tidade na região Norte e no Acre, dos quase 500 migraram em busca de oportunidades do empre-
filiados compareceram apenas 15,23% dos eleito- go ofertados as IFES por intermédio do REUNI.
Observando a tabela Norte II do mapa elei- de atenção da ADUFPA tenha provocado uma
toral, observa-se que foi onde houve mais per- cisão, da mesma forma, precisamos saber como
das para a ANDES. A entidade não evoluiu em está à atuação do SINASEFE no Instituto Federal
termos de filiação, pelo contrário, houve queda local. Nossa sugestão é que a nossa Federação
vertiginosa no número de filiados na ADUFPA e concentre os olhos para a região do Tapajós e
UFRA, sem contar que é um território importan- Alter do Chão, no estado do Pará em termos de
te do ANDES localizado em Santarém - primei- ampliação das bases da Federação nessa região.
ro campus Universitário da UFPA no interior do No caso da UFPA o resultado estava na nossa
estado que foi transformado em Universidade. previsão, pois Influenciamos fortemente para desfi-
A UFOPA, estranhamente não aparece no mapa liação em torno de 300 docentes, mesmo com ações
de apuração. Tal situação precisa ser investigada. ainda tímida, mas o pleito é revelador de que apesar
Trata-se de uma instituição com grande número de uma campanha festiva e bem mobilizada propor-
de docentes afastada da capital há tres dias de cionada pelas duas chapas, os filiados não se viram
barco. É possível que a distância, somado a falta representados para votar em nenhuma das duas.
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Expansão do Proifes como nova alternativa sindical de resistência
A parti desse panorama de baixa votação e A própria oposição não foi reconhecida como
adesão dos docentes nesse Pleito eleitoral, con- RENOVAÇÃO em função de laços estreitos com a
sideramos importante inferir sobre os desafio e atual direção. O resultado foi à ausência dos filia-
possibilidades relativas a expansão do PROIFES dos no processo eleitoral, tendo comparecido nas
Federação na região Norte: urnas 26,43% dos filiados. A chapa 01 cuja direção
está há 13 anos obteve 258 votos e os RENOVADOS
A) A ADUFPA com toda máquina de duas centrais obtiveram 98
padece de descredito com uma receita de 93.570 votos. Comparativamente 10 votos a mais dos dois
divulgada no calor do pleito eleitoral não tem re- professores do SINDPROIFES-PA eleitos como
torno para o filiado. O atendimento ao docente delegados ao XIV Encontro Nacional da federação.
limita-se a um espaço de três salas nas depen- Acreditamos que o SINDPROIFES-PA tem campo
dências da UFPA. Ao longo dos mais de 30 anos fértil para consolidar o PROIFES no estado e aju-
de existência, possuem apenas uma casa própria dar na expansão em toda região. Vamos trabalhar
adquirida há 04 anos cuja finalidade e localização para fazer uma ampla campanha de filiação para ter
os filiados desconhecem. A oposição acusa essa nossa própria receita e contribuir com a Federação,
direção partidária de ter financiado a eleição de se tornando um abraço organizativo da categoria
quatro parlamentares. docente do ensino superior no Norte do Brasil.
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Proifes:
2018.2 - 2019.1
Desafios para além do horizonte de eventos
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LÚCIO OLÍMPIO DE CARVALHO VIEIRA
Vice-presidente da ADUFRGS-sindical
IFRS – Campus Porto Alegre
F
aremos este encontro em momento extremamente difícil. Vivemos numa profunda
crise política, por conta de um governo que perdeu toda a credibilidade, uma crise
econômica e social geradora de desemprego decorrentes de erros sucessivos, espe-
cialmente por falta de projetos de desenvolvimento para o país que alterassem a estrutura
produtiva, redefinisse o modal de transporte, modificasse o sistema tributário, tornando-o
mais justo socialmente e promovesse uma profunda reforma político-partidária.
Será nessa conjuntura que devemos aprovar um conjunto de propostas que sejam ca-
pazes de fazer avançar nossas lutas em defesa da democracia, da educação, das instituições
federais de ensino, em defesa do trabalho docente valorizado, dando continuidade ao apri-
moramento da nossa carreira, defendendo a reposição das perdas inflacionárias acumuladas
nos últimos anos e reforçando a autonomia das IFEs.
Devemos, igualmente, nos irmanarmos com todos os setores sociais em defesa do cum-
primento das metas previstas no Plano Nacional da Educação. Cerrarmos fileiras na luta pela
revogação da Emenda Constitucional 95, que congela os recursos destinados às áreas sociais
(saúde, educação, seguridade social). Desencadearmos campanha pela eleição de deputados
e senadores comprometidos com essas causas.
Será necessário reafirmarmos nossa posição contra a reforma da previdência que pre-
judica aqueles que trabalharam e contribuíram para a previdência social e tem o direito a uma
aposentadoria digna.
Qualquer se seja governo que venha a ser eleito o movimento sindical deve manter-se
independente e mobilizado. Não podemos nos confundir com partidos políticos. Devemos
continuar nossa luta em defesa de um estado democrático, soberano e contra a corrupção.
Esta mensagem foi apresentada aos professores filiados à Adufrgs no chamamento
à votação para delegado a este IV Encontro Nacional. A proposição geral foi aprovada. A
questão a partir de agora será a materialização das lutas. Como, neste cenário difícil, fazer
prevalecer os interesses sociais frente aos distintos interesses corporativos e às particula-
ridades político-partidárias?
As eleições que se avizinham pautam inevitavelmente este segundo semestre, exata-
mente neste momento em que realizamos este Encontro. Está evidente o tensionamento
que verificamos de buscar alinhar objetivos sindicais aos interesses político-partidários
mais imediatos. O risco de uma decisão desta natureza é, mais uma vez, perdermos a noção
da luta mais ampla pela transformação da sociedade, reforçando a visão ingênua de que nes-
te momento, qualquer projeto nacional progressista passa por uma única alternativa. Não
fosse o fato de que grande parte dos problemas que vivenciamos hoje são decorrentes de
erros perpetrados por estes mesmos atores (e não faltarão explicações para justifica-los
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Proifes: 2018.2 – 2019.1 – Desafios para além do horizonte de eventos
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Ciência e Tecnologia
fator de convergência e
estratégia de expansão
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LUCIENE DA CRUZ FERNANDES - APUB
RAQUEL NERY BEZERRA - APUB
JOVINIANO SOARES DE CARVALHO NETO - APUB
NILDO MANOEL DA SILVA RIBEIRO -APUB
D
esde a sua fundação a atuação do PROIFES gerou muitas conquistas para os e as
docentes. Destacamos: reposição da inflação do período negociado; reajustes acima
da inflação; elevação do teto salarial; equiparação entre as carreiras de magistério
superior e EBTT; incorporação da GAE e VPI ao vencimento básico (VB), entre outras. Tudo
isto quando tínhamos um governo democrático popular em que era possível haver negocia-
ção, quando a luta dos trabalhadores resultava em conquistas reais. Mas o movimento da
história nos trouxe outro cenário que é tão adverso que tem nos obrigado a avaliar o que
somos e temos feito e planejar os próximos passos.
O objetivo desta tese é, a partir de uma avaliação sobre nossas conquistas recentes, deli-
near a forma de enfrentar os desafios e movimentos que deverão se impor no próximo período.
43
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
e confusão na base. Foi defendida a criação de verno federal para garantir condições de fun-
um discurso político alternativo a esta polariza- cionamento das instituições de ensino superior
ção e definido que esse discurso reconhecesse e de pesquisa. Além disso, a iniciativa induziu ao
os avanços que a Universidade teve nos últimos debate sobre qual modelo de desenvolvimento
anos com a expansão e políticas de inclusão, ao queremos para o Brasil, um modelo em que os
tempo em que se fizesse uma reflexão crítica a ambientes de ensino superior e de pesquisa cien-
respeito do que se tornou e de qual o seu papel tífica sejam fundamentais na busca de soluções
na sociedade. O desafio que se apresentava no para combater a pobreza, a violência, melhorar a
momento era apresentar para a base alternativas saúde e a educação da população e proporcionar
concretas de atuação sindical. maior eficiência e sustentabilidade socioambien-
Logo após esse seminário concretizou-se tal nos projetos que visam ao crescimento do país
o golpe e uma conjuntura nova de impacto para e à diminuição das desigualdades.
a educação, em especial a educação superior, se As primeiras articulações da campanha se
impôs, com cortes de verbas (principalmente a EC deram com a organização das atividades da Mar-
95 e a consequente inviabilização dos 10% do PIB cha da Ciência, movimento internacional que aqui
destinados à educação) – para as universidades e no Brasil contou com a participação das comuni-
para a ciência e tecnologia. Essa conjuntura trou- dades científicas de mais de 20 cidades. A cam-
xe novas dificuldades e reduziu drasticamente a panha também tratou de articular grupos da so-
possibilidade de conquistas de aumentos reais na ciedade civil organizada, professores, estudantes
remuneração (comprometendo avanço na carrei- e técnicos, mobilizando-os através da coleta de
ra com promoções e progressões) e da expansão assinaturas, compartilhando conteúdos de de-
no quadro de servidores e serviços públicos. Tudo núncia sobre os cortes na Ciência e Tecnologia
isso articulado com um projeto marcado pelo nas redes sociais, organizando eventos para de-
entreguismo e pela venda do patrimônio nacio- bate sobre o tema e instalando o “tesourômetro”
nal, enfraquecendo o setor da indústria e fragili- - painéis eletrônicos atualizados diariamente em
zando um projeto de desenvolvimento nacional. que se apresentam os valores dos cortes na área
O golpe rompeu com a relação construída nos da ciência e tecnologia.
anos anteriores, ainda que incipiente, entre a tec- A APUB foi, e ainda é, a única entidade do
nologia e o desenvolvimento nacional. Nordeste a construir a campanha e instalar o te-
As reflexões construídas ao longo do seminá- sourômetro. Ao fim dessa fase, participamos de
rio organizado pela APUB se somaram à participa- ato em Brasília em que foram entregues as assi-
ção da campanha Conhecimento sem Cortes, jun- naturas coletadas, e de uma audiência pública
to com ADUFRJ, APUBH e ADUnB, uma campanha em que tivemos a oportunidade de aprofundar a
de mobilização social aberta e supra partidária discussão e ampliar a denúncia sobre os cortes
promovida por professores universitários, cien- que desde então só se aprofundam. Como forma
tistas, estudantes, pesquisadores e técnicos em de pensar a continuidade dessa campanha após
oposição à redução dos investimentos federais essa primeira fase, realizamos uma nova reunião
nas áreas de ciência, tecnologia e humanidades com a participação de outras entidades (ADUNB,
e ao sucateamento das universidades públicas e ADUFRJ, APUBH, ADUFEPE, ADUFG e ADUFC).
dos institutos de pesquisa no Brasil. Levantamos ainda algumas considerações
O objetivo da campanha era monitorar e de- sobre a desejada “unidade na luta”. É sabido que
nunciar os cortes de orçamento e suas consequ- a fragmentação da mobilização das forças popu-
ências negativas para a sociedade brasileira, além lares foi um fator que pesou negativamente nas
de sensibilizar a população para o que se produz tramas políticas que culminaram no golpe, um
nas universidades e nos institutos de pesquisa. período em que as separações e divergências
Com isso, reuniu-se apoio para pressionar o go- se tornaram mais profundas. Desde então, da-
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Ciência e Tecnologia – fator de convergência e estratégia de expansão
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Breve análise da luta
de classes no Brasil
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OTÁVIO BEZERRA SAMPAIO
IFPR - Presidente do SINDIEDUTEC-Sindicato
O
objetivo deste texto foi resumir brevemente alguns posicionamentos teóricos re-
centes, em relação à formação da sociedade brasileira, numa perspectiva de luta
de classes e, a partir daí, procurou-se ilustrar os projetos políticos em disputa no
cenário nacional.
Souza (2017) define as classes sociais não somente com base na renda, mas também na
cultura e nas relações sociais que foram sendo definidas ao longo da história. Nessa pers-
pectiva, o Brasil possui quatro classes sociais, constituídas ao longo de sua história: a elite,
os trabalhadores, a classe média e a ralé de novos escravos. Esse autor destaca ainda que
durante o período colonial (1500 – 1822), existiam basicamente duas classes sociais, os se-
nhores de engenhos e os escravos.
A sociedade era patriarcal, onde o chefe de família, dono de terras e de escravos, era a
autoridade absoluta em seus domínios, inclusive sobre a Igreja, que dependia economica e
politicamente do senhor de engenho.
A família patriarcal era a representante legítima da sociedade brasileira, formada pelo
senhor de engenho e sua família nuclear, bem como pelos filhos bastardos, dependentes,
agregados, escravos domésticos e da lavoura. Durante este período hegemonia da classe
dominante era exercida pela violência, sem qualquer controle social, dominados pela agres-
sividade, libertinagem e avidez. Essa forma de domínio foi a semente essencial que impul-
sionou a formação social e cultural da sociedade brasileira, que germinou e herdou o sistema
econômico baseado na escravidão, onde as relações interpessoais são fundadas na dor alheia,
o não reconhecimento da alteridade e na perversão do prazer. Foi sádica a relação do homem
português com as mulheres índias e negras; era sádica a relação do senhor com as próprias
mulheres brancas, com os próprios filhos, os seres que mais sofriam depois dos escravos.
Nesse período as funções de confiança, de controle do trabalho e caça de negros fugidos,
além de serviços militares em brigas por limites de terras eram exercidos pelos mestiços e
agregados da família poligâmica ampliada do senhor de engenho. Decorre daí a geneologia
da classe média, que começa a se constituir no Brasil moderno, a partir de 1808, com a vinda
da Coroa Portuguesa, quando o Brasil passa a ser o centro do império português e quando
também tem início à abertura comercial para a Europa, criando-se neste período o mercado
capitalista competitivo e o Estado burocrático centralizado (Souza, 2017).
Para Gilberto Freire a casa grande do senhor de engenho e a senzala dos escravos são
transferidas para sobrados e mocambos das cidades em construção. Com a urbanização o
poder patriarcal deixa de ser pessoal ou da família do senhor de engenho e assume a forma
estatal, tendo o imperador como figura central. Nessa sociedade nascente as antigas posi-
ções polares, senhor de engenho e escravos, perdem peso relativos e os estratos intermedi-
ários da antiga sociedade, quase sempre mestiços, passam a formar o elemento médio, que
se aventuram no capital cultural, artesanal e nos estudos, a exemplo do mulato bacharel, que
47
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
assume as funções de Estado. Pode-se perceber presidenta Dilma Rousseff e prendendo o ex-pre-
aqui a semente da formação de uma classe decisi- sidente Lula, sem qualquer prova contra ambos,
va para a construção do Brasil moderno: a classe é a mesma elite e classe média que calam diante
média. Esta classe já aponta para um mecanismo da corrupção dos políticos e dos seus próprios
de distinção em relação as classes subalternas. partidos, a exemplo do PSDB, do PMDB e seus
Desse modo, o processo de incorporação aliados. Todos eles amplamente denunciados por
do mestiço à nova sociedade foi paralelo ao pro- corrupção e protegidos pela mídia burguesa, pelo
cesso de proletarização e demonização do negro. legislativo e pelo judiciário. Nesse caso, é total-
Para Souza (2017) esta é a pré-história da “ralé mente aplicável a conhecida frase de Maquiavel:
brasileira”, a diferença hoje é que esta classe é Aos amigos, os favores; aos inimigos, a Lei.
composta por negros e mestiços de todas as co- Assim também foi na década de 30, quando
res, mostrando que a antiga “raça condenada” se Getúlio Vargas assumiu o poder com o apoio de
transformou em “classe condenada”, lumpesinato elites regionais subordinadas e setores da classe
ou exército industrial de reserva. Ela serve as clas- trabalhadora, que se rebelaram contra o estado
ses incluídas como elemento para dois tipos de mais rico – São Paulo, criando uma sociedade mo-
distinção, uma simbólica, para provocar o prazer derna, implementando uma política de industriali-
da “superioridade” e do mando; e a outra material zação, instituições de pesquisa, de planejamento
e pragmática, no sentido de criar uma classe sem e leis trabalhistas. A elite burguesa criada com o
futuro, que pode ser explorada a preço vil. Aos desenvolvimento industrial do período Vargas
escravos e seus descendentes, a ralé de hoje, foi foi a mesma que o levou ao “suicídio” em 1954;
deixado o achaque, o deboche cotidiano, a piada que colaborou com o golpe e o regime militar, de
suja, a provocação tolerada e incentivada por 1964 a 1985 e é a mesma que persegue o projeto
todos, as agressões e os assassinatos impunes. popular do PT e que deu o Golpe em 2016.
Quando a classe média vai as ruas a partir de Souza (2017) reitera que as contradições e
junho de 2013 e posteriormente usa a corrupção os conflitos centrais de uma sociedade são sem-
como pretexto, o verdadeiro objetivo é o ódio pre relações de dominação entre classes sociais.
encoberto e dissimulado contra a inclusão social Entretanto no contexto atual a elite demonizou o
da “classe condenada”, contra o projeto político marxismo e a noção de luta de classes, que por sua
do Partido dos Trabalhadores no poder, que pela vez foi deixada em segundo plano pela esquerda.
primeira vez na história brasileira iniciou um pro- Para Ridenti (1994) não há unanimidade entre
cesso de inclusão da “classe condenada”. A cor- os marxistas sobre o conceito de classes sociais.
rupção seletiva comandada pela farsa da lava Num sentido amplo, as classes sociais identificam
jato foi uma fachada para encobrir os verdadei- os grandes grupos humanos que se relacionam e
ros interesses da classe média, que tinha como lutam entre si para produzir o próprio sustento,
objetivos estratégicos ganhar força nas relações criando relações de dominação para apropriar-se
de poder, interrompendo o projeto popular de in- do excedente gerado além do mínimo necessário
clusão da “classe condenada”. Tanto é assim, que à subsistência.
o combate a corrupção desencadeado pela elite, Marx definiu a luta de classes como a for-
foi exclusivamente contra os políticos e o Partido ça motriz da história humana, o combustível da
dos Trabalhadores, quando ocupou o poder, entre mudança do mundo social e entende que a luta
2003 a 2016, decorrente da ascensão da classe de classes só acabará com o fim do capitalismo,
trabalhadora nos anos 80. e por consequencia, o fim da divisão de classes
A mesma elite que usou e mobilizou a classe sociais. Entende ainda que as classes têm fins
média, a mídia burguesa e amplos setores da es- políticos claramente definidos e que buscam rea-
trutura do estado, como o legislativo, o judiciário e lizar seus objetivos fazendo opções estratégicas
a polícia federal contra o PT, inclusive cassando a em situações de escolha.
48 São Luís/MA
julho 18
Breve análise da luta de classes no Brasil
São Luís/MA
julho 18
49
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
Perissinotto, R. M; O 18 Brumário e a Análise de Classe Cortez Editora. São Paulo. 1994. 118p.
Contemporânea. Lua Nova, São Paulo, 2007. 43p.
Souza, J.; A Elite do Atrazo: da escravidão a Lava
Ridenti, M.; Classes Sociais e Representação. Jato. Rio de Janeiro. Leya. 2017. 239p.
50 São Luís/MA
julho 18
Fim da EC 95 e
Reforma Fiscal Solidária:
elementos de um
enfrentamento inevitável
_________________________________________________________________________________________________________________________________
GIL VICENTE REIS DE FIGUEIREDO
ADUFSCar/PROIFES
51
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
O gráfico abaixo apresenta a simulação posto pela EC 95, supondo-se que o mesmo se
decorrente da utilização dos dados contidos aplique, de forma correspondentemente linear,
no texto em questão e do congelamento im- à educação.
No gráfico acima, a curva azul indica a trajetó- diferente da vigente naqueles países. De fato,
ria que teria que ter o investimento em educação o IBGE informou, em sua publicação de 2013,
até 2025, supondo-se que fossem alcançadas as os seguintes dados e projeções:
metas de 7% até 2019 e 10% do PIB/ano até 2025, ЇЇ Em 2000: população até 24 anos (idade
conforme prevê o PNE; enquanto que a curva ver- escolar), 86.551.364, 49,9% da população
melha representa a simulação da destinação de total, 173.448.346;
recursos à educação, anualmente e como percen- ЇЇ Em 2050 (projeção): população até 24
tual do PIB, caso seja mantida em vigor a EC 95. anos, 55.920.281, 24,7% da população to-
Fica evidente que, nesse contexto, não se- tal, 226.347.688.
rão alcançadas as metas previstas no PNE e,
muito menos, a qualidade aí preconizada (como Logo, em 5 décadas, a proporção de crian-
definida a partir do Custo Aluno Qualidade), que ças e jovens em idade escolar cairá pela metade,
depende da elevação de investimento por alu- atingindo os níveis que, hoje, são verificados nos
no, em termos do PIB Per Capita (PPC), o que chamados ‘países desenvolvidos’ (a maioria dos
igualmente estará inviabilizado. que compõem a OCDE). Além disso, há que con-
siderar que, num momento inicial, será preciso
2 SÃO DE FATO NECESSÁRIOS 10% um investimento maciço, para fazer frente às
DO PIB/ANO PARA A EDUCAÇÃO? defasagens históricas que todos conhecem. De
Uma questão que importa esclarecer é a que mais a mais, estudos cuidadosos já publicados
se refere à efetiva necessidade de alcançar pelo PROIFES demonstram que para atingir as
10% do PIB/ano para a educação. Um dos ar- metas do PNE com a qualidade aí requerida são
gumentos apresentado contra essa demanda necessários valores próximos a 10% do PIB.
é que, nos países da OCDE, a média de inves- Para indicar brevemente a metodologia utiliza-
timentos é levemente inferior a 6% do PIB/ da, mostramos a seguir, a título de exemplo, os dados
ano. Entretanto, tal defesa não se sustenta, relativos à Educação Infantil – Creche: evolução do
por vários motivos. O primeiro deles é que a atendimento a crianças até 3 anos (Quadro 1) e investi-
pirâmide etária, no Brasil, é profundamente mento por aluno e como percentual do PIB (Quadro 2).
52 São Luís/MA
julho 18
Fim da EC 95 e Reforma Fiscal Solidária: elementos de um enfrentamento inevitável
Quadro 1
Meta: alcançar 50% da faixa etária (atendimento total) até 2024.
Hipóteses: 1) Expansão garantida pela esfera pública; 2) População – conforme estimativa IBGE.
Educação Infantil - Creche: Censo Escolar, 2002 - 2014 (INEP) + previsões PNE até 2024.
Ano Pública Privada Total Pop. 0 - 3 a % Públ. % Priv. % total
2002 773.964 435.204 1.209.168 13.949.248 5,5% 3,1% 8,7%
2003 767.505 470.053 1.237.558 13.948.915 5,5% 3,4% 8,9%
2004 844.066 504.171 1.348.237 13.854.872 6,1% 3,6% 9,7%
2005 879.117 535.226 1.414.343 13.674.889 6,4% 3,9% 10,3%
2006 917.460 510.482 1.427.942 13.430.360 6,8% 3,8% 10,6%
2007 1.050.295 529.286 1.579.581 13.140.456 8,0% 4,0% 12,0%
2008 1.143.430 608.306 1.751.736 12.817.170 8,9% 4,7% 13,7%
2009 1.252.765 643.598 1.896.363 12.476.742 10,0% 5,2% 15,2%
2010 1.353.736 710.917 2.064.653 12.136.425 11,2% 5,9% 17,0%
2011 1.470.507 828.200 2.298.707 11.807.606 12,5% 7,0% 19,5%
2012 1.611.054 929.737 2.540.791 11.499.318 14,0% 8,1% 22,1%
2013 1.730.877 999.242 2.730.119 11.218.585 15,4% 8,9% 24,3%
2014 1.830.291 1.061.685 2.891.976 10.967.387 16,7% 9,7% 25,4%
2015 2.036.918 1.061.685 3.098.603 10.749.733 18,9% 9,9% 28,8%
2016 2.243.545 1.061.685 3.305.230 10.569.033 21,2% 10,0% 31,3%
2017 2.450.172 1.061.685 3.511.857 10.422.908 23,5% 10,2% 33,7%
2018 2.656.799 1.061.685 3.718.484 10.307.128 25,8% 10,3% 36,1%
2019 2.863.426 1.061.685 3.925.111 10.215.867 28,0% 10,4% 38,4%
2020 3.070.053 1.061.685 4.131.738 10.141.731 30,3% 10,5% 40,7%
2021 3.276.680 1.061.685 4.338.365 10.079.253 32,5% 10,5% 43,0%
2022 3.483.307 1.061.685 4.544.992 10.024.074 34,7% 10,6% 45,3%
2023 3.689.934 1.061.685 4.751.619 9.971.704 37,0% 10,6% 47,7%
2024 3.896.561 1.061.685 4.958.246 9.916.492 39,3% 10,7% 50,0%
Educação Infantil, Creche: Censo Escolar, 2015 – 2017 (INEP)
Ano Pública Privada Total Pop. 0 - 3 a % Públ. % Priv. % total
2015 1.936.614 1.106.934 3.043.548 10.749.733 18,0% 10,3% 28,3%
2016 2.081.924 1.151.815 3.233.739 10.569.033 19,7% 10,9% 30,6%
2017 2.226.173 1.180.623 3.406.796 10.422.908 21,4% 11,3% 32,7%
São Luís/MA
julho 18
53
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
Quadro /2
Educação Infantil - Creche: evolução investimentos PNE (PPC e total), até 2024.
Ano Pública % PPC PPC total População % PIB (PNE)
2002 773.964 11,9% 92.141 176.303.919 0,05%
2003 767.505 11,4% 87.650 178.741.412 0,05%
2004 844.066 11,8% 99.344 181.105.601 0,05%
2005 879.117 12,0% 105.701 183.383.216 0,06%
2006 917.460 13,9% 127.222 185.564.212 0,07%
2007 1.050.295 15,3% 160.349 187.641.714 0,09%
2008 1.143.430 16,5% 188.258 189.612.814 0,10%
2009 1.252.765 17,8% 222.676 191.480.630 0,12%
2010 1.353.736 18,8% 254.216 193.252.604 0,13%
2011 1.470.507 19,9% 292.638 194.932.685 0,15%
2012 1.611.054 21,7% 349.197 196.526.293 0,18%
2013 1.730.877 22,8% 395.230 198.043.320 0,20%
2014 1.830.291 21,8% 398.969 199.492.433 0,20%
2015 2.036.918 23,5% 479.048 200.881.685 0,24%
2016 2.243.545 25,2% 566.237 202.219.061 0,28%
2017 2.450.172 27,0% 660.534 203.510.422 0,32%
2018 2.656.799 28,7% 761.940 204.759.993 0,37%
2019 2.863.426 30,4% 870.454 205.970.182 0,42%
2020 3.070.053 32,1% 986.078 207.143.243 0,48%
2021 3.276.680 33,8% 1.108.810 208.280.241 0,53%
2022 3.483.307 35,6% 1.238.651 209.380.331 0,59%
2023 3.689.934 37,3% 1.375.600 210.441.362 0,65%
2024 3.896.561 39,0% 1.519.659 211.459.352 0,72%
Vê-se no Quadro 1 que o total cumprimento Da mesma forma, podem ser calculados os
do PNE (sob as hipóteses explicitadas) se da- percentuais a serem investidos em cada nível
ria com o atendimento pela rede pública, em e modalidade de ensino. O investimento total
2024, de 3.896.561 crianças de até 3 anos, de em 2024, estimado por meio da metodologia
forma a, juntamente com o atendimento pela indicada, é de aproximadamente 10% do PIB/
rede privada, alcançar a meta de 50% do total ano. Em 2050, quando a pirâmide etária brasi-
de crianças (projeção IBGE) naquele ano. E, no leira irá se aproximar daquela hoje vigente para
Quadro 2, observa-se que o investimento pú- os países da OCDE, o investimento necessário
blico total no Ensino Infantil – Creche deverá ficará entre 6% e 6,5% do PIB (dependendo da
passar de 0,20% do PIB/ano, em 2014, para fixação de metas posteriores), com os mesmos
0,72% do PIB/ano em 2024, de forma a cum- parâmetros de atendimento e qualidade.
prir o investimento de 39% do PPC por criança,
por ano, conforme indicam os estudos tanto da 3 DE ONDE VIRIAM OS RECURSOS
Campanha Nacional pelo Direito à Educação NECESSÁRIOS PARA A EDUCAÇÃO E
quanto do PROIFES. DEMAIS ÁREAS SOCIAIS?
Nota-se, também, dos dados acima, que o Pelo exposto acima, o PNE prevê a destinação
atendimento público informado pelo INEP/MEC – além dos 6% PIB/ano vigentes em 2014 – de
em 2017 é cerca de 225.000 crianças abaixo do es- outros 4% PIB/ano adicionais, no período de
tipulado pelo PNE (sob as hipóteses explicitadas). uma década. A educação, contudo, não é a única
54 São Luís/MA
julho 18
Fim da EC 95 e Reforma Fiscal Solidária: elementos de um enfrentamento inevitável
área social que demanda recursos. Para alcan- o inaceitável nível de injustiça que hoje permeia
çar um atendimento igualmente universal e de o processo de arrecadação dos recursos que
qualidade na saúde pública, para zerar o déficit compõem o Orçamento da União. Os dados que
habitacional, e demais desafios sociais, certa- apresentamos a seguir são extraídos do exce-
mente será necessário investir, no curto prazo, lente e recém-publicado documento da ANFIP
pelo menos mais 10% do PIB/ano (todas as áre- (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da
as). A pergunta que se coloca nesse contexto é: Receita Federal do Brasil) / FENAFISCO (Fede-
de onde viriam esses recursos e quais enfren- ração Nacional do Fisco Estadual e Distrital), inti-
tamentos seriam necessários para viabilizar as tulado “Reforma Tributária Solidária: A Reforma
respectivas políticas públicas? Necessária”. Em primeiro lugar, há que descons-
Para lidar com a essa pergunta, desdobra- tituir o mito de que a Carga Tributária no Brasil
remos a resposta em duas teses: como arreca- é uma das mais altas do planeta. Essa afirmação
dar mais cobrando de quem tem mais; e como é falsa, como demonstra o Quadro 3 abaixo: a
destinar menos a quem já tem demais. Antes de maioria dos países citados têm carga tributária
passar a esses pontos, porém, é preciso expor total maior do que a do Brasil.
Quadro 3
Países Renda Patrimônio Consumo Outros Total CT
Dinamarca 63,1 4,1 31,6 1,2 100 45,9
França 23,5 9,0 24,3 43,2 100 45,2
Bélgica 35,7 7,8 23,8 32,7 100 44,8
Itália 31,8 6,5 27,3 34,4 100 43,3
Suécia 35,9 2,4 28,1 33,6 100 43,3
Noruega 39,4 2,9 30,4 27,3 100 38,3
Holanda 27,7 3,8 29,6 38,9 100 37,4
Alemanha 31,2 2,9 27,8 38,1 100 37,1
Portugal 30,2 3,7 38,4 27,7 100 34,6
Espanha 28,3 7,7 29,7 34,3 100 33,8
Reino Unido 35,3 12,6 32,9 19,2 100 32,5
Japão 31,2 8,2 21,0 39,6 100 30,7
Estados Unidos 49,1 10,3 17,0 23,6 100 26,2
Coreia do Sul 30,3 12,4 28,0 29,3 100 25,2
Irlanda 43,0 6,4 32,6 18,0 100 23,1
Chile 36,4 4,4 54,1 5,1 100 20,5
Média 35,8 6,6 29,8 27,9 100,0 35,1
Brasil 21,0 4,4 49,7 24,9 100 32,6
São Luís/MA
julho 18
55
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
Dessa tabela deduz-se ainda um outro fato, tre todos os países, aqui se cobram os menores
mais importante ainda. No Brasil se cobram im- impostos sobre a renda. O gráfico que se segue
postos abusivos sobre o consumo – os maiores compara o Brasil, os Estados Unidos e a média
dentre todos os países listados. E, também en- dos países acima.
Para finalizar estas considerações iniciais, isenção que invade a parcela do rendimento con-
reproduzimos abaixo trecho do documento da siderado como mínimo existencial, e a reduzida
ANFIP / FENAFISCO: alíquota máxima do imposto praticada no Brasil
“Em grande medida, o caráter regressivo (27,5%) na comparação internacional.”
do imposto sobre a renda no Brasil decor-
re de três fatores principais, enumerados 3.1 COMO ARRECADAR MAIS
a seguir. COBRANDO DE QUEM TEM MAIS.
