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Janeiro / Fevereiro de 2004

Brasil
ano 5 - n 1
o
ISSN 1518-9740

Neurologia
• Estresse e equilíbrio postural
• Fisioterapia na doença de Parkinson
• Transtorno de déficit de atenção
Fisioterapia
Traumato
• Efeitos dos saltos altos sobre articulações e coluna lumbar
• Prevalência de lombalgia em praticantes de exercício

Respiratório
• Aparelho respiratório e envelhecimento
• Facilitação do diafragma pelo método Kabat

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Março / Abril de 2004
Brasil
ano 5 - n 2
o
ISSN 1518-9740
Postura
• Análise da marcha em gestantes
• Personalidade e postura
• Equilíbrio estático de idosos e quedas

Desporto
• Acupuntura cinética e lesões desportivas
Fisioterapia • Ondas curtas e alongamento estático

Veterinário
Tratamento de um cão portador de displasia coxo-femoral

Respiratório
Isostretching e respiração

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Maio / Junho de 2004
Brasil
ano 5 - n 3
o
ISSN 1518-9740
Biomecânica
Marcha e postura com calçado de salto alto

Desporto
· Avaliação postural da seleção brasileira masculina de basquete
· Ruptura por trauma do músculo deltóide
Respiratório
Fisioterapia
· Influência do decúbito ventral em pacientes com hipoxemia
· Complicação na respiração com pressão positiva intermitente
Sexologia
Fisioterapia e aprimoramento da vida sexual feminina

Estimulação elétrica
Limites da estimulação elétrica neuromuscular no fortalecimento
dos músculos

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Julho / Agosto de 2004
Brasil
ano 5 - n 4
o
ISSN 1518-9740

Obstétrica
· Dor sacroilíaca e lombar durante a gestação
· Estimulação transcutânea na dor do trabalho de parto

Traumato
· Artroplastia total do joelho
Fisioterapia
· Ultra-som no tendão calcâneo

ATM
TENS no controle da dor miofascial

Fisiologia
Bases estruturais e moleculares da contração muscular

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Setembro / Outubro de 2004
Brasil
ano 5 - n 5
o
ISSN 1518-9740

Músculo-esquelético
· Eletromiografia com cicloergômetro padrão e aquático
· TENS em hérnia discal lombar
· Estereofotografia de moiré e detecção de escoliose
Joelho
Fisioterapia
· Correção das alterações posturais na luxação recidivante
de patela
· Avaliação proprioceptiva no pós-operatório de ligamento
cruzado anterior

Paralisia espástica
· Toxina botulínica tipo A e paralisia espástica
· Biofeedback-EMG na reabilitação da postura e do padrão
de marcha em paralisia cerebral

Comportamento
Stress e disfunções da ATM

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Novembro / Dezembro de 2004
Brasil
ano 5 - n 6
o
ISSN 1518-9740

Neuro funcional
• Hemiplegia e toxina botulínica tipo A
• Desenvolvimento motor em criança institucionalizada
• Hemisfericidade e prática mental

Esporte
Fisioterapia
• Handebol e instabilidade da articulação glenoumeral
• Avaliação cardiológica do atleta
• Síndrome da dor femoropatelar

Anatomia
Suprimento sanguíneo do osso escafóide

Respiratório
Uso do ventilador mecânico como recurso fisioterapêutico na UTI

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 1

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Fisioterapia Brasil
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Índice
(vol.5, nº1 janeiro/fevereiro 2004 - 01~88)
EDITORIAL
Reflexões sobre a pós-graduação acadêmica lato sensu, a pós-graduação profissional
e a produção cientifica, Marco Antonio Guimarães da Silva ................................................................................................................04

ARTIGOS ORIGINAIS
Alterações hemodinâmicas frente aos exercícios de membros superiores com Thera-band em pacientes
hipertensos controlados, Rodolfo Borges Parreira, Juliana Albano Spiller, Shirley Aparecida Fabris de Souza .................................. 07
Correlação entre hemisfericidade e o aprendizado psicomotor em tarefas de comunicação gestuais,
Yara Sonia Vallado, Geane P.O. Delgado, Denise Oliveira Rezende, Vernon Furtado da Silva, Wesley de P. Melo ....................................12
Saltos altos e artralgias nos membros inferiores e coluna lombar, Flávia Maria Oliveira de Albuquerque,
Elirez Bezerra da Silva
Fisioterapia .....................................................................................................................................................................................16
prática
A interferência da mobilização intra-articular na amplitude de coxofemoral em idosos, Gláucia Ramos Pereira
Henriques, João Santos Pereira, Marco Antônio Guimarães da Silva .............................................................................................................22
Facilitação do diafragma pelo método Kabat como reexpansão pulmonar em pacientes com traumatismo
cranioencefálico e ventilação com suporte pressórico, Sérgio Nogueira Nemer, Jefferson B. Caldeira, Paulo R. S. Filho,
Leandro M. Azeredo, Cláudia S. Geraldo, Ricardo Gago, Monclar R. Polycarpo, Léa K. Ferreira, Cátia M. Coimbra,
Rodrigo A. Ramos, Paulo Cesar P. de Souza ...................................................................................................................................................29
Prevalência de lombalgia em praticantes de exercício contra-resistência, Karynne Grutter Lisboa Lopes dos Santos,
Marco Antônio Guimarães da Silva, João Santos Pereira, Luiz Alberto Batista ...........................................................................................37

REVISÕES
Alterações no consumo de oxigênio, na difusão da membrana alvéolo-capilar e anormalidades músculo
esqueléticas observadas após transplante cardíaco, Luciana Leitão Santos, Gisele Alves Guimarães ....................................45
Análise da influência do estresse no equilíbrio postural, Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, Wilma Costa Souza,
Leonardo
GinásticaDavi Laborativa
Pistarino Pinto, Glauco Alexandre Gaban, Alexsandra Dias Serafim, Enio Thalles Batista de Faria ...............................50
Adaptação funcional do aparelho respiratório aos efeitos do envelhecimento: aplicabilidade dos exercícios
globais de força e resistência, Alexandre de Mayor, Renata Ungier de Mayor .................................................................................56
A intervenção fisioterapêutica na doença de Parkinson, Soraya Carvalho da Costa Monte, João Santos Pereira,
Marco Antônio Guimarães Silva ......................................................................................................................................................................61

ESTUDO DE CASO
Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: tratamento fisioterapêutico com abordagem
ludoterapêutica, Alcioney Valeski, Bárbara Lucia Pinto Coelho, Michelle Corrêa Rodrigues .................................................................66

ATUALIZAÇÃO
Graduação da resistência ao movimento durante a imersão na água, Juliana Monteiro Candeloro,
Fátima Aparecida Caromano ...........................................................................................................................................................................73

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS . ......................................................................................................................77


NORMAS DE PUBLICAÇÃO . .............................................................................................................................................................86
EVENTOS . ..................................................................................................................................................................................................88

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2 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia - UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)

Grupo de assessores
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Novaes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Prof . Dr . Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
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Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)

Revista Indexada na LILACS - Literatura


Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde

Rio de Janeiro Editoração e arte


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4 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Editorial

Reflexões sobre a pós-graduação


acadêmica lato sensu, a pós-graduação
profissional e a produção cientifica
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva

Ainda pensando em um tema para o editorial e, já temendo cobranças


do nosso editor executivo, um francês que trabalha com a precisão e
pontualidade de um relógio suíço, resolvo, fazendo uma digressão no pensar
e, sabe Deus por que, checar o correio eletrônico. Feliz idéia, porque uma
das mensagens anunciava a aprovação, em primeiro lugar em um concurso
público, de uma ex-aluna de um dos cursos de pós-graduação realizados
pela parceria Universidade Castelo Branco e Atlântica Educacional em Brasília.
Desconheço o número de candidatos que concorreram com a nossa ex-
aluna, mas, a julgar pelo desemprego no país e pela quantidade absurda de
inscritos em outros concursos públicos, imagino que a candidata em questão
teve que vencer uma concorrência numérica expressiva, provavelmente de
centenas ou até mesmo de milhares de candidatos. A lista de mensagens
incluía, também, convite para participar de banca examinadora de defesa de
dissertação de mestrado de um outro ex-aluno. Os dois fatos em si e mais as
publicações que alguns dos nossos ex-alunos vem fazendo em periódicos
indexados são, em parte, frutos da política educacional inovadora implantada,
há alguns anos, por nós e renovada a quase todo momento. Não representam,
por isso, surpresas. A surpresa chegaria, mais tarde, na informação de que
um Conselho Regional de uma profissão da área de saúde, que não a nossa,
estava passando a informação de que os cursos de pós-graduação organizados
pela citada parceria, na área daquele Conselho, não tinham validade porque
não eram reconhecidos ou recomendados pelo Conselho Federal daquela
profissão. Os senhores ou senhoras que transmitiram as informações
desconheciam o parecer CES 908/98 do Conselho Nacional de Educação -
CNE/CES- que lá pelas tantas diz o seguinte:

“Assim sendo, a formação pós-graduada de caráter profissional, que pressupõe


necessariamente o exercício, sob supervisão, da prática profissional, poderá ser oferecida
tanto por instituição de ensino superior com atuação tradicional em uma área
específica como em ambientes de trabalho dotados de corpo técnico-profissional
possuidor de titulação profissional ou acadêmica reconhecida e de instalações
apropriadas ou por Sociedade Nacional Especializada ou, ainda, mediante a
celebração de convênios ou acordos entre instituições de ensino superior e estas sociedades.
O valor do título obtido, entretanto, variará segundo as situações a seguir
* Editor científico de Fisioterapia Brasil descritas:
Pós Doutorado na UFRJ 1) Curso de especialização oferecido por instituição de ensino superior: o título
Professor de mestrado recomendado tem reconhecimento acadêmico, e para o exercício do magistério superior, mas não
pela CAPES tem necessariamente valor para o exercício profissional sem posterior manifestação

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 5

dos conselhos, ordens ou sociedades nacionais profissionais respectivos, nas áreas da


saúde e jurídica;
2) Curso de especialização realizado em ambientes de trabalho qualificados,
credenciados por IES que possuam pós-graduação stricto sensu na área ou em área
correlata ou autorizado pelo CNE ou, por sua delegação, pelos CEE: os títulos
terão reconhecimento profissional e acadêmico;
3) Curso oferecido mediante celebração de convênios ou acordos entre instituições
de ensino, ordens ou sociedades, conselhos nacionais ou regionais com chancela nacional
profissional: os títulos, neste caso, terão tanto reconhecimento acadêmico como
profissional;
4) Cursos oferecidos por instituições profissionais mediante convênio com ordens,
sociedades nacionais, ou conselho: o título tem reconhecimento profissional, mas não
será reconhecido para fins acadêmicos sem a expressa manifestação de uma instituição
de ensino superior.
Em qualquer um dos casos mencionados, os títulos profissional ou acadêmico
reconhecidos terão validade nacional.”

A resolução CNE/CES no 01 de 03/04/01 oferece uma nova leitura para


a pós-graduação acadêmica, sem revogar ou alterar, contudo, o parecer 908/
98, descrito parcialmente acima.
Do exposto podemos concluir que somente a Universidade poderá expedir
o titulo de pós-graduação acadêmica. Os diferentes Conselhos Federais para
fazê-lo terão que estar amparados por convênio que envolva uma Instituição
de Ensino. Os títulos de reconhecimento profissional serão emitidos pelos
Conselhos Profissionais ou por Universidades que possuam curso de Mestrado
ou Doutorado na área ou em área correlata. No caso especifico da parceria
Atlântica/UCB, a titulação oferecida poderá, a critério da Universidade, ser o
de reconhecimento profissional e acadêmico, já que a Universidade em questão
possui curso stricto sensu em área correlata e se prepara para lançar curso na
área de fisioterapia.
Mas o que justifica a inserção de um tema como este, corpo estranho, à
primeira vista, em um editorial?
Sabemos que a Universidade é a grande indutora de proliferação de
trabalhos científicos e que dela saem, direta ou indiretamente, quase que a
totalidade dos artigos enviados às revistas de divulgação cientifica. Portanto,
cursos organizados no âmbito universitário tendem a gerar produção cientifica.
E quanto aos cursos organizados na esfera profissional, sem o entorno
universitário? Seriam também fomentadores de alguma produção cientifica?
Não poderia fazer pré-julgamentos sobre a indução à produção de artigos em
um curso de pós-graduação realizado fora do âmbito de uma universidade ou
sem a influência da mesma, porque o reconhecimento destes cursos por parte
do nosso Conselho na nossa área ainda é recente. Mas a julgar pelo pragmatismo
que envolve os profissionais que se voltam somente à área profissional, sem
vínculos acadêmicos, potenciais clientes dos cursos pós-graduação profissional,
poder-se-ia deduzir que haverá dificuldades em obter desta massa crítica
produção cientifica. Poderá haver uma ruptura no elo da transmissão de
conhecimentos baseados em evidências, caso a minha opinião seja plausível.
O termo “baseados em evidência” é aqui utilizado para classificar trabalhos
que se caracterizam por delineamentos adequados e pela neutralização dos
erros sistemáticos; trabalhos em cujos resultados podemos confiar e que
freqüentemente usam as revistas cientificas como veículo, utilizando-se,
excepcionalmente, dos livros, para o mesmo fim. Isto nos remete a um outro
problema que a universidade tem tentado controlar: a utilização exacerbada
de livros como fonte de consulta.

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6 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Ainda somos fortemente influenciados por uma produção baseada em


livros e só agora, ainda muito aquém do desejado, a cultura pela busca de
informações cientificas, em periódicos, torna-se uma realidade. A prova disto
é que a Revista Fisioterapia Brasil em seus quatro anos de criação já alcançou a
marca de 12000 assinantes e esta em franca expansão, sobretudo após a sua
indexação pelo Lilacs/Bireme.
Sabemos que a realidade da pesquisa na área sócio-histórica é diferente, e
que, neste universo, os livros desempenham papel fundamental, mas cabe
repetir, mais uma vez: na área da pesquisa experimental ou quantitativa,
denominada área biológica ou dos fatores biofísicos, não cabe, excetuando
uma ou outra busca, espaço para consultas a livros.
Se resgatarmos o que disse Descartes sobre a responsabilidade dos que
trabalham com o método cientifico, poderemos observar a importância que
um periódico cientifico representa na vida dos que fazem ciência. O filosofo,
pai do cartesianismo, nos diz que o principio básico do método na investigação
cientifica é o de se organizar uma serie de diversos pensamentos, seja para
descobrir algo que se ignora, seja para levar para outros alguma coisa que se
descobriu. A revista cientifica acaba atuando nas duas pontas da afirmação
descartiana, porque permite ao pesquisador buscar, através do que está
publicado, as informações de que necessita para equacionar o problema
levantado, bem como lhe serve de veiculo para levar à comunidade cientifica
os resultados que encontrou.
Dessa forma, a ciência segue o seu rumo, alimentada pela entrada e saída
das informações fornecidas pelos investigadores que o mercado editorial
cientifico, através de seus periódicos, se encarrega de nos trazer.

Comunicado aos assinantes

Temos procurado neste cinco anos sempre aprimorar o sistema de distribuição do periódico para os nossos assinantes.
Na distribuição da última edição de novembro/dezembro, experimentamos uma nova sistemática de envio que, infelizmente,
não correspondeu às nossas expectativas e, com isto, alguns assinantes acabaram não recebendo seu exemplar. Para
muitos, reenviamos a revista pelo correio normal, porém, alguns assinantes ficaram sem seu exemplar, devido à edição
ter se esgotado. Para estes, nós estaremos acrescentando um número no final de sua subscrição. Para tanto, pedimos que
entrem em contato conosco. Aproveitamos para lembrar que na próxima edição, de março/abril, estará encartado o CD-
ROM das edições anteriores para todos os assinantes. Quem não recebeu a revista de novembro/dezembro no formato
papel poderá consultar a mesma no CD-ROM.
A partir desta edição, a revista será distribuída somente pelos Correios, com prazo de distribuição de 10 a 20 dias em
média. A devolução dos exemplares não entregues é garantida, mas, em caso de atraso de mais de 15 dias, por favor entre
em contato com a Editora, pelo telefone ou pelo e-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br.
As datas de chegada das edições no seu endereço são aproximadamente as seguintes: 1 de março, 1 de maio, 1 de
julho, 1 de setembro, 1 de novembro, 1 de janeiro.

Os editores

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 7

Artigo original

Alterações hemodinâmicas frente aos exercícios


de membros superiores com Thera-band em
pacientes hipertensos controlados
Hemodynamic alterations after exercises of upper limbs with
Thera-band in patients with controlled arterial hypertension

Rodolfo Borges Parreira*, Juliana Albano Spiller*, Shirley Aparecida Fabris de Souza**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmicos de Fisioterapia da UNOPAR - Universidade Norte do Paraná, Londrina-PR, **Supervisora de estágio no Ambulatório de
Fisioterapia aplicada a Cardio-vascular, Universidade Norte do Paraná – UNOPAR

Resumo
O objetivo desta pesquisa foi verificar as alterações hemodinâmicas em 14 pacientes
Palavras-chave: hipertensos controlados com exercícios dinâmicos de membros superiores ativo livres e
alterações hemodinâmicas, ativo resistido com Thera-band. Foram divididos três grupos, onde o grupo I realizou
exercícios de membros exercícios ativos livres de braço, o grupo II realizou exercícios resistidos com Thera-
superiores, Thera-band.
band e o grupo III foi o controle. Para a análise estatística dos dados, foi utilizado o
método Anova com nível de significância a 0,05. Os resultados mostram que no Grupo
I, a média geral da freqüência cardíaca inicial e final (MgFCi e MgFCf) foi
respectivamente 80,44 bpm e 90,18 bpm e a média geral da PA inicial e final (MgPAi e
MgPAf) foi 126,4/78 mmHg e 136,2/83 mmHg respectivamente. No Grupo II a
MgFCi e MgFCf foi respectivamente 70,15 bpm e 82,4 bpm e a MgPAi e MgPAf
148/87 mmHg e 147,5/92,5 mmHg respectivamente. O Grupo III apresentou MgFCi
90,46bpm e MgFCf 100,12 bpm e a MgPAi 143/96 mmHg e MgPAf 138,2/94mmHg.
A variação da FC inicial-final (VFCi-f) do grupo I foi 1,74 bpm, do grupo II 12,25 bpm
e do grupo III foi de 9,66 bpm. Na análise da PA sistólica e diastólica inicial e final a
variação (VPASi-f e VPADi-f) do grupo I foi 9,8/5 mmHg, o grupo II de –0,5/5,5
mmHg e o grupo III foi de -4,8/-2 mmHg. Podemos concluir que atividades de membros
superiores com exercícios dinâmicos resistidos com o Thera band, como apresentado
pelo grupo II, representa os melhores valores na redução da pressão arterial, comparando-
se com o grupo I, indicando portanto uma modalidade no tratamento fisioterapêutico
ambulatorial na redução da pressão arterial em pacientes hipertensos.

Artigo recebido 25 de junho de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.


Endereço para correspondência: Rodolfo Borges Parreira, rua São Vicente, 618/504, Centro 86025-901 Londrina-PR, Tel: (43) 3323-4237,
E-mail: paceda@zipmail.com.br.

artigo 02 - Rodolfo.pmd 7 11/02/04, 12:05


8 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Abstract
The aim of this study was to verify the hemodynamic alteration in 14 controlled
Key-words: hypertensive patients with dynamic exercises of upper limb, active and active with
hemodynamics changes, resistance with Thera-band. Three groups were divided, where group I carried through
upper limb exercises, free active exercises of arm, group II carried through exercises resisted with Thera-
Thera-band.
band and group III was the control. The level of significance was chosen at p = 0,05.
The results showed that in Group I, the general average of the initial and final cardiac
frequency (gACFi and gACFf) was respectively 80,44 bpm and 90,18 bpm and the
general average of the initial and final arterial pressure (APgAi and APgAf) was 126,4/
78 mmHg and 136,2/83 mmHg respectively. In Group II the gACFi and gACFf were
respectively 70,15 bpm and 82,4 bpm and the APgAi and APgAf 148/87mmHg and
147,5/92,5 mmHg respectively. Group III presented gACFi 90,46 bpm and gACFf
100,12 bpm and the APgAi 143/96 mmHg and APgAf 138,2/94 mmHg. The variation
of the CF initial-final (VFCi-f) of group I was 1,74 bpm, of group II 12,25 bpm and
of group III it was of 9,66 bpm. In the analysis of the systolic arterial pressure and
diastolic initial and final the variation (VPASi-f and VPADi-f) of group I was 9,8/5
mmHg, group II of 0,5/5,5 mmHg and group III were of -4,8/-2mmHg. We can
conclude that activities of upper limbs with resisted dynamic exercises with Thera
Band, as presented by the group II, represent the best values in the reduction of the
blood pressure, when compared with the group I, indicating therefore a modality in the
physical therapy treatment for the reduction of the blood pressure in patient with
hypertension.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução magnitude da resposta dependem da intensidade do esforço


e do tamanho da massa muscular envolvida [6,7]. Atividades
As patologias cardiovasculares são atualmente as físicas têm sido empregadas em estudos epidemiológicos de
principais responsáveis pela mortalidade no mundo. A hipertensão arterial para tentar diminuir as respostas
prevalência de hipertensão em uma população geral varia hipertensivas.
entre 15-20% [1,2,3] e os níveis de pressão sofrem nítida As formas e os tipos de exercício físico para o sistema
elevação com a idade [2], chegando a índices de até 50% na cardíaco [1,5-19] e para a determinação das respostas
população idosa [3]. cardiovascular [18-28] são bem documentados. Os exercícios
A hipertensão arterial é definida como uma entidade de de membros inferiores e membros superiores apresentam
etiologia múltipla, de fisiopatogenia multifatorial, e sua respostas cardiovasculares diferentes [16,17,18], e estas
presença causa lesão dos chamados órgãos-alvo (coração, diferenças ocorrem em presença da massa muscular
cérebro, vasos, rins e retina) [4]. Fatores como quantidade e envolvida, da rede vascular e do sistema simpático, que
qualidade dos alimentos, tabagismo, fatores genéticos, determinam a freqüência cardíaca.
alcoolismo, obesidade, sedentarismo e estresse, contribuem O objetivo desta pesquisa foi verificar as alterações das
para a elevação da pressão arterial. Para tanto, mudança no respostas hemodinâmicas analisando a freqüência cardíaca e
estilo de vida como dieta balanceada, controle de peso e pressão arterial em pacientes hipertensos controlados com
exercícios físicos moderado em bases regulares trazem exercícios dinâmicos de membros superiores ativo livres e
benefícios para pacientes hipertensos. ativo resistido com Thera-band.
O exercício físico provoca várias alterações fisiológicas
no organismo, mas principalmente no sistema cardiovascular. Material e métodos
Por provocar um aumento das necessidades metabólicas, o
organismo reage para que ocorra um controle diante de uma Foram estudados 14 pacientes (86,6% do sexo feminino
rápida redistribuição do fluxo sangüíneo e uma elevação da e 13,3% do sexo masculino), com idade média de 49,78 ±
perfusão circulatória para os músculos em atividade [5] e a 4,28 anos e que apresentavam diagnóstico de hipertensão

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arterial, estando os pacientes em tratamento no Ambulatório MgFCi 90,46 bpm e MgFCf 100,12 bpm (p = 0,358) e a
de Fisioterapia Cardiovascular, na Universidade Norte do MgPAi 143/96 mmHg e MgPAf 138,2/94 mmHg (p sistólico
Paraná, Londrina PR. Todos os pacientes faziam uso de = 0,712 e p diastólico = 0,904).
medicamentos anti-hipertensivos. Foram divididos em 2 A variação da freqüência cardíaca inicial e final (VFCi-f)
grupos com 5 pacientes cada grupo e 1 grupo com 4 do grupo I foi 1,74 bpm, do grupo II 12,25 bpm e a do
pacientes. O grupo 1 foi submetido a exercícios ativos livres grupo III foi de 9,66 bpm, representado no Gráfico 1. Na
de membros superiores (MMSS), o grupo 2 realizou exercícios análise da pressão arterial sistólica e diastólica inicial e final a
de MMSS com Thera-band, e o grupo 3 foi o grupo controle. variação (VPASi-f e VPADi-f) do grupo I foi 9,8/5 mmHg,
Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre o grupo II de –0,5/5,5 mmHg e o grupo III foi de –4,8/-2
e esclarecido. mmHg, (Gráfico 2).
Os pacientes seguiram um protocolo de tratamento
aplicado no ambulatório de Fisioterapia Cardiovascular que Gráfico 1 – Variação da freqüência cardíaca inicial-final.
constava de aquecimento com caminhada leve, exercícios
calistênicos e alongamentos por 10 minutos, seguido de
endurance com bicicleta e esteira ergométrica por um período
de 30 minutos, desaquecimento com caminhada de baixa
intensidade para reduzir a freqüência cardíaca (FC) e pressão
arterial (PA) por 5 minutos e o relaxamento onde o paciente
descansa em decúbito dorsal com os joelhos semi-fletidos
para a FC e PA voltarem aos seus valores basais ou próximo
do basal por um tempo de 5 minutos.
O grupo 1 realizou exercícios ativos livres de abdução e
adução de braço vertical, abdução e adução de braço
horizontal e flexão de braço. O grupo 2 realizou exercícios
de abdução e adução horizontal de braço e abdução e adução
vertical de braço com Thera-band® (cor amarelo), com
comprimento total de 1,20cm, sendo as extremidades unidas
tornando-o assim com 47cm de diâmetro para a realização Gráfico 2 –Variação da pressão arterial sistólica e diastólica
dos exercícios, e o grupo 3 realizou apenas o protocolo inicial-final.
proposto da terapia. Os exercícios foram realizados a uma
freqüência de uma abdução-adução por segundo. As terapias
foram realizadas com período total de 8 sessões. Os pacientes
tiveram a PA medida por um esfigmomanômetro da marca
Tycos (Welch Allyn Company. USA, 1999) colocado no braço
esquerdo ao nível do coração e em posição sentada [29], e a
FC foi medida por um freqüêncímetro (Polar Electro Ou
Professorintie. Finland, 1999), colocado logo abaixo do
processo xifóide e o relógio no punho esquerdo. A PA e a
FC foram medidas antes e logo após os exercícios propostos
nesta pesquisa.

Resultados

Para a análise estatística dos dados, foi utilizado o método


estatístico Anova com nível de significância a 0,05. Discussão
No Grupo I, a média geral da freqüência cardíaca inicial
e final (MgFCi e MgFCf) foi respectivamente 80,44 bpm e Em uma rotina clínica é comum a administração de
90,18 bpm (p = 0,294) e a média geral da pressão arterial remédios no tratamento de hipertensão arterial [1,18,23],
inicial e final (MgPAi e MgPAf) foi 126,4/78 mmHg e 136,2/ porém há estudos que demonstraram evidências favoráveis
83 mmHg respectivamente (p sistólico = 0,155 e p diastólico do efeito anti-hipertensivo do treinamento físico com
= 0,256). No Grupo II a MgFCi e MgFCf foi respectivamente características aeróbicas. Um trabalho de Cade et al. [19]
70,15 bpm e 82,4 bpm (p = 0,334) e a MgPAi e MgPAf 148/ demonstrou a eficácia da atividade aeróbica na ação anti-
87 mmHg e 147,5/92,5 mmHg respectivamente (p sistólico hipertensiva em pacientes com hipertensão arterial sistêmica,
= 0,979 e p diastólico = 0,579). O Grupo III apresentou a concluindo que pacientes com capacidade física e emocional

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10 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

podem alcançar diminuição significativa na pressão arterial. mmHg), diferente do grupo placebo (+0,9/=0,8 mmHg).
Mas Senitko et al. [26] mostrou que exercícios de endurance Kiyonaga et al. [23] mostrou que houve uma redução na média
provocam a diminuição da pressão arterial semelhante entre da pressão sistólica e diastólica (20/10 mmHg) em 50% dos
um grupo de sedentários e um grupo de indivíduos treinados. pacientes após 10 semanas de treinamento aeróbico.
Nosso estudo demonstrou que a variação da FC inicial e Num determinado nível de consumo de oxigênio, tanto
no final dos exercícios de MMSS após oito sessões de FC quanto PA são elevadas durante o trabalho de MMSS em
fisioterapia, o grupo I, II e III foi respectivamente 1,74 bpm, comparação com os de MMII segundo Toner et al. [9] e
12,25 bpm e 9,66 bpm. A variação da PA sistólica e diastólica Powers & Howley [30]. O grande aumento da PA no trabalho
inicial e final foi do grupo I foi 9,8/5 mmHg, do grupo II de de braço se deve a vasoconstrição no grupo muscular inativo,
–0,5/5,5 mmHg e do grupo III de –4,8/-2 mmHg. Não houve pois quanto maior o grupo muscular envolvido na realização
diferença estatisticamente significativa para a FC nos grupos do exercício, maior a quantidade de vasos de resistência
I (p = 0,294), II (p = 0,334) e III (p = 0,358). Para a pressão dilatada. Essa maior resistência periférica se reflete numa
arterial sistólica e diastólica, também não demonstraram maior pressão arterial [6,9,26,30,31].
diferença estatisticamente significativa nos grupos I, II e III O sistema nervoso também contribui em grande parte
(p sistólico = 0,155 e p diastólico = 0,256), (p sistólico=0,979 com o controle hemodinâmico através do mecanismo
e p diastólico = 0,579) e (p sistólico = 0,712 e p diastólico = barorreflexo e da atividade nervosa simpática que após a
0,904) respectivamente. atividade física diminuem suas atividades nervosas
Pudemos verificar durante o estudo que o grupo I reduziu [6,9,24,25,27,29,28,31], mas ainda há controversas sobre tal
a freqüência cardíaca após a sessão de fisioterapia (Gráfico mecanismo. Chen et al. [27], demonstrou em ratos, uma
1), e apresentou em acentuado aumento na pressão arterial atenuação do tônus simpático e parassimpático (47 ± 12% e
sistólica quanto diastólica em relação aos outros grupos 71 ± 12%, respectivamente) mediado pela desaceleração
(Gráfico 2). Já a freqüência cardíaca foi mais acentuada no cardíaca durante o período precoce de recuperação.
grupo II quando comparado com os outros grupos em
questão. No grupo III tanto a pressão arterial sistólica quanto Conclusão
diastólica reduziram após o trabalho fisioterapêutico (FC
medida após o relaxamento). Isto se equipara com a maioria Atividade anti-hipertensiva não farmacológica como os
dos estudos e demonstra que exercício dinâmico, realizado exercícios físicos são bastante variados, muitas vezes o tipo
regularmente em hipertensos leves a moderados gera de atividade, intensidade, duração e condições climáticas
decréscimos significativos nos níveis de pressão arterial tornam os resultados muito diferentes.
sistólica e diastólica, tanto em repouso, como em esforço Portanto podemos concluir que exercícios dinâmicos
após período de treinamento com a realização dos exercícios livres (grupo I) aumentaram os níveis de PA e diminuiu a FC
aeróbicos e dinâmicos [6,13,15,21-24,26,27]. Ao compararem em comparação com o grupo III (controle) onde teve os
os efeitos do treinamento dinâmico/aeróbico de força, menores índices de valores na pressão arterial e o maior na
sugerem que um programa de exercício aeróbico de freqüência cardíaca, e exercício dinâmico resistidos com
intensidade moderada sem alterações na dieta, em não obesos Thera-band (grupo II) representou a maior elevação da FC
e com hipertensão controlada, parece oferecer pouco e um ligeiro decréscimo na PA sistólica e aumento na PA
benefício no que diz respeito a diminuições no nível de PA, diastólica. Todos os resultado não apresentaram diferença
oferecendo dessa forma pouco suporte para o efeito anti- estatisticamente significativas. Os menores valores de PA
hipertensivo do exercício dinâmico [21-23]. Já Brown et al. apresentados pelo grupo III se equiparam aos outros autores
[24] e Floras et al. [25] relataram não haver redução significativa onde exercícios aeróbicos promovem um decréscimo na
na PA e FC em exercícios dinâmicos de curta duração, e pressão arterial.
Legrarnate et al. (2002)[6] não encontrou mudanças na FC
antes e após exercício máximo. Estas respostas Referências
cardiovasculares frente às alterações da PA e FC que ocorrem
durante os exercícios são decorrentes do tipo de exercício 1. Fuchs FD, Moreira WD, Ribeiro JP. Eficácia anti-hipertensiva
realizado, intensidade, duração e as condições climáticas. do condicionamento físico aeróbico: uma análise crítica das
Em um estudo de Haddad et al. [18] com treinamento evidências experimentais. Arq Bras Cardiol 1993;61:187-89.
físico de membros superiores em paraplégicos num programa 2. Carneiro D, Jardim CBV. Pressão arterial em tribo Xavante:
de 12 semanas, os autores observaram que em repouso a comparação 15 anos depois. Arq Bras Cardiol 1993;61:279-
82.
freqüência cardíaca diminuiu em 14% e a pressão arterial
3. Mion Jr D, Pierini AMG, Guimarães A. Tratamento da
sistólica e a diastólica diminuíram em 4% e 15% hipertensão arterial: respostas de médicos brasileiros a um
respectivamente. Martin et al. [15] comparou atividades inquérito. Rev Ass Med Brasil 2001;47:249-54.
aeróbicas (experimental) com exercícios calistênicos (placebo), 4. Rocha JC. Avaliação clínica do paciente hipertenso. SOCESP
observou uma redução da PA no grupo experimental (-6/-9 1999;9:95-8.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 11

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12 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Artigo original

Correlação entre hemisfericidade e o aprendizado


psicomotor em tarefas de comunicação gestuais
Correlation between hemisphericity and psychomotor
learning in gesture communication

Yara Sonia Vallado, Geane P.O. Delgado, Denise Oliveira Rezende, Vernon Furtado da Silva, D.Sc., Wesley de P. Melo

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Mestrado em Ciência da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro

Resumo
O objetivo deste estudo foi correlacionar ganhos de aprendizagem psicomotora
Palavras-chave: expressos em comunicação gestual (Linguagem de sinais) em escolares do ensino médio.
Hemisfericidade, comunicação Teoricamente, para que seja utilizada a comunicação gestual, especialmente na Língua
gestual, Língua de Sinais de Sinais Brasileira (LIBRAS), cada um dos hemisférios cerebrais de uma pessoa
Brasileira (LIBRAS).
ouvinte mostra uma decodificação predominantemente diferente. Sendo assim, no
hemisfério esquerdo prevalecem funções lingüísticas e no hemisfério direito prevalecem
funções viso-espaciais. A questão de pesquisa foi associada à possibilidade de que em
casos de mono hemisfericidade esquerda, esta relação pudesse não ocorrer. Uma
amostra de 100 alunos de ambos os gêneros, na faixa etária compreendida entre 15
e 17 anos, permitiu a identificação de 11 estudantes bi-hemisféricitos (HB), 7
hemisféricitos esquerdo (HE) e 5 hemisféricitos direito (HD), sendo que tais
identificações foram definidas pelo Teste de Movimento Conjugação Lateral dos
Olhos (CLEM). Os componentes destes grupos foram submetidos posteriormente
ao teste de sinais significativos de LIBRAS. Os dados obtidos foram tratados
estatisticamente através de uma análise de variância cujos resultados revelaram
diferenças significativas em ganhos favoravelmente ao grupo mono-hemisférico
esquerdo sendo p < 0,05, como observado através do teste posterior de Tukey. Este
resultado contraria a teoria da direcionalidade hemisférica quando o fenômeno da
hemisfericidade não
é considerado.

Artigo recebido em 24 de novembro de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.


Endereço para correspondência: Prof. Dr. Vernon Furtado da Silva, Mestrado em Ciência da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco, Avenida
Santa Cruz, 1631 Realengo 21710-250 Rio de Janeiro RJ, E-mail: vfs@castelobranco.br

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Abstract
The aim of this study was to establish a correlation between hemispheres and the
Key-words: psychomotor learning in connection with the gesture communication. When the gesture
Hemisphericity, gesture communication is practiced, especially in the Brazilian Sign Language (LIBRAS), each
communication, Brazilian of the brain hemispheres of the listening person reveals a predominantly different
Sign Language (LIBRAS)
decode. Therefore, in the left hemisphere prevails the linguistic functions and in the
right hemisphere the space-vision. In this study participated 100 students of both sexes,
15 to 17 years old. Once selected, the group was submitted to the CLEM test in order
to identify the preference of the hemisphere processing. The students were then divided
in three hemispheric groups, that is, the right hemisphere, the left hemisphere and the
bi-hemispheres. The components of each group were submitted to an individual selective
test including significative competency in relation to the communicative gestures signs.
The results were statistically treated through variance analyse with p ≤ 0,05. The results,
according to the performance of each student, indicated evidences that the linguistics
aspects are preferably processed in the left hemisphere.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução pelo menos em parte ser determinada, pelo meio ambiente.


Também é possível se afirmar que o hemisfério esquerdo
O cérebro é dividido em duas partes, sendo, estas, está relacionado com as habilidades verbais, enquanto as
denominadas hemisférios. De um modo geral, o hemisfério habilidades não-verbais dependem mais do hemisfério
esquerdo controla a metade direita do corpo e vice-versa, em direito [1].
razão do cruzamento das fibras nervosas na região A hemisfericidade cerebral está relacionada não só aos
correspondente ao tronco encefálico. Os hemisférios cerebrais fatores genéticos, maturativos, neuroquimicos, já citados, mas
aparentemente são iguais, mas na realidade, têm diferenças também, a outras influências, como posturas assimétricas
anatômicas, neuroquímicas, funcionais, que de certa forma, durante o período pré-natal. Estas assimetrias posturais
estão definidas geneticamente, mas que se aprimoram com a favorecem processamentos hemisféricos diferenciados tanto
maturação, com a interação com o meio, proporcionando perceptivos como motores. Dois terços dos fetos no terceiro
assim a especialização de cada hemisfério. Outras assimetrias trimestre da gestação, estão posicionados com o seu lado
também podem estar presentes em cérebros humanos [1]. direito externamente. Estimulação sensorial lateralizada
No presente estudo entendemos como hemisfericidade durante o desenvolvimento pré e pós-natal pode determinar
cerebral a acentuada tendência do processamento de assimetrias cerebrais [3].
informações ser representado em um dos hemisférios, Os fetos do sexo masculino têm um hemisfério cerebral
independente da especificidade do indivíduo. Ou seja, é a direito maior do que o hemisfério cerebral esquerdo. Além
capacidade superior de um dos hemisférios sobre o outro, disso, há evidências de que o cérebro masculino pode ser na
para a execução de determinadas funções. média mais lateralizado ou assimétrico do que o feminino.
Na maioria das pessoas, a área de Broca está localizada Essas e outras diferenças na organização cerebral podem
na área cortical do lobo frontal do hemisfério esquerdo, sendo estar subjacentes diferenças entre os gêneros, como, por
responsável pela compreensão da linguagem e pela produção exemplo, a maturação mais precoce das mulheres, o melhor
da fala. A área de Broca realiza o planejamento dos desempenho das mulheres em tarefas lingüísticas, o melhor
movimentos para a produção da linguagem falada e também desempenho dos homens em tarefas viso-espaciais, e a maior
a organização gramatical. A área de Wernicke é responsável incidência de canhotos entre os homens.
pela compreensão da linguagem falada e está localizada na O sistema nervoso do neonato já está bem desenvolvido
área cortical parieto-temporal do lobo esquerdo [2]. o que permite a criança, gradualmente com a maturação,
Com referência às funções lingüísticas, a dominância é adquirir o sentido de direcionalidade, temporalidade,
determinada geneticamente, mas a preferência manual pode, ritmicidade e lateralidade e a coordenação motora.

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14 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

De acordo com Goleman, citado por Fernandes [3], a Instrumentos: teste CLEM
partir dos 5-6 anos de idade os hemisférios apresentam
relativa plasticidade em sua habilidade para desenvolver O Teste de Movimento Conjugação Lateral dos Olhos
diferentes funções, e só então começam a se especializar. (CLEM) é correlacionado por parâmetros científicos com
As funções simbólicas predominam sobre as motoras, a índices altamente significativos, comparados aos resultados
partir do décimo ano de vida. É durante a infância que a obtidos através da eletroencefalografia e a tomografia por
lateralização consolida os processos específicos de habilidades emissão de prótons [5], cujo objetivo é detectar as tendências
dentro dos hemisférios cerebrais esquerdo e direito de preferência de processamento hemisférico de um
considerando-se uma população normal [3]. indivíduo.
Atualmente, temos muitas formas de comunicação através Alguns cuidados na aplicação do teste foram tomados,
de sinais visuais como, por exemplo, a sinalização homógrafa como por exemplo, aplicação individualmente em condições
usada para a comunicação naval; a comunicação através de físicas, mentais e emocionais adequadas aos procedimentos
sinais nos aeroportos, no trânsito, etc. A Língua Brasileira de e objetivo da testagem, evitando dessa forma distrações
Sinais (LIBRAS), língua materna dos indivíduos portadores visuais e auditivas.
de surdez, é uma das formas de comunicação, que se realiza O presente teste foi aplicado com o indivíduo sentado,
visualmente através de movimentos coordenados, estruturação dentro de uma cabina própria. Foi realizada uma filmagem
espaço-temporal é ao mesmo tempo, uma forma simbólica de da direção dos movimentos dos olhos, relacionando questões
comunicação, apresentando conotações emocionais que são pertinentes à natureza de cada hemisfério, ou relativamente
transmitidas através de expressões faciais e corporais. A Língua à natureza bi-hemisférica do indivíduo.
de Sinais apresenta características para as quais cada um dos Foram selecionadas e aplicadas a as perguntas cujo
hemisférios cerebrais de pessoas ouvintes desenvolve objetivo era examinar a capacitação hemisférica direita. A
características hemisféricas diferentes [4]. reação contra-lateral dos olhos foi registrada pela filmadora
Considerando os conceitos já mencionados, presentes em e analisada durante o processamento de sua resposta.
indivíduos com processamentos hemisféricos diferentes, Os resultados foram aferidos através das imagens registradas
este trabalho objetiva verificar, nos indivíduos já em uma fita de vídeo, assinalando também o movimento do
selecionados, através da aplicação do Teste CLEM, como olhar nas fichas contendo as figuras tipo “face de relógio”,
hemisféricitos direito, esquerdo e bi-hemisféricitos, qual a conforme Borg, citado por Fairweather e Sidaway [5].
diferença existente nos processamentos envolvendo uma Posteriormente foi feita uma análise entre os registros das
comunicação por sinais visuais. Para esta análise, recorremos imagens e dos cartões para garantir a fidedignidade
a alguns sinais utilizados na Língua de Sinais Brasileira, a dos resultados.
qual engloba funções lingüísticas e como tal possivelmente Para a verificação da capacidade diferenciada de
realizada preferencialmente por indivíduos hemisféricitos reprodução, compreensão dos sinais envolvendo posições
esquerdos; ao mesmo tempo, esta comunicação requer não espaciais, direcionalidade, movimentos seqüenciais, praxia
só a decodificação percepto-visual, a transposição do visual fina, foi utilizada uma lista de dez sinais da LIBRAS.
para movimentos corporais, manuais e expressivos, Os seguintes sinais foram utilizados: bom dia, obrigado,
utilizando a percepção espacial, a relação espacial, difícil, trabalho, homem, perguntar, amigo, cachorro,
movimentos seqüenciais rítmicos e memória sendo estes nascer, branco.
aspectos mais pertinentes ao hemisfério direito.
Considerando os conceitos já expostos, questionamos qual Procedimentos
é o hemisfério que melhor processa funções lingüísticas
mais relacionadas com o hemisfério esquerdo e funções A pesquisa foi realizada individualmente, no turno da
viso-espaciais, mais próprias do hemisfério direito, ou ambos manhã, em sala com boa luminosidade e silenciosa. Os
os hemisférios participam em igualdade. indivíduos participantes, já selecionados como
hemisféricitos diferenciados (HD, HE e BH), inicialmente
Método receberam a explicação sobre a natureza da pesquisa.
Questionou-se também o conhecimento prévio dos sinais
Amostra da LIBRAS. Só participaram os que não conheciam os
mesmos. Foi realizado um treino individual, com a
Após a aplicação do Teste CLEM em 100 indivíduos apresentação de cada sinal por duas vezes, pelo pesquisador
selecionando-os como bi-hemisféricitos (HB), hemisféricitos e reprodução por duas vezes pelo participante. Após este
esquerdo (HE) e hemisféricitos direito (HD), todos na treino, os dez sinais foram reproduzidos em seqüência pelo
faixa etária entre 15 e 17 anos, foi realizado o estudo com pesquisador. Finalmente, foi solicitada ao participante a
referência ao aprendizado da LIBRAS com a participação de reprodução um a um, à medida que cada sinal era nomeado
23 indívíduos. pelo pesquisador.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 15

Avaliação Fig. I

Foram contabilizados como acertos a reprodução exata


dos sinais testados, tanto em relação aos aspectos visuo-
espaciais, a coordenação dos movimentos, a sua
direcionalidade e ao significado lingüístico dos mesmos.

Tratamento estatístico

Os dados oriundos dos resultados à apresentação dos


sinais da LIBRAS foram estudados através de uma análise
de variância modelo Oneway, com testes posteriores de Tukey
para se definir a direção das possíveis diferenças entre grupos. Conclusão
Também foi utilizada estatística descritiva, com médias e
desvios mostrados em tabelas comparativas. Para o teste da Concluiu-se, após a comparação dos resultados obtidos,
hipótese principal, utilizou-se a probalidade de erro alpha £ entre os indivíduos HB, HE e HD uma significativa
0,05. prevalência favorável aos indivíduos HE sobre os HD,
sugerindo que mesmo quando a comunicação não é
Resultados e discussão realizada verbalmente e sim através de movimentos viso-
espaciais com conotações emocionais, cuja competência é
Os resultados da análise de variância utilizada no estudo mais pertinente ao hemisfério direito, ainda assim, a LIBRAS
dos dados dos testes indicaram haver significância estatística apresenta maior incidência de processamento no hemisfério
conforme mostrado na Tabela I. Ou seja, com F(2,19) 77,14; esquerdo sinalizando que os aspectos lingüísticos
p < 0,05. Utilizando-se os testes posteriores de Tukey ficou predominam sobre os espaciais no aprendizado e
evidente que o grupo de indivíduos bi-hemiféricitos foi compreensão da LIBRAS.
significativamente superior em performance do que o grupo
hemisféricito direito e também superior ao grupo Referências
hemisféricito esquerdo, todavia, neste caso, sem significância
considerável. Também revelou aquela análise detalhada que 1. Brodal A. Anatomia neurológica com correlações clínicas.
os hemisféricitos esquerdos foram melhores que os indivíduos São Paulo: Roca; 1984.
hemisféricitos direitos. 2. Cupello RCM, Miranda ABR. Rupturas em trajetos
Foi possível concluir, após a comparação dos resultados cerebrais subjacentes a alguns sinais neurolingüísticas
obtidos, entre os indivíduos HD, HE e BH significativa encontrados em diversos tipos de afasia. Fono Atual 2003;
prevalência favorável aos indivíduos HE sobre os HD, 6(23):42-59.
sugerindo que nos mesmos, quando a comunicação não é 3. Fernandes V. Papel dos hemisférios do cérebro. [citado
2003 set 24]. Disponível em URL: http://www.
realizada verbalmente e sim através de movimentos viso-
interfisio.com.br.
espaciais com conotações emocionais, cuja competência é 4. Moura MC, Lodi AC, Pereira MC. Língua de sinais e educação
mais pertinente ao hemisfério direito, ainda assim, a LIBRAS do surdo. São Paulo: Sociedade Brasileira de Neuropsicologia;
apresenta maior incidência de processamento no hemisfério 1993.
esquerdo, sinalizando que os aspectos lingüísticos 5. Fairweather MM, Sidaway B. Estratégias pedagógicas
predominam sobre os espaciais no aprendizado e hemisféricas utilizadas na aquisição e na retenção de uma
compreensão da LIBRAS. Em relação ao BH e HE não habilidade motora. American Alliance for health physical
ocorreu prevalência significativa. education, recreation and dance 1995; 65. C

Tabela I - Apresentação das médias dos grupos e hemisféricos, desvio-


padrão e testes posteriores respectivos.
Grupos Média DP Test posterior (Tukey) Sig.
hemisféricos
HD (G1) 4,60 1,34 HD x HE (0,04) e BH (0,004)
HE (G2) 6,50 1,04 HE x HD(0,04) e BH(0,689)
BH (G3) 7,00 1,18 BH x HD(0,004) e HE(0,689)

Para efeito de uma melhor compreensão sobre os


resultados, os dados acima estão mostrados na Figura 1.

artigo 05 - Vernon.pmd 15 11/02/04, 12:05


16 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Artigo original

Saltos altos e artralgias nos membros


inferiores e coluna lombar
High-heels and articular pain in lower limbs
and lumbar spine
Flávia Maria Oliveira de Albuquerque*, Elirez Bezerra da Silva, M.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Universidade Gama Filho – UGF, **Fisioterapeuta e Professor de Educação Física,


Professor Fisioterapia Desportiva - UGF

Resumo
Introdução: a marcha em calçados de salto alto causa várias alterações posturais
Palavras-chave: que devem ser acomodadas na cinemática dos membros inferiores, pelve e coluna
Dor músculo-esquelética, lombar. Objetivo: verificar o efeito dos calçados de salto alto sobre a dor articular e
calçados femininos, alterações muscular nos membros inferiores, pelve e coluna lombar. Material e Métodos: foram
articulares degenerativas.
analisadas 20 mulheres, divididas em dois grupos iguais, de acordo com o uso de
salto alto ou baixo e que permanecem em posição ortostática em média de seis horas
por dia. Através de questionário e ficha de avaliação postural, foram realizados testes
de inspeção e palpação articular e muscular específicos para membros inferiores e
coluna lombar. Resultados: o grupo que utilizou saltos altos apresentou dores e
alterações em proporções maiores, principalmente nos pés, tornozelos e
compartimento medial dos joelhos, bem como estresse tecidual, dor considerável à
palpação do quadrado lombar. Um achado bastante relevante foi o fato de todas as
participantes do grupo experimental (100 %) apresentarem eversão do antepé e
marcha em pronação excessiva, contribuindo para maior pressão na faceta e retináculo
medial do joelho em 60% das voluntárias. Conclusão: os calçados de salto alto causam
dor na faceta medial do joelho, eversão do antepé e marcha em pronação significativas.

Artigo recebido 9 de dezembro de 2003; aceito 15 de janeiro de 2004


Endereço para correspondência: Flávia Maria Oliveira de Albuquerque, Rua Voluntários da Pátria, 161/701 Ipiranga 31140-630 Belo Horizonte MG,
Tel: (31) 3421-6086/8818-6086, E-mail: flavia.albuquerque@globo.com, Elirez Bezerra da Silva: elirezsilva@openlink.com.br

artigo 01a - Flávia.pmd 16 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 17

Abstract
Introduction: High-heeled gait causes a lot of postural changes that must be
Key-words: accommodated in the kinematics of the lower limbs, pelvis, and spine during gait.
Muscle-skeletal pain, female Objective: To verify the effects of high-heeled shoes on articular and muscle pain in the
shoes, degenerative bone and lower limbs, pelvis and lumbar spine. Material and Methods: Twenty women were analyzed,
joint disease.
divided equally in two groups, according to the wearing of high-heeled shoes or low and
that spent an average of six hours in a standing position. The examining postural test
consisted of questionnaire, viewing and specific palpation trials for lower limbs and
lumbar spine. Results: High-heeled group had much greater changes and pain, mainly in
the feet, ankles and medial compartment of the knees, as well as tissue stress, such as
considerable pain to the palpation of the square lumbar spine muscle. All of the subjects
(100%) of experimental group presented everted forefoot and excessive pronated gait
as the most relevant aspect that leads to higher pressure in medial facet and retinaculum
of the knee in 60% of the volunteers. Conclusion: High-heeled shoes, higher than five
centimeters, cause pain in the medial facet of the knee, significant everted forefoot and
pronation of the foot during gait.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução para frente, os músculos abdominais e paraespinhais


contraem [8]. Com a retroversão pélvica, os músculos
Observado por Opila, entre outros autores, a marcha em ísquiotibiais se tornam relaxados.
calçados de salto alto, comparada à de salto baixo, causa várias Estudos recentes têm mostrado que o calçado inadequado
alterações posturais como força compressiva sob a cabeça especialmente usado pelas mulheres, por longo tempo, tem
dos metatarsos, aumento da flexão plantar do tornozelo, sido o principal causador de alterações no antepé [9-11]. O
passadas mais curtas e em menor velocidade, oscilação da aumento na altura do salto leva a um aumento de força
pronação e supinação do pé, aumento da flexão do joelho na compressiva sob a cabeça dos metatarsos [1]. Saltos a partir
fase de apoio, diminuição da flexão do joelho e do quadril na de 5 cm diminuem a carga sob o calcâneo e transferem a
fase de oscilação, bem como diminuição da amplitude de carga para as cabeças dos metatarsos [10]. A forma anterior
movimento da pelve anteroposteriormente [1-5]. do calçado tem uma importante influência na distribuição
O aumento das cargas compressivas, as alterações dos picos máximos de pressão [12]. Um calçado muito
biomecânicas do pé e a instabilidade do contato do calcanhar estreito e fechado na frente impõe uma força lateral dirigida
devem ser acomodados na cinemática dos membros ao hálux e primeiro metatarso, bem como uma força
inferiores, pelve e coluna durante a marcha. Por outro lado, medialmente direcionada ao quinto pododáctilo e quinto
movimentos compensatórios alteram os padrões de stress metatarso. Segundo Xing, o hábito, iniciado pelas chinesas,
tecidual o que pode contribuir para os sintomas de dor lombar de usar sapatos de ponta fina e de saltos altos tem provocado
associada ao uso de saltos altos [4]. Muitos observadores uma das alterações mais comuns do pé, o hálux valgo [10].
clínicos enfatizam que saltos altos aumentam a lordose lombar Um grande número de pesquisas tem sido realizado
[5]. No entanto, Bryan et al. realizaram um estudo sugerindo quanto ao estudo comparativo das alterações provocadas pela
que a percepção do aumento da lordose lombar deve ter sido marcha em saltos altos, baixos e sem calçado. No entanto,
influenciada pela proeminência glútea [6]. A análise postural, vários autores, entre eles, Snow [2] mencionaram a
com diferentes alturas de saltos mostrou que em saltos necessidade de estudos quantitativos e investigações clínicas
elevados a pelve tende a retroverter, causando retificação da para avaliar a relação entre o uso prolongado de saltos altos
coluna lombar [7]. Isso, provavelmente, é uma tentativa de e alterações ortopédicas, articulares e degenerativas.
superar a inclinação anterior do tronco que está associada ao Este estudo teve por objetivo verificar o efeito dos
uso de calçados altos. Para reposicionar o centro de gravidade calçados de salto alto sobre a dor articular e muscular nos
do corpo mais posteriormente e aliviar a sensação de cair membros inferiores e coluna lombar.

artigo 01a - Flávia.pmd 17 11/02/04, 12:05


18 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Material e métodos sem queixa de dor. As participantes realizaram movimentos


ativos dos pés e tornozelos (dorsiflexão/flexão plantar;
Sujeitos inversão/eversão; circundução) e dos joelhos (flexo/extensão,
rotação) em posição sentada. Os movimentos de flexão/
Participaram do presente estudo 20 mulheres, saudáveis, extensão, inclinação e rotação da região lombar foram
voluntárias e ativas, que foram categorizadas em dois grupos observados em posição ortostática.
de acordo com o uso de salto alto ou baixo. Mulheres usuárias Os testes de palpação abrangeram as articulações do pé e
de salto plataforma, bem como as que relataram alterações tornozelo (fáscia plantar, cabeça dos metatarsos, calcâneo,
de ordem ortopédica ou neurológica foram excluídas do maléolos e ligamentos, interósseos), do joelho (retináculo
estudo. A faixa etária do grupo de salto baixo variou de 19 a medial e lateral, faceta medial e lateral, borda superior e
48 anos (32,4 ± 10,6), a estatura foi de 1,53 a 1,65 m (1,6 ± inferior da patela) e coluna sacrolombar (músculo quadrado
0,04 m) e o peso corporal entre 50,5 a 65 kg (56,5 ± 5,49); a lombar, vértebras lombares e do sacro), com as voluntárias
idade do grupo de salto alto variou entre 19 a 41 anos (27,5 na posição decúbito dorsal e ventral.
± 7,72), a estatura foi de 1,58 a 1,75 m (1,66 ± 0,06) e o peso Aproveitando-se o teste de palpação da articulação do
corpóreo entre 47 a 64,8 kg (56,96 ± 5,81). joelho, foram avaliados o derrame intra-articular e a crepitação
articular.
Calçados O teste de derrame intra-articular foi realizado em
decúbito dorsal com uma mão exercendo pressão na região
As participantes foram selecionadas de acordo com o uso distal do quadríceps e outra no centro da patela em direção à
de calçados mais freqüentes e divididas em dois grupos: 10 tróclea, comprimindo e descomprimindo a mesma. Em caso
que utilizavam saltos abaixo de 5 centímetros e 10 mulheres de presença de derrame, é possível sentir o sinal da tecla que
usuárias de saltos acima de 5 cm. a patela faz ao ser comprimida contra a tróclea.
Por ter sido realizado no verão, os calçados eram abertos, A crepitação articular foi percebida através da mesma
tipo sandálias. O número do calçado do grupo de salto baixo posição anterior com a participante realizando a flexo-
variou entre 35 a 37 (35,85 ± 1,07) e o de salto alto de 33 a extensão do joelho.
38 (35,85 ± 1,77). A altura dos calçados de saltos altos foi de À inspeção foram avaliadas as formas, os arcos, o
5 a 10 cm (6,3 ± 1,3 cm) e a de saltos baixos ou rasteiros alinhamento dos dedos e bordos internos/ externos dos pés.
variou de 0 a 4 cm (1,4 ± 0,44 cm). Os joelhos foram observados quanto ao alinhamento dos
Ambos os grupos trabalhavam em posição ortostática membros inferiores com a participante em posição
por no mínimo 4 a 12 horas diárias, média de 6 a 7 horas/ ortostática. co
dia por período mínimo de um ano. Foram avaliadas a mobilidade da coluna lombar ântero-
posterior, as inclinações laterais e o equilíbrio lombo-pélvico
Artralgia nos membros inferiores nos três planos: frontal, sagital e horizontal. Para a análise
e coluna lombar dos três planos, os olhos do fisioterapeuta foram posicionados
ao nível das cristas ilíacas com as voluntárias em posição
Com a utilização de questionário e ficha de avaliação ortostática. No plano frontal (voluntária de costas para o
postural foram realizados testes específicos para membros terapeuta), foi observada a altura das cristas ilíacas pelo
inferiores e região lombar. As participantes foram questionadas posicionamento do dorso das mãos do examinador exercendo
quanto ao conforto do calçado, ao incômodo no pé ao fim do pressão para baixo, verificando se ambas estavam situadas
dia e à escolha por um determinado calçado [13]. no mesmo plano horizontal. No plano sagital, pela localização
Por se tratar de um estudo com o objetivo de avaliar da espinha ilíaca ântero-superior e da espinha ilíaca póstero-
alterações provocadas pelo tipo de calçado, ênfase foi dada inferior, com a participante de perfil. Os dedos indicadores
aos testes em postura estática, bem como testes palpatórios do terapeuta foram posicionados sobre as espinhas e foi
[14]. O teste dinâmico (da marcha) foi realizado na intenção verificado se ambas situavam-se na horizontal ou se havia
de levantar dados de observação clínica, visto que vários desequilíbrio, por estarem situadas em um plano oblíquo.
autores registraram informações mais detalhadas e precisas No plano horizontal, o terapeuta apoiou levemente a polpa
em outros artigos. O material utilizado para avaliação incluiu dos polegares contra as espinhas ilíacas ântero-superiores da
fita métrica, papel para plantigrafia, lápis ou caneta, tinta pessoa examinada e observou a posição de seus polegares de
guache, goniômetro, régua grande (60 cm) e máquina digital. cima para baixo. Estes deviam estar em uma mesma linha
O critério de avaliação da dor foi de acordo com a queixa horizontal, situada em plano frontal ao paciente. Se um dos
das voluntárias aos testes articulares e de palpação. polegares estivesse mais posterior do que o outro, a pelve
Os testes articulares compreenderam a amplitude dos encontrava-se desalinhada no plano horizontal, ou seja, em
movimentos das articulações dos membros inferiores e da rotação para esse lado [14].
lombar onde foi verificado se havia boa mobilidade articular A flexibilidade da cadeia muscular posterior foi testada

artigo 01a - Flávia.pmd 18 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 19

com as participantes de pé, joelhos em extensão, pés estruturas, que foram relacionadas abaixo de acordo com
aproximados, realizando flexão do tronco com as mãos em as áreas mais sensíveis à palpação.
direção ao chão, sem forçar. Observando de perfil, foram
analisados a amplitude, o posicionamento ou a presença dos Discussão
seguintes itens: o ângulo tíbio-társico, joelhos, ângulo
coxofemoral, cuvette lombossacral, retificações vertebrais, A quantidade de mulheres que usou salto alto e referiu
posição cervical e distância dedo-chão. O ângulo tíbio-társico dor aos testes articulares foi duas vezes maior que a
maior que 90º indicou retração do solear, pois puxa a tíbia quantidade de mulheres que usou salto baixo, apesar desta
para trás. A flexão dos joelhos ao teste de flexão do tronco diferença não ter sido significativa (Tabela I). A dor à palpação
comprovou retração dos ísquiotibiais; caso se encontrassem dos pés, tornozelos e coluna lombar também foi mais referida
em hiperextensão seria devida à retração do solear. O ângulo por mulheres que usaram salto alto, mas também estas
coxofemoral maior que 90º indicou retração dos músculos diferenças não foram significativas (Tabelas II e IV).
pelvitrocanterianos, principalmente o piriforme. Em caso de Na articulação do joelho, na faceta medial, a quantidade
depressão arredondada na região de L5-S1 indicaria a de mulheres que usou salto e referiu dor foi maior
presença de cuvette lombossacral (desequilíbrio estático). Na significativamente que a quantidade de mulheres que usou
região da coluna, foi observado se toda a coluna formava salto baixo (Tabela III). As maiores compensações
uma suave curva do sacro ao occiptal ou se havia retificação ascendentes ocorrem nos joelhos devido ao torque sagital
em alguma área e, em especial, a distância dedo-chão (a ponta prolongado nessa articulação durante a fase de apoio, pois
dos dedos deveria tocar o chão com todos os outros fatores, aumenta o trabalho do músculo quadríceps, prolonga o
já apresentados, normais) [14]. estresse sobre o ligamento patelar e a pressão sobre a
articulação fêmoro-patelar [3,15,16]. Portanto, tais pressões
Análise dos dados podem conduzir, precocemente a alterações degenerativas,
principalmente no compartimento medial do joelho devido
Foi utilizado o teste não-paramétrico qui-quadrado para a haver aumento do torque em varo, levando a compro-
um nível de significância igual a 0,05 do programa Primer of metimento maior no lado medial. Foi ainda afirmado que
Biostatistics, version 4.0 by Stanton A. Glantz, da alterações osteoartríticas nos joelhos são mais comuns no
McGrawHill, 1996. lado medial que no lateral. Segundo os estudos clínicos
de Joseph [17], o aumento da flexão do joelho e da
Resultados atividade muscular do quadríceps, associada à marcha em
salto alto, sugere que mulheres com problemas de joelho
Ao questionamento subjetivo, nove mulheres, do grupo como condromalácia patelar não deveriam usar esses tipos
de salto baixo, afirmaram que seu calçado era confortável e de calçados.
que não machucava o pé ao fim do dia; quanto à escolha, A quantidade de mulheres que usou salto alto com marcha
seis preferiram o conforto e quatro, a beleza. No grupo de em pronação e com eversão do antepé foi significativamente
salto alto, seis afirmaram que seu calçado era confortável e maior do que a quantidade de mulheres que usou salto baixo
quatro, que não. No entanto, na questão seguinte, nove [Tabela V]. O equilíbrio do corpo começa nos pés, pois são
reafirmaram que machucava ou incomodava o pé ao fim do a base de sustentação do nosso corpo. Quando estamos de
dia. Na questão escolha do calçado, cinco escolhiam pela pé, o corpo humano oscila constantemente sobre sua base,
beleza e altura, quatro informaram que era exigência da de acordo com a forma e orientação da mesma. Sem bons
profissão ou do local de trabalho e uma preferiu o conforto. apoios dos pés no chão, não há boa estática, levando,
Quanto à presença ou ausência de dor, os dados podem portanto, a desequilíbrios ascendentes. A posição do pé em
ser observados de acordo com a Tabela I. flexão plantar, por elevação do salto, e, usualmente, a largura
estreita do calcanhar causa alteração na pronação e supinação
Tabela I - Presença ou ausência de dor a um ou mais testes articulares. do pé durante a marcha, levando à instabilidade do tornozelo
Dor e contribuindo para instabilidade geral [18]. A quantidade
Sim Não de mulheres que usou salto alto que apresentou
Salto alto 6 4 encurtamento da cadeia muscular posterior do corpo foi
Salto baixo 3 7 maior do que a quantidade de mulheres que usou salto baixo.
χ 2 (1) = 0,808; p = 0,369 Todavia, esta diferença não foi significativa [Tabela VI]. A
retração do sóleo é bastante comum porque os calçados de
Os dados correspondentes aos testes de palpação dos saltos altos fazem com que ele trabalhe sempre em
pés e tornozelos podem ser visualizados na Tabela II. As encurtamento [15]. O sóleo traciona a tíbia para trás e a
mulheres usuárias de salto alto apresentaram mais queixas coloca em permanente posição de rotação lateral, a qual se
e alterações nos pés e tornozelos, em pelo menos duas torna responsável pela maioria das artroses posteriores da

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20 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Tabela II – Alteração e/ou dor à palpação dos pés e tornozelos.


Salto alto Salto baixo χ2 (1) p
Fáscia plantar 5 2 0,879 0,348
Ligamento talofibular anterior 2 1 0,000 1,000
Ligamento talofibular posterior 2 0 0,556 0,456
Ligamento deltóide 1 0 0,000 1,000
Bordo interno do calcâneo 2 0 0,556 0,456
Cabeça do 2º, 3º, 4º e 5 º metatarsos. 1 0 0,000 1,000
Neuroma de Morton 1 0 0,000 1,000
Hálux valgo 4 1 1,067 0,302
Quinto varo 4 0 2,812 0,094

A Tabela III mostra os dados obtidos à palpação dos joelhos.

Tabela III – Alteração e/ou dor à palpação dos joelhos.


Salto alto Salto baixo χ2 (1) p
Retináculo medial 6 2 1,875 0,171
Retináculo lateral 2 2 0,312 0,576
Faceta medial 6 0 5,952 0,015
Faceta lateral 2 2 0,312 0,576
Pólo inferior da patela 2 2 0,312 0,576
Derrame intra-articular 6 6 0,208 0,648
Crepitação articular 9 8 0,000 1,000

A Tabela IV mostra as observações encontradas ao exame clínico da região lombar.

Tabela IV – Alteração e/ou dor à palpação da região lombar.


Salto alto Salto baixo χ2 (1) p
Músculo quadrado lombar 10 8 0,556 0,456
L5-S1 2 0 0,556 0,456

Tabela V – Desalinhamento na marcha e desequilíbrio lombo-pélvico.


Salto alto Salto baixo χ2 (1) p
Eversão do antepé/ Marcha em pronação 10 5 4,267 0,039
Desequilíbrio estático lombo-pélvico 6 4 0,200 0,655

Tabela VI - Flexibilidade da cadeia muscular posterior (toca o chão). dos metatarsos, alinha o pé em flexão plantar e causa
Flexibilidade aumento do choque de carga vertical durante a marcha.
Sim Não Logo, os mecanismos normais do pé são alterados e
Salto alto 3 7 compensações ocorrem nas articulações superiores como
Salto baixo 6 4 aumento da flexão do joelho e do quadril, da lordose lombar,
bem como alteração nos tecidos moles para absorverem as
patela e dos pés valgos. Isso foi também observado por cargas verticais [19]. Ao exame dos pés e tornozelos das
Merrifield [16] que confirmou a tendência do pé rodar usuárias do salto alto foram observadas calosidades na região
externamente, principalmente com o uso de salto alto. Na plantar que indicou maior pressão/apoio dos pés onde se
tentativa de melhorar a estabilidade, a usuária, localizam os calos.
freqüentemente, anda a passos curtos, como se estivesse Os resultados encontrados neste estudo corroboraram
andando no gelo. O salto alto, conforme mencionado por aqueles encontrados por McBride & Corrigan onde os calçados
Snow [2] leva a um aumento do pico de pressão na cabeça de salto alto provocaram alterações e efeitos prejudiciais nos

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 21

padrões da marcha, bem como nas articulações e músculos muscles and line of gravity with different heel heights. Spine
ascendentes dos membros inferiores e coluna lombar, pois 1984;9:223-27.
ao usar salto elevado, o centro de gravidade é deslocado 8. Opila AK, Wagner SS, Schiowitz S, Chen J. Postural alignment
para frente o que faz com que a coluna lombar retroverta in barefoot and high-heeled stance 1990;71:905-9.
9. Frey C. Foot health and shoewear for women. Clinical
para manter o centro de gravidade entre os pés. Isso
Orthopaedics 2000; 372: 32-44.
mantém a lombar em má posição, contribuindo para 10. Chen BX. Treatment of hallux valgus in China. Chinese
aumentar o estresse tecidual, o qual pode acelerar alterações Medical Journal 1992;105:334-9.
degenerativas [20,21]. 11. Schwartz RP, Heath AL, Morgan DW, Towns RC. A
quantitative analysis of recorded variables in the walking
Conclusão pattern of normal adults. J Bone Joint Surg 1964;46:321-34.
12. Mann RA, Coughlin, MJ. Lesser toe deformities in
Da análise dos resultados, concluiu-se que os calçados de instructional course lectures. Griffin, PP. American Academy
salto alto (maior que cinco centímetros) causam dor na faceta of Orthopaedic Surgeons 1987; 137-59.
13. Gefen A, Megido RM, Itzchak Y, Arcan M. Analysis of
medial do joelho, eversão do antepé e marcha em pronação muscular fatigue and foot stability during high-heeled gait.
significativas. Gait Posture 2002;15:56-63.
14. Santos A. Equilíbrio pélvico. Joelhos. Pés. Avaliação do
Referências equilíbrio torcional dos membros inferiores. Flexibilidade
da cadeia muscular posterior. In: Diagnóstico clínico postural:
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artigo 01a - Flávia.pmd 21 11/02/04, 12:05


22 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Artigo original

A interferência da mobilização intra-articular


na amplitude de coxofemoral em idosos
Interference of intra-articular mobilization
in the hip amplitude of elderly people
Gláucia Ramos Pereira Henriques*, João Santos Pereira, D.Sc.**, Marco Antônio Guimarães da Silva, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, **Programa de mestrado Ciência da Motricidade Humana/PROCIMH/UCB-RJ

Resumo
O processo de envelhecimento atinge todo o organismo alterando a independência
Palavras-chave: do indivíduo. A articulação deteriora-se gradativamente promovendo rigidez articular
Sistema motor, devido às retrações inevitáveis na cápsula que impedem as amplitudes de movimento
envelhecimento, dentro dos parâmetros de normalidade. Foram avaliados 30 indivíduos na faixa etária
articulação, quadril.
entre 60 e 69 anos, divididos em 2 grupos: controle e experimental. Os resultados
mostraram, com nível de significância α = 5 %, que a mobilização intra-articular interfere
na amplitude articular de coxofemoral no plano sagital, em idosos sem patologias
associadas.

Abstract
The aging process reaches all the organism altering the personal independence. The
Key-words: joint gradually gets depraved and therefore promote a joint rigidity due to an inevitable
Motor system, elderly, retraction in the capsule which does not allows a range of movement amplitudes in the
joint, hip. normal concepts. In this study 30 persons between 60 and 69 years old were evaluated,
divided in two groups, the control group and the experimental. The results showed,
through a significant level α = 5 %, that the intra-articular mobilization interferes in the
hip amplitude in the sagital level, in elderly people without diseases related.

Artigo recebido 15 de dezembro de 2003; aceito 15 de janeiro de 2004


Endereço para correspondência: Gláucia Henriques, Rua Dalva da Fonseca, 150/602–bl 2, Vila Santa Isabel 27522-000 Resende RJ,
Tel: (24) 3354-7457, E-mail: fisioterapia.cicuta@ubm.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 23

Introdução suas estruturas hajam alterado suas características de


mobilidade [11]. As técnicas devem respeitar a cinética íntima
O processo de envelhecimento determina importante de cada articulação e das estruturas periarticulares, buscando
perda funcional osteoarticular e deve ser cuidadosamente recuperar os movimentos elementares de deslizamento e
avaliada no idoso, pois desencadeia doenças com alta rolamento necessários à harmonia articular, através de
morbidade e baixa mortalidade. Suas prevalências e incidências pequenas oscilações desenvolvidas entre as extremidades
são diretamente proporcionais ao atual aumento da longevidade ósseas. A mobilização intra-articular promove o “afrouxa-
da população brasileira [1,2], principalmente se não houver a mento” das fibras do tecido conjuntivo quando este é sub-
intervenção de profissionais que possam minimizar este metido à tensão de afastamento no momento da mobilização,
processo. As possibilidades de minimização do quadro de resultando em aumento da amplitude de movimento e
eugeria, embora reduzidas, ainda são possíveis [3]. conseqüente melhora da função [12], devido teoricamente
Com o envelhecimento articular, torna-se mais provável ao aumento do comprimento das fibras capsulares e quebra
que a perda de amplitude de movimento resulte em redução das adesões intracapsulares fibroadiposas, resultando no
da capacidade em realizar atividades básicas da vida diária [4]. aumento da quantidade de movimento intra-articular em
O funcionamento normal de uma articulação implica em uma articulação, repercutindo no movimento angular do
que a amplitude articular seja o mais próximo possível das segmento [13].
amplitudes fisiológicas e que as estruturas osteoarticulares
conservem suas propriedades, principalmente as de rotação Objetivo
e deslizamento. Estas condições estão relacionadas às
estruturas cápsulo ligamentares, cartilaginosas e ósseas [5]. Este estudo objetiva investigar a interferência da
Estas alterações são progressivas e ocorrem principalmen- mobilização intra-articular na amplitude de movimento
te na coluna vertebral e nos membros inferiores. Nessas angular da coxofemoral.
articulações o desgaste é mais acentuado devido à atuação
das forças de compressão sofridas durante toda a vida [6]. Material e métodos
A dinâmica a que esses tecidos são submetidos altera suas
propriedades, desenvolvendo uma adaptação funcional às A fim de eliminar a possibilidade de vieses potenciais
demandas mecânicas que lhes são impostas [7]. nos resultados, utilizamos métodos de coleta de dados
Importantes alterações ocorrem durante o envelheci- apropriados. Tal procedimento nos permitiu tirar conclu-
mento nos tecidos periarticulares, especialmente nas cama- sões significativas dos resultados. Esta pesquisa apresen-
das superficiais. O colágeno é um componente importante tou caráter quantitativo e tipologia descritiva e quase
da cartilagem e do tecido conjuntivo e pode se tornar cada experimental.
vez mais rígido, devido à ligação cruzada entre as fibras de
colágeno. A elastina é um outro componente fibroso Amostra
importante do tecido conjuntivo. Com o envelhecimento,
a elastina é suplantada pela pseudoelastina, que é um A população alvo foi composta por 30 indivíduos, de
colágeno parcialmente degradado ou uma proteína elastina ambos os sexos, divididos em 2 grupos, controle e
defeituosa [8]. A água e as proteoglicanas diminuem, experimental, selecionados aleatoriamente na cidade de Barra
enquanto as fibras colágenas aumentam em número e Mansa, Estado do Rio de Janeiro, durante o período de março
espessura. Como conseqüência, a cartilagem fica mais a maio de 2003.
delgada e surgem rachaduras e fendas na superfície, o que Os critérios de exclusão compreenderam:
dificulta o deslizamento entre as extremidades articulares - Não estar enquadrado na faixa etária em questão;
[2]. O aumento na concentração de fibrila de 68/mm2 no - Apresentarem patologias osteoarticulares em membros
jovem para 140 fibrilas/mm2 no ancião [7], tornaria os inferiores;
ligamentos mais resistentes e menos flexíveis. A estas altera- - Não concordarem com os termos de compromisso,
ções são somadas a diminuição da movimentação do idoso assumido com o pesquisador.
e a alteração da quantidade e qualidade do líquido sinovial, É importante ressaltar que os preceitos éticos-legais foram
o resultado destes fatores desencadeia no idoso, diminuição considerados conforme rege a Resolução 196/96, do
da flexibilidade articular alterando a amplitude de movi- Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996 (Brasil, 1996),
mento articular [9,6], aumentando o risco de lesões em que trata das recomendações éticas quando da realização de
movimentos que exigem maior amplitude articular, limitan- pesquisas que envolvam seres humanos.
do a magnitude e a velocidade de movimento destas A coleta de dados com o objetivo de aferir a amplitude
articulações [10,8]. articular de coxofemoral nos movimentos de flexão e
As mobilizações que objetivem ganhar amplitude articular extensão, foi realizada com o goniômetro antes e após as 10
devem ser consideradas nos casos em que as articulações e sessões de mobilização intra-articular.

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24 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Instrumento de medida Durante a fase de experimento, a mobilização intra-


articular da coxofemoral foi realizada com movimentos
Utilizou-se o goniômetro universal para a medição em de decoaptação, anteriorização e posteriorização da cabeça
graus da amplitude articular de coxofemoral, pois segundo femoral, favorecendo o movimento da cabeça femoral sobre
Clapper [14], este mostra uma variação significativamente o acetábulo no plano sagital. A mobilização da articulação
menor, sendo um instrumento mais confiável. realizou-se de forma direta, ou seja, movida passivamente
pelo mobilizador, usando técnicas de oscilação da cabeça
1 - Goniometria para flexão de quadril femoral [16].

Norkin & White [15], determinam a testagem, com o Figura 2 - Final da amplitude de movimento ativo para extensão de
indivíduo em decúbito dorsal com a coxofemoral em posição coxofemoral.
neutra. Inicialmente o joelho é estendido, mas à medida que
é completada a amplitude de flexão do quadril, permite a sua
flexão. O eixo do goniômetro sobre o trocanter maior do
fêmur, o braço proximal com a linha média lateral da pelve e
o braço distal com a linha média lateral do fêmur.

Figura 1 - Final da amplitude de movimento ativo para flexão


de coxofemoral.

A intervenção

As oscilações foram realizadas em 2 séries, com uma


freqüência de 2 a 3 por segundo por cerca de 1 minuto,
seguidas por um período de repouso de vários segundos [13].

a. Decoaptação
2 - Goniometria para extensão de quadril
A decoaptação é a tentativa de separação das peças
Norkin & White [15], determinam a testagem, com o articulares com o objetivo de por em tensão de afastamento,
indivíduo em decúbito ventral com a coxofemoral em posição os elementos capsulares e ligamentares que podem ser
neutra. Inicialmente o joelho é estendido, mas à medida que responsáveis pela limitação de amplitude, proporcionando o
é completada a amplitude de extensão do quadril, permite a alongamento destas estruturas, aumentando o espaço
sua flexão. O eixo do goniômetro sobre o trocanter maior fisiológico diminuído [11].
do fêmur, o braço proximal com a linha média lateral da Com o paciente em decúbito dorsal, o mobilizador,
pelve e o braço distal com a linha média lateral do fêmur. posicionado homolateralmente, sustentando o segmento a
ser mobilizado com as mãos próximas à articulação
Procedimentos coxofemoral e obedecendo a uma angulação de 45º e joelho
a 90º. O mobilizador posiciona seu antebraço no oco poplíteo
Na primeira etapa realizou-se uma avaliação inicial, com com as mãos próximas à articulação coxofemoral e imprime
o objetivo de detectar ausência de patologias que pudessem uma força de afastamento no sentido caudal do segmento a
intervir nos resultados obtidos. A aferição da amplitude ser decoaptado.
articular pela goniometria da coxofemoral, foi empregada, Posteriormente foram realizadas mobilizações rítmicas,
antes do procedimento de mobilização e após 10 terapias exercendo uma força débil sobre a cabeça femoral no sentido
de intervenção. antero-posterior e postero-anterior.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 25

Figura 3 - Posicionamento adotado pelo mobilizador com o Figura 5 - Mobilização da cabeça femoral no sentido postero-anterior.
objetivo de realizar a decoaptação da coxofemoral.

b. Mobilização antero-posterior

O paciente em decúbito dorsal e o mobilizador situado Tratamento estatístico


homolateralmente, exercendo força débil no sentido de
posteriorização da cabeça femoral, no final da amplitude intra- Inicialmente empregou-se a estatística descritiva, com
articular percebida [11,17]. apresentação de valores médios, desvio padrão e índice
de confiança. A seguir utilizou-se a estatística inferencial
Figura 4 - Mobilização da cabeça femoral no sentido Antero-posterior. com o objetivo de verificar se havia diferença entre os
valores médios apresentados na variável amplitude de
coxofemoral, quando submetida à mobilização intra-
articular.

c. Mobilização postero-anterior

Paciente em posição de decúbito ventral, mobilizador


situado homolateralmente, exercia uma força débil no
sentido de anteriorização da cabeça femoral, no final da
amplitude intra-articular percebida (11;17).

Tabela I -1ª avaliação da amplitude coxofemoral (AACF) do grupo controle.


A A C F
  Flexão(º) Flexão(º) Extensão(º) Extensão(º)
NR ORD D E D E
Média 93.53 91,13 11,86 12,20
D Padrão 20,88 18,01 6,28 6,97
Ic [ m; 95%] 81,9683; 105,0983 81,1545; 101,1120 8,3838; 15,3494 8,3393; 16,0606
Nota: Estatística descritiva desenvolvida a partir dos dados primários dos 15 (quinze) indivíduos do grupo controle.

Tabela II - 2ª avaliação da amplitude de coxofemoral (AACF) do grupo controle.


A A C F
  Flexão(º) Flexão(º) Extensão(º) Extensão(º)
NR ORD D E D E
Média 93,53 90,80 12,06 12,66
D Padrão 20,95 18,56 6,14 7,18
Ic [ m; 95%] 81,6646; 104,8686 80,5177; 101,0822 8,6627; 15,4705 8,6861; 16,6472
Nota: Estatística descritiva desenvolvida a partir dos dados primários dos 15 (quinze) indivíduos após 45 (quarenta e cinco) dias da 1ª avaliação
no grupo controle.

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26 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Tabela III - Avaliação da amplitude decoxofemoral (AACF) do grupo experimental.


A A C F
  Flex(º) Flex(º) Ext(º) Ext(º)
NR ORD D E D E
Média 76,46 79,13 6,66 6,06
D Padrão 29,41 23,44 3,81 4,43
Ic [ m; 95%] 60,1782; 92,7550 66,1479; 92,1187 4,5561; 8,7771 3,6125; 8,5207
NOTA: Estatística descritiva desenvolvida a partir dos dados primários dos 15 (quinze) indivíduos do grupo experimental.

Tabela IV - 2ª Avaliação da amplitude de coxofemoral (AACF) do grupo experimental.


A A C F
  Flex(º) Flex(º) Ext(º) Ext(º)
NR ORD D E D E
Média 105,46 106,73 11,80 12,33
D Padrão 8,66 12,09 2,67 2,69
Ic [ m; 95%] 100,6668; 110,2665 100,0371; 113,4295 10,3169; 13,2830 10,8434; 13.8232
NOTA: Estatística descritiva desenvolvida a partir dos dados primários dos 15 (quinze) indivíduos do grupo experimental.

Análise estatística Foram testadas as seguintes hipóteses H0: µ1=µ2 X H1:


µ1 ≠ µ2. O nível de significância utilizado foi de 5%. A
Controle (1a avaliação) x Controle (2a avaliação) análise pelo teste t-student apresenta resultados estatis-
ticamente significativos, evidenciando H1 quando submetidos
Foram testadas as seguintes hipóteses H0: µ1=µ2 X H1: as variáveis, à mobilização intra-articular, como pode ser
µ1 ≠ µ2. O nível de significância utilizado foi de a=5 %. observado nos seguintes dados:
Teste utilizado: t-student do tipo “antes x depois” (dados Variáveis Estatística teste t= valor de p
pareados) encontrando-se os seguintes valores para as variáveis: ACFFD -4,0888 0,0011
ACFFE -4,8026 0,0003
Variáveis Estatística teste t = valor de p
ACFED -4,9079 0,0002
ACFFD 0,6359 0,5351
ACFEE -6,1943 0
ACFFE 0,7702 0,454
ACFFD – Amplitude de coxofemoral para flexão direita; ACFFE –
ACFED -0,2464 0,809
Amplitude de coxofemoral para flexão esquerda;
ACFEE -0,4809 0,638
ACFED – amplitude de coxofemoral para extensão direita; ACFEE –
ACFFD – Amplitude de coxofemoral para flexão direita; ACFFE – Amplitude de coxofemoral para extensão esquerda.
Amplitude de coxofemoral para flexão esquerda;
ACFED – amplitude de coxofemoral para extensão direita; ACFEE –
Amplitude de coxofemoral para extensão esquerda. A partir da evidência de H1 enunciaram-se novas
hipóteses H0: µ1 < µ2 X H1: µ1 > µ2, concluindo-se pelo
Em todas as variáveis testadas há evidência estatística teste t-student, que em todas as variáveis encontramos
de H0, concluindo-se que, para 14 graus de liberdade, não evidências de H0 para 14 graus de liberdade. Evidencia-se
existe diferença estatisticamente significativa entre as variá- que a média da 1ª avaliação é significativamente menor que a
veis da 1ª avaliação e 2ª avaliação grupo controle. Utilizan- da 2ª avaliação, ou seja, efeito positivo após o tratamento,
do-se a alternativa não paramétrica (Wilcoxon) foram como sugere a análise estatística:
encontrados os mesmos resultados, confirmados pelos Variáveis Estatística teste t= valor de p
valores abaixo. ACFFD -4,0888 0,9994
Variáveis Estatística teste z= valor de p ACFFE -4,8026 0,9999
ACFFD 0,1664 0,8678 ACFED -4,9079 0,9999
ACFFE 0,0208 0,9834 ACFEE -6,1943 1
ACFED -0,0837 0,9333 ACFFD – Amplitude de coxofemoral para flexão direita; ACFFE –
ACFEE 0 1 Amplitude de coxofemoral para flexão esquerda;
ACFED – amplitude de coxofemoral para extensão direita; ACFEE –
Experimental (1a avaliação) x Experimental (2a avaliação) Amplitude de coxofemoral para extensão esquerda

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 27

Utilizando-se a alternativa não paramétrica através do articular, minimizando o processo de envelhecimento, como
Wilcoxon, foram evidenciadas as demais variáveis H1 e afirma Goulitty [24].
enunciadas as hipóteses: H0: µ1< µ2 x H1: µ1> µ2. Os Na mobilização intra-articular, os movimentos
resultados encontrados foram semelhantes aos apresentados provocados passivamente pelo mobilizador, alternando
pelo teste paramétrico (t-student) como mostram os dados: compressão e descompressão da cartilagem, favorece ao
aumento da permeabilidade da cartilagem, desenvolvendo
Variáveis Estatística teste z= valor de p uma lubrificação normal indispensável à mobilidade (24).
ACFFD -2,6644 0,9961 A cápsula espessada durante o processo de envelhecimento,
ACFFE -3,5495 0,9998 devido à organização anárquica do colágeno, estirou-se à
ACFED -3,8106 0,9999 mobilização intra-articular, alongando e redirecionando as
ACFEE -3,6876 0,9999 fibras de colágeno, o que permite maior amplitude articular,
devido à flexibilização maior do tecido capsular. Estas
ACFFD – Amplitude de coxofemoral para flexão direita; ACFFE – condições permitem, segundo Goulitty [24], James [25],
Amplitude de coxofemoral para flexão esquerda;
ACFED – amplitude de coxofemoral para extensão direita; ACFEE – Obermann [26] e Nordim & Frankel [7], o aumento da
Amplitude de coxofemoral para extensão esquerda. amplitude de movimento conquistada, como encontrado no
grupo experimental.

Discussão Conclusão

O grupo controle, devido seleção aleatória, era constituído O envelhecimento articular gera limitações na amplitude
de indivíduos de ambos os sexos, praticantes e não praticantes de movimento devido retrações na cápsula articular, a tensão
de atividade física regular. aumentada nos ligamentos e a degeneração da cartilagem. A
Os resultados permitiram identificar que as variáveis, mobilização intra-articular através do alongamento seletivo
amplitude de coxofemoral direita e esquerda, que apresenta- da cápsula, indicou significância estatística para a = 5%, o
vam uma média maior do que o grupo experimental na 1ª aumento da amplitude articular, minimizando o efeito do
avaliação. Isto provavelmente deve-se ao fato de alguns envelhecimento natural nas condições limitadoras do
participantes do grupo controle, praticarem atividades físicas movimento, permitindo ao idoso melhor qualidade de vida e
regularmente, o que poderia ter subido a média do grupo. diminuindo o índice de patologias geradas pela alteração da
Walker [18] ressalta que nenhuma relação consistente foi cinemática articular da coxofemoral.
encontrada entre a quantidade de atividade física e a amplitude
de movimento. A tendência geral dos resultados desta Referências
pesquisa não o apoiou, encontrando respaldo nos estudos
de Dufour [19], Fedrigo [20] e Ríos [21], que afirmam ser a 1. Martos J H. Efectos de um programa de 15 semanas de
atividade física fator diferenciador das condições dos tecidos, jercicio físico aeróbico sobre la salud física de personas
favorecendo a sua capacidade física. mayores mediante a determinación de la resistencia
Devido aos dados primários obtidos no grupo controle, cardiorrespiratoria, la adiposidad e la fuerza muscular.
cuidado ainda maior foi tomado no grupo experimental, onde Educación física y desporte. Revista Digit@l Buenos Aires
condição “sine qua non” foi admitir somente indivíduos do 2001(7):41.
2. Papaléo N, Matheus CF, Eurico T. Geriatria –
sexo feminino que não praticassem nenhuma atividade física,
fundamentos, clínica e terapêutica. 1ª ed, São Paulo:
promovendo assim maior homogeneidade do grupo e maior Atheneu; 2000. p.137-40.
fidedignidade nos resultados. 3. Lianza S. Medicina de Reabilitação. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Após 45 dias, o grupo controle foi submetido a 2º Guanabara Koogan; 1995. p.63-84.
avaliação. Os resultados não evidenciaram alterações das 4. Kauffman, T. Manual de reabilitação geriátrica. Rio de
variáveis quando comparados com os dados da 1º avaliação. Janeiro: Guanabara Koogan; 2000, p.55-57.
É possível supor que se o tempo entre a 1º e 2º avaliações 5. Bailey A J; ManselL J P. Do subchondral bone changes
fosse maior, essas condições poderiam ser alteradas exacerbate or precede articular cartilage destruction in
evidenciando as perdas gradativas e geradas pelo avançar da osteoarthritis of the elderly? Gerontology 1997;(4): 296-304.
idade, descritas por Kauffman [22], Kemoung [23] e 6. Thomas. Exercícios para a terceira idade. Revista de
Psicofisiologia 1998;1:3-20.
Sherphard [10].
7. Nordin M, Frankel VH. Biomecânica básica do sistema
O grupo experimental foi submetido a mesma mensuração músculo esquelético. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
realizada pelo grupo controle. Pode-se observar diferença Koogan; 2003. p.51-85.
estatisticamente significativa nos dados resultantes da 8. Kauffman T. Impact of aging – related musculos-keletal
intervenção realizada na coxofemoral, mostrando através da and postural changes on falls. Top Geriatr Rehabil
unanimidade nos resultados, aumento do ângulo da amplitude 1990;(5):34-43.

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28 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 29

Artigo original

Facilitação do diafragma pelo método Kabat como


reexpansão pulmonar em pacientes com traumatismo
cranioencefálico e ventilação com suporte pressórico
Diaphragm facilitation through Kabat method as pulmonary
re-expansion in patients with traumatic brain injury and
pressure support ventilation

Sérgio Nogueira Nemer*, Jefferson B. Caldeira**, Paulo R. S. Filho**, Leandro M. Azeredo**, Cláudia S. Geraldo**, Ricardo
Gago**, Monclar R. Polycarpo**, Léa K. Ferreira**, Cátia M. Coimbra**, Rodrigo A. Ramos**, Paulo Cesar P. de Souza***

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Professor de fisioterapia em UTI da Universo, Professor do curso de Pós-graduação em fisioterapia cárdio-respiratória da Universo,
Professor do curso de fisioterapia pneumo-funcional da Universidade Castelo Branco, Chefe da equipe de fisioterapia e rotina da ventilação mecânica do
Hospital de Clínicas de Niterói,  **Fisioterapeutas do Hospital de Clínicas de Niterói, *** Chefe da UTI do Hospital de Clínicas de Niterói

Resumo
A fisioterapia respiratória tem apresentado grandes dificuldades em mostrar evidência
Palavras-chave: de suas técnicas. O objetivo deste estudo é mostrar que a fisioterapia respiratória, através
Re-expansão pulmonar, do reflexo de estiramento diafragmático pelo método Kabat, pode melhorar alguns
reflexo de estiramento, parâmetros da função pulmonar e a oxigenação em pacientes com traumatismo
suporte pressórico.
cranioencefálico (TCE), durante a ventilação com suporte pressórico (PSV). Foram
avaliados 40 pacientes (idade: 45 ± 16.80 anos) com TCE e escala de coma de Glasgow
na admissão na unidade de terapia intensiva (UTI) menor ou igual a oito. Todos os
pacientes foram entubados, ventilados e tiveram a pressão intracraniana (PIC)
monitorizada ao menos nos quatro primeiros dias. O estudo começou quando os pacientes
estavam em condições de iniciar o desmame, em PSV. Nesta fase, a facilitação do dia-
fragma, através do reflexo de estiramento, foi realizada nos pacientes avaliados, enquanto
o volume corrente (VC), a complacência dinâmica do sistema respiratório (Cdyn,rs) e a
saturação de oxigênio (SpO2) eram medidos em três momentos: antes, durante e após
uma hora do término da técnica. Durante a técnica, a pressão positiva expiratória final
(PEEP) e a pressão de suporte (PS) foram mantidos em 5 e 10 cmH2O respectivamente,
enquanto a FiO2 foi mantida em 0.35. Considerando o valor inicial e aquele medido
após uma hora do término da técnica, de acordo com o teste t de Student, os seguintes
resultados foram obtidos: A SpO2 aumentou de 95,95 ± 1,93 % para 97,55 ± 1.48 %
(P = 0,0001), o VC aumentou de 437,00 ± 102,71 ml para 522,50 ± 107,10 ml (P =
0,0001) e a Cdyn,rs aumentou de 43,70 ± 10,27 ml / cm H2O para 52,25 ± 10,71 ml
/ cm H2O (P = 0,0001). Concluindo, neste grupo de pacientes com TCE grave, nossos
resultados mostraram que a facilitação do diafragma, através do reflexo de estiramento
durante a PSV, foi eficaz em promover reexpansão pulmonar e melhorar a oxigenação.

Artigo recebido 16 de dezembro de 2003; aceito 15 de janeiro de 2004.


Endereço para correspondência: Sérgio Nogueira Nemer, Rua Miguel de Fria, 95, bloco B / 101, Icaraí 24220-001Niterói RJ,
E-mail: snnemer@predialnet.com.br

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Abstract
Chest physical therapy has presented great difficulties in showing evidence of its
Key-words: technics. The aim of this study is to show that chest physical therapy, through stretch
Pulmonary re-expansion, reflex of the diaphragm by Kabat method can improve some parameters of the
stretching reflex, pulmonary function and the oxygenation in patients with traumatic brain injury (TBI)
pressure support.
ventilated in pressure support ventilation (PSV). Forty patients (age: 45,0 ±16,80) with
TBI and Glasgow coma scale less than or equal to eight in admission to intensive care
unit (ICU) were evaluated. All patients were intubated, ventilated and had the intracranial
pressure (ICP) monitorized at least in the first four days. The study started when the
patients had conditions to begin the weaning, in PSV. In these phase, the diaphragm
facilitation, through stretch reflex was done in patients evaluated, while the tidal volume
(Vt), the dynamic compliance of the respiratory system (Cdyn,rs) and the oxygen
saturation (SpO2) were measured in three moments: before, during and one hour after
the end of the activity. During the stretching, the positive end expiratory pressure
(PEEP) and the pressure suport (PS) were kept in 5 and 10 cmH2O respectively, while
the FiO2 was kept in 0,35. Considering the initial values and those measured one hour
after the end of the technique, according to the Student’s t test, the following results
were obtained: The SpO2 increased from 95,95 ± 1,93 % to 97,55 ± 1,48 % (P =
0,0001), Vt increased from 437,00 ± 102,71 ml to 522,50 ± 107,10 ml (P = 0,0001)
and Cdyn,rs increased from 43,70 ± 10,27 ml / cm H2O to 52,25 ± 10,71 ml / cm
H2O (P = 0,0001). In conclusion, in this group of patients with severe TBI, our results
showed that the diaphragm facilitation, through the stretch reflex during PSV, succeeded
in promoting pulmonary re-expansion and in improving the oxygenation.

Introdução A fisioterapia respiratória e, sobretudo, a motora são cada


vez menos observadas nas UTIs; os fisioterapeutas destas
A fisioterapia respiratória em Unidade de Terapia Intensiva unidades estão progressivamente mais mecanizados e muitas
(UTI) apresenta enormes dificuldades em comprovar vezes, só auscultam os pulmões, aspiram as vias aéreas e
evidência de suas técnicas. Muitos estudos sugerem esta ajustam o ventilador mecânico. Boa parte dos fisioterapeutas
afirmativa [1,2,3], no entanto é cada vez mais difícil encontrar das UTIs se direcionou apenas para a assistência ventilatória,
uma UTI que não tenha um serviço de fisioterapia. Mesmo que sem dúvida, tem recursos mais eficazes em reverter a
com pouco evidência, é fato inegável que os chefes da maioria hipoxemia e aumentar a expansão pulmonar, mas estes se
das UTIs não querem ficar sem fisioterapia. Desta pequena esquecem que suas próprias técnicas em associação com a
história, podemos escolher uma entre duas hipóteses, ou os ventilação mecânica podem melhorar ainda mais a função
chefes das UTIs estão pagando os fisioterapeutas em vão, ou pulmonar. Os estudos que abrangem a fisioterapia
a fisioterapia possui alta credibilidade, mesmo sem maiores respiratória, sobretudo em UTI, basicamente usam esta
evidências. Como os chefes das UTIs, via de regra, são além apenas para desobstrução pulmonar, sendo raro encontrar
de bons médicos, bons administradores, a primeira hipótese estudos que tratem de fisioterapia respiratória para a re-
deve ser descartada. Talvez, o que esteja acontecendo seja expansão pulmonar. Mais raros ainda são os estudos de
uma falta de dados avaliando a efetividade da fisioterapia em fisioterapia respiratória que mostram melhora na função
UTI [4], ou uma raridade de fisioterapeutas dispostos a não pulmonar, e quando esta ocorre, geralmente é restrita durante
só trabalhar, como também comprovar seu trabalho. Da o momento da técnica.
mesma forma que os médicos necessitam colher seus dados As técnicas de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva
para suas publicações, o fisioterapeuta tem que fazer o mesmo, (PNF) ou método Kabat é uma forma de tratamento
pois a cada dia que passa, as experiências apenas pessoais são fisioterapêutico iniciada pelo Dr. Herman Kabat nos anos
cada vez menos creditadas. Há uma necessidade urgente de 40 [5]. Em 1947, Margaret Knott e em 1953, Dorothy Voss
estudos que justifiquem a função da fisioterapia na UTI [4] e se uniram ao Dr. Kabat e em 1956, o primeiro livro de PNF
só pode caber a nós, fisioterapeutas, justificar esta função. foi publicado [5]. O método foi inicialmente usado no

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tratamento de portadores de poliomielite, porém outros Foto 1 – Posicionamento do fisioterapeuta.


estudos revelaram sua eficácia em várias doenças. Dentro
das inúmeras técnicas que o método utiliza, uma nos parece
talvez ainda mais especial, que é o reflexo de estiramento,
que segundo o Dr. Kabat, em 1947, declarou que esta talvez
possa ser a única forma de produzir contração em um
músculo fraco [6]. Obviamente, esta afirmativa exclui as
estimulações elétricas, mas está envolvendo diretamente a
cinesioterapia. Além de inúmeras utilidades, o método pode
ser usado para estimular e reforçar músculos dos membros,
do tronco e também os músculos respiratórios, entre eles, o
diafragma, que como todos nós sabemos, é o mais importante
músculo da respiração. As técnicas de PNF raramente são
observadas como recursos fisioterapêuticos na maioria das
UTIs. No entanto, em nosso serviço, acreditamos e fazemos
uso quase que rotineiro destas técnicas, não só para os
músculos dos membros e tronco em pacientes acamados com Foto 2 – Posicionamento das mãos do fisioterapeuta.
ou sem doenças neurológicas, como na recuperação de
pacientes com doenças como a Síndrome de Guillain-Barré
ou após traumatismo raqui-medular, estimulando também a
musculatura respiratória.
O objetivo deste estudo é avaliar a variação de alguns
parâmetros da função pulmonar através da facilitação do
diafragma realizada pelo reflexo de estiramento diafragmático
(como descrito pelo método Kabat) em pacientes ventilados
com suporte pressórico.

Material e métodos

O estudo foi realizado entre o período de maio de 2001 a


janeiro de 2003 na unidade de terapia intensiva (UTI) do
Hospital de Clínicas de Niterói. Avaliamos 40 pacientes (29
homens e 11 mulheres) com traumatismo cranioencefálico
(TCE) e escala de coma de Glasgow na admissão à UTI 300 (Sweden). Os monitores utilizados foram Hewlett
menor ou igual a 8. Todos os pacientes foram entubados e Packard Agilent V24C e Agilent CMS 2001 (USA). Sabendo-
ventilados de forma invasiva, além de terem a pressão se da dificuldade de se alcançar manualmente o diafragma,
intracraniana (PIC) monitorizada ao menos nos 4 primeiros os pacientes obesos, ou com abdome mais proeminente, assim
dias. O estudo foi realizado somente quando o paciente como os que apresentavam cirurgia abdominal, distensão
estivesse iniciando o processo de desmame, sem necessidade abdominal, ou qualquer complicação abdominal que afetasse
de qualquer sedação e de aminas vasoativas, durante o a mecânica respiratória ou ainda aqueles que apresentassem
primeiro ou segundo dia de ventilação com suporte pressórico reação à dor ou expressão facial de dor à palpação nesta região,
(PSV). Portanto, pacientes mais graves, que só permaneceram foram excluídos do estudo. Os pacientes que apresentavam
em ventilação mecânica controlada, não evoluindo para a doença pulmonar prévia e doenças neuromusculares também
ventilação com suporte pressórico, não foram incluídos no foram excluídos do estudo.
estudo. Mesmo estando estáveis e em PSV, mas como A maioria dos pacientes já estava sem monitorização da
conseqüência à lesão cerebral e/ou à sedação residual, PIC (devido a sua normalidade por mais de 48 horas),
nenhum paciente encontrava-se em condição de obedecer enquanto aqueles que ainda tinham a PIC monitorizada,
aos comandos verbais e de aumentar a profundidade da apresentavam esta em valores abaixo de 10 mm Hg e
respiração. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética de encontravam-se estáveis sob o ponto de vista hemodinâmico.
nossa instituição, não requerendo consentimento de Todos os pacientes foram submetidos ao reflexo de
informação, já que se tratava apenas de condutas estiramento diafragmático como preconizado pelo método
cinesioterápicas de rotina e sem qualquer interferência na Kabat, empurrando para cima e lateralmente com os
evolução da doença. Os ventiladores mecânicos utilizados polegares ou os dedos, abaixo das últimas costelas [7].
foram os Dräger Evita 1 e 2 (Germany) e os Siemens Servo Objetivando eficaz resposta de contração da musculatura

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diafragmática, o reflexo de estiramento foi realizado no final análise estatística foi processada pelo software estatístico
da expiração, onde este músculo se encontra mais alongado. SAS System.
A seguir, a facilitação do diafragma tomava continuidade a
cada respiração, sem excesso de pressão no abdome do Resultados
paciente, respeitando o volume minuto e sempre sem
provocar dor. O tempo de realização da técnica foi de 15 A idade foi de 45,08 ± 16,8, o APACHE II (Acute
minutos. Todos os pacientes estavam posicionados em Physiology and Chronic Health Evaluation) foi de 15,80
decúbito dorsal, com a cabeceira elevada entre 30 a 45 graus. ± 4,98, o tempo em ventilação mecânica foi de 11,58 ±
As fotos 1 e 2 mostram o posicionamento do fisioterapeuta, 6,35, e a escala de coma de Glasgow na admissão à UTI
de suas mãos, e do paciente durante a técnica. foi de 5,8 ± 1,32. A tabela I mostra as principais
Antes do procedimento ser realizado, todos os pacientes características dos 40 pacientes avaliados no momento da
tinham sido submetidos à vibração associada à compressão admissão à UTI. Como todos os pacientes avaliados
torácica, seguida de aspiração traqueal, a fim de evitar estavam estáveis e já tinham passado pela fase mais crítica
elevações na resistência das vias aéreas (Raw) e reduções na de sua inter nação, felizmente não houve óbitos.
complacência dinâmica do sistema respiratório (Cdyn,rs). Inicialmente, seis pacientes não toleraram o desmame,
Objetivando normalização dos sinais vitais após as condutas porém posteriormente todos foram desmamados. Nos
anteriores, cinco minutos de intervalo foram esperados até pacientes que ainda tinham a PIC monitorizada, esta não
que a primeira mensuração do volume corrente (VC), da mostrou alterações significativas com o reflexo de
Cdyn,rs e da SpO2 (saturação de oxigênio) fossem mensurados estiramento diafragmático.
e registrados. O VC e a Cdyn,rs foram obtidos através da
média de cinco respirações consecutivas, enquanto a SpO2 Tabela I – Principais características dos pacientes avaliados na admissão
considerada foi aquela que permaneceu constante durante à UTI.
dois minutos sem qualquer alteração. Não foi permitida Variável média desvio padrão mínimo máximo
qualquer mudança na fração inspirada de oxigênio (FiO2) Idade 45,08 16,80 17 68
durante o estudo e esta permaneceu em 0,35 antes, durante e PIC 16,00 6,00 6 28
após as condutas. Durante a técnica, todos os pacientes foram APACHE II 15,80 4,98 6 26
mantidos com uma pressão de suporte em 10 cm H2O e Glasgow 5,80 1,32 3 8
PEEP (pressão expiratória positiva final) em 5 cm H2O.
A SpO2, a Cdyn,rs e o VC foram mensurados em três Houve uma elevação significativa da SpO2 inicial (95,95
momentos: o primeiro, antes da técnica ser realizada, o segundo, ± 1,93 %) em relação à segunda medida, obtida durante a
durante a técnica, e o terceiro, após uma hora do término da técnica (98,05 ± 1,32 %; P = 0,0001). Houve uma redução
técnica. O segundo momento, embora tenha sido mencionado, significativa da SpO2 obtida durante a técnica em relação ao
não foi considerado “real”, pois este foi durante a técnica. O terceiro momento (medida uma hora do término da técnica),
objetivo principal foi comparar a variação dos parâmetros de 98,05 ± 1,32 % para 97,55 ± 1,48 % (P = 0,0001), porém,
avaliados no primeiro momento em relação ao terceiro com um fator positivo, a SpO2 não voltou ao valor inicial.
momento. A Cdyn,rs foi obtida através da seguinte fórmula: Comparando-se apenas a medida anterior à técnica com
aquela após uma hora do término desta, houve uma elevação
C dyn,rs = VC / Pressão de pico – PEEP também significativa, de 95,95 ± 1,93 % para 97,55 ± 1,48
% (P = 0,0001).
Houve uma elevação significativa do VC inicial
Análise estatística (437,00 ± 102,71 ml) em relação à segunda medida,
obtida durante a técnica (582,75 ± 111,08 ml; P =
A análise estatística foi realizada pelos seguintes 0,0001). Houve uma redução significativa do VC obtido
métodos: para verificar se existe variação significativa no durante a técnica em relação ao terceiro momento (de
valor da SpO 2, do VC e da Cdyn,rs durante as três 582,75 ± 111,08 ml para 522,50 ± 107,10 ml; P = 0,0001),
avaliações, foi realizada a análise de variância para medidas porém também sem retornar ao valor inicial. Compa-
repetidas. O teste de comparações múltiplas de Bonferroni rando-se apenas a medida anterior à técnica com aquela
foi utilizado para identificar quais avaliações diferiram entre após uma hora do término da mesma, houve também
si. O teste t de Student emparelhado foi utilizado para uma elevação significativa, de 437,00 ± 102,71 ml para
verificar se existe variação significativa entre a primeira 522,50 ± 107,10 ml (P = 0,0001).
medida das três variáveis avaliadas para a segunda medida. Houve uma elevação significativa da Cdyn,rs inicial (43,70
O critério de determinação adotado foi o nível 5 %, ou ± 10,27 ml / cm H2O) em relação à segunda medida, obtida
seja, quando o valor de p do teste estatístico for menor durante a técnica (58,27 ± 11,10 ml / cm H2O; P = 0,0001).
ou igual a 0,05, então existe significância estatística. A Houve uma redução significativa da Cdyn,rs obtida durante

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Tabela II – Variação da SpO2 , do VC e da Cdyn,rs antes e após uma hora do término da técnica.
Variável média desvio padrão mínimo máximo F valor
SpO2 (1) 95,95 1,93 92,0 99,0
SpO2 (3) 97,55 1,48 94,0 100 0,0001
VC (1 437,00 102,71 280 690
VC (3 522,50 107,10 340 760 0,0001
Cdyn,rs (1) 43,70 10,27 28,0 69,0
Cdyn,rs (3 52,25 10,71 34,0 76,0 0,0001

Fig. 1- Variação da SpO2. Fig. 2 - Variação do VC.

a técnica em relação ao terceiro momento (de 58,27 ± 11,10 enfermeiros. Se olharmos por este ângulo, a presença do
ml / cm H2O para 52,25 ± 10,71 ml / cm H2O; P = 0,0001), fisioterapeuta na UTI poderia ser restrita apenas para remoção
porém novamente sem retornar ao valor inicial. Comparando- das secreções e técnicas coadjuvantes. É lógico que não
se apenas a medida anterior à técnica com aquela após uma podemos nos esquecer da fisioterapia motora, que é essencial,
hora do término desta, houve também uma elevação indispensável e não realizável nem com longínqua semelhança
significativa, de 43,70 ± 10,27 ml / cm H2O para 52,25 ± por outro profissional. Portanto, apesar de tantos benefícios
10,71 ml / cm H2O (P = 0,0001). que a fisioterapia oferece, continuamos bastante limitados.
A tabela II mostra as variações do VC, da SpO2 e da Seguindo esta linha de pensamento, objetivamos ampliar
Cdyn,rs, antes (1) e após uma hora do término da técnica (3), nosso arsenal de técnicas e divulgar que a fisioterapia, através
com o respectivo p valor em relação ao aumento das variá- da cinesioterapia respiratória, também pode ser bastante útil
veis nestes dois momentos. O momento 2 foi desprezado para aumentar o volume pulmonar. Sabemos que pacientes
para os resultados finais, já que eram valores obtidos apenas mais graves, como aqueles com Lesão Pulmonar Aguda (LPA)
durante a técnica. e Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA),
As figuras 1 e 2 mostram a variação do VC e da SpO2 apresentam dificuldade de aumento do volume pulmonar até
antes, durante e após uma hora do reflexo de estiramento mesmo com as manobras de recrutamento alveolar, portanto
diafragmático. O gráfico da Cdyn,rs não foi colocado, pois não temos a pretensão de acreditar que a cinesioterapia
apresentaria exatamente a mesma variação do VC. respiratória aumentaria de forma significativa o volume
pulmonar nestes pacientes. Por outro lado, já existem inúmeras
Discussão limitações em nossas técnicas, e pelo menos nós,
fisioterapeutas, não devemos acrescentar outras.
Embora a fisioterapia, através da cinesioterapia respira- Sabendo das dificuldades em comprovar nossas técnicas,
tória, atravesse uma fase de descrença até por alguns principalmente em pacientes ventilados de forma invasiva,
fisioterapeutas, é necessário que se tente comprovação de excluímos pacientes com doença pulmonar prévia e com
nossas técnicas, para assim justificar nossa presença nas UTIs. doenças neuromusculares, da mesma forma que estes
Esta necessidade se reforça pelo fato de que a monitorização geralmente também são excluídos dos estudos que abordam
respiratória e os ajustes ventilatórios são também feitos pelos ventilação mecânica na SDRA [8]. Excluímos também os
médicos e a aspiração traqueal também é feita pelos pacientes obesos, ou com abdome mais proeminente, ou ainda

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aqueles com cirurgias abdominais, entre outros já citados, já aos efeitos da ventilação prolongada na atividade
que realmente não seria possível obter o mesmo êxito com diafragmática, no entanto, há relatos de que após 12 dias de
estes, pois não estamos tentando provar que o reflexo de ventilação mecânica controlada em neonatos, a maioria das
estiramento diafragmático seja milagroso, mas que pode ser fibras diafragmáticas já se encontra atróficas [23]. Portanto,
muito útil e eficaz em determinados pacientes. É verdade a inatividade diafragmática está associada à ventilação
que os pacientes avaliados neste estudo não mais estavam mecânica prolongada, e como prevenção, sempre que
graves e tinham pulmões previamente saudáveis, mas, como possível, devemos evitá-la. Em relação à ventilação mecânica,
podemos observar nos resultados, tiveram sua mecânica tentativas de PSV poderiam ser feitas diariamente nos
respiratória e troca gasosa bastante melhorada. pacientes não dependentes de ventilação mecânica controlada,
Alguns estudos sobre fisioterapia respiratória mostram objetivando prevenir maior atrofia diafragmática. Em relação
aumento da complacência do sistema respiratório e melhora à fisioterapia, o treinamento muscular inspiratório pode ser
da gasometria arterial [9,10,11], enquanto que outros, feito objetivando melhorar a endurance e a força muscular
realizados apenas com exercícios (como respiração diafrag- inspiratória. Embora haja limitada evidência de que a
mática e respiração com os “lábios franzidos”) mostram fisioterapia possa ajudar no desmame [4] e que o treinamento
apenas redução no consumo de oxigênio, justificada pela muscular inspiratório possa aumentar a força e a endurance
redução da freqüência respiratória [12]. No entanto, estes muscular inspiratória [24], alguns estudos mostram que tal
efeitos muitas vezes permaneceram apenas durante a conduta pode facilitar o desmame [25,26]. No entanto, maior
realização dos exercícios [9-12]. Embora o posicionamento atenção deve ser dada aos critérios para selecionar pacientes
possa ser mais efetivo em manter o volume pulmonar, a para o treinamento muscular inspiratório, pois muitas vezes
facilitação neurofisiológica da respiração é útil para pacientes a inadequada Pi max, que indica o treinamento, pode ser
ainda inconscientes, sonolentos, ou nos que ainda estão conseqüente à desnutrição, ou a distúrbios eletrolíticos, como
parcialmente dependentes de ventilação mecânica invasiva, hipopotassemia, hipomagnesemia e hipofosfatemia. Nestas
principalmente se estes se encontram em desmame difícil situações, não há sentido algum em realizar o treinamento,
[13]. Acredita-se que a estimulação proprioceptiva aumenta pois além da fadiga precoce que ocorreria, apenas com a
de forma reflexa a profundidade da respiração [13]. reposição destes eletrólitos, provavelmente a força muscular
Em um de nossos estudos prévios [14], 30 dos 40 inspiratória se normalizaria. Outras situações incoerentes de
pacientes estudados no atual estudo haviam sido avaliados e se realizar o treinamento, são em doenças progressivas e
comparados com um grupo controle de 27 pacientes. A degenerativas, como na Esclerose Lateral Amiotrófica, onde
pressão inspiratória máxima (Pi max) havia melhorado de – não há como ocorrer ganho de força e trofismo muscular,
38,6 ± 8,9 para – 42,2 ± 9,1 cm H2O (P = 0,00007 – Teste pela própria evolução da doença, mas mesmo assim, alguns
de Wilcoxon) após sete dias do uso da facilitação do fisioterapeutas teimam em treinar os músculos destes
diafragma. O aumento foi estatisticamente significativo em pacientes, obtendo apenas fadiga como resultado. Ainda em
relação ao grupo controle, que não foi submetido a nenhuma relação à fisioterapia, de acordo com nosso estudo prévio
conduta de treinamento muscular respiratório (- 42,2 ± 9,1 [14], acreditamos que o reflexo de estiramento diafragmático
cm H2O x – 39,2 ± 6,7 cm H2O respectivamente; P < 0,01 – também possa colaborar em melhorar a força muscular
Teste t de Student). O estudo atual não avaliou a Pi max, inspiratória, embora outros estudos sejam necessários para
pois não obtivemos um aumento proporcional de pacientes confirmar nossa hipótese.
também no grupo controle, fator que inviabilizou a As manobras de recrutamento alveolar estão cada vez
continuidade da comparação com a Pi max. No entanto, mais diversificadas, porém duas são as formas básicas de
temos motivos e constatação neurofisiológica de que quando promover o recrutamento, que servem de origem para as
um músculo é submetido ao reflexo de estiramento, há demais variações. Um dos métodos é através da pressão
aumento de sua força [6]. positiva contínua em vias aéreas (CPAP) em torno de 40 cm
A ventilação mecânica controlada piora a capacidade da H2O por cerca de 40 segundos [27, 28], elevando assim a
força gerada pelo diafragma [15-21], sobretudo, quando capacidade residual funcional. O outro método é através da
associada à sedação [15]. Em situações específicas, como após elevação da pressão máxima em vias aéreas, em ventilação
fadiga muscular respiratória, lesão cerebral, sepse, entre outras, controlada a pressão (PCV) [29], alcançando em torno de 50
a ventilação mecânica controlada pode ser benéfica. Na sepse, cm H2O por cerca de 2 minutos [30], elevando assim o volume
a ventilação mecânica controlada pode proteger o diafragma corrente, a capacidade inspiratória e como conseqüência, a
através da redução do estresse mecânico imposto nas capacidade vital. Com o significativo aumento obtido do VC
miofibrilas diafragmáticas, que sofrem pela hiper-fragilidade durante o reflexo de estiramento diafragmático por 15
de seu sarcolema, induzida pela sepse [22]. Em ratos, 72 a 96 minutos, nos baseamos no aumento da Cdyn,rs e temos
horas de inatividade em ventilação mecânica controlada já motivos para acreditar que houve algum grau de recrutamento
são suficientes para reduzir a força diafragmática em mais de alveolar. Como não houve elevação da pressão de suporte,
50 % [23]. Poucos estudos existem em humanos em relação nem redução no “tempo de rampa” (rise time), nem aumento

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da profundidade da inspiração, fatores estes que podem Referências


aumentar o volume corrente durante a PSV [31], o único
mecanismo que pode explicar o aumento do volume corrente 1 Novak RA, Shumaker L, Snyder JV et al. Do periodic
é o reflexo de estiramento diafragmático. Após o reflexo de hyperinflation improve gas exchange in patients with hipoxemic
estiramento diafragmático ser realizado, há uma súbita respiratory failure? Crit Care Med 1987;15: 1081-85.
descompressão na parede abdominal que funciona de forma 2. Poelaert J, Lannoy B, Vogelaers D et al. Influence of chest
similar à inspiração profunda. Como a inspiração profunda physiotherapy on arterial oxygen saturation. Acta Anaesthesiol
Belg 1991;42:165-70.
também aumenta o fluxo inspiratório durante a PSV [31], o
3. Eales CJ, Barker M, Cubberley NJ. Evaluation of a single
aumento do volume corrente pode ser justificado. Pelo fato
chest physiotherapy treatment to post-operative, mechanically
de que um músculo após ser submetido ao reflexo de ventilated cardiac surgery patients. Physiother Theory Pract
estiramento, ter uma contração mais eficaz, e nesta situação, 1995;11:23-8.
a conseqüência seria a maior profundidade da inspiração, o 4. Stiller K. Physiotherapy in intensive care – Towards an
aumento do VC também pode ser justificado sob o ponto de evidence-based practice. Chest 2000;118:1801-13.
vista neurofisiológico em decorrência do reflexo de 5. Adler SS, Beckers D, Buck M. Facilitação Neuromuscular
estiramento. No entanto, sabemos que se a descompressão Proprioceptiva - Método Kabat. São Paulo: Manole; 1999.
súbita fosse realizada na caixa torácica superior, também 6. Adler SS, Beckers D, Buck M. Procedimentos básicos para a
haveria elevação do volume corrente durante a conduta. Por faciltação. Em: Adler SS, Beckers D, Buck M. Facilitação
outro lado, como se suspeita de que a cinesioterapia Neuromuscular Proprioceptiva - Método Kabat. São Paulo:
respiratória possa reduzir a SpO2 [2], preferimos não fazer Manole; 1999. p.3-14.
condutas na caixa torácica superior, restringindo nosso estudo 7. Adler SS, Beckers D, Buck M. Funções vitais. Em: Adler SS,
Beckers D, Buck M. Facilitação Neuromuscular Propriocep-
à parede abdominal, minimizando assim o suposto colapso
tiva - Método Kabat. São Paulo: Manole; 1999. p.233-48.
alveolar que haveria durante uma compressão torácica.
8. The acute Respiratory Distress Syndrome Network. Ventilation
Acreditamos que a continuidade do reflexo de estiramento with lower tidal volumes as compared with traditional tidal
diafragmático, mantendo o volume corrente significativa- volumes for acute lung injury and the acute respiratory distress
mente mais elevado por cerca de 15 minutos, promoveu syndrome. N Engl J Med 2000; 342:1301-8.
algum recrutamento alveolar, já que a Cdyn,rs também foi 9. Stiller K, Jenkins S, Grant R et al. Acute lobar atelectasis: a
elevada de forma significativa. Os pacientes não tinham comparison of five physiotherapy regimes. Physiother Theory
qualquer lesão pulmonar, mas apresentavam a Cdyn,rs ainda Pract 1996;12:197-209.
algo reduzida (43,70 ± 10,27 ml /cm H2O) antes da conduta, 10. Jones AYM, Hutchinson RC, Oh TE. Effects of bagging
mas após esta, mostraram uma elevação da Cdyn,rs para and percussion on totalstatic compliance of the respiratory
52,25 ± 10,71 ml / cm H2O (P = 0,0001). Estes resultados system. Physiotherapy 1992;78:661-6.
reforçaram nossa hipótese de recrutamento alveolar, ou de 11. Hodgson C, Denehy L, Ntoumenopoulos G et al. The acute
reexpansão pulmonar, através do aumento da capacidade cardiorespiratory effect of manual lung hyperinflation on
ventilated patients [abstract]. Eur Respir J 1996; 23 (suppl):37S.
inspiratória e vital em virtude do reflexo de estiramento
12. Jones AYM, Dean E, Chow CCS. Comparison of the oxygen
diafragmático.
cost of breathing exercises and spontaneous breathing in
Embora tenha ocorrido uma queda significativa nos três patients with stable chronic obstructive pulmonary disease.
parâmetros avaliados após o término da técnica, os níveis Phys Ther 2003:83;424-31.
que permaneceram após esta, foram significativamente 13. Hough A. Physiotherapy to increase lung volume. In: Hough
maiores que os iniciais e assim se mantiveram ao menos por A. Physiotherapy in respiratory care – An evidence-based
mais de uma hora, mostrando que a conduta atingiu os approach to respiratory and cardiac management. Kingdom:
objetivos esperados. Nelson Thornes Ltd 2001:147-65.
14. Nemer SN, Reis PS, Geraldo CS, Caldeira JB, Santos LR, Souza
Conclusão PCP. Efeitos da facilitação do diafragma pelo método Kabat
em pacientes ventilados com suporte pressórico [abstract].
A fisioterapia respiratória não deve cair em descrença, Rev Bras Ter Intensiva – Suplemento I, 2002: 112-3.
mas necessita de mais estudos para ter maior evidência. Ainda 15. Polkey MI and Moxham J. Clinical aspects of respiratory muscle
dysfunction in the critically ill. Chest 2001;119:926-39.
há técnicas eficazes e pouco exploradas, como o reflexo de
16. Sassoon CSH. Ventilator-associated diaphragmatic dysfunction.
estiramento diafragmático, que pode auxiliar na reexpansão Am J Respir Crit Care Med 2002:166;1017-8.
pulmonar e na melhora da oxigenação. 17. Sassoon CSH, Caiozzo VJ, Manka A et al. Altered diaphragm
Com os resultados obtidos, concluímos que o reflexo de contractile properties with controlled mechanical ventilation.
estiramento diafragmático pelo método Kabat foi eficaz em J Appl Physiol 2002;92:2585-95.
aumentar a SpO2, o VC e a Cdyn,rs neste grupo de pacientes 18. Le Bourdelles G, Viires N, Boczkowski J et al. Effects of
com TCE grave, mostrando ser uma boa conduta fisiotera- mechanical ventilation on diaphragmatic contractile properties
pêutica, sobretudo em associação com a PSV. in rats. Am J Respir Crit Care Med 1994;149: 1539-44.

artigo 04a - Sérgio.pmd 35 11/02/04, 12:05


36 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

19. Azuneto A, Peters JI, Tobin MJ et al. Effects of prolonged mechanical ventilation: adjunctive use of inspiratory muscle
controlled mechanical ventilation on diaphragmatic resistive training. Crit Care Med 1989;17:143-7.
function in healthy adults baboons. Crit Care Med 26. Martin AD, Davenport PD, Franceschi AC et al. Use of
1997;25: 1187-90. inspiratory muscle strenght training to facilitate ventilator
20. Radell PJ, Remahl S, Nichols DG et al. Effects of prolonged weaning. Chest 2002;122:192-6.
mechanical ventilation and inactivity on piglet diaphragm 27. Amato MBP, Barbas CSV, Medeiros DM et al. Effect of a
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artigo 04a - Sérgio.pmd 36 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 37

Artigo original

Prevalência de lombalgia em praticantes


de exercício contra-resistência
Prevalence of low back pain in weight lifting
Karynne Grutter Lisboa Lopes dos Santos, M.Sc.*, Marco Antônio Guimarães da Silva, D.Sc.**, João Santos Pereira,
D.Sc.**, Luiz Alberto Batista, D.Sc.***

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Universidades Castelo Branco e Estácio de Sá, **Universidade Castelo Branco, ***Universidades Castelo Branco e UERJ do Rio de Janeiro

Resumo
Estudos provam que a queixa de lombalgia é um dos problemas mais comuns da
Palavras-chave: sociedade. Autores especializados no assunto relatam a existência de uma diversidade de
lombalgia, exercício fatores que podem gerar disfunções na coluna lombar, disfunções estas que se associariam
contra-resistência, a traumas mecânicos, características psicossociais e comportamentais, tipo de ocupação,
promoção de saúde.
morfologia (estatura, idade, peso, obesidade), tipo de atividade física, entre outros dados.
Com o aumento do número de praticantes de musculação em academias e a grande
prevalência de dor lombar nesta classe, o levantamento epidemiológico torna-se
importante para reforçar a sua prevenção e tratamento de maneira a assegurar a saúde e
qualidade de vida desses participantes. O objetivo do presente estudo é fazer o
levantamento da prevalência de dor lombar em praticantes de musculação em academias
do Rio de Janeiro. Para tal, foi utilizado um questionário epidemiológico, auto-aplicável,
adaptado do Quebec Back Pain Disability Scale, enfatizando perguntas sobre a dor lombar e
indagando idade, sexo, estado civil, profissão e descrição da atividade física que realiza.
Tem-se como preocupação fazer um levantamento dos fatores predisponentes e aspectos
da lombalgia, para que no futuro, seja possível promover-se a elaboração de um programa
de educação para a saúde. O referido questionário foi aplicado em 160 praticantes de
musculação, sendo 117 mulheres e 43 homens, com idade média igual a 27,98 ± 9,61, em
academias do Rio de Janeiro. Utilizou-se tanto as técnicas da estatística descritiva, no
sentido de caracterizar os dados médios das respectivas variáveis. Quanto às tabelas de
freqüências, foram utilizadas técnicas da estatística inferencial, por meio de um teste
não paramétrico χ2, a fim de verificar-se a interdependência entre as distribuições de
freqüências observadas, para uma significância de p < 0,05. Os achados apontam para
as seguintes características: a prevalência da dor lombar atingiu 57,1%, existem relações
de dependência da variável sexo com o tempo de prática (p = 0,0401) e o manifesto da
dor (p = 0,2862). Para a variável idade, verificou-se a existência de uma relação de
dependência com o tempo de prática (p = 0,0008), perfeitamente aceitável e coerente.
Entre as variáveis dor lombar, freqüência da dor lombar e manifesto da dor encontraram-
se relações de dependências significativas (p < 0,05), denotando que as mesmas são
inter-relacionadas. Para as demais variáveis e os respectivos cruzamentos, não foram
encontradas relações significativas de dependências.

Artigo recebido em 15 de janeiro de 2004; aceito em 5 de fevereiro de 2004


Endereço para correspondência: Karynne Grutter Lisboa Lopes dos Santos, Avenida General San Martin, 570/401 Leblon 22441-010 Rio de Janeiro RJ,
Tel: (21) 2259-6161/97751724, E-mail kjgol@ig.com.br

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38 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Abstract
Many studies in the literature have pointed the low back pain (LBP) complaint as one
Key-words: of the society´s most common problems. The authors of these studies have reported a
low back pain, weight lifting, diversity of factors that can generate dysfunctions in the lumbar spine, which could be
health promotion. associated with mechanical injury, psychological, social and behavioral characteristics,
occupational type, morphology (height, age, weight, obesity), type of physical activity,
among others. With the increase of weight lifting and the large prevalence of LBP in
this population, an epidemiological survey becomes important to reinforce the prevention
and treatment to improve health and quality of life. The aim of this study is a survey
of the prevalence of LBP in weight lifting individuals. An epidemiological questionnaire
adapted from Quebec Back Pain Disability Scale was used, giving emphasis to LPB and
data like: sex, marital status, profession and description of physical activity. The aim of
this survey is to identify the onset of this syndrome, the associated factors, with the
objective to promote future health education programs. The questionnaire was applied
in 160 weight lifting individuals (117 female and 43 male), medium age 27,98 ± 9,61, in
fitness centers of Rio de Janeiro. A descriptive statistical treatment was used to
characterize the medium values of data from the respective variables as well asthe
table of frequency. To verify the interdependence among frequency distribution observed
a no parametric test χ2 was used. The level of significance for this study was chosen at
p < 0,05. The following characteristics appear in the results: the prevalence of LBP
found was 57,1%, and the statistic analysis indicated dependence between sex and
duration of practice (p = 0,0401), sex and pain onset (p = 0,2862), age and duration of
practice (p = 0,0008). Between the variables LBP, frequency of LBP and pain onset,
was found a significant relationship of dependence (p < 0,05). For the other variables
and respective crossings, significant relationship of dependence were not found.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Muitas disfunções da coluna lombar acontecem na


presença de instabilidade articular dessa região, ao existir
Em função da ampla incidência de quadros dolorosos, a movimentação articular excessiva, sem controle muscular pro-
coluna vertebral tem sido tema em pesquisas [1]. Ela perfila- tetor, afetando a qualidade e a quantidade do movimento [12].
se entre um dos principais motivos de queixa dos problemas O desequilíbrio muscular constitui um fator importante,
ortopédicos [2-4]. É uma das doenças mais comuns no mundo pois a coluna necessita de estabilidade durante seus movi-
ocidental, vindo a afetar aproximadamente 80-85% da mentos para evitar a sobrecarga excessiva. Esta estabilidade
população em alguma época de sua vida [5-8]. parte de estruturas ligamentares íntegras e de uma boa
A síndrome dolorosa lombar ou lombalgia, definida como musculatura, principalmente a abdominal.
uma dor localizada na região lombar, em quase sua totalidade Mais de 80% de todos os casos de dor lombar são
de etiologia idiopática, representa alto custo para o sistema causados por músculos do tronco fracos, ao invés de desor-
atual de saúde [9]. Geralmente, identifica-se dor, aumento de dens estruturais [13]. O espasmo do músculo psoas desem-
temperatura e espasmo muscular na região lombar, diminuição penha um papel relevante nas patologias da região lombar
da mobilidade do tronco e dor irradiada para os segmentos [14]. Os músculos ajudam a regular a postura, provendo de
corporais inferiores [10]. informação o sistema de controle motor sobre a posição
Pesquisas sugerem numerosas condições como causas de do corpo no espaço. Os músculos e tendões dos segmentos
lombalgia, incluindo tensões musculares, alterações liga-mentares, espinhais, por mudanças degenerativas ou trauma mecâ-
fraturas, rompimento do disco intervertebral e lesões miofasciais, nicos, poderão apresentar contração muscular insuficiente,
por exemplo, estiramentos musculares e tendinites [11]. associada a desalinhamento do segmento espinhal [15].

artigo 13 - Karynne.pmd 38 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 39

Como já citado anteriormente, muitos tecidos estão maior freqüência em pessoas que fazem trabalhos de
capacitados a produzir sintomas de lombalgia; o disco sobrecarga [26].
intervertebral é, porém a fonte primária deste mal, em Médicos especialistas no assunto acreditam que os grandes
contraste com as articulações facetárias [16]. inimigos da coluna são a má postura no trabalho e no dia-a-
O disco intervertebral desempenha um papel de dia, a vida sedentária ou a atividade física excessiva [4].
amortecedor e de repartidor de pressão. Com o avançar da Freqüentemente, prescreve-se exercício físico na
idade, ele se desidrata, desaparecendo aos poucos suas prevenção e no tratamento da lombalgia. Há, porém uma
capacidades elásticas. O núcleo perde o caráter gelatinoso, as falta de conhecimento sobre seus tipos, sua freqüência e sua
fibras do anel se rarificam e se debilitam. Então, o disco se duração; é bom lembrar que concretiza-se num tratamento
degenera, sua altura decresce, favorecendo o aumento das não invasivo e relativamente barato. A inatividade física age
forças de pressão, sobre as facetas articulares posteriores, prejudicialmente no sistema músculo-esquelético [27].
provocando a artrose. A prática da atividade física em relação à saúde vem
A herniação discal é fundamentalmente a liberação do interessando a vários autores [28].
material nuclear do confinamento do ânulo fibroso Pesquisadores como Pollock et al. [29], Astrand e Rodahl,
envolvente, levando a compressão das raízes nervosas Saltin e Rowell, Prat et al., Bee e Mitchel, apud Pellegrinotti
adjacentes, manifestando a ciatalgia [17,18]. [30] descrevem o grande benefício preventivo e terapêutico
As cargas adicionais na coluna lombar são suportadas dos exercícios físicos, reconhecidos e recomendados pelos
pelo corpo vertebral e disco intervertebral anteriormente e especialistas envolvidos com a questão da saúde.
pelas duas facetas articulares posteriormente. As articulações A atividade física pode ser definida como qualquer
facetárias são o centro motor da unidade funcional. Quando movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos
solicitadas anormalmente, geram processo irritativo, que resulte em energia expandida, incluindo o exercício, o
inflamatório e a sinovite que, em longo prazo, provocam o esporte, o trabalho e as atividades domésticas [31].
surgimento de sinais artrósicos, acusados radiologicamente Atualmente, as doenças hipocinéticas representam grande
pelo pinçamento articular, pela osteofitose e pela esclerose causa de óbito na população adulta, superando as doenças
subcondral [19-22]. infecciosas [32].
Em quadros mais avançados, as fraturas vertebrais É consenso dos profissionais da área das ciências do
resultarão em modificações posturais, incluindo agravamento esporte que os indivíduos fisicamente mais ativos apresentam
da cifose torácica, retificação da lordose cervical com mais saúde do que os inativos, ou tendem a experimentar
protrusão da cabeça e pescoço, aumento da lordose lombar, menores taxas de morbidade por causas crônicas
escoliose, anteriorização e rebaixamento das costelas e degenerativas [33].
aproximação da 12ª costela à crista ilíaca. Estas alterações Quando a atividade física é praticada com freqüência,
contribuirão para a diminuição da estatura, entre 10 e 20 cm, diminui a intensidade e a velocidade de implantação de
para a sobrecarga de músculos, tendões e ligamentos disfunções músculo-esqueléticas, neuro-musculares e cardio-
adjacentes para a diminuição do volume das cavidades pulmonares, decorrentes do envelhecimento orgânico. Ainda
abdominal e torácica, chegando a protrusão abdominal e que iniciada em idade avançada, a prática de exercícios tende
alteração das funções cardíaca, pulmonar, gástrica e vesical. a aperfeiçoar a qualidade do desempenho físico e a reverter
Tais distúrbios podem dificultar a respiração e causar parcialmente as disfunções já instaladas [34].
constipação, hérnia de hiato, incontinência urinária e, ainda, Os principais objetivos fisiológicos a serem alcançados
limitações nos movimentos da coluna, fraqueza generalizada, por meio de um programa de treinamento são os seguintes:
alterações no equilíbrio e conseqüente prejuízo da auto- aumento da capacidade de produzir trabalho, benefício da
imagem [23]. troca energética, melhor circulação periférica, diminuição da
As características físicas e os fatores de risco associados gordura corporal, decréscimo dos níveis de gordura
a lombalgia, incluem flexibilidade, discrepância no sangüínea, prevenção contra doenças arterio-coronarianas,
comprimento de membros inferiores, disfunção da articulação desenvolvimento de valências físicas, por exemplo, a
sacroilíaca, intensidade do treinamento e limitações de força flexibilidade, a força, a coordenação neuro-muscular e a
muscular [24]. agilidade, mais proveitosa qualidade de vida e
A lombalgia resultaria de processos degenerativos, desenvolvimento da estética corporal [35,36].
originados por mudanças relacionadas à idade ou por forças A flexibilidade é um componente considerável de aptidão
biomecânicas alteradas. Várias síndromes produzem física. Exercícios pretendidos em benefício do desenvolvimento
degeneração progressiva da coluna lombar, como nos casos da flexibilidade incorporam-se na maioria dos programas de
da osteoartrite facetária, da estenose espinhal lombar, das condicionamento, a fim de aprimorarem o desempenho atlético
discopatias e da espondilolistese [15,25]. e a redução do risco de lesões nos esportes [37].
Investigações revelam que a degeneração do disco A prática desportiva precisa de um bom nível de
intervertebral e a espondilólise lombar se registram com flexibilidade, pois exige a utilização completa dos arcos

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40 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

articulares, especificamente envolvidos nos gestos des- adequadamente em um programa de treinamento, provocam
portivos, a fim de alcançar-se uma performance de alto uma sensação de fadiga que persiste mesmo após os períodos
rendimento [38]. regulares de recuperação, acarretando alterações emocionais,
A atividade física, contudo, só produzirá efeitos comportamentais e físicas.
benéficos em seus praticantes, caso seja escolhida com A maioria dos episódios de lombalgia detectada por causa
critério, aprendida, apreciada e, fundamentalmente, dosada do treinamento é secundária a contusões, tensão muscular
em intensidade e volume; outrossim, espera-se que seja ou síndrome facetária, e associada a mecanismo traumático
adequada a cada tipo de participante, ao grupo e aos ou movimentos repetitivos [47].
objetivos pro-postos. Quer se dizer com isso que, além As lesões desportivas, em geral, classificam-se em dois
dos princípios científicos do treinamento desportivo - tipos: lesão traumática aguda, que é resultante de uma pancada
individualidade biológica, adaptação, sobrecarga, ou torção devido ao deslocamento, fratura ou distenções; e
continuidade, interdepen-dência volume-intensidade e lesão por repetição, advinda de treinamento repetitivo e
especificidade [39] -, outros importantes critérios devem microtraumas [48].
ser empregados e respeitados [40]. Aproximadamente, metade de todas as lesões referentes
A abordagem tradicional que destaca a necessidade de às práticas desportivas, tanto em adultos como em crianças e
esforços físicos contínuos e vigorosos, repercutindo em adolescentes, pode ser atribuída a microtraumas repetitivos
ganhos significativos nos componentes da aptidão física, vem ou ao excesso de treinamento. A etiologia destas lesões é
se modificando. A participação regular em exercícios físicos multifatorial, contribuindo para elas, tanto fatores intrínsecos,
de força moderada prestar-se-ia mais evidentes do que os como extrínsecos. Os fatores intrínsecos abrangem
advindos de esforços mais vigorosos, trazendo mais bene- alinhamento anatômico das extremidades e amplitude de
fícios a saúde. Existem fortes indícios de que programas de movimento articular, enquanto que os extrínsecos incluem
exercícios envolvendo esforços físicos moderados têm mais calçados inapropriados, superfície de treinamento inadequada
probabilidade de serem adotados e mantidos ao longo de e erros nos treinos [49].
toda a vida, em comparação com aqueles vigorosos [41]. Sherman [47] considera que o exercício deveria ser
Stein [42] acredita que traumas mecânicos, alterações realizado, sempre que possível, em superfícies macias, pois
metabólicas, além de problemas psicológicos, resultariam, da na infância e adolescência, as áreas de risco são governadas
atividade física feita de forma inadequada. pelos centros primários e secundários de ossificação, surgindo
Diversos investigadores do tema insistem que os alunos na forma de osteocondrose, degeneração ou necrose, seguida
devem submeter-se a exame médico, antes de serem avaliados por regeneração ou recalcificação.
pelo professor [39]. Recomendou-se o exercício no tratamento da lombalgia,
Machado e Fernandes Filho [39] advogam que a prescrição durante décadas. A melhoria da aptidão aeróbia elevaria o
do exercício incluirá a avaliação médica e a análise da fluxo de sangue e a oxigenação dos tecidos, inclusive dos
freqüência, da intensidade do treinamento, da duração do músculos, ossos e ligamentos da coluna vertebral. O exercício
exercício e de sua modalidade. aeróbio também é passível de amortecer o impacto
Danos na coluna lombar acometem, com freqüência, atletas psicológico da dor lombar, agindo positivamente sobre o
competitivos e “recreativos”. Documenta-se a ocorrência de humor, a depressão e a tolerância à dor [24].
lombalgia em vários atletas de diferentes jogos esportivos, Li e Bombardier [50] assevera que na terapia física da
incluindo o futebol americano, o golfe, a ginástica, a corrida e lombalgia, cabem exercícios que envolvem atividades
o tênis. Presentifica-se em maior grau em esportistas que aeróbicas de baixo impacto e de condicionamento abdominal.
participam de jogos de velocidade e contato [24]. Nas academias os exercícios resistidos, a bem do
A atividade esportiva, cujos fins são competitivos, expõe desenvolvimento das valências físicas, força e resistência
riscos de dores e doenças na coluna lombar, associados aos muscular, associados a alongamentos específicos, assinalam-
esforços musculares acentuados e repetitivos [43]. se em forma de fatores de proteção à coluna. À proporção
A lombalgia, ao atacar os atletas jovens, decorre dos que o músculo é sobrecarregado, através de exercícios com
elementos posteriores da coluna. Homologam algumas pesos devidamente orientados e controlados, a força e a
publicações que a ocorrência de alta freqüência de resistência à fadiga, aumentarão, diminuindo-se, então, o risco
espondilólise, causada pela extensão máxima, repetida em de lesões [43].
jogos esportivos e na ginástica [44]. Na opinião de Novaes e Vianna [51], ao revelarem a grande
As fraturas de tensão são danos de overtraining ou síndrome diversificação nas atividades das academias. Os clientes podem
do excesso de treinamento, comuns entre atletas e indivíduos optar pela musculação, passando, antes ou depois, por várias
fisicamente ativos, sendo reconhecida entre recrutas do modalidades de ginástica (aeróbica, localizada, step training,
exército por um cirurgião prussiano em 1855 [45]. body pump, natação, hidroginástica, alongamento, lutas
Garcia Júnior e Mortatti [46] complementam que as squash, tênis, e até pelas atividades mais recentes no mundo
variáveis intensidade e volume, quando não dosadas fitness, como bikeclass, spinning, aerobox, slide e outros).

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 41

Segundo Dos Santos [52] as modalidades mais praticadas Como instrumentação aplicou-se um questionário
nas academias são a musculação, 60,6%, a localizada, 27,1%, epidemiológico, auto-aplicável adaptado do Quebec Back Pain
e a aeróbica, 10,8%. Disability Scale. Deu-se ênfase às perguntas sobre a dor lombar
Os achados citados no parágrafo anterior corroboram e também sobre outros dados - idade, sexo, estado civil,
com os estudos de Novaes [53], ao defendem que o paradigma profissão e descrição da atividade física.
atual de beleza é retratado pelo corpo atlético com Todas as questões foram fechadas, porém algumas
musculatura muito bem definida. Aconselham, para atingir continham ítens para serem especificados, por exemplo: “De
tal fim, sobretudo a ginástica localizada e a musculação, além que maneira a dor se manifesta em atividade ou repouso, e
de um baixo percentual de gordura corpórea, através das em qual (is) movimento (s) e em qual (is) posição (ões),
atividades aeróbicas. respectivamente”?
Costa [54] complementa, atentando que o alto percentual O questionário Quebec Back Pain Disability Scale,
na prática da musculação, parte do fato de que esta atividade devidamente validado, sofreu pequenos reajustes,
admite grande diversidade de horários, proporciona a principalmente quanto às perguntas sobre dor lombar;
realização de exercícios personalizados e, também, o também excluiram-se dados como hábitos pessoais e fatores
desenvolvimento de outras qualidades físicas diferentes das individuais (fumo, álcool, atividade física extra, sono), fatos
desenvolvidas na ginástica. psicológicos e psicossociais (perfil de personalidade, relações
Segundo Pereira [55], a musculação funciona como uma afetivas com amigos e família).
atividade preventiva e de recuperação, visando a uma melhor Os questionários foram distribuídos e recolhidos pela
qualidade de vida. Acredita que ninguém se machuca por autora do estudo, com o intuito de atender aos objetivos da
executar exercícios. O que normalmente ocorre é a lesão ser pesquisa. Explicou-se, de modo geral, em que consistia o
ocasionada pela execução inadequada de exercícios, pelo estudo, esclarecendo sua importância em benefício dos
exagero ou pela utilização de alguma técnica indevida. A próprios pesquisados. Sendo assim, os alunos aceitaram
maioria dos casos de lesões na musculação ocorre por excesso participar, respondendo as perguntas do instrumento.
de sobrecarga de trabalho, o chamado overtraining. O presente estudo observou o tratamento estatístico a
O número crescente de academias, escolas e univer- bem das normas básicas, mantenedoras da cientificidade da
sidades com recursos para o treinamento com pesos também pesquisa. O nível de significância atingiu p < 0,05, isto é,
confirma a popularidade desta forma de condicionamento 95% de certeza nas afirmativas e/ou negativas que o presente
físico [56]. estudo venha denotar.
O elevado número de praticantes de musculação e de O tratamento estatístico foi dividido em duas partes: a
academias que oferecem tal atividade, junto a sobrecarga que primeira relativa à estatística descritiva, na qual se determinaram
esta modalidade é capaz de causar à região lombar da coluna as distribuições de freqüências para os dados de natureza
vertebral, aliam-se a falta de literatura sobre o tema. Torna- discreta, isto é, os que obedecem ao sistema de contagem
se, pois, necessário um levantamento epidemiológico. Tal conforme o processo específico de classificação, além dos dados
levantamento identificaria a prevalência de lombalgia em alunos de natureza contínua, quer dizer, aqueles que obedecem a um
de musculação e ofereceria substrato, para programas de sistema métrico bem definido, e colocam em prática, os
prevenção, a saúde e qualidade de vida desta classe. parâmetros de média, desvio-padrão, mínimo e máximo.
Portanto, o objetivo geral deste estudo é identificar a A segunda parte tratou da estatística inferencial, por
prevalência de lombalgia em praticantes de musculação, de meio da qual aplicaram-se os testes de hipóteses. Utilizou-
ambos os sexos, no município do Rio de Janeiro e demonstrar se, então, o teste não paramétrico Qui-Quadrado; através
a correlação entre dor lombar e a prática dessa atividade. dele fez-se a análise comparativa, entre as distribuições de
Isto com o propósito de investigar a relação entre dor lombar freqüências derivadas dos cruzamentos entre as questões
e atividade física, objetivando, no futuro, a elaboração de um levantadas e as respectivas variáveis discricionárias (faixa
programa de educação para a saúde. Este programa visaria o etária e presença de dor).
bem estar físico, social e psicológico dos praticantes.
Resultados
Material e métodos
A prevalência da dor lombar atingiu 57,1%, dos
A amostra contou com 160 (cento e sessenta) praticantes praticantes. Existem relações de dependência da variável sexo
de musculação em academias, sendo 117 mulheres e 43 com o tempo de prática (p = 0,0401) e o manifesto da dor (p
homens, com idade média igual a 27,98 + 9,61, escolhidos = 0,2862). Para a variável idade, verificou-se a relação de
aleatoriamente do Município do Rio de Janeiro. Acrescenta- dependência com o tempo de prática (p = 0,0008),
se que foram excluídos indivíduos que executavam outro tipo perfeitamente aceitável e coerente.
de atividade física, e que estivessem se submetendo a algum As variáveis dor lombar, freqüência da dor lombar e
tipo de tratamento para a dor lombar. manifesto da dor, encontraram-se relações de dependências

artigo 13 - Karynne.pmd 41 11/02/04, 12:05


42 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

significativas (p < 0,05), denotando que as mesmas são inter- A execução do exercício de agachamento com sobrecarga,
relacionadas. Para as demais variáveis e os respectivos provoca o aumento da pressão intradiscal e do trabalho da
cruzamentos, não foram encontradas relações significativas musculatura paravertebral, sobretudo nas execuções
de dependência. incorretas [22].
Nos exercícios abdominais, o movimento de flexão
Tabela I - Descrição das variáveis e parâmetros. completa do tronco ativa a função paradoxal do músculo
Parâmetro Descrição íliopsoas, de flexor do quadril para extensor da coluna lombar
Sexo Sexo [36]. Quando o psoas se contrai, ele se une ao ilíaco na flexão
Faixa etária Faixa etária da articulação do quadril e tende a tracionar as vértebras
P21 Tempo de prática
lombares, numa direção anterior e inferior. Por seu turno, se
P22A Freqüência semanal
P22B Horas/Aula
os músculos abdominais se contraírem simultaneamente,
P31 Dor lombar evita-se a inclinação da pelve para frente e ocorre a flexão
P33 Freqüência da dor lombar, a flexão do quadril, ou ambas. Mas se os abdominais
P35 Manifesto dor são fracos, a pelve se inclina para frente, sob a influência do
ilíaco, enquanto ocorre a extensão lombar [54].
Segundo Costa [54], as diferentes posições assumidas por
Tabela II - Resultados da estatística inferencial, segundo um indivíduo e os diferentes exercícios para os membros
a aplicação do teste χ2 por sexo. superiores proporcionam diferentes sobrecargas nos discos
Sexo Qui-Quad g.l Sig.p Resultado intervertebrais. A curvatura lombar se acentua, ao utilizarem
Idade 12,14 7 0,0960 Independentes altas cargas de trabalho para membros superiores, especialmente
P21 11,64 5 0,0401 Dependentes
quando estes se encontram elevados acima da cabeça. Além
P22A 7,74 3 0,0517 Independentes
P22B 8,91 4 0,0634 Independentes disso, os movimentos de flexão de braço e glúteos em “quatro
P31 2,13 1 0,1444 Independentes apoios”, em função das altas intensidades de trabalho exigidas
P33 3,25 5 0,6615 Independentes e da grande incidência de execuções inadequadas, podem resultar
P35 3,78 3 0,2862 Independentes em uma postura hiperlordótica da região lombar.
Por um outro lado, o treinamento de força pode aumentar
ou preservar a massa muscular, especialmente de indivíduos
Tabela III - Resultados da estatística inferencial, segundo em fase de envelhecimento, contribuindo para o decréscimo
a aplicação do teste χ2 por faixa etária. de lesões ortopédicas e manutenção da independência
Idade Qui-Quad g.l Sig.p Resultado funcional [57].
P21 67,54 35 0,0008 Dependentes
P22A 35,94 21 0,0222 Dependentes
P22B 32,31 28 0,2621 Independentes
Conclusões
P31 1,74 7 0,9728 Independentes
P33 52,27 35 0,0304 Dependentes Em decorrência da grande prevalência da lombalgia na
P35 13,71 21 0,8817 Independentes população em geral, a sua prevenção constitui uma estratégia
primordial de intervenção terapêutica.
A constatação de que o número de academias, em todo o
Discussão Brasil, tem crescido de forma impressionante só vem
incentivar e respaldar a necessidade do embasamento
A prevalência de dor lombar em praticantes de científico aos profissionais que atuam nessa área.
musculação, expressa nesta pesquisa chegou a 57,1%. Inadiável é esforçar-se para que a intensidade da atividade
Neste tipo de atividade, a prevalência é alta, quando física seja dosada segundo cada faixa etária, acresce que o
comparadas com outras como as do basquetebol, 11 a fator individualidade biológica sempre deverá presentificar-
12%, voleibol, 11%, golfe, 10%, corrida, 5%, tênis, 50% se com nitidez em qualquer programa de atividade física.
e futebol, 30% [24] e também, com a ginástica de Outrossim, na musculação em academia torna-se
academia, que é de 50,4% [52]. imprescindível controlar as variáveis como a dosagem dos
Algumas questões podem estar relacionadas com a alta exercícios em intensidade (número de exercícios ou repetições
prevalência nesse tipo de atividade física, que por sua vez, se realizadas na unidade de tempo, percentual de peso levantado
assemelham a ginástica de academia. e duração dos intervalos de tempo entre os estímulos),
Pollock e Wilmore [29] sugerem que as atividades de volume (número de exercícios, repetições e duração); tipo
alto impacto, como as corridas, a dança aeróbica e o de exercício; a realização de exercícios de alongamento, antes
basquetebol, correlacionadas às grandes forças de e depois das aulas, e o aquecimento antes das aulas.
compressão aplicadas sobre a coluna, podem precipitar ou Os exercícios para prevenção da lombalgia precisam
agravar os problemas lombares. incorporar-se à vida diária, não só dos alunos de academia,

artigo 13 - Karynne.pmd 42 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 43

mas também, de toda a comunidade, em geral, com o intuito 16. Mimura M, Panjabi MM, Oxland TR, Crisco JJ, Yamamoto I,
de se obter resultados satisfatórios, ao garantir a redução da Vasavada A. Disc degeneration affects the multidirectional
prevalência de algias lombares. flexibility of the lumbar spine. Spine 1994;19(12):1371-80.
Ao prescreverem-se as atividades físicas de maneira 17. Camargo TCR, Álvares V. Atuação fisioterápica em paciente
portador de hérnia discal lombar em L4-L5. Fisioter Mov
adequada e segura, recomenda-se, inicialmente, conhecer as
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condições atuais de saúde e condicionamento físico de cada
18. Dias CL, Aires JM, Weidebach W. A clínica e o tratamento
indivíduo. Os alunos devem submeter-se às avaliações médica fisioterápico da hérnia discal lombar. Coluna Fisioterápica
e física, estabelecendo, assim, a intensidade do treinamento, 2001;1(1):10-14.
a duração do exercício e a modalidade. 19. Fazzi A, Barros Filho TEP, Basile Jr R. Lombalgia do
É aconselhável que a elaboração de programas educativos, compartimento posterior: importância no processo
tanto de prevenção, quanto contra a recorrência da lombalgia, degenerativo. Rev Bras Ortop 1992; 27(3):106-11.
através da atividade física, se direcione no sentido de 20. Cailliet R. Síndrome da dor lombar. Porto Alegre: Artmed; 2001.
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desenvolvida, no cotidiano de vida, ao longo da existência 22. Coimbra R, Oliveira L. Compressão intradiscal em L5/S1
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artigo 13 - Karynne.pmd 44 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 45

Revisão

Alterações no consumo de oxigênio, na difusão da


membrana alvéolo-capilar e anormalidades músculo
esqueléticas observadas após transplante cardíaco
Impairment of oxygen uptake, alveolo-capillary
membrane diffusion and musculoskeletal abnormalities
after heart transplantation

Luciana Leitão Santos*, Gisele Alves Guimarães**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta graduada pela Universidade Católica do Salvador, **Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica do Salvador

Resumo
Objetivo: Observar as anormalidades persistentes após transplante cardíaco e a influência
Palavras-chave: destas na capacidade para o exercício. Métodos: Foi realizada revisão da literatura
Transplante cardíaco, especializada nos últimos 13 anos através das bases de dados Medline, Lilacs e livros
exercício, difusão alovéolo- publicados no período. Resultados: Ainda que, após a intervenção cirúrgica, haja um
capilar.
incremento na performance cardíaca, nos sintomas e na hemodinâmica, as alterações no
consumo de oxigênio, na difusão da membrana alvéolo-capilar e anormalidades músculo-
esqueléticas persistem após o transplante cardíaco, apesar da discreta melhora. Conclusões:
Anormalidades músculo-esqueléticas, na difusão da membrana alvéolo-capilar e no
consumo de oxigênio adquridas no curso da insuficiência cardíaca congestiva não são
curadas após transplante cardíaco. Esses resultados interferem diretamente na capacidade
para o exercício desses pacientes.

Abstract
Objective: To observe persistent abnormalities after heart transplantation and its
Key-words: influence on exercise capacity. Methods: A literature review was realized including the last
heart transplantation, 13 years in Medline and Lilacs database and books published in the same period. Results:
exercise, alveolo-capillary Even though, after surgical intervention, there was a improvement in cardiac performance,
diffusion.
symptoms and hemodynamics, uptake oxigen changes, alveolo-capillary membrane
diffusion changes and musculoskeletal abnormalities persist after heart transplantation,
despite minimal improvement. Conclusions: Impairement on oxigen uptake, alveolo-capillary
membrane diffusion and musculoskeletal after heart transplantation acquired in congestive
heart failure are not cure after heart transplantation. These results interfere directly on
exercise capacity in these patients.

Artigo recebido 24 de fevereiro de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.


Endereço para correspondência: Luciana Leitão Santos, Rua Guilherme Marback, 6 Bonfim 40415-160 Salvador BA, Tel : (71) 312-7071/9141-5129,
E-mail: luciana-leitao@bol.com.br

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46 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Introdução Alterações observadas após o


transplante cardíaco
A insuficiência cardíaca grave constitui-se num estado
fisiopatológico no qual um déficit na função cardíaca é Apesar de todo o aprimoramento da técnica, a
responsável pela incapacidade do coração em bombear infecção permanece como uma das principais causas de
sangue em um ritmo capaz de suprir as necessidades morbidade e mortalidade significativa após o transplante,
metabólicas dos tecidos. A insuficiência cardíaca grave tem mesmo com a utilização de modernos antimicrobianos [1].
como causas mais comuns a aterosclerose, cardiomiopatia, Além dessa complicação, o transplantado está sujeito aos
valvulopatia, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e efeitos da imunossupressão [1-6] e do descondicionamento
pericardiopatia, as quais têm como condições associadas pré-transplante [7-10]. A qualidade de vida do paciente após
mudanças nos hábitos de vida e ao envelhecimento o transplante melhora consideravelmente, revelando
populacional global. No Brasil, as causas mais comuns são: melhorias quanto às limitações funcionais, possibilitando o
miocardiopatia dilatada, seguida de miocardiopatia chagásica retorno ao trabalho e reintegração na sociedade [11]. Após a
e isquêmica [1]. intervenção cirúrgica, há uma melhora na hemodinâmica, na
O transplante cardíaco é a terapêutica de escolha para performance cardíaca e nos sintomas, mas, ainda assim, a
pacientes portadores de insuficiência cardíaca congestiva capacidade para o exercício é prejudicada [12-14]. A presente
(ICC) refratária ao tratamento clínico no qual a intervenção revisão apresenta algumas das alterações observadas em
medicamentosa e cirúrgica convencional prévia (troca de pacientes submetidos a transplante cardíaco, as quais
válvulas, aneurismectomia, revascularização miocárdica ou influenciam no desenvolvimento de fadiga e conseqüente
implante de marcapasso/desfibrilador) falharam [1,2]. Tal intolerância ao exercício demonstradas por esses pacientes.
fato tornou-se possível devido à evolução tecnológica,
medicamentosa e de pesquisas direcionadas para essa Consumo de oxigênio (VO2)
intervenção.
O presente estudo tem por objetivo apresentar as O consumo máximo de oxigênio, potência aeróbica
alterações no consumo de oxigênio, na difusão da membrana máxima ou VO2 máximo são sinônimos para designar o
alvéolo-capilar e as anormalidades músculo-esqueléticas momento no qual a captação de O2 alcança um platô durante
persistentes nos pacientes submetidos à transplante cardíaco a prática de atividade física e não mostra qualquer aumento
e a influência dessas na capacidade ao exercício, ressaltando adicional ou aumenta pouco com uma carga adicional de
a importância desses conhecimentos para o bom andamento trabalho. Um trabalho físico adicional será realizado pelas
do programa de reabilitação cardíaca. reações de transferência de energia da glicólise com formação
de ácido lático. Sendo assim, o indivíduo ficará exausto e
Metodologia incapaz de continuar a realização da atividade proposta [15].
O VO2 mede a capacidade funcional dos pulmões e do
Esse artigo de revisão de literatura teve suas referências sistema cardiovascular, relacionando-se e dependendo dos
obtidas através de pesquisa por meio da base de dados sistemas de fornecimento, transporte, chegada e utilização
Medline e Lilacs. As palavras-chave utilizadas foram: do oxigênio [15,16]. O VO2 máximo e o limiar anaeróbico
transplante cardíaco, exercício e músculo esquelético. A busca têm sido utilizados para avaliar a gravidade do
de artigos inclui ainda checagem manual de referências e comprometimento cardíaco [16-19]. O consumo de oxigênio
capítulos de livros. Foram encontrados artigos publicados está intimamente ligado com a velocidade de utilização de
em várias línguas, sendo selecionados apenas aqueles ATP [16]. Os pacientes cardiopatas e transplantados
publicados nos idiomas inglês e português. Dessas referências, habitualmente não atingem o consumo máximo de O2,
foram selecionados 20 artigos que preencheram outros definindo-se então o VO2 de pico como o maior VO2 obtido
critérios de inclusão: ano de publicação compreendido entre [19], sendo observado que tais pacientes atingem VO2
1988 e 2001 e apresentação de dados referentes às alterações máximo menor que o predito em testes de exercício [16-19].
observadas após o transplante cardíaco. Foram excluídos Pacientes com significativa vasculopatia do enxerto
todos aqueles artigos que tratavam de transplante cardíaco alógeno têm também uma baixa tolerância ao exercício com
em crianças bem como os que apresentavam descrições do consumo de oxigênio máximo menor que os valores preditos
procedimento cirúrgico e outros procedimentos médicos e após o transplante. Outros fatores com rejeição, denervação
farmacológicos. cardíaca (a qual pode influenciar na capacidade para alcançar
Dos artigos selecionados, 6 são do Brasil, 4 dos Estados a freqüência cardíaca máxima predita para a idade), terapia
Unidos, 3 do Canadá, 3 da Alemanha, 2 do Reino Unido, 1 imunossupressora, descondicionamento, alteração músculo
da França e 1 da Suécia. Os livros ou capítulos de livros esquelética e falha do coração a longo prazo antes do
utilizados também tiveram anos de publicação coincidentes transplante podem contribuir para o VO2 máximo abaixo do
com os dos artigos. predito não só em pacientes com vasculopatia do aloenxerto

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 47

como em todos os receptores de transplante cardíaco [16,18- Em contrapartida, a transferência do monóxido de carbono
24]. A limitação ao exercício é observada na maioria dos (CO) é limitada unicamente pela difusão sendo, por esse
pacientes avaliados de acordo com o consumo máximo de motivo, o gás de escolha para observar as propriedades de
oxigênio e máxima carga de trabalho encontrada, levando a difusão do pulmão [19,20,7,8]. A redução do volume
uma capacidade de trabalho e absorção de oxigênio sanguíneo capilar por processo patológico é capar de
reduzidas [21]. diminuir a capacidade de difusão pulmonar. A capacidade
de difusão do pulmão para o CO é norteada pela área e
Difusão na membrana alvéolo-capilar espessura da barreira sangue-gás e pelo volume de sangue
nos capilares [25].
A transferência de gás movimentado desde a atmosfera Observou-se discreta melhora no fator de remoção
até os alvéolos através da barreira sangue-gás ocorre por pulmonar para o CO como resultado do aumento na
difusão. O fluxo sanguíneo pulmonar é grandemente capacidade pulmonar total, atribuída a melhora no mecanismo
aumentado durante o exercício intenso fazendo com que o do gradil costal [7]. Apesar da melhora na função ventilatória
tempo de passagem do eritrócito no capilar seja diminuído. que ocorre após um ano, não ocorreu melhora adicional após
Conseqüentemente, o tempo disponível para a oxigenação é esse período. A capacidade de difusão tem sido mostrada em
menor, porém indivíduos normais respirando ar ambiente correlação com a diminuição da capacidade ao exercício.
não apresentam queda mensurável na PO2 capilar final [25]. Entretanto, esse fator vem sendo mostrado também como
Contudo, se a barreira sangue-gás encontra-se comprometida não limitante da capacidade ao exercício em pacientes com
por algum processo patológico que dificulte a difusão do ICC e transplantados. As anormalidades ventilatórias têm
oxigênio, a velocidade de elevação da PO2 nos eritrócitos é sido reportadas em conexão com a diminuição da capacidade
correspondentemente lenta e esta pode não alcançar o nível para o exercício após transplante [7,8].
de PO2 do gás alveolar antes que o tempo disponível para
sua oxigenação no capilar tenha terminado. Como resultado, Anormalidades músculo-esqueléticas
observa-se uma diferença na PO2 existente entre o gás alveolar
e o sangue capilar final. O exercício severo reduz o tempo Existem dois tipos de fibra músculo-esquelética
disponível para a oxigenação com conseqüente diminuição classificadas por suas características contráteis e metabólicas.
da PO2 [25]. Desse modo, um paciente com debilidade na As fibras do tipo I são de contração lenta com padrão de
barreira sangue-gás tem mais chances de apresentar atividade elétrica tônico [23]. Contêm numerosas
comprometimento na difusão, caso ele se exercite [8]. mitocôndrias relativamente volumosas, sendo resistentes à
Pacientes com ICC apresentam freqüentemente fadiga e bem apropriadas para o exercício aeróbio
deficiência da função respiratória causada por aumento da prolongado por possuírem alta concentração de enzimas
área cardíaca e efusão pleural recorrentes [8]. Outros fatores mitocondriais necessárias para alimentar o metabolismo
que contribuem são: congestão venosa pulmonar com edema aeróbio.Já as fibras tipo II são de contração rápida com
intersticial, fibrose progressiva e diminuição da perfusão padrão de atividade elétrica fásico. Possuem alta
alveolar [21]. Alterações pulmonares restritivas e obstrutivas fadigabilidade e capacidade de gerar energia rapidamente
ocorrem no curso da deficiência cardíaca. Com a progressão para produzir contrações rápidas e vigorosas. Dependem
da patologia, mudanças estruturais na membrana alvéolo essencialmente de seus sistemas glicolíticos a curto prazo
capilar acontecem resultando em debilidade na capacidade bem desenvolvidos para a transformação de energia.
de difusão. As alterações na função respiratórias Acredita-se que o treinamento específico (e talvez a
correlacionadas com mudanças hemodinâmicas são utilizadas inatividade) possa induzir uma verdadeira transformação
como parâmetro para avaliação do estágio e severidade da de fibras tipo I para tipo II e vice-versa [15].
doença em pacientes com ICC [7]. Pacientes com falência cardíaca crônica, a longo prazo,
A prevalência de anor malidades ventilatórias demonstram alterações na histologia e bioquímica músculo-
obstrutivas e restritivas são melhoradas após um ano. A esquelética incluindo atrofia muscular, diminuição da
capacidade de difusão persiste diminuída após esse percentagem de fibras tipo I e aumento nas fibras tipo II e
período, sugerindo que as mudanças estruturais na II b acompanhadas por um decréscimo na capacidade
membrana alvéolo-capilar desenvolvidas no curso da ICC enzimática oxidativa, seguida de decréscimo na capacidade
não regrediram, embora o principal estímulo, a congestão aeróbia.Tais adaptações músculo-esqueléticas em resposta
venosa pulmonar, seja revertido após o transplante [7]. à falência cardíaca resultam em surgimento anaeróbio
Este estudo teve como resposta o transplante como precoce e fadiga, tendo papel importante na determinação
produtor de um aumento na taxa e severidade das da tolerância e da resposta à intervenção terapêutica [23].
anormalidades na difusão pulmonar. Outra possível explicação para o aumento do número de
Fisiologicamente, o fluxo sanguíneo disponível limita a fibras tipo II em pacientes com ICC é o resultado da seleção
transferência de oxigênio para dentro do capilar pulmonar. de células tipo I mortas devido ao aumento na formação

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48 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

de radicais livres em fibras oxidadas, transformando as fibras funcionais nas células endoteliais, incluindo uma incapacidade
tipo I em tipo II [23]. de relaxamento do endotélio dependente [10].
Pacientes com ICC a longo prazo demonstram A dispnéia pode ser exacerbada pelas anormalidades na
metabolismo anaeróbio precoce na musculatura esquelética musculatura respiratória. O trabalho de respirar é grandemente
durante o exercício. As anormalidades intrínsecas no músculo aumentado em pacientes com ICC [8,9]. A desoxigenação da
podem também contribuir para o metabolismo anaeróbio musculatura respiratória acessória ocorre durante o exercício
precoce. A diminuição do número de fibras tipo I (as quais em pacientes com ICC crônica [9]. A dispnéia apresentada
têm alto potencial para a oxidação aeróbia) e o aumento no durante o exercício submáximo é significativamente
número de fibras tipo II b é um potente estímulo para o correlacionada com parâmetros da função muscular
aparecimento precoce de metabolismo anaeróbio, respiratória, sendo aliviada após transplante. Tal fato pode ser
contribuindo para a fadiga durante o exercício [20]. atribuído às pressões pulmonares menores, melhora da função
O descondicionamento possibilita o aumento na produção da musculatura esquelética ou uma combinação desses [10].
de lactato durante o exercício submáximo na musculatura A capacidade ventilatória sustentável máxima esteve
esquelética.Observou-se que, além de alterações na significativamente diminuída em pacientes com ICC. Esta
composição da fibra, houve diminuição do número de aumenta após transplante, mas permaneceu reduzida quando
capilares ao redor de cada fibra.A hipóxia muscular devido a comparados transplantados com indivíduos normais. Essa
hipoperfusão esteve presente nos pacientes estudados [20]. descoberta é coerente com a diminuição da endurance da
Pacientes com ICC, a longo prazo, também demonstram musculatura respiratória em pacientes com ICC, a qual
depósitos de lipídios aumentados e fibrose músculo reverte-se parcialmente pós-transplante. Observou-se uma
esquelética, sugerindo uma miopatia generalizada [26] causada melhora da endurance da musculatura respiratória, mas não
tanto pelas anormalidades cardíacas quanto músculo- houve uma normalização [10].
esqueléticas. Alterações na morfologia mitocondrial também
sugerem capacidade enzimática oxidativa reduzida [20]. Conclusão
Os pacientes em estágio final da ICC submetidos à
transplante tem melhora na capacidade funcional e na Observou-se que as anormalidades na difusão continuam
capacidade para o exercício, ainda que reduzida. O aumento, presentes na maioria dos pacientes submetidos à transplante
ainda que discreto, na capacidade para o exercício está cardíaco. Entretanto, não foram encontradas evidências que
relacionada com a performance cardíaca melhorada, aumento suportem a hipótese de que a diminuição na capacidade de
do índice cardíaco, melhora da função pulmonar pela difusão da membrana alvéolo-capilar seja responsável pelo
diminuição da pressão capilar pulmonar, vasodilatação desempenho reduzido ao exercício. Este parece estar reduzido
periférica e ativação neurohumoral. A distribuição do tipo de devido à debilidade na perfusão pulmonar, baixos volumes
fibra não mudou após transplante, com persistência do correntes e fraqueza dos músculos respiratórios. Alterações
predomínio de fibras do tipo II. O número de capilares histológicas da musculatura esquelética podem ter um papel
adjacentes às fibras individualmente também não mudou [23]. importante na fisiopatologia da fadiga durante o exercício
A área de secção transversa da fibra aumentou após o após transplante cardíaco. Se o transplante reverte as
transplante. Entretanto, o aumento na área de fibra tornou- anormalidades na difusão da membrana alvéolo-capilar, no
se significativo apenas 12 meses após o transplante e as áreas consumo de oxigênio e nas anormalidades músculo-
de fibras foram, ainda assim, abaixo dos valores considerados esqueléticas, tais fatos não foram observados. A capacidade
normais [26,10]. O atraso no aumento da área de fibra pode de exercício, embora melhorada, não é normalizada de
ser atribuído às altas doses de corticóide da maneira significativa. Tais fatos influenciam diretamente nas
imunossupressão.Terapia com altas doses de corticóide está respostas do paciente ao programa de reabilitação cardíaca.
associada com atrofia músculo esquelética [26].
Pacientes com ICC possuem depleção rápida anormal de Referências
fosfocreatina e aumento da acidose intracelular durante o
exercício. Tais anormalidades metabólicas persistem após o 1. Couto WJ et al. Transplante cardíaco e infecção. Rev Bras
transplante. Observou-se uma continuada diminuição na Cir Cardiovasc 2001; 16(4):289-304.
capacidade para o metabolismo oxidativo [9]. 2. Regenga MM. Fisioterapia em pré e pós-operatório de
Os defeitos músculo-esqueléticos podem ser permanentes transplante cardíaco. In: Fisioterapia em Cardiologia da
e irreversíveis no momento em que o paciente está doente o unidade de terapia intensiva à reabilitação. São Paulo: Roca;
2000. p.337-57.
suficiente para ser submetido ao transplante [9]. Contra esse
3. Dec W, Jacobs ML. Transplante cardíaco.In: Eagle KA et al.
fato, está a possibilidade de melhora sintomática e do alívio Cardiologia. Rio de Janeiro: Medsi;1993. p.1561-88.
da fadiga após transplante.O uso de corticóides pode causar 4. Assef MS et al. Transplante cardíaco no Instituto Dante
tanto a miopatia por esteróides como a perda muscular. Em Pazzanese de Cardiologia: Análise da sobrevida. Rev Bras
animais, a ciclosporina causa mudanças estruturais e Cir Cardiovasc 2001;16(4):289-304.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 49

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50 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Revisão

Análise da influência do estresse no equilíbrio postural


Analysis of the influence of stress on postural balance

Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, M.Sc.*, Wilma Costa Souza, M.Sc.**, Leonardo Davi Pistarino Pinto***,
Glauco Alexandre Gaban***, Alexsandra Dias Serafim****, Enio Thalles Batista de Faria*****

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Profª. da Universidade Gama Filho (UGF) e da Universidade de Nova Iguaçu, **Fisioterapeuta, Profª. da UGF e
Instituto Metodista Bennett, ***Fisioterapeuta, ****Fisioterapeuta, Profª. da UNIFOA (Volta Redonda), Fisioterapeuta da Maternidade
Carmela Dutra (SMS-RJ), *****Acadêmica de Fisioterapia da UGF

Resumo
O equilíbrio postural refere-se ao alinhamento dos segmentos articulares necessários
Palavras-chave: para manter o centro de gravidade dentro dos limites máximos da estabilidade. Três
equilíbrio postural, estresse, sistemas sensoriais contribuem para a manutenção do equilíbrio postural: visão,
ansiedade, desequilíbrio, vestibular e somatossensorial assim como a cognição que permite o indivíduo
sistema vestibular.
desenvolver estratégias de equilíbrio antes mesmo da ocorrência de um evento. O
estresse é definido como uma mobilização química coordenada do corpo humano,
para atender às exigências da luta de vida ou morte ou de uma rápida fuga frente a um
evento que amedronte ou ameace o organismo. As reações ao estresse variam de um
indivíduo para outro e entre elas destacam-se irritabilidade, ansiedade, depressão, apatia,
raiva, pânico e dificuldade de concentração. A ansiedade, que é um sintoma de estresse,
parece influenciar no equilíbrio postural provavelmente por diminuir a capacidade
perceptiva além de intervir nos sistemas somatossensorial, visual e vestibular. Sendo
assim, é necessário incorporar na fisioterapia, além do re-treinamento sensorial, as
terapias cognitivo-comportamentais para obtenção de maior êxito neste campo de
intervenção terapêutica, embora sejam necessárias maiores pesquisas para se desenvolver
e validar tais planos terapêuticos.

Artigo recebido 24 de abril de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.


Endereço para correspondência: Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, Av. Oliveira Botelho, 504, Alto 25960-001 Teresópolis RJ, Tel: (21) 26423545/
99975790, E-mail: glrosa@terenet.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 51

Abstract
The postural balance refers to the proper linear position of the necessary joint segments
Key-words: to keep the gravity center within the maximum limits of stability. Three sensory systems
postural balance, stress, contribute to the maintenance of the postural balance: sight, vestibular and
anxiety, vestibular system, somatossensorial, as well as the cognition which permits the individual to develop balance
unbalance.
strategies before the occurrence of an event. Stress is defined as a coordinate chemical
mobilization of the human body, to meet the demands of the fight for life or death or of
a fast getaway in face of an event that frighten or threaten for the organism. The
reactions to stress vary from person for other and among them outstand irritability,
anxiety, depression, apathy, rage, panic and concentration difficulty. The anxiety, which
is a stress symptom, seems to influence the postural balance probably because it decreases
the perceptive capacity besides its interference on the somatossensorial, visual and
vestibular systems. It is necessary to incorporate in physical therapy treatment, besides
the sensorial re-training, behavioral cognitive therapies to obtain a better result in this
field of therapeutical intervention although further researches are necessary to develop
and to validate such therapeutical plans.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução sistema nervoso central ou se há uma chance maior de


ocorrerem ao mesmo tempo [9].
A postura, usualmente definida como o arranjo relativo Este trabalho tem por objetivo, analisar, através de revisão
das partes do corpo, envolve um complexo mecanismo para da literatura, a possível influência do estresse no equilíbrio
atingir o equilíbrio nas diversas atitudes corporais assumidas postural visando com isso a possibilidade de se propor uma
no dia a dia [1,2]. abordagem investigatória e terapêutica desses distúrbios de
Equilíbrio é a capacidade de manter-se equilibrado ou a equilíbrio voltada também para os aspectos psicológicos além
capacidade de manter o centro de gravidade sobre a base de dos de ordem vestibular, visual e somatossensorial
apoio [3]. O equilíbrio depende da capacidade de manter uma favorecendo, através uma intervenção multiprofissional, a
posição, de se estabilizar durante as atividades voluntárias e prevenção de doenças ou sua recuperação mais rápida e eficaz.
de reagir às perturbações externas [4,5].
Três sistemas sensoriais contribuem para a manutenção Desenvolvimento
do equilíbrio postural: visão, vestibular e somatossensorial
[6]. A cognição parece também ter papel importante nesse Equilíbrio postural
controle como observado por Perrin et al. [7].
O estresse é definido como uma mobilização química O equilíbrio postural refere-se ao alinhamento dos
coordenada do corpo humano, para atender às exigências da segmentos articulares necessários para manter o centro de
luta de vida ou morte ou de uma rápida fuga frente a um gravidade dentro dos limites máximos da estabilidade [10].
evento que amedronte ou ameace o organismo [8] e por isso, A manutenção do equilíbrio postural é um complexo
envolve diversas respostas do ser humano. mecanismo de controle, alimentado por um fluxo de impulsos
É provável que a ansiedade (que é considerado sintoma neurológicos provenientes dos sistemas proprioceptivo,
de estresse) possa influir na habilidade do indivíduo usar o vestibular e óculo-motor cujas informações são processadas
sistema somatossensorial, visual e vestibular para o adequado pelo sistema nervoso central e retornam pelas vias eferentes
controle do equilíbrio [9]. para manter o controle do equilíbrio corporal pela contração
Hipotetiza-se também que um elevado estado de dos músculos antigravitacionários [6].
ansiedade poderia influir na capacidade cognitiva [1]. Embora o equilíbrio seja freqüentemente considerado um
Na verdade, não está claro se as alterações do equilíbrio e processo estático, é na verdade, um processo dinâmico que
desordens de ansiedade têm uma patofisiologia comum no envolve vias neurológicas múltiplas [10].

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52 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

O sistema somatossensorial (ou proprioceptivo) contribui A cognição também parece ter papel importante no
para o equilíbrio ao fornecer informação acerca da localização controle postural levando o indivíduo a desenvolver
relativa das partes corporais. estratégias de equilíbrio antes mesmo da ocorrência de um
Ele fornece informações sobre a posição e o movimento evento [7]. Segundo os autores o controle postural pode
do corpo em relação à superfície de apoio, e sobre a posição envolver um sistema de referência baseado em conhecimento
e o movimento dos segmentos do corpo em relação uns aos anterior e um processo de correção quando surgem súbitas
outros. Este sistema também pode fornecer informações modificações. Este último depende do aprendizado ou
sobre alinhamento dos segmentos do corpo em relação uns experiência e da cognição.
aos outros e à superfície de apoio, descrevendo o estiramento O equilíbrio ortostático é influenciado por diversos fatores
muscular e a posição articular do tornozelo ou de articulações fisiológicos, como a respiração, os batimentos cardíacos e o
mais proximais. O sistema somatossensorial é particularmente retorno venoso [17,18] e fatores mecânicos como diferentes
sensível aos movimentos rápidos, como os produzidos por bases de apoios [19], mudanças súbitas de peso ao segurar
perturbações repentinas nas posições articulares [11]. uma carga [20], aumento progressivo de massa em gestantes
A informação proveniente desse sistema tem origem em [21], fraqueza muscular, alterações na acuidade proprioceptiva
fontes periféricas, como músculo, cápsula articular e outras e na amplitude de movimento [10].
estruturas de tecidos moles e é retransmitida ao bulbo e tronco Do ponto de vista clínico, a separação entre os processos
cerebral através da via medial - leminiscal da coluna dorsal de equilíbrio, sensoriais e motores significa que um indivíduo
[12]. Essa informação ajuda a coordenar os movimentos dos pode apresentar um equilíbrio deficiente por duas razões: A
olhos, da cabeça e do pescoço, a fim de estabilizar o sistema posição do centro de gravidade com relação à base de suporte
visual e a manter as posturas e os padrões coordenados do não está sendo percebida com precisão; Os movimentos
movimento [13]. automáticos necessários para levar o centro de gravidade para
O sistema vestibular é uma das ferramentas mais uma posição equilibrada não estão sincronizados ou
importantes do sistema nervoso no controle da postural. coordenados de maneira eficiente [22].
Ele é ao mesmo tempo um sistema sensorial e motor. Na
sua função de sistema sensorial, ele fornece ao sistema Estresse
nervoso central (SNC) informações sobre a posição e o
movimento da cabeça e a direção da gravidade. O SNC usa Nos anos recentes, o termo estresse tem aparecido com
essas informações, combinadas com as fornecidas por freqüência na literatura relacionado às diversas manifestações
outros sistemas sensoriais, para construir uma imagem da psicofisiológicas que são observadas no organismo quando
posição e do movimento do corpo todo e do ambiente que este se vê frente a uma situação que o ameace ou amedronte.
o cerca. Reações fisiológicas do organismo frente a eventos
Além de fornecer informações sensoriais, o sistema estressantes foram primeiramente descritas por Selye [8] que
vestibular também contribui diretamente para o controle as dividiu em 3 fases. Na fase de alarme, o organismo se depara
motor. O SNC utiliza as vias motoras descendentes, que com um agente estressor, o que provoca a liberação de
recebem informações vestibulares e de outros tipo, para diversos hormônios deixando - o em estado de prontidão ou
controlar as posições estáticas da cabeça e do corpo e para alerta. Se o estressor é de grande intensidade ou de longa
coordenar os movimentos posturais. Este sistema, que duração, surge a fase de resistência que é caracterizada pela
contribui com informações importantes para a sensação e a tentativa do organismo restabelecer seu equilíbrio interno
percepção do movimento e da posição do corpo como um usando a energia adaptativa de reserva. Na fase de exaustão
todo, consiste em dois tipos de sensores de movimento: os finalmente, não há mais resistência para lidar com o estressor,
canais semicirculares e os órgãos otolíticos. Os canais ocorrendo aumento das estruturas linfáticas, exaustão
detectam o movimento rotacional da cabeça e os órgãos psicológica e física com o aparecimento de doenças [23].
otolíticos detectam a aceleração linear [14]. Walter Cannon, fisiologista americano, descreveu em 1932
O sistema visual sinaliza a posição e o movimento da a resposta de luta ou fuga observada no organismo a partir
cabeça em relação aos objetos circunjacentes. Este sistema de manifestações fisiológicas reguladas pelo sistema nervoso
pode fornecer ao SNC informações necessárias para simpático e pelo sistema endócrino quando o indivíduo sente-
determinar se o sinal das estruturas otolíticas corresponde a se ameaçado [24].
uma inclinação em relação à gravidade ou a uma translação Com base no trabalho de Cannon, pode-se definir estresse
linear da cabeça. O sistema visual também fornece como uma mobilização química coordenada do corpo
informações sobre a direção vertical, a posição e o movimento humano, para atender às exigências da luta de vida ou morte
da cabeça em relação aos objetos circunjacentes e orienta a ou de uma rápida fuga frente a um evento que amedronte ou
cabeça a manter uma posição correta além de informar acerca ameace o organismo [8].
do movimento dos objetos circundantes, oferecendo assim, A partir da década de 60, psicólogos vêm estudando a
orientação da velocidade do movimento [15]. experiência do estresse principalmente do ponto de vista de

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 53

como ele é percebido pelas pessoas, as diversas formas de se Diversos estudos têm relacionado ansiedade e desordens
lidar com ele e de como o estresse pode afetar a saúde [24]. do equilíbrio como os mostrados por Yardley & Redfern
A importância da percepção das pessoas acerca dos [30]. Em seus estudos observaram que pacientes com tonteira
eventos estressantes passou a ser melhor investigada contando persistente após desordem vestibular referiram associação
- se nessa área com a grande contribuição de Richard Lazarus entre episódios de tonteira e períodos de atividade mental,
e colaboradores ao elaborar o conceito de Apreensão estresse ou fadiga.
Cognitiva ainda na década de 50, e posteriormente, integrando É provável que a ansiedade possa influir na habilidade
este conceito no modelo psicológico do estresse. [25]. do indivíduo usar o sistema somatosensorial, visual e
Um evento qualquer pode ser mais ou menos estressante vestibular para o adequado controle do equilíbrio embora
dependendo da forma como individualmente o interpretamos. isto ainda não esteja claro [9].
Além da forma como o indivíduo percebe o evento, sua Para Balaban & Porter [30] a ansiedade talvez exerça efeito
habilidade em lidar com o estressor pode efetivamente direto no funcionamento do sistema vestibular através de
diminuir os efeitos do estresse [26]. numerosas interconexões centrais entre o sistema de
Atualmente, considera-se que as reações do estresse se equilíbrio e o sistema nervoso autônomo através da formação
expressam por um conjunto de modificações que ocorrem reticular e locus coerulus. Alternativamente, é possível que o
no organismo frente a um evento que as pessoas considerem processamento central da informação perceptual, necessária
como ameaça ao seu bem estar [27]. à orientação, seja afetada pela atividade mental que
O estressor é, portanto, o evento considerado ameaçador, acompanha a ansiedade ou o estresse [31].
perigoso ou desafiador pelo indivíduo. Hipotetiza-se também que um elevado estado de
O estresse é considerado positivo em situações que ansiedade poderia influir na capacidade cognitiva e na
impulsionam os indivíduos no sentido da satisfação de suas possibilidade de se utilizar a experiência prévia como
necessidades, porém, ao atingir certos níveis, é nocivo, referência. Em situações de estresse o indivíduo encontrar-
favorecendo inclusive o surgimento de distúrbios orgânicos se-ia invadido pela avaliação pessimista de um perigo que o
e/ou psicológicos. ameaça ou pela dificuldade de uma situação social. A vertigem
É necessário acrescentar que as reações ao estresse variam poderia surgir como a expressão somática da ansiedade [1].
de um indivíduo para outro, e mesmo em um único indivíduo Estudos como os de Yardley & Redfern [30]
variam em momentos diversos, já que fatores sociais e demonstraram que distúrbios de equilíbrio podem estar
psicológicos parecem modificar o impacto do estressor. associados a elevado nível de ansiedade já que estes
Entre as manifestações psicológicas ligadas ao estresse observaram que pacientes com tonteira persistente, após
destacam-se irritabilidade, ansiedade, depressão, apatia, raiva, desordem vestibular, referiram associação entre episódios
pânico e dificuldade de concentração [23]. de tonteira e períodos de atividade mental. Mouzani et al.
O estresse parece influenciar o equilíbrio provavelmente [32] também observaram que a presença da ansiedade
por diminuir a capacidade perceptiva devido à redução da pode agravar a vertigem em pacientes com disfunção
concentração. vestibular. Contudo, em muitos casos foi observado que
o mal estar vertiginoso aparentemente não teve causa
Ansiedade e desordens de equilíbrio psicológica desencadeadora, mas pode levar a uma angústia
secundária.
O termo ansiedade refere-se a um estado de tensão ou Interessante pesquisa desenvolvida por Bohnout et al.
apreensão associada à expectativa de alguma coisa que [33] encontrou correlação significativa entre altos níveis
acontecerá no futuro próximo. O indivíduo com ansiedade de ansiedade e baixa performance do equilíbrio em 7 estu-
generalizada vive muitos meses sob tensão constante, sem dantes saudáveis.
causa aparente, o que lhe provoca distúrbios orgânicos de Outros autores, como Wada et al. [34] encontraram
vários tipos [28]. importante influência do estado de ansiedade no equilíbrio
O termo vertigem pode ser descrito como uma sensação postural. Foram investigadas 31 mulheres, estudantes com
de movimento irregular ou giratório seja de si mesmo ou de idade entre 18 e 20 anos, sem qualquer alteração do equilíbrio.
objetos externos [29]. Gagey & Weber [1], ressaltam que em O resultado da medida do estado de ansiedade (Inventário
linguagem usual a palavra vertigem pode ser associada a uma de estado de ansiedade de Spilberg) mostrou que 16
emoção agradável como na expressão “vertigem do amor”. indivíduos da amostra encontravam-se com elevado estado
Na condição patológica a palavra está ligada a emoções de ansiedade. Todos os participantes da amostra foram
negativas, já que esta pode vir acompanhada de náuseas, submetidos à teste em plataforma de força para a medida
vômitos, dores epigástricas, sudorese, taquicardia, entre das oscilações corporais com olhos abertos e depois fechados.
outros. A sensação de vertigem é também freqüentemente Os autores concluíram que o estado de ansiedade afetou o
associada ao medo do vazio e da altura ou ao sentimento de equilíbrio postural antero/posterior em estudantes em pé
vergonha em público. com olhos abertos.

artigo 07 - Glória.pmd 53 12/02/04, 10:52


54 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Segundo Maki & Mellroy [34] indivíduos saudáveis com Referências


elevado estado de ansiedade submetidos à realização de tarefas
cognitivas (contas aritméticas), mostraram inclinação anterior. 1. Gagey PM, Weber B. Uma breve historia da Posturologia.
Desta forma, concluíram que elevados níveis de ansiedade, Posturologia, regulação e distúrbios da posição ortostática.
provocada pela realização da tarefa, motivou o deslocamento 2ª ed. São Paulo: Manole; 2000. p. 1-7.
anterior do centro de gravidade. 2. Bricot B. Postura normal e postura patológica. Postulorogia.
2ª ed. São Paulo: Ícone; 2001. p.270.
Por outro lado, a cognição, como citado anteriormente,
3. Crutchefield CA, Shumway-cook A, Horak FB. Balance and
também parece ter papel importante no controle postural coordination training. In: Scully RM, Barnes MR (eds). Physical
levando o indivíduo a desenvolver estratégias de equilíbrio Therapy. Philadelphia: JB Lippincott; 1989. p. 825-843.
antes mesmo da ocorrência de um evento [7]. Sendo assim, 4. Berg KO, Wood-dauphinee SL, Williams JT. Measuring
fatores que dispersam a cognição necessária para a balance in the elderly: validation of an instrument. Can J
manutenção do equilíbrio podem ser os responsáveis por Public Health 1992;83:7-11.
seu distúrbio. O fato da ansiedade mostrar-se capaz de alterar 5. Berg KO, Maki BE, Williams JI et al. Clinical and laboratory
a concentração do indivíduo pode justificar sua influência measures of postural balance in an elderly population. Arch
nos distúrbios de equilíbrio postural. Phys Med Rehabil 1992;73:1073-80.
Nos últimos anos, a fisioterapia tem-se mostrado efetiva 6. Nashner LM. Sensory, neuromuscular, and biomechanical
contributions to human balance. In: Nashville, TN. Balance:
na redução dos sintomas em pacientes com desordens de
Proceedings of the American Physical Therapy Association
equilíbrio. De modo geral, esta se baseia na utilização de Forum. 1989. p. 13-15.
mecanismos comportamentais tais como a adaptação, a 7. Perrin P, Schneider D, Deviterne D et al. Training improves
substituição e o reaprendizado. Os exercícios implicam em the adaptation to changing visual conditions in maintaining
movimentos lentos da cabeça, do corpo e dos olhos com human posture control in a test of sinusoidal oscillation of
objetivo de eliciar os sintomas e promover a adaptação a the support. Neuroscience letters 1998;245:155-58.
estes [9]. 8. Selye H. Stress, a tensão da vida. São Paulo: Ibrasa; 1965.
A fisioterapia baseada em exercícios de habituação e 9. Skalare DA, Konrad HR, Maser JD et al. Special issue on
treinamento de equilíbrio pode promover a independência the interface of balance disorders and anxiety, na
introduction and overview. Anxiety disorders 2001;15:1-7.
nas atividades da vida diária, nas tarefas de alto nível e de
10. Prentice W. Técnicas de reabilitação em medicina esportiva.
cuidado pessoal [35]. 3ª ed. São Paulo: Manole; 2002. p. 612.
Entretanto, o fato de alguns pacientes com desordens de 11. Matthews PBC. Mammalian muscle receptors and their
ansiedade, desenvolverem sintomas de desequilíbrio como central actions. London: Edward Arnold; 1972.
parte da reação de ansiedade justifica uma abordagem 12. Stern EB. The somatosensory systems. In: Cohen (ED)
psicológica nos casos onde há a ligação entre distúrbios de Neuroscience for Rehabilitation. Philadelphia: JB
equilíbrio e estresse [9] até mesmo por que o tratamento que Lippincott; 1993.
passar por uma etapa cognitiva para o resgate do equilíbrio 13. Rowinski MJ. Afferent neurobiology of the joint. In: Gold
poderá tornar o paciente mais ansioso e conseqüentemente JA, Davies GJ, eds. Orthopaedic and Sports Physical Therapy.
mais desequilibrado posturalmente. 2ª ed. St. Louis: CV Mosby; 1985.
14. Herdman SJ. Reabilitação vestibular. 2ª ed. São Paulo:
Manole; 2002.
Conclusão 15. Fox CR, Cohen H. The visual and vestibular systems. In:
Cohen H. (ed) Neuroscience for Rehabilitation. Philadelphia:
Por ter a cognição papel importante no controle postural, WB Saunders; 1993. p. 97-128.
além dos sistemas somatossensorial, visual e vestibular, a 16. Imbiriba LA. A influencia da respiração e dos batimentos
alteração na concentração do indivíduo pode interferir no cardíacos no equilíbrio postural. [Dissertação]. Rio de Janeiro:
processo de manutenção do equilíbrio. Programa de Engenharia Biomédica - COPPE/UFRJ; 1997.
O fato da ansiedade parecer ser capaz de influenciar 17. Inamura K, Mamo T, Iwase S et al. One minute wave in
na concentração de pessoas clinicamente estressadas e body fluid volume change enhanced by postural sway during
upright standing. J Appl Physiol 1996; 81(1):456-69.
na habilidade do indivíduo usar o sistema somatos-
18. Kirby RL, Price NA, Macleod D. The influence of the foot
sensorial, visual e vestibular, distúrbios de equilíbrio position on standing balance. J Biomech 1987;20(4):423-27.
mostram-se realmente suscetíveis à influência do estado 19. Carlsöö S. The influence of frontal and dorsal loads on muscle
de estresse. activity and on the weight distribuition in the feet. Acta
Por tudo isso, é necessário incorporar na fisioterapia além Orthopaedi Scandinavia 1964;34:299-309.
do re-treinamento sensorial, as terapias cognitivo- 20. Oliveira LF, Simpson DM, Nadal J. Calculation of area of
comportamentais para obtenção de maior êxito neste campo stabilometric signals using principal component analysis.
de intervenção terapêutica, embora sejam necessárias maiores Physiological Measurements 1996; 17(4): 305-12.
pesquisas para se desenvolver e validar tais planos 21. Nashner L. Computerized dynamic posturography. In:
Jacobson G, Newman C, Kartush J. Handbook of balance
terapêuticos.

artigo 07 - Glória.pmd 54 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 55

function and testing. St. Louis: Mosby Yearbook; 1993. p.280- 29. Yardley L, Redfern MS. Phychological factors influencing recovery
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22. Lipp MEN. Stress, conceitos básicos. Em Lipp MEN. (Org). 30. Yardley L, Watson S, Britton J et al. Effects of anxiety arousal
Pesquisa sobre stress no Brasil. São Paulo: Papirus; 1996. p. and mental stress on the vestibulo-ocular reflex. Acta
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23. Hockenbury DH, Hockenbury SE. Psychology. New York: 31. Mouzani D, Casolari L, Guidetti G et al. Phychological
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psychology. New York: McGraw Hill; 1989. 32. Bohmout B, Gangloff P, Vouriot A, Perrin PP. Mood state
25. Aronson E, Wilson DT, Akert R. Social psychology. San and anxiet. Neurosci Lett 2002;23(1):96-100.
Francisco: W.H. Freeman and Company; 1997. 33. Wada M, Sunaga B, Nagai M. Anxiety affects the postural
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psychological foundations. New Jersey: Prentice Hall; 1998. lett 2000;302:157-59.
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28. Stedman. Dicionário médico. 23ª ed, vol II, Rio de janeiro: Herdman SJ (Org): Reabilitação vestibular. São Paulo:
Guanabara Koogan; 1979. Manole; 2002. C

artigo 07 - Glória.pmd 55 11/02/04, 12:05


56 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Revisão

Adaptação funcional do aparelho respiratório aos efeitos


do envelhecimento: aplicabilidade dos exercícios globais
de força e resistência
Functional adaptation of the respiratory system to the effects of
the aging process: use of global exercises of strength
and endurance

Alexandre de Mayor*, Renata Ungier de Mayor*


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta especialista em U.T.I., **Fisioterapeuta mestranda em Saúde da Mulher e da Criança (Instituto Fernandes Figueira -
FIOCRUZ-RJ)

Resumo
Este estudo de revisão bibliográfica aborda a aplicação de exercícios globais de força
Palavras-chave: e endurance no indivíduo idoso, a partir da compreensão dos efeitos morfofuncionais
Envelhecimento, respiração, decorrentes do envelhecimento sobre a biomecânica respiratória. A literatura mostra
exercício. que os indivíduos idosos se beneficiam da prática de atividade física regular, que minimiza
os efeitos da inatividade sobre suas atividades funcionais, dado que esta constitui um
agravante para a instalação de quadros patológicos.

Abstract
This literature review concerns the use of global exercises of strength and endurance
Key-words: in the elderly, based on the understanding of the morpho-functional effects of aging on
Aging, breathing, exercise. respiratory biomechanics. Studies show that elderly persons benefit from the practice
of frequent physical activity, which minimizes the effects of inactivity on their functional
activities, knowing that it increases the severity of pathological conditions.

Artigo recebido 16 de julho de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.


Endereço para correspondência: Alexandre de Mayor, Av. Ataulfo de Paiva 135 sala 907, Leblon 22440-030 Rio de Janeiro RJ, Tel.: (21)2259-0969 -
Alexandre de Mayor, E-mail: demayor@fisioglobal.com.br - Renata Ungier de Mayor, E-mail: ungier@fisioglobal.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 57

Introdução de processo inflamatório, diferente do que é encontrado


em um pulmão enfisematoso. Devido à atrofia do epitélio
A elevação da expectativa de vida da população mundial ciliar e das glândulas da mucosa brônquica, o mecanismo
faz crescer o interesse por parte dos profissionais da área de de clearance é reduzido, predispondo a um maior risco de
saúde em medidas que mantenham a independência, a autono- infecções [9].
mia e a qualidade de vida dos indivíduos idosos [1]. Estudos No alvéolo, por sua vez, a superfície de revestimento é
sobre as repercussões do envelhecimento se fazem necessários, composta por três tipos de células: as células endoteliais dos
de modo a permitir que estes indivíduos se adaptem às capilares, os pneumócitos tipo I e os pneumócitos tipo II
sucessivas modificações orgânicas que estão por ocorrer. [7]. Os pneumócitos tipo II secretam o surfactante pulmonar,
O envelhecimento constitui, fisiologicamente, modifica- que tem a função de reduzir a força de aproximação da
ções morfofuncionais em diversos sistemas orgânicos, entre superfície de revestimento alveolar, além de permitir que os
eles o aparelho respiratório. Tais modificações podem favore- alvéolos sejam inflados durante a inspiração, mantendo o
cer a inatividade e conseqüentemente o aparecimento de equilíbrio pressórico em alvéolos de diferentes tamanhos e
diversas patologias [2]. reduzindo o esforço dos músculos respiratórios [6]. Não
O presente estudo de revisão bibliográfica tem como existem dados evidentes que comprovem mudanças na
objetivo revisar os efeitos morfofuncionais do envelhecimen- quantidade ou qualidade do surfactante produzido, nem no
to sobre a biomecânica respiratória e a eficácia da aplica- número ou funcionamento das células pneumócitos tipo II
ção de exercícios globais de endurance e força muscular no em idosos [8].
processo de adaptação funcional do idoso. Isso se justifica Exatamente como o pulmão, a parede torácica também é
pelo fato de que, apesar de o indivíduo idoso responder de elástica. Porém, ao contrário do pulmão, sua complacência
maneira positiva aos estímulos solicitados, muitas vezes é diminui progressivamente com a idade. Mudanças na geome-
subestimada a sua real capacidade física, ocasionando um sub- tria do arcabouço torácico ocorrem pela diminuição da massa
aproveitamento dos exercícios [3,4,5]. Por esta razão, as respostas óssea (osteoporose) em decorrência de fraturas completas
morfológicas não são tão evidentes e tampouco favorecem, do (por esmagamento vertebral) ou parciais (vértebra em cu-
ponto de vista funcional, a esperada qualidade de vida. nha), resultando em um aumento do diâmetro ântero-poste-
rior e na acentuação da curvatura fisiológica da coluna
Desenvolvimento torácica. A osteoporose do idoso é resultado da diminuição
da função osteoblástica, dos níveis de calcitonina e da enzima
A biomecânica respiratória e as alterações 1 á-hidroxilase, o que reduz os níveis de vitamina D3 ativa,
decorrentes do envelhecimento causando menor absorção de cálcio no intestino e, conseqüen-
temente, osteoporose [10]. A inatividade do idoso, resultado
O parênquima pulmonar é um tecido complacente, devido da disfunção crônica músculo-esquelética, pode resultar em
à elasticidade oferecida por seus componentes e à diminuição deformações ósseas, ossificação ectópica ao redor das articu-
da força de aproximação da superfície de revestimento lações (osteófitos), perda da mobilidade articular e encurta-
alveolar desenvolvida pelo surfactante. A complacência do mento e/ou esclerose ligamentar [11]. As mudanças do arca-
pulmão é aumentada pela idade [6]. bouço torácico, além de diminuírem a complacência da pare-
Os alvéolos, bronquíolos e vasos sanguíneos são compos- de torácica, modificam a curvatura do músculo diafragma,
tos por fibras conjuntivas colágenas, elásticas e reticulares, alterando a sua capacidade de gerar força [8,9]. A força de
interligadas e organizadas geometricamente. Por esta razão, contração diafragmática é representada pela pressão diafrag-
se estendem durante a força gerada na inspiração e, após a mática (Pdi), resultado da diferença entre a pressão dos
aplicação desta força, se recolhem permitindo o retorno à músculos abdominais (Pab) e a pressão pleural (Ppl). Estudos
sua forma original. Esta interligação de fibras conjuntivas em idosos entre 67 e 81 anos em comparação com grupo
confere às estruturas pulmonares uma interdependência, ou controle mais jovem mostram uma redução de 13% da Pdi
seja, caso um alvéolo tenda a se fechar, os demais contri- durante uma inspiração máxima [8]. O decréscimo na força
buem para sua abertura [7]. Estudos bioquímicos sugerem dos músculos respiratórios em idosos está relacionado a um
que não ocorrem mudanças no conteúdo de fibras conjun- déficit nutricional e parece relevante quando a situação clínica
tivas com o envelhecimento [8]. A força de recolhimento exige uma demanda adicional destes músculos, como por
do tecido pulmonar diminui porque a fibra colágena torna- exemplo, na pneumonia e na insuficiência ventricular
se mais estável, diminuindo o número de ligações intermo- esquerda. Enright et al. [12] correlacionam valores de pressão
leculares, enquanto a rede de fibras elásticas perde sua inspiratória máxima (MIP) e pressão expiratória máxima
organização pela presença de fibras pseudo-elásticas. Quanto (MEP), com peso corporal e massa corpórea. Neste estudo,
aos aspectos morfológicos, encontra-se um homogêneo alar- valores de MIP e MEP mostraram-se significativamente
gamento dos ductos alveolares sem evidência de destruição. correlacionados com a força dos músculos esqueléticos peri-
Não há infiltrados celulares nos alvéolos, sugerindo ausência féricos, como no teste da preensão de mão (handgrip).

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58 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

A força dos músculos esqueléticos periféricos diminui menos complacente, aumentando o volume de ar aprisionado
com a idade, devido à atrofia muscular principalmente das (RV) e conseqüentemente aumentando a capacidade residual
fibras tipo II (fast twitch), enquanto as fibras tipo I (slow twitch) funcional (FCR) [8]. A capacidade pulmonar total (TLC) não
não sofrem mudanças substanciais [3,9]. As fibras do tipo I diminui significativamente ao longo da vida. Isso ocorre
caracterizam-se por apresentar um tempo de contração porque a diminuição da complacência da parede torácica é
relativamente lento, devido a uma baixa atividade de miosina contrabalançada pela maior distensibilidade pulmonar. Por
ATPase na fibra muscular e alto conteúdo mitocondrial que outro lado, a capacidade vital forçada (FVC) e o fluxo
favorece as atividades enzimáticas oxidativas. Estas fibras são expiratório forçado no primeiro segundo (FEV1) diminuem
mais adaptadas para contrações continuadas (endurance) [7]. com a idade. Como fluxo é uma medida que reflete a relação
A alteração entre a quantidade de unidades contráteis e não de um dado volume em relação a uma unidade de tempo,
contráteis (tecido adiposo e conjuntivo) dentro do músculo, temos então, no indivíduo idoso, uma relação entre força de
assim como o déficit na relação entre ativação e recrutamento contração e tempo de resposta motora diminuídas. Além
muscular, também são fatores determinantes para a disso, a alta prevalência de doenças crônico-degenerativas
diminuição da força muscular periférica, resultando, no idoso, no idoso, associada com a inatividade, faz com que estes
em dificuldades nas atividades da vida diária [3,9]. indivíduos apresentem maior comprometimento da função
Estes dados permitem concluir que as mudanças músculo- pulmonar [9].
esqueléticas associadas à idade afetam a função muscular O pico de fluxo expiratório (PEF) também decresce com
respiratória e, por isso, medidas que visem trabalhar a função a idade em indivíduos idosos não fumantes, sugerindo que
respiratória, sem abordar a globalidade do corpo, serão de as alterações morfológicas das pequenas vias aéreas sejam
pouca eficácia. decorrentes da presença de um padrão obstrutivo. Isso não
implica dizer que, para estes indivíduos, esse padrão seja
As provas de função pulmonar considerado fisiologicamente inadequado para a manuten-
ção das suas funções. O volume de fechamento (CV), que
As provas de função pulmonar constituem a análise é o volume em que as pequenas vias aéreas começam a se
prática da fisiologia respiratória [13]. Com o objetivo de fechar durante a expiração, alcança, com o envelhecimento,
quantificar a perda da função pulmonar, acompanhar a 55% a 60% da TLC. Tanto a alteração do PEF quanto do
evolução do envelhecimento sobre o sistema respiratório e CV deve-se à alteração da organização e composição dos
observar o impacto das terapêuticas empregadas, alguns tecidos de suporte destas vias aéreas, as fibras conjuntivas
estudos procuraram relacionar as repercussões do elásticas e colágenas.
envelhecimento com a função pulmonar. A ventilação voluntária máxima (MVV) é uma medida da
Como pode ser observado na Tabela I, em relação aos função muscular, pois avalia a capacidade de trabalho da
valores preditivos, todos os indivíduos idosos apresentavam musculatura respiratória em relação às forças elásticas e
função pulmonar normal. Entretanto, em valores absolutos, resistivas do sistema respiratório. Quando a MVV está
pode-se observar o declínio nos níveis de capacidade vital diminuída, mostra que o indivíduo está com a capacidade
(VC) e fluxo expiratório, assim como um aumento do volume aeróbica reduzida. Isso é determinante para os músculos
residual (RV), demonstrando, porém, que se encontram respiratórios, principalmente o diafragma, entrarem mais
dentro do que se pode esperar em decorrência do rapidamente em fadiga. O consumo de oxigênio (V’O2)
envelhecimento [14]. durante o exercício, que entre os 20 e 30 anos encontra-se
Um homem de 60 anos em repouso tem um aumento no no pico máximo, é significativamente menor nos indivíduos
gasto energético estimado em 20% em comparação a um idosos sedentários do que naqueles que permanecem
indivíduo de 20 anos de idade durante a ventilação corrente. praticando uma atividade física regular [8]. Estes achados da
Este indivíduo passa a respirar com volumes mais altos função pulmonar estão de acordo com os estudos de
porque o pulmão torna-se mais distensível e a parede torácica DeLorey e Babb [14], que afirmam que o envelhecimento

Tabela I - Função pulmonar


FVC FEV1 FEV1/FVC PEF TLC RV/TLC MVV Dlco
Indivíduos (% pred) (% pred) (% pred) (% pred) (% pred) (% pred) (% pred) (% pred)
Jovens 4,43 ± 0,94 3,50 ± 0,75 (79 ± 4 ) 8,84 ± 1,77 5,85 ± 1,15 (24 ± 4) 150,9 ± 36,9 25,7 ± 5,14
(35 a 45 anos) (109 ± 9) (104 ± 9) (118 ± 1) (99 ± 11) (115 ± 13) (105 ± 14)
Senior 4,12 ± 1,08 2,92 ± 0,74 (72 ± 5) 7,85 ± 2,37 6,54 ± 1,31 (37 ± 6) 120,5 ± 30,6 21,6 ± 4,57
(65 a 75 anos) (115 ± 17) (104 ± 13) (109 ± 14) (114 ± 13) (110 ± 12) (110 ± 16)
Idosos 3,08 ± 1,00 2,04 ± 0,67 (67 ± 7) 5,82 ± 1,33 5,55 ± 1,69 (45 ± 5) 86,0 ± 25,9 13,85 ± 2,75
(85 a 95 anos) (109 ± 18) (109 ± 16) (100 ± 20) (110 ± 22) (97 ± 11) (97 ± 11)
Fonte: [14]

artigo 08 - Alexandre.pmd 58 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 59

causa importantes restrições à mecânica respiratória durante reduz a fraqueza muscular. A melhora na endurance favorece
o exercício. Isso significa, contudo, que indivíduos idosos a adaptação dos grupamentos musculares esqueléticos a uma
tenham limitação para o exercício, a menos que a função maior demanda metabólica que, por sua vez, aumentam a
cardiovascular sobrecarregue a função respiratória. tolerância à fadiga muscular, inclusive dos músculos
respiratórios, entre eles o diafragma. Esta melhora muscular
Efeitos fisiológicos do exercício no idoso permite uma melhor resposta global do organismo às
atividades funcionais, beneficiando uma maior autonomia e
Alguns estudos utilizam inadequadamente o termo independência. A diminuição do desuso muscular é
“fisioterapia torácica”, designando uma série de condutas acompanhada por um aumento do nível de mobilidade
restritas e de difícil validação [15]. Desse modo, o aprofun- funcional e atividade global [17], ou seja, a melhor qualidade
damento do estudo de uma técnica em particular permanece de vida, está relacionada ao conjunto dos efeitos do exercício,
carente de uma inserção da abordagem fisioterápica em um e não a uma função específica.
contexto global do paciente. Os benefícios de cada conduta Em idosos, o aumento da força muscular ocorre, não
não devem ser analisados somente do ponto de vista de somente como resultado da hipertrofia, mas também por
seus efeitos sobre o parênquima pulmonar, mas também uma adaptação neural da fibra muscular [4]. Entre as
deve ser levada em conta sua relação com os aspectos adaptações neurais, estão incluídas uma melhor sincronia no
biomecânicos (mobilidade articular, contração muscular, estímulo deflagrado nas unidades motoras e uma maior
posicionamento, etc). habilidade de recrutamento de unidades motoras para
Para a manutenção de uma vida independente, é permitir o adequado ajustamento na força a ser utilizada.
indispensável no idoso, a atividade de locomoção. Indivíduos Harridge et al. [18] realizaram um treinamento muscular de
acima de 75 anos apresentam alterações neuro-musculares resistência progressiva para o músculo quadríceps femoral,
que, associadas à reduzida atividade diária, apresentam em indivíduos idosos entre 85 e 97 anos de idade, 3 vezes
diminuição da função sensório-motora, causando, por sua por semana, durante 12 semanas. Ao final do estudo,
vez, diminuição do equilíbrio e aumentando o risco de quedas, observou-se, entre os indivíduos participantes do programa
fraturas e confinamento ao leito [4]. Toda situação que leve o de treinamento, um aumento médio de 134% na força do
idoso à inatividade deve ser evitada, uma vez que a inatividade músculo quadríceps femoral e de 10% na área de secção
tem uma grande relação com a alta incidência de mortalidade cruzada muscular. Outros artigos, citados por este autor,
no idoso por pneumonia comunitária [2]. apontam na mesma direção. Nguyen [19] relata que a carga
A caminhada é um exercício aeróbico que tem por repetitiva imposta pelos exercícios de força pode, como efeito
finalidade trabalhar não somente os grupamentos musculares secundário, manter ou aumentar a densidade mineral óssea.
periféricos, mas também os músculos respiratórios. À medida
que o nível de trabalho é aumentado, a captação de oxigênio Conclusão
aumenta linearmente até chegar ao V’O2 máximo. Aumento
de atividade acima deste nível somente pode ocorrer através A função respiratória não pode ser dissociada das
da glicólise anaeróbica com produção de lactato. Indivíduos atividades funcionais nos seres humanos. Alterações
inativos entram nesse processo anaeróbico com níveis morfofuncionais são progressivamente impostas a todos os
relativamente baixos de atividade [16]. A combinação da indivíduos ao longo da vida, sendo que, ao acometer o
caminhada com exercícios de força muscular, equilíbrio, aparelho respiratório, conferem limitações significativas
flexibilidade e alongamento aumentam a função sensório- [8,9,14]
motora em idosos [4]. Segundo Canguilhem [20], “Quando classificamos como
Em indivíduos idosos que praticam exercícios regulares, patológico um sintoma ou um mecanismo funcional isolado,
o sistema respiratório pode se adaptar a níveis mais altos de esquecemos que aquilo que o torna patológico é sua relação de inserção
exigência física [8]. Coggan et al. [5] relatam, em estudo, o na totalidade indivisível de um comportamento individual”. Ou
efeito do exercício de endurance sobre a capacidade oxidativa seja, é preciso conhecer o indivíduo para saber se as
e o aumento do número de capilares musculares em indivíduos restrições impostas pelo envelhecimento serão significativas
idosos entre 60 e 70 anos de idade. Os achados foram um ou não, para a manutenção de uma função adequada dentro
aumento de 20% na densidade capilar, enquanto o número do contexto da sua vida. O mesmo autor se refere à doença
de capilares por fibra muscular aumentou em 25%. como uma nova norma fisiológica, onde a terapêutica deve
Exercícios regulares não eliminam completamente a perda ter como objetivo a adaptação. Em um contexto de
muscular relacionada à idade, mas podem aumentar a nor malidade, o envelhecimento também provoca
resistência (endurance) e a força muscular nos indivíduos idosos alterações nas normas fisiológicas vigentes, demandando
de maneira similar à observada nos indivíduos jovens [17]. medidas objetivas que facilitem sucessivas adaptações,
Outro dado importante é que a suplementação alimentar, sem necessárias para que tais novas normas não favoreçam a
nenhuma prática regular de exercícios concomitantes, não instalação de um quadro patológico.

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60 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Não há dúvida de que a prática de atividade física regular pathophysiology, diagnosis, oxygen therapy In: Textbook
favorece a adaptação do indivíduo idoso às modificações of medical physiology. Philadelphia: W B Saunders; 1996;
decorrentes do envelhecimento. Os efeitos benéficos p.537-45.
proporcionam um envelhecimento mais saudável, acarretando 8. Janssens JP, Pache JC, Nicod LP. Physiological changes in
respiratory function associated with ageing. Eur Respir J
uma lentidão das alterações fisiológicas decorrentes deste
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processo, tanto nos idosos saudáveis como naqueles ditos 9. Gorzoni ML, Russo MR. Envelhecimento respiratório In:
“fragilizados” [9]. De um modo geral, os exercícios impõe, Freitas EV et al. Tratado de geriatria e gerontologia. 1a ed. Rio de
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positivamente aos estímulos e obtêm ganhos morfofuncionais implications for muscle fibers. Phys Ther 2001;81(2):819-
significativos. Por esta razão, cabe ao fisioterapeuta não 27.
subestimar sua capacidade física e solicitar o estímulo 12. Enright PL, Kronmal RA, Manolio TA, et al. Respiratory
muscle strength in the elderly: correlates and reference values.
adequado para se obter os ganhos funcionais desejados. Am J Respir Crit Care Med 1994;149:430-38.
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artigo 08 - Alexandre.pmd 60 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 61

Revisão

A intervenção fisioterapêutica na doença de Parkinson


The physical therapy intervention in Parkinson disease

Soraya Carvalho da Costa Monte*, João Santos Pereira, D.Sc.**, Marco Antônio Guimarães Silva, D.Sc.**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Neurológica, **Professor Titular do PROCIMH, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro

Resumo
A proposta deste estudo é avaliar as condutas terapêuticas não medicamentosas
Palavras-chave: utilizadas na doença de Parkinson. Realizou-se revisão bibliográfica dos últimos anos
Doença de Parkinson, com intuito de mostrar e comentar a importância e a eficácia da fisioterapia na doença
atividade física. de Parkinson.

Abstract
The aim of this study was to assess therapy, except drugs, in Parkinson disease. It was
Key-words: done a literature review of the last years to show and comment the importance and
Parkinson disease, efficacy of physical therapy in Parkinson disease.
physical activity.

Artigo recebido 24 de novembro de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.


