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MONÓLOGOS DIÁLOGOS E LUANA PERES



DISCUSSÕES
Encontros (e desencontros) de ideias, coisas, pessoas,
literatura, psicologia e cinema.

ANÁLISE DO FILME K-PAX: A ESQUIZOFRENIA


NO CINEMA
PUBLICADO EM CINEMA POR LUANA PERES

Filmes que nos trazem e nos levam a loucura. Como o cinema pode contribuir
na construção de estereótipos e na maneira como lidamos com o estar-doente RELACIONADOS
do outro? Esta análise, à partir de uma nova perspectiva, pode fazer com que
de betty blue a donnie
você amplie seu olhar. darko: anotações acerca de
um cinema esquizofrênico
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quantos precisamos ser?

Sempre ouvimos que entre a vida e a arte existe uma relação muito próxima, no esquizofrenia: o que é? tipos
e sintomas
sentido que uma pode (re)produzir a outra e vice-versa. Muitos filmes apontam a
loucura de forma bastante curiosa e nos levam a refletir sobre o papel que o estar- histórias da loucura ou outro
doente e o estar-são ocupam na sociedade. É incrível como através de um único olhar sobre a vida
filme podemos ter acesso a elementos que nos eram, até então, desconhecidos ou
criar um novo olhar a partir de uma outra perspectiva. SAIBA COMO ESCREVER NA OBVIOUS

Hoje, como estudante de psicologia, não poderia ver um filme que retrata a loucura
sem levantar um olhar crítico em relação a maneira como o tema é colocado para
milhares de pessoas. No entanto, nem sempre foi assim. Muitas produções
cinematográficas retratam a psicopatologia e eu poderia fazer uma lista dos meus
preferidos. No entanto, escolhi apenas um. Por quê? Porque quero ressaltar algo que
já falei anteriormente...

Através de um único filme podemos acessar o desconhecido e criar novos olhares a


partir de uma outra perspectiva.

Quando assisti ao filme K-PAX pela primeira vez, tinha 15 anos e uma única certeza: obvious
Prouth era um alienígena. 1.216.251 curtidas

Hoje, quase quinze anos depois, posso dizer muitas coisas, menos que tenho alguma
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certeza.
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A filosofia de Heidegger postula que o homem é constituído por uma estrutura que o
permite existir de maneira distinta dos demais entes presentes no mundo. Esta
filosofia influenciou a abordagem psicológica chamada daseinsanálise e também o
psiquiatra e psicoterapeuta suíço Medard Boss, que principiou seus estudos a partir
dos pensamentos de Heidegger.
MAIS POPULARES
O filme K-PAX: O Caminho da Luz (2001), dirigido por Ian Softley e interpretado por o problema dos erros é que,
às vezes, eles beijam bem
Kevin Spacey e Jeff Bridges, retrata a história de Prouth, um homem que diz ter vindo
do planeta K-PAX e aparece misteriosamente em uma estação de trens. Ao ser 5 argumentos contra o
abordado por policiais, Prouth explica que chegou de viagem, sem bagagem, vindo aborto
do planeta K-PAX. Levado para o Centro Psiquiátrico do Município, ele inicia sua
70 frases de viagem
permanência institucional tendo como cuidador o psiquiatra Dr. Mark Powell, que
acredita que o seu comportamento se deve a um grave distúrbio ou trauma. Partindo
deste princípio, reluta com os colegas de trabalho sobre a possibilidade de medicar amar é aceitar o outro
ou transferir este paciente, sem que descubra o que de fato o levou até eles. exatamente como ele é

Nas sucessivas entrevistas entre o psiquiatra e Prouth, sem que se perdesse o rigor
da análise psiquiátrica, a busca de um evidente diagnóstico e a possibilidade do uso
de medicamentos, estabelece-se um harmonioso relacionamento entre paciente e
psiquiatra. Na ala em que Prouth é internado, os pacientes são tidos como loucos
irrecuperáveis pelos funcionários e por todos os que os cercam. Assim, toda a
expectativa que se tem sobre eles é definida pelo rótulo, ou seja, a psicopatologia
que apresentam.

Em um de seus trabalhos, Jardim (2003, p. 2) afirma que “as maiores contribuições do


pensamento heideggeriano para a terapia foi exatamente a possibilidade de
fundamentar uma prática terapêutica que não objetifique e reduza o homem àquilo
que é mensurável e calculável”.