A revogação da EC 95 – da qual não se pode
Em primeiro lugar, dois fatores introduzi- abrir mão de nenhuma maneira – é uma pré-
dos em 1995 (Lei nº 9.249) que propiciam a ele- -condição absolutamente essencial nas atuais
vada desoneração tributária das classes mais circunstâncias; mas é preciso entender que não
favorecidas: é será suficiente para propiciar as mudanças
ЇЇ O mecanismo que permite às empresas a de- fundamentais que levem o País a um futuro de
dução de juros sobre o capital próprio (uma menos injustiça social.
suposta “despesa financeira” das empresas É de máxima importância, portanto, que o
com juros pagos sobre o seu próprio capital). Brasil, no curtíssimo prazo, realize Reforma Tri-
ЇЇ A permissão para a completa isenção dos butária que altere radicalmente a situação atu-
lucros e dividendos distribuídos aos sócios al, na linha do que é apontado no documento da
e acionistas das empresas, inclusive quando ANFIP /FENAFISCO. Independentemente disso,
destinados ao exterior. contudo, citamos adiante vários mecanismos que
poderiam ser cogitados como fonte dos recursos
Em segundo lugar, as diversas brechas legais que devem ser destinados às áreas sociais, em
para mitigar a taxação do lucro presentes nos um quadro de pós-revogação da EC 95.
três regimes de tributação das pessoas jurídicas É preciso fazer com que a exploração dos
(simples; lucro presumido; e lucro real). imensos recursos que o País tem possa contri-
Em terceiro, a inadequada progressão da ta- buir de forma significativa para a melhoria dos
bela de incidência do IRPF, com o baixo limite de serviços essenciais.
56 São Luís/MA
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Fim da EC 95 e Reforma Fiscal Solidária: elementos de um enfrentamento inevitável
Assim, a Lei nº 12.858/13 destinou 50% do gões), ou seja, 10,8 PIBs (o PIB projetado para 2018
Fundo Social (criado pela Lei da Partilha) e de é R$ 6,66 trilhões). Portanto, adotando alíquota
75% dos Royalties e Participações Especiais da de apenas 0,10% - pouco mais da quarta parte do
União para a educação e saúde. Em previsão feita que era a CPMF – arrecadar-se-ia valor superior
em 2014 (por Paulo César Ribeiro Lima, Consul- a 1,0% do PIB / ano.
tor Legislativo da Câmara Federal para a área de Em relação ao patrimônio, a Constituição
energia), em 2024 seria possível obter, por essa Federal (CF) de 1988 (Art.153, inciso VII) autoriza
via, cerca de 0,8% do PIB/ano. Entretanto, o o Governo a cobrar um imposto sobre grandes
PLS 131 (José Serra, 2016) retirou a obrigatorie- fortunas e prevê que lei complementar discipline
dade da Petrobrás atuar como operadora, com a matéria, regulamentando-a. Entretanto, nos 30
30% de participação mínima nos consórcios do anos já decorridos após a promulgação da CF de
Pré-sal, o que pode afetar essa previsão (que está, 1988 a regulamentação não aconteceu: nenhuma
obviamente, suscetível a outras variáveis, como das iniciativas enviadas ao Congresso Nacional
o preço internacional do petróleo). prosperou. Uma delas, o PLC 48/2011, se aprova-
No Brasil, os royalties sobre a exploração da, renderia 0,3% do PIB / ano. De acordo com
das riquezas minerais são muito baixos: ferro, 2%; esse PL, 70% desses recursos viriam (em reais
alumínio, 3%; manganês, 3%; ouro, 1%; pedras de 2012) de fortunas superiores a R$ 116 milhões.
preciosas, 0,2%. Para efeito de comparação, os Registre-se que no Brasil, de acordo com dados
valores no Canadá variam entre 3% e 9% e nos do IBGE (2012), 901 pessoas com riqueza média
Estados Unidos entre 5% e 12,5%. Um novo ‘Mar- de R$ 620 milhões cada uma detinham patrimônio
co da Exploração Mineral’ poderia elevar a CFEM equivalente a 13% do PIB (daquele ano).
(Contribuição Financeira sobre a Exploração de No tocante a desonerações tributárias, o
Recursos Minerais); diversas previsões apontam auge foi em 2012, quando alcançaram R$ 142 bi.
para valores adicionais de 0,4% do PIB/ano. Em 2016, foram de R$ 91 bi, montante superior a
Por outro lado, poder-se-ia reinstituir a 1,5% do PIB / ano.
CPMF – não da forma em que existiu, atingindo Em resumo: os itens acima mencionados,
a todos por igual, mas sim como uma contribuição somados, chegam a 5,4% do PIB / ano, mais do
progressiva, em que movimentações de menor que suficientes para financiar uma educação de
monta fossem isentas e os grandes fluxos finan- qualidade em todos os níveis e modalidades e,
ceiros fossem taxados em percentuais crescen- além disso, dar forte impulso aos investimentos
tes. Vale lembrar que, em 2007, ano em que antiga em saúde pública.
CPMF foi extinta, arrecadou-se, por esse meca- Isso sem falar na criação de mecanismos
nismo, R$ 36,5 bilhões, ou 1,4% do PIB / ano. objetivando evitar manobras fiscais que redu-
A taxação sobre especulação financeira em zam a contribuição tributária das pessoas jurí-
bolsa de valores (BOVESPA) é outro instrumento dicas, além de uma nova legislação que aumente
capaz de arrecadar recursos de alta monta. O volu- as alíquotas de contribuição para rendas muito
me das transações em bolsa (ações, opções, con- elevadas – como mencionado pelo documento da
tratos e minicontratos de índice, de dólar, juros, ANFIP / FENAFISCO. E, claro, sem mencionar a
etc.) é astronômico. Em 2015 alcançou R$ 60,58 sonegação fiscal conhecida por todos, que atinge
trilhões, ou 10,3 PIBs. Já entre 25 de junho e 06 de valores igualmente descomunais.
julho de 2018 a média de movimento diário foi de
R$ 284,3 bilhões (ver http://www.bmfbovespa. 3.2 COMO DESTINAR MENOS
com.br/pt_br/servicos/market-data/consultas/ A QUEM JÁ TEM DEMAIS.
mercado-de-derivativos/resumo-das-operaco- O que já foi dito acima, entretanto, está longe de
es/resumo-por-produto/), o que aponta para um ser tudo: o Brasil utiliza imensos recursos para
total anualizado de R$ 71.644 bilhões (252 pre- remunerar os detentores da Dívida Pública. O
São Luís/MA
julho 18
57
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
Gráfico 1 abaixo mostram os valores dos juros e Isso produziu transferência de recursos para
encargos da dívida, que flutuaram, entre 2008 e os rentistas na taxa média de cerca de 3,5% do
2016, na faixa 5% a 7% - a mais alta do planeta. PIB/ano.
Gráfico 1
Gráfico 2
Apesar disso, o valor da dívida (como per- como mecanismo de redistribuição de renda, rumo
centual do PIB) continua crescendo, como mostra a um futuro menos injusto. Entretanto, a manuten-
o Gráfico 2. A CF 88 possibilita, em seu Art.71, a ção da EC 95 levará, de imediato, a um desastre sem
realização de auditorias, como a necessária em precedentes em todas as áreas sociais: educação,
relação ao pagamento da Dívida Pública. Já é pas- saúde e previdência – dentre outras. O impacto
sada a hora de realizar tal auditoria. sobre as Universidades e Institutos Federais será
devastador – e os efeitos dessa medida já se fazem
4 QUAIS SERÃO OS EFEITOS IMEDIATOS sentir com força, neste ano de 2018. Isso não se
DA EC 95 SOBRE O SISTEMA DE IFES? dará apenas porque o percentual a ser destinado
Está absolutamente claro que a revogação da EC à educação irá recuar para pouco mais de 5% em
95 não resolverá, por si só, os problemas de fundo uma década – e provavelmente para pouco mais
do País, que demandam a implantação de uma Re- de 4% em duas décadas (se continuar a vigência
forma Fiscal Embora uma ‘Reforma Fiscal Solidária’, da EC 95).
58 São Luís/MA
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Fim da EC 95 e Reforma Fiscal Solidária: elementos de um enfrentamento inevitável
Esse é aliás, o valor que vigorava durante lá para cá houve uma imensa expansão do sis-
o governo Fernando Henrique Cardoso, nos tema de IFES, como demonstram os Gráficos
anos 90. Só que há uma diferença básica: de 3 e 4 abaixo.
Gráfico 3
ES Pública = cruzes (cinza, à distância; marrom, presencial; vermelho = total). ES Privado = triângulos (azul claro, à distância;
verde escuro, presencial; verde claro, total). Total geral = bolas (azuis escuras). Fonte: INEP/MEC.
Gráfico 4
O fim das contratações e a violenta contra- as IFES e num inimaginável recuo para o País,
ção real de recursos e de salários que está a cami- tanto em termos de formação de profissionais de
nho, agora que temos um forte quadro qualificado excelência quanto de produção de conhecimen-
e atuante, com o conjunto de IFES embaladas em to – ambos essenciais para o desenvolvimento
mais de uma década de expansão, com cursos técnico, científico e social do Brasil.
abertos e em implantação, com campi inconclu- A EC 95 – se não for extinta – irá promover
sos, com edifícios em meio à construção, redun- um apagão na educação no País, em todos os ní-
dará num desastre de enormes proporções para veis, e, de forma particularmente cruel, no ensino
São Luís/MA
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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
superior público federal – um dos segmentos que Acrescente-se a isso outras decorrências
mais se expandiu no passado recente: é como inevitáveis: congelamento de contratações nas
colocar em marcha à ré um carro que acabou de IFES, enquanto durar a EC 95; congelamento no-
engatar uma primeira. minal dos salários (idem) e forte redução do nú-
Os cortes de investimento já estão sendo mero de bolsas.
dramáticos, e o quadro irá piorar nos anos vin-
douros: 5 QUE FAZER?
ЇЇ Orçamento de investimento das Universi- Esse caminho só tem volta se pudermos eleger
dades, 2015: 13 bilhões de reais; presidente e Congresso Nacional capazes de re-
ЇЇ Orçamento de investimento das Universi- verter a EC 95 e os atuais rumos privatistas.
dades, 2017: 8,7 bilhões de reais; Revogar a EC 95 é o mínimo obrigatório, que
ЇЇ Orçamento de investimento das Universi- tem que acontecer de imediato, se quisermos que
dades, 2018: 5,9 bilhões de reais. a educação e o Brasil tenham futuro. Apenas isso,
ЇЇ Orçamento de investimento dos Institu- contudo, não será de forma nenhuma suficiente.
tos, 2015: 7,9 bilhões de reais; Não é admissível continuar apostando em
ЇЇ Orçamento de investimento dos Institu- alianças com aqueles que não se dispõem a enfren-
tos, 2017: 3,7 bilhões de reais; tar os imensos privilégios das elites financeiras que
ЇЇ Orçamento de investimento dos Institu- sempre dominaram o País, e nem os fortíssimos in-
tos, 2018: 2,8 bilhões de reais. teresses estrangeiros dos que sempre pilharam as
Conclusão: a inviabilização de Universidades riquezas nacionais. E, como sabemos, no Congresso
e Institutos Federais brasileiros se dará a curtís- Nacional esses hoje são a grande maioria – até por-
simo prazo, já a partir deste ano de 2018. que efetivamente representam precisamente esses
Os cortes no custeio seguem igual tendência. mesmos interesses. Não é possível seguir de mãos
Neste ano já começam a eclodir conflitos internos dadas com aqueles que querem manter e aprofun-
de grandes proporções em várias IFES, já que não dar o fosso que os separa da população brasileira.
há recursos para bancar simultaneamente os gas- Temos, nestas eleições, que cobrar dos can-
tos básicos (como pagamento de energia, água, didatos aos mais diversos cargos que se compro-
etc.), serviços essenciais como vigilância e limpe- metam com a revogação da EC 95; mas, muito para
za, e incentivo para que os alunos provenientes além disso, temos que deles exigir o compromisso
de famílias com menor poder aquisitivo possam de lutar pela reversão do modelo de perpetuação
se manter nas instituições. das injustiças que há séculos aqui perduram.
Não é por outra razão que a grande imprensa O PROIFES e seus sindicatos têm que fazer sua
– que tem apoiado, em sua essência, as mudan- parte, ainda que modesta, nessa difícil luta. Nos cabe
ças advindas com o golpe político que inverteu as explicitar um programa em defesa de uma educa-
prioridades votadas nas urnas em 2014 – já pauta ção universal, gratuita e de qualidade, em todos os
com insistência o ‘ensino pago nas IFES’. níveis. E nos cabe cobrar dos candidatos adesão a
Em Ciência e Tecnologia o quadro é bastante esse programa, usando de todos os meios ao nosso
semelhante: se tomarmos o orçamento de 2013 dispor para divulgar da forma mais ampla possível
como 100, o de 2017 será 50 e o de 2018, 40. quais candidatos devem merecer o nosso voto.
60 São Luís/MA
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Resgate histórico
de movimentos de
caminhoneiros
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OTÁVIO BEZERRA SAMPAIO
IFPR - SINDIEDUTEC-Sindicato
O
objetivo principal desse trabalho foi analisar, dentro de uma perspectiva histórica, o
impacto político do movimento dos caminhoneiros no Brasil, em 2018, nos Estados
Unidos, nas décadas de 50 a 70 e no Chile nos anos 70.
A história dos caminhoneiros e de suas lutas nos Estados Unidos pode ser ilustrada, em
parte, no filme “Hoffa”, que conta a história de Jimmy Hoffa, um poderoso líder sindical, que
presidiu, entre 1957 e 1971, o Sindicato Nacional dos Motoristas de Caminhões dos Estados,
com cerca de dois milhões de filiados. Em 1982, Hoffa desapareceu misteriosamente, sem
que o seu sumiço tenha sido esclarecido até os dias atuais. A política do sindicato e de seu
líder gerava muitas controvérsias, inclusive a de fazer acordos com setores da máfia, com o
objetivo de fortalecer a luta dos caminhoneiros. Foi assim que Hoffa conseguiu um acordo
histórico entre vários sindicatos do país. Após esta conquista, foi condenado e preso por um
longo período, acusado de fraude e tentativa de suborno. Posteriormente, em 1971, foi per-
doado pelo presidente Richard Nixon, entretanto foi impedido de regressar a atividade sin-
dical. Reconhecendo seus méritos, o sindicato dos caminhoneiros (Teamsters) lhe concedeu
uma indenização.
No Chile, em 1972, os caminhoneiros fizeram uma greve que durou 26 dias e con-
tribuiu para agravar a crise econômica pela qual passava o país. Esta greve contribuiu
para derrubar o governo de esquerda e resultou no golpe de Estado que retirou o pre-
sidente Salvador Allende do poder. Ele havia sido eleito em 1970 com uma plataforma
de nacionalização de serviços, como o sistema de saúde e da indústria mineral, além
de propor a redistribuição de terras. Em agosto de 1973, um ano depois da primeira
greve, 40.000 caminhoneiros voltariam a paralisar o país, ao lado de outros 210.000
donos de pequenos negócios e empresários. A instabilidade e a crise econômica le-
varam o presidente Allende a ser deposto pelo exército e pela força nacional em 11 de
setembro de 1973, numa tomada de poder que incluiu o bombardeio do palácio pre-
sidencial de La Moneda e o suicídio de Allende, em um dos episódios mais violentos
da história do Chile.
O filme “F.I,S.T” - Federation Interstate Truckers, retrata o começo do movimento
operário dos Estados Unidos, nos anos 30 e a maior greve de caminhoneiros, em 1978,
contra a companhia de transporte de cargas, Consolidated, onde são reivindicadas
melhores condições de trabalho, pagamento de horas extras, plano de saúde para os
caminhoneiros e seus familiares. A greve iniciou de forma pacífica, entretanto os pa-
trões utilizaram a violência, inclusive causando a morte de uma liderança sindical. Os
caminhoneiros se associaram a um mafioso local, como estratégia de contra-atacar
as arbitrariedades dos patrões. Dessa forma conseguiram superar a resistência das
empresas, conquistando assim várias reivindicações trabalhistas.
61
TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
1 PIS – Programa de Integração Social. COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.
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Resgate histórico de movimentos de caminhoneiros
São Luís/MA
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TEMA 1 Conjuntura Nacional e as perspectivas dos Movimentos Sociais
64 São Luís/MA
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tema
2
Os impactos das
reformas do
Estado na
Educação Brasileira:
Os desafios do
Movimento Docente
As recentes ameaças
à autonomia dos
Institutos Federais
_________________________________________________________________________________________________________________________________
EDUARDO DE OLIVEIRA DA SILVA
ADUFRGS Sindical
O
s Institutos Federais constituem um novo paradigma na formação profissional em
nosso país, e surgiram para complementar a lacuna existente entre a Universidade
e a formação básica, numa perspectiva de Educação Pública, Laica, Gratuita e de
Excelência, e ao mesmo tempo, inclusiva. Sua criação se dá com a Lei 11.892 de 29 de de-
zembro de 2008, a qual institui a Rede Federal de Educação Profissional, tendo como base
a estrutura dos antigos CEFETs, Escolas Técnicas e Escolas Agrotécnicas Federais.
Em sua lei de criação destaca-se o oferecimento de formação em diversos níveis, da edu-
cação básica até a pós-graduação, visando desenvolver e fortalecer os arranjos produtivos
locais, pela formação cidadã, a pesquisa aplicada, a inovação e a extensão tecnológica. Atu-
almente existem 38 Institutos Federais, os quais contam com 643 campi localizados em 568
municípios, ofertam 11.264 cursos, de nível técnico à pós-graduação, e registram a matrícula
de mais de 1 milhão de estudantes. São 43 mil professores e 34 mil técnicos-administrativos.
Se por um lado sua estrutura é complexa e abrangente, com número e estrutura compa-
ráveis às Universidades Federais, por outro é uma instituição ainda jovem, que completou 10
anos de existência em 2018. Suas raízes ainda não estão suficientemente firmadas na reali-
dade educacional brasileira, e por isso tem sido vítima de ameaças à sua autonomia, em grau
muito maior que a Universidade. Este texto tratará dos casos mais flagrantes e recentes de
ataques à a Instituição, mas que se não tiverem uma resposta clara por parte da comunida-
de e das representações sindicais, será apenas a porta aberta para a institucionalização do
desmonte desta Rede.
No seu último dia de mandato, o então Ministro da Educação Aloísio Mercadante insti-
tuiu a famigerada Portaria n° 17 de 11 de maio de 2016, sendo publicada no DOU em 13 de maio
de 2016, com a assinatura do então Secretário Marcelo Machado Feres, da SETEC. Cabe res-
saltar o contexto político do momento, em que Dilma é afastada com a instauração do pro-
cesso de Impeachment no Senado, e Temer assumindo interinamente já com seu Ministério
indicado, partir de 12 de maio, tendo dentre estes Ministros, Mendonça Filho. Pelo texto da
Portaria, haveriam 180 dias para as alterações serem implementadas, prazo encerrado em
outubro de 2016.
Esta Portaria define diretrizes gerais para a regulamentação das atividades docentes,
representadas pela sigla RAD, exclusivamente para os professores da Carreira Docente
do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT). Definir diretrizes gerais à primeira vista
não parece ser algo nocivo, muito pelo contrário. Entretanto, o seu princípio desta Portaria
fere justamente a Lei de Criação 11.892/2008 no que compete à autonomia administrativa,
patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar previstas. Em seu texto, a lei igno-
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
68 São Luís/MA
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As recentes ameaças à autonomia dos Institutos Federais
Desenvolvimento da Rede Federal de Educação e recente, alvo dos olhos ávidos do mercado de
Profissional, Científica e Tecnológica – DDR, e o empresas educacionais, por exemplo. É sabido
selo do Governo Federal acabou por vazar entre que tal governo é conivente e parceiro dos gru-
grupos de WhatsApp e de maneira inesperada se pos mercantis da educação, e com uma boa base
tornou pública. Ninguém pode garantir a veracida- para aprova-la no Congresso, não teria pudores
de do documento, mas a consistência de seus ar- de alterar a Lei para torna-la receptiva a estes
gumentos e o detalhamento das informações que grupos a agradar o apetite do Mercado.
contém mostra que em algum momento, na pior Conclui-se por fim que as ameaças à auto-
das hipóteses, foi sim cogitada tal reestruturação, nomia do Instituto Federal, o qual recentemente
por mais que o Governo negue. Também mostra completou apenas 10 ano de existência, são na
que a época de informações rápidas e vazamentos verdade ameaças à sua Lei Criadora. O PROIFES,
que vivemos tem lá suas vantagens, ainda mais enquanto entidade que participou recentemente
quando se trata de discussões e informações que da III CRES defendendo a Educação Pública, tem
se pretende esconder do grande público. um compromisso moral com esta defesa.
Fato é que embora tal possibilidade tenha
sido entendida por muitos docentes como jus- PROPÕE-SE:
tificável ou até bem-vinda, pois ela colocaria Que passe a ser bandeira de luta da Federação
fim a certas distorções geográficas produzidas não só a defesa da autonomia dos Institutos
pela condução política utilizada no momento Federais, na mesma perspectiva que se alme-
da criação da Rede Federal, por outro lado, de- ja a defesa da Autonomia universitária, mas
ve-se alertar para um lado muito mais obscuro também, e de maneira portanto mais ampla,
implícito nesta proposta de reestruturação. O a defesa intransigente da Lei de Criação dos
significado por trás é que, de certa forma, o Go- Institutos Federais.
verno atual se sente muito à vontade para fazer Acrescento que, para que esta defesa seja
alterações na Lei de Criação dos Institutos Fede- efetiva, a Federação deve-se utilizar dos instru-
rais, pois outra forma não haveria de produzir tal mentos que sempre foram a marca do Novo Mo-
“Reestruturação”. Mexer na lei de criação é um vimento Docente: a política, a negociação e a par-
risco muito maior que perece. É abrir a pesada ticipação nas discussões junto ao Governo que
tampa de uma “caixa de pandora”, que permite definem o futuro das Instituições Educacionais
deixar desprotegida uma rede tão ainda frágil em nosso país.
São Luís/MA
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São Luís/MA
julho 18
Pelo fortalecimento
do Ensino Médio
Integrado
e do trabalho docente na Rede
Federal de Educação Profissional
Científica e Tecnológica.
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ADNILRA SANDESKI
IFPR - SINDIEDUTEC
AMARILDO MAGALHÃES
IFPR - SINDIEDUTEC
E
ste texto foi escrito a partir do I Seminário Nacional do Ensino Médio Integrado,
que foi pensado pelo Fórum de Dirigentes de Ensino – FDE, pela Câmara de Ensino
do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional,
Científica e Tecnológica (CONIF) e foi realizado em setembro de 2017 em Brasília e contou
com a Organização do Instituto Federal de Brasília – IFB. Seu objetivo foi refletir sobre os
principais desafios apresentados para o Ensino Médio Integrado no contexto das recentes
transformações ocorridas na legislação educacional brasileira.
Neste ano, o II Seminário Nacional do Ensino Médio Integrado está marcado para o perío-
do de 07 a 09 de agosto de 2018, o Fórum de Dirigentes de Ensino do CONIF, deliberou sobre a
necessidade de promoção de debates sobre os novos marcos legais para o ensino médio e seus
possíveis impactos sobre a realidade do ensino médio integrado. Definiu-se como objetivo do
evento discutir currículo, formação de professores, avaliação, indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão.
Sua realização anual, nasceu com o intuito de atender a uma demanda latente da comuni-
dade acadêmica e dos movimentos estudantis, como também de toda a sociedade que almeja
aprofundar a compreensão sobre os impactos da reforma do ensino médio na vida de estudantes,
professores e comunidade escolar.
É indiscutível que as reformas educacionais brasileiras imprimiram um novo perfil de traba-
lhador no interior das instituições educativas, principalmente no interior dos Institutos Federais
e da universidade pública brasileira. A associação do conceito das reformas educacionais com o
trabalho docente precisa estar vinculada com as políticas educacionais, pois o trabalho do pro-
fessor é influenciado de tempo em tempos pelo que a sociedade estipula como regra geral para
o planejamento educacional. As reformas educacionais são fruto de políticas educacionais, por
isso, que o resultado do planejamento das políticas públicas se materializa por meio das reformas
educacionais.
É nesse contexto de reformas que escrevi este texto para que esta temática do fortaleci-
mento do Ensino Médio Integrado na Rede Federal de Educação Profissional de Ciência e Tec-
nologia – EPCT, e o fortalecimento do trabalho docente também sejam pautas de defesa e de
luta pelo PROIFES.
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
72 São Luís/MA
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Pelo fortalecimento do Ensino Médio Integrado
São Luís/MA
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São Luís/MA
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A Fúria normativa do
governo golpista,
um ataque frontal à Autonomia
Universitária
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EDUARDO ROLIM DE OLIVEIRA
ADUFRGS-Sindical
A AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA
A Autonomia Universitária é um princípio constitucional, garantido pelo Art. 207 da CF1988,
que reza:
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão.§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros,
na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
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A Fúria normativa do governo golpista
va mudança de nível e classe, com o conhecido “Art. 15-A. O efeito financeiro da progressão
limite da prescrição quinquenal, que nunca fora e da promoção a que se refere o caput do
art. 14 ocorrerá a partir da data em que o
questionada. docente cumprir o interstício e os requisitos
Infelizmente o que é óbvio para os que vivem estabelecidos em lei para o desenvolvimento
a vida real das universidades, não o é para os que na carreira.”
vivem nos corredores de Brasília, protegidos pelo
manto da pretensa autoridade sobre instituições Isso parecia ter pacificada a questão e o pró-
que para a Constituição são autônomos, mas que
prio MPDG definiu em 2016 que as portarias de
para os burocratas de plantão não são. Ainda mais
progressão e promoção emitidas após a data de
quando estes estão investidos de um rigor fisca-
publicação da Lei 13.325/2016, ou seja, 01/08/2016
lista onde nenhum direito importa só o que im-
eram apenas declaratórias, isto é, serviam apenas
porta é o corte de investimentos para alimentar
para consagrar juridicamente o direito à mudança
o “monstro do superávit primário”.
de nível ou classe e que, sim, o direito aos efeitos
Assim, quando se constatou que uma série
financeiros daí decorrentes era inquestionável,
de Universidades e Institutos Federais estavam
em respeito ipsis litteris à Lei 13.325/2016.
retroagindo os efeitos das progressões e pro-
Não que nossas assessorias jurídicas tives-
moções à data em que o professor entrava com
sem aceitado que os efeitos financeiros anterio-
o processo ou a data da emissão da portaria, ig-
res à essa data tinham se perdido, ao contrário,
norando os interstícios de dois anos, ou no má-
as ações na justiça continuaram normalmente.
ximo àquele no qual o professor completava a
Uma divergência interna ao governo, contudo
pontuação necessária, subtraindo do professor
permaneceu, em relação à promoção por titula-
os recursos devidos pelo governo, o PROIFES-
ção, que é decorrente da conclusão de mestrado
-Federação incluiu essa pauta na negociação de
e doutorado.
2015 e, após amplo processo de debate na Mesa
O MEC, com toda a autoridade de órgão se-
de Negociação, chegou-se ao Acordo 19/2015,
torial da Educação, que supostamente tem mais
que em sua Cláusula quarta preconiza:
Cláusula quarta. O efeito financeiro da
conhecimento da questão, entendia que a data
progressão e da promoção ocorrerá a partir da defesa do curso de pós-graduação é a data
da data em que o docente cumprir o interstício em que a promoção devia ser considerada, e os
e requisitos estabelecidos em lei para o efeitos financeiros estavam garantidos o que,
desenvolvimento na carreira.
aliás, é óbvio para quem tem um mínimo conhe-
cimento da formação acadêmica, e bastava a ata
Tal princípio de reconhecimento do direito
da defesa para dar o direito. Já o MPDG, órgão
à retroatividade foi incluído na Lei 13.325/2016,
central de pessoal, não especializado, entendia
sancionada sem vetos por Michel Temer em
que apenas na data em que o diploma fosse ex-
29/07/2016, que em seu Art. 1º, cria dois novos
pedido o professor teria o direito à promoção,
artigos na Lei 12.772/2012, o Art, 13-A para a Car-
não importando quanto tempo levasse para que
reira do Magistério Superior e o 15-A para a Car-
o mesmo fosse expedido, o que foge totalmente
reira do EBTT:
à alçada do docente e, portanto, nada tem a ver
Art. 1o A Lei nº 12.772, de 28 de dezembro
com o mérito e o esforço acadêmico, que são
de 2012, passa a vigorar com as seguintes os motivos pelos quais a obtenção de um título
alterações: causa o direito a uma promoção.
“Art. 13-A. O efeito financeiro da progressão Eis que em 2018 tudo mudou, e um “Édito
e da promoção a que se refere o caput do
art. 12 ocorrerá a partir da data em que o
Real” foi expedido pelo MPDG ao arrepio da Lei
docente cumprir o interstício e os requisitos e com um ar de total desprezo à Autonomia Cons-
estabelecidos em lei para o desenvolvimento titucional das Universidades. Através da Nota
na carreira.” Técnica 2556/2018-MP, que objetivava à dita “Uni-
São Luís/MA
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
78 São Luís/MA
julho 18
A Fúria normativa do governo golpista
classes A a D (MS) e D I a D IV (EBTT) é meramen- este tema foi objeto de acordo entre o governo
te declaratório, ou seja, é verificada a pontuação e entidade que representa os docentes das IFEs,
necessária para que o docente tenha o direito à o PROIFES-Federação, expresso no Termo de
mudança de nível ou classe. Tal processo está Acordo 19/2015.
disciplinado na Portaria 554/2013-MEC, onde
não é requerido nenhum processo de defesa ou ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE,
avaliação subjetiva que condicione a progressão PERICULOSIDADE, IRRADIAÇÃO IONIZANTE E
ou promoção. O que as comissões de avaliação GRATIFICAÇÃO POR TRABALHOS COM
fazem é verificar o prazo mínimo de interstício (24 RAIOS-X OU SUBSTÂNCIAS RADIOATIVAS
meses) e faz a contagem dos pontos e é apenas Já é recorrente a tentativa do Governo Federal de
isso que acaba constando do parecer da Comissão retirar dos servidores públicos federais o direito
de Avaliação. Se o docente atingiu a pontuação aos adicionais de insalubridade, periculosidade
prevista na regulamentação ele tem o direito à e de uso de radiações ionizantes e, na impossi-
progressão ou promoção, sendo que, como reco- bilidade legal de retirá-los tenta, através do Mi-
nhece o próprio Ofício Circular no item a, os efei- nistério do Planejamento, diminuir seu valor. A
tos financeiros são devidos na data do interstício, última tentativa nesse sentido se deu em 2012
com a ressalva de que o MPDG só aceita isso a quando o Ministério do Planejamento, Orçamen-
partir de 01/08/2016 e as assessorias jurídicas to e Gestão (MPOG) da época, sem apresentar
exigem a retroatividade dos efeitos financeiros isso aos servidores, incluiu na MP dos reajustes
até o prazo máximo da prescrição quinquenal e uma proposta de valores fixos, dos respectivos
os efeitos na Carreira desde a data em que o do- benefícios, o que não conseguiu levar a cabo gra-
cente completou 2 anos da última progressão ou ças à forte reação do PROIFES-Federação e das
completou os pontos. demais entidades sindicais, que unificadamente
Não há nas regras nacionais que regula- repudiaram tal proposta, e conseguiram manter
mentam as progressões ou promoções nas os valores nas formas percentuais então vigen-
classes A a D (MS) ou D I a D IV (EBTT) nenhuma tes, no Congresso Nacional.
menção a avaliação de mérito pela comissão, O argumento dos representantes do governo
diferente da contagem de pontos. Aqui inclusi- é que esses adicionais só existem porque as condi-
ve é importante citar que a Portaria 554/2013- ções de ambiente de trabalho não são adequadas
MEC, que foi negociada com o PROIFES-Fede- e que em sua opinião as causas de insalubridade
ração, respeita a Autonomia Universitária pois e periculosidade deveriam ser eliminadas com
delega à decisão dos Conselhos Superiores das ações gerenciais, o que levaria à perda da necessi-
IFEs a definição das pontuações e inclusive dá dade destes “ganhos”. Esse argumento foi forte-
às IFEs a possibilidade da introdução de um mente contestado pelo PROIFES-Federação na
critério a mais para a avaliação. Assim, não é Mesa de Negociação. O PROIFES reiteradamente
aceitável essa nova visão do MPDG de que a apresentou a total incapacidade de normativas
data do parecer da Comissão de Avaliação seja gerais, para todo o serviço público, de refletir
o balizador da retroatividade, até porque esse as particularidades das instituições de ensino e
prazo de avaliação independe do mérito e do pesquisa e as características próprias do fazer
esforço do docente. docente, seja no ensino, na pesquisa ou na exten-
Igualmente, a reafirmação da exigência do são, atividades indissociáveis da Universidade,
diploma de mestrado ou doutorado é totalmente como está previsto no próprio Art. 207 da CF1988.
descabida. Tal decisão do MPDG viola e Lei e, pior, Não é cabível para docentes que se ocupam
é uma prática anti-sindical que despreza o que permanentemente de aulas práticas em áreas
está previsto na Convenção 151 da Organização como química, biologia, física e áreas afins, além
Internacional do Trabalho (OIT), na medida que das áreas da saúde ou das engenharias terem que
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
passar por verificação de tempo de exercício nas com raios-x ou substâncias radioativas, são de
atividades, que além disso são exercidas da mes- caráter transitório, enquanto durar a exposição,
ma forma nas suas atividades de pesquisa, exten- ignorando, no caso da insalubridade e de radia-
são e prestação de serviço. Essas atividades são ções os danos permanentes à saúde.
rotineiras e próprias da natureza do trabalho, e Já no Art. 9º, se caracteriza a total incon-
não cessam e não mudam em toda a sua carreira, gruência da norma com a natureza do trabalho
mesmo quando estão em cargos administrativos, docente, pois define, em relação aos adicionais
visto que não abandonam suas atividades como de insalubridade e de periculosidade, a diferen-
pesquisadores. ciação entre exposição eventual ou esporádica.