Endereço para correspondência: Soraya Carvalho da Costa Monte, Rua Canhoba, 27 Santa Cruz 23575-040 Rio de Janeiro RJ

artigo 09 - Soraya.pmd 61 11/02/04, 12:05


62 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Introdução ocupacional de grande importância. Uma vez confirmado o


diagnóstico, o tratamento deve ser iniciado. O paciente e a
A doença de Parkinson (DP), com uma prevalência de família precisam de orientação relacionada às atividades
1% na população geral, é uma patologia de evolução lenta diárias e aconselhamento de como enfrentar a doença.
que reduz progressivamente os movimentos voluntários,
observando-se alterações motoras, que acometem a marcha, Tratamento fisioterapêutico
o equilíbrio e a postura. Bioquimicamente a doença de
Parkinson consiste na diminuição da concentração de A fisioterapia atua nos sinais e sintomas da doença de
dopamina (DA) no estriado. Isto decorre da morte neuronal Parkinson, tais como: rigidez, bradicinesia, tremor e marcha.
na substância negra (geralmente acima de 80%) reduzindo a O programa de exercícios cinesioterapêuticos ativo livre e
produção de DA e conseqüentemente sua ação no estriado. passivo tem como objetivo desacelerar a progressão da
Estudo bioquímico demonstrou que ocorre aumento da doença, impedindo o desenvolvimento de complicações e
concentração de DA logo no início da vida seguindo-se, a deformidades secundárias e manter ao máximo as
partir dos 20 anos perda lenta e progressiva [1]. Através da capacidades funcionais do paciente [5].
anatomia patológica observa-se despigmentação da substância A curto prazo as seguintes metas são relevantes para o
negra (devido à morte neuronal e conseqüentemente redução tratamento do paciente com parkinsonismo [6,7]:
da melanina) e o aparecimento de inclusões fibrilares
intracitoplasmática (corpúsculos de Lewy). Tem sido proposto • Manter ou aumentar a amplitude de movimentos em
que a DP seja uma aceleração anormal do processo de todas as articulações;
envelhecimento. • Impedir contraturas e corrigir as posturas defeituosas;
O diagnóstico clínico da doença de Parkinson baseia-se • Impedir a atrofia por desuso e a fraqueza muscular;
na história da doença do paciente, no exame clínico e na • Promover e incrementar o funcionamento motor e a
epidemiologia. Os exames complementares tais como mobilidade;
tomografia computadorizada cerebral (TCC) e Ressonância • Incrementar o padrão de marcha;
Magnética de Crânio (RMC), são utilizados para diagnóstico • Melhorar os padrões de fala, respiração, expansão e
diferencial. A Tomografia por emissão de pósitrons (PET), mobilidade torácicas;
disponível em raros hospitais no Brasil, tem como finalidade • Manter ou aumentar a independência funcional nas
avaliar a funcionalidade dos núcleos da base na Doença de atividades da vida diária;
Parkinson e outras doenças degenerativas do SNC sendo de • Ajudar o ajustamento psicológico à incapacidade
grande utilidade para se observar à progressão desta doença. funcional nas atividades da vida diária;
Um método fácil e de grande utilidade prática para • Melhorar o equilíbrio e a instabilidade postural.
avaliação da doença, são as escalas de pontuação que podem
ser utilizadas para analisar a evolução clínica da doença ou a Já a longo prazo o programa fisioterapêutico tem por
eficácia do tratamento. Entre elas temos as escalas de Webster, finalidade:
UPDRS, e Hohen Yahr [2] que nos proporcionam uma
avaliação clínica e evolutiva da doença. • Retardar ou minimizar a progressão e efeitos dos
Confirmando-se o diagnóstico de DP, o passo seguinte sintomas da doença;
será analisar o impacto desta doença sobre o desempenho • Impedir o desenvolvimento de complicações e
das atividades diárias do indivíduo. Deverá, então, o deformidades secundárias;
parkinsoniano, ser inquirido pormenorizadamente sobre sua • Manter ao máximo as capacidades funcionais do
capacidade para as atividades da vida diária, tais como de paciente;
falar, alimentar-se, deglutir, levantar-se da cadeira, vestir-se, • Melhorar a qualidade de vida do paciente, reintegrando
manter a higiene pessoal, escrever, rolar na cama, andar, a sociedade.
trabalhar e manter o convívio social [3,4].
Com base nestes conceitos, resolvemos elaborar esta Exercícios de amplitude de movimento
revisão de literatura com a finalidade de atualizar as diferentes
condutas desta doença no tratamento fisioterapêutico. Os exercícios ativos e passivos devem ser feitos várias
vezes ao dia (dentro da amplitude de movimentos). Os
Desenvolvimento exercícios ativos irão ajudar a fortalecer os músculos
extensores alongados, enquanto que estirará os flexores que
Embora o tratamento medicamentoso seja se grande se apresentam retesados e encurtados. Quando o paciente
importância para melhora dos sintomas, a terapêutica para se encontra limitado no movimento ativo que ele pode
os indivíduos parkinsonianos envolve cuidados médicos e realizar, geralmente deve-se utilizar o movimento passivo e
reabilitatórios, sendo a fisioterapia, a fonoaudiologia e a terapia ativo assistido. As contraturas de músculos específicos podem

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responder as técnicas de inibição antagonista, como a técnica posteriormente aumenta com a extensão do tronco, que é
de facilitação neuromuscular proprioceptiva (contrair-relaxar). importante para o parkinsoniano. [5,8]
No entanto, como o relaxamento muscular que ocorre Conseguindo-se diminuir a rigidez através do relaxamento,
geralmente não é completo, o fisioterapeuta deverá utilizar- o movimento pode ser iniciado. Para o indivíduo com doença
se de movimentos lentos, rítimicos e rotatórios dentro de de Parkinson, esse movimento deve ser em toda amplitude.
uma amplitude total de movimento. O estiramento passivo Com as técnicas de relaxamento, torna-se mais fácil começar
prolongado e/ou as técnicas de estiramento mecânico que com movimentos distais e gradualmente aumentar o
usam splints e outros aparelhos podem ser necessárias para movimento, indo para os músculos proximais e tronco. A
melhorar a amplitude de movimento naquelas articulações posição sentada é a melhor posição para iniciar, começando
onde as contraturas estiverem mais acentuadas [6]. com um balanço de braços e aumentando sempre a amplitude.
Os exercícios de amplitude de movimentos para serem Como os padrões simétricos bilaterais são mais fáceis que os
realizados em casa devem ser acompanhados por algum padrões recíprocos, eles devem ser inicialmente utilizados.
equipamento adaptativo, como por exemplo as polias na Para ampliar rotação de tronco (que ajuda a diminuir a rigidez
parede, se a bradicinesia não for muito grave [6]. proximal) pode ser usada facilitação neuromuscular
proprioceptivo (PNF) e iniciação rítmica. Adicionalmente, o
Exercícios de mobilização tratamento pelo neurodesenvolvimento (NTD) e a técnica
de mobilização podem ser úteis para aumentar a mobilidade
Um programa de exercícios para o paciente com escapular e pélvica [6,8,9].
parkinsonismo deverá ser baseado nos padrões de movimento À medida que o movimento aumenta, as atividades bilaterais
funcional, que trabalhe os vários seguimentos do corpo ao podem ser substituídas por padrões recíprocos. A utilização
mesmo tempo. Os movimentos extensores, abdutores e de atividades funcionais também é importante. Nas atividades
rotatórios devem ser realizados várias vezes. Os movimentos de marcha devem ser encorajados os passos e balanceios de
devem ser rítmicos, recíprocos e progredir até que atinjam braços amplos. Adicionalmente, as mudanças na direção, as
uma amplitude total do movimento. Os estímulos verbais, mudanças nos padrões de movimento, as atividades de parar e
tácteis e auditivos irão auxiliar o paciente a reconhecer o iniciar a marcha devem ser bastante enfatizadas [8,9].
movimento. Os comandos verbais, música, metrônomos, Além do tratamento ambulatorial, o parkinsoniano deve
espelhos e a marcação do chão serão auxiliares para se receber um programa domiciliar, sendo necessário encorajar
aumentar a mobilidade geral do paciente. [6] os exercícios moderados e consistentes como parte do dia
O treinamento da marcha é realizado para superar déficits, normal. A fadiga deve ser evitada e os exercícios devem ser
tais como: marcha desequilibrada, alinhamento e reflexos graduados para a capacitação do indivíduo. O terapeuta deve
posturais defeituosos. Tem como objetivo aumentar o passo, ter em mente que habilidades aprendidas, como alguns
alargar a base de apoio, aumentar o movimento contralateral esportes, são por vezes menos afetadas que os movimentos
do tronco e do braço. automáticos [5].
A mobilização dos músculos da face é outro importante A dança de baile é também uma excelente forma de terapia
exercício, devido a interação social limitada na presença da para os pacientes com Parkinson, já que promove
rigidez acentuada e da bradicinesia. Esses sinais podem movimentos rítmicos, rotação, equilíbrio e coordenação [10].
influenciar no estado psicológico e na motivação do paciente. Finalmente, a Doença de Parkinson é uma doença
Deve-se praticar movimentos faciais diários, exageradamente, progressiva, degenerativa. A terapia e os exercícios podem
usando um espelho para o feedback visual. [6] modificar a progressão, mas não podem interromper ou
revertê-la [1,8,9].
Relaxamento e atividade física
Cinesioterapia
Para aumentar o movimento é preciso reduzir a rigidez.
Muitas técnicas de relaxamento parecem efetivas, incluindo A cinesioterapia é, etimologicamente a “arte de curar que
o balanço lento e cuidadoso, a rotação dos membros e do utiliza todas as técnicas do movimento”. Ela faz parte de um
tronco e até mesmo o uso da yoga. Com o parkinsoniano o conjunto de terapias que emprega diversos agentes físicos
sucesso no relaxamento pode ser melhor obtido na posição (água, eletricidade, ondas, calor), que se completam
sentada, já que a rigidez pode aumentar em decúbito dorsal. mutuamente conforme a doença a tratar, conjunto este
Além disso, como os músculos proximais estão mais denominado mais freqüentemente de fisioterapia [11].
freqüentemente envolvidos que os músculos distais, o A intervenção da Fisioterapia, através do recurso
relaxamento pode ser mais fácil de se conseguir seguindo cinesioterapêutico visa proporcionar melhora nos distúrbios
uma progressão distal para proximal. A posição invertida deve motores da doença de Parkinson, proporcionando assim
ser usada com cuidado. Inicialmente esta posição facilita melhor adaptação às atividades da vida diária, seja de ordem
algum relaxamento (aumento no tono parassimpático) e física, psíquica e social [12].

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Cinesioterapia é o emprego de exercícios ou movimentos neurológica é tornar o paciente mais independente possível
como forma de tratamento, com base no princípio de que para realização de suas tarefas de vida diária [14].
um órgão ou sistema se adapta ao estresse ao qual for Existe uma grande variedade de métodos terapêuticos
submetido. Os exercícios terapêuticos envolvem aplicação e disponíveis para tratar pessoas com disfunções neurológicas,
ajustes de estresses de forma apropriada para produzir as sendo que a hidroterapia está se tornando mais aceita, ocupando
adaptações desejadas sem provocar lesões. Os efeitos dessa um lugar definitivo no tratamento destes indivíduos.
intervenção são cumulativos com a manutenção do processo Embora as pesquisas dos tratamentos hidroterápicos em
e revertem caso o processo seja interrompido. pacientes com lesões neurológicas sejam bastante limitadas
O objetivo da cinesioterapia é manter e ou melhorar a até o presente momento, a hidroterapia vem sendo utilizada
performance muscular, promovendo o estado funcional do por muitos fisioterapeutas. Possivelmente a escolha pela
indivíduo. hidroterapia se deva aos efeitos que esta proporciona ao
organismo humano e a grande aceitação por parte dos
O programa de exercícios depende de: pacientes [14].
• Características do tecido muscular (músculos de força, Várias são as técnicas que podem ser aplicadas na
velocidade ou endurance) hidroterapia. O Watsu (Walter Shiatsu, schiatsu aquático) é
• Habilidade do sistema nervoso central para direcionar uma das técnicas que promovem o relaxamento muscular e
e coordenar o movimento o alongamento de musculaturas encurtadas, melhorando as
• Propriedades do sistema de alavancas: comprimento do amplitudes de movimento e trazendo bem-estar geral ao
braço de alavanca paciente [14]. Os métodos de Bad Ragaz e Halliwick podem
• Amplitude de movimento articular ser empregados para o desenvolvimento de força muscular,
• Componentes psicológico ou emocional para melhorar as amplitudes de movimento e proporcionar
um condicionamento físico adequado para os pacientes com
Exercícios respiratórios a doença de Parkinson [14].
Todas as técnicas utilizadas na hidroterapia não devem
Os exercícios respiratórios auxiliam o relaxamento e ser estanques e tão pouco trabalharem segmentos
trabalham de forma eficaz na expansão torácica, aumentando individualmente. Isto garante o trabalho global do indivíduo
a capacidade vital do paciente, prevenindo assim as limitações e é mais condizente com o ambiente aquático que é
músculo-esqueléticas, que podem contribuir para alta extremamente dinâmico [14].
incidência de complicações pulmonares, por ventilação
inadequada. Conclusão
Embora haja limitações respiratórias causadas pelas
alterações posturais típicas do parkinsoniano, estas não estão A Fisioterapia tem um papel importante na manutenção
diretamente ligadas à mortalidade por falência respiratória. física dos pacientes com doença de Parkinson colaborando
A bradicinesia e a rigidez na DP, além de determinarem na melhora dos aspectos motores, psíquicos e evitando o
dificuldade na execução e na repetição dos atos motores em aparecimento de posturas inadequadas que contribuem
geral, afetam os músculos respiratórios, levando-os a fadiga para o agravamento dos sintomas. Juntamente com o
e conseqüentemente limitando a ventilação. tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico pode-se
Ao iniciar um programa de fisioterapia respiratória para proporcionar, em muitos casos, a estabilização dos estágios
esses pacientes, devemos considerar a resistência imposta à da doença, melhorando o prognóstico desta patologia de
mobilização do tórax tanto pela postura em flexão como pela tão difícil tratamento.
presença de rigidez torácica, típicas da DP. Há necessidade para o paciente com DP de um programa
A reabilitação dos portadores de DP tem sido direcionada de tratamento preventivo ou reabilitador, não só motor, mas
especialmente para as limitações motoras, fazendo-se também direcionado para a função respiratória com intuito
necessária avaliação funcional respiratória a fim de identificar de aumentar a amplitude torácica, o que proporcionará
as disfunções e estabelecer programa de tratamento melhora da capacidade funcional desses pacientes, trazendo-
direcionado [13]. lhes maior independência e, por conseguinte melhor qualidade
de vida. A abordagem psíquica e fonoaudiológica, em muitos
Hidroterapia casos, também são necessárias.

A hidroterapia é um recurso da fisioterapia utilizando a Referências


água como agente externo, realizando exercícios aquáticos
terapêuticos em piscinas aquecidas e cobertas, utilizada na 1. Umpherd DA. Fisioterapia neurológica. 2 ed. São Paulo:
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66 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Estudo de caso

Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade:


tratamento fisioterapêutico com
abordagem ludoterapêutica
Attention deficit problems/hyperactivity:
physical therapy with ludotherapy approach
Alcioney Valeski, M.Sc.*, Bárbara Lucia Pinto Coelho**, Michelle Corrêa Rodrigues***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Coordenador do Centro de Pesquisa e
Equoterapia Haras Araranguá, SC – CEPEHA, **Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense –
UNESC, ***Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

Resumo
O objetivo deste artigo é relatar a atuação da Fisioterapia no tratamento do Transtorno
Palavras-chave: de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), utilizando-se a abordagem ludoterapêutica.
Transtorno de déficit de Para tanto, apresenta-se o caso de um paciente infantil, 11 anos, do sexo masculino,
atenção, hiperatividade, diagnosticado como portador dessa condição, atendido no Hospital Regional de Araranguá,
ludoterapia.
situado no Estado de Santa Catarina. O paciente foi submetido a 8 sessões de tratamento,
duas vezes por semana. Em todas as sessões, foram realizados exercícios de alongamento
passivo de membros inferiores, aperfeiçoamento da coordenação motora, equilíbrio,
concentração e, conseqüentemente, a correção postural. Conclui-se que suprir as necessidades
da criança com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade oferece novos desafios
aos fisioterapeutas, porém, existe a necessidade de estudos que identifiquem as reais alterações
motoras e, principalmente, as que apresentam direta ou indiretamente, relação com a
funcionalidade, para que a Fisioterapia tenha parâmetros de elaboração da intervenção.

Abstract
The aim of this article is to report the contribution of physical therapy to Attention
Key-words: Deficit Problems/Hyperactivity, through the ludotherapy approach. It presents the
Upset of deficit of attention, case of an 11 years old boy, attended at Araranguá Regional Hospital, in Santa Catarina
hiperactivity, ludotherapy. state. The patient accomplished eight sessions of treatment, twice a week. In every
session, the treatment consisted of passive stretch exercises in lower limbs, coordination
improvement, balance, concentration, and consequently posture correction. The results
show that providing the children presenting Attention Deficit Problems/Hyperactivity
needs creates physical therapists new challenges, but studies are necessary to identify
the real coordination changes, mainly the ones that are, directly or indirectly, related to
neurological functions, in order to achieve parameters to work out the intervention.

Artigo recebido 16 de setembro de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.


Endereço para correspondência: Prof. Alcioney Valeski, Caixa Postal 331 – 88900-000 Araranguá SC, E-mail: cepeha@hotmail.com

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 67

Introdução além do comum), tais aspectos, entretanto, são normalmente


encontrados em indivíduos sem o problema, por isso, para
O Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade haver o diagnóstico desse transtorno, a falta de atenção e a
(TDAH) é um transtorno do desenvolvimento do tempo de hiperatividade devem interferir significativamente na vida e
atenção, impulsividade e/ou hiperatividade, assim como do no desenvolvimento normais da criança ou do adulto [2].
comportamento, no qual estes déficits são significativamente O transtorno deve estar presente por, pelo menos, seis
inapropriados para idade mental. Tem início na primeira meses, comprometer o funcionamento escolar ou social e
infância, é geralmente crônico ou persistente ao longo do ocorrer manifestações antes dos sete anos [3,4]. Porém, antes
tempo; e não é resultado direto de atraso severo de linguagem, dos quatro ou cinco anos, é difícil ser feito o diagnóstico,
surdez, cegueira, autismo ou psicose infantil [1]. pois o comportamento das crianças nessa idade é muito
Os indivíduos que apresentam este transtorno demonstram variável e a atenção não é tão exigida quanto em crianças
dificuldades de aprendizagem, deficiência do controle motor e mais velhas. Mesmo assim, algumas crianças desenvolvem o
equilíbrio. Algumas crianças, com dificuldades de aprendizado transtorno numa idade bem precoce [2].
apresentam problemas em relação ao controle motor, os quais Estima-se que cerca de 3 a 6% das crianças na idade
se manifestam principalmente durante o uso das mãos e nas escolar (entre 5 a 10 anos) apresentem TDAH [2,5,6]. A maior
atividades relacionadas com o equilíbrio. incidência ocorre no sexo masculino, numa proporção
Assim sendo, o objetivo deste artigo é relatar a atuação equivalente a 2:1.
da Fisioterapia no tratamento do Transtorno de Déficit de Todavia, a diferença da proporção meninos/meninas
Atenção/Hiperatividade (TDAH), utilizando-se abordagem encontrada entre estudos populacionais e clínicos
ludoterapêutica, apresentando-se o caso de um paciente, de provavelmente deve-se ao fato de que as meninas apresentam
11 anos, diagnosticado como portador dessa patologia, menos sintomas de conduta, sendo, portanto, menos
atendido na clínica de Fisioterapia do Hospital Regional de encaminhadas a avaliações e tratamento [6,7]. Porém, mesmo
Araranguá, situado no Estado de Santa Catarina. apresentando-se mais comumente em crianças, não sendo
A motivação para o estudo decorre do fato de que o devidamente tratado, o transtorno continuará se
TDAH é uma patologia totalmente relacionada aos distúrbios manifestando na fase adulta. Em adolescentes e adultos, no
motores, sendo, por isso, a Fisioterapia instada a atuar no entanto, ainda existem poucos dados a respeito de qual é a
tratamento dessa condição. Além disso, a escassez de trabalhos incidência da população afetada [2].
na literatura especificamente tratando da intervenção Quanto aos fatores de risco, a ocorrência do TDAH está
fisioterapêutica em indivíduos com essa patologia reitera a associada a um certo número de fatores de risco pré-natais:
importância do estudo. tabagismo, alcoolismo materno, alimentação rica em açúcar,
Conforme se relata, o distúrbio de hiperatividade com problemas familiares, exposição a determinadas substâncias
déficit de atenção é uma condição freqüente em crianças, e sofrimento emocional pré-natal, porém, o fator de risco
sendo considerado importante problema médico-social. mais aceito é o de uma vulnerabilidade herdada ao transtorno,
Caracteriza-se por distúrbios motores, cognitivos e que vai manifestar-se de acordo com a presença dos fatores
comportamentais, que comprometem o aprendizado de ambientais, desencadeando níveis mais baixos de
crianças normais. metabolismo no cérebro do que os indivíduos que não
apresentam o transtorno. Contudo, quanto mais forte a carga
Revisão da literatura genética, menor a importância desses desencadeadores [6].
Em geral, as principais variáveis causas relacionadas à
Existe atualmente uma variedade considerável para o etiologia do TDAH, apontadas pela literatura, são: fatores
emprego de uma nomenclatura para o problema do déficit neurológicos, reações tóxicas e herança genética. Nesse
de atenção. Na literatura especializada, encontram-se diversas sentido, entre os possíveis fatores etiológicos encontram-se:
siglas para descrever este distúrbio, dentre elas: SHDA substâncias ingeridas na gravidez (nicotina e álcool);
(Síndrome de Hiperatividade com Déficit de Atenção), PHDA sofrimento fetal (sobretudo durante o parto); exposição ao
(Perturbação de Hiperatividade com Déficit da Atenção), chumbo e fatores neurológicos.
ADD (do inglês Attention Deficit Disorder) e TDAH (Transtorno Quanto à patogenia do TDAH, recentes trabalhos
de Déficit de Atenção/ Hiperatividade). científicos encontram evidências que podem ser reunidos
Dessa forma, para essa revisão, adotou-se a nomenclatura em dois grandes grupos: um que aponta para o déficit
“TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade)” funcional de certos neurotransmissores (dopamina e
por considerá-la a mais usada entre os diversos estudiosos noradrenalina) e outro que enfatiza o déficit funcional do
dessa condição. lobo frontal, mais precisamente do córtex pré-frontal [1,8,17].
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade Portanto, estudos estruturais e metabólicos, adicionados
baseia-se nos sintomas de desatenção (pessoa muito distraída) aos estudos genéticos e familiares, conferem ao TDAH uma
e hiperatividade (pessoa muito ativa, por vezes agitada, bem delineação de transtorno neurológico [1].

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68 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Com relação à fisiopatologia, o TDAH está diretamente das razões é a falta de uniformidade dos resultados [12].
relacionado com o controle motor deficitário e, por extensão, As medicações mais testadas em estudos cuidadosos e
com as dificuldades no aprendizado e a falta de atenção mais usadas na prática clínica são os chamados
exacerbada. Podendo-se, assim, observar um ciclo vicioso, onde estimulantes. No Brasil, o único estimulante encontrado
tudo se inicia pelo controle motor deficitário levando às diversas no mercado é o metilfenidato [13], comercializado com o
complicações, conforme se demonstra na figura 1 a seguir [9]. nome de Ritalina [6].
Outra classe de medicações bastante utilizada e que de-
Fig.1 - Ciclo vicioso do controle motor deficitário. monstrou clara eficácia é a dos antidepressivos tricíclicos [6].
Pode parecer paradoxal que medicações chamadas de
estimulantes possam ajudar crianças e adolescentes hiperativos
e impulsivos, entretanto, essas medicações estimulam a função
das áreas cerebrais responsáveis pelo comportamento inibitório
e, por isso, tendem a melhorar o “freio inibitório”. Como os
antidepressivos tricíclicos, os estimulantes aumentam a
disponibilidade dos neurotransmissores que pareçam estar
deficitários nessa área [14].
Porém, apesar dos efeitos salutares da medicação, esse
tratamento é limitado em diferentes for mas: estão
associados aos efeitos colaterais, alguns pais e professores
não aceitam a medicação devido a preocupações filosóficas/
religiosas; esses tratamentos não curam o TDAH no sentido
Fonte: Shepherd (1996) de normalizar totalmente o comportamento da criança e
os efeitos da medicação desaparecem quatro horas depois
O diagnóstico do TDAH é fundamentalmente clínico [7], da administração [14].
sendo que até a presente data, não existe qualquer método Dessa forma, essas limitações para o tratamento
laboratorial, de neuroimagem ou neurofisiológico entre exames medicamentoso promoveram a busca de intervenções
complementares capaz de confirmar o diagnóstico, como se adicionais que possam levar à maior manutenção da mudança
espera de praxe no estudo das doenças pediátricas [10]. comportamental por mais tempo e em diferentes ambientes,
O diagnóstico é feito a partir da demonstração de tais como intervenções psicoterapêuticas e estratégias de
características neurocomportamentais de desatenção e manejo cognitivo-comportamentais em casa e na escola [6].
hiperatividade/impulsividade, comprometedoras do Todavia, a medicação permite que essas outras abordagens
funcionamento do indivíduo e impróprias para determinada terapêuticas sejam mais eficazes [15].
fase do desenvolvimento [1]. Referentemente às complicações, estudos demonstram
Dessa forma, os critérios de diagnóstico para TDAH que crianças com TDAH apresentam um risco aumentado
foram estabelecidos pela Associação Americana de de desenvolverem outros transtornos psiquiátricos na
Psiquiatria, através do Manual Diagnóstico e Estatístico de infância, adolescência e idade adulta, incluindo
Transtornos Mentais (DSM-IV) [11], que apresenta três comportamento anti-social, abuso ou dependência de álcool
subtipos do transtorno: predominância dos sintomas de e drogas, transtornos do humor e de ansiedade [5,7],
desatenção, predominância dos sintomas de hiperatividade e conforme se demonstra na figura 2, a seguir, que representa
impulsividade, e predominância de ambos. a evolução provável do TDAH não tratado [15].
Assim, o DSM-IV, de 1994, distingue 3 tipos de TDAH,
Fig.2 - Evolução provável do TDAH não tratado.
dependendo das manifestações que predominam no quadro
clínico: 1. Tipo predominantemente desatento (TDAH-D);
2. Tipo predominantemente hiperativo-impulsivo (TDAH-
HI) e 3. Tipo combinado (TDAH-C).
O quadro clínico, de uma forma geral, consiste-se na
apresentação de algumas alterações, tais como dificuldade de
atenção e concentração, problemas de aprendizado, distúrbios
do comportamento, retardos da fala e distúrbios motores.
Quanto aos exames complementares, o eletroence-
falograma (EEG) e a ressonância magnética são bastante
solicitados no tratamento das crianças com TDAH. Entretanto,
os dados fornecidos por estes exames e de estudos que os
avaliaram em crianças com essa patologia são conflitantes. Uma Fonte: Kewley e Latham (2001)

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 69

Materiais e métodos Aos 7 (sete) anos, ingressou na A.P.A.E., ficando por 3


(três) anos, quando, por encaminhamento, passou a freqüentar
A amostra constituiu-se de um paciente infantil, de 11 a escola onde está matriculado atualmente, na 1ª série do Ensino
anos, do sexo masculino, que apresenta Transtorno de Fundamental. Sua alimentação é normal e sem a necessidade
Déficit de Atenção/ Hiperatividade. O estudo foi realizado de auxílio, sendo que a criança não pede comida, a mãe tem
na clínica de Fisioterapia do Hospital Regional de Araranguá, que oferecer. Não apresenta nenhum caso na família e tem
SC. Para o desenvolvimento do estudo, foi realizada três irmãos. Aos 7 (sete) anos, ingressou na A.P.A.E., ficando
avaliação fisioterapêutica-neurológica infantil e ortopédica, por 3 (três) anos, quando, por encaminhamento, passou a
na qual constavam dados de identificação, anamnese e exame freqüentar a escola onde está matriculado atualmente, na 1ª
físico. Também se aplicou o Teste do DSM-IV, com a mãe série do Ensino Fundamental. Sua alimentação é normal e
do paciente. sem a necessidade de auxílio, sendo que a criança não pede
No total, foram realizadas oito sessões, iniciando-se com comida, a mãe quem tem que oferecer. Não apresenta nenhum
a avaliação fisioterapêutica-neurológica infantil e ortopédica caso na família e tem três irmãos.
e teste do DSM-IV com a mãe do paciente; nas demais A medicação administrada ao paciente é Gaballon (ácido
sessões, foram realizados os procedimentos fisioterapêuticos gama-aminobutírico, vitaminas B1 e B6, pontotenato de cálcio
mediante abordagem ludoterapêutica, pelo fato de tratar-se e lisina de cálcio), indicado para estafa física, mental e
de paciente infantil. antianoréxico (administrado pela manhã); além de Ritalina
Para facilitar a análise, foi preenchida ficha de evolução (metilfenidato), que é indicado para hiperatividade e favorece
fisioterapêutica, procedimento rotineiro e obrigatório da no tratamento dos outros problemas associados ao
entidade, que per mite melhor acompanhamento do transtorno, além de contribuir nos programas paralelos de
tratamento, na qual constam nome do paciente, idade, tratamento - psicológico, educacional e social - (administrado
diagnóstico clínico, diagnóstico fisioterapêutico, fisioterapeuta pela manhã) e Neozine (levomepromazina), indicado para
responsável, procedimentos fisioterapêuticos e evolução do tratar sintomas psicóticos e também para agitação ou
paciente em cada sessão. irritabilidade de pacientes com outros problemas neurológicos
Os equipamentos utilizados para o tratamento (administrado à noite).
fisioterapêutico foram bolas, tatame, cones, jogos de montar A queixa principal, conforme relato da mãe, é quanto à
peças, canetas coloridas, espuma (barbear), barras paralelas, comunicação, concentração e coordenação motora.
balancim e escada com dois degraus.
O tempo de duração de cada sessão foi de 40 minutos, Discussão
realizadas duas vezes por semana.
Para a avaliação, foram coletados os dados de
Relato do caso identificação e obtido o diagnóstico clínico, caracterizado
por “alteração de equilíbrio”, com suspeita de Transtorno
Paciente nasceu de gravidez transcorrida normalmente, a de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Durante a
termo, apesar de a mãe apresentar hipertensão e tomar avaliação, percebeu-se que o quadro clínico e a história da
medicamentos, sendo que o parto foi cesariana. Após 24 horas doença mostraram-se compatíveis com a patologia
do nascimento, teve convulsão, sendo realizados imediatamente diagnosticada, confirmando-se com o diagnóstico médico
os procedimentos necessários, porém, nunca mais veio a apresentado pela mãe e ratificado através da realização do
apresentar essa ocorrência. Paciente nasceu de gravidez teste estabelecido pela Associação Americana de Psiquiatria,
transcorrida normalmente, a termo, apesar de a mãe apresentar através do DSM-IV, sendo o paciente classificado como
hipertensão e tomar medicamentos, sendo que o parto foi tipo combinado (TDAH-C). A queixa principal, conforme
cesariana. Após 24 horas do nascimento, teve convulsão, sendo relato da mãe, é quanto à comunicação, concentração e
realizados imediatamente os procedimentos necessários, coordenação motora. Durante a avaliação, percebeu-se que
porém, nunca mais veio a apresentar essa ocorrência. o quadro clínico e a história da doença mostraram-se
Com 7 (sete) meses de idade, a mãe começou a perceber compatíveis com a patologia diagnosticada, confirmando-
alterações no desenvolvimento da criança (como engatinhar, se com o diagnóstico médico apresentado pela mãe e
andar), posteriormente, foi diagnosticado alteração de ratificado através da realização do teste estabelecido pela
equilíbrio, provavelmente decorrente do Transtorno de Associação Americana de Psiquiatria, através do DSM-IV,
Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Com 7 (sete) sendo o paciente classificado como tipo combinado
meses de idade, a mãe começou a perceber alterações no (TDAH-C).
desenvolvimento da criança (como engatinhar, andar), As crianças com TDAH do tipo combinado (TDAH-
posteriormente, foi diagnosticado alteração de equilíbrio, C), com predomínio de sintomas de hiperatividade/
provavelmente decorrente de Transtorno de Déficit de impulsividade, são mais agressivas e impulsivas do que as
Atenção e Hiperatividade (TDAH). crianças com outros dois tipos. O tipo combinado apresenta

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70 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

também um maior prejuízo no funcionamento global, quando força, resistência à fadiga, preparo cardiovascular, mobilidade,
comparado aos outros grupos [6]. flexibilidade, estabilidade, coordenação, equilíbrio e
O diagnóstico fisioterapêutico foi alteração funcional habilidades funcionais [16].
relacionada à diminuição de equilíbrio e coordenação A ludoterapia foi incorporada à terapêutica pelo fato
motora, além de alteração de marcha. O diagnóstico de tratar-se de paciente infantil, considerando-se que o
fisioterapêutico foi alteração funcional relacionada à comportamento lúdico contribui para aquisição das
diminuição de equilíbrio e coordenação motora, além de habilidades de cada domínio do desenvolvimento [17]. O
alteração de marcha. ato de brincar estimula a curiosidade, a iniciativa e a
Dessa forma, através da revisão literária realizada e mediante autoconfiança, proporcionando a aprendizagem, o
uma visita à instituição A. P. A. E., pôde-se fazer a comparação desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da
com os sinais clínicos manifestados pelo paciente, constatando- concentração e da atenção. Além disso, independente do
se que as reações desse paciente caracterizam-se, muitas vezes, contexto histórico, cultural e social, toda criança brinca.
pela imaturidade de respostas e pela incapacidade de controlar Desde o seu nascimento, ela experimenta, descobre,
o grau de atividade ou de impulsividade. Dessa forma, através inventa, exercita e combina suas habilidades através da
da revisão literária realizada e mediante uma visita à instituição brincadeira [1].
A. P. A. E., pôde-se fazer a comparação com os sinais clínicos Assim sendo, o ato de brincar mostra-se indispensável à
manifestados pelo paciente, constatando-se que as reações saúde física, intelectual, emocional e social da criança.
desse paciente caracterizam-se, muitas vezes, pela imaturidade Mediante a ludoterapia, dessa forma, foram direcionados
de respostas e pela incapacidade de controlar o grau de os procedimentos fisioterapêuticos, como alongamentos,
atividade ou de impulsividade. exercícios de equilíbrio e coordenação motora, visando a
Além disso, foi possível verificar, conforme as literaturas proporcionar ao paciente uma melhor qualidade de vida e
pesquisadas, que a criança com TDAH apresenta distúrbios adaptação ao meio em que vive. Entretanto, é de fundamental
motores, cognitivos e comportamentais, sendo que os importância o conhecimento das características do
distúrbios motores são um dos principais motivos de queixas Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade para
de professores e pessoas em geral que lidam com indivíduo conduzir a terapia de maneira que o paciente se sinta
com essa condição. Os problemas motores são confortável e seguro.
freqüentemente descritos de maneira global, compreendendo No total foram realizadas 8 sessões de tratamento, com o
a precariedade das funções de equilíbrio e a coordenação tempo de duração de 40 minutos, tendo-se observado, em
imperfeita entre os membros e/ou o corpo inteiro. duas sessões, traços de irritabilidade e pouca iniciativa para a
Tendo-se como base o conhecimento do comportamento realização das atividades, entretanto, na maioria das sessões,
e desenvolvimento motor normal e a avaliação fisioterapêutica o paciente mostrou-se colaborativo.
neurológica e ortopédica, buscou-se através das alterações Quanto aos procedimentos fisioterapêuticos adotados,
motoras, de atenção e aprendizagem que o paciente apresenta, esses podem ser assim elencados: alongamento passivo para
desenvolver atividades fisioterapêuticas, adaptando-as às membros inferiores (quadríceps, isquiotibiais, tríceps sural e
necessidades do mesmo. iliopsoas) e alongamento de paravertebrais (Série de Willians
Dessa forma, o tratamento tem os seguintes objetivos: e Prece Maometana), visando à mobilidade; exercícios para
trabalhar o equilíbrio, aperfeiçoar a coordenação motora, aperfeiçoar coordenação motora de membros superiores e
desenvolver habilidades de manipular objetos, treinar marcha, membros inferiores; treino de marcha nas barras paralelas e
desenvolver a consciência do corpo e do espaço e maximizar com cones; treino de equilíbrio, coordenação motora e
o controle postural. correção postural no balancim e bola de ginástica; pontos-
Portanto, o tratamento fisioterapêutico realizado tem chaves Bobath e diagonal de Kabat para correção postural.
como base a cinesioterapia ativa associada à abordagem Com relação à ludoterapia, foram realizadas atividades
ludoterapêutica. como joguinhos de montar, desenho, “zig-zag” entre cones,
A cinesioterapia é o tratamento das doenças através do derrubar cones com bolas de diversos tamanhos, arremesso
movimento. A cinesioterapia ativa é a parte da Fisioterapia e chute com bolas, “batata-quente”, colagem de gravuras,
que utiliza o movimento provocado pela atividade muscular “andar na ponte”, entre outras atividades, direcionadas à
do paciente com uma finalidade terapêutica precisa, sendo coordenação motora, equilíbrio e correção postural.
descrita pela ação da atividade das fibras musculares contráteis Em todas as sessões, dessa forma, foram realizados
do paciente, de maneira analítica ou global, voluntária ou exercícios de alongamento passivo de membros inferiores,
automática reflexa. Tal atividade é realizada com uma mediante a ludoterapia, aperfeiçoamento da coordenação
finalidade terapêutica local, regional ou geral. motora, concentração, equilíbrio e, conseqüentemente,
A cinesioterapia, através de seus exercícios terapêuticos, correção postural.
promove a prevenção de disfunção, assim como o As figuras 3 e 4, a seguir, ilustram algumas das atividades
desenvolvimento, melhora, a restauração ou manutenção de desenvolvidas no tratamento fisioterapêutico.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 71

Fig. 3 - Exemplo de atividade fisioterapêutica desenvolvida com paciente. entre os membros e/ou o corpo inteiro, afetando,
principalmente, o desempenho escolar do paciente.
A etiologia do TDAH permanece obscura, porém se
acredita que ela seja um conjunto de fatores ambientais e
genéticos bem estabelecidos, que precisam ser incorporados
a alguma hipótese etiológica unificadora da doença. A
hipótese patogênica mais aceita é o de haver uma
vulnerabilidade herdada ao transtorno, que se manifesta de
acordo com presença de desencadeadores ambientais,
traduzindo-se num déficit funcional de certos
neurotransmissores ou de um déficit funcional do lobo
frontal, mais precisamente do córtex pré-frontal, o que
ocasionaria um defeito na condução dos impulsos nervosos
Fonte: Dados dos autores
e condicionaria o aparecimento dos sintomas.
Fig. 4 - Exemplo de atividade fisioterapêutica desenvolvida com paciente.
As pessoas com TDAH normalmente são encaminhadas
a tratamento quando entram na escola, ocasião em que o
distúrbio é mais notado, em função da inadaptabilidade à
instituição ou devido à falta de concentração para as atividades
escolares, sendo a Fisioterapia, integrada à equipe
multidisciplinar, uma das áreas que podem contribuir para
um eficaz tratamento dessa patologia, contribuindo para uma
maior independência e segurança nas atividades rotineiras
do paciente, sobretudo escolares, além de proporcionar ao
portador e seus familiares uma visão clara e objetiva sobre as
adaptações necessárias à vida diária, para um melhor convívio
na sociedade, trabalhando também o fator psicológico,
bastante influenciado pela doença.
Fonte: Dados dos autores Todavia, por se tratar de um distúrbio crônico, embora
na maioria das vezes ocorra uma remissão dos sintomas na
Neste contexto, as metas gerais a longo prazo são adolescência e vida adulta, a orientação para pessoas com
melhorar o estado dos sintomas neurológicos detectados na TDAH por fisioterapeutas deve ser vista e planejada numa
avaliação, melhorar ou manter o nível ótimo de base a longo prazo, pois um envolvimento contínuo
funcionamento físico, contribuir para o fator psicológico e proporciona ao fisioterapeuta adequar o tipo de tratamento
impedir ou retardar a presença e/ou desenvolvimento de oferecido, variando de acordo com os sintomas apresentados
complicações secundárias. por cada paciente e os benefícios advindos com a Fisioterapia.
Entretanto, o prognóstico foi considerado reservado, em Neste sentido, as necessidades que a criança com
função das características típicas da patologia diagnosticada, Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade apresenta
que se trata de um transtorno crônico; esperando-se, então, precisam ser analisadas no contexto de seu desenvolvimento
minimizar os efeitos adversos que caracterizam essa condição, educacional, emocional e motor. Portanto, a questão
trabalhando a coordenação motora e equilíbrio funcional para geralmente não é se a criança irá se beneficiar da terapia, mas
uma melhor qualidade de vida, assim como a correção quais os tipos de reparo são mais essenciais para a mesma,
postural. em determinado estágio de seu desenvolvimento e,
Por outro lado, as evidências que suportam a efetividade conseqüentemente, a abordagem fisioterapêutica eleita. Sendo
do tratamento dos déficits motores em crianças com assim, algumas crianças com incoordenação motora lidam
distúrbios de aprendizagem são ainda fragmentárias, pois a muito bem com seus problemas depois que eles são
criança com distúrbios de aprendizagem apresentam padrões identificados, direcionando, desta forma, a abordagem
altamente variáveis de incapacidade que tornam difícil prever fisioterapêutica que mais lhe convém.
ou medir a resposta à terapia [18]. Além disso, vale lembrar da importância do diagnóstico
precoce nos casos de patologias neurológicas, para que se inicie
Conclusão o tratamento fisioterapêutico o mais cedo possível, prevenindo
assim possíveis deformidades e alterações estruturais, bem
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade trata- como melhorando a qualidade de vida e preparando o paciente
se de um problema neurobiológico que compromete as para as alterações que irão ocorrer na sua vida diária,
funções de equilíbrio e promove uma coordenação imperfeita aumentando o seu grau de funcionalidade e adaptação.

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72 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Por outro lado, com o estudo realizado e o conhecimento e Hiperatividade: o que é? Como ajudar? Porto Alegre: Artes
obtido sobre a atuação da Fisioterapia, pôde-se desenvolver Médicas Sul; 1999.
um programa de tratamento que proporcionasse ao paciente 7. Rohde LAP, Ketzer LO. In: Fichtner N. Prevenção,
estímulos e prazer em realizar o tratamento, já que as diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais da infância
e da adolescência: um enfoque desenvolvimental. Porto
crianças afetadas por essa condição necessitam de
Alegre: Artes Médicas; 1997.
afetividade e atenção especial por parte do profissional que 8. Bastos FL, Bueno MC. Diabinhos: tudo sobre o Transtorno
esteja conduzindo o tratamento. de Déficit de Atenção/Hiperatividade (ADD). In: Reno
Ainda deve-se salientar que, os objetivos do tratamento Neurociências. [citado 2003 mar 18]. Disponível em
fisioterapêutico foram tão logo se mostrando eficientes, URL:http://geocities.yahoo.com.br/neurocientista/
uma vez que o paciente a cada sessão correspondia, pesquisa/add.htm.
mostrando-se colaborativo e realizando as atividades 9. Shepherd BR. Fisioterapia em pediatria. 3 ed. São Paulo:
propostas, assim como a mãe relatava as melhoras obtidas, Santos; 1996.
como a apresentação de maior concentração e 10. Caparroz J. Comportamento motor da criança com TDAH,
coordenação motora. sua relação com aprendizado e a possível atuação da
Fisioterapia (2001). [citado 2003 mar 26]. Disponível em URL:
Dessa forma, suprir as necessidades da criança com http//www.fisioterapia.com/publicacoes/cmcctdah.asp.
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade oferece 11. Associação Americana de Psiquiatria. Manual diagnóstico e
novos desafios aos fisioterapeutas, porém, existe a necessidade estatístico de transtornos mentais - DSM-IV. Porto Alegre:
de estudos que identifiquem as reais alterações motoras e, Artes Médicas; 1994.
principalmente, as que apresentam direta ou indiretamente, 12. Diament A, Cypel S. Neurologia infantil. 3 ed. São Paulo:
relação com a funcionalidade, para que a Fisioterapia tenha Atheneu; 1998.
parâmetros de elaboração da intervenção. 13. Fichtner N. Prevenção, diagnóstico e tratamento dos
transtornos mentais da infância e da adolescência: um enfoque
Referências desenvolvimental. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997.
14. Reinecke MA, Dattilio FM, Freeman A. Terapia cognitiva
com crianças e adolescentes: manual para a prática clínica.
1. Barros JMG. Jogo infantil e hiperatividade. Rio de Janeiro: Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 1999.
Sprint; 2002. 15. Kewley GD, Latham PA. Pertubação de Hiperactividade com
2. Abuchaim CM, Abuchaim ALG. Transtorno de Déficit de Défice de Atenção - “mal” diagnosticada e tratada? In:
Atenção e Hiperatividade. [citado 2003 mar 25]. Disponível Update: Revista de Educação Permanente e Clínica Geral,
em: URL: http://www.abcdocorposalutar.com.br Lisboa 2001;12(139).
3. Holmes DS. Psicologia dos transtornos mentais. 2 ed. Porto 16. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos
Alegre: Artes Médicas; 2001. e técnicas. 3 ed. São Paulo: Manole; 1998.
4. Silva FG. Hiperatividade ou Déficit de Atenção. In: Revista 17. Cunha JV. In: Caparroz J. Comportamento motor da criança
Nova Escola, maio 2000. com TDAH, sua relação com aprendizado e a possível
5. Petribú K, Valença AM, Oliveira IR. Transtorno de Déficit atuação da Fisioterapia. [citado 2003 mar 26]. Disponível
de Atenção e Hiperatividade em adultos: considerações sobre em: URL: http//www.fisioterapia.com/publicacoes/
o diagnóstico e o tratamento. Belo Horizonte: Universidade cmcctdah.asp.
Federal de Minas Gerais; 2001. 18. Umphred DA. Fisioterapia neurológica. 2 ed. São Paulo:
6. Rohde LAP, Benczik EBP. Transtorno de Déficit de Atenção Manole; 1995. C

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 73

Atualização

Graduação da resistência ao movimento durante


a imersão na água
The graded resistance during the movement
in water immersion

Juliana Monteiro Candeloro*, Fátima Aparecida Caromano, D.Sc.**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Pesquisadora Voluntária do Lafi-ReaCom do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP, **Profa. Dra. do
Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP. Este texto faz parte da dissertação de mestrado a ser defendida pela primeira autora

Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica com atualização
Palavras-chave: e exemplos práticos sobre o uso da água como resistência durante a realização de
Hidroterapia, força muscular cinesioterapia em imersão (hidroterapia). Este estudo foi elaborado a partir dos
e física. fundamentos físicos, como viscosidade, turbulência, profundidade da água, velocidade
dos movimentos, braço de alavanca, área frontal de resistência ao movimento, mudança
de direção dos movimentos e densidade (uso de flutuadores), que permitem prescrever
exercícios de fortalecimento com diferentes graus de intensidades.

Abstract
The aim of this paper is to present an up-to-date review, and examples of the usage
Key-words: of water as a mean of resistance during the practice of physical exercise in immersion
Hydrotherapy, muscular (hydrotherapy). This review was based on the physical properties of water, such as
strenght and physics. turbulence, viscosity, water level/deepth, movement speed, torque, frontal area of
resistance to the movement, change in movement direction and density (using floaters).
They allow the prescription of strenght exercises with different intensity degrees.

Artigo recebido 9 de dezembro de 2003; aceito em 10 de janeiro de 2004.


Endereço para correspondência: Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano, Lafi-Reacom - Laboratório de Fisioterapia e Reatividade Comportamental, Rua
Cipotânea, 51 Cidade Universitária da USP 05360-000 São Paulo SP.

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74 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Introdução Área frontal do objeto a ser deslocado


na água
Sabe-se que, para produzir o aumento da força muscular
é necessária a prática de exercícios físicos com resistência Para realizar um movimento na água é necessário superar
ao movimento. Geralmente, no treinamento realizado em a resistência que a água oferece, então, quanto maior a
solo, consegue-se estabelecer esta resistência por meio de superfície de contato frontal do objeto com a água, maior
pesos proporcionais à quantidade de trabalho que um será a força para superar a resistência da água e
músculo ou grupo muscular pode realizar. O treinamento conseqüentemente, mais difícil será o movimento.
de exercícios visando aumentar a força muscular, realizado Exemplo: caminhada de frente causando maior resistência
em meio aquático, é considerado eficaz e fundamenta-se que a caminhada lateral.
nas propriedades físicas da água para fornecer resistência Progressão: sem uso de palmares, uso de palmares
ao movimento. alternando em membros superiores e inferiores para uso de
Para calcular a resistência ao movimento de um objeto palmares nos dois braços ao mesmo tempo.
através do ar ou líquido utiliza-se à fórmula:
Velocidade dos movimentos
R = d x C x v2 x A/ 2.G
A resistência da água é proporcional ao quadrado da
Nesta fórmula, “R” é a resistência, “d” a densidade, “C” velocidade, então ao dobrar a velocidade do movimento,
coeficiente de arrasto, “v” a velocidade, “A” a área frontal quadruplica-se a resistência oferecida ao movimento.
do objeto e “G” a força da gravidade. Como a densidade Exemplo: extensão de tríceps - posição ereta, pernas
do corpo imerso e a ação da força da gravidade dentro da levemente abduzidas e fletidas, com o cotovelo na lateral do
água (em oposição ao empuxo, desde que mantido o mesmo corpo, flexionado e palma da mão voltada para baixo.
nível de imersão) são sempre constantes podemos dizer que Estender e fletir o cotovelo.
a resistência da água é proporcional ao coeficiente de arrasto, Progressão: quanto mais rápido a velocidade do
ao quadrado da velocidade do movimento e à área frontal movimento maior resistência será oferecida aos grupos
do objeto. musculares.
A partir do uso das variáveis físicas citadas, o fisioterapeuta
poderá criar diferentes situações de resistência ao movimento, Densidade
conforme será discutido a seguir:
Os flutuadores são materiais menos densos que a água,
Viscosidade pois possuem grande volume de ar e pequeno peso.
Portanto, oferecem resistência a qualquer movimento contra
A viscosidade é o resultado do atrito entre as moléculas o empuxo, realizado em velocidade maior que a crítica,
de um líquido devido à força de coesão das partículas (é a sendo que esta resistência é proporcional ao numero e ao
força de atração entre moléculas vizinhas do mesmo tipo tamanho dos flutuadores.
de matéria) e adesão (é a força de atração entre moléculas Exemplo: Patinar na água com movimentação de braços
vizinhas com diferentes tipos de matéria). A viscosidade - Em pé, deslizar os pés para frente e trás de forma alternada
tor na a água um meio ideal para o trabalho de e sem deslocamento do corpo. Os braços farão movimentos
fortalecimento muscular, pois neste meio, a resistência circulares na altura do tórax.
aumenta à medida que a força é exercida contra água ou Progressão: iniciar o exercício sem o uso de flutuadores,
ainda pode ser praticamente eliminada, facilitando o prosseguir inserindo flutuadores pequenos (alternando as
movimento o que permite controle do fortalecimento sessões enfocando em membros superiores e membros
dentro da tolerância do paciente e da amplitude de inferiores), evoluir para uso de flutuadores pequenos
movimento articular com que inicia o tratamento. Esta (membros superiores e em membros inferiores
resistência pode ser de até 800 vezes maior que a resistência simultaneamente) e posteriormente utilizar flutuadores
oferecida pelo ar. grandes (primeiro alternando membros superiores com
inferiores e depois com o uso simultâneo em ambos os
Coeficiente de arrasto membros).

O coeficiente de arrasto está relacionado com a forma Braço de alavanca


e o alinhamento do objeto com a água. Quanto mais
alinhado o objeto, menor será o coeficiente de arrasto, ou O corpo humano é composto por sistemas de alavancas
seja, a mão em concha terá uma maior resistência do que a que tem um fulcrum (articulação), um ponto de aplicação de
mão estendida. força (músculo) e um ponto de aplicação de resistência (peso).

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 75

A posição relativa desses três pontos determina o tipo de que tracionam para frente qualquer coisa que se encontre
alavanca. A maioria das alavancas no corpo humano é em seu interior. Isso significa que haverá muito menos esforço
classificada como de terceira classe, ou seja, o músculo está para o corpo que estiver em posição secundária ou posições
localizado entre a resistência e o fulcrum. subseqüentes. Quando um movimento é realizado em um
Na água, a resistência é igual à quantidade de água deslocada sentido constante, a turbulência forma correntes circulares
durante o exercício, ou seja, se o membro esta fletido ele desloca na mesma direção, e o movimento se torna cada vez mais
menos água do que quando o está estendido. fácil, bem como, ao inverter o sentido do movimento, a
Exemplo: abdução e adução de ombro - posição ereta, musculatura terá que se contrapor a uma parede de
com água na altura do ombro, de lado para a barra paralela. turbulência atuando em oposição ao movimento, o que exige
Progressão: Abduzir o ombro com flexão de cotovelo, um esforço maior. A turbulência se gradua pela velocidade
progredindo para abdução do ombro com extensão de cotovelo. do movimento, comprimento e forma da alavanca e posturas
e equipamentos não aerodinâmicos.
Posição dos flutuadores Exemplo: caminhada frente/trás - caminhar com passos
normais em linha reta, quando atingir o outro lado da piscina
Aqui se unem os conceitos de aumento do número e retornar de costas até a posição inicial.
tamanho de flutuadores. Pois, com o uso de flutuador diminui Progressão: caminhar cada vez mais rápido, com o corpo
a densidade do membro, facilita a abdução e resiste à adução. bem estendido e uso de flutuadores.
Exemplo: abdução e adução de quadril - em posição ereta,
de frente para a borda da piscina, abduzir a aduzir uma das Movimento em fluxo laminar ou turbulento
pernas. Repetir com a outra perna.
Progressão: iniciar faz sem uso de flutuadores, passando Durante o fluxo alinhado ou laminar, ocorre um
para uso de flutuadores proximal (acima do joelho) e movimento contínuo do fluido, com todas as moléculas se
progredindo para uso de flutuadores distal, (neste caso, movendo paralelas umas as outras e os trajetos não se cruzam.
adiciona-se também o uso de conceito de braço de alavanca). Ocorre apenas uma pequena fricção entre as camadas do
fluido, pois elas se separam para se moverem ao redor do
Profundidade da água objeto e suavemente unem-se novamente depois.
O fluxo turbulento produz um aumento na fricção entre
Em terra o centro de gravidade de um corpo localiza-se as moléculas do fluido e entre o objeto e o fluido. O
em frente ao sacro (nível S2). Na água, está localizado na movimento das moléculas é rápido, aleatório e não acontece
altura dos pulmões. Conseqüentemente o grau de sustentação em uma linha aerodinâmica. Isso resulta em uma área de
parcial do peso varia com a profundidade da água. Com água baixa pressão atrás do objeto em movimento, que tende a
no nível de C7, as mulheres e os homens suportam 8% do segurá-lo. A resistência ao fluxo turbulento é maior que ao
peso corporal, no nível do processo xifóide 28% em mulheres fluxo alinhado.
e 35% em homens e, no nível da espinha ilíaca ântero-superior Exemplo: caminhada na piscina
47% em mulheres e 54% em homens. Progressão: no inicio fisioterapeuta caminha à frente do
Exemplo: agachamento - Em pé, seguro na paralela, paciente depois o paciente caminha sozinho, e posteriormente
pernas afastadas aproximadamente 20cm. Lentamente o fisioterapeuta provoca turbilhonamento da água.
flexionar os joelhos e abaixar o dorso ereto até que as coxas
fiquem paralelas com o chão. Estenda as pernas sem alterar Mudança de direção dos movimentos
a posição da coluna e retorne a posição inicial.
Progressão: quanto mais rasa for a piscina, maior será o Um determinado movimento faz com que a água
peso, sustentado nos músculos e em conseqüência a movimente na mesma direção, se o movimento for invertido
resistência que suportam o agachamento e o retorno à posição ele irá mover-se contra o fluxo da água. Então quando se
de bipedestação. reverte a direção do movimento, precisa-se de uma força para
parar o membro em movimento, outra para vencer a
Turbulência turbulência causada pelo movimento e mais uma força para
se iniciar o movimento em direção oposta ao que estava sendo
Quando se olha para o fundo da piscina e consegue-se realizado. Portanto, quanto mais repetições nas mudanças
ver um objeto nitidamente, sem movimento algum da água, de direção dos movimentos, cada vez maior será a resistência
dizemos que a água esta tranqüila. Caso haja pessoas se que a água oferecerá.
movimentando, não será possível ver o fundo, ocorre um Exemplo: movimento de todo membro inferior desenhando um
movimento irregular das camadas do fluido o que chamamos círculo - Em pé, corpo ereto, segurando na barra paralela da
de água turbulenta (turbulência). O movimento através do ar piscina. Eleve uma das pernas na lateral, movimente de
ou da água provoca o surgimento de correntes turbilhonantes forma circular fazendo três repetições no sentido horário e

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76 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

inverter realizando três repetições no sentido anti-horário. decisão clínica sobre o desenvolvimento de um programa de
Progressão: quanto mais curto e rápido o movimento for exercícios fisioterapêuticos progressivos, do mais fácil para
realizado maior será a resistência. o mais difícil, até o máximo de resistência que a água e os
acessórios possam oferecer, tornando as intervenções
Associação das propriedades físicas hidroterapêuticas seguras e eficientes.
da água para obter a máxima intensidade A água favorece aspectos comportamentais do tratamento
de resistência em imersão fisioterapêutico. A reeducação de força muscular é muitas
vezes estressante e monótona e, sendo possível variar as
O fisioterapeuta, utilizando sua criatividade, pode associar formas, velocidades, decúbitos e outros fatores relacionados
as diferentes propriedades físicas da água produzindo um ao treinamento aquático, é possível um tratamento mais
número quase que incalculável de exercícios com grau de criativo e eficiente.
resistência crescente. Esta associação pode se dar entre duas, A introdução de dificuldade na resistência ao movimento
três ou até quatro variáveis diferentes. A seguir, serão expostos se dá pelo feedback do paciente ao fisioterapeuta durante cada
alguns exemplos deste tipo de associação. sessão. Sugere-se a elaboração de programas de treinamento
Em trabalho de fortalecimento muscular de um grupo de força muscular associando o treinamento localizado ao
isolado (por exemplo, abdução e adução de quadril com trabalho corporal geral.
extensão de joelho) iniciamos com movimento acima da Pode-se concluir que ao simples movimento na água,
velocidade crítica da água sem uso de qualquer flutuador. acima de sua velocidade crítica, oferece resistência muscular.
Após podemos introduzir flutuadores pequeno acima do Se for possível aproveitar recursos físicos isoladamente ou
joelho aumentando a velocidade; em seguida coloca-se o combinados para atender a necessidade do objetivo de
flutuador grande no tornozelo, com flexão plantar e, estimulo tratamento do fisioterapeuta, pode-se atingir um grau elevado
verbal para realização do movimento na maior velocidade de resistência, muitas vezes associando atividades funcionais
possível e em pequenas amplitudes de movimentos. e com as necessidades e prioridades do paciente, antes do
No trabalho corporal de fortalecimento (por exemplo, inicio do trabalho de fortalecimento em solo.
abdução e adução de membro inferior e superior em decúbito Deve-se lembrar ainda que, nos casos de disfunções
dorsal) inicia-se somente com a resistência que água oferece respiratórias, somente a imersão até o pescoço já é suficiente
na acima velocidade crítica; na segunda fase faz-se uso de para aumentar o trabalho respiratório em 60%, em
flutuadores pequenos, ora em membro inferiores ora em decorrência do deslocamento do sangue da periferia para
membros superiores, com flutuadores (alinhados com a água); região central e da resistência à inspiração oferecida pela
na terceira fase usa-se flutuadores pequenos (alinhados com pressão hidrostática.
a água) nos membros inferiores e superiores ao mesmo tempo Desta forma, o trabalho com resistência exige do
com aumento da velocidade e na quarta fase faz-se o uso de fisioterapeuta organização e cuidados, considerando cada
flutuadores grandes (desalinhados com a água) em membros paciente isoladamente e sempre relembrando os efeitos
superiores e inferiores simultaneamente, com grande fisiológicos que ocorrem devido à imersão.
velocidade, e mudança de direção.
Referências
Discussão
1. White T, Smith BS. The efficacy of aquatic exercise in
Uma busca feita por artigos que abordassem treinamento increasing strenght. Sports Med Training and Rehab
1999;9(1): 51-9.
de força na água, por meio dos bancos de dados, Medline,
2. Baum G. Aquaeróbica: Manual de treinamento. São Paulo:
Lilacs, Physical Therapy e Bireme, publicados nos últimos 15 Manole; 1999.
anos, não resultou em nenhum trabalho que relate o 3. Campion M. Hidroterapia: Princípios e Prática. São Paulo:
treinamento de força na hidroterapia, nem indicações de Manole; 1999.
como a graduação da resistência da água na hidroterapia 4. Hanson B, Norm A. Exercícios Aquáticos terapêuticos. São
poderia ser realizada ou que efeitos produziria. Por isso, a Paulo: Manole; 1998.
necessidade deste estudo, a fim de trazer o assunto para 5. Ruoti R, Morris D, Cole AJ. Reabilitação aquática. 1ª ed. São
discussão e estimular pesquisas experimentais nesta área. Paulo: Manole; 2000.
O esclarecimento das propriedades físicas da água como 6. Santos, Carlos A. Natação: Ensino e aprendizagem. Rio de
opção de resistência aos movimentos fundamentarão a Janeiro: Sprint; 1996. C

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 77

Resumos de trabalhos e congressos

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Henrique Güths1, Gaspar Rogério Treinamento muscular inspiratório melhora a cinética de


Chiappa1, Glória Menz Ferreira2, recuperação do oxigênio após exercício máximo em
Viviane Delatorre2, Ricardo Stein1, pacientes com insuficiência cardíaca
Jorge Pinto Ribeiro1; Pedro
Dall’Ago1,2,3 Introdução: Durante o período de recuperação após teste cardiopulmonar
(TCP), pacientes com insuficiência cardíaca (IC) apresentam redução da força
1
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, e da resistência dos músculos inspiratórios. A fraqueza dos músculos
Serviço de Cardiologia - UFRGS, inspiratórios está associada com o prolongamento da cinética do oxigênio
Porto Alegre, Rio Grande do Sul durante a fase de recuperação.
2
Curso de Fisioterapia do Centro Objetivos: O objetivo deste estudo foi testar a hipótese que o treinamento
Universitário La Salle – muscular inspiratório (TMI) reverte à fraqueza dos músculos inspiratórios após
UNILASALLE exercício e melhorar a cinética do consumo de oxigênio durante a recuperação
3
Departamento de Ciências Fisiológicas em pacientes com IC.
da Fundação Faculdade Federal de Ciências Materiais e Métodos: Participaram deste estudo 28 pacientes com IC, fraqueza
Médicas de Porto Alegre – FFFCMPA, muscular inspiratória (PImáx<70 % do predito). Os pacientes foram
Porto Alegre, designados para um programa de TMI com duração de 12 semanas (n=16),
Rio Grande do Sul incluindo 7 sessões de 30 minutos por semana, com um incremento semanal
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia de 30 % da PImáx (Threshold); e um grupo controle (n=12), que participaram
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de do mesmo programa, porém sem carga resistiva. A PImáx foi mensurada
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15 no repouso e após 10 minutos do TCP, assim como antes e depois do
de novembro de 2003, Itajai SC, Campus programa de TMI. Para avaliar a cinética do oxigênio (VO 2) durante a
da UNIVALI recuperação, antes e após o TMI, foram calculados o VO2 slope no terceiro
minuto e o período de recuperação (VO 2/t–slope) através de regressão
linear. O tempo médio correspondente a 50% da recuperação do VO2 pico
(T1/2VO2) foi também calculado.
Resultados: Não houve diferenças significativas nas características basais entre
os grupos. Após o TMI, houve um aumento significativo da Pimáx (antes:
69±3 cmH2O; após: 129±15 cmH2O, p<0,0001), não havendo alteração no
grupo controle. O VO2/t-slope aumentou somente no grupo TMI (antes:
0,892±0,7; após: 1,378±0,7 l.min/min, p<0,001). O T1/2VO2 diminuiu (antes:
1,47±0,3; após: 1,03±0,1 min, p<0,0001) somente no grupo TMI. A redução
da PImáx no décimo minuto foi menor após o TMI (antes: 23±8%; após:
10±2%, p<0,001).
Conclusões: O treinamento muscular inspiratório melhorou a cinética do
oxigênio durante ao período de recuperação e reduziu a queda da força
muscular inspiratória após exercício máximo em pacientes com insuficiência
cardíaca. Estas observações indicam que a fraqueza da musculatura
inspiratória é um determinante reversível da cinética do consumo de oxigênio
no período de recuperação em pacientes com IC.

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K. Herbst-Rodrigues K1, V.F. Santos1, Comparação da PEmáx e PImáx na capacidade pulmonar


P.A. Lima1, M.V.H. Herbst-Rodrigues2 total, capacidade residual funcional e volume residual
em adultos normais
1
Universidade de Mogi das Cruzes,
Mogi das Cruzes, São Paulo Introdução: A força dos músculos ventilatórios pode ser mensurada
2
Instituto do Coração – InCor, indiretamente pelas pressões inspiratória (PImáx) e expiratória máximas
São Paulo, São Paulo (PEmáx). Estes valores auxiliam na avaliação da capacidade do indivíduo
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia respirar espontaneamente, no treinamento muscular respiratório, e com
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de isso, na reabilitação da função ventilatória. A avaliação da Pimáx a partir
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15 do volume residual (VR) e da Pemáx a partir da capacidade pulmonar
de novembro de 2003, Itajai SC, total (CPT) pode sofrer interferência dos componentes da caixa torácica e
Campus da UNIVALI do pulmão. Quando as pressões são avaliadas a partir da capacidade residual
funcional (CRF) essa interferência é eliminada já que é o ponto de repouso
do sistema.
Objetivos: Verificar se avaliação das pressões em diferentes volumes pulmonares
altera o valor da força dos músculos respiratórios. Propor a padronização da
medida que represente maior fidedignidade na avaliação muscular respiratória.
Materiais e Métodos: Foram estudados 107 indivíduos (50 mulheres e 57
homens), com idade entre 17 e 30 anos sem doença pulmonar prévia.
Foram excluídos 22 indivíduos (7 mulheres e 15 homens) que apresentaram
valores menores que o mínimo predito para sua idade. Para avaliação da
PImáx, os indivíduos realizaram as medidas a partir da CRF e do VR e
para avaliação da PEmáx as mesmas foram realizadas na CRF e na CPT.
Todas as medidas foram coletadas com o indivíduo sentado
confortavelmente com as narinas ocluídas e o bocal conectado ao
manovacuômetro. Após 3 medidas foi escolhida a maior, contanto que
esta não fosse a última, caso isso ocorresse seria realizada nova medida.
Todas as medidas foram realizadas pelo mesmo examinador a fim de
excluir a interferência do comando verbal.

Resultados:
Masculino Feminino
CRF VR p CRF VR p
PImáx 156 + 32,95 167 + 37,88 0,180 114 + 31,94 125 + 35,67 0,061
CRF CPT p CRF CPT p
PEmáx 140 + 29,95 164 + 25,18 <0,001 94 + 22,64 118 + 17,43 <0,001

Conclusões: Não há diferença na medida da Pimáx quando realizada a


partir da CRF ou do VR. A PEmáx é maior quando medida a partir da
CPT. A partir disto propõe-se que a PEmáx seja sempre medida a partir
da CRF.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Wellington Pereira dos Santos Utilização da máscara oro-nasal para a mensuração das
Yamaguti, Ana Cláudia Coelho, pressões respiratórias máximas em indivíduos saudáveis
Antônio Fernando Brunetto
Introdução: A técnica para a mensuração das pressões respiratórias máximas
Universidade Estadual de Londrina – (PRM) convencionalmente descrita preconiza a utilização de um bocal como
UEL, Londrina, Paraná interface entre o manovacuômetro e o paciente. Em algumas condições
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia clínicas como na paralisia facial, traumas de face e mandíbula e fissuras
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de palatinas a utilização do bocal para essa medida torna-se inviável. O uso da
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15 máscara oro-nasal pode ser uma opção para a mensuração das PRM em tais
de novembro de 2003, Itajai SC, Campus condições.
da UNIVALI Objetivos: Esta pesquisa teve como principal objetivo comparar os valores
das PRM obtidos através do método com bocal e com máscara oro-nasal, em
indivíduos saudáveis.
Materiais e Métodos: Foi utilizado para este estudo um manovacuômetro
digital MVD500 (Globalmed), um bocal e uma máscara oro-nasal com
coxim inflável e flexível. Foram avaliados 27 indivíduos saudáveis (13 H e
14 M), com média de idade de 21,85 ± 2,35 anos. As PRM foram mensuradas
através de um bocal e de uma máscara oro-nasal. O primeiro método
aplicado foi randomizado através de um sorteio. Foram realizadas dez
manobras de pressão inspiratória máxima (PImax) e dez de pressão
expiratória máxima (PEmax), com um intervalo de 1 minuto entre cada
mensuração. Após a aplicação do primeiro método, o indivíduo descansava
durante 20 minutos antes da aplicação do segundo método. A PImax foi
realizada a partir do volume residual e a PEmax a partir da capacidade
pulmonar total. Foi considerado o máximo valor entre as dez medidas de
PImax e PEmax em cada método para a análise estatística. O estudo foi
cego para os resultados tanto para o avaliador quanto para o avaliado, sendo
os resultados anotados por um segundo avaliador. Aplicou-se o teste t de
Student dependente considerando uma diferença estatisticamente significativa
para p<0,05. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da instituição e
todos os indivíduos assinaram um termo de consentimento.

Resultados: Os resultados estão expressos na tabela abaixo pela média ± desvio


padrão:
Máscara Bocal p
PImax 146,52 ± 35,88 139,48 ± 33,15 0,02*
PEmax 152,00 ± 46,66 148,30 ± 40,43 0,26
*Diferença estatisticamente significativa

Conclusões: O método de mensuração das PRM pela máscara oro-nasal é tão


confiável quanto o método realizado com bocal.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Marlus Karsten1, Walter Celso de Lima2 Validação de um teste para avaliação da capacidade funcional
de idosos com a utilização de banco e cadência livre
1
Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, Itajaí, Santa Catarina Introdução: A avaliação da capacidade funcional de indivíduos idosos com o emprego
2
Universidade do Estado de Santa de testes submáximos tem sido largamente empregada. Os testes submáximos que
Catarina – UDESC, Florianópolis, empregam o banco como ergômetro geralmente possuem duas características que
Santa Catarina dificultam a sua utilização pela população em questão [idosos], a cadência é fixa e a
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia altura do banco geralmente é desproporcional à sua condição física.
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de Objetivos: Desenvolver e validar um teste para avaliação da capacidade funcional
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15 de indivíduos com idade entre 60 e 69 anos, que utiliza um banco de 15
de novembro de 2003, Itajai SC, Campus centímetros de altura como ergômetro e cadência livre.
da UNIVALI Materiais e Métodos: O Teste de Banco com Cadência Livre [TBCL] foi comparado
com o Teste da Caminhada de Seis Minutos [TC6min] em uma amostra da população
da foz do Rio Itajaí-Açú. Verificou-se o tempo necessário para que o TBCL fosse
sensível às alterações cardiovasculares, respiratórias e de conforto comparadas às
encontradas na aplicação do TC6min e identificou-se a correlação do desempenho
[capacidade funcional] dos participantes em ambos os testes. Cada teste foi executado
duas vezes pelos participantes e os dados da segunda execução foram comparados.
Os parâmetros cardiovasculares [freqüências cardíaca - FC e pressão arterial - PA],
respiratórios [saturação arterial de oxigênio – SpO2] e de conforto [percepção de
dor nos membros inferiores - DOR e percepção de esforço - SSE] foram
mensurados e utilizados no tratamento estatístico, que incluiu: teste F, teste t de Student
e teste de Wilcoxon, todos com nível de significância á = 0,05; a Correlação de
Pearson foi empregada na avaliação da validade.
Resultados: Na comparação entre as segundas medidas dos testes avaliados não
houve diferença estatística entre as médias da PA e da SpO2. A FC mostrou
comportamento distinto entre os testes, com p=0,0436 no 5º minuto e p=0,0121
no 6º minuto. A DOR apresentou p= 0,0018 no 4º minuto e p=0,0007 no 6º
minuto e a SSE teve p=0,1638 no 4º minuto e p=0,0003 no 6º minuto. Nas variáveis
que apresentaram diferença estatística significativa os valores do TBCL eram maiores
Os valores de r (coeficiente de correlação), foram iguais ou maiores que 0,7 para a
FC, PA, SpO2 (5º e 6º minutos) e capacidade funcional (4º a 6º minutos).
Conclusões: A validade do TBCL foi determinada para a população estudada;
o TBCL, no 4º minuto de aplicação, alcançou efeito similar ao TC6min nas
variáveis analisadas, com exceção da sensação de DOR, devendo ser aplicado
neste período de tempo.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Alexandre Doval Costa, Marcelo de Avaliação de alterações cardiorrespiratórias em pacientes


Mello Rieder, Silvia Regina Rios Vieira criticamente enfermos por dois métodos de desmame da
ventilação mecânica
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Serviço
de Medicina Intensiva - UFRGS, Porto Objetivos: Analisar os parâmetros de intercâmbio gasoso, mecânica respiratória
Alegre, Rio Grande do Sul; 2o Congresso e de monitorização cardiovascular, durante o desmame da VM, utilizando as
Sul-Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, 1a técnicas de PS e peça T e comparar estas variáveis em subgrupos de pacientes
Jornada Catarinense de Fisioterapia cardíacos e não cardíacos.
Cardiorrespiratória, 13 a 15 de novembro de Materiais e Métodos: O estudo foi um ensaio clínico randomizado cruza­do,
2003, Itajai SC, Campus da UNIVALI comparando PS e peça T. Foram analisados 20 pacientes, com idade de 57 ± 15

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 81

anos, que estavam em VM por um período entre 2 a 54 dias. Os dados analisados


incluíam: saturação periférica de oxigênio (SaO2), dióxido de carbono no ar
exalado (PetCO2), freqüência respiratória (f), volume de ar corrente (VT), volume
minuto (VE), freqüência cardíaca (fc) e pressão arterial (sistólica, diastólica e média).
Os dados foram registrados nos tempos zero, quinze e trinta minutos, após a
instituição da técnica de desmame sorteada, com intervalo de 30 minutos de
repouso antes da realização da técnica seguinte. Foi feita uma compa­ração
intragrupos e intergrupos para os 20 pacientes. Além disso, os pacientes fo­ram
divididos em cardíacos (n = 11) e não cardíacos (n = 9) e compa­rados entre si
em relação aos parâmetros cardiovasculares.
Resultados: A comparação entre PS e peça T demonstrou que os valo­res de
SaO2, VE e VT, foram mais elevados durante a PS em todos os tempos (p <
0,001), assim como os de PetCO2 demonstraram aumento quando em PS nos
três tempos (p < 0,05). Os valores de f diminuíram quando submetidos a PS
nos tempos zero e quinze (p < 0,05). Não houve diferença entre PS e peça T
para os valores de pressão arterial e fc. A comparação entre as técnicas em
cardíacos e não cardíacos demonstrou que os valores de fc diminuíram nos
cardíacos, no tempo 30 (p < 0,05). A fc era maior nos pacientes não cardíacos
quer em PS quer em peça T (p < 0,05). Nas medidas eletrocardiográficas, na
comparação entre os grupos cardíacos versus não cardíacos, foram verificadas:
alterações de segmento ST em 7(64%) pacientes cardiopatas e em 2(22%) não
cardiopatas (p < 0,05); arritmias foram vistas em 3(27%) dos cardiopa­tas e em
1(11%) não cardiopata; a taquicardia sinusal foi observada somente nos não
cardiopatas, em núme­ro de 5(56%) (p < 0,01).
Conclusões: Comparando PS com peça T uma melhor resposta foi observada
nas medidas de parâmetros respiratórios e de oxigenação com o uso de PS.
Não foram observadas diferenças significativas nas medidas de parâmetros
car­diovasculares e eletrocardiográficos.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Daiana Cristine Bündchen, Daiane Importância da atividade física no tratamento da HAS


Rossato Stefanelo; Evanilda Barbosa, avaliada pelo consumo de O2
Luciana Barbosa, Ângela Pereira,
Angélica Rubin, Paulo Viecili Introdução: O sedentarismo tem sido considerado um fator de risco para a
saúde da população. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) acomete cerca de
Instituto de Cardiologia da Cruz Alta, 25% da população e é elemento determinante para o aceleramento da
Cruz Alta, Rio Grande do Sul aterosclerose sistêmica. Juntas aumentam os riscos para doenças cardiovasculares.
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia A prática regular de atividade física, bem como o controle da pressão arterial
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de tem sido considerado fatores de proteção contra processos degenerativos.
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15 Objetivo: Estudar a efetividade da atividade física no tratamento não
de novembro de 2003, Itajai SC, Campus farmacológico de hipertensos sedentários avaliados pelo método do consumo
da UNIVALI máximo de oxigênio (VO2).
Materiais e Métodos: Participaram 26 indivíduos com HAS em uso de medicação,
sendo 73% feminino (57,8 ± 10 anos) e 27% masculino (61,2 ± 9 anos). Do
total da amostra, 61,5% hipercolesterolêmicos, 26,9% hipertri- gliceridêmicos,
15,3% tinham índice massa corpórea maior 30 kg/m2 e 11,5% eram diabéticos.
Os indivíduos submetidos à avaliação da capacidade funcional através do teste
ergométrico (TE), tendo como padrão o protocolo de Bruce para a obtenção
indireta do VO2 máximo. Foram submetidos a um programa de

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82 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

condicionamento físico progressivo, com intensidade de treinamento de 70%


da carga, três vezes por semana, em sessões de até 40 minutos em esteira
rolante. Foram mensuradas freqüência cardíaca e a pressão arterial no pré,
pico e pós-atividade, durante 12 semanas ininterruptas. No final do programa
realizou-se um novo TE para comparação. Os dados foram analisados através
do programa Sigmastat, usou-se Teste t para fins comparativos, e considerou-
se p < 0,05 significante.
Resultados: Após o treinamento foi observado um aumento significativo do
VO2 (24,2 ± 16,8 x 33,1± 14,6 ml/kg/min; p < 0,00001), uma queda na pressão
sistólica (PAS) pré-atividade (143,3 ± 22,5 x 130,5 ± 19 mmHg; p<0,004), na
PAS pós-atividade (139,4 ±19,3 x 127 ± 13,8 mmHg; p < 0,002). Em relação à
pressão arterial diastólica (PAD) constatou-se uma redução pré-atividade (89,7
± 14,5 x 81,4 ± 10,5 mmHg; p<0,001) e no pico do exercício (89,6 ± 11,2 x
81,5 ± 9,7 mmHg; p=0,009).
Conclusões: A realização de atividade física regular programada para
pacientes hipertensos sedentários otimizou os níveis pressóricos, bem como
aumentou a capacidade máxima do consumo de oxigênio. Dessa maneira, a
atividade física deve ser amplamente incentivada em indivíduos hipertensos
mesmo sob medicação.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Franck M Peçanha, Giulia A Análise dos efeitos da tapotagem e vibrocompressão sobre


Wiggers, Christine P Gonçalves, a função pulmonar de indivíduos normais
Fabíola F Bersot, Michelle C Roseti,
Vanine D Duarte, Priscila G Januário Objetivos: Estudos prévios demonstram resultados conflitantes dos efeitos
da vibração e tapotagem sobre a função pulmonar. O propósito deste estudo
Centro Universitário de Vila Velha, foi avaliar o efeito da tapotagem e da vibrocompressão na função pulmonar.
Vila Velha, Espírito Santo Materiais e Métodos: 11 indivíduos do sexo feminino, sadios, com idade média
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia de 21 ± 1,2 anos foram submetidos aleatoriamente à aplicação das técnicas de
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de tapotagem e vibrocompressão, sendo respeitado um intervalo de no mínimo
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15 48 horas entre a realização das técnicas. As manobras foram aplicadas durante
de novembro de 2003, Itajai SC, Campus 20 minutos, pelo mesmo fisioterapeuta, sendo os testes de função pulmonar
da UNIVALI realizados antes e 30 minutos após a realização das técnicas.
Resultados: Após a tapotagem ocorreu significante redução da CVF (antes:
3,57 ± 0,47 L/min vs. depois: 3,52 ± 0,47 L/min; p=0,02), do VEF1 (antes:
3,03 ± 0,39 L/s vs. depois 2,97 ± 0,39L/s; p=0,005) e FEF (antes: 3,73 ± 0,92
L/s vs. depois: 3,01 ± 0,51 L/s; p=0,02) com relação VEF1/CVF sem alteração
significante (antes: 86,33 ± 4,64 L/s vs. depois: 86,53 ± 5,25 L/s; p>0,05). A
vibrocompressão provocou redução significante no FEF (antes: 3,65 ± 0,71 L/
s vs. depois: 3,58 ± 0,80 L/s; p = 0,002) e na relação VEF1/CVF (antes: 88,7 ±
4,12 L/s vs. depois: 88,1 ± 4,38 L/s; p<0,05).
Conclusões: As manobras de tapotagem e vibrocompressão exercem efeito
obstrutivo sobre a função pulmonar de indivíduos normais, entretanto, este
efeito é semelhante entre as manobras.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 83

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Cláudia Mara Campestrini Bonissoni, Efeitos de um programa de vinte sessões de exercícios


Louise Maria Borsarini de Oliveira, aquáticos na força muscular respiratória, mobilidade torácica
Mônica Vettori Medeiros e pico de fluxo expiratório em homens acima de 60 anos

Universidade do Vale do Itajaí – Introdução: Com o envelhecimento ocorrem importantes alterações funcionais
UNIVALI, Itajaí, Santa Catarina no sistema respiratório, resultando em uma menor capacidade respiratória. Entre
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia elas, destaca-se a redução da força muscular respiratória, a redução do pico de
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de fluxo expiratório máximo instantâneo e a diminuição da mobilidade torácica.
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15 Objetivos: A pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito de vinte sessões de
de novembro de 2003, Itajai SC, Campus exercícios aquáticos em idosos acima de 60 anos do sexo masculino em relação
da UNIVALI à força muscular respiratória, mobilidade torácica e pico de fluxo expiratório
máximo instantâneo.
Materiais e Métodos: O estudo foi realizado com dez indivíduos do sexo
masculino, idosos acima de 60 aos, na Clínica-Escola de Fisioterapia na UNIVALI.
Inicialmente foi realizada uma avaliação verificando força muscular respiratória,
mobilidade torácica e pico de fluxo expiratório máximo instantâneo, sendo
reavaliados a cada cinco sessões. Os indivíduos foram submetidos a um protocolo
de exercícios aquáticos de vinte sessões.
Resultados e Conclusões: Os dados obtidos demonstraram vinte sessões de
exercícios aquáticos melhoram significativamente (p<0,05) a força muscular
respiratória, a mobilidade torácica e o pico de fluxo expiratório máximo
instantâneo de idosos do sexo masculino. Os exercícios aquáticos proporcionam
aos idosos uma melhora da função dos músculos esqueléticos e respiratórios
resultando num melhor condicionamento cardiorrespiratório e, conseqüente-
mente, melhora da qualidade de vida.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Taina Reis Pereira, Mirna Marques Levantamento dos indícios de problemas de saúde nos garis
da Fonseca, Robson da Silva
Almeida, Derval Gomes Pereira As horas desgastantes de esforço físico podem gerar graves problemas de
saúde nos garis. Por essa razão essa profissão deve ser cuidadosamente estudada,
Universidade Estadual do Sudoeste a fim de promover uma maior eficiência, satisfação e produtividade. Este
da Bahia, Jequié-BA trabalho objetiva analisar os indícios de danos físicos e fisiológicos dos garis
sabendo que os mesmos são submetidos à carga horária alta de trabalho que
exige intensa aplicação de força, além da exposição aos meios físicos. A
metodologia foi abordada de forma quantitativa e qualitativa a partir da aplicação
de um questionário com uma amostra de 13 trabalhadores do município de
Ipiaú-BA. Foi observada uma maior incidência de dor na região lombar da
coluna vertebral (22%), além de dores nos MMSS (20%) e MMII (16%), dores
de cabeça e vertigens (20%) e danos à derme das mãos e dos pés (18%) fazendo
um comparativo entre os sexos. Os resultados demonstram que as queixas de
dor estão relacionadas à inadequação ergonômica do ambiente de trabalho e
uma falta de conscientização própria dos garis em se proteger de agentes externos
danosos. São propostas medidas de segurança do trabalho e projetos orientadores
para adequação ao trabalho, reduzindo, assim, o risco de lesões futuras.

resumos_a.pmd 83 11/02/04, 12:05


84 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Produtos e tecnologia

O consultório inteligente de ConsultórioOnLine


A empresa Consulnet de Porto Alegre lança o serviço ConsultórioOnLine para todos os profissionais
de saúde. Acessível por computador ou telefone celular, este consultório do futuro permite consultar
dados de pacientes, agendar consultas, controlar o fluxo de caixa. Tudo por um preço amigável e sem
se preocupar com a tecnologia: basta clicar e entrar na Internet.

O ConsultórioOnLine foi criado para resolver todos os problemas encontrados pelo profissional,
desde as urgências até o atendimento do paciente, em todas as situações do cotidiano. Baseada na
tecnologia aplicada a bancos de dados e usando a mesma plataforma dos serviços de home banking,
a ferramenta ConsultórioOnLine permite ao profissional da saúde uma série de facilidades:
• Banco de imagens;
• Agenda de consultas por dia e local de atendimento;
• Mobilidade: acessar o seu consultório através do celular ou Palm;
• Banco de dados (fichário) dos pacientes;
• Consultor de marketing;
• Interatividade com paciente;
• Fluxo de caixa; etc.
A segurança e o sigilo necessários para manter suas informações são maiores do que as
fornecidas por um sistema de home banking. O acesso é pessoal e as informações são criptografadas.
Tudo para garantir a total confidencialidade.

ConsultórioOnLine é uma nova tecnologia aplicada à gestão de clínicas e consultórios. A


tecnologia empregada na construção do ConsultórioOnLine possibilita controle total da
ferramenta sem no entanto exigir do usuário precauções com os seguintes aspectos:
• Cópias de segurança (Backups);
• Sistemas de Firewall e anti-vírus;
• Configuração do Sistema; etc.
Os profissionais de saúde que já adotaram a solução Consultório OnLine deram adeus a
todos estes problemas.

A quem se destina ConsultórioOnLine?


ConsultórioOnLine pode ser usado por qualquer profissional da saúde. O serviço é modular.
Pode ser empregado para a gestão do seu consultório ou clínica ou ainda fazer parte da estrutura
de gestão de um hospital.

O que motivou seu desenvolvimento?


O desenvolvimento de um serviço como este é parte de um processo natural imposto pela
rápida evolução das tecnologias de comunicação. Para os profissionais da saúde que atuam em
vários locais e não tem tempo a perder este novo modelo é perfeito.

Em que tipo de mobilidade estamos falando?


A possibilidade de você poder acessar o seu consultório, seja a ficha clínica de um paciente
ou a sua agenda de marcação de consultas pelo seu telefone celular, Palm ou computador. Não
importa onde você esteja, não importa o meio, o que interessa é que se você precisar da informação
ela está ao seu alcance no exato momento que você precisa dela.

artigo 14 - online.pmd 84 11/02/04, 12:05


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 85

Quantos usuários já se utilizam do serviço ConsultórioOnLine?


São mais de três anos de desenvolvimento contínuo e um ano de operação comercial. Já são
mais de 3.000 usuários com tendência a uma forte aceleração na medida em que a operação
comercial avança. Importantes nomes e organizações de saúde estarão se incorporando já neste
inicio de ano, aumentando significativamente estes números.

Como funciona o serviço?


O conceito adotado é o da simplicidade. Embora a tecnologia empregada seja altamente sofisticada
o uso dos recursos é muito simples. Através da Internet você assina o serviço, cadastrando-se, e
configura os recursos que vai empregar. Se tiver alguma dificuldade durante este processo ou
posteriormente na sua utilização você conta com ajudas que detalham cada uma das etapas ou se
utiliza do suporte online (chat) ou ainda dispõe de uma linha 0800. Também existe um modulo de
demonstração e treinamento que você pode empregar. E o que faz toda a diferença, basta dominar
um módulo do serviço que automaticamente você domina todo o restante. Pronto, agora basta
qualquer computador com acesso a Internet, Palm ou o seu telefone celular para que você possa ter
acesso ao seu Consultório Inteligente.

Como funciona o acesso à agenda de consultas e ficha do paciente?


E no modo remoto?
Você utiliza os recursos como se estivessem instalados naquele computador que no momento
você está usando. Se você tem uma rede de computadores, não muda nada, basta que esta rede
compartilhe um acesso a Internet para que todos possam usar simultaneamente o serviço. Sua
secretária pode estar trabalhando a agenda de marcação de pacientes enquanto você,
simultaneamente, está trabalhando com uma ficha clínica de um paciente e neste mesmo momento
a sua outra secretária que está no seu outro consultório que fica num hospital esta agendando
outra consulta na agenda do consultório do hospital. E os acessos são restritos por senhas que
você determina. As secretarias, por exemplo, podem ficar restritas ao uso das respectivas agendas.
E o sistema ainda envia automaticamente para o seu celular, na forma de uma mensagem, o
status das suas agendas já consolidadas. No modo remoto o acesso pode ser feito através do
telefone celular, utilizando o serviço de dados da operadora, mais conhecido como WAP ou
ainda através de um Palm conectado a Internet. O sistema está modelado para obter o melhor
de cada um dos dispositivos. Isto garante ao usuário um acesso rápido e simplificado ao serviço.

Em que o serviço pode auxiliar o profissional e agradar


seus pacientes?
Você vai ter uma importante ferramenta de marketing trabalhando de forma integrada com a
sua gestão operacional. Um exemplo, quando um paciente é agendado, se autorizado, ele poderá
ser notificado através de uma mensagem no telefone celular, com alertas padronizados, com 24
horas e duas horas que antecedem a consulta, evitando assim esquecimentos ou atrasos. Na data
de aniversário dos pacientes o sistema poderá enviar uma mensagem de felicitação por E-mail e ou
celular de forma automática. Você pode permitir que os seus pacientes possam auto-agendarem
suas consultas, usando a Internet. Caso você necessite fazer um remanejo na agenda, fruto de uma
emergência, os pacientes que serão atingidos podem ser notificados pelo celular imediatamente. O
sistema controla os retornos programados de consultas mantendo pacientes e você ou sua secretaria
informados. Você pode mandar mensagens personalizadas definindo critérios de seleção para
grupos de pacientes. Esses são apenas alguns exemplos. São todas ações que fidelizam e encantam
seus pacientes. São recursos integrados a sua rotina operacional trabalhando o seu marketing de
forma continua. Em muito pouco tempo serão os pacientes que irão perguntar: “O seu consultório
tem serviços inteligentes, não tem?”

Onde e quanto?
O serviço pode ser contratado através do site www.consultorio-online.com. Para
profissionais que não têm necessidade do Módulo Banco de Imagens em seu consultório o
custo é de R$ 50,00 mensais.

artigo 14 - online.pmd 85 11/02/04, 12:05


86 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

Normas de publicação Fisioterapia Brasil

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade 3. Revisão


bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas dos artigos originais.
condições.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical 4. Atualização ou divulgação
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo
Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo
of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na
de revisão.
versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-
5. Relato de caso
mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
limitando-se unicamente ao estilo literário. e pode ser realizado em humano ou animal.

6. Comunicação breve
1. Editorial

Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior


Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
de seus membros.
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
referências.
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
2. Artigos originais Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando bibliográficas.
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes 5. Resumos
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ 6. Correspondência
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
bibliográficas. artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de trabalho antes de se publicar a carta.
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
da exposição, assim como a qualidade literária do texto. anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004 87

PREPARAÇÃO DO ORIGINAL - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).


- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
1. Normas gerais Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada 5. Agradecimentos
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
especificações anteriores. material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem em uma secção especial.
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, 6. Referências
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas
artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM
o nome do artigo, data e autor. Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
2. Página de apresentação diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: ponto, páginas inicial e final, ponto.
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e Exemplo:
títulos acadêmicos. Livro:
- Local de trabalho dos autores. May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o Capítulo ou parte de livro:
respectivo endereço, telefone e E-mail. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
paginação. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
3. Autoria iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
conteúdo. são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da a abreviação latina et al.
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos Exemplo:
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
4. Resumo e palavras-chave
(Abstract, Key-words) Os artigos, cartas e resumos devem ser
enviados para:
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os Jean-Louis Peytavin
estruturados), seguido da versão em inglês. Atlantica Editora
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
- Objetivos do estudo. 20021-180 Rio de Janeiro RJ
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, Tel: (21) 2221 4164
análise). E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br

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88 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004

13 a 17 de junho
Calendário de eventos European Federation for Research in Rehabilitation
Rehabilitation Sciences in the New Millennium –
Challenge for Multidisciplinary Research 8th Congress
2004 Ljubljana, Slovenia
Informações: www.cd-cc.si/EFRR2004
Março
21 a 26 de março 30 de junho a 3 de julho
8th Congress International Federation Physical Therapy 2004: Annual Conference & Exposition
of Manipulative Therapy of the American Physical Therapy Association
International Convention Centre Cape Town Chicago, Illinois
South Africa Informações: www.apta.org
Informações: www.uct.ac.za/depts/pgc/
Julho
25 a 28 de março 8 a 10 de julho
Reafis – Congresso nacional de fisioterapia (Reatech) Biomecânica craniofacial e fisiopatologia
Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo SP temporomandibular
Informações: Pacin Eventos (11) 5589.1489 Prof. Dr. Mariano Rocabado
Centro de Convenções de Pernambuco
Recife PE
Abril
Informações: bodutra@oclusivo.com.br
17 a 25 de abril
www.oclusivo.com.br
Ventilação mecânica invasiva e não-invasiva
Prof. Leonardo Costa (UFRJ), Alexandre Cossenza (UERJ)
Premier Center Agosto
Rio de Janeiro 27 a 28 de agosto
Informações: (21) 2548 6942 Confit – Congresso de fisioterapia no trabalho
fisiocurso@click21.com.br Centro de Exposições Imigrantes
São Paulo SP
22 a 24 de abril Informações: Pacin Eventos (11) 5589-1489
5º CIOT - Congresso do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas da Setembro
Faculdade de Medicina de São Paulo 29 de setembro a 2 de outubro
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo SP XII Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória -
Informações: (11) 3168 1149, Prática Baseada em Evidência
E-mail: ciot2004@connecteventos.com.br Centro de Convenções Topázio Imperial
www.ciot2004.com.br Ouro Preto MG
Informações: Congress Eventos (31) 3273 1121
23 a 24 de abril
II Congresso Brasileiro de Fisioterapia da Escoliose
Outubro
Centro de Eventos Hotel Plaza São Rafael
Porto Alegre RS 27 a 30 de outubro
II Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
Informações: felliniturismo.com.br
Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco
Informações: www.fisioterapiamanual.com.br
Maio
16 a 19 de maio
Novembro
I Congresso Paulista de Fisioterapia Respiratória do
5 a 7 de novembro
Estado de São Paulo
II Congresso Internacional de Fisioterapia
SOBRAFIR – Regional São Paulo
I Congresso Nacional de Fisioterapia Social
São Pedro SP
III Simpósio Brasileiro sobre o Diagnóstico
Informações: www.sobrafir.com.br
Cinesiológico Funcional
Rio Centro, Rio de Janeiro RJ
Junho Informações: www.sbf.org.br
3 a 5 de junho
Congresso Nacional do Departamento de Ergometria 10 a 13 de novembro
e Reabilitação Cardiovascular V Interdisciplinary World Congress on Low Back and
Centro de Convenções Hotel Serrano Pelvic Pain
Gramado RS Austrália
Informação: felliniturismo.com.br info@worldcongresslbp.com

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 89

○ ○
Fisioterapia Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Índice
(vol.5, nº2 março/abril 2004 - 89~172)

EDITORIAL
Que venha o tornado!, Marco Antonio Guimarães da Silva .................................................................................................................. 91

ARTIGOS ORIGINAIS
A influência da personalidade na postura, Kelser de Souza Kock, Lilian Gerdi Kittel Ries ......................................................... 92
Análise da marcha de gestantes: um estudo preliminar, Fabiana Flores, Sperandio, Gilmar Moraes Santos,
Mônica Silva de Souza, Camila Costa de Araújo, Daiane d’Agostini Nesi .................................................................................................. 98
Fisioterapiarespiratórias
Repercussões prática da aplicação da técnica de isostretching em indivíduos sadios,
Ana Carolina Brandt, Denise da Vinha Ricieri, Luciane Elisa S. Griesbach ............................................................................................. 103
Acupuntura cinética como efeito potencializador dos elementos moduladores do movimento
no tratamento de lesões desportivas, Daisy Franca, Vasco Senna-Fernandes, Célia Martins Cortez ...........................................111
Efeito do alongamento estático após diatermia de ondas curtas versus alongamento estático
nos músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias, Carlos Eduardo Pinfildi, Rodrigo Paschoal Prado,
Richard Eloin Liebano ....................................................................................................................................................................................119
A melhora da capacidade do alcance funcional em mulheres idosas após os exercícios
de Cawthorne e Cooksey, Angela dos Santos Bersot Ribeiro, João Santos Pereira .............................................................................. 125
Estudo da imagem e esquema corporal de crianças portadoras de paralisia cerebral
do tipo tetraparética espástica, Fernanda Ishida Corrêa, Tamine Teixeira da Costa, Moisés Veloso Fernandes .............................131
Estudo do equilíbrio estático de idosos e sua correlação com quedas, Mário Antônio Baraúna,
Suzi Rosa Miziara Barbosa, Roberto Sérgio Tavares Canto, Ruiz Angelo Ventura da Silva, Cristiano Diniz Campelo Silva,
Karla Maria Pereira Baraúna .........................................................................................................................................................................136
Ginástica Laborativa
REVISÃO
Análise comparativa de dados clínicos do lúpus eritematoso sistêmico e abordagem fisioterapêutica,
Emília Cardoso Martinez, Glauber Alvarenga Peroba, Rodrigo Renato da Silva ........................................................................................ 142

ESTUDOS DE CASOS
Tétano: relação de dois casos internados no hospital regional de Araranguá em Santa Catarina
e abordagem fisioterapêutica, Alcioney Valeski, Bárbara Lucia Pinto Coelho, Daniela Constâncio ..............................................148
Tratamento fisioterapêutico precoce em recém-nascido com luxação congênita de quadril,
André Gustavo Moura Guimarães, Ivete Furtado Ribeiro, Luiz Fábio Magno Falcão ............................................................................... 154
Tratamento fisioterápico em um cão portador de displasia coxo femoral utilizando
piscina terapêutica, Gabriela Correia de Almeida e Silva .................................................................................................................... 160

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS . ....................................................................................................................164


NORMAS DE PUBLICAÇÃO . ........................................................................................................................................................... 170
EVENTOS . ................................................................................................................................................................................................172

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90 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia - UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR - São Paulo) 

Grupo de assessores
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)

Revista Indexada na LILACS - Literatura


Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde

Rio de Janeiro Editoração e arte


Rua da Lapa, 180/1103 Andréa Vichi
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ Aline Figueiredo
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01037-010 - São Paulo - SP Dr. Jean-Louis Peytavin
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Editores associados
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 91

Editorial

Que venha o tornado!

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva


marco@atlanticaedu.com.br

Quase todos nos lembramos do Mágico Oz (filme de Mestrado, Doutorado e, principalmente, para aqueles que
Victor Fleming, EUA, 1939). Os seus 65 anos de existência fazem os cursos de especialização que estão sob a nossa
não o envelheceram. Pelo contrário, ainda nos permitem, responsabilidade.
neste problemático mundo terceiro milenista, ter o desejo No final dos anos 70, voltando de uma viagem à Europa,
de sermos apanhados por um tornado e transportados para buscava uma solução econômica que me permitisse viajar
uma terra, “além do arco íris”, onde os nossos desejos, mais. Eram anos difíceis para os professores de Univer-
ao menos de um emprego digno e decente, pudessem sidades Federais, (ainda hoje o são) que não podiam pensar
ser realizados. em viagens intercontinentais. Foi então que, na tentativa de
Para os que não viram o filme, o que move os seus equacionar o problema, enviei, para algumas universidades
personagens, em busca do mágico de Oz, é a busca de alguma da Espanha e Portugal, um programa de um curso de
solução para os desejos e carências de cada um deles. Ao biomecânica, que já vinha ministrando no Brasil e em paises
final da história, todos descobrem que já possuíam dentro da América do Sul, propondo a realização destes cursos
de si mesmos aquilo que procuravam do lado de fora. Não naquelas instituições. Para espanto de alguns colegas que
precisavam de nenhuma mágica. me disseram à época que eu não conseguiria porque ninguém
O primeiro passo que nos aproxima do filme parece já me conhecia, em apenas dois meses, já estava de malas
ter sido dado pela mãe natureza, que, providencialmente, se prontas. A partir daí, foram mais de 30 cursos ministrados
encarregou de trazer para estes tristes trópicos o Catarina, nestes dois paises.
nosso primeiro furacão. Mas e os demais passos? Mais tarde, nos anos 80, com o desejo de propor e fazer
Considerando que não somos a Dorothy, que não temos o trabalho em empresas, procurei, nas páginas amarelas, alguma
cachorro Totó nem a bruxa boa (Glenda) e tampouco o instituição que pudesse dar respaldo ao trabalho pretendido
mágico, parece que também teremos que descobrir, por nós e ali encontrei a Associação Brasileira de Prevenção de
mesmos, que temos o que precisamos para alcançar os Acidentes (ABPA). Daí por diante, foram mais de 300
nossos objetivos. palestras e cursos em empresas do grupo e um livro editado
Ter que o precisamos precisa ser lido aqui como sobre prevenção de dor nas costas.
esforçamo-nos, durante o curso de graduação e pós- Estes dois exemplos podem ilustrar que o inicio de tudo
graduação, para a divulgação acadêmica do nosso nome, está em nós mesmos e que não podemos nos ater a “meios
através de publicações e participações em eventos científicos, convencionais” na busca do nosso tão sonhado emprego.
e, principalmente, descobrirmos a nossa parcela de Que venha o tornado!
criatividade.
Voltando ao Mágico de Oz, há uma passagem em que a
Dorothy, dando-se conta de que necessitava chegar a cidade
Esmeralda, pergunta a Glenda: “Mas por onde inicio?”
“Quase todo mundo começa pelo principio, querida”,
responde Glenda. * Editor científico de Fisioterapia Brasil
É preciso estabelecer um começo. Cada um traçará o Pós Doutorado na UFRJ
seu próprio inicio. Mas gostaria de trazer uma experiência Professor de mestrado recomendado
pessoal que já tenho levado para os meus alunos de pela CAPES

índice+exp+editorial.pmd 91 05/04/04, 18:35


92 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Artigo original

A influência da personalidade na postura


The influence of personality on the posture

Kelser de Souza Kock*, Lilian Gerdi Kittel Ries, M.Sc.**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta do Hospital Nossa Senhora da Conceição – Tubarão – SC, **Fisioterapeuta, Professora da Disciplina de Fisioterapia
Aplicada à Pediatria II – Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Universidade do Estado de Santa Catarina –
Florianópolis - SC

Resumo
Esta pesquisa objetiva verificar a influência da personalidade na postura. Tem como
Palavras-chave: base a tipologia junguiana, a qual define psicologicamente dois tipos de personalidade:
personalidade, postura, extrovertida e introvertida. Especificamente, procura evidenciar o padrão postural mais
imagem corporal. comum em ambos os tipos psicológicos. Os instrumentos utilizados foram o simetrógrafo,
para a avaliação postural e o questionário de Neymann-Kohlstedp, para análise da
personalidade. Esses puderam avaliar, através de um estudo de campo, os sessenta
indivíduos acadêmicos do CEFID - UDESC. Os resultados obtidos indicam que a
cabeça anteriorizada e a protusão de ombros, embora vistas nos dois tipos psicológicos,
foram mais freqüentes nos introvertidos. Outro dado expressivo foi a grande quantidade
de indivíduos com alteração na coluna vertebral em ambos os tipos psicológicos. Conclui
que, de acordo com os dados alcançados, sugere uma relação entre personalidade e
postura, porém na maioria das vezes o fator psicológico não foi bastante capaz de
alterar a constituição física.

Abstract
The purpose of this study is to know how the personality have an influence on
Key-words: posture. It is based on Junguian tipology who estabilish psichologicaly two types of
personality, posture, personality: extrovert and introvert. Specifically, the aim at to prove the most common
body image. (usual) pattern of posture in both psycologies types. Simetrograph was the instrument
used to posture evaluation and Neymann-Kohlstedp questionary to personality analysis.
Those methods could evaluate sixty students from CEFID-UDESC. The results showed
that anterior position of the head and of the shoulders, although it was present at two
psychologies types, were most frequent in introvert. Another important result was the
great index of vertebral column alteration in both types of personality. It was concluded
that, based on the results, there is some relation between personality and posture, but in
most of times the psychology factor wasn’t able to change the body form.

Recebido 21 de maio de 2003; corrigido 16 de março de 2004; aceito 20 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Kelser de Souza Kock, Rua Galdino José de Bessa, 164 Oficinas 88702-220 Tubarão SC, Tel: (48) 622-2794/
9996-9811, E-mail: kelserkock@yahoo.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 93

Introdução (UDESC) do Centro de Educação Física, Fisioterapia e


Desportos (CEFID).
O presente trabalho descreve a influência da personalidade Foram escolhidos 30 indivíduos do sexo masculino e 30
na postura segundo a perspectiva da tipologia junguiana. Jung do sexo feminino através de uma amostragem não
[1], define basicamente dois tipos psicológicos: extrovertido e probabilística intencional, no período de outubro / 2000 a
introvertido. Em pesquisas anteriores [2-8], já foi demonstrado fevereiro 2001. Os integrantes da amostra não eram
o aspecto global do indivíduo, onde mente e corpo funcionam portadores de qualquer tipo de patologia.
em uníssono.
Caminhando nesse sentido, tentou-se observar o grau da Instrumentos de pesquisa
influência da personalidade na postura, bem como verificar
os limites extremos posturais de cada personalidade. Tendo Foram utilizados um simetrógrafo [9], para avaliação
em vista a possível correlação entre a personalidade e o vício postural e o questionário de Neymann-Kohlsdtedp [10] para a
postural mais comum de cada tipo, pode-se fazer um análise da personalidade (extrovertido/mediano/introvertido).
tratamento preventivo, evitando futuros problemas posturais
que venham a ocorrer. Além disso, através da anamnese, o Descrição dos instrumentos
terapeuta pode avaliar se o paciente possui uma personalidade
extremada (extrovertido/introvertido), estabelecendo um a) Questionário de Neymann-Kohlstedp: é constituído
diagnóstico que não se preocupará somente com a correção de 50 perguntas fechadas, as quais analisam a personalidade
da postura, mas também fará o encaminhamento a segundo a tipologia junguiana.
profissionais especialistas nessa área. Outro fator importante b) Simetrógrafo (“quadro quadriculado”): Responsável
a ser considerado é a consciência do esquema corporal, pela pela avaliação postural. Consiste num tabuleiro portátil, com
qual o paciente poderá fazer uma auto-correção de sua postura. placa de acrílico transparente, medindo cerca de 1,95 m de
Como hipóteses, esperava-se que os tipos introvertidos, altura por 90 cm de largura, sob uma moldura de alumínio.
pela predominância do subjetivismo e valorização do mundo Um braço metálico é fixado perpen-dicularmente sobre a
interno [1], poder-se-iam mostrar-se numa postura de moldura superior, projetando-se aproximadamente 60 cm
fechamento anterior, caracterizados pela rotação interna de para frente. O prumo de chumbo preso a este braço divide
membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII), o tabuleiro no sentido vertical em duas medidas iguais. Sobre
cifose torácica e protusão de ombros, nitidamente marcados o tabuleiro de acrílico apresentam-se linhas horizontais e
pela cadeia Ântero-Lateral de Dennis-Struyf [4]. Pelo verticais, dividindo toda a superfície em quadrados de 7,5
contrário, os tipos extrovertidos, marcados pela objetividade cm. Estes quadrados permitem localizar e registrar os defeitos
e exaltação do mundo externo [1], poder-se-iam apresentar- da postura.
se numa postura de abertura, caracterizados pela rotação
externa de MMSS e MMII e retração de ombros,
Coleta de dados
mostrando-se com predominância da cadeia Póstero-Lateral
de Dennis-Struyf [4]. E na faixa intermediária, os tipos Os escolhidos foram abordados no Centro de Educação
medianos, por possuírem traços dessa ou daquela Física, Fisioterapia e Desportos (CEFID) e através de uma
personalidade, poder-se-iam apresentar-se numa postura com conversa informal, era esclarecido o assunto e as questões
parâmetros mais próximos da normalidade.
de estudo. Após a conversa era entregue o questionário de
O método utilizado teve como natureza a pesquisa aplicada,
Neymann-Kohlstedp para a avaliação da personalidade
de campo, sendo descritivo de correlação. Através da
(extrovertido / mediano / introvertido). Os indivíduos, então,
comparação dos dados obtidos pelo questionário de Neymann-
respondiam o questionário e devolviam logo em seguida ao
Kohlstedp (analisa a personalidade) e pela avaliação postural,
aplicador. Em alguns minutos a resposta do tipo de
pôde-se constatar que os tipos introvertidos apresentaram
personalidade era dada ao questionado. Logo após, os
maior taxa de anteriorização da cabeça e protusão de ombros
indivíduos eram levados à sala de mecanoterapia da Clínica
que os extrovertidos. Outro dado expressivo foi a acentuada
de Fisioterapia do CEFID para serem submetidos a uma
percentagem de alteração na coluna vertebral em ambos os
avaliação postural. Eles, então, estavam trajados com roupa
tipos psicológicos. No mais, pode-se dizer que a personalidade
de banho e se colocavam, junto ao simetrógrafo, dando
não foi um fator tão relevante capaz de alterar a postura.
início a avaliação. Posteriormente, era informado ao
indivíduo a presença ou não de desvios posturais.
Material e Métodos

População e amostra Organização dos dados

A população da referente pesquisa foi constituída pelos A personalidade, dividida em dois tipos gerais por Jung
acadêmicos da Universidade do Estado de Santa Catarina [1], foi acrescida de mais um tipo intermediário, totalizando

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94 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

3 (três) tipos psicológicos: introvertido, mediano e Análise dos tipos psicológicos relacionados
extrovertido. Considerando que não existe um indivíduo a parâmetros normais de postura
puramente introvertido ou extrovertido, achou-se melhor
acrescentar o tipo mediano, que seria a soma das características Analisando os resultados da postura em AP (ântero-
introvertidas e extrovertidas numa mesma pessoa. posterior) relacionada com os tipos psicológicos, pode-se
Os dados relacionados à personalidade foram obtidos perceber que a “nor malidade postural” é vista
pelo questionário de Neymann-Kohlstedp, através de 50 frequentemente em ambos os tipos de personalidade.
(cinqüenta) perguntas fechadas. Para essas perguntas, as Esperava-se que esse parâmetro mais próximo do normal
únicas respostas possíveis eram sim ou não. Assim, cada fosse visto comumente no tipo mediano, o que não ocorreu,
resposta definia um traço introvertido ou extrovertido. exceto na postura da cabeça e dos ombros (Figura 1).
Somando-se essas respostas, formava-se o tipo psicológico Com relação aos extremos de personalidade, os
de cada indivíduo. Dessa maneira, foi possível defini-los em introvertidos apresentaram mais normalidade nos mamilos,
porcentagens: triângulo de Talles, cristas ilíacas e joelhos e em
• tipos extrovertidos: acima de 55 % de extroversão ou contrapartida, os extrovertidos obtiveram o parâmetro mais
abaixo de 45% de introversão; normal apenas na linha alba e patelas (Figura 1).
• tipos medianos: entre 45% de introversão / extroversão É interessante observar também que, os maléolos, hálux
e 55 % de introversão / extroversão; e artelhos foram geralmente normais nos três tipos de
• tipos introvertidos: acima de 55% de introversão ou personalidade (Figura 1).
abaixo de 45% de extroversão.
Com relação ao exame postural, a ficha de avaliação
pôde informar qualquer anormalidade existente; assim, foi Figura 1 - Relação entre tipos de personalidade e parâmetros normais de
possível correlacionar a personalidade e a postura. postura (AP).

Resultados e discussão

Análise dos tipos psicológicos

Na análise dos tipos psicológicos dos 60 indivíduos


avaliados, verifica-se que houve predominância dos tipos
medianos (40%) e extrovertidos (45%) sobre os introvertidos
(15%) nos dois sexos. Outro fator importante a ser destacado
é a pequena quantidade de indivíduos do sexo feminino
(5%) dentro do tipo psicológico introvertido, chegando a
metade, com relação ao sexo masculino (10%) (Tabela I).
Convém lembrar que, Jung [1] classifica a personalidade
em dois tipos gerais: introvertido e extrovertido. O tipo
extrovertido vive de maneira tal que, o objeto representa
em sua consciência, como grandeza determinante, uma
função mais importante do que a do seu ponto de vista
subjetivo. O tipo introvertido distingue-se do extrovertido
pelo fato de que não se orienta pelo objeto e pelo Ao analisar-se os tipos de personalidade com a postura
objetivamente, mas por fatores subjetivos. em PA (póstero-anterior), observa-se que os tipos medianos
O acréscimo do tipo mediano é justificado pela soma de apresentarem mais normalidade na postura escapular
traços introvertidos e extrovertidos, já que é assim que o (esquerda e direita) e nos pés. Em compensação, no outros
questionário de Neymann-Kohlsted funciona. Os tipos parâmetros ela foi igual ou inferior, com relação aos demais
medianos, por apresentarem características desta ou daquela tipos psicológicos (Figura 2).
personalidade, obtiveram um grande número de indivíduos, Os resultados que merecem destaque são a freqüente
totalizando 40% do total (Tabela I). taxa de alteração na coluna vertebral e a grande normalidade
na prega glútea e linha poplítea encontradas em ambos tipos
Tabela I - Relação entre tipos de personalidade e sexo. de personalidade (Figura 2).
Introvertidos Medianos Extrovertidos Total Na postura vista de perfil relacionada com os tipos
Masc 6 (10%) 11 (18,3%) 13 (21,6%) 30 (50%) psicológicos, os resultados demonstram que, os tipos
Fem 3 (5%) 13 (21,6%) 14 (23,3%) 30 (50%) medianos obtiveram maior taxa de normalidade apenas na
Total 9 (15%) 24 (40%) 27 (45%) 60 (100%) coluna vertebral, ombros e MMII. No mais, os resultados

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 95

dos extrovertidos e introvertidos analisados de acordo com posturais no plano sagital. Dennis-Struyf [4], diz que é nesse
os parâmetros normais de postura, foram superiores ou plano que a personalidade se torna mais evidente na forma
equivalentes (Figura 3). corporal. E Kendall [11], comenta que desvios posturais
Os dados obtidos que se referem a maior normalidade relacionados à dominância são vistos comumente no plano
nos introvertidos foram encontrados no tronco, MMSS, pelve, coronal. Assim, explica-se a preferência pelo plano sagital,
joelhos e pés. Já nos extrovertidos, apenas a cabeça e abdômen além de tornar-se enfadonha a descrição detalhada de
mostraram-se com maior frequência normais (Figura 3). todos os parâmetros posturais. A inferência dos resultados
foi feita através do teste qui-quadrado, o qual não
Figura 2 - Relação entre tipos de personalidade e parâmetros normais de encontrou significância estatística (p>0,05) em nenhuma
postura (PA). das variáveis avaliadas.
Na variável cabeça, pode-se perceber que a postura
normal é freqüente tanto nos tipos psicológicos extrovertidos
(70,3%) quanto nos introvertidos (55,5%). Em relação à
postura alterada observa-se que nos diferentes tipos de
personalidade ocorre um predomínio da cabeça anteriorizada,
sendo mais freqüente nos introvertidos (44,4%) do que nos
extrovertidos (22,2%). Já a posteriorização da cabeça
somente foi encontrada no tipo psicológico extrovertido
(7,4%) (Tabela II).

Tabela II - Relação entre tipos de personalidade e postura da cabeça.


Cabeça Introvertidos Extrovertidos
Normal 5 (55,5%) 19 (70,3 %)
Anteriorizada 4 (44,4%) 6 (22,2%)
Posteriorizada 0 (0%) 2 (7,4%)
Total 9 (100%) 27 (100%)

Figura 3 - Relação entre tipos de personalidade e parâmetros normais de


Cabe observar, que esses resultados parecem demonstrar
postura (Perfil).
a predominância das cadeias AL e PL [4], nos tipos
introvertidos e extrovertidos, respectivamente. O fecha-
mento anterior leva a uma cabeça anteriorizada e, pelo
contrário, a abertura induz à posteriorização da cabeça.
No parâmetro postural ombros, percebe-se que não
houve indivíduos com retração, enquanto que a protusão
foi freqüente e um pouco mais acentuada nos tipos
introvertidos (55,5%). A normalidade evidenciou-se nos
extrovertidos (55,5%) (Tabela III).

Tabela III - Relação entre tipos de personalidade e postura do ombro.


Ombros Introvertidos Extrovertidos
Normais 4 (44,4%) 15 (55,5%)
Protusos 5 (55,5%) 12 (44,4%)
Retraídos 0 (0%) 0 (0%)
Total 9 (100%) 27 (100%)

Análise dos tipos introvertido e Assim como nos resultados supracitados, pode-se
extrovertido relacionados à postura observar uma pequena relação entre as cadeias de Dennis-
Struyf [4] e a personalidade. A cadeia AL, devido ao
Discutindo agora os tipos extremos de personalidade, fechamento, produziu uma porcentagem de protusão de
aparecem os tipos extrovertidos e introvertidos. Para que a ombros um pouco mais elevada nos introvertidos do que
demonstração dos dados não fique demasiado entediante e nos extrovertidos.
desinteressante, preferiu-se relacionar os dados mais Nos resultados referentes à coluna vertebral vista de
relevantes referentes à pesquisa, enfatizando os desvios perfil é interessante frisar que a cifose torácica acentuada é

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96 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Figura 4 - Relação entre postura de coluna vertebral (perfil) e tipo de personalidade. Em relação à estática pélvica, os
introvertidos apresentaram leve-
mente mais normalidade (66%),
enquanto que os extrovertidos
mostraram-se mais retrovertidos
(48,1%). Nenhum deles possuiu
anteversão (Tabela IV).
Obser vando os resultados
referentes ao plano frontal do joelho,
obteve-se o parâmetro normal mais
freqüente nos introvertidos (77,7%).
O valgismo foi encontrado somente
nos extrovertidos (14,8%) e o
varismo foi semelhante nos dois
tipos (Tabela V).
Já no plano sagital, a norma-
lidade foi semelhante em ambos, os
freqüente (entre 50%) nos dois tipos psicológicos. Os dados joelhos semi-fletidos só foram encontrados nos extrovertidos
referentes à hiperlordose lombar e retificação lombar foram (25,9%) e o genu recurvatum foi levemente maior nos
semelhantes em ambos tipos de personalidade. A introvertidos (44,4%) (Tabela V)
porcentagem de retificação torácica foi maior nos Os dados encontrados na patela mostram que a
introvertidos. Os valores referentes à taxa de normalidade, medialização foi mais freqüente nos extrovertidos (37%
hiperlordose cervical e retificação cervical foram superiores contra 11,1% dos introvertidos) e sua lateralização
nos extrovertidos. (Figura 4). evidenciou-se nos introvertidos (33% contra 0% dos
Nos dados alcançados pela avaliação da coluna vertebral extrovertidos). A normalidade foi levemente superior nos
vista em posição póstero-anterior, percebe-se que a extrovertidos (Tabela V).
escoliose foi maior nos tipos extrovertidos (70,3%), Dennis-Struyf [4] comenta que a cadeia PL (tipo
enquanto que o parâmetro normal da coluna vertebral na extrovertido) apresenta-se em rotação externa (R.E.) de
posição póstero-ânterior foi maior nos tipos introvertidos MMII e a cadeia AL (tipo introvertido), ao contrário, mostra-
(44,4%). Entretanto, mais de metade de ambos tipos se em rotação interna (R.I.) de MMII. Kapandji [12], diz
psicológicos apresentaram postura alterada da coluna que durante a R.I., o fêmur arrasta a patela para dentro. E,
vertebral no plano coronal (Figura 5). durante a R.E. produz-se o inverso, o fêmur arrasta a patela
para fora.
Sendo assim, observa-se uma diferença entre os resultados
Figura 5 - Relação entre postura da coluna vertebral (PA) e tipos encontrados e as referências bibliográficas. Além do que, o
de personalidade.
parâmetro postural patela possuiu um p de 0,0593, onde a
significância estatística mais se aproximou a 0,05. Sugerindo,
uma certa relação antagônica entre as variáveis estudadas.
Com relação aos resultados do arco longitudinal dos pés,
a normalidade foi levemente superior nos introvertidos
(88,8%) e o pé cavo mais freqüente nos extrovertidos (25,9%).
Não foi encontrado pé chato em ambos (Tabela VI).
Os dados referentes ao retropé assemelharam-se nos
dois tipos psicológicos. Apresentando normalidade pouco
acima de 40%, valgismo levemente superior a 30% e varismo
entre 20% (Tabela VI).

Tabela IV - Relação entre tipos de personalidade e postura pélvica.


Pelve Introvertidos Extrovertidos
Normal 6 (66,6%) 14 (51,8%)
Antevertida 0 (0%) 0 (0%)
Retrovertida 3 (33,3%) 13 (48,1%)
Total 9 (100%) 27 (100%)

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 97

Tabela V - Relação entre tipos de personalidade e postura dos joelhos psicológica. Assim, os tipos gerais ficaram como extremos
e patelas. de personalidade, caracterizados teoricamente pela
Joelhos (AP) Introvertidos Extrovertidos predominância das cadeias AL (introvertida) e PL
Normais 7 (77,7%) 16 (59,2 %) (extrovertida) [4]. Desse modo, os tipos medianos possuem
Valgo 0 (0%) 4 (14,8%) características de ambas as personalidades junguianas.
Varo 2 (22,2%) 7 (25,9%) Supunha-se que, dessa maneira, os medianos teriam um
Total 9 (100%) 27 (100%)
parâmetro postural mais próximo da normalidade, o que
Joelhos (Perfil) Introvertidos Extrovertidos não foi encontrado. Provavelmente pela confirmação da
Normais 5 (55,5%) 13 (48,1 %)
hipótese nula.
Semi-fletidos 0 (0%) 7 (25,9%)
Recurvados 4 (44,4%) 7 (25,9%) Como sugestão para um outro trabalho, propõe-se que
Total 9 (100%) 27 (100%) a análise da personalidade seja realizada por um psicólogo e
PATELAS Introvertidos Extrovertidos a avaliação da postura seja analisada por critérios menos
Normais 5 (55,5%) 17 (62,9%) subjetivos, como digitalização de fotos, propiciando uma
Mediais 1 (11,1%) 10 (37%) abordagem mais aprofundada à avaliação.
Laterais 3 (33,3%) 0 (0%) É desejo do autor que, com essa pesquisa, a idéia de
Total 9 (100%) 27 (100%)
unicidade e globalidade [2-8], onde mente e corpo funcionam
Tabela VI - Relação entre tipos de personalidade e postura podálica. em uníssono, se tornem mais evidentes. Mesmo com
resultados pouco expressivos, mas que induzem uma certa
Pés (Arco Long.) Introvertidos Extrovertidos
Normais 8 (88,8%) 20 (74%) relação entre personalidade e postura, a noção do indivíduo
Chato 0 (0%) 0 (0%) como unidade é interessante para uma visão mais
Cavo 1 (11,1%) 7 (25,9%) abrangente do ser humano.
Total 9 (100%) 27 (100%)
Pés (Retropé) Introvertidos Extrovertidos Referências
Normais 4 (44,4%) 13 (48,1%)
Valgo 3 (33,3%) 9 (33,3%) 1. Jung CG. Tipos psicológicos. 9ª ed. Rio de Janeiro: Zahar;
Varo 2 (22,2%) 5 (18,5%) 1967.
Total 9 (100%) 27 (100%) 2. Lowen A. O corpo em terapia: a abordagem bioenergética. 4ª
ed. São Paulo: Summus; 1977.
3. Keleman S. Anatomia emocional: a estrutura da experiência.
São Paulo: Summus; 1992.
Conclusão 4. Denys-Struyf G. Cadeias musculares e articulares: O método
GDS. São Paulo: Summus; 1995.
Pelos resultados apresentados, observa-se que a 5. Kurtz R, Prestera H. O corpo revela. 2ª ed. São Paulo: Summus;
influência psicológica evidenciada no padrão postural não 1989.
ocorreu tanto quanto o esperado. Os dados obtidos mostram 6. Bergès J. Os gestos e a personalidade. Rio de Janeiro:
Civilização brasileira; 1972.
que a frequência de indivíduos com cabeça anteriorizada e
7. Weil P, Tompakow R. O corpo fala. 41ª ed. Rio de Janeiro:
ombros protusos é maior nos introvertidos, embora eles Vozes; 1997.
também apareçam nos extrovertidos. Esse resultado parece 8. Deitos F et al. Diálogo corporal. Santa Maria: A Kaza do Zé;
demonstrar a predominância da cadeia AL nos introvertidos. 1997.
Com base nos dados que se relacionam com a hipótese 9. Adams RC et al. Jogos, esportes e exercícios para o deficiente
nula, onde não há influência da personalidade na postura, físico. 3ª ed. São Paulo: Manole; 1985. p.181-3
pode-se dizer que, de forma geral, o fator psicológico não 10. Justo H. Somos diferentes. Porto Alegre: S. Antônio; 1976.
foi bastante capaz de alterar a constituição física. De acordo p. 276-7
com Keleman [3] e Vayer [13], a genética, além da 11. Kendall FP et al. Músculos: provas e funções. 4ª ed. São Paulo:
Manole; 1995.
personalidade, é um fator importante na configuração da
12. Kapandji IA. Fisiologia articular. 2a ed. São Paulo: Manole;
forma corporal. 1980.
Além disso, é importante frisar que o acréscimo do tipo 13. Vayer P. O Equilíbrio corporal: uma abordagem dinâmica dos
mediano à tipologia junguiana extrovertida e introvertida se problemas da atitude e do comportamento. Porto Alegre:
deu com objetivos de classificação e melhor definição Artes Médicas; 1984. C

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98 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Artigo original

Análise da marcha de gestantes: um estudo preliminar


Analysis of the gait of pregnant women: preliminary study
Fabiana Flores Sperandio, M.Sc.*, Gilmar Moraes Santos, M.Sc.**, Mônica Silva de Souza***,
Camila Costa de Araújo***, Daiane d’Agostini Nesi***

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Docente da disciplina de Fisioterapia Aplicada a Ginecologia e Obstetrícia I e II da UDESC, **Docente da Disciplina


de Ortopedia e Traumatologia da UDESC, *** Fisioterapeutas, Projeto de pesquisa financiado pela Probic

Resumo
O principal objetivo deste estudo foi analisar as características biomecânicas da
Palavras-chave: marcha com e sem calçado esportivo entre as 13a 15a, 25a 27a e 34a 36a semanas de
biomecânica, dor lombar, gestação, e relacionar o nível de incapacidade por dor lombar nos 3 períodos gestacionais
gestação. estudados. Dados cinéticos e espaço-temporais da marcha foram coletados através da
esteira ergométrica Kistler-Gaitway™, no Laboratório de Biomecânica da UDESC. Os
valores de dor lombar foram obtidos aplicado-se o Questionário de dor lombar de
Oswestry. Os dados foram analisados através da estatística descritiva e inferencial (p <
0,05). Existiu correlação entre a dor lombar gestacional e as variáveis biomecânicas
sem calçado (passada, passo direito) e com calçado (primeiro pico de força direito e
esquerdo, segundo pico de força direito, cadência, duplo apoio e simples apoio esquerdo)
durante o primeiro período estudado. Houve tendência à redução dos valores para o
comprimento da passada, cadência e taxa de aceitação de peso no decorrer da gravidez
nas duas situações. O inverso ocorreu com o tempo de apoio simples e duplo apoio.

Abstract
The main objective of this study was to analyze the biomechanical characteristics
Key-words : of the gait with and without sport shoes in the 13-15, 25-27 and 34-36 weeks of
biomechanics, low back pain, gestation, and to relate the level of incapacity for low back pain in the 3 periods
gestation. studied. Kinetic and time-space data of the gait were collected through the met Gaitway-
Kistler, in the Biomechanics Laboratory of UDESC. The values of low back pains were
obtained by appling the Questionnaire of lumbar pain of Oswestry. The data were
analysed through the descriptive statistics and inferencial (p < 0,05). Existed correlation
between the low back pain of gestation and the biomechanical parameters without
shoes (step, right step) and with shoes (first pick of right and left force, second pick of
force right, cadence, double support and simple left support) during the first studied
period. There was tendency to the reduction of the values for the length of the step,
cadence and tax of weight acceptance in elapsing of the pregnancy in the two situations.
The inverse occured with simple support time and double support.

Recebido 25 de maio de 2003; corrigido 31 de julho de 2003; aceito 15 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Fabiana Flores, Clínica Escola de Fisioterapia Udesc-Cefid, Rua Paschoal Simone, 358 Coqueiros 88080-350,
Florianópolis SC, Tel: 248-8155, E-mail: fabi_flores@bol.com.br

artigo 02 - Fabiana.pmd 98 05/04/04, 18:35


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 99

Introdução devido a abortos, trabalhos de parto prematuro, pré-


eclâmpsia e dificuldade de locomoção das gestantes até o
O período gestacional compreende diversas mudanças laboratório, especialmente, no terceiro período avaliado.
corporais e submete a mulher a adaptações fisiológicas e A amostra foi dividida em grupos, por períodos
anatômicas [1,2] que visam ao preparo de um meio adequado gestacionais. O primeiro período foi composto por 15
para o feto em crescimento [3]. Durante a gravidez ocorrem gestantes sem calçado e 14 com calçado, o segundo por 11
mudanças na forma, tamanho e inércia do corpo da mulher [4]. gestantes sem calçado e 10 com calçado entre 25a-27a
Essas alterações biológicas poderiam gerar transformações semanas, e o terceiro grupo, que compreendeu o intervalo
hormonais e anatômicas com predisposição a lesões musculo- entre a 34a-36a semanas gestacionais apresentou 5 gestantes
esqueléticas, ou ainda, alterar o curso de enfermidades pré- que foram avaliadas com e sem calçado. Geralmente, de 8
existentes [5]. Para Gleeson e Pauls [6] as mudanças posturais a 20 sujeitos são estudados em pesquisas sobre mudanças
ocorridas durante a gestação não são com freqüência fisiológicas na gestação [22].
patológicas, mas alterações incontroladas que podem causar Utilizou-se como instrumento de medida a esteira Kistler-
síndrome de dor lombar, aguda ou crônica.
GaitwayTM. As plataformas de força forneceram a força de
A dor lombar na gravidez apresenta alta freqüência, sendo
reação do solo na superfície de contato durante a fase de
que para metade de todas as gestantes este acometimento é
apoio do movimento [23].
inevitável [7-11] existindo, porém, falta de conhecimento
O instrumento de avaliação da dor lombar foi o
sobre a patogenia e as manifestações clínicas [7,12,13].
Questionário Oswestry de Incapacidade por Dor Lombar
Cecin [14] verificou que, apesar do progresso da
[24,25], bem como um questionário específico [21], em
ergonomia aplicada à coluna vertebral e do uso de
que as gestantes eram instruídas a preencherem a cada novo
sofisticados métodos de diagnóstico, as lombalgias tiveram
um crescimento 14 vezes maior que o crescimento da experimento.
população. Isto resulta em uma grave situação sócio- Na aquisição dos dados utilizou-se a velocidade média
econômica, geradora de prejuízos incalculáveis. A dor lombar ao caminhar 5m e então, realizou-se a calibração do
é um dos maiores problemas de saúde na sociedade ocidental instrumento para a normalização dos dados, através da
[15]. A licença ou o atestado médico, não são capazes de aquisição do peso da gestante. O software Gaitway™ foi
eliminar a dor lombar [11,16]. configurado para tempo de coleta de 12s com freqüência
O aumento de peso ocorrido durante o período de amostragem de 600Hz. A coleta dos dados foi realizada
gestacional faz com que a mulher crie compensações, como após 6 minutos de caminhada na esteira.
o aumento da base de suporte com o intuito de manter o Os dados obtidos foram submetidos à estatística
equilíbrio do corpo [17-19]. descritiva e ao teste de correlação de Spearman com um p
As mudanças anatômicas ocorridas durante a gestação d” 0,05 no programa Statistic 99.
podem causar alterações no andar da gestante, contribuindo
para uma variedade de condições de uso excessivo do sistema Resultados e discussão
musculo-esquelético [20]. Todavia, percebe-se a escassez de
estudos que caracterizem a dinâmica do andar da gestante, As gestantes foram pesadas na esteira Kistler-Gaitway™,
relacionando-a às mudanças ocorridas durante este período durante a calibração. Pôde-se perceber que as mulheres
[20,21]. analisadas tiveram um aumento médio de massa, quando
O trabalho objetivou analisar o comportamento comparadas com o peso pré-gestacional, de 3,9 kg até o 1º
biomecânico da marcha durante as 13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª período de gestação, de 9,2 kg até o 2º período e de 11,8 kg
semanas de gestação, comparando os valores do pé direito até o 3º período estudado. Estes valores também foram
(D) e do pé esquerdo (E) nas situações com calçado e descalço encontrados por diferentes autores [26-28].
e relacionar estas alterações com o nível de incapacidade
por dor lombar. Variáveis biomecânicas da marcha obtidas
na esteira Kistler-Gaitway™
Materiais e métodos
Analisou-se as seguintes variáveis espaço-temporais:
O estudo teve aprovação do Comitê de Ética da comprimento do passo (CPA), comprimento da passada
Udesc. A amostra investigada apresentou média: 27,06 ± (CP), tempo de apoio simples (TAS), tempo de duplo apoio
5,06 anos de idade, e foi constituída por mulheres entre a (TDA) e cadência (CAD). As variáveis cinéticas foram: o
13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª semanas de gestação (controle pela primeiro pico de força (PPF), segundo pico de força (SPF),
D.U.M. e Ultra-sonografia obstétrica). e taxa de aceitação de peso (TAP). As figuras 1 e 2
Todas as gestantes apresentavam o pé direito (D) como demonstram os valores médios obtidos durantes a marcha
dominante. Entretanto, grande parte da perda amostral, foi em 3 períodos gestacionais.

artigo 02 - Fabiana.pmd 99 05/04/04, 18:35


100 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Fig. 1 - Demonstra os valores médios obtidos durante a marcha de gestantes com calçado nos 3 períodos gestacionais.

Fig. 2 - Demonstra os valores médios obtidos durante a marcha de gestantes sem calçado nos 3 períodos gestacionais.

A análise da marcha, principalmente na fase de apoio, Tabela I – Correlação entre a dor lombar gestacional e as variáveis espaço-
possibilita a diferenciação entre estruturas patológicas e temporais da marcha durante a gestação na 13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª
padrões normais de caminhar [23,29]. semanas gestacionais na situação com e sem calçado (p < 0,05).
Variavéis Período p (com p (sem
Dados espaço-temporais e cinéticos espaço-temporais gestacional calçado) calçado)
(semanas)
Foi avaliada a correlação entre a dor lombar gestacional Passada 13ª-15ª 0,07 0,04
e as variáveis biomecânicas da marcha (Tabela I e II) Passo esquerdo 13ª-15ª 0,08 0,07
Não existiu correlação entre a dor lombar gestacional Passo direito 13ª-15ª 0,06 0,02
Cadência 13ª-15ª 0,00 0,33
e as variáveis cinéticas da marcha durante a gestação na
Duplo apoio 13ª-15ª 0,00 0,42
13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª semanas gestacionais na situação Apoio simples esquerdo 13ª-15ª 0,02 0,13
sem calçado. Apoio simples direito 13ª-15ª 0,10 0,07
No 1º período estudado houve correlação significativa Passada 25ª-27ª 0,12 0,13
moderada na situação sem calçado entre a dor lombar Passo esquerdo 25ª-27ª 0,16 0,11
gestacional referida com a passada e o passo direito (Tabela I). Passo direito 25ª-27ª 0,09 0,17
Entretanto, na análise dos valores com calçado houve Cadência 25ª-27ª 0,69 0,66
Duplo apoio 25ª-27ª 0,09 0,35
correlação da dor lombar gestacional com a marcha no
Apoio simples esquerdo 25ª-27ª 0,47 0,59
primeiro pico esquerdo, primeiro pico direito, segundo pico Apoio simples direito 25ª-27ª 0,39 0,97
direito, cadência, duplo apoio e apoio simples esquerdo das Passada 34ª-36ª 0,88 0,53
primíparas. Passo esquerdo 34ª-36ª 0,85 0,52
Os valores da dor lombar gestacional do segundo período Passo direito 34ª-36ª 0,94 0,57
e do terceiro período não demonstraram existir correlação Cadência 34ª-36ª 0,43 0,14
significativa com as variáveis cinéticas e espaço-temporais Duplo apoio 34ª-36ª 0,36 0,18
Apoio simples esquerdo 34ª-36ª 0,27 0,28
da marcha de gestantes, tanto nas situações de análise com Apoio simples direito 34ª-36ª 0,41 0,15
e sem calçado.

artigo 02 - Fabiana.pmd 100 05/04/04, 18:35


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 101

Analisando-se o comportamento da marcha, verificou- Estudando as variáveis cinéticas primeiro pico de força
se que a cadência e a passada, apresentaram redução destes e segundo pico de força pode-se perceber a tendência do
valores com a evolução da gestação (figura 2). Valores aumento médio dos valores com o transcorrer da gestação,
semelhantes foram encontrados por Santos [21] em estudo exceto entre os dois últimos períodos para o segundo pico
biomecânico da marcha de duas mulheres no quinto, sexto de força, na situação com calçado. Santos [21] também
e sétimo meses gestacionais. Isto pode ter ocorrido, em virtude encontrou valores crescentes da variável primeiro pico de
das mudanças na forma, tamanho e inércia do corpo da força do 6° para o 8° mês de gestação.
mulher [4,5,19]. Essas alterações podem estar relacionadas ao aumento
do peso da gestante e às alterações músculo-esqueléticas e
Tabela II – Correlação entre a dor lombar gestacional e as variáveis hormonais. A relaxina é a responsável por aumentar a
cinéticas da marcha durante a gestação na 13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª semanas
elasticidade das articulações [5,18,28].
gestacionais na situação com calçado (p < 0,05).
Percebe-se que o segundo pico de força apresentou
Variáveis Período r(X,Y) r² t p valores maiores do que o primeiro. Conforme Hamil e
Cinéticas Gestacional Knutzen [31], o segundo pico é geralmente de maior
Primeiro pico magnitude que o primeiro e indica o papel que a musculatura
esquerdo 13ª-15ª -0,64 0,41 -2,9 0,01
deve exercer para o desenvolvimento de força, com a
Primeiro pico
direito 13ª-15ª -0,66 0,43 -3,03 0,01 finalidade de acelerar o corpo para fora do solo.
Segundo pico Em relação à variável taxa de aceitação de peso foram
esquerdo 13ª-15ª -0,38 0,14 -1,41 0,18 encontrados valores de média decrescentes durante a
Segundo pico gestação nas situações com e sem calçado esportivo. Para
direito 13ª-15ª -0,58 0,34 -2,46 0,02 Amadio e Serrão [23,30], esta variável corresponde à
Taxa aceitação
peso esquerdo 13ª-15ª -0,34 0,12 -1,25 0,23
aceitação do peso corporal, assegurando estabilidade e
Taxa aceitação permitindo a progressão do membro durante o ciclo da
peso direito 13ª-15ª -0,3 0,09 -1,07 0,30 marcha. É provável que a diminuição dos valores da taxa
Primeiro pico de aceitação de peso durante a gestação esteja relacionada à
esquerdo 25ª-27ª 0,08 0,01 0,23 0,82 alteração no equilíbrio, em decorrência da mudança do
Primeiro pico
centro de gravidade [8,12,31].
direito 25ª-27ª 0,17 0,03 0,48 0,64
Segundo pico
esquerdo 25ª-27ª -0,12 0,02 -0,35 0,73 Variáveis de incapacidade por dor lombar
Segundo pico
direito 25ª-27ª -0,2 0,04 -0,58 0,57 Através da Tabela III, observa-se o grau de incapacidade
Taxa aceitação por dor lombar durante a gestação, preconizado pelo
peso esquerdo 25ª-27ª -0,05 0 -0,15 0,88 Questionário de Oswestry [24].
Taxa aceitação
peso direito 25ª-27ª -0,12 0,01 -0,34 0,74
Primeiro pico Tabela III – Demontra a faixa de incapacidade por dor lombar, de acordo
esquerdo 34ª-36ª 0,05 0 0,09 0,93 com Questionário de Oswestry na situação com e sem calçado.
Primeiro pico Faixa de 13-15 25-27 34-36
direito 34ª-36ª 0,03 0 0,05 0,96 incapacidade: com sem com sem com sem
Segundo pico calçado calçado calçado
esquerdo 34ª-36ª 0,1 0,01 0,18 0,87 Mínima 12 13 8 9 3 3
Segundo pico Moderada 2 2 2 2 1 1
direito 34ª-36ª -0,1 0,01 -0,18 0,87 Severa 1 1
Taxa aceitação
peso esquerdo 34ª-36ª -0,22 0,05 -0,4 0,71
Taxa aceitação Durante o estudo com 200 mulheres no período de 24/
peso direito 34ª-36ª -0,26 0,07 -0,47 0,67 36 horas após o parto não houve relação entre o ganho de
peso gestacional e a dor lombar [7]. Entretanto, o sintoma
Os valores médios de duplo e simples apoio tiveram um de dor lombar durante a gestação, esteve presente em 80%
acréscimo leve da 13ª-15ª semanas até a 34ª-36ª semanas dos casos, com curva ascendente no terceiro trimestre
gestacionais. Este fato pode estar relacionado com a variável gestacional e dependência direta das atividades domésticas
cadência, já que ocorreu a diminuição do número de passos no estudo sobre dor lombar [32]. O desconforto na coluna
por minuto. Pode-se igualmente, relacionar estas alterações, lombar pode ocorrer devido tanto ao ganho de massa
com o ganho de massa, já que a gestante fica mais pesada e durante a gestação, quanto às alterações hormonais, que
aumenta a fase de apoio da marcha. diminuem a estabilidade da sacro-ilíaca [33,34].

artigo 02 - Fabiana.pmd 101 05/04/04, 18:35


102 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

De acordo com Nicholls e Grieve [35], em um estudo back pain in the first and third trimesters of pregnancy. Jospt
com 12 gestantes, 50% delas referiram maior dificuldade 1998; 28(3):133-38.
na realização das atividades domésticas por dor lombar. 13. Leboeuf-Yde, C. Body weight and low back pain: A systematic
literature review of 56 journal articles reporting on 65
epidemiologic studies. Spine 2000;25(2):226-31.
Conclusão 14. Cecin HA. Proposição de uma reserva anatomofuncional, no
canal raquidiano, como fator interferente na fisiopatologia das
As alterações geradas no corpo da gestante em lombalgias e lombociatalgias mecânico degenerativas. Revista
decorrência da gravidez têm influência em vários aspectos da Associação Médica Brasileira 1997;43(4):295-310.
do sistema da mulher e os resultados encontrados nesta 15. Brynhildsen J, Hansson A, Persson A, Hammar M. Follow-
pesquisa sugerem mudanças também no mecanismo da up of patients with low back pain during pregnancy. Obstetrics
marcha. & Ginecology 1998;91:182-6.
16. Östgaard HC, Andersson, GBJ, Karlsson K. Prevalence of
Quanto ao comportamento da dor lombar, observou-se
back pain in pregnancy. Spine 1991;16(5):549-52.
que ela foi presente e significativa no primeiro período, 17. Ferreira C, Nakano AMS. Lombalgia na gestação: etiologia,
apresentando maior valor dentro da faixa de incapacidade fatores de risco e prevenção. Femina 2000;28(8):435-38.
mínima. Existiu correlação significativa na situação sem 18. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
calçado na passada e no passo direito. Houve correlação técnicas. 3ª ed. São Paulo: Manole; 1998.
significativa da dor com a marcha com calçado no primeiro 19. Rezende JA. Gravidez: conceito, duração. In: Rezende J.
pico de força, no segundo pico de força direito, cadência, Obstetrícia. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1995.
20. Foti T, Davids JR, Bagley AA. Biomechanical analysis of gait
duplo apoio e simples apoio esquerdo. No segundo e terceiro
during pregnancy. J Bone Joint Surg 2000;82(5):625-32.
períodos estudados não foi apontado correlação estatis- 21. Santos GM. Avaliação biomecânica do andar durante a gestação
ticamente significativa nas duas situações avaliadas. [Dissertação]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria
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artigo 02 - Fabiana.pmd 102 05/04/04, 18:35


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 103

Artigo original

Repercussões respiratórias da aplicação da técnica de


isostretching em indivíduos sadios
Respiratory repercussions of isostretching technique application
in healthy individuals
Ana Carolina Brandt, M.Sc.*, Denise da Vinha Ricieri, M.Sc.**, Luciane Elisa S. Griesbach***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Docente dos Cursos de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná e Uniandrade (Curitiba PR), **Fisioterapeuta,
Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba/PR), ***Fisioterapeuta

Resumo
O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto da aplicação do isostretching, um
Palavras-chave: exercício postural global, sobre o comportamento respiratório tóraco-abdominal numa
isostretching, movimentos população sadia. A técnica foi aplicada em seis jovens sedentárias, com idade média de
respiratórios tóraco- 22,33 ± 2,42 anos, previamente submetidas a uma avaliação respiratória pontuada e à
abdominal, fotogrametria,
análise angular fotogramétrica da inspiração e expiração máxima na postura ortostática
diagnóstico cinesiológico
funcional. e caracterização do padrão muscular ventilatório utilizado. O isostretching foi aplicado
em sessões diárias de 45 minutos, durante 10 dias úteis, perfazendo duas semanas.
Após a aplicação da técnica, a avaliação foi repetida e os resultados comparados. Houve
um aumento de 0,9% e 0,73%, respectivamente, para a pontuação registrada para
exame físico e avaliação funcional. A análise angular dos valores encontrados nos registros
pós-aplicação da técnica mostrou uma maior contribuição do compartimento abdominal
para o movimento respiratório, em relação ao comportamento obtido nos registros
pré-intervenção. Os resultados são compatíveis com a melhora da atuação diafragmática
durante a mobilização de médios a altos volumes respiratórios, e sugerem que o
isostretching pode promover impacto efetivo e mensurável sobre a função respiratória
de seus praticantes, mesmo em regimes de aplicação diferenciados daqueles estabelecidos
pelos seus precursores.

Abstract
The aim of this study was to evaluate the isostretching technique’s impact, a postural
Key-words : global exercise, on the chest wall respiratory movements behavior in healthy young
isostretching, chest wall ladies. For this purpose, the technique was applied on six sedentaries female subjects,
movements, photogrammetry, 22,33 ± 2,42 years old, previously submitted a pointed respiratory evaluation and a
functional kinesiologic diagnosis.
photogrammetry angular analysis of maximum inspiration and expiration in the

Recebido em 22 de julho de 2003; aceito 15 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Ana Carolina Brandt, Rua Pedro Foltran, 3989 Bigorrilho, 80710-200 Curitiba PR, E-mail: acbrandt@bol.com.br

artigo 03 - Ana Carolina.pmd 103 05/04/04, 18:35


104 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

orthostatic posture and characterization of ventilatory muscle type utilized. The


isostretching was applied in forty-five minutes long diary sessions by 10 days, during 2
weeks. After the sessions, the evaluation was repeated and the results were compared.
The scored results for physical examination and functional evaluation showed an
improvement of 0,9% and 0,73%, respectively. The angular values analysis in the post-
applications technique showed a bigger compartiment contribution to respiratory
movements than obtained on pre-application registers. The results are compatible with
more effective diaphragmatic performance during high and medium respiratory volumes
and suggest that the isostretching technique can promote effective impact on respiratory
function of their practitioners, even in differencied regimens of those established by its
precursors.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Siglas utilizadas no texto:

Σa = somatório angular de identificação do padrão respiratório.


(∆ aX – ∆ a M) ANT = diferença entre os deslocamentos angulares obtidos para
compartimento torácico superior (X) e torácico inferior (M), na vista anterior.
(∆aX – ∆aM)LAT = diferença entre os deslocamentos angulares obtidos para compartimento
torácico superior (X) e torácico inferior (M), na vista lateral.
(∆aX – ∆aU)ANT = diferença entre os deslocamentos angulares obtidos para compartimento
torácico superior (X) e umbilical (U), na vista anterior.
(∆aX – ∆aU)LAT = diferença entre os deslocamentos angulares obtidos para compartimento
torácico superior (X) e umbilical (U), na vista lateral.
X = compartimento torácico superior
M = compartimento torácico inferior
U = compartimento abdominal
∆a = Deslocamento angular do compartimento avaliado, calculado pela diferença entre
os valores dos ângulos inspiratórios e expiratórios.
∠exp = valor do ângulo expiratório, em graus, no momento da expiração máxima ou na
capacidade residual funcional.
∠insp = valor do ângulo inspiratório, em graus, no momento da inspiração máxima ou na
capacidade pulmonar total.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução qualquer da cadeia. Os músculos inspiratórios são estáticos.


Eles devem ser flexibilizados através da insistência sobre a
Nosso sistema muscular é composto basicamente por expiração. Portanto, em todas as posturas é essencial insistir
dois tipos: os músculos estáticos, ou tônicos e os músculos sobre a expiração profunda.
dinâmicos, ou fásicos. Os músculos estáticos representam Duas cadeias destacam-se como função estática: a cadeia
2/3 da nossa musculatura. São organizados em forma de anterior e a posterior. A cadeia mestra anterior é de
cadeias musculares, onde cada músculo ou grupo muscular fundamental importância na respiração pelo seu papel sobre
constitui um elo [1]. Isto determina que um estiramento o tórax e o diafragma. Quando esta cadeia está encurtada,
local é compensado por um encurtamento em um ponto a cadeia é projetada para frente, a região torácica aumenta

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sua curvatura cifótica e os ombros encontram-se rodados Avaliação respiratória inicial e final
internamente. Portanto, trabalhar somente a respiração não
se preocupando com a parte postura pode ser ineficaz [2]. As avaliações respiratórias foram integradas por
O método Isostretching foi criado em 1974 por Bernard indicadores funcionais de referência e tiveram sua
Redondo na França e é considerado um complemento ao metodologia baseada em padrões internacionais de avaliação
tratamento dos inúmeros desequilíbrios que acometem a da função respiratória [5]. Compuseram as avaliações: (a)
postura. É não somente um método complementar, mas Anamnese e dados antropométricos; (b) Exame Físico e
também um método preventivo que fortalece e equilibra o Testes Funcionais Respiratórios; (c) Avaliação Biomecânica
corpo evitando compensações [3]. O isostretching foi dos Movimentos Respiratórios da Parede Torácica.
desenvolvido com intuito de preparar e proteger a
musculatura do relaxamento ou retração que essa possa (a) Anamnese e dados antropométricos
sofrer pela falta de uma atividade física postural adequada. A anamnese foi composta de dados de identificação
Tem por objetivo fortificar o corpo, através de exercícios
pessoal e histórias pessoal e familiar de doenças respiratórias
propícios. Um método postural, global e ereto. É considerado
e não-respiratórias. Os dados antropométricos de peso e
postural, pois os exercícios são executados dentro de uma
estatura foram coletados para o cálculo de índice de massa
posição vertebral correta, por alguns segundos, o tempo de
corporal.
uma longa expiração; global, porque o corpo todo trabalha
a cada exercício; e ereta, porque a técnica solicita à coluna
(b) Exame físico e testes funcionais respiratórios
vertebral um autoengrandecimento [3]. A freqüência mínima
de administração da técnica aos pacientes deve ser de duas A segunda abordagem dos componentes da amostra foi
vezes por semana, e o período previsto para a atividade feita através do exame físico e dos testes funcionais
deve ser dividido em séries progressivas, garantindo a respiratórios, e orientou quanto à condição respiratória de
manutenção da concentração individual em cada exercício, cada voluntária. Esta condição respiratória, que recebeu o
chave para o sucesso na realização desse método. impacto da aplicação da técnica de Iso-Stretching, foi
Uma das principais bases do método é a respiração. Segundo posteriormente reavaliada dentro das mesmas bases, de
Redondo [3], há a necessidade de um trabalho respiratório modo a oferecer parâmetros sobre o quanto a abordagem
para desenvolver a capacidade pulmonar e melhorar a postural da técnica se reflete em modificações da dinâmica
mobilidade diafragmática para dividir melhor as pressões entre e da mecânica respiratória.
a parte superior e inferior do tronco. O diafragma tem um O exame físico foi realizado de acordo com Porto [6],
papel importante na estática da coluna e em virtude disto deve enquanto os testes funcionais respiratórios foram executados
ser suficientemente flexível e móvel para aumentar ou reduzir, de acordo com o protocolo de Ricieri & Lodovico [7], mas
conforme a necessidade, o tronco superior [2]. o diferencial da avaliação esteve na atribuição de pontos
Partindo das premissas fundamentais da técnica e das aos resultados registrados em cada teste. Três níveis de
repercussões anunciadas sobre a função respiratória, este pontuações permearam todos os resultados, traduzindo em
estudo teve por objetivo a avaliação do impacto da aplicação pontos as condições clínicas da amostra, e permitindo uma
intensiva da técnica sobre a função respiratória de jovens comparação objetiva entre os registros coletados antes e
sadias sedentárias, medida por indicadores funcionais de após a aplicação da Técnica de Iso-Stretching.
referência e pela biofotogrametria computadorizada.
b.1. Pontuação para registros do exame físico
Material e método Cada registro obtido no exame físico recebeu três níveis
de pontuações, cujos critérios de estratificação encontram-
Esta foi uma pesquisa primária descritiva sobre desfecho se descritos no Quadro 1.
clínico de uma intervenção fisioterapêutica específica [4],
que seguiu as determinações da Resolução 196/96 – CNS
b.2. Pontuação para registros dos testes funcionais respiratórios
sobre estudos envolvendo seres humanos.
Para cada registro obtido a partir dos testes integrantes
Compuseram a amostra seis jovens voluntárias, do sexo
da avaliação funcional respiratória foram igualmente atribuídos
feminino, acadêmicas do 4o. ano do Curso de Fisioterapia
três níveis de pontuações, cujos critérios encontram-se
da Universidade Tuiuti do Paraná. O estudo foi desenvolvido
descritos no Quadro 2.
nas dependências da Clínica-escola de Fisioterapia da
Universidade Tuiuti do Paraná e os procedimentos
metodológicos incluíram três etapas de abordagem dos Compuseram a Avaliação Funcional Respiratória os
componentes da amostra: (1) Avaliação Respiratória Inicial; seguintes testes: (a) Pico de Fluxo Expiratório; (b) Pressões
(2) Aplicação da Técnica de Iso-Stretching; (3) Reavaliação Estáticas Máximas, Inspiratória e Expiratória; (c) Volumes
Respiratória Final. Inspiratórios Máximos; (d) Resistência Muscular Respiratória.

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(c) Avaliação biomecânica dos movimentos respiratórios Para estudar a caracterização do padrão ventilatório
da parede torácica recorreu-se à equação desenvolvida por Ricieri et al. [8],
O estudo do comportamento mecânico da parede associando ∆a de cada compartimento em cada vista:
torácica e caracterização do padrão respiratório foi realizado
através do uso da Biofotogrametria Computadorizada como Σa = [(∆aX – ∆aM) + (∆aX – ∆aU)]ant + [(∆aX – ∆aM) + (∆aX
instrumento de avaliação, sendo utilizada a rotina de avaliação – ∆aU)]lat
dos movimentos respiratórios de Ricieri et al. [8,9].
Quadro 2 - Pontuação atribuída como critério de classificação do impacto
A aquisição de imagens foi feita através de uma câmera
da doença/disfunção sobre as funções avaliadas na rotina proposta.
filmadora digital Sony TRV-140, estando as voluntárias em
posição ortostática e sendo isoladas para fotointerpretação Pontuação Descritor Critério de consideração
atribuída funcional para os resultados coletados
as imagens adquiridas na vista anterior e lateral, nos seguintes
em cada variável
momentos: (1) Inspiração Máxima, a partir do volume
0 pontos Disfunção Valores encontrados
residual; (2) Expiração Máxima, a partir da capacidade
respiratória encontrados abaixo de 60%
pulmonar total. dos valores referência,
Como etapa preliminar, foi realizada a análise da considerados para o exame/teste.
mobilidade tóraco-abdominal, total e por compartimentos, 3 pontos Limitação Valores encontrados entre
calculada através do deslocamento angular (∆a) entre valores funcional 60 e 80% dos valores
angulares inspiratórios (∠insp) e expiratórios (∠exp) máximos, referência, considerados para
de acordo com a equação: o exame/teste.
5 pontos Função Valores encontrados acima de
normal 80% dos valores referência,
∆a = ∠insp – ∠exp considerados para o exame/teste.

Quadro 1 - Pontuação atribuída a cada teste integrante do exame físico.


Unidade de
Testes realizados 5 pontos 3 pontos 0 pontos
Avaliação
Exame físico Morfologia Sem alterações Presença de Presença de deformidades
deitado do tórax morfológicas assimetrias e/ou instaladas e cicatrizes
alterações morfológicas cirúrgicas[A]
Padrão Respiratório Costo-diafragmático Predomínio torácico Paradoxal e Assincronia
Ritmo Respiratório Eupneico Dispnéia, Bradipnéia, Ritmos patológicos
Taquipnéia
Mobilidade torácica Mobilidade normal Mobilidade Mobilidade diminuída em
diminuída em uma mais de uma região ou
região ou hemitórax hemitórax
Exame físico Força Muscular Expande sob a Expande sob a palpação, Não expande sob a
sentado Respiratória[B] palpação, apresenta apresenta consistência, palpação, não apresenta
consistência, não vence resistência consistência, não vence
vence resistência resistência
Palpação anterior Sem anormalidades Anormalidades Anormalidades presentes
presentes em uma em mais de uma região ou
região ou hemitórax hemitórax
Palpação posterior Sem anormalidades Anormalidades Anormalidades presentes
presentes em uma em mais de uma região ou
região ou hemitórax hemitórax
Percussão Torácica Som claro Atimpânico Timpanismo ou Macicez
submacicez
Frêmito Tóraco-Vocal Som claro pulmonar FTV ausentes ou FTV aumentado
diminuídos
Ausculta Murmúrio vesicular Murmúrio vesicular Presença de ruídos
pulmonar[C] presente sem ruídos diminuído sem ruídos adventícios
adventícios adventícios
Referentes a procedimentos relacionados a doenças respiratórias; [B]Critério de avaliação manual de Cuello; [C]Realizada regionalmente em
[A]

ambos pulmões.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 107

Aplicação da técnica de iso-stretching Gráfico 1 - Pontuação obtida no exame físico pela somatória dos pontos
atribuídos em cada teste, antes e após a aplicação da técnica de Isostretching.
O método foi aplicado durante dez dias seqüenciais, no
período de duas semanas consecutivas, compreendidas entre
13/08/2002 e 23/08/2002, totalizando dez sessões com
duração de cinqüenta minutos cada.
As sessões de isostretching eram divididas em duas
partes: a primeira constava do aquecimento, com duração
de 10 minutos e a segunda da aplicação dos exercícios
propriamente ditos, com duração de 40 minutos.
O aquecimento foi realizado na bicicleta estacionária.
Os exercícios de isostretching foram realizados nas posições
em pé, sentado e deitado. Em cada posição escolheram-se 4
exercícios que foram repetidos 3 vezes cada um (a primeira A pontuação para o exame físico deitado totalizava 35.00
para compreender, a segunda para corrigir e a terceira para pontos, enquanto que para o exame físico sentado a pontuação
executar da melhor maneira). Segundo Redondo [3], o tempo total era equivalente a 45.00 pontos. O percentual alcançado
de manutenção de cada exercício é determinada pela pelo grupo amostral na avaliação inicial foi de 96.20% para
expiração, a qual deve durar 10 segundos ou mais. Neste o primeiro exame e 99.27% para o segundo exame. Na
trabalho, a respiração foi mantida por 15 segundos em avaliação realizada após a aplicação da técnica observou-se
um aumento de 0.9% para a somatória dos pontos obtidos
cada repetição.
no exame físico deitado, e de 0.73% para o exame físico sentado.
As séries de exercícios foram compostas da seguinte
maneira:
Pontuação da avaliação funcional
- exercícios simétricos;
respiratória
- exercícios assimétricos;
- exercícios com bastão (de 1 m) e Os testes integrantes da avaliação funcional respiratória
- exercícios com bola. totalizaram 20.00 pontos. Através dos resultados registrados,
Todas as sessões foram diretamente supervisionadas a o grupo alcançou a média de 16.50 pontos ou 82,5% na
fim de orientar as voluntárias quanto à postura correta, à avaliação inicial, e a média de 17.0 pontos ou 85% na
manutenção da respiração e à conscientização corporal. reavaliação, num aumento de 0.5%.

Resultados Avaliação biomecânica dos movimentos


respiratórios da parede torácica
Características da amostra
Na aplicação da equação para análise do deslocamento
A amostra apresentou características de homogeneidade angular (∆a) a expansão inspiratória dos compartimentos
que viabilizaram a análise conjunta dos resultados obtidos, durante a inspiração foi evidenciada por valores positivos
partindo do princípio de uma amostra normal, atribuindo- para ∆a, enquanto que valores negativos evidenciaram uma
se “normal” o conceito de “mais freqüente” [10]. A Tabela retração inspiratória do compartimento analisado. Os
I apresenta as características antropométricas da amostra. resultados obtidos, antes e após a aplicação do Iso-Stretching
estão apresentados nas Tabelas II e III.
Tabela I - Características da amostra.
Gráfico 2 - Pontuação média obtida na avaliação funcional respiratória
Variável Média Desvio padrão
Idade (anos) 22,33 2,42
pela somatória dos pontos atribuídos em cada teste, antes e após a aplicação
Peso (kg) 61,33 7,79 da técnica de Iso-Stretching.
Estatura (m) 1,65 0,04
IMC (kg/m2) 22,54 2,38

Pontuação do exame físico

Uma vez que todos os testes do exame físico foram


pontuados, a média do total dos pontos alcançados serviu
como referência de comparação para valores pré e pós-
aplicação da técnica (Gráfico 1).

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Tabela II - Deslocamentos angulares medidos na vista anterior em cada posição faz a base do Iso-stretching, acrescentando um
compartimento analisado antes e após a aplicação do iso-stretching. intenso trabalho muscular, ativo e consciente. No trabalho
Valores Padrão
de Beloube et al. [11], que utilizou o método isotretching
obtidos X ant Mant Uant Ventilatório em dois adolescentes, verificou-se uma melhora nas retrações
Pré-Sessões Média ∆a 3,87 1,36 -0,87 7,24 ± 1,92 musculares e diminuição dos graus escolióticos e cifóticos,
DP 0,82 1,29 0,76 o qual podem interferir na respiração.
Pós-Sessões Média ∆a 3,57 1,07 -0,58 6,65 ± 2,86 A parede abdominal estabiliza a base do tórax durante a
DP 1,37 0,71 0,71 inspiração, promovendo a expansão do tórax e também
proporciona uma importante estabilização das vísceras. Tem
Tabela III - Deslocamentos angulares medidos na vista lateral em cada relação topográfica e funcional com o tórax, diafragma e
compartimento analisado antes e após a aplicação do iso-stretching. com o dorso, constituindo um elo funcional entre as cadeias
posterior e respiratória, ratificando a importância do trabalho
Valores Padrão
obtidos X ant Mant Uant Ventilatório
global. Portanto, a efetividade do diafragma depende da
parede abdominal e também da coluna lombar, pois é um
Pré-Sessões Média ∆a 3,63 -0,16 -1,80 9,23 ± 2,73
DP 0,88 0,52 0,89
dos locais de sua inserção. A influência do isostretching na
respiração é determinada pela expiração (que determina o
Pós-Sessões Média ∆a 3,55 1,32 0,12 5,66 ± 5,10
DP 2,67 0,83 0,64 tempo de manutenção da postura), pelo autocrescimento
da coluna (local de inserção do diafragma-coluna lombar) e
A caracterização do padrão ventilatório (Σa) foi efetuada pelas contrações isométricas.
pela comparação entre os resultados obtidos antes e após a O estudo mostrou que os indicadores funcionais de
aplicação do da Técnica de Iso-Stretching, de modo que os referência, como exame físico, testes funcionais musculares
maiores valores para resultados alcançados representaram de força e volume não foram suficientes para expressar o
um maior predomínio do compartimento torácico durante impacto da aplicação da técnica de Isostretching sobre o
a respiração. O inverso foi verdadeiro: menores valores como aparelho respiratório. A composição amostral de sujeitos
resultado da aplicação da equação representaram uma maior sadios pode ser a razão deste achado; embora em todas as
contribuição da mobilidade abdominal durante o movimento unidades de avaliação pontuadas o aumento dos valores
respiratório (Gráfico 3). percentuais tenha sido de 0,9% para o exame físico deitado,
0,73% para o exame físico sentado e de 0,5% para avaliação
Gráfico 3 - Valores obtidos na aplicação da equação de caracterização funcional respiratória, é importante ressaltar que os valores
do padrão ventilatório. iniciais já eram próximos da pontuação máxima possível em
cada unidade. Basicamente, este resultado expressa que em
um grupo sem limitações respiratórias, como o grupo
amostral deste estudo, não é possível que os valores pós-
sessões superem a normalidade. Assim, os esforços
voltaram-se para os achados cinesiomecânicos respiratórios
que pareceram ser os melhores indicadores deste impacto.
A expiração desenvolvida através da projeção semicerrada
dos lábios, tal como utilizada durante a aplicação da técnica
de Iso-Stretching, é também denominada de respiração
freno-labial ou “pursed-lips breathing” (PLB) pela descrição
original [12]. Como forma de padrão ventilatório, ou seja,
investida de objetivos terapêuticos, a PLB pode ser descrita
como uma resistência expiratória variável, criada pela
Padrão Anterior: resultado da aplicação da equação para valores constrição dos lábios, com objetivo de manter positiva a
obtidos na vista anterior; Padrão Lateral: resultado da aplicação pressão nas vias aéreas nesta fase da respiração. Investigada
da equação para valores obtidos na vista lateral; Ântero-lateral:
resultado da combinação aditiva dos resultados anterior e lateral.
em oito estudos ao todo, em toda literatura disponível nas
bases de citações científicas, a PLB teve sua primeira
apresentação, como recurso terapêutico, na década de 60
Discussão [12]. É uma manobra freqüentemente citada por ser adotada
por pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva
O precursor da técnica de Isostretching admite que “a crônica durante a respiração espontânea [13].
harmonia do corpo se forja pela qualidade, equilíbrio, entre a força, São atribuídos os seguintes efeitos à aplicação da técnica:
leveza, potência de contração e possibilidade de alongamento”. Segundo (1) recrutamento ativo da musculatura abdominal durante
ele, o controle respiratório, o domínio das sensações e da a expiração; (2) alterações positivas no padrão fisiológico da

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 109

respiração, como aumento do tempo expiratório e volume camento abdominal. Kenyon et al. [15] relatou que, durante
corrente e redução na fração tempo respiratório e freqüência a ventilação tranqüila, particularmente na postura em pé,
respiratória; (3) redução da capacidade residual funcional; e ocorre um aumento da pressão do compartimento abdominal
(4) melhora na saturação de oxigênio arterial [14]. pela descida das vísceras, estira os músculos abdominais
O efeito da PLB sobre o padrão e a mecânica da passivamente; esta tensão passiva nos músculos abdominais
respiração em 11 voluntários sadios, em repouso e durante representa uma importante ação de desinsuflação sobre o
o exercício numa bicicleta ergométrica, foram estudados compartimento torácico baixo durante a ventilação tranqüila.
em 1996 por Spahija e Grassino [13]. De acordo com os Assim, justifica-se que o movimento abdominal apresente
resultados encontrados, a aplicação da PLB durante o menor amplitude que o movimento do tórax na posição
repouso resultou em: (1) manutenção no volume minuto e ortostática. Os resultados angulares corroboraram esta
redução na freqüência respiratória, pelo aprofundamento evidência: estirados na posição ortostática, o compartimento
nos níveis de ventilação para médios volumes; (2) abdominal move-se menos que o compartimento torácico,
confirmação das propriedades já atribuídas à técnica, como porém ambos movimentam-se no mesmo ritmo.
aumento do tempo expiratório, tempo total da respiração e Pelos resultados encontrados, acredita-se que a
volume corrente; (3) aumento do recrutamento muscular aplicação clínica da técnica, com objetivos respiratórios
diafragmático; e (4) ausência de efeitos acumulativos sobre primários ao invés de posturais, seja de valor em situações
a capacidade residual funcional [14]. clínicas em que a reeducação diafragmática seja um objetivo
Este estudo partiu do princípio de que a aplicação da terapêutico a ser atingido. Sugere-se ainda que a técnica
PLB na técnica de Isostretching é feita numa condição que seja estudada em grupos de portadores de doenças
mais se assemelha ao repouso, pesquisada por Spahija e respiratórias para avaliar seu real impacto sobre os
Grassino. A forma de registro de imagem em nosso estudo, indicadores funcionais respiratórios quando estes se
para análise biofotogramétrica, somente permitiu avaliar encontrarem em situações de déficit clínico.
mobilidade e recrutamento dos compartimentos da parede
torácica durante a inspiração e expiração máximas. As tabelas Conclusão
2 e 3 evidenciam, pelos valores angulares que apresentam,
um aumento da contribuição abdominal para a mobilização Com os resultados alcançados foi possível concluir que
aérea nos resultados pós-sessões, mais evidentes nas medidas a técnica de Isostretching apresenta um aumento do
feitas pela vista lateral. Este resultado vai ao encontro dos recrutamento diafragmático durante a respiração, como
achados de Spahija e Grassino [13] que identificaram o resultados de sua aplicação intensiva em um grupo de jovens
aumento do recrutamento muscular diafragmático como sadias. Este recrutamento se evidencia pelo aumento da
um dos efeitos da aplicação da PLB em repouso em contribuição do compartimento abdominal durante as
indivíduos sadios. manobras inspiratórias pós-sessões. Os estudo mostrou que,
Não obstante, dois destaques merecem ser apresentados em sujeitos sadios, os indicadores normalmente utilizados
para reforçar as conclusões apresentadas: (1) as medidas pela avaliação fisioterapêutica tradicional não são efetivos
mais evidentes na vista lateral; (2) os valores não tão para avaliar tal impacto e que a análise biomecânica da
expressivos para o compartimento abdominal (U), quando parede torácica, através da biofotogrametria, foi o indicador
comparados aos valores observados no tórax superior (X) mais efetivo para avaliar as repercussões respiratórias
e inferior (M). anunciadas pela técnica de Iso-Stretching.
Desde o trabalho de Ricieri et al. [8,9] sabe-se que a
análise dos movimentos respiratórios através da Agradecimentos
biofotogrametria apresenta uma maior correlação entre
movimentos e volumes nas imagens adquiridas na vista Nossos agradecimentos ao Prof. Ms. Marcelo Márcio
lateral, ou seja, aquelas que registram os movimentos ântero- Xavier e Esperidião Elias Aquim pelo apoio recebido no
posteriores e crânio-caudais. Os autores relatam que tórax e Ambulatório de Fisioterapia Respiratória da Universidade
abdome movimentam-se ventralmente durante a inspiração, Tuiuti do Paraná para a realização das avaliações respiratórias
sendo que o tórax movimenta-se mais no sentido vertical, contidas neste estudo. Este estudo foi realizado na Clínica
enquanto que o abdome apresenta movimentos basicamente de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná e contou
no sentido ântero-posterior. Esta característica mecânica com o apoio técnico-científico do Instituto Brasileiro de
explica o fato de que os maiores valores, e mais conclusivos Fisioterapia Aplicada/IBRAFA-RJ.
para estudos bidimensionais de análise de imagem, tenham
sido encontrados para o deslocamento angular na vista lateral Referências
(vide Tabela III).
Ainda se faz necessária uma argumentação clara para 1. Bienfait M. Os desequilíbrios estáticos - Fisiologia, patologia
explicar os pequenos valores encontrados para o deslo- e tratamento fisioterápico. São Paulo: Summus; 1995.

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110 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

2. Souchard PE. O Stretching Global Ativo. São Paulo: diafragmáticos. Curitiba: Anais da VI Semana de Pesquisa da
Manole; 1996. UTP 2002;34.
3. Redondo B. Isostretching: a ginástica da coluna. São Paulo: 10. Sackett DL, Straus SE, Richardson WS, Rosenberg W, Haynes
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4. Castro AA. Projeto de Pesquisa III: Tipos de estudo. New York: Churchill Livingstone; 2000.
[citado 2002 oct 31]. Disponível em URL: http// 11. Deloube DP, Costa SRM, Junior EA, Oliveira RJDP. O método
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um protocolo de avaliação da função respiratória e qualidade expiratory resistive loading in healthy subjects. J Appl Physiol
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Internacional de Fisioterapia Respiratória. Rev Bras Fisiot 2002 para prescrição de padrões ventilatórios freno-labial, expi-
Supl Agosto: 47. ração com pressão positiva e facilitação neuromuscular
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Angular dos movimentos respiratórios da parede torácica e funcional em distúrbios da respiração. Reabilitar 2003;19:
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 111

Artigo original

Acupuntura cinética como efeito potencializador


dos elementos moduladores do movimento
no tratamento de lesões desportivas
Kinetic acupuncture as potential effect of movement
modulation elements in treatment of sport injuries
Daisy Franca*, Vasco Senna-Fernandes**, Célia Martins Cortez, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Acupunturista, Professora de Ambulátório de Acupuntura e Eletroacupuntura de Academia Brasileira de


Arte e Ciência Oriental - ABACO, **Médico, Cirurgião plástico, Cirurgião de mão, Acupunturista, Professor da ABACO,
***Médica, Professora de Fisiologia da UERJ

Resumo
Este trabalho se baseia no estudo do tratamento de lesões desportivas através da
Palavras-chave: Acupuntura Cinética, que é um método sistemático o qual associa a Acupuntura à
Acupuntura, cinesioterapia, Cinesioterapia durante a reabilitação do sistema músculo-esquelético, potencializando
locomotores distúrbios. os elementos moduladores do movimento, através da propriocepção. Tal associação
visa preparar a estrutura lesada para receber o estímulo fisioterápico, considerando que
a Acupuntura é capaz de: inibir o ciclo espasmo-dor, melhorando as valências físicas e
a performance do fuso muscular e tendinoso durante os movimentos. Além disso, a
Acupuntura promove sinergismo com a Cinesioterapia na recuperação do movimento,
pois o estímulo acupuntural pode ser de ação prolongada através da manutenção da
inserção de agulhas ou sementes em pontos específicos, durante o tratamento. Neste
estudo, foram incluídos 31 casos de atletas de diversas modalidades (tênis, futebol,
voleibol, ginástica olímpica, capoeira, balé e jiu-jitsu) portadores de distúrbios locomotores,
tais como: tendinite de tendão de Aquiles, lombalgia, dorsalgia, torcicolo, tenossinovite,
Síndrome do Túnel do Carpo, Síndrome do Pronador, contusão muscular, tennis elbow e
gonalgia por lesão de menisco; sendo 13 homens e 18 mulheres, com faixa etária
compreendida entre 11 a 40 anos. Todos apresentavam dificuldade na realização de
atividades físicas por presença da dor, que prejudicavam o seu desempenho geral. Os
parâmetros de avaliação dos resultados foram: Escala Visual Analógica (EVA) da
intensidade da dor (0-10 mm, sendo 0 sem dor e 10 a pior dor); Escala de Avaliação
Numérica (EAN) de melhora clínica em relação à dor (MCRD) (0-100%, sendo 0 sem
melhora e 100% a melhora total; e o número de sessões (NS) que influenciam
indiretamente a performance geral do atleta. A taxa média de redução da intensidade
da dor calculada com os dados da EVA (de 9,3 ± 0,9 mm para 1,5 ± 1,3 mm) foi de
84,0 ±14,6% (χ2 = 4,8), e a taxa média de MCRD pela EAN foi de 86,1 ± 3,1% (χ2 =
2,8). A média do número de sessões realizadas foi 5,5 ± 3,1. Dessa forma, a taxa média
de melhora por sessão foi de 15,6 ± 1,1%. Houve importante correlação entre as taxas

Recebido 24 de novembro de 2003; corrigido 3 de fevereiro de 2004; aceito 15 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Daisy Franca, Rua Alice, 1150 Laranjeiras 22241-020 Rio de Janeiro RJ, E-mail: dlmfranca@aol.com

artigo 04 - Daizy.pmd 111 05/04/04, 18:35


112 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

de melhora calculadas com os dados da EVA e a taxas da avaliação com a EAN (r =


0,9358, P > 0,0001). Todos os indivíduos que estavam em período de competição ou
apresentação, e que tinham se afastado recentemente de suas atividades, retornaram
aos seus treinamentos, no máximo, após a terceira sessão: 53% retornaram após a
primeira sessão, 37% após a segunda e 11% após a terceira. Os resultados mostraram
que a Acupuntura Cinética foi eficiente na reabilitação desportiva para evitar as
conseqüências resultantes da suspensão do treinamento na vida do atleta durante
uma lesão.

Abstract
The aim of this paper is to evaluate the treatment of sport injuries by kinetic
Key-words: acupuncture. It is a systematic method that associate Acupuncture to kinesitherapy
hip dysplasia, cinesiotherapy, during the rehabilitation of the musculoskeletal system, promoting the kinetic
sensori-motor stimulation. modulators elements through the proprioception. This association is based on preparing
the injured structure to receive the physical therapist stimulation, considering that
acupuncture is able to inhibit the pain-spasm cycle, improving the physical values and
the performance of muscle spindles during the movements. So, acupuncture promotes
synergism with kinesitherapy to restore movements, and through its stimulation may
have a long acting by maintaining the insertion of needles or seeds in specific points
during the treatment time. In this study, we treated 28 cases of athletes from different
sport kinds (tennis, football, volleyball, gymnastics, triathlon, brazilian kick-boxing,
ballet and jiu-jitsu) with locomotory disorders (such as Achilles tendon tendonitis, low
back, dorsal pain, tenosinovitis, carpal tunnel syndrome, pronator syndrome, muscle
bruise, tennis elbow, knee pain with meniscus injury), being 13 men and 18 women,
with ages ranging from 11 to 40 years. All of them presented difficulties in doing
physical exercises, due to pain and performance disturbance. The treatment results
were evaluated by parameters: Visual Analogue Scale for pain score (0-10mm, 0
being no pain and 10 worse pain), Numeric Rating Scale (NRS) of clinical improvement
related to pain (CIRP) (0-100%, 0 being no improvement and 100% a total
improvement, and Number of Sessions (NS), which influence indirectly the athlete
general performance. The mean rate of pain intensity reduction calculated under
VAS’s data (from 9,3 ± 0,9 mm 1,5 ± 1,3 mm) was 84,0 ± 14,6% (χ2 = 4,8), and the
mean rate of CIRP of NRS was 86,1 ± 3,1% (χ2 = 2,8). The mean rate of the
number of accomplished sessions was 5,5 ± 3,1. In that way, the mean rate of pain
improvement of each session was of 15,6 ± 1,1%. There was an important correlation
between the improvement rates between VAS and NRS (r = 0,9358, P > 0,0001).
Every patient in period of competition or presentation, and who was inactivated
because of locomotory disorder, could return for their training after one, two or
three treatment sessions: 53% returned after the first session, 37% after second, and
11% after the third session. Through these data it is possible to observe that kinetic
acupuncture can play an important rule in sport rehabilitation related to the non-
training period of injured athlete.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 113

Introdução esforço. Tal tratamento visa à eliminação do quadro álgico


e da expansão da flogose, a prevenção da fibrose e a
O bom desempenho de um atleta requer higidez estimulação progressiva da propriocepção, bem como a
funcional dos seus vários sistemas orgânicos [1]. A melhora da coordenação motora; até a reintegração do atleta
sobrecarrega do sistema músculo-esquelético em resposta à no treinamento esportivo [2,9]. Contudo, vários autores
intensa atividade física, durante o treinamento, às [10,11] ressaltam a importância da reeducação proprio-ceptiva
competições ou apresentações, exige do corpo níveis de força neuromuscular na fase de remodelação (fase 3), através da
muscular, de amplitude articular e transferência de peso identificação sensório-receptora das características do
muito acima dos fisiológicos. Os movimentos corporais movimento, tais como a orientação, a localização espacial, a
realizados no esporte sofrem mudanças inesperadas e, velocidade e a atividade muscular [2], por meio dos exercícios
quando são associados a interrupções rápidas, bruscas e de de Cadeia Cinética Fechada (CCN) [10]. Este é um método
grande impacto, podem levar a perda de acomodação das de exercícios no qual o segmento terminal é fixo com
estruturas osteoarticulares e miotendinosas [2]. Assim, o considerável resistência externa, o que impede ou limita sua
aparelho locomotor quando submetido à sobrecarga, as suas movimentação. Visa o aprimoramento proprioceptivo e
valências físicas (Força, Endurance e Flexibilidade) [3] neuromuscular; assim como aumenta tolerância a cargas de
precisam se manter integras. Para que isso aconteça é alongamento, estabilidade dinâmica e postural.
necessário um bom preparo físico e constitucional capaz de Porém, uma parte dos pacientes evolui para estágios
evitar ou superar qualquer tipo de lesão que venha a ocorrer. subagudo e crônico da lesão com dificuldade de recuperação
Quando o atleta sofre uma lesão, seja por traumatismo e de retorno às suas atividades esportivas. Isto causa danos
local direto ou por sobrecarga repetitiva, o padrão à sua performance, pois, já se sabe que dentro de um período
neuromuscular se altera profundamente, assim como, as suas de 7 a 28 dias de inatividade pode atenuar as valências físicas
atividades proprioceptivas, que vão influenciar negati-vamente [2,12]. Powers e Howley utilizam o ditado “use-o ou perca-
todas essas valências físicas, reduzindo a performance geral o” [13], lembrando que cinco semanas de treinamento
do competidor, principalmente pela presença da dor, edema, ocasionam rápido ganho de mitocôndrias musculares e que
isquemias, tensão muscular, contratura muscular reflexa, etc. após uma semana sem treinamento, a perda pode chegar a
A presença do processo inflamatório gera a espoliação de 50% do que foi adquirido [14].
proteínas, que resulta em edema e estimulação dos fibroblastos, O tratamento do aparelho locomotor por acupuntura é
retenção de metabólitos de difícil eliminação pelo organismo, praticado desde a antiguidade no mundo oriental,
deflagrando uma sucessão de eventos que culminam com a especialmente quando se trata de processos inflamatórios
formação de fibrose no local, o encurtamento dos tecidos crônicos e resistentes às condutas convencionais [15,16,17].
envolvidos e, até, a incapacidade funcional [4]. No entanto, os trabalhos sobre o tratamento de acupuntura
A literatura médica mostra que, no mundo do esporte, no esporte são escassos.
as estruturas do aparelho locomotor mais freqüentemente O uso de acupuntura na Medicina Tradicional Chinesa
lesadas são os músculos e, em seguida, as articulações. As (MTC) para tratamento e reabilitação das lesões traumato-
lesões podem resultar de contusões, entorses, luxações, ortopédicas (LTO) e musculoesqueléticas (LME) foi muito
tendinites, fraturas e outros [5]. Podem ser, inicialmente, de comentado por Hua Tuo [15]. Para a MTC [16], a dor é causada
natureza mecânica, por mau condicionamento físico e por pela presença de estagnação de Qi e sangue no canal tendíneo-
treinamento excessivo com exercícios desgastantes, levando muscular síndrome Bi do membro inferior, que evolui
o sistema músculo-esquelético ao sofrimento constante gradualmente com formação de edema na região afetada. A
mediante solicitações de grande mobilidade osteoarticular. reabilitação na MTC tem como objetivo de circulação de Qi e
Posteriormente, surgem os efeitos de natureza química em sangue, regulando o yin e o yang, eliminando a dor, removendo
resposta à desidratação local, que causa insuficiência na a estase e relaxando o espasmo muscular [18,19].
drenagem dos músculos e tendões ocasionando uma nutrição Em recente estudo [20], demonstramos a eficiência da
celular incorreta e acúmulo de toxinas no organismo [4]. A Acupuntura Cinética (AC) na reabilitação de casos de LME,
dor é sem dúvida a manifestação sintomatológica mais e que a acupuntura é um excelente recurso pré-cinético na
importante destas lesões, sendo considerado o principal fator fisioterapia por apresentar quesitos favoráveis à inibição do
limitante e mais preocupante na reabilitação [6]. ciclo espasmo-dor. A aplicação de acupuntura potencializa a
O tratamento convencional [7,8] aplicado para lesões ação da cinesioterapia, levando a uma reabilitação mais eficaz.
não cirúrgicas é por meio medicamentoso (analgésico, A AC mostrou beneficiar, significantemente, os pacientes de
antiinflamatórios e corticosteróides) associado à fisioterapia, LME em relação à dor e ao ganho de abertura de arco articular,
que é normalmente dividido em 4 fases distintas: 1) A fase podendo, por isso, ser capaz de prevenir o processo fibrótico
aguda-inflamatória (até 72 horas após a lesão); 2) A fase de e melhorar a atividade motora desses pacientes.
reparação (de 72 horas até 2 a 6 semanas); 3) A fase de O objetivo do presente trabalho foi estudar a eficiência
remodelação (até 6 meses); e 4) A fase de readaptação ao da AC (AC) como tratamento de lesões traumato-ortopédicas

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114 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Tabela I - Resultados da avaliação por EVA e EAN e número de sessões de AC em função do tipo de atividade física e da classe de DME.
Ind. Atividades DMS EVA Pré EVA Pós EAN (%) Nº de Melhora/ Sessão
físicas sessões sessão(%) de retorno

1 Educação Cervicalgia 8 3 70 6 11,7 2


Física
2 Dorsalgia 8 3 70 3 23,3 0
3 Punho 8 1 90 4 22,5 0
4 Lombalgia 9 2 80 5 16,0 2
5 Lombalgia 8 2 80 4 20,0 1
6 Gonalgia 7 2 90 4 22,5 0
7 Futebol Lombalgia 10 2 80 13 6,1 FT
8 Tendinite Tendão de Aquiles 9 4 60 3 20,0 2
9 Dorsalgia 10 4 60 11 5,4 FT
10 Malaba- Lombalgia 8 0 100 4 25,0 0
rismo
11 Trauma na mão 10 0 100 5 20,0 0
12 Trauma da coxa 10 2 80 8 10,0 0
13 Tendinite Tendão de Aquiles 10 1 90 10 9,0 1
14 Balé Lombalgia 8 1 90 13 6,9 1
15 Lombalgia 9 2 100 6 16,7 1
16 Trauma em Calcâneo 9 3 70 3 23,3 2
17 Coxa Posterior 10 1 90 10 9,0 1
18 Ginástica Trauma no joelho 10 0 100 5 20,0 3
Olímpica
19 Tenosinovite do Punho 9 0 100 8 12,5 0
20 Tênis Contusão intercostal direito 10 0 100 2 50,0 2
21 Tendinite Tendão de Aquiles 10 0 100 5 20,0 3
22 Alpinismo Torção lig. medial do tornozelo 8 3 70 5 14,0 FT
23 Jiu Jitsu Trauma em cotovelo 10 0 100 3 33,3 1
24 Trauma em dedo 10 0 100 1 100,0 0
25 Trauma em coxa 10 0 100 5 20,0 1
26 joelho 10 2 80 5 16,0 2
27 Luta Livre Trauma de tornozelo 10 3 70 5 14,0 2
28 Trauma em Coxa 10 1 90 6 15,0 1
29 Torcicolo 10 1 90 1 90,0 1
30 Ombragia 9 0 100 4 25,0 1
31 Capoeira Gonalgia 10 3 70 4 17,5 0

Tabela II - Médias da intensidade e melhora da dor e do nº de sessões Material e método


de AC. Média D. Padrão
EVA da Intensidade da Dor (0-10mm) Este estudo clínico foi realizado no Ambulatório de
Pré-tratamento 9,3 mm ±0,9 Pesquisa em Acupuntura da ABACO, no período de 2000 a
Pós-tratamento 1,5 mm ±1,3 2003 e incluiu 31 indivíduos, sendo 17 mulheres e 13
EAN da Melhora Clínica em homens, na faixa etária de 11 a 40 anos. Os tempos de
relação à Dor (%) 86,10% ±3,1 evolução dos quadros variam de uma semana a três anos.
Nº de Sessões 5,5 ±3,1 Dentro dessa amostragem tivemos: 10 casos de dor em
região da coluna vertebral (cervicalgia, dorsalgia e lombalgia);
(LTO) e lesões músculo esqueléticas (LME) resultantes da 5 casos por trauma em região anterior e posterior de coxa;
prática de atividades desportivas. A AC é um método 3 casos de tendinite do tendão de Aquiles; 2 casos de trauma
sistemático que associa Acupuntura à Cinesioterapia durante no tornozelo; 4 casos de lesão no joelho; 1 caso de tendinite
a reabilitação do sistema músculo-esquelético. Os resultados no punho; 1 caso de trauma no dedo; 1 caso de trauma no
são discutidos sob o enfoque do alívio do quadro álgico e cotovelo; 1 caso de torcicolo; 1 caso de contusão de
potencialização do sistema proprioceptivo muscular favorecen- intercostais; 1 caso de trauma no calcâneo; 1 caso de lesão
do a volta mais rápida ao treinamento de sua atividade esportiva. na mão.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 115

Figura 1 - (a) Taxas de indivíduos tratados que estavam fora de atividade Todos os pacientes foram previamente submetidos à
(inativos) e aqueles que estavam em período de competição ou apresentação, avaliação médica associada a laudos de Ortopedia,
discriminando os indivíduos que ainda se mantinham em treinamento, diagnosticados de acordo com a MTC, dando ênfase à pesquisa
apesar da lesão (em atividade), e os que haviam parado recentemente por de nódulos álgicos. A seguir, foram submetidos ao estudo
causa da dor e que retornaram após as três primeiras sessões. (b) Taxas de cinesiológico e, posteriormente, ao tratamento adequado ao
indivíduos que retomaram suas atividades esportivas após a primeira, quadro patológico, seguindo as três etapas da AC [20]:
segunda e terceira sessões de AC.
1ª etapa: O paciente era submetido à acupuntura
sistêmica de acordo com a MTC [16] e crâniopuntura -
YNSA[21]. Foram utilizadas agulhas de aço inoxidável, de
vários comprimentos (5mm a 30mm) e de calibres. Em casos
resistentes à conduta primária, aplicou-se eletroacupuntura
através de um eletroestimulador (*) de corrente alternada
assimétrica ajustado ao modo denso-disperso conforme
preconizada por Han [22] para tratamento de quadro álgico
severo; ventosa para contraturas; e moxibustão para
síndromes de deficiência [16];
2ª etapa: A cinesioterapia foi aplicada de acordo com
cada patologia em conjunto com os acupontos da
crâniopuntura, que eram mantidos estimulados e revisados
em relação ao Hibiki [21]. Em caso de presença de rigidez
articular ou contratura muscular segmentar persistente,
foram pesquisados nódulos álgicos, que foram tratados pela
manobra dinâmica de Jiao [23].
3ª etapa: Na auriculopuntura [24] foi preconizado o uso de
sementes de mostarda protegidas por micropore em acupontos
auriculares, de acordo com cada quadro sindrômico. A aplicação
era renovada de semana em semana, sendo os pacientes
orientados em relação higiene auricular.
Todos os pacientes foram submetidos à avaliação álgica
periódica durante o tratamento por meio dos dois métodos
subjetivos bem conhecidos: Escala Visual Analógica (EVA)
para a intensidade da dor (0-10mm, sendo 0 sem dor e 10 a
pior dor) e a Escala Avaliação Numérica (EAN) para
a melhora clínica em relação à dor (MCRD) (0-100%,
Figura 2 - Freqüências relativas dos indivíduos tratados pela AC em função da taxa de sendo 0 sem melhora e 100% a melhora total) [25].
melhora da dor e o número de sessões de AC.
Resultados

Neste estudo, o parâmetro de avaliação mais


importante foi o quadro álgico, do qual dependem
a amplitude, a marcha e a performance, principal-
mente em quadros agudos [26,27].
A Tabela I discrimina os resultados obtidos pela
avaliação com a EVA em função dos tipos de
atividade física e das classes de DME. Essa tabela
mostra as taxas de melhora e o número total de sessões
de AC realizadas para cada caso tratado, bem como
o número de sessões que possibilitou o retorno do
indivíduo às suas atividades de treinamento.
A Tabela II apresenta as médias de todos os
casos e os respectivos desvios padrões dos valores

(*) DS-100C (Sikuro- Sistema e Equipamentos Eletrônicos Ltda.).

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116 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Figura 3 - Freqüências relativas dos indivíduos tratados pela AC em função da taxa de A figura 3 permite a comparação dos
melhora da dor e da modalidade esportiva: alpinismo (Alp), balé, capoeira (Cap), educação física resultados obtidos em função da modalidade
(EF), futebol (Fu), ginástica olímpica (GO), jiu jitsu (JJ), luta livre (LL), malabarismo (Mb) esportiva dos indivíduos tratados pela AC.
e tênis (Te).
Discussão

À medida que o mundo desportivo se


estende, altos níveis de exigência e de performance
são solicitados aos atletas. As lesões do aparelho
locomotor (LAL) no esporte são inevitáveis.
Assim, a conduta adotada para a sua
recuperação tem que ser rápida e eficiente, já
que o tempo de afastamento do treinamento
para recuperação de injúrias é um fator
determinante na perda de performance geral em
desportistas bem preparados. O quadro se
torna mais alarmante após quatro semanas de
repouso, pois a abstinência prolongada ao treino
leva à perda gradativa das adaptações neurais
e hormonais. Todavia, a acupuntura pode
minimizar tais efeitos durante a reabilitação, pois
é um tratamento que estimula o aumento do
aporte sangüíneo no local da lesão, o que
melhora a oxigenação dos tecidos e favorece a
produção de ATP [28]. Além disso, a
oriundos da avaliação do nível de dor segundo a EVA e a Acupuntura é um excelente método analgésico muito eficiente
EAN, antes e depois do tratamento sistemático de AC. Nesta por apresentar três mecanismos de ação fundamentais: (1)
tabela pode ser observado que a média da intensidade de bloqueio aferente segmentar; (2) bloqueio descendente supra-
dor caiu de 9,3 ± 0,9 mm para 1,5 ± 1,3 mm na EVA, espinal, mediante as vias piramidais, e (3) ativação de processos
tendo sido a taxa média de MCRD avaliada pela EAN de analgésicos endógenos (liberação encefalinas e endorfinas).
86,1 ± 3,1%. A média do número de sessões realizadas foi Dessa forma, a acupuntura leva à redução do uso
5,5 ± 3,1. Dessa forma, a taxa média de melhora por sessão indiscriminado de drogas antiinflamatórias e analgésicas, que
foi de 15,6 ± 1,1%. Houve importante correlação entre as podem interferir na performance do atleta e trazer danos
taxas de melhora calculadas com os dados da EVA e a taxas importantes à saúde, pelos seus efeitos colaterais [28,29].
da avaliação com a EAN (r = 0,9358, P > 0,0001). A taxa Assim, a acupuntura pode proporcionar ao atleta uma
média de melhora calculada com os dados da EVA (de 9,3 alternativa no tratamento de LAL [17,30].
± 0,9 mm para 1,5 ± 1,3 mm) foi de 84,0 ± 14,6%. Os aumentos do aporte sanguíneo, de oxigenação tissular,
As figuras 1 permitem a avaliação da eficiência da AC da atividade fagocitária e da liberação de substâncias
como suporte terapêutico para casos de atleta com LME e vasoativas são outros exemplos de respostas fisiológicas que
que não podem se afastar das suas atividades físicas. A figura são estimuladas pela acupuntura; e que favorecem a
1a mostra que dos 31 indivíduos tratados, apenas 9,7% recuperação do sistema músculo esquelético. O posicio-
estavam inativos e 29% não chegaram a parar suas atividades namento anatômico de pontos de acupuntura próximos aos
em função da dor, mas estavam em situação de sofrimento, vasos linfáticos facilita as trocas metabólicas [28].
e que 32% retornou aos seus treinamentos após a primeira A AC é uma conduta que tem como vantagem a aplicação
sessão do tratamento. Todos os indivíduos que estavam em sincronizada de dois procedimentos terapêuticos em uma só
período de competição ou apresentação, e que tinham se sessão, sendo dividida em três fases respeitando o momento
afastado recentemente de suas atividades, retornaram aos cinético do paciente. A inserção das agulhas é feita em pontos
seus treinamentos, no máximo, após a terceira sessão: 53% sistêmicos, microssistêmicos e locomotores (sejam eles loco-
retornaram após a primeira sessão, 37% após a segunda e regionais, segmentares, à distância, ou somatotópicos) [20].
11% após a terceira, como confirmado pela figura 1b. Durante a primeira fase da AC, a pré-cinética, o sistema
A figura 2 apresenta a relação entre as freqüências músculo-esquelético é preparado pela acupuntura para as
relativas dos resultados terapêuticos, de acordo com o nível fases seguintes, pois melhora o quadro álgico e promove
de melhora da dor em valor percentual e o número de miorrelaxamento. Na fase pré-cinética, cada paciente é
sessões de AC. reavaliado de acordo com o seu quadro clinico que,

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 117

geralmente, inclui dificuldade de movimentação da região de melhora de 70% foi mais freqüente entre a terceira e
lesionada, devido à presença de contratura ou nódulos sexta sessões dos tratamentos.
musculares dos antagonistas correspondentes. Esses resultados já eram esperados por nós, pois
No presente estudo, os 31 indivíduos que foram recentemente [20] demonstramos a eficiência da AC na
tratados por AC eram praticantes de atividades desportivas reabilitação de casos de LME. Segundo Silbernagl e
ou artísticas de expressão corporal e freqüentemente Despopoulos [30] o sistema músculo-esquelético é sensível
participavam de competições ou apresentações que aos efeitos da acupuntura mediante a ativação dos
requerem treinamento físico contínuo. Apenas 9,7% desses proprioceptores que deflagram reflexos de alongamento.
31 indivíduos estavam inativos (figura 1a) e 29% não Logo após a inserção da agulha, além do processo
haviam parado suas atividades, apesar da dor, porque inflamatório por microtrauma, ocorre estímulo elástico sobre
estavam em pleno período de competição ou apresentação. os fusos. Um estímulo muito intenso pode gerar potenciais
O tratamento por AC mostrou ser muito eficaz neste de ação nas fibras nervosas aferentes dos fusos musculares
último grupo, pois com o tratamento eles não precisaram (fibras Ia) e órgãos tendíneos (fibras Ib). Devido ao auto-
suspender suas atividades. Nestes casos houve relatos de reflexo, tais potenciais mudam a tensão do músculo, mediante
melhora total de dor e da performance já na primeira sessão, efeito inibidor simultâneo sobre os antagonistas relacionados.
com o restabelecimento da capacidade funcional plena para Como esses receptores se localizam na profundidade dos
a competição. acupontos, estando interligados aos mesmos, eles reagem a
A eficiência do tratamento foi especialmente notável nos alterações de tensão e de comprimento muscular, que
61% dos indivíduos que estavam em período de competição ocasionam respostas neuromotoras evocadas da periferia
ou apresentações e que tinham parado recentemente o através do alfa-motoneurônio. Em adição, devido à
treinamento por causa da dor. Todos eles puderam se influência das fibras do gama-motoneurônio na tensão das
reintegrar às suas equipes de trabalho, no máximo, após a fibras musculares intrafusais nas vias eferentes, os
terceira sessão de AC. Dentre esses (χ2 = 2,3 P < 0,0001), propriocepetores ativam o mecanismo de contração
foi significante a taxa de indivíduos (90%) que retomou muscular, que induz a um reflexo de relaxamento, ou seja,
seus treinamentos com uma e duas sessões (figura 1b). alongamento da musculatura contraída e indução reflexa
Esses resultados mostram a eficiência da AC na para finalização da resposta reflexa. Através deste
reabilitação desportiva para evitar as conseqüências, muitas mecanismo, o estímulo acupuntural leva a finalização do
vezes dramáticas para sua vida de atleta, resultantes da impulso nos alfa-motoneurônio, através da recuperação do
suspensão do treinamento, durante um período de potencial de membrana, que promove miorrelaxamento e
recuperação de um quadro de LME ou LTO. redução de taxas de impulsos. Esse mecanismo protege o
O nível de melhora dos pacientes foi avaliado pelos músculo de uma sobrecarga [30].
métodos que usam a EVA e a EAN. Essas duas escalas Na prática da AC em lesões esportivas, podemos observar
forneceram resultados com forte correlação entre si (r = que esta se assemelha a uma associação entre os métodos
0,9358 (P > 0,0001). Foram estatisticamente significantes de Reeducação Proprioceptiva Neuromuscular (RPN)
(tabela 2) as médias das taxas de MCRD avaliada pela EAN [10,31] e de Cadeia Cinética Fechada [10,32]. A RPN
(86,1 ± 3,1%, χ2 = 2,8) e calculada com os dados resultantes consiste em um método de treinamento que tem por objetivo
da aplicação da EVA (84,0 ± 14,6 %, χ2 = 4,8) em relação elevar as respostas motoras inconscientes pela estimulação
à redução da intensidade da dor. A taxa média de MCRD dos sinais aferentes e mecanismos centrais responsáveis pelo
por sessão foi de 15,6 ± 1,1%, de acordo EAN, tendo sido controle articular dinâmico [10]. Um efeito que pudemos
5,5 ± 3,1 a média do número de sessões realizadas. notar ao realizar a manobra dinâmica de Jiao [23] no trigger
Como mencionado na introdução, a reabilitação de um point na região acometida, é que a acupuntura age sobre os
atleta pode ser resumida em 4 fases, sendo as duas últimas proprioceptores, diminuindo a consistência dos nódulos
de grande importância para a prevenção de recidivas e novas musculares e promovendo o miorrelaxamento geral, bem
lesões. Através deste estudo, observamos que a AC pode como alivia o quadro álgico. Tudo isto resulta em ganho da
sintetizar essas quatro fases em um período curto de mobilidade e potencialização da RPN.
tratamento, em relação às condutas convencionais. Com uma O grupo de atletas que apresentou a maior freqüência
média de cinco sessões de AC (figura 3) a maioria dos casos relativa de casos de resolução clínica da dor (figura 3) foi o de
agudos tratados alcançou a resolução clínica da dor. É lutadores de jiu jitsu (freqüência relativa FR = 3/4, melhora/
importante notar na figura 3, que houve caso de resolução sessão = 33,3%). A resolução clínica também foi alcançada no
clínica na primeira sessão do tratamento, mostrando a tratamento dos dois atletas de tênis e dos dois de ginástica
possibilidade de se alcançar, em uma única sessão, os olímpica, tendo sido necessárias em média, respectivamente,
objetivos desejados para as duas últimas fases da reabilitação 3,5 e 7,5 sessões para tal resultado. Taxas de melhora abaixo de
de atletas, a remodelação completa das estruturas em termos 70% foram observadas apenas em dois casos entre os jogadores
de força e elasticidade e a readaptação ao esforço. O nível de futebol (FR = 2/3) com 3 e 11 sessões (Tabela I).

artigo 04 - Daizy.pmd 117 05/04/04, 18:35


118 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

A melhor taxa de melhora por sessão do tratamento in soccer. J Orthop Sport Phys Ther 2001;31(11); 655-60.
também foi observada dentre os lutadores de jiu jitsu (Tabela 10. Hall CM, Brody LT. Therapeutic exercise: moving towards
I), onde tivemos um caso de resolução clínica de trauma de function. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 1999.
11. Risberg MA, Mork M, Jenssen HK, Holm I. Design and
dedo com apenas uma sessão (100% de melhora/sessão). implementation of a neuromuscular training program
Em um caso de torcicolo entre os lutadores de luta livre following anterior cruciate ligament reconstruction. J Orthop
com 90% de melhora/sessão e um caso de contratura Sport Phys Ther 2001;31(11):620-31.
intercostal unilateral em um jogador de tênis com 50% de 12. Ciullo JV, Zarin J. Biomechanics of the musculo-tendineous
melhora/sessão. Foram observados dois casos de 25% de unit; relation to athletic performance and injury. Clinics in
melhora /sessão, um de ombralgia em lutador de luta livre Sports Medicine 1986;2(1):71-86.
e o outro de lombalgia em um malabarista, os demais 13. Powers SC, Howley ET. Exercice physiology: Fitness and
Performance. McGraw Hill; 1997.
apresentaram taxas de melhora/sessão abaixo de 24%. 14. Mujika I, Padill S. Muscular characteristics of detraining in
Sob o ponto de vista fisioterapêutico, a acupuntura humans. Med Sci Sports Exerc 2001;33(8):1297-303.
mostrou ser excelente método coadjuvante na realização dos 15. Ding JH. A Note on the theories and the applications of traditional
exercícios cinesioterápicos. Particularmente no alongamento chinese medicine in orthopedics. In: Feng CH, Chen BX,
estático, em que o segmento osteomuscular é levado ao LeCompte G, eds. China’s New Achievements in Orthopedics
máximo permitido pela flexibilidade do atleta, foi observado Surgery. 1a ed. Beijing: New World Press; 1993. p.157-9.
ganho precoce de amplitude de arco articular. Também foi 16. Cheng XN. Chinese acupuncture and moxibustion. 1a ed.
Beijing: Foreign Languages Press; 1987.
observada melhora no realinhamento articular e no 17. Lohya PB. Role of acupuncture in locomotor disorders in:
fortalecimento muscular por efeito dos exercícios que resgatam compilation of the abstracts of acupuncture and moxibustion
movimentos específicos da atividade esportiva do indivíduo. papers – The First World Conference on Acupuncture-
Tais exercícios visam o ganho ou manutenção da flexibilidade, Moxibustion. Beijing, China, Nov. 22-26 de nov de 1987. p. 62-3.
da força muscular e trofismo muscular, bem como ativam os 18. Sun C. Chinese massage therapy. Shandong Science and
proprioceptores para manutenção da postura e estabilidade Technology Press; 1990.
articular apropriadas à modalidade esportiva. 19. Zhang EQ. Health preservation and rehabilitation. Shanghai:
Shanghai College of Traditional Chinese Medicine;1990.
20. Senna-Fernandes V, França D, Cortez C, Silva D. Kinetic
Conclusão acupuncture: systemic therapy of face neuromucscular and
locomotor system by acupuncture associated to kinesiotherapy.
Nossos resultados mostram que a AC ou Cine- Fisioter Bras 2003;4(3):185-94.
sioacupuntura, que é um método sistemático que une dois 21. Yamamoto T. Yamamoto New Scalp Acupuncture – YNSA.
procedimentos sinérgicos, potencializa o processo de Tokyo: Axel Springer Japan; 1998.
reabilitação do aparelho locomotor. Também verificamos que 22. Han JS. What is the best parameters of electroacupuncture
(ea) stimulation for the treatment of pain and drug addiction.
a ação da acupuntura intercede direta ou indiretamente nas Beijing: Neuroscience Research Institute, Beijing Medical
valências físicas em relação ao sistema músculo esquelético, University Beijing, China. Abstracts of ICMART ’98
favorecendo à performance do indivíduo na atividade desportiva, International Medical Acupuncture Congress.
quando associada ao trabalho cinesioterápico. Com isso o atleta 23. Jiao S. Scalp acupuncture and clinical cases. Beijing: Foreign
ganha uma recuperação mais acelerada, sem ficar muito tempo Languages Press; 1997.
fora de suas atividades de treinamento físico. 24. Nogier PMF. Treaty of auriculotherapy. Moulins-les-Metz :
Maisonneuve ; 1972.
25. White A. Measuring pain. Acupunct Med 1998;16(2).
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artigo 04 - Daizy.pmd 118 05/04/04, 18:35


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 119

Artigo original

Efeito do alongamento estático após diatermia de ondas


curtas versus alongamento estático nos músculos
isquiotibiais em mulheres sedentárias
Effect of static stretch after short-wave diathermy versus static
stretch on ischiotibial muscles in sedentary women

Carlos Eduardo Pinfildi*, Rodrigo Paschoal Prado*, Richard Eloin Liebano, M.Sc.**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Professor Assistente em Fisioterapia Geral II do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva – IMES –
FAFICA, **Fisioterapeuta, Docente da UNICID em Fisioterapia Geral II e Docente do Instituto Municipal de Ensino Superior de
Catanduva – IMES – FAFICA

Resumo
O sedentarismo é uma das principais causas que leva a uma diminuição da flexibilidade
Palavras-chave: muscular, causando algumas vezes alterações posturais. O alongamento é uma das
músculos isquiotibiais, técnicas mais utilizadas na fisioterapia para aumentar a flexibilidade muscular. O objetivo
diatermia de ondas curtas,
desse estudo foi analisar o efeito da diatermia de ondas curtas na flexibilidade dos
alongamento estático,
flexibilidade. músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias. Trinta mulheres sedentárias com limitação
da flexibilidade dos músculos isquiotibiais foram selecionadas através de 2 testes de
flexibilidade e distribuídas ao acaso em 3 grupos (10 mulheres em cada grupo). Foi
utilizado um sistema de polias com 7 kg para realização do alongamento. Grupo 1
(controle) não realizou nenhum tratamento, Grupo 2 – realizou alongamento estático
por 3 minutos somente e o Grupo 3 realizou alongamento estático por 3 minutos após
20 minutos de diatermia de ondas curtas. Os grupos 2 e 3 realizaram o tratamento 3
vezes por semana durante um mês. Três dias após o término do estudo, as voluntárias
foram avaliadas através de 2 testes de flexibilidade dos músculos isquiotibiais com o
goniômetro. Os testes ANOVA e Tukey mostraram que as diferenças entre os grupos
foram estatisticamente significativas (p < 0,005) para ambos os testes. Os resultados
desse estudo mostraram que o uso de diatermia de ondas curtas antes do alongamento
estático pode ser mais efetivo para o aumento da flexibilidade muscular do que os
procedimentos utilizados nos grupos 2 e 1.

Recebido 15 de dezembro de 2003; aceito 15 de março de 2004.


Endereços para correspondências: Carlos Eduardo Pinfildi, rua Aracajú, 1352, Vila Santo Antônio 15801-250 Catanduva SP, Tel: (17) 3524-8203 /
9717-7712, E-mail: cepinfildi@hotmail.com, Rodrigo Paschoal Prado, rua Rio grande do sul, 801, Higienópolis, 15804-040 Catanduva SP, Tel: (17) 3522-3983 /
9717-5734, E-mail: paschoalrp@hotmail.com.

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120 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Abstract
The sedentarism is one of the main causes that lead people to a decrease of muscular
Key-words : flexibility, causing sometimes posture damage. The stretch is one of the most used
ischiotibial muscles, short-wave techniques in physical therapy to increase muscular flexibility. The aim of this study
diathermy, static stretching, was to analyse the short-wave diathermy effect in the ischiotibial muscles in sedentary
flexibility.
women. Thirty sedentary women with limited flexibility ischiotibial muscles were selected
through 2 ischiotibial muscles flexibility tests and randomly divided in 3 groups (10
women each group). It was used a pulley system with 7 kg (15,4 lb) in one of the sides
to stretch. Group 1 (control) realized no treatment, group 2 realized static stretch for 3
minutes only and group 3 realized static stretch after 20 minutes of short-wave diathermy
for 3 minutes. The groups 2 and 3 realized the treatment 3 times a week for one
month. Three days after the study ended, the women were evaluated through 2 ischiotibial
muscles flexibility tests with goniometer. The Anova and Tukey tests showed that the
differences among the groups were statistically significant (P < 0,005) for both tests.
The results of this study showed that the use of short-wave diathermy prior to static
stretch group 3, may be more effective for increasing ischiotibial muscles flexibility
than the procedure used in the groups 2 and 1.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução havendo diferença entre os alongamentos de 30 e 60


segundos. Para obter um aumento ou manter a flexibilidade,
O alongamento é uma das técnicas mais utilizada na um indivíduo sedentário deve-se alongar por pelo menos
fisioterapia para se obter um aumento da amplitude de uma vez ao dia, 3 ou 5 dias por semana e mantê-lo alongado
movimento (ADM) por meio do aumento da flexibilidade por maior tempo possível [9,4,14].
muscular. Também atua na diminuição do tônus, Segundo Souchard [15] quando se alonga um músculo
encurtamento e espasmo muscular, além de ser utilizado aquecido, este se torna mais flexível facilitando o
para preparar a musculatura antes dos exercícios físicos, alongamento, porém retorna ao seu comprimento normal
evitando assim, lesões musculares [1-5]. após resfriado. Um músculo não aquecido quando alongado,
Para a escolha adequada de um alongamento, é necessário obtém um aumento no seu comprimento, mantendo assim
verificar o objetivo e a capacidade de cada indivíduo. Os esse novo comprimento.
tipos mais utilizados são: alongamentos ativo, passivo, balístico, Recentemente vários autores observaram que o tecido
facilitação neuromuscular proprioceptiva e estática [6,7]. O conectivo quando aquecido antes do alongamento, aumenta
alongamento estático é o mais utilizado para se obter aumento a extensibilidade do tecido encurtado, tornando-o mais
da flexibilidade e relaxamento muscular [8]. confortável [12,14,16,17]. Quando a temperatura muscular
Atualmente não há um consenso sobre a duração e aumenta, o tecido conectivo cede mais facilmente,
freqüência do alongamento, quando se refere ao aumento diminuindo a força e o tempo de alongamento [8,18].
da flexibilidade muscular [9,10]. O alongamento não se torna Wessling, DeVane, Hylton [8] utilizaram em seu estudo
eficaz quando utilizado por menos de 6 segundos, mas é o alongamento estático e ultra-som combinado no músculo
eficiente quando utilizado de 15 a 30 segundos com um tríceps sural, comparando com o alongamento estático
número maior de repetições [11-13]. somente. Knight et al. [12] utilizaram como fonte de calor o
Madding et al. [13] concluíram em um estudo que o ultra-som contínuo, exercícios de aquecimento ativo e calor
alongamento por 15 segundos é tão eficaz quanto o de 2 superficial. Ambos os estudos mostraram que o alongamento
minutos, enquanto outros autores como Bandy, Iron e estático combinado com o ultra-som contínuo apresentou
Briggler [10] concluíram em sua pesquisa que o alongamento melhores resultados do que os outros métodos
por 30 e 60 segundos é mais eficaz do que o alongamento Devido aos resultados positivos das pesquisas que
por 15 segundos para o aumento da flexibilidade, não utilizaram aquecimento antes do alongamento [8,12,14,17],

artigo 05 - Carlos Eduardo.pmd 120 05/04/04, 18:35


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 121

foi escolhido a diatermia de ondas curtas contínuo como e assinaram um termo de consentimento, declarando que
meio de calor profundo por ter uma ampla utilização no elas não estavam participando de nenhum programa de
meio clínico e pela falta de pesquisas com este equipamento alongamento, e também que concordavam em participar
[19,20]. do estudo. Os critérios de exclusão para o estudo foram
Dessa forma este estudo foi realizado com o propósito gravidez, patologias vasculares, desordens neuromuscular,
de determinar o efeito do alongamento estático após diatermia lesões em quadril, joelho e tornozelo e doenças malignas.
de ondas curtas versus alongamento estático na flexibilidade Para participar do estudo, as voluntárias tinham que
dos músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias. exibir mais de 20º de perda de ADM em ambos os testes
utilizados no estudo para verificar a flexibilidade dos
Material e Método músculos isquiotibiais.

Para a realização dessa pesquisa foi utilizado um Procedimento


equipamento de ondas-curtas modelo Diatermax 350p da
marca KLD Biossistemas Equipamentos Eletrônicos Ltda, As voluntárias foram selecionadas com dois testes de
com 350 W de pico de potência, tipo contínuo e pulsado flexibilidade dos músculos isquiotibiais.
com repetição de pulso de 30 a 400 Hz, oscilação da No Teste 1 (T1), a voluntária permanecia deitada em
freqüência de 27,12 Mhz e comprimento de onda de 11,06 decúbito dorsal com os membros inferiores estendidos, mas
metros. Foram utilizados também dois eletrodos capacitivos o joelho direito e o quadril fixados com faixas elásticas. O
flexíveis de borracha. pesquisador sempre marcava o trocânter maior do fêmur
As voluntárias foram mensuradas com goniômetro com uma caneta permanente onde era posicionado o eixo
universal para avaliar a ADM no início e no término da do goniômetro. O mesmo pesquisador posicionava o
pesquisa. O alongamento estático foi realizado por um goniômetro no ponto marcado, com o braço estacionário
sistema com duas polias e uma corda. Uma das do goniômetro na linha axilar média do tronco e o braço
extremidades foi fixada ao tornozelo esquerdo da móvel posicionado paralelamente a superfície lateral da coxa
voluntária, enquanto a outra extremidade era fixada a um usando como referência o côndilo lateral do fêmur. O
peso com 7 kilogramas. Antes do início do estudo, foi pesquisador pedia para a voluntária realizar a flexão ativa
realizado um estudo piloto para determinar o peso utilizado do quadril esquerdo (arbitrariamente escolhido) com o joelho
no alongamento. estendido, definindo como ponto de mensuração quando a
As voluntárias eram fixadas ao divã em decúbito dorsal voluntária sentisse um leve desconforto ou um retesamento
com faixas elásticas. Uma das faixas era fixada no joelho nos músculos isquiotibiais.
direito da voluntária e a outra no quadril, para obter um Neste momento era mensurada a ADM com o
melhor posicionamento para o alongamento (Fig. 1). goniômetro usando o método descrito por Norkin, White
[21]. A posição zero era considerada como posição neutra
Figura 1 – Sistema de polias. do quadril e a posição total era considerada como 90º de
flexão do quadril (Fig. 2).

Figura 2 – Teste (T1) de flexibilidade dos músculos isquiotibiais.

Fonte:Dados do Autor

Trinta mulheres sedentárias entre 18 e 25 anos do


Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva –
IMES – FAFICA foram selecionadas. As voluntárias leram Fonte: Dados do Autor

artigo 05 - Carlos Eduardo.pmd 121 05/04/04, 18:35


122 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

No Teste 2 (T2) o pesquisador sempre marcava o aquecidos até elas referirem um calor confortável [19].
trocânter maior do fêmur, o côndilo lateral do fêmur e Foi utilizada a técnica coplanar, onde foi colocado um
maléolo lateral da tíbia. Cada voluntária era posicionada em eletrodo na origem proximal dos músculos isquiotibiais,
decúbito dorsal, com o quadril esquerdo e joelhos flexionados sob a tuberosidade isquiática e o outro eletrodo na origem
à 90º por mensuração goniométrica. O quadril e o joelho distal, sob a junção músculo-tendinosa do joelho esquerdo.
direito eram fixados com duas faixas elásticas. Após aquecido, a voluntária era alongada no sistema de
O mesmo pesquisador do T1 posicionava o quadril polias (Fig. 4).
esquerdo e o joelho flexionados a 90º. O segundo pesquisador Três dias após o término do estudo, as voluntárias foram
posicionava o eixo do goniômetro no joelho esquerdo sobre avaliadas com o T1 e T2. Os pesquisadores que realizaram
o côndilo lateral do fêmur, com o braço estacionário do essa avaliação foram os mesmo que realizaram a primeira
goniômetro na face lateral do fêmur, usando como referência avaliação, e eles não sabiam a qual grupo a voluntária pertencia.
o trocânter maior do fêmur e o braço móvel do goniômetro
era posicionado na face lateral da fíbula usando como Figura 4 – Técnica Coplanar.
referência o maléolo lateral. O pesquisador pedia para
voluntária fazer a extensão ativa do joelho esquerdo, definindo
como ponto de mensuração quando a voluntária sentisse
um leve desconforto ou um retesamento nos músculos
isquiotibiais [21]. A posição neutra era considerada como
90º de flexão do joelho e a extensão total do joelho era
considerada como zero grau (Fig. 3).

Figura 3 – Teste (T2) de flexibilidade dos músculos isquiotibiais.

Fonte: Dados do Autor

Resultados

Nesta pesquisa foi comparado qual protocolo de


tratamento foi mais eficiente. Entretanto, foi utilizado 2 testes
de flexibilidade dos músculos isquiotibiais, para avaliar o
valor da ADM entre o início e o término da pesquisa para
cada grupo. Para a análise estatística dos resultados foi
Fonte: Dados do Autor.
realizado o teste ANOVA (Análise de Variância) para verificar
Após selecionadas, as 30 voluntárias foram randomizadas
Tabela I - Valores em graus do pré-teste e pós-teste do Teste 1.
em 3 grupos com 10 em cada grupo.
O Grupo 1 (G1) não realizou protocolo de tratamento Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
e serviu como grupo controle. Grupos pré- pós- pré- pós- pré- pós-
Voluntárias teste teste teste teste teste teste
O Grupo 2 (G2) realizou alongamento estático somente
por 3 minutos, 3 vezes por semana durante um mês. O 01 50º 55º 35º 47º 42º 72º
02 53º 50º 37º 55º 38º 75º
alongamento estático foi realizado da mesma maneira do
03 50º 50º 40º 50º 45º 70º
grupo 3. 04 68º 50º 48º 75º 41º 60º
O Grupo 3 (G3) recebeu diatermia de ondas curtas 05 38º 40º 30º 59º 50º 70º
contínuo por 20 minutos antes de realizar o alongamento 06 42º 42º 48º 61º 42º 68º
estático. O alongamento estático foi realizado por 3 07 50º 48º 37º 47º 51º 75º
minutos, 3 vezes por semana durante um mês. As 08 53º 51º 32º 43º 55º 77º
voluntárias eram secadas com uma toalha para remover o 09 63º 60º 56º 68º 39º 65º
10 46º 46º 50º 61º 47º 72º
suor. Logo após, a voluntária deitava sobre o divã na posição
de decúbito dorsal e seus músculos isquiotibiais eram Fonte: Dados do Autor.

artigo 05 - Carlos Eduardo.pmd 122 05/04/04, 18:35


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 123

o efeito do tratamento e o Teste de Comparação Múltipla Discussão


de Tukey dois a dois para verificar a diferença entre os
tratamentos. O calor e o alongamento são freqüentemente utilizados
Os testes ANOVA e Tukey mostraram que as diferenças clinicamente para aumentar a flexibilidade e restaurar perdas
entre os grupos foram estatisticamente significantes (p < de ADM [8,10,11,22]. O calor vigoroso (maior que 4º acima
0,005) para ambos os testes. da temperatura corpórea) aumenta a extensibilidade do
As Tabelas I e II mostram os valores em graus da ADM tecido colágeno e diminui a viscosidade dos tecidos e tendões
do Teste 1 e Teste 2, respectivamente, de cada voluntária, [16,20]. A diatermia de ondas curtas pode produzir um calor
onde eram avaliadas no início e no término do estudo, vigoroso em grandes áreas, levando a um relaxamento
chamados de pré-teste e pós-teste. muscular, diminuição do espasmo muscular e diminuição
Os gráficos I e II ilustram as médias aritméticas obtidas do encurtamento muscular [23,24].
dos valores entre o pré-teste e o pós-teste. Alguns autores utilizaram o ultra-som, exercícios de
aquecimento e calor superficial combinado com o
Tabela II - Valores em graus do pré-teste e pós-teste do Teste 2.
alongamento estático nos músculos isquiotibiais, contudo o
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 alongamento combinado com o ultra-som mostrou melhor
Grupos pré- pós- pré- pós- pré- pós- resultado do que os outros métodos [8,12,14].
Voluntárias teste teste teste teste teste teste
Este estudo é uma das primeiras documentações sobre
01 38º 40º 43º 53º 38º 54º o efeito do alongamento estático após diatermia de ondas
02 43º 42º 32º 40º 43º 60º
curtas versus alongamento estático na flexibilidade dos
03 34º 32º 30º 44º 48º 62º
04 58º 58º 48º 60º 35º 61º músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias. Sendo que
05 40º 38º 40º 48º 44º 70º este foi designado para obter um melhor entendimento de
06 35º 35º 35º 45º 45º 70º protocolos de alongamento para aumentar a ADM e como
07 32º 34º 32º 40º 32º 55º o uso da diatermia de ondas curtas pode afetar este protocolo
08 35º 37º 30º 40º 32º 60º na prática clínica [19,20].
09 42º 42º 45º 60º 30º 44º
Os músculos isquiotibiais foram escolhidos, porque eles
10 35º 42º 30º 40º 25º 50º
são um dos principais músculos que sofrem encurtamento
Fonte: Dados do Autor. com o sedentarismo [2,4,11]. A diatermia de ondas-curtas é
Gráfico I – Médias aritméticas do T1. usada para aquecer estruturas profundas, sendo utilizada
nesse estudo para aquecer os músculos isquiotibiais por
inteiro, melhorando a efetividade dos fusos musculares [20].
Atualmente não há um consenso sobre duração e
freqüência de alongamento quando se refere ao aumento
da flexibilidade muscular, contudo foi utilizado 3 minutos,
uma vez ao dia e 3 dias por semana durante um mês,
porque para obter um aumento ou manter a flexibilidade,
a mulher sedentária deve alongar pelo menos uma vez ao
dia, 3 ou 5 dias por semana e mantê-lo alongado o maior
tempo possível [4,9,14].
De acordo com os dados, depois de um mês do protocolo
Fonte: Dados do Autor. de alongamento, mostrou que o grupo 3 foi mais eficiente
Gráfico II – Médias aritméticas do T2 do que os outros grupos. Acredita-se que o grupo 3 mostrou
melhor resultado em ambos os testes, porque a elevação da
temperatura aumenta a taxa de disparo das fibras tipo II
aferente do fuso muscular e gama eferente e um aumento
na taxa de disparo das fibras tipo Ib dos órgãos tendinosos
de golgi (OTG) [25-29].
Essas mudanças na taxa de disparo dos nervos
contribuem para redução da taxa de disparo do
motoneurônio alfa, relaxando o músculo e aumentando assim
a flexibilidade muscular com o alongamento [27,28].
A elevação da temperatura também pode mudar a
viscoelasticidade do tecido conectivo e resultar numa
Fonte: Dados do Autor. elongação plástica depois do alongamento [8,29,30].

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124 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Conclusão heat and stretching on the range of hip motion. J Orthop


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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 125

Artigo original

A melhora da capacidade do alcance funcional em mulheres


idosas após os exercícios de Cawthorne e Cooksey
Functional reach improvement in normal older women after
Cawthorne and Cooksey exercises
Angela dos Santos Bersot Ribeiro*, João Santos Pereira, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Ciências da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco RJ, **Professor titular do PROCIMH,
Universidade Castelo Branco RJ

Resumo
O envelhecimento natural é acompanhado por um déficit funcional em todos os
sistemas do organismo, inclusive no sistema vestibular, que pode resultar em distúrbios
Palavras-chave: no equilíbrio. Uma abordagem terapêutica específica para a estimulação da função
envelhecimento, estimulação vestibular, no idoso, pode gerar aprendizado motor e, portanto, contribuir para a
vestibular, capacidade do prevenção e melhora destes distúrbios. Quinze mulheres, entre 60 e 69 anos, média =
alcance funcional, equilíbrio.
64,8 (± 2,95) foram submetidas aos exercícios de Cawthorne e Cooksey, durante três
meses, três vezes por semana, durante sessenta minutos. Outras quinze mulheres
compuseram o grupo controle (idade média = 65,46 ± 2,85). Todas foram avaliadas
segundo a Capacidade do Alcance Funcional (CAF). Para análise dos resultados utilizaram-
se os testes T-Student e Wilcoxon. O nível de significância determinado foi de p < 0,05.
À comparação dos dados do grupo experimental, nas avaliações pré e pós-intervenção,
observou-se diferença significativa (p < 0,05), com melhora no índice da CAF. Os
exercícios de Cawthorne e Cooksey foram capazes de promover melhora significativa
no equilíbrio desta amostra e podem ser aplicados como medida preventiva e curativa
nos distúrbios do equilíbrio em idosos.

