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ECOLOGIA E A CRISE AMBIENTAL

Prof. Germano Schüür


1. A REPRESA DE ASSUÃ
A economia inteira do Egito depende da ecologia do Nilo. O rio Nilo, o segundo maior do mundo, entra
no Egito pelo sul, arrastando água, limo e nutrientes das montanhas da Etiópia, 1.500 milhas ao sul.
Corre em direção ao norte através do deserto de Saara, aonde o índice pluviométrico anual vai de 10
polegadas até aproximadamente zero e, em seguida, deságua no Mar Mediterrâneo por um rico delta
com cerca de 100 milhas de extensão.
O vale do rio Nilo, abrangendo cerca 1/3 da área total do Egito constitui, assim, o centro da agricultura e
da população. A maioria dos 33 milhões de habitantes da RAU ali reside. Até a construção da Represa
de Assuã, esta população dependia da produção agrícola de cerca de 6 milhões de acres da várzea do
rio, aumentada por uma crescente atividade pesqueira no Mediterrâneo e pela importação de alimentos.
Historicamente, o modelo agrícola do vale do rio Nilo depende estreitamente do ciclo anual do rio. O seu
curso é rigorosamente periódico. De agosto a novembro é o período das chuvas estacionais nas
montanhas da Etiópia e, conseqüentemente, o período do volume máximo do Nilo. No baixo vale do
Nilo é este um período de inundações de grande parte das terras planas das margens do rio. Embora
esta inundação possa ser ocasionalmente prejudicial, é, sobretudo benéfica. Supre de água o solo,
arrasta os sais, e deposita uma nova camada de limo orgânico que age como fertilizante. Com efeito,
esta inundação anual conservou o vale do Nilo como uma das áreas mais férteis do planeta, não
obstante o cultivo ininterrupto por milhares de anos.
Os moradores do vale do Nilo nunca ignoraram sua dependência do rio, bem como das enchentes
anuais que regavam grandes extensões de sua terra cultivada. As pressões duma população explosiva
levaram a tentativa de expandir e intensificar a agricultura ao longo do Nilo, principalmente através do
controle do rio por represas e pelo desvio das águas para a irrigação durante o ano. O Nilo, de fato, está
represado em vários lugares. Em Assuã, ao sul, a represa elevada de Assuã é a quarta duma série que
vem desde 1902.
A Represa de Assuã, planejada pelo Presidente Gamal Abdul Nasser e quase totalmente financiada por
recursos externos da Rússia, visava, de uma vez por todas, modernizar a agricultura e possibilitar a
industrialização da RAU. Destinava-se a acrescentar 1,3 milhões de acres à área de terra cultivada e
possibilitar a colheita, durante todo o ano, de grande parte do solo cultivado. Tratava-se também de
obter energia elétrica barata para acelerar a industrialização. Com estes resultados Nasser tinha a
intenção de fazer da Represa de Assuã um monumento vivo de sua chefia frente a RAU.
A Represa de Assuã, a maior do mundo no gênero, foi concluída em 1970, depois de 11 anos de
trabalho e ao custo de um bilhão de dólares. O Lago Nasser, formado pela represa, foi projetado para
310 milhas de comprimento e uma superfície de aproximadamente 2000 milhas quadradas. Destinava-
se o lago a acumular 163 milhões de metros cúbicos de água - suficientes para proporcionar uma
reserva de irrigação para um período de vários anos de baixo fluxo do rio (Sterling, 1971). Os 12
geradores da represa foram projetados para produzir anualmente 10 bilhões de quilowatts de energia
elétrica.
Tudo isso foi planejado para permitir a recuperação das margens da represa em dois anos, e realizar a
duplicação da economia nacional em 10 anos (Sterling, 1970). No estado atual e como tudo indica,
parece que a Represa de Assuã vai tornar-se mais um monumento da ignorância humana a respeito
dos efeitos ecológicos duma intervenção maciça sobre o ambiente natural. Sabe-se agora que a
represa perturbou seriamente os relacionamentos ecológicos básicos, não apenas no baixo Vale do
Nilo, mas também no Mar Mediterrâneo oriental. A natureza destes distúrbios demonstra claramente a
necessidade do conhecimento dos princípios básicos da ecologia por parte de todas as pessoas
responsáveis.
Os problemas específicos que ocorreram nesta área resultaram principalmente dos efeitos da represa
sobre a qualidade da água, sobre a qualidade dos nutrientes e sobre o fornecimento de limo abaixo da
represa. Um dos principais objetivos da represa foi assegurar abundante suprimento de água. A
armazenagem de água acima da represa começou em 1964; a data marcada para encher o lago era
1970. Em começos de 1971, porém, o lago não estava coberto nem pela metade e cálculos recentes
indicam que serão necessários entre 12 e 200 anos para completar o enchimento (Sterling, 1971).

