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Em primeiro lugar vamos falar sobre quais são os principais sinais e sintomas que

caracterizam o diagnóstico do transtorno bipolar. Como o nome indica, o transtorno bipolar é


cíclico, existe uma alternância entre os sintomas maníacos e os sintomas depressivos. Muitos
pacientes acabam experimentando muitos altos e baixos no humor, com episódios de
depressão e mania ao longo de suas vidas.
Os sintomas mais frequentes na mania são: falta de sono, auto-estima inflada, irritabilidade
excessiva ou agressividade, sensação de grandiosidade, incapacidade de permanecer sentado,
pensamento acelerado e megalomaníaco, facilidade para se distrair e comportamento
inadequado ou altamente arriscado (como dirigir em alta velocidade, gastar muito dinheiro,
comportamento sexual excessivo e arriscado, entre outros). O paciente pode ter longos
períodos de normalidade - períodos sem sintomas significativos da depressão ou mania .
Muitas vezes os períodos de mania podem ser menos severos (chamados de "hipomania") e
podem passar despercebidos porque o indivíduo pode se sentir especialmente bem e acreditar
que não há nada de errado. O problema com os episódios maníacos é que eles muitas vezes
levam a comportamentos prejudiciais, como por exemplo, gastar muito dinheiro,
agressividade, atividade sexual sem proteção) e geralmente são acompanhados por períodos
de depressão.
O transtorno bipolar é uma doença crônica, que permanece ao longo da vida - assim como o
diabetes - e requer tratamento contínuo com medicação. Quando o transtorno bipolar não é
tratado, as consequências podem ser devastadoras - muitas vezes resultando no suicídio.
Muitos pacientes acabam não sendo diagnosticados corretamente. Infelizmente, se o paciente
é bipolar e recebe apenas medicação antidepressiva, isso pode aumentar as chances de
alteração do humor, entre as fases maníaca e depressiva.
O transtorno bipolar afeta cerca de 3% da população e pode ter efeitos devastadores. O
transtorno bipolar está entre as dez doenças mais incapacitantes. As taxas de suicídio são
significativamente mais elevadas nas pessoas com o transtorno bipolar do que para a
população em geral. Pessoas com transtorno bipolar muitas vezes sofrem com salários mais
baixos, maior desemprego, afastamento do trabalho, taxas mais elevadas de divórcio,
possuem níveis mais baixos de escolaridade e maior taxa de hospitalização. Em um estudo,
81% dos indivíduos com transtorno bipolar tinham uma condição médica comórbida.
Lembrando que "comorbidade" significa a ocorrência conjunta de outros problemas com a
doença. As condições comórbidas mais frequentes no transtorno bipolar são o aumento das
taxas de doença do coração, hipertensão, hipertireoidismo, diabetes e hepatite. As pessoas
que possuem esse transtorno têm taxas mais elevadas de tabagismo, abuso de drogas e álcool,
e um menor índice de cuidado pessoal, por exemplo, menos exercício físico, menos
assistência médica, e tudo isso pode contribuir para taxas mais altas de obesidade. E
consequentemente, essas condições médicas e problemas no estilo de vida contribuem para o
estresse e para o enfrentamento da doença.

Pessoas que possuem o transtorno bipolar também são mais propensas a apresentar outros
problemas psicológicos, muitas vezes, fazendo com que o diagnóstico se torne mais difícil.
Transtornos psicológicos que geralmente são comórbidos com o bipolar são os transtornos de
ansiedade, abuso de substância e os transtornos de personalidade também são frequentes.Os
pacientes com transtorno bipolar raramente procuram tratamento quando estão apresentando
os sintomas mania, que é quando ocorre uma elevação na agitação e na energia. Muitos
pacientes bipolares são diagnosticados como tendo somente depressão - ou seja, como tendo
somente episódios depressivos sem história de sintomas de mania. Ocorre também que
muitos episódios maníacos "evoluem" rapidamente para um episódio misto, que é
caracterizado por sintomas tanto maníacos como depressivos, destacando aqui a
irritabilidade.
Durante um episódio misto as pessoas podem se sentir agitadas, ter o pensamento acelerado e
dificuldade de ficarem quietas, como na mania; mas se sentem deprimidas, sem esperança e
propensas ao suicídio, como na depressão.
Observe aqui algumas dificuldades para se chegar a um diagnóstico definitivo e preciso. É
por isso que qualquer paciente com histórico de depressão deve ser avaliado e verificada a
existência de um possível transtorno bipolar. Em muitos casos, os membros da família podem
ser melhores que o próprio paciente para relatar os sintomas e o histórico apurado da
flutuação do humor do paciente.
As taxas mais elevadas de transtorno bipolar são encontradas em pacientes com transtorno de
personalidade borderline.
Pacientes bipolares que fazem uso abusivo de álcool possuem taxas maiores de alternância
dos ciclos de mania e depressão, os sintomas são mais graves, há uma maior taxa de suicídio,
agressividade e impulsividade nesses pacientes. Trata-se de uma doença grave, complicada e
crônica e muitas vezes com risco de vida, por conta das altas taxas de suicídio. É necessário a
construção de uma rede social de suporte para o paciente, por meio de familiares,
profissionais de saúde mental, ou qualquer outra pessoa que apoie as necessidades do
paciente.
Outro aspecto que vale a pena destacar é que o transtorno bipolar possui uma elevada
determinação genética. Esse dado é importante porque ajuda na medicalização da doença,
tirando parte do estigma moral que esses indivíduos vivenciam. Esse dado genético também
ajuda o paciente a entender a relevância e necessidade da medicação. É essencial que os
familiares também compreendam a natureza biológica dos transtornos de humor.