Abstract
The aging is accompanied with a functional deficit in all of the body’s systems,
including the vestibular system, and it can result in balance disturbance. A specific
Key-words : therapeutic approach for a vestibular function stimulation, in elderly people, can promote
aging, vestibular stimulation, the motor learning and, so, it can contribute to the prevention and to the improvement
functional reach, balance. of these disturbances. Fifteen women, aged 60 to 69, mean = 64,8 (± 2,95) were
submitted to the Cawthorne and Cooksey exercises during three months, three times a
week, during sixty minutes. Others fifteen ones compose the control group (mean of
age = 65,46 ± 2,85). All of them were evaluated according to the Functional Reach
(FR). For analysis of these results was used the T-Student and Wilcoxon tests. The level

Recebido 15 de dezembro de 2004; aceito 15 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Angela dos Santos Bersot Ribeiro, Rua Bráulio Cunha, 67 Bairro Ano Bom 27323–320 Barra Mansa RJ, Tel: (24)
3323-0377/9994-2072, E-mail: fisioterapia.cicuta@ubm.br

artigo 06 - Angela Bersot.pmd 125 05/04/04, 18:35


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of significance that was determined was about p < 0.05. In a comparison to the dates
from experimental group, in the assessment of before and after intervention, was
observed a significant difference (p < 0.05), with an improvement on the FR index.
The Cawthorne and Cooksey exercises were able to promote a significant improvement
on the balance of this sample and they can be administered as a prevention and as a
way to cure the balance disturbances in elderly people.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução A hipoatividade inerente ao processo de envelhecimento


contribui para a diminuição dos inputs sensoriais globais no
O movimento é fundamental para o bem-estar e para a idoso. Em se tratando do sistema vestibular, a diminuição
qualidade de vida do idoso. Uma vez que o envelhecimento destes inputs determinaria um atraso e/ou uma menor
representa a passagem do tempo e não a presença de eficácia na elaboração das respostas motoras (os próprios
patologia, pode o idoso apresentar estratégias magníficas para outputs) necessárias à manutenção do equilíbrio, ou seja,
garantir a sua independência e cabe ao terapeuta implementar determinaria uma falência ou deterioração dos mecanismos
e potencializar estas estratégias para melhorar sua qualidade de manutenção do equilíbrio, o que estará diretamente
de vida [1]. associado com a presença de quedas [7-10].
Se o desenvolvimento global humano começa na A chamada “reabilitação vestibular” foi criada há mais
concepção e só se encerra com a morte [2], não é no de vinte e cinco anos e inicialmente foi desenvolvida para o
envelhecimento que o desenvolvimento termina. Embora tratamento de pacientes com vertigens e/ou transtornos
menos intensos, nesta fase da vida ainda serão observáveis do equilíbrio [5,11]. Entretanto, muitos autores concordam
os fenômenos de neuroplasticidade, responsáveis pela em afirmar que idosos “normais”, ou seja, sem antecedentes
aquisição de novos conteúdos de memória, dos processos neurológicos ou otorrinolaringológicos, mas com transtornos
de aprendizagem e na remodelagem pós-lesão [3]. A do equilíbrio, podem melhorar notavelmente com as
execução de exercícios de caráter repetitivo permite criar estimulações vestibulares. [4,11-13].
uma “imitação” do input sensorial normal, esperando-se que, Segundo Kronhed et al. [14] um estudo sueco de 1988
através destes inputs, os outputs dos sistemas sejam usando questionários demonstrou que existe um decremento
modificados [4]. Esta característica do aprendizado motor é significativo na estabilidade entre as idades de 60 e 75 anos.
plenamente aceitável e possível no idoso, conquanto sua O sistema vestibular como parte do conjunto sensorial
capacidade de adaptar-se esteja presente, uma vez que os responsável pelo equilíbrio também envelhece, e pode
processos de neuroplasticidade também estão. determinar déficits de equilíbrio que não estejam diretamente
Os impulsos específicos do sistema vestibular são associados à presença de uma patologia, mas apenas ao
provenientes do tipo de movimento que os receptores envelhecimento natural. As próprias atividades de vida diária,
sensoriais deste sistema, os cílios, realizam. Através destes que normalmente envolvem uma série de condições de
inputs o sistema consegue informar-se sobre os movimentos conflito sensorial, podem determinar situações de risco para
e a posição da cabeça no espaço em relação à gravidade e quedas, também no idoso saudável, uma vez que este tem
sobre a sua velocidade de aceleração [4-6]. Estas informações dificuldade para selecionar informações sensoriais confiáveis
carreadas pelas aferências vestibulares somam-se àquelas para a manutenção do controle postural [8].
carreadas pelas aferências proprioceptivas, visuais e auditivas Considerando-se que os exercícios de reabilitação
que são integradas, e o conjunto destas sensações espaciais é vestibular possuem a característica de serem repetitivos
memorizado em um “banco de dados”, sendo cada [4,15], e, portanto, permitirem a criação do input sensorial
movimento novo comparado a estes esquemas memorizados, normal com a conseqüente geração dos outputs, que é a
criando-se os automatismos, de forma que os ajustes base do aprendizado motor e, que exercícios de treinamento
necessários à manutenção do equilíbrio ocorram [9]. específico para um determinado sistema são relatados como

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 127

significativamente relevantes na melhora da função deste a altura da fita métrica, enquanto o seu braço fica paralelo
mesmo sistema [8], exercícios e/ou movimentos que à fita, ou seja, o ombro estará com um grau de flexão de
estimulem especificamente a função do sistema vestibular 90º. Com o punho cerrado o indivíduo se estica para a
podem influenciar as reações de equilíbrio. frente o máximo possível, enquanto mantém os dois pés
Horak et al. [16] consideram que uma terapia específica planos sobre o chão, sem tocar na parede ou na fita métrica.
para o equilíbrio pode, além de proporcionar o aprendizado
motor, potencializá-lo, através da aplicação dos conceitos Procedimentos
do aprendizado motor como: prática, feedback, experiência
e reeducação do equilíbrio. Os Exercícios de Cawthorne e Todos os indivíduos selecionados foram avaliados
Cooksey, aplicados nesta pesquisa, utilizam estes conceitos, segundo o instrumento de medida descrito. Destes, quinze
uma vez que propiciam situações de desequilíbrio, através foram submetidos aos exercícios de estimulação da função
de atividades variadas, nas quais os indivíduos devem buscar vestibular (de Cawthorne e Cooksey), compondo o grupo
estratégias para a manutenção eficaz da postura, e incluem experimental, e outros quinze não foram submetidos a eles,
exercícios de habituação com movimentos da cabeça, caracterizando o grupo controle. Os exercícios foram
pescoço e olhos, podendo estar associados com a marcha, aplicados três vezes por semana, durante sessenta minutos,
exercícios de controle postural e exercícios de por nove semanas. Após este intervalo de tempo todos os
condicionamento geral [15]. participantes da amostra foram reavaliados. Os resultados
da avaliação e da reavaliação foram comparados.
Material e métodos
Tratamento e análise dos dados
População e amostra
Os dados iniciais e finais obtidos pela CAF foram
Foi utilizado um grupo de idosos, escolhidos analisados e comparados por dois testes estatísticos de
aleatoriamente, pertencentes à Associação de Moradores significância: o Teste T-Student e o Teste de Wilcoxon.
do Bairro Vila Independência do município de Barra Mansa Nestes testes são enunciadas duas hipóteses chamadas de
RJ, não institucionalizados, do sexo feminino, com idade H0 – hipótese nula e H1 – hipótese alternativa. Para H0
variando entre 60 e 69 anos. não existe diferença significativa entre as médias, para H1
Os participantes foram submetidos a uma avaliação com existe diferença significativa entre as médias. Quando a
um médico clínico geral com o objetivo de se analisar a hipótese H1 (x1 ≠ x2) foi evidenciada, novas hipóteses foram
existência de patologias que pudessem influenciar na testadas, onde para Ho: x1 < x2 e para H1: x1 >x2, no caso
pesquisa. Os critérios de exclusão foram a presença de dos testes pareados, e Ho: xe < xc e H1: xe > xc, sendo xc
patologias neurológicas, otorrinolaringológicas, distúrbios a média do grupo controle e xe a média do grupo
vasculares, metabólicos, degenerativos ou neoplásicos. experimental, para os testes não pareados. O nível de
significância determinado foi de 5%, ou seja, p< 0,05.
Instrumento de avaliação
Resultados
A Capacidade do Alcance Funcional (CAF) é descrita
como uma avaliação do equilíbrio estático funcional, tendo A idade média para o grupo experimental foi de 64,8
sido relatada como bastante confiável e sensível às alterações (±2,956) e para o grupo controle de 65,46 (± 2,850).
do equilíbrio que ocorrem durante o envelhecimento. Ela é Nos 15 idosos do grupo controle, a análise e comparação
útil para determinar o risco de quedas em idosos. Duncan et dos dados da CAF pelo teste T-Student encontrou-se valor
al. [17] assim classificam a CAF: 0 para a incapacidade total; t = 0,1979 e p = 0,8459 evidenciando-se a hipótese Ho e
1 para o alcance menor do que 15,0 cm; 2 para o alcance concluindo-se que, para 14 graus de liberdade, não houve
entre 15,0 cm e 25,0 cm; 3 para o alcance maior que 25,0 diferença significativa entre os resultados relativos à CAF
cm. Alcance menor que 15,0 cm está associado a um alto das duas avaliações, realizadas num intervalo de nove
risco de quedas, e alcance entre 15,0 e 25,0 cm a um semanas. Pelo teste Wilcoxon confirmou-se esta evidência,
moderado risco. A CAF é considerada biomecanicamente sendo achado o valor Z = 0,0623 e p = 0,9503 , conforme
análoga à excursão do “centro de massa corporal” nas observa- se na Tabela I.
atividades funcionais e como um preditor do limite máximo Nos 15 idosos do grupo experimental, a análise e
da estabilidade. comparação dos dados da CAF pelo Teste T-Student
Para avaliar a CAF, o indivíduo é instruído a tentar encontrou-se valor t = -3,9146 e p = 0,0016 evidenciando-
inclinar-se para frente o máximo que conseguir. A extensão se a hipótese H1 e concluindo-se que, para 14 graus de
do movimento é mensurada usando-se uma fita métrica, ao liberdade, houve diferença significativa entre os resultados
longo de 1 metro. O acrômio do indivíduo é alinhado com relativos à CAF das duas avaliações, pré e pós intervenção.

artigo 06 - Angela Bersot.pmd 127 05/04/04, 18:35


128 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Tabela I - Valores da CAF por indivíduo do grupo controle (1ª e 2ª avaliação).


CAF (valores em cm)
1ª avaliação 34,5 25 33 25,5 35 32 26 40 31 26 22 25,5 28,5 27 15,5
2ª avaliação 38 25,5 33 30 31,5 30,5 25,5 38,5 31 26 20,5 25 28 27,5 14,5
x1 = 28,43 cm dp = 6,0085 T-Student t = 0,1979 Wilcoxon Z = 0,0623x2 = 28,33 cm dp = 6,1489
(valores) p = 0,8459 (valores) p = 0,9503 IC [m; 95%] = [-0,9835; 1,1835].

Tabela II - Valores da CAF por indivíduo do grupo experimental (pré e pós-intervenção).


CAF (valores em cm)
1ª avaliação 32,5 30 25 31 32,5 30 23,5 30 36,5 25 38 30 25 27,5 29
2ª avaliação 38 30 30,5 31,5 40 35 34 30,5 41 41 38 30 30,5 30 33
x1 = 29,7 cm dp = 4,1653 T-Student t = -3,9146 Wilcoxon Z = -2,7173x2 = 34,2 cm dp = 4,2961
(valores) p = 0,0016 (valores) p = 0,0066 IC [m; 95%] = [-6,9655; -2,0344].

Pelo teste Wilcoxon confirmou-se esta evidência, sendo A análise e comparação dos dados entre as médias dos
achado o valor Z = -2,7173 e p = 0,0066, o que pode ser grupos controle e experimental na 2ª avaliação da CAF
observado na Tabela II. A partir da evidência de H1, (Gráfico I) pelo teste T-Student, encontrou-se t = 3,0291 e
enunciou-se novas duas hipóteses, Ho: x1<x2 e para H1: p = 0,0052, evidenciando-se a hipótese alternativa (H1), ou
x1>x2. Pelo teste T-Student achou-se valor t = -3,9146 e p seja, para 28 graus de liberdade, existem diferenças
= 0,9992. Então, para 14 graus de liberdade, evidenciou-se significativas entre os dois grupos, o que se confirma pelo
a nova hipótese H0, ou seja, a média dos escores da 1ª teste Wilcoxon, onde Z = 2,6168 e p = 0,0089. Neste caso,
avaliação da CAF foi significativamente menor que a da 2ª como houve evidência de H1, testou-se as hipóteses Ho: xe
avaliação; o que foi confirmado pelo teste Wilcoxon, com < xc e H1: xe > xc, pelo T-Student com t = 3,0291 e p =
valor Z = -2,7591 e p = 0,9971. 0,0026, evidenciando-se a hipótese H1, ou seja, para 28
A análise e comparação dos dados entre as médias dos graus de liberdade, a média do grupo experimental foi
grupos controle e experimental na 1ª avaliação da CAF significativamente maior que a do grupo controle na 2ª
(Gráfico I) pelo teste T-Student, encontrou-se t = 0,671 e p avaliação, o que confirma-se pelo Wilcoxon, onde Z = 2,6168
= 0,5077, evidenciando-se a hipótese nula (Ho), ou seja, e p = 0,0044.
para 28 graus de liberdade não existem diferenças significativas
entre os dois grupos na 1ª avaliação, o que foi confirmado
Discussão
pelo teste Wilcoxon, onde Z = 0,4262 e p = 0,6699.
A Capacidade de Alcance Funcional (CAF) é um
Gráfico I – Valores médios da CAF (cm) nos grupos experimental e instrumento de avaliação do equilíbrio desenvolvido por
controle (1ª e 2ª avaliação). Duncan et al. [17] que se apresenta como um instrumento
capaz de avaliar o equilíbrio estático funcional de forma
“pura” já que é pouco influenciada pela endurance, pela
força e pela flexibilidade, sendo, portanto, bastante sensível
às alterações do equilíbrio que decorrem do envelhecimento.
O estudo de Duncan et al. [18] para a validação da CAF
incluiu 128 voluntários com idade entre 21 e 87 anos e
chegou às seguintes conclusões: a CAF tem boa correlação
(r = 0,71) com o exame da excursão do centro de pressão
(COPE) feito em laboratório, é um teste preciso (coeficiente
de variação = 2.5%) e tem estabilidade (coeficiente de
correlação intraclasse = 0,81). Os seguintes valores foram
determinados neste estudo: 20 – 40 anos, homens 42,4 cm
(± 4,82) e mulheres 37,08 cm (± 5,58); 41-69 anos, homens
37,84 cm (± 5,58) e mulheres 35,05 cm (± 5,58); 70 – 87
experimental controle
anos, homens 33,52 cm (± 4,06) e mulheres 26,67 cm
Diferença entre médias do grupo controle e experimental (± 8,89).
(1ª avaliação): IC [m; 95%] = [-2,6001; 5,1334] Outro estudo de Duncan et al. [17] incluiu uma amostra
Diferenças entre as médias grupo controle e experimental de indivíduos com idade entre 70 e 104 anos, sendo que
(2ª avaliação): IC [m; 95%] = [1,8993; 9,8339] indivíduos que possuíam patologias (neurológicas,

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 129

ortopédicas/reumatológicas e vestibulares) não foram O grupo controle não apresentou diferenças significativas
excluídos e não houve associação entre o valor do alcance e entre os resultados das duas avaliações, feitas num intervalo
a década de vida, porém este e outros autores indicam o de nove semanas, segundo a CAF.
uso deste teste também em idosos saudáveis para o cálculo Comparando-se os grupos controle e experimental na 2ª
do risco de quedas. Weiner et al. [19] num estudo com idosos avaliação, conclui-se que este último apresentou melhoras
entre 66 e 104 anos detectou a seguinte performance no significativas em relação ao primeiro, de modo que resultados
alcance funcional: variação entre 10,9 cm e 41,91cm, com similares aos do grupo experimental podem ser esperados
média em 27,6 cm e desvio padrão de 7,8. em outros grupos.
Segundo Weiner et al. [20], a CAF é tão sensível a Pode-se determinar que o valor de 29,06 cm (± 5,12) é
alterações que pode, mesmo com um número pequeno de o que se espera encontrar para a CAF em idosos com as
indivíduos (n = 21), proporcionar resultados relevantes num mesmas características do grupo estudado.
estudo prospectivo. Portanto, no presente trabalho pode-se Os resultados e conclusões descritos confirmam as
determinar que o valor de 29,06 cm (± 5,12] encontrado é expectativas de diversos autores [4, 11, 12, 13, 22] que
aquele que se espera observar em idosos com as mesmas sugerem a melhora no equilíbrio com a aplicação de
características do grupo estudado. Este valor está abaixo do exercícios de estimulação da função vestibular em idosos
valor médio encontrado no estudo de Duncan et al. [18], o saudáveis, uma vez que estes indivíduos realmente
que é explicado pelo fato de que, no estudo deste autor, apresentaram melhoras significativas.
indivíduos mais jovens foram classificados junto aos
indivíduos pertencentes à sétima década. Já nos outros Referências
estudos citados idosos com patologias não foram excluídos.
Pela classificação de Duncan et al. [17] indivíduos com 1. Kauffman TL. Manual de reabilitação geriátrica. 1ª ed. Rio de
o valor de CAF encontrado neste estudo não seriam Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 389 p.
classificados como pertencentes a grupo de risco de queda. 2. Araújo CA. Desenvolvimento do esquema corporal. Temas
Para este autor, fazem parte do grupo de risco indivíduos Sobre Desenvolvimento 2000; 9(52):56-8.
com valor de CAF até 25,0 cm. 3. Alvarez-Leefmans FJ. Biologia celular e molecular del
A melhora da CAF no grupo experimental neste trabalho envejecimiento neuronal. Estado actual y perspectivas. Salud
foi da ordem de 15% o que representa um valor significativo Mental 1999;22(5):6-16.
4. Barbosa MSM, Ganança FF, Caovilla HH, Ganança MM.
(p<0.05), conforme se observa na Tabela II e no Gráfico I.
Reabilitação labiríntica: o que é e como se faz. RBM
Também existiram diferenças significativas (p < 0,05) entre Otorrinolaringologia 1995;2(1):24-34.
os resultados dos grupos experimental e controle na 2ª 5. Maudonnet EM, Maudonnet OQ. Reabilitação vestibular –
avaliação, ou seja, pós-intervenção (Gráfico I), da ordem de bases neurofisiológicas. Acta AWHO 2000;19(4):193-8.
20%. Estes resultados coincidem com os de Rogers et al. [21] 6. Hungria H. Otorrinolaringologia. 1ª ed. Rio de Janeiro:
que comprovaram em seu estudo com uma amostra composta Guanabara Koogan; 2000.
por doze indivíduos com idade entre 61 e 77 anos que 7. Pedalini MEB, Bittar RSM. Reabilitação vestibular: Uma
realizavam atividades físicas com superfície de suporte instável proposta de trabalho. Pró-fono 1999;11(1):140-4.
(bolas), um incremento da CAF da ordem de 20,3%. Dennis 8. Hu MH, Woollacott MH. Multisensory Training of standing
[22] também demonstrou que a CAF é responsiva a técnicas balance in older adults: i. postural stability and one-leg stance
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17. Duncan PW, Studenski S, Chandler J, Prescott B. Functional
Occup Rehabil 2001;11(4):291-8.
reach: predictive validity in a sample of elderly male veterans.
22. Dennis RJ. Functional reach improvement in normal older
J Gerontol 1992;47(3):M93-98.
18. Duncan PW, Weiner DK, Chandler J, Studenski S. Functional women after alexander technique instruction. J Gerontol
reach: a new clinical measure of balance. J Gerontol 1999;54(1):M8-11.
1990;45(6):M192-197. 23. Belal A, Glorig A. Dysequilibrium of ageing (presbyastasis). J
19. Weiner DK, Duncan PW, Chandler J, Studenski SA. Laryngol Otol 1986;100:1037-41. C

Functional reach: a marker of physical frailty. J Am Geriatr


Soc 1992;40(3):203-7.

artigo 06 - Angela Bersot.pmd 130 05/04/04, 18:35


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 131

Artigo original

Estudo da imagem e esquema corporal


de crianças portadoras de paralisia cerebral
do tipo tetraparética espástica
Study of body image and body scheme of
spastic tetra paretic children with cerebral palsy
Fernanda Ishida Corrêa, M.Sc.*, Tamine Teixeira da Costa**, Moisés Veloso Fernandes***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Departamento de Fisioterapia da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, **Fisioterapeuta, ***Supervisor de estágio


de neurologia infantil da Universidade Nove de Julho - UNINOVE

Resumo
O objetivo desse trabalho foi avaliar a imagem corporal e esquema corporal das
Palavras-chave: crianças portadoras de paralisia cerebral (PC) do tipo tetraparética espástica do Setor
paralisia cerebral, de neurologia infantil da UNIVAP, pela análise do desenho de si mesmas. Metodologia:
imagem corporal, Foi pedido a cinco crianças com PC do tipo tetraparética espástica que fizessem um
esquema corporal.
desenho de si mesmas, e em seguida foi feita uma análise do desenho da figura humana,
baseado em F. Goodenoughi. Resultados: Conseguiu-se detectar prováveis distúrbios de
esquema corporal, tendo em vista que, todas as crianças testadas não apresentaram a
Imagem Corporal correspondente à idade cronológica adequada. Conclusão: As crianças
portadoras de paralisia cerebral do tipo tetraparética espástica do Setor de neurologia
infantil da UNIVAP apresentam alteração na sua imagem e esquema corporal, ou seja,
um atraso na relação da imagem que possuem de si mesmas.

Abstract
The aim of this study was to assess the body image and body scheme of children
Key-words: with cerebral tetraparetical palsy from the neurological service of UNIVAP, by analysis
cerebral palsy, of drawings of themselves. Methods: It was asked to five children to do drawings of
body scheme, themselves which were analized, based on F. Goodenoughi analysis of body scheme.
body image.
Results: It was detected probable disturbs of body scheme, in view of that, all the tested
children had not presented the corresponding Corporal Image to the adjusted
chronological age. Conclusion: The children with cerebral Palsy present alteration in their
body image and scheme, or a delay in the relation of the same image that they possess
of themselves. This study may help to understand the body image and body scheme
integration research in children with cerebral palsy.

Recebido em 27 de janeiro de 2004; aceito 15 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Fernanda Ishida Corrêa, Rua Professor Francisco Galvão freire, 163 São José dos Campos SP, Tel: (12) 3491086,
E-mail: fecorrea@univap.br

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132 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Introdução idade variando de 5 a 17 anos, todos pacientes do Setor de


Neurologia Infantil da UNIVAP. Todas as crianças analisadas
A paralisia cerebral (PC), ou encefalopatia crônica não já fizeram tratamento fisioterapeûtico anterior e têm o
progressiva da infância, é uma das mais freqüentes patologias cognitivo preservado.
causadas pela venerabilidade nervosa. São considerados Foram utilizados os seguintes materiais para a aplicação
portadores de PC, aqueles pacientes que apresentam um do teste: Folha de papel sulfite A4 para o desenho. Canetas
distúrbio do movimento e da postura, tais como paresias esferográficas nas cores - azul, verde (claro e escuro), rosa,
(fraqueza muscular), hipercinesias (movimentos voluntários laranja, roxa, lápis preto. Prancheta. Questionário destinado
anormais), incoordenações, etc [1]. aos responsáveis, a respeito do desenvolvimento da criança,
É um distúrbio motor (tônus e postura) causado por termo de consentimento assinado pelos pais e responsáveis.
lesão não progressiva no sistema nervoso em desenvol- Gabarito do teste desenvolvido pelos autores da pesquisa,
vimento freqüentemente mutável e variável. Como a baseado no teste de F. Goodenoughi. Os desenhos foram
patologia é de caráter não progressivo ou evolutivo, o seu feitos individualmente, todas foram posicionadas sentadas
transtorno funcional irá se estruturar no tempo e a evolução no tablado, em posição de banco a 90º e as que não tinham
será determinada pelo momento em que o fator tóxico agiu controle de tronco, foi dado um apoio pela terapeuta. A
no sistema nervoso em formação. O comprometimento é prancheta ficou apoiada nas coxas das crianças e foi solicitado
crônico, porque uma vez ocorrida a lesão a criança que fizessem um desenho de si. Para a coleta dos desenhos
apresentará o déficit para sempre. Esse déficit é devido ao (realização dos desenhos), não foi determinado tempo. Após
local da lesão e ao estágio de maturação (desenvolvimento, a coleta dos desenhos, foi realizada a análise dos desenhos,
em que a criança se encontra) [2,3,4]. pela comparação entre os desenhos dos sujeitos testados com
Todas as crianças portadoras de PC apresentam, um o desenho estimado de uma criança sem comprometimento
atraso no seu desenvolvimento motor; tem dificuldade para neurológico (c.s.c.n.), com a idade cronológica correspondente.
formar sua base sensório-perceptivo-motora, que irá ampliar
o comprometimento do aprendizado motor. Essas crianças, Resultados
que têm uma disfunção motora, apresentarão limitações para
exploração do ambiente em que vivem, podendo acarretar Figura 1 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 5 anos, (b) desenho do paciente
em um déficit na exploração sensorial. Conseqüentemente, A, (c) desenho de uma c.s.c.n. de 2 anos.
surgirão deficiências e lacunas nas áreas perceptivas e Desenho de uma Paciente A– 5 anos c.s.c.n. de 2 anos -
cognitivas. Contudo, é possível apontar, que aparentemente (c.s.c.n) de 5 anos- nomeia as partes do
fecha o tronco corpo, mas não as
o déficit de percepção apresentado pela criança PC poderá
coloca no desenho
não ser orgânico, mas sim, desencadeado por falta de
experiência, logo isso poderá afetar o esquema corporal [5].
Os distúrbios de aprendizado motor, ou dispraxias,
apresentados pelos portadores de PC, podem ser oriundos
de: disfunção motora de percepção, déficit sensório motor,
distúrbio de desenvolvimento e de coordenação, problemas
de integração sensorial e sensório-motora, consciência e
controle corporal (déficit de esquema corporal) [3].
É pelo desenvolvimento da Imagem Corporal e da Como podemos observar na figura 1, ao centro
integração do esquema corporal que a criança toma encontra-se o desenho do paciente A, com idade cronológica
consciência do próprio corpo e das possibilidades de de 5 anos. Comparando ao desenho à esquerda que equivale
movimentos [6,7]. O esquema corporal é elemento crucial a uma c.s.c.n. com a idade de cinco anos, observa-se que a
para o desenvolvimento motor e transtornos nesse esquema criança apresenta atraso com relação ao seu esquema
acarretarão em distúrbios sensórios motores importantes para corporal, pois o seu desenho equivale ao de uma criança de
a criança [8]. dois anos, que está representado à direita, ou seja, nomeia
Assim, sabendo da importância da imagem e esquema as partes do corpo, mas não as coloca no desenho.
corporal para o desenvolvimento psicomotor, este trabalho Na figura 2 ao centro encontra-se o desenho do paciente
visa identificar possíveis alterações da imagem e esquema B, com idade cronológica de 8 anos, comparado ao desenho
corporal da criança portadora de paralisia cerebral. à esquerda que equivale a uma criança normal com a idade
de 8/9 anos, mostra que a criança apresenta atraso com
Material e Métodos relação ao seu esquema corporal, pois o seu desenho
equivale ao de uma criança de 2 anos, que está representado
Os sujeitos que contribuíram, para esta pesquisa foram à direita, ou seja, nomeia as partes do corpo, mas não as
5 crianças portadoras de PC tetraparéticas espásticas, com coloca no desenho.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 133

Figura 2 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 8/9 anos, (b) desenho da corporal, pois o seu desenho equivale ao de uma criança
criança B, (c) desenho de uma c.s.c.n. de 2 anos. de 1 ano, que está representado à direita, ou seja, apenas
8/9 anos – coloca Paciente B 2 anos nomeia as traços grosseiros
detalhes: botões, laços, 8 anos partes do corpo,
bolsas, braços e mãos mas não as coloca Figura 5 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 9/10 anos, (b) desenho do
com dimensões exatas no desenho paciente E (c) desenho de uma c.s.c.n. de 8 anos.
9/10 anos em Paciente E – 17 anos 8 anos – coloca
diante – figuras detalhe:botões,
de perfil laços, bolsas, braços
e mãos com
dimensões exatas

Figura 3 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 9/10 anos, (b) desenho do


paciente C, (c) desenho de uma c.s.c.n. de 2 anos.
9/10 anos em Paciente C - 14 anos 5 anos – fecha
diante – figuras o tronco

A figura 5 tem ao centro o desenho do paciente E, com


idade cronológica de 17 anos, comparado ao desenho à
esquerda, que equivale a uma c.s.c.n. com a idade de 9/10
anos. A figura mostra que a criança apresenta atraso com
relação ao seu esquema corporal, pois o seu desenho
equivale ao de uma criança de 8 anos, que está representado
à direita, ou seja, 8 anos coloca detalhe: botões, laços, bolsas,
Observa-se na figura 3, ao centro o desenho do paciente braços e mãos com dimensões exatas.
C, com idade cronológica de 14 anos, comparado ao
desenho à esquerda, que equivale à uma c.s.c.n. com a idade Discussão
de 9/10 anos em diante, verifica-se que a criança apresenta
atraso com relação ao seu esquema corporal, pois o seu Os distúrbios psicomotores (distúrbios motores,
desenho equivale ao de uma criança de 5 anos, que está problemas de coordenação motora, equilíbrio, lateralidade,
representado à direita. orientação espacial) são agravados quando está presente o
distúrbio do esquema corporal, por isso, da importância de
Figura 4 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 9/10 anos, (b) desenho do se enfatizar exercícios de reeducação psicomotora referentes
paciente D, (c) desenho de uma c.s.c.n. de 1 ano. à estimulação da integração do esquema corporal. Toda função
9/10 anos Paciente D – 15 anos 1 ano – apenas
do sistema nervoso central (SNC) tem seu circuito de controle
em diante – traços grosseiros durante todas as fases do desenvolvimento neuropsicomotor
figuras de perfil (DNPM). Essas funções são preservadas pela experiência
sensorial, desde a lactância, e são possibilitadas pela repetição,
já deveria que leva ao aprendizado dos padrões habituais de ativação
desenhar alguns muscular [9].
círculos, mas
É necessário focalizar a atenção em itens específicos
apenas faz traços
grosseiros. devido à omissão ou ao exagero que podem estar presentes
nos desenhos das crianças, como a timidez, que é
caracterizada quando a criança desenha uma figura sem
braços e mãos; a ausência dos braços também pode significar
Como podemos observar na figura 4, ao centro passividade ou imaturidade intelectual; pés pequenos são
encontra-se o desenho do paciente D, com idade cronológica interpretados como expressão de insegurança; mãos
de 15 anos, comparado ao desenho à esquerda que equivale escondidas podem ser expressão de sentimento de culpa;
a uma c.s.c.n. com a idade de 9/10 anos. Essa análise retrata sombra excessiva pode indicar ansiedade; o uso do grotesco,
que a criança apresenta atraso com relação ao seu esquema figuras desarticuladas são características freqüentes nos

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desenhos de crianças com desordens emocionais sérias [10]. ou autopagnosia, que segundo [11] demonstra a falta de
Assim algumas destas características puderam ser conhecimento do próprio corpo e essa falta de conhecimento
observadas em alguns desenhos, como na figura 1, onde se dos segmentos corporais, impede que as crianças
pôde observar um atraso da imagem que a criança tem de si transponham o membro no papel. Essas crianças apresentam
mesma, pois com 5 anos a criança é capaz de já desenhar somatognosia, ou uma dispraxia das realizações motoras,
uma bola entre a cabeça e as pernas (tronco), um nariz e uma pela ausência dos membros nos seus desenhos.
boca. O membro superior aparece depois, desligado com Provavelmente as crianças têm dificuldades em executar
dificuldades da cabeça. Cresce o interesse pelo umbigo e o tarefas propostas pelos terapeutas que exijam diferenciação
tronco é adicionado. As extremidades já não saem mais da das partes do corpo e podem ser incapazes de reproduzir
cabeça, mas se localizam nas regiões superiores e inferiores os movimentos do terapeuta.
(tronco) abaixo da cabeça grande. Algumas crianças A representação corporal é prejudicada nos dispráxicos.
representam o tronco através de uma linha [6]. Além disso, Há a desadaptação da estrutura dos movimentos a dos
observa-se, a presença do grotesco e a figura desconjuntada, objetos, ou distúrbios do agenciamento dos movimentos em
que segundo [10], são características freqüentes nos desenhos sua relação com o próprio corpo [12].
de crianças com desordens emocionais sérias, as linhas fracas Propõe-se que nas terapias, sejam realizados exercícios
e quebradas, sugerem insegurança. sensório- motores para que esses déficits, no caso a
Na figura 2, observou-se um atraso da imagem que a somatognosia ou dispraxia das realizações motoras, sejam
criança tem de si mesma, pois com 8 anos a criança é capaz supridas e assim as crianças possam tomar consciência de
de já desenhar duplo contorno dos membros e indicações seu corpo e favorecer o aprendizado motor.
diferenciais (traje). O corpo é figurado nas transparências das Aprender significa usar sinapses normalmente não usadas,
roupas; aparece o traço bi-linear, indicando volume. As ou seja, o uso maior ou menor de sinapses é o que condiciona
crianças ainda misturam o desenho do perfil com o rosto de uma aprendizagem no sentido neurológico. Deste modo, o
frente. Muitas vezes percebemos nos desenhos de perfil: dois fisioterapeuta ou o educador físico estará ajudando a criança
olhos, dois narizes. A diferenciação sexual pode aparecer em a diferenciar seu sistema nervoso ampliando seu número
desenhos de crianças de 8 a 10 anos. A habilidade de desenhar de sinapses, conseqüentemente, facilitando o aprendizado
uma disfunção física no desenho de si mesmo, só é possível motor [6].
em crianças de 7 a 8 anos [6]. Nota-se também que a figura O desenvolvimento da criança se dá por meio de
é desconjuntada, o que pode caracterizar distúrbio emocional, processos de aprendizagem da linguagem, conhecimento do
desenho restrito a uma só área pode sugerir insegurança e seu próprio corpo, e como se relacionar com o meio ambiente.
também não há a transposição dos membros, rosto, podendo De acordo com as etapas do campo gnósico, no campo
caracterizar imaturidade intelectual [10]. práxico, a criança aprende a manusear o objeto, aprende a
Na figura 3, só foi possível comparar o desenho ao de utilizar seu próprio corpo, e aprende a ter controle do espaço,
uma criança de 10 anos, pois não foi encontrado na literatura para realizar suas atividades, respectivamente [13].
o desenho que correspondesse à idade de 14 anos, e mesmo A psicomotricidade trabalha com exercícios de
assim, pôde-se observar um atraso da imagem que a criança flexibilidade, de fortalecimento, de equilíbrio, de agilidade,
tem de si mesma, pois com 10 anos [10] diz que a criança já com o objetivo de ajudar a criança a perceber melhor o seu
é capaz de desenhar duplo contorno dos membros e corpo, conseqüentemente a dominar seu movimento [14].
indicações diferenciais (traje), diferenciação sexual, habilidade A reeducação psicomotora é uma ação pedagógica e
de desenhar uma disfunção física no desenho de si mesmo, psicológica, utilizando meios da educação física, com o
pescoço, e o segundo olho desaparece do perfil. objetivo de normalizar ou melhorar o comportamento da
Na figura 4 pôde-se observar um atraso da imagem que criança [15]. A educação física educa por exercícios. Admite-
o paciente tem de si mesmo, pois com 15 anos, o paciente se que se possa aplicar essa definição à fisioterapia neurológica
apenas nomeia as partes do corpo, mas não os coloca no infantil. A maioria das sessões é realizada por meio de técnicas
papel. Não apresenta características de desenhos de um excelentes compostas por exercícios motores [7].
adolescente. Sugere-se que sejam implantados os exercícios lúdicos
Na figura 5, observa-se a ausência dos braços, podendo no decorrer dessas sessões, e não apenas aplicar a psico-
indicar imaturidade intelectual. Nota-se que o desenho está motricidade, mas sim, implementar as terapias com exercícios
restrito a uma só área e segundo [10] pode sugerir de reeducação psicomotora.
insegurança, e ainda a presença de linhas fortes podem A amostra da pesquisa de cinco pacientes não permite
indicar hipertonia. uma análise profunda a respeito do tema imagem corporal.
Na análise geral, 100% das crianças PC testadas, tem Entretanto, esse estudo permite futuramente acrescentar
ausência de pelo menos um dos membros nos seus desenhos, e colaborar um pouco mais na pesquisa da imagem corporal
o que nos leva a acreditar, que essas crianças tenham e a integração do esquema corporal das crianças portadoras
distúrbio no esquema corporal, ou seja, uma Somatognosia de PC.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 135

A falta de atualização do fisioterapeuta quanto a imagem Referências


corporal dos pacientes, talvez possa aumentar ainda mais a
distância entre o que o terapeuta deseja e o que o paciente 1. Marcondes, E. Pediatria básica. 8ª ed. São Paulo: Savier; 1994.
imagina oferecer, ou seja, nos exercícios propostos pelo 790p.
terapeuta e as execuções e respostas dadas pelo paciente.Cada 2. Silva R.K. A neuroplasticidade no desenvolvimento de crianças
profissional poderia adotar em uma avaliação inicial um com paralisia cerebral. Temas sobre desenvolvimento
2000;9(53):62-69.
parâmetro para estabelecer a atual imagem corporal dos
3. Stokes M. Neurologia para fisioterapeutas. Premier; 2000.
pacientes, como o exemplo aqui sugerido, pois os desenhos 4. Ekaman L. Neurociência – Fundamentos para a reabilitação.
favorecem avaliação rápida e é um recurso que permite Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. 347p.
comparação de amostras futuras, para mensurar a evolução 5. Souza A, Ferraretto I. Paralisia cerebral – Aspectos práticos.
do tratamento referente à integração do esquema corporal. Memnon; 1998.
Além disso, podemos direcionar o tratamento, antes 6. Oliveira G. Psicomotricidade – Educação e reeducação num
de elaborá-lo. enfoque psicopedagógico. 2ª ed. Petrópolis: Vozes; 1998.150p.
7. Le Bouch J. A psicocinética na idade escolar. Porto Alegre:
Conclusão Artes Médicas; 1988.
8. Araújo CA. Desenvolvimento do esquema corporal. Temas
sobre desenvolvimento 2000;9(52):56-58.
Baseado nos resultados obtidos no presente trabalho 9. Shepherd RB. Fisioterapia em pediatria. 3ª ed.Santos;1996.
obteve-se as seguintes conclusões: 10. Johnson B. Children’s drawings as a projective technique. –
• As 5 crianças portadoras de paralisia cerebral do tipo Pediatric Nursing 1990;16(1).
tetraparética espástica do setor de neurologia infantil da UNIVAP 11. Sullivan S, Schmitz T. Fisioterapia – avaliação e tratamento. 2ª
apresentam alteração na sua imagem e esquema corporal, ou ed. São Paulo: Manole; 1993. 775p.
seja, um atraso na relação da Imagem de si mesmo. 12. Chazaud J. Introdução à psicomotricidade. São Paulo: Manole;
• Adotando um parâmetro para estabelecer a atual 1987.
imagem corporal dos pacientes em uma avaliação inicial, 13. Doretto D. Fisiopatologia clínica do sistema nervoso –
favorece o diagnóstico precoce dos distúrbios do esquema Fundamentos da Semiologia. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 1998.
466p.
corporal e possibilita direcionar o tratamento pela reeducação
14. De Meur A, Staes L. Psicomotricidade: educação e reeducação
psicomotora. Talvez seja possível minimizar o déficit de – Níveis maternal e infantil. São Paulo: Manole; 1984.
integração da imagem corporal dessas crianças, favorecendo 15. Picq L, Vayer P. Educação psicomotora e retardo mental –
um melhor aprendizado motor. E para isso é necessária a Aplicação aos diferentes tipos de inadaptação. 4ª ed. São Paulo:
continuação da pesquisa. Manole; 1988. 276p. C

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136 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Artigo original

Estudo do equilíbrio estático de idosos e sua correlação


com quedas
Study of elderly static balance and its correlation with falls
Mário Antônio Baraúna, D.Sc.*, Suzi Rosa Miziara Barbosa, M.Sc.**, Roberto Sérgio Tavares Canto, D.Sc.***,
Ruiz Angelo Ventura da Silva****, Cristiano Diniz Campelo Silva****, Karla Maria Pereira Baraúna****

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Centro Universitário do Triângulo, UNITMG, **Fisioterapeuta, docente da UNIDERP, Centro Universitário do
Triângulo, UNITMG, ***Médico, pós-doutorado em Traumatologia, Centro Universitário do Triângulo, UNITMG, ****Fisioterapeuta,
Centro Universitário do Triângulo, UNITMG

Resumo
Os objetivos desse estudo foram a quantificação das oscilações corporais em idosos,
Palavras-chave:
nos planos sagital e frontal através do teste de Romberg adaptado utilizando-se como
equilíbrio, queda, idoso. instrumento a biofotogrametria computadorizada, bem como a verificação de correlação
entre as oscilações do equilíbrio estático com as quedas. Foram captadas imagens das
oscilações em ambos os planos, de 68 indivíduos do sexo feminino, na faixa etária
compreendida entre 65 e 84 anos. Posteriormente, as imagens foram selecionadas e
quantificadas pelo aplicativo ALCimage® 2.1. Os resultados exibiram oscilações do
corpo no plano frontal de 8,87 ± 5,51 para o lado direito e de 10,81 ± 5,61 para o lado
esquerdo, sendo comprovado maior tendência do corpo a cair para esse lado. No plano
sagital as oscilações posteriores foram de 12,42 ± 7,07 e as anteriores 19,00 ± 9,58,
confirmando a maior tendência do corpo a cair para frente.

Abstract
The aims of this study were to quantify the corporal swing in elderly, in the sagittal
Key-words : and frontal plane through the Romberg test that was adapted using as instrument the
balance, fall, elderly. computerized biophotogrammetry, as well as the correlation verification among the
swing of the static postural balance with the falls. Images of the oscillations were
captured in both plans of 68 individuals of the feminine gender, with the age ranging
from 65 to 84 years. After that, the images were selected and quantified by the software
ALCimage® 2.1. The results exhibited oscillations of the body in the frontal plane 8,87
± 5,51 to the right side and 10,81 ± 5,61 to the left side. In the sagittal plane the
anterior oscillations (19,00 ± 9,58) and the posterior ones (12,42 ± 7, 07), confirming
the tendency of the body drop to front.

Recebido 5 de janeiro de 2004; aceito 15 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Secretaria da Pós-Graduação/UNITMG, Av. Nicomedes Alves dos Santos, 4545 – Bloco E – B, Gávea 38411-106
Uberlândia MG, E-mail: baraúna@unitmg.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 137

Introdução manutenção da postura, sendo essas insuficiências resultantes


de alterações no processo de senescência e senilidade [10].
Apesar da divergência de opiniões a respeito, o Vem sendo considerada como um dos mais importantes
envelhecimento é considerado um fenômeno natural, fatores de mudança na vida do idoso em virtude das
progressivo, não uniforme variando de indivíduo para restrições que esta pode imputar, variando desde escoriações
indivíduo, estando na dependência de alguns fatores como leves, restrições na mobilidade, limitações nas atividades da
hábito de vida e herança genética [1,2]. Este promove uma vida diária (AVD’s), perda da independência funcional, até
série de alterações no ser humano, envolvendo aspectos o isolamento social provocando diminuição na qualidade
psicológicos, fisiológicos e patológicos [3]. O processo de de vida do idoso. Também devido aos altos custos sociais
envelhecimento fisiológico do cérebro é lento, gradual e não com institucionalizações e o aumento nos índices de
incapacitante na maioria dos idosos, levando à diminuição mortalidade e morbidade [11-13]. Sua incidência aumenta
das reservas funcionais do organismo em todos os aparelhos exponencialmente com a idade e sua prevalência é sobre o
e sistemas do corpo (muscular, ósseo, nervoso, circulatório, sexo feminino [2,10,12,14].
pulmonar, endócrino e imunológico) [4]. O declínio destes é A natureza multifatorial do problema sinaliza a
principalmente devido à perda normal e gradual de células, dificuldade da identificação do idoso com tendência a queda,
sendo o déficit neurofuncional devido ao fato do tecido tornando difícil a intervenção ante a ocorrência do evento.
nervoso (elementos neuronais) não dispor de capacidade Entretanto, a identificação das causas e de pessoas com
reparadora, ou atividade reprodutora, estando então sujeitas tendência à queda, é tão importante quanto o tratamento
aos agentes moleculares do envelhecimento [4,5]. de suas conseqüências [1,11,12]. Em decorrência desse fato,
Independente de qualquer alteração sofrida, este processo observa-se em revisão de literatura, inúmeros testes
se dá de forma continuada, alterando várias funções específicos e métodos tanto qualitativos quanto
corpóreas, sendo uma das mais comprometidas a capacidade quantitativos, desenvolvidos a fim de se identificar as causas
do homem manter-se em pé em equilíbrio na posição das instabilidades, avaliar o controle postural, mensurar o
ortostática [1]. Este fato justifica-se devido não ser este um equilíbrio e a mobilidade dos idosos [9,15] na tentativa de
evento estático, mas sim dinâmico, onde o corpo realiza se estabelecer o perfil e/ou parâmetros, que possam ajudar
movimentos corporais involuntários – oscilações posturais nessa identificação [10,12,16].
– mesmo quando se tenta mantê-lo parado. Dessa forma os Os métodos qualitativos, apesar seu grau de efetividade
mecanismos neuromusculares corretivos devem estar íntegros, possuem pouca confiabilidade quando comparados aos
para que as respostas tanto estáticas quanto dinâmicas sejam quantitativos. Já os quantitativos, apesar dos altos custos de
eficientes, preservando assim o equilíbrio [6]. material e pessoal, têm como suporte a simulação numérica,
Entretanto, o sistema de controle postural é bastante que embora conjugada à experimentação tradicional,
complexo, envolvendo a recepção de informações sensoriais assumem um papel fundamental quando interpretação e
dos sistemas vestibular, visual e proprioceptivo por via confiabilidade dos resultados, devido ao registro de dados
aferente, sendo estas decodificadas no Sistema Nervoso extremamente precisos e impossíveis de serem percebidos
Central (SNC) onde são feitas alterações necessárias para ou registrados de outra forma [17-19].
manutenção do equilíbrio. A seguir são emitidas respostas, Sendo assim, a identificação dos mecanismos causadores
sendo estas conduzidas por via eferente promovendo a de padrões patológicos bem como a quantificação do
ativação dos músculos antigravitacionais, que são os afastamento da normalidade são passíveis de serem
responsáveis pela manutenção do controle do equilíbrio avaliados, pautados na precisão e confiabilidade dos dados
corporal [1,4,7]. obtidos. Dessa forma é possível planejar, direcionar
Com o avanço da idade e a deterioração ocorrida nos terapeuticamente e desenvolver um programa de tratamento
diversos sistemas, as habilidades de controle postural são possibilitando o sucesso da reabilitação. Esta se apresenta
alteradas, gerando anormalidades na marcha e instabilidades como uma oportunidade ímpar para a redução dos altos
posturais [3,8,9]. Estas interferências são justificadas pelo custos com a saúde, taxas de mortalidade e melhoria da
decréscimo na velocidade de condução das informações, qualidade de vida da população idosa [13,14,16].
bem como no processamento de respostas, que, por serem
lentas e inadequadas geram situações de instabilidade, Material e Métodos
colocando em risco a habilidade de mover-se com segurança,
aumentando a predisposição a queda [10, 11]. Para verificar a correlação entre as oscilações do corpo
Esta tem sido definida como um evento não esperado, em equilíbrio estático com a ocorrência de quedas, foi
no qual a pessoa cai ao chão de um mesmo nível ou de um desenvolvido um protocolo de estudo que utiliza o sistema
nível superior [11]. Decorre da perda total do equilíbrio biofotogramétrico computadorizado como instrumento
postural, relacionando-se à insuficiência súbita dos quantificador angular do desvio da linha de equilíbrio, sendo
mecanismos neurais e osteoarticulares envolvidos na aplicado o Teste de Romberg.

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138 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Foram estudados 68 indivíduos do sexo feminino, destras, Para a análise estatística, foi aplicado o método não-
na faixa etária compreendida entre 65 e 84 anos, não paramétrico do Coeficiente de Correlação por Postos de
institucionalizadas, residentes na cidade de Campo Grande/ Spearman (rs), tendo o nível de significância estabelecido
MS. Os procedimentos desenvolvidos e executados nesse em 5% (p < 0,05) para uma prova bilateral.
estudo foram aprovados pela Comissão de Ética na Pesquisa
em Humanos do Centro Universitário do Triângulo (UNIT). Resultados
Os critérios para a seleção dos indivíduos foram pré-
estabelecidos em um protocolo de inclusão, sendo excluídos Participaram desse estudo 68 voluntárias do sexo
os indivíduos que apresentassem restrições neurológicas e/ feminino com idade média de 73,59 ± 5,60 anos; estatura
ou físicas; fossem portadores de qualquer tipo de de 1,53 ± 0,05 cm; peso de 63,99 ± 10,80 kg e IMC de
comprometimento à sua permanência na posição ortostática; 27,31 ± 4,06.
fizessem uso de órteses para membro inferior ou que Em relação à ocorrência e ao número de quedas os
tivessem sofrido fraturas, com ou sem implante metálico, resultados encontram-se demonstrados nas tabelas I e II.
nos membros inferiores.
Posteriormente, em entrevista, foram colhidos dados Tabela I - Resultados obtidos em ocorrência de quedas. 
pessoais, antropométricos, sendo calculado a seguir o índice Quedas
de massa corpórea (IMC). Também foram colhidas n %
informações a respeito das variáveis relevantes no processo Sim 43 32
de predisposição à queda, tais como uso e quantidade de Não 25 68
medicação (M) ingerida/dia e prática de atividade física (AF). Total 68 100
Para que fosse possível observar as oscilações corporais N = número de indivíduos
nos planos sagital e frontal na etapa da fotointerpretação
das imagens, foi confeccionado um capacete de PVC Tabela II - Valores obtidos em relação a relação ao número de quedas
possuindo duas antenas reguláveis, sendo este acoplado à da população.
cabeça do voluntário. As antenas do capacete foram Número de quedas n %
posicionadas de forma a coincidirem com pontos anatômicos 1 20 46,5
pré-estabelecidos. 2 19 44,2
Foram utilizados dois quadros posturométricos fixados 3 3 7
na parede atrás e na lateral esquerda do indivíduo. Dois fios 4 1 2,3
de prumo foram presos ao teto a uma distância de 10 cm da Total 43 100
parede na mesma disposição dos quadros posturométricos,
coincidindo com a linha central destes, sendo alinhados
juntamente com as antenas do capacete de forma a estarem Fotointerpretação angular
em 0º para o início da aquisição das imagens.
As imagens colhidas foram registradas e armazenadas As oscilações corporais, observadas no plano frontal,
em fitas de vídeo cassete, sendo a seguir exportadas para foram quantificadas pelo aplicativo ALCimage® 2.1, através
um videocassete acoplado a um computador dotado de uma de desvios do corpo a partir da linha média para os lados
placa de aquisição de imagens. A seguir selecionamos a direito e esquerdo (Tabela III).
imagem que traduzisse o grau de oscilação corporal mais
acentuado sendo demarcados três pontos seqüenciais sobre
Tabela III - Exposição da média, desvio padrão e mediana da quantificação
a mesma, sendo que o ângulo formado quantificado pelo
das oscilações corporais registradas pela câmera anterior para os lados direito
aplicativo o ALCimage 2.1®.
e esquerdo do corpo.
Figura 1 – Digitalização das imagens.   Câmera lateral
  Ângulo anterior Ângulo posterior
Média 19 12,42
Desvio-padrão 9,58 7,07
Mediana 18,44 10,75

Os dados angulares referentes às oscilações corporais


dos indivíduos da amostra no sentido antero-posterior
também foram avaliados pela biofotogrametria
computadorizada e os valores obtidos estão registrados na
Tabela IV.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 139

Tabela IV - Exposição da média, desvio padrão e mediana da Os resultados, ilustrados na tabela acima, demonstram
quantificação das oscilações corporais anteriores e posteriores registradas haver correlações estatisticamente significante nos itens 2 e
pela câmera lateral. 3. Esses resultados indicam existir correlação positiva entre
Câmera Anterior as quedas e as oscilações corporais nos planos sagital e frontal.
  Ângulo anterior Ângulo posterior
Média 8,87 10,81 Discussão
Desvio-padrão 5,51 5,61
Mediana 7,65 9,21
O presente trabalho avaliou o grau das oscilações
corporais de idosos nos planos sagital e frontal e sua
Comparação idade e as demais variáveis correlação com quedas, utilizando com método de análise a
biofotogrametria computadorizada.
A fim de verificarmos a existência de correlação entre a A eleição da faixa etária da população investigada
idade dos voluntários e as demais variáveis investigadas baseou-se em estudos da literatura [1,7,9,11], que relatam
(queda, IMC, ângulos para direita (AD) e esquerda (AE), sobre a coincidência entre o avanço da idade e o declínio
anterior (AA) e posterior (AP), elaborou-se a tabela V para da integridade dos vários sistemas fisiológicos que
ilustrar os resultados obtidos). participam do controle e dos ajustes posturais, acentuando
a tendência à queda. Apesar dos relatos literários, ao
Tabela V - Correlação entre a variável idade e demais variáveis, queda, correlacionarmos essa variável com a ocorrência de queda,
IMC, ângulos para direita/esquerda, anterior e posterior. nossos resultados não foram estatisticamente significantes,
  Idade Variáveis rs p podendo ser este justificado em função do número de
1 Idade Queda 0,1484 0,227
amostra de nosso experimento ser menor do que a dos
2 Idade IMC -0,2635 0,030*
3 Idade AD 0,1896 0,187 estudos citados anteriormente, devendo este dado ser
4 Idade AE 0,2095 0,118 investigado posteriormente.
5 Idade AA 0,0561 0,657 Em relação ao IMC, ao correlacionarmos este com a
6 Idade AP 0,2367 0,113 variável idade, nossos dados foram estatisticamente
rs = Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman.; significantes, corroborando com os de Buchowski e Ming
p = nível de significância (*) significante em nível de 0,05; [20] ao relatarem que com o processo de envelhecimento
IMC = índice de Massa Corpórea; AD = ângulo para direita; os indivíduos tendem a um aumento de massa magra.
AE = ângulo para esquerda; AA = ângulo anterior; Em nosso experimento ao correlacionamos idade com
AP = ângulo posterior.
AD; AE; AA e AP, nossos resultados não foram
Ao analisarmos a tabela acima, verificamos a existência estatisticamente significantes. Também não foram
de correlação significativa somente entre idade e IMC. encontrados na literatura, até a presente data, trabalhos que
Observamos ainda não haver correlação significativa entre tenham investigado essa correlação e que tenham utilizado
a idade e as demais variáveis, uma vez que todas as instrumento igual ao nosso.
probabilidades associadas aos valores do nível de significância A eleição do teste de Romberg para a avaliação do
(p) foram superiores a 0,05. equilíbrio em nosso experimento pautou-se na praticidade e
na aceitação de seus resultados na prática clínica. Entretanto,
Comparações entre quedas e demais variáveis este é considerado suficiente apenas para a qualificação do
equilíbrio em bom ou ruim, pois se baseia na observação
Para verificarmos a possível correlação entre as quedas não sistematizada, na visão clínica e na experiência do
relatadas e as variáveis investigadas, confeccionam a profissional. O teste não nos permite a reprodução fidedigna
Tabela VI. por outro avaliador como também a realização de
comparações durante o tratamento, tornando-o um
Tabela VI - Correlação entre variável queda e os ângulos de oscilação instrumento de medida frágil e muito susceptível ao erro
corporais nos planos frontal e sagital. [17]. Neste experimento, estabelecemos um modelo
  Quedas Oscilações rs p adaptando o teste de Romberg ao sistema biofotogramétrico
corporais computadorizado, devido à alta precisão de resultados,
1 Queda AD 0,2257 0,115 reprodutibilidade metodológica e secundariamente à
2 Queda AE 0,3677 0,005* viabilidade econômica, quando comparado aos instrumentos
3 Queda AA 0,383 0,002*
tradicionalmente utilizados, que embora precisos, a falta de
4 Queda AP 0,0311 0,837
rs = Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman.; operacionalidade e os altos custos inviabilizam a aplicação
p = nível de significância (*) significante em nível de 0,05; prática no cotidiano clínico. Em relação aos instrumentos
AD = ângulo para direita; AE = ângulo para esquerda; de avaliação das oscilações corporais encontrados na
AA = ângulo anterior; AP = ângulo posterior. literatura alguns observaram as oscilações em somente um

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140 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

plano do corpo, antero/posterior (AP) ou médio/lateral sentido da lateral esquerda do corpo (plano frontal). As
(ML), outros observaram em dois planos [7,8,17,18,19]. quantificações das oscilações corporais devem ser
Em nosso experimento, optamos pela observação em dois investigadas na prática clínica sendo estas passíveis de serem
planos, pois as informações obtidas nos garantem maior utilizadas na identificação do idoso com tendência à queda,
precisão nos resultados [17,21]. para que seja possível intervir na prevenção de recidivas ou
Ao mensurarmos os graus de oscilação corporal no ante a ocorrência do evento.
plano sagital (sentido A/P) e correlacionarmos com a
ocorrência de quedas, pudemos constatar que as oscilações
Agradecimentos
corporais anteriores foram superiores e estatisticamente
significantes quando comparadas às posteriores,
À Universidade para o Desenvolvimento do Estado e
demonstrando uma maior tendência de o corpo cair para
da Região do Pantanal –UNIDERP - (Campo Grande/ MS)
frente. Os referidos dados, corroboram com alguns estudos
pelo incentivo científico e financeiro.
da literatura que se utilizaram instrumentos iguais aos
nossos [22,23] e também plataformas de força [7,8]. Esse
Referências
resultado pode ser justificado devido ao fato de que para
iniciarmos um movimento, o corpo é projetado para frente, 1. Alexander NB. Postural control in older adults. J Am Geriatr
projetando o centro da massa para fora da base de suporte, Soc 1994; 42:93-108.
podendo ocorrer perda da percepção dos limites de 2. Schult LJ. Motor system changes in the aging brain: What is
estabilidade que, associada à falha nas reações de normal and what is not. Geriatrics 1998;53:16-9.
retificação e endireitamento do corpo leva este ao 3. Pickles B, Compaton A, Cheryl C, Simpson J, Vandrvoort A.
desequilibro tendendo a queda [1,8]. Fisioterapia na terceira idade. São Paulo: Santos; 1998.
Analisando comparativamente os graus de oscilações 4. Machado ABM. Neuroanatomia funcional, 2ª ed. São Paulo:
Atheneu; 1998.
corporais no plano frontal (para os lados direito e
5. Cançado FA. Noções práticas de geriatria. Coopmed; 1994.
esquerdo) e correlacionando-os com a ocorrência de 6. Bricot B. Posturologia. São Paulo: Ícone; 1999. 236p.
quedas, nossos resultados apresentaram-se altamente 7. Blaszczyk JW, Prince F, Raiche M et al. Effect of ageing and
significantes para o lado esquerdo, demonstrando haver vision on limb load asymmetry during queit stance. J Biomech
uma maior tendência à queda do corpo para o lado 2000;33:1243-8.
esquerdo. Esses resultados corroboram com estudos 8. Fife TD, Baloh RW. Disequilibrium of unknown cause in
literários [17], podendo também este ser justificado em older people. Ann Neurological 1993;34:694-702.
função de serem as voluntárias deste experimento destras, 9. Rodrigues RAP, Casagrande LDR. As idosas e as situações
que as levaram a sofrer quedas. Gerontologia 1996;4:7-13.
demonstrando que a incidência de queda para o lado não
10. Mouton CP, Espino DV. Health screening in older women.
dominante do corpo. Am Fam Physician 1999;59: 1835-43.
Em função dos resultados observados, entendemos que 11. Moura RN, Santos FC, Dremeier M, Santos LM, Ramos LR.
para a verificação da tendência do corpo a queda, as Quedas em idosos: fatores de risco associados. Gerontologia
mensurações das oscilações corporais, deve ser realizada 1999;7:15-21.
em mais de um plano do corpo devido ao fato de que um 12. King MB, Tinetti ME. Falls in community-dwelling older
maior número de informações adquiridas, passa a ser persons. J Am Geriatr Soc 1995;43:1146-54.
conclusivo quando da detecção do evento. Observamos 13. Graafmans WC, Ooms ME, Hofstee HMA, Bezemer PD,
ainda que, o aspecto quantitativo imprimido pela Bouter LM, Lips P. Falls in the elderly: a prospective study
of risk factors and risk profiles. Am J Epidemiol 1996;
biofotogrametria computadorizada, vem a somar no amplo 143:1129-36.
espectro das variáveis subjetivas tradicionalmente 14. Maki BE, McIlroy WE. Postural Control in the older adult.
investigadas, passando este a ser conclusivo na detecção Clin Geriatr Med 1996;12(4): 635-58.
do evento. 15. Daubney ME, Culham EG. Lower-estremity muscle force and
balance performance in adults aged 65 years and older. Phys
Conclusão Ther l999;79:1177-85.
16. Shumway-Cook A, Gruber W, Baldwin M, Liao S. The effect
Podemos concluir mediante os resultados obtidos nas of multidimensional exercises on balance, mobility, and fall
condições experimentais do presente estudo, que o sistema risk in community-dwelling older adults. Phys Ther 1997;77:
46-57.
de imagens (biofotogrametria computadorizada), pode ser
17. Baraúna MA. Estudo comparativo entre a avaliação do
utilizado para a quantificação das oscilações corporais nos equilíbrio estático de indivíduos amputados [Tese]. Lisboa,
planos sagital e frontal do corpo, mostrando-se eficaz e Portugal: Universidade Técnica de Lisboa; 1997. 390p.
preciso. Concluímos ainda que o corpo apresenta maior 18. Baraúna MA, Deloroso FO. Estudo do equilíbrio em
tendência à queda no sentido anterior (plano sagital) e no hemiplégicos. In: Congresso de Fisioterapia 1995. Anais. p.32.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 141

19. Ferreira CAR. Aquisição de dados cinemáticos da execução 22. Braccialli LMP, Baraúna MA, Ferreira C, Correa SK. Estudo
motora humana e a sua interpretação através de um modelo comparativo entre o equilíbrio estático de indivíduos
segmentar tridimensional [Tese]. Lisboa, Portugal: sedentários e não sedentários do sexo feminino. Uberlândia:
Universidade Técnica de Lisboa; 1998. 172p. Ícone 1995; 3(2):39-62.
20. Buchowski MS, Ming S. Nutrition in minority elders: current 23. Cardoso FAG. Avaliação do equilíbrio estático em
problems and future directions. J Health Care Poor pacientes diabéticos portadores de neuropatia auto-
Underserved 1996;7:184-210. nômica, através da fotogrametria computadorizada.
21. Baloh RW, Spain S, Scotch TM, Jacobson KM, Bell T. [Dissertação]. Uberlândia: Centro Universitário do
Posturography and balance problems in older people. J Triângulo; 1999. 87p. C

Am Geriatr Soc 1995;43:638-44.

artigo 08 - Mario.pmd 141 05/04/04, 18:35


142 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Revisão

Análise comparativa de dados clínicos do lúpus


eritematoso sistêmico e abordagem fisioterapêutica
Comparative analysis of clinical data in systemic lupus
erythematosus and physical therapy approach.

Emília Cardoso Martinez*, Glauber Alvarenga Peroba*, Rodrigo Renato da Silva**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmico de fisioterapia da UNIBAN, **Professor adjunto da disciplina de fisioterapia aplicada a reumatologia da UNIBAN,
Professor de eletroterapia UNIBAN/UNIABC

Resumo
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença crônica, multissistêmica, de
Palavras-chave: etiologia desconhecida, que se apresenta com um amplo espectro de manifestações
lúpus eritematoso sistêmico. clínicas caracterizadas por exacerbações e remissões. Mostra-se uma patologia
extremamente variada em sua forma de apresentação clínica combinando diferentes
formas de lesões orgânicas, as quais vão desde um inocente rash cutâneo até uma
doença grave e potencialmente fatal, envolvendo rins, sistema nervoso central.
Considerando a prevalência alarmante das artrites e artralgias no LES, torna-se primordial
uma apreciação diagnóstica e terapêutica mais completa, por parte dos fisioterapeutas
considerando não somente sintomas relacionados ao sistema músculo-esquelético, mas
também a órgãos essenciais como fígado, rins, coração e sobretudo ao grande fato
destes pacientes apresentarem doenças vasculares encefálicas corriqueiramente.

Abstract
The systemic lupus erythematosus (SLE) is a chronic, multissystemic illness, of
unknown etiology, and that it is presented with an ample spectre of clinical manifestations
Key-words : characterized by attacks and remissions. An extremely varied pathology in its clinical
systemic lupus erythematosus. presentation reveals different forms of organic injuries, which go since a cutaneous
rash until a serious and potentially fatal illness, involving kidneys, central nervous system.
Considering the alarming prevalence of arthritis in the SLE, a more complete diagnostic
and therapeutical appreciation be comes essential, on the part of the physical therapists,
considering not only symptoms related to the muscle skeletal system, but also organs as
liver, kidneys, heart and over all to the great risk for these patients to present encephalic
vascular illnesses.

Recebido 21 de agosto de 2003;corrigido 15 de novembro de 2003; aceito 15 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Emília Cardoso Martinez, Rua Dom Teodósio, 54 Tremembé 02357-020 São Paulo SP,
E-mail: cardoso_martinez@ig.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 143

Introdução Manifestações clínicas

O tema deste trabalho está direcionado para o Lúpus Sinais e sintomas gerais ocorrem em qualquer fase da
Eritematoso Sistêmico (LES) com o objetivo principal de doença em 53% a 77% dos casos, caracterizados por
estudar manifestações clínicas, expor as possíveis adinamia, fadiga, perda de peso, falta de apetite, febre,
combinações sintomáticas e salientar a importância de poliadenopatias, mialgias, artralgias, entre outros.
avaliações minuciosas em todos os pacientes, por mais simples Cerca de 90% dos pacientes com LES eventualmente
que se apresentem os casos. têm algum tipo de manifestação cutânea que pode ou não
No LES, o sistema músculo esquelético, em até 90% ser específica da doença.
dos casos, sofre alguma espécie de acometimento. As artrites Segundo Moreira e Carvalho, 1998 o envolvimento
e artralgias no LES são caracterizadas por dor suave e renal é um dos principais determinantes da morbidade e
quase nenhuma evidência de sinovite, raramente ocorre mortalidade no LES. As manifestações renais do LES são
deformação severa das mãos e dos pés com subluxações altamente variáveis na sua apresentação clínica, podendo
não-erosivas múltiplas, distenção de cápsula articular variar desde uma proteinúria leve até uma glomerulonefrite
e tendões. rapidamente progressiva, causando insuficiência renal dentro
As doenças cárdio e cérebro-vasculares têm sido de algumas semanas.
reconhecidas como as principais causas de morbidade e As doenças cárdio-vasculares têm sido reconhecidas
mortalidade em pacientes com LES. Clinicamente, a doença como as principais causas de morbidade e mortalidade em
cardíaca isquêmica é relatada em 6% a 17% dos pacientes e pacientes com LES. Clinicamente, a doença cardíaca isquêmica
acidentes cérebro-vasculares em 3% a 15% dos casos [1]. é relatada em 6% a 17% dos pacientes [1]
A proposta deste estudo é fazer uma coleta de dados Pacientes com LES apresentam alto risco para o
por meio da história clínica de pacientes com LES, discutir desenvolvimento ou aceleração de doença aterosclerótica e
a associação de sintomas e sua importância para a abordagem hipertensão arterial. Isso está diretamente ligado tanto a
de um tratamento fisioterapêutico complementar, estando efeitos diretos da doença como a efeitos colaterais do
atento a uma gama de acometimentos e não somente se tratamento. O envolvimento do endocárdio ocorre quando
apegar ao sistema músculo esquelético, tendo como objetivo vegetações estéreis são encontradas nas superfícies
discutir as manifestações lúpicas durante o processo de valvulares (endocardite de Libman-Sacks), havendo, ao
reabilitação e correlacioná-las com abordagem fisioterapêutica. exame clinico, o achado de sopros principalmente em
válvulas mitral e aórtica.
Desenvolvimento O pulmão é um órgão freqüentemente envolvido no
lúpus. Derrame pleural ocorre em cerca de 20% a 30%,
Definição podendo ser a manifestação inicial em 2% a 3% dos casos
As manifestações neurológicas que podem ser
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença encontradas são de difícil diagnóstico, compreendendo
crônica, multissistêmica, de etiologia desconhecida, causada disfunção cognitiva, cefaléia, convulsão, meningite asséptica,
por dano tecidual resultante de alterações na resposta acidente vascular cerebral, coréia, neuropatia periférica,
imunológica, com presença de anticorpos dirigidos contra alterações visuais ou neuropatia autonômica. Essas
proteínas do próprio organismo, se apresenta com um amplo manifestações são atribuídas a um processo primário que
espectro de manifestações clínicas caracterizadas por resulta diretamente de oclusão vascular devido à vasculopatia
exacerbações e remissões. mediada por imunocomplexos ou por anticorpos antineuronais.
O LES é uma doença auto-imune, de interesse Dores articulares e musculares são sintomas muito
multidisciplinar, que afeta principalmente mulheres jovens freqüentes no LES, de fato, 90% das pessoas com lúpus
com pico de incidência entre os 15 e os 40 anos de idade, e vão experimentar esses sintomas em algum momento
é 5 a 10 vezes mais comum em mulheres que em homens. durante o curso da doença. Com freqüência, as artralgias e
Nas crianças e nos idosos a relação mulher: homem cai para a mialgias persistentes podem imitar doenças viróticas, como
2:1. Na população geral, o LES afeta aproximadamente 1 se fosse uma gripe. Outros podem ter os sintomas
caso em 2.000 a 10.000 habitantes. Sua distribuição é característicos da artrite, ou seja, articulações que não ficam
universal, entretanto dependente de fatores étnicos e apenas doloridas, mas também inchadas, quentes e sensíveis.
ambientais, sendo assim parece ter maior incidência em raças Outros ainda, com inflamação intensa nos músculos, podem
não caucasóides [2]. experimentar uma fraqueza progressiva a perda de
Em relação a sua fisiopatologia possivelmente representa resistência aliadas a dores nos músculos. Essas dores nas
o resultado da interação de múltiplos fatores, entre os quais articulações e músculos podem ocorrer a qualquer momento
merece destaque a ação dos fatores ambientais em indivíduos durante o curso do LES, ou podem ainda preceder outros
geneticamente predispostos. sintomas da doença por meses ou anos.

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144 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

O comprometimento vascular ocorre em 30% a 40% realizado por Sakauch et al. [5] o descondicionamento físico
dos pacientes em fase ativa da doença e ao longo da evolução. e a fadiga rápida em pacientes com LES pode ser resultado
Acometimento de artérias de médio calibre levando a úlceras da difusão danificada do oxigênio nos músculos periféricos
isquêmicas e necrose de extremidades ocorrem em menos inflamados nos pacientes com a doença ativa.
de 10% dos casos. Mais raramente podemos encontrar Nos períodos intercríticos, quando o paciente apresentar
vasculites mesentéricas e de retina. controle clínico, é preciso explorar ao máximo o potencial
remanescente e estimular o condicionamento físico global. Após
Fisioterapia no LES uma exacerbação da patologia é necessário fazer uma minuciosa
avaliação funcional para se detectar o grau de independência
O LES, sendo uma doença imunológica, crônica e que nas atividades de vida diária, a restrição causada pela dor e o
evolui em surtos é desprovida de tratamentos eficientes para descondicionamento físico [6].
se chegar à cura completa. Os tratamentos disponíveis prote- Cossermelli et al. [7], relata que o repouso é necessário
gem os órgãos da ação inflamatória provocada pelo desarranjo nas fases iniciais e enquanto houver atividade da doença
do sistema imune e induzem a remissão da doença, mas não pelo acometimento sistêmico, pela fadig a fácil e
revertem as falhas iniciais no sistema imunológico [3]. persistente, febre, às vezes bem elevada e outros
Segundo Moreira e Carvalho [3], um dos motivos mais elementos clínicos. O repouso será absoluto quando as
importantes do tratamento fisioterapêutico é manter manifestações forem agudas e intensas, passando a relativo
habilidade para as atividades funcionais, o que depende da se elas forem menos acentuadas e dosados de acordo
capacidade física do indivíduo, sujeita a muitas variáveis, com as condições do paciente.
como alterações na função cárdio-respiratória, força Embora o prognóstico de pacientes com LES tenha
muscular e flexibilidade. melhorado muito nas últimas décadas, muitos pacientes
Para grande maioria das pessoas, um tratamento efetivo continuam não respondendo à terapêutica atualmente
pode minimizar os sintomas, reduzir as inflamações e manter utilizada. Glomerulonefrite, que evolui para insuficiência
as funções do corpo íntegras. Medidas preventivas podem renal, e a progressão de lesões neurológicas, que
reduzir os riscos de uma crise. A focalização do tratamento comprometem a qualidade de vida e a sobrevida de
é baseada em necessidades e sintomas específicos de cada pacientes com LES, são alguns dos motivos que levam
pessoa. Pelo fato das características e do curso do Lúpus pesquisadores a buscar novas alternativas terapêuticas.
variar significativamente de pessoa para pessoa, é importante Geralmente pacientes submetidos a tratamento,
enfatizar que uma avaliação médica constante é essencial fisioterápico junto com o tratamento medicamentoso
para assegurar um diagnóstico e tratamento adequados. e apoio psicológico, apresentam um quadro mais estável
Como o lúpus não é incapacitante, salvo raras exceções, da doença.
a fisioterapia em seu tratamento visa prevenir problemas e
restaurar o equilíbrio osteomuscular. O paciente deve sempre Dados
fazer exercícios, para prevenir que a musculatura fique
hipotrofiada. Alongamentos, fortalecimentos musculares e Nesse trabalho foram analisados artigos científicos, nos
medidas analgésicas são as “armas” que um fisioterapeuta idiomas português, inglês e espanhol dos últimos 10 anos
dispõe. Devem-se trabalhar todas as articulações do corpo, onde as principais bases de dados consultadas foram a Lilacs,
e estar sempre atento ao quadro clínico do paciente, pois Medline, Google, SIBI-USP, PubMed, Webscience e as
medidas fisioterápicas que podem aliviar algum dos bibliotecas mais consultadas foram a BIREME, Faculdade
problemas decorrentes, podem vir a ser uma contra de Medicina da USP, UNIBAN.
indicação de algum outro quadro clínico. Os artigos foram encontrados a partir da combinação
Segundo David e Lloyd [4], os programas de exercícios das seguintes palavras-chave: “lúpus eritematoso sistêmico X artrite
para o LES devem enfatizar a força e a resistência, com X artralgia X músculo-esquelético X manifestações X prognóstico X
exercícios aeróbicos de baixo impacto. Os programas devem tratamento X histórico.” Onde as publicações mais antigas
incluir fortalecimentos isotônicos e isométricos da foram utilizadas como base histórica e livre consulta.
musculatura adjacente às grandes articulações e Também foi realizada uma coleta de dados por meio de
manutenção da amplitude de movimento, mas se a necrose uma entrevista com o objetivo de levantar o histórico clínico
avascular estiver presente, apenas os exercícios isométricos de pacientes lúpicos contendo informações sobre o
são indicados. desenrolar da patologia, as principais manifestações e os
A diminuição da capacidade aeróbica é achado comum tratamentos utilizados. Foram entrevistados 7 pacientes sem
nos pacientes com LES e é provável que sua causa seja o nenhum critério de exclusão, todas eram do sexo feminino
descondicionamento dos músculos periféricos. Em estudo e a idade varia de 16 a 39 anos.

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Discussão desencadeadas pelo próprio curso da patologia ou como


conseqüência de um tratamento fisioterapêutico desatento.
A prescrição de tratamento fisioterapêutico complementar, Todas as manifestações discutidas partem do suposto do
muitas vezes não é feita pelo reumatologista devido à paciente estar realizando tratamento fisioterapêutico
multiplicidade e gravidade dos sintomas e diferenças clínicas ambulatorial por indicação do médico responsável, com a
de cada paciente, pois medidas fisioterápicas que podem patologia relativamente estável.
aliviar algum dos problemas decorrentes, podem vir a ser O estudo funcional dos pulmões de pacientes lúpicos,
uma contra-indicação de algum outro sintoma. mesmo sem história de comprometimento pulmonar,
Os pacientes estudados apresentaram manifestações revelou um padrão restritivo com diminuição da capacidade
diversificadas e necessidades particulares, obrigando o vital e da capacidade pulmonar total e diminuição da
fisioterapeuta à não utilização de tratamentos protocolados capacidade de diminuição da difusão do CO, ao lado de
e sim uma terapia com componentes exclusivos para cada hiper ventilação, hipoxemia, hipocapnia e aumento
indivíduo, levando em conta suas necessidades imediatas e significativo da diferença alvéolo-arterial do oxigênio. Este
as possíveis conseqüências para outros sistemas. perfil foi funcional foi particularmente acentuado nos
A tabela abaixo mostra a sintomatologia mais freqüente pacientes com queixa de dispnéia e com radiografia do tórax
e sua incidência nos 7 pacientes estudados. Como descrito apresentando campos pulmonares pequenos e diafragma
na literatura, a artralgia e a artrite têm uma grande incidência em posição expiratória [7].
e em nossa pesquisa privou somente uma paciente. Quando o paciente apresentar alterações pulmonares
recorrentes, o fisioterapeuta deve ter cuidados primordiais,
Manifestação % Manifestação % deve realizar a ausculta pulmonar e tomada da freqüência
artrite/ artralgia 85 síndrome do respiratória diariamente no inicio e no término da terapia,
alterações imobilismo 42 para conferir se a ventilação pulmonar está dentro dos
hematológicas 71 adenomegalia 28 padrões do paciente, deve ser sempre examinado o padrão
febre 71 cardiopatia 28 respiratório e simetria dinâmica do tórax. Deve-se ter cautela
mialgia/ miosite 57 convulsões 28 com o excesso de atividades físicas extenuantes, evitar a
úlceras orais 57 derrame pleural 28 fadiga e a hipoventilação do paciente para evitar maiores
cefaléia 42 fibromialgia 28 complicações ou mesmo recidivas de quadros anteriores.
fossensibilidade 42 tendinite 28 Nestes casos qualquer alteração respiratória deve ser
psicose 42 trombose 28 considerada como possível recidiva da patologia.
rash malar 42 vasculite 28
Segundo Skare [8], quando o paciente apresentar suspeita
de catarata decorrente do uso prolongado de esteróides, deve-
No LES, muitas vezes o comprometimento músculo- se precaver aplicações de calor profundo, como ondas curtas
esquelético toma grandes proporções sendo inevitável o e microondas, em regiões próximas aos olhos, pois pode
repouso por algia excessiva ou mesmo por incapacidade de ocorrer o agravamento ou o aparecimento da catarata. Muitas
locomoção de alguns pacientes que podem vir a apresentar vezes o fisioterapeuta enfatiza os acometimentos músculos
síndrome do imobilismo. esqueléticos, podendo de forma indireta piorar o quadro.
O papel adjuvante da fisioterapia no LES torna-se Como descrito por Karamfilov e Elsner [9], as doenças
praticamente obrigatório diante destes quadros extremos de pele preexistentes, como as lesões cutâneas do LES,
onde as mobilizações articulares começam passivamente podem ser agravadas por atividades físicas, pois a pessoa
com o paciente ainda confinado no leito. Mas e a fisioterapia vai estar exposta a diversos fatores ambientais tais como a
após a resolução dos casos mais graves? temperatura, alérgenos e irradiação e estes podem ter um
Devido à estabilização de sintomas graves muitas vezes importante papel no desenvolvimento destas lesões.
os pacientes não dão seguimento ao tratamento Raios solares são em muitas situações capazes de
fisioterapêutico permanecendo sedentários por todo o curso desencadear os quadros lúpicos ou de exacerbar manifestações
da patologia. Podendo neste momento serem indicados a sistêmicas. Todos os enfermos devem evitar excessiva
um tratamento fisioterapêutico, com programas de exercícios, exposição à luz solar e ambientes aquecidos, especialmente
estimulando o paciente a ser ativo nos limites de sua condição, aqueles com fotossensibilidade. Superada a fase aguda da
realizar terapias de reorganização corporal como reeducação doença e conforme a magnitude da remissão, pode-se tentar
postural, promover o bem estar com terapias manuais, exposições moderada, iniciando-se pelos períodos menos ricos
alongamentos e fortalecimentos musculares dependendo das em raios ultra-violeta (até as 9 horas e depois das 16 horas) [7].
necessidades e possibilidades de cada paciente. Sabendo dessas informações ao abordar um paciente
A partir deste ponto serão discutidas algumas lúpico que apresente lesões cutâneas ou fotossensibilidade,
manifestações do LES, encontradas nas pacientes o fisioterapeuta deve estar atento quanto à indicação de
pesquisadas, voltadas para as complicações que podem ser aplicações de calor e realização de atividades físicas, pois

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em algum momento da patologia elas podem ser extremamente de infartos agudos do miocárdio ou doença coronariana
contra-indicadas e se forem realizados podem prejudicar deve-se contra indicar o uso do gelo, para analgesia, em
seriamente o paciente. É de extrema importância evitar ou regiões próximas ao pescoço e ombros, pois estes pacientes
uso de calor radiante como infravermelho e ultravioleta em estarão sujeitos a desencadear um quadro de angina pectoris.
pacientes fotossensíveis pelo fato dos riscos superarem os Em estudo realizado por Araújo et al. [14] sugere que o
benefícios terapêuticos. LES cause diminuição da massa óssea na coluna lombar em
Liang [10], relata que o treinamento aeróbico durante as mulheres na pré-menopausa. As evidências não estão
crises agudas de LES pode aumentar a sintomatologia, relacionadas à dose de glicocorticóides e parecem ser
causando uma piora no quadro geral do paciente. decorrentes da própria doença.
Segundo Cotran, Kumar e Robbins [11], a imobilização, Neste caso os exercícios de flexão da coluna estão contra
o confinamento ao leito e a diminuição das atividades físicas indicados, pois ficou demonstrado que eles aumentam a
diminuem a ação “ordenhadora” da musculatura da parte incidência de fraturas vértebrais. As fraturas vertebrais
inferior da perna lentificando o retorno venoso predis- ocorrem durante o levantamento de cargas, sobretudo quando
pondo a formação de trombos. Em aproximadamente 50% o movimento consiste em flexão e rotação combinadas da
dos casos estes trombos são totalmente assintomáticos e coluna vertebral. Os exercícios para fortalecimento da
só serão reconhecidos ao embolizarem. Devido à incerteza musculatura abdominal precisam ser realizados de forma
do diagnóstico, é fundamental a obser vação do isométrica, com a coluna mantida reta e sem aumentar as
fisioterapeuta durante o atendimento quanto a alguns sinais forças de compressão sobre as vértebras [15].
como edemaciamento dos pés e tornozelos, úlceras A anemia hemolítica auto-imune do LES causa uma
varicosas, infecções secundárias e hipersensibilidade diminuição do número de hemácias circulantes que são
ao toque na região entre os músculos gastrocnêmios destruídas por anticorpos antieritrocitários [11]. No LES, a
(sinal de Homan) que podem ser indicativos de trombose anemia pode ter caráter crônico ou agudo que deve ser de
venosa profunda. conhecimento do fisioterapeuta antes de iniciar o programa
Considerando o alto risco de um paciente lúpico sofrer de terapia. Um paciente anêmico não possui o mesmo
uma embolização, o fisioterapeuta deve adotar uma atenção rendimento que outros pacientes e isso deve ser levado em
especial para técnicas como massoterapia, drenagem linfática consideração para melhor avaliação dos resultados. Sendo a
e os sinais que sugerem trombose devem ser minuciosamente anemia do LES hemolítica não se obtém resultados com a
avaliados diariamente, caso algum destes sinais esteja administração de ferro por meio da dieta.
presente, o tratamento deve ser interrompido imediatamente A trombocitompenia caracteriza-se principalmente por
e o paciente deve ser encaminhado ao reumatologista para sangramento, em geral partindo de pequenos vasos, as
uma avaliação mais específica. Skare [8] considera o uso de localizações mais comuns destas hemorragias são a pele e
anticoagulantes em casos de trombose de repetição para as mucosas dos tubos gastrintestinais e geniturinário, onde o
evitar casos de embolização durante as terapias. sangramento costuma se associar com o aparecimento de
O descontrole pressórico por tempo prolongado leva à pequenas petéquias. Quando a contagem do número de
hipertrofia miocárdica, sendo o principal fator desencadeante plaquetas é inferior a 20.000/mm³ podem ocorrer
de insuficiência cardíaca congestiva no LES [12]. sangramentos espontâneos. Em pacientes com plaquetometrias
No trabalho realizado por Marcelina, Sella, Nunes e Sato acentuadamente deprimidas corre-se o risco de sangramento
[12] a taquicardia, dor precordial, palpitações, dispnéia e intracraniano [11]. Durante o tratamento fisioterapêutico
febre no paciente com LES podem estar presentes como deve-se tomar extrema cautela com leves traumas e
sinais clínicos tanto da miocardite como da pericardite. Os exercícios de alto impacto para não ocorrerem hematose,
dados demonstrados por Júnior et al. [13] sugerem que sangramento intramuscular ou mesmo epistaxe como
pacientes nas fases inativas do LES apresentam variáveis conseqüência da trombocitopenia.
hemodinâmicas dentro dos limites da normalidade e podem
evoluir para estado hiperdinâmico sem causas evidentes Conclusão
devido à atividade da doença. A variação hemodinâmica pode
ser considerada mais um dos critérios de atividade do LES. O LES é uma doença altamente complexa com múltiplas
Portanto se torna de extrema importância, como já citado manifestações que variam de gravidade de acordo com o
em relação a complicações pulmonares, a verificação dos sistema comprometido. O prognóstico tem melhorado nos
sinais vitais do paciente, incluindo a tomada da pressão últimos 30 anos, pela identificação precoce da doença, a
arterial, no início e no final da terapia. Não se devem excluir terapêutica contra infecções e o tratamento antiinflamatório
patologias agudas de um paciente com LES, pelo simples e imunossupressor mais eficientes. Em virtude da redução
fato de ele ser um paciente ambulatorial e relativamente da mortalidade, aspectos como manifestações cardiovasculares,
apresentando a patologia estável. co-morbidades, complicações terapêuticas e qualidade de
Segundo Skare [8], em pacientes com episódios anteriores vida têm merecido especial atenção.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 147

Na abordagem fisioterapêutica de pacientes com LES, 4. David C, Lloyd J. Reumatologia para Fisioterapeutas. São Paulo:
diversas condições devem ser claramente elucidadas. Nós não Premier; 2001.
temos e nunca teremos pacientes absolutamente iguais, 5. Sakauchi M, Matsumura T, Yamaoka T, Koami T, Shibata M,
principalmente quando se tratarem de pacientes lúpicos. O Nakamura M, Watanabe R, Kaneko K, Kato S, Seguchi H.
conhecimento por parte do fisioterapeuta sobre a patologia Reduced muscle uptake of oxygen during exercise in
patients with systemic lupus erythematosus. J Rheumatol
deve se extremamente abrangente sendo necessária muita
1995;22(8):1483-7.
sensibilidade para perceber sinais sutis que podem vir a 6. Yoshinary NH, Bonfá ESDO. Reumatologia para o clínico.
significar um grande comprometimento se iniciando. Torna- São Paulo: Roca; 2000.
se primordial a conferência dos sinais vitais diariamente nos 7. Cossermelli W, Saldanha RV, Azul LG. Terapêutica Clínica.
pacientes, principalmente aqueles atendidos em serviços Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1979.
ambulatoriais onde muitas vezes a figura do médico não se 8. Skare TL. Reumatologia princípios e prática. Rio de Janeiro:
faz presente. Guanabara Koogan; 1999.
Portanto o fisioterapeuta necessita de bom senso para 9. Karamfilov T, Elsner P. Sports as a risk factor and therapeutic
adequar uma terapia com componentes exclusivos para seu principle in dermatology. Hautarzt 2002;53(2):98-103.
paciente associando sempre quais serão os efeitos benéficos 10. Liang in: David C, Lloyd J. Reumatologia para Fisioterapeutas.
e principalmente os efeitos prejudiciais ao paciente. Muitas São Paulo: Premier; 2001.
11. Cotran RS, Kumar V, Robbins SL. Robbins: Patología
vezes são enfatizados somente os acometimentos músculos
estrutural e funcional. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
esqueléticos, esquecendo que outros sistemas estão
Koogan; 1996.
comprometidos e que a terapia pode de forma indireta 12. Marcelina E, Sella C, Nunes SD, Sato EI. Manifestações
prejudicar o paciente. cardiovasculares no lúpus eritematoso sistêmico. Rev Bras
Reumatol 1999;39(3).
Referências 13. Junior AA, Sato EI et al. Alterações hemodinâmicas em
pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. Rev Bras Reumatol
1. Ward MM. Morbidade prematura por doenças cardiovascular 1996:36(1).
e cerebrovascular em mulheres com lúpus eritematoso 14. Araújo NC et al. Estudo da densidade óssea em pacientes
sistêmico. Arthritis Rheum 1999;42(2):338-46. com LES na pré-menopausa. Rev Bras Reumatol
2. Fernandes JMC, Nóbrega GMM, Braz AS et al. Elementos 1995;35(4):201-7.
básicos de diagnóstico do lúpus eritematoso sistêmico (LES). 15. Pickles B, Compton A, Cott C, Simpson J, Vandervoort
Temas de Reumatologia Clínica 2000;1(3). A. Fisioterapia na terceira idade. 2ª ed. São Paulo: Santos;
3. Moreira C, Carvalho MAP. Noções práticas de reumatologia. 2000. C

Minas Gerais: Health; 1998.

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148 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Estudo de caso

Tétano: Relação de dois casos internados


no Hospital Regional de Araranguá em
Santa Catarina e abordagem fisioterapêutica
Tetanus: Relationship between two cases hospitalised
at the Regional Hospital of Araranguá in Santa Catarina
and physical therapy approach

Alcioney Valeski, M.Sc.*, Bárbara Lucia Pinto Coelho**, Daniela Constâncio***

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Coordenador do Centro de Pesquisa e Equoterapia
Haras Araranguá, SC – CEPEHA, **Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense –
UNESC, ***Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

Resumo
Este artigo compara dois pacientes do sexo masculino, classificados com tétano
Palavras-chave: acidental grave entre os meses de julho de 2002 a julho de 2003, internados na Unidade
tétano, UTI, espasmos de Terapia Intensiva - UTI do Hospital Regional de Araranguá – HRA em Santa Catarina.
musculares. Os pacientes entraram em contato com o bacilo Clostridium tetani que é o causador do
tétano de forma acidental. Foram analisadas a evolução clínica dos pacientes e a influência
da intervenção da fisioterapia nos aspectos motores, demonstrando suas alterações,
complicações e limitações no atendimento.

Abstract
This article compares two male patients classified as having severe accidental tetanus,
Key-words : from July 2002 until July 2003, hospitalised at the ICU of the Regional Hospital of
tetanus, ICU, muscle spasms. Araranguá – HRA in Santa Catarina. The patients were in contact with the Clostridium
tetani bacillus, which causes accidental tetanus. The clinical evolution of the patients
and the influence of the physical therapy on the motor aspects were analysed, showing
the alterations, complications and limitations in the health care provided.

Recebido 16 de setembro de 2003; aceito 15 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Prof. Alcioney Valeski, Caixa Postal 331 88900-000 Araranguá SC, E-mail: cepeha@hotmail.com

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 149

Introdução As manifestações clínicas da doença: “A doença


caracteriza-se por contrações espásticas dos músculos
O tétano é causado pelo bacilo gram positivo formador esqueléticos. Também é conhecida como “trismo”, por causa
de esporos Clostridium tetani. Ele pode ser encontrado nos do envolvimento inicial dos músculos da mastigação” [2].
mais diversos ambientes, presente quase sempre no solo,
crescendo sob condições anaeróbicas. A patologia causada Fisiopatologia
por clostridium não é comum, mas tem importância
considerável, sendo quase sempre grave e algumas vezes A fisiopatologia é descrita da seguinte forma: “C. tetani
até fatal. não é um microorganismo invasor. A infecção permanece
O Bacilo Clostridium tetani libera duas exotoxinas: estritamente localizada na área do tecido desvitalizado
tetanolisina e tetanospasmina. A primeira não apresenta tanta (ferida, queimadura, lesão, coto umbilical, sutura cirúrgica)
importância na progressão da doença, já a tetanospasmina onde os esporos foram introduzidos. O volume de tecido
tem grande afinidade com quatro áreas do sistema nervoso infectado é pequeno, e a doença é quase totalmente uma
(placas motoras terminais, sistema nervoso simpático, centros toxemia. A germinação do esporo e o desenvolvimento de
medulares, células do corno anterior da medula). microorganismos na forma vegetativa que produzem toxina
O diagnóstico do tétano geralmente é clínico e define a são auxiliados primeiro pela presença de tecido necrótico,
patologia em poucas horas. Não existe diagnóstico segundo por sais de cálcio e por terceiro nas infecções
microbiológico e tão pouco sorológico, pois os organismos piogênicas associadas. Todos estes fatores contribuem para
raramente são isolados de um ferimento. Existem algumas estabelecer um baixo potencial de oxidação-redução. A toxina
classificações para enquadrar o paciente tetânico, tais como liberada pelas células vegetativas pode atingir o sistema
o tétano generalizado que é a forma mais comum, podendo nervoso central pelo transporte axônico retrógrado ou pela
a extensão do trauma ser grave ou até mesmo tão corrente sanguínea. No sistema nervoso central, a toxina fixa-
insignificante que o paciente já tenha esquecido. O período se rapidamente aos gangliosídios na medula espinhal e tronco
de incubação é de 4 a 14 dias dependendo da distância da cerebral e exerce as ações descritas anteriormente.” [3].
lesão até o sistema nervoso central, o trismo é a principal
queixa chegando a 75% dos casos. Patogenia

Histórico A patogenia do tétano é oriunda de duas exotoxinas


elaboradas pelo bacilo: a tetanolisina e a tetanospasmina. A
O tétano, doença do sistema nervoso, apresenta um primeira apesar de poder lesar os glóbulos brancos, sua
interessante quadro clínico, principalmente em casos não contribuição não é importante na doença. Já a segunda é
tratados que despertou a atenção dos médicos desde a uma neurotoxina e tem afinidade muito grande com quatro
Antiguidade como Hipócrates. Nicolaier introduziu o tétano locais específicos no sistema nervoso:
em animais com injeções de solo, onde eram encontrados os • as placas motoras terminais nos músculos esqueléticos;
microorganismos causais. Em 1899, Kitasato conseguiu isolar • o sistema nervoso simpático;
em cultura pura o clostrídio. Já em 1892, Nocard imunizou • os centros medulares; e,
cavalos com injeções de soro eqüino antitóxico. • as células do corno anterior da medula.
Sugeriu-se o uso de curare no tratamento do tétano em Esta toxina tem um efeito parecido com a da estricnina
1811, mas como para isso as doses para abolir os espasmos sobre as vias motoras. Os espasmos musculares e as
tetânicos graves produziam a paralisia dos músculos contrações que caracterizam esta doença provêm da inibição
respiratórios, seu uso teve que esperar 150 anos, até que a da liberação da acetilcolina que bloqueia a inibição normal
ventilação sob pressão positiva intermitente (VPPI) por meio central das células do corno anterior levando a uma resposta
de tubo endotraqueal com manguito fosse introduzida no motora exagerada a qualquer tipo de estímulo. Ela também
tratamento do tétano na Dinamarca em 1953. atua sobre os centros medulares, fazendo acontecer a asfixia
por depressão ou espasmo respiratório dos músculos da
Patologia respiração e levando a uma maneira comum de morte.
Salienta-se que a toxina uma vez combinada com as células
O Gram-bacilo Clostridium tetani é o causador do tétano, receptoras não pode mais ser neutralizada pela antitoxina [4].
doença infecciosa e não contagiosa. Ele pode ser encontrado
livre no meio ambiente, com poeira, areia, excrementos, Epidemiologia
objetos enferrujados e instrumentos cirúrgicos não
esterilizados entre outros. “Para que este bacilo penetre no O tétano, em países em desenvolvimento, com padrões
organismo é necessário que haja uma porta de entrada, seja de imunização e regras de higiene precários, constitui-se
ela um ferimento leve ou grave” [1]. um grande problema de saúde pública. O microorganismo

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é encontrado no solo e em fezes humanas e de animais, observados cuidadosamente, principalmente quanto ao


sendo o tétano comum nos climas quentes e áreas rurais desenvolvimento de complicações da doença.
altamente cultivadas. Como exemplo tem-se a prática, por Alguns cuidados com pacientes [8]: “Deve-se tomar
mães não imunizadas, de revestir o coto umbilical, após o cuidado na prevenção de úlceras de decúbito ou de
nascimento, com estrume animal ou ‘pó de poeira’ uma argila contraturas, mas várias tarefas rotineiras de enfermagem
seca local vendida para fins cosméticos. O C. tetani pode ser devem ser omitidas, porque elas podem precipitar espasmos
encontrado também em áreas urbanas, mas o índice de dolorosos e perigosos. Na fase inicial a nutrição não merece
contaminação não é elevado, em função do padrão de vida grande consideração, e o equilíbrio hidreletrolítico deve ser
e de higiene, que também se reflete na ausência do tétano mantido pela administração de soluções intravenosas
neonatal devido a boa higiene obstétrica. adequadas, acompanhadas de um gráfico cuidadoso de
Acontece um declínio da imunidade com o perdas e ganhos. Após a condição do paciente ter sido
envelhecimento. Nos Estados Unidos, são notificados 50 a estabilizada, e o perigo de aspiração minimizado, uma nutrição
70 casos anualmente, quase todos em indivíduos não- adequada deve ser programada, através de sonda nasogástrica.
imunizados ou inadequadamente imunizados. Uma revisão Um regime de hiperalimentação intravenosa pode ser usado
de 110 casos de tétano nos Estados Unidos, em 1989-1990, em pacientes com doença grave e demorada.” [7].
mostrou que 86 (78%) eram lesão aguda, 10 (9%) consistiam Algumas medidas gerais são determinadas no tratamento
em complicações de feridas crônicas e 5 (5%) de de pacientes com tétano, ressaltando também a tranqüilidade:
complicações pelo uso de injeção de drogas. Houve um caso “Os objetivos da terapia são eliminar a fonte da toxina,
de tétano neonatal e 10 (9%) não apresentaram porta de neutralizar a toxina não-ligada, prevenir os espasmos
entrada reconhecida. Quanto à idade dos pacientes, 58% musculares e proporcionar suporte – em especial respiratório
tinham mais de 60 anos e 6% menos de 20 anos. – até a recuperação. Os pacientes devem ser internados em
O alerta para o tétano em usuários de drogas injetáveis, uma unidade de tratamento intensivo tranqüila, onde se
que acontecem com mais freqüência, pois apresentam feridas possam manter observação e monitoração cardiopulmonar
limpas inadequadamente e baixos níveis de imunidade [5]. contínuas, mas seja possível minimizar a estimulação. A
proteção das vias respiratórias é vital. Os ferimentos devem
Diagnóstico e Quadro Clínico ser verificados, limpos com cuidado e bem debridados.” [7].

O diagnóstico do tétano, geralmente é clínico e define a Tratamentos medicamentosos


patologia em poucas horas. Não existe diagnóstico
microbiológico tampouco sorológico, pois os organismos Um dos tratamentos medicamentosos administrados em
raramente são isolados de um ferimento. Os casos clínicos pacientes são os antibióticos que não possuem efeito sobre
apresentam fortes espasmos musculares; trismo e riso a toxina tetânica, mas matam as formas vegetativas do
sardônico devido à contração rígida dos músculos da microorganismo e impedindo a sua multiplicação retiram as
mandíbula que impede a abertura da boca; reflexos condições favoráveis para o crescimento dos clostrídeos.
exagerados podem ocorrer. A rigidez do músculo das costas Devem ser continuados por um período suficiente para
produz um arqueamento para trás, o opistótono. assegurar que os esporos tetânicos não possam sobreviver,
o que significa um mínimo de cinco dias. Penicilina G deve
Fatores de risco ser usada parenteralmente em doses de 1 a 10 milhões de
unidades diárias, por 10 dias; tetraciclina, eritromicina e
Os fatores de riscos estão relacionados, principalmente cloranfenicol são substâncias alternativas para pacientes
com a faixa etária (idosos são mais propensos), com o estado alérgicos à penicilina.
físico do paciente e se for ou não usuário de drogas. A falta Antitoxina deve ser administrada para neutralizar a toxina
de imunização ou imunização incompleta também é um circulante e a toxina não-ligada no ferimento. A
fator de risco preocupante. No Brasil, o idoso constitui o imunoglobulina tetânica humana (TIG) é o preparado de
principal grupo de risco de adoecer e morrer da doença. A escolha e deve ser dada sem demora.
vacinação, higiene e tratamento adequado das feridas Para os espasmos musculares são utilizados agentes,
permitirão o controle da doença [6]. sozinhos ou combinados, que são dolorosos. O esquema
terapêutico ideal seria eliminar a atividade espasmódica sem
Cuidados específicos dos causar sedação excessiva nem hipoventilação. Usa-se em
pacientes com tétano ampla escala o diazepam, um benzodiazepínico e agonista
do GABA. A dose é titulada, podendo ser necessárias grandes
Os pacientes devem estar em lugar tranqüilo, reservado dosagens (250 mg/dia ou mais) [7].
e ser incomodado o mínimo possível. Devem se manter Embora os antibióticos freqüentemente sejam prescritos
internado em um serviço de terapia intensiva para serem para tratar a ferida infectada e para impedir a produção de

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toxina, não existem indicações de que eles influenciem b) imunização ativa com vacina, de preferência Td em
favoravelmente a doença. Quando se usar antibióticos, a pessoas de mais de 7 anos de idade.
penicilina G deve ser o medicamento de escolha porque é Para ferimentos limpos e pequenos não se recomenda a
altamente eficaz contra o bacilo tetânico, e seu espectro imunização passiva com TIG, mas ela deve ser fornecida a
limitado diminui a probabilidade de ocorrerem todos os demais ferimentos se a história de vacinação do
superinfecções [7]. paciente revelar imunização parcial ou desconhecida.
Quanto ao tétano neonatal, a melhor medida é a
Complicações vacinação materna mesmo durante a gravidez, além de
nascimentos em hospitais e treinamento de atendentes
Complicações contribuem de modo significativo para a obstétricos que não sejam profissionais da área médica.
morbidade e a mortalidade do tétano. Tratamento muito O C. tetani é encontrado em todos os lugares, e a única
vigoroso, a permanência prolongada no leito juntamente com esperança da prevenção do tétano repousa em grandes
a ação da toxina tetânica podem ser as mais freqüentes campanhas de imunização. Uma imunização ativa eficaz é
complicações. As complicações mais freqüentes são: “A possível e, se aplicada universalmente de acordo com as
insuficiência respiratória, tanto por laringospasmo como por
normas, o tétano poderia ser virtualmente eliminado. Até
espasmo dos músculos respiratórios, é uma ameaça
mesmo o tétano neonatorum podia ser prevenido, porque
constante. Além da hipóxia, a atelectasia é uma conseqüência
as crianças são protegidas pelos anticorpos que atravessam
comum da dificuldade respiratória. A dificuldade de
a barreira placentária [7].
deglutição leva à aspiração de secreções, que também pode
prevenção do tétano é responsabilidade de todos na
causar atelectasia e iniciar a infecção pulmonar.
tomada de decisões, nas políticas de saúde e na reversão
Ocasionalmente ocorre tromboflebite, mas uma trombose
deste quadro através de uma maior conscientização por parte
venosa branda é mais comum, e pode levar à embolização
pulmonar. As complicações cardiovasculares parecem ser dos que trabalham na Educação para a Saúde para a
devidas a uma hiperatividade, com batimentos cardíacos implementação das ações de incentivo à imunização do idoso
acima de 180 por minuto, vasoconstrição intensa e no que diz respeito ao tétano e a outras doenças
hipertensão. O edema pulmonar pode ocorrer tanto como imunopreveníveis. Além de um maior benefício para a
conseqüência da miocardite, como por excessiva reposição população prevenindo doenças, evitando sofrimentos, a
de líquidos. A pneumonia é uma complicação tardia comum imunização é uma forma de economia social, pois o custo
do tétano e é encontrada em 50% a 70% dos casos do tratamento de um paciente com tétano é suficiente para
autopsiados [7]. vacinar dez mil pessoas[1].

Prevenção Exames complementares

O Immunization Practices Advisory Committee recomenda Corrêa et al. [8] descrevem os exames complementares
que a imunização ativa de lactentes e crianças com DPT que consistem em:
(toxóides diftéricos e tetânicos e pertussis adsorvido) aos dois, a) hemograma: normal ou com leucocitose com desvio
quatro, seis e 15 meses, bem como aos quatro a seis anos de à esquerda secundária ao foco.
idade e o Td (toxóides tetânicos e diftéricos adsorvidos para b) aumento de CPK, hipercalemia, mioglobinúria por
uso em adultos) a cada 10 anos nas idades no meio de cada rabdomiólise.
década (15, 25, 35 anos, etc.). A prevenção deve acontecer c) Líquor normal.
de maneira que todo adulto parcialmente imunizado ou não d) aumento de catecolaminas na urina (ácido vanil
receba a vacina, assim como aqueles que estejam se mandélico).
recuperando do tétano [7].
A série primária para adultos consiste em 3 doses: a Materiais e Métodos
primeira e a segunda são dadas a um intervalo de 4 a 8
semanas, enquanto a terceira o é 6 a 12 meses após a O estudo foi realizado com dois pacientes do Hospital
segunda. É necessário um reforço a cada 10 anos, que pode Regional de Araranguá – HRA em Santa Catarina, ambos
ser dado no meio de cada década etária, ou seja, aos 35, 45 do sexo masculino com idades de 49 e 63 anos que
anos e assim por diante. A partir dos 7 anos de idade, é desenvolveram tétano acidental grave.
preferível o toxóide tetänico e diftérico combinado (Td) O levantamento de dados de cada paciente foi analisado
adsorvido (para uso em adultos), em vez do toxóide tetânico com a autorização dos mesmos ou responsáveis. A análise
de antígeno único. dos prontuários foi realizada através de pesquisa das
Para os ferimentos o tratamento adequado exige: evoluções clínicas apresentadas pelos pacientes, sendo
a) imunização passiva com TIG; analisado as alterações motoras.

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Descrição dos casos moer milho, amputando a falange dista do segundo metacarpo,
entrando em contato com o bacilo Clostridium tetani.
Caso 1 O período de incubação foi de 9 dias e a primeira
característica clínica apresentada foi o trismo, seguido por
Paciente do sexo masculino com idade de 49 anos, insuficiência respiratória, sendo internado na Unidade de
exercendo a profissão de agricultor. Entrou em contato com Terapia Intensiva do Hospital Regional de Araranguá – HRA
o bacilo Clostridium tetani ao cair de sua motocicleta e tendo em Santa Catarina.
parte de seu calcâneo sido arrancado. A princípio fez uso da ventilação mecânica assistida
O período de incubação foi de 8 dias, sendo trismo controlada permanecendo cinco dias, após passou para
a primeira característica clínica apresentada, seguida de ventilação mandatária intermitente sincronizada. Por
fraqueza muscular na região dos ombros. Foi internado na solicitação do médico intensivista da Unidade de Terapia
Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Regional de Intensiva o paciente foi transferido para a cidade vizinha
Araranguá – HRA em Santa Catarina, permanecendo neste que fica a 29 km de distância do HRA para realizar
setor aos cuidados de um clínico por trinta e cinco dias até tomografia computorizada de crânio. Durante a viagem na
receber alta. ambulância do HRA, os médicos foram dando suporte
Fez uso da ventilação mecânica assistida controlada por ventilatório através do ambu, sempre estimulando o paciente
vinte dias, sendo trocada a modalidade para ventilação para que respirasse ativamente. Feito o desmame do paciente
mandatório intermitente sincronizada e permanecendo nesta ao retornar após a tomografia não foi mais necessário suporte
por mais nove dias. Ao ser retirado da ventilação foi colocado ventilatório. Apenas foi colocado em Oxigenoterapia por
traqueostomia em Oxigenoterapia. solicitação do médico intensivista.
O paciente internou no dia 02/10/2002, permanecendo
por quatro dias com contraturas musculares intensas que Discussão
desapareceram ao quinto dia. Na seqüência dos dias
apareceram novas contraturas musculares ao movimento, Pelo acompanhamento destes dois casos, demonstra-se
mas que desapareciam com sedativo. No oitavo dia as a grande importância da fisioterapia para o paciente tetânico,
contraturas foram mais freqüentes e permaneceram por já que atua na função respiratória e motora, enfoque deste
dois dias. trabalho é a motora.
Entre o décimo e o décimo primeiro dia, ainda em A evolução clínica dos pacientes difere no período em
sedação, apareceram novamente algumas contraturas. Com que estiveram internados na Unidade de Terapia Intensiva,
o passar dos dias foram diminuindo as reações com estímulos devido ao tempo de permanência no setor e à evolução das
externos, que desencadeavam contrações tetânicas. A contraturas musculares.
fisioterapia, desta maneira, só pode ser realizada no décimo No caso 1, o paciente ficou internado 35 dias e a
sétimo dia. Até então se conseguiu fazer apenas a fisioterapia fisioterapia motora só foi possível ser realizada em 17 dias
respiratória, mas com reação de dor constatada pela de internação em função da diminuição das contraturas
expressão facial do paciente. No décimo nono dia o paciente musculares. No caso 2, o paciente permaneceu 48 dias na
movimenta a cabeça e os membros superiores com Unidade de Terapia Intensiva e não foi constante o
dificuldade, apresentando períodos de contraturas quando aparecimento de contraturas musculares, podendo a
estimulados. fisioterapia motora ser realizada nos primeiros dias de
No vigésimo segundo dia é trocada a ventilação mecânica internação.
assistida controlada por ventilação mandatória intermitente Nos dois casos foi realizada fisioterapia de forma passiva
sincronizada continuando episódios de tetania. No vigésimo lenta e global, prevenindo e mantendo o movimento articular
terceiro dia o paciente obedece aos comandos verbais e em normal.
dois dias depois voltam as contrações musculares freqüentes. Outro enfoque foi dado às mudanças de decúbito para
Permanecem os períodos de contratura muscular pelo diminuição das pressões ao corpo devido ao tempo em que
vigésimo sétimo dia e no trigésimo dia o paciente é retirado ficaram acamados, prevenindo as úlceras de pressão.
da ventilação mecânica e recolocado em Oxigenoterapia, Também foi enfocado o correto posicionamento dos
permanecendo por volta de dois dias e recebendo alta para pacientes no leito, pelo tempo prolongado em que nele
a clínica médica no trigésimo quinto dia. ficaram podendo acarretar posições viciosas.
Ao iniciarem-se os edemas em membros superiores e
Caso 2 inferiores, posicionavam-se os membros em posição de
drenagem utilizando a degravitação associado a movimentos
O paciente do caso 2 é do sexo masculino com idade de passivos articulares, ajudando na drenagem do edema.
63 anos, exercendo a profissão de agricultor. Em suas No caso 1, a dificuldade encontrada foi na ausculta
atividades de vida diária trancou o dedo em uma máquina de pulmonar, já que o estetoscópio estava gelado ao toque e

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 153

mesmo sendo friccionado o diafragma por ser de material atendimento e de que melhor formar utilizar as técnicas e
metálico na tentativa de aquecê-lo, desencadeava estímulos procedimentos fisioterapêuticos. No primeiro momento, a
ao toque no paciente. Este procedimento básico e inicial de preocupação era atender de forma eficaz trazendo resultados
atendimento promovia contraturas musculares. No decorrer satisfatórios e que não causassem contrações tetânicas no
dos dias com a diminuição das contraturas pode-se realizar paciente, evitando estímulos sonoros, sensitivos ou luminosos.
a ausculta com mais facilidade. Um procedimento básico e inicial que é ausculta tornava-se
No caso 2, após várias sessões realizadas o paciente não um cuidado essencial e vital para estes pacientes, aquecer o
conseguia realizar movimentação ativo assistido, diafragma e a intensidade e pressão exercida ao colocá-lo
per manecendo por muito tempo de for ma passiva, no tórax ao realizar a ausculta pulmonar, prioriza o sucesso
dificultando a diversidade do tratamento. do desenvolvimento inicial dos atendimentos, não
desencadeando contraturas musculares.
Conclusões A cinesioterapia deve ser realizada com movimentos de
forma lenta, passiva e global, atingindo todas as articulações
Pouco se tem escrito sobre a atuação do profissional e amplitudes. O progresso do trabalho fisioterapêutico
fisioterapeuta em pacientes tetânicos, dificultando um pouco dependerá das respostas, nível de contaminação e do grau
no embasamento de informações de atendimento e de acometimento do organismo do paciente.
procedimentos no processo de reabilitação destes casos. A
primeira etapa, deixa a evidência da extrema importância Referências
da atuação do fisioterapeuta na Saúde Pública, realizando a
1. Pagliuca LMF et al. Tétano na população geriátrica:
prevenção primária com orientações e palestras em escolas
problemática da saúde coletiva? Rev Latinoam Enfermagem
e na comunidade de sua região. Segundo é a etapa curativa, 2001;9(6).
na execução do tratamento clínico e fisioterapêutico. Na 2. Rubin E, Farber JL. Patologia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
literatura foi encontrado que o paciente com tétano Koogan; 2002.
apresentaria um tônus hipertônico, mas na Unidade de 3. Brooks GF et al. Microbiológia médica. 21ª ed. Rio de Janeiro:
Terapia Intensiva o paciente fica em coma induzido através Guanabara Koogan; 2000.
da sedação, levando à alteração do tônus muscular, ficando 4. Robbins SL. Patologia estrutural e funcional. 2ª ed. Rio de
hipotônico, apresentando conseqüentemente arreflexia. A Janeiro: Guanabara Koogan; 1983.
vantagem de se ter um tônus muscular diminuído é que se 5. Mayers AR. National medical series para estudo independente.
Medicina. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.
consegue realizar os movimentos passivos globais sem que
6. Moraes EM, Pedroso ÊRP. Tétano no Brasil: doença do idoso?
o paciente apresentar contrações tetânicas. Demonstrando Rev Soc Bras Med Trop 2000;33(3).
a relevante interatividade interdisciplinar com os médicos 7. Harrison TR. Medicina interna. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
intensivistas na troca de informações clínicas e Koogan; 1997.
medicamentosas. A rotina numa Unidade de Terapia 8. Corrêa Y et al. Manual de terapêutica (Associação Catarinense
Intensiva, neste caso, nos faz refletir no planejamento de de Medicina). Florianópolis: ACM; 1999. p. 426-30. C

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154 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Estudo de caso

Tratamento fisioterapêutico precoce em recém-nascido


com luxação congênita de quadril
Precoce physical therapy treatment in new-born
with hip congenital luxation
André Gustavo Moura Guimarães*, Ivete Furtado Ribeiro**, Luiz Fábio Magno Falcão**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta da Unidade Neonatal da FSCMPa, Professor da Universidade do Estado do Pará (UEPA),


**Acadêmico de Fisioterapia da UEPA, Estudo realizado na Unidade Neonatal Dra. Amélia Ribeiro da FSCMPa
e no Ambulatório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS IV) da UEPA

Resumo
A Luxação Congênita de Quadril (LCQ) é caracterizada pela perda do contato
Palavras-chave: espontâneo que ocorre tanto antes, como pouco depois ao nascimento, tendo maior
Luxação congênita de incidência no sexo feminino (8:1), sendo a forma unilateral mais comum. Sua etiologia é
quadril, cinesioterapia, desconhecida. Se não tratada precocemente, graves complicações osteomioarticulares
estimulação sensório-motora.
podem comprometer o prognóstico. O tratamento visa combater contraturas dos tecidos
moles e incapacidade funcional em decorrência da falta de uso. O estudo de caso foi
baseado no acompanhamento do recém-nascido (RN) de M.C.P.S., a termo, 1º gemelar,
presença de um 2º natimorto, má posicionamento intra-uterino de membros inferiores
(MMII) e Impressão Diagnóstica de Malformações Congênitas Múltiplas, dentre elas a
LCQ. Sendo utilizado como conduta fisioterapêutica a Cinesioterapia Motora Passiva,
Estimulação Sensório-motora e Posicionamento adequado no leito. Devido ao
acompanhamento precoce que o RN fora submetido, pode-se constatar maior controle
na articulação do quadril, diminuição significativa do genum recurvatum bilateralmente
e melhora na movimentação espontânea. Além de responder melhor aos estímulos
proprioceptivos. Com vista no prognóstico funcional, percebeu-se que a conduta utilizada
indica uma favorável evolução motora. Enfatizando, portanto, que o acompanhamento
fisioterapêutico precoce caracteriza-se como um tratamento viável para os RN’s
comprometidos pela LCQ.

Artigo recebido 23 de outubro de 2003; aceito 15 de dezembro de 2003.


Endereço para correspondência: Ivete Furtado Ribeiro, Tv. Dom Romualdo de Seixas, 799 Umarizal 66050-110 Belém PA, Tel: (21) 224-8897 /
241-8274 / 9149-2735, E-mail: ivbeiro@yahoo.com.br

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Abstract
The hip dysplasia (congenital hip luxation) is characterized by spontaneous contact
Key-words: lose which happens before or after the birth, with more incidence in feminine sex (8:1),
hip dysplasia, cinesiotherapy, being more common the unilateral mold. Its etiology is unknown. When it is not treated
sensori-motor stimulation. precociously, severe bone, muscles and articulation complications could compromise
the prognostic. The aim of the treatment is to reduce the contracture of the soft
tissues and functional incapacity in consequence of the disuse. This study case was
based in follow-up of a new-born, first twin, with intra-uterine malposition of lower
limbs and diagnostic impression of multiple congenital malformation, including hip
dysplasia. The physical therapy used was the passive moving cinesiotherapy, the global
proprioceptive stimulation and adequate position in bed. In order to the precoce follow-
up the new-born was submited, a better control of the hip was constated, a significant
diminution of hyperextension of the knees and improvement of spontaneous moving.
Besides better answer to proprioceptive stimulus. Looking at the functional prognostic,
this treatment showed a favorable evolution of movement. It is emphatized that precoce
physical therapeutic follow-up is a viable treatment for new-born with hip dysplasia.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução quando a luxação ocorre ainda dentro do útero e tem


associação com outras alterações caracterizando-se como
A Luxação (ou displasia) Congênita de Quadril (LCQ) é uma síndrome [4].
consecutiva ao desenvolvimento anormal de um ou mais As extremidades estão suscetíveis às principais
elementos que formam a articulação do quadril: cabeça do anormalidades morfológicas durante o período embrionário,
fêmur, acetábulo ou tecidos moles, com inclusão da cápsula, quando os brotos dos membros estão desenvolvendo-se.
que cercam a articulação [1]. Com o crescimento e o desenvolvimento fetal, o acetábulo
A etiologia da malformação muito provavelmente inclui aumenta o seu diâmetro e torna-se mais raso, dando menor
fatores múltiplos, como o mau posicionamento e fatores cobertura para a cabeça femural, resultando em um quadril
mecânicos no útero, frouxidão ligamentar induzida por muito instável [2].
hormônios, fatores genéticos e culturais ou ambientais [2]. A O diagnóstico depende da idade com que é realizado,
LCQ também é encontrada em combinação com outras parecendo mais fácil à medida que a criança vai crescendo.
malformações congênitas, tais como Artrogripose Múltipla e Contudo, o tratamento tem melhores resultados e é menos
Pé Eqüino-Varo [1]. Agentes mecânicos podem ser agressivo quando iniciado ainda no RN.
consideradas as bridas âmnicas, pois causam lesões destrutivas Mesmo nas melhores condições, apenas metade ou 2/
em qualquer segmento corporal. O torcicolo, o pé torto e as 3 dos pacientes tratados após o 1º ano de vida podem
deformidades crânio-faciais relacionam-se com a posição fetal esperar uma recuperação total e livre de complicações, como
e a presença de compressões extrínsecas ao feto [3]. marcha retardada, bacia alargada, encurtamento do membro
A LCQ é uma das mais comuns em raças ocidentais, sendo afetado, etc. A luxação gradual é muito freqüente e a dor
que as mulheres apresentam uma incidência maior que os devido às alterações degenerativas normalmente surge na
homens numa proporção de 8:1, e isto embora não meia-idade [5].
comprovado, pode estar associado a fatores hormonais que A seleção de RN’s para uma LCQ inclui a Manobra de
induziriam a uma frouxidão. Além do que, em 1/3 dos casos Ortolani e de Barlow, sendo mais confiáveis quando realizadas
o acometimento é bilateral [4]. antes do 2 meses de idade; haja vista que à medida que o
A LCQ pode ser classificada em típica quando a luxação bebê cresce, o quadril instável permanece no acetábulo
ocorre ao nascer devido à frouxidão existente e teratológica durante o crescimento normal, ou fica fora do acetábulo e

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156 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

não pode ser recolocado O exame radiológico não é o melhor Considerações éticas
para se diagnosticar a afecção, uma vez que o esqueleto da
criança nesta fase é predominantemente cartilaginoso. O ultra- A mãe do RN concordou em participar da pesquisa e
som seria uma boa indicação [6,4]. assinou um consentimento informando sobre a publicação
A partir dos dois meses, o encurtamento muscular e do presente trabalho.
estiramento capsular estão presentes, não sendo mais possível
uma redução passiva. Nesta fase pode-se observar o Sinal de Relato de caso
Peter-Bade (assimetria das pregas cutâneas) e o de Hart
(limitação da abdução) [4]. RN de M.C.P.S., sexo masculino, a termo, 1º gemelar,
Em crianças mais velhas que já estão andando, a LCQ é presença de uma 2º natimorto, nascido no dia 19 de agosto
normalmente diagnosticada pelo padrão de marcha anormal. de 2002 de parto Cesário com apresentação cefálica, má
Crianças com LCQ unilateral exigem o Sinal de posicionamento intra-uterino de MMII, na Maternidade da
Trendelenburg positivo, e crianças com LCQ bilateral Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPa).
apresentam um andar gingado [2]. Com o encaminhamento do RN ao Serviço de Fisioterapia
Relacionado ao tratamento, crianças com até 2 meses da FSCMPa na Unidade Neonatal Dra. Amélia Ribeiro,
de idade terão as articulações coxo-femurais mantidas em realizou-se a Avaliação no dia 21 de agosto de 2002, na qual
abdução e flexão com talas (órtese de contenção), com o observou-se limitação funcional da articulação coxofemoral
intuito de aumentar a tensão da cápsula articular[1]. bilateralmente, principalmente para a abdução, verificada com
Entretanto, algumas complicações podem desenvolver-se as Manobras de Ortolani e Barlow, presença de Genum
com o uso desses equipamentos como necrose avascular Recurvatum bilateral, Amplitude de Movimentos (ADM’s)
da cabeça umeral e deslocamento inferior. Essas limitadas para flexão de joelho e flexão plantar de tornozelo,
complicações podem ser evitadas mediante monitorização este com hiperdorsiflexão bilateralmente e Pé Torto
regular, com a orientação doa pais sobre o ajuste adequado Congênito (PTC) de aspecto posicional em Membro Inferior
[2]. Já em lactentes entre 2 e 12 meses a redução é feita sob Esquerdo (MIE). Além disso, verificou-se hipotonia e
anestesia geral e sempre precedida de tração cutânea para hipotrofismo de MMII, sendo que através da cinesioterapia
alongar a musculatura acometida [4]. E depois dos 12 meses motora passiva notou-se bloqueio biarticular de joelho, que
raramente o quadril da criança poderá ser reposicionado pode ser vencido com a manipulação. Apresentava também,
sem intervenção cirúrgica. anestesia de MMII e arreflexia de Aquileu e Patelar. Além
Deste modo, deve ser realizado um exame sistemático e disso, constatou-se a presença de desconforto respiratório
rigoroso dos quadris do RN, pois se até o 2º mês de vida as com evolução importante, haja vista que o RN apresentava
condições de tratamento são favoráveis, o mesmo não ocorre anóxia moderada, estando sob Oxi-hood e com presença de
após um ano, tornando-se praticamente impossível conseguir retração esternal significativa e de crepitações bilaterais ao
quadris normais com métodos puramente conservadores. exame da ausculta pulmonar; sendo então, submetido à
fisioterapia respiratória.
Materiais e métodos Ainda assim, o neonato foi submetido a exames
complementares como: Raio-X, Ultra-sonografia (US)
Graves distúrbios motores interferem na capacidade craniano transfontanelar, e ao final constatou-se Impressão
funcional dos portadores de Luxação Congênita de Quadril Diagnóstica de Malformações Congênitas Múltiplas; sendo
(LCQ), podendo trazer seqüelas irreversíveis, quando não elas: Luxação Congênita de Quadril, provável Agenesia de
tratada precoce e adequadamente. Deste modo, tal temática Patela, Microcefalia, Hidrocefalia, Micrognatia, Criptorquidia.
foi escolhida para estudo de caso, sendo que os dados contidos Entretanto cabe ressaltar, que não fora solicitado US das
na pesquisa foram obtidos através do registro fotográfico, articulações coxofemorais pelo pediatra.
entrevistas com a mãe do recém-nascido (RN), Depois de diagnosticada diminuição da capacidade
acompanhamento hospitalar (três atendimentos por dia, sendo funcional motora de MMII, optou-se por reavaliá-lo de duas
20 a 30 minutos cada) e ambulatorial após alta hospitalar. em duas semanas. Deste modo, a fisioterapia interveio
O programa de tratamento adotado foi baseado nas inicialmente com Cinesioterapia Motora Passiva das
recentes abordagens relacionadas à reabilitação de pacientes articulações do joelho e tornozelo e Posicionamento
com LCQ; haja vista que o objetivo do tratamento consiste adequado no leito em decorrência a LCQ. Então, o RN foi
em aumentar a Capacidade Funcional Motora e Sensitiva de mantido em “posição de r㔠(quadril em flexão e abdução),
Membros Inferiores (MMII). Sendo que quanto mais precoce através de fraldas no 1º mês e a partir do 2º, talas de
for o tratamento, menores serão as mudanças anormais nas contenção [1]. E paralelo a isto, realizou-se mobilização do
estruturas da articulação do quadril e mais curto será o tempo tronco e cabeça levemente, correção e adaptação postural
necessário para que as estruturas retornem à sua relação prevenindo e evitando encurtamento dos adutores e
normal [2]. iliopsoas [4].

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 157

Fig. 1 - Avaliação do RN. Belém /PA – 2002 Fig. 4 - Posicionamento no leito pós-atendimento. Belém /PA - 2002

Fonte: Pesquisa dos autores

Esta conduta foi mantida até à 1ª reavaliação, quando se


acrescentou a Estimulação Sensório-motora visando
melhorar o desenvolvimento Neuropsicomotor do RN, sendo
Fonte: Pesquisa dos autores que para tal foram utilizados estímulos táteis, auditivos, visuais,
proprioceptivos e motores [7]. Com o objetivo de alcançar o
Fig. 2 - Avaliação do RN. Belém /PA - 2002 aumento do tônus muscular, utilizou-se o placcing e o tapping,
os quais produzem estímulos destinados a influenciar o tônus
muscular dos segmentos com deformidades. E em virtude a
anestesia de MMII presente utilizou-se texturas diferentes
(bolinha para propriocepção, escova com cerdas macias,
pincel e esponja dupla-face) objetivando reverter o quadro.

Fig. 5 - Estimulação sensorial. Belém /PA - 2002

Fonte: Pesquisa dos autores

Fig. 3 - Cinesioterapia Motora Passiva de Joelho. Belém /PA - 2002

Após 01 mês de inter venção fisioterapêutica foi


adicionado à conduta, Cinesioterapia Motora Passiva e
Estimulação tátil e proprioceptiva para articulação do quadril
bilateralmente, com o intuito de recuperar a capacidade
funcional e evitar possível intervenção cirúrgica.
Após alta-hospitalar (24/10/02) o lactente recebeu
acompanhamento ambulatorial, no qual a conduta foi
mantida. E somado a esta, elaborou-se um programa
terapêutico domiciliar a ser aplicado pelos pais, intercalado,
Fonte: Pesquisa dos autores
necessariamente, ao acompanhamento ambulatorial.

E ao final de cada acompanhamento o RN era Resultados


posicionado em decúbito dorsal para se evitar complicações
posturais da coluna vertebral e pelve, sendo tal Depois de 01(um) mês de tratamento, pode-se verificar
posicionamento mantido com o uso de “ninhos”, “rolinhos” melhora progressiva, haja vista que se observou aumento do
e “contenções”. tônus muscular, em especial nos MMII, permitindo com isso,

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158 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Fig. 6 - Maior estabilização de coxofemural. maior estabilização Fig. 7 - Diminuição do Genum Recurvatum. Belém /PA -2002
Belém /PA - 2002 de quadril e joelho
em flexão após
manipulação,
contribuindo, assim,
para a diminuição do
genum recurvatum
bilateralmente. Além
disso, observaram-se
reações pouco ex-
pressivas a alguns
estímulos proprio-
ceptivos, como: do-
lorosos e tátil gros- Fonte: Pesquisa dos autores
seiro somente na
face plantar.
Ao final de 02 Fig. 8 - Última reavaliação. Belém /PA - Relacionado a
(dois) meses de 2002 sensibilidades, agora o
acompanhamento lactente em alguns
Fonte: Pesquisa dos autores fisioterapêutico, o acompanhamentos
lactente foi subme- reagia a determinados
tido à última reavaliação, na qual encontrava-se gemente e estímulos que em
mais ativo apresentando movimentação espontânea, maior sessões anteriores não
controle na articulação do quadril bilateralmente estava, haviam desencadeado
verificando também aumento da abdução e extensão do respostas, ou então, a
quadril, com melhora significativa do tônus muscular. Ainda situação se apresen-
assim, observou-se, na articulação do joelho diminuição tava de ordem inversa,
significativa do genum recurvatum bilateralmente e aumento refletindo, com isso, a
da ADM para flexão; enquanto que na articulação do adaptação sensitiva
tornozelo verificou-se aumento de flexão plantar que estava sofrendo. E
principalmente em MIE. Outro ponto observado refere-se à tal adaptação consistiu
sensibilidade, uma vez que o lactente já respondia a um maior em pontos positivos,
número de estímulos proprioceptivos e com maior uma vez que no
intensidade, principalmente nas extremidades. Além da decorrer do tratamen-
presença de Reflexo Patelar em Membro Inferior Esquerdo. to houve um aumento
satisfatório na intensi-
Discussão Fonte: Pesquisa dos autores dade das respostas
aos estímulos.
A intervenção precoce e um acompanhamento No estudo desenvolvido houve boa aceitação das
fisioterapêutico continuado o qual foi submetido o recém- condutas fisioterapêuticas utilizadas, haja vista que o RN
nascido (RN), desde a fase hospitalar até a ambulatorial, reagiu de forma satisfatória com evolução clínica positiva e
consistiu numa grande contribuição no desencadeamento da progressiva, permitindo a concretização de um bom
reabilitação, pois o objetivo do tratamento concentra-se, prognóstico, o que contribuiu para dar continuidade ao
principalmente, em aumentar a capacidade funcional motora acompanhamento ambulatorial e domiciliar através de um
de MMII, minimizando o aparecimento de possíveis seqüelas programa terapêutico aplicado pelos pais, o que permite uma
que se não tratadas precoce e adequadamente, poderão impor nova pesquisa baseada no tratamento tardio.
ao paciente o ônus de um defeito físico para o resto da vida.
Em decorrência a falta de uso dos segmentos acometidos, Conclusão
os problemas encontrados em relação à motricidade referem-
se geralmente à diminuição da ADM articulares nos MMII, a O acompanhamento fisioterapêutico baseado na conduta
qual é devida à contratura dos tecidos moles, assim como à empregada consiste de grande importância e valia na
diminuição da força muscular; além do que, pode desencadear prevenção e/ou minimização de possíveis alterações
alterações de estruturas que poderão sofrer interferências morfofuncionais dos MMII, em decorrência aos processos
indiretas da deformidade [1]. patológicos da LCQ.

artigo 11 - Ivete.pmd 158 05/04/04, 18:35


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 159

Portanto, acredita-se na contribuição que o presente 3. Biologia On line. Aberrações. [citado 2003]. Disponível em
estudo de caso venha oferecer à comunidade acadêmica URL: http// www.infonet.com.br/biologia/aberracoes.htm.
científica; além do que, se espera que novos estudos nesta 4. Fernandes PV. Luxação Congênita do Quadril. [citado 2003].
Disponível em URL: http//www.geocities.com/
área possam ser desenvolvidos, podendo melhorar ainda doug_unesp/congênita.htm.
mais o tratamento fisioterapêutico em RN’s 5. Adams JC. Desarranjos articulares do quadril. In: Manual de
comprometidos pela LCQ. ortopedia. 8ª ed. São Paulo: Artes médicas; 1978. p.327-35.
6. Murahovschi J. Principais problemas dos membros inferiores.
Pediatria: Diagnóstico + tratamento. 5ª ed. São Paulo: Sarvier;
Referências 1994. p.664-6.
7. Flehmig I. As relações entre forma e a função da articulação do
1. Shepherd RB. Luxação congênita do quadril. Fisioterapia quadril e a sua importância na evolução estatomotora. In:
em pediatria. 3ª ed. Santos; 1996. p.228-33. Texto e Atlas do desenvolvimento Normal e seus desvios no
2. Tecklin JS. Tratamento ortopédico. Fisioterapia pediátrica. lactente: Diagnóstico e tratamento precoce do nascimento até
3ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2002. p.311-4/326-9. o 18º mês. São Paulo: Atheneu; 2000. p.57-59. C

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160 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Estudo de caso

Tratamento fisioterápico em um cão portador de


displasia coxo femoral utilizando piscina terapêutica
Physical therapy in dog with hip dysplasia using swimming pool
Gabriela Correia de Almeida e Silva
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Acadêmica de fisioterapia da Faculdade Ítalo Brasileira

Resumo
Objetivo: Avaliar a importância da fisioterapia na reabilitação de cães displásicos,
Palavras-chave: utilizando como recurso principal a piscina terapêutica. Métodos: Foram realizadas dez
displasia coxofemoral canina, sessões de fisioterapia. Três sessões realizadas em solo, utilizando eletroterapia e
fisioterapia veterinária, cinesioterapia para o tratamento da doença secundária, e sete sessões com piscina
hidroterapia em cães.
terapêutica para tratamento da doença de base, a displasia coxo femoral. Resultados:
Após as dez sessões indicadas, constatou-se melhora significativa da claudicação e apoio
simétrico dos membros pélvicos, melhora na distribuição de peso, resultando na melhora
da marcha. Conclusões: Os efeitos do tratamento fisioterapêutico na displasia coxo-femoral
foram satisfatórios, tendo em vista a melhora da sintomatologia, o retardo da evolução
da doença, pois o exercício aquático fortalece a musculatura do quadril, diminuindo a
instabilidade articular, além de proporcionar o ganho de condicionamento cardiovascular
e ser uma atividade prazerosa para o animal.

Abstract
Objective: To assess the importance of physical therapy in canine hip dysplasia
Key-words: rehabilitation using the swimming pool therapy as principal resource. Method: Ten physical
veterinary physical therapy, therapy sessions were realized. Three sessions were realized on ground, using
canine hip dysplasia, veterinary electrotherapy and kinesitherapy for the secondary disease treatment and seven sessions
hydrotherapy.
in swimming pool for treatment of the fundamental disease. Results: A significant
improvement and support of superior limbs were noticed after ten sessions. Conclusions:
The physical therapy effects in the canine hip dysplasia were satisfactory getting symptoms
improvement, delaying the disease development. The water exercise strengthens the
hip muscles, reduces the articular instability besides improving cardiovascular parameters,
and is pleasure activity for the animal.

Recebido 24 de novembro de 2003; corrigido 3 de fevereiro de 2004; aceito 15 de março de 2004.


Endereço para correspondência: Av. Ministro Álvaro de Souza Lima, 253 Bl.14 apt.403 Jd Marajoara 04664-020 São Paulo SP,
Tel: (11)5522 2339/8148 4132, E-mail: cravoicanela@ig.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 161

Introdução Figura I - Aplicação do ultra-som, 7 minutos cada membro posterior,


bilateral.(parâmetros fundamentados na prática clínica do fisioterapeuta
O objetivo da aplicação de técnicas de fisioterapia em veterinário, pois não existem relatos na literatura sobre a dosagem adequada
animais, assim como na medicina humana, é o regresso à na utilização do ultrasom em cães displásicos.)
função normal, à reabilitação de capacidades e perfor-
mances atléticas.
Apesar dos animais diferirem em tamanho, forma e
características do ser humanos, os seus ossos, músculos,
nervos e vasos não diferem em natureza ou função do
homem. Muitas funções fisiológicas são semelhantes. Uma
vantagem dos animais é que o tempo de resposta ao
tratamento é muito mais rápido, provavelmente devido a
um metabolismo mais acelerado que o do homem.
A displasia coxofemoral (DCF) é uma doença articular
freqüente em cães, principalmente em raças de médio e
grande porte. Caracteriza-se por ser de natureza poligênica,
quantitativa e multifatorial. Os sinais clínicos variam
amplamente, desde claudicação a dor aguda. O diagnóstico
definitivo é feito somente através do exame radiográfico
obedecendo a padrões de execução e interpretação. Figura II - Alongamento de quadríceps, deve ser feito bilateralmente.
Nos últimos anos, a DCF vem despertando a
preocupação crescente dos clínicos e das associações de
criadores diante dos prejuízos que ela acarreta. O
conhecimento da etiologia da displasia, que não se restringe
somente às questões genéticas, mas também compreende
múltiplos fatores e as complexas interações entre eles,
constitui o principal passo para seu controle.
Essa afecção é definida como um desenvolvimento falho
na articulação coxofemoral que se caracteriza por variados
graus de frouxidão ligamentar permitindo uma subluxação
ou luxação em idade precoce. À medida que a afecção
progride, a deformação do acetábulo e cabeça femoral é
acompanhada pelo desenvolvimento de artropatia
degenerativa. A instabilidade articular, presente na displasia, Figura III - Exercício aeróbio, utilizando a escada. Após a aplicação do
ocorre à medida que há um atraso na maturação muscular ultra-som, o animal não claudica e utiliza o membro mais acometido
em relação ao crescimento esquelético. (esquerdo) como apoio.
A DCF pode ser classificada em leve, moderada ou
severa, e a fisioterapia pode auxiliar no tratamento em
qualquer uma dessas classificações.
Será apresentado neste trabalho um tratamento
fisioterápico, utilizando como recurso principal a hidroterapia
que com suas propriedades e técnicas é capaz de
proporcionar alívio da dor, fortalecimento muscular entre
outros efeitos terapêuticos.

Material e Método

Foi estudado um cão da raça Boxer, macho, com idade


de 1 ano e 3 meses com peso de 29 kg.
Com aproximadamente 3 meses o cão começou a
apresentar deformidades nos membros pélvicos. Com cinco Coxofemoral severa. Passados alguns meses com tratamento
meses apresentou claudicação. Após consulta veterinária medicamentoso sem sucesso, o cão foi indicado à fisioterapia
iniciou tratamento medicamentoso com antiinflamatório e submetido ao medicamento Artroglican, por apresentar
Maxican. As radiografias apresentaram Displasia doença secundária (artrose).

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162 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Recursos Figura IV - Adaptação ao meio aquático, o cão ainda não nada de forma
satisfatória, alguns animais tem medo ou receio de água, é necessário um
Foram utilizados no tratamento estudado a cinesioterapia período maior para adaptação.
e o ultra-som terapêutico como recursos auxiliares e a
hidroterapia em piscina terapêutica como recurso principal.
A avaliação foi baseada na anamnese, inspeção e palpação,
verificados nas duas primeiras sessões.

Procedimentos

Piscina terapêutica: A piscina utilizada para o tratamento


estava aquecida a aproximadamente 30ºC. Tem
Figura V - O animal começa a se adaptar e utilizar os membros posteriores
profundidade de 60 cm, comprimento de 11 metros e
durante o nado.
largura aproximada de 1 metro. Está localizada no Hotel
Pet Shop Cãotry Club SP.
Cinesioterapia: A intensidade e duração do alongamento
dependem da tolerância do paciente e da força e resistência
física do terapeuta. Um alongamento manual de baixa
intensidade aplicado por mais tempo possível será mais
confortável e mais tolerado pelo paciente, o que resultará
em maior ocorrência de melhora sem expor o tecido
enfraquecido a forças excessivas que podem ameaçar a
estrutura. O músculo pectíneo é um dos principais a ser
alongado, pois é o responsável pela adução do membro,
podendo inclusive ser responsável pela luxação, quando
encurta, no presente estudo, o paciente não tolerou
este alongamento.
Foi observado compensações e utilizou-se os pontos chaves.
Exercícios aeróbicos, para ganho de força e exercícios Figura VI - Exercícios na água, o animal utiliza apoio bilateral.
proprioceptivos também fizeram parte do tratamento.

Tratamento realizado

O tratamento realizado teve como objetivo principal


proporcionar uma melhor qualidade de vida para o animal.
A diminuição da dor é fator importante para uma melhora
da marcha. O tratamento para artrose secundária é de grande
importância para a obtenção dos resultados esperados.
• Diagnóstico fisioterapêutico: Dificuldade para marcha
com claudicação (devido a quadro álgico), limitações do arco
de movimento, hipotrofia muscular, artrose secundária.
• Objetivo fisioterapêutico: Diminuição da dor, melhora
da amplitude de movimento, ganho de força muscular,
recuperação funcional geral. Figura VII - O paciente nada tranqüilamente sem auxilio, utiliza os
• Programa de tratamento: Hidroterapia associada ao quatro membros, e faz da terapia uma atividade prazerosa.
uso de ultrassom e cinesioterapia como recursos auxiliares.

O animal, submetido a dez sessões de fisioterapia, foi


avaliado na primeira e segunda sessões, no decorrer do
tratamento, realizado de uma a duas vezes por semana,
observava-se atentamente respostas positivas do animal ao
tratamento proposto, a ultima sessão contou com uma última
avaliação e com orientações para AVD´S e controle da
alimentação( peso) do animal.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 163

Resultados décima sessão o nado era praticado por 50 minutos com


poucas pausas.
Após a realização das dez sessões fisioterápicas O trabalho da fisioterapia na doença degenerativa
constatou-se: humana deve ser contínuo, os resultados obtidos em dez
• Ausência da claudicação; sessões de fisioterapia veterinária foram satisfatórios abrindo
• Apoio simétrico dos quatro membros; novas questões no que se refere a tempo de tratamento,
• Melhora da marcha; manutenção e intensidade da terapia, sendo necessário
• Discreta hipertrofia muscular; novos estudos.

Discussão Agradecimentos

Existem poucos relatos na literatura de trabalhos Agradecemos ao Dr. Marcelo Gondo, Docente da
fisioterápicos em animais de pequeno porte. Ainda não se Faculdade Ítalo Brasileira, e Dr. Cláudio Ronaldo Pedro,
tem conhecimento científico dos parâmetros de avaliação e M.Sc., fisioterapeuta e médico veterinário, pelo auxílio
tratamento em cães displásicos. O tratamento proposto neste prestado na realização do estudo de caso, à Dra. Normian
trabalho foi fundamentado na terapia humana e deve ser Oliveira por acreditar no meu trabalho, ao Sr. Octavio
estudado e aprofundado, contribuindo assim para a Leite pela colaboração prática e também pelo auxílio
fisioterapia veterinária. financeiro, à equipe do Hotel Pet Shop Cãotry Club SP
O presente trabalho estudou um cão da raça Boxer, de 1 pela colaboração.
ano e três meses, 29 kg, apresentando Displasia coxofemoral
severa, artrose secundária e um quadro clínico típico da afecção
com dificuldade de locomoção, andar bamboleante, claudicação Referências
unilateral, dorso arqueado entre outros.
A utilização do ultra-som terapêutico foi indicada para 1. Bates A, Hanson B. Exercícios aquáticos terapêuticos. São
tratamento da artrose secundária, não sendo objetivo deste Paulo: Manole; 1998.
trabalho o estudo dos parâmetros mais adequados para tal 2. Braga I. Fisioterapia na medicina veterinária. Revista Fisio &
técnica no cão. Terapia.1999;2[12]19.
3. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
A hidroterapia, recurso utilizado para o tratamento, deve
técnicas. 3ª ed. São Paulo: Manole;1998.
ser estudada e adaptada para o tratamento animal, levando 4. Leach D. Análise da locomoção. In: Bojrab MJ. Mecanismos
em consideração a temperatura interna do cão que é de da moléstia na cirurgia dos pequenos animais. 2ª ed. São Paulo:
38º C. Manole; 1999. p. 1279-86.
5. Martinez ACOM. O uso da piscina terapêutica no tratamento
Conclusão da displasia coxo femoral canina [ monografia]. Bahia:
Universidade Católica de Salvador; 2001.
Após dez sessões realizadas, observamos ausência da 6. Riser WH. Displasia coxofemoral canina. In: Bojrab MJ.
claudicação, apoio simétrico dos membros, discreta Mecanismos da moléstia na cirurgia dos pequenos animais. 2ª
ed. São Paulo: Manole; 1999. p. 924-32.
hipertrofia muscular e melhora da marcha. Não sendo
7. Skinner AT, Thompson AM. Duffield: Exercícios na água. 3ª
objetivo deste estudo, o ganho de condicionamento ed. São Paulo: Manole; 1985.
cardiovascular também foi notado, percebendo-se que na 8. Torres RCS. Displasia coxofemoral em cães parte I:
primeira sessão o paciente tolerava o exercício aquático por etiopatogenia. Revista do Conselho Federal de Medicina
30 minutos, com consecutivas pausas para descanso e já na Veterinária. Brasília: 2000;6:1-5.
C

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164 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Resumos de trabalhos e congressos

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Carlos BM Monteiro, Mensuração da função motora grossa em um paciente


Sandra Cardozo portador de paralisia cerebral diplégica com a utilização
de mola derrotativa
UNIFMU e UNISA,
E-mail: carlosfisi@uol.com.br Introdução: No atendimento ao portador de Paralisia Cerebral, são utilizadas
diferentes abordagens de tratamento, assim como são prescritos vários tipos de
órtese para proporcionar função ou prevenir deformidades. Uma órtese que se
utiliza para evitar deformidade e, com isso, propiciar maior função motora no
futuro é a mola derrotativa, aparelho ortopédico que tem um cinto de fixação
na cintura pélvica do qual saem duas molas acompanhando lateralmente os
membros inferiores, que se fixam em bota ou tênis ortopédico. Desta forma, a
tensão provocada pela mola nos membros inferiores do paciente diminui o
posicionamento em rotação medial e adução dos quadris, o que propicia uma
vivência em posição fora do padrão patológico. Este trabalho propõe analisar
se o paciente, enquanto utiliza a mola derrotativa, consegue apresentar a mesma
função motora do que sem sua utilização. Este estudo propiciará ao fisioterapeuta
a possibilidade de verificar se durante a utilização da mola derrotativa o paciente
apresenta alteração da função motora grossa.
Material e Método: Foi selecionado para este estudo um paciente portador de
Paralisia Cerebral com 10 anos de idade que utiliza a mola derrotativa com o
objetivo de vivenciar o posicionamento dos membros inferiores em um padrão
mais adequado. Para podermos avaliar a função motora, optou-se por utilizar o
GMFM (Gross Motor Function Measure) um instrumento de observação
padronizado criado e aprovado para medir mudança na função motora grossa
que ocorre nas crianças portadoras de Paralisia Cerebral. Foi aplicado o GMFM
no paciente sem a utilização da mola derrotativa e, logo a seguir, com a utilização,
para então fazermos a análise dos resultados obtidos.
Resultados: Após a análise dos dados obtidos verificou-se que em todas as cinco
dimensões do GMFM ocorreu uma diminuição da função motora grossa, durante
a utilização da mola derrotativa, sendo que a seguir apresentar-se-á os resultados
em porcentagem: dimensão deitar e rolar – diminuição de 4%, dimensão sentar –
diminuição de 10%, dimensão engatinhar e ajoelhar – diminuição de 17%, dimensão
em pé - diminuição de 41% e dimensão andar, correr e pular – diminuição de
35%. Escore total – diminuição de 14% da função motora grossa.
Conclusão: Apesar de termos analisado apenas um paciente, concluímos que
ao prescrever a mola derrotativa para pacientes com diplegia espástica para
propiciar vivência sensório-motora em posicionamento mais adequado dos
membros inferiores, temos que considerar que durante o uso da órtese o paciente
poderá apresentar diminuição da função motora grossa, independente se deitado,
sentado ou em pé. Dado importante para o fisioterapeuta decidir a prescrição
da mola derrotativa.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 165

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Fabiana Flores Sperandio, Gilmar Comportamento da dor lombar gestacional


Moraes Santos, Camila Costa de
Araújo, Monica Silva de Souza Objetivo: Sabendo-se o quanto a dor lombar gestacional pode limitar a gestante
em seus afazeres, o principal objetivo deste estudo foi analisar o comportamento
UDESC da dor lombar durante a gestação (13-15 semanas, 25-27 semanas e 34-36 semanas
gestacionais).
Material e Método: A amostra foi constituída por 19 gestantes saudáveis, entre
19 e 39 anos. As gestantes responderam a dois questionários e participaram do
Exame Físico (Medidas Antropométricas:Circunferência Abdominal Total,
Processo Xifóide-Sínfise Púbica e Linha Média Axilar-Cicatriz Umbilical) nos 3
períodos pré-estabelecidos. O primeiro questionário continha perguntas sobre
dados pessoais, incidência, características (sinais e sintomas) e fatores de risco
para a dor lombar. O segundo questionário, o Questionário Oswestry de
Incapacidade por Dor Lombar, visou quantificar o quanto à dor lombar interfere
nas AVD’s.
Resultados: Pôde-se observar que em 100% das gestantes analisadas (25-27
e 34-36 semanas) apresentaram dor lombar, ficando claro os prejuízos causados
por ela no decorrer da gestação. Na mesma proporção houve aumento do
peso corporal, das medidas antropométricas e da altura do fundo uterino. As
médias das notas do Questionário Oswestry passaram de 8,7% no primeiro
período, para 18,86% no terceiro período avaliado. Estas gestantes estavam
na Faixa de Incapacidade Mínima, podendo retratar um aumento na dificuldade
de realizar suas AVD’s. História prévia de dor lombar foi considerada fator
predisponente de evolução de dor lombar gestacional.
Conclusão: Observou-se que através do exame físico e da anamnese
(questionário) podemos identificar precocemente gestantes com potencial para
desenvolver a dor lombar entre a 25-27 e 34-36 semanas, embora esta não
seja caracterizada como uma patologia incapacitante. 

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Fátima Aparecida Caromano, Variáveis psicossociais e físicas de estresse relacionadas a


Daad Saab, Esdras Guerreiro seqüestro com cativeiro
Vasconcelos,. Curso de Fisioterapia
Introdução: O número de seqüestros envolvendo cativeiro vem aumentando
USP, Academia de Polícia Civil de São significativamente. Conhecer as respostas psicossociais e físicas apresentadas por
Paulo, Instituto de Psicologia da USP pessoas submetidas a este tipo de violência poderá facilitar a compreensão das
E-mail: fcaromano@uol.com.br estratégias de enfrentamento apresentadas por estas e, posteriormente, as possíveis
formas de intervenção terapêutica para esta população.
Objetivo do estudo: Pesquisar as variáveis psicossociais e físicas de estresse
relacionadas à situação de seqüestro com cativeiro, bem como o relato dos
efeitos deste tipo de seqüestro na qualidade de vida após a libertação.
Métodos: Obteve-se a lista parcial de pessoas seqüestradas e submetidas à
cativeiro, na cidade de São Paulo, por meio de indicação da Delegacia Anti-
Seqüestro (nome e telefone), ao mesmo tempo em que se buscava informações
com pessoas conhecidas sobre alguém que pudesse ter sido submetida a este

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166 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

tipo de crime. Após explicar os procedimentos da pesquisa, catorze pessoas


se disponibilizaram para participar do estudo. Foram aplicadas e
posteriormente analisadas as seguintes atividades: 1) Classificação dos dados
gerados pelo questionário com uma única questão aberta. 2) Coleta de dados
a partir do teste Scope-Coping, que avalia resposta de enfrentamento. 3) Coleta
de dados a partir do teste LOC, que avalia apoio utilizado. 4) Coleta de dados
a partir da lista de sintomas de estresse - LSS/VAS (relativos aos períodos
antes e após o seqüestro).
Resultados: Quando questionados sobre “qual a lição que ficou para você depois de
ter sido submetido a esta situação?” os participantes referiram-se a medidas de
segurança, alterações na perspectiva quanto ao futuro de vida e mudanças de
valores. É válido enfatizar como a segurança é vista como um fator de
sobrevivência, dentro dos limites que cada pessoa pode agir (por exemplo,
blindando o carro ou modificando seus hábitos, a exemplo de não parar nos
faróis à noite). Observa-se também um movimento em direção à reorganização
da vida. Quanto aos valores, percebe-se uma ênfase na valorização da família
(em alguns casos da religião) e um questionamento político-social, que embora
apareça na forma de crítica, tenta chamar atenção para o assunto. Cinco dos
participantes referiram dores musculares, três referiram alterações
cardiocirculatórias como pressão alta ou palpitação após a libertação, quatro
referiram dificuldade para dormir e dois relataram dores de cabeça. Na
avaliação utilizando o teste LOC, que delimita se o participante apoiou-se em
si próprio (self), na sorte ou no apoio de pessoas poderosas, encontrou-se que
a maioria das pessoas entrevistadas (n = 11) valoriza mais o self. Na avaliação
do nível de estresse encontrou-se que, dos sujeitos entrevistados, metade (n =
7) não apresentou modificações no nível de estresse, de acordo com o
instrumento utilizado. Da outra metade, dois (14%) apresentaram melhora e
cinco (36%) piora no nível de estresse, comparando o período da entrevista
com o período antes do seqüestro. O teste Scope-Coping, que avalia as respostas
de enfrentamento, mostrou que, dos entrevistados cinco apresentam um
enfrentamento médio e nove apresentam um enfrentamento acima da média,
isto é, bastante adequado.
Discussão e conclusão: Durante as entrevistas foi possível perceber que, por
mais difícil que tenha sido a situação com emoções negativas (como medo,
angústia, desânimo, revolta...), posteriormente ao seqüestro, a maioria dos
entrevistados conseguiu elaborar e organizar uma resposta para continuidade
da vida, como aproveitá-la melhor ou mudar para um país mais seguro.
Percebeu-se um movimento intenso de cada entrevistado na busca de um
equilíbrio emocional e físico. Este padrão de comportamento pode estar
associado ao tipo de população pesquisada – bom nível socioeconômico e
educacional, utilização de apoio em sua própria pessoa e boa capacidade de
enfrentamento (coping) em diferentes situações. Chama a atenção o fato de que
doze participantes referiram seqüelas físicas decorrentes do seqüestro. Nenhum
dos participantes procurou apoio profissional com objetivo de restaurar o
equilíbrio físico/emocional. A atuação fisioterapêutica associada com o trabalho
de reabilitação psicológica é fundamental no retorno à normalidade física e
emocional das pessoas submetidas a seqüestro e o trabalho interdisciplinar
pode facilitar a compreensão da evolução dos sinais e sintomas.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 167

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Emmanuel Alvarenga Panizzi, Determinação de equações preditivas de pressões respira-


Fernanda Rosa Willrich, Cristiana tórias máximas analógicas a partir das pressões digitais
Ferreira Lima, João Ramos Neto,
Edilaine Kerkoski, Nadir Barbosa Introdução: A interpretação da manovacuometria remete aos valores até então
Alves, Rhuanita Graciela Drozd obtidos com instrumentos analógicos, o que torna necessário cálculos preditivos
para interpretar os resultados da mensuração digital.
Universidade Do Vale Do Itajaí – Objetivos: O estudo teve como objetivo determinar equações preditivas de
Univali, Itajaí, Santa Catarina, 2o pressões analógicas para os sexos masculino e feminino a partir da mensuração
Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia com manovacuômetro digital.
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de Materiais e Métodos: A coleta de dados foi realizada no Laboratório de Avaliação
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a Cardiorrespiratória da Universidade do Vale do Itajaí no período de março a
15 de novembro de 2003, Itajai SC, abril de 2002, sendo a população alvo os acadêmicos dos cursos do Centro de
Campus da UNIVALI Ciências da Saúde do Campus de Itajaí, Itajaí, Santa Catarina. A amostra constou
de 100 indivíduos saudáveis, de ambos os sexos, na faixa etária de 18 a 25 anos.
Utilizou-se manovacuômetros analógico da marca Ger-Ar, modelo MV300,
intervalo operacional de ± 300 cmH2O, precisão de 5 cmH2O e digital da marca
Globalmed, modelo Microhard V1.0-500, intervalo operacional de ± 500 cmH2O
e precisão de 2 cmH2O. As mensurações das pressões respiratórias máximas foram
realizadas estando os indivíduos avaliados, na posição sentada, em repouso, com
a coluna ereta e inclinado para frente. Foram executadas três mensurações da
PImáx e PEmáx com um repouso de 30 a 60 segundos entre elas, sendo utilizada
a média das mensurações para análise descritiva seguida da determinação da equação
de regressão e teste de hipótese da reta de regressão (teste F), a= 5%.
Resultados: As equações encontradas para sexo feminino foram: (A) PImáx
analógica = 0,9724.PImax digital + 13,255 ± 1,96 (11,133) e (B) PEmax analógica =
1,0531.PEmáx digital + 7,8531 ± 1,96 (11,581). Para o sexo masculino: (C) PImax
analógica = 0,8671.PImax digital + 37,6 ± 1,96 (11,866) e (D) PEmax analógica=
0,862.PEmax digital + 29,688 ± 1,96 (16,985), sendo que os valores de F não
foram significantes para a= 5%.
Conclusões: Conclui-se com a pesquisa que as equações preditivas das pressões
analógicas foram aceitas para o nível de significância estabelecido nesse estudo.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Wellington Pereira dos Santos Comparação entre a PImax mensurada pelo método
Yamaguti, Luiz Antonio Alves, da válvula unidirecional e o convencional em pacientes
Carrie Chueiri Ramos Galvan, submetidos ao desmame da ventilação mecânica
Shirley Aparecida Fabris Souza,
Antonio Fernando Brunetto Introdução: Em Unidades de Terapia Intensiva a PImax tem se mostrado
como um importante índice preditivo de sucesso no desmame da ventilação
Universidade Estadual de Londrina – UEL, mecânica invasiva (VMI). O método mais comum para se mensurar a PImax é
Londrina, Paraná, 2o Congresso Sul-Brasileiro através da manutenção de um esforço inspiratório máximo após uma expiração
de Fisioterapia Respiratória, 1a Jornada forçada. A PImax também pode ser mensurada através da utilização de uma
Catarinense de Fisioterapia Cardiorrespiratória, válvula expiratória unidirecional. Objetivos: Comparar a PImax obtida pelo método
13 a 15 de novembro de 2003, Itajai SC, convencional e pelo método da válvula unidirecional, em pacientes em processo
Campus da UNIVALI de desmame da VMI.

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168 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Materiais e Métodos: Foram avaliados 10 pacientes (7 M e 3 H) internados


na UTI do HURNPr com idade média de 43,75 ± 11,80 anos. Todos os
pacientes apresentavam-se com tubo oro-traqueal, em processo de desmame
da VMI, conscientes e cooperativos. A PImax foi mensurada através do
método convencional e da válvula unidirecional, sendo randomizado o
método a ser inicialmente aplicado. Durante as mensurações de PImax, os
pacientes eram posicionados em semi-decúbito de 45° e incentivados de
maneira padronizada. Foram realizadas 10 mensurações de PImax para cada
método com intervalo de 1 minuto entre cada medida. Após a realização
do teste previamente randomizado, o paciente descansava durante 20 minutos
antes da realização do segundo teste. No método convencional, foi utilizado
um manovacuômetro digital MVD500 (GlobalmedÒ) acoplado a um tubo
“T” com encaixe para o tubo oro-traqueal. O paciente realizava uma
expiração até volume residual seguida de um esforço inspiratório máximo.
No outro método, a válvula unidirecional era acoplada ao manovacuômetro
sendo solicitado para o paciente inspirar e expirar com o máximo esforço
durante 20 segundos. O maior valor obtido de PImax para cada método
foi selecionado para análise estatística. Foi utilizado o test t de student
dependente com diferença significativa para p < 0,05. A pesquisa foi aprovada
pelo Comitê de Ética da instituição e todos os pacientes assinaram um termo
de consentimento.
Resultados: A PImax obtida pelo método convencional foi 48,90 ± 18,45
cmH2O e a PImax obtida pelo método da válvula unidirecional foi 62,00 ±
19,78 cmH2O. Houve diferença estatisticamente significativa entre os valores
obtidos de PImax pelos dois métodos (p = 0,001).
Conclusões: O método da válvula unidirecional é melhor para a mensuração
da PImax em pacientes submetidos ao processo de desmame da VMI.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Cláudia Mara Campestrini Bonissoni, Efeitos de um programa de 20 sessões de exercícios aquá-


Louisse Maria Borsarini de Oliveira, ticos na força muscular respiratória, mobilidade torácica
Mônica Vettori Medeiros e pico de fluxo expiratório em homens acima de 60 anos

Universidade do Vale do Itajaí – Introdução: Com o envelhecimento ocorrem importantes alterações funcionais
UNIVALI, Itajaí, Santa Catarina, no sistema respiratório, resultando em uma menor capacidade respiratória. Entre
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia elas, destaca-se a redução da força muscular respiratória, a redução do pico de
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de fluxo expiratório máximo instantâneo e a diminuição da mobilidade torácica.
Fisioterapia Cardiorrespiratória, Objetivos: A pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito de vinte sessões de
13 a 15 de novembro de 2003, Itajai SC, exercícios aquáticos em idosos acima de 60 anos do sexo masculino em relação
Campus da UNIVALI à força muscular respiratória, mobilidade torácica e pico de fluxo expiratório
máximo instantâneo.
Materiais e Métodos: O estudo foi realizado com dez indivíduos do sexo
masculino, idosos acima de 60 aos, na Clínica-Escola de Fisioterapia na UNIVALI.
Inicialmente foi realizada uma avaliação verificando força muscular respiratória,
mobilidade torácica e pico de fluxo expiratório máximo instantâneo, sendo
reavaliados a cada cinco sessões. Os indivíduos foram submetidos a um protocolo
de exercícios aquáticos de vinte sessões.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 169

Resultados e Conclusões: Os dados obtidos demonstraram vinte sessões de


exercícios aquáticos melhoram significativamente (p<0,05) a força muscular
respiratória, a mobilidade torácica e o pico de fluxo expiratório máximo
instantâneo de idosos do sexo masculino. Os exercícios aquáticos proporcionam
aos idosos uma melhora da função dos músculos esqueléticos e respiratórios
resultando num melhor condicionamento cardiorrespiratório e, conseqüentemente,
melhora da qualidade de vida.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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170 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Normas de publicação Fisioterapia Brasil

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade 3. Revisão


bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas dos artigos originais.
condições.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical 4. Atualização ou divulgação
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo
Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo
of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na
de revisão.
versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-
5. Relato de caso
mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
limitando-se unicamente ao estilo literário. e pode ser realizado em humano ou animal.

6. Comunicação breve
1. Editorial

Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior


Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
de seus membros.
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
referências.
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
2. Artigos originais Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando bibliográficas.
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes 5. Resumos
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ 6. Correspondência
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
bibliográficas. artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de trabalho antes de se publicar a carta.
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
da exposição, assim como a qualidade literária do texto. anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004 171

PREPARAÇÃO DO ORIGINAL - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).


- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
1. Normas gerais Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada 5. Agradecimentos
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
especificações anteriores. material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem em uma secção especial.
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, 6. Referências
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas
artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM
o nome do artigo, data e autor. Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
2. Página de apresentação diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: ponto, páginas inicial e final, ponto.
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e Exemplo:
títulos acadêmicos. Livro:
- Local de trabalho dos autores. May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o Capítulo ou parte de livro:
respectivo endereço, telefone e E-mail. Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
paginação. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
3. Autoria iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
conteúdo. são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da a abreviação latina et al.
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos Exemplo:
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
4. Resumo e palavras-chave
(Abstract, Key-words) Os artigos, cartas e resumos devem ser
enviados para:
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os Jean-Louis Peytavin
estruturados), seguido da versão em inglês. Atlantica Editora
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
- Objetivos do estudo. 20021-180 Rio de Janeiro RJ
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, Tel: (21) 2221 4164
análise). E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br

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172 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004

Calendário de eventos 30 de junho a 3 de julho


Physical Therapy 2004: Annual Conference & Exposition
of the American Physical Therapy Association
2004 Chicago, Illinois
Informações: www.apta.org

Abril Julho
17 a 25 de abril 8 a 10 de julho
Ventilação mecânica invasiva e não-invasiva Biomecânica craniofacial e fisiopatologia
Prof. Leonardo Costa (UFRJ), Alexandre Cossenza (UERJ) temporomandibular
Premier Center Prof. Dr. Mariano Rocabado
Rio de Janeiro Centro de Convenções de Pernambuco
Informações: (21) 2548 6942 Recife PE
fisiocurso@click21.com.br Informações: bodutra@oclusivo.com.br
www.oclusivo.com.br
22 a 24 de abril
5º CIOT - Congresso do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas da Agosto
Faculdade de Medicina de São Paulo 27 a 28 de agosto
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo SP Confit – Congresso de fisioterapia no trabalho
Informações: (11) 3168 1149, Centro de Exposições Imigrantes
E-mail: ciot2004@connecteventos.com.br São Paulo SP
www.ciot2004.com.br Informações: Pacin Eventos (11) 5589-1489

23 a 24 de abril Setembro
II Congresso Brasileiro de Fisioterapia da Escoliose 29 de setembro a 2 de outubro
Centro de Eventos Hotel Plaza São Rafael XII Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória -
Porto Alegre RS Prática Baseada em Evidência
Informações: felliniturismo.com.br Centro de Convenções Topázio Imperial
Ouro Preto MG
Informações: Congress Eventos (31) 3273 1121
Maio
16 a 19 de maio
I Congresso Paulista de Fisioterapia Respiratória do Outubro
Estado de São Paulo 27 a 30 de outubro
SOBRAFIR – Regional São Paulo II Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
São Pedro SP Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco
Informações: www.sobrafir.com.br Informações: www.fisioterapiamanual.com.br

Junho Novembro
3 a 5 de junho 5 a 7 de novembro
Congresso Nacional do Departamento de Ergometria II Congresso Internacional de Fisioterapia
e Reabilitação Cardiovascular I Congresso Nacional de Fisioterapia Social
Centro de Convenções Hotel Serrano III Simpósio Brasileiro sobre o Diagnóstico
Gramado RS Cinesiológico Funcional
Informação: felliniturismo.com.br Rio Centro, Rio de Janeiro RJ
Informações: www.sbf.org.br
13 a 17 de junho
European Federation for Research in Rehabilitation 10 a 13 de novembro
Rehabilitation Sciences in the New Millennium – V Interdisciplinary World Congress on Low Back and
Challenge for Multidisciplinary Research 8th Congress Pelvic Pain
Ljubljana, Slovenia Austrália
Informações: www.cd-cc.si/EFRR2004 info@worldcongresslbp.com

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 173

○ ○
Fisioterapia Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Índice
(vol.5, nº3 maio/junho 2004 - 173~256)

EDITORIAL
Somos todos culpados até que se prove o contrário, Marco Antonio Guimarães da Silva ...................................................... 175

ARTIGOS ORIGINAIS
Qualidade de vida dos médicos militares do hospital geral de Curitiba, Arlete Ana Motter, Glaycon Michels ............ 177
Biomecânica da marcha e da postura com calçado de salto alto, Aderbal Silva Aguiar Júnior,
Tatiane Marcos Freitas ....................................................................................................................................................................................183
Fisioterapia
Efeitos prática
da fisioterapia no aprimoramento da vida sexual feminina, Maicon Wronski de Medeiros,
Melissa Medeiros Braz, Karina Brongholi .......................................................................................................................................................188
Percepção subjetiva do esforço em indivíduos hipertensos e normotensos durante a execução
do teste ergométrico, Jônatas de França Barros, Geraldo de Paula Valle, José Roberto Pimenta de Godoy ........................................194
Avaliação postural da seleção brasileira masculina de basquete, Paulo Henrique Cinelli Moreira, Gisele Cirelli,
Claudinei Chamorro Pelegrina Jr, Cesar Pereira Soares de Oliveira ...............................................................................................................202

REVISÕES
Lesões SLAP - Aspectos clínicos e patológicos, Jaciene de Souza Silva, Leila de Albuquerque Fonseca .................................. 209
Influência do decúbito ventral nas trocas gasosas de pacientes com hipoxemia refratária ao oxigênio,
Ana Carolina de Almeida Koide, Emerson dos Santos, Décio Iandoli Júnior ............................................................................................... 216
Mecanismos que explicam o efeito da atividade física na prevenção de acidente vascular encefálico,
Rafael Braune de Castro, Lucia Marques Vianna ........................................................................................................................................221
Limites da estimulação elétrica neuromuscular no fortalecimento de músculos esqueléticos saudáveis
e com déficit de força, Jamilson Simões Brasileiro, Tania de Fátima Salvini ............................................................................. 224
Ginástica Laborativa
ESTUDOS DE CASOS
Ruptura por trauma corto-contuso do músculo deltóide, Daniel Tavares da Mata Barreto, Thais Pereira Guisande ..........231
Complicação relacionada ao uso da respiração com pressão positiva intermitente, Renata Lenize Pasini,
Luciana Castilho de Figueiredo, Rosmari Aparecida Rosa Almeida Oliveira, Renato Giuseppe Giovanni Terzio ...................................... 242

OPINIÃO
A atuação do fisioterapeuta na unidade básica de saúde, Andressa Caetano da Veiga, Carlos Alberto Soares Neves,
Paula Montagna, Sandra Sayuri Kanda, Samuel dos Santos Valença ..........................................................................................................246

RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS . ....................................................................................................................250


NORMAS DE PUBLICAÇÃO . ........................................................................................................................................................... 254
EVENTOS . ................................................................................................................................................................................................256

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174 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia - UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR - São Paulo) 

Grupo de assessores
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)

Revista Indexada na LILACS - Literatura


Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde

Rio de Janeiro Direção de arte


Rua da Lapa, 180/1103 Andréa Vichi
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 Administração
e-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br Bárbara de Assis Jorge
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São Paulo Atendimento ao assinante


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1ano: R$ 156,00 Drª. Tiene Deccache
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Rio de Janeiro: (21) 2221-4164 Publicidade e marketing Rua da Lapa, 180/1103
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(11) 3361-5595 rene@atlanticaeditora.com.br jeanlouis@atlanticaeditora.com.br

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Ilustração da capa: Gino Severini, Le Boulevard, Londres 1911 – óleo sobre tela (63,5 x 91,5 cm)

I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.


© ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distri-
buída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do
copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou
propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publica-
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 175

Editorial

Somos todos culpados até


que se prove o contrário
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva


marco@atlanticaedu.com.br

Ao longo dos tempos, as idéias dos grandes pensadores têm influenciado os costumes,
a cultura e servido para, em algumas situações, justificar ações políticas. No Direito
penal, a filosofia positivista, que encontra no mecanicismo seu esteio principal, influenciou,
no passado, o pensar jurídico e acabou justificando, nos regimes políticos de exceção,
certos valores para obtenção da culpabilidade dos presumidamente considerados
criminosos. Para o bem da humanidade ou, pelo menos, para parte dela, a situação
mudou e, mais uma vez, a influência do pensar filosófico, agora Kantiano, promoveu,
sob o ponto de vista ético e moral, um resgate do valor da confissão, oferecendo-se ao
infrator a oportunidade de reconhecer seus erros e arrepender-se, atenuando, assim, a
sua pena.
Caso os equívocos e falta de evidências de nossas investigações científicas fossem
considerados crimes, os artigos que publicamos, frutos destas investigações, dariam
uma bela materialidade do delito e seriam uma irrefutável confissão.
Haveria, nestes casos, dois tipos de infratores: os crédulos ingênuos e os pseudo cognoscitivos.
Os primeiros, crédulos ingênuos, são os que se limitam a ler os trabalhos publicados por
outros e acreditando, piamente, no que leram, se encarregam de serem vetores
multiplicadores das conclusões levantadas no trabalho lido. Se os crédulos ingênuos forem
formadores de opinião, a situação se agrava, porque, com certeza, através de suas palestras
ou de trabalhos publicados (geralmente sob forma de livros ou de revisão) poderão
influenciar com falsas informações um sem números de alunos, ávidos por novos
conhecimentos.
Os pseudo cognoscitivos são constituídos por aqueles que efetivamente participam do
processo da produção cientifica, executando pesquisas e publicando os seus resultados
em periódicos, previamente indexados. Os seus artigos serão lidos pelos crédulos ingênuos
e por outros pseudo cognoscitivos à busca de informações para poderem executar seus
projetos de pesquisas. Se não tivermos muita cautela, até mesmo excesso de zelo, na
interpretação dos resultados expressos nos artigos publicados por estes, estaremos
alimentando uma bela cadeia de equívocos.
Mas porque tanto ruído e tanta preocupação com o tema? Haveria tantos equívocos
e equivocados nas áreas da investigação e publicação? Há tempos, venho, como já
afirmei em outro editorial, exigindo que meus alunos de Especialização (Atlântica
Educacional), Mestrado (UCB) e Doutorado (UBA) procedam a respectivamente 25,
75 e 150 análises de artigos, que geram, por sua vez, 100, 300 e 750 páginas de análises
criticas dos artigos citados nas referências. Todo e qualquer artigo citado deve passar
* Editor científico de Fisioterapia Brasil por analise critica, com nível de exigência circunstanciado ao curso que o aluno esteja
Pós Doutorado na UFRJ fazendo. Depois da análise, os alunos elaboram a pergunta que o autor deveria ter feito
Professor do curso de mestrado da UCB ao projetar a pesquisa, cujos resultados permitiram o artigo em questão. Além disso, os

índice+exp+editorial.pmd 175 22/06/04, 13:34


176 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

alunos formulam as hipóteses substantivas e estatísticas, com inserção do valor p de


alfa ou beta, para todos os artigos analisados. Na capacitação desses alunos, feita com
analises prévias de artigos, temos observado que somente uma parcela muito pequena
de artigos analisados apresenta qualidade. Analisamos publicações em revistas indexadas
no país e no exterior e, sem que me causasse surpresas, observamos que publicações
em revistas internacionais de grande impacto também apresentam, em sua grande maioria,
artigos pouco fundamentados. Um dos exemplos que melhor ilustra o que venho dizendo
há anos talvez seja uma meta-analise, publicada em revista indexada no Medline, que nos
apresenta o seguinte resultado: de mil novecentos e noventa e seis (1996) artigos publicados
sobre lombalgia, se pré selecionou, apenas, doze (12) que atendiam ao mínimo de qualidade
exigida para um artigo. Dos doze (12) artigos pré-selecionados, apenas quatro
apresentavam os quesitos exigidos para seguirem até o final. Desses quatro (4), apenas
dois (2) passaram pelo teste de qualidade total, ou seja, o que diziam podia ser interpretado
como expressão da mais pura realidade. Diante deste quadro - a aprovação de apenas
dois (2) entre mil novecentos de seis artigos (1996) artigos publicados em revistas de
impacto - o que fazer?
Todas as revistas indexadas analisam, através do seu corpo editorial, os artigos que
lhe são enviados e, com freqüência, devolvem os artigos aos seus autores para correções.
O problema é que as correções não contemplam, obviamente, adequações metodológicas
no trabalho já realizado, já que, se assim o fizessem, o autor seria levado a repetir o seu
experimento. Em outras situações, o avaliador não esta atento ou, até mesmo, preparado
para a detecção dos vieses introduzidos nas pesquisas que geraram os artigos analisados.
A criação e um departamento especializado, em cada editora, que tomasse para si a
responsabilidade de analisar metodologicamente as pesquisas contidas em cada trabalho
enviado e a exposição destas análises, ao final de cada artigo publicado, poderia ser parte
da solução do problema. Restaria saber se o autor concordaria em se expor a tal situação
e se as editoras poderiam arcar com a despesa para manutenção da equipe especializada
(a margem de lucro das editoras, ao contrário do que se pensa, não é grande).
Bem, talvez no futuro, quem sabe em algum país, os advogados descubram que as
equivocadas informações cientificas que passamos para os nossos pares e para a população
sejam passiveis de processos e aí nos reste o consolo de reconhecer os nossos erros, nos
arrependermos e nos beneficiarmos de uma atenuação de pena. Não nos esquecendo,
é claro, de rezarmos uma oração para Kant.
Uma outra sugestão, talvez a mais importante para o momento, seja a de, mais uma
vez, evocar o nosso filósofo transcendentalista e interpretar, com rigor, a sua definição
de critica: a atitude ou capacidade de distinguir entre o verdadeiro e o falso, tendo critérios e razões
para tal e não aceitando afirmações de outros sem o seu prévio exame. Quando o assunto é
publicação e pesquisa cientifica, cabe duvidarmos de tudo e de todos. Inclusive deste
editorial. Afinal, somos todos culpados, até que .............

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Artigo original

Qualidade de vida dos médicos militares


do hospital geral de Curitiba
Life quality of military doctors at the general hospital of Curitiba
Arlete Ana Motter, M.Sc*, Glaycon Michels**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*1º Tenente Fisioterapeuta, Chefe da Fisioterapia do Hospital Geral de Curitiba, Professora da Universidade Tuiuti do Paraná, Curso de
Fisioterapia, **Doutor em Medicina, 2º Tenente Médico R/2 Aeronáutica, Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção e Curso de Medicina UNISUL

Resumo
O objetivo dos autores foi avaliar o grau de comprometimento da qualidade de vida
Palavras-chave: em indivíduos que, além de médicos, têm que se submeter a uma estrutura organizacional
médicos militares, qualidade diferente daquela civil. Fizeram parte do estudo 52 médicos militares, que trabalham
de vida, estresse, depressão. no Hospital Geral de Curitiba (HGeC). A coleta de dados se deu por meio da aplicação
de questionários. A análise da situação e dos resultados revelou 36% da população com
estresse, 23% apresentando diferentes níveis de depressão e apenas 3,9% dos médicos
com qualidade de vida considerada adequada. O equilíbrio deverá ser buscado pela
sociedade e pelo indivíduo, no sentido de que as exigências do mercado não retirem do
homem o que ele tem de mais precioso: a sua saúde física e mental.

Abstract
The aim was to evaluate the implication degree of life quality in individuals who,
Key-words: besides working as doctors, must submit themselves to an organizational structure
military doctors, life quality, that differs from the civil one. The study was composed by 52 military doctors,
stress, depression. working at the General Hospital of Curitiba. The data collection was performed by
the application of questionnaires. The analysis of the situation and results revealed
that the condition of stress is present in 36% of population, 23% present different
levels of depression and only 3,9% of the doctors presented suitable conditions of
life quality. The quest for balance must come from society and the individual himself,
in sense that the career demands do not remove what is most precious for men:
mental and physical health.

Recebido 7 de abril de 2003; aceito 1 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Arlete Ana Motter, Rua Martin Afonso, 371/202B São Francisco 80410-060 Curitiba PR, Tel: (41) 233-3803/
9967-0687, E-mail: arlete.motter@uol.com.br

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Introdução de estados de humor com implicações significativas na vida


pessoal e profissional.
Sabe-se que, para o médico, existem uma série de Logo são vários os problemas apontados na literatura
privações que se estendem desde o período preparatório com relação ao trabalhador médico. Assim busca-se uma
para os vestibulares até a graduação, quando não por toda a avaliação da qualidade de vida dos médicos militares à luz
carreira. São fatos comuns, a esse profissional, a sobrecarga da ergonomia, ciência que estuda a adequação das condições
de trabalho; as privações de sono; as interrupções fora de de trabalho à condição psico-fisiológica dos trabalhadores,
hora; os horários incertos para refeições e isolamento social. para que estes obtenham o máximo de conforto, segurança
Acrescente-se que a consagrada descrição da figura do médico e desempenho na realização de suas atividades [7].
como um “sacerdote” [1] não tem hoje o reconhecimento
tradicional, porém muitos pacientes e familiares ainda o vêem Trabalho médico
como um ser com poderes sobre-humanos, o que faz
aumentar ainda mais sua responsabilidade. Esse ritmo Apesar de possuir alto grau de autonomia, o médico é
contínuo de vida resulta, via de regra, em situações de treinado a salvar vidas a qualquer custo, a estar disponível e
extremo estresse para o profissional médico civil. apto para desempenhar a tarefa a qualquer hora do dia, sendo
Quanto ao profissional médico militar, além de enfrentar que a omissão de socorro, segundo o Código de Ética Médica,
os percalços acima relatados, ainda convive com freqüentes é delito grave, passível de punição com perda do direito do
transferências e a submissão a uma organização caracterizada exercício profissional [8]. Seu trabalho se dá em meio a alto
pelo rigor da hierarquia, da disciplina e de pouca flexibilidade. fluxo de atividades, de pessoal e de pacientes. Deve estar
Nessa relação recursos humanos/trabalho/organização, preparado para lidar com o inesperado, para minimizar os
incluem-se alta pressão temporal e estresse físico e mental. fatores de agressões e ter habilidades no trato com as pessoas,
E, como se sabe, esse conjunto de fatores resulta em particularmente em situações de crise emocional.
prejuízos para a saúde e bem-estar do trabalhador, uma vez A carga de trabalho depende de vários fatores
que o item saúde resulta da interação de fatores hereditários, relacionados à tarefa, tais como limitações temporais, o
ambientais e de estilo de vida [2]. contexto em que ela está inserida e o nível de complexidade
Como se depreende, a organização militar envolve o exigido para sua execução. Toda atividade possui pelo menos
exercício do poder pelos superiores no controle dos três aspectos: físico, cognitivo e psíquico inter-relacionados,
subordinados e a orientação destes em relação àquele poder sendo que o trabalho hospitalar exige um componente
[3]. Conseqüentemente o médico que se acha inserido nesse cognitivo intenso e complexo [9]. Quanto à carga psíquica
ambiente, pressionado pelas inerentes contingências da do trabalho, ela aumenta quando a liberdade de organização
profissão, é um sério candidato a doenças como hipertensão, do trabalho diminui, surge então o sofrimento. Não somente
estresse e depressão, quando não agravadas por fatores o medo e a angústia no trabalho, mas também a frustração
individuais como obesidade e sedentarismo ou uso em excesso e a agressividade podem aumentar as cargas
de álcool ou drogas. cardiovasculares, musculares e digestivas [10,11]. Portanto
Os médicos do Hospital Geral de Curitiba (HGeC) a organização do trabalho possui um papel de fundamental
trabalham em diversas outras instituições de saúde da capital importância na diminuição da carga mental do trabalhador.
paranaense e região metropolitana, sobrecarregando-se física As exigências do trabalho conduzem o médico a longos
e mentalmente. No Brasil, Meleiro [4] cita; sobrecarga períodos de envolvimento com microdecisões de toda
horária, privação de sono, contanto intenso e freqüente com ordem, relacionadas à solicitação da memória, ao seu
a dor e o sofrimento, contato com a morte e o morrer e conhecimento técnico e científico e sujeitas a interrupções
limitações do conhecimento médico, como fatores constantes. Wisner [12] cita a desproporção entre exigências
estressantes, associados ao exercício profissional. do trabalho e o pessoal disponível como fator que provoca
A literatura evidencia a incidência e a prevalência de alta exigência do médico. A adoção de medidas, que tornem
depressão e suicídio nesse grupo profissional, mais elevada o ambiente físico de trabalho nos hospitais mais atrativo e
que na população em geral. Sendo o suicídio a segunda causa com características familiares, é sugerida por vários autores
de morte entre os alunos da Faculdade de Medicina da como forma de atenuar o estresse.
Universidade de São Paulo [4]. Parece existir relação entre a Dentro da organização militar, a exigência quanto à
excessiva carga horária de trabalho aliada a privações do disciplina de normas e horários é pouco flexível, dada à
sono e à incidência de depressão em residentes de medicina própria natureza de sua missão. Sabe-se, porém, que tal
[5]. De acordo com Gaspar [6], em muitos locais o plantão situação pode facilitar a instalação da burocracia, correndo
médico inicia-se à noite, após um dia normal de trabalho, o o risco de se cultivar uma visão parcial, “concentrando sua
que leva o profissional a permanecer trabalhando sem dormir atenção nos aspectos meramente formais das organizações e
por mais de 36 horas. Entretanto jornadas prolongadas deixando de lado aqueles que efetivamente fazem com que
mostram queda no desempenho dos médicos e alterações as organizações funcionem: as pessoas que nelas operam”

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[13]. Nesse sentido, Fernandes [14] salienta a importância Resultados


da autonomia no ambiente de trabalho, como forma de
aumentar a satisfação e estimular a criatividade e A idade média da população avaliada foi de 31 anos,
envolvimento dos trabalhadores. variando entre 24 e 38 anos. Participaram do estudo 15
Há também que se falar dos períodos de lazer e militares (29%) do sexo feminino e 37 médicos militares
relaxamento, que se tornam cada vez mais escassos na vida (71%) do sexo masculino. Quanto ao estado civil dos
do médico, deteriorando sua qualidade de vida. A ausência entrevistados, 60% são casados, 28% solteiros e 2%
de horários fixos para alimentar-se, na maior parte das vezes, separados. Não houve viúvos. Os médicos avaliados se
se traduz em refeições rápidas e pouco saudáveis. A prática subdividem em médicos militares de carreira (MMC): 29%
de atividade física ou esporte, geralmente, esbarra na e médicos militares temporários (MMT): 71% (Tabela I).
dificuldade de encontrar um horário em que não esteja
trabalhando, estudando ou dando atenção à família [15]. Tabela I - Perfil profissional dos entrevistados.
Características Médias Desvio Padrão
A necessidade de agregar conhecimentos atualizados ao
Idade (anos) 31 3,61
seu fazer, pressionado por uma medicina cada vez mais Número de empregos 03 1,38
dependente de tecnologia e dividida em especialidades, leva Jornada de trabalho diário 11 2,44
o médico a buscar maiores condições financeiras que lhe Quantidade de horas de sono diário 06 0,71
permitam freqüentar cursos de reciclagem [8]. A má Tempo de profissão (anos) 07 3,55
remuneração médica determina o excesso de trabalho com
empregos em diversos locais [15,16]. O médico, não raro, Quanto ao sono, houve média de 6 horas/dia. Encontrou-
precisa se deslocar de um local para outro e enfrentar o se 54% cursando residência médica, mestrado, doutorado,
trânsito conturbado, mesmo após um plantão noturno especialização, outro curso superior ou línguas estrangeiras.
bastante agitado e estressante. Diante desses fatos, supõe-se Os outros 46% responderam que não estavam estudando na
que ele seja “bombardeado” diariamente por inúmeros época da entrevista. A maioria deles atua em outros empregos
agentes estressores. Dependendo da suscetibilidade e do (que variam de 3 até 7 locais diferentes), após cumprida a
equilíbrio psicossomático do profissional, esses agentes jornada regulamentar de 6 h/dia no HGeC. Jornada de 11
podem resultar-lhe em doenças gástricas, cardíacas, horas de trabalho, aí incluídas as do HGeC (Tabela I).
depressivas e, portanto, em prejuízos na qualidade de vida. Os MMC trabalham 10h/dia e os MMT, 12 h/dia. Além
de cumprir uma jornada de trabalho maior, estes últimos
Materiais e Métodos têm, em média, maior número de empregos (4), enquanto
que os MMC têm, em média, 3 empregos.
Este trabalho foi desenvolvido no HGeC, pertencente
ao Exército Brasileiro – Ministério da Defesa - entre Figura 1 - Resultado do inventário de qualidade de vida.
janeiro de 2000 e maio de 2001. Foram avaliados 52
médicos de ambos os sexos. Os sujeitos do trabalho
incorporam, além da missão médica propriamente dita,
outras específicas da profissão militar, tais como: comissão
de recebimento de materiais, comissão de descarga de
materiais, comissão de revisão de contracheques e
representação em solenidades militares.
Desde 1862, foi criada a Enfer maria Militar da
Guarnição do Paraná, que após diversas transformações e
mudança de endereço, passou a chamar-se Hospital Geral
de Curitiba a partir de 1953. O HGeC presta atendimento
aos militares e dependentes que fazem parte da V Região
Militar, circunscrição de Paraná e Santa Catarina.
As entrevistas com os médicos militares foram realizadas
nos corredores e enfermarias do Hospital, sem horário
previamente agendado. O instrumento utilizado é o
Inventário de Qualidade de Vida [18], cuja autora considera
que para obter boa qualidade de vida, é necessário ser bem
sucedido no aspecto afetivo, social, profissional e de saúde.
O segundo instrumento utilizado é o Teste de Auto-Avaliação O inventário baseado em Lipp [18], revelou apenas 02
sobre Reação Aguda ao Estresse [19]. O terceiro instrumento (3,9%) entrevistados com qualidade de vida considerada
é o Inventário de Depressão de Beck [20]. adequada: um trabalhador do sexo masculino (1,9%) e uma

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trabalhadora do sexo feminino (1,9%), sendo um MMC e o Figura 3 - Níveis de depressão nos médicos militares.
outro MMT (Figura 1). Quanto à saúde dos médicos
militares, observou-se que está totalmente relegada a segundo
plano, uma vez que apenas 3,9% pessoas tiveram sucesso
nessa área. Nas respostas dadas, 78% dos médicos militares
não faz check-up regularmente. 73% não fazem exercícios
físicos pelo menos três vezes por semana e 59% admitiu
não fazer refeições saudáveis.
Constatou-se um total de 19 trabalhadores (36,5%)
com níveis de estresse necessitando de tratamento médico
(Figura 2). Os sintomas mais apontados pelos médicos
entrevistados foram: sensação de fadiga, mal estar,
cansaço ou fraqueza, além de tensão, inquietação,
dificuldade em relaxar e irritabilidade. Houve maior índice
de trabalhadores masculinos estressados: 15 homens
(41%) para apenas 4 mulheres (25%). E predomínio do
estresse nos MMC (46,6%), apesar de gozarem de
estabilidade profissional, trabalharem menos horas por Discussão
dia e terem menos empregos, restando 32,4% dos MMT
com estresse. Os avanços tecnológicos trouxeram mudanças radicais
nas relações de trabalho que se refletem no cotidiano de
Figura 2 - Ocorrência de estresse nos médicos militares. todos. Desse modo de vida não escapam os médicos do
HGeC: a maioria atua em vários locais de trabalho. Não
estamos no século XIX no qual a classe operária trabalhava
14 a 16 horas por dia em condições desumanas, em fábricas
barulhentas e mal ventiladas [7]. Porém, em pleno século
XXI, os trabalhadores médicos analisados enfrentam, longas
jornadas de trabalho. Apesar disso conseguem ter horas de
sono consideradas adequadas, pois segundo a literatura: o
período médio total de sono é de 7,5 horas [17].
Averiguou-se que, além do trabalho, o indivíduo se dedica
ao estudo. A dificuldade de manter-se atualizado é um fator
limitante para a satisfação do médico. As diferenças entre os
dois tipos de Contrato de trabalho podem ter explicação no
fator segurança de emprego. Enquanto o MMC tem emprego
assegurado até a aposentadoria, o MMT pode permanecer
por somente 8 anos no Exército, o que o obriga a buscar outras
fontes de renda. Outra situação, vivida pelo militar de carreira
e que não afeta o temporário, são as constantes transferências
de uma cidade a outra, a critério de seus superiores,
determinando uma necessidade maior de adaptação.
Alguns médicos consideram que houve progressiva piora
O estudo mostrou que 12 (23%) dos médicos militares em sua qualidade de vida desde a entrada no curso de
avaliados apresentam diferentes níveis de depressão (Figura medicina, relacionando o fato ao excesso de estudo [16]. A
3), quais sejam: depressão mínima ou nenhuma: 40 (77%) vida dessas pessoas nunca mais será a mesma, pois após a
médicos; suave: 6 (12%); moderada: 5 (10%) médicos; e graduação se vêem envolvidos por um ritmo de trabalho
depressão grave: 1 (2%) médico. Encontraram-se diferentes intenso, que exige alto nível de conhecimento técnico, restando
níveis de depressão no sexo masculino, o que totalizou pouquíssimo tempo para outros aspectos da vida, justificando
incidência de 30%, e sexo feminino com 6% de depressão. os resultados obtidos nessa pesquisa em que a qualidade de
O número de empregos não influenciou na incidência de vida dos médicos militares está prejudicada. Um dos médicos
depressão, já que não houve diferença significativa entre avaliados revelou que fica bastante deprimido e triste nos
os dois grupos. Não foi encontrado, nesse estudo, diferença finais de semana e feriados em que está trabalhando. Deduz-
significativa entre indivíduos com jornada de trabalho maior se que o médico é um ser solitário, pois vive à margem da
ou menor em relação à depressão. sociedade devido ao seu ritmo intenso de trabalho.

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Tabela II - Resultado do inventário de qualidade de vida aplicado aos diminuição da ansiedade de companheiro, alimentação mais
médicos militares. saudável, horários mais fixos, portanto, uma vida mais
Quadrantes Sucesso (S) Sem Sucesso (SS) saudável [22].
Social 26 (50%) 26 (50%)
Afetivo 18 (35%) 34 (65%)
Conclusão
Profissional 26 (50%) 26 (50%)
Saúde 02 (3,9%) 50 (96,1%)
O ritmo de vida desses trabalhadores, obviamente, vai
se manifestar a nível psicossomático. Resultado: baixa
Da leitura das tabelas pode-se inferir que a maioria das motivação e produtividade, que pode resultar em
pessoas não está de todo feliz com o tipo de vida que está conseqüências mais sérias, como o evidenciam os processos
desfrutando (Tabela II). Contudo a dedicação quase que por erros médicos, cada vez mais numerosos e visíveis em
exclusiva a uma determinada esfera da vida não lhe garante nosso país. Em tempo: não se pode atribuir esse resultado
boa qualidade de vida, pois é do equilíbrio entre trabalho e relativo à qualidade de vida dos médicos militares
satisfação das necessidades pessoais que emerge o que exclusivamente ao fato de exercerem o trabalho no HGeC,
conceituamos de qualidade de vida. Usar o trabalho para pois a carga horária a ser cumprida nesse estabelecimento é
mascarar um casamento que naufraga, uma carreira pouco somente de 6h/dia.
satisfatória ou a perda de contato com os filhos, parentes e Da análise das razões pelas quais se trabalha além dos
amigos, pode ser uma armadilha fatal para quem crê que limites suportados pelo corpo, salta apenas uma verdade: é
assim é feliz. A tecnologia, que se julgava propiciar mais urgente ter equilíbrio. Fazer o melhor por si mesmo e não
tempo de lazer para o trabalhador, na verdade, livrou-o de pelo mercado, saber dosar as horas de trabalho, de se dedicar
trabalho físico, mas tornou-o escravo de um trabalho que à família e ao lazer, alimentar-se saudavelmente, evitar fumo,
lhe exige cada vez mais empenho mental e intelectual. A bebidas e drogas, dormir o suficiente e em horários
carga de trabalho tornou-se mais pesada, os prazos cada regulares, reservar um tempo para relaxar ou praticar um
vez mais curtos e os contatos humanos tornam-se cada vez exercício físico são medidas que certamente tornarão melhor
mais impessoais. a qualidade de vida.
Curiosamente, verifica-se nesse estudo não haver O equilíbrio é, pois, recomendado a todos, empresas e
relação entre a quantidade de trabalho exercida e qualidade seus sistemas organizacionais, chefes e subordinados. Aos
de vida, pois as pessoas que mais trabalham foram as que médicos e profissionais afins, que trabalham com vidas
demonstraram ter melhor qualidade de vida. Sabe-se, humanas, recomenda-se mais equilíbrio ainda: que trabalho
porém, que existe um conjunto de outros fatores como e vida pessoal sejam contemplados de modo inteligente,
estilo de vida, cultura, crenças e valores que interferem mesmo sabendo-se que o estresse sempre será parte
nesse resultado. integrante de suas vidas.
A explicação do predomínio masculino com estresse,
talvez resida no mito de que os homens são fortes, corajosos, Referências
seguros, decididos. “Homens não choram” [21]. A figura
masculina continua associada à força e ao poder, e, portanto, 1. Dio LD. A medicina na época do descobrimento do Brasil e
a obrigação de se enquadrar nessa imagem é motivo de no início do ano 2000. Rev Assoc Med Brás 2000;2(2).
grande angústia para os homens. Na formação acadêmica 2. Nahas MV. Revisão dos métodos para determinação dos níveis
do estudante de medicina são comuns frases do tipo: de atividade física habitual em diversos grupos populacionais.
Rev Bras Ativ Fís Saúde 1996;1(4):27-37.
“médico não pode comer, médico não tem fome, médico
3. Simões MC. Composição corporal das policiais femininas de
não tem dor, médico não fica doente”. Demonstrar os Florianópolis. [Dissertação] Florianópolis: Programa de Pós-
sentimentos e sofrimentos representa sinal de fraqueza [16]. graduação em Engenharia de Produção, UFSC; 1998.
Sintomas isolados de depressão chegam a ocorrer em 4. Meleiro AMAS. Suicídio entre médicos e estudantes de
30% das pessoas no decorrer de suas vidas [17], portanto o medicina. Rev Assoc Med Bras 1998;44(2):135-40.
resultado encontrado não difere da literatura. Houve 5. Nogueira-Martins LA, Jorge MR. Natureza e magnitude do
diferença importante entre homens e mulheres com estresse na residência médica. Rev Assoc Med Bras
depressão, o que é divergente entre diferentes autores. Cerca 1998;44(1):28-34.
de 9% a 26% das mulheres e 5% a 12% dos homens terão 6. Gaspar S, Moreno L. Os plantões médicos, o sono e a
uma depressão durante sua vida [17]. Para Nogueira-Martins ritmicidade biológica. Rev Assoc Med Bras 1998;44(3):239-45.
7. Iida I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard
[5] as mulheres mostram maior incidência de depressão do
Blucher, 1998.
que os homens. Segundo Poles, homens solteiros, divorciados 8. Machado MH. Os médicos no Brasil: um retrato da realidade.
ou viúvos apresentam maior probabilidade de depressão, Rio de Janeiro: Fiocruz; 1997.
abuso de álcool e drogas, acidentes de carro ou de cometer 9. Da Silva MA. Concepção ergonômica dos locais e dos espaços
suicídio, isso porque a companhia feminina favorece a de trabalho de uma unidade de emergência hospitalar.

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182 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

[Dissertação]. Florianópolis: Programa de Pós-graduação em de ser médico. [Tese] Florianópolis: Programa de Pós-
Engenharia de Produção, UFSC; 1999. graduação em Engenharia de Produção, UFSC; 2001. 284p.
10. Dejours C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola 17. Cerqueira Filho A. Depressão - incidência da depressão.
Dejouriana à análise da relação prazer sofrimento e trabalho. [citado 2001 ago 05]. Disponível em URL: http//
São Paulo: Atlas; 1994. www.plenitude.com.br/jornal/acervo_plenitude/col_si/
11. Paraguay AIBB. Ergonomia. Carga de trabalho. Fadiga mental. 0004.htm.
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. São Paulo 18. Lipp M, Rocha JC. Stress, hipertensão e qualidade de vida.
1987;15(59). Campinas: Papirus; 1996.
12. Wisner A. A inteligência no trabalho. Textos selecionados de 19. Masci C. Teste de auto-avaliação sobre reação aguda ao estresse.
ergonomia. São Paulo: Fundacentro/Unesp; 1994. [citado 2000 jan 12]. Disponível em URL: http//
13. Caravantes GR. Teoria geral da administração: pensando & www.regra.com.br/cyromasci/stress4htm.
fazendo. Porto Alegre: AGE; 1998. 20. Werutsky CA. O efeito do exercício físico sobre os níveis de
14. Fernandes E. Qualidade de vida no trabalho: como medir depressão em adultos obesos. [Dissertação]. Porto Alegre:
para melhorar. Salvador: Casa da Qualidade; 1996. Escola de Educação Física, UFRGS; 1999.
15. França CM. Stress em médicos plantonistas. [Monografia]. 21. Dieguez C. Homens também choram. Veja, edição 1714,
Curitiba: Centro São Camilo de Desenvolvimento em 2001;34(33):116-23.
Administração da Saúde, USC, Itajubá, 1999. 22. Poles C. Sem elas, eles adoecem mais e vivem menos. Veja,
16. Grosseman S. Satisfação com o trabalho: do desejo à realidade edição 1664, 2000;33(35):128-9. C

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 183

Artigo original

Biomecânica da marcha e da postura com


calçado de salto alto
Biomechanics of gait and posture with high heels shoes

Aderbal Silva Aguiar Júnior*, Tatiane Marcos Freitas**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Fisioterapeuta, Professor em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica do Curso de Fisioterapia e Pesquisador do Núcleo de Estudos do
*

Movimento Humano da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Campus Tubarão, **Acadêmica Curso de Fisioterapia da
Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Campus Tubarão

Resumo
O calçado de salto alto é um recurso estético freqüentemente utilizado pela população
Palavras-chave: feminina. O objetivo da pesquisa foi analisar o comportamento do joelho de adolescentes
calçado de salto alto, joelho, que utilizam calçado de salto alto: no ortostatismo e na marcha com e sem salto alto. A
marcha, postura. pesquisa foi descritiva comparativa, com amostra de tamanho 30 e caráter randômico.
Os dados subjetivos foram coletados através de entrevista, e os cinemáticos por cinemetria
na deambulação e em ortostatismo, após tratamento pelo software CorelDraw 9.0. A
análise dos dados foi feita pelo software Microsoft Office Excel 7.0 com plataforma
Windows ME. As médias encontradas não tiveram diferenças significativas na marcha
e na postura das adolescentes com o calçado de salto alto e sem o calçado, com intervalo
de confiança igual a 5%.

Abstract
The high hell shoes are an aesthetic resource frequently used by the feminine
Key-words: population. The objective of the research was to analyze the knee behavior of adolescents
high heel shoes, knee, when they use high hell shoe: in the erect posture and the gait with and without high hell
gait, posture. shoes. The research was descriptive comparative, with randomized sample of 30
adolescents. The subjective data had been collected through interview, and the kinematic
ones by kinemetry in the erect posture and gait, after treatment by software CorelDraw
9.0. The data analysis was made by software Microsoft Office Excel 7.0 with Windows
Platform ME. The joined averages did not have significant differences in the gait and
the posture of the adolescents with and without the high hell shoes, with p = 5%.

Recebido 12 de agosto de 2003; aceito 1 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Aderbal Silva Aguiar Jr, Coordenação do Curso de Fisioterapia, av. José Acácio Moreira, 787, Bairro Dehon
88704-900 Tubarão SC, E-mail: aderbaljr@unisul.br

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184 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Introdução b) Dor: é uma experiência sensorial e emocional desa-


gradável associada ou descrita em termos de lesões reais
O calçado de salto alto é um recurso estético ou potenciais. A dor é sempre subjetiva. Cada indivíduo
freqüentemente utilizado pela população feminina, de aprende a utilizar este termo através de suas experiências;
qualquer idade, inclusive crianças, algumas em fase de c) Cadeia muscular posterior: Para Marques [10] a
desenvolvimento. Linder e Saltzman[1] enfatizam a re- cadeia muscular posterior é composta pelos músculos da
emergência do calçado de salto alto e o interesse científico planta do pé, músculos posteriores da perna e da coxa e os
no terceiro quarto do século XIX, seguindo-se pelo seu músculos da coluna vertebral.
desaparecimento na Revolução Francesa, estando associada
com a crescente pressão dos empregadores para o uso deste Os instrumentos para coleta utilizados na pesquisa foram:
calçado por prolongados períodos de trabalho. Segundo Smith • Fita métrica, de um metro e trinta centímetros de
et al. [2] durante a marcha, o apoio do pé se divide em 60% comprimento;
para o antepé e 40% para o retropé, sendo que quando é • Balança antropométrica, marca Filizola;
utilizado o calçado de salto alto esses valores se alteram, • Marcadores de isopor com diâmetro de 35mm;
pois o peso sustentado pelo antepé está relacionado com a • Câmera de vídeo, da marca Panasonic, modelo PV -
altura do calcanhar, havendo assim uma descarga maior de IQ 205D VHS-C;
peso sobre o antepé devido o trabalho isométrico no • Entrevista;
movimento de plantiflexão do tornozelo, de acordo com • Ficha para avaliação antropométrica;
Dawson et al. [3], Franklin et al. [4], Nyska et al. [5] e McBride • Máquina fotográfica digital, Sony FD Mavica, modelo
et al. [6], assim como também aumento na lordose lombar. MVC – FD75;
A marcha além de ter um objetivo funcional tem que ser • Fundo negro, de tecido fosco, de 6m2;
também segura e estética. Fatores posturais e sociológicos • Calçado de salto alto com 10,5 cm no calcanhar e 1,5
como o uso do calçado alto pode influenciar a incidência e a cm na parte anterior do caçado;
severidade de dor anterior do joelho em mulheres, afirma • Vídeo cassete, da marca Panasonic, modelo super 4
Fulkerson e Arendt [7,8]. HD, G21 digital, com freqüência de aquisição de 24Hz;
O objetivo da pesquisa foi analisar o comportamento • Software CorelDraw 9.0.
cinemático do joelho na marcha de adolescentes que utilizam
O estudo piloto foi realizado no dia 26 de março de
calçado de salto alto e comparar esses mesmos ângulos na
2002, antes de começar a coleta de dados para verificar a
marcha sem calçado, verificando também os ângulos em
qualidade da imagem da filmagem e da fotografia e para
ortostatismo, o comprimento do membro inferior, o peso, a
corrigir erros sistemáticos.
altura das adolescentes e a história do uso do calçado de
Em seguida, foi passado em salas de ensino médio do
salto alto, identificando o tipo e o tamanho do salto que
Colégio Dehon da cidade de Tubarão e em salas de faculdade,
utilizam com mais freqüência.
principalmente em salas do curso de Fisioterapia, e
convidadas adolescentes a participarem da pesquisa, fazendo
Material e métodos
uma breve explicação de como seria a pesquisa e o local da
pesquisa, na Clínica Escola de Fisioterapia da UNISUL de
A pesquisa foi do tipo descritiva comparativa, com uma
Tubarão em agosto de 2002.
população considerada de distribuição normal, constituída
Foi aplicada uma entrevista constando dados pessoais,
por mulheres jovens, colegiais e universitárias, do Colégio
história do uso do calçado e comportamento dos
Dehon e Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL,
desconfortos, seguindo-se da mensuração das medidas
de Tubarão-SC. A amostra da pesquisa teve tamanho 30 e
antropométricas: massa corpórea, altura e comprimento real
caráter randômico. Os dados foram adquiridos através de
dos membros inferiores.
entrevista, antropometria e por cinemetria do joelho das
adolescentes deambulando e em ortostatismo, com e sem Figura 1 – Calçado utilizado na pesquisa
calçado de salto alto. A análise dos dados foi feita pelos
programas CorelDraw 9.0 e pelo Microsoft Oficce Excel
7.0 com plataforma Windows ME.

As variáveis da pesquisa foram:


a) Ângulo do joelho: Segundo Hamil et al. [9], durante a
caminhada o pé toca o solo com a articulação do joelho
quase estendida (5° a 8° de flexão). Durante a fase de apoio,
o joelho está em 0°. E durante a retirada do pé do solo, o
joelho está em 40° de flexão;

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 185

Os marcadores de bolas de isopor foram posicionados Gráfico I - Flexão do joelho durante a marcha.
nos pontos: trocânter maior, linha articular do joelho acima
da cabeça da fíbula e no maléolo lateral sendo fixadas com
pedaço de fita adesiva transparente, em decúbito dorsal para
realização da cinemetria.
Na cinemetria estática foi fotografado o perfil direito
com olhar para o horizonte. O calçado de salto alto foi da
mesma marca e modelo, mudando apenas a numeração.
Na cinemetria dinâmica foi filmado o plano sagital direito
caminhando com o calçado de salto alto e depois sem o
calçado, adquirindo em média uma passada ou uma passada
e meia da adolescente, numa velocidade auto-elegida para a
mesma, com o olhar fixo para o horizonte. Contato inicial: Conforme Ramalho, o contato inicial é
A filmagem e a fotografia foram feitas com um fundo o início da fase de apoio, correspondendo ao pico máximo
negro, para possibilitar contraste com os marcadores de resposta à carga o momento em que o calcâneo faz
de isopor. contato com o solo e nesse momento o joelho está em
A aquisição dos dados cinemáticos angulares da marcha extensão quase completa e conforme Saad [13] o joelho
foi realizada por fotografia no slow motion do vídeo cassete está com uma angulação de 180° a 175°. A média do ângulo
nos momentos do contato inicial do calcâneo, do apoio médio do joelho encontrada na marcha sem calçado foi de 173,4°
e no apoio final. ± 4,3 com o calçado de salto alto foi de 169,5° ± 6,8.
Depois de adquiridos os eventos da marcha e da postura, Estatisticamente não existiu diferença significativa entre as
foram analisados os ângulos do joelho no programa duas médias, com o calçado de salto alto e sem o calçado,
CorelDraw 9.0 avaliando esses dados com o calçado de com significância é igual a 5%.
salto alto. Apoio médio: É o avanço do corpo sobre o pé
Os dados foram avaliados por estatística indutiva, no estacionário, afirma Saad e nessa fase o joelho está a 180°.
programa Microsoft Office Excel 7.0, utilizando o teste t A média encontrada do ângulo do joelho nessa fase na
de distribuição de student com p = 0,05. O valor crítico, marcha sem calçado foi de 171,1° ± 6,5. Com o calçado de
para n = 30 e p = 5%, foi retirado de Neto [11]. salto alto a média do ângulo do joelho foi de 167,7° ± 8,1.
Estatisticamente também não houve diferença significativa
Resultados entre as médias do ângulo do joelho encontrada na marcha
com o calçado de salto e sem o
Tabela I - Variável postural. calçado, com significância igual
a 5 %. Na análise do gráfico I,
Variável Com salto Sem salto tteste T51,5%
observamos uma discreta dimi-
Ângulo de flexão do joelho1 174,4º±4,5 175,1º±3,8 0,3722 2,055
nuição da extensão com o calçado
1 – Graus.
de salto alto, o que também foi
observado por Snow e Willians
Tabela II - Variáveis cinemáticas da marcha.
[14] e Ebbeling et al. [15].
Variável Com salto Sem salto tteste T51,5%
Contato final: segundo o
Ângulo de flexão do joelho -Apoio inicial1 173,4º ± 4,3 169,5º ± 6,8 0,0701 2,048
autor citado anteriormente, essa
Ângulo de flexão do joelho - Apoio médio1 171,1º ± 6,5 167,7º ± 8,1 0,1818 2,03 fase também pode ser chamada
Ângulo de flexão do joelho - Apoio final1 139 ± º14,6 145,2º ± 15 0,1952 2,021 de desprendimento do pé, sendo
1 – Graus. caracterizada como preparação
para a fase de balanço. Nesse momento o joelho está a
140° de flexão. Na marcha sem calçado a média do ângulo
Discussão do joelho no contato final foi de 139,0° ± 14,6. E a média
do ângulo do joelho no contato final na marcha com o
O gráfico I está relacionado com a análise cinemática calçado de salto foi de 145,2° ± 15,0. Como os ângulos que
da marcha de adolescentes, fazendo uso de calçado de foram obtidos na marcha das adolescentes, com o uso de
salto alto e sem o calçado. O objetivo foi de verificar o calçado de salto alto e sem uso de calçado foram pequenas,
ângulo do joelho, na fase de apoio nesses dois tipos de estatisticamente, a pesquisa provou que o uso do calçado
marcha. Segundo Ramalho [12], a fase de apoio está de salto alto não altera o ângulo do joelho na marcha.
dividida em contato inicial, contato total do pé, médio apoio, Nós não encontramos alterações cinemáticas na marcha
desprendimento de retropé e desprendimento do pé. desta amostra, embora autores como Kerrigan et al. [16],

artigo 08 - Aderbal.pmd 185 22/06/04, 13:34


186 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

num estudo com amostra razoável de 20 mulheres jovens faixa saudável quando o resultado fica entre 19 e 25 pontos;
tenham encontrado aumento de 23% nas forças de com uma média de altura de 1,63 m, não tiveram
compressão patelofemoral na marcha com salto alto do estatisticamente discrepância de membros inferiores, com
que descalço. significância = 5%. Na pesquisa a média de comprimento
de membro inferior destas jovens saudáveis direito foi de
Gráfico II - Flexão do joelho em ortostatismo. 84,8 ± 3,9 cm e do membro inferior esquerdo de 85,4 ±
4,3cm. Através do cálculo de Anderson e Green citado
por Santih e Mercadante [20] foi calculado o nível de
discrepância pela fórmula:
comprimento do – comprimento do
Gravidade = lado normal lado encurtado
__________________________________ x 100
da assimetria comprimento do lado normal

Onde é considerado como uma discrepância leve quando


atinge 10% e a média das adolescentes que participaram da
pesquisa foi de 7%, considerando-se então que elas não
possuem discrepância de membros inferiores.
De acordo com a entrevista realizada com as adolescentes
foi verificado que 100% das participantes utilizam calçado de
A média do ângulo do joelho na posição ortostática em salto alto, sendo que 41% das participantes usam o calçado de
repouso foi de 174,4° ± 4,5 com o calçado de salto e sem o salto grosso com mais freqüência, 31% utilizam o calçado de
calçado a média do ângulo foi de 175,2° ± 3,8. salto fino com mais freqüência e 28% usam o calçado com o
Estatisticamente não houve diferença no ângulo do joelho salto plataforma, ou seja, uma distribuição quase uniforme.
com o calçado de salto e sem o calçado, com significância Recordando Linder e Saltzman sobre a crescente pressão
igual a 5%, pois Smith et al cita que o ângulo do joelho em dos empregadores para o uso deste calçado por prolongados
flexão na postura simétrica é de 174° e Marques afirma períodos de trabalho, através da entrevista verificamos 100%
que o encurtamento da cadeia posterior predispõe o individuo das adolescentes utilizando calçado de salto alto, com alta
a um joelho em flexo. De Lauter et al. [17] encontraram média de uso semanal de 4,8 dias e diária de 7,5 horas.
números diretamente contrários aos nossos, estáticos e Essas adolescentes começaram a usar o calçado por volta
dinâmicos, indicando compensação no tornozelo e joelho. dos 14 anos de idade, sendo o salto grosso o tipo de salto de
preferência e a altura do salto mais utilizada é de 10cm. Os
Gráfico III - Discrepância de membros inferiores. calçados com alturas de saltos mais baixos são utilizados
por poucas adolescentes.
Quanto à altura do salto as adolescentes citaram mais de
uma altura que utilizam com freqüência. A altura do salto
utilizada com mais freqüência é o salto de 10cm em que 23
adolescentes fazem o uso desta altura com mais freqüência.
O salto de 4cm é o salto menos utilizado, apenas 3 adolescentes
fazem o uso desse com freqüência. O salto de 3cm é utilizado
por 4 adolescentes, o salto de 5cm foi relatado por 9
adolescentes, o salto de 6cm é utilizado por 10 adolescentes
que usam com freqüência, a altura do salto de 7cm é utilizado
com freqüência por 12 adolescentes, à altura do salto de 8cm
é utilizado por 20 adolescentes e a altura do salto de 12 cm é
Através da ficha de avaliação foi verificado que as utilizado por 6 adolescentes com freqüência.
adolescentes pesquisadas apresentaram uma média de 18,5 Com relação ao desconforto na utilização de calçado de
anos e segundo Chipkevitch [18] o período da adolescência salto alto, 63% das adolescentes pesquisadas apresentaram
varia de 17 a 20 anos; com média de massa corporal de queixas e 37% não. Na entrevista sobre a história de uso do
53,7 kg, que através do índice da massa corporal (IMC) calçado, encontrou-se média de 4,5 ± 1,2 anos, 4,8 ± 1,8
tiveram resultado de 20 pontos, ou seja, são saudáveis, dias semanais e 7,5 ± 1,9 horas diárias, demonstrando
sendo que Powers e Howley [19] citam que o IMC é a relevante participação no gosto humano.
relação entre o peso corporal (em kg) e a altura (em metros) O local de desconforto mais relatado foi o antepé, com
ao quadrado, e para o sexo feminino é considerado uma 31% das queixas. A perna posterior foi referida por 23%

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 187

das adolescentes, a coluna vertebral, mais especificamente 5. Nyska M, Mccabe C, Linge K, Klenerman L. Plantar foot
a lombar, por 16% das adolescentes, o retropé 13%, o joelho pressures during treadmill walking with high-heel and low-
anterior 5% e a coxa e o joelho posteriormente, a perna heel shoes. Foot Ankle Int 1996;17:662-6.
anteriormente e o tornozelo por 3% das adolescentes. A 6. McBride ID, Wyss UP, Cooke TD, Murphy L, Phillips J, Olney
SJ. First metatarsophalangeal joint reaction forces during high-
região do quadril e da coxa anterior não apresentou queixas.
heel gait. Foot Ankle 1991;11:282-8.
7. Fulkerson JP, Arendt EA. Anterior knee pain in females. Clin
Conclusão Orthop 2000;372: 69-73.
8. Fulkerson JP, Arendt EA. The female knee-anterior pain. Conn
Com a pesquisa foi verificado que o calçado de salto Med;63:661-4.
alto não interfere no ângulo do joelho, tanto na fase de 9. Hamill J, Knutzen KM. Anatomia funcional dos membros
apoio da marcha, quanto na posição ortostática. Portanto inferiores. In: Hamill J, Knutzen KM. Bases biomecânicas do
consideramos não existir riscos para o joelho, com uso de movimento humano. São Paulo: Manole; 1999. p.201-84.
calçado de salto alto, mas encontramos queixas relevantes 10. Marques AP. Cadeia Posterior. In: Marques AP. Cadeias
no pé e na coluna vertebral. musculares: um processo para ensinar avaliação fisioterapêutica
As adolescentes que participaram da pesquisa global. São Paulo: Manole; 2000. p.23-54.
apresentaram-se com massa corporal dentro dos padrões 11. Neto C, Oliveira PL. Estatística. São Paulo: Edgard Blücher;
saudáveis, através dos cálculos do Índice de Massa Corporal 1977. p.252.
12. Ramalho Jr A. Mecânica da marcha. In: Leitão A, Leitão VA.
(IMC) e sem discrepância de membros inferiores.
Clínica de reabilitação. São Paulo: Atheneu; 1995. p.43-67.
O desconforto do uso do calçado de salto alto foi relatado 13. Saad M. Locomoção. In: Chamlian TR. Medicina física e
por 63% das adolescentes, com maior freqüência de queixas reabilitação. São Paulo: Caio Augusto de Souza Nery; 1999.
na região do antepé, seguido por queixas na região posterior cap. 4, p.20-23.
da perna e na região lombar da coluna vertebral, sem queixas 14. Snow RE, Williams, KR. High heeled shoes: their effect on
relevantes na região do joelho. center of mass position, posture, three-dimensional
Após avaliação dos dados, nossa opinião não considera kinematics, rearfoot motion, and ground reaction forces. Arch
o uso do calçado de salto alto responsável pelo desenvol- Phys Med Rehabil 1994;75:568-76.
vimento de alterações patológicas do joelho e de tamanho 15. Ebbeling CJ, Hamil J, Crussemeyer JA. Lower extremity
mechanics and energy cost of walking in hig-heeled shoes. J
de membros inferiores, na faixa etária estudada. Sendo
Orthop Sports Phys Ther 1994;19:190-6.
demonstrada relevante freqüência de uso e afinidade por 16. Kerrigan DC, Todd MK, Riley PO. Knee osteoarthritis and
este tipo de calçado. high-heeled shoes. Lancet 1998;351:1399-401.
Sugerimos o mesmo estudo, avaliando-se o compor- 17. De Lateur BJ, Gianconi RM, Questad K, Ko M, Lehmann JF.
tamento principalmente do pé, mas também tornozelo e Footwear and posture: compensatory strategies for heel height.
coluna lombar. Am J Phys Med Rehabil 1991;70: 246-54.
18. Chipkevitgh E. Adolescência e puberdade: a dimensão
Referências psicossocial. In: Chipkevitgh E. Puberdade & adolescência:
aspectos biológicos, clínicos e psicossociais. São Paulo: Roca;
1. Linder M, Saltzman CL. A history of medical scientists on 1995. p.111-61.
high heels. Int J Health Serv 1998;28:201-25. 19. Powers SK, Howley ET. Composição corporal e nutrição para
2. Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl LD. Cinesiologia clínica de a saúde. In: Powers SK, Howley ET. Fisiologia do exercício:
Brunnstrom. 5ª ed. São Paulo: Manole; 1997. teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3ª
3. Dawson J, Thorogood M, Marks AS, Juszczak E, Dodd C, ed. São Paulo: Manole; 2000. p.317-58.
Lavis G, Fitzpatrick R. J Public Health Med 2002;24:77-84. 20. Santih R, Mercadante MT. Desigualdade de comprimento dos
4. Franklin ME, Chenier TC, Brauninger L, Cook H, Harris S. membros inferiores. In: Hebert S, Xavier R. Ortopedia e
Effect of positive heel inclination on posture. J Orthop Sports traumatologia: princípios e práticas. 2ª ed. Porto Alegre:
Phys Ther 1995;21:94-9. Artmed; 1998. p.313-23. C

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188 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Artigo original

Efeitos da fisioterapia no aprimoramento


da vida sexual feminina
Physical therapy effects on women sexual life improvement
Maicon Wronski de Medeiros*, Melissa Medeiros Braz**, Karina Brongholi**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Tubarão, **Professora da disciplina de Fisioterapia
aplicada à Ginecologia e Obstetrícia II da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Tubarão

Resumo
Para a Organização Mundial da Saúde, a felicidade sexual é uma condição inseparável
Palavras-chave: da condição de saúde. Com isso, a Fisioterapia assume importância na obtenção do
fortalecimento perineal, prazer sexual. Este estudo é do tipo experimental sem grupo controle e com pré e pós-
vida sexual. teste. Foram acompanhadas quatro pacientes, duas orgásmicas e duas anorgásmicas
como objetivo de analisar o efeito do fortalecimento perineal na melhora da vida sexual
e no tratamento da disfunção sexual feminina enquanto anorgasmia. Para isso, foi
aplicado um questionário, uma ficha de avaliação e foi graduada a força perineal através
de toque bidigital, cones vaginais e biofeedback. Foi estabelecido um protocolo de tratamento
e realizados dez atendimentos. Observou-se que todas as pacientes relataram aumento
da satisfação sexual, sendo que as anorgásmicas passaram a experimentar orgasmos.
Embora não tenha havido ganho de força perineal significativo, o aumento da consciência
corporal pode explicar a melhora da vida sexual.

