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Ano XXVII- outubro/2016 nº301 - R$ 13,00 - www.musitec.com.

br

MAURICIO
CERSOSIMO
Novamente a caminho
de Nova York, produtor e
engenheiro conta a sua
história profissional

O
INFECTED PRODUÇÃ IVO
I CA AO V
N
TÉC ZER PARA O
MUSHROOM PUSHER O QUE FA ONAR?
NCI
Waves Signature Series chega SHOW FU
à música eletrônica

LOGIC PRO X MÓDULOS SÉRIE 500


Environment: mais possibilidades Um interessante investimento
e soluções para o seu projeto para pequenos estúdios

Wesley Safadão grava DVD em casa com luz artística e arquitetural


A
CEN
Z&

áudio música e tecnologia | 1


A relação entre arte e trabalho e quanto cobrar por seus serviços
LU
2 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 1
ISSN 1414-2821
EDITORIAL
Áudio Música & Tecnologia
Ano XXVIII – Nº 301/outubro de 2016
Fundador: Sólon do Valle

Direção geral: Lucinda Diniz -

INSPIRAÇÃO E
lucinda@musitec.com.br
Edição jornalística: Marcio Teixeira
Consultoria de PA: Carlos Pedruzzi

TRANSPIRAÇÃO COLABORARAM NESTA EDIçÃO


André Paixão, Cristiano Moura, Enrico De
Paoli, José Carlos Pires Junior, Renato
Muñoz e Rodrigo de Castro Lopes.
Histórias inspiradoras, de gente que correu atrás dos seus sonhos, conseguiu
atingir seus objetivos e ainda mostra como o caminho, apesar de cheio de per-
Foto de capa: Divulgação
calços, pode ser percorrido sem que se perca o equilíbrio, são coisas muito le-
gais de se ver, ouvir, ler. Confira a matéria de capa desse mês, a entrevista com
REDAçÃO
o engenheiro e produtor Mauricio Cersosimo, e depois me diga se não dá von-
Marcio Teixeira - marcio@musitec.com.br
tade de crescer, ser bom no que você faz, ser livre em seu trabalho e receber
Rodrigo Sabatinelli - rodrigo@musitec.com.br
todo o merecido reconhecimento. É bem bacana e, como disse antes, inspira. redacao@musitec.com.br
cartas@musitec.com.br
Na seção Notícias do Front, outro profissional que rala e inspira a todos,
Renato Muñoz, fala sobre produção técnica e o que deve ser feito para que DIREçÃO DE ARTE E DIAGRAMAçÃO
um show aconteça. Pra variar, é mais uma verdadeira aula do Renato para o Client By - clientby.com.br
nosso público leitor, sempre agraciado por suas colunas, que transmitem co- Frederico Adão e Caio César
nhecimento com a leveza e praticidade habituais. Dito isso, confira o Notícias
do Front desse mês e, em poucos minutos, aprenda um pouco mais. Assinaturas
Karla Silva
Na seção Plug-ins, o mestre Cristiano Moura nos brinda com uma análise do assinatura@musitec.com.br
Infected Mushroom Pusher, novidade da Waves Signature Series que promete
espalhar pelo mundo o “molho especial” do som da celebrada dupla. Se você Distribuição: Eric Brito
curte o Infected Mushroom, o estilo dos caras, música eletrônica em geral ou
é alguém que “apenas” ama áudio, música e plug-ins, corre lá na seção. Publicidade
Mônica Moraes
Na matéria com o Braza, banda que nasceu das cinzas do Forfun e agora cai na monica@musitec.com.br
estrada já com fãs cantando junto em tudo quanto é lugar, nosso sempre inspi-
rado e transpirado Rodrigo Sabatinelli, por meio de uma entrevista com o técnico Impressão: Gráfica Stamppa Ltda.
de PA Marcos Doñate, mostra como é o show dos caras. Captação, consoles,
dificuldades on the road – tá tudo lá. E nas seções Fazendo Música no Estúdio e Áudio Música & Tecnologia
Produção Fonográfica, os professores Rodrigo de Castro Lopes e José Carlos Pires é uma publicação mensal da Editora
Junior (este último o mais novo papai do nosso time de colaboradores!), respec- Música & Tecnologia Ltda,
tivamente, apresentam conteúdo de qualidade em textos, novamente respecti- CGC 86936028/0001-50
vamente, sobre a interessantíssima fraseologia musical aplicada à masterização Insc. mun. 01644696
e os módulos Série 500, que podem ser bem úteis em pequenos estúdios. Insc. est. 84907529
Periodicidade Mensal
E por falar em estúdio, e em profissionais de alto gabarito, nossa página final,
a do Lugar da Verdade, traz o grande Enrico De Paoli explicando aspectos fun- ASSINATURAS
damentais na hora de se escolher o software para o seu estúdio. Mas, antes, Tel/Fax: (21) 2436-1825
temos o caderno Luz & Cena, cujos destaques são o DVD que o cada vez maior (21) 3435-0521
Wesley Safadão gravou na sua casa, em Fortaleza, com um esquema de ilumi- Banco Bradesco
nação todo especial, e a seção Iluminando, do também mestre Rodrigo Horse, Ag. 1804-0 - c/c: 23011-1
que convida o profissional da luz a pensar no valor que ele dá ao seu trabalho,
e, consequentemente, no valor que cobra por ele. Uma reflexão bem válida. Website: www.musitec.com.br

Boa leitura! Não é permitida a reprodução total ou


parcial das matérias publicadas nesta revista.
Marcio Teixeira
AM&T não se responsabiliza pelas opiniões
de seus colaboradores e nem pelo conteúdo
2 | áudio música e tecnologia dos anúncios veiculados.
áudio música e tecnologia | 3
26
Mauricio Cersosimo 38 Desafiando a Lógica
Explorando as entranhas do Logic com o Envi-
Em detalhes, a história do produtor
ronment (Parte 2): Dando sequência à explo-
e engenheiro brasileiro, novamente ração no ambiente menos explorado – porém
a caminho de Nova York muito útil quando compreendido – do Logic Pro X
Rodrigo Sabatinelli André Paixão

42 Fazendo Música no Estúdio


Fraseologia musical aplicada à masterização
Rodrigo de Castro Lopes
14 Em Tempo Real
Marcelinho Guerra
Marcio Teixeira
46 Produção Fonográfica
Módulos Série 500: Um interessante
investimento para pequenos estúdios
16 Notícias do Front
Produção técnica ao vivo
José Carlos Pires Junior

O que podemos fazer para o show funcionar? (Parte 1)


Renato Muñoz
64 Lugar da Verdade
Qual software usar no seu estúdio?
Enrico De Paoli
22 Plug-ins
Infected Mushroom Pusher
Waves Signature Series chega à música eletrônica
Cristiano Moura
seções
34 A Hora do Braza
Novo projeto de ex-integrantes do
editorial 2 notícias de mercado 6
Forfun ganha a estrada
novos produtos 10 índice de anunciantes 63
Rodrigo Sabatinelli

54
58
capa
iluminando
Casa Iluminada – Wesley
Quanto vale seu suor? Relação entre arte e
Safadão grava DVD em Fortaleza
trabalho e quanto cobrar por seus serviços
com luz artística e arquitetural
por Rodrigo Sabatinelli por Rodrigo Horse

PRODUTOS .................................. 50

EM FOCO .................................... 52

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FINAL CUT .............................................. 92

áudio música e tecnologia | 5


nacionais de pró-áudio e showbusiness ainda
têm muito a evoluir

NoTíCiAs DE MERCADO

EXPOMUSIC: APESAR DAS MUDANçAS,


OTIMISMO DEU O TOM
Quem, como a Áudio Música & Tecnologia, esteve presente fiança”), após algum tempo de baixo-astral generalizado. O
durante os cinco dias da edição 2016 da Expomusic, pôde evento do ano passado, quando o dólar estava na estratosfe-
notar alguns pontos principais desta versão do megaeven- ra e as incertezas político-econômicas eram gigantescas, não
to. O primeiro fato, percebido rapidamente, é que a feira, nos deixa mentir.
a mais importante do nosso país entre as que abordam os
temas áudio, instrumentos musicais e iluminação, diminuiu E tanta positividade se traduziu em resultados. Segundo
de tamanho. Diversas empresas optaram por formas de co- dados oficiais divulgados pela organização da feira, foram
municação com o mercado que não a montagem de um es- registrados R$ 240 milhões em vendas ao longo dos cinco
tande no Anhembi, novo palco da Expomusic. E, por isso, os dias. Synésio Batista da Costa, presidente da Abemúsica
eventos paralelos vêm ganhando força. (Associação Brasileira da Música), que promove o evento
junto com a Francal Feiras, foi categórico ao afirmar que a
Outro fato que merece destaque foi a presença majoritária de Expomusic 2016 “representou o fim de um ciclo de queda e
empresas do mercado de instrumentos musicais, deixando o o início da retomada das vendas”. Que os bons dias tenham
segmento de áudio profissional em segundo plano. Pode-se dizer chegado para ficar.
que espaços em que antes mesas de mixagem e soluções de
gravação e produção eram conferidas e testadas, na edição 2016 Para conferir a versão integral de nossa análise sobre a Expomusic 2016,
foram trocadas pelos já anteriormente celebrados estandes em visite http://tinyurl.com/expomusic-opiniao. E não perca, na próxima edi-
que visitantes podem experimentar guitarras, synths e máquinas ção da Áudio Música & Tecnologia, nossa cobertura completa do evento.
de eco, entre outros itens. E quase não se notou a
presença de empresas de iluminação no evento. As

AM&T
poucas que lá estiveram acabaram concentrando
toda a atenção de quem tem interesse pelo setor.
Mas, de fato, praticamente não se viu luz na feira.

Dito isso, quem esteve presente à Expomusic,


seja como expositor, comprador ou entusias-
ta, provavelmente saiu satisfeito. O barulho de
sempre, resultado da mistura de sons vindos de
dezenas de estandes, foi o tema “quase musi-
cal” ao fundo enquanto sistemas de som, equi-
pamentos e instrumentos eram demonstrados
e experimentados. E no que diz respeito a ne-
gócios, o que se sentiu em conversas com os
presentes é que vive-se um momento que pode
significar uma retomada. A própria Expomusic
“vendeu” essa ideia, com material gráfico es-
palhado pela feira que trazia uma mensagem Público nos corredores da Expomusic:
otimista, de superação (“Retomando a con- “retomada da confiança” foi o lema do evento

SHURE E MUSICAL EXPRESS PELA


PRIMEIRA VEz JUNTAS EM ESTANDE
Ainda falando de Expomusic, a edição de 2016 do evento foi Na ocasião, a Shure festejava os 50 anos do lendário micro-
marcante para a dupla Shure/Musical Express. Isso porque, fone SM58, que se vestiu de prata em uma edição limitada
apesar de trabalharem juntas desde outubro de 2015, foi a para comemorar a data (confira na seção Novos Produtos
primeira vez em que visitantes do evento puderam ver expos- nota sobre a novidade). Em destaque no estande da Musical
tos os produtos Shure no estande de sua parceira, que assu- Express, esta edição limitada do microfone, SM58-50A, podia
miu a distribuição da marca para o mercado musical e lojas. ser vista por quem passasse pelo espaço.

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notícias de mercado

PROSHOWS É O NOVO DISTRIBUIDOR EXCLUSIVO


DOS ALTO-FALANTES CELESTION NO BRASIL
A ProShows anunciou no final de setembro seu mais recente acordo de distribuição exclusiva para o Brasil. O parceiro é a
empresa inglesa de alto-falantes Celestion Loudspeakers. Fundada em 1924, a Celestion é uma das mais antigas e tradicionais
empresas do segmento no mundo, e terá pela primeira vez um distribuidor oficial no Brasil.

Responsável pelo primeiro alto-falante dedicado para gabinetes de guitarra, os falantes da Celestion estão associados a apre-
sentações memoráveis de guitarristas como Jimi Hen-

Divulgação
drix e Slash até as atuais gerações de solistas mundial-
mente consagrados. Os falantes e drivers da Celestion
equipam algumas das caixas acústicas mais renomadas
do mundo, como EAW, Fender, Mackie, Marshall, QSC,
Renkus-Heinz e Yamaha, entre outras.

“Visitei uma fábrica da Celestion e posso afirmar com con-


vicção que trata-se de uma das mais modernas, organi-
zadas e automatizadas que já vi na minha vida”, afirmou
Vladimir de Souza, presidente da ProShows. “Estamos
muito felizes em poder contar com a ProShows como nos-
so distribuidor no Brasil, uma vez que trata-se da empresa
líder no Brasil em seu segmento e é respeitada e conhecida
por todos os importantes fabricantes de áudio do mundo”,
destacou, por sua vez, Nigel Wood, diretor da Celestion. ProShows e Celestion juntas: material celebra parceria

PROFISSÃO ENTRETENIMENTO 2016 EM OUTUBRO


Acontece, nos dias 11, 22, 24 e 25 de outubro, no Espaço Cultural Escola Sesc, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, a edição 2016
do evento Profissão Entretenimento – Um Mercado em Expansão, destinado à promoção de negócios, qualificação profissional e
apresentação do cenário brasileiro na indústria do entretenimento nos segmentos de espetáculos, produção musical e audiovisual.

O encontro será dividido em quatro áreas: área de formação – espaço de realização de workshops e ações de qualificação
técnica, com transmissão via internet; área de exposição – espaço destinado para montagem de exposições de empresas,
equipamentos e serviços; área de informação – espaço destinado à realização de palestras e apresentações expositivas das
instituições e parceiros do evento; e área de negócios – espaço destinado à promoção de encontros de negócios, previamente
agendados e articulados por meio de metodologias consagradas de promoção de negócios.

E como forma de estimular o segmento de Artes e Entretenimento, o IATEC, em parceria com o Espaço Cultural Escola Sesc
promovem a segunda edição do Prêmio Profissão Entretenimento – 2016, que premiará profissionais nas categorias Produtor
de Eventos, Produtor de Shows, Iluminador de Shows,
Divulgação

Iluminador de Teatro, Roadie, Técnico de PA, Técnico de


Monitor, entre outros.

Para ter acesso à lista de palestras que poderão ser


conferidas durante o evento, bem como garantir seu
lugar nelas, visite http://iatec.com.br/forum/progra-
macao-inscricoes. O ingresso para o Profissão Entrete-
nimento 2016 é 1 kg de alimento não perecível, e todo
alimento arrecadado será encaminhado ao Retiro dos
Artistas. As inscrições podem ser realizadas em http://
iatec.com.br/forum/formulario-inscricao.

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NoVos PRODUTOS

EDIçÃO ESPECIAL CELEBRA OS 50 ANOS DO SM58


O microfone SM58, da Shure, está completando 50 Paula Fernandes a instituições beneficentes, e os re-
anos. Para comemorar, a marca anunciou uma edi- cursos obtidos com a iniciativa serão direcionados à
ção especial de aniversário do SM58 – o SM58-50A. instituição filantrópica dos artistas.
A edição limitada inclui todas as características téc-
nicas do SM58 que o tornaram referência no mundo “O SM58 tem sido a alma de apresentações musicais
do áudio e da música, além de acabamento prateado inesquecíveis ao longo de cinco décadas e deixou sua
e menção ao 50º aniversário impressa no corpo do marca em diversas gerações de plateias e artistas”, co-
microfone. Ele acompanha embalagem com grafismos menta Soren Pedersen, especialista de produto da Shure.