Da mesma forma, não é cabível que os ar- Quando o servidor se submete a circunstâncias
gumentos de que as condições de insalubridade ou condições insalubres ou perigosas, por tempo
ou periculosidade poderiam ser afastadas por inferior à metade da jornada de trabalho mensal
simples ações gerenciais. Este argumento igno- e a exposição habitual, que é aquela em que o
ra completamente a natureza da pesquisa e da servidor submete-se a circunstâncias ou condi-
fronteira do conhecimento, onde o docente não ções insalubres ou perigosas por tempo igual ou
tem como evitar ensinar seus alunos que terão superior à metade da jornada de trabalho men-
que lidar com essas situações na vida profissional sal, a condição em que será devido o adicional
ou deixar de lidar com agentes químicos e bioló- respectivo, fazendo com que os professores que
gicos. Ou fontes de perigo em suas atividades de trabalham em tempo integral em ensino, pesquisa
pesquisa, quando justamente a exposição é mais e extensão, tenham que comprovar se exercem
frequente e necessária, o que mostra o total des- atividades insalubres ou perigosas em um certo
cabimento do argumento. número de horas, como se o trabalho docente
Por fim, a temporalidade dos adicionais de fosse um trabalho de rotina.
insalubridade e de raios-X, que podem ser retira- E isso é mais grave porque a cada semestre
dos e não são mantidos quando da aposentadoria, as cargas horárias docentes são mudadas, mas a
despreza os danos permanentes à saúde dos do- exposição é sempre permanente, pela natureza do
centes, que muitas vezes sofrem danos perma- trabalho. A própria ON admite que exista a expo-
nentes à saúde e frequentemente são acometidos sição permanente que é aquela que é constante,
de doenças profissionais daí decorrentes. durante toda a jornada laboral. O problema é que
Por estas razões, mais uma vez o MPDG ata- o que está ocorrendo nas perícias em todo o País
ca a autonomia universitária ao impor às IFEs re- é que este tipo de exposição não é a considerada
gras gerais aplicadas a todos os servidores, sem para os novos pedidos de adicionais, e os docentes
atentar para a natureza própria do fazer docente, têm sido obrigados a comprovar tempo e os adi-
no ensino, na pesquisa e na extensão. A Orienta- cionais têm sido negados para os novos docentes,
ção Normativa 4/2017, de 14/02/2017, apresenta criando situações de condições não isonômicas
os mesmos defeitos das normativas anteriores e entre docentes novos e antigos, já que os laudos
não atende às necessidades das IFEs. Em especial em vigor não têm prazo de validade, como reza o
citam-se os seguintes pontos: próprio Art. 10 da ON.
‘O Art. 2º define explicitamente que a carac- No Art. 11 a ON retira o direito aos adicionais
terização da insalubridade e da periculosidade de insalubridade e periculosidade quando o ser-
nos locais de trabalho respeitará as normas es- vidor ocupar função de chefia ou direção, com
tabelecidas para os trabalhadores em geral, sem atribuição de comando administrativo, exceto
levar em conta as especificidades acima citadas. quando respaldado por laudo técnico individual
No Art. 4º define que os adicionais de insa- que comprove a exposição em caráter habitual ou
lubridade, de periculosidade e de irradiação io- permanente. Isso gera uma situação esquizofrêni-
nizante, bem como a gratificação por trabalhos ca em que no momento em que o docente recebe
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A Fúria normativa do governo golpista
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Precarização,
produtivismo e
adoecimento no
trabalho docente
_________________________________________________________________________________________________________________________________
JOSIMAR PRORI1
IFPR – Campus Paranavaí
“[...] há que se ponderar que a ideia de estabilidade no trabalho e nas relações, que está ligada
a uma estabilidade psíquica cedeu lugar à competição, à luta cotidiana por reconhecimento, à
sobrecarga de atividades e à obrigação implícita e explícita por cumprir e conformar-se às regras,
o que os coloca em uma posição de vulnerabilidade” (OLIVEIRA, PEREIRA e LIMA, 2017, p. 611).
C
ada vez é maior o número de professores que enfrentam problemas de saúde físi-
ca e mental associados às suas condições de trabalho. Cansaço, dores, prejuízos
vocais, alterações no sono, insônia, enxaqueca, taquicardia, crises gástricas, es-
tresse, sobrecarga e estafa, insatisfação com o trabalho, frustração, síndrome do pânico,
síndrome de burnout, ansiedade, depressão figuram entre as principais enfermidades
apresentadas por nossa categoria. Tais males, embora com feições e em contextos dis-
tintos, afetam tanto docentes da educação básica, quanto da graduação e pós-gradua-
ção brasileira.
Pretendo neste texto apresentar um esboço de algumas reflexões sobre esta temática,
não com a perícia de um especialista, mas com a angústia de um observador participante,
que experimentou na própria carne as contradições do sistema de pós-graduação no Brasil
na condição de estudante e que também vivenciou a condição de professor inicialmente na
educação básica na rede estadual do Paraná e na rede superior privada e posteriormente
no Instituto Federal do Paraná (IFPR). Busco trazer um conjunto de questões para serem
estudadas e aprimoradas em conjunto com profissionais da área da saúde do trabalhador
e com a vivência concreta de todos os docentes.
Embora a preocupação com a saúde docente pelo movimento sindical venha sendo
tematizada pelo menos desde o final dos anos 1990 pela Confederação Nacional dos Tra-
balhadores em Educação (CNTE), tal questão ainda permanece como secundária nas lutas
sindicais. No entanto, o aprofundamento da crise do capitalismo mundial, da crise política
e econômica nacional e a reforma neoliberal implementada, em geral, no Estado brasileiro
e, em específico, nas políticas educacionais desde o primeiro mandato de Fernando Hen-
rique Cardoso tem colaborado sobremaneira para o aprofundamento do adoecimento
docente, que passa a assumir preocupantes contornos coletivos.
1 Professor de sociologia do Instituto Federal do Paraná – Campus Paranavaí. Graduado e mestre em ciências sociais
pela Universidade Estadual de Maringá. Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos. Autor de A
luta faz a lei: reflexões sobre política, movimentos sociais e associações de moradores em Sarandi-PR.
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
É cada vez mais plausível afirmar que todos tal receituário, promovendo uma reforma no Es-
os professores - desde os que atuam na pré-esco- tado brasileiro, privatizando inúmeras empresas,
la até em cursos de doutorado - estão suscetíveis adotando um modelo gerencial de gestão pública
a problemas de saúde em decorrência de sua ati- e introduzindo as orientações dos organismos in-
vidade laboral. Existem especificidades de cada ternacionais na educação brasileira. Tal processo
nível educacional. Os vínculos de contrato são não foi refreado pelos 13 anos de governo petista,
diversos. Os níveis de segurança, estabilidade, re- tampouco, como diferente não poderia ser, pelo
muneração e perspectiva de futuro variam. Ainda ilegítimo governo Michel Temer.
assim, embora aqueles com vínculos temporários Tais reformas modificaram sobremaneira as
experimentem um maior grau de precarização em condições objetivas e subjetivas da classe traba-
seu trabalho, tanto estes quanto os estáveis, tan- lhadora docente, como demonstra Sguissardi e
to os da educação básica quando os da superior, Silva Junior (2009) ao tratarem do ensino superior
vêm sofrendo variadas formas de adoecimento. federal. O mundo do trabalho em nossa época é
Gouvea (2016), ao revisar a atuação sindical caracterizado pelo desemprego estrutural, pela
nesta temática, salienta que o principal problema informalidade, instabilidade e incerteza quanto
de saúde dos trabalhadores da educação é o men- ao futuro. Causa ainda maior preocupação a re-
tal. A mesma pesquisadora informa que uma das forma trabalhista realizada por Michel Temer e a
pesquisas feita pela CNTE (a Retrato da Escola liberação das terceirizações para atividades fins,
3), 30% dos educadores relataram problemas o que pode abrir as portas deste tipo de vínculo
de saúde, o que significa que praticamente um empregatício para os trabalhadores docentes.
terço destes trabalhadores não estão saudá- Constrói-se neste contexto uma ideologia
veis. Oliveira, Pereira e Lima (2017), por sua vez, individualista e falsamente meritocrática que
ao versarem especificamente sobre o caso do transfere a responsabilidade do sucesso ou do
magistério superior, destacam que num conjunto fracasso meramente para causas individuais.
de pesquisas por elas estudadas, 45,1% dos ca- Prega-se que é necessário estar atualizado, em
sos de adoecimento foi psicossomático, outros constante processo de inovação e criatividade e
35,2 % foi adoecimento psíquico e emocional, que os mais esforçados conquistam as melhores
enquanto 19,7% foi físico-corporal. posições. Sair da zona de conforto torna-se um
Trabalho com a hipótese de que o aprofun- mantra para a acumulação flexível de capital. Se
damento das patologias docentes está inscrito oculta, porém, a produção de uma massa de de-
num contexto de reformas estatais globalizantes, sempregados permanentes, os quais, a despei-
neoliberais e de reestruturação produtiva cujo to da inexistência de vagas de trabalho em suas
ponto fulcral é a flexibibilização, a alta especiali- áreas, são culpabilizados pelo próprio fracasso.
zação, o estabelecimento de metas, a precariza- A título de ilustração, em concurso público para
ção e a desestabilização, as quais se expressam professor de biologia no Instituto Federal do Pa-
na sobrecarga, no produtivismo acadêmico, na raná no ano de 2017 houve 988 concorrentes para
privação das horas de convívio familiar e de la- uma única vaga. Outro foi o caso de uma também
zer e no comprometimento do planejamento a bióloga pós-doutoranda que passou e entregar
médio e longo prazo. seu currículo no semáforo depois de ter sua bolsa
A chamada reestruturação produtiva che- de pesquisa interrompida2.
gou ao Brasil no início dos anos 1990. Embora Neste contexto, podemos identificar a cha-
tenha sido Fernando Collor de Melo (1990-1992) mada alienação, isto é, o fenômeno por meio do
o presidente a abrir as fronteiras nacionais para qual o trabalho apresenta-se como estranhado ao
o padrão neoliberal de acumulação, foi Fernando trabalhador que o produz. Enquanto o produto de
Henrique Cardoso (1995-2002) quem aprofundou seu trabalho, ao transformar-se em mercadoria e
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Precarização, produtivismo e adoecimento no trabalho docente
lucratividade, ganha centralidade, o trabalhador mana, feriados e férias que poderiam ser devo-
torna-se mais uma peça na engrenagem capi- tados ao lazer, à família, ao descanso e a viagens
talista. É inegável que os docentes, como parte são preenchidos com a parte do trabalho que não
da classe trabalhadora, estão também subme- restou tempo para fazer na escola.
tidos a estas condições. Estão vulnerabilizados O magistério superior – embora em geral
e pressionados pelos índices de produtividade, não conviva com a mesma quantidade de turmas e
pelo individualismo e pela competividade. São alunos que a educação básica – igualmente encon-
premidos a se ajustarem a ideologia neoliberal tra-se sobrecarregado. A ideologia produtivista
individualista e competitiva. Além disso, cada que tem premiado a quantidade em detrimento
vez é maior a pressão dos governos federal e es- da qualidade faz com que as 40 horas de traba-
taduais pela redução dos direitos docentes. No lho nem de longe sejam suficientes para cumprir
caso do Paraná, por exemplo, o governo estadual todas as atividades docentes. O contrato de dedi-
encontrou no regime de trabalho PSS (Processo cação exclusiva – quando existente – que deveria
Seletivo Simplificado), uma ardilosa maneira de ser para o profissional somente não se dedicar a
desestabilizar boa parte dos quadros docentes outras atividades laborais acaba ganhando verda-
tanto do ensino superior quanto da educação de literal ao passo que as atividades profissionais
básica estadual. invadem as demais dimensões da vida do sujeito:
Ao menos um terço dos professores da rede tantas são as férias, feriados, finais de semanas,
básica neste estado são contratados de manei- madrugadas e toda hora vaga gasta para dar conta
ra temporária. Alguns são contratados a partir do alto número de orientandos, para cumprir as
de meados de fevereiro e demitidos no final de metas do programa de pós-graduação, publicar o
dezembro. Outros são contratados por apenas número mínimo de artigos determinado pela CA-
alguns meses. Desta maneira o governo se deso- PES, para ler as teses, dissertações e monografias
briga de pagar plano de carreira. Férias e 13°, por das quais fará parte da banca examinadora, para
sua vez, somente são pagos proporcionalmente fechar os pareceres para revistas acadêmicas e
ao período de contrato. No ensino superior, a si- órgãos de fomento e concluir todos os relatórios
tuação é semelhante. Docentes são contratados e demais demandas burocráticas.
com prazo máximo de dois anos, depois dos quais Inevitavelmente o sacrífico das relações fa-
precisam passar por um novo processo seletivo miliares, a ausência de tempo livre, a sobrecarga
e, se forem aprovados, iniciar um novo vínculo, de trabalho, o estresse e os conflitos gerados pelo
sempre com o salário inicial da carreia. sistema de competição entre os pares redundam
Tais políticas se concretizam nas condições nos mais variados tipos de adoecimento. Agrava
de trabalho cotidianas vivenciadas pelos docen- ainda mais o quadro o fato de que a estrutura
tes. Educadores do ciclo básico enfrentam salas pressiona os trabalhadores até para que evitem
superlotadas, possuem salários achatados, en- faltas mesmo em casos de cuidados médicos.
frentam os riscos da violência urbana que não Pesa sobre o docente a obrigatoriedade de repo-
hesitam em invadir as escolas, sofrem com pro- sição de aulas, ainda que falte com justificativa
blemas de infraestrutura, com falta de políticas médica. Foi por essa razão, por exemplo, que uma
de reciclagem e são forçados a fazerem a gestão professora fez sua cirurgia numa sexta-feira e na
de um ambiente que mais se parece a um depósi- segunda de manhã da semana seguinte estava em
to abandonado de crianças e adolescentes. Além sala no primeiro horário. O transtorno de ter que
disso, o trabalho não acontece apenas enquanto se deslocar por mais de 100 km para se submeter
está na escola. O baixo ou inexistente número de a uma perícia médica do órgão em que trabalha e
horas para as atividades didático-pedagógicas e a necessidade de repor as aulas a forçaram a de-
burocráticas obriga o trabalhador a levar serviço sistir de cumprir seus 15 dias de licença médica,
para a sua casa, de modo que muitos finais de se- pondo em risco a sua recuperação.
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
São tantos e graves os casos de adoecimento Escolar e Educacional, São Paulo, v. 21, n. 3,
docente, que se impõe para a categoria a necessi- setembro/dezembro, 2017. Disponível em: <
dade de trazer este tema para o centro da pauta. http://www.scielo.br/pdf/pee/v21n3/2175-3539-
É certo que o remédio para tais problemas são pee-21-03-609.pdf >. Acesso: 4 jul. 2018.
grandes e coletivos. Pensar políticas de saúde
para o trabalhador requer pensar também polí- GOUVEA, Leda Aparecida Vanelli. As condições
ticas educacionais e socialmente estruturais. É de trabalho e o adoecimento de professores
necessário lutar pela mudança da política educa- na agenda de uma entidade sindical. Saúde e
cional individualista, produtivista e meritocrática. debate, Rio de Janeiro, v. 40, n° 111, out-dez 2016.
É urgente desconstruir a ideologia produtivista. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/
É necessário reduzir a carga de trabalho docente sdeb/v40n111/0103-1104-sdeb-40-111-0206.pdf
e criar sistemas de prevenção e amparo à saúde >. Acesso em: 4 jul. 2018.
do professor. É preciso, ainda, acabar com meca-
nismos que pressionem o trabalhador a trabalhar SGUISSARDI, Valdemar; SILVA JÚNIOR, João dos
mesmo doente, como a obrigação da reposição Reis. Trabalho Intensificado nas Federais: pós-
de aula. Igualmente importante, especialmente graduação e produtivismo acadêmico. São Paulo:
para as cidades do interior, que as distâncias en- Xamã, 2009.
tre o local de trabalho e órgãos de perícia média
sejam reduzidos. GRANDELLE, Renato. Com bolsa de estudos
atrasada, bióloga distribui currículo na rua.
REFERÊNCIAS Oglobo.globo.com, 2017. Disponível em: <https://
OLIVEIRA, Amanda da Silva; PEREIRA, Maristela oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/com-
de Souza; LIMA, Luana Mundim. Trabalho, bolsa-de-estudos-atrasada-biologa-distribui-
produtivismo e adoecimento dos docentes nas curriculo-na-rua-20767098>. Acesso em: 01 jul
universidades públicas brasileiras. Psicologia 2018.
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Formação de
educadores nas IES
públicas
ação estratégica de interesse
do movimento docente
_________________________________________________________________________________________________________________________________
RAQUEL NERY BEZERRA
APUB Sindicato
H
á uma grande mobilização das forças políticas progressistas em torno das impli-
cações da Emenda Constitucional 95, que alterou o regime fiscal do país e conge-
lou os gastos públicos por 20 anos. Como é sabido, os setores mais sensíveis, do
ponto de vista social, são os da saúde e da educação. Esta tese tem o objetivo de analisar
um dos aspectos desse cenário, ocupando-se especificamente da questão dos professores
da Educação Básica e sua formação. Partimos do pressuposto de que o novo regime fiscal
impõe determinadas medidas cuja manutenção precisa se apoiar em concepções políticas
e modos de organizar o sistema de ensino brasileiro e que nossa categoria dispõe de ferra-
mentas específicas para resistir e combater essa configuração política e ideológica em curso.
A despeito de o tema EDUCAÇÃO ser, pela sua própria natureza, do interesse de uma
federação que congrega sindicatos de professores, nossa discussão demanda justificativas.
Poderia ser suficiente, por exemplo, considerar os seguintes dados estatísticos1:
a. que as licenciaturas ocupam em torno de um quarto das matrículas (26,61%) de
toda a rede federal de ensino, composta, além dessa categoria acadêmica, pelos
bacharelados (65,89% das matrículas), pelos cursos tecnológicos (5,66%) e pelas
áreas básicas de ingresso (2,67%);
b. que as “funções docentes” em universidades públicas correspondem a 35,4% do
total dos docentes vinculados a alguma IES e que, destas, 84% são de docentes
em regime de dedicação exclusiva (nas IES privadas, esse número corresponde a
menos de ¼). Considerando como se estruturam as licenciaturas nas IES públicas,
isto é, dentro do paradigma disciplinar, e que seus docentes são lotados em depar-
tamentos de unidades identificadas por campo de conhecimento, infere-se que um
número significativo desses docentes atuem em alguma licenciatura;
c. que desses dados pode-se inferir ou projetar as possíveis consequências de iniciati-
vas como a do deputado carioca Thiago Turetti (PSC),
d. que propôs, através de uma “ideia legislativa”2, a Extinção dos cursos de humanas
nas universidades públicas, uma vez que, argumenta ele, são cursos baratos que
1 Apesar de o Censo da Educação Superior 2018 já ter sido anunciado, o governo ainda não disponibilizou o resumo
técnico, de modo que os dados que empregamos ainda são os de 2015.
2 “Ideia legislativa” é uma ferramenta de participação civil, na forma de “sugestões de alteração na legislação vigente
ou de criação de novas leis.” Segundo o site Ideia Legislativa, as ideias que recebem 20 mil apoios são encaminhadas
para a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), para receberem parecer.
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
facilmente poderão ser realizados em tas capazes de atender às demandas da corrida
universidades privadas. Ainda segundo espacial, enquanto nas décadas mais recentes,
a proposta, “a medida consiste em focar marcadas por sérias questões ambientais que
em cursos de linha (medicina, direito, en- provocaram críticas ao modelo de desenvolvi-
genharia e outros). Os cursos de huma- mento vigente, fizeram surgir naquele país pro-
nas poderão ser realizados presencial- postas curriculares com ênfase nas relações entre
mente e à distância em qualquer outra ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente.
instituição paga”. A despeito de não ter Também como acontecimentos posteriores à
chegado nem a 50% de sua meta (rece- 2ª Guerra Mundial, toma-se como exemplar as
beu 7.385 apoios num período de quatro relações entre desenvolvimento nacional e edu-
meses de consulta) sabe-se que tal ideia cação básica ocorridas no Japão e na Coreia do
ecoa tentativas anteriores, cujos pressu- Sul. À rapidez com que questionamos os traços
postos respaldaram o sucateamento da da cultura e práticas pedagógicas desses países
IES federais durante a década de 1990. corresponde a constatação do seu espantoso de-
senvolvimento tecnológico, gerador de riquezas
Dados como esses já seriam suficientes para e consequente bem estar social.
por as licenciaturas e, consequentemente, a Edu- Historiadores da ciência, no entanto, pro-
cação Básica, na pauta dos assuntos diretamente põem que o fator determinante para o desenvol-
relacionados à categoria do magistério superior vimento da tecnologia no Século XX tenham sido
e suas demandas de mobilização. Mas não é disso as guerras, tendo em vista que os interesses des-
que se trata. ses conflitos foram capazes de induzir a pesquisa
científica para o atingimento de determinados fins:
EDUCAÇÃO E CIÊNCIA E TECNOLOGIA assim, temos certos desenvolvimentos da física,
Podemos iniciar nossa proposição salientando da química, da biologia molecular que deram no
pelo menos uma das razões pelas quais deve-se radar, nos satélites, na web, na agroindústria etc.
considerar a educação formal como um campo (SANCHEZ RON, citado por TEIXIDÓ GOMEZ)3
estratégico para um projeto de nação que busque Por outro lado, não é possível ignorar, num
a justiça, a equidade e o bem de seu povo: sem momento historicamente mais recente, a expe-
ela não pode haver desenvolvimento científico e riência finlandesa, cujos excelentes indicadores
tecnológico. As relações entre uma boa educação educacionais estão bem documentados pelas
básica e o desenvolvimento da ciência e tecnolo- análises da OCDE, tanto quanto sua indústria
gia não parecem formar uma ideia consensual, avançada de alta tecnologia. Considera-se que
embora alguns fatos históricos e dados mais re- sua riqueza material e capacidade tecnológica
centes nos apontem, se não para uma relação de são consequências de uma profunda reforma
causalidade, pelo menos para a educação como educacional, gestada por um pacto nacional e
um fator de impacto considerável. executada inicialmente nos seus povoados mais
São conhecidos os movimentos estratégicos remotos até chegar aos centros urbanos. Atual-
executados pelos Estados Unidos nos currículos mente, menos de 3% de sua população obtém
da educação básica durante a Guerra Fria, e os sua educação formal em escolas particulares.
evidentes resultados em termos de tecnologia (BRITTO, 2013)
aeroespacial e poderio militar. Segundo Bezerra Cabe-nos afirmar, no entanto, que nenhuma
(2014) Os Estados Unidos marcaram seu período dessas experiências precisam funcionar como
posterior à Segunda Grande Guerra com uma modelo para concepções de educação e toma-
reforma curricular determinada a formar cientis- das de decisão em termos de políticas públicas
3 Paradoxalmente, o mesmo autor postula que é ao desenvolvimento científico que devemos o ter prosperado ideias como a de
justiça, democracia e direitos civis.
88 São Luís/MA
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Formação de educadores nas IES públicas
e modos de organização dos nossos sistemas No que diz respeito à formação dos profes-
de ensino. Somos um país em cujo solo germi- sores e o ensino superior, o referido documento
naram as ideias e as ações de Anísio Teixeira e evidencia a existência de “[...] um descompromisso
Paulo Freire. Mas somos, igualmente, o país em do Estado com os princípios básicos que devem
que esses indivíduos, por causa de suas ideias e orientar as universidades e os institutos fede-
ações, sofreram perseguição política. É preciso rais, o ensino, pesquisa e extensão, bem como
reconhecer, portanto, que temos um problema as demais instituições de ensino superior, pré-
a equacionar e que ele é tanto de caráter prático -condição para a construção de um projeto de
quanto político-ideológico. soberania do país, por meio da valorização de
Reconhecemos a importância estratégica seus/as docentes, formação adequada de profis-
da educação básica mas nossos indicadores (os sionais e produção de conhecimentos e saberes
das avaliações e os sociais) mostram que não de qualidade com vistas à produção de ciência e
conseguimos avançar. Embora haja consenso tecnologia voltadas aos interesses da nação. [...]
sobre a importância da educação, e os discur- Na prática, as políticas do atual governo apontam,
sos de todos dão a ela o estatuto de panaceia, neste momento, para a desprofissionalização
destacamos uma contradição, dentre algumas do magistério e dos/as demais profissionais da
outras, que ocorre no interior mesmo de nossas educação, em todos os níveis.”
instituições, que é o modo como atuamos nessa Dito isto, aprofundamos algumas questões
área, considerando nossas licenciaturas, seus diretamente relacionadas aos desafios definidos
currículos e o papel simbólico que exercem. Por na CONAPE/2018 que, para tanto, questiona o pa-
essa razão indagamos: pel que vem sendo desempenhado historicamen-
1. Qual o papel das IES públicas para o campo te pelas IES federais na formação dos professores
estratégico da educação formal e de que da Educação Básica, com o objetivo de discutir
modo essas instituições constituem-se a necessidade de envolver as universidades e
como possibilidade de enfrentamento os institutos federais em ações que evidenciem
do problema da EB? um posicionamento político capaz de barrar os
2. por que as IES públicas deveriam lutar pelo projetos de desvalorização da formação inicial
protagonismo nesse campo de atuação? e continuada de professores em curso.
3. Essas questões apontam inevitavelmente Os discursos e ações disseminadas ou incen-
para o campo da formação docente. tivadas pelo governo ilegítimo de Michel Temer
visam explicitamente retomar um processo his-
FORMAÇÃO DE PROFESSORES: HISTÓRICO, tórico de desvalorização e deslegitimação da im-
CONCEPÇÕES E ATUAÇÃO DAS IES PÚBLICAS portância de termos professores bem formados
A construção da Conferência Nacional Popular em IES públicas. A descaracterização de projetos
de Educação (CONAPE), em maio de 2018, foi de formação como o PIBID (e seu desdobramento
um processo coletivo que envolveu a articu- no programa “Residência Pedagógica”, importan-
lação de 35 entidades da sociedade civil que te meio de violação da autonomia universitária e
defendem a educação pública democrática. vinculação dos currículos à BNCC), a defesa do
Dentre essas entidades, é importante destacar “notório saber” em lugar de uma formação sóli-
a participação do PROIFES e o seu protagonis- da para os professores, a ampliação de prazo do
mo. No Plano de Lutas aprovado na CONAPE atendimento à Resolução do CNE 02/2015, entre
2018, a questão da formação dos professores é outras iniciativas, devem ser interpretadas como
apresentada acertadamente, junto com tantas parte de um mesmo projeto e não de maneira
outras necessidades dos profissionais da edu- pontual e isoladas. Elas têm efeitos negativos
cação, quais sejam: formação, carreira, salários diretamente na identidade dos professores e
e condições de trabalho. de suas instâncias formativas, pois visam a de-
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
sobrigar o Estado do investimento em formação cursos de licenciatura tem sido feito por diferen-
de professores, deixando o Brasil sem um projeto tes atores e setores políticos da sociedade. Para
de nação para a educação vinculado ao fortale- além da dimensão técnica e de atendimento das
cimento das instituições públicas em todos os exigências de normatização do CNE que, em 2002,
níveis de ensino. definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Historicamente, a formação de docentes Formação de Professores, é preciso refletir sobre
para o ensino das “primeiras letras” em cursos a existência ou não de um projeto de formação de
específicos foi proposta apenas no final do Sé- professores da educação básica – polivalentes e
culo XIX, com a criação das Escolas Normais, que especialistas - defendido pelas universidades e
faziam parte do nível secundário e depois vieram institutos públicos federais.
a ser integradas ao ensino médio profissionalizan- Retomemos a proposta de Thiago Turetti
te (GATTI, 2010). Tais instituições, como se sabe, (PSC) que tinha em mente a extinção dos cursos
continuaram responsáveis pela formação dos de Filosofia, História, Geografia, Sociologia, Ar-
professores dos anos iniciais do ensino funda- tes e Artes Cênicas das universidades públicas.
mental e da educação infantil, com muitas idas e Como as IES públicas se posicionaram a respeito
vindas, e os detalhes e os desdobramentos desse da proposta, que se articula com a privatização da
processo fazem parte da dificuldade do País em formação de professores e com a desvalorização
assumir a formação dos professores polivalentes e o aligeiramento dessa formação?
como um projeto estratégico do Estado. A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
Como face da mesma moeda, a preocupação cação Nacional (Lei n. 9.394 de 1996) foi definida
com a formação dos professores para o “secun- a formação de nível superior como uma exigência
dário” data o início do século XX. Segundo Gatti, mínima para a atuação na docência. Atualmente,
Até então, esse trabalho era exercido por a demanda por escolarização no Brasil aumentou,
profissionais liberais ou autodidatas, mas
quantitativa e qualitativamente: são 2,2 milhões
há que considerar que o número de escolas
secundárias era bem pequeno, bem como de professores atuando na Educação Básica. Veja-
o número de alunos. No final dos anos de mos o que tem acontecido com as matriculas, por
1930, a partir da formação de bacharéis nas exemplo, no curso de Pedagogia, o terceiro curso
poucas universidades então existentes,
brasileiro em número de ingressantes (depois de
acrescenta-se um ano com disciplinas da área
de educação para a obtenção da licenciatura, Direito e Administração4), onde a participação
esta dirigida à formação de docentes para na formação dos professores é cada vez maior
o “ensino secundário” (formação que veio a das IES privadas.
denominar-se popularmente “3 + 1” (GATTI,
De acordo com Freitas (2014), das 307 mil
2010, p. 1356)
matrículas em cursos presenciais de pedagogia,
Nisso está a origem da estrutura curricular 42,9% delas (131.850) estão concentradas em fa-
de nossas licenciaturas, bem como nossa dificul- culdades privadas, 8% (26.762) em centros uni-
dade em assumir o papel estratégico no engaja- versitários privados e 14,4% em universidades
mento necessário pela luta em defesa de uma privadas. As IES públicas concentram apenas
identidade profissional dos docentes, que tenha 33,9% das vagas, com 104.323 matrículas. Os
como base um ensino desafiado pela resolução dados relativos aos cursos a distância, na outra
de questões de pesquisas e propostas de exten- face do mesmo problema, demonstram a priva-
são com as escolas básicas, cooperando para a tização da formação: 87,4% das matrículas em
melhoria da qualidade de todas as instituições e cursos de pedagogia no setor privado, das quais
agentes envolvidos. 61% em universidades, 27,3% em centros univer-
Um intenso trabalho de crítica e de defesa sitários e aproximadamente 12% em faculdades.
da superação desse modelo de formação nos As IES públicas concentram apenas 12,6% das
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Formação de educadores nas IES públicas
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
REFERÊNCIAS 2000, págs. 823-826
BEZERRA, R. N. L. Escrevivendo ciências na
escola : tópicos sobre o ensino-aprendizagem FNPE. Documento Final da CONAPE: Plano de
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Souza. Tese (doutorado) – Universidade Federal conferencia/fnpe-conape2018-documento-final-
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BRITTO, Tatiana Feitosa de. O que é que a Finlândia GATTI, Bernadete. Formação de Professores no
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scielo.br/pdf/es/v31n113/16.pdf (Acesso em:
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cartacapital.com.br/economia/o-descaminho- SEVERINO, Antonio Joaquim. Expansão do ensino
das-humanidades (Acesso em: 7 jul 2018). superior: contextos, desafios, possibilidades.
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Francisco Teixidó Gómez. Llull: Revista de la 2009, p. 253-266. Disponível em: http://www.
Sociedad Española de Historia de las Ciencias scielo.br/pdf/aval/v14n2/a02v14n2.pdf (Acesso
y de las Técnicas, ISSN 0210-8615, Vol. 23, Nº 48, em: 8 jul 2018)
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Rede Federal
de Educação
Profissional, Científica
e Tecnológica
Um Projeto em xeque?
