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Fim da Luta na África do Norte

Fracassa o contra-ataque alemão

Batalha do Passo Kasserine

Ao ficar paralisada a penetração aliada na Tunísia, em fins de dezembro de 1942, por causa das chuvas
torrenciais do inverno, que impossibilitaram o deslocamento de tropas e de veículos, o General Eisenhower,
comandante supremo aliado, resolveu aproveitar a trégua obrigatória para recompor suas forças. A
interrupção da ofensiva jogou por terra os planos do Alto-Comando aliado, tendentes a concluir a campanha
num prazo relativamente curto. De fato, as forças do Eixo, valendo-se da inesperada trégua, receberam uma
considerável corrente de reforços, enviados da Itália, por via aérea e marítima. Então, ficou consolidada uma
frente de combate estacionária, que corria de norte a sul, ao longo de mais de 400 km, através das agrestes
colinas montanhosas do interior da Tunísia, até os limites do deserto do Saara.

Eisenhower havia decidido manter suas forças sobre essa linha avançada apesar das evidentes dificuldades
que isso apresentava aos serviços de abastecimentos e do perigo de um contra-ataque inesperado das forças
do Eixo. Esta decisão se baseava em que uma retirada para posições de retaguarda poria em perigo a
segurança das bases aéreas situadas nas cercanias das linhas inimigas. Além disso, o abandono das colinas
obrigaria os Aliados a reconquistá-las mais tarde, com as conseqüentes desvantagens de ter que lutar em um
terreno sumamente propício para a defesa por parte do inimigo. O último argumento para permanecer nessas
posições era, como assinalou Eisenhower, a necessidade “de considerar o efeito moral que uma retirada teria
sobre a população do norte da África”, fato que causava graves preocupações a Giraud e outros chefes
franceses.

A posição escolhida, porém, não se encontrava convenientemente defendida. Se bem que no flanco norte,
sobre a costa do Mediterrâneo, o 1 o Exército britânico, comandado pelo General Anderson, estivesse
firmemente entrincheirado, em posições próximas a Túnis e Bizerta, mais para o sul somente existiam fracas
unidades do exército colonial francês e um reduzido destacamento de pára-quedistas americanos, comandado
pelo Coronel Raff. Era necessário, portanto, agir com a máxima rapidez para consolidar o flanco sul da
frente aliada e proteger, nesse setor, o estratégico centro de comunicações de Tebessa, que dominava as
passagens das montanhas para a costa.

Eisenhower ordenou então, a 1o de janeiro, ao General Lloyd Fredendall, situar-se, com as unidades do 2 o
Corpo de Exército americano, na região de Tebessa. Seguindo as determinações do chefe supremo, as tropas
começaram a sua movimentação. Integravam o corpo os efetivos da 1 a Divisão Blindada, da 1a Divisão de
Infantaria, cujas unidades estavam dispersas em diversos setores da frente, a 9 a Divisão de Infantaria que
estava, nesse momento, em Casablanca, e a 34 a Divisão de Infantaria, que protegia as linhas de
comunicações da retaguarda.

Organiza-se a frente de combate

Enquanto as tropas do 2o Corpo de Exército completavam a reorganização e a concentração de seus efetivos,


Eisenhower emitiu ao General Fredendall as diretivas a seguir. Suas forças teriam que incumbir-se da
proteção de todo o flanco sul da frente aliada. Fredendall teria que proteger, com sua infantaria, as passagens
das montanhas e concentrar na retaguarda a 1a Divisão Blindada, com o fim de repelir qualquer tentativa do
inimigo de infiltrar-se através das montanhas. Além disso, Eisenhower resolveu que, uma vez que o 2 o Corpo
tivesse terminado a sua movimentação, levasse a cabo operações ofensivas em direção à costa do
Mediterrâneo, para cortar as comunicações de Rommel com o resto das tropas do Eixo, concentradas ao
norte da Tunísia.

Esta operação, porém, somente seria realizada quando a segurança no setor de Tebessa estivesse devidamente
garantida.

Em meados de janeiro, a situação dos Aliados ainda não estava firme. As tropas francesas que defendiam o
centro da frente de combate, numa extensão de 160 km, sob as ordens do General Juin, foram alvo de
violentos ataques pelos efetivos alemães e tiveram que ceder terreno. Para enfrentar a crise, Eisenhower teve
que enviar tropas americanas que conseguiram deter a investida alemã. O chefe supremo aliado decidiu
então, para dar maior eficiência à orientação das operações, unificar o comando, confiando a chefia de todas
as tropas aliadas ao general britânico Anderson.

A 14 de janeiro de 1943, Roosevelt e Churchill se reuniram no porto de Casablanca e iniciaram a célebre


conferência que teria decisiva importância no desenrolar da guerra. Eisenhower assistiu também a essa
reunião, junto com o General Alexander, chefe das forças aliadas no Oriente Médio. Entre outros importantes
temas tratados, decidiu-se realizar um esforço máximo na Tunísia. O General Alexander assumiria a
condução de todos os exércitos aliados, como assessor de Eisenhower. Às suas ordens ficariam o 1 o Exército
britânico, as forças francesas, o 2o Corpo de Exército americano, e o 8 o Exército britânico de Montgomery,
cujas unidades se encontravam já próximas da fronteira da Tunísia. Terminada a conferência, Churchill e
Roosevelt empreenderam imediato regresso aos seus respectivos países. Eisenhower, por sua vez, dirigiu-se
sem tardar para a frente de batalha.

Durante o resto do mês de janeiro e início de fevereiro, os Aliados aceleraram os preparativos para organizar
devidamente as linhas defensivas. Os alemães, por seu turno, não permaneciam inativos. Ao longo de toda a
frente lançaram ininterruptos ataques, obrigando os americanos a dispersar suas unidades, para resguardar a
frente.

Eisenhower, percebendo a situação cada vez mais ameaçadora, dirigiu-se de avião para a cidade de
Constantina, onde manteve uma reunião com o General Anderson e os chefes das forças americanas e
francesas, generais Fredendall e Juin. Nessa reunião, deixou clara a necessidade de manter uma forte reserva
no setor do 2o Corpo de Exército americano, para enfrentar um possível rompimento alemão, através dos
passos montanhosos. Essa determinação, porém, não pôde ser cumprida, pois as repetidas incursões alemães
que se centralizavam, principalmente, no setor defendido por mal armadas tropas francesas, obrigaram a
utilizar formações isoladas da 1 a Divisão Blindada americana que era a força destinada a construir a reserva
móvel.

Às vésperas do contra-ataque alemão

No dia 12 de fevereiro de 1943, Eisenhower encaminhou-se novamente à frente, para uma última inspeção.
Havia recebido já informes de que as tropas do Eixo se dispunham a realizar um contra-ataque de surpresa.
Os serviços de inteligência acreditavam que a ofensiva teria por objetivo o 2 o Corpo de Exército americano e
que o avanço principal se desenvolveria em direção ao estratégico centro de Tebessa, através do passo de
Fondouk, situado ao nordeste dessa cidade.

