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RESUMO
Este trabalho é parte da pesquisa da dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre
em Engenharia Civil, e tem como intenção o estudo das teorias de controle de processo de projeto
aplicadas em um escritório de arquitetura. A empresa escolhida como estudo piloto foi objeto do
artigo “Controle do fluxo de informações no processo de projeto” (LOPES, MENEZES e AMORIM,
2002). O presente artigo visa além de inserir novas questões, descrever como se desenvolveu a
implantação das melhorias propostas no estudo anterior, avaliando sua aplicabilidade a
organizações similares desse segmento de mercado.
1. INTRODUÇÃO
A exigência de um padrão de qualidade nos serviços prestados aos consumidores e nos produtos
por eles adquiridos, não pode mais ser considerada como uma tendência, mas sim como uma
realidade em todos os setores produtivos.
A indústria da construção civil ainda tem a vencer um longo caminho de obstáculos para o alcance
desta meta, devido a suas características peculiares como a heterogeneidade de seus produtos e
serviços, o caráter temporário das relações entre as equipes envolvidas (Fabrício, 2002).
Neste ínterim a modelagem dos processos de projetos efetuados pelos Escritórios de Arquitetura
se apresenta como uma ferramenta para a dissecação e formalização das etapas existentes,
gerando por exemplo, uma correta atribuição das competências entre os membros das equipes e
a agilização da comunicação através da padronização da documentação do projeto e dos
procedimentos de coleta de dados (Fabricio, 2002).
A formalização e melhor estruturação das comunicações evita eventuais erros decorrentes além
de atribuir “caráter profissional” aos serviços prestados e constante manutenção do foco do
processo no atendimento as necessidades dos clientes. (Tzortzopoulos, 1999)
A empresa estudada foi escolhida pelo fato de se enquadrar nas características tipológicas das
demais deste segmento. Sua iniciativa de busca pela qualidade descrita nos dois artigos, partiu
principalmente da gerência, e não da direção, com a finalidade de aprimorar seus métodos em
resposta aos problemas observados no decorrer de sua atuação no setor.
2. METODOLOGIA
Mendes (s.d.) descreve o estudo de caso como o meio adequado para o estudo de áreas em
constante mutação onde sejam necessários também analisar comportamentos organizacionais,
processos de conflitos e fenômenos ligados a reação do fator humano à implementação das
tecnologia de informação.
O produto descrito neste estudo de caso foi desenvolvido da adaptação das teorias apresentadas
por Yin (1994) através de entrevistas com a gerência e reuniões com a equipe executiva,
utilizando-se também do sistema de observação participativa.
A pesquisa vem atuando como “estudo piloto” para o desenvolvimento da temática dentro do
nicho de escritórios de arquitetura.
3. A CONJUNTURA DA EMPRESA
A empresa em questão tem representativa atuação no mercado de pequenas e médias empresas
de arquitetura no Grande Rio e Niterói perfazendo um total em torno de 6.000 m2/ano de projetos
de edificações Atualmente conta com um quadro de aproximadamente 20 funcionários, divididos
em secretaria, administração, projetos, orçamentos/compra e execução de obras.
A estrutura do processo de projeto se enquadra nos modelos da ASBEA (1999). Mas apesar de
suas fases projetuais terem sido bem delineadas após o 1º Estudo de caso, sua estrutura de
caráter paternalista centralizadora e informal, manteve muito de sua conduta pouco profissional na
maneira de prestar seus serviços.
Os problemas apontados pela gerência como emergenciais, encontrados na empresa por ocasião
do primeiro estudo, são classificados a seguir apenas como forma de demonstrar a conjuntura
existente, com exceção dos relativos à gestão de recursos humanos que é aprofundado em item
próprio mais adiante.
3.1 Problemas da falta de sistematização no tratamento de informações
Falhas nas comunicações constituem um dos maiores causas de insatisfação por parte dos
agentes envolvidos, gerando re-trabalhos e conseqüente desperdício de tempo como descrito por
Tzortzopoulos (1999). As principais falhas assinaladas foram:
Visto que na grande maioria dos casos apenas o diretor participa da entrevista, a
iniciativa de enquadrar-se em procedimentos técnicos foi deixada em segundo plano,
em detrimento de uma metodologia de trabalho pessoal. A falta de conhecimento dos
requisitos do cliente por parte dos envolvidos no projeto, permanece uma constante
ainda a ser modificada;
Como descrito acima, não se pode obter o nível esperado de eficiência na implantação de
qualquer sistema de qualidade, sem antes focalizar a atenção na resolução de questões de
relacionamento na equipe interna. Cita ainda: “A gestão dos recursos humanos pode promover a
harmonização das praticas de trabalho, a transparência das comunicações e o estabelecimento
de um ambiente favorável a cooperação.”
Devido ao caráter do artigo anterior, as propostas implantadas estão voltadas para o registro e
documentação de informações, não se obtendo respostas a problemas relacionados à gestão dos
recursos humanos. Como conseqüência o processo não obteve progressos além da esfera
gerencial e documental, gerando, mesmo após várias reuniões, um clima de insatisfação e baixa
produtividade por parte da equipe.
Resolveu-se então tomar como novo elemento principal dentro do plano de qualidade o sistema
de treinamento e de atribuições de competências na tentativa de imprimir formalidade no
cumprimento das tarefas diárias entre os membros atuantes, liberando a gerência da fiscalização
de pequenas atribuições. (Romano, Back e Oliveira, 2002).
O aumento da complexidade dos produtos e tecnologias, o crescente nível de exigência por parte
dos clientes e as margens de lucro em constante declínio, apontam para uma visão estratégica
que deve necessariamente passar por uma urgente valorização profissional.
Segundo Grilo (2002) os clientes não confiam na liderança dos projetistas devido aos diversos
fatores enunciados anteriormente. Os arquitetos estão perdendo mercado para engenheiros e
gerenciadores por sua notória habilidade em planejamento e gerenciamento. Valorizam a
qualidade técnica do projeto e se esquecem que os clientes buscam serviços de qualidade. A
estética não é mais o principal requisito das edificações, estas devem ser eficientes do ponto de
vista econômico, energético e arquitetônico.
Tido como importante fator para o sucesso de uma organização as relações interpessoais são em
sua maioria de cooperatividade. Porém entre os agentes envolvidos no processo construtivo,
construtores e clientes por exemplo, persistem ainda relações de adversidade que podem ser
atribuídas ao excesso de alterações, falta de controle das mesmas, o posicionamento na
resolução dos conflitos, falha na documentação e comunicação e falta de espírito de equipe.
Cada vez mais as atribuições de projeto são delegadas a terceiros em função da sua
complexidade e necessidade de especialização, contribuindo mais uma vez para a desvalorização
do serviço prestado pelo arquiteto dificultando a sobrevivência de pequenas empresas no
mercado que ainda se baseiam em antigos métodos e processos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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arquitetura e urbanismo. Pini, São Paulo, 1999.
FABRÏCIO, M. M. Projeto simultâneo na construção de edifícios. Escola politécnica da USP. São Paulo,
2002. (Tese de doutorado em engenharia civil)
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MENDES, J.C. A abordagem qualitativa e quantitativa no estudo de caso. Anais – Workshop Nacional
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ROMANO, F.V. , BACK N. , OLIVEIRA R. A importância da modelagem do processo de projeto para o
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YIN, R. K. Case study research: design and methods. Sage Publications Inc. 1994.