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Introdução
A irrigação localizada é uma tecnologia que vem sendo adotada recentemente pelos
irrigantes, devido principalmente ao fato desta permitir um melhor aproveitamento de água,
evitando desperdícios, e concomitantemente, aumentando a produtividade. A primeira
referência de experiências com irrigação localizada ocorreu na Alemanha em 1860, onde
tubos de argila eram utilizados juntamente com sistemas de irrigação e drenagem. Nos
Estados Unidos, por volta de 1913, experimentou-se irrigar com tubos perfurados na
superfície, mas concluiu que este era um método muito caro. Também foram observadas
experiências com tubos com aberturas estreitas no Reino Unido por volta de 1940.
Atualmente, os Estados Unidos apresentam grandes áreas com irrigação localizada. O uso
de estufas e casas de vegetação têm incrementado áreas de 4 mil hectares em 1972 para 175
mil hectares em 1980. Califórnia, Flórida, Texas e Havaí contam com 91% desta área.
Apesar da área com irrigação localizada representar menos de 1% da área total irrigada nos
Estados Unidos, é significativa sua importância econômica. Tem havido aumento também
em áreas na Austrália, Israel, México e África do Sul. Este tipo de irrigação apresenta um
grande potencial onde: (1) a água é cara e escassa; (2) os solos são salinos, pedregosos ou
de topografia acidentada; (3) áreas que produzem culturas com alto valor comercial. As
principais culturas conduzidas sob irrigação localizada são: abacate, citrus, uva, morango,
tomate, flores, fruteiras em geral e olerícolas. Utiliza-se este tipo de irrigação também em
projetos paisagísticos, jardins e residências. Como a água, mão-de-obra e preparação de
terrenos aumentam bastante os custos, os sistemas de irrigação localizada tendem a
substituir os métodos convencionais de irrigação.
Estes sistemas operam sob baixas pressões, sendo que pode haver variações significativas
nos valores de vazões. No sistema por gotejamento, por exemplo, as pressões variam de 0,5
a 2 kgf/cm2 , enquanto que as vazões variam de 0,5 a 12 l/h. Já em sistemas de micro-
aspersão, as pressões variam de 1 a 3 kgf/cm2 e as vazões de 50 a 200 l/hora.
Faculdade de Engenharia Agrícola/UNICAMP Irrigação: Técnicas, Usos e Impactos
Figura 2.1: Distribuição da umidade no solo em sistemas localizados (KELLER & BLIESNER, 1990).
Vantagens e limitações
Os sistemas de irrigação localizada, quando corretamente projetados e bem manejados,
apresentam vantagens e sobre os outros sistemas de irrigação.
Vantagens
1. Permite um melhor aproveitamento hídrico, pois irriga apenas a área ao redor da
planta, diminuindo assim, a evaporação direta da água do solo para a atmosfera. Reduz
também, perdas por percolação profunda, escoamento superficial e por ventos.
2. Não interfere na execução dos tratos culturais, pois permite até mesmo o
movimento de máquinas e implementos.
3. Propicia aumento da produtividade, melhorando a qualidade do produto, devido ao
fato da umidade permanecer razoavelmente constante e da distribuição ao longo da linha de
cultivo ser mais uniforme.
4. Reduz o perigo de salinidade para as plantas, pois mantém os sais diluídos na água
do solo devido a aplicações freqüentes, e também na zona do bulbo molhado, permitindo
assim, o uso de água com salinidade média.
5. Possibilita a prática de quimigação, ou seja, aplicação de produtos químicos
(fertilizantes, inseticidas, fungicidas) via água de irrigação, o que acarreta uma redução na
mão-de-obra e da quantidade de insumos, aumentando a eficiência de aplicação.
6. Facilita o controle fitossanitário, pois não molha a parte aérea das plantas, o que
permite que os defensivos não sejam “lavados”, ao mesmo tempo em que facilita o controle
de plantas daninhas, pois desestimula seu crescimento, reduzindo o uso de mão-de-obra e
defensivos químicos.
7. Pelo fato de operar a baixas pressões e vazões e curtos períodos de operação, reduz
o requerimento de energia, além de permitir automação.
8. Economia de mão-de-obra, devido ao fato do sistema ser fixo e ter a possibilidade
de ser automatizado.
