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ROCK IN RIO
A tecnologia, os detalhes técnicos e
os profissionais por trás de um dos
maiores festivais do mundo
MIXAGEM S
S E G R E DO
SEM
STAGE 2 EX FLOATING
Muito mais memória e upgrade de POINT
bibliotecas no novo teclado Nord
Festival
lucinda@musitec.com.br
Edição jornalística: Marcio Teixeira
Consultoria de PA: Carlos Pedruzzi
Mas o que a maioria do pessoal não viu, não ficou sabendo e nem DIREÇãO DE ARTE E DIAGRAMAÇãO
pensou a respeito, mas que aqui na AM&T é o que vale, foi o tanto de Client By - clientby.com.br
gente que fez o festival acontecer para quem estava in loco e também Frederico Adão e Caio César
em casa, acompanhando pela TV. Toda a tecnologia empregada e as
preferências de cada técnico dos artistas, estrangeiros e nacionais, Assinaturas
tudo isso você encontra na nossa matéria de capa. Karla Silva
assinatura@musitec.com.br
E o Rock in Rio também se estende à capa do caderno Luz & Cena,
que traz uma matéria com uma abordagem, claro, voltada à ilumi- Distribuição: Eric Brito
nação e cenografia desse que é, sem dúvida, um dos das maiores
eventos musicais do planeta. No mesmo caderno você também Publicidade
tem a oportunidade de conferir o que de mais interessante aconte- Mônica Moraes
ceu na SET Expo 2015. Caso não tenha sido possível você estar lá, monica@musitec.com.br
é sua chance de se inteirar. Para mais conteúdo do caderno L&C,
confira a versão digital da revista. Impressão: Gráfica Stamppa Ltda.
Voltando à AM&T, ela também traz nesta edição uma análise completa Áudio Música & Tecnologia
do Stage 2 EX, novo teclado da família Nord que chega ao mercado é uma publicação mensal da Editora
com muito mais memória e uma considerável ampliação de suas bi- Música & Tecnologia Ltda,
bliotecas sonoras. Em tempos de culto ao analógico, a seção Plug-ins CGC 86936028/0001-50
apresenta um olhar sobre o Waves J37 Tape, que leva o som e o char- Insc. mun. 01644696
me da fita para os seus trabalhos no computador. Insc. est. 84907529
Periodicidade Mensal
Na seção Em Casa, agora é a vez de falar sobre os mics de overhead,
enquanto que no Desafiando a Lógica, seção que chega orgulhosa- ASSINATURAS
mente à sua vigésima edição e começa agora a contar com vídeos ex- Tel/Fax: (21) 2436-1825
clusivos, os meandros do novo Drummer são apresentados. Já em Mi- (21) 3435-0521
xagem, um mergulho profundo, técnico, no floating point lhe aguarda. Banco Bradesco
Ag. 1804-0 - c/c: 23011-1
Boa leitura!
Website: www.musitec.com.br
Marcio Teixeira
Não é permitida a reprodução total ou
parcial das matérias publicadas nesta revista.
12 Stage 2 EX
Mais memória e upgrade de bibliotecas em 48 Pro Tools
Curso de Pro Tools: Aula 5 – Preste atenção na qualidade!
um dos novos teclados da família Nord Daniel Raizer
Jobert Gaigher
24 Plug-ins
Waves J37 Tape – Som de fita no computador
Bruno Spadale
seções
editorial 2 notícias de mercado 6
novos produtos 8 índice de anunciantes 89
lugar da verdade 90
76
evento
SET Expo 2015 – Evento reúne cerca de 200 expositores,
400 marcas e mais de 15 mil visitantes em sua 27ª edição
82
capa media composer
Rock in Rio – Megafestival comemora Criação de projetos no Avid Media
Composer: Começando com o pé direito
30 anos com rider gigante por Cristiano Moura
por Rodrigo Sabatinelli
P R O D UT O S . . ................................ 64
85
EM FOCO .................................... 66 iluminando
FINAL CUT ................................... 79 A iluminação cênica através do tempo:
Entendendo a origem de alguns equipamentos e
6 | áudio música e tecnologia efeitos de iluminação que aplicamos hoje
por Rodrigo Horse
FINAL CUT .............................................. 92
NoTÍCIAS DE MERCADO
AM&T
alizada entre os dias 23 e 27 de agosto no Expo
Center Norte, em São Paulo, não se restringiram
a broadcast, novas mídias e iluminação (veja ma-
téria sobre o evento nesta edição, dentro do ca-
derno Luz & Cena), chegando, naturalmente, ao
mercado de áudio. Por exemplo, no estande da
Harman do Brasil, que distribui as marcas AKG,
JBL, Martin, Soundcraft e Studer, o destaque ficou
a cargo do console digital de mixagem Vista 1. In-
dicado para a utilização em difusão ao vivo, o sis-
tema, apresentado por Luis Salgueiro, especialista
de produtos da empresa, é compacto e oferece
uma ampla gama de recursos, como, por exemplo,
mixagem nos formatos 2CH, LCR, LCRS e 5.1.
Luis Salgueiro e a Vista 1, da Studer:
Na Eurobrás, que também distribui produtos Sen- mesa foi destaque na Harman
nheiser, entre outros, o gerente de vendas da fa-
bricante de microfones, Jeff Berg, apresentou o
AM&T
AVX-835 Handheld – um sistema autoconfigurável,
composto por um bastão sem fio e um receptor com
conexão XLR para uso em câmeras e gravadores;
o ClipMic Digital, um lapela criado para ser usado
com iPhones; o sistema wireless D1, composto pela
clássica cápsula cardioide e945, e as caixas wireless
LSP 500 Pro, que são alimentadas por duas baterias
recarregáveis e de grande autonomia.
AM&T
A Bosh, fabricante dos produtos Electro-Voice, após
contratar Alex Lameira como gerente de marketing de
empresa, anunciou recentemente o novo distribuidor de
seus produtos para o mercado de áudio profissional: a
Quick Easy, que desde o início de setembro trabalha com
produtos Electro-Voice para o Brasil.
“A Miloco só faz parcerias com estúdios que acredita que irão entregar o padrão que nossos clientes esperam e merecem”, diz Nick
Young, diretor geral da Miloco. Entre os artistas que recentemente escolheram estúdios da rede Miloco ao redor do mundo para
seus trabalhos estão New Order, Adele, The XX, Florence and the Machine, Foals, Blur e Usher, entre outros.
AudioArena: do Morumbi para a lista da Miloco a página do AudioArena no site da Miloco, visite ht-
tps://milocostudios.com/studios/audioarena.
Projetado para reprodução linear, o novo guia de ondas de alta frequência do Amie tem uma cobertura uniforme
e clara e sua baixa distorção é outro ponto de grande importância para a clareza da escuta,
ao mesmo tempo que minimiza a fadiga da audição dos engenheiros de som. Pequeno no
tamanho, mas grande no impacto, o monitor Amie conta com um amplificador classe D.
“Amie traz uma resposta incrivelmente suave em todo o espectro. Ele é muito pre-
ciso para a avaliação da equalização de diálogos na pós-produção, e apesar de seu
Divulgação
peso leve, ele pode me oferecer tanto poder sonoro quanto eu preciso ao monitorar
sequências muito barulhentas”, destaca Leslie Shatz, sound designer nos estúdios
Wildfire Post Studios e usuário do monitor.
www.meyersound.com
O Stockwell trabalha com uma bateria interna que permite ao usuário usar a caixa por aproximadamente 25 horas – sim, mais
de uma dia de som – e oferece conexão via Bluetooth 4.0, cabo
Divulgação
de 3,5 mm e USB. Bem leve, pesa apenas 1,2 kg.
www.marshallheadphones.com
www.proshows.com.br
O design semimodular do Mother-32 significa que nenhum patching é necessário para criar um poderoso som analógico.
Isso permite que músicos de qualquer nível de experiência comecem a fazer música rapidamente no equipamen-
to. Quem trabalha com síntese vai gostar de explorar o vasto patchbay, que permite uma capacidade de síntese
muito expressiva, complexa e única. O patchbay também dá acesso a uma ampla gama
sonora e de funcionalidades.
Divulgação
www.moogmusic.com
www.studiobrazil.com.br
Q
uem visitou a Expomu-
sic 2015 teve a oportu-
nidade de ver de perto
os dois novos teclados da Fa-
Stage 2 EX
Mais memória e upgrade de bibliotecas em
mília Nord. No caso do Stage 2 EX,
a maior mudança foi na biblioteca de um dos novos teclados da família Nord
sons, que teve um considerável up-
grade para atender os novos modelos
com muito mais memória. Já o Elec-
tro 5, que veremos no próximo mês,
ganhou características que o colocam
como um possível substituto do pró-
prio Stage 2 EX.
Seções de efeitos e synth dos novos Nord Stage 2 EX: timbres personalizados são criados de forma intuitiva
Várias técnicas de amostragem têm sido empregadas dadeira sensação de obter uma grande variedade dinâ-
para aumentar o realismo, incluindo a avançada cadeia mica em cada nota. Não consegui praticamente sentir
de ressonância, que emula a interação das cordas do diferença em relação ao HA, exceto pelo peso final do
piano ressoando umas com as outras. Durante o pro- teclado, de 12 kg. Tem contrabaixo que é mais pesado
cesso, a Nord também retira todas as cordas do piano que isso. Dá pra ir pra gig de metrô ou levar seu tecla-
para poder captar amostras precisas do ruído carac- do de teclas pesadas com você no avião (o lugar mais
terístico de cada instrumento. Todo esse cuidado faz seguro pra levar um teclado no avião).
com que as diferenças existentes entre um Steinway e
um Boesendorfer ou um Yamaha, apareçam de forma O PAINEL DE CONTROLE
evidente e clara em um Nord. Essa percepção é ainda
mais aguda ao comparar entre si os timbres de pia- O Stage oferece vários knobs e botões dedicados que
nos verticais presentes no Nord, como um Petrof, um deixam o tecladista sempre a apenas um toque de qual-
Steinway e um Boesendorfer, entre outros clássicos. quer função. O Nord não possui menus. Todo o acesso
aos sons e parâmetros dos sons é feito através de aces-
Combine isso com a emulação da ressonância das cordas, sos diretos no painel do teclado. Na seção de órgãos
adicione o triple pedal Nord, que emula os ruídos originais você encontra não apenas os característicos drawbars,
das máquina de sustain, e você realmente irá obter um mas também controles de vibrato e percussão como nos
som de piano acústico incrivelmente detalhado e realista. instrumentos originais. A Leslie Speaker tem também
um controle separado, e todos os parâmetros podem
ser ajustados, assim como na unidade original.
