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Americana
2015
CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO
Americana
2015
RITA DE CÁSSIA FOSSALUZA FERREIRA
Banca Examinadora
_____________________________________________
Profa. Dra. Regiane Aparecida Rossi Hilkner
Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL
_____________________________________________
Prof. Dr. Severino Antonio Moreira Barbosa
Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL
_____________________________________________
Profa. Dra. Renata Sieiro Fernandes ( orientadora)
Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL
Americana
2015
Ferreira, Rita de Cássia Fossaluza.
F443m Máscaras como símbolos de comunicação e expressão:
uma análise do que mostram e dizem os alunos dos cursos de
Pedagogia, Psicologia e Sistemas de Informação do UNISAL
Americana-SP / Rita de Cássia Fossaluza Ferreira. –
Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo,
2015.
135 f.
CDD 808.0469
À minha filha Luize, por vezes que deixei de brincar e lhe dar
atenção necessária para poder estudar, mas sempre com a certeza
de que o que estou fazendo seria para um dia a Educação ser
melhor para ela e para futuras gerações, que um dia possa se
orgulhar de mim. E ao meu sobrinho Miguel - que receba uma
educação mais preparada para a infância.
Aos meus pais Pedro e Cleusa, que por mais que não entendam o
motivo de tanto estudo sempre estiveram do meu lado e que com
este trabalho de tanto amor consigam me entender – afinal, foram
meus melhores professores e é com este amor que dedico. À minha
madrinha Fátima que sempre me inspirou profissionalmente.
A Deus, Nossa Senhora Auxiliadora e minha Santa Rita de Cássia pela força interior
divina para superar todos os obstáculos. A São João Bosco que me despertou o
educar e a quem admiro tanto pela preocupação e cuidado com a educação.
À minha família, por serem tão bons para mim, por me respeitaram sem
necessariamente me entenderem.
À minha orientadora Renata, que colore a vida de quem passa com seu autêntico
estilo, pensamento e amor pelo que faz. Que, com sábias palavras e sempre um
livro na ponta da língua para indicar, me inspira e me faz acreditar na educação.
“Que as Máscaras sejam acessórios para serem moldados e retirados, mas que
jamais sejam simplesmente máscaras”. (Da autora)
“Que, sendo amados nas coisas que lhes agradam, aprendam a ver o amor nas
coisas que naturalmente pouco lhe agradam...” (Dom Bosco).
RESUMO
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 12
1. CONCEITOS, EXPRESSÃO E SIMBOLISMO.............................................. 17
1.2. O homo ludens: o que joga, se comunica e se expressa por várias formas. 28
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
Em razão disto, o homem é um ser que produz cultura. “Os primeiros grupos de
Homo sapiens que chegaram à Europa passaram a ser chamados de Cro-Magnon e
revelam ter tido comportamentos tipicamente humanos, ou seja, eram capazes de
produzir cultura simbólica (...)” (ibidem, p.306). Este registro tem uma data não
confiável, especula-se que o surgimento desses grupos com características
cognitivas e sociocognitivas como as humanas aconteceu entre 40 e 90 mil anos
atrás.
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Além da fala, temos as crenças, as artes, que são criações culturais, porque
inventadas pelos homens e transmitidas uns aos outros através das
gerações. Elas se tornam visíveis, se manifestam, através de criações
artísticas, ou de ritos e práticas em que a gente vê os conceitos e as ideias
se realizarem (ibidem, p. 34).
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Um signo (ou representamen), para Peirce, é aquilo que, sob certo aspecto,
representa alguma coisa para alguém. Dirigindo-se a essa pessoa, esse
primeiro signo criará na mente (ou semiose) dessa pessoa um signo
equivalente a si mesmo ou, eventualmente, um signo mais desenvolvido.
Este segundo signo criado na mente do receptor recebe a designação de
interpretante (que não é o intérprete), e a coisa representada é conhecida
pela designação de objeto. Estas três entidades formam a relação triádica
de signo. (COELHO NETTO, 1996, p.56)
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Interpretante
(ou referência)
Signo
-------------- Objeto
(ou referente)
Interpretante
(ou referência)
--------------
Signo Objeto
Fonte: Da autora
Para ilustrar podemos imaginar uma cena de teatro entre duas pessoas, cada
um com uma máscara frente ao seu rosto representando a personalidade de cada
um, que não é o próprio indivíduo na sua essência e sim, o representa para o outro e
o mostra para o mundo. Esta máscara traz ataques e defesas disfarçados em um
estereótipo com a finalidade de evitar que o indivíduo seja invadido pelo mundo
externo. Portanto, analisa que utilizamos máscaras sociais em diversos momentos
até mesmo para nos defender ou para suprir as exigências que vem da sociedade.
O quadro abaixo adaptado de Isaac Epstein demonstra, define e classifica
signo e símbolo segundo os principais autores da Semiologia Moderna, apontando o
que é diverso e o que é peculiar em cada um dos termos:
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Charles Peirce Algo que está para alguém O símbolo é um signo que tem
(perspectiva em lugar de algo, em algum uma relação arbitrária e
semiótica e aspecto. convencional com seu objeto.
pragmatista)
Charles Morris Se algo (A) controlo o O símbolo é um signo
(perspectiva comportamento de maneira produzido por seu intérprete e
behaviorista) semelhante a (B), então (A) é que age como substituto de
signo de (B). outro signo.
Adam Schaff Qualquer objeto material Os símbolos são objetos
(perspectiva pode transformar-se em materiais que representam
semiótica) signo. O signo serve ao noções abstratas.
propósito de transmitir certos
pensamentos acerca da
realidade, isto é, acerca do
mundo exterior ou acerca de
experiências interiores.