_________________________________________________________________________________________________________________________________
PROF. DR. JOÃO ALVES PACHECO
IFSP – Campus Guarulhos
I. INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende analisar os riscos ao modelo de educação profissional pro-
posto com a instituição da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.
Para tanto, apresentará uma breve introdução com o objetivo de estabelecer o contexto
na qual as instituições federais de educação estão inseridas, com ênfase no acirramento
de retomada das medidas reformistas neoliberais pós impeachment de 2016.
Inicialmente, propõe-se como hipótese para o trabalho a afirmação de que modelo
de educação profissional proposto no Governo Lula e consubstanciado no setor público
por meio dos Institutos Federai é incompatível com o projeto de nação adotado pelo Go-
verno Temer, que o promove por meio do aprofundamento das políticas neoliberais, com
ênfase nas privatizações de ativos da União e empresas estatais, na redução do tamanho
do Estado e na adoção de soluções via mercado.
Tal estratégia foi formalizada através da aprovação da Emenda Constitucional 95, de
15 de dezembro de 2016 que instituiu um Novo Regime Fiscal (NRF) que expira em 2036.
Nesse período, congelará as despesas primárias, que tratam do pagamento de pessoal
e encargos sociais, água, luz, telefone, limpeza, vigilância, pessoal terceirizado, material
de consumo, aquisição de equipamentos, material permanente, construções, aquisição de
imóveis etc. Isso significa que, a partir de 2018, elas só poderão ser reajustadas, no máxi-
mo, pela inflação do ano anterior, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA).
Essa legislação inviabiliza a implantação de políticas nas áreas sociais, comprome-
tendo os avanços implementados nos governos Lula e Dilma, embora mantenha intacto
o pagamento da dívida pública.
O desmonte das instituições públicas é realizado por meio do arrocho orçamentário,
que sucateia a infraestrutura e pela não reposição dos quadros de servidores públicos.
Adicionalmente implementa a adoção de indicadores de desempenho para as instituições
sem qualquer comprometimento com objetivos de inclusão social que inspiraram a cria-
ção delas, implantando uma lógica gerencial pautada em resultados de curto prazo, que
acabam por modificar o perfil institucional e principalmente, a população alvo.
É importante notar que essa guinada neoliberal, temperada com pitadas de conser-
vadorismo, não se limita aos entes públicos, mas permeia todo o tecido social e seu lado
93
TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
mais perverso foi a implantação de uma (contra) da por meio da Lei nº 1.093. Os contratos são
reforma trabalhista que se caracterizou pela válidos por um (01) ano, pois é muito mais ba-
retirada de vários direitos, pela legitimação rato a administração contratar um professor
da terceirização, da flexibilização da jornada e pelo prazo do ano letivo, sem o registro na
pelo ataque às organizações dos trabalhado- Carteira de Trabalho e sem o recolhimento do
res. No que tange ao trabalho docente, vale a Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, do
pena indicar as várias dimensões por meio das que manter regularmente um professor efe-
quais esses ataques se materializam e que se- tivo na função, que recebe salário no período
rão apresentados a seguir. das férias escolares. Além disso, os profes-
sores contratados recebem apenas as horas
II. EXPANSÃO DO EAD trabalhadas no período de seu contrato e têm
A expansão da educação do ensino a distância que cumprir períodos de afastamento após o
na Educação Superior tem sido crescente con- término dos contratos.
forme reportagem da Agência Brasil de 28 de Em relação à educação profissional, uma
maio de 2017, que com base no Censo da Educa- outra face desse processo é a forma de contra-
ção Superior de 2015, que indicou um aumento tação dos professores do Centro Paula Souza,
de 3,9% no número de matrículas em relação rede responsável no estado de São Paulo pela
a 2014. A rede privada concentra mais de 90% oferta da educação profissional e tecnológica,
dessas matrículas, com 1.265.359 alunos. que administra as escolas técnicas (ETECs) e
Contudo, o uso das chamadas TICs (Tec- as Faculdades de Tecnologia (FATECs).
nologias de Informação e Comunicação) na Embora a seleção seja realizada por meio
educação, que usualmente são apresentadas de concurso público, os docentes são contra-
como uma solução para ampliar o acesso dos tados como celetistas e horistas, e exceto pela
estudantes, também se mostram efetivas em disciplina para qual prestaram o concurso, de-
precarizar o trabalho docente por meio do au- pendem em cada semestre da atribuição de ou-
mento do número de alunos por professores, tras disciplinas para completar a carga horária,
com turmas de 150 ou até 200 alunos, resul- resultando em que ministrem aulas em mais de
tando no aumento da jornada docente sem a uma unidade da rede ou em escolas particulares,
correspondente remuneração. superando muitas vezes a jornada de 40 horas.
Assim, a empresa contrata o docente para Importante enfatizar que esses docentes não
uma jornada de 12 horas que, no entanto, acaba contam com qualquer ajuda de custo para as
trabalhando muito mais para concluir as diver- refeições ou assistência médica, sendo-lhes
sas atividade que lhe são atribuídas, em um típi- vedada inclusive o atendimento médico no Hos-
co processo de extração de mais valia absoluta. pital do Servidor Público Estadual.
Outra estratégia é a contratação de tuto-
res e mediadores com salários inferiores aos IV. BREVE CENÁRIO DA EDUCAÇÃO
dos professores ou até mesmo efetuando uma PROFISSIONAL NO BRASIL
contratação disfarçada, por meio da oferta de A educação básica foi universalizada no Brasil,
bolsas para graduandos, graduados e/ou pós- sendo atualmente oferecida pelas redes federal,
-graduandos. estadual, municipal e particular. De acordo com
dados da PNAD/IBGE de 2016, 99,2% da popu-
III. PROFESSORES lação de 6 a 14 anos frequenta a escola; na faixa
TEMPORÁRIOS E HORISTAS etária de 6 a 10 e de 11 a 14 anos, o atendimento
A contratação de professores temporários na é de 99,5% e de 98,9%, respectivamente. De
Rede de Educação Básica do estado de São acordo com o último censo escolar, a oferta por
Paulo já é uma prática comum, regulamenta- dependência se divide em:
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Rede Federal - Um projeto em xeque
Dessa população, 58,8% dos alunos frequen- las em 2017. O gráfico 03 apresenta a evolução das
tam escolas públicas, universo em que os Institutos matrículas dessa modalidade a partir de 2014, ano
Federais representam 19,7%, com 347.813 matrícu- de aprovação do Plano Nacional da Educação - PNE:
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
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Rede Federal - Um projeto em xeque
Observa-se que em ambas as redes há uma Técnico Médio Integrado. A seguir é apresentada
redução no nº de matrículas e que cabe a rede pú- tabela contendo valores constantes do orçamen-
blica a maior oferta, particularmente a do Curso to no biênio 2016/2017 para os Institutos Federais.
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
novo figurino demandado pelo MEC, observa-se VIII realizar e estimular a pesquisa aplicada, a
movimentos no sentido de reposicionar os campi, produção cultural, o empreendedorismo,
o cooperativismo e o desenvolvimento
por meio da oferta de cursos com maior prestí- científico e tecnológico;
gio social, como os bacharelados em engenharia
em período integral, ou em outra via, por meio do São estes incisos que estabelecem que a
fechamento de cursos técnicos nas modalidades instituição deve conjugar o ensino, a pesquisa
subsequente e/ou concomitante e tecnológicos, e a extensão para a consecução de seu papel
consubstanciando uma espécie de “elitização” de agente de desenvolvimento. Os objetivos,
dos Institutos. que constam do Art. 7º reforçam esse ideário,
que incorpora uma visão abrangente e eman-
V MODELO EM XEQUE cipadora para a educação profissional, que
Nesse ponto, será retomada a hipótese proposta supera o binômio aprender/fazer e assume a
inicialmente objetivando compreende-la e de- pesquisa como parte fundamental do saber
bate-la no contexto proposto. Dessa forma, é humano. Soma-se a tal perspectiva, a exten-
essencial detalhar o que se entende por modelo são, propiciando a integração e permitindo a
de educação profissional que os Institutos repre- prospecção e o encaminhamento de soluções
sentam. A legislação de criação da rede pode ser para problemas concretos. Os balizadores
um bom ponto de partida e assim serão resgata- completam a missão, dando ênfase ao aten-
dos alguns extratos da Lei 11.892 de 29/12/2008, dimento do ensino médio técnico.
que norteiam a missão da instituição, começando Entretanto, a materialização de tal pro-
pelos incisos I e II do Art. 6 nos quais se afirma que posta exige um corpo docente qualificado,
a instituição deve: preferencialmente com dedicação exclusiva,
I ofertar educação profissional e tecnológica, infraestrutura condizente e quadro de servi-
em todos os seus níveis e modalidades, dores adequado e alinhado com as necessida-
formando e qualificando cidadãos com
des dos discentes, a fim de que a conjunção
vistas na atuação profissional nos diversos
setores da economia, com ênfase no pretendida saia do papel. Aliado a isso, pro-
desenvolvimento socioeconômico local, gramas de assistência estudantil e de bolsas
regional e nacional; completariam a proposta. Nesse sentido,
II desenvolver a educação profissional e
é possível afirmar que se não totalmente,
tecnológica como processo educativo
e investigativo de geração e adaptação pelo menos em parte as instituições foram
de soluções técnicas e tecnológicas contempladas.
às demandas sociais e peculiaridades Na verdade, relatos de colegas que traba-
regionais;
lharam em outras redes de ensino dão conta
de que os campi dos Institutos reúnem boas
Ou seja, lhe é atribuído o estatuto de agente condições para a oferta de uma educação
de desenvolvimento em diversos níveis. Seguindo: pública de qualidade e que além disso, as-
V constituir-se em centro de excelência na
oferta do ensino de ciências, em geral, seguraria uma qualificação técnica para os
e de ciências aplicadas, em particular, jovens. Além disso, a adoção da pesquisa e
estimulando o desenvolvimento de espírito extensão como parte do processo educativo é
crítico, voltado à investigação empírica;
fundamental para fomentar o desenvolvimen-
VI qualificar-se como centro de referência
no apoio à oferta do ensino de ciências nas to científico e tecnológico do país.
instituições públicas de ensino, oferecendo Contudo, a leitura do tópico IV indica que o
capacitação técnica e atualização arrocho orçamentário e de gestão por resulta-
pedagógicaaosdocentesdasredespúblicas
dos objetivam inviabilizar a proposta educativa
de ensino;
VII desenvolver programas de extensão e de dos Institutos e convergindo com o resgate da
divulgação científica e tecnológica; prescrição do Banco Mundial para a educação
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Rede Federal - Um projeto em xeque
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
TOKARNIA, M. Educação superior a distância cresce de-2015>. Acesso em: 09 de julho de 2018.
em ritmo acelerado. Agência Brasil publicado em
28/05/2017. Disponível em:< http://agenciabrasil.ebc. WORLD BANK. Higher Education in Developing
com.br/educacao/noticia/2017-05/educacao-superior- Countries: Peril and Promise. Washington, D.C.:
distancia-cresce-em-ritmo-acelerado-mostra-censo- 2000.
C
omo membros do GT – Educação do Proifes, e do Núcleo Sindical de Base do Sindiedu-
tec – PR, temos nos dedicado a acompanhar as políticas da educação brasileira, com
posicionamentos críticos a qualquer atitude que vá à contramão de uma educação
pública, gratuita, de qualidade, democrática e inclusiva. Seja nos governos anteriores a rup-
tura do Estado democrático de direito, seja no contexto do golpe, temos nos esforçado para
defender a educação brasileira. Para compreender documentos e propostas dos governos
é necessário decifrar a política, ler os documentos e propostas na relação que constituem
com políticas e grupos que não se limitam apenas aos debates da educação.
É preciso analisar a conjuntura política nacional e internacional, perceber como discursos
já conhecidos no âmbito do neoliberalismo, se transformam para parecerem novos. Exemplo
disso, poderíamos citar as relações entre Organizações Sociais (OS’s), na defesa da gestão
privada do dinheiro público, discurso que passou a figurar na educação brasileira recentemen-
te, e as experiências da educação em outros países que já tentaram essa forma de gestão.
Hoje é de conhecimento público que os resultados não foram positivos3.
Discursos apresentados nas propagandas do Ministério da Educação (desde a MP
746/2016) mentem cotidianamente sobre os verdadeiros impactos da Reforma do En-
sino Médio e da Base Nacional Comum Curricular. Por isso é preciso que os sindicatos
federados, assim como qualquer cidadão que defenda a educação pública e os interes-
ses da classe trabalhadora, tenham consciência dessas mentiras e ajudem a esclarecer
a população. Por esses motivos apresentamos nossas percepções sobre as políticas
recentes da educação:
1 Professor do Instituto Federal do Paraná (Campus Curitiba), pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Educação
Histórica (LAPEDUH – UFPR), membro do Núcleo Sindical de Base do SINDIEDUTEC-Sindicato, e membro do GT –
Educação do PROIFES–federação.
2 Professora do Instituto Federal do Paraná (Campus Curitiba), membro do GT – Educação do PROIFES -Federação,
representante do Proifes no Fórum Nacional Popular de Educação.
3 Ver, por exemplo, o caso dos EUA. Diane Ravicht trabalhou em defesa desse tipo de política nos governos George
Bush (pai) e George W. Bush. Pensou que Obama revogaria esse tipo de política, mas ao contrário disso o presidente
ampliou os testes padronizados e a remuneração meritocrática. Ao perceber os resultados catastróficos desse tipo
de política passou a publicar textos críticos em relação a essas iniciativas. (https://diplomatique.org.br/escolas-pri-
vatizadas-desempenho-pifio/ acesso em 10/07/2018). Na linha de apoio da reportagem: “Em depoimento, a autora,
que já defendeu princípios como o da remuneração por mérito para os professores e a generalização dos testes de
avaliação, critica o sistema em que se encontram as chamadas chartes schools estadunidenses e as opções de Bush
e Obama para a educação”.
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
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Os Impactos das
Reformas do Estado na
Educação Brasileira:
Os Desafios do Movimento Docente
_________________________________________________________________________________________________________________________________
ENIO PONTES DE DEUS
Presidente ADUFC-Sindicato
O
governo federal que, nos últimos 10 anos, vinha investindo na melhoria da infra-
estrutura e nas atividades de ensino, pesquisa e extensão das Universidades
públicas brasileiras, após a posse do vice-presidente, Michel Temer, como Che-
fe do Executivo, optou por uma política econômica de cunho neoliberal, com medidas
duras contra todas as áreas sociais da administração pública federal.
Com o apoio do Congresso Nacional, o governo Temer aprovou uma Emenda à
Constituição Federal que contingencia por 20 anos os gastos do Governo Federal
nas áreas sociais. E educação, em todos os níveis, foi atingida. Especificamente a
educação superior (Universidades Federais e Institutos Federais) sofreram cor-
tes profundos.
Houve um contingenciamento, em abril de 2017, de R$ 42 bilhões nas contas pú-
blicas. Desse valor, R$ 4,3 bilhões atingiram o Orçamento do Ministério da Educação.
Para as áreas da Ciência e Tecnologia a situação tornou-se catastrófica. Do total de
recursos, que já vinham em queda desde 2010, os cortes representaram 44% do to-
tal investido nos segmentos, em 2016.
Os impactos, pode-se inferir, foram muito negativos. 300 mil pesquisadores fi-
caram com os seus recursos contingenciados, laboratórios, sobretudo das Universi-
dades Federais públicas praticamente fecharam, além da diáspora forçada de jovens
pesquisadores que necessitaram migrar para outros países sobe pena de terem os
seus trabalhos paralisados.
Outro aspecto que impactou negativamente as áreas de Ciência e Tecnologia foi
o esvaziamento dos recursos destinados às entidades de fomento à pesquisa, como
CNPQ e Capes. A Capes especialmente vem perdendo aproximadamente R$ 1 bilhão
por ano, desde 2015, com cortes de bolsas, investimentos e recursos de custeio.
Programas importantes como o “Ciência Sem Fronteiras”, foi praticamente ex-
tinto, com uma redução de 80% dos recursos destinados ao programa. Já o CNPq
recebeu em 2017 apenas R$ 56 milhões, dos R$ 400 milhões aprovados pelo Con-
gresso Nacional.
O cenário é preocupante, pois da forma como o atual governo federal vem tra-
tando as Universidades Públicas, o quadro de sucateamento não deve demorar a
surgir. Há o risco de instituições novas, fruto da recente expansão universitária se-
jam fechadas, levando um enorme prejuízo às comunidades atendidas, sobretudo
no interior do país.
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
O
Conselho Deliberativo do PROIFES Federação, reunido em 12 de maio de 2018, em
razão da participação de sua delegação na III Conferência Regional de Educação
Superior – CRES 2018, debateu os termos dessa participação a partir dos eixos que
organizaram a Conferência e, tendo participado do evento como a maior representação sin-
dical do Brasil (entre os dias 11 e 15 de junho, na cidade de Córdoba, Argentina), elaborou um
conjunto de proposições que serviram ao direcionamento/orientação da própria delegação,
cujos membros estiveram distribuídos nas plenárias dos eixos. Essas proposições são agora
apresentadas em seu XIV Encontro Nacional, com vistas à informação e instrumentalização
de sua base sobre o evento e suas principais discussões.
PALAVRAS INICIAIS
A CRES 2018 é a terceira de uma série de conferências que firmaram as bases da caracteri-
zação da educação superior como direito. A primeira foi em 1996, em Havana, e a segunda em
2008, em Cartagena das Índias, na Colômbia. Esta última, realizada em um período no qual
os países da América do Sul viviam momentos de avanço nas políticas sociais, em especial
no Brasil, na Argentina, no Uruguai, na Bolívia, no Equador e na Venezuela. Por essa razão, ha-
via um pensamento majoritário desses governos na defesa da Educação Pública, e assim, a
declaração da II CRES definiu claramente que a Educação não era mercadoria, de modo que
a posição da América Latina foi determinante para que a Conferência UNESCO de 2009 em
Paris consagrasse esse princípio.
O mundo mudou muito nestes 10 anos e hoje vivemos uma conjuntura muito desfavo-
rável para a defesa da educação como direito, na medida em que no Brasil, na Argentina e no
Chile, por exemplo, temos governos neoliberais e privatistas, governos cujo posicionamento
na Conferência não são semelhantes ao de Cartagena. Hoje vivemos uma grande onda de
mercantilização da educação em todo o mundo, com formas inclusive mais sofisticadas de
privatização, que não passam apenas pela compra de Universidades, mas pela inserção de
grupos privados no mercado editorial, na venda de consultorias e pacotes de formação de
professores, sobretudo nos sistemas de educação municipais, e na educação à distância. Ob-
serva-se no Brasil um grande aumento do financiamento público para o sistema privado, em
especial através do FIES, o que tem colaborado para o aumento percentual da participação
do setor privado na educação superior (hoje superior a 70% do total de matrículas). Vivemos
uma grande pressão pela globalização e pela liberação dos mercados, através de acordos mul-
tilaterais no seio da Organização Mundial do Comércio (OMC), cujas rodadas de negociação
sempre têm o princípio do aumento da liberação do comércio. Isso tem levado a que os países
signatários desses acordos, dentre os quais o Brasil, se submetam às determinações da OMC
e sofram retaliações da entidade, como compensações aos países ou blocos de países que se
sentem prejudicados por políticas nacionais de proteção a setores específicos de mercado,
como recentemente aconteceu com o Brasil, retaliado em função do programa Inovar Auto,
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
que previa um incentivo fiscal a empresas que cas da formação dos profissionais da Educação
tivessem um grau importante de nacionalização Básica, principalmente os professores, através
na produção de automóveis. das licenciaturas e das ciências da Educação.
Nisso consiste o perigo de termos interna- Da mesma forma que na Educação Básica,
cionalmente a educação considerada como com- o Ensino Superior no Brasil é oferecido pela ini-
modity, implicando que sobre ela provavelmente ciativa privada, como entidades com finalidade
incidirá regulação pela OMC. Nessa hipótese o de lucro ou não, mediante concessão do Estado.
Brasil poderia em tese ser punido por financiar Desse fato emerge a sensível questão sobre o
exclusivamente as Universidades Federais, por papel do Estado frente à provisão desse direito
exemplo, o que violaria a “livre concorrência”, so- fundamental, considerando, inclusive, as especifi-
frendo então uma punição pelo prejuízo que as cidades da Educação Superior frente à Educação
empresas privadas de educação estariam so- Básica (educação infantil, ensino fundamental e
frendo com uma espécie de “concorrência des- médio, além da educação profissional e a atenção
leal”. Na prática, o que tende a ocorrer é perda aos jovens e adultos não escolarizados na idade
de soberania nacional para definir como se da- típica), do que deriva a análise da qualidade da
ria o financiamento da educação. E mesmo que educação, sua relação com os entes e institui-
se consagrássemos em lei os 10% do PIB para a ções que a oferecem e os meios de obtenção
educação pública, isso seria proibido pela OMC, dos seus indicadores.
que opera sob o princípio da livre concorrência. Torna-se imperioso ponderar que o concei-
Este é então o grande debate no momento, a de- to de qualidade não é consensual, sobretudo, se
fesa da educação como um direito e a recusa a considerarmos que tem sido comum a utilização
que seja concebida como uma mercadoria. Esta de parâmetros de avaliação que desconsideram
foi a principal bandeira do PROIFES-Federação a história e os desafios do ensino superior nos
e das organizações sociais em Córdoba. diferentes países da região. A diversidade da de-
Isto posto, passamos às nossas proposi- manda e as características da educação superior
ções, observando cada um dos eixos temáticos em ALC precisa dar lugar a uma atitude que nos
da Conferência: leve à defesa incondicional da educação superior
como um direito, concebido como parte integran-
EIXO 1 - A EDUCAÇÃO SUPERIOR COMO te e indissociada da luta em defesa da educação
PARTE DO SISTEMA EDUCACIONAL NA ALC infantil, do ensino fundamental e médio.
A Educação Superior na ALC assume modelos va- É preciso igualmente considerar o acesso, a per-
riados de funcionamento, gestão e financiamento, manência e a pós-permanência no ensino superior
bem como de caracterização de oferta por ente como um direito de todos os cidadãos, tendo em
público/estatal ou não estatal. No Brasil, desde vista as populações que não tiveram acesso à uma
a Constituição de 1988, ela é parte do sistema de educação básica de qualidade, implicando em impedi-
educação, junto com a Educação Básica, sendo mento ou dificuldade de ingresso ao ensino superior e
prevista como direito fundamental, e é financia- indução a frequentar instituições privadas de ensino,
da pelos governos nas três esferas federativas. muitas vezes de qualidade duvidosa. Deve-se anali-
As universidades federais e os Institutos Tecno- sar a permanência dos indivíduos que não reúnem
lógicos são as maiores instituições de Educação as condições consideradas ideais para cursar este
Superior no Brasil e principais responsáveis pela nível de ensino. A pós-permanência é um conceito
produção de conteúdo científico e tecnológico em a ser introduzido no debate, visto que a orientação
todas as áreas. Além disso, essas instituições são aos egressos do ensino superior, tendo em vista a
as responsáveis pela produção de conhecimento inserção no mundo do trabalho e a necessidade de
no campo das humanidades e, estrategicamente, formação ao longo da vida, deve ser um horizonte
tem gestado as bases conceituais e metodológi- também dos sistemas de ensino superior na região.
Além disso, é preciso assegurar que a amplia- a qualidade dos cursos ofertados e com o perfil
ção e diversificação da oferta do ensino superior dos egressos definidos nos diferentes cursos de
não pode nem deve representar prejuízos para graduação e pós-graduação. Além disso, é preciso
a qualidade e aperfeiçoamento das atividades defender que a pesquisa e a extensão devem ser
de responsabilidade do ensino superior, quais consideradas como um investimento na organi-
sejam, o ensino, a pesquisa, a extensão e, princi- zação e consolidação de sistemas de educação
palmente, o compromisso deste nível de ensino superior, pautadas no compromisso social com
com o desenvolvimento da ciência e tecnologia, o desenvolvimento da América Latina e Caribe.
bem como a responsabilidade com a formação de Para o aprofundamento da discussão so-
professores dos diversos níveis de ensino. Des- bre sistemas de ensino é preciso refletir sobre o
taque para a formação de professores que é um modelo de Estado que se deseja construir e/ou
elemento-chave para a construção soberana de fortalecer nos diversos países da América Lati-
um projeto de nação, visto que a escolarização na e Caribe. O passado comum de usurpação e
dos professores deve ocorrer nos cursos de gra- exploração das riquezas materiais e imateriais
duação e pós-graduação, permitindo a articulação desses países, por parte de seus colonizadores
entre ensino superior e educação básica. históricos e dos colonizadores que se formaram
De acordo com o site do CRES/2018, ocorreu e se firmaram contemporaneamente, com todos
no ano passado uma reunião preparatória para os novos atores que fazem parte da realidade
discussão desse eixo, da qual não consta parti- política e geoeconômica atual, desarticulam as
cipação de representantes do Brasil. No relato iniciativas que visam assegurar o direito à edu-
da reunião foi observada uma preocupação da cação pública, gratuita e de boa qualidade como
equipe responsável pela elaboração de propostas parte do pagamento de uma dívida social com a
para a CRES/2018 com “[...] Uma reflexão sobre o maioria da população formada por indígenas e
conceito de qualidade e a necessidade de promo- descendentes de africanos.
ver uma melhor coordenação do ensino superior A defesa da qualidade dos sistemas de en-
com o sistema educacional dos países da região sino superior, portanto, passa por um conceito
com diferentes níveis de ensino pós-secundário de Estado que destine investimentos, ações e
e do trabalho e meio ambiente produtivo”. Diante fiscalização na ampliação da oferta da educação
disso, deve-se questionar a onda de privatização superior e melhoria de todos os níveis e modalida-
do ensino superior como uma saída equivocada des de ensino do qual faz parte para a demanda
para a melhoria da qualidade deste nível de ensi- que precisa ser incluída nos sistemas de ensino.
no, haja vista os resultados desastrosos que vem A defesa que fazemos é de um sistema de ensino
sendo observados pelo movimento sindical dos superior inclusivo, por natureza, socialmente re-
docentes de nível superior no Brasil. ferenciado voltado para a cidadania, emancipação
No caso brasileiro denunciamos a configura- e estimulador da criticidade daqueles que dele
ção de oligopólios transnacionais que, priorizando participam direta e indiretamente.
o lucro, visam ao crescimento indiscriminado de
taxas de matrículas e à captação do fundo públi- EIXO 2 - EDUCAÇÃO SUPERIOR: DIVERSIDADE
co, sem compromisso com a qualidade do ensino CULTURAL E INTERCULTURALIDADE NA
ofertado, com os planos de carreira, com as con- AMÉRICA LATINA E NO CARIBE
dições de trabalho dos docentes e funcionários. O tema da relação entre educação superior, di-
O resultado tem sido a massificação do ensino, versidade cultural e interculturalidade é funda-
especialmente da modalidade à distância, devido mental diante da percepção de que o discurso
aos seus baixos custos e à precarização das rela- acerca dos direitos humanos, cujas origens his-
ções de trabalho com os envolvidos. Diante desse tóricas podem ser rastreadas no contexto das
quadro, é preciso firmar um compromisso com revoluções do século XVIII até o presente, não
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
caráter regional, sem perder sua capacidade de a pesquisa científica na América Latina e Caribe e
articulação internacional, será capaz de auxiliar permitir uma diminuição da dependência tecnoló-
na superação da grave crise que assola os países gica dos países produtores de Ciência e Tecnologia
da América Latina e Caribe. Qualquer solução ne- é a colaboração dos países do Continente no inter-
cessariamente passa pelo reforço da democracia câmbio de jovens pesquisadores, o investimento
como valor universal, tendo-a como um fim em si em laboratórios e a visita de cientistas oriundos de
e resposta para o momento de desenvolvimento países desenvolvidos, produtores de Ciência, obje-
das relações humanas no mundo do século XXI. tivando a troca de conhecimentos e experiências
(o que se articula com o ei. Outra ação importante
EIXO 5 - PESQUISA CIENTÍFICA E para fortalecer o desenvolvimento da Ciência e
TECNOLÓGICA E A INOVAÇÃO COMO MOTOR Tecnologia na América Latina e Caribe seria a ela-
DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, SOCIAL E boração de políticas de repatriação de cientistas
ECONÔMICO DA ALC dos países da Região, que se encontram nos países
O domínio do conhecimento científico, nas mais desenvolvidos, sobretudo nos Estados Unidos e no
diversas áreas da atividade humana, constitui-se Continente Europeu.
em fator crucial para alavancar os padrões sociais
e econômicos de qualquer sociedade. O desenvol- EIXO 6 - 100 ANOS DA REFORMA
vimento de pesquisas visando à identificação de UNIVERSITÁRIA DE CÓRDOBA
novos elementos capazes de oferecer a possibi- A III CRES ocorre no mesmo espaço onde há 100
lidade de criação de novos materiais; novos com- anos, 1918, a juventude da Federação Universitária
postos - um novo polímero - por exemplo; ou uma Nacional de Córdoba, Argentina, estava insurgen-
nova expressão genética de uma doença, que possa te e nos deixou um legado histórico, “O Manifesto
facilitar a sua compreensão. de Córdoba”, em que conclamava a liberdade para
É por meio do investimento em pesquisa os/as cidadãos/cidadãs da América, advertindo
científica que os países fortalecem os principais para o fato de, naquele momento estarem pisando
segmentos da sociedade. O desenvolvimento em uma revolução e rompendo as correntes que
de novas tecnologias pode transformar-se em os atavam à dominação monárquica e monásti-
novos produtos para a indústria, aqui entendi- ca, da qual as Universidades “eram” o fiel reflexo.
da no sentido Latu Sensu, alcançando todas as Reivindicavam um governo democrático e uma
variações, desde a indústria química, farma- universidade soberana.
cêutica, até o desenvolvimento de tecnologia A CRES 2018 ocorre em uma conjuntura
aeroespacial. mundial de retrocessos, com perdas de direitos
O domínio de tecnologias de ponta liberta e desfavorável à classe trabalhadora. O movimen-
os países da dependência da transferência do to estudantil, ao contrário de 1918, encontra-se
conhecimento tecnológico. Na prática, significa desmobilizado e em muitos casos atrelado a go-
que os países quem detém tecnologia afirmam vernos e estruturas de Estado, impossibilitado de
suas soberanias. No caso específico da América articular qualquer atividade, inclusive de realizar
Latina, a dependência científica e tecnológica é uma reunião dos estudantes, planejada para ocor-
gritante. Segundo a revista Nature (2014), apenas rer um mês antes da Conferência. Por outro lado,
o Brasil investiu acima de 1% do Produto Interno os movimentos sociais e sindicais presenciam
Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento. To- manobras sutis que visam ao estabelecimento
davia, ressalte-se que, apesar desta destinação, do paradigma da educação como mercadoria,
o Brasil ainda fica abaixo de países considerados segundo a tendência política de educação priva-
em desenvolvimento. da no âmbito dos governos que estão sob a égide
Nossa Federação entende e defende que um da UNESCO, a ser consolidada, definitivamente,
dos fatores que podem contribuir para impulsionar em Paris 2019. Elementos dessa política podem
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TEMA 2 Os impactos das reformas do Estado na Educação Brasileira:
Os desafios do Movimento Docente
A
defesa da universidade é parte indispensável da luta dos professores e seus sin-
dicatos pelo reconhecimento e valorização profissional. E a importância das insti-
tuições federais de ensino depende da função, e papel, que elas desempenham no
país onde têm sua sede. São afirmações que nos parecem óbvias, mas que cabe aprofundar.
Os professores das IFES têm uma sintonia maior do que a grande maioria das catego-
rias profissionais com as instituições em que trabalham. Não que outros trabalhadores não
tenham, em vários graus, adesão aos objetivos das empresas empregadoras. A manutenção
e o sucesso da empresa pode ser parte de seu interesse profissional e sindical. Estamos, por
exemplo, vendo a dramática situação de milhares de desempregados (muitos engenheiros
formados na nossa universidade) depois do ataque seletivo as empresas de engenharia bra-
sileira, pela “Operação Lava Jato”.
O que sustentamos é que a situação dos professores das Instituições Federais de Ensino
Superior é diferente. Uma análise, a partir das fontes de satisfação no trabalho, que apren-
demos, há muito tempo, na Sociologia do Trabalho explica nossa posição. A satisfação viria
de 04 fontes e, sumariamente, analisaremos a situação do professor universitário federal
perante cada uma1.
Orgulho do trabalho – o professor pode sentir orgulho do trabalho que faz e da liberdade
que, dentro de alguns limites, tem para definir o seu conteúdo. Das aulas que dá, da liberdade
que tem para definir e enquadrar o assunto, da sua liberdade para escolher seus temas de
estudo e pesquisa, dos trabalhos que elabora e divulga para a sociedade. E dos alunos que
formou – é uma forte característica do professor referir-se aos seus antigos alunos que se
destacaram na vida.