9. Adapta-se a diferentes tipos de solos e topografia.
Limitações
1. Apresenta um elevado custo inicial quando comparado a outros sistemas.
2. Devido ao pequeno diâmetro dos emissores, pode apresentar problemas de
entupimento, causado principalmente por partículas de areia, fertilizantes, algas, bactérias,
óxido de ferro e precipitados químicos, tornando-se necessário então, manutenção
periódica.
3. Pode ocorrer o acúmulo de sais na superfície do solo e no perímetro do bulbo
molhado, o que pode trazer prejuízos às plantas.
4. A uniformidade de distribuição dos emissores pode ser afetada, principalmente em
áreas declivosas, onde emissores que operam com baixos valores de pressão podem ter
variações de vazão significativas.
5. Pode ocorrer a limitação no desenvolvimento das raízes das plantas, devido ao fato
das raízes tenderem a se desenvolverem somente na região do bulbo molhado, próximo ao
emissor ao longo de cada linha lateral.
6. Alguns solos podem não ter capacidade de infiltração suficiente para absorver a
água aplicada pelos emissores, sendo então necessário um manejo rigoroso.
7. Como um pequeno volume do solo é umedecido, limita-se a habilidade da planta
em crescer em busca de água e fertilizantes em locais afastados da zona úmida, o que pode
acarretar prejuízos na produção, caso haja interrupção da irrigação.
8. As linhas de polietileno podem ser danificadas por roedores e formigas.
Cabeçal de Controle
O cabeçal de controle juntamente com os gotejadores constituem as principais partes de
um sistemas de irrigação localizada. O cabeçal situa-se após a moto-bomba, ou seja, no
início da linha principal e é constituído das seguintes partes: medidores de vazão, filtros de
areia e tela, injetor de fertilizantes, filtro de tela, válvula de controle de pressão, registros e
manômetros. A Figura 2.3 ilustra um cabeçal de controle.
Medidores de vazão
Permitem um maior controle do volume d’água aplicado e também facilita a automatização
do sistema, porém eleva o custo do mesmo. Em regiões onde a água não é fator limitante
ou seu custo não é muito elevado e onde tem-se mão-de-obra disponível, não sendo
necessária a automatização do sistema, pode-se dispensar os medidores de vazão do cabeçal
de controle, e simplesmente com o uso de registro, manômetro e vazão média dos
emissores, pode-se fazer um controle da lâmina d’água aplicada por irrigação.
Sistemas de Filtragem
Na irrigação localizada é obrigatório o controle da qualidade de água de irrigação, com o
objetivo de evitar entupimentos, e consequentemente, má uniformidade na distribuição da
água ao longo da linha lateral, utilizando-se então um sistema de filtragem antes da água
percorrer essas linhas.
Os filtros de tela (Figura 2.7) são recipientes fechados, com uma tela interna, por onde a
água escoa. São muito eficientes na retenção de partículas, porém facilmente obstruídos por
matéria orgânica. São responsáveis pela eliminação de impurezas menores que ultrapassam
o filtro de areia, bem como partículas insolúveis advindas de fertilizantes.
Para um melhor tratamento da água da irrigação, o sistema de filtragem deve ser composto
dos dois tipos de filtros; com os filtros de tela localizados após o filtro de areia. Pode
ocorrer também que a quantidade de matéria em suspensão seja de tal proporção, que venha
a ser interessante se proceder a uma pré-filtragem da água, de modo a evitar excessiva
necessidade de manutenção dos filtros. Dentre os métodos mais comuns, destacam-se a
decantação, telas de malha grossa na entrada da água e outros. Geralmente, recomenda-se
que seja realizada uma análise da água a ser utilizada, e verificar se estes valores se
encontram dentro dos limites razoáveis quanto à matéria em suspensão. Um critério para
tentar-se analisar a água em relação ao potencial de entupimento que a mesma oferece é
indicado na Tabela 2.1.
Tabela 2.1: Classificação da água de irrigação de acordo com o potencial de entupimento.
Perigo de entupimento
Fator Pequeno Médio Grande
Físico
- Sólidos em suspensão 50 50-100 100
Químico
- pH 7,0 7,0-8,0 8,0
- Sólidos dissolvidos 500 500-2000 2000
- Manganês (máx ppm) 0,1 0,1-1,5 1,5
- Ferro (máx. ppm) 0,1 0,1-1,5 1,5
- Sulfeto de hidrogênio 0,5 0,5-2,0 2,0
(máx. ppm)
Biológico
-População de bactéria (máx. 10000 10000-50000 50000
no /mol)
Linha principal
É a tubulação que conduz a água da motobomba até as linhas de derivação. Geralmente,
utilizam-se na linha principal tubos de polietileno, de PVC rígido ou flexível, galvanizados
ou de cimento. Ela pode ser instalada na superfície do solo ou ser enterrada, este último
caso facilita as operações com máquinas agrícolas na área.
