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1.

Malthus acreditava na moral do homem, entretanto, seu sistema valorativo é


socialmente construído em cima de conceitos pertencentes às classes abastadas
da sociedade, em especial, daquela dos proprietários de terra. Diante disso, o
argumento social e econômico utilizado pelo autor – sim, existem os dois
aspectos em sua exposição - para explicar a causa da pobreza está contido em
sua ‘Teoria da População’, em que Malthus atribui às ‘Leis inevitáveis da
Natureza’ toda pobreza e sofrimento humanos. É importante salientar alguns
pontos que o autor utiliza como centro por onde gravitam os demais itens que
compõem seu sistema argumentativo, são eles:
a) O princípio do amor-próprio
“...esta sociedade – constituída com a forma mais bonita que
pudesse ser concebida pela imaginação, com a benevolência como
princípio norteador, em vez do amor-próprio, e com toda a
inclinação para o mal de seus membros, corrigida pela razão e não
pela força – logo se degeneraria, pelas leis inevitáveis da natureza e
não por qualquer depravação inerente ao homem, transformando-se
em uma sociedade construída com base num plano que seria
essencialmente diferente do que prevalece em todo estado então
conhecido; quer dizer, uma sociedade dividida numa classe de
proprietários e numa classe de trabalhadores e com o amor-próprio
como mola propulsora da grande máquina.” (Ibid., p.144)
b) A crença de que a pobreza e o sofrimento eram o destino
inegável da maioria da população
“Parecia que, pelas leis inevitáveis da natureza, alguns
seres humanos teriam que passar necessidade. Estas são as
pessoas infelizes que, na grande loteria da vida, tinham tirado um
bilhete em branco.” (Ibid., p.143.)

“Nenhum possível sacrifício dos ricos, particularmente


em termos monetários, poderia evitar a volta da miséria dos
membros de nível mais baixo da sociedade, quem quer que eles
fossem.” (Malthus. Segundo Ensaio. 2 :39.)

Os dois argumentos acima tangem aspectos sociais utilizados por Malthus


na Teoria da População. Ademais, no que se refere às causas econômicas - no
sentido de que a “economia é acima de tudo um estudo do comportamento das
pessoas diante a escassez” (TAYLOR, 2008.) – o autor defende a ideia de que a
população cresce um PG enquanto a produção de alimento cresce em PA. Diante
disso, a escassez tornasse uma consequência da alta taxa de natalidade, e mais,
afirmava que a população de qualquer território era limitada pela quantidade de
alimento, sendo assim, a fome seria um recurso de contenção populacional
necessário.

“Portanto, pode-se afirmar com segurança que a população, quando


incontida, aumenta em progressão geométrica, de modo a duplicar-se a cada vinte
e cinco anos.” (Ibid., p.238.)
“Pelas leis naturais relativas à capacidade de um território limitado, os
acréscimos que podem ser conseguidos na produção de alimentos, em períodos
iguais, têm que ser, à curto prazo, constantemente decrescentes – o que realmente
acorreria – ou, na melhor das hipóteses, podem permanecer estacionários, de modo
a aumentar os meios de subsistência apenas em progressão aritmética.” (Ibid., p.
242)

2. Malthus acreditava que todas as pessoas eram impelidas por desejo quase
insaciável de prazer sexual e que, por isso, as taxas de reprodução, quando
incontidas, levariam a aumentos em progressão geométrica da população;
especificamente, a população duplicaria a cada geração. Tendo em vista que a
população de um território era limitada pela quantidade de alimento e embora
estivesse consciente de que, com mais trabalho e melhores condições de produção
os seres humanos poderiam aumentar o nível de produtividade, o autor entendia que
os aumentos na produção de alimentos conseguidos em cada geração seriam cada
vez menores, em determinado território, sendo que, na melhor das hipóteses,
aumentaria em progressão aritmética. (E. K. Hunt. p. 95.). Entretanto, não há dados
quantitativos que comprovem historicamente tais afirmações.

