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2.

A DIMENSÃO DA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA E O SERVIÇO SOCIAL

Uma primeira reflexão necessária a ser feita, no âmbito da Política de Educação, é


qual o entendimento desta Política e a apreensão de sua concepção enquanto direito, que
compõe a rede de proteção social e que deve ter no Estado sua maior referência de garantia
e proteção para os cidadãos brasileiros.
A partir dessa referência, faz-se necessário compreender como, hoje, a Política de
Educação se organiza e como tem se efetivado o direito ao acesso a uma educação que deve
ser ofertada como, prioritariamente, pública, gratuita e de qualidade.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), n. 9.394/1996 organiza os
níveis de educação como educação básica e superior. A LDBEN, enquanto principal
parâmetro para o desenvolvimento da Educação explana acerca do preceito legal do artigo
5º da Constituição Federal de 1988, que é direcionado pelo dever em preparar as pessoas
para o exercício da cidadania, primando pelo seu desenvolvimento pleno e pela qualificação
para o trabalho.
Quando o Serviço Social se depara com tal referencial, há uma necessidade
primordial em se identificar qual o entendimento acerca da Educação por parte desta
categoria profissional.
A perspectiva teórica e metodológica que predomina na profissão, a partir do seu
Projeto Ético-Político Profissional (PEP), propõe a leitura da realidade social a partir de uma

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perspectiva de totalidade que apreende o movimento contraditório do real e compreende
sua determinação a partir do embate capital e trabalho, que constitui a questão social
(campo da intervenção da profissão).
O entendimento simples da Educação apenas para o trabalho não supera a
imediaticidade do cotidiano educacional. É necessário então que se amplie plenamente a
noção do exercício da cidadania e a noção de trabalho, ou seja, o meio pelo qual o indivíduo
se tornaria capaz de desenvolver suas potencialidades, conseguindo então satisfazer suas
necessidades enquanto ser social.
Não há como pensar a Educação sem tais pontuações, definir o direcionamento social
e político que se apropria para o desenvolvimento do trabalho profissional é um exercício
diário do assistente social, para que no espaço de (re)produção (no âmbito das relações
sociais) ele possa ampliar espaços de afirmação de direitos e contribuir com espaços de
desenvolvimento de potencialidades dos indivíduos sociais.
Pois, “[...] para pensar a educação é preciso tomar a realidade na perspectiva de
totalidade, compreender que as diferentes dimensões que compõem a vida social mantêm
com o trabalho uma relação de dependência ontológica, mas também de autonomia, de
mútuas determinações.” (CFESS/CRESS, 2013, p.17).
Outra questão de extrema importância a ser destacada é o entendimento da Política
de Educação no âmbito da proteção social, como integrante do conjunto dos direitos sociais
que constitui base para uma vida digna. A noção da proteção social, tendo a primazia de
garantia no Estado, amplia e qualifica a noção de público, não reduzindo à apenas as pessoas
em situação de vulnerabilidade social, mas com o seu caráter universal para todos os
cidadãos. Tal consideração é necessária, pois “Na contemporaneidade, público e para
pobres vêm se tornando sinônimos, com forte carga ideológica que mascara
responsabilidades do Estado, impõe aos indivíduos papel de protagonista de sua vida,
descolando-o da noção de história e de parte da totalidade histórica, sem falar que isso
dificulta, na medida em que tem forte força de desmobilização coletiva das demandas
sociais.” (SILVA, 2012, p.37).
Entender a educação como direito social, qualifica a concepção dessa Política e
fortalece os espaços que viabilizam suas ações e serviços. Diante disso, a afirmação de
Educação não se reduz a escola e, portanto, não se deve dizer apenas o Serviço Social na

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escola, mas sim o Serviço Social na Educação, pois assim o trabalho profissional fica mais
bem delineado.
Faz-se necessário pontuar as diversas formas que a Política de Educação tem se
apresentado, com o intuito em atender especificidades e especialidades de demandas e
ampliar o acesso da população aos espaços educacionais, a Educação tem se mostrado
enquanto modalidade presencial, semipresencial e ensino a distância, contemplando suas
diversas dimensões como: Educação do Campo, Educação Especial, Educação Básica,
Educação Superior, Educação Profissional e Tecnológica, entre outras.
Sem adentrar em questões referentes às modalidades e suas dimensões, procurar-se-
á aprofundar a discussão no âmbito da Educação Profissional e Tecnológica que se encontra
em uma visível expansão e amadurecimento na oferta de espaços que têm possibilitado a
formação, sobretudo, técnica e tecnológica.