A AÇÃO DAS TECLAS
O Stage 2 EX vem com três motores de órgão Ham-
É claro que para reproduzir com fidelidade um timbre mond: um novinho, que acabou de sair da fábrica,
tão complexo, se faz necessária uma ação de teclas um meio usado e um velho Hammond surrado pela
de alta performance. Pra quem já conhece a ação HA estrada, com um som roco e cansado. Também vem
da Nord, com teclas pesadas, sabe como a marca leva com um motor de Farfisa e um Vox Continental. Ao al-
isso a sério. Cada teclado que sai da fábrica da Nord ternar entre os motores de órgãos, o comportamento
passa por uma calibragem de teclas artesanal, o que dos controles também muda, de acordo com os ins-
explica a tocabilidade desses instrumentos. O que eu trumentos originais. Como sempre, a autenticidade do
posso garantir é que após provar a nova ação HP, igual- instrumento original é primordial.
mente calibrada artesanalmente, senti o mesmo prazer
que sempre senti ao tocar um Nord. Dinâmica perfeita, A seção synth, assim como o Stage 2, possui um con-
peso sob medida, resposta eficaz. Você tem uma ver- junto completo de controles para síntese em tempo real.
Em destaque, as seções
de piano e órgão: novos
timbres são constantemente
atualizados pela fábrica e
disponibilizados gratuitamente
online para todos os usuários
Jobert Gaigher é músico, compositor, educador musical, produtor cultural, blogueiro e consultor de marketing para os mercados de áudio
e música. É especialista da linha Nord no Brasil desde 2008, e entre 2001 e 2003 foi gerente técnico da Quanta Service. Em 2008, idealizou e
passou a coordenar o sistema multimídia para aulas de educação musical e-SOM para a Quanta Educacional. Site: www.jobert.info
MARCELO
FÉLIX
M
arcelo Félix Oliveira e Silva, ou Marcelo Fé- O último deles, lançado em 2013, foi gravado em
lix, ou até mesmo Marcelo PA, como muitos um palco nada comum para o universo sertanejo/
o chamam no dia a dia, embora tenha 37 country brasileiro: o histórico Royal Albert Hall,
anos, acumula nada menos do que 23 anos de tra- inaugurado em Londres em 1871 pela rainha Vitó-
balho. Sim, o ingresso no batente se deu aos 14 ria. Diversos DVDs ao vivo também foram lançado
anos, idade em que muitos jovens ainda não pen- ao longo da jornada que os dois jovens de Goiás
sam em levar a vida a sério. Mas Marcelo, em 1992, começaram lá atrás, com a parceria com Marcelo
já levava, e sabia muito bem o que queria e como sempre se fazendo presente. “Com Jorge & Ma-
alcançaria seus objetivos profissionais.
teus, atuo como técnico de PA, mas sempre que a
equipe precisa, faço questão de ajudar em todos os
“Comecei como ajudante técnico. Eu carregava cai-
setores”, destaca Marcelo.
xa, montava palco e também os PAs, sempre ralan-
do muito”, recorda o técnico, que afirma que seu
Perguntado sobre o que é necessário para ser um
primeiro trabalho “de verdade no mundo do áudio”
bom profissional, realizando suas tarefas com ex-
foi na Hipershow, empresa de seu grande amigo Gil-
celência, Marcelo revela o que podemos entender
mar. De lá pra cá, Marcelo cedeu sua competência
como uma receita de sucesso. “Conhecimento, de-
a trabalhos como técnico de PA e monitor de nomes
dicação, foco no trabalho e gostar não só de áudio,
como a dupla Geraldo Viola e Dino Guedes e da ban-
mas também de música.”
da Caipira Country.
Há dez anos, uma guinada. A razão: Marcelo passou Já quando o assunto passa para a categoria “planos
a trabalhar com uma das maiores duplas do país – para o futuro”, seja imediato ou em longo prazo, o
Jorge & Mateus –, que na época ainda dava seus pri- técnico revela que deseja continuar atuando com
meiros passos. O primeiro álbum da dupla, Ao Vivo mixagem de shows, mas com um diferencial extre-
em Goiânia, que foi disco de ouro, só seria lançado mamente importante. “Quero seguir no caminho,
dois anos depois, em 2007. Hoje, uma década de- mas sempre adquirindo mais e mais conhecimento,
pois, o duo conta com uma sólida carreira, com dois o que leva, sem dúvida, a um constante aprimora-
discos de estúdio e cinco ao vivo. mento dos resultados”, encerrou.
Console: Avid Venue Mix Rack gosto mesmo. Eu, particularmente, gosto do Dolby Lake.
Microfone: Depende da aplicação. Gosto muito do Neumann Plug-ins: Bus Compressor SSL
KMS 105 para a voz. Para o bumbo, gosto do AKG D112, en-
quanto que para tons e percussão escolho o Sennheiser MD 421.
SPL alto ou baixo? Por que? No caso do show do meu artista,
alto, pois o tipo de música e o gosto dos patrões exigem!
Equipamento: O que funciona e atende as necessidades do evento
Última grande novidade do mercado: O console Avid Venue Técnicos inspiração: Circuit, Fausto Nobile, Wolkimar e Tio Ted,
S3L-X. É muito versátil, com pouco peso e de fácil instalação. entre muitos outros
Sem falar no timbre, que é extremamente agradável.
Melhor sistema de som: K1, K2 e V-Dosc, da L-Acoustics Dicas para iniciantes: Dediquem-se muito, estudem áudio e
música, ouçam mais e falem menos e tenham sempre a humil-
Processador: Há vários favoritos. Isso é relativo, questão de dade nas atitudes e nas palavras.
Quem são os
(Parte 2)
profissionais do nosso
mercado de trabalho?
mir. Não que eu ache isso ruim, mas o
Divulgação
N
possuem o mesmo problema: é muito difícil encontrar um
o artigo anterior, que é a primeira parte deste que
destes profissionais que tenha algum tipo de formação aca-
vocês leem agora, comecei a falar sobre os pro-
dêmica para atuar em sua profissão. Mais uma vez, quero
fissionais que encontramos no nosso dia a dia de
deixar claro que para alguns isto pode não parecer impor-
trabalho. Quem são eles, quais suas funções, qual o seu
tante, mas para mim é – e muito.
treinamento e como é o nível de profissionalismo que po-
demos encontrar, assim como as diferenças que existem,
OS ROADIES
principalmente em termos de capacitação.
É muito importante para um músico ter uma pessoa cui- Além disso, muitos músicos são capazes de exercer a profis-
dando bem dos seus instrumentos. Roadie, como outras são sem ter tido qualquer tipo de ensinamento formal. Muitos
funções dentro de uma banda, é o que costumo chamar dominam um ou até mais instrumentos musicais e conse-
de “cargo de confiança”. Passar segurança para o músico guem ler e escrever música perfeitamente sem nunca terem
é uma das principais funções deste profissional, e manter entrado em uma sala de aula (não que não existam mais
um contato visual e atenção máxima ao que acontece no aqueles que passaram por todo o processo de aprendizado).
palco com o seu “patrão” é vital para esta função.
Aqui fica uma constatação e até mes-
mo um espaço para reflexão. Uma das
Divulgação
Divulgação
Nós, técnicos, devemos estar sempre
em contato com estes músicos, princi-
palmente para saber quais as suas ne-
cessidades em termos de timbres. O
problema é que muitos deles, apesar
de bons profissionais, não possuem
uma linguagem técnica mais apurada
e muitas vezes a comunicação pode
se tornar um grande problema. Deve-
mos estar preparados para entender
estas necessidades mesmo que em
uma linguagem diferente.
Renato Muñoz é formado em Comunicação Social e atua como instrutor do IATEC e técnico de gravação e PA. Iniciou sua carreira
em 1990 e desde 2003 trabalha com o Skank. E-mail: renatomunoz@musitec.com.br
Q
uanto mais a tecnologia
digital avança, mais ouvi-
mos falar sobre o mundo
analógico. Um dos assuntos favori-
tos continua sendo o uso de fita em
estúdio. Não poderia ser diferente,
pois o jeito como as frequências e
os transientes são afetados pela
mídia magnética e pela própria má-
quina é mesmo especial. Para aque-
les que não têm a sorte de colocar
as mãos no equipamento de ver-
dade, há plug-ins simuladores de
diversas marcas. Depois de lançar
o Kramer Master Tape, baseado em
uma máquina dos Olympic Studios,
a Waves fez sua versão de uma das
maiores relíquias de Abbey Road.
O J37 foi o primeiro gravador multipistas feito pela Studer. condições para a gravação de camadas sobrepostas em
O projeto elaborado pela empresa suíça em 1964 saiu do arranjos como os de George Martin. É um belo exemplo
papel no ano seguinte, com quatro unidades encomen- de evolução das ferramentas de trabalho abrindo novos
dadas pelos estúdios Abbey Road. A máquina escolhida caminhos para a criatividade.
pela Waves para servir como molde para o plug-in foi a
primeira da série, um clássico absoluto. O equipamento
PLUG-IN
usado nas sessões de Sgt. Pepper’s Lonely Heart’s Club
Band e de inúmeros outros discos antológicos continua
A ideia da Waves foi criar novas possibilidades para o J37.
funcionando perfeitamente até hoje (fig. 2).
Certamente o som do simulador não é igual ao da máquina
original, com suas 52 válvulas. Por outro lado, no plug-in
A excelência da engenharia se estendia ao design do pro-
(fig. 1) há vantagens como o delay facilmente seguindo o
duto, que melhorava a relação com o usuário. Por serem
andamento da música na divisão de tempo que você qui-
menores que os gravadores multipistas Telefunken usados
ser. Os antigos “defeitos” de wow e flutter agora aparecem
até então em Abbey Road, os J37 não precisavam ficar
como convidativos “efeitos” sob total controle. Ao contrário
em uma sala separada. Com o operador de fita em con-
tato direto com o produtor musical, o jeito de trabalhar de outros simuladores de hardware, o J37 virtual foi pensa-
mudou. A comunicação entre a equipe e a exatidão da do para sair dos padrões de uso do J37 real.
máquina tornaram fácil fazer emendas de um jeito que
era quase impossível anteriormente. Não demorou muito FÓRMULA
até os técnicos do estúdio começarem a ligar duas J37 em
sincronismo para aumentar o número de canais, dando A personalidade de uma máquina varia de acordo com
BIAS
Os ajustes de bias também são relacionados
ao comportamento não-linear da fita. Como
a mídia magnética não trabalha bem em
níveis muito baixos, um sinal ultrasônico é
adicionado para manter suas partículas em
movimento. A intensidade com a qual a fre-
quência inaudível é aplicada altera o grau de
distorção e a curva dos agudos. O valor no-
minal do plug-in é +1.5 dB de bias, que pode
ser aumentado para +3 ou +5 (fig. 3C).
