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OUTONO 2018
Nº 304 – R$ 10,00
ISSN 2318-7107
n MENSAGEM
04 A iniciação mística
Por CHRISTIAN BERNARD, FRC
18 Destino e antecipação
Por MÁRIO SALES, FRC
10
21 O Nascimento do Alvorecer
Por JACQUES VIESVIL, FRC
36 Liber
Por MARIO SERRANO, FRC
40 Alquimia emocional
Por LUÍS FÁBIO MIRANDA, FRC
36
46 Fórmula para um Mundo Melhor…
Amor, Serviço, Comunicação, Dedicação
Por RUTH OLSON, SRC
50 Sanctum Celestial
“A CHAVE DA FELICIDADE” por H. SPENCER LEWIS, FRC
56 Ecos do passado
UMA HOMENAGEM À HISTÓRIA DA AMORC NO MUNDO
46
2 O ROSACRUZ · OUTONO 2018
O
s textos dessa publicação não representam a palavra oficial da
AMORC, salvo quando indicado neste sentido. O conteúdo dos
artigos representa a palavra e o pensamento dos próprios autores
Publicação trimestral da e são de sua inteira responsabilidade os aspectos legais e jurídicos que
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possam estar interrelacionados com sua publicação.
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Bosque Rosacruz – Curitiba – Paraná Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na Ordem
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e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de
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do mesmo gênero que a nossa: El Rosacruz, em espanhol; Rosicrucian
Digest e Rosicrucian Beacon, em inglês; Rose+Croix, em francês; Crux
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Barajuji, em japonês e Rosenkorset, em línguas nórdicas.
CIRCULAÇÃO MUNDIAL
Propósito da expediente
Coordenação e Supervisão: Hélio de Moraes e Marques, FRC
Ordem Rosacruz n
A Ordem Rosacruz, AMORC é uma orga- n Editor: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
nização internacional de caráter templário,
místico, cultural e fraternal, de homens e
n Colaboração: Estudantes Rosacruzes e Amigos da AMORC
mulheres dedicados ao estudo e aplicação
como colaborar
prática das leis naturais que regem o uni-
verso e a vida.
Seu objetivo é promover a evolução da
humanidade através do desenvolvimento
das potencialidades de cada indivíduo e
n Todas as colaborações devem estar acompanhadas pela declaração do
propiciar ao seu estudante uma vida har- autor cedendo os direitos ou autorizando a publicação.
moniosa que lhe permita alcançar saúde,
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instrução e orientação para um profundo
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Essa antiga e especial sabedoria foi cui-
dadosamente preservada desde o seu n No caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar
desenvolvimento pelas Escolas de Misté- a autorização dos autores, necessária para publicação.
rios Esotéricos e possui, além do aspecto
filosófico e metafísico, um caráter prático. n Os temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas
A aplicação destes ensinamentos está ao rosacruzes, misticismo, arte, ciências e cultura geral.
alcance de toda pessoa sincera, disposta a
aprender, de mente aberta e motivação
positiva e construtiva. nossa capa
No dia 9 de maio p. p. a Grande Loja da
Jurisdição de Língua Portuguesa da AMORC
comemorou 62 anos de fundação. Nossa
capa presta uma justa homenagem aos três
Grandes Mestres responsáveis por edificar e
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Tel (41) 3351-3000 / Fax (41) 3351-3065 A. Moura, Frater Charles Vega Parucker
www.amorc.org.br e Frater Hélio de Moraes e Marques.
Os antigos egípcios compreenderam isso, passar vidas semeando para os outros as se-
e é por isso que as iniciações promovidas em mentes da Luz sem que um dia possamos co-
seus templos incluíam uma fase culminante lher a rosa de nossa própria iluminação. Esses
que é quando os candidatos vivenciavam a iniciados atingiram o estado Rose-Croix e
morte iniciática – ou seja, a projeção. Essa agora são parte integral do que é tradicional-
experiência levou esses candidatos a vivencia- mente chamado de Grande Loja Branca. Além
rem a separação consciente entre seus corpos do grande trabalho que estão fazendo ao
físicos e psíquicos, permitindo que eles ad- servirem à alma coletiva da humanidade, eles
quirissem a clareza intelectual e emocional de são também guardiões da Tradição Rosacruz.
que realmente eram uma entidade espiritual Essa missão cósmica não lhes foi imposta.
encarnada numa individualidade material. Eles a escolheram voluntariamente, pois, por
Tudo foi planejado para que essa morte inici- terem feito do ideal rosacruz a base da maio-
ática e a garantia do renascimento simbólico ria de suas encarnações terrenas, eles são os
permanecessem para sempre gravadas em mais qualificados para garantir que esse ideal
suas mentes e emoções. Vemos aqui a origem permaneça em toda a sua pureza prístina e
da iniciação mística, inspi- esteja acessível a todos os
rada pela definição rosacruz, buscadores de boa vontade.