Abstract
For the World Health Organization, the sexual happiness is an inseparable condition
Key-words: of health. Due to it, the physical therapy has a great importance in order to obtain
perineal strengthening, sexual pleasure. This is an experimental study without control group and with pre and
sexual life. post test. Four patients were attended, two of them with orgasm and the others
anorgasmic. The aim was to analyze the effect of perineal strengthening in the
improvement of the sexual life and, also, in the treatment of the women with anorgasmy.
It was applied a questionnaire, an evaluation sheet, and was graduated the perineal
power through finger touch, vaginal cone and biofeedback. It was established a treatment
register and was realized follow-up. It was observed that all patients reported that their
sexual pleasure had increased, and anorgasmic women began to experience the orgasm.
However they did not present significant gain of perineal strengthening, the increase of
body conscience can explain better the improvement of sexual life.

Recebido 12 de dezembro de 2003; aceito 1 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Melissa Medeiros Braz, Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Av. José Acácio Moreira, 787
Bairro Dehon 88704-110 Tubarão SC, Tel: (48)233 3450/ 9102 2492, E-mail: melissabraz@unisul.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 189

Introdução Para Back [1], o tratamento da disfunção sexual é


de suma importância, pois na questão da saúde
A sexualidade é um processo amplo e muitas vezes propriamente dita a questão sexual desempenha uma
complexo. Projeta-se no corpo todo, não se limitando aos função vital para os dois sexos, tanto que a Organização
órgãos sexuais ou ao ato sexual. Complexo também quando Mundial de Saúde (OMS) estipula que a felicidade
depende de nossa cultura que diferencia a sexualidade sexual é uma condição inseparável da questão da saúde,
masculina da feminina. onde a falta de prazer pode desencadear múltiplos
Sem dúvida a emancipação da mulher, o advento da problemas como uma constante tensão e mau humor,
pílula anticoncepcional vem contribuindo para a liberdade depressão, insônia, entre outros.
de prazer. Esta não é vista como um problema, visto que se A mulher que tem dificuldades para atingir o orgasmo
hoje o sexo feminino tem dificuldades sexuais, essas eram pode se tornar uma pessoa deprimida, aflita, com
múltiplas quando faltava a liberdade. baixa auto-estima e por isso com uma qualidade de
Trataremos aqui das dificuldades que essa mulher vida comprometida.
“moderna” enfrenta diante do apelo e da tirania sexual que Segundo Abuchaim e Galvão [2], a ausência de orgasmo
se estabeleceu nas últimas décadas. Essa tirania desvincula pode atingir qualquer faixa etária, mas há maior predomínio
conhecimento, felicidade, afetividade da prática sexual. A em mulheres jovens, devido ao início da atividade sexual,
obrigatoriedade do orgasmo, a virgindade vista como onde a falta de experiência dificulta a chegada do clímax. Os
vergonha, fazem com que a mulher fique ainda mais retraída sexólogos dizem que, na maioria dos casos, a capacidade
para expor seus problemas para a sociedade e até mesmo orgásmica tende a aumentar com o passar dos anos e chega
para profissionais da área. ao máximo por volta dos 35 anos. A mulher com anorgasmia
O sexo feminino é tido como “passivo”, possui pode aproveitar plenamente as outras fases do ato sexual,
sexualidade mais difusa (corpo todo) uma vivência mais isto é, tem desejo, aproveita as carícias e se excita, porém
espiritual e uma sensualidade maior que a genitalidade, ao algo bloqueia no momento do orgasmo.
contrário do homem que possui sexualidade mais focalizada A fisioterapia aplicada à disfunção sexual feminina pode
(genital) e uma vivência mais objetiva, portanto mais trabalhar com técnicas simples e de baixo custo, um exemplo
condizente com a turbulência do dia-a-dia. deste é a cinesioterapia, utilizando técnicas específicas para
Dentre as disfunções sexuais que atingem mais disfunção sexual tais como cones vaginais; assim melhorando
comumente o sexo feminino, destacamos a anorgasmia, que a vida sexual dessas mulheres que enfrentam dificuldades
se entende por dificuldade de atingir o orgasmo. Anorgasmia para alcançar o orgasmo.
não deve ser confundida com frigidez, pois a mulher que Dentro deste contexto, a fisioterapia aplicada à
sofre de anorgasmia tem interesse sexual e todas as respostas anorgasmia surge como uma nova opção de tratamento
satisfatórias para realizar o ato sexual. A anorgasmia pode que poderá minimizar a disfunção entre as mulheres.
ser classificada como primária, secundária e absoluta. Buscando um novo equilíbrio entre corpo e mente há
A avaliação do grau de força perineal e o tratamento grandes probabilidades do tratamento fisioterapêutico
fisioterapêutico é pouco conhecido na disfunção sexual da proposto tornar-se benéfico.
anorgasmia. Nosso objetivo é justamente pesquisar o grau
de força perineal e quais os efeitos do fortalecimento perineal Materiais e Métodos
em pacientes com tal diagnóstico.
A anorgasmia atinge um número extremamente grande A pesquisa realizada foi do tipo experimental com grupo
de mulheres, no entanto é difícil saber ao certo o número único com pré e pós-teste. Visou analisar os efeitos das
exato das mulheres que são vítimas dessa disfunção, pois técnicas de fortalecimento perineal em mulheres orgásmicas
destas, ao tratar de anorgasmia, a primeira atitude defensiva e anorgásmicas.
é negá-la. Segundo o psicólogo Pinheiro entre 50% e 70% A população consistiu em mulheres com anorgasmia e
das mulheres brasileiras têm anorgasmia. mulheres orgásmicas, sem patologia associada, nuligestas
As disfunções sexuais têm sido quase que exclusivamente entre 20-22 anos, acadêmicas da Universidade do Sul de
tratadas em consultórios psicológicos e ginecológicos. Santa Catarina – UNISUL, Tubarão, Santa Catarina.
Geralmente o processo é o mesmo: a paciente procura um A amostra foi formada por quatro mulheres (sendo duas
ginecologista e este acaba encaminhando o paciente a orgásmicas e duas anorgásmicas).
consultórios psicológicos.
Devido à grande quantidade de mulheres que sofrem de Para realização desta pesquisa foram utilizados:
anorgasmia entendemos a necessidade de outras áreas – não
só a Medicina e a Psicologia – abrangerem o tema. Nessa a) Ficha de avaliação: que se constitui de anamnese
área a fisioterapia é uma inovação que pode trazer benefícios e exame físico das mulheres e que foi validada por cinco
a muitos casais e principalmente para as mulheres. fisioterapeutas;

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190 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

b) Questionário: com perguntas referentes à patologia, inferior em seguida o outro (abdução de membros inferiores
que foi validado por cinco fisioterapeutas; com uso do cone).
c) Escala de satisfação em relação à vida sexual: foi elaborada Foram realizadas 10 sessões com cada paciente, em dias
uma escala de graduação da satisfação sexual, na qual a paciente alternados, na Clínica-Escola de Fisioterapia da Universidade
graduava em números a sua satisfação com a sua vida sexual. do Sul de Santa Catarina, durante o período que foi de
A graduação variava de 0 a 3, sendo 0 – insatisfeita, 1 – junho a setembro de 2003, cada sessão durava
satisfação regular, 2 – satisfeita e 3 – muito satisfeita. aproximadamente 50 minutos. Os resultados foram
analisados ao fim das dez sessões com a reavaliação das
Foi realizada avaliação do grau de força perineal através de: pacientes e a nova aplicação do questionário para analisar
os resultados.
- Exame de toque bidigital: o exame de toque foi realizado
com o uso de luvas e lubrificante. Este consiste na introdução Resultados e Discussão
dos dedos médio e indicador na vagina da paciente, afastam-
se os dedos para assim poder graduar a força de contração. Caracterização das pacientes anorgásmicas
Este foi graduado de 0 a 3 (0 – sem contração, 1 - pouca
contração, 2 – tem contração, mas não vence a resistência As duas pacientes anorgásmicas possuíam 20 anos de
feita pela mão, 3- contração que vence a resistência da mão). idade. Segundo Piato [4], ao contrário do que se possa
- Cones vaginais: Segundo Polden e Mantle [3] são imaginar, as mulheres de menor faixa etária, ou seja,
pequenas cápsulas de formato anatômico, constituídas de mulheres com um desconhecimento parcial, ou menos total,
materiais resistentes e relativamente pesados, o peso dos cones da musculatura perineal possuem maiores dificuldades de
variam de 20 a 70 gramas aproximadamente. Os cones alcançar o orgasmo.
vaginais que foram utilizados eram da marca Femtone, que Ambas as pacientes classificavam como boa sua
era composto por um kit de cinco cones. Para graduação de primeira relação sexual, mas não conseguiram obter o
força perineal com os cones vaginais foram realizados uma orgasmo. Segundo Quintas [5], assim como aprendemos
seqüência de atividades (caminhar, subir e descer escadas, a andar, ler, dirigir, comer, nós também aprendemos a
subir e descer rampas, pular, realizar contração de cócoras) atingir o orgasmo. O que ocorre para muitos é esse
com a utilização dos cones. As pacientes iniciavam as atividades aprendizado ser uma maneira muito natural, enquanto
com o cone de menor peso (número 1) e foram aumentados para outros se faz necessário um percurso maior. Cada
até o limite máximo que elas puderam suportar. pessoa tem seu desenvolvimento de acordo com seu ritmo.
Os exercícios realizados nas dez sessões eram os As pacientes possuíam vida sexual ativa há dois anos,
seguintes: iniciava-se com a paciente na posição de sendo que no decorrer deste tempo não conseguiram atingir
decúbito dorsal, realizando 5 contrações perineais de 3 o clímax da relação, sendo com os parceiros atuais ou com
segundos cada, com a utilização do aparelho de parceiros anteriores.
biofeedback Perina, realizava-se 3 séries de 5. Paciente na Segundo relato das pacientes, ambas afirmaram que
posição de cócoras, realizar 5 contrações perineais de 3 nunca se masturbaram. Segundo Bouer [6], o orgasmo
segundos, com a utilização do Perina. Em 2 séries de 5. feminino está diretamente ligado ao grau de excitação da
Paciente em decúbito dorsal fazendo ponte, associada à mulher, seu bem estar físico, estado do humor e do que se
contração perineal. Realizado 10 vezes. Paciente em decúbito faz necessário para se chegar ao clímax da relação. Um
dorsal, joelhos fletidos, colocava-se uma bola entre os joelhos grande número de mulheres realmente tem dificuldades
e realizava-se a contração de adutores e contração perineal. para chegar ao orgasmo, principalmente durante o ato sexual
Realizava-se 10 vezes. Paciente em decúbito dorsal realizava e mais especificamente com a penetração. Para chegar ao
contração da bola, associado à ponte e à contração de glúteo. orgasmo com maior facilidade é importante conhecer
Fazia-se 10 vezes. Paciente em pé realizando anteversão e melhor o próprio corpo para depois se sentir mais à
retroversão pélvica, por 10 vezes. Paciente em pé realizando vontade com o corpo do outro. Para isso, nada melhor
agachamento, no momento em que levantava realizava-se que a masturbação.
contração. Realizado por 10 vezes. Em relação às fases do sexo por que cada paciente passa,
Ao fim dessas atividades foi realizado um circuito no ambas relataram que passam pelo desejo, excitação e
qual a paciente caminhava em uma pista pré-determinada, lubrificação, não se conseguindo chegar à fase do orgasmo
na qual subiu e desceu escadas, subiu e desceu rampas com e resolução.
a utilização dos cones vaginais por 10 vezes. O peso do
cone foi estipulado no dia da avaliação, no qual foi testado Caracterização das pacientes orgásmicas
o número do cone adequado para cada paciente. Foi realizada
também contração com uso do cone na posição de cócoras. Uma das pacientes orgásmicas tinha 20 e a outra, 22
Além de apoiar-se no espaldar, elevando um membro anos de idade. Uma paciente classificava como boa sua

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 191

primeira relação sexual. Já a outra como péssima. Ambas Grau de satisfação com a vida sexual
não conseguiram obter o orgasmo na primeira relação. das pacientes orgásmicas
As pacientes possuíam vida sexual ativa que variava de
dois anos na paciente mais nova e quatro anos na outra Gráfico II - Grau de satisfação sexual das pacientes orgásmicas antes e
paciente, sendo que no decorrer deste tempo conseguiram após o tratamento fisioterápico.
atingir o clímax em algumas das relações, sendo com o
parceiro atual ou com parceiros anteriores.
Segundos relatos das pacientes, ambas afirmaram que
nunca se masturbaram. Em relação às fases do sexo, ambas
relataram que já passaram por todas as fases, ou seja, desejo,
excitação e lubrificação, orgasmo e resolução.
Ambas as pacientes relataram que não se preocupam
com a obtenção do orgasmo, pois estas atingem o mesmo
em algumas de suas relações sexuais.

Grau de satisfação com a vida sexual das


pacientes anorgásmicas Com o gráfico 2 se podem constatar os efeitos benéficos
do tratamento fisioterápico das pacientes orgásmicas. Pode-
Gráfico I - Grau de satisfação sexual das pacientes anorgásmicas antes se observar que as duas pacientes evoluíram seu grau de
e após o tratamento fisioterápico. satisfação sexual de satisfeita (2) para muito satisfeita (3).
Não podemos deixar de enfatizar que ambas as pacientes
relataram que a relação sexual ficou melhor.
Com isso foi possível demonstrar os efeitos benéficos do
protocolo de tratamento fisioterápico proposto neste trabalho.

Grau de força perineal através do toque


bidigital das pacientes anorgásmicas

Gráfico III - Grau de força perineal das pacientes anorgásmicas antes e


após o tratamento fisioterápico através do toque bidigital.

Com o gráfico 1 podem-se constatar os efeitos benéficos


do tratamento fisioterápico das pacientes anorgásmicas.
Pode-se observar que uma das pacientes evoluiu seu grau
de satisfação sexual de satisfação regular (1) para satisfeita
(2). Já a outra paciente evoluiu de satisfação regular (1)
para muito satisfeita (3). Não podemos deixar de enfatizar
que ambas as pacientes obtiveram orgasmo na relação sexual
com seus parceiros com a realização do tratamento
fisioterápico. Com isso foi possível demonstrar os efeitos
benéficos do protocolo de tratamento fisioterápico proposto
neste trabalho.
Segundo Grosse e Sengler [2], o trabalho fisioterápico
na anorgasmia é de suma importância, pois ele pode auxiliar De acordo com o gráfico 3, pode-se observar que a
na obtenção de vários tipos de contração, com isso podendo força inicial de ambas as pacientes anorgásmicas era grau 3
auxiliar na obtenção do orgasmo na relação sexual. e permaneceu a mesma após o tratamento. Não se observou
Fluckiger [8] relata que os exercícios fisioterápicos ganho de força, no entanto ambas relataram melhora na
auxiliam muito as mulheres no ato sexual. Pois com eles vida sexual, o que pode ser explicado por uma melhor
fica cada vez mais próximo de se chegar ao orgasmo consciência da musculatura perineal.
para as mulheres anorgásmicas, e para as mulheres Segundo Moreno [9], no tratamento fisioterápico, a
orgásmicas que não apresentavam dificuldade alguma conscientização da região pélvica e perineal das mulheres
relatam que os orgasmos passaram a ser mais intensos e com disfunção sexual e incontinências é muito importante.
em maior número. Considerando que aproximadamente 37% das mulheres

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192 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

não tem consciência corporal de sua região pélvica e não propostas no protocolo de tratamento. Além de auxiliarem
conseguem contrair seus músculos perineais quando na consciência corporal das pacientes.
solicitados, cabe ao fisioterapeuta despertar nestas Moreno [9] relata que o uso dos cones vaginais aumenta a
pacientes a propriocepção dessa região. força muscular do assoalho pélvico, mas também torna a
Segundo Mannocci [10], os exercícios perineais destinam- atividade fisiológica desses músculos mais coordenada com as
se a intensificar as sensações na área perineal, aumentando a contrações, melhorando a função da musculatura no ato sexual.
consciência corporal desta região. Com isso preparando a região
para que esta responda corretamente aos estímulos sexuais. Grau de força perineal com os cones
Foi possível obser var que a anorgasmia dessas vaginais das pacientes orgásmicas
pacientes não era em relação à diminuição da força de
contração perineal, pois ambas apresentavam uma Gráfico V - Grau de força perineal das pacientes anorgásmicas antes e
contração perineal satisfatória. Mas sim pela diminuição após tratamento fisioterápico com utilização dos cones vaginais.
da sua consciência corporal, o que causava uma
dificuldade na obtenção do orgasmo.

Grau de força perineal através do toque


bidigital das pacientes orgásmicas

Gráfico IV - Grau de força perineal das pacientes orgásmicas antes e após


o tratamento fisioterápico através do toque bidigital.

O gráfico 6 demonstra a utilização dos cones vaginais


com as pacientes orgásmicas. Pode-se observar que uma da
pacientes apresentou uma evolução significativa passando
do cone de número 1 para o cone de número 3. Já a segunda
paciente manteve uma seqüência na utilização dos cones,
ou seja, durante as sessões fisioterápicas foi utilizado o cone
de número 4, isso não que dizer que esta paciente não
evoluiu, pois mesmo mantendo-se no cone de mesmo
número, as pacientes ganhou maior resistência na realização
Com o gráfico 4, pode-se observar que a força inicial das atividades propostas no protocolo de tratamento. Além
de ambas as pacientes orgásmicas era grau 2. E ao término de auxiliarem na consciência corporal das pacientes.
do tratamento uma manteve-se em grau 2 e a outra paciente
evoluiu para grau 3. Não se observou ganho de força em Gráfico VI - Grau de força perineal das pacientes orgásmicas antes e após
uma das pacientes, no entanto ambas relataram melhora tratamento fisioterápico com utilização de cones vaginais.
na vida sexual, o que pode ser explicado por uma melhor
consciência da musculatura perineal.

Grau de força perineal com os cones


vaginais das pacientes anorgásmicas

O gráfico 5 demonstra a utilização dos cones vaginais


com as pacientes anorgásmicas. Pode-se observar uma
seqüência na utilização dos cones, ou seja, durante as sessões
fisioterápicas foi utilizado o cone de número 4, isso não que
dizer que as pacientes não evoluíram, pois mesmo
mantendo-se no cone de mesmo número, as pacientes
ganharam maior resistência na realização das atividades

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 193

Conclusão Referências

Com a finalização desta pesquisa foi possível obter 1. Back LR. Clínica renascer vaginismo. [citado 24 ago 2002].
resultados significativos no tratamento de mulheres com Disponível em URL: http://www.mps.com.br/infoserv /
disfunção sexual, em específico das anorgásmicas. renascer / vaginismo.htm
2. Abuchaim CM, Galvão ALA. A sexualidade normal e
Demonstrando assim a importância dos efeitos da
transtornos sexuais. [citado 24 ago 2002]. Disponível em URL:
Fisioterapia no tratamento desse tipo de patologia. http://www.abcdocorposaluta.com.br/artig o.php?
Com o protocolo de tratamento aplicado foi possível codArt=52
observar os efeitos significativos da Fisioterapia nesta área. 3. Polden M, Mantle J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia.
Pois as pacientes anorgásmicas passaram a atingir o orgasmo; 2 ed. São Paulo: Santos; 2000.
e as pacientes orgásmicas obtiveram melhora significativa 4. Piato S. Tratado de ginecologia. São Paulo: Artes médicas;
no prazer sexual. 1997.
O protocolo de tratamento utilizado mostrou sua eficácia 5. Quintas V. Biologia do sexo. São Paulo: Atheneu; 2002.
na melhora da disfunção sexual. Foi possível constar que a 6. Bouer Jairo. Masturbação. [citado 25 set 2003]. Disponível em
URL: http://www.caliente.com.br/caliente/ duvidas/
disfunção sexual das pacientes tratadas não estava relacionada
index.shtml?duvida54.
com a falta de força perineal, pois ambas as pacientes não 7. Grosse D, Sengler J. Reeducação perineal. São Paulo: Manole;
obtiveram aumento significativo na força, mas obtiveram 2002.
uma maior consciência corporal do local. Com a melhora 8. Fluckiger K. Mulher e orgasmo. [citado 22 ago 2003].
da consciência corporal, as pacientes puderam melhorar sua Disponível em URL: http://www.escelsanet.com.br/
vida sexual. sitesaude/artigos_cadastrados/artigo.asp?art=732.
Com estes resultados pode-se observar que a Fisioterapia 9. Moreno A. Fisioterapia em uroginecologia. São Paulo: Manole;
tem muito a evoluir na área da Ginecologia e Obstetrícia. 2004.
Principalmente na área ligada à disfunção sexual, que está 10. Mannocci JF. Disfunções sexuais: abordagem clinica e
sendo descoberta e aprimorada a cada dia. Com a evolução terapêutica. 3 ed. São Paulo: Fundo editorial Byk; 1995.
C

da área e procura das mulheres por uma maior qualidade


de vida sexual, é de suma importância que a Fisioterapia
continue crescendo e se desenvolvendo para atender as
exigências das mulheres modernas.

artigo 06 - Melissa.pmd 193 22/06/04, 13:34


194 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Artigo original

Percepção subjetiva do esforço em indivíduos


hipertensos e normotensos durante a execução
do teste ergométrico
Subjective perception of the effort in hypertensive and
normotensive individuals during ergometric test

Jônatas de França Barros, D.Sc*, Geraldo de Paula Valle, M.Sc** e José Roberto Pimenta de Godoy***

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Professor da Faculdade de Educação Física, Professor e Orientador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, UnB,
**Fisioterapeuta, Professor da Funorte e FIP,***Professor de Anatomia e Neuroanatomia do UniCEUB

Resumo
Objetivo: Analisar a percepção subjetiva do esforço em indivíduos hipertensos e
Palavras-chave: normotensos do Distrito Federal, diante de estresse físico, teste de esforço em esteira
hipertensão arterial sistêmica, ergométrica (Protocolo de Bruce), utilizando a escala de Borg como medida quantitativa.
escala de Borg, percepção Delineamento da investigação: estudo analítico transversal. Local de realização: Setor de
do esforço, exaustão física.
Hemodinâmica do Hospital Anchieta, Taguatinga-DF. Amostra: 55 indivíduos com idade
entre 42 e 60 anos do setor de Hemodinâmica, foram divididos em dois grupos,
hipertensos e normotensos, segundo critério dos valores da pressão arterial sistólica e
diastólica (PAS e PAD) em repouso e da indicação médica para o teste de esforço.
Resultados: Analisando as porcentagens de freqüência cardíaca máxima de reserva durante
o teste ergométrico não foram observadas diferenças estatisticamente significativas da
percepção entre os grupos (p > 0,05) nos estágios, anterior e posterior à exaustão física
e a variação da PA apresentou correlação alta entre os grupos, (r = 0,99) para PAS e
PAD nos estágios repouso, esforço físico máximo, anterior e posterior à exaustão física.
Conclusões: A hipertensão arterial não é um fator gerador de alterações que possam
distorcer a percepção do esforço.

Recebido 6 de janeiro de 2004; corrigido 2 de março; aceito 1 de junho de 2004


Endereço para correspondência: Prof. Dr. Jônatas de França Barros, Colia-UnB Bloco E, Aptº 606, asa Norte 70910-900 Brasília-DF,
E-mail: jonatas@unb.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3- maio /junho de 2004 195

Abstract
Objective: To analyze the subjective perception of the effort in hypertensive and
Key-words: normotensive individuals from Brasilia when submitted to physical stress in ergometric
systemic arterial hypertension, test (Protocol of Bruce), using the Scale of Borg as quantitative measurement. Design:
scale of Borg, perception of the traversal analytic study. Test place: Anchieta Hospital - Section of Hemodynamic -
effort, physical exhaustion.
Taguatinga-DF. Patients: 55 individuals with age between 42 to 60 years in the
Hemodynamic Section of the Anchieta Hospital in Taguatinga-DF were divided in two
groups, hypertensive and normotensive, according to the criterion of the systolic and
diastolic arterial pressure values while resting and the medical indication for the effort
test. Results: Analyzes on the percentages of maximum cardiac frequency of reserve
during the ergometric test did not reveal statistically significant differences of the
perception between the groups (p > 0,05) for both phases, before and after the physical
effort test and the arterial pressure variation presented high correlation between the
groups, (r = 0,99) for systolic and diastolic arterial pressure in the phases of rest,
maximum physical effort, before and after the physical exhaustion. Conclusions: Arterial
hypertension is not a generating factor of alterations that can distort the perception of
the effort.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução A hipertensão arterial sistêmica é classificada como um


dos mais graves problemas de Saúde Pública que atinge o
Mudanças na vida moderna tornaram o homem um ser adulto brasileiro, exigindo apoio assistencial amplo e efetivo,
passivo na realização das tarefas, fato este devido às e uma pesquisa epidemiológica que fixe, com mais segurança,
alterações comportamentais como o aumento da expectativa sua incidência e prevalência, tanto na zona rural quanto na
de vida crescente para homens e mulheres, o predomínio de urbana, permitindo, assim, uma melhor definição dos
população urbana sobre a população rural, alterações nos programas de assistência [3].
hábitos alimentares e na vida social, o aumento crescente do A prevalência da hipertensão arterial sistêmica em alguns
sedentarismo; e, sobretudo, as mudanças na composição países como Cuba, Espanha e no Brasil gira em torno de
étnica, com misturas de raças, costumes, tradições, alteraram 32 % da população [4-6]. Cerca de 14 milhões de brasileiros
o perfil populacional no último século Castro et al. [1]. são hipertensos, sendo que 15% desse total são adultos em
A partir da revolução industrial, a mecanização do trabalho idade economicamente ativos, aumentando os custos sociais
reduziu a necessidade do homem de se expor a esforços físicos por invalidez ao trabalho (Primeiro Consenso Brasileiro para
na realização de suas tarefas cotidianas. Nos dias atuais, o o Tratamento da Hipertensão Arterial, 1994).
estilo de vida facilitou o convívio do homem com seus Entretanto a HAS é assintomática em 70 a 80% dos casos.
semelhantes e com a natureza. A grande velocidade do Portanto a melhor maneira de se diagnosticá-la é a verificação
desenvolvimento tecnológico minimizou, em grau elevado, o temporal da pressão arterial. Caso isso não seja feito, a
esforço físico do ser humano na realização dos trabalhos [1]. hipertensão pode evoluir silenciosamente por 20 a 30 anos.
Este novo perfil populacional favorece o aparecimento Certos fatores de riscos estão ligados ao aparecimento e
de índice cada vez maior de morbimortalidade resultante de desenvolvimento da hipertensão arterial. Os principais
doença crônico-degenerativa. Entre as características deste fatores que aumentam os riscos de desenvolver a HAS têm
novo perfil, o sedentarismo decorrente deste avanço íntima relação com estilo de vida individual. Estes fatores
tecnológico trouxe consigo o aparecimento de um grupo de foram divididos em fatores de riscos incontroláveis: raça,
doenças, entre elas as que acometem o sistema idade, sexo e hereditariedade; e os fatores de riscos
cardiovascular, Andrade et al. [2]. controláveis: obesidade, consumo de álcool, contraceptivo
As doenças crônicas não-transmissíveis, dentre elas a oral, tabagismo, consumo de sal, diabetes, sedentarismo,
hipertensão arterial, apresentaram um aumento significativo tensão emocional, dislipidemia.
nas últimas décadas, sendo responsáveis por um grande O tratamento da hipertensão arterial se faz apoiado em
número de óbitos em todo o país, Lessa et al. [3]. três princípios: atividade física, dieta e medicamentoso [7].

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196 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Para quantificar a intensidade de exercício que o nosso (48,71 ± 5,03 anos). O IMC no grupo experimental variou
paciente realiza, de uma forma barata, eficaz e que satisfaça de 21,9 a 29,5 kg/m2 (26,84 ± 2,28), enquanto que no grupo
os nossos interesses, existe uma escala de percepção do controle o IMC variou de 21,6 a 29,7 kg/m2 (25,62 ± 2,50).
esforço (RPE) [8,9].
Haveria diferença da percepção do esforço de um Tabela I - Estatística descritiva da amostra dos 55 indivíduos (27 indivíduos
indivíduo hipertenso submetido a um trabalho gradual em do grupo de hipertensos e 28 indivíduos do grupo normotensos) segundo a
esteira rolando durante um teste ergométrico quando Idade em anos e o Índice de Massa Corporal.
comparado ao indivíduo normotenso? Estatística descritiva Hipertensos Normotensos
Idade 51,15 ± 6,06 48,71 ± 5,03
Índice de Massa Corporal 26,84 ± 2,28 25,62 ± 2,50
Objetivo geral
n = 27 N = 28

Comparar a percepção subjetiva do esforço em grupos Foi realizado um teste t de Student em que avaliamos as
de indivíduos hipertensos e normotensos durante a médias da idade e IMC dos grupos experimental e controle.
realização do teste de força máxima em esteira ergométrica, Não sendo observada diferença significativa entre os dois
realizado em ambiente ambulatorial, utilizando a esteira grupos (p > 0,05).
rolante como ergômetro, e como instrumento de aferição, a No gráfico 1, descreve que de toda a amostra 21,8%
escala RPE de Borg [10]. são fumantes, sendo 9.1% do grupo experimental e 12,7%
do grupo controle, e 78,2% negaram ter fumado ou já haviam
Objetivos específicos parado de fumar há mais de 2 anos. Deste total de não
fumantes 40,0% pertence ao grupo de hipertensos e 38,2%
• Comparar a percepção do esforço durante o teste ao grupo de normotensos.
ergométrico em indivíduos normotensos e hipertensos.
• Avaliar a percepção subjetiva do esforço um estágio Gráfico 1 – Número de indivíduos tabagistas e não tabagistas nos grupos
antes do esforço máximo. de hipertensos e normotensos.
• Elucidar as questões a respeito da escala de Borg e sua
utilização no processo de reabilitação.
• Analisar através de técnicas não-invasivas a resposta
cardiovascular durante um teste ergométrico.
• Analisar o comportamento da pressão arterial sistólica
e diastólica em diferentes intensidades.

Material e Métodos

Este estudo caracteriza-se como analítico observacional,


do tipo coorte transversal [11]. A população do estudo foi *% Hipertensos: não tabagistas 40%; tabagistas 9,1%
moradores da cidade satélite de Taguatinga-DF e entorno *% Normotensos: não tabagistas 38,2%; tabagistas 12,7%
que freqüentaram o Setor de Hemodinâmica do hospital
Anchieta em Taguatinga com indicação para teste de esforço, Foi realizado um teste χ2, para observar se a proporção
no período junho e junho de 2001. A amostra de estudo foi de tabagistas era a mesma para os grupos de hipertensos e
uma amostra por conveniência em que os integrantes foram normotensos, não apresentando diferença significativa entre
locados a partir do momento em que compareciam ao local (p > 0,05).
da pesquisa. Os participantes da pesquisa tiveram como pré- Os resultados gráficos 2 também mostraram que a
requisito para ingresso, a prescrição médica do teste de esforço porcentagem de indivíduos que haviam feito o teste
anterior a este trabalho. As 55 pessoas que participaram deste ergométrico anterior a esta pesquisa era de 58,2% divididos
trabalho foram divididas em dois grupos: sendo 27 pessoas em 30,9% para o grupo experimental e 27,3% para o grupo
que constituíram o do grupo experimental (Hipertensos) e 28 controle. 42.8% nunca haviam feito o teste ergométrico, sendo
pessoas que formaram o grupo controle (Normotensos). 18,2% para os hipertensos e 27,3% para os normotensos.
Realizado teste χ2, não se observa diferença significativa
Resultados entre os dois grupos (p > 0,05).
Foram analisadas no gráfico 3, porcentagens da freqüência
Segundo a tabulação das respostas da entrevista dos 55 cardíaca máxima de reserva (FCMR) e freqüência cardíaca
participantes da pesquisa, observamos que no grupo máxima (FCM) um estágio anterior ao término do teste
experimental a idade variou de 42 a 60 anos (51,15 ± 6,06 ergométrico (TE), e no período de recuperação 3 minutos
anos); já no grupo controle a idade variou de 42 a 59 anos após o término do teste ergométrico (TE).

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3- maio /junho de 2004 197

Gráfico 2 – Número de indivíduos que haviam realizado teste ergométrico 84% da FCMR foi realizado um Teste Exato de Fisher em
anteriormente a este estudo e que não haviam realizado nos grupos de que não se observou diferença significativa entre os dois
hipertensos e normotensos. grupos (p > 0,05). Para os valores maiores de 85% foi
realizado um Teste Exato de Fisher no qual não houve
diferença significativa entre os dois grupos (p > 0,05).
Entretanto na tabela III a freqüência cardíaca máxima
de reserva (FCMR) não é um valor utilizado com muita
praxe no meio clínico e nas academias, e sim a freqüência
cardíaca máxima. Fizemos então a analise das porcentagens
da freqüência cardíaca máxima (FCM), nos intervalos que
compreendem: 80 a 90% da FCM e > 90% da FCM.

Tabela III – Número de indivíduos que se enquadraram dentro dos


intervalos de 80 a 90% e >90% da Freqüência Cardíaca Máxima de
*% Hipertensos: não tabagistas 30,9%; tabagistas 18,2%
Reserva (FCMR), e a sua resposta de acordo com a tabela de Borg.
*% Normotensos: não tabagistas 27,3%; tabagistas 23,6%
Porcentagem Borg Valor Normotensos Hipertensos
FCMR(%)
Foi realizado um Teste Exato de Fisher. Não houve 80 a 90 Pesado 15 e 16 *7 **10
diferença significativa entre os dois grupos (p > 0,05). Muito pesado 17 e 18 3 2
> 90 Pesado 15 e 16 12 11
Foram observadas na tabela II, as porcentagens da
Muito pesado 17 e 18 5 1
freqüência cardíaca máxima de reserva visualizamos que Total n =27 n = 24
os valores envolviam uma grande amplitude. Estes mesmos
*Um caso no grupo de normotensos possuía valor menor que 80% da
resultados e subdividimos em 3 intervalos de porcentagem FCM.
da freqüência cardíaca máxima (FCM), estes intervalos **Três casos no grupo de hipertensos possuíam valores menores que
compreendem: 50 a 74%, 75 a 84% e acima de 85%, 80% da FCM.
segundo Lamb et al. [12].
Para os valores de 50 a 74% da FCMR foi realizado Para os valores de 80 a 90% da FCMR foi realizado um
um Teste Exato de Fisher. Não houve diferença significativa Teste Exato de Fisher, em que não se observou diferença
entre os dois grupos (p > 0,05). Para os valores de 75 a significativa entre os dois grupos (p > 0,05). Para os valores
maiores de 90% da FCMR
Tabela II – Numero de indivíduos que se enquadraram dentro dos intervalos de 50 a 74%, 75 a 84% e > 85% da foi realizado um Teste Exato
Freqüência Cardíaca Máxima de Reserva (FCMR), e a sua resposta de acordo com a tabela de Borg. de Fisher, no qual se observou
Porcentagem FCMR % Borg Valor Hipertensos Normotensos
diferença significativa entre os
dois grupos (p < 0,05).
50 a 74 Pesado 15 e 16 10 6
No período de Recu-
Muito pesado 17 e 18 2 2
peração no gráfico 4, após
75 a 84 Pesado 15 e 16 4 4 a realização do TE, o
Muito pesado 17 e 18 5 5 paciente permaneceu parado
> 85 Pesado 15 e 16 5 6 esperando os sinais hemo-
Muito pesado 17 e 18 1 4 dinâmicos voltarem à situação
Total 27 27* de repouso. Após um período
*Um indivíduo normotensos apresentou valor menor do que 50 %. de 3 minutos avaliamos
novamente a percepção do
paciente depois de uma prova
Gráfico 3 – Número de indivíduos que no período anterior ao teste de esforço relataram os valores pesado e muito pesado exaustiva. Foram determi-
da escala de percepção de Borg. nados dois intervalos: de 30 a
49 % da FCMR e valores <
30 % da FCMR.
Foi realizado um Teste
Exato de Fisher em que não
se observou diferença signi-
ficativa entre os dois grupos
(p > 0,05).

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198 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Gráfico 4 – Número de indivíduos que relataram os valores leve e moderado No estágio de esforço físico máximo, a pressão arterial
no período de recuperação do teste de esforço. sistólica variou 150 a 230 mmHg (182,6±15,2) e a pressão
arterial diastólica variou de 70 a 95 mmHg (82,3 ± 7,9). No
período de recuperação, a pressão arterial sistólica variou
de 110 a 160 mmHg (157,7 ± 11,7) enquanto que a
diastólica variou de 70 a 90 mmHg (79,6 ± 7,2).

Tabela V – As médias da pressão arterial sistólica e diastólica (mmHg)


nos momentos repouso, no estágio anterior à exaustão física e durante a
exaustão física e no período de recuperação.
Sistólica Diastólica
Hiper- Normo- Hiper- Normo-
tensos tensos tensos tensos
Tabela IV - Número de indivíduo que se enquadraram dentro dos
Repouso 143,9 120,2 95,5 79,6
intervalos de 30 a 49% e < 30% da FCMR, e a sua resposta de acordo com
Anterior 199,3 169,3 98,5 82,3
a tabela de Borg. Máxima 217,8 182,7 98,7 82,3
Porcentagem Borg Valor Normotensos Hipertensos Recuperação 157,6 137,0 95,7 79,6
30 a 49 Leve 11 e 12 *7 **4
Moderado 13 e 14 3 3
< 30 Leve 11 e 12 11 8 Foi realizado a analise de variância (ANOVA) das
Moderado 13 e 14 4 8
médias da pressão arterial sistólica e diastólica entre os 4
Total 25 23
momentos em ambos os grupos em que constatamos os
* 7 pessoas no grupo de Normotensos apresentam % da freqüência
seguintes resultados:
cardíaca > 50 % da FCMR
** 4 pessoas no grupo de Hipertensos apresentam % da freqüência Análise da variância das médias da pressão arterial
cardíaca > 50 % da FCMR sistólica para o grupo de hipertensos nos momentos
repouso e antes da exaustão. Análise da variância das
Para os valores de 30 a 49% da FCMR foi realizado médias da pressão arterial sistólica para o grupo de
um Teste Exato de Fisher, em que não se observou diferença hipertensos nos momentos repouso e exaustão física.
significativa entre os dois grupos (p > 0,05). Para os valores Análise da variância das médias da pressão arterial
menores de 30% da FCMR foi realizado um Teste Exato sistólica para o grupo de normotensos nos momentos
de Fisher, no qual não se observou diferença significativa repouso e recuperação. Análise da variância das médias
entre os dois grupos (p > 0,05). da pressão arterial sistólica para o grupo de normotensos
A pressão arterial foi analisada nos períodos de repouso, nos momentos repouso e antes da exaustão. Análise da
no estágio anterior à exaustão física e durante a exaustão variância das médias da pressão arterial sistólica para o
física e no período de recuperação. grupo de normotensos nos momentos repouso e exaustão
No grupo experimental, foram observados os seguintes física. Análise da variância das médias da pressão arterial
valores da pressão arterial sistólica e diastólica nos 4 sistólica para o grupo de normotensos nos momentos
momentos: Na fase de repouso: a pressão arterial sistólica repouso e repouso. Não foi obser vada diferença
variou de 140 a 160 mmHg (143,89 ± 6,25), enquanto a significativa (p > 0,05).
diastólica variou de 90 a 110 mmHg (95,7 ± 4,9). No estágio Agora faremos a análise da pressão arterial diastólica
anterior à exaustão física, a pressão arterial sistólica variou nos 4 momentos: Análise da variância das médias da
de 175 a 230 mmHg (199,3 ± 14,2) e a pressão arterial pressão arterial diastólica para o grupo de hipertensos
diastólica de 90 a 120 (98,5 ± 7,1). No estágio de esforço nos momentos repouso e antes da exaustão física. Análise
físico máximo: a pressão arterial sistólica variou 180 a 250 da variância das médias da pressão arterial diastólica para
mmHg (217,78 ± 15,7) e a pressão arterial diastólica variou o grupo de hipertensos nos momentos repouso e da
de 90 a 125 mmHg (98,7 ± 7,7). No período de exaustão física. Análise da variância das médias da pressão
recuperação, a pressão arterial sistólica variou de 140 a 190 arterial diastólica para o grupo de hipertensos nos
mmHg (157,7 ± 11,7) e a pressão arterial diastólica de 90 a momentos repouso e recuperação. Análise da variância
110 mmHg (95,7 ± 4,9). das médias da pressão arterial diastólica para o grupo de
No grupo controle durante a fase de repouso: a pressão normotensos nos momentos repouso e da exaustão física;
arterial sistólica variou de 90 a 130 mmHg (120,2 ± 10,9), repouso e antes da exaustão física são iguais. Análise da
enquanto que a diastólica variou de 70 a 90 mmHg (79,6 ± variância das médias da pressão arterial diastólica para o
7,2). No estágio anterior, a exaustão física a pressão arterial g r upo de nor motensos nos momentos repouso e
sistólica variou de 140 a 200 mmHg (169,3 ± 13,1) e a recuperação. Não foi observada diferença significativa
pressão arterial diastólica de 70 a 95 mmHg (82,3 ± 7,9). (p > 0,05).

artigo 09 - Jonatas.pmd 198 22/06/04, 13:34


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3- maio /junho de 2004 199

Discussão Nenhum trabalho, dos que foram pesquisados, fazia


menção sobre o tabagismo e a realização prévia do TE. A
Como quantificar a intensidade de exercício durante um tabela I e gráficos 1, 2 apresentam a estatística descritiva
programa de reabilitação cardíaca de nossos pacientes de das variáveis independentes: idade, IMC, tabagismo e
forma barata, eficaz e que satisfizessem nossos interesses? realização anterior de teste de esforço respectivamente. Foi
Será que a escala de percepção de esforço, idealizada por averiguado que não existia diferença significativa entre os
Borg responde a pergunta para toda a população? grupos (p > 0,05) para essas variáveis.
Lamb et al. [12] nos seus trabalhos para analisar a Fizemos a análise das variáveis dependentes, pressão
confiabilidade da escala de Borg durante treinamento com arterial e freqüência cardíaca. Foi então determinado que
exercício progressivo através do teste de reprodutividade, avaliassem a percepção subjetiva do esforço num estágio
verificou que havia uma diminuição da sensibilidade anterior à exaustão física. Era de nosso interesse saber se
perceptiva com o aumento da carga. em um estágio próximo ao esforço máximo existiria
Whaley et al. [13] afirmam que diretrizes recentes divergência da sensibilidade dos dois grupos e não a
recomendam taxar de forma generalizada os valores de 12 correlações entre a freqüência cardíaca e os níveis de
a 16 da RPE para uma melhoria das funções hemodinâmicas intensidade propostos por Borg.
(VO 2 max, freqüência cardíaca, pressão arterial) no O gráfico 3 mostra que no período anterior ao término
tratamento de cardiopatas e treinamento de pessoas sadias. do teste de esforço relataram os valores “pesado e muito
Os resultados de seu trabalho desafiam a aplicabilidade das pesado” (15-16 e 17-18) para escala de Borg (Pesados: Hipert.
recomendações da RPE. No seu trabalho, ele utilizou 60 a 19, Normot. 17; Muito pesados: Hiptert. 8, Normot. 11).
80% da FCMR e a freqüência cardíaca máxima para avaliar Não foi observada diferença estatisticamente significativa
a percepção do esforço. Nessas três intensidades foram entre os dois grupos (P > 0,05), entretanto, verificamos que
constatadas diferenças significativas entre o grupo de pessoas a porcentagem da FCMR tinha uma grande variação em
saudáveis e pacientes cardiopatas. Ele recomenda que deva ambos os grupos, e resolvemos ir além, fragmentamos nossa
ser levada em conta a variabilidade interindividual dos amostra em intervalos correspondentes a porcentagem da
participantes. FCMR e sua relação com a escala de Borg proposto por
Brion et al. [14], em pesquisa com grupos de pacientes Wilmore e Costill [19]. Os intervalos analisados foram de
hipertensos, que executavam atividade física ativamente, 50 a 74%, de 75 a 84% e > 85% da FCMR.
verificou que não havia diferença significativa com relação A tabela II mostra o número de indivíduos que relataram
à percepção do esforço de indivíduos sedentários. os valores de intensidade “pesado e muito pesado” (15-16 e
Com base no trabalho de Whaley et al. [13] e Lamb et al. 17-18) nos intervalos da FCMR já mencionados. Diferente
[12], nossa pesquisa foi direcionada a detectar diferença na do trabalho de Whaley et al. [13] em que ele fixou os valores
percepção subjetiva do esforço em indivíduos hipertensos e correspondentes a 60 e 80 % FCMR, e correlacionou com
normotensos durante o teste ergométrico. Borg, nós gostaríamos de saber se haveria divergência das
Para tornar a amostra a mais homogênea possível respostas dos dois grupos.
delimitamos os grupos com relação a sexo, idade, IMC, tabagismo Foi verificado que nos intervalos não houve diferença
e se já haviam realizado o teste ergométrico anteriormente. estatisticamente significativa entre os grupos quando
Na literatura pesquisada verificamos a utilização de utilizamos o teste exato de Ficher, com um grau de
grupos heterogêneos com relação às variáveis independentes significância p = 0,05, em todos os intervalos a diferença
que utilizamos. A idade e o sexo tiveram uma grande variação entre o grupo foi maior que 95%.
em diversos trabalhos. Lamb et al. [12] e Riddell et al. [15] Carmouche et al. [7] comenta que nos programas de
valeram-se de adolescentes do sexo masculino nos seus reabilitação cardíaca e nos treinamentos aeróbios utiliza-se
estudos, Hassmen et al. [16] e Brion et al. [14] utilizaram muito a freqüência cardíaca máxima absoluta, determinada
indivíduos de ambos os sexos com idade variando de 18 a pela fórmula de Carvonem (220 BPM – idade). Como é
65 anos de idade, entretanto Will e Walter [17] e Sorensen et um método bastante utilizado, fizemos a análise dos
al. [18] adotaram a idade variando de 40 a 60 anos. Com indivíduos que apresentaram valores maiores de 90% para
base nestes dois últimos estudos, resolvemos adotar um FCMR (tabela IV) e verificamos que existia diferença
critério para sexo masculino e para a idade variando de 40 significativa para valores acima de 90% da FCM (P < 0,05),
a 60 anos, sendo que no grupo experimental a idade variou concordando com trabalho realizado por Whaley et al. [13]
de 42 a 60 anos (51,15 ± 6,06 anos); e no grupo controle a para valores próximos do esforço máximo.
idade variou de 42 a 59 anos (48,71 ± 5,03 anos). Não foi encontrado na literatura pesquisada nenhum
Dentre os artigos pesquisados, a amostra variou de 16 a trabalho que fizesse a avaliação da percepção do desconforto
100 participantes. A nossa amostra totalizou 55 participantes no período recuperação, 3 minutos após um teste
número que pode ser considerado satisfatório em vista do ergométrico. O gráfico 4 mostra o número de indivíduos
valor expressivo de limitações e restrições que atribuímos. que no período de recuperação relataram os valores “Leve

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200 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

e Moderado” (11-12 e 13-14). Não foi observada diferença Concluímos que a hipertensão arterial não é um fator que
estatisticamente significativa entre os dois grupos (P > 0,05), intervém na percepção do esforço quando é analisado com a
entretanto, verificamos que a porcentagem da FCMR freqüência cardíaca máxima de reserva e com porcentagens
também tinha uma grande variação em ambos os grupos, e inferiores a 90% da freqüência cardíaca máxima.
resolvemos fragmentar nossa amostra em intervalos Pode-se afirmar que a pressão arterial sistólica aumenta
correspondentes a 30a 49% e menor que 30 % FCMR. com os estágios de TE como também a percepção do esforço
A pressão arterial foi a outra variável dependente nos dois grupos, mas em momento algum podemos afirmar
estudada. Esta variável é de grande importância por que existe alguma correlação. O indivíduo hipertenso
apresentar diretamente relação com o débito cardíaco. Brion necessita de um monitoramento da pressão arterial durante
et al. [14] faz um estudo com pacientes hipertensos a pratica de atividade física.
moderados em uso de bisoprolol comparado com
nitrendipine, em que ele constatou diferença significativa Referências
da pressão arterial sistólica (p = 0,001) entre os grupos e da
freqüência cardíaca máxima (p = 0,001). 1. Castro I et al.. Cardiologia - Princípios e prática. Porto Alegre:
Swain et al. [20] não achou diferença significativa da Artes Médicas Sul; 1999.
pressão arterial sistólica e diastólica quando comparado antes 2. Andrade D et al. Comparison of physical activity in brasilian
e depois do uso de alfa 1-agonists pseudoephedrine (PSE) e teenagers. Dallas: International Pre-Olympic Scientific
phenylpropanolamine (PPA), devido a esta pesquisa Congress; 1996. p.99
realizamos o nosso trabalho com os pacientes hipertensos 3. Lessa I. Prevalência da hipertensão arterial no Brasil. Revista
em uso de medicamentos anti-hipertensivos. Brasileira de Hipertensão 1999;6:319-21.
4. Neves PL, Faisca M, Gomes V et al.. Risk factors for left
Na verdade nenhum dos trabalhos e artigos pesquisados
ventricular hypertrophy: role of Na(+)-Li+ countertransport.
fazia correlação direta da pressão arterial com a escala de Kidney Int Suppl 1996; 55:1602.
percepção de Borg. No nosso trabalho foi comparada à 5. Alfonso JP, Landrove O, Perez D. et al.. Arterial hypertension
média a pressão arterial do grupo de hipertensos com a in Cuba. General overview of the past 25 years. Nefrologia,
média da pressão arterial com o grupo de normotensos Comision Nacional de Hipertension Arterial del Ministerio
nos estágios repouso, antes da exaustão física, no período de Salud Publica de la Republica de Cuba. 2000. p.43-49.
da exaustão e no período de recuperação. A Tabela V 6. Freitas OD, Carvalho FR, Neves JM et al. Prevalence of
demonstra as médias da pressão arterial sistólica e diastólica hypertension in the urban population of Catanduva, in
nos quatro estágios avaliados. Foram observadas diferenças the State of São Paulo, Brazil. Arq Bras Cardiol
significativas da pressão arterial sistólica nos períodos 2001;77(1):16-21.
7. Carmouche DG, Bubien RS, Kay GN. The effect of
anterior a exaustão física, no esforço físico máximo e no
maximum heart rate on oxygen kinetics and exercise
período de recuperação para os grupos hipertensos e performance at low and high workloads. Pacing Clin
normotensos (p < 0,05) e não foi encontrada diferença Electrophysiol 1998; 21(4 Pt 1):679-86.
estatisticamente significativa para pressão arterial diastólica 8. Pollock ML, Wilmore JH. Exercício na saúde e na doença. 2a
em nenhum momento nos dois grupos. ed. São Paulo Medsi; 1993.
9. Brandão MRF. Percepção do esforço: uma revisão da área.
Conclusão Revista Brasileira de Ciência & Movimento 1989;3(1):34-40.
10. Borg G. Escala de Borg para a dor e o esforço percebido. São
Podemos concluir que não houve diferença Paulo: Manole; 2000.
11. Luna BF. Principais Tipos de Desenhos de Pesquisa, Revista
estatisticamente significativa entre o grupo experimental e o
Compact: Temas de Cardiologia, UNIFESP. 2001;1(5).
grupo de controle quando analisamos a FCMR de uma 12. Lamb KL, Eston RG, Corns D. Reliability of ratings of
forma global e segmentada nos intervalos de 50 a 74%, 75 perceived exertion during progressive treadmill exercise. Br J
a 84% e maior que 85%. Sports Med 1999;33(5):336-9.
Para um programa de reabilitação cardíaca no qual 13. Whaley MH, Brubaker PH, Kaminsky LA et al. Validity of
utilizamos as porcentagens da FCM até 85%, podemos rating of perceived exertion during graded exercise testing in
utilizar a escala de Borg para intensificar o tratamento, apparently healthy adults and cardiac patients. J Cardiopulm
devendo, porém atentar para a pressão arterial. Rehabil 1997;17(4):261-7.
Quando analisamos a porcentagem da freqüência 14. Brion R, Carre F, Verdier JC et al. Comparative effects of
bisoprolol and nitrendipine on exercise capacity in
cardíaca máxima de reserva com os valores da escala de
hypertensive patients with regular physical activity. J
Borg como parâmetro de intensidade de esforço, relatados Cardiovasc Pharmacol 2000;35(1):78-83.
pelos participantes desta pesquisa concluímos que não 15. Riddell MC, Bar-Or O, Gerstein HC et al. Perceived exertion
houve diferença estatisticamente significativa entre os with glucose ingestion in adolescent males with IDDM. Med
grupos nos momentos anteriores à exaustão física e no Sci Sports Exerc 2000;32(1): 167-73.
período de recuperação. 16. Hassmen P, Koivula N, Uutela A. Physical exercise and

artigo 09 - Jonatas.pmd 200 22/06/04, 13:34


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3- maio /junho de 2004 201

psychological well-being: a population study in Finland. Prev individuals with elevated risk factors for cardiovascular disease.
Med Stockholm 2000;30(1):17-25. J Sports Sci 1999;7(5):369-77.
17. Will PM, Walter JD. Exercise testing: improving performance 19. Wilmore JH, Costill DL. Physiology of sport and exercise. 2ª
with a ramped Bruce protocol. Am Heart J 1999;138(6 Pt 1): ed. Human Kinetics; 1999.
1033-7. 20. Swain RA, Harsha DM, Baenziger J et al. Pseudoephedrine or
18. Sorensen M, Anderssen S, Hjerman I et al. The effect of exercise phenylpropanolamine improve maximum oxygen uptake and
and diet on mental health and quality of life in middle-aged time to exhaustion? Clin J Sport Med 1997;7(3):168-73. C

artigo 09 - Jonatas.pmd 201 22/06/04, 13:34


202 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Artigo original

Avaliação postural da seleção brasileira


masculina de basquete
Postural assessment of brazilian basketball team
Paulo Henrique Cinelli Moreira*, Gisele Cirelli**, Claudinei Chamorro Pelegrina Jr***, Cesar Pereira Soares de Oliveira****

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Basquete, Docente das Disciplinas Administração em Fisioterapia, Exercícios Terapêuticos e Reeducação
Funcional, Recursos Terapêuticos Manuais e Prática Supervisionada em Ortopedia do Curso de Fisioterapia da Universidade de Taubaté – UNITAU,
**Fisioterapeuta, Docente das Disciplinas Administração em Fisioterapia, Eletrotermofototerapia, Recursos Terapêuticos Manuais e Prática Supervisionada
em Ortopedia do Curso de Fisioterapia da UNITAU, ***Fisioterapeuta, ****Médico do Esporte, Chefe do Departamento Médico da Confederação
Brasileira de Basquete, Docente das Disciplinas Fundamentos Biológicos e Cinesiologia do Curso de Educação Física da UNIFMU

Resumo
O basquete é um esporte que exige posicionamentos assimétricos do corpo humano,
Palavras-chave: sendo que nos principais movimentos como passe, drible e arremesso as situações de
Esporte, basquete desequilíbrio são constantes. Estes gestos são realizados após uma perfeita educação com
masculino, alterações base na repetição, visando à perfeição. Assim certos grupos musculares serão mais utilizados
posturais, escoliose.
do que outros, devido provavelmente a manualidade preferencial adotada por cada atleta,
bem como os posicionamentos em quadra destes. Desta forma, se visualizarmos os
grupos musculares, dispostos em cadeias musculares, seu encurtamento irá mostrar os
padrões posturais existentes em cada atleta. Na forma de um estudo experimental com a
Seleção Brasileira Masculina de Basquete, que disputou o Torneio Pré-Olímpico de Porto
Rico em 2003, procurou-se avaliar os padrões posturais dos atletas envolvidos nesta
competição e relacioná-los com a manualidade e posicionamento em quadra. Não foi
encontrada diferença significativa entre os padrões de retração das cadeias musculares
anterior e posterior. Devido a solicitações e treinamentos em posicionamentos diversos,
os deslocamentos corporais em anterior foram encontrados na maioria dos atletas devido
provavelmente ao treinamento em desequilíbrio anterior visando maior velocidade de
contração durante recuperação ou saída ao ataque. Com relação à deformidade em
escoliose, 67% apresentou padrão destro convexo lombar.

Abstract
Basketball is a sport that demands anti-symetrical positions of the human body,
Key-words : because the main movements as pass, dribbles and hurls, the unbalanced situations are
sport, male basketball, constant. These gestures are carried through after a perfect education on the basis of
postural changes, scoliosis. the repetition, aiming at to the perfection. Thus, certain muscular groups will be more
used than others, due probably to the preferential manuality adopted by each athlete,

Recebido 11 de março de 2004; aceito 1 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Paulo Henrique Cinelli Moreira, Rua Leite Ferraz, 75/113-C, Vila Mariana 04117-120 São Paulo SP,
Tel: (11) 5579 1298/ 9756 9794, E-mail: phcmoreira@ig.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 203

as well as their position in square. If we can visualize the muscular groups, and the
muscular chains, their shortening will go to show the existing postural standards in each
athlete. In the form of an experimental study with the Brazilian man’s basketball team
that disputed the Pre Olympic Games of Puerto Rico in 2003, it was evaluated the
postural standards of the involved athletes in this competition and related them with
the manuality and positioning in squares. There was no significant difference between
the standard retraction of the anterior and posterior muscular chains. Due to the requests
and training in diverse positionings, the corporal displacements in anterior were found
in the majority of the athletes due probably to the training in previous disequilibrium
aiming at fast speed of contraction during recovery or exit to the attack. With relation
to the deformity in scoliosis, 67% presented lumbar right-handed convex standard.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução feixes se densificam, se tornando mais resistentes e menos


elásticos [3,4]. Com esta base, pode-se dizer que os músculos
O basquete é um esporte que exige coordenação de possuem uma capacidade de adaptação quando submetidos a
movimentos, ritmo e sucessões variadas de esforços, com diferentes graus de extensão ou comprimento, ou seja, o músculo
características assimétricas em membros superiores, visando esquelético pode diminuir de comprimento e extensibilidade
à posse e ao desfazer da bola [1]. quando mantido em posição de encurtamento. Desta forma,
Seus movimentos principais, como o passe, o drible e o o posicionamento altera as propriedades do tecido, estimulando
arremesso, são realizados, em geral, em situações de a flexibilidade (alongamento) ou seu encurtamento, sendo
desequilíbrio, com rotações ou alternâncias entre as cinturas determinativo do padrão postural do indivíduo [5].
pélvica e escapular, apenas com um ou ambos os membros Este padrão postural indica o posicionamento das
superiores e com apoio unipodal ou bipodal [1]. Estes gestos articulações e seus respectivos tecidos, por exemplo, varo/
são realizados após uma perfeita educação com base na valgo dos joelhos, pés cavo/plano, coxo femoral em rotação
repetição, visando à perfeição [2]. interna/externa, etc, podendo ser a causa inicial de dor ou
A musculatura dos membros inferiores são as distúrbios. Sendo assim, o exame minucioso das diversas
responsáveis pela alta velocidade de contração e resistência articulações e tecidos moles é de suma importância para a
à fadiga nos deslocamentos em quadra e os membros detecção das patologias [6].
superiores, responsáveis pelos movimentos precisos e mais Com relação às práticas esportivas, existem inúmeros estudos
ajustados [2]. Em cada gesto, existe uma interação entre os comparativos entre sexo, epidemiologia das lesões, treinamento
movimentos dos membros inferiores com os membros físico, avaliação física, entre outros, mas não existem literaturas
superiores, sendo desta forma um sistema global, com sobre as alterações posturais ou padrão postural característico
alternâncias de estabilizações e pontos de apoio, através da de uma modalidade. A avaliação da postura do atleta, assim
ação dos músculos dispostos em cadeias [3]. como a correlação com o lado dominante pode ser fundamental
O aprendizado deste esporte é realizado com exercícios para prevenção de algias e lesões futuras. Este estudo tem por
extenuantes de posicionamento, visando manter uma base finalidade identificar alterações posturais estáticas da Seleção
alargada no sentido ântero-posterior, possibilitando uma Masculina de Basquete que representou o Brasil no Torneio
projeção anterior em maior velocidade durante o ataque e Pré-Olímpico de Porto Rico – 2003.
uma base alargada no sentido lateral com rotação externa
dos membros inferiores e abdução da articulação Material e métodos
coxofemoral durante a marcação (defesa) [1].
Sabe-se que o tecido conjuntivo é a base dos tecidos Após ser submetido e aprovado pelo Comitê de Ética
humano, sendo composto basicamente de colágeno e elastina. de Estudos e Pesquisas em seres humanos da UNITAU,
Quando tensionado de forma contínua e prolongada, seus foram avaliados os 12 jogadores que representaram o Brasil
feixes se alongam e quando tensões curtas e repetidas, seus no Torneio Pré-Olímpico de Porto Rico – 2003.

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204 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Todas as avaliações foram realizadas Fig. 1- Vista anterior. Fig. 2 –Vista posterior.
no período de 10 – 16/08/03, utilizando
um protocolo prévio de avaliação
adaptado da literatura [7,8], analisando os
atletas nos planos anterior, posterior, perfil
direito e esquerdo, flexão anterior em pé e
sentado, de forma estática, trajando apenas
calção de banho, utilizando máquina
fotográfica digital modelo Sansung digimax
130 para obtenção das imagens, as quais
foram realizadas sempre na mesma
distância e local, observadas nas figuras 1,
2, 3, 4, 5 e 6.
O posicionamento da máquina
fotográfica manteve-se em uma distância
fixa de 4 metros do indivíduo a ser
analisado e em uma altura de 1,50 metro
do solo. Para o posicionamento do
indivíduo, foi estabelecida uma distância
de 30 cm da parede, mantida através de Fig. 3 – Vista perfil D. Fig. 4 – Vista perfil E.
uma marca no solo.
Para obtenção da base de apoio dos
atletas, solicitou-se que os mesmos
fechassem os olhos e realizassem o
movimento de “marcha no local”, e após,
parar em posição agradável, ou seja,
aquisição de forma inconsciente da base de
apoio. Para análise do deslocamento
corporal foi utilizado um “fio de prumo”,
objeto o qual detecta leves alterações
assimétricas, sendo fundamental para análise
deste critério.
Além desta avaliação objetiva, os atletas
foram questionados com relação a
alterações visuais, auditivas, mastigatórias,
diferença de comprimento nos membros
inferiores e tempo de esporte.
Todos os atletas foram informados sobre
o estudo e consentiram com a divulgação Fig. 5 – Flexão em pé. Fig. 6 – Flexão sentado
dos dados mediante termo preenchido
voluntariamente pelos mesmos.

Resultados

Após análise dos dados obtidos nas


avaliações posturais e nos questionários, estes
foram transcritos em uma tabela (Tabela I)
para melhor visualização. Foram apre-
sentados os dados: posição em quadra,
manualidade, cadeia muscular predominante,
deslocamento corporal ântero-posterior e
látero-lateral, escoliose e alterações
específicas de cada atleta.

artigo 04 - Paulo Henrique.pmd 204 22/06/04, 13:34


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 205

Tabela I - Características físicas e posição de jogo dos jogadores da Seleção Brasileira de Basquete que atuaram no Pré-Olímpico – 2003.
N Posição Manualidade Cadeia Deslocamento Escoliose destro Outros
Predominante Corporal convexa
1 Lateral Destro Anterior Posterior/ D Lombar -
2 Lateral Sinistro Posterior Anterior/ D Lombar -
3 Armador Sinistro Anterior Posterior/D Dorsal Hipom ATM E
4 Pivô Destro Anterior Anterior/E Lombar -
5 Lateral Destro Anterior Anterior/E Dorsal -
6 Armador Sinistro Posterior Anterior/ E Dorsal -
7 Pivô Destro Anterior Anterior/E Lombar -
8 Pivô Destro Anterior Anterior/ D Lombar MIE > 1 cm
9 Lateral Destro Posterior Anterior/ D Lombar Hipom ATM D
10 Lateral Destro Posterior Anterior/ D Lombar Hérnia discal L4-L5 / L5-S1
11 Armador Destro Posterior Anterior/E Dorsal -
12 Pivô Destro Posterior Anterior/ E Lombar Distúrbio visual D
Legenda: MIE – membro inferior esquerdo; Hipom. – hipomobilidade; D – direito; E – esquerdo; outros – alterações específicas de cada atleta.

Gráfico 1 - Relação posicionamento em quadra e cadeia muscular predominante dos jogadores da Na tabela I, visualiza-se que em relação à
Seleção Brasileira de Basquete. manualidade, entre os armadores encontrou-
se um destro (33%) e dois sinistros (67%),
enquanto que os quatro pivôs são todos destros
(100%) e entre os laterais, quatro são destros
(80%) e apenas um é sinistro (20%).
O gráfico 1 relaciona o posicionamento
em quadra com a cadeia muscular
predominante. Nos alas, 60% (3 atletas)
possuem predominância da cadeia muscular
posterior e 40% (2 atletas) possuem
predominância da cadeia muscular anterior.
Entre os pivôs, nota-se que 25% (1 atleta) tem
predominância da cadeia muscular posterior
e três atletas (75%) da cadeia muscular anterior.
Entre os armadores, 2 atletas (67%) possuem
predominância da cadeia muscular posterior
e 1 atleta (33%) da cadeia muscular anterior.
Os gráficos 2 e 3 expõem o posicio-
Gráfico 2 - Relação posicionamento em quadra e deslocamento corporal látero-lateral dos namento em quadra e o deslocamento estático
jogadores da Seleção Brasileira de Basquete. nos eixos ântero-posterior e látero-lateral
respectivamente. Desta forma, no gráfico 2,
pode-se visualizar que entre os alas 80%
possuem deslocamento corporal à direita e
apenas 20% à esquerda. Nos pivôs, 75%
apresentam deslocamento corporal à esquerda
e 25% apresentam deslocamento à direita e
entre os armadores, dois atletas (67%)
apresentam deslocamento corporal à esquerda
e apenas um (33%) possui deslocamento
corporal à direita.
O gráfico 3 apresentou os dados do
deslocamento antero-posterior, sendo
que 83% dos atletas apresentaram

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deslocamento corporal anterior, apresentando apenas dois (2 atletas) possuem escoliose destro convexa dorsal. Entre
jogadores o posicionamento em deslocamento posterior. os sinistros encontrou-se 33% apresentando escoliose destro
Com relação ao posicionamento em quadra e a convexa lombar e 67% dorsal.
deformidade escoliose destro convexa, observou-se que entre
os entre os armadores, 100% possuem escoliose destro Discussão
convexa dorsal, não sendo equivalente aos dados
encontrados nas posições lateral e pivô, os quais Defendido por Bienfait [3], o movimento do sistema
apresentaram maior incidência em escoliose destro convexa locomotor é ocasionado por gestos globais devido às tensões
lombar, 80% e 100% respectivamente (gráfico 4). associadas que acontecem pelas cadeias musculares e seus
componentes viscoelásticos [9]. Essa ação dinâmica das
Gráfico 3 -Relação posicionamento em quadra e deslocamento corporal cadeias musculares tem o objetivo de oferecer movimentos
ântero-posterior dos jogadores da Seleção Brasileira de Basquete. funcionais ao corpo humano através dos sistemas musculares
cruzado, reto anterior e posterior [3,8,10-13]. Possui também
uma função estática responsável pela manutenção do
equilíbrio humano através de interações menos complexas
que as geradas pelos movimentos dinâmicos [3,11-13]. Um
posicionamento em desequilíbrio permanente devido à
discrepância de membros inferiores, distúrbios viscerais ou
visuais, má oclusão dentária, entre outras, gera uma pressão
na cadeia muscular estática, modificando-a, levando a
deformações posteriores [11,12,14-16]. Desta forma, deve
ser analisado o gestual e a estática do atleta em sua atividade
a fim de identificar padrões compensatórios. O exame
Gráfico 4 - Relação posicionamento em quadra e escoliose convexa dos estático possui como objetivo atentar sobre o equilíbrio de
jogadores da Seleção Brasileira de Basquete. cada segmento, verificando as condições de adaptação,
analisando as modificações contínuas da base de sustentação
e o posicionamento da cabeça. Já o exame dinâmico visa
detectar o local e as causas de desequilíbrio muscular [17].
Os estudos relacionados à prática do basquete ainda são
poucos e não possuem uma correlação entre os mesmos.
Não foram encontrados artigos específicos relacionando
alterações posturais com os esportes.
Com relação ao posicionamento em quadra e a sua
relação com a retração da cadeia muscular predominante,
encontrou-se que entre os alas, 60% (3 atletas) possuem
predominância da cadeia muscular posterior e 40% (2 atletas)
da cadeia muscular anterior, entre os pivôs, nota-se que
Gráfico 5 - Relação manualidade e escoliose destro convexa dos jogadores 25% (1 atleta) tem predominância da cadeia muscular
da Seleção Brasileira de Basquete. posterior e três atletas (75%) da cadeia muscular anterior e
entre os armadores, 2 atletas (67%) possuem predominância
da cadeia muscular posterior e 1 atleta (33%) da cadeia
muscular anterior, assim sendo, 50% de atletas com
características de retração da cadeia muscular anterior e
50% da cadeia muscular posterior.
Estes dados podem ser explicados através das cadeias
musculares. A cadeia posterior age constantemente quando
o indivíduo encontra-se em posição ortostática, devido à
tendência em desequilíbrio anterior evidenciado no ser
humano [3,4,8,12]. Esta é composta pela musculatura
posterior do tronco e membros inferiores e suas retrações
O gráfico 5 demonstra a relação da manualidade com a causam desequilíbrios na estática, como por exemplo,
escoliose (deslocamento lateral patológico) destro convexa retificação da coluna vertebral, geno varo de joelhos, cavos
dos atletas nas colunas dorsal e lombar. Nos destros, 78% de pé, entre outros. Os movimentos em saltos com extensão
(7 atletas) possuem escoliose destro convexa lombar e 32% do tronco, muito comuns nesta atividade, aumentam a

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 207

solicitação e estimulam a hipertonicidade da musculatura em determinadas posições gera adaptações do tecido vivo
posterior do tronco, podendo gerar uma inversão das em encurtamento ou alongamento determinando os padrões
curvaturas lordóticas, deformidade comum em indivíduos posturais [5]. Além destes dados, lesões articulares ou
com retração da cadeia posterior [8-13]. Em contrapartida, alterações visuais, geram déficits nos sistemas primários de
estes atletas também realizam treinamentos de defesa, em equilíbrio e estabilidade, alterando o posicionamento corporal
uma postura de flexão anterior de tronco, com flexão e os ajustes posturais, proporcionando deslocamentos
acentuada das articulações dos tornozelos, joelhos, quadris, corporais [22].
cotovelos e ombros [1,2,18-20], ou seja, em encurtamento Analisando o parâmetro escoliose, entre os armadores,
da cadeia muscular anterior (musculatura anterior dos 100% possuem escoliose destro convexa dorsal, diferente dos
membros superiores, tronco, coxas e adutores), gerando dados encontrados nas posições lateral e pivô, os quais
em alguns atletas desequilíbrios em valgo de tornozelos e apresentaram maior incidência em escoliose destro convexa
joelhos, rotação interna da coxo femoral, anteversão lombar, 80% e 100% respectivamente. Segundo Rash-Burke
pélvica, entre outras [8-13]. Além destes gestos, pode-se in Gantus, a região lombar da coluna vertebral é a mais
destacar o arremesso, o qual, cada atleta possui uma suscetível a lesões desportivas. Entendemos que os padrões
mecânica particular, realizando o gesto com a presença de assimétricos do esporte como o arremesso, o qual o atleta
rotações, alternâncias de posicionamentos de pés, ante ou realiza o movimento de soltar a bola apenas com o membro
retropulsão corporal, entre outras, dentro do padrão de superior dominante, realizando elevação deste membro acima
cada indivíduo. Desta forma, não foram encontradas do ombro com uma angulação de 45Ú à 90Ú com relação
diferenças significativas neste parâmetro. ao solo e saltos em busca da bola com apenas um membro
Com relação aos deslocamentos laterais, 80% dos alas superior [18-20], geram uma tendência à assimetria corporal,
possuem deslocamento corporal à direita e apenas 20% à devido adaptação do tecido vivo citada anteriormente.
esquerda, entre os pivôs, 75% apresentam deslocamento Quando comparada a manualidade com a escoliose,
corporal à esquerda e 25% à direita e entre os armadores, encontrou-se que nos destros, 78% possuem escoliose destro
dois atletas (67%) apresentam deslocamento corporal à convexa lombar e 32% destro convexa dorsal. Entre os
esquerda e apenas um (33%) à direita. Segundo Mézières in sinistros encontrou-se 33% apresentando escoliose destro
Cittone, o homem no plano frontal não deve possuir convexa lombar e 67% dorsal. Sabe-se que a cadeia cruzada
desequilíbrios laterais, descarregando o peso de forma comanda movimentos de torção das cinturas escapular e
simétrica nos MMII [10]. pélvica e quando em retração, é classificada como provável
Já no deslocamento antero-posterior, 83% dos atletas etiologia de deformidades em inclinação lateral com rotação
apresentaram deslocamento corporal anterior e apenas dois oposta da coluna vertebral, ou seja, escoliose [12-13]. Ao
atletas o posicionamento em deslocamento posterior. Este elevar o membro superior direito, a cadeia cruzada anterior
achado vai ao encontro dos estudos de Busquet, o qual esquerda é solicitada (fibras oblíquas que ligam o ombro
relata que o corpo humano constrói sua estática sobre um direito ao quadril esquerdo) elevando o quadril esquerdo,
desequilíbrio anterior, aumentando o trabalho da musculatura formando uma convexidade lombar à direita. No sinistro,
paravertebral para reequilíbrio do sistema [12]. Já Abitol temos o movimento oposto, com tendência à convexidade
explica este desequilíbrio ântero-posterior com a teoria da lombar à esquerda. Esta curvatura lombar pode ser
evolução da espécie humana, relatando que algumas compensada com uma segunda curvatura dorsal oposta
modificações aconteceram no corpo humano para [4,12-14].
proporcionar a postura ereta e a locomoção bípede, como
por exemplo, o deslocamento posterior e para baixo do Conclusões
centro de gravidade, o tronco mais curto e alargado no plano
médio-lateral e afinado no plano ântero-posterior [21]. As Entre os atletas estudados, predominou-se o lado
posições de desequilíbrio ântero-posterior e látero-lateral são dominante direito (75%). Não foi encontrada diferença
treinadas exaustivamente visando velocidade nos significativa de retração das cadeias anterior e posterior,
deslocamentos de recuperação da bola e saída rápida ao devido provavelmente a alternâncias de movimentos e
ataque, um deslocamento em “pêndulo anterior” [1,17,18]. gestuais, implicando cada qual a solicitação de cadeias
No basquete, o trabalho dos membros inferiores é muito distintas, sendo os movimentos de saltos verticais em extensão
importante, sendo desta forma, exaustivamente treinado. da coluna e membros, a solicitação da cadeia posterior e
Estes atletas receberam um aprendizado de movimentos deslocamentos em velocidade anterior solicitando os
em parada de dois tempos (pés em posição antero-posterior), músculos da cadeia anterior. Os deslocamentos corporais
jump stop (salto com saída assimétrica e aterrissagem simétrica), em anterior foram encontrados na maioria dos atletas devido
pé de pivô (mantendo um pé fixo e giro sobre outro), fintas provavelmente ao treinamento em desequilíbrio anterior
(movimento de drible em desequilíbrio), entre outros, visando maior velocidade de contração durante recuperação
solicitando alterações nas bases [1,2,18-20]. O treinamento ou saída ao ataque. Com relação à deformidade em escoliose,

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67% dos indivíduos apresentaram padrão destro convexo 10. Cittone JM. Méthode Mézières. In: Encyclopédie Medical-
lombar, sendo que entre os indivíduos destros 78% Chirurgicale. Kinésithérapie-Médicine Physique-Réadaptation.
apresentaram este padrão devido provavelmente à retração Paris: Elsevier 1999;1:26-085-A-10.
da cadeia cruzada anterior esquerda. 11. Bricot B. A reprogramação postural global: postura normal e
postural patológica. In: Bricot B. Posturologia. São Paulo:
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3. Bienfait M. Os desequilíbrios estáticos: fisiologia, patologia 15. Gurney B. Leg length discrepancy. Gait Posture 2002;15:195-
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the literature. Manual Therapy 2003;8:141-50. Réadaptation. Paris: Elsevier 1999;26-452-A-10. C

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 209

Revisão

Lesões SLAP - Aspectos clínicos e patológicos


SLAP lesions - Pathologic and clinical aspects

Jaciene de Souza Silva*, Leila de Albuquerque Feijó Fonseca**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, **Professora do Departamento de Fisioterapia da UCSal, Fisioterapeuta da Enfermaria


de Ortopedia do Hospital Geral Roberto Santos

Resumo
Este trabalho de revisão bibliográfica investiga as lesões SLAP, que acometem o lábio
Palavras-chave: glenoidal superior, seus aspectos clínicos e patológicos. Estas são freqüentemente associadas
articulação do ombro, lábio a outras patologias e produzem sintomas muito vagos, levando à confusão diagnóstica.
glenoidal, lesão SLAP, tendão Com base em achados artroscópicos, as lesões SLAP foram inicialmente classificadas em
do bíceps.
quatro tipos. Recente estudo acrescentou mais três tipos para essa classificação, sendo as
do tipo II as de maior incidência. Foram observados ainda três subtipos destas e relatados
seus efeitos na biomecânica do ombro. Diversos mecanismos de lesão foram propostos e
dois novos exames físicos foram preconizados. Controvérsias existem quanto ao melhor
método de diagnóstico por imagem, porém a certeza diagnóstica só pode ser possível via
artroscópica. É de interesse da fisioterapia estudar tais lesões, pois são relativamente
novas no conhecimento ortopédico, com importantes repercussões clínicas quando não
identificadas, constituindo graves obstáculos à reabilitação.

Abstract
The aim of this literature review article was to study the SLAP lesions that involve
Key-words: the superior glenoid labrum, their pathologic and clinical aspects. These are often
shoulder joint, glenoid labrum, associated to other pathologies which produce many vague symptoms that lead to
SLAP lesion, biceps tendon. misdiagnostic. Based on arthroscopic findings, SLAP lesions were initially ranked into
four types. A recent study added more three types to this classification, being the type
II the most incident. Three under-types of these were observed and their effects on
the shoulder biomechanics were related. Many lesion mechanisms were proposed and
two new physical exams were commended. There are controversies about the best
diagnostic method by image; but the diagnostic assurance only can be possible by
arthroscopy. Physical therapy is interested to study such lesions, due they are new for
the orthopedic knowledge, with important clinical repercussions when they are not
identified, producing critical obstacles to the rehabilitation.

Recebido 27 de julho de 2003; aceito em 1 de junho de 2004


Endereço para correspondência: Leila de Albuquerque Feijó Fonseca, Rua das Acácias, 470, salas 501/3 Pituba, Salvador BA, Tel: (71) 3538003/
3792653, E-mail: leilalbuquer@ig.com.br - leiladealbuquerque@zipmail.com.br

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Introdução Embora um crescente número de publicações tenha


focado a anatomia, função, diagnóstico e resultados de
As lesões do lábio glenoidal superior, SLAP (Superior tratamento, os sinais e sintomas das lesões SLAP são ainda
Labrum Anterior-Posterior) lesions, constituem importantes pouco definidos. Essas lesões caracterizam-se por dor mal
causas de disfunções em atletas que realizam arremesso, assim localizada, sem precisão topográfica e discreto grau de
como produzem sintomas significativos nas atividades de instabilidade glenoumeral. Dor no tendão longo do bíceps
vida diária de um não arremessador. Freqüentemente não é freqüente e infreqüentes também são os estalidos
associadas a outras patologias, produzem sintomas muito intra-articulares, que quando associados à dor, história de
vagos que levam à confusão diagnóstica com outros trauma com apoio no membro superior em extensão ou
acometimentos intra-articulares. Embora vários estudos em atletas arremessadores assumem importância na pesquisa
tenham sido desenvolvidos durante estes últimos anos, desde clínica. Devem servir de suspeita de lesões SLAP, casos de
a sua descoberta, em 1990, os mecanismos de dano das pacientes que mantém quadro doloroso persistente na
lesões glenoidais superiores são ainda pouco conhecidos. Sem articulação do ombro, com diminuição de amplitude de
a vantagem do exame clínico fidedigno, estas lesões podem movimento e pequena resposta ao tratamento físico [2,3].
ser ainda negligenciadas ou mesmo confundidas com outras Uma sintomatologia típica do atleta arremessador é
patologias, constituindo importante obstáculo à reabilitação. desenvolvimento de dor anterior ou posterior, podendo estar
Progressos em artroscopia de ombro conduziram, com associada à síndrome dead arm que são sintomas neurológicos
segurança, à identificação das lesões que envolvem o lábio transitórios, caracterizados pela dor durante o arremesso
superior e a âncora do tendão do bíceps. Embora crescente com diminuição da performance e da velocidade [4,5].
número de pesquisas, ultimamente, tenha se dedicado à
compreensão destas lesões, existe, ainda, pequena bibliografia Classificação
a respeito.
Com base nos achados artroscópicos, as lesões SLAP
Desenvolvimento foram inicialmente classificadas por Snyder [6] em quatro
tipos. Considerações posteriores foram feitas por outros
Metodologia autores [4,7,8]:
Lesões tipo I, em que ocorre um esgarçamento do labrum
Este trabalho consiste de uma revisão bibliográfica cuja superior, porém suas fixações, bem como a do tendão,
estratégia de busca incluiu consulta de bases de dados continuam intactas (Fig. 1). Este tipo revelou-se sem significação
eletrônicas Medline e Bireme. Foram encontrados 11 artigos patológica e de baixa freqüência. Seus aspectos normalmente
que preencheram os critérios de inclusão: ano de publicação confundem-se com o processo degenerativo fisiológico mais
compreendido entre 1992 a 2003. Não foram encontrados, comumente observado com o envelhecimento.
dentro destes critérios, artigos com abordagem Lesões tipo II, em que a fixação do lábio é comprometida
fisioterapêutica sobre o tema. Para a seleção buscou-se a por uma avulsão do complexo labro-bicipital da glenóide,
combinação dos termos: articulação do ombro; lábio resultando em instabilidade deste complexo (Fig. 2). Constituem
glenoidal; lesão SLAP; tendão do bíceps. A estratégia de as lesões de maior incidência dentre as lesões labrais, cerca de
revisão incluiu também checagem manual de referências 50 % de todas as lesões SLAP. Foram observados ainda três
literárias e capítulos de livros que abordavam este tema. subtipos de lesões SLAP tipo II: ântero-superior; póstero-
Foram excluídos artigos sobre técnicas cirúrgicas detalhadas superior, também designada SLAP lesion tipo II posterior; e
tendo em vista que tal averiguação não integra a proposta combinada antero-posterior (Fig. 5). Com base em experiências
deste estudo. com atletas arremessadores, as lesões SLAP tipo II posterior
revelaram-se mais comuns nestes do que no grupo por trauma
Características da lesão não arremessador, nos quais predominaram as lesões anteriores.
Normalmente esse tipo de lesão gera uma instabilidade póstero-
A SLAP lesion, ou lesão SLAP é definida como uma lesão superior que se manifesta pela pseudolassidão anterior. Estudos
do lábio superior que compreende tanto a porção anterior recentes preconizam que a desestabilização da inserção do
como a posterior do labrum, tomando-se como referência bíceps resultaria em aumento significativo da translação
central a zona de inserção do tendão da cabeça longa do bíceps glenoumeral ântero-posterior e súpero-inferior. A instabilidade
que, exatamente devido a essa correlação anatômica, assume superior crônica pode levar a uma lesão específica do manguito
grande importância para essas lesões, por sua função rotador, o que pode explicar a alta incidência das lesões do
estabilizadora dinâmica. Constitui um grupo de lesões de origem manguito rotador em pacientes com SLAP lesions crônicas.
traumática freqüentemente associadas a outras patologias intra Também foi relatado um outro efeito biomecânico das lesões
e extra-articulares, traumáticas ou não, podendo também ser SLAP tipo II, especialmente em arremessadores que
encontradas mais raramente isoladas [1,2]. apresentavam o tipo combinado e posterior. Quando o braço

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 211

Fig. 1 - SLAP tipo I. [6] Fig. 2 - SLAP tipo II. [6] Fig. 3 - SLAP tipo III. [6]

Fig. 4 - SLAP tipo IV. [6] Fig. 5 - Três subtipos de lesão SLAP tipo II pela localização anatômica: (A) anterior, (B)
posterior, e (C) combinada [8].

é trazido para abdução e rotação externa, o tendão bicipital Lesões tipo V, que consistem de uma associação SLAP II
assume um ângulo mais vertical e posterior, o que fará com a uma lesão Bankart antero-inferior que se estende
que o bíceps se direcione medialmente ao tubérculo superiormente, envolvendo a separação do tendão do bíceps.
supraglenoidal, transmitindo uma força de torção ao labrum Estes tipos de lesão estão sempre presentes no contexto de
póstero-superior. Sendo assim, recomenda-se, para pacientes instabilidade anterior crônica.
que se submeteram a reparos da lesão SLAP posterior, que Lesões tipo VI, definidas como instabilidade radial ou lesão
evitem realizar a rotação externa passiva precocemente da orla glenoidal, que são associadas com separação do arco
(primeiras três semanas), pois é onde se observa o fenômeno, do bíceps. Nerisson, Kempf e Bonnomet [7] definem estas
mesmo sem abdução. Isso porque a rotação externa estressa o lesões como uma volumosa lingueta labral superior sem
labrum póstero-superior. desinserção biciptal, de interesse puramente nosológico.
Lesões tipo III consistem em uma laceração em alça de Lesões tipo VII, caracterizadas pela extensão da lesão
balde do lábio superior, que pode avançar para dentro da SLAP em posição inferior ao ligamento glenoumeral medial,
articulação, porém o arco do bíceps permanece intacto. São e em menor proporção, comprometendo também o
raras (Fig. 3); ligamento glenoumeral inferior. Sua freqüência é baixa.
Lesões tipo IV são lesões em alça de balde do labrum
superior, onde a laceração labial se estende para o tendão Mecanismos de lesão
bicipital, permitindo sua subluxação para dentro da
articulação. Também são lesões raras e freqüentemente Alguns mecanismos de lesão têm sido propostos para as
associadas a uma lesão de Bankart, no quadro de lesões SLAP, tais como uma força de compressão no ombro
instabilidade anterior crônica (Fig. 4). após queda com o braço em extensão; tração no braço,
Alguns autores fazem referência à recente estudo como resultado de um puxão ou secundariamente a
realizado por Maffet et al., que acrescenta, ainda, mais três movimentos de tração repetidos ou excessivos da inserção
tipos, para esta classificação [1,7]: tendínea, como em arremessadores de beisebol, nadadores,

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jogadores de tênis e de voleibol. Estudos têm relatado apresentam história de queda com o braço estendido estão
numerosas lesões na articulação glenoumeral durante as mais sujeitos a ter lesões tipo III, IV ou VI. Lesões tipo V e VII
diferentes fases de um lançamento: (1) durante a rotação têm sido mais freqüentes em instabilidade por um trauma agudo.
(wind-up), que tem por finalidade preparar o arremessador
em uma postura e equilíbrio adequados para o lançamento, Diagnóstico clínico
a cabeça do úmero pode ser desgastada e tornar-se áspera
devido à ação de alavanca sobre o lábio glenoidal posterior; O diagnóstico apropriado da lesão é considerado crítico
(2) na fase de levantamento (cocking), o ombro é abduzido e para o tratamento adequado. No entanto, um diagnóstico
rodado em aproximadamente 90º. Essa posição coloca a clínico acurado da lesão SLAP pode ser difícil. Tal dificuldade
cápsula articular anterior, os rotadores internos, que são se deve à forma de apresentação dos sintomas, muito vaga,
usados para acelerar a bola, e o tendão biciptal sob tensão que sugere muitas vezes outros acometimentos intra-
máxima. Estudos revelaram que a posição do tendão durante articulares do ombro.
a aplicação de carga é um fator determinante na patogênese Ao exame físico, o teste de tensão bicipital, palm up test
das lesões SLAP tipo II, que ocorrem com maior freqüência ou speed, pode ajudar a identificar uma lesão da cabeça longa
na posição máxima. A tensão aumentada do tendão do do bíceps na sua inserção no lábio superior, além de
bíceps aumenta também a rigidez em torção da articulação evidenciar o grau de participação desse músculo na patologia.
glenoumeral e induz ao estresse localizado no ligamento Dor em região antero-superior do ombro experimentada
glenoumeral inferior, contribuindo para a redução da quando o mesmo é fletido contra uma resistência com o
estabilidade anterior do ombro; (3) aceleração, que começa com cotovelo estendido e o antebraço supinado pode levar à
a rotação máxima e termina com a soltura da bola. Os suspeita de uma lesão SLAP. Da mesma forma, o teste
músculos que estiveram distendidos na fase de levantamento compressivo de rotação pode estar presente em uma lesão
passam a ser os aceleradores em uma contração muscular labral. Este teste é realizado em posição supina, com o
concêntrica; (4) soltura e desaceleração, quando inicialmente, o membro superior em 90º de abdução, 90º de flexão do
úmero adota um ritmo alto de rotação interna e o cotovelo é cotovelo; fazendo-se compressão articular com movimentos
estendido rapidamente. Grandes forças são geradas no de rotação, objetiva-se capturar a alça labral, provocando
manguito rotador nesta fase, necessárias para tornar mais um ressalto articular [2,3].
lenta a rotação interna e adução horizontal do úmero, e para O teste clínico realizado com o cotovelo estendido,
estabilizar a cabeça do mesmo na glenóide, bem como para antebraço em pronação máxima e adução de 10 a 20º (teste
resistir à força de afastamento que tenta arrancar o braço da de compressão ativa de O´Brien ou cross chest adduction test)
articulação, na direção para onde a bola está sendo arremessada. também tem sido utilizado como diagnóstico, embora existam
As lacerações do lábio na inserção do tendão da cabeça longa autores que afirmem não ser patognomônico, já que pode
do bíceps, a subluxação deste tendão por laceração do ser positivo também nas alterações acromioclaviculares. Esse
ligamento transverso e várias lesões do manguito podem teste é considerado positivo para as lesões SLAP se houver
ocorrer durante essa fase do arremesso. Godinho et al. [2], manifestação de dor profunda, localizada no sulco
tendo como base estudos realizados por Rodosky, Hanter e intertubercular durante uma resistência, a qual desaparece
Snyder, relataram que este mecanismo de desaceleração, ou é aliviada com o antebraço supinado ativamente; um
realizado pelo bíceps do atleta arremessador, causa uma tração estalido doloroso intra-articular com o membro pronado
excessiva no labrum superior; (5) execução (follow-through), fase também indica lesão lábioglenoidal [5].
durante a qual o corpo movimenta-se para diante com o O teste do deslizamento anterior (AST) também foi
braço, reduzindo as forças de afastamento aplicadas ao ombro, relatado como diagnóstico para as lesões labrais. O exame é
o que resultaria em aumento de tensão sobre os músculos do realizado com as mãos posicionadas nos quadris, polegar
manguito [3,9,10]. para trás e estabilização da escapula por uma das mãos de
Como causa de lesão, além dos arremessos repetidos já examinador, enquanto a outra é colocada no cotovelo,
citados, Burkhart, Morgan e Kliber [4] relataram ainda um resistindo à força de impulsão realizada para cima e para
outro possível mecanismo, que seria um episódio único de trás pelo paciente. A suspeita diagnóstica é baseada na
trauma que incluísse uma força agonista excêntrica atuando presença da dor ou clique durante o esforço. O teste mostrou
contra uma contração ativa do bíceps braquial, o que poderia sensibilidade de 78,4% e especificidade de 91,5%, mas não
potencializar a ruptura da cabeça longa desse músculo no confirma o diagnóstico [2].
tubérculo supraglenoídeo. Em estudo de Kim et al. [10] foi relatado um novo teste
Urban e Caborn, citados em estudo de Bencardino [1], diagnóstico para lesões SLAP isoladas, nomeado de biceps
postularam que diferentes mecanismos de lesão resultariam load test II. O teste é conduzido com o paciente em supino.
em diferentes tipos de SLAP lesions. Atletas que usam O braço a ser examinado é elevado a 120º e rodado
repetitivamente o braço por sobre a cabeça estão propensos a externamente ao seu ponto máximo, com o cotovelo fletido
desenvolverem lesões tipo I ou II, ao passo que pacientes que a 90º e o antebraço em posição supinada. Pede-se ao paciente

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que faça uma flexão do cotovelo enquanto o examinador impreciso, assim como a presença de patologias associadas,
resiste. O teste é considerado positivo se o paciente queixar- assume aspectos que confundem o diagnóstico, tornando-o
se de dor durante a flexão resistida ou se a dor piora após o ainda mais difícil.
exame. É negativo se a dor não aparece com a flexão resistida
do cotovelo ou se a dor, pré-existente durante a elevação e Diagnóstico por imagem
rotação externa, não muda ou diminui pela flexão resistida
do cotovelo. O biceps load test II fundamentou-se em estudos A identificação das lesões labrais através de técnicas não
biomecânicos que relataram que a abdução e rotação externa invasivas apresenta-se como um permanente desafio para
do ombro, durante a fase de arremesso, estressam a origem os estudiosos da área. Diversos autores [2,3,12] concordam
do tendão da cabeça longa do bíceps e sua inserção no que esta forma tem se mostrado de eficiência limitada nas
labrum posterior. Estudos eletromiográficos dinâmicos visualizações de tais lesões. Muitas discussões existem quanto
demonstraram, também, que o bíceps é extremamente ativo ao melhor método de imagem para diagnosticar as lesões
em atletas arremessadores quando o ombro está na posição SLAP. No entanto tem se reservado à artroscopia o mérito
abduzida e rodada externamente. Durante o bíceps load test de ser o único método seguro de confirmação diagnóstica,
II, uma contração ativa contra uma resistência estressa a através da qual pode-se também realizar a regularização
inserção do complexo biceps-labral superior, onde a dor é labral e/ou sutura com fixação lábio-glenoidal .
elicitada no ombro com a SLAP lesion tipo II. A abdução e
rotação externa do ombro, durante o teste, muda a direção Diagnóstico diferencial
relativa das fibras do bíceps para uma posição em ângulo
oblíquo ao labrum póstero-superior, antes paralelo a este. As lesões do lábio glenoidal superior freqüentemente
Esta mudança no vetor da força do bíceps aumenta a dor encontram-se associadas a outras patologias, tais como:
generalizada na labrum superior durante a contração resistida tendinite calcária, luxação recidivante anterior, subluxação
do bíceps em abdução e rotação externa. Desse modo, o recidivante, síndrome do impacto e ruptura do manguito
bíceps load tess reproduz o mecanismo de lesão da SLAP tipo rotador, sendo a associação mais freqüente a instabilidade
II, demonstrando ser um teste muito sensível e específico, anterior. Diversas outras patologias como frouxidão do
de diagnóstico efetivo para tais lesões [10]. ligamento glenoumeral inferior, lesão de Bankart, lesão de
Estudos recentes possibilitaram correlacionar quatro Hill-Sachs, lesões condrais, fragmentos soltos e lesões
testes de exame físico de acordo com a presença e a completas, também foram encontradas em associação com
localização anatômica da lesão SLAP tipo II, analisando as lesões SLAP. È importante ressaltar que existem também
estatisticamente suas respectivas especificidade e outras lesões que acometem o lábio glenoidal, muito
sensibilidade. Os testes foram: (1) sensibilidade da fossa semelhante às lesões SLAP, mas que não pertencem a este
bicipital, (2) teste de Speed, (3) teste de O’Brien, e (4) teste grupo de lesões. As lesões anterosuperiores ou lesões de
de recolocação de Jobe. O teste para a sensibilidade da fossa Andrews foram as primeiras lesões labrais reconhecidas como
bicipital foi considerado positivo quando a dor era aumentada característica do ombro doloroso do lançador.
à pressão profunda no ombro lesado, em comparação com Morfologicamente, também podem ocorrer esgarçamento
a mesma lesão no ombro oposto sem dor. O teste de Speed da lingueta e/ou desinserção, porém estes são estritamente
produziu resultados positivos à dor na região do sulco bicipital, limitados à região anterosuperior e não se estendem para
com resistência à flexão anterior com o ombro fletido à 90º traz da inserção do tendão longo do bíceps, o que os
e antebraço supinado. Por último, o teste de recolocação de distinguem de uma lesão SLAP. As lesões labrais posteriores
Jobe era positivo quando a dor e apreensão no ombro são menos freqüentes que as superiores e anterosuperiores.
(geralmente localizadas na região póstero-superior), As posteroinferiores geralmente surgem associadas a uma
produzidas pela abdução e rotação externa, eram aliviadas condrite local da glena, enquanto que o esgarçamento do
por uma força de direção posterior aplicada à cabeça do labrum posterosuperior está associado a uma ruptura da
úmero. O uso do termo, teste de recolocação de Jobe, deve face profunda do supraespinhoso. As lesões anteroinferiores
ser claramente distinguido do seu uso em diagnóstico de associadas à lesão do ligamento glenoumeral inferior,
instabilidade anterior, em que a dor e apreensão são pertencem ao quadro típico de instabilidade anterior crônica.
geralmente localizadas anteriormente e aliviadas pela Além disso, a dificuldade diagnóstica pode acentuar-se ainda
diminuição da pressão na cabeça umeral. Os testes de mais, devido a grande variação anatômica da região labral,
O’Brien e Speed se mostraram úteis na previsão das lesões como a inserção regular, porém frouxa do lábio, a forma
anteriores, enquanto que o teste de recolocação de Jobe foi labral meniscóide, ou a fragmentação labral geralmente
útil na previsão da lesão SLAP posterior [4]. observada em pacientes idosos, constituindo esta uma lesão
Embora diversos testes tenham sido desenvolvidos para degenerativa e não uma lesão SLAP. Por esses motivos, os
avaliar a lesão SLAP, o exame físico revelou-se ainda ineficaz tipos I e II são os de diagnóstico diferencial mais difícil,
para diagnosticar tais lesões. O quadro clínico muito especialmente nas faixas etárias mais altas [1,2,7].

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214 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Recente estudo de Kim et al. [13] revelou que um teste de balde, alternativamente pode-se apenas ressecar-se a alça,
de Speed positivo e uma lesão do supraespinal estavam, e nas lesões tipo IV, procedimento semelhante é realizado.
significativamente, associados às lesões tipo I. Os achados O programa de reabilitação da lesão SLAP deve ter
associados às lesões tipo II diferenciaram-se, de acordo com características diferentes de acordo com a técnica cirúrgica
as idades dos pacientes: este tipo de lesão em pacientes que utilizada. O paciente com o lábio reinserido necessita de um
tinham 40 anos de idade ou menos, foi associado apenas período com movimento restrito no pós-cirúrgico imediato,
com uma lesão Bankart, enquanto naqueles que tinham mais para que possa ocorrer boa cicatrização tecidual. Nestes
de 40 anos, o tipo II foi encontrado em associação com casos, deve-se ter muita cautela com os movimentos do
uma lesão do supraespinal e osteoartrite da cabeça umeral. braço, enfatizando a ausência de contração ativa do bíceps
As lesões tipo III e tipo IV associaram-se com uma ocupação por seis a oito semanas, assim como a ausência também da
de alta demanda e uma lesão Bankart. flexão anterógrada ativa além de 90º por seis semanas. Do
O recesso sublabral, muitas vezes, pode simular uma contrário, nos pacientes que foram submetidos a um
lesão SLAP, podendo dificultar ainda mais o seu diagnóstico. desbridamento do lábio, o movimento e fortalecimento
Smith et al. [14] descreveram dois sinais de RM artrográfica podem progredir muito mais rapidamente e a reabilitação
úteis para distinguir um recesso sublabral de uma lesão baseia-se nos sinais e sintomas [9].
SLAP. Primeiro eles notaram que essa estrutura anatômica
se localizava entre a glenóide superior e a metade anterior Conclusão
do labrum superior, não se estendendo posteriormente à
inserção da cabeça longa do bíceps, o que os levou a As lesões SLAP têm-se mostrado ainda distantes de
concluir que a intensidade do sinal de RM, entre o labrum seu conhecimento pleno, apesar dos avanços ortopédicos
e a glenóide, no terço posterior da glena superior, ocorridos neste sentido. Sendo de relevância clínica
representava uma lesão SLAP. Um outro sinal relatado é o considerável, constituem fonte de sintomas e incapacidades
denominado “biscoito de Oreo duplo”, o qual pode ser para o paciente, especialmente o atleta jovem. A
visto quando estão presentes duas coleções de líquido, sendo sintomatologia vaga, como também a complexidade da
que o fluido mais lateral, dentro da substância do labrum, anatomia labral e suas variantes nor mais, torna o
lembrando uma lesão meniscal no joelho, representaria a diagnóstico clínico extremamente difícil. A localização
lesão; e o mais medial, entre o lábio e a glenóide, o recesso anatômica dessa lesão, bem como a dificuldade de acesso
sublabral. Uma outra estrutura anatômica que pode cirúrgico clássico possibilitou o negligenciamento das lesões
complicar também o desmembramento das lesões labrais SLAP por longas datas. Com as modernas técnicas de
é o intervalo rotador, que corresponde a uma zona artroscopia pôde-se estudar, diagnosticar e tratar essas lesões
compreendida entre o supraespinhoso e o subescapular antes pouco conhecidas.
sede de rasgos e inflamações [7]. Embora muitos estudos tenham sido realizados sobre
O diagnóstico, portanto, não é fácil e pode passar as lesões SLAP, desde a sua descoberta, pouco se sabe
despercebido ou ainda confundir-se com aspectos que ainda sobre a referida lesão, principalmente no que diz
são variáveis da anatomia normal. No entanto as lesões respeito à sua apresentação clínica e ao mecanismo de
SLAP, sem nenhum achado patológico associado, são lesão. Faz-se necessário incrementar as pesquisas para
incomuns e cuidados devem ser tomados quanto aos que se possam produzir evidências para as bases teóricas
sintomas que lhe são atribuídos, quando outras lesões já existentes.
encontram-se presentes.
Referências
Tratamento
1. Bencardino JT et al. Superior labrum anterior-posterior
Este trabalho não tem como proposta o estudo do lesions: diagnosis with MR arthrography of the shoulder.
tratamento das lesões SLAP, mas o entendimento da Radiology 2000;214:267-71.
natureza destas. Exporemos, no entanto, breves comentários 2. Godinho GG et al. Lesões SLAP no ombro. Rev Bras Ortop
a respeito, com o intuito de que venham a ser desenvolvidos 1998;33(5):345-52.
futuros raciocínios fisioterapêuticos. 3. Laban MM, Gurin TL, Maltese JT. Slip of the Lip - tears of
the superior glenoid labrum-anterior to posterior (SLAP)
As recomendações terapêuticas específicas baseiam-se
syndrome: a report of four cases. Am J Phys Med Rehabil
no tipo de lesão labral presente. Snyder et al. [6] recomendam 1995;74(6):444-52.
para as lesões SLAP tipo I, a realização apenas do 4. Burkhart SS, Morgan CD, Kibler WB. Shoulder injuries in
desbridamento do tecido degenerado. Para as lesões tipos II overhead athletes. Clin Sports Med 2000;19(1):125-58.
indica-se também o desbridamento e o lábio glenoidal deve 5. Hebert S et al. Traumatismo do ombro. In: Lech O. Ortopedia
ser suturada e fixada a glenóide. Nas lesões tipo III, e traumatologia princípios e prática. Porto Alegre: Artmed;
desbridamento com fixação lábio-glenóide e sutura da alça 2003. p. 981-1004.

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6. Snyder SJ. Labral lesions (non-instability) and SLAP lesion. 11. Tuite MJ et al. Superior Labrum Anterior-Posterior (SLAP)
In: Snyder SJ. Shoulder arthroscopy. Caslon: Arcata Graphics/ Tears: evaluation of three MR signs on T2 – weighted images.
Kingsport; 1994. p. 114-131. Radiology 2000; 215: 841 –845.
7. Nérisson D, Kempf JF, Bonnomet F. Lésions du bourrelet 12. MC Cauley TR, Pope CF, Joki P. Normal and abnormal glenoid
glénoïdien dans les épaules stables. Encycl Méd Chir 1999;14- labrum: assessment with multiplanar gradient – Echo MR
354-A-10:1-5. Imaging. Radiology 1992;183:35-7.
8. Morgan CD et al. Type II SLAP Lesion: Three subtypes and 13. Kim TK et al. Clinical features of the different types of SLAP
their relationships to superior instability and rotator cuff tears. lesions: an analysis of 139 cases. J Bone Joint Surg Am
Arthroscopy 1998;14(6):553-65. 2003;85-A(1):66-71.
9. Andrews JR, Harrelson GL, Wilk KE. Reabilitação do ombro. 14. Smith DK et al. Sublabral recess of the superior glenoid
In: Wilk KE et al. Reabilitação física das lesões desportivas. labrum: study of cadavers with conventional
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p. 350-84. nonenhanced MR imagin, MR arthrography, anatomic
10. Kim S et al. Biceps Load Test II: A clinical test for SLAP lesion dissection, and limied histologic examination. Radiology
of the shoulder. Arthroscopy 2001;17(2):160-4. 1996;201(1):251-6. C

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Revisão

Influência do decúbito ventral nas trocas gasosas de


pacientes com hipoxemia refratária ao oxigênio
Influence of ventral decubitus on patient gas exchange with
refractory hypoxemia at oxygen
Ana Carolina de Almeida Koide*, Emerson dos Santos**, Décio Iandoli Júnior***

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, **Fisioterapeuta, professor titular das disciplinas de Pneumologia e Fisioterapia Respiratória na Unisanta,
***Doutor em medicina pela UNIFESP, professor titular da disciplina de Fisiologia na Unisanta

Resumo
Através de revisão bibliográfica propõe-se analisar os efeitos do decúbito ventral
Palavras-chave: sobre o índice de oxigenação e a diferença alvéolo-arterial de oxigênio em pacientes
Hipoxemia, oxigenação, com hipoxemia refratária. Freqüentemente os pacientes internados em Unidade de
decúbito ventral, ventilação, Terapia Intensiva passam longos períodos do dia em decúbito dorsal, condição que
troca gasosa pulmonar.
facilita a abordagem da equipe interdisciplinar, porém acarreta grandes alterações na
mecânica ventilatória. O decúbito ventral tem a intenção de recrutar unidades alveolares
dorsais colapsadas, tornando-as novamente ventiladas. Com esta intervenção observa-
se uma redistribuição do fluxo aéreo para estas áreas perfundidas, equilibrando a relação
ventilação/perfusão e melhorando a complacência pulmonar. Conclui-se que com o
decúbito ventral há uma melhora significativa dos parâmetros ventilatórios.

Abstract
Through a revision of literature, the aim of this work was to analyse the effects of
Key-words: ventral decubitus on oxygen index and the alveolar-arterial oxygen difference in patients
Hypoxemia, oxigenation, with refractory hypoxemia. Patients in Intensive Care Units frequently spend long periods
ventral decubitus, ventilation, in dorsal decubitus, condition which helps the interdisciplinary staff approach, but
pulmonary gas exchange.
cause many alterations in ventilatory mechanics. Ventral decubitus has the intention to
recruit dorsal alveolar units collapsed, turning them ventilated again. A redistribution
of airflow to this perfusion areas was observed with this intervention, balancing the
ventilation/perfusion relationship and improving the pulmonary compliance. In
conclusion, ventral decubitus significantly improves the ventilatory parameters.

Recebido 17 de fevereiro de 2004; aceito 1 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Ana Carolina de Almeida Koide, Rua Thiago Tacão, 42/13 Ponta da Praia 11030-320 Santos SP, Tel.: (13) 3261-3649
ou (11) 3501-9481, E-mail: anakoide@hotmail.com

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Introdução momento mais adequado de se realizar a transferência do


paciente para o decúbito ventral.
A expansão dos pulmões pode estar limitada por fatores
intrínsecos ou extrínsecos, prejudicando a função respiratória. Desenvolvimento
Quando um indivíduo está posicionado em decúbito
dorsal, ocorre uma limitação extrínseca em sua expansão Perfil do paciente
pelo contato com o leito. A incursão do diafragma, também
estará prejudicada pela acomodação das vísceras sobre ele. Dentre os pacientes com indicação para decúbito ventral,
Sabe-se que os pacientes internados em unidade de terapia muitos têm diagnóstico de Síndrome do Desconforto
intensiva (UTI) submetidos à ventilação mecânica (VM) Respiratório Agudo (SDRA), segundo os critérios do
passam grande parte de seu dia em decúbito dorsal, pois Consenso Americano-Europeu de Pneumologia e Terapia
esta posição facilita a abordagem da equipe multidisciplinar, Intensiva, em que a doença deve ser de início agudo, com
o atendimento fisioterapêutico, a monitoração respiratória, hipoxemia refratária ao O2, índice de oxigenação (PaO2/
o acesso venoso, o correto posicionamento da prótese de FiO2) menor do que 200 mmHg, exame radiológico de tórax
ventilação mecânica, entre outras vantagens. evidenciando infiltrado bilateral difuso, ausência de
Porém existem também as desvantagens. Entre elas está insuficiência cardíaca e pressão capilar pulmonar menor do
a diminuição da capacidade residual funcional (CRF), que 18 mmHg [3,7,8,9,10].
favorecendo o fechamento das vias aéreas e a diminuição Chatte et al. [11] classificam SDRA apenas pela
das trocas gasosas. Quando a postura é invertida, deixando radiografia com presença de condensação bilateral, e
o paciente em decúbito ventral, ocorre mudança na pressão incluem para tratamento com uso de decúbito ventral
transpulmonar capaz de reverter este quadro [1]. pacientes com insuficiência respiratória aguda com rápido
Esta alteração da pressão transpulmonar pode estar decréscimo na oxigenação, onde a VM se faz necessário.
atribuída à redução do peso do coração e das outras Valores de PaO2/FiO2 menores ou iguais a 150 mmHg
estruturas do mediastino sobre o parênquima pulmonar são os marcadores de indicação do decúbito ventral para
[1,2,3], e ao alívio dos efeitos compressivos do pulmão Chatte [11] e Mure et al. [12]. Torres e Vieira [3] indicam o
consolidado e do peso das vísceras abdominais sobre a região decúbito ventral para pacientes com Lesão Pulmonar Aguda
caudal do pulmão dorsal [1]. (LPA) mantendo PaO2/FiO2 menor do que 300 mmHg.
A proposta do posicionamento em decúbito ventral Gattinoni et al. [4], Nakos et al. [5] e Machado et al. [13]
objetiva reverter as desvantagens do decúbito dorsal, determinaram a inclusão dos pacientes em seus trabalhos,
melhorando a oxigenação do paciente. quando estes apresentassem PaO2 menor do que 60 mmHg.
Com a região dorsal em contato com o leito, o fluxo aéreo Valores iniciais mínimos de fração inspirada de oxigênio
encontrará grande resistência nas áreas posteriores, sendo assim (FiO2) variaram entre 50 e 70% [5,11,13].
desviado para a região anterior, porém, como o fluxo sanguíneo Nakos et al. [5] e Chatte et al. [11] apenas pronaram pacien-
é maior na região posterior esta situação vai resultar em áreas tes com um mínimo de 6 e 8 horas de VM, respectivamente.
bem ventiladas e pouco perfundidas nas regiões anteriores e Sinais de intolerância do paciente em assumir o decúbito
shunt arteriovenoso nas regiões posteriores. ventral devem ser considerados. O mesmo deve retornar para
Quando adotamos o decúbito ventral, ocorre logo nos o decúbito dorsal, imediatamente, se houver um decréscimo
primeiros minutos uma redistribuição do fluxo sanguíneo maior do que 5% na saturação de oxigênio (SatO2) ou ainda
para as áreas ventiladas, reduzindo o shunt pulmonar com uma queda na pressão arterial sistêmica de 25 mmHg [11].
melhora da pressão arterial de oxigênio (PaO2) [4,5]. Comprometimento cardiovascular, como instabilidade
Pappert apud Ribeiro [6] entende que a melhora da hemodinâmica, arritmia cardíaca, falência ventricular
oxigenação no decúbito ventral “deve-se ao aumento do esquerda, história ou risco de parada cardiorespiratória,
fluxo sangüíneo nos alvéolos recrutados, com redução do hemorragia e até mesmo hemodiálise, são vistos por muitos
shunt e aumento das unidades pulmonares com relação estudiosos como contra-indicação do decúbito ventral [3,4,5,
V/Q normal”. 7,11,14], apesar de existirem estudos que afirmam a eficácia
O emprego do decúbito ventral como recurso da reanimação cardiopulmonar mesmo durante o decúbito
fisioterapêutico tem sido muito relatado e os resultados são, ventral, onde a massagem cardíaca é iniciada rapidamente,
na maioria das vezes, positivos. sem ter que submeter o paciente ao retorno para a posição
Esta revisão bibliográfica visa reunir considerações gerais dorsal às presas, o que poderia resultar em desconexões
sobre o posicionamento em decúbito ventral para que se acidentais do tubo endotraqueal e de cateteres [15].
consiga melhorar a oxigenação do paciente acamado por Drogas vasoativas podem ser usadas para um melhor
longos períodos. controle hemodinâmico. Vollman e Bander [14] relataram
Propõe-se comparar protocolos de diferentes pes- o uso de uma ou mais drogas vasoativas em onze de quinze
quisadores e alicerçar elementos para estabelecer o pacientes estudados.

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Processos traumáticos tornam a transferência mais com PEEP alto, variando entre 35 e 45 cm H2O. As sessões
arriscada: quando existir instabilidade biomecânica na coluna são realizadas em intervalos de três minutos [5,20].
vertebral; quando o paciente fizer uso de grande fixador
externo na pelve [16] ou ainda; quando o trauma envolver a Estudos utilizando o decúbito ventral
caixa torácica [4,17].
Instabilidade neurológica, como hipertensão intracraniana No meio acadêmico existe um amplo número de
grave, contra-indica a transferência de decúbito [3,7,14,17], pesquisas e estudos sobre os efeitos benéficos do decúbito
assim como neoplasia terminal ou metastática [7]. ventral em hipoxemia de distintas causas.
Doenças intra-abdominais importantes, como distensão Porém a abordagem dada ao paciente, o tempo de
abdominal ou isquemia intestinal também são consideradas permanência nesta posição e a maneira como estes
contra-indicação [3,7,14,17]. Vollman e Bander [14] benefícios são avaliados, varia de um estudo para outro.
excluíram estes pacientes mesmo quando eram mantidos “O tempo que o paciente permanece em uma posição e
no decúbito ventral com abdome sustentado. a freqüência com que aquela posição é adotada em um
Para a transferência, os pacientes devem estar determinado tempo, baseia-se nas indicações para a posição
devidamente sedados [8,9,10,11,14] e se necessário e nos resultados obtidos” [21].
curarizados. Pelosi et al. [10] e Chatte et al. [11] realizaram Alguns recomendam o uso precoce do decúbito ventral,
em seus pacientes bloqueio neuromuscular com o uso de outros apenas quando existem evidências de atelectasia dorsal
Pancuronium bromide. [16]. Tulleken et al. [18] utilizaram o decúbito ventral como
medida profilática em um paciente epilético com LPA por
Assistência ventilatória quase afogamento. Com duas horas em prono, já se notava
o bom resultado e a VM foi evitada.
A maior parte dos estudos analisados sobre o uso do Vollman e Bander [14] realizaram um estudo com 15
decúbito ventral relata pacientes com tubo orotraqueal ou pacientes portadores de SDRA e a postura inicial foi eleita
traqueostomia, exceto no estudo de Tulleken et al. [18], onde aleatoriamente, com um grupo de 8 pacientes iniciando em
foi utilizada ventilação não invasiva por máscara facial, com dorsal e 7 em ventral. Em toda população foi observado
uso de pressão positiva contínua em vias aéreas (CPAP) no aumento da PaO2 e decréscimo na diferença alvéolo arterial
intuito de evitar a VM. de oxigênio (D(A-a)O2) quando em ventral.
Nos pacientes submetidos ao decúbito ventral, os modos Dentre estudos brasileiros citamos o realizado por
ventilatórios encontrados na literatura pesquisada foram: D’Alessandro [8], que analisou 5 pacientes também com
volume controlado [5,10,13]; volume controlado limitado à SDRA. Foram transferidos inicialmente para decúbito
pressão [12]; assistido controlado ciclado à volume [8,14]; ventral e permaneceram nesta posição por 6 horas.
pressão controlada [9]; ventilação mandatória intermitente Passado este período, foram deixados em decúbito dorsal,
sincronizada (SIMV) [5] e, pressão controlada com relação decúbito lateral direito e esquerdo, permanecendo três
invertida [11]. horas em cada posição, até retornar a ventral. Seus
O volume corrente ofertado ao paciente varia de acordo resultados foram positivos, mostrando um incremento
com a doença de base [19]. Na SDRA, o ideal é conhecer a na PaO2 e diminuição na D(A-a)O2 Rangel [9] direcionou
curva de complacência, que provavelmente estará reduzida, seu estudo para o comportamento da oxigenação tecidual
sendo necessário o uso de volumes menores. Nakos et al. em 5 pacientes com SDRA, observando também melhora
[5] e Machado et al. [13] ofertaram a seus pacientes com da complacência dinâmica destes pacientes mesmo ao
SDRA volumes entre 6 e 8 ml/kg. D´Alessandro [8] chegou voltarem para decúbito dorsal.
a utilizar até 4 ml/kg. O uso terapêutico desta postura é bem difundido no meio
Para evitar barotrauma, o pico de pressão inspiratória e pediátrico. É considerada uma conduta assistencial simples
a pressão platô devem ser monitorados, não passando de que muito beneficia os recém-nascidos (RNs) [22].Oliveira e
40 cm H2O e 35 cm H2O respectivamente [5,8,10,13]. Rugolo [22] estudaram o comportamento da SatO2 em 27
Outro parâmetro de suma importância é a pressão RNs separando-os em grupos, na presença ou não de doença
positiva expiratória final (PEEP). Seu valor fisiológico varia pulmonar e conforme o peso de nascimento. Os pacientes
entre 5 e 6 cm H2O, mas nestes pacientes geralmente é eram mudados de posição a cada quatro horas. Os RNs com
necessário o uso de pressões mais altas, entre 10 e 15 cm doença pulmonar apresentaram maior estabilidade da SatO2
H2O [5,8,9,10,12,13]. durante o decúbito ventral quando comparado com o decúbito
A manobra de recrutamento alveolar pode ser utilizada dorsal, independente do peso de nascimento.
durante a VM e seu resultado se acentua quando associado Chatte et al. [11] fizeram uso deste recurso em 32
à posição prona. O recrutamento alveolar tem o intuito de pacientes, colocando-os em decúbito ventral também por
promover a abertura de unidades alveolares colapsadas, quatro horas. Após retornar a decúbito dorsal, o paciente
utilizando sessões de pausa inspiratória de 20 a 30 segundos, somente era transferido novamente para ventral se o médico

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responsável julgasse necessário, tendo como parâmetro as respondem” em relação ao sexo, idade, peso ou espessura
condições clínicas do doente. da parede abdominal.
Piehl e Brown apud Vollman e Bander [14] observaram Alguns pacientes podem apresentar-se como prono
em seu estudo com 5 pacientes com insuficiência respiratória dependentes, os quais não toleram o retorno ao decúbito
um declínio nos níveis de PaO2 após 4 a 8 horas em decúbito dorsal [17].
ventral. O tempo de permanência nesta posição foi variável. Após a transferência para o decúbito ventral o incremento
Segundo Riley [16], algumas unidades recomendam manter da PaO2 pode ser observado já na primeira hora [8,11,12].
o paciente em decúbito ventral durante a noite, outras por Gattinoni et al. [4] relatam melhora após trinta minutos. Piehl
apenas quatro horas. e Brown apud Vollman e Bander [14] relatam um declínio
Um grande estudo randomizado e multicêntrico foi nos níveis de PaO2 após 4 a 8 horas em decúbito ventral.
realizado por Gattinoni et al. [4] com dois grupos de 152 O índice de oxigenação destes pacientes alcança os
pacientes, onde as causas da hipoxemia foram LPA e valores desejados, possibilitando a redução da FiO2 sem
SDRA. O primeiro grupo foi estudado em decúbito interferir de maneira negativa na oxigenação [8,11,12,13,18].
dorsal, enquanto o segundo grupo foi colocado em Ao retornar ao decúbito dorsal, pode haver um
decúbito ventral e permanecendo nesta postura por no decréscimo na oxigenação, mas ainda assim permanece
mínimo 6 horas, uma vez ao dia, até se obter melhora do melhor, quando comparada com os parâmetros iniciais
quadro, ou no máximo por 10 dias. Mais de 70% de seus [4,11,12,17].
pacientes apresentaram aumento da PaO 2 logo nos A D(A-a)O2 mostrou-se reduzida em todos os estudos
primeiros 30 minutos em ventral. pesquisados que avaliaram este parâmetro [3,8,12,14,18].
No estudo de D´Alessandro [8] foi descrita uma redução
Discussão de 532,7 mmHg para 186 mmHg.
De modo geral, os pacientes não apresentaram
No levantamento de dados realizado, pôde-se observar alterações hemodinâmicas ou desconexão acidental dos
uma melhora significativa na oxigenação em quase todos os cateteres e do tubo endotraqueal, durante as transferências
pacientes submetidos ao decúbito ventral, independente da de decúbito [3,13,14]. Mure et al. [12] relatam um caso de
causa da hipoxemia e do tempo de utilização. extubação acidental, sendo a reintubação realizada
O critério adotado por grande parte dos estudiosos imediatamente e com sucesso.
para considerar uma resposta positiva, ou seja, um No levantamento bibliográfico de Torres e Vieira [3] e
paciente do grupo “responde”, é o acréscimo de no nas experiências descritas por Chatte et al. [11] num total de
mínimo 10 mmHg sobre a PaO2 e maior ou igual a 20 294 transferências para ventral, constataram-se pequenas
mmHg sobre a PaO 2/FiO 2 [5,17]. Langer et al. apud lesões cutâneas e de mucosas como um fator inconveniente.
Vollman e Bander [14] consideraram “responde” um Edema facial é o complicador mais comum [3,8], sendo
acréscimo de 7 mmHg sobre a PaO2. descrito por Machado et al. [13] em 100% de seus pacientes.
O grupo de pacientes “responde” podem ainda ser
classificados em imediatos ou tardios, ou seja, que respondem Conclusão
logo nos primeiros minutos em ventral ou após
aproximadamente duas horas [5]. Ao término deste estudo pôde-se concluir que a melhora
Quanto ao grupo “não responde”, algumas características na relação V/Q durante o decúbito ventral é observada na
foram observadas, podendo justificar este resultado. maioria dos pacientes, e este resultado não é apenas
Gattinoni et al. [4] acreditam que o estágio avançado da transitório, mas funciona como uma manobra de
doença e o grau de lesão pulmonar determinam esta resposta. recrutamento com efeitos positivos mesmo ao retornar para
Tendo em vista que a maior parte dos pacientes têm decúbito dorsal.
diagnóstico de SDRA, pode-se entender que, em um estágio O tempo ideal de posicionamento não está bem definido,
mais precoce da doença, na fase exudativa, as características havendo discrepância entre as referências consultadas,
predominantes são edema alveolar e intersticial e atelectasia porém é notória a melhora nas trocas gasosas da maior
por compressão, assim, nesta fase, eles seriam mais parte dos pacientes, melhora esta observada logo na primeira
beneficiados do que quando os pulmões já apresentam áreas hora após a transferência.
com proliferação de fibrose [17]. Pode também ser considerada como uma estratégia de
Vollman e Bander [14] observaram entre seu grupo “não proteção pulmonar, pois favorece a redução dos parâmetros
responde”, que estes possuíam em geral: maior tempo de do ventilador mecânico e das concentrações de oxigênio
permanência em UTI; maior tempo de exposição à VM; ofertadas ao paciente.
eram em média 16 anos mais velhos e, apresentavam valores É sugerido que quanto mais precoce seja a intervenção,
de PaCO2 mais elevados. Neste estudo não foi encontrada melhor será o resultado obtido, favorecendo o prognóstico
qualquer diferença entre os grupos “respondem” e “não de reversão do quadro hipóxico.

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220 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 221

Revisão

Mecanismos que explicam o efeito da atividade


física na prevenção de acidente vascular encefálico
Mechanisms that explain the effect of physical
activity in preventing encephalic stroke

Rafael Braune de Castro*, Lucia Marques Vianna, D.Sc.**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Laboratório de Investigação em Nutrição e Doenças Crônico-Degenerativas (Lindcd), **Prof. Adjunto, Responsável pelo Lindcd, Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro

Resumo
O sedentarismo vem sendo apontado como fator de risco para doenças
Palavras-chave: cardiovasculares, como hipertensão arterial e acidente vascular encefálico (AVE).
acidente vascular Adicionalmente estudos epidemiológicos mostram que atividade física moderada pode
encefálico, hipertensão modular os níveis pressóricos. Entretanto o mecanismo de ação ainda não está bem
arterial, atividade física.
elucidado. Assim, o objetivo deste trabalho foi investigar os possíveis mecanismos
que explicam a influência da atividade física na prevenção de AVE. Foi encontrada
uma forte associação entre atividade física e AVE por prováveis mecanismos tais
como desaceleração do processo aterosclerótico, modificação na estrutura das artérias,
melhora do perfil lipídico, diminuição dos níveis de fibrinogênio e diminuição da
agregação plaquetária. Estudos relatam que atividade física aeróbica de intensidade
moderada, como por exemplo, a caminhada, por no mínimo cinco vezes por semana,
pode aumentar valores de HDL colesterol, regular atividade fibrinolítica, reduzir
índice de massa corporal, reduzir pressão arterial sistólica, reduzir freqüência cardíaca
e aumentar a captação de oxigênio e, mesmo no caso da ocorrência de AVE, há uma
redução da incidência e severidade de seqüelas relacionadas.

Abstract
Sedentarism is a risk factor to cardiovascular diseases, like hypertension and encephalic
Key-words: stroke. Studies showed that moderate intensity exercise may reduce blood pressure
stroke, blood pressure, levels, but this mechanism has not been elucidated. The objective of this study was to
physical activity, investigate the possible mechanisms that explain the influence of physical activity in
preventing stroke. We found a strong association between exercise and stroke by probable
mechanisms like the decrease of atherosclerotic process, modifications on artery
structure, improvement of lipidic profile, decrease in fibrinogen levels and platelet

Recebido 16 de abril de 2004; aceito 1 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Profa. Dra Lucia Marques Vianna, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Laboratório de Investigação em
Nutrição e Doenças Crônico-Degenerativas – UNIRIO, Rua Dr. Xavier Sigaud, 290 Térreo, Urca 22290-240 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2295-3225, Fax: (21)
2295-8891, E-mail: lindcd@ig.com.br

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222 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

agglutination. The revised data showed that moderated exercise training such as walking
may increase HDL levels, reduce body weight, blood pressure and heart rate, increase
oxygen captation and decrease fibrinogen levels and even when a stroke happens, there
is a reduction in incidence and severity of related sequels.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução de eicosanóides levando ao aumento de cálcio e, por


conseguinte liberação enzimática, liberação excessiva de óxido
O acidente vascular encefálico (AVE) é uma das principais nítrico sintetase que também é mediada pelo aumento de
causas de morte no Brasil, a terceira causa de morte no cálcio e distúrbios na expressão gênica mitocondrial [3].
Estados Unidos e uma das maiores causas de desabilidades Os mecanismos pelos quais o exercício físico auxilia na
em países industrializados [1]. É a mais comum doença prevenção do AVE também foram estudados por Laufs et al.
neurológica e, mesmo após um declínio nas taxas de No exercício há aumento de células progenitoras endoteliais
mortalidade relacionadas ao AVE em países industrializados que levam a efeito benéfico na aterosclerose, angiogênese e
desde o início do Século XX devido à diminuição das reparo vascular. O treinamento de corrida levou a uma
fatalidades, da incidência ou ambos, mostra-se responsável redução de 22 ± 25 na formação de neoíntima e aumento
por 10% das mortes no mundo inteiro [2]. Prevenir o AVE na angiogênese de 41 ± 16% quando comparados ao grupo
é um problema de saúde pública e de importância econômica controle. Esses valores levaram a concluir que tais mecanismos
devido ao grande número de seqüelas e seu tratamento leva poderiam estar envolvidos também no efeito benéfico do
a prolongada hospitalização e alto custo médico. exercício nas doenças cardiovasculares [4].
Um tratamento específico para o AVE ainda não foi Ensaios submeteram camundongos da linhagem C57/
encontrado e a identificação de fatores de risco é necessária BL6 ao treinamento de natação sendo adicionada sobrecarga
para uma prevenção primária. Estudos epidemiológicos de 2 ou 4% de seu peso corporal para modular a intensidade
apontaram como fatores de risco a pressão arterial aumentada, do exercício. Foi encontrada uma redução na freqüência
obesidade, intolerância a glicose, dislipidemias, uso de cardíaca em repouso, mas não houve alteração na pressão
contraceptivos, fumo, abuso de álcool, dieta inadequada e sistólica (PS), indicando que não há efeito do treinamento
inatividade física [1]. Mesmo que a genética tenha um peso na PS de camundongos normotensos. Houve também um
grande, a observação de indivíduos que migram mostrou a aumento no peso ventricular e no diâmetro dos miócitos,
mesma incidência de AVE dos indivíduos de seu país de escolha, indicando hipertrofia cardiovascular [5].
apontando também para fatores ambientais [2]. Há uma forte associação entre os níveis de atividade física
Por ser baixa a prevalência de atividade física em países e mortalidade por AVE em humanos. Estudos que fazem uma
industrializados onde ocorre alta incidência de AVE, sugeriu- comparação entre mulheres inativas e mulheres ativas,
se uma provável associação entre o sedentarismo e o acidente combinando freqüência, intensidade e duração do exercício, as
vascular encefálico [2]. A partir daí uma série de trabalhos mais ativas tinham aproximadamente 50% menor risco de
vem propondo mecanismos que explicariam tal associação. morte por AVE. Os autores concluíram haver uma correlação
Assim o objetivo desse trabalho foi investigar os possíveis entre a atividade física e outros fatores tais como idade, peso e
efeitos protetores da atividade física. pressão sistólica, havendo também uma diminuição na
freqüência cardíaca, na prevalência de doenças coronarianas,
Desenvolvimento diabetes e no uso de medicamentos antihipertensivos em
mulheres praticantes de atividades aeróbicas [6].
Acidente vascular encefálico / Atividade Em um estudo feito com ex-alunos da Universidade de
física / Lesão no AVE Harvard (Harvard Alumni Health Survey), a atividade física
foi associada a um risco diminuído de AVE em homens, sendo
Muitos estudos avaliam a real causa da lesão histológica que em níveis de gasto calórico até 3000 kcal por semana o
no AVE, porém há uma grande necessidade de estudarmos risco declinou constantemente, porém acima destes níveis a
o fenômeno que acomete as células neuronais após o evento associação enfraqueceu. Um importante achado deste estudo
isquêmico, ainda não elucidado. Dentre as várias propostas foi a correlação em forma de “U” entre intensidade e resposta
podemos destacar a isquemia per se, a liberação de na atividade, devido ao menor potencial em reduzir a pressão
neurotransmissores excitatórios, o aumento na biossíntese sanguínea das atividades mais intensas [7].

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 223

Outro estudo correlacionou o nível de aptidão intraluminal alta levará a mudanças no músculo liso e
cardiorespiratória medido através do consumo máximo de endotélio nas artérias intracerebrais. Em indivíduos com sinais
oxigênio (VO2 máx) e a incidência de AVE e seus resultados ateroscleróticos pré-clínicos e hipertensão em repouso ou
apresentaram uma relação inversa entre atividade física e durante exercício, o aumento do stress nas paredes das
AVE e AVE isquêmico em homens de meia-idade da artérias pode aumentar o risco para lesão endotelial e
Finlândia. Homens com valores de VO2 máx abaixo de 25,2 permeabilidade na barreira hemato-encefálica e resultar em
ml/kg/min apresentavam riscos 3,24 vezes maiores para o edema local ou multifocal. Lesão endotelial e mudanças na
AVE e 3,50 vezes maiores para o AVE isquêmico, enquanto interação entre células sanguíneas e o endotélio podem levar
aqueles com valores apenas 3,5 ml/kg/min. maiores, a formação de trombos e lesões isquêmicas. Outros
apresentavam representavam 17% menores [8]. mecanismos específicos para prevenção do AVE
hemorrágico são a redução da pressão arterial e os efeitos
Mecanismos fisiológicos da atividade benéficos da função endotelial [5].
física no AVE
Conclusão
A associação negativa encontrada entre atividade física e
AVE pode ser mediada por mecanismos tais como desaceleração A prevalência de atividade física é baixa no mundo
de processo ateroesclerótico, modificação na estrutura das industrializado. As diretrizes básicas para saúde de trinta
artérias, redução de vasoespasmos, aumento da estabilidade minutos ou mais de atividade aeróbica de intensidade
elétrica do miocárdio ou aumento da fibrinólise. Atividade física moderada, como por exemplo, caminhada, por cinco ou
também é associada a melhor controle do diabetes, aumento mais dias da semana, parecem reduzir a incidência de AVE,
do colesterol HDL e menor peso corporal [6]. principalmente no que diz respeito ao AVE isquêmico,
Segundo Lee e Paffenbarger é plausível para a atividade diminuindo a incidência e a severidade de seqüelas. O
física diminuir o risco para acidente vascular cerebral por exercício físico parece apresentar benefícios tanto de ordem
controlar a obesidade, diminuir a pressão arterial, manter bioquímica quanto anatômica, sendo os principais a redução
normalizada a tolerância à glicose e aumentar a sensibilidade do peso corporal, diminuição da pressão arterial, aumento
à insulina. Porém quando ajustadas a determinados fatores do colesterol HDL, melhora a capacidade contrátil de artérias
de corte, tais como diabetes, hipertensão e índice de massa e reduz a formação de trombos, mostrando possível efeito
corporal, os dados justificam somente uma parte modesta na prevenção de AVE.
do benefício da atividade física. Outros meios dentre os
quais a atividade física pode diminuir o risco de AVE incluem Referências
o perfil lipídico, diminuição dos níveis de fibrinogênio,
aumento da atividade fibrinolítica e redução da agregação 1. Oliveira RJ. Atividade física e doença cerebrovascular. Rev Bras
plaquetária [7]. Ciên Mov 2001;9(3):65-78.
Vários mecanismos biológicos têm sido propostos para 2. David Batty G, Lee IM. Physical activity for preventing strokes.
explicar os efeitos protetores da atividade física contra a BMJ;2002;325:350-1.
3. Kurl S, Laukkanen JA, Rauramaa R, Lakka TA, Sivenius J,
doença coronariana, entre esses efeitos estão: a regulação
Salonen JT. Cardiorespiratory fitness and the risk for stroke in
da função hemostática, decréscimo da agregação plaquetária, men. Arch Intern Med 2003;163:1682-8.
decréscimo da coagulação, melhora na sensibilidade à insulina, 4. Laufs U, Werner N, Link A, Endres M, Wassmann S, Jurgens
melhora na aptidão cardiovascular, diminuição do peso K, Miche E, Bohm M, Nickenig G. Physical training increases
corporal e regulação da pressão arterial. Possivelmente esses endothelial progenitor cells, inhibits neointima formation,
efeitos podem ser aplicados à isquemia e, devido ao fato, é and enhances angiogenesis. Circulation 2004;109(2);220-6.
sugerido que o exercício aeróbio regular induza a um 5. Evangelista FS, Brum PC, Krieger, JE. Duration-controlled
decréscimo no tônus cerebrovascular em mulheres jovens swimming exercise training induces cardiac hypertrophy in
e promova adaptações favoráveis para a prevenção de mice. Braz J Med Biol Res 2003;36(12):1751-9.
6. Ellekjaer H, Holmen J, Ellekjaer E, Vatten L. Physical activity
doenças cerebrovasculares [9].
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A baixa capacidade cardiorespiratória (VO2 máx) está 7. Lee I, Paffenbarger RS. Physical activity and stroke incidence.
associada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, Stroke 1998;29:2049-54.
por outro lado o aumento desta capacidade pode atrasar a 8. Kurl S, Laukkanen JA, Rauramaa R, Lakka TA, Sivenius J,
progressão da aterosclerose que é considerada a base Salonen JT. Systolic blood pressure response to exercise stress
patológica da doença coronariana e AVE isquêmico, o que test and risk of stroke. Stroke 2001;32:2036-41.
indica que a prática regular de atividade física pode retardar 9. Melo RM, Martinho E, Michelini LC. Training-induced, pressure
a aterosclerose. Com base nos dados existentes, uma pressão lowering effect in SHR. Hypertension 2003;42(2):851-7. C

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224 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Revisão

Limites da estimulação elétrica neuromuscular


no fortalecimento de músculos esqueléticos saudáveis
e com déficit de força
Neuromuscular electrical stimulation limits in strengthening
of healthy and deficient muscles
Jamilson Simões Brasileiro, M.Sc.*, Tania de Fátima Salvini, D.Sc.**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Docente dos Cursos de Graduação e Pós-graduação em Fisioterapia (latu sensu) da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, RN, **Fisioterapeuta, Pós-doutorado no NeuroMuscular Research Center, Universidade de Boston EUA, Docente dos Cursos de
Graduação e Pós-graduação em Fisioterapia (strictu sensu) da Universidade Federal de São Carlos, SP

Resumo
A Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) tem sido usada há vários anos
Palavras-chave: como um coadjuvante no treinamento físico. Especificamente nas últimas décadas, esta
estimulação elétrica técnica tem sido usada no fortalecimento de músculos inervados, com base nos trabalhos
neuromuscular, contração do cientista russo Yakov Kots, que usou estimulação elétrica de alta freqüência para
muscular.
ganhos de força muscular. De acordo com Kots, as bases para o uso de EENM no
fortalecimento muscular seriam de que mais unidades motoras poderiam ser recrutadas
pela EENM do que durante contrações voluntárias máximas realizadas pelo individuo.
Entretanto muitos desses resultados são atualmente questionados e há ainda muita
controvérsia na literatura sobre o papel da EENM no fortalecimento dos músculos
esqueléticos. O objetivo dessa revisão é avaliar as conclusões de estudos científicos
realizados nos últimos vinte anos sobre o tema, bem como apresentar resultados que
obtivemos avaliando o uso da EENM em músculos saudáveis e com déficit de força
muscular. Nossos resultados demonstram que a EENM, associada ao treinamento
com contrações voluntárias máximas, não proporcionou ganho de força adicional tanto
em músculos saudáveis, como naqueles que mantiveram déficit de força após a
reabilitação. Assim a EENM deveria ser usada preferencialmente nas fases iniciais do
processo de reabilitação, quando algum déficit de recrutamento motor ainda estiver
presente e associado a sinais de desconforto do individuo, durante a realização da
contração muscular.

Recebido 10 de maio de 2004; aceito 1 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Tania F. Salvini, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos, CxP: 676, 13565-905
São Carlos SP, Tel: (16) 260-8345, Fax: (16) 261-2081, E-mail: tania@power.ufscar.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 225

Abstract
Neuromuscular Electrical Stimulation (NMES) has been used for years as aid to
Key-words: physical training. Specifically in the last decades, this technique has been used on the
neuromuscular electrical innervated muscle, based on the publications of Yakov Kots, who used high frequency
Stimulation, muscular of electrical stimulation for gains in muscular strength and endurance. According to
contraction.
Kots, the basis for the use of NMES treatment for muscle strengthening is that more
motor units could be activated with this modality than during maximal voluntary
contractions. However, there are several controversies among the results of the studies
and thus, the limitations of NMES need to be established. The purpose of this
review was to evaluate the results of studies realized in the last years and also present
our results about the use of NMES on healthy and deficient muscles. Our results
demonstrated that NMES, associated to the maximal voluntary contractions, did not
improve the strength gain in the healthy muscles, as well as in the muscles that maintain
some strength deficit after the rehabilitation process. Then, the NMES would be
preferentially used in the initial periods of the rehabilitation when some deficit of
neuromuscular recruitment is present and associated with signs of discomfort during
the muscle contraction.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Apresentação profissionais para auxiliar no ganho de força muscular.


Portanto nos parece oportuno trazer esse tema ao debate.
Inicialmente, gostaríamos de tecer algumas considerações Assim o objetivo dessa revisão é apresentar resultados
sobre o que nos levou a escrever um artigo de revisão sobre atualizados da literatura cientifica sobre o tema, bem como
os limites da estimulação elétrica neuromuscular (EENM) no os resultados obtidos em nosso laboratório, para que se
fortalecimento dos músculos esqueléticos. Embora nossa possa discutir o papel da EENM no fortalecimento muscular,
experiência nesse tema seja recente, só há quatro anos baseando-se em resultados científicos. Esperamos despertar
iniciamos estudos que permitiram avaliar com mais detalhes o interesse do leitor pelo assunto e ampliar a discussão sobre
o efeito da EENM no fortalecimento muscular, tanto em o tema, proporcionando subsídios que permitam uma
músculos saudáveis como naqueles com déficit de forca, alguns utilização clinica mais criteriosa da EENM.
resultados nos surpreenderam muito. Em músculos saudáveis
ou com déficit motor avaliou-se o efeito do treinamento contra- Introdução
resistido, realizado com contração muscular voluntária máxima,
associado ou não à EENM. A hipótese era de que a EENM, Os estudos que envolvem o uso da EENM no
utilizada durante a contração voluntária máxima realizada pelo fortalecimento dos músculos esqueléticos são bastante
individuo, pudesse induzir alterações no ganho de força, na controversos. Além dos diferentes procedimentos
massa muscular ou no recrutamento das unidades motoras metodológicos, os parâmetros manipuláveis clinicamente nos
dos músculos estimulados. geradores de corrente não obedecem a um padrão uniforme,
Para nossa surpresa, a EENM não produziu ganho o que torna difícil a comparação dos resultados obtidos em
adicional em nenhuma das variáveis avaliadas, quando seus diferentes estudos. Talvez isso explique as grandes
resultados foram comparados ao grupo que utilizou somente divergências nas conclusões obtidas em diferentes
o treinamento com contração voluntária máxima. Também experimentos.
foi surpresa constatar que isso ocorreu tanto em músculos Particularmente nas últimas décadas, dois fatores
normais como naqueles que apresentaram déficit de força. estimularam o interesse sobre os efeitos da EENM em
Essa constatação é paradoxal, pois a EENM tem sido músculos inervados. O primeiro foi o desenvolvimento de
amplamente recomendada e utilizada por diversos novos tipos de estimuladores, mais versáteis e mais acessíveis

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226 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

para o uso clinico. O segundo fator se refere aos resultados de 8 a 12 contrações musculares de alta intensidade,
da década de 70, sobre a eficácia dos programas de EENM utilizando aproximadamente 75% da força máxima,
para desenvolver força muscular em atletas de elite, assim realizadas duas ou três vezes por semana [6]. Num esforço
como em indivíduos não-atletas saudáveis e por extensão, para se estabelecer correlações entre esses indicadores e a
sua utilidade no tratamento de músculos esqueléticos com eficácia da EENM, diversos estudos foram desenvolvidos
déficit de força [1]. nos últimos anos.
As dúvidas que envolvem o uso da EENM na prática A principal justificativa para o uso da EENM no
clínica, porém, concentram-se, sobretudo, na sua capacidade fortalecimento muscular é que mais unidades motoras
de produzir níveis de contrações que induzam o poderiam ser ativadas por esse procedimento. De acordo
fortalecimento muscular. Ganhos de força muscular com com Kots, o primeiro a utilizar a EENM no fortalecimento
EENM têm sido observados apenas em protocolos que muscular em indivíduos saudáveis, a capacidade para um
atinjam níveis percentuais de torques maiores que 50% da maior recrutamento de unidades motoras seria o principal
contração voluntária máxima (CVM) [2,3]. Desta forma, fator responsável pelos significativos ganhos de força,
intervenções que produzam baixos níveis de torque seriam observado na associação da EENM ao treinamento com
ineficazes no processo de fortalecimento muscular. contrações voluntárias máximas. Kots utilizou a chamada
A capacidade de geração de torque constitui-se assim, um “corrente russa” no treinamento de atletas olímpicos, e
dos pré-requisitos para a eficiência dos equipamentos de segundo ele, foram registrados ganhos de força da ordem
EENM no fortalecimento muscular. Esta capacidade seria de 30 a 40%. Teoricamente, com um estímulo elétrico
dependente tanto da ativação direta de grandes unidades suficientemente forte, o recrutamento de unidades motoras
motoras, como pelo efeito facilitatório por retroalimentação poderia ser máximo. Segundo Kots, tal aumento no
sensorial sobre os neurônios motores, conforme proposto recrutamento motor permitiria ao sujeito exercer maior força
por Trimble & Enoka [4]: a aferência cutânea que ocorre contrátil durante a contração eletricamente induzida quando
com o uso da EENM pode alterar a população de unidades associada à contração voluntária, do que o recrutamento
motoras que são ativadas pelo exercício. produzido somente pela contração voluntária isolada. Cabe
Alheias às discussões de caráter científico que envolve ressalvar que os trabalhos do Kots nunca foram reproduzidos
esses estudos, diversos modelos de geradores de corrente no Ocidente, e seus resultados são bastante questionados
elétrica continuam sendo lançados no mercado, sem a devida atualmente na literatura científica [1].
comprovação cientifica de seus resultados em humanos, Alguns autores acreditam que forças em torno de 50 à
conforme usualmente indicado nas instruções dos manuais 60% da CVM são requeridas para o fortalecimento ou
dos equipamentos. Além disso, em muitos casos, não há hipertrofia de músculos saudáveis [2]. Assim quanto maior
clareza nas instruções referentes aos riscos e limitações dos a capacidade de produção de força, maior seria a vantagem
equipamentos. A popularização da utilização desses obtida com o uso da estimulação elétrica. Lieber [3] afirma
equipamentos em hospitais, clínicas, academias de ginástica que os estudos que demonstraram ganhos significativos de
e até mesmo seu uso domiciliar tem contribuído para seu força com a utilização da EENM foram aqueles nos quais
uso indiscriminado. Infelizmente, a EENM tem sido também os músculos foram ativados em uma proporção
utilizada como propaganda enganosa ao consumidor, em relativamente alta (mais de 50%) dos valores obtidos nas
que se propaga que se pode obter “o corpo ideal” com sua contrações voluntárias máximas. Entretanto diversos
utilização, gerando inclusive intervenções por parte das experimentos demonstraram que a EENM isolada não
agências de vigilância sanitária. atingiria esses níveis de contração.
Kramer [7] em um importante estudo sobre a associação
Desenvolvimento da EENM a CVM, utilizando diferentes freqüências de
estimulação (20, 50 e 100 Hz), observou que a estimulação
A produção de força muscular elétrica isolada produz níveis de torques bem inferiores aos
em sujeitos saudáveis gerados pela contração voluntária e a sobreposição destas,
em indivíduos saudáveis, não resultou em maior torque do
Como aumentar a força e a massa do músculo esquelético? que aqueles produzidos pela CVM isolada, em nenhuma
Há vasta literatura sobre o tema e se sabe que somente das freqüências aplicadas.
exercícios que utilizem pelo menos 75% da força máxima são Brasileiro & Villar [8] também não observaram nenhum
capazes de um recrutamento máximo de unidades motoras. É aumento significativo no torque gerado pelo quadríceps femoral
importante enfatizar que só assim as fibras musculares de de vinte indivíduos saudáveis quando associaram a EENM à
contração rápida (também denominadas do tipo II) são ativadas contração voluntária máxima, enquanto que a EENM isolada
(para revisão ver Costill e Wilmore, 2001 [5]). produziu valores de torque de cerca de 45% da CVM.
Os exercícios voluntários para aumentar a força muscular Walmsley et al. apud Delitto [6] utilizaram quatro
seriam assim baseados no princípio da sobrecarga: três series geradores com diferentes características de pulso e

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constataram que a associação EENM e CVM em nenhuma Fig. 1 - Pico de torque em sujeitos saudáveis antes (PRE) e após (PÓS) o
ocasião excedeu o valor do pico de torque da CVM isolada. período de treinamento. No mesmo indivíduo, um membro foi treinado
Mais recentemente, um estudo em indivíduos saudáveis somente com CVMs e no contra lateral a CVM foi associada a EENM.
comparou a capacidade de geração de torque entre duas (* p < 0,05: quando comparados os resultados pré e pós – treinamento).
formas de estimulação elétrica: a corrente de baixa
freqüência e a corrente russa [9]. Nenhuma das duas formas
de estimulação produziu aumento significativo no pico de
torque dos sujeitos avaliados, quando a contração voluntária
foi associada à EENM.
Em recentes estudos realizados em nosso laboratório,
temos observado que a EENM, aplicada de forma isolada,
produz níveis de torques bem inferiores aos gerados pela
contração voluntária máxima, e desta forma, não seriam
eficazes quando se deseja o aumento da força ou da massa
muscular. Avaliando o torque produzido pelo quadríceps de
sujeitos saudáveis, nossos resultados apontam para valores
que variaram de 39 a 54 % da CVM [8,9,10].

EENM no fortalecimento muscular Delitto et al. [6] propõem que nenhum benefício
de sujeitos saudáveis adicional pode ser atribuído à associação da EENM à
Contração Voluntária Máxima, nos regimes de treinamento
Um dos primeiros estudos a avaliar os ganhos de força de músculos saudáveis. Deve-se considerar, entretanto, que
obtidos com a EENM, quando comparados com o exercício a EENM pode ter um papel muito importante na assistência
voluntário, foi realizado no início dos anos 80. Laughman de pacientes que, por alguma razão (hesitação, controle
[11], em um treinamento aplicado em 58 sujeitos saudáveis, motor inadequado, dor, etc) não podem realizar
observou que o uso isolado da EENM, utilizando altas voluntariamente um treinamento com exercícios que
intensidades de contração muscular, produziu ganhos de utilizem altas intensidades de contração [14].
força semelhantes aos do exercício voluntário. No entanto
a grande maioria dos estudos realizada posteriormente não A produção de força em
confirma esses resultados. músculos deficitários
Por exemplo, Currier & Mann [12], comparando os
resultados do treinamento isométrico utilizando a CVM em A lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) da
um grupo de indivíduos e CVM sobreposta à EENM em articulação do joelho é muito comum nas atividades
outro grupo, identificaram que os ganhos de torque entre esportivas e, de modo geral, tem como conseqüência a
os dois grupos foram semelhantes. diminuição da força extensora do joelho. A fisioterapia tem
McMiken et al (apud Delitto et al, [6]) também um importante papel na reabilitação desses indivíduos e o
compararam os efeitos dos exercícios voluntários e destes fortalecimento muscular do quadríceps é um dos principais
associados à EENM no músculo quadríceps de sujeitos objetivos a ser atingido. É importante esclarecer que os
saudáveis. Utilizando altas intensidades de estimulação, resultados que serão apresentados na seqüência, que
atingindo cerca de 60% da CVM, os indivíduos realizaram avaliaram o efeito do treinamento utilizando CVMs e EENM
dez sessões, ao longo de três semanas. Nenhuma diferença em músculos com déficit de força foram, em sua grande
significativa foi observada entre os dois grupos. Ou seja, a maioria, realizados em indivíduos submetidos à reconstrução
EENM não potencializou o ganho de forca obtido pelo de LCA.
treinamento com CVM. Um teste de força muscular voluntária não permite
Recentemente avaliamos a influência da EENM, determinar se um eventual déficit é causado por atrofia
utilizando um gerador de corrente russa, no processo de muscular, fatores motivacionais, incapacidade para a
fortalecimento muscular de universitários saudáveis [13]. ativação das unidades motoras ou uma associação de fatores
Através de um programa de treinamento voluntário (3 séries múltiplos. As intervenções terapêuticas em cada uma dessas
de 10 contrações concêntricas voluntárias máximas, 2 vezes situações diferem substancialmente. Quando há atrofia
por semana) realizadas em um dinamômetro isocinético, muscular, um programa de exercício de fortalecimento
durante quatro semanas consecutivas, observou-se que o utilizando contrações voluntárias está indicado, assim como,
grupo que associou a EENM ao treinamento voluntário apenas estímulos motivacionais podem ser acrescentados
obteve ganho de força semelhante ao grupo que utilizou ao treinamento quando esse aspecto for relevante e na
apenas a contração voluntária (Fig. 1). ausência de alterações anatomo-fisiológicas. Por outro lado,

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se o problema principal for a incapacidade para ativar o mecanismos proprioceptivos para o controle do movimento
recrutamento neuromuscular devido a inibição reflexa, o seriam o “gatilho” de uma série de componentes envolvidos
exercício voluntário isolado pode não ser efetivo e outra na execução dos movimentos [19].
estratégia terapêutica deve ser usada [6]. Se a contração voluntária do quadríceps femoral é
Assim, um diagnóstico preciso das causas da fraqueza impedida, a ativação do músculo com estimulação elétrica
muscular é imprescindível para a escolha adequada do isolada ou sobreposta à contração voluntária seria maior do
recurso terapêutico a ser utilizado. Infelizmente, nem sempre que a ativação voluntária isolada. Os indivíduos em processo
o profissional dispõe de recursos que permitam uma de reabilitação teriam assim uma reserva funcional de unidades
detalhada avaliação morfo-funcional do músculo esquelético motoras que não seriam ativadas voluntariamente, mas que
como, por exemplo, imagens de ressonância nuclear poderiam ser recrutadas através da estimulação elétrica [2].
magnética para avaliar a massa muscular, dinamometria para Um estudo sugere que a EENM poderia compensar
mensuração do torque muscular e eletromiografia que essa deficiência por um aumento na excitabilidade do
possibilite avaliar o recrutamento das unidades motoras. neurônio motor, tanto pela ativação direta de grandes
Alguns autores propõem que a capacidade para a ativação unidades motoras como pelo efeito sensorial produzido pela
do quadríceps femoral nos estágios iniciais de reabilitação, corrente elétrica sobre a pele [4].
após reconstrução do LCA é bastante limitada, por um Entretanto poucos trabalhos têm relacionado à
reflexo inibitório que poderia resultar da dor e do edema no capacidade de geração de torque produzido pela EENM
joelho [15]. em portadores de disfunções neuromusculares. Gould et al.
Uma alteração na ativação das unidades motoras [6], avaliando o torque isométrico em 20 pacientes
morfologicamente normais seria causada por uma ruptura submetidos à meniscectomia, observaram que o grupo que
do feedback sensorial nas lesões do LCA, e poderia ser o principal trabalhou com estimulação elétrica associada a CVM atingiu
responsável pela diminuição na função do quadríceps femoral, um maior percentual de torque que o grupo que realizou
nas debilidades deste ligamento (15). Esses estudos sugerem somente contrações voluntárias.
que a maior causa na queda nos níveis de força do quadríceps Snyder-Macler et al. [20], comparando o torque
após lesões no joelho é a utilização inadequada das unidades isométrico do quadríceps femoral de pacientes submetidos
motoras. Esse fator seria mais importante do que uma eventual à reconstrução do LCA, observaram que, após quatro
atrofia [15]. Trimble & Enoka [4] observaram que, nestas semanas de treinamento, a EENM foi capaz de manter a
condições, a ativação voluntária dos músculos não pode ser força muscular nas fases iniciais da reabilitação.
total, especialmente porque se observa uma queda na
excitabilidade do neurônio motor. Fig. 2 - Torque extensor do joelho de sujeitos, sete semanas após
Entretanto os mecanismos envolvidos nesta “inibição reconstrução do LCA, obtidos durante a Contração Voluntária Máxima
reflexa” ainda não foram totalmente elucidados. Draper [17] (CVM), Estimulação Elétrica Neuromuscular isolada (EENM) e pela
sugere que a dificuldade em contrair os músculos ativamente, associação de ambas (CVM+EENM) (* p < 0,05: quando
nas fases iniciais dos exercícios de fortalecimento, pode ser CVM+EENM foi comparada à CVM e EENM).
devido ao edema, à dor, e, sobretudo à diminuição na
atividade dos receptores articulares. Segundo o autor, o
feedback desses receptores influencia a atividade das unidades
motoras dos músculos envolvidos. Alguma alteração no
feedback dos receptores pode intervir na capacidade de
contração da musculatura circundante, e conseqüentemente,
alterar ou mesmo impedir a contração ativa durante os
exercícios de reabilitação.
Krebs et al. [18] sugerem que o trauma tecidual causado
pela lesão, associado à incisão anterior na cápsula articular,
usada nos procedimentos que envolvem a reconstrução do
LCA, causaria uma distorção temporária na atividade dos
receptores do joelho, a qual pode permanecer por três
semanas ou mais. Como esses receptores facilitam a atividade Alguns dos nossos resultados também sugerem que
do quadríceps femoral, a perda desse efeito resulta em uma indivíduos submetidos a cirurgias recentes podem se
diminuição no controle motor e o uso deste músculo durante beneficiar do uso da EENM. Analisando 20 sujeitos, sete
o processo de reabilitação fica limitado, prejudicando a função semanas após a reconstrução do LCA, observamos que a
normal. Desta forma, o papel do feedback no controle do EENM isolada produziu níveis de torques próximos a 70%
movimento não seria limitado a mecanismos corporais da CVM, e desta forma, poderia ser utilizada para o
reflexos ou a correções na trajetória dos movimentos; os restabelecimento da função muscular [10]. Além disso, a

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associação da EENM com a CVM elevou em 40% o torque Fig. 3 - Pico de torque extensor do joelho de indivíduos submetidos à
gerado pelo quadríceps, indicando que a intensidade das reconstrução de LCA há nove meses, avaliados antes (PRE) e após (POS)
contrações foi potencializada com essa associação (Fig. 2). 12 semanas de treinamento, realizado com contração voluntária máxima
excêntrica (CVME) e CVME associada à EENM CVME+EENM)
O fortalecimento em músculos (*p < 0,05 quando valores pré e pós de cada grupo foram comparados). Não
com déficit de força houve diferença no ganho de força entre os grupos.

Quando há queda na performance muscular, o uso da


EENM pode estar indicado para recuperar os níveis iniciais
de força. Delitto et al. [21] observaram que os resultados de
indivíduos submetidos a programas de reabilitação com o
uso da EENM, contrastavam com os estudos prévios
realizados em indivíduos saudáveis. Analisando dois grupos
de sujeitos recentemente submetidos à reconstrução do LCA,
um treinando com EENM e outro com exercícios
voluntários, os indivíduos do primeiro grupo terminaram o
treinamento com maior percentagem de força, tanto para o
grupo extensor (de 51% para 78%) como para o flexor (de
70 para 94%).
Lieber et al. [3] têm sugerido que na fase inicial, logo Esses resultados, comparados aos obtidos quando a
após reconstrução do LCA, os programas que envolvem o EENM foi utilizada no tratamento do quadríceps no período
uso da EENM são mais efetivos do que aqueles que utilizam logo após a reconstrução do LCA, indicam que o beneficio
apenas o exercício voluntário. Isso ocorre porque no período da EENM como recurso para auxilio no ganho de forca
pós-cirúrgico, de modo geral, os pacientes não têm muscular pode ser “tempo dependente”. Isto é, em indivíduos
capacidade para ativar os músculos voluntariamente. com déficit de forca muscular, o uso da EENM deveria
Recentemente avaliamos em detalhes os efeitos da limitar-se aos períodos iniciais de recuperação, quando
EENM no fortalecimento muscular de sujeitos submetidos possíveis mecanismos inibitórios ainda estão presentes. O
à reconstrução do LCA e já reabilitados, porém que ainda uso da EENM em fases mais tardias parece não trazer
apresentavam déficit de força extensora no joelho (Brasileiro nenhum benefício morfológico ou funcional adicional, além
& Salvini, 2004; manuscrito em preparação). A avaliação dos já adquiridos com o treinamento realizado com exercícios
dos indivíduos e o programa de treinamento foram realizados contra-resistidos (Brasileiro e Salvini, 2004; manuscrito em
nove meses após reconstrução do LCA. preparação).
Em um grupo desse mesmo estudo, o treinamento do Desta forma, os estudos sobre o uso da EENM indicam
músculo quadríceps no membro submetido à reconstrução que a ênfase deste recurso deveria ser direcionada para a
de LCA consistiu de três séries de dez repetições com exercícios assistência de pacientes que, por alguma razão, não possam
excêntricos máximos, realizados em um dinamômetro realizar contrações musculares intensas, o suficiente para
isocinético duas vezes por semana. Em outro grupo de produzir ganhos de força ou para minimizar os efeitos da
indivíduos, também submetidos à reconstrução de LCA, o inatividade. Entretanto em sujeitos saudáveis poucas
mesmo protocolo de treinamento foi utilizado, porém o evidências sugerem que a EENM, utilizada de forma isolada
músculo foi também estimulado com corrente russa, utilizada ou associada à CVM, proporcione mais benefícios que o
na máxima intensidade suportada pelo indivíduo, durante a treinamento realizado somente com CVM.
realização das contrações excêntricas. Em ambos os grupos
foram observados: a) o pico de torque, em dinamômetro Conclusões
isocinético; b) a massa muscular do quadríceps, utilizando-se
imagens obtidas por Ressonância Nuclear Magnética (RNM); Não existem evidências que suportem o uso da EENM
c) o recrutamento neuromuscular, através da eletromiografia no fortalecimento de músculos saudáveis, uma vez que esse
de superfície dos músculos Vasto Medial, Vasto Lateral e Reto recurso não induziu qualquer alteração no ganho de força,
Femoral do quadríceps. Os resultados desse estudo mostram quando comparado ao treinamento físico utilizando-se
que o treinamento excêntrico induziu melhora significativa somente Contrações Voluntárias Máximas;
em todos os aspectos examinados (Brasileiro & Salvini, 2004; Para o fortalecimento do quadríceps, após reconstrução
manuscrito em preparação). Por outro lado a EENM não do LCA, a EENM deve ser usada preferencialmente nas
causou nenhum beneficio adicional ao treinamento fases iniciais do período pós-operatório e associada a CVMs,
excêntrico, conforme pode ser observado em relação ao pico quando ainda há uma inibição no recrutamento neuromus-
de torque (Fig. 3). cular, dor ao movimento, receio do indivíduo, etc. No entanto

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230 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

ainda faltam estudos que detalhem a contribuição da EENM 9. Brasileiro JS, Castro CES, Parizotto NA, Ortiz MCS. Estudio
no ganho de forca muscular durante esse período; comparativo entre la capacidad de generacíon de torque y la
No período tardio após reconstrução de LCA (cerca de incomodidad sensorial producidos por dos formas de
nove meses), não há necessidade de se associar a EENM estimulacíon eléctrica neuromuscular en sujetos sanos. Revista
Iberoamericana de Fisioterapia y Kinesiology 2001;4(2):56-65.
ao treinamento físico, realizado com CVM, para o
10. Brasileiro JS, Castro CES, Parizotto NA. Efeitos da
fortalecimento muscular. A EENM não induziu nenhum estimulação elétrica neuromuscular no torque do músculo
ganho adicional de torque, massa e recrutamento motor quadríceps após reconstrução do ligamento cruzado anterior.
quando associada ao treinamento; In: Anais do X Congresso Brasileiro de Biomecânica; 2003;
O uso da EENM no fortalecimento muscular, utilizado Ouro Preto. p. 277.
durante as diferentes fases da reabilitação, nas diversas 11. Laughman RK, Youdas JW, Garrett TR, Chao EYS. Strength
doenças que afetam o sistema locomotor, ainda é muito changes in the normal quadriceps femoris muscle as a result
polêmico. Há grande necessidade de estudos científicos of electrical stimulation. Phys Ther 1983;63(4): 494-9.
criteriosos, realizados em humanos, que subsidiem de modo 12. Currier DP, Mann R. muscular strength development by
seguro e eficaz seu uso clínico. electrical stimulation in healthy individuals. Phys Ther
1983;63(6):915-21.
13. Brasileiro JS, Ávila MA, Pinto OMSF, Salvini TF. Efeitos da
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músculo quadríceps femoral. In: Anais do X Congresso
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artigo 05 - Tania.pmd 230 22/06/04, 13:34


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 231

Estudos de caso

Ruptura por trauma corto-contuso do músculo deltóide


Traumatic rupture of deltoid muscle

Daniel Tavares da Mata Barreto*, Thais Pereira Guisande**

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, supervisor de estágio curricular, setor Aparelho Locomotor, CEFIR, Universidade Santa Cecília,
**Acadêmica de fisioterapia, Universidade Santa Cecília, Santos, São Paulo

Resumo
Este trabalho teve como objetivo relatar o caso de um atleta de ginástica olímpica
Palavras-chave: que sofreu ruptura completa do músculo deltóide (fibras anteriores e médias) do ombro
ferimentos e lesões, esquerdo por trauma corto-contuso. O paciente foi submetido a miorrafia e iniciou o
recuperação de função tratamento fisioterapêutico logo após a cirurgia. O tratamento fisioterapêutico constou
fisiológica, desenvolvimento
de crioterapia na 1ª semana pós-operatória (PO); mobilização miofascial e articular a
muscular, paresia.
partir da 2ª semana PO; exercícios de controle neuro-muscular a partir da 3ª semana
PO, associados a exercícios de resistência muscular localizada e de força, com progressão
de volume e intensidade de trabalho; a partir da 5ª semana foram iniciados exercícios
específicos, considerando o comportamento motor necessário e exigido na ginástica
olímpica. A evolução clínica foi acompanhada através de exames de ultrassonografia.
O paciente recebeu alta conclusiva na 7ª semana PO, sendo liberado para reinício dos
treinamentos, não apresentando qualquer seqüela funcional.

Abstract
The purpose of this case study was to describe the case of a gymnastic male athlete
Key-words: who suffered total rupture of both anterior and medial portions of deltoid muscle by
wounds and injuries,
a perforating trauma. The patient had a reconstructive repair (miorraphy) and initiated
recovery of function, muscle
development, paresis.
physical therapy soon after surgery. Physical therapy was based on criotherapy at first
week; miofascial and articular mobilization at second week; neuro-motor control exercises
at third week, associated with endurance and strength exercises, with volume and intensity
progression; at the fifth week specific exercises were initiated, considering motor behavior
related to gymnastics. Ultrassonographic images accompanied patient’s clinical evalution.
Conclusive discharge and return to training habits happened at the seventh week post-
surgery, without any functional deficits.

Recebido 16 de setembro de 2003; corrigido 23 de dezembro de 2003; aceito 1 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Thais Pereira Guisande, Rua Mato Grosso, 232/34, 11055-010 Santos SP, Tel: (13) 3224-2286/8113-4074
E-mail: thaisguisande@anw.com.br

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232 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Introdução lesão aberta de tecidos moles em ombro esquerdo. Cursou


com ruptura total das porções anterior e média do músculo
As lesões que acometem o tecido muscular podem ter deltóide sem comprometimento associado de estruturas
dois principais fatores etiológicos [1]: o trauma direto (ou capsulo-ligamentares. Foi realizada hemostasia imediata pela
contusão) e a distensão. Whiting e Zernicke ainda citaram compressão da área lesada por tecido limpo, contendo a
uma terceira classe etiológica: a lesão muscular induzida pelo hemorragia. Foi realizada cirurgia reparadora e reconstrutiva
exercício [2]. A classe das lesões abertas por trauma direto dos tecidos muscular, subcutâneo e cutâneo com sutura
será o objeto principal deste estudo. boca-a-boca por fios de mercilene 2.0 em 1 hora e 30
As lesões musculares podem ser classificadas quanto à minutos após a lesão. Permaneceu imobilizado por 7 dias
gravidade de acometimento em três diferentes graus. As lesões (tipóia tipo Velpeau) durante os quais fez uso de medicação
musculares de primeiro grau não apresentam ruptura analgésica e antibiótica preventiva. Também foi realizado
aparente ou perda funcional de força. As lesões de segundo procedimento crioterapêutico durante o mesmo período (20
grau apresentam deterioração parcial do tecido muscular, minutos a cada 3 horas).
com dor intensa impossibilitando o término da atividade e Durante a 2 a semana foi iniciado programa
perda de força contrátil. Uma lesão de terceiro grau cinesioterapêutico, com mobilização passiva do ombro nos
apresenta-se como uma ruptura completa da unidade planos sagital (amplitude de flexão glenoumeral até 90o) e
musculotendínea, com incapacidade funcional, sensibilidade transversal (amplitude de rotação externa glenoumeral até
local e alteração do relevo segmentar, com uma aparente 10o) e do cotovelo, punho e dedos do plano sagital.
depressão no local da lesão [3]. Em casos de lesões abertas, Quinze dias após a lesão evidenciou-se, segundo
em que existe solução de continuidade de tecidos superficiais exame de ultrassonografia bidimensional de alta resolução,
e exposição de tecidos profundos, a detecção do grau de descontinuidade das fibras do músculo deltóide
lesão do tecido muscular é mais clara e a escolha do comprometendo suas porções anterior e média com
procedimento terapêutico é mais preciso. ecotextura heterogênea de dimensões 6.1 x 0.6
Em lesões traumáticas abertas, “um agente mecânico atua centímetros; e ainda, espessamento e aumento da
de maneira inesperada sobre os tecidos do segmento corporal ecogenicidade no tecido celular subcutâneo do seguimento
de forma direta ou tangencial e vence sua resistência, o agente proximal do braço esquerdo.
traumático é a causa da lesão que chamamos de contusão” Vinte dias após a lesão o exame físico constatou a presença
[4]. Assim, a agressão atinge a pele, o tecido celular de cicatrização incompleta de tecidos superficiais, com solução
subcutâneo, com possível solução de continuidade. Tecidos de continuidade e coloração rósea em aspecto ântero-lateral
mais profundos como vasos, tecido conjuntivo e fibras do ombro esquerdo. A observação comparativa dos ombros
musculares sofrem rupturas variáveis dependendo da evidenciou diminuição de volume do lado esquerdo,
magnitude da força traumática. constatada na perimetria. As medidas foram realizadas por
As implicações funcionais das lesões musculares são fita métrica, 6 e 12 centímetros abaixo do acrômio e estão
significativas e incluem a diminuição na amplitude de apresentadas no Quadro 1: Perimetria inicial. O tecido
movimento articular, a alteração da resistência à fadiga e a cicatricial apresentava-se aderido a planos profundos em toda
diminuição na velocidade de encurtamento muscular, mas é a sua extensão. A amplitude de movimentos do complexo
prolongada perda de força que é vastamente reconhecida. As articular do ombro, medida através de goniometria,
perdas de força de mais de 40-50% são comuns neste tipo de apresentava-se limitada em 120o de flexão, 110o de abdução
lesão, e a recuperação completa pode levar mais de 1 mês. e 30o de rotação externa, enquanto os movimentos de extensão
Assim, os objetivos deste estudo foram: 1) estudar o caso e rotação interna encontravam-se livres de limitações. O
de uma ruptura total por trauma corto-contuso das porções paciente ainda apresentou grau 4 de força muscular dos
anterior e média do músculo deltóide e 2) a abordagem músculos flexores, abdutores e rotadores externos
terapêutica realizada para a recuperação da função muscular glenoumerais e grau 4+ de força muscular dos músculos
e retorno à atividade esportiva. extensores e rotadores internos glenoumerais [6].

Relato de caso Quadro 1 - Perimetria inicial


Lados A 6 cm do acrômio A 12 cm do acrômio
Indivíduo do sexo masculino, 25 anos, praticante de Direito 37.5 cm 36.0 cm
ginástica olímpica não-competitiva, com excelente nível de Esquerdo 34.5 cm 32.0 cm
condicionamento físico prévio e ausência de quaisquer
afecções do aparelho musculoesquelético anteriormente à Com base nos dados provenientes do exame físico-
lesão. Sofreu trauma direto em acidente automotivo em que, funcional realizado na terceira semana após a lesão, um
durante o trânsito de bicicleta, o vértice da porta de um programa terapêutico foi conduzido em ambiente
automóvel atuou como instrumento corto-contuso causando ambulatorial, 5 vezes por semana durante 2 horas e 30

artigo 11 - Thais.pmd 232 22/06/04, 13:34


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 233

Figura 1 - Terceira semana: flexão Figura 2 - Terceira semana: Figura 3 - Terceira semana: Figura 4 - Terceira semana: abdução de
de ombro esquerdo sentado. flexão de ombro esquerdo em pé flexão bilateral de ombros em pé. ombro esquerdo em pé.

minutos diários visando: (1) Melhorar as condições do exercícios ativos; (4) Aumentar a tolerância dos tecidos
tecido de cicatrização, aumentando sua força tênsil, periarticulares (ligamentos, cápsula e músculos) à sobrecarga
extensibilidade e independência de tecidos profundos imposta pela prática esportiva, readequando força,
através de manobras manuais de mobilização tecidual; (2) resistência muscular localizada (RML), velocidade de
Melhorar as condições viscoelásticas dos tecidos ativação reflexa e flexibilidade através de exercícios ativos
periarticulares per mitindo movimento completo da e ativos-resistidos, e por fim, (5) Reintroduzir o indivíduo
articulação glenoumeral através de exercícios de em sua atividade física habitual através de exercícios de
alongamento e manobras miofasciais; (3) Readequar o especificidade do gesto esportivo. Ainda, ao término da
padrão de ativação neuromuscular estimulando a sessão de tratamento diário a técnica de crioterapia foi
plasticidade tecidual e a recuperação funcional do tecido utilizada (20 minutos de aplicação de gelo moído) com o
lesado através de eletro-estimulação muscular (2500Hz objetivo de limitar a reação inflamatória proveniente da
modulada a 30Hz, 9s:18s em 3 séries de 6 minutos) e atividade muscular e minimizar os efeitos potencialmente
lesivos ao tecido em recuperação.
Quadro 2 - Protocolo de atenção fisioterapêutica.
Período Conduta terapêutica

Primeira semana: fase inflamatória Imobilização por tipóia tipo Velpeau


Crioterapia 20 minutos a cada 3 horas

Segunda semana: fase de cicatrização Mobilização passiva de ombro, em flexão até 90o e em rotação
externa até 10o, de cotovelo, de punho e de dedos
Crioterapia 20 minutos a cada 3 horas

Terceira e quarta semanas: fase de remodelação Manobras manuais de mobilização do tecido cicatricial: fricção, tensão
longitudinal, tensão transversal, pinçamento
e rolamento do tecido (pince-roulé)
Manobras miofasciais: peitoral maior e grande dorsal 5x20 segundos
Exercícios isométricos
Adução horizontal de ombro 10x10 segundos
Abdução horizontal de ombro 10x10 segundos
Exercícios isotônicos
Flexão de ombro com sinergia de adutores de ombro 3x10 reps
Flexão de ombro com sinergia de abdutores de ombro 3x10 reps
Rotação externa de ombro 4x25 reps
Rotação interna de ombro 4x25 reps
Exercícios de Alongamento de músculos peitoral maior, deltóide
anterior, médio e posterior e trapézio superior 30 segundos
Crioterapia 20 minutos

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234 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Continuação do quadro 2.
Quinta e Sexta Semana: especificidade funcional Eletro-estimulação: 2500Hz modulada a 30Hz com 9s ON (rampa e sustentação)
e 18s OFF, durante 6 minutos, 3 vezes (3x10 reps) sobre a porção anterior do m.
deltóide associado à contração ativa isométrica de adutores horizontais de ombro
em CCF
Exercícios isotônicos em padrão diagonal com resistência variável (banda elástica)
Flexão associada à abdução e rotação externa do ombro com supinação de
antebraço 4x10 reps
Flexão associada à adução e rotação externa de ombro com supinação de
antebraço 4x10 reps
Exercícios Isotônicos com resistência variável (banda elástica)
Desenvolvimento (abdução de ombro) com cotovelos extendidos 3x10 reps
Adução horizontal de ombro com cotovelos extendidos 3x10 reps
Ativação muscular reflexa por deslocamento abrupto do membro no espaço 3x3
minutos em flexão e abdução a 90o
Descarga de peso ponderal/ total sobre os membros superiores
Exercícios de Alongamento de músculos peitoral maior, deltóide anterior, médio e
posterior e trapézio superior 30 segundos
Crioterapia 20 minutos
Sétima Semana: Recondicionamento físico e Exercícios de força, potência e flexibilidade 3x semana
Retorno à prática esportiva Exercícios nos aparelhos masculinos de ginástica: barra fixa, argolas, barras
paralelas e cavalo com alças 3x semana

Resultados ao lado não-lesionado e o indivíduo pôde ser reintroduzido


à prática esportiva em níveis pré-lesionais.
Após seis semanas da lesão traumática do músculo O exame de ultrassonografia bidimensional de alta
deltóide, com ruptura completa de suas porções anterior e resolução evidenciou forma, contornos, espessura e
média, a avaliação físico-funcional constatou: cicatriz em ecogenicidade normais dos tendões e ventres dos músculos
tecido superficial íntegra, de bordos esbranquiçados e centro supraespinhoso, infraespinhoso, bíceps e subescapular; fina
róseo, livre de aderência aos tecidos profundos, com boa faixa hipoecóica, com discreta hiperecogenicidade ao redor,
elasticidade e resistência; aspecto volumétrico simétrico entre em topografia do músculo deltóide esquerdo, com ausência
os ombros, constatado através de perimetria (ver Quadro de massas ou coleções.
3: Perimetria final); a amplitude de movimentos do ombro
esquerdo evoluiu eqüitativamente ao lado não-lesionado, Quadro 3 - Perimetria final .
atingindo o máximo de amplitude de movimento possível Lados A 6 cm do acrômio A 12 cm do acrômio
para a articulação glenoumeral nos três planos e eixos; a Direito 37 cm 33 cm
força muscular apresentou-se simetricamente comparável Esquerdo 36 cm 33 cm

Figura 5 - Sétima Figura 6 - Sétima Figura 7 - Sétima Figura 8 - Sétima Figura 9 - Sétima
semana: flexão de ombro semana: flexão de semana: flexão bilateral semana: abdução de semana: abdução bilateral
esquerdo sentado. ombro esquerdo em pé. de ombros em pé. ombro esquerdo em pé. de ombros em pé.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 235

Discussão aumento do limiar de excitabilidade dos fusos musculares inibindo


sua ativação e o mecanismo reflexo de estiramento,
Atenção emergencial resultando em redução do espasmo muscular [10]. A
interrupção do espasmo muscular reflexo diminui a dor pela
“O período decisivo de resistência contra uma invasão interrupção da estimulação mecânica sobre os receptores
bacteriana é dentro das primeiras 3 horas após a livres para dor. A diminuição da dor pode interromper o
contaminação bacteriana do tecido, quando os mecanismos ciclo de resposta à lesão, permitindo que o reparo e a
protetores do corpo estão maximamente envolvidos em cicatrização continuem [10].
manter sob controle o crescimento e disseminação
bacterianos” [7]. Segunda semana: fase de cicatrização

A atenção emergencial em lesões traumáticas abertas é Exercícios passivos


determinante para a recuperação da integridade tecidual. A
contaminação do tecido retarda o início do processo de A mobilização precoce parece ser essencial para a
cicatrização, perpetuando o período inflamatório; assim, a reabsorção do tecido cicatricial e para uma melhor
atenção imediata pós-traumática auxilia na retirada de corpos organização estrutural dos elementos de reparação; no
estranhos do local da lesão através da limpeza do ferimento e entanto, uma nova ruptura tecidual pode ser produzida por
a reconstrução emergencial limita os déficits metabólicos, uma mobilização muito vigorosa e intensa [3]. Ainda, a
vasculares e físicos do tecido lesionado. Ainda, a reconstrução mobilização aumenta a resistência tecidual, melhora a
imediata evita que as porções do músculo rompido entrem em orientação das fibras musculares em regeneração, melhora
estado de contração reflexa, o que dificultaria sua sutura [3]. a vascularização tecidual facilitando o retorno venoso e
diminuindo o edema [3]. O período de imobilização
Primeira semana: fase inflamatória prolongado pode ainda trazer complicações funcionais para
os tecidos, como a rigidez articular e o encurtamento
Imobilização e crioterapia muscular. “A disfunção muscular, uma das causas de lesões
dos tecidos moles, pode ser decorrente do não-alongamento,
Existem diferentes opiniões sobre se o tratamento de devido à contratura fascial ou encurtamento do tendão
eleição nas lesões musculares deva ser de mobilização precoce muscular provocados pela imobilização” [5].
ou imobilização. A imobilização acelera a produção de tecido Assim, a mobilização articular controlada, em planos e
de granulação e pode conduzir a uma concentração de tecido eixos próprios da articulação, promove melhora das
cicatricial de organização estrutural deficiente. No entanto, condições de viscoelasticidade teciduais, facilitando a
é necessário um período adequado de imobilização, de cerca irrigação musculotendínea, prevenindo complicações do
de 5 dias, para que o tecido muscular alcance a fase de período de imobilização, como a perda de densidade das
granulação, que um tecido neoformado cubra toda a área estruturas capsuloligamentares e intrarticulares [2].
lesionada e possua resistência contra as forças provocadas
pelo tratamento de mobilização, que poderiam conduzir a Terceira e quarta semanas:
novas rupturas [3]. fase de remodelação
A crioterapia “é o resfriamento ou diminuição da
temperatura dos tecidos com finalidades terapêuticas” [8]. Manobras de mobilização do tecido cicatricial
Seus efeitos terapêuticos envolvem a diminuição do metabolismo
local, a vasoconstrição e o aumento do limear de estimulação das A maturação do tecido cicatricial acontece ao longo de
terminações sensoriais. A diminuição do metabolismo tecidual diminui meses e chega a estar ainda incompleta ao final de um ano.
a necessidade de consumo de oxigênio pelas células, A formação de colágeno aumenta a resistência da ferida
preservando as células lesionadas e permitindo que o tecido restabelecendo a força e a integridade originais; no entanto,
sobreviva recebendo a quantidade limitada de oxigênio a raramente o tecido recupera sua resistência e elasticidade
que está submetido [9]. Este efeito pode ser especialmente total. A orientação anatômica das proteínas fibrosas que
útil ao final de um programa de exercícios, que seja formam a cicatriz é dependente e induzida pelo esforço;
potencialmente lesivo aos tecidos, como os exercícios assim, as forças físicas desempenham um importante papel
resistidos. “Durante um tratamento de 20 minutos o na remodelação, orientando as fibras de colágeno em linhas
metabolismo celular é reduzido em 19%” [10]. A vasoconstrição de tensão que se assemelham à condição pré-lesão [7].
diminui o aporte sanguíneo ao tecido lesionado, inibindo a As manobras manuais de mobilização tecidual têm o
disseminação dos agentes inflamatórios e impedindo que o objetivo de atuar como forças de tensão sobre o tecido
processo inflamatório torne-se difuso (9). A queda da cicatricial, provocando uma melhor reorganização estrutural
temperatura na superfície da pele para –12.7o C provoca e um alinhamento conformacional que ofereça ao tecido

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236 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Figura 10 - Terceira semana. Figura 11 - Quinta semana. Figura 12 - Sétima semana.

As manobras utilizadas envolveram 1) a fricção; 2) a tensão longitudinal; 3) a tensão transversal e 4) o pincé-roulé [11] ou
descolamento do tecido.

Figura 13 - Manobra de fricção. Figura 14 - Tensão transversal. Figura 15 - Tensão longitudinal. Figura 16 - Manobra de pincé-roulé.

maior resistência contra forças incidentes sobre o mesmo, e assim, a hidratação e a nutrição teciduais. Sobre os músculos,
protegendo-o contra rupturas. Especialmente nos esportes o tensionamento no sentido das fibras musculares, promove
que utilizam preferencialmente a atividade dos membros o deslizamento dos filamentos de actina para fora e melhora
superiores, como na ginástica olímpica, a restituição da suas condições viscoelásticas [12].
força tecidual superficial é determinante para o retorno à
Figura 17 - Manobra miofascial para músculo peitoral maior.
prática esportiva.

Manobras miofasciais

Bienfait [12] descreve em detalhes a anatomia das


maiores fáscias corporais, a fascia superficialis e a aponeurose
superficial, enfatizando o conceito de continuidade fascial e
de uma visão corporal global.
Envolvendo os ventres musculares, as fáscias, sob
condições normais, permitem mobilidade livre entre os
músculos e grupos musculares, divididos em compartimentos,
facilitando a execução de atos motores. Bienfait afirma “temos
certeza que ela” (a aponeurose superficial) “é o órgão mecânico Figura 18 - Manobra miofascial para músculo grande dorsal.
principal da coordenação motora” [12].
O deslizamento livre entre as fáscias, além de agir como
agente mecânico para a coordenação intermuscular,
promove o “embebimento” dos tecidos pelo chamado líquido
lacunar (descrito por Bienfait), promovendo sua hidratação
e nutrição [12].
As manobras miofasciais, ou pompages, são manobras
manuais que promovem a normalização da tensão e do
funcionamento das fáscias, readequando a circulação lacunar

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 237

Exercícios de alongamento previamente intactas, que tenham sofrido os efeitos do


período de imobilização.
A flexibilidade, definida como uma “qualidade motriz
que depende da elasticidade muscular e da mobilidade Exercícios ativos-resistidos
articular, expressa pela máxima amplitude de movimentos
necessária para a perfeita execução de qualquer atividade A hipotrofia resulta de causas como a imobilização, o
física eletiva, sem que ocorram lesões anátomo-patológicas” repouso ou hábitos sedentários após um período de
[13] é conhecidamente uma capacidade motora treinamento físico, onde a demanda de trabalho solicitado
indispensável para a prática de alguns esportes. Dada a é inferior à capacidade de desenvolvimento de força do
importância da flexibilidade para a execução de gestos tecido muscular. Ocorre assim, a diminuição da
específicos em modalidades esportivas, particularmente na circunferência muscular, da força e da resistência, menor
ginástica, fatores que possam interferir na excursão ritmo de síntese e maior ritmo de degradação protéica
articular, como a falta de elasticidade do tecido muscular, (catabolismo) [2].
devem ser abordados. A característica dominante no processo de adaptação
Assim, os exercícios de alongamento são o método muscular à sobrecarga é a hipertrofia, onde o músculo
utilizado para melhorar as propriedades viscoelásticas do sofre um aumento em suas fibras individuais, aumentando
tecido muscular e das fáscias que o envolvem, aumentando sua quantidade de proteínas contráteis e, portanto, sua força
a amplitude de movimentos, ou flexibilidade, freqüentemente em resposta a um treinamento resistido específico [2]. No
diminuída após um período de inatividade. entanto, os “ganhos iniciais de força muscular se relacionam
O aumento da amplitude de movimentos seguindo à melhora dos níveis de atividade das unidades motoras.
imediatamente o alongamento passivo pode ser explicado Depois das primeiras duas semanas de treinamento, são
pelo comportamento viscoelástico do músculo e por feitos ganhos adicionais de força através de hipertrofia
mudanças de curto período na extensibilidade muscular. muscular” [1].
Alguns autores afirmam que o alongamento passivo por De acordo com os achados físicos apresentados após
um período tão curto quanto 30 segundos é suficiente para vinte dias da ruptura muscular do músculo deltóide,
obter aumento de mobilidade articular. Assim, existem muitos identificou-se que, a limitação em amplitude de
experimentos que sustentam o conceito de que o movimento (ADM) da articulação glenoumeral,
alongamento passivo sustentado leva à geração de um especificamente nos movimentos de flexão, abdução e
músculo mais longo e funcionalmente intacto, embora por rotação externa, relacionava-se diretamente com a
mecanismos desconhecidos [14]. debilidade de força dos músculos envolvidos nos mesmos
movimentos. Por tanto a restrição de mobilidade
“O pré-alongamento da unidade musculotendínea é apresentada pelo indivíduo estava predominantemente
importante antes do começo do programa de fortalecimento relacionada com a alteração das características funcionais
(...) após a sessão de fortalecimento, o alongamento deve do tecido muscular, como a elasticidade e a força, do
ser feito mais uma vez, seguindo-se colocação de gelo na que com alterações das características físicas
parte lesada para reduzir exacerbações inflamatórias pós- intrarticulares. Tal observação permitiu a determinação
exercício” [1]. da conduta mais precisa e adequada para este caso, com
enfoque específico no ganho de força e ativação dos
Exercícios ativos músculos deficitários.

Os músculos que compõe o manguito rotador


Figura 19 - Isometria de adutores horizontais de ombro.
(supraespinhoso, infraespinhoso, subescapular e redondo
menor) são músculos determinantes para o funcionamento
normal do ombro. Eles permitem a excursão da cabeça umeral
na fossa glenóide impedindo seu contato com estruturas
suprarticulares como o acrômio e o ligamento córaco-
acromial. São, portanto, músculos que exercem função
protetiva, durante os movimentos do ombro, evitando a
chamada “síndrome do impacto”, em que estruturas de tecidos
moles, interpostas entre o úmero e estruturas suprarticulares
sofrem forças compressivas e/ou friccionais.
Assim, a ativação precoce destes músculos, forneceu
subsídio físico para que os movimentos do ombro fossem
explorados sem a possibilidade de lesão a estruturas

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238 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Figura 20 - Isometria de abdutores horizontais de ombro. Figura 21 - Isotonia de flexores com Figura 22 - Isotonia de flexores
sinergismo de adutores horizontais de com sinergismo de abdutores
ombro. horizontais de ombro

O programa de treinamento resistido evoluiu


enfocando: 1) a ativação de cadeias musculares,
estimulando o recrutamento de músculos deficitários pela
ativação de músculos sadios, melhorando o
condicionamento específico de um conjunto de músculos
não-relacionados diretamente com a lesão, comprometidos revelou 5 a 10% de diminuição comparada ao lado
pelo período de imobilização; 2) melhora da resistência contralateral. Observou que durante períodos de exercício
muscular localizada (RML), oferecendo subsídio para o físico mais regular a resistência muscular parecia estar
treinamento de força, com a instituição de séries com alto muito melhor e após períodos sem ou com menos
número de repetições e baixa carga; 3) a melhora da força exercício, a limitação na resistência apresentava-se
muscular absoluta, com a instituição de séries com baixo novamente aparente [15].
número de repetições e carga alta. Os exercícios de RML foram desenvolvidos durante a
terceira semana e enfocaram a ativação dos músculos da
“Em um trabalho, os escores de força melhoraram cintura escapular, especialmente os músculos do manguito
significativamente quando precedidos por um programa rotador. Os exercícios de força foram iniciados durante a
usando trabalho com muitas repetições. Assim, parece quarta semana e conduzidos até o término do tratamento,
apropriado iniciar o atleta num programa com muitas devido a alta especificidade dos músculos que envolvem a
repetições e baixa carga, antes de embarcar num programa articulação do ombro no desenvolvimento dos princípios
altamente resistido” [1]. da ginástica olímpica.
É importante observar que, “a taxa de melhora depende
O’Driscoll, em seu relato pessoal de ruptura intramuscular da disposição do indivíduo à sobrecarga” (1), portanto,
do tríceps braquial relatou que após nove anos de sua tolerância ao esforço físico é um importante fator
acompanhamento, a força isométrica apresentou-se igual preditivo de melhora e foi um atributo apresentado pelo
ao lado contralateral, enquanto a resistência testada sujeito deste estudo.

Figura 23 - Isotonia de rotadores externos de ombro. Figura 24 - Isotonia de rotadores internos de ombro.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 239

Quinta semana e sexta semana: Exercícios de especificidade esportiva


especificidade funcional
Os exercícios ativos-resistidos a partir da quinta semana
Eletro-estimulação muscular após a lesão enfatizaram 1) a ativação específica dos
músculos deficitários (especialmente a porção anterior do
O uso terapêutico de correntes eletro-estimulantes músculo deltóide) com padrões de movimentos específicos;
apresenta diversos benefícios e pode ser aplicado com 2) a ativação reflexa dos músculos do ombro com
diferentes objetivos. Um dos objetivos para o qual se utiliza deslocamento abrupto em direções variadas e 3) a
as correntes elétricas é a ativação muscular, em que a imposição de carga axial sobre o membro superior com
corrente promove a redução do potencial transmembrana co-ativação dos músculos de todo o membro superior,
da célula muscular pelo aumento da permeabilidade do sódio especialmente do ombro.
para o interior da célula, produzindo sua despolarização e Os padrões de movimentos isolados foram realizados
gerando contração muscular [16]. com o uso de faixas elásticas, como indicou Saal [1] e em
“Durante o esforço volitivo do paciente, pode-se tetanizar padrões funcionais específicos, como mostram as figuras
o músculo por 3 segundos, seguidas vezes, dando-se 5 27, 28 e 29.
segundos para repouso, aumentando-se apenas a freqüência A velocidade de ativação reflexa dos músculos
dos impulsos” [17]. envolvidos em uma lesão, ou em um período de inatividade,
Uma corrente ininterrupta pode levar o músculo à encontra-se freqüentemente diminuída, o que pode ser
fadiga; assim, a relação de 1:1 (on:off) tende a fadigar o razão de limitações ao funcionamento do segmento,
músculo rapidamente enquanto relações on:off com principalmente durante atividades complexas, como no
períodos de repouso maiores tendem a reduzir esporte. Portanto o treinamento da velocidade de ativação
significativamente a fadiga [16]. reflexa faz parte de um programa de readequação de
Assim, o uso de uma corrente de média freqüência (2500 habilidades específicas.
Hz) modulada a 30Hz com períodos de 9:18 de ativação:
repouso, respeita o que Figura 27 - Adução horizontal de ombros com cotovelos em extensão.
Figura 25 - Posicionamento de eletrodos se conhece acerca da
sobre porção anterior do músculo deltóide utilização da eletro-
(ventre muscular). estimulação muscular
como medida tera-
pêutica. Seu uso foi
associado à contração
isométrica voluntária,
priorizando-se a ati-
vação da porção ante-
rior do músculo del- Figura 28 - Diagonal: flexão, abdução e rotação externa de ombro.
tóide com o objetivo de
ganho de força mus-
cular específica.

Figura 26 - Exercício ativo (isometria de adutores horizontais de ombro)


associado a eletro-estimulação do músculo deltóide (porção anterior).

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240 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Figura 29 - Diagonal: flexão, adução e rotação externa de ombro. Sétima semana: retorno aos níveis
prévios de atividade física

Ao fim da sexta semana de programa terapêutico o


indivíduo recebeu alta por resolução e foi reinserido no
programa de condicionamento físico específico. O programa
de treinamento continuou com freqüência de 3 dias semanais
e incluía exercícios de flexibilidade, força e potência, além
de exercícios específicos nos aparelhos masculinos de
ginástica olímpica: argolas, cavalo com alças, barras paralelas
e barra fixa.

Figura 33 - Argolas.

Figura 30 - Ativação muscular reflexa: deslocamento abrupto.

Figuras 31 e 32 - Descarga de peso corporal Exercícios de


sobre membros superiores. sustentação de Figuras 34 e 35 - Cavalo com alças.
peso corporal
sobre os mem-
bros superiores
foram realizados
buscando a rea-
daptação das es-
truturas capsulo-
ligamentares à
sobrecarga espe-
cífica da prática
esportiva e foram
realizados durante
a quinta e a
sexta semana de
tratamento.

artigo 11 - Thais.pmd 240 22/06/04, 13:34


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 241

Figura 36 - Barras paralelas. Figura 37 - Barras paralelas. Referências

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15. O’Driscoll SW. Intramuscular triceps rupture. CJS
Agradecimentos 1992;35(2):203-6.
16. Robinson AJ, Snyder-Mackler L. Eletrofisiologia clínica:
Ao Prof. Ms. Marco Antônio Ferreira Alves, por sua eletroterapia e teste eletrofisiológico. 2 ed. Porto Alegre: Artmed
orientação e ao Dr. Abrão M. Altman, por sua atuação, 2001. p.426.
fundamental para o sucesso deste caso. 17. Lucena C. Eletroterapia. Curitiba: Lovise; 1990. p.135. C

artigo 11 - Thais.pmd 241 22/06/04, 13:34


242 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Estudo de caso

Complicação relacionada ao uso da respiração


com pressão positiva intermitente
The intermittent positive pressure breathing complication

Renata Lenize Pasini*, Luciana Castilho de Figueiredo**, Rosmari Aparecida Rosa Almeida Oliveira***,
Renato Giuseppe Giovanni Terzi****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, **Coordenadora do Curso de Aprimoramento Adulto e Supervisora do Curso de Especialização de Fisioterapia Respiratória
em UTI-Adulto do Hospital de Clínicas da UNICAMP e Docente da UNIARARAS, ***Coordenadora do Curso de Especialização em
Fisioterapia Respiratória em UTI-Adulto do Hospital de Clínicas da UNICAMP, ****Coordenador de docência e pesquisa na UTI do
Hospital de Clínicas da UNICAMP.

Resumo
O uso do recurso terapêutico com pressão positiva intermitente (RPPI), para
Palavras-chave: expansão pulmonar, tem sido intenso dentro do tratamento de pacientes em uma Unidade
RPPI, pneumotórax, de Terapia Intensiva. As suas indicações são basicamente a prevenção de atelectasias,
pressão positiva. aumento das capacidades pulmonares e recrutamento de áreas pulmonares hipoventiladas
ou colapsadas. Embora a contra-indicação absoluta seja o pneumotórax, a avaliação
clínica se faz necessária previamente ao uso da técnica (RPPI), com o intuito de
evitarem-se complicações associadas à indicação inadequada ou até mesmo ao seu uso
indiscriminado, como foi reportado nesse estudo de caso.

Abstract
The intermittent positive pressure breathing resource (IPPB), for pulmonary expansion
Key-words: has been widely used in the treatment of patients in Intensive Care Units. The indications
IPPB, pneumothorax, are basically atelectasis prevention, pulmonary capacities increase and recruitment of
positive pressure. pulmonary spaces. Although the absolute counter-indication is the pneumothorax, it is
necessary to proceed to an previous clinic evaluation for the therapy, in order to avoid
complications associated to its inappropriate indication or its generalized use.

Recebido 13 de novembro de 2003; corrigido 20 de maio; aceito 10 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Renata Lenize Pasini, Rua Barretos, 97, Jardim Ciranda, 14700-575 Bebedouro SP, Tel: (17) 3342-2775 /
(19) 9614-8910, E-mail: renatapasini@aol.com

artigo 12 - Renata.pmd 242 22/06/04, 13:34


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 243

Introdução esquerda foi realizada sem intercorrência. O RX de tórax


de controle após a punção, não evidenciava alterações
A respiração com pressão positiva intermitente (RPPI) é radiológicas (anexo B). No dia seguinte, a paciente evoluiu
definida como uma forma de exercício respiratório utilizando com quadro álgico importante na região dorsal associada a
a pressão positiva para aumento dos volumes pulmonares e desconforto respiratório, que melhorava com decúbito lateral
da capacidade vital. A realização da técnica se faz através de esquerdo associado à máscara de Venturi com FiO2 = 0,28.
um respirador mecânico, sendo mais utilizado o Bird Mark À noite com a piora do quadro respiratório, optou-se por
7, que é adaptado ao paciente via máscara facial ou bucal, indicar a RPPI. Na manhã seguinte, em uma radiografia,
dependendo do nível de colaboração e de compreensão do foi observado um pneumotórax à direita (anexo C). Após a
paciente [1]. drenagem o pulmão ficou totalmente expandido (anexo E).
Embora a RPPI seja mais indicada para realizar a expansão
pulmonar, a técnica também é eficaz quando usada para Resultados
promover a higiene brônquica [2]. A RPPI pode ser utilizada
em pacientes com atelectasia ou, de forma preventiva, Após 24 horas da punção central, a paciente evoluiu
àqueles que possuam fatores de risco para esta complicação, com quadro clínico típico de pneumotórax, ou seja, dor
principalmente quando não colaboram com técnicas mais torácica, dispnéia e desconforto respiratório. A decisão
simples, como a inspirometria de incentivo. Quanto às contra- quanto à realização da RPPI foi tomada de acordo com o
indicações, embora não tenham sido relatadas como quadro clínico apresentado no momento. Os sintomas não
absolutas, exceto na presença de pneumotórax hipertensivo, foram amenizados com a técnica como demonstrado no
o sucesso da técnica está relacionado a uma avaliação gráfico de valores de pressão arterial média (PAM),
criteriosa do paciente associado ao bom senso da equipe freqüência respiratória (FR) e freqüência cardíaca (FC)
multidisciplinar, na tomada de decisão para o seu uso. Assim distribuídos desde o momento da admissão até a drenagem
a RPPI deve ser indicada com rigoroso critério, evitando do pneumotórax (anexo F). Houve um aumento da
complicações, que vão desde a alcalose respiratória até à freqüência cardíaca em relação à admissão e ao momento
distensão gástrica. da punção do tórax, com pico durante a realização da RPPI
Este estudo de caso tem como objetivo demonstrar a assim como a freqüência respiratória que assumiu o mesmo
importância da avaliação respiratória previamente à utilização comportamento, com pico durante a terapia, pois nesse
do RPPI como recurso terapêutico. momento o pneumotórax foi agravado. O valor da PAM
foi normal na admissão da paciente na UTI, apresentou
Material e métodos queda durante o procedimento da punção de via central e
realização da RPPI, retornando ao valor normal após a
Este estudo baseia-se na análise do tratamento drenagem do pneumotórax.
fisioterápico com a RPPI, relatando o pneumotórax como Pode-se observar então, que o quadro respiratório
complicação decorrente da técnica, na paciente M.A.B.B., estabilizou após este procedimento com valores de
45 anos, HC: 848429-0, com história de claudicação gasometria PaO2 = 112 mmHg, PaCO2 = 33,5 mmHg,
inter mitente há 4 anos, dor bilateral em MMII, SatO2 = 99% e reversão do pneumotórax visualizado no
principalmente em panturrilhas e pés, associado à palidez e RX de tórax.
frieza ao elevar os membros. A paciente apresentava
antecedentes de tabagismo (parou há 4 anos) e hipertensão Discussão
arterial sistêmica. A insuficiência vascular periférica era
atribuída a uma síndrome da aorta hipoplásica. A RPPI consiste na aplicação de pressão positiva
Em agosto de 2003, a paciente foi internada para inspiratória em respiração espontânea, como uma
investigação clínica na enfermaria da Cirurgia Vascular, modalidade terapêutica intermitente ou em longo prazo [2].
apresentando RX de tórax normal (anexo A). A indicação Em respiração espontânea a pressão intratorácica alterna-
cirúrgica se deu após diagnóstico de oclusão da aorta no se entre positiva e negativa. Por contraste, durante ventilação
segmento infra-renal, confirmado por arteriografia. A mecânica não-invasiva a pressão intratorácica permanece
paciente foi submetida a enxerto vascular aorto bi-ilíaco com acima da pressão atmosférica todo o tempo. Devido a essas
prótese de Dácron. Após a cirurgia foi admitida na Unidade condições não fisiológicas, a pressão positiva na via aérea
de Terapia Intensiva (UTI) hemodinamicamente estável e se transmite aos alvéolos e, na vigência de um acidente de
oligúrica. Na UTI a tentativa de cateterizar a veia jugular punção, pode agravar um eventual pneumotórax [3].
direita não obteve sucesso, o que levou a punção da veia A paciente utilizou a RPPI devido aos sinais clínicos
subclávia direita também sem sucesso. Durante este último respiratórios desfavoráveis, sendo a primeira vez por vinte
procedimento foi observada a saída de pequena quantidade minutos e a segunda vez por quinze minutos durante o
de ar pela seringa.Uma terceira punção, agora na veia jugular plantão noturno.

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244 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

A RPPI é muito utilizada como terapia de reexpansão pneumotórax, em Terapia Intensiva, pneumotoraces pós-
pulmonar, porém estudos relatam que suas indicações são punção são sempre drenados com tubo torácico e drenagem
variadas. Handelsman [4] mostrou que a RPPI pode ser com selo d’água. Há autores que relatam a aspiração manual,
utilizada na crise asmática e na exacerbação dos sintomas porém este tipo de drenagem é bastante limitado pelo fato
de DPOC quando não há resposta a outras terapias ou na de não existirem dados seguros e comparativos da sua
falência respiratória secundária a cifoescolioses e doenças eficácia [8].
neuromusculares. Mais freqüentemente é indicada na Felizmente após o diagnóstico de pneumotórax,
prevenção de atelectasias e no cuidado pós-operatório. confirmado pela radiografia de tórax, foi realizada a
Neste caso, a técnica foi indicada em virtude de alguns drenagem torácica sob selo d’água, e a expansão pulmonar
sinais clínicos apresentados pela paciente, tais como o confirmada por nova radiografia (anexo D).
desconforto respiratório, a taquidispnéia e a queda da A melhora dos sintomas e dos sinais clínicos (percussão,
saturação de oxigênio, sem uma avaliação mais completa ausculta, freqüência cardíaca, freqüência respiratória e
antes da RPPI. Normalmente, na avaliação do pneumotórax gasometria) associados à drenagem torácica, não mais
encontra-se ausculta pulmonar do hemitórax acometido um impediria a manutenção da RPPI como recurso fisioterápico.
murmúrio vesicular diminuído ou abolido e no exame
gasométrico revela uma hipoxemia e, eventualmente Conclusão
hipocapnia por hiperventilação compensatória.
A RPPI foi estudada em pacientes portadores de fibrose A indicação da RPPI deve-se basear no diagnóstico
cística, evidenciando complicações raras decorrentes do uso correto e deve ser individualizada para cada paciente. É
da pressão positiva, exemplificando o pneumotórax [5]. prioritária a avaliação clínica e gasométrica do paciente para
Ademais, o autor enfatizou a necessidade de supervisão e que esta técnica seja realizada sem riscos e com sucesso.
individualização da terapia, avaliando seus riscos e benefícios.
Relatos de pneumotórax relacionados com a ventilação Referências
não-invasiva com diferentes manifestações clínicas tais
como: pneumomediastino prévio, associado à dor torácica 1. Soares SMTP, Veloso CA, Figueiredo LC. Manobras
e queda de pressão arterial, taquicardia, arritmias e enfisema fisioterapêuticas em pacientes sob ventilação mecânica. In:
subcutâneo, foram apresentados por outros autores [6,5]. Carvalho RRC. Ventilação mecânica: Avançado - vol II. São
É fato que a implantação de um cateter central pode Paulo: Atheneu; 2000. p.353-80.
trazer varias complicações como sangramento, infecções 2. Wilkins RL, Scanlan CL. Terapia de expansão pulmonar. In:
Fundamentos da terapia respiratória de Egan. São Paulo:
locais, hematomas dentre outros, porém os benefícios
Manole; 2000. p. 804-9.
trazidos pelo mesmo, são certamente maiores [7]. O propósito 3. Hormann C, Benzer H. Errors in ventilation therapy. Wien
de exaltar a importância da prevenção de complicações Klin Wochenschr 1994; 13:407-11.
decorrentes da técnica é a necessidade de tratamento que 4. Handelsman H. Intermittent positive pressure breathing
prolongaram a estadia hospitalar. (IPPB) therapy. Health Technol Assess Rep 1991;1:1-9.
Neste caso o pneumotórax foi uma complicação 5. Haworth CS, Dood ME, Atkins M, Woodcock AA, Webb
obser vada, induzida por intercorrência de punção AK. Pneumothorax in adults with cystic fibrosis dependent
subclávia, porém agravado pela RPPI, este agravamento on nasal intermittent positive pressure ventilation (NIPPV):
poderia ser evitado por melhor avaliação do quadro a management dilemma. Thorax 2000;55:620-2.
6. Estafanous FG, Viljoen JF, Barsoum KN. Diagnosis of
clínico, antes de sua aplicação. A constatação de
pneumothorax complicating mechanical ventilation. Anesth
timpanismo a percussão torácica, de um murmúrio Analg 1975;6:730-5.
vesicular diminuído em hemitórax direito, a correta 7. Noppen M, Alexander P, Driesen P, Slabbynck H,Verstraeten
interpretação da freqüência cardíaca e respiratória A. manual aspiration versus chest tube dranaige in first
aumentadas, assim como a hipoxemia e a hipocapnia episodes of primary spontaneus pneumothorax: a
associados à instalação aguda do quadro pulmonar, seriam multicenter, prospetive, randomized pilot study. Am J Respir
suficientes para sugerir o diagnóstico de pneumotórax e Crit Care Med 2002; 9:1202-3.
a solicitação de novo estudo radiológico. 8. Moreira RCR, Batista JC, Abrão E. Complicações dos cateteres
Embora não haja concordância para o tratamento dos venosos centrais de longa permanência: análise de 500 implantes
pacientes que apresentam o primeiro episódio de consecutivos. Rev Col Bras Cir 1998; 25 (6):403-8. C

artigo 12 - Renata.pmd 244 22/06/04, 13:34


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 245

ANEXOS

A. Radiografia de tórax prévia a cirurgia


B. Radiografia de tórax após passagem do cateter central (intracath)
C. Radiografia de tórax com pneumotórax
D. Radiografia de tórax com dreno e pneumotórax residual
E. Radiografia de tórax drenado
F. Evolução da Freqüência cardíaca (FC), Freqüência respiratória (FR) e Pressão arterial média (PAM)

A B C

D E

F.

artigo 12 - Renata.pmd 245 22/06/04, 13:34


246 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Opinião

A atuação do fisioterapeuta na unidade básica de saúde

Andressa Caetano da Veiga*, Carlos Alberto Soares Neves*, Paula Montagna**, Sandra Sayuri Kanda***,
Samuel dos Santos Valença, M.Sc****

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Curso de Fisioterapia do UNASP, **Fisioterapeuta, docente do UNASP, ***Fisioterapeuta da Unidade Básica de Saúde Capão
Redondo, ****Fisioterapeuta, docente do UNASP

A necessidade de expansão e melhoramento nos atendimentos oferecidos á


população carente fez rever os modelos adotados até a metade do século XX, no
qual era priorizado a assistência curativa do atendimento médico individualizado sem
qualquer possibilidade de terapias alternativas [1]. Até a década de 70, no Brasil, os
recursos à saúde em sua maior parte eram destinados aos hospitais, que ficavam
superlotados dificultando os atendimentos. Em 1996, na XII Conferência Nacional
de Saúde, foi estendida a toda população brasileira, a assistência à saúde através de
um Sistema Único de Saúde (SUS) sendo estabelecido que o atendimento à saúde é
um direito do cidadão e um dever do Estado [2].
A Constituição Federal, de 1998, define como princípios do Sistema Único de Saúde:
Universalização, Integralidade, Descentralização, Hierarquização e Participação popular
[3]. O modelo de assistência do SUS é o de vigilância à saúde denominado de Programa
Saúde da Família, que abrange os três níveis de atenção à saúde: primário, secundário e
terciário [4]. O Programa Saúde da Família (PSF) existe desde 1994 e sua estratégia é
de priorizar as ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde das pessoas, de
forma integral e contínua. Centralizando os esforços do seu trabalho nas Unidades
Básicas de Saúde, que são capazes de resolver, com qualidade, cerca de 85% dos
problemas de saúde da população, diminuindo o fluxo dos usuários para os níveis mais
especializados “desafogando” assim os hospitais. O atendimento prestado pode ser na
Unidade Básica de Saúde ou no domicílio, quando considerado necessário. Os Agentes
Comunitários de Saúde (ACS) são os elos fundamentais entre a comunidade e os serviços
de saúde. Os agentes compõem as Equipes de Saúde da Família - ESF [3].
O Ministério da Saúde [3,4] lançou, em 1999, o Manual para a Organização da
Atenção Básica e define que “Atenção Básica é um conjunto de ações, de caráter
individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde,

Recebido 10 de outubro de 2003; aceito 1 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Prof. Samuel dos Santos Valença, Centro Universitário Adventista de Ensino – UNASP, Coordenação de Fisioterapia -
Estrada de Itapecerica, 5859 Jardim IAE 05858-001 São Paulo SP, Tel.: 5822-6166 ramal 5071 / 6171, E-mail: samuel.valence@sp.unasp.edu.br
ou valenc@zipmail.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 247

voltados para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação”.


As ações preventivas vêm sendo cada dia mais utilizadas na área da saúde. A prevenção
ou promoção da saúde é uma maneira de estar diminuindo gastos futuros para os
cofres públicos e evitar grandes epidemias que causam problemas à comunidade.
Para Ribeiro [1], prevenção é a intervenção mais precoce no processo saúde-doença,
enquanto para Candeias [5] e Czeresnia [6] promoção da saúde são ações que visam
a modificações no estilo de vida, ou seja, adoção de hábitos de vida saudáveis, na
tentativa de diminuir o risco de adoecer e morrer. Para que estes programas de
promoção da saúde tenham bom andamento são necessários profissionais devidamente
capacitados e desempenhando plenamente suas atividades. Ribeiro [1] refere que os
profissionais da área de saúde precisam ter competência técnica e compreensão dos
problemas de saúde da comunidade onde atuam e tenham noção de que assistência á
saúde é muito mais que tratar a doença.

Atuação da fisioterapia na promoção da saúde

Por muito tempo a fisioterapia ficou excluída dos serviços básicos de saúde pela sua
atuação, na maioria das vezes na reabilitação, esquecendo-se da prevenção e promoção
da saúde. Para Sampaio [7] o profissional fisioterapeuta vem desenvolvendo suas ações
voltadas para a atenção secundária e terciária, atuando em clínicas, consultórios privados
ou hospitais, com um papel de pouco destaque na atenção primária.
Antigamente a fisioterapia era definida “como tratamento de pacientes incapacitados
por doenças, traumatismo ou perda de parte do corpo, através de exercícios terapêuticos,
calor, frio, água, luz, eletricidade, ultra-som ou massagem” [8]. A fisioterapia atual vem
sendo definida “como ciência da saúde voltada ao estudo, prevenção e terapêutica dos
distúrbios cinéticos funcionais dos órgãos e sistemas do corpo humano” [9]. Para
Rebelatto et al. [10] “o fisioterapeuta tem como dever a promoção da saúde da população.
Para isso, deve haver uma atenção direcionada para assistência ao indivíduo não somente
após estar acometido por alguma patologia, mas uma preocupação com a promoção e
a manutenção da saúde e a prevenção de doenças”. Fazer prevenção é uma maneira de
agir antes que o problema ocorra. A resolução n.º 10, artigo 1º do Código de Ética do
profissional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, mostra que a prevenção deve fazer
parte da atuação destes profissionais. “Artigo 1º - O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional
prestam assistência ao homem, participando da promoção, tratamento e recuperação
de sua saúde”.
O fisioterapeuta e demais profissionais da saúde devem atuar na prevenção de
doenças e maus hábitos que possam prejudicar a saúde dos indivíduos. Existe, portanto,
um vasto campo de atuação para o fisioterapeuta em saúde pública podendo promover
uma melhor qualidade de vida à comunidade.

Limitações enfrentadas pela fisioterapia na promoção da saúde

O trabalho da fisioterapia na promoção da saúde nos serviços públicos é uma nova


forma de atuação e, por isso, ainda passa por dificuldades técnicas, necessitando de
adaptações e esforços. Um dos problemas enfrentados diz respeito à formação acadêmica
dos fisioterapeutas, que são despreparados para este tipo de trabalho. Para Afonso [11]
“a formação discente parece não estar voltada para a questão da prevenção, mas sim,
prioritariamente, para as técnicas de tratamento reabilitadoras”. Segundo Rebelatto [10]

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248 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

para que os fisioterapeutas tenham uma melhor qualidade de atuação depende, em


grande parte, do que é ensinado na formação destes profissionais, mas por outro lado
depende também de quanto os docentes e responsáveis por esses cursos são capazes de
transformar o conhecimento disponível em comportamentos profissionais e das próprias
características de qualidade e quantidade do conhecimento disponível. Outro problema
enfrentado é a falta dos serviços de fisioterapia e a escassez de profissionais fisioterapeutas.
A falta de recursos terapêuticos nas UBS dificulta o trabalho do fisioterapeuta que se
sente limitado na atuação, seja devido à grande demanda da população ou quanto à falta
de equipamentos e até espaço físico. Soma-se a esse fator a pouca ou nenhuma experiência
em atuação na rede básica, porque o fisioterapeuta na sua maioria está capacitado para
atuar em serviços com melhores recursos técnicos.
O atendimento domiciliar numa comunidade de baixa renda é outra nova realidade
que precisa ser encarada pelo profissional fisioterapeuta. Ao atender em domicílio ele se
vê forçado a conviver, formar vínculos com os familiares e a própria comunidade
adjacente, causando muitas vezes angústia no profissional e possível distanciamento dos
usuários. A atuação do fisioterapeuta nas UBS fica limitada por vários fatores como o
número insuficiente de profissionais disponíveis na rede básica, a urgência no tratamento
das seqüelas, sendo necessário priorizar o tratamento curativo em detrimento à prevenção.
Os pacientes também enfrentam dificuldades no acesso ao serviço de fisioterapia
da rede pública. Exemplo disso são as enormes listas de espera para receber o
primeiro atendimento e quando o recebe, às vezes, enfrentam barreiras como:
dificuldade para deslocamento (Residência – UBS) e dificuldades financeiras para o
transporte até a UBS, perdendo em alguns casos a oportunidade de recuperação e
agravamento do problema.

Alternativas de terapias

Existem vários trabalhos que propõem medidas para prevenção e alternativas de


tratamentos para pacientes com poucas complicações e até mesmo para pacientes
crônicos e/ou complexos. Cabe ao profissional de fisioterapia adequar-se e até mesmo
criar suas próprias alternativas para suprir a demanda dos atendimentos nas UBS. Além
do atendimento individualizado, as atividades em grupo têm-se mostrado uma das
possibilidades de conduta fisioterapêutica. Atividades em grupo podem contribuir para
a diminuição da demanda por atendimentos individuais e têm sido fator importante na
adesão ao tratamento. Nas referências citadas neste trabalho foram encontrados vários
métodos diferentes de se realizar atividades em grupos. Por exemplo: em um trabalho
realizado na comunidade do Gratão e Maria de Nazaré em Pernambuco no período de
março de 1998 a julho de 2000, os fisioterapeutas de uma maneira geral realizavam
atendimentos para reabilitação, atividades em grupo de: postura, hipertensos, diabéticos,
gestantes e prevenção de incapacidades em hanseníase [1]. Um outro exemplo está
sendo realizado desde 1990 no Centro de Saúde São Gabriel na cidade de Belo Horizonte
onde os fisioterapeutas atuam em programas de orientações e atividades físicas para
hipertensos, diabéticos e crianças com asma [7]. A Universidade Federal de Santa Maria
tem desenvolvido atividades do Programa Nacional de Combate ao Fumo, em conjunto
com a secretaria Municipal de Santa Maria e a Igreja Adventista, por meio de “Cursos
para deixar de fumar” desde 1993. Realizam também palestras educativas em escolas e
bairros da cidade sobre tabagismo, em feiras e exposições por meios de painéis e
esclarecimento aos visitantes [12].
Ao fisioterapeuta, a realidade é dura, às necessidades da população que o cerca são
reais, mas existe possibilidade quanto à construção de novos caminhos em sua profissão.

artigo 02 - Samuel.pmd 248 22/06/04, 13:34


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 249

Referências

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experiência universitária. Fisioter Bras 2002;3:311-318.
2. Almeida C. Saúde e equidade nas reformas contemporâneas. Saúde em debate 2000;24:6-21.
3. Brasil. Ministério da saúde. Manual para organização da atenção básica. Brasília, 1999.
4. Souza MH. A estratégia de saúde da família no Brasil. Jovem Médico 1999;1:1-11.
5. Candeias NMF. Conceitos de educação e de promoção em saúde: mudanças individuais e
mudanças organizacionais. Rev Saúde Pública 1997;31:1-8.
6. Czeresnia D. The concept of health and the difference between prevention and promotion.
Rev Saúde Pública 1999;15:1-14.
7. Sampaio RF. Promoção de saúde, prevenção de doenças e incapacidade: a experiência da
fisioterapia/UFMG em uma unidade básica de saúde. Fisioter Mov 2002;15:19-23.
8. Shestak R. Fisioterapia prática. São Paulo: Manole; 1980.
9. Menezes RG. Entrevista. Fisio&terapia 1998;2:12-14.
10. Rebelatto JR. Fisioterapia cotidiana: ações profissionais e decorrências para a população. Rev
Fisioter Univ São Paulo 1998;5:36-48.
11. Afonso JL. Fisioterapia na atenção primária em saúde. Ícone 1994;2:45-75.
12. Martins JS, Fröemming MB, Ribeiro EC. Fisioterapia na promoção da saúde respiratória e
no combate ao tabagismo. Fisioter Mov 1999;12:53-60.

artigo 02 - Samuel.pmd 249 22/06/04, 13:34


250 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Resumos de trabalhos e congressos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Márcia Gouveia da Cunha*, Cordeiro, Elaboração e aplicação de teste para avaliação do equilíbrio
Renata Cereda**, Fátima Aparecida estático de idosos saudáveis
Caromano, D.Sc.***
As quedas acidentais constituem um dos graves problemas que ocorrem
*Fisioterapeuta, Mestranda em com freqüência com os idosos, estando associadas a alterações estruturais e
Fisiopatologia Experimental pela funcionais. A intervenção preventiva depende da detecção precoce da perda
FMUSP, **Fisioterapeuta, ***Profa. de equilíbrio estático e dinâmico. O objetivo deste estudo foi a criação de um
Curso de Fisioterapia da FMUSP, teste simples e de baixo custo, para a avaliação do equilíbrio estático de idosos
Laboratório de Fisioterapia e Reatividade considerados saudáveis, sem história pregressa de acidente por queda e posterior
Comportamental do Curso de Fisioterapia avaliação de sua aplicabilidade clínica. Para tanto, realizou-se um conjunto de
da Faculdade de Medicina da Universidade testes de equilíbrio estático, previamente filmados em vista frontal e lateral, em
de São Paulo (LaFi-ReaCom). 80 participantes (55 mulheres) com idade média de 66,2 ± 5,3 anos. Os
participantes foram distribuídos em dois grupos, o grupo A com idade entre
Endereço para correspondência: Curso de 61 e 66 anos e o grupo B com idade variando entre 66 anos e um mês e 71
Fisioterapia da FMUSP, Laboratório de anos. Foram atribuídos graus de desempenho, variando de 1 a 5, em oito
Fisioterapia e Reatividade Comportamental, tarefas motoras que constituíam na permanência em apoio unipodálico,
A/C Fátima Caromano, Rua Cipotânea, associando-se realização de diferentes movimentos com os membros superiores
51, Cidade Universitária USP 05360- e, apoio bípede com descarga de peso somente na região anterior do pé ou
000 São Paulo SP nos calcâneos. De acordo com o escore total atingido por cada participante,
estes foram classificados em portadores de equilíbrio bom, regular ou
insuficiente. A maioria dos participantes do grupo B apresentou equilíbrio
regular (75%), apenas 15% apresentaram equilíbrio bom e, 10% apresentaram
equilíbrio insuficiente. No grupo A, 40% dos participantes apresentaram
equilíbrio regular e, 60% apresentaram equilíbrio bom, não tendo sido
encontrado participantes com equilíbrio insuficiente. Não foi observada
diferença estatisticamente significativa entre os participantes do sexo feminino
e os do sexo masculino. O conjunto de testes utilizado se mostrou rápido em
função do fato de se utilizar filmagem ao invés de observação direta,
diminuindo o tempo de exame de 15 para 6 minutos. Também se mostrou de
baixo custo, com geração de dados permanentes (viáveis de serem comparados
em diferentes tempos ou situações) e geraram informações que permitem ao
fisioterapeuta estabelecer objetivos clínicos preventivos, no que se refere ao
treinamento de equilíbrio estático. O conjunto de testes utilizados se mostrou
suficiente para detectar diferenças funcionalmente relevantes em dois grupos
com diferença de faixa etária de cinco anos. Este estudo é indicativo da
necessidade de avaliação periódica do equilíbrio estático em jovens idosos.
Nossa opinião é de que estes testes devem ser acompanhados, por filmagem,
de forma comparativa no tempo, o que facilitaria a decisão clínica sobre a
intervenção preventiva.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 251

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Regina Célia ReisCuatttrin *, Análise descritiva da flexibilidade em canoístas


Fátima Aparecida Caromano** de velocidade de elite

*Fisioterapeuta, especialista em Introdução: A canoagem de velocidade é uma modalidade olímpica


Morfofisiologia Aplicada ao Exercício pela caracterizada por competições que variam de 1’15" à 3’50". Os atletas desta
Universidade Estadual de Maringá, modalidade necessitam de uma preparação física adequada para ganho de
***Profa. Curso de Fisioterapia da resistência cardiorespiratória, velocidade, flexibilidade, força e resistência. Este
FMUSP, Laboratório de Fisioterapia e trabalho foi realizado com os atletas da Seleção Brasileira de Canoagem de
Reatividade Comportamental do Curso de Velocidade e, teve como objetivo caracterizar a flexibilidade por meio do teste
Fisioterapia da Faculdade de Medicina da de ombro e do teste de flexão anterior de tronco modificado.
Universidade de São Paulo (LaFi- Material e Métodos: Participaram do estudo os nove atletas da Seleção Brasileira
ReaCom) de Canoagem de Velocidade, com idade variando entre 18 e 28 anos (média de
21,5 anos) e tempo médio de prática de 5,8 anos, em seu local de treinamento
Endereço para correspondência: Curso de na cidade de Piraju SP. A coleta de dados dos testes foi realizada no período
Fisioterapia da FMUSP, Laboratório de matutino. A flexibilidade do ombro foi medida através do registro fotográfico
Fisioterapia e Reatividade Comportamental, da distância alcançada pela mão durante a flexão anterior do tronco e pelo teste
A/C Fátima Caromano, Rua Cipotânea, do ombro - quando o ombro direito estiver sendo medido, a palma da mão
51, Cidade Universitária USP 05360-000 direita posicionou-se voltada para as costas e dorso da mão esquerda ficou
São Paulo SP repousando sobre as costas. Para medir a flexibilidade do ombro esquerdo
posicionou-se de forma inversa. A mensuração da flexibilidade dos músculos
do tronco, pelve e membros inferiores foi realizada por meio do programa
software CAD 2000.
Resultados e Discussão: Foi observado que existe uma assimetria clinicamente
significativa da musculatura da cintura pélvica no desempenho do teste de ombro
em 4 dos 9 atletas avaliados. Esta assimetria poderá ser causa de deformidade
torácica, e sugeriu-se tratamento de reeducação funcional. Todos os participantes
apresentaram flexibilidade ótima, isto é, a distância dedo-chão estava além da
encontrada para população normal para esta faixa etária.

