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0 Impacto das Idéias Humanistas, Fenomenolégicas e Existenciais na Psicoterapia José Paulo Giovanetti Friéeofo, doutor om Puicologis ¢ prof da UFMG I- Introdugio. I- As fontes da Psicoterapia Humanista-Existencial 2.1. Contexto histérico das fontes a) Humanismo individual b) Fenomenologia c) Existencialismo 2.2. As idéias-forgas de cada movimento a) Auto-Realizagao ) Teoria da Intencionalidade c) O conceito de Existéncia III - Impacto em Psicoterapias 3.1, A Escola Americana 3.1.1. Psicoterapia Humanista Existencial a) Terapia centrada na pessoa - Carl Rogers b) Psicoterapia Existencial de Carl Whifaker e Thomas Malone 3.1.2. Psicoterapia Fenomenolégica Existencial a) Psicoterapia Existencial de Rollo May ) Psicoterapia Experiencial de Eugene Gendlin 3.1.3. Terapias existenciais dos anos 80-90 3.2. A Escola Européia 3.2.1. Psicoterapia Fenomenolégica-Existencial a) Daseinsanalyse de Ludwig Binswanger b) Anilise Existencial de Medard Boss 3.2.2, Psicoterapias antropolégicas a) Logoterapia de Viktor Frankl a) Psicoterapia Antropolégica-fenomenolégica 3.2.3. Psicoterapia antropolégica dos anos 80-90 TV - Conclusio 41 I-INTRODUCAO Estamos assistindo a um ressurgimento das terapias ditas humanistas-existenciais. Pequenos grupos espalhados por varios lugares comegam a se organizar para satisfazerem seus estudos. Como exemplo deste revigoramento do que jé foi chamada a 3* forga da Psicologia em algumas décadas passadas, tivemos em setembro de 1993, o I? Congresso Brasileiro de Psicoterapia Existencial; setembro de 1994, a Segunda Conferéncia Internacional de Psicologia y Psiquiatria Fenomenoldgica; em outubro de 1994, [IP Encontro Latino Americano da Abordagem Centrada na Pessoa e, hoje, estamos iniciando o I? Encontro Mineiro de Psicologia Humanista, que tem como objetivo reunir reflexes de profissionais para que possam explicitar melhor as caracteristicas do ser humano, e, assim, compreenderem 0 homem como pessoa. O desafio diante do qual nos deparamos é de vermos agrupados sob 0 nome da Psicologia Humanista, ¢ mais especificamente, Psicoterapia humanista-existencial as mais diversas priticas de psicoterapias, algumas meras técnicas que nao tém nada a ver com a Psicologia Humanista ou Fenomenologica-existencial. Este desafio se manifesta de uma dupla maneira. Em primeiro lugar, seria necessério separarmos as priticas terapéuticas de orientaco humanista-existencial das meras priticas alternativas que se proliferam no mundo modemo. Em segundo lugar, dentro das priticas humanistas-existenciais, separamos as diversas orientagdes que, num primeiro momento, podem parecer iguais, mas apresentam fundamentacdes tedricas divergentes. © objetivo desta conferéncia, sem querer esgotar 0 assunto ¢ muito menos julgi-la completa, pretende tracar algumas linhas gerais das diversas terapias contemporineas ditas humanista-existenciais, a partir de suas fontes ¢ de suas idéias chaves, respondendo, assim, a0 segundo aspecto do desafio proposto. Para levarmos a contento o propésito estabelecido, dividiremos a exposigdo em dois momentos: a) Anilise das diferentes fontes do movimento psicoterapico humanista-existencial. b) Impacto destas idéias na pratica clinica denominada psicoterapia. II - AS FONTES DA PSICOTERAPIA HUMANISTA-EXISTENCIAL Para entendermos as diversas forgas que vio moldar as psicoterapias de cunho humanista- xistencial, comecemos por distinguir as idéias humanistas das idéias fenomenolégicas e das idéias existenciais. Em determinados momentos da historia, estas idéias se intercruzam, mas é necessério distinguirmos suas origens. 