Ferdinand de O signo linguístico é um O símbolo nunca é
Saussure signo que une uma imagem completamente arbitrário. Há
(perspectiva acústica (significante) a um um rudimento de vínculo
linguística conceito (significado) por natural entre significante e
estrutural) meio de um laço arbitrário. significado.
Ernst Cassirer Os signos são próprios dos Os símbolos pertencem ao
(perspectiva processos semióticos mundo humano do sentido. O
hermenêutica) animais. Eles equivalem aos homem deve ser concebido
sinais. como um animal simbólico.
Ludwig O signo é aquilo que é Para reconhecer o símbolo no
Wittgenstein sensivelmente perceptível no signo é necessário considerar
(perspectiva símbolo. seu uso significativo.
filosófica própria)
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1
Simbólico é aquele que junta, que aglutina, que sintetiza. O oposto dele é o diabólico, o que
dispersa, divide, separa. Logo, o ser humano é esse ser que necessita da tensão entre esses dois
lados, pois que ambos se complementam.
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A dimensão lúdica pode estar presente em qualquer ação realizada, pois não
é dada a priori. Faz parte de um autoengano, de um ato de enganar a si mesmo por
vontade, assumindo o sentido de ilusão, pois, no dizer do autor, “tanto o feiticeiro
como o enfeitiçado são ao mesmo tempo conscientes e iludidos. No jogo, um deles
escolhe o papel do iludido” (p. 27). O lúdico desempenha papel fundamental no
aprendizado e é pelo jogo que se dá a possibilidade do exercício da criatividade
humana, em qualquer idade, contexto social, cultural e econômico. O jogo faz parte
do dia-a-dia e está presente inclusive na contemporaneidade e, às vezes, jogamos
sem mesmo ter consciência disso.
Como exemplo da presença do jogo e do lúdico no cotidiano, podemos usar a
ação que o teatrólogo, diretor, dramaturgo, ensaísta, criador do Teatro do Oprimido,
em 1970 - Augusto Boal realizou em 1993, quando foi vereador da cidade do Rio de
Janeiro, o que lhe proporcionou a indicação ao Prêmio Nobel da Paz, em 2008.
Fundador do Teatro do Oprimido, que aliou o teatro à ação e à transformação
social, Boal se viu encurralado com a quantidade de pedidos recebidos da
população e precisava resolver a questão para priorizar suas ações e como os
pedidos se concentravam em uma comunidade específica, resolveu ir até os
moradores para verificar qual era a maior necessidade, mas a população não
conseguia chegar a um acordo, foi então que propôs e utilizou técnicas de teatro
para organizar as solicitações e criou o Teatro Legislativo.
O então vereador conseguiu mostrar à população como funcionava a Câmara
de Vereadores e a importância de participarem ativamente. Esse esclarecimento
pode causar, para alguns, um perigo, pois ensina o exercício da cidadania, dá vozes
à população. Para ele, todos somos atores e espectadores da realidade social.
Boal usa da representação sociodramática no cotidiano das pessoas e na
cidade, pois entende que a linguagem teatral é a linguagem humana que é usada no
cotidiano, sendo assim, todos podem desenvolvê-la e fazer teatro. Desta forma, cria
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condições práticas para que os sujeitos se apropriem dos meios e ampliem suas
possibilidades de expressão e comunicação.
Os papéis sociais ou os personagens representados nessas atividades podem
ser chamados de personas e, desta forma, pode-se entender que tanto no teatro
como na vida, no jogo social, os sujeitos jogam na realidade social e fazem isso por
meio de máscaras invisíveis ou manipuláveis, para poderem exercer versões de si e
de situações.
Ao fazer isso, o eu-outro se exterioriza, se vê e se dá a vez de construir sua
identidade surgindo a persona (em latim: aquilo que ressoa, pois também servia
para amplificar a voz dos artistas), que e é o nome dado às máscaras que os atores
do século V a.C. usavam no teatro grego e que o criador da Psicologia Analítica,
Carl Gustav Jung, cunhou como o conceito a que nos referimos.
Para Jung, os sujeitos agem de maneiras diversas em cada ambiente social,
como formas de reconhecimento, ajuste e adaptação, dependendo do grupo social e
da circunstância envolvida, portanto, nos mascaramos até mesmo para nos proteger
de pré-julgamentos. Jung também chamou a persona de arquétipo da conformidade,
entretanto, a persona não é totalmente negativa – ela serve para proteger o ego e a
psique das diversas forças que nos invadem.
De acordo com o Dicionário Crítico de Análise Junguiana, durante a vida,
muitas personas serão usadas e diversas podem ser combinadas em qualquer
momento.
Aqui, o que interessa não é medir forças entre imagem e texto e, sim a
complementação entre ambos, como acontece com as histórias em quadrinhos que
unem a leitura, a interpretação, o encantamento e a informação verbal em um
processo em que o leitor faz o desenvolvimento da compreensão e interpretação do
texto, primeiro sobre a imagem, gestos e feições dos personagens e depois pela
escrita, por isso muitas crianças ainda não alfabetizadas conseguem fazer a “leitura”
de um gibi. É uma estratégia de seleção, antecipação, inferência, verificação e,
finalmente, a proficiência na leitura e interpretação.