1 A primeira vez que utilizamos este enfoque foi em 1967, em pesquisa contratada pela PETROBRÁS, ao Instituto de
Ciências Sociais da UFBA., na qual trabalhávamos como pesquisador (Auxiliar de Ensino). A motivação da PETRO-
BRÁS era entender porque, depois do golpe de 1964, se tornara a principal fornecedora de clientes para Clinicas
de saúde mental. Foram 2 relatórios sobre o DINOR – Distrito Norte da Região de Produção da Bahia. Um sobre
condições de trabalho e, outros a nosso cargo, avaliando a opinião dos trabalhadores sobre “satisfação (ou não) no
trabalho. A base teórica era insuspeita, sociólogo norte americano, o instrumento, longo questionário de pesquisa
de opinião. A Petrobrás nunca divulgou os relatórios. Anos depois, ainda na Ditadura Militar, a UFBA teria solicitado
autorização para publicar artigo com base no nosso relatório e recebido a negativa. Nestes 50 anos, o conhecimen-
to dos resultados da insegurança e do assedio moral no trabalho avançou. Em novo regime de exceção, quando a
pressão aumenta sobre os trabalhadores cabe recordar e atualizar estudos deste tipo.
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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
Estas instituições procuram impor crité- artigo era auto aplicável e era necessário apenas
rios e interpretações que, muitas vezes, violam defendê-la (posição majoritária na (o) ANDES) e
a autonomia da Universidade e a própria Cons- os que defendiam que se poderia aproveitar a
tituição. Revelam, frequentemente, um grande conjuntura que consideravam favorável para ela-
desconhecimento da natureza da universidade borar uma lei específica para as IFES que respei-
e pretendem enquadrá-la à planilhas e práxis de tasse suas especificidades e garantisse melhor
serviço público. Ocorre que na Universidade há a autonomia. Na segunda posição, a ANDIFES e
especificidade. o PROIFES apresentam minutas de projetos de
Dentre equipamentos diferentes para uma lei com semelhanças e diferenças entre si. Na
pesquisa, o critério principal não deve ser o me- do PROIFES, destacamos a ênfase pelo retorno
nor preço, mas a qualidade e atualização. No meio para as Universidades do direito de a possuir a
da pesquisa, em função dos resultados, se pode sua própria Procuradoria. O fato da Universidade
mudar o Plano de Trabalho e remanejar rubricas. ser defendida por Procurador da AGU, fragiliza a
As Fundações – e a CGU, elaborou grande administração universitária na sua capacidade de
cartilha onde boa parte das sugestões visava exercer sua autonomia contra pareceres e acór-
às fundações – devem ter maior flexibilidade de dãos de órgãos controladores, mesmo quando
atuação que as autarquias. Os professores uni- flagrantemente inconstitucionais, ilegais e con-
versitários têm garantias específicas definidas trários a natureza da universidade. Os gestores
na Constituição, nas leis, e pela própria natureza sabem que se ousarem e, por isso, serem acusa-
do seu trabalho. dos de prevaricação ou improbidade terão de,
A luta é antiga, registramos alguns casos que após seu mandato, contratar e pagar advogados
revelam o paradoxo da autonomia garantida na particulares. Como os reitores são professores,
Constituição, mas negada na prática. talvez chegue o dia em que recorram à assesso-
Os mandados de segurança que requeremos ria do seu sindicato. A defesa da reintrodução da
e obtivemos contra Reitores, a autoridade máxi- procuradoria na Universidade deve continuar na
ma, contra ações praticadas e impostas a eles por pauta como uma meta.
órgãos externos. Um exemplo seria o caso antigo No momento presente (2018) não cabe pro-
dos mandados contra a suspensão de pagamen- por lei específica. No caso atual, esta seria cer-
tos no governo FHC, determinado pelo Ministro tamente restritiva e não garantidora da autono-
Paulo Renato, que foi detido pelo STF. mia. A tarefa é resistir juridicamente com base
Outro exemplo seriam os mandados apre- na Constituição, na Lei de Diretrizes e Bases, no
sentados, em 2017, contra os Reitores da UFBA RJU, nos Estatutos e regimentos das universi-
e UFRB que, com base em Nota Técnica da CGU e dades. Politicamente, divulgando e obtendo o
ação do MPOG (no SIAPE), não procediam a apo- apoio de vários setores sociais contra ataques
sentadoria, nem a progressão de professores (as) e afirmando o papel da Universidade.
que já haviam se aposentado, há anos atrás, com
DE. São inúmeros os casos, e seria interessante 2 OS ATAQUES ATUAIS À
fazer um inventário destes casos de desconheci- AUTONOMIA DA UNIVERSIDADE
mento e desrespeito à natureza e autonomia da Os ataques contra a autonomia universitária se
Universidade. Para encerrar, um caso que consi- acentuaram na atual conjuntura do Brasil.
deramos limite e anedótico. O questionamento
de um técnico da CGU sobre a razão da Universi- ЇЇ Autonomia administrativa
dade não fazer licitação para professor visitante. As pressões sobre a autonomia administrativa
A percepção dos ataques à autonomia universi- cresceram com o aumento do poder e a dispu-
tária levaram, em passado recente, a debate no ta, em curso, por protagonismo entre os órgãos
movimento docente entre os que diziam que o de controle e investigação (CGU, TCU, Ministé-
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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
rio Público, Polícia Federal e Judiciário) no que pela dimensão dos abusos e pela tragédia que
é apresentado à sociedade, como luta contra a provocou – o seu suicídio.
corrupção incrustada no Estado. Tem sido muito O Reitor e a Vice-Reitora da UFMG – Uni-
mais do que isso. É a afirmação do poder de bu- versidade Federal de Minas Gerais, Jaime Antu-
rocracias a partir da difusão de uma visão autori- ro Ramires e Sandra Regina C de Almeida e mais
tária, persecutória e punitivista, que atropela os cinco pessoas foram conduzidas coercitivamente
direitos individuais e utiliza, inclusive por meios em 06/12/2017 por suspeita de desvio de “quatro
ilegais (os “vazamentos”, por exemplo), a mídia milhões” na construção e implantação do Memo-
para fabricar condenações e tentar destruir re- rial da Anistia Política do Brasil, na universidade o
putações. Agentes que procuram fazer com que que pode ser associada a paralisação da obra e ao
a opinião pública confunda suspeito com acusa- esvaziamento da Comissão da Anistia no gover-
do, acusado com condenado, independente da no Temer. Foi uma reafirmação do poder Polícia
apresentação de provas e da defesa feita pelos Federal, após a grande reação provocada pelos
seus advogados. Não esqueçamos casos de in- abusos praticados, em setembro, contra o Reitor
quéritos a que os advogados não tinham acesso da Universidade de Santa Catarina e, talvez por
porque “em segredo de justiça”, mas partes, se- isso, não se revestiu da truculência daquele caso.
lecionadas para acusar, saiam na mídia. Juízes e O Reitor da Universidade Federal de San-
policiais que abusaram de condições coercitivas, ta Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, foi
prisões temporárias e preventivas, apoiando-se preso em 14/09/2017, acusado de obstrução às
em suposto “clamor popular”. investigações de supostos desvios de projeto de
Juízes e policiais que arrogantemente con- Educação a Distância. Além da violação da auto-
sideraram como crime de obstrução de justiça, nomia universitária (parte das acusações eram
qualquer atitude que os atrapalhasse. sobre a prática de atos de sua competência como
Em síntese, uma política que pretende con- Reitor) foi uma demonstração da discricionarie-
vencer, que o principal problema do Brasil seria dade e insensibilidade de juízes e da prepotência,
a corrupção, que se concentraria na política, no violência e espetacularização da Polícia Federal.
Estado e nas instituições e agentes públicos, O Reitor, que não fora intimado a depor, teve
neles incluídos as Universidades públicas e os sua prisão decretada pela juíza Jandine Casol,
professores. Temos razões, inclusive pessoais, primeira vara federal de Florianópolis, a pedido
para afirmar que esta visão não é unânime no da Polícia Federal em inquérito conduzido pela
judiciário e demais instituições que, também, delegada Erika Marena, da coordenação da Lava
devem ser consideradas espaços de confronto Jato até 2016. O pedido alegava a possibilidade
de concepções.2 Mas, não há dúvida de que esta de interferência nas investigações. O Reitor foi
visão arbitrária e arrogante tem justificado, a preso, acorrentaram seus pés, algemaram suas
suspeição e ataques à autonomia administra- mãos, o desnudam e o submetem a revista íntima,
tiva da universidade. vestiram uniforme de presidiário e o ficharam.
Exemplos máximos de desrespeito aos di- A Polícia Federal alardeou nas redes sociais,
reitos humanos e à autonomia administrativa e as TVs veicularam que estavam combatendo o
foram as prisões dos Reitores da Universidade desvio de 80 milhões em projeto de Educação a
Federal de Santa Catarina e da Universidade Fe- Distância. Mentira porque este era o valor total re-
deral de Minas Gerais, por supostos crimes liga- passado entre 2008 e 2015, fato reconhecido pela
dos a projetos de Educação a Distância. O caso delegada na grande entrevista coletiva, logo após
do Reitor Cancellier foi o de maior repercussão a prisão. Dois dias depois, 14/09/2017, Marjorie
2 Professor de Direitos Humanos no Mestrado Profissional de Segurança Pública, Justiça e Cidadania, além de turmas univer-
sais, tivemos turmas de policiais, juízes e do Ministério Público. Em 2015, o MPE nos outorgou o Prêmio J. J. Calmon de Passos
de Direitos Humanos. Em 2018, a AJBD – Associação Brasileira de Juristas pela Democracia nos convidou para Mesa: Demo-
cracia, Judiciário e Estado de Exceção que promoveu no Fórum Social Mundial. Acompanhamos ações de associação dos
Juristas pela Democracia (checar nome com Sonha).
Freiberger, juíza substituta, revogou as prisões, das verbas para a ciência e tecnologia. Em res-
alegando que a delegada não apresentará fatos posta, foi lançada a campanha “Conhecimento
que as justificasse. Mas, incapaz de perceber a re- sem cortes”. Em vários locais do Brasil, inclusive
lação entre o professor e a universidade o proibiu em frente a Reitoria da UFBA, foi instalado um
de frequentá-la até o termino das investigações. painel eletrônico (“tesourômetro”) contabilizan-
Sob o peso da humilhação, o Reitor se suicidou do o corte de verbas para Ciência e Tecnologia.
em 02/10/2017. Foi um caso que ultrapassou os Neste painel, em 28/06/2018 constava o valor
limites, provocando grande reação da sociedade de 14.990.120.151,00 bilhões de reais. No 02 de
e até da grande imprensa que tem apoiado o que Julho, data em que os baianos comemoram a In-
se apresenta como combate à corrupção. dependência do Brasil na Bahia4, ineditamente as
Sete meses depois a Polícia Federal con- universidades federais e estaduais, a FIOCRUZ,
cluiu o inquérito procurando incriminar o Reitor a Academia Baiana de Ciência convocou marcha
sem apresentar provas da sua participação ou em defesa da ciência. A autonomia da gestão fi-
benefício financeiro recebido3. nanceira e patrimonial.
As universidades federais enfrentam cor-
ЇЇ A autonomia didática e científica tes de verbas e mecanismos que aumentam sua
Contra a autonomia didática científica o ataque de dependência financeira do governo. No caso,
maior repercussão foi a ação do MEC contra o curso apresentaremos a situação da UFBA, a partir
sobre o golpe de 2016, disciplina oferecida como do relatório apresentado e discutido no Conselho
optativa pelo Departamento de Ciência Política da Universitário5 (para o qual a APUB elege repre-
UNB – Universidade Nacional de Brasília. Ao ataque sentantes docentes) e de outras informações
se seguiam a reação. Em dezenas de Universidades, colhidas. As verbas de custeio de 2017 tiveram
inclusive na UFBA – Universidade Federal da Bahia, uma redução de 13% (treze por cento) sobre 2016
foram promovidos cursos semelhantes. Na UFBA, e, em 2018, de 5,5% sobre 2017, cumulativamente
o Reitor e o Coordenador do curso foram chama- representou um corte de cerca de 19% sobre 2016.
dos a dar explicações na Polícia Federal. Mas, foi Quanto às verbas de capital (para investi-
momento de afirmação da autonomia. Projetos mento), o corte foi maior. Em 2017, a UFBA re-
como “Escola sem Partido”, procuraram criar um cebeu 50%(metade) do que recebeu em 2016, e
clima de vigilância e delação contra professores em 2018) apenas 10% do que recebeu em 2016.
que, aliás, por outro lado, precisam, muitas vezes, Os restantes dos parcos recursos para a área
reciclar suas falas e métodos didáticos a partir de deveriam ser disputados no balcão do MEC por
pressões, algumas incorretas, do “politicamente projetos nos quais as universidades demonstras-
correto” e do que se vê como assédio moral. As sem, pelos critérios do governo, sua qualidade e
consequências sobre os estudantes nos cursos de competitividades. Esta visão elitizante, é refor-
mestrado e doutorado, apresentados em pesqui- çada quando sabemos que, em reunião no início
sas, são apenas um exemplo. O ataque à autonomia do maio deste ano, com a ANDIFES, diante de 63
científica vem por outros meios. Sempre esteve Reitores, o Ministro de Educação Rossieli Soares
algo limitada pelos editais e prazos da CAPES, da Silva defendeu que Assistência Estudantil não
FINEP, CNPQ, Fundações Estaduais. é função das Universidades e afirmou “nenhum
No momento, o ataque maior vem do corte Tostão para a assistência estudantil”. A nosso
3 Alguns exemplos da grande Imprensa. WEINBERG, mônica, PRADO, thiago, Crônicas de um Suicídio, VEJA 2556, 15/11/2017.
WEINBERG, mônica, BUSTAMANT, luiza, MOLICA, Fernando, a Segunda Morte, Veja 2580,02/05/2018. NUNES, Walter, PF liga
ex-Reitor de SC a esquema, mas não a presença provas em 817 páginas. FSP, 10/05/2018.
4 No 02 de Julho 1823, após mais de um ano de combates, o Exército libertador entrou em Salvador após derrota e retirada das
Forças Portuguesas. A vitória, que uniu brasileiros das várias classes sociais, desde o começo é oportunidade para cortejo de
caráter político e reivindicativo.
5 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – PRÉ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO. Relatório de gestão. Apresen-
tação ao Conselho Universitário. Salvador, 12/04/2018, 27 páginas.
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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
ver, é um modo de reduzir as políticas afirmati- do Poder Executivo que, após ter sido aprovada
vas. Naquele momento, os reitores ficaram sem na Câmara Federal, segue para tramitação no
ação e perguntas. Outras atividades no mesmo Senado Federal. Apresentada como fórmula para
sentido enfrentaram reações públicas. alcançar o equilíbrio dos gastos públicos, a PEC
241 limita, a partir de 2017, as despesas primá-
ATAQUES E DEFESA SÃO PARTE rias do Estado – educação, saúde, infraestrutura,
DE PROJETO GLOBAL / O CONGELAMENTO segurança, funcionalismo e outros – criando um
DOS GASTOS SOCIAIS teto para essas mesmas despesas, a ser aplica-
Os ataques à Universidade são parte de um do nos próximos vinte anos. Significa, na prática,
projeto global do governo que atinge os vários que nenhum aumento real de investimento nas
campos sociais e que, por isso, mesmo, ofere- áreas primárias poderá ser feito durante duas
cem oportunidades para lutas e alianças nes- décadas. No entanto, ela não menciona nenhum
tes campos, e para a elaboração de um projeto teto para despesas financeiras, como, por exem-
alternativo nacional. Nesta luta, a universidade plo, o pagamento dos juros da dívida pública. Por
como centro de produção do conhecimento nos que esse tratamento diferenciado? A PEC 241 é
vários campos, tem legitimação para aprofundar injusta e seletiva. Ela elege, para pagar a conta
e divulgar as análises sobre o projeto em curso, do descontrole dos gastos, os trabalhadores e
fornecer subsídios, teóricos e técnicos, para al- os pobres, ou seja, aqueles que mais precisam
ternativas. E os sindicatos, levando, inclusive, à do Estado para que seus direitos constitucionais
contribuição dos professores, tem condição de sejam garantidos. Além disso, beneficia os deten-
participar da luta contra os discursos dominan- tores do capital financeiro, quando não coloca
tes na mídia, ainda que inicialmente seguindo as teto para o pagamento de juros, não taxa grandes
leis contrapropaganda6. fortunas e não propõe auditar a dívida pública. A
Na análise do quadro geral, e campos de luta, PEC 241 supervaloriza o mercado em detrimento
devemos iniciar pelo enfrentamento do congela- do Estado. “O dinheiro deve servir e não governar!
mento dos gastos sociais promovido pela Emen- ” (Evangelii Gaudium, 58).
da Constitucional 95, que pretende vigorar por Diante do risco de uma idolatria do merca-
inéditos 20 Anos. Esta Emenda foi aprovada em do, a Doutrina Social da Igreja ressalta o limite e
fins de 2016, apesar da reação de setores mais a incapacidade do mesmo em satisfazer as ne-
conscientes, mas sem que a maioria da população cessidades humanas que, por sua natureza, não
percebesse as implicações do aprovado. são e não podem ser simples mercadorias (cf.
Sobre a EC 95, transcrevemos, inicialmen- Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 349). A
te, trechos da posição da CNBB – Conferência PEC 241 afronta a Constituição Cidadã de 1988.
Nacional dos Bispos do Brasil. Por três razões: Ao tratar dos artigos 198 e 212, que garantem um
a anterioridade, a precisão e a importância que limite mínimo de investimento nas áreas de saúde
damos a aliança com as Igrejas, na luta por cora- e educação, ela desconsidera a ordem constitu-
ções e mentes. Vale a transcrição7. cional. A partir de 2018, o montante assegurado
“O Conselho Permanente da Conferência para estas áreas terá um novo critério de correção
Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em que será a inflação e não mais a receita corrente
Brasília-DF, dos dias 25 a 27 de outubro de 2016, líquida, como prescreve a Constituição Federal”.
manifesta sua posição a respeito da Proposta de ( Nota assinada por Dom Sérgio da Rocha Arce-
Emenda à Constituição (PEC) 241/2016, de autoria bispo de Brasília Presidente da CNBB Dom Murilo
6 As leis de propaganda e contrapropaganda foram reconhecidas em livro clássico. Cf. DOMENACH, Jean Morais. A propaganda
política. Tradução Celso T. de Padua, SP, difusão européia do livro 1955, 137, pág
7 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Presidência. Nota da CNBB sobre a PEC 241, Brasília, 27/10/2016, 1
página. A nota é assinada por Dom Sérgio da Rocha Arcebispo de Brasília, presidente da CNBB, Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Vice-Presidente da CNBB Dom Leonardo Ulrich Steiner, OFM Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB.
8 Cf. Comissão da CNBB manifesta preocupação com cenário de retrocesso. Brasília, 21/10/2016, 2 pág.
9 Cf. Ex. Presidente do CONIC, emite nota contra a PEC 55 (PEC 241), Brasília, 21/11/2016. 2 Pág.
10 Magistrados e MP se posicionam contra a PEC 55/2016 (PEC 241), Brasília 17/11/2016, 2 páginas. Transcreve nota da Frente
associativa da magistratura do MP composta por 09 associações em parceria com 03 associações de auditores e fiscais de
tributos e a auditoria cidadã da dívida.
11 CONIC, Senado aprova em primeiro turno PEC 55 que congela gastos. Brasília, 30/11/2016, 3 pag.
12 COMUNICADO ADUFSCAR, 13/2018 de, 07 de maio de 2018, 9 págs. O trabalho utiliza o “Estudo Técnico no 12/2016, publicado
pela Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara.
13 Efeito do teto, desafio. In MAZZINI, Leonardo. Coluna Esplanada, Tribuna da Bahia, 21/06/2018, pág. 6.
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O
PROIFES-Federação, juntamente com o conjunto do movimento sindical, com cam-
panhas de mídia, a atos de rua e pressão no Congresso Nacional conseguiu ter uma
importante vitória em 2017 e 2018 que foi o congelamento da tramitação da Refor-
ma da Previdência, um dos principais pontos da agenda privatizante do governo originado
do golpe de 2016.
Essa reforma, como muitas vezes demonstrado em estudos de várias entidades, não
tinha nada a ver com o propalado déficit da Previdência, pois sabe-se bem que a Previdên-
cia é por definição constitucional um dos pilares da Seguridade Social, junto com a Saúde
e a Assistência Social, que têm várias fontes de financiamento, além da contribuição dos
trabalhadores e dos empregadores. Sabe-se que esta conta foi, ao longo da última década,
altamente superavitária.
Se é verdade que este superávit caiu após 2014 isso se deu principalmente pela recessão
econômica que diminuiu fortemente a arrecadação do PIS e da COFINS, mas este momento
econômico é conjuntural, na medida que não houve desde 2004, data da Reforma da Previ-
dência de Lula, nenhuma mudança estrutural e demográfica no pais. Ou seja, a Reforma já foi
feita e desde 2004 não existe mais aposentadoria integral para os servidores, que inclusive
contribuem mesmo depois da aposentadoria. E, desde 2013, com a entrada em funcionamento
da Funpresp, não existe mais nenhuma diferença fundamental entre as regras de aposenta-
doria dos servidores e a do INSS.
E, se a questão central fosse déficit, o governo golpista de Temer não teria recuado e
teria proposto a Reforma da Previdência dos Militares, coisa que não teve coragem de fazer,
com a desculpa esfarrapada de que estes não se aposentam, e portanto devem manter a in-
tegralidade, ainda que contribuam bem menos que os demais servidores.
Outra mudança importante foi feita por Dilma, quando limita no tempo e no valor acu-
mulado, as pensões que já não eram integrais desde 2004. O que realmente importava na
Reforma de Temer era a diminuição pura e simples do valor das aposentadorias, de sorte a
abrir espaço para a previdência privada, dentro do programa capitaneado por Henrique Mei-
reles de destruição do serviço público e de abertura de todos os espaços públicos para que
fossem abocanhados pelos tubarões do mercado, na educação, na saúde, na exploração de
petróleo, na compra de terras por estrangeiros e assim por diante.
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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
A Reforma proposta após o golpe era cruel, “responsabilidade previdenciária”, conceito que
pois os que mais seriam atingidos seriam os poderia ser discricionário, e que abria as portas
mais vulneráveis, os mais pobres, os mais idosos para o fim do Regime Próprio de Previdência dos
e as mulheres. A primeira versão da PEC ainda servidores, que poderia ser extinto, sem que o
criava uma absurda e ilógica regra de transição Tesouro Nacional garantisse o pagamento das
baseada apenas na idade sem levar em conta o aposentadorias dos atuais servidores.
tempo de contribuição, obrigava as pessoas a Por tudo isso, foi absolutamente cor-
trabalharem até morrer para ter valores muito reta a estratégia do PROIFES-Federação e dos
pequenos de aposentadoria, posto que na inicia- demais sindicatos de colocar a derrota da PEC
tiva privada o desemprego é alto e a rotativida- da Reforma da Previdência no centro da luta de
de no emprego idem. E ainda por cima acabava 2016 até o seu congelamento. É certo que a pul-
com o valor mínimo das pensões em um salário verização da capacidade de articulação política
mínimo, o que levaria os mais pobres à miséria. do presidente golpista após a denúncia da JBS em
E praticamente se impediria que os trabalhado- maio de 2017 ajudou muito a derrotar a reforma
res rurais se aposentassem. no Congresso, já que Temer teve que centrar a
A segunda versão amenizou um pouco as atenção na sua defesa, inclusive liberar mais de
mudanças para alguns casos, permitindo que pen- 30 bilhões em emendas e projetos para arquivar
sões e aposentadorias fossem acumuladas, mas as duas denúncias promovidas pelo Procurador
limitadas a apenas dois salários mínimos. Voltou Geral da República Rodrigo Janot.
o limite mínimo das pensões e acabou a regra de Mas é certo também que era uma pauta mui-
transição apenas pela idade e os rurais foram to impopular, pois a sociedade, inclusive a classe
retirados. Mas para os servidores públicos, pro- média, percebeu que seu futuro ficaria muito com-
fessores em especial, alguns itens até pioraram, prometido com aquela reforma, e isso foi muito
como a obrigatoriedade de se ter 65 anos para eficaz para convencer os parlamentares a não
se ter a aposentadoria integral, o que poderia aprovarem a proposta apresentada. Mesmo que
levar os servidores a terem que trabalhar até 10 a base do governo tivesse votos suficientes para
anos a mais, se quisessem manter seus direitos mudar a Constituição, como fizeram na EC.95,
adquiridos.Mas o que realmente mostra a face que congela os gastos sociais por 20 anos, con-
privatista desta Reforma foram dois itens pouco tra o que, aliás, a sociedade não se revoltou, por
comentados inclusive, mas que o PROIFES-Fe- não enxergar prejuízos diretos em seu bolso e se
deração alertou firmemente. A primeira era a deixou enganar pela mídia que apoiou o golpe e
abertura da previdência complementar para os defende o mercado financeiro.
bancos, retirando a exclusividade da Funpresp, o Não se pode dizer que se esteja em um mo-
que em pouco tempo poderia levar ao colapso des- mento de vitória dos trabalhadores, ao contrário,
ta entidade fechada de previdência que, mesmo pois a Reforma Trabalhista foi um duro golpe para
sendo de direito privado, é uma fundação pública, os trabalhadores, que viram acabar uma série
com controle público. E uma das características de direitos, de jornada de trabalho, de garantia
que ela tem para garantir o futuro das aposen- de emprego e de enfraquecimento dos sindica-
tadorias dos novos servidores é o seu caráter tos. Maldades que ainda em está em curso, com
fechado e a exclusividade que tem de ser a única a decisão do STF neste mês de junho de aceitar
entidade a receber a contrapartida do governo. a constitucionalidade do fim do imposto sindi-
Acabar com isso, como queria o governo golpis- cal. Tivemos ainda a mudança da lei de partilha, a
ta é apostar na sua falência e na transferência abertura para compra de terras por estrangeiros,
de enormes volumes de recursos públicos e do entre muitas outras medidas, combinadas com o
fundo garantidor das aposentadorias para os desmonte da saúde e da educação pública, decor-
bancos. A outra medida proposta era uma certa rência da EC95. Mas apesar disso é preciso sim
que se reconheça como vitória dos trabalhadores certeza da viabilidade e controle da Funpresp
ao conseguirem barrar a Reforma da Previdência para os que ingressaram após 2013.
e a perda da validade da MP805 que acabava com Não podemos flexibilizar nenhum milíme-
os reajustes em 2018, a reestruturação das car- tro na defesa da garantia de que as regras de
reiras do MS e do EBTT entre eles. cálculo da aposentadoria dos servidores atu-
Com esta visão, de que tivemos uma vitória ais não sejam mudadas, como direito que as
nesse momento contra os golpistas, alertamos pessoas já têm e para o qual se prepararam.
para o fato de que não podemos nos descuidar, Não podemos aceitar surpresas e mudanças
pois a guerra continuará ano que vem e nos pró- de regras no meio do jogo. O mesmo vale para
ximos, a depender de quem vier a ser eleito em a preservação do direito dos já aposentados e
outubro de 2018. pensionistas, além de preservar as expectati-
Alckmin já afirmou claramente que é a favor vas de acumulação de benefícios que já estão
da Reforma da Previdência de Temer, e conhe- previstas, quando do cumprimento dos prazos
cendo a trajetória privatista do PSDB de FHC para suas aposentadorias.
sabemos bem o que ocorrerá se este chegar ao
Planalto. Ciro Gomes já disse que é preciso revisar PROPOSTAS:
a idade mínima e que é preciso diminuir o teto do O XIV Encontro Nacional do PROIFES-Federa-
RGPS (no que está de acordo com Alckmin) e ain- ção decide:
da aponta um referendo para a revogação da EC 1. Aprovar a continuidade da luta contra a
95, não se comprometendo de pronto com isso, Reforma da Previdência, independente-
o que mostra que sim haverá a necessidade de mente de quem vença as eleições presi-
muita resistência em caso de sua vitória. Marina e denciais, não aceitando mudanças nas re-
Bolsonaro são uma incógnita em relação a estes gras de cálculo de aposentadoria para os
temas, mas não se pode esperar de seus partidos atuais servidores. Manutenção do direito
compromisso claro com os servidores e menos de aposentadoria com o tempo de contri-
ainda com a revogação da EC 95. buição e idades hoje exigidas, nas regras
Se Lula puder ser candidato ou se o Partido atuais, sem pedágios ou períodos extras
dos Trabalhadores eleger o Presidente pode-se de contribuição. Garantia dos direitos vi-
até prever que haja negociação com os servidores gentes de acúmulo de benefícios. Garantia
em relação à reforma da previdência e na revo- da diferença de idade para as mulheres e
gação da EC 95, mas não podemos esquecer que aposentadoria especial para os profes-
Lula reformou a previdência em 2004, em nome sores e manutenção do valor mínimo das
de uma unificação dos sistemas, com o que o PT pensões equivalente a um salário mínimo.
concorda. E que Nelson Barbosa, quando minis- 2. Manter a luta pela garantia da valorização
tro do Planejamento defendia o teto dos gastos real do teto do RGPS, de sorte a aumentar
e enviou sem sucesso dois Projetos de Lei Com- as médias de aposentadoria dos trabalha-
plementar com este objetivo. dores e a possibilidade de aposentadorias
Assim sendo, o PROIFES-Federação deve maiores.
continuar tendo a luta contra a Reforma da Pre- 3. Exigir a garantia dos valores de aposenta-
vidência e na defesa de uma aposentadoria com doria e pensão dos inativos, sem possibi-
solidariedade geracional. No marco das leis e da lidade de desvinculação com o salário dos
realidade atual, lutar pela garantia dos direitos ativos (1ª e 2ª gerações de aposentados)
adquiridos dos servidores, de aposentadoria inte- e sem redução real de salários, com even-
gral, com paridade, para os que ingressaram antes tuais desvinculações ao teto do RGPS,
de 2004, dos 100% da média de 80% do tempo 4. Lutar pela garantia da manutenção da ex-
para os que ingressaram entre 2004 e 2013 e da clusividade da Funpresp como entidade
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INTRODUÇÃO
Os aposentados de maneira geral, e em particular, os professores aposentados das IFEs, têm
perdido ao longo de suas aposentadorias direitos os quais pensavam que estavam adquiridos.
Com a Emenda Constitucional 20/98 já tivemos o primeiro corte, que foi a cobrança dos ina-
tivos. Desse período até o momento, todos os governos, de uma forma ou outra, implemen-
taram medidas que prejudicaram consideravelmente o poder aquisitivo dos aposentados.
O cenário eleitoral de 2018 se dá meio a uma grande crise de representatividade e descré-
dito no papel do Estado como forma de resolver os graves problemas da sociedade brasileira.
Sendo assim, através da nossa participação na discussão e conhecimento destas questões,
convidamos, incentivamos e provocamos a nossa classe a estar presente neste processo elei-
toral, com o objetivo de contribuir no combate aos privilégios, mas, manter a luta na defesa
dos nossos direitos para defender nossa pauta, e portanto, proponho uma ampla campanha
a ser conduzida pelo Sindicato e Federação através de vídeos, seminários, palestras e o que
necessário for na busca de caminhos na defesa de nossos direitos.
A seguir, exponho alguns temas importantes, que considero relevantes em nossa luta
Campanha: Venha participar conosco “Não fuja da luta!”
A - TRIBUTAÇÃO DE INATIVOS:
Aposentadoria constitui um ato jurídico perfeito, qualquer mudança deste ato é modificação,
é violência da coisa consolidada tornando-a imperfeita, mas, mesmo assim, a lei de cobrança
dos inativos para a Previdência Social foi aprovado, assim como querem hoje, elevar a taxa de
contribuição dos SPFs ativos e inativos de 12 a 20% através de outra medida provisória ou pro-
jeto de lei a ser editado ainda este ano.
A contribuição dos inativos, foi tentada em 1999, através da Lei 9783/99, que foi, entretan-
to, considerada inconstitucional pelo STF, em votação unânime. Apesar do compromisso firma-
do, o Governo Federal obteve no Congresso a aprovação da EC 41 de 19 de dezembro de 2003.
Há quem diga que a contribuição dos inativos seria válida, sim, porque o aposentado deve
contribuir para formar reservas que possam custear a pensão para seus dependentes depois
de sua morte. O argumento, porém, é carente de razão. Primeiro, porque o direito à pensão não
depende de tais recolhimentos, tanto que, se o aposentado vier a falecer, dois meses depois da
concessão da aposentadoria, seus dependentes terão direito da mesma maneira. Aliás, quanto
mais tempo o aposentado sobreviver contribuindo, menores serão as possibilidades de restar
algum dependente que após a sua morte faça jus à uma pensão.