Divulgação
históricos, certificado e adesivo comemorativos, foto- “Para nós, é uma grande emoção e honra celebrar este
grafias e manual do usuário em versão retrô. marco histórico, e mal podemos esperar para conhecer as
experiências de fãs do SM58 no mundo inteiro”, concluiu.
Além do modelo especial de aniversário, a Shure irá
doar unidades do SM58 autografadas por Lulu Santos, www.shure.com
Chitãozinho e Xororó, Diogo Nogueira, Aline Barros e br.shure.com

TAIGAR SYSTEM LANçA SISTEMA VERTICAL SLIM V851


Já chegou ao mercado, após ser apresentado em maio, pela Taigar System, durante a AES 2016, o sistema
vertical Slim V851, com potência de 1500 W RMS e processado internamente por DSP. O conjunto é biam-
plificado e possui um line array com oito alto-falantes de 5” e drive de titânio, o que permite uma abertura

Divulgação
horizontal de 130° e vertical de 20°. Faz parte do conjunto também um subwoofer de 18”.

Entre as quatro opções de processamento definidas estão “Voice”, que apresenta nitidez e fidelidade na voz,
“Acustic”, que permite cortes perfeitos para bandas e conjuntos musicais, “Flat”, para uma livre equaliza-
ção, e “DJ”, especialmente desenvolvido para quem deseja um boost nas frequências baixas. De acordo
com a fabricante, essas configurações geram um timbre único, característico da TGR.

www.taigar.com.br

FOCUSRITE ANUNCIA O CLARETT OCTOPRE,


CONVERSOR A-D/D-A DE OITO CANAIS
A Focusrite anunciou no dia oito (ponto para o departa- preamp para o ISA original. Desse modo, ele permite criar
mento de marketing) de setembro o lançamento do Clarett o “efeito de ressonância do transformador”, dando às gra-
OctoPre, projetado para permitir uma adição rápida de oito vações de microfone um “ar” e clareza das gravações feitas
entradas de microfones ou linha e oito saídas de linha para no clássico preamp de microfone baseado no transforma-
toda a sua linha de interfaces de áudio, ou para outras in- dor Focusrite ISA. Além disso, os prés de microfone têm
terfaces que incluem entradas e saídas óticas ADAT. bastante headroom e são ideais para gravação de bateria e
outras fontes de nível extremas.
Os prés de microfone foram projetados especialmente para
a linha Clarett, com bastante ganho, baixo ruído e dis- O painel frontal inclui duas entradas para instrumentos
torção e som de qualidade. O OctoPre inclui um recurso com headroom estendido, enquanto o painel traseiro inclui
especial chamado “Air”, que comuta os sinais em um mo- conectores universais XLR/jack. Além disso, cada entrada
delo analógico do clássico preamp de microfone baseado tem seu próprio ponto de inserção para conexão de um
no transformador Focusrite ISA, alterando a impedância do único cabo de compressão, equalização e outro processa-
mento analógico externo.

us.focusrite.com
www.habro.com.br

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NoVos PRODUTOS

AMPLIFICADORES SLIM DUAL E QUATTRO: NOVIDADES DB SERIES


Desde os anos 1980 fabricando e consertando aparelhos eletrônicos, a DB Series decidiu investir em novas tecnologias e
desenvolveu sua primeira linha de amplificadores baseados na classe de amplificação D. Em continuidade ao seu trabalho de
inovação, a marca apresenta a linha Slim Dual e Quattro.

Esta linha de amplificadores de uma unidade de rack é a extensão da já consagrada linha DB Series. Seus diferenciais são os
terminais Euroblock e Speakon em suas saídas, filtros passa-alta e passa-baixas, modo normal e bridge, além de outros diferen-
ciais oferecidos pela linha DS e QS, como módulo de amplificador Classe D e fonte linear para uma maior segurança e resposta.

A linha é composta por um total de sete equipamentos: o DS 400, com 2 x 200 W RMS 4 ohms; DS 800, que traz 2 x 800
RMS 4 ohms; DS 1.2k, com 2x600 RMS 2 ohms; QS1200 (foto) e seus 4 x 300 W RMS 4 ohms; QS1600, com 4 x 400 RMS
4 ohms; QS 1.2k, com 4z300w RMS 4 ohms; e
DS800/70v, que possui 2 x 400 W em 70 volts.
Divulgação

www.dbseries.com.br

MBX: NOVA SÉRIE DE FALANTES B&C SPEAKERS


A B&C Speakers anunciou recentemente que já está nossos parceiros OEM melhorar seus produtos e ajudá-los a
disponível a nova série MBX Series de alto- intensificar sua presença no mercado”, acrescentou.
-falantes. “A MBX, alto-falantes de médio-
-grave, oferece aos projetores acústicos Estes transdutores incorporam a leveza dos moto-
uma nova gama de alta eficiência, ampla res de neodímio, bobina para voz, enrolada den-
largura de banda alternativa que ainda tro e fora com fio de cobre e alumínio, indutância
não possuíamos na nossa li- simétrica e cones de papel resistentes a in-
nha de produtos”, destacou tempéries. Disponíveis nos tamanhos 6”, 8”,
Alessandro Pancani, diretor e 10”, a MBX Series é, de acordo com
executivo de tecnologia da a B&C, especialmente adequada para
fabricante. “Estes alto-falan- caixas acústicas de duas vias.
Divulgação

tes são uma importante adição


ao nosso catálogo e permitirão a www.bcspeakers.com

NOVO SISTEMA DIGITAL DE MIXAGEM


PARA BROADCAST STUDER MICRO SERIES
Divulgação
A Studer tornou público, também no início de setembro, o lan- Para broadcas-
çamento do novo Studer Micro Series. Compacto e versátil, o ters que que-
novo sistema digital de mixagem foi projetado para atender a rem um contro-
uma variedade de aplicações em broadcast e produção por um le tátil, o módulo
valor acessível e consiste em uma unidade central, uma inter- opcional da
face gráfica e uma superfície de controle opcional. controlado-
ra física de
A unidade central é um robusto 3RU, um rack que abriga o faders oferece
sistema de controle, DSP e I/O integrados, incluindo AOIP via controles simplifica-
oito canais de DANTE I/O. A porta LAN e roteador wi-fi inter- dos para os ajustes de nível rápidos e multitarefa
no permitem a conexão fácil com computadores e tablets. durante a operação ao vivo. Podem ser anexadas duas
Cada função da unidade central pode ser controlada por meio controladoras para um máximo de 12 faders.
de uma intuitiva interface gráfica. Os usuários podem se co-
nectar usando um HTML5 no web browser do computador ou www.studer.ch
tablet, sem necessidade de adicionar nenhum software. www.libor.com.br

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Divulgação
EM TEMPO REAL | Rodrigo Sabatinelli

MarcELinHo
GuErra
M
úsico, produtor musical e engenheiro timos anos produziu mais de 300 canções, lançadas
de gravação, mixagem e masterização, em singles, EPs, CDs e DVDs, e, hoje, além de admi-
Marcelinho Guerra é também sócio de um nistrar o Locomotiva, viaja o país ao lado de Wilson
dos mais bem equipados estúdios de Belo Horizonte, Sideral, artista com o qual trabalha há seis anos.
o Locomotiva, por onde já passaram artistas como
Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Otto, Rogério A seguir, as preferências do profissional, que sonha
Flausino, Flávio Renegado, Toninho Horta e Samuel trabalhar para sempre com nomes ligados 100% à
Rosa, entre muitos outros. música e à arte.

Aos 11 anos de idade, quando montou sua primeira MICROFONES: Gosto muito do TM-1, da Pearl-
banda, “um poderoso power trio”, ele se viu literal- man Microphones, que é um clone do U47, da Neu-
mente apaixonado pela música, e desde então não mann. Trata-se de um mic valvulado, de cápsula
se distanciou dela. De lá para cá, saboreou cada eta- larga, que acabou se tornando o meu preferido
pa de sua evolução, que, como ocorre com parte dos para captação de voz, dentre outras aplicações,
jovens nessa faixa etária, iniciou-se, basicamente, como, por exemplo, em gabinetes de baixo e gui-
nas descobertas e nos experimentos. tarra. Ele tem muito “corpo” e, mesmo nas vozes
mais estridentes, soa macio. Curiosamente, o me-
“O pai do baterista [da banda] montou um estúdio lhor som de violão de aço que já tirei na vida foi
para que nós ensaiássemos durante os finais de se- com ele. Mas engana-se quem pensa que é um
mana. Eu, como sempre fui muito curioso, adorava microfone fácil de lidar. Por ter muita sensibilida-
estar lá, mexendo em tudo, testando todas as pos- de, ele capta muito as salas e qualquer mudança
sibilidades”, lembra Marcelinho, que ao longo dos úl- de angulação já modifica o som do instrumento.

14 | áudio música e tecnologia


Além dele, gosto muito do RE20, da Electro-Voice, som já esteja bem prontinho e eu possa trabalhar
que tem uma definição muito boa nos graves, po- mais, durante essa etapa do processo, as ques-
dendo ser usado em bumbos com peles fechadas, tões artísticas.
e é muito fácil de se posicionar, e do M 160, da
Beyerdynamic, um ribbon hipercardioide que soa NO ESTÚDIO, NÃO GOSTO DE: Conversa paralela.
muito bem ao lado de qualquer condenser. Cos- É importante estar sempre focado.
tumo utilizá-lo em captações de hi-hats, overs,
mono rooms e bumbos de bateria. ENGENHEIRO NACIONAIS DE MIXAGEM: César
Santos, daqui de BH, com quem trabalho sempre,
PRÉ-AMPLIFICADOR: O 1073D, da BAE Audio, e Gustavo Lenza. O César é um cara que tem um
um pré “gordo” que conta com três bandas de ouvido excepcional e que, por conhecer meu jeito
equalizador que me permitem fazer todo e qual- de trabalhar e meu gosto, consegue me entregar as
quer tipo de ajuste. Costumo utilizá-lo em todos mixagens prontas, sem necessidade de recall. E o
os tipos de fontes sonoras pela qualidade e flexibi- Gustavo, com quem espero trabalhar um dia, é o
lidade que ele me dá. engenheiro que fez o “Vagarosa”, disco da Céu, que
tem um som fantástico, cheio de personalidade e
XODÓ: Meu mix buss, pois trabalho com mixa- que me marcou muito.
gem híbrida e, por conta disso, ele faz muita dife-
rença. Meu método de trabalho é, basicamente, o ENGENHEIRO INTERNACIONAL DE MIXA-
seguinte: primeiramente, envio os canais do Pro GEM: Atualmente, tenho curtido muito o tra-
Tools para uma Symphony I/O, da Apogee, e dela balho de dois caras – o Michael Brauer e o Tom
sigo com eles para o summing D-Box, da Dange- Elmhirst. O Brauer sabe usar muito bem efeitos
rous Music, e, consequentemente, para o G Buss, como reverbs, delays e drives e, principalmen-
da SSL. Desse G-Master sigo diretamente para os te, as ambiências. Todas as mixagens dele soam
1073, da Neve, ou para os Pultec, da Warm Audio, grandiosas e são muito ousadas. E o Tom é o tí-
dependendo, claro, do tipo de trabalho que estou pico engenheiro que enxerga uma mix por outra
finalizando, pois são duas ferramentas comple- perspectiva. É um cara que constrói um shape
tamente diferentes, e após passar pelos 747, da para as músicas, sabe?
Avalon, chego ao conversor Apogee Rosetta 200,
que tem um soft limiter muito bom. ENGENHEIRO NACIONAL DE MASTERIZAÇÃO:
Ricardo Garcia, que é a lenda da masterização no
PERIFÉRICO: Recentemente comprei um par de Brasil, e Felipe Tichauer, brasileiro que tem um es-
compressores 160, da dbx. São equipamentos de túdio em Miami.
muita personalidade, que podem ser usados, por
exemplo, em bumbos e caixas de bateria, pois têm ENGENHEIRO INTERNACIONAL DE MASTERI-
muito punch e “colorem” demais o som deles. É um ZAÇÃO: Certamente, Bob Ludwig. Gosto de tudo o
VCA imbatível. que ouço dele, pois trata-se de um engenheiro que
trabalha muito bem a questão a dinâmica, dentre
PLATAFORMA DE GRAVAÇÃO: Aqui no estúdio outras coisas.
uso o Pro Tools, que tem uma interface interessante,
é fácil de trabalhar e, mais do que isso, é o software SONHO NA PROFISSÃO: Poder sempre trabalhar com
universal, usado por produtores e engenheiros de artistas que estejam ligados 100% à música, à arte
todo o mundo.
DICAS PARA INICIANTES: Pesquisem muito!
NO ESTÚDIO, GOSTO DE: Experimentar! Tenho Tem muita coisa na internet, muitos vídeos dos
muitos instrumentos que comprei ao longo dos grandes profissionais mostrando suas metodolo-
anos pensando nas gravações e gosto muito de gias etc. Mas o principal de tudo é trabalhar os
usá-los, de afiná-los de acordo com cada músi- ouvidos e colocá-los em prática, pois o áudio, na
ca, sabe? Também gosto de gravar tudo valendo. teoria, é relativo. Então, para mim, a combinação
Costumo fazer dessa forma para que, na mix, o perfeita é pesquisar e praticar. •

áudio música e tecnologia | 15


Notícias do Front | Renato Muñoz

Produção
técnica ao vivo
O que podemos fazer para o
show funcionar? (Parte 1)

N
este artigo, assim como fiz

Acervo Renato Muñoz


em muitos outros que es-
crevi, não citarei nomes.
Não que tenha medo da reação
negativa de pessoas que recebe-
rem um crítica qualquer. Na ver-
dade, tenho receio de esquecer
de citar pessoas (conhecidas ou
não) que, tenho certeza, fazem
um bom trabalho, e realmente não
são poucas, porém, acho que exis-
tem muitas pessoas no ramo que
não sabem o que fazem.

Infelizmente, não é a primeira e pro-


vavelmente não será a última vez
que escrevo sobre a frustração de
encontrar no mercado tantas pes-
soas ocupando cargos importantes
dentro de grandes eventos e poder
notar que muitas delas são comple-
tamente despreparadas para exe-
cutar suas funções de uma maneira
profissional. Isto ocorre em diversas Reunião da produção executiva com todos
“áreas de atuação”.
os produtores envolvidos no evento

Desta vez falarei sobre um profissional que está do tamanho do evento, do que será necessário para
envolvido não só com o áudio, mas com todos os que este evento funcione. O produtor técnico res-
outros aspectos técnicos dentro de um show. Na ponde a um produtor executivo e deve estar prepa-
verdade, ele deve entender bem de tudo o que rado para prever problemas e apresentar soluções.
acontece tecnicamente e logisticamente dentro
do universo de um show ou de um evento com De uma forma geral, produtores técnicos são pessoas
diversos aspectos técnicos (iluminação, sonori- que já possuem alguma experiência de trabalho técni-
zação, projeção, energia elétrica, carregadores, co dentro de um show. Muitos já trabalharam ou ainda
horários etc.). trabalham com sonorização ou iluminação, outros fo-
ram roadies... O mais importante é terem um conhe-
Este profissional é o produtor técnico. Como o nome cimento geral dos aspectos técnicos, um bom senso
já diz, é a pessoa ou pessoas responsáveis por to- de organização e planejamento, pois boa parte do seu
dos os fornecedores. Suas atribuições vão depender trabalho será feito na pré-produção.

16 | áudio música e tecnologia


ANTES DA PRODUÇÃO TÉCNICA,
UM POUCO DE PRODUÇÃO
EXECUTIVA
Dentro de um evento, o produtor técnico normal-
mente responde a um produtor executivo, e este,
por sua vez, faz o trabalho de escritório: financeiro,
pessoal, transporte etc. Tanto o produtor executi-
vo quanto o produtor técnico podem trabalhar para
uma empresa de eventos ou podem ser independen-
tes, trabalhando como freelancers.