Ao percorrer as linhas de vanguarda, Eisenhower constatou, contrariado, que não se haviam realizado de
modo eficaz os trabalhos defensivos. Os passos das montanhas não estavam suficientemente bloqueados por
campos de minas e a 1a Divisão Blindada, sobre a qual recairia o peso da luta, continuava dispersa. A metade
dessa unidade estava colocada no setor de Fondouk, onde o general britânico Anderson esperava o assalto
alemão. O restante das formações blindadas estava dividido em reduzidos grupos, de escasso poder
combativo. A preocupação que esta situação causou a Eisenhower viu-se agravada quando o general
americano recebeu a informação de que as unidades destacadas em Fondouk haviam comprovado, mediante
reconhecimentos avançados, que nesse setor não existiam concentrações alemães que oferecessem perigo
considerável.

Eisenhower permaneceu durante o resto da noite de 13 de fevereiro conferenciando com os oficiais das
diversas unidades da frente. Havia resolvido comunicar aos generais Anderson e Fredendall, na manhã
seguinte, a sua convicção, baseada nos informes obtidos, de que os alemães não atacariam Fondouk.

Cumprida a sua viagem de inspeção pelas linhas avançadas, regressou à retaguarda para o posto de comando
do General Fredendall. Ao chegar ali recebeu uma dramática notícia: Rommel já se havia lançado ao ataque!

A preparação da ofensiva

Uma vez concentradas as suas esgotadas forças nas fortificações da linha Mareth, Rommel voltou os seus
esforços ao estudo da possibilidade de antecipar as iminentes ações aliadas; como sempre, o seu espírito o
incitava à ofensiva, que para ele constituía a chave da melhor maneira de se defender. Sabia que as forças do
8o Exército de Montgomery tardariam ainda bastante para se organizar e levar adiante o ataque para romper a
linha Mareth; por esse setor, o perigo não era iminente. Existia, contudo, uma grave ameaça, representada
por um possível ataque das tropas americanas concentradas em Tebessa, em direção à costa do Mediterrâneo.
Se essa operação se concretizasse, suas linhas de comunicações com o resto das unidades do Eixo,
localizadas ao norte da Tunísia, ficariam irremediavelmente cortadas. A solução era apenas uma: atacar
imediatamente os americanos.

Como preparação a essa ofensiva, a 21 a Divisão panzer, que atuava sob o comando do chefe do 5 o Exército
alemão, General von Arnim, atacou a 1 o de fevereiro o desfiladeiro de Faid, pelo qual passava uma das rotas
diretas para Tebessa. Esta operação foi cumprida com pleno êxito, mediante um ataque de flanco. As tropas
francesas que defendiam o desfiladeiro foram literalmente esmagadas pelos blindados alemães. Mais de
1.000 soldados caíram prisioneiros.

Uma vez conseguida essa vitória, Rommel decidiu expor seus planos ao Marechal Kesselring, ao General
von Arnim e o general italiano Messe. Este último havia sido designado substituto de Rommel no comando
do 1o Exército, encarregado da defesa da linha Mareth. Rommel, porém, por conta própria, se mantinha à
frente do Exército, criando assim uma situação de fato que dava lugar a uma dualidade de mandos. Este
problema se resolveu mais tarde com a nomeação de Rommel para chefe supremo de todas as forças do Eixo,
na Tunísia. A reunião teve lugar a 9 de fevereiro, nas cercanias do porto de Gabes. Decidiu-se levar adiante o
ataque. A 21a Divisão Panzer, apoiadas por elementos da 10 a Divisão Panzer, avançaria do desfiladeiro de
Faid rumo às localidades de Sidi Bouzid e Sbeitla, com o fim de destruir as forças americanas ali
concentradas. Esse ataque seria realizado pelo General von Arnim. Ao mesmo tempo, outras forças,
integradas por diferentes unidades do Afrika Korps, destruiriam a guarnição americana do redito de Gafsa
que, ao sul, dominava a segunda estrada para Tebessa.

O início da operação foi fixada para o dia 12 de fevereiro, porém as condições climáticas adversas obrigaram
o seu adiamento para o dia 14. A “Raposa do Deserto” jogaria a sua última cartada.

A luta se inicia

Nas primeiras horas do dia 14, os tanques da 21 a Divisão Panzer se lançaram sobre Sidi Bouzid e mediante
uma manobra de flanqueio envolveram os destacamentos blindados americanos ali estacionados.
Estabeleceu-se então uma violenta batalha na qual levaram a melhor os veteranos tanquistas alemães.
Rapidamente o terreno ficou coberto com os restos de dezenas de blindados dos EUA; os que conseguiram
escapar à destruição se retiraram desordenadamente para oeste.

Rommel, ao receber os informes do êxito obtido, decidiu explorar a vantagem a fundo, e determinou ao
General von Arnim que continuasse a perseguição do inimigo durante a noite. Desta forma, os alemães
poderiam apoderar-se do próximo objetivo, Sbeitla, antes que os americanos consolidassem ali suas
posições. Suas ordens, porém, não foram acatadas. A 21 a Divisão Panzer se deteve no terreno conquistado,
abandonando a perseguição. Enquanto isso, Rommel, à frente do grupo de combate do Afrika Korps,
marchou sobre Gafsa, que conseguiu ocupar sem luta, na tarde de 15 de fevereiro. Os americanos haviam
abandonado a praça ao receber a notícia da derrota sofrida pelos seus companheiros em Sidi Bouzid.

Os tanques de von Arnim retomaram finalmente o avanço na noite de 16 e, na manhã do dia seguinte, se
encontravam diante de Sbeitla. O que Rommel previra, aconteceu. Trabalhando aceleradamente, os
americanos haviam erigido fortes posições defensivas e ofereceram encarniçada resistência. A luta se
prolongou com violência crescente durante o resto do dia. Por fim, ao cair da tarde, a defesa cedeu e os
alemães conseguiram ocupar a aldeia em ruínas. Chegou-se assim ao final da primeira fase do ataque. Nos eu
primeiro grande choque com as forças americanas, os alemãs haviam obtido uma vitória total, Cerca de 150
tanques foram destruídos e 1.600 soldados aprisionados.

Continua o avanço de Rommel

Quando os alemães irromperam pelo desfiladeiro de Faid, as tropas americanas empenhadas na luta enviaram
informes precisos ao posto de comando do General Anderson, assinalando que, nesse setor, se estava
produzindo o ataque principal do inimigo. Porém, os serviços de inteligência persistiram nos seus cálculos
errados, insistindo que o ataque viria via Fondouk, situado a 56 km ao norte de onde estava se
desenvolvendo o avanço alemão. Os informes da frente não foram tomados em consideração, julgando-se
erradas as suas apreciações e fruto de comandos bisonhos e inexperientes. O resultado dessa erradíssima
conclusão foi, como assinala Eisenhower em suas Memórias, que: “A penetração ganhou um tremendo
impulso antes que o General Anderson pudesse compreender o que realmente estava ocorrendo”.