3. A Lei da População de Malthus pode ser fortemente observada como


elemento compositor da Lei dos rendimentos decrescentes e na Teoria do fundo do
salário. A lógica de entendimento desses dois estudos econômicos parte sempre da
variação do elemento/insumo, nessa situação, mão-de-obra e, por isso, a Lei da
População fundamenta os mesmo.
A lei dos rendimentos decrescentes, basicamente, nesse caso, é uma
teoria que expressa a relação econômica da utilização de unidades adicionais de
trabalho. Segundo a lei, o produto marginal de um fator de produção reduzir-se-á
conforme o aumento da quantidade utilizada desse fator. Por exemplo:

Desse modo, a crescente massa de trabalhadores - formada de acordo com a


Lei da População – não significaria, necessariamente, maior produtividade.
Já em a Teoria do fundo de salário, a lei malthusiana atua de maneira a
determinar o salário do trabalhador: "Os salários dependem sobre tudo da procura e
da oferta de mão-de-obra, ou então, como se diz com frequência, da proporção
existente entre a população e o capital. Por população entende-se aqui somente o
número de trabalhadores, ou melhor, aqueles que trabalham como assalariados; e
por capital, somente o capital circulante, e nem sequer este em sua totalidade, se
não apenas a parte gasta no pagamento direto da mão-de-obra. (...). Os salários,
sob o domínio da concorrência, não podem aumentar a não ser em razão de um
aumento do conjunto de fim dos empregados para contratar trabalhadores ou em
razão da diminuição do número daqueles que competem por emprego; não podem
baixar a não ser porque diminuem os fundos destinados ao pagamento da mão-de-
obra ou porque aumenta o número de trabalhadores a serem pagos" (Mill, 1982,
p.287).
Ainda na análise da lei do fundo dos salários: “A lei malthusiana da
população continuava, pois, presente na teoria do fundo de salários, ainda que de
modo menos dogmático: admitia-se que a taxa de salários se determinaria segundo
uma proporção variável entre capital e população e não mais num só nível de
equilíbrio definido pelo custo de produção da força de trabalho.” (S. H. Campos,
1991, p.138).

4. Os obstáculos preventivos e os obstáculos positivos são mecanismos de


controle populacional, segundo Malthus: “Os controles preventivos reduziam a taxa
de natalidade; incluíam a esterilidade, a abstinência sexual e o controle de
nascimentos. Os controles positivos aumentam a taxa de mortalidade; incluíam a
fome, a miséria, as pragas, a guerra e o controle final e inevitável a morte pela
fome. A população era sempre controlada pela combinação destes controles, para
ficar dentro dos limites da oferta disponível de alimentos. Se os controles
preventivos fossem inadequados, os controles positivos seriam inevitáveis e, se
houvesse uma insuficiência de doenças, guerras e catástrofes naturais, a morte pela
fome sempre controlaria o crescimento da população.” (E. K. Hunt, p.95)

5 A lei da população de Malthus embasa a teoria da determinação dos


salários dos clássicos no que se refere à variação de oferta e demanda da mão-de-
obra disponível no cenário mercadológico em determinado tempo e espaço.
“Duas ideias principais dominaram o pensamento da escola clássica no que
se refere aos salários: o princípio malthusiano da população acompanhado do
conceito de salário natural sobre o qual se assenta a teoria do salário de
subsistência, e a tese do fundo salarial, que originou a teoria do fundo de salários.”
(S. H. Campos, 1991, p.133).
- A teoria do salário de subsistência admite a existência de um salário
natural, de caráter biológico-histórico, e um salário de mercado, o qual varia em
função das condições do mesmo. De modo que, o preço natural do salário deva
sempre igualar-se ao preço de mercado do salário, cabe aos mecanismos de ajuste
regular tal situação de equilíbrio, sendo que tais mecanismos obedecem aos
princípios malthusianos da lei da população.
“Como se sabe, o mecanismo de ajuste aceito por Ricardo assenta na lei
malthusiana da população, a qual enfatiza a associação positiva entre população e
meios de subsistência ou entre as taxas de salários reais e a taxa de crescimento
demográfico. Ou seja, em condições competitivas: a) se o salário de mercado
excedesse o natural, haveria um incremento na população, com a consequente
redução da taxa de salário ao nível de subsistência em virtude da elevação da
oferta de mão-de-obra; b) no caso contrário, de salário de mercado inferior ao de
subsistência, ocorreria uma inversão na sequência dos eventos; e c) quando os
salários se encontrassem exatamente ao nível natural, a população achar-se-ia
estacionaria, e a mão-de obra seria substituída apenas de uma geração para outra.
Ficava, pois, caracterizada uma situação em que salários e população atuavam
como forças equilibrantes.” (S. H. Campos, 1991, p. 134)
"Era um caso de equilíbrio mecânico: como o pêndulo de um relógio,
qualquer afastamento da posição 'normal' poria em ação forças que o trariam de
volta à posição 'normal'. As coisas poderiam levar algum tempo para reassumir o
equilíbrio — o 'preço de mercado' flutuaria por algum tempo em tomo do 'preço
normal' — mas, volvido um lapso suficiente, o equilíbrio se restauraria.’’ (Dobb,
1977, p. 98)
- A teoria do fundo do salário, dentre seus pressupostos, infere que no longo
prazo, os salários seriam regulados pela evolução da população trabalhadora, bem
como pelo ritmo de acumulação do capital. Diante disso, a única esperança de
melhora para a classe trabalhadora residia, como escreve Dobb (1977, p. 104), "(...)
em limitar o tamanho das próprias famílias e concorrer para aumentar a
prosperidade dos patrões".