2.1. CONTEXTO HISTORICO DAS FONTES a) HUMANISMO INDIVIDUAL © conceito histérico-cultural de humanismo se refere & época do Renascimento e tinha como objetivo uma volta aos estudos dos autores classicos greco-latinos. Dessa maneira, a recuperacao dos grandes modelos de sabedoria do pensamento antigo possibilitava o crescimento do homem. Por outro lado, o humanismo, enquanto possuidor de um significado ideal, designa uma concepgdo do mundo e da existéncia que tem por centro o homem. Assim temos tantos humanismos quantas concepgdes de homem. E nesta perspectiva que devemos entender 0 movimento humanista que surgiu na sociedade americana e que foi responsivel pelo aparecimento da Psicologia Humanista que se apresentou como a terceira fora da Psicologia e como alternativa & psicandlise de Freud, que tinha como objeto de estudo o comportamento. A psicologia humanista é um retorno ao estudo da experiéncia consciente. “Esta psicologia Constitui-se em oposigdo a objetividade do behaviorismo, e, embora em acordo com a énfase subjetiva da psicandlise, opBe-se ao reducionismo do comportamento a defesas e pulsbes” (1). 42 O movimento cultural que sustentou esta transformago foi chamado por Gomes (1986) de Humanismo individual e “Sua historia esta associada com o desempenho da economia. Com a economia em ascenséo, decorrente das transformagdes sociais pés-guerra, valores tais como, independéncia, heroismo, dissidéncia, tolerdncia, permissividade, auto-expressio, ganham proeminéncia. Todo este movimento liberalizante e permissivo alcanga seu pico no governo Kennedy onde suas qualidades anunciam mudancas rapidas e significativas”(2) Nos assistimos a invasio da sociedade pelo Eu, onde tudo, a partir dos anos 60, se estruturou tendo nas preocupagdes pessoais seu lugar privilegiado. A lei, a seguir, formou-se depois da percepedo de que a politica ndo leva a nada: Sentir e viver plenamente suas emogies. O impacto desta maneira de viver pode se sentir também na psicologia e é descrita por Gomes assim: “Exemplos da atmosfera dominante podem ser vistas em frases que ficaram célebres como a oragdo da Gestalt: ‘Vocé cuide da sua vida que eu cuido da minha. Eu estou aqui para ndo viver as suas expectativas e nem voce estd aqui para viver as minhas”. Ou como Marlow (1968) costumava dizer que uma pessoa é valorizada no pelo que ela produziu mas pelo que pode vir a ser. Ou ainda, na teoria rogeriana da confianga irrestrita na pessoa” (3) Este clima de centramento no sujeito é a matriz de varios movimentos terdpicos e hoje, a exacerbagdo do eu como centro, em tudo que se faz, provoca a onda de técnicas de auto-ajuda que assistimos proliferarem na sociedade contemporanea, 5) FENOMENOLOGIA Ao contririo do humanismo individual, a Fenomenologia é um movimento filoséfico que se estruturou no inicio do século XX, através de Husserl. A palavra Fenomenologia foi utilizada pela primeira vez pelo médico francés J.H. Lambert em meados do século XVIII, para designar 0 estudo ou a “descriedo da aparéncia”, na quarta parte do seu livro intitulado New Organon (1764). Este sentido pré-husserliano ¢ recolhido por Kant e retomado por Hegel na Fenomenologia do Espirito ja para designar a sucesso, por necessidade dialética, dos fendmenos da consciéncia, desde as simples aparéncias Sensiveis até 0 saber absoluto. Sem se esquecer que 0 termo foi também utilizado por Hartman, Pirce e Stumpf, chegarmos ao sentido husserliano, amunciado na obra Logische Unter-Suchunger (1900-1901) onde Fenomenologia é entendida como um método para fundar a légica pura, e, posteriormente, pensada por Husserl para fundamentar a totalidade dos objetos possiveis. E nevessario lembrar que a concepco da Fenomenologia ndo foi colocada por Husserl de maneira acabada na referida obra. Ela soffe uma evolugdo ao longo do pensamento busserfiano. Como nos mostra Van Breda no seu excelente artigo Phenomenologie, existe, em Husserl, duas grandes concepgées de Fenomenologia. Na primeira, Husserl “define fenomenologia como uma ciéncia filosdfica propedéutica, que tem como objetivo a descricdo das essénciais fundamentais para uma problematica filosdfica dada". (4) A segunda concep¢do, que se desenvolveu a partir do escrito de 1907, “Idéias para uma fenomenologia pura”, proclama a fenomenologia possuidora da seguinte tarefa: 1 Gomes, Wiliams, Movieecton Emamistar; Plcologia amaniets ¢ Abordagem Contrada na Pessoa. In: Puicoioris, Reese © Critics, Bante Alegre, vol I,m 1, 1986, pd. idem, OAS. 3-Mdem pS. 47 Vem Breda, ELL. La Phenomenologie on Let courrants phiiosopbiques, vol I, 423, tfeticmente sem date refertacta editorial, 43

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