Quando o chefe inglês soube que as defesas de Faid, Sbeitla e Gafsa, haviam sido destroçadas pelos alemães,
ordenou uma retirada geral até uma segunda cadeia de montanhas, situadas alguns quilômetros mais para o
oeste. Ali se encontrava o desfiladeiro de Kasserine, estreita abertura de quase 5 km de comprimento entre as
montanhas, que servia como via direta de acesso à base de Tebessa. Esse ponto teria que ser defendido a
qualquer custo. Rommel, entrementes, alentado pelas vitórias obtidas e diante da retirada do inimigo, decidiu
estender o alcance de suas operações. Sua intenção agora era prosseguir, com todos os seus efetivos, em
direção a Tebessa, apoderar-se dessa importante base aérea, centro de abastecimentos e transporte, e penetrar
profundamente na retaguarda aliada. Para alcançar esse objetivo, o chefe alemão estava disposto a aportar-se
pela primeira vez das normas de luta que havia seguido em todas as suas campanhas na África. Ele próprio
assinalou: “Mesmo nas mais atrevidas operações, jamais me lancei ao caso; conservei sempre elementos com
os quais pudesse me safar de qualquer dificuldade imprevista, e nunca temi que pudesse perder tudo. No
entanto, tal como estavam as coisas, era necessário correr, pela primeira vez, semelhante perigo”.

O novo plano

Esta arremetida, que Rommel considerava decisiva, e na qual estava disposto a empregar até o último
soldado, tinha por objetivo principal romper as linhas montadas pelos americanos para depois penetrar
profundamente na sua retaguarda, em direção ao norte. Desta forma, os Aliados se veriam obrigados, ante a
ameaça de verem cortadas as suas vias de comunicações, a deslocar o grosso de suas unidade da frente norte
da Tunísia em direção ao sul, a fim de cortar o avanço inimigo. Assim conseguia Rommel o duplo objetivo
de desarticular o dispositivo aliado e, paralelamente, impedir a iminente ofensiva do inimigo.

A 18 de fevereiro, Rommel comunicou a von Arnim o seu audacioso projeto. Este, no entanto, considerou-o
totalmente impraticável e expressou-se contra ele. Ante essa situação, Rommel decidiu transmitir os seus
planos ao Alto-Comando, para obter a sua aprovação. Assim fez, imediatamente, pois como ele mesmo disse
“para que o golpe tivesse o êxito desejado, era imprescindível não perder nem um só dia”. Nessa mesma
noite recebeu, a resposta do marechal Kesselring, informando-lhe que estava de acordo com o plano, e que,
como tal, informaria o Alto-Comando. As horas se passaram, porém, sem que chegasse uma resposta de
Roma. Rommel, ardendo de impaciência, aguardava na sala de transmissão do posto de comando. Chegou-se
a meia-noite e o silêncio do Alto-Comando persistia. Rommel resolveu então enviar uma nova mensagem,
exigindo que se tomasse uma resolução imediata. A seu ver, cada hora que passava contribuía para diminuir a
possibilidade de vitória.

À uma e meia da madrugada de 19 de fevereiro, chegou, finalmente, a esperada resposta. Rommel, ao ler a
mensagem, caiu em profundo abatimento. O ataque havia sido aprovado, porém com uma modificação
fundamental: o avanço, em lugar de ser dirigido contra Tebessa para penetrar em profundidade a retaguarda
aliada, teria que ser desenvolvido em escala limitada. O rompimento seria levado a cabo na localidade de
Thala, na imediata retaguarda da frente aliada. O plano de Rommel, destinado a cortar as linhas de
comunicações inimigas e provocar a desarticulação de seus dispositivos fôra frustrado.

Apesar da terrível desilusão causada pela mensagem, o chefe alemão decidiu iniciar o ataque. Não havia, por
outro lado, outra alternativa possível. Era necessário impedir, a qualquer custo, que os americanos
completassem a reorganização de suas forças.

As ordens às diversas unidades foram rapidamente enviadas. A 21 a Divisão Panzer avançaria pelo flanco
direito, através de um estreito vale, até a localidade de Sbiba. A 10 a Divisão Panzer se deslocaria pelo centro,
em direção a Thala. O grupo de combate do Afrika Korps marcharia pelo flanco sul e levaria a cabo a
conquista do estratégico desfiladeiro de Kasserine.

A batalha do passo de Kasserine

Na manha de 19 de fevereiro a ação se iniciou. Um regimento de Panzergrenadier se internou no estreito


desfiladeiro e topou com a obstinada resistência das unidades da 34 a Divisão de Infantaria americana,
comandada pelo General Ryder. As tropas alemães, após alguns êxitos iniciais, se viram obrigadas a deter o
avanço. Das elevadas montanhas que ladeavam a passagem (1.500 metros de altura) os observadores da
artilharia americana dirigiram com precisão o fogo de suas baterias, levantando assim uma verdadeira
barreira de fogo que impediu o avanço dos alemães. Ante o inesperado contratempo, Rommel se dirigiu à
frente e ordenou realizar um ataque de flanco contra as tropas inimigas localizadas nas alturas. O chefe
alemão rumou depois ao setor de luta da 21 a Divisão Panzer, cujas unidades haviam chegado diante de Sbiba,
porém com extrema lentidão, face ao mau estado do terreno. Ali, os alemães haviam sido também detidos
pela resistência encarniçada dos soldados da 1 a Brigada da Guarda britânica.

O chefe alemão comprovou, com amargura, que o que previra se cumpria. A dispersão de suas forças,
causada pela decisão do Alto-Comando, havia conduzido as operações de penetração a um prematuro
estancamento. Ante a crítica situação, Rommel resolveu concentrar o peso do ataque através do desfiladeiro
de Kasserine. Ordenou, então, que convergissem para lá os blindados da 10 a Divisão Panzer, que até aquele
momento se mantinham na reserva. Na manhã de 20 de fevereiro, depois de entrevistar-se com o General
von Broich, chefe da 10 a Divisão Panzer, dirigiu-se à frente. Ali constatou que novos inconvenientes
entorpeciam a ação. Um batalhão de motociclistas, que deviam apoiar os Panzergrenadier na operação de
rompimento, se mantinha à margem das operações. Enfurecido, Rommel perguntou a von Broich a razão da
imobilidade dos motociclistas. O general alemão respondeu que havia decidido manter essa unidade como
reserva, para a eventual perseguição inimiga, uma vez conseguida a vitória, dispondo a participação das
outras formações no assalto. Rommel, imediatamente, tornou sem efeito as disposições de von Broich e
ordenou que os motociclistas interviessem incontinenti na luta.

O ataque alemão animou-se de novo impulso, sob as ordens diretas de Rommel. Apoiados pelo fogo
mortífero das baterias de Nebelwerfer (peças lança-foguetes) que utilizaram pela primeira vez na guerra da
África, as tropas alemães conseguiram ganhar terreno, chegando a lutar corpo a corpo com as formações
americanas.