6. O desemprego involuntário nada mais é que a indisponibilidade de empregos


àqueles que têm aptidão suficiente para adentrar ao mercado de trabalho. Para Thomas
Robert Malthus, essa indisponibilidade não era uma realidade propendida pela escassez
mercadológica dos empregos ou por algo que dissesse respeito ao sistema capitalista. Mas
sim pela incapacidade moral preexistente nas mentalidades dos trabalhadores que se
alinhava aos desejos sexuais destes e promoviam o alto índice de natalidade das nações.
Como consequência, a concorrência por empregos aumentava de uma forma tal que o
desemprego involuntário se fazia valer na realidade.
Mais tarde, outro economista político de alta importância, David Ricardo, levanta o
seguinte questionamento: até que ponto a utilização de maquinário impele ao trabalhador
um elevado índice de desemprego? É uma pergunta que beira a afirmação, uma vez que a
substituição da mão de obra dos trabalhadores por máquinas foi, sim, uma das causas do
desemprego involuntário.
Entretanto, apesar dessa observação de Ricardo, pouco se foi dito sobre a condição de
vida do trabalhador bem como muito pouco se foi feito para que se alargassem políticas
de cunho humanista que buscassem a integração dessa classe – a dos trabalhadores – a
uma realidade diferenciada. Diferente disso, o que se viu foi a tentativa dos proprietários
(tantos os de terra quanto os de capital) de conservar determinados privilégios, tais como
o direito à vida ou o direito ao bem-estar.

7. De acordo com Malthus, sim, os trabalhadores controlam sua oferta de trabalho no


mercado de trabalho. A explicação para isso está na lei populacional desse autor; segundo
ele, é por conta do crescimento exacerbado da população que os empregos existem ou
inexistem. Por extensão, as fontes de sobrevivência da população também existem de
acordo com a quantidade da população das nações.
Partindo para a análise dos clássicos e dos neoclássicos, a justificativa é outra. Para
eles, o trabalhador não é quem define os índices de existência de trabalho. Quem
determinará essa condição é o nível de liberdade econômica existente nas nações. Em
outras palavras, o mercado, os empregos e a divisão do trabalho são condicionados pela
escolha do Estado em interferir na situação econômica dos países.

8. A redistribuição da renda seria, para Malthus, a melhor maneira de acabar com a


crise de superprodução. A classe dos proprietários de terra seria aquela escolhida para
receber mais renda.
O mais cômico dessa solução é o fato de que esse autor era contra a redistribuição de
renda para a classe dos trabalhadores, porque nada mais justo, belo e bom do que ver
essa classe amoral e depravada passar fome e enfrentar o sofrimento em vida.

9. O texto base para a produção desse trabalho foi escrito pelo autor E. K. Hunt.
Segundo ele, a principal causa para que Malthus não tenha considerado a ideia redistribuir
renda aos trabalhadores era um suposto preconceito classista que o impingia a acreditar
que tal classe não seria capaz de reutilizar essa renda da maneira adequada. Outro ponto
importante para esse argumento era a famigerada amoralidade do proletariado.
A redistribuição destinada a burguesia não seria possível por conta do funcionamento
dessa classe, isto é, pelo fato de que os burgueses tendiam a acumular seu capital e não o
investir de maneira exacerbada. Sendo assim, a superprodução continuaria por ser um
problema, uma vez que os burgueses não consumiriam bens o bastante para acabar com a
crise.