Linhas de derivação
São as linhas que conduzem a água da linha principal até as linhas laterais. Geralmente,
utilizam-se nas linhas de derivação tubos de polietileno flexível, quando instalados sobre a
superfície do solo, ou tubos de PVC rígido quando enterrados. É comum a instalação de
válvulas de controle de pressão no início das linhas de derivação para controlar vazão do
sistema.
Emissores
São dispositivos que aplicam água a baixas vazões utilizados principalmente em irrigação
por gotejamento, por subsuperfície ou por borbulhamento. São desenvolvidos para dissipar
pressão e fornecer uma pequena vazão uniforme ou para aplicação de água sob taxa
constante. Emissores ideais devem ter uma seção relativamente grande em relação a vazão
e apresentar algum dispositivo de lavagem para reduzir problemas de entupimento. Devem
também ser baratos e compactos. Diferentes tipos de emissores são freqüentemente
classificados de acordo com o mecanismo de cada um para dissipar pressões.
Gotejadores (Fig. 2.11): são peças construídas para permitir uma redução da pressão da
água e diminuir a vazão a alguns litros por hora, de modo que a água atinja a planta em
forma de gotas. Em geral, operam com vazão de 0,5 a 20 l/h. Para obtenção de vazões tão
pequenas é necessário que a saída do gotejador tenha diâmetro igualmente pequeno,
sujeitando-o, portanto, a entupimentos. O processo de fabricação dos gotejadores deve ser
bastante preciso, caso contrário as pequenas variações nas dimensões de cada peça podem
acarretar grandes mudanças de vazões.
No sistema de irrigação por gotejamento (Fig. 2.12), a aplicação de água é feita por tubos
perfurados com orifícios de diâmetros reduzidos, ou por gotejadores, que são pequenas
peças conectados a tubulações flexíveis de polietileno, capazes de dissipar a pressão
disponível na linha lateral e aplicar vazões pequenas e constantes. Eles são as peças
principais da irrigação por gotejamento.
Quanto à conexão dos gotejadores na linha lateral, tem-se gotejadores conectados “sobre”,
“na” e “no prolongamento” da linha lateral, conforme ilustrado na Figura 2.13.
As principais características desejáveis nos gotejadores são:
- Fornecer uma vazão relativamente baixa, constante e uniforme.
- Ter uma seção transversal de fluxo relativamente grande para evitar problemas de
entupimento.
- Ser barato, resistente e compacto.
A vazão dos gotejadores geralmente variam de 2 a 20 l/h. Normalmente, eles trabalham sob
uma pressão de serviço de 10 m.c.a., existindo tipos que trabalham sob pressões menores
(até 5 m.c.a) e outros que trabalham sob maiores pressões (até 30 m.c.a). Já existem tipos
que trabalham com vazão constante (gotejadores auto-compensantes) sobre uma faixa bem
ampla de pressão, característica esta bastante desejável, pois permite uma vazão constante
Como existe variação de pressão ao longo da linha lateral, para uniformizar a vazão pode-
se usar microtubos de diferentes comprimentos ao longo da linha lateral. Esta variação não
precisa ser individual, podendo ser em grupo de cinco ou dez microtubos.
Gotejador tipo orifício: são os tipos de gotejadores em que a perda de carga é devido ao
fluxo d’água, através de pequenos orifícios. Este tipo de gotejador requer, para pequenas
vazões, orifícios com diâmetros muito pequenos. Para aumentar a perda de carga, de modo
que permita maior área de fluxo, os fabricantes construíram vários modelos de gotejadores
do tipo orifício. Atualmente no mercado brasileiro existem vários modelos de gotejadores
deste tipo (Figura 2.16), cuja vazão nominal é de 4 l/h a uma pressão de serviço de 10
m.c.a, com conexão “sobre a linha”.
• tubogotejador de câmara dupla com controle por orifício : os orifícios são fabricados
com alta precisão da perfuração, obtida com um minúsculo furador ou a laser,
dependendo da vazão desejada no projeto, da tolerância à pressão e do diâmetro da
tubulação. O diâmetro dos orifícios é geralmente de 0,25 a 0,65 mm. Normalmente, os
orifícios de ambas câmaras, principal e secundária, tem o mesmo diâmetro, e são de 3 a
6 orifícios secundários para um principal (Figura 2.17).