Às 17 horas, o desfiladeiro de Kasserine havia sido conquistado pelos alemães. Imediatamente se


movimentaram através do desfiladeiro os tanques do 8 o Regimento Panzer e se lançaram ao ataque, de
surpresa, contra uma formação blindada americana, colocada na desembocadura da passagem. Disparando os
seus canhões à queima roupa, os carros blindados alemães conseguiram destruir numerosos veículos
inimigos. Os restantes foram abandonados por suas tripulações. Mais de 20 tanques e 30 transportes
blindados caíram intactos em mãos dos alemães.

No primeiro momento, Rommel decidiu manter suas tropas no interior do passo, para enfrentar o contra-
ataque inimigo, que sabia iminente. No entanto, nessa noite, grupos de exploração informaram que os
americanos se haviam retirado em toda a linha. Consequentemente, os alemães abandonaram o desfiladeiro e
se locomoveram em direção a Thala e Tebessa.

Luta em Thala

A retirada inimiga convenceu Rommel de que o comando aliado resolvera manter suas tropas na defensiva.
Não existia portanto, perigo de um contra-ataque imediato.

Isso propiciava uma penetração mais audaciosa. O chefe alemão ordenou então à 10 a Divisão Panzer que
conquistasse Thala e prosseguisse o seu avanço rumo ao oeste, até ocupar o estratégico entroncamento
ferroviário e rodoviário de Kalaet Jerda. Por seu turno, as unidades do Afrika Korps seguiriam adiante, pela
rodovia, rumo a Tebessa, até apoderar-se das montanhas que dominavam essa base. A 21 a Divisão Panzer se
localizaria nesse setor, para apoiar as manobras. As operações se puseram em marcha na manhã de 21 de
fevereiro. A 10a Divisão Panzer, espicaçada por Rommel, que a acompanhou no seu deslocamento, convergiu
sobre Thala e aniquilou um grupamento antitanque britânico que tentou deter os eu avanço.

Logo porém as colunas aliadas caíram sobre as forças alemães, e lhes causaram graves baixas. As peças
alemães, por sua vez, responderam ao fogo com grande intensidade. Estabeleceu-se assim uma violenta luta.
Em Thala, por sua vez, efetivos da 6a Divisão Blindada inglesa, enviados apressadamente do norte, se
aprontaram para resistir ao ataque alemão, unidos com as unidades de artilharia da 6 a Divisão de Infantaria
americana; este último grupamento, ao se iniciar a ofensiva de Rommel, havia abandonado a sua base em
Orã, na costa do Mediterrâneo, e avançando sem descanso, dia e noite, percorreu 1.200 km através de
caminhos montanhosos, até chegar ao seu objetivo. Desta forma, os Aliados puderam superar a grave crise.
Lutando furiosamente, os alemães, depois de alguns êxitos iniciais, que lhes permitiram invadir a localidade,
defrontaram-se mais tarde com uma irremovível resistência. Os britânicos empregaram seus tanques pesados
“Churchill”, fortemente blindados, e conseguiram paralisar a ofensiva alemã. Por sua vez, das colinas que
rodeavam a localidade, as baterias americanas descarregaram uma chuva de projéteis de todos os calibres,
sobre os contingentes alemães que se apinhavam no vale estreito. A excelente pontaria demonstrada pelos
artilheiros americanos, cuja precisão surpreendeu os alemães, causou terríveis baixas entre os blindados da
10a Divisão Panzer.

Uma circunstância adversa contribuiu para o fracasso do ataque alemão; de fato, tendo Rommel solicitado a
von Arnim o envio de 19 tanques pesados Tigre, que esse chefe tinha às suas ordens, este lhe comunicou que
não poderia entregá-los, pois estavam em conserto. Assim, sem o apoio dos poderosos carros blindados, que
teriam podido superar as defesas inimigas, os alemães se viram impotentes para prosseguir o avanço.
Posteriormente, Rommel comprovou, com amargura, que os Tigre se encontravam em perfeitas condições de
funcionamento e que von Arnim se negara a entregá-los, apenas porque pensava, ele também, empregá-los
no ataque que planejara efetuar no norte da Tunísia.

Na manhã de 22 de fevereiro tornou-se evidente a impossibilidade de quebrar a resistência aliada em Thala.


Rommel entrevistou-se nesse dia com o Marechal Kesselring e com o General Seidermann, chefe da força
aérea na Tunísia e, com a aprovação de ambos, determinou por fim ao avanço que já não tinha nenhuma
possibilidade de triunfo.

Ataque alemão no norte

Uma vez tomada a resolução de deter a ofensiva, iniciou-se a retirada gradual dos efetivos alemães. Durante
a noite de 22 de fevereiro, as tropas de Rommel convergiram para o desfiladeiro de Kasserine, palco da
última vitória da “Raposa do Deserto”. Os soldados alemães, esgotados pela marcha e pelos combates
ininterruptos, veteranos de mil encontros, já não conheceriam a vitória. O legendário Afrika Korps não era
mais que uma sombra do aguerrido corpo que desembarcara dois anos antes na África...

Assomaram as primeiras luzes do dia 23 de fevereiro. As forças alemães já haviam transposto a estreita
garganta do passo de Kasserine. Os Aliados haviam perdido assim a oportunidade de cercá-las e exterminá-
las antes de sair do desfiladeiro. Eisenhower, na noite anterior, se havia transladado ao posto de comando do
General Fredendall, chefe do 2 o Corpo americano, para incitá-lo a lançar-se imediatamente ao contra-ataque
contra as forças inimigas em retirada. Porém, Fredendall expressou a convicção de que Rommel ainda estava
em condições de jogar a sua última cartada: a decisiva. Por conseguinte, achava necessário manter-se na
defensiva nas próximas 24 horas, consolidando as posições fortificadas, para enfrentar o último ataque
alemão. Eisenhower decidiu não insistir em seu ponto de vista e permitiu a seu subordinado cumprir o seu
plano. Assim se frustrou a possibilidade de destruir o exército alemão.

As condições do tempo, que até esse momento haviam sido desfavoráveis, mudaram radicalmente. Este fato
permitiu que os Aliados efetuassem uma série de devastadores ataques aéreos. Todos os aviões de combate
em condições de vôo, foram lançados à luta. Os contingentes alemães viram-se então submetidos a ataques
de intensidade superior àqueles suportados em El Alamein. Diz Rommel em suas Memórias: “Em 15
minutos chegamos a contar 104 aviões, somente sobre Kasserine”.

Debaixo de uma verdadeira chuva de bombas, e varridos pelas rajadas de metralhadoras, os efetivos alemães
sofreram pesadas baixas e tiveram que retirar-se às suas posições de partida. A ofensiva se concluíra com um
fracasso total.

Entrementes, no norte, o General Arnim dispunha-se a lançar um ataque contra os efetivos do 1 o Exército
britânico. Estas forças estavam situadas a apenas a 62 km do porto de Túnis, e era necessário obrigá-las a
recuar. A operação se orientaria contra a vanguarda avançada, na localidade de Medjes el Bab.
Primitivamente havia-se planejado realizar esse ataque juntamente com o que Rommel efetuara no sul.
Diversas circunstâncias, no entanto, impediram que esse plano pudesse cumprir-se.