como foi abordado no co- Conforme afirmei an-
meço deste artigo. Quando teriormente, a primeira
os iniciados retomavam a grande iniciação que os ro-
consciência de seus corpos sacruzes devem se preparar
mortais, marcados para para receber é aquela que
sempre pelo que tinham vis- lhes permitirá vivenciar suas
to no reino da imortalidade, almas, com uma consciência
eles se sentiam impulsiona- clara e compreensão plena
dos por um desejo de obje- dos fatos, no silêncio de seus
tivar ao máximo o estado de Sanctums ou qualquer outro
consciência que vivencia- lugar favorável à harmoniza-
ram. Daquele dia em diante, ção cósmica. Não obstante,
suas iniciações se tornaram a âncora de suas é obvio que essa experiência, independente-
vidas, e eles sabiam secretamente, nas profun- mente de sua significância, não constitui o
dezas de suas almas, que o misticismo lhes summum bonum do processo iniciatório que
traria a revelação do mistério dos mistérios. estamos seguindo sob os auspícios da nossa
A Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis Ordem. Mais tarde, devemos adquirir o do-
é um repositório dos mistérios egípcios e mínio sobre ele e sermos capazes de repeti-lo
do caminho iniciatório que devemos seguir com a frequência que desejarmos, porque
para termos acesso a eles. Esse caminho foi é impossível um dia alcançarmos o estado
estabelecido por todos os iniciados que, com Rose-Croix se não aprendermos a atuar na-
o passar dos séculos, têm legado à Ordem o turalmente tanto no plano espiritual quanto
fruto de todos os esforços que empregaram no material. Os iniciados perfeitos que acabei
para fazer da iniciação mística algo tangível e de descrever alcançaram esse domínio e,
transmissível. Esses iniciados não eram todos desde então, trabalham no nível das causas
perfeitos e não o fingiam ser, mas alguns entre cósmicas uma vez que, quando chegam a
eles se tornaram perfeitos, pois não podemos nós, agimos apenas sob os efeitos terrenos.
H
oje em dia, a maioria dos astrofí- também em documentários realizados sobre
sicos está de acordo ao dizer que o tema, os quais são cada vez mais explíci-
o universo surgiu há cerca de 13,7 tos e atrativos. A esse respeito, rejubilamo-
bilhões de anos após uma gigan- -nos em constatar que o estudo do universo,
tesca explosão cósmica que a comunidade outrora “vulgarizado”, agora é acessível a
científica designa pelo nome de big bang. muitas pessoas, inclusive às crianças.
Em menos de três minutos, essa explosão Se a questão de saber como o universo
produziu a luz e, em seguida, os átomos de se formou é digna de mérito, aquela que
base (hidrogênio e hélio) que formam as nos leva a perguntar “por que” também
galáxias e as estrelas. Paralelamente, apa- o é. Ora, pouquíssimos cientistas se in-
receram as noções de tempo e de espaço teressam por ela, e isto por duas razões
tais como as conhecemos atualmente. fundamentais. Primeiramente, muitos de-
Hoje sabemos que o universo contém bi- les consideram que essa questão depende
lhões de bilhões de galáxias, estrelas, planetas mais da metafísica do que da física, o que
e astros diversos. Além disso, os cientistas é verdade. Em segundo lugar, a ciência em
são convictos de que ele continua a arrefecer geral é predominantemente materialista em
e se expandir, porém não têm certeza quanto seus procedimentos, de modo que exclui a
à questão de saber se ele é finito ou infinito. priori qualquer hipótese espiritualista. Na-
Se por um lado as pesquisas empreendidas turalmente, isto é seu direito, mas ao agir
há muitos anos permitem melhor compre- assim ela permanece encarcerada num ra-
ender a maneira pela qual ele foi formado e cionalismo excessivo que tende a limitar o
como evolui, por outro lado, diversos pontos campo de suas pesquisas e de seus estudos.
permanecem sem explicação. Evidentemente, Sabemos agora que o universo estava
ainda há muito a aprender sobre o universo reduzido originalmente a um centro de ener-
e é pouco provável que o homem chegue gia tão prodigioso quanto minúsculo, posto
um dia a resolver todos os seus enigmas. que era menor que um átomo. Ora, desse
Uma vez que essa carta aberta se endereça átomo primordial, como alguns o chama-
prioritariamente aos cientistas, parece-me ram, emanaram todas as galáxias, todos os
inútil relembrar as grandes fases que mar- sóis, todos os planetas e todos os astros que
caram a criação e a evolução do universo ele contém. Essa constatação representa tal
desde o big bang até seu estado atual. De fato, desafio à razão que podemos ser tentados a
eles as conhecem muito melhor do que eu ver nela um “milagre”, na falta de um termo
poderia descrever. Além disso, essa infor- mais apropriado. O que dizer também do
mação pode ser facilmente encontrada nos processo que culmina no nascimento do
livros que tratam do assunto, assim como ser humano? Nesse caso também a ciência
De fato, é o advento das religiões mono- além do nosso pudessem ser habitados. Nes-
teístas que criou a ruptura entre a espirituali- tas condições, pode-se compreender por que
dade e a ciência. Partindo do princípio que os os espíritos mais esclarecidos daquelas épo-
Livros sagrados (Bíblia e Alcorão) conteriam cas sombrias conduziram suas pesquisas no
a Verdade divina e todo o Conhecimento maior segredo e se distanciaram da religião.
acessível ao homem, elas combateram todos Pela intolerância manifestada contra si
aqueles que procuravam em outras fontes as pela religião, a ciência adotou, por reação,
respostas às perguntas que se faziam. Parale- um procedimento cada vez mais racionalista.
lamente, rotulavam de hereges todos aqueles Essa tendência se radicalizou com o tempo
que ousavam contradizer as Santas Escrituras e deu origem ao cientificismo, atitude igual-
neste ou naquele ponto. Foi assim que inú- mente prejudicial e baseada sobre a ideia
meros sábios e filósofos foram condenados de que apenas a ciência é capaz de explicar
pelas autoridades religiosas, na melhor das tudo. Fazendo da razão o fundamento ex-
hipóteses a se retratarem; na pior, a morrer clusivo de suas investigações, essa corrente
na fogueira. À guisa de exemplo, Copérnico de pensamento, que atingiu seu apogeu no
foi ameaçado pela Inquisição por ter dito que século XIX, seduziu muitos pensadores e se
a Terra é redonda e que gira ao redor do Sol. perpetuou vigorosamente até nossa época.