Todo o evento, independentemente do seu tamanho


ou importância, pode ser dividido em três partes: a
pré-produção, a produção e a pós-produção, e ao lon-
go deste texto veremos quais as principais diferen-
ças entre elas e quais são os profissionais que atuam
nestas etapas, o importante é saber que todas são
fundamentais para o projeto. Um erro em qualquer Informações que podem ser colhidas pelo produtor técnico
uma delas pode comprometer todo o evento.
mos agora algumas delas.
Do ponto de vista do produtor executivo, existem algu-
mas variações de como o evento pode ser construído. Existem algumas reuniões que devem ser feitas para
Podemos ter um patrocinador master que irá bancar o o planejamento de qualquer evento, sendo que a
evento ou o próprio produtor executivo banca o evento quantidade de reuniões e a quantidade de pessoas
e depende de um patrocinador secundário e da venda que irão participar destas reuniões depende basica-
de ingresso para pagar os custos. Qual a posição do mente do tamanho do evento e de como os pro-
produtor executivo? Trabalha para alguém que botou dutores executivos vão lidar com este assunto. Já
dinheiro ou ele mesmo coloca dinheiro no evento? participei de reuniões técnicas como duas pessoas e
outras com mais de dez!
O produtor executivo irá, então, capitanear o evento.
É ele quem dará as direções ao produtor técnico (prin- Usarei como exemplo uma situação que eu acho mais
cipalmente nas questões financeiras e artísticas). É o simples e que geralmente funciona bem, que é uma
produtor executivo quem decide o quanto do orçamen- reunião de duas pessoas, o produtor executivo e o
to será destinado aos diferentes fornecedores envolvi- produtor técnico. Neste momento o produtor técnico
dos. É importante que o produtor executivo tenha con- deve conseguir tirar o máximo possível de informa-
fiança nas indicações feitas pelo seu produtor técnico. ções do produtor executivo, pois é com base nestas
informações que ele irá desenvolver o seu trabalho.
Produtores executivos são pessoas com experiência
financeira e acostumadas a fazer o “trabalho de escri- Nesse “máximo possível de informações” estão pon-
tório”. Muitas vezes não são necessários no lugar do tos como data, local e tipo de evento (show, teatro,
evento (principalmente se tiverem um bom produtor musical, corporativo, público pagante, evento gra-
técnico), porém, em alguns casos (dependendo do tuito etc.), características do local (aberto, fechado,
tamanho do evento), alguns produtores executivos casa de show, teatro, ginásio), tamanho do local (pe-
chegam a montar o seu escritório no local do evento queno, médio ou grande), se existem ou não neces-
para facilitar seu trabalho. sidades especiais exigidas por um contratante ou por
uma banda (mapping, fogos de artifícios ou qualquer
PRÉ-PRODUÇÃO outra coisa fora dos padrões normais de espetáculos).

A pré-produção pode ser dividida em partes. Vere- Quando o produtor técnico tem um pouco mais de

áudio música e tecnologia | 17


Notícias do Front

experiência, neste primeiro

Acervo Renato Muñoz


encontro ele já consegue
saber quais serão os rumos
do evento, consegue per-
ceber qual tipo de investi-
mento o produtor executivo
irá fazer, se existe dinheiro
ou não e se existe vontade
para o investimento neces-
sário. É bom para o evento
e para todos os envolvidos
que estas condições fiquem
claras logo no começo dos
trabalhos.

FORNECEDORES
DE SERVIÇOS
Baseado nas informações O produtor técnico deve perceber quando pedidos desnecessários
colhidas nesta primeira são feitos, para, assim, evitar desperdício no orçamento
reunião técnica, um bom
produtor técnico reconhecerá as necessidades téc- nico. Um bom produtor técnico deve saber o que
nicas do evento e poderá, então, preparar uma lista é essencial e o que pode ser supérfluo dentro das
de fornecedores que irão prover os equipamentos necessidades que lhe foram pedidas na reunião de
necessários. As suas escolhas podem representar produção, assim como conseguir identificar os for-
uma grande economia ou um grande gasto para o necedores certos para cada tipo de evento.
evento, além de poder comprometer tecnicamente
todo o trabalho. Muitas vezes o produtor técnico precisa atender a
necessidades estabelecidas por terceiros, principal-
Em eventos de grande porte poderemos encontrar mente quando existem bandas envolvidas. Alguns
mais de um produtor técnico trabalhando em seg- pedidos podem ser claramente desproporcionais ou
mentos diferentes. Por exemplo, um produtor pode desnecessários, e cabe ao produtor técnico consul-
ficar com iluminação, sonorização e painel de LED tar o produtor executivo se tais pedidos devem ou
(palco), enquanto outro pode ficar com geradores, não ser atendidos, pois, antes de mais nada, po-
barricadas e estruturas (extra palco). Assim não ha- dem gerar gastos elevados.
verá sobrecarga de trabalho e os produtores pode-
rão ficar mais focados nas suas áreas. VISITAS TÉCNICAS
Normalmente, o produtor técnico escolhe dois ou Ainda dentro da pré-produção, uma outra ativi-
três fornecedores de cada área com a qual irá traba- dade importante que acontece é a visita técnica.
lhar e então tem início a troca de informações para Depois de estabelecidas algumas necessidades em
que estes possam começar a pensar em necessida- termos de equipamentos, sempre é bom que tanto
des técnicas e valores. Neste momento, o melhor é o produtor técnico quanto os representantes dos
ser o mais realista possível com os fornecedores: fornecedores possam ir ao local do evento para
nada de esconder informações ou minimizar o servi- entender como as coisas irão funcionar. Estas visi-
ço para conseguir preços mais baratos. tas podem ser marcadas com vários fornecedores
em diferentes dias ou horários.
Saber falar “tecnicamente” com os fornecedores
e “financeiramente” com as pessoas do dinheiro é O representante técnico de cada fornecedor deve
uma qualidade que procuramos no produtor téc- fazer as suas anotações (tudo relacionado às suas

18 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 19
Notícias do Front

nicos com mais experi-


Acervo Renato Muñoz

ência estão acostumados


a este tipo de situação,
e algumas pequenas va-
riações já estão previstas
nos orçamentos. O pro-
blema é quando o que
se viu durante a visita
técnica muda radical-
mente na hora em que
todos chegam para fazer
a montagem e instalação
de seus equipamentos (e
isto ocorre mais do que
deveria)

ÚLTIMAS
ETAPAS DA PRÉ-
PRODUÇÃO
Espaço para os caminhões é um dos pontos a serem Uma vez estabelecidas
vistos pelo produtor técnico na visita técnica todas as necessidades
técnicas para o evento,

necessidades) e, principalmente, checar se o que o produtor técnico se reúne novamente com o pro-
lhe foi informado pelo produtor técnico bate com dutor executivo para que possam analisar os orça-
o que ele está vendo no local. Tamanho do local, mentos mandados pelos fornecedores e finalmente
estrutura, acessos e todos os demais detalhes definir quais deles participarão do evento. Mais uma
são importantes, pois o orçamento final pode de- vez poderão acontecer discussões sobre qualidade
pender deles. técnica vs. preço, porém a palavra final normalmen-
te é do produtor executivo.
Durante a visita técnica, o produtor técnico deve fi-
car atento a detalhes referentes aos fornecedores e Quando finalmente forem escolhidos todos os for-
ao local propriamente dito, como acesso dos cami- necedores, o produtor técnico precisa estabelecer
nhões, posicionamento dos geradores (se forem ne- um contato direto com eles. Deve ficar claro que o
cessários), acesso dos equipamentos ao palco (será produtor técnico não é responsável por pagamentos
apenas um ou mais?) e disponibilidade de espaço para (isto fica a cargo do produtor executivo). Neste mo-
o armazenamento de cases vazias. Algum fornecedor mento, o produtor técnico deve colher informações
pode atrapalhar o outro na sua montagem? secundárias dos fornecedores, como acessos, carre-
gadores e tempo para montagem e desmontagem.
Depois de um tempo participando de reuniões téc-
nicas, posso afirmar algumas coisas: sim, eu acho Depois deste levantamento o produtor técnico pode
que elas são necessárias e importantes para um começar a elaborar o cronograma que será entre-
bom trabalho, porém nem sempre o que se diz, o gue aos fornecedores. Quanto mais específico este
que se vê ou o que se combina em uma reunião cronograma, melhor – com horários de chegada dos
técnica é o que realmente acontece. Isto se dá por caminhões (nem todos podem ou devem chegar ao
diversos motivos, e nem sempre existe apenas um mesmo tempo), chegada dos técnicos, início da
culpado. É bom ficar atento a possíveis mudanças, montagem, ensaios, shows, desmontagem, saída
que certamente ocorrerão. dos caminhões etc.

Representantes de fornecedores e produtores téc- Quanto mais fornecedores e mais pessoas traba-

20 | áudio música e tecnologia


lhando no evento, mais importante será a precisão deste cronograma.
Sempre que alterações forem feitas, todos devem ser avisados ime-
diatamente. Muitos fornecedores pagam seus funcionários por dia ou
por hora, logo atrasos ou extensões de horários não previstos e não
comunicados podem representar prejuízo.

Um grande problema dos cronogramas é que muitas vezes eles são


dependentes de outros fatores, principalmente quando a parte artística
do evento está interagindo junto. Então, horários de ensaios, começo e
término das apresentações devem ser discutidos com todos os produ-
tores (executivos artísticos e técnicos). Afinal de contas, todos fazem
parte do mesmo evento.

No próximo artigo continuaremos falando sobre outros aspectos rela-


cionados à produção técnica. •

Cronograma técnico de um evento

Renato Muñoz é formado em Comunicação Social e atua como


instrutor do IATEC e técnico de gravação e PA. Iniciou sua carrei-
ra em 1990 e desde 2003 trabalha com o Skank. E-mail: renatomu-
noz@musitec.com.br

áudio música e tecnologia | 21


PLUG-INS | Cristiano Moura

inFEctEd
MuSHrooM PuSHEr
Waves Signature Series chegam à música eletrônica

J
á fizemos diversas resenhas e artigos sobre plug-ins
da Waves desenvolvidos em parcerias com grandes
produtores e engenheiros de som da música pop/
rock como Eddie Krammer, Joseph Puig, Greg Wells e Tony
Maserati, entre outros.

A Waves parece estar gostando do resultado destas parce-


rias, e agora está entrando no mercado de música eletrôni-
ca também, lançando o plug-in Infected Mushroom Pusher,
feito em parceria com o duo Amit Duvdevani e Erez Eisen
(fig. 1), que integram o projeto Infected Mushroom.

Sem perder mais tempo, vamos logo seguir em frente e


entender as principais características e os resultados de
nossos testes. Figura 2 – L2 Ultramaximizer

o QuE é E o QuE FaZ o inFEctEd secreto da mixagem” do Infected Mushroom.


MuSHrooM PuSHEr
A partir da minha percepção, ele é idealizado mesmo para
Quase como uma frase “padrão” em todos seus últimos masterização, com processadores já configurados para fi-
plug-ins, a Waves prefere dizer que o plug-in é útil “para nalização. Em termos mais populares, eu diria que ele é
tudo”, ou seja, instrumentos, subgrupos/submasters e para levantar o sinal, reaver e puxar harmônicos e tentar
para masterização, mas não costuma dar muitos detalhes abrir a imagem estéreo.
técnicos. Em especial neste plug-in, a Waves abusou um
pouco demais da omissão e se limita a falar que “é o molho oS ParÂMEtroS E ProcESSadorES
Começando com o Push, ele realiza o processo mais
essencial e que ajuda a caracterizar este plug-in
como algo voltado para masterização. Ele é um li-
miter como o Waves L2 (fig. 2) ou Maxim da Avid,
que eleva o sinal conforme o usuário vai regulando
o threshold. O diferencial dele é ter dois modos de
operação. O modo Limit atua de forma mais suave
quando o usuário começa a extrapolar os valores,
enquanto o clip, de fato, acrescenta saturação.

O próximo setor é o Low, Body e High, que podem


ser facilmente confundidos com equalizadores (onde
o Body seria o médio-grave), mas nos testes vi que
eles também modificam dinâmica. Ou seja, são, na
realidade, compressores/limitadores multibandas.
Também vale uma atenção em especial ao Low, que,
Figura 1 – Amit Duvdevani e Erez Eisen formam o Infected Mushroom em vez de ser ajustado em Hz, é diretamente re-

22 | áudio música e tecnologia


lacionado às notas musicais (fig. 3). de informação visual e regulagem de
Isso faz bem mais sentido para música um plug-in dedicado, como o Sonnox
eletrônica, que explora bastante a har- Envolution (fig. 5), mas, no final, o
monia modal e gira em torno de um som é que importa, e eles também
baixo pedal na maioria das vezes. funcionam muito bem.

No meio, encontramos o setor “Ma- Por último, temos o Stereo Image,


gic”, que é o mais importante e me- que serve para abrir e intensificar
recia um nome melhor. Infelizmente artificialmente a sensação do campo
fizeram questão de dar o nome mais esterofônico.
aleatório possível, que, em vez de
ajudar, só atrapalha. coLocando EM uSo
O Magic tem um processamento si- Como mencionado anteriormente,
milar ao que chamamos de “sonic este plug-in é um tipo de proces-
enhancers” ou “sonic maximizers”, Figura 3 – Low regulado para a nota ré sador para dar acabamento, então
que adicionam harmônicos sintéticos os resultados são mais perceptíveis
ao sinal para enriquecer o timbre. É bem verdade que, no quando usados no master de uma mix completa, apesar
passado, processadores como o Aphex Aural Exciter e o BBE de também ser viável usar em grupos de instrumentos.
462 Sonic Maximizer (fig. 4) fizeram história e exploraram
bastante esse lado “místico” na hora de fazer marketing, A primeira coisa a fazer nestes plug-ins pré-configurados
mas eram outros tempos. é ajustar o nível de entrada (input). É absolutamente
essencial que o plug-in receba o sinal já otimizado, pois,
Perto do botão Magic, o usuário vai encontrar pequenos lembre-se, a maioria dos parâmetros são fixos e ajusta-
controles chamados de “Dyn Punch” e “Focus”, que são dos internamente. Então, sem o sinal correto eles não
transient designers. Infelizmente eles não têm a riqueza interagem como foram projetados.

áudio música e tecnologia | 23


Plug-ins

o complemento, que é o Magic. Ele serve para


complementar de forma geral. “Abrir o som”
e “engordar o som” seriam os termos populares
que me vêm a mente para descrever o que o Magic faz.

A outra etapa que mencionei é a energia do sinal, e o Focus


Figura 4 – BBE Sonic Maximizer, e – especialmente – o Dyn Punch têm muito valor neste mo-
modelo 482: atualização do clássico 462 mento. O Dyn Punch eleva os picos iniciais das ondas sono-
ras, e o impacto inicial de cada batida, de cada peça, se torna
Já que estamos falando em otimizar o sinal, também vale mais evidente. Novamente, você é quem decide os valores,
a pena seguir em frente logo e ajustar o Push, pois já le- mas este é um parâmetro que vale a pena exagerar no início
vanta o sinal todo e você consegue se “organizar” melhor só para você sentir o que ele está fazendo com sua música.
mentalmente para decidir o que quer fazer.
Por último, fica o Stereo Image. É o mais “opcional” de
Agora, entre as opções Clip e Limit é muito fácil decidir. todos, e vale a pena ter ciência de que a contrapartida de
Limit (que não satura inicialmente) é mais interessante. se abrir artificialmente o campo estereofônico é grande.
Caso queira saturar um pouco, tudo bem, mas é melhor Quanto mais aberto, menos nitidez sonora. E, com isso,
pensar em colocar mais um plug-in da sua preferência na
cadeia do sinal. A própria Waves tem dezenas de opções de
plug-ins que saturam de forma mais interessante (fig. 6).

A partir deste ponto, não há exatamente uma maneira ou


ordem correta de se regular os processadores, mas vamos
dar algumas recomendações.

Organize seus ajustes em duas etapas. Uma etapa é ajus-


tar timbre, outra é ajustar a energia e ganho do sinal. Tan-
to faz a ordem que prefere fazer primeiro, mas evite mis-
turar as etapas. É uma das razões que fazem tudo parecer
mais confuso, mesmo para pessoas com mais experiência.