Rommel, que na noite de 23 de fevereiro havia recebido uma mensagem do Alto-Comando, na qual era
designado chefe-supremo de todas as forças do Eixo na Tunísia, denominadas, daí em diante, Grupo de
Exércitos Afrika, considerava que a ofensiva do norte carecia de possibilidades de êxito, porém, ante a
insistência de Roma e também de von Arnim, acabou por dar o seu consentimento. Os efetivos do 5 o Exército
alemão iniciaram o ataque a 26 de fevereiro. Utilizaram na luta os 19 tanques Tigre, que receberam assim o
seu batismo de fogo. As tripulações, porém, não estavam suficientemente treinadas no manejo dos mesmos,
fato que determinou uma diminuição radical do seu real poderio.

O ataque, contudo, tomou o inimigo de surpresa, e conseguiu penetrar em suas linhas. Os Aliados não
tardaram a reagir e enviaram, apressadamente, reforços de outros pontos da frente. A luta se manteve assim
num plano indeciso, com freqüentes ataques e contra-ataques, nas agrestes colinas e vales da região. O
terreno, totalmente impróprio para a utilização de carros blindados, causou a rápida perda de 15 dos 19 Tigre.
Essa catástrofe obrigou Rommel a ordenar ao 5 o Exército a suspensão da ofensiva, No entanto, von Arnim se
obstinava a continuar o ataque, disputando colina após colina. No dia 9 de março, as operações haviam
tomado um rumo totalmente desfavorável para os alemães e o avanço se deteve.

Vitória britânica em Medenine

Depois de conquistar Trípoli, a 23 de janeiro de 1943. Montgomery havia adiantado parte de suas tropas
rumo á fronteira tunisiana, para manter a pressão sobre os efetivos em retirada. Seu plano era concentrar o
grosso do 8o Exército em Trípoli, e ali preparar o posterior avanço contra a linha Mareth. Como força de
cobertura para enfrentar o eventual ataque de Rommel, determinou a distribuição, em torno da localidade de
Medenine, a poucos quilômetros ao sul da linha Mareth, da 7 a Divisão Blindada, da 51a de Infantaria
britânica e da 2a Divisão neozelandesa. Quando Rommel levou a cabo a sua ofensiva em Kasserine,
Montgomery realizou um ataque limitado contra as linhas do Eixo, a fim de aliviar a pressão que os alemães
exerciam sobre as posições americanas no sul da Tunísia. As forças inglesas enfrentaram unidades da 15 a
Panzer, que se achavam situadas frente à linha Mareth. Os alemães dispunham apenas de 20 tanques e,
apesar de sua encarniçada resistência, que se prolongou durante todo o decorrer do dia, se viram obrigados a
abandonar o terreno. Os britânicos, desse modo, conseguiram adiantar as suas posições de partida. Diante
dessa situação, Rommel, ao dar por encerrado o seu fracassado ataque em Kasserine, resolveu lançar um
inesperado golpe contra as forças britânicas concentradas em Medenine.

A 23 de fevereiro recebeu autorização do Alto-Comando para levar adiante a empresa. Cinco dias mais tarde
emitiu as diretivas ao 1o Exército, comandado pelo General italiano Messe. O objetivo da operação, batizada
com o nome de Capri, era: “O aniquilamento das forças inimigas em vias de concentração entre Medenine e
a posição de Mareth”. O plano de ataque foi objeto de acaloradas discussões. Finalmente, Rommel decidiu
adotar a manobra proposta pelo General Messe. Consistia em lançar as divisões Panzer 21 a e 10a numa
manobra de envolvimento pelo flanco sul das posições inglesas. A preparação do plano se realizou com
extrema rapidez pois, como declarou Rommel, “só podíamos optar entre duas alternativas: esperar a ação
inglesa em nossas linhas e sofrer uma derrota, ou tratar de ganhar tempo, penetrando na zona de
concentração inglesa”.

O deslocamento, porém, das forças blindadas alemães, do norte até as posições de assalto, foi
necessariamente lento, pois, a fim de evitar serem detectados pelos serviços de informação, patrulhas ou
aviões inimigos, as marchas se realizaram unicamente à noite. As unidades, além disso, mantinham os seus
aparelhos de transmissão no mais absoluto silêncio, com o propósito de não delatar os seus movimentos.

Montgomery, porém, previra acertadamente que Rommel, fracassada a sua ofensiva contra os americanos, se
lançaria contra as forças sediadas em Medenine. Ordenou, então, acelerar ao máximo a preparação das
unidades ali sediadas, reforçando-as convenientemente, também. A defesa foi completada na tarde de 4 de
março. Mais de 400 tanques e 500 canhões antitanques enfrentariam os reduzidos efetivos alemães.

Às seis da manhã de 6 de março, deu-se a ordem de ataque. A artilharia alemã rompeu fogo. De uma colina
que dominava o campo de batalha, Rommel se dispôs a observar o desenvolvimento de seu último e
desesperado empreendimento. Seu inimigo era o velho rival de El Alamein: Montgomery.

Com seu assobio característico, os foguetes-projéteis dos Nebelwerfer fendiam o ar para explodir nas
posições inglesas. Acobertados pelo seu fogo, os tanques manobraram através do deserto e se lançaram
contra as linhas inimigas. A manobra de flanco, porém, fracassou por completo. Os britânicos, prevendo essa
ameaça, haviam plantado uma inexpugnável barreira de canhões antitanques, apontada para o sul. Contra ela
foram se chocar os blindados alemães e sofreram tremendas perdas. Em poucas horas, mais de 50 tanques
alemães haviam sido destruídos. Rommel decidiu, então, às 17 horas, dar por encerrada a ação. Sua derrota
era total. A partir desse momento já nada podia impedir aos Aliados levar adiante os seus planos ofensivos e
completar a ocupação da África do Norte.

Rommel abandona a África

A 7 de março Rommel deixou a frente, decidido a viajar imediatamente para a Alemanha, a fim de
comunicar pessoalmente a Hitler a situação desesperada em que suas forças se encontravam. Dois dias mais
tarde, depois de entregar o comando ao General von Arnim, levantou vôo para Roma. Nunca mais retornaria
ao solo africano, palco das extraordinárias campanhas que forjaram sua fama legendária. A magnitude da
derrota sofrida havia convencido o chefe alemão da absoluta inutilidade de prosseguir a luta. Tal como
afirmou “prolongar a permanência do grupo de exércitos na África constituía um autêntico suicídio...”

Moralmente abatido e alquebrado pela doença cardíaca de que padecia há muito tempo, Rommel chegou à
capital italiana e entrevistou-se com Mussolini. Explicou-lhe claramente a catástrofe que se avizinhava e lhe
expôs, cruamente, as terríveis conseqüências que ela traria em seu bojo. O Duce, porém, não se mostrou
impressionado pelos sombrios vaticínios e declarou que a Tunísia poderia ser defendida em qualquer
circunstância. A conferência encerrou-se assim. Rommel e o ditador italiano despediram-se com um frio
aperto de mãos.