As histórias em quadrinhos são recursos possíveis para a estimulação dos
alunos pelo interesse da leitura, da interpretação e posteriormente da expressão em
público. “(...) é apontar uma possibilidade de trabalhos com gêneros discursivos,
mais colados ao contexto sociocultural dos educandos”. (ANDRADE; ALEXANDRE,
2008, p.94). Como exemplo, na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul,
há um trabalho voluntário idealizado por Ronilço Guerreiro de incentivo à leitura
através de gibis, a Gibiteca que leva essas histórias em quadrinhos para vários
pontos da cidade, como a rodoviária e outros locais de grande circulação pública.
Nesta cidade esse trabalho também é itinerante com a criação da Gibicicleta, uma
bicicleta munida de gibis que percorre os bairros; o objetivo é que através dos gibis
as pessoas (de todas as classes sociais) tenham acesso à leitura. Este projeto tem o
apoio financeiro do ator e comediante Fabio Porchat que atua como disseminador de
conteúdos narrados na forma de comédia, também uma forma de expressão.
A visibilidade do gibi para a educação é de importante notoriedade e pode ser
iniciada previamente à criança antes mesmo de sua alfabetização e, na escola pode
ser inserida também na disciplina de Língua Portuguesa, Artes, Literatura, como
ilustra Andrade e Alexandre (2008) que citam os Parâmetros Curriculares Nacionais
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Ler HQs, além de ser uma atividade que pode ser desenvolvida,
observando-se todas as estratégias de leituras, é também, levar os leitores
a momentos que antecedem a própria leitura do desenho das “letras”, pois a
estrutura desse gênero é híbrida e possibilita leituras múltiplas. Nele,
podemos ler texto, imagens, ícones, balões, quadros, todas essas
categorias que são responsáveis pela própria estrutura das HQs. Todas
essas partes não só podem, como devem ser lidas, pois elas encerram
sentidos importantes para que a narrativa figurativa possa ser
compreendida na sua totalidade. (ANDRADE; ALEXANDRE, 2008, p.96 e
97)
Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta.
Carl Jung
A máscara pode ser entendida como um objeto que esconde e que revela,
depende da situação, do momento e da escolha. Usamos máscaras no sentido de
manipular uma aparência para um determinado fim, criando um personagem ou
persona, se escondendo da própria realidade, manipulando expressões ou
mostrando uma nova face, um novo jeito de se ver ou de querer se ver. As mulheres
usam maquiagem para se sentirem mais bonitas, para esconder uma imperfeição do
rosto e, sobretudo, para conquistar, também é uma forma de mascarar.
As diversas formas de pensar a máscara são encantadoras, polêmicas e
diversificadas, especialmente pelo seu duplo papel apresentado e representado de
outras maneiras como na figura do palhaço, da maquiagem, do esconderijo, do
transpor o interno através de pinturas externas, além do que, é um objeto usado em
diferentes épocas e em diferentes contextos sociais, políticos, religiosos, entre
outros.
As máscaras aparecem de múltiplas formas e com inúmeros materiais para
revelar ou ocultar sentimentos e podem ser usadas social e religiosamente, como
em usos funerários, terapêuticos para prevenir ou curar doenças, festivos e teatrais
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– no antigo teatro grego figurava nos tipos da tragédia e da comédia, para aumentar
a estatura dos atores e ampliar a voz.
Jung contribui para o conteúdo sobre máscaras quando utiliza o termo
persona como agrupamentos de ideias conscientes e inconscientes, que usamos
para nos relacionar com as pessoas, como uma autodefesa. Luiz Paulo Grinberg
(1997) citando Jung complementa que persona é o arquétipo que se refere à
máscara que utilizamos para nos apresentar ao mundo e aos outros. Nós utilizamos
máscaras de acordo com cada momento, cada situação e cada pessoa e, esta pode
ser usada para nos proteger ou para enganar, ou seja, não é só negativo o uso da
máscara, ela também nos protege em alguns momentos.
A criação de um personagem por trás de uma máscara traz a busca pelo
novo ou pelo esquecido; o esconder-se e mostrar-se por meio de uma máscara, por
um personagem ou persona, permite que se diga, expresse, comunique coisas que
sem ela possivelmente não se faria, como é o caso do palhaço que detém a menor
máscara do mundo (o nariz vermelho) e o bobo da corte, que de tão bobo dizia
verdades sem ser penalizado, pois era só um personagem. Para Vugt e Ahuja
(2012) “os bobos da corte eram usados muitas vezes para expressar os
pensamentos das pessoas: ninguém podia se ofender se as verdades eram
enfeitadas com música, dança e malabarismo” (p. 45).
O bobo da corte tem um papel fundamental na história da humanidade e
exemplifica a máscara usada para apelos pessoais e sociais:
Ilustração 9: Arlequim
Há uma lenda que um ator romano era estrábico e isso o incomodava e até o
impedia de conquistar grandes papéis. Com o uso da máscara, tendo seu defeito
dissimulado, passou a apresentar-se com maior desembaraço. Esta lenda nos
referencia a pesquisa como a máscara como auxílio à oralidade também na forma
de esconderijo.
45
Para o índio a máscara não é obra de arte e, sim, algo que tem uma função
mágica, que pode protegê-lo da perseguição de uma entidade extraterrestre. No
preparo, os índios usavam a entrecasca de uma árvore e as pintavam com resinas
vegetais e tabatinga. Os bacairi tinham as máscaras como decorativas: faziam dois
buracos para os olhos e um terceiro olho decorativo na parte superior, pregavam
com cera, em volta dos olhos, pedaços de madrepérola ou caramujo. A boca
também era aberta e tinha dentes de piranha, colocavam cabelos de palha de
palmeira e uma barbicha.
