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Abuso Sexual

Olá, meu nome é Rodrigo Moreira e eu sou psicólogo clínico. O objetivo do vídeo de hoje é
orientar famílias e profissionais a lidar com crianças vítimas de abuso sexual, bem como
encaminhar corretamente o caso.

É preciso ter em mente que, mesmo ao lidar com a violência já praticada, a atuação da família
e dos profissionais é de grande importância.

A vítima pode sofrer novas violações de direitos se não houver cuidados especiais ao lidar com
o caso.

Em muitas situações, a pretexto de obter a condenação do autor da violência sexual a vítima é


submetida a uma série interminável de constrangimentos e humilhações.

Em muitos casos que envolvem crianças, não se recomenda encaminhar a criança para prestar
depoimento diante de autoridades policiais, porque o depoimento pode ser mais danoso do
que o próprio abuso sofrido, de acordo com estudos psicológicos.

O fato da criança não prestar o depoimento às autoridades policiais não significa que o autor
não possa ser investigado. Os responsáveis legais pela criança podem registrar o boletim de
ocorrência, sem a presença da criança.

Quando não é mais possível a punição do abusador ou as provas forem muito fracas, é possível
alertar as autoridades policiais sobre a pessoa, o possível abusador. É comum nós ouvirmos
relatos de adultos, narrando que foram vítimas de abusos sexuais na infância ou adolescência.

Ainda muitas vezes não se possa mais punir legalmente o autor da violência, considerando o
longo transcurso de tempo decorrido, é possível realizar uma investigação preliminar para
apurar se ele continua praticando abusos contra crianças.

Infelizmente, muitos abusadores são reincidentes nesta prática criminosa.

Por estas razões, é fundamental lidar com equilíbrio e sabedoria em casos de abuso sexual
contra crianças e adolescentes.

Bem, eu acho que a pergunta que mais instiga os familiares e profissionais é: como saber se
abuso sexual realmente ocorreu ?

Pela própria natureza do assunto, as pessoas são levadas naturalmente a conclusões


precipitadas ao lidar com situações de suspeita de abuso sexual contra crianças.

O zelo natural que nós temos pela proteção da criança, a revolta que os pedófilos nos causam,
a influência da mídia, entre outros fatores, podem instigar famílias e profissionais – como
professores e policiais, a terem julgamentos precipitados.

Por esse motivo, é muito importante analisar com equilíbrio os diversos indícios e provas.

Por exemplo, um médico legista não pode afirmar que o abuso sexual realmente ocorreu. Isso
é um erro. O que o legista pode afirmar é que o ânus da criança apresenta escoriações ou
ferimentos compatíveis com a introdução de objeto contundente ou pênis.

Mas não pode afirmar que houve abuso sexual, a menos que tenha identificado sêmen na
criança.

Nós sabemos que muitas crianças podem ter problemas com a evacuação em decorrência de
fatores emocionais ou biológicos.

Por exemplo, uma criança com fezes muito sólidas pode apresentar lesões anais decorrentes
dessa condição. Para um observador desatento, essas lesões podem constituir uma prova
irrefutável de abuso sexual. O que não é verdadeiro em todos os casos.

Por outro lado, a constatação médica de ferimentos no corpo da criança ou adolescente –


especialmente no ânus ou na região genital – é realmente algo muito relevante. Mas não é
suficiente, muitas vezes, para comprovar o abuso sexual.

É preciso então colher o maior número possível de informações, como por exemplo,
testemunhas, depoimento da vítima e de familiares, documentos, fotos, ocorrências, que
possam auxiliar na comprovação do crime e na identificação do autor.

Existem ainda muitos abusos sexuais graves sem contato físico com a vítima.

Muitos pedófilos se satisfazem apenas corrompendo a vítima por meio de filmes e revistas
pornográficos, comentários eróticos, muitas vezes realizados por telefone pela internet, ou se
masturbando na frente da criança ou pedindo prá criança ficar nua.

Todas estas situações não são constatáveis por meio de exame médico-legal, ainda que sejam
extremamente graves.

Bem, uma vez constatada a ocorrência do abuso sexual, é preciso adotar as seguintes atitudes:

Em primeiro lugar é importante preservar a intimidade da vítima, não comentando sobre o


caso com terceiros, inclusive com outros familiares.

Somente os profissionais e familiares que realmente vão cuidar do caso é que devem ter
acesso às informações sobre o abuso.

Infelizmente, principalmente logo depois da descoberta da violência sexual, muitos pais


comentam com familiares e amigos sobre o caso envolvendo o filho.

Essa atitude, além de prejudicar as investigações, porque o autor do abuso pode ser alguém da
família, como geralmente acontece, essa atitude causa um grave dano à imagem e à
intimidade da criança ou adolescente.

Portanto, é fundamental orientar os pais da vítima a não comentar sobre o caso com terceiros,
inclusive familiares.

Em segundo lugar, é importante realizar os exames médicos o quanto antes.

Nos casos em que é necessário o exame médico da vítima eu sugiro duas alternativas:
Uma alternativa de lidar com essa difícil situação é inventar uma história para a criança de que
ela precisa fazer um exame devido a algum problema de saúde ou como se fosse uma
brincadeira;

Outra alternativa é ministrar um calmante na vítima com a devida orientação médica, para que
se possa realizar o exame com a criança adormecida, evitando realizar o ato a força.

Outro elemento importante é saber como a vítima compreendeu, como ela percebeu e
entendeu a violência sofrida. E eu recomendo que esse procedimento seja realizado por um
profissional da área da saúde mental.