• Tubogotejador de câmara dupla com capilar: utilizam pequenos tubos ou capilares para
controlar a vazão. Estes capilares são formados por sobreposição de duas extremidades
da membrana plástica. Os capilares são formados por orifícios de saída com diâmetro
de 0,10 a 0,20 mm e orifícios de entrada com 0,7 a 2,5 mm, e a distância entre capilares
na câmara principal dependendo da vazão desejada (Figura 2.1).
• Tubo gotejador de câmara simples com controle por labirinto: possui apenas uma seção
principal de fluxo, utilizando-se de um sistema de labirinto para reduzir a pressão
interna da tubulação até a pressão atmosférica ao ponto onde a água será aplicada
(Figura 2.19).
Tabela 2.2: Variação da pressão, vazão e intensidade de precipitação para os tipos de microaspersores.
Microaspersores rotativos Microaspersores estacionários
2
Pressão de serviço (kgf/cm ) 1-4 1-2,5
Vazão (l/h) 20-10.000 50-700
Precipitação de água (mm/h) 2-30 12-100
Nesse tipo de sistema de irrigação, a água também é aplicada com maior freqüência como
nos métodos anteriormente citados, para repor a água perdida por evapotranspiração. O
movimento de água no solo deve-se basicamente a dois tipos de forças: as forças capilares
ou matriciais, que são iguais em todas as direções e a força da gravidade, constante e
direcionada para baixo (Figura 2.27). O princípio da IGS é que, através de pequenos
volumes de água aplicados freqüentemente, as forças capilares, que são maiores quanto
menos saturado estiver o solo, seja maior que a força gravitacional, sendo que assim, menos
água é percolada.
Figura 2.27: Vista de uma lateral sub-superficial, evidenciando o formato do bulbo molhado.
Ultimamente, sistemas de irrigação por gotejamento com linhas laterais enterradas abaixo
da superfície do solo, têm tido boa aceitação. Problemas recentes com entupimento têm
sido reduzidos, e esses sistemas são agora utilizados principalmente em cultivo de frutas
pequenas e vegetais no nordeste dos Estados Unidos e em cana-de-açúcar no Hawai.
Figura 2.28: Exemplo de gotejadores com dispositivos antisucção, apropriados para uso em IGS.
Irrigação por subsuperfície e gotejamento podem proporcionar tanto incremento na
produção quanto a possibilidade de fácil automação. Comparando-se diversos métodos de
irrigação (gotejamento, subsuperfície, sulco e aspersão) observa-se que, quando a
quantidade de água aplicada é próxima do requerimento de uso consuntivo, a irrigação por
subsuperfície proporciona maior produção e melhor eficiência no uso da água. Observa-se
também, que menor quantidade de água é requerida pelo método de gotejamento e por
subsuperfície do que por sulco ou aspersão, pois menor quantidade de água é perdida por
evaporação e percolação profunda.
Linhas de distribuição com diâmetro maior, são preferíveis em sistemas com borbulhadores
para reduzir as perdas de pressão associadas a maiores vazões. Têm-se desenvolvido
trabalhos com sistemas de borbulhadores de baixa pressão construídos a partir de tubos de
drenagem de paredes delgadas para linhas laterais e tubos de polietileno de médio diâmetro
para borbulhadores.
Bibliografia consultada
DAVIS, S. & PUGH, W.J. Proceedings of the 2o International Drip Irrigatioin Congress.
San Diego. California, 1974.
KELLER, J. & BLIESNER, R.D. Sprinkler and trickle irrigation. Van Nostrand
Reinhold, New York, 1990.
http://wwwgreenindustry.com/pub/li/1197/1197sub.html
http://www nif.org/installsdi.html
http://hammock.ifas.ufl.edu/txt/fairs/
http://www.geoflow.com/agriculture.factors.htm
Catálogos consultados:
Poritex- Fita geotêxtil exudante- Glep Empreendimentos e Participações Ltda.
Netafim- Irrigation Equipment & Drip Systems.
Isratec Irrigação.
Plastro- Catálogo de gotejadores, microaspersores e miniaspersores.
Asbrasil- irrigação localizada
Irriga Drip- Tubos e conexões Tigre