No dia 10 de março, o marechal alemão chegou ao QG de Hitler, e ali manteve uma entrevista com o Fuhrer.
Também este não prestou atenção aos informes do chefe alemão. Rommel insistiu em seus argumentos,
porém tudo foi em vão. Hitler, finalmente, disse a Rommel que abandonasse temporariamente o serviço, e
tomasse um descanso, para recuperar as forças, dando-lhe assim a entender que o considerava um homem
esgotado, imbuído de espírito derrotista e incapaz já de tomar nas mãos o comando de um exército.

Então, quando Rommel insistiu diante do Fuhrer para que lhe permitisse continuar durante algumas semanas
mais à frente das tropas, na Tunísia, Hitler recusou-se terminantemente.

Rommel, em suas Memórias, descreve em poucas palavras esse amargo capítulo da sua vida: “Meus esforços
para salvar as tropas e fazer com que as transportassem ao continente haviam fracassado...”

Anexo
Ataque à Espanha?
Em meados de dezembro de 1942, os Aliados consideraram a possibilidade de um ataque alemão através do território
espanhol para fechar o estreito de Gibraltar. Essa ameaçadora perspectiva poria em perigo todas as forças americanas
que combatiam na Tunísia. Existia também a possibilidade de que os próprios espanhóis resolvessem abandonar a
neutralidade e tomar partido a favor do Eixo. Prevendo uma de tais eventualidades, os britânicos já haviam traçado um
plano para intervir militarmente no território espanhol. Esse projeto possuía o cognome de Backbone. Posteriormente,
os ingleses planejaram deixar de lado essa empresa e substituí-la por um ataque das forças americanas que se
encontravam na África do Norte. Esta última operação teria como vantagem a possibilidade de ser concretizada de
forma imediata e por terra, invadindo o Marrocos espanhol. O plano inglês, pelo contrário, previa o desembarque de
duas divisões em Tetuan e em Tânger. O General Mark Clark, assessor de Eisenhower, entrevistou-se com o general
britânico Sir Frederick Morgan, para estudar com ele os planos para a possível ação de emergência contra o Marrocos
espanhol. Ambos os chefes, após breve discussão, concordaram na necessidade de efetuar as suas táticas. O esforço
principal, no entanto, seria realizado pelos americanos, em território marroquino e argelino. Uma força avançaria do
porto de Orã para a localidade de Melilla, enquanto que outra, sob as ordens do General Patton, avançaria de
Casablanca, rumo a Tânger. Acreditava-se que esse ataque atrairia as forças espanholas para o sul, afastando-as da
costa, o que facilitaria o desembarque das tropas do General Morgan. Os planos foram aperfeiçoados e assim se chegou
ao mês de março de 1943. Entrementes, os chefes aliados acreditavam que o perigo de uma intervenção alemã em
território espanhol era cada vez mais improvável. Apesar disso, o General Clark, a conselho do cônsul dos EUA em
Tânger, resolveu entrevistar-se com o General Orgaz, destacado chefe da possessão espanhola, pois considerava-se esse
militar como um decidido partidário da neutralidade. Paralelamente, chegaram às mãos de Clark cópias dos planos que
a Espanha decidira por em execução, caso seu território fosse invadido pelos alemães. Esses projetos foram
complementados com informações confidenciais de agentes aliados que operavam em Madri. Baseado nessas
informações e planos, o General Clark e o seu serviço de inteligência tiraram as seguintes conclusões:
a) Os espanhóis se propunham enfrentar sozinhos o ataque alemão, sem aceitar a possível intervenção de tropas aliadas
em seu território.
b) De acordo com a capacidade de seus efetivos, as forças espanholas poderiam resistir durante 10 dias ao ataque dos
alemães, em sua avançada através dos Pirineus.
c) O prolongamento da resistência espanhola dependeria da ajuda e dos envios de armamentos, especialmente
antitanques e antiaéreos.
O ponto c das conclusões aliadas ficava, no entanto, invalidada pela decisão espanhola de enfrentar sozinha o ataque
alemão. Assim o interpretou o General Mark Clark, ao referir-se ao episódio com as seguintes palavras: “Se os
espanhóis, atacados pelo Eixo, não nos convidam a participar da luta, a situação seria desesperadora, pois de qualquer
maneira teríamos que entrar em ação, a fim de proteger Gibraltar, e o resultado seria uma confusão espantosa”.
(“Calculated Risk, Mark Clark).
No dia 2 de abril de 1943, Clark se entrevistou, no mais absoluto segredo, com o General Orgaz, em território do
Marrocos espanhol. A entrevista não trouxe nenhum resultado positivo, porém Clark deduziu dos seus termos, que os
espanhóis oporiam uma férrea resistência à tentativa de invasão.
Posteriormente, a evolução dos acontecimentos fez com que o episódio fosse relegado. De fato, a posição das forças
aliadas ficou definitivamente consolidada um mês mais tarde, em maio de 1943 com o fim da resistência das unidades
do Eixo na Tunísia.

Casablanca
A histórica conferência realizada por Roosevelt e Churchill na cidade de Casablanca, entre 14 e 24 de janeiro de 1943,
assistidos por seus principais assessores militares, teve decisiva influência no desenvolvimento posterior da guerra.
Pode resumir-se as conclusões, em ordem militar, da seguinte maneira:
1o A luta no norte da África devia ser objeto de um esforço supremo para alcançar a vitória total.
2o Simultaneamente, seriam empreendidos os preparativos para a invasão da Sicília, a ser levada a cabo o mais
proximamente possível. Esta operação foi cognominada Husky.
3o Intensificação dos bombardeios à Alemanha, somando-se os ataques diurnos da aviação americana, aos noturnos, da
britânica.
4o Seriam também iniciados preparativos para a invasão da França, na medida em que as outras operações em marcha o
permitissem. Para isso resolveu-se criar uma comando combinado de planejamento em Londres (Cossac). Este foi,
efetivamente, o ponto de partida da operação Overlord (desembarque da Normandia).
5o Dava-se especial prioridade à luta contra os submarinos alemães, para assegurar as comunicações marítimas com a
Inglaterra. Dever-se-ia realizar um esforço supremo, conjunto, para cobrir as perdas dos navios (em 1942, os
afundamentos havia superado as construções em quase um milhão de toneladas). Se esta situação prosseguisse, seria
impossível levar avante as operações planejadas para o continente europeu.
6o Aprovava-se a realização de operações ofensivas do pacífico, ainda que em escala limitada, para não entorpecer a
concentração do esforço bélico na luta contra a Alemanha.
7o Aprovou-se, também, um plano para reconquistar a Birmânia em 1943. Este projeto foi, posteriormente, deixado de
lado pela oposição do primeiro-ministro inglês.
8o Seria imediatamente reforçada a aviação aliada na China, aumentando-se também as forças de transporte aéreo que
abasteciam as tropas de Chiang Kai-shek
9o Continuaria o abastecimento de material de guerra e suprimentos à União Soviética