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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
Como proposta de ação sugerimos a união dos maiores problemas do orçamento federal,
dos movimentos dos aposentados para lutar por decorrente das altas taxas de juros dos títulos
um PL (PL 555) e pela PEC 434 com o objetivo de públicos para o pagamento dos custos financei-
eliminar a contribuição dos 11%. Apoiar movimen- ros. Isso estrangula toda a possibilidade de qual-
tos no sentido de revogar esta tributação. quer recomposição salarial, uma vez que 70%
dos gastos com a Universidade é com pessoal.
B FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE Os recursos globais destinados para as universi-
SOCIAL (PREVIDÊNCIA) dades já diminuíram em 16%, consequentemente
Como a Reforma da Previdência é um assunto os salários não serão recompostos instaurando
que pode ser votado no Congresso ainda este um grande desafio em busca de solução para o
ano, devemos nos mobilizar para enfrentarmos enfrentamento a esta situação
mais este ataque aos nossos direitos. A discus-
são e conhecimento das propostas dos candida- AÇÕES PROPOSTAS:
tos ao Congresso, é de fundamental importância ЇЇ Lutar pela revogação da EC.95, pois, quem
para apoio ou não, de acordo com o que pensa- defende a educação pública deve apoiar
mos sobre a Seguridade Social, estabelecida esta ideia.
na Constituição de 98. Os dados da CPI sobre a ЇЇ Lutar por uma outra política financeira, com
Previdência que revelaram ausência de déficit, redução de juros, promoção do desenvol-
também deve ser debatido. E que se cumpra a vimento econômico e uma política justa de
constituição com relação ao financiamento da financiamento da Seguridade Social. Eximin-
Seguridade Social. do o trabalhador de pagar mais esta conta.
Na discussão desta Reforma, caso a mes- ЇЇ Auditar a dívida pública, com o objetivo de
ma venha a ser implementada, uma das questões conhecer a realidade e dimensão desta dí-
mais importantes é manter a possibilidade de vida. Auditoria esta que está prevista na
acumular pensão e aposentadoria. (Conforme a constituição desde 1988 (artigo 26 do ato
nova proposta pode-se fazer a opção pelo valor das disposições constitucionais transitórias)
maior dos proventos, desde que não ultrapasse que nunca foi cumprida. Portanto, assumir
o teto da Previdência Geral. Embora as questões o compromisso de apoiar o trabalho da co-
da reforma sejam preocupantes, esta é uma das missão “Auditoria Cidadã da Dívida Pública”.
mais injustas, em alguns casos que não permite o
acúmulo de pensão com aposentadoria. (teto de D DATA BASE
R$ 5.531,31, RGPS). A saber: matéria que reclama indenização pela
Proposta de Ação: organizar um seminário ausência de revisão geral, conforme determina
com membros da CPI da Previdência e Promover o inciso X, do artigo 37 da CF, com redação dada
debates e acompanhar as propostas dos candida- pela EC 19, de 1988, segundo a qual “a remune-
tos sobre o tema. ração dos servidores públicos e o subsídio que
trata do &4º do artigo 39 somente poderão ser
C POLÍTICA SALARIAL fixados ou alterados por lei específica, observa-
Salários: Emenda Constitucional 95: Esta é a do a iniciativa privativa em cada caso, assegura-
mãe de todas as maldades, pois, esta emenda da revisão geral anual, sempre na mesma data e
ao limitar o orçamento dos gastos fixos, pressio- sem distinção de índice) Relator Marco Aurélio
na o Estado a reduzir onde é mais fácil, ou seja, e vários Ministros já votaram.
as despesas sociais. Por outro lado, o custo da ЇЇ Ação: - Atuar para que a matéria a seguir
dívida pública com o pagamento de juros é um seja concluída este ano.
U
ma brevíssima revisão histórica nos mostra que o nascimento do sindicalismo brasi-
leiro foi fortemente influenciado pela migração de trabalhadores vindos da Europa
para trabalhar no país. O final do século XIX marca a transição da economia nacional
até então basicamente rural com destaque para o plantio e a produção da cana de açúcar e
do café, desenvolvidos pelo braço escravo, e que sofre transformação com a introdução da
atividade manufatureira exercida pelo trabalhador assalariado, classe esta que surgiu após a
abolição da escravatura. Os imigrantes que aqui chegaram, vindos da Europa, tinham relativa
experiência com o trabalho assalariado e conhecimentos e direitos trabalhistas construí-
dos em seus países de origem. Lembremos que a industrialização naquele continente teve
início a partir do século XVIII e já na primeira e segunda década do século seguinte surgem,
na Inglaterra, as primeiras tentativas de organização de trabalhadores para lutar contra as
condições precárias de trabalho de então, com jornadas de até 16 horas diárias.
O Governo Vargas interfere diretamente no digamos incipiente sindicalismo, até aquela
época independente e ditado por iniciativa dos trabalhadores, criando o Ministério do Tra-
balho e editando várias normas que mudavam completamente a dinâmica dos sindicatos.
Uma dessas normas proibia a sindicalização dos funcionários públicos. Como quase tudo
surgido na “Era Vargas” tais iniciativas tiveram seus ferrenhos defensores e agressivos
detratores. Estes passaram a usar pejorativamente o termo “pelego” para definir aqueles
sindicalistas simpatizantes do governo ou os seus elementos infiltrados nos sindicatos
numa comparação com a manta de couro com pele de carneiro usada para forrar a sela
de montaria e tornar o assento mais confortável para o cavaleiro, largamente usada nos
pampas gaúchos e numa alusão mais que direta ao caudilho governante.
Os tempos se passaram e por conta de desvios políticos com subsequentes consequ-
ências de caráter também comercial, o Brasil conta hoje com mais de 16 mil sindicatos, (nos
Estados Unidos da América são 125!) muitos deles inexpressivos, esdrúxulos e sem repre-
sentatividade eficaz, mas vorazes na divisão do “bolo” anual de mais de 3,5 bilhões de reais.
Os funcionários públicos e dentre eles os professores de todos os níveis da educa-
ção formal, desde o ensino básico até o superior, também se organizaram em órgãos de
classe, inicialmente em associações mais tarde transformadas em sindicatos depois que
a Constituição de 1988 assegurou ao servidor público a livre associação sindical. Particu-
larmente os sindicatos dos professores do ensino superior sempre tiveram destacada
atuação ao longo de todos os anos de suas existências em diferentes momentos da his-
tória política do país.
Em tese escrita para o XIII Encontro, que teve honrosa coautoria do Professor Nilton
Brandão, destacamos alguns dos avanços expressivos alcançados nas lutas sindicais sob
a bandeira do PROIFES – Federação e não seria exagero transcrevê-las:
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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
“Acordos que garantiram a reposição da biu a dinâmica dos sindicatos, fragilizando a sua
inflação do período negociado para todos atuação, refreando o seu espírito combativo e
os docentes; reajustes acima da inflação;
elevação significativa do teto salarial;
ensejando algumas vitórias menos expressivas e
equiparação entre as carreiras do Magistério sem resultados imediatos uma vez que eles eram
Superior e do Ensino Básico Técnico e prometidos pelo governo, nas mesas de nego-
Tecnológico; incorporação da GAE e VPI ao ciação, para implantação em datas posteriores.
Vencimento Básico (VB); aumento percentual
do VB na remuneração (com destaque para
Tenho plena certeza que esta observação
os professores com anuênios, em especial parecerá estranha e até mesmo absurda aos
para os aposentados antes de 1998 que olhos e ouvidos de muitos e, com inquestionável
possuem mais de vinte anuênios); fim das respeito às opiniões divergentes, não pretendo
gratificações produtivistas; paridade entre
ativos, aposentados e pensionistas; extinção
tratar como verdade absoluta e acabada. Vejo-a
da GED (novamente com vantagem adicional muito mais como motivo de reflexão que poderia
para aposentados com anuênios).” explicar, por exemplo, o aparente desinteresse
Apesar de todas estas vitórias e outras que dos associados pelos sindicatos retratado na
não foram citadas, acho que a luta sindical vive um pouca participação em assembleias, processos
momento singular que demanda muita reflexão eleitorais internos, sem falar da evasão e das di-
de todos. É, sem dúvida, função precípua de todo ficuldades de novas adesões.
sindicato a defesa intransigente dos direitos dos O país vive hoje um momento extremamente
seus associados tendo como ação complemen- delicado com uma grave crise ética, moral e po-
tar e não menos importante a atuação política lítica. As conquistas sociais que avançaram um
na defesa e construção do ambiente profissional pouco nos dois últimos decênios acabaram por
no qual está inserida a atividade do associado, retroceder soterradas pela corrupção sistêmica.
portanto, inerente a sua representatividade, no Às vésperas de uma eleição parlamentar e presi-
nosso caso, o ensino superior, segundo parâme- dencial os partidos e os candidatos, independen-
tros e condições que a dignifiquem, valorizem e temente do matiz ideológico, não apresentaram
ajude a promover o desenvolvimento científico ainda nenhum projeto minimamente capaz de
e tecnológico do país. modernizar o país, recuperar a sua capacidade de
A luta política de maior envergadura e gerar riquezas e empregos, de diminuir a injustiça
abrangência, sempre atenta à defesa da demo- social e eliminar privilégios de uns poucos “aben-
cracia e buscando contribuir para a diminuição çoados”. Não apresentaram ainda tal projeto e
das diferenças sociais e econômicas, é ativida- dificilmente apresentarão porque todos os entes
de subsidiária que deve ser exercida sempre políticos arraigados em Brasília e os pretendentes
sem qualquer engajamento partidário e nunca pensam e conduzem todo o processo eleitoral,
com caráter personalista. É obrigatoriamente desde a celebração das alianças até os discur-
suprapartidária e o apoio a este ou aquele partido sos em praça pública, dentro de uma perspectiva
político, quando necessário, deve ser temática, exclusiva de poder. NÃO SE DISCUTE A NAÇÃO!
circunstancial e transitória. Que os políticos profissionais não discutem
Infelizmente, nos últimos anos, exatamente a Nação é verdade, mas a sociedade organizada
a partir de 2003 essa “independência” política e, também não o faz de uma forma mais ampla ca-
por extensão, o vigor e a disposição para maiores paz de aglutinar numerosos e diferentes segmen-
enfrentamentos, foram sendo paulatinamente tos em torno de ideias e propostas de interesse
deixadas de lado e observou-se um crescente nacional. Está mais preocupada com as coisas
engajamento ou, melhor dizendo, uma maior iden- mais comezinhas do processo político eleitoral,
tificação político partidária dos sindicatos com mais envolvida com a procura de um líder que
a ideologia e as ações do partido hegemônico no apresente um Projeto de Nação do que com o de-
poder. Este comportamento de certa forma ini- senho desse mesmo Projeto para o qual surgiria
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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
nar uma ação conjunta com outros sindi- renegando as funções para as quais foi
catos no sentido de acompanhar, fiscali- criada defendendo interesses outros,
zar e cobrar do Congresso e da ANS que puramente mercantilistas, desprezando
os reajustes anuais acompanhem o IPC e o bem maior do ser humano que é a sua
que seja descartada a “inflação médica” saúde, não se coadunam com as expec-
ditada pelas seguradoras para justifi- tativas da sociedade para a legítima e
car os aumentos abusivos. O sentimen- correta atuação dos órgãos da adminis-
to reinante de que a ANS poderia estar tração pública
D
esde a Lei 12.772 de 2012, o Magistério Federal é composto pelas carreiras do Ma-
gistério Superior e do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico - EBTT, sendo, portanto,
carreiras equiparadas. No entanto, muitos são os desafios para a atuação e valori-
zação da carreira EBTT dentro da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Atualmen-
te, na UFSCar, as professoras do EBTT estão lotadas na Unidade de Atendimento à Criança
– UAC, que é uma unidade universitária federal de educação infantil que atende crianças 3
meses a 5 anos e 11 meses.
Um dos grandes desafios é o reconhecimento de que as professoras do EBTT, de acordo
com a referida lei, podem e devem exercer todas as atividades praticadas pelos professores
do Magistério Superior, atuando no ensino, na pesquisa, na extensão e na gestão. Para tanto,
faz-se necessário que as professoras do EBTT sejam dispensadas do controle de frequên-
cia, nos horários em que não estão na sala de aula, tal como são os professores do Magistério
Federal, garantindo um tratamento isonômico entre as carreiras.
Cabe salientar que a atuação docente na UAC possui particularidades próprias que im-
possibilitam o controle de ponto e exigem maior flexibilização da carga horária de trabalho;
por exemplo, as docentes EBTT na UAC cumprem suas horas no ensino em suas turmas de
crianças no horário de funcionamento da unidade e dividem as demais horas entre atividades
de pesquisa, extensão e administração, mas também se dedicam à outras atividades consi-
deradas de ensino, tais como planejamento e preparação de materiais e instrumentos para
as aulas, reuniões pedagógicas, reuniões de estudo, reuniões individuais com a coordenação
pedagógica, atendimento às famílias das crianças e orientação de estágios. Nesse sentido,
as horas dedicadas às atividades de ensino são muito superiores às horas que as professoras
conseguem se dedicar às demais atividades.
Portanto, é importante frisar que a flexibilização de horários garantirá a prestação de
serviços de qualidade junto à Universidade, garantindo a articulação entre ensino, pesquisa,
extensão e administração, atividades fim da Universidade. Inclusive, as professoras do EBTT
são avaliadas por essas atividades e precisam ter garantido o direito de desenvolvê-las.
Diante do compromisso assumido pelo MEC e Ministério do Planejamento, Orçamen-
to e Gestão, quando da assinatura do Termo de Acordo n. 19/2015 (que foi convertido na Lei
13.325/2015) entre os referidos Ministérios e o PROIFES Federação, em que o Governo Fe-
deral, conhecedor da situação acima relatada, em que é forçoso se reconhecer o direito dos
professores do EBTT à dispensa do controle de jornada, sugerimos que o PROIFES reitera o
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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
compromisso assumido, junto aos órgãos com- colegiados e de representação sindical. Por
petentes, de alteração do Decreto 1.590/1995 e isso, faz-se necessário e urgente a liberação
criação de um novo decreto específico para os de mais vagas EBTT que supram as demandas
docentes do EBTT. da Unidade, bem como, uma nova legislação
Além disso, salientamos que a docência que autorize a criação de um cadastro de pro-
na Educação Infantil é bastante complexa e fessoras (eventuais, substitutas, voluntárias
exige capacitação constante, mas que as pos- ou volante) que possam suprir as ausências
sibilidades de participação em atividades de quando necessário.
formação continuada são bastante difíceis, Por fim, destacamos a importância da pa-
visto a dinâmica atual de atuação na UAC, in- ridade e integralidade para os (as) professores
cluindo a falta de professoras na Unidade, o (as) que ingressaram após a EC nº 41/2003. Des-
que acaba afetando a participação das do- tacamos também que seja garantida o direito a
centes em cursos de qualificação profissional aposentadoria do (a) professor (a) EBTT quando
em quaisquer níveis, por exemplo. Essa falta completarem 25 anos de efetivo exercício na Edu-
de professoras também afeta diretamente a cação Básica, mantendo a idade mínima e com
garantia do direito à participação em órgãos proventos integrais.
139
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
Gráfico 1:
Gráfico 2:
e leituras jurídicas prejudiciais aos docentes. c4) Redefinir critérios para concessão do auxílio
O documento, consolidado em 2015, reivin- transporte, hoje totalmente inadequados;
dicava: c5) Criar programas de capacitação para as car-
reiras do MS e EBTT;
a. Reajustes salariais. c6) Garantir de que a (desejável) expansão das
a1) elevar o piso salarial (remuneração do au- universidades e institutos federais se dê
xiliar 1, graduado, em regime de trabalho de de forma a assegurar adequadas condições
20h) em 10% a partir de jan/2016; de trabalho para todos os docentes, dentre
a2) incorporar aos salários aumentos reais (aci- outras.
ma da inflação) de 2% em jan/2017; e
a3) agregar mais 2% de aumentos reais aos d. Correção de injustiças.
salários em jan/2018. d1) Reenquadrar docentes aposentados do MS
na classe de professor associado, já que, à
b. Reestruturação das carreiras e valorização época da criação da classe de professor as-
da DE (lógica da malha – todas as remune- sociado (maio de 2006), foram represados
rações dedutíveis a partir do piso salarial): na antiga classe de adjunto;
b1) implantar, a partir de janeiro de 2016 (MS e d2) Estender o RSC para os aposentados do EBTT;
EBTT) as seguintes relações percentuais: d3 Criar regra para compensar a mudança de
1. 5% entre os VBs de docentes em níveis interstício de 18 para 24 meses (EBTT), den-
subsequentes de uma mesma classe, e tre outras.
10% entre classes subsequentes;
2. entre a Retribuição por Titulação (RT) e o e. Correção de procedimentos e leituras
VB: 10% para aperfeiçoados, 20% para jurídicas prejudiciais aos docentes:
especialistas, 50% para mestres e 120% e1) Garantir efeitos financeiros e legais das pro-
para doutores; gressões e promoções retroativos à data
3. entre o VB do docente em regime de de- de conclusão dos interstícios, cumpridos
dicação exclusiva (DE) e o VB do docente os devidos requisitos;
em regime de 20h, 100%, e entre o VB e2) Revogar a exigência de conclusão do está-
do docente em regime de 40h e o VB do gio probatório para a mudança de regime
docente em regime de 20h, 40%. de trabalho, dentre outras.
b2) aumentar o percentual entre o VB do docen-
te em regime de dedicação exclusiva sobre 3 AS NEGOCIAÇÕES E VITÓRIAS
o do docente em regime de 20h: ALCANÇADAS.
1. de 100% para 110%, em janeiro de 2017; ЇЇ Reajustes salariais e reestruturação.
e ЇЇ Governo insistia em negociar índices por
2. de 110% para 120%, em janeiro de 2018. 4 anos, com índices de reposição aquém da
inflação prevista.
c. Melhoria de condições de ЇЇ Servidores em geral e PROIFES em particu-
trabalho e de capacitação. lar recusaram essa proposta.
c1) Revogar o controle de frequência no EBTT, ЇЇ Governo recuou, concordando em negociar
à semelhança do que já ocorre no MS; índices por 2 anos, mas ficou irredutível:
c2) Revogar a exigência de conclusão do está- 5,5% e 5,0%. Esses índices acabaram sen-
gio probatório para mudança de regime de do aceitos pelos representantes dos servi-
trabalho; dores, inclusive pelo PROIFES – que aceitou
c3) criar estímulos à retenção de professores postergar a demanda de incentivo aos do-
em locais de difícil lotação; centes em DE (2017/2018).
São Luís/MA
julho 18
141
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
1. Auxílio-alimentação, de R$ 373,00 para que prevê para este ano inflação de 3,9%. Dessa
R$ 458,00; forma, chega-se ao índice de 23,15%.
2. Assistência à saúde, do valor médio de
R$ 117,78 para R$ 145,00; e O valor necessário para repor as perdas do
3. Assistência pré-escolar, do valor médio período é, assim, de 11,17%.
de R$ 73,07 para R$ 321,00.
CONTINUIDADE DA REESTRUTURAÇÃO
Constituído o governo Temer, contudo, após DA CARREIRA.
afastamento da presidente Dilma, parte das rei- Não há como propor nova alteração da carreira em
vindicações aceitas para ‘implantação imediata’ 2019, tendo em vista que há um acordo em vigên-
não foram efetivamente implementadas até o cia, em função do qual há uma reestruturação em
presente momento, bem como não foi criado o curso, que só estará concluída em agosto desse
‘Comitê de Trabalho’ no âmbito do MEC, confor- mesmo ano. Assim, a proposta é reivindicar que
me previsto no acordo assinado pelo PROIFES os aperfeiçoamentos da carreira que recuperem
em 2015. as nossas demandas originais, recompondo os
degraus entre classes e níveis que havíamos
4 PROPOSTA PARA CAMPANHA SALARIAL. proposto, bem como o RT/VB de doutor (115%
A proposta apresentada a seguir ao XIV Encontro para 120%), sejam implantados a partir de 2020.
Nacional do PROIFES para a campanha salarial é a Por outro lado, devemos retomar nossa pro-
decorrente naturalmente da que já consolidamos posta de valorização dos docentes em regime de
em Encontros anteriores do PROIFES, de forma a dedicação exclusiva, conforme defendemos na
complementar aquilo que foi negociado em 2015. campanha salarial de 2015. O percentual então
proposto foi de 5% adicionais para os docentes
REPOSIÇÃO DAS PERDAS em DE.
DEVIDAS À INFLAÇÃO
Inicialmente, há que calcular o índice de revisão PENDÊNCIAS DO ACORDO DE 2015.
salarial a ser reivindicado para todos os docentes Aqui devem ser consideradas todas as pendências
(Magistério Superior/MS e Ensino Básico, Técnico – tanto as relativas aos itens para ‘implantação
e Tecnológico/EBTT), a partir de janeiro de 2019, imediata’ que ainda não estão em vigor, quanto as
de modo a recompor as perdas inflacionárias que deveriam estar sendo discutidas no ‘Comitê
ocorridas entre março de 2015, data do último de Trabalho’ constante do acordo de 2015.
reajuste relativo ao acordo firmado pelo PROI- Em resumo, a proposta de campanha salarial
FES em 2012, e dezembro de 2018. apresentada ao XIV Encontro Nacional do PROI-
Esse índice resulta da comparação entre o FES é a que se segue.
reajuste obtido no acordo de 2015 e a inflação
real prevista para o período março de 2015 / de- PROPOSTA DE CAMPANHA SALARIAL
zembro de 2018. 1. Reposição salarial de 11,17% para to-
O percentual obtido no acordo de 2015 foi dos os docentes, em janeiro de 2019.
de 10,78%: 5,5% em agosto de 2016 e 5,0% em 2. Reestruturação das carreiras, a partir
janeiro de 2017, cumulativos. de 2020, de forma que os seguintes
Para a inflação relativa ao período março de parâmetros sejam alcançados (confor-
2015 – dezembro de 2018, leva-se em conta a já me proposta original de 2015):
ocorrida até junho de 2018 (de acordo com o índi- 1) Relação entre os VBs: 5% entre os
ce do DIEESE) e, ainda, as projeções futuras até VBs de docentes em níveis subse-
dezembro de 2018 – estas em consonância com a quentes de uma mesma classe, e
pesquisa Focus divulgada em 20 de junho de 2018, 10% entre classes subsequentes;
São Luís/MA
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TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
A
questão do registro de ponto para a carreira do Ensino Básico, Técnico e Tec-
nológico (EBTT), não é um assunto novo, pois vem sendo discutido com o go-
verno há um bom tempo. Para entendermos a questão, precisamos voltar no
tempo, e relembrar a origem da carreira, e as mudanças ocorridas nas atividades dos
professores EBTT, tais como a os equiparação aos professores do Magistério Superior.
A Carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) é oriunda
da Carreira de Magistério de 1º e 2º Graus, das antigas escolas técnicas, que atuavam
no ensino médio e técnico. As atividades do professor basicamente estavam voltadas
para o ensino. Apesar de oferecer um ensino de altíssima qualidade, os professores não
tinham nenhum incentivo para buscar titulação, sendo que exerciam jornadas com mais
de 30 horas de trabalho dentro da sala de aula.
A Lei nº 11.784, de 22 de setembro de 2008, criou um novo plano de carreira, incluindo
o ensino tecnológico, o Plano de Carreira e Cargos de Magistério do Ensino Básico, Técnico
e Tecnológico, além do Plano de Carreiras de Magistério do Ensino Básico Federal. Com
essa nova carreira, criou-se a possibilidade dos Cefet’s (Centros Federais de Educação
Tecnológica) e também das escolas técnicas vinculadas às Universidades Federais, po-
der oferecer cursos superiores, mudando as atribuições dos professores. As atribuições,
segundo o artigo 111 da lei 11.784/2008, passaram a ser:
Art. 111 São atribuições gerais dos cargos que integram o Plano de Carreira e Cargos de Magistério
do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, sem prejuízo das atribuições específicas e observados
os requisitos de qualificação e competências definidos nas respectivas especificações:
I as relacionadas ao ensino, à pesquisa e à extensão, no âmbito, predominantemente, das
Instituições Federais de Ensino; e
II as inerentes ao exercício de direção, assessoramento, chefia, coordenação e assistência na
própria instituição, além de outras previstas na legislação vigente.
Essa mudança nas atividades docentes alterou não apenas às atribuições do car-
go do professor, mas o seu perfil. Junto com as novas atividades a carreira também
mudou, principalmente ao agregar às atribuições de ensino, também as atividades
de pesquisa e extensão, condição fundamental para a reivindicação do PROIFES:
equiparação definitiva da carreira do EBTT com a carreira do Magistério Superior,
com a conseqüente valorização salarial e na progressão e promoção na carreira. A
valorização da titulação tornou a carreira muito mais atrativa para o professor, além
de mudar o perfil que passou a ser muito mais acadêmico e próximo do magistério
superior.
145
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
que para assinar o Acordo o governo submeteu to. O conselho superior do IFTO instituiu
a proposta do Proifes à Assessoria Jurídica do o registro de ponto eletrônico para os
MEC, que atestou a legalidade do assunto, antes professores. A ação teve negada a tutela
da sua assinatura. antecipada e aguarda decisão;
Naquele momento a questão do registro ЇЇ A procuradoria geral da União, emitiu pa-
de ponto EBTT estava resolvida, com a plena recer através do seu procurador Igor Cha-
concordância dos negociadores do governo, a gas de Carvalho, onde coloca que, “Diante
saber; MEC e Ministério do Planejamento. In- de todo o exposto, conclui-se e opina-se
clusive a redação dos termos que constariam no sentido da existência de razões jurídi-
na alteração do Decreto 1.590/95: a simples cas suficientes para que se dê tratamento
inclusão de mais um item no § 7º do artigo 6º: igual aos docentes do Ensino Básico, Téc-
f) d e Professor da Carreira de Ensino nico e Tecnológico – EBTT, relativamente
Básico, Técnico e Tecnológico de que
aos docentes do Magistério Superior, no
trata a Lei 12.772 de 28/12/2012.
que tange à dispensa do controle de fre-
Logo após a assinatura do acordo, que quência. Ou seja, no sentido de se reco-
foi em dezembro de 2015, o país passou por nhecer os docentes do EBTT a dispensa
um período de grande tensão política, resul- do controle de frequência, na esteira de
tando no impeachment da presidenta Dilma idêntico reconhecimento já anteriormen-
em 2016. Os signatários do acordo não foram te deferido aos docentes do Magistério
hábeis o suficiente, ou não deram a prioridade Superior”.
devida para o cumprimento do acordo. Além ЇЇ Em reunião ordinária do Conif em 10 de
disso, o novo grupo político mudou ministros maio de 2017, o reitor do IFTO, pressio-
e secretários que, apesar de diversos pedidos nado pelo trabalho do Sind-Proifes junto
de audiências feitos pelo Proifes, não demons- a este instituto, solicitou esclarecimen-
tram interesse em resolver o problema, que tos ao representante da Secretaria de
persiste até a atualidade. Importante regis- Educação Tecnológica, SETEC (Romero
trar que o Proifes Federação e seus sindica- Raposo) sobre a equiparação no registro
tos, mantêm seu trabalho buscando efetivar de ponto da carreira EBTT com a carreira
o cumprimento da cláusula sexta do acordo, do Magistério Superior. O mesmo afirmou
com diversas ações sobre o tema, algumas que a consultoria jurídica do Mec concor-
com avanços importantes: da com essa solicitação e que essa pen-
ЇЇ Na Escola de Especialistas da Aeronáuti- dência estaria em fase de resolução, para
ca, uma unidade militar situada em Guara- publicação “nos próximos dias” em cum-
tinguetá interior do estado de São Paulo, prindo o estabelecido no acordo. Como se
o Sind-Proifes junto com a ADIFESP con- vê, mais uma fala sem compromisso dos
seguiu negociar com o comando da Aero- representantes do atual governo.
náutica a dispensa de registro de ponto ЇЇ O Instituto Federal de Educação, Ciência
dos professores da carreira EBTT para e Tecnologia de São Paulo, emitiu parecer
todas suas unidades, após nossa proposta através da sua procuradoria, onde deter-
ser aprovada pelo seu conselho jurídico. mina que não há óbices que impeçam a
ЇЇ No Instituto Federal de educação Ciência adoção do controle de frequência do EBTT;
e Tecnologia do Tocantins, o Sind-Proifes
impetrou ação requerendo que se cum- Podemos ver que o assunto foi largamente
pra o termo de acordo, e o tratamento discutido, avaliado e respaldado pelos órgãos
isonômico com a carreira do Magistério do governo, mas mesmo assim, continua sem
Superior no que tange ao registro de pon- solução. O XIV Encontro Nacional do PROI-
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147
TEMA 3 Campanha salarial, Carreiras e Assuntos de Aposentadoria
O
Proifes Federação, entidade que congrega sindicatos de docentes das Ifes brasi-
leiras que se organizam nacionalmente de forma flexível, desde que respeitada a
autonomia de cada um de seus sindicatos associados, têm conduzido com sucesso
as lutas nacionais, na última década, das quais se beneficiaram todos os professores das
universidades e institutos federais do país, ativos ou aposentados.
Além da atuação mais propriamente sindical, são relevantes as contribuições do Proifes
para a educação brasileira, com destaque para a questão do financiamento do sistema edu-
cacional público, da creche à pós-graduação, e do município até à União. Tais contribuições
foram reconhecidas, principalmente, pelas Conferências Nacionais de Educação (CONAE’s),
de 2010 e 2014 e, também pela recentemente realizada Conferência Nacional Popular de Edu-
cação, em Belo Horizonte, de 24 a 26 de maio de 2018, no sentido de que foi bem sucedido o
esforço do Proifes de construir um quadro completo e atualizado de dados que permitem o
tratamento, tanto técnico quanto político, das necessidades educacionais do país a merecer
financiamento público.
Dada a situação vexatória na qual se encontra o quadro político-institucional, em nosso
país, cabe, urgentemente, ao Proifes, concentrar seus esforços na proposta ampla de reto-
mada das metas definidas no Plano Nacional de Educação (2014-2024) em vigor, aprovado
pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014.
Particularmente neste ano de campanha eleitoral para Presidente da República, será
necessário unir todos os setores democráticos em torno de um movimento capaz de com-
prometer os candidatos com a adoção de pontos cruciais, tanto sobre o financiamento da
educação pública, quanto da efetiva regulamentação da educação privada.