3. A REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: a construção e


(re)afirmação de espaços da intervenção profissional do assistente social

A Política de Educação, no cenário nacional, tem adquirido uma nova roupagem no


que diz respeito à Educação Profissional e Tecnológica.
A formatação e expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica,
legitimada com a publicação da Lei 11.892/08, com a criação dos Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia, juntamente com outros espaços, apresentam a da educação
profissional tecnológica enquanto política pública no Brasil.
Em 1909 inicia a trajetória da educação profissional e tecnológica no Brasil, com 20
instituições, com o intuito da oferta de uma educação voltada à qualificação do mercado de
trabalho. A expressividade da expansão dessa Rede se inicia no final do século XX,
sobretudo, nos mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que incorpora à Rede
214 novas unidades quando já havia 140 unidades. (MEC, 2011, p.73-75).
Os cursos ofertados são: nível técnico integrado, subsequente, concomitante,
licenciatura, superior em tecnologia e pós-graduação com o objetivo de “[...] fortalecer os
arranjos produtivos locais.” (MEC, 2011, p. 72).
Cabe uma ressalva no que se refere à Politica de Educação ofertada na Rede Federal.
Com a prioridade em atender a demanda de força de trabalho, no entorno onde se

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encontra, a redução da educação somente como trabalho é quase inevitável. Como parte de
uma política social seu caráter contraditório se torna ineliminável, mas não quer dizer que
não haja meios e espaços onde se possa trabalhar e fortalecer a Educação enquanto política
pública e como oportunidade de formação não para o trabalho prioritariamente, mas para a
vida, enquanto cidadãos.
Todas as ações devem ser associadas no tripé da educação
ensino/pesquisa/extensão, e pensadas em uma perspectiva da formação integral do
indivíduo contemplando suas dimensões: social, política, cultural e econômica.
É então que a inserção do assistente social nesse espaço começa a ficar mais
evidente e se legitima quando designado a ampliar e garantir a permanência estudantil no
espaço acadêmico. Esse profissional é capaz de dimensionar que cada estudante, com sua
particularidade, compõe uma realidade diversificada e complexa. Tal reflexão deve ser
realizada em todas as ações.
A materialização desse processo, que se encontra em leis e decretos, proporciona
indicações para o desenvolvimento de tais ações e neste sentido, o decreto n. 7.234/10 é um
importante exemplo, pois dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência Estudantil –
PNAES.
A política estudantil apresentada nesse decreto sugere uma série de ações que
buscam atender aos estudantes em suas diversas demandas e na sua totalidade. Porém,
enquanto política e com seus limites, essa totalidade acaba sendo atendida parcialmente.
Não que sejam irrelevantes as ações desenvolvidas no imediato, apenas não são suficientes.
A proposta é que cada Instituição disserte acerca da Política de Assistência Estudantil,
oferecendo programas que correspondam às seguintes áreas: moradia estudantil,
alimentação, transporte, atenção à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche, apoio
pedagógico e acesso dos estudantes com deficiências, transtornos e altas habilidades.
Diante dessas áreas vão se desenvolvendo programas para contemplar as demandas
e o Serviço Social encontra aquilo que ocupará a maior parte do seu cotidiano profissional,
os programas de auxílio estudantil, ofertados aos estudantes em situação de vulnerabilidade
social. Entretanto, é preciso um alerta, ainda que o processo de análise socioeconômica seja
uma ação do Serviço Social, o Serviço Social na educação não se reduz à Assistência
Estudantil e tampouco não se simplifica nos auxílios estudantis. A dimensão interventiva
desse profissional vai muito além.