IN/OUT
Todos os parâmetros dependem do quanto
de sinal está chegando na fita. No meio
da interface gráfica estão os controles de
entrada e saída da máquina. Os VUs na
Fig. 2 – Studer J37: primeiro gravador parte inferior têm um seletor para repre-
multipistas feito pela Studer sentar uma ou outra etapa. A calibragem padrão de 18
dB para o headroom dos meters pode ser redefinida
o tipo de fita que está passando por seus cabeçotes. A girando o pequeno parafuso na base da agulha. O bo-
Waves recriou três fórmulas desenvolvidas pela EMI para tão de level link deixa o output relacionado ao input
uso exclusivo em seus estúdios (fig. 3A). A 888 é a mais para compensar automaticamente qualquer variação
antiga, do começo dos anos 1960, com bastante distorção de volume. Quem quiser radicalizar na sujeira tem à
harmônica e perda de agudos. A 811 veio no fim daquela disposição controles independentes para ruído e satu-
década trazendo um som um pouco mais limpo e menos ração (fig. 4C).
velado. A 815, do começo dos anos 1970, é
a mais flat entre elas. O comportamento dos
transientes é consideravelmente diferente
em cada uma das fórmulas.
VELOCIDADE
Ao lado dos botões de fórmula encontramos
as opções de velocidade da fita (fig. 3B):
7.5 ou 15 polegadas por segundo. Qualquer
mídia física rodando mais rápido vai usar um
espaço maior para armazenar a mesma in-
formação, melhorando, consequentemente,
a qualidade do som. Nas fitas analógicas a
resposta não-linear das frequências muda
de acordo com a rotação. Em 7.5 há um re-
forço nos graves e atenuação nos agudos. A
velocidade dobrada oferece um timbre mais
equilibrado, diminuindo a distorção harmô-
nica, aumentando a fidelidade nas altas fre-
quências e subindo o ruído em uma oitava, o
que facilita o corte com filtros passa-baixa. Setor principal do Waves J37 Tape:
em destaque, Formula, Speed e Bias
A parte de delay (fig. 4D) também é interessante. O bo- Abraços e até a próxima! •
Bruno Spadale é engenheiro de som e produtor musical com formação em várias escolas no Rio de Janeiro e Nova York. É certificado ofi-
cialmente pela Avid como um “Pro Tools Operator Music” e atua como instrutor da ProClass.
Se você estiver buscando um som seco e definido, pode ser útil utilizar
microfones individuais para os pratos, especialmente se o baterista utiliza muitas
vezes os pratos. Utilize um microfone condensador de cápsula pequena embaixo
de cada prato, a uma distância entre 5 e 15 cm e apontando para cima.
Se você estiver gravando uma bateria com poucos pratos e tons,
um overhead mono pode garantir mais peso devido à ausência
de problemas de fase. Até as baterias do Led Zeppelin, tocadas
pelo imortal John Bonham, foram gravadas em mono!
CONSIDERAÇÕES GERAIS
- Os microfones mais adequados para overheads são
os condensadores ou de fita, pois têm resposta de
frequência ampla e boa resposta a transientes. Os
condensadores trazem uma sonoridade mais clara e
definida, enquanto os microfones de fita geram uma
sonoridade mais natural e orgânica.
- Se precisar minimizar as reflexões do teto (espe- - Um filtro passa-alta pode ajudar a limpar o som dos
cialmente se o teto for baixo), utilize microfones bi- pratos e do ambiente, especialmente em salas peque-
direcionais, pois, devido à sua direcionalidade, eles nas. Esses filtros irão remover todas as frequências
irão rejeitar mais os sons vindos de cima. abaixo de um determinado ponto, eliminando os graves
que geralmente não são necessários nos overheads.
- A utilização de um pad pode ser necessário devido
ao alto nível de pressão sonora. Com o pad aciona- - Microfones ambientes podem ser acrescentados
do, os microfones suportam um nível mais alto de para captar mais ambiência sem perder a presença
pressão sonora antes de distorcer. e definição geradas pelos microfones de overhead.
POSICIONAMENTO
DOS MICROFONES
1. Um par de microfones coincidentes (ex.: XY),
posicionado entre 50 e 100 cm sobre os pra-
tos, gera uma sonoridade limpa e definida, com
peso (abordagem B) e sem muitos problemas
de fase. Procure uma posição em que os pra-
tos soem equilibrados. Aponte os microfones na
direção dos pratos para reforçar a presença de-
les e minimizar as outras peças da bateria. Mire
no centro dos pratos caso queira um som mais
cheio e pesado, ou nas bordas dos pratos caso
queria um som mais aberto e largo.
4. Se quiser uma sonoridade muito “grande” e am- Vamos ficando por aqui nessa edição, mas no mês
pla, utilize a técnica A/B, com dois microfones om- que vem estaremos de volta para finalizar esse as-
nidirecionais 150 cm acima e 50 a 100 cm à frente sunto de gravação de bateria. Vamos falar sobre os
da bateria (será necessário uma sala grande). Com microfones de ambiente e mais algumas técnicas e
isso, os microfones devem ficar 150 a 300 cm de considerações mais avançadas. Não percam!
distância um do outro (utilizando a “regra 3:1”). De-
vido a esse espaçamento exagerado dos microfones, Até lá! •
Lucas Ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do IATEC. Formado em Engenharia de Áudio
pela SAE (School of Audio Engineering), dispõe de certificações oficiais como Pro Tools Certified Operator, Apple Logic Certified
Trainer e Ableton Live Certified Trainer. E-mail: lucas@musitec.com.br
ROCK
IN RIO
O uso otimizado da tecnologia em
um dos maiores festivais do mundo
O
Rock in Rio comemorou, neste ano, 30 anos Palco Mundo foi o VTX V-25, da JBL. Composto por
de sua primeira edição, realizada em janei- 132 elementos, com 56 subs S-28 no fly e 32 G-28
ro de 1985, aqui mesmo, na Cidade Maravi- no chão, além do front fill, que também recebeu dez
lhosa. E, como de costume, o evento foi sonorizado VTX V25, ele foi montado com 12 colunas – divididas
pela Gabisom, representada, na ocasião, pelos en- em quatro grupos de três, cada, formando o que
genheiros Peter Racy e Éder Moura, que coordena- chamamos de “PA dobrado” – e contou ainda com o
ram um extenso staff e garantiram a atrações como complemento de dez torres de delay, que, posicio-
Queen, Rihanna, Katy Perry, A-Ha, Lulu Santos e Pa- nadas a 70 e 140 metros do palco, receberam, cada
ralamas do Sucesso a tranquilidade necessária para uma, seis elementos LS-8, da Norton.
a realização de suas apresentações.
De acordo com Peter Racy, a escolha por um sistema
tão grandioso teve como principal motivo a oportu-
Na correria do festival, ou melhor, nos intervalos dos
nidade de trabalhar “com folga”, sem ter que chegar
shows que abrilhantaram os palcos Mundo e Sun-
próximo do limite operacional do line.
set, conversamos com profissionais que estiveram
à frente do PA e das mixagens para a TV, como, por
Com essa configuração, segundo o próprio, cada co-
exemplo, os engenheiros Gerard Albo, que trabalha
luna foi dedicada a uma mix. As externas de cada
com o grupo A-Ha, e Marcelo Freitas, do Epah!, res-
PA, por exemplo, receberam as vozes – ou qualquer
ponsável pela transmissão, além, claro, do já citado
outro elemento que o técnico desejasse destacar
Peter e dos também engenheiros Renato Muñoz e
em sua mix –, enquanto que as internas ficaram
Alexandre Rabaço, entre outros. No bate-papo, mui-
com as bases – instrumentos como baixo, guitarra,
ta tecnologia e informação sobre como fazer um dos bateria... –, o que conservou o headroom nos bar-
maiores espetáculos de música do mundo. ramentos e amplificadores de soma dos consoles,
nos processadores do sistema, nos amplificadores
LINE ARRAY “SIDE bY SIDE” de potência e nos próprios componentes das caixas.
Mais um vez, o sistema utilizado na sonorização do Engenheiro de mixagem do cantor Lulu Santos, Ale-
AM&T
I Hate Flash
xandre Rabaço esteve en- “Peter e Eder [Moura], como de costume, nos
tre os inúmeros profissio- entregaram o PA bem alinhado, pronto para ser
nais que aprovaram o modo usado. No entanto, optei por fazer algumas pou-
como o sistema foi configu- cas correções exclusivamente em função do nosso
rado e distribuído. Na oca- som. Usei, por exemplo, os subs com um corte bem
sião, ele ainda aproveitou baixo, perto de 65 Hz, ou seja, ‘falando’ pouco mais
para explicar os pequenos de uma oitava, apenas, e servindo para dar aquele
ajustes que fez especial- ‘sopro’ de baixíssima frequência”, explicou.
mente para o show de Lulu,
que tem, como disse, pres- MESAS PARA DIFERENTES
são sonora e inteligibilidade, características bastan- GOSTOS E ESTILOS
te comuns em shows de música pop.
Na house mix, posiciona-
da a 50 metros do pal-
AM&T
AM&T
Na sequência, uma das colunas do line array usado para sonorizar o Palco
Mundo e uma das torres de delay do ambiente, composta por caixas Norton
AM&T
Rabaço promove últimos ajustes antes de
Lulu subir ao palco do Rock in Rio
AM&T
sua Vi6, da Soundcraft, e Royal Blood sua H3000, da
Midas. Além das mesas e, claro, dos monitores pes-
soais, os técnicos contaram com monitores de chão
como os M2 e os sides J8, ambos fabricados pela d&b.
VARIEDADE DE MICROFONES
Engenheiro de PA do grupo A-Ha, o francês Gerard
Albo, que já mixou shows de Amy Winehouse, Patti
Smith, Corinne Bailey Rae e Egberto Gismonti, entre
outros, mostrou entrosamento com o som do trio,
apesar de pouco tempo na estrada com ele. “Es-
tamos juntos há um mês, mas nos últimos quatro
anos venho trabalhando no projeto solo de Morten
[Harket, vocalista da banda]”, disse.
Mas, de fato, o
que foi feito?
