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RESUMO
O convívio mais próximo do homem com animais, em especial as aves, traz consigo algumas
questões a serem levantadas. Dentre essas questões, encontram-se as zoonoses. As principais
zoonoses transmitidas tanto por aves de produção quanto por aves silvestres ao homem são de
fundamental importância para a saúde pública e por isso devem ocupar lugar de destaque nesse
contexto. Podemos dividir as principais doenças zoonóticas transmitidas por aves nos seguintes
grupos: zoonoses víricas, fúngicas e parasitárias. Em cada grupo é possível encontrar patógenos
de alta virulência, assim como também microrganismos menos virulentos. No entanto, todos
esses agentes etiológicos são dignos de consideração e principalmente atenção, visto que, pessoas
que se apresentam imunodeprimidas são susceptíveis a zoonoses, muitas vezes classificadas de
baixo risco à saúde humana. Com isso, torna-se essencial ressaltar a importância do conhecimento
sobre a existência destas enfermidades zoonóticas aviárias visando desta forma, uma convivência
harmoniosa entre humanos e aves.
Palavras-chave: Enfermidades. Transmissão. Humanos. Saúde pública.
ABSTRACT
The closest contact with animals, especially birds, brings some questions to be raised.
Between these points are zoonoses. The main zoonoses both poultry production, and by wild
birds to humans are of fundamental importance to public health and therefore should occupy
a prominent place in this context. We can divide the main zoonotic diseases transmitted by
birds in the following groups: zoonoses viral, fungal and parasitic. In each group it is possible
to find high virulence pathogens, as well as microorganisms less virulents. However, all of
these etiological agents are worthy of consideration and attention especially since people
which present immunocompromised are susceptible to zoonoses often classified as low risk to
human health. Thus, it is essential to support the importance of knowledge about the existence
of these avian zoonotic diseases aiming this way, a harmonious coexistence between humans
and birds.
Keywords: Sicknesses. Transmission. Human. Public health.
Ana Caroline Doyle Torres – Mestranda em Ciência Animal com ênfase em Doenças das Aves na Universidade
Federal de Minas Gerais.
Natália Siqueira D’Aparecida – Residente em Saúde Pública com Ênfase em Interface Saúde Humana e Silvestre
na Universidade Federal de Minas Gerais.
Dionei Joaquim Haas – Doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais.
INFLUENZA AVIÁRIA
A influenza aviária é causada por vírus da família Orthomyxoviridae (MORI;
FERREIRA; FLORES, 2012). Esta família abrange cinco diferentes gêneros: influenza
tipo A, B, C, Isavirus e Thogotovirus. Apenas o vírus influenza tipo A apresenta RNA
segmentado, assim como caráter zoonótico importante, podendo acometer humanos,
aves, suínos e equinos (PALESE; SHAW, 2007).
A influenza é a principal doença respiratória humana e um dos principais problemas
de saúde pública no mundo inteiro, além de ser uma importante causa de perdas
econômicas em animais de produção (MORI; FERREIRA; FLORES, 2012). O vírus da
influenza aviária (VIA) é um microrganismo muito adaptável e tem sido capaz de infectar
e se adaptar a uma vasta gama de hospedeiros (OLSEN, 2006). O VIA apresenta tropismo
respiratório, entérico ou nervoso tanto em aves silvestres como em domésticas (MORI;
FERREIRA; FLORES, 2012).
A transmissão de VIA da ave infectada para a ave susceptível ocorre principalmente
a partir das narinas, boca, cloaca e conjuntiva para o ambiente, uma vez que a replicação
viral ocorre no trato respiratório, intestinal, renal e reprodutivo (MARTINS, 2001). As
aves de vida livre podem transmitir diretamente a infecção ao compartilharem de forma
inadvertida o mesmo ambiente de criação (MARTINS, 2001). O período de incubação
de VIA em aves é variável, pois depende da espécie de ave, estirpe de vírus, dose de
desafio e via de infecção (EASTERDAY; HINSHAW; HALVORSON, 1997). O vírus é
excretado durante o período da doença clínica e por um tempo variável após a recuperação,
sendo que em frangos este período pode se estender por até trinta e seis dias após a
infecção (MORI; FERREIRA; FLORES, 2012). Os sinais clínicos são consequências
de alterações geralmente nos sistemas respiratório, digestório, nervoso e reprodutivo,
com decréscimo do consumo de alimento e produtividade (ganho de peso e produção de
ovos), emagrecimento, quadro respiratório de leve a grave, com lacrimejamento, edema
DOENÇA DE NEWCASTLE
Todas as estirpes do vírus da Doença de Newcastle (DNC) pertencem à Ordem
Mononegavirales, Família Paramyxoviridae e gênero Avulavirus, e estão contidos em um
sorotipo conhecido como Paramixovírus Aviário sorotipo 1 (APMV-1) (ALEXANDER;
SENNE, 2008). É um vírus capaz de infectar mais de duzentas e quarenta espécies de
pássaros e que se espalha principalmente através do contato direto entre aves infectadas e
aves saudáveis (KALETA; BALDAUF, 1988). A doença de Newcastle é um dos principais
problemas sanitários da avicultura industrial, em virtude das grandes perdas econômicas
que ocasiona (PAULILLO; DORETTO, 2000). A doença de Newcastle é uma zoonose,
pois o homem se contamina pelo contato direto com materiais infectados e nunca foi
relatada a contaminação de uma pessoa para outra (SESTI, 2001). Esta zoonose é pouco
frequente, ocorrendo geralmente em funcionários de frigoríficos de aves, laboratoristas
CRIPTOCOCOSE
A criptococose é uma doença causada pelo fungo Cryptococcus neoformans
(PASQUALOTTO; SCHWARZBOLD, 2006). A criptococose é uma zoonose oportunista,
causada por uma levedura capsulada encontrada no solo, frutos, vegetais em decomposição e
nas fezes das aves, principalmente pombos, e raramente morcegos (OLIVEIRA et al., 2008).