Giordano Bruno foi queimado vivo em 1600 Lamentavelmente, esse estado de espírito
por haver considerado que outros mundos sempre prevaleceu na ciência, de forma que
geografia, meteorologia, ecologia etc. Da des- Todos conhecem o adágio ciência sem
coberta do fogo até a do bóson de Higgs (que consciência não é nada senão a ruína da
alguns qualificaram de partícula de Deus), alma, que é atribuído a François Rabelais,
que caminho foi esse percorrido pelo homem filósofo e médico do século XVI. É fato que
no uso de suas faculdades mentais! Graças a ciência, como qualquer outro domínio da
ao seu cérebro, do qual ainda se ignora muita atividade humana, pode ser posta a servi-
coisa quanto à sua estrutura e ao seu funcio- ço do bem ou do mal e fazer desse modo a
namento, ele originou a vida em sociedade e felicidade ou o infortúnio da humanidade.
a civilização. Todavia, paralelamente, os seres Infelizmente, como declarou Francis Bacon,
humanos não deixaram de se matar, massacra- eminente rosacruz do século XVII e pai da
ram milhões de animais, esgotaram inúmeros ciência experimental: Poucos são atraídos pelo
recursos naturais, poluíram gravemente o conhecimento para se servir do dom divino da
planeta etc. Isso traz todo o problema de uma razão no interesse da humanidade. É assim
faculdade que, em nossa opinião, transcende que as armas nucleares ou bacteriológicas,
nossas funções cere- os pesticidas de todos
brais: a consciência. os gêneros, as plantas
O que é a consci- transgênicas, a clona-
ência? A maioria dos gem reprodutiva, muitas
cientistas considera vacinas e medicamentos
que ela é produto do duvidosos etc., compro-
cérebro e a compa- metem direta ou indire-
ram ao pensamento, tamente os cientistas. Se
ao qual associam eles houvessem escutado
quatro tipos de ondas a voz de sua consciência
cerebrais: as ondas e pensado unicamente
delta, as ondas teta, no bem comum, teriam
as ondas alfa e as eles utilizado sua inte-
ondas beta, às quais ligência para criar tais
alguns acrescentam “coisas”? Não acredito
as ondas gama (entre 30 e 35 Hz). Os rosa- nisso, pois ciência na consciência é a luz da
cruzes, por sua vez, veem nela um atributo da alma, a qual é fundamentalmente benévola.
alma, que utiliza o cérebro para se exprimir Arriscando surpreender os cientistas
através do corpo e da mente durante sua en- que lerão esta carta aberta, os rosacruzes
carnação. Com efeito, ela é a energia espiritual foram frequentemente precursores, inclusi-
que faz de cada um de nós um ser não apenas ve nas competências desenvolvidas a priori
vivo, mas também consciente. É ela também na ciência. Assim, eles postulam desde pelo
que está na origem daquilo que há de melhor menos o final do século XIX que existe um
na natureza humana e é sob seu impulso que total de 144 átomos na natureza. Na tabela
evoluímos no plano interior. Nesse particular, estabelecida por Mendeleyev em 1869 figu-
aquilo que chamamos comumente de voz da ravam apenas 63. Hoje, temos registrados
nossa consciência não é uma função cerebral, 118, o que nos aproxima lenta, porém, de-
mas uma faculdade espiritual. Lamentavel- cididamente de 144. Na mesma ordem de
mente, pouquíssimas pessoas se dão conta dis- ideias, o ensinamento rosacruz estipula há
so, o que explica o estado caótico do mundo. mais tempo ainda que o ser humano tem
“
Penso na Ordem como a depositária de
Nossa existência vários diários de bordo de todos os místicos
é esta aqui, agora, que já navegaram pelos canais da vida.
Este conjunto de “diários” são as mono-
e é com ela que grafias, as apostilas que a ordem distribui
para seus membros. Ali existem aulas de
devemos lidar, religiosidade e ética para o cotidiano. Ali
serão destacadas a importância da tolerân-
nela devemos cia, da tolerância e da tolerância, talvez a
mais importante das virtudes que o místico
nos concentrar e aprende a desenvolver.