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Porém com a grande demanda de estudantes nos espaços institucionais e com o
número reduzido de profissionais, tais definições se confundem. A demanda do auxílio
estudantil, desde o processo de elaboração, seleção até a concessão e acompanhamento
tem reduzido o Serviço Social ao Auxílio Estudantil.
Tal conclusão não tem a intenção de negar o papel do assistente social no auxílio
estudantil, mas ao se reduzir o campo de intervenção ao programa de auxílio estudantil,
dificulta, ao profissional do Serviço Social, trabalhar na perspectiva de ampliação de noção
de cidadania e acesso às ações que dizem respeito a todo o universo estudantil. O auxílio
estudantil é uma ação dentro da Política de Assistência Estudantil, devendo esta última
apresentar um caráter abrangente a todos (as) estudantes.
Como não podia ser diferente na história da profissão, a participação dos assistentes
sociais na construção dessa política tem sido expressiva, a noção que a profissão traz de que
é um processo a ser desenvolvido e amadurecido no desenrolar de suas ações, reconhece
que não cabe a uma profissão isolada assegurar a garantia, mas cabe a profissões, por meio
do Estado, lutar por uma garantia e qualidade dos serviços e ações.
A Política de Assistência Estudantil traz um caráter do trabalho interdisciplinar que
agrega todos os profissionais que compõem os espaços de assistência ao educando, a saber:
assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, assistentes de alunos, nutricionista, enfermeiros,
entre outros. A construção das diretrizes das ações deve ser pensada nessa perspectiva
interdisciplinar, pois, reforçando o que já foi dito, não compete a uma profissão isolada a
garantia das ações.
O Serviço Social, pensado assim, dentre suas atribuições no espaço institucional,
intervêm, necessariamente, no processo ensino-aprendizagem. Qualquer que seja a
interferência nesse processo, o profissional deve estar atento no intuito de facilitar e
fortalecer a permanência do estudante na Instituição. “É nessas relações sociais que o
assistente social pode contribuir para o trabalho do professor em sala de aula, já que a sala
de aula espelha muitos fenômenos sociais tornando-se por vezes um problema a ser
enfrentado pelo professor.” (SCHNEIDER, HERNANDORENA, 2012: p.73).
Porém, há outras relações que se encontram na dinâmica de vida do estudante que
também deve ter a atenção do assistente social, como por exemplo, as relações familiares,
relações com a comunidade escolar e sociedade. “[...] a inserção do Assistente Social na
educação pública constitui-se em uma das formas de garantir o exercício de cidadania ao

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aluno, refletindo em sua família, por meio da disponibilidade de atendimento e
acompanhamento individualizado, como também buscando a promoção da democracia
através da abertura de espaços de participação e envolvimento na realidade escolar.”
(SANTOS, 2012, p. 20).
A capacidade de articular a família e a comunidade escolar é muito presente no
trabalho profissional do Serviço Social. Conseguir trazer a família para dentro do espaço
institucional e estimular seu envolvimento é uma das possibilidades que a intervenção
profissão possui e que deve ser aproveitada na realidade educacional.
Identificar demandas presentes na sociedade, sobretudo, no entorno onde a
Instituição está presente, também é uma das ações que o assistente social pode
desenvolver, possibilitando através da pesquisa e extensão a aproximação da instituição à
realidade local. A participação em Conselhos locais, principalmente da Criança e do
Adolescente e Assistência Social, permitem uma melhor aproximação dessa realidade e
articulação com os serviços presente no município, estado e união.
O reconhecimento da diversidade presente na comunidade escolar é vital para o
desenvolvimento do trabalho profissional, a noção das configurações e historicidade das
famílias, não caindo em modelos de família e padrão familiar, não deve ser ignorada por
parte do profissional.
Não é o assistente social quem irá atender todas as demandas e realizar todas as
ações, porém, a identificação e articulação das demandas, sem dúvidas constituem
atribuições do profissional no espaço escolar.
A expectativa então que se cria sobre esse profissional é muito além do que sua
possibilidade de ação oferece, pois como dito, a demanda imposta no cotidiano profissional
nem sempre permite que se atendam todas as interfaces da intervenção profissional.
O acúmulo de trabalho, imposto pelos processos seletivos dos auxílios estudantis,
ocupa o cotidiano profissional de tal forma que até o processo de acompanhamento dos
estudantes, contemplados com o auxílio estudantil, que se encontra em situação de
vulnerabilidade social, não se torna possível e efetivo. A vulnerabilidade social não deve
apenas ser atendida com o repasse financeiro do auxílio, o acompanhamento aos estudantes
nessa situação é essencial para a complementariedade do trabalho profissional no Programa
de Auxílio Estudantil.