Peter: Utilizamos
uma DiGiCo SD7
para gerenciar a
entrada desses
consoles e distri-
buir os sinais para
os amplificadores
via fibra ótica. Por
Peter Racy, diretor de operações da Gabisom,
segurança, man-
durante raro momento de descanso, na house
tivemos, paralela-
mix do Palco Mundo do Rock in Rio
mente à fibra, uma
DESAFIANDO A
LÓGICA – 20ª EDIÇÃO
Desmistificando a nova versão do
Drummer (e comemorando com vídeo)
F
oram necessárias 20 colunas para que eu conseguisse trabalhos, e que, ao mesmo tempo, necessitam de material
tomar vergonha na cara e passasse a produzir vídeos percussivo – e harmônico também – com atmosfera orgânica.
recheados com o conteúdo que apresento aqui a você,
caro leitor. Espero que, com isso, consiga atingir o objetivo Pra começar, vamos inserir uma primeira instância do Drum-
de alimentar sua criatividade, seu conhecimento e, no me- mer. Agora podemos criar outras instâncias com mais bateris-
lhor dos mundos, seja uma saudável troca de informações. tas distintos, o que não era possível na versão anterior (para
quem não sabe, o Logic oferece cinco tipos de pistas num pro-
Percebo que, no exterior, essa troca de informações é co- jeto Software Instrument: Audio [um canal mono ou estéreo];
mum. Não existe medo, insegurança e muito menos receio External MIDI [para trabalhar com mandadas de MIDI via ins-
em transmitir conhecimento aos que estão começando, bem trumentos externos dotados desse protocolo]; Guitar or Bass
como àqueles que já se encontram inseridos no mercado. Pelo [canais de audio com pré-configurações sugeridas para guitar-
contrário. O pensamento é colaborativo. Basta acessar canais, ras e baixos]; e Drummer, esse peculiar recurso que torna o
blogs e podcasts de nomes como Dave Pensado (Pensado’s Logic tão especial). Tudo isso vai depender da capacidade de
Place), Joe Gilder (Home Studio Corner), Grahan Cochrane processamento de sua máquina, pois o Drummer é pesadinho.
(Recording Revolution), Kendal Osborne (Recording Lounge),
entre muitos outros, que investem horizontalmente e ganham Assim como acontece nos estilos originais Rock, RnB, Alter-
cada vez mais confiança de suas comunidades. native e Songwriter, que acompanham o Logic X, na mais re-
cente atualização os produtores de música eletrônica – e não
Mas vamos ao que interessa. O ideal é
que a leitura seja feita em companhia
do vídeo, mas caso você não esteja de
frente para uma tela conectada, dê uma
olhadinha posteriormente em http://
tinyurl.com/desafiando20.
VAMOS DESMISTIFICAR O
DRUMMER EM SUA NOVA
VERSÃO
Como havia comentado rapidamente na
coluna anterior, o Drummer está mais re-
chonchudo na mais recente versão do Lo-
gic (10.2 – aconselho atualizar). Assim,
neste primeiro vídeo vamos explorar – de
forma criativa – esse instrumento fantásti-
co, que facilita a vida de muitos produtores
com prazos apertados para entregar seus
Inserindo um Drummer
são poucos os que fazem uso do Logic – podem soltar fogos, Assim, tenho uma sequência de oito compassos divididos en-
pois as possibilidades são tantas que só resta a preguiça. tre dois bateristas. Sabemos que, mesmo com a autonomia
Digo isso porque é sempre um pouco chato dar o primeiro de escolher combinações de dinâmicas, essas levadas são
passo, mas a arquitetura do Logic é tão estimulante que até pré-definidas e, por mais orgânicas que possam soar, existem
mesmo esse degrau pode ser pulado sem medo de ser feliz. limites. Inicialmente satisfeito com meus oito compassos, sin-
to vontade de escolher outros sons para meus dois bateristas.
Uma pista de oito compassos é automaticamente criada no
canal do Drummer. Deleto os quatro últimos compassos com Sem angústia, aciono o botão da minha biblioteca no can-
apenas dois cliques (selecionando o segundo evento e dele- to superior esquerdo da janela de edição, onde, no menu
tando-o), pois quero trabalhar um loop inicial de quatro com- “Eletronic Drum Kit”, deparo-me com uma extensa coleção
passos. Seleciono o evento inteiro antes mesmo de escolher de baterias eletrônicas pré-concebidas pelos desenvolvedo-
o baterista e estilo. Com a tecla “alt” pressionada e a ferra- res do Logic e divididas em três submenus: Drum Machine
menta “tesoura” selecionada, clico no grid da primeira divisão Designer (que, em sua versão eletrônica, ganha nova inter-
de compasso dessa região. Magicamente, o Logic o divide em face com controles inteligentes para cada peça envolvida),
clipes idênticos e de mesma duração. Com isso, tenho a pos- Drum Machine (por meio do qual o Logic cria automatica-
sibilidade de trabalhar diferentes batidas, dinâmicas e inten- mente um Track Stack com canais individuais para cada
sões para esses mesmos quatro compassos iniciais. peça da bateria) e Drum Machine GB (nada mais do que o
tradicional sintetizador de bateria Ultrabeat somado a al-
A brincadeira agora é escolher o estilo a partir do menu/label guns plug-ins de processamento e efeitos).
localizado logo acima da figura do baterista.
Escolho “Eletronic”, pois tudo o que é novi-
dade me agrada. Além disso, a possibilidade
de dirigir um baterista eletrônico virtual sob
quatro aspectos (Simple, Soft, Loud e Com-
plex), dispostos num quadrante que permite
uma combinação livre entre eles, é louvável
– ainda mais sob o ponto de vista de quem se
sente entediado com loops acomodados em
sua essência num projeto.
André Paixão é compositor e produtor de trilhas sonoras para teatro, TV, publicidade e cinema. Toca nas bandas Lafayette e os Tremendões, Astromash
e Nervoso e os Calmantes.
Mais:
SuperStudio – Estúdio de Produção Musical (superstudio@superstudio.com.br)
Suprasonica – Produtora de jingles publicitários, institucionais etc. (andre@suprasonica.com.br)
Super Discos – Selo digital (superdiscos@superstudio.com.br)
www.superstudio.com.br
www.facebook.com/DesafiandoLogic
Curso de
Pro Tools
Aula 5 – Preste atenção na qualidade!
A
gora que já tivemos várias aulas práticas, De cara, o tipo de arquivo gerado pelas gravações
chegou a hora de uma aula teórica. Pron- podem ser um de dois: BWF, que significa Broad-
to? Lá vai. cast Wave File (o famoso arquivo Wave ou .wav), ou
AIFF (Audio Interchange File Format). O primeiro foi
Focar na qualidade é muito importante, todos sa- criado pela Microsoft e especificado pela AES (Audio
bem, portanto aqui vão algumas dicas. Nunca com- Engineering Society) em 1997 e é o «padrão univer-
pre nada que vem embalado naquela bandejinha de sal», digamos assim, de arquivo sem compressão
isopor! Com certeza o podre da batata estará virado de alta qualidade que se usa em larga escala por aí,
para baixo, o outro lado da carne vai ter uma gordu- perdendo espaço apenas para o comprimido MP3.
ra assustadora e o brócoli virá com o fundo amarela- O tipo AIFF foi criado pela Apple. Também é um ar-
do e melequento. Compre tudo à granel. Escolha as quivo sem compressão, e era muito comum alguns
suas cenouras assim como você escolhe seus micro- anos atrás, na época dos Macs com processador Mo-
fones. Verifique a data de validade da sua manteiga torola, mas atualmente seu uso vem diminuindo.
assim como você verifica o VU do compressor e exija
tudo perfeito, mesmo sem ser virginiano como eu. Em termos de som, são praticamente idênticos;
o que muda entre eles é apenas a forma como os
Assim como queremos mantimentos de qualidade, dados são escritos (teoricamente). Por questões
também queremos áudio no Pro Tools de qualidade. de compatibilidade entre plataformas, o arquivo
Sendo assim, é boa prática perceber algumas situ- do tipo BWF é o mais usado e creio que deva ser
ações logo no iniciar da sessão. Hoje, então, vamos o que você vai escolher caso não esteja em uma
entender direito esse negócio de resolução da ses- plataforma Mac vintage.
são – se deve ser em 16 bit, 24 bit, 32 bit em 44.1
kHz, 48 kHz, 192 kHz, sabe-se-lá-quantos-kHz e o Logo abaixo está esperando para ser definido o bit
protocolo interleaved. depth, ou seja, a profundidade da amostra. Para
este eu gosto da seguinte explicação...
Quando criamos uma sessão nova no Pro Tools, a
gente tem várias opções de qualidade. Todas boas, Quando vamos ao cinema, vemos uma projeção de
entretanto algumas são mais apropriadas do que uma foto. São vários quadros parados em sequên-
outras em determinadas situações. cia, que nos dão a ilusão do movimento porque mu-
dam mais rápido do que podemos perceber, mais
Assim que você abrir o Pro Tools, vai aparecer a ou menos 24 vezes por segundo. Analogicamanete,
janela Dashboard (caso você não tenha desclica- o tamanho da foto é a profundidade da amostra e
do a caixinha Show on Startup o canto esquerdo. a velocidade na qual elas são trocadas é a taxa de
Na aba Create da Dashboard temos várias opções amostragem. Simples assim. Ah, um detalhe óbvio:
configuráveis, como: tipo de arquivo (File Type), quanto maior forem as fotos e mais rápidas elas
taxa de amostragem (Sample Rate), profundida- passarem, maior qualidade o resultado final terá.
de da amostra (Bit Depth), I/O Settings e a mis-
teriosa caixa interleaved, já citada, que provavel- No áudio, nem sempre o termo "maior" é o mais
mente está clicada. adequado.
ajudar a planejar quanto de HD você vai gastar com Resumão dessa parte
suas sessões.
Vai fazer CD? 44.1 kHz e seus múltiplos.
Vai fazer DVD? 48 kHz e seus múltiplos.
TEOREMA DE NIQYST Vai fazer Blu-ray? 96 kHz e seus múltiplos.