”
Sim, serão ensinadas as técnicas para na-
aperfeiçoar. vegar melhor, também, que mostrarão que
vida é Ordem e Sistema para ser produtiva
minimamente. Que o inesperado sempre
ou fé que lhes for mais adequada. Supõe existirá, mas pode ser enormemente redu-
com isto que assim desenvolvam sensibi- zido pelo esforço de organização que é atri-
lidade e religiosidade, absolutamente fun- buição do intelecto e por escolhas baseadas
damentais para a compreensão de alguns tanto no bom senso como na sensibilidade,
dos mais importantes valores místicos. binômio que nos garantirá, sempre, boas
A atividade intelectual não pode menos- escolhas. Assim, entre um emprego que
prezar a sensibilidade espiritual e a ativida- nos dá mais dinheiro e mais preocupação
de espiritual não pode prescindir de bom e um que nos dê menos dinheiro, mas nos
senso. Assim, na Ordem Rosacruz, inde- garanta maior conforto psicológico, a razão
pendentemente da compreensão de cada um mandaria escolher o primeiro, mas o binô-
do que seja a fé e a religião ou a divindade, mio sensibilidade/racionalidade manda que
todos sentir-se-ão abrigados na fórmula da escolhamos o segundo porque qualidade
oração Rosacruz que diz: “Deus do meu mental é primordial para o bom desempe-
coração, Deus de minha compreensão…”. nho de qualquer profissão. Isso é rosacru-
Este é o primeiro passo. O segundo cianismo aplicado. Estamos, com escolhas
passo é mais fácil. Aplainadas as diferen- mais ponderadas, construindo as bases de
ças pela tolerância, pode-se dar início à uma vida mais sólida e equilibrada, material
preparação de uma educação ética para o e espiritualmente. Embora os rosacruzes se-
iniciando. Ele poderá ser preparado para jam geralmente defensores do reencarnacio-
ver na existência o convívio harmônico de nismo, jamais pregamos que devamos viver
diferenças. E aí estará recebendo uma for- em função de uma vida passada ou para
mação semelhante à preparação necessária uma vida futura. Nossa existência é esta
para ser um bom gondoleiro em Veneza. aqui, agora, e é com ela que devemos lidar,
Ora, viver é navegar em lugares desco- nela devemos nos concentrar e aperfeiçoar.
nhecidos, mas mesmo se muitos forem os Todos os diários de bordo que possamos
mares, alguém os terá navegado antes e terá ler nos serão úteis em antecipar possíveis
com certeza deixado diários de bordo sobre surpresas. E assim, como naquela tarde
essas viagens, que serão bem mais arriscadas em Veneza, navegaremos com tranqui-
que os pequenos canais da cidade italiana. lidade, sem sustos desnecessários. 4
Barqueiro,
Dos nossos passos a trilha reconhece,
Caminhos paralelos
no tempo seguimos,
Mil vezes sete vidas na terra de ancestrais
bastaram
para o espaço medir
entre as colunas.
Longa é de fato
a estrada.
Íngreme é a subida.
Mas é a nossa estrada.
Dos nossos passos o som entre palavras
é como do mar a rebentação
nos rochedos
em dia tempestuoso.
Do tempo um longo tropel,
a todo custo o portal buscando.
Mas eis que já
o vento enfraquece,
a noite termina,
a verdade um alvorecer
lampeja.
Barqueiro,
é hora de partir. 4
Demócrito,
óleo sobre tela
de José de
Ribera, 1630
Platão (c.427-347 a.C.), pupilo de Só- não ter criado uma escola formal como Pla-
crates, criou a dialética4 , celebrizou-se tão e Aristóteles. Apesar da história mencio-
por sua Alegoria da Caverna e como fun- nar seus estudos no Egito, Pérsia e Babilônia,
dador da Academia em 387 a.C., a pri- Demócrito viveu em Abdera, uma colônia na
meira universidade do Ocidente, a qual costa do mar Egeu distante do brilho de Ate-
permaneceu ativa cerca de 900 anos. nas, pólis que Platão ostentava como a “sede
Aristóteles de da Sabedoria”.
Estagira (c.384-322 Consta que De-
a.C.) ainda adoles- mócrito ria muito e
cente radicou-se Demócrito,
óleo sobre tela
recebera a alcunha
em Atenas onde de Henrick de “Filosofo Ri-
Jansz
foi aluno de Platão. sonho”, a qual, na
Quando Demócri- Renascença foi a
to morreu, dada provável inspiração
a incerteza dessa para a criação da
data, ele seria mui- tela Democritus6,
to jovem ou ainda com ar zombetei-
nascituro, o que ro, por Hendrick
não o impediu de Jansz ter Brugghen
tornar-se seu mor- (1588-1629). Essa
daz oponente. Em suposta caracte-
335 a.C. Aristóteles rística do filósofo
estabelece o Liceu. também pode ter
Famoso por sua te- contribuído para
oria do silogismo5, não ser levado
estudar lógica, sig- muito a sério,
nificou por séculos pois ele “na época
estudar a lógica de Demóstenes
de Aristóteles. (384-322 a.C.)
Sócrates, tinha adquirido
Platão e Aristóteles permanecem vivos uma reputação de estupidez e tolice” (CAR-
na memória popular, porém, este estu- TLEDGE, 2001, p. 15). Talvez por sua expressão
do revela que devemos a Demócrito um risonha e por não discutir suas ideias.
honroso lugar de destaque nesse pódio. Ignorado por Platão, que nunca o men-
cionou pelo nome, Demócrito sofreu con-
O nada não pode testação póstuma de Aristóteles, que pregava
ideias opostas. Motivos não faltaram para ser
dar origem a esquecido, apesar de estar certo ao dizer que
só existiam átomos e vazio no universo infini-
alguma coisa to, e Aristóteles estar errado ao discordar do
falecido colega. Porém, Aristóteles possuía
Admirado pelo mundo científico, Demócrito autoridade suficiente para lançar uma pá
caiu no esquecimento popular por fatores de cal na reputação de alguém que, além de
negativos que teve contra si, inclusive por ser menosprezado por Platão, já morrera. O
* Sergio Silva nasceu em São Paulo, 1942, e reside em Belém desde 1975 – e-mail: ss@baruch.net.br
Bibliografia: ANDREA, Raymund. Somos anormais? / O Rosacruz. n. 291. p. 53-54. Curitiba: Ordem Rosacruz AMORC, Verão 2015. (Extraído
da edição jun/1930 da revista Rosacrucian Digest); BACON, Francis. Novum Organum. Tradução e notas: José Aluysio Reis de Andrade.