O financiamento da educação deve ser balizado na garantia da implementação do Plano
Nacional de Educação, que prevê a adoção de um percentual crescente, a partir do orçamento
nacional de 2015, até atingir a meta de 10% do PIB, em 2024. Isso passa, necessariamente,
pela revogação da Emenda Constitucional n° 095, de 15 de dezembro de 2016. Essa emenda
à Constituição, que foi aprovada imediatamente após o golpe parlamentar-jurídico-midiático
1 Tese apresentada ao XIV Encontro do Proifes Federação. São Luís, 24 a 28 de julho de 2018
151
TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação
que retirou a presidente Dilma Rousseff do poder, estar vigilante para que direitos adquiridos pela
congela a aplicação de recursos federais por 20 categoria não sejam suprimidos, mormente na
anos, pois obriga que a atualização orçamentária conjuntura em que o governo parece existir so-
dos gastos públicos, fixados no Orçamento Fede- mente para fazer cumprir os desígnios neoliberais
ral, particularmente nas áreas sociais, seja feita e antinacionais mais ortodoxos e nefastos contra
de forma que o índice de correção não ultrapasse os aos trabalhadores, a saber, a privatização das
o índice de inflação do ano anterior. empresas públicas a preços viks, o fortalecimento
Nesse quadro de desmonte do estado na- desembestado do capital improdutivo de rentis-
cional, impõe-se, que se examine urgentemente a tas e banqueiros – o malfadado mercado -, com
questão da política educacional, completamente a retirada, ao máximo, de recursos das mãos do
desfigurada, já que imersa num mar de leis e por- Estado, para mantê-lo atrelado aos interesses
tarias produzidas ao sabor dos acontecimentos. daqueles setores que parasitam os setores pro-
Para começar, urge redefinir-se a integração das dutivos da Nação.
três esferas federativas - União, estados, Distrito Tudo o que propõe a presente tese relacio-
Federal e municípios, na execução da política de na-se com financiamento público da educação,
educação, para que se estabeleçam, não somente em sentido amplo, razão pela qual a preocupação
os montantes das contribuições financeiras de com a política de financiamento não pode ser vista
cada uma das três esferas de poder, como tam- como alheia às atribuições sindicais específicas,
bém, a forma como deverá se dar tal interação, tanto de nossa entidade local, a Apub Sindicato,
na busca da mais eficiente e honesta aplicação quanto da nacional, o PROIFES- Federação.
dos recursos públicos, com vistas à realização A prioridade de nossa preocupação com a
dos fins planejados. manutenção e a consequente atualização dos
É preciso todo esforço político de nossas recursos destinados ao financiamento da edu-
entidades, preservado caráter suprapartidário cação brasileira, em particular no que refere à
de sua atuação, para que o governo a ser elei- manutenção das IFES, estende-se também ao
to proximamente tenha orientação contrária à apoio à s as pesquisas realizadas nessas institui-
do atual, isto é, que seja comprometido com os ções, que precisam continuamente de fomento, a
interesses nacionais e com a urgente inversão fim de que, principalmente, não venham a sofrer
da desigualdade social, que tem se agravado ra- descontinuidade.
pidamente. Na educação, é preciso, pois, que se O que tem de novo nesta tese, é a ênfase na
cumpra o programa gradual balizado pelas metas sugestão der que o tema do financiamento da
contidas no Plano Nacional de Educação, incluídas educação seja tratado pelo Proifes de modo mais
no Plano Nacional de Educação vigente, que é um amplo do que de costume. Para isso fundamento-
programa de Estado, não de governo. -me nos ensinamentos deixados pelo estadista
Se cabe a uma federação sindical, a exem- da educação Anísio Teixeira, tal como o chamava
plo do PROIFES defender precipuamente tanto o jurista e político Hermes Lima, cuja marca prin-
os interesses da educação pública democrática, cipal de sua reconhecida ação de homem público,
quanto os dos professores que representa, natu- educador e administrador em educação, era en-
ralmente as condições de trabalho e de salário nas volver estreitamente o tema da educação com o
instituições federais de educação, pela mesma da democracia. Isto quer significar que o financia-
razão cabe defender também, e intransigente- mento da educação, por exemplo, nunca deverá
mente, o pagamento justo dos proventos de apo- ser tratado como se fosse um mero tema técnico,
sentadoria dos trabalhadores em educação, no mas, ao contrário, como essencialmente político, a
setor público que, no caso do Brasil, são também fundamentar a concepção segundo a qual a cons-
bancados pelas verbas orçamentárias destinadas trução e a consolidação da educação pública tem
à educação. Nesse sentido, cabe ao Sindicato de ser gestada como se fosse uma questão de
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TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação
sos previstos pela Constituição. Afirma que esta Em palestra proferida no Primeiro Encon-
seria a grande revolução que transformaria o país: tro dos Representantes dos Conselhos Estadu-
a descentralização educacional, a municipalização ais com o Conselho Federal de Educação, na qual
do ensino primário. Tratar-se-ia de uma reforma ressalta em extensão a importância com que os
de sentido não somente pedagógico ou adminis- serviços educativos devem ser considerados em
trativo, mas sobretudo político, pois reivindicava a uma sociedade. Procede a uma análise aprecia-
autonomia municipal, que só encontraria oposito- tiva do Plano Nacional de Educação em face da
res na velha mentalidade autocrata e centralista, Lei de Diretrizes e Bases, tendo em vista a ação
herança nefasta da colonização lusa. Conclui que articulada da União com os Estados e Municípios
é no município que deve estar a responsabilidade para a efetivação e o êxito do planejamento e do
da formação do brasileiro, por isso é que se deve financiamento da educação. Chama atenção, es-
confiar a escola ao município para ela possa se pecialmente, para o problema do prédio escolar
enraizar na comunidade, o que a tornará a sua mais como condição prioritária aos planos de extensão
importante instituição. escolar em nosso país.
4 TEIXEIRA, Anísio. Custo mínimo da È da iniciativa de Anísio Teixeira a proposta de
educação primária por aluno. Revista criação da primeira fundação estadual de apoio à
Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio
pesquisa, com recursos assegurados pela Cons-
de Janeiro, v.35, n.82, abr./jun. 1961. p.3-5.
tituição do Estado, referentes a um percentual
Nesse livro ele julga necessário relacionar da arrecadação estadual, a serem distribuídos
o dispositivo constitucional que manda reservar mensalmente.
as percentagens previstas de 10% a 20% das A Fundação para o Desenvolvimento da Ciên-
rendas tributárias da União para as despesas cia na Bahia foi criada através da Lei nº 347, de 13
relativas ao ensino com o outro dispositivo que de dezembro de 1950. Imediatamente implantada,
prescreve a educação obrigatória de todos os ela antecipou em 12 anos a implantação da funda-
brasileiros em idade escolar, determinando-se, ção equivalente de São Paulo, a Fapesp. Diz a lei:
para isto, o custo mínimo da evolução primária, Art. 1º - A Fundação para o Desenvolvimento
nas diferentes zonas do país, a criação de escolas da Ciência na Bahia, criada pela lei nº 347, de 13
de dezembro de 1950, do Estado da Bahia, com
de nível idêntico, mantidas por um órgão comum
autonomia administrativa e financeira, destina-
local, recebendo sucessivamente recursos do se a coordenar, estimular e assistir a pesquisa
Município, do Estado e da União. e o trabalho científico, em todos os seus ramos,
5 TEIXEIRA, Anísio. Bases preliminares para concorrendo para o desenvolvimento da
o Plano de Educação relativo ao Fundo ciência por métodos os meios a seu alcance.
Nacional de Ensino Primário. Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Em conclusão, convém que a presente con-
Janeiro, v.38, n.88, out./dez. 1962. p.97-107. tribuição seja considerada como uma sugestão
inicial para que, no exame do complexo quadro de
Aqui ele propõe que a ação federal, no que se
dispositivos legais em que está imersa a educação
refere ao ensino primário, concentre-se no auxílio
brasileira, não se deixe de levar em conta impor-
financeiro aos Estados. Sugere que a avaliação do
tantes conquistas anteriores, tais como aquelas
custo da educação primária obedeça aos mesmos
implantadas em nosso país por Anísio Teixeira, que
critérios que regulam os níveis do salário mínimo
foram abandonadas em razão da oposição ferrenha
para as diferentes regiões do país. Apresenta, a
que setores conservadores a elas dedicaram. Cabe
seguir, a discriminação orçamentária quanto aos
ao PROIFES - Federação, em sua trajetória consis-
recursos do Fundo do Ensino Primário para 1963.
tente de tratar as reivindicações sindicais aliadas
6 TEIXEIRA, Anísio. Plano e finanças da
educação. Revista Brasileira de Estudos ao conhecimento do contexto econômico e social
Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.41, n.93, jan./ em que se inserem, aprofundar-se no exame da
mar. 1964, p.06-16. proposta ora apresentada.
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Plano Nacional
de Educação
_________________________________________________________________________________________________________________________________
ISAURA DE FRANÇA BRANDÃO
ADURN-Sindicato
MATILDE ALZENI DOS SANTOS
ADUFSCar
METAS AMEAÇADAS
Além de submencionar o PNE, o governo o atual, que assumiu após o golpe, aponta para a
Desvinculação de Receitas da União (DRU) como uma das medidas para cobrir o déficit or-
çamentário e contornar a crise financeira do país, através da EC 95. A Constituição brasileira
prevê que o governo federal tem de gastar um mínimo do orçamento com algumas áreas,
entre elas Educação e Saúde. Acabar com essas vinculações constitucionais (que garantem
18% dos impostos arrecadados pela União para a Educação) inviabilizaria ainda mais a im-
plantação do PNE.
Esta é uma forma de pensar a educação apenas com o viés de que a mesma é um custo,
e não um investimento. A educação tem que ser prioridade não porque é um slogan de um ou
outro governo, mas sim, porque o Brasil tem sérios déficits nessa área, e sem uma educação
de qualidade o país não conseguirá superar as desigualdades sociais.
META 1
Universalizar, até 2016, a Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de
idade e ampliar a oferta de Educação Infantil em Creches de forma a atender, no mínimo, 50%
das crianças de até 3 anos até o final da vigência deste PNE.
Desde 2001, observa-se um crescimento constante na porcentagem de criança na
Educação Infantil, tendo atingido a marca de 90,5% em 2015 segundo dados da PNAD. Des-
157
TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação
se modo, em números absolutos, aproximada- avançou 2,6 pontos percentuais, o que aponta
mente 4,9 milhões das crianças brasileiras nes- que a Meta, que estipula a universalização do
te intervalo de idade estão na pré-escola. Nos acesso para a Educação Infantil, provavelmente
últimos 2 anos, de 2013 para 2015, o indicador não será cumprida.
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TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação
PAINEL DA META
Neste contexto, a meta de universalização da (Brasil, 1996), no entanto, tais princípios, apesar
Pré-escola, não parece distante, no entanto res- de extremamente caros, ainda estão longe de se
saltamos que o percentual restante para atingir a concretizar, tendo em vista os cortes orçamentá-
meta significa cerca de 500 mil crianças e que as rios advindos da EC 95 e da falta de compromisso
desigualdades regionais são marcantes, também com a Educação da atual política de governo. É
chamamos a tenção para a qualidade da educação preciso salientar, ainda, que o foco não pode se
que é ofertada a estas crianças. restringir apenas à garantia de vagas, uma vez
Com relação a creche, crianças entre 0 e 3 que é fundamental atentar para a qualidade do
anos, as metas estão longe de serem alcança- ensino para garantir que as crianças tenham,
das. O Plano Nacional de Educação (2001-2010) de fato, um bom ambiente para o seu pleno de-
já estabelecia o atendimento de 50% até 2005, senvolvimento.
meta não alcançada e postergada para a vigência Propomos que, na luta pela revogação que
do plano atual. O déficit de vagas que até 2015 da EC 95, que o Proifes, assim como tem assu-
girava em torno de 2,4 milhões, ainda é latíssimo mido na prática, a defesa intransigente do PNE
para esta etapa da educação de crianças, soma-se e o cumprimento de suas metas, que se dedique
a isto o desafio de levanta dados mais precisos em particular ao cumprimento da meta 1 que re-
que permitam detalhar este atendimento de for- fere-se a universalização da a Educação Infantil,
ma mais precisa. assim como a ampliação da oferta de Creches,
Assim para que o direito a educação seja com profissionais capacitados para atender as
realmente contemplado, se faz necessária a demandas da infância e suas especificidades,
oferta de uma educação que tenha como prin- assim como espaços e materiais adequados para
cípios a igualdade de condições de oferta e a receber um público tão específico que são os
permanência na escola, bem como a garantia de bebês e as crianças bem pequenas de modo a
padrões mínimos de qualidade, conforme define assegurar a Educação Infantil e suas modalida-
a Constituição Federal (Brasil, 1988) e reitera a des como direito das crianças, e assim valorizar
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional a infância e seus profissionais.
O
documento final da CONAPE, etapa nacional, fruto de um processo de construção
e articulação coletiva da sociedade civil e suas entidades – dentre as quais o PROI-
FES-Federação, que teve papel decisivo na organização do evento – apresentou os
eixos de um Plano de Lutas, que apresento ao final deste texto, de forma resumida.
Proponho ao XIV Encontro que, a partir da análise desse documento e da eventual
priorização de alguns dos eixos apontados, produza texto sintético a ser apresentado pelo
PROIFES e seus sindicatos a todos os candidatos a cargos eletivos nas eleições deste ano.
Proponho ainda que o PROIFES indique aos seus sindicatos um conjunto de ações polí-
ticas a ser adotada, respeitada a autonomia de cada qual, visando comprometer os mencio-
nados candidatos com essas propostas – tais como panfletagens, atos públicos, outdoors e
outros (a debater no XIV Encontro).
Proponho, finalmente, que o XIV Encontro Nacional do PROIFES retifique o cronograma
aprovado na última reunião do FNPE e indique a seus sindicatos a participação nas atividades
sugeridas, conforme couber e, mais uma vez, respeitada a autonomia de cada um:
ЇЇ Julho a 15 de agosto: Reuniões de avaliação da CONAPE 2018 pelos fóruns nos estados
e DF e organização dos encaminhamentos sugeridos pelo FNPE.
ЇЇ Julho a outubro: Realização de audiências públicas nas casas legislativas para debater
os documentos da CONAPE 2018 (Carta de Belo Horizonte e Documento Final).
ЇЇ 10 de agosto: Dia Nacional de Luta – Basta de desmonte das políticas públicas educa-
cionais! O petróleo é nosso!
ЇЇ 15 de agosto a 4 de outubro: Realização de debates com os/as candidatos/as.
Eixos resumidos:
ЇЇ A retomada da democracia e do Estado Democrático de Direito no Brasil.
ЇЇ A luta pela imediata revogação da Emenda Constitucional 95.
ЇЇ A imediata aprovação da auditoria da dívida pública e de uma reforma tributária e fiscal
que inverta prioridades, elevando impostos sobre renda e propriedade, e reduzindo a
taxação sobre o consumo.
ЇЇ A transformação do Fundeb em política permanente, que garanta a universalização e a
qualidade da educação escolar básica e valorização dos seus profissionais, sem redu-
ção de matrículas.
ЇЇ A luta por uma Assembléia Nacional Constituinte.
161
TEMA 4 Plano Nacional de Educação e o financiamento da Educação
A
tualmente, prevalece, dentro das universidades, a violência (de ordem psicológica,
moral, física, patrimonial, etc.) perpetrada contra mulheres, lésbicas, gays, bisse-
xuais, travestis e transexuais (LGBTT), negros e negras, indígenas, principalmente
através de insultos por parte de agressores que se localizam longe da vítima, o tipo mais
comum, através das redes sociais, ou mesmo nas salas de aulas, com atitudes discriminató-
rias Entre esses principais agressores estão servidores (docentes e técnicos), estudantes
e pessoal terceirizado das Instituições de Ensino Superior (IES).
A violência provocada pela intolerância a essas pessoas é tema de emergência e de ur-
gência. É imprescindível se debater tais acontecimentos de discriminação, motivados por um
discurso ultraconservador que se tem disseminado na atual conjuntura brasileira.
Em março do ano em curso, durante o Fórum Social Mundial, realizado em Salvador, o GT
Direitos Humanos do Proifes-Federação organizou um debate que se intitulou “A Inclusão das
Populações Negras e LGBTTQ nas Universidades e Institutos Federais: um desafio docente”,
do qual participaram uma pesquisadora sobre violência contra mulheres e travestis e 3 pro-
fessoras doutoras de IES de distintas regiões do Brasil, que lutam contra a discriminação e
a violência de gênero na carreira acadêmica. Como diz Megg Rayara de Oliveira Gomes, que
sempre se apresenta como travesti preta do gênero feminino, heterossexual: “Sou professora
de didática na UFPR, mas a minha presença naquele espaço não é pacífica, é sempre conflitu-
osa porque têm professoras que nem me cumprimentam” (apud COSTA, 2018).
Isso também ocorre no âmbito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o que torna
urgente o encaminhamento de medidas que coíbam tais acontecimentos. Entretanto, a mera
punição, embasada na legislação em vigor já bastante conhecida (BRASIL, 2001, 2006, 2015),
não é suficiente, fazendo-se necessária uma formação política voltada para os direitos hu-
manos, pois educar sempre é mais importante que punir.
Entre 2015 e 2017, no âmbito da UFBA, podemos relatar alguns casos a título de exemplo
que, inclusive, se tornaram públicos. Em outubro de 2015, um homem, apontado como aluno
da Instituição, foi detido depois de exibir a genitália no ônibus que serve aos estudantes da
UFBA (o Busufba), dentro do Campus de Ondina, em Salvador, conforme noticiado pelo Jor-
nal A Tarde no mesmo dia, sendo registrado Boletim de Ocorrência na Delegacia do Bairro.
Nos anos de 2015 e 2016, também vieram a público duas ocorrências no Campus da UFBA
em Salvador, conforme noticiado pela redação do G1/Bahia: um professor do Instituto de Fí-
sica foi acusado de assédio moral e sexual por alunas da Faculdade, o que já estava ocorren-
do, segundo as queixosas, por alguns semestres. Apesar de afastado durante a sindicância
165
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
para apurar os fatos denunciados, o professor foi cujos principais propósitos são conhecer o grau
reintegrado a suas atividades posteriormente. de satisfação do usuário, buscar soluções para
Segundo o jornalista Alexandro Mota do as questões levantadas, oferecer informações
Correio da Bahia (2015), a partir da repetição de gerenciais e sugestões aos dirigentes da Insti-
ocorrências semelhantes, tuição ou do órgão/unidade, mediar conflitos,
[...] o Diretório Central dos Estudantes (DCE) com vistas à melhoria dos serviços prestados e
criou uma Frente feminista, uma organização dos processos administrativos, das relações in-
das mulheres alunas e funcionárias da
terpessoais com seus públicos interno e externo.
universidade que promove escutas públicas
sobre casos de violação de direitos. O fórum Em Relatório sobre suas atividades, a Ou-
tem encontro semanal para debater melhorias vidoria da UFBA (2017, a ) atuou como mediado-
na política de mulheres na instituição a longo e ra inclusive nos casos de denúncias “no que diz
médio prazo, e entre as questões que buscam
respeito aos métodos didáticos, ao processo de
junto à Reitoria é a criação de uma Rede de
Atenção às Mulheres. comunicação do professor em sala de aula, pre-
conceitos diversos (raça, gênero, classe social,
Além disso, num aspecto mais amplo, da vio- curso de origem como os Bacharelados Interdisci-
lência e dos riscos a que a mulher está submetida plinares), assédio moral e sexual”. Ainda segundo
no seu dia a dia, uma aluna denunciou tentativa esse Relatório, sua atuação também ocorreu em
de estupro no mesmo Campus da UFBA, sendo situações de “conflitos entre estudantes, entre
socorrida pelos seguranças que trabalham na técnicos administrativos e entre técnicos e es-
área (UNIVERSITÁRIA..., 2016). tudantes. Os casos mais graves foram objeto de
O desrespeito às mulheres no meio univer- sindicância e/ou processo administrativo disci-
sitário, seja às professoras, funcionárias ou es- plinar. A estatística desses procedimentos fica
tudantes, levou à criação em 2015, por alunas da sob controle da Unidade Seccional de Correição”.
Faculdade de Direito da UFBA, do Coletivo Madás, De outro Relatório (UFBA, 2017 b) do setor
que desenvolveu uma campanha intitulada “Che- em que são discriminados 34 tipos de denúncias
ga de Assédio na Ufba”. Uma enquete realizada chegadas até a Ouvidoria da UFBA entre 2014 e
com 179 mulheres da instituição, professoras, 2017, avulta sobremaneira os casos de violência
estudantes e técnicas administrativas, revelou contra a mulher, que perfazem 22 desse total.
que mais da metade não se sente segura no am- Destacam-se, principalmente, entre eles, os casos
biente universitário e 60% das entrevistadas de violência contra alunas da Instituição, sendo 5
já haviam assistido a algum tipo de assédio em referentes a agressões (inclusive assédio sexu-
diversos setores (MIRANDA, 2017).. al) de servidores e seguranças, 5 relacionados
Outros dois grupos de mulheres foram for- a queixas de assédio moral e desrespeito por
mados a partir da necessidade de enfrentamento parte de professores e 5 relativos a atitudes de
dessas situações de insegurança, assédio, vio- agressividade e preconceito praticados por alu-
lência e desrespeito às mulheres. Na Faculdade nos, colegas da própria instituição.
Politécnica, em 2015, alunas do “Mulheres da Pó- Os 5 casos de racismo registrados na Ou-
lis” discutem em reuniões presenciais e na rede vidoria tem como denunciados tanto professo-
social situações relacionadas a denúncias nesse res/professoras como servidores incluindo um
âmbito. No ano seguinte, outro grupo, intitulado segurança. Uma denúncia contra um aluno foi
“Mães da UFBA”, também iniciou reuniões com o feita por uma professora. Os denunciantes tam-
mesmo objetivo, além do fato de, sendo mães, bém se queixam de comentários desfavoráveis
não encontrarem na instituição nenhum tipo de e preconceituosos divulgados por grupos que se
respaldo e apoio (SANTANA; VANIN, 2017). identificam com a Instituição e usam o Facebook.
Tanto na UFBA como, certamente, em outras Quanto aos 6 casos de homofobia registra-
IES federais, foi criado o sistema de Ouvidoria, dos, também os denunciantes acusam colegas
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TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
D
iante da atual conjuntura de políticas sociais que o Brasil se encontra, torna-se cada
vez mais necessário debater sobre o tema: Direitos Humanos. A consciência uni-
versal dos direitos humanos tem se tornado necessária e amplamente divulgada
em diferentes contextos da nossa sociedade. Nessa linha, nosso grupo de trabalho agrega
constantemente desde 2017, ano de sua criação, pautas cada vez mais relevantes relaciona-
das ao nosso contexto laboral. Desta vocação, a Federação Nacional - PROIFES tem em sua
nobre missão, a esperada articulação através do Grupo de trabalho (GT) - Direitos Humanos-
Raça/Etnicidade, Gênero e Sexualidades um calendário profícuo para atender essa demanda.
A relevância do grupo de trabalho de direitos humanos no espaço sindical de professores
busca contribuir efetivamente com as discussões relacionadas ao tema e que permeiam os
espaços das instituições de ensino, muitas vezes, demandas da realidade do país, justificadas
pela acentuada desigualdade social e econômica. Acredita-se também que as contribuições de
estudos científicos dos professores agregam a “cientificidade” nas discussões, evidenciando
quantitativamente e qualitativamente os problemas existentes no país.
Assim, torna-se possível a propositura de ações efetivas de mudanças na sociedade,
considerando que os atores inseridos neste grupo de trabalho estão diretamente envolvidos
com a promoção da educação em nosso país, possibilitando a promoção da luta dos indivíduos
pelos direitos humanos que perpassa por questões concretas como raça, classe social, gênero,
religião e cultura nas instituições educacionais. A despeito disso, Gohn (2011, p.338) adiciona:
No Brasil, uma significativa parte desses militantes-denominados ativistas- têm chegado
aos cursos de pós-graduação e, mais recentemente, ocupam posições como professores e
pesquisadores nas universidades, especialmente as novas, criadas nessa década na área de
ciências humanas. Teses e dissertações vêm sendo produzidas por esses militantes/ ativistas/
pesquisadores.
Baruffi (2006, p.40) ratifica que “o compromisso com a promoção dos direitos humanos
passa obrigatoriamente pela educação e suas diferentes formas, inclusive a escola”. Torna-
-se importante ressaltar, que a percepção dos indivíduos em relação ao conceito de Direitos
Humanos inicia-se nos espaços educacionais, é nesse ambiente propício para desenvolver a
ideia política de base moral, com pessoas no mesmo contexto que inter-relacionam entre si,
respeitando os direitos individuais.
É necessário realizar uma reflexão da necessidade de trazer aos espaços sindicais as discus-
sões relacionadas aos direitos humanos, uma vez que esse tema é intrínseco à dignidade humana.
“Vale dizer, que só é possível conceber direitos humanos globais mediante a relativização e flexibili-
zação da soberania do Estado, em prol da universalização dos direitos humanos” (PIOVESAN, 2000).
169
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
gunda edição em 2018, buscando ter como em- GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais
basamento as premissas do GT-Direitos Huma- na contemporaneidade. Revista Brasileira de
nos que resguardam o compromisso de atuar no Educação. V.16 , n.47. maio-ago. 2011.
processo de conscientização e mobilização para
acabar com qualquer manifestação de machis- PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos globais,
mo, racismo, homofobia, transfobia e violências justiça internacional e o Brasil. Revista Fund. Esc.
de gênero no interior das Instituições de Ensino Super. Ministério Público Distrito Fed. Território,
Superior e na sociedade. Brasília, Ano 8, v. 15, p. 93-110, jan/jun 2000.
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São Luís/MA
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GT Direitos Humanos,
Raça, Etnicidade,
Gênero e Sexualidades
__________________________________________________________________________________________________________________________________
JULIANA MELO - ADURN/UFRN
OSWALDO NEGRÃO - ADURN/UFRN
ALEX REINECKE DE ALVERGA - ADURN/UFRN
O
Grupo de Trabalho “Direitos Humanos: Raça, Etnicidade, Gênero e Sexualidades” pretende
contribuir para refletir sobre os processos de acesso à educação formal e, dentro de suas
possibilidades, planejar estratégias e mecanismos capazes de ampliar e garantir o acesso
de pessoas historicamente excluídas desse contexto, como indígenas, negros, pessoas com defici-
ência, além de pessoas estigmatizadas por não se identificarem como o padrão heterossexual do-
minante. A proposta é analisar as relações entre esses fatores (etnicidade, negritude e gênero) à luz
das dinâmicas contemporâneas e da identificação de distintos modelos de sociabilidade e sensos
de dignidade e cidadania em nosso país.
Além de atual e importante academicamente, o debate justifica-se também por fortalecer o víncu-
lo entre ensino, pesquisa e extensão, buscando valorizar tanto uma perspectiva conceitual, como tam-
bém proveniente de um conhecimento de campo e resultado de um processo de interação face a face
com os grupos estudados - a serem posteriormente selecionados. Nesse sentido, o intuito é realizar
pesquisas de cunho qualitativo, nos quais as pessoas envolvidas possam refletir sobre suas trajetórias
de vida e escolares, sendo capazes de evidenciar como, em diferentes contextos e a partir de distintas
perspectivas individuais, os vetores raça/etnicidade e gênero se combinam e são (ou não) determinantes
para interferir e garantir (ou não) o acesso ao mundo acadêmico e ao mercado profissional qualificado.
Note-se, porém, que inicialmente optamos por focar a questão racial, pois há um consenso de
que os negros historicamente têm sido excluídos dos bancos escolares e isso tem uma série de con-
sequências que se perpetuam no tempo. Ao recuperar o debate proposto por Fernandes (2008), que
brilhantemente combateu o mito da democracia racial elaborado por Freyre (2001) e o atualizarmos
com as pesquisas realizadas por Carvalho (2006), por exemplo, podemos perceber como há uma re-
lação de continuidade entre o acesso à cidadania, à escola, a estigmatização e a exclusão racial. Essa
perspectiva, por sua vez, poderá ser complementada em seminários temáticos nos quais pretende-
mos abordar a inserção de docentes negros nas universidades brasileiras.
Ao refletir sobre a sociologia das relações raciais no Brasil, Carvalho, por exemplo, afirma que
vivemos em um verdadeiro apartheid racial, onde menos de 1.0% da população negra tem acesso aos
bancos universitários e/ou aos cargos de docência. Este apartheid, aliás, está tão estruturado em
nossa sociedade que sequer precisamos de normativas legais para garantir sua efetivação em termos
práticos, ao contrário do que aconteceu na África do Sul, por exemplo. Diante do contexto, pontua:
“O primeiro passo para qualificar a discussão é produzir um censo étnico-racial de todas as nossas
instituições superiores de ensino e pesquisa, para produzir, em seguida, diagnóstico e análise
minuciosa da história de cada instituição em busca de indícios da existência de mecanismos que
podem ter sido (e provavelmente foram) acionados até hoje para impedir aos negros o ingresso
na docência e na pesquisa. Enquanto não enfrentarmos nossa ignorância, não poderemos ir além
173
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
A
tualmente, há 09 países com chefes de Estado mulheres no mundo e 06 países go-
vernados por primeira-ministra. Na América Latina, que já teve quatro mulheres ao
mesmo tempo no comando dos seus países, e que foi uma referência para o mundo,
hoje encontra-se sem representatividade.
0s únicos países que tiveram mulheres presidentes escolhidas nas urnas foram o Brasil,
Nicarágua Panamá, Chile, Argentina e Costa Rica. Embora outras latino-americanas tenham
exercido o cargo em seus países por sucessão constitucional, por incumbência do Parlamento
ou regimes de fato em transição. No entanto, nenhuma mulher foi ditadora na América Latina,
onde, sobretudo nos anos 70 e 80, abundaram os regimes autoritários.
De acordo com dados da ONU Mulheres, continuam existindo diferenças nas porcen-
tagens da média de parlamentares dependendo da região do mundo. A ONU Mulheres, em
parceria com União Interparlamentar (UIP) divulgou o panorama sobre a participação política
das mulheres no mundo. Com apenas uma ministra, o Brasil ficou na 167ª posição no ranking
mundial de participação de mulheres no Executivo, que analisou 174 países.
Em relação ao ranking da participação no Congresso, o país ficou na 154ª posição, com
55 das 513 cadeiras da Câmara ocupadas por mulheres, e 12 dos 81 assentos do Senado pre-
enchidos por representantes femininas. As nações que apresentam maior percentual de
mulheres no Parlamento são Ruanda (63,8%), Bolívia (53,1%), Cuba (48,9%), Islândia (47,6),
Suécia (43,6%), Senegal (42,7%), México (42,4%), África do Sul (41,8%), Equador (41,6%) e
Finlândia (41,5%). No Parlamento brasileiro, há somente 10% de mulheres. Os Estados Unidos
detêm a 74ª colocação, com 19,4% de mulheres no Parlamento.
O Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI) com base no banco de dados primários do
Banco Mundial (Bird) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indicou que a participação de
mulheres no Parlamento federal brasileiro cresceu 87% entre janeiro de 1990 e dezembro
de 2016, passando de 5,3% para 9,9%, superando em 6% a média de crescimento mundial
no período. A média mundial subiu de 12,7%, em 1990, para 23%, em 2016. Apesar desse re-
sultado, segundo o estudo, o Brasil ficou na 97ª posição entre os países que mais elevaram
a participação de mulheres no Parlamento. Mesmo que a participação feminina na política
brasileira mantenha expansão média de 2,7% ao ano, como a verificada entre 1998 e 2016, a
organização não governamental PMI sinaliza que o Brasil só deverá alcançar a igualdade de
gênero no Parlamento Federal em 2080. No universo da pesquisa, em 66 anos de existência,
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a principal agência de
175
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
fomento à pesquisa no Brasil nunca teve uma re- Ao trazermos esse debate para contexto das
presentante mulher em sua presidência. Portanto, universidades federais brasileiras há 28,3% de rei-
a presença das mulheres também ainda é baixa toras. São 19 reitoras entre os 63 reitores. Se fizer-
nos principais órgãos consultivos da educação mos o recorte por raça, observamos que somente
superior, tais como o Conselho Deliberativo do agora em 2018 foi eleita a primeira mulher negra
CNPq e o Conselho Superior da CAPES. Segundo reitora na Universidade Federal do Sul da Bahia.
dados constantes no site do CNPq, atualmente o Na Academia Brasileira de Medicina, apesar
Conselho Deliberativo é composto predominan- de as mulheres serem maioria entre os forman-
temente por homens (83,33%), havendo apenas 3 dos, em torno de 55%, há apenas cinco delas entre
mulheres –o que corresponde a 16,67% do total de os 115 membros, o que representa 4,3%. Espe-
membros. Já a Diretoria Executiva do CNPq que é cificamente quanto a UFSCar, ressaltamos que
responsável pelo planejamento, acompanhamento em 45 anos de existência, apenas no ano de 2017
e avaliação de ações e programas implementados elegemos a primeira reitora mulher. No entanto,
pela instituição possui apenas 1 mulher dentre os ressaltamos que sua equipe de gestão e adminis-
seus 5 membros, o que corresponde a uma parti- tração ainda é chefiada por homens, conforme
cipação feminina de 20% no órgão. observamos na tabela 1.
Ao analisarmos apenas a condição de ati- homens ainda estão entre a maioria dos docen-
vidade dos docentes titulares por sexo, obser- tes titulares, mesmo entre os aposentados e
vamos que mesmo após a Lei nº 12.772/2012 os os ativos.
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TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
CNPq. Painel Lattes: Distribuição por Sexo, Faixa Manual de sociología de la educación . Ma-
Etária e Grande Área de Atuação. Disponível drid: Síntesis, 1996. p.193-207
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Perspectivas
do Movimento
Sindical Docente e
Interseccionalidade
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LUCIENE DA CRUZ FERNANDES
APUB
NILDO MANOEL DA SILVA RIBEIRO
APUB
N
ão é novidade que as mulheres têm cada vez mais participado da economia formal,
mas infelizmente continuam com pouca participação nos espaços de poder, como
legisladoras, gerentes e oficiais. As disparidades entre a população e as representa-
ções nos espaços de poder não são apenas em relação ao gênero. Questões como etnia, raça
e sexualidade também são determinantes no que diz respeito à ocupação desses lugares e às
decisões políticas. Este texto busca traçar e confrontar esta realidade, visando propor ações
de combate às desigualdades dentro do Proifes-Federação e no movimento sindical docente.
Segundo as pesquisas do Observatório de Igualdade de Gênero da América Latina e do
Caribe, o tempo médio destinado pelas mulheres ao trabalho não remunerado é muito maior
do que pelos homens nesses países. Só no Brasil, segundo dados de 2012, as mulheres dedi-
cam 26,3 horas/semanais contra 5,9 dos homens. Paralelamente, os dados do Observatório
explicitam a baixa participação das brasileiras em diferentes espaços de poder. Conforme a
pesquisa, temos apenas 10,7% de mulheres no legislativo e 18,2% no executivo e judiciário.