Ilustração 13: Máscara indígena
Já as carrancas dos barcos do rio São Francisco não tem uma origem
comprovada. Elas eram colocadas nas proas das barcaças e pareciam esculturas
egípcias ou africanas. Existe uma crença entre os barqueiros que antes do barco
afundar por qualquer acidente, ouvem-se três gemidos, um aviso dado pela
carranca.
Ilustração 14: Carrancas
2
“[...] foi um soldado inglês católico que teve participação na "Conspiração da pólvora" (Gunpowder
Plot) na qual se pretendia assassinar o rei protestante Jaime I da Inglaterra e os membros
do Parlamento inglês durante uma sessão em 1605, para assim dar início a um levante católico. Guy
Fawkes era o responsável por guardar os barris de pólvora que seriam utilizados para explodir o
Parlamento durante a sessão.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Guy_Fawkes)
48
3
Lev Semenovitch Vygotsky: foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das
crianças ocorre em função das intenções sociais e condições de vida. Os seus primeiros estudos
também foram voltados para a psicologia da arte.
51
Essa atividade é uma entrega dos alunos comigo e eu com eles, pois durante
a realização damos risadas, choramos, nos emocionamos e compartilhamos uns
com os outros nossas vivências e experiências. A minha participação se dá pela
mediação no momento de saber instigar o aluno a falar e se expressar mais e no
momento de silenciar sua fala e isto acontece em uma tênue nuance entre
conhecimento e afeto.
Em um exercício para pensar sobre mim, sobre meu imaginário e repertórios
simbólicos, sobre mascaramento, expressão e comunicação, passei pela
experiência de confecção da máscara a que propus para os sujeitos da pesquisa. No
capítulo seguinte esse procedimento é apresentado.
53
CAPÍTULO 2
algumas vezes, relutantes a praticar em sala de aula uma atividade diferente, como
as máscaras. Avalio essa diferença como um ponto para a refletir:
(...)
Não precisamos de nenhuma educação
Não precisamos de controle mental
Chega de humor negro na sala de aula
Professores, deixem as crianças em paz
Ei! Professores! Deixem essas crianças em paz!
Tudo era apenas um tijolo no muro
Todos são somente tijolos na parede
(...)
Estudar, cada vez mais será, antes de tudo, entender onde a gente mora,
que relações predominam ali, que tipo de vida impõe, para saber até que
ponto queremos seguir trilhar prontas ou inventar as nossas. Viver é sempre
o grande desafio de estabelecer metas, abrir trilhas, produzir contornos,
conceitos; viver é criar valores. Por isso, aprender deve estar vinculado ao
criar. Aprender criando é a regra, porque do contrário não é aprendizado, é
treinamento; não há troca, há imposição. Mas a arte não é considerada
fundamental, como deveria, mas acessória, distração. (MOSÉ, 2013, p.83)
4
Seminário: confere às pessoas que dele participa a oportunidade de apresentar os conhecimentos
adquiridos mediante o estudo de um determinado tema.
<http://www.portugues.com.br/redacao/seminario.html. Acesso em 15 de abril de 2015>
56
conferência5 que aconteceu pela primeira vez em 1930 como uma solução para a
falta de comunicação nos grandes congressos6.
Manacorda (2006) comenta que falar bem é importante no cotidiano,
Mas o que significa exatamente este falar bem? Creio que seria totalmente
errado considera-lo em sentido estético-literário, e que, sem medo de forçar
o texto, se possa afirmar que, pela primeira vez na história, nos
encontramos perante a definição da oratória como arte política [...]
(MANACORDA apud GERALDI, 2006, p.29)
Em 1988, em uma aula, pedi que os alunos escrevessem o que era uma
criança e obtive respostas como a de Luis Mesa, na época com 7 anos: ‘É
um amigo, que tem o cabelo curtinho, joga bola, pode brincar e ir ao circo’.
Uma síntese bastante autêntica e sincera.
Se perguntasse a um adulto, a explicação seria muito mais técnica, algo
como: um ser humano que ainda não se desenvolveu por completo. Essa
diferença acontece porque os pequenos se expressam de forma
espontânea e sem segundas intenções. Nos anos iniciais, ainda
desconhecem plenamente o poder simbólico da linguagem. E por causa
desse desconhecimento – que inclui também as normas de uso – as
produções escritas podem ser cheias de riqueza poética. (NARANJO, 2014,
p.27)
5
Conferência: evento organizado por um grupo de pessoas, ou mesmo associações ou instituições,
com o objetivo de reunir pessoas para discutir determinada questão ou problemática, visando o
levantamento de soluções, prioridades e propostas para o bem comum.
<http://www.dicionarioinformal.com.br/conferência.html. Acesso em 15 de abril de 2015
6
Congresso: reunião de pessoas com interesses em comum, que visa tratar de determinados
assuntos, comunicar trabalhos, apresentar propostas ou trocar ideias. http://conceito.de/congresso
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A pesquisa se insere neste contexto, pois trata a linguagem como meio para
as habilidades desenvolvidas e apoiadas na Educação Salesiana, auxiliando os
alunos a se comunicarem para melhor se desenvolverem tanto profissional como
pessoalmente, podendo fomentar ideias, compartilhá-las e experimentarem as
diversas situações que a vida oferece, de forma consciente.