Digitalização Membros do Grupo Acrópolis: Versão eBooksBrasil.org / Fonte O Dialético, 2002. (Publicação original em 1620); CARTLEDGE,
Paul. Demócrito e a política atomista. Tradução por Angelika E. Köhnke. São Paulo: Editora Unesp, 2001; ENGUIÇA, Cristóvão. O medo. /
O Rosacruz. n. 293. p. 28. Curitiba: Ordem Rosacruz AMORC, Inverno 2015; GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da
filosofia. / Jostein Gaarder; tradução João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995; GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos
mitos de Criação ao Big-Bang. São Paulo: Companhia das Letras, 1997; HAWKING, Stephen; MLODINOV, Leonard. O grande projeto: novas
respostas para as questões definitivas da vida. / Stephen Hawking e Leonard Mlodinov; tradução Mônica Friaça. Rio de Janeiro: Nova Fron-
teira, 2011; LEWIS, H. Spencer. Perguntas e respostas Rosacruzes: Biblioteca Rosacruz / Coord. Superv. Charles V. Parucker. 5. ed. Curitiba:
Ordem Rosacruz AMORC, 1990; ______. O retorno da alma. / Tit. orig. Soul’s Return / Coord. Superv. Charles V. Parucker. 4. ed. Curitiba: Or-
dem Rosacruz AMORC, 1991; MARQUES, Edgar. Leibniz acerca de almas, corpos, agregados e substâncias na discussão com Fardella (1690).
Kriterion, Jun 2010, vol.51, no.121, p.7-20. ISSN 0100-512X. (Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
-512X2010000100001>. Acesso em: 17/12/2017); TOUSSAINT, Serge. Qual é a finalidade da reencarnação? / O Rosacruz. n. 299. p. 26-27.
Curitiba: Ordem Rosacruz AMORC, Verão 2017.
Notas: 1. Pesquisa realizada em Belém-PA entre 25 e 28 de agosto de 2017, com universo de 95 participantes; 2. Paul Cartledge é professor
de História Grega na Universidade de Cambridge; 3. Maiêutica significa a arte de parturejar; método socrático que consiste numa sequência
de perguntas, induzindo o interlocutor à descoberta de suas próprias verdades; 4. Dialética – processo de diálogo. Debate entre interlocuto-
res comprometidos com a busca da verdade; 5. Silogismo – termo com o qual Aristóteles designou a lógica perfeita, constituída de duas pre-
missas que conduzem a uma conclusão; 6. Democritus, óleo sobre tela do holandês Hendrick Jansz ter Brugghen, em 1628, 85x70 cm doada
em 1916 para o Rijksmuseum Amsterdam, Holanda; 7. Sir Francis Bacon, ensaísta, estadista, filósofo, cientista inglês, considerado fundador
da ciência moderna, recebeu títulos de nobreza e exerceu muitas atividades. Foi Imperator da Ordem Rosacruz; 8. De revolutionibus orbium
coelestium - (“Das revoluções das esferas celestes”). Obra do polonês Nicolau Copérnico, publicada em 1543; 9. Jostein Gaarder nasceu na
Noruega em 1952. Ganhou projeção internacional com seu livro O mundo de Sofia, traduzido para mais de 40 idiomas; 10. Marcelo Gleiser
nasceu no Rio de Janeiro, 1959. Doutorado pelo King’s College na Inglaterra, fez carreira em várias instituições norte-americanas onde lecio-
na física e astronomia. Recebeu bolsas da NASA e o Presidential Faculty Fellows Award, 1994, de Bill Clinton, por pesquisas em cosmologia;
11. Espírito, em resumo, é a energia que exerce a força de atração, adesão, coesão e repulsão que dá forma e vida à matéria mediante a
constante vibração dos átomos que a compõe e mantém a sua eternidade. No século XIX Kardec desfigurou o termo, dando-lhe outro senti-
do que, popularizado, se mantém até hoje; 12. Serge Toussaint, FRC - Grande Mestre da Jurisdição de Língua Francesa da Ordem Rosacruz,
AMORC; 13. Harvey Spencer Lewis, FRC, PhD, escritor, jornalista, publicitário, filósofo, cientista, artista plástico e humanitário, Imperator da
Ordem Rosacruz AMORC de 1915 a 1939; 14. Edgar Marques – Professor do Departamento de Filosofia da UERJ (edgarm@terra.com.br).
Que somos
Que somos? – Seres humanos, pode ser a resposta. Mas isto diz como nos chamamos; não diz
o que somos.
Será que isto diz o que somos? Não. Apenas nos dá um nome específico, que nos distingue de
seres não vivos e não racionais. Na realidade, fomos bastante infelizes em nos termos apegado
tão enfaticamente (talvez orgulhosamente) à nossa racionalidade como a nossa grande ou
fundamental característica. Somos racionais, sim, e esta é a nossa diferença imaterial mais
evidente e proveitosa em relação aos demais seres vivos do reino animal deste mundo.
Mas a questão é:
– será esta a nossa característica mais importante?
ou – será esta a característica que encerra a nossa maior potencialidade (o nosso maior
potencial de ser), a verdade última e profunda do que somos?
Não temos consciência direta e comum dessa verdade última e profunda do que somos.