O Low, Body e High são os principais responsáveis pelo


timbre, mas cuidado para não exagerar ainda. Pense ape-
nas em equilíbrio neste momento. Isso porque agora vem
Figura 6 – Waves J37 Tape

provavelmente muito da pressão que você estava tanto


buscando acaba sendo perdida.

De forma geral, não dá para dizer que é um plug-in ruim,


mas dá para dizer tranquilamente que é fechado demais
nas suas configurações. Por exemplo, não ter absoluta-
mente nenhuma opção de ajuste de frequência no High e
Body é um pouco demais.

A Waves tem muitos outros plug-ins que seguem a mes-


ma linha, mas são muito mais versáteis nas suas possibi-
lidades de aplicação.

Figura 5 – Sonnox Envolution Transient Designer Abraços e até a próxima! •

Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da Avid. Atualmente leciona cursos oficiais em Pro Tools, Waves, Sibelius e os trei-
namentos em mixagem na ProClass. Também é professor da UFRJ, onde ministra as disciplinas Edição de Trilha Sonora, Gravação e Mixagem
de Áudio e Elementos da Linguagem Musical. Email: cmoura@proclass.com.br

24 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 25
CAPA | Rodrigo Sabatinelli

Mauricio
cErSoSiMo
Em detalhes, a história do produtor e engenheiro
brasileiro, novamente a caminho de nova York

N
osso encontro com o produtor e engenheiro ainda espera do universo da produção musical.
de gravação e mixagem Mauricio Cersosimo
– que, de 1995 até hoje, finalizou uma infi- Comemorando pouco mais de duas décadas de car-
nidade de trabalhos de nomes como Ney Matogros- reira, ele – que fez parte do staff do Skyline, um dos
so, Skank, Lobão, Titãs, Emicida, Sepultura, Max de mais movimentados estúdios de Nova York, e man-
Castro e Nando Reis, entre muitos outros – havia teve no Brasil, até então, o Mix Nova, seu estúdio
sido planejado para 2011. Quis a vida, então, que particular – está de malas prontas para uma nova
levasse mais cinco anos para que, de fato, rolas- empreitada: reinventar-se e reafimar-se profissio-
se um super bate-papo sobre suas preferências por nalmente na cidade que muito bem o acolheu quan-
equipamentos, sua forma de trabalhar e sobre o que do ainda era um mero estudante do SAE Institute,

26 | áudio música e tecnologia


turo. “Sinto que agora é hora de saborear de novo
aquela atmosfera!”, completa.

A entrevista com Mauricio poderia ter sido novamen-


te adiada. O aeroporto fechado por conta da bai-
xa visibilidade e até mesmo uma falha na emissão
da passagem estiveram entre os “percalços” pelos
quais tivemos de passar. No fundo, precisamos de
uma “forcinha” extra para que “o nerd que deixou
a guitarra de lado e assumiu as mesas analógicas”,
como o próprio se define, saísse da toca e contasse
um pouco sobre sua história. Então vamos a ela!

Mauricio, sua relação com o áudio, como a de


muitos engenheiros, começou na música, não é?

Pois é. De certa forma, sim. Mas acho que fui mais


precoce e decidido do que a maioria. Aos 11, 12
anos, iniciei meus estudos de violão; aos 15, 16,
tocava em bandas, e aos 17, 18, comecei a deixar
a guitarra de lado e passei a gravar demos de ban-
das de amigos. Acho que, para o mundo glamoroso
da música, eu era um garoto mais recluso e aquela
história de estar no palco e na estrada pouco me
seduzia. Como era meio nerd, gostava mesmo de
mexer em equipamentos e nos sons.

Lembro de gastar todo o dinheiro que ganhava do


meu pai com revistas como Mix, EQ e Keyboard, que,
apesar de importadas, podiam ser encontradas, e de
enviar cartas para os fabricantes [de equipamentos
profissionais] solicitando manuais e catálogos de
produtos que, naquela época, ainda eram um sonho.

Mas você foi autodidata ou chegou a fazer al-


gum curso?

Até certo ponto, sim, fui autodidata. Comprava e im-


portava todos os livros do gênero, mas também fiz cur-
sos que foram muito importantes, como um de MIDI
que me permitiu entender softwares como Cakewalk e
onde cursou engenharia de áudio e produção. Logic, por exemplo, e um de produção de áudio minis-
trado pela ESPM-SP. Infelizmente, pela distância entre
“Nova York foi muito generosa comigo e com minha o Rio e São Paulo, não consegui fazer o curso do Sólon
história! Em meu primeiro ano de Skyline trabalhei [do Valle, engenheiro e fundador da Áudio Música &
em discos de Avril Lavigne e Steely Dan. No estúdio, Tecnologia]. Mas sempre fui muito estudioso e louco
aprendi com Ron Allaire, meu grande mentor, a gra- por aprender. Aliás, ainda sou!
var e mixar criando sonoridades particulares, bem
ao estilo New York, e de lá tirei toda a base técnica e Em 1995, depois de estudar no IAV, o Claret [Marce-
conceitual que apliquei em todos os meus trabalhos lo, engenheiro] começou a me indicar para trabalhar
desde que voltei ao Brasil”, conta ele, mirando o fu- em estúdios mais profissionais, pois antes só gravava

áudio música e tecnologia | 27


Capa

outros. Enviei meu currículo


Arquivo Pessoal

na hora certa, na semana em


que Jonathan Mover, bateris-
ta, produtor e dono do estú-
dio, havia demitido toda a sua
equipe de assistentes e estava
à procura de novos profissio-
nais para recompor o time. Eu
estava prestes a me formar no
SAE e, naquele momento, sa-
bia tudo sobre equipamentos
como as mesas Neve VR e SSL
4000, usadas no curso e no
estúdio. Então, na entrevista,
já me destaquei e ele [Jona-
than] entendeu que eu seria
uma boa contratação.

Você se sentia preparado?

Eu sabia que estava bem pre-


Mauricio num dos estúdios do SAE, em Nova York, onde estudou parado pois, durante todo o
curso, além do período das
demos mais caseiras, e consegui um trabalho num aulas, passava horas e horas dentro dos estúdios
estúdio de publicidade, no qual fiquei por dois anos, do SAE fazendo laboratórios e mexendo nos equi-
até montar, com um amigo, que também era mais do pamentos, tentando dominá-los cada vez mais.
mercado publicitário, o Ouvir, meu estúdio particular, Enquanto os demais alunos dividiam seu tempo
que tinha um Pro Tools Mix Plus e uma placa 882. entre os estudos e o trabalho, eu, que era estran-
Enquanto meu sócio corria mais atrás de trabalhos geiro, não tinha nada para fazer na cidade além
na área de publicidade, eu ficava focado em gravar e de estudar, pesquisar e meter a mão na massa.
produzir bandas, que era o que gostava. E mesmo depois de admitido no estúdio, nos dias
em que não havia sessão eu fazia isso.
E quando, de fato, você se mandou para os Es-
tados Unidos? É verdade que você teve um mentor no Skyline?

Fiquei três anos à frente do Ouvir, e nesse período Sim. O Ron [Allaire], sócio e engenheiro chefe do
gravei um sem-número de bandas e artistas, en- estúdio. Uma entidade em gravação e mixagem,
tre eles o Sepultura, que fez com a gente a pré- com quem tive o prazer de trabalhar em diversos
-produção do disco Sepulnation, produzido pelo projetos. Na verdade, Ron me ensinou muito do que
Steve Evetts. Em determinado momento, a econo- sei. Não somente pelo fato de ser um engenheiro
mia se estabilizou no Brasil, o dólar se manteve em ultraexperiente, que gravou de Ramones a Pantera,
paridade com o real, e entendi que era a hora de ir. passando por Bad Brains e Keith Richards, mas por
Além do mais, eu já pensava em estudar áudio e me mostrar desde como ouvir as coisas no estúdio
produção musical no SAE Institute, de Nova York, o até o que fazer diante de uma máquina de rolo des-
que, de fato, acabou acontecendo. calibrada e de uma mesa “travada”.

Mas o mais curioso foi que, ao final do curso, eu O Ron tinha toda aquela bagagem do som clássi-
acabei parando no Skyline, tradicional estúdio da co de Nova York, que veio do Media Sound Studios,
cidade por onde passaram nomes como Madonna, do jeito de usar os compressores em multi-bus, e,
David Bowie, Eric Clapton, Mariah Carey, Stee- nas horas de folga, construia pré-amplificadores de
ly Dan, Chic e até Marisa Monte, entre muitos microfone para o Lenny Kravitz. Ele era e ainda é,

28 | áudio música e tecnologia


realmente, um gênio do áudio! Exatamente! Principalmente no meu último pe-
ríodo por lá. Havia um local – uma técnica com
Como era seu trabalho ao lado dele? uns bons espaços – inutilizado numa área atrás do
estúdio, e eu o aproveitei para fazer meus traba-
Na prática, em suas sessões, eu fazia um pouco de lhos extras. Para não ter que alugá-lo, trabalha-
tudo: calibrava máquinas analógicas, operava o Pro va de graça para eles em algumas sessões. Era
Tools e editava os materiais, já que ele não era tão uma permuta, literalmente. Ali, com um Pro Tools
habilidoso com computadores. Naquela época os en- e uma placa Digi 002, que comprei na ocasião, e
genheiros e produtores editavam demais. Bateria, uns equipamentos que estavam parados no Skyli-
então, era regra! Perdi a conta de quantas vezes ne, montei uma estrutura que me permitia gravar
sentei numa cadeira para editar bateria. O baterista e mixar várias bandas locais.
podia ser o melhor do mundo, mas não conseguia
“escapar” do Beat Detective e do sound replacer. Mas você voltou em definitivo para o Brasil al-
guns anos depois...
Como tinha muita experiência com Pro Tools e
sistemas Mac, principalmente por causa do meu Sim. Peguei o declínio da economia americana da
estúdio no Brasil, acabei assumindo a frente de era Bush, principalmente, depois que as torres ca-
tudo relacionado às DAWs. O Ron também me íram,. Eu estava lá e vi o quanto a cidade sofreu.
botava para finalizar várias de suas sessões de Principalmente a indústria musical. Vários estúdios
gravação e mixagem como parte de treinamen- grandes começaram a fechar e muita gente se mu-
to. E, assim, logo fui pegando minhas primei- dou para Los Angeles. Aí chegou a hora em que de-
ras sessões como house engineer. Tinha muita cidi apostar na minha volta.
gente boa ali, como um cara chamado Johnny
Whydrycs, que tinha trampado com o Smashing Chegando aqui, de imediato, pintou um trabalho: o
Pumpkins e com a Lauryn Hill, entre outros. A disco do Luxúria, banda de rock com muita persona-
concorrência era pesada, mas todo dia eu apren- lidade que surgiu como grande promessa. A pré-pro-
dia muito com todo mundo. dução desse trabalho foi feita no meu ex-estúdio, o
Ouvir, que, na época, estava à venda, e a mixagem
E você chegou a ter uma sala própria dentro aconteceu no Skyline. Nesse disco, investi numa so-
do estúdio? noridade totalmente baseada na minha experiência
da vida lá fora. Estava muito afas-
tado do mercado brasileiro e acho
Arquivo Pessoal

que cheguei em algo diferenciado


e ousado para um disco de rock da
época, principalmente, lançado por
uma major.

Um fato curioso da época que eu


estava mixando o CD do Luxúria
lá no Skyline foi que um dia apa-
receu por lá um produtor de jazz
procurando um lugar para gravar
um trabalho, pois tinha acabado de
fechar seu estúdio e vender os equi-
pamentos para um brasileiro, que,
pouco tempo depois, fundaria o Na
Cena, aqui em São Paulo, onde tra-
balhei por um tempo como gerente
geral de operações. Lembro que o
primeiro grande trabalho do estú-
dio foi com o Ney Matogrosso, que

Skyline: estúdio foi a verdadeira “escola” do engenheiro

áudio música e tecnologia | 29


CAPA

alugou o espaço para gravar os ensaios de seu novo gravar, produzir etc. Encontrei um local próximo de
show, o Inclassificáveis. casa, que me pareceu ideal, e ali fundei o Mix Nova.

Como foi essa passagem pelo Na Cena? E de que forma o Renato auxiliou na montagem
desse estúdio?
O estúdio ainda não estava totalmente pronto,
mas conseguimos fazer os últimos ajustes “em Bem, primeiramente ele representa a WSDG, que,
cima do laço” e o trabalho acabou rolando. Deu na minha opinião, faz os melhores projetos acústi-
tudo tão certo que o Ney decidiu gravar e mixar cos do mundo. Além disso, a gente sempre falou a
o disco lá comigo. E foi ótimo, pois se tratava de mesma língua em termos técnicos e musicais. Rena-
um projeto que era a minha cara. Um projeto que to me trouxe, ainda, a informação de que o André
marcava a volta dele ao rock. Além do disco de [Rafael, então dono do AR Studios] iria se desfazer
estúdio, indicado ao Grammy, ainda no estúdio fi- dos seus equipamentos para se dedicar aos negócios
nalizei o DVD desse espetáculo, além de muitos da família. Naquele momento eu não tinha a pre-
outros trabalhos. tensão de adquirir uma SSL 4000 G [que pertencia
ao AR], mas acabei pensando no caso, e, por fim,
Depois do Na Cena, fiquei um ano de freelancer e comprei a mesa e alguns outboards, como os Urei
fui para BH gravar o Estandarte, do Skank, produ- 1176, dentre outros, que pertenciam a ele. O André,
zido pelo Dudu Marote, que se tornou um grande na real, foi muito generoso e facilitou a negociação
parceiro e por quem tenho grande admiração. Na- o máximo que pôde. Não fosse isso, eu não teria
quele momento, saquei que ter novamente o meu ficado com os equipamentos.
próprio estúdio era a única saída, afinal de contas,
os orçamentos não contemplavam mais engenheiros Com que artistas você trabalhou no Mix Nova?
e salas separadamente.
Nos últimos anos, aqui no estúdio, que agora será
Conversei, então, com o Cipriano [Renato, enge- tocado por outra pessoa, gravei e/ou mixei de tudo.
nheiro acústico] e decidi montar uma sala num lu- De Lobão a Emicida, passando por Marcelo D2, Ti-
gar pequeno, mas que comportasse toda e qualquer tãs, Sepultura, Max de Castro, Nando Reis, Toyshop
produção que caísse na minha mão. Meu foco, na e Rael, entre muitos outros. O legal de atuar com
época, era mixar discos, mas, claro, estava aberto a alguns desses artistas foi ter a liberdade de impri-
mir a minha assinatura no
trabalho deles. Na minha
Arquivo Pessoal

opinião, mixagem é muito


mais arte do que técnica.
Então, fazia todo sentido
ser contratado por conta
da minha assinatura.

Como você definiria,


por exemplo, essa as-
sinatura?

Eu busco criar “sensa-


ções” e experiências so-
noras, e, para isso, traba-
lho muito com distorção.
Não exatamente drive,
mas, digamos, distorção
no sentido de aumento
da realidade, distorção
harmônica, aumento de

Com os Titãs: banda foi uma das gravadas no Na Cena

30 | áudio música e tecnologia


estéreo, sabe? Também uso muita

Arquivo Pessoal
compressão, mas mais para timbrar
do que para comprimir. Diante desse
tipo de equipamento, eu gosto de ir
ao limite, de gerar uma sonoridade a
partir desse limite, pois acredito mui-
to na força de um timbre numa mix.

Distorção, compressão... Essas coi-


sas são o que, na minha opinião,
dão profundidade e timbragem a
uma canção. Mixo em mesas analó-
gicas, principalmente nas SSL, e ex-
ploro demais os timbres, os limites,
as irregularidades e a profundidade
única delas. Sou muito fã de um
cara chamado Tchad Blake, que no
final dos anos 1990 mudou minha
maneira de pensar o áudio. Mas, no
fundo, tudo isso é sutil, e o que de-
termina tudo é a música e o que o Mix Nova: estúdio de Mauricio foi
artista quer passar com ela. construído em sua volta ao Brasil

áudio música e tecnologia | 31


Capa

Além dele, quem mais te in-

Arquivo Pessoal
fluenciou?