Já que estamos falando de Tabela 1 - Relação entre resolução e espaço usado em disco
taxa de amostragem, vamos
tempo formato resolução espaço usado em disco
falar do teorema de Niqyst de
uma forma descomplicada, 1 minuto estéreo 16 bits 44.1 kHz 10,3 MB
dada sua vastidão, e nem vou 1 minuto estéreo 16 bits 48 kHz 11,3 MB
entrar em dithering agora. 1 minuto estéreo 16 bits 88.2 kHz 20,6 MB
Fica mais pra frente... 1 minuto estéreo 16 bits 96 kHz 22,5 MB
1 minuto estéreo 16 bits em 176.4 kHz 41,3 MB
Teorema de Niqyst: para que
1 minuto estéreo 16 bits em 192 kHz 45 MB
um som analógico seja gra-
vado digitalmente (samplea- 1 minuto estéreo 24 bits 44.1 kHz 15,5 MB
do) sem artifícios, a taxa de 1 minuto estéreo 24 bits 48 kHz 16,9 MB
amostragem deve ser maior 1 minuto estéreo 24 bits 88.2 kHz 30,8 MB
ou igual a duas vezes a fre- 1 minuto estéreo 24 bits 96 kHz 33,8 MB
quência desse sinal. Agora
1 minuto estéreo 24 bits em 176.4 kHz 62 MB
falando de forma prática:
1 minuto estéreo 24 bits em 192 kHz 67,5 MB
para gravar no computador
uma senóide pura de 1 kHz, 1 minuto estéreo 32 bits 44.1 kHz 20,7 MB
temos que usar ao menos 1 minuto estéreo 32 bits 48 kHz 22,5 MB
uma taxa de amostragem de 1 minuto estéreo 32 bits 88.2 kHz 41,3 MB
2 kHz. Se for abaixo disso 1 minuto estéreo 32 bits 96 kHz 45 MB
acontecem artifícios, como o
1 minuto estéreo 32 bits em 176.4 kHz 82,7 MB
Aliasing. Outra coisa compli-
1 minuto estéreo 32 bits em 192 kHz 90 MB
cada que fica pra depois.
Mix. Quem rege esse campo é o Setup I/O, que já vimos na aula
2. Se você for ao menu Setup > I/O e exportar a sua configuração
clicando no botão Export Settings, ela vai aparecer na caixa I/O
Setings da Dashboard para você escolhê-la. Bem útil.
A CAIXA INTERLEAVED
Agora, sobre a famigerada caixa interleaved. Que coisa tão insu-
portavelmente misteriosa é? Antigamente, o Pro Tools só grava-
va arquivos mono, mesmo se a pista fosse estéreo ou multicanal.
Essa tipologia chama-se Multiple Mono e ainda existe, pois o Pro
Tools gosta dela. Daí para não ter que ficar convertendo arquivos
de mono em estéreo para usar em outro lugar (ou alguma outra ra-
zão), o Pro Tools começou a gravar arquivos em estéreo e multica-
nal. Sabe como chama essa tipologia de arquivo? Isso: Interleaved.
Mixagem
sem segredos
O que é floating point?
E
ste mês tomamos a liberdade de interrom- seja, é o nosso programa que indica ao compu-
per nossa sequência de assuntos pra abor- tador o que se deve fazer com aquele valor que
dar uma questão que vem sendo alvo de está lá armazenado. Por exemplo, de maneira
muita controvérsia: afinal, o que é e por que usar bem simplificada, neste editor de texto que es-
32 bit floating point? tou usando, quando eu teclo “A”, o número 65 é
armazenado. Um programa de processamento de
INTRODUÇÃO imagem que leia esse valor 65 não saberá que é
uma letra, mas poderá pensar que é um elemento
Os computadores são basicamente máquinas de ar- a ser mandado para a tela.
mazenar e calcular. Sua habilidade está em armaze-
nar uma grande quantidade de números, acessá-los Em resumo, o áudio que convertemos na interface
e fazer cálculos com eles de maneira bem rápida. e enviamos para o computador é apenas uma série
Assim, o computador é, em sua essência, uma me- de números, e todas as operações que fizermos em
mória (RAM, ROM, Bios, Cache), uma calculadora nosso software de áudio serão apenas um conjunto
(ALU, FPU) e um gerenciador desses dois blocos de cálculos com esses números.
(CPU), que controla o vai-e-vem de dados entre
eles. O restante são unidades responsáveis com NÚMEROS BINÁRIOS
a interface com o mundo exterior, seja através de
imagens, áudio ou acesso a dispositivos externos, Nós usamos dez algarismos para representar núme-
como HDs e placas externas. ros. Por isso, dizemos que nosso sistema numérico
usa a base 10. Isso significa que usamos dez sinais
Para o computador, um número lido na memória é gráficos, chamados algarismos, e com eles podemos
apenas um número, que pode ser uma instrução representar qualquer número. Isso já nos leva ao
para a CPU ou um valor a ser usado numa conta, primeiro ponto importante: “número” é uma quanti-
por exemplo. A máquina não tem ideia do que o dade que se quer representar e “algarismos” são os
valor numérico representa. Isso cabe a nós. Ou sinais gráficos que usamos para isso.
Wiki Images
Wiki Images
existem dois algarismos
– 0 e 1 –, e dizemos que
usa um sistema de base
binária (base 2). Assim,
se a gente quiser repre-
sentar os números entre
zero e dez, quando che-
gamos no número dois
não dispomos do alga-
rismo “2”, e somos obri-
gados a, assim como na
base 10, escrever 0 mais
à direita e colocar um 1
à esquerda, indicando
que acabaram-se os al-
garismos. Ou seja, repre-
sentando os números de
zero a dez em um com-
putador, temos 0, 1, 10,
11, 100, 101, 110, 111, William Kahan, que é considerado o pai da computação
1000, 1001, 1010. em floating point, praticamente criou a IEEE 754
A primeira coisa que podemos notar é que são ne- números, e muitas delas seriam subtrações. As-
cessários mais algarismos na base 2 para repre- sim, começou-se a usar uma forma de notação
sentar o mesmo número que na base 10. Ou seja, numérica que permite o uso dos mesmos circui-
em um computador se sacrifica o espaço de arma- tos eletrônicos de soma para subtração, o “com-
zenamento em nome de se facilitar toda a parte plemento de dois”. Este formato deixa o valor 0
eletrônica. Isso porque é muito simples e rápido se binário no centro da faixa de valores, e o primeiro
detectar se uma lâmpada está acesa ou apagada, dígito indica o sinal. Ele é usado tipicamente nos
ou se há corrente passando ou não, ou se existe conversores digitais PCM.
uma voltagem em um capacitor ou não.
A tabela abaixo representa os valores em comple-
ARMAZENANDO mento de dois possíveis com quatro dígitos:
Mas, e se pre-
cisamos arma-
zenar números
negativos? Ine-
vitavelmente ire-
mos ter que fazer Intel 80287: chip faz
contas com esses operações em floating point
Faixa dinâmica = 20 log ( 2b ) = 20 log (2) x b = Por exemplo, tomemos o número real 12,345. Pri-
6,02 x b dB meiro, o normalizamos, ou seja, o reescrevemos
como 0,12345 x 102. Agora poderíamos armazená-lo
Aproximando, podemos dizer que cada bit a mais na apenas guardando os valores 12345 e 2, e sabendo
palavra aumenta 6 dB na faixa dinâmica, e em 24 bits a que correspondem no formato. Não é necessário
temos 144 dB (obviamente, não estamos consideran- registrar o zero, obviamente.
do a parte analógica do circuito digital e as ineficiên-
cias do hardware, que abaixam esse valor teórico). Existe, então, uma parte inteira, chamada man-
tissa, a base 10 e o expoente, que indica onde vai
a vírgula. Se armazenarmos no computador ape-
ARREDONDAMENTOS
nas estes dois números inteiros, estaremos repre-
E SATURAÇÃO sentando o número real, na medida da precisão
do número de bits. Por exemplo, se quiséssemos
Quando fazemos contas, podem acontecer erros
representar o famoso número (pi) com a mantis-
de arredondamento. Por exemplo, se temos que
sa de cinco dígitos acima, teríamos 3,1415927 =
calcular (1/3) + (1/7) = 0,476190476190... Ou
0,31416 x 101 (mantissa 31416 expoente 1).
seja, não é um valor exatamente representável.
Se temos que continuar fazendo contas com esse
Repare que houve um arredondamento. Se a
resultado, teremos que desprezar os dígitos me-
mantissa fosse 31415, teríamos feito um trunca-
nos significativos de acordo com nossa capacidade
mento. Ambos os números estão “errados”, mas
de armazenar. Poderíamos seguir admitindo que o
como pi é irracional, não existe forma de repre-
número era 0,4762. Ora, esse é um erro de arre-
sentá-lo exatamente, e a questão é admitir esse
dondamento, que pode se propagar rapidamente,
pequeno erro e ver como isso afeta o resultado.
nos afastando do valor real.
Vale também lembrar que tanto a mantissa quan-
to o expoente podem ser negativos ou positivos.
Ao mesmo tempo, pode acontecer o overflow
Exemplo: -0,00045 = -0,45 x 10-3 (mantissa -45
(transbordamento) quando o resultado de uma sé-
expoente -3).
rie de somas acaba superando o número de dígitos
possíveis de armazenar. Especificamente em áudio
A vantagem dessa notação é que podemos re-
isso se refere a saturação. Assim, a representação
presentar números enormes ao custo de perda
na forma de números inteiros é particularmente
de certa precisão. Por exemplo, podemos repre-
suscetível a problemas de arredondamentos e da
sentar números como 1 x 1050, que é o número
possibilidade de saturação.
de átomos do planeta terra, usando apenas três
dígitos! Até aí, tudo simples. Vejamos como usar
FORMATO DE PONTO isso em números binários. A forma é m x 2e , em
FLUTUANTE (FLOATING POINT) que “m” e “e” podem ser positivos ou negativos.
Por exemplo, o número binário 11,1011 teria ex-
Os números reais têm uma mania muito chata: poente 10 (2 em binário, pois tem duas casas
eles tipicamente precisam de vírgula e casas deci- antes da vírgula) e mantissa 111011.