Fazemos deduções a este respeito, a partir da nossa consciência de como somos (usando a
nossa racionalidade). O “como somos” é o nosso “funcionamento”, que podemos conhecer
pela experiência direta de sermos humanos; é a “superfície” do nosso ser, mas pode nos dar
indicações sobre as “profundezas” do nosso ser.
Como funcionamos
Vamos então pensar um pouco no
nosso “funcionamento”, para ver que conclusões podemos tirar quanto ao que somos.
Por observação direta do nosso “funcionamento” (auto-observação), percebemos que o nosso ser
manifesta a sua natureza (ou as potencialidades da sua natureza) em três funções básicas:
Mas,
Portanto, se quisermos conhecer ISSO que somos, teremos de conseguir sentir a nós mesmos
A Função Percepção
Olhamos e vemos. Que vê, quando olhamos e vemos? Os olhos? O cérebro? Não.
E assim para os nossos outros quatro sentidos ditos “físicos”. Aliás, serão mesmo físicos os nossos
sentidos? Na proposição que estou fazendo aqui, NÃO! São físicos os instrumentos – os olhos e
o cérebro; os sentidos, propriamente, não – estes são manifestações da função perceptiva própria
DISSO que SOMOS.
Uma percepção, portanto, através de qualquer dos sentidos ditos físicos, é uma SENSAÇÃO nossa
– e sensação é função de consciência.
A Função Pensamento
Você já pensou no que é pensar? – Simplificando: pensar é associar (combinar) ideias.
Mas, que é uma ideia? Que acontece em nós quando nos ocorre uma ideia (simples ou complexa)?
– Uma sensação na nossa consciência.
– Percepções imediatas;
– percepções evocadas da memória;
– a própria função associativa lógica.
A Função Emoção
Mais evidentemente do que nos casos anteriores, emoção é SENSAÇÃO. Sensação de ser num certo
estado, ou, sensação de um estado de ser – caracterizado por sua natureza impulsiva, “automática”,
independente da racionalidade e da vontade.
Simplificando:
percepção é sensação;
pensamento é sensação;
emoção e sensação.
Logo:
Ou:
* Frater Zaneli Ramos é Membro da Ordem Rosacruz, AMORC desde 1963. Trabalhou na Grande Loja da Jurisdição de
Língua Portuguesa de 1978 a 1999, onde exerceu várias funções, entre elas a Coordenação do Sistema de Ensino, Chefe
da Divisão de Tradução e também Supervisor do Setor de Editoração.
Filósofo e Rosacruz exemplar, é autor de vários artigos publicados em nossas revistas e os livros “O Espírito do Espaço”
e “Ser no Ser”, ambos publicados pela AMORC-GLP. Frater Zaneli cativa seus leitores pelo seu estilo único de escrever.
“
coisas progressivamente, é uma expressão particu-
pois se pudéssemos ter O livro lar da lei do triângulo:
uma vista de conjunto uma das pontas é o
– uma visão global e só nos fala, depósito de saber que
total e, portanto, uni-
tária – não nos sen-
portanto, se nós se ignora (o livro),
que é passiva; outra
tiríamos “livrados”?
Então podemos
o interrogarmos. ponta é aquele que
deseja, que aspira
nos perguntar o que Do contrário, por a tomar conheci-
o homem teria in-
ventado no lugar do si mesmo, nada mento desse “cor-
pus” de saber que ele
livro para transmitir
seu saber. As maravilho-
sas catedrais do Ocidente
cristão não dão também teste-
dirá.
” consegue imaginar que
existe, mas do qual está
no momento desprovido, e
que é ativa; e a terceira ponta
munho de um fabuloso saber para é o conhecimento conscientizado
aquele que sabe decifrá-las? A Grande Pirâ- ou, se preferirmos, consciente de si mesmo.
mide do Egito também não é um livro ex- Ele sabe aquilo que sabe, e sabe que sabe.
traordinário para aquele que conhece a lin- A terceira ponta possui, por conseguinte,
guagem, outrora reservada aos iniciados, dos a qualidade das outras duas, porém exis-
números, da astronomia, da geografia etc? te num nível superior de manifestação.
como tão bem exemplificado pela filha de proporcional ao fato?”. Em geral, esta reflexão
Freud, Anna, em sua obra “O ego e seus me- produz resultados imediatos e permanentes.
canismos de defesa”. Neste caso, a avaliação Se não conseguirmos nem a transmutação
de um psicólogo ou médico psiquiatra faz- nem a redução, mesmo no patamar 2, neces-
-se não apenas necessária, mas essencial. sitaremos de ajuda para nos auxiliar no pro-
Mas vamos então focar o nível 2, aquele em cesso. É o caso também da “virtude proble-
que talvez possamos tentar resolver o proble- mática”, quase sempre mais difícil de ser tra-
ma por nós mesmos. É aí que se aplica a Al- balhada pela própria pessoa, pois depende de
quimia Emocional, que pode ser feita através um aprofundamento na causa bastante com-
de uma transmutação ou de uma redução. plexo para se descobrir o porquê de o medo
A transmutação consiste em transfor- que a inibiria parcialmente não estar funcio-
mar uma emoção negativa em positiva. Por nando. De toda forma, nossas considerações
exemplo: podemos sentir uma grande e inex- neste artigo não têm qualquer intenção de
plicável antipatia por alguém logo em nosso substituir ou de constituir uma alternativa
primeiro contato, levando- aos serviços dos profissionais
-nos a ter problemas no de saúde física e mental.