O tratamento do episódio de depressão ou mania é importante, mas é fundamental se planejar


para uma futura alteração do humor. O que eu quero dizer é que os pacientes bipolares
frequentemente apresentam um episódio depressivo grave durante ou após um episódio
maníaco, que muitas vezes acaba gerando problemas nos relacionamentos ou no trabalho. A
medicação antipsicótica pode ajudar a reduzir a intensidade dos episódios maníacos e
posteriormente podem ser acrescentados os estabilizadores do humor.
A fase depressiva também podem ser tratadas com medicação anti-psicótica, com
antidepressivos e mais tarde com estabilizadores do humor. Mas observe que é essencial o
planejamento da futura alteração do humor, sendo necessário muita vezes o tratamento
farmacológico contínuo.
Um componente essencial do tratamento é o uso da medicação.
A primeira linha de tratamento para o transtorno bipolar geralmente contêm medicamentos
como o lítio, anticonvulsivantes e antipsicóticos. Algumas pacientes do sexo feminino podem
se beneficiar de tratamentos hormonais para mania ou hipomania.
Embora muitas pessoas prefiram enfrentar os períodos de depressão e mania sem
medicamentos, é evidente que o controle da doença e prevenção de futuras recaídas
dependem da administram efetiva da medicação. Um dos maiores desafios no tratamento do
transtorno bipolar é que muitos pacientes preferem não tomar medicamentos ou não
conseguem se manter num esquema de medicação por longos períodos.
Mas também é errada a compreensão de que tudo que você precisa para melhorar é tomar a
medicação todos os dias. Apesar de muitas pessoas terem pensado que o transtorno bipolar
seja uma doença "biológica", as principais autoridades no campo da saúde mental a
reconhecem agora a eficácia da psicoterapia no tratamento do transtorno bipolar.
Outro fator essencial no tratamento do transtorno bipolar é a educação dos pacientes e das
famílias sobre a doença. Um excelente livro que eu recomendo para as famílias e pacientes é:
Transtorno Bipolar - O Que é Preciso Saber, do Dr. David Miklowitz.
Esclarecer as dúvidas sobre o transtorno bipolar ajuda os familiares e paciente a abandonarem
alguns mitos e estigmas da doença, e ajuda os membros da família a perceber que o paciente
não está simplesmente escolhendo ter uma doença, e ajuda tanto os pacientes quanto os
familiares a "observar" os sinais e sintomas característicos do aparecimento de um transtorno
depressivo ou da mania. Reconhecer os primeiros sinais da mania e da depressão pode ajudar
o paciente a planejar estratégias para lidar com humor maníaco ou depressivo, bem como
ajuda a reduzir os riscos de uma recaída.
O diagnóstico do Transtorno bipolar pode parecer um tanto pessimista para algumas pessoas.
Isso é compreensível, já que o diagnóstico implica uma situação que é para toda a vida.
Mesmo assim, muitos pacientes aceitam o diagnóstico e aprendem a conviver com a doença e
começam a entender por que eles tiveram tantos problemas nos relacionamentos, no trabalho
e tantos outros problemas na vida. Para alguns, o diagnóstico liberta a pessoa do estigma de
ter um "defeito de caráter". E isso ajuda a tirar a culpa. O diagnóstico fornece um
planejamento para lidar com a doença - tanto por meio da medicação -, como também com a
ajuda de tratamentos psicológicos, como a terapia cognitivo-comportamental. Nenhum desses
tratamentos garante um humor estável e "normal" - pacientes, famílias, médicos e psicólogos
devem estar prontos para lidar com os altos e baixos no humor e estar pronto para
implementar tratamento mais intenso quando necessário. A boa notícia é que existem
tratamentos - ou seja, existem tratamentos para ajudar as pessoas que sofrem com essas
alterações de humor.

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