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O lento índice de enchimento é atribuído a dois fatores. Em primeiro lugar, foi calculado que as perdas
anuais por infiltração subterrânea chegam à cerca de 15 bilhões de metros cúbicos, principalmente nos
arenitos altamente porosos que formam toda a margem ocidental do lago. No começo esperava-se que
o limo iria encher os poros destas rochas e compensar em pouco tempo as perdas. Agora, porém,
consta que a maior parte do depósito sedimentar ocorre no centro do lago, ao longo do primitivo leito do
rio, e que as perdas por infiltrações permanecem elevadas ao longo das margens ocidentais. Em
segundo lugar, as perdas por evaporação têm sido mais altas do que se previa. É claro que se contava
com elevadas perdas, já que a represa se localiza numa das regiões mais quentes e secas do mundo. A
perda anual de 15 bilhões de metros cúbicos, agora calculada, está cerca de 50% acima das
estimativas feitas durante o período de planejamento. Ao que parece, estes cálculos prévios erraram
por não tomarem em conta a influência da ação dos ventos sobre a evaporação na superfície do lago.
As perdas por infiltração e evaporação são aproximadamente iguais à descarga anual total do Nilo no
Mediterrâneo antes da construção da represa. Deste modo a represa está perdendo a mesma água que
se desejava preservar.
Contudo, os problemas nas áreas abaixo da represa ultrapassam de longe os aspectos de volume de
água. Depois que a represa foi concluída, cerca de 700.000 acres de solo foram transformados de
irrigados pelo rio em irrigados por canais, conquistando-se perto de 300.000 acres. Estas áreas podem
agora ser cultivadas durante todo o ano. Embora tal medida tenha aumentado sensivelmente a
produção agrícola, originaram-se alguns problemas sérios. Primeiro: nas áreas não ocorre mais
nenhuma deposição de limo durante o período das cheias. Quase todo o limo do Nilo é agora
depositado no fundo do Lago Nasser. Em conseqüência, aumentou a necessidade de fertilizantes
artificiais para os solos irrigados. Porém o uso maior de fertilizantes não iguala a fertilização feita pelo
limo, o que afeta, tanto a quantidade quanto a qualidade das colheitas.
Além disto, as águas das cheias, antes serviam para lavar o solo dos sais, sobretudo na área do delta,
já que eram os principais solos abertos as inundações. Nestes solos, o movimento capilar da água
sobre a superfície da terra serve para transportar e concentrar os sais provindos das camadas mais
profundas do solo. Esta ação de "limpeza" já não ocorre, e grandes áreas de terra irrigada, tanto no
delta como nas regiões superiores do vale, sofrem aumento da salinidade. Calculou-se que grande
parte deste solo vai tornar-se rapidamente imprestável se não forem tomadas medidas preventivas, no
valor de no mínimo um bilhão de dólares (Sterling, 1971).
Um terceiro problema, relacionado com o volume reduzido de limo nas águas abaixo da represa, é a
erosão das margens do rio, dos canais e do delta. A água desprovida de limo abaixo da represa,
aumenta sua correnteza e procura adquirir sua carga normal de limo. A erosão resultante ameaça minar
os fundamentos das três represas e das 550 pontes entre a represa de Assuã e o mar Mediterrâneo.
Um projeto conhecido como a "Cascata do Nilo" foi proposto para reduzir a erosão. Este projeto inclui a
construção de 10 novos diques para diminuir o fluxo do rio, e custará cerca de 250 milhões de dólares.
A linha costeira do delta, protegida antes pelo depósito de milhões de toneladas de limo, está agora
recuando - em algumas áreas à razão de várias jardas por ano (1 jarda = 914 mm).
Além disso tudo, a expansão da irrigação por canais aumentou a incidência de algumas doenças, entre
elas a esquistossomose, a malária e o tracoma, que são transmitidos por invertebrados aquáticos
(Wagner, 1971). A esquistossomose é uma verminose causada por vermes trematodos parasitas
(Schistoma haematobium e Schistosoma mansoni). Estes parasitas possuem ciclos vitais alternando
entre homem e diversas espécies de caramujos pulmonados de água doce. O parasita contamina o
homem no estágio de cercária. Cercárias são formas diminutas, livres, que são liberadas pelos
caramujos e que podem prender-se e penetrar na pele das pessoas que entram na água. No interior do
corpo humano, as cercárias penetram pelos vasos da bexiga, do reto e dos intestinos. Mostram especial
preferência pelo sistema porta que leva o sangue do intestino ao fígado. Ali, depois de alguns meses
tornam-se adultas, com mais de 2 cm de comprimento. Os ovos destes vermes adultos saem do corpo
humano através da urina e das fezes, e se alcançam água doce, nascem como miracídios minúsculos e
ciliados, capazes de infestar caramujos aquáticos.
A esquistossomose não é ordinariamente fatal ao homem, mas é uma doença debilitante. Nos casos
crônicos, o homem se torna fraco e magro, com o abdome cheio de líquido e inchado, indicando a
circulação deficiente do sistema venoso intestinal. A esquistossomose foi sempre uma doença comum
no Vale do Nilo. Antes da construção da Represa de Assuã, sua incidência era estimada em cerca de
47%. Com a construção de sistemas de irrigação permanente, porém, aumentou muito a incidência.
Ocorreu isso porque os caramujos de água doce se espalharam dentro das valas de irrigação
permanente. Outrora, estes caramujos eram exterminados pela secagem periódica das valetas e dos
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açudes. Lá onde se deu esta expansão, a incidência de esquistossomose passou de um índice quase
zero a aproximadamente 80% (Sterling, 1971). O aumento da esquistossomose acrescentou alguns
milhões de novos casos ao lastro de uma doença que já estava exigindo um gasto econômico da ordem
de aproximadamente 56 milhões de dólares/ano (Bernarde, 1970). Estas mesmas valetas de irrigação
também estão proporcionando áreas de criação para mosquitos da malária (Anopheles sp) e para uma
mosca que transmite o tracoma (Wagner, 1971).
A influência da Represa de Assuã não se restringe às fronteiras do Egito. Antes da construção da
represa, uma média de 30 bilhões de metros cúbicos de água de inundação, carregada de limo, e estes
eram anualmente carregados para o Mar Mediterrâneo. Esta descarga ocorria tão somente durante o
período das cheias, enquanto que, nos demais períodos, diques temporários de terra fechavam os dois
maiores desaguadouros do Nilo. Estes diques permitiam a irrigação de grandes extensões de terras do
delta. Quando a enchente começava a atingir o delta, abria-se, primeiro um, depois o outro dique (Oren,
1969).
A descarga do Nilo influenciava toda a ecologia do Mediterrâneo oriental. A