Para poder construir o embasamento teórico que sustenta as análises e
interpretações foram buscados autores e produções acadêmicas de várias áreas,
66
A autora também afirma que uma obra (neste caso a máscara) pode nos
atrair ou nos repelir, mas sempre nos inquieta. É o que acontece com a escuta dos
alunos perante a arte do colega, um misto de sentimento, mas, que prevalece o não
69
várias linguagens que fazem parte do nosso cotidiano, Mafalda usa a linguagem
escrita interagindo com a linguagem visual, uma característica das histórias em
quadrinhos, o que amplia a compreensão do conceito ou da mensagem veiculada.
Mafalda tem várias tirinhas que focam a educação, abordando a problemática
escolar, sugerindo o julgamento do processo educacional. Ela é participativa,
contestadora e quer contribuir para o pensamento humano. As frases feitas, citadas
por um professor, sendo que o aluno apenas ouve algo a ser decorado indicam um
sujeito submisso e, Mafalda muda sua posição de ouvinte passivo para agente
interpretativo e questionador.
Fonte:http://elianaduartedasilva.blogspot.com.br/2011/11/avaliacao-1-prof-
doracineia_07.html. Acesso em out/2014
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CAPÍTULO 3
tornando a oratória como algo prazeroso de fazer, pois consigo entender que posso
escolher como quero me expressar.
Esta pesquisa foi conduzida dentro de um quadro de referência postulada
pela Pedagogia Salesiana e a Educação Sociocomunitária, enfatizando os quatro
pilares da educação no favorecendo a prática da oratória e do aprender participando
e construindo suas próprias referências. Também foi utilizada para a interpretação
não verbal das apresentações a Semiótica inspirada em Charles Sanders Peirce e a
concepção triádica referenciando e analisando os campos da Primeridade,
Secundidade e Terceridade com o método utilizado em minhas aulas com a
atividade das máscaras, conduzido também pela análise de autoconhecimento de
Carl Gustav Jung e pensadores da contemporaneidade e seus modos que tratam e
pensam sobre a educação atual.
O percurso da pesquisa inicia-se quando, em 2011, fui convidada a dar aulas
de Comunicação e Expressão e Leitura e Produção de Texto para variados cursos
de graduação, mas foi o curso de Sistemas de Informação que mais me
incomodava, pois via nestes alunos uma grande dificuldade de expressar-se perante
o outro, um bloqueio mais visível do que nos outros cursos – ou, talvez, uma reserva
de expressão como estratégia para lidar num ambiente competitivo como é o das
empresas e do mercado - e uma resistência maior a esta disciplina. Mas também
percebi que a turma de Pedagogia apontava dificuldade de expressar-se de maneira
mais concisa e até mesmo apresentava notórios erros de português em suas falas, o
que se torna alarmante, pois estes alunos estariam diretamente ligados à educação
e a turma de Psicologia tinha uma saliente vontade de se expressar intimamente e
contar suas histórias e indagações mais pessoais, mas ao contar se emocionavam
muito e não conseguiam controlar essa emoção.
Por isso, escolhi trabalhar especificamente a pesquisa com estes três cursos
que em diferentes formas tinham a mesma dificuldade: a oratória em público.
Com a proposta da máscara conseguia “agradar” ou pelo menos chegar mais
próximo dos três estilos, tendo a Pedagogia como favorecimento do lúdico, do fazer
com as mãos, do criar oportunidades de fala; o curso de Sistemas de Informação
podia trabalhar com a quebra de barreiras entre professor e aluno e fazer o aluno
ser ouvido na sala de aula com respeito e de maneira livre (ele podia falar o que
quisesse e se quisesse) e na Psicologia poderia entrar mais no contato com seu
autoconhecimento e da escolha das falas e controle das emoções.
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7
Os nomes originais dos sujeitos envolvidos na pesquisa estão omitidos e são identificados pelas
suas iniciais como forma de preservar suas identidades.
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<Disponível em http://unisal.br/cursos/psicologia-americana/> Acesso em 24 de janeiro de 2015.
82
Para complementar a ideia dos diferentes objetivos e perfis dos cursos, no PPC
de Sistemas de Informação há o seguinte perfil do egresso:
Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja
apenas outra alma humana.
Carl Jung
Nunca mais havia feito máscara e nem mais havia pensado nela, até conhecer
a professora Luciana Ramos de Souza, egressa do curso de Mestrado em Educação
do UNISAL, que falou sobre máscaras em sua dissertação, como uma atividade de
construção e interpretação que desperta a criatividade. Ela leciona comigo no curso
de Moda e faz essas máscaras de gesso com os alunos durante a aula de
Laboratório de Criatividade. Em uma conversa informal, entre amigas, ela me
orientou sobre os procedimentos e como seria uma ferramenta importante para
aguçar a expressão dos alunos em minhas aulas de Comunicação e Expressão.
Interessei-me pela dica e resolvi tentar.
Minha primeira tentativa foi com a turma de Psicologia em 2011, pesquisei
sobre os materiais utilizados, tempo de duração e me encorajei a tentar fazer.
Durante a atividade houve muita sujeira, risada e bagunça, fiquei de fora do grupo
avaliando os comportamentos e auxiliando os alunos com a atividade. Ainda estava
muito insegura sobre o objetivo do trabalho e o resultado que proporcionaria, era
literalmente um teste. Na outra semana, os alunos retornaram com suas máscaras e
a apresentação foi surpreendente.
Eu esperava que eles usassem as máscaras como um artifício para falar sobre
eles, falar por trás da máscara, mas não foi isso que aconteceu, eles não utilizaram
a máscara como um “esconderijo” da face para não se defrontar com o grupo, pelo
contrário, se despiram e contaram sobre a sensação do fazer as máscaras e os
motivos que os levaram a fazer as decorações.