Já o relatório do The Global Gender (2017) revela que o Brasil aparece na posição 110 de
143 países no que diz respeito ao empoderamento político das mulheres, e na posição geral
90 quando se analisa a paridade de gênero – incluindo participação econômica/oportuni-
dades, realização profissional, saúde/sobrevivência e empoderamento político. Está atrás
de todos os países da América Latina analisados, como Bolívia (14), Argentina (21), Peru (33),
Uruguai (53) e Colômbia (59), exceto do Paraguai (113). O Brasil também fica atrás de alguns
países asiáticos e africanos, como Singapura, Mongólia, Etiópia e Marrocos.
A partir da análise dessas informações, é possível inferir que há uma relação direta en-
tre a responsabilização social das mulheres pelo trabalho doméstico e de cuidados, que as
mantêm por mais tempo no ambiente privado, e a manutenção da desigualdade de gênero
nos espaços públicos de poder e decisão.
O Brasil apresentou reversão em seu progresso em direção à paridade de gênero nes-
te ano, alcançando o maior patamar desde 2013. A Argentina continua sendo um dos países com
maior igualdade de gênero entre as maiores economias da América Latina e do Caribe. Atual-
mente, entre o grupo de países do G20, a França é a nação com o maior progresso em direção à
paridade de gênero, seguido pela Alemanha, o Reino Unido, o Canadá, África do Sul e Argentina.
Na figura abaixo podemos observar que a participação econômica/oportunidades e empodera-
mento político são os aspectos que mais distanciam o Brasil da paridade de gênero.
181
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
Fonte: http://www3.weforum.org/docs/WEF_GGGR_2017.pdf
Latina), da qual o Proifes é filiado, foi proposto Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério
que fossem debatidas políticas voltadas para a da Educação, e recolhido pelas instituições de
igualdade de gênero, como a criação de espaços ensino. Os dados abrangem instituições públicas
de organização de mulheres (coletivos, departa- e privadas. Do total de professores, 44% esco-
mentos e secretarias). lheram não declarar sua raça ao Censo.
Não foi possível avaliar aspectos como raça/ Ainda, podemos considerar a discriminação
etnicidade e sexualidade por falta de informações em relação à diversidade de sexualidades no que
na ficha de filiação. Essa situação precisa ser re- concerne a ocupação de espaços de poder, de ela-
vista pelos sindicatos federados, pois sem esses boração e decisão política. A heteronormativida-
dados, é impossível realizar um diagnóstico mais de também deve ser levada em conta como uma
preciso do perfil das e dos docentes a fim de ela- padronização que promove exclusões, repressão
borar políticas da entidade a partir dos anseios e e desigualdade. Nesse caso, faltam dados e es-
problemas enfrentados pela categoria. tudos - o que é fruto também da invisibilização
Segundo Carvalho (2005), se somarmos to- desta questão - que relacionem os números de
dos os professores de algumas das principais docentes LGBTT+ com a ocupação dos espaços.
universidades de pesquisa do país (por exemplo, Assim, entende-se que estas questões atu-
USP, UFRJ, Unicamp, UnB, UFRGS, UFSCAR e am de modo conjugado, estabelecendo diversas
UFMG), teremos um contingente de aproximada- formas de reprodução das desigualdades, o que
mente 18.400 acadêmicos, a maioria com douto- evidencia por sua vez a complexidade da socie-
rado. Esse universo está racialmente dividido en- dade. O conceito da sobreposição e não hierar-
tre 18.330 brancos e 70 negros (autodeclarados); quização das opressões foi denominado por fe-
ou seja, são 99,6% de docentes brancos para ministas negras como “interseccionalidade”, que
0,4% negros. E não há ainda um único docente visa compreender de que maneira o racismo, a
indígena. Dos oito mil pesquisadores do CNPq, discriminação de classe e o machismo/sexismo
o número de pesquisadores negros é irrisório, atuam em qualquer parte do mundo.
não passa de 0,1%. Nesse contexto, as questões do pluralismo e
Se considerarmos o cruzamento dessas da diversidade são fundamentais na forma como
questões – gênero e raça – verificaremos o apro- pensamos o que Lafer (1997) relatou sobre o que
fundamento das desigualdades. No processo de Hannah Arendt chama de “direito a ter direitos”,
constituição do sistema-mundo moderno/colo- ou seja, o anúncio do projeto de um sujeito que
nial, a questão racial aparece como um fator estru- se insere na esfera pública em uma sociedade
turante na divisão do trabalho. Segundo Quijano marcada pela disputa e pelo conflito. As múlti-
(2005), “raça, trabalho e sexo apresentaram-se plas necessidades ligadas às lutas individuais ou
como naturalmente associados, o que tem sido de grupos específicos se manifestam no plano
até o momento excepcionalmente bem-sucedido”. político como múltiplas pautas e reivindicações,
De acordo com a publicação dos dados cole- e a análise desse quadro deve levar em conta os
tados no Censo da Educação Superior (2016), há pontos de interseção formados pelo cruzamento
219 professoras doutoras pretas em cursos de dessas pautas. Sendo a luta por direitos, não há
pós-graduação do Brasil, o que representa ape- divergências nem divisões, há soma de forças.
nas 0,4% do total do corpo docente em todo país. Portanto, a interseccionalidade nos ajuda a
Quando somadas as mulheres pretas e pardas entender que a luta deve ser feita em todos os es-
com doutorado, que formam o grupo das negras, paços políticos e culturais, incluindo o movimento
não chegam a 3% do total de docentes. Os dados docente, com o objetivo de elaborar um modelo
foram coletados a partir da autodeclaração dos civilizatório que leve em conta as diferenças en-
professores e professoras, via questionário envia- tre gênero, raça, sexualidade, etc., sem que essas
do pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas diferenças se manifestem na forma de desigual-
São Luís/MA
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TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
dade econômica ou no acesso aos espaços de Sinopse Estatística da Educação Superior 2016.
poder, superando o padrão moderno e colonial Brasília: Inep, 2017. Disponível em: http://portal.
que associou a determinados grupos posições inep.gov.br/basica-censo-escolar-sinopse-
e funções correspondentes em uma estrutura sinopse. Acesso em 07.07.2018
organizada hierarquicamente.
Cabe ao Proifes-Federação enfrentar o de- LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos
safio de discutir e combater, a partir de ações de- humanos: a contribuição de Hannah
terminadas, as desigualdades em todas as suas Arendt. Estudos Avançados. 1997:11(30), 55-65.
esferas de elaboração e deliberação, para tanto,
é necessário que o seu regimento seja revisto e OBSERVATÓRIO DE IGUALDADE DE GÊNERO
seja criada uma diretoria que trate da questão DA AMERICA LATINA E DO CARIBE. Indicadores.
posta – direitos humanos: gênero, raça/etnicidade Disponível em: < http:// https://oig.cepal.org/pt/
e sexualidade –, qualificando as políticas e ações indicadores>. Acesso em: 07/07/2018.
do movimento docente. É preciso assumir este
papel na busca pela superação das opressões QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder,
dentro do projeto de universidade pública, gra- eurocentrismo e América Latina. In: LANDER,
tuita, inclusiva, laica e democrática. Egardo (Org.). A colonialidade do saber:
eurocentrismo e ciências sociais - perspectivas
REFERÊNCIAS latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005.
CARVALHO, José Jorge. O confinamento racial
do mundo acadêmico brasileiro. Revista da USP, .WORLD ECONOMIC FORUM. GLOBAL
2005-2006. 68, 88-103. GENDER GAP REPORT 2017. Geneva: World
Economic Forum. Disponível em: http://weforum.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E org/reports/global-gender-gap-report-2017.
PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Acesso em 07.07.2018
A
última década do século passado registra avanços no sistema educacional brasileiro
no que diz respeito à inclusão dos assim denominados temas transversais – gênero,
raça/etnia e sexualidade –, que foram incluídos nos documentos que regem a edu-
cação, ainda que formulados de forma bastante genérica, por meio de frases como “respeito
à liberdade e apreço à tolerância” (LDB Nº 9.394).
Neste sentido, verifica-se um aumento de ações e de debates em torno da necessidade
de políticas educacionais voltadas para a promoção da equidade de gênero, da superação
das desigualdades étnico-raciais e regionais, de enfrentamento do racismo e do preconceito
em relação aos negros, LGBT+ e outros grupos identitários, assim como de políticas públicas
para adolescentes e jovens. A criação da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
(SPM), da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), e, no
âmbito do Ministério da Educação, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade (SECAD) representa esforços no sentido de traçar políticas e propostas educa-
cionais que possam efetivamente contribuir para a redução das desigualdades de gênero,
étnico-raciais e de classe nos diferentes níveis de ensino.
O desenvolvimento de ações concretas implica também em um sistema de acompa-
nhamento e avaliação, assim como de estudos teóricos e pesquisas empíricas que possam
contribuir para a fundamentação dos programas educacionais voltados para a redução das
desigualdades de gênero, étnico-raciais, da discriminação e do preconceito em relação às mu-
lheres, afrodescendentes e LGBT+. No entanto, estudos e pesquisas a respeito dessas temá-
ticas ainda são escassos no campo da educação ou não foram suficientemente desenvolvidos.
A escassez de informações em bases de dados sindicais e, principalmente, de sindica-
tos voltados para a categoria de professores no magistério superior abordando as variáveis
cor ou raça e identidade de gênero dificulta a criação de políticas públicas voltadas para a
promoção da equidade e diminuição do preconceito relacionado a questões de raça, etnia e
orientação sexual.
185
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
Para resolver essa escassez de informações os levantamentos oficiais coletam este dado, de
é preciso reconhecer e utilizar o quesito cor ou acordo com o sistema classificatório do IBGE,
raça/etnia, orientação sexual (homossexual, he- que utiliza o método da AUTOCLASSIFICAÇÃO
terossexual, bissexual, assexual e outros), identi- ou AUTODECLARAÇÃO, isto é, o(a) usuário(a)
dade de gênero (cisgênero, transgénero e outros) é quem indica a sua “cor ou raça/etnia” entre
e sexo (feminino, masculino ou intersexual) nos as possíveis.
formulários de cadastramento. Por isso a importância de utilizarmos as mes-
Para que isso aconteça é preciso reconhecer mas categorias, o que possibilita o cruzamento
a existência do racismo, a compreensão de como dos dados obtidos em todo o país. Assim, pode-
ele se manifesta e do o compromisso em abor- mos fazer comparações abrangentes e ter esta-
dá-lo. O reconhecimento do racismo é uma das tísticas em nível nacional. Além disso, antes de
etapas mais difíceis, pois a sociedade em geral definir essas categorias, o IBGE pesquisou as
nega a sua existência e tem uma visão equivo- cores mais declaradas pela população e concluiu
cada acerca das diferenças existentes entre os que deveria usar estas, pois a maioria delas já era
grupos étnico-raciais. O racismo incide de múlti- utilizada, desde a segunda metade do século XIX.
plas formas, em geral, de maneira implícita, por Assim, diante das discussões realizadas
isso é preciso compreender e identificar os seus Grupo de Trabalho Direitos Humanos: Gênero,
mecanismos de funcionamento. Ele se materializa Raça e Etnias do PROIFES, e considerando a
por intermédio da discriminação, que é um fenô- Lei n° 12.288, de 20 de julho de 2010, que insti-
meno social intrínseco às relações, com símbolos tui o Estatuto da Igualdade Racial, o Decreto n°
e códigos utilizados para a perpetuação das de- 65.810, de 8 de dezembro de 1969, que promulga
sigualdades. Trata-se, então, de transformar os a Convenção Internacional sobre a Eliminação
nossos próprios valores, crenças e concepções de todas as Formas de Discriminação Racial e
acerca dos diferentes grupos étnico-raciais, de os compromissos assumidos pelo Brasil na III
identidade de gênero e de orientação sexual. Conferência Mundial de Combate ao Racismo,
Um estudo realizado pelo IPEA (2008) – Ins- Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
tituto de Pesquisa Econômica Aplicada – relata Correlata, realizada em Durban, na África do Sul,
que a classificação de “cor ou raça/etnia” não é em 2001, quando foi adotada a “Declaração e o
invenção de agora. O primeiro Censo oficial bra- Programa de Ação de Durban”, que trata espe-
sileiro, realizado em 1872, utilizou as seguintes cificamente das políticas e práticas de coleta
categorias: preto, pardo, branco e caboclo. A ca- e desagregação de dados, pesquisas e estudos
tegoria caboclo, naquela época, foi usada para nessa área e o Decreto nº 8.727, de 28 de abril
classificar o grupo dos indígenas. Pardo designava de 2016 que dispõe sobre o uso do nome social
os mestiços; e, mais tarde, com a imigração asiá- e o reconhecimento da identidade de gênero de
tica, criou-se a categoria amarela para designar pessoas travestis e transexuais no âmbito da
os orientais/asiáticos. administração pública federal direta, autárqui-
Os levantamentos, tais como os censos ca e fundacional, verificou-se a necessidade de
e as pesquisas domiciliares realizados pelo elaborar um programa que subsidie o PROIFES
IBGE (2003) (Instituto Brasileiro de Geografia no empreendimento de trabalhar a organização
e Estatísticas), fornecem as informações ne- da nova cultura sindical de superação do racis-
cessárias para estudar as características da mo, sexismo, misoginia, homofobia e demais
população brasileira e conhecer as suas con- formas de exclusão através dos seguintes pi-
dições de vida: moradia, saúde, educação, tra- lares: a) organização dos serviços, b) informar
balho etc. A “cor ou raça/etnia” faz parte das e comunicar a população em geral, c) cursos de
características das pessoas assim como sexo formação; d) produção de novos conhecimentos
e idade. Desde os anos 90, praticamente todos acerca das temáticas propostas.
São Luís/MA
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187
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
Lei que Institui o Estatuto da Igualdade Racial. Lei THEODORO, Mário. (Org.) et al.As Políticas
n° 12.288, de 20 de julho de 2010. Disponível em Públicas e a Desigualdade Racial no Brasil –
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 120 Anos após a abolição. Brasília, Instituto de
2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em jun. 2018 Pesquisa Econômica Aplicada, 2008.
A
s dissimetrias de cor/raça e sexo no ensino superior brasileiro têm sido objeto de
reflexão de poucos autores nos últimos trinta anos. A preocupação com o recorte
racial está visivelmente ausente na recente literatura que descreve a entrada de
mulheres brancas ou negras na educação. No entanto, gênero e a raça são marcadores de-
terminantes para resultados desiguais na obtenção de status (Silva, 2008) e a promoção
social das mulheres negras é dificultada quando comparada à das mulheres brancas com a
mesma formação educacional (Lima, 1995).
Alguns estudos permitem considerar que há uma tendência na sociedade de classes
em naturalizar ideologicamente as desigualdades sociais e raciais. Neste caso as mulhe-
res negras são impactadas pelo entrecruzamento de múltiplas formas de discriminação
(interseccionalidade), como descrito por Creenshaw (2002), no processo de hierarquiza-
ção, baseada em critérios raciais, de gênero, de classe e de geração, derivado da lógica da
sexualidade heteronormativa.
Buscando inserir a interseccionalidade de gênero e raça como aspecto importante para
interpretação da disparidade entre negros e brancos, negras e brancas no ensino superior, é
possível avançar na interpretação do acesso dos(as) negros(as) nas cátedras do ensino su-
perior. Em 2006 Queiroz confirmou a concentração de mulheres negras nos cursos de menor
prestígio social e com menores oportunidades no mercado.
No entanto, em 2005, pudemos observar que, com a implantação da política de reserva
de vagas para estudantes oriundos de escolas públicas, sobretudo negros, na UFBA, houve
uma redução na participação feminina em quase todos os segmentos raciais. Contudo, as
mulheres autodeclaradas pardas foram o contingente que mais se beneficiou da política de
cotas. Elas representavam, em 2004, cerca de 49% das mulheres presentes na Universidade;
em 2005 sua participação se elevou para 60%. Enquanto isso, as mulheres pretas tiveram
apenas um discreto crescimento de 2,4 pontos percentuais, passando de um contingente
de 15,4% para 17,8%.
A comparação entre 2004 e 2005, considerando o gênero e a cor, nos cursos conside-
rados de “alto-prestígio”, mostrou que em cursos como o curso de Medicina, por exemplo,
as mulheres do segmento pardo tiveram um significativo avanço na sua participação. Em
2004, elas representavam 58% das mulheres aí presentes, passando a cerca de 73% em
2005. Uma elevação de quase 15 pontos percentuais. Surpreendentemente, para as pretas
houve uma redução na sua participação: de 5,5%, em 2004 para 2,8% em 2005. No curso de
Direito, considerado o segundo mais prestigiado da Instituição, elevou-se a participação das
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TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
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Pessoas com
deficiências e a
Universidade
_________________________________________________________________________________________________________________________________
LUCIENE DA CRUZ FERNANDES - APUB
NILDO MANOEL DA SILVA RIBEIRO - APUB
A
discussão sobre pessoas com incapacidade no âmbito das universidades envolve,
acima de tudo, inclusão social. Esta discussão pretende envolver não somente as
pessoas com deficiência em si, mas os demais atores envolvidos e nas práticas de
intervenções direcionadas a este grupo populacional.
Importante ressaltar que a OMS (2011), ratifica em seu Relatório Mundial sobre a Defi-
ciência, o conteúdo adotado pela Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pes-
soas com Deficiência (CDPD), tratando o assunto como uma questão de Direitos Humanos.
A integração social do indivíduo com deficiência é um grande desafio que tem sido ampla-
mente discutido nos últimos anos. Movimentos nesta direção foram desencadeados a partir
da década de 80, mais precisamente no ano de 1981, eleito o Ano Internacional da Pessoa Por-
tadora de Deficiência, o qual se tornou um verdadeiro marco na luta social das pessoas com
deficiência em defesa de seus direitos, buscando mostrar que a pessoa não é a deficiência.
Pessoas com deficiência obtiveram reconhecimento de sua condição, sobretudo, por
meios legais. A década de 1990 também foi importante para conquistas de direitos por par-
te das pessoas com deficiência. A Conferência Mundial de Educação para Todos, Tailândia
(1990) e a Declaração de Salamanca, Espanha (1994), trouxeram para o centro do debate a
condição de acesso escolar para todas as pessoas indistintamente. Nesse contexto o Brasil
buscou mudanças nas políticas educacionais e em outras áreas ligadas ao cuidado da pessoa
com deficiência. Mesmo com os avanços na elaboração das políticas inclusivas cabe analisar
a bibliografia e a legislação com relação ao ingresso e permanência de servidores públicos
com deficiência na universidade.
Existe um número grande de discussões sobre a temática da inclusão social da pessoa
com deficiência em diversos ambientes, salientando que diversas áreas do saber têm levan-
tado essa questão destacando a importância desse debate. Essa interdisciplinaridade envol-
vida faz com que não haja apenas uma vertente na análise crítica da situação, fortalecendo
as possibilidades de melhoria.
É fundamental também que a acessibilidade seja interpretada como elemento indis-
pensável para a inclusão social de todas as pessoas. Consideram-se vários aspectos como
respeito singular e plural das condições e situações de vida traduzindo-se em acessibilidade
na convivência pessoal. No âmbito externo, a acessibilidade ao espaço social e público define-
-se pelas facilidades físicas, materiais e de participação ativa nas mais variadas instâncias
do trânsito existencial, direta ou indiretamente, isto é, pessoalmente ou contando-se com a
mediação de recursos humanos, técnicos ou tecnológicos.
Não é concebível, pois, defender inclusão social abstraindo-se as condições básicas de
acessibilidade nos espaços sociais públicos ou que são compartilhados por todos. Conviver
193
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
implica a presença de duas ou mais pessoas, isso Houve uma evolução de conceitos e definições,
não depende apenas da vontade individual. Po- avanço da organização social e a necessidade do
dendo considerar a inclusão como base da vida respeito aos seus direitos fundamentais ganhou
social onde essas pessoas convivem. Ressalto a visibilidade como resultado desta organização.
inclusão social para as pessoas com deficiência No espaço público, essa igualdade de desi-
como fundamental, pois, entre outros aspectos, guais precisa ser assegurada nas mais variadas
melhora a autoestima, permite uma maior auto- situações. A equidade, enquanto em dos mais
nomia e independência, proporcionando um fator importantes princípios organizativos do Sistema
extremamente relevante para vida de qualquer Único de Saúde (SUS), nos dá a dimensão do quão
cidadão que é de aprender no relacionamento é importante que cada um seja contemplado em
com outras pessoas. suas necessidades e demandas específicas de
A proteção dos direitos dos cidadãos à edu- saúde. Necessária então a participação social de
cação, saúde, trabalho, lazer, à segurança e previ- todos na produção, gestão e fruição dos bens e
dência social está resguardada pela Constituição serviços de uma sociedade democrática.
Brasileira. A eliminação de barreiras de acesso No ambiente acadêmico, esse apoio também
nas ruas, edificações e transportes também fo- é necessário para que se desenvolvam as compe-
ram merecedores de atenção na elaboração da tências necessárias para a realização do seu pro-
Carta Magna e a igualdade das “pessoas com defi- jeto de vida, assegurando-lhe as condições para
ciência”, pelo menos perante a lei, ficou garantida enfrentar os grandes desafios desses espaços.
como possibilidade de integração. Mesmo consi- Esse ambiente pode ser um grande desafio ou
derando a pertinência das leis, isso não garante mesmo se constituir barreira para as pessoas
efeitos imediatos, pelo contrário, sua viabilidade com deficiência desde o seu ingresso até o de-
dependerá de uma rede complexa que exigirá de senvolvimento das suas rotinas. Aspectos extre-
todos os envolvidos, direta ou indiretamente, uma mamente relevantes quando as possibilidades de
(re) posição, na medida em que passa a revisar as crescimento dependem do desenvolvimento de
referências que fundamentam os conceitos e os habilidades, projetos, recursos, vagas em editais,
preconceitos de uma sociedade sobre determi- publicações, laboratórios e outros ambientes de
nada questão, assim como é preciso considerar, trabalho.
também, os aspectos políticos, econômicos, ins- Salienta-se que escolaridade, qualificação
titucionais, etc., que estão em jogo. Tais questões e mercado de trabalho estão firmemente de-
só serão enfrentadas a partir de uma ampla dis- pendentes de forma dinâmica e evolutiva. Essa
cussão da sociedade, permitindo uma reflexão escolaridade e qualificação profissional buscam
sobre a forma de agir com relação à diferença. atender o mercado de trabalho. Na universidade,
O preconceito relacionado às pessoas com o problema se amplia em virtude do desconheci-
deficiência configura-se como um mecanismo mento das especificidades do público interno em
de negação social, uma vez que suas diferenças geral e das pessoas com deficiência, em particular.
são ressaltadas como uma falta, carência ou im- A produção científica sobre o profissional
possibilidade. A condição das pessoas com de- docente com deficiência ainda é escassa, mas é
ficiência é um terreno fértil para o preconceito necessário avançar para que fortaleça o movimen-
em razão de um distanciamento em relação aos to de inclusão social. Compreender o mercado de
padrões físicos e/ou intelectuais que se defi- trabalho, as atividades que desenvolve, as condi-
nem em função do que se considera ausência, ções que o cercam, as barreiras, os facilitadores,
falta ou impossibilidade. Ainda que distante do as relações em seus departamentos e institutos.
ideal, o Brasil passou por profundas mudanças Aspectos pertinentes para ações específicas e
relacionadas às políticas públicas voltadas para tomadas de decisões procurando criar um am-
as pessoas com deficiência nos últimos anos. biente social favorável.
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TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a São Carlos: Ed. UFSCAR, p. 221-230. 2004.
manipulação da identidade deteriorada. 4. ed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1982. MIRANDA, T. G. Trabalho e deficiência: velhos
desafios e novos caminhos. In: MANZINI, E. J.
MACIEL, M. R. C. Portadores de deficiência a Inclusão e acessibilidade. Marília: ABPEE, 2006.
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MAGALHÃES, R.C.P. Ensino superior no Brasil e mundo. São Paulo: Cortez, 2007.
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MENDES, E. G. Constituindo um “locus” de
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E. G.; ALMEIDA, M. A.; WILLIAMS, L. C. A. (Orgs.). Sociedade Para Todos. 4 ed. Rio de Janeiro: WVA,
Temas em Educação Especial: avanços recentes. 2005.
É
possível afirmar que o tema Direitos Humanos nunca esteve tão em voga no Brasil
quanto na nossa história recente? Considerando que, de acordo com o Instituto Da-
tafolha, o candidato à presidência Jair Bolsonaro alcançou, em junho de 2018 o pata-
mar de 17% das intenções de voto defendendo uma plataforma indiscutivelmente contrária
às reivindicações universalmente válidas para todos os seres humanos, justamente por “se-
rem humanos’ e independentemente do fato de serem reconhecidas pelas leis, sim. Autor
de frases como “Direitos Humanos: esterco da vagabundagem; “Quilombolas não servem
nem para procriar” ou ainda “Eu tenho cinco filhos, foram quatro homens, na quinta eu dei
uma fraquejada e veio uma mulher”, Bolsonaro pode ser considerado um grande represen-
tante daquilo que comumente é defendido pela turma do ‘Bandido bom é bandido morto”. O
fato é que os direitos humanos incomodam muita gente porque trazem em sua gênese uma
ideia radical e revolucionária: a de que esses direitos são igualmente válidos para todos, e
não somente para os poderosos ou os ricos.
Embora a origem primitiva dos Direitos Humanos possa se remeter a uma ética ou uma mo-
ral comum a todas as culturas e religiões, ou como o resultado de um longo processo de evolução
que ganhou força com a Revolução Francesa e resultou na primeira grande declaração de direitos
(1789), o movimento contemporâneo pelos Direitos Humanos teve origem na reconstrução da
sociedade ocidental ao final da segunda guerra mundial. Neste sentido, a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 1948, tentou responder às atrocidades que aconteceram durante a
segunda guerra mundial. A lista de trinta artigos que explicitam vários direitos não se trata de
um ato criador e sim de um ato de reconhecimento: os direitos por ela enunciados são inerentes
à natureza humana, mas por terem sido esquecidos ou ignorados, faz-se necessário torná-los
incontestáveis. Entretanto, apenas a constatação da existência desses direitos não garante sua
efetivação, o que implica em uma segunda etapa do processo. Assim, o que vemos em muitos
casos são os Direitos Humanos restritos ao campo da utopia, dos sonhos, longe de serem uma
realidade e por vezes podados pelas mais diversas formas de expressões antidemocráticas.
Nesse sentido, são representativos o assassinato da socióloga, feminista, defensora dos
direitos humanos e política brasileira Marielle Franco, em março de 2018 e do estudante Marcos
Vinícius da Silva, de 14 anos, que ia para a escola, uniformizado, e foi baleado na barriga em junho
último. Tanto Marielle quanto Vinícius eram, como Marielle costumava dizer “crias da Maré”, fa-
vela localizada na zona norte do Rio de Janeiro, e os crimes, flagrantes casos de desrespeito aos
Direitos Humanos, ocorreram justamente em um estado que se encontra sob intervenção militar
desde o começo de 2018.
197
TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
Uma vez que a atual desconstrução das con- como defensor dos Direitos Humanos e, por
quistas sociais no Brasil torna a discussão sobre conseguinte dos valores democráticos, já que
direitos humanos ainda mais urgente, ações como uma coisa não existe sem a outra, subsidiando
as descritas acima contribuem na formação de e ampliando a utilização de espaços que visem
uma “cultura de respeito à dignidade humana a construção de políticas institucionais que
através da promoção e da vivência dos valores contribuam na superação do racismo, sexis-
da liberdade, da justiça, da igualdade, da solida- mo, misoginia, homofobia e demais formas de
riedade, da cooperação, da tolerância e da paz” violência e exclusão.
(BENEVIDES, 2000). A formação desta cultura
significa, assim, criar, influenciar, compartilhar e REFERÊNCIAS
consolidar mentalidades, costumes, atitudes, e BENEVIDES, Maria Victoria. Educação em
comportamentos que decorrem, todos, dos va- Direitos Humanos: de que se trata? Palestra de
lores essenciais citados – e que devem se trans- abertura do Seminário de Educação em Direitos
formar em práticas. Humanos. São Paulo, 18/02/2000. Disponível em
A Educação em Direitos Humanos com- http://www.hottopos.com/convenit6/victoria.
preendida como uma educação de natureza htm
permanente, continuada e global, voltada para
a mudança e como inculcação de valores, “é BRASIL. Plano Nacional de Educação em Direitos
certamente uma utopia, mas que se realiza na Humanos (PNDH) - 2014. Brasília, DF: Comitê
própria tentativa de realizá-la, como afirma o Nacional de Educação, 2014.
educador Perez Aguirre, enfatizando que os
direitos humanos terão sempre, nas socieda- CARVALHO,José Sérgio de. Podem a ética e a
des contemporâneas, a dupla função de ser, cidadania ser ensinadas? Pro-Posições: Pro-
ao mesmo tempo, crítica e utopia frente à re- Posições: Revista da Faculdade de Educação,
alidade social (BENEVIDES, 2000). Objetiva- Revista da Faculdade de Educação, v. 13, n. 3, p.
mente, o movimento sindical deve se colocar 39, 2002.
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Assédio Moral
no Trabalho:
Enfrentamento e Proposições
_________________________________________________________________________________________________________________________________
D
esde o seminário que abordou a temática do assédio moral nas instituições públicas,
ocorrido em novembro de 2015 em Porto Alegre, muito se avançou na abordagem
e soluções destes casos. A primeira edição, ocorrida no mesmo ano em Curitiba,
meados de março, resultou na publicação de um livro com diversos artigos de especialistas
na temática sob a perspectiva da psicologia, direito e sociologia.
A violência psicológica que vem acometendo diversos servidores na rede federal de
educação profissional, científica e tecnológica, tem levado ao afastamento para tratamen-
to de saúde, ainda, inúmeros pedidos de redistribuição ou remoção a pedido, com interesse
pessoal maquiando a verdadeira causa, o assédio.
Mesmo com o debate entre lideranças sindicais e representantes das categorias nestes
seminários, diversos casos ainda ocorrem de forma velada, silenciosa, causando danos irre-
paráveis nas relações de trabalho e na vida pessoal destes servidores. O medo é a principal
razão do silêncio e que impede de denunciar os assediadores.
São diversas situações de assédio já abordadas nas instituições, sendo a mais comum,
o uso abusivo do poder por gestores públicos. Este tipo é conhecido como assédio moral
descendente, quando se tem uma relação hierárquica de subordinação. O assédio ascen-
dente é mais raro.
Assédio é definido pelo dicionário como “insistência, teimosia junto a alguém”, ou seja, é
um ato repetitivo e prolongado. Assédio moral no trabalho é toda e qualquer conduta abusiva
(gesto, palavra, escritos, comportamento, atitude, etc.), que de forma intencional e frequente,
fira a dignidade e a integridade física ou psíquica de uma pessoa, ameaçando seu trabalho ou
degradando o clima organizacional. O assédio pode assumir tanto a forma de ações diretas
(acusações, insultos, gritos, humilhações públicas) quanto indiretas (propagação de boatos,
isolamento, fofocas e exclusão social).
Alguns juristas afirmam que para caracterizar o assédio moral deve se ter registros de
atos ocorridos entre 1 a 3 anos. O consenso reconhece que há 3 características que configu-
ram o assédio, sendo a conduta psicológica, repetitiva e com a finalidade de excluir a vítima.
Ainda que se possa qualificar servidores, gestores, sindicalistas, etc., o enfrentamento
de situações de assédio precisa avançar muito. A presença de base sindical representativa
da categoria, despersonifica o servidor e dá voz ao combate a práticas de assédio, tornando
possível a discussão e encaminhamento dos casos para apuração legal.
No Instituto Federal do Paraná – IFPR, o SINDIEDUTEC Sindicato, tem fomentado a dis-
cussão atuando próximo aos casos relatados por grupos de servidores nos 25 campi. Exemplo
disso é a participação efetiva do Sindicato nos seminários, como a primeira e segunda edi-
ção do Seminário - Estado, Poder e Assédio: relações de trabalho na administração pública,
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TEMA 5 Direitos Humanos e suas Perspectivas no Movimento Sindical
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203
PRO
25 de julho
17h30 - Credenciamento
19h - Abertura
GRA
21h30 -Jantar
26 de julho
9h às 13h - Debate Temas
MA
13h às 14h - Almoço
14h às 18h - Debate Temas
27 de julho
ÇÃO
9h às 13h - Debate Temas
13h às 14h - Almoço
14h às 18h - Debate Temas
HOTEL LUZEIROS
28 de julho
Rua João Pereira Damasceno, 2
Ponta do Farol, São Luís - MA, 65077-630
9h às 12h - Debate Temas Encerramento
www.encontronacionalproifes.com