O USO EM
Divulgação
ÁUDIO DIGITAL
Quais seriam as vantagens
e desvantagens do uso de
formato floating point em
áudio digital? Antes de mais
nada, precisamos ficar aler-
tas para dois fatos impor-
tantes: primeiro, o formato
32bit floating point gasta
mais 33% a mais de es-
O Pro Tools|HDX usa cálculos de ponto flutuante para o paço que o inteiro 24 bits.
processamento e mixagem de plug-in, possibilitando um Segundo, se a interface só
som com melhor qualidade e menor esforço trabalha amostrando em 24
bits e a gente usa a sessão
Bem simples. Um detalhe curioso é que, no em 32bfp, haverá provavelmente apenas o preen-
caso da base 2, ainda é possível ganhar um bit chimento do expoente com zero.
na mantissa. Por exemplo, tomemos o número
0,000101011. Ele teria mantissa 101011 e o ex- Portanto, na maioria das aplicações, se a gente
poente -11 (-3 em binário). Ou seja, o primeiro bit quer apenas gravar, 24bI é mais do que suficien-
da mantissa é sempre 1 e não precisamos repre- te. Porém, na hora da mixagem, principalmente
sentá-lo, deixando-o implícito. quando há muito processamento (muitas contas
pra fazer), pode ser que o uso do 32bfp se jus-
Para igualar as coisas, a maioria das aplicações usa tifique. Porém, a maioria dos plug-ins que usam
o formato definido pela IEEE 754. Nele, a palavra floating point já fazem isso internamente, inde-
tem 32 bits de comprimento. O primeiro bit indica o pendentemente do formato da sessão.
sinal da mantissa, o expoente vem a seguir com 8
bits e os restantes 23 bits representam a mantissa Quanto ao caso de uma saturação interna de uma
– mais o bit implícito (o expoente é representado na sessão, normalmente os softwares trabalham com
forma de sinal e magnitude, ou seja é o valor -127). um bus master interno de precisão dupla, ou seja,
48 bits inteiros, o que eleva a faixa dinâmica a 288
Com esse formato (dispensamos aqui as contas dB. Isso inibe qualquer saturação interna do master.
complicadas), demonstra-se que é possível uma
faixa dinâmica de inacreditáveis 1.529 dB. Ou Talvez o uso mais indicado de 32bfp seja nas situ-
seja, por mais que se aumente o ganho, nunca ações de processamento muito intenso, como em
ocorre saturação, pois a precisão dos valores con- restauração de áudio, por exemplo, principalmen-
tinua em 24 bits e apenas ocorre a mudança no te se não sabemos se os plug-ins usam floating
valor do expoente. point internamente. •
Fábio Henriques é engenheiro eletrônico e de gravação e autor dos Guias de Mixagem 1, 2 e 3, lançados pela editora Música &
Tecnologia. É responsável pelos produtos da gravadora Canção Nova, onde atua como engenheiro de gravação e mixagem e produtor
musical. Visite www.facebook.com/GuiaDeMixagem, um espaço para comentários e discussões a respeito de mixagens, áudio e
música. Comente este artigo em www.facebook.com/GuiaDeMixagem.
Novos
timbres musicais
As possibilidades são infinitas
ou vivemos um esgotamento?
E FATORES
m alguns momentos afortunados da história
da música, a humanidade foi capaz de escutar
timbres totalmente novos. Sons desconheci- Existem fatores que influem diretamente no timbre
dos que até então nunca haviam sido ouvidos. Ima- de um som, como a forma de onda e o envelope
gine que sensação especial levar os nossos ouvidos sonoro. Na música, a forma de onda é uma soma
a lugares por onde eles nunca estiveram! É possível
do som fundamental emitido pela fonte sonora e os
que isso continue ocorrendo no mundo globalizado
sons harmônicos (sons secundários que respeitam
em que vivemos hoje em dia? Teremos novamente
uma ordem específica de intervalos conhecida
a oportunidade de criar e nos maravilhar com sons
como “série harmônica”). A variação na intensidade
nunca antes ouvidos?
do som fundamental e seus harmônicos modifica
a forma da onda. Na figura 1 você pode conferir
Para tentar responder a estas perguntas, vamos fa-
algumas formas de ondas sonoras simples:
zer uma pequena retrospectiva histórica e apresen-
tar alguns exemplos.
As ondas complexas são formadas por uma série de
ondas simples somadas, como na figura 2.
O QUE É TIMBRE?
Outro elemento importante na constituição do tim-
Em primeiro lugar, vale a pena lembrarmos de algu-
bre é o envelope sonoro, que define as intensidades
mas coisas... (ver tabela abaixo)
com as quais o timbre começa, se mantém e ter-
mina, seguindo esta ordem: ataque – decaimento
Vamos agora nos concentrar na propriedade que
– sustentação – relaxamento (figura 3).
mais nos interessa neste momento: o timbre. Se
você ouvir dois sons com a mesma frequência, du-
ração e intensidade, porém emitidos por diferentes NOVOS TIMBRES
fontes sonoras, o timbre é o que irá te ajudar a dife-
renciá-los. A vantagem evolutiva da percepção para Criar timbres novos em um sintetizador é relativa-
timbres é bastante óbvia, já que diferentes fontes mente simples. Basta escolhermos a forma de onda,
sonoras podem oferecer diferentes níveis de risco a intensidade dos harmônicos e o ADSR. Depois dis-
para a integridade corporal. so, podemos também adicionar filtros e efeitos, per-
Wikipedia
que está sendo criado. Contudo,
por mais que tornemos o nosso
timbre exótico, até que ponto ele
irá representar uma novidade so-
nora para o ouvinte?
Wikipedia
Figura 2 – Onda sonora produzida por um xilofone
Poucos momentos históricos causaram tanto as- destaque para as técnicas de composição atonais.
sombro como o crescente domínio da eletricidade Contudo, muitos músicos também iniciaram um ca-
nos séculos 19 e 20. Este crescente desenvolvi- minho de pesquisa do novos timbres proporcionado
mento foi o resultado de consistentes pesquisas pelo domínio do meio eletrônico, com destaque para
científicas realizadas nos séculos anteriores, que dois grupos de compositores europeus.
culminaram em novidades como o rádio, a tele-
visão e os instrumentos musicais eletrônicos. O O grupo francês, liderado pelo compositor Pierre
primeiro deles foi o teremin. Shaeffer (1910-1995), desenvolveu a chamada
música concreta durante o final dos anos 1940.
Criado pelo inventor russo Léon Theremin (1896- Tratava-se de experiências composicionais que
1993) em 1917, o instrumento consiste em uma utilizavam gravações eletrônicas de diferentes
caixa com duas antenas. A antena vertical promo- sons, desde naturais e industriais até instrumen-
ve o controle da altura e a horizontal o controle da tos musicais, para depois manipular estes sons
intensidade. O executante não toca no instrumen- através de cortes, colagens ou mudanças de sen-
to, pois apenas a aproximação das suas mãos pro- tido e velocidade.
voca interferências no campo elétrico, produzindo
mudanças tanto na altura quanto na intensidade O grupo alemão, liderado pelo compositor Herbert
do som. Este fato, somado ao controle melódico do Eimert (1897-1974), e, mais tarde, por Karlheinz
som eletrônico nunca antes ouvido, foi causador Stockhausen (1928-2007), também iniciou suas
de tanto assombro que o seu inventor passou a experiências musicais no final dos anos 1940,
fazer turnês internacionais apenas para mostrar o mas ao contrário dos concretistas que manipula-
instrumento. Léon foi considerado um gênio, pas- vam eletronicamente os sons pré-existentes, os
sando a ser disputado pelos EUA e pela União So- alemães utilizavam geradores eletrônicos de sons
viética até o fim da sua vida. e ruídos para criar suas próprias ondas sonoras,
passando, depois, a manipulá-las.
O som do instrumento era tão assustador para a
época que foi utilizado à exaustão nos filmes de mis- Ambas as técnicas representaram grande novidade
tério e ficção científica de boa parte do século 20. para a época, proporcionando a audição de timbres
totalmente novos.
MÚSICA ELETROACÚSTICA
E CONCRETA SINTETIZADORES
Sempre na busca por novidades sonoras, a música Já na década de 1960, outra revolução paradigmática
O FIM DA VANGUARDA?
Mas, e hoje: é possível que surja algum som totalmente novo
capaz de gerar tanto assombro como geraram os exemplos an-
teriores? Será que nossa era já encontrou o esgotamento de
possibilidades musicais e o fim da vanguarda, alardeado por
John Cage (1912-1992) em sua famosa composição 4’33”, feita
inteiramente de pausas, é uma realidade? Ou seja, será que
tudo o que era possível fazer na música já foi feito, só restando
a nós o silêncio? Todos os timbres novos que criaremos são
derivados dos mesmos timbres já conhecidos e, portanto, não
produzem mais efeitos impactantes nos ouvintes?
Wikipedia
Fabrizio Di Sarno é professor da FATEC-Tatuí e CEUNSP, além de compositor, produtor e tecladista em bandas como Angra, Sha-
aman, Edu Ardanuy, Darma e Paul di Anno. Já compôs trilhas sonoras para marcas como Natura, Odebrecht, Ambev, Governo
Federal, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Playboy, entre outras. Contato: fabrizio3@uol.com.br.
Divulgação
Vale destacar que a série NeoLED oferece soluções profissionais para aplicações de palco e
arquitetônicas. Construídos, de acordo com a fabricante, com a mais recente tecnologia e
hardware selecionado, todos os produtos NeoLED cumprem com padrões das aplicações
mais exigentes em todo o mundo e têm como ponto de destaque, ainda segundo a empre-
sa, a união entre eficiência e durabilidade.
www.decomacbrasil.com
Trabalha com seis LEDs de 8 watts, o equivale a uma potência de 300 watts. Oferece ângulo
Divulgação
de beam de dois graus, pan/tilt de livre rotação e strobo com 1-13 flashes por segundo. Opera
com 14/20 canais DMX e funciona via DMX, de modo automático e no esquema master/slave.
www.proshows.com.br
Divulgação
A Q8 (foto), um tipo de híbrido de H4 com Go Pro, conta com duas entradas XLR/P10 e um par de
microfones nos gravadores da Zoom (H1, H4). A exemplo do H6, ela pode trabalhar com diversos
outros microfones da fabricante, gravando nos formatos AAC e WAV. A câmera possui lente fixa f2.0
e distância focal equivalente a 16.6 mm, fazendo gravações em até 2304 x 1296 pixels, a 30 fps.
Por sua vez, a Q4 grava até 1080 30p e a lente é uma f2.8, com distância focal que equivale a 22 mm.
www.zoom-na.com
Por sua vez, os fluidos da linha Hi-Foam foram criados para gerar uma espuma forte e está-
vel, indicada para aplicações como festas de espuma e cenografia para cinema, teatro e TV.
São superconcentrados e foram especialmente formulados para serem usados em todas as
Divulgação
www.usaprofissional.com
áudio música e tecnologia | 67
em fo c o
ROCK IN RIO
Megafestival comemora 30 anos com rider gigante
A
tender a um festival como o Rock in Rio e, Mas nada disso seria possível se a empresa, uma das
paralelamente a ele, estar à frente de di- maiores do setor de locação de equipamentos de luz
versos shows individuais de suas atrações, do país, não tivesse investido pesado na aquisição
como, por exemplo, Queen, Slipknot, Katy Perry, de um verdadeiro arsenal de aparelhos. O negócio,
Faith No More, Rod Stewart, System Of A Down e que, de acordo com Césio, significou a maior venda
One Republic – que se apresentaram em capitais de equipamentos da Martin, representada pela Har-
como São Paulo e Porto Alegre –, foi mais uma man, para uma locadora sul-americana. “Represen-
missão cumprida pelos lighting designers da LPL, tou um salto na história da companhia”, destacou.
estando à frente disso Césio Lima, Erich e Caio
Bertti e Rafael Auricchio, que dispensam apresen- Em conversa com Césio, Erich e Caio, acessamos
tações em nossa revista. detalhes sobre o que rolou dentro e fora do festival,
L&C
L&C
com uma parede própria de LED 1200, solicitou mais cipal característica o uso de cores monocromáti-
60 aparelhos do tipo para uso em volta do cenário. cas em cenas sem movimento, enquanto que a do
Gregory Kocurek [do Slipknot] pediu 12 aparelhos Metallica, desenhada por Rob Koenig, era o seu
Rush MH 3 Beam”, completou. oposto, com mix de cores e muito movimento.