Fig. 1 - Teste dedo-chão em atleta canoísta de elite mostrando quadro funcional característico
com excelente flexibilidade, leve bloqueio torácico baixo, e leve encurtamento de isquiotibiais.

A mensuração mostrou um deslocamento médio extra da mão, além da


planta do pé, de 21,7 cm ± 6,8 cm. É característico da população estudada leve
bloqueio da mobilidade na região torácica baixa e leve encurtamento de
isquiotibiais. Acredita-se que a assimetria observada no teste de ombro de alguns
dos atletas avaliados esteja relacionada com a aplicação desigual da força durante

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o movimento da remada. Teoricamente essa aplicação de força deveria ser igual


em ambos os braços.
Conclusão: O teste de ombro mostrou assimetria da musculatura em 4 dos 9
atletas avaliados. Acredita-se que a assimetria observada esteja relacionada com
a aplicação desigual da força durante o movimento da remada. Acredita-se que
o padrão de flexibilidade encontrado esteja biomecanicamente relacionados com
a estabilidade do tronco superior e da pelve e, da respiração, de forma simultânea,
durante a remada, favorecendo o movimento e protegendo o tronco.

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Beatriz Calil Padis Campos*, Ronaldo Composição corporal em jovens idosas


Luís da Silva*, Maria Sílvia Pardo**, sedentárias saudáveis
Fátima Aparecida Caromano***
Introdução: A obtenção de medidas referentes à composição corporal é baseada
*Fisioterapeuta, Pesquisador voluntário, no princípio de que a condutividade elétrica da massa livre de gordura é muito
**Fisioterapeuta e Mestranda em maior que a de gordura para uma corrente elétrica de alta freqüência e baixa
Fisiopatologia Experimental-FMUSP, amplitude. Trata-se de uma técnica rápida, não invasiva, de baixo custo e capaz
***Profa. Curso de Fisioterapia da de fornecer medidas como porcentagem de gordura corporal, peso magro,
FMUSP, Laboratório de Fisioterapia e metabolismo basal em calorias/dia e água corpórea total. Este tipo de medida
Reatividade Comportamental do Curso de fornece um controle acurado da composição corporal em estudos que
Fisioterapia da Faculdade de Medicina da acompanham o paciente por período prolongado, evitando assim, viés de
Universidade de São Paulo (LaFi- pesquisa. Medidas com a população brasileira estão sendo desenvolvidas. O
ReaCom) objetivo do estudo foi de estudar a composição corporal numa população de
mulheres idosas, comparando os dados obtidos com os dados de literatura,
Endereço para correspondência: Curso de utilizando o analisador de composição corporal Biodynamics.
Fisioterapia da FMUSP, Laboratório de Material e Métodos: Foram selecionadas 106 mulheres idosas sedentárias e
Fisioterapia e Reatividade Comportamental, saudáveis, com idade média de 69,94 anos (mínima de 65anos e máxima de 75
A/C Fátima Caromano, Rua Cipotânea, anos), peso médio de 64,68 kg (mínimo de 55 kg e máximo de 86 kg) e, altura
51, Cidade Universitária USP 05360- média de 153 cm (mínimo de 141 cm e máximo de 165 cm). Os participantes
000 São Paulo SP foram posicionados em decúbito dorsal em maca de madeira. Os eletrodos,
em número de quatro, foram posicionados aos pares no tornozelo e no punho.
A coleta de dados a partir do exame durou em média dois minutos. Para maior
fidedignidade dos dados coletados foram controlados num período de 24 horas
anterior ao exame, a ingestão de álcool, realização de exercício físico, ingestão
de alimentos em excesso e uso de diuréticos – que poderiam afetar as medidas.
Resultados: Os dados foram submetidos à análise estatística descritiva.
Encontrou-se porcentagem média de gordura total de 36,75% (± 8,4%, mínimo
de 28,9% e máximo de 45,2%), peso magro médio igual a 62,82 kg (± 12,9 kg,
mínimo de 41,2 kg e máximo de 70,03 kg), porcentagem de água corpórea
total média de 48,3 l (± 5,4 l, mínima de 39,6 l e máxima de 56 l) e, metabolismo
basal de 123,1 kcal/dia (± 22,0 kcal/dia, mínimo de 838 kcal/dia e máximo de
1515 kcal/dia).
Discussão e Conclusão: Os dados encontrados para a população estudada são
próximos dos encontrados em estudos similares e publicados em revistas
especializadas, mesmo comparando-se os dados obtidos neste estudo com os
obtidos por meio de calorimetria e pesagem subaquática. Sugere-se a
continuidade do estudo com a ampliação da amostra, em diferentes faixas etárias,

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 253

com pessoas de diferentes níveis socioeconômicos e, a avaliação do efeito da


prática de atividade física e/ou esporte nas variáveis estudadas.

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Daniela Valadão Freitas Rosa*, Glauco Relevância da atividade física no tratamento


Gomes de Arantes**, Juliana Carvalho de transtornos depressivos
Reis*, Luís Gustavo Machado Soares*,
Paulo César Tostes Campos Júnior*** Objetivo: Avaliar a importância da atividade física supervisionada no tratamento
*Fisioterapeuta, **Médico, de transtornos depressivos.
***Farmacêutico Métodos: O presente estudo utilizou uma amostra de quinze pacientes que
apresentavam transtornos depressivos, não estavam em tratamento no momento
Endereço para correspondência: Juliana e tinham idade superior a 21 anos, os quais foram submetidos à avaliação pela
Carvalho Reis, Fundação Educacional de Escala de Hamilton para quantificação e caracterização do transtorno depressivo.
Caratinga, Centro de Pesquisa e Extensão Em seguida, foi realizada randomização duplo-cego para distribuição de
Joaquim Eure Pereira, Avenida Moacir de fluoxetina (20 mg) e placebo e randomização para atividade física e grupo controle.
Mattos, 49, Centro, Caratinga MG, E- No entanto, foram formados quatro grupos: grupo 1: fluoxetina e atividade
mail: junec@funec.br física, grupo 2: placebo e atividade física, grupo 3: fluoxetina e grupo 4: placebo.
Os grupos em atividade física realizaram treinamento aeróbico três vezes
semanais, durante uma hora, por quinze semanas. Ao final, foi realizada nova
avaliação pela Escala de Hamilton.
Resultados: O grupo que realizou atividade física e fez uso de fluoxetina
apresentou melhora mais significativa, todavia o grupo que realizou atividade
física e fez uso de placebo também apresentou melhora importante.
Conclusão: A atividade física não associada a farmacoterapia pode melhorar
os sintomas depressivos.

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254 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Normas de publicação Fisioterapia Brasil

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. dos artigos originais.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros 4. Atualização ou divulgação
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que
pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um
Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê
artigo de revisão.
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações
que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical 5. Relato de caso
Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada
de outubro de 2001. São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e- características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não e pode ser realizado em humano ou animal.
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
6. Comunicação breve
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
1. Editorial comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
de seus membros. A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
2. Artigos originais
5. Resumos
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato 6. Correspondência
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências trabalho antes de se publicar a carta.
bibliográficas. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL

3. Revisão 1. Normas gerais

São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira:

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004 255

fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as 5. Agradecimentos
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, em uma secção especial.
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o 6. Referências
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
o nome do artigo, data e autor. relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
2. Página de apresentação
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
- Título em português, inglês e espanhol. diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
títulos acadêmicos. ponto, páginas inicial e final, ponto.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o Exemplo:
respectivo endereço, telefone e E-mail. Livro:
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
3. Autoria Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
pública do seu conteúdo. iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. a abreviação latina et al.

4. Resumo e palavras-chave Exemplo:


(Abstract, Key-words) Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo Cancer Res 1994;54:5016-20.
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês. Os artigos, cartas e resumos devem ser
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: enviados para:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, meto- Jean-Louis Peytavin
dologia, análise). Atlantica Editora
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. 20021-180 Rio de Janeiro RJ
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para Tel: (21) 2221 4164
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br

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256 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004

Calendário de eventos 29 de setembro a 2 de outubro


Setembro

XII Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória


2004 - Prática Baseada em Evidência
Centro de Convenções Topázio Imperial
Ouro Preto MG
Junho Informações: Congress Eventos (31) 3273 1121
30 de junho a 3 de julho
Physical Therapy 2004: Annual Conference
& Exposition of the American Physical Outubro
Therapy Association 02 de outubro
Chicago, Illinois II Simpósio em Fisioterapia Esportiva
Informações: www.apta.org Araras SP
Informações: (19) 9740-0906

Julho 08 a 12 de outubro
8 a 10 de julho XXXVII ENAF
Biomecânica craniofacial e fisiopatologia Poços de Caldas MG
temporomandibular Informações: (35) 3222-2344
Prof. Dr. Mariano Rocabado
Centro de Convenções de Pernambuco - Recife PE 16 e 17 de outubro
Informações: bodutra@oclusivo.com.br V Congresso Internacional de Reeducação Postural
www.oclusivo.com.br Global - RPG
Roma, Itália
9 e 10 de julho Informações: (33) 5. 62.69.63.18 / (33) 5. 62.69.61.93
II Curso de fisioterapia hospitalar E-mail: inst.p.souchard@uol.com.br
Dra Beatriz Brandão e Dra Lilian Santos www.rpgsouchardinst.com.br
HSE (Hospital dos Servidores do Estado) Rio de Janeiro RJ
Informações: (21) 2253 6462/33311958 19 a 22 de outubro
E-mails: bhsb@ig.com.br, lilianserfis@hotmail.com IV CONNEFI
São Luis MA
13 a 17 de julho Informações: (98) 9116-5025
X Eneefisio
Natal RN 27 a 30 de outubro
Informações: (84) 206-2639 / 9408-5068 / 9431-6036 II Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
Centro de Convenções da Universidade Federal
26 a 30 de julho de Pernambuco
XIX CSBMFR - Congresso Brasileiro de Medicina Informações: www.fisioterapiamanual.com.br
Física e Reabilitação
PUC - Rio - Rio de Janeiro - RJ
Informações: www.angraeventos.com.br (21) 2554-9334
Novembro
5 a 7 de novembro
28 a 30 de julho
II Congresso Internacional de Fisioterapia
I Congresso Mundial de Estudantes de Fisioterapia
I Congresso Nacional de Fisioterapia Social
Santiago Chile
III Simpósio Brasileiro sobre o Diagnóstico
Informações: (02) 7512261
Cinesiológico Funcional
Rio Centro
Agosto Rio de Janeiro RJ
20 e 21 de agosto Informações: www.sbf.org.br
X Simpósio Internacional  de Ventilação Mecânica
e I Simpósio Internacional de Ventilação Mecânica 10 a 13 de novembro
em Neonatologia e Pediatria V Interdisciplinary World Congress on
São Paulo SP Low Back and Pelvic Pain
Informações: (11) 5018-4730 / 5018-4729 Austrália
info@worldcongresslbp.com
27 a 28 de agosto
Confit – Congresso de fisioterapia no trabalho
Centro de Exposições Imigrantes
São Paulo SP
Informações: Pacin Eventos (11) 5589-1489

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 257

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Fisioterapia Brasil
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Índice
(vol.5, nº4 julho/agosto 2004 - 257~332)
EDITORIAL
Seja bem vinda, Revista Neurociências, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................................259

Homenagem a Suely Marques, Tania Maria Alvarez Dias ............................................................................................................ 260

ARTIGOS ORIGINAIS
O valor moral de uma estimulação precoce humanizada na encefalopatia crônica infantil,
Lília Athayde Abelheira, Heron Beresford ..................................................................................................................................................... 261
Características e diferenças da dor sacroilíaca e lombar durante a gestação em mulheres primigestas
e multigestas, Fabiana Flores Sperandio, Gilmar Moraes Santos, Fernanda Pereira .............................................................................. 267
Fisioterapia
Fisioterapia no pós-operatório
prática imediato de artroplastia total de joelho,
Adriana Lucia Pastore e Silva, Luciano de Arruda Castelo .........................................................................................................................272
O uso do ultra-som terapêutico no tendão calcâneo visando o aumento da amplitude de movimento,
Gisele Cirelli, Mario Adrian Misailidis, Maria Eugenia Briet da Silva, Michele Hoshino .......................................................................... 279
Uso do simulador do paciente humano em UTI: um novo paradigma na relação aluno-aprendizagem,
Rachel Maria da Silva Bezerra, Carlos Alberto Caetano Azeredo, Fabio Cavalcanti ................................................................................. 285
Efeitos da vibração sonora de baixa freqüência na espasticidade e controle motor de pacientes
de acidente vascular encefálico com reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA), Graziela Saraiva Reis,
Lúcia Souza Magro, Nivaldo Antônio Parizoto, Paulo Umeno Koeke, Flávio Pulzatto ............................................................................... 289
A resposta da TENS no controle da dor miofascial dos pacientes portadores de disfunção
temporomandibular, Roberta de Medeiros Bezerra Freire Martins, Millena Hanóika Silva Marques Santos,
Robson Alves da Silva, Nayara Frota Rosado Gondim, M.Sc. ....................................................................................................................293

REVISÃO
As bases estruturais e moleculares da contração muscular, Verônica Salerno Pinto,
Valéria Pereira de
Ginástica Sousa, L. C. Cameron ......................................................................................................................................................298
Laborativa
ESTUDO DE CASOS
O uso da eletroestimulação nervosa transcutânea como recurso de alívio de dor no trabalho
de parto em um contexto de humanização da assistência obstétrica, Cristine Homsi Jorge Ferreira,
Ana Márcia Spanó Nakano, Juliana Vilela Bueno, Maria Letícia Giublin Teixeira Sanches .................................................................... 307
Tratamento fisioterapêutico na sequela da lesão medular cervical (C2 e C3), Emanuelle Chaves Mendonça,
Gerson Dantas Soares, Lusicleide Galindo da Silva, Maria Elma de Souza Maciel Soares, Gisele Barros Soares ..................................... 312

ATUALIZAÇÃO
Atuação fisioterapêutica no aleitamento materno e na intercorrência mamária: proposta de tratamento,
Ana Cristina da Nóbrega Marinho ...............................................................................................................................................................317
RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ...................................................................................................................... 321
LIVROS ........................................................................................................................................................................................................ 327
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................................................. 329
EVENTOS .................................................................................................................................................................................................. 331
258 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia - UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR - São Paulo) 

Grupo de assessores
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)

Revista Indexada na LILACS - Literatura


Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde

Rio de Janeiro Direção de arte


Rua da Lapa, 180/1103 Andréa Vichi
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 Administração
e-mail: atlantica@atlanticaeditora.com.br Bárbara de Assis Jorge
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 259

Editorial

Seja bem vinda,


Revista Neurociências
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva


marco@atlanticaedu.com.br

No editorial anterior, havíamos falado sobre os equívocos que todos os que


trabalhamos com a pesquisa experimental envolvendo seres humanos cometemos. Ainda
que não tenha recebido nenhuma notificação, vale a pena ressaltar, a título de não
cometer injustiças, que as investigações realizadas com animais em laboratórios costumam
constituir um padrão de excelência, geralmente imune aos vieses que tanto nos
atormentam na pesquisa clínico-experimental. Não há como deixar de evocar a concepção
cartesiana e, dentro dela, relembrar o tão temido e estigmatizado mecanicismo: tudo na
natureza segue o perfeito funcionamento de uma máquina, as mesmas causas provocando
sempre os mesmos efeitos; a indissociável relação do mecanicismo com a causalidade, a
justificar os que, na ciência devem trabalhar como a precisão de uma cosmografia
ptolomaica (antes de Galileu).
Terminada a justificativa que se fazia necessária à omissão editorialística anterior,
sento-me próximo a estante e ponho-me a olhar vagamente para os livros, buscando,
inconscientemente, um tema que me leve a este editorial. Em meu socorro, eis que se
projetam dali os livros de Antonio Damásio (O erro de Descartes, O Mistério da consciência e
Em busca de Espinosa). Em um suposto paradoxo, o autor português, eminente investigador
de linha experimental, subordinado às regras da certeza matemática, acaba criticando,
em uma de suas obras, o criador do universalmente conhecido “Cogito, ergo sum”. Foi
exatamente esta aparente contradição que me chamou atenção para tentar estabelecer
uma conexão entre os dois tipos de pensamento: o pautado na subjetividade e o estruturado
na objetividade.
Embora Damasio pareça, salvo interpretações pessoais infundadas, ter cometido
algumas injustiças com Descartes, revela-se um neurocientista de primeira linha e
contextualiza, de forma primorosa, em seus livros, as relações de unidade mente e
corpo. Em sua última obra, busca um paralelo sem igual com a filosofia de Espinosa e
acaba conduzindo o leitor a estruturar um pensamento que, longe de confronto, tenta
imaginar uma comunhão dos mundos da investigação. A partir daí, somos, inevitavelmente,
levados a buscar, nas distintas áreas das ciências, um paradigma que permita a amigável
convivência das pesquisas filosóficas histórico-sociais com os legados cartesianos deixados
por Kepler, Copérnico, Descartes e cia.
Ainda que a obra de Damásio tenha acendido a chama para me levar a pensar
nesta integração de diferentes campos de pesquisa, ela se presta também a realçar as
contribuições e esclarecimentos que a Neurociência vem trazendo aos mais diversos
campos do conhecimento.
A Atlântica Editora, atenta à importância do assunto, passa a publicar uma revista
sobre a área, reunindo expoentes da Neurociência no Brasil que também gozam de
* Editor científico de Fisioterapia Brasil grande prestigio junto à comunidade acadêmica internacional. Quem sabe, em um futuro
Pós Doutorado na UFRJ próximo, não vejamos publicações cujos resultados tenham sido oriundos do matrimônio
Professor do curso de mestrado da UCB cientifico, tendo como noivos o casal objetividade e subjetividade?
260 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Homenagem

Homenagem a Suely Marques


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Tania Maria Alvarez Dias


Professora das disciplinas de História e Fundamentos da Fisioterapia, Ética e
Deontologia, Fisioterapia aplicada a Traumato-Ortopedia e Reumatologia
E-mail: taniamariaalvarez@yahoo.com.br.

No último dia 30 de junho de 2004, partiu nossa querida mestra Dra. Suely Marques,
uma mulher que conduziu sua vida com nobreza e retidão. Escreveu várias páginas da
história da Fisioterapia no Rio de Janeiro, principalmente os primeiros capítulos, os mais
desafiadores e árduos. Pioneira, não apenas travou uma luta pessoal pelos fisioterapeutas,
mas acima de tudo na defesa da Fisioterapia como ciência e na preparação deste grupo
para dominá-la.

Admirável sua paixão pela profissão, fez dela sua filosofia de vida, pois teve a
oportunidade em participar como terapeuta e paciente. Ensinou-me muito esta formidável
mestra, com o qual tive a boa sorte em trabalhar por alguns anos, mantendo um
relacionamento (mesmo após sua saída da ABBR) como profissional e, em um segundo
momento como paciente. Sinto-me aliviada por ter exposto pessoalmente por diversas
vezes minha gratidão a sua participação em minha formação profissional.

Aprendi com Suely a filosofar e atentar para a beleza do exercício da fisioterapia.


Aprendi que nossas mãos não apenas tocam estruturas anatômicas, que movimentos de
nossos corpos são emprestados a outros corpos quase inertes em decorrência de doenças
incapacitantes. Enfim, aprendi a poesia que permeia e emolduram nossa profissão.

Nos momentos de sua supervisão e orientação técnica eu observava atentamente o


desejo em transmitir sua experiência e conhecimento e que seu aluno realmente
assimilasse. Esta é uma atitude nobre e digna na relação professor / aluno. O verdadeiro
mestre é aquele que deseja que seu discípulo o supere e o conduz para esta realização.

Parta em paz querida mestra, nós Fisioterapeutas prometemos dar continuidade ao


seu trabalho, herdar sua paixão pela fisioterapia e acima de tudo honrar este perfil
profissional que você ajudou a delinear e esculpir ao longo destes anos.

Muitíssimo obrigada
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 261

Artigo original

O valor moral de uma estimulação precoce


humanizada na encefalopatia crônica infantil
The moral value of a humanized early psychomotor
stimulation in chronic child cerebral palsy

Lília Athayde Abelheira, M.Sc., Heron Beresford, D.Sc.


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Docente do curso de graduação em fisioterapia da UCB e UNIG, **Professor titular da UCB, professor adjunto da UERJ

Resumo
A maneira desumana com que são tratados muitos pacientes portadores de
Palavras-chave: encefalopatia crônica infantil (ECI), que necessitam de estimulação psicomotora
estimulação precoce, ética, precoce, desenvolvida por profissionais da saúde, se constitui no problema do qual se
paralisia cerebral, originou este artigo. O objetivo do mesmo foi desenvolver uma fundamentação teórica
desenvolvimento infantil.
acerca de uma estimulação psicomotora precoce humanizada voltada para crianças
portadoras de ECI, com o propósito de se contribuir para minimizar a desvalorização
desses pacientes como Pessoas Humanas. A fundamentação teórica utilizada para a
consecução desse objetivo, foi baseada no pensamento de vários autores. A metodologia
adotada teve como tipologia um estudo de natureza teórico-filosófica e descritivo de
análise documental. Concluiu-se que uma estimulação psicomotora precoce
humanizada classificada como valor ou como qualidade estrutural que agregue sentido
e significado para tal intervenção terapêutica se constitui em uma condição moral
necessária para os profissionais da saúde que aplicam essa técnica em portadores de
ECI, tornando-os beneficiários da mesma, na medida em que ela vier a suprir
positivamente determinadas carências de tais pacientes.

Recebido 19 de fevereiro de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Lília Athayde Abelheira, Rua Ataulpho Coutinho, 200/bl 1/601 Barra da Tijuca 22793-520 Rio de Janeiro RJ,
Tel: (21) 24329657, E-mail: lilia.abelheira@mandalanet.com.br
262 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Abstract
The problem which originated this article is the inhuman treatment given by health
Key-words: professionals to many patients with chronic child cerebral palsy (CCP) who need early
early psychomotor stimulation, psychomotor stimulation. The aim of this article is to call attention to the necessity of
ethics, chronic child cerebral developing a theoretical foundation for a humanized early psychomotor stimulation of
palsy, child development.
children who have CCP, with the further purpose of contributing to minimize the
devaluation of these patients as human beings. The theoretical foundation used for the
achievement of this aim is based on the thinking of various authors. The adopted
methodology has as typology a study of documental analysis of a descriptive and
theoretical-philosophical nature. The conclusion arrived at in this article is that a
humanized early psychomotor stimulation considered as a value - that is, as a structural
quality that adds sense and significance to such a therapeutic intervention - constitutes
a necessary moral condition for the health professionals who apply this technique on
children with CCP, allowing these patients its benefits, as it gradually succeeds in supplying
certain of these patient’s needs.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução mesmos. Os estudantes universitários, na ânsia de aplicar


as técnicas que aprenderam, esquecem-se do principal, ou
O propósito deste artigo foi o de contribuir, pelo menos seja, interpretar o Ser do Homem, e não somente a patologia
em parte, para minimizar o problema da desumanização que o incomoda.
com que são tratados muitos pacientes portadores de O professor, por sua vez, talvez pela obrigação e pressa
encefalopatia crônica infantil (ECI), tendo como pano de de cumprir o programa, ou talvez por não ter tido uma
fundo uma reflexão no âmbito axiológico ou dos valores “formação humanista”, não se preocupa em lembrar-lhes
morais, éticos e da bioética aplicados à vida dos entes de que, antes de existir a patologia, já existia o Ser, e que o
humanos em questão através da intervenção terapêutica da principal objetivo do fisioterapeuta é o de promover o bem
estimulação psicomotora precoce. estar geral deste Ser como Pessoa Humana preocupando-
Uma importante causa desta desumanização é a falta de se em suprir positivamente suas diversificadas e complexas
informação e/ou educação a respeito de como se devem carências de diferentes naturezas circunstanciais que
tratar os seres humanos, principalmente se o propósito extrapolam a dimensão bio-física dos mesmos.
profissional for cuidar do bem-estar dos mesmos. O trabalho
do fisioterapeuta é fundamental na prevenção de diversos Desenvolvimento
distúrbios futuros e na adaptação às seqüelas já apresentadas
em uma criança portadora de ECI. Para melhorar o O desenvolvimento do conteúdo nuclear deste artigo gira
desenvolvimento deste paciente em muitos aspectos, torna- em torno dos temas apresentados nos sub-tópicos a seguir.
se necessário oferecer-lhe segurança e autoconfiança para
viver. Todavia, pode-se considerar que, de uma maneira geral, Conceitos sobre ética, moral e valor
a atenção principal na formação profissional de um
fisioterapeuta é com a técnica em si mesma, enfatizando o De acordo com Reale [1] todos os valores giram em torno
estudo anátomo-fisiológico do Ser e os resultados das técnicas de um valor primordial, que é o Homem como Pessoa. Na
e manobras de intervenção terapêuticas de determinadas classificação de valores descrita por Reale, existem a moral,
lesões, esquecendo-se de considerar a dimensão Humana que trata do valor do bem na sua dimensão individual, e o
do Ser. direito, que cuida do bem como um valor coletivo. Tudo isso
Este estudo partiu da nossa experiência de professores inserido no contexto da ética, porque ela é a ciência normativa
universitários, como educadores, despertando uma da conduta, ou comportamento, de todo ser humano.
indignação com a maneira de se avaliar os pacientes Segundo Mendes [2], não é possível defender-se a
portadores de ECI e de planejar uma intervenção para os existência da vida humana sem submetê-la aos princípios
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 263

básicos da moralidade, que também podem ser considerados Desenvolvimento infantil


códigos éticos.
Já Beresford [3] afirma que o Ser do Homem é o único Sabe-se o quanto a relação Ser/meio é importante para o
que é capaz de valorar, porque possui um estado de desenvolvimento de um Ser do Homem, especialmente em
consciência mais aprimorado do que os demais Seres, o que uma perspectiva de um vir a ser Humano ou como ser Humano.
lhe permite transformar o mundo da natureza em um mundo Um dos mais atuais estudiosos do desenvolvimento
da cultura e em um mundo de valores, de acordo com suas humano é Vítor da Fonseca. Autor de diversas obras sobre
próprias necessidades. Ele descreve valor como sendo tudo este assunto, sua observação e experiência clínica e
aquilo que preenche positivamente uma determinada educacional ao longo de muitas décadas permitiram-lhe
carência de um ser. substancial conhecimento de fundamentos antropológicos,
Segundo o mesmo autor [4], a palavra moral, de uma psicobiológicos e psicomotores do desenvolvimento humano.
maneira geral, pode ser sinônima de ética, quando interpretada Fonseca [6] cita a maturação do cérebro como um sistema
como teoria dos valores que regem a conduta humana tendo dinâmico. Esta maturação dá-se a partir da influência decisiva
caráter normativo. Ela também pode estar relacionada aos do ambiente.
costumes, valores, e normas de condutas específicas de uma Piaget [7] afir ma que toda conduta se ser ve de
sociedade ou cultura. A ética, por sua vez, considera o agir instrumentos: os movimentos e a inteligência; e que toda
humano de acordo com o ponto de vista valorativo e conduta implica modificações e valores finais (o valor dos
normativo, discorre Beresford [4]. Segundo ele, a ética está fins), que são os sentimentos. E acrescenta que “afetividade
inserida num contexto da filosofia prática, e contribui para a e inteligência são, assim, indissociáveis, e constituem os dois
reflexão sobre os problemas fundamentais da moral. Então, aspectos complementares de toda conduta humana”.
enquanto a moral corresponde ao conjunto de normas Bobath [8] ressalta que “o desenvolvimento de um bebê
respeitadas e seguidas por uma determinada sociedade, normal em sua totalidade (físico, mental, emocional e social)
correspondendo, assim, a um tipo de base axiológica que depende de sua capacidade de se movimentar”. E acrescenta
assegura o comportamento humano, a ética se relaciona à que um bebê privado da mobilidade, ou que tenha
reflexão teórica sobre a moral, afirma Beresford [4]. dificuldade em se movimentar e explorar seu corpo, ou que
O mesmo autor esclarece que o Homem não nasce só se mova desordenadamente, terá dificuldade em
humano, mas torna-se humano através da educação. Ele desenvolver sua percepção corporal.
cita que “a educação passa a ser um processo cultural de Diante desses dados que relacionam os fatores que
humanização do homem, como apreensão e hierarquização influenciam no desenvolvimento humano, estudado de
de valores em uma escala própria que possa ser justificável diversas maneiras e por vários autores, verifica-se que a
e aceita socialmente quando da sua implantação”. Ele diz boa qualidade do desenvolvimento na infância determina a
ainda que a educação pode ser um ato de transferência de formação de um indivíduo saudável em todos os sentidos,
uma escala de valores, que deve ser debatida e dando-lhe suporte bio-psico-social para viver bem. Pode-se
conscientemente aceita, e que o educador precisa ter o dizer que a estimulação psicomotora precoce é realmente
objetivo de transferir uma escala de valores, baseando-se fundamental na qualidade do desenvolvimento de um ente
num suporte teórico, a partir de concepções filosóficas e humano preparando-o para enfrentar de maneira satisfatória
éticas bem claras. Fica fácil entender, então, que a educação sua vida futura.
é um fenômeno da instância moral.
Quanto à definição de Pessoa, fica fácil entender se A encefalopatia crônica infantil
citarmos o imperativo categórico de Kant [5]. Ele explica
que só o imperativo categórico possui o caráter de lei prática. É interessante destacar que o termo encefalopatia
Este imperativo categórico único determinado por Kant é: crônica infantil, atualmente descrito por alguns autores,
“Age como se a máxima da tua ação se devesse tornar, pela tua tem o mesmo significado da patologia classificada no
vontade, em lei universal da natureza”. Um dos desdobramentos passado como paralisia cerebral. Muitos autores ainda
dessa formulação básica do imperativo categórico merece utilizam o termo antigo: paralisia cerebral.
ser destacado, porque nele fica explicitado o aspecto humano De acordo com Bobath [9], “os reflexos posturais e sua
que pode ser alcançado através de uma ação moral, ou seja, interação harmoniosa formam a base dos movimentos
“Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa voluntários normais e habilidades, e sem seu completo
como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como desenvolvimento e integração não se deve esperar que as
fim e nunca simplesmente como meio”. Isso quer dizer que a atividades motoras sejam normais”.
intervenção terapêutica deve ser sempre encarada como Para Bobath [8], a lesão do cérebro interfere no funciona-
um meio de suprir as necessidades do paciente e este, por mento dos mecanismos normais do reflexo postural, e pode
sua vez, deve ser a parte mais importante do tratamento, ou também interferir em três fatores de controle normal de
seja, o fim. postura: na alteração de tônus, nos graus e variedades da
264 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

inervação recíproca e nos padrões posturais de coordenação. aprendizagem motora (retenção e transferência) e no
Segundo o mesmo autor, os padrões motores da criança desempenho motor (habilidade) sejam tratadas adequa-
com paralisia cerebral são conseqüências da interação dos damente, é necessário que o reeducador psicomotor tenha
reflexos anormais resultantes de um cérebro humano lesado. uma especial atenção com suas condutas e comportamentos
Ele diz que a evolução dos sinais patológicos – como a motores. De acordo com o mesmo autor, a aprendizagem
evolução do desenvolvimento motor normal – segue o motora é uma das várias estruturas teóricas disponíveis para
sentido céfalo-caudal; assim, “enquanto um bebê normal os reeducadores psicomotores, e requer uma investigação mais
desenvolve a extensão contra a gravidade em prono e a profunda para determinar com segurança a eficácia das
flexão contra a gravidade em supino, os padrões anormais condutas e comportamentos motores em relação a grupos de
de hipertonia levarão a uma difusão do tono extensor na crianças com incapacidades limitantes.
posição supina e do tono flexor na posição prona, puxando Portanto é responsabilidade dos reeducadores
a criança na direção da gravidade”. psicomotores ter clareza a respeito dos conceitos éticos e
De acordo com esse autor, nós aprendemos também morais valorizando a dimensão humana do paciente a
através de sensações, portanto a criança só pode utilizar o ser tratado.
que já tiver experimentado. Ele diz que a criança não Le Boulch [12] ressalta a importância de se intervir no
portadora de ECI usará e modificará seus padrões motores bebê como Pessoa Humana, quando diz que pesquisas já
normais através da prática, repetição e adaptação. A criança realizadas salientam a importância do afeto no
com ECI continuará a usar e, por repetição, reforçar, os desenvolvimento. Ele afirma que quando o terapeuta não
padrões motores considerados anormais. Ele explica que dá importância ao aspecto emocional da criança, acaba
essa criança lesada construirá padrões compensatórios usando tão somente um método ou uma técnica, desta forma
anormais, baseados em seus primeiros padrões anormais. A arriscando-se a agir apenas sobre os sintomas. Se o terapeuta
criança portadora de transtorno neurológico possui se interessar somente pela técnica, desconsiderando que o
faculdades nor mais insuficientes, através das quais sujeito para o qual essa técnica deve se destinar, ou seja, o
desenvolve suas futuras habilidades funcionais e experiência Ser do Homem como uma Pessoa, os resultados de seu
sensório-motora anormal na qual se baseia o seu futuro trabalho não serão humanamente satisfatórios.
desenvolvimento motor. Le Boulch [12] esclarece ainda que crianças que
Em função do que foi exposto, identificou-se neste apresentam uma pobreza gestual e um atraso, mesmo leve,
trabalho o atraso no desenvolvimento psicomotor como no desenvolvimento psicomotor, têm dificuldade de serem
sendo a carência principal de uma criança portadora de ECI aceitas socialmente por outras crianças. A ajuda fornecida
e que, portanto fica plenamente justificada uma intervenção pelo fisioterapeuta oferece a indução de uma relação positiva
psicomotora precoce no sentido de se procurar preencher e a criação de um clima favorável aos intercâmbios sociais,
tal carência o mais positivamente possível em função de tal segundo a atitude e a qualidade afetiva do atendimento
contingencial circunstância. terapêutico.
Portanto o aspecto essencial na estimulação psicomotora
Estimulação psicomotora precoce precoce é o fato de que ela proporciona um desenvolvimento
adequado, ou pelo menos mais satisfatório, ao paciente
De acordo com Perez-Ramos [10] “o campo da portador de encefalopatia crônica infantil, na medida em
estimulação precoce transcendeu seus limites iniciais”. Ele que fornece os estímulos sensoriais e experiências motoras
ressalta que o surgimento de programas multifocais de fundamentais para favorecer positivamente este
estimulação precoce que visam a integração da saúde, da desenvolvimento.
nutrição e da intervenção terapêutica contribuiu para o
desenvolvimento físico e psicológico da criança nos seus O valor moral de uma estimulação
primeiros anos de vida; e afirma que os programas de psicomotora precoce
estimulação precoce evidenciam diferentes níveis de
prevenção, abrangendo especial atenção à saúde bio-psico- O valor como um tema de natureza filosófica, encontra
social da criança e à evolução contínua no processo de na axiologia o seu devido contexto de resolução. Portanto
diagnóstico-intervenção. ao se falar de pressupostos axiológicos de uma estimulação
Segundo Larin [11], embora os reeducadores psicomotora precoce humanizada, faz-se com que o assunto
psicomotores pediátricos conheçam algumas das teorias de seja remetido, obrigatoriamente, para os aspectos entitativos
aprendizagem motora, eles em geral se servem de teorias da área de investigação do valor, e de lá se abstraia alguns
de motivação e de desenvolvimento, assim como de seu conhecimentos esclarecedores desta perspectiva de se
bom-senso e de sua experiência clínica, para traçar suas enfocar tal intervenção.
condutas de intervenção, inclusive as morais. Entretanto, Sendo assim, o fato de se esclarecer qual o significado
para que a capacidade e as limitações de uma criança na ou conceito da palavra valor, deve ser o primeiro passo a
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 265

ser percorrido. Beresford [3] descreve que “valor é tudo aquilo Sendo assim, a intervenção terapêutica da estimulação
que preenche positivamente uma determinada carência de psicomotora se tornará mais necessária ou com valor para
um determinado Ser em geral, ou do Ser do Homem de uma essa criança na medida em que, além de procurar minimizar
maneira especial”. A partir desse conceito pode-se perceber o atraso no desenvolvimento psicomotor, também suprir
que um dos pressupostos axiológicos básicos para que uma simultaneamente as carências já identificadas.
estimulação psicomotora precoce humanizada possa ser Por outro lado também precisa ficar evidenciado que a
considerada como necessária ou com valor, deve ser o de identificação dessas carências de diferentes naturezas
se identificar a carência principal de uma criança com ECI. biológicas, no sentido amplo do termo, isto é, no sentido de
Isto já foi realizado e descrito no final do item 2.3 onde se importantes aspectos da vida de uma criança portadora de
comenta que a referida carência corresponde ao atraso no uma ECI, se constitui em outro pressuposto de uma
desenvolvimento psicomotor. Aqui se torna a comentar apenas estimulação psicomotora precoce com um enfoque
para o encadeamento lógico do assunto. humanizado. Todavia o pressuposto essencial de humanidade
Essa carência principal não deve ser considerada de um trabalho dessa natureza só será assegurado se, a par
isoladamente na execução de uma estimulação psicomotora das demais carências anteriormente identificadas, também
precoce humanizada, e sim que, outras carências de se adentrar no âmbito de uma carência biomoral denominada
diferentes naturezas devam ser identificadas para iluminarem de bioética ou, em outras palavras, da dimensão moral da
esse atraso no desenvolvimento psicomotor. vida humana de uma criança portadora de ECI.
Um exemplo disso é que uma criança com 2 anos de Alguns aspectos desse pressuposto essencial de
idade, portadora de ECI, também pode apresentar as humanidade devem ser pormenorizados no sentido de
seguintes carências: sustentar tal ponto de vista. Um deles é que outros entes da
natureza, especialmente os animais, também possuem
Carências de natureza físico-biológica carências físico-biológicas ou psico-emocionais tanto quanto
Segundo Bobath [8]: o ente do Ser do Homem e por isso mesmo torna-se
• Do tônus muscular normal ou regular indispensável o suprimento das mesmas a fim de se assegurar
• Nos graus e variedades da inervação recíproca o desenvolvimento e a manutenção da vida ou da biologia
• Nos padrões posturais de coordenação dos mesmos. Entretanto, só um ente do Ser do Homem, no
• Dos padrões motores normais caso deste trabalho uma criança portadora de ECI, pode se
• De simetria de movimentos tornar ou “vir-a-ser” Humano, e isto só será assegurado
Segundo Flehmig [13]: através de uma perspectiva ética.
• De construção de padrões motores normais Kant [5] nos chama a atenção para a relevância de tal
• Da simetria postural assunto no contexto da descrição feita em torno de uma
• Da capacidade de colocar cabeça e corpo no espaço célebre frase que nos deixou como um dos legados de seu
• De estabilidade articular pensamento moral e ético, a ponto da mesma estar escrita
• Da capacidade de adaptação motora a diversas situações na lápide de seu túmulo: “O céu estrelado sobre mim e a lei
Carências de natureza psico-emocional moral dentro de mim”. Em uma parte dessa descrição, ao
Segundo Flehmig [13]: se referir ao “céu estrelado sobre mim” e a “lei moral dentro
• De tranqüilidade emocional de mim” como dois espetáculos cósmicos, pode-se explicar
• Do sentimento de segurança um macro e outro micro. É possível entender melhor este
• De reações psicomotoras adequadas, principalmente a pensamento ao se interpretar as seguintes palavras textuais
estímulos luminosos e auditivos do referido autor: “O primeiro espetáculo de uma inumerável
• No desenvolvimento mental a longo prazo (decorrente multidão de mundos aniquila, por assim dizer, a minha
do atraso motor) importância como criatura animal que deve restituir ao
Carências de natureza sócio-histórica planeta (um simples ponto no universo) a matéria de era
Segundo Bobath [8]: feita, depois de, por um breve tempo (não se sabe como)
• Na vivência sensório-motora normal ter sido provida de força vital. O segundo, pelo contrário,
Segundo Guillarmé [14]: eleva infinitamente o meu valor como inteligência por meio
• De interpretação em seus diversos contextos da minha personalidade, na qual a lei moral me descobre
Segundo Flehmig [13]: uma vida independente da animalidade e mesmo de todo
• Na percepção de pessoas mundo sensível, pelo menos, tanto quanto se pode inferir
• De investigar o meio da destinação conforme a um fim da minha existência por
• Na interação mãe e filho essa lei, que não se restringe a condições e limites desta
• Na interação com o meio vida, mas se estende até o infinito”.
• Na socialização geral Entenda-se por moral tudo aquilo que uma determinada
• De compreensão das pessoas que lidam com o bebê sociedade num determinado espaço de tempo admite como
266 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

certo ou justo para normatizar a conduta e o compor- respeitando-se, fundamentalmente, a dimensão humana de
tamento social de um indivíduo ou de um grupo de cada ser-paciente a ser tratado.
indivíduos a ela pertencentes.
No caso deste artigo, moral pode ser entendida como Referências
tudo aquilo que a sociedade científica admite atualmente
como certo ou justo com relação à conduta ou ao 1. Reale M. Experiência e cultura: para a fundamentação de uma
comportamento social envolvido em uma intervenção teoria geral da experiência. São Paulo: EdUSP;1977.p.108-11.
terapêutica de um profissional ou de um grupo de 2. Mendes JJS. Obras filosóficas: ensaios de axiologia. Vitória;
profissionais a ela pertencentes junto a crianças portadoras (s/d).
de ECI com atraso no desenvolvimento psicomotor. 3. Beresford H. Valor: saiba o que é. Rio de Janeiro: Shape; 1999.
p.70-84.
É justo ou certo a conduta ou comportamento social de
4. Beresford H. A Ética e a moral social através do esporte. Rio
um profissional da saúde, especialmente o fisioterapeuta, de Janeiro: Sprint;1994. p.32-89.
quando de suas intervenções junto a crianças portadoras de 5. Kant I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução
ECI enfocarem um processo de reabilitação centrado de Antônio P. de Carvalho. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Nacional;
exclusivamente no aspecto físico-biológico, sem considerar 1960. p.25-86.
os aspectos psico-emocionais e biomorais? 6. Fonseca V. Manual de observação psicomotora. Porto Alegre:
Artes Médicas; 1995. p.25-60.
Conclusão 7. Piaget J. Seis estudos de psicologia. Tradução de Maria Alice
D’Amorim. Rio de Janeiro: Forense; 1967. p.14-20.
Relembramos que este artigo partiu do problema da 8. Bobath K. Uma base neurofisiológica para o tratamento da
paralisia cerebral. Tradução de Ana Fátima Rodrigues Alves.
desvalorização do paciente portador de ECI como Pessoa
São Paulo: Manole; 1984. p.1-75.
Humana e teve como objetivo a elaboração de uma funda- 9. Bobath K. Atividade postural reflexa anormal causada por
mentação teórica de uma estimulação psicomotora precoce lesões cerebrais. Tradução de Elaine Elisabetsky. São Paulo:
humanizada destinada a pacientes portadores de ECI. Manole; 1978. p.123-5.
Conclui-se, então, que qualquer profissional que lide 10. Pérez-Ramos AMQ. Modelos de prevenção: perspectivas dos
com a vida humana deve, antes de tudo, enxergar o ser programas de estimulação precoce. Psicologia-USP 1990;67-75.
agregado ao valor humano, sem esquecer que, antes de se 11. Larin HM. Motor Learning: A practical framework for paediatric
aplicar um tratamento ou técnica de inter venção physiotherapy. Physiotherapy Theory and Practice 1998;14:33-
terapêutica neste paciente, é preciso interpretá-lo como a 47.
vida humana que ele efetivamente é. Para que isso ocorra, 12. Le Boulch J. O Desenvolvimento psicomotor do nascimento
até seis anos. Tradução de Ana Guardiola Brizolara. Porto
é preciso que qualquer estimulação ou intervenção a ele
Alegre: Artes Médicas; 1992. p.9-42.
aplicada seja humanizada. 13. Flehmig I. Desenvolvimento normal e seus desvios no
Assim, pode-se afirmar que a estimulação psicomotora lactente. São Paulo: Atheneu; 1995. p.9-11.
precoce será realmente mais humanizada na medida em 14. Guillarme JJ. Educação e reeducação psicomotoras. Tradução
que ela se torna um valor na vida de um portador de ECI de Carlos Eduardo Reis. Porto Alegre: Artes Médicas; 1983.
preenchendo positivamente suas carências de diversos tipos p.21-30. C
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 267

Artigo original

Características e diferenças da dor sacroilíaca e lombar


durante a gestação em mulheres primigestas e multigestas
Characteristics and differences of the sacroiliac and low back
pain during the gestation period in primipara and multipara
pregnant women
Fabiana Flores Sperandio, M.Sc*, Gilmar Moraes Santos, M.Sc.**, Fernanda Pereira***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Docente da disciplina de Fisioterapia Aplicada a Ginecologia e Obstetrícia na UDESC, **Docente da Disciplina de
Ortopedia e Traumatologia da UDESC, ***Fisioterapeuta

Resumo
Os objetivos deste estudo foram investigar as características da dor lombar e
Palavras-chave: sacroilíaca durante a gestação de primigestas e multigestas, verificar os agentes
dor lombar, dor sacroilíaca, determinantes da dor lombar e sacroilíaca e relacionar ao nível de incapacidade por
gestação. dor lombar durante o a gestação de primigestas e multigestas. Os dados foram coletados
em 80 gestantes que estavam no segundo e terceiro trimestre gestacional. Foi utilizado
como instrumento de pesquisa 2 questionários: um com perguntas abertas e fechadas e
o outro, o Questionário de dor Lombar de Oswestry (1980). Este estudo foi realizado
nos centros de saúde da cidade de São José, SC. Os dados obtidos foram submetidos à
estatística descritiva, o teste T – Student e à correlação de Pearson a um nível de significância
de 95%. Existiu diferença significativa da dor sacroilíaca entre gestantes primigestas e
multigestas. Percebeu-se que a dor sacroilíaca foi maior no grupo de gestantes primigestas
e com dor lombar. Houve diferença significativa ao compararmos as características
das gestantes primigestas e multigestas. A dor lombar foi maior em gestantes multigestas.
Não houve correlação entre o ganho de peso e a idade gestacional, tanto de multigestas
como de primigestas com dor lombar e sacroilíaca.

Abstract
The objectives of this study went to investigate the characteristics of the low back
Key-words: and sacroiliac pain during the primipara and multipara gestation period, to verify the
low back pain, sacroiliac pain, decisive agents of the low back and sacroiliac pain and to relate at the level of incapacity
gestation period. for low back pain during the primipara and multipara pregnancy period. The data were
collected in 80 pregnant that were in the second and third quarter of gestation. It was
used as instrument of research 2 questionnaires: one with open and closed questions
and the other the Oswestry Low Back Pain Disability Questionnaire (1980). This study
was accomplished in the centers of health of the city of São José, SC. The obtained
data were submitted to the descriptive statistics, t test of Student and the Pearson
coefficient with the level of probability was set at p=95%. Significant difference of the
sacroiliac pain existed between multipara and primipara pregnant women. It was noticed
that the sacroiliac pain was larger in the group of primiparas and with lumbar pain.

Recebido em 18 de março de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Profa. Fabiana Flores Sperandio, Clínica Escola de Fisioterapia da UDESC/CEFID, Rua Paschoal Simone, 358
Tel: (48)248-8155, Fernanda Pereira: E-mail: fe032003@yahoo.com.br
268 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Introdução patologia de base. Dividiu-se a amostra em 3 grupos:


Grupo 1/ Dor Lombar: 1a Gestantes Primigestas, 1b
Durante a gestação, ocorrem várias modificações Gestantes Multigestas, Grupo 2/ Dor Sacroilíaca: 2a
músculo-esqueléticas, dentre elas destacam-se a dor lombar Gestantes Primigestas, 2b Gestantes Multigestas e Grupo
e sacroilíaca Estas queixas são freqüentes entre as mulheres 3/ sem dor.
grávidas, o que gera desconforto e dor no decorrer da
gestação. A lordose lombossacral exagerada promove esforço Instrumentos de coleta de dados
indevido dos ligamentos e músculos da coluna lombar [1].
Aproximadamente 50% a 75% das mulheres A avaliação teve como instrumento 2 Questionários,
experimentam algum tipo de dor nas costas em alguma fase um validado por Santos (1998), com informações sobre os
de sua gravidez [2,3,4,5]. Muitas delas apresentam prejuízo dados antropométricos, incidência, fatores de risco, pontos
ou limitação em suas atividades domésticas e profissionais. de dor e características da dor gestacional. O estudo utilizou-
A dor lombar é considerada três vezes mais comum entre se também do Questionário de dor Lombar de Oswestry
mulheres grávidas quando comparada ao resto da população (1980) [19], que avaliou a influencia da dor lombar nas
(homens e mulheres não-grávidas) em alguma época de suas atividades da vida diária.
vidas [6,7,8,9]. Mesmo com alto acometimento, a dor lombar
gestacional, é ainda, freqüentemente, minimizada nas Local e data
anamneses obstétricas [2,10,11,12], muitas vezes, por
desconhecimento dos mecanismos fisiopatológicos. A coleta de dados foi realizada nos meses de Julho a
É preciso que o fisioterapeuta tenha maior clareza no Setembro de 2003, nos Centros de Saúde Jardim
diagnóstico e proponha intervenções fisioterapêuticas Zanellato, Luar e Bela Vista da cidade de São José /
eficazes. Um estudo observou que a licença ou atestado Santa Catarina.
médico não elimina a dor lombar [13]. Sendo assim, por ser
freqüentemente incapacitante [13,14,15] pode predispor a Procedimentos
danos músculo-esqueléticos futuros e ser confundida com a
dor sacroilíaca. Em virtude disto, a introdução de programas As gestantes foram selecionadas aleatoriamente na sala
pré-natais de atenção integral à saúde da gestante de espera das Unidades de Pré-Natal dos Centros de Saúde.
promoveriam um conforto gradual até o final da gestação.
A dor sacroilíaca e lombar apresentam manifestações Análise de dados
definidas [16,17].Entretanto questiona-se a existência de
diferenças entre a dor lombar e sacroilíaca em primigestas Os dados obtidos foram submetidos à estatística
e multigestas. Conhecendo o contexto obstétrico, a pesquisa descritiva, o Teste T-Student e a Correlação de Pearson a um
limitou-se a responder ao seguinte questionamento: Quais nível de significância de 95%. Utilizou-se o programa
são as diferenças entre a dor lombar e sacroíliaca ao Statistica’99.
compararmos primigestas com multigestas?
Os objetivos deste estudo foram investigar as Resultados e Discussão
características da dor lombar e sacroilíaca durante a gestação
de primigestas e multigestas, verificar os agentes Foram avaliadas 80 gestantes saudáveis, de baixa renda
determinantes da dor lombar e sacroilíaca e relacionar com e que não praticavam exercício físico. A amostra
o nível de incapacidade por dor lombar durante a gestação apresentou média geral de 25,5 anos de idade (±13,43
de primigestas e multigestas. anos). Desse grupo, 36 (45%) gestantes apresentaram
dor lombar, 35 (43,7%) dor sacroilíaca e as 9 (11,2%)
Materiais e Métodos gestantes restantes não apresentaram nenhuma dor. A
amostra ficou assim caracterizada (Tabela I).
Sujeitos

O estudo teve aprovação do


Tabela I - Caracterização da dor lombar e sacroilíaca durante a gestação de primigestas e multigestas.
comitê de Ética da UDESC/
Intensidade Dor Lombar/ Grupo 1 Total Dor Sacroilíaca/ Grupo 2 Total
CEFID. Foram sujeitos do estudo
1a Primigesta 1b Multigesta 2a Primigesta 2b Multigesta
80 gestantes primigestas e multi- Forte 6 10 16 4 7 11
gestas após a 13ª semana ges- Moderada 1 5 6 2 - 2
tacional (exame de Ultra-som e Esporádica - 2 2 1 1 2
cartão de pré-natal). Todas as Leve 4 8 12 8 12 20
gestantes eram saudáveis e sem Total 11 25 36 15 20 35
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 269

articulação sacroilíaca. O peso adicional


Tabela II - Horários de maior freqüência de dor lombar e sacroilíaca de primigestas e multigestas.
Dor lombar   Dor sacroilíaca adquirido durante a gestação aumenta
 
Horário Total a carga sobre as estruturas do sistema
Total
  Primigesta Multigesta Primigesta Multigesta músculo-esquelético, mesmo ao realizar
Final da tarde 16,7% 30,5% 47,2% 31,4% 22,9% 54,2% atividades diárias consideradas leves. O
Noite 5,6% 44,4% 50% 14,3% 20% 34,3% aumento da massa corporal também
Igual o dia todo - 2,8% 2,8% - 2,9% 2,9% produz maiores forças internas e
Cedo da manhã - - - - 8,6% 8,6% torques articulares [26].
Total 22,3% 77,7% 100% 45,7% 54,4% 100% Ireland e Ott [27] fizeram uma
correlação do ganho de peso durante
Na Tabela I, pode-se notar, que a dor lombar é a gestação com o aumento da dor lombar e, segundo eles,
encontrada com maior ênfase na intensidade de dor forte isto se deve ao aumento do útero gravídico que desloca o
(36,1%) e a dor sacroilíaca na intensidade de dor leve (46%). centro de gravidade para frente, aumentando o estresse na
Estudos anteriores relatam igualmente a alta freqüência da coluna lombar e musculatura abdominal.
dor lombar na gravidez [2,3,4,5,16]. Para metade de todas Das 71 gestantes que apresentaram dor lombar e
as gestantes, esse acometimento é inevitável. Apesar do sacroilíaca, cerca de 96% delas a dor esteve presente no
número de gestantes com dor lombar e sacroilíaca serem início do segundo trimestre gestacional.
semelhantes, a intensidade da dor teve maior predominância A dor lombar e a dor sacroilíaca estiveram presentes em
na coluna lombar. 56% das gestantes que trabalhavam na posição ora em pé,
Com a aplicação do Teste T (grupos independentes) ora sentadas (aproximadamente 1 ou 2 horas). Destas, 33,3%
houve diferença significativa na dor lombar entre gestantes sentiam dor lombar e, apenas 22,2% dor sacroilíaca.
primigestas e multigestas (p<0,02) e a dor lombar foi maior 50% das gestantes com dor lombar tiveram maior
no Grupo de gestantes 1b. intensidade de dor quando realizavam o movimento de pegar
Houve diferença significativa na dor sacroilíaca entre um objeto do chão. Cerca de 57% das gestantes com dor
gestantes primigestas e multigestas. A dor sacroilíaca média sacroilíaca relataram dificuldade em levantar da cadeira. No
foi maior para o Grupo 2a, do que para o Grupo 2b Grupo 1 e no Grupo 2, o maior número esteve representado
(p<0,004). pelas multigestas.
Cabe ressaltar que uso inadequado da nomenclatura -
dor lombar e sacroilíaca - dificulta a compreensão e validação Tabela III – Nível de incapacidade por dor lombar durante a gestação.
científica dos estudos apresentados na literatura. Este fato Faixa de 2º Trimestre 3º Trimestre Total
gera contradições na interpretação de muitos resultados, Incapacidade
agravadas ainda, pela variabilidade metodológica apresentada Mínima 31% 24% 55%
pelos pesquisadores [17,20]. Moderada 16,90% 15,50% 32,40%
Nota-se na Tabela II, que a maior freqüência de dor Severa 5,60% 7% 12,60%
lombar ocorre no final da tarde e a noite em multigestas. A Total 53,50% 46,50% 100%
queixa de dor lombar noturna parece estar relacionada com
a diminuição do fluxo sangüíneo medular, devido à No grupo das gestantes do segundo trimestre, 31%
compressão dos grandes vasos pelo útero gravídico [2]. estavam na faixa de incapacidade mínima por dor lombar,
Podemos notar ainda, que a dor sacroilíaca aparece com 16,9% na faixa de incapacidade moderada e 5,6% na faixa
maior freqüência no final da tarde e em multigestas. de incapacidade severa (Tabela III). No grupo das gestantes
Algumas gestantes apresentam dor lombar somente à que estavam no terceiro trimestre, 24% estavam na faixa
noite e quando mudam de posição. A causa desta dor lombar de incapacidade mínima, 15,5% na faixa de incapacidade
noturna pode ser devido a hipovolemia e a possível pressão moderada e 7% na incapacidade severa.
na veia cava inferior na posição supina, embora isto não Cerca de 56% das gestantes responderam que a dor não
esteja bem esclarecido [21]. influenciava na realização das atividades de vida diárias
Não houve correlação do ganho de peso e a idade (AVDs). Os maiores percentuais foram obtidos na faixa de
gestacional tanto de primigestas quanto de multigestas. Os incapacidade mínima, não impossibilitando a realização,
achados corroboram com alguns autores que igualmente principalmente, dos afazeres domésticos.
não encontraram correlação entre o ganho de peso e a dor A maioria das gestantes do Grupo 1(75%) apresentou dor
lombar durante a gravidez. [21-24] lombar prévia (Figura 1). Orvieto et al. [22] constataram que a
Em contrapartida, Östgaard et al. [23] e Lee et al. [25], presença de dor lombar antes da primeira gestação associa-se
afirmam que o desconforto na coluna lombar pode ocorrer, ao risco aumentado de desenvolver dor lombar durante a
tanto devido ao ganho de peso durante a gestação, quanto gravidez. Mulheres com dor lombar prévia têm um risco maior
às alterações hormonais que diminuem a estabilidade da para desenvolvê-la durante a gestação [4,17,27,28,29].
270 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Figura I - Dor lombar prévia em gestantes com dor lombar e sacroilíaca 3. Paul JA, Sallé H, Frings-Dresen MHW. Effect of posture on
durante a gestação. hip joint moment during pregnancy, while performing a
standing task. Clin Biomech 1996;11:111-5.
4. Sihvonen T, Huttuneen M, Mkkanenn A, Airaksineen, O.
Functional changes in back muscle activity correlate with pain
intensity ans preatiction of back pain during pregnancy. Arch
Phys Med Rehabil 1998;79:1210-2.
5. Kihlstrand M, Stenman B, Nilsson S, Axelsson O.
Watergymnastics reduced the intensity of back low pain in
pregnant women. Acta Obstet Gynecol Scand 1999;78:180-5.
6. Brotzman SB. Clinical Orthopaedic Rehabilitation. Sta Louis:
Mosby, 1995.
7. Hall SJ. Biomecânica Básica. Rio de Janeiro: Guanabara
Em contradição, Souza et al [30], estudando 30 mulheres Koogan, 2000.
no puerpério imediato, avaliou a incidência de dor lombar 8. Reid D. et al. Use of a vigente to investigate the physiotherapy
treatment of an acute episode of low back pain: report of a
durante a gestação. Elas constataram que em 66,6% das
survey of New Zealand Physiotherapists. The New Zealand
mulheres a dor lombar não esteve presente previamente, Journal of Physiotherapy 2002;30:26-32.
30% delas a dor foi esporádica e em 3,3% a dor foi 9. Sydjö A, Alexanderson K, Dastserri M, Sydjö G. Gender
persistente. Vários autores defendem que a dor lombar differences in seck leave related to back pain. Spine
prévia é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de 2003;28:385-9.
dor lombar durante a gestação [4,17,21,26,31]. Chan et al. 10. Franklin ME, Conner-Kerr T. An analysis of posture and
[32], através de um estudo com 105 gestantes, verificaram back pain in the first and third trimesters of pregnancy. J
que 30 gestantes (12,4%), relataram história prévia de dor Orthop Sports Phys Ther 1998;28:133-8.
11. Kenneth B. et al. Pregnancy related back pain and pelvic pain
lombar crônica, 38 gestantes (36,2%) apresentaram dor
and changes in bone density. Acta Obstet Gynecol Scand
lombar antes da gestação e 52 gestantes (49,5%) não 1999;78:681-5.
referiram tal queixa. Sperandio et al. [33] estudaram 19 12. LeboeufY de C. Body weight and low back pain: A systematic
gestantes e constataram que 100% das gestantes analisadas literature review of 56 journal articles reporting on 65
apresentaram dor lombar, ficando claro os prejuízos epidemiologic studies. Spine 2000;25:226-31.
causados por ela no decorrer da gestação. 13. Östgaard HC, Andersson GBJ, Karlsson K. Prevalence of
back pain in pregnancy. Spine 1991;16:549-52.
Conclusão 14. Kristiansson P, Svardsudd K, Von Schoultz B. Back Pain
during pregnancy: a prospective study. Spine 1996;21:702-8.
15. Brynhildsen J, Hansson A, Persson A, Hammar M. Follow-
Observou-se que a intensidade e as características da
up of patients with low back pain during pregnancy. Obstetrics
dor variou para cada grupo de gestantes estudado. A dor de Gynecology 1998;9:226-31.
intensidade forte predominou no Grupo 1b e a dor de 16. Colliton J. Pregnant With Back Pain? Suggested Comfort
intensidade leve no Grupo 2a. A dor lombar esteve presente Tactics. Physician SportsMed 1996;24:126-31.
em multigestas à noite, comparado com a dor sacroilíaca 17. Ferreira CHJ, Nakano AMS. Lombalgia na Gestação: etiologia,
das primigestas ao final da tarde. Não houve correlação da fatores de risco e prevenção. Femina 2000;18:435-7.
idade gestacional com o ganho de peso, tanto de primigestas 18. Santos GM. Avaliação Biomecânica do Andar durante a
quanto de multigestas. As gestantes com dor lombar Gestação [Dissertação]. Santa Maria: Universidade Federal de
referiram sensação dolorosa ao apanharem objetos do chão Santa Maria (UFSM); 1998.
19. Fairbank J, Davies J, O’Brien J. The Oswestry low back pain
e as com dor sacroilíaca relataram dificuldades na execução disability questionaire. Physiotherapy 1980;66:271-3.
do movimento de levantar da cadeira. A dor lombar prévia 20. Dumas GA et al. Exercise, posture and back pain during
foi considerada um fator predisponente para a evolução da pregnancy. Clin Biomech 1995;10:98-103.
dor lombar durante o período gestacional. Em 96% das 21. Macevelly M, Buggy D. Back pain and pregnancy: a review.
gestantes a dor lombar e sacroilíaca estiveram presentes no Pain 1996;64:404-14.
início do 2o. trimestre gestacional. 22. Orvieto R, Achiron A, Bem-Rafael Z, Gelernter I, Achiron R.
Low back pain of pregnancy. Acta Obstet Ginecol Scand
1994;10:209-14.
Referências 23. Östgaard HC, Andersson MD, Schultz AB, Miller JAA.
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1. Reece A. Compêndio de medicina fetal e materna. Porto Alegre: pregnancy. Spine 1993;18:61-65.
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TBS, Floman Y. Low back pain in pregnancy. Spine 25. Lee D, Vleeming A. A Cintura pélvica. Uma abordagem para
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 271

São Paulo: Manole, 2001. toda gestante terá dor lombar? Femina 2003;31:273-6.
26. Artal R, Wiswell R, Drinkkwater B. O Exercício na gravidez. 31. Wedenberg K, Moen B, Norling A. A prospective randomized
São Paulo: Manole, 1999. study comparing acupunture with physioterapy for low back
27. Ireland M, Ott S. The effects of pregnancy on the musculoeskeletal pain and pelvic pain in pregnancy. Acta Obstet Ginecol Scand
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29. Melzack R, Bélanger E. Labour pain: correlations with Correlation, Clinical Radiology 2002;57:1109-12.
menstrual pain and acute low-back pain before and during 33. Sperandio FF, Santos GM, Araújo CC, Souza, MS.
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30. Souza MS, Araújo CC, Castellen M, Sperandio FF. Afinal, Fisioter Bras 2004;5(2):165.
C
272 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Artigo original

Fisioterapia no pós-operatório imediato


de artroplastia total de joelho
Physical therapy in immediate postoperative period
after total knee arthroplasty
Adriana Lucia Pastore e Silva*, Luciano de Arruda Castelo**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta (UNIP/SP), Aprimoranda em Fisioterapia em Ortopedia (IOT – HC/FMUSP), **Fisioterapeuta, Professor adjunto da
Universidade Paulista (UNIP/SP), Especialista em Ortopedia e Traumatologia e Mestre em Reabilitação pela UNIFESP/EPM

Resumo
Com o objetivo de avaliar a casuística e testar a eficácia do protocolo elaborado
Palavras-chave: para tratamento fisioterapêutico no pós-operatório imediato de artroplastia total de
joelho, artroplastia do joelho, joelho, foi realizada uma análise de 23 pacientes no período de outubro de 2001 a
fisioterapia, prótese. setembro de 2002. Foram realizadas três avaliações (pré-operatória, no segundo dia de
pós-operatório e no dia da alta hospitalar) e o tratamento foi efetuado nos cinco primeiros
dias de pós-operatório utilizando-se crioterapia e cinesioterapia objetivando ganho de
amplitude de movimento, força e diminuição de edema e dor. O recurso da movimentação
passiva contínua não foi acessível. Com a análise descritiva dos dados obtidos foi
observado menor ganho de amplitude de flexão de joelho por ocasião da alta hospitalar,
apesar dos resultados de marcha e analgesia serem considerados bons. Acredita-se que
o adequado tratamento fisioterapêutico pré e pós-operatório é fundamental para o
sucesso do tratamento cirúrgico.

Abstract
With the aim to evaluate the casuistry and to test the efficacy of the elaborated
Key-words: protocol for the physical therapy in immediate postoperative after total knee arthroplasty,
knee, knee arthroplasty, it was carried out an analysis with 23 patients from October 2001 to September of
physical therapy, prosthesis. 2002. Three evaluations were carried out (preoperative, second postoperative day and
day released from hospital) and treatment was performed in the five first days
postoperative using ice therapy and kinesiotherapy in order to increase amplitude of
movement, strength and reduction of edema and pain. The resource of the continuous
passive movement was not available. With the descriptive analysis was observed flexion
amplitude reduced when released from hospital, although gait and analgesia results can
be considered good. It is suggested that adequate pre-postoperative physical therapy is
basic to the surgical treatment success.

Recebido 29 de março de 2003; aceito 15 de julho e 2004.


Endereço para correspondência: Adriana Lucia Pastore e Silva, Rua Tamandaré 734/154A Liberdade 01525-000 São Paulo SP,
E-mail: adrianapastore@terra.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 273

Introdução Tabela I - Dados referentes ao número de ordem, iniciais, idade, sexo, cor, lado acometido e
ATJ anterior dos 23 pacientes deste estudo.
A artroplastia total de joelho é uma técnica Paciente Iniciais Idade Sexo Cor Joelho ATJ
cirúrgica que tem como objetivo a substituição Acometido anterior
1 M.G.S. 63 F B D N
dos componentes anatômicos do joelho que estão 2 J.M.O. 63 F B E N
comprometidos por uma prótese. A substituição 3 A.R.S.R. 73 F B D N
deve levar em consideração a tríade: dor, rigidez 4 A.V.R. 86 F B E N
e deformidade presentes em grande variedade 5 M.J.G.F. 74 F B D N
de doenças articulares, além de considerar a idade 6 R.R.M. 69 F B D N
7 J.C.B. 71 M B D N
e as expectativas do paciente [1-6]. 8 M.L.F. 72 F B D N
Esta técnica cirúrgica sofreu restrições quanto 9 A.M. 67 F B D N
a sua indicação por diversos profissionais nas fases 10 L.G.C. 70 F B D N
iniciais. Contudo, com a melhor compreensão da 11 M.E.S. 76 F B D N
biomecânica do joelho, foi possível desenvolver 12 M.S.P. 69 F B D N
13 J.M.O. 63 F B D S
próteses melhores, técnicas cirúrgicas e de 14 L.P.S. 67 F B D N
reabilitação mais apropriadas. Atualmente os 15 M.L.M.O. 65 F NB D N
resultados são bem superiores aos obtidos em 16 M.B.G.M. 67 F B D N
épocas anteriores [2,7,8]. 17 I.A.M.M. 73 F B D S
A artroplastia está sendo cada vez mais 18 E.F.G. 70 F B D N
19 M.S. 72 F B D N
utilizada em ser viços de ortopedia, e a 20 C.C.N.P. 58 F B E S
padronização do tratamento de reabilitação, que 21 D.C.M. 84 F B E N
inclui a fisioterapia pré e pós-operatória, 22 L.A. 69 F B D N
representa uma necessidade, sendo considerada 23 L.G.C. 70 F B E S
de fundamental importância para o sucesso F = feminino, M = masculino, B = branca, NB = não branca, D = direito, E = esquerdo,
S = sim, N = não, ATJ = artroplastia total de joelho.
terapêutico [9-13].
A reabilitação funcional do joelho no período pós- um de raça não branca. Houve uma prevalência maior de
operatório imediato, principalmente através de exercícios acometimento de joelho D (18 pacientes). Quatro dos
cinesioterápicos, é indispensável para uma melhor adaptação pacientes já haviam realizado artroplastia de joelho anterior,
à prótese. Portanto, após o tratamento, o paciente deve sendo três do joelho contra-lateral e um do mesmo joelho
readquirir pelo menos uma parte da sua capacidade funcional, (revisão de prótese).
voltando a exercer suas funções na sociedade [13-18]. Os dados individuais de cada paciente obtidos durante
Os resultados da artroplastia total de joelho no pós-operatório a avaliação pré-operatória é representado na Tabela I.
imediato são considerados excelentes quando o paciente
consegue 90° sem dor, bons quando atingem 90° de movimento Critérios de inclusão
com pouca dor ou menos de 90° sem dor, e fracos quando a • Indivíduos com idade entre 55 e 85 anos independente
dor é moderada ou intensa [13], então para que os pacientes do sexo, raça, cor de pele, nacionalidade ou joelho acometido;
tenham uma performance semelhante à da literatura em relação • Indicação de artroplastia por osteoartrose de joelho;
à marcha, e inferior em relação à amplitude de movimento • Procedimento cirúrgico de artroplastia total de joelho
final e à velocidade do ganho de flexão a fisioterapia no pós- com componente patelar e preservação do ligamento
operatório imediato é indispensável [12,13,14,19,20]. cruzado anterior com implante da prótese de Jonhson.
O objetivo deste trabalho foi a elaboração e aplicação de
um protocolo de tratamento fisioterapêutico no pós- Critérios de exclusão
operatório imediato para artroplastia total de joelho, para a • Indivíduos fora do intervalo de idade estipulado;
apresentação dos resultados desta intervenção. • Artroplastia indicada por fatores traumáticos ou outras
doenças;
Material e Métodos • Procedimento cirúrgico de artroplastia parcial ou total
com utilização de outro tipo de prótese;
Foram avaliados e tratados 23 pacientes submetidos à • Pacientes com distúrbios neurológicos que promovem
ATJ no período entre 01 de outubro de 2001 e 05 de alterações cognitivas;
setembro de 2002 no Hospital e Maternidade Modelo. Todos • Pacientes que não concordaram com a participação
os pacientes foram informados em relação à participação nesse estudo.
nesse estudo e a autorização foi obtida a partir da assinatura
de um termo de consentimento. O paciente foi avaliado três vezes durante o período de
Destes 23 pacientes apenas um era do sexo masculino e participação do estudo, sendo uma avaliação pré-operatória
274 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

(completa) e duas reavaliações uma no segundo dia de pós- o tolerado pelo paciente. Spósito et al. [13] relata a
operatório e a outra no quinto dia de pós-operatório (qualidade importância da mobilização passiva precoce na reabilitação
da dor e exame físico). de ATJ. A mobilização passiva no 2° PO foi iniciada com o
A ficha de avaliação utilizada, elaborada especificamente paciente permanecendo em decúbito dorsal e a partir do 3°
para a realização deste estudo, é composta por dados de PO o paciente permanecia em sedestação.
identificação do paciente, anamnese, queixa principal, história No 2° PO também foi iniciada a crioterapia com
familiar, antecedentes pessoais, dados sobre a doença atual, aplicação de gelo por 20 minutos a cada 3 horas, sendo
dados sobre a doença passada, exame físico (inspeção, mantida até a alta hospitalar, visando a redução do edema,
palpação, testes ativos e passivos de mobilidade, testes de analgesia [30,31] e diminuição de contraturas; seguindo as
força muscular) e exame de áreas referidas. alterações fisiológicas provocadas pelo gelo descrita por
O tratamento aplicado aos pacientes participantes deste Guirro et al. [32]. O gelo foi aplicado sob a forma de cubos
estudo foi realizado com base em um protocolo elaborado de gelo dentro de um envoltório plástico e mantido sob o
especificamente para a realização do mesmo. joelho de paciente com uma faixa de crepe, entre o gelo e o
Foram utilizados recursos de cinesioterapia, crioterapia e joelho do paciente foi colocado um pano úmido para melhor
treino de marcha de acordo com os dias de pós-operatório, condução da temperatura. Inicialmente aplicada com o
limitação e dor do paciente. Não foram utilizados os recursos paciente em decúbito dorsal e após em sedestação.
de mobilização passiva contínua (CPM) e estimulação elétrica A mobilização patelar foi iniciada no 3° de PO sendo
funcional devido a não disponibilidade dos equipamentos. mantida até a alta hospitalar, para evitar aderências. A
Os últimos três pacientes da amostra tiveram o uso do equipa- mobilização patelar foi realizada nas direções crânio-caudal,
mento de auxílio para retorno venoso (bomba plantar de látero-lateral e diagonais.
retorno venoso), cedida pela empresa fornecedora da prótese, O alongamento passivo de músculos isquiotibiais
sem que isso implicasse na alteração da aplicação do protocolo. também foi iniciado no 3° PO e mantido até a alta
Durante os primeiros dias de pós-operatório foi realizada hospitalar, para evitar a ocorrência de contratura em flexão
uma avaliação simples de observação de posicionamento do joelho que é uma das principais complicações da ATJ
no leito, edema de MMII, dreno aspirativo (1° e 2° PO), [29,34-37]. Foi realizado com a ajuda de um lençol que
sonda urinária (1º e 2° PO) e estado da ferida cirúrgica e era colocado na ponta do pé do paciente e o mesmo puxava
questionado ao paciente quanto à intensidade da dor. Isso a promovendo dorsiflexão do pé e alongamento da
fim de saber do estado geral do paciente, para dar seguimento musculatura posterior, mantendo a posição por 30 segundos
ao tratamento fisioterapêutico. e repetindo 10 vezes.
A conduta realizada variou de acordo com o dia de pós- O posicionamento em sedestação no leito com MMII
operatório sendo que alguns procedimentos foram mantidos pendentes foi iniciado no 3° PO para que fosse iniciado a
desde o 1° PO até a alta hospitalar. bipedestação e treino de marcha, mantidos até a alta
Foi orientado o posicionamento no leito em decúbito hospitalar. [38]. O paciente inicialmente era mantido sentado
dorsal com o joelho permanecendo em extensão total, sem no leito com apoio da parte superior da cama para eliminar
suporte na porção posterior, com os pés da cama os riscos de hipotensão postural, progredindo para
permanecendo elevados em aproximadamente 10 cm para sedestação com MMII pendentes de forma ativa sendo
facilitar o retorno venoso [9,11,21-23]. auxiliado somente para a colocação do membro acometido
A partir do 3° PO foi orientado o posicionamento em para a lateral do leito. Neste posicionamento eram
decúbito lateral contra-lateral ao membro acometido, com realizadas goniometria e mobilização passiva e ativa de
um travesseiro entre os joelhos para apoio do membro. flexo-extensão de joelho. Partia-se então para a bipedestação
Os exercícios isométricos de quadríceps e isquiotibiais com auxílio do terapeuta e/ou familiar no início e já no 4°
foram iniciados no 1° PO e foram continuados até a alta PO de forma independente com auxílio do andador e da
hospitalar, para recuperar o controle neuromuscular da escada hospitalar. Em bipedestação era realizada a
musculatura de quadril e joelho [13,16,20,22-29]. mensuração do andador segundo o descrito por Kottke e
Os exercícios ativos-assistidos de dorsiflexão e flexão Lehmann [27]. A partir de então era iniciado o treino de
plantar de tornozelo e os exercícios metabólicos também foram marcha com apoio parcial de peso (3° e 4° PO, no 5° PO
iniciados no 1° PO e continuaram até a alta hospitalar. Esses apoio total) no membro acometido respeitando as fases
exercícios devem ser iniciados imediatamente após a cirurgia da marcha e os movimentos de MMII [38].
para promover a circulação e diminuir o edema e dor no pós- No dia da alta hospitalar foram feitas orientações a
operatório [13,16,20,22-29]. O paciente foi inicialmente ins- respeito da realização de exercícios e aplicações domiciliares
truído de forma passiva e depois os realizava de forma ativa. de gelo.
No 2° PO foi iniciada a mobilização passiva de flexo- Foi realizada uma análise descritiva dos dados e apresen-
extensão de joelho até 45°, continuada até a alta hospitalar tados em forma de tabelas e gráficos. Não foi possível a apli-
aumentando-se gradativamente a amplitude de acordo com cação da análise estatística devido ao N (amostra) insuficiente.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 275

Figura 1 - Representação em colunas das médias dos resultados obtidos com a escala de dor em cada uma Resultados
das três avaliações realizadas.
Quantificação da dor

A Figura 1 apresenta as médias


dos valores individuais da quantifi-
cação da dor nas três avaliações
realizadas, sendo a primeira realizada
no pré-operatório, a segunda no 2º
PO e a terceira no 5º PO (alta
hospitalar).
Segundo a figura 1 é possível
avaliar que o grau da dor referida pelos
pacientes teve um decréscimo signi-
ficante, passando de 9,22 na 1ª
avaliação para 1,04 na 2ª e 0,43 na 3ª.

Resultados obtidos para


amplitude de movimento

Flexão passiva
Figura 2 - Representação em colunas para a porcentagem da média dos resultados segundo intervalos de
AM para flexão passiva obtidos na 3ª avaliação. A Figura 2 apresenta a porcen-
tagem da média dos resultados indivi-
duais agrupados segundo intervalos de
AM para flexão passiva obtidos na 3ª
avaliação.
Segundo a figura 2, é possível
avaliar os resultados para amplitude de
movimento para flexão passiva por
ocasião da alta, sendo que 34,78% dos
pacientes apresentaram mais que 90°,
60,87% entre 75-90° de AM e 4,35%
menos que 75° de flexão passiva.

Flexão ativa

A Figura 3 apresenta a por-


centagem da média dos resultados
individuais agrupados segundo
Figura 3 - Representação em colunas para a porcentagem da média dos resultados agrupados segundo
intervalos de AM para flexão ativa obtidos na 3ª avaliação.
intervalos de AM para flexão ativa
obtidos na 3ª avaliação.
Na figura 3, é possível avaliar os
resultados para amplitude de movi-
mento para flexão ativa por ocasião da
alta, sendo que 4,35% dos pacientes
apresentaram mais que 90°, 86,96%
entre 75-90° de AM e 8,70% menos
que 75° de flexão ativa.

Extensão passiva

A Figura 4 apresenta a porcen-


tagem da média dos resultados
276 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Figura 4 - Representação em colunas para a porcentagem da média dos individuais agrupados segundo intervalos de AM para
resultados agrupados segundo intervalos de AM para extensão passiva extensão passiva obtidos na 3ª avaliação.
obtidos na 3ª avaliação. A figura 4 mostra que em todos os pacientes, por ocasião
da alta, a extensão passiva foi completa.

Extensão ativa

A Figura 5 apresenta a porcen-tagem da média dos


resultados indivi-duais agrupados segundo intervalos de AM
para extensão ativa obtidos na 3ª avaliação.
A figura 5 mostra que 91,30% dos pacientes apresentaram
algum grau de flexão residual não conseguindo realizar a
extensão ativa completa do joelho aco-metido no momento de
Figura 5 - Representação em colunas para a porcentagem da média dos alta hospitalar.
resultados agrupados segundo intervalos de AM para extensão ativa obtidos
na 3ª avaliação. Resultados obtidos para grau
de força muscular

Flexores de joelho

A Figura 6 apresenta a por-centagem da média dos dados


agrupados para grau de FM de flexores de joelho obtidos
na 3ª avaliação.
78% dos pacientes apresentaram grau 4 e 22%
apresentaram grau 5 de força muscular de
músculos flexores de joelho, na ocasião da
Figura 6 - Representação em colunas para a porcentagem da média dos resultados agrupados
alta, como mostra a figura 6.
segundo grau de FM de flexores de joelho na terceira avaliação.
Extensores de joelho

A Figura 7 apresenta a porcentagem da


média dos dados agrupados para grau de FM
de extensores de joelho obtidos na 3ª avaliação.
A figura 7 mostra que 100% dos
pacientes apresentaram grau 3 ou 4 de FM
de quadríceps no momento da alta hospitalar.

Discussão

Atualmente a artroplastia total de joelho


Figura 7- Representação em colunas para a porcentagem da média dos resultados agrupados é um assunto amplamente discutível,
segundo grau de FM de extensores de joelho na 3ª avaliação. principalmente quanto à técnica cirúrgica e
seu processo de reabilitação. Principalmente
porque a ATJ leva a uma melhora
significativa na qualidade de vida dos
pacientes, tanto do ponto de vista clínico
como funcional.
Apesar da casuística apresentada neste
trabalho ser relativamente pequena, esta
representa uma população bastante
uniforme, de pacientes portadores da mesma
patologia – a osteoartrose. Segundo Camanho
[39], a osteoartrose é potencialmente
incapacitante e exige tratamento reabilitacional
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 277

com equipe multiprofissional objetivando a analgesia, a dois graus de força muscular após um procedimento cirúrgico
prevenção e o tratamento das deformidades articulares, bem [4,6,8,11,17].
como a manutenção de seu estado funcional. Ainda em relação à goniometria, houve padronização
As variáveis sexo, lado acometido, faixa etária, cor de da medição, que foi realizada sempre pelo mesmo
pele, e a existência ou não de artroplastia anterior não examinador no sentido de diminuir ao máximo a margem
influíram significativamente nos resultados. de erro. Assim como a aplicação do protocolo fisioterapêutico
A artroplastia total do joelho com a prótese de Jonhson foi aplicada da mesma forma com séries e repetições iguais
permitiu alívio da dor, capacidade de marcha, estabilidade para todos os pacientes.
e grau de mobilidade articular satisfatórios para a maioria A mobilização passiva contínua, segundo os dados da
dos pacientes. literatura [9,11,20,22,23,25], apresenta melhores resultados
Com relação à avaliação pré-operatória, concordamos em relação à cinesioterapia clássica; trata-se, contudo, de
com Spósito et al. [20] que afirma que a avaliação e o preparo um método de tratamento ao qual não foi obtido acesso.
pré-operatório são de fundamental importância, posto que A movimentação passiva visando à amplitude articular
é com essa base que se obtiveram os parâmetros de melhora no pré-operatório pode ser considerada útil no sentido de
na análise da avaliação pós-operatória, sendo esta realizada tentar um estiramento de partes moles. Foi possível observar
em todos os pacientes deste estudo. que a maioria dos pacientes não consegue extensão completa
O tempo de internação médio de 6 dias foi compatível no pós-operatório imediato, assim como o descrito por
com o encontrado na literatura [13,21]. Spósito et al. [13].
Os dados obtidos se restringem ao atendimento durante Do ponto de vista da marcha, por ocasião da alta, apenas
o período de internação e os ganhos em relação ao grau três pacientes não deambularam com auxílio de dispositivo
de amplitude final, padrão de marcha normal e a retirada sendo necessário o uso de cadeira de rodas. Foi verificado
do dispositivo auxiliar da marcha não foram aqui que, de um modo geral, os pacientes toleram precocemente
relacionados, pois não foram avaliados e acompanhados a marcha e adquirem um bom padrão em pouco tempo.
até o final do processo de reabilitação, somente no período Os pacientes que fizeram uso da bomba plantar de
de internação hospitalar. retorno venoso não apresentaram diferenças na diminuição
A indicação da crioterapia teve como base o trabalho de do edema pós-operatório, contrariando o descrito por Meyer
Spósito et al. [13], referindo que o ganho de amplitude de [21], mesmo porque esse item não foi avaliado com métodos
movimento foi igual para os três grupos (1. exercícios, 2. fidedignos uma vez que apenas os três últimos pacientes
exercícios e calor, 3. exercícios e frio), porém no grupo que fizeram uso de equipamento e o mesmo não estava planejado
recebeu crioterapia o grau de edema, dor e desconforto foi no início deste estudo.
menor. Marques e Kondo [15] referem que o frio é um grande Apesar da pequena casuística, os pacientes apresentaram
agente analgésico, por atuar diretamente nas terminações resultados semelhantes aos encontrados na literatura em
nervosas, além de reduzir a hiperemia, edema e espasmos relação à marcha e amplitude de movimento [13,14,16,
musculares. Neste trabalho foi observado que a média da 23,27,36].
quantificação do grau dor nas três avaliações realizadas
apresentou decréscimo, sendo considerado assim excelentes o Conclusão
resultado para analgesia em pós-operatório imediato.
Segundo Spósito et al. [13], os resultados são São considerados os resultados imediatos obtidos em
considerados excelentes quando o paciente consegue 90° relação à funcionabilidade da articulação (goniometria, força
sem dor, bons quando atingem 90° de movimento com muscular, marcha) como bons.
pouca dor ou menos de 90° sem dor, e fracos quando a dor É de fundamental importância a padronização de
é moderada ou intensa. condutas reabilitacionais tanto para o pré, como para o pós-
Seguindo esta classificação, os resultados obtidos nesse operatório, com avaliações seriadas e documentação
estudo foram considerados bons para flexão ativa por ocasião adequada que possibilitem a análise dos resultados para
da alta, visto que 91 % já tinham arco de movimento entre posterior documentação dos casos. É importante a integração
75 – 90° de flexão sem dor; porém com relação à extensão das equipes cirúrgica e reabilitacional no sentido de promover
ativa foram ruins visto que 91,30 % apresentaram algum o melhor tratamento para o paciente.
grau de flexão residual. É sabido que esses pacientes evoluem
em relação a goniometria durante o primeiro ano de pós- Referências
operatório [12,13,15,36,40,41], então são considerados bons
os resultados imediatos obtidos. O mesmo pode-se dizer 1. Veiga LT, Villardi AM, Palma IM. Revisão de artroplastia total
em relação à força muscular, em que 100% dos pacientes, do joelho. Rev Bras Ortop 2001;36:25-8.
por ocasião da alta, tinha força muscular de quadríceps grau 2. Camanho GL. Tratamento da osteoartrose do joelho. Rev Bras
3 ou 4, pois é sabido que os indivíduos perdem cerca de Ortop 2001;36:135-40.
278 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 279

Artigo original

O uso do ultra-som terapêutico no tendão calcâneo


visando o aumento da amplitude de movimento
The use of the therapeutical ultrasound in the calcaneal tendon
aiming the increase of the amplitude of movement
Gisele Cirelli*, Mario Adrian Misailidis, M.Sc.*, Maria Eugenia Briet da Silva**, Michele Hoshino**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Curso de Fisioterapia da Universidade de Taubaté – UNITAU, **Graduanda em fisioterapia pela Universidade de
Taubaté – UNITAU

Resumo
Este trabalho teve como objetivo comprovar a eficácia do ultra-som terapêutico no
Palavras-chave: ganho de amplitude de movimento de dorsiflexão de tornozelo. Foi escolhido o tendão
tendão calcâneo, ultra-som. calcâneo como objeto da pesquisa, devido a sua disposição anatômica superficial, facilitando
a absorção das ondas ultra-sônicas. Uma elevação na temperatura altera o comportamento
do colágeno e o ultra-som terapêutico gera esse efeito térmico, pois altera as propriedades
de tecidos específicos, como os tendões. Há produção de um estiramento que diminuirá
a resistência do tecido. O estudo teve a participação de 15 voluntárias do sexo feminino
na Clínica Escola do Departamento de Fisioterapia da Universidade de Taubaté, das
quais apenas 6 praticavam alguma atividade física. Como resultado observa-se uma
diferença da média pré ultra-som do grupo praticante de atividade física em relação ao
grupo sedentário, que alcançou 6,6º. É notável que essa diferença permaneça, embora
reduzida a 5,6º, mesmo após a terapia por ultra-som. No geral se pode constatar que a
média de aumento do movimento foi de 3,8º.

Abstract
This work had as objective to prove the effectiveness of the therapeutical ultrasound
Key-words: in the increase of amplitude of movement of ankle dorsiflexion. The calcaneal tendon
Calcaneal tendon, ultrasound. was chosen as object of the research, which had its superficial anatomical seating,
facilitating the absorption of the ultrasonic waves. A rise in the temperature modifies
the behavior of the collagen and the therapeutical ultrasound generates this thermal
effect, therefore it modifies the specific tissues properties, as the tendons. It has
production of a stretching that will diminish the resistance of the tissue. The study
had the participation of 15 volunteers of the feminine sex at the Clínica Escola do
Departamento de Fisioterapia da Universidade de Taubaté, of which only 6 practised
some physical activity. It was observed a difference of the average before ultrasound
of the practicing group of physical activity in relation to the sedentary group, that
reached 6,6º. It is notable that this difference remains, even so reduced 5,6º, even
after the ultrasound therapy. The average of increase of the movement was 3,8º.

Recebido 25 de maio de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Gisele Cirelli, Rua Leite Ferraz, 75/113-C Vila Mariana São Paulo SP, E-mail: gcirelli@ig.com.br
280 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Introdução freqüentemente descritas como sinóvia. A fricção entre elas


é minimizada por uma delgada camada de líquido sinovial
O tendão do calcâneo é formado a partir de uma escorregadio [10].
aponeurose na junção músculo-tendínea do gastrocnêmio, Os tendões são constituídos de três partes: substância
que mais distalmente se une ao músculo sóleo e o tendão própria do tendão, junções musculotendinosas e inserções
plantar, um remanescente vestigial pouco importante. ósseas [11].
Os tendões são estruturas formadas por tecido conjuntivo O tendão calcâneo ou de Aquiles é considerado o mais
que prendem músculos aos ossos [1]. Histologicamente, as grosso e mais forte tendão do corpo humano, através do
fibras colágenas são as principais e mais abundantes fibras qual os músculos da panturrilha exercem sua força sobre a
do tecido conjuntivo. Elas são flexíveis e têm grande força parte posterior do pé durante a fase propulsiva de muitas
tênsil [2]. atividades, como andar, correr e saltar [12]. Pode suportar
Diversos pesquisadores sugeriram que uma elevação na forças de aproximadamente 1000 kg no adulto médio. Na
temperatura altera o comportamento do colágeno [3]. Esse fase de desprendimento do pé na corrida, o pé e o tornozelo
aquecimento em estruturas constituídas por tecido fibroso, funcionam como uma alavanca de segunda classe, com o
como o tendão, pode causar um aumento temporário na peso do corpo distribuído entre o fulcro do tendão calcâneo
sua extensibilidade e, portanto, uma diminuição na rigidez e a força na extremidade do pé. O efeito desse sistema de
articular [4]. alavanca é tal que um homem pode precisar de uma força
O ultra-som terapêutico é freqüentemente utilizado na de 300 kg para elevar-se do solo [1].
prática clínica da fisioterapia com o objetivo de diminuir os O tendão calcâneo compõe a região posterior da
sintomas e as manifestações inflamatórias [5]. Ele pode articulação do tornozelo [13].
exercer um efeito sobre as células e tecidos mediante dois O tornozelo é uma articulação em gínglimo ou dobradiça
mecanismos físicos: térmico e atérmico [6]. formada pela articulação da tíbia e fíbula com o tálus [13].
O efeito térmico do ultra-som terapêutico e seu efeito É uma articulação projetada para dar estabilidade assim
na extensibilidade do colágeno, em particular do tendão como mobilidade às estruturas terminais do membro
calcâneo na articulação do tornozelo, serão os objetos de inferior. O tornozelo e o pé são capazes de adaptar-se de
estudo deste trabalho. modo a absorver forças e acomodar-se a superfícies
irregulares, e também precisam ser capazes de tornarem-se
Revisão de literatura uma alavanca estrutural rígida para impulsionar o corpo
para frente durante a marcha e a corrida [14].
O tendão é um cordão de tecido conjuntivo que fixa um Apenas dois movimentos ativos ocorrem na articulação
músculo a um osso [7]. Varia em forma e tamanho, desde do tornozelo: flexão e extensão[15].
os pequeninos cordões fibrosos, até os calibrosos cordões O eixo em torno do qual a movimentação ocorre estende-
fibrosos que formam, por exemplo, o tendão de Aquiles [8]. se obliquamente da face póstero-lateral do maléolo fibular
Histologicamente, o tendão é a forma mais densa de à face ântero-medial do maléolo tibial [13]. Esse eixo oblíquo
tecido colágeno de sustentação, sendo constituído por feixes passa pelo corpo do tálus [15].
de espessas fibras colágenas entre os quais estão espalhados A flexão é o movimento do pé no qual a superfície
fileiras de fibroblastos com núcleos alongados. Cada tendão plantar se move em direção caudal e posterior. A extensão
é composto por pequenos feixes desse tecido denso, unidos é o movimento do pé no qual a superfície dorsal move-se
por uma pequena quantidade de tecido de sustentação em direção anterior e cranial [13].
colágeno mais frouxo, que contém o escasso suprimento Quando o pé está em flexão plantar, a parte posterior
sanguíneo e as diminutas fibras nervosas dos receptores do mais estreita do corpo do tálus move-se para frente na
estiramento dos tendões. A superfície do tendão é lisa e concavidade. Com o pé em flexão dorsal, a parte anterior
condensada, com conexões mínimas com o tecido vizinho, mais larga do corpo do tálus move-se para trás na
de modo a permitir o movimento relativamente desimpedido concavidade [15].
do tendão [9]. Com dorsiflexão e flexão plantar do tornozelo ocorrem
Os tendões possuem receptores sensoriais denominados leves movimentos acessórios na fíbula. À medida que ocorre
órgãos tendinosos de Golgi, que registram a tensão no tendão. flexão plantar, o maléolo lateral fibular roda medialmente e
Alguns tendões são circundados por uma bainha tendinosa, é tracionado para baixo, e os dois maléolos se aproximam.
que consiste em duas bainhas concêntricas, as quais são Na articulação superior, a fíbula desliza inferiormente. O
formadas por tecido conjuntivo relativamente celular e que oposto ocorre com a dorsiflexão [14].
estão separadas por um estrito espaço. Enquanto a bainha A flexão plantar é causada primariamente pelo músculo
interna está aderida ao tendão, a bainha externa se mistura biarticular gastrocnêmio e o músculo uniarticular sóleo, eles
com o tecido conjuntivo circulante. Compostas por colágeno, se inserem no osso calcâneo via tendão de Aquiles. Tibial
as superfícies lisas aposicionadas de deslizamento são posterior, flexor longo do hálux, flexor longo dos dedos,
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 281

fibular longo e curto são músculos que também contribuem A onda é, portanto, um transferidor de energia. As ondas
para esse movimento. A dorsiflexão do tornozelo é gerada sonoras envolvem o movimento vibratório de moléculas de
pela ação do músculo tibial anterior, pelos músculos modo que há uma velocidade característica de progressão
extensor longo do hálux e extensor longo dos dedos e o para cada meio particular [4].
fibular anterior [14]. O ultra-som modelo contínuo eleva mais efetivamente
A articulação do tornozelo possui, além dos dois a temperatura do tecido, se a intensidade for alta o
movimentos ativos, seis movimentos acessórios: movimentos suficiente, e tem sido relatado para aumentar a
póstero-anterior, ínfero-posterior, longitudinal em direção extensibilidade nas estruturas do colágeno-rico, diminuindo
cefálica, longitudinal em direção caudal, rotação medial e a inflexibilidade das articulações, diminuindo espasmos e
rotação lateral [15]. dor, aumentando o fluxo sanguíneo e a velocidade da
A articulação do tornozelo tem como amplitude de condução nervosa [19].
movimento 15º a 20º de dorsiflexão e 35º a 40º de flexão A transmissão adequada da energia ultra-sônica para os
plantar [16]. tecidos depende de ter um meio de acoplamento que
O goniômetro, instrumento mais utilizado para medir os proporcione uma boa combinação entre a impedância
ângulos dos arcos de movimento humanos na área da saúde, acústica do metal da cabeça do transdutor e a pele [4].
apresenta as seguintes vantagens: ser de fácil manuseio, ter O melhor agente de transferência, em termos de
baixo custo de aquisição, ter facilidade de captação e propriedade de impedâncias acústicas, é a água, porém o
reposição, possibilita uma tomada de decisão eficiente, e agente de transmissão ideal não deve ter somente as
depende da qualidade do goniômetro (tamanho das hastes, propriedades acústicas da água, mas também satisfazer
da precisão da escala) e da habilidade do aferidor [17]. determinadas exigências: ausência de bolhas de gás ou objetos
Trata-se de um transferidor com dois braços de referência reflexivos, estéreis, hipoalergênico, quimicamente inerte,
que são alinhados com o eixo longitudinal dos segmentos transparente e barato [3].
corpóreos adjacentes à articulação, com o centro (fulcro) Dessa forma o gel é eleito o melhor transmissor para o
do transferidor posicionado sobre o centro articular ultra-som, pois além de possuir propriedades acústicas
estimado. O goniômetro ou transferidor pode ser fixado similares à água, sua viscosidade é elevada o que o torna
com fita adesiva nos segmentos corpóreos ou seguro com mais facilmente utilizável [19].
os braços alinhados com o eixo longitudinal dos segmentos. Como a atenuação aumenta com a elevação da
Solicita-se ao indivíduo que mova a articulação ao longo de freqüência, as freqüências mais baixas efetivamente penetram
toda a amplitude de movimento, enquanto os ângulos são mais [4].
medidos visualmente e depois registrados [18]. Também devemos observar que a quantidade de
Devido ao Sistema Internacional de Unidades, a unidade atenuação depende da natureza do tecido atravessado pelo
de medida do arco de movimento é o radiano que foi uma ultra-som [20]. O ultra-som é bem absorvido por: proteína
unidade alternativa criada pelo matemático Thomas Muir e em tecido nervoso, ligamentos, cápsulas intra-articulares,
o físico James T. Thompson. A maioria dos países aderiu ao tendões com alta concentração de colágeno, proteína no
Sistema Internacional, onde o radiano foi definido como músculo e hemoglobina [16].
unidade universal de ângulo, mas a maioria dos autores Baseado nestas informações, na prática, concluímos que
brasileiros e internacionais continua utilizando o sistema de o ultra-som terapêutico de 1MHz, que possui cristais
graus como unidade de ângulo [17]. superiores a 1cm, com absorção de 6,2 mm no tendão, é
O goniômetro comumente usado, chamado goniômetro mais adequado [9].
universal, é um círculo completo (0 a 360 graus) ou meio A área de radiação efetiva (ERA) do aparelho é um
círculo (0 a 180 graus), podendo se confeccionado de metal, parâmetro importante que determina a intensidade total do
madeira, plástico (PVC ou acrílico) ou de osso [17]. cabeçote. A ERA não corresponde à área geométrica do
O ultra-som terapêutico refere-se às vibrações cabeçote [4].
mecânicas que são essencialmente as mesmas das ondas
sonoras, mas com uma freqüência mais alta. A energia Intensidade total = intensidade selecionada x ERA
ultra-sonora ou o ultra-som descreve qualquer vibração a
uma freqüência acima da faixa do som, mas na fisioterapia A dose final é determinada com o tempo de aplicação
são mais comumente usadas as freqüências de pouco que não exceder 15 minutos e nem ser inferior a 1 minuto.
megahertz [4]. Para sua determinação consideramos a área a ser tratada [9].
À medida que as ondas de som passam através de
qualquer material, sua energia é dissipada ou atenuada. Tempo = Área
Quando o ultra-som penetra no corpo, pode exercer um ERA
efeito sobre as células e tecidos mediante dois mecanismos
físicos: térmico e atérmico [9]. Dose = Intensidade Total x Tempo (min.)
282 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

A incidência deve ser perpendicular. Os movimentos do Este estudo foi realizado nas dependências da Clínica
transdutor devem ser em forma de espiral e lentos, na ordem Escola do Departamento de Fisioterapia da Universidade
de 80 a 85 cm/min [16]. de Taubaté.
O aquecimento de estruturas constituídas por tecido Todas as voluntárias foram submetidas ao mesmo
fibroso, como as cápsulas articulares, ligamentos, tecido protocolo de avaliação: sendo aferida a amplitude de
cicatricial e tendões, pode causar um aumento temporário movimento (dorsiflexão) da articulação do tornozelo, com
na sua extensibilidade, e, portanto, uma diminuição na goniômetro Carci antes e após a aplicação do ultra-som
rigidez articular. Foi demonstrada a ocorrência de um terapêutico Proseven 977, da Marca Quark.
aumento na extensibilidade do colágeno, com aplicação de A goniometria foi aplicada em todas as voluntárias pelo
calor, pois as propriedades de tecidos específicos podem mesmo pesquisador, da maneira que se segue [23]. O pé
ser alteradas pelo aquecimento. A extensibilidade dos tendões estava em posição anatômica. Para a realização das medidas
pode ficar aumentada devido a um estiramento capaz de utilizou-se a superfície lateral da articulação. O braço fixo
produzir deter minado alongamento que alterará a do goniômetro foi colocado paralelo à face lateral da fíbula,
resistência do tecido. A temperatura numa articulação o braço móvel é colocado paralelo à superfície lateral do
influencia a resistência ao movimento e, essas alterações V metatarso, enquanto o eixo é posicionado na articulação
no movimento articular podem ser, em parte, atribuídas a do tornozelo, junto ao maléolo lateral na extremidade distal
mudanças na viscosidade do líquido sinovial [4]. da fíbula.
Em temperaturas elevadas, as propriedades viscosas do Depois de aferidos os arcos de movimento, foi aplicado o
tendão ficam evidentes, levando a uma redução na resistência ultra-som terapêutico, no modo contínuo, no qual a emissão
tênsil. A relação entre a tensão/estiramento sofre alteração, de ondas mecânicas é ininterrupta e não há modulação da
e ocorre um alongamento residual [21]. freqüência, existindo, portanto, associação entre a diatermia e
As propriedades mecânicas do tendão são melhoradas micro-massagem. Meio de transferência (gel), intensidade e
com o ultra-som terapêutico e informaram que podem ser duração do tratamento foram previamente estipulados [21].
obtidos aumentos na resistência tênsil e na elasticidade de Dessa forma, um tecido menos vascular, como o tendão,
tendões, pelo uso de intensidades mais baixas [3]. experimentará um aumento de temperatura relativamente
maior [4].
Objetivo Realizou-se então nova goniometria, pelo mesmo
pesquisador de outrora, e obedecendo as mesmas fases
Este estudo tem por objetivo comprovar a eficácia da anteriormente executadas.
aplicação do ultra-som terapêutico, no tendão calcâneo da Os resultados obtidos foram anotados nos questionários
articulação do tornozelo, visando o aumento da de avaliação individuais para que pudessem ser comparados
extensibilidade do colágeno e conseqüente ganho na e analisados.
amplitude de movimentos realizados por tal articulação. Este procedimento em nenhum momento acarreta dano
ao indivíduo.
Material e métodos
Resultados
Foram utilizadas neste estudo 15 alunas do Departa-
mento de Fisioterapia da Universidade de Taubaté. Essas alunas tinham idade entre 20 e 32 anos, 40%
O grupo foi escolhido aleatoriamente, sendo somente (indivíduos = 6) praticavam atividade física e 60%
utilizado para critério de seleção a idade, que deve ser (indivíduos = 9) não se exercitavam. Das 15 voluntárias, 4
superior a dezoito anos. Respeitando a diferença de relataram algum tipo de dor ou desconforto na região do
amadurecimento das epífises de crescimento e a elasticidade quadril e membros inferiores, sendo 3 delas sedentárias.
das articulações que varia para cada pessoa, mesmo com A tabela I identifica as estudantes e expõe as medidas de
idade aproximada, o número de 15 participantes nos oferece amplitude de movimento (dorsiflexão), antes e após a
um adequado grupo para estudo e comparações. aplicação do ultra-som terapêutico.
O sexo feminino foi escolhido devido a maior A tabela II estima a variação, em graus, da Amplitude de
mobilidade articular por elas apresentado. Isso se deve à movimento, destacando a média obtida considerando todas
presença do hormônio relaxina, que tem seus níveis as voluntárias e suas idades. Com base nesses resultados
aumentados durante o ciclo menstrual, chegando a duplicar pôde-se constatar que a média de aumento do movimento
durante a gestação [22]. foi de 3,8º.
Todas estavam de acordo, assinando o termo de A tabela III divide as voluntárias, no que se refere à
consentimento livre e esclarecido previamente estabelecido prática ou não de atividade física, e demonstra a média de
e respondendo ao questionário individual de avaliação Amplitude de movimento pré e pós- terapia por ultra-som
(Anexo). obtida por cada grupo.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 283

Tabela I - Identificação das voluntárias e medidas de ADM antes e após uma voluntária (21 anos) não apresentou variação dessa
da aplicação do ultra-som terapêutico. amplitude, do mesmo modo que apenas uma voluntária
N ADM pré ultra-som ADM pós ultra-som apresentou variação muito grande, excedendo em 8,2º a
1 84º 84º média registrada. Analisando-se, portanto, os extremos,
2 80º 81º
3 68º 70º
considerando a amplitude de movimento e a idade das
4 79º 81º estudantes, percebe-se que somente a idade não é fator
5 72º 74º relevante que possa gerar tal discrepância.
6 72º 74º No entanto foi observado no decorrer do trabalho que
7 82º 85º a variação da amplitude de movimento (dorsiflexão) das
8 79º 82º voluntárias que praticam atividade física (3,2º) é menor que
9 84º 88º
a variação da amplitude de movimento daquelas que são
10 80º 84º
11 69º 74º
sedentárias (4,2º). Mas podemos notar que, apesar dessa
12 78º 84º variação ser menor para as praticantes de exercício físico, a
13 68º 74º amplitude de movimento antes e após a aplicação do ultra-
14 76º 82º som terapêutico é maior do que a das sedentárias, conforme
15 64º 75º mostrado na Tabela III.
Devido aos dados obtidos, foi pesquisado que os
exercícios de flexibilidade, que são praticados antes da
Tabela II - Variação de ADM, destacando médias obtidas. atividade física, têm como meta induzir mudanças
N Variação Idade duradouras na amplitude de movimento [24]. Então
1 0º 21
podemos dizer que a diferença entre as variações das
2 1º 22
3 2º 21 praticantes de atividade física e das sedentárias, que é de 1º,
4 2º 22 pode ser explicada pela ação da flexibilidade.
5 2º 23
6 2º 32 Conclusão
7 3º 20
8 3º 20
9 4º 21
Com o presente trabalho verificou-se que o método de
10 4º 21 tratamento baseado na aplicação do ultra-som terapêutico,
11 5º 20 no tendão calcâneo da articulação do tornozelo, é importante
12 6º 20 no aumento da extensibilidade do colágeno e promove maior
13 6º 21 amplitude de movimentos, mesmo que temporários.
14 6º 21 Esse aumento temporário pode, no entanto, tornar-se
15 11º 20
permanente se associado a outro tipo de tratamento
Média 3,8º 21
fisioterápico, melhorando a qualidade dos movimentos do
paciente e lhe propiciando também melhor qualidade de vida.
Tabela III - Divisão das voluntárias no que se refere à prática ou não de
atividade física e média da amplitude de movimento pré e pós-terapia por Referências
ultra-som.
Grupo Média ADM Média ADM Variação 1. Keene J Malone T. Lesões de ligamentos e das unidades
pré-ultra-som pós-ultra-som músculotendíneas. In: Malone T, Mcpoil T, Nitz A.
Praticantes 79,6º 82,8º 3,2º Fisioterapia em ortopedia e medicina no esporte. 3a ed. São
Sedentárias 73º 77,2º 4,2º Paulo: Santos; 1998. p. 136-7.
Variação 6,6º 5,6º 2. Ross MH, Romrell LJ, Reith EJ. Tecido conjuntivo. In: Ross
MH, Romrell LJ, Reith EJ, eds. Histologia: texto e atlas. 2a ed.
Analisando-se a Tabela III observa-se a grande diferença São Paulo: Panamericana; 1993. p. 87-90.
da média pré-ultra-som do grupo praticante de atividade 3. Haar GT. Princípios eletrofísicos. In: Kitchen S, Bazin S.
física em relação ao grupo sedentário, que alcançou 6,6º. É Eletroterapia de Clayton. 10a ed. São Paulo: Manole; 1998. p.
notável que essa diferença permanece, embora reduzida a 23-31.
5,6º, mesmo após a terapia por ultra-som. 4. Low J, Reed A. Ultra som terapêutico. In: Low J, Reed A.
Eletroterapia explicada: princípios e prática. 3a ed. Barueri:
Manole; 2001. p. 187-228.
Discussão 5. Pereira LSM et al. Os efeitos do ultra som na hiperalgesia e no
edema de ratos artríticos. Rev Fisioter Univ São Paulo
Com base nos resultados, pode-se constatar que a média 1998;5(2):83-96.
de aumento na amplitude de movimento foi de 3,8º. Apenas 6. Collins K. Efeitos térmicos. In: Kitchen S, Bazin S.
284 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Eletroterapia de Clayton. 10a ed. São Paulo: Manole; 1998. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 3a ed. São
p. 93-4. Paulo: Manole; 1998. p. 151-2.
7. Tortora GJ. O sistema muscular. In: Tortora GJ. Corpo 15. Corrigan B, Maitland GD. Perna. In: Corrigan B, Maitland
humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 4a ed. São GD. Ortopedia e reumatologia:diagnóstico e tratamento. São
Paulo: Artes Médicas; 2000. p. 154-7. Paulo: Premier; 2000. p. 182-6.
8. Buckwalter JA. Tecidos musculoesqueléticos e sistema 16. Evangelista AR et al. Estudo do efeito ultra sônico na
musculoesqueléticos. In: Weinstein, SL, Buckwalter JA. consolidação óssea. Fisioter Bras 2003;4(2):139-43.
Ortopedia de Turek: princípios e sua aplicação. 5a ed. Barueri: 17. Tedeschi MA. Goniometria: sua prática e controvérsias. Fisioter
Manole; 2000. p. 30-5. Bras 2002;3(1):36-41.
9. Young B, Heath JW. Tecidos esqueléticos. In: Young B, 18. Chaffin DB, Andersson GBJ, Martin BJ. Estrutura e
Heath JW. Wheater histologia funcional: texto e atlas em funcionamento do sistema músculo esquelético. In: Chaffin
cores. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p. DB, Andersson GBJ, Martin BJ. Biomecânica ocupacional. 3a
172-92. ed. Belo Horizonte: Ergo; 1999. p. 17-34, 94-5, 136-9.
10. Cormack DH. Tecido conjuntivo denso, cartilagem, tecido 19. Paula JL. Ultra-som: considerações gerais. Fisioter Mov
ósseo e articulações. In: Cormack DH. Fundamentos de 1994;7(1):9-16.
histologia. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. 20. Bruno AA. Meios físicos em reabilitação. In: Lianza S. Medicina
p. 142. de reabilitação. 3a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001.
11. Dietz FR. Moléstias neuromusculares. In: Weinstein, SL p. 97.
Buckwalter JA. Ortopedia de Turek: princípios e sua aplicação. 21. Young S. Terapia por ultra som. In: Kitchen S, Bazin., S.
5a ed. Barueri: Manole; 2000. p. 224-38. Eletroterapia de Clayton. 10a ed. São Paulo: Manole; 1998. p.
12. Palastanga N, Field D, Soames R. O membro inferior. In: 237-56.
Palastanga N, Field D, Soames R. Anatomia e movimento 22. Oliver J, Middleditch A. Articulações sacroilíacas. In: Oliver J,
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13. Kendall FP, Mccreary EK, Provance PG. Provas de comprimento 23. Marques AP. Normas para medir os ângulos articulares dos
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EK, Provance PG.. Músculos, provas e funções. 4a ed. São Paulo: 4a ed. São Paulo: Manole; 1997. p. 35-8.
Manole; 1995. p. 336-7. 24. Enoka RM. Bases neuromecânicas da cinesiologia. 2a ed. São
14. Kisner C, Colby LA. Alongamento. In: Kisner C, Colby LA. Paulo: Manole; 2000. p. 263. C

Anexo

Questionário de Avaliação
Idade:_________ Profissão: ________________________ Ocupação: ________________________
Filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos?________________________
Pratica Atividade Física? ( ) Sim ( ) Não
Caso tenha respondido sim, com qual freqüência?
( ) menos que 3 vezes por semana
( ) 3 vezes semanais ou mais
Com que duração?
( ) menos que 20 minutos
( ) 20 minutos ou mais
Você sente algum desconforto (como por exemplo, dor formigamento, sensação de queimação, peso, etc.) na região
lombar, coxas, pernas e/ou pés?
( ) Sim
( ) Não
Caso tenha respondido sim, fez ou faz algum tratamento para esse desconforto?
( ) Sim
( ) Não
Qual?___________________________
Faz uso de algum tipo de medicação?
( ) Sim
( ) Não
Qual?____________________________
ADM pré Ultra-som terapêutico: ________________ ADM pós Ultra-som terapêutico: ___________________
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 285

Artigo original

Uso do simulador do paciente humano em UTI:


um novo paradigma na relação aluno-aprendizagem
Human patient simulator in ICU:
a new paradigm in student-learning relation
Rachel Maria da Silva Bezerra*, Carlos Alberto Caetano Azeredo**, Fabio Cavalcanti***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Mestranda em Ciências da Motricidade Humana (UCB), **Especialista em Fisioterapia Respiratória (Sobrafir), Título de Notório Saber
(Coffito), Chefe do Centro de Práticas Avançadas em Fisioterapia, ***Especialista em Ventilação Mecânica, Chefe do Laboratório de
Simulação do CEPAF

Resumo
A intenção deste estudo foi de documentar a experiência inicial com o simulador do
Palavras-chave: paciente humano, usando um manequim computadorizado, para avaliação da performance
fisioterapia respiratória, UTI, prática e cognitiva de fisioterapeutas. Este foi um estudo observacional com 8 fisioterapeutas
erros, ensino. graduandos e graduados durante a simulação em uma unidade de terapia intensiva.
Nenhum dos sujeitos completou com sucesso o cenário de simulação. Existiu uma relutância
por parte dos mesmos em solicitar ajuda antes que o cenário se tornasse critico. Na
simulação subseqüente, a performance foi melhorada em áreas antes negligenciadas. A
aceitação dos sujeitos aos cenários de simulação foi considerada uma útil ferramenta para
o aprendizado das condutas fisioterápicas em UTI. O simulador do paciente humano é
uma ferramenta valiosa para a educação em cuidados críticos, pois aponta os déficits de
performance individual com relação ao conhecimento teórico-específico.

Abstract
This study documented the inicial experience with a computed human patient
Key-words: simulator. It was evaluated the cognitive and pratical performance during two simulations.
chest physical therapy, ICU, None of the subjects sucefully complete the first scenario. The human patient simulator
mistake, learning. is a valuable tool for education in critical care because it point the individual performance
deficits in relation to specific theory knowledge.

Recebido 3 de junho de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Centro de Práticas Avançadas em Fisioterapia, Rua Leandro Martins, 20/1005 Centro 20080-070 Rio de Janeiro RJ,
E-mail: rachelbezerra@aol.com
286 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Introdução teóricas sobre a atuação do fisioterapeuta junto ao paciente


crítico (interpretação e monitorização dos sinais vitais,
Na indústria da aviação, o treinamento é caro e o erro ventilação mecânica em situações clínicas específicas e
do operador deve ser evitado a todo custo. Desta maneira utilização do ventilador mecânico como coadjuvante no
os simuladores em aviação são atualmente regularmente atendimento fisioterapêutico).
utilizados para auxiliar os pilotos a manterem suas habilidades, Após os 5 dias, os alunos foram submetidos a 3 dias de
ou tornarem-se familiarizados com situações problemáticas simulação. Após orientação, cada dupla participou de um
que podem ser encontradas [1,2]. cenário clínico padronizado, pré-selecionado em um cenário
No campo da medicina, a tecnologia desenvolvida em que simulava uma unidade de terapia intensiva.
simulação cresce cada vez mais para que estudantes e Imediatamente antes de entrarem na sala receberam um
profissionais aprendam procedimentos invasivos. Sendo uma resumo das condições clínicas do paciente e a razão pela
tendência mundial, o uso de simuladores de pacientes no qual foi solicitado o atendimento fisioterapêutico
meio médico para que sejam evitados erros potenciais pneumofuncional.
durante procedimentos invasivos, desconfortos do paciente, Infor mações em tempo real das modificações
e maior risco inerente ao procedimento realizado [3]. hemodinâmicas e pulmonares durante a simulação como,
A Fisioterapia Pneumofuncional vem reconhecidamente por exemplo: pressão arterial (sistólica, diastólica e média),
aumentado a magnitude de suas atuações em especial à nível pulso, freqüência cardíaca, sinais eletrocardiográficos,
das unidades de terapia intensiva, onde os pacientes atendidos freqüência respiratória e saturação de oxigênio foram
pelo profissional fisioterapeuta estão clinicamente instáveis repassadas aos participantes através de um programa de
e necessitam de tomadas de decisão e atuações com ressuscitação comercialmente disponível (Megacode-Trainer,
embasamento sólido e não hesitante. Laerdal, Germany) e por um monitor de mecânica pulmonar
O sistema de simulador do paciente humano (SPH) foi (Ventrak-Novametrix).
desenvolvido pelo Centro de Práticas Avançadas em
Fisioterapia, incorporando a tecnologia em simulação para a Foto 1- Dupla em uma manobra fisioterapêutica.
prática fisioterapêutica pneumofuncional em unidade de terapia
intensiva. O sistema é composto de um manequim e uma central
de controle. O manequim é um boneco em tamanho adulto
real onde o sistema pulmonar e cardiovascular respondem
automaticamente as intervenções dos praticantes e ao meio. A
central de controle contém os componentes de regulação da
simulação partindo deste local, o sequencimento dos eventos
que irão ser desenvolvidos nas simulações com os praticantes.
Baseado neste novo contexto de aprendizado prático-
teórico, segue-se a proposta de determinar o quanto o uso
de um simulador de um paciente pode influenciar o
aprendizado de habilidades técnicas básicas e avançadas
necessárias ao manejo do paciente crítico durante o
atendimento fisioterapêutico pneumofuncional.
No momento da simulação os praticantes deveriam
Materiais e métodos colocar em prática os conhecimentos teóricos adquiridos
como: avaliar a necessidade de ser instituída a nebulização,
Amostra oxigenoterapia, ventilação não invasiva e invasiva (foto 1).
Além de realizar cuidados com as vias aéreas superiores,
A amostra do estudo consistiu de 8 sujeitos, sendo 7 do solicitar e interpretar medidas da mecânica respiratória e
sexo feminino e 1 do sexo masculino, entre 20 e 25 anos. Os sinais vitais. O praticante deveria, portanto, obedecer a uma
sujeitos eram profissionais graduados (5 sujeitos) e seqüência de eventos onde o manequim evoluía desde uma
graduandos (3 sujeitos) em fisioterapia. Os indivíduos não situação basal até a necessidade de se instituir suporte
tinham conhecimento prévio dos cenários de simulação aos ventilatório sendo todos estes eventos acompanhados por
quais seriam submetidos. alterações nos sinais vitais, curvas de mecânica ventilatória
e gasometria.
Procedimento de observação Cada dupla foi avaliada em 8 tarefas pré-selecionadas
dependendo do cenário, por um observador através de uma
Antes de serem submetidos às simulações com o paciente escala que variava em três pontos. Sendo 0 (falha em realizar
humano, os indivíduos receberam durante 5 dias informações o procedimento), 1 (realizou pobremente ou fora de
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 287

seqüência) e 2 (realizou corretamente a seqüência de Discussão


eventos) (Tabela I). O mesmo observador foi utilizado em
todas as sessões para eliminar a variação neste exercício Um simulador é definido como um aparelho de
não cego. treinamento que duplica artificialmente as condições
A avaliação de todos os procedimentos tomados pelos encontradas em algumas situações específicas [4]. O valor
sujeitos foi feita através de câmeras de vídeo conectadas a dos simuladores como uma ferramenta educacional
um monitor. O sistema de vídeo foi também utilizado para avançada é derivada do trabalho pioneiro de John Dewey
posterior discussão entre os outros alunos dos erros e acertos que em 1938 assinalou quatro conceitos para o aprendizado:
realizados pelas duplas durante as simulações. experiência, democracia, continuidade e interação. Em
1956, Blom definiu os objetivos educacionais o qual foi
Resultados dividido em três domínios: cognitivo, atitude e psicomotor
[5]. O domínio da atitude está relacionado em como o
Nenhum participante completou com sucesso os dois estudante torna-se um adulto capaz de aprender, o domínio
cenários propostos. A média de pontos foi de 10, com escores psicomotor envolve habilidades visuoespaciais e o domínio
que variaram de 6 a 12 pontos (Tabela I). As ações que cognitivo concentra-se em como o estudante aprende e
eram consistentemente realizadas incluíram iniciar a incorpora fatos.
nebulização prescrita no momento apropriado, acoplar a e Gagne revisou o uso de simuladores no treinamento
retirar ventilação não invasiva. A ausculta pulmonar foi militar, não apenas para pilotos mais também para
realizada por todos os participantes, porém não controladores de tráfego aéreo, e outros técnicos. Foi
rotineiramente, contribuindo para algumas falhas de conduta percebido que não necessariamente o aparelho fosse
com relação ao status clínico do paciente. Outros déficits simulado mas sim procedimentos, comunicação de
foram a dificuldade em identificar a necessidade de iniciar a informações e diagnósticos de problemas [1].
ventilação não invasiva e posteriormente retirá-la devido a Simuladores de vários tipos têm sido usados por vários
deterioração cardiopulmonar repentina. Além disso, existiram programas de treinamento na educação de cirurgiões e
falhas durante o acoplamento do paciente à prótese médicos que lidam com cuidados críticos [6]. Sendo os
ventilatória. Nenhum dos participantes solicitou ajuda até simuladores considerados um recurso capaz de respaldar os
que o cenário de simulação fosse crítico. instrutores na constante análise dos médicos aprendizes [4].

Tabela I - Performance nos componentes do cenário. Conclusão


Participante A B C D E F G H
ECT 1 1 2 1 1 1 2 2 A aprendizagem com o simulador
A.P 2 2 2 2 2 1 2 1 do paciente humano pode ser
INC. NBZ 0 2 2 2 2 2 2 2
comparada à atividade prática real, uma
Acoplar VNI 1 0 2 2 1 1 2 2
Retirar VNI 1 0 2 1 1 2 0 1
vez que são reproduzidas as condições
Sol. ajuda 0 0 0 1 1 0 0 0 exatas que o profissional encontrará
PAR.vent 0 2 1 1 0 0 1 2 com o paciente. A grande vantagem
CUI.V.A.A 1 2 2 2 1 1 2 1 desta metodologia seria a possibilidade
Total 6 9 13 12 9 8 12 11 de reiniciar a simulação quantas vezes
ECT- ectoscopia, A.P- ausculta pulmonar, INC.NBZ-iniciar nebulização, SOL. AJUDA - solicitar forem necessárias até o profissional
ajuda, PAR.VENT-parâmetro ventilador, CUI V.A.A-cuidados com as vias aéreas artificiais. se sinta seguro e confortável na
abordagem com o paciente. Situação
A performance no segundo cenário (ventilação mecânica) impossível de ser recriada na prática real, onde a decisão
melhorou consideravelmente em todos os participantes. A correta deve ser tomada com o máximo critério e rapidez.
média de pontos do segundo cenário aumentou de 10 para O simulador do paciente humano, portanto, é uma valiosa
20. A avaliação dos participantes com relação à simulação foi ferramenta para a educação de procedimentos fisiote-
bastante positiva. Todos responderam ao questionário dizendo rapêuticos desempenhados dentro de uma UTI, sendo capaz
que a experiência da simulação foi “uma boa modalidade de de identificar pontos falhos tanto na performance individual
treinamento”. Outros exemplos da avaliação final escrita quanto com relação ao conteúdo programático repassado.
incluíram respostas como “aumentar o número de cenários
simulação e o tempo gasto com a simulação foi melhor Referências
empregado do que em estágios convencionais. Comentários
negativos foram relacionados ao ventilador mecânico o qual 1. Issenberg B, Macgeghie C, Hart I. Simulation technology for
não era microprocessado além da dificuldade em realizar o health care professional skills training and assessment. Jama
exame físico em algumas partes do manequim. 1962;282:861-67.
288 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

2. Rolfe J, Staples K. Flight simulation. Cambridge, UK: of a computerized human simulator in critical care training: a
Cambrige University Press; 1986. p.232-49. preliminary report. J Trauma 2002;53:1064-7.
3. Colt H, Crowford S, Galbraith O. Virtual reality broncoscopy 5. Trunkey D, Botney R. Assesing competence: a tale of two
simulation - A revolution in procedural training. Chest professions. J Am Coll Surg 2001;192:385-95.
2000;120:1333-9. 6. Nakman GB, Bermann M, Hammond J. Effective use of
4. Hammond J, Bermann M, Chen B, Kushins L. Incorporation human in surgical education. J Surg Res 115(2):214:8. C
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 289

Artigo original

Efeitos da vibração sonora de baixa freqüência


na espasticidade e controle motor de pacientes
de acidente vascular encefálico com reflexo tônico
cervical assimétrico (RTCA)
Sound low frequency vibration on spasticity and motor control
in stroke pacients with assimetrical cervical tonic reflex
Graziela Saraiva Reis*, Lúcia Souza Magro*, Nivaldo Antônio Parizoto, D.Sc.**,
Paulo Umeno Koeke, M.Sc.***, Flávio Pulzatto*
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, **Fisioterapeuta, Orientador Específico do Programa de Pós-graduação Interunidades


Bioengenharia - EESC/FMRP/IQSC – USP, Docente do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia – UFSCar,
***Fisioterapeuta, Professor da disciplina de Anatomia do curso de Fisioterapia e Enfermagem das Faculdades
Católicas Salesianas – Araçatuba SP

Resumo
O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da terapia vibratória de baixa freqüência
Palavras-chave: na inibição da espasticidade. Foram estudados 8 voluntários, os quais haviam sofrido
terapia vibratória, acidente vascular encefálico (AVE). Aplicou-se um gerador de intra-som (15 sessões)
espasticidade, AVE. no tendão distal do músculo tríceps braquial do lado afetado. A evolução dos voluntários
foi avaliada através da goniometria e de uma ficha de avaliação de desempenho nas
AVDs. O relato dos voluntários e/ou acompanhantes, indicaram melhora no controle
motor e maior independência, além disso, observou-se ganhos consideráveis de amplitude
de movimento total da articulação do cotovelo. Estes resultados sugerem que a terapia
permitiu padrões motores mais próximos da normalidade. Assim, podemos concluir
que a vibração de baixa freqüência atuou positivamente sobre alguns aspectos da
espasticidade, e que ela pode ser usada como recurso auxiliar e complementar ao
tratamento fisioterapêutico convencional.

Recebido 16 de junho de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Nivaldo Antonio Parizotto, Laboratório de Eletrotermofototerapia, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal
de São Carlos, Via Washington Luís, km 235, CP 676, 13565-905 São Carlos SP, Tel: (16) 2608630, E-mail: parizoto@power.ufscar.br
290 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Abstract
The aim of this study was to evaluate the effect of the sound vibration of low
Key-words: frequency in the inhibition of the spasticity. We used 8 volunteers which had suffered
vibratory therapy, stroke. A generator of sound low frequency probe (15 sessions) was applied in the
spasticity, stroke. distal tendon of the tríceps brachial muscle of the affected side. The evolution of the
volunteers was evaluated through the goniometry and the survey to evaluation of
performance in the diary activities was applied. The report of the volunteers and/or
companions had indicated improvement in the motor control and bigger independence,
moreover, observed considerable profits the range of movement of the elbow (active
and passive). These results suggest that the therapy allowed motor standards close to
the normality. Thus, we can conclude that the vibration of low frequency sound acted
positively on some aspects of the spasticity, and that it can be used as additional resource
and to complement the conventional physiotherapy treatment.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução adultos que haviam sofrido AVE, sendo 5 pacientes


hemiplégicos à esquerda e 3 à direita, de ambos os sexos
A terapia vibratória de baixa freqüência vem sendo (5 mulheres e 3 homens), com idade variando entre 64 e
estudada há algum tempo, porém, a sua utilização dentro da 78 anos.
fisioterapia ainda não é muito freqüente. Os critérios de inclusão foram: presença de graus leve,
As ações fisiológicas da terapia vibratória de baixa moderado ou grave de espasticidade, padrão de RTCA e
freqüência são diversas e de acordo com Hagbarth et al. [1]; alguma deficiência do controle motor. Já os critérios de
Radovanovic et al. [2]; Figuière et al. [3]; Bisschop et al.. [4] e exclusão foram: presença de neoplasias, processos
Crepon [5], este tipo de terapia pode modificar a circulação infecciosos e inflamatórios agudos no local da estimulação.
arteriocapilar, pois vibrações de pequenas amplitudes Uma avaliação física inicial determinou a presença da
provocam vasodilatação com aumento da temperatura espasticidade, do RTCA e de distúrbios do controle motor,
cutânea local e aquelas de amplitudes maiores causam ainda nesta avaliação foi mensurada, através de goniometria,
vasoconstricção. Há, também, a ação sobre o trofismo ósseo, a amplitude de movimento da articulação do cotovelo a ser
contribuindo para a consolidação pós-fratura, pois tratado. Outras duas avaliações idênticas à inicial foram
compressões mecânicas estimulam os efeitos piezoelétricos realizadas, uma sendo 2 dias após a última sessão de
das estruturas cristalinas dos ossos. Outra ação é a antálgica, tratamento e a segunda, 15 dias após esta última. O período
proveniente da ação de mecanoceptores cujas aferências total de tratamento foi de 35 dias, com 15 sessões de terapia
bloqueiam os influxos algogênicos ao nível medular. No vibratória 3 vezes por semana, com um intervalo de 48
aparelho respiratório, pode aumentar a ventilação e diminuir horas entre cada sessão. Entre a primeira e a segunda
a viscosidade da secreção. reavaliação não houve qualquer tipo de tratamento adicional,
Além dessas ações, a vibração de baixa freqüência assegurando a fidelidade da segunda reavaliação quanto ao
também tem importante ação neuromuscular [1-4]. efeito da terapia aplicada. O objetivo era comparar evolução
Neste trabalho, o nosso objetivo foi avaliar os efeitos dos pacientes quanto à goniometria e controle na realização
da terapia vibratória de baixa freqüência na espasticidade das AVDs, tendo cada sujeito como próprio controle. A
de indivíduos portadores de reflexo tônico cervical goniometria era realizada antes e após cada sessão com o
assimétrico (RTCA), através do relato destes pacientes e voluntário sentado e com a cabeça na linha média.
da mensuração goniométrica. A terapia vibratória foi aplicada utilizando-se um
equipamento gerador de intra-som de baixa freqüência da
Material e Métodos marca NOVAFON modelo SK2, com freqüência principal
de 100 Hz, 7cm² de área do cabeçote e oscilação entre 1 e
Esse trabalho foi realizado na Unidade Especial de Ensino 2 mm. O tempo de aplicação era de 15 minutos com o
Pesquisa e Extensão em Fisioterapia, na Universidade Federal cabeçote mantido no mesmo lugar durante todo este período,
de São Carlos (UFSCar). Participaram do estudo 8 indivíduos em contato direto com a pele, perpendicularmente ao tendão
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 291

(inserção) do músculo tríceps braquial do lado afetado. A .ECKH=! - Valores em graus relativos a goniometria da articulação do
pressão exercida pelo aplicador era equivalente à sensação cotovelo para o arco de movimento ativo nos momentos: antes, logo após e 15
de toque do cabeçote de vibração com o osso sob o tendão. dias após o tratamento por vibração.
A análise estatística dos resultados obtidos foi feita pelo
teste de ANOVA para medidas repetidas e teste Post Hoc de
Duncan para testar as diferenças na evolução (p < 0,05).

Resultados

Foram observados ganhos significativos na ADM da


articulação do cotovelo após a aplicação da terapia vibratória
de baixa freqüência, tanto na flexão (Figura 1), como na
extensão (Figura 2). A Figura 3 mostra a evolução da ADM
total da articulação do cotovelo em três momentos: antes
do início do tratamento; logo após o término do tratamento A sensação causada pela vibração foi descrita de maneiras
e 15 dias após o término do tratamento. diferentes pelos voluntários.
O teste Post Hoc de Duncan, mostrou que as diferenças Nos portadores de espasticidade severa, por exemplo, a
estão entre os momentos antes e logo após (p = 0,003) e vibração foi sentida inicialmente como um “formigamento”
também entre os momentos antes e 15 dias após (p = leve na região do epicôndilo lateral e com o decorrer das
0,0006). E que não há diferenças entre os momentos logo sessões, ela passou a ser percebida no antebraço e mão.
após e 15 dias (p = 0,4454). Quando os efeitos da vibração atingiram a mão, ela manteve-
se com certa abertura que perdurava do final de uma sessão
Figura 1 - Valores em graus relativos a goniometria da articulação do até o início da outra, possibilitando aos pacientes realizarem
cotovelo para o movimento de flexão ativa nos momentos: antes, logo após e a abdução dos dedos, antes impossível. Alguns pacientes
15 dias após o tratamento por terapia vibratória. relataram que conseguiram até realizar parte de sua higiene
sozinho, não necessitando da ajuda de familiares e
acompanhantes. A resistência à extensão passiva do cotovelo
após as aplicações diminuiu, perdurando após o término
das 15 sessões.
Nos pacientes com espasticidade moderada, a vibração
foi sentida como “formigamento” logo de início desde o
local da aplicação até à mão, com movimentos espontâneos
dos dedos. Além disso, sentiam-se contrações musculares
no local. A abertura da mão também ocorreu de forma
prolongada (do final de uma sessão ao início da outra). Outro
relato interessante feito pelos pacientes foi que o membro
submetido à vibração “ficava mais leve” após as sessões.
Também aconteceram ganhos interessantes quanto à
Figura 2 - Valores em graus relativos a goniometria da articulação do extensão do cotovelo e a resistência ao movimento passivo
cotovelo para o movimento de extensão ativa nos momentos: antes, logo de extensão do cotovelo foi menor do que nos pacientes
após e 15 dias após o tratamento por vibração. com espasticidade severa.
No grupo dos pacientes com espasticidade leve, além
do ganho na extensão de cotovelo, eles também sentiram a
vibração como um “formigamento” no cotovelo até a mão,
observou-se abertura da mesma. É interessante ressaltar
que nesses pacientes, o dedo indicador foi o que mais
apresentou abertura, perdurando mais ou menos 48 horas.
A resistência ao movimento passivo de extensão do cotovelo
ao final das mesmas era praticamente nula. Ademais, os
pacientes relatavam sensação de “leveza” no braço vibrado
que durava até o início da próxima sessão e continuou após
o término das 15 sessões.
Alguns pacientes relataram ter sentido o braço com mais
força na realização de serviços domésticos e AVDs.
292 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Discussão (princípio da inervação recíproca), já que em nosso estudo


os pacientes tiveram um aumento da destreza, da
Os resultados apresentados neste trabalho são sugestivos coordenação e da força muscular (de acordo com os relatos
de que a terapia por vibração nas baixas freqüências sonoras dos pacientes). A associação desses fatores proporcionou
interfiram sobre mecanismos da espasticidade, ao menos nas um ganho de amplitude da extensão ativa do cotovelo com
condições descritas para os parâmetros utilizados. Os possíveis o decorrer das sessões. Notou-se que houve uma persistência
mecanismos explicativos para isso são descritos a seguir. dos valores de ADM no período após 15 dias do tratamento,
No estudo feito por Hagbarth et al.. [1], demonstraram havendo, portanto, uma permanência nos resultados durante
que as aferências musculares são importantes no controle este período.
motor e que a vibração pode modulá-las, tendo assim, No presente estudo também pudemos notar que todos os
aplicação terapêutica. Esses autores observaram também que voluntários e seus familiares relataram melhora no desempenho
após a vibração, o músculo apresenta uma resposta reflexa das AVDs. Alguns que não conseguiam fazer sua própria higiene
de contração sustentada e relaxamento simultâneo do seu sozinha passaram a fazê-la por completo, ou pelo menos, parte
antagonista. A vibração aumenta o influxo aferente final do dela. Já os voluntários que eram relativamente independentes,
fuso muscular primário e permite a contração reflexa desse passaram a ajudar no serviço doméstico.
músculo, o chamado reflexo tônico de vibração (RTV) [2].
Segundo Figuière et al. [3], a vibração aplicada no tendão Conclusão
muscular produz uma sensação ilusória de movimento, que
pode levar ao alongamento do músculo no qual a vibração O uso da terapia vibratória de baixa freqüência parece
está sendo aplicada. A sensação ilusória de movimento está ser eficaz na diminuição da espasticidade, pois se observou
usualmente associada a uma resposta tônica excitatória no benefício na qualidade de vida dos pacientes, como: aumento
músculo antagonista ao músculo que está sendo vibrado da amplitude articular do cotovelo, melhora do controle
(resposta vibratória antagonista ou RVA). motor, do estado emocional e na autoconfiança.
De acordo com Bisschop et al. [4], a vibração de baixa Assim, concluímos que a terapia vibratória pode ser usada
freqüência exerce importante ação neuromuscular, pois os como coadjuvante ao tratamento de fisioterapia convencional.
reflexos tendinosos podem ser abolidos ou ao menos atenuados
com freqüências de 100Hz. Vibrações aplicadas durante o
reflexo miotático geram o RTV que é, na verdade, a Referências
permanência do reflexo miotático enquanto a vibração
perdura, através de uma série de estiramentos. É por isso que 1. Hagbarth K, Hagbarth E, Eklunk G. The effects of muscle
se recomenda esse tipo de vibração para promover estados vibration in spasticity, rigidity and cerebellar disorders. J Neurol
Neurosurg Psychiat 1968;31:207-13.
de relaxamento e inibição nos episódios espásticos centrais.
2. Radovanovic S, Járic S, Milavonic S, Vukcevic I,
Conforme os resultados apresentados em nosso trabalho, Ljubisavljevic M, Anastasijevic R. The effects of prior
a terapia vibratória provoca efeito prolongado, porém, ainda antagonist muscle vibration on performance of rapid
não está claro. No estudo de Hagbarth et al. [1], foi observado movements. Journal of Eletromyography and Kinesiology
que os pacientes submetidos a tal técnica, tiveram uma notável 1998;8:139-45.
melhora em suas atividades de vida diária (AVDs), poucos 3. Figuière SC, Romaiguère P, Gilhodes JC, Roll JP. Antagonist
dias após o encerramento do tratamento com a vibração. motor responses correlate with kinesthetic illusions induced
Canning et al. [6] observaram que após um AVE, as by tendon vibration. Exp Brain Res 1999;124:342-50.
pessoas apresentam diminuição de destreza e de 4. Bisschop G, Bisschop E, Commandré F. Vibrações mecânicas.
eletrofisioterapia. São Paulo: Santos Ed; 2001.
coordenação, relacionada principalmente ao excesso de
5. Crepon F. Eletrofisioterapia e reeducação funcional. São Paulo:
ativação do músculo bíceps braquial. Lovise; 1996. 191p.
Baseado nas informações dos estudos citado nesta 6. Canning CG, Ada L, O’Dwuer NJ. Abnormal muscle activation
discussão pode-se acreditar que a nossa proposta terapêutica characteristics associated with loss of dexterity after stroke. J
foi benéfica para diminuição da espasticidade do bíceps Neurol Sci 2000;176:45-56. C
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 293

Artigo original

A resposta da TENS no controle da dor miofascial dos


pacientes portadores de disfunção temporomandibular
The answer to TENS in the control of myofascial pain in patients
with temporomanbibular disorder

Roberta de Medeiros Bezerra Freire Martins*, Millena Hanóika Silva Marques Santos**, Robson Alves da Silva***,
Nayara Frota Rosado Gondim, M.Sc.****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta com Aperfeiçoamento em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, **Fisioterapeuta, ***Fisioterapeuta, Docente
e Coordenador da disciplina de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Potiguar – UnP, Natal/RN, ****Odontóloga,
Docente da disciplina de Prótese e Oclusão (UnP), Mestre em Clínicas Odontológicas (UFRN) e Especialista em Periodontia e Disfunção
Temporomandibular e Dor Orofacial

Resumo
O presente trabalho consiste na resposta da Transcutaneous Eletrical Nerve Stimulation
Palavras-chave: (TENS) no controle da dor miofascial dos pacientes portadores de disfunção
TENS, dor miofascial, temporomandibular (DTM). O mesmo teve como objetivo investigar a eficácia
disfunção temporomandibular deste recurso fisioterápico. Esta é uma pesquisa experimental do tipo pré-experimental
(DTM).
composta por 15 pacientes de ambos os sexos com diagnóstico de DTM. Foram
utilizados como instrumentos de coleta de dados: um questionário, uma escala
analógica visual da dor e um aparelho de TENS Vif 993 Quark, sendo este utilizado
por 10 sessões na freqüência de 100 Hz, largura de pulso 80 ms e tempo de 30
minutos, aplicando a escala da dor na 1ª e 10ª sessão. Desta forma, obtivemos os
seguintes resultados: 86,67% dos pacientes eram do sexo feminino; 74% com idade
entre 15 e 45 anos; 53,33% eram portadores de DTM moderada; os músculos
masseter e pterigóideo medial foram os de maior acometimento álgico nos pacientes
(23,4%); e 26,09% apresentavam o apertamento dental como o principal hábito
parafuncional. Após a análise estatística dos dados, onde foi utilizado o Teste de
Wilcoxon ao nível de significância de 5%, concluímos que o tratamento com a
TENS é um recurso fisioterápico eficaz no controle da dor miofascial de pacientes
portadores de DTM.

Recebido 17 de dezembro de 2003; corrigido 25 de junho de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Roberta de Medeiros Bezerra Freire Martins, Rua 06, 27 - Vila Aliança 77813-825 Araguaína TO,
E-mail: ro_mbfmartins@yahoo.com.br
294 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Abstract
This work consists in the answer to Transcutaneous Eletrical Nerve Stimulation
Key-words: (TENS) in the control of myofascial pain in patients with temporomanbibular disorder
TENS, myofascial pain, (DTM). The aim of the investigation was to prove the efficiency of physical therapy.
temporomanbibular disorder This was an pre-experimental research, involving 15 patients of both sex with DTM’s
(DTM).
diagnostic. It was used for collecting data: a questionary, a pain visual analogic scale and
a TENS Vif 993 Quark. The equipment was used for 10 sessions in a 100 Hz frequency,
an amplitude pulse of 80 ms for 30 minutes, applying the pain scale on 1st and 10st
session. So, we get the following results: 86,67% of patients were female; 74% were
between 15 and 45 years old; 53,33% had moderated DTM; 23,4% of patients had
masseter and pterigoideo muscles with biggest pain; and 26,09% had tooth compressing
like a function habit after the statistic analysis of informations, in which was used
Wilcoxon Test, with a significance level of 5%, we conclude that treatment with TENS
is an efficient physical therapy recourse in the control of myofascial pain of patients
with DTM.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução desaceleração (whiplash), excessiva abertura da boca, hábitos


parafuncionais como: onicofagia, mascar chiclete, bruxismo
A articulação temporomandibular (ATM) é uma (hábito de apertar e/ou ranger os dentes), apertar os lábios,
articulação fibrocartilaginosa, sinovial, bicondilar e biaxial, maloclusão, lassidão ligamentar e alterações sistêmicas como:
sendo bilateral e altamente especializada, pois realiza artrite e fibromialgia. Os pacientes com DTM apresentam
movimentos que associam o deslizamento e a rotação. Está sinais e sintomas nos músculos mastigatórios e na ATM
ao nível do crânio, constitui-se da porção escamosa do osso como: cefaléia, dor nas articulações, dificuldade de abrir a
temporal, do processo condilar da mandíbula, dos discos, boca, dificuldade de mastigar, ruídos na ATM, travamento
ligamentos, cápsulas e demais estruturas correlatas. Estas na abertura da boca, dor de ouvido e/ou zumbido, desvio
articulações, com características únicas no ser humano, não da mandíbula para um lado, dor facial e mudança na postura
são totalmente independentes, pois agem simultaneamente da cabeça [2,3,4].
tanto com ação antagonista como sinergista. A ATM é As DTMs acomentem todos os grupos etários, sendo
responsável pela movimentação da mandíbula e pelo mais predominante em mulheres com idade entre 20 e 40
relacionamento entre as arcadas dentárias superior e inferior. anos, numa proporção de 5:1 em relação aos homens [5].
Estima-se que ela realiza em torno de 1500 a 2000 A dor é o sintoma de maior freqüência nos portadores
movimentos por dia nas funções de mastigar, falar, bocejar, de disfunção temporomandibular (DTM), seja ela de
deglutir e espirrar [1]. etiologia funcional ou estrutural, sendo, portanto, a principal
Disfunção temporomandibular (DTM) se refere a um queixa destes pacientes.
conjunto de desordens envolvendo os músculos A TENS, Transcutaneous Eletrical Nerve Stimulation, é um
mastigatórios, a articulação temporomandibular (ATM) ou recurso eletroterápico que tem sido recomendado no
ambos. O sistema mastigatório é constituído por dentes, tratamento da DTM como um analgésico local. Seu efeito
periodonto, músculos e ATM. Alterações em qualquer um pode durar por até 72 horas, pois através da liberação
dos componentes deste sistema provoca reações e adaptações de opiáceos endógenos, a TENS ativa o mecanismo
nos outros componentes. Atualmente identifica-se esta de controle ou centralmente, reduzindo a dor,
disfunção como a principal causa de dor na região orofacial. conseqüentemente [5,6].
Não existe um fator etiológico único que possa ser Desta forma, a TENS é um recurso fisioterápico que
responsabilizado pela DTM, sendo, portanto, uma doença pode ser usado no controle da dor miofascial, comum às
multifatorial; porém, dentre as muitas causas se destacam DTMs, e que pode melhorar a qualidade de vida dos
como as mais freqüentes: traumatismos, aceleração/ pacientes portadores desta disfunção da ATM [4,6].
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 295

O propósito deste estudo consiste em investigar a eficácia são mais acometidas do que os homens numa proporção de
da TENS no controle da dor miofascial dos pacientes 5:1 em virtude de que as mulheres são mais susceptíveis
portadores de disfunção temporomandibular (DTM), sendo psicologicamente a dor, a maioria dos indivíduos que procuram
levantadas 2 hipóteses: H0 – a TENS não controla a dor tratamento é do sexo feminino, portanto parece óbvio
miofascial dos pacientes portadores de DTM e H1 – a TENS observar uma freqüência maior em mulheres do que em
controla a dor miofascial dos pacientes portadores de DTM. homens, os homens são condicionados social e culturalmente
a minimizar os problemas relacionados com a dor e, por isto,
Materiais e Métodos dão menos importância a seus sinais e sintomas.

A amostra analisada foi composta por 15 pacientes de


ambos os sexos, portadores de DTM leve, moderada ou Fig. 1 – Distribuição do sexo dos pacientes portadores DTM.
severa, que apresentavam dor miofascial. Três instrumentos
ajudaram na coleta de dados deste estudo: um questionário
modificado de Pompeu et al. [7], uma escala analógica visual
da dor e um aparelho de TENS Vif 993 Quark. A pesquisa
foi desenvolvida a partir da elaboração do questionário, com
a finalidade de identificar, primariamente, a presença ou
não de DTM no paciente, uma escala analógica visual da
dor, a fim de se obter um parâmetro da dor referido pelo
paciente. Na seqüência, os pacientes foram encaminhados
para uma avaliação odontológica para confirmação
diagnóstica e identificação dos pontos álgicos da musculatura
envolvida. Uma vez confirmada a presença de DTM e a
Quanto à idade, a figura 2 mostra que a maioria dos
região acometida pela dor, esses pacientes retornaram à
pacientes, quase 74%, encontrava-se na faixa etária entre
fisioterapia para dar início à aplicação da TENS do tipo
15 e 45 anos, sendo 26,67% para as faixas de 15 a 25 anos
convencional através da colocação de eletrodos de carbono
e de 35 a 45 anos de idade. Segundo Ash, Ramfjord &
com gel e fita adesiva sobre a área dos músculos envolvidos
Schmidseder [5] e Machado et al. [9] há uma maior
na dor miofascial, no tempo de 30 minutos, utilizando os
prevalência da faixa etária entre 20 e 40 anos, confirmando
seguintes parâmetros: freqüência de 100 Hz e largura de
os dados obtidos nesta pesquisa.
pulso 80 ms, durante 10 sessões. Previamente à 1ª aplicação,
os pacientes quantificaram sua dor através da escala
analógica visual da dor e, após a 10ª aplicação, voltaram a Fig. 2 – Distribuição da faixa etária dos pacientes portadores de DTM.
quantificá-la para que se fizesse a compilação dos dados,
alcançando o propósito deste estudo.

Resultados e Discussão

Os dados obtidos foram analisados a partir das


informações colhidas no questionário modificado de Pompeu
et al. [7] de forma descritiva para mostrar o perfil dos
pacientes em estudo, bem como foi utilizada uma análise
estatística não-paramétrica com o propósito de investigar a
eficácia do tratamento aplicado nestes pacientes (TENS)
através do Teste de Wilcoxon a um nível de significância de
5%, podendo este ser empregado visto que a variável em
estudo (dor) apresenta natureza ordinal e quantitativa [8].
A figura 3 visualiza o grau de disfunção tempo-
Perfil dos pacientes portadores de DTM romandibular (DTM) encontrada nos pacientes em estudo,
onde analisando o gráfico, observamos que 53,33% dos
Na figura 1, que demonstra a predominância quanto ao pacientes possuem uma DTM moderada, 26,67% DTM
sexo, observou-se que 86,67% dos pacientes eram do sexo severa e 20% DTM leve. Para Molina [11], a gravidade da
feminino, enquanto 13,33% eram do sexo masculino. Ash, disfunção é variável de indivíduo para indivíduo, ou seja, o
Ramfjord & Schmidseder [5], Machado et al. [9] e Oliveira grau de DTM não tem nenhuma predileção e em todos os
[10] confirmam este resultado quando relatam que as mulheres graus a dor pode estar presente.
296 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

A figura 3 visualiza o grau de disfunção temporo- bruxismo e a onicofagia. Visto que o apertamento dental é
mandibular (DTM) encontrada nos pacientes em estudo, considerado bruxismo, nosso resultado condiz com a
onde analisando o gráfico, observamos que 53,33% dos literatura quando Seger [12] relata que alguns autores
pacientes possuem uma DTM moderada, 26,67% DTM encontraram, em suas observações clínicas, uma incidência
severa e 20% DTM leve. Para Molina [11], a gravidade da de 78% a 81% para o bruxismo, considerando-o o hábito
disfunção é variável de indivíduo para indivíduo, ou seja, o mais universal de ocorrência.
grau de DTM não tem nenhuma predileção e em todos os
graus a dor pode estar presente. Fig. 5 –Percentual dos pacientes portadores de DTM referente aos hábitos
parafuncionais.
Fig. 3 – Percentual do grau da DTM encontrado nos pacientes em estudo.

De todos os músculos acometidos pelos pacientes, a


figura 4 nos mostra que dentre os músculos mastigatórios,
o masseter e o pterigóideo medial são os mais acometidos
pela dor, correspondendo a 14,89% cada. Entre os músculos
do pescoço, o esternocleidomastóideo representa 14,89%,
o trapézio 6,38% e o escaleno 2,13%. Não há relatos na
literatura pesquisada a respeito da região muscular mais Análise estatística dos resultados
acometida pela dor, todos os músculos orofaciais podem
apresentar um quadro álgico em função de parafunção ou A Tabela I apresenta uma análise descritiva da variável
hipermobilidade muscular. dor no primeiro e último dia do tratamento com a TENS,
onde pudemos obser var que no primeiro dia a dor
Fig. 4 – Percentual dos pacientes portadores de DTM referente à região apresentou uma média de 7,17, com valores mínimo e
(músculo) mais acometida pela dor. máximo de 5 e 10, respectivamente. Avaliando o último dia,
a média cai para 2,53, com valores mínimo e máximo de 0
e 5, respectivamente.

Tabela I – Medidas descritivas da variável em estudo (Dor).


Variável Média Mín Máx DP
Primeiro dia 7,17 5 10 1,384
Último dia 2,53 0 5 1,356

A Tabela II apresenta o resultado do teste das hipóteses,


ou seja, o valor da estatística T obtida através do Teste de
Wilcoxon e o valor p (valor de significância) desta estatística.
Com base nesta tabela verifica-se que ao nível de significância
de 5% (0,05), rejeita-se a hipótese de nulidade (H0), com
A figura 5 aponta os principais hábitos parafuncionais valor p < 0,05. Desta forma, há diferença significativa entre
presentes nos pacientes portadores de DTM. Através da os valores obtidos no primeiro e último dia de tratamento.
mesma pudemos observar que 26,09% apresentavam o
apertamento dental como parafunção. 13,04% para a goma Tabela II –Teste de Wilcoxon para a variável em estudo (Escala da dor).
de mascar, morder bochechas, morder lábios e morder Variável Valor de T Valor p
objetos, o mesmo percentual para os pacientes que negam Escala da dor no 1º e no último dia 0,00 0,000656*
qualquer hábito parafuncional e 4,35% correspondem ao * Significante a 5%.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 297

Conclusão 4. Mongini F. ATM e músculos craniocervicofaciais. Fisiopatologia


e tratamento. São Paulo: Santos; 1998. p. 2-12, 111-122, 179.
Com base nos resultados obtidos e rejeição da hipótese 5. Ash, Ramfjord, Schmidseder. Oclusão. 2. ed. São Paulo: Ed.
de nulidade (H 0), conclui-se que o tratamento com a Santos, 2001. p. 55-64.
6. Starkey C. Recursos terapêuticos em fisioterapia. 2 ed. São
Transcutaneous Eletrical Nerve Stimulation (TENS) é eficaz no
Paulo: Manole; 2001. p. 234-5.
controle da dor miofascial dos pacientes portadores de 7. Pompeu JGF, Prado VLG, Santos SM et al. Disfunção
disfunção temporomandibular (DTM). Diante dos dados craniomandibular – Análise de parâmetros para sua
expostos neste estudo, constatamos ainda que as mulheres identificação. Jornal Brasileiro de Oclusão, ATM & Dor
são mais acometidas por esta disfunção do que os homens; Orofacial 2000;1(2):44-8, n. 2.
a faixa etária predominante está entre 15 e 45 anos; a maioria 8. Simon J, Martins GAM. Curso de estatística. 6. ed. São Paulo:
dos pacientes apresentava grau de disfunção moderado; os Atlas; 1996. p. 183.
músculos mastigatórios masseter e pterigóideo medial foram 9. Machado GG, Ferreira CB, Silva JSP et al. Estudo
os mais acometidos pela dor miofascial; o apertamento dental epidemiológico e estatístico da prevalência da Síndrome da
é o hábito parafuncional de maior prevalência entre os Dor e Disfunção Miofascial (SDDM) no Serviço de Cirurgia
pacientes analisados. e Traumatologia Buço-Maxilo-Facial do Instituto de
Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da
Universidade de São Paulo. Acta Ort Bras São Paulo
Referências 2000;8(1):15-20.
10. Oliveira W. Disfunções temporomandibulares. Série ABCD.
1. Paiva HJ et al. Oclusão. Noções e conceitos básicos. São Paulo:
São Paulo: Artes Médicas; 2002. p. 3-9.
Santos; 1997. p.43-4, 60, 108-9, 241-2.
11. Molina OF. Fisiopatologia craniomandibular. Oclusão e ATM.
2. Rocabado MS. Cabeza y cuello. Buenos Aires: Inter-Médica;
São Paulo: Pancast; 1989. p.183-207, 349-72.
1979. p. 42-5.
12. Seger L. Psicologia e odontologia: uma abordagem
3. Rocabado MS, Iglarsh ZA. Musculoskeletal approach to
maxillofacial pain. New York; 1991. p. 73-76. integradora. 2 ed. São Paulo: Ed. Santos, 1992. p.216.C
298 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Revisão

As bases estruturais e moleculares


da contração muscular
Structural and molecular bases of muscle contraction

Verônica Salerno Pinto*, Valéria Pereira de Sousa**, L. C. Cameron, D.Sc.***


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Departamento de Biociências da Atividade Física - EEFD - Universidade do Brasil, **Laboratório de Controle de Qualidade de Fármacos
e Medicamentos, Faculdade de Farmácia, Universidade do Brasil, ***Laboratório de Bioquímica de Proteínas, Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro; PROCIMH – Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro.

Resumo
O músculo esquelético é um sistema motor altamente organizado e regulado que
Palavras-chave: transduz energia química proveniente da hidrólise de ATP em atividade mecânica. A
contração muscular, actina, miosina é capaz de promover a contração muscular através de interações cíclicas com
miosina, complexo a molécula de actina no filamento fino. O aumento da concentração de cálcio
regulatório, filamento fino.
citoplasmático dispara a contração muscular num sistema regulado pela troponina e
tropomiosina, proteínas que fazem parte do filamento fino. Nos diferentes músculos
esqueléticos podem ser encontrados diferentes tipos de fibra: as fibras de contração
rápida e as fibras de contração lenta, além de diferentes subtipos de fibras classificadas
com base na cadeia pesada da miosina. Independente do tipo de fibra a interação das
proteínas que formam o músculo esquelético com diferentes íons bem como com a
molécula de ATP e seus produtos de hidrólise promovem mudanças estruturais que
vão levar a contração da musculatura esquelética. Neste artigo revisamos os recentes
achados bioquímicos, estruturais e funcionais do músculo esquelético.

Abstract
Skeletal muscle is a highly organized and regulated motor system that transforms
Key-words: chemical energy from ATP hydrolysis into movement. Myosin is the motor protein
muscle contraction, actin, that promotes the sliding of the thin filament due to its interaction with actin. Intracellular
myosin, regulatory complex, calcium increases triggers muscle contraction in a troponin-tropomyosin regulated system.
thin filament.
Fast and slow-twitched fibers can be found in skeletal muscle as well as a different fiber
subtype classification that is dependent on its myosin heavy chain expression. All fibers
have the same structural changes in response to both ATP and ions binding that lead to
muscle contraction and detachment. Here we will focus the state of art in structure,
function and biochemistry of skeletal muscle.

Recebido em 13 de janeiro de 2004; aceito 15 de junho de 2004.


Endereço para correspondência: Verônica Salerno Pinto, Av. Brigadeiro Trompowsky, S/N. Depto. Bioquímica Médica- ICB/CCS – Bloco H,
2º andar, Sala 010 – Cidade Universitária, Ilha do Fundão 21949-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail: vspinto@bioqmed.ufrj.br
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 299

Introdução entre uma linha Z e outra é chamada de sarcômero e tem


no seu interior regiões claras (banda I) e escuras (banda A)
A habilidade motora é uma das características funda- (Fig. 1D). No centro da banda A observa-se uma região
mentais dos organismos vivos. O movimento esteve mais clara denominada zona H (Fig 1E) [1].
relacionado à vida desde o início dos tempos e nos organismos Huxley [3] observou pela primeira vez a estrutura da
superiores os mecanismos pelos quais ocorre são diversos. célula muscular por difração de raios X e microscopia
O músculo esquelético (ME) é o mais notável e evoluído eletrônica e identificou a existência de filamentos finos e
sistema de controle de movimento que conhecemos. O grossos. Propôs ainda que as bandas I eram formadas
ME é capaz de desenvolver trabalho a partir de transdução somente por filamentos finos e as bandas A eram formadas
de energia química em mecânica de uma forma extrema- por sobreposição de filamentos finos e grossos. Esta
mente organizada. estrutura foi confirmada pelo próprio Huxley em 1957, o
que proporcionou a formulação de teorias mais precisas
Aspectos estruturais do músculo esquelético para explicar a contração muscular [4].

O ME (Fig.1A) é constituído por fibras que se unem Tipos de fibras musculares


em cada extremo a um tendão, o qual por sua vez liga-se
ao osso ou à aponeurose de outro músculo. Cada músculo, A diversidade do músculo esquelético foi reconhecida
como estrutura macroscópica, age tipicamente em sistema desde 1873 quando Ranvier [5] categorizou os músculos
de pares antagonistas, onde um relaxa e o outro contrai. como “vermelho”, músculo de contração lenta, e como
Algumas fibras musculares percorrem toda a extensão “branco”, músculo de contração rápida, baseando-se na
do músculo, outras, menores, encontram-se contidas dentro aparência e na estimulação com corrente elétrica. Peter et
de pequenas estruturas denominadas fusos musculares. O al. [6] sumarizaram os tipos de fibras que estavam sendo
fuso é um receptor que informará ao sistema nervoso central propostos naquela década em tipos I e II, com um sistema
sobre o comprimento muscular. de denominação bifuncional consistindo nas propriedades
As fibras musculares são formadas pela fusão de células contráteis e capacidade oxidativa das fibras, mais
precursoras chamadas de mioblastos, e conservam os núcleos especificamente fibras vermelhas de contração rápida têm
destas, daí o seu aspecto multinucleado (Fig.1B). Assim como velocidade de contração mais rápida que fibras vermelhas
os motoneurônios, os miócitos formados não sofrem mitose. de contração lenta e capacidade oxidativa maior que
Durante o dano muscular proteínas existentes na lâmina basal músculo branco de contração rápida.
sinalizam para que células-satélite distribuídas na lâmina basal
migrem até o local de lesão e se diferenciem em mioblastos.
Estes mioblastos se fundem formando novos miócitos para Figura 1 - Organização do músculo esquelético. (A) Músculo; (B)
reconstituição da lesão. Fascículo Muscular; (C) Fibra Muscular; (D) Miofibrilas e (E) Sarcômero
Cada fibra muscular é envolvida por uma membrana com os filamentos de miosina (filamentos grossos) e de actina (filamentos
contínua (sarcolema) e é eletricamente separada das outras finos). (Adaptado de Bagshaw [1]).
fibras. Invaginações destas membranas para o interior da
célula dão origem aos túbulos transversos (túbulos T – Fig.
2), uma rede de túbulos que passa por entre as miofibrilas
[1]. Aproximadamente 80% do citoplasma da fibra
muscular é ocupado por miofibrilas, que são consideradas
as unidades contráteis da célula muscular. Os túbulos T
estão em contato íntimo com um conjunto de cisternas
(Fig. 2), o retículo sarcoplasmático, que se posiciona
longitudinalmente as miofibrilas e é uma especialização do
retículo endoplasmático encontrado em outras células. O
retículo sarcoplasmático acumula cálcio dentro de suas
cisternas por meio de uma Ca 2+ATPase que existe na
membrana do retículo [2]. As fibras também contêm um
grande número de mitocôndrias, que estão empacotadas
entre as miofibrilas e se localizam perifericamente na fibra,
próximo à membrana plasmática.
Vista ao microscópio ótico a célula muscular apresenta
estriações em intervalos regulares. Esta estrutura estriada é
demarcada por linhas, denominadas Z (Fig 1D). O espaço
300 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Reiser et al. [7] e Staron & Pette [8] dentre outros, regulatório dentro de uma subpopulação de genes, nos quais
identificaram correlações entre a expressão de diferentes as expressões são alteradas para modificar o fenótipo das
isoformas da cadeia pesada da miosina (myosin heavy chain - fibras musculares [16].
MHC), a velocidade de contração e atividade ATPásica,
respectivamente. Com o advento da coloração histoquímica Estrutura dos miofilamentos
e imunohistoquímica de MHC, os tipos de fibras foram
então classificados com base nas isoformas de MHC em Filamento grosso
tipo I “lenta vermelha”, tipo IIa “rápida vermelha”, e “rápida
branca” foi categoriza em tipos IIx e IIb. Porém, em A miosina (Fig. 3a) é o principal componente do filamento
humanos apenas o tipo IIx é expresso [9]. grosso, sendo esta proteína responsável pela atividade catalítica
Fibras musculares descritas como fibras lentas, tipo I ou que converte energia química, sob a forma de ATP, na
fibras oxidativas lentas, têm sido caracterizadas como tendo realização de trabalho motor. O ME contém em torno de
altos níveis de isoformas de proteínas contráteis lentas, alto 70-100 mg de miosina por grama de músculo (40-50% do
volume de mitocôndrias, altos níveis de mioglobina, alta total de proteínas musculares). Este trabalho motor é traduzido
densidade capilar, e capacidade oxidativa enzimática alta. por alterações conformacionais e estruturais que a miosina
Fibras musculares denominadas rápidas, IIa, ou fibras sofre durante o ciclo de catálise [17]. Os filamentos grossos
oxidativas rápidas, tem sido classicamente caracterizadas são formados por um arranjo antiparalelo de miosina, de tal
como exibindo um fenótipo de contração rápida, uma maior modo que a porção central é lisa e formada apenas pela
capacidade oxidativa e relativa resistência à fadiga. Essas região em bastão das moléculas. A porção central corresponde
fibras são conhecidas como tendo uma maior capacidade à pseudozona H, localizada no centro da banda A.
oxidativa que fibras tipo I de rato, mas não em seres humanos A miosina II é uma molécula hexamérica com peso
[10,11]. Fibras definidas como rápidas, ou IIx, IIb, ou fibras molecular de aproximadamente 520 kDa [18]. Esta proteína
glicolíticas rápidas, têm baixa densidade de mitocôndrias, é constituída de duas cadeias polipeptídicas, denominadas
alta atividade das enzimas glicolíticas, alta atividade ATPásica cadeias pesadas (MHC, myosin heavy chain, 200 kDa) e quatro
da miosina, expressão aumentada de isoformas rápidas das cadeias denominadas cadeias leves (LC, light chains, 16-25
proteínas contráteis, alta taxa de contração e baixa resistência
à fadiga. Figura 2 - Estrutura e organização dos túbulos T e do retículo sarcoplasmático
Com a descoberta da expressão heterogênea de MHCs em torno das miofibrilas.
numa mesma fibra e o advento da biologia molecular e
métodos de mapeamento global, ficou evidente que existem
mais de 4 categorias de expressão protéica no músculo
esquelético.Baldwin e Haddad [12] sugeriram que a co-
expressão de isoformas de MHC numa mesma fibra mostra
uma subpopulação de fibras com alto potencial adaptativo,
isto é, fibras híbridas são mais adaptadas a ter o fenótipo
para atender as novas demandas funcionais. Tem sido
demonstrada a capacidade de adaptação dos músculos a
diferentes estímulos. Foi visto, por exemplo, que humanos
não apresentam um aumento da expressão de MHC tipo I
em fibras musculares tanto após um treinamento de força
quanto de resistência. Porém a expressão de MHC tipo IIa
é aumentada e tipo IIx diminuída [13,14,15]. Porém, Figura 3 - Representação da molécula de miosina. (a) Molécula de miosina
atualmente é sabido que nem todas as proteínas musculares com suas cadeias leves: LC1 e LC3 (ELC); LC2 (RLC). (b1) Clivagem
são alteradas em paralelo a expressão da isoforma de MHC. proteolítica da miosina com quimotripsina e, (b2) Clivagem proteolítica da
O controle do tipo de fibra muscular expressa depende de miosina com tripsina (Sellers & Goodson [19]).
mecanismos que regulam a expressão de grupos de genes
multifuncionais, não apenas de MHC, porque a
funcionalidade de um tipo de fibra muscular é determinada
por muitos grupos de genes funcionais.
Isso demonstra que o sistema de classificação
atualmente utilizado para tipos de fibras musculares
esqueléticas deve sofrer modificações num futuro próximo
e passar a ter uma nomenclatura genômica, baseada em
mudanças induzidas pela atividade contrátil em um fator
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 301

Figura 4 - Representação da molécula de actina por estrutura de fita. No Figura 6 - Correlação de tensão em fibras isoladas com o comprimento do
centro da molécula pode ser visto o local de ligação do cátion (Mg++) sarcômero (Herzog & Ait-Haddou [30]).
representado por um circulo e imediatamente acima a molécula de nucleotídeo
(ATP) necessário para polimerização da actina. (Sheterline et al. [23])

globulares se projetam para fora, próximas às extremidades


das fibrilas.
As cadeias leves associadas à porção globular no ME
são: cadeia leve alcalina 1 (LC1, 25 kDa), cadeia leve DTNB-
sensível, reguladora, ou cadeia leve 2 (LC2, 20 kDa) e cadeia
leve alcalina 2 (LC3, 16 kDa) [19, 17]. No ME as LCs
Figura 5 - Modelo de contração muscular (Sellers & Goodson [19]). perderam a maioria de suas funções regulatórias e acredita-
se que mantenham funções estruturais, mantendo a
integridade da proteína.
A molécula de miosina contém regiões suscetíveis à
clivagem proteolítica (Fig.3b). Através de digestão com
tripsina ou quimotripsina pode-se obter os fragmentos HMM
(meromiosina pesada e LC 1-3 , 350 kDa) e LMM
(meromiosina leve, 150 kDa) (Fig. 3b2). O fragmento
dimérico maior (HMM) possui os sítios de ligação de actina
e de hidrólise de ATP, e tem propriedades similares àquelas
encontradas para miosina, porém é solúvel em baixa força
iônica. A solubilidade da miosina, que requer alta força iônica,
é determinada pela LMM, a região carboxi-terminal da
proteína. A HMM pode ainda ser digerida em quatro
subfragmentos: dois de S1 (subfragmento 1, 110 kDa) que
preservam todas as atividades da miosina, e dois de S2
(subfragmento 2), que é a parte filamentosa da HMM [21,19].
A miosina pode ser clivada diretamente por quimotripsina
em S1 e rod, que é o S2 mais a LMM (Fig. 3b1).

kDa) (Fig. 3a). A região N-terminal da cadeia pesada forma Filamento fino
uma porção globular, ou região da cabeça da molécula, que
contém os sítios para ligação de ATP e actina. As porções Actina
C-terminais das duas cadeias pesadas se associam para formar
o domínio cauda, que é uma a-hélice superespiralada (coiled- Embora possa ser obtida na forma monomérica (G-
coil); o que faz com que a miosina seja altamente assimétrica actina), é na forma filamentosa que a actina exerce o seu
[19,20,17]. A molécula de miosina, com cerca de 150 nm papel na contração muscular (Fig. 6). Ao contrário da
comprimento, tem a forma de um bastão com projeção molécula de miosina os monômeros de actina são solúveis
globular dupla em uma das extremidades, devido à em baixa força iônica. A actina é o principal constituinte do
conformação globular das cabeças de miosina. As cabeças filamento fino e forma uma família altamente conservada
302 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

de proteínas citoplasmáticas encontrada em todas as células mostra um dos primeiros modelos elaborados após a
eucarióticas. A G-actina é formada por uma cadeia publicação da estrutura do S1 por Rayment et al. [20].
polipeptídica com 375 resíduos de aminoácidos [22] com um Este modelo mostra que a comunicação entre os sítios de
peso molecular em torno de 45 kDa e altamente conservados ligação de actina e de ATP é coordenada através da
na seqüência e no número de aminoácidos [22,23]. abertura e do fechamento de uma fenda existente na
A polimerização da actina envolve a hidrólise de ATP e cabeça da miosina. No estado de rigor (A), a ligação de
a ligação de um cátion divalente (Mg2+ ou Ca2+) por cada actina fecha a fenda e a miosina se ligada à actina forte e
dois monômeros, formando assim os filamentos de actina estereoespecificamente. A ligação fraca de ATP ocorre
que permanecem com uma molécula de ADP e um cátion em duas etapas. Inicialmente, a ligação de ATP leva à
ligado por monômero [2,21,23,24]. abertura da fenda, o que causa um decréscimo na afinidade
Através de cristalografia de raios-X da G-actina (Fig. 4) da miosina por actina e leva à dissociação destas proteínas
e de difração de raios-X em fibras, foi possível mapear as (B). Após esta etapa, o ATP se liga fortemente ao sítio
regiões da interface entre actina e miosina. Com base nestes catalítico, este sítio se fecha, e o ATP é hidrolisado,
estudos foi demonstrado que cada cabeça de miosina formando um estado conformacional mais estável, no qual
interage com dois monômeros de actina, através de ADP e Pi permanecem ligados. A hidrólise é acompanhada
interações iônicas e hidrofóbicas estereoespecíficas, por mudanças na conformação da cabeça da miosina,
envolvendo resíduos do N e C-terminal da actina [22,23]. fazendo com que o C-terminal se mova em direção ao
sítio de ligação de actina (C). Esta mudança na
Mecanismo da contração muscular conformação promove a formação de novas pontes fracas
entre miosina e actina. Após estas etapas a miosina se liga
As transformações quimio-mecânicas da miosina vêm novamente à actina, via interações eletrostáticas, que
sendo estudadas desde o início da década de 40. É um promovem uma ligação fraca (D). Em seguida, ocorre a
consenso que ocorre uma interação cíclica entre miosina liberação do Pi e a subseqüente abertura do sítio de ligação
(no filamento grosso) e actina (no filamento fino), causando de ATP (E) [26,19].
o desenvolvimento de força e o deslizamento do filamento Os eventos bioquímicos que determinam a contração
fino, acompanhado da hidrólise de ATP. muscular e desenvolvimento de força são dependentes não
A miosina é capaz de hidrolisar MgATP-2 lentamente só da hidrólise de ATP e da interação com a actina, mas
quando não está interagindo com a actina, o que corresponde também, do grau de interdigitação dos filamentos grossos e
ao estado fisiológico de relaxamento. O ATP ligado à miosina finos, e conseqüentemente do tamanho do sarcômero. O
é de fato rapidamente hidrolisado, gerando o intermediário maior desenvolvimento de tensão é obtido quando o
M.ADP.Pi [25]. Porém, o Pi gerado, fosfato inorgânico, é sarcômero tem o comprimento de 2 mM (Fig. 6). Quando
liberado lentamente do sítio catalítico e a miosina permanece há aumento ou diminuição deste comprimento ocorre
com ADP ligado, que também será liberado para que a decréscimo na força de contração (tensão). Este fato sugere
miosina possa ligar uma nova molécula de ATP [25,26]. que a produção de força esta diretamente relacionada à
Quando a hidrólise de ATP pela miosina (S1) é medida na sobreposição dos miofilamentos [30].
presença de actina, estamos nos aproximando sob o ponto de
vista experimental, do processo da contração. Na ausência de Complexo troponina-tropomiosina
ATP, miosina e actina estão fortemente ligadas, uma condição
denominada de “estado de rigor”, caracterizada por interações A interação cíclica entre moléculas de actina e miosina
ou pontes fortes. A adição de ATP à miosina rapidamente ocorre sempre que houver ATP. Considerando que os níveis
promove a redução da afinidade entre estas proteínas [27], o de ATP nas células são sempre mantidos constantes, é
que leva a formação de pontes fracas, redução da afinidade necessário que haja um sistema que regule a contração
da miosina pela actina e dissociação das proteínas. A miosina muscular, de forma que esta só ocorra quando o músculo
permanece ligada ao ATP (M.ATP), que será hidrolisado com for requisitado. O sistema que regula a atividade ATPásica
a mesma velocidade observada na ausência de actina [28]. acto-miosina no filamento fino do ME é o complexo
Após a hidrólise do ATP, o complexo M.ADP.Pi tem a troponina-tropomiosina (Tn-Tm). A organização destas
afinidade por actina aumentada, o que promove a formação proteínas no filamento se dá por uma série de unidades
de pontes entre estas proteínas gerando o complexo regulatórias repetidas: para cada sete monômeros de actina,
AM.ADP.Pi. A ligação da actina promove a aceleração da uma troponina (Tn) e uma tropomiosina (Tm) (7:1:1) [31].
saída do Pi [27]. A liberação do Pi acarreta a mudança
conformacional produtora de trabalho, e actina e miosina Tropomiosina
passam a formar pontes fortes [29].
A Figura 5 correlaciona o esquema cinético com um As moléculas de tropomiosina associam-se cabeça com
modelo estrutural de interações entre miosina e actina, e cauda formando uma proteína filamentosa. Esse filamento
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 303

Figura 7 - A) Modelo da interação Tn-Tm-actina na ausência de Ca2+, Complexo troponina


quando o domínio C-terminal da TnC está preenchido com Mg2+ e o N-
terminal está livre. Nessa condição, a região N-terminal da TnI está ligada O complexo Tn é um complexo proteíco formado por
ao domínio C-terminal da TnC assim como à região C-terminal da TnT, três subunidades: troponina T (TnT), troponina I (TnI) e
enquanto o peptídio inibitório e o C-terminal da TnI fazem contatos com a troponina C (TnC), cada subunidade exerce uma função e
actina e Tm, mantendo o filamento fino na conformação que inibe a interação em conjunto com a Tm regulam a interação contrátil entre
actomiosina. B) A ligação de Ca2+ no N-terminal da TnC aumenta a sua a miosina e a actina (Fig. 7).
afinidade para o peptídio inibitório e o C-terminal da TnI resultando no seu A TnT (~30,5 kDa) é a subunidade responsável pela
afastamento da actina e Tm. Isto permite a Tm adotar uma nova posição no
ligação do complexo Tn à Tm [36,37]. A ligação da TnT à
filamento fino permitindo então a interação actomiosina o que resulta em
Tm se dá de forma antiparalela [38], ou seja, a porção N-
contração. I, peptídio inibitório (Farah & Reinach [56]).
terminal da TnT se liga à porção C-terminal da Tm. Tem
sido mostrada uma outra função desta proteína: as isoformas
da TnT (a e b) são capazes, juntamente com a TnC, de
modular a sensibilidade da fibra muscular ao Ca2+ [39] e
também atua cooperativamente na ativação da contração
disparada por Ca2+ [40]. A TnT possui duas regiões chamadas
TnT1, que compreende o N-terminal da TnT e liga à actina,
tendo como função a de ativação cooperativa; e a TnT2
que engloba o C-terminal da proteína e é responsável por
ligar a TnI-TnC à Tm. A TnT mantém o complexo Tn
ligado ao filamento através da porção TnT1 de maneira
independente de Ca2+. Acredita-se que a porção TnT2
também atue na ligação da TnT à TnC-I e quando Ca2+ se
liga à TnC, aumenta a ligação TnT-TnC enfraquecendo a
ligação TnT2 a actina e a Tm. Este poderia ser um segundo
sítio de regulação por Ca2+ no posicionamento da Tm no
filamento fino [41,42].
A TnI (~21 kDa) é a chamada subunidade inibitória,
essencial para inibir a formação de pontes entre a actina e a
miosina na presença de ATP [43]. A TnI impede a produção
formado situa-se ao longo do sulco das duas hélices de de força e movimento através da inibição da atividade
actina (Fig.7). Essa proteína tem como principal função ATPásica da miosina, que ocorre devido a pontes formadas
no filamento fino mediar a ligação do complexo Tn à entre a miosina e a actina na presença de ATP [44-46]. O
actina. A Tm possui duas subunidades denominadas a e chamado peptídeo inibitório (pI) é a região responsável pela
b, que podem for mar um homodímero ou um atividade inibitória da TnI [46]. O pI durante o repouso,
heterodímero [32]. A comparação das duas seqüências possui um sítio de ligação na actina, que leva ao ancoramento
de aminoácidos revela uma alta similaridade, o peso da Tm no filamento de actina de forma a impedir, na ausência
molecular de ambas varia entre 33.000 – 35.000, e ambas de Ca2+, a formação do complexo acto-miosina. Essa inibição
possuem 284 resíduos de aminoácidos, dos quais 39 são é revertida pelo aumento da sua ligação à TnC durante o
diferentes. A razão da concentração das duas subunidades processo de estímulo da contração.
varia com o tipo de músculo; músculo rápido possui maior A TnC (~18 kDa) é a subunidade que liga Ca2+ e dispara
proporção de subunidade a, músculo lento possui uma a contração muscular [47]. A TnC é uma proteína ácida
proporção equimolar das duas subunidade e músculo altamente solúvel e pertence a uma superfamília de proteínas
cardíaco possui exclusivamente a subunidade a [33]. As ligadoras de Ca2+ que são denominadas proteínas EF-hand.
duas subunidades da Tm, que possuem um alto conteúdo A cristalografia de TnC de peru e galinha demonstraram que
de a-hélice (~90%), se enrolam uma em torno da outra a TnC possui dois domínios globulares, conectados por uma
formando uma estrutura do tipo coiled-coil (hélice super- longa a-hélice central de 7 nm de comprimento, contendo 31
espiralada), assumindo uma for ma filamentosa de resíduos e formando nove voltas; sua estrutura se assemelha
aproximadamente 40 nm de comprimento. Essa estrutura à de um hálter [48]. Cada domínio da TnC possui dois sítios
é estabilizada primariamente por interações hidrofóbicas que ligam Ca2+. Os sítios I e II, que estão localizados no
[34] e secundariamente por interações eletrostáticas [35]. domínio N-terminal, ligam Ca2+ especificamente, mas com
Ocorre também uma ponte dissulfeto entre os dois baixa afinidade (Kca= 2 x 105 M-1). Os sítios III e IV, que se
resíduos de Cys-190 das duas cadeias da Tm quando esta encontram no domínio C-terminal, são de baixa
é oxidada [32]. especificidade, ligam Ca2+ e Mg2+, porém com alta afinidade
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(KCa= 2 x 106 M-1 e KMg= 5 x 103 M-1), e são ocupados por Tm na actina fica enfraquecido; a Tm então gira, permitindo
um ou outro cátion divalente em condições fisiológicas [47]. que a cabeça da miosina (S1) se ligue à actina (Fig. 7) [58,59].
Na fibra em repouso, o cátion ligado seria o Mg2+, já que, A contração muscular ocorre através da energia fornecida
nesta condição, a concentração de Ca2+ está abaixo de 10-7 pela hidrólise do ATP, como visto anteriormente.
M, enquanto que a de Mg2+ está em torno de 10-3 M. Durante O relaxamento ocorre quando o processo é revertido:
a contração, o Mg2+ é substituído por Ca2+ [49]. Os quatro cessado o estímulo, o nível de Ca2+ citosólico é diminuído
sítios de cálcio da TnC têm papéis primordiais, porém devido a sua recaptação pelo retículo sarcoplasmático através
diferentes, quanto ao funcionamento da TnC. Os sítios I e II de uma ATPase que depende de Ca2+ e Mg2+ presente na
são sítios que regulam a contração muscular; os sítios III e IV membrana, e o Ca2+ se dissocia da TnC, revertendo o
são sítios que mantém a TnC ligada ao filamento fino e, por complexo Tn-Tm à conformação original. Este é o modelo
isso, chamados sítios estruturais [50-53]. do impedimento estérico para a regulação da contração
Quando o Ca2+ se liga aos sítios I e II, abre-se uma muscular, no qual a presença física do conjunto Tn-Tm é o
cavidade hidrofóbica no domínio N-terminal. Uma cavidade que bloqueia a ligação da miosina à actina na ausência de
hidrofóbica semelhante também é formada no C-terminal Ca2+, havendo dois estágios de ativação, que dependem de
quando os sítios III e IV estão preenchidos. Essas cavidades Ca2+ [58, 60]. Atualmente, existe também o modelo estérico
parecem ser os sítios de interação da TnC com a TnI durante de três estados, que propõe que a Tm teria três diferentes
o estado de relaxamento do músculo. posições: bloqueada, parcialmente bloqueada e ligada, para
Acredita-se que a ligação de Ca2+ nos sítios de baixa a regulação do filamento fino [61]. Na ausência de Ca2+, só
afinidade da TnC modifique a interação desta com a TnI, haveria sítios para interações eletrostáticas entre actina e
reduzindo a ação do peptídeo inibitório, pois induz uma miosina; seria a chamada posição bloqueada. No momento
mudança conformacional na TnC, expondo mais regiões que o Ca 2+ é ligado a TnC, a Tm se moveria ~25º na
hidrofóbicas desta. Esta mudança na conformação da TnC superfície do filamento de actina, expondo vários potenciais
aumenta a ligação desta com a TnI e conseqüentemente, sítios de interação entre actina e miosina; porém, a Tm
diminui a interação da TnI com a actina, e esta última fica continua bloqueando o acesso da miosina ao principal sítio
livre para se ligar à miosina (Fig.7), ocorrendo assim a de ligação. Essa posição da Tm é mantida por interações
contração muscular [46,54,55]. hidrofóbicas entre a Tm e a actina. Esse estado é chamado
Essas regiões de interação TnI-TnC foram confirmadas de parcialmente bloqueado. Para se estabelecer o estado
por Farah e Reinach [56], que demonstraram que, no ligado é necessário a ligação de Ca2+ na TnC e a forte ligação
complexo binário, a TnC e a TnI interagem de uma maneira das cabeças de miosina na actina agindo em seguida para a
antiparalela. As interações independentes de Ca2+ ocorrem Tm se mover mais 10º, expondo mais sítios de interação
entre a região N-terminal da TnI e a região C-terminal da entre actina e miosina [62,63].
TnC, o que já tinha sido demonstrado por Greaser e Gergely
[57] e Potter e Gergely [36]. Conclusão

Mecanismo de regulação A regulação da atividade do ME é portanto uma cascata


da contração muscular de sinais que se inicia no sistema nervoso central e termina
no citoplasma muscular. Os eventos que permitem a
A contração tem início quando o impulso nervoso é continuidade da contração envolvem várias mudanças no
carreado ao longo do axônio do neurônio motor. Com a meio interno da célula, assim como modificações
chegada do impulso nervoso, há a conseqüente conformacionais de proteínas em resposta a estas mudanças.
despolarização da membrana pré-sináptica, que causa a fusão A múltipla regulação do ME permite desta forma que este
das vesículas sinápticas com a membrana pré-sináptica e desenvolva diversas respostas macroscópicas a partir de
exocitose da acetilcolina na fenda sináptica. A acetilcolina se sinais moleculares.
liga aos seus receptores na membrana pós-sináptica,
provocando a despolarização do sarcolema, dos túbulos T
e do retículo sarcoplasmático (Fig. 2). Esses eventos Referências
provocam a liberação de Ca2+ do retículo sarcoplasmático
para o sarcoplasma em torno das miofibrilas, o aumento de 1. Bagshaw CR. Muscle Contraction. 2a ed. London: Chapman
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O Ca 2+ ocupa os sítios de baixa afinidade da TnC 313.
ocasionando a uma mudança conformacional na sua 3. Huxley HE. Electron microscope studies of the organization
estrutura, o que irá aumentar a ligação entre a TnC e TnI, e of the filaments in striated muscle. Biochim Biophys Acta
diminuir a afinidade da TnI pela actina. O ancoramento da 1953;12:387-98.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 307

Estudo de caso

O uso da eletroestimulação nervosa transcutânea como


recurso de alívio de dor no trabalho de parto em um
contexto de humanização da assistência obstétrica
Use of transcutaneous electrical nerve stimulation as
a resource for pain relief during childbirth in an obstetric
care humanization context

Cristine Homsi Jorge Ferreira, D.Sc.*, Ana Márcia Spanó Nakano**, Juliana Vilela Bueno*,
Maria Letícia Giublin Teixeira Sanches****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Departamento de Enfermagem Materno–Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP,
**Enfermeira Obstetra, Prof. Associada junto ao Departamento de Enfermagem Materno–Infantil e Saúde Pública da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto – USP, ***Enfermeira Obstetra, ****Fisioterapeuta

Resumo
O alívio da dor no trabalho de parto é um desafio para os profissionais de saúde
Palavras-chave: que prestam assistência à parturiente. Esse trabalho teve como objetivo relatar e discutir
TENS, ENT, dor, parto. o caso de uma parturiente que recebeu eletroestimulação transcutânea durante o primeiro
e segundo estágios do trabalho de parto. O estudo foi realizado em uma Maternidade
em Ribeirão Preto-SP em julho de 2003. Foi utilizado um aparelho portátil com dois
pares de eletrodos auto-adesivos de 5.0cm X 9.0cm, posicionados na região paravertebral,
na altura de T10-L1, e S2-S4. O aparelho foi fixado com freqüência de 80 Hz e
duração do pulso de 75ms. A paciente demonstrou boa aceitação e tolerância ao uso
desse recurso, solicitando que o aparelho fosse religado nos momentos de pausa para
avaliação dos batimentos cardíacos fetais e que fosse mantido, no segundo estágio do
trabalho de parto, não tendo requisitado recurso farmacológico de alívio de dor.

Recebido 24 de junho de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Cristine Homsi Jorge Ferreira, Rua Maestro Joaquim Rangel, 510, 14025-610 Alto da Boa Vista SP, Tel: (16) 623
0321, E-mail: acferrei@keynet.com.br
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Abstract
Relieving pain during childbirth is a challenge for the health professionals rendering
Key-words: care to the woman giving birth. This study reports and discusses the case of a woman
TENS, childbirth, labor, pain. who received transcutaneous electrical stimulation during the first and second stage of
childbirth. The research was carried out at a Maternity in Ribeirão Preto-SP in July
2003. A portable device was used with two pairs of self adhesive electrodes 5.0cm X
9.0cm, positioned in the paravertebral region, at a height of T10-L1, and S2-S4. The
device was set at 80 Hz frequency and 75ms pulse duration. The patient demonstrated
good acceptance and tolerance to the use of this resource, asking to reconnect the
device when it was put off for fetal heart rate evaluation and to leave the device on
during the second stage of childbirth, without asking for a pharmacological resource to
relieve pain.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Considerando que a dor é uma experiência subjetiva e


individual, na situação específica do trabalho de parto,
Uma Assistência obstétrica humanizada deve garantir o segundo Polden & Mantle [5] a ENT pode dar uma analgesia
acesso da parturiente a recursos adequados de alívio da no adicional suficiente para junto com relaxamento, respiração,
trabalho de parto. Assim, o alívio da dor no trabalho de massagem e posicionamento adequado, permitir a mulher
parto é um desafio para os profissionais de saúde que prestam lidar com as contrações uterinas podendo chegar em alguns
assistência à parturiente. Apesar do trabalho de parto ser casos a não necessitar do uso de drogas, ou retardar a sua
considerado um evento fisiológico, é um fenômeno doloroso utilização.
que segundo Melzack et al. [1] figura entre as dores mais A ENT por ser um recurso de simples aplicação e baixo
intensas, registradas pelo questionário de dor McGill. custo poderia representar uma alternativa como método
Além da dor do trabalho de parto representar sofrimento coadjuvante de analgesia que aparentemente quase não
para a parturiente, ela interfere desfavoravelmente na possui efeitos colaterais e que é passível de controle pela
evolução do mesmo, podendo ocasionar aumento da secreção própria gestante [3].
de cortisol e catecolaminas, afetando a contratilidade e o Os estudos que utilizaram a ENT no trabalho de parto
fluxo sanguíneo uterinos, produzindo efeitos deletérios tanto possuem metodologia e resultados bastante variáveis em
para mãe como para o feto [2]. Desse modo, existe hoje um relação ao alívio da dor. Autores como Van der Spank et al.
consenso sobre a necessidade de se oferecer medidas que [6], Mendoza et al. [7] relataram a eficácia desse recurso,
aliviem a dor do trabalho de parto de maneira eficaz e segura. enquanto outros como Enkin et al. [8] verificaram até mesmo
Portanto o método ideal seria aquele que apresentasse total um aumento da dor durante a aplicação da ENT. Outros
eficácia no alívio da dor, com total segurança na sua aplicação, autores verificaram menos requisição de analgesia no grupo
sem efeitos colaterais e com baixo custo. de parturientes que utilizaram a ENT e um retardo na
Os métodos disponíveis atualmente para o alívio de dor requisição de analgesia pelas parturientes do grupo
no trabalho de parto podem ser divididos em farmacológicos experimental [9,10].
e não farmacológicos apresentando cada um deles vantagens Wattrisse et al. [11] buscaram identificar a eficácia da
e desvantagens. ENT em associação com analgesia extradural durante o
Entre os métodos não farmacológicos, a Eletroestimulação trabalho de parto. Neste estudo randomizado participaram
Nervosa Transcutânea (ENT) vem sendo utilizada há mais 120 gestantes (primíparas). O uso da ENT prolongou em
de 20 anos como um recurso fisioterapêutico, considerado 20% o tempo de alívio de dor, proporcionado pelo uso da
eficaz no alívio de algias agudas e crônicas [3]. É um método medicação nas mulheres do grupo testado. No estudo clínico
não-invasivo baseado na fisiologia da dor a partir da teoria do randomizado realizado por Van Der Ploeg et al. [12]
controle de comportas [4]. participaram 94 mulheres, sendo utilizado em 48 delas
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 309

placebo e em 46 a ENT. A eficácia da ENT no alívio da inervação do canal de parto e assoalho pélvico. O aparelho
dor foi mensurada através de comparação entre o número foi fixado com freqüência de 80 Hz e duração do pulso
de vezes que foi requisitado pelas mulheres o uso de recursos em 75ms.
analgésicos medicamentosos (petidina, prometazina). Com Foi bastante enfatizado que a parturiente deveria ajustar
relação à utilização de medicamentos, não foi verificada a corrente a suas próprias necessidades, aumentando a
diferença entre os dois grupos. Porém 61% das mulheres intensidade da mesma, conforme sentisse que o estimulo já
que utilizaram a ENT relataram que gostariam voltar a usá- não era suficiente para aliviar a dor.
la em um parto subseqüente. Às 9:30 hrs quando o aparelho foi ligado à parturiente
Diante dos conflitos existentes na literatura mundial sobre estava em decúbito lateral esquerdo e cerca de cinco
o tema, da escassez de estudos nacionais e reconhecendo os centímetros de dilatação do colo uterino. Depois de uma
potenciais benefícios do uso da ENT, julgamos pertinente hora de aplicação da ENT a parturiente comentou que o
relatarmos e discutirmos um caso, onde esse recurso foi aparelho a estava ajudando a “desviar à atenção da dor”,
utilizado em uma parturiente em uma Maternidade Escola tornando mais fácil de suportá-la.
de Ribeirão Preto-SP, no primeiro e segundo estágios do Com sete centímetros de dilatação o aparelho foi desligado,
trabalho de parto. para monitorização dos batimentos cardíacos fetais, nesse
momento a paciente passou a referir a dor como
Relato do caso insuportável e requisitou que o aparelho fosse religado.
Durante outras duas vezes no decorrer do trabalho de parto,
Parturiente de 26 anos de idade, secundigesta, primípara, o aparelho foi desligado por cerca de dez minutos para
amasiada, de cor branca, balconista e com ensino médio avaliação do batimento cardíaco fetal, ocasiões em que a
completo foi internada às 8:30 hrs na Maternidade do parturiente voltou a requisitar que o mesmo fosse ligado. A
Complexo Aeroporto (Mater) em Ribeirão Preto em trabalho parturiente foi estimulada a deambular, mas preferiu ficar
de parto. A paciente estava com 37 semanas de idade em decúbito lateral ou sentada. Depois que o aparelho foi
gestacional e não apresentou nenhuma intercorrência no religado a parturiente passou a requisitar que a intensidade
outro ciclo grávido-puerperal ou na gestação atual, relatando do mesmo fosse aumentada a cada contração uterina. Com
o uso de sulfato ferroso e negando o uso de qualquer tipo oito centímetros de dilatação do colo uterino a paciente
de medicação. Ela realizou pré-natal em uma Unidade Básica iniciou esforço expulsivo espontâneo e foi posicionada
de Saúde local sendo encaminhada para Maternidade para sentada em um banquinho. As 11:55 hrs a dilatação do colo
resolução do parto. uterino estava completa e aventamos a possibilidade de
Quando internada a parturiente estava com quatro desligar o aparelho, entretanto a parturiente solicitou que o
centímetros de dilatação do colo uterino e uma dinâmica mesmo fosse mantido.
uterina de três contrações de 45 segundos em 10 minutos, e A ENT foi utilizada até a dilatação completa da cérvix e
bolsa íntegra. Em relação ao aspecto emocional parecia por solicitação da parturiente foi mantido durante os quinze
calma, apesar de não ter acompanhante. Vale salientar que minutos de período expulsivo que antecederam ao nascimento,
a parturiente participou por duas vezes de palestras que ocorreu com a mesma de cócoras as 12:15 hrs.
relacionadas aos sinais e sintomas do trabalho de parto e Imediatamente após o nascimento, o neonato foi levado
sobre aleitamento materno oferecidas na Maternidade. ao seio materno, período em que ocorreu a dequitação da
Após leitura do termo de consentimento livre e placenta. A avaliação neonatal no primeiro e quinto minutos
esclarecido, a parturiente aceitou participar do estudo, que apresentou índice de apgar de 9 e 10.
foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola de No pós-parto imediato, a paciente relatou que a ENT a
Enfermagem de Ribeirão Preto-USP. O aparelho de ajudou bastante, no trabalho de parto e parto, e que ela gostaria
eletroestimulação trancutânea foi apresentado à parturiente de voltar a utilizá-lo em um possível parto subseqüente.
e lhe foi explicado de maneira detalhada a forma como o
mesmo seria aplicado, a sensação que geraria e sobre o Discussão
controle de intensidade do mesmo. Todas as instruções sobre
o estudo e o uso do aparelho foram realizadas no intervalo A eleição da parturiente para esse estudo de caso deveu-
das contrações, quando a paciente voltava a sentir dor, se ao fato da mesma ter sido internada em uma fase
interrompíamos o que estava sendo falado e retomávamos relativamente precoce do trabalho de parto, onde o seu estado
a explicação no próximo intervalo. emocional permitiam a compreensão em relação à aplicação
Foi utilizado o aparelho portátil modelo TensKW do aparelho e a familiarização com o mesmo, apesar da
Compact com dois pares de eletrodos auto-adesivos de 5,0 ausência de um conhecimento prévio, durante o pré-natal.
cm x 9,0 cm. Os eletrodos foram posicionados na região Segundo Polden & Mantle [5], o ideal seria que as
paravertebral, na altura de T10-L1, que corresponde à parturientes fossem apresentadas a esse recurso e a sensação
inervação do útero e cérvix, e S2-S4 que correspondem à por ele proporcionada, durante o pré-natal. Nesse caso, os
310 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

cursos de preparo para o parto constituem espaço ideal para los sempre que fosse necessário realizar a monitorização
abordar os recursos não farmacológicos de alívio de dor no dos batimentos cardíacos fetais. De qualquer forma, existindo
trabalho de parto e para habilitar as gestantes a fazerem uso a possibilidade de uma maior efetividade em relação ao alívio
de tais recursos, discutindo de maneira clara as possíveis da dor na região do abdômen inferior durante a contração
vantagens e desvantagens de cada um. Dessa forma, busca- uterina utilizando-se mais um par de eletrodos, isso impõem
se aumentar a autonomia da mulher em relação ao seu a necessidade de estudos comparativos que avaliem o alívio
próprio processo de parturição, para que a mesma se sinta de dor proporcionado em cada região.
agente ativo e influente no mesmo, contribuindo para um Budsen & Ericson [19] chegaram a sugerir a possibilidade
importante preceito da humanização à assistência obstétrica. teórica de indução de irregularidades no batimento cardíaco
A dor é uma experiência multidimensional de difícil fetal com o uso de eletrodos abdominais, o que não foi
avaliação. No caso estudado haviam alguns fatores descritos verificado nem pelos próprios autores em outra publicação
em alguns estudos como atenuantes da dor no trabalho de nem em outros estudos [20,5,7,3].
parto, como o fato da parturiente em questão não se julgar Utilizamos um aparelho convencional de ENT, portátil
normalmente uma pessoa ansiosa, não ser primigesta, já ter que oferecia à parturiente a possibilidade de mudar de
tido a experiência de um parto [13,1,14]. Segundo posição e deambular durante a aplicação. Ajustamos os
Waldenstrom et al. [15] a participação em cursos de parâmetros de estimulação do aparelho de for ma
preparação para o parto têm sido relatada como convencional ( baixa intensidade e alta freqüência de
potencialmente atenuadora da ansiedade, associando-se a estímulos) como utilizado em outros estudos [10]. Autores
uma experiência positiva em relação ao parto. Entretanto, como Mendoza et al. [7] e Van der Spank et al. [6]
segundo esses autores o efeito da preparação para o parto verificaram através de estudos controlados a efetividade do
sobre a dor ainda necessita ser esclarecido, uma vez que os uso da ENT nos grupos estudados, utilizando outros
resultados dos estudos ainda são bastante conflitantes. parâmetros de estimulação.
A parturiente em questão, havia participado de duas No caso relatado houve boa tolerabilidade e
palestras relacionadas ao ciclo grávido-puerperal, sendo que aceitabilidade da ENT com os parâmetros de estimulação
uma delas relacionava-se aos sinais e sintomas do trabalho selecionados. Os indicativos subjetivos da efetividade do uso
de parto, o que poderia contribuir para uma menor ansiedade da ENT foram o fato da parturiente requerer que o aparelho
em relação ao início do mesmo, mas que ainda assim não fosse religado, nos momentos em que o mesmo foi desligado,
caracteriza a participação em um curso de preparo para o a não requisição de recurso farmacológico de alívio de dor
parto, que normalmente têm pelo menos oito encontros e pela mesma, e o relato da mesma sobre como o aparelho
uma abordagem mais profunda relacionada ao parto a dor lhe ajudou a suportar a dor durante o trabalho de parto.
e aos recursos não farmacológicos e farmacológicos de alívio Além disso, a paciente mencionou que gostaria de voltar a
de dor no trabalho de parto. usar tal recurso em um parto subseqüente.
Em relação ao suporte social, a parturiente não teve um Os resultados obtidos nesse caso devem ser interpretados
familiar como acompanhante. O fato da parturiente ter com cautela, devido à existência de inúmeros outros fatores
alguém de sua confiança como acompanhante, tem sido que possivelmente interferiram para o relato subjetivo de
apontado como um fator redutor do uso de recursos uma experiência positiva de trabalho de parto e parto.
farmacológicos de alívio de dor no trabalho de parto,
entretanto, a literatura também faz referência à diminuição Conclusões
do uso de recursos farmacológicos quando voluntários da
comunidade ou dos que acompanham a parturiente [16,17]. No estímulo à humanização da Assistência Obstétrica,
No caso estudado houve o suporte social prestado por uma tem se considerado a necessidade de que os procedimentos
fisioterapeuta especializada na área que estava o tempo todo e técnicas utilizados estejam baseados em evidência científica.
presente, com o intuito de prover conforto à parturiente O uso da ENT, como recurso não farmacológico de alívio
através de recursos não farmacológicos de alívio de dor, de dor no trabalho de parto, requer mais estudos que
orientação de posturas adequadas, massagens e técnica de comprovem a sua efetividade, especialmente em nosso meio,
respiração, além da aplicação da ENT. onde sua utilização é praticamente ausente. Nesse sentido,
Com base na literatura optamos por utilizar quatro pares esse estudo possibilitou relatar a utilização desse recurso
de eletrodos posicionados na região paravertebral, na altura por uma parturiente.
de T10-L1, que corresponde à inervação do útero e cervix, A aplicação da ENT se deu em um contexto de
e S2-S4 que correspondem a inervação do carnal de parto humanização da assistência obstétrica que vêm ocorrendo
e assoalho pélvico [6,18,10]. No estudo de Mendoza et al. desde 1998 na Mater, onde se busca garantir a presença de
[7] foram adicionados dois pares de eletrodos colocados acompanhante, sempre que a parturiente desejar e o respeito
acima do púbis a 1cm da linha Alba. Optamos por não a posição que a mesma quer adotar durante o trabalho de
utilizar os eletrodos nessa região, para não ter que removê- parto, sempre que possível. O estímulo à deambulação e a
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 311

garantia ao acesso a recursos não farmacológicos e 9. Stimmesse B et al. Bêta-endorphines plasmatiques et analgésie
farmacológicos de alívio da dor também são partes életrique durant l’accouchement. Cah Anesthesiol
fundamentais do paradigma assistencial empreendido. No caso 1986;34(8):641-2.
discutido, a ENT representou mais um recurso não 10. Orange FA, Amorin MMR, Lima L. Uso da Eletroestimulação
Transcutânea para alívio da dor durante o trabalho de parto
farmacológico que somado a outros recursos como massagem
em uma Maternidade-escola: ensaio clínico controlado. RBGO
nos intervalos das contrações, mudança de posição e técnicas 2003;25(1):45-52.
de concentração na respiração, apresentou boa tolerabilidade 11. Wattrisse G et al. Electrostimulation cérébrale transcutanée:
e aceitabilidade contribuindo para uma experiência de trabalho étude comparative des effets de son association à l’anesthésie
de parto e parto, gratificante para mãe e para equipe que lhe péridurale par bupivacaine-fentanyl au cours de l’analgésie
prestou assistência. Entretanto continua havendo a necessidade obstétricale. Cah Anesthesiol 1993;41(5):489-95.
de investigações sistematizadas, especialmente através de 12. Van Der Ploeg JM et al. Transcutaneous Nerve Stimulation
estudos clínicos randomizados e controlados, que avaliem a (TENS) during the first stage of labour: a randomized clinical
efetividade não só dos recursos não farmacológicos de alívio trial. Pain 1996;68:75-8.
de dor no trabalho de parto como a ENT isoladamente, como 13. Melzack R, Taenzer P, Feldman P, Kinch R. Labour is still
painful after prepared childbirth training. Can Med Assoc J
que descrevam, avaliem e comparem protocolos que utilizem 1981:125:357-63.
recursos não farmacológicos combinados. 14. Ranta P, Spalding M, Kangas-Saarela T, Jokela R, Hollmén A,
Jouppila P, Jouppila R. Maternal expectations and experiences
Referências of labour pain- options of 1091 Finish parturients. Acta
Anaesthesiol Scand 1995;39:60-6.
1. Melzack R, Kinch R, Dobkin P, Lebrun M, Taenzer P. Severity 15. Waldenstrom U, Bergman V, Vasell G. The complexity of
of labour pain: influence of physical as well as psychological labor pain: experience of 278 women. J Psychosom Obst
variables. Can Med Assoc J 1984;130:579-84. Gynecol 1996;17:215-28.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Política de Saúde, 16. Hofmery GJ, Nikoden VC, Wolman WL, Chalmers
Área Técnica da Mulher. Parto, aborto e purpúreo: assistência BE,.Kramer T. Companionship to modify the clinical birth
humanizada à mulher. Brasília; 2001. environment: effects on progress and perceptions of
3. Ferreira CHJ, Payno SMA. Eletroestimulação Nervosa labour, and brestfeeding. Br J Obstet Gynecol 1991;98(8):
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University Press; 1995. 129-36. C
312 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Estudo de caso

Tratamento fisioterapêutico na sequela da lesão


medular cervical (C2 e C3)
Physical therapy in sequel of medular cervical lesion (C2 and C3)
Emanuelle Chaves Mendonça*, Gerson Dantas Soares*, Lusicleide Galindo da Silva*,
Maria Elma de Souza Maciel Soares**, Gisele Barros Soares**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmicos de Fisioterapia do Centro Universitário de João Pessoa – Unipê, **Fisioterapeuta, Professora do Centro Universitário de João
Pessoa – Unipê

Resumo
A lesão medular é um processo de origem traumática ou não traumática que acomete
Palavras-chave: a medula espinhal, podendo provocar alterações sensitivas, viscerais e motoras temporárias
lesão medular, tetraplegia, ou permanentes. Neste artigo relatamos o caso de um menor de 15 anos com lesão
qualidade de vida. medular cervical a nível de C2-C3 no pós-operatório tardio de corporectomia de C3 e
artrodese anterior apresentando tetraplegia e respiração assistida pelo BIPAP. O estudo
foi realizado em um hospital pediátrico público de João Pessoa, Paraíba, no período de
fevereiro a abril de 2004. O objetivo deste artigo é descrever o caso clínico, fazer uma
revisão da literatura e enfatizar a importância da fisioterapia aplicada nas seqüelas da
Lesão Medular. Observou-se a que a fisioterapia desempenha um papel fundamental
na prevenção das complicações da lesão medular proporcionando assim uma melhor
qualidade de vida para o paciente.

Abstract
The medular lesion is a traumatic or non traumatic process that affects the spinal
Key-words: cord, and may provoke temporary or permanent sensitive, visceral or motor alterations.
medular lesion, tetraplegy, We relate the case of a minor of 15 years old, whit a medular cervical lesion, near C2-
life quality. C3 in the late post-operatory of a C3 corporectomy and an anterior artrodesis, present
itself as tetraplegy and assisted breathing with BIPAP. The study was conducted in a
public pediatric hospital in João Pessoa, Paraíba, Brazil, in a period from February to
April 2004. The objective of this study was to describe the case, making a literature
revision and emphasizing the importance of the physical therapy applied to the sequels
in medular lesion. We observed that physical therapy has a fundamental roll in preventing
complications of medular lesions, and improving the life quality of the patient.

Recebido 13 de maio de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Lusicleide Galindo da Silva, Rua Sidney Clemente Dore, 295/602 Tambaú João Pessoa PB, Tel: (83) 226-1812,
E-mail: lusigs@hotmail.com, lusicleide1@hotmail.com
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 313

Introdução ou perda da função motora e/ou sensitiva na região torácica,


lombar ou sacral, havendo preservação da função dos
Lesão Medular é a interrupção de feixes nervosos que membros superiores e dependendo do nível da lesão o
saem do cérebro e passam dentro do canal medular tronco, os membros inferiores e os órgãos pélvicos podem
percorrendo toda coluna vertebral. Esta lesão causa alterações estar envolvidos. A tetraplegia caracteriza-se pela perda ou
fisiológicas, levando o organismo à não responder de forma disfunção sensitiva e motora nos segmentos cervicais,
adequada às sensações, como perda de sensibilidade e dos comprometendo membros superiores, tronco, membros
movimentos [1]. inferiores e os órgãos pélvicos [8].
As patologias que acometem a medula espinhal podem È importante ressaltar que todos os pacientes com
ser ocasionadas pelos seguintes fatores etiológicos: anomalias tetraplegia ou paraplegia de nível alto demonstram algum
congênitas; traumas; doenças degenerativas, infecciosas, comprometimento das funções respiratórias que os leva a
neurológicas, vasculares e sistêmicas. Sendo todas essas de necessitar da ventilação mecânica para manter a vida [9].
origem não-traumática associadas à falhas de A lesão medular pode predispor o surgimento de
desenvolvimento ou estruturais das vértebras e/ou da medula complicações respiratórias e cardiocirculatórias como:
espinhal [2]. atelectasias, broncopneumonia aspirativa, tromboembolismo
O trauma raquimedular tem sua incidência maior em pulmonar, edema agudo de pulmão neurogênico e síndrome
indivíduos jovens do sexo masculino, com menos de 40 da angústia respiratória do adulto, disreflexia autonômica,
anos. Os danos da medula espinhal podem resultar de hipotensão postural, trombose venosa profunda e embolia
trauma (84%) ou de eventos não-traumáticos (16%). pulmonar [10,11].
Dentre as principais causas de lesão traumática os acidentes O tratamento cirúrgico é indicado na presença de
por arma de fogo e por arma branca (13%), mergulho em paralisia após intervalo de quadro neurológico normal,
águas rasas (9%), acidentes automobilísticos (38%) e presença de paralisia rápida e progressiva ou paralisia
motocicletas (7%) [3,4]. incompleta que evolui para paralisia completa com o objetivo
A lesão medular traumática é a causa mais comum de de estabilizar o segmento vertebral fraturado, que pode ser
lesão medular que ocorre como resultado de forças de realizada por meio da fixação do segmento vertebral com
impacto em alta velocidade. Raramente essas lesões são placas, hastes ou parafusos e artrodese vertebral. Estas
resultado de forças diretas sobre uma vértebra, sendo a podem ser realizadas na face anterior ou posterior da coluna
maioria causada por forças indiretas geradas pelos vertebral, e a escolha depende do tipo de lesão. Em algumas
movimentos da cabeça e tronco [5]. fraturas é possível a fixação e reparação direta da fratura,
O traumatismo causa destruição mecânica do tecido como ocorre nas fraturas do processo odontóide. Em outras
neural e hemorragia intramedular com perda funcional dos em que os fragmentos ósseos da vértebra estão deslocados
axônios (lesão primária) e conseqüente perda axonal para o interior do canal vertebral, comprimindo as estruturas
significativa (lesão secundária) devido à morte celular [2]. nervosas, e a remoção cirúrgica desses fragmentos é
A incidência das fraturas da coluna vertebral tem denominada de descompressão do canal vertebral [6].
aumentado nas últimas décadas, tendo como causa o número Com isso pode-se obter a restauração da anatomia e
crescente de acidentes industriais e automobilísticos de alta condições fisiológicas do segmento vertebral lesado,
velocidade, que têm sido os responsáveis pelas lesões complexas restabelecendo a função máxima do paciente, o equilíbrio
e graves da coluna vertebral. Outras causas freqüentes de e da estabilidade do segmento vertebral lesado; diminuindo
fratura são as quedas de altura, mergulho em águas rasas e a dor, recuperando o déficit neurológico, prevenindo
ferimentos por projéteis de arma de fogo. O sexo masculino incapacidades futuras, iniciando precocemente a
é o mais acometido, na proporção de 4:1, na faixa etária entre reabilitação [6].
15 a 40 anos. A localização anatômica da lesão está diretamente Além do tratamento cirúrgico podemos citar o
relacionada ao mecanismo de trauma, cerca de 2/3 das lesões tratamento fisioterapêutico que tem como objetivos gerais
medulares estão localizadas no segmento cervical, 10% na melhorar a qualidade de vida do paciente; promover a
região torácica e 4% na coluna tóraco-lombar [6]. independência respiratória considerando o nível da lesão;
A lesão medular traumática pode ser classificada em lesão prevenir o acúmulo de secreções ou mobilizar as já existentes;
completa quando toda a comunicação neural é interrompida facilitar a expansão torácica; prevenir ou tratar possíveis
no local da lesão como, por exemplo, na transecção completa complicações; evitar o surgimento de encurtamentos,
da medula espinhal; e lesão incompleta quando existe uma contraturas e deformidades; manter amplitude de
comunicação neural parcial abaixo do nível neurológico da movimento articular, força muscular e trofismo; evitar
lesão e tende a apresentar clinicamente combinações de posturas viciosas; evitar úlceras por pressão; favorecer o
síndromes medulares [7]. retorno venoso, através do posicionamento adequado no
Dentre as terminologias utilizadas na lesão medular leito, realização do desmame progressivo, assistência
podemos citar a paraplegia que caracteriza-se por diminuição respiratória, manobras de higiene brônquica, manobras de
314 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

reexpansão pulmonar, uso dos incentivadores respiratórios, peitoral e escapular; vibrocompressão (ver figura 1); flutter
mudança periódicas de decúbito, alongamento e mobilização (ver figura 2); aspiração traqueal (ver figura 3); manobras
passiva global, uso de órteses, incentivar as atividades de reexpansão pulmonar (compressão-descompressão);
funcionais, orientações à família [12,9,7]. estimulação proprioceptiva diafragmática (ver figura 4);

Materiais e métodos Figura 2 - Flutter.

A pesquisa caracteriza-se como descritiva-exploratória,


pois se preocupa com a atuação prática, com a descrição
das características do caso e com a identificação dos fatores
que determinaram e contribuíram para a ocorrência do
mesmo. O método de abordagem é o dedutivo. Por esta
razão utilizou-se um método geral e aplicou-se em um caso
particular. No que se refere ao método de procedimento,
foi utilizado um relato de caso com análise qualitativa, por
ter descrito a evolução clínica de um menor de 15 anos
com lesão medular no pós-operatório tardio de
corporectomia de C3 e artrodese anterior apresentando
tetraplegia e respiração assistida pelo BIPAP.
Através da observação direta do paciente foram colhidos
os dados e registrados na ficha de avaliação fisioterapêutica.
Os dados indiretos foram coletados a partir da leitura do
prontuário encontrado no arquivo do hospital Além disso, Figura 3 - Aspiração traqueal.
foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a patologia.
Para a realização do trabalho, houve a autorização da
responsável pelo paciente, sendo assinado um termo de
consentimento livre e esclarecido, conforme a Resolução
196/96 do CNS.
A conduta fisioterapêutica realizou-se no período de 04
de fevereiro a 22 de abril de 2004, as sessões foram
realizadas diariamente com uma média de duração de uma
hora. O tratamento fisioterapêutico teve como objetivo
manter a amplitude articular, prevenir complicações,
melhorar a mecânica respiratória, orientar a família e
melhorar a qualidade de vida do paciente. Em geral foram
utilizados os seguintes procedimentos: a) Fisioterapia
Respiratória: alongamento da musculatura da região cervical,

Figura 1 - Manobra de vibrocompressão. Figura 4 - Estimulação proprioceptiva diafragmática.


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 315

threshold; desmame do BIPAP ( iniciando-se com 15 tetraplegia flácida e insuficiência respiratória com
minutos diários). b) Fisioterapia motora: alongamento dependência da ventilação mecânica.
muscular global; mobilização de cintura escapular; Dia 26/01/2003, foi transferido para um hospital da
mobilização de membros superiores e inferiores (ver figura cidade do Recife-PE, sendo realizada em 27/02/2003 uma
5); dissociação de cinturas escapular e pélvica; corporectomia descompressiva anterior de C3. Em 05/
posicionamento no leito e orientação familiar quanto às 02/2003 realizou uma artrodese occipitocervical anterior,
mudanças de decúbito e transferências. onde o paciente teve a ventilação mecânica invasiva
substituída pelo BIPAP, sendo acompanhado pelo médico,
fisioterapeuta e psicólogo.
Figura 5 - Mobilização de membro inferior.
Em 18/12/2003 retornou para um hospital público
pediátrico da cidade de João Pessoa-PB onde encontra-se
atualmente interno com acompanhamento multiprofissional
submetendo-se a sessões diárias de fisioterapia respiratória
e motora.
Na avaliação respiratória o paciente encontrava-se no
leito, traqueostomizado, fazendo uso da respiração assistida
no BIPAP, com expansibilidade e elasticidade torácica
diminuídas principalmente em hemitórax direito, uso da
musculatura acessória, padrão respiratório costal, ritmo
respiratório regular, frêmito tóraco-vocal normal. Ausculta
pulmonar: mur múrio vesicular presente, diminuído
simetricamente em ambos hemitórax com ruídos
adventícios (creptos) em ápice direito. FC: 62bpm, FR:
22irpm, Sat.O 2 93%. Na avaliação motora observou-se
tetraplegia, hipotonia, trofismo normal, ausência de edema
e deformidades. Uso de órteses tornozelo-pé e órteses de
Discussão e resultados posicionamento em membros superiores (punho e mão).
Apresenta clônus em membros superiores e inferiores.
Paciente J. V. L., 15 anos, sexo masculino, solteiro, Ausência de sensibilidade tátil, térmica e dolorosa, porém
residente na cidade de João Pessoa-PB, em meados de 2001 refere sensações esporádicas em ombro e mão direita. Faz
passou a referir dormência nos membros inferiores com uso de cateterismo vesical intermitente. Reflexos: bicipital,
quedas freqüentes. Procurou um neurologista que solicitou cutâneo-abdominal, patelar e sinal de Babinski, presentes
Ressonância Magnética e Tomografia Crânio-encefálica que e reflexo aquileu negativo. À movimentação passiva
não apresentou anormalidades. observamos amplitude articular preservada, com presença
No dia 15/03/2002 procurou novamente o médico de espasticidade extensora em membros inferiores
relatando dificuldade para deambular por fraqueza nas (Aschworth modificada grau 2).
pernas, e que os sintomas apareceram há seis meses, Após a avaliação iniciou-se o tratamento fisioterapêutico
tornando-se progressivo na última semana. Nesta data onde o paciente encontrava-se bastante cooperativo
os únicos antecedentes positivos encontrados diziam apresentando como resultados, menor dependência da
respeito a mergulho em água rasa dois anos atrás. O respiração assistida pelo BIPAP com maior tempo de
exame neurológico mostrou tetraparesia espástica, com desmame (evoluindo para 1 h/ duas vezes ao dia) manutenção
avaliação sensitiva superficial prejudicada. Foi realizada do trofismo e amplitude de movimento articular, e sem
a Ressonância Magnética da Coluna Cervical que mostrou complicações secundárias tão comuns a pacientes que estão
importante alteração morfoestrutural em nível de C2, com restritos ao leito. Sendo sugerida a continuidade do tratamento
aspecto sugestivo de seqüela pós-traumática com provável fisioterapêutico diário, inclusive no domicílio quando for
pseudoartrose e instabilidade segmentar; sinais de possível o paciente receber alta hospitalar.
compressão extrínseca importante sobre o cordão
medular cervical, com severo afilamento do mesmo e Conclusão
pequenas áreas de sinal anômalo de permeio, sugerindo
gliose/edema. Diante dos resultados obtidos, apesar do estudo ter
No dia 20/03/2002 foi realizada a cirurgia de sido realizado num curto intervalo de tempo, podemos
corporectomia descompressiva posterior de C3 mais perceber que a Fisioterapia desempenha um papel
artrodese occipitocervical. Após a cirurgia, o paciente não fundamental na estabilização do quadro clínico e prevenção
apresentou evolução satisfatória, apresentando quadro de de complicações nos pacientes com lesão medular restritos
316 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

ao leito, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de 8. Greve JMD, Castro AW de. Avaliação clínica e funcional da
vida destes. lesão medular – índices motores e sensitivos e funcionais
utilizados. In: Greve JMD, Casalis MEP, Barros Filho TEP.
Diagnótico e tratamento da lesão da medula espinhal. São
Referências Paulo: Roca; 2001. p. 65-74.
9. Monteiro AP, Jaber JJ. O atendimento fisioterapeutico em
1. Ferreira RTF. Lesão Medular. [citado 2004 abr 11]. Disponível pacientes com lesão raquimedular alta submetidos à
em URL: http://www.lesãomedular.kit.net. ventilação mecânica. In. Greve JMD, Casalis MEP, Barros
2. Taricco MA. Etiologia das lesões medulares. In. Greve JMD, Filho TEP. Diagnótico e tratamento da lesão da medula
Casalis MEP, Barros Filho TEP. Diagnótico e tratamento da espinhal. São Paulo: Roca; 2001. p. 44-56.
lesão da medula espinhal. São Paulo: Roca; 2001. p. 1-8. 10. Greve JMD, Castro AW de. Alterações Cardiocirculatórias no
3. Charles A. O guia prático da neurologia. São Paulo: Guanabara Paciente Lesado Medular Agudo. In: Greve JMD, Casalis
Koogan; 1999. MEP, Barros Filho TEP. Diagnótico e tratamento da lesão da
4. Schmitz TJ. Lesão Traumática da Medula Espinhal. In. medula espinhal. São Paulo: Roca; 2001. p. 57-64.
O‘Sullivan SB, Schmitz TJ. Fisioterapia: avaliação e tratamento. 11. Sita M Do C, Werneck DF, Manetta JA. Tratamento da
2 ed. São Paulo; 1993. p.621-64. insuficiência respiratória aguda devido ao trauma
5. Shineider FJ. Lesão medular traumática. In. Umphred DA. Fisio- raquimedular. In Greve JMD, Casalis MEP, Barros Filho
terapia neurológica. 2. ed. São Paulo: Manole; 1994. p.421-81. TEP. Diagnótico e tratamento da lesão da medula espinhal.
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2004 mar 27]. Disponível em URL: <www.fmrp.usp.br/ral/ 12. Maruyama DB, Soares DP. Tratamento fisioterápico na lesão
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7. Rowley S et al. Lesão de medula espinhal. In. Stokes M. Diagnótico e tratamento da lesão da medula espinhal. São
Neurologia para fisioterapeutas. São Paulo: Premier; 2000. p. Paulo: Roca; 2001. p. 93-114.C

117-34.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 317

Atualização

Atuação fisioterapêutica no aleitamento materno e na


intercorrência mamária: proposta de tratamento
Physical therapy performance in breast feeding and mammary
intercurrence: treatment proposal
Ana Cristina da Nóbrega Marinho, M.Sc.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Fisioterapeuta, Professora visitante da disciplina Clínica Ginecológica do Departamento de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba

Resumo
No início do aleitamento materno, a mulher pode sentir uma discreta dor ou
Palavras-chave: desconforto no começo das mamadas, o que pode ser considerado normal. No entanto,
ramamentação, mamilos muito dolorosos e machucados, apesar de ser muito comum, não é fato normal
tratamento.mamária e na maioria das vezes é causado por má-técnica da amamentação (posicionamento ou
pega incorretas), desencadeando trauma mamilar, mastite e abscessos, os quais são
considerados como importantes causas de desmame. Diante disto este artigo trata de
apresentar uma proposta de tratamento.

