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VII Congresso Latino-americano de Estudos do Trabalho

Artigo
A organização do trabalho nos garimpos em
áreas rurais: o caso do caulim na região do
Seridó, Estado da Paraíba

José Aderivaldo Silva da Nóbrega. Mestre. UFCG e Escola Estadual


Pe. Jerônimo Lauwen
Marilda Aparecida de Menezes. Doutora. PCHS/UFABC e
PPGCS/UFCG
Este artigo foi baseado na pesquisa de Mestrado,
desenvolvida no PPGCS/UFCG em 2012, que resultou
na dissertação intitulada: HOMENS
SUBTERRÂNEOS: O trabalho informal e precário nos
garimpos de Junco do Seridó.

O objetivo da dissertação foi analisar as dinâmicas que


organizam o processo produtivo da extração de caulim
nos garimpos de Junco do Seridó e de que maneira elas
configuram o trabalho informal e precário.
• O nosso objetivo, neste artigo, é discutir como tem
sido a organização do trabalho garimpeiro em áreas
rurais, o perfil dos trabalhadores e a associação do
garimpo com a agricultura;

• Para tanto, tomaremos como estudo de caso o


município de Junco do Seridó,no Estado da Paraíba,
onde a pesquisa de Mestrado foi desenvolvida;
• O município de Junco do Seridó
• Junco do Seridó possui 160,10km2 e seu acesso, para
quem vem da Capital do Estado, João Pessoa, ocorre
pela BR 230.

• Segundo dados do IBGE referentes ao Censo


Demográfico de 2010 o município conta com uma
população de 6.643 habitantes residentes dos quais
4.369 estão localizados na área urbana e 2.274 são
moradores da zona rural;

• Isso representa, em termos percentuais, 65,8% na


cidade e 34,2% morando no campo.
• Se trata de um município onde a atividade agrícola é
muito importante, sobretudo, no que se refere ao
cultivo de feijão, milho, batata, macaxeira, melancia;

• Existem áreas de plantio irrigado que produzem


tomate, castanha de caju e banana;

• No espaço urbano as atividades econômicas são


basicamente o comércio e os serviços públicos;

• Na área rural, além da agricultura e pecuária, se


destaca a mineração de caulim e quartzito (entre
outros);
A organização da atividade mineral em Junco do
Seridó:

• Contou com as primeiras investidas na década de 1940


quando se buscava minérios para atender à demanda
bélica;

• Os agricultores foram incentivados e “treinados” para


descobrir minérios para extrair e comercializar;

• A figura do atravessador surge para organizar turmas,


negociar áreas e vender o caulim bruto;
• O Estado intervém no setor mineral na década de 1970
fomentando a descoberta de novas ocorrências e novas
áreas;

• Na década de 1990 começam a ser instaladas na área


rural de Junco do Seridó as empresas de
beneficiamento do minério;

• Estabelece-se um novo tipo de relação de compra e


venda de caulim com as empresas localizadas no
município;
• Em 2004 é definida a prioridade de criação do Arranjo
Produtivo Local de base mineral para organizar o setor
mineral no Seridó paraibano, para facilitar a
regularização das áreas exploradas e para impulsionar
as cooperativas;

• Em 2009 recursos são injetados no Programa de


Desenvolvimento da Mineração na Paraíba para ser
investido na organização de cooperativas e na
realização de cursos com garimpeiros;

• Em 2013 o governo da Paraíba juntamente com o


FIDA celebram convênio para financiar projetos em
áreas de agricultura e mineração
O perfil dos garimpeiros
• A garimpagem é uma atividade eminentemente
masculina desempenhada por homens casados que
correspondem a 76,47%;
• A faixa etária é majoritariamente de pessoas com 23
a 36 anos;

• A maioria dos garimpeiros, 69,70%, retira do


garimpo a única renda monetária da casa;