Além dos equipamentos de luz, os iluminadores, em A cargo de AJ Penn, a luz do One Republic desta-
sua esmagadora maioria, fizeram bom uso do enor- cou-se por seu perfeito sincronismo, com o qual o
me painel de LED da LED Com, que mais uma vez iluminador explorava os climas e “tocava” junto ao
estabeleceu parceria com a LPL. grupo. E, por fim, a luz de Sam Smith, operada por
Will Pots, foi aquela que agradou tanto ao público,
OS MELHORES SHOWS que vibrava a cada cena, com destaque pra o grande
contraluz feito com aparelhos dispostos em forma de
Em um festival com um line up tão variado, con- arco, quanto à TV, que se aproveitou da “disciplina”
templando do pop ao heavy metal, o contraste, para fazer uma transmissão perfeita. Destacaram-
do ponto de vista da iluminação, é sempre muito -se, ainda, Rob Sinclair, do Queen, que fez um show
presente. E o Rock in Rio não fugiu à regra. As- clássico, à altura da banda, e Greg ‘Litte G’, do Slipk-
sinada pelo lighting designer Chaz Martin, a luz not, que trabalhou do início ao fim da apresentação
do Faith No More, por exemplo, tinha como prin- do grupo “pilotando” um sem número de cue list.
I Hate Flash
As mesas grandMA estiveram tanto na Painel de LED exibe, em alta resolução,
house quanto na sala de programação visuais do show de Katy Perry
P
rincipal evento de negócios e de
tecnologia para broadcast e novas mí-
dias da América Latina, a SET Expo che-
gou, em 2015, à sua 27ª edição. Realizada
entre os dias 23 e 27 de agosto no Pavilhão
Vermelho do Expo Center Norte, em São Paulo,
a feira reuniu cerca de 200 expositores, que
apresentaram a mais de 16 mil pessoas produ-
tos de 400 marcas nacionais e internacionais.
Em destaque, alguns
dos produtos exibidos no
estande da Telem
SEMINÁRIO EM PARALELO
Enquanto os expositores apresentavam suas novidades ao Conceituado diretor de fotografia, Samuel Kobayashi esteve
público, nos auditórios anexos à feira eram realizadas diver- com Ricardo Kauffmann, da empresa Energia, e de Mario Janni-
sas palestras técnicas com abordagens de temas relevantes ni, da ARRI, à frente de uma discussão sobre os conceitos e os
para o mercado e discussões sobre o presente e o futuro dos fundamentos da imagem com ênfase na cinematografia digital,
setores de tecnologia, produção, transmissão, distribuição, e a importância dos procedimentos a serem adotados nos pro-
serviços de suporte de rede e novas mídias. cessos de produção de conteúdos audiovisuais para televisão.
Gerente sênior para área de Mídia e Entretenimento da Por fim, o diretor regional para a América Latina da Dolby La-
NVIDIA, Michael Kaplan apresentou, ao lado de executivos boratories, Carlos Watanabe, passeou pelo universo do HDR,
como José Dias, vice-diretor de tecnologia da TV Globo, uma ferramenta poderosa para as empresas de radiodifusão,
e Luis Pinievsky, da Avid Technology, uma palestra sobre que permite que imagens se aproximem das características
cenários virtuais e realidade aumentada em redes de te- da visão humana, produzindo um resultado surpreendente-
lecomunicação. mente semelhante à vida real. •
Dominando a
timeline do Final Cut
Noções, dicas e técnicas
O
Final Cut Pro X possui algumas características úni- combinação Shift + Dele-
cas, bastante diferentes das presentes em outros te. O clipe será substituído
programas de edição. A timeline, por exemplo, tem por um Gap Clip – um cli-
propriedades que visam acelerar o processo de edição. Nesta pe sem conteúdo.
coluna vamos discutir as peculiaridades do uso da timeline,
focando em suas ferramentas e propriedades. Se quiser reposicionar um
clipe da timeline primária
“MAGNETISMO” sem alterar a posição dos
outros clipes, basta sele-
A timeline do Final Cut apresenta propriedades “magnéticas”, cionar a ferramenta Posi-
que rearranjam os clipes automaticamente. Este comporta- tion (P). Ao deslocar um
mento traz algumas facilidades para o editor: permite mudar clipe com esta ferramenta,
a posição dos clipes de forma muito rápida; impede que sur- o “magnetismo” da timeli-
jam espaços vazios entre clipes (gaps), que resultariam em ne é temporariamente des-
flashs de tela preta na exibição; evita o choque entre clipes, ligado. Arrastar o clipe para
Figura 2 – O menu contextual e
modificando a posições dos mesmos de forma automática. cima de outro horizontal-
o comando Lift From Storyline
mente na timeline realizará
Muitos editores, no entanto – especialmente os mais expe- uma ação de “overwrite”,
rientes –, têm dificuldades em se adaptar a esta nova forma sobrescrevendo outros clipes. Por isso, utilize a ferramenta Po-
de trabalho. O segredo é se permitir pensar de uma forma sition com cautela e lembre-se que, apesar desta ferramenta
diferente: deixar a timeline trabalhar por você em vez de permitir que você trabalhe da maneira “antiga”, sem ação da
lutar contra ela. O ajuste automático na posição dos clipes é timeline magnética, o ideal é que tire proveito das duas ferra-
muito rápido e intuitivo: arraste um clipe para o meio de ou- mentas. Trabalhe com a ferramenta Select (A) na maior parte
tros dois e estes automaticamente abrem espaço, permitindo do tempo e alterne para a ferramenta Position (P) quando quiser
a inserção no ponto escolhido (Figura 1). que a timeline magnética não atue. Outra forma de extrair clipes
da timeline primária sem afetar outros clipes consiste em sele-
Agora imagine que você deseja apagar o clipe. A timeline mag- cionar o clipe desejado, clicar com o botão direito do mouse e
nética automaticamente fechará o espaço deixado por aquele selecionar o atalho “Lift From Storyline” (Command + Option +
clipe. Caso queira manter o espaço ocupado – para uma futura seta para cima - ^). Veja as figuras 2 e 3.
substituição por outro item ou para que os outros clipes não
percam suas posições na timeline –, apague o clipe usando a REALIZANDO CORTES MAIS RÁPIDOS
Tempo é um fator chave em qualquer tra-
balho de edição. Trabalhar de forma rápida
garante não somente que o produto final
será entregue no prazo – garante também
que terá mais qualidade, uma vez que
sobra mais tempo para o refinamento da
história e da finalização. Por este motivo
é importante conhecermos alguns atalhos
usados na timeline. Muitas vezes estes
atalhos substituem três ou quatro coman-
dos individuais, o que, ao final de um dia
de edição, nos poupa um precioso tempo.
Figura 3 – Extraindo um clipe da timeline sem Figura 5 – Executando o corte das porções ao redor da
afetar a organização: um gap clip surge (B) na seleção, feita anteriormente com a ferramenta Range
posição anteriormente ocupada pelo clipe original
(A) e o clipe original torna-se um item conectado, do ponto, pressione J para retornar alguns segundos e no-
que pode ser apagado ou reposicionado vamente L para continuar assistindo. Este modo de trabalho
poupa um tempo precioso de edição.
AJUSTANDO “TOPS” E “TAILS”
O comando Trim to Playhead “option + \” (sinal grá-
Muitas vezes, ao cortar um clipe, executamos o seguinte pro- fico “barra invertida”) realiza um top ou tail, depen-
cedimento: selecionamos a ferramenta Blade (B); cortamos dendo da posição da cabeça de leitura. Se esta estiver
o clipe no ponto desejado; alternamos para a ferramenta mais próxima ao início do clipe, remove o início do mes-
Select; selecionamos o trecho a ser apagado; apagamos o mo. Se estiver mais próxima ao final, retira esta porção.
trecho. Temos aí cinco etapas. Que tal substituirmos este
processo por algo mais eficaz? Posicione a cabeça de leitura Outra forma de usar o comando option + \ consiste em se-
antes do trecho que você quer excluir e lecionar a ferramenta Range (atalho: R).
pressione option + ] (colchete). Pronto! Arraste o cursor ao longo de um trecho
Com duas ações substituímos um proce- da timeline que queira eliminar (Figura
dimento de cinco passos. 5 B). Ao pressionar Command + \, o tre-
cho selecionado é preservado, apagan-
Removemos a porção final do clipe, sua
do-se as pontas dos clipes à esquerda
“cauda”, ou “tail”. Se, em vez do tail,
e à direita (Figura 5C). Ou seja, o co-
nosso interesse for remover um trecho
mando Trim to Playhead executa um top
à esquerda da cabeça de leitura, use o
e um tail simultaneamente, mantendo o
comando option + [. Removemos, com
trecho selecionado intocado.
isso, a cabeça do clipe, ou “top”. Quando
não há clipes selecionados na timeline,
estes comandos afetam a timeline pri- AJUSTANDO O PONTO
mária. Se quiser executar tops e tails em DE CORTE EM TEMPO REAL
um clipe conectado, você deve selecioná-
-lo antes. Uma sugestão de trabalho é O Final Cut permite ajustar o ponto
assistir o material da timeline usando as de corte entre dois clipes em tempo
teclas J, K e L. Pressione L para assis- Figura 4 – O menu Trim e as opções real, uma característica conhecida
tir. Quando chegar em um ponto do cli- para realizar Tops (Trim Start), Tails como trimming dinâmico, cuja van-
pe cujo final deseja eliminar, pressione o (Trim End) e os cortes usando a tagem é permitir escolher um novo
comando de tail (option + ]). Se passar cabeça de leitura (Trim to Playhead) ponto de corte ao mesmo tempo em
Marcelo Ferraz é editor de vídeo na TV Brasil e professor do IATEC, no Rio de Janeiro. Mantém um site voltado para Final Cut
Pro X em fcpxnerd.wordpress.com e pode ser contatado pelo e-mail marcelofrodo@gmail.com.