Tchad Blake é, realmente, o que


mais me transformou, mas tam-
bém utilizo muito o “esquema” de
multi-bus compression do Michael
Brauer, que, na verdade, já usa-
va de uma forma diferente muito
antes de conhecê-la, pois meu ex-
-chefe fazia algo semelhante em
NY. Como mixador, curto muito o
Andy Wallace, dentre outros que
vi trabalhando. Na verdade, não
adianta tentar copiá-los. O impor-
tante é sacar a essência e o con-
ceito dos caras e desenvolver sua
própria linguagem.

Tecnicamente, como é que você

Arquivo Pessoal
mixa um trabalho? Existe uma
fórmula, um “caminho”?

Acho que existe a fórmula do jeito


que eu mixo. Costumo dizer que
mixo de trás pra frente, ou seja,
nos primeiros segundos de mi-
xagem, já “resolvo” o som final
daquela mix: compressão, level,
equalização etc. De cara, procu-
ro fazer com que a mix soe bem
e, mais que isso, bem próxima do
que, para mim, é ideal. Quando
“levanto” os canais, já sei exata-
mente onde vai soar determina-
do compressor, onde é necessário
equalizar etc. Claro que, ao fim de
tudo, sempre tem um ajuste a ser
feito, mas, inicialmente, é preciso De Andreas Kisser a Emicida: Cersosimo assinou
que a referência tenha cara de fi- mais de 200 trabalhos nos últimos anos
nalizada.
ness fora do país. Como minha principal atividade
Você está de mudança, novamente, para Nova hoje é a mixagem, não há necessidade de estar
York. O que espera da cidade nessa nova em- baseado num único local, no qual o cliente tenha
preitada? que estar fisicamente presente. Posso estar aqui,
em Nova York, em Hong Kong ou em Moscou. Não
Então, já tenho um “estúdio base”, mas as opor- muda nada, pois, afinal de contas, tudo pode ser
tunidades e opções, para mim, são muitas. Desde feito de forma remota.
montar minha própria sala na cidade até traba-
lhar com amigos que querem compartilhar seus Tenho mixado muitos dos trabalhos do Dudu Ma-
estúdios comigo ou querem ter uma sede ou busi- rote, por exemplo, e não me recordo da última vez

32 | áudio música e tecnologia


em que o encontrei no estúdio. Ele costuma enviar dentro da sala de gravação e registrei o material
os arquivos por We Transfer ou Dropbox, eu faço em fita de duas polegadas, em apenas 16 canais,
os downloads, mixo e envio [para ele] da mesma com todo mundo tocando junto, usando fones
forma. Há dez anos, pelo menos, as masterizações dentro do mesmo ambiente, que contava com
são feitas nesse modo. Arriscaria dizer que, em uma bateria antiga maravilhosa, microfones an-
pouco tempo, por conta dos novos recursos do Pro tigos, pequenos amplificadores de guitarra de, no
Tools, as gravações também serão assim. máximo, 15 watts, tudo meio que vazando e pro-
porcionando um som incrível.
E que tipo de trabalhos pretende realizar por lá?
É bom quando a gente sai realizado de uma
Quero explorar vários outros mercados dentro da experiência, não é? E foi assim que saí dessa.
indústria da música e do áudio, como, por exem- O clima da gravação, o fato de ter a banda à
plo, o de transmissão de conteúdo e o administra- mão, com os músicos se olhando, interagindo, o
tivo de intercâmbio nessa área de gravação. Nes- vocalista se doando ao máximo, já que os takes
sa segunda frente acho que posso ajudar muito valiam como num show ao vivo, tudo isso fez
fazendo a ponte, viabilizando projetos etc., pois muito sentido. E, claro, o fato de saber que esse
conheço muita gente legal lá. Por exemplo, há tipo de gravação não é algo comum, que se faz
um mês passei 18 dias no estúdio de Eric Ambel, todo dia, também foi muito importante. Hoje, se
ex-guitarrista da Joan Jett, gravando a banda de tivesse que pensar em um “formato” para meus
rock Ted Marengos, de São Paulo. trabalhos, diria que a ideia é fazer coisas assim,
novas, empolgantes, com muita personalidade e
Esse projeto foi realizado de maneira diferente do com o máximo de cuidado artístico. Estou muito
que geralmente faço. Trabalhamos com a mesa empolgado com o que vem pela frente! •

áudio música e tecnologia | 33


NA ESTRADA | Rodrigo Sabatinelli

a Hora
do BraZa
Novo projeto de ex-integrantes
do Forfun ganha a estrada

Caio Humberto Ferreira

A
pós 15 anos de estrada, os cariocas do For- grupo mal havia lançado,
fun anunciaram, no ano passado, que dariam comprovando mais uma
um tempo. A “aposentadoria merecida”, ter- vez a força das composi-
mo utilizado pelos integrantes da banda, acabou ga- ções de Danilo & Cia.
nhando novos contornos e o surgimento do Braza,
projeto atual de três dos quatro músicos, acabou Em entrevista com Marcos
preenchendo uma lacuna que, por um curtíssimo es- Doñate, técnico de PA que,
paço de tempo, atingiu os fãs da rapaziada. assim como os músicos,
é oriundo do Forfun, co-
O primeiro show do Braza “em casa”, ou seja, no nhecemos um pouco mais
Rio de Janeiro, se deu no Circo Voador em junho sobre o que eles vêm uti-
passado. A expectativa, que já era das maiores, lizando na estrada e quais
conseguiu pegar de surpresa a banda, que subiu são as dificuldades enfren-
ao palco diante de uma plateia que lotou o lugar tadas na rotina que todos
e cantou, curiosamente, todas as músicas que o ali conhecem muito bem.

34 | áudio música e tecnologia


Caio Humberto Ferreira
Marcos Doñate é o técnico de PA do Braza

PREFERÊNCIA POR pele superior e na esteira da peça.

SHURE NA CAPTAÇÃO
Nos tambores do instrumento, o técnico utiliza os

Para a captação dos instrumentos e das vozes, por Beta 98, no entanto, quando estes modelos não

exemplo, ele conta que solicita, basicamente, micro- estão disponíveis, ele opta pelos MD 421 ou pe-
fones Shure “pela qualidade e disponibilidade” por los e604, da Sennheiser. “Mas somente em último
parte das empresas de sonorização. “Mas não tenho caso!”, afirma.
ressalvas a outras marcas, como AKG e Sennheiser,
que também têm opções bem legais”, diz. A captação do baixo, que passa por um direct
box, é feita com um MD 421 ou com um D112,
No bumbo da bateria são usados, em conjunto, da AKG. “Essa soma”, diz ele, “pinta no PA ora de
o Beta 92 e o SM91, que têm seus timbres cui- forma mais grande, ora com médias [frequências]
dadosamente fundidos na mix para o PA. Na cai- mais presentes”.
xa, como de costume, a opção se dá pelos SM57,
que, por serem direcionais, atuam muito bem na Já as guitarras, que também passam por DIs, rece-
Caio Humberto Ferreira

Caio Humberto Ferreira

Caio Humberto Ferreira

Na sequência, três detalhes da captação de bateria

áudio música e tecnologia | 35


NA ESTRADA

Guitarra, baixo e percussão também recebem captação primorosa

bem os SM57, prioritariamente, ou os 609, “ambos a mix o mais equilibrada possível, com pressão so-
responsáveis por captarem a essência dos instrumen- nora adequada e, claro, as vozes em primeiro plano.
tos”, justifica, acrescentando, por fim, que as vozes
recebem os modelos com e sem fio do clássico SM58. As automações de volumes, diz ele, são feitas so-
mente em casos de necessidade, mas os efeitos,
Sobre o posicionamento desses microfones, Marcos como reverbs, usados na bateria, na percussão, nas
conta que costuma sempre mantê-los próximos das vozes e nos sopros, e delays, também lançados em
fontes emissoras – obviamente, quando não são percussões, vozes e sopros, são muito presentes.
muito altas – e voltados para suas regiões centrais.
“Eles [os delays], inclusive, atuam de forma artística
“Com isso”, diz ele, “obtém-se uma captação mais sob os arranjos quando lançados com tempos mais
real. Porém, quando quero um timbre mais voltado longos e feedbacks mais curtos. Isso é uma caracte-
para o médio-agudo, posiciono os microfones a 45 rística do estilo musical da banda, que tem bastante
graus da fonte”. influência do reggae, do ragga e do hip-hop”, explica.

diGico, avid E MidaS EntrE aS rotina na EStrada: tirar LEitE


MESaS SoLicitadaS dE PEdra
Marcos conta, ainda, que por ser a operação de PA Questionado sobre as dificuldades que enfrenta em seu
um trabalho dinâmico, os técnicos acabam apren- dia a dia na estrada, Marcos conta para a AM&T que a
dendo a utilizar a maioria dos consoles disponíveis principal entre todas elas é quando chega ao local do
no mercado, tais como os Yamaha, Soundcraft e evento e o equipamento disponibilizado pela locadora
Behringer. Sua preferência, no entanto, se dá por não corresponde às especificações técnicas da banda.
outras marcas, como DiGiCo, Avid e Midas.
Segundo ele, não muito raro é encontrar mesas com
“Elas oferecem maior qualidade em termos de pré- defeitos e sistemas de sonorização mal instalados e
-amplificação, por exemplo”, destaca o profissional. sucateados, o que, naturalmente, interfere de forma
Durante as apresentações da banda ele tenta manter negativa em seu trabalho.

36 | áudio música e tecnologia


“Fica muito difícil, por exemplo, alinhar o sistema e timbrar
os instrumentos se tudo não estiver em perfeito estado de
conservação e funcionamento. Para garantir a qualidade, em
casos como esses é preciso dispor de um tempo e um traba-
lho extras. É aí que usamos o bordão clássico ‘tirar leite de
pedra’”, encerra. •

Na estrada, a equipe do Braza: “em alguns


casos, é preciso tirar leite de pedra”

áudio música e tecnologia | 37


DESAFIANDO A LÓGICA | André Paixão

EXPLorando

PartE 2
aS EntranHaS
do LoGic coM
o EnvironMEnt
dando sequência à nossa exploração no
ambiente menos explorado – porém muito
útil quando compreendido – do Logic Pro X

C
onforme prometido, eis a segunda parte da série seu estúdio, predominantemente aqueles baseados no
“Explorando as entranhas do Logic com o Envi- famoso protocolo MIDI. Consequentemente, a partir do
ronment”. Nela, daremos sequência, obviamen- momento em que estivermos satisfeitos com nossa con-
te, à primeira parte, publicada na coluna passada, onde figuração, podemos salvar todas as conexões como um
fiz uma pequena introdução sobre o que se trata, incluin- template de usuário para futuras produções.
do uma informação básica, que diz respeito às diferentes
interfaces, ou melhor, camadas, utilizadas para visuali- Para entender melhor a relação entre um canal e um
zar seu projeto da forma mais adequada, dependendo objeto – e a diferença entre os dois –, basta criar, por
de cada situação. exemplo, um track de instrumento virtual (Software
Instrument) e gravar ou desenhar algumas notas MIDI.
Apesar da semelhança com o Mixer – pois a camada pa- Logo descobriremos que regiões com conteúdo MIDI po-
drão que visualizamos, ao abrir o Environment, é jus- dem ser facilmente indexadas a qualquer outro objeto
tamente uma versão mais complexa dessa janela –, o capaz de lidar com MIDI, sem a necessidade de se criar
buraco é bem mais embaixo. Trata-se de uma represen- um novo canal ou mesmo copiar a mesma região para
tação virtual não apenas de todos os objetos presen- outro. Isso significa que diversas fontes sonoras podem
tes num determinado projeto do Logic, como também estar conectadas a uma mesma região, o que facilita
de todos os elementos físicos conectados no set up do muito as experimentações sonoras, especialmente com
sintetizadores externos. Lembre-se de que estamos
falando de MIDI, não de áudio, neste caso.

Na imagem 1 apresento um projeto com dois canais


de instrumentos virtuais, sendo que a região com no-
tas se encontra no Synth01 – onde inseri o sintetizador
Alchemy –, enquanto o track Synth02 – onde inseri
uma instância do synth ES P – não possui região se-
quenciada. Na Janela de Arranjo (cmd+1), clique com
a tecla CTRL pressionada e, no menu popup, direcione
a região de Synth01 para Synth02, seguindo o cami-
nho Reassign Track > Mixer > Software Instrument >
Synth02. Agora, a sequência criada está direcionada
para o canal Synth02 e, consequentemente, iremos
escutar o som do instrumento correpondente. Ou seja,
a informação MIDI permanece no canal de origem.
Imagem 1 – Direcione regiões MIDI para diferentes canais e
experimente novos timbres a partir da sequência criada. Observe Outra possibilidade que o Environment oferece é a
a janela Environment e sua semelhança com a janela Mixer. conexão de dois ou mais instrumentos a fim de com-

38 | áudio música e tecnologia


Imagem 2 – Ao conectar todos os objetos a partir de um
único canal, automaticamente eles tornam-se dependentes

binar sons e timbres. A partir daí podemos imaginar as possibilidades de


criação e mistura de dezenas de instrumentos. O limite é o céu. Apenas
um parênteses: hoje em dia, o Logic Pro X oferece a criação de patches
(sobre os quais escrevi em alguma coluna anterior a essa), onde po-
demos combinar sons e efeitos num mesmo grupo e criar pistas MIDI
automaticamente direcionadas para todos canais. Porém, com o MIDI
Environment temos uma visão melhor e mais independente de como
essas conexões acontecem.

Ao conectar o canal Synth 01 ao Synth 02 escutaremos uma combinação


de cada um dos instrumentos inseridos nos dois canais, mas toda infor-
mação MIDI será a mesma para outros parâmetros, inclusive volume e
pan, o que, obviamente, não é do nosso interesse, pois a graça está em
mixar esses sons. Para reforçar essa prática, experimente conectar todos
os objetos dispostos na sua camada Mixer, e, ao mexer no fader de volu-
me, perceberá que todos os outros responderão ao mesmo comando. A
próposito, para conectar um objeto a outro, basta posicionar seu mouse
no ícone em forma de seta ou conector presente no lado superior direito
de cada um (objeto), conforme observamos na imagem 2.

A solução para conectar objetos e manter a independência entre eles


é criar um canal MIDI que sirva de master e arrastar a região ori-
ginalmente concebida para ele. Ou seja, queremos um objeto que
sirva como um controlador que distribui o sinal para outros canais.

Imagem 3 – Ao arrastar sua região para um novo


objeto (Instrument) MIDI, podemos utilizá-lo como
controlador e distribuir o sinal para outros canais
áudio música e tecnologia | 39
DESAFIANDO A LÓGICA

respectivos canais são liberados. Para co-


nectar o objeto “Controlador”, que criei,
a qualquer canal MIDI desse novo objeto
multitimbral, é necessário abrir uma ja-
nela popup como a que nos deparamos
ao indexar objetos na janela de arranjo.
Diferentemente do que acontece com ob-
jetos monotimbrais, não é possível criar
um cabo virtual simplesmente puxando
a partir de um conector de saída, pois é
necessário definir qual canal receberá a
mensagem enviada pelo controlador.