O resultado foi muito mais interessante do que eu havia planejado e foi assim
que tudo se iniciou e entendi que essa máscara era, na verdade, um “disparador de
vozes”. No ano de 2012, a turma de Pedagogia se dividiu em duas e eu ministrei
aulas na disciplina Nivelamento (Atividades Complementares) apenas para uma
delas e também solicitei ao grupo a confecção das máscaras, agora, com o objetivo
definido, mais consciente do que pretendia com a atividade e, para minha surpresa,
a turma para a qual que eu não ministrava aula, foi pedir para a professora que
também fizessem a máscara como a outra turma. Fiquei muito gratificada.
Em 2013, fiz a atividade em um curso livre que ministrei de Organizadores de
Eventos e, como havia mais tempo de aula, resolvi também fazer a máscara junto
com os alunos – fiz, mas não decorei, ela ficou branca, talvez porque naquele
momento eu não queria me expressar. E só agora, por causa da dissertação fiz
novamente a máscara.
91
Prefiro as perguntas,
Elas me inquietam, me desafiam e me estimulam a criar
Minha própria resposta, ou...
Mais perguntas.
92
conhecia o objetivo daquela atividade e tive dificuldade para abstrair isso. Olhando e
tentando apreender os símbolos que registrei, percebo que deixei a família em
evidência com a escolha de elementos familiares como girassol e sua cor amarela –
foi esta flor que dei de presente ao meu marido em um momento importante,
simbolizando a vida, a união e meus pais e nesta época também descobri minha
gravidez e o rosa que é uma cor feminina e a cor preferida da minha filha, pois a
família para mim está em primeiro lugar e nela que me sinto feliz e que tenho a
certeza de tê-los em todos os momentos e também coloquei várias interrogações,
pois tenho muito mais perguntas do que respostas.
Questiono como esses elementos surgem em nossas vidas, como
escolhemos determinadas cores, formas e desenhos. Como nos lembramos deles
nos momentos que estão decorando nossas máscaras, como é selecionado e
interpretado esses momentos. Em minha opinião, as escolhas da decoração
acontecem intuitivamente, reativando memórias.
Os alunos, ao terminarem suas produções e após muitas risadas durante a
atividade, levaram seus rostos, seus duplos, seus eu-outro para casa, em um
exercício de estranhamento do familiar, de ver-se como alteridade e, portanto,
pensar na construção constante de identidade. Estes rostos estão, a princípio,
brancos, sem uso de cor, prontas para serem pintadas, decoradas ou simplesmente
não receberem registro algum, pois ainda assim, a máscara não estará isenta de
conteúdo, ela possui a forma, o molde do rosto de seu “dono”, com os detalhes e
sentidos individuais de cada aluno: a boca, nariz, bochecha, olhos, queixo, testa e
isso já a faz ser única e singular.
Na aula seguinte, uma semana depois, ao trazerem novamente as máscaras
para a sala de aula há um clima de desconfiança, pois os alunos ainda não haviam
conseguido entender o objetivo da atividade. Ao questioná-los acerca de o
planejamento inicial de decoração das máscaras ter sido cumprido à risca ou
absorvido o novo, cerca de 30% apenas dos alunos respondem terem feito as
máscaras de acordo com o planejado (o que mostra o conteúdo conhecido e
manifesto no registro) e 60% dizem ter reconhecido mudanças nos planos ao ver a
máscara pronta (se dando conta de conteúdos ocultos registrados)e, ainda,
justificam o resultado final pela falta de tempo para dedicação e falta de material em
casa.
94
gesso não grude na pele e nos pelos. Após, cerca de 10 minutos de secagem, a
máscara é retirada. Os alunos levam para casa e trazem na próxima aula, já
decorada.
O processo da construção das máscaras acontece em três momentos
analisados para a pesquisa: Confiança; Autoanálise (eu-outro); Decoração/Vozes. O
primeiro tem a ver com a escolha do parceiro para realizar o molde em seu rosto,
esse passo é importante, pois depende do outro para que sua máscara fique firme e
bem moldada de acordo com suas características faciais. É também
responsabilidade do outro deixar o colega calmo para a execução do procedimento,
uma vez que os olhos ficam fechados e a boca tampada durante alguns minutos.
Em um primeiro momento os alunos estão em duplas e depois acabam se
ajudando mutuamente e formam grupos. Neste início é importante notar a entrega
ao colega, eles acabaram de se conhecer e já são instigados a serem colocados
como sujeitos do outro.
Com os alunos pesquisados houve apenas o mal estar de duas alunas; uma
que, ao se levantar e se sentar, melhorou e voltou à atividade, a outra que não
conseguiu finalizar, pois ficou com fobia. A importância do colega também ajuda a
controlar essas emoções.
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O aluno com autismo também teve ajuda da colega de classe de quem ele
gosta muito, para fazer a máscara. Ficaram o tempo todo de mãos dadas, passando
confiança e afeto um para o outro.
outros colegas, mas não quis fazer a dele. Ele residia, na época, em uma casa de
apoio para moradores de rua e teve vários traumas em sua infância, portanto, não
se sentiu seguro para ficar a mercê de uma pessoa que ele conhecia recentemente.
Posteriormente, fez a máscara com sua cuidadora – a profissional da casa de apoio,
que lhe passava segurança.