10. A maior peculiaridade dos proprietários de renda é a ociosidade. Por conta dela os
proprietários podem ostentar um status de consumo diferenciado quando comparado
com outras classes. Segundo Malthus, é por conta disso que eles acessariam os ditos
“serviços pessoas” – desde Arte até o trabalho dos criados, ou até mesmo o financiamento
de universidades e instituições culturais. Como consequência disso, ocorreria uma segunda
redistribuição da renda, uma vez que esses “servidores” não eram produtores de bens
materiais, mas recebiam dinheiro pelos serviços prestados.
Além disso, Malthus afirmou que, sem dúvida, os proprietários de terra compunham a
classe daqueles que exerciam a superioridade cultural, econômica e política. Se fosse
verdade, por que não deixar que eles resolvam a situação crítica da nação? Seria óbvio,
então, que essa classe poderia livrar toda a humanidade de todo o mal que devastava a
economia das nações superprodutivas da Europa.
Mas Ricardo não concordava com Malthus, e contra-argumentou dizendo: “um grupo
de trabalhadores improdutivos é tão necessário e útil para a produção futura quanto um
incêndio que destrua, nos depósitos do fabricante, as mercadorias que teriam sido, de
outra forma, consumidas por aqueles trabalhadores improdutivos…”
11. Na advertência sobre a terceira edição do livro “Princípios de Economia Política e
Tributação”, David Ricardo afirma: “nesta edição eu procurei explicar mais completamente
que na anterior minha opinião sobre o difícil tema do valor”. No final do quarto capítulo do
livro “A Riqueza das Nações”, Adam Smith adverte o leitor para a dificuldade do tema que
vem a seguir. Como se pode presumir, o tema o qual se refere Smith também é valor.
Sendo assim, o que se pode dizer de antemão é que a complexidade do tema foi algo que
permaneceu inconteste por um bom tempo. Ademais, muitos economistas tentaram dar
fim a essa discussão. E isso acaba por nos demonstrar o nível de relevância do assunto.
Portanto, não é em vão que Ricardo tenha se utilizado da obra de Smith para pautar
seus pensamentos no que diz respeito ao tema supracitado. Entretanto, não se utiliza
dessa obra a fim de concordar com ela, ou reverenciá-la, mas a revisita com a intenção de
avalia-la, critica-la e, sobretudo, desenvolve-la.
Na primeira oportunidade de dizê-lo, Ricardo procura conceituar o que é valor:

“O valor de uma mercadoria, ou seja, a quantidade de qualquer outra pela


qual pode ser trocada, depende da quantidade relativa de trabalho necessário para sua
produção, e não da maior ou menor compensação que é paga por esse trabalho”.

Dirá, além disso, que não é a utilidade dessa mercadoria que delimitará o seu valor de
troca. Mas é essencial que essa mercadoria possua um mínimo de utilidade, caso contrário
não teria nenhum valor de troca. Mas é a partir do trabalho contido em uma mercadoria –
sendo que toda mercadoria pode ser chamada de “trabalho contido” – é que se delimita o
valor de troca desta.

12. Demarcada a utilidade da mercadoria, há uma cisão concernente àquilo que


influencia seu valor de troca: em primeiro lugar, a sua própria escassez. Em segundo, a
quantidade trabalho exigida para obtê-los.
Uma maneira direta e rápida de demonstrar a influência da escassez é exemplificando:
estátuas, livros, quadros raros, moedas escassas, vinhos de qualidade peculiar. Esses são
alguns exemplos citados em Princípios. O valor dessas mercadorias é delimitado, portanto,
única e exclusivamente pela sua escassez. É a partir dela que seu valor é demarcado.

13. A principal fonte do valor de troca é o trabalho. Naturalmente, o valor de troca


surge da produção da mercadoria, ainda que sofra influência, também, da circulação de
mercadorias.

14. O trabalho indireto é toda a tecnologia material necessária para a produção dos
bens mercadológicos. O termo é assim denominado pelo fato de que o preço de custo para
a compra dessas tecnologias é fundamentado no valor-trabalho contido nelas. Assim
sendo, o valor de troca também é influenciado pelo trabalho indireto.
O trabalho direto, por fim, é o trabalhado contido na mercadoria que está sendo pelas
máquinas, pelas ferramentas e pelos trabalhadores. Em outras palavras, pode-se dizer que
o trabalho direto é aquele que está sendo despendido no momento em que, aquele que as
máquinas, as ferramentas – que representam o trabalho indireto – estão a produzir.
A produtividade só pode existir, portanto, pela existência da potencialidade do
trabalho. Não obstante tal fato, outros fatores são considerados elementares para a
produção de mercadorias: os recursos naturais e o capital. Sem a condição dos recursos
naturais – as matérias-primas, por exemplo – não existe produtividade, produção em série,
mercado etc. Assim como não existe mercado se não houver capital. Sendo assim, torna-se
possível afirmar que os condicionantes do valor são, em ordem crescente de importância:
o capital, a matéria-prima e o trabalho.

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