Abstract
In the beginning stages of breast feeding, woman can feel a discrete pain or discomfort
Key-words: to handle the first feeding, what can be considered normal. However, very painful and
breast feeding, breast hurt nipples, although very common, this is not normal and, usually, caused by inadequate
treatment. technique of breast feeding (incorrectly positioned or latched on), producing nipple
trauma, mastitis and abscesses, which are considered important reasons for weaning.
The aim of this article is a proposal of treatment.

Recebido 30 de dezembro de 2003; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Ana Cristina da Nóbrega Marinho, Rua Adiel Valdevino, 102 Centenário, Campina Grande-PB, E-
mail:anacrnm@hotmail.com
318 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Introdução respectivas formas de tratamento, que são comuns durante


a amamentação, principalmente nos primeiros dias. Tais
As mamas começam a se desenvolver na puberdade, ou problemas ocorrem devido a fatores que envolvem a mãe,
seja, entre 11 e 16 anos, sendo o desenvolvimento estimulado a criança e bem como o ambiente em que ambas estão
pelo hormônio ovariano chamado estrogênio; o qual estimula inseridas [4-10].
o crescimento da glândula mamária e a deposição de gordura,
aumentando assim o volume da mama. Durante a gravidez Fissuras do mamilo (bico do peito rachado):
ocorre um crescimento maior, de modo que o tecido
glandular se torna totalmente desenvolvido para a produção As fissuras do mamilo ocorrem no seio despreparado,
real de leite [1]. devido à má posição da criança no momento da mamada e,
A mama é constituída por glândula mamária, alvéolos principalmente, devido à técnica incorreta de sucção.
mamários, ductos lactíferos e seios lactíferos. O leite é Conduta:
produzido pelas células epiteliais que recobrem as estruturas Para evitar a fissura:
lóbulos alveolares. Em torno dos alvéolos existe uma • A mãe deve preparar a mama durante o pré-natal
verdadeira rede de células mioepiteliais que se contraem utilizando estratégias para o
espremendo o leite em direção aos ductos lactíferos. Existem fortalecimento dos tecidos areolar e mamilar, tais como:
aproximadamente 15 a 20 ductos lactíferos que transportam banho de sol nos seios, fricção de toalha, utilização de sutiã
o leite até os seios lactíferos e mamilo. Em torno do mamilo de algodão com orifício na região mamilar, passar uma bucha
encontra-se a aréola, onde as glândulas de Montogmery (sem sabão) nos seios no momento do banho.
protegem a pele do mamilo. Este possui várias terminações • A posição adequada da criança no momento da
nervosas sendo muito sensível [2]. mamada é fundamental para o não aparecimento de fissuras.
Como funciona todo este processo? Segundo Martins
Filho [3] existem três órgãos importantes na produção de Veja como posicionar a criança corretamente no
leite, que são a placenta, cérebro e mama. momento da mamada:
Placenta: É o órgão que nutre o bebê no útero, sendo eliminado
no momento do parto, o qual produz um hormônio
denominado estrogênio placentário que tem a função de preparar
a mama para a produção de leite, sendo também responsável
pelas modificações sentidas no seio durante a gravidez.
Cérebro: Tem uma região denominada hipófise, que fica no
hipotálamo, que produz dois hormônios: a prolactina e a
ocitocina. A prolactina fica situado na hipósife anterior e é
responsável pela produção do leite; e a ocitocina é secretada
pela hipófise posterior, sendo responsável pela descida do leite.
A liberação de ocitocina pode ser inibida por fadiga, dor ou
ansiedade. Isto significa, que embora muitas vezes o leite esteja
sendo secretado, não chega até a criança, que chorando com
fome aumenta a ansiedade da mãe bloqueando ainda mais a
liberação da ocitocina. Forma-se assim, um círculo vicioso • Segure o seio posicionando a mão em forma de “C”
que só poderá ser interrompido pela intervenção de uma (observe a figura). E após a
pessoa que compreenda bem esse mecanismo fisiológico. Desta criança começar a mamar deixe o seio livre.
forma, pode-se evitar problemas, como mastite, fissuras, etc; • Observe que o corpo da criança está de frente para o
que levam muitas vezes ao fracasso da amamentação. corpo da mãe estando com a
barriguinha encostada na barriga da mãe.
Mamilo: É a parte mais externa do seio, sendo através • A criança deve por na boca o máximo de aréola
dele que ocorre a saída do leite. Existem quatro tipos de possível, pois colocando apenas
mamilo: Pseudo-Invertido; Protruso; Plano e Curto; destes, o “bico” do peito na boca não sairá leite suficiente e o
o mais fácil para amamentar é o mamilo protruso. bebê poderá ficar irritado, adormecer devido ao cansaço
de sugar e acordar logo depois devido à fome. O maior
Intercorrências na amamentação tempo do bebê no seio realizando sucção inadequada
ocasionará fissuras.
A leitura de Silva, Vinha, Marba, Riordan, Rodrigues, • Não se preocupe com a respiração do bebê. Não aperte
Rugolo e Valdes permite esclarecer alguns problemas, e suas o seio para livrar o nariz do Bebê, pois você estará
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 319

dificultando a saída do leite pelos ductos mamários. O bebê restante do seio. Desta forma, o leite irá saindo lentamente
possui o reflexo de jogar a cabecinha para trás quando se e aliviará a dor. Mantenha essas condutas até que o
sentir sufocado ou mesmo quando já estiver satisfeito. ingurgitamento desapareça.
• Aparecimento de fissuras não significa interromper a
amamentação. Mastite (inflamação das mamas)
• As fissuras causam dor, mas não impedem que a mãe
continue a amamentar seu bebê, até mesmo porque elas cicatri- O ingurgitamento mal tratado pode facilitar o início da
zam rapidamente se a mãe tomar as devidas providências. mastite, que é facilmente diagnosticado: mamas quentes,
febre, dor a palpação e podendo existir pus. A mastite é
Para tratar: mais freqüente na 2ª e 3ª semanas depois do parto. A mãe
deverá descansar por mais tempo. Deverá tirar uma licença
A mãe deverá corrigir a posição da mamada, como de seu emprego. Se continuar a trabalhar a infecção poderá
também lavar os mamilos apenas uma vez ao dia, no retornar [4].
momento do banho, usando pouco ou nenhum sabão e para
tratar a cicatriz é importante hidratá-los com leite materno. As mães devem amamentar no sistema de livre demanda,
Nos casos graves, dependendo da extensão da fissura, a e se certificar que o bebê está em posição adequada. Se o
sucção direta ao seio deverá ser suspensa por um período bebê não esvaziar a mama, complete com auto-ordenha, ou
de 24 a 48 hs; neste caso recomenda-se ordenhar a mama e solicite colaboração para o esvaziamento por ordenha.
oferecer o leite na colher ou conta-gotas.
Para tratar:

Ingurgitamento mamário • Aplicação de compressas úmidas mornas sobre a área


afetada por 10 a 15 min, em
O ingurgitamento mamário consiste em parte no aumento seguida compressas geladas pelo mesmo tempo, depois
da quantidade de sangue e fluídos nos tecidos que suportam massagear cada mama delicadamente, com movimentos
a mama (congestão vascular) e de certa quantidade de leite circulares, e, logo após, tentar retirar o leite. O procedimento
que fica retido na glândula mamária. Quando isto ocorre, deverá ser mantido até que a mãe sinta-se aliviada.
as duas mamas ficam inchadas (aumentam de volume, • Se necessário, o médico pode prescrever o uso de
dolorosas, quentes, vermelhas, brilhantes e tensas por causa analgésico antes de proceder à auto-
do edema (líquido) nos tecidos. A mãe queixa-se de dor ordenha.
principalmente na axila, podendo ter febre [2]. • Se houver demora no início do tratamento, pode se
O ingurgitamento geralmente ocorre alguns dias (2 a 5) formar um abscesso mamário e,
após o nascimento (na apojadura) ou em qualquer outra neste caso, a amamentação deve ser suspensa na mama
época durante a amamentação, todavia, é mais difícil de afetada e a mãe deve ser encaminhada para a drenagem.
acontecer em hospitais onde há alojamento conjunto e Após o tratamento, pode-se retomar a amamentação nos
sistema de livre demanda precoce. dois seios.
As mães devem amamentar no sistema de livre demanda
logo após o parto e verificar se a criança mama em boa Ducto bloqueado (peito empedrado)
posição desde o primeiro dia.
Essa situação é provocada pelo esvaziamento incompleto
Para tratar: de um ou mais canais. Neste caso, o leite não drena porque
está endurecido e, desta forma, bloqueia a passagem do
• A criança precisa continuar sugando e quando os seios leite pelos ductos. Uma “tumoração” dolorosa se forma na
da mãe ainda estiverem cheios a mãe deverá ser orientada mama. A causa exata do ducto bloqueado não está clara,
para retirar o leite por expressão manual. Atualmente existem mas pode ser resultado de roupa apertada, ou porque a
os bancos de leite materno e as mães que produzem bastante posição da criança não per mite a mesma sugar
leite podem doar o leite em excesso para ajudar outras eficientemente aquela parte da mama [11].
crianças que não podem mamar no seio de suas mães. Um “tabu” bastante comum entre as mães é que a criança não
• Uso de um sutiã firme e confortável pode tornar o pode “arrotar” no seio porque o leite “pedra”. Esta afirmação não é
ingurgitamento menos doloroso. verdadeira, e, este fato não ocasionará o “empedramento do leite”, ou
• Fazer compressas geladas sobre o seio por 10 a 15 seja, o bloqueio dos ductos mamários.
min alternadamente; às compressas devem-se fazer
massagens com movimentos circulares que começam no As mães devem conhecer, durante o pré-natal, as técnicas
mamilo e vão se estendendo vagarosamente para o de posição e pega de amamentação. O bebê deverá sugar
320 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

até o completo esvaziamento da mama, caso isto não artigo chega a conclusão de que a intervenção de um
aconteça, realizar ordenha manual. fisioterapeuta é muito importante nesta fase, visto que as
técnicas e procedimentos adotados têm a finalidade de
Para tratar: ajudar às mães a amamentarem seus filhos sem
intercorrências, evitando dessa forma o abandono do
Orientar a mãe acerca da posição da mamada adequada processo de amamentação precocemente.
para o bebê, ou seja, explicar que a alternância na posição
para amamentar ajuda a retirada do leite de todos os Referências
segmentos da mama. A mama da mãe deve ser massageada
delicadamente com movimentos circulares começando no 1. Almeida JS, Vale IA. Aleitamento materno-orientação às mães.
mamilo e se distanciando vagarosamente para o restante Universidade Estadual de Campinas; 1997.
do seio. 2. Franco JM. Mastologia: formação do especialista. São Paulo:
Atheneu; 1997.
3. Martins Filho J. Como e porque amamentar. 2ª ed. São Paulo:
Abscesso
Sarvier; 1984.
4. Silva AS. Temas de neonatologia. Recife: Universitária; 1996.
Ocorre como conseqüência da mastite, havendo presença 5. Vinha, VHP. Projeto: aleitamento materno. Autocuidado com
de secreção purulenta drenada para o exterior da mama e a mama puerperal. São Paulo: Sarvier; 1994.
pontos de flutuação [1]. 6. Marba STM, Mezzacappa Filho F. Manual de neonatologia.
Rio de Janeiro: Revinter; 1998.
Para tratar: 7. Riordan J, Averbach KG. Amamentação-guia prático. Rio de
Janeiro: Revinter, 1998.
Não usar compressa alguma. O tratamento é feito através 8. Rodrigues A. Crioterapia-fisiologia e técnicas terapêuticas. São
José do Rio Preto: Cefespar; 1995.
da drenagem cirúrgica e antibioticoterapia. Se a paciente
9. Rugolo LMSS. Manual de neonatologia. São Paulo: Revinter;
suportar deve-se fazer ordenha. 2000.
10. Valdes V, Sanchez, AP, Labock, M. Manejo clínico da lactação-
Conclusão assistência as nutrizes e ao lactente. Rio de Janeiro: Revinter;
1996.
Os problemas que acometem as mães no período da 11. Lana APB. O livro de estímulo à amamentação: uma visão
amamentação são considerados os principais fatores para biológica, fisiológica e psicológica-comportamental da
o desmame precoce. Pensando nesta difícil situação este amamentação. São Paulo: Atheneu; 2001. C
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 321

Resumos de trabalhos e congressos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Cunha, Márcia Gouveia Cunha, Elaboração e aplicação de teste para avaliação da


Regiane Oliveira Andrade, Fátima ultrapassagem de obstáculo por idosos
Aparecida Caromano
A ultrapassagem de obstáculos é uma atividade funcional que deve ser exercida
Laboratório de Fisioterapia e Reatividade com freqüência durante atividades como caminhadas ou pequenos deslocamentos.
Comportamental do Curso de Fisioterapia da A dificuldade na realização destas atividades não é avaliada de rotina pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São fisioterapia. No entanto, a intervenção preventiva depende da detecção precoce
Paulo desta perda. O objetivo deste estudo foi a organização de um teste simples e de
baixo custo, para a avaliação da ultrapassagem de obstáculo por idosos
Endereço para correspondência: Fátima
Caromano, LaFi-ReaCom, Rua Cipotânea, 51, considerados saudáveis, sem história pregressa de acidente por queda e, posterior
Cidade Universitária USP 05360-000 São avaliação de sua aplicabilidade clínica. Para tanto, elaborou-se um teste de
Paulo SP ultrapassagem de um obstáculo de 80 centímetros de comprimento por 40
centímetros de largura e profundidade zero. Os participantes foram orientados
por meio de comando verbal preestabelecido a saltarem o obstáculo delimitado
no piso antiderrapante, imaginando uma poça de lama e, foram filmados durante
a atividade em vista frontal e lateral. Participaram do estudo 80 idosos (55
mulheres) com idade média de 66,2 ± 5,3 anos. Os participantes foram distribuídos
em dois grupos, o grupo A com idade entre 61 e 66 anos e o grupo B com
idade variando entre 66 anos e um mês e 71 anos. Para cada participante atribuiu-
se uma nota de um a cinco, de acordo com o desempenho apresentado em três
tentativas. Foram atribuídos graus de desempenho, variando de 1 a 5 (1 – salta o
obstáculo com impulso vertical e horizontal; 2 – ultrapassa o obstáculo com
passo largo; 3 - salta adequadamente mas não consegue ultrapassar o obstáculo;
4 – tenta ultrapassar o obstáculo com passo largo, mas não atinge a distância
prevista; 5 – salta com impulso vertical e apresenta pequeno deslocamento
horizontal, pousando no início do perímetro do obstáculo). A maioria dos
participantes do grupo A apresentou desempenho adequado com nota 1 (35%
dos participantes) e 2 (35% dos participantes). Parte dos idosos (30%) foram
considerados inaptos para realização da atividade tendo obtido nota 3 (11
participantes), nota 4 (6 participantes) e nota 5 (8 participantes). No grupo B,
50% dos participantes apresentaram desempenho adequado, sendo que 20%
atingiram a nota 1 e 30% obtiveram a nota 2. A outra metade do grupo (40
participantes) foi considerada inapta para realização da tarefa, sendo que, 15%
apresentaram desempenho nota 3, 20% apresentaram desempenho nota 4 e
15% desempenho nota 5. Encontrou-se diferença significativa entre os dois
grupos, indicando melhor desempenho pelo grupo A e, mostrando que a idade
é um fator relevante para realização da atividade proposta. Não foi observada
diferença estatisticamente significativa entre os participantes do sexo feminino e
os do sexo masculino. O teste proposto se mostrou rápido em função do fato
322 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

de se utilizar filmagem ao invés de observação direta, diminuindo o tempo de


exame de cinco para dois minutos. Também se mostrou de baixo custo, com
geração de dados permanentes (viáveis de serem comparados em diferentes
tempos ou situações) e geraram informações que permitem ao fisioterapeuta
estabelecer objetivos clínicos preventivos, no que se refere ao treinamento de
ultrapassagem de obstáculo. O teste utilizado se mostrou suficiente para detectar
diferenças funcionalmente relevantes em dois grupos com diferença de faixa
etária de cinco anos. Este estudo é indicativo da necessidade de avaliação periódica
da ultrapassagem de obstáculo em jovens idosos e da necessidade de intervenções
precoces. Nossa opinião é de que estes testes devem ser acompanhados, por
filmagem, de forma comparativa no tempo, o que facilitaria a decisão clínica
sobre a intervenção preventiva.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Heloísa Carolina M. Bravin, Felipe A. Relação entre a prática de atividade física e a qualidade
Santos Mendes, Fátima A. Caromano de vida em idosos

Laboratório de Fisioterapia e Reatividade Introdução: Estudos que tentam definir o envelhecimento bem sucedido têm
Comportamental do Curso de Fisioterapia da em comum valorizar os efeitos ambientais sobre o organismo no favorecimento
Faculdade de Medicina da Universidade de São da manutenção da saúde física e mental e da independência física, como a dieta,
Paulo o estilo de vida e as rotinas diárias, grau de apoio social, vida emocional, qualidade
e quantidade de atividade física praticada e, senso de autonomia e autocontrole.
Endereço para correspondência: Fátima
Os estudos também demonstram que, permanecer ativo e produtivo é
Caromano, LaFi-ReaCom, Rua Cipotânea, 51,
componente essencial para envelhecer com sucesso. Tais achados oferecem bases
Cidade Universitária USP
05360-000 São Paulo SP para o delineamento de intervenções fisioterapêuticas enfocando atividades físicas
capazes de implementar o desempenho funcional em idosos. Permanece o
questionamento da possibilidade da participação em um programa que aborde
somente a prática de atividade física poder alterar a qualidade de vida de pessoas
idosas. Objetivo: Estudar a relação entre a prática de atividade física supervisionada
e a qualidade de vida em idosos. Método: Sujeitos: Participaram do estudo 26
idosos, com idade média de 66,2 anos (mínima de 60anos e máxima de 73
anos), sendo que, as mulheres (60%) eram donas-de-casa e os homens
trabalhadores do campo, moradores na cidade de Terra Boa, Paraná. Todos
assinaram o termo de consentimento pós-informado. Procedimentos: O programa
de atividade física proposto incluiu exercícios de flexibilidade, equilíbrio, força
muscular, exercícios respiratórios, reeducação postural, coordenação motora e
condicionamento físico (por meio de atividades lúdicas como jogos e dança).
Foi desenvolvido em sessões de uma hora, duas vezes por semana, durante
cinco meses e, teve o apoio da prefeitura local. Este programa já foi validado
como eficaz na produção de melhoras físicas e funcionais. Para avaliação da
qualidade de vida utilizou-se o questionário de qualidade de vida SF-36 e um
questionário baseado no inventário sobre qualidade de vida, elaborado por Lipp.
Os questionários foram aplicados antes e depois do programa de atividade
física, por um pesquisador não conhecedor dos procedimentos de intervenção
e dos objetivos da pesquisa. Também foi realizado o controle, por sessão, da
pressão arterial, da freqüência cardíaca, e da evolução funcional, além do registro
de intercorrências clínicas ou acidentais, por participante. Foram excluídos do
estudo idosos com mais de 10% de faltas.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 323

Resultados e discussão: Encontrou-se uma diminuição significativa da pressão


arterial média e da freqüência cardíaca de repouso em 65% dos participantes,
como efeito da prática das atividades físicas propostas, demonstrando o efeito
das práticas lúdicas no sistema cardiocirculatório. A análise dos dados gerados
pelos questionários mostrou evolução satisfatória, com pontuação indicando
melhora de capacidade funcional (82% dos participantes), melhora na aparência
física (50% dos participantes), diminuição de quadros álgicos (15 participantes
referiam algum tipo de dor musculoesquelética no início do programa e 10
referiram ausência da dor no final, enquanto que, cinco participantes referiram
diminuição importante da dor), melhora no estado geral de saúde (80% dos
participantes), aumento da vitalidade e disposição (60% dos participantes),
melhora nas relações sociais (40% dos participantes) e, melhora do quadro
emocional (60% dos participantes). Cada participante referiu pelo menos três
critérios de melhora. Durante o programa ocorrem duas intercorrências cirúrgicas,
que afetaram a evolução de dois participantes, diminuindo o aproveitamento
geral do grupo. A avaliação funcional confirmou a eficácia do programa em
promover melhoras estatisticamente significativas de equilíbrio, flexibilidade, força
muscular, coordenação motora (inclusive respiratória) e melhora no sistema
cardiocirculatório. Chamou atenção o fato de 50% dos participantes referirem
que, na época do ano em que o programa foi realizado (frio) ser comum gripes
e resfriados severos, sendo que, não houve ocorrência de nenhum caso de doença
respiratória, gripe ou resfriado durante o período em que o estudo foi executado.
Conclusão: As informações geradas pelo estudo, para a população estudada,
demonstraram claramente a efetividade de um programa de atividade física em
produzir mudanças significativas em vários parâmetros de qualidade de vida,
além das mudanças funcionais esperadas.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Carlos B. M. Monteiro, Zodja Aplicação da mensuração da função motora grossa na


Graciani Síndrome de Rett

ABRETE-SP, UNIFMU e UNISA Introdução: A síndrome de Rett é caracterizada como uma desordem
neurológica progressiva, de causa genética recentemente descoberta, envolvendo
Endereço para correspondência: as mutações, geralmente esporádicas, do gene conhecido como MECP2. Devido
Carlos B.M.Monteiro, à falta de métodos de avaliação fisioterapêuticos específicos para a síndrome e
E-mail: carlosfisi@uol.com.br
as dificuldades encontradas para analisar a evolução do paciente acreditamos ser
importante a apresentação de um sistema de medição que auxilie e possibilite a
realização de um planejamento terapêutico. A proposta desse trabalho é de
utilizar o Gross Motor Function Measure (GMFM), instrumento de avaliação
padronizado para portadores de Paralisia Cerebral, criado para mediar as
mudanças que ocorrem, com o passar do tempo na função motora grossa.
Este estudo apresenta resultados da aplicação do GMFM na síndrome de Rett,
onde apresentar-se-á a dimensão na qual foi verificado o pior desempenho
independente da idade e do estágio clínico da criança. Material e Método: Foi
selecionado para este estudo um grupo de nove meninas com diagnóstico de
síndrome de Rett que realizam atendimento fisioterapêutico na associação brasileira
para Síndrome de Rett. Após a aplicação do GMFM nas nove meninas
portadoras de síndrome de Rett, identificou-se a dimensão de menor escore.
324 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

Para tanto, realizou-se a análise das dimensões apresentadas pelo GMFM em


cada criança e observou-se se os resultados apresentaram alguma similaridade
entre as portadoras de síndrome de Rett. Resultados: Verificou-se que em todas
as portadoras de síndrome de Rett analisadas, a dimensão do GMFM onde
apresentaram maior dificuldade foi na dimensão “C”, referente aos itens
engatinhar e ajoelhar. Nesta dimensão, ocorreu uma diminuição significativa dos
escores de todas as meninas. A seguir estão os resultados da comparação dos
escores entre as 5 dimensões do GMFM – a diferença entre a dimensão “A e B”
– 10,75%; entre”B” e “C” – 54,64%; entre “C” e “D” – 0,44% e entre “D” e
“E” – 31,31%. A maior diferença foi verificada entre as dimensões “B” (sentar)
e “C” (engantinhar e ajoelhar) com 54,64% de perda da função motora grossa.
Conclusão: Para que um programa terapêutico se torne efetivo e para que o
planejamento de suas metas seja elaborado de acordo com as características
individuais do paciente e sua patologia, o Fisioterapeuta deve estar preparado e
consciente da real importância de um instrumento de avaliação. Esta irá interferir
no programa de tratamento, com medidas e resultados mais precisos. Concluímos
que apesar do GMFM ser padronizado para a Paralisia Cerebral, ao aplicarmos
na síndrome de Rett obtivemos resultados compatíveis com o desempenho
habitual da criança, porém alguns itens devem ser revistos e adaptados às
características específicas da síndrome de Rett.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Carlos B. M. Monteiro, Camila Utilização do biofeedback como procedimento terapêutico no


Torriani, Mário Uchoa, Fábio recrutamento dos extensores dos joelhos de um portador de
N. Cyrillo paralisia cerebral

UNIFMU Introdução: A EMG - Biofeedback destaca-se como um procedimento


fisioterapêutico dentro das possibilidades para o tratamento da Paralisia Cerebral
Endereço para correspondência: (PC), sendo um importante recurso a ser considerado. Para tanto, cabe salientar
Carlos B.M.Monteiro, que Biofeedback Eletromiográfico consiste na utilização da EMG de superfície
E-mail: carlosfisi@uol.com.br
como um recurso determinante para um melhor recrutamento muscular através
de estímulos visuais ou auditivos. Este estudo é de suma relevância na medida
em que se propõe promover recrutamento motor mais adequado a um paciente
portador de Paralisia Cerebral através da utilização do EMG-Biofeedback.
Material e Método: Foi selecionado um paciente portador de Paralisia Cerebral
com idade de 26 anos, quadro motor diparético espástico em que se pode
observar dificuldades na realização da extensão de joelhos bilateralmente, com
maior predomínio à esquerda e assimetria em ortostatismo com maior
transferência de peso à direita. Foi utilizado o aparelho de EMG-Biofeedback
NMR-400 da marca Pathway, de quatro canais. Seguiu-se criteriosamente os
procedimentos de preparação da pele e colocação dos eletrodos de superfície
em pontos motores de vasto medial oblíquo e lateral tanto à direita quanto à
esquerda. Os dados colhidos foram: contração isométrica máxima voluntária, e
as atividades de passagem de sentado para em pé e manter-se 10 segundos em
apoio unipodal. O recurso Biofeedback foi utilizado a partir da detecção de
déficit em vasto medial esquerdo, sendo estipulado como alvo 10% a mais da
capacidade de recrutamento deste músculo. Sendo que os dados obtidos à direita
foram comparados com os dados à esquerda, membro de menor capacidade
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 325

de recrutamento muscular. Resultados: Detectou-se importante diferença no


recrutamento muscular dos vastos no apoio unipodal, sendo: no apoio unipodal
à esquerda VME 85,9 e VLE 53,7 e no apoio unipodal à D VMD 97,8 e VLD
38,8. Desta forma, calculou-se 10% a mais para a requisição do recrutamento
muscular do VME e obteve-se pico máximo de 136 Uv (58,32%) no apoio
unipodal à esquerda. Conclusão: Apesar de tratar-se de um estudo de caso, concluiu-
se que o EMG-Biofeedback foi um recurso facilitador no processo de
recrutamento muscular e possível estabilizador do membro inferior em
ortostatismo. Sugere-se realização de mais pesquisas fazendo uso do EMG-
Biofeedback como um procedimento fisioterapêutico para o recrutamento
muscular de portadores de Paralisia Cerebral.

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Vanessa Cristina de Oliveira, O papel do fisioterapeuta na estimulação sensório motora


Alessandra Benatti Burkle, de recém-nascidos prematuros
Nivaldo Pavan
Em um recém nascido pré termo (RNPT) o desenvolvimento das etapas
Curso de Fisioterapia da CESUMAR motoras ocorrerá dentro da unidade de terapia intensiva neonatal. A privação
sensorial ocasionada pela incubadora pode levar a desvios de desenvolvimento
Endereço para correspondência: dos prematuros fazendo o fisioterapeuta buscar soluções para proporcionar
vanessacristinafisio@bol.com.br melhor prognóstico quanto à evolução sensório-psico-motora. O sistema
nervoso cerebral do RNPT é imaturo e está em desenvolvimento, ao ser
estimulado, ativa a plasticidade do cérebro infantil. Portanto, este trabalho teve
como objetivo informar e auxiliar a conduta de profissionais que trabalham
com RNPT quanto à estimulação sensório-motora, através de uma revisão
literária. O atendimento sensório-motor consiste em explorar o potencial do
RN, promovendo a evolução das futuras etapas motoras. O tato é altamente
desenvolvido nos prematuros, portanto, a massoterapia de deslizamento rítmico
e vagaroso nos braços e pernas, peito, costas e fronte promove estimulo sensório-
motor e favorece o retorno venoso. Ao levar a mão do bebê no seu próprio
rosto ou barriga, provoca a sensação do seu corpinho. Os alongamentos
musculares compreendidos apenas pelas mobilizações, proporcionam um melhor
relaxamento. A co-contração estimula os receptores periféricos que são
responsáveis pela sensibilidade proprioceptiva. O tapping e o placing normalizam
o tônus hipotônico, mobiliza e alonga. A movimentação gerada ao nascimento
é reflexa, o bebê irá reproduzir a sensação provocada pelo movimento reflexo
e após várias tentativas conseguirá comandar o seu próprio movimento. Assim,
ao estimular os reflexos fisiológicos do neonato, despertará a sensação motora,
facilitando o desenvolvimento do tônus muscular. Muitos dos prematuros não
completam a segunda metade do último trimestre, não desenvolvendo a flexão
fisiológica, vital para o desenvolvimento da motricidade, devendo seus membros
ser posicionados em flexão sempre que possível com coxins, promovendo assim
simetria e evitando posturas viciosas com possíveis deformidades. A estimulação
vestibular presente na vida intra-uterina também foi interrompida com a
prematuridade, podendo ser estimulada através de balanceios em várias direções
e planos com o bebê em leve flexão favorecendo a linha média, intercalando-se
com os estímulos tácteis. A duração da sessão deve ser curta, em torno de 20
minutos para não agravar o quadro do bebê, pois, caso contrário, desfavorece
326 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

a estabilidade fisiológica, provoca descontinuidade do padrão de sono, e ainda


pode causar hipoxemia, bradicardia, apnéia e fadiga. Conclui-se que é importante
associar a estimulação sensória-motora em prematuros à fisioterapia respiratória
convencional, e os profissionais devem preparar-se para aplicarem as técnicas
adequadamente para melhorar o desenvolvimento motor do prematuro.

Fig. 1 – Mobilização. Fig. 2 - Co-contração.

Fig. 3 – Estímulo proprioceptivo. Fig. 4 – Estímulo vestibular.


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 327

Livros
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Marco Martins Amatuzzi, Reabilitação em medicina do esporte


Júlia Maria d’Andréa Greve,
João Gilberto Carazzato A avaliação do atleta e a prescrição de um programa de treinamento
individualizado e adequado é o alicerce da boa prática esportiva tanto para o
São Paulo, Editora Roca, 332 páginas, campeão olímpico como para o atleta de final de semana. Cabe à medicina do
R$ 185,00
esporte fornecer os instrumentos necessários para a prática da atividade física de
formas eficiente, segura e saudável.
Este livro, dividido em 30 capítulos, traz a experiência do grupo de reabilitação
do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo em todas as áreas de conhecimento da Medicina do
Esporte: aptidão e avaliação, treinamento e desempenho: prevenção, tratamento
e reabilitação das lesões do esporte; a atividade física e a manutenção da saúde;
o exercício terapêutico nas doenças crônicas incapacitantes; o exercício e
envelhecimento e o atleta sênior.
Muitos foram os profissionais envolvidos em sua realização: médicos,
nutricionistas, fisioterapeutas, professores de educação física, psicólogos,
enfermeiros, engenheiros, terapeutas ocupacionais, destacando-se o caráter
multidisciplinar como uma das maiores virtudes desta obra, que agrega, de forma
simples e didática, todos os campos de conhecimento dos quais a Medicina do
Esporte é composta.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Osmar Pedro Arbix de Camargo, Ortopedia e traumatologia:


Roberto Atílio de Lima Santin, conceitos básicos, diagnóstico e tratamento
Nelson Ono, Kodi Kojima
Os autores deste livro tiveram como objetivo ao escrever este livro o de difundir
São Paulo, Editora Roca, 436 páginas,
os conhecimentos básicos, diagnóstico e tratamento das afecções ortopédicas e
R$ 170,00
das lesões traumáticas do aparelho locomotor. Ele vem de encontro às necessidades
do profissional da saúde nos conhecimentos das afecções ortopédicas, congênitas,
degenerativas e também das decorrentes dos traumatismos.
Escrito de maneira leve e fluente, com todas as informações necessárias para
que o leitor se atualize sobre o assunto e compreenda a especialidade de um
modo abrangente, despreocupando-se com a memorização de nomes e
referências bibliográficas. Dividido em VII Partes: Introdução; Conceitos Gerais;
Propedêutica; Ortopedia Geral; Traumatologia; Traumatologia no Esporte e
Reabilitação, num total de 31 capítulos, no fim de cada foi adicionado o item
“Para ler mais”, em que os autores indicam publicações àqueles que desejam
aprofundar-se no estudo.
Uma obra importante para ser lida por graduandos de Medicina, médicos
generalistas, candidatos a concursos de Residência Médica e aos que se dedicam a
outros ramos das Ciências da Saúde, como Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia,
Terapia Ocupacional e Ciências do Esporte.
328 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

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Marco Martins Amatuzzi, Medicina do esporte


João Gilberto Carazzato
Este livro apresenta, de forma cuidadosa, abrangente e atualizada, os diversos
São Paulo, Editora Roca, 676 páginas, aspectos envolvidos na atuação da medicina na prática da atividade física e
R$ 280,00 do esporte.
A Parte I, apresenta os diversos setores que norteiam a prática da atividade
física nos diferentes grupos etários e os aspectos preventivos e terapêuticos nas
disfunções orgânicas. Aborda também especificidades da avaliação e do controle
das atividades recreacionais, terapêuticas e competitivas, discorrendo sobre a
atuação de cada especialidade médica na área esportiva. Destaca, ainda, aspectos
psicológicos e nutricionais.
Na Parte II são apresentadas as lesões características de cada esporte e
aborda as diversas articulações corpóreas, tanto aquelas relacionadas às estruturas
miotendíneas, quanto as presentes nos aparelhos corpóreos abdominais, torácicos,
urológicos, oftalmológicos, otorrinolaringológicos, dermatológicos,
hematológicos, reumatológicos e neurológicos.
Uma importante contribuição dos médicos e profissionais do Instituto de
Ortopedia e Traumatologia (IOT) para os médicos ortopedistas, clínicos,
graduandos e profissionais da área de medicina esportiva.

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Marco Martins Amatuzzi Joelho - Articulação central dos membros inferiores

São Paulo, Editora Roca, 816 páginas, O joelho é uma das articulações mais complexas e essenciais do corpo humano.
R$ 332,00 Para destacar sua importância, Joelho – Articulação central dos membros inferiores, aborda
a exatidão científica, os distúrbios e as lesões que podem afetar essa articulação
desde a infância até a Terceira Idade.
Em estilo simples, claro e objetivo, a obra apresenta o que mais há de avançado
no conhecimento das doenças do joelho e de seu tratamento, ressaltando a
importância de sua harmonia funcional tanto para a realização dos movimentos
mais elementares, quanto para a prática esportiva.
Dividido em 100 capítulos, o livro analisa tópicos como embriologia,
anatomia e biomecânica, discutindo aspectos gerais de reabilitação, órteses e
afecções neoplásicas, assim como doenças reumáticas e auto-imunes, sem deixar
de lado os aspectos históricos que acompanharam evolução da cirurgia de
joelho no Brasil.
Joelho é destinado a todos os profissionais que atuam, estudam essa articulação,
especialmente, médicos ortopedistas, reumatologistas, fisioterapeutas e
professores de educação física.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 329

Normas de publicação Fisioterapia Brasil

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. dos artigos originais.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros 4. Atualização ou divulgação
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que
pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um
Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê
artigo de revisão.
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações
que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical 5. Relato de caso
Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada
de outubro de 2001. São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e- características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não e pode ser realizado em humano ou animal.
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
6. Comunicação breve
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
1. Editorial comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
de seus membros. A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
2. Artigos originais
5. Resumos
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato 6. Correspondência
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências trabalho antes de se publicar a carta.
bibliográficas. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL

3. Revisão 1. Normas gerais

São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira:
330 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004

fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as 5. Agradecimentos
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, em uma secção especial.
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o 6. Referências
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
o nome do artigo, data e autor. relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
2. Página de apresentação
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
- Título em português, inglês e espanhol. diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
títulos acadêmicos. ponto, páginas inicial e final, ponto.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o Exemplo:
respectivo endereço, telefone e E-mail. Livro:
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
3. Autoria Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
pública do seu conteúdo. iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. a abreviação latina et al.

4. Resumo e palavras-chave Exemplo:


(Abstract, Key-words) Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo Cancer Res 1994;54:5016-20.
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês. Os artigos, cartas e resumos devem ser
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: enviados para:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, meto- Jean-Louis Peytavin
dologia, análise). Atlantica Editora
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. 20021-180 Rio de Janeiro RJ
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para Tel: (21) 2221 4164
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004 331

Informações: (33) 5. 62.69.63.18 / (33) 5. 62.69.61.93


Calendário de eventos E-mail: inst.p.souchard@uol.com.br
www.rpgsouchardinst.com.br

19 a 22 de outubro
2004 IV CONNEFI
São Luis MA
Informações: (98) 9116-5025

Setembro 22 a 23 de outubro
V Encontro brasileiro sobre a Síndrome de Rett
9 e 10 de setembro Instituto APAE
IV Jornada de fisioterapia oncológica do Instituto São Paulo
Nacional do Câncer (INCA) Informações: www.abrete.com.br
Praça Cruz Vermelha, Rio de Janeiro
Informações: www.inca.gov.br 27 a 30 de outubro
II Congresso Internacional de
24 e 25 de setembro Fisioterapia Manual
I EMARB-Nordeste Centro de Convenções da Universidade Federal
Hotel Praia Mar, Natal RN de Pernambuco
Informações: respiremelhor.com.br  Informações: www.fisioterapiamanual.com.br

29 de setembro a 2 de outubro
XII Simpósio Internacional de Fisioterapia
Respiratória - Prática Baseada em Evidência Novembro
Centro de Convenções Topázio Imperial
Ouro Preto MG 4 a 6 de novembro
Informações: Congress Eventos (31) 3273 1121 I Congresso brasileiro da Sociedade Nacional
de Fisioterapia Esportiva
Delphin Hotel
Guarujá SP
Outubro Informações: www.sonafe.org.br

02 de outubro 5 a 7 de novembro
II Simpósio em Fisioterapia Esportiva II Congresso Internacional de Fisioterapia
Araras SP I Congresso Nacional de Fisioterapia Social
Informações: (19) 9740-0906 III Simpósio Brasileiro sobre o
Diagnóstico Cinesiológico Funcional
08 a 12 de outubro Rio Centro
XXXVII ENAF Rio de Janeiro RJ
Poços de Caldas MG Informações: www.sbf.org.br
Informações: (35) 3222-2344
10 a 13 de novembro
16 e 17 de outubro V Interdisciplinary World Congress on
V Congresso Internacional de Reeducação Low Back and Pelvic Pain
Postural Global - RPG Austrália
Roma, Itália info@worldcongresslbp.com
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 333

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Fisioterapia Brasil
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Índice
(vol.5, nº5 setembro/outubro 2004 - 333~412)
EDITORIAL
A tentativa de legitimar a prepotência, Marco Antonio Guimarães da Silva ...............................................................................335

ARTIGOS ORIGINAIS
Comparação da atividade eletromiografica durante o movimento padrão do ciclismo em cicloergômetro
padrão e aquático, Leszek Antoni Szmuchrowski, Jefferson Rosa Cardoso, Rodrigo Gustavo da Silva Carvalho ................................337
O alívio da dor através da eletroestimulação nervosa transcutânea acupuntural e burst em hérnia
discal lombar L4-L5/L5-S1 no estágio agudo, Everaldo Nery de Andrade, Giovanna Porto, Gesivaldo Santos ...........................344
Avaliação da assistência fisioterapêutica sob a óptica do usuário, Milena Sampaio Magalhães,
Fernando José Pires prática
Fisioterapia de Sousa ...........................................................................................................................................................................350
A utilização da estereofotografia de moiré na detecção de escolioses, Irocy Guedes Knackfuss,
Julio Guilherme Silva, Felipe José Jandre dos Reis, Bruna Maria de Paula, Fernanda Guimarães Campos Cardoso,
Thaís Pionório Omena, Vinicius Costa Martins ............................................................................................................................................357
Relação entre o estresse e as disfunções da ATM nos alunos e professores
da Universidade Católica de Petrópolis, Luiz Eduardo de Sousa, Laila Maria Binato Junqueira,
Ana Lúcia C. M. C. Habib, Alexandre César Bonfim Costa .......................................................................................................................363
A capacitação pedagógica para o docente de fisioterapia, Simone Abrantes Saraiva, Kenia Maynard ...............................369

REVISÃO
Fisioterapia ortopédica e medicina ortopédica, Pamela Branco Schweitzer, David J. Miquelluti ..............................................375
Utilização da toxina botulínica tipo A em crianças com paralisia cerebral espástica,
Bianca Arantes Araujo, Cibelle Kayenne Martins Roberto Formiga, Eloísa Tudella ................................................................................... 380

ESTUDOS DE CASOS
Ginástica Laborativa
Importância da correção das alterações posturais no tratamento da luxação recidivante de patela
em crianças, Guilherme Lotierso Fehr, Ana Sílvia Gibran ...................................................................................................................... 387
Proposta de avaliação proprioceptiva no pós-operatório de ligamento cruzado anterior,
Samira Schultz Mansur, Silvia Rosane Parcias ..............................................................................................................................................391
Treinamento em meio aquático para membro inferior, Silas Pereira de Rezende,
Anamaria Siriani de Oliveira, Débora Bevilaqua-Grossi ...............................................................................................................................395
O uso do biofeedback-EMG na reabilitação da postura e do padrão de marcha de uma criança
portadora de paralisia cerebral do tipo diparética espástica, José Luiz Martinelli, Renata Calhes Franco,
Daniel Ventura de Andrade, José Augusto Peres, João Carlos Ferrari Corrêa .............................................................................................. 399

ATUALIZAÇÃO
Fisioterapia e climatério, Ana Cristina da Nóbrega Marinho, Talisa Araújo ................................................................................... 405

NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................................................. 410

EVENTOS .................................................................................................................................................................................................. 412

índice+exp+editorial.pmd 333 27/10/04, 11:00


334 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO – Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo) 

Grupo de assessores
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá – Rio de Janeiro)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE – Bahia)
Dr. Farley Campos (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID – São Paulo)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA – HFAG – Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)

Revista Indexada na LILACS – Literatura


Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde

Rio de Janeiro Direção de arte


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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 335

Editorial

A tentativa de legitimar
a prepotência
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva


marco@atlanticaedu.com.br

“Algumas pessoas são subjetivas a respeito de si próprias e objetivas, algumas vezes


terrivelmente objetivas, a respeito de outros”. Kierkegaard

O projeto de lei nº 25, denominado ato médico e apresentado ao senado por um dos
representantes eleitos daquela casa, pretende, segundo texto colhido em primeira página
do jornal do Conselho Federal de Medicina, “sinalizar para a sociedade o que é bom ou
o que é ruim, por ser comprovado ou não, em termos de conhecimento cientifico e
médico no nosso país”. Os Conselhos Federais de todas a categorias da área de saúde
naturalmente se opuseram, já que o projeto em questão limita as liberdades profissionais
conseguidas pelos conselhos ao longo dos anos.
Na tentativa de tentar discutir a polêmica questão que o projeto suscitou, pelo menos na
área cientifica, resolvi estabelecer um paralelo entre o pensamento vigente no período do
obscurantismo e o ato médico, auxiliado pelo pensamento de Boaventura Souza Santos.
Sabemos todos que Galileu pode ser considerado como o grande defensor do progresso
da ciência, lutando à época contra o domínio que a teologia do século XVII exercia
sobre tudo e sobre todos. A “Carta a Cristina de Lorena (Lettera alla Sereníssima
Madre Madama Cristina de Lorena)”, escrita por Galileu em 1615, pode ser tida
como manifesto programático da revolução científica. O debate à época não estava
centrado na veracidade dos descobrimentos astronômicos de Galileu. A autêntica
polêmica, na verdade, era se a teologia podia seguir sendo a mãe tutelar das ciências
ou se estas podiam gozar de autonomia plena. O autêntico sentido da Carta foi o de
defender a cosmologia copernicana de sua aparente contradição com as Escrituras,
mediante a teoria da acomodação. Galileu sabia da força e magnitude do inimigo que
o controlava (ortodoxia da fé dentro da igreja pós-tridentina, etc.) e lutou para obtenção
de apoio em prol da liberdade da investigação cientifica. A Carta sugere que os algozes
antes de condenar deviam dar-se ao trabalho de analisar e conhecer os resultados da
observação científica. A revolução científica iniciada por Copérnico, Galileu e Newton,
alcança, assim, o século XVIII e se coloca como uma mola propulsora de transfor-
mações técnicas e sociais jamais vistas na humanidade.
Por outro lado, o desenvolvimento do pensamento cientifico, amparado pelo racionalismo
cartesiano e o empirismo baconiano, acabaram por reunir-se no positivismo oitocentista
e ofereceram as bases para a criação dicotômica e discriminatória dos paradigmas e pré-
paradigmas (menos desenvolvidos), que caracterizam respectivamente as ciências naturais
e as ciências sociais, então emergentes. Desse modo, após libertar-se da tutela da Santa
Inquisição, a própria ciência passou a exercer uma função tutelar da qual havia se
* Editor científico de Fisioterapia Brasil libertado há dois séculos, criando relações de poder entre cientista e ciência.
Pós Doutorado na UFRJ Coincidentemente ou não, não há como deixar de observar a semelhança de tais relações
Professor do curso de mestrado da UCB com a proposta referida no referido ato médico.

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336 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Nesse sentido, duas situações podem nos ajudar a questionar o polêmico projeto de lei.
A primeira relaciona-se à necessidade de mudança do modelo científico vigente. É
preciso que se entenda que o paradigma científico atual ao qual o ato médico se
circunscreve, cercado pelas circunstancialidades acima descritas, vive uma profunda e
irreversível crise. Segundo Santos, essa fratura paradigmática, que relativiza o rigor da
leis de Newton no campo da astrofísica, começou com Einstein e a mecânica quântica
(simultaneidade dos acontecimentos distantes) e segue com Heisenberg, Bohr e cia, nos
oferecendo argumentos que reforçam o fracasso do modelo cientifico atual. Portanto,
seja qual o for o paradigma que se adote, ele terá que romper com os preconceitos
atuais. Romper preconceitos significa, no caso, reconhecer que a esperança, a fé, a
religião e outros processos não ortodoxos podem ser importantes aliados na cura de
doenças. É o que nos mostra, por exemplo, a obra Anatomia da Esperança, de Jerome
Groopman, professor da Faculdade de Medicina de Harvard, que parece nos oferecer
elementos suficientes para imaginar, através da quebra paradigmática, que a revolução
científica do século XXI, já começou lá fora. No entanto, aqui nestes trópicos, de
acordo com o pensar expresso no projeto de lei nº 25, já já aparecerá um termo aditivo,
dando a medicina a prerrogativa de dizer a quantas aves maria, pais nossos, missas,
sessões espíritas, passes de umbandas, etc, o paciente deve submeter-se para que fique
livre de sua enfermidade, doença ou mal.
A segunda situação, inserida no padrão paradigmático atual, herdada do positivismo
lógico, considera a utilização do modelo atual. Neste modelo, sob a perspectiva
quantitativa, há a preocupação pelo controle das variáveis, expressas preferencialmente
sob forma numérica e com interesse primordial pela explicação causal, derivada de uma
ou mais hipóteses levantadas. Há nessa situação a necessidade de experimentos realizados
com medidas rigorosamente controladas, em que os erros sistemáticos tipo I ou tipo II
(alfa e beta) devem ser devidamente neutralizados. Diante desse quadro, a qualidade das
pesquisas publicadas sob a forma de artigos em periódicos tem sofrido, com o advento
da medicina baseada em evidências, freqüentes avaliações. Os que trabalham nas
avaliações da qualidade dos artigos valem-se da meta-análise, que é o método estatístico
utilizado na revisão sistemática. O problema é que as meta-análises sobre as pesquisas
médicas realizadas no exterior têm revelado altíssimo grau de inconsistência nos seus
resultados, pondo abaixo as evidências de eficácia dos processos terapêuticos por elas
relatados.
Desse modo, “sinalizar para a sociedade o que é bom ou o que é ruim, por ser
comprovado ou não, em termos de conhecimento científico”, é uma idéia que merece
ser vista com muita cautela à luz das duas situações descritas acima.
Afinal, não poderia ter sido mais revelador o título eleito para o projeto de lei: ato
médico, pois não há como deixarmos de lembrar dos Atos 1, 2, 5, etc., que nada mais
eram senão a legitimação da prepotência.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 337

Artigo original

Comparação da atividade eletromiográfica durante


o movimento padrão do ciclismo em cicloergômetro
padrão e aquático
Comparison of electromyography activity during
the standard movement of cycling in standard Monark
and aquatic cycle ergometer
Leszek Antoni Szmuchrowski, D.Sc.*, Jefferson Rosa Cardoso, D.Sc.**, Rodrigo Gustavo da Silva Carvalho***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Professor de Educação Física, Professor Adjunto III – Departamento de Educação Física – UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais),**Fisioterapeuta, Professor Assistente – Departamento de Fisioterapia – UEL
(Universidade Estadual de Londrina), ***Fisioterapeuta, Professor do Departamento de Ciências Biológicas – ESMA

Resumo
O objetivo do presente estudo foi determinar através da eletromiografia de superfície
Palavras-chave: se há diferença significativa na ativação neuromuscular dos músculos gastrocnênio,
hidroterapia, eletromiografia, vasto lateral, bíceps femoral e paravertebral (lombar 3 - L3), durante o ciclo completo
bicicleta, hidroginástica. do movimento padrão do ciclismo em dois tipos de cicloergômetros, sendo um deles o
cicloergômetro padrão Monark e o outro aquático (Water BikeÒ). Este último é um
equipamento inédito no mercado, desenvolvido e patenteado pelo Prof. Dr. Leszek
Szmuchrowski. A amostra estudada foi composta de 4 sujeitos do sexo masculino
saudáveis, conforme o questionário PAR-Q. Os voluntários realizaram o movimento
padrão do ciclismo tanto no cicloergômetro padrão Monark quanto no aquático e em
2 velocidades diferentes. Durante os exercícios foram registrados a atividade muscular
pela eletromiografia de superfície de 4 grupos músculos, já citados. Os resultados
apresentaram que, em ambas as velocidades (50 e 65 rpm) a atividade muscular,
comparando os cicloergomêtros não houve diferença significativa para os músculos
bíceps femoral, vasto lateral e gastrocnênio, exceto para o vasto lateral na velocidade de
65 rpm. O paravertebral houve diferença significativa em ambas as velocidades e
cicloergômetros. Esta análise dos dados foi realizada no programa SPSS 10.0, onde se
realizou o tratamento estatístico do teste t-Student com índice de significância adotado
de p < 0,05. Conclui-se que, a comparação entre o mesmo exercício de pedalada, mas
em diferentes meios (solo e aquático) demonstrou que a propriedade física da água
pode modificar a atividade muscular.

Recebido 3 de fevereiro de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Rodrigo Gustavo da Silva Carvalho, Rua Santa Rita Durão, 466 apt. 501 Funcionários 30140-110 Belo Horizonte
MG, Tel: (31)3225-2892/9985-5593, E-mail: rgscarvalho@uol.com.br

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338 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Abstract
The aim of the present study was to determine through the electromyography of
Key-words: surface if there is significant difference in the muscular activation of the muscles
hydrotherapy, gastrocnenio, vast lateral, biceps femoral and paravertebral (lumbar 3 - L3), during the
electromyography, bicycle, complete cycle of the standard movement of the cycling in two types of bicycles, being
hidrogymnastics.
one of them Monark bicycle and the other aquatic one (Water Bike). This last one is an
unknown equipment in the market, developed and patented for Prof. Dr. Leszek
Szmuchrowski. The studied sample was composed of 4 healthful male citizens, as the
Par-q questionnaire. The volunteers had carried through the movement in both bicycles
and in 2 different speeds. During the exercises, it had been registered the muscular
activity for the electromyography of surface of 4 groups muscles, already cited. The
results had presented no significant difference in both bicycles and speeds, for the
muscles biceps femoral, vast lateral and gastrocnenio, except for the vast lateral in the
speed of 65 rpm. The paravertebral had significant difference in both the speeds and
bicycles. This analyze of the data was carried through in program SPSS 10.0 (t-Student,
p < 0,05). Concluding comparison the same exercise (dry land and aquatic) it seems
that physical water properties can modify muscular activities.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução muscular durante o movimento. Entender a atividade


muscular é a próxima informação mais importante depois
O princípio básico da pedalada é desenvolver de analisar a biomecânica [6].
movimentos circulares e suaves, apresentando uma Segundo Basmajian e De Luca [7], “eletromiografia é o
regularidade de aplicação de força sobre os pedais ao longo estudo da função muscular através da detecção do sinal elétrico
de todo o ciclo. Entretanto o ciclismo é uma forma popular que os músculos emanam”. A técnica atual consiste em captar
de exercício usada para condicionamento aeróbico, para o o potencial de ação de um músculo através de eletrodos. O
esporte competitivo e uma modalidade de reabilitação física. sinal elétrico é amplificado e registrado graficamente. Esse
Compreender a biomecânica da pedalada em bicicleta é sinal é a despolarização da membrana da fibra muscular ou a
importante por diversas razões. Primeiramente, esta somação das despolarizações das membranas de várias fibras
compreensão poderia conduzir na melhora de lesões por musculares.
“overuse” no joelho. Em segundo, veríamos os benefícios As combinações da hidrodinâmica com a eletromiografia
máximos que poderiam ser usando os cicloergômetros (EMG) podem parecer estranhas no início, mas na realidade
estacionários como um recurso a mais da terapia física se a estas disciplinas são altamente complementares quando os
compreensão da biomecânica do ciclismo fosse melhor aspectos ergonômicos na água são considerados [8].
compreendida. Finalmente, completamente desenvolvida a Vários autores vêm estudando a atividade muscular
ciência da biomecânica do ciclismo conduziria às técnicas subaquática. Perry et al. [9] e Pink et al. [10] usaram EMG
para melhorar o desempenho na competição [1,2]. e cenografia para comparar a atividade muscular do perfeito
Durante o ciclo de pedalada, cada músculo envolvido se sincronismo da atividade muscular de ombros normais e
contrai em determinado momento para gerar movimento dolorosos durante estilos diferentes da natação. Fujisawa et
dos segmentos do membro inferior. Isto pode ser detectado al. [11] e Kelly et al. [12] estudaram a ativação dos músculos
pela variação da amplitude do sinal de eletromiografia dos ombros em exercícios aquáticos e no solo (fora da água)
superficial (EMG). Dados de vários autores [3-5] diferem sem prejudicar os sujeitos durante as condições isométricas
quanto à faixa angular onde cada músculo é mais ativo no e dinâmicas. Eles relataram que a atividade EMG dos
ciclo de pedalada. Neste estudo, considera-se a atividade exercícios dentro da água foi diminuída em comparação
mioelétrica no ciclo completo, para efeito de comparação da aos exercícios similares executados no solo. E
atividade total entre dois cicloergômetros. correspondentes achados foram relatados por Pöyhönen et
A eletromiografia tem sido um efetivo e aprimorado al. [13] que comparou a atividade do músculo do quadríceps
método para se estudar a ação muscular. Ela pode determinar durante a contração isométrica máxima e sub-máxima na
com objetividade os diferentes potenciais de ação dos água e no solo.
músculos empenhados em movimentos específicos. É um Atualmente, as atividades aquáticas estão em evidência
método freqüentemente usado para avaliar a atividade por ser a água um meio que proporciona um menor índice

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 339

de lesões e por ser também muito prazeroso. Em todo quando assinaram um termo de consentimento para
mundo, vários pesquisadores desenvolvem modelos de participarem da pesquisa.
cicloergômetros aquáticos. Recentemente Szmuchrowski As EMG (eletromiografia de superfície) dos músculos
desenvolveu um cicloergômetro aquático (Water Bike, foram registradas por um Eletromiógrafo de Superfície
Szmuchrowski, LAC/CENESP/UFMG – Fig. 1), chamado (MyoTrack 3), contendo dois canais, acoplado com 2 eletrodos
de Water Bike. ativos. Um eletrodo de referência foi utilizado para avaliação
da atividade muscular. O eletrodo (Embramac) utilizado era
Fig. 1 – Cicloergômetro aquático (desenvolvido e patenteado pelo Prof. Dr. circular (2,1 cm de raio), de cloreto de prata (Ag/AgCl)
Leszek Szmuchrowski, 2001).
contendo gel condutor.
Os eletrodos foram conectados (através de um cabo
extensor) a um pré-amplificador de alta impedância (1,0 x
1012 Ohm), com razão de rejeição do modo comum de 140
dB. Os sinais foram ajustados a 1.000 amostragens por
segundo, nos canais habilitados. O filtro esteve com
freqüência de corte de 20Hz (passa alta) a 450 Hz (passa
baixa) com um ganho final do sinal a 60Hz.
Dentro da água os eletrodos foram isolados por um
material bioclusivo (Tegaderm – 3M).
Foi utilizado o cicloergômetro convencional (Padrão
Monark), e o cicloergômetro aquático (Water Bike), para
realização do movimento padrão da pedalada.
Utilizou-se de um metrônomo para estabelecer o ritmo
(velocidade) fidedigno para ambos cicloergômetros.
Os voluntários foram avaliados com o objetivo da
amostra ser mais homogênea possível e não terem
problemas de saúde. Primeiro responderam o Physical Activity
Readiness Questionary PAR-Q, um questionário preparado pelo
A Water Bike é um modelo bem diferente dos já existentes, American College of Sports Medicine (ACSM), com o objetivo
pois seu design possibilita o uso adequado das propriedades de identificar e descartar algum voluntário com alguma
físicas da água na melhora do condicionamento físico geral. patologia. Em seguida, realizaram-se as medidas de
Sua principal diferença é a de não possuir banco de assento. antropometria (massa corporal, altura, circunferências).
A pessoa fica suspensa ou apoiada pelo empuxo da água, Depois da avaliação, os voluntários selecionados fizeram
sendo fixados os pés nos pedais e as mãos no sistema de uma familiarização com ambos cicloergômetros treinando
empunhaduras formado por duas barras horizontais (superior o movimento padrão do ciclismo nas duas velocidades pré-
e inferior), ficando acima do esterno fora da água, tendo determinadas, sendo conscientizados quanto à posição do
assim uma diminuição do seu peso corporal, que varia de corpo nos cicloergômetros (não poderiam ficar de pé), e os
70% a 75% [14]. calcanhares não poderiam ser levantados dos pedais.
No presente estudo, compara-se na pedalada completa O mais importante nesta familiarização foi identificar
a ação de quatro músculos (gastrocnêmio, bíceps femoral, o esforço subjetivo semelhante entre os dois
vasto lateral e paravertebral lombar 3) durante o exercício cicloergômetros, porque na Water Bike não tem como
em um cicloergômetro padrão de solo (Monark) [15] em estabelecer uma carga em watts. Os voluntários foram
relação ao cicloergômetro aquático (Water Bike). perguntados primeiro pedalando na Water Bike na velocidade
de 50 rpm e depois na velocidade de 65 rpm, o quanto de
Material e métodos esforço correspondia conforme a escala de Borg [16].
Depois pedalaram no cicloergômetro padrão Monark para
A amostra estudada foi composta por 04 homens identificar qual a carga em watts correspondia aos dois
saudáveis, com idade média de 21,7 anos (± 1,8), estatura níveis de esforço da Water Bike. Portanto ficou determinado
média de 1,70 metros (± 0,03), média da massa corporal de que na velocidade de 50rpm a carga seria de 75w e para a
63 kilogramas (± 8,4), média do índice de massa corporal velocidade de 65rpm seria de 125w, para o cicloergômetro
(IMC) de 22 kg/m2 (± 2,4). Os voluntários realizaram o padrão Monark.
movimento padrão do ciclismo tanto no cicloergômetro A EMG foi mensurada no primeiro dia com o
padrão (Monark) como no cicloergômetro aquático. Apenas cicloergômetro padrão Monark e no segundo dia com a
o membro dominante dos voluntários foi testado, e eles cicloergômetro aquático; com todos os voluntários. Como
foram orientados quanto aos procedimentos experimentais, o aparelho de EMG tinha apenas dois canais, coletamos de

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340 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

dois em dois músculos de cada vez, durante quatro minutos (b)


de exercícios, intercalando os voluntários entre as
mensurações de cada grupo muscular. Enfim para cada dia
de coleta cada voluntário pedalava por 8 minutos, divididos
em duas vezes, sendo os dois primeiros minutos na
velocidade de 50 rpm e os outros dois finais na velocidade
de 65rpm (Fig. 2).
Os locais para fixação dos eletrodos na pele referentes
aos músculos estudados foram devidamente preparados
(tricotomia e limpeza com álcool a 70%) para a captação
do sinal eletromiográfico, tendo uma melhor fixação dos
eletrodos não ocorrendo alguma interferência nos sinais.
Os eletrodos de superfície foram fixados em posição
longitudinal ao longo das fibras musculares entre o ponto
motor distal e o tendão, conforme padronização segundo Resultados
De Luca [17]. Com distância entre eles de 2,0 cm. O eletrodo
de referência foi posicionado no côndilo lateral da tíbia. No Os resultados da média e do desvio padrão atividade
caso da EMG subaquática houve a impermeabilização dos eletromiográfica dos quatro músculos mensurados em
eletrodos com material bio-oclusivo. ambos cicloergômetros e nas duas velocidades pré-
Fig. 2 – Voluntário pedalando na Water Bike para coleta da EMG estabelecidos, estão ilustrados na Tabela I.
subaquática. Em (a) foto subaquática mostrando os eletrodos fixados e A análise da EMG é feita por um software do próprio
protegidos pelo material bioclusivo e o posicionamento correto dos pés nos aparelho que no computador é codificado o sinal
pedais. Em (b) mostra o nível da água no osso esterno e braços acima (fora mioelétrico em um diag rama esquemático. Neste
da água) e os cabos dos eletrodos conectados ao Eletromiógrafo. diagrama são visualizados a amplitude (mV) e o tempo
(seg.). Nas figuras 3, 4, 5 e 6 estão representados os
(a) diagramas dos sinais eletromiográficos de um dos
voluntários, em ambos as velocidades e cicloergômetros.
Para poder comparar o sinal eletromiográfico entre
diferentes sujeitos é preciso estabelecer uma
normalização [18]. A normalização deste estudo foi pela
média do sinal eletromiográfico em um determinado
tempo.

Discussão

Em todos os traçados eletromiograficos coletados no


A análise estatística foi realizada através do teste T - cicloergômetro aquático não foram maiores em nenhum
Student com o nível de significância de p < 0,05, para momento da pedala do que no cicloergômetro padrão
comparações das médias das EMG mensuradas no (Tabela I), podendo estar relacionado com a diminuição do
mesmo músculo, variando a velocidade e o meio (solo e peso corporal dentro da água, ou com o movimento dentro
água). da água: porque há uma combinação do movimento do

Tabela I

Gastrocnêmio Bíceps Femoral Vasto Lateral Paravertebral L3

Cicloergômetro Padrão Aquático Padrão Aquático Padrão Aquático Padrão Aquático

Rpm 50 65 50 65 50 65 50 65 50 65 50 65 50 65 50 65
Média EMG 39 38 29 30 49 55 44 52 104 115 65 82 46 50 10 11
(m V)
DP 10 8 4 6 13 24 19 18 7 9 18 37 4 6 3 4

Rpm: rotações por minuto; mV: microvolt; DP: desvio padrão

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 341

Fig. 3 – EMG do músculo bíceps femural, sendo o traçado com a cor mais fraca é do cicloergômetro padrão Monark e o de cor mais forte do aquático.

Fig. 4 – EMG do músculo paravertebral, sendo o traçado com a cor mais fraca é do cicloergômetro padrão Monark e o de cor mais forte do aquático.

Fig. 5 – EMG do músculo gastrocnênio, sendo o traçado com a cor mais fraca é do cicloergômetro padrão Monark e o de cor mais forte do aquático.

Fig. 6 – EMG do músculo vasto lateral, sendo o traçado com a cor mais fraca é do cicloergômetro padrão Monark e o de cor mais forte do aquático.

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342 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Na Tabela II, é ilustrada a análise estatística da relação da atividade muscular nas diferentes velocidades e cicloergômetros.
Tabela II

Gastrocnêmio Bíceps Femoral Vasto Lateral Paravertebral L3

Relação entre cicloergômetros R1M-R1A R2M-R2A R1M-R1A R2M-R2A R1M-R1A R2M-R2A R1M-R1A R2M-R1A
e velocidades
p 0,258 0,298 0,71 0,807 0,024 0,107 0,002 0,005

R1: 50rpm; R2: 65rpm; M: cicloergômetro padrão Monark; A: cicloergômetro aquático.


Na Tabela III, representa a análise estatística (p) da atividade muscular dos músculos estudados entre as duas diferentes
velocidades, mas no mesmo cicloergômetro. Não obtendo, portanto diferenças significativas.
Tabela III

Músculos Gastrocnênio Bíceps Femoral Vasto Lateral Paravertebral L3

Monark (p) 0,767 0,34 0,136 0,115


Water Bike (p) 0,325 0,097 0,193 0,275

ciclismo com o movimento da água na mesma direção do diferença significativa para o mesmo cicloergômetro em
movimento da pedalada, diminuindo a força de arrasto. Com diferentes velocidades e cargas, ilustrado pela Tabela III.
a diminuição do peso corporal e com a combinação dos Já nos paravertebrais, houve uma maior média de
movimentos ocorre uma diminuição do recrutamento das ativação também no cicloergômetro padrão que no aquático
unidades motoras dos músculos responsáveis pelo ciclo em ambas velocidades, mas tendo diferença significativa
completo [13,19]. estatisticamente em ambas comparações.
Esta combinação de movimento está de acordo com Nos paravertebrais, houve uma enorme diferença no
os princípios da hidrodinâmica, sendo importantes, nesta recrutamento das fibras musculares, de acordo com a EMG.
combinação, as forças do arrasto. O arrasto total pode Podemos dizer que no cicloergômetro aquático a coluna
ser definido como uma força resistente e oposta ao vertebral está bem estável devido ao design da bicicleta e
sentido de movimento de um objeto. Além da aos princípios da hidrodinâmica (pressão hidrostática – PH,
propriedade de viscosidade da água, a resistência devido empuxo - E) segundo Pöyhönem et al. [13], sendo a somação
à for mação da turbulência atrás do objeto. Esta das forças da PH e do E responsáveis para estabilizações
turbulência é gerada pela massa dessa água que é sugada das articulações dentro da água, portanto não requisitando
longitudinalmente para trás do objeto em movimento, atividade muscular para estabilização da coluna vertebral
sendo proporcional ao tamanho e à forma da área frontal ou sustentação. Pode-se pensar também que há musculatura
do objeto. Assim esta turbulência pode facilitar o sendo ativada que não seja os paravertebrais superficiais,
movimento de pedalar [13]. porém são músculos profundos.
Podemos observar que nos músculos gastrocnêmio e Outro aspecto importante para analisar é o Trabalho
bíceps femoral houve uma maior média de ativação no realizado. Para o cicloergômetro Monark, o Trabalho e Potência
cicloergômetro padrão que no aquático tanto para a velocidade podem ser calculados conforme a fórmula abaixo [15]:
de 50 quanto 65 rpm, apesar de não ter diferença significativa. Trabalho = Velocidade (rpm) x Carga (kg) x Distância
Para o vasto lateral houve também uma maior média de (m) x Duração (min)
ativação no cicloergômetro padrão que no aquático em Para este estudo, a velocidade, à distância, a duração e a
ambas velocidades, mas sendo que na velocidade de 50 rpm carga foram às mesmas durante a pedalada em ambos os
houve diferença significativa e na velocidade de 65 rpm cicloergômetros, assim gerando um mesmo Trabalho. Sendo
não houve diferença significativa. que na Water Bike a ativação muscular registrada pela EMG
De acordo com o estudo de Baum [20] que demonstrou é menor que no cicloergômetro Monark.
que em um cicloergômetro padrão a atividade muscular é
influenciada durante o ciclo completo pela mudança da carga Conclusão
e freqüência (velocidade). No presente estudo também se
pode afirmar que no cicloergômetro aquático em relação Nesta pesquisa, analisamos a atividade eletromiográfica
ao cicloergômetro padrão as atividades musculares são dos músculos gastrocnênio, vasto lateral, bíceps femoral e
influenciadas pela diferença da carga e velocidade (Tabela I paravertebrais, em exercícios de pedalada completa, em dois
– Figs. 3, 4, 5 e 6). Foi observado também que não houve cicloergômetros padrão e aquático.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 343

Há uma semelhança na atividade muscular de membro 7. Basmajian JV, De Luca CJ. Muscles alive; their functions
inferior na pedalada completa para os dois cicloergômetros revelead by electromyography. 5a ed. Baltimore: Williams &
usados neste estudo, tendo uma menor ativação na água. Wilkins; 1985.
Também foi evidenciado que tanto a alteração de carga 8. Clarys JP. Hydrodynamics and electromyography: ergonomics
aspects in aquatics. Appl Ergon 1985;16:11-24.
como a velocidade pode alterar a atividade muscular.
9. Perry J, Pink M, Jobe FW, Browne A, Scovazzo ML, Kerrigan
A musculatura paravertebral é mais ativada no J. The painful shoulder during the backstroke. An EMG and
cicloergômetro padrão que no aquático, demonstrando que cinematographic analysis of 12 muscles. Clin J Sports Med
o design do cicloergômetro da Water Bike, a biomecânica, e 1992;2:13-20.
as propriedades físicas da água influenciam na atividade 10. Pink M, Jobe FW, Perry J, Browne A, Scovazzo ML, Kerrigan
muscular. Das referências estudadas não foi analisada a EMG J. The painful shoulder during the butterfly stroke. An EMG
dos paravertebrais em relação ao exercício de pedalar, sendo and cinematrographic analysis of 12 muscles. Clin Orthop
importante para esta pesquisa devido ao design da Water Bike 1993;288:60-72.
não ter assento. 11. Fujisawa H, Suenaga N, Minami A. Electromyographic study
during isometric exercise of the shoulder in head-out water
Pode-se concluir que na Water Bike necessita de uma immersion. J Shoulder Elbow Surg 1998;7:491-4.
menor atividade muscular para realizar um mesmo trabalho 12. Kelly BT, Roskin LA, Kirkendall DT, Speer KP. Shoulder
executado no cicloergômetro padrão Monark. muscle activation during aquatic and dry land exercises in
No futuro, convém estudar mais músculos relacionados nonimparaired subjects. J Orthop Sports Phys Ther
com a pedalada para uma melhor análise da biomecânica 2000;30:204-10.
da pedalada principalmente no cicloergômetro aquático 13. Pöyhönen T, Kyröläinem H et al. Electromyographic and
(Water Bike), porque além de ser um cicloergômetro inédito, kinematic analysis of therapeutic knee exercicses under water.
o ambiente aquático ainda é pouquíssimo estudado utilizando Clin Biomech 2001;16: 496-504
14. Harrison RA, Hillman M, Bulstrode S. Loading the lower
o recurso de EMG.
limb when walking partially immersed: Implications for clinical
practice. Physiotherapy 1992;78:164-6.
Referências 15. Robert AR, Roberts SO. Ergometria and Calorimetry. In:
Fundamental Principles of Exercise Physiology – For Fitness,
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2. Jorge M, Hull ML. Analysis of EMG measurements during 16. Borg G. Psychological basis of perceived exertion. Med Sci
bicycle pedaling. J Biomech 1986;19:683-94. Sports Exerc 1982;14:371-81.
3. Faria I, Cavanagh P. The physiology and biomechanics of 17. De Luca CJ. The use of surface electromyography in
cycling. New York: John Wiley; 1978. biomechanics. J Applied Biomech 1997;13:135-63.
4. Gregor RJ, Green D, Garhammer JJ. An electromyographic 18. Ervilha UF, Duarte M, Amadio AC. Estudo sobre
analysis of selected muscle activity in elite competitive cyclists. procedimento de normalização do sinal eletromiográfico durante
J Biomech 1982;7:537-541. o movimento humano. Rev Bras Fisioter 1998;3:15-20.
5. Raasch CC, Zajac FE. Locomotor strategy for pedaling: muscle 19. Pöyhönem T, Keskinen KL, Hautala A, et al. Human isometric
groups and biomechanical functions. J Neurophysiol force production and electromyogragram activity of knee
1999;82:515-25. extensor muscles in water and dry land. Europ J Appl Phys
6. Tscharner, V. Time-frequency and principal-component 1999;80:52-56.
methods for the analysis of EMGs recorded during a mildly 20. Baum BS, Li L. Lower extremity muscle activities during cycling
fatiguing exercise on a cycle ergometer. J Electromyogr Kinesiol are influenced by load and frequency. J Electromyogr Kinesiol
2002;12:479-92. 2003;13:181-90. C

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344 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Artigo original

O alívio da dor através da eletroestimulação nervosa


transcutânea acupuntural e burst em hérnia discal
lombar L4-L5/L5-S1 no estágio agudo
Pain relief through transcutaneous electric nerve
stimulation acupuntural and burst in lumbar disc hernia
L4-L5/L5-S1 in acute stage
Everaldo Nery de Andrade*, Giovanna Porto**, Gesivaldo Santos, M.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta (UESB-BA), **Fisioterapeuta do Hospital SAMUR e CEREST de Vitória da Conquista-BA, professora de Recursos
Terapêuticos da UESB, ***Biólogo, professor de Biofísica e Fisiologia da UESB

Resumo
A hérnia de disco lombar L4-L5/L5-S1, patologia crônica de alta incidência é provocada
Palavras-chave: pela diminuição de proteoglicanos no disco intervertebral, proporcionando aumento
dor, eletroestimulação das pressões sobre as fibras do ânulo e, conseqüente, propensão à ruptura do anel
nervosa transcutânea, vertebral. Quando agudizada, promove dor e limitações nas AVDs. Embora no tratamento
hérnia discal.
fisioterapêutico a dor seja tratada com a TENS, muitas vezes existem controvérsias
quanto à modalidade dessa corrente mais eficaz para o alívio da dor, principalmente a
modalidade de baixa freqüência, mais eficiente. O presente estudo objetiva comparar a
eficácia entre duas modalidades de TENS (acupuntural/burst) no combate da dor na
hérnia discal L4/L5 e L5/S1. Os informantes foram divididos em dois grupos de
tratamento: um tratado com TENS burst, outro com TENS acupuntural durante cinco
dias consecutivos. Para a quantificação do nível da dor utilizou-se a Escala Análoga
Visual (EVA) e o Questionário de Oswestry. Observou-se nesse estudo que a TENS de
baixa freqüência promove o alívio da dor de forma semelhante entre as modalidades
testadas quando os parâmetros são ajustados com valores iguais, apesar da tendência
de melhor alívio por meio da TENS acupuntural.

Recebido 16 de março de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Everaldo Nery de Andrade, Travessa Miguel Oleiro, 02 Joaquim Romão 45201-130 Jequié BA, Tel: (73)525-5270/
(9121-2021, E-mail: evelor@bol.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 345

Abstract
The lumbar hernia L4-L5/L5-S1, chronic pathology of high incidence is caused by
Key-words: the reduction of proteoglycan in the intervertebral disc, providing increase of pressures
pain, transcutaneous electric on fibres of anulus and, consequently, induction to the crash of the vertebral ring. In
nerve stimulation, lumbar hernia. acut steps it promotes pain and limitations of the Daily Live Activity. Despite physical
therapy treatment, pain was treated with TENS, but there are no consensus on the
most efficient current for the relief of pain, mainly the modality of low frequency. In
this study, our aim was to compare the efficiency of two TENS modalities to treatment
of discal hernia. Subjects were divided in two groups: I) Treated with burst TENS and
II) with acupunctural TENS, during five days. Quantification of pain´s level was measured
by means of Visual Analogous Scale and Oswestry´s questionnaire. It was observed in
this study that low frequency TENS promotes the relief of pain in the same form
between the tested modalities when the parameters are settled with equal values, despite
the tendency of faster relief using acupunctural TENS.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução surgimento de hérnia discal, tais como: tronco inclinado


anteriormente; níveis da coluna com maior mobilidade
A hérnia de disco (coluna cervical – C5 e C6; coluna torácica inferior; coluna
lombar – L 4/L 5 e L 5/S 1); flexão e rotação de tronco
Os discos intervertebrais são compostos por um anel associados [3,1]. Por razões já mencionadas esta
fibroso e um núcleo pulposo, este último compostos por complicação é mais comum durante os primeiros anos
proteoglicanos, responsáveis pela propriedade de gel do da vida adulta e meia idade – entre 30 e 50 anos de idade
mesmo, possibilitando uma maior distribuição das e, após essa fase, pela maior perda de água do disco, o
pressões sobre o anel fibroso, pressões que são provenientes núcleo deixa de transmitir essas pressões, diminuindo
dos segmentos corporais superiores. Com a diminuição conseqüentemente a chance de ocorrer hérnia [2].
da embebição do disco, uma maior pressão é transmitida Inicialmente, no exame físico deve ser observado se
às fibras do ânulo, o núcleo perde suas propriedades a dor aparece com a flexão, ou por ela é agravada, ou se
hidráulicas e amortecedoras de pressões e as fibras do ânulo irradia para um dos membros inferiores ou até para os
tornam-se mais susceptíveis de ruptura, podendo provocar dois (raramente ocorre isto) e o que ocorre em um
uma hérnia de disco [1,2]. primeiro momento. Em seguida, durante o exame físico,
O núcleo pulposo não tem nervos. É insensível. deve-se realizar: 1- O Teste de Lasègue que consiste em
Porém, quando começa a se herniar pela parte posterior, deixar o paciente em decúbito dorsal sobre uma maca
ele estira as fibras sensitivas do anel fibroso e causa dor. rígida, imobilizando o ilíaco, enquanto a outra mão
Subseqüentemente, as fibras estiradas e degeneradas do levanta o membro inferior segurando-o na altura do
anel fibroso se separam e parte do núcleo hernia. A hérnia tornozelo. A manobra é considerada positiva se houver
póstero-lateral comprime ou estira a raiz nervosa que sai uma irradiação da dor no trajeto de L4 – L5, ou S1, ou a
do forame intervertebral distal ao disco. Assim, a exacerbação da dor já existente, quando o membro
herniação do disco de L4/L5 afeta a quinta raiz lombar, inferior fizer um ângulo que vai de 35º a 70º com o
enquanto a herniação do disco L5/S1 afeta a primeira raiz plano horizontal. Em hérnias extrusas ou volumosas a
sacral. A manifestação clínica da irritação da raiz nervosa manobra pode estar positiva acima dos 5º apenas; 2 – o
é a ciática, dor que se irradia para baixo, no membro Teste do Sinal X que consiste na conjugação da manobra
inferior, na área inervada pelo nervo ciático. Uma grande de Valsalva (espirrando ou tossindo) com a flexão da coluna
herniação na linha média comprime a cauda eqüina. lombar, para tanto, solicitamos ao paciente para ficar em
Eventualmente, muitas semanas após a herniação, a pé. Em seguida, pede-se para flexionar a coluna lombar, e
porção herniada do núcleo sofre fibrose, se encolhe e deste no primeiro instante em que apresentar irradiação da dor
modo alivia a pressão sobre a raiz nervosa. para o membro inferior, pedimos que tussa ou espirre. O
Ocasionalmente, entretanto, a porção herniada pode ficar sinal é considerado positivo, se houver uma acentuação
separada ou seqüestrada, podendo migrar tanto proximal violenta da dor em todo o trajeto dermatomérico do ciático,
quanto distalmente no canal vertebral [2]. muito mais intensa do que a simples flexão; 3 – O Teste
Além de fatores degenerativos como os citados acima, de Schober que permite a mensuração da flexibilidade
existem fatores biomecânicos que predispõem o espinhal. Com o paciente em pé, faz-se uma marca sobre

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346 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

a coluna no nível da espinha ilíaca póstero-superior (no nível sensorial ou motor moderado não aumenta, de forma
nível de S2 marque 10 cm acima e 5 cm abaixo da marca significativa, o fluxo sangüíneo da área tratada. De fato,
inicial). Ao tocar a ponta dos dedos dos pés, o paciente a evidência apóia o conceito de que a aplicação da TENS
com flexibilidade normal demonstra uma distância superior pode ativar neurônios pré e pós-ganglionares e, na verdade,
a 20 cm entre as marcas inferior e superior [3]. Para finalizar provocar uma leve vasoconstricção. As aplicações de
o exame físico, solicita-se que o paciente deambule com as TENS mais prolongadas podem modular a atividade dos
pontas dos pés e depois, com os calcanhares para analisar neurônios do corno dorsal secundariamente à estimulação
comprometimentos de raízes nervosas. Além disso, devem- dos neurônios periféricos e estimulação química dos órgãos
se pesquisar os reflexos aquileu (L4-L5 e/ou L5-S1) e patelar viscerais, principalmente com a liberação de opiáceos
(L3-L4), também buscando observar comprometimentos endógenos [6].
de raízes nervosas [4].
Fisiologia, modulação e avaliação da dor
Tratamento
Entre as Teorias Contemporâneas sobre a modulação
Apesar de existirem técnicas fisioterapêuticas específicas da dor pode-se citar a Teoria da Comporta da dor que foi
para a restauração funcional, como citado por Canavan desenvolvida por Melzack e Wall que é muito bem
[5], nesse trabalho elas não serão citadas. Dentre outros resumida por Starkey [6] quando define como “um
recursos fisioterapêuticos, como a compressa quente, o estímulo não doloroso que pode bloquear a transmissão
ultra-som e a TENS é importante no estado agudo e no de um estímulo nocivo”. Porém, nesse trabalho é dado
estado de relesão, mas devem ser usadas com parcimônia maior importância para a modulação da dor pelos opióides
com outros recursos fisioterapêuticos, pois o mesmo é endógenos, meio que provoca a analgesia por meio da
incapaz de modificar as complexas alterações que se TENS de baixa freqüência – acupuntural e burst, como
estabeleceram em decorrência de um estado de dor crônica. já foi descrito anteriormente.
Durante a aplicação de gelo, pode ser administrada a
estimulação elétrica para diminuir a dor, o inchaço e o TENS de baixa freqüência (nível motor)
espasmo muscular. A estimulação elétrica irá permitir a
redução da dor ao mesmo tempo em que promove um Apesar de existir TENS de alta freqüência (convencional
ambiente ideal de cura e remodela o tecido. e breve intenso) e de baixa freqüência (acupuntural e burst),
A eletroestimulação nervosa transcutânea – TENS aqui será descrito somente os tipos de baixa freqüência que
A TENS é uma corrente de baixa freqüência, faz parte do objeto de estudo dessa pesquisa. A TENS de
tradicionalmente em pulso bifásico e assimétrico, baixa freqüência pode ser aplicada em duas modalidades:
entretanto, existem variantes dessa corrente em pulso, acupuntural e burst que, segundo Starkey [6], possui a
incluindo uma forma de onda simétrica bifásica ou característica de ser aplicada com freqüência de pulso baixa
monofásica. A TENS atua baseada diretamente no (2 a 4 p.p.s.), longa duração de fase (150 a 250 ms) e em
mecanismo de comporta proposto por Melzack e Wall intensidade de nível motor, em sessões de tratamento que
(1965) que explica o controle e a modulação da dor [6]. A durem no mínimo 45 minutos para que propicie uma alça
TENS é aplicada “através da pele” e tem uma intensidade de feedback até a medula espinhal, substituindo padrões
suficiente para despolarizar um nervo sensorial, motor centrais anormais que se formaram durante um longo
ou nociceptivo. Assim, ao colocar os eletrodos sobre o período de tempo e, conseqüentemente melhore o quadro
corpo do paciente, esse terá uma sensação de formigamento álgico do paciente. Esses parâmetros de estimulação ativam
ou de contração muscular, indicando que a TENS está as fibras motoras e os nociceptores de pequeno diâmetro.
sendo aplicada. Admite-se que o alívio da dor obtido com esse método ocorra
em razão da liberação de b-endorfinas, o que resulta na
Efeitos biofísicos redução da dor narcótico-símile. Fato que pode ser apoiado
pela inclinação de Robinsom & Snyder-Mackler [7], que
A TENS diminui a percepção da dor pelo paciente, relata que os indivíduos tratados com TENS diminuem a
reduzindo a condutividade e a transmissão de impulsos utilização de medicamentos analgésicos. Entretanto, existem
dolorosos das pequenas fibras de dor para o SNC. A evidências indicando que pacientes que ingerem níveis
freqüência e a duração do pulso, combinadas com a moderados de cafeína (cerca de duas ou três xícaras de café
duração da corrente, ativam respostas em diferentes níveis antes do tratamento) ou analgésicos narcóticos possuem uma
de modulação da dor. diminuição na eficácia do alívio da dor durante o tratamento
A redução da dor associada com a aplicação da TENS com a TENS. Segundo Sarti [8,9], o sexo, a faixa etária, o
ocorre, principalmente, por meio da modulação do nível social e a realização de cirurgias são motivos para a
sistema nervoso do organismo. A aplicação da TENS ao alteração da manifestação da dor em indivíduos.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 347

Num estudo realizado por Hansson & Ekblon, apud Material e métodos
Starkey [6], observou-se que existe um maior alívio da
dor após 30 minutos de estimulação nos pacientes tratados A amostra foi intencional, composta por oito informantes
por TENS de alta freqüência, todavia, a dor retorna mais de ambos os sexos, escolhidos intencionalmente, ou seja
rapidamente nos indivíduos tratados por esses tipos de pacientes com hérnia discal lombar L4-L5/L5-S1 no estágio
TENS, ao contrário da TENS de baixa freqüência que agudo, faixa etária entre 29 e 45 anos e massa corporal
possui um tempo de analgesia maior. entre 57 e 85 kg, diagnosticados clinicamente pelo teste de
Lasègue e o sinal X, ou através de recursos de imagem
TENS acupuntural (Teleradiografia e/ou Tomografia Computadorizada), sendo
excluídos os indivíduos que ingeriram níveis moderados de
Essa modulação da TENS tem esse nome devido aos cafeína (200 mg ou 2 xícaras de café, refrigerante a base de
eletrodos serem aplicados em pontos de acupuntura e a sua cola ou energéticos) anteriormente ao tratamento da TENS
estimulação de baixa freqüência ser similar à acupuntura, ou que estavam sob medicamentos analgésicos narcóticos,
propiciando o alívio da dor. exceto os que estivam fora da meia-vida plasmática desses.
A TENS acupuntural é uma estimulação de baixa Também foram excluídos os pacientes que melhoraram no
freqüência (1 a 4 HZ) propiciada por impulsos individuais, primeiro dia de aplicação da TENS ou que possuíam alguma
com larguras de pulso alta (cerca de 200 microssegundos) outra patologia concomitante relacionada a dor, como
intensidade de corrente alta (o suficiente para que se espinha bífida ou espondilistese.
observe contração muscular), para que haja estimulação Os atores do campo foram tratados com o aparelho
das fibras nociceptivas do tipo A delta e C e as pequenas TENS KW Clínico® da KW eletrônica, porém divididos
fibras motoras. aleatoriamente, em dois grupos para fins de tratamento,
Observa-se que a diferença básica entre essa modulação assim distribuídos: o grupo I tratado por TENS modulado
de TENS (acupuntural) e a anterior, burst, é que, na por burst a uma freqüência envoltória de 4 HZ, freqüência
primeira os pulsos são individuais e contínuos e na segunda, portadora de cerca de 100 Hz, largura de pulso 230 ms,
os pulsos são propiciados em ciclos que, tipicamente, intensidade de corrente necessária para gerar contrações
possuem uma freqüência de trens (envelopes ou freqüência musculares visíveis durante 30 minutos e o grupo II
envoltória) variando entre 1 a 4 Hz com impulsos tratado por TENS acupuntural a uma freqüência de 10
compondo uma freqüência interna de cerca de 100 Hz, HZ, largura de pulso de 230 ms durante 30 minutos com
além de existir períodos “vazios” entre esses ciclos intensidade de corrente também produtora de contrações
(freqüência) envoltórios, conforme as figuras I.A e I.B ritmadas ou pulsáteis acompanhadas de parestesia.
abaixo: Os grupos I e II foram submetidos aos tratamentos
Fig. I.A. – Esse gráfico demonstra a simulação da TENS acupuntural citados durante cinco sessões em dias consecutivos, com
aplicado a uma freqüência de 4 HZ, largura de pulso de 230 microssegundos quatro eletrodos de silicone 4x4 cm, fixados com
e uma amplitude de corrente suficiente para a produção de tremor muscular. esparadrapo e aplicados em configuração cruzada na
musculatura paravertebral lombar a 5 cm de distância
lateral do processo espinhoso, com o paciente posicionado
na forma que a dor está geralmente mais presente (sentado
ou decúbito dorsal), conforme apresentado nas fotografias
II.A e II.B, a seguir:
Fig. II.A e II.B – Aplicação da TENS em paciente em decúbito dorsal
através de configuração cruzada com eletrodos fixados com esparadrapo.
Observe que os eletrodos marcados com “+” são pertencentes ao 1º canal de
saída, enquanto os marcados com “-” pertencem ao 2º canal de saída.
Fig. I.B. – Esse gráfico demonstra a simulação da TENS Burst aplicado
a uma freqüência envoltória de 2 HZ, freqüência interna de 10 HZ,
largura de pulso de 230 microssegundos e a uma amplitude de corrente o
suficiente para a produção de tremor muscular.

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348 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Antes da primeira sessão, os indivíduos foram esclarecidos Ao modular a largura de pulso dessas duas modalidades
quanto à pesquisa e assinaram um termo de consentimento, de TENS com o valor igual a 230 microssegundos, ao
aceitando a sua participação nesse trabalho. Em seguida, contrário do que a Literatura preconiza para o TENS
foram submetidos a um exame clínico e, para mensurar o modulado por burst (200-210 µs), buscou-se controlar essa
nível da dor, receberam um questionário de Oswestry e variável por meio do ajuste em 230 e não a 210
uma Escala Análoga Visual (EVA) para marcar o nível de microssegundos a fim de haver uma melhor estimulação
sua dor, sendo que essa última também era utilizada ao fim dos mecanorreceptores e, conseqüentemente uma maior
dessa primeira sessão e, ao início e fim das sessões liberação de â-endorfnas, quantidade que poderia ter sido
subseqüentes. Ao final da 5ª sessão, um novo questionário diferente nos dois grupos de estudo, se a largura de pulso
de Oswestry foi respondido pelo paciente, para que a dor não fosse semelhante.
referida pelo mesmo pudesse ser comparada em seu início Entretanto, ao realizar um Teste de Wilcoxon ou
e fim em relação ao tipo de TENS que o paciente utilizou. Teste Z (Teste t não paramétrico que se destina a
A fim de quantificar os dados do Questionário de Oswestry, comparar dados ordinais pareados obtidos em ocasiões
esse questionário foi adaptado para que os itens de cada distintas, para um mesmo grupo de indivíduos)
categoria fossem pontuados na escala de um a seis pontos, comparando o quadro álgico dos pacientes no início e ao
ou seja, o primeiro item valeria um ponto, o segundo item final do tratamento mensurado por meio da EVA, obteve-
dois pontos, e assim sucessivamente, totalizando sessenta se uma tendência de melhor eficácia no alívio da dor
pontos nas dez categorias do questionário. (relação tempo/analgesia) entre os pacientes do grupo II
(tratados por TENS acupuntural) com p= 0,0679 (a=
Resultados e discussão 0,05). Essa tendência de uma melhor eficácia com a TENS
acupuntural, provavelmente deve-se ao tempo de
Por meio da análise estatística, utilizando-se um Teste de estimulação com a TENS acupuntural ser superior ao
Mann-Whitne (Prova não paramétrica que foi utilizada para tempo de estímulos com a TENS burst, já que na primeira
comparar as duas amostras independentes - TENS burst e modalidade tem-se uma estimulação com pulsos
TENS acupuntural e, que nessa pesquisa foi de mesmo contínuos, sem períodos de intrapulso, fazendo com que
tamanho e com os valores obtidos de forma ordinal) o tempo estabelecido de largura de pulso seja de pura
realizado para essas duas amostras independentes através estimulação, enquanto na segunda modalidade (TENS
dos dados obtidos pela Escala Análoga Visual (EVA), no burst) devido a existência de freqüência portadora os pulsos
início da primeira sessão e ao final da última sessão (quinta), são propiciados em ciclos, o que leva à ocorrência de
percebeu-se que não existe diferença estatisticamente períodos intrapulso que diminuem o tempo de estimulação
significante entre as duas modalidades de TENS - acupuntural e, conseqüentemente diminuem em certa quantidade a
e burst (p = 0,3865), levando-nos a crer que a eficácia entre liberação de opióides endógenos.
os dois tipos de TENS para os parâmetros adotados é Ao comparar por meio de um Teste U, a pontuação das
estatisticamente semelhante nos participantes desse estudo, atividades da vida diária (AVDs) dos participantes desse
demonstrando uma tendência entre os indivíduos com hérnia trabalho por meio do Questionário de Oswestry, respondidos
discal lombar L 4-L 5/L 5-S 1 melhorarem com ambas as no início da primeira e ao final da última sessão, observou-
modalidades de TENS de baixa freqüência. se à igualdade estatística das modalidades acupuntural e burst
A sobreposição da eficácia dos tipos de TENS de baixa (p = 0,3827), mostrando mais uma vez uma tendência de
freqüência deve-se, provavelmente, ao princípio de modulação não haver diferenciação entre esses dois tipos de correntes,
da dor que norteia essas modalidades ser igual - liberação de com os dados obtidos através da Escala Análoga Visual.
opióides endógenos (â-endorfinas) na corrente sanguínea, os Embora tenha ocorrido uma melhora nas AVD’s, essa foi
quais se ligam aos sítios receptores das fibras A-delta e C, pequena, já que um período curto de cinco sessões (cinco
bloqueando a transmissão da dor. Assim, a analgesia obtida dias) provavelmente, é insuficiente para modificar os hábitos
pelo TENS acupuntural foi praticamente igual à obtida pelo de vida limitados pela dor, porém uma maior quantidade de
TENS burst, provavelmente devido a quantidade de opióides sessões de tratamento com a TENS não seria correto de
endógenos liberados ter sido semelhante, já que os parâmetros ser estabelecido devido a melhora do quadro álgico e,
foram modulados com valores iguais (freqüência do TENS conseqüentemente a necessidade de estabelecimento de
acupuntural à freqüência envoltória do TENS burst - 10 Hz, novos protocolos de tratamento voltados, a partir desse
a largura de pulso - 230µs), sendo a única diferença restante momento, para a correção da causa da hérnia discal. A
entre essas duas modalidades, a presença da freqüência monitoração da pontuação do Questionário de Oswestry
portadora no TENS burst, o que demonstrou ser praticamente dias após o fim dessas cinco sessões também não seria viável,
insignificante para a liberação de opióides endógenos e, já que o paciente, provavelmente, já teria dado início a outros
conseqüentemente, na diferenciação do alívio da dor nos tratamentos, como por exemplo, para a correção da causa
sujeitos dessa pesquisa. dessa patologia.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 349

Conclusão com a TENS é a análise da menor intensidade de corrente


capaz de causar uma despolarização nervosa (reobase) em
De acordo com os resultados apresentados, pôde-se cada paciente, a fim de haver uma estimulação acima
observar que esse estudo contribuiu para obter elementos desta, para que haja um melhor controle no grau de
em direção a um repensar das controvérsias existentes estimulação dos mecanoreceptores e nociceptores e,
quanto a melhor modalidade de TENS de baixa freqüência conseqüentemente, maior controle do alívio da dor
em patologias crônicas, mostrando que as duas correntes experimentado pelos participantes da pesquisa.
possuem praticamente o mesmo efeito no alívio da dor,
podendo, assim, o fisioterapeuta utilizar as duas Agradecimentos
modalidades de TENS de baixa freqüência em indivíduos
portadores de doenças em estágio crônico. Agradecemos ao Prof. Ft. Ricardo Mazzon Sacheto e
Assim, observou-se nesse estudo que a TENS de baixa ao Prof. Dr. José Maximiliano Henríquez Sandoval pelas
freqüência promove o alívio do quadro álgico com contribuições.
intensidade de melhora praticamente semelhante entre
os tipos acupuntural e burst quando os parâmetros são Referências
ajustados com valores iguais. Entretanto, observou-se uma
tendência de uma melhor eficácia no alívio da dor com a 1. Herbert S. Ortopedia e traumatologia: princípios e práticas. 2ª
TENS do tipo acupuntural para um teste U (p = 0,0679) ed. Porto Alegre; ArtMed ;1998.
em relação ao burst (p = 0,1089). 2. Salter R. Distúrbios e lesões do sistema músculo esquelético.
Entretanto, é importante frisar que novos estudos como Rio de Janeiro; Editora Médica e Científica ; 1985.
3. Canavan PK. Reabilitação em Medicina Esportiva. São Paulo;
esse sejam executados em indivíduos com hérnia discal ou
Manole ; 2001.
outras patologias crônicas, não só para observar a tendência 4. Cecin HA. Anamnese e exame físico no diagnóstico das doenças
de um melhor alívio da dor com a TENS acupuntural, como degenerativas e inflamatórias. [on-line]. [citado 2003 apr 19].
foi citado anteriormente, como também para se estabelecer Disponível em: URL:http://www.fisioterapiasalgado.com.br.
uma subdivisão dos grupos (que não foi realizado nesse 5. Novelline RA. Fundamentos de Radiologia de Squire. 5ª ed.
estudo) por: sexo, já que esse fator interfere na manifestação Porto Alegre; Artes Médicas; 1999.
da dor, com uma propensão de mulheres manifestarem mais 6. Starkey C. Recursos Terapêuticos em Fisioterapia. 2ª ed. São
a dor do que os homens; por nível social, já que existe Paulo; Manole; 2001.
tendência de indivíduos desfavorecidos financeiramente 7. Robinson A, Snyder-Mackler L. Eletrofisiologia Clínica. Porto
Alegre; ArtMed; 2001.
conceber a idéia de bem-estar ainda que exista algum
8. Kitchen S, Bazin S. Eletroterapia de Clayton. 10ª ed. São Paulo;
resquício de dor; por faixa etária, já que indivíduos idosos e Manole ; 1998.
aposentados assim como não submetidos a cirurgias 9. Sarti CA. A dor, o indivíduo e a cultura. Saúde e Sociedade
anteriores tendem a apreciar um maior alívio com a TENS. 2001;10(1)[on-line]. [citado 2003 sept 21]. Disponível
Outro fator de fundamental importância que deve ser levado em:URL:http://www.apsp.org.br/saudesociedade/X/
em consideração em estudos que possam vir a ser realizado dor.htm. C

artigo 02 - Everaldo.pmd 349 27/10/04, 11:00


350 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Artigo original

Avaliação da assistência fisioterapêutica


sob a ótica do usuário
Evaluation of physical therapy assistance under
users point of view
Milena Sampaio Magalhães, M.Sc*, Fernando José Pires de Sousa, D.Sc**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Docente do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza-UNIFOR, **Docente da Universidade Federal do Ceará-UFC, Trabalho
baseado em dissertação intitulada “Avaliação da assistência fisioterapêutica sob a ótica do usuário”, apresentada ao Departamento de Saúde
Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará-UFC

Resumo
O estudo avalia a influência da estrutura na satisfação dos resultados da assistência
Palavras-chave: fisioterapêutica na Unidade de Medicina Física e Reabilitação do Hospital da Polícia
Satisfação do usuário, Militar em Fortaleza-CE, sob a ótica dos usuários. O inquérito foi constituído por um
qualidade dos cuidados questionário agrupado em três aspectos: perfil sociodemográfico e nosológico;
de saúde.
características gerais do serviço e satisfação do usuário. O instrumento foi aplicado aos
172 usuários presentes na Instituição entre setembro a novembro de 2002. Os dados
coletados foram analisados através do software EPI INFO versão 6.04b, aplicando a razão
de proporção e a prova do qui-quadrado, com o nível de significância de 5%. Sob a
ótica dos usuários, os dados desta pesquisa parecem apontar para uma assistência
fisioterapêutica satisfatória, apesar da deficiência em alguns itens de estrutura. Os fatores
que se mostraram associados com a satisfação do atendimento fisioterapêutico foram:
a faixa etária (p = 0,00019); a quantidade de equipamentos (p = 0,02117) e a conservação
dos equipamentos (p = 0,00017). Observa-se que a satisfação da assistência
fisioterapêutica, neste estudo, também depende das condições objetivas para o
funcionamento da Unidade. Não basta a satisfação individual, pois são necessárias
também condições materiais de excelência para que os serviços prestem um atendimento
de qualidade.

Recebido 17 de março de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Prof.ª Milena Sampaio Magalhães, Curso de Fisioterapia da UNIFOR, Av. Washington Soares, 1321 Edson Queiroz
60811-341 Fortaleza CE, Tel: (85) 477 3207, E-mail: milena@unifor.br

artigo 03 - Milena.pmd 350 27/10/04, 11:00


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 351

Abstract
This study evaluates the structure influence in the results satisfaction of physical
Key-words: therapy assistance in the Physical Medicine and Rehabilitation Unit of the Military
user satisfaction, Policy Hospital in Fortaleza-CE, under users´ point of view. The inquiry was constituted
quality of health care. by a questionnaire grouped in three aspects: socialdemografic and nosological profile;
general characteristics of service and user satisfaction. The instrument was applied to
the 172 users in the Institution from September to November 2002. The collected data
were analyzed through the software EPI INFO version 6.04b, applying ratio proportion
and the qui-square test, with significance level of 5%. Under the users´ point of view,
this research data seems to point out to a satisfactory physical therapy assistance, despite
deficiency in some structure itens. The main factors that were associated with satisfaction
in physical therapy assistance were: age group (p = 0,00019); amount of equipment (p
= 0,02117) and equipment conservation (p = 0,00017). We observed, in this study,
that physical therapy satisfaction also depends on objective conditions for the Unit
functioning. The individual satisfaction is not enough, material conditions are also
necessary in order to give professional services of quality.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução de Fisioterapia e Terapia Ocupacional na Resolução


COFFITO 10 [8]) e da progressiva caracterização do que
Para que o Serviço de Fisioterapia possa funcionar, este seja considerado um sistema de saúde desejável,
deverá ser registrado no Conselho Regional de Fisioterapia economicamente acessível ao País e voltado para a
e Terapia Ocupacional – CREFITO, de sua jurisdição, de valorização do homem. Nesta perspectiva, pela busca da
acordo com a Lei n.º 6.316 [1], Resolução COFFITO-37 melhoria na atenção à saúde, a avaliação constitui-se um
[2], Resolução COFFITO-80 [3] e Resolução COFFITO- passo indispensável [9].
139 [4]. O esforço mais bem-sucedido de classificação das
Estes serviços devem seguir normas e padrões de abordagens para a avaliação em saúde, e o mais utilizado
construção regidos pela Agência Nacional de Vigilância em todo o mundo, foi proposto por Donabedian na década
Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde, através da de 1960 [9,10].
Resolução RDC n.º 50 de 21 de fevereiro de 2002 [5], Donabedian [11] utiliza três categorias de análise,
que estabelece os critérios técnicos para planejamento, denominadas de estrutura, processo e resultado:
programação, elaboração e avaliação de projetos físicos • a “estrutura” diz respeito aos recursos existentes para a
de estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS); assim execução da assistência à saúde;
como devem ser projetados de acordo com a NBR 9050 • “processo” engloba as atividades ou os procedimentos
[6], norma que fixa os padrões e critérios, visando a empregados pelos profissionais de saúde para
propiciar às pessoas portadoras de deficiências condições transformar os recursos em resultados;
adequadas e seguras de acessibilidade autônoma às • os “resultados” são representados pelo grau de satisfação
edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos. e pelas respostas ou mudanças verificadas nos pacientes
Quanto aos equipamentos estabelecidos para o serviço e o grau de satisfação dos profissionais de saúde.
de Fisioterapia, o Ministério da Saúde [7] considerará apto
a operar quando existirem todos os equipamentos classe Apesar do fato de uma boa estrutura não garantir
A, 70% e 30%, respectivamente, dos equipamentos classe resultado favorável e estar claramente afastada dos
B e C, com distribuição uniforme. resultados, a avaliação estrutural é mais simples e menos
A Fisioterapia, como todas as outras profissões da área custosa em confronto com as de processo e resultado [10]
da saúde no Brasil, vem se preocupando em ampliar seu e “pode prevenir contra a deterioração de qualidade que
objeto de trabalho assumindo a “responsabilidade básica” poderia ocorrer caso não houvesse padrões mínimos ou
de participar, não só do tratamento e recuperação da outras proteções estruturais” [12].
saúde, como também da promoção da saúde individual e Reconhecendo a crescente importância e legitimidade da
coletiva (aspectos estes previstos pelo Conselho Federal perspectiva avaliativa dos usuários sobre a qualidade da atenção,

artigo 03 - Milena.pmd 351 27/10/04, 11:00


352 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

este estudo buscou avaliar a influência da estrutura na satisfação A coleta teve duração de três meses, de setembro a
da assistência fisioterapêutica na Unidade de Medicina Física e novembro de 2002, e foi realizada pela pesquisadora e
Reabilitação do Hospital da Polícia Militar, sob a ótica dos usuários. por 5 (cinco) alunas da graduação de Fisioterapia da
Para alcançar este objetivo geral, foram definidos os Universidade de Fortaleza-UNIFOR, que receberam
seguintes objetivos específicos: analisar a estrutura de treinamento para a realização das entrevistas. Foram
prestação de serviço para avaliar a atenção fisioterapêutica; contatados os 175 usuários contando mais de 12 anos
avaliar o nível de satisfação quanto ao atendimento presentes à unidade durante o período da pesquisa.
fisioterapêutico e identificar os fatores significantes na Destes, três usuários foram excluídos: dois porque se
inter-relação da satisfação do atendimento fisioterapêutico recusaram a assinar o termo de consentimento, apesar
com as variáveis dos aspectos de estrutura. de concordarem em responder o questionário e um
porque não podia falar em conseqüência da seqüela de
Material e métodos sua patologia.
O inquérito foi constituído por um questionário, com
Tratou-se de um estudo observacional transversal, do questões abertas e fechadas, agrupadas em três aspectos:
tipo inquérito em serviço, baseado em questões que perfil sociodemográfico e nosológico; características gerais
permitiram qualificar e quantificar diversos aspectos da do serviço e satisfação do usuário.
assistência fisioterapêutica, sob a ótica de sua clientela. Os dados coletados foram digitados e analisados através
A pesquisa se desenvolveu na Unidade de Medicina da Estatística descritiva por meio do programa SPSS
Física e Reabilitação do Hospital da Polícia Militar do (Statistical Package for the Social Sciencies), versão 10.0.
Ceará – HPM, instituição estadual de médio porte Uma análise inferencial do tipo univariada foi
credenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), realizada, considerando como variável-desfecho a satisfação
localizado em Fortaleza. Esta Unidade conta, atualmente, com o atendimento fisioterapêutico. Para tanto,
com a participação de uma equipe multiprofissional da utilizamos o software EPI INFO, versão 6.04b, aplicando
qual fazem parte assistentes sociais, fisioterapeutas e a análise de variância e a prova do qui-quadrado, com o
fonoaudiólogos. nível de significância de 5%.
No serviço de Fisioterapia desta unidade estão lotados Na análise estatística, as variáveis medidas através da
22 servidores fisioterapeutas, distribuídos da seguinte escala Likert [15], como, por exemplo, muito bom, bom,
forma: 10 fisioterapeutas no período da manhã, 10 à tarde regular, ruim e muito ruim, foram agrupadas em duas
e 2 que se distribuem nestes dois períodos. No momento categorias. Consideramos como “bom” os dois primeiros
desta pesquisa, 2 fisioterapeutas estavam licenciados de níveis de satisfação e como “ruim” os outros 3 (três)
suas atividades. últimos níveis.
Segundo dados fornecidos pela coordenadora do serviço
de Fisioterapia, em 2002, foram atendidos 932 usuários e Resultados e discussão
realizados 120.538 procedimentos fisioterapêuticos.
A população investigada foi constituída pelos usuários Perfil sociodemográfico e nosológico
em tratamento, femininos e masculinos, que haviam
recebido no mínimo cinco atendimentos e com idade superior A idade dos participantes variou de 12 a 80 anos,
a 12 (doze) anos. apresentando média de 42,7 anos, desvio-padrão de 17,2
Acreditamos que esse período de tempo mínimo de anos. A maioria dos usuários (70,9%) situou-se entre
atendimento se fez necessário para o usuário poder expressar 18 e 59 anos, consideradas idades economicamente
uma visão crítica do objeto em estudo. Quanto à idade, produtivas. Com relação à ocupação dos usuários, 40,7%
ressaltamos esse requisito, uma vez que, geralmente, só a eram militares (na ativa ou na reserva), 27,9% não
partir dos doze anos é que as crianças têm condições de exerciam atividade remunerada (estudante e dona de
formular um raciocínio hipotético-dedutivo, permitindo-lhes casa) ou estavam desempregados, 10,5% eram
exprimir juízo de valor [13]. aposentados/pensionistas, 10,5% realizavam serviços
Foram excluídos deste estudo os usuários menores de diversos não especializados, 8,1% exerciam atividades
12 anos e os que não podiam responder o questionário, pois de nível médio (técnicos e auxiliares de diversas áreas)
a pesquisa buscou conhecer as percepções e satisfações com e somente 2,3% desenvolviam atividade de nível
o atendimento fisioterapêutico, aspectos estes que só podem superior. O conjunto dos dados revela o predomínio de
ser manifestados pelo próprio indivíduo. militares e há baixa concentração de civis econo-
O estudo seguiu em conformidade com a Resolução micamente ativos.
CNS 196/96 sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos No tocante ao sexo, 59,3% eram do sexo masculino e
[14] do Código de Ética do Fisioterapeuta [8]. 40,7% do feminino. Esta freqüência entre os sexos decorre

artigo 03 - Milena.pmd 352 27/10/04, 11:00


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 353

provavelmente da maior quantidade de militares que, em Nenhum dos obstáculos/espaços referidos segue os
Fortaleza, é constituída na sua maioria, de homens. Entre os preceitos do desenho universal fixado pela Associação
civis, o predomínio é do sexo feminino. Brasileira de Normas Técnicas NBR 9050 [6].
A maioria dos usuários (66,9%) atendidos nesta unidade Segundo Marques [16], toda área física destinada a
tem um bom nível de escolaridade, considerando do ensino atender aos pacientes deve levar em conta uma parcela
médio ao superior. Este dado, já esperado, provavelmente dos usuários que pode ter dificuldades de locomoção,
está ligado ao fato de que é necessário para ser militar ter justificando a criação de um serviço adequado para evitar
no mínimo o nível fundamental completo, pois o serviço acidentes.
atende preferencialmente aos militares. Para Muniz e Teixeira [17], a clinica de Fisioterapia
No conjunto dos usuários, observa-se que 44,8% deve constituir-se como modelo, buscando as melhores
apresentavam diagnóstico primário traumatológico, sendo condições de uso, segurança, bem-estar e acesso de acordo
que 0,6% destes estava associado ao pneumológico; 16,9% com a norma NBR 9050 [6].
tinham diagnóstico classificados na ortopedia, 18% na Quanto aos equipamentos, Vuori [12] relata que
reumatologia, 14,5% na neurologia e 5,8% com existem estudos demonstrando alguma correlação entre
diagnóstico cinesiológico funcional decorrente de a quantidade/disponibilidade destes e o resultado dos
cirurgias. cuidados de saúde, portanto, constitui um aspecto que
deve ser observado.
Avaliação de estrutura
Neste estudo, a relação quantidade de equipamentos
necessária frente à demanda foi analisada indiretamente,
A maioria dos usuários (95,9%) sentia-se confortável
na Instituição, 2,9% desconfortáveis e 1,2% mais ou interrogando os usuários quanto à freqüência com que
menos confortável. Para os 49 usuários que tinham tinham de esperar pelo equipamento durante o
acompanhantes, 79,6% consideravam a acomodação tratamento.
para o acompanhante confortável, 16,3% referiram Dentre os 170 usuários que utilizavam equipamentos
como desconfortável e 4,1% mais ou menos durante o tratamento (Tabela II), 52,9% informaram
confortável. De um modo geral, para os entrevistados, esperar a disponibilidade de algum equipamento
as instalações físicas do Serviço foram consideradas eletroterapêutico, termoterapêutico ou fototerapêutico e
confortáveis. 47,1% não relataram esse problema.
No que se refere às condições de limpeza da clínica, Tabela II – Indisponibilidade do equipamento durante o tratamento
94,2% dos usuários relataram que a Instituição era limpa; fisioterápico dos usuários da Unidade do HPM-Fortaleza 2002.
4,1% como parcialmente limpa e 1,7% a considerou
“suja”. Quanto à higiene dos recursos materiais (roupas e INDISPONIBILIDADE n %
DO EQUIPAMENTO
equipamentos), 98,3% classificaram como sempre limpos
e 1,7% como “nem sempre limpos”. Na visão da maioria Sim, freqüentemente 31 18,2
dos usuários, quanto aos aspectos ora relatados, a Às vezes 59 34,7
Instituição foi considerada adequada. Não 80 47,1
Total 170 100,0
Interrogados sobre a existência de algum obstáculo
físico que impedisse ou pelo menos dificultasse a sua De acordo com a relação de equipamentos
locomoção na Instituição, 94,8% responderam de forma estabelecidos para o Serviço de Fisioterapia pelo
negativa e somente 5,2% de forma positiva. Ministério da Saúde [7], a Unidade em estudo não
Os obstáculos/espaços não funcionais referidos pelos dispõe de todos os equipamentos classe A
nove usuários foram: o banheiro, o estacionamento e o (indispensável) e do percentual mínimo de 70% de
degrau na entrada do ginásio (Tabela I). equipamentos classe B (necessário) distribuídos
Tabela I – Obstáculos/espaços físicos que impediam ou dificultavam à
uniformemente, apesar de existirem equipamentos
locomoção do usuário no Serviço de Fisioterapia do HPM-Fortaleza, em 2002. classe C (recomendável) em percentual superior ao
mínimo recomendado e dispor de equipamentos mais
OBSTÁCULO/ESPAÇO n % modernos que não estão listados neste documento.
O banheiro 3 33,4
Entretanto, devemos considerar que este documento
O banheiro e o estacionamento 2 22,2 é de 1994, não estando mais condizente com o atual
O estacionamento e o degrau avanço tecnológico-científico em que se encontra a
na entrada do ginásio 2 22,2 Fisioterapia, além do que não estipula uma proporção
O degrau na entrada do ginásio 2 22,2 mínima de equipamentos adequada a uma determinada
Total 9 100,0 demanda.

artigo 03 - Milena.pmd 353 27/10/04, 11:00


354 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

A partir desses dados, observa-se que a relação oferta/ Com base nestas discussões, a variável “satisfação com
demanda de alguns equipamentos não foi suficiente. o atendimento fisioterapêutico” foi analisada em relação
à freqüência do grau de satisfação entre os usuários e
Tabela III – Nível de conservação dos equipamentos de Fisioterapia
depois em relação ao perfil sociodemográfico e
percebidos pelos usuários da Unidade do HPM, Fortaleza, 2002.
nosológico e às variáveis dos aspectos de estrutura, para
NÍVEL DE CONSERVAÇÃO n % identificar os fatores significantes para a satisfação do
atendimento fisioterapêutico do Serviço em estudo.
Muito bom 13 7,6 Entre os entrevistados, a maioria estava satisfeita com
Bom 101 59,4 o atendimento fisioterapêutico, sendo que 41,3% estavam
Regular 46 27,1
muito satisfeitos e 48,3% satisfeitos; somente 10,5%
Ruim 6 3,5
encontravam-se pouco satisfeitos (Tabela IV). Como se
Muito ruim 4 2,4
pôde observar, não foi relatado nenhum grau de
Total 170 100,0
insatisfação por completo.
Outro aspecto da estrutura pesquisado foi a
Tabela IV – Nível de satisfação dos usuários do Serviço de Fisioterapia do
conservação dos equipamentos (Tabela III). Verificamos HPM em relação ao atendimento fisioterapêutico, em 2002.
que 67,0% dos entrevistados a consideraram satisfatória.
Entretanto, 33,0% dos usuários a consideram SATISFAÇÃO COM n %
insatisfatória. Este é um achado preocupante, porque O ATENDIMENTO
possivelmente poderá estar comprometendo a assistência Muito satisfeito 71 41,3
fisioterapêutica. Satisfeito 83 48,3
Conforme Marques [16], a conservação dos Pouco satisfeito 18 10,5
equipamentos é um aspecto que deve ser destacado. Para Insatisfeito - -
esse pesquisador, a facilidade no reparo ou ainda a rápida Muito insatisfeito - -
Total 172 100,0
reposição do equipamento é importante para não
comprometer a assistência à saúde. Na análise univariada, vários fatores mostraram-se
associados significantemente (p < 0,05) à satisfação do
Avaliação de resultados atendimento fisioterapêutico (Tabela V).
Os fatores que se mostraram associados à satisfação
Para Vuori [18], o cuidado não pode ser de alta do atendimento fisioterapêutico (Tabela V) foram: a faixa
qualidade, a menos que o paciente esteja satisfeito. etária (p = 0,00019), a quantidade de equipamentos (p =
Donabedian [19] vai além, quando escreve que a satisfação 0,02117) e a conservação dos equipamentos (p = 0,00017).
do paciente pode ser considerada um elemento do status Neste estudo, encontramos maior satisfação associada
de saúde por si próprio. com o aumento da idade (p=0.00019). Esta associação
Hopkins [20] traz a satisfação como uma dimensão também foi encontrada por Retamal González, Monge
importante do desfecho do atendimento. Conforme este Jodra [21] e Esteban de La Rosa [22].
pesquisador, um paciente satisfeito tem mais probabilidade Este dado, segundo Williams [23], pode ser esperado,
de participar e seguir o aconselhamento de tratamento. pois a função passiva tradicionalmente predomina entre

Tabela V – Fatores associados à satisfação com o atendimento fisioterapêutico, HPM-Fortaleza, em 2002.

VARIÁVEIS SATISFAÇÃO TOTAL p valor

Sim Não
n % n % n %

Faixa etária
12 a 17 anos 8 66,7 4 33,3 12 100,0 0.00019
18 a 39 anos 65 85,5 11 14,5 76 100,0
40 a 59 anos 44 95,7 2 4,3 46 100,0
60 anos ou mais 37 97,4 1 2,6 38 100,0
Suficiente quantidade de equipamentos
Sim 77 96,3 3 3,8 80 100,0 0.02117
Não 76 84,4 14 15,6 90 100,0
Conservação dos equipamentos
Boa 110 96,5 4 3,5 114 100,0 0.00017
Ruim 43 76,8 13 23,2 56 100,0

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 355

os idosos, em oposição às funções de proteção ao consumidor Observa-se que a satisfação da assistência fisiote-
mais orientado entre gerações mais jovens. rapêutica, neste estudo, depende das condições objetivas para
Com relação aos equipamentos do Serviço, a maioria o funcionamento da Unidade. Não basta a satisfação
dos indivíduos que estavam satisfeitos considerava individual, pois são necessárias também condições
suficiente a quantidade dos equipamentos (p = 0,02117) materiais de excelência para que os serviços prestem um
e os acharam bem conservados (p = 0,00017), no que diz atendimento de qualidade.
respeito à manutenção. Além da associação com a
satisfação do atendimento investigada nesta pesquisa, Referências
outros pesquisadores encontraram relação com o resultado
do cuidado de saúde [18], de modo que sugerimos à 1. Brasil. Lei n.º 6.316, de 17 de dezembro de 1975. Cria o
coordenação do Serviço identificar quais tipos de Conselho Federal e os Conselhos Regionais de
equipamentos não suprem a demanda, para melhorar a Fisioterapia e Terapia Ocupacional e dá outras
prestação do atendimento e resultado fisioterapêutico. providências. Diário Oficial da União n.º 242, Brasília,
DF, 18 dez. 1975. Seção I, p. 16 805-16 807.
Conclusões 2. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
– COFFITO. Resolução COFFITO-37, de 2 de abril de
1984. Baixa o novo texto do Regulamento para registro de
Analisando a estrutura de prestação de serviço para empresas nos Conselhos Regionais de Fisioterapia e
avaliar a atenção fisioterapêutica, foram considerados os Terapia Ocupacional. Diário Oficial da União n.º 078,
seguintes aspectos: Brasília, DF, 23 abr. 1984. Seção I, p. 5 742.
3. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
• Percepção do espaço físico: para os indivíduos – COFFITO. Resolução COFFITO-80, de 9 de maio de
estudados, o Serviço possuía espaço físico adequado e 1987. Baixa atos complementares à Resolução
limpo, embora o Serviço não atenda ao desenho COFFITO-8, relativa ao exercício profissional do
universal preconizado pela Associação Brasileira de Fisioterapeuta, e à Resolução COFFITO-37, relativa ao
Normas Técnicas [6]. Provavelmente, esse aspecto não registro de empresas nos Conselhos Regionais de
foi significante na visão do usuário porque, no momento Fisioterapia e Terapia Ocupacional, e dá outras
da pesquisa, havia reduzido número de usuários providências. Diário Oficial da União n.º 093, Brasília,
portadores de deficiência física com dificuldade de DF, 21 maio 1987. Seção I, p. 7 609.
locomoção. Entretanto, deve ser considerado, pois o 4. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Serviço de Fisioterapia tem que estar preparado para – COFFITO. Resolução COFFITO-139, de 28 de
novembro de 1992. Dispõe sobre as atribuições do
atender a usuários com todos os tipos de patologias e
exercício da Responsabilidade Técnica nos campos
deficiências. assistências da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional e
• Equipamentos da Unidade: apesar de ter sido dá outras providências. Diário Oficial da União n.º 227,
considerado bem conservado pela maioria dos Brasília, DF, 26 nov. 1992. Seção I, p. 16 389-16 390.
entrevistados, foi o único aspecto do estudo que 5. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
apresentou o último nível de insatisfação (muito ruim), Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução RDC n. 50 de
portanto é um aspecto que deve ser mais bem observado 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento
pela direção e pelo responsável técnico do Serviço. Técnico para planejamento, programação, elaboração e
Quanto à relação quantidade de equipamentos avaliação de projetos físicos de estabelecimentos
necessária frente à demanda foi apreciado como assistenciais de saúde. [citado 2003 may 30]. Disponível
insuficiente pela maioria dos entrevistados. Ao em URL: <http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2002/
50_02rdc.pdf>.
comparar a relação de equipamentos da Unidade com
6. Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. NBR
a estabelecida pelo Ministério da Saúde [7], este aspecto
9050 - Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência
foi confirmado, embora se deva considerar a época em a edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos.
que esse documento foi editado. Neste estudo, não Rio de Janeiro; 1994.
foram observados quais equipamentos não suprem a 7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à
demanda, devendo ser motivo de uma avaliação Saúde. Planejamento e dimensionamento para
específica junto aos profissionais. equipamentos para estabelecimentos assistenciais de
saúde. Brasília; 1994.
Avaliando o nível de satisfação quanto ao
8. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
atendimento, a maioria dos usuários relatou que estava Ocupacional – COFFITO. Resolução COFFITO-10,
muito satisfeita ou satisfeita com o Serviço. de 3 de julho de 1978. Aprova o código de ética
Os fatores significantes identificados na inter-relação profissional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
da satisfação dos usuários foram: a faixa etária; a quantidade Diário Oficial da União n.º 182, Brasília, DF, 22 set.
de equipamentos e a conservação dos equipamentos. 1978. Seção I, Parte II, p. 5 265-5 268.

artigo 03 - Milena.pmd 355 27/10/04, 11:00


356 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

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Artigo original

A utilização da estereofotografia de Moiré


na detecção de escolioses
The moiré topography use for of scoliosis detection
Irocy Guedes Knackfuss, Ph.D*, Julio Guilherme Silva, M.Sc.**, Felipe José Jandre dos Reis, Esp.**, Bruna Maria de
aula***, Fernanda Guimarães Campos Cardoso***, Thaís Pionório Omena***, Vinicius Costa Martins***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Professor do Dept. de Traumato-ortopedia, FM – UFRJ, **Professor de Fisioterapia aplicada a traumato-ortopedia, FM – UFRJ,


***Acadêmicos de Fisioterapia, FM - UFRJ, PINC / UFRJ: Programa de Iniciação Científica da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Resumo
A estereofotografia de Moiré (EFM) é um método que utiliza o conceito da óptica,
Palavras-chave: descrito por Takasaki onde, através de imagens 3D do dorso é possível diagnosticar
escoliose, moiré, ortopedia. escolioses, principalmente as de baixo valor angular, imperceptíveis ao exame físico. O
objetivo desse trabalho foi diagnosticar as escolioses utilizando a EFM e discutir o
valor que o método tem para as equipes multidisciplinares da saúde que trabalham com
a prevenção e o tratamento das escolioses. Foram analisados 56 sujeitos segundo o
critério de Willner, que interpreta as imagens formadas no dorso denominadas de
franjas. Seguindo o protocolo estabelecido, constatou-se que 14,28 % das pessoas
analisadas não apresentaram escoliose (sem discrepância das franjas); 75 % possuíam
desvio de até uma franja; de 1 franja até duas tivemos 7,15% e; de duas até três franjas
de assimetria foram encontrados 3,57 %. A EFM confirmou ser um método rápido e
simples para detectar escolioses, principalmente aquelas de baixo valor angular. A
obtenção das imagens não requer um grande espaço físico e nem vasta experiência do
examinador. O exame possui alta sensibilidade para detectar pequenos desvios da coluna.
Estes aspectos tornam a técnica um excelente método de diagnóstico das escolioses
com um baixo custo operacional.

Abstract
Moiré topography (MT) is a biostereometric method that uses optic concepts,
Key-words: described for Takasaki, as a three-dimensional image of the shape of the trunk. It is
scoliosis, moiré, orthopaedics. possible to diagnose scoliosis of low angular value, which can be imperceptible at physical
exam. The aim of this study was to diagnose scoliosis using the MT and to discuss the
method’s value in a multidisciplinary health group that works with prevention and scoliosis
treatment. Fifty-six subjects were analyzed according to the approach proposed by
Willner that interprets the images formed at back denominated fringes. Following the
established protocol, it was verified that 14,28% of the analyzed people did not present
scoliosis (without discrepancy of the fringes); 75% had a deviation of one fringe;
between 1 to 2 fringes 7,15% and 3,57% were above two fringes to three. Moiré

Recebido 29 de março de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Prof. Irocy Guedes Knackfuss, Av. Brigadeiro Trompowski s/n. Ilha do Fundão. Hospital Universitário Clementino
Fraga Filho – UFRJ, Departamento de Traumato-ortopedia 10o. Andar. E-mail: knack@gbl.com.br; Prof. Julio Guilherme Silva, E-mail: jgsilva@hucff.ufrj.br

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topography had been confirmed as a fast and simple method to detect scoliosis, mainly
those of low angular value. The acquisition of the images does not request a great
physical space and a large experience of examiner group. The exam has high sensibility
to detect small deviations of the vertebral column. These aspects make the technique
an excellent method to detect scoliosis with low operational cost.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução também utilizando-a para análise de outros desvios como a


hipercifose torácica [12]. Os recursos computacionais estão
As escolioses idiopáticas representam um dos mais sérios sendo cada vez inseridos na técnica de Moiré [13,14,15]. Isso
problemas ortopédicos. A etiologia do mecanismo que leva vem possibilitando a utilização da EFM não só em ortopedia
a coluna vertebral a sofrer um progressivo desvio lateral e e fisioterapia, mas também em outras áreas como, por
rotacional ainda não é totalmente elucidado [1]. A evolução exemplo, na odontologia [16,17].
da escoliose pode levar à progressiva incapacidade funcional Sendo assim, o objetivo deste estudo foi diagnosticar
e dor nas estruturas da coluna vertebral. Quanto mais precoce as escolioses nos acadêmicos de fisioterapia da UFRJ e
o diagnóstico, menor e mais simples são as intercorrências também, enfatizar o valor que o método a EFM tem para
no tratamento, isto é, com a estabilização da escoliose reduz- as equipes multidisciplinares de saúde que trabalham com a
se a necessidade de procedimentos invasivos [2,3,4]. Os prevenção e o tratamento das escolioses.
métodos de triagem comumente se valem do exame físico e
radiológico para fazer o diagnóstico. Estas formas de Material e método
investigação são métodos mundialmente utilizados e de
eficiência comprovada. Porém, apresentam algumas Amostra
desvantagens: o exame físico, principalmente o teste de
Adams fornecem informações subjetivas que podem diferir Neste estudo aleatório simples, foram selecionados
entre dois examinadores e; as radiografias que além do custo, inicialmente 60 sujeitos, 17 homens e 43 mulheres,
expõem o examinado à radiação [2]. acadêmicos do curso de Fisioterapia da UFRJ (cerca de
Nas últimas décadas foram significativos os avanços nas 19% do total de discentes do curso) com idades entre 17 a
pesquisas na área da Engenharia Biomédica com escopo na 23 anos (X = 20,61 anos e DP= 3,3). Os sujeitos eram
investigação dos distúrbios músculo-esqueléticos. Baseado sadios, sem quadro álgico e não estavam sob qualquer tipo
neste princípio, um tópico nesta área que merece destaque é de tratamento ortopédico e/ou fisioterapêutico para coluna
o efeito de Moiré. Constitui um fenômeno óptico que acontece vertebral. Antes do exame, foi aplicado um questionário
quando duas imagens são sobrepostas e aparecem duas ordens para identificar e excluir do estudo qualquer sujeito que
semelhantes de linhas alternadamente opacas e transparentes pudesse contaminar os resultados. Foram excluídos da
[5]. Há uma relação definida entre a placa, a imagem formada pesquisa integrantes da amostra que possuíam encurtamentos
e o espaçamento das franjas. Após a determinação da distância significativos de membros inferiores, malformações
entre a placa e o objeto, a imagem pode ser calculada. congênitas de membros inferiores e coluna vertebral com o
Fundamentado neste conceito, a Estereofotografia de Moiré intuito de eliminar possíveis falso-positivos. Assim, foram
(EFM) foi introduzido clinicamente por Takasaki [6,7], descrito excluídos 4 sujeitos: 3 por apresentarem discrepância de
por Adair [8] e posteriormente por Willner [2]. A EFM membros inferiores e 1 por história de trauma em membros
caracteriza-se como um método não-invasivo, que inferiores. Então, 56 sujeitos foram analisados. Todos os
proporciona uma descrição tridimensional do formato do sujeitos assinaram o termo de consentimento livre e
tronco, registrando com grande eficiência pequenas assimetrias esclarecido de acordo com a Resolução CNS 196/96 para
existentes entre seus dimídios. Através das imagens, pesquisas com seres humanos [18].
denominadas de franjas, podemos obter um cálculo
aproximado do valor angular da escoliose [2,3,4]. Procedimento
Com a EFM, a aplicabilidade de um exame não-invasivo,
de rápida execução, grande fidedignidade e de baixo custo é O exame foi realizado no Hospital Clementino Fraga
viável [2,9]. Neste aspecto, a EFM atende todas essas Filho / UFRJ, numa sala com pouca luminosidade, onde as
exigências. Permite que se faça um estudo postural em grandes fotos foram feitas com uma máquina fotográfica digital (Sony
amostras em pouco tempo, com alta precisão e sem expor o Mavica FD-75) posicionada frente à placa de Moiré numa
examinado a radiação emitida pelo Raio-X. Atualmente, autores distância de 1,70m. Alinhada à máquina fotográfica a 70
vêm discutindo e aperfeiçoando a técnica de Moiré [10,11] e cm, foi colocado um projetor de slides, cuja luz de 500W

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incidindo sobre o centro da placa a 45o (fig. 1). O centro da área. A altura das áreas de contato também deve ser
lente da câmera (posicionada sobre um tripé) situava-se no observada). A região abaixo da escápula, a qual chamamos
nível do centro da placa. Essas medidas seguem a Equação de W, relaciona-se com escolioses tóraco-lombares (fig. 3).
de Takasaki [19]. A estrutura da EFM consiste numa placa Desvios lombares são observados na região M 2 e
de acrílico que apresenta finas listras pretas paralelas de também nas linhas verticais situadas nas laterais do côncavo-
1mm de espessura, separadas 1mm uma das outras. Quando lombar, que devem ser simétricas e em mesmo número.
a luz incide sobre a placa, o modelo característico do Moiré Para o cálculo dos desvios, traçamos uma linha reta partindo
aparece no dorso da paciente examinado. Este deve da proeminência de C7 indo até a linha interglútea (PQ). Na
posicionar-se próximo à placa, com os ombros e braços franja que mais se desvia marcamos seu ponto mínimo (X).
relaxados e olhar no horizonte, encostando levemente as Uma linha perpendicular à linha PQ passa pelo marco X.
escápulas e a região glútea na placa (fig. 2). No outro dimídio marcamos o ponto Y, eqüidistante de X.
Se o dorso for simétrico, X e Y estarão situados na mesma
Fig. 1 – Material da Técnica de Moiré. franja (fig. 3). Caso não estejam, o valor do desvio será igual
ao número de franjas situadas entre a que possui o ponto X
e a que possui o ponto Y, incluindo a linha com Y.
Fig. 3 – Pontos de Análise da EFM. Região torácica superior “M1” e
Região lombar baixa “M2”; Região Escapular – “O”; X e Y – Pontos de
verificação das discrepâncias das franjas no segmento tóraco-lombar “W”;
PQ – Linha de C7 até Interlinha glútea passando pelos processos espinhosos.

Fig. 2 – Posicionamento do paciente.

O desvio de uma franja equivale a 10o no método de


Cobb, considerado “fisiológico” [4]. Portanto, só são
considerados dignos de maior investigação os desvios de
mais de uma franja, que seriam escolioses superiores a 10o.
Essa correlação entre o ângulo de Cobb e o desvio de franjas
De acordo com Willner [2], o desenho formado no dorso foi investigada por Ruggerone & Austin [25] que chegaram
assemelha-se a um mapa topográfico. Numa superfície à conclusão a correlação significativa é encontrada quando
nor mal, esperamos encontrar elevações nas regiões a vértebra ápice está situada acima de T10, ou seja, quando
escapulares e glúteas formando os “Os” característicos. As os desvios de franjas estão situados nas regiões M1, O
sombras circulares concêntricas formam-se ao redor do O escapular e W (acima de 65%). Contudo, a EFM é equivalente
escapular. Acima dessa região encontramos a área M1, onde ao Raio-X e superior ao exame físico quanto à capacidade
as sombras contornam a região escapular. Desvios de franjas de diagnosticar escolioses, reconhecendo cerca de 94% das
nessa área relacionam-se com desvios na coluna torácica situações escolióticas, contra 46% do exame físico [8].
superior. A área interescapular, onde encontramos os
círculos concêntricos, relaciona-se com escolioses meio- Resultados
torácicas, manifestando-se através de um número diferente
de sombras entre um lado e o outro (o número de sombras Na tabela I, seguem abaixos, os resultados dos dados
de uma área escapular deve ser igual ao número da outra coletados:

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Tabela I – Quantificação das franjas, freqüência e percentagem dos sujeitos porque de um total de 41 casos de escoliose só determinou 19,
avaliados. enquanto que o Moiré determinou 39 casos [22]. Um outro
recurso pode se associar ao exame físico para medir o grau de
Número de Franjas (f) %
escoliose: o Escoliômetro. Esse é um instrumento que mede o
Sem discrepâncias (sem escoliose) 8 14,28 % ângulo de inclinação torácica no local de maior gibosidade dorsal.
Até 1 franja 42 75 % Este exame é feito juntamente com o teste de Adams. O ângulo
Acima de 1 até 2 franjas 4 7,15 % mínimo de 5o no escoliômetro é importante para detectar 20o
Acima de 2 até 3 franjas 2 3,57 % ou mais do ângulo de Cobb [23]. Este recurso caracteriza-se
Total 56 100%
por ser de fácil aplicação e possui uma margem de falso-positivo
Os dois sujeitos que apresentaram entre 2 e 3 franjas de 0,1% [23].
(3,57%) foram submetidos, logo após a EFM, a exame Segundo Adair [8], o manuseio da EFM é rápido e
radiológico da coluna. Depois dos registros radiográficos, simples. O exame é barato e seguro, no entanto não gera
calculou-se o ângulo de Cobb para comparação com os desconforto ao paciente além da alta sensibilidade. Dos
resultados da EFM. Dos 2 casos analisados, um tinha 34o pacientes com escoliose, 99,7% são diagnosticadas através
de escoliose e o outro 32o como mostra a fig. 4a e 4b. do Moiré [22] e as informações (fotos) podem ser facilmente
arquivadas no computador [24]. A confiança no Moiré
Fig.4a – Sujeito com desvio de três franjas no “W”, mostrando uma negativo é alta, pois quase 100% dos pacientes com simetria
escoliose tóraco-lombar. nas fotos não sofrem de escoliose [22]. A desvantagem do
Moiré se dá pela alta incidência de resultados falso-positivos,
já que apenas 29% com assimetria de mais de uma franja
sofrem clinicamente de escoliose [22]. Isso surge em virtude
da técnica ser muito sensível a qualquer perturbação do
contorno do dorso [24]. As curvas escolióticas que passam
despercebidas ao exame físico, podem ser descobertas pela
EFM. Quanto aos resultados falso-positivos, são causados
por um mal-posicionamento durante o exame; discrepância
de membros inferiores e rotações vertebrais simples sem
escoliose verdadeira.
Outra característica da EFM é que não tem a capacidade
mostrar o grau de maturação óssea, obtido pelo Raio-X,
Fig. 4b – Confirmação da escoliose toráco-lombar em “S” com 32o no onde comumente são analisados a crista ilíaca, a junção dos
ângulo de Cobb. três ossos da pelve e os corpos vertebrais. Esses resultados
são de importante conhecimento já que, alcançada a
maturação óssea, as curvas abaixo de 30o não irão progredir
rapidamente. Contudo, as curvaturas de maior valor angular
podem progredir cerca de 1 o por ano no adulto. Há
controvérsia em relação à comparação do ângulo de Moiré
com o ângulo de Cobb. Alguns trabalhos mostram uma
correlação muito próxima como o EFM com o ângulo de
Cobb [19]. Outros defendem que não há como determinar
o ângulo pelas fotos, porque a EFM registra a rotação
vertebral, enquanto o Cobb registra desvio lateral. Portanto
apesar de serem relacionados, não são diretamente
proporcionais [25]. Entretanto, nos resultados encontrados
Discussão neste trabalho, os pacientes que possuíram acima de três
franjas quando comparado ao exame radiológico da coluna,
A EFM foi primeiramente descrita por Takasaki [6,7] e constatou-se apenas uma diferença de 2o. Mesmo assim,
logo em seguida por vários autores [2,8,10]. A estereofotografia nas últimas décadas a EFM continua sendo estudada e
de Moiré é um método extremamente rápido, de custo baixo e aplicada, com auxilio dos recursos computacionais,
de alta fidedignidade capaz de detectar desvios rotacionais na principalmente em triagens clínicas para detecção das
coluna vertebral. Nessa identificação, através do Raio-X pela escolioses [11, 26, 27, 28]. Além disso, as investigações
técnica do processo espinhoso ou mesmo pela técnica do científicas através da EFM não se restringem apenas aos
pedículo, os desvios são de difícil visualização e precisão [21]. desvios posturais da coluna. Entre eles podemos destacar
A associação do teste de Adams ao exame físico é questionável, os comprometimentos visuais decorrentes da escoliose [29].

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 361

Outros estudos concentram-se em comparar a EFM com 11. Kim HS, Ishikawa S, Ohtsuka Y, Shimizu H, Shinomiya T,
outras técnicas de mensuração das escolioses [30,31]. Viergever MA. Automatic scoliosis detection based on local
centroids evaluation on moiré topographic images of human
backs. IEEE Trans Med Imaging 2001;20(12):1314-20.
Conclusão 12. Kovac V, Pecina M. Moiré topography in measurement of the
sagittal curvatures of the spine. Coll Antropol 1999;23(1):153-8.
O modelo proposto por Willner mostrou-se apropriado 13. Higgins WE, Ojard EJ. Interactive morphological watershed
para análise das escolioses. Destacamos a simplicidade da analysis for 3D medical images. Comput Med Imaging Graph
técnica, a possibilidade de documentação dos achados para 1993;17(4-5):387-95.
posterior comparação e, a sua reprodutibilidade. A EFM 14. Batouche M, Benlamri R, Kholladi MK. A Computer Vision
confirmou a perspectiva de ser um método rápido e simples System for Diagnosing Scoliosis using Moiré images. Comput
para detectar escolioses, principalmente aquelas de baixo BiolMed 1996;26:339-53.
15. Wong HK, Balasubramaniam P, Rajan U; Chang SY. Direct
valor angular. O método não requer um grande espaço físico
spinal curvature digitization in scoliosis screening – a
e nem vasta experiência do examinador. A interpretação comparative study with Moiré contourgraphy. Spinal
das fotos também se configurou num simples processo e, o Disordtech 1997;10:185-92.
tempo médio gasto desde do início da avaliação até sua 16. Kawai T, Natsume N, Shibata H, Yamamoto T. Three-
interpretação foi, em média, de 4 minutos. A aplicabilidade dimensional analysis of facial morphology using moiré stripes.
da técnica de Moiré em grandes amostras é viável devido Part II. Analysis of normal adults. Int J Oral Maxillofac Surg
às vantagens expostas neste trabalho além do baixo custo 1990;19(6):359-62.
operacional. Portanto a EFM mostrou-se um excelente meio 17. Neumann CP, Rusu V, Tatarciuc MS. Moiré – Effect
para projetos na fisioterapia que tenham como foco de Application in medicine and dental technology. Rev Med Chir
Soc Med Nat Iasi 2001;105(3):583-4.
investigação, avaliação, prevenção e tratamento das escolioses.
18. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Normas para
pesquisa envolvendo seres humanos (Res. CNS 196/96 e
Agradecimentos outras). Brasília: Ministério da Saúde 2000.
19. El–Sayyad MM. Comparison of roentgenography and Moiré
Os autores gostariam de agradecer a todo corpo discente do topography for quantifying spinal curvature. Phys Ther
curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio de Janeiro 1986;66:1078-82
pela colaboração neste trabalho, que foi apresentado como tema 20. Duerp B. Ein apparatus zur doicumentation von
livre no III Encontro de Fisioterapia do Hospital Universitário Erkanokungen des Haltungs-und Bewegungsapparates durch
Pedro Ernesto / UERJ de 06 a 07 de novembro 2003. Moiré topografie. Sonderforschungsbereich 88. Westfalische
Wilhems-Universität, Münster, 1977.
21. Nash CL. & Moe JH. A study of vertebral rotation. J Bone
Referências Joint Surg 1969;51-A (2): 223-9.
22. Laulund T, Sojbjerg JO, Horlyck E. Moiré Topography in
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artigo 04 - Irocy.pmd 361 27/10/04, 11:00


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 363

Artigo original

Relação entre o estresse e as disfunções


da ATM nos alunos e professores da Universidade
Católica de Petrópolis
Relationship between stress and TMD disorders in teachers
and students of the Universidade Católica de Petrópolis
Luiz Eduardo de Sousa*, Laila Maria Binato Junqueira*, Ana Lúcia C. M. C. Habib, M.Sc.**,
Alexandre César Bonfim Costa, M.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Graduando do curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Petrópolis, **Fisioterapeuta-UCP,


***Professor Assistente da UCP e IBMR, Professor da Especialização em Anatomia do IBMR

Resumo
A dor e a disfunção localizada no complexo bucal e maxilofacial atinge quase 20%
Palavras-chave: da população do ocidente. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo relacionar
desordens da articulação o estresse emocional com as desordens da articulação temporo-mandibular (ATM) e
temporo-mandibular, determinar a prevalência dos fatores emocionais como geradores dessas desordens,
estresse.
nos estudantes e professores da Universidade Católica de Petrópolis (UCP). A amostra
foi composta de 65 participantes, entre alunos e professores da UCP. A coleta de dados
foi realizada utilizando o Inventário de Sintomas de Stresse (ISS), o qual foi validado
empiricamente por Lipp (1996), e o Índice de Helkimo (1974) para avaliar os sintomas
subjetivos de disfunção de ATM. Os resultados da pesquisa mostram que 36% dos
participantes que apresentavam sintomas de estresse tinham sintomas de disfunção de
ATM, e dos participantes que manifestaram somaticamente o estresse, 57%
apresentaram sintomas de disfunção de ATM. Conclui-se, portanto, que 65% dos
pesquisados apresentaram sintomas de estresse e que uma porcentagem considerável
destes tinham sintomas de disfunção de ATM.

Abstract
Pain and the dysfunction located in the buccal and maxillofacial complex reach
Key-word: almost 20% of the western population. The aim of this study was to relate emotional
temporomandibular stress with temporomandibular articulation and to determine the prevalence of emotional
disorders, stress. factors that leads to these disorders in students and teachers of the Universidade Católica
de Petrópolis (UCP). The sample was composed of 65 participants, among students
and teachers of the UCP. The collected data was carried out using the Inventory Stress
Symptons (ISS), which was empiric validated by Lipp (1996), and the Index of Helkimo
(1974) to evaluate subjective symptoms of the TMD join disfunction. The research
results detected that 36% of the participants who presented stress symptoms had TMD
disfunction symptons, and participants that express symptom of stress more somatically,

Recebido 8 de julho de 2004; aceito 15 de agosto de 2004.


Endereço para correspondência: Luiz Eduardo de Sousa,Rua Eduardo Gomes Baião, 57, Centro 36600000 Bicas MG, Tel: (32)32711316, E-mail:
luiz@powerline.com.br

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364 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

57% showed TMD disfunction symptoms. We conclude that 65% of the participants
experienced symptoms of stress and that a considerable percentage of them had ATM
dysfunction symptoms.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo


relacionar o estresse emocional com as desordens da ATM
A articulação temporomandibular (ATM) é caracterizada e determinar a prevalência dos fatores emocionais como
pela união da mandíbula, em ambos os lados com os ossos geradores dessas desordens, nos estudantes e professores
temporais. Trata-se de uma articulação complexa por da Universidade Católica de Petrópolis.
apresentar onze tipos de movimentos, e estruturas musculares
e articulares com características particulares [1]. Material e métodos
É uma estrutura extremamente importante, pois sua
função está diretamente relacionada com todo um O estudo foi realizado na UCP composto por 65
contexto que envolve a comunicação entre as pessoas, pessoas, entre alunos e professores de ambos os sexos e
expressão emocional, a alimentação, que são fatores que na faixa etária de 17 a 35 anos.
interferem na qualidade de vida do indivíduo. Dessa forma, A fim de confirmar se o estresse é um fator etiológico
a ATM pode sofrer alguma desordem em sua fisiologia significante para ocasionar uma desordem na articulação
decorrente de alguma alteração relacionada à função temporomandibular, os participantes responderam ao
alimentar, a oclusão dentária, ou a fatores psicológicos Inventário de Sintomas de Stresse (ISS), o qual foi validado
como o estresse. empiricamente por Lipp [5], sendo criado devido à
As desordens sofridas pela ATM podem ser necessidade de um instrumento que suprisse as
classificadas em desarranjos internos, intrínsecos da dificuldades para um diagnóstico dos sintomas e da fase
articulação, e externos ou dos músculos da mastigação. do estresse em que os indivíduos possam se encontrar.
A etiologia dessas desordens está relacionada a diversos Este inventário consta de três partes que se referem,
fatores, como traumas diretos ou indiretos, desequilíbrios respectivamente, às três fases do estresse proposta por
metabólicos, oclusão, estresse emocional, entre outros. Selye [6]. Os sintomas citados são os que aparecem em
No que se refere aos fatores psicológicos, pode-se dizer cada fase. (Anexo 1)
que a boca é uma região de forte fixação emocional. A Na primeira parte, os participantes assinalaram com
criança, ao nascimento, é totalmente dependente da boca F1 ou P1 os sintomas físicos (F) ou psicológicos (P) que
para se relacionar com as pessoas e com o ambiente. O tinham experimentado nas últimas 24 horas. Na segunda,
choro é sua forma de expressão, para manifestar os assinalaram com F2 ou P2 os sintomas sentidos na última
sentimentos. Esses aspectos foram descritos por Freud, semana e na terceira parte eles assinalaram com F3 ou
mas não eram valorizados no paciente adulto [2]. P3 os sintomas percebidos no último mês. Este
A região orofacial sofre de injúrias tanto de origem instrumento se destina a responder a três questões. A
puramente somática como de origem psicossomática. O pessoa apresenta um quadro de sintomas de estresse? Em
estresse emocional está relacionado com algum tipo de caso afirmativo, que fase do estresse ela se encontra? O
desordem da ATM, se manifestando com dor, sensação instrumento também indica em que área os sintomas
de fadiga ou alteração dos movimentos da mandíbula [3]. são mais acentuados, a cognitiva ou somática?
É importante ressaltar que a dor e disfunção localizada Respondendo á primeira questão, o escore de cada fase,
no complexo bucal e maxilofacial são queixas que afligem que é obtido somando-se o total horizontal (P+F), deverá
quase 20% da população dos países ocidentais [2]. Estudos ser maior que seis na fase um, ou maior que três na fase
afirmam que as disfunções dos músculos da mastigação dois, ou maior que oito na fase três. Se o participante
são a causa principal de dor de origem não-dentária na tiver obtido escores menores, o quadro do estresse não se
região orofacial [4]. caracterizou. Se o escore obtido for maior que os valores
Dessa forma, cabe ao fisioterapeuta, não só o acima, em qualquer das fases, o estresse está presente.
conhecimento morfológico da ATM, mas conhecer as Respondendo à segunda questão, o maior escore
diferentes disfunções e principalmente identificar a normalizado indica a fase do estresse em que se encontra
etiologia, sabendo assim que o fator emocional pode o indivíduo. Para a normalização do escore se procede da
influenciar no surgimento das disfunções. seguinte forma:

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 365

Escore real – Escore mínimo X 100 Os participantes responderam o ISS e por último o Índice
de Helkimo, visto que estes inventários foram
Escore máximo – Escore mínimo distribuídos juntos em um único bloco grampeado.
Comparam-se as porcentagens obtidas que são os escores
normalizados. Se com este procedimento escores
Resultados
normalizados idênticos forem obtidos, isto significa que
clinicamente o participante está em uma fase de quase Caracterização geral da amostra:
exaustão. Pra facilitar este procedimento existe uma tabela A idade média dos participantes é de 21,6 anos. As
de escores normalizados. (Anexo 2) idades tiveram como valor mínimo 17 anos e no máximo
Respondendo a terceira questão, leva-se em conta que 35 anos.
o número possível de F difere do de P. Considera-se a Quanto à área dos sintomas de estresse, os resultados
porcentagem de sintomas em cada área e não o número estão na Tabela I, foi observada uma predominância de
absoluto de pontos. O escore máximo possível em F é de sintomas psicológicos:
34 pontos, e em P de 19. A fim de se verificar, Tabela I
independente da fase, qual a área em que o sujeito tem
maior tendência a possuir mais sintomas, calcula-se a
porcentagem de sintomas em cada área. A maior
porcentagem revelará a área em que o participante tende
a apresentar mais sintomas.
FÍSICO PSICOLÓGICO

Fase de alerta F1(escore real) P1 (escore real)


12 3
Fase de resistência F2 (escore real) P2 (escore real)
10 5
Fase de exaustão F3 (escore real) P3 (escore real) Quanto à presença de sintomas subjetivos de disfunção
11 11 da ATM, os resultados são demonstrados na Tabela II.
Soma-se a % de F Soma-se a % de P
Tabela II
A tabela para os sintomas se encontra em anexo 3.
Para avaliação da presença de sintomas de disfunção
de ATM dessas pessoas foi utilizado o Índice de Helkimo,
que consta da seguinte avaliação: Índice anamnésico:
baseado nos diferentes sintomas de disfunção do sistema
mastigatório (sintomas subjetivos) relatados pelos
indivíduos durante a anamnese [7,8]. Este índice pode
apresentar-se em três graus:

Ai0: Composto por indivíduos livres de sintomas de


disfunção.
AiI: Composto por indivíduos com sintomas suaves Quanto à relação entre o estresse e os sintomas de
de disfunção. disfunção de ATM, os resultados estão na Tabela III.
AiII: Composto por indivíduos com sintomas severos. Tabela III
Os sintomas suaves de disfunção são descritos da
seguinte forma: Ruídos na ATM, sensação de fadiga nos
maxilares, sensação de rigidez nos maxilares.
Os sintomas severos de disfunção são descritos da
seguinte forma: Dificuldade na abertura de boca,
travamento, luxações, dor ao movimento da mandíbula,
dor na região da ATM ou na musculatura mastigatória.
Os questionários foram distribuídos aos participantes
dentro da Universidade Católica de Petrópolis, sendo que
estes poderiam ser respondidos no ato da entrega ou
poderiam ser levados para casa e entregue no dia seguinte.

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366 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Quanto à relação entre as pessoas que manifestam A ansiedade é como o indivíduo se relaciona com o
fisicamente o estresse com a presença de sintomas de estresse, o aceita e interpreta. O estresse é um ponto
disfunção de ATM. Os resultados estão na Tabela IV. intermédio no caminho para a ansiedade. Estresse é uma
parte da situação de ameaça e que o termo ansiedade é
Tabela IV essencial quando queremos nos referir ao todo [9]. Sendo
assim, o estudo avaliou através de questionários, a
incidência do estresse, bem como, a sua relação com as
desordens da ATM.
A amostra deste estudo foi composta de 65
participantes, sendo a maioria do sexo feminino. Quanto
à idade, obteve-se uma média de 21,6 anos, sendo o
indivíduo mais jovem apresentando 17 anos e o mais
velho 35 anos.
Em relação à presença de sintomas de estresse, obteve-
se 65% dos participantes como estressados, sendo estes
apresentando sintomas somáticos ou cognitivos. Cerca
Quanto à relação entre as pessoas que manifestam de 54% dos participantes apresentaram sintomas
cognitivamente o estresse com os sintomas de disfunção cognitivos de estresse, e cerca de 11% com sintomas
de ATM. Os resultados estão na somáticos.
Tabela V. Quando observado a presença de sintomas de
disfunção de ATM nos participantes estressados, foi
Tabela V observado que 36% deles apresentavam algum sintoma
de disfunção, podendo variar de suave a severo.
Dos participantes que apresentavam sintomas
somáticos de estresse, cerca de 43% apresentavam
sintomas suaves de disfunção, e 14% sintomas severos de
disfunção de ATM. O que leva em consideração uma
possível influência do estresse emocional nas disfunções
da ATM, pois cerca de 57% deles apresentavam algum
sintoma de disfunção. Já os participantes que
apresentavam sintomas cognitivos de estresse, apenas 6%
apresentavam sintomas severos e 26% sintomas suaves
de disfunção de ATM.
Discussão Estes resultados estão de acordo com o que é descrito
na literatura, ou seja, o fator psicológico tem influência
Quando o organismo sofre de ansiedade ou estresse uma nas desordens temporomandibulares. Outras pesquisas
grande variedade de distúrbios psicossomáticos pode mostram que o aumento do estresse emocional pode ser
aparecer. Portanto uma condição de ansiedade ou estresse um fator etiológico no desenvolvimento de uma desordem
jamais pode ser vista somente como manifestação psíquica muscular aguda, níveis significativos contínuos de estresse
ou puramente somática. Os sintomas psicossomáticos emocional podem representar um fator perpetuante, que
pode avançar esta condição para uma desordem de dor
podem ser encarados como um dos modos de expressão da
crônica [3].
vida emocional, especialmente da vida emocional
Uma combinação entre má oclusão, tensão emocional,
inconsciente.
estresse, ansiedade e fatores psicogênicos, resultando
Estudos mostram que a causa da variação de ansiedade
espasmos musculares que levam à disfunção
não é a fisiologia em si, mas o estilo de vida característico temporomandibular, é admitida.[10,11].
de um determinado indivíduo. No estilo de vida, o A síndrome dor miofascial é um fenômeno
dinamismo integrativo é de grande importância. Muitas psicofisiológico que tem no espasmo dos músculos da
doenças podem ser distúrbios desse mecanismo integrativo. mastigação seu fator etiológico primário. O fator mais
Podemos dizer que o estresse é um ajustamento através comum é a fadiga muscular produzida por hábitos
do desenvolvimento de um antagonismo entre um agressor parafuncionais, geralmente involuntários, de alívio de
e a resistência que lhe é oferecida pelo corpo. O estresse é a tensão [2].
resposta à taxa de desgaste no corpo. E ainda enfatiza Foi observado que a maioria dos participantes
principalmente o que acontece à e na pessoa. encontravam-se estressados e que uma considerável

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 367

percentagem desses apresentavam algum sintoma de B) Marque com um “ X “ os sintomas que você tem
disfunção de ATM. É importante ressaltar a relação experimentado nas últimas 24 horas: <P1>
encontrada entre os sintomas físicos de estresse com os ( ) 13. Aumento súbito de motivação
sintomas de disfunção de ATM. Isso comprova o que diz ( ) 14. Entusiasmo súbito
na literatura sobre a relação entre estresse com as ( ) 15. Vontade súbita de iniciar novos projetos
disfunções da ATM.
A ) Marque com um “ X “ os sintomas que você tem
experimentado na última semana: <F2>
Conclusão ( ) 1. Problemas com a memória
( ) 2. Mal estar generalizado, sem causa específica
Diante da constatação da grande incidência e ( ) 3. Formigamento das extremidades (mãos e pés)
prevalência das dores e disfunções referentes ao complexo ( ) 4. Sensação de desgaste físico constante
bucal e maxilofacial, o presente estudo teve como objetivo ( ) 5. Mudança de apetite
relacionar o estresse emocional com as desordens da ATM ( ) 6. Aparecimento de problemas dermatológicos
e determinar a prevalência dos fatores emocionais como (pele)
geradores dessas desordens. O que foi feito através da ( ) 7. Pressão alta (hipertensão arterial)
aplicação do Inventário de Sintomas de Stresse (ISS), e ( ) 8. Cansaço constante
do Índice de Helkimo (1974) em uma a amostra de 65 ( ) 9. Aparecimento de úlceras
participantes, entre alunos e professores da UCP. Os ( ) 10. Tonturas ou sensação de estar flutuando
resultados demonstram que 36% dos participantes que
apresentavam sintomas de estresse apresentavam B) Marque com um “ X “ os sintomas que você tem
simultaneamente sintomas de disfunção de ATM. Além experimentado na última semana: <P2>
do que, daqueles que manifestaram somaticamente o ( ) 11. Sensibilidade emotiva excessiva
estresse, 57% apresentaram sintomas de disfunção. Tendo ( ) 12. Dúvida quanto a si próprio
em vista estes aspectos, conclui-se que os números ( ) 13. Pensar constantemente em um só assunto
encontrados vêem corroborar o que é relatado na literatura ( ) 14. Irritabilidade excessiva
pesquisada, confirmando que na Universidade Católica ( ) 15. Diminuição da libido (desejo sexual)
de Petrópolis o contingente de alunos e professores A ) Marque com um “ X “ os sintomas que você tem
pesquisados apresentava o estresse emocional como fator experimentado no último mês: <F3>
de grande influência, ou seja, como um representativo ( ) 1. Diarréia freqüente
fator etiológico das desordens temporomandibulares. ( ) 2. Dificuldades sexuais
Considerando os aspectos abordados em relação à ( ) 3. Insônia
multiplicidade de variáveis que intervém no ( ) 4. Náuseas
desencadeamento das dores e disfunções de ATM, ( ) 5. Tiques
acredita-se ser adequado o desenvolvimento de estudos ( ) 6. Hipertensão arterial continuada
que possam abranger os fatores etiológicos, não apenas ( ) 7. Problemas dermatológicos prolongados
de origem psíquica, mais também de ordem física que ( ) 8. Mudança extrema de apetite
geram o aparecimento das citadas disfunções. ( ) 9. Excesso de gases
( ) 10. Tontura freqüente
Anexo 1
( ) 11. Úlceras
( ) 12. Enfarte
A) Marque com um “ X “ os sintomas que você tem
experimentado nas últimas 24 horas: <F1> B) Marque com um “ X “ os sintomas que você tem
( ) 1. Mãos (pés) frios experimentado no último mês: <P3>
( ) 2. Boca seca ( ) 13. Impossibilidade de trabalhar
( ) 3. Nó no estômago ( ) 14. Pesadelos
( ) 4. Aumento do suor (sudorese) ( ) 15. Sensação de incompetência em todas as áreas
( ) 5. Tensão muscular ( ) 16. Vontade de fugir de tudo
( ) 6. Aperto da mandíbula (ranger os dentes) ( ) 17. Apatia, depressão ou raiva prolongada
( ) 7. Diarréia passageira ( ) 18. Cansaço excessivo
( ) 8. Insônia ( ) 19. Pensar / falar constantemente em um só assunto
( ) 9. Taquicardia (batimento rápido do coração) ( ) 20. Irritabilidade sem causa aparente
( ) 10. Hiperventilação (aumento do ar inalado) ( ) 21. Angústia / ansiedade diária
( ) 11. Pressão alta (hipertensão arterial) ( ) 22. Hipersensibilidade emotiva
( ) 12. Mudança do apetite ( ) 23. Perda de senso de humor

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368 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Anexo 2 – Tabela de escore normalizado. Referências


Fase 1 Fase 2 Fase 3
1. Costa ACB, Savedra CMS. Fundamentos de anatomia para o
6 – 0% 3 – 0% 8 – 0% estudante de odontologia. São Paulo: Atheneu; 2000.
7 – 11,11% 4 – 8,33% 9 – 6,66% 2. Menezes RA. Síndromes dolorosas. Rio de Janeiro:
8 – 22,22% 5 – 16,66% 10 – 13,33% Revinter; 1999.
9 – 33,33% 6 – 25% 11 – 20% 3. Okeson JP. Tratado das desordens temporomandibulares
10 – 44,44% 7 – 33,33% 12 – 26,66% e oclusão. 4 ed. São Paulo: Artes Médicas; 2000.
11 – 55,55% 8 – 42,66% 13 – 33,33% 4. Zarb A, Carlsson GE, Sessle BJ, Mohl ND. Disfunções
12 – 66,66% 9 – 50% 14 – 40% da articulação temporomandibular e dos músculos da
13 – 77,77% 10 – 58,33% 15 – 46,66% Mastigação. 2ed. São Paulo: Santos; 2000.
14 – 88,88% 11 – 66,66% 16 – 53,33% 5. Lipp MEN, Guevara AJH. Validação empírica do
15 – 100% 12 – 75% 17 – 60% inventário de sintomas de stresse (ISS). Estudos de
13 – 83,33% 18 – 66,66% Psicologia; 1994.
14 – 91,66% 19 – 73,33% 6. Selye H. Stress, a tensão da vida. São Paulo: Ibrasa; 1965.
15 – 100% 20 – 80% 7. Helkimo M. Studies on function and dysfunction of the
21 – 86,66% masticatory system, 2, Index for anamnestic and clinical
22 – 93,33% dysfunction and occlusal state. Swed Dent J 1974;67:101-19.
23 – 100% 8. Helkimo M. Studies on function and dysfunction of the
masticatory system, 3, Analises of anamnestic and clinical
Anexo 3 – Proporçao de sintomas físicos e psicológicos (iss). recordings of dysfunction with the aid of indices. Swed
Dent J 1074;67:165-82.
Sintomas fisicos 9. May R. O Significado da ansiedade: as causas da
integração e desintegração da personalidade. Rio de
Fase alerta Fase resistência Fase exaustão Janeiro: Zahar; 1980.
1/0,08 1/0,1 1/0,08 10. Teixeira ACB, Marcucci G, Luz JGC. Prevalência das
2/0,16 2/0,2 2/0,16 maloclusões e dos índices anamnésicos e clínicos, em
3/0,25 3/0,3 3/0,25 pacientes com disfunção da articulação temporoman-
4/0,33 4/0,4 4/0,33 dibular. Rev Odontol UNESP; 1999;13(3): 251-6.
5/0,41 5/0,5 5/0,41 11. MacNeill C. Temporomandibular disorders: guideline for
6/0,5 6/0,6 6/0,5 classification, assessement and management. Chicago:
7/0,58 7/0,7 7/0,58 Quintessence; 1993. p.1-3. C

8/0,66 8/0,8 8/0,66


9/0,75 9/0,9 9/0,75
10/0,83 10/1,0 10/0,83
11/0,91 11/0,91
12/1,0 12/1,0

Sintomas psicológicos

Fase alerta Fase resistência Fase exaustão

1/0,33 1/0,2 1/0,09


2/0,66 2/0,4 2/0,18
3.1,0 3/0,6 3/0,27
4/0,8 4/0,36
5/1,0 5/0,45
6/0,54
7/0,63
8/0,72
9/0,81
10/0,90
11/1,0

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 369

Artigo original

A capacitação pedagógica para o docente de fisioterapia


The pedagogic training for physical therapy teacher
Simone Abrantes Saraiva*, Kenia Maynard, M.Sc. **
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Pós-Graduada em Docência Superior pelo Instituto Superior de Estudos Pedagógicos – ISEP, Residente em Fisioterapia em Terapia
Intensiva do Hospital Universitário Pedro Ernesto – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, **Mestre em Ciência da Motricidade
Humana pela Universidade Castelo Branco

Resumo
Objetivo: Verificar a importância da formação pedagógica para o profissional de
Palavras-chave: fisioterapia que visa alcançar o magistério com excelência. Metodologia: Foi realizada
Docente, graduação, uma revisão bibliográfica para definir domínio na área pedagógica, sua importância e
capacitação e educação. como o fisioterapeuta pode adquiri-lo, e pesquisa de campo para conhecer a opinião de
docentes e discentes sobre a qualificação pedagógica. Resultados: A revisão bibliográfica
enfatizou a importância da formação pedagógica para um magistério com qualidade, e
a pesquisa de campo mostrou que 33% dos professores e 88% dos alunos concordam
que a graduação em fisioterapia deve conter disciplinas que capacitem o profissional
para atuar na docência, que todos os alunos e professores concordam que é necessária
a capacitação didático-pedagógica para a atuação na docência, que todos os professores
e 42% dos alunos concordam que o conhecimento específico é mais importante que o
conhecimento didático-pedagógico para a atuação na docência, que todos os professores
e 95% dos alunos concordam que atualmente grande parte dos fisioterapeutas busca a
docência como complemento financeiro, e que todos os professores e 93% dos alunos
concordam que o docente de Fisioterapia deve atuar na prática clínica concomitante a
prática docente. Conclusão: Grande parte dos alunos concorda que a graduação deve
conter disciplinas que capacitem o profissional para atuar na docência, enquanto os
professores discordam desta idéia, e que todos os professores concordam que o
conhecimento específico é mais importante que o conhecimento didático-pedagógico
para a atuação na docência, enquanto que os alunos, possivelmente prejudicados por
este fato, não concordam com este ponto de vista.

10 dezembro 2003; corrigido 1 de agosto de 2004; aceito 15 de agosto de 2004.


Endereço para correspondência: Simone Abrantes Saraiva, Rua Professor Pires Salgado, 230/201 Jardim América 21240-220 Rio de Janeiro RJ, Tel:
(21) 2471-2052 / 8169-4330, E-mail: siabrantes@bol.com.br

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370 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Abstract
Objective: To verify the importance of the pedagogic formation for the physical
Key-words: therapy professional that seeks teaching profession. Methodology: A literature review
teacher, graduation, training was carried out to define the domain in the pedagogic area, its importance and how
and education. the physical therapist can acquire it, and field research to know the teachers and
students’ opinion about the pedagogic qualification. Results: The literature review
emphasized the importance of the pedagogic formation for quality teaching, and
the field research showed that 33% of the teachers and 88% of the students agree
that the graduation in physical therapy should contain disciplines that qualify teaching
professional, that all students and teachers agree that it is necessary the didactic-
pedagogic training for the teaching performance, that all teachers and 42% of the
students agree that the specific knowledge is more important than the didactic-
pedagogic knowledge for the teaching performance, that all teachers and 95% of
the students agree that nowadays most of the physical therapists uses teaching as
financial complement, and that all teachers and 93% of the students agree that
physical therapy teacher should act in clinic practice concomitant to educational
practice. Conclusion: Most of the students agree that the graduation course should
contain disciplines that qualify teaching professional, while teachers disagree with
this idea, and agree that specific knowledge is more important than the didactic-
pedagogic knowledge for teaching performance, but students do not agree with this
point of view.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução profissão a mais, que merece estudos e qualificações especiais


para que possa ser praticada, e essa prática deve ser o mais
O conhecimento específico nas disciplinas que ministrará responsável possível, visto que, a formação do aluno será a
aulas é o que primeiramente costuma preocupar o professor base para o seu exercício profissional.
do nível superior, esquecendo-se que, tão importante quanto, Diante de diversas necessidades em relação à formação
é o conhecimento pedagógico, pois é através deste que o do corpo docente, sentimos a necessidade de verificar a
conhecimento específico alcança o aluno. Infelizmente, a importância da formação pedagógica para o profissional
qualificação pedagógica não é vista com a seriedade que de fisioterapia que visa alcançar o magistério com
deveria, fator este que contribuiu para a iniciativa da pesquisa. excelência, sendo este o objetivo final da pesquisa. A
De acordo com Pimenta [1], é necessário aos professores pesquisa possui ainda objetivos intermediários, que são:
de nível superior, independente da área de atuação, definir domínio na área pedagógica, pesquisar de que forma
determinadas visões e conceitos pedagógicos. E como é essa os fisioterapeutas podem adquirir este domínio e conhecer
realidade entre o corpo docente da graduação em a opinião de fisioterapeutas docentes e de alunos da
fisioterapia? Carneiro [2] dizia que fisioterapeutas almejam graduação em Fisioterapia sobre a qualificação pedagógica.
o magistério mais como um “bico” a ser exercido nas horas
vagas, e que os mesmos não possuem formação suficiente Materiais e métodos
para atuarem na docência. A falta de qualificação por parte
do corpo docente vem crescendo desordenadamente, e uma Consta de uma revisão bibliográfica e pesquisa de campo.
das explicações é a grande quantidade de fisioterapeutas A revisão bibliográfica foi utilizada para a definição de
que são alçados ao magistério, mas que não possuem o domínio na área pedagógica, como o fisioterapeuta pode
mínimo de conhecimento pedagógico necessário [2]. adquiri-lo e ainda a importância desses conceitos para todo
Certamente a prática docente com excelência em qualquer o corpo docente e sofreu uma análise qualitativa. Nesta
área exige não só formação específica na disciplina em que revisão foram utilizados livros e publicações na área de
ministra aula, vocação e competência, como também educação, em especial os que se voltam para a docência
formação pedagógica, sendo este o item que mais se apresenta superior, e na área de fisioterapia, em especial os que
deficiente na atual realidade. É de extrema importância que focalizam a formação do corpo docente. A pesquisa de
os fisioterapeutas professores encarem a docência como uma campo foi realizada para conhecer a opinião do corpo

artigo 06 - Simone.pmd 370 27/10/04, 11:00


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 371

docente e discente sobre a qualificação pedagógica, e para aula. Essas análises geram posicionamentos dos professores,
isto foram coletados dados com alunos e professores da derivados de conteúdos da atuação do professor. Passam a
Universidade de Barra Mansa dos 7º e 8º períodos do entender e defender que durante os cursos universitários deve
curso de graduação em Fisioterapia durante o 2º semestre haver a interação e a pesquisa, e não somente a transmissão
do ano de 2003 que estavam presentes no dia em que a de conhecimentos; que a profissão não pode ser exercida por
Universidade foi visitada, sem distinção de sexo, raça, profissionais despreparados, mas sim que tenham
idade ou qualquer outra característica. Os dados foram conhecimentos da docência; e que o professor precisa
coletados através de um questionário fechado e sofreram desabrochar talentos [1].
uma análise quantitativa. Ainda no estudo da Didática é possível visualizar
direções sobre formas de avaliação, instrumentos e
Resultados e discussão planejamentos de aula, objetivos e conteúdos de ensino,
direção do ensino e métodos de ensino.
Apresentaremos agora os resultados obtidos após a Carneiro [3], em relação aos professores das IES na
revisão bibliográfica e a análise dos questionários. área de saúde, dizia que a grande maioria desconhece
Planejamento Pedagógico, no qual um dos segmentos é
O corpo docente da graduação em a Avaliação, e que, um grupo relativamente grande de
Fisioterapia IES se utiliza de ementas e programas que, se foram
válidos naquele momento, não o são mais, ocorrendo,
Carneiro [2], pesquisando exatamente sobre a realidade por vezes, que nem a bibliografia é atualizada. Diz ainda
do corpo docente, pôde perceber que hoje nas salas de que estes profissionais não podem oferecer aquilo que
aula existe uma quantidade grande de fisioterapeutas com não dominam; logo, é demais querer que se reciclem,
renomado conhecimento técnico-científico, mas com preparem aulas, operacionalizem os objetivos
nenhum conhecimento da ciência e arte de ensinar, fator comportamentais e elaborem, posteriormente, questões
que merece bastante preocupação por parte das IES para a verificação do ensino-aprendizagem, denominadas
(Instituições de Ensino Superior), do corpo docente e ainda por muitos como provas .
do corpo discente, visto que, é imprescindível ao professor Rebelatto & Botomé [4] constataram a ausência de
a responsabilidade de ensinar. objetivos de ensino nas disciplinas da graduação em
Mas qual será a finalidade dos docentes em fisioterapia? Fisioterapia e a dificuldade de elaboração dos mesmos
Vocação ou necessidade financeira? Carneiro [2], em uma em diversas IES do país.
de suas publicações, dizia que a realidade dos docentes de Diante da imensa contribuição que a Didática oferece
Fisioterapia é que fisioterapeutas são alçados ao magistério ao corpo docente, é possível imaginar um professor sem
mais como um “bico” a ser exercido e que, por não esses conhecimentos? Porém, infelizmente, é o que
possuírem formação pedagógica, ministram aulas no encontramos atualmente em alguns momentos.
paradigma estereotipado daqueles que, também sem Freire [5] torna explícito alguns conceitos e idéias que
formação, foram seus professores . merecem ser vividos e respeitados por todos os
Pimenta [1] com muita propriedade deixa claro que o profissionais que se dedicam à prática docente, tais como:
professor universitário, independente da área de atuação, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
necessita de conhecimentos específicos somados de saberes possibilidades para a sua produção ou construção; ensinar
pedagógicos e didáticos, e que de certa forma existe um inexiste sem aprender; o educador precisa, em sua prática
reconhecimento disto por parte do corpo docente, já que, docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua
por muitas vezes, os professores universitários quando curiosidade, sua insubmissão; não há ensino sem pesquisa;
indagados sobre o conceito de didática, dizem em uníssono, ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer
com base em suas experiências, que “ter didática é saber forma de discriminação; ensinar exige curiosidade; ensinar
ensinar” e “muitos professores sabem a matéria, mas não exige disponibilidade para o diálogo.
sabem ensinar”. Portanto, didática é saber ensinar. A transmissão do conhecimento nos cursos de graduação
Desta forma se torna nítido que a didática se dirige à em fisioterapia é muito comum. Através da análise de
busca de práticas pedagógicas objetivando o preparo dos Rebelatto & Botomé [4], quanto mais o conhecimento for
professores para o processo ensino-aprendizagem, ou seja, apenas “reproduzido” e “transmitido”, em vez de também
para a arte de ensinar, tornando desta forma o ensino mais ser produzido, levando em consideração a realidade
eficiente e alcançável para toda a população. circundante, mais distante estarão os futuros profissionais de
E como isso acontece? A didática, através da construção obter resoluções para os problemas da população do país.
da identidade dos professores, faz com que os mesmos Particularmente na fisioterapia, a formação de profissionais
realizem análises através da reflexão crítica, de estudos, é conveniente com esse procedimento e esses referenciais
discussões e sínteses sobre problemas enfrentados em sala de na medida em que “transmite” aos graduandos informações

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372 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

e formas de atuação elaboradas, em sua maioria, por autores Ainda em decorrência das atuais exigências legais,
estrangeiros, preocupados com uma outra realidade social disciplinas pedagógicas têm sido introduzidas nos cursos de
[4]. Especialização Lato Sensu, como uma forma de tentar
Entendendo que ensinar não é transferir preparar o profissional para a prática docente, mas acabam
conhecimento, o professor pode perceber que para a arte deixando a desejar.
de ensinar é necessário estar disposto à pesquisa, diálogo, Tratando-se de cursos de Pós-Graduação Lato Sensu
curiosidade e aceitação do novo, e desta forma criar para profissionais da área da saúde, determinadas
possibilidades para a produção e construção do co- disciplinas pedagógicas passam a fazer parte do programa
nhecimento por parte do aluno, reforçando sua capacidade de curso. Essas disciplinas são ministradas por professores,
crítica, e não apenas ditando conceitos já existentes em geralmente da área pedagógica, que possuem mestrado
bibliografias, que, algumas vezes, já estão até ou doutorado, mas que podem não conhecer as carências
ultrapassadas. dos profissionais da área da saúde em relação à formação
Analisando os conceitos didáticos e pedagógicos e os pedagógica. Alguns alunos continuam a desconhecer a
vivenciando, o professor irá exercer a docência com maior LDBEN, continuam não sabendo elaborar o Plano de Curso
compromisso e responsabilidade, alcançando maior de Disciplina, Plano de Aula, Objetivos de Aula, continuam
sucesso. sem conhecer os Métodos e Formas de Avaliação, Métodos
e Técnicas de Ensino, e em algumas situações não recebem
A legislação atual do ensino superior treinamento pedagógico.
Infelizmente, muito dos cursos de Pós-Graduação, seja
A legislação, no que diz respeito à educação superior, Lato Sensu ou Stricto Sensu, voltado para profissionais da
sofreu algumas modificações em relação à formação do área da saúde, acabam sendo insuficientes por si só para o
corpo docente nos últimos anos. Mas será que essas preparo desses profissionais a um novo campo de atuação,
modificações contribuíram ou ainda contribuirão para um o magistério. Desta forma, cabe aos profissionais que
melhor preparo dos professores em relação ao aspecto almejam a docência superior e desejam praticá-la com
pedagógico? excelência, buscar cursos, sejam aprimoramentos,
A LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação especializações, mestrado ou doutorado na área pedagógica,
Nacional) [6], em seu artigo 52 incisos II e III, determina: para que possam adquirir essa formação pedagógica, já que
II – um terço do corpo docente, pelo menos com a mesma é considerada primordial por estudiosos do assunto
titulação acadêmica de mestrado ou doutorado; e de extrema importância ao professor universitário.
III – um terço do corpo docente em regime de tempo
integral. Análise do questionário
Morosini [7] questiona à atual legislação a respeito
do professor universitário no âmbito de sua formação O questionário foi aplicado a uma amostra composta
didática, e recebe como resposta que a preparação para por setenta e sete pessoas, sendo três professores e setenta
o exercício do magistério superior far-se-á em nível de e quatro alunos da Universidade de Barra Mansa. O
pós-graduação, prioritariamente em programas de questionário consta de cinco perguntas, e cada pergunta
mestrado e doutorado [6]. tem como resposta sim ou não.
É passível de entendimento que o professor com
titulação acadêmica de mestrado ou doutorado seja um 1. Você concorda que a graduação em Fisioterapia deve
profissional com considerável conhecimento em sua área conter disciplinas que capacitem o profissional para
específica. Porém, ser mestre ou doutor em determinada atuar na docência?
área do conhecimento específico garante o preparo ( ) sim ( ) não
pedagógico a esses professores? 2. Você concorda que é necessário a capacitação didático-
Em relação a LDBEN, pôde ser constatado que essa pedagógica do fisioterapeuta que atua na docência?
lei não concebe a docência universitária como um ( ) sim ( ) não
processo de formação, mas sim como preparação para o
3. Você concorda que o conhecimento específico é mais
exercício do magistério superior, que será realizada
importante que o conhecimento didático-pedagógico
prioritariamente (não exclusivamente) em pós-graduação
para a atuação na docência?
stricto sensu. Tal fato vem provocando um aumento
( ) sim ( ) não
significativo da demanda por esses cursos e o crescimento
de sua oferta, especialmente na área de Educação, uma 4. Você concorda que atualmente grande parte dos
vez que se nota uma ausência da for mação para a fisioterapeutas busca a docência como complemento
docência superior nos programas de pós-graduação das financeiro?
demais áreas [1]. ( ) sim ( ) não

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 373

5. Você concorda que o docente de Fisioterapia deve atuar Tabela IV – Respostas da pergunta 4.
na prática clínica concomitante a prática docente?
Respostas Sim (%) Não (%)
( ) sim ( ) não
A primeira pergunta teve como finalidade questionar se Professores 100 0
Alunos 95 5
professores e alunos consideram as disciplinas pedagógicas
importantes durante a graduação. Através das respostas pude
perceber que a maioria dos professores não acha necessário Tabela V – Respostas da pergunta 5.
que a graduação contenha essas disciplinas, enquanto que a
grande maioria dos alunos considera necessária a presença Respostas Sim(%) Não (%)
destas disciplinas durante a graduação (Tabela I). Professores 100 0
O objetivo da segunda pergunta foi saber se os Alunos 93 7
professores e alunos consideram importante a capacitação
didático-pedagógica para a atuação na docência. Todos que
responderam o questionário, professores e alunos, Conclusão
consideram importante (Tabela II).
A terceira pergunta está relacionada com a importância Chegamos a conclusão, após a revisão bibliográfica, de
do conhecimento específico e do conhecimento didático- como é importante que os fisioterapeutas que atuam na
pedagógico. Todos os professores consideram o
docência possuam domínio na área pedagógica, o que,
conhecimento específico mais importante que o
segundo vários estudiosos, quer dizer saber elaborar um
conhecimento didático-pedagógico para a atuação na
docência, enquanto que a maioria dos alunos não considera Plano de Curso de Disciplina, Plano de Aula, Objetivos de
o conhecimento específico mais importante que o Aula, conhecer os Métodos e Formas de Avaliação, Métodos
conhecimento didático-pedagógico para a atuação na e Técnicas de Ensino e conhecer principalmente a Lei de
docência (Tabela III). Diretrizes e Bases da Educação Nacional, já que o Ensino
A quarta pergunta foi baseada em uma das citações de Superior é regido por essa lei.
Carneiro [2], quando dizia que a maioria dos docentes de Deduzimos ainda, após buscar informações sobre os
Fisioterapia buscava o magistério mais como um “bico” a ser cursos de Pós-Graduação, sejam Lato Sensu ou Stricto Sensu,
exercido nos espaços de tempo disponíveis. Todos os professores voltados para profissionais da área da saúde, que tais cursos
e quase todos os alunos que responderam o questionário são insuficientes para o preparo destes profissionais ao
compartilham da opinião do referido autor (Tabela IV). magistério. Sendo assim, o fisioterapeuta que visa alcançar
A última pergunta tinha a intenção de saber se os
o magistério com excelência deve buscar cursos, seja de
professores e alunos concordam que o fisioterapeuta docente
Aprimoramento, Especialização, Mestrado ou Doutorado,
deve atuar na prática clínica concomitante a prática docente.
Todos os professores concordam que sim, que essa atuação para o preparo devido ao exercício do magistério, cursos
deve ser conjunta e a grande maioria dos alunos compartilha estes comumente encontrados na área pedagógica.
da mesma opinião (Tabela V). Em relação a pesquisa de campo, as opiniões do corpo
docente e discente foram diversificadas, algumas favoráveis
Tabela I – Respostas da pergunta 1. a capacitação pedagógica, outras não.
Respostas Sim (%) Não (%)
De acordo com a resposta dos professores, todos
concordam ser necessária a capacitação didático-pedagógica
Professores 33 67 para a atuação na docência, mas infelizmente acreditam que
Alunos 88 12
o conhecimento especifico nas disciplinas que ministram
aulas é mais importante que o conhecimento didático-
Tabela II – Respostas da pergunta 2. pedagógico. E ainda, 67% dos professores não concordam
que a graduação deva conter disciplinas que capacitem o
Respostas Sim (%) Não (%)
profissional para atuação na docência. Porém, todos que
Professores 100 0 responderam concordam com a tendência de que grande
Alunos 100 0 parte dos fisioterapeutas busca a docência como
complemento financeiro e concordam também que o
Tabela III – Respostas da pergunta 3. fisioterapeuta docente deve atuar na prática clínica
concomitante a prática docente.
Respostas Sim (%) Não (%)
Já em relação ao corpo discente, 88% concorda que
Professores 100 0 durante a graduação devam existir disciplinas que capacitem
Alunos 42 58 o profissional para atuar na docência, todos concordam ser

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374 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

necessário a capacitação didático-pedagógica para este tipo importância do conhecimento específico, fato este muito
de atuação. Mas diferente da opinião do corpo docente, grave de acordo com o ponto de vista de Carneiro [2]
58% dos alunos não concordam que o conhecimento Enquanto que os alunos parecem estar percebendo o quanto
específico seja mais importante que o conhecimento didático- esta capacitação é importante.
pedagógico para a atuação na docência. Similar a opinião
do corpo docente, 95% dos alunos também concordam com Referências
a busca pela docência como complemento financeiro e 93%
concordam com a atuação do fisioterapeuta docente na 1. Pimenta SG. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez;
prática clínica concomitante a prática docente. 2002.
Concluímos então, analisando em conjunto as respostas 2. Carneiro JMA. Os cursos de fisioterapia e a formação do corpo
dos professores e alunos, que enquanto a grande maioria docente: algumas reflexões. [citado 2003 ago 12]. Disponível
dos alunos acha necessário disciplinas que capacitem o em URL: <http.//www.jmbrazil.com/caeprofcar/artigos/
profissional fisioterapeuta para atuar na docência durante a fisioterapia.
graduação, a grande maioria dos professores não concorda 3. Carneiro JMA. Saúde: Conceitos abrangentes. Libórni Siqueira
com esta capacitação. E mais, discordando totalmente do (Org.). Rio de Janeiro: FRASCE; 2000.
que defende a revisão bibliográfica, todos os professores 4. Rebelatto JR, Botome SP. Fisioterapia no Brasil. 2ª ed. São
concordam que o conhecimento específico é mais importante Paulo: Manole; 1999.
5. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
que o conhecimento didático-pedagógico para a atuação na
educativa. 26ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2003.
docência, enquanto que, a grande maioria dos alunos, grupo
6. Brasil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as
possivelmente prejudicado por este fato, não concordam Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Sancionada em 12
com este ponto de vista.. de dezembro de 1996, pelo Presidente da República Federativa
Desta forma, acreditamos que esteja faltando um pouco do Brasil.Brasília, DF.
mais de preparo em relação à capacitação pedagógica por 7. Morosini MC (org.). Professor do Ensino Superior:
parte dos professores, já que os mesmos concordam que identidade, docência e formação. 2ª ed. Brasília: Plano Editora;
ela é importante, mas não a enxergam com a mesma 2001. C

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 375

Revisão

Fisioterapia ortopédica e medicina ortopédica


Orthopedic physical therapy and orthopaedic medicine
Pamela Branco Schweitzer*, David J. Miquelluti, M.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Pós-Graduada em Ciências Morfofisiológicas, Mestranda em Ciências do Movimento Humano, **Doutorando em Estatística

Resumo
Esse artigo trata, através da revisão histórica da terapia manual ortopédica, de suas
Palavras-chave: bases científicas e da avaliação da dor, de descrever os princípios da avaliação ortopédica
Fisioterapia ortopédica, e da avaliação fisioterapêutica manual. O objetivo foi o de levantar um referencial
avaliação fisioterapêutica teórico que clareasse as funções e objetivos da avaliação fisioterapêutica através da
manual.
terapia manual, enfatizando alguns limites clínicos quando nos baseamos somente no
diagnóstico médico. A dor, estando relacionada à presença de uma doença ou de uma
disfunção, torna claros os papéis, do médico em excluir ou identificar a doença e do
fisioterapeuta de avaliar e tratar a disfunção. Neste caso, somente através de uma
avaliação completa fisioterapêutica é que identificaremos, pelos sinais objetivos, qual a
disfunção a ser tratada. Basear-se somente no diagnóstico referencial, nos induzirá a
uma falha no tratamento fisioterapêutico. A avaliação fisioterapêutica através da terapia
manual, constitui-se, portanto, em uma ferramenta importante na identificação das
limitações funcionais.

Abstract
This article deals, through an Orthopaedic Manual Therapy, with its scientific basis
Key-words: and the pain evaluation; the description of the principles of orthopaedic evaluation and
orthopaedic physical therapy, the manual therapy evaluation. The aim was to raise a theoretical reference to clear the
manual physical therapy function and objectives of the Physical Therapy Evaluation through Manual Therapy,
evaluation.
enphasising some clinic limits when the treatment is based only in medical diagnoses.
Being the pain related with the presence of a disease or a dysfunction, it is clear that the
role of the Physician is to exclude or identify a disease and one of the Physical Therapist
is to assess and treat the dysfunction. In this case, only through a complete Physical
Therapy Evaluation the Physical Therapist will identify, through objective signals, which
dysfunction has to be treated. To be based only in referencial diagnoses, may induce to
an error in physical therapy treatment. The physical therapy evaluation, through manual
therapy is an important tool to identify functional limitations.

Recebido 30 de abril de 2003; corrigido 8 de janeiro de 2004.


Endereço para correspondência: Pamela Branco Schweitzer, Rua João de Castro, 68, sala 402, 88501-160 Lages SC, Tel: (49) 2225773, E-mail:
clinipam@uniplac.net

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376 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Introdução a artrocinemática, tais como: rotação e deslizamento. Thomas


Walmsley no início de 1927, iniciou a introdução dessa nova
Na última década, diversos fatores ocasionaram terminologia conhecida como artrocinemática.
mudanças no pensamento e na prática do fisioterapeuta. A fisioterapia começou no início do século 20 e tem
Como regra, o tratamento deve ser direcionado mais uma relação muito direta com a medicina e, como tal,
para a causa dos problemas do paciente, ou seja, para a inicialmente desenvolveu seu conhecimento baseado na
prevenção desses problemas. Ao tratarmos somente o prática da manipulação da coluna vertebral e extremidades.
sintoma (a dor), até a obtenção do seu alívio, e então Manipulação em fisioterapia tem se tornado uma parte
dar alta ao paciente, sem conduzir um exame objetivo significante na prática da reabilitação em termos de exercícios
da disfunção, algumas instabilidades ou rigidez podem terapêuticos, movimentos ativos e passivos e/ou terapia
per manecer, sendo fácil deduzir que os sintomas manual.
recorrerão, e a cada retorno do paciente, as condições A definição de manipulação/mobilização para a Academia
clínicas serão piores. O maior conhecimento em ciências de Terapia Manual Ortopédica Americana é o hábil
básicas permite entender melhor os efeitos dos traumas movimento passivo de uma articulação, e/ou dos tecidos
e dos tratamentos, e dessa forma aumentar a utilização moles relacionados a essa articulação, a uma velocidade e
e a melhora dos resultados desses tratamentos. amplitude variável incluindo movimentos terapêuticos de
Desenvolver nossas próprias filosofias, e especialmente curta amplitude e alta velocidade.
tratar preferencialmente a disfunção do que a dor, nos A fisioterapia manual ortopédica tem no acesso clínico a
leva a necessidade do desenvolvimento objetivo de um utilização de habilidade manual, incluindo, mas não limitado
exame clínico realizado pelo fisioterapeuta. O papel a manipulação/mobilização para avaliar e tratar os tecidos
principal do fisioterapeuta ortopédico é a avaliação e moles, estruturas articulares com o propósito de modular a
tratamento da disfunção, enquanto que a do médico dor, aumentar a amplitude de movimento, reduzir ou eliminar
ortopedista é o diagnóstico e tratamento da doença. os processos inflamatórios, induzir o relaxamento, melhorar
Esses são dois papéis distintos mas complementares em a reparação dos tecidos contráteis e não contráteis, a
tratamento de saúde. extensibilidade, facilitando o movimento e melhorando a
função.
Fisioterapia ortopédica e medicina
ortopédica Avaliação da dor e disfunção
Objetivos Tem-se como definição de dor uma experiência
emocional e sensorial desagradável associada a uma lesão
• Descrever os princípios da avaliação fisioterapêutica
atual ou potencial dos tecidos ou descrito em termos de tal
ortopédica através da Terapia Manual
lesão [2].
• Levantar um referencial teórico para clarear as funções
Apesar de verdadeiro o fato da dor, mais do que a rigidez
e os objetivos da avaliação fisioterapêutica;
ou debilidade, ser o maior motivo da vinda do paciente
• Rever limites clínicos, quando nos baseamos somente no
diagnóstico referencial; para procurar ajuda, o fisioterapeuta deve manter a atenção
• Enfatizar a importância da avaliação completa nas causas da dor e não na própria dor.
fisioterapêutica para um resultado mais efetivo no Os tratamentos bem direcionados a área da ortopedia
tratamento. baseiam-se no entendimento de anatomia, biomecânica e
fisiologia dos tecidos. Essas áreas fundamentam a prática
clínica da fisioterapia ortopédica. Provavelmente a
Revisão de literatura hipótese básica mais importante do entendimento em
ortopedia é de que a estrutura é que dita a função. O
Histórico
conhecimento em anatomia é necessário porque é a
A manipulação articular é um procedimento antigo que anatomia que dita a biomecânica de partes do corpo, e o
tem sua origem nos primórdios da prática da medicina. conhecimento em biomecânica é necessário porque
Atualmente é praticada, principalmente pôr fisioterapeutas através dela é que vamos entender completamente as
e quiropratas e em menor grau pôr osteopatas e médicos funções. O estudo da fisiologia nos faz compreender os
alopatas. Stanley [1] refere que os movimentos tem sido efeitos dos traumas e doenças nos tecidos e como a
tradicionalmente descritos como uma relação espacial dos cicatrização afeta a biomecânica.
membros ou do tronco no eixo do corpo, a osteocinemática O papel do fisioterapeuta está baseado em alguns
(adução, abdução, flexão, extensão, rotação, etc.) com pouca princípios de tratamento de disfunções, levando também
atenção nos movimentos que se dão na própria articulação, em consideração a natureza da dor crônica.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 377

A filosofia da disfunção é baseada nas seguintes doutrinas: sensibilidade e de reflexos, permite a determinação da
integridade do suprimento nervoso do ombro.
• Um dano articular, incluindo tais condições como
osteoartrose, instabilidade, e efeitos de um entorse, são
Princípios da avaliação fisioterapêutica do ombro
consideradas mais disfunção que doença;
• As disfunções são manifestadas tanto como o aumento Todo o exame clínico e avaliação fisioterapêutica está
ou a diminuição do movimento perante o normal baseada e segue os princípios do E1 Seminário, Manual da
esperado ou pela presença de um movimento aberrante; Universidade de St. Augustine e consiste de 18 passos (6.7):
• Onde a disfunção for detectada como movimento
limitado (hipomobilidade), o tratamento de escolha é a 1) Acesso a dor e Índice de Funções, através vários
manipulação das estruturas articulares, alongamento instrumentos de medida, com o propósito de capturar
muscular e fascial e promoção de atividades que a melhor descrição do paciente sobre a sua dor;
encoragem a completa amplitude de movimento [3]; 2) Observação Inicial dos tipos de movimento,
• Onde a disfunção for detectada como aumento de liberdade, facilidade, movimentos compensatórios,
movimento (hipermobilidade), lassidão ou instabilidade, o posição para sentar, levantar da cadeira, marcha, etc.
tratamento de escolha não é a manipulação, mas sim a 3) História e entrevista através de um número de
estabilização, pela instrução de uma postura correta, questões a respeito do problema atual e história prévia,
exercícios de estabilização e correção de qualquer limitação de forma a coletar dados necessários para interpretar
de movimento das articulações vizinhas que possam corretamente a natureza do problema em torno de
contribuir para a hipermobilidade. [4]; uma linha mecânica.
• De que a causa primária de doenças degenerativas 4) Estrutura e Posição do corpo como um todo, postura
articulares é a disfunção articular. Consequentemente, geral, coluna , forma do corpo, uso de auxílios
pode-se concluir que a presença dessas doenças é devido (bengalas, muletas, etc.), seguindo o princípio de que
a estrutura óssea é a moldura do movimento e a
a falta de acesso ao fisioterapeuta. [5];
relação entre o que é estrutural e o que é funcional.
• De que o papel primário do fisioterapeuta é a avaliação e
5) Palpação pôr condição da pele como aumento ou
tratamento das disfunções, ao passo que a do médico é o
diminuição da temperatura, do tecido subcutâneo
diagnóstico e tratamento da doença. Esses são dois papéis
como edema, dos músculos como contração
diferentes mas complementares em tratamento de saúde;
voluntária, involuntária, química, e das articulações
• De que desde que a disfunção é a causa da dor, a meta
como contornos.
primária do fisioterapeuta deveria ser a de corrigir a
6) Movimento Articular Ativo verificando a amplitude,
disfunção mais do que a dor. Quando no entanto, a dor
facilidade de movimento, adequação do relaxamento
interferir na correção da disfunção, ela fará parte do
dos antagonistas, presença ou não de dor, força muscular
programa de tratamento;
7) Movimento Articular Passivo Clássico (osteocinemática)
• De que a chave para entender a disfunção, e então ser para a percepção da amplitude e sensação de final de
capaz de avaliar e tratar, é entender anatomia e curso, e Acessórios (artrocinemática) que compõem o
biomecânica. Isso consequentemente nos conduz ao movimento clássico onde podemos perceber a direção
desenvolvimento do nosso conhecimento e de habilidades da restrição dos movimentos, a sensação de final de
nessas áreas, assumindo seguramente a liderança no curso, e comparar se o movimento é normal ou anormal
gerenciamento das desordens não operatórias do sistema e também o grau de mobilidade, tanto quantitativo
neuromusculoesquelético. quanto qualitativo
8) Tensão Seletiva Muscular selecionando um músculo,
Propedêutica ortopédica do ombro o melhor que pudermos, articulação em posição de
frouxidão e resistência aplicada a uma só articulação
Conforme Hoppenfeld [6], o exame do ombro começa 9) Comprimento Muscular seguindo o princípio de que
com uma cuidadosa inspeção visual, seguida pôr uma não podemos testar o comprimento muscular total
detalhada palpação de estruturas ósseas e dos tecidos moles se a amplitude de movimento é reduzida
que compõem a cintura escapular. A determinação do grau 10) Força Muscular seguindo o princípio de que não
de mobilidade, o exame dos músculos, a avaliação podemos testar a força muscular se a amplitude
neurológica e os testes especiais complementam o exame. articular é reduzida.
O grau de mobilidade é verificado pelo exame ativo e 11) Testes especiais que devem ser específicos nesse caso
passivo dos movimentos clássicos (flexão, extensão, adução, para o ombro e testará a sensitividade ao teste
abdução, rot. interna, rot. externa). A avaliação neurológica 12) Análise de Movimento, na marcha ou padrões
permite a verificação da força de cada grupo muscular, e o particulares de movimento, ergonomia, necessidades
grau de hipotonia muscular que associados aos testes de esportivas ou de atividade de vida diária.

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378 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

13) Palpação por sensibilidade, para a confirmação do 17) Diagnóstico que é o processo e o resultado final de
tecido traumatizado anteriormente identificado, e informações obtidas no exame do paciente, no qual o
quando os sinais são mínimos e os sintomas difíceis de fisioterapeuta então organiza em grupos definidos,
interpretar síndromes ou categorias para ajudar a determinar as
14) Acesso neuromuscular e neurovascular, que consiste melhores e mais apropriadas estratégias de intervenção.
de força muscular, sensibilidade cutânea, reflexos, 18) Intervenção que é a interação entre o fisioterapeuta e o
pulsos, testes de tensão neural paciente, usando várias técnicas para produzir mudanças
15) Radiologia utilizada para a verificação do espaço na condição, consistente com o diagnóstico e o
articular, densidade óssea adjacente ao espaço articular, prognóstico.
calcificação dos tecidos moles e amplitude e seqüência
de movimento À guisa de exemplo, vejamos o caso em que o paciente
16) Avaliação descrevendo a lista de sinais significantes queixa-se de dor no ombro. Ele poderá receber vários
encontrados diagnósticos, conforme a seguir:

FISIOTERAPEUTA
Diagnóstico Referencial Sinais Objetivos/Disfunções Tratamento

- Tendinite do Supraespinhoso - Impossibilidade do deslizamento - Manipulação dacápsula e bursa


inferior da cabeça do úmero
- Bursite - Alteração do ritmo escapuloumeral - Reeducação Muscular
- Capsulite - Fraqueza de rotadores - Exercícios
- Doenças Discais Cervicais - Rigidez da miofascia - Alongamento e massagem
- Síndrome do Desfiladeiro Torácico - Alteração postural - Reeducação postural

Aqui podemos observar os sinais objetivos e o tratamento Após conduzir uma completa avaliação fisioterapêutica
lógico fisioterapêutico baseados em uma avaliação completa será possível aproximar-se dos achados objetivos os quais
biomecânica e funcional. Com isto, as disfunções listadas, estabelecerão o diagnóstico fisioterapêutico. O tratamento
deverão responder ao tratamento e então o paciente não fisioterapêutico deve ser baseado nesses achados mais do
terá limitações funcionais e estará livre da dor. Se usarmos que no diagnóstico médico. Se os sinais objetivos foram
apenas o diagnóstico referencial, será de valor limitado pois encontrados e se o tratamento for adequado, então
ele não indicará a condição funcional a ser tratada. observaremos que o, diagnóstico médico, sendo o qual
for, servirá como assistente para a identificação da
Resultados e Discussão síndrome ao qual esses achados pertencem, e não como
guia para o tratamento fisioterapêutico. Por essa razão,
não é o diagnóstico médico que tratamos e sim os sinais
Sendo o tratamento baseado na interpretação inteligente
objetivos encontrados na avaliação fisioterapêutica.
da experiência, o comportamento comum de começarmos
uma avaliação em um paciente tendendo a tomar muito
cedo a decisão de “o que está errado” com o paciente, antes Conclusão
de ter uma completa e inteira avaliação, pode levar a uma
falha no tratamento fisioterapêutico. O tratamento fisioterapêutico poderá ser falho, pois
Sabendo-se que a causa da dor está tanto relacionada ele não mostra de forma clara quais os sinais objetivos
com a presença de uma doença ou de uma disfunção, e funcionais que devemos tratar, apesar de ter sido feito
que é o papel do médico excluir ou identificar uma doença, por um profissional da área e muitas vezes confirmado
resta ao fisioterapeuta avaliar e mais tarde tratar uma por exames complementares. Esses eventos resultam
disfunção. Para que possamos realizar esse trabalho, freqüentemente em “cegueira clínica” do fisioterapeuta,
devemos ter um conhecimento apropriado em o que provavelmente compromete o resultado do
trabalho.
biomecânica, patologia e disfunção, para podermos avaliar
O fisioterapeuta deve manter em mente:
e tratar de forma adequada.
Como pudemos observar, em somente alguns dos passos • diagnóstico fisioterapêutico precoce na maioria das vezes
da avaliação fisioterapêutica, utilizamos de algumas está muito longe de ser o certo;
similaridades com a avaliação médica. Os outros passos • O diagnóstico médico freqüentemente oculta a principal
tornam-se necessários, junto com a história e o exame físico disfunção ou raramente diz de forma objetiva qual a
para a identificação das disfunções mecânicas relacionadas disfunção a ser tratada, pois não descreve as limitações
aos sintomas do paciente e/ou as limitações funcionais. funcionais e patomecânicas;

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 379

• Os resultados de RX tem uma confiabilidade muito pobre envolverá seleção de técnicas, seqüência, quantidade de
no diagnóstico, pois não mostra as limitações funcionais; força, número de repetições, combinações de efeitos
• As condições do paciente mudam durante o tempo da mecânicos e neurofisiológicos, etc.
visita ao médico e ao fisioterapeuta. Sem a avaliação Como profissionais devemos confiar em nossos
fisioterapêutica completa, não teremos acesso a essas conhecimentos básicos. A manutenção do respeito e
mudanças; reconhecimento da importância de nosso trabalho deve ser
• É de responsabilidade ética, reduzir o tempo de sempre justificada pelas nossas ações. O papel do médico é
avaliação somente nos casos de primeiros socorros ou fazer o diagnóstico diferencial e o tratamento da doença, o
situações agudas; do fisioterapeuta é a avaliação diferencial e o tratamento da
• Não é ético e legal tratar sem fazer uma avaliação; disfunção.
• Não é ético tratar se você discorda da prescrição;
• O fisioterapeuta tem responsabilidade legal sobre suas Referências
ações e para isso deve estar assegurado pelo conhecimento
dos princípios utilizados nos tratamentos que aplica; 1. Paris SV, Loubert PV. The History of orthopaedics with a
• O fisioterapeuta deve fazer o seu diagnóstico baseado special emphasis on manual therapy. In: Foundation of
não em um modelo médico, mas sim em limitações Clinical Orthophaedics. Institute of Physical Therapy.
funcionais e patomecânicas. St. Augustine for Health Sciences 17-39, 1999.
2. Nolan MF. Pain: The experience and its expression.
O restabelecimento de uma completa função é o nosso Clinical Management 1990:10 (1): 22-5.
objetivo final, e o uso de fisioterapia apropriada, tanto na 3. Paris SV. The spinal lesion. Christchurch: Pergusus Press;
avaliação como no tratamento, é o maior componente na 1965.
maior parte da reabilitação de pacientes ortopédicos. Se 4. Paris SV. The theory and technique of specific spinal
lembrar mos, o conceito de manipulação “um hábil manipulation. New Zealand Journal 1963;62(371).
movimento passivo de uma articulação”, não é uma simples 5. Paris SV. First International Conference on Low Back
definição, requer não somente habilidade, mas também a Pain. Vienna, Austrália; 1985.
6. Hoppenfeld Stanley. Exame do ombro em Propedêutica
tomada de uma boa decisão clínica. Para isso, o processo
Ortopédica – Coluna e Extremidades. São Paulo:
começa com uma observação inicial e anamnese. Segue- Atheneu; 1997. p. 1-34.
se uma avaliação diferencial. Dessa avaliação vem a chave 7. Patla CE, Paris SV. Extremity Evaluation &
dos achados clínicos no qual estabeleceremos nossos Manipulation. In: E1 Seminar Manual, University of St.
objetivos e formulação dos planos de tratamento. Isso Augustine USA; 2000. p. 21-3. C

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380 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Revisão

Utilização da toxina botulínica tipo A em crianças


com paralisia cerebral espástica
Use of the type A botulinum toxin in children with spastic
cerebral palsy
Bianca Arantes Araujo*, Cibelle Kayenne Martins Roberto Formiga, M.Sc.**, Eloísa Tudella, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

* Fisioterapeuta, Especialista em Intervenção em Neuropediatria pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),
**Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Neurológica e Mestre em Educação Especial pela UFSCar,
***Fisioterapeuta, Profa. Dra. do Departamento de Fisioterapia da UFSCar

Resumo
A Paralisia Cerebral (PC) é caracterizada por alterações do tônus muscular e da
Palavras-chave: aquisição de posturas, de forma não progressiva, mas variável ao longo do tempo, e
paralisia cerebral, leva a um atraso do desenvolvimento motor normal. A respeito das seqüelas físicas, a
espasticidade muscular, espasticidade é o aspecto mais perturbador dentro do espectro da reabilitação, sendo
toxina bolutínica tipo A.
considerada a causa mais comum de incapacidade física severa. Dentro da gama de
recursos utilizados no tratamento da espasticidade em crianças com PC destaca-se a
aplicação da Toxina Botulínica tipo A (TB-A). A TB-A é um dos sete sorotipos de
toxina produzida pelo Clostridium botulinum. Quando aplicada em doses reduzidas
diretamente nos músculos, produz efeitos em várias situações clínicas nas quais existe
contração muscular excessiva, como nos casos de espasticidade. Sua ação se dá ao nível
das terminações dos neurônios colinérgicos motores inferiores, produzindo um bloqueio
da exocitose das vesículas sinápticas, bloqueando a liberação de acetilcolina. Esse bloqueio
causa uma desnervação química do músculo e conseqüentemente reduz a atividade
muscular excessiva, permitindo um aumento da motricidade e do alongamento. Esse
trabalho tem como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre o uso da TB-A em
músculos espásticos de portadores de seqüela de PC tipo espástica, com o intuito de
auxiliar na reabilitação física desses pacientes.