Também é neste primeiro momento que a atividade inicia a meta de despertar
a memória. Ao ficar a espera, sem enxergar, sem falar, sem se mexer, os sentidos
da audição e do olfato aguçam e a memória transcende para o passado, alguns
mmedos retornam e os prazeres esquecidos com o tempo realçam. Isso é o
mostrado no depoimento abaixo:
(...) Ao executar uma atividade como esta, em que você confia seu rosto à
outra pessoa, desenvolve-se questões de grande importância no ser
humano. A primeira delas é a confiança, de oferecer o próprio rosto ao
outro, permitindo que ele o toque, além de trabalhar com a possibilidade do
resultado final ser bom ou ruim. (...) (A.C.S.L.).
(...) Quando olhei minha máscara e enxerguei beleza naquele objeto percebi
o quanto tinha evoluído em meu desenvolvimento pessoal, achar-se lindo
não precisa necessariamente ser baseado em normatizações comerciais,
determinados pela moda e classe social, mas sim um processo de
aceitação e respeito ao próprio corpo(...). (A.C.S.L.)
(...) Quando olho para ela, me vejo, vejo alguns dos meus medos, algumas
marcas da vida, numa expressão séria e empática; Vejo que sou tão frágil
quanto esta máscara feita de alguns pedaços e gaze engessada, que a
qualquer pode ser desfeita, mas se desfeita pode-se refazê-la,
provavelmente não fique mais como era antes, mas mudou e é isso que a
vida espera de nós, espera de mim.
Quando olho para ela “original” (pois não mexi em nada dela, não a enfeitei,
e etc...) vejo alguém, que tem certo receio de se frustrar, de fazer errado, de
fazer feio (...) (M.F.F.)
Foram selecionadas para uma análise mais específica, 89 máscaras com suas
narrativas simbólicas (os repertórios contidos na superfície ou avesso das
máscaras), orais (as apresentações para socialização) e textuais (os conteúdos
expressos nas produções textuais sobre o processo envolvido na atividade).
Deste montante, 27 fizeram a máscara com divisão ao meio, simbolizando dois
tempos ou dois lados de uma mesma coisa (bem e mal; alegre e triste; passado e
futuro), um início de um Yin Yang, talvez.
O depoimento abaixo mostra o pensamento sobre essa escolha:
Quando uma pessoa coloca a máscara ela pode se sentir mais confortável e
algumas vezes ela realiza mudanças na personalidade por estar com o
rosto tampado. (Y.N.A.)
Paro, penso, reflito profundamente. Penso no dia em que foi proposto este
trabalho de criar uma máscara, modelando-a no próprio rosto. Pude
ressurgir em minha mente a garra de me perguntar, tipo como o ‘porque’?
Com medos que sentia e o sentia antecipadamente tais como a confiança,
coragem e acima de tudo a vontade de continuar o trabalho, onde já
encarava todos os medos e fronteiras. Falando sobre a entrega da máscara
teríamos que aprensentá-la, onde com atribuições as quais havíamos dados
na máscara junto as cores, nessa apresentação pude me constranger,
alegrar e no motivo a me conhecer, onde surgiram sentimentos das quais
compartilharei em intuições. De caráter a caráter, consciência e inocência
pude ao menos ver o que represento, não só na modelagem facial, onde
senti medo, fome, insegurança, mas também no momento em trabalhar com
cores, dando vida de forma colorida, junto a formato em lugares especiais,
com cores, sentimentos emblemas pude me ver um pouco como alguém
olhando no espelho. Entre cores fortes e fracas, nítidas e foscas, amor,
carinho, ternura e em meio ao gesso branco, escuridão. Estre suas cores
alegres se fez uma cicatriz para reflexão.
Enfim, alegro-me por mim só. Porém me questiono curiosamente não
apenas de mim, mas sim de todos nós. Será que vivemos aquilo que
somos?Será que se eu continuasse a desenhar e me representar iria-me
encontrar algo além do que é? Reflito e penso, e ocultas que nos revela.
Somos uns máscaras dos outros ou nos enganamos de referências...não
sei...Procuro-me, redescubro-me, e não me envergonho em ser alguém
melhor deixando o pior de lado. Gostei bastante e continuo gostando. (G.M.)
G.M é um dos casos que escolhi para analisar mais pontualmente; ele vivia
em um abrigo e passou por muitas dificuldades em sua vida e se encontrava em
reabilitação. Acredito que ao se expressar, usou tantas gírias que ficou confusa a
explanação das ideias e argumentos, as marcas continuaram fortes e não conseguiu
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Ilustração 32: Aluno de Sistemas de Informação – G.M. apresentando a máscara com detalhes de
cicatrizes, lágrima e símbolos de Programação.
(...) em cada dificuldade para fazer a máscara, me fez pensar que vamos
encontrar dificuldades, não só no ambiente profissional, mas pessoal
também, mas aos poucos com cada detalhe iremos chegar a perfeição.
(M.S.)
O desenho que mais apareceu entre estas memórias trazidas nesta busca
pela escolha da decoração foi a borboleta, 8 fizeram este desenho ou em toda
máscara ou em alguma parte. Segundo Fincher (1991, p.150) as borboletas são
símbolos de transformação devido a seu dramático ciclo de vida e na vida cristã, os
três estágios da vida da borboleta equivalem à vida, à morte e à ressurreição.
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Outra grata surpresa da turma veio do aluno de Psicologia matutino, R.C., que
é aparentemente tímido e pouco havia se expressado na sala de aula e, em sua
explanação no dia 10 de abril de 2014, inovou na tinta para pintar a máscara,
utilizando corante de comida para expressar o seu prazer em comer e trouxe um
poema de sua autoria:
Sou o que sou e não sei quem sou, sabendo que não sei já sei,
então, não sei quem sou mas sei que sou alguém. Na verdade...