Pode parecer um pouco complicado no início,


mas assim que acertar a primeira conexão
Imagem 4 – Ao conectar um objeto a outro, o Logic fica bem mais fácil e empolgante. E isso é
automaticamente cria um novo ícone de saída para apenas o começo, pois nesta coluna ficamos fo-
distribuir o sinal em mais canais. Repare que aqui temos cados apenas no que está acontecendo dentro do
a combinação de quatro timbres: dois sintetizadores em Logic e na camada Mixer especificamente. Sugiro
estéreo e coral e piano centralizados dar uma fuxicada na lista de objetos que o Logic
oferece. Vale a pena. Entre simples e complexos,
Ao criar mais um canal de instrumento virtual – ou temos Cable Switcher, Channel Splitter, Transfor-
duplicar algum já existente – e direcioná-lo para um mer e Chord Memorizer, entre outros.
novo objeto, no caso, um MIDI Instrument (na janela
do Environment, vá em New > MIDI Instrument). E Na próxima coluna vamos dar uma voltinha pela camada
finalize a indexação (CTRL click no canal na janela de Click & Ports, que apresenta um paradigma diferente ao
arranjo Reassign Track > Mixer > Instrument). Reno- trabalhar no Environment, pois é lá que configuramos
meie o track (como “Controlador”, por exemplo) para nosso sinal externo de forma eficaz.
identificar quem é quem, o que facilita muito quando
adicionamos muitos canais. Espero que tenha curtido. Em breve voltarei a produzir
vídeos (tive problemas com software). Pretendo fazer
Adicionei mais dois canais com timbres de piano e co- uma série sobre o Environment. Promessa é dívida.
ral para dar forma ao som que imaginei para essa se- Até a próxima! •
quência. Temos agora uma redistribuição
e retransmissão do sinal original a partir
de um objeto formado por um canal MIDI.

O Environment também oferece soluções


para quem, como eu, trabalha com ins-
trumentos multitimbrais, como o Kontakt,
da Native Instruments, que lida com dife-
rentes timbres em seu rack virtual. Nesse
caso, cria-se uma instância do objeto Mul-
ti Instrument (Environment > New > Mul-
ti Instrument), que nada mais é do que
vários canais MIDI reunidos em apenas
um só objeto.

Por padrão, o objeto possui 16 canais


MIDI e, ao clicar em cada subdivisão, os Imagem 5 – Criando um objeto MIDI Multi Timbral

40 | áudio música e tecnologia


Imagem 6 – Indexando sinal com o canal Imagem 7 – O resultado final, com três canais de intrumentos
controlador MIDI para vários canais do Kontakt, do Kontakt tocando simultaneamente com outros quatro
passando pelo objeto Multi Instrument instrumentos virtuais do Logic controlados apenas por um canal

André Paixão é compositor e produtor de trilhas sonoras para teatro, mendões. Atualmente finaliza o projeto Fora do Ritmo, um disco autoral
TV, publicidade e cinema. Já trabalhou como roteirista nos canais Te- com 12 bateristas, entre eles Wilson das Neves, Pupillo, Guto Goffi,
lecine e Multishow. Assinou a direção musical de espetáculos teatrais Marcelo Callado, Bacalhau (Ultraje a Rigor) e Rodrigo Barba, entre ou-
como “Medea en Promenade” e “O Médico que Tinha Letra Bonita”. tros. Acesse foradoritmo.com e descubra mais.
O SuperStudio é a sua casa e também de artistas que passam por lá.
Alguns deles chegam ao mundo através do selo Super Discos. Como andre@suprasonica.com.br
músico, gravou e lançou discos com bandas como Acabou la tequila, www.superstudio.com.br
Matanza, Beach Lizards, Nervoso e os Calmantes e Lafayete e os Tre- www.facebook.com/DesafiandoLogic

áudio música e tecnologia | 41


FAzENDO MúSICA NO ESTúDIO | Rodrigo de Castro Lopes

FraSEoLoGia
MuSicaL aPLicada
À MaStEriZação

E
xiste um conceito que me parece ser é obrigatório para profissionais de estúdio.
entendido intuitivamente por todos
que trabalham com música, mas que O pulso é a divisão do discurso musical em “tem-
é pouco racionalizado, principalmente no pos”, subdivisões regulares que marcam o anda-
campo da operação de estúdio: é a ideia de mento da música. Apesar de regulares e aparen-
“pulso”, ou “tempo musical”. Não vou usar temente iguais, algumas dessas subdivisões dão
partituras ou escrita musical para falar des- uma sensação maior de repouso ou chegada, ou-
tes assuntos, porque a ideia é falar de forma tras simplesmente geram movimento. Essa sen-
intuitiva, dentro da área de atuação do enge- sação de estabilidade costuma acontecer a cada
nheiro de áudio. Claro que saber ler partitu- dois, três, quatro ou mais tempos – esses pontos
ras é um complemento importante, mas não são os chamados “tempos fortes”.

42 | áudio música e tecnologia


Cada grupo com um “tempo forte” seguido por Podemos pegar alguns exemplos nas músicas
“tempos fracos”, até a chegada de outro “tempo infantis. “Atirei o Pau no Gato”, por exemplo,
forte”, é chamado de “compasso”. Os compassos tem um tempo forte a cada dois tempos. Por
podem ter dois, três, quatro ou mais tempos. É isso o compasso é chamado de “binário”. Já
importante observar que, quando chamamos o “O Cravo Brigou Com a Rosa” tem um tempo
começo do compasso de “tempo forte”, isso não forte a cada três tempos, sendo chamado de
quer dizer que ele é executado necessariamen- “ternário”. “A Barata Diz Que Tem” é uma me-
te com mais força, mas sim que ele gera uma lodia com tempo forte a cada quatro tempos,
intenção de estabilidade, de ponto de chegada. por isso é considerada uma melodia de com-
É uma referência para o andamento da música. passo “quaternário”. Sugiro que tentem cantar
as músicas marcando o pulso com as mãos ou
A divisão da música em compassos é um os pés. É um processo bastante intuitivo.
mecanismo para facilitar o entendimento,
porque a gente já espera a chegada dos mo- Essas melodias têm outra característica que
mentos de estabilidade ou repouso, e essa pode ser útil para o engenheiro de masteriza-
previsibilidade torna a música mais familiar ção, para determinar a duração das entrefai-
e compreensível. Quando os compassos têm xas, por exemplo. Se contarmos um compasso
mais de quatro tempos, o cérebro tende a antes de começar a cantar as músicas, para
dividi-los em grupos menores, facilitando determinar a velocidade ou andamento, vere-
também a organização e o entendimento das mos que a primeira sílaba de “Atirei o Pau no
ideias musicais. Gato” começa exatamente no primeiro tempo,

áudio música e tecnologia | 43


Fazendo Música no Estúdio

quer dizer, na “cabeça”, ou início do compas- O que isso tem a ver com o tempo de entrefai-
so. Cabeça em francês se diz “tête”. Por isso a xa? Se pensarmos musicalmente, a entrefaixa
melodia que começa na cabeça do compasso é deve criar uma conexão entre as músicas. A sua
chamada de “tética”. duração é muitas vezes medida em segundos,
mas, se a gente pensar musicalmente, é muito
“O Cravo Brigou Com a Rosa”, com compassos mais interessante se a entrefaixa usar como re-
de três tempos, tem sua primeira sílaba no ter- ferência o tempo musical – um ou dois compas-
ceiro tempo, que é o último tempo do compas- sos, em vez de segundos. Para que a conexão
so, um tempo “fraco”. A sílaba que cai no tempo faça sentido, usamos como referência o pulso
forte é “cra”, primeira sílaba da palavra “cravo”. da música que está acabando, e encaixamos a
Acontece uma nota de preparação na palavra faixa seguinte nesse pulso, de forma que o seu
“o”. É uma nota que gera movimento antes de tempo forte caia no tempo forte do compasso,
chegar ao tempo forte. Essa nota que antecede usando como referência a faixa que terminou.
o tempo forte se chama “anacruse”, e esse tipo
de melodia é chamada de “anacrústica”. Se tivéssemos um CD com “Atirei o Pau no
Gato” tocado duas vezes, contaríamos um ou
Em “A Barata Diz Que Tem”, o tempo forte cai dois compasso após “no berro que o gato DEU”,
na palavra “tem”. Para que isso aconteça, a fra- e entraríamos novamente no tempo forte com
se começa no segundo tempo do compasso. A “AAAA-tirei o pau no gato-to”. A escolha de um
palavra “A”, de “A barata”, cai no tempo dois, ou dois compassos depende da velocidade ou
tempo fraco, o que faz com que a frase comece agilidade que a gente quer dar ao disco. Pes-
com um silêncio no primeiro tempo, tempo for- soalmente, gosto de discos ágeis, mas tendo a
te. Como a cabeça do compasso tem um silên- deixar um tempo maior quando há uma diferen-
cio, dizemos que esse tipo de frase é “acéfala”, ça muito grande no clima ou no andamento de
ou sem cabeça. faixas consecutivas.

Wiki Images

A divisão da música em compassos é um mecanismo para facilitar o


entendimento, porque a gente já espera a chegada dos momentos de estabilidade
ou repouso, e essa previsibilidade torna a música mais familiar e compreensível

44 | áudio música e tecnologia


E como seria se “Atirei o Pau no Gato” vies- de som no tempo forte, e deixa mais clara a
se seguido por “O Cravo Brigou Com a Rosa”? divisão rítmica da faixa que está começando.
Essa última faixa é anacrústica. ela começa um
tempo antes do tempo forte. Então, “O”, de “o Essa forma de pensar faz com que a divisão
cravo”, cairia no quarto tempo do compasso de e acentuação rítmica fiquem mais claras no
entrefaixa, de forma que “CRA-vo” ficasse no começo das faixas e ajuda a apreciar musi-
tempo forte, ou na “cabeça” do compasso. calmente o que vai acontecer. O silêncio gera
expectativa, e o começo da música no tempo
Se a segunda faixa fosse “A Barata Diz Que correto satisfaz essa expectativa. Com isso, o
Tem”, o primeiro tempo ficaria em branco, e “A disco flui de forma muito mais natural, e até
barata” começaria no segundo tempo do com- o silêncio de entrefaixa, que é uma necessi-
passo. Nesse caso específico, eu provavelmente dade técnica, se torna um elemento musical.
deixaria dois compassos em branco, e começa- E esse deve ser o objetivo final de nosso tra-
ria a faixa no segundo tempo do terceiro com- balho enquanto técnicos, na minha opinião:
passo. Esse tempo de espera reforça a ausência fazer música. •

Rodrigo Lopes é engenheiro de áudio graduado na Berklee College of Music e bacharel em Música pela Universidade de
Brasília. Indicado ao Grammy 2015 na categoria Engenharia de Áudio e ganhador do Prêmio Profissionais da Música 2015 na
categoria Engenheiro de Mixagem, trabalhou na Visom, PolyGram, Herbert Richers e Biscoito Fino. Atualmente leciona maté-
rias de áudio e de música na Faculdade Souza Lima, em São Paulo. Site: www.rodrigodecastrolopes.com.br

áudio música e tecnologia | 45


Produção Fonográfica | José Carlos Pires Junior

Módulos Série 500


Um interessante investimento para pequenos estúdios

API 500 series Lunchbox

N
o fim dos anos 1960, a empresa Automated tação do circuito dentro do módulo.
Processes Inc., hoje mundialmente conheci-
da como API, colocou em prática o conceito de Outra grande vantagem criada pela padronização das
console modular, que consiste em um mixer em que os dimensões dos módulos foi a possibilidade da mudança
processadores de sinais eram montados a partir de um na ordem entre equalizador e compressor ou ainda a
encaixe padrão. Essa configuração dimensional forne- composição de variados modelos de módulos para os
cia aos seus clientes um mixer funcional e montado diferentes canais do console. Por fim, a criação de um
sob medida. Nesse momento da história, outras em- console a partir de módulos série 500 aproximava o
presas, como a Allison Research, DBX e Valley Audio, produtor fonográfico do conceito de “suitable”. Ou seja,
também apostaram em criar soluções em áudio basea- se necessário, o produtor poderia possuir diversos mo-
das no conceito de módulos conectados por encaixe. No delos de compressores e equalizadores (figura 2), os
entanto, foi com a série 500, da API, que o conceito de quais seriam montados de acordo com a necessidade
mixer modular ganhou notoriedade no console API 3208. do projeto a ser gravado. Além disso, a padronização
das dimensões dos módulos e do sistema de alimen-
A PADRONIZAÇÃO tação elétrica proporcionou a diminuição do custo de
produção de cada módulo, tornando-o muito atraente
O conceito de módulo série 500, criado pela API, parte da se comparado aos consoles Neve e SSL.
padronização dimensional dos pré-amplificadores e pro-
cessadores de áudio. Sendo assim, independentemente
do tipo de processador, circuito ou recurso, todos os mó-
dulos deveriam ser acondicionados em baias com dimen-
sões predeterminadas (figura 1). Além das dimensões
padronizadas, também foram padronizadas as voltagens
de alimentação, o projeto do circuito de entrada e saída
de áudio e o tipo de encaixe entre o módulo e o console
(pins). Sendo assim, cada módulo recebia a alimentação
de energia de um power supply externo, não sendo neces-
sária a inclusão de pesados transformadores para alimen- Figura 1 – Visão interna da lunchbox API

46 | áudio música e tecnologia


PERÍODO DE periféricos computacionais (figura 3).

ESQUECIMENTO
Foi então que a API, a partir de sua
reestruturação comercial, colocou no
Apesar de todas as vantagens tra-
zidas pela série 500, a API passou mercado seu antigo projeto de Lunch
por um período de ofuscamento de- Box, que consiste em uma “lanchei-
vido ao grande desenvolvimento de ra” com oito baias para módulos série
grandes fábricas de consoles como 500 alimentados um power supply de-
a Neve, Harrison, SSL e, finalmente, dicado. Uma das particularidades da
a colossal Yamaha. O principal ponto Lunch Box API era a possibilidade do
negativo para os sistemas modula- cliente poder montar sua configuração
res da série 500 foi a dificuldade de com oito canais com um módulo cada,
implementação do Total Recall. Com ou quatro canais com dois módulos
a entrada dos anos 1980 e o surgi- em série (um pré + um processador).
mento dos sistemas computacionais Figura 2 – Módulo pré- Além disso, o cliente poderia combinar
para controle de dispositivos de áu- amplificador modelo 535 diversos modelos de preamp, com-
dio, muitos fabricantes de consoles pressor e/ou equalizadores de acordo
apostaram em um recurso que possibilitava a armazena- com sua necessidade, podendo ainda comprar os módulos
gem e recuperação das posições dos parâmetros de cada gradativamente até completar as baias da Lunch Box sem
processador no canal da mesa. que isso impedisse o funcionamento parcial dela.