trabalho ou na vida pes- Já se foi o tempo em
soal. Refletindo sobre que a ciência olhava com
este fato, é bem possível descrédito a importân-
que identifiquemos cia dos nossos esta-
uma outra pessoa, no dos emocionais. Nas
passado, que nos tenha últimas décadas, ela
ofendido ou magoado, nos surpreendeu com
e que possuía certas descobertas e pesquisas
características em co- importantes, que levaram
mum com o nosso atual ao conceito da “Inteligên-
desafeto. Quando isto cia Emocional”, termo
acontece, a antipatia utilizado por Michael
que sentimos se trans- Beldroch em um artigo
muta em compreensão de 1964. O assunto foi
e aceitação, uma vez que popularizado bem depois,
descobrimos a sua causa e percebemos que por Daniel Golemann, em seu famoso livro
não há relação efetiva entre as duas pessoas. de mesmo título, publicado em 1995. Basea-
Mas a Alquimia Emocional pode se do em observações, pesquisas e estatísticas
resumir apenas a uma redução de algum que certos membros da comunidade cien-
sentimento negativo forte que possamos ter, tífica ainda se recusam a aceitar, Golemann
levando-o ao nível normal. Isto não é difícil afirmou que um baixo Quoeficiente Emo-
de ser feito se identificarmos claramente qual cional pode arruinar a vida pessoal e profis-
é o medo que está gerando o excesso. Em se- sional de muitos que têm um excelente dote
guida, podemos então focar tal causa, através intelectual. Porém, devemos considerar a
de um autoquestionamento: “Por que tenho realidade histórica de que quase toda quebra
este medo?”; “Quando, onde e como comecei de paradigma é recebida de forma cautelosa
a me sentir assim?”; “Há algum motivo real e às vezes cética, seja pelo público em geral,
para que eu sinta isto?”; “Meu medo é des- seja até mesmo por estudiosos da área.
”
nós mesmos, constituindo um caminho ínti-
mo para os sete degraus do chamado “Opus vezes cética…
Magnum” da alquimia pessoal, que se inicia
com a sinceridade da busca sem peconceitos,
leva ao encontro da senda mística, propicia com que o bebê já nasce, são autoprovoca-
as Iniciações, os estudos, as reflexões e os ex- das. Até as doenças genéticas só são “dis-
perimentos para a obtenção do autoconheci- paradas” pela mente do próprio indivíduo.
mento, expande a compreensão de si próprio, Observando seus pacientes, o Dr. Marco
amadurece com a aceitação integral do “eu”, Aurélio concluiu também que mesmo os
para finalmente atingir o incondicional “amar acidentes são também “procurados” pela
a si mesmo”, sem o que não conseguiremos pessoa, de maneira não-consciente. Se isto
jamais “amar verdadeiramente o outro”. estiver correto, um leitor mais atento dedu-
Não sentir adequadamente as emoções ziria então que praticamente toda morte é
leva ao tédio – uma condição doentia, hoje na verdade um suicídio, explícito ou não.
conhecida como causadora de muitos pro- De qualquer forma, existem várias teorias
blemas, desde o envolvimento com drogas sobre quais seriam as emoções básicas do ser
até a prática dos chamados esportes radicais. humano. Se, porém, refletirmos adequada-
Isto também necessita tratamento profissio- mente, veremos que há apenas uma emoção
nal, pois mesmo os que não enveredam por fundamental e universal: o amor – a força
tais caminhos, em que se prejudica a saúde de atração, de coesão, eterna e sem limites,
ou se coloca em risco a própria vida, são criando e recriando o universo, despertando
estatisticamente duas vezes mais propen- em nós as “virtudes”. Quando tal emoção se
sos a sofrerem um enfarte ou a um AVC. ausenta, mesmo que parcialmente, temos o
Os antigos místicos já sabiam; a Medicina medo: a separação, a dispersão, correspon-
moderna está apenas redescobrindo o fato dente ao temporal, limitado, pontual. Gera
de que grande parte – se não a totalidade nossos “defeitos” e assim protege e equilibra
– das nossas doenças são causadas por nós a vida. Isto demonstra na prática o que os
mesmos, por aquilo que está no nosso sub- Rosacruzes sempre afirmaram: as trevas não
consciente. No Brasil, podemos destacar o existem como entidade; elas surgem simples-
trabalho do médico cardiologista Dr. Marco mente quando ocorre a escassez da Luz. 4
Aurélio Dias da Silva, consolidado no livro
“Quem ama não adoece”, onde demonstra *Luís Fábio Miranda é engenheiro formado pela USP, escritor
nos idiomas inglês e português, tendo se afiliado à Ordem
como as emoções influenciam no processo Rosacruz em 1964. Trabalha na divulgação da AMORC desde
da doença e da cura. Tendo iniciado a sua 1977, ministrando Palestras Públicas e Cursos no Brasil e no
exterior. Outras informações: www.luisfabiomiranda.com
carreira como um cético, após décadas de
prática médica, ele chegou à conclusão de Nota: 1. Carta de Clarice Lispector a Tania Kaufmann, em
06.01.1948. “CORRESPONDÊNCIAS” – Clarice Lispector.
que todas as doenças, com exceção daquelas Organização de Teresa Monteiro. Editora Rocco, 2002, p. 164.