Sei quem sou mas não sei dizer,
Sei dizer o que não sou,
Não sei saber o que preciso,
Mas sei o que não quero,
Só sei sabendo o que sabia,
Mas não sabia que estava sabendo,
Não sei o que fazer sobre isso,
Mas sei saber alguma coisa,
Só quero saber dizer,
Sei que saberei saber,
Só não sei quando.
Essa máscara representa uma parte minha que grita...
Ninguém é perfeito, logo o imperfeito não existe, porém existe o
inadequado e de certo modo todos nós somos, também somo
flexíveis a ponto de nos adaptarmos, assim nossa inadequação se
torna suportável, seguro e louco e o sábio, o sádico e o alegre
inocente, parte minha, parte da gente, ou apenas uma máscara...
Durante a leitura do poema de sua autoria, R.C. interpretou o que dizia, o que
deixou o poema mais próximo daquela realidade que estava vivendo, aguçando
mais seu sentido, sua expressão.
A aluna J.O., diagnosticada com dislexia, na atividade retratou três fases de
sua vida de maneira artística e poética. Durante a execução do trabalho, a aluna se
manteve calma e fez tranquilamente a máscara, a dificuldade apontada por ela foi no
momento da decoração, de elencar elementos de seu imaginário para simbolizar-se.
Na primeira tentativa misturou várias cores inconscientemente e ao notar que
o resultado não havia ficado como ela esperava referenciou à experiência com sua
infância, onde ainda não tinha sido diagnosticada com dislexia, e que misturava as
cores, “(...) na infância eu misturava as cores sem sentido e a resposta de meus
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professores era escura, só que depois, agora com 19 anos eu vejo que já sei como
fazer”.
Na segunda tentativa fez uma relação com sua adolescência e pintou a
máscara de preto, por cima do colorido, mas o resultado também não a agradou,
quando na terceira tentativa, em sua concepção, o resultado foi satisfatório.
Ilustração 36: A finalização da máscara de J.O.– Psicologia, depois das três tentativas
Ilustração 43: Aluna de Psicologia foi a única que pintou a máscara por dentro
E a opção por cores escuras também tem sua simbologia explicada. Como o
marrom que lembra a fertilidade do solo e o preto que é a cor da escuridão, do mal,
da morte, do mistério e também é a cor do deus Saturno, que representa o
inexorável desenrolar do tempo. Na atividade das máscaras, o preto aparece muito
dividindo espaço com o branco, uma mistura de vazio e cheio, bem e mal. “O preto
está associado àquilo que não pode ser visto, que está além da percepção, como o
lado escuro da lua. É um símbolo apropriado para o inconsciente ou para a perda da
consciência”, como teoriza Fincher (1991, p.55).
As imagens que aparecem na atividade são variadas, algumas rebuscadas
com tantas informações e outras com desenhos fortes, centrais e com
posicionamento escolhido conscientemente. Fincher (1991) também explica alguns
desenhos corriqueiros que aparecem nas mandalas que ele estuda e que aqui
selecionei os desenhos que mais aparecem nas máscaras:
- Animais: geralmente simbolizam os aspectos distintivos, não-racionais ou
inconscientes do ser. De todos os animais, o cão é o que está mais intimamente
ligado com o ser humano. Seu relacionamento estreito com o homem tornou-se um
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para Jung, o conto de fadas libera arquétipos que residem no inconsciente coletivo; e,
quando lemos um bom conto de fadas, estamos obedecendo ao antigo preceito “Conhece a
ti mesmo”.
As Crônicas de Nárnia, p.745
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Produção: Antonio Sagrado e Raul Perez. Roteiro: Tiago Marinho. Música: Eduardo
Marsson. Brasil: Despertar Filmes, 2014, 78 min.
PINK Floyd – The Wall. Direção: Alan Parker. Produção: Alan Marshall. Intérpretes:
Bob Geldof, Christine Hargreaves, Eleanor David, Alex McAvoy, Bob Hoskins e
outros. Roteiro: Roger Waters. Música: Robert Erzin, Pink Floyd. Reino Unido:
Metro-Goldwyn-Mayer, c1982. 1 DVD (95 min), widescreen, color. Produzido por
Alan Parker. Baseado no álbum The Wall, da banda Pink Floyd.
TAARE Zameen Par – Every Child is Special. Direção: Aamir Khan. Produção:
Aamir Khan. Interpretes: Aamir Khan, Darsheel Safary, Tanay Cheda, Sachet
Engineer, Tisca Chopra, Vipin Sharma e outros. Roteiro: Amole Gupte. Música:
Shankar Ehsaan Loy. India: Bollywood, c2007. 1 DVD (165 min), widescreen, color.
Produzido por Aamir Khan Productions.
THE MASK, Direção: Chuck Russell Produção: Bob Engelman, Interpretes: Jim
Carrey, Cameron Diaz, Peter Greene e Amy Yasbeck Roteiro: Mike Werb, Música:
Randy Edelman EUA, 1994. 1 DVD (97 min), widescreen, color.
WORDS and Pictures. Direção: Fred Schepisi. Produção: Gerald Di Pego e Fred
Schepisi. Roteiro: Gerald Di Pego. Intérpretes: Clive Owen, Juliette Binoche, Valérie
Tian, entre outros. EUA: Lascaux Films, 2013, 1h56min, colorido, longa-metragem.
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