Essa micose é capaz de acometer o homem, alguns mamíferos domésticos, como
cães e gatos, mamíferos silvestres como furões e coalas, e algumas aves como pombos e
psitacídeos (LESTER et al., 2004). Antes de 1981, a criptococose era uma doença rara e,
já no início dos anos 90, tornou-se epidêmica em algumas regiões. Com o surgimento da
síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS), na década de 80, a criptococose deixou
de ser rara, passando a ocupar o quarto lugar entre as doenças infecciosas (BORGES
et al., 2006). O comprometimento da resposta imune é o principal fator predisponente
para a ocorrência da doença, sendo os pacientes com doenças imunodepressoras como
AIDS, neoplasias linfoproliferativas ou sarcomas, sob tratamentos imunossupressores ou
transplantados, os mais suscetíveis à doença. (BIRCHARD; SHERDING, 1998).
Este microrganismo possui tropismo pelo sistema nervoso central, produzindo
lesões em particular nas meninges e nos sistemas respiratório e tegumentar (BERCHIERI;
HISTOPLASMOSE
A histoplasmose, causada pelo fungo dimórfico Histoplasma capsulatum, é uma
micose sistêmica considerada endêmica além de apresentar comportamento oportunista
em pacientes com baixa resposta imunológica. Este patógeno pode ser encontrado em
solo contendo fezes de aves e de morcegos contaminadas, podendo persistir no ambiente
por longos períodos. Essa doença é de ocorrência mundial e no Brasil, casos esporádicos
têm sido relatados principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito
Santo, Mato Grosso e Minas Gerais (FERREIRA; BORGES, 2009).
A transmissão ocorre através da inalação de microconídios presentes em solos
contaminados com excrementos de aves e/ou morcegos, podendo ocorrer em cavernas,
grutas, celeiros, galinheiros e florestas. Devido à sua alta temperatura corporal, as aves não
albergam o fungo, no entanto os morcegos podem ser portadores crônicos e excretarem
formas viáveis nas fezes (CAROL; KAUFFMAN, 2009).
Algumas atividades como construção, reforma, demolição, turismo ecológico,
acampamento, agricultura e avicultura, por exemplo, favorecem a exposição do ser
humano ao H. capsulatum. O risco de infecção relaciona-se com a atividade desenvolvida
pelo indivíduo, com o tempo e a frequência da exposição ao fungo em ambientes
potencialmente contaminados, assim como com a carga fúngica, a virulência do patógeno
e com o perfil genético e imunológico da pessoa. Supõe-se que períodos mais longos
TOXOPLASMA GONDII
A toxoplasmose é causada pelo Toxoplasma gondii, parasito pertencente ao reino
protista, filo Apicomplexa, ordem Eucoccidiida e família Sarcocystidae (LEVINE,
1985). T. gondii é um protozoário de ciclo de vida facultativamente heteroxeno e infecta
virtualmente todos os animais de sangue quente, incluindo humanos, mamíferos marinhos
e espécies aviarias entre outros animais (DUBEY et al., 2008), além de ser um parasita
intracelular obrigatório (HIRAMOTO, 2001).
Aves domésticas (Gallus gallus domesticus) são consideradas um dos hospedeiros
mais importantes na epidemiologia de T. gondii, pois são uma fonte eficiente de infecção
para os gatos e também podem servir de fonte de infecção para seres humanos através
do consumo de sua carne mal cozida contendo cistos (DIAS; FREIRE, 2005; DUBEY
et al., 2008).
A enfermidade tem grande importância na saúde pública e acredita-se que cerca
de 500 milhões de pessoas em todo mundo apresentam reação sorológica positiva para
o parasito (MAROBIN; FLORES; RIZZATI, 2004). A toxoplasmose é prevalente em
muitas áreas do mundo, sendo considerado como a mais cosmopolita de todas as zoonoses
(SILVA; CUNHA; MEIRELES, 2003). A infecção por T. gondii pode causar aborto em
mulheres grávidas ou doença grave em fetos e em indivíduos imunocomprometidos como,
por exemplo, portadores do vírus HIV (MONTOYA; LIESENFELD, 2004).
REFERÊNCIAS
ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre
y a los animales: Parasitosis, Washington, 3.ed., v.3, p.88-99, 2003.
ALEXANDER, D. J. Newcastle disease, other avian paramyxovirus and pneumovirus
infections In: SAYF, Y. M. et al. Diseases of poultry. Iowa State University Press, 11.ed.,
p.63-99, 2003.
ALEXANDER, D. J.; SENNE, D. A. Newcastle disease, other avian paramyxoviruses,
and pneumovirus infections. In: SAIF, Y. M.; FADLY, A. M.; GLISSON, J. R.;