Criação de projetos
no Avid Media Composer
Começando com o pé direito
A
primeira experiência com o Avid Media Com- mentos compartilhados e todos os usuários do com-
poser geralmente começa com a criação de putador poderão ter acesso a ele.
um projeto, e mesmo essa primeira janela já
pode ser bem intimidadora para iniciantes. - External – Armazena o projeto em um local espe-
cífico definido pelo usuário. Pode ser no desktop, em
Neste artigo vamos falar sobre as opções na hora de um HD externo etc.
criar projetos e quais táticas devemos conhecer na
hora de definir as configurações. Então, a princípio, podemos simplificar o pensamen-
to da seguinte forma: use “Internal” se você quer
DEFINIR O LOCAL DO ter privacidade, “Shared” se você quer trabalhar em
- Internal – Armazena o projeto na pasta de docu- O usuário deve sempre escolher um formato único
mentos do usuário logado no computador. para seu projeto. A pergunta é: caso ele escolha um
formato em Full HD, o que acontecerá quando uma
- Shared – Armazena o projeto na pasta de docu- mídia em SD for importada para o sistema? Ou seja,
como o Media Composer lida com vídeos de diversos
formatos na timeline?
SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO
DE MATERIAL
Uma vez criado o projeto, é hora de enten-
der as opções de organização. Toda a infor-
mação da sua mídia (vídeo, áudio, figuras,
arte, sequências e até pré-configurações de
efeitos) é armazenada no que chamamos de
bins. Agora, atenção: repare que mencionei
que é “informação da mídia”, e não a mídia
em si. Como já falado anteriormente neste
Fig. 2 – Opções de formato de projeto artigo, as mídias são armazenadas separa-
das do projeto.
seu material bruto. Isso faz com o que sistema seja Para criar um bin, basta utilizar o botão “New Bin” na
mais rápido. E não se preocupe se o produto fina- janela de project window, aba Bins (fig. 4A). Usu-
lizado terá outro formato, pois isso é decidido em ários de outras ferramentas muitas vezes associam
outro momento, e há vários métodos de se fazer a com a função de pastas (folders), como acontece no
exportação ou finalização. Final Cut Pro, por exemplo. A associação é pertinen-
te e não há nada de errado nisso, porém, há de se
COM O PROJETO CRIADO, O ter cuidado, pois o Avid Media Composer também
tem a função de pastas (folders), mas funcionam de
QUE AINDA PODEMOS FAZER
forma diferente.
Cristiano Moura é instrutor certificado pela Avid. Por meio da ProClass, oferece consultoria e treinamentos customiza-
dos, além de lecionar cursos oficiais em Avid Media Composer. Contato: cmoura@proclass.com.br.
A iluminação cênica
através do tempo
Entendendo a origem de alguns equipamentos
e efeitos de iluminação que aplicamos hoje
O
ato de iluminar um espetáculo, inde-
Wiki Images
pendentemente do seu formato, é uma
conjunção de fatores que envolve des-
de estudos de caso, cálculos luminotécnicos, es-
colha de material e, por fim, a forma de aplicá-
-los a nosso favor, para assim traduzir, por meio
da luz, ideias e pensamentos que o diretor quer
passar para o público. Mas vamos tentar enten-
der alguns destes elementos e suas origens.
Dessa forma poderemos aplicar melhor estes
estudos, pois quando conhecemos ou compre-
endemos como a luz ou o refletor surgiram, sa-
bemos aplicá-los melhor em nossos projetos.
Quando o teatro chega neste formato, as “tecnologias” de suportava a ideia de não poder controlar tudo à sua volta e
encenação já se tornam mais evoluídas e uma delas é a o que o califa mais queria era controlar o Rio Nilo. Se o im-
iluminação, que já é, de uma certa forma, mais fácil de ser perador tivesse este poder, ele poderia determinar quando
executada. Um dos grandes teatros desta época que ainda seriam as marés altas e baixas e assim controlar também
se mantém de pé é o Epidauro (fig. 1), construído no sé- as épocas de colheita e pesca.
culo 4 a.C. pelo arquiteto Policleto (470-405 a.C.). Ele tinha
um suporte para um público de mais de 12 mil pessoas, e, Claro que Alhazen não conseguiria tal feito, e se fingiu de
mesmo assim, até hoje, é considerado o espaço cênico com louco para que o imperador não o executasse e lhe pren-
uma das melhores acústicas do mundo. desse. Ele ficou preso por mais de dez anos, sendo liberta-
do somente quando o imperador faleceu. Pois bem, Alhazen
Nesta época já se utilizava os efeitos de reflexão, sendo que aproveitou que estava preso e começou a observar os efeitos
uma das primeiras vezes que este fenômeno foi estudado da luz ao adentrar pelas frestas de sua cela. Ele observou
foi pelo árabe Alhazen (956-1039 d.C.). Ele se aprofundou que esta luz que tocava o chão era redirecionada para outro
neste estudo após o califa Al-Hakim (966-1021 d.C.) lhe sentido (fig. 2). A luz seguia para o sentido oposto ao que
obrigar a ensinar como controlar o Rio Nilo. Al-Hakim não ela tocava, e assim ele pôde se aprofundar nos estudos e
de distância atrás dele, conseguindo enxergar até o limite da mais dois novos formatos: Elisabetano, no qual o palco
ilha, e, assim, o mar. se estendia e tinha plateia em sua volta, muito parecido
com uma passarela; e o outro formato de palco, que é o
Pois bem, este guerreiro vinha pelo mar. Em seu barco ha- mais clássico e o mais usado – o palco Italiano. Com sua
via uma enorme tocha (fig. 3), para que o público que as- caixa preta podemos criar efeitos e luzes através de varas
sistia à encenação, realizada à noite, pudesse ver ao longe de iluminação, mas quando esta caixa cênica assume seu
esta embarcação, que estava chegando à ilha. Chegando lugar na época, os artistas e encenadores revolucionam as
ao destino, o guerreiro descia do barco e percorria todo o forma de iluminar, utilizando alguns artifícios através do
trajeto da praia até o teatro a pé. Claro que seria fogo e seus conhecimentos de ótica e reflexão para criar
impossível para o público visualizar por onde ele efeitos novos e surpreendentes.
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Rodrigo Horse é graduado em Design de Interiores pela Faculdade Cambury-GO, especialista em Docência do
Ensino Superior pela Faculdade Brasileira de Educação e Cultura (FABEC-GO). Professor da pós-graduação do
IPOG do curso Master em Iluminação e Arquitetura e pela Faculdade Unicuritiba na pós-graduação Arquitetura
de Iluminação. É iluminador efetivo da Universidade Federal de Goiás (UFG) e atua como iluminador cênico há 15
anos. Contato: contato@rodrigohorse.com.br
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Gigplace 51 www.gigplace.com.br
Avaliação
de mixagens
M
uitos dos alunos que passaram pelos meus trei- mos de um famoso efeito colateral dos compressores,
namentos Mix Secrets me procuram pra que eu chamado “pumping”, que é quando ouvimos o compres-
“avalie” suas mixagens. O que exatamente se- sor afundar um instrumento ou base e depois liberar?
ria avaliar uma mixagem? Ver se ela está “certa”? E o Tecnicamente, é tido como uma falha, mas se tornou
que a faria estar certa ou errada? O volume da voz? A uma marca registrada nos sons dos DJs mais ouvidos do
quantidade de reverb? Talvez a quantidade de graves? planeta. Pois é... Continuo recorrendo à velha frase: “Não
Bem... Tenho certeza de que toquei em pontos comu- existe som feio. Existe som mal empregado”.
mente discutidos ou questionados aqui. Mas, então...
Quanto é o certo? E, então, como responder se uma mix é boa ou ruim?
Vou começar lembrando uma coisa que falo sempre,
É com frequência que vejo pessoas debatendo online aqui e nos meus treinamentos Mix Secrets: a mixagem
assuntos como “qual o setting correto de um com- não é nada mais, nada menos, do que a regência do
pressor para voz”. Assim como também vejo grupos arranjo. Uma música com arranjo mal resolvido gera
de Facebook para “avaliação de mixagens”. E a minha uma mix difícil de soar. Se um arranjo bem feito é o ca-
opinião é que ambos não existem. Bem, se avaliar samento, o canto e contracanto, as frases e respostas,
uma mix é algo que não existe, como pode existir o o encaixe perfeito dos instrumentos, então um arranjo
Grammy, que não apenas avalia, mas premia mundial- falho deixa de ter tudo isso.
mente discos e gravações? Pois, então... Chegamos no
ponto. O Grammy basicamente premia fonogramas. E esse encaixe perfeito é aquilo que existe quando você
Ou seja, as músicas estão sendo degustadas como um vai mixar uma música e tudo o que você faz nela soa
todo. E, com esses mesmos ouvidos, deveríamos gra- bem. Ao contrário daquela outra mix, em que um canal
var, produzir, mixar e masterizar música. bate com o outro, em que há momentos sem sustentação
alguma, e o outro, em que você não consegue encaixar
Outro dia compartilhei no meu Facebook um vídeo que os graves de todo mundo que toca junto. Isso é culpa
vi em algum lugar, de uma banda que não conhecia. O da mix? Obviamente não. Mas como não estamos na
ponto é que a tal gravação tinha um reverb que parecia vida pra arranjar culpados, e sim soluções, muitas ve-
um banheiro com a voz dentro. E o mais curioso é que zes durante mixagens somos mais do que arranjadores.
aquilo soava muito natural. Natural a ponto de eu não Somos garis. Mineradores. Escultores. Somos mágicos.
conseguir imaginar ouvir aquela música de outro jeito!
Era lindo! O disco A Time 2 Love, do Stevie Wonder, Então, é praticamente impossível dar crédito somen-
tem um grave pulsando mais alto do que os médios, e te à mixagem. Tanto o sucesso quanto o fracasso de
apesar de que se compararmos com outros discos ele uma mix leva juntinho consigo a qualidade do ar-
talvez soe excessivo, na música e arranjos do disco ranjo e – por que não – de tudo o que existe ali pra
aquela timbragem soa perfeita. ser ouvido, como os músicos, captações, atmosfera,
performance e, claro, a própria música. Demos uma
Um disco independente que masterizei há algum tem- pequena longa volta e chegamos novamente no fim
po, da banda Cabeza de Panda, tinha uma master alta a da mix, em que “ruim” é quando torcemos o nariz ao
ponto de conseguirmos uma timbragem com um overdri- percebermos que algo simplesmente soa estranho e
ve perfeito para o disco. Mas se tivéssemos obtido esse “boa” é quando essa estranheza soa tão natural que
mesmo overdrive num disco do Roberto Carlos, talvez a gente sorri, entra nela e, sem que percebamos,
não teria sido muito bem-vindo... E por que não lembrar- somos levados até o fim. •
Enrico De Paoli é engenheiro de música, synthesista e produtor fonográfico. Conheça sua discografia, ganhadora de prêmios
Grammy, e seus treinamentos Mix Secrets visitando www.EnricoDePaoli.com.