Recebido 3 de dezembro de 2003; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Cibelle Kayenne Martins Roberto Formiga, Rua Franklin Brasiliense, 75/101 Jardim Santa Paula 13564-080 São
Carlos SP, Tel: (16) 3376-4386, E-mail: cibellekayenne@uol.com.br

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 381

Abstract
Cerebral Palsy (CP) is characterized by changes in muscular tonus and acquired
Key-words: postures in a nonprogressive way, but often changing, and it leads to delay in normal
cerebral palsy, muscle spasticity, motor development. About the physical consequences, spasticity is the most severe
botulinum toxin type A. problem concerning rehabilitation, and it is considered the most common cause of
severe physical incapacity. Concerning treatment to reduce spasticity in children
with spastic cerebral palsy, we can suggest Botulinum toxin type A (BT-A). The BT-
A is one of the seven serotypes of the toxin produced by the Botulinum clostridium.
When injected in reduced doses directly in muscles it offers a variety of clinical
results, when there is excessive muscular contraction, as in spastic cases. Its action
occurs at the cholinergic motor neurons, resulting in inhibition of the synaptic
vesicle exocytosis, producing blockage of exocytosis of synaptic vesicle, disrupting
acetylcholine release into presynaptic cleft of the neuromuscular junction. This
inhibition causes chemodenervation and muscle relaxation, decrease of excessive
muscular activity, increase of motricity and lengthening of the muscle. This study
is a literature review about the use of the BT-A in spastic muscles of patients with
spastic CP, aiming at better assistance in physical rehabilitation of these patients.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução minimizando deformidades, facilitando o uso de órteses,


tornando possível o paciente ter informações proprioceptivas
Durante o crescimento, ocorrem grandes mudanças no adequadas e em certos casos evitar uma cirurgia.
desenvolvimento global de uma criança. Os movimentos
iniciais vão sendo elaborados de forma mais complexa, Paralisia cerebral
permitindo que a criança atue sobre o meio em que vive.
Entretanto a criança que sofreu uma lesão cerebral não A paralisia cerebral (PC) se define como um grupo
terá um desenvolvimento adequado como a criança normal, heterogêneo e não bem delimitado de síndromes
pois ocorrem alterações do tônus muscular que levam a neurológicas residuais, produzidas por lesões não
padrões de postura e movimentos anormais. progressivas do encéfalo consecutivas à ação de hipóxia/
Apesar da Paralisa Cerebral (PC) tratar-se de uma anóxia pré-natal, peri-natal e pós-natal, manifestando-se
desordem eminentemente motora, é comumente essencialmente por distúrbios motores, às vezes
acompanhada de outros distúrbios, como crises isoladamente, porém geralmente em associação com
convulsivas, distúrbios de inteligência, alterações transtornos psíquicos, sensoriais e/ou de linguagem [2].
sensoriais, problemas emocionais ou familiares [1]. De acordo com Hagberg e Hagberg [3], a paralisia
O fisioterapeuta ao realizar o seu trabalho profissional cerebral é a causa mais comum de incapacidade física severa,
destaca-se pela sua atuação direta na reabilitação física, a afetando 1 em cada 400 crianças. Entretanto Gomes et al.
qual exige o conhecimento de técnicas que podem ter [2] afirmam que em nosso país é realmente difícil realizar
influências benéficas na reabilitação. Os métodos essa estimativa. Calcula-se ou presume-se que deva ser
fisioterapêuticos foram se aprimorando, tendo o paciente elevada, considerando-se a precária situação de saúde geral
portador de PC um atendimento com critérios técnicos e em particular os cuidados dispensados à gestante e ao
mais claros. Da mesma forma, o tratamento recém-nascido. Este autor também afirma que a União
farmacológico para as desordens motoras vem, ao longo
Americana dos Associados de PC considera que existem
do tempo, ganhando novas pesquisas.
aproximadamente 500 mil americanos com PC e que
É nesta linha de abordagem que este estudo se insere, com
o intuito de proporcionar o conhecimento aprofundado sobre anualmente três mil crianças adquirem este problema. A
um novo agente, a Toxina Botulínica tipo A (TB-A), que auxilia literatura internacional tem creditado porcentagem de uma
na reabilitação de portadores de seqüela de PC tipo espástica, criança com PC para cada mil nascimentos. Dados não
atuando diretamente na espasticidade. A TB-A quando usada oficiais nacionais têm informado haver entre 5 e 10 crianças
de maneira correta e seguindo protocolos seguros leva a uma por mil nascimentos (0,5-1 para cada 1000 nascimentos).
grande melhora na função muscular, podendo o terapeuta Manreza e Gherpelli [4] afirmam que as causas perinatais
intervir precocemente na reabilitação física, prevenindo ou são de ocorrência mais freqüente em países subdesenvolvidos

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382 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

ou em desenvolvimento, e delas, a encefalopatia hipóxico- superior e sua base patológica é a ampliação anormal dos
isquêmica neonatal, conseqüente à asfixia perinatal, é a mais reflexos miotáticos da medula, embora os fatores que causam
comum, entretanto Stanley, Blair e Alberman [5] afirmam que não estão bem definidos. Em princípio, os reflexos poderiam
estudos epidemiológicos mostram que a asfixia é responsável ser ampliados pelo aumento da sensibilidade do fuso muscular
por menos de 10% dos casos de PC. Nelson [6] relata que o (mediada pelo impulso do neurônio motor gama - g) ou
único tipo de PC associada com a hipóxia durante o parto é a pela excitabilidade ampliada das sinapses centrais implicadas
quadriplegia espástica, principalmente quando acompanhada no arco reflexo.
por discinesia. De acordo com Souza [7], a prematuridade As manifestações clínicas da espasticidade expressam-
entra como a segunda causa mais comum da PC. se basicamente pela exaltação funcional das atividades
Existem diversas formas de classificar a PC [8] e esta reflexas monossinápticas miotáticas. Tais manifestações
classificação pode ser de acordo com os seguintes são devidas à lesão do sistema córtico-retículo-espinal
critérios: a) a região do cor po afetada: por exemplo, ou justapiramidal e traduzem-se clinicamente por
hemiplegia, se unilateral; diplegia, quanto afetar exaltação do tônus muscular e dos reflexos
principalmente os membros inferiores e quadriplegia, osteotendinosos. A hipertonia muscular é caracterizada
quando afetar todos os membros e o tronco; b) o tipo de pelo aumento do tônus muscular ao estiramento, pela
distúrbio motor, como, por exemplo, espástico ou rígido, de diminuição da resistência muscular após um certo grau
acordo com o tipo de hipertonia muscular; atetóide, de estiramento e pela distribuição desigual no território
quando involuntário e variável (o fluxo e a seqüência muscular afetado. A hiperreflexia tendinosa é
dos movimentos são freqüentemente interrompidos por caracterizada por aumento quantitativo da resposta do
movimentos de torção) ou atáxico, quando existem músculo estimulado, diminuição do limiar de
problemas de equilíbrio e coordenação; c) a gravidade da estimulação, aumento da área reflexógena e incapacidade
deficiência sob o ponto de vista funcional, isto é, leve, do paciente de inibir a reposta, devido à liberação do
moderada ou grave [1]. reflexo miotático monosináptico. Esta liberação do
Segundo Baiocato et al. [8] a espástica é a forma mais reflexo miotático monossináptico reverberando-se no
freqüente de PC e representa ¾ do total de casos, tendo músculo alongado e no seu antagonista explica o
como tipos clínicos a tetraplegia, a hemiplegia e a diplegia mecanismo do clônus [12].
crural. Além dissso, a tetraplegia espástica é considerada A espasticidade pode levar a significantes problemas
a mais grave [4]. físicos incluindo espasmos musculares, restrição dos
A respeito das seqüelas físicas, a espasticidade é o aspecto movimentos, dor e contraturas, bem como dificuldades
mais perturbador dentro do espectro da reabilitação [8]. O funcionais incluindo a manutenção da higiene pessoal
membro superior é muitas vezes mantido em flexão em [13]. Dessa maneira, o tratamento pode quebrar o ciclo
nível de cotovelo, punho e dedos, com retração e vicioso onde a espasticidade crônica leva ao encurtamento
abaixamento da cintura escapular, rotação interna e adução muscular e o aumento da espasticidade futuramente,
do braço e pronação nas articulações radioulnares. No permitindo movimentos voluntários residuais e
membro inferior observa-se tendência à extensão de quadris provocando, assim, alongamento ativo [14].
de joelhos, ao lado de rotação interna e adução nos quadris O tratamento da espasticidade tem usualmente o
e flexão plantar com inversão dos pés. Entretanto, não são propósito de melhorar a função, aliviar a dor, ou
apenas os membros que se revelam afetados. O excesso de minimizar complicações. Sauron [15] ressalta que a terapia
atividade muscular e o encurtamento dos músculos dos física seja através de métodos neuroevolutivos, seja através
membros devem também afetar o tronco, em virtude da de cinesioterapia, não é capaz de normalizar o tônus
sua inserção intersegmentar [9]. muscular, visto que existe uma lesão do sistema nervoso
central (SNC) que é irreversível. Ele afirma que quando
Espasticidade são realizados exercícios adequados de relaxamento da
musculatura espástica facilita-se a contração ativa dos
A espasticidade é conseqüência comum de uma antagonistas, na medida do possível. Essa manobra
anormalidade anatômica ou fisiológica do sistema nervoso relaxamento-facilitação não suprime a espasticidade,
central e provavelmente é a desordem física mais comum apenas minimiza sua ação permitindo o fortalecimento
vista após uma lesão cerebral aguda [10]. É reconhecida da musculatura antagonista e, portanto, uma melhor
clinicamente por: (1) padrão característico de distribuição de “forças”. Muitos pacientes requerem, além
comprometimento de certos grupos de músculos; (2) da fisioterapia para promover o alongamento dos músculos
maior responsividade dos músculos ao estiramento; e (3) espásticos, uma combinação com técnicas cirúrgicas e/
reflexos tendíneos muito aumentados. ou medicação sistêmica.
Segundo Britton [11], a espasticidade é uma das Em uma revisão bibliográfica realizada por Baiocato et
características principais de síndrome de neurônio motor al. [8] verificou-se que um agente relativamente novo para

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 383

o tratamento de espasticidade é a Toxina Botulínica tipo A dos neurônios colinérgicos motores inferiores, isto é, junto
(TB-A), usualmente chamada de Botox, a qual oferece um ao término destes na junção mioneural [21]. As etapas
tratamento antiespástico para pacientes com paralisia cerebral necessárias para que a TB-A exerça sua ação consistem em
sem causar perda de sensação [16]. ligações às terminações sinápticas (através do terminal C da
cadeia pesada), internalização (terminal N da cadeia pesada)
Toxina Botulínica (TB) e inibição da liberação de Ach (cadeia leve). O efeito tóxico
dá-se após a penetração de um fragmento da TB-A no
A TB foi identificada em 1897 por Van Ermengen citosol, onde a cadeia leve exerce sua atividade proteolítica
como uma exotoxina neuroparalisante termolábil produzida sobre as proteínas VAMP e sinaptobrevina-2 (“proteínas de
por um bacilo anaeróbico carregador de Clostridium botulinum fusão”), responsáveis pela translocação da vesícula intacta
[17]. Hambleton e Moore [18] afirmam que são conhecidos de Ach no citosol para a membrana plasmática, impedindo
sete tipos de TB (A-G), sendo a tipo A disponível para uso dessa forma a sua exocitose.
clínico, que segundo Awad e Dykstra [17] foi usado Depois que a transmissão sináptica é bloqueada pela
terapeuticamente pela primeira vez em 1981 para corrigir TB, os músculos tornam-se clinicamente fracos e
estrabismo e desde então tem sido relatado no tratamento atrofiados. O terminal nervoso afetado não degenera, mas
de blefarospasmo, torcicolo, disfasia espástica e dessinergia o bloqueio da liberação do neurotransmissor é irreversível.
entre detrusor e esfíncter da bexiga. A função pode ser recuperada pelo brotamento de
Até 1992, a TB-A era denominada “oculinum”. A terminais nervosos e pela formação de novos contatos
indústria farmacêutica norte-americana Allergan nomeou sinápticos, e geralmente leva de dois a três meses [20].
de Botox o preparado da toxina e a indústria farmacêutica Segundo Quagliato [19], observa-se um período de
Speywood da Inglaterra distribuía o preparado com o 24 a 72 horas entre a aplicação e o início do efeito
nome de Dysport. Um frasco pequeno de Botox contém clinicamente observável, sendo esse tempo necessário
40 miligramas de neurotoxina correspondendo a 100U. para se processar o seu efeito proteolítico sobre o
Já o frasco de Dysport contém 12,5 miligramas de substrato metabólico. A maioria dos pacientes relata
neurotoxina correspondendo a 500U. A toxina é enviada relaxamento dos músculos injetados após 7 a 14 dias.
do fabricante em gelo seco e armazenada em freezer a Münchau e Bhatia [20] afirmam que injeções com TB
5°C. A TB-A congelada liofilisada é reconstituída com são geralmente bem toleradas. Após a injeção, a toxina
solução 0,9% salina esterilizada para várias concentrações difunde para os músculos e outros tecidos e à medida
dependendo da indicação. A injeção do diluente no frasco que se distancia do local da aplicação seu efeito diminui
deve ser cuidadosa porque o TB é desnaturado pela gradativamente, embora seja difundida para a
produção de bolhas ou agitação violenta similar. O frasco musculatura próxima, particularmente quando altos
deve ser retornado ao fabricante se o vácuo não puxar o volumes são injetados. Baiocato et al [8] relata que os
diluente para dentro do mesmo e a TB deve ser possíveis efeitos colaterais observados são reações locais
administrada dentro de 4 horas após a reconstituição [8]. cutâneas, dor nos pontos de injeção, tipo queimação
De acordo com Quagliato [19], a TB-A é constituída (relacionado com a dose-volume), edema, hematoma,
por única cadeia de polipeptídeos com massa molecular de perda de força além do esperado e indesejável de músculos
150.000 dáltons, que se torna ativa quando transformada, adjacentes, infecção local, gripe, síndrome de cefaléia,
pela ação das proteases endógenas, numa molécula de duas mais raramente alergia, atrofia focal e alteração da
cadeias. A cadeia pesada tem peso molecular de 100.000 sudorese.
dáltons e liga-se, através de ponte dissulfídica, à cadeia leve Segundo Andrade [21], progressivamente tem havido
(50.000 dáltons), esta associada a uma molécula de zinco. um aumento das indicações do uso do botox, com a
abertura de um imenso leque de situações clínicas muito
O descobrimento da TB bloqueia a transmissão
diferentes. Casos de tremores amplos não reativos a
neuromuscular e desse modo causa fraqueza, estabelecendo
medicamentos, distonias ou discinesias medicamentosas,
o fundamento para o seu desenvolvimento como nos casos de PC, onde a espasticidade dos músculos
instrumento terapêutico [20]. A denervação química exercida adutores das coxas antes era tratada com miotomias,
pela TB-A reduz a atividade muscular tônica ou fásica puderam dispensar estas cirurgias. Na reabilitação de
excessiva, levando a um aumento da motricidade ativa e pacientes que sofreram acidente vascular cerebral, com
passiva e permitindo um alongamento maior dos músculos uma hemiplegica espástica, o alívio das posturas anormais
abordados [19]. pode ser mais facilmente obtido com aplicações da toxina.
A TB interfere na transmissão neural bloqueando a Até casos de gagueira importantes já foram tratados, com
liberação de acetilcolina (Ach), que é o principal resultados variáveis.
neurotransmissor da junção neuromuscular [20]. O local De uma maneira geral, a TBA está indicada quando
específico de ação do botox é na porção sináptica terminal houver espasticidade localizada num músculo ou grupo

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384 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

muscular, sem resposta eficaz à farmacoterapia antiespática TB-A, todos os ratos receberam exercícios de alongamento
tradicional ou fisioterapia, sem que ainda tenha se e estimulação elétrica dos músculos da panturrilha da perna
desenvolvido uma contratura fixa. Nesses casos, um esquerda por duas horas. Verificaram que a diminuição do
“enfraquecimento” controlado seria benéfico, levando a uma potencial de ação muscular composto (CMAP) foi mais
diminuição da dor e/ou dos espasmos e aumentando a pronunciada com uma semana e progressivamente o seu
amplitude do movimento [19]. restabelecimento foi observado. A diminuição da amplitude
Baiocato et al. [8] descrevem que as contra-indicações foi mais pronunciada na primeira semana e uma recuperação
à aplicação da TB-A são: infecções ou inflamações nos progressiva foi observada. Houve uma diminuição
locais das aplicações, alergia à droga, e para aqueles que significante da amplitude do CMAP no grupo 5 comparado
estão usando aminoglicosídeos ou outras drogas que com o grupo 1 na primeira e quarta semanas (p<0.001). As
podem interferir na transmissão neuromuscular, pois pernas esquerdas que receberam exercícios de alongamento
podem potencializar o efeito da terapia com toxina. Não e estimulação elétrica mostraram amplitudes de CMPA mais
se recomenda também aplicação em gestantes ou em baixas, comparada com a perna direita controle de todos os
lactentes, pela escassez de dados e, deste modo, por ratos. Assim, segundo esses autores, para melhorar o efeito
segurança. Nos pacientes com doenças da junção do músculo paralisado pela TB-A, aumentos no volume
neuromuscular, como Miastenia Gravis, Síndrome de diluído e a realização de exercícios de alongamento e
Eaton Lamber e doença do neurônio motor, deve-se ter estimulação elétrica pós-injeção poderá ser uma estratégia
cautela quanto à aplicação, principalmente em altas doses. promissora para aumentar os efeitos benéficos do tratamento
Há um certo número de recomendações, tais como as coma a TB-A.
defendidas pela Academia Americana de Neurologia Baiocato et al. [8] afirmam que a fisioterapia não está
(1989), isto é, a não prescrição para mulheres idosas ou limitada ao período que se segue à aplicação da TB-A para a
amamentando e para pacientes apresentando anomalias espasticidade. Ela possui um papel importante desde o auxílio
da transmissão neuromuscular. Ela deve ser vista também na avaliação, seleção e determinação de objetivos de cada
com prudência nos territórios musculares onde existam paciente antes da injeção de TB-A. Hardie (2000) relata que
clínica ou eletricamente sinais de desnervação. ganhos funcionais não podem ser obtidos em pacientes com
A maioria dos pacientes tratados com a TB necessita espasticidade estabelecida, sem movimento ativo ou limitado
de repetidas injeções por muitos anos [20]. A falha da das articulações acometidas, ou uma condição estática ou não
resposta à aplicação pode ser resultante de erro técnico, progressiva como a esclerose múltipla.
dosagens inadequadas, falhas na seleção do paciente, ou Segundo Leach [23], o papel do fisioterapeuta com
do músculo, ou da presença de anticorpos [8]. Alguns crianças portadoras de paralisia cerebral em tratamento
pacientes que respondem bem inicialmente desenvolvem com TB é: a) auxiliar na seleção de pacientes através da
tolerância às injeções, o que pode ser causado pelo identificação de problemas específicos ao tratamento com
desenvolvimento de anticorpos neutralizadores da toxina. desnervação química, e do músculo ou grupo de músculos
Pacientes que recebem altas doses individuais ou cuja hipertonicidade está interferindo com o
freqüentemente injeções aumentadas parecem ter maior funcionamento; b) analisar a situação na linha de base,
risco de desenvolver anticorpos. Injeções devem, portanto, realizando uma análise completa da criança antes da
ser dadas com a dosagem efetiva mais baixa e sem terapia e uma avaliação objetiva da eficácia do tratamento,
freqüência quanto possível [20]. Quagliato [19] relata que podendo modificá-lo conforme necessário; c) auxiliar na
foram detectados através de métodos imuno-enzimático determinação de objetivos, que devem ser resultados
(ELISA) anticorpos anti-TBA em até 50% dos pacientes tangíveis que levem à melhora da função, seja em longo
tratados, embora muitos destes continuassem a apresentar ou curto prazo. A determinação de objetivos realistas e
resposta clínica ao tratamento. Não se pode, portanto, específicos é crucial para a avaliação expressiva da eficácia
correlacionar a presença desses anticorpos à falta de do tratamento; d) aplicar a fisioterapia após o tratamento,
respostas à TBA, pois os pacientes podem desenvolver pois a injeção de botox pode oferecer benefícios
anticorpos contra regiões da toxina sem efeitos biológicos significativos ao programa de fisioterapia para o paciente
relevantes. corretamente escolhido; e) realizar a análise dos resultados
Kim et al. [22] realizaram um estudo com dezesseis para fornecer informações importantes sobre a eficácia
ratos para avaliar os efeitos do volume de diluição da TB- do tratamento e recomendações futuras. Após a aplicação
A e de exercícios após a injeção utilizando estimulação da TB o objetivo do tratamento fisioterapêutico é
elétrica nos músculos paralisados. Foram injetadas dez melhorar a função aumentando a amplitude de
unidades de TB-A diluída com 0,1 ml (grupo 1) ou 0,5 movimento (ADM), controle seletivo, força, coordenação
ml (grupo 5) de salina normal em ambos músculos e outros componentes de desempenho motor [8].
gastrocnêmio de dezesseis ratos brancos, dois usados como O tratamento com a TB é raramente realizado
controle não receberam a TB-A. Após a injeção com isoladamente, mas combinado com a fisioterapia, o uso de

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 385

órteses, e às vezes medicamento oral contínuo [13]. O resultado, a média do ângulo máximo de dorsiflexão do
desequilíbrio muscular causado pela espasticidade do tornozelo, o ângulo mínimo de flexão do joelho, e o
músculo agonista e a debilidade do antagonista predispõem comprimento dinâmico dos músculos gastrocnêmio e solear
ao aparecimento de deformidades, que podem prejudicar aumentou após o bloqueio. Paralelamente, o comprimento
a função. Com isso, deve-se posicionar corretamente o dinâmico do músculo gastrocnêmio diminuiu em oito
paciente, mantendo as articulações em seu melhor pacientes após o bloqueio, sendo que todos esses tinham
alinhamento possível. uma característica em comum: genu recurvatum. Com isso,
Leach [23] afirma que após as injeções de TB-A, o verificou-se que o comprimento do gastrocnêmio e do solear
exercício ativo, ativo auxiliar e resistivo pode ser utilizado possui uma variação útil para avaliar o efeito anti-espástico
para melhorar o controle motor, a variação de movimentos, em pacientes com PC e quando o genu recurvatum está
a força e a resistência. O exercício terapêutico destina-se presente, o comprimento do músculo solear dá mais
não somente aos efeitos da hipertonicididade, mas também informações úteis do que o comprimento do gastrocnêmio.
a vários elementos que contribuem para processo debilitante
na PC, bem como melhorar o controle seletivo e a força Conclusões
nos músculos injetados, outros músculos naquela sinergia
ou seus antagonistas. Desenvolver melhor resistência é um O grande avanço na identificação precoce dos fatores
componente importante no tratamento fisioterápico. Os que predispõem à lesão cerebral, a conduta adequada em
gastos de energia do movimento na criança com PC são cada caso, as pesquisas de métodos de tratamento e agentes
geralmente enormes. A redução da espasticidade pela TB-A farmacológicos que auxiliam na reabilitação física desses
injetada em um ou mais grupos de músculos permite à pacientes, vêm ao longo do tempo influenciando positivamente
criança trabalhar com formas mais eficazes de movimento, o tratamento do portador de paralisia cerebral (PC).
diminuindo, assim, o dispêndio de energia e melhorando a Entre todos os avanços, provavelmente o advento da
resistência. Toxina Botulínica tipo A (TB-A) é a que trouxe a mais
Muitos estudos relatam os efeitos benéficos da TB-A nova esperança para a reabilitação física do paciente tipo
quando usada em pacientes com paralisia cerebral para o espástico, auxiliando desde um melhor posicionamento,
tratamento da espasticidade [24, 25, 26]. Koman et al. melhores condições de higiene, melhora na função
[24] verificaram os efeitos da injeção intramuscular local muscular, com conseqüente ganhos motores, até
de TB-A para o tratamento da deformidade dinâmica do prevenção de cirurgias.
pé eqüino em pacientes com paralisia cerebral. Foi Neste sentido, é de fundamental importância que toda a
observado que 83% dos pacientes que receberam a toxina equipe que está ligada à reabilitação da criança tenha
tiveram melhora, em relação a 33% dos pacientes que conhecimento aprofundado sobre a aplicação da TB-A, o
receberam placebo. seu mecanismo de ação, suas indicações e contra-indicações,
Faria et al. [25] estudaram 14 pacientes com paralisia e, então, aproveitar dos seus efeitos para programar
cerebral do tipo hemiparético, com eqüinismo dinâmico. adequadamente a conduta terapêutica. Cumpre ressaltar que
Os pacientes foram distribuídos em dois grupos e avaliou- a atuação precoce de uma equipe multidisciplinar é
se: a amplitude de movimento do tornozelo, o tônus fundamental para se obter resultados positivos, promovendo
muscular, a ação do músculo tibial anterior, a velocidade, uma melhora na qualidade de vida da criança.
a cadência da marcha, além da análise observacional da
marcha e grau de satisfação dos pais. No grupo 1, onde os
Referências
pacientes foram tratados com TB-A (nos músculos
gastrocnêmios e solear) e tratamento cinesioterápico,
1. Burns YR, Gilmour J, Kentish M, Macdonald J.
houve melhora de todas as medidas avaliadas num Fisioterapia da criança com problemas neurológicos,
intervalo mais curto de tempo. Enquanto no grupo 2, neuromusculares e de desenvolvimento do sistema
onde os pacientes receberam apenas tratamento nervoso. In: Burns YR, MacDonald J, Callaghan M.
fisioterápico, não houve melhora de todas as medidas Fisioterapia e crescimento na infância. São Paulo: Santos;
avaliadas e o ganho em algumas medidas ocorreu em um 1999. p. 359-62.
tempo mais longo. 2. Gomes C, Santos CA, Silva JUA, Lianza S. Paralisia
Bang et al. [26], realizaram um estudo com 20 membros cerebral. In: Lianza S. Medicina de reabilitação. 2 ed. Rio
de 16 crianças portadoras de PC tipo diplégica ou de Janeiro: Guanabara Koogan; 1995. p. 288-91.
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deambuladores, antes e após a aplicação da TB-A. Como básica. 8. ed. São Paulo: Sarvier; 1999. p. 1129-32. v. 2.

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artigo 08 - Cibelle.pmd 386 27/10/04, 11:00


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 387

Estudo de caso

Importância da correção das alterações posturais no


tratamento da luxação recidivante de patela em crianças
Importance of posture disorders correction in treatment
of children with recurrent dislocation of the patella
Guilherme Lotierso Fehr, Ana Sílvia Gibran
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Fisioterapeutas do Hospital São Francisco (Fundação Waldemar Barnsley Pessoa) – Unidade de Fisioterapia – Ribeirão Preto SP

Resumo
A Luxação Recidivante da Patela é muito comum em crianças e a fisioterapia exerce
Palavras-chave: papel fundamental em seu tratamento. O objetivo do presente estudo foi demonstrar a
Luxação recidivante, patela, importância da correção das alterações posturais no tratamento da LRP em crianças.
reeducação postural. Participou do estudo um sujeito do sexo feminino, oito anos de idade, com história de
sucessivas quedas durante as atividades de vida diária acompanhadas de luxação patelar
bilateral. Foi realizada avaliação fisioterapêutica e análise do padrão postural. O padrão
postural foi analisado por meio de fotografias. Posteriormente, o sujeito foi submetido
a um programa de tratamento de dez semanas. Ao final do tratamento nova avaliação
foi realizada para comparação dos achados coletados antes do tratamento. Os resultados
mostraram melhora significativa no padrão postural e diminuição acentuada dos episódios
de luxação durante atividades funcionais após programa de tratamento proposto. Podemos
concluir que, de acordo com a metodologia empregada, o programa de tratamento
proposto foi eficiente no tratamento da LRP contribuindo assim para a melhora clínica
e funcional do sujeito.

Abstract
The recurrent dislocation of the patella (RDP) is a common disorder in children,
Key-words: and based on this fact physical therapy becomes essential. The aim of this study was to
Recurrent dislocation, patella, show the importance of posture disorders correction in children with RDP. An eight
postural reeducation. years old female subject, with bilateral patellar dislocation during functional activities
took part in the study. It was done a physical therapeutic assessment of postural pattern.
The postural pattern was also evaluated by photographs. Then the subject was submitted
to 10 weeks treatment. In the conclusion of this study it was realized a comparison
between initial and final evaluation. The results showed improvement in functional
activities and postural pattern demonstrated by photographs. It was concluded that
treatment program, according to the applied methodology, was efficient in the treatment
of RDP and contributed to the subject’s clinical improvement.

Recebido 6 de janeiro de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Guilherme Lotierso Fehr, Rua João de Bortoli, 354, Residencial Flórida 14026-330 Ribeirão Preto SP, Tel: (16)
3911-1345, E-mail: guifehr@yahoo.com.br

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388 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Introdução bilateral. Antes do início do estudo, um termo de


consentimento livre e esclarecido foi assinado pelo
A Luxação Recidivante da Patela (LRP) é muito comum responsável direto da participante.
em crianças. É mais freqüente no sexo feminino e predomina
na faixa etária dos 10 aos 16 anos [1,2]. Segundo Fulkerson Protocolo de avaliação
[1], o número de episódios de luxação entre os pacientes é
variável, desde duas a três ocorrências num período Os achados clínicos foram coletados por meio de uma
prolongado até luxações freqüentes durante atividades avaliação fisioterapêutica que incluiu: História da Moléstia
rotineiras como subir e descer escadas ou deambular. Os Atual (HMA), goniometria da articulação do joelho, medida
fatores que a predispõem incluem frouxidão ligamentar, de comprimento dos membros inferiores, testes de força e
patela alta, hipoplasia do côndilo lateral do fêmur e retração retração muscular, testes específicos para detecção de
de tecidos moles do compartimento patelar lateral [1-5]. instabilidade fêmoro-patelar, questionário para avaliar
As abordagens terapêuticas para LRP incluem: a) tratamento ocorrência de luxação patelar durante atividades funcionais e
cirúrgico, através da artroplastia de partes moles [2] e b) tratamento avaliação postural [12]. Para melhor análise do padrão postural,
conservador, que visa estabilidade patelar, diminuindo assim os utilizamos avaliação fotográfica do sujeito nas vistas lateral,
sintomas e o risco de novos episódios de luxação [6,7,1,2]. anterior e posterior. Ao final do programa de tratamento,
A fisioterapia é indicada nos casos onde as luxações ocorram nova avaliação fisioterapêutica e análise fotográfica foram
de forma intermitente, pois caso tornem-se habituais o realizadas para comparação com os achados clínicos iniciais.
tratamento de escolha será sempre a intervenção cirúrgica [1,2].
Dentre as técnicas utilizadas no tratamento fisioterapêutico, Procedimentos
comumente, é dada ênfase ao alongamento das estruturas
Após avaliação clínica do sujeito, foi implementado
retraídas (isquiotibias, banda iliotibial e retináculo lateral) e ao
programa de tratamento de 10 semanas com freqüência
fortalecimento dos músculos estabilizadores da patela,
destacando-se o músculo vasto medial oblíquo (VMO), por de 3 sessões semanais, totalizando 30. O programa foi
meio de exercícios em cadeia cinética fechada (CCF) [8,6,7]. dividido em duas fases:
No entanto, nos últimos anos, alguns autores têm relatado a FASE 1 - (semanas 1 a 5)
co-relação entre distúrbios biomecânicos das articulações do pé, O tratamento consistiu exclusivamente de exercícios de
tornozelo e quadril com afecções do joelho, sugerindo que tais alongamento específicos para reeducação postural, os quais foram
distúrbios acarretam sobrecarga à articulação do joelho tornando- realizados de forma progressiva ao longo das sessões (13).
a passiva de mau alinhamento e susceptível a lesões [9,10,11]. FASE 2 - (semanas 6 a 10)
Entretanto, a literatura é escassa no que diz respeito à Nesta fase foi mantida conduta inicial e acrescentados
influência de alterações posturais e do posicionamento pélvico exercícios para fortalecimento dos músculos extensores do
na cinemática dos membros inferiores. De acordo com joelho, realizados em Cadeia Cinética Fechada (CCF), assim
Hruska [11] o movimento, estabilidade e controle dinâmico como exercícios proprioceptivos e funcionais.
do quadril e joelho é resultado da interação de forças entre
os músculos que cruzam essas articulações. O autor sugere Resultados
que a posição da pelve exerce grande influência no
alinhamento das articulações fêmoro-tibial e fêmoro-patelar. Achados clínicos e padrão postural
Silva [10], em estudo recente, demonstrou a relação entre
dor fèmoro-patelar e alterações posturais, enfatizando a Os achados clínicos demonstraram alterações
necessidade de uma avaliação postural global para melhor significativas, já que na avaliação inicial foi encontrado déficit
planejamento terapêutico. de 30 graus de extensão do joelho quando realizada
De acordo com estes levantamentos, e considerando a goniometria. Ao final do tratamento este déficit foi corrigido
alta prevalência das instabilidades patelares, este estudo tem completamente. O teste de apreensão patelar que na
por objetivo demonstrar a importância da correção das avaliação inicial era “positivo” foi considerado “negativo”
alterações posturais no tratamento da LRP em crianças. após o período de tratamento. O padrão postural sofreu
grande alteração, evidenciada pela análise fotográfica antes
Material e Métodos e após o tratamento (Figuras 1 e 2).

Sujeito Atividades funcionais e episódios de


luxação
Participou do estudo indivíduo do sexo feminino, 8 anos
de idade, com história de sucessivas quedas durante as Grande parte das atividades funcionais, que antes do
atividades de vida diária acompanhadas de luxação patelar tratamento eram causas freqüentes de luxação patelar,

artigo 09 - Guilherme.pmd 388 27/10/04, 11:00


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 389

foram restabelecidas em conjunto com a redução dos Em relação ao tratamento cirúrgico da LRP, inúmeros
episódios de luxação (Tabela I). autores já descreveram mais de 100 técnicas possíveis para
sua correção, porém com eficiência discutível em longo prazo
Figura 1– Avaliação postural no início do tratamento. e alto índice de iatrogenia [14,15]. Dessa forma, a abordagem
conservadora torna-se a primeira escolha de tratamento,
uma vez que é capaz de proporcionar melhora da cinemática
patelar e, conseqüentemente, prevenir novas luxações [16].
Tradicionalmente, as técnicas fisioterapêuticas utilizadas
no tratamento da LRP consistem de exercícios para
fortalecimento da musculatura extensora realizados em CCF
e alongamento dos músculos flexores do joelho, assim como
recursos eletroterapêuticos diversos [6,7,8]. Poucos autores
enfatizam a correção postural durante a reabilitação da LRP
e, quando o fazem, acrescentam exercícios posturais apenas
nas fases finais do tratamento [7].
As interações biomecânicas entre as articulações do pé,
tornozelo e joelho têm sido foco de diversos estudos [17].
Os trabalhos mais relevantes apontam os deformidades
rotacionais da tíbia e fêmur como responsáveis pela
predisposição ao desenvolvimento da condromalácea patelar,
Figura 2 – Avaliação postural ao término do tratamento. osteoartrite e dor anterior no joelho [18,19,20]. Entretanto,
não encontramos na literatura estudos relacionando a luxação
patelar com deficiências do posicionamento pélvico ou
distúrbios posturais.
Nossos resultados revelaram melhora do padrão postural
do sujeito acompanhado do melhor desempenho das
atividades funcionais com diminuição dos episódios de
luxação. É importante relatarmos que a diminuição dos
episódios de luxação ocorreu de maneira precoce, ou seja,
durante a fase 1 do tratamento, onde apenas exercícios para
correção postural foram realizados.
De acordo com os resultados obtidos, o presente estudo
enfatiza a importância da correta avaliação e correção das
alterações posturais em crianças que apresentam LRP,
visando elaboração e implementação de um programa de
tratamento mais efetivo para esta afecção.

Tabela I – Atividades funcionais e episódios de luxação antes e após o Conclusão


tratamento.
O programa de tratamento realizado, de acordo com a
Atividades funcionais Episódios Episódios
metodologia empregada, mostrou-se efetivo e promoveu
de luxação de luxação
melhora clínica e funcional do sujeito. Entretanto, por se tratar
pré-tratamento pós-tratamento
de um único sujeito, não podemos generalizar os resultados
Subir escada Freqüente Nunca
obtidos. Considerando que não foram encontrados na
Descer escada Ocasional Nunca
Sentar Nunca Nunca literatura científica trabalhos correlacionando desvios posturais
Levantar Ocasional Nunca e luxações patelares, sugerimos a realização de novos estudos
Correr Freqüente Ocasional abrangendo maior número de sujeitos como amostra.

Referências
Discussão
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artigo 09 - Guilherme.pmd 390 27/10/04, 11:00


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 391

Estudo de caso

Proposta de avaliação proprioceptiva


no pós-operatório de ligamento cruzado anterior
Proprioceptive assessment of anterior cruciate ligament
in post-operatory period
Samira Schultz Mansur*, Silvia Rosane Parcias**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta (UDESC), Mestranda em Ciências do Movimento Humano (UDESC), **Doutoranda em Psiquiatria, Neurologia e
Neurociencias/ Universidade de Zaragoza-Espanha

Resumo
A propriocepção engloba as sensações de movimento articular e de posição articular,
Palavras-chave: dependentes de estímulos aferentes e musculares. Vale elucidar que um bom programa
propriocepção, pós- de treinamento proprioceptivo condiciona o joelho a reflexos musculares protetores
operatório, ligamento estabilizadores. Tendo em vista a relevância da propriocepção no pós-operatório de
cruzado anterior, métodos de
ligamento cruzado anterior, este estudo propôs um método para sua avaliação. Essa
mensuração.
pesquisa foi do tipo estudo multicasos com abordagem exploratória. Foram coletados
dados referentes ao senso de posição articular dos joelhos de dois pacientes submetidos
à cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior, fazendo-se a comparação
entre os joelhos sadios e lesados. Para o procedimento, foi utilizado o dinamômetro
isocinético Kinect-Communicator (KinCom). Dados relevantes que envolveram os
sujeitos do estudo foram obtidos pela aplicação de um questionário. Os relatos dos
pacientes mostraram os joelhos sadios com maior exatidão na referência do senso de
posição articular, quando comparados com os joelhos reconstruídos, revelando o déficit
proprioceptivo conseqüente à reconstrução do ligamento cruzado anterior, compatível
com outras pesquisas. Com tais considerações, sugere-se a continuidade do estudo
utilizando o aparelho supracitado, pois o mesmo pareceu ser eficaz para mensurar a
propriocepção.

Abstract
The proprioception roles sensations of articular movements and articular situation,
Key-words: depends of muscles and afferents stimulations. It is worth to elucidate that a good
proprioception, post-operatory, proprioceptive training program prepare the knee to protective stable muscle reflexes.
anterior cruciate ligament, Seeing the outstanding of the proprioception at the post-operatory of anterior cruciate
measuring methods.
ligament, this study proposed a method for its evaluation. This research was a multicase
study with an exploratory approach. Data referring to position articular sense of knees
of two patients after anterior cruciate ligament reconstruction were collected, comparing
the healthy and injury knees. To the proceeding, was used the isocinetic dynamometer
Kinect-Communicator (KinCom). Important data envolving the patients of this study

Recebido 10 de fevereiro de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Samira Schultz Mansur, Rua Antônia Alves, 59, Itaguaçu 88085-390 Florianópolis SC, Tel: (48) 249-0751, E-
mail: samirasmansur@hotmail.com

artigo 10 - Samira.pmd 391 27/10/04, 11:00


392 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

were obtained by a questionnaire. The descriptions of the patients confirmed the healthy
knees with better accuracy when referring the articular position sense than reconstructed
knees, revealing the proprioceptive deficit after the anterior cruciate ligament
reconstruction. With these considerations, we suggest the continuity of this study using
the instrument cited because it seems to be efficient for measuring proprioception.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução O sucesso depois da reconstrução do LCA pode não


depender diretamente da tensão ou força de reconstrução,
O crescente número de indivíduos participantes de mas, antes, da qualidade da recuperação da propriocepção.
atividades esportivas tem determinado aumento significativo Neste contexto, justifica-se o estudo do componente
de lesões no joelho. A maioria das lesões envolve o ligamento proprioceptivo no pós-operatório de LCA, propondo um
cruzado anterior (LCA), principalmente em movimentos de método para sua avaliação e observando as possíveis
desaceleração, rotação e saltos [1]. Após lesão do LCA, deficiências sensório-motrizes remanescentes.
podem permanecer algumas deficiências funcionais
relacionadas à instabilidade e à inabilidade para realização Material e métodos
de determinadas atividades ou gestos esportivos.
A reabilitação sensório-motora ou propriocepção objetiva Esta pesquisa caracterizou-se por ser um estudo
trabalhar as aferências articulares e musculares nos diversos multicaso do tipo exploratório. A amostra foi constituída
planos do espaço e em condições especiais de equilíbrio e por dois pacientes do sexo masculino submetidos à cirurgia
desequilíbrio. Nesse ínterim, abrange a restauração da amplitude de reconstrução do ligamento cruzado anterior, operados
máxima de movimento, flexibilidade e estabilidade do joelho no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa
[2]. Por outro lado, embora essas condições sejam restauradas Catarina (UFSC), em janeiro e fevereiro de 2001. O processo
na maioria dos casos, existe a tendência de permanecer uma de amostragem foi intencional.
deficiência sensorial, mais especificamente proprioceptiva. Paciente A, 25 anos, 4 meses de pós-operatório e paciente
Bonfim e Paccola [3] referem que há indícios de que a deficiência B, 37 anos, 5 meses de pós-operatório. Os sujeitos praticavam
proprioceptiva seja decorrente da ruptura do LCA e da sua atividade física esporadicamente, não apresentavam qualquer
substituição por um enxerto que não apresenta os mesmos outro tipo de lesão nos membros inferiores, realizavam
tipos de mecanorreceptores e conexões nervosas centrais que fisioterapia desde a alta hospitalar a uma freqüência de três
o ligamento original. Frente a essa alteração, estudos recentes vezes semanais, por 45 minutos, e o mecanismo de lesão
envolvendo o joelho têm dado atenção para a função sensorial ligamentar ocorreu por rotação interna do joelho, no futebol,
do LCA, haja vista que toda atividade postural ou dinâmica do em ambos os casos, assim como a reconstrução ligamentar
aparelho locomotor necessita de uma integridade anatômica realizou-se a partir de enxerto do tendão patelar. Estes dados
do efetor musculoarticular e um programa de funcionamento foram obtidos através da aplicação de um questionário
neuromotor [3]. dirigido aos pacientes.
Riemann e Leephart [4] afirmam que o maior nível de Para a coleta do senso de posição articular foi utilizado
atividade aferente do fuso muscular, que ocorre quando o dinamômetro isocinético Kinect-Communicator (Kin-
um músculo se contrai, facilita a detecção do movimento. Com), disponível no Laboratório de Biomecânica do Centro
Por conseguinte, de acordo com Cohen [5], a acuidade de de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, da
acerto da posição do membro é maior se for movimentado Universidade do Estado de Santa Catarina. Antes da
ativamente ao invés de passivamente. O mesmo autor atesta realização do teste, os participantes mantiveram-se em
a importância do uso de movimentos ativos na avaliação do repouso durante vinte minutos, a fim de impedir alterações
sistema proprioceptivo, ao invés dos testes clássicos nos quais da informação articular.
o membro é movido passivamente pelo examinador. Foram testados ambos os joelhos dos participantes
O conhecimento da neurologia articular é fundamental para posterior análise comparativa. Os pacientes foram
no campo da Fisioterapia a fim de guiar a atividade motora posicionados em decúbito ventral no Kin-Com (Figura 1),
pré-programada e voluntária, associada a habilidades não sendo permitido que visualizassem o procedimento.
motoras, à modulação reflexiva do tônus do músculo, à Primeiramente foi testado o joelho não lesado; o mesmo foi
ativação seqüencial e à coordenação dos grupos de músculos movido passivamente em uma amplitude de 0° a 120°, à
sinérgicos e antagônicos, e ainda a alguns aspectos limitados velocidade de 5°/seg, parando em 4 posições pré-
de sensação e percepção somática [1]. determinadas (0°, 40°, 80° e 120°). Aleatoriamente,

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 393

escolheu-se a ordem 0°, 80°, 120° e 40° para aferir a posição diferentes: ora com visão total do procedimento, ora sem
articular, partindo de 120° e percorrendo a amplitude visão, e também sem visão, mas com vibração de 95 hz no
completa de movimento entre 0° e 120° antes de cada músculo deltóide posterior. Para a condição com vibração
parada. Foi então solicitado ao paciente que indicasse sua do deltóide, o indivíduo movia o membro superior não
percepção do grau de flexão do joelho. A informação do dominante até o ângulo especificado. A vibração era aplicada
paciente foi anotada como ângulo percebido e o ângulo ao músculo do membro dominante durante 500-msec.
aferido no Kin-Com como ângulo real. Cessada a vibração pedia-se para reproduzir o movimento
do membro não dominante.
Figura 1 – Avaliação proprioceptiva com uso do Kin-Com. Os resultados do estudo de Forwell e Carnahan [6]
mostraram pouca diferença na análise entre ombros instáveis
e o grupo controle no que se refere à trajetória do movimento
e posicionamento do membro. Porém, quando era
acrescentada a vibração muscular, o movimento nos ombros
instáveis era dificultado, indicando informações ilusórias dos
fusos musculares e sugerindo um déficit proprioceptivo.
Guido et al. [7] utilizaram um dinamômetro isocinético
para avaliar a propriocepção de um paciente submetido à
reconstrução de LCA e que apresentava efusão crônica no
joelho operado. O caso foi analisado em três condições:
pré-aspiração, pós-aspiração e 24hs pós-aspiração do joelho
reconstruído, objetivando determinar os efeitos de uma
efusão crônica nos proprioceptores da articulação. Os
resultados mostraram que houve inibição reflexa causada
pela distensão capsular e, nesse caso, ocorreu decréscimo
do senso de posição articular na presença de efusão no joelho.
Bonfim e Paccola [3] sugeriram a utilização de um
Resultados aparelho de movimentação passiva contínua para avaliar a
propriocepção, o CPM (Continuous Passive Motion –
Stryker – Leg Exercise). O teste consistiu em mover passiva,
Tabela I – Ângulos real e percebido nos joelhos dos pacientes A e B. contínua e lentamente os joelhos de 13 pacientes, entre 18 e
50 anos, com o uso do aparelho de CPM, na amplitude de
Posição de Parada Joelho Joelho
não lesado reconstruído 0° a 40° de flexão do joelho, interrompendo o movimento
em cinco posições predeterminadas (0°, 10°, 20°, 30° e
A B A B 40°), de maneira aleatória. Era então solicitado ao paciente
0° 0° 0° 5° 5° que indicasse sua percepção do grau de flexão do joelho,
40° 40° 30° 40° 15° utilizando o goniômetro manual. A sua informação foi
80° 60° 60° 60° 40° anotada como ângulo percebido e o ângulo aferido no
120° 110° 100° 100° 85° aparelho como ângulo real. Os joelhos normais mostraram
maior exatidão no senso de posição articular quando
comparados com os joelhos com LCA reconstruído,
Discussão apresentando uma média de desvio do ângulo de 1,21 grau
(DP = 0,86º).
Forwell e Carnahan [6] realizaram estudos Em outros estudos realizados por Bonfim e Barela [7],
proprioceptivos na articulação glenoumeral de 7 estudantes, foi sugerido outra maneira de quantificar o equilíbrio
entre 18 e 24 anos, analisando a posição do membro e a neuromuscular de joelhos reconstruídos (n = 10). O paciente
trajetória do movimento. O teste foi auxiliado por um sistema era instruído a realizar três condições experimentais em apoio
que determinava a mudança de posição em função do tempo. bipodal, apoio monopodal direito e apoio monopodal
Os pontos de parada foram a 100°, 120° e 150° de flexão esquerdo, mantendo uma posição padronizada para cada
do ombro, alcançando essas posições referenciadas em uma condição, com os olhos fechados.
tabela à frente do paciente. Pedia-se para o sujeito elevar o Os resultados obtidos revelaram uma maior oscilação
membro não dominante até um determinado ângulo e corporal em apoio monopodal sobre o membro submetido
posteriormente o outro membro. A posição era mantida à reconstrução do que em todas as outras posições. Para o
por 2 segundos. Isso foi repetido 9 vezes para cada ângulo grupo controle (n=10), não foi verificada diferença entre a
(100°, 120° e 150° de flexão do ombro) sob três condições oscilação corporal quando em apoio monopodal direito ou

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394 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

esquerdo. Esses dados sugerem uma interação entre o efeito Agradecimentos


da reconstrução do LCA e a realização de diferentes tarefas,
pois em algumas posições o efeito da reconstrução pôde ser Ao Prof. Dr. Mario César de Andrade e a Daniel
percebido, enquanto em outras não. Frassetto que viabilizaram a coleta de dados dessa
Analisando-se o paciente A, verificou-se que as posições pesquisa com o uso do Kin-Com, do Laboratório de
com índice de erro foram a 0º, 80° e 120° com, respectivamente, Biomecânica do CEFID/UDESC. Ao médico doutor
5º, 60° e 100° de ângulo percebido, no joelho pós-cirúrgico. Ari Digiácomo Ocampo More e ao fisioterapeuta da
Houve erros nos ângulos percebidos pelo joelho não operado, equipe de vôlei da UNISUL Esporte Clube Marcelo
porém foram menos discrepantes ao ângulo real. Duval Guidotti pelas informações no tocante ao tema
Por outro lado, os resultados obtidos do paciente B da pesquisa.
mostraram menor exatidão em todas as posições de 0º, 40°,
80° e 120° com, respectivamente, 5º, 15°, 40° e 85° de Referências
ângulo percebido, no joelho reconstruído. Nesse caso, existe
maior diferença comparando-se os ângulos real e percebido 1. Rodrigues A. Reeducação Sensório Motora (Propriocepção).
no joelho não-operado. Rev Bras Fisio Esp 1993; 14(14):1-13.
Os joelhos normais mostraram maior exatidão no senso 2. Brotzman B. Clinical Orthopaedic Reabilitation. Texas: Mosby;
de posição articular quando comparados com os joelhos com 1996. p. 185-91.
LCA reconstruído. Isso demonstra o déficit proprioceptivo 3. Bonfim TR, Paccola C. Propriocepção após a Reconstrução
conseqüente à reconstrução do ligamento cruzado anterior, do Ligamento Cruzado Anterior usando Ligamento Patelar
compatível com as referências da literatura. Homólogo e Autólogo. Rev Bras Ortop 2000;35:194-201.
4. Riemann BL, Lephart SM. The Sensorimotor System, PartII:
the Role of Proprioception in Motor Control and Functional
Conclusões Joint Stability. J Athl Train 2002;37:80-4.
5. Cohen H. Neurociência para fisioterapeutas. 2 ed. São Paulo:
Pode-se verificar que há conteúdo significativo na literatura Manole; 2001. p. 212-25.
relacionado à estrutura do joelho, especificamente envolvendo 6. Forwell L, Carnahan H. Proprioception during manual aiming
o ligamento cruzado anterior. Além disso, são poucas as in individuals wiht shoulder instability and controls. JOSPT
divergências que surgem quanto a esse assunto. Em 1996;23:111-9.
7. Guido J, Voight M, Blackburn T, Kidder J, Nord S. The effects
contrapartida, no que se refere ao foco principal da pesquisa,
of chronic effusion on knee joint proprioception: a case study.
a mensuração da propriocepção, a bibliografia é limitada. JOSPT 1997;25:208-12.
O teste proprioceptivo, aplicado neste estudo, mostrou maior 8. Bonfin TR, Barela JA. Influência da reconstrução do ligamento
acurácia nos joelhos normais em relação aos joelhos com LCA cruzado anterior na oscilação corporal. In: Anais do Congresso
reconstruído, reiterando a existência de diminuição sensorial brasileiro de biomecânica. 2001. Gramado: Anais UFRGS;
conseqüente à reconstrução do ligamento cruzado anterior. 2001. 350 pp. C

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 395

Estudo de caso

Treinamento em meio aquático para membro inferior


Aquatic training for lower limb
Silas Pereira de Rezende, M.Sc.*, Anamaria Siriani de Oliveira, D.Sc.**, Débora Bevilaqua-Grossi, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Prof. do Centro Universitário do Triângulo, UNIT, Uberlândia MG, **Docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto –
FMRP/USP, Ribeirão Preto SP

Resumo
O objetivo do estudo foi avaliar o desempenho de um dispositivo no treinamento
Palavras-chave: em meio aquático, capaz de resistir seletivamente a apenas uma direção de movimento,
hidroterapia, membro inferior, durante a execução de exercícios para o membro inferior. Foi realizado protocolo de 10
treinamento, eletromiografia. dias, sendo um membro inferior treinado com o dispositivo proposto e o contralateral
sem. Foram utilizadas diferentes escalas visuais analógicas (EVA) diariamente após as
sessões e realizou-se cirtometria e eletromiografia de superfície pré e pós-treinamento.
Os resultados mostraram que o dispositivo proposto foi de fácil utilização, bom
acoplamento, boa seletividade, aumentou a força de arrasto e, ainda, não gerou
desconforto ou dor, além de máxima higiene. Houve um aumento médio da atividade
eletromiográfica de 126,73% para o membro treinado em relação à medida inicial
embora não tenha ocorrido um aumento da cirtometria da coxa. O uso do dispositivo
proposto apresenta perspectiva de sucesso no treinamento seletivo subaquático dos
membros inferiores.

Abstract
The purpose of this study was to evaluate the development of a device in aquatic
Key-words: area able to resist selectivelly at only one direction moviment during the exercises in
aquatic therapy, lower limb, lower limbs. It was performed one 10 days protocol where one lower limb trained
training, electromyography. with a device and the other not. It was daily used different analogic visual scales after
therapy sessions, perimeter method and surface electromyography before and after
training. The results showed that the device proposed was of easy management, good
insert, good selectivity, increase the dragging force and it proved to be comfortable,
hygienic and painless. There was a average increase in the electromyography activity
of 126,73% in the trained lower limb with the device in respect to the start
measurement, however there was not a increase in the thigh perimeter. The
management of this device presented perspectives of success in the aquatic selective
training of lower limbs.

Recebido 12 de maio de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: Débora Bevilaqua Grossi, Depto. Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor, Av. Bandeirantes,
3900, 14049-900 Ribeirão Preto SP, Tel.: (16) 6024413/ 6024415, E-mail: deborabg@fmrp.usp.br

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396 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Introdução tíbia, até 35cm e; 2) avaliação da amplitude de ativação


elétrica de superfície dos músculos vasto medial oblíquo,
Diferentes tipos de equipamentos auxiliares são propostos reto da coxa e vasto lateral oblíquo, na contração isométrica
na hidroterapia, no entanto, há poucos estudos que avaliaram de extensão da perna.
o efeito da utilização dos mesmos. Goitz et al. [1] compararam Os sinais eletromiográficos de superfície foram obtidos
a performance e magnitude subjetiva da força muscular através de eletrodos ativos diferenciais, de prata pura e
requerida na utilização de dois equipamentos flutuantes para ganho de 20 vezes, colocados no músculo de acordo com
o condicionamento físico na água. Os resultados do citado Bevilaqua-Grossi et al. [3]. O registro eletromiográfico foi
trabalho foram obtidos por escala visual analógica (EVA) e adquirido utilizando 3 canais de um sistema de aquisição
indicaram que o dispositivo de espuma foi superior nos dois simultânea, com aterramento comum a todos os canais,
quesitos avaliados. filtro de passa-banda de 20 Hz a 5 KHz; ganho total de
Abidin et al. [2] também compararam a força muscular 1000 vezes, 12 bits de faixa de resolução dinâmica e
necessária para mover diferentes dispositivos submersos na freqüência de amostragem por canal de 2000 Hz.
água (força de arrasto), de acordo com a percepção subjetiva O treinamento com o dispositivo proposto foi realizado
de seus voluntários através de EVA. Foram comparados durante 10 dias consecutivos. Cada sessão foi composta
cinco modelos de dispositivos para resistir o movimento dos por 20 séries de 10 repetições da extensão da perna. Ambos
membros superiores (MMSS). Além da maior percepção de os membros foram treinados com o mesmo protocolo,
esforço dos voluntários, o dispositivo que possibilitou a sendo que apenas um membro inferior foi treinado com o
regulação da área de resistência ao movimento subaquático dispositivo. As séries eram intercaladas para propiciar um
foi considerado pelos autores como aquele capaz de propiciar período de repouso para o membro contra-lateral. A
um melhor fortalecimento muscular. voluntária foi posicionada de pé na piscina, com as coxas
Embora Goitz et al. [1] e Abidin et al. [2] aconselhem a submersas a 25 cm acima do joelho. A temperatura da água
utilização dos mesmos dispositivos tanto para MMSS, foi mantida entre 34-36º C. Os exercícios de extensão da
quanto para os membros inferiores (MMII), é preciso perna foram executados com máxima velocidade possível
considerar que os músculos dos MMII têm estrutura durante a extensão e mínima velocidade durante a flexão
morfofuncional diferente daquelas dos MMSS. Além disso, da perna. A máxima velocidade foi solicitada porque a força
na literatura consultada, não foram encontrados trabalhos de arrasto aumenta durante o movimento de extensão da
que tenham testado a seletividade da direção da produção perna proporcionalmente a velocidade e a quantidade de
da resistência ao movimento subaquático, ou seja, todos os resistência imposta ao deslocamento [4].
dispositivos anteriormente testados oferecem a mesma O dispositivo proposto para o treinamento foi projetado
resistência para direções opostas de movimento, como a para aumentar (abrir ou armar) a área frontal durante o
flexão e extensão. Assim, o objetivo deste trabalho foi movimento de extensão da perna e diminuir (fechar ou
realizar um estudo de caso, avaliando o desempenho de desarmar) durante a flexão, através da movimentação de
um dispositivo no treinamento em meio aquático, capaz suas “asas de borboleta”, que quando posicionadas no plano
de resistir de maneira seletiva a apenas uma direção de frontal, ocupam toda extensão horizontal do equipamento
movimento, durante a execução de exercícios para o e promovem um aumento da resistência ao movimento
membro inferior. aquático de extensão da perna (Figura 1A). Durante o
movimento contrário, a turbulência da água conduz as asas
Materiais e Métodos para o plano sagital, diminuindo a resistência durante o
movimento de flexão da perna (Figura 1B).
Voluntária A voluntária foi treinada para preencher dez EVAs que
avaliaram: 1) a força de arrasto percebida para o movimento
Participou deste estudo uma voluntária, com 24 anos e de extensão; 2) o acoplamento do dispositivo a perna; 3) a
sem história de doença osteomioarticular ou neurológica nos estabilidade do dispositivo durante a movimentação; 4) a
MMII, que foi submetida a uma avaliação física inicial e facilidade do dispositivo em armar-se e desarmar-se; 5)
recebeu as orientações sobre todos os procedimentos a serem conforto na utilização; 6) a higiene do dispositivo; 7) o tempo
realizados, assinando o termo de consentimento formal de para colocação e retirada do dispositivo; 8) a dor; 9) a fadiga
participação em pesquisa, de acordo com as normas da e 10) o desconforto percebidos pelo uso do dispositivo.
resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Para aplicação de cada uma das EVAs foi explicado,
diariamente, o seu significado e a marcação foi orientada
Procedimentos para o correto preenchimento.
Os valores de cirtometria, atividade eletromiográfica
Antes do período de treinamento foram realizadas: 1) a (Root Mean Square – RMS) e as medidas das EVAs foram
cirtometria da coxa a cada 5 cm a partir da tuberosidade da comparados antes e após o treinamento.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 397

Figura 1 – Dispositivo proposto armado durante a extensão da perna mostrando as “asas abertas” no plano frontal (A) e durante a flexão da perna, fechadas
no plano sagital (B).

A B

Resultados máxima higiene. Este último item pode ser atribuído ao


material utilizado para confecção, o etil-vinil-acetato, que é
Os resultados da média dos valores obtidos nas diferentes de fácil limpeza e secagem.
EVAs, utilizadas nos 10 dias de treinamento, em termos Como as abas do dispositivo funcionam com “asas de
percentuais mostraram que o dispositivo proposto aumentou borboleta” quando acoplado à perna submersa, permitem
em 94,3% a força de arrasto, acoplou-se 99% ao membro aumentar a área frontal na execução do movimento em
inferior, manteve-se 98% estável durante a execução dos uma direção específica, aumentando assim a força de arrasto
movimentos, armou-se e desar mou-se com 99% de e gerando resistência seletiva específica ao movimento do
facilidade, mostrou-se 97,6% confortável, 100% higiênico, membro inferior, como percebido pela voluntária para
77,7% de rapidez na colocação e retirada do membro extensão da perna.
inferior, não gerou dor ou desconforto e a voluntária anotou O aumento da área frontal e a realização do exercício
11,2% de percepção de fadiga ocasionada pelo uso. Os com máxima velocidade na extensão da perna
valores médios das medidas de circunferência dos membros proporcionaram o aumento da resistência, pois estas duas
inferiores da voluntária mostraram um ganho percentual variáveis estão diretamente relacionadas à força de arrasto,
de 1,65% e 0,36% para o membro treinado com o dispositivo proporcionando um aumento na tensão muscular para
e para o membro contralateral, treinado sem o dispositivo, execução do exercício, o que favorece o fortalecimento
respectivamente. Os valores de RMS após o período de muscular, quando comparado com o membro treinado sem
treinamento mostraram que, no membro treinado com o o dispositivo, uma vez que os músculos são submetidos a
dispositivo proposto, o músculo vasto medial oblíquo uma sobrecarga se fortalecem [5].
aumentou sua amplitude de ativação em 124,5%, o reto da Embora a cirtometria não tenha revelado aumento da
coxa em 223,4% e o vasto lateral oblíquo obteve um circunferência do membro treinado com a resistência
aumento de 370,5%. No membro treinado sem o uso do seletiva, de acordo com Moritani [6] e Ploutz et al.[7] é
dispositivo os valores percentuais de aumento da amplitude possível que os fatores neurais sejam responsáveis por uma
de ativação eletromiográfica foram 88,9%, 92,2% e 67,1% larga porção do aumento de força, atribuído ao treinamento
para os músculos vasto medial oblíquo, reto da coxa e vasto com resistência, sem grandes aumentos na área muscular
lateral oblíquo, respectivamente. seccional. Esse evento é mais pronunciado nas fases iniciais
de treinamento (duas a oito semanas), onde o ganho de
Discussão força é muito maior que aquele explicado pela hipertrofia
muscular, que pode ou não ser observada neste mesmo
Os resultados deste estudo mostraram que o dispositivo período. Assim, a habilidade para ativar um maior número
proposto foi de fácil utilização, bom acoplamento, boa de unidades motoras disponíveis pode estar presente
seletividade, aumentou a força de arrasto e, ainda, não gerou nas fases iniciais do treinamento. Esta mudança no
desconforto ao ser utilizado, nem mesmo dor, além de recrutamento de unidades motoras pode justificar o

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398 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

aumenta da ativação eletromiográfica dos extensores da apresenta perspectiva de sucesso no treinamento seletivo
voluntária deste estudo. subaquático dos membros inferiores.
Com este treinamento ocorreu um aumento da média
percentual da atividade eletromiográfica nos dois MMII,
sendo que ocorreu maior aumento (239,47%) no membro Referências
inferior treinado com o dispositivo proposto, enquanto o
membro controle apresentou menor aumento (82,74%). 1. Goitz RJ, Towler MA, Buschbacher LP, Becker DG, Abidin
Portanto o membro treinado com o dispositivo obteve maior MR, Edlich RF. Evaluation of buoyant hydrofitness devices
recrutamento das fibras musculares e o controle motor em for leg musculoskeletal conditioning. J Burn Care Rehabil
resposta ao treinamento subaquático. 1988;9(3):298-301.
2. Abidin MR, Thacker JG, Becker DG, Saunders JC, Nayak S,
Por se tratar de um estudo de caso, fazem-se necessários
Bacchetta SF, Edlich RF. Hydrofitness devices for strengthening
novos estudos com um número maior de voluntários, upper extremity muscles. J Burn Care Rehabil 1988;9(2):199-
embora o equipamento tenha apresentado um bom 202.
desempenho e efeitos desejáveis no treinamento subaquático. 3. Bevilaqua-Grossi D, Monteiro-Pedro V, Bérzin F. Análise
funcional dos estabilizadores patelares. 2004;12(2):98-103.
Conclusões 4. Edlich RF, Towler MA, Goitz RJ, Wilder RP, Buschbacher LP,
Morgan RF, Thacker JG. Bioengineering principles of
Os resultados desta pesquisa, nas condições experimentais hydrotherapy. J Burn Care Rehabil 1987;8(6):580
utilizadas, permitem concluir que o dispositivo proposto é 5. McArdle WD. Fisiologia do exercício, energia, nutrição e
de fácil utilização, bom acoplamento, boa seletividade, desempenho humano. 3ª ed. São Paulo: Manole; 1992.
p.310-3.
aumentou a força de arrasto, não gerou dor ou desconforto 6. Moritani T. Neuromuscular adaptations during the acquisition
ao ser utilizado, além de apresentar máxima higiene. O of muscle strength, power and motor tasks. J Biomech
treinamento com o dispositivo proposto não foi capaz de 1993;26 Suppl 1:95-107.
gerar aumento significativo no perímetro da coxa, no entanto 7. Ploutz LL, Tesch PA, Biro RL, Dudley GA. Effect of resistance
o treinamento proposto foi capaz de aumento da atividade training on muscle use during exercise. J Appl Physiol
eletromiográfica do quadríceps. O uso do dispositivo 1994;76(4):1675-81. C

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 399

Estudo de caso

O uso do biofeedback-EMG na reabilitação da postura


e do padrão de marcha de uma criança portadora
de paralisia cerebral do tipo diparética espástica
Use of the biofeedback-EMG in the posture and gait
rehabilitation of a child with spastic diplegic cerebral palsy
José Luiz Martinelli*, Renata Calhes Franco**, Daniel Ventura de Andrade***, José Augusto Peres, M.Sc.****,
João Carlos Ferrari Corrêa, D.Sc.*****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Fisioterapeuta pelo Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE, **Professora Mestre da Faculdade de Fisioterapia do Centro
Universitário Nove de Julho, ***Professor da Faculdade de Fisioterapia do Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE,
****Professor Mestre da Faculdade de Fisioterapia do Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE,
*****Professor Doutor da Faculdade de Fisioterapia do Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE

Resumo
O objetivo desse trabalho foi avaliar a utilização do biofeedback-EMG na reabilitação
Palavras-chave: da postura e do padrão de marcha de uma criança com paralisia cerebral do tipo
paralisia cerebral, diparética espástica. Após o projeto ser aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa,
biofeedback, marcha. a voluntária foi submetida antes e após a proposta terapêutica a uma avaliação da
articulação do joelho que consistiu da força muscular do aparelho extensor, dos momentos
articulares durante as fases da marcha (eletrogoniometria), e de uma análise postural. A
proposta terapêutica consistiu de um protocolo de 20 sessões empregando-se um aparelho
de biofeedback-EMG, que se utiliza de eletrodos de superfície para a captação dos
sinais eletromiográficos, conectado a um microcomputador para visualização destes
em “tempo real”. Os resultados relacionados à pós-avaliação evidenciaram os efeitos
positivos dessa proposta. O aumento da força muscular levou à melhora da extensão
funcional do joelho, fazendo com que o peso pudesse ser melhor distribuído em ambos
os membros, conseqüentemente a paciente teve melhora global de sua postura, passando
a assumir uma posição mais ereta e centralizada. As análises de marcha realizadas antes
e após a proposta terapêutica, mostraram que houve melhora nos seguintes itens
avaliados: amplitude articular, velocidade da marcha, cadência, comprimento do passo
e apoio simples. Podemos concluir que em virtude das melhoras tanto no aspecto
funcional (melhora do padrão de marcha e postura) quanto no social, sugere-se assim
que a utilização do biofeedback-EMG trata-se de um recurso terapêutico objetivo e
eficaz.

Recebido 13 de maio de 2004; aceito 15 de agosto de 2004.


Endereço para correspondência: Prof. Dr. João Carlos Ferrari Corrêa, Rua Professor Francisco Galvão Freire, 163, Urbanova II, 12244-479 São José
dos Campos SP, E-mail: jcorrea@uninove.br

artigo 12 - Joao Carlos.pmd 399 27/10/04, 11:00


400 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Abstract
The aim of this work was to evaluate the use of the biofeedback-EMG in the gait
Key-words: and posture rehabilitation of a child with spastic diplegic cerebral palsy. After the project
cerebral palsy, approval by the Commission of Ethics in Research, the volunteer was submitted before
biofeedback, gait. and after the therapeutic proposal to an evaluation of the knee joint that consisted of
muscular strenght of the extensor system, joint movements during gait stages
(electrogoniometer), and postural analysis. The protocol of therapeutic proposal consisted
in 20 sessions using a biofeedback-EMG system, that uses surface electrodes to detect
electromyography’s signals, connected to a microcomputer for visualization in “real
time”. The results related to post-evaluation showed positive effects of this proposal.
The increase of muscular strength leads to the improvement of the functional knee
extension, weight was better distributed in both limbs, consequently patient improved
total posture and start to assume a more erect position and centralized. The gait analyses
that was carried out before and after the therapeutic proposal showed improvement in
the following items: joint amplitude, gait speed, cadence, step length and simple support.
We can conclude that due to improvements in the functional aspect (improvement in
posture and gait) and in social aspect, the use of the biofeedback-EMG is an objective
and effective therapeutic resource.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução de joelhos. A espasticidade é responsável pelas


deformidades que progridem, como o encurtamento
A Paralisia Cerebral (PC), ou Encefalopatia Crônica não gradual da musculatura, por exemplo, a espasticidade dos
Progressiva da Infância, é uma das mais freqüentes patologias extensores e flexores do joelho, que deter minam a
causadas pela vulnerabilidade nervosa. São considerados deformidade em joelho rígido [6].
portadores de PC, aqueles pacientes que apresentam um O joelho rígido pode fazer com que a criança apresente
distúrbio do movimento e da postura, tais como paresias a marcha em “crouch”, caracterizada pela adução, rotação
(fraqueza muscular), hipercinesias (movimentos voluntários interna de quadril, flexão de joelhos e quadril, o que
anormais), falta de coordenações, etc [1]. compromete principalmente a fase de apoio de sua marcha
É um distúrbio motor (tônus e postura) causado por [7].
lesão não progressiva no sistema ner voso em Assim, sabendo da importância da manutenção da
desenvolvimento freqüentemente mutável e variável. postura, livre de comprometimentos articulares, ou
Como a patologia é de caráter não progressivo ou mesmo deformidades conflitantes com a funcionalidade,
evolutivo, o seu transtorno funcional irá se estruturar no este trabalho propõe a utilização do biofeedback-EMG
tempo, sendo sua evolução determinada pelo momento na reabilitação de uma criança portadora de paralisia
em que o fator nóxio age no sistema ner voso em cerebral do tipo diparética espástica do Setor de
formação. Esse déficit é devido ao local da lesão e ao Neurologia Infantil do Centro Universitário Nove de
estágio de maturação (desenvolvimento, em que a criança Julho – UNINOVE.
se encontra) [2,3,4].
Grande parte dos autores que descrevem a paralisia Material e métodos
cerebral a classificam quanto à topografia e ao tônus.
Na criança diparética com tônus espástico, alguns sinais Participou deste trabalho, realizado no Laboratório de
são característicos em seu desenvolvimento motor, em Eletromiografia do Centro Universitário Nove de Julho –
particular na fase onde a criança passa para a posição bípede UNINOVE, uma voluntária, com idade de 16 anos,
e tem que se equilibrar para caminhar inicia-se então um portadora de paralisia cerebral do tipo diparética espástica,
processo de adaptação postural compensatório, frente ao o qual apresentava o “joelho rígido”, e conseqüentemente
seu padrão de espasticidade [5]. uma marcha em “crouch”.
As posturas compensatórias e o padrão de A voluntária foi submetida antes e após o programa
espasticidade do paciente diparético levam a terapêutico a uma avaliação da articulação do joelho que
deformidades permanentes como hiperlordose lombar, consistiu: da força muscular do aparelho extensor; dos
flexão, adução e rotação interna de quadril além da flexão momentos articulares durante as fases da marcha; e de uma

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 401

análise postural realizada através de imagens da voluntária Resultados


digitalizadas.
Para a avaliação da força muscular do aparelho extensor A voluntária desse trabalho foi avaliada antes e após o
da articulação do joelho foram seguidos os testes programa terapêutico, onde foram observados a força
preconizados por Kendall et al. [8]; para a avaliação dos muscular, alterações posturais e momentos articulares na
momentos articulares utilizou-se um sensor potenciométrico posição estática e dinâmica.
de posição angular (eletrogoniômetro), que fixado ao joelho As provas de força muscular mostraram aumento da
da voluntária informa a posição angular da articulação já performance do aparelho extensor. O avaliador utilizou-se de
convertido para expressar seus valores em graus. Para tanto uma escala de 0 a 5, subdivididos ainda em sinal negativo e
foi utilizado um módulo de condicionamento de sinais sinal positivo para quantificar a força, onde a nota 5 (+)
analógicos MC 1000-V2.
confere a pontuação máxima (Tabela I).
Já para a avaliação postural foram usados os parâmetros
sugeridos por Santos [9] e Kendall et al. [8]. Tabela 1 – Dados obtidos antes e após o programa terapêutico relacionado
Após a voluntária ter assinado o Ter mo de à força muscular do aparelho extensor da articulação do joelho (graduação
Consentimento, iniciou-se o protocolo terapêutico no qual realizada entre 0 e 5, subdivididos com sinal negativo e positivo).
consistiu do uso de um aparelho de biofeedback-EMG.
Para a leitura da atividade elétrica muscular durante a ANTES DEPOIS
contração muscular voluntária da voluntária foi utilizado Extensão do joelho Extensão do joelho
um aparelho de biofeedback eletromiográfico da marca
Pathway, modelo MR-25 (Figura 1), que se utiliza de eletrodos Direito Esquerdo Direito Esquerdo
de superfície para a captação dos sinais. 4 (-) 4 (-) 5 (+) 5 (+)
O aparelho foi conectado a um micro computador para A avaliação postural demonstrou visíveis alterações, que
a visualização dos sinais eletromiográficos gerados a partir foram observadas através de fotos comparativas realizadas
da contração muscular voluntária.
em três vistas distintas (frontal, posterior e lateral) antes e
Figura 1 – Aparelho de biofeedback eletromiográfico da marca Pathway, após o programa terapêutico.
modelo MR-25 (esquerda) e gráficos eletromiográfico mostrados à voluntária Nas fotos em vista frontal se nota principalmente uma
por meio de um computador conectado ao biofeedback-EMG (direita). importante diminuição na assimetria do tronco e a aquisição
de uma postura mais centralizada (Figura 2).
Figura 2 – Análise postural realizada através de imagens da voluntária
digitalizadas em vista frontal, ante e após o programa terapêutico,
respectivamente.

Os eletrodos foram dispostos no ponto motor dos


músculos reto da coxa e vasto lateral, sendo solicitado à
voluntária que execute a contração muscular voluntária
máxima.
Foram realizadas vinte sessões, que seguiram a seguinte
periodização de treinamento:
• Da 1ª a 4ª sessão - Três séries de oito repetições, com
intensidade de 70% da contração voluntária máxima
(CVM);
• Da 5ª a 8ª sessão - Três séries de doze repetições, com
intensidade de 70% da CVM; Na vista posterior, nota-se principalmente diminuição
• Da 9ª a 14ª sessão - Quatro séries de oito repetições, do valgismo da articulação do joelho, melhora na distribuição
com intensidade máxima (100%); da descarga do peso nos membros inferiores, novamente a
• Da 15ª a 20ª sessão – Cinco séries de oito repetições, posição mais centralizada e melhora na assimetria do tronco
com intensidade máxima (100%). (Figura 3).

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402 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Figura 3 – Análise postural realizada através de imagens da voluntária Figura 4 – Análise postural realizada através de imagens da voluntária
digitalizadas em vista posterior, ante e após o programa terapêutico, digitalizadas em vista lateral, ante e após o programa terapêutico,
respectivamente. respectivamente.

As fotos da vista lateral mostram as mudanças de melhora Já a avaliação dos momentos articulares (eletrogo-
postural relacionadas à protrusão da cabeça, do ombro e niometria) mostrou os resultados relacionados à variação
tronco, e a tríplice flexão de quadril, joelhos e tornozelos angular em ambas as articulações do joelho, de forma estática
(Figura 4). (Figuras 5 e 6) e dinâmica (Figuras 7 e 8).

Figura 5 – Gráfico referente à variação angular média com seu desvio padrão do joelho direito, realizada antes e após o programa terapêutico, respectivamente,
na manutenção da posição estática.

Figura 6 – Gráfico referente à variação angular média com seu desvio padrão do joelho esquerdo, realizada antes e após o programa terapêutico, respectivamente,
na manutenção da posição estática.

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 403

Podemos verificar nas Figuras 5 e 6 que houve uma do aparelho extensor já mostrada na avaliação da força
significante redução da flexão dos joelhos direito e esquerdo muscular.
durante a posição ortostática estática, além da manutenção Os gráficos a seguir, mostram a avaliação da articulação
da postura adotada, o que comprova a melhora da performance dos joelhos durante o ciclo da marcha.
Figura 7 – Gráfico referente à variação angular média com seu desvio padrão do joelho direito, realizada antes e após o programa terapêutico, respectivamente,
durante o ciclo completo da marcha.

Figura 8 – Gráfico referente à variação angular média com seu desvio padrão do joelho esquerdo, realizada antes e após o programa terapêutico, respectivamente,
durante o ciclo completo da marcha.

Notamos nas Figuras 7 e 8 um aumento da amplitude e durante o ciclo completo da marcha, a qual foi realizada
articular dos joelhos que é comprovada através da maior média antes e após o programa terapêutico.
obtidas na avaliação pré- e pós- programa terapêutico
visualizadas na Tabela II; outro ponto a ser destacado é a Discussão
importante redução do desvio padrão, que denota uma melhor
reprodutibilidade das passadas do ciclo completo da marcha. O presente estudo teve como proposta avaliar a
A Tabela II mostra os valores médios e o desvio padrão eficiência do biofeedback-EMG na reabilitação da postura
da variação angular realizada pela eletrogoniometria estática e amplitude de movimento da articulação do joelho em uma
Tabela 2 – Valores médios e desvio padrão da variação angular da articulação do joelho, durante a manutenção da posição estática e o ciclo completo da marcha
antes e após o programa terapêutico.

D E

Pré Pós Pré Pós

Estático 12,11±1,20 11,06±0,18 25,19±1,45 7,88±1,36


Dinâmico 34,25±10,05 40,84±11,94 35,72±11,34 46,40±13,66
5 4 4 6

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404 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

voluntária com seqüela de paralisia cerebral, a qual foi fazendo com que o peso pudesse ser mais bem distribuído em
avaliada antes e após o programa terapêutico. ambos os membros, conseqüentemente a paciente teve melhora
O biofeedback-EMG tem como principal intuito, mostrar global de sua postura, passando a assumir uma posição mais
ao paciente de forma compreensível, alguns de seus eventos ereta e centralizada. A postura que a paciente apresentava antes
fisiológicos internos. Dessa forma, quando o paciente está do programa terapêutico aumentava ainda mais suas dificuldades
conectado a este aparelho, executando uma contração voluntária, em deambular, como também sua apresentação social.
ele consegue não só visualizar o que está ocorrendo internamente As análises de marcha realizadas antes e após a proposta
com seu músculo, mas também interagir no controle e terapêutica, mostraram que houve melhora nos seguintes itens
coordenação da potência da contração muscular [10]. avaliados: amplitude articular, velocidade da marcha, cadência,
O paciente portador de paralisia cerebral tem dificuldade comprimento do passo e apoio simples. Destacamos então o
no controle seletivo da musculatura na contração, ou seja, último item citado, apoio simples, que se refere ao momento
usa de sinergismos flexores ou extensores para a execução da marcha em que a paciente encontra-se em apoio unipodal,
de movimentos simples como, por exemplo, a marcha. sendo assim se houve aumento do tempo de apoio, podemos
Segundo CARMICK [11], os movimentos seletivos são afirmar que a força muscular foi potencializada, portanto
aqueles em que não há a presença de entrada de sinergismos esses dados sustentam os resultados relacionados à avaliação
patológicos. Esses movimentos quando presentes em postural, anteriormente citados.
membros inferiores levam à flexão, adução e rotação interna
de quadril, flexão de joelhos, flexão plantar. Conclusão
A voluntária desse estudo apresentava no início do
tratamento um discreto sinergismo flexor dos membros
De acordo com os dados obtidos neste trabalho, podemos
inferiores durante a marcha e durante o movimento de
afirmar que nesse estudo de caso houve melhoras tanto no
extensão ativa dos joelhos, o que comprometia sensivelmente
aspecto funcional (melhora do padrão de marcha e postura)
o momento de apoio da mesma.
quanto no social, sugerindo assim que a utilização do
Tal fato nos levou a acreditar que o biofeedback-EMG
biofeedback-EMG tratou-se de um recurso terapêutico
seria um elemento fundamental no tratamento da coordenação
eficiente e que atendeu às expectativas e necessidades da
motora na extensão do joelho, melhorando assim a seletividade
voluntária. Entretanto faz-se necessário à continuação desse
da contração muscular. Através da utilização desse recurso
estudo com um número maior de voluntários.
foi observada melhora progressiva dos movimentos sinérgicos
durante o treinamento da extensão de joelho. Hoje a paciente
não apresenta nenhum tipo de sinergismo nesse movimento, Referências
portanto acreditamos que esse recurso tenha contribuído na
melhora da modificação do seu padrão de marcha. 1. Marcondes E. Pediatria Básica. 8ed. São Paulo: Savier; 1994.
Segundo STEINBOK et al. (12), a melhora na seletividade 2. Ekman L. Neurociência – Fundamentos para a reabilitação.
Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 1998.
da contração muscular, acontece por conta do restabelecimento
3. Silva RK. A neuroplasticidade no desenvolvimento de crianças
das conexões sensório-motoras que de alguma forma foi perdida com paralisia cerebral. Temas sobre Desenvolvimento, 2000;
pelo paciente. Os estímulos aferentes oferecidos pelo 9:62-69.
biofeedback-EMG estimulam áreas cerebrais de informação 4. Stokes M. Neurologia para Fisioteraputas – CASH. São Paulo:
proprioceptiva. A combinação desses estímulos com a própria Premier; 2000.
visualização do músculo se contraindo é o que determina a 5. Bobath B, Bobath K. Desenvolvimento Motor nos Diferentes
abertura de conexões neurais eferentes, que por sua vez Tipos de Paralisia Cerebral. 1ed. São Paulo: Manole; 1989.
proporcionarão a seletividade da contração muscular. 6. Souza AMC, Ferrareto I. Paralisia Cerebral – Aspectos Práticos.
Na avaliação postural feita antes do tratamento, São Paulo: Memnon; 1998.
7. Perry J. Gait Analysis: Normal and Pathological Function.
observou-se que a má distribuição do peso nos membros
New York: Slack Incorporated; 1992.
inferiores levou à aquisição de uma postura inadequada, 8. Kendall, FP, McCreary EK, Provance PG. Músculos provas e
sendo que o joelho esquerdo apresentava-se em funções – com postura e dor. São Paulo: Manole, 1995.
hiperextensão e o direito em semiflexão. Tal fato fez com 9. Santos A. Diagnóstico clínico postural – um guia prático. São
que investigássemos as AVDS da paciente, foi então que a Paulo: Summus, 2001.
mãe da mesma nos relatou que depois das cirurgias realizadas 10. Basmanjian JV. Biofeedback: Principles and Practice for
a filha passou a precisar de auxilio para deambular em Clinicians. 3ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1989.
público. O apoio que a paciente realizava na mãe sempre 11. Carmick J. Managing equinus in children with cerebral palsy:
eletrical stimulation to stremgthen the triceps surde muscle.
foi do lado esquerdo, o que pode justificar a má distribuição
Dev Med Child Neurol, 1995; 11: 965-75.
do peso e o padrão postural assumido. 12. Steinbok P, Reiner A, Kestle JR. Therapeutic eletrical
Os resultados relacionados à pós-avaliação postural stimulation following selective posterior rhirotomy in children
evidenciaram os efeitos positivos dessa proposta. O aumento da with spastic diplegic cerebral palsy. Dev Med Child Neurol,
força muscular levou à melhora da extensão funcional do joelho, 1997; 38:515-20. C

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Atualização

Fisioterapia e climatério
Physical therapy and menopause
Ana Cristina da Nóbrega Marinho*, Talisa Araújo**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Fisioterapeutas, Universidade Estadual da Paraíba

Resumo
Climatério é a fase da vida da mulher em que o ovário passa a ter uma produção
Palavras-chaves: estrogênica reduzida e insuficiente, levando a maioria a apresentar sinais e sintomas e,
Climatério, alterações em longo prazo, podendo desencadear graves conseqüências à saúde, como a osteoporose
orgânicas, qualidade de vida. e a doença cardiovascular. O aumento da expectativa de vida da população fez com
que várias mulheres pudessem chegar até o climatério e menopausa, mas a temática é
pouco discutida na área de saúde.Tomando como base esta afirmação, a pesquisa, ora
apresentada, realizou-se com o objetivo de analisar e descrever, com base na literatura,
as repercussões do tratamento fisioterapêutico frente às alterações sofridas pelas mulheres
durante o período do climatério. Observou-se que os recursos fisioterapêuticos servem
tanto para fortalecer o assoalho pélvico, quanto para ajudar na remodelação óssea,
além de melhorar a performance física, psíquica e cardíaca dessas mulheres. Mas,
mesmo diante de tantos benefícios, ainda existem poucas evidências e estudos
demonstrando a veracidade destas considerações. Espera-se que as críticas, indagações
e discussões realizadas neste estudo monográfico, sirvam de subsídios para futuros
estudos na área, como também para uma reflexão e tomada de posição para a melhoria
da qualidade de vida em prol do bem estar físico dessas mulheres climatéricas.

Abstract
Menopause is a process in women‘s life in which estrogenic production by the ovary
Key-words: is insufficient and reduced. Most of them present signs and symptoms and, at long term,
climateric, organic changes, can develop serious health consequences such as osteoporose and cardiovascular disease.
quality of life. The increase of population life expectation contributes in some way to extend women‘s
life until menopause, but this subject is hardly discussed in health area. Based on this
affirmation, the aim of this research is to analyze and to describe the effects of physical
therapy treatment regarding suffering alterations by women during the menopause period.
It was observed that physical therapy resources either help to strengthen pelvic floor or
osseous remodeling, besides improvement in physical, psychic and cardiac performance
of these climateric women. However, there are few evidences and studies showing the

Recebido 2 de fevereiro de 2004; aceito 15 de agosto de 2004.


Endereço para correspondência: Ana Cristina da Nóbrega Marinho, Rua Adiel Valdevino, 102, Centenário 58108-025 Campina Grande PB, E-mail:
anacrnm@bol.com.br

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veracity of these considerations. We hope that comments, investigations and discussions


carried out in this monographic study, help other future studies in this area to reflect upon
this subject in order to improve quality of life in favor of the women physical welfare.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução menstrual, culminando com a descoberta da interação


hormonal do eixo hipotálamo-hipófise-ovário e da função
O avanço científico e tecnológico tem contribuído de ovariana [3].
forma espetacular para o aumento da expectativa de vida Antes de abordar as inter-relações do eixo hipotálamo-
da população, porquanto, pode-se dizer que um número hipófise-ovário, torna-se necessário ressaltar que o
significativo de mulheres está conseguindo vivenciar a fase organismo feminino possui um sistema hor monal
da menopausa, quando antigamente poucas mulheres responsável pelo controle das alterações cíclicas do ciclo
conseguiram chegar à mesma. Hoje, segundo dados do IBGE menstr ual. No entanto, esse sistema constitui-se
a vida média das mulheres está em torno de 66 anos, o que hierarquicamente de três hormônios: um de liberação
possibilitou um melhor estudo e descoberta desta fase de hipotalâmico, o hormônio de liberação das gonadotrofinas
revolução hormonal, vista por muitas como um período (GnRH); os hormônios da hipófise anterior, o folículo-
perturbador e cheio de mudanças. Essa fase, segundo Flores estimulante (FSH) e o luteinizante (LH); e os ovarianos,
[1], foi reconhecida graças a um primeiro relato científico estrogênio e progesterona. E a interação destes hormônios
publicado por um médico inglês do século XVIII (1727), com vários órgãos e tecidos alvo desencadeará o conhecido
que recebeu o título de “Um guia para as mulheres”, no ciclo reprodutor feminino também chamado ciclo
qual chamava a atenção para os distúrbios que a maioria menstrual [4].
das mulheres sofriam entre 40 e 50 anos, quando os fluxos Mas, para que haja essa interação é necessária a
começavam a falhar e por fim as menstruações. integridade do eixo neuroendócrino, constituído
A partir daí iniciaram os estudos sobre esta fase da mulher principalmente pelo hipotálamo, hipófise e ovário,
influenciado pelo córtex-cerebral e o sistema límbico [5].
até então desconhecida, cheia de mistérios e sofrimentos,
denominada climatério, o qual se caracteriza por ser marcado Portanto, o hipotálamo, os hormônios gonadotróficos
por calores, anseios, constrangimentos e transições fisiológicas, da hipófise anterior, os hormônios ovarianos, a maturação
mas estudiosos e pesquisados tanto da área de ginecologia e do óvulo e a ovulação estão todas perfeitamente integradas,
obstetrícia, como também de outras áreas, há anos tentam e seu funcionamento dependente de hormônios. No entanto,
encontrar uma maneira de suavizar estas alterações essa interligação hormonal caracteriza-se por alterações
supracitadas, prevenindo desta forma possíveis patologias, rítmicas mensais das taxas de secreção dos hormônios
retardando, dessa forma, o declínio natural do organismo. femininos, e alterações correspondentes nos ovários e órgãos
Diante disso, pergunta-se: Como os médicos vêem este sexuais, podendo este ciclo durar aproximadamente 28 dias,
tratamento? Os congressos médicos e fisioterapêuticos têm sendo alguns ciclos mais curtos (21 dias) ou mais longos (35
debatido sobre esse assunto? dias), dependendo da influência dos hormônios sobre os
Este estudo objetiva descrever e analisar, por meio da ovários e o útero. Este ciclo reprodutivo tem início na
literatura, as repercussões do tratamento fisioterapêutico puberdade e continua até a menopausa, podendo ser dividido
frente às alterações desencadeantes no período do climatério. em 3 fases: fase folicular, fase lútea e a fase menstrual.
Segundo Diefenbach [5], essa secreção de gonadotrofina
Repercussões fisioterapêuticas no observada durante o ciclo menstrual constitui o resultado
climatério da perfeita interação entre os hormônios femininos, que
são mediados por um mecanismo positivo ou negativo dos
O sistema reprodutor feminino é constituído por esteróides sexuais produzidos no interior do próprio folículo
genitais internos (ovários, tubos uterinos, útero e vagina) destinado a ovular naquele ciclo. As gonadotrofinas são
e externos (monte de Vênus, os grandes e pequenos lábios, secretadas de forma pulsátil com uma freqüência e
o clitóris, o vestíbulo e as glândulas vestibulares maiores), magnitude que variam com a fase do ciclo: pulsos de alta
como também possui um sistema hormonal responsável freqüência e baixa amplitude na fase folicular e baixa
pelo controle das alterações cíclicas do ciclo menstrual [2]. freqüência e alta amplitude na fase lútea.
Os novos conhecimentos da endocrinologia, surgidos, Depois de ocorrida a ovulação, inicia-se a fase secretora
mais especificamente, no início deste século aclamaram a que coincide com o período de desenvolvimento do corpo
obscuridade de conceitos reinantes acerca do fenômeno lúteo devido à influência do hormônio luteinizante. Este corpo

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 407

lúteo secreta estrógeno e progesterona, os quais exercem uma deixa de ovular e seus ovários de produzir hormônios. A
profunda ação de feedback negativo para suprimir a secreção menopausa é classificada em dois tipos, levando em
de gonadotrofinas, evitando assim o desenvolvimento consideração sua causa. A primeira é a menopausa fisiológica,
posterior de um novo folículo e a ovulação, e por último, 8 a resultante da falência ovariana e a segunda é a artificial
10 dias após o corpo lúteo degenerar, seus hormônios decorrente de remoção cirúrgica dos ovários ou pela
diminuem gradualmente provocando regressão do radioterapia, geralmente ocasionada pelo tratamento de
endométrio, através de isquemia e descamação dando início patologias intraabdominais como tumores ovarianos e
à fase menstrual. E a partir do momento que este hormônio endometrioses.
diminui, é dado um estímulo ao hipotálamo e à hipófise anterior No climatério, e principalmente na pós-menopausa
provocando uma elevação de FSH e LH, o que dará início a ou pós-climatério ocorrem alterações fisiológicas em todo
outro ciclo [6]. organismo, decorrentes do hipoestrogenismo, podendo
Os ciclos menstruais podem tornar-se irregulares estas aparecerem a curto, médio e longo prazo. A curto
(curtos ou longos) e o fluxo menstrual pode variar de pouco prazo (fogachos, transpiração, suores noturnos, insônia,
a muito culminando com o esgotamento total da depressão, irritabilidade, secura vaginal e colesterol
população folicular, processo este que desencadeia, no aumentado). A médio prazo (secura e irritação vaginal,
corpo feminino, um conjunto de alterações psíquicas, dispareunia, problemas com micção, incontinência
físicas e anatômicas decorrentes do hipoestrogenismo urinária, doença cardiovascular). E a longo prazo
resultante das alterações morfo-funcionais ovarianas [7]. (osteoporose, doença cardiovascular). As alterações ora
Tais alterações geralmente ocorrem por volta dos 40-65 apresentadas podem ser ginecológicas e não ginecológicas,
anos, coincidindo com o período de transição da fase podendo as mesmas ocasionar perturbações de ordem
reprodutiva para a não reprodutiva, que compreende uma social, física, psíquica e sexual, inclusive com risco de
fase pré-menopausal, com duração variável de alguns anos, a vida. As principais alterações ginecológicas são as
partir do aparecimento de ondas de calor ou irregularidades disfunções urogenitais, genitália interna e externa.
menstruais; a menopausa propriamente dita é uma fase pós- Enquanto as não ginecológicas estão representadas pelos
menopausal, a qual dura cerca de 12 meses [8]. sintomas vasomotores, psíquicos e sexuais, alterações
O período pré-menopausal é caracterizado por uma atróficas da pele e dos anexos, e ainda distúrbios do
seqüência de ciclos marcados por uma fase folicular curta, metabolismo cardiovascular e ósseo.
e intervalos menstruais irregulares, podendo fazer com Segundo Marinho [9], o trato vaginal freqüentemente
que as menstruações cessem de forma abrupta, sendo mais sofre alterações consideráveis nos primeiros 5-10 anos após
comum diminuir o fluxo menstrual e sua duração. Essas a menopausa. Dentre os sintomas de envelhecimento
alterações no ciclo menstrual são devidas ao início da urogenital destacam-se a incontinência urinária, os
exaustão folicular que ocasiona transtorno no eixo sintomas irritativos e a infecção do trato urinário baixo,
hipotálamo-hipófise-ovário, desencadeando uma decorrentes da diminuição da elasticidade dos tecidos,
diminuição tanto do estrogênio quanto de inibina, eliminando atrofia celular, degeneração nervosa e diminuição do tônus
assim o feedback negativo dos estrogênios no sistema da musculatura lisa e esquelética, desencadeando atrofia
hipotálamo-hipófise, resultando em aumento do FSH na genital. Diante disto [8], a diminuição do estrogênio
tentativa de manter a foliculogênese normal, mas como esses circulante ocorre uma alteração na tonicidade e no
folículos restantes são de má qualidade, muitas vezes ocorre trofismo das fibras musculares pélvicas, levando à atrofia
maturação folicular irregular sem exaustão do óvulo, da mucosa uretral produzindo um alargamento da uretra,
obtendo-se assim um estado estrogênico deficitário. e conseqüentemente uma menor resistência ao fluxo.
A menopausa propriamente dita se dá com a parada Sendo assim, há uma diminuição do volume da
total da menstruação, momento em que os ovários deixam musculatura estriada da uretra, pois o hipoestrogenismo
de produzir estrogênio e progesterona, hormônios reduz a irrigação sanguinea nos tecidos urogenitais
responsáveis pelo controle da menstruação. impedindo a atividade muscular, sendo substituído o
Por fim, temos o período pós-menopausal. Nesta fase, tecido muscular por tecido conjuntivo determinando uma
o ovário não dispõe de folículos suficientes para fazer a diminuição na pressão uretral.
conversão de androgênio em estradiol, que sob o estímulo Diante disto, o que a fisioterapia pode fazer para
de LH produz androgênios, os quais serão lançados para amenizar o quadro vivenciado por essas mulheres
a circulação e convertidos perifericamente (pele, tecido climatéricas?
gorduroso, fígado, rins e outros) em estroma, hormônio mais Segundo Souza e Andrade [10], o fisioterapeuta como
fraco que predomina na mulher pós-menopáusica. conhecedor do declínio das capacidades funcionais tais como
A menopausa é o período mais crítico de todo climatério, capacidade respiratória, massa muscular, massa óssea e
pois esta fase corresponde ao último episódio de sangramento velocidade de condução nervosa, é indispensável que ele
menstrual ocorrendo por volta dos 50 anos, no qual a mulher seja um agente incentivador à prática de exercício como ato

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preventivo, e não apenas curativo, já que apesar dessas diminuindo a freqüência cardíaca de repouso, hipertrofia
alterações, o corpo apresenta uma boa plasticidade com miocárdica e diminuindo a resistência vascular periférica
relação às atividades físicas específicas. Sendo assim, a sistêmica); quanto para diminuir a densidade mineral óssea
fisioterapia tem como objetivo geral promover uma boa prevenindo ou minimizando a reabsorção óssea decorrente
atividade física e ajudar a mulher a ajustar-se às mudanças da osteoporose.
deste período, tornando-as mais esclarecidas, preparadas Esses exercícios, segundo Fernandes et al. [16], são
e saudáveis. realizados, sempre impondo sobrecarga mecânica sobre os
Desta forma, os exercícios aplicados durante esta fase ossos, como nas caminhadas, freqüentemente feitos de 3 a
devem ser praticados regularmente de forma leve e 5 vezes por semana com duração de 30 a 40 minutos, pois
moderada visando combater doenças cardiovasculares essas atividades que suportam peso combinam a gravidade
(devido o aumento do nível de colesterol HDL, e a contração muscular para sobrecarregar os ossos das
responsável por proteger as coronarianas); o diabetes extremidades inferiores e coluna estimulando a remodelação
(através da melhora do metabolismo da glicose); a óssea; e fixando melhor a estrutura óssea pelo aumento da
instalação da osteoporose (através do aumento da massa força muscular, diminuindo assim os problemas
óssea); as agias vertebrais; a obesidade; a hipertensão osteoarticulares, de forma a reduzir a dor e a mobilidade,
arterial; a ansiedade e a depressão. Podendo melhorar ainda facilitando o movimento articular. No entanto, embora o
a flexibilidade, a resistência, o tônus muscular, a postura e a exercício seja indispensável para a melhora da qualidade de
auto-estima, sem contar que os exercícios físicos ajudam vida destas mulheres, é imprescindível que este esteja
também na síntese de mais hormônios e trazem enormes associado a um controle dietético sob orientação médica,
benefícios à saúde [12]. de modo a diminuir massas, gorduras, fumo, álcool e
Portanto, este tratamento uma vez realizado no aumento do consumo de produtos ricos em cálcio e outros
climatério tem como objetivo orientar quanto às nutrientes para facilitar a remodelação óssea, diminuir a
alterações fisiológicas desta fase; prevenir e conservar a obesidade e minimizar os problemas cardiovasculares.
saúde; combater doenças degenerativas minimiza os A incontinência urinária e a anorgasmia geralmente
sintomas vasomotores; aumentar o vigor físico; aumentar presentes nesta época decorrem da hipotonia da musculatura
a capacidade aeróbica e cardiorespiratória; tratar e/ou do assoalho pélvico ocasionada pelo hipoestrogenismo e pela
prevenir a osteoporose; melhorar equilíbrio; agilidade e ação da própria gravidade no decorrer dos anos. Esses
amplitude de movimento; prevenir e/ou tratar a sintomas se apresentam, já que essa musculatura é
incontinência urinária e melhorar a conscientização responsável pela sustentação das vísceras pélvicas; pelo
corporal e a postura [11]. controle dos esfíncteres e pela função sexual. No entanto,
A fisioterapia aborda diversos exercícios levando em estas alterações podem ser revertidas consideravelmente
consideração o quadro da paciente. É importante iniciar através de exercícios terapêuticos perineais (exercícios de
sempre com o relaxamento associado-o a exercícios Kegel), os quais garantem a hipertrofia da parede pélvica,
respiratórios e de autocontrole, abrandando, no entanto, principalmente do músculo pubococcígeo (que se contrai
os fogachos e diminuindo a ansiedade, ajudando a aliviar ritmicamente durante o orgasmo), além de manter a
a dor e a tensão muscular. Com relação aos alongamentos, lubrificação vaginal tendo em vista a secura vaginal nessa
o objetivo é aumentar a amplitude de movimento, e época do climatério, permitindo a melhorar do desempenho
conseqüentemente a força muscular, já que estes orgásmico [17].
favorecem a relação comprimento-tensão do músculo, E com relação à incontinência urinária, o fortalecimento
produzindo assim um maior pico de tensão aumentando desta parede pélvica impede a perda freqüente de urina. E
a força de contração do músculo [13]. para se conseguir esse aumento de força dispõe-se de
Diante de tantas alterações existentes, o fisioterapeuta diversos procedimentos fisioterapêuticos como a
deve deixar o paciente informado sobre todas, sempre conscientização da musculatura perineal, exercícios
vendo a paciente holisticamente, exigindo um trabalho isométricos de adutores de quadril, exercícios ativos de MMII
global no qual utilize várias modalidades de exercícios e de pelve (ponte), e principalmente os exercícios perineais.
visando aumentar a mobilidade, a força, a resistência dos Além da eletroestimulação endovaginal, realizada nos casos
músculos, já que são pouco trabalhados. No entanto, o extremos de perda urinária, pois segundo Amaro et al. [18]
fisioterapeuta deve desenvolver um programa de exercícios a realização destes exercícios aumenta a pressão abdominal
que minimize os sintomas tanto do sistema logo no início do tratamento, onde a fragilidade muscular é
cardiovascular, como do assoalho pélvico, da osteoporose grande pode haver perda de urina na hora do exercício,
e das articulações, tendo em vista estes serem os maiores desestimulando a paciente a prosseguir o tratamento. Nestes
problemas. Ferriani [15] esclarece que são realizados tanto casos, inicialmente usa-se eletroestimulação endovaginal, e
exercícios aeróbicos para controle da obesidade como da após algum tempo inicia-se exercitando os seguintes grupos
performance cardiovascular (aumentando o débito cardíaco; musculares: reto-abdominal, oblíquos internos, externos,

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 409

adutores e glúteos, os quais também ajudam a sustentar a 8. Halbe HW, Fonseca AM. Fisiologia do climatério. In: Halbe
bexiga e a uretra, diminuindo as perdas urinárias. HW. Tratado de ginecologia. 2 ed. São Paulo: Roca; 1993.
p.1236-40.
9. Marinho RM.Climatério.Efeitos sobre os sistemas
Conclusão geniturinário, cardiovascular e ósseo. Manual para Tego/
Técnico especialista em ginecologia e obstetrícia. Rio de Janeiro:
Levando em consideração todo o embasamento teórico Medsi, 1997. p. 153-6.
acima, pode-se dizer que o tratamento fisioterapêutico 10. Souza ELBL, Andrade AV. A importância da fisioterapia na
contribui bastante na melhora de qualidade de vida destas atividade física durante o climatério e terceira idade. In: Souza
ELBL. Fisioterapia aplicada à obstetrícia. Aspectos de
mulheres, uma vez que este conscientiza e prepara a
ginecologia e neonatologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2002.
mulher para conviver com todas essas alterações orgânicas. p. 403-10.
Neste caso, a fisioterapia atua tanto a nível primário, 11. Braz MM. Fisioterapia no climatério e na menopausa. [citado
quanto a secundário proporcionando assim o alívio ou 2003 may 20]. Disponível em URL: <http://
resolução dos sintomas referidos. www.esps.ufsc.br.htm.
12. Exercício físico no climatério. [citado 2003 jun 02]. Disponível
em URL: <http//www.sogesp.com.Br/protocolos/
Referências
manuais/climatério/index.htm>.
13. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
1. Flores AB. Menopausa e climatério. [citado 2002 sept técnicas. São Paulo: Manole; 1998. p.141-164.
10]. Disponível em URL:.http//sites vol.com.br/ 14. Schneider S. Climatério e menopausa. [citado 2003 jun 20].
adreflores/climatério.htm. Disponível em URL: http://www.geocities.com/
2. Warnich R, Williams PL. Gray. Anatomia. 29 ed. Rio de Sheylaceroni/index.html.
Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. p. 1274-86. 15. Ferriani RA. Tratando do climatério: medidas alternativas e
3. Giordano MG, Baptista CF, Costa OT. Ciclo Menstrual. estilo de vida. Reprod Clim 2001;16(S2):54-9.
In: Giordano MG. Ginecologia endócrina e da 16. Fernandes CE, Melo NR, Wehba S, Machado RB. Osteoporose
reprodução. São Paulo: Byk; 1998. p. 55-61. pré-menopausa. In: Fernandes CE, Melo NR, Wehba S.
4. Guyton A, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 9. ed. Climatério feminino. Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. p. 925-36. São Paulo: Lemos; 1999. p. 93-135.
5. Diefenbach AP. [citado 2003 mar 20]. Disponível em: 17. Rabelo ALG, Barrote D, Souza ELBL, Marcos Neto J.
URL:<http://members.tripod.com/ mediworks/ Anatomia feminina. In: Souza ELBL. Fisioterapia aplicada à
Fisiologia/fisio.htm>. obstetriçia. Aspectos de ginecologia e neonatologia. 3 ed. Rio
6. Jacob SW, Francone CA, Lossow WJ. Anatomia e de Janeiro: Medsi; 2002. p.1-7.
fisiologia humana. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara 18. Amaro JL, Agostinho AD, Trindade JCS, Lautenschlager
Koogan; 1990. p.504-17. MFM, Gameiro MOO. Eletroestimulação endovaginal e
7. Bastos ÁC. Noções de ginecologia. 9 ed. Rio de Janeiro: cinesioterapia no tratamento da incontinência urinária de
Guanabara Koogan; 1990. p. 29-43, 56-58. esforço. Jornal Brasileiro de Ginecologia; 1997:189-90. C

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410 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Normas de publicação Fisioterapia Brasil

A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. dos artigos originais.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros 4. Atualização ou divulgação
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que
pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um
Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê
artigo de revisão.
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações
que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical 5. Relato de caso
Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada
de outubro de 2001. São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e- características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não e pode ser realizado em humano ou animal.
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
6. Comunicação breve
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
1. Editorial comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
de seus membros. A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
2. Artigos originais
7. Resumos
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato 8. Correspondência
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências trabalho antes de se publicar a carta.
bibliográficas. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL

3. Revisão 1. Normas gerais

São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira:

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004 411

fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as 5. Agradecimentos
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, em uma secção especial.
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o 6. Referências
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
o nome do artigo, data e autor. relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
2. Página de apresentação
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
- Título em português e inglês. diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
títulos acadêmicos. ponto, páginas inicial e final, ponto.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o Exemplo:
respectivo endereço, telefone e E-mail. Livro:
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
3. Autoria Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
pública do seu conteúdo. iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. a abreviação latina et al.

4. Resumo e palavras-chave Exemplo:


(Abstract, Key-words) Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo Cancer Res 1994;54:5016-20.
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês. Os artigos, cartas e resumos devem ser
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: enviados para:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, meto- Jean-Louis Peytavin
dologia, análise). Atlantica Editora
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. 20021-180 Rio de Janeiro RJ
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para Tel: (21) 2221 4164
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos E-mail: jeanlouis@atlanticaeditora.com.br

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412 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 5 - setembro/outubro de 2004

Calendário de eventos
2004 Março
8 de março
Novembro 2º FISIOTRAB - Congresso Brasileiro de Fisioterapia
4 a 6 de novembro do Trabalho
I Congresso brasileiro da Sociedade Nacional de Hotel Bourbon Tower, Curitiba, Paraná
Fisioterapia Esportiva Informações: (41) 28403194
Delphin Hotel, Guarujá SP E-mail: fisiotrab@fisiotrab.com.br
Informações: www.sonafe.org.br
10 a 13 de novembro Abril
V Interdisciplinary World Congress on Low Back and 10 a 14 de abril
Pelvic Pain 3º Congresso da Sociedade Internacional de
Melbourne, Austrália Medicina Física e de Reabilitação
info@worldcongresslbp.com
Hotel Gran Meliá, São Paulo
11 a 14 de novembro Informações: isprm2005@isprm.org
10th World Sport for All Congress 2004
Roma, Itália
Maio
Email: sportforallcongressroma2004@coni.it
21 a 25 de maio
12 a 15 de novembro
6th International Conference on Preventive
XII Simpósio de Fisioterapia da UFSCAR
Cardiology
III Encontro de Ex-Alunos da UFSCAR
Foz do Iguaçu, PR
II Congresso Brasileiro de Pesquisa em Fisioterapia
Informações: prcardio2005@congresosint.com.ar
e suas Aplicações
São Carlos, SP
Tel: (16) 272-0379 Junho
18 a 21 de novembro 4 a 7 de junho
9th AAARL Meeting in Sports Medicine 7th Congress of the European Federation of National
Ribeirão Preto, SP Associations of Orthopaedics and Traumatology
Email: aweltson@fmrp.usp.br (EFORT)
19 a 21 de novembro Lisboa, Portugal
VIII FisioFundão Informações: efort2005@netcabo.pt
Tel: (21) 98655713 26 a 30 de junho
E-mail: ale248br@yahoo.com.br XVIII World Congress of Gerontology: New
26 a 28 de novembro Perspective: Healthy Aging in the XXIst century:
Restoration in Hemiplegia “Building Bridges Between Research and Practice”
Athens, Grécia Rio de Janeiro, RJ
tnt@tnt-executive.gr Informações: nortonsa@uol.com.br

30 de novembro a 3 de dezembro
3º Congresso Brasileiro da Ciência e Arte da Outubro
Oclusão, Sensibilidade e Motricidade 6 a 8 de outubro
São Paulo, SP International Spine Symposium
Informações: (11) 5549-3207 Londres, Reino Unido
E-mail: bodutra@oclusivo.com.br Informações: contact@spineinternational.org
www.oclusivo.com.br

2005 2006

Janeiro Março

10 a 15 de janeiro 20 a 25 de março
III Encontro Nacional dos Acadêmicos de 5th International Conference on Advances in
Fisioterapia – III ENAFISIO Pulmonary Rehabilitation and Management of
Belém, Pará Chronic Respiratory Failure
Informações: (91) 9986-6258 Stresa, Itália
E-mail: mst_andre@yahoo.com.br Informações: congressi@effetti.it

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 413

○ ○
Fisioterapia Brasil
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Índice
(vol.5, nº6 novembro/dezembro 2004 - 413~500)
EDITORIAL
Na terra onde o C equivale a A e o B não vale nada, Marco Antonio Guimarães da Silva .................................................................... 415

ARTIGOS ORIGINAIS
Mensuração da qualidade de vida de pacientes hemiplégicos espáticos após aplicação
de toxina botulínica tipo A, Sérgio Lianza, Carina Elias Baron .................................................................................................................... 416
Perfil de mulheres com câncer de mama submetidas à cirurgia mamária no hospital geral de Taubaté – São Paulo,
Aline Vigneron Mendes, Jéssica Borges Pinto, Rosiris Aparecida de Oliveira Siqueira Fabricio, Máyra Cecília Dellú ................................ 420
Ginástica e sintomas osteomusculares em trabalhadores de uma indústria têxtil de Minas Gerais,
Francis Moreira Mendonça, Flávia Mara Gomes da Trindade, Lívia de Oliveira, Rosana Ferreira Sampaio,
Fabiana Caetano Martins Silva, Gisele Beatriz de Oliveira Alves ...................................................................................................................... 425
Fisioterapia
Dinamômetro prática
analógico adaptado: um dispositivo para medir o torque muscular,
Renato Alves Sandoval, Roberto Sergio de Tavares Canto, Mário Antônio Baraúna .................................................................................... 431
Caracterização do desenvolvimento motor da criança institucionalizada,
Andréa Antunes Gregorut Castanho, Silvana Maria Blascovi-Assis ................................................................................................................. 437
Incidência de lesões músculo-esqueléticas em tenistas,
Guilherme Lotierso Fehr, Mayko Olinto Amaral da Silva ................................................................................................................................. 443
A influência da hemisfericidade e da visualização do movimento em atividade de prática mental,
William Bezerra Leite, Vernon Furtado da Silva, Alair Pedro Ribeiro, Martha Lovisaro ............................................................................... 445
Avaliação cardiológica do atleta: literatura versus prática clínica e sua importância para o fisioterapeuta,
Rogério Leão d’Alessandro, Cristiane Almeida Teixeira, Raquel Rodrigues Britto, Anderson Aurélio da Silva ....................................... 451
Alterações posturais no atletismo: estudo analítico da seleção brasileira
nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo 2003, Carlos Marcelo Pastre, Jayme Netto Jr,
Carlos Roberto Pereira Padovani, Henrique Luiz Monteiro, Guaracy Carvalho Filho ................................................................................... 457

REVISÕES
O trauma perineal no parto, Ana Carolina Sartorato Beleza, Ana Márcia Spanó Nakano ......................................................................... 462
Enfoque
Ginásticaanatômico do suprimento sangüíneo extraósseo e intraósseo do osso escafóide e sua relação com
Laborativa
a osteonecrose, Carlos Romualdo Rueff Barroso, Bernardo Garcia Barroso, Rogério Albuquerque Azeredo ....................................... 467
Interferência da órtese tipo AFO tornozelo-pé no crescimento e maturação óssea da criança
com hemiplegia espástica, Simone Ribeiro de Carvalho, Márcia Freitas de Almeida Ribeiro,
Victor Hugo do Vale Bastos .................................................................................................................................................................................. 472
Uso do ventilador mecânico como recurso fisioterapêutico na UTI,
Rachel Maria da Silva Bezerra, Carlos Alberto Caetano Azeredo ...................................................................................................................... 478

ESTUDOS DE CASO
Acidente vascular encefálico: análise da função motora de um caso em tratamento na piscina aquecida,
Mônica Silvia Rodrigues de Oliveira, Andréa Abramo, Márcia Regina Pinez Mendes ................................................................................... 484
Síndrome da dor femoropatelar – eletromiografia, isocinética e ressonância magnética,
Alessandra de Castro Souza, Bernd Foerster, Alberto Tannus, Juliano Caldeira Pereira, Debora Bevilaqua-Grossi,
Alexandre Terruggi Junior, Vanessa Monteiro Pedro ........................................................................................................................................ 490
Treinamento pliométrico para atletas de handebol portadores de instabilidade multidirecional na articulação
glenoumeral, Cláudio Calmon G.G. Palha, Estela M.S. Ferrari, Adriana R.S. Gomes ................................................................................ 496

NORMAS DE PUBLICAÇÃO .............................................................................................................................................................. 500


414 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo)

Grupo de assessores
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá – Rio de Janeiro)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE – Bahia)
Dr. Farley Campos (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID – São Paulo)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA – HFAG – Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)

Revista Indexada na LILACS - Literatura


Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 415

Editorial

Na terra onde o C equivale


a A e o B não vale nada
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva


marco@atlanticaedu.com.br

O modo como encaramos e até incentivamos a inserção Se a justificativa para tal discrepância ampara-se na qualidade
de estrangeirismos na nossa língua pode ser um claro indica- dos artigos publicados, sugiro que se faça uma nova leitura
tivo da falta de identidade cultural. Já quase que nos acostu- do injusto julgamento.
mamos, sem cerimônias, a ter os nossos edifícios batizados Venho insistentemente escrevendo sobre os graves
com nomes expressos em quase todas as línguas, exceto a problemas de evidências encontrados nas pesquisas publicadas
língua pátria. Deletamos os documentos indesejáveis, restartamos em periódicos de impacto e classificados como “A” internacional,
o PC (personal computer) e por aí afora. supostamente os melhores do mundo na sua área de atuação.
Se a nossa subordinação colonizada parasse por aí, poderia Faz sentido? Se você acha que não, tente falar com Deleuze.
restar àqueles que ainda sofrem de indignação com a surda e Em a Lógica do sentido (Logique du sens, 1969) Gilles Deleuze
onipresente invasão usurpadora da língua mãe algum consolo. (1925-1996), nos apresenta um conjunto de 34 paradoxos
Mas não pará. Tal e qual um câncer em fase de disseminação, através dos quais podemos vislumbrar o sentido da realidade.
sem nenhum esboço nosso de resistência, por covardia ou, Para Deleuze o sem sentido se faz presente em todas as partes
talvez, mais eufemisticamemte se expressando, por apatia, e põe de relevo a quantidade de esquizofrenias e elementos
nos deixamos contaminar e vencer. O que vem de “fora” inconscientes que nos separam de um pretendido e impossível
sempre nos parece mais confiável, de melhor qualidade, e é conhecimento nítido das coisas. A obra do filosofo francês
sempre o melhor. Temos excelentes cursos de doutorado e pode não se aplicar integralmente à situação que discuti acima,
mestrado, mas vir com o título de uma universidade européia mas, digressões à parte, ajuda a entendê-la.
ou americana (algumas vezes de origem duvidosa) impres- A nossa solução, ao menos momentânea, seria recorrer
siona os menos esclarecidos. Em algumas situações, um a Florbela Espanca que, embora referindo-se em seu poema
sobrenome de difícil pronúncia pode ser o diferencial de ao desengano amoroso, termina por sugerir a ilusão do país
desempate ao preenchimento de vagas de emprego, deixando- que sempre sonhamos, mas que talvez nunca tenha existido.
nos, os Pereiras e os Silvas da vida, em segundo plano. As festas Nesse País de lenda, que me encanta,
das bruxas – Halloween – começam a se incorporar e prosperar Ficaram meus brocados, que despi,
na nossa cultura. O futebol americano, aquele que aposenta E as jóias que plas aias reparti
as chuteiras, se insinua e já se faz presente nos nossos campos Como outras rosas de Rainha Santa!
de pelada, que a partir de agora terão que mudar de alcunha.
A regra da subserviência cultural e artística parece se Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
confirmar para todas as áreas. Na área acadêmica das publi- Foi por lá que as semeei e que as perdi...
cações observa-se a seguinte pérola: um periódico indexado Mostrem-se esse País onde eu nasci!
fora do país com a classificação “C”, dada por órgão Mostrem-me o Reino de que eu sou Infanta!
competente no Brasil, equivale, segundo o mesmo órgão, a Ó meu País de sonho e de ansiedade,
periódico classificado como “A” nacional. Os periódicos nacio- Não sei se esta quimera que me assombra,
nais indexados pelo Sistema indexador LILACS/BIREME É feita de mentira ou de verdade!
(cujo rigor indexador é infinitamente maior que os indexadores
de periódicos “C” internacionais) são classificados como “B” Quero voltar! Não sei por onde vim...
nacionais. Em resumo, uma revista cientifica “C” internacional Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
vale tanto quanto a “A” nacional e mais que a “B” nacional, Por entre tanta sombra igual a mim!
segundo o critério de julgamento utilizado por nós mesmos. Nostalgia, Florbela Espanca

* Editor científico de Fisioterapia Brasil, Pós-Doutorado na UFRJ, Professor do curso de mestrado da UCB
416 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Artigo original

Mensuração da qualidade de vida de pacientes


hemiplégicos espáticos após aplicação de toxina
botulínica tipo A
Assessment of quality of life in hemiplegic patients after application
of botulinum toxin type A

Sérgio Lianza*, Carina Elias Baron**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Diretor Serviço de Reabilitação da Santa Casa de São Paulo (SRSCSP), **Fisioterapeuta Residente do SRSCSP

Resumo Abstract
Este trabalho foi desenvolvido com a finalidade de mensurar a The aim of this work was to assess quality of life of 25
qualidade de vida, após a aplicação de toxina botulínica tipo A, de hemiplegic patients with spasticity, with average age of 57 years
25 pacientes hemiplégicos espásticos, com idade média de 57 anos, old, being 13 men and 12 women, after botulinum toxin
sendo 13 homens e 12 mulheres. Para esta mensuração utilizamos application. The questionnaire SF-36 was used in three different
o questionário SF-36, o qual foi aplicado em três avaliações diferentes tests, each one with interval of 45 days. The results show significant
com intervalos de tempo de 45 dias entre uma e outra avaliação. improvement of life quality, after 3 months treatment.
Após o período de 3 meses de tratamento observamos uma melhora Key-words: hemiplegia, spasticity, quality of life, botulinum toxin.
significativa na qualidade de vida desses pacientes.
Palavras-chave: hemiplegia, espasticidade, qualidade de vida,
toxina botulínica.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução de saúde; (3) dor no corpo; (4) percepção geral de saúde; (5)
vitalidade (energia e fadiga); (6) limitação de atividades sociais
A espasticidade que se instala após o AVC é fator de por problemas de saúde; (7) limitação nas atividades de vida
incapacidade para a realização das atividades de vida diária diária por problemas emocionais; (8) saúde mental geral
(AVD) e causa de invalidez [1,2]. A toxina botulínica tipo A é (controle psicológico e bem-estar) [8,9].
um recurso auxiliar no controle desta disfunção incapacitante As aplicações repetidas desses instrumentos no decorrer de
quando os métodos tradicionais falham, aplicando-a em pontos um período mensuram a melhora ou piora do paciente em
chaves pré-determinados. Devolvemos ou melhoramos a diferentes aspectos, tanto físicos como emocionais, tornando-
qualidade de vida desses pacientes [2,7]. O efeito da toxina se útil para avaliação de determinadas intervenções [9].
botulínica tem início entre 24 e 72 horas, com início da
melhora clínica entre 7 a 10 dias da aplicação. A duração do Objetivo
efeito é variável, entre 2 a 6 meses [2].
A qualidade de vida (QV) é um termo coletivo que engloba Avaliar por meio do Questionário SF-36 a qualidade de
vários componentes pessoais tais como o estado físico, social vida de pacientes hemiplégicos espásticos após aplicação da
e mental [8], e pode ser avaliada pelo SF-36 (Short-Form Health toxina botulínica tipo A.
Survey) que é um método de avaliação física e mental da saúde,
formado por 36 itens, agrupados em 8 conceitos de saúde, Material e métodos
sendo que, cada um desses itens varia seu score entre zero (0)
e cem (100) [8,9]. São eles: (1) limitação nas atividades de A mensuração ocorreu nos pacientes hemiplégicos
vida diária; (2) limitação das atividades físicas por problemas espásticos do Serviço de Reabilitação da Santa Casa de

Recebido 28 de dezembro de 2003; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Carina Elias Baron, Rua Nanuque, 115, bloco A3/82, 05302-030 São Paulo SP, Tel: (11)3831-2616, E-mail:
carinabaron@zipmail.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 417

São Paulo, por meio de um estudo de 36 itens do ques- Fig. 3


tionário SF-36.
Todos os pacientes hemiplégicos espáticos que
apresentavam déficit cognitivo, deformidades instaladas e
uma expectativa além da real sobre os efeitos da toxina,
foram excluídos do tratamento. Os demais foram incluídos.
Os pacientes foram internados um dia antes da aplicação
da toxina botulínica e, neste dia, passaram por avaliação
médica e fisioterapêutica, e submeteram-se a responder o
questionário SF-36. No dia seguinte receberam a toxina (em Fig. 4
seus membros superiores e/ou inferiores, conforme a
necessidade pré-estabelecida nas avaliações) e tiveram alta.
Um dia depois da aplicação, os pacientes retornaram ao
ambulatório da fisioterapia, com acompanhante, onde
receberam um manual de orientações para serem realizadas
domiciliarmente, contendo exercícios importantes como:
alongamentos dos membros superiores e inferiores
enfatizando os membros plégicos (Fig. 1), alongamento de
cadeia posterior e cadeia lateral de tronco (Fig.2);
transferência de peso em diferentes posturas para os Após 45 dias, todos os pacientes novamente reuniram-
membros inferiores e superiores (decúbito dorsal, ajoelhado, se no ambulatório para uma reavaliação por parte da
semi-ajoelhado, sentado, em ortostatismo) (Fig. 3); exercícios fisioterapia e da equipe médica, onde foram tiradas as
passivos (orientados a serem realizados pelo acompanhante), dúvidas em relação aos exercícios e posicionamentos e,
exercícios ativos e/ou ativos-assistidos (visando o aumento novamente, responderam ao questionário de qualidade de
da amplitude de movimento e mobilidade articular e vida. Uma última avaliação das equipes de fisioterapia e
fortalecimento); fortalecimento através de exercícios médica ocorreu 90 dias após a aplicação; pela última vez os
isométricos (Fig.4); exercícios de equilíbrio em gato e em participantes puderam esclarecer possíveis dúvidas e
degraus; exercícios para propriocepção; posicionamento responderam às questões do questionário SF-36.
adequado para os membros plégicos; posturas corretas, e O método estatístico utilizado foi uma análise de variância
orientações para a devolução e/ou facilitação da função ao denominada ANOVA. Este método nos mostra se existe
término da aplicação, como, por exemplo, estimular o uso diferença entre o pós e pré-tratamento. Sendo o valor de p
do lado hemiplégico na realização das tarefas diárias. uma probabilidade que varia de 0 a 1, e em nosso caso, pelos
números estatísticos igual a 0,08, a estatística descritiva, nos
Fig. 1
leva a acreditar que, sendo o valor de p menor que 0,08, os
dados são significativos (há diferença entre os resultados da
primeira e última avaliação). Em nosso estudo, a estatística
descritiva oscilou conforme a variável considerada, onde: dor
(p = 0,26), aspectos sociais (p = 0,71), saúde mental (p =
0,47), estado geral de saúde (p £ 0,0001), capacidade funcional
(p = 0,35), aspectos físicos (p = 0,63), vitalidade (p = 0,92) e
aspectos mentais (p = 1,00).
O desvio padrão entre a 1ª avaliação e a 2ª avaliação,
um valor de = 20,04 ; e entre a 1ª avaliação e a 3ª avaliação
Fig. 2 um valor para o desvio padrão = 30,39. Sendo o desvio
padrão uma medida de variação dos dados em relação à
média, ou seja, ele avalia o quanto os dados estão dispersos
em relação à média, podemos dizer que nosso desvio padrão
está dentro dos limites aceitáveis.

Resultados

Os resultados do questionário foram mensurados através


de um programa de computador específico para o cálculo
dos valores do SF-36.
418 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Na primeira avaliação realizada um dia antes da aplicação Destes, 04 pacientes apresentavam hemiplegia à direita
da toxina botulínica, estavam presentes 25 pacientes; na (26,66%) e 11 pacientes (73,33%) apresentavam hemiplegia
segunda avaliação (45 dias após a aplicação da toxina), à esquerda, sendo 09 pacientes acometidos no lado
estavam presentes 21 pacientes e, na última avaliação (90 dominante (60%). Gráfico 2.
dias após a aplicação), estavam presentes 17 pacientes.
Esta desistência deve-se ao fato da maioria dos pacientes Gráfico 2 – Predominância do hemicorpo.
residirem longe do hospital, serem carentes de locomoção e
apresentarem grande dificuldade financeira para estarem
locomovendo-se. Alguns pacientes ainda relataram que a
falta ocorreu por não terem acompanhante disponível.
Outros ainda, por não acharem importante esses encontros
de orientação após a aplicação, nos apontando a necessidade
de um maior esclarecimento em relação à importância deste
tipo de tratamento após a aplicação da toxina.
Em todos os três encontros compareceram 15 pacientes,
portanto, o relato deste estudo será baseado neste número.
Foram tratados 06 mulheres (40%) e 09 homens (60%)
com idade entre 41 e 73 anos de idade (média de 57 anos). Na Tabela I, podemos observar os valores comparativos
Gráfico 1. entre a 1ª avaliação através do SF-36, e os resultados da
Gráfico 1 – Distribuição por sexo. segunda avaliação realizada 45 dias após a aplicação da
toxina botulínica.
Comparando as respostas do primeiro questionário aplicado
(antes de receberem a toxina botulínica) com os resultados do
terceiro questionário respondido (90 dias após a aplicação da
toxina), temos os seguintes dados formulados na Tabela II.

Discussão

Na análise da Tabela I, observamos que 6, dos 8 itens


do SF-36 (Capacidade Funcional, Aspectos Físicos, Dor,
Estado Geral de Saúde, Vitalidade e Saúde Mental),
obtiveram a maioria dos pacientes melhorados após os 45

Tabela I – Evolução dos pacientes comparando a 1ª aplicação do SF-36 com a 2ª aplicação do questionário.

Capacid. Aspectos Dor Estado Vitalid Aspectos Aspectos Saúde


Funcion. Mental

Físicos Geral Sociais Emocion


Melhora 7 7 7 10 7 5 5 9
Piora 6 4 6 4 4 6 3 5
Inalterado 2 4 2 1 4 4 7 1

Número de pacientes de acordo com sua evolução em 45 dias. Fonte: Dados do pesquisador.

Tabela II – Evolução dos pacientes comparando a 1ª aplicação do SF-36 com a 3ª aplicação do questionário.

Capacid. Aspectos Dor Estado Vitalid Aspectos Aspectos Saúde


Funcion. Mental

Físicos Geral Sociais Emocion


Melhora 4 4 7 15 5 6 2 8
Piora 8 7 6 0 6 5 4 5
Inalterado 3 4 2 0 4 4 9 2

Número de pacientes de acordo com sua evolução em 90 dias. Fonte: Dados do pesquisador
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 419

dias de tratamento com a toxina botulínica tipo A em Conclusão


conjunto com as medidas terapêuticas realizadas por
fisioterapeutas que visaram o incremento da auto- A aplicação de toxina botulínica tipo A, propicia uma
suficiência. melhora na qualidade de vida de pacientes hemiplégicos
Ao observarmos a Tabela II, notamos que a maioria espásticos, mas, talvez, seja necessário um acompanhamento
dos pacientes relatou melhora nos itens Dor, Aspectos Sociais, maior por parte da equipe multidisciplinar para que este se
Saúde Mental. O conceito Estado Geral de Saúde deve ser potencialize e perdure por mais tempo.
enfatizado, pois 100% dos pacientes obtiveram melhora neste
item. Referências
No conceito Aspectos Emocionais, tanto na Tabela I,
quanto na Tabela II, a maioria dos pacientes obteve resposta 1. Lianza S. In: Consenso Nacional sobre Espasticidade. Diretrizes
inalterada. Ao avaliarmos este item, fica claro, que ele não é para diagnósticos e tratamentos. São Paulo: SBMFR; 2001.
diretamente influenciado pelo tratamento que está sendo 2. Teive H G, Zonta M, Kumagai Y. Tratamento da espasticidade.
realizado, havendo necessidade de um tratamento psicológico Arq Neuro Psiquiatr 1998;56(4):852-8.
já que este conceito avalia a percepção do paciente quanto 3. Lundy-Ekman L. Neurociência: fundamentos para a reabilitação.
ao seu estado psíquico (depressão, tristeza, angústia; Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.143-7.
relacionamentos sociais e seu estado psicológico). 4. Spósito MMM. Hemiplegia por Acidente Vascular Cerebral –
Continuando a análise sobre a Tabela II, quanto aos itens Tratamento da espasticidade de membros superiores através
de bloqueio com toxina botulínica do tipo A. Rev de Medicina
Capacidade Funcional, Aspectos Físicos e Vitalidade,
de Reabilitação 1998;47:17-22.
podemos notar uma piora após os 90 dias de aplicação da 5. Hesse S, Brandl-Hesse B, Bardeleben A, Werner C, Funk M.
toxina. Coincidentemente, após este período começa a Botulinum toxin a treatment of adult upper and lower limb
ocorrer o rebrotamento dos terminais nervosos e, portanto, spasticity. Drugs & Aging 2001;18(4): 255-62.
a retransmissão neuromuscular [10], o que pode nos explicar 6. Lianza S, Gomes C, Carvalho AA, Campos RC de, Gagliardi
este resultado de piora destes conceitos. RJ. Medicina de Reabilitação. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
O item aspectos sociais mostrou resultados diversos na Koogan; 2001. p.265-80.
2ª e 3ª avaliações, havendo redução na avaliação dos 45 7. Quagliato EMAB. Tratamento da Espasticidade com toxina
Botulínica A. FCM/UNICAMP: Departamento de
dias e aumento na de 90 dias. É tarefa difícil avaliá-lo
Neurologia; 2001.
isoladamente, pois os aspectos ligados ao relacionamento 8. Brow L, Nusbaum IM, Ribeiro LGT. Quality of life: How to
interpessoal dependem não apenas da qualidade e dos efeitos assess it clinical trials. Arq Bras Cardiol 1988;50(6):365-8.
de uma proposta de tratamento, como também das 9. Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR.
características sociais e das relações familiares do paciente. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário
O SF-36 mostrou-se um instrumento útil na interpretação genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-
do efeito da ação do conjunto de medidas terapêuticas 36). Rev Bras Reumatol 1999;39(3).
aplicadas em pacientes hemiplégicos, porém não nos permite 10. Anderson TJ et al. Botulinium toxin treatment of spasmodic
aferir a ação isolada da toxina botulínica, dos recursos torticollis. Journal of Royal Society of Medicine 1992;85:524-9.
11. Lianza S, Bang GSS, Carqueja CL, Rossetto R, Alves DPL.
fisioterapêuticos, das atividades ocupacionais e/ou das
Resultados do atendimento concentrado da espasticidade com
técnicas de apoio psicológico e, desta forma, nos parece toxina botulínica tipo A em pacientes hemiplégicos. Med Reabil
que deve ser aplicado juntamente com outras escalas de 2003;22(1):9-10.
avaliação funcional tais como o índice de Ashworth [1], escala 12. Riberto M, Miyazaki MH, Jorge FD, Sakamoto H, Battistela
funcional da Santa Casa [11] e a medida de independência LR. Versão brasileira da Medida de Independência Funcional.
funcional [12]. Acta Fisiátrica 2001;8(1):45-52. 
420 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Artigo original

Perfil de mulheres com câncer de mama submetidas à


cirurgia mamária no hospital geral de Taubaté – São Paulo
Profile of women with breast cancer submitted to surgery
at Taubaté general hospital

Aline Vigneron Mendes*, Jéssica Borges Pinto*, Rosiris Aparecida de Oliveira Siqueira Fabricio*, Máyra Cecília Dellú**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Graduadas do curso de Fisioterapia da Universidade de Taubaté (UNITAU), **Fisioterapeuta, Professora de Fisioterapia ginecológica e
obstétrica da Unitau

Resumo Abstract
O câncer de mama tem se tornado um problema de saúde pública, The breast cancer has become a public healthy problem, with
com um aumento gradual e constante da incidência, principalmente a gradual increase and constant incidence, mainly in the countries
nos países em desenvolvimento. Mesmo com as campanhas de in development. Even with the prevention campaign, a great part
prevenção, uma grande parte da população não tem acesso às of the population does not have access to information. The aim
informações, diante disso este trabalho tem como objetivo traçar o of this work was to delineate the profile of an specific population
perfil de uma população específica acometida pelo câncer a fim de que with cancer in order to direct preventive campaigns. The studied
se possa redirecionar as campanhas preventivas. A população estudada population was constituted by women submitted to mammary
foi constituída por mulheres submetidas à cirurgia mamária para surgery to remove the malignant tumor in the period from January,
retirada de tumor maligno no período de janeiro 2001 a maio 2003, 2001 to May, 2003. They answered to a questionnaire with
que responderam a um questionário em que continha dados descriptive data about specific variables related to breast cancer.
descritivos e dados sobre variáveis específicas relacionadas ao câncer de After analysis of these data, we can observe that the major part of
mama. Após análise desses dados, pode-se observar que a maioria the women with cancer were 51-60 years old, married, belonging
das mulheres acometidas pela doença tinha entre 51-60 anos de idade, to the low and middle economic class and had 1-7 years of school:
eram casadas, pertencentes à classe econômica baixa e média e com 1- they related that they do not perform breast self-examination,
7 anos de estudo; relataram não realizar auto-exame das mamas, they took or are still taking contraceptives, smokers and had family
fizeram ou fazem uso de contraceptivos orais, fumavam e tinham history of breast cancer. This study showed that specific factors
história de antecedentes familiares de câncer de mama. Esse estudo related to breast cancer were present in these patients, and the
demonstrou que variáveis específicas relacionadas ao câncer de mama identification of these women’s profile can help in specific
estão presentes em mulheres acometidas pela doença, podendo ter campaigns to breast cancer prevention.
influência no surgimento da mesma; desta forma a identificação do Key-words: breast neoplasia, predisposition factors.
perfil dessas mulheres poderá ajudar no direcionamento de
campanhas de prevenção do câncer de mama.
Palavras-chave: neoplasia mamária, fatores predisponentes.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução os tumores de mama vitimaram cerca de 31.590 mulheres


no Brasil só no ano de 2001 [1]. Dados do Ministério da
O câncer de mama atualmente ocupa o primeiro lugar Saúde relatam que a região sudeste é a de maior incidência
em causa de morte por tumores em mulheres, já superando seguida das regiões nordeste, sul e centro-oeste. Na região
o câncer do colo do útero, que era o que mais matava mulheres nordeste, o câncer de mama ocupa o segundo lugar, sendo o
no Brasil, além de acarretar um gasto grande para o Ministério 1º lugar ocupado pelo câncer de colo de útero [2].
da Saúde em cirurgias e complicações decorrentes destas. A compreensão dos fatores determinantes da incidência
Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), e mortalidade por câncer de mama observados em diversos

Recebido 12 de janeiro de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Aline Vigneron Mendes, Rua Gastão Madeira, 152, Centro 11680-000 Ubatuba SP, Tel: (12) 3832-1560, E-mail:
alinevigneron@ig.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 421

países e regiões poderia contribuir para a identificação dos através de questionamento, foram: não realização do auto-
principais fatores etiológicos, bem como ajudar na sua exame, antecedentes familiares de câncer de mama, uso de
possível prevenção. O estudo epidemiológico do câncer de anticoncepcionais, reposição hormonal, tabagismo (esta três
mama é um dos métodos que mais tem ajudado os últimas foram consideradas pelo uso em qualquer época da
profissionais de saúde no controle da doença: indica os vida), idade da menopausa (referida pela paciente), cirurgias
fatores fisiológicos que podem contribuir para etiopatogenia ginecológicas, não amamentação, idade da primeira gestação,
da doença, ajuda a determinar os fatores de risco que podem idade da menarca. A variável cor foi determinada através
ser modificados para se evitar o desenvolvimento do tumor de questionamento de como as mulheres se classificavam,
e permite a identificação das mulheres de maior risco isto é, se consideravam brancas ou não brancas. A variável
selecionando-as para o diagnóstico precoce e tratamento classe econômica foi classificada pelas pesquisadoras através
adequado [3]. de observação in loco das condições de moradia e presença
As principais formas de diagnóstico são auto-exame das de bens duráveis (eletrodomésticos e automóveis) – classe
mamas, exame clínico, mamografia, ultrassonografia e biópsia baixa até três, classe média de quatro a seis, classe alta acima
da lesão [4], desses o principal é auto-exame, já que apresenta de seis bens duráveis.
baixo custo, pode ser realizado pela própria mulher, além de
funcionar também como uma prática de prevenção [2]. No Delineamento observacional
Brasil poucos são os casos diagnosticados na fase inicial, em
que o tratamento é mais eficiente e o prognóstico melhor, cerca A primeira parte deste estudo parte foi desenvolvida no
de 60% dos casos só são diagnosticados numa fase tardia da Hospital acima citado, realizando levantamento dos prontuários
doença, onde muitas vezes já se tornou incurável [5]. das pacientes que se enquadraram nos critérios de inclusão,
Ainda não se tem uma relação direta entre o câncer de exceto a permissão da paciente nessa etapa. Foram colhidas,
mama e seus agentes causadores, porém alguns fatores têm nesse levantamento, as seguintes informações: idade, endereço,
sido considerados com de risco para o surgimento do mesmo, telefone, data e tipo de cirurgia. Após essa coleta, as mulheres
tais como: contraceptivos orais, fatores genéticos, fumo, fatores selecionadas foram contactadas por telefone, sendo agendado
ambientais [2]. Algumas alterações das características nas uma data e horário para que os pesquisadores fossem até
populações femininas também podem estar contribuindo para suas residências, onde foi aplicado o questionário de entrevista
o aumento na incidência dessa doença como a gravidez tardia, contendo informações sobre dados pessoais, biótipo, história
obesidade, menor tempo de amamentação e estresse [1]. ginecológica e questões específicas para a identificação de
variáveis relacionadas ao câncer de mama citadas acima. As
Material e métodos entrevistas foram realizadas no período de julho a agosto de
2003.
A partir do preenchimento dos questionários, os dados
População de estudo e seleção das
coletados foram organizados em variáveis econômicas,
participantes
presença de características e somatória dessas características
em cada uma das mulheres entrevistadas.
Foram estudadas mulheres que se submeteram a
mastectomia no Hospital Geral da cidade de Taubaté, no
Procedimento analítico
período de janeiro de 2001 a maio de 2003. Estas mulheres
foram identificadas pelos prontuários e contactadas por telefone
Para armazenamento dos dados coletados, montou-se
ou em seus endereços. O critério de inclusão das mesmas na
um banco de dados a partir de planilhas de decodificação
pesquisa foi a condição de terem sido submetidas a mastectomia
específica. Para análise dos dados, foi realizada distribuição
para a retirada de tumores malignos, no Hospital Geral de
de freqüência das variáveis descritivas e específicas em
Taubaté, no período referido. O presente trabalho foi autorizado
tabelas.
pelo Comitê de Ética da Universidade de Taubaté e todas as
pacientes assinaram um termo de compromisso, permitindo a
utilização dos dados colhidos para fins científicos.
Resultados

Tipificação do estudo e caracterização das Foram selecionados 39 prontuários, destes registraram-


variáveis se 2 óbitos (5,1%), 05 recusas (12,8%), 08 não foram
localizadas (20,5%) e 24 foram entrevistadas (61,5%). A
O tipo de estudo foi observacional transversal analítico, idade mínima da mulher em que foi realizada a cirurgia foi
pelo fato que os dados de causa e efeito foram colhidos em de 24 anos e a máxima de 72 anos, sendo que a média de
único momento. As variáveis analisadas descritivas foram: idade foi de 51,6 anos. A tabela I descreve o perfil dos
idade, estado civil, escolaridade, biótipo e cor obtidas através casos estudados segundo idade, estado civil, classe econômica
de questionamento; e as variáveis específicas, também obtidas e escolaridade. A maioria das mulheres entrevistadas tinham
422 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

entre 51 e 60 anos na data da cirurgia, eram casadas, Quanto ao acúmulo das características específicas
pertencentes à classe econômica baixa e média e tinham relacionadas ao câncer de mama, pode-se observar que a
entre um e sete anos de estudo. maioria das mulheres apresentava dois ou mais fatores
associados, seis delas com três características, outras seis
Tabela I – Perfil dos casos estudados segundo variáveis idade, estado civil, com seis características cada, uma apresentou oito
classe econômica e escolaridade. características e uma não relatou nenhuma característica
Variáveis Valores absolutos Valores relativos (%)
associada, conforme demonstra tabela III.
O presente trabalho permitiu observar que alguns dados
Idade (anos) descritos na literatura como fator de proteção estavam
< 30 1 4,1 presentes na maioria das mulheres portadoras do câncer
31 – 40 2 8,3 mamário na população estudada, tais como: menarca tardia,
41 – 50 8 33,3
ocorrendo em 91,6% das mulheres, contra apenas 8,3%
51 – 60 9 37,5
60 4 16,6 com menarca antes dos 12 anos. Apenas uma mulher
apresentava história de primigesta tardia, sendo que a maioria
Estado: civil delas teve a primeira gestação no período considerado como
Casada 11 45,8 protetor para o câncer de mama, isto é, entre 20 e 28 anos.
Viúva 7 29,1
Quanto ao tempo de amamentação a maioria delas (45,8%)
Solteira 3 16,6
Outros 2 8,3
amamentou por período de três a doze meses, considerado
também fator protetor contra o surgimento da doença
Classe econômica (Tabela IV).
Média 12 50
Baixa 12 50 Tabela III – Distribuição de valores relativos e absolutos de mulheres com
associações das características específicas estudadas (n=24).
Escolaridade (anos)
0 3 12,5 Número Número de variáveis
1–7 16 66,6 de mulheres acumuladas
>8 5 20,8
Raça Va l o r e s Va l o r e s
Absolutos relativos (%)
Branca 16 66,6
Não branca 8 33,3 01 4,1 0
03 12,5 02
To t a l 24 100% 06 25 03
04 16,7 04
As características relatadas pelas mulheres relacionadas 03 12,5 05
ao câncer de mama como ausência do auto-exame, uso de 06 25 06
contraceptivos orais, menopausa tardia, cirurgia ginecológica, 01 4,1 08
antecedentes familiares, tabagismo, reposição hormonal, não
amamentação, gestação tardia, menarca precoce, estão
Tabela IV – Distribuição das variáveis de proteção (n=24).
expostas na tabela II.
As mais freqüentes foram ausência do auto-exame (62,5%), Variável Va l o r e s Va l o r e s
uso de contraceptivos (58,3%) e menopausa tardia (58,3%). absolutos relativos (%)

Tabela II – Distribuição de valores absolutos e relativos das variáveis Menarca tardia 22 91,6
específicas consideradas (n= 24). Idade da primeira
gestação entre 20-28anos 23 95,8
Variáveis Va l o r e s Va l o r e s Prática de amamentação
absolutos relativos (%) por 3-12 meses 16 66,6

Ausência do auto-exame 15 62,5


Uso de contraceptivos orais 14 58,3
Discussão
Menopausa tardia 14 58,3
Cirurgias ginecológicas 13 54,1
Antecedentes familiares 11 45,8 No estudo com vinte e quatro mulheres, que realizaram
Tabagismo 11 45,8 cirurgia mamária nos períodos de 2001 a 2003 no Hospital
Reposição hormonal 08 33,3 Geral da Cidade de Taubaté, observou-se média de idade
Não amamentação 05 20,8 de 51.6 anos, confirmando o que Paiva et al. [6] relata em
Gestação tardia 02 8,3
seu estudo, o qual a faixa etária mais acometida estava entre
Menarca precoce 02 8,3
41 e 60 anos.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 423

As condições sócio-econômicas aparecem, também, Segundo Paiva et al. [6] mulheres que tiveram sua
como fator influente no surgimento do câncer de mama, primeira gestação após os 30 anos apresentaram o dobro
demonstrando que baixas condições sócio-econômicas de risco para câncer de mama em relação aquelas que tiveram
favorecem a doença devido a fatores como má alimentação a primeira gestação antes dos 20 anos, mas neste estudo
e dificuldade de acesso a campanhas preventivas e aos essa variável estava presente em apenas uma pequena
serviços de saúde. Gonçalves e Dias [2] constataram que porcentagem das entrevistadas (8,3%).
mulheres mais velhas, de classe social e educação mais baixa Verificou-se que alguns fatores, descritos na literatura,
são as que mais retardam a ida ao médico, procurando ajuda como fatores de proteção contra o câncer de mama, foram
especializada em estágios tardios da doença, vindo de encontrados nas mulheres estudadas, não exercendo, desta
encontro aos dados encontrados nessa pesquisa na qual 50% forma, a função de protegê-las contra a doença.
das mulheres pertenciam à classe baixa e os outros 50% à A prática de amamentação por pelo menos 3-12 meses,
classe média. Esses mesmos autores confirmam que a não descrita por Contreras et al. [11] como fator de proteção,
realização do auto-exame e o menor nível de educacional estava presente na maioria das entrevistadas (66,6%),
também são características específicas destas mulheres. indicando que essa prática não favoreceu uma prevenção à
Dados esses observados no presente estudo, no qual 66,6% doença nessa população específica.
das mulheres tinham menos de sete anos de estudo e 62,5%
não praticavam o auto-exame. Molina et al. [7] também Conclusão
relacionam o nível de escolaridade com a prevalência do
câncer de mama, que constataram durante uma pesquisa Com este estudo visou-se identificar características
que, quanto maior o grau de estudo melhor o esclarecimento específicas relacionadas ao câncer de mama em mulheres
sobre os métodos de prevenção. mastectomizadas no Hospital Geral da cidade de Taubaté
Foi encontrada, também, maior número de mulheres da no período de 2001-2003 e concluiu-se que:
raça branca, como descrito por Camelo [8] em um estudo Das mulheres estudadas, a maioria tinha entre 51-60
feito em São Paulo no qual descreveu a raça branca como anos, eram casadas (45,8%), pertencentes à classe econômica
sendo a de maior prevalência, porém, Filho [4] relata que a baixa (50%) e média (50%) e com 1-7 anos de estudo
partir de 1973 houve um aumento anual de 1,8% em mulheres (66,6%).
brancas enquanto em negras esse aumento foi de 2%. 62,5% relataram não realizar o auto-exame, 58,3% fez
Tessaro [9] afirma que o uso de contraceptivos orais ou faz uso de contraceptivos orais, 45,8% fumavam e tinham
influencia no surgimento do câncer apenas em mulheres que história de antecedentes familiares e 33,3% fizeram reposição
os utilizaram entre 35–45 anos de idade, porém, no presente hormonal antes do surgimento da doença.
estudo o uso de contraceptivos orais estava presente em 58,3% Os fatores de proteção contra o câncer de mama,
das mulheres entrevistadas, independentes da idade. descritos pela literatura, não tiveram influência nas mulheres
Segundo Paiva et al. [6] a menarca precoce e a menopausa estudadas, visto que 66,6% amamentaram por um período
tardia estão associadas a um alto risco de desenvolvimento
de 3-12 meses, 91,7% informaram menarca tardia e 95,8%
de câncer de mama, porém observamos apenas o fator
apresentaram primeira gestação entre 20-28 anos de idade.
menopausa tardia. O fator menarca precoce foi observado
Diante desses dados, pode-se observar que características
em uma pequena porcentagem (5,8%) das mulheres
específicas relacionadas ao câncer de mama estão presentes
entrevistadas. Duncan et al. [10] relatam que antecedentes
nas mulheres acometidas pela doença, podendo ter influência
menstruais e/ou reprodutores podem alterar o risco de uma
no surgimento da mesma, desta forma esse estudo poderá
mulher desenvolver câncer de mama; este risco é quase duas
ajudar no direcionamento de campanhas para melhor
vezes maior em mulheres que apresentaram menarca antes
prevenção do câncer de mama na região de Taubaté.
dos 16 anos, da mesma maneira, quanto mais tarde surgir a
menopausa, maior o risco calculado.
História familiar de câncer de mama é um fator de risco Referências
como salienta Gomes et al. [5] e Molina et al. [7], vindo de
encontro aos resultados obtidos no presente estudo, no qual 1. Godinho ER, Koch HA. O perfil da mulher que se submete
evidenciou-se essa variável como sendo importante para o a mamografia em Goiânia – Uma contribuição a Bases para
um programa de detecção precoce do câncer de mama. Rev
surgimento do câncer, estando presente em 45,8% das
Brás Radiol 2002;35(3).
mulheres participantes da pesquisa.
2. Gonçalves SCM, Dias MR. A prática do auto-exame da mama
Gonçalves e Dias [2] relataram em sua pesquisa que o em mulheres de baixa renda: um estudo de crenças. Estud
tabagismo é um fator de risco de grande prevalência no Psicol 1999;4(1):141–59.
câncer de mama, característica essa também observada 3. Pinotti JA, Teixeira LC. Câncer da Mama: Importância,
no presente estudo, em que 45,8% das entrevistadas eram epidemiologia e fatores de risco. In: Halbe HW: Tratado de
fumantes. Ginecologia. 3ª ed. São Paulo: Roca; 2000. v. 3. p. 2019-83.
424 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

4. Filho BM. Câncer da Mama: Rastreamento, detecção e 8. Camelo RM et al. Aspectos culturais na detecção do câncer de
diagnóstico precoce. In: Halbe HW. Tratado de Ginecologia. mama. Ginecol Obstet Atual 2003;12(4):20-6.
3ª ed. São Paulo: Roca, 2000. v.3. p.2023-4. 9. Tessaro S et al. Contraceptivos orais e câncer de mama:
5. Gomes R, Skaba MMVF, Vieira RJS. Reinventando a vida: estudo de casos e controles. Rev Saúde Pública
proposta para uma abordagem sócio-antropológica do câncer 2001;35(1):32-8.
de mama feminino. Cad Saúde Pública 2002;18(1):1-12. 10. Duncan BB, Schimidt MI, Giugliani ERJ et al. Condutas clínicas
6. Paiva CE et al. Fatores de risco para câncer de mama em Juiz em atenção primária – medicina ambulatorial. 2ª ed. Porto
de Fora – MG: 1 estudo caso controle. Rev Bras Cancerol Alegre: Artmed; 1996. p. 227-9.
2002;2(48):231-7. 11. Contreras PO, Pierre B, Ponce EL, Rodriguez JV, Valencia
7. Molina L et al. Análise das oportunidades de diagnóstico HJP. Factores de riesgo reproductivo asociados al cáncer
precoce para as neoplasias malignas de mama. AMB Rev Assoc mamario, en mujeres colombianas. Rev Saúde Pública
Med Brás 2003;49(2):185-90. 1999;33(3):237-45. 
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 425

Artigo original

Ginástica e sintomas osteomusculares em trabalhadores


de uma indústria têxtil de Minas Gerais
Exercise program and musculoskeletal symptoms in textile industry
workers in Minas Gerais

Francis Moreira Mendonça*, Flávia Mara Gomes da Trindade*, Lívia de Oliveira*, Rosana Ferreira Sampaio, D.Sc.**,
Fabiana Caetano Martins Silva***, Gisele Beatriz de Oliveira Alves, M.Sc.****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Alunas do Curso de Especialização em Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), **Orientadora,
***Bolsista de Iniciação Científica/CNPq, ****Colaboradora

Resumo Abstract
A ginástica laboral é definida como um conjunto de exercícios Intends gymnastics is defined as a set of exercises carried
realizados no local de trabalho, durante a jornada, efetuando-se through in the workstation, during the day. Although this procedure
pausas à produção. Embora este procedimento seja cada vez mais is frequently used by the companies in order to promote worker´s
utilizado pelas empresas a fim de promover a qualidade de vida quality of life, literature about this subject is scarce. The objective
do trabalhador, a bibliografia sobre o assunto é escassa. O objetivo of this study was to evaluate the influence of a gymnastics program
desse estudo foi avaliar a influência de um programa de ginástica in the quality of life and workers´ perception of musculoskeletal
laboral na qualidade de vida e na percepção de sintomas symptoms in a textile industry in Minas Gerais. Two questionnaires
osteomusculares dos trabalhadores de uma indústria têxtil were applied: Medical Outcome Survey Short Form 36 (SF36) and
localizada em Minas Gerais. Para isso, foram utilizados dois Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ). The sample was
questionários: o SF36 e o Questionário Nórdico de Sintomas divided in two groups: Group A, composed of 61 workers who
Osteomusculares. A amostra analisada por conveniência, foi participated in the labor gymnastics program and Group B,
dividida em dois grupos: Grupo A, formado por 61 trabalhadores composed of 80 that did not participate. The differences observed
que participaram da ginástica laboral e Grupo B, formado por 80 between the two groups, using the evidenced SF 36 was only in the
que não praticaram ginástica. Os resultados da comparação entre functional capacity (p = 0,003). The results had shown that the
os dois grupos mostraram diferença nos domínios do SF36, workers who participated at the labor gymnastics program reached
somente na capacidade funcional (p = 0,003), com médias de superior functional capacity averages than those who had not
capacidade funcional superior para o grupo que participa da participated. The results of the NMQ did not show any significant
ginástica laboral. Quanto aos resultados do Questionário Nórdico difference between the two groups in none of the questions.
de Sintomas Osteomusculares, não houve diferença significativa Key-words: labor gymnastics, quality of life.
entre os dois grupos em nenhuma das questões.
Palavras-chave: ginástica laboral, qualidade de vida.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução especialmente aquelas que possuíam integrantes do efetivo


com queixas de dores musculares e articulares, iniciaram
A ginástica laboral tem sido um recurso cada vez mais um programa de prevenção e melhoria da qualidade de vida
utilizado pelas empresas, principalmente, a partir da do trabalhador. A ginástica laboral torna-se então uma prática
década de 90 coincidindo com o destaque assumido pelos comum dentro das empresas para o enfrentamento das
distúrbios músculo-esqueléticos neste mesmo período. lesões relacionadas ao trabalho e em muitos casos, é adotada
Nesta década, as afecções músculo-esqueléticos tornaram- como única medida de prevenção.
se as patologias ocupacionais mais importantes em nosso A ginástica laboral é definida como um conjunto de
meio. Com o aumento destas afecções, muitas empresas, exercícios realizados no próprio local de trabalho, durante a

Recebido 11 de março de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Rosana Ferreira Sampaio, Rua Juvenal dos Santos, 222/602, Luxemburgo 30360-530 Belo Horizonte MG, Tel: (31)
3499 4782/3499 4781
426 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

jornada, com inserção de pausas na produção, a fim de cuidar Figura 1 – Trabalhadores do setor de fiação de uma indústria têxtil de
da integridade física, psicológica e social do funcionário Minas Gerais, 2003.
[1].Vários autores destacam os benefícios obtidos com a
realização da ginástica em empresas [1-4]. Zilli descreve uma
série de ganhos relacionados à melhora da produtividade e
da imagem da empresa, além de benefícios fisiológicos,
psicológicos e sociais para os trabalhadores [5]. Cañete cita
pesquisas que demonstram as influências positivas da
ginástica laboral sobre o tempo de reação, coordenação,
sensibilidade, atenção, facilidade de realizar trabalho e
diminuição de fadiga [2]. Em um estudo com 26 servidores
da reitoria da UFC, Martins & Duarte relatam que a ginástica
laboral foi aplicada durante 15 minutos, 3 vezes por semana
no período de 4 meses como parte de um programa que
visava melhorar a qualidade de vida desses trabalhadores.
Foi utilizado um protocolo, composto por exercícios de No setor de tecelagem, o trabalhador é encarregado de
alongamento, massagens e relaxamento e todos os trabalhadores identificar os rompimentos na trama do tecido e emendar
foram submetidos à medida da pressão arterial, percentual de os fios. A máquina não possui altura regulável exigindo
gordura e flexibilidade. Dentre os resultados obtidos, os autores manutenção da postura de pé com flexão de tronco. No
evidenciam que os exercícios realizados parecem ter promovido desenrolar da tarefa é necessário manter os membros
alterações psicofisiológicas nos indivíduos, além da execução superiores elevados com flexão de ombro de aproxima-
do programa proposto ter alterado o estilo de vida de seus damente 90o (Figura 2).
integrantes, fazendo-os adotar uma atitude de vida mais saudável
[4]. Figura 2 – Trabalhadores do setor de tecelagem de uma indústria têxtil de
Porém, autores como Couto alertam para o fato de que Minas Gerais, 2003.
o condicionamento físico para o trabalho somente deve ser
instituído após a tentativa de implantação de projetos
ergonômicos por uma equipe multidisciplinar [3]. A
ergonomia visa a melhor adaptação das situações de trabalho
aos trabalhadores [6], aumentando o conforto, reduzindo
disfunções ocupacionais [7] e está intimamente relacionada
à qualidade de vida, que, de acordo com a Organização
Mundial de Saúde (OMS), refere-se à percepção das pessoas
em relação a sua condição de vida dentro do seu contexto
cultural, seu sistema de valores e suas metas, expectativas e
padrões sociais [8].
O estudo apresentado a seguir foi realizado em uma
indústria têxtil a qual possui um quadro de cerca de 1200
funcionários trabalhando em diferentes setores. O programa
de ginástica laboral foi implementado especialmente no setor Em ambos os setores, o maquinário é antigo, o que exige
de fiação e de tecelagem. manutenção constante, além de ser constituído princi-
Nestes setores cada funcionário é responsável por várias palmente por máquinas importadas, mal adaptadas às
máquinas elétricas locadas seqüencialmente. Os trabalhadores características físicas da população brasileira. Os trabalha-
permanecem toda a jornada na posição de pé, com dores fazem uso de protetores auriculares por causa do
deslocamento permanente de máquina a máquina. ruído das máquinas e o ambiente de trabalho caracteriza-se
No setor de fiação, o trabalhador é responsável por trocar por certo desconforto térmico. No momento, não há na
as canelas cheias de fios pelas vazias, as quais se localizam a empresa o desenvolvimento de um programa visando
50cm do chão. Nessa tarefa, ele realiza movimentos adequações ergonômicas das condições de trabalho. Frente
repetitivos com os membros superiores e mantém uma aos problemas osteomusculares apresentados pelo coletivo,
flexão acentuada de tronco. O trabalhador deve ainda um programa de ginástica laboral com acompanhamento
emendar os fios que arrebentam durante o processo e trocar de um profissional de fisioterapia foi implementado como
os pavios que se localizam a aproximadamente 1,60m do forma de prevenir lesões relacionadas ao trabalho. Os
chão realizando movimentos de flexão anterior do ombro, trabalhadores foram convidados a participarem das sessões.
acima de 90° (Figura 1). O grupo participante totaliza 61 funcionários, os quais
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 427

realizam a ginástica há aproximadamente 10 meses e o grupo instrumento original. O índice de confiabilidade teste-reteste,
não participante representa 80 trabalhadores. em três amostras de trabalhadores, mostrou um percentual
Neste contexto, este estudo teve como objetivo avaliar a de respostas não idênticas que variou entre 0 e 23%,
influência da ginástica laboral na qualidade de vida e na enquanto o coeficiente de correlação com a história clínica
percepção de distúrbios osteomusculares dos trabalhadores variou entre 0,80 e 1,00 [10].
do setor de fiação e de tecelagem da empresa em tela, a O SF36 é um questionário genérico, amplamente
qual está localizada no Estado de Minas Gerais. utilizado para avaliar qualidade de vida [11,12]. O
questionário é multidimensional formado por 36 itens,
Materiais e métodos englobados em 8 domínios: capacidade funcional (10 itens),
aspectos físicos (4 itens), dor (2 itens), estado geral de saúde
Foi realizado um estudo transversal, no qual se analisou (5 itens), vitalidade (4 itens), aspectos sociais (2 itens), aspectos
uma amostra por conveniência de 141 indivíduos. Esta emocionais (3 itens), saúde mental (5 itens) e uma questão
amostra foi dividida em dois grupos: o Grupo A, formado comparativa entre as condições de saúde atual e de até um
por 61 trabalhadores que participaram das sessões de ano atrás. Os resultados do SF36 são mostrados em escore
ginástica laboral e o Grupo B, formado por 80 trabalhadores de 0 a 100 obtidos a partir de uma relação de questões sobre
que não participaram. Foram excluídos aqueles que vários aspectos da qualidade de vida (100 indica a melhor
apresentaram alguma patologia ortopédica/reumatológica, qualidade de vida e 0 a pior) [13,14].
assim como os praticantes de atividade física regular fora O SF36 foi validado e traduzido para o português por
da empresa. Ciconelli apud Dias [15]. O mesmo autor demonstrou a
Os trabalhadores para participarem da pesquisa, assinaram validade do instrumento ao realizar um estudo com 50
um termo de consentimento livre e esclarecido. Foi garantido pacientes portadores de artrite reumatóide, no qual foram
o sigilo das informações, assim como a ausência de encontrados coeficientes de correlação entre 0,5 e 0,8
identificação do funcionário, além da não permanência do intra-examinador e 0,6 e 0,8 interexaminador.
chefe no local de aplicação dos questionários. Este Os questionários foram aplicados por três examinadoras,
procedimento foi descrito por Barbosa et al. e tem a finalidade no período de setembro a outubro de 2003, e cada
de assegurar o máximo de fidedignidade nas respostas [9]. trabalhador demorou, em média, 30 minutos para respondê-
As sessões de ginástica laboral eram compostas de los. A fisioterapeuta responsável pela realização da ginástica
exercícios de aquecimento de membros superiores e laboral na empresa, portanto aquela que tem maior contato
inferiores, além de alongamentos autopassivos elaborados com os trabalhadores que participam das sessões, aplicou
de acordo com as exigências musculares das tarefas dos os questionários somente em funcionários que não
setores de fiação e de tecelagem. Atividades lúdicas ou de participam da ginástica laboral.
relaxamento também faziam parte do programa Foi realizado um treinamento prévio e um teste de
terapêutico proposto. As sessões, que eram realizadas três confiabilidade entre as examinadoras envolvidas na coleta
vezes por semana, duravam 10 minutos, e aconteciam de dados. A confiabilidade entre as examinadoras foi
próximo ao início da jornada de trabalho, numa sala avaliada por meio de coeficiente de correlação intraclasse
localizada ao lado dos setores. (ICC), obtendo-se índices de magnitude de 0,96 para o
As variáveis demográficas (sexo, idade e escolaridade) Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares e
e ocupacionais (setor e tempo de serviço) dos trabalhadores índices variando de 0,67 a 0,97 para os diferentes domínios
foram coletadas usando um protocolo elaborado do SF36. O programa ANOVA posteriormente utilizado
especificamente para este estudo. não mostrou diferença significativa entre os resultados das
Todos os trabalhadores responderam a dois questio- diferentes examinadoras nos domínios do SF36, indicando
nários: o Medical Outcome Survey Short Form 36 (SF36) para alta consistência nas mensurações das três examinadoras
avaliar qualidade de vida e o Questionário Nórdico de para os dois instrumentos.
Sintomas Osteomusculares, que é uma ferramenta indicada Os dados foram informatizados e analisados pelo pacote
para identificação da percepção, conforme essa denomi- estatístico SPSS versão 11.0. Em todas as análises, foi
nação, de sintomas osteomusculares. Este último consiste considerado um a = 0,05. A análise descritiva das variáveis,
em escolhas múltiplas ou binárias quanto à ocorrência de sexo, idade, escolaridade, tempo de serviço e setor de
sintomas nas diversas regiões anatômicas, nas quais são trabalho, foi utilizada para caracterizar os dois grupos. Análises
mais comuns. O respondente relata a ocorrência de comparativas entre o grupo de trabalhadores que
sintomas considerando os 12 meses e os 7 dias precedentes participaram da ginástica laboral e os que não participaram
à entrevista, bem como relata a ocorrência de afastamento foram realizadas utilizando-se o Teste-T para a variável
de atividades de rotina no último ano. Estudos têm quantitativa (idade e os oito aspectos do SF 36), Mann-
demonstrado bons parâmetros psicométricos para o Whitney U para a variável, tempo de serviço e teste Qui-
428 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Quadrado para as variáveis categóricas (sexo, escolaridade, diferença significativa entre os dois grupos em nenhuma
setor de trabalho e resultados do Questionário Nórdico de das questões. A Tabela III descreve a freqüência de
Sintomas Osteomusculares). sintomas e afastamentos por região anatômica do total de
trabalhadores avaliados.
Resultados Quando se comparam os sintomas percebidos nos 12
meses precedentes à entrevista, nos sete dias precedentes e
Os resultados obtidos no estudo são demonstrados nas nos afastamentos, não se observa divergência na distribuição
Tabelas I, II e III apresentadas a seguir. das freqüências. Houve concordância nas regiões do ombro,
A Tabela I mostra os dados descritivos dos trabalhadores dorsal e lombar como as regiões acometidas por sintomas
dos dois grupos, em relação às variáveis, sexo, idade, mais citadas nos 12 meses e nos sete dias anteriores à
escolaridade, tempo de serviço e setor de trabalho. Não foi entrevista e indicadas como responsáveis pelo maior número
observada diferença significativa inicial entre os dois grupos, de afastamentos das atividades cotidianas. O padrão de
em nenhuma destas variáveis. sintomas que se segue é regular, exceto pela região do tornozelo
e pé, a qual mostra sintomas mais freqüentes apenas nos sete
Tabela I – Características demográficas e ocupacionais dos trabalhadores dias precedentes à entrevista.
que fazem ginástica laboral (GL) e dos que não fazem ginástica laboral
(NGL). Discussão
GL NGL P
A diferença significativa encontrada neste estudo com
Número 61 80 relação à capacidade funcional dos trabalhadores que rea-
Idade 32 (18-51) 35 (19-52) NS
lizaram a ginástica laboral e os trabalhadores que não
Escolaridade
s/estudo 0 (0%) 1 (1,25%) NS realizaram, reafirma evidências baseadas em estudos
1ª a 4ª EF 6 (9,84%) 19 (23,75%) epidemiológicos, os quais apontam o papel decisivo da
5ª a 8ª EF 27 (44,26%) 33 (41,25%) prática de atividades físicas na promoção da saúde, na
EM 25 (41%) 26 (32,5%) qualidade de vida e na prevenção e/ou controle de diversas
Tempo de Serviço 6,4 (1-29) 7,66 (1-27) NS doenças [16,17]. A capacidade funcional se relaciona
Sexo
intimamente com saúde na medida em que é um importante
Feminino 23 (37,7%) 35 (43,8%) NS
Masculino 38 (62,3%) 45 (56,3%) fator de predição do bem estar físico, mental e social do
Setor indivíduo.
Fiação 40 (67,8%) 50 (62,5%) NS Observa-se entre os profissionais de fisioterapia um
Tecelagem 19 (32,2%) 29 (36,5%) consenso de que a meta principal de qualquer intervenção
deve ser a melhoria da condição funcional e conse-
NS – não significativo; p < 0,05.
qüentemente da qualidade de vida dos indivíduos. Pesquisas
A Tabela II apresenta os resultados da comparação entre recentes vão além dos estudos relacionados a componentes
os dois grupos com relação aos oito domínios do SF36. Foi físicos como amplitude de movimento, força muscular e
evidenciada uma diferença significativa somente na capacidade capacidade aeróbica, dando espaço a investigações
funcional (p = 0,003), demonstrando que trabalhadores, referentes à qualidade de vida e aos níveis de função dos
participantes da ginástica laboral, apresentam médias de indivíduos [18]. A habilidade para realizar tanto as atividades
capacidade funcional superior ao grupo não participante. mais simples como as mais específicas da vida diária, tem
No que se refere aos resultados do Questionário sido alvo de preocupação internacional e tem despertado
Nórdico de Sintomas Osteomusculares, não houve interesse crescente em nosso meio. Essa preocupação
Tabela II – Resultados médios das escalas do SF36 nos grupos estudados.

Escalas GL NGL P Significância

Capacidade funcional 95,33 (60-100) 89,25 (40-100) < 0,05 S


Aspecto físico 86,07 (0-100) 82,20 (0-100) > 0,05 NS
Dor 75,33 (41-100) 74,41 (0-100) > 0,05 NS
Estado geral de saúde 81,18 (25-100) 81,96 (30-100) > 0,05 NS
Vitalidade 78,33 (25-100) 76,34 (15-100) > 0,05 NS
Aspectos sociais 86,27 (12-100) 82,23 (0-100) > 0,05 NS
Aspectos emocionais 80,32 (0-100) 73,32 (0-100) > 0,05 NS
Saúde mental 78,10 (28-100) 77,10 (8-100) > 0,05 NS

S – estatisticamente significante; NS – não significante. Média (intervalo).


Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 429

Tabela III – Freqüência de sintomas e afastamentos por região anatômica, segundo o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares, 2003. (n=141).

Região Anatômica Sintomas Afastamento


12 meses precedentes 7 dias precedentes

N % N % N %

Pescoço 27 19,1 12 8,7 3 2,3


Ombro 41 29,0 13 9,4 8 6,1
Cotovelo 30 21,3 10 7,2 4 3,0
Antebraço 21 14,9 6 4,4 1 0,8
Punho, mãos, dedos 7 4,9 3 2,1 1 0,8
Região dorsal 39 27,7 17 12,3 10 7,6
Região lombar 47 33,3 23 16,5 8 6,1
Quadris e coxas 30 21,3 10 7,2 7 5,4
Joelhos 25 17,7 13 9,4 6 4,6
Tornozelos e pés 31 22,0 17 12,3 5 3,9

fundamenta-se no fato de que a incapacidade funcional instrumentos de trabalho, do espaço de trabalho e da


para realizar as atividades da vida diária é preditora de organização do trabalho. Dessa forma, como já afirmado,
fragilidade, de sinais clínicos precoces de demência, assim a prevenção dos problemas osteomusculares requer o
como de mortalidade [19]. desenvolvimento de uma abordagem ergonômica, a qual
A ausência de significância entre os outros domínios do parte da análise da atividade real de trabalho investigando
SF36 e do Questionário Nórdico entre os dois grupos deve os fatores presentes na situação de trabalho que podem
ser entendida dentro do contexto geral atualmente vivido comprometer a saúde dos trabalhadores e em seguida
pela empresa em questão. Devido a determinantes econô- propõe modificações.
micos, a empresa tem investido, principalmente, em mudan- Na empresa em discussão, torna-se necessário uma análise
ças de base tecnológica. Recentemente houve a instalação mais aprofundada da atividade de trabalho realizada no setor
de um maquinário moderno visando o aumento nas metas de fiação e de tecelagem com o objetivo de identificar os
de produção e no poder de competir no mercado. Portanto, possíveis elementos do trabalho que poderiam estar
foi colocado em outro plano à adequação das condições de associados às queixas de dores. De acordo com os resultados
trabalho, as quais, na situação atual, representam um fator obtidos neste estudo, embora a recomendação de exercícios
de agressão à saúde dos trabalhadores. seja um aspecto importante para a saúde e qualidade de
Assim, os trabalhadores do setor de fiação e de tecelagem vida, basear a abordagem de prevenção somente nessa
integrantes ou não do programa de ginástica laboral atividade, desconsiderando outros aspectos da realidade de
continuam expostos aos fatores considerados nocivos à saúde trabalho que necessitam de modificação pode levar à
tais como: posturas estereotipadas, repetição de movimentos, persistência das dores musculoesqueléticas e insucesso na
ritmo imposto, ausência de pausas para descanso, mobiliário superação do problema.
inadequado, ambiente desfavorável etc. Além disso, com a Cabe destacar que através do Questionário Nórdico de
instalação do maquinário moderno, como citado, houve um Sintomas Osteomusculares observou-se a ocorrência de
processo de demissão coletiva que contribuiu para o aumento maior percepção de sintomas na região lombar, dorsal e
de estresse no ambiente de trabalho. Há evidências de que ombro. Este resultado pode orientar a prática clínica da
entre trabalhadores que relatam ambiente de trabalho ginástica laboral nos setores investigados e direcionar os
estressante a prevalência de síndromes dolorosas é maior exercícios propostos para aliviar os sintomas percebidos
que aquela evidenciada naqueles que não apresentam a nestas regiões.
mesma queixa. Com relação à metodologia empregada é importante
salientar que o SF36 é um instrumento genérico que não
Conclusões focaliza a qualidade de vida no trabalho, mas, sim, questões
de qualidade de vida globais. Explicita-se também que o
Os dados deste estudo mostram os limites de uma Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares não
abordagem de prevenção restrita a um fator, físico e/ou apresenta uma escala de dor, o que não per mite a
pessoal e reafirmam o que vem sendo apontado na comparação entre os grupos no que se refere à intensidade
literatura específica, ou seja, a prevenção primária dos do desconforto da dor. Seria interessante realizar estudos
problemas osteomusculares passa pela adaptação das futuros que venham a utilizar instrumentos mais
condições de trabalho, entendendo como condição de direcionados à saúde do trabalhador e ao tipo de
trabalho as características do ambiente de trabalho, dos desconforto ou dor relatados.
430 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 431

Artigo original

Dinamômetro analógico adaptado:


um dispositivo para medir o torque muscular
Adapted analog dynamometer:
a device for measuring the muscle strength

Renato Alves Sandoval, M.Sc.*, Roberto Sergio de Tavares Canto, D.Sc.**, Mário Antônio Baraúna, D.Sc.**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Mestre em Fisioterapia pela UNIT-MG, Prof. do curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Goiás,
**Professores Doutores do Mestrado em Fisioterapia da UNIT-MG

Resumo Abstract
A amostra foi composta por 40 indivíduos, sendo 28 do sexo Forty subjects were studied: 28 females (70%) and 12 males
feminino (70%) e 12 do sexo masculino (30%), com idades entre (30%), from 18 to 30 years old, (X = 21,48 ± 2,94) yr. To verify the
18 e 30 anos, (X = 21,48 ± 2,94) anos. Para verificar a correlação correlation between three dynamometer measurements were used
entre as 3 (três) medidas do dinamômetro foi utilizado os valores to calculate Spearman’s coefficient (rs): left knee flexion (0,9548/
de rs no coeficiente de Spearman sendo: flexão do joelho esquerdo 0,9604/0,9647), right knee flexion (0,8936/0,8221/0,9451), left
(0,9548/0,9604/0,9647), flexão do joelho direito (0,8936/0,8221/ knee extension (0,9259/0,9000/0,9758), right knee extension
0,9451), extensão do joelho esquerdo (0,9259/0,9000/0,9758), (0,9498/0,9478/0,9757), random error probability was zero; to
extensão do joelho direito (0,9498/0,9478/0,9757), a probabilidade verify the reliability of the dynamometer was applied the Alpha
de erro aleatório foi 0 (zero); para verificar a fidedignidade do Cronbach’s coefficient, with a value > 0,80 as follows: left knee
dinamômetro foi aplicado o coeficiente de Alpha de Cronbach, flexion (0,9989), right knee flexion (0,9968), left knee extension
com valor de a > 0,80 sendo: flexão do joelho esquerdo (0,9989), (0,9982), right knee extension (0,9989); The author conclued that:
flexão do joelho direito (0,9968), extensão do joelho esquerdo adapted analog dynamometer was valid and reliable The cost to
(0,9982), extensão do joelho direito (0,9989). Concluiu-se que: o produce the author’s equipment is accessible, its easily
dinamômetro analógico adaptado mostrou ser um instrumento understandable management and easily readable results, to gather
válido e fidedigno. O custo acessível da confecção do aparelho por with its responsiveness and reliability, proved by statistic values,
nós desenvolvido, a praticidade do seu uso e a facilidade da leitura permit the author to assert that adapted analog dynamometer
dos resultados, associado ao grau de validade e fidedignidade with its modifications, certainly represents an important help in
alcançado, comprovado estatisticamente, permite-nos afirmar que the therapeutic and propedeutic at day living of physical therapist.
o dinamômetro analógico adaptado com as modificações realizadas, Key words: muscle strength, dynamometer, adapted analog
certamente representa um importante auxiliar no armamentário dynamometer.
propedêutico e terapêutico na prática diária dos fisioterapeutas.
Palavras-chave: força muscular, dinamometria, dinamômetro
analógico adaptado.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução menta em torno de um eixo e que pode ser calculado: T =


F x D, onde T = torque, F = força e D = distância [2].
A força muscular, entendida como a capacidade do Durante o século XIX, realizavam-se avaliações
músculo em gerar tensão de forma ativa, é um conceito musculares através de resistências manuais complementadas
que ocupa um importante lugar no conhecimento com observações da postura e da marcha. No início do século
cinesiológico, tanto no campo avaliativo como terapêutico XX, devido aos efeitos devastadores da poliomielite houve
[1]. Este conceito do sistema músculo-esquelético se expressa uma padronização de alguns métodos para avaliar a força
através do momento de força ou torque, que pode ser muscular que foram denominados métodos manuais (MMA).
definido como uma força sobre uma alavanca que se movi- Alguns pioneiros desses métodos foram: Lovett & Martin

Recebido 13 de abril de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Mário Antônio Baraúna, E-mail: barauna@unitmg.com.br
432 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

em 1928 e na década de 1940 Lowman, Newman e Kendall Harvey et al. [20] utilizaram parâmetros eletromio-
& Kendall [3]. gráficos aliados ao TMM, para avaliar a força do quadríceps
Posterior mente devido à 2 a . Guer ra Mundial em indivíduos com esclerose múltipla.
aprimorou-se novos métodos de quantificação da força Guirro et al. [9-12] utilizaram para avaliar a força do
muscular com o intuito de obter maior objetividade dos músculo quadríceps, uma célula de carga com capacidade
resultados. Um dos precursores desses métodos foi máxima de 100 kgf. Este mesmo autor em 2001 utilizou
Thomas De Lorme (1943), que descreveu os termos novamente uma célula de carga, para avaliar a força dos
técnicos de 1 resistência máxima e 10 resistências máximas músculos flexores do punho. Também em 2001 este autor
(RM). Os trabalhos desenvolvidos por este autor serviram utilizou células de carga com capacidades máximas de 50 e
de base para novos protocolos de avaliação da força 100 kgf, para avaliar músculos do braço e antebraço após
muscular na década de 1950, como os métodos de resfriamento local e aquecimento profundo.
Zinovief, McGovern-Luscombe, Dotte, entre outros. Mendonça et al. [13] utilizaram uma célula de carga
Estes métodos foram denominados métodos mecânicos adaptada a uma cadeira de Bonett e mostraram a eficiência
(MME) [4]. do dispositivo para avaliar a força muscular dos flexores e
O avanço contínuo propiciou o desenvolvimento de novos extensores do joelho.
métodos, na década de 1960, autores como: Hettinger & Bohannon [15] utilizou um dinamômetro analógico, para
Müller, Liberson & Rose, Troisier & Rocher, entre outros, avaliar a força muscular do quadríceps e comparou os
dividiram os MME em estáticos e dinâmicos, diferenciando resultados obtidos pelo dinamômetro com os resultados
a avaliação muscular realizada com contração isométrica ou obtidos com o TMM.
com contração isotônica [4]. Rogatto & Valim [16] correlacionaram o teste de 1
Com a melhoria das técnicas cirúrgicas, o desen- RM proposto por De Lorme, com a área muscular de
volvimento da medicina esportiva e o aprofundamento dos secção transversal da coxa e chegaram a uma equação
conhecimentos na área de fisiologia do exercício, que permite quantificar a força muscular do quadríceps
possibilitaram no final da década de 60 o desenvolvimento e isquiotibiais.
do conceito de contração isocinética, sendo que, James Santos [18] utilizou um dinamômetro analógico, para
Perrine foi o introdutor deste conceito através de um artigo avaliar a força dos músculos lombares e comparou com
científico de Hislop & Perrine em 1967 [5]. valores encontrados na avaliação isocinética.
Paralelamente ao desenvolvimento do conceito Estes métodos utilizam na sua maioria contrações
isocinético, autores como: Piovesan et al. [6], Godinho et isométricas máximas, priorizando a avaliação do momento
al. [7], Santarém et al. [8], Guirro et al. [9-12], Mendonça máximo da força ou torque [17]. Para uma maior
et al. [13], Kvist et al. [14], Bohannon [15], Rogatto & aplicabilidade estes métodos devem ser testados quanto a
Valim [16], Dvir [17], Santos [18], entre outros, sua validade e fidedignidade.
desenvolveram métodos alternativos de avaliação da força Este trabalho justifica-se e tem por objetivo desenvolver
muscular. Estes métodos são denominados métodos um método de avaliação da força muscular, e após análise
mecânicos estáticos, cujo principal parâmetro avaliado é o verificar sua validade, fidedignidade, praticidade e custo.
momento máximo da força muscular ou torque, através
de uma contração isométrica máxima. Revisão da literatura
Inicialmente estes aparelhos foram desenvolvidos a
partir de materiais de uso diário como balanças, aparelhos Força muscular
de pressão ou esfigmomanômetro, torquímetros e
tensiômetros. Atualmente os dispositivos mais utilizados Smith et al. [21], McArdle et al. [22], Pedrinelli [23],
neste tipo de avaliação são as células de carga e os Hall [24] e Medina [4] são unânimes em afirmar que
dinamômetros analógicos [17,19]. Estes instrumentos por força muscular é a habilidade que um músculo ou grupo
sua vez proporcionam avaliações objetivas da força muscular possui de exercer tensão através de um esforço
muscular, e devido ao seu tamanho, praticidade e custo, voluntário e de que esta tensão é constante ao longo do
podem ser utilizados com facilidade no ambiente clínico comprimento do músculo e nos sítios de inserção
[19]. musculotendinoso no osso.
Piovesan et al. [6] utilizaram para avaliar a força do Grandjean [259], Pedrinelli [23] e Paulo & Forjaz [26]
músculo quadríceps, uma balança analógica com resistência afirmam que a força muscular é proporcional ao número
por pesos, adaptada a uma mesa flexo-extensora, através de de fibras musculares recrutadas durante a contração e
um sistema de roldanas. de que este recrutamento é proporcional ao número de
Godinho et al. [7] utilizaram para avaliar a força dos unidades motoras presentes no músculo.
músculos do manguito rotador, um tensiômetro de tração Dvir [17], Clarkson [19] e Morrow et al. [27] afirmam
com carga máxima de 20 kg. que a força muscular nos seres vivos deve ser entendida
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 433

como o estudo do torque, que é o efeito rotacional da Materiais


força gerada por um músculo ou grupo muscular aplicado
a uma articulação e também definido como momento Cadeira Flexo-Extensora: confeccionada em chapas e
máximo da força. tubos de ferro fundido de alta resistência, pintura
eletrostática, com regulagem de profundidade do assento
Dinamometria analógica e encosto, revestimento em espuma e curvim, dispositivo
de tração e compressão dotado de uma alavanca com
O dinamômetro analógico, embora de concepção simples, regulagem de altura e apoio acolchoado para região
apresenta-se adequado para avaliar a força do quadríceps, inferior da perna, eixo de tração e compressão com
o coeficiente de variação devido a fatores inerentes ao regulagem de posição, haste de tração e compressão rígida
aparelho, é menor que o coeficiente das variações biológicas, e base horizontal para adaptação de um dinamômetro
tornando as medidas válidas e reprodutíveis [6]. analógico.
A dinamometria analógica é um método simples de Dinamômetro Analógico: da marca Kratos Equi-
avaliação da força muscular, através de uma contração pamentos, modelo DLC, série nº D011107, capacidade
isométrica máxima contra uma resistência, os resultados
nominal 100 Kgf, divisão de 1 em 1 Kgf, ponteiro guia,
encontrados são semelhantes a de estudos experimentais
ponteiro de arrasto e controle fino para regulagem inicial
[7].
em 0 (zero). Aferido pela Kratos Equipamentos em 19/
Os dinamômetros analógicos utilizados para medir
11/2001 com certificado de calibração nº 64311/01 e
a força muscular são dispositivos que operam segundo
em 14/06/2002 com certificado de calibração nº 35506/
o princípio de tração e compressão. Quando uma força
02, conforme norma ABNT – NBR 8197/83. Aferido
exter na é aplicada ao dinamômetro, uma mola é
por Furnas Centrais Elétricas S.A. Departamento de Apoio
tensionada e movimenta um ponteiro. Sabendo-se
e Controle Técnico – Laboratório de Metrologia. Entidade
quanto de força é necessário para deslocar a mola e o
ponteiro, pode-se determinar com exatidão, quanto de indicada pelo INMETRO – Goiás, com certificado de
força estática externa foi aplicada ao dinamômetro [22]. calibração nº 0090/2003.
Os testes isométricos são os que mantêm maior relação Dinamômetro Analógico Adaptado (DAA): dispositivo
com o torque, aproximando-se da avaliação isocinética [23]. desenvolvido especificamente para este trabalho, composto
Métodos alternativos de avaliação da força muscular pela cadeira flexo-extensora e dinamômetro analógico
como células de carga e dinamometria analógica mostram- (Figura 1).
se eficientes neste campo da avaliação físico-funcional [13]. Figura 1 – Dinamômetro analógico adaptado.
Uma alternativa objetiva para o TMM é o dinamômetro
analógico. Estes aparelhos devem ser calibrados
periodicamente, só assim conseguem manter uma correlação
de resultados com o TMM e a avaliação muscular isocinética
[15].
Os dinamômetros analógicos mostram-se válidos na
avaliação da força muscular, podendo estas avaliações
serem auxiliadas por outros métodos, por exemplo:
eletromiografia e plataformas de força [18].

Material e métodos

Amostra

A amostra foi composta por 40 indivíduos, sendo 28


do sexo feminino (70%) e 12 do sexo masculino (30%),
com idades entre 18 e 30 anos, (X = 21,48 ± 2,94) anos.

Critérios de inclusão

Indivíduos saudáveis; sem patologias diagnosticadas nos


joelhos; sedentários ou ativos, mas que não participem de
competições.
434 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Métodos Tabela I – Valores de rs e de probabilidades a eles associados, obtidos


quando da aplicação do Coeficiente de Correlação de Spearman, as três
Em um primeiro momento todos os indivíduos da medidas obtidas com o dinamômetro analógico com relação aos movimentos
amostra receberam uma explicação de como seria de flexão e de extensão dos joelhos direito e esquerdo efetuados por 40
indivíduos, combinados os resultados dois a dois.
realizada a pesquisa, e após concordarem em participar,
assinar am um consentimento inf or mado, tendo
Variáveis analisadas Valores de rs Probabilidades
consciência das etapas na qual iriam participar. Na
primeira etapa todos os indivíduos foram identificados Flexão Joelho Esquerdo
e submetidos a uma avaliação físico-funcional. Nesta 1ª x 2ª medidas 0,9548 0*
1ª x 3ª medidas 0,9604 0*
o indivíduo foi questionado quanto à dominância nos
2ª x 3ª medidas 0,9647 0*
membros inferiores, quanto à prática de atividade Flexão Joelho Direito
física, se sentiam dor nos joelhos. Na segunda etapa, 1ª x 2ª medidas 0,8936 0*
realizamos a medida da força muscular através do 1ª x 3ª medidas 0,8221 0*
dinamômetr o analógico ada ptado (DAA). Após 2ª x 3ª medidas 0,9451 0*
demonstrar o dispositivo a todos os indivíduos, estes Extensão Joelho Esquerdo
1ª x 2ª medidas 0,9259 0*
foram solicitados a posicionarem-se na cadeira flexo- 1ª x 3ª medidas 0,9000 0*
extensora, assumindo a postura sentada, tronco ereto, 2ª x 3ª medidas 0,9758 0*
quadris fletidos em 90º, pernas pendidas sem apoio e Extensão Joelho Direito
os membros superiores cruzados a frente do tronco 1ª x 2ª medidas 0,9498 0*
[28,6]. Em seguida posicionamos o membro inferior a 1ª x 3ª medidas 0,9478 0*
ser avaliado na região distal da alavanca de tração e 2ª x 3ª medidas 0,9757 0*
compressão, com 60º de f lexão de joelho, essa (*) p < 0,05
angulação foi apurada através da goniometria dos
joelhos [23]. Estabilizamos manualmente o quadril e a De acordo com os resultados demonstrados na tabela 1,
houve correlações positivas significantes entre todas as
coxa do indivíduo que estava sendo examinado, com
medidas das variáveis analisadas. Isto significa que qualquer
uma das mãos na crista ilíaca e outra no terço médio
uma das três medidas pode ser considerada válida.
da coxa, primeiramente a coxa direita e em seguida a
Com interesse em avaliar a fidedignidade, ou consistência,
coxa esquerda. Com a voz de comando “atenção”,
das três medidas obtidas com o dinamômetro analógico, foi
“contrair”, “força, força, força”, “relaxa”, solicitamos
aplicado o coeficiente de fidedignidade Alpha de Cronbach.
uma contração isométrica máxima do quadríceps
Este coeficiente é aplicado após a obtenção dos valores de rs.
femoral direito e esquerdo separadamente. As medidas
Consideram-se elevados os coeficientes a que forem maiores ou
foram obtidas em 3 (três) contrações consecutivas, com
iguais a 0,80. Os resultados estão demonstrados na tabela II.
descanso de 30 segundos entre as contrações [9]. As
medidas em flexão do joelho para obtenção da força Tabela II – Valores de a encontrados, quando da aplicação do Coeficiente
dos isquiotibiais foram obtidas com a mesma Alpha de Cronbach, às medidas de correlações encontradas entre as três
metodologia, somente alterando o posicionamento do medidas obtidas com o dinamômetro analógico.
membro inferior em relação à alavanca de tração e
Variáveis analisadas Valores de alfa
compressão e alterando o posicionamento do eixo da
cadeira flexo-extensora em relação ao dinamômetro, Flexão Joelho Esquerdo 0,9989*
totalizando 480 medidas dinamométricas. Flexão Joelho Direito 0,9968*
Extensão Joelho Esquerdo 0,9982*
Extensão Joelho Direito 0,9989*
Resultados
(*) a ³ 0,80
Com o intuito de verificar a existência ou não de De acordo com os resultados demonstrados na tabela 2,
correlações significantes entre as três medidas obtidas com o dinamômetro analógico mostrou-se um instrumento
o dinamômetro analógico com relação aos movimentos fidedigno e confiável com uma alta consistência dos resultados.
de flexão e de extensão dos joelhos direito e esquerdo,
efetuados por 40 indivíduos, foi aplicado o coeficiente de Discussão
correlação por postos de Spearman, aos dados em questão
[29]. O nível de significância foi estabelecido em 0,05, em Na avaliação da força muscular, feita pelo dinamômetro
uma prova bilateral. Os resultados estão demonstrados na analógico adaptado, verificou-se uma média da amostra de
tabela I. 21,82 kgf com desvio padrão de 7,78, para extensão do joelho
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 435

e média de 8,17 kgf com desvio padrão de 4,57, para flexão leitura dos resultados, associado ao grau de validade e
do joelho. A média de extensão do joelho ficou abaixo dos 42 fidedignidade alcançado, comprovado estatisticamente,
kgf, relatada por Kapandji [30], sendo que o referido autor permite-nos afirmar que o dinamômetro analógico adaptado,
não especifica se está trabalhando com média ou pico de com as modificações realizadas, certamente representa um
força do quadríceps. Este mesmo autor relata que o quadríceps importante auxiliar no armamentário propedêutico e
é 3 (três) vezes mais potente que os isquiotibiais, nosso trabalho terapêutico na prática diária dos fisioterapeutas.
mostrou resultado semelhante, com o quadríceps 2,67 vezes
mais potente que os isquiotibiais. Conclusão
Um ponto de convergência da dinamometria isocinética
e dinamometria analógica, está na avaliação do torque O dinamômetro analógico adaptado (DAA), mostrou ser
muscular. O torque é o parâmetro mais utilizado na avaliação
um instrumento acessível e prático, capaz de avaliar o torque
muscular isocinética e é o único parâmetro avaliado pelo
dos músculos quadríceps femoral e isquiotibiais.
dinamômetro analógico, que utiliza para esta avaliação uma
A avaliação muscular do quadríceps femoral e dos
contração isométrica máxima. Segundo Pedrinelli [23], a
isquiotibiais feita pelo DAA mostrou ser um método acessível,
avaliação do torque muscular feito através de um
prático, válido e fidedigno, podendo ser utilizado com
dinamômetro que utiliza contração isométrica máxima é o
facilidade na prática clínica fisioterapêutica.
melhor método, pois se aproxima do trabalho realizado com
pacientes que passam por um processo de reabilitação.
Não há dúvida de que o dinamômetro isocinético é o Referências
aparelho mais confiável e válido para realizar a avaliação da
força muscular, como relatado por Pedrinelli [23], Terreri et al. 1. Sapega, A. Muscle performance evaluation in orthopaedic
practice. JBJS 1990;72(10):1562-74.
[31,32], Medina [4], Gibson et al. [33], Dolny et al. [28], Kvist
2. Hamill J, Knutzen KM. Bases biomecânicas do movimento
et al. [14] e Aquino et al. [34]. Também não há dúvida de que o
humano. São Paulo: Manole; 1999. 532 p.
dinamômetro isocinético é um aparelho de difícil utilização. 3. Escobar M, Núñez I, Véliz C. Evolución histórica de los
Autores como: Piovesan et al. [6], Godinho et al. [7], Pedrinelli métodos de evaluación muscular y sus implicancias kinésicas.
[23], Medina [4], Dolny et al. [28], Terreri et al. [32] e Bohannonn X Congresso Nacional de Kinesiologia, Viña del Mar, Chile;
[15] são unânimes em afirmar que as principais desvantagens 1990. p. 112-21.
da avaliação muscular isocinética são: o alto custo e o grande 4. Medina CV. Evaluación muscular isocinética del grupo flexo-
porte dos aparelhos. Além do que as avaliações dos resultados extensor de rodilla. Kinesiologia 2000;59:53-7.
obtidos em cadeia cinética aberta são também de difícil 5. Perrine J, Hislop H. The isokinetic concept of exercise. Phys
interpretação. Ther 1967; 47:114-7.
O aparelho desenvolvido para este trabalho, dotado de 6. Piovesan MA. Lipparelli et al. Estudo comparativo do torque
do músculo quadríceps entre os grupos de indivíduos
uma cadeira flexo-extensora e um dinamômetro analógico,
submetidos a diferentes tipos de condicionamento físico.
mostrou-se através da análise estatística, ser um aparelho válido Rev Bras Ciênc Mov 1989;3(4):67-71.
e fidedigno na avaliação do torque muscular, além de ser 7. Godinho GG, Santos FML, Freitas JMA. Avaliação da força
prático, de fácil leitura e baixo custo. Este aparelho tem por muscular e da função do ombro, após reparo do manguito
princípio de avaliação a utilização da contração isométrica rotador. Rev Bras Ortop 1994;29(9):643-6.
máxima. O dinamômetro analógico adaptado, como é 8. Santarem JM, Barbosa AR, Marucci MFN. Efeitos de um
denominado, possui um dinamômetro fixado em uma programa de treinamento contra resistência sobre a força
plataforma e conectado a uma cadeira flexo-extensora através muscular de mulheres idosas. Rev Bras Ativ Fís Saúde
de um eixo e uma haste metálica rígida. Esta arquitetura do 2000;5(3):12-20.
aparelho foi desenvolvida para evitar variáveis como: 9. Guirro R, Nunes CV, Davini R. Comparação dos efeitos de
dois protocolos de estimulação elétrica neuromuscular sobre
posicionamento do dinamômetro, direção de aplicação da
a força muscular isométrica do quadríceps. Rev Fisioter Univ
força e elasticidade de materiais. Exatamente são estes os
São Paulo 2000;7(1/2):10-5.
pontos que diferem nosso trabalho do estudo desenvolvido 10. Guirro R, Berzin F. Análise da freqüência mediana e da força
por Bohannon [15], que utiliza um dinamômetro fixado muscular após estimulação elétrica neuromuscular de baixa
manualmente, dificultando o correto posicionamento do freqüência. IX Congresso Brasileiro de Biomecânica,
mesmo e a correta aplicação da força de ação e reação, Gramado, Rio Grande do Sul; 2001. p. 251-6.
aumentando consideravelmente as variáveis do estudo. Além 11. Guirro R, Martin AP, Vomero VU. Alterações do espectro
disso, o uso de hastes rígidas evita a angulação lateral no de potência decorrentes do aquecimento por ondas curtas
momento do teste e os possíveis erros oriundos da elasticidade terapêutico. IX Congresso Brasileiro de Biomecânica,
Gramado, Rio Grande do Sul; 2001. p.128-32.
de outros materiais.
12. Guirro R, Davini R, Nunes CV. As respostas musculares
O custo acessível da confecção do aparelho por nós induzidas após o resfriamento local. IX Congresso Brasileiro
desenvolvido, a praticidade do seu uso e a facilidade da de Biomecânica, Gramado, Rio Grande do Sul; 2001. p. 305-10.
436 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

13. Mendonça GLF et al. Dispositivo para transdução de força 23. Pedrinelli, A. Estudo comparativo da força dos músculos
em uma cadeira de Bonett. Núcleo de estudos e tecnologia em flexores e extensores do joelho pela avaliação isocinética entre
Engenharia Biomédica, Departamento de tecnologia mecânica, pacientes com amputação transtibial e indivíduos normais.
Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Acta Ortop Bras 1999;7(1):1-13.
Paraíba 2001. p. 295-6. 24. Hall S. Biomecânica básica. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
14. Kvist J et al. Anterior tibial translation during different Koogan; 2000. 320 p.
isokinetic quadriceps torque in anterior cruciate ligament 25. Grandjean E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 437

Artigo original

Caracterização do desenvolvimento motor


da criança institucionalizada
Caracterization of motor development in institutionalized children

Andréa Antunes Gregorut Castanho, M.Sc.*, Silvana Maria Blascovi-Assis, D.Sc.**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Docente da Faculdade de Fisioterapia de Guarulhos – SP, **Docente do Programa de Mestrado em Distúrbios


do Desenvolvimento – Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP

Resumo Abstract
Estudos sobre a institucionalização de crianças abandonadas Studies about the institutionalization of children have shown
têm mostrado as conseqüências decorrentes desse processo, the consequences of this process, mainly for the psico-affective
principalmente no âmbito das relações psicoafetivas. Sabe-se que relationships. It is known that these children are exposed to
estas crianças estão sujeitas a outras complicações em seu development complications, despite their privation of stimuli
desenvolvimento, devido à carência de estímulos e oportunidades. and opportunities. The aim of this study was to characterize the
O objetivo desse estudo foi caracterizar o desenvolvimento motor motor development of a group of children resident in an
de um grupo de crianças residentes em uma instituição da cidade institution in São Paulo city. The data was collected through the
de São Paulo. O instrumento de avaliação utilizado foi a Alberta Alberta Infant Motor Scale (AIMS) and 30 children with age
Infant Motor Scale (AIMS), através do qual foram avaliadas 30 between zero and eighteen months were evaluated. The results
crianças entre zero e dezoito meses de idade. Constatou-se que showed that 97% of the evaluated subjects presented scores below
97% dos participantes apresentavam escores abaixo do percentil the percentile 50 of AIMS, without connection to variables like
50 da AIMS, não sendo observada relação dos atrasos motores reason for institutionalization, time of permanence in institution
com fatores como o motivo ou tempo de abrigo e freqüência de and frequency of family visits. The conclusion points to the
visitas. A conclusão aponta para a necessidade de novos estudos necessity of other studies that could consider the importance of
que considerem a importância da estimulação dessa população e stimulation for these children adding a better environment plan
um melhor planejamento do ambiente onde ocorre o seu for their development.
desenvolvimento. Key-words: institutionalized children, motor development,
Palavras-chave: criança institucionalizada, desenvolvimento Alberta Infant Motor Scale.
motor, Alberta Infant Motor Scale.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução A criança é um ser dinâmico, em constante mudança, que


apresenta uma seqüência previsível e regular de crescimento
Os ambientes institucionais têm sido descritos freqüen- físico e de neuro desenvolvimento. Essa seqüência sofre in-
temente como locais de influência negativa no processo fluências contínuas de forças internas e externas, provocando
evolutivo da criança. Historicamente, esses ambientes têm variações de um indivíduo para o outro, tornando único o
sido organizados a partir de um conjunto de elementos que curso de seu desenvolvimento [1]. Contudo um ambiente
contribuem de forma significativa para esse processo. Em pobre de estímulos pode ter influência direta no desenvolvi-
geral, são relativamente desestimulantes para a criança em mento motor desta criança.
desenvolvimento, apresentando problemas como superlotação, O desenvolvimento motor normal é aquele que se processa
pessoal pouco qualificado, espaço reduzido e com poucas de forma progressiva e harmônica. A maturação do sistema
chances de oferecer o tipo de estimulação sensorial adequado nervoso central permitirá a aquisição de atos motores que
à criança. garantirão a adaptação gradativa da criança às constantes

Recebido 27 de abril de 2004; corrigido 8 de outubro; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Andréa Antunes Gregorut Castanho, Rua Prof. Valério Giuli, 331/101, 02416-000 São Paulo SP
438 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

mudanças e exigências do meio. A variabilidade de experiências ou das complicações devidas aos maus-tratos ou ao abandono
às quais ela é exposta, principalmente no primeiro ano de [13,14]. No Brasil não há dados fidedignos, apenas registros
vida, explica o complexo desenvolvimento nessa faixa etária, esparsos de serviços isolados ou de núcleos de atendimento
sendo fundamental para a formação do indivíduo adulto. que estão longe de espelhar a realidade atual do país.
Newcombe [2] define desenvolvimento como as mudanças Faber [15] relata que crianças que viveram em ambientes
que ocorrem ao longo do tempo de forma desordenada e institucionais ou que vivenciaram negligências ou desnutrição
relativamente duradoura, que afetam as estruturas físicas e podem apresentar problemas neurofisiológicos significantes
neurológicas, os processos de pensamento, as emoções, as durante períodos importantes do desenvolvimento cerebral.
formas de interação social e muitos outros comportamentos. Embora nem todas as crianças que foram institucionalizadas
Para o autor, analisar o desenvolvimento significa compreender na infância apresentem seqüelas graves do desenvolvimento,
as mudanças que aparentam ser universais, explicar as diferenças muitas exibem seqüelas de problemas induzidos por
individuais e entender a forma como o comportamento das privações precoces como: problemas psicológicos e
crianças é influenciado pelo contexto ambiental. neuroevolutivos, desordens no processo sensorial e outros.
O crescimento e o desenvolvimento motor são fatores O afastamento entre pais e filhos afeta na formação do
fundamentais para a compreensão do comportamento e das ser humano produzindo anomalias, tais como: menores
necessidades da criança e estes dependem não apenas da ressentidos ou inaptos, delinqüência, problemas psíquicos
maturação do sistema nervoso central, mas também das ou mentais, uso de drogas, entre outros. Costa [16] relata
experiências e oportunidades com o meio ambiente, tendo que todo abandono condiciona sentimentos de agressividade,
este influência direta sobre a velocidade de seu desenvol- angústia e não valorização de si mesmo.
vimento motor, especialmente durante os primeiros 12 ou Uma das seqüelas da criança em orfanato diz respeito à
18 meses de vida [3,4]. graduação ou nível em que estabelece vínculos íntimos com outras
Para Hammarstron et al. [5], durante os primeiros anos de pessoas. Alguns, por um padrão de vínculo inseguro, costumam
vida, influências ambientais e a presença da família como ser exageradamente amigáveis com todos que se aproximam,
promotora da saúde da criança e de um bom nível de estimulação outros, ao contrário, parecem evitar qualquer aproximação mais
levam a criança a ter um adequado crescimento e desenvolvi- calorosa, como se tivessem medo da decepção. Para uma criança
mento biopsicossocial. Segundo Pessotti [6], condições ambientais muito nova, pode ser prejudicial a falta de ligação com uma
adequadas nas primeiras semanas de vida, associadas a uma pessoa que conviva com ela. Segundo a teoria de Bowlby [17], a
estimulação eficiente com bom relacionamento materno são privação prolongada de cuidados maternos para uma criança
fundamentais para o desenvolvimento intelectual. muito nova pode causar efeitos de graves conseqüências no
caráter, efeitos esses que podem se prolongar por toda a sua
A criança institucionalizada vida futura. Isto se relaciona tanto às crianças de orfanato, como
também àquelas que sofrem separações dos pais, ou mesmo
Diversos autores [7-11] afirmam que a criança institu- para aquelas que, apesar de viverem em seus lares, são abando-
cionalizada é o protótipo dos resultados devastadores da nadas por negligência ou omissão.
ausência de uma vinculação afetiva estável e constante, e Em geral, as crianças são institucionalizadas por motivo de
dos prejuízos causados por um ambiente empobrecido e abandono, maus-tratos, entre outros, passando então a sofrer
opressivo ao desenvolvimento infantil. com a privação materna associada à carência de estímulos,
Rizzini [8] relata que indivíduos que durante a infância podendo refletir em atraso no desenvolvimento motor.
passam pela condição de “menores institucionalizados”,
encontram dificuldades em se adaptar à vida social fora dos Desenvolvimento infantil
muros da instituição, e tornam-se adultos que podem
apresentar problemas sérios de identidade. Johnson e Blasco [1] relatam que o desenvolvimento
Weber et al. [12] pesquisaram o perfil das crianças que motor grosso segue uma seqüência de marcos iniciando-se
moravam em instituições em Curitiba – PR e verificaram na posição prona, passando pelo sentar, ficar em pé, até dar
que 77% foram encaminhadas a partir de denúncia ao os primeiros. Para Funayama [18], a seqüência no
Programa SOS-Criança, sendo 60% do sexo masculino. O desenvolvimento postural obedece sempre a mesma ordem:
motivo principal para a colocação da criança em uma primeiro o bebê controla o pescoço, em seguida e
instituição foi a negligência dos pais (63%), seguida de sucessivamente com e sem apoio, senta-se, ergue-se e anda.
abandono (13%) e agressão física (13%). E afirma que variações culturais no manejo do bebê
A cada dia aumenta o número de casos de “maus-tratos” modificam os períodos das fases, mas não a sua seqüência.
contra crianças e adolescentes, que são submetidos às mais Santos, Gonçalves e Gabbard [19] complementam esta idéia
variadas violências. Nos Estados Unidos, mais de um milhão sugerindo que o comportamento motor entre lactentes varia
de crianças e adolescentes são vítimas de maus-tratos por ano de acordo com o grupo cultura, sendo influenciado pelo
e aproximadamente duas mil morrem vítimas de traumatismo ambiente e pela relação entre mãe e filho.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 439

Tecklin [4] e Bobath [20] relatam que o principal ganho O berçário nº2 é destinado às crianças de ambos os
motor da criança nos três primeiros meses de vida é o sexos, com até 18 meses de idade aproximadamente,
alinhamento da cabeça e o movimento ativo contra a abrigando também crianças com problemas físicos e mentais
gravidade, e afirmam que o sentar e o ficar em pé são posturas associados. Neste espaço de aproximadamente 40 m2 havia
independentes, mas que o bebê mostra sinais do que está dezoito berços, uma área específica para banho e troca e
para acontecer. O segundo trimestre, que compreende o ainda um espaço aberto onde as crianças podiam brincar ao
quarto, quinto e sexto mês, são marcados por grandes ar livre. Neste berçário foram avaliadas somente 12 crianças
progressos contra a força da gravidade. A criança mantém a que não apresentavam diagnóstico de problemas associados.
cabeça alinhada em relação ao corpo e avança até a habilidade O berçário nº3 era destinado exclusivamente às crianças
de sentar sozinho com apoio anterior, por curtos períodos de do sexo masculino, com até 3 anos de idade aproxima-
damente. Neste espaço com cerca de 25 m2 havia nove
tempo. Já no sétimo, oitavo e nono mês, que compreende o
berços, dois beliches, uma televisão e brinquedos, além de
terceiro trimestre, o bebê adquire a habilidade de movimentar-
uma área reservada para banho e troca. Neste berçário
se pelo ambiente de forma mais independente, iniciam a
estavam acomodadas 11 crianças, que saíam algumas vezes
rotação de tronco sentado com apoio lateral e são capazes de
por dia para banho de sol num espaço aberto fora do
puxar-se para levantar. Nos três últimos meses do primeiro berçário. Neste berçário foram avaliadas apenas quatro
ano de vida, o bebê adquire importantes aquisições, como o crianças em razão das demais apresentarem idade acima
controle do corpo em posturas altas, o que levarão a uma de 18 meses.
maior amplitude de seus movimentos. Já o berçário nº 4 era destinado às crianças do sexo
O ambiente oferece para o bebê oportunidades de feminino com até 3 anos de idade aproximadamente, sendo
explorar o corpo e vencer a força da gravidade, sendo muito semelhante ao berçário nº 2, havendo oito berços,
evidenciada pelo aumento das posturas altas e verticais. dois beliches e uma televisão numa área aproximada de 30
Uma vez que a criança ganha controle sobre o seu corpo m2. Neste espaço, as crianças ficavam muito tempo no chão,
e é capaz de resistir à força da gravidade, novos mundos brincando na parte interna e externa do berçário. Neste
estarão abertos para exploração e o bebê estará menos depen- berçário, foi avaliada apenas uma criança em razão das
dente de seus pais para ser segurado e carregado. demais apresentarem idade acima de 18 meses.

Objetivo Procedimentos

Este trabalho teve por objetivo caracterizar o desenvolvimento Após parecer e aprovação do comitê de ética da
motor de crianças institucionalizadas entre zero e dezoito meses Universidade Presbiteriana Mackenzie, as crianças foram
de idade através da Alberta Infant Motor Scale – AIMS – [18]. avaliadas uma única vez, sempre no período da tarde, sendo
todos os dados como idade, sexo, tempo de abrigo, idade no
Material e métodos abrigo, freqüência de visita e motivo pelo qual estavam na
instituição, levantados nos prontuários de cada criança,
Foram incluídas neste estudo 30 crianças com idade entre localizados na própria instituição.
As crianças foram avaliadas nas posições prono, supino,
zero e dezoito meses, de ambos os sexos, sem complicações
sentado e ortostática, cujos registros foram efetuados na
no desenvolvimento e que estavam abrigadas há mais de 10
própria ficha de avaliação da AIMS e transportados para o
dias na instituição.
gráfico fornecido pela mesma escala, obtendo-se assim a
A Instituição selecionada abrigava na época cerca de
pontuação de cada participante.
180 crianças com idade entre 0 a 14 anos, das quais 10
Vale ressaltar que muitos dados dos prontuários encon-
eram portadoras do vírus HIV e 6 deficientes físicos graves. travam-se ausentes, devido ao abandono das crianças, não
Trata-se de uma organização não governamental (ONG) sendo possível resgatar dados sobre gestação e parto.
que vive de doações e que, segundo seus fundadores, são
insuficientes para cobrir as despesas com alimentação, Instrumentos
manutenção, remédios e folha de pagamento.
Na época, a instituição possuía quatro berçários para Para esta avaliação foram utilizados brinquedos
atender as crianças com até 3 anos de idade, que ficam apropriados para cada faixa etária (chocalho, brinquedos
localizados no piso térreo. O berçário nº1 era destinado sonoros de borracha, piano musical, bola de pano colorida,
para bebês menores com até 9 meses aproximadamente, de carrinho, boneca de pano), um tapete, lençol, um banco,
ambos os sexos. Era o menor dos berçários com cerca de além da ficha de avaliação específica da AIMS.
18 m2, onde havia treze berços, um trocador, uma banheira Cada avaliação foi realizada individualmente e teve uma
e um armário. Neste berçário todas as crianças foram duração média de 20 a 30 minutos, sendo respeitados todos
avaliadas, perfazendo um número de 13. os critérios da AIMS.
440 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Resultados Discussão

De 30 participantes, 10 eram do sexo feminino (33%) e Foram avaliadas 30 crianças, sendo 20 crianças do sexo
20 do sexo masculino (67%). Conforme levantamento, o masculino (67%) e 10 do sexo feminino (33%). Os dados
abandono e maus-tratos foram os motivos de maior incidência obtidos são semelhantes aos resultados de Weber et al. [12],
com 13 e 11 casos (43% e 37% respectivamente). Em menor que constataram no perfil das crianças institucionalizadas,
escala apareceram os problemas financeiros com, três casos ser a maioria (60%) do sexo masculino.
(10%), além de três casos classificados como outros motivos Os participantes estavam distribuídos em berçários,
(10%), como o falecimento dos pais e detenção. conforme a idade, observando-se que a maioria estava
Observou-se que 46% dos participantes não recebiam concentrada nos berçários nº 1 e nº 2. Tal distribuição refletia
visitas (14 casos), 17% recebiam visitas com pouca a situação no período de avaliação, onde estes berçários
freqüência - uma vez a cada 2 ou 3 meses (5 casos), e 37% abrigavam crianças com aproximadamente 15 meses.
recebiam visitas de algum familiar regularmente (11 casos). Verificou-se também que os motivos pelos quais estas
Os resultados das avaliações foram distribuídos no crianças estavam na instituição são comuns aos relatados
gráfico da escala AIMS, sendo observado que, com exceção em outras pesquisas. Neste estudo, dos 30 participantes, 13
de uma criança, todas as demais apresentaram resultado foram abandonados (43%), 11 estavam na instituição por
abaixo do percentil 50 da AIMS, totalizando 97% dos maus-tratos (37%), 3 casos devido a problemas financeiros
participantes abaixo desse percentil. Vale ressaltar que cinco (10%), e 3 casos por outros motivos (10%), como
participantes estavam entre o percentil 5 e 10 e quatro entre falecimento dos pais ou detenção dos familiares, enquanto
o percentil 10 e 25 da AIMS (Gráfico 1). que Weber [22] em pesquisa na cidade de Curitiba verificou
Como forma auxiliar de análise foi verificado se havia que 63% dos casos foram abrigados por negligência, seguido
alguma relação entre o distanciamento do percentil 50 e os de abandono e agressão física com 13% em ambos os casos.
fatores freqüência de visitas, motivo do abrigo e os berçários Conforme levantamento realizado nos prontuários de
nos quais as crianças estavam inseridas. cada criança incluída no estudo, verificou-se que 46% não
Com relação à freqüência de visitas e o motivo do abrigo recebem ou nunca receberam visita de seus familiares, 37%
não foi verificado nenhuma relação direta, havendo uma recebem visita regularmente (a cada quinze dias), e 17%
equivalência com pequenas variações. recebem visita com pouca freqüência (uma vez a cada dois
Já na questão dos berçários, observa-se um maior ou três meses), enquanto que na pesquisa realizada por
distanciamento do percentil 50 para as crianças do berçário nº 1 Weber e Gagno [11], 70% dos internos nunca receberam
e um menor distanciamento para as crianças dos outros berçários. visita de seus pais ou familiares depois que foram
Gráfico 1 – Pontuação geral dos participantes com relação à AIMS institucionalizados.
Para Johnson e Blasco [1], o desenvolvimento infantil
decorre de maneira previsível, regular e intrinsecamente
determinada, podendo ser modulado por forças externas
que interferem na velocidade e na qualidade do progresso
deste desenvolvimento. Cunha [23] e Paula [24] relatam
que o desenvolvimento infantil é influenciado por fatores
biológicos e sócio-ambientais, e consideram que crianças de
nível sócio-econômico baixo, abandonadas e ainda
institucionalizadas, podem ser consideradas grupos de risco
para atraso no desenvolvimento psicoafetivo e psicossocial.
Neste estudo foi utilizado como ferramenta de avaliação a
Alberta Infant Motor Scale (AIMS), que é um instrumento
avaliativo observacional que proporciona uma identificação de
atraso e monitorização do desenvolvimento motor nos primeiros
dezoito meses de vida. A identificação dos dados permite ao
examinador determinar o percentual em que se encontra a criança
avaliada e comparar com as pontuações já estabelecidas e
fornecidas pela escala. Vale ressaltar que esta escala não serve
como ferramenta de diagnóstico, e sim como identificador de
Masculino
Feminino
possíveis desvios do desenvolvimento motor [21,25,26].
Observou-se também que as pontuações abaixo do
percentil 50 relacionadas com a idade na avaliação foram
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 441

mais elevadas na faixa de 10 a 11 meses de idade, porém lizada é privada de estímulos sensoriais, auditivos, visuais e
elevada e mais homogênea na faixa de 6 a 7 meses de idade. motores, causados por ambiente empobrecido e funcionários
Sabe-se que a criança de 6 a 7 meses apresenta importantes pouco qualificados, dificultando o desenvolvimento infantil
aquisições motoras, como a habilidade de sentar sozinha por [7,10,11].
alguns minutos com apoio anterior, liberar um membro para Todas estas análises evidenciaram como resultado geral
pegar objetos, partindo assim para o ganho da reação de das avaliações, que um único caso apresentou-se acima do
equilíbrio e proteção anterior [20,27]. percentil 50 (3%), com os demais 29 participantes (97%)
Tecklin [4] considera que nesta fase o bebê torna-se mais apresentando resultado abaixo desse percentil, não sendo
móvel e desenvolve a habilidade de explorar o ambiente, caracterizado nos aspectos analisados, além da privação
movimentando-se cada vez mais contra a gravidade, materna, nenhum fator determinante para estes atrasos,
tornando-se capaz de adotar posturas cada vez mais elevadas exceto o ambiente no qual as crianças estavam inseridas,
e verticais nos meses subseqüentes. aliadas ao fato de existir apenas um funcionário para o
Weber e Kossobudzki [10] salientam que nas instituições, atendimento das 13 crianças deste berçário.
a oportunidade das crianças praticarem habilidades motoras Por outro lado, não se pode afirmar que estas crianças
é praticamente impossível, por estar a criança mais nova apresentam atraso motor real, pois como descrito na
confinada ao berço, limitando sua locomoção e exploração literatura, uma pontuação baixa na AIMS não significa
ambiental. necessariamente que a criança apresente o mesmo resultado
A criança de 10 a 11 meses de idade apresenta grande numa próxima avaliação.
mobilidade e dinamismo na postura sentada, podendo Darrah et al. [30] e Piper e Darrah [21] consideram que
assumir outras posições até a postura ortostática, arriscando para identificar exatamente um atraso motor através da
alguns passos com base alargada, sendo esta uma importante aplicação da AIMS, a criança deva ser submetida a uma
etapa para a aquisição da marcha independente [4,28]. série de reavaliações, podendo ser observado variações nas
O espaço físico disponível no local onde foi realizada a pontuações subseqüentes, sinalizando ao examinador
pesquisa proporcionava poucas oportunidades para o possíveis mudanças na evolução motora da criança.
exercício da motricidade livre, considerando o número de Mantoan [31] salienta que existem diferenças entre déficit
15 crianças em cada berçário (incluindo crianças não real e circunstancial, considerando como real quando há uma
participantes do estudo), não havendo espaço físico lesão orgânica instalada como causa do problema, enquanto
programado para que elas possam brincar e interagir com o que o déficit circunstancial ocorre apenas por interferência
meio. social, como é o caso da população deste estudo. Se uma
Vários estudos foram conduzidos com o objetivo de criança é privada de experiências motoras e por conta disto
investigar as crianças institucionalizadas acerca do aspecto vier a apresentar atraso motor quando comparada a crianças
emocional e psicoafetivo [11,15,29]. Contudo há uma da mesma faixa etária, este déficit pode ser considerado
carência de pesquisas relacionadas à influência do ambiente circunstancial.
institucional no desenvolvimento motor da criança nos Evidenciou-se, portanto, que existem indícios de que o
primeiros anos de vida. O que se sabe é que o ambiente atraso motor verificado na população estudada possa ter
institucional é carente de estímulos, ficando a criança mais relação direta com o ambiente e a falta de estimulação,
jovem muitas vezes confinada ao berço, limitando-a de podendo-se caracterizar neste caso o atraso motor como
explorar o ambiente, prejudicando o seu desenvolvimento sendo circunstancial.
motor.
Não se podem deixar de lado considerações sobre os
Após a análise dos resultados apresentados pelos
aspectos emocionais que envolvem a criança afastada de
participantes considerou-se importante verificar se houve
sua família. Além dos problemas que podem ser gerados
alguma relação da pontuação dos participantes em relação
pela falta de apego [32], existe a possibilidade da ocorrência
ao percentil 50 da AIMS considerando os motivos do abrigo,
de problemas neurofisiológicos em crianças que vivem em
freqüência das visitas e o berçário no qual as crianças estavam
ambientes institucionais [15].
inseridas. Nas duas primeiras situações não foi observada
relação aparente entre o atraso e a condição, diferentemente Estas condições reforçam a idéia de que as pessoas que
da condição dos berçários, cuja variação sugere que as trabalham diretamente com esta população devam ficar atentas
crianças inseridas no berçário nº1 estavam mais atrasadas também às questões do desenvolvimento motor, de tal forma
em relação às crianças dos outros berçários. que possam prevenir ou minimizar estes problemas.
Evidenciou-se também que o espaço físico do berçário
nº1 era relativamente menor em relação aos demais, Conclusões
sugerindo que este ambiente possa ter tido influência direta
no maior percentual de atraso destas crianças. Este dado O presente estudo permite concluir, com base na Alberta
vem reforçar o diz a literatura, onde a criança instituciona- Infant Motor Scale (AIMS), que 97% das crianças avaliadas na
442 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

instituição com idade até dezoito meses, apresentaram alterações apresentada pelo Curso de Psicologia da Universidade
no curso do desenvolvimento motor na época da avaliação. Pontifícia Católica do Paraná; 1999.
Os resultados encontrados, aliados à descrição do local 13. Burns YR, MacDonald J. Fisioterapia e crescimento na infância.
São Paulo: Santos; 1999. p.475-85.
onde foi realizado o estudo, sugerem que o atraso motor
14. Santos HO. Medicina legal para não [egistas. São Paulo:
com relação ao percentil 50 da AIMS possa ter relação Copola; 1998.
direta com o ambiente e a falta de estimulação, podendo ser 15. Faber S. Behavioral sequelae of orphanage life. Pediatric Annals
caracterizado como um déficit circunstancial. 2000;29:242-4.
Pode-se considerar, a partir dos dados apresentados, que é 16. Costa TJM. Juizado da infância e da juventude Belo Horizonte
de suma importância que as instituições que abrigam crianças - Adoção. Conferência proferida no Instituto dos Advogados
nesta faixa etária proporcionem maior estímulo e interação de Minas Gerais; Outubro 1994.
com o ambiente, favorecendo seu desenvolvimento normal, 17. Bowlby J. Apego - Apego e perda. São Paulo: Martins Fontes;
considerando que o período compreendido entre zero e dezoito 1984.
meses caracteriza-se por aquisições motoras importantes para 18. Funayama CAR. Exame neurológico em crianças. Medicina,
Ribeirão Preto 1999;29:32-43.
o seu desenvolvimento.
19. Santos DCC, Gonçalves VMG, Gabbard C.
Os resultados obtidos nesse estudo apontam para a Desenvolvimento motor durante o primeiro ano de vida:
necessidade de outras pesquisas sobre o desempenho motor comparação entre lactentes brasileiros e americanos. Temas
da criança institucionalizada e o ambiente onde as mesmas sobre desenvolvimento 2000;9(53):34-7.
se desenvolvem, para que se possa ter um planejamento 20. Bobath K. Uma base neurofisiológica para o tratamento da
que beneficie não apenas o desenvolvimento motor, paralisia cerebral. São Paulo: Manole; 1989. p.12-28.
especificamente, mas toda a sua inserção e interação social. 21. Piper MC, Darrah J. Motor assessment of the developing
infant. Canada: WB Saunders; 1994.
22. Weber LND. Laços de ternura: pesquisas e histórias de adoção.
Referências Curitiba: Juruá; 1999. 232p.
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1. Johnson CP, Blasco PA. Crescimento e desenvolvimento hospital de pediatria da Universidade Federal do Rio
Infantil. Pediatrics in Review em Português 1997;18(7):224- Grande do Norte no primeiro ano de vida: aplicação do
42. teste de Denver II em ambulatório. [dissertação]. São
2. Newcombe N. Desenvolvimento infantil - Abordagem de Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2000.
Mussen. Porto Alegre: Artes Médicas. 1999. 561 p. 24. Paula CS. Atraso de desenvolvimento mental e motor em
3. Shepherd RB. Fisioterapia em pediatria. 3ª ed. São Paulo: crianças de creches de comunidade urbana de baixa renda e
Santos;1996. p.9-42. fatores de risco associados. [dissertação] São Paulo:
4. Tecklin JS. Fisioterapia pediátrica. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed; Universidade Federal de São Paulo; 2001.
2002. p.11-68. 25. Jeng SF, Yan KIT, Chen LC, Hsiao SF. Alberta Infant Motor
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preensão manual em crianças de 0-3 anos. Fisioter Mov 26. Piper MC, Pinnell LE, Darrah J, Maguire T, Byrne PJ. Construction
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crianças que moram em instituições em Curitiba. Pesquisa Artes Médicas; 1996. 
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 443

Artigo original

Incidência de lesões músculo-esqueléticas em tenistas


Incidence of musculoskeletal injuries in tennis players

Guilherme Lotierso Fehr*, Mayko Olinto Amaral da Silva**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeutas do XXXIV Torneio Banana Bowl de Tênis – Ribeirão Preto SP, Fisioterapeutas do Hospital São Francisco
(Fundação Waldemar Barnsley Pessoa), Unidade de Fisioterapia, Ribeirão Preto

Resumo Abstract
O objetivo do presente estudo foi realizar um levantamento The aim of this study was to realize a survey of incidence of
da incidência de lesões músculo-esqueléticas em praticantes de musculoskeletal injuries in tennis players. A total of 54 tennis
tênis. Foram avaliados 54 tenistas, sendo 22 mulheres e 32 homens, players was evaluated (22 females and 32 males) during XXXIV
participantes de XXXIV Torneio Banana Bowl de Tênis. Os Banana Bowl Tennis Tournament. The results showed that low
resultados demonstraram que a coluna lombar e o cotovelo foram back and elbow were the most commonly injured regions. The
as regiões mais acometidas. Dentre os tipos de lesões mais kind of injuries that occurred more frequently were muscle injuries
freqüentes destacam-se as lesões musculares e as tendinites. and tendinitis.
Palavras-chave: tênis, lesões músculo-esqueléticas. Key-words: tennis, musculoskeletal injuries.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Materiais e métodos

Existem muitas teorias quanto ao surgimento do Tênis. Foram atendidos ao longo do XXXIV Torneio Banana Bowl
Porém, sabe-se que as bases do jogo surgiram na França no de Tênis, realizado na cidade de Ribeirão Preto – SP no período
final do século XII, a partir de outra modalidade esportiva de 13 a 21 de Março de 2004, 54 atletas que apresentaram
denominada jeu de paume (jogo da palma). No jeu de paume as lesões músculo-esqueléticas durante o torneio e pertenciam às
raquetes não eram empregadas. Os jogadores utilizavam categorias infanto-juvenil (atletas de 13 a 14 anos) e juvenil
apenas as mãos e a bola era arremessada contra um muro. (atletas de 15 a 16 anos). Destes, 22 atletas do sexo feminino
O Tênis difundiu-se no Brasil em meados do século XIX, (40,74%) e 32 do sexo masculino (59,26%).
trazido por industriais e engenheiros britânicos que iniciaram Incluímos no estudo apenas os atletas que procuraram a
o processo de urbanização dos grandes centros como Rio unidade de fisioterapia do torneio. Os atendimentos
de Janeiro e São Paulo [1]. solicitados em quadra (no transcorrer das partidas) só foram
Nos últimos anos, o número de praticantes no Brasil tem incluídos caso o atleta procurasse novamente os fisiote-
crescido consideravelmente tanto no âmbito recreacional quanto rapeutas do torneio após a partida. Este procedimento foi
no competitivo [2]. Isto pode ser explicado, em parte, pelo adotado com intuito de evitar que falsas lesões fossem
desempenho do tenista brasileiro Gustavo Kuerten, que obteve incluídas no estudo, visto que deter minados atletas
resultados expressivos nas últimas temporadas internacionais, solicitavam o atendimento fisioterapêutico em quadra apenas
contribuindo para a popularização do esporte no país. para “esfriar´´ o jogo, não apresentando qualquer lesão
Dessa forma, os riscos de lesões tornam-se eminentes e específica.
o fisioterapeuta tem papel fundamental na reabilitação e Os atletas foram avaliados e os resultados analisados e
prevenção destas lesões. divididos quanto aos tipos de lesões mais comuns e locais
O presente estudo teve por objetivo realizar um levantamento mais acometidos. No presente estudo não se utilizou
da incidência de lesões músculo-esqueléticas em tenistas. questionário.

Recebido 10 de maio de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Guilherme Lotierso Fehr, Rua João de Bortoli, 354, Jardim Flórida, 14026-330 Ribeirão Preto SP, Tel: (16) 3911-
1345, EE-mail: guifehr@yahoo.com.br
444 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Resultados Discussão

Os resultados são baseados num total de 54 lesões, já que O tênis é um esporte que exige alta performance dos
cada um dos 54 atletas atendidos apresentou uma única lesão. jogadores, principalmente daqueles dedicados à competição.
A busca pela profissionalização faz com que os atletas sejam
Locais mais acometidos submetidos a horas de treinamento diário e seguidas disputas
de campeonatos. Isto os expõem a variados tipos de lesões.
A figura 1 mostra os locais mais acometidos por lesões Nossos resultados demonstraram que a coluna lombar
músculo-esqueléticas. A coluna lombar foi a região mais foi a região mais acometida, seguida pelas articulações do
acometida totalizando 10 lesões (18,51%), seguida pelo cotovelo, tornozelo e região anterior de coxa. As lesões
cotovelo com 9 lesões (16,66%), tornozelo com 7 lesões musculares, tendinites e entorses foram as mais prevalentes.
(12,96%), coxa com 5 lesões, (9,25%), joelho, quadril e ombro Os fatores que predispõem o surgimento destas lesões
com 4 lesões cada (7,40%), mão com 3 lesões (5,55%) e são inúmeros, destacando-se o excesso de movimentos
punho, antebraço, perna e tórax com 2 lesões cada (3,70%). repetitivos, equipamento não apropriado para o atleta,
biomecânica dos gestos esportivos incorreta, preparo físico
Fig. 1 – Percentual dos locais mais acometidos por lesões.
deficiente, entre outros [2].
Entretanto, os resultados apresentados sugerem que
grande parte das lesões podem ter surgido em decorrência
do excessivo número de jogos num curto período de tempo,
visto que o torneio citado neste estudo foi a quinta etapa
de um total de seis, que vinham sendo disputadas semana
após semana, ininterruptamente, e alguns jogadores
chegavam a realizar até três partidas num único dia.

Conclusões

As lesões mais freqüentes foram as musculares e


tendíneas. A região lombar e o cotovelo foram as regiões
Tipos de lesões mais freqüentes mais acometidas.
É fundamental que os fisioterapeutas tenham
Na figura 2 são mostrados os tipos de lesões mais conhecimento das lesões mais freqüentes na prática do tênis
freqüentes. A maior incidência encontrada foi de lesões e suas possíveis causas, uma vez que as lesões são de
musculares, num total de 28 casos (51,85%), seguida pelas prognóstico favorável em grande parte dos casos, e a
tendinites com 17 casos (31,48%), entorses com 8 casos fisioterapia exerce papel fundamental na recuperação
(14,81%) e finalmente a contusão com apenas 1 caso funcional dos atletas.
(1,85%).
Referências
Fig. 2 – Percentual dos tipos de lesões mais freqüentes.
1. Confederação Brasileira de Tênis. [citado 2004 abr 2].
Disponível em URL: http: // www.cbtenis.org.br.
2. Adriano Vretaros. O papel do preparador físico no retorno a
pratica esportiva competitiva após reabilitação músculo-
esquelética: uma abordagem no tênis de campo.[citado 2004
abr 2]. Disponível em URL: http: // www.efdeportes.com.
br. 
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 445

Artigo original

A influência da hemisfericidade e da visualização


do movimento em atividade de prática mental
The influence of the hemisphericity and visualization
of the movement in activity of mental practice

William Bezerra Leite*, Vernon Furtado da Silva, D.Sc.*, Alair Pedro Ribeiro, D.Sc.*, Martha Lovisaro**
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro,
**Psicóloga, Especialista em Educação Psicomotricista, Livre Docente, UERJ

Resumo Abstract
No presente estudo, temos como objetivo investigar a relação da The aim of this study was to investigate the relationship
capacidade de visualização do movimento e a preferência de between the capacity of visualization of the movement and the
processamento hemisférico em atividades de prática mental. Foi preference of the hemispheric dominance in mental practice activity.
utilizada uma amostra de 30 participantes do sexo feminino, It was used a sample of 30 female individuals, university students,
universitárias, com idade variando entre 19 e 30 anos. As participantes 19 to 30 years old. Initially, the participants were submitted to the
foram submetidas ao teste de Clem para se averiguar a predominância Clem test to examine the hemispheric dominance; then was applied
hemisférica; em seguida foi aplicado o questionário do movimento the imaginary movement questionnaire to detect the capacity of
imaginário (MIQ) para se descobrir a capacidade de visualização do the visualization of the movement and finally, it was carried on
movimento e por fim, realizaram a prática mental durante flutuação the mental practice during floating in aquatic environment, where
em meio aquático; na qual cada participante imaginou e tentou sentir each participant imagined and tried to feel the movement in their
o movimento em seus membros superiores, sendo que em um de arms. In relation to the hemispheric dominance, 16,7% were left
cada vez. Com relação à predominância hemisférica, 16,7% são hemisphere dominant, 23,3% were right hemisphere dominant
hemisféricitos esquerdos, 23,3% são hemisféricitos direitos e 60% and 60% were interhemispherical dominant. The capacity of the
são bi-hemisféricitos. A capacidade de visualização de movimento visualization of the movement was classified in: High visual and
foi classificada através dos escores do MIQ em: alta visual e alta High Kinesthetic (HH), with 56,66% of participants; High visual
cinestésica (AA), com 56,66% dos participantes; alta visual e regular and regular Kinesthetic (HR), with 20% of participants; High visual
cinestésica (AR), com 20% dos participantes; alta visual e baixa and Low Kinesthetic (HL), with 20% of participants and Regular
cinestésica (AB), com 20% dos participantes e regular visual e baixa visual and Low Kinesthetic (RL), with 3,34% of participants. The
cinestésica (RB), com 3,34% dos participantes. Os dados obtidos collected data were treated with ANOVA and Tuckey test with p <
foram tratados através de uma ANOVA e o teste de Tuckey sendo p 0,001 in the scores from the kinesthetic capability. During the mental
< 0,001 nos escores da capacidade cinestésica. Durante a prática mental practice floating in swimming pool, 40% of participants did not
em flutuação na piscina, 40% dos participantes não apresentaram present rotations and 60% presented rotations; ones for the right
rotações e 60% apresentaram rotações; sendo estas para direita e and left, only right, only left and to opposite of imagined members.
esquerda, somente direita, somente esquerda e opostas ao membro The correlations of these factores concluded that the hemispheric
imaginado. As correlações desses fatores concluíram que a dominância dominance has direct relation in the determination of the side
hemisférica tem relação direta na determinação do lado que as where participants presented rotations; the left hemisphere
participantes apresentaram rotações; os hemisféricitos esquerdos dominants acquired best performance in mental practice due to
obtiveram melhor desempenho na prática mental devido à práxis do the praxis of left hemisphere to be necessary for the most of hand
hemisfério esquerdo ser necessária para a maioria dos movimentos movements and arms; and the capacity of the visualization of the
das mãos e dos braços. E a capacidade de visualização do movimento movement was important to explain the exceptions in the body
foi importante para explicar as exceções ocorridas nas rotações rotations, although participants with low capacity of the movement
corporais, apesar de participantes com baixa capacidade de visualização visualization acquired more success in the mental practice during
do movimento obterem mais sucessos na prática mental durante a floating in the swimming pool.
flutuação na piscina. Key-words: hemisphericity, movement visualization, mental
Palavras-chave: Hemisfericidade, visualização do movimento, practice.
prática mental.