Ao longo da história, o psicanalista descobre que a maneira como o Prouth se


apresenta diz de algo que ocorreu na data de 27 de julho de 1996, e vai, à partir de
suas descobertas sobre o paciente, tentar trazê-lo de volta para a realidade com a
qual se frustrou e sentiu a necessidade de fugir.

O filme K-Pax, tenta, discretamente, convidar o telespectador ao debate para a


atitude de humanização integral com pacientes psiquiátricos de modo que haja
sobre eles um olhar terapêutico permanente que ultrapasse a lógica racional da
técnica construindo reflexões a cerca do que se apresenta em sua totalidade.

Inicialmente, levanta-se a hipótese de que Prouth é um alienígena em visita a Terra.


Contudo, no decorrer do filme podemos observar que o ser que se mostra é um ser
que está com seu modo de existir perturbado.

O Código Internacional de Doenças (CID-10) classifica os transtornos esquizofrênicos


por F20 e os caracteriza de modo geral por distorções fundamentais do pensamento

e da percepção, assim como afetos inapropriados ou embotados. Dentro desta
classificação há ainda subtipos que especificam a patologia de acordo com os
comportamentos e sintomas apresentados. De modo geral, estes transtornos se
caracterizam por distorções do conteúdo de pensamento (delírios), da percepção
(alucinações) e por inadequação dos afetos. Usualmente o paciente com
esquizofrenia mantém clara sua consciência e sua capacidade intelectual e traz ao
paciente um prejuízo tão severo que é capaz de interferir amplamente na capacidade
de atender às exigências da vida e da realidade.

Para Boss (1979a, p.225 apud CARDINALLI, 2004, p.129) a esquizofrenia, assim como
todas as patologias, mostra uma perturbação da realização da liberdade e da
condição fundamental da abertura do existir humano. Segundo ele, no existir
esquizofrênico o ser é privado da abertura, de forma que não desaparece totalmente,
mas se torna restrita e consequentemente mais empobrecida.

Em vários momentos podemos ver que Prouth - ou Robert Porter - tem suas
possibilidades reduzidas e seus existenciais comprometidos pelo modo restrito que
vive no mundo. Durante todo o filme podemos perceber que alguns aspectos
existenciais estão comprometidos, ora por distúrbios do pensamento, ora por
distúrbios da percepção, despersonalização, perturbação da afinidade e autismo.

O filme apresenta o profissional da saúde mental como alguém extremamente


cuidadoso e nos faz refletir sobre o profissional que consegue se afastar do rótulo
mecânico e cada vez mais presente em nossa sociedade.

Através da história do personagem Robert Porter e seu relacionamento com o


psicanalista Dr. Power, o cinema chama a atenção para algo que Boss já dizia: "O
diagnóstico da patologia não é a questão mais importante".

O interesse principal é entender o ser dentro da ontologia existencial que abrange


todos os seres, mas sem deixar de lado o modo como este ser se relaciona com os
outros, com o mundo e com-si-mesmo. A comunicação expressa verbalmente e não
verbalmente pelo paciente deve ser compreendia pelo terapeuta de modo que haja
respeito e uma escuta sempre atenta do que se mostra como verdade para ele.

De modo geral, a proposta do cuidador de Prouth, e também do terapeuta nesta


linha psicológica, é a de "dominar", mas não como quem domina no sentido de dar
ordens. É dominar no sentido de ter familiaridade. Dominar, no sentido de conhecer
e ouvir aquilo que é conhecido como “queixa” e que na verdade fala de algo que
precisa ser ouvido. O importante neste processo é que o paciente se aproxime da
verdade de sua vida e se aproprie daquilo que faz sentido para ele.

REFERÊNCIAS

BALLONE, G. J. Esquizofrenias. In Psiqweb. Disponível em:


http://www.psiqweb.med.br. Acesso em: 13 de Novembro de 2011.

CARDINALLI; Ida Elizabeth. Daseisanalyse e esquizofrenia: um estudo na obra de


Medard Boss. São Paulo: EDUC: FAPESP, 2004.

JARDIM, Luis Eduardo. “A preocupação liberadora no contexto da prática terapêutica.”


Trabalho de conclusão de curso na PUC-SP, 2003.

LUANA PERES
Ser livre, leve e aberta as possibilidades. Já foi finita. Hoje,
através dos seus escritos e delírios, preserva a pretensão de ser
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