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Assim, o profissional se depara com o antagonismo das expectativas do fazer
profissional com as condições objetivas dadas a ele. Reconhecer o limite profissional é
essencial para que nos espaços onde ele possa fazer algo, as ações que consiga desenvolver
não sejam desprezadas, mas valorizadas. Isso ocorre porque há o movimento contraditório
imposto ao profissional que, por vezes, atua apenas na singularidade e não tem
possibilidades de desvendamento do imediato imposto no cotidiano o que dificulta uma
possível aproximação das particularidades.
Especialmente no espaço dos Institutos Federais, espaço público de oferta do direito
à educação, é preciso outros apontamentos. Por se constituir um espaço público, a estrutura
burocrática por vezes engessa e dificulta as ações.
Dentro da hierarquia estatal, a execução de proposta por vezes é morosa e foge do
alcance profissional. A ausência do profissional do Serviço Social no processo de construção
de políticas que deverão ser executadas pela equipe interdisciplinar dificulta o cotidiano
profissional e a visão das ações dentro de um processo maior - ligado a um Estado que se
ocupa em garantir a manutenção de uma realidade que amplie e fortaleça o
desenvolvimento do capital.
A incompatibilidade da definição de Educação por parte do Estado com a do Serviço
Social traz ao espaço de intervenção profissional sérios embates que dificilmente serão
superados, mas que também permitem avançar na afirmação de uma Educação que não vise
apenas à capacitação de certa força de trabalho para uma determinada ação, mas sim uma
Educação que vislumbre a construção de cidadãos para o mundo do trabalho, contribuindo
com a identificação e o sentido do trabalho que desenvolverão, e se, de fato, conseguem
satisfação com a atividade que realizarão.
Possibilitar a construção de cidadãos, além da superação do acúmulo de demandas
imposto ao profissional, é um dos maiores desafios colocados a essa categoria. Entretanto,
deve ser o foco do profissional, pois “[...] compreende-se que a inserção do Assistente Social
no contexto escolar pode-se constituir em um agente integrador para que através da
categoria participação, o profissional possa colaborar na construção de uma cultura de
pertencimento, de significação e envolvimento da comunidade escolar no cotidiano da
instituição educacional.” (SANTOS, 2012, p.25).
Duas ressalvas essenciais devem ser feitas: a primeira diz respeito da construção de
cidadãos. Quando se fala em cidadãos, é preciso remeter ao conceito de cidadania que diz

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diretamente da possibilidade de conhecimento e acesso a todos os direitos, na esfera do
direito a responsabilidade primeira de garantia, como já apontado, é do Estado. A total
efetivação da cidadania não é exercício de uma profissão. E a segunda é que embora com as
peculiaridades e atribuições do profissional, em nenhum momento da realização do trabalho
profissional ele está sozinho, pois os parceiros dentro da comunidade escolar são
indispensáveis para que se amplie o campo da intervenção profissional e a noção de
cidadania.
A urgência que se coloca para a profissão é a legitimidade do Serviço Social na
Educação, no universo educacional. Há ainda certa falta de conhecimento, por parte da
comunidade escolar, a respeito da definição da profissão e do diferencial e contribuição que
o profissional traz à Instituição.
É preciso que as atribuições sejam esclarecidas e definidas não por parte da demanda
institucional, mas do conhecimento do que é o trabalho profissional e sua dimensão e na
identificação da Educação e do espaço educacional que se insere.
Para articular suas demandas de trabalho à luz do PEP, com um direcionamento
político e social claro, sobretudo, desvelar a complexidade do cotidiano em que se insere, a
perspectiva de totalidade é fundamental e deve ser norteadora do trabalho profissional.
Não pode deixar de lado a origem da profissão e o que ainda a permeia, a questão
social. “Os problemas que pressionam os espaços educacionais agora desenvolvidos em rede
e na história, o que evoca a necessidade de, tanto na interpretação dos problemas como na
resolução deles, ser imprescindível encará-los através da compreensão da totalidade social.”
(SILVA 2012, p. 38). Não há como dissociar o Serviço Social da questão social, pois, “[...] é a
questão social que dá concretude ao Serviço Social.” (MOTA, 2010 p.45).
Essa dimensão deve ser destacada sempre quando se faz considerações a respeito do
trabalho profissional. Para que, primeiro, o profissional tenha a noção do seu limite
profissional e para que compreenda a complexidade em que se insere seu fazer profissional.
“A profissionalização do Serviço Social pressupõe a expansão da produção e de relações
sociais capitalistas, impulsionadas pela industrialização e urbanização, que trazem, o seu
verso, a questão social.” (IAMAMOTO, 2008, p.171, grifo do autor).
Lidar com o campo das políticas sociais, particularmente da política de Educação,
ocupar espaços que ampliem a permanência estudantil e possibilite o maior acesso de toda
população à educação, será sempre um desafio a ser superado no cotidiano profissional. O

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comprometimento de fato com o direcionamento político e social da profissão garante
então que se esclareçam os caminhos que o profissional deve seguir.
A clareza do limite profissional e do espaço em que se insere é crucial para que o
profissional de fato avance com aquilo que lhe é proposto, profissionalmente, e ainda
garanta seu lugar dentro do espaço institucional.

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