Recebido 24 de maio de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Prof. Dr. Vernon Furtado da Silva, Universidade Castelo Branco, Avenida Santa Cruz, 1631 Realengo 21710-210
Rio de Janeiro RJ, E-mail: vfs@castelobranco.br
446 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Introdução mental permite a observação do deslocamento do corpo


para o lado no qual foi realizado o movimento imaginado
A prática mental consiste na execução de uma habilidade em membro superior, através da prática mental ocorre o
motora em ausência de movimentos físicos visíveis, recrutamento de unidades motoras gerando ganho de força
empregando a visualização dos movimentos que se objetiva no membro superior imaginando tornando possível a rotação
realizar. Proporciona solução ativa de problemas, atuando do corpo.
como estratégia de preparação para auxiliar no processo de Assim considerando que a prática mental esta
aprendizagem e facilitador do armazenamento e recuperação fundamentalmente associada à sua competência cognitiva,
da memória de uma ação bem-sucedida. pode-se considerar, portanto, a possibilidade de que, uma
Durante a pratica mental, trajetos neuromotores metodologia que leve em conta a natureza do processamento
envolvidos na ação são ativados, auxiliando a aprendizagem hemisférico do aprendiz, relacionado a sua capacidade de
de habilidades, ajudando a estabelecer e reforçar os padrões visualização do movimento, venha a otimizar o processo de
de coordenação adequados que precisam ser desenvolvidos. ensino a ele dirigido, a fim de melhorar a efetividade da
A atividade elétrica nos músculos de indivíduos que se prática mental, proporcionando um maior aproveitamento
prestam à imaginação do movimento pode ser observada desta técnica nas potencialidades das pessoas, para a obtenção
no trabalho de Jacobson (1931), foi requerido, por Jacobson, de uma boa aprendizagem motora e reaprendizagem de
que visualizassem o braço direito, daí ele observou atividade habilidades perdidas, ou seja, a reabilitação física e funcional.
EMG no músculo ocular, mas não no bíceps braquial.
Entretanto, quando ele solicitou que se imaginassem Materiais e métodos
dobrando o braço direito ou levantando um peso de 5kg,
ele notou que havia atividade EMG no bíceps braquial em Amostra
mais de 90% das tentativas [1].
A prática mental atua satisfazendo as demandas que A amostra componente do estudo em pauta foi
requerem alto grau de atividade cognitiva, como a primeira caracterizada por um montante de 30 jovens universitárias
etapa da aprendizagem de uma habilidade motora. Nas etapas do sexo feminino, na faixa etária entre 19 e 30 anos que
finais da aprendizagem, a prática mental auxiliar na não apresentam qualquer distúrbio visual, auditivo, físico
consolidação das estratégias e na correção de erros. ou mental. Foram selecionados de forma randômica e
Na verificação da aplicabilidade dos princípios da função agrupados de acordo com a predominância hemisférica, a
hemisférica em aprendizagem motora, pesquisadores têm capacidade de visualização do movimento e as rotações
demonstrado serem estes potencialmente importantes para corporais apresentadas ou não durante a prática mental
este tipo de aprendizagem, bem como para o seu processo em flutuação no meio aquático.
de ensino [2].
O fator importante na função do processamento Instrumentação e procedimentos
hemisférico na aprendizagem da criança é que diferen-
temente de se programar a instrução a ser ensinada, tomando Teste de Clem
como base o estereótipo do aprendiz, esta é formulada em
função da sua natureza neurológica para aprender, ou seja, As universitárias foram avaliadas em relação à
em relação a sua hemisfericidade potencial, que requer uma predominância hemisférica através de procedimentos deste
formatação metodológica de ensino mais especialmente teste. Foi utilizada uma câmera de vídeo, que registrou o
individualizada. movimento dos olhos das universitárias testadas. O
A eficiência da prática mental está ligada diretamente à movimento ocular é contra-lateral ao hemisfério que controla
capacidade de visualização do movimento. Isso pode ser o movimento e pode ser usado para deduzir o modo
evidenciado através do trabalho de Hall et al. [3,4] que se prioritário do processamento de um indivíduo.
utilizaram do Questionário sobre imaginação do Movimento As universitárias entraram em um local fechado,
(MIQ, do inglês Movement Imagery Questionnaire), um teste da pequeno, uma por vez, sentou em uma cadeira a dois metros
capacidade de imaginar planejado especificamente para ser de distância de uma cortina preta, pela qual projetará a lente
aplicado ao desempenho de habilidades motoras. Como a de uma câmera de vídeo.
capacidade de imaginar é uma diferença individual, Hall Todas as pessoas examinadas receberem 5 problemas
propôs que a capacidade de imaginar afeta o sucesso da analíticos, próprios para análise da hemisfericidade esquerda;
prática mental. Entretanto, tanto pessoas com baixa 5 problemas relativos à visualização espacial e próprios para
capacidade de imaginar quanto aquelas com alta capacidade, a análise da hemisfericidade direita.
podem se beneficiar com a prática mental. As perguntas foram realizadas por um experimentador
Neste estudo foi realizada a prática mental em uma através de gravação que se ouve por tape posicionado atrás
modalidade de flutuação na piscina; essa forma de prática da cortina.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 447

Questionário do movimento imaginário realizava a prática mental, esta foi filmada para que fosse
obser vado se ocorreriam rotações em seu corpo e
Este questionário mede a capacidade de imaginar ou principalmente para o lado que o braço foi imaginado. A
visualizar o movimento, as universitárias se submeteram participante só foi requerida a realizar a prática mental do
a 18 situações de ação, em que foram solicitadas a braço esquerdo, depois que realizou no braço direito e
desempenhar fisicamente e em seguida mentalmente. retornou a posição de pé.
Antes de iniciar a fase de teste, as universitárias foram
informadas das características da testagem, após foi pedido Procedimentos estatísticos
que executassem determinada ação fisicamente, saindo
de uma posição de partida definida pela situação exposta Para responder às questões instituídas na presente
no questionário. Em seguida, elas foram solicitadas a pesquisa, os dados associados aos testes formulados
relaxar e assumir novamente a posição de partida, então foram tratados através de estatística descritiva e
elas são convidadas a executar uma de duas tarefas inferencial.
mentais; a formar a imagem mais clara e vívida possível
para o movimento que acabou de ser desempenhado ou Resultados e discussão
tentar sentir-se efetivamente executando o movimento
que acabou de ser desempenhado sem tê-lo feito Das trinta voluntárias, cinco (16,7%) apresentaram
realmente. Nesse teste, a primeira tarefa mental é dominância hemisférica esquerda, sete (23,3%)
chamada de imaginário visual ou mental, enquanto a apresentaram dominância hemisférica direita e dezoito
segunda tarefa mental é chamada de imaginário (60%) apresentaram bi-hemisfericidade.
cinestésico. Depois de desempenhar uma dessas tarefas
mentais, a pessoa avaliou se foi fácil ou difícil desempenhá- Figura 1 – Preferência de processamento hemisférico dos participantes.
la, descrevendo de acordo com as escalas de avaliação do
questionário. Essas escalas são:

Escala do imaginário visual

1) muito fácil de imaginar, 2) fácil de imaginar, 3)


razoavelmente fácil de imaginar, 4) neutro (nem fácil e
nem difícil), 5) razoavelmente difícil de imaginar, 6) difícil
de imaginar, 7) muito difícil de imaginar.

Escala do imaginário cinestésico

1) muito fácil de sentir, 2) fácil de sentir, 3)


razoavelmente fácil de sentir, 4) neutro (nem fácil e nem
difícil), 5) razoavelmente difícil de sentir, 6) difícil de Os achados deste estudo demonstraram dados
sentir, 7) muito difícil de sentir. aproximados da população, na qual 25% desta apresenta
predominância do processamento hemisférico esquerdo ou
Prática mental durante flutuação em direito e 75% apresentam predominância do processamento
meio aquático bi hemisférico [2].
Com relação à capacidade de visualização do
As universitárias após serem submetidas à testagem de movimento, as participantes foram classificadas em quatro
Clem e ao questionário do movimento imaginário, categorias, após análise dos seus escores do questionário
realizaram prática mental durante a flutuação. Elas foram do movimento imaginário: Alta capacidade visual e Alta
primeiramente, treinadas a flutuarem; deitando na água capacidade cinestésica (AA), Alta capacidade visual e
em decúbito dorsal, realizando flexão de joelhos Regular capacidade cinestésica (AR), Alta capacidade
bilateralmente, retroversão pélvica e contração muscular visual e Baixa capacidade cinestésica (AB) e Regular
abdominal; desta forma as participantes flutuaram com capacidade visual e Baixa capacidade cinestésica (RB). A
mais facilidade. Após a aprendizagem da flutuação, as categoria AA apresentou dezessete participantes (56,66%).
participantes foram pedidas a realizarem uma prática A categoria AR apresentou seis participantes (20%). A
mental durante a flutuação, imaginando sentir-se fazendo categoria AB também apresentou seis participantes (20%)
o movimento. Primeiramente no braço direito e e a categoria RB apresentou apenas um participante
posteriormente no braço esquerdo; enquanto a voluntária (3,34%).
448 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Figura 2 – Capacidade de visualização do movimento dos participantes. que algumas não apresentaram rotação. Doze participantes
(40%) não apresentaram rotações e dezoito participantes
(60%) apresentaram rotações, independente dos lados que
ocorreram.
Figura 3 – Resultado da prática mental durante flutuação em meio
aquático.

As medidas das escalas de visualização do movimento,


observadas no MIQ demonstram pontuação mínima de 09
e máxima de 63; as médias calculadas classificaram essas
medidas em: de 09 a 27 alto, de 28 a 45 regular e de 46 a 63
baixo. Sendo assim, a escala visual, apresentou escores alto
e regular e a escala cinestésica, alto, regular e baixo. Dos 30
participantes, com relação à capacidade visual, somente um O fato das mulheres apresentarem um maior concentração
apresentou escore regular, os outros 29 foram altos. Na de tecido adiposo corporal que o homem devido à ação dos
capacidade cinestésica, dezessete apresentaram escores altos, hormônios sexuais e uma ossatura menos densa. Resulta em
seis apresentaram escores regulares e sete apresentaram uma densidade relativa menor que 1, o que torna mais apta a
escores baixos. Diante desses achados a capacidade visual flutuar na água que o homem [6].
não necessitou de tratamento estatístico, pois não apresentou As rotações corporais que surgiram após as participantes
variâncias. Já a capacidade cinestésica, devido as variações realizarem flutuação na água e prática mental são explicadas
apresentadas, foi tratada por uma ANOVA, e teste de Tukey pelo fato da água ser um meio instável, sujeito a forças opostas
com p < 0,001. como a gravidade e a flutuabilidade. Entretanto, quando as forças
Tabela I – Tukey HSDa,b. de gravidade e flutuabilidade forem diferentes e estiverem
desalinhadas, haverá movimento, que será sempre de rotação
G R U P O Subset for alpha = 0,05 [7]. Qualquer movimento dos braços poderia provocar esses
N 1 2 3 efeitos rotacionais, por isso elas foram orientadas a não moverem
A 17 19,65 seus corpos e membros. Ao realizarem a prática mental em seus
R 6 31,17 membros superiores, o sistema nervoso central dispara um plano
B 7 46,00 de ação para os músculos, recrutando as unidades motoras para
Sig. 1,000 1,000 1,000 a ação durante a imaginação mental [1]. Este fato é reconhecido
desde os estudos de Jacobson em 1931, em que se comprovou
P < 0,001
através de eletromiografia esse ganho ínfimo de força. No
Em um estudo de Goss, Hall, Buckolz e Fishburne presente estudo essa ação muscular foi suficiente para alterar a
[5], utilizando o MIQ, os grupos foram classificados em densidade no membro imaginado resultando na rotação do corpo.
baixa visual e baixo cinestésico, alto visual e baixo Ao correlacionar a dominância hemisférica e a capacidade
cinestésico, e alto visual e alto cinestésico. Tanto a escala de visualização do movimento na flutuação associada à
visual quanto a escala cinestésica apresentaram escores alto prática mental, observou-se que dos cinco participantes que
e baixo. No presente estudo foi incorporada a classificação possuem dominância hemisférica esquerda, dois participantes
regular, pois as pontuações dos escores somente alto e baixo, (40%) possuíram capacidade de visualização do movimento
geram grandes amplitudes entre escores de uma mesma AB e apresentaram rotação para direita, um participante
classificação. Assim para que os resultados desse estudo (20%) possuiu capacidade de visualização do movimento
alcançassem uma maior precisão e especificidade esta AA e apresentou rotação para direita e para esquerda, um
classificação foi criada. participante (20%) possuiu capacidade de visualização do
As participantes após serem submetidas à flutuação e à movimento AA e apresentou rotação para direita e um
prática mental durante a realização deste evento, participante (20%) possuiu capacidade de visualização do
apresentaram deslocamentos (rotações) de seus corpos, movimento RB e apresentou exceção, pois apresentou
para o lado que foi imaginado o movimento do braço; sendo rotações opostas aos lados dos braços imaginados.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 449

Figura 4 – Correlação da dominância hemisférica esquerda com a capacidade visualização do movimento AA e apresentaram rotação para
de visualização do movimento na prática mental durante flutuação em meio direita e para esquerda, um participante (5,6%) possuiu capacidade
aquático. de visualização do movimento AA e apresentou rotação para
direita, um participante (5,6%) possuiu capacidade de visualização
do movimento AR e apresentou rotação para direita, um
participante (5,6%) possuiu capacidade de visualização do
movimento AR e apresentou rotação para esquerda e um
participante (5,6%) possuiu capacidade de visualização do
movimento AR e apresentou exceção, pois imaginou o movimento
no braço direito e seu corpo rotou para o lado oposto (esquerdo).
Figura 6 – Correlação da bi-hemisfericidade com a capacidade de
visualização do movimento na prática mental durante flutuação em meio
aquático.

Dos sete participantes que possuem dominância


hemisférica direita, dois participantes (28,57%) possuíram
capacidade de visualização do movimento AR e apresen-
taram rotação para esquerda, três participantes (42,85%)
possuíram capacidade de visualização do movimento AA e
não apresentaram rotação, um participante (14,29%) possuiu
capacidade de visualização do movimento AA e apresentou
rotação para esquerda, e um participante (14,29%) possuiu
capacidade de visualização AR e não apresentou rotação.
Figura 5 – Correlação da dominância hemisférica direita com a capacidade
de visualização do movimento na prática mental durante flutuação em meio
Diante dos resultados apresentados da correlação da
aquático.
dominância hemisférica com a capacidade de visualização do
movimento nas atividades de prática mental durante flutuação
em piscina, observou-se que as participantes com bi-
hemisfericidade e capacidade de visualização do movimento
AA apresentaram grande proporção de ausência de rotações,
as participantes com bi hemisfericidade e capacidade de
visualização do movimento AB apresentaram grande
proporção de rotações para direita e para esquerda. As
participantes que mais apresentaram rotação para direita foram
os hemisféricitos esquerdos que possuíam capacidade de
visualização do movimento AB, as participantes que mais
apresentaram rotação para esquerda foram os hemisféricitos
direitos que possuíam capacidade de visualização do
movimento AR. Esses fatos vêm reforçar o fato das
participantes com baixa capacidade de visualização terem
apresentado maior sucesso na atividade de prática durante a
flutuação na piscina, isso aconteceu em todos os grupos de
dominância hemisférica.
Dos dezoito participantes que possuem bi-hemisfericidade, As duas exceções que aconteceram foi de um
oito participantes (44,4%) possuíram capacidade de visualização participante com bi hemisfericidade e capacidade de
do movimento AA e não apresentaram rotação, quatro visualização do movimento AR, que ao imaginar e tentar
participantes (22,2%) possuíram capacidade de visualização do sentir-se fazendo o movimento no braço direito, apresentou
movimento AB e apresentaram rotação para direita e para rotação para esquerda; e a outra foi uma participante com
esquerda, dois participantes (11,1%) possuíram capacidade de dominância hemisférica esquerda e capacidade de
450 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

visualização do movimento RB, que apresentou rotações As participantes com dominância hemisférica esquerda
opostas aos braços imaginados. Estas situações aconteceram obtiveram melhor desempenho na prática mental durante
provavelmente devido à capacidade de visualização de ambas flutuação na piscina, quando comparadas aos bi-hemisferícitos
estar entre as piores de todo o estudo, como já explicado e os hemisféricitos direitos; comprovando, portanto, a hipótese
quando se demonstraram os resultados da capacidade de do estudo, este fato é devido o sistema de práxis do hemisfério
visualização comparada às rotações corporais dos parti- esquerdo ser necessário para selecionar a maioria dos
cipantes. movimentos das mãos ou dos braços e também por ser uma
tarefa analítica a atividade mental requerida às participantes.
Conclusão
Referências
Neste estudo verificou-se que a dominância hemisférica
tem relação direta na determinação do lado que as participantes 1. Rushall BS, Lippman LG. The role of imagery in physical
apresentaram rotações, potencializando a idéia de que a prática performance. Int J Sport Psychol 1997;29:57-72.
mental no membro superior contralateral a dominância 2. Fairweather MM, Sidaway B. Implications of hemispheric
function of the effective teaching of motor skill. National
hemisférica pode ser muito efetiva.
Association for Physical Education in Higher Education
Considerando a capacidade de visualização do movi- 1994;46:281-98.
mento, verificou-se que as participantes com baixa capacidade 3. Hall CR. Imagery for movement. Journal of human
de visualização do movimento obtiveram mais sucesso na movement studies 1980;6:252-64.
prática mental durante a flutuação na piscina, do que as 4. Hall CR, Pongrac J, Buckolz E. The measurement of imagery
participantes com alta capacidade de visualização do ability. Human movement science 1985;4:107-18.
movimento, contradizendo os estudos já realizados. Mas com 5. Goss S et al. Imagery ability and the acquisition and retention
relação às exceções ocorridas, a capacidade de visualização of movements. Memory and Cognition 1986;14:469-77.
6. Guyton AC. Fisiologia humana. 6ª ed. Rio de Janeiro:
do movimento foi determinante para a explicação desses
Interamericana; 1985. p. 169.
acontecimentos, uma vez que estas participantes apresen- 7. Campion MR. Física básica: forma e densidade. In: Campion
taram escores significativamente baixos quando comparadas MR. Hidroterapia: princípios e prática. 1ª ed. São Paulo: Manole;
a todas participantes do estudo. 2000. p.14-16. 
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 451

Artigo original

Avaliação cardiológica do atleta: literatura versus


prática clínica e sua importância para o fisioterapeuta
Cardiologic assessment of athlete: literature versus
practical clinic and its importance for the physical therapist

Rogério Leão d’Alessandro*, Cristiane Almeida Teixeira**, Raquel Rodrigues Britto, D.Sc.***,
Anderson Aurélio da Silva****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta do Laboratório de Prevenção e Reabilitação de Lesões Esportivas, Centro de Excelência Esportiva,


Universidade Federal de Minas Gerais, **Fisioterapeuta, ***Fisioterapeuta, Professora do Departamento de Fisioterapia da Escola
de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais, ****Fisioterapeuta, Educador Físico,
Professor do Departamento de Fisioterapia da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal
de Minas Gerais; Coordenador do Laboratório de Prevenção e Reabilitação de Lesões Esportivas, Centro de Excelência Esportiva,
Universidade Federal de Minas Gerais.

Resumo Abstract
O “coração de atleta” é uma condição caracterizada por The athlete’s heart is characterized for physiological adaptations
adaptações fisiológicas ao treinamento físico prolongado, to physical training, induced for an interaction of central and
induzidas por uma interação de mecanismos centrais e periféricos. peripheral mechanisms. When evaluating the athlete, one of the
Ao avaliar o atleta, um dos objetivos é a detecção precoce de alguma objectives is the previous detection of any unknown cardiopathy
cardiopatia não conhecida, que poderá ter seu risco potencializado that may have its risk amplified with the maintenance of the
com a manutenção da atividade física. O objetivo deste estudo foi physical activities. The aim of this study was to verify literature
verificar como a literatura recomenda a avaliação cardiológica dos recommendations about the cardiologic evaluation of athletes
atletas, pesquisar como ela tem sido realizada e, secundariamente, and how it has been carried through, and to demonstrate its
demonstrar qual a sua importância para os fisioterapeutas. Matérias importance for the physical terapist. Materials and methods: Initially
e Métodos: Inicialmente realizamos uma pesquisa bibliográfica nas we carry out a literature research in database to determine how
bases de dados, para determinar como a literatura recomenda a literature recommends cardiological evaluation. Then, we carry
avaliação cardiológica. Depois realizamos uma pesquisa de campo out a research in clubs in Belo Horizonte city to verify how the
em clubes de Belo Horizonte, para verificar como tem sido feita a cardiologic evaluation was made in these clubs. Results: of the
avaliação cardiológica destes clubes. Resultados: dos clubes avaliados, evaluated clubs, 50% made cardiologic evaluation and the follow
50% fazem a avaliação cardiológica inicial e o acompanhamento. A up. The typical evaluation usually is made through auscultation,
avaliação geralmente é feita através de ausculta, eletrocardiograma ECG and/or ECG effort. More specific procedures are carried
e/ou eletrocardiograma de esforço. Procedimentos mais específicos through only if necessary. Conclusion: the literature research
somente são realizados se necessários. Conclusão: A literatura recommends the athletes evaluation, as the association of cardiac
pesquisada recomenda a avaliação dos atletas, pois a associação da disease with sports can lead to drastic clinical outcomes. In the
doença cardíaca com a prática esportiva pode desencadear processos clubs we carried through this data collection, we have noticed that
clínicos drásticos. Nos clubes em que realizamos o levantamento, this procedure is still not adopted as a routine.
verificamos que esta prática ainda não é adotada ou não segue os Key-words: athlete’s heart, sports.
preceitos preconizados pela literatura.
Palavras-chave: coração do atleta, esportes.

Recebido 28 de maio de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Rogério Leão d’Alessandro, Laboratório de Prevenção e Reabilitação de Lesões Esportivas, Universidade Federal de
Minas Gerais, Av. Carlos Luz, 4664, Campus UFMG, Pampulha 31310-250 Belo Horizonte MG, Tel: (31)3499-2330, E-mail:
rogerio_dalessandro@yahoo.com.br
452 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Introdução anos, com o treino diário mínimo de uma hora e estimou a


freqüência de morte súbita em 3 por 10 mil pessoas.
A performance atlética de alto nível produz uma variedade O profissional da saúde envolvido diretamente com o atleta,
de mudanças funcionais e morfológicas no coração deve ter em mente as alterações do coração do atleta para que
humano, diretamente relacionadas com o tipo, duração, possa desenvolver um trabalho preventivo e propedêutico, a
intensidade do treinamento e com os anos de prática fim de impedir um aumento na incidência da morbi-mortalidade
esportiva [1,2,3]. A expressão clínica dessas alterações cardíaca durante a prática esportiva. O exame cardiológico do
depende de fatores genéticos, metabólicos, hormonais e, atleta tem, entre seus principais objetivos, a detecção de alguma
em grande parte, do tipo de treinamento [2,4,5]. Sua cardiopatia desconhecida, que possa levar a problemas futuros,
importância clínica e diagnóstica é matéria de discussão com a manutenção da prática esportiva [11].
[3], pois há controvérsias acerca do limite fisiológico ou O objetivo deste estudo é fazer um levantamento de como
patológico dessas alterações [1,6-10] porque, normalmente, a literatura recomenda a realização da avaliação cardiológica
o atleta não apresenta sintomas e continua ativo [7]. dos atletas e como, de fato, ela tem sido realizada.
O “coração de atleta” é uma condição caracterizada
por sinais clínicos, radiológicos, eletrocardiográficos e Prevalência e incidência
ecocardiográficos, descrita em atletas em atividade,
traduzindo adaptações fisiológicas ao treinamento físico Uma média de 5 milhões de jovens estão engajados
prolongado. Corresponde a adaptações cardiovasculares ativamente em esportes competitivos nos EUA [2]. Maron et
induzidas por uma interação de mecanismos centrais e al. enfatizam que a prevalência de doenças cardiovasculares
periféricos [4,5,12]. As manifestações típicas do coração na população atlética jovem é baixa e que o risco de morte
do atleta têm sido descritas em sua maior expressão em súbita em atletas com doenças básicas é desconhecido [15].
atletas competitivos com treinamento intensivo [4]. A Até o presente, somente uma minoria de mortes súbitas tem
análise do impacto dos treinamentos intensivos no envolvido mulheres atletas [15]. Afro-americanos compõem
aparelho cardiovascular de um iniciante adolescente tem um grande segmento da população atlética em muitos esportes
mostrado alterações eletrofisiológicas precoces do coração, e, concomitantemente com o aumento do nível de sua
como distúrbios de condução e do ritmo, além de participação, tem sido observada uma maior proporção de
hipertrofia ventricular presente em alguns deles [11]. A morte súbita nesta população [15]. De acordo com um estudo
alteração mais comum da estrutura do coração é o aumento de Framingham apud Zehender [3], a incidência de morte
da espessura da parede ventricular esquerda, evidenciada súbita aumenta em não atletas dependendo da idade, de 3
pelo ecocardiograma [1,5,7,12,13]. por 10000 entre 35 e 44 anos, para mais de 25 por 10000
Esportistas na faixa etária da terceira e quarta décadas entre 55 a 64 anos [3].
precisam conhecer os riscos e benefícios da prática de A prevalência de arritmias ventriculares na população
alguns esportes de alta intensidade como maratona, triatlon, saudável tem sido bem investigada com a introdução do
ciclismo de resistência, squash, natação oceânica e outros, ECG Holter. Palatini et al. [8] cita alguns estudos que
numa idade em que começam a se exteriorizar algumas observaram uma relativamente alta prevalência de
doenças degenerativas, entre elas a aterosclerose coronária arritmias ventriculares e complexas em sujeitos normais.
(principal causa de morbi-mortalidade na atividade física Somente recentemente estudaram a prevalência das
de indivíduos com mais de 35 anos) [11]. Apesar da arritmias em atletas normais, mas os resultados diferem de
incidência de doenças cardiovasculares ser pequena em um estudo para o outro, devido aos métodos adotados no
atletas, sua presença causa preocupação e alerta na processo de seleção dos grupos nos diferentes protocolos
população devido às características do portador: baixa faixa utilizados8. Em média, as batidas ventriculares
etária, boa condição física e praticante de alguma modalidade prematuras, citadas na literatura, estão presentes em um
esportiva [11]. Esportes competitivos podem significar para terço dos atletas examinados por ECG de longo tempo.
um atleta com anormalidade cardiovascular um risco para A identificação de arritmia ventricular taquicárdica em
sua saúde, porque há um aumento na carga de trabalho do atletas competitivos justifica a realização dos exames
coração ou um estresse no sistema vascular causado pelo cardíacos como medida preventiva. No estudo de Palatini
aumento do fluxo sangüíneo, pressão e temperatura corporal. et al. [8] as atividades ectópicas ventriculares eram mais
Isso pode refletir como um aumento do risco de morte prevalentes em atletas. Somente 30% dos atletas eram
súbita, ameaça de alterações cardiovasculares ou progressão livres de ectopias, enquanto o grupo controle (não atletas)
de doenças [10,14]. Autópsias feitas em vários atletas que apresentava 45% de ausência. A prevalência de extra-
morreram subitamente, durante competições, mostram sístoles isoladas era similar nos dois grupos, mas a média
mudanças patológicas no coração, muitas delas precedidas de número de batidas ectópicas era maior em atletas. A
por arritmias [3]. Koplan apud Zehender [3] pesquisou 4 ocorrência de formas complexas de ectopias ventriculares
milhões de corredores de longa distância, entre 20 e 59 era alta em atletas [8]. A incidência de arritmias ventriculares
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 453

é superior a 7% entre atletas e superior a 20% em exames como acompanhamento longitudinal, enquanto ele mantiver
ECG de longo tempo, quando comparado a não atletas [3]. essa prática, a fim de fazer uma triagem daqueles atletas
A bradicardia sinusal é a alteração do ritmo mais freqüente que deverão passar por uma avaliação mais detalhada.
nos atletas [2]. As pausas sinusais também são encontradas Deverão ser verificados os seguintes itens:
com freqüência. Dependendo da população estudada, a
• História familiar: É importante conhecer os antecedentes
incidência do bloqueio atrioventricular (AV) de 1º grau pode
chegar a 6-7%, valor muito superior ao encontrado na familiares de cardiopatias congênitas, síncope e morte
população em geral [2]. Porém, segundo Zehender et al., a súbita.
incidência de bloqueios AV era observada em 10% a 33% • História pessoal: Antecedentes de sintomas e sinais
em atletas [3]. Neste mesmo estudo, a hipertrofia cardíaca de doenças cardiovasculares ao esforço.
direita foi encontrada em 18% a 69% dos atletas [3]. • Histórico esportivo: Tempo de atividade física regular,
Revisão feita por Lichtman apud Batlouni et al. [16], carga horária semanal de treinamento, qualidade do
mostrou uma freqüência média de 16% de bloqueio trabalho físico (posição na equipe) e tipo de esporte.
incompleto do ramo direito nos ECG de repouso de 527 Esses itens, associados ao genótipo, compõem fatores
atletas de diversas modalidades esportivas. determinantes das alterações anatômicas gerais e, em
Na pesquisa de Pérez et al., 12% dos atletas de elite particular, do coração de um atleta, às vezes confun-
espanhóis apresentaram sinais de hipertrofia ventricular didas com alguma cardiopatia.
esquerda por critérios eletrocardiográficos. Somente • Exame físico cardiovascular – ausculta, monitoramento
6,27% do total, 7,35% dos homens e 2,55% das mulheres de freqüência cardíaca e pressão arterial.
desta mesma população apresentaram sinais de hipertrofia Pode revelar a presença de sinais que indiquem a
ao ecocardiografia [2]. Pérez et al. encontrou critérios presença de doença valvular, cardiopatia congênita,
eletrocardiográficos de hipertrofia em 5 especialidades miocardiopatias e outras doenças cardíacas ou que estejam
esportivas: atletismo, basquetebol, ciclismo, ginástica artística relacionados com a síndrome do coração do atleta [11,18].
e triatlon [2]. No estudo de Roeske et al. 69% dos atletas
avaliados apresentaram critérios eletrocardiográficos para Eletrocardiograma
hipertrofia ventricular direita e 26% para esquerda [17].
As mudanças encontradas no ECG do esportista têm
Avaliação cardiológica do atleta sido consideradas como expressão das adaptações.
Numerosas alterações eletrocardiográficas são atribuídas
Ao avaliar o atleta, um dos objetivos é a detecção precoce à pratica esportiva [2,10,19]. Em condições basais,
de alguma cardiopatia não conhecida ou silenciosa, que poderemos detectar os distúrbios do ritmo e da condução
poderá trazer ou potencializar o risco com a manutenção de caráter funcional e os de alta labilidade. Esses distúrbios
da atividade física-esportiva [11]. Ao se comparar os exames e as alterações da repolarização ventricular sempre são
periódicos de um atleta, em avaliação longitudinal, os achados passíveis de reversão [3,11]. ThaleR descreve como
nos exames devem ser caracterizados como funcionais e alterações eletrocardiográficas de ritmo e de condução do
sua evolução anátomo-fisiológica considerada de caráter atleta: bradicardia sinusal em repouso, alterações inespecíficas
benigno [11]. do segmento ST, bloqueio incompleto do ramo direito do
A análise da regressão das alterações cardíacas habituais Feixe de His, várias arritmias e bloqueio AV de 1ºgrau [20].
do coração do atleta tem sido de interesse crescente. A A freqüência de alterações do segmento ST em atletas é
regressão da hipertrofia ventricular em geral é observada a alta. Elevações estreitas da onda T são o mais freqüente
partir de 3 a 6 meses após o abandono do esporte regular, achado em atletas e são completamente reversíveis
enquanto a regressão dos distúrbios do ritmo e da condução quando termina a atividade [3,5,20]. Bradicardia sinusal
inicia-se a partir de 15 dias de afastamento dos treinamentos é um achado eletrocardiográfico encontrado na maioria
[11,12]. Convém procurar por doença de base se estas dos atletas, principalmente os treinados com exercícios
alterações persistirem por mais tempo [11]. isotônicos [2,3,16,21]. É correlacionada com o nível do
Com a natural dificuldade de obtenção de condições treino e resulta em excepcional FC de repouso, que chega
tecnológicas ideais, alguns autores recomendam utilizar a serem menores do que 52 bpm [3]. Geralmente a média
os exames considerados mínimos para a avaliação do da FC de repouso varia entre 52 a 62 batimentos por
atleta [3,11,12,18]. minuto (bpm) [16].
Bradicardias são encontradas em atletas, normalmente
Propedêutica cardiológica em repouso, e não estão relacionadas com nenhum sintoma
físico. Elas refletem aumento do tônus vagal e desaparecem
A propedêutica cardiológica deve ser realizada em todo durante o exercício [21]. A hipertrofia muscular é encontrada
atleta no início de sua prática esportiva competitiva e também mais freqüentemente em ECG de atletas de exercício
454 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

estático. A hipertrofia se relaciona com a duração e responsável pela avaliação ou acompanhamento cardiológico
intensidade da atividade esportiva [3]. Em relação à do atleta. Após a coleta dos dados, estes foram sintetizados e
hipertrofia ventricular esquerda pronunciada, uma mudança analisados de forma descritiva.
no eixo QRS para uma posição mais vertical é encontrada
na maioria dos atletas examinados e também tem uma Resultados
correlação positiva com o nível de treinamento [3]. Os
resultados dos exames invasivos e não invasivos, nem sempre Dos seis clubes avaliados, três não realizam avaliação
evidenciam doença cardíaca nos atletas. A negatividade T, cardiológica inicial, nem acompanhamento. A avaliação
que é encontrada acima de 30% destes atletas e que regride cardiológica inicial e o acompanhamento são realizados
com o exercício, pode ser interpretada como um processo em dois clubes somente na categoria principal
adaptativo do coração, relacionado com a heterogeneidade (profissionais). Nas categorias de base, a avaliação só é
da vagotonia induzida do potencial de ação do miocárdio realizada quando algum atleta apresenta sintomatologia
[22]. ao exame clínico. Somente um clube realiza a avaliação
cardiológica e o acompanhamento em todos os atletas
Ecocardiograma (ECO) (Gráfico 1).
Os procedimentos básicos de avaliação dos três clubes
Inicialmente o aumento cardíaco em atletas era que a realizam são ausculta e ECG no clube 1, ausculta e
identificado por exame físico e raios-X torácico ou inferido o ECG de esforço no clube 2 e ausculta, ECG e o ECG de
por achados em ECG sugestivos de hipertrofia [3,12]. esforço no clube 3 (Tabela I). Procedimentos mais específicos
Atualmente, considerado como exame de rotina, o ECO são realizados de acordo com a necessidade, devido a
tem sido indicado nos iniciantes e nas avaliações longitudinais alterações encontradas nos procedimentos básicos.
seriadas, onde os processos morfológicos de adaptação
funcional cardiológica ao treinamento físico devem Gráfico 1 – Realização da avaliação cardiológica inicial em 6 clubes
confirmar seu caráter benigno, afastando doença em fase esportivos de Belo Horizonte.
inicial [11]. O ECO permite uma definição mais precisa das
alterações nas dimensões cardíacas e nas funções induzidas
pelo condicionamento crônico, sendo ideal para avaliação
da hipertrofia cardíaca, pois nos fornece dados quantitativos
não invasivos das dimensões cardíacas. Dessa maneira, pode
ser realizado em indivíduos sadios e sem evidência de doenças
cardíacas e, portanto, não candidatos a testes invasivos [12].

Materiais e métodos

Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas


bases Medline, Lilacs. Utilizamos as palavras-chave sports
and heart; limitamos em ano (a partir de 1980), língua inglesa
e espécie humana. Devido ao pequeno número de
publicações encontradas e com o intuito de aumentar o nosso
conhecimento sobre o assunto, pesquisamos na Medline, Tabela I – Procedimentos da avaliação cardiológica inicial nos 3 clubes
cruzando as palavras arrhythmia and sports and medicine, com que a realizam.
o limite de 5 anos, língua inglesa e portuguesa, e espécie
humana. Avaliação cardiológica inicial
Com base na literatura pesquisada, elaboramos um roteiro Procedimentos Clube1 Clube2 Clube3
para entrevista, com perguntas direcionadas que levassem a
respostas mais objetivas. Nosso objetivo, com essa pesquisa, ECG X X
ECG Esforço X X
era comparar de forma qualitativa os dados encontrados
AUSCULTA X X X
na literatura com a prática clínica, verificando como são
realizadas as avaliações cardiológicas dos atletas. Em todos os clubes que realizam a avaliação inicial, ela
Como amostra utilizamos 6 clubes esportivos de renome é realizada por médicos clínicos gerais ou cardiologistas,
na cidade de Belo Horizonte. Destes clubes, alguns sendo que um clube utiliza convênios com hospitais e
apresentavam várias modalidades esportivas e outros somente dois clubes utilizam profissionais do próprio clube. Quanto
uma modalidade. A entrevista foi realizada com o profissional à freqüência, dois clubes realizam avaliação semestral e um
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 455

clube anual; todos fazem uma avaliação quando um atleta Um clube relatou uma freqüência de achados patológicos
profissional entra no clube. de 6,3% do total de avaliados. Neste clube, os achados mais
Na monitorização, todos relataram a utilização do freqüentes foram anomalias congênitas e hipertensão arterial
cardiofreqüencímetro, sendo que um clube relata utilizá-lo sistêmica. Apenas um clube relatou um caso de morte súbita,
para o controle da intensidade da atividade física. Geralmente durante a atividade esportiva. Isto reforça a recomendação
essa monitorização é feita pelo preparador físico, médico de realização da avaliação inicial cardiológica em todos os
fisiologista ou fisioterapeuta. atletas competitivos, inclusive os das categorias de base. Na
A maioria dos clubes pesquisados não tem estatística pesquisa de campo, encontramos menor preocupação com
realizada, mas relata ser baixa a freqüência de achados as divisões de base. Consideramos importante uma melhor
patológicos. Apenas um clube que realizou este levan- avaliação desses atletas, pois geralmente eles provêm de
tamento, relatou uma freqüência de 6,3% de achados classes sociais mais baixas e possivelmente nunca foram
patológicos, basicamente composto de anomalias congênitas. submetidos a uma avaliação cardiológica, podendo, então,
Em todos os clubes avaliados, o fisioterapeuta tem apresentar um elevado risco de serem portadores de alguma
acesso aos resultados da avaliação, porém não participa patologia cardíaca prévia.
ativamente desta. Em 4 clubes, o fisioterapeuta não realiza O fisioterapeuta tem por obrigação manter o condiciona-
nenhum tipo de acompanhamento cardiológico, sendo mento físico do atleta lesado, e devolvê-lo aos treinamentos,
somente orientado acerca dos achados. No restante, este após a melhora da lesão, com um condicionamento compa-
profissional trabalha em acordo com a preparação física, tível ao seu estado, mas próximo ao dos seus colegas. Então,
utilizando os dados da freqüência cardíaca para dosar a devido a esta atuação do fisioterapeuta na manutenção do
intensidade da atividade em cada fase do treinamento na condicionamento físico, é de suma importância que ele tenha
qual a equipe/atleta está inserida(o). acesso às informações da avaliação cardiológica e saiba
interpretar os resultados para, assim, conseguir montar um
Discussão plano de tratamento que respeite as condições cardiológicas
dos atletas sob sua responsabilidade. Desta maneira,
consegue-se diminuir o risco de deparar com uma disfunção
Encontramos na literatura e nos dados coletados pela
do sistema cardíaco, durante a reabilitação, principalmente
pesquisa de campo, uma baixa incidência de doenças
na manutenção do condicionamento aeróbico e na reabi-
cardíacas em atletas competitivos, e de morte súbita nesta
litação funcional, nas quais o atleta é bastante exigido em
mesma população. As alterações do chamado “coração do
termos aeróbicos.
atleta” nem sempre representam uma patologia. Porém, se
associadas a uma doença cardíaca prévia, congênita ou
adquirida, poderão potencializar os efeitos destas. Conclusão
Algumas referências da literatura [5,11,12,18] citam a
propedêutica cardiológica, ECG e ECO, como os exames A literatura pesquisada recomenda a avaliação dos atletas,
básicos de uma avaliação cardiológica, em todo atleta incluindo as categorias de base, pois a associação da doença
competitivo em início ou retorno à atividade. Na prática clínica cardíaca prévia, congênita ou adquirida, com a prática
dos clubes que avaliamos, vimos que não são todos os atletas esportiva pode desencadear processos clínicos drásticos. Nos
competitivos que passam por esta avaliação básica. Alguns poucos clubes em que realizamos o levantamento,
clubes não realizam esta avaliação inicial, outros priorizam verificamos que esta prática ainda não é adotada como rotina.
atletas profissionais, menosprezando a avaliação dos atletas Os fisioterapeutas esportivos deveriam possuir um
de categorias de base. A propedêutica e o ECG de repouso conhecimento maior sobre a parte cardiológica do atleta
e/ou de esforço são realizados como rotina de avaliação em para atuar de maneira mais completa. Constatamos que,
todos os clubes que a realizam. O ECO que é indicado na infelizmente, isto ainda não é realidade na prática clínica.
literatura como um exame básico da avaliação [5,11,12,18],
na prática, é realizado como exame para confirmar alguma Referências
alteração detectada pela propedêutica ou ECG.
Encontramos na literatura [11], como ideal, que se tenha 1. Maron BJ, Pelliccia A, Spataro A, Granata M. Reduction
uma periodicidade da avaliação com um acompanhamento in left ventricular wall thickness after deconditioning in
longitudinal. Na prática, vimos que existe uma periodicidade highly trained olympic athletes. Br Heart J 1993;69:125-8.
2. Pérez AB, Fernández LS. El corazón del deportista: hallazgos
e um acompanhamento longitudinal com avaliação,
electrocardiográficos más frecuentes. Rev Esp Cardiol
prioritariamente em atletas profissionais. A monitorização 1998;51:356-8.
no dia-a-dia geralmente é realizada, apesar da dificuldade 3. Zehender M, Meinertz T, Keul J, Just H. ECG variantes and
de usar os equipamentos (cardiofreqüencímetros) durante cardiac arrhythmias in athletes: clinical relevance and prognostic
a prática esportiva devido à movimentação necessária. importance. Am Heart J 1990;116:1378-91.
456 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

4. Oliveira Filho JA, Silva AC, Lira Filho E, Luna Filho B, Couvre 13. Reguero JJ, La Iglesia JL, Cortina R, Cortina A, Cubero GI,
SH, Lauro FAA, Danucalov MAD, Leite WA, Tuffik S, Terrados N, Gonzalez V. Prevalence and upper limit of cardiac
Andrade JA, De Paola AAV, Martinez Filho E. Coração de hypertrophy in professional cyclists. Eur J Appl Physiol
atleta em desportistas deficientes de elite. Arq Bras Cardiol 1995;70:375-8.
1997;69:385-8. 14. Mitchell JH, Haskell WL, Raven PB. Classification of
5. Serra-Grima R, Estorch M, Carrió I, Subirana M, Bernà L, sports. J Am Coll Cardiol. 1994; 24:864-6.
Prat T. Marked ventricular repolarization abnormalities 15. Maron BJ, Mitchell JH. Revised eligibility recommendations
in highly trained athletes’ eletrocardiograms: clinical and for competitive athletes with cardiovascular abnormalites. J
prognostic implications. J Am Coll Cardiol 2000;36:1312-6. Am Coll Cardiol 1994; 24:848-50.
6. Cubero GI, Batalla A, Reguero JR. Eletrocardiographic changes 16. Batlouni M, Ghorayeb N, Armajanijan D, Meneghello RS.
after deconditioning in a mountain-bike rider. Int J Cardiol Alterações eletrocardiográficas em atletas profissionais. II.
2000;75:295-6. Distúrbios do ritmo e da condução. Arq Bras Cardiol
7. Nishimura T, Yamada Y, Kawai C. Echocardiographic 1980;35:187-95.
evaluation of long-term effects of exercise on left 17. Roeske WR, O’Rourke RA, Klein A, Leopold G, Karliner
ventricular hypertrophy and function in professional JS. Noninvasive evaluation of ventricular hypertrophy in
bicyclists. Circulation 1980;61:832-40. professional athletes. Circulation 1976;53:286-91.
8. Palatini P, Maraglino G, Sperti G, Calzavara A, Libardoni 18. Maron BJ, Isner JM, McKenna WJ. Task force 3:
M, Pessina AC, Dal Palù C. Prevalence and possible Hypertrophic Cardiomyopathy, Myocarditis and other
mechanisms of ventricular arrhythmias in athletes. Am Heart myopericardial diseases and Mitral Valve Prolapse. J Am Coll
J 1985;110:560-7. Cardiol 1994; 24:880-4.
9. Pelliccia A, Maron BJ, Spataro A, Prosghan MA, Spirito P. 19. Karjalainen J, Kujala UM, Kaprio J, Sarna S, Viitasalo M. Lone
The upper limit of physiologic cardiac hypertrophy in atrial fibrillation in vigorously exercising middle aged men:
highly trained elite athletes. N Engl J Med 1991; 324:295-301. case-control study. BMJ 1998; 316:1784-5.
10. Zipes DP, Garson A. Task force 6: arrhythmias. J Am Coll 20. Thaler MS. Eletrocardiograma. 2ed. Porto Alegre: Artes
Cardiol. 1994;24:892-9. Médicas; 1997.310p.
11. Ghorayeb N, Dioguardi GS, Baptista CA, Cruz CS, 21. Josephson ME, Schibgilla VH. Athletes and arrhythmias:
Batlouni M. Metodologia de avaliação cardiológica do clinical considerations and perspectives. Eur Heart J
atleta normal e cardiopata. Rev Soc Cardiol Estado de São 1996;17:498-509.
Paulo 1996;6:59-63. 22. Cooper JP, Fraser AG, Penny W. Reversibility and
12. Maron BJ. Structural features of the athlete heart as defined by benigin recurrence of complete heart block in athletes. Int J
echocardiography. J Am Coll Cardiol 1986;7:190-203. Cardiol 1992;35:118-20. 
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 457

Artigo original

Alterações posturais no atletismo: estudo analítico


da seleção brasileira nos Jogos Pan-Americanos
de Santo Domingo 2003
Postural changes in athletics: analytic study of Brazilian team
in Santo Domingo Panamerican Games 2003

Carlos Marcelo Pastre, M.Sc.*, Jayme Netto Jr, M.Sc.**, Carlos Roberto Pereira Padovani, M.Sc.***,
Henrique Luiz Monteiro, D.Sc.****, Guaracy Carvalho Filho, D.Sc.*****
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Prof. Depto. de Fisioterapia das Faculdades Adamantinenses Integradas; Faculdade de Educação Física – UNOESTE – Presidente Prudente,
Fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Atletismo (1997-2004), **Prof. Depto. de Fisioterapia, FCT/UNESP- Presidente Prudente, Técnico
da Seleção Brasileira de Atletismo (1992-2004), ***Prof. FATEC- Botucatu, ****Prof. Doutor do Departamento de Educação Física,
FC/UNESP – Bauru, *****Prof. Doutor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FAMERP/São José do Rio Preto

Resumo Abstract
O objetivo do presente estudo foi observar padrões posturais The aim of this study was to observe athletes postural profile
dos atletas da seleção brasileira de atletismo e associá-los dentro e from athletics Brazilian team and analyze the association of such
entre grupos de provas (velocidade e resistência). Foram estudados patterns inside and among groups (speed and resistance). 25
25 atletas (17 homens e 8 mulheres) participantes dos Jogos Pan athletes were studied (17 men and 8 women), who participated
Americanos 2003. O protocolo para coleta baseou-se nas propostas of Pan American Games 2003 of Santo Domingo. The protocol
de: Kendall et al., Souchard e Bienfait para exame físico. Os for data collection was based on Kendall, Souchard and Bienfait
segmentos escolhidos para a análise foram: tronco, pelve e joelho, proposals for the physical exam. The chosen segments for analysis
nos três planos de observação (frontal, sagital e transversal) e o were: trunk, pelvis and knee in the three observation plans (frontal,
tornozelo no frontal. Utilizou-se para análise dos resultados o sagittal and transverse) and the ankle in the frontal plan. It was
teste de Goodman para contrastes entre e dentro de proporções used for analysis of results Goodman test for contrasts among
binomiais. As principais e significantes alterações observadas foram and inside binomials proportions. The results showed that the
anteversão pélvica para os velocistas e varo de joelho para os significant alterations were pelvic anteversion for the sprinters
fundistas, sendo notada alta prevalência de alterações posturais and varo of knee for the resistence runners, although it has
entre os participantes. Concluiu-se a partir desses achados que há happened high postural alterations prevalence among the
diferença entre os grupos de provas referindo-se à postura. participants. It was concluded that there are postural differences
Palavras-chave: atletismo, alterações posturais, alta among studied events groups.
performance. Key-words: athletics, postural changes, high performance.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Nesse sentido, definindo o aparelho locomotor do atleta


como o principal agente receptor dos efeitos do treinamento,
O treinamento físico intenso e sistematizado que é pesquisadores têm utilizado-o como indicador de características
adotado principalmente por atletas de alta performance gera próprias para determinadas modalidades e até de fatores causais
alterações morfológicas e funcionais no organismo. Tais de lesões esportivas [3-6].
modificações, necessárias para a melhora do desempenho Uma das maneiras de definir o perfil e características do
atlético tendem a serem definitivas para os praticantes aparelho locomotor é a avaliação postural. Nesse exame, o
dependendo do tempo de exposição, técnica, modalidade e alinhamento corporal é analisado por um observador e os
especificidade do treinamento [1,2]. dados anotados revelam a simetria do corpo e seus segmentos

Recebido 8 de julho de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Carlos Marcelo Pastre, Rua Fernão Dias, 950, 19023-280 Presidente Prudente SP, Tel (18) 221-4921, E-mail:
marcelopastre@hotmail.com
458 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

e, portanto, servem para definir padrões posturais para o Coleta e análise dos dados
indivíduo praticante de determinada atividade física como é
o treinamento esportivo [7-9]. As avaliações foram efetuadas durante as competições,
Contudo são escassos os estudos que analisam a postura ou seja, quando o organismo já sofreu todas as alterações
como característica física particular para determinada posturais decorrentes da especialização do gesto esportivo.
prática esportiva em altos níveis de performance. A partir Os atletas se apresentaram apenas com “roupa para banho
da falta de informações sobre o referido tema e da de piscina”, enquanto o avaliador realizou as análises da
facilidade de obtenção de dados junto à elite do atletismo postura “in vivo” – simultaneamente um auxiliar efetuou o
brasileiro, por parte dos autores desta pesquisa, entendeu- registro fotográfico das posições correspondentes à
se como pertinente empreender investigação sobre o interpretação do pesquisador.
assunto. Os segmentos considerados para a análise foram: tronco,
Assim, constituiu-se como objetivo do presente estudo, pelve e joelho nos três planos de observação (frontal, sagital
a observação das características posturais dos atletas e transversal) e o tornozelo no plano frontal, onde buscou-
integrantes da seleção brasileira de atletismo e a análise da se a observação da qualidade de alinhamento dos segmentos
associação de tais padrões dentro e entre os grupos de provas citados, conforme Kendall et al. [7], Souchard [8] e Bienfait
de velocidade e resistência. [9]. Os achados foram anotados em formulário próprio para
facilitar a tabulação dos dados para posterior análise
estatística.
Material e métodos De acordo com Tunes e Cote Gil [10], os modelos
específicos para análise de segmentos ou pares de segmentos
Foi composta por 25 atletas, sendo 17 do sexo masculino corporais tendem a fornecer informações detalhadas. No
e 8 do feminino, especialistas de provas de velocidade e entanto, apenas esta iniciativa não implica, necessariamente
resistência, integrantes da seleção brasileira de atletismo que em precisão, pois são também afetadas pela subjetividade
participaram dos Jogos Pan Americanos de Santo Domingo do observador que pode comprometer a qualidade do
na República Dominicana em 2003. registro efetuado.
As medidas de tendência central e variabilidade da idade, Para minimizar possível viés de interpretação do avaliador
altura, peso corporal e tempo de treinamento dos velocistas e a documentação fotográfica foi utilizada, posteriormente,
fundistas são apresentadas por sexo na tabela 1, abaixo. para confirmação por outro especialista, dos diagnósticos
emitidos pelo avaliador; nesse caso, o segundo avaliador não
Definição das variáveis de estudo tomou conhecimento prévio das conclusões emitidas pelo
primeiro. Desse modo, as informações sobre as alterações
O protocolo para coleta de dados para a realização do posturais consideradas para o estudo são aquelas que
exame físico e observacional foi elaborado com base nas resultaram do consenso de ambos os avaliadores.
propostas de: Kendall et al. [7], buscando a observações do
alinhamento global dos segmentos do corpo, e Bienfait [9], Análise estatística
utilizando-se da palpação e identificação de acidentes ósseos
para visualizar e constatar as alterações, utilizando, para Foi utilizado para a análise dos dados, o teste de
tanto, simetógrafo Carci, fio de prumo, câmera fotográfica Goodman para contrastes entre e dentro de proporções
digital da marca Sony DSC-P92 Cyber Shot de 5.0 mega binomiais [11]. Assim, nas tabelas, para representação da
pixels e demarcadores cutâneos. significância dos achados foram utilizadas letras, como
As observações após as demarcações dos acidentes segue: i) as minúsculas indicam a comparação de grupos
ósseos eram realizadas a uma distância que variava entre fixada à categoria de resposta; ii) as maiúsculas indicam a
dois e dois metros e meio (dependendo da estatura do atleta) comparação de categorias de resposta dentro do grupo.
a mesma que se fixava à câmera fotográfica para posterior Todas as conclusões foram discutidas para 5% de signifi-
registro de imagem. cância estatística.

Tabela I – Medidas descritivas dos participantes da pesquisa.

Sexo Prova Variáveis

Idade Altura Peso Tempo detreinamento

Masculino Velocidade 28,12±2,8 1,81±0,10 80,12±10,42 11,6±2,7


Resistência 27,5±6,02 1,74±0,06 61,75±6,15 12,37±3,85
Feminino Velocidade 22,75±1,7 1,63±0,03 54,5±5,8 8,5±1,0
Resistência 29,5±5,68 1,63±0,12 49±6,05 15±5,35
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 459

Resultados últimos, a pelve na posição normal é estatisticamente


predominante, tanto para a comparação entre grupos quanto
A tabela II apresenta a análise da postura do tronco dos entre as condições analisadas. No plano frontal, notou-se que
participantes da pesquisa em três planos observacionais. No sagital, para os atletas de resistência a pelve normal e com desvio à
não foram observadas diferenças entre os grupos e dentro deles direita apresentam taxas mais elevadas, comparativamente
em relação à distribuição dos casos. No plano frontal, não foi ao desvio à esquerda. Para o plano transversal, não foram
notada diferença entre os grupos para quaisquer posições observadas diferenças estatisticamente significativas.
posturais, contudo, nos velocistas foi observado que a postura A tabela IV informa a distribuição e análise de associação
normal é estatisticamente mais freqüente que o desequilíbrio dentro e entre os grupos de velocidade e resistência em
esquerdo. Já no plano transverso, também não foi notada qualquer relação à postura do joelho. No plano sagital, constatou-se
diferença entre e dentro dos grupos avaliados. que, para ambos os grupos, as maiores freqüências foram
Na região do quadril (Tabela III), no plano sagital foi de postura normal. Já no plano frontal, para os velocistas a
observado que para as provas de velocidade, a anteversão posição normal é marcante, enquanto para os fundistas o
pélvica se constitui no distúrbio de postura mais freqüente, varo é a situação mais comum. Entre os grupos, para o
diferenciando-se inclusive dos fundistas. Em relação a estes mesmo plano, também houve diferença estatística, para as
Tabela II – Distribuição de freqüência (fi e fi%) dos participantes da pesquisa, segundo a postura do tronco em cada plano de análise e respectivos resultados
do teste de Goodman para comparações entre populações binomiais.

Plano Prova Postura

Normal Desequilíbrio anterior Desequilíbrio posterior

Sagital Velocidade 6 (50,0)aA 2 (16,6)aA 4 (33,3)aA


Resistência 6 (46,1)aA 4 (30,7)aA 3 (23,0)aA
Normal Desequilíbrio direito Desequilíbrio esquerdo

Frontal Velocidade 7 (58,3)aB 4 (33,3)aAB 1 (8,3)aA


Resistência 6 (46,1)aA 4 (30,7)aA 3 (23,1)aA
Normal Rotação direita Rotação esquerda

Transverso Velocidade 4 (33,3)aA 5 (41,7)aA 3 (25,0)aA


Resistência 6 (46,1)aA 2 (15,4%)aA 5 (38,4)aA

mesmas alterações relatadas anteriormente. No plano Discussão


transverso verificou-se diferença dentro do grupo de
resistência, onde a posição normal e a rotação medial foram São escassos os estudos que tratam sobre alterações
mais freqüentes em relação à rotação lateral. posturais na literatura científica, principalmente em alta
Para a articulação do tornozelo, não foram observadas performance atlética. Tal fato pode ser justificado pela
diferenças significativas entre as alterações e os grupos, sendo dificuldade em se ter acesso a esta seleta população ou às
os resultados apresentados na tabela V. informações referentes à mesma corroborando as afirma-

Tabela III – Distribuição de freqüência (fi e fi%) dos participantes da pesquisa, segundo a postura do quadril em cada plano de análise e respectivos
resultados do teste de Goodman para comparações entre populações binomiais.

Plano Prova Postura

Normal Anteversão Retroversão

Sagital Velocidade 1 (8,3)aA 11 (91,7)bB 0aA


Resistência 7 (53,8)bA 4 (30,8)aA 2 (15,4)aA
Normal DesequilíbrioDireito DesequilíbrioEsquerdo

Frontal Velocidade 6 (50,0)aA 4 (33,3)aA 2 (16,7)aA


Resistência 6 (46,2)aB 6 (46,2)aB 1 (7,7)aA
Normal RotaçãoDireita RotaçãoEsquerda

Transverso Velocidade 7 (58,3)aA 2 (16,7)aA 3 (25,0)aA


Resistência 5 (38,4)aA 6 (46,1)aA 2 (15,4)aA
460 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Tabela IV – Distribuição de freqüência (fi e fi%) dos participantes da pesquisa, segundo a postura do joelho em cada plano de análise e respectivos resultados
do teste de Goodman para comparações entre populações binomiais.

Plano Prova Postura

Normal Flexo Recurvatum

Sagital Velocidade 11 (91,7)aB 0aA 1 (8,3)aA


Resistência 10 (76,9)aB 2 (15,4)aA 1 (7,7)aA
Normal Varo Valgo

Frontal Velocidade 9 (75,0)bB 1 (8,3)aA 2 (16,7)aA


Resistência 4 (30,8)aB 9 (69,2)bC 0 aA
Normal Rotação lateral Rotação medial

Transverso Velocidade 5 (41,7)aA 2 (16,7)aA 5 (41,7)aA


Resistência 5 (38,5)aB 1 (7,7)aA 7 (53,8)aB

Tabela V – Distribuição dos participantes segundo prova e postura do tornozelo no plano frontal.

Prova Postura To t a l

Normal Varo Valgo

Velocidade 6 (50%)aA 3 (25%)aA 3 (25%)aA 12


Resistência 5 (38,46%)aA 5 (38,46%)aA 3 (23,08%)aA 13

ções de Pastre et al. [12] e Chalmers [13]. No entanto, Vale destacar, também, que para o treinamento dos
aspectos intrínsecos aos achados devem ser discutidos com velocistas, há grande quantidade de carga aplicada para o
o intuito de contribuir para melhor entendimento sobre o desenvolvimento da força dos flexores de quadril e extensores
assunto. dos joelhos, realizados em atividades como a musculação,
A pelve e o joelho são as estruturas que apresentam os saltos e corridas em aclives, os quais podem ser
características mais distintas entre os grupos de provas considerados fatores responsáveis pela adaptação e,
estudadas. Para os velocistas, a anteversão da pelve é a postura posteriormente, fixação da pelve em anteversão, sobretudo
mais freqüente apresentando diferença significante em relação pelas exigências de força, tanto concêntrica, como
às demais posições e aos fundistas. Em relação a esses últimos, principalmente, excêntrica que tais atividades utilizam [1,15].
a diferença notada dentro de seu próprio grupo e entre o de Tais níveis de exigências para o atleta podem levar às
velocidade, esta na articulação do joelho, onde a postura em retrações musculares que segundo Souchard [7] e Bienfait
varo é predominante. [8] são responsáveis por produzirem alterações posturais,
Levando em conta a especificidade das provas, a principal pela tensão exercida aos ossos do corpo, promovendo assim,
hipótese a ser considerada é a de que as alterações posturais assimetrias comuns nos esportes.
observadas se referem à diferença de magnitude da força Por outro lado, o joelho em varo, mais freqüente nos
empregada no gesto atlético ou treinamento físico de ambos fundistas, pode apresentar relação com características específicas
os grupos, bem como, ao volume de trabalho realizado em desta modalidade, como o elevado volume de trabalho e a
determinado espaço de tempo, ambos relacionados à fadiga que este proporciona, levando ao estresse da articulação
ocorrência de adaptações anatômicas do aparelho músculo- do joelho pela diminuição de absorção de impacto pelos
esquelético do atleta. músculos responsáveis por essa função. Além disso, segundo
A associação entre força e desequilíbrio pélvico pode estudo de Ribeiro et al. [6] sobre alterações posturais e lesões
ser destacada para explicar as diferenças posturais entre os causadas pela prática do futebol de salão não apontaram número
grupos para o referido local anatômico. A dinâmica da corrida elevado de alterações em varo para esta região.
em velocidade exige maior recrutamento de unidades A instalação da postura em varo do joelho, segundo Bower
contrácteis em comparação às atividades de resistência, pois et al. [16] e Bienfait [9], é resultado de sobrecarga constante
a força de impulso ao solo deve ser elevada, proporcionando nessa articulação, sob a forma de compressão da epífise de
maior aceleração e resultando em melhor performance. crescimento na porção medial, proporcionando um
Além disso, o processo de desaceleração no ato da corrida desenvolvimento desarmônico no que se refere ao
leva à maior exigência excêntrica dos músculos envolvidos alinhamento, particularmente antes da fase de maturação
nessa ação, flexores do quadril e extensores do joelho [1,14]. óssea do indivíduo.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 461

Situação semelhante à descrita pode ser observada na 2. Pastre CM. Lesões desportivas no atletismo: comparação entre
síndrome do trato iliotibial, comum em atletas de longa informações obtidas em prontuários e inquéritos de morbidade
referida. [dissertação]. Ribeirão Preto: FAMERP; 2003.
distância, como os fundistas participantes do presente estudo,
3. Netto Jr J, Pastre CM, Monteiro HL. Alterações posturais no
que apresentam tensão aumentada na região lateral e atletismo: estudo a partir de atletas integrantes da seleção
conseqüente aumento de pressão na medial [17,18]. Além brasileira. HB Científica 2003; Supl: 51.
disso, James [17], estudando lesões em corredores observou 4. Bittencourt CO, Balikian Jr P, Kroll LB. Incidência de alterações
entre os que apresentavam a referida doença uma significa- posturais em crianças praticantes de natação. Rev Bras Cienc
tiva prevalência de varo nos joelhos. Mov 2002;10:171.
5. Ferreira GML, Mota CB. Análise da postura e da marcha em
Contudo, apesar dos resultados apresentarem significância
atletas do judô da cidade de Santa Maria – R.S. Rev Bras Cienc
estatística para as alterações encontradas, por tratar-se da elite Mov 2002;10:118.
nacional para a modalidade e, portanto, treinarem a um razoável 6. Ribeiro CZP, Akashi PMH, Sacco ICN, Pedrinelli A. Relação
tempo, média de dez e treze anos para velocistas e fundistas, entre alterações posturais e lesões do aparelho locomotor em
respectivamente, não há evidências suficientes para afirmar se atletas de futebol de salão. Rev Bras Med Esporte 2003;8:91-7.
de fato tais alterações foram adquiras durante a prática esportiva 7. Kendall HO, Kendall FP, Wadsmorth GE. Músculos: provas
e funções. São Paulo: Manole;1995.
ou anteriormente ao início da mesma. Por tratar-se de estudo 8. Souchard, PE. O streching global ativo: a reeducação postural global
transversal, mesmo entendendo que a maioria dos sujeitos desta a serviço do esporte. São Paulo: Manole; 1996.
pesquisa iniciou suas atividades antes dos quinze anos de idade 9. Bienfait M. Os desequilíbrios estáticos: fisiologia, patologia e
e, com isso, sem a devida maturação óssea. tratamento fisioterápico. São Paulo: Summus; 1995.
10. Tunes E, Cote Gil HJ. Modelos de registro para a postura
corporal em situações funcionais: uma revisão. Revista Brasileira
Conclusão de Medicina Ocupacional 1990;18:45-49.
11. Goodman LA. On simultaneous confidence intervals for
A partir destes resultados, sugere-se a necessidade que multinomial proprortions. Technometrics 1965;7:247-54.
outros estudos busquem avaliar a evolução da postura do 12. Pastre CM, Carvalho Filho G, Monteiro HL, Netto Jr J, Padovani
atleta desde o início de sua prática, para constatar se é a CR. Lesões desportivas no atletismo: comparação entre
atividade que provoca as adaptações posturais observadas, informações obtidas em prontuários e inquéritos de morbidade
referida. Rev Bras Med Esporte 2004;10:1-8.
ou por serem anteriormente portadores de alterações na 13. Chalmers DJ. Injury prevention in sport: not yet part of the
postura apresentaram maior capacidade de desempenho game? Injury Prevention 2002;8:22-5.
para prática das provas analisadas. 14. Calais-Germain B. Anatomia para o Movimento. São Paulo:
Em síntese, a partir da análise dos dados amealhados, Manole; 1992.
constatou-se que a anteversão pélvica para os velocistas e o 15. Arnheim DD, Prentice WE. Princípios de treinamento atlético.
joelho em varo para os fundistas apresentam-se como os Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.
distúrbios posturais mais marcantes, consideradas as 16. Bowen R, Dorey FJ, Moseley CF. Relative tibial and femoral
varus as a predictor of progression of vars deformities of
especificidades dos treinamentos para as provas de the lower limbs in young children. J Pediatr Orthop
velocidade e resistência respectivamente. 2002;22:105-11.
17. James SL. Running injuries to the knee. J Am Acad Orthop
Referências Surg 1995; 3: 309-318.
18. Fredericson M, Guillet M, Benedictis L. Quick Solutions for
1. Bompa TO. Teoria e Metodologia do treinamento. São Paulo: iliotibial Band Syndrome. The physician and Sports Medicine
Phorte; 2002. 2000;28. 
462 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Revisão

O trauma perineal no parto


The perineal trauma during childbirth

Ana Carolina Sartorato Beleza*, Ana Márcia Spanó Nakano**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Programa de Pós-Graduação Enfermagem em Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo, **Enfermeira, Professora Associada do Departamento Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Este artigo foi apresentado sob a forma de pôster no VIII Congresso Paulista de Saúde Pública
realizado na cidade de Ribeirão Preto em outubro de 2003

Resumo Abstract
Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão de The aim of this study was to carry out a literature review
literatura acerca do trauma perineal no parto evidenciando os about perineal trauma during childbirth and found the following
seguintes aspectos: os fatores de risco, a avaliação, a prevenção e o aspects: risk factors, evaluation, prevention and treatment.
tratamento. Para tanto, realizamos uma vasta revisão da literatura Nevertheless, we carry through a national and international scientific
científica nacional e internacional de acordo com os critérios literature review in accordance with documental research criterion.
estabelecidos para a pesquisa documental. Foi possível identificar It was possible to identify several gaps in the scientific knowledge,
diversas lacunas no conhecimento científico, em especial sobre a particularly about evaluation of the perineal post trauma. The
avaliação da região perineal após o trauma. Os estudos mostraram studies showed risk procedures still used as a routine, which
os riscos de condutas ainda tomadas como rotinas, o que mostra demonstrates the real distance between theory and practice
o distanciamento real entre a teoria e a prática assistencial em assistance in obstetrics.
obstetrícia. Key-words: trauma, perineum, birth, puerperium.
Palavras-chave: trauma, períneo, parto, puerpério.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução com que a musculatura perineal perca a integridade que


anteriormente existia, podendo esta ser agravada ainda pelo
O parto vaginal exerce influência direta sobre a superfície uso de alguma assistência requerida nesta fase do parto [2].
pélvica e perineal, sobretudo em relação às modificações A perda da integridade dos tecidos é denominada de
ocorridas no segundo estágio, o período expulsivo. É nesta trauma perineal que se constitui em algum dano ocorrido
etapa que as forças do trabalho de parto vão encaminhar o na região genital durante o parto. Este pode ser a causa
feto para o trajeto de seu nascimento. As contrações uterinas direta de diversas conseqüências para a saúde da mulher,
freqüentes e de forte intensidade formam com as contrações de comprometimento tanto no pós-parto imediato, quanto
voluntárias do músculo abdominal e diafragma o verdadeiro nos períodos mais distantes do puerpério [3,4].
motor dessa etapa [1]. O trauma espontâneo da região perineal pode ser
Estando esse motor em funcionamento, a cabeça do feto determinado por diversos fatores: como a rigidez dos tecidos
irá exercer uma força sobre os tecidos da vagina dilatando-a, perineais, o processamento rápido da etapa expulsiva, o
estirando o períneo e deslocando os músculos elevadores do tamanho do feto, quando a saída pélvica não permite uma
ânus para os lados e para baixo. O canal do nascimento se boa adaptação da cabeça fetal com a sínfise púbica e ainda
forma quando há o estiramento, alongamento e conseqüente quando o parto se processa em posições anormais [1].
afinamento da porção pélvica e perineal, fazendo com que a As conseqüências deste trauma podem comprometer a
abertura da vagina fique posicionada mais anteriormente. saúde biopsicossocial da mulher, pois o estresse e o
Deve-se notar que são nessas modificações que a fáscia pode desconforto manifestados no pós-parto não são verbalizados
ser superestirada e as fibras musculares distendidas, fazendo pelas mesmas, as quais, muitas vezes, sofrem em silêncio [4].

Recebido 16 de janeiro de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Ana Carolina Sartorato Beleza, Rua Aldo Focosi, 301/64, 14091-310 Ribeirão Preto SP, E-mail:
acbeleza@terra.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 463

Poucas mulheres escapam da dor perineal nos primeiros atividade física e o preparo do períneo na gravidez são fatores
dias do pós-parto. Esta pode causar diversas limitações que de risco para o trauma perineal [8,9].
vão desde dificuldades para caminhar e sentar, até cuidados Pouco se estudou também a respeito da etnia. Tuck et al.
com o bebê e a amamentação. Infelizmente, algumas dessas [10] e Howard et al. [11] mostraram em seus estudos que a
mulheres continuam com a dor por semanas após o parto duração do período expulsivo é menor em mulheres da raça
sendo que uma das queixas principais é a demora ao retorno negra que em mulheres brancas. Howard et al. [11] ainda
da prática sexual [5,6]. descrevem que lacerações de 2º, 3º e 4º graus são menos
Frente a estas repercussões era de se esperar que diferentes recorrentes também na raça negra. Porém, já se conhece
condutas fossem tomadas pelos profissionais da área que de que os bebês da raça negra pesam menos e talvez por esse
tal forma reduziria os riscos e ao mesmo tempo encorajaria motivo as mulheres desta etnia têm danos muito menos
as mulheres a falarem sobre os desconfortos sentidos. O freqüentes que as mulheres dos demais grupos étnicos
trauma somente chama a atenção quando há necessidade de [8,9,11].
se instituir uma terapêutica frente às queixas de dor relatadas Por outro lado, estudos têm mostrado que a idade materna
pelas mulheres, ou quando este se apresenta de forma severa. e a paridade já podem ser consideradas como fatores de risco
O propósito deste estudo é realizar uma revisão da literatura para o trauma. Eason et al. [12], em sua revisão de literatura,
acerca do trauma perineal durante o parto evidenciando: os reconheceram que a nuliparidade representa um risco para a
fatores de risco, a avaliação, a prevenção e o tratamento a fim integridade do assoalho pélvico. Também Angioli et al. [9]
de que se possa refletir melhor sobre o tema oferecendo concluíram que mulheres em idade mais avançada e que deram
subsídios para complementar a prática assistencial. a luz ao primeiro filho, têm maiores chances de desenvolverem
uma laceração severa do que as mulheres mais jovens também
Metodologia primigestas. Com base nos resultados, os autores consideram
existir uma falsa impressão que primigestas jovens fossem mais
Este trabalho constitui-se de uma pesquisa documental, susceptíveis a este tipo de trauma.
na qual realizou-se uma revisão crítica da literatura científica O peso e a etnia do bebê também são discutidos como
que de acordo com Polit & Hungler [7] permite ao fatores de risco para o trauma. A probabilidade de uma
pesquisador familiarizar-se com o que está sendo feito em laceração ocorrer se dá quanto maior for o peso do bebê e
campo sobre um determinado assunto. Ainda segundo essas isto já está bem estabelecido pela literatura.
autoras, a revisão de literatura não deve ser uma série de
resumos ou citações, sua tarefa é: “resumir as referências de Condições assistenciais no parto
modo a revelar o estado atual sobre um tópico selecionado”.
Realizou-se uma vasta busca na literatura nacional e A episiotomia vem sendo objeto de vários estudos e
internacional que compreendeu a década de 80, 90 e os discussões no campo da obstetrícia. Carter & Wolbe apud
anos de 2000, 2001 e 2002. Os artigos científicos foram Rezende [13] definem que a finalidade deste procedimento
selecionados a partir das fontes Medline e Lilacs. Realizou- é “impedir ou minorar o trauma dos tecidos do canal de parto
se também uma procura no banco de teses da Escola de favorecendo a descido e liberação do feto”. Por outro lado, autores
Enfermagem de Ribeirão Preto a fim de localizar produções como Silva [14] vem salientando que atualmente os
do conhecimento mais recentes. profissionais da área da obstetrícia têm se questionado sobre
O critério amostral compreendeu estudos que tratassem a falta de comprovações científicas que justifiquem os índices
do trauma perineal e assistência obstétrica. As palavras chaves de morbidade materna associados a este procedimento.
selecionadas foram: trauma perineal, períneo, lacerações, Diversos estudos mostram que a episiotomia, em especial
fatores de risco e parto que foram cruzadas entre si. a mediana, tem relação direta com o trauma perineal. Não
há evidências científicas que este procedimento preveniria
Resultados e discussão ou diminuiria os casos de relaxamento da musculatura
envolvida no parto, nem de casos de incontinência urinária
Fatores de risco e fecal. Além disso, casos de infecção, perda de sangue,
dispareunia, dor e edema aparecem como complicações deste
Os estudos encontrados relacionam o trauma perineal a ato [9,12,15,16].
características maternas e fetais, bem como a condições Através de uma revisão sistemática da biblioteca
assistenciais ligadas ao parto. Cochrane, Carroli & Belizan [17] concluíram que há
evidências científicas suficientes para recomendar o uso
Características maternas e fetais restrito da episiotomia, por trazer maiores benefícios, menor
risco de morbidades, que a episiotomia de rotina. Neste
Não existem evidências científicas suficientes que sustente sentido, concluíram os autores que este procedimento seja
que o estado nutricional da mulher, os fatores genéticos, a realizadao somente quando há indicações maternas ou fetais.
464 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

A episiorrafia constitui-se também de uma preocupação. posição lateral esquerda estava associada a um maior número
Silva [14] ressalta que o calibre do fio empregado é diretamente de períneos íntegros se comparado a posição litotômica, que
proporcional à reação do tecido, ou seja, quanto maior a se associou a um maior número de traumas.
espessura do fio, maior a reação inflamatória. Ainda, chama Flynn et al. [15] realizaram uma revisão da literatura
a atenção para a tensão nos pontos, para não comprometer a sobre os possíveis fatores que afetariam a integridade
nutrição tecidual e causar mais dor. A mesma autora considera perineal, incluindo aí o posicionamento materno no
que sendo o períneo uma região pouco visível, a preocupação momento do parto. Os estudos por eles revisados
por parte dos profissionais da área referente à estética da concordam que durante o segundo estágio do trabalho de
cicatrização do local não tem influenciado no aprimoramento parto a posição materna pode favorecer a ação da gravidade,
da técnica, que ao contrário deveria merecer maior interesse bem como a efetividade da contração uterina. Entretanto,
frente às futuras conseqüências geradas tanto pelo trauma sabemos as mulheres não são informadas quanto aos
quanto pela própria sutura. diversos tipos de posição que podem adotar. A grande
O fórceps e a vácuo-extração são objetos de diversos maioria ainda dá a luz na posição litotômica muitas vezes
estudos que buscam investigar sobre os riscos oferecidos à imposta pela instituição, mesmo sendo mostrada nos estudos
região perineal. A vácuo-extração tem apresentado menores como não sendo a mais ideal.
riscos de morbidade materna quando comparada ao fórceps. A respeito da técnica de proteção perineal, estudos como
Ambos os instrumentos têm indicação semelhantes, porém o de McCandlish et al. e Costa [22,23] não verificaram
lacerações perineais, vaginais e cervicais são menos associação entre a ocorrência de lacerações perineais
recorrentes quando utilizada a vácuo-extração. Por outro comparando a técnica expectante (hands poides) com a
lado, para o recém-nascido há o risco de cefalohematomas intervencionista (hands on). Entretanto, o estudo de
e hemorragias na retina fetal [18,19]. McCandlish et al. [22] mostrou que a técnica intervencionista
Sobre o fórceps, que é mais utilizado no Brasil que a (hands on) produz menos dor nas primeiras 24 horas após
vácuo-extração, sabe-se que se for um método bem o parto.
conduzido evita complicações em diversas esferas. Rezende Também faltam estudos que evidenciem que os puxos
[13] ressalta que se este instrumento for utilizado com sejam eles dirigidos ou involuntários tragam riscos para a
habilidade e praticabilidade, a intervenção trará o mínimo região perineal [12]. O Ministério da Saúde [24] ressalta
de risco para os tecidos maternos. que o estímulo aos puxos voluntários e precoces não traz
A analgesia, um método moderno e popular no meio benefício algum para as mulheres podendo ainda
obstétrico, tem sido investigada também como um comprometer as trocas materno-fetais.
procedimento influente nos traumas perineais. Robinson et Além dos procedimentos e técnicas citados, a
al. [20] observam que a literatura científica é conflitante e manipulação excessiva da região genital por toques vaginais
contraditória a respeito do tema. Enquanto alguns estudos freqüentes, redução de colo e manobras no período expulsivo
sugerem que a analgesia irá promover um relaxamento dos parecem favorecer a ocorrência de trauma, o que não tem
músculos da região pélvica reduzindo assim o risco, outros merecido atenção da literatura científica específica do tema.
alertam para a interferência da mesma sobre o segundo Vale salientar que a presença do acompanhante tem se
estágio do trabalho de parto, onde a analgesia aumentaria o mostrado fundamental para a mulher durante este processo.
risco de intervenções obstétricas. Ensaios clínicos mostraram que há redução da depressão
A fim de sanar estas dúvidas, os mesmos autores neonatal, diminuição da duração do trabalho de parto e
realizaram um estudo com o objetivo de determinar se a redução do uso de medicações para o alívio da dor [24]. O
analgesia epidural estaria relacionada com diferentes graus acompanhante fornece à parturiente suporte emocional, que
de laceração perineal durante o parto vaginal. Eles estudaram muitas vezes se traduz em maior segurança para ultrapassar
1942 mulheres que deram a luz por parto espontâneo ou os estágios que antecedem ao nascimento.
induzido. Os autores concluíram que a analgesia epidural
estaria sim associada diretamente aos traumas perineais. Um Avaliação
parto vaginal instrumental e a realização da episiotomia se
tornam muito mais prováveis quando se realiza o bloqueio Estudos sobre a avaliação das manifestações clínicas do
da dor. As chances aumentam quando este procedimento é trauma perineal no pós-parto utilizando escalas de
associado a outros fatores de risco como peso do bebê e o mensuração estão disponíveis na literatura em dois
peso materno. instrumentos.
Em relação ao posicionamento da mãe no momento do Davidson em 1974 desenvolveu a Redness Edema Echymosis
parto, estudos têm evidenciado que outras posições, além Discharge Aproximation (REEDA). Um papel descartável de
da litotômica, previnem ou pelo menos diminuem o número quatro centímetros de comprimento com a capacidade de
de casos de traumas perineais. Albers et al. [21] concluíram medida de precisão de 0,25 cm é colocado perpendicularmente
em seu estudo corte, com um total de 3049 partos, que a à linha da episiotomia ou da laceração, sendo que seu ponto
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 465

médio fica alinhado com o da incisão. Assim a extensão da Steen & Cooper [32] observando a dificuldade e as
hiperemia, do edema e da equimose em ambos os lados podem queixas das mulheres com o uso da bolsa de gelo perineal
ser precisamente medidos [25]. convencional, desenvolveram a maternity gel pad. Esta
De autoria de Steen & Cooper [26] foi criado um outro almofada possui o formato anatômico da região perineal
instrumento para avaliar o edema e o hematoma perineal, que além de conter em seu interior um gel desenvolvido
conta com dois guias: o primeiro é uma seleção de 4 fotos especialmente para este fim. Esta nova terapêutica vem
onde cada uma delas irá representar 4 graus diferentes de apresentado resultados mais satisfatórios que a crioterapia
manifestação, classificados em none, mild, moderate e severo. O tradicional.
segundo constitui-se de uma escala que descreve em 4 categorias A terapia medicamentosa tem se tornado uma alternativa
onde o avaliador deve considerar ao classificar o edema nos para o tratamento da dor e do edema perineal no pós-parto.
diferentes graus, visualizados primeiramente nas fotos. Esta consiste em antiinflamatório não hormonal, que é
Um olhar crítico sobre esses trabalhos se faz necessário aplicado diretamente no local da lesão, denominado de
uma vez que ambos restringem a avaliação perineal sobre Epifoam. Apesar deste método ter sido desenvolvido
aquelas mulheres que foram submetidas a episiotomia e/ou especificamente para este fim, há controvérsias sobre seu
a sutura, condição esta que não é mais de uso rotineiro em uso. Alguns estudos evidenciaram que seu efeito é melhor
alguns serviços que adotam a concepção de parto humanizado. percebido quando usado em associação com a compressa
Adicionado a esta lacuna no conhecimento, Soler [27] localizada de gelo [31].
realizou um estudo em unidades obstétricas de quatro A depender das complicações geradas por esse trauma,
hospitais da cidade de São Paulo com o intuito de investigar a mulher deverá realizar também uma reeducação da
como se dá a prática assistencial durante o quarto período musculatura do assoalho pélvico, podendo esta ser realizada
do parto. Tal autora observou que as anotações referentes através de exercícios, “biofeedback” e técnicas específicas
ao puerpério imediato são escassas e contam com um espaço de eletroestimulação freqüentemente utilizadas por
restrito na papeleta obstétrica. Geralmente são sucintas fisioterapeutas especialistas em uroginecologia [33].
dizendo respeito somente à realização de procedimentos Mesmo com tais recursos existentes, ainda na prática
técnicos que pouco acrescentam ao valor no quarto período. clínica os desconfortos relatados pelas mulheres são muitas
A valorização do puerpério imediato deveria se estender vezes considerados inerentes ao período do pós-parto,
para além da verificação do estado geral do períneo, da sutura portanto considerado normal.
e da determinação do grau de laceração sofrido pela mulher
e em relação às condições do períneo, quanto à presença ou Conclusões
não de edema, equimose, sangramento e dor, resultados do
processo inflamatório desencadeado. O que se opera na prática O conhecimento científico apresenta lacunas, necessitan-
são avaliações subjetivas requerendo o desenvolvimento de do de um número maior de trabalhos que venham fundamen-
instrumentos apropriados como referencial ao planejamento tar melhor a prática assistencial.
de ações de cuidado e para acompanhar a evolução das mani- Por outro lado mesmo que escassos, os estudos vêm
festações clínicas após os efeitos de possíveis intervenções. salientando os riscos de algumas condutas que ainda são
tomadas como rotinas, o que mostra o distanciamento real
Prevenção e tratamento
entre a teoria e a prática.
Enfim, é necessário ampliar o nosso olhar para este
Os desconfortos relatados pelas mulheres após o parto
evento a fim de explanarmos suas características, traçar
têm conduzido alguns pesquisadores a investigar sobre medidas
estratégias de conduta e, portanto diminuir a morbidade
de terapêuticas de alívio, bem como a adoção de técnicas que
que a puérpera carrega durante um período conturbado de
visam diminuir a ocorrência de traumas perineais.
sua historia reprodutiva.
A massagem perineal tem sido recomendada como um
recurso preventivo de traumas perineais. O número de períneos
íntegros tem se mostrado maior entre as mulheres que utilizaram Agradecimentos
este recurso. Autores como Shipman et al. e Labrecque et al.
[28,29] propõem variação da técnica de massagem Agradecemos ao CNPQ (Conselho Nacional de
considerando o tempo, o início e a freqüência na semana. Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo auxílio
A aplicação de compressas e banhos de assento frios e financeiro disponibilizado para esta pesquisa.
quentes têm sido utilizados há séculos como forma localizada
de tratamento. A crioterapia é a terapêutica mais utilizada, Referências
pois responde melhor frente às conseqüências fisiológicas
desencadeadas pelo trauma, em especial a dor e o edema 1. Ziegel E, Cranley MS. Enfermagem obstétrica. 8a ed. Rio de
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466 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 467

Revisão

Enfoque anatômico do suprimento sangüíneo


extraósseo e intraósseo do osso escafóide
e sua relação com a osteonecrose
Anatomical focus of the extraosseous and intraosseous blood supply
of the scaphoid bone and its relationship with osteonecrosis

Carlos Romualdo Rueff Barroso*, Bernardo Garcia Barroso**, Rogério Albuquerque Azeredo, D.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta, Especialista em Anatomia Humana, Professor de Anatomia Humana da Universidade Estácio de Sá – UNESA (RJ),
** Acadêmico do curso de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, ***Cirurgião-dentista,
Professor Adjunto IV do Departamento de Morfologia da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

Resumo Abstract
A anatomia vascular do escafóide fundamenta e explica a The vascular anatomy of the scaphoid substantiates and
etiologia e a patogênese da necrose avascular deste osso. O objetivo explains the etiology and pathogenesis of its avascular necrosis.
deste trabalho é esclarecer, através de uma revisão de literatura, as This study aims to elucidate doubts about this subject through a
dúvidas pertinentes a esse tema. Concluímos que o suprimento literature review. The scaphoid receives its blood supply mainly
sangüíneo principal do osso escafóide provém da artéria radial e from the radial artery. The anterior interosseous artery also plays
que a artéria interóssea anterior também possui papel importante an important role on the blood supply. The proximal 70% to
na sua vascularização. Os 70% a 80% proximais do osso recebem 80% of the scaphoid is supplied by vessels that penetrate the
seu suprimento por vasos que penetram através da crista dorsal e dorsal ridge, and the distal 30% to 20% by vessels that penetrate
os 30% a 20% distais por vasos que penetram através do tubérculo, the tubercle. Functional anastomosis between the intraosseous
não havendo anastomoses funcionais entre os ramos intraósseos branches of these vessels do not exist. Due to the peculiarities of
desses vasos. Devido às peculiaridades de sua irrigação sangüínea, its blood supply, the proximal third fractures tend to develop
as fraturas do terço proximal possuem maior propensão a avascular necrosis.
desenvolver necrose avascular. Key-words: scaphoid bone, blood supply, osteonecrosis.
Palavras-chave: osso escafóide, irrigação sangüínea
osteonecrose.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução técnicas em identificar pequenos vasos tridimensionalmente


e em determinar sua localização dentro dos ligamentos
A irrigação do osso escafóide tem sido tema de estudo espessos do punho, contudo, nas últimas décadas, estudos
de vários autores na literatura anatômica clássica como em cadáveres utilizando técnicas avançadas de injeção
Rouvière [1], Testut e Latarget [2] e Gray [3], mas ainda arterial, debridamento químico e descalcificação permitiram
existem dúvidas e questionamentos quanto ao suprimento que a anatomia arterial do carpo fosse descrita com mais
arterial deste osso. Sabe-se que o escafóide é suprido por exatidão [4,5].
ramos da artéria radial, contudo a descrição precisa de seus Nosso estudo tem como objetivo realizar uma revisão
ramos, seus trajetos extraósseo e intraósseo e sua nomen- na literatura reunindo os principais trabalhos relacionados à
clatura ainda não estão bem elucidados. irrigação extraóssea e intraóssea do osso escafóide, compa-
Poucos estudos que investigam os padrões vasculares rando os resultados destes trabalhos para, posteriormente,
do carpo têm sido executados. Relatórios anatômicos esclarecer as dúvidas pertinentes à vascularização deste osso,
contraditórios foram apresentados devido às dificuldades e assim, as bases anatômicas de sua necrose avascular. Este

Recebido 27 de abril de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Bernardo Garcia Barroso, Avenida Saturnino de Brito, 735/1202 Praia do Canto 29055-180 Vitória ES. Tel:
(21)9745-4246, E-mail: carlosrueff@yahoo.com.br
468 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

conhecimento é de extrema relevância para o entendimento O escafóide, além de servir como pilar de suporte ósseo
da etiologia e da patogênese da osteonecrose resultante de representa a chave mecânica que controla a estabilidade do
distúrbios que comprometem o suprimento arterial do punho, visto que acompanha os movimentos de flexão e
escafóide, situação muito comum na ortopedia e na extensão do punho flexionando-se e estendendo-se
traumatologia, uma vez que este osso é, depois da cabeça respectivamente, e ainda flexiona-se durante a abdução
do fêmur, o que mais sofre osteonecrose no corpo humano (desvio radial) e estende-se com a adução (desvio ulnar)
[5,6,7,8]. [11,12].
Entendemos que o fisioterapeuta, como profissional
atuante na área da ortopedia e da traumatologia, deve Suprimento sangüíneo do carpo
conhecer a anatomia que fundamenta e explica os aspectos
clínicos das doenças desta área. A compreensão da etiologia Para o entendimento da irrigação do escafóide é
e da patogênese torna-o apto a tomar as melhores decisões necessário esclarecer a arquitetura geral das artérias que
no que tange o tratamento de seus pacientes, sabendo como, fornecem o suprimento sangüíneo do carpo. Este é
quando, e se deve intervir. compreendido pela circulação extraóssea e intraóssea através
de dois sistemas principais, o sistema vascular carpal dorsal
Método e o sistema vascular carpal palmar. A vascularização
extraóssea do carpo consiste em uma série de arcos
transversais dorsais e palmares conectados por anastomoses
Nossa pesquisa teve como foco a descrição do padrão
e formados pelas artérias radial, ulnar e artéria interóssea
considerado normal de irrigação do osso escafóide
anterior [4,5].
independentemente de sexo, idade ou raça, que foi
A vascularização do dorso do carpo consiste em três arcos
encontrado nos livros de anatomia e nos artigos científicos
transversais dorsais: o radiocárpico [4,13] o intercárpico [14-
por meio de estudos realizados em cadáveres. Este estudo
17] e os arcos transversos basais do metacarpo [4]. Estes
foi desenvolvido a partir de um levantamento bibliográfico
arcos têm aproximadamente um milímetro de diâmetro e
na literatura nacional e internacional sobre a irrigação, a
seus ramos têm menos de um milímetro, sendo que a presença
etiologia e a patogênese da osteonecrose deste osso, para
de cada arco é variável. Os arcos dorsais são conectados
tanto, utilizamos as bases de dados Lilacs e Medline. Foram
longitudinalmente em suas faces medial e lateral pelas artérias
utilizados 24 artigos de 1910 a 2003. Os comandos e
ulnar e radial, que são conectadas centralmente pelo ramo
palavras-chave foram: osso escafóide, irrigação sangüínea,
dorsal da artéria interóssea anterior.
anatomia e osteonecrose.
A vascularização palmar do carpo é similar à
Morfologia e relações anatômicas do vascularização dorsal, sendo composta por três arcos
escafóide transversais: o radiocárpico palmar, o intercárpico e o palmar
profundo. Os três arcos palmares são conectados
O escafóide é o maior e mais volumoso osso da fileira longitudinalmente pelas artérias radial, ulnar, interóssea
proximal do carpo. Em razão de seu formato alongado e da anterior e artérias palmares profundas recorrentes [5].
concavidade que apresenta em suas porções palmar e medial, As cinco principais artérias que irrigam o carpo são a
os anatomistas o compararam com um barco (do gr. skáphos, artéria radial, a artéria ulnar, a artéria interóssea anterior, o
barco e -(o)eidés, forma), de onde deriva o nome que leva. arco palmar profundo e as artérias recorrentes ulnares
Está situado no lado radial do carpo, sendo ele o mais lateral acessórias. Entre elas, destacamos a artéria radial e a artéria
dos ossos da primeira fileira [1,2,3]. interóssea anterior no que se refere ao suprimento sangüíneo
Possui seis faces das quais três, a proximal, a distal e a do escafóide.
medial, são articulares. As três faces restantes, dorsal, palmar
e lateral, são faces não articulares e servem essencialmente Artéria radial
como pontos para inserção muscular e ligamentar.
Quando as três faces não articulares são consideradas Gelberman et al. [4] descreveram sete ramos carpais
como um todo, elas formam uma tira ou um aro helicoidal principais provenientes da artéria radial (Figura 1). O quarto
com perfurações vasculares chamada de cintura do escafóide. e o quinto ramos surgiram ao nível da articulação entre o
A cintura se estende da porção proximal da face dorsal até escafóide e o trapézio. O quarto ramo, um vaso palmar
a base do tubérculo, uma proeminência arredondada na presente em 75% dos espécimes por eles estudados, irrigou
porção lateral da face palmar, torcendo-se ao redor do eixo o tubérculo do escafóide e a superfície radiopalmar do
longitudinal do escafóide [3,9]. trapézio antes de anastomosar-se com o ramo palmar
Observa-se assim, que o escafóide articula-se com cinco superficial da artéria radial. Em 25% dos espécimes, o vaso
ossos: o rádio proximalmente, o trapézio e o trapezóide palmar anastomosou-se com um pequeno ramo do ramo
distalmente, e o capitato e o semilunar medialmente [10]. palmar superficial antes de penetrar dentro do tubérculo do
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 469

escafóide. O quinto ramo, a artéria para a crista dorsal do A vascularização extraóssea e intraóssea do osso escafóide
escafóide, originou-se diretamente da artéria radial em 75% foi estudada por Gelberman e Menon [18] em 15 espécimes
dos espécimes e do arco radiocárpico ou intercárpico em de cadáveres frescos através de técnicas de injeção e
25%. Este ramo realizou um trajeto ulnar retrógrado para clareamento. Relataram que o escafóide recebe seu
irrigar o escafóide. suprimento sangüíneo principalmente da artéria radial e que
dois vasos sangüíneos principais penetram o escafóide, um
Figura 1 – R, artéria radial; 1, artéria palmar superficial; 2, arco através de sua superfície dorsal e um através de sua
radiocárpico palmar; 3, arco radiocárpico dorsal; 4, ramo para o tubérculo
superfície palmar. Afirmaram que o tubérculo é a área de
do escafóide e trapézio; 5, artéria para a crista dorsal do escafóide; 6, arco
entrada para o suprimento sangüíneo palmar distal do
intercárpico dorsal; 7, ramo para a porção lateral do trapézio e I metacarpo.
escafóide que responde por 20% a 30% da vascularização
interna do osso, toda ela na região do pólo distal e que os
vasos dorsais penetram o osso através de pequenos forames
localizados na crista dorsal (Figura 2).
Figura 2 – 1, ramo dorsal para o escafóide da artéria radial; 2, ramo
palmar para o escafóide.

Fonte: Gelberman et al., 1983.

Artéria interóssea anterior

Gelberman et al. [4] observaram em seus estudos que a


artéria interóssea anterior bifurcou-se ao nível da borda
proximal do músculo pronador quadrado em ramos dorsal
e palmar. O ramo dorsal correu distalmente sobre a
membrana interóssea em direção ao carpo, onde supriu o
Fonte: Gelberman e Menon, 1980.
arco radiocárpico dorsal em 89% dos seus espécimes. Ele
enviou pequenos ramos radialmente para suprir o semilunar Tanto os vasos sangüíneos dorsais quanto os palmares
e anastomosou-se com vários ramos pequenos da artéria penetraram o escafóide em sua metade distal. A artéria
radial suprindo a crista dorsal do escafóide. interóssea anterior pareceu aumentar significativamente o
suprimento sangüíneo do escafóide através de suas
Suprimento sangüíneo do escafóide comunicações com os vasos dorsais e palmares da artéria
radial. Na maioria dos espécimes, os vasos dorsais dividiram-
Taleisnik e Kelly [9] estudaram onze membros superiores se em dois ou três ramos logo após penetrarem o osso.
de espécimes humanos após amputação. Três grupos de Esses ramos correram palmar e proximalmente dividindo-
vasos foram observados convergindo em direção ao se em ramos menores suprindo o pólo proximal até a região
escafóide. Eles se originaram de níveis distintos da artéria subcondral proximal (Figura 1).
radial ou da artéria radial e seu ramo palmar superficial.
Esses vasos e seus ramos, após um trajeto bem curto, A osteonecrose do escafóide
penetraram o escafóide ao nível da cintura e do tubérculo.
De acordo com suas origens e seus pontos de penetração Estudos que correlacionam a osteonecrose do escafóide
ósseos, esses três sistemas vasculares receberam por seus com a fragilidade de seu padrão vascular apontam este osso
descritores os nomes de láterovolar, dorsal e distal. O sistema como sendo um dos mais propensos a desenvolver o
láterovolar foi considerado o principal contribuinte do processo de necrose avascular pós-trauma [5,7,19,20]. A
sistema sangüíneo intraósseo. Os vasos dorsais contribuíram vulnerabilidade do escafóide deve-se ao seu fluxo sangüíneo
com o sistema láterovolar para o suprimento sangüíneo dos principal retrógrado [4,5,18], à ausência de anastomoses
dois terços proximais do escafóide e o grupo arterial distal intraósseas funcionais [18,21] e por grande área do osso
foi o menor dos três grupos, suprindo uma área muito mais (70% a 80% incluindo o pólo proximal) ser dependente de
restrita e praticamente confinada ao tubérculo. um único vaso [7] (Figura 3).
470 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Figura 3 – Entre 70% a 80% do osso proximal é suprido por vasos Não observaram anastomoses intraósseas como também foi
dorsais (área marcada). Os 20% a 30% distais do osso são supridos por relatado no estudo de Dyievsck e Mrzena [21]. Encontraram
ramos palmares da artéria radial (área branca). ainda vasos nos ligamentos escáfo-semilunar palmar e dorsal,
porém nenhum desses vasos penetrava o córtex proximal.
A existência de anastomoses entre a artéria radial e a
artéria interóssea anterior contribuindo para o suprimento
sangüíneo extraósseo do escafóide formando uma circulação
colateral foi observada nas pesquisas de Preisier [22] e
Gelberman e Menon [18].
Russe [28] classificou as fraturas do escafóide segundo
sua localização anatômica encontrando uma incidência de
20% no terço proximal, 70% no terço médio e 10% no
terço distal. Segundo Andrews et al. [29] e Milford [30],
indícios de que uma fratura do escafóide evoluirá para
pseudoartrose ou necrose avascular incluem localização no
Fonte: Gelberman e Menon, 1980. terço proximal, desvio do fragmento e diagnóstico tardio.
Em relação às fraturas, Gould [31] afirma que devido ao
fato do suprimento vascular estar confinado no pólo distal
Discussão existe um aumento do tempo de consolidação, da incidência
de pseudoartrose e do risco de necrose avascular.
Preisier [22] relatou que o suprimento sangüíneo principal
do escafóide é oriundo da artéria radial e penetra no osso Conclusões
através de sua face dorsal. Kuhlmann e Guerin-Surville [23],
Barber [24] e Grettve [13] confirmam estes achados.
1. O principal suprimento sangüíneo para o osso escafóide
Após comparação, evidenciamos que os vasos láterovolares
origina-se da artéria radial.
e dorsais de Taleisnik e Kelly [9] correspondem aos vasos
2. Existe uma circulação colateral significativa para o escafóide
para a crista dorsal e que os vasos distais correspondem aos
entre a artéria interóssea anterior e a artéria radial.
vasos palmares para o tubérculo do escafóide descritos no
3. O pólo proximal e 70% a 80% do osso recebem seu
trabalho de Gelberman e Menon [18].
suprimento sangüíneo de ramos da artéria radial que
Gelberman e Menon [18] acrescentam que, além de
penetram a crista dorsal, enquanto que o tubérculo e os
encontrarem em seus espécimes os vasos principais
30% a 20% distais do osso são irrigados por ramos
penetrando a crista dorsal do escafóide, também existem
palmares da artéria radial ou do seu ramo palmar
ramos palmares penetrando o tubérculo do escafóide.
superficial.
Obletz e Halbstein [25] em seus estudos sobre os forames
4. Não foram observadas anastomoses intraósseas funcio-
nutrícios do escafóide indicaram que a porção proximal do
nais entre os ramos dos vasos para a crista dorsal e os
escafóide apresenta um fluxo sangüíneo limitado. Em 297
ramos dos vasos para o tubérculo.
escafóides, 13% não possuíam forame nutrício proximal à
5. As fraturas do terço proximal possuem maior propensão
cintura, 20% apresentaram somente um pequeno forame
a desenvolverem osteonecrose.
proximal à cintura, e 67% apresentaram dois ou mais forames
proximais à cintura. Portanto, em aproximadamente 1/3 das
fraturas da cintura haveria uma diminuição em potencial Referências
do fluxo para o pólo proximal com grande risco de necrose
do osso. 1. Rouvière H. Anatomie humaine: descriptive et topographique.
Logròscino e De Marchi [26] descreveram forames em 6a ed. Paris: Masson; 1948. v.2.
três locais principais: na face dorsal, radial e palmar. Na 2. Testut L, Latarjet A. Tratado de anatomia humana. 3a ed.
Barcelona: Salvat; 1978.
maioria dos escafóides pesquisados, o forame nutrício estava
3. Gray H. Anatomia. 29a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
presente na metade distal do osso. Fasol et al. [27] afirmaram
1988.
em seus estudos que o terço proximal do escafóide não 4. Gelberman RH, Panagis JS, Taleisnik J, Baumgaertner M. The
apresenta locais de penetração arterial. arterial anatomy of the human carpus. Part I: The extraosseous
Gelberman e Menon [18] demonstraram que os 70% a vascularity. J Bone Joint Surg 1983;8A(4):367-75.
80% proximais do osso escafóide são irrigados por ramos da 5. Freedman DM, Botte MJ, Gelberman RH. Vascularity of the
artéria radial que penetram a crista dorsal e os 30% a 20% carpus. Clin Orthop 2001;383:47-59.
restantes da porção distal são irrigados por ramos da artéria 6. Cave EF. The carpus, with reference to the fractured navicular
radial ou do ramo palmar superficial que penetram o tubérculo. bone. Arch Surg 1940;40:54-76.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 471

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472 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Revisão

Interferência da órtese tipo AFO tornozelo-pé


no crescimento e maturação óssea da criança
com hemiplegia espástica
The interference of the ankle-foot orthesis AFO type in the bone
growth and maturation of children with spastic hemiplegia

Simone Ribeiro de Carvalho*, Márcia Freitas de Almeida Ribeiro**, Victor Hugo do Vale Bastos, M.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Fisioterapeuta (SUAM), Especialista em Fisioterapia Neurofuncional (UGF) e Método Neuroevolutivo Bobath pediatria,
**Fisioterapeuta (UCB), Especializada em Fisioterapia Neurofuncional (UGF), ***Fisioterapeuta (IBMR), Professor,
Pós-graduado em Neurofisiologia (IBMR)

Resumo Abstract
Este artigo pretende associar os resultados encontrados nos This article intends to associate the results found in studies
estudos pertinentes ao uso das órteses AFO tornozelo-pé, em related to the use of ankle-foot orthesis (AFO) in children suffering
crianças com hemiplegia espástica, com as alterações de crescimento from spastic hemiplegia with bone growth alterations which are
ósseo comumente encontradas neste tipo de paralisia cerebral. O commonly found in this type of cerebral palsy. The reason why
motivo pelo qual objetivamos relacionar o uso da órtese com o we aim to relate the use of the orthesis to the bone growth is to
crescimento ósseo é o de questionar a sua possível influência na question whether this could influence on the length discrepancy
discrepância de comprimento dos membros inferiores em crianças of the lower limbs of hemiplegic children. We have researched
hemiplégicas. Buscamos como material para nossa pesquisa, studies which analyse the neuromusculoskeletal alterations in
estudos que analisassem as alterações neuromusculoesqueléticas children suffering from spastic hemiplegia, the skeletal maturation
das crianças com hemiplegia espástica, a maturação esquelética e and bone growth in children suffering from cerebral palsy, the
crescimento ósseo na criança com paralisia cerebral, as alterações de alterations of plantar pressures in the march and steps, the task
pressões plantares na marcha e degraus, a tarefa da passagem de of moving from sitting to standing positions and ankle-foot
sentado para de pé e as órteses tipo AFO tornozelo-pé. Foi orthesis type. It was found that a functional asymmetry in a
encontrado que a assimetria funcional na criança hemiplégica leva hemiplegic child leads to an alteration in the standards of gait
a uma alteração nos padrões de marcha e, conseqüentemente, a and, consequently, to a significant reduction in weighting placed
uma redução significativa na descarga de peso sobre o membro on the affected lower limb. Furthermore, we were able to observe
inferior afetado. Além disso, podemos observar que apesar de that although the mechanism by which the alterations of the
não ser evidente o mecanismo pelo qual as alterações de bone growth occur are not evident, it is possible to affirm that the
crescimento ósseo ocorrem, é possível afirmar que a inatividade relative inactivity and the disequilibrium of muscle strengths exert
relativa e o desequilíbrio de forças musculares exercem um efeito a negative effect on the bone growth and maturation. Thus, we
negativo sobre o crescimento e maturação óssea. Supomos, então, assume that the use of the orthesis diminishes these alterations
que se o uso da órtese diminui estas alterações de forças musculares of the muscle strengths and of the functional activity drawing
e da atividade funcional, aproximando o padrão funcional do near to normal the functional standard of lower limb affected
membro inferior afetado ao normal, estariam conseqüentemente which, consequently, minimizes the alterations of bone growth.
minimizadas as alterações de crescimento ósseo. Key-words: Hemiplegic children, bone growth, ankle-foot orthosis
Palavras-chave: criança hemiplégica, crescimento ósseo, órtese (AFO).
tipo AFO tornozelo-pé.

Recebido 13 de maio de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Victor Hugo do Vale Bastos, Rua Silva Teles, 30A/208 Tijuca 20541-110 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)2572-7766/
8166-8013, E-mail: victorhvbastos@uol.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 473

Introdução além de outras fontes como Free Medical Journals; Pubmed;


Scirus e Science Direct. Foram utilizados 42 artigos publicados
Hemiplegia espástica é o tipo mais comum de paralisia entre 1992 e 2004. Foram utilizados livros pesquisando-se como
cerebral causada por uma lesão pré ou peri-natal. Pode ocorrer tema principal a hemiplegia na paralisia cerebral. As palavras-
na substância branca ou córtex de um hemisfério cerebral chave utilizadas foram hemiplegic child, bone development,
entre crianças nascidas a termo e pré-termo, levando a uma bone mineral density, bone discrepancy, AFO.
deficiência motora no lado contralateral do corpo. Apresenta
alterações motoras na maioria das vezes após o período Desenvolvimento
neonatal, evidenciando-se no período infantil, tais como: atraso
nas etapas de desenvolvimento motor, persistência de reflexos Crescimento ósseo
primitivos, perda da destreza e força motora fina distal, com
ou sem atrofia do membro, aumento da excitabilidade reflexa, Uma atividade neuromuscular normal é necessária para
incluindo o clônus, diminuição da força e geração de força o crescimento dos membros. As alterações de crescimento
do lado afetado, distúrbios da marcha, tônus muscular e são observadas tanto na paralisia flácida como na espástica.
postura, mudanças vasomotoras e tróficas e deformidades O mecanismo preciso pelo qual isso ocorre não é bem
nos membros, superior e inferior [1-7]. conhecido. A imobilidade relativa é o fator mais comum,
De acordo com a gravidade da lesão, os distúrbios motores porém outros mecanismos ósseos específicos tais como:
podem aparecer já na lactância como, por exemplo, a criança mudanças circulatórias, mudanças nas forças piezoelétricas
respondendo de forma assimétrica para a reação de Moro e mudanças na estimulação neural direta, e associados
ou posteriormente utilizando apenas um dos membros defeitos do lobo parietal, com déficit sensório, também
superiores para alcançar um brinquedo [2]. Estudos com 25 contribuiriam para isso. Alguns autores relacionaram o déficit
crianças que apresentavam hemiplegia espástica pura sensório ao baixo crescimento ósseo, porém a relação entre
mostravam espasticidade em um dos lados das extremidades, as discrepâncias do crescimento na hemiplegia e déficit
superior e inferior, sem nenhum sinal anormal do outro lado. sensorial não é absoluta porque são observadas alterações
Apresentavam diminuição do uso do membro superior e de crescimento mesmo na ausência deste déficit [14-16].
fechamento da mão do lado afetado. Na suspensão axilar, Achados indicaram que a criança hemiplégica desenvolve
todas as crianças demonstravam extensão do tornozelo do uma verdadeira discrepância de comprimento de membros,
lado afetado. Muitas crianças não podiam elevar a perna que se torna mais significativo com o crescimento, tornando
afetada na posição supina e a extensão de joelho era observada a perna afetada verdadeiramente mais curta que a não
durante os movimentos espontâneos dos membros inferiores. afetada [1,3,16-19].
Isso acarretará em reações assimétricas de equilíbrio do tronco Dezenove crianças hemiplégicas foram selecionadas para
e dos membros, que levará a uma diminuição funcional do uma pesquisa da maturação esquelética e do crescimento
lado afetado e conseqüentemente um desenvolvimento ósseo. Nesta avaliação 12 apresentaram assimetria superior
desigual de forças musculares e descargas de peso [1,2,8]. a seis meses na idade óssea do lado são em relação ao lado
As dificuldades mais comuns estão relacionadas à afetado. Enquanto isto, exames radiológicos bilaterais de mão
espasticidade e suas conseqüências, levando a alterações no e punho realizados em 450 crianças normais, somente seis
alinhamento postural, no equilíbrio e na marcha. Apresentam apresentavam diferenças radiográficas de mais de seis meses
desvios posturais característicos tais como a adução e rotação entre lado direito e esquerdo [1].
medial do ombro, flexão do cotovelo e do punho com ou Em outro estudo utilizando 50 crianças hemiplégicas foi
sem desvio lateral ou medial podendo apresentar fechamento observada, no lado afetado, uma média de 11° a mais no
da mão principalmente ao esforço e adução do polegar. O ângulo de anteroversão femural do que no lado não afetado.
membro inferior tende a rotação medial do quadril, Apresentaram também aumento do ângulo entre a diáfise e
hiperextensão ou flexão do joelho com flexão plantar do a cabeça femural no lado afetado ocorrendo, com a idade,
tornozelo [1,2,3]. A marcha também pode estar caracterizada o aumento da atrofia muscular e o encurtamento ósseo deste
pela assimetria, apresentando menor comprimento do passo lado [1,3,4,17,18,19].
e da passada do lado afetado; má rotação pélvica e da cintura Testes radiológicos em 112 pacientes adultos com
escapular com retração do lado comprometido e ausência hemiplegia mostraram que o efeito do desuso e imobilização
do toque de calcâneo [1-7,9-13]. do lado parético diminui significativamente a densidade
mineral óssea (DMO) do lado parético comparado ao não
Metodologia parético. Observou-se também que pacientes com
impedimentos de atividades da vida diária apresentavam
Foi realizada uma revisão de literatura tendo como fonte maior diminuição da DMO. Devido à imobilidade, o
Bireme, na qual a base de dados consultada foi Lilacs e Medline; equilíbrio entre as atividades de osteoblastos e osteoclastos
474 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

estão perdidas. Distúrbios da função dos tendões e o da articulação do tornozelo ou por um membro parético
desaparecimento da tensão diária e força, afetam a estar mais curto. Essas mudanças periféricas são
integridade do metabolismo ósseo e modificam o equilíbrio conseqüências e vão afetar a marcha e o correr, levando a
entre formação e reabsorção óssea. Baixos graus de força uma assimetria postural, reduzindo a velocidade e
sobre os ossos resultam em perda e inibição de formação aumentando o gasto de energia durante as atividades
óssea levando a uma osteopenia e osteoporose [19-22]. [3,6,7,9,11,30,33].
Quanto maior o impedimento da transferência de peso Dados de análise cinemática e eletromiográficos
causada pela severidade da paralisia, maior a perda óssea demonstram uma deficiência na aceleração do quadril e
local. O exercício é considerado como sendo um fator de uma fraqueza de contração dos flexores de joelho durante
prevenção da perda mineral [19,20]. a fase de oscilação, apresentando menos dorsiflexão do
tornozelo do que o normal e necessitando de movimentos
A marcha do paciente hemiplégico compensatórios para liberação do pé [6,7,27,29], o que
leva também a redução da largura do passo e conseqüen-
Existem muitas influências e mudanças no padrão de temente a diminuição da velocidade da marcha
marcha na criança com PC. Elas são causadas por lesão [1,5,6,9,27,29,33].
no neurônio motor superior, que resulta em impedi- Alterações cinéticas e cinemáticas têm sido descritas por
mentos neuromusculares como: aumento da co-contração, muitos autores. Estas incluem, além da diminuição da
hiperatividade dos reflexos de estiramento, mudanças velocidade de marcha e da diminuição do tamanho do
morfológicas no tendão, músculo e tecido conectivo, comprimento do passo na redução da cadência, aumento da
seqüenciamento anormal e “timing” dos padrões freqüência, posição do pé em flexão plantar, aumento do
musculares, fraqueza muscular e diminuição do número deslocamento vertical do centro da massa do corpo, pobre
de unidades motoras [1,3,7,12,23-27]. Outro item cinética e mudança no potencial energético. Apresentam
observado mostra que os músculos espásticos tendem a também fase de balanço e de apoio mais longa e a média
se encurtar gerando uma resistência ao alongamento máxima de velocidade do pé reduzida no lado da hemiplegia.
passivo. Com isso, há uma desigualdade no crescimento [6,9,11,23,24,25,26]. Essa assimetria é um reflexo do uso
entre os ossos e os músculos contribuindo para uma alternativo dos recursos dinâmicos em cada perna da criança
deformidade esquelética. A desigualdade nos comprimentos hemiplégica, ou seja, quanto maior a rigidez no membro
dos membros que se tornam mais curtos e mais finos em afetado ocorre um aumento proporcional da capacidade de
relação ao membro sadio é proporcional ao grau de força utilizada pela perna sadia [6,9,17,24,25,26].
espasticidade observado, assim como as alterações de marcha A presença desse mecanismo compensatório de geração
[1,3,4,5,6,7,9,18,24,25,26]. Essas mudanças neuromuscu- de força pode explicar porque as crianças hemiplégicas
loesqueléticas e morfológicas, resultarão em mudanças das são capazes de andar independentemente. Ela adota uma
propriedades dinâmicas do movimento [3,5,9,24-28]. estratégia motora própria criando um padrão de marcha
Estudos da análise de marcha no paciente hemiplégico adaptativo permitindo a ela otimizar seus parâmetros
citaram o reflexo de estiramento como causa principal da espaço-temporais, diminuir seu custo de energia, buscar
diminuição da velocidade da marcha e do comprimento do seu controle muscular, articular e de equilíbrio
passo. A marcha do paciente hemiplégico espástico não ocorre [5,6,8,9,17,24,25,26]. Podemos citar como exemplo de
comumente com o toque do calcanhar. Normalmente é feita compensação uma tendência à maior dorsiflexão de
com contato no solo primeiramente com os dedos seguidos tornozelo e flexão de joelho com maior descarga de peso
do antepé [3,4,6,7,9,11,13,23,25,29,30]. Esta transferência sobre o membro sadio [5,6,9,17]. O padrão funcional
de peso para o antepé e a posição da fase terminal de balanço individual será de acordo com os impedimentos
levaria a uma posição de alongamento máximo do membro neuromusculares de cada criança [5,6,9,25,26,34].
inferior o que resultaria em um reflexo de estiramento do
tendão de Aquiles, levando a elevação do calcanhar pela Medidas de distribuição na pressão
ação espástica reflexa do tríceps sural, seguido de co- plantar da criança hemiplégica
contração aumentando a rigidez e contendo a mobilidade
articular da perna afetada [11,29,30]. Quanto maior o grau Pesquisas mostraram que o tempo de contato, templo de
de espasticidade menor o comprimento de passo, fazendo duplo apoio e tempo do passo são mais longos no lado sadio
com que a espasticidade pareça ser a causa dessa alteração em relação ao lado afetado. Isso confirmaria a tendência das
[5,6,9,22]. Este movimento ocorre mais comumente no início crianças hemiplégicas a manter o peso do seu corpo
da fase de apoio, empurrando o joelho e o quadril para trás preferencialmente sobre a perna sadia. O aumento da
enquanto o centro de gravidade avança [11,22,23,29,31,32]. espasticidade é acompanhado do aumento significativo do
A marcha eqüina é conseqüência de uma lesão cerebral tempo de passo do lado sadio, a fim de otimizar sua estabilidade.
e não causada pela diminuição da flexibilidade e amplitude A espasticidade modifica a estrutura funcional do pé,
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 475

provocando picos de pressão sobre o calcanhar do pé afetado


muito inferiores àqueles do calcanhar do pé não afetado, sendo
talvez explicado pela falta de amplitude do tornozelo. Foi
encontrado um pico de pressão mais levado do lado afetado
somente sobre a cabeça do primeiro metatarso. A espasticidade
ao nível de tríceps sural e um ângulo de anteroversão femural
do lado afetado superior aos valores normais produz uma
colocação de carga ligada à posição de eqüinovaro do pé e a
uma rotação interna do quadril [3,4,5,6,9,11,23,33].

Estabilidade postural e equilíbrio

Tem-se estudado que os pacientes hemiplégicos órtese articulada órtese rígida


apresentam deficiência na estabilidade postural estática,
O uso da AFO proporciona a correção dos distúrbios
incluindo uma postura com distribuição desigual de peso
causados pela lesão central na postura hemiplégica, do
sendo este menor no lado afetado e uma diminuição no
engrama anormal de marcha e neutraliza o “kick”
balanço na postura de pé, além disso, apresentam
produzido pela excitabilidade reflexa fásica, aumentando
deficiência também na estabilidade postural dinâmica.
a velocidade da marcha, o comprimento do passo e a
Apresentam pobre transferência de peso no plano frontal
duração da fase de toque de calcanhar o que pode reduzir
durante a transição na fase da postura bípede para apoio
o custo de energia [4,7,23,27,31,37].
em uma única perna [3,8,35].
A AFO previne a posição em eqüino do pé, reduzindo o
As respostas posturais automáticas também estão
ângulo plantar do tornozelo, mantendo os flexores plantares
alteradas na criança com lesão cerebral, gerando
numa posição de alongamento durante a descarga de peso e
dificuldade de marcha e equilíbrio além de aumentar o risco
promovendo a liberação do dedo durante a fase de balanço,
de queda. As respostas de ativação dos músculos ocorrem
melhorando a posição do pé, e o contato do calcanhar durante
tardiamente e muitas vezes com co-contração dos músculos
todo o ciclo da marcha produzindo assim uma marcha fisiológica
agonistas e antagonistas. A transferência de peso corporal
e mais segura para todos os pacientes. O seu uso contínuo,
ocorre com respostas posturais anormais ou insuficientes
diminuiria as chances de uma contratura muscular
nos músculos hemiparéticos e atividades compensatórias dos
[3,10,11,23,27,29,30,31,32,35,37].
músculos contra-laterais [8,36].
Poucos estudos têm mostrado o efeito da AFO na
Uso das órteses AFO Tornozelo-pé nas estabilidade postural e balanço no paciente hemiplégico. Após
crianças com hemiplegia espástica estudo em 8 pacientes hemiplégicos, foi concluído que,
quando os pacientes não estavam usando a AFO, o centro
A intervenção ortótica na criança hemiplégica tem de pressão do pé movia em direção do lado não afetado e a
como principal objetivo prevenir o pé eqüino durante o inclinação do corpo era aumentada, enquanto que utilizando
ciclo da marcha, através da correção biomecânica da a AFO o centro de pressão do pé movia-se para a posição
articulação do tornozelo, promovendo a estabilidade médio- média e a inclinação do corpo começava a diminuir [35]. A
lateral do mesmo, mantendo os ganhos de amplitude transferência de peso causada pelo uso da AFO aumenta a
articulares, evitando e corrigindo deformidades, além de descarga de peso sobre a perna afetada e conseqüentemente
promover a diminuição da espasticidade e facilitar o melhora a distribuição das pressões plantares e a funcio-
equilíbrio muscular, permite ao paciente uma marcha mais nalidade do membro afetado, pois ela provém estabilidade
efetiva e segura [2,3,7,10,11,23,27,30,31,33,35,37,38,39]. do tornozelo pela manutenção da articulação em bom
É de extrema importância o cuidado com alinhamento alinhamento promovida pelo suporte externo. Esta
da articulação do tornozelo e subtalar no momento da transferência de peso e aumento do tempo de suporte sobre
confecção do molde da órtese. Elas devem estar em a perna hemiplégica é essencial no padrão da marcha porque
posição neutra estabilizando o calcanhar evitando-se uma permite o movimento da perna oposta e conseqüentemente
deformidade em valgo ou varo [11,37,40]. o passo. Ocorre a melhora da estabilidade dinâmica,
Existe variação da configuração da AFO. A escolha contribuindo para a melhora da velocidade da marcha
do tipo de órtese é feita em função do objetivo a ser [11,23,27,32,35,37,42].
alcançado com cada paciente. Por exemplo, o maior Outros autores têm descrito os benefícios do uso da órtese
controle do pé é dado pela órtese rígida, enquanto que na correção do geno recurvato, melhora no padrão de marcha,
uma maior dinâmica no padrão de marcha é dada pelas interferência na força de reação de solo das articulações
órteses articuladas [10,11,23,30,37,39,41]. proximais e influência na ação de grupos musculares [3,23,40].
476 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Além disso, mostraram que o uso da AFO pode produzir um tempo de apoio mais longo no membro sadio, a fim de otimizar
efeito duradouro na correção do geno recurvato, possivel- sua estabilidade e diminuir o gasto energético. As deformidades
mente com base na aprendizagem motora [10]. ocorrem principalmente durante o período de crescimento
Estudos mostraram existir diferenças nos parâmetros devido a uma diferença entre o crescimento ósseo e o muscular,
temporal e espacial quando as crianças andavam utilizando levando a uma contratura muscular fixada e deformidades
as AFOS. Estas corresponderiam ao aumento do articulares. Além disso, a criança hemiplégica comumente
comprimento de passo e velocidade de marcha através da apresenta alterações de crescimento ósseo no membro afetado.
melhora da amplitude do movimento da pelve, tornando O mecanismo pelo qual esta discrepância de comprimento de
a obliqüidade mais simétrica e diminuindo a adução. Além membros ocorre não foi suficientemente pesquisado ficando
disso, ocorria uma significativa melhora na cinemática clara, porém, a importância que uma atividade neuromuscular
do joelho que apresentava uma ligeira flexão durante a normal exerce sobre ossos. Então a imobilidade funcional
fase de carga similar a da marcha normal, o que era perdido relativa, a diferença de equilíbrio de forças musculares e a
quando andava descalço [3,11,31,30]. Os participantes diminuição das pressões plantares em função da preferência
que demonstraram joelho em hiperextensão ou em em manter a transferência do peso corporal para o membro
hiperflexão na fase de apoio quando andando descalço, sadio em todas as posturas poderiam ser os fatores que mais
desenvolveram respectivamente a melhora da flexão de contribuiriam para as alterações de crescimento ósseo. O uso
joelho ou extensão durante a utilização da AFO. Ocorria da órtese devolve à criança hemiplégica a estabilidade médio-
uma diminuição na mobilidade do tornozelo observada, lateral do tornozelo e o toque do calcanhar durante a postura
entretanto, na flexão plantar, o que era excessivo quando de pé e durante a marcha, favorecendo a correção ao
descalço não representando uma perda no alcance movimento anormal das articulações do quadril, joelho e
funcional. Apresentavam, porém, uma importante principalmente tornozelo e subtalar, diminuindo a imobilidade
melhora da dorsiflexão e do contato inicial do apoio do funcional relativa, a diferença de equilíbrio de forças musculares,
calcanhar. O uso da AFO facilita a coordenação, simetria, permitindo uma distribuição de peso mais equilibrada entre os
dissociação e possibilita uma transferência mais regular de membros, levando, conseqüentemente, a uma maior estabilidade
peso em todos os planos, melhorando o padrão de marcha postural estática e dinâmica e permitindo um padrão de marcha
e proporcionando uma maior estabilidade durante as mais próximo ao normal.
habilidades motoras funcionais dinâmicas e estáticas
[10,11,23,27,29,31,32,35,37]. Em termos de compri- Conclusão
mento máximo muscular ocorreu relevante aumento nos
ísquios-tibiais e reto femural [10]. Baseando-se na literatura consultada, observamos que
As crianças com hemiplegia espástica consumiam mais o uso da órtese tipo AFO tornozelo-pé traz importantes
oxigênio e então, tinha um alto custo de energia [6,11,29,42]. benefícios na funcionalidade da marcha da criança
O uso da AFO aumentou a velocidade sem aumentar hemiplégica, favorecendo a funcionalidade e a descarga
significativamente o consumo de oxigênio durante a marcha, de peso sobre o membro inferior afetado. Se associarmos
reduzindo então o custo de energia [23,37]. este fato aos estudos que demonstraram a influência da
Durante a tarefa de subir e descer degraus, observou- atividade física e das forças musculares para que ocorra
se a melhora da posição de contato do pé durante a subida, um crescimento ósseo adequado e na DMO, supomos
não inibindo a habilidade no descer. Foi notada maior que o uso desta órtese poderia minimizar as alterações de
dorsiflexão durante a fase de apoio e de balanço, menor crescimento ósseo características da lesão. Entretanto,
flexão plantar, aumento da estabilidade na fase de apoio em função do pouco material encontrado, temos o
e aumento da fase de balanço, não havendo diferença no interesse em realizar pesquisas futuras direcionadas a esse
tempo de execução da tarefa quando comparando com o tema visando uma confirmação científica.
pé descalço [34].
Referências
Recomendações

As crianças hemiplégicas apresentam um padrão de marcha 1. Yokochi K, Yokochi M, Kodama K. Motor function of infants
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alterado principalmente em função do grau de espasticidade,
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que leva a um aumento do tônus nos membros afetados e
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uma marcha eqüina. Os problemas de locomoção estão 3. Tecklin JS. Fisioterapia Pediátrica. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed;
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478 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Revisão

Uso do ventilador mecânico como recurso


fisioterapêutico na UTI
Use of mechanical ventilator as an adjunct
of physical therapy in ICU

Rachel Maria da Silva Bezerra*, Carlos Alberto Caetano Azeredo**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Mestranda em Ciências da Motricidade Humana (UCB), **Especialista em Fisioterapia Respiratória (Sobrafir)

Resumo Abstract
A obstrução brônquica e a aspiração endotraqueal conduzindo Bronquial obstruction and endotracheal suction leading to
a pneumonia e ao colapso alveolar são alguns dos efeitos adversos pneumonia and alveolar collapse respectively were some of the
relacionados à utilização dos ventiladores mecânicos. As manobras side effects related to mechanical ventilation utilization. Lung
de recrutamento pulmonar (RP) parecem ser efetivas em recruitment (LR) maneuvers may be effective in rapidly regaining
rapidamente melhorar o volume pulmonar, a oxigenação e facilitar lung volume, improving oxygenation and mobilizing retained
a mobilização de secreções retidas. Uma revisão sistemática de secretions. A systematic review of articles published about these
artigos publicados sobre este assunto foi desenvolvida em fontes subjects was developed in Medline, Pubmed and Cochrane.
como Medline, Pubmed e Cochrane. Key-words: ICU, mechanical ventilation.
Palavras-chave: UTI, ventilação mecânica.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução literatura as manobras de recrutamento que podem ser


realizadas com o ventilador mecânico.
O ventilador mecânico é um equipamento desenvolvido
para substituir ou auxiliar a ventilação espontânea sendo, uma Pneumonia associada ao ventilador
terapia de curto ou longo prazo. À medida que o mesmo assume mecânico
total ou parcialmente o trabalho ventilatório alterações ocorrem
no sistema respiratório como: mudanças na pressão intratorácica Apesar dos grandes avanços nas técnicas para o manejo
e na distribuição da ventilação [1]. Associado a isso, a presença de pacientes dependentes de suporte ventilatório, a pneumonia
do tubo endotraqueal dificulta o mecanismo normal de associada à ventilação mecânica continua a complicar o curso
depuração das vias aéreas aumentando o risco de infecções de 8 a 28 % dos pacientes [5]. Esta é definida como uma
pulmonares. A aspiração endotraqueal constitui um dos métodos inflamação do parênquima pulmonar causada por agentes
para a remoção das secreções retidas, porém, a mesma conduz infecciosos não presentes ou incubados no momento da
ao colapso alveolar e a ruptura do filme bacteriostático formado instituição da ventilação mecânica [9]. A pneumonia é divida
envolta do tubo [2]. A fisioterapia pneumofuncional é em duas categorias dependendo do seu início. O quadro que
comumente realizada em pacientes ventilados mecanicamente, se inicia entre 48 e 72 horas após a intubação é chamado de
com intuito de promover a limpeza das secreções pulmonares precoce sendo resultado de aspiração. Após este período é
retidas, recrutar unidades pulmonares colapsadas [3], melhorar chamada de tardia e está associada a agentes patogênicos
o shunt intrapulmonar e a complacência do sistema respiratório nosocomiais antibiótico-dependentes [7]. A maioria dos casos
[4]. Por estes motivos o tratamento fisioterapêutico em unidades ocorre devido à aspiração de agentes patogênicos que
de terapia intensiva tem sido relacionado com redução na colonizaram a superfície mucosa das vias aéreas orofaringeanas
incidência da pneumonia associada ao ventilador mecânico [3,5]. [2]. A intubação do paciente não compromete apenas a
A proposta deste artigo é descrever com base em revisão de barreira natural entre a orofaringe e a traquéia, mas também

Artigo recebido 3 de junho de 2004; corrigido 17 de outubro; aceito 15 de novembro de 2004.


Endereço para correspondência: Centro de Práticas Avançadas em Fisioterapia, Rua Leandro Martins, 20/1005 Centro 20080-070 Rio de Janeiro RJ,
E-mail: rachelbezerra@aol.com
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 479

facilita a entrada de bactérias dentro dos pulmões através, as pressões de distensão alveolar. Estas estão relacionadas a
das secreções retidas em torno do cuff. Uma das maneiras de pressões ou volumes elevados ao final da inspiração [16]. Poucos
se evitar tal situação é a aspiração das secreções subglóticas estudos têm relatado os efeitos de outros parâmetros além da
[7]. Contudo, Rello et al. [8] e Berra et al. [9] demonstraram PEEP, volume corrente e pressão nas vias aéreas como
que tal método não diminui a incidência de pneumonia. Já causadores de injúria pulmonar. Porém, alguns correlacionam
Kollef et al. [10] demonstraram que a aspiração subglótica o aumento da freqüência respiratória como causa da injúria
contínua é capaz de diminuir a incidência da pneumonia pulmonar devido a um aumento no ciclo de estresse e pela
precoce, porém, não da tardia. Baseado em estudos publicados inativação do surfactante. Existem evidências de que a lesão
na década de 60 foram demonstrados que os circuitos dos induzida pelo ventilador pode resultar na liberação de diversos
ventiladores deveriam ser trocados a cada 8 horas para a mediadores (i.e: citocinas). Estes mediadores bem como
prevenção da pneumonia. Porém, na década de 80 Craven et endotoxinas ou bactérias podem entrar na circulação sistêmica
al. [11] verificaram através da cultura do gás inspirado de 95 e causar disfunção em alguns órgãos e em último caso falência
pacientes, que não existia diferença significante em circuitos múltipla dos órgãos [17].
trocados a cada 24 horas, daqueles trocados a cada 40 horas. Para minimizar os riscos de hiperdistensão e o ciclo de
Lewis [2] propõe que o controle da colonização das bactérias colapso e reabertura dos alvéolos, estratégias de proteção
inclua além da troca dos circuitos a higiene dos dentes e os pulmonar têm sido com sucesso empregadas em pacientes
seios maxilares. com SDRA [4]. A estratégia de proteção pulmonar é baseada
O uso de humidificadores faz parte dos cuidados a serem na redução do volume corrente para 6 a 8 ml/kg. Esta redução
instituídos aos pacientes sendo, antigamente correlacionado demonstrou ser capaz de diminuir a morbidade e a mortalidade
a pneumonia associada ao ventilador mecânico. [18]. Todavia, esta redução, deve vir acompanhada por um
Recentemente, foi definido que os melhores humidificadores valor apropriado de PEEP que impeça o colapso alveolar ao
seriam os passivos (nariz artificial), uma vez que os mesmos final da expiração [19]. Por este motivo tem sido proposto
mantêm os circuitos secos e possuem sistemas de filtragem que associação de manobras de recrutamento durante a
[12]. Apesar disso existem relatos de aumento da PaCO2 adoção de baixos volumes.
[13] e maior risco de oclusão das vias aéreas [14]. A aspiração
traqueal através de material contaminado também contribui Manobras de recrutamento
para a entrada de agentes patogênicos no trato respiratório
inferior [5]. As manobras de recrutamento consistem em insuflações
sustentadas para abrir as unidades alveolares colapsadas e
Lesão pulmonar induzida pelo ventilador são atualmente utilizadas como mecanismo coadjuvante à
mecânico ventilação mecânica durante anestesia e a SDRA [20].
Muitos são os métodos de recrutamento alveolar propostos
Na década passadas foram reconhecidas às alterações na literatura os quais, têm demonstrado aumento na
morfológicas e fisiológicas produzidas pelo ventilador mecânico oxigenação e no volume pulmonar de pulmões colapsados
[15]. Os achados relacionados ao ventilador mecânico induzindo pronados [21] (Tabela I).
a injúria pulmonar não diferem daqueles encontrados na SDRA. Alguns dados sugerem que as manobras de recrutamento
A injúria pulmonar provoca alterações no surfactante, aumento possuem efeitos diferentes os quais, dependem do tecido
da permeabilidade e perda maciça de aeração [4]. Dentre os pulmonar lesionado e do uso de várias combinações de
mecanismos que conduzem a injúria pulmonar destacam-se: volume corrente e PEEP. O quanto às manobras de

Tabela I – Diferentes métodos usados para manobra de recrutamento.

Método Autor

Pressão Positiva Continua nas vias aéreas em 30-60 cm H20 por 15 - 60 seg Bond et al. [22]
Modo Pressão Controlada: Pressão Pico em 60 cm H20 e PEEP em 40 cmH20 por 2 min Takeuchi et al. [18]
Modo Volume Controlado: 20 ciclos com volume de 20 ml/kg Lu et al. [23]
Pressão Positiva Continua nas vias aéreas em 40-45 cm H20 por 15 - 20 seg Rothen et al. [24]
Modo Pressão Controlada: Pressão Pico 30-40 cm H20 e PEEP em 10-20 cm H20 por 1 min Tusman et al. [21]
Suspiros com volume corrente que atinja uma Pressão de Platô a 45 cm H20 Pelosi et al. [25]
Pressão Positiva Continua nas vias aéreas em 30-45 cm H20 por 4 - 40 seg Lapinsky et al. [6]
Suspiro com volume corrente que atinja 40 cm H20 e uma PEEP de 35 cm H20 por 1 min Lim et al. [26]
Modo Pressão Controlada: Pressão de Pico: 40-60 cm H20 e PEEP: 10-30 cm H20 por 30 – 120 seg Piacentini et al. [27]
Modo Pressão de Suporte: Pressão de Pico em 40 cmH20 e PEEP por 30 seg Maggiore et al. [28]

Fonte: [27].
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recrutamento são necessárias para prevenir o colapso A manobra vem sendo realizada através da aplicação de
alveolar quando um nível ótimo de PEEP é usado ainda 40 cm H20 durante 15 segundos estando associada com
permanece controverso [27]. Van der Kloot et al. [29] efeitos cardiovasculares adversos. Por este motivo vem sendo
estudaram os efeitos das manobras de recrutamento na troca proposta a redução do tempo de insuflação máxima a apenas
gasosa e nos volumes pulmonares em três modelos animais alguns segundos para que a segurança ao se efetuar esta
com injúria pulmonar (lavagem salina, ácido oléico e manobra seja aumentada [31]. Em estudo realizado por
pneumonia). Verificaram uma melhora na oxigenação apenas Rothen et al. [24] foi constatada uma diminuição imediata
no grupo com diminuição na quantidade de surfactante na quantidade de atelectasia após o início da manobra.
quando baixos níveis de PEEP foram usados. O uso de Existindo uma permanência de algumas áreas após 26
altos níveis de PEEP em todos os grupos não surtiu nenhum segundos. A mudança mais significativa foi, portanto,
efeito. Este e outros autores demonstraram que após as observada nos primeiros segundos da manobra (7 segundos
manobras de recrutamento, a colocação da PEEP 2 cm iniciais). Isto porque a pressão nas vias aéreas caiu
H20 acima do ponto de inflexão inferior era mais efetiva exponencialmente com o passar do tempo.
em manter a troca gasosa e minimizar a inflamação e a
injúria pulmonar [30]. Tabela II – Pressão nas vias aéreas durante a manobra.
A formação de atelectasias, fechamento das vias aéreas
Tempo da manobra Pressão na via aérea
e a aspiração são mecanismos que prejudicam a troca gasosa
de pacientes anestesiados com pulmões hígidos [31]. Por 1 segundo 41 cm H20
este motivo as manobras de recrutamento têm sido com 7 segundos 40 cm H20
sucesso empregada nestas situações. Rothen et al. [24] 26 segundos 37 cm H20
verificaram que a manutenção de uma pressão de 40 cm A insuflação profunda realizada em ratos resultou em
H20 por 7-8 segundos é capaz de reexpandir por completo
diminuição transitória da elastância, a qual retornou
o tecido pulmonar colapsado de pacientes anestesiados.
rapidamente para o seu valor pré manobra de insuflação.
Apesar da melhora na troca gasosa ser menor se aéreas
Este retorno pareceu ser maior em ratos com injúria
com baixa relação ventilação–perfusão continuarem a
pulmonar. A elastância foi usada como medida comparativa
coexistir no momento em que o shunt intrapulmonar diminui.
pré e pós manobra, pois corresponde ao inverso da quantidade
Lu & Capderou [23] demonstraram que as manobras de
de tecido pulmonar aberto. É proposto neste estudo que a
recrutamento revertem completamente as atelectasias,
manobra de insuflação profunda seja efetuada diversas vezes
broncoconstricção, e diminuição na saturação de oxigênio
por minuto com o objetivo de manter aberto o pulmão
observada após aspiração endotraqueal em modelos de ratos
lesionado [33]. Piacentini et al. [27] aplicaram um suspiro por
anestesiados. Maggiore [28] estudou a prevenção da perda
minuto em pacientes com estágio inicial de SDRA ventilados
do recrutamento alveolar após a aspiração em 9 pacientes
com o modo pressão de suporte. Eles constataram um
com injúria pulmonar aguda. E observou que a queda no
volume era proporcional ao nível de PEEP extrínseca aumento significante na saturação de oxigênio associado com
aplicada, principalmente durante a aspiração com desconexão um aumento no volume pulmonar ao final da expiração além,
do ventilador. Além disso, as manobras de recrutamento de melhora na complacência pulmonar. Relatos recentes de
foram efetivas em restabelecer o volume alveolar após a Pelosi et al. [25] ofereceram evidências de que suspiros que
aspiração. atinjam uma pressão de platô de 45 cm H20 em pacientes
com uma PEEP de 14 cm H20 melhoram significativamente
Manobra da capacidade vital ou a oxigenação, shunt intrapulmonar, e a mecânica pulmonar.
insuflação profunda Os efeitos adversos das manobras de recrutamento
também vem sendo descritos por diversos autores. Nunes
O uso da insuflação sustentada para reversão do et al. [34] verificaram a hemodinâmica, mecânica respiratória
colapso alveolar vem sendo feito desde a década de 60, e gases arteriais antes e após manobras de recrutamento
quando foi usada pioneiramente para a manter a (insuflação sustentada chegando a 40 cm H20 de pressão
oxigenação e a complacência pulmonar de pacientes nas vias aéreas por 20 segundos). Foi constatada uma grande
submetidos à anestesia geral [24]. Em adultos sem diminuição no fluxo sanguíneo porta, renal e esplênico além,
afecções pulmonares tem se estimado que cerca de 20- de diminuição na pressão arterial. Apesar da pronta
25% do tecido pulmonar em regiões basais ou 15% de recuperação do fluxo sanguíneo após a manobra, a circulação
todo o pulmão podem estar atelectasiados [32]. Este tecido esplênica permaneceu diminuída 8 minutos após o término
atelectasiado pode ser reexpandido através da manobra da manobra. Esta diminuição residual pode apresentar riscos
da capacidade vital a qual, consiste em insuflar os pulmões em situações em que a reser va circulatória estiver
com uma pressão superior a 40 cmH20 para que o shunt comprometida. A oxigenação não foi modificada sendo
pulmonar seja reduzido [28]. melhorada a mecânica pulmonar. Por estes achados os
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autores concluíram então, que as manobras de recrutamento · Condição cardiovascular instável definida por uma pressão
produzem alta pressão intratorácica e altos volumes o que arterial média (PAM) ≤ 75 mm Hg com uma variação de
compromete a hemodinâmica. Outros estudos que aplicaram 15 mmHg com mudança de decúbito.
suspiros e insuflações sustentadas perceberam o uso destas · Freqüência cardíaca > 130 bpm
estratégias de aumento do gradiente transpulmonar (alto · Saturação arterial de oxigênio (SaO2) ≤ 90%.
volume corrente e/ou pressão alveolar sem PEEP) Ambas as técnicas foram realizadas com o auxílio da
predispõem a aumento no crescimento bacteriano e gravidade por até seis vezes, sendo seguida de aspiração
deslocamento de tais agentes para a circulação sistêmica. traqueal. O método descrito pelos autores é realizado com
Estando tais manobras também associadas a dano ou o ventilador no modo volume controlado, com uma
alteração transitória da integridade da barreira alvéolo-capilar freqüência de 10 respirações por minutos, um fluxo
[29]. O quanto estas manobras que visam melhorar a função inspiratório de 20 litros/ minuto e uma pausa ao final da
pulmonar podem resultar em falha na barreira alvéolo-capilar inspiração de 2 segundos. O volume corrente deve ser
e deslocamento transitório de bactérias em humanos ainda aumentado em 200 ml até que a pressão de pico atinja 40
não foi totalmente esclarecido [42]. As controvérsias que cm H 20. Uma vez alcançada esta pressão seis ciclos
permeiam as manobras de recrutamento residem em duas mandatórios são liberados para o paciente. Após, o ventilador
situações descritas por Piacentini et al. [27]. Inicialmente deve ser reprogramado para os parâmetros inicias a manobra,
aéreas de consolidação (aéreas não recrutáveis no dando-se um período de repouso de 30 segundos para o
parênquima pulmonar) e de atelectasias (potencialmente paciente. A manobra é realizada durante 20 minutos e
recrutáveis) coexistem dentro do pulmão não podendo ser consiste de 6 repetições de 6 ciclos de hiperinsuflação. Não
distinguidas e quantificadas à beira do leito para que a decisão existiu diferença significante entre as duas manobras
a cerca da manobra de recrutamento possa ser tomada. Em empregadas com relação à quantidade de secreção aspirada
algumas situações as manobras somente serão capazes de (2,65 gramas) bem como em relação à complacência estática.
causar hiperdistensão de aéreas saudáveis próximas às áreas Estes parâmetros foram escolhidos, pois refletem a as
de consolidação (as quais, não serão na maioria das vezes mudanças fisiológicas em pacientes submetidos a cuidados
recrutadas). Cakar et al. [36], contudo, demonstraram intensivos.
realmente que o uso de altas pressões promove o A hiperinsuflação manual produziu uma melhora de
deslocamento de bactérias. Porém, foi constatado que o uso 11,47% e 9,75% na complacência pulmonar imediatamente
intermitente das manobras de recrutamento (insuflação e 30 minutos após a execução da manobra e a hiperinsuflação
sustentada associada com baixa pressão e sem PEEP) não com o ventilador produziu um aumento de 9.8% e 11.58%
causam o deslocamento de microorganismos inoculados no mesmo intervalo de tempo (Tabela III). Não ocorreram
intra-traquealmente. mudanças adversas na pressão arterial média, freqüência
cardíaca, saturação de oxigênio ou necessidade de serem
Manobra de hiperinsuflação com o administradas drogas inotrópicas.
ventilador mecânico
Tabela III – Complacência estática antes e após a fisioterapia.
A hiperinsuflação com o ventilador é realizada pela
Hiperinsuflação Pré-tratamento Pós-tratamento 3 0
alteração dos parâmetros do ventilador para aumentar minutos após
gradualmente o volume corrente ofertado. A técnica é capaz
de produzir os mesmos efeitos da hiperinsuflação manual Manual 46,2(41,5- 50,9) 51,5 (11,5%)(46,6- 56,4) 50,7
enquanto, mantém o nível de PEEP empregado e controla o (9,7%)(46,5- 54,9)
Ventilador44,9(40,5- 49,3)49,3 (9,8%)(45,7- 52,9) 50,1
limite de pressão nas vias aéreas [37]. Berney & Denehey
(11,6%)(45,5- 54,7)
[38] em estudo recente compararam os efeitos da
hiperinsuflação manual e da hiperinsuflação com ventilador Fonte: [38].
mecânico com relação à complacência estática e quantidade
Os autores concluíram que apesar da hiperinsuflação
de secreção de pacientes intubados. Neste estudo foi definido
manual ser usada corriqueiramente em pacientes intubados a
que as técnicas realizadas com o ventilador mecânico não
mesma possui diversas limitações como: a necessidade de
deve ser empregada em pacientes que:
desconexão do paciente do ventilador com perda da PEEP e
· Necessitem de uma fração inspirada de oxigênio ≥ 0,6 falta de controle sobre a pressão nas vias aéreas e sobre o
· PEEP ≥ 10 cm H20 fluxo [38]. Estudos prévios demonstraram alterações na
· Patologia pulmonar que contra indique a hiperinsuflação pressão arterial e no retorno venoso durante a execução desta
(doença pulmonar obstrutiva crônica, síndrome do manobra [39]. Isto porque a hiperinsuflação manual pode
desconforto respiratório agudo) conduzir ao aprisionamento aéreo o qual, diminui o volume
· Traumatismo crânio encefálico de ejeção cardíaco. Estas limitações foram eliminadas com
482 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

hiperinsuflação com o ventilador mecânico uma vez que os se sempre os prós e contras relatados na literatura. Para tanto
ventiladores microprocessados permitem que o fisioterapeuta é fundamental que o fisioterapeuta mantenha-se atualizado e
observe os padrões de fluxo gerados em cada ciclo ventilatório, aberto ao entendimento das ferramentas tecnológicas
permitindo desta maneira uma completa expiração antes que disponíveis. Tornando seu atendimento uma junção de técnica
o próximo ciclo seja liberado. O risco de comprometimento e embasamento científico.
cardiovascular é, portanto, minimizado [40].
Referências
Manobra de hiperinsuflação manual com
circuito de ressuscitação 1. Bravermen JM. Airway clearance requirements among patients
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A hiperinsuflação manual é uma das técnicas desem- Advanced Respiratory 2001:422-8.
penhadas pelo fisioterapeuta em unidade de terapia intensiva. 2. Lewis RM. Airway clearance techniques for the patient with an
A técnica foi descrita inicialmente há 30 anos atrás e consiste artificial airway. Respiratory Care 2002;47(7):808-17.
de uma inspiração lenta, profunda, uma pausa inspiratória e 3. Baker M, Adams S. An evaluation of a single chest
uma expiração abrupta [41]. O uso da hiperinsuflação manual physiotherapy treatment on mechanically ventilated patients
varia entre e dentre diversos países sendo muito pouco with acute lung injury. Phys Res Internat 2002;7(3):157-69.
executada no Brasil.O objetivo da técnica é expandir o tecido 4. Dreyfuss D, Sauman G. Ventilator-induced lung injury.
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A técnica de hiperinsuflação manual envolve a liberação de 6. Lapinsky SE et al. Safety and efficacy of a sustained inflation
um determinado volume corrente limitando a pressão nas vias for alveolar recruitment in adults with respiratory failure.
aéreas em 40 cm H20 [36]. O aumento de volume é seguido Intensive Care Med 1999;25:1297-1301.
por uma rápida liberação da pressão durante a expiração, 7. Sitting SE. Ventilator-acquired pneumonia: Is the Ventilator
conduzindo a formação de um rápido fluxo aéreo que simula the Real Culprit?. AARC Times 2004; January 1-8.
o mecanismo da tosse. A técnica realizada com circuitos 8. Rello J et al. Epidemiology and outcomes of ventilator-
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excesso, abrir áreas pulmonares atelectasiadas e melhorar a 2002;122(6):2115- 21.
oxigenação. Os efeitos da insuflação na complacência pulmonar 9. Berra L et al. Continuous aspiration of subglottic secretions
does not prevent bacterial colonization of the lower respiratory
e na resolução de atelectasias têm sido bem documentados
tract. Crit Care Med 2002;29 (Suppl. S):351.
[43,15]. Apesar de seus benefícios a técnica apresenta contra- 10. Kollef MH. The prevention of ventilator-associated
indicações como: pacientes dependentes de altos níveis de PEEP pneumonia. N Engl J Med 1999;340(8):627-34.
para manutenção da saturação ou pacientes agitados e 11. Craven DE et al. Contamination of mechanical ventilators
intolerantes à manipulação [38]. with tubing changes every 24 or 48 hours. N Engl J Med
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Conclusão 12. AARC. Evidence-based clinical practice guidelines- care of the
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pneumonia. Respir Care 2003; 48(9):869-79.
Com base na literatura de estudos clínicos e experimentais,
13. Le Bourdelles G et al. Comparison of the effects of heat and
ainda permanece uma grande incerteza com relação ao uso de moisture exchangers and heated humidifiers on ventilation
manobras de recrutamento e desobstrução brônquica em and gas exchange during weaning trials from mechanical
humanos. Com relação ao uso de tais manobras muitos são os ventilation. Chest 1996;110(5):1294-8.
autores que as consideram desnecessárias e até lesivas. 14. Hurni JM et al. Safety of combined heat and moisture
Principalmente, em pacientes com infecção pulmonar devido exchange filters in long-term mechanical ventilation. Chest
o risco potencial de deslocamento de bactérias e conse- 1997;111(3):686-91.
qüentemente desenvolvimento de sepse. Outros, contudo vêem 15. Marini J et al. Acute lobar atelectasis: a prospective comparison
a necessidade de serem associadas de maneira intermitente tais of fibreoptic bronchoscopy and respiratory therapy. Am Rev
manobras às estratégias de proteção ventilatória. Quanto ao Respir Dis 1979;119:971-8.[abstract]
16. Whitehead T, Slutsky SA. The pulmonary physician in critical
uso de manobras desobstrutivas com o ventilador mecânico
care 7: Ventilator induced lung injury. Thorax 2002;57:635-42.
existem poucos estudos a cerca do assunto. Porém, a luz dos
17. West J. Cellular responses to mechanical stress. Inveted review:
conhecimentos descritos até hoje as mesmas devem ser pulmonarty capillarty stress failure. J Appl Physiol
realizadas durante o atendimento fisioterapêutico pneumo- 2000;89:2483-9.
funcional com o intuito de prevenir o acúmulo de secreção e 18. Takeuchi M et al. Set positive end-expiratory pressure during
desta maneira os efeitos adversos desta situação. Deste modo, protective ventilation affects lung injury. Anesthesiology
conclui-se a utilização de tais recursos deverá ser feita pesando- 2002;97:682-92.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 483

19. Kallet HR et al. Lung Collapse during Low Tidal Volume 31. Pinsky MR. The Hemodynamic consequences of mechanical
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484 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Estudo de caso

Acidente vascular encefálico: análise da função motora


de um caso em tratamento na piscina aquecida
Encephalic vascular accident: motor function analysis
of a patient in treatment in heated swimming pool

Mônica Silvia Rodrigues de Oliveira*, Andréa Abramo**, Márcia Regina Pinez Mendes, M.Sc.***
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmica de Fisioterapia, Faculdade do Clube Náutico Mogiano, **Fisioterapeuta, Professora da Disciplina de Prática Superviosinada I
e Supervisora do Estágio em Hidroterapia da Faculdade do Clube Náutico Mogiano, ***Fisioterapeuta, Professora da Disciplina Fisioterapia
Aplicada às Disf. Neuromusculoesqueléticas e Supervisora do Estágio Supervisionado em Hidroterapia da Faculdade do Clube Náutico Mogiano

Resumo Abstract
Este estudo apresenta uma análise da função motora de um This study introduces a motor function analysis of a encephalic
caso de acidente vascular encefálico em tratamento na piscina vascular accident case, including aspects on the motor control,
aquecida, incluindo aspectos sobre o controle motor, apren- motor learning and recovery of the function. The encephalic
dizagem motora e recuperação da função. O acidente vascular vascular accident is responsible for perturbations of motor control,
encefálico causa perturbação do controle motor, alterações perceptive-cognitive and affective alterations. The physical therapy
perceptivo-cognitivas e afetivas. A Fisioterapia, com aplicação de with application of therapeutic exercises aiming the retraining of
exercícios terapêuticos, atuará de forma indispensável para melhorar motor control, is an indispensable way to improve the functional
a capacidade funcional destes pacientes. Os objetivos deste estudo capacity of these patient. The aims of this study were: program
foram: programar exercícios terapêuticos na água visando melhora therapeutic exercises in water aiming the improvement of the
da funcionalidade motora, qualificar o desempenho motor através motor function, qualify the motor performance with Modified
da Modified Motor Assessment Scale e apontar os efeitos da Motor Assessment Scale (MMAS) and to point the effects of the
piscina terapêutica neste caso de AVE. O estudo foi realizado na therapeutic swimming pool in this case. The study was carried
Faculdade do Clube Náutico Mogiano, no Setor de Hidroterapia, out in the Club Náutico Mogiano College, in the Hydrotherapy
no período de agosto a setembro de 2003, analisando um sector, in the period of August to September 2003, analyzing a 62
voluntário do gênero masculino com idade de 62 anos após sete years old volunteer seven years after lesion. The results of this
anos de lesão. Os resultados deste estudo mostraram que com o study showed improvement of the motor functionality with the
programa de exercícios na água conseguiu-se melhora da exercises program in water. With the evaluation of the functions
funcionalidade motora, pois, com a avaliação realizada através da carried through MMAS, it was possible to qualify the motor
MMAS foi possível qualificar o desempenho motor de modo performance in a comparative way, and the effects of the
comparativo, sendo que os efeitos da piscina terapêutica apontaram therapeutic swimming pool pointed out that water facilitates
que a água facilita os movimentos, associado às técnicas movements, associate to the developed techniques. However, it
desenvolvidas para este meio. Entretanto é necessário aplicar este is necessary to apply this study in a larger number of individuals
estudo em um número maior de indivíduos para reafirmar os to reaffirm the observed results.
resultados observados. Key-words: encephalic vascular accident, functionality, heated
Palavras-chave: acidente vascular encefálico, funcionalidade, swimming pool.
piscina aquecida.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução evento neurológico de importância considerável em nível


de saúde pública e situa-se entre as quatro maiores causas
Das muitas doenças, distúrbios e síndromes que de morte em muitos países. Na atualidade é denominado
acometem o ser humano, o Derrame Cerebral, assim Acidente Vascular Encefálico (AVE), caracterizando melhor
conhecido pela maioria da população mundial, é um o acometimento neurológico [1,2,3].

Recebido 15 de fevereiro de 2004; corrigido 25 de agosto; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Mônica Silvia Rodrigues de Oliveira, Setor de Hidroterapia FCNM, Rua Cabo Diogo Oliver, 758 Ponte Grande
08773-000 Mogi das Cruzes SP, Tel: (11) 4791-1266 E-mail: monilevita@yahoo.com.br
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É definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a medula espinhal, o tronco encefálico e o córtex cerebral,
como “um sinal clínico de rápido desenvolvimento de atuando paralelamente os sistemas sensorial/perceptivo
perturbação focal da função cerebral, de suposta origem e os sistemas motores sendo que o sistema cognitivo afeta
vascular e com mais de 24 horas de duração” [4]. ambos os sistemas em muitos níveis diferentes [11,12].
Vale acrescentar, que os sobreviventes de AVE Os movimentos voluntários são iniciados para atingir
apresentarão após a lesão, importantes deficiências tais um fim específico e são organizados no córtex cerebral.
como: perturbação do controle motor, alterações A seqüência da atividade neural inicia-se com a decisão,
perceptivo-cognitivas e afetivas, que por sua vez, cria um em seguida as áreas de planejamento motor são ativadas
impacto econômico e social significativo para o paciente (área 6 de Brodmann – áreas de associação da região frontal
e seus dependentes. Sua incidência relaciona-se com a e comportamentos cognitivos) e depois os circuitos de
idade, sendo incomum abaixo dos 50 anos, mas controle (cerebelo e gânglios da base) que regulam a
duplicando-se a cada década após os 55 anos [1,2]. atividade das vias motoras, levando sinais para
O AVE acometerá parte do SNC a partir de uma alteração interneurônios medulares e motoneurônios inferiores
iniciada na ou nas artérias que irrigam o encéfalo. O responsáveis pela transmissão direta de informações aos
metabolismo encefálico é quase exclusivamente aeróbio, de músculos esqueléticos, produzindo contração muscular
modo que os neurônios dependem da irrigação sanguínea [13,5,14].
contínua, sendo que a falta de oxigênio às células cerebrais Após a lesão encefálica, alterações nas sinapses, na
faz cessar quase todo seu metabolismo [4,5,6]. reorganização funcional do SNC e alterações relacionadas
O ponto mais importante a ser observado no suprimento à atividade na liberação de neurotransmissores promovem
sanguíneo encefálico é que cada lobo não possui um suprimento a recuperação da lesão, processo chamado de neuroplas-
individual, de modo que a patologia vascular constitui num ticidade [4,5,12].
conjunto inteiramente diverso de síndromes [7,8]. Estas alterações incluem a habituação (diminuição da
O AVE é classificado pela patologia da lesão encefálica resposta neural a um estímulo), o aprendizado (aquisição
focal subadjacente, isquêmico (infarto) e hemorrágico do conhecimento ou da capacidade) e a memória (retenção
(subaracnóideo, cincundando o cérebro e intracerebral, e armazenamento do conhecimento ou da capacidade),
no parênquima cerebral) [3]. que influenciarão na recuperação da função. Sendo que
A causa mais comum do AVE-isquêmico é a obstrução os fatores que poderão afetar este processo são: a idade, as
de uma das principais artérias cerebrais ou de seus ramos características da lesão, o efeito da experiência, o efeito
perfurantes menores, causada por embolia, aterosclerose, farmacológico e o efeito do treinamento [12].
trombose ou alterações cardíacas, acarretando em
Reabilitação aquática e aprendizagem
destruição tecidual [9,4].
O AVE-hemorrágico intracerebral tem como causas: motora
hipertensão arterial, formação de microaneurismas, má
A terapia realizada no ambiente aquático aplicada à
formações artério-venosas, aneurismas, distúrbios
saúde denominada Reabilitação Aquática está experi-
hemorrágicos ou da anticoagulação, traumatismos,
tumores e outros. E o AVE-hemorrágico subaracnóideo mentando um período de renascimento. Para o fisio-
é causado pelo vazamento de sangue de um aneurisma terapeuta, trabalhar neste ambiente é muito gratificante
cerebral (geralmente localizado no ciclo de Willis) para o à medida que se percebe a motivação e os benefícios globais
espaço subaracnóideo e líquido cefalorraquidiano [3,4]. oferecidos ao paciente [15,16].
A reabilitação se inicia na fase aguda, pós-aguda ou O tratamento na piscina aquecida alicerça-se nas
intermediária e em longo prazo na fase de reintegração à propriedades físicas e na temperatura da água atuando na
sociedade. Dentre as áreas que atuarão nesse processo, a reeducação funcional neuromotora entre outros, logo, a
Fisioterapia com aplicação de exercícios terapêuticos atuará compreensão destes aspectos torna mais lógica a aplicação
de forma indispensável para melhorar a capacidade funcional do processo clínico [17,18,19].
e evitar complicações secundárias causadas pela inatividade Dentre as propriedades físicas da água, a flutuação, que
[10,4,1]. é a força, experimentada como empuxo para cima, que atua
em sentido oposto à força de gravidade constitui um
Controle motor e recuperação da função benefício importante na reabilitação do paciente pós-AVE,
pois oferece alívio do peso, promovendo capacidades
A capacidade de regulação dos mecanismos que levam funcionais na água e facilidade para manipulação destes
à execução dos movimentos é chamada de Controle Motor, pacientes. Por outro lado, causa instabilidade fazendo-se
que inclui a interação entre o indivíduo, a tarefa e o necessário a utilização de equipamentos como flutuadores
ambiente. É obtido por meio de diversas estruturas e outros materiais de acordo com a finalidade dos exercícios
encefálicas dispostas de forma hierárquica (ou ascendente): [20,21,19].
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A temperatura da piscina terapêutica é em torno de 33º para participação voluntária do estudo, houve o
a 37ºC, isso favorece o aumento da temperatura dos esclarecimento sobre a pesquisa e solicitado a autorização
músculos e da temperatura central do corpo fazendo com formal seguindo a Resolução 196/96 de Diretrizes e
que os músculos se tornem mais flexíveis, reduzindo Normas regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres
chances de lesão [21,22]. humanos.
O maior objetivo da reabilitação aquática pós-lesão A pesquisa teve início em agosto de 2003 no mesmo
neurológica é tornar o paciente o mais independente setor de Hidroterapia, ocorrendo num período total de 4
possível. Métodos e técnicas vêm sendo utilizados com semanas, sendo sessões de 40 minutos e 2 vezes por
maior freqüência visando à aprendizagem motora (estudo semana. O término foi em setembro de 2003.
da aquisição ou modificação do movimento). Como
vemos no Método dos Anéis de Bad Ragaz que tem como Procedimento para Aplicação da MMAS
alguns de seus objetivos restaurar padrões normais de
movimento e treino da capacidade funcional do corpo Para aplicação de MMAS foi necessário avaliar as
como um todo, e o Método Halliwick que possui fases atividades funcionais por meio de 8 critérios de avaliação
de aprendizado que estão em uma ordem pela qual o com escores de 0 a 6 pontos. Todos os itens foram
córtex cerebral aprende todo movimento físico. Ambos realizados pelo voluntário, sem a ajuda do terapeuta. Para
aplicados com repetição de movimento [19,23,24]. a pontuação foi marcada a melhor performance do
Pesquisa básica neurofisiológica sugere que a atividade paciente com três repetições, exceto nos itens alcançados
motora por repetição, forma a base da recuperação e da o objetivo do escore. O voluntário foi encorajado pelo
aprendizagem motora, sendo de grande benefício pelo terapeuta sem que este lhe indicasse se o teste estava
resultado funcional da reabilitação motora [25]. correto ou incorreto. As instruções foram repetidas e
Esta pesquisa teve por objetivo geral: analisar a função demonstradas quando necessário. A ordem da admi-
motora em um caso de AVE em tratamento na piscina nistração dos itens variava de acordo com a conveniência.
aquecida, e objetivos específicos: programar exercícios A perfor mance do voluntário foi avaliada estando
terapêuticos na água – visando melhora da funcionalidade relacionada sempre ao lado lesado (direito). Nos itens 4 e
motora, qualificar o desempenho motor pré e pós- 5 o tempo foi cronometrado sendo o paciente previamente
tratamento através da MMAS e apontar os efeitos da avisado. Os itens da escala avaliaram as atividades: 1 –
piscina terapêutica em um caso de AVE. Supino para Lateral pelo lado íntegro; 2 – De supino para
sentado para o lado da cama; 3 – Sentado com balanceio;
Materiais e métodos 5 – Andando; 6 – Função de Levantar o Braço; 7 –
Movimentos das Mãos; e por último 8 – Atividades
Manuais Avançadas.
O presente estudo analisou um voluntário do gênero
masculino, idade de 62 anos, com diagnóstico fechado de
Procedimento para aplicação do
AVE isquêmico após sete anos de lesão. Apresenta
tratamento
comprometimento motor de hemiparesia espástica moderada
à direita com predomínio braquial. O tratamento teve início desde os cuidados de entrada
O instrumento de avaliação foi: Modified Motor Assessment e saída do paciente da piscina até as manobras terapêuticas
Scale (MMAS) dirigido a pacientes pós-AVE com a finalidade propriamente ditas na água. Por isso, nas sessões foi
de avaliar o grau de desempenho motor [26-29]. necessário ajuda de um terapeuta para conduzir o paciente
Para a aplicação do tratamento utilizaram-se equi- até a borda da escada e outro terapeuta dentro da piscina
pamentos como: colar cervical, cinto abdominal, tor- para ajudá-lo na entrada. Após a imersão parcial do pa-
nozeleiras e uma piscina aquecida. A pesquisa foi registrada ciente, em todas as terapias era realizado um breve período
com fotos e filmagem através de uma máquina fotográfica de adaptação ao meio líquido, com movimentos de
de marca Cânon modelo Prima BF-800 com filme de 36 deslizamentos na superfície da água, estando a cabeça do
poses e uma filmadora de marca Sony modelo Handycam paciente apoiada no ombro do terapeuta e seus membros
vídeo 8 com fita de 8 mm. inferiores apoiados com um flutuador tipo espaguete abaixo
A primeira etapa para o desenvolvimento da pesquisa dos joelhos.
foi verificar no setor de Hidroterapia da FCNM os A programação dos exercícios na água foi fundamentada
pacientes em tratamento com seqüelas de lesão encefálica. e adaptada no Método dos Anéis de Bad Ragaz. Foram
A partir do interesse em um caso de AVE isquêmico com realizados exercícios para promover dissociação de cinturas
7 anos de lesão buscou-se junto à literatura científica e em com o paciente em supinação na superfície da água,
base de dados, fundamentos e instrumentos de avaliação estabilizado com colar cervical e cinto abdominal, onde foram
que justificassem a pesquisa. Fez-se o convite ao paciente feitos pelo terapeuta estímulos e resistência manual para
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 487

movimentos escapulares e pélvicos alternadamente e Observou-se no gráfico ilustrado anteriormente que no


simultaneamente com breve período de descanso. item 1, os dados pré e pós-teste não apresentaram
O padrão isotônico de Bad Ragaz para membros modificações quanto o mover o membro superior e inferior
superiores foi associado ao princípio de irradiação ou e o rolar mais a flexão dos membros superiores devido ao
também conhecido por indução sucessiva do Método de movimento. Confirmando os dados da literatura a respeito
Facilitação Neuroproprioceptiva do Kabat. Esses exercícios dos déficits de movimento, evidenciados no lado lesado
são feitos por meio da estabilização e resistência do membro caracterizados por anormalidades do tônus muscular, dos
superior esquerdo facilitando o movimento do membro ajustamentos posturais e dos movimentos sinérgicos, falta de
superior direito em alguns planos de movimento: abdução e dissociação entre as cinturas escapular e pélvica, perda dos
adução, rotação interna e externa, flexão e extensão de movimentos seletivos e da coordenação motora [30]. Pode-
ombro; pronação e supinação do antebraço; desvio radial e se observar que estes fatores apresentam grande influência
ulnar, flexão e extensão de punho e adução e abdução, flexão na realização do rolar, considerando que os mesmos
e extensão de dedos. Vale mencionar que para este acompanham a lesão encefálica.
procedimento são necessários três terapeutas objetivando No item 2 quanto ao movimento de supino para
controlar os movimentos indesejáveis advindos da lesão sentado para o lado da cama, o voluntário obteve pontuação
encefálica. O mesmo procedimento foi adotado para o igual a 2, pois em decúbito lateral sentou para o lado lesado,
padrão isotônico de membros inferiores. com o terapeuta auxiliando e o paciente controlou a cabeça
Também foram instituídos treinos de rolar e sentar tanto no pré quanto no pós-teste. A posição sentada só é
baseados no Método Halliwick associando exercícios de dominada pela criança quando suas mãos são libertas para
lateralidade corporal. Os exercícios na água visaram à apanhar objetos, tornando-se capaz de virar de lado sem
facilitação, ao controle motor, à repetição e à perder o equilíbrio, passando de deitada para sentada sem
aprendizagem sensório-motora após 7 anos de lesão. ajuda [31]. Assim comparando este item ao desenvolvimento
Após três semanas de tratamento, o voluntário foi postural da criança, percebeu-se que para realização eficaz
submetido às avaliações de função motora a fim de comparar desta tarefa é preciso que principalmente esteja íntegra a
os resultados obtidos. atividade dos membros superiores, fator que se encontra
alterado no lado lesado e além deste em conjunto atuam os
Resultados e discussão déficits de movimento citados anteriormente.
No item seguinte (item 3), o voluntário obteve pontuação
Os resultados obtidos nesta pesquisa em um caso de seqüela de igual a 6 no pré e pós-teste, os deslocamentos solicitados
AVE isquêmico começam ser discutidos pela Modified Motor foram completados sem dificuldades. Todas as atividades
Assessment Scale (MMAS), embora os resultados sejam funcionais normais dependem do controle do tronco assim
semelhantes, percebe-se que o paciente obteve melhora no desempenho como suas bases de movimento [32], por isso é válido
funcional, como mostra a Figura 1. ressaltar a presença deste controle influenciando em
movimentos complexos como os deslocamentos solicitados
Figura 1 – Avaliação do voluntário pela Modified Motor no sentar com balanceio.
Assessment Scale (MMAS). Na seqüência, em relação à avaliação do item sentado
passando para a posição ortostática, adquiriu-se melhora
no desempenho desta função, pois, no pré-teste a pontuação
foi igual a 5, conseguindo passar de sentado para em pé sem
auxílio e pós-teste atingiu pontuação igual a 6 realizando o
sentar e o levantar 3 vezes seguidas num tempo de 10
segundos. Apesar das incapacidades que incluem AVE,
geralmente afetarem a transferência, assim como a marcha
e o alcance, causando inúmeras desvantagens ao paciente
[19], obteve-se resultado satisfatório, além deste efeito
influenciar na realização da marcha e de outros atos de
modo mais independente [33].
Da mesma forma no item Andando, houve melhora
no desempenho desta tarefa, pois, a pontuação pré-teste
foi de 4 pontos, realizando a locomoção sem aditamentos
numa distância de 5 metros durante o tempo de 15 segundos
e no pós-teste atingiu 5 pontos, andando 10 metros sem
aditamentos, virando e pegando uma sacola do chão, voltando
ao local de início num tempo de 25 segundos.
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A diminuição na habilidade de caminhar é um dos muitos aquáticos disponíveis para pacientes neurológicos, realizado
problemas funcionais encontrados nos pacientes pós-AVE através de treinamento repetido. Visto que o treinamento
[34], pois, a marcha depende do controle voluntário, motor é fonte de desenvolvimento cerebral, pois, induz a
propriocepção adequada, equilíbrio do corpo intacto, do mudanças neuroplásticas e aprendizagem motora [40-42].
tônus postural e do movimento, apresentando alterações na Vale lembrar, que a experiência e o conhecimento do
velocidade, cadência, simetria, tempo e comprimento dos terapeuta com essas manobras devem ser consideradas, não
passos, sendo que os seus déficits ocorrem devido à sendo a aplicabilidade desses exercícios uma tarefa fácil,
anormalidades complexas no controle motor [35,3]. Mesmo pois, a alteração tônica pode ser desfavorável à atividade
considerando estes fatores, o resultado alcançado foi positivo, funcional.
pois, houve melhora no desempenho desta função Considerou-se também neste estudo de caso a vontade
relacionada à velocidade e tempo de comprimento dos do paciente em participar do trabalho, visto que anteci-
passos. padamente foi esclarecido o objetivo da pesquisa.
Entretanto no item 6 analisando a função de levantar
o braço, o voluntário obteve pontuação igual a 3 no pré-
Conclusão
teste realizando flexão e extensão do cotovelo em supino,
permanecendo com esta pontuação no pós- teste. Porém,
na observação do movimento, pôde-se perceber que a Concluiu-se que com o programa de exercícios realizados
velocidade e a amplitude do movimento principalmente na água em um caso de AVE isquêmico após sete anos de
na extensão realizada pelo voluntário nesta tarefa foi lesão conseguiu-se melhora da função motora.
significantemente maior do que no pré-teste. Mesmo Analisar a funcionalidade pré e pós-tratamento com a
considerando Bobath [9] e Gianni [36], que afirmam que Modified Motor Assessment Scale (MMAS) foi importante, pois,
a espasticidade moderada altera a velocidade do possibilitou qualificar o desempenho motor.
movimento, o resultado positivo foi obtido sem modificar Esta escala segundo a literatura é de fácil aplicação,
o grau de espasticidade segundo a escala de Ashworth porém, na prática a avaliação pela MMAS decorreu-se com
[37]. dificuldades relacionadas com a experiência em sua aplicação,
Logo, no item 7 o qual graduava a função dos mo- com a disposição do voluntário frente às repetições solicitadas
vimentos das mãos, a pontuação foi igual a 0, pois, não e quanto ao tempo de duração.
se conseguiu realizar movimento voluntário com a mão Vale destacar que os efeitos da piscina terapêutica
lesada, apenas com a íntegra, ocorrendo esta pontuação apontam que a água facilita os movimentos em conjunto
tanto no pré quanto no pós-teste, porém, é válido ressaltar com as técnicas desenvolvidas para este meio, fato que
que a seqüela de hemiparesia é de predomínio braquial. favoreceu a repetição dos movimentos que influenciou na
Ocorrendo da mesma maneira no item 8 para as atividades recuperação motora.
manuais avançadas, atingindo pontuação igual a 0 no pré Em vista a todas estas conclusões, os objetivos da
e pós-teste. Justificando através de Gianni [36], o pesquisa foram atingidos, tendo sido gratificante não apenas
comprometimento do SNC manifesta-se tanto por pelo estudo em si, mas por ter resultado em benefícios para
alterações do tônus gerando espasticidade – desordem do o voluntário, que motivado contribuiu para o desen-
controle motor comum pós o AVE [38] – quanto por volvimento da pesquisa.
alterações do controle voluntário (paresia ou plegia), sendo Este estudo mostrou-se de grande importância, sendo
que a associação dessas duas manifestações é a responsável necessário sua aplicabilidade em maior número de indivíduos
pelas maiores dificuldades apresentadas pelo paciente. para reafirmar os resultados observados.
Através dos resultados da avaliação motora com aplicação
da MMAS, o voluntário obteve melhora do desempenho Agradecimentos
funcional nos itens 4 “Sentado para em pé” e 5 “Andando”.
Discute-se que na área da reabilitação, acreditou-se por Agradecemos a todos que contribuíram para a realização
inúmeros estudos na visão de que os pacientes atingem um deste trabalho de forma direta e indireta, especialmente ao
nível de recuperação motora de seis meses até um ano após voluntário e família e à Faculdade do Clube Náutico
o AVE, podendo ocorrer pequena ou nenhuma melhora até Mogiano pelo incentivo à pesquisa.
o fim de suas vidas. Devido a isto, os casos crônicos de AVE
raramente são encaminhados para terapias que visam Referências
melhora da funcionalidade [39].
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490 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Estudo de caso

Síndrome da dor femoropatelar – eletromiografia,


isocinética e ressonância magnética
Patellofemoral pain syndrome – electromyography, isokinetic,
and magnetic resonance image

Alessandra de Castro Souza*, Bernd Foerster**, Alberto Tannus**, Juliano Caldeira Pereira***,
Debora Bevilaqua-Grossi****, Alexandre Terruggi Junior*, Vanessa Monteiro Pedro*
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Departamento de Fisioterapia – Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, **Grupo de Ressonância Magnética
– Instituto de Física de São Carlos, ***Arquiteto e Urbanista, ****Departamento de Fisioterapia – Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – USP

Resumo respectivamente. Os dados desta pesquisa, dentro das condições


A proposta deste estudo foi analisar a atividade elétrica dos experimentais, sugerem uma maior atividade do componente
músculos vasto medial oblíquo (VMO) e vasto lateral longo (VLL) lateral do quadríceps durante as contrações, o ângulo do sulco
associada à avaliação isocinética do músculo quadríceps, durante troclear maior e um aumento da intensidade e desagradabilidade
contração isométrica voluntária máxima (CIVM) de extensão de da dor no indivíduo com SDFP. Entretanto, outros estudos são
joelho em cadeia cinética aberta (CCA) a 30o de flexão de joelho necessários envolvendo um número maior de voluntários para
juntamente com a análise da dor e os parâmetros de congruência verificar e avaliar melhor as características do indivíduo com SDFP.
articular, evidenciados pela ressonância magnética por imagem Palavras-chave: Síndrome da dor femoropatelar,
(RMI). Foram avaliados dois voluntários, do sexo feminino, eletromiografia, ressonância magnética, isocinético, vasto medial
sedentários; um portador de Síndrome da dor femoropatelar, oblíquo.
sintomático (23 anos) e a outro, clinicamente normal (24 anos).
Para análise da atividade elétrica, foram utilizados dois eletrodos
ativos diferenciais simples de superfície e um Módulo Abstract
Condicionador de Sinais (MCS 1000-v2). O sinal eletromiográfico The aim of this study was to analyze the electric activity of the
foi quantificado pela raiz quadrada da média (RMS), em µV, e vastus medialis oblique (VMO) and vastus lateralis longus (VLL)
normalizado pela CIVM extensão do joelho a 90 graus. Foram muscles associated to isokinetic evaluation of the quadriceps muscle
utilizados também um dinamômetro isocinético para o registro during maximum voluntary isometric contraction (MVIC) of knee
do torque médio máximo (TMM), um equipamento de RMI extension in open kinetic chain (CCA) to 30º flexion (flection) knee
para analise da congruência articular e uma ficha de dor, em mm. besides the pain analysis and the articulate (articular) congruence
Os indivíduos realizaram 5 CIVM de extensão de joelho no ângulo parameters showed by magnetic resonance for image (RMI). Two
de 30º de flexão para análise da eletromiografia e torque médio female, sedentary volunteers were evaluated; one with pattelofemoral
máximo. Na mesma angulação foram realizadas as RMI com pain syndrome, symptomatic (23 years old) and other, clinically
músculo relaxado. Os resultados evidenciaram que o torque médio normal (24 years old). Two simple active diferential surface electrodes
máximo das 5 contrações no indivíduo com SDFP foi de 63 and a signal-conditioning module (1000-v2) were used for electric
(N.m) e do indivíduo normal de 57,3 (N.m). Um aumento da activity analysis. The electromiographic sign was quantified by the
dor também foi verificado no paciente com SDFP (intensidade da Root Mean Square (RMS), in µV, and normalized by the MVIC
dor - de 10mm para 60 mm e a desagradabilidade da dor - de 0 extension of the knee to 90 degrees. An isokinetic dynamometer
mm para 54 mm). Os resultados revelaram que no indivíduo for the registration of the maximum medium torque (MMT), an
com SDFP a atividade elétrica do músculo VLL foi de 45,74 e o equipment of Magnetic Resonance Image (MRI) for analysis of
VMO foi 36,43 e o contrário foi verificado no indivíduo normal, the articular congruence and a pain record, in mm, were used. The
com maior atividade do VMO (70,17) em relação ao VLL (65,29). subjects performed 5 CIVM of knee extension to the 30º angle for
O ângulo do sulco troclear evidenciado no indivíduo com SDFP electromiography and maximum medium torque analyses. MRI
mostrou-se maior em relação ao indivíduo normal, 156o e 145o, with relaxed muscle were performed at the same angulation. The

Recebido 4 de maio de 2004; aceito 15 de julho de 2004.


Endereço para correspondência: UFSCar, Departamento de Fisioterapia – Laboratório de Avaliação e Intervenção em Ortopedia e Traumatologia –
LAIOT, Via Washington Luís, Km 235 – CP 676, 13565-905 São Carlos SP, Tel: (16) 260-8754, E-mail: Vanessa Monteiro Pedro,
vanessa@power.ufscar.br, Alessandra de Castro Souza, Tel: (35) 38217139/9979 3133, E-mail: alesouza@iris.ufscar.br
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 491

results showed that the maximum medium torque in the PFPS 145º, respectively. In the experimental conditions, the data of this
patient was 63 (N.m) and in the normal subject was 57.3 (N.m). An research suggest a major activity of the lateral component of
increased pain was also verified in the PFPS patient (pain intensity – quadriceps muscle during the contractions, a larger trochlear groove
from 10mm to 60mm and pain discomfort – from 0 to 54). The angle and increased intensity and discomfort of pain in the PFPS
results revealed that the electric activity of the VLL muscle was 45.74 patient. However, other studies involving a greater number of
and the VMO was 36.43 in the PFPS patient and the opposite volunteers are necessary to verify and evaluate the PFPS patient’s
occurred in the normal subject, with major activity of VMO (70.17) characteristics better.
in relation to VLL (65.29). In the PFPS patient, the trochlear groove Key-words: patellofemoral pain syndrome, electromyography,
angle showed larger in relation to the normal subject, 156º and magnetic resonance image, isokinetic, vastus medialis oblique.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Introdução Material e método

A Síndrome da dor femoropatelar (SDFP) se desenvolve Voluntários


gradualmente por dor difusa na região peri e retropatelar,
durante ou após atividades como: subir e descer escadas, aga- Foram selecionadas por meio de uma avaliação
char ou permanecer sentado por tempo prolongado [1], fisioterápica do Laboratório de Avaliação e Intervenção em
acompanhada por crepitação e que comumente se alivia com Ortopedia e Traumatologia – (LAIOT), duas voluntárias do
o repouso [2,3], afetando principalmente as mulheres [4]. sexo feminino (23 e 24 anos), sedentárias, que segundo
Para alguns autores a etiologia da SDFP inclui fatores critérios de inclusão e exclusão [15,16], foram classificas
como: trauma, overuse, alteração osteocondral, irritação da plica como sendo: uma portadora de Síndrome da dor
sinovial, frouxidão ligamentar e mau alinhamento patelar [5,6]. femoropatelar, sintomática e a outra considerada clinicamente
Enquanto que para outros, não há um consenso em relação a nor mal, sem história de dor ou lesão do sistema
etiologia, diagnóstico e definição da SDFP [7]. Portanto, ainda osteomioarticular [17,18] (Tabela I). Ambas não
permanecem duvidas sobre as características que possam apresentavam nenhuma história de trauma, deformidades,
definir melhor o perfil do indivíduo com SDFP. disfunção neurológica ou cirurgia prévia [17]. Assinaram
Da mesma forma, Nissen [2] revelou que ainda não está um termo de consentimento informado, seguindo a
claro a associação entre a severidade dos sintomas e a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e o traba-
artroscopia ou achados radiológicos. Por outro lado a eficácia lho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
da ressonância magnética por imagem para avaliação do joelho Universidade Federal de São Carlos.
[8,9] tem sido descrita, evidenciando-se as anormalidades
anatômicas que afetam a articulação do joelho [10]. Tabela I – Distribuição dos sinais e sintomas apresentados pelo indivíduo
Além das investigações sobre a congruência articular, a normal e com SDFP.
atividade eletromiográfica dos componentes medial (VMO) Sinais e Sintomas Normal SDFP
e lateral (VLL) do quadríceps [11,12], e o pico de torque
dos extensores do joelho [13], especialmente nos exercícios Compressão patelar - +
comumente recomendados para sua reabilitação, também Crepitação patelar - +
Ângulo Q 10o 26o
têm sido utilizados na tentativa de se esclarecer melhor as
Patela alta - -
dúvidas que cercam a articulação femoropatelar. Não foi Pronação subtalar excessiva - -
encontrado na literatura consultada, um estudo que Torção tibial lateral + +
comparasse a atividade eletromiográfica dos estabilizadores Geno valgo - +
patelares e o torque médio máximo do músculo quadríceps Tipo de patela Normal Medializada
de indivíduos com SDFP, nem tão pouco associados a Dor a palpação nas facetas - +
avaliação da congruência da articulação femoropatelar pela Mobilidade patelar Normal Hipermóvel
ressonância magnética por imagem, a 30o de flexão de joelho, Dor - +
uma vez que esta ângulo parece evidenciar significados
clínicos importantes da incongruência femoropatelar [14]. Procedimentos
Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar a atividade
eletromiográfica dos estabilizadores patelares associada à As voluntárias familiarizam-se com a equipe,
avaliação isocinética dos músculos da coxa em CCA a 30o de equipamentos e exercícios propostos. Realizaram
flexão de joelho, juntamente com a dor, e avaliar o ângulo do alongamentos, aquecimento e em seguida foram feitas 5
sulco e ângulo de congruência, evidenciados pela ressonância contrações isométricas voluntárias máximas (CIVM) de
magnética por imagem, na tentativa de se investigar as possíveis extensão do joelho, nos ângulos de 30o e 90o de flexão de
causas do mau alinhamento patelar, definindo melhor o perfil joelho, selecionados aleatoriamente por sorteio. Cada
do paciente portador de Síndrome da dor femoropatelar. contração teve duração de 6 segundos e um repouso de 30
492 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

segundos entre cada contração e de 2 minutos em cada como valor de referência para a normalização. E assim que
angulação, para se evitar a fadiga. iniciou a coleta dos dados pelo dinamômetro isocinético, o
eletromiógrafo foi acionado simultaneamente pelo
Torque examinador.

Os testes foram realizados em um dinamômetro Congruência articular


computadorizado (Biodex, Multi – Joint System 3 da Biodex
Medical Systems Inc, New York, USA), com os voluntários A avaliação da anatomia articular foi realizada por um
na posição sentada (ângulo do encosto fixado a 100º) e com equipamento de Ressonância Magnética Nuclear de 0,5
flexão de joelho nos ângulos articulares de 30o e 90o. O eixo Tesla, desenvolvido pelo grupo da Ressonância Magnética
mecânico de rotação do dinamômetro foi alinhado com o do Instituto de Física da Universidade de São Paulo – USP
epicôndilo lateral do fêmur e para minimizar a contração de (Resolução: 256x256 pontos; Dimensão: 128x128 mm;
outros músculos não diretamente envolvidos nos testes, o largura dos planos -THK: 5 mm; distancia dos planos: 6
tronco foi estabilizado com cintos de contenção axilar e mm; Gap: 1 mm; TR=500ms; TE=25ms e Medias = 4) e
pélvico. O membro avaliado foi fixado na região distal, 2cm as imagens foram coletadas em T1.
acima do maléolo lateral junto ao braço de alavanca do Os voluntários permaneceram em decúbito dorsal com
dinamômetro. o joelho, fletido a 30o e quadríceps relaxado [22,14]. Foram
Os voluntários foram orientados a realizar sua força máxima obtidas 9 imagens no plano axial, desde o ápice à base da
durante todo o período das CIVM de extensão de joelho e patela, avaliado-se o ângulo do sulco troclear (AS): formado
estimulados por comando verbal dos pesquisadores e por pela interseção das linhas que passam paralelamente às
estimulo visual do gráfico de torque, que era plotado em tempo facetas medial e lateral da tróclea [10,23,24,9]. É um bom
real no monitor do dinamômetro a sua frente, com o objetivo indicador de displasia femoropatelar, apresentando uma
de manter o traçado do torque o mais estável possível. média de 138 o, estando intimamente relacionado à
instabilidade da articulação [24] (Figuras 1 e 2) e o ângulo
Atividade eletromiográfica de congruência (AC): obtido pela bissetriz do ângulo do sulco
troclear e por uma segunda linha formada entre o sulco da
Para a captação da atividade eletromiográfica dos tróclea e o ápice da patela [10,23,24,9], sendo uma média
músculos VMO, VLL e VLO foram utilizados três eletrodos de -6o para avaliar a subluxação [24], apresentando valor
ativos diferenciais simples de superfície (Lynx Tecnologia negativo com o deslocamento para medial e positivo para a
Eletrônica Ltda), compostos por duas barras paralelas de lateral (Figura 3 e 4). Todas as imagens foram analisadas
Ag/AgCl, que apresentavam um ganho de 100 vezes; além por um médico ortopedista, que selecionou a imagem que
disso, os eletrodos possuíam índice de rejeição do modo apresentava o maior diâmetro da patela que seria utilizada
comum (IRMC) de 80 dB e uma impedância de entrada para realizar as medidas [25]. As medidas foram realizadas
maior que 100 MW. Para reduzir as interferências externas via AutoCAD (versão 2000), realizando-se 3 medidas e
ao sinal EMG, foi utilizado um eletrodo de referência, obtendo uma média. A visão estática das imagens foi obtida
constituído de uma placa metálica, posicionado na para se avaliar características anatômicas da articulação
tuberosidade tibial do mesmo lado do joelho analisado. femoropatelar.
Utilizou-se também um Módulo Condicionador de Sinais
(MCS 1000-v2) de 16 canais, com um ganho de 10 vezes, Dor
interfaciado com um microcomputador Pentium III com
Conversor Analógico Digital – CAD 12/36 – 60K e um Cada voluntária preencheu uma escala visual analógica
Programa de Aquisição de Dados – Aqdados 5.7 for (EVA) de dor, graduada de 0 a 100 mm, avaliando sua
Windows (Lynx Tecnologia Eletrônica Ltda.). Possuía um intensidade (dimensão sensorial) e desagradabilidade
filtro passa-alta de 20 Hz e passa-baixa de 500 Hz. Os (dimensão afetiva) [27] antes e imediatamente após a
sinais eletromiográficos foram amostrados de forma realização do exercício proposto.
sincrônica, com uma freqüência de amostragem de 2000
Hz por canal e foram analisados por meio do Root Mean Resultados
Square – RMS (µV).
Os eletrodos de captação do potencial elétrico do VMO O torque médio máximo (TMM) dos músculos da coxa
e do VLL foram fixados paralelamente às fibras musculares e EMG dos músculos VMO e VLL de uma voluntária
[19], de acordo com os ângulos de inclinação sugeridos por normal e com SDFP, durante CIVM de extensão do joelho
Lieb & Perry [20] e Bevilaqua-Grossi & Berzin [21] a 300 de flexão estão representados na Tabela II e o AS e
respectivamente. O valor máximo de RMS obtido durante AC de ambos os voluntários estão representados na Tabela
os exercícios realizados a 90o de flexão de joelho, foi utilizado III e Figuras 1, 2, 3 e 4.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 493

Os dados da Figura 5 representam a intensidade e Figura 3 – Ressonância magnética por imagem da voluntária com SDFP,
desagradabilidade da dor antes e imediatamente após as evidenciando o Ângulo de congruência (AC) de -25o, formado pela bissetriz
CIVM de extensão de joelho, de uma voluntária normal e (b) do ângulo do sulco troclear e por uma segunda linha formada entre o
com SDFP, a 30o de flexão de joelho em CCA. sulco da tróclea e o ápice da patela.

Tabela II – Média da atividade elétrica (EMG) normalizada (como


porcentagem da CIVM 90o) do VMO e VLL e do torque médio máximo
(TMM) dos músculos da coxa, durante CIVM a 30o de flexão de joelho
de uma voluntária Normal e com SDFP.

TMM (N.m) EMG


VMO VLL

Normal 57,3 70,17 65,29


SDFP 63 36,43 45,74

Tabela III – Média e desvio padrão do ângulo do sulco (AS), ângulo de


congruência (AC), de uma voluntária normal e com SDFP com o joelho
fletido a 30o através de RMI.
Figura 4 – Ressonância magnética por imagem da voluntária com normal,
o o
AS ( ) AC ( ) evidenciando o Ângulo de congruência (AC) de -12o, formado pela bissetriz
Normal 145 ± 3 -12 ± 1,15 (b) do ângulo do sulco troclear e por uma segunda linha formada entre o
SDFP 156 ± 0,58 -25 ± 4,16 sulco da tróclea e o ápice da patela.

Figura 1 – Ressonância magnética por imagem da voluntária com SDFP,


evidenciando o Ângulo do sulco troclear (AS) de 1560, formado pela interseção
das linhas que passam tangencialmente às facetas medial e lateral da tróclea.

Figura 5 – Análise da intensidade e desagradabilidade da dor (mm), antes


(A) e imediatamente após (IA) as CIVM de extensão de joelho a 30o de
Figura 2 – Ressonância Magnética por imagem da voluntária normal, flexão de uma voluntária normal e com SDFP.
evidenciando o Ângulo do sulco troclear (AS) de 1450, formado pela interseção
das linhas que passam tangencialmente às facetas medial e lateral da tróclea.
494 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Discussão músculo VLL foi maior no voluntário com SDFP, sugerindo


uma possível influência do músculo VMO neste paciente,
Ao analisar o TMM do indivíduo com SDFP, verificou- podendo gerar, portanto, uma instabilidade patelar, também
se que este foi maior do que o encontrado no indivíduo evidenciada pelo valor do ângulo do sulco, neste indivíduo.
normal. Da mesma forma, apesar das diferenças A avaliação da dor mostrou que houve aumento tanto da
metodológicas encontradas, um estudo realizado por Mãenpãã intensidade quanto da desagradabilidade da dor nos
et al. [13] também evidenciou um aumento do pico de torque indivíduos com SDFP após as contrações
de pacientes que receberam somente tratamento conservador
quando comparado a pacientes que receberam tratamento Agradecimentos
cirúrgico após sofrerem luxação patelar. Neste caso parece
que existem outros fatores como o tempo de imobilização e Ao CNPq – Projeto Integrado de Pesquisa – Processo no
o trauma cirúrgico que possam estar afetando o controle 524190/96, pelo apoio financeiro. À CAPES pela bolsa parcial.
motor, favorecendo os pacientes que não sofreram cirurgia.
Em relação à avaliação eletromiográfica, o músculo VLL Referências
apresentou maior atividade que o VMO no indivíduo com
SDFP. Por outro lado, o contrário foi verificado no indivíduo 1. Thomée R, Grimby G, Wright BD, Lincre JM. Rasch analysis
normal. Apesar de não termos avaliado a atrofia, a of vísual analog scale measurement before and after treatment
hipoplasia, a inibição ou a falta de controle motor [27], é of patients with patellofemoral pain syndrome. Scand J
provável que a falta de equilíbrio entre o VMO e VL, Rehabil Med 1995;27:145-51.
2. Nissen CW, Cullen MC, Hewett TE, Noyes FR. Physical
proporcione uma instabilidade patelar [28,29] uma vez que arthroscopic examination techniques of the patellofemoral
muitos autores e protocolos clínicos atribuem esta joint. J Orthop Sports Phys Ther 1998;28(5):227-85.
instabilidade dinâmica como sendo insuficiência do VMO. 3. Powers CM. Rehabilitation of patellofemoral joint disorders:
O fato do indivíduo com SDFP apresentar um aumento a critical review. J Orthop Sports Phys Ther 1998;8(5):345-54.
da atividade do músculo VLL e associado a isto, um AS maior 4. Lohman EB, Harp TP. A Critical review of patellofemoral
que no indivíduo normal, sugerindo uma predisposição pain syndrome in rehabilitation. Physical and Rehabilitation
anatômica a luxação patelar, outros fatores precisam ser melhor Medicine 2003;14(3,4):197-22.
investigados, através de estudos de atividades dinâmicas, para 5. Johnson DP, Eastwood DM, Witherow PJ. Symptomatic synovial
plicae of the knee. J Bone Joint Surg 1993;75-A(10):1485-96.
explicar a dor durante a caminhada, subir e descer degraus 6. McConnell J. The management of chondromalacia patellae: A
ou sentar por tempo prolongado onde se requer uma flexão long term solution. Aust J Physiother 1986;32:215-23.
de joelho de 30o ou mais, uma vez que a avaliação deste 7. Wilk KE, Escamilla RF, Fleisig GS, Barrentine SW, Andrews
estudo foi realizada estaticamente. JR, Boyd ML. A comparison of tibiofemoral joint forces and
Entretanto ao analisarmos o AC, este apresentou-se electromyographic activity during open and closed kinetic chain
negativo (tendendo para medial) em ambos os indivíduos, exercises. Am J Sports Med 1996;24(4):518-27.
no ângulo de 30o de flexão de joelho, concordando com os 8. Tennant S, Williama A, Vedi V, Kinmont C, Gedroye W, Hunt
resultados de Kujala et al. [14]. Witonski & Góraj [9] relatam DM. Patello-femoral tracking in the weight-bearing knee: a study
of asymptomatic volunteers utilizing dynamic magnetic resonance
que o AC é negativo durante a extensão e permanece negativo imaging: a preliminary report. Knee Surg Sports Traumatol
com a flexão do joelho a 30 o. Se nós definíssemos as Arthrosc 2001;9:155-62.
articulações femoropatelares como congruentes, onde o AC 9. Witonski D, Goraj B. Patellar motion analyzed by kinematic and
seja zero ou negativo (na direção medial), poderíamos dynamic axial magnetic resonance imaging in patients with anterior
concluir que os joelhos do indivíduo normal e com SDFP knee pain syndrome. Arch Orthop Trauma Surg 1999;119:46-49.
são congruentes a 300 de flexão de joelho. De acordo com 10. Harman M, Dogan A, Arslan H, Ipeksoy U, Vural S.
Kujala et al. [14] muitos pacientes com subluxação patelar Evaluation of the patellofemoral joint with kinematic MR
(77%) também apresentam congruência a 300 de flexão. fluoroscopy. J Clin Imaging 2002;26:136-139.
11. Christou E. Patellar taping increases vastus medialis obliques
Ao avaliarmos a dor, após o exercício de extensão de activity in the presence of patellofemoral pain. Journal of
joelho a 30 o de flexão, tanto a intensidade quanto a Eletromyography and Kinesiology 2004;14:1-10.
desagradabilidade aumentaram apenas no indivíduo com 12. Larsson B, Karlsson S, Eriksson M, Gerdle B. Test-retest
SDFP e a mediada que a intensidade aumentou, a reliability of EMG and peak torque during repetitive
desagradabilidade também aumentou o que não foi maximum concentric knee extensions. Journal of
observado quando comparado com o indivíduo normal. Eletromyography and Kinesiology 2003;13:281-7.
13. Maenpaa H, Latvala K, Lehto M. Isokinetic thigh muscle
performance alter long-term recovery from patellar dislocation.
Conclusão Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 2000;8:109-12.
14. Kujala UM, Osterman K, Kormano M, Komu M, Schlenzka
Os achados desta pesquisa, nas condições experimentais D. Patellar motion analyzed by magnetic resonance imaging.
utilizadas, revelaram que: a atividade eletromiográfica do Acta Orthop Scand 1989;60(1):13-16a.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 495

15. Doucette SA, Goble EM. The effects of exercise on patellar 23. Katchburian MV, Bull AMJ, Shih YF, Heatley FW, Amis AA.
tracking in lateral patellar cornpression svndrome. Am J Sports Measurement of patellar tracking: assessment and analysis of
Med 1992;20:434-40. the literature. Clin Orthop 2003;412:241-59.
16. Morrish GM, Woledge RC. A comparison the activation of 24. Merchant A. Patellofemoral imaging. Clin Orthop 2001;
muscles moving the patella in normal subjects and in patients 389:15-21.
with chronic patellofemoral problems. Scand J Rehabil Med 25. Powers CM, Ward SR, Fredericson M, Guillet M, Shellock
1997;29:43-48. F. Patellofemoral kinematics during weight-bearing and
17. Laprade J, Culham E, Brouwer B. Com-parison of five non-weight-bearing knee extension in persons with lateral
isometric exercises in the recruitment of the vastus medialis subluxation of the patella: A preliminary study. J Orthop
oblique in persons with and without patellofemoral pain. J Sports Phys Ther 2003;33(11):677-85.
Orthop Sports Phys Ther 1998;27:197-04. 26. Gil IA, Barbosa CMR, Monteiro-PedroV, Silverio KCA,
18. Powers CM. Patellar kinematics, part I: the influence of vastus Goldfard DP. Multidisciplinary approach to chronic pain from
muscle activity in subjects with patellofemoral pain. Phys Ther myofascial pain dysfunction syndrome: a four-year/experience
2000;80(10):950-56. at a brazilian center. Journal of Cranimandibular Practice
19. De Luca CJ. The use of surface eletromyography in 1998:17-25.
biomechanics. J Applied Biomech 2004;13:135-63. 27. McConnell J. The Advanced McConnell Patellofemoral
20. Lieb FJ, Perry J. Quadriceps function: An anatomic and Treatment Plan, Course Notes, The University of Sydney,
mechanical study using amputaded limbs. J Bone Jt Surg Lidcombe, New South Wales, Australia; 1996.
1968;50:1535-48. 28. Mariani PP, Caruso I. An electromyo-graplic investigation
21. Bevilaqua-Grosso D, Bérzin F. Vastus lateralis obliquos of subluxation of the patella. J Bone Joint Surg
muscle- Anatomical and clinical correlation. Med De Costa 1979;61B:169-71.
Rica y Centro América 1996;2:123-24. 29. Souza DR, Gross MT. Comparison of vastus medialis
22. Kujala UM, Osterman K, Kormano M, Komu M, Schlenzka obliquus: vastus lateralis muscle intefrated eletromyographic
D. Patellofemoral relationships in recurrent patellar dislocation. ratios between healthy subjects and patients with
J Bone Jt Surg 1989;71(5):788-92. patellofemoral pain. Phys Ther 1991;71(4):310-20. 
496 Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004

Estudo de caso

Treinamento pliométrico para atletas de handebol


portadores de instabilidade multidirecional
na articulação glenoumeral
Plyometric training for handball athletes with multidirectional
glenohumeral instability

Cláudio Calmon G. G. Palha*, Estela M. S. Ferrari**, Adriana R.S. Gomes**


○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

*Acadêmico em Fisioterapia pela Universidade Presidente Antônio Carlos - UNIPAC – Juiz de Fora /MG,**Mestrandas em Educação e
Sociedade pela Universidade Presidente Antônio Carlos - UNIPAC – Barbacena/MG

Resumo Abstract
O atual estudo busca avaliar a efetividade do treinamento The aim of this study is to evaluate the effectiveness of
pliométrico para um atleta de handebol que possui instabilidade plyometric training for a handball athlete with multidirectional
multidirecional da articulação glenoumeral devido a características glenohumeral instability due to generalized joint hipermobility
de hipermobilidade articular generalizada e luxações recidivantes. and recurrent luxation. For this research, 20 physical therapy
Para isto foram realizadas 20 sessões de fisioterapia, três vezes por sessions, three times a week, with one hour treatment duration,
semana com duração de uma hora. O tratamento foi baseado em were carried out. The treatment was based on a strength muscle
um programa de fortalecimento muscular (FM), estabilização program (FM), stability joint and plyometric exercises for upper
articular e exercícios pliométricos para membros superiores. Os limbs. The results were satisfactory at the end of the physical
resultados foram satisfatórios considerando que o atleta ao final therapy treatment considering that the athlete acquired greater
do tratamento fisioterápico adquiriu maior coordenação motora, motor coordination, muscular strenght and throwing ability. After
potência muscular e destreza aos movimentos de arremesso. Com treatment, returned for the team individual training and later was
isso, este retornou ao treinamento individual no time e successfully reintegrated into the team.
posteriormente sendo reintegrado à equipe com sucesso. Key-words: multidirectional instability, handball, plyometry.
Palavras-chave:instabilidade multidirecional, handebol,
pliometria.
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Introdução frouxa, que se insere no lábio. Essa cápsula é fortemente


reforçada pelos lig. GU superior, médio e inferior e pelo
A articulação glenoumeral (GU) é uma articulação forte lig. coracoumeral, que se insere no processo coracóide
sinovial enartrodial ou esferoidal, na qual a cabeça redonda e no tubérculo maior do úmero [1].
do úmero adianta-se com a cavidade glenoumeral rasa da A instabilidade da artic. GU (luxações e subluxações) constitui
escápula. Essa cavidade é ligeiramente aprofundada por uma o segundo grande grupo de queixas relacionadas ao ombro, só
borda fibrocartilaginosa denominada lábio glenoidal. Sendo perdendo para síndrome de impacto. A anamnese para estes
cabeça umeral maior do que a glenóide, em qualquer dos casos deve relatar: A idade em que ocorreu o 1o episódio, pois
pontos durante a elevação, apenas 25 a 30% está em contato no jovem há grande possibilidade de recidiva; O mecanismo
com a glenóide. A articulação GU é mantida por contenções causador do trauma; Repetição e excesso de uso; Presença de
estáticas e dinâmicas. Sua posição é mantida estaticamente instabilidade não traumática, na qual estão presentes fatores
pelo lábio glenoidal e pelos ligamentos escapulares, e anatômicos predisponentes (anomalia de ligamentos, frouxidão
dinamicamente pelo deltóide e pelos músculos do manguito capsoligamentar somente do ombro ou generalizada) e se o
rotator. Ao redor da articulação há uma cápsula articular trauma pode ser provocado voluntariamente por contrações

Recebido 28 de agosto de 2004; aceito 15 de outubro de 2004.


Endereço para correspondência: Estela Ferrari, E-mail: estelaferrari@ig.com.br
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 6 - novembro/dezembro de 2004 497

musculares, acompanhado ou não de alterações do psiquismo neuromuscular com força é denominado pliometria [3]. Os
[2]. O deslocamento da articulação do ombro é relativamente exercícios pliométricos são aqueles que unem força e
comum em esportes como: hóquei sobre o gelo, handebol, velocidade, terminando com uma contração muscular
futebol americano, luta livre. Deslocamentos do ombro são explosiva. São utilizados para o treino neuromuscular reativos
três vezes mais comuns em homens entre 20 e 30 anos do que e facilitação do alongamento e encurtamento muscular
em pessoas com mais de 30 anos. A proporção de deslocamento freqüentes nos esportes de arremesso. Sua função é melhorar
primários entre homem e mulheres é de 9: 1 [3]. a velocidade, potência e habilidades dos movimentos do atleta.
Na instabilidade multidirecional, uma alteração do lig. Os exercícios pliométricos, se mal orientados, podem causar
glenoumeral inferior resulta no aumento do volume capsular, lesões por sobrecarga, como tendinites e fadigas musculares.
dificultando o tensionamento do ombro, impossibilitando a No entanto, o estudo presente, busca correlacionar a
ação dos mecanorreceptores localizados próximos à inserção aplicação de exercícios pliométricos para MMSS de um atleta
ligamentar do lábio glenoidal. Alterações secundárias ocorrem de handebol que possui Instabilidade Multidirecional, com
precocemente no intervalo do rotador e, tardiamente no o desenvolvimento de uma melhor estabilização da
lábio glenoidal e cápsula, devido à instabilidade que piora articulação, coordenação motora, agilidade e potência no
com o tempo de atividade [5]. Pacientes com instabilidade movimento de arremesso, assim como o retorno ao esporte
multidirecional do ombro sofrem subluxações ou luxações com mais rapidez.
em mais de uma direção. A maioria deles apresenta etiologia Além disso, a utilização de exercício. de pliometria para
atraumática e muitos apresentam um componente voluntário membros superiores no tratamento de lesões com
[4]. Estes indivíduos possuem tipicamente uma frouxidão instabilidade do ombro ainda é pouco disseminado, com
ligamentar e capsular generalizada e esta pode se manifestar isso este estudo procura abrir novas portas, um novo campo
por meio da hiperextensão do joelho e do cotovelo, além de para a reabilitação de atletas portadores de instabilidade GU
hipermobilidade do polegar e do ombro [6]. A maioria dos multidirecional.
pacientes com instabilidade multidirecional possui uma
direção primária para que os episódios de instabilidade
Materiais e métodos
ocorram [4]. A instabilidade do ombro crônica é mais
comum em atletas que praticam esportes que envolvem
arremesso ou outras atividades que requeiram a elevação A amostra constituiu-se de um paciente jovem de 17
do braço acima da cabeça. O que parece iniciar a maioria anos, sexo masculino praticante de handebol, que apresentava
dos problemas é uma fadiga crônica dos estabilizadores um quadro de Instabilidade Multidirecional mais específica
anteriores dinâmicos do ombro, cada vez mais tensão é na artic. glenoumeral do membro superior direito devido a
aplicada nos estabilizadores estáticos anteriores provocando três luxações recorrentes e por apresentar sintomas de
gradual estiramento dessas estruturas. O resultado será um hipermobilidade articular generalizada. O estudo foi realizado
desequilíbrio entre a cápsula anterior e posterior, modificando na Clínica-escola de Fisioterapia da Universidade Presidente
assim todo o gesto esportivo (arremesso) [3]. Antônio Carlos, em Juiz de Fora, MG. Para o desen-
O handebol é um esporte rápido, explosivo e de contato, volvimento do estudo, foi realizada avaliação fisioterapêutica
com isso seus atletas estão predisponíveis a desenvolver traumato-ortopédica, na qual constavam dados de
vários tipos de lesões que podem ser causadas por: fatores identificação, anamnese, exame físico e testes específicos, a
pessoais (idade, sexo, agilidade, flexibilidade); e fatores fim de avaliar a instabilidade da articulação GU. No total,
ambientais (tipo de piso e temperatura). O mecanismo de foram realizadas 20 sessões de fisioterapia, três vezes por
lesão também pode ser subdividido em causa indireta semana, no primeiro semestre de 2004, com duração de
(contato com o solo) e causas diretas (contato com oponente uma hora cada sessão.
e contato com a bola). O handebol por ser um esporte de Os equipamentos utilizados para o tratamento
arremesso acrescido pelo fato de que o braço de arremesso fisioterapêutico foram goniômetro, bolas, tubos elásticos,
é freqüentemente bloqueado durante o movimento, expõe maca e balancim. Durante os atendimentos, foram
e sobrecarrega a articulação GU e dos cotovelos, o que empregados métodos cinesioterapêuticos como: FM para
resulta em uma alta incidência de lesões dos MMSS [5]. toda a musc. do manguito rotador (tubos elásticos); exercícios
O sucesso na maioria dos esportes depende de habilidade de estabilização articular (balancim e bolas) e exercícios
técnica, velocidade, força e potência musculares, além de uma pliométricos (medicineball).
série de atividades coordenadas que, juntas, constituem o Para facilitar a análise, foi preenchida uma ficha de evolução
esporte. Enquanto o condicionamento e o treinamento com fisioterapêutica, procedimento rotineiro e obrigatório da
peso podem produzir ganho de força e resistência, a velocidade entidade, que permite melhor acompanhamento do tratamento,
e os movimentos coordenados necessitam de técnicas de na qual constam nomes do paciente, idade, diagnóstico clínico,
treinamento especializadas. Uma forma de treinamento que diagnóstico fisioterapêutico, fisioterapeuta responsável, procedi-
tenta combinar velocidade de movimentos e coordenação mento fisioterapêutico e evolução do paciente em cada sessão.
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Método que significa proximidade da ocorrência de mais uma luxação.


A goniometria foi feita com o paciente deitado em decúbito
O treino pliométrico foi aplicado para os MMSS do dorsal, com o braço direito em abdução a 90º e o cotovelo
atleta após dez sessões que tiveram como principal objetivo também fletido a 90º, antebraço em supinação e palma da
o FM de toda a musc. do manguito rotador, assim como mão voltada medialmente. Percebeu-se, na primeira sessão,
um programa proprioceptivo a fim de recuperar as que a um valor de 50º no movimento de rotação lateral, o
características neuromusculares que obtiveram déficit devido paciente demonstrou-se apreensivo e relatou desconforto
com sensação semelhante à de uma luxação.
às luxações recidivantes. Os exercícios pliométricos foram
Ao final das 20 sessões, foi realizada novamente a
realizados com uma bola (medicineball) de 1 kg, com
goniometria e certificou-se um ganho de 32º no movimento
arremessos contra a parede em alta velocidade e potência.
de movimentação lateral, somando assim 82º ao final do
Foram realizados com as duas mãos, passes de peito, passes movimento, sem presença apreensão e sem sensação de estar
acima da cabeça, passes laterais e passes inferiores (altura luxando. Acredito que os 8º que ficaram pendentes, para chegar
da pelve). Para apenas uma das mãos de cada vez, foram à amplitude de movimento máxima, sejam devido a restrições
realizados arremessos superiores, laterais, inferiores e por musculares (hipertrofia) devido ao treinamento empregado.
fim o backhand. Estipulou-se 30 repetições de arremessos Com isso, foi constatado que o paciente, no inicio do
com descanso apenas no momento de troca de mão nos tratamento, possuía 55,5% da amplitude máxima no
exercícios individuais. A duração deste treino gira em torno movimento de rotação lateral associado à apreensão; Com
de 30 a 35 minutos, variando de atleta para atleta.
a evolução do tratamento, o atleta obteve um ganho de
35,5% na amplitude de movimento, atingindo assim 91%
Relato do caso
de toda amplitude e principalmente sem a associação com a
Paciente praticante de handebol há quatro anos, com apreensão ou sensação de luxação.
caráter competitivo, há um ano e seis meses atrás, teve o Durante a avaliação, percebeu-se que o quadro clínico e
primeiro episódio de luxação da artic.(GU) do membro a história do trauma mostraram-se compatíveis com a
superior direito ao realizar, após o treino, uma “brincadeira” patologia diagnosticada, confirmando o diagnóstico médico.
no vestiário com o companheiro de equipe, onde fez um O tratamento conservador objetivou um equilíbrio entre
movimento de “chicote” com a toalha promovendo um os estabilizadores estáticos e dinâmicos da articulação GU a
deslocamento inferior acompanhado de um anterior da fim de evitar luxações recidivantes. Para o funcionamento
cabeça do úmero em relação a glenóide. Foi realizada a normal e estável da artic. GU deve haver um balanço entre
redução incruenta por um ortopedista, que deu orientações as estruturas musculares e capsoligamentares [11]. Este se
para o paciente a fim de minimizar algias e edemas. O tornou eficaz levando em consideração os resultados obtidos
segundo episódio de luxação esteve relacionado com o gesto com o paciente que conquistou maior ganho de força muscular
esportivo de arremesso. O atleta foi em direção ao gol em toda a musculatura do manguito rotador com o trabalho
lançando a bola e promovendo outra, vem um deslocamento realizado de tubos elásticos, maior controle motor e ativação
inferior e anterior do úmero; foi novamente encaminhado de mecanoreceptores com o programa de propiocepção [10].
ao ortopedista que novamente realizou os procedimentos Readaptações neuromusculares e maior confiança e
padrões. O terceiro e último episódio de luxação ocorrereu estabilidade no próprio ombro durante a realização do gesto
de forma diferente. O úmero se deslocou inferiormente e esportivo (arremesso) devido à pliometria. Relatou-se também
posteriormente à cavidade glenóide. O atleta ao tentar um melhor conforto na realização das atividades da vida diária.
arremessar a bola em direção ao gol, foi bloqueado pelo seu Isso corrobora com a idéia que o tratamento conservador
oponente e teve seu braço impedido de finalizar o focaliza a estabilização dinâmica, a propiocepção e exercícios
movimento, promovendo assim a luxação. de controle neuromuscular (pliométrico). Certas técnicas de
Em virtude destes fatores, foi indicado então o trata- reabilitação, como a estabilização rítmica, as co-contrações, o
mento conservador onde sua queixa principal foi a inca- treinamento de estabilização articular e as manobras de controle
pacidade de jogar o handebol devido à instabilidade adquirida motor, constituem a essência de um programa bem
com as luxações. estruturado [6].
Não podemos descartar a hipótese neste caso de uma
Resultados e discussão intervenção cirúrgica, pois o paciente já possuía história de
três luxações e foi encaminhada para o tratamento
No início da avaliação foi realizada a mensuração conservador somente após a terceira luxação, com isso a
goniométrica, no ombro direito (afetado), no movimento estrutura responsável por toda a articulação do ombro já
de rotação lateral de 0º a 90º; Com a finalidade de constatar estavam muito estressadas, tornando o tratamento de
em que grau o paciente manifesta a sensação de apreensão, reestabilização mais difícil e a instabilidade mais agravada.
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Se o tratamento conservador falha e o atleta continua sendo também foram uma simulação do gesto esportivo,
incapaz de participar dos esportes, poderá está indicada uma favorecendo este atleta a retornar com maior rapidez ao
intervenção cirúrgica [6]. Bigliani sugeriu que um desvio treinamento, primeiramente individual no ginásio do time,
capsular inferior pode corrigir a redundância em todos os podendo futuramente ser reintegrado ao grupo e participar
três lados: anterior; posterior e inferior [7]. de jogos competitivos. Deve-se ressaltar que o treinamento
A aplicação dos exercícios pliométricos foi de muita valia, pliométrico estará sempre associado ao programa de FM e
pois trouxeram ao paciente uma melhor coordenação estabilização articular para obter o resultado esperado.
motora, qualidade de movimentos, maior recrutamento de Dessa forma, a busca do retorno à estabilização em casos
unidades motoras devido à intensidade do exercício, de Instabilidade Multidirecional com luxações recidivantes
readaptação neuromuscular proporcionando segurança ao oferece novos desafios aos fisioterapeutas, porém, existe a
realizar o arremesso. A finalidade do treinamento pliométrico necessidade de estudos mais aprofundados na aplicação da
consiste em realçar a excitabilidade dos receptores pliometria em portadores desse tipo de instabilidade para
neurológicos para uma reatividade aprimorada do sistema que a Fisioterapia obtenha parâmetros para elaboração de
neuromuscular [8,9]. Entretanto, deve-se estar atento sobre novas intervenções e consiga através do tratamento
a aplicação dos exercícios pliométricos, pois estes feitos sem conservador, resultados satisfatórios evitando assim a
supervisão do fisioterapeuta podem levar ao agravamento necessidade de uma intervenção cirúrgica.
do caso 8. A pliometria deve ser usada criteriosamente, pois
pode causar lesões por excesso de uso (overuse). Com o Referências
propósito de reduzir a probabilidade de sofrer uma nova
lesão, os exercícios pliométricos devem progredir de uma 1. Prentice WE, Voight ML. Técnicas em reabilitação
baixa para uma alta intensidade, o atleta deve ser instruído músculoesquelética. São Paulo; Artmed; 2003.
sobre a técnica correta para a realização dos exercícios e o 2. Hebert S et al. Ortopedia e traumatologia. São Paulo: Artmed;
tempo certo de recuperação [6]. 2003.
Vem sendo disseminado que o fator psicológico em 3. Peterson L, Renstrom P. Lesões do esporte. São Paulo: Manole;
pacientes portadores de instabilidade da GU consiste um 2001.
caráter significativo nos episódios de luxações recidivantes 4. Canavan PK. Reabilitação em medicina esportiva. São Paulo:
e na capacidade de reabilitação nestes traumas. Com isso, Manole; 2001.
5. Cohen M, Abdalla RJ. Lesões nos esportes. São Paulo:
pode-se discutir o sucesso do tratamento aplicado em
Revinter; 2003
paciente sem vida atlética e desmotivados à reabilitação.
6. Andrews et al. Reabilitação física das lesões desportivas. Rio
Devemos então considerar todas as variantes na aplicação de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000.
deste tipo de tratamento nas instabilidades de articulação 7. Bigliani LU. Multidirectional instability. Advances on the knee
GU para que este não sofra influências negativas no sucesso and shoulder. Ohio: Cincinnat Sports Medicine; 1990.
do programa de reabilitação. 8. Voight ML, Draovitch P. Plyometrics. In: Albert M. (ed.):
Eccentric muscle training in sports and orthopaedics. New
Conclusão York: Churchill Livingstone; 1991. p.45-73.
9. Wilk KE, Voight ML, Keirns MA et al. Stretch-shortening
drills for the upper extremities: Theory and clinical application.
A aplicação de treinamento pliométrico na reabilitação
J Orthop Sports Phys Ther 1993;17:225-39.
de atletas de handebol portadores de Instabilidade 10. Reimann LB, Lephart SM. (2002): The sensorimotor system,
Multidirecional demonstrou extrema eficácia devido aos Part 1: The physiologic basis of functional joint stability; J
efeitos provocados no paciente. Este demonstrou um Athl Train 2002;37(1): 71-9.
desenvolvimento na coordenação motora, com movimentos 11. Hess SA. Functional stability of the glenohumeral joint in: Manual
mais precisos, velocidade nos dribles e potência no arremesso, therapy. Department of Physiotherapy, University of Queensland,
principal característica deste atleta. Os exercícios pliométricos Brisbane, Australia 2000;5(2):63-71. 
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Normas de publicação Fisioterapia Brasil


A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral 4. Resumo e palavras-chave
e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas (Abstract, Key-words)
relacionadas à Fisioterapia. Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados),
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros seguido da versão em inglês.
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. - Objetivos do estudo.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodolo-
requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J gia, análise).
Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp:// facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados
www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do
mesmo, que será notificado ao autor. 5. Agradecimentos
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
unicamente ao estilo literário. em uma secção especial.
1. Normas gerais 6. Referências
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
(Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem
Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas
texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
especificações anteriores. do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto,
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem páginas inicial e final, ponto.
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
Exemplo:
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material
Livro:
e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também
Capítulo ou parte de livro:
das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por
meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension:
em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven
com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. press; 1995. p.465-78.

2. Página de apresentação Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras


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- Título em português e inglês. trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
acadêmicos. final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
- Local de trabalho dos autores. são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
endereço, telefone e E-mail. disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. abreviação latina et al.
3. Autoria Exemplo:
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of
trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer
conteúdo. Res 1994;54:5016-20.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais
que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de Jean-Louis Peytavin
seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Atlantica Editora
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