O
título deste artigo verdadeira relação para com de Deus, a chamada indi-
sugere que há uma Deus e toda a humanidade, vidualidade humana perde
certa chave, espe- para recebermos essa mara- todo o seu significado e nos
cífica, que, uma vez obtida, vilhosa chave. Deus criou o apercebemos de nós mes-
há de nos abrir a porta para homem e nele infundiu uma mos, ou nos reconhecemos,
a Felicidade. O fato de que parte de Si mesmo, a fim de tão-somente como humildes
essa chave existe não pode que o homem fosse feito à almas, intimamente ligadas a
ser posto em dúvida por Sua semelhança, ou à Sua todas as outras almas, como
aqueles que a receberam, de imagem. Criados à imagem partes necessárias a integrar
modo que somente aqueles de Deus! Perfeitos, puros, e compor a unidade do todo.
que a ignoram demonstram imutáveis, imortais! Dotados O homem, portanto,
ceticismo quanto à sua exis- de todas as qualidades de não está individualizado,
tência. Tendo-a conseguido, Deus, porque Deus não po- nem no corpo nem na alma,
possuímo-la para sempre; deria criar coisa alguma que pois, animicamente, é parte
não podemos perdê-la, ainda fosse menos perfeita do que de Deus, e, materialmen-
que a emprestemos a outrem Ele próprio. E quando nos te, é feito da substância da
ou tentemos jogá-la fora. tornamos plenamente côns- Terra, que, por sua vez, é
É necessário alcançarmos cios desta grande verdade também parte de Deus. A
a compreensão de nossa e sabemos que somos parte interdependência do homem
“ Palavras iradas
e brigas ocorrem
somente porque há duas
pessoas permitindo
que elas ocorram.
”
54 O ROSACRUZ · OUTONO 2018
“
Tenhamos sempre a
máxima consideração para
com os outros, em todos
os nossos pensamentos,
atos e palavras.
Ela responde com irritação.
”
da. E se as coisas continuam de desfrutar desse direito
Replicamos no mesmo tom. assim, logo um lar perfei- é o seu próprio insensato
Vem então a briga e ambos tamente feliz desmorona. egoísmo. Por estarmos tão
vamos deitar profundamen- Devemos então consi- concentrados em nós mes-
te desgostosos com a vida, derar que, se compreendês- mos, deixamos de gozar a
de modo geral, e especial- semos a causa, o motivo de felicidade que deveríamos
mente com nós mesmos. todas essas condições, sabe- ter e sempre viver. Estamos
Pode também ter acon- ríamos então como enfrentá- tão orgulhosos de nossa
tecido que algo andou mal -las, de modo que nunca pretensa independência que
no escritório. Chegamos em provocassem um efeito de- construímos uma muralha
casa preocupados, descor- sarmônico em nós mesmos. ao nosso redor, que a bon-
çoados. O jantar não está Em primeiro lugar, não lhes dade, a alegria, a conside-
pronto, o bebê começa a teríamos oferecido resistên- ração e o amor não podem
chorar, ou o filhinho mais cia e, assim, não permitiría- penetrar; e somente quando
velho faz alguma pergunta mos que adquirissem maior destruirmos essa muralha
aparentemente tola. Damos energia. E, tendo-as compre- e nos conscientizarmos de
uma resposta zangada, chu- endido, sempre encontrarí- que somos parte de Deus,
tamos o cachorro e começa- amos as causas de todas as e não criaturas separadas,
mos a nos queixar de tudo. discórdias da vida, e sería- é que a verdadeira felici-
Talvez pensemos que nossa mos capazes de eliminá-las dade estará conosco e co-
esposa não compreenderia sem qualquer dificuldade. nosco permanecerá, agora
se explicássemos e preferi- Resumindo, a verdadeira e para todo o sempre.
mos engolir o nosso abor- chave da felicidade, apli- Pensem nisto! Vocês
recimento. Ela faz alguns cável a todos, é: Tenhamos tentaram ser felizes de ou-
comentários que interpreta- sempre a máxima conside- tro modo. Agora, tentem
mos erradamente e lhe di- ração para com os outros, ser felizes deste modo! 4
zemos algo descortês ou um em todos os nossos pensa-
tanto irônico. Por sua vez, mentos, atos e palavras.
desconhecendo as contra- Deus nunca pretendeu Nota do editor: Atualizando esta analo-
riedades por que passamos que o homem fosse infeliz. gia, podemos dizer que uma mensagem
enviada pela internet, passa por um
durante o dia, ela faz uma A felicidade é um direito servidor, depois por outro, rapidamen-
observação que nos leva a inato do homem, e o único te se espalhando por toda a rede. E
todos os servidores, em conjunto, se
revidar, e a briga está forma- fator que o está impedindo assemelhariam à Mente Cósmica.
Legendas:
Como posso ter acesso à vida além dos sentidos, de modo que eu veja DEUS e O ouça falar?
Se podes por um instante penetrar esse lugar que nenhuma criatura habita, então ouves aquilo
que DEUS diz.
Por qual meio devo ouvir e ver DEUS se Ele está além da natureza e da criatura?
Quando te calas e repousas, então és aquilo que era DEUS antes da natureza e antes da criatura;
aquilo do que Ele fez tua natureza e tua criatura. Então tu O ouves e O vês por aquilo através do
que DEUS via e ouvia em ti antes que começassem teu próprio querer, tua própria visão e tua
própria audição.
S.I.
A
humanidade recebe de tempos em tempos personalidades-
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“Tenho o desejo de realizar uma tarefa importante na vida. Mas meu primeiro dever está em
realizar humildes coisas como se fossem grandes e nobres.”
– Helen Keller