Assim, o Total Recall surgido como diferencial de mercado na A CULTURA DIY


mesa SSL 4000 empurrou para longe a simplicidade da série
500, consolidando ainda mais a preferência do mercado por A sigla DIY, do inglês Do It Yourself (Faça Você Mesmo),
processos mais dinâmicos e rápidos de administração do dia representa um conceito que teve início nos anos 1950 e
a dia dos estúdios, chegando ao seu ápice com os consoles cuja essência foi preservada nos movimentos culturais
completamente digitais e automatizados dos anos 1990. anarquistas e na música indie a partir dos anos 1980. Em
resumo, o conceito DIY é uma reação à cultura de consu-
FIM DE UMA ERA mo dos anos 1980, que sugere a supremacia comercial de
produtos fabricados em linha de montagem como alter-
Com o processo da mudança no perfil econômico do estú- nativa rápida e moderna para
dio, provocado em parte pela inclusão dos equipamentos de a aquisição de bens duráveis.
gravação digital computacional, houve uma democratização
dos recursos que anteriormente eram privilégio de grandes Foi no interior da cultura DIY
gravadoras. Dessa forma, consoles de milhares de dólares que os módulos série 500, agora
passaram a concorrer com a funcionalidade proporcionada conhecidos como outboard ge-
pelos softwares DAW (Digital Audio Workstation), como o ars, encontraram terreno fértil
Pro Tools. Também os consoles digitais da Yamaha, Midas e para experimentações, pesquisa
Soundcraft traziam as mesmas funcionalidades dos consoles e desenvolvimento e também
milionários, ainda que a qualidade sonora não estivesse em pirataria descarada. Devido à
pé de igualdade. Porém, foi o impacto do mundo computa- grande simplicidade e elegância
cional na indústria fonográfica que abriu a possibilidade do dos projetos originais da API e
produtor independente atuar no mercado, que até então era também à facilidade proporcio-
exclusivo das grandes corporações fonográficas. nada pela padronização estru-
tural dos módulos da série 500,
RESGATE DO VINTAGE em pouco tempo o mercado foi
inundado por réplicas vendidas
Junto com o crescimento da produção fonográfica indepen- por frações do valor do produ-
dente e dos estúdios de pequeno porte, surgiu também a ne- to original. Isso proporcionou ao
cessidade de buscar nos equipamentos vintages e raros um produtor fonográfico indepen-
diferencial de mercado para seduzir os clientes em potencial. dente a possibilidade de ter o
Nesse sentido, a série 500 da API foi a aposta de custo relati- som de um API a partir de uma Figura 3 – Módulo
vamente baixo e livre da obsolescência programada típica dos réplica altamente fiel. Compressor 527

áudio música e tecnologia | 47


PRODUçÃO FONOGRÁFICA

Figura 4 – Lunchbox API com módulos de marcas variadas

Em pouco tempo, o mercado de módulos outboard série


500 atingiu o mesmo frenesi criado pela volta dos pedais
de guitarra, ocorrido no século 21, algo que para muitos
realmente representa “a volta dos que não foram”.

Figura 6 – Deep Blue Audio série


cLicHÊ Pouco é BoBaGEM 500: genuinamente brasileira

“...de olho no mercado internacional” dos módulos série formação importante é que podemos comprar módulos
500, as consagradas AMS Neve, SSL e Rupert Neve De- preamp série 500 desenvolvidos e fabricados no Brasil
signs colocaram no mercado produtos no formato série pela Deep Blue Audio, que vem realizando um belíssimo
500. Inclusive, módulos como os lendários Neve 1073 e esmerado trabalho de pesquisa e desenvolvimento de
e SSL G-Master Buscomp foram adaptados para a série produtos originais (figura 6).
500 e em pouco tempo também foram absorvidos pelo
mercado “alternativo”. Atualmente, uma grande variedade conSidEraçÕES FinaiS
de processadores consagrados pode ser encontrada nas
versões original, réplica ou kit para montar em casa. Ta- Certamente o investimento em outboards série 500 é
manho foi o impacto causado no mercado que a Vintage de longe um dos melhores investimentos em equipa-
King, loja especializada em outboards e consoles de alto mentos que um estúdio pequeno pode fazer. Seja pela
desempenho, tem uma sessão inteira em seu site dedica- maior aceitação mercadológica dos modelos clássicos
da aos módulos série 500, oferecendo produtos que vão ou pela relação custo-benefício das réplicas e/ou de-
de US$ 200 a US$ 3.000 (figura 4). senvolvimentos originais recentes, a série 500 consoli-
da-se como um bem durável, portátil e, principalmen-
Outro produto importante lançado no mercado interna- te, muito barato, comparado aos recursos hi-end para
cional em 2014 foi o console SSL XL-Desk, que consiste racks ou em forma de console.
em um mixer ana-
lógico/digital que Sendo assim, para
conta com 16 baias você que está pen-
para módulos série sando em investir
500 insertáveis nos algum recurso finan-
canais. Vale lembrar ceiro na aquisição de
que no ano passa- equipamentos para
do o curso de Pro- seu estúdio, consi-
dução Fonográfica dere a possibilida-
da Fatec-Tatuí teve de de iniciar seu kit
a oportunidade de com uma Luchbox
testar uma SSL XL- e um bom preamp
-Desk que nos foi clássico, e já prepa-
trazida pelo Conrado re a poupança para
Ruther, representan- os próximos módu-
te da SSL no Brasil los, que certamente
Figura 5 – SSL XL-Desk com 16 baias série 500
(figura 5). Outra in- virão. •

José Carlos Pires Júnior, músico e produtor fonográfico, é professor das disciplinas de Técnicas de Gravação e Acústica Aplicada ao Ins-
trumento. E-mail: cravelha@gmail.com.

48 | áudio música e tecnologia


LAR, DOCE LAR
Wesley Safadão grava
em casa seu novo DVD,
que conta com luz
artística e arquitetural

O VALOR DO SEU SUOR


A relação entre arte e trabalho e
quanto cobrar por seus serviços
 produtos
PAINEL DE ILUMINAÇÃO LED ACME
LP-F100 PARA ESTÚDIOS DE TV

Divulgação
O painel de luz ACME LED LP-F100, indicado para a ilu- o sistema conta também com
minação de estúdios de televisão, teatros e cenários, um controle rotatório que atua
tem índice de rendimento de cor de 96 pontos e utiliza como dimmer, permitindo a cria-
24 LEDs CREE como fonte de luz para uma iluminação ção de diferentes ambientes. Leve (pesa apenas 6 kg)
estável em um ângulo de 120 graus. Ele conta com pai- e compacta (mede 387 x 230 x 276 mm), a luminária
néis de fósforo intercambiáveis para que seja possível também é isenta de mercúrio e não gera radiação no-
conseguir uma ampla variedade de temperaturas de cor. civa, como raios infravermelhos ou ultravioleta.

O controle do LP-F100 é feito via DMX master/slave, e www.acme.com.cn

MOVING HEAD MARTIN RUSH MH-6 WASH


A família Rush, da Martin, recentemente recebeu um novo trônico e efeitos estroboscópios.
integrante: o moving head LED Rush MH-6
Wash, que possui o sistema de LEDs e O Rush MH-6 Wash é um sistema de lente única, controlado
o zoom do Rush Par 2 RGBW Zoom, por meio de 14 canais DMX e com saída de 2000 lúmen. O
mas integrados em uma cabeça mó- direcionamento DMX acontece com a ajuda de um painel
vel que permite inclinações de 260 de controle com tela LCD, e os conectores de injeção de si-
e rotações de 540 graus. O modelo nal deste protocolo admitem entradas de três e cinco pinos.
Divulgação

oferece um sistema de cor pré-mis-


turado de 12 LEDs RGBW de 10 watts, www.martin.com
contando ainda com um dimmer ele- www.martinprofessional.com.br

A BOLA MÁGICA DA PLS


A Thunder Ball, caso você ainda não a conheça, é uma bola mágica capaz de emitir 82 raios fortes de luz com di-
versos efeitos e strobo, tudo isto com velocidade e oferecendo a você a possibilidade de realizar ajustes no brilho
de acordo com o seu gosto e também com as necessidades da aplicação em questão.

Prático e bastante eficiente, o equipamento, que tem preço competitivo, é leve e tem dimen-
sões reduzidas, podendo, por isso, ser facilmente transportado, trabalha no modo automático
e também com ativação sonora. Possui seis LEDs de 1 watt RGB e é bivolt, evitando, assim,
Divulgação

surpresas desagradáveis nas tomadas desse nosso Brasil.

www.proshows.com.br

CONSOLE CLARITY LX 300


Divulgação

O Clarity LX 300, da LSC Lighting, é um console multi- pixel LED com ima-
mídia que permite o controle integrado contínuo de LED gem e reprodução
e moving lights, servidores de mídia e até mesmo de de vídeo; tela tou-
reprodução de áudio a partir de um único dispositivo. ch screen de 10,4”
O equipamento é dotado de um software com ênfase 800 x 600 pixels e tela
em fluxo de trabalho rápido e lógico para permitir ao individual 120 x 140 px para
operador conseguir mais em menos tempo. cada reprodução. Tudo em um console com dimensões
de 895 x 590 x 296 mm e que pesa 22 kg.
Entre outras características do LX 300 estão as opções
Cue, Copy/Paste & Freesets; armazenamento de duas a www.lsclighting.com
três horas de programação por show; mapeamento de www.hpl.com.br
áudio música e tecnologia | 51
em fo c o

LISTA DE CIDADES QUE TERÃO SINAL ANALÓGICO


DESLIGADO EM 2018 É DIVULGADA PELO MCTIC
O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) já tornou pública a relação dos 966 municípios brasileiros
que terão o sinal analógico de televisão desligado em 2018, passando a contar somente com o sinal digital. A portaria nº 3.493,
publicada no Diário Oficial da União, também estabelece os novos requisitos do conversor digital distribuído aos beneficiários
do programa Bolsa Família e do Cadastro Único. Ao todo, o sinal analógico será desligado em 1.326 cidades até o fim de 2018.

A nova portaria complementa outras duas, publicadas anteriormente, que detalham o cronograma de implantação do sistema de
TV digital no país. O documento também determina mudanças no conversor digital, de acordo com o que foi proposto e autorizado
pelo Grupo de Implantação da TV Digital (Gired). O equipamento garante interatividade ao telespectador e terá, obrigatoriamente,
controle remoto, interface USB, dois tipos de saída de áudio e vídeo, além de

technozed.com
permitir a utilização de recursos de acessibilidade.

Os conversores digitais com essa configuração começarão a ser entregues às


famílias do Cadastro Único na capital e outras cidades de São Paulo ainda
neste ano. Nestas cidades, o desligamento do sinal analógico de televisão está
previsto para 29 de março de 2017. De acordo com o gestor do processo de
implantação da TV digital do MCTIC, William Zambelli, o objetivo dessas dire-
trizes é garantir que uma parcela maior da população carente não fique sem
sinal de televisão nas localidades onde ocorrerá o desligamento do sinal ana-
lógico até dezembro de 2018.

Ainda de acordo com a portaria 3.493, as cidades que não estão listadas nos Segundo o ministério, 966 municípios
cronogramas de 2016, 2017 e 2018 deverão ser desligadas até 31 de dezem- terão o sinal analógico desligado em 2018,
bro de 2023. Com o desligamento analógico, a faixa de frequência de 700 MHz passando a contar apenas com o digital
fica livre para a expansão da internet 4G em todo o país.

NETFLIX NA MIRA DA DISNEY


Após a Fortune divulgar que a Disney estaria avaliando a se aumento de 6,1% em seu valor, chegando a US$ 104,4
possibilidade de comprar o Twitter, o que se diz agora é que no dia três de outubro. A notícia chega em bom momento
a gigante americana teria, em sua mira, a Netflix, maior e para acionistas da Netflix,uma vez que o valor de mercado
mais importante plataforma de streaming de vídeo do mundo da empresa venha numa descrescente, fruto de resultados
e com valor total de mercado de US$ 44 bilhões. trimestrais que têm desiludido e impactado negativamente
na confiança dos investidores.
O rumor foi suficiente para que a ação da Netflix registras-
As duas empresas já possuem relações bem significativas
Divulgação

entre elas, com a plataforma de streaming sendo a única


operadora que trabalha com mensalidades a receber novos
filmes da Disney. A Netflix também é vista como uma verda-
deira plataforma de distribuição da Disney, uma vez que esta
última gastará, apenas em 2016, um valor superior a US$ 6
bilhões em filmes, programas, documentários e shows, sen-
do bastante interessante possuir um “canal” tão amplo e em
evidência para disseminar suas produções.

A possível aquisição representaria a chegada da Disney ao


mercado de streaming diretamente no topo, e tanto os valo-
res envolvidos no negócio quanto o que poderia surgir a partir
Disney e Netflix: negócio em andamento? dele teriam grande impacto tanto no universo do streaming
de vídeo quanto no entretenimento como um todo. A conferir.
52 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 53
Divulgação
Capa Rodrigo Sabatinelli

CASA ILUMINADA
wesley Safadão grava dvd em Fortaleza
com luz artística e arquitetural

N
o último dia 20 de julho, o cantor Wesley há um ano havia deixado sua marca artística no pri-
Safadão – um dos maiores vendedores de meiro trabalho solo do cantor, Ao Vivo em Brasília.
discos do Brasil – gravou, em sua casa, num
bairro nobre de Fortaleza, Ceará, seu mais novo “Venho numa ‘batida’ boa de trabalho. Depois de
DVD. Em uma apresentação para cerca de 500 16 anos ao lado de Marcos Olivio, com quem fiz
convidados, o artista registrou 20 canções, sen- inúmeros trabalhos, assinei as luzes de DVDs de
do grande parte de-
las inéditas, e contou
com a participação Divulgação

de amigos como Luan


Santana, Gabriel Di-
niz, Marcia Fellipe,
Thalles Pacheco e Ro-
naldinho Gaúcho, que
também se arriscou
num duo vocal com o
forrozeiro.

Como era de se espe-


rar, a criação da luz do
DVD, bem como sua
direção de fotografia,
ficaram a cargo de
Carlinhos Nogueira,
lighting designer que

Carlinhos Nogueira, que já ilumina os shows de Wesley, é


lighting designer e diretor de fotografia do DVD

54 | áudio música e tecnologia


Divulgação

sunto é a carreira pós-


Garota Safada.

“Foi lá [nesse deck]


que, nos últimos
anos, [Wesley] rece-
beu os compositores
de boa parte de seus
maiores hits solo. En-
tão, a ideia era, além
de iluminar sua casa,
dar uma atenção a
esse ‘cantinho mági-
co’, que por muitas
vezes foi usado como
A distribuição de pernas de LEDs em meio aos movings
também contribuiu para a concepção cênica do espetáculo abrigo para a de-
monstração das can-
ções registradas em
Henrique & Juliano, Fernando & Sorocaba, Michel seus últimos discos”, conta.
Teló, Zeca Pagodinho e Projota, entre outros. E,
agora, novamente a convite da produção de Wes- Embora tivesse que prestigiar a arquitetura, a
ley, crio a luz para Em Casa”, conta ele, adiantan- iluminação deveria, ainda, contemplar os jardins
do o nome do projeto, que deve ser lançado no da casa. No entanto, não poderia, em hipótese
próximo mês. alguma, interferir em suas estruturas, segundo
explica Carlinhos, que, por conta disso, teve que
ridEr vErti-
caLiZado
Divulgação
O lighting designer
lembra que logo nas
primeiras reuniões
foi estabelecido que
a iluminação deveria,
dentre outras coisas,
valorizar a arquitetu-
ra da casa do artista,
oferecendo destaque
à edificação principal,
claro, e, entre outros
ambientes externos,
ao deck de sua pis-
cina, local de grande
importância para sua
história, especial-
mente quando o as-

Moving lights Robe, dentre outros, foram cedidos para a gravação pela
Apple Produções. Rider verticalizado foi uma escolha de Carlinhos
para valorizar a arquitetura da casa de Wesley.
áudio música e tecnologia | 55
Capa
Divulgação

como ‘pegada’ e efei-


tos; as PAR LED ilumi-
naram todos os troncos
dos coqueiros do jardim
da casa; os P-5 serviram
às copas dessas árvores,
além das paredes e à fa-
chada da casa, e os LED
Wash foram destinados
à fotografia e a telhados
e cenografia em geral”,
completa ele, lembran-
do, ainda, que todo o
rider foi controlado por
consoles MA Lighting,
Carlinhos, Wesley e Fernando Trevisan: trio se nos modelos Full Size e
reencontra em Em Casa, novo projeto do cantor Light, e dois NPUs.

criar um rider verticalizado composto por 60 mo- LUZ “CRIADA” NA HORA


ving lights Pointe, 25 BMFL 12 MMX Wash Beam,
56 LED Wash 600 e 50 ribaltas CYC FX8, todos Carlinhos conta, ainda, que alguns desses aparelhos,
da fabricante Robe, além de 24 sistemas P-5 e como, por exemplo, os BMFL e os LED Wash, “ade-
36 PAR LED RGBW, sendo esses da SGM, dentre reçaram” o cenário do show, criado por Fernando
outros cedidos pela Apple Produções. “Catatau” Trevisan – cenógrafo e diretor de vídeo do
DVD – e feito com placas de LED que, visualmente,
“Os BMFL, por exemplo, foram usados no contra- se assemelhavam a letras L ao contrário. E as cores
luz e como geradores de efeitos. Quatro deles, utilizadas neles, explica, acompanhavam o tom es-
em especial, fizeram o
papel de follow spot,
atuando como espécies Divulgação
de canhões seguidores,
acompanhando Wes-
ley. O legal de usar os
aparelhos dessa forma,
digamos, não conven-
cional, foi poder ter à
mão gobos, shutters e
dimmers, além de con-
troles de temperatura
e intensidade desses
‘canhões’”, afirma o
iluminador.