A rendição incondicional
Na manhã de 24 de janeiro, o Presidente Roosevelt e Winston Churchill concederam uma entrevista à imprensa para dar
conhecimento ao mundo da história reunião, até aquele momento mantida no mais absoluto segredo.
Os dois estadistas posaram para centenas de fotógrafos, junto com os generais Giraud e De Gaulle; estes últimos
apertaram publicamente as mãos, para demonstrar simbolicamente a inexistência de divergências.
Roosevelt, dirigindo-se aos jornalistas, expôs em termos gerais o programa militar adotado e concluiu a sua exposição
com uma declaração que teria grande repercussão: “A paz somente pode instaurar-se no mundo depois da total
eliminação do poderio bélico alemão e japonês... A eliminação do poderio bélico alemão, japonês e italiano significa a
rendição incondicional da Alemanha, da Itália e do Japão...”
A discutida fórmula da rendição incondicional havia sido adotada. Churchill estava de acordo com ela, assim como os
principais chefes militares aliados. O primeiro-ministro, porém, apesar de haver já discutido a questão com Roosevelt,
foi surpreendido pelas declarações deste, diante da imprensa. De fato, embora existisse um acordo tático com respeito a
essa medida, ambos os estadistas não haviam formalizado explicitamente o momento em que haveriam de torná-la
pública. Churchill, porém, apoiou Roosevelt sem vacilar. Assim o relata em suas memórias: “No meu discurso, que
seguiu o do presidente, eu, certamente, compactuei com o que ele havia declarado”.

Prova de fogo
Na encarniçada batalha do desfiladeiro de Kasserine, as forças americanas sustentaram o seu primeiro grande encontro
com as veteranas forças do Afrika Korps. Essa foi uma verdadeira e difícil “prova de fogo” para os bisonhos soldados
dos EUA. O Marechal Rommel assim definiu a atuação deles: “A conduta tática do inimigo em sua defesa pode se
qualificar de magnífica. Recuperaram-se rapidamente, após a primeira surpresa, conseguindo deter o nosso avanço.
Agrupando suas reservas nos desfiladeiros e pontos apropriados...”
O General Omar Bradley, enviado por Eisenhower para inspecionar as unidades que haviam intervido na batalha,
analisou posteriormente em suas Memórias as dificuldades surgidas no desenrolar das operações: “Durante dois dias
andei pelos bivaques da Divisão (1a Divisão Blindada) perguntando aos soldados o que haviam aprendido nas primeiras
semanas de combate. Se bem que admitissem ser o inimigo um adversário astuto e hábil, atribuíam à inexperiência
muitas de suas próprias dificuldades. Enquanto que eles se haviam lançado freqüentemente ao ataque de forma
imprudente, contavam como os alemães, pacientemente, efetuavam um reconhecimento dos caminhos de aproximação,
quão habilmente utilizavam a cobertura dos riachos e dos fossos, e quão furtivamente se deslocavam no ataque.
Inicialmente nossos tanquistas avançavam para o combate confiando temerariamente na velocidade dos seus veículos e
na espessura de suas blindagens. Desgraçadamente, nenhum das duas coisas serviu, quando os artilheiros alemães os
apanhavam à distância de emprego de suas armas”.
Tanques
“Quando fiz perguntas referentes ao armamento e equipamento, vi que os nossos Sherman já haviam ganhado má
reputação entre as tropas americanas porque seu combustível se incendiava facilmente quando o motor recebia um
impacto. Por isso as tripulações rogavam que se lhes dessem motores Diesel, para substituir essas “ratoeiras de fogo”. O
Sargento James Bowser, um veterano e forte jovem de 23 anos, me disse, falando em nome da sua tripulação: - Meu
general, este já é o meu terceiro tanque depois que o fogo nos obrigou a sair dos outros dois anteriores. Se fossem a
Diesel, isso não teria ocorrido. Porém, esses motores a gasolina se inflamam ao primeiro ou segundo impacto, como
verdadeiras tochas, destruindo tudo...
Em seus primeiros encontros, os tanquistas americanos comprovaram que, na luta de tanque contra tanque, os General
Grant e os Sherman não eram inimigos para os blindados alemães, muito mais encouraçados e melhor armados. Dois
anos depois, na Batalha do Bolsão (ofensiva alemã nas Ardenas, França) essa disparidade ainda não fôra corrigida. Se
bem que os Sherman estivessem dotados de canhões mais pesados, em nenhum momento puderam enfrentar os Tigres e
Panteras do inimigo, em ataques frontais, diretos. Em troca, em condições gerais de funcionamento, os tanques
americanos eram nitidamente superiores aos alemães; sempre era possível confiar em seus poderosos motores para
movimentar-se sem falhas. Esta vantagem unida à supremacia numérica americana, nos permitiu rodear o inimigo e
inutilizar os seus tanques pelos flancos...”
Apoio aéreo
“Em contraste com o trabalho de equipe florescente entre os carros blindados inimigos e os seus Stukas, as súplicas dos
tanquistas americanos para que se lhes dessem apoio aéreo haviam permanecido sem resposta, a maior parte das vezes.
Os estados-maiores conjuntos de ar e terra ainda não haviam simplificado o intrincado sistema pelo qual se
canalizavam os pedidos de intervenção aérea, de modo que estes, freqüentemente, atrasavam tanto que o objetivo
inimigo já não existia quando a ação aérea se efetuava”.

Quatro causas
O General Eisenhower expõe as razões que, segundo ele, possibilitaram o êxito inicial do ataque lançado por Rommel
contra as forças americanas no Desfiladeiro de Kasserine.
“Tecnicamente, nossas dificuldades resultaram de quatro causas principais: a primeira, e mais importante, foi a situação
criada pelo fracasso de nossa ambiciosa tentativa de conquistar rapidamente a Tunísia. Esta operação havia sido
realizada por ordem pessoal minha. Posteriormente, as unidades dispersas, não puderam ser reagrupadas rapidamente
para enfrentar o contra-ataque que já esperávamos. Se eu tivesse disposto, em fins de novembro, a admitir uma fracasso
temporário e a ordenar que passássemos à defensiva, nenhum ataque contra nós teria alcançado êxitos parciais.
A segunda causa principal foi o defeituoso trabalho dos serviços de inteligência, que se mostraram muito inclinados a
aceitar um informe isolado, no qual acreditavam implicitamente, e a fechar os olhos a qualquer outra possibilidade.
Decidiram assim que o ataque viria de Fondouk e, mesmo quando as nossas unidades de exploração, deslocadas para o
vale de Ousseltia, nas vizinhanças de Fondouk, insistiam em que os alemães não estacam concentrando tropas nesse
setor, os serviços de inteligência persistiam, cegamente, nas suas convicções, levando-nos a tomar decisões erradas.
A terceira causa foi o engano na apreciação correta da capacidade do inimigo e na tomada das medidas mais adequadas
para enfrentá-lo. A situação na frente de combate do 2 o Corpo exigia que se cobrissem os passos montanhosos com
reduzidas forças de exploração e unidades de contenção, mantendo reservas móveis, na retaguarda. As diretivas gerais
para a defesa encararam essa possibilidade, porém, os temores dos comandos locais e, novamente, um trabalho
defeituoso do setor de informações, provocaram uma dispersão das reservas móveis, que praticamente as anulou quando
o ataque se efetuou.
A quarta causa foi a inexperiência, particularmente dos comandantes. As divisões americanas empregadas não foram
beneficiadas com os programas de treinamento intensivo, implantado nos EUA depois de iniciada a guerra. Elas eram,
em sua maioria, divisões transportadas apressadamente à Inglaterra e, dado que os meios de transporte não haviam
ainda adquirido a sua posterior eficiência, as citadas divisões permaneceram separadas de seu armamento, e de grande
parte de seu equipamento, durante um longo período.. O adestramento, durante grande parte do ano de 1942, foi
praticamente impossível para essas unidades. Os comandantes e as tropas evidenciaram os efeitos dessa anomalia e,
embora não lhes faltasse a coragem e o caráter, sua eficiência inicial não se compara com a que foi demonstrada pelas
divisões dos EUA postas mais tarde em ação, depois de um ano de treinamento.

Tigres rumo ao desastre


26 de fevereiro de 1943. O 5o Exército Panzer lançou-se à ofensiva com todo o peso de seus efetivos. As forças aliadas,
resistindo são choque, procuram manter suas posições. No entanto, a experiência dos homens de Rommel consegue,
paulatinamente, impor-se. Logo a linha inimiga é perfurada, num e outro ponto, pelos alemães. Em seguida,
flanqueando as formações aliadas, os alemães estabelecem pequenos núcleos, isolados do bloco principal de combate.
Uma por uma, as unidade cercadas são eliminadas. A batalha corre favoravelmente para as forças de Rommel, que
utilizam todas as suas experiências anteriores e superam as inexperientes unidades aliadas.
De repente, no entanto, os Aliados passam a uma contra-ofensiva. Lançando suas reservas móveis sobre os pontos mais
ameaçados, contêm o avanço alemão. Nesse preciso instante surge um novo fator que determina graves embaraços para
as unidades que se defrontam. É o mau tempo, que entorpece a marcha das formações pesadas. Diz Rommel a respeito:
“O mau tempo constituía uma desvantagem, pois nossas forças manejavam com dificuldade o seu armamento pesado”.
Naturalmente a desvantagem se estende às formações aliadas, às quais prejudica em maior escala, dada a sua evidente
superioridade e maiores possibilidades de vitória, como o próprio Rommel reconhece, ao declarar: “Em realidade, não
teria podido obter a vitória, dadas as circunstâncias, e as baixas que sofremos foram superiores às que infligimos no
adversário”.
O combate, no entanto, teria ameaçado com maior gravidade os efetivos aliados, se os alemães tivessem empregado os
seus carros blindados com maior habilidade. De fato, as poucas unidades Tigre (canhão de 88 mm) que os alemães
contavam em suas fileiras, foram lançados na batalha sem que fossem levadas em conta as suas grandes possibilidades.
Os Tigres, especialmente aptos para a luta a grande distância, poderiam ter destruído facilmente a um inimigo cujos
tanques carecessem de canhões semelhantes. Contudo, agindo de uma maneira que “irritou particularmente” a Rommel,
os Tigres foram lançados através de um estreito vale pantanoso, onde a capacidade dos seus canhões ficava anulada e a
mobilidade sofria o inconveniente quase intransponível do terreno.
Os Tigres, assim jogados à batalha, se afundaram no barro e foram destruídos um a um pelo inimigo. Segundo palavras
de Rommel, foi “uma operação insensata”. Os alemães haviam pleiteado dos altos-comandos aqueles preciosos Tigres.
Após muita dificuldade os conseguiram. A fatalidade, pela mão de um chefe inapto para o comando, os havia
condenado à destruição. Enquanto se consumava o desastre, o Marechal Rommel, procurou, infrutiferamente, deter a
operação. Foi inútil. Os Tigres continuara avançando rumo ao estreito vale: rumo à destruição...

Perderemos a Tunísia...
Mensagem enviada por Mussolini ao Fuhrer, a 9 de março de 1943
“Tenho o prazer de constatar, Fuhrer, que também o senhor considera a Tunísia como um setor essencial do complexo
estratégico. O imperativo está claro: é necessário permanecer na Tunísia; é necessário permanecer o maior tempo
possível, porque isto dificultará profundamente, e talvez definitivamente, a execução dos planos aliados fixados em
Casablanca. Para continuarmos na Tunísia é necessário aumentar nossa cabeça-de-ponte, não diminuí-la, como deseja
Rommel, pois isso significaria ser encurralado contra o mar, sem possibilidades, dada a superioridade em que o inimigo
se encontrará, com a união de seus exércitos e a possibilidade de utilizar todos os campos de aviação da Tunísia,
abandonados por nós. Estou convencido de que devemos resistir na Linha Mareth. Porém, para resistir e ainda contra-
atacar é preciso enviar canhões, tanques e combustível, e garantir o envio através do canal da Sicília. Para conseguir
isso, Fuhrer não me canso de repetir: é necessário que a aviação do Eixo na zona Sardenha-Sicília-Tunísia, seja, pelo
menos, igual à aviação inimiga. Fracassamos na conquista do Egito em virtude da nossa inferioridade aérea. Perderemos
a Tunísia se esta condição não for satisfeita”.
Resposta do Fuhrer datada de 14 de março de 1943:
“... eu disse ao Marechal Rommel, Duce, exatamente a mesma coisa que o senhor me declarou em sua mensagem: a
cabeça-de-ponte da Tunísia tem que ser mantida a qualquer custo. Sua extensão não pode reduzir-se a ponto de agravar
os problemas de transportes ou até de nos colocar diante da necessidade de abandoná-la...
“Este é o fator decisivo, Duce: não tanto a arma aérea, mas sim a organização da escolta de proteção. Os transportes que
a Alemanha tem que suportar, incluindo os do Mar Báltico, somam mensalmente entre 4 a 4,5 milhões de toneladas.
Destas, entre 3 e 3,5 milhões de toneladas viajam ao longo da costa atlântica, e parte ao longo do Canal da Mancha,
para chegar à região norte da Noruega. Seria impossível, dada a momentânea superioridade aérea inglesa, proteger com
forças aéreas uma longa rota de mais de 4.000 km...
“Acho insuficiente a quantidade mensal de abastecimentos prevista pelo Comando-supremo, de 80.000 toneladas.
Somente as forças terrestres da Noruega recebem, mensalmente, em períodos de calma, perto de 140/150 mil toneladas.
“... em geral o fator decisivo na proteção do transporte marítimo, especialmente contra o ataque de aviões-torpedeiros, é
constituído pela presença de naves de escolta bem armadas e tripuladas por homens bem adestrados. A solução desse
problema, Duce, tem tanta importância que dele depende a sorte de vossas possessões africanas... Se o problema não
puder ser resolvido, os soldados alemães saberão, por certo, combater, e se for necessário, morrer honrosamente, porém
com isso não salvaremos aquelas possessões.
“Enviei-lhe o melhor oficial da marinha que a Armada alemã já teve: o grande Almirante Doenitz, para fazer-lhe
sugestões, Duce, que lhe rogo examinar, sob o ponto de vista da necessidade de recorrer a qualquer meio que seja
apropriado para resolver esse importante problema”.

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