• 9,09% dos entrevistados afirmam que a renda


monetária vem do seu trabalho no garimpo
juntamente com o do filho também nesta atividade;
As condições de trabalho

• O processo é praticamente todo manual e aprendido


empiricamente;

• As equipes são compostas, geralmente, por seis


garimpeiros que se revezam nas funções de escavar,
encher a caixa de ferro com caulim, operar o guincho,
cozinhar entre outras;

• Os garimpeiros chegam a passar 11 horas no garimpo


com pausas para almoço e café;

• Chegam a trabalhar a 60m de profundidade


• Não usam nenhum equipamento de proteção individual
a exemplo de botas, mascara, capacete com lanterna,
balão de oxigênio;

• O caulim bruto comercializado custa, em média, R$


11,00 (onze reais) e, depois de beneficiado, chega a R$
100,00 (cem reais);

• O atravessador é a figura que negocia a terra com


agricultores para extrair o minério, aluga o guincho,
forma a turma de garimpeiros, comercializa e faz os
pagamentos;

• Os garimpeiros recebem por produtividade;


A relação com a agricultura

• A mineração faz parte da estratégia de sobrevivência


das famílias rurais de Junco do Seridó;

• As atividades agrícolas são distribuídas entre os


membros da família de acordo com a capacidade física de
sua execução;

• O calendário agrícola e a reorganização do trabalho


familiar são importantes mecanismos articuladores
entre as duas atividades;
• Destaque na intensificação do trabalho das mulheres
no roçado e na aplicação da renda monetária advinda
do caulim na contratação de serviços (diárias) na
execução de tarefas agrícolas;

• A expansão da atividade de mineração pelo meio rural


da microrregião do Seridó, pelo que se pode perceber,
consolidou o caráter pluriativo das famílias rurais;
• Segundo Schneider (2003) a pluriatividade
refere-se a uma situação em que nas unidades
familiares são desempenhadas diferentes
atividades econômicas e produtivas que
necessariamente não tem relação com o cultivo
da terra. Para ele, a pluriatividade é uma
estratégia de reprodução social e econômica
das famílias rurais, sendo múltiplas as
maneiras pelas quais se estabelece esta
estratégia.
• A pluriatividade é um fenômeno cujo foco de análise
está dirigido à forma familiar de produção e às
estratégias que os grupos domésticos adotam para
garantir a reprodução material de seus membros
(SACCO DOS ANJOS, 2001, p. 65);

• A pluriatividade como é uma categoria que incorpora


tanto as noções de part-time e também multiple job
holding (SCHNNEIDER, 2009);

• Estas rendas não agrícolas não são, necessariamente,


oriundas do trabalho assalariado e formal;
• Como consequência da inserção na mineração está a
problemática da precariedade e da informalidade no
meio rural;

• O trabalho informal nos garimpos: (1) se refere a


busca pelas condições de sobrevivência exercendo uma
atividade precária e com remuneração baixa; (2) não
tem qualquer tipo de proteção social; (3) mantém
relação com as empresas capitalistas apenas nas
operações de compra e venda de caulim;
Últimas considerações:

• A garimpagem é uma forma de trabalho que não é


residual e nem está em eminência de seu fim,pelo
contrário, é uma atividade que se revela dinâmica e
em expansão;

• É uma atividade que está inserida na estratégia de


sobrevivência das famílias rurais não sendo
desenvolvida apenas em contextos de seca;
• É atrativa às famílias urbanas tendo em vista a
facilidade de acesso e a falta de exigência de
experiência ou qualificação profissional para o seu
exercício;
• Estimula a pluriatividade e, ao mesmo tempo,
introduz o problema da informaldiade;

• As ações desenvolvidas para “organizar o setor” e


“formalizar o trabalho” tendem muito mais para
reprodução das relações vigentes do que, propriamente,
para uma transformação do atual cenário ;

• Ficam as perguntas: é intencional que se mantenham


tais condições e relações de trabalho? A que interesses
esta manutenção atenderia?

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