“Os MMX serviram à


frente da banda e para
a geral, enquanto que
os Pointe foram usados

Muito colorido: tons escolhidos por iluminador


acompanhavam o teor das canções do repertório

56 | áudio música e tecnologia


Divulgação
tabelecido pelos conteúdos em
vídeo disparados ao vivo.

“Era importante criar uma uni-


dade e, principalmente, ofere-
cer destaque aos conteúdos.
Diferentemente do DVD de
Brasília, neste eu não tive que
trabalhar com cenas determi-
nadas. Programamos as luzes
– eu e Vinicius Gonçalves – e,
durante a apresentação, eu en-
trava com o que achava ideal.
Essa liberdade, de poder criar
na hora, embora tudo estivesse Ao fundo, o cenário do DVD gravado em Brasília: de
previamente definido, foi muito acordo com Carlinhos, no atual projeto não houve
interessante”, encerra. • necessidade de se criar as cenas previamente

áudio música e tecnologia | 57


I l u m inando Rodrigo Horse

Quanto vale
seu suor?
Relação entre arte e trabalho e
quanto cobrar por seus serviços

Wiki Images

Q
uanto vale o seu trabalho? Quanto você Mas eu gostaria de fazer a pergunta de uma forma
cobra? Está aí uma pergunta que todo um pouco diferente: quanto você cobraria para criar
mundo ouve quando é convidado para um trabalho de iluminação artística para meu espe-
executar um trabalho de iluminação ou outro ser- táculo? Isso porque o que executamos em nossos
viço do gênero. Mas, afinal de contas, quanto vale trabalhos é arte, é algo subjetivo, é sensibilidade
seu trabalho? através da luz. Me diga: qual outra profissão pode
mudar o visual de um objeto usando somente luz?
Às vezes esta é uma pergunta difícil de se res- Qual outro trabalho lhe permite modificar o espaço
ponder, ainda mais em um mercado como o nos- utilizando fontes de luz artificial (fig. 1)?
so, que tem todo tipo de profissional com suas
diversas qualidades. O cálculo do trabalho como Até mesmo o termo que alguns profissionais da área
iluminador às vezes é influenciado pela dificuldade utilizam, lighting designer, traz esta característica
da execução, pela forma do pagamento – se rece- artística, pois o “lighting” vem de iluminar e “de-
berá à vista ou a prazo – e até mesmo pelo vínculo sign” vem da expressão de representar em desenho
de amizade que temos com o cliente. Enfim, são e perspectiva. Então, esta relação de projeto e arte
várias as formas de executar o pagamento. é muito estreita, e os dois caminham juntos em nos-

58 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 59
I l u m inando

isso é decidido en-


Rodrigo Horse

tre os profissionais
do ramo. Digo por
mim mesmo, pois
aqui, na minha ci-
dade, Goiânia, a
Sated-GO (Sindi-
cato dos Artistas
e Técnicos em Es-
petáculos e Diver-
sões) não acompa-
nha estes valores
e nem procura
um diálogo com a
sociedade, então
cria-se um valor
entre os profissio-
nais e este é o que
fica valendo para
todos os profissio-
Figura 1 – Fontes de luz artificial nais da área.

sos trabalhos de iluminação. Para entender um pou- Beleza. Até aí, tudo bem, mas o problema no nos-
co mais a fundo, indico para leitura o artigo Design, so mercado de trabalho é que alguns profissionais
cena e luz: anotações, do amigo e iluminador Eduar- usam de má-fé. Eles não têm a experiência ou não
do Tudella, que está disponível em http://migre.me/ conseguem executar com a mesma qualidade e
t43r4. No texto, ele discorre sobre o termo “lighting compromisso que fazemos. Muitos destes problemas
designer” e suas atribuições no nosso mercado. Vale estão relacionados ao fato deles estarem há pouco
a leitura, que é muito boa, por sinal. tempo no mercado de trabalho e ficarem sabendo
do valor. Aí cobram o mesmo que
TÉCNICA E ARTE COM nós, mais experientes, executam
SEUS VALORES mal e assim toda uma classe de
profissionais fica mal falada.
Mas, voltando à nossa conversa, quando pensamos
em um valor para nossos trabalhos, devemos levar Mas antes de esbravejar aos qua-
em conta a questão artística de criação, pois, como tro ventos o que digo, não quero
já disse, algumas vezes, não somos apenas executo- aqui criticar quem começou há
res – somos artistas que usam um palco escuro como pouco tempo, dizendo que fa-
tela e nossos refletores como pincéis para desenhar e zem um trabalho ruim. Longe
representar um significado para a cena. Claro que há disso. O que quero falar é que,
outros fatores que vão influenciar no valor a ser co- independentemente do tempo de
brado, como tempo de criação, ensaio, deslocamen- trabalho e estudo, o profissional
tos, viagens, se vamos operar ou não a luz, se vamos precisa ter consciência de suas
viajar em turnê, se você vai somente montar a luz habilidades para trabalhar com
de outro iluminador ou apenas operar a luz, dentre aquilo que sabe, e, assim, procu-
outros fatores. Mas, infelizmente, aqui no Brasil não rar parceiros para executar com
se tem um teto básico para cobrar valores. perfeição seu trabalho.

Alguns estados estabelecem um valor médio, mas Falando por mim mesmo, meu

60 | áudio música e tecnologia


foco é iluminação cênica de espetáculos teatrais, eventos efê-
meros, coordenação técnica de festivais, mostras de teatro,
dança, show – isso porque eu defini este foco de trabalho.
Quando aparece um trabalho de dança contemporânea, penso
que outro profissional, mais gabaritado do que eu, pode exe-
cutá-lo melhor e, assim, indico um amigo e grande iluminador
que considero, que é o Sergio Galvão. Ele se define como
iluminador cênico, como eu, mas o foco dele é trabalho de
iluminação em dança contemporânea e balé (fig. 2), então
passo para uma pessoa mais experiente do que eu para exe-
cutar este tipo de serviço. Não estou dizendo que não faço. Eu
executo, mas admito que seus trabalhos são melhores do que
os meus quando o assunto é dança contemporânea e balé.

O que você tem que colocar na cabeça é a sua capacidade para


executar os trabalhos. Com isso, quem ganha não é só o espe-
táculo em si, mas os profissionais envolvidos na área, e assim
cria-se um ciclo de amizade e confiança com todos.

Sua LuZ, Sua rESPonSaBiLidadE


Eu não vou entrar aqui em números sobre o preço a ser cobra-
do. Quero somente que entendam a importância de se fazer
uma autoavaliação de sua capacidade, pois muitas vezes você
pode assumir um trabalho que “acha que dá conta”, comete
um erro que muitas vezes pode ser simples e acaba se quei-
mando, atingindo também os colegas de profissão.

Devemos levar em consideração a parte artística em nos-


Basileu França

Figura 2 – Espetáculo Dom Quixote

áudio música e tecnologia | 61


I l u m inando

sos valores, mas, afinal de contas, o que é arte judicar outras pessoas e nem denegrir a profissão
(fig. 3)? Antes de mais nada, vamos entender a de iluminador. Nossa área de trabalho já enfrentou
origem da palavra, que vem do latim “ars” (“ha- e ainda enfrenta tanta dificuldade e ainda assim
bilidade”, em português). Agora, a aplicação de aparecem pessoas com má índole para prejudicar
sua definição é controversa. Alguns defendem nosso ramo. Então, se valorize, mas tenha cons-
que a pessoa nasce com a aptidão de executar ciência de sua capacidade como artista e técnico
trabalhos artísticos com mais facilidade, outras de luz ou iluminador. Exercer estas duas funções,
defendem que as pessoas têm habilidades para juntando a arte e a ciência, sei que é difícil e exige
materializar as ideias, outros defendem que ela muito trabalho, mas o que adianta fazer algo fácil
estudou e trabalhou sua técnica até conseguir se o resultado final não lhe trará satisfação? O que
exercer com perfeição um trabalho em específico, adianta, se você não consegue realizar na prática o
independentemente se é de iluminação, cenogra- que sua mente e coração desejam para o trabalho?
fia, figurino ou qualquer outro trabalho que en- Ficam a dica e o convite à reflexão. •
volva criação e execução de conceitos construídos
para tal. Estas características não são exclusivas

Reprodução
da iluminação, mas inerentes a tudo que envolve
colocar em prática um trabalho visual ou artísti-
co. Então, colocar preço em seus trabalhos de-
manda também consciência do que você é capaz,
de como é esta área em que você atua, no que
você está disposto a trabalhar e o que quer criar
para seu cliente.

Quando penso nos valores que vou cobrar, tam-


bém levo em consideração se aquele valor me
deixará confortável e satisfeito. Pode parecer
uma bobagem o que estou falando, mas vamos
exemplificar. Vamos supor que um grande amigo
seu te chama para fazer um projeto de luz. Ele
fala que é pela arte, pela amizade e tudo mais.
Você, com coração grande, vai lá e topa fazer por
um preço menor, para ajudar seu amigo, mas, no
fundo, algo lhe diz que você não se sente bem
devido ao valor que cobrou. Claro que às vezes
fazer um trabalho cobrando menos, pensando na
amizade ou no projeto em si, é gratificante, mas
o que adianta fazer mais barato, ajudar seu ami-
go, se você não se sente bem?

Não estou falando para você cobrar um valor super- Figura 3 – Afinal, o que é arte? Jorge Coli
elevado para que se sinta feliz, mas para que cobre fez essa pergunta e deu resposta a ela no
algo justo, que não gere arrependimento, sem pre- clássico da coleção Primeiros Passos

Rodrigo Horse é graduado em Design de Interiores pela Faculdade Cambury-GO, especialista em


Docência do Ensino Superior pela Faculdade Brasileira de Educação e Cultura (FABEC-GO). Profes-
sor da pós-graduação do IPOG do curso Master em Iluminação e Arquitetura e pela Faculdade Uni-
curitiba na pós-graduação Arquitetura de Iluminação. É iluminador efetivo da Universidade Federal
de Goiás (UFG) e atua como iluminador cênico há 15 anos. Contato: contato@rodrigohorse.com.br

62 | áudio música e tecnologia Até o mês que vem, com mais um caderno Luz & Cena!
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áudio música e tecnologia | 63


lugar da verdade | Enrico De Paoli

Qual software usar no seu estúdio?

O
utro dia um aluno dos meus treinamentos Mix Pode parecer romântico demais, mas quem é músico
Secrets me perguntou qual software seria “cor- instrumentista sabe que um instrumento musical, uma
reto” ele usar em seu estúdio, pois o que estava guitarra, um pedal, um amplificador, um sintetizador,
usando havia sido julgado como “não-profissional” por um instrumento virtual (plug-in synth) pode te inspirar
um colega de trabalho. E como esta não foi nem a primei- a compor novas músicas, fazer novos arranjos ou de-
ra e nem a segunda vez em que ouvi esta pergunta, achei senvolver novas produções. O mesmo acontece com os
que neste momento podia vir a ser de alguma utilidade softwares. Mas como assim? O som deles é tão diferen-
botar o meu ponto de vista em forma de artigo aqui na te assim, como num instrumento musical, a ponto de
nossa última página da Áudio Música & Tecnologia. mudar o seu resultado de trabalho ou a sua produção?
O som pode até não não ter essa diferença toda, mas
Vale lembrar que apesar de estar obviamente falando garanto que com a maneira de trabalhar mudando, o
pelo meu ponto de vista, minha opinião aqui relatada resultado final muda.
não tem peso pra nenhum lado, nenhuma plataforma,
nenhum fabricante, nenhum favor, nenhuma amizade E então? Depois dessa salada de informações, qual software
ou nenhum pedido especial! é o melhor? Bem, antes da conclusão, é importante lembrar
um último tópico: você está trabalhando sozinho ou com
Começo respondendo mais uma pergunta dentro deste outros produtores e engenheiros? Seu software estará ins-
mesma: sim, os softwares ou DAW (Digital Audio Works- talado num estúdio para ser alugado a outros profissionais?
tations) variam em sonoridade de um para outro. Não é Você vai abrir sessões que já chegam iniciadas e depois vai
porque “é tudo arquivo digital” que soa tudo igual. Cada precisar enviá-las para outros estúdios para serem continu-
software tem uma maneirade gerenciar seus audios, DSP adas e terminadas? Se sim, o melhor software é aquele que
(processamento) e, sobretudo, seus drivers, ou seja, como seus clientes mais usam, pois estar compatível com eles é
o software “fala com o hardware” que te permite ouvir o obviamente uma questão importante ou até definitiva.
som. Além disso, os cálculos que cada software faz em
seus mixers internos (a maneira como cada um soma os Mas, se as suas produções são suas, se é você quem as
vários tracks de áudio em um master estéreo) podem va- idealiza, as inicia e as termina, se o material que você
riar de fabricante para fabricante. Sendo assim, você pode, recebe no seu estúdio chega em tracks de áudio avulsos
sim, perceber diferenças sônicas entre cada aplicativo. e, depois de trabalhar, você só envia canais de áudio de
volta pra o cliente, o seu meio de trabalho pouco importa
Ainda não estou aqui julgando qual é bom e qual é ruim. para os outros, mas certamente importa para você e para
Pensemos da seguinte forma: um console SSL tem um suas inspirações.
tipo de sonoridade, uma Neve tem outro tipo, uma API
já difere das duas anteriores... Se pensarmos em mesas Continua na dúvida? A maioria dos softwares permite que
digitais atuais usadas em shows, veremos que o mesmo você faça download de versões demo. Ou, melhor que
se aplica: uma Yamaha tem um som, uma Avid tem outro, isso, veja os profissionais que você mais gosta trabalhan-
uma Soundcraft, outro. Aliás, essas marcas (e todas as do e o que eles usam. Hoje em dia isso é fácil... e qual-
outras) de consoles de shows já têm o som bem diferente quer YouTube, Facebook ou Rede Social permite que você
até entre modelos da mesma marca! acompanhe trabalhos de outras pessoas com algum nível
de detalhes. Se a pessoa que te inspira usa um leque de
Diferenças de sonoridade à parte, vem outra caracterís- ferramentas, talvez isso seja motivo suficiente pra você
tica tão ou mais importante: a ergonomia do software. ao menos experimentar algo parecido!
Cada um trabalha de um jeito diferente. E, como as pes-
soas nem sempre pensam da mesma forma, às vezes Eu tenho minhas ferramentas de costume e de con-
o software que combina com uma pessoa pode não ser fiança. Coisas que são difíceis de abrir mão. Mas, ainda
exatamente feito para a outra. Isso vai de detalhes da UI assim, gosto de conhecer novos métodos e estilos de
(User Interface) até a logística e estilo de uso. E isso me outros profissionais que me agradam, mas sempre me
leva a mais um tópico importantíssimo no que diz respeito apoiando no mais valioso dos meus equipamentos: um
a diferenças entre DAWs: inspiração. par de ouvidos. Até mês que vem! •

Enrico De Paoli é engenheiro e produtor de música. Trabalhou com artistas dentre os quais estão Jota Quest, Cidade Negra, Djavan,
Ana Carolina, Titãs, Ray Charles e Elton John. Conheça também seus treinamentos particulares online Mix Secrets visitando o site
www.EnricoDePaoli.com.

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