De qualquer forma é fundamental ouvir a vítima, deixar que ela fale espontaneamente sobre a
situação vivida, sem interferências.

Nunca faça perguntas que induzam a criança a responder o que você quer ouvir.

Por exemplo, perguntas fechadas como: “Foi o fulano que mexeu com você; ou ele colocou o
pênis dele em você; ele fez você tirar a roupa”. Essas são perguntas que exigem uma resposta
de sim ou não e podem facilmente induzir uma criança.

Diversos estudos demonstram que crianças pequenas concordam com a última coisa que você
falou diante de duas opções, ou senão elas concordam com você se elas se sentem
pressionadas ou querem agradar.

Por isso, eu recomendo que os profissionais façam perguntas abertas, como “eu soube que
você teve alguns problemas na sua família e eu gostaria de saber o que foi que aconteceu. Será
que podemos conversar um pouco sobre isso?

Essa é uma pergunta aberta, que vai fazer com que a criança conte, sem indução, o que
realmente aconteceu com ela.

Por isso utilize perguntas abertas como “Qual foi a pior coisa que já aconteceu com você? Você
já sofreu algum abuso físico, emocional ou sexual? Como isso acontecia?

E simplesmente deixe a criança falar.

Deixe claro para a vítima que ela não tem culpa pelo que aconteceu.

É claro que se a criança traz nos seus relatos livres muitos detalhes, se o comportamento da
criança mudou de uma forma repentina, isso é um indicativo de que o abuso pode ter
ocorrido.

Escute bem, isso é uma indício de que o abuso ocorreu, não é uma prova incontestável.

Não tem como ter certeza absoluta, a não ser que seja encontrado sêmen na criança.

O maior objetivo é descobrir como a criança ou adolescente elaborou na sua mente a situação
vivida.

Nesse sentido, nós não podemos pressupor que houve dano psicológico graves unicamente
com base no fato da violência praticada ter sido grave.
Muitas crianças podem encarar a situação do abuso como tendo sido uma brincadeira, o que
pode ajudar a criança a conseguir lidar com a violência sofrida sem danos psicológicos graves.
Isso não diminui nem um pouco a gravidade do abuso praticado, nem a importância do
acompanhamento psicológico da vítima e sua família.

Em terceiro lugar é importante a prevenção de danos que ocorrem após o abuso sexual.

É necessário evitar ao máximo que a vítima seja exposta a novas situações de violação de
direitos, ainda que a pretexto de investigar o caso ou punir o autor da violência.

Por isso, nós orientamos os famílias e profissionais que lidam com vítimas de abuso sexual a
seguir algumas orientações, como por exemplo:

· A vítima deve sempre ser ouvida em ambiente reservado e por profissional capacitado para
lidar com vítimas de violência sexual.

·Além disso, jamais expresse na presença da vítima o desespero ou tristeza pelo abuso sofrido.
Isso se aplica especialmente à família, professores ou pessoas que convivem com a criança.

Muitas vítimas sofrem um novo trauma quando são expostas ao sofrimento dos pais ou
professores pelo abuso praticado.

Muitas crianças, por mais incrível que possa parecer, conseguem lidar com a violência sofrida,
mas sofrem ao ver o desespero ou tristeza da família, dos educadores ou demais profissionais.

· Uma situação diferente é se a vítima percebeu a gravidade do abuso sofrido e não soube lidar
emocionalmente com a situação. Nesse caso, é importante expressar empatia e demonstrar
que você compreende os sentimentos da criança.

· Outro aspecto fundamental é preservar a intimidade da vítima e de sua família.

Não converse com ninguém sobre o caso. Os fatos somente devem ser comunicados ou
revelados a pessoas de confiança e que vão participar do encaminhamento ou tratamento do
caso.

· Procure somente o auxílio de pessoas competentes e confiáveis, como as autoridades que


lidam com essas situações, como o conselheiro tutelar, o delegado de polícia e o promotor de
justiça. Essas pessoas vão saber orientar sobre o que fazer em casos suspeitos.

É importante lembrar que se a situação ainda está sendo investigada, a suspeita não pode ser
confirmada. Ou seja, é preciso ter cuidado para não acusar pessoas injustamente.

O fundamental é nesse momento é proteger a criança ou adolescente da situação de risco.

Você como responsável pela criança é quem vai levar a situação para as autoridades.

Fazer com que a criança tenha que repetir a mesma história para o conselheiro tutelar, o
policial, o delegado de polícia, o professor, o promotor de justiça, o juiz pode ser algo
traumático para a criança.

Essa recordação da situação traumática pode revitimizar a criança e ser tão danoso quanto o
ato praticado.

Muitas crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual ficam mais revoltadas com os pais ou
professores que duvidam dela ou não fazem nada ao saber do abuso, do que com o próprio
autor da violência.

Então, o encaminhamento correto e cuidadoso dos casos de abuso sexual é muito importante.

Infelizmente, muitas vítimas são expostas a novas violações de direitos a pretexto de punir o
autor do crime.

Crianças e adolescentes podem ter habilidades pessoais para lidar com a violência. O abuso
sexual praticado nem sempre terá repercussão psicológica grave.

A humilhação e preconceito decorrente da exposição de sua intimidade pode causar mais


sofrimento à vítima do que a violência sofrida.

Por fim, o que eu considero essencial nesses casos é primeiro afastar a criança da situação de
risco e encaminha-la para o tratamento psicológico, onde ela vai ser ouvida por um
profissional que vai saber manejar o trauma ocorrido.

Se você está interessado em sobre outros temas relacionados à saúde mental, veja outros
vídeos no meu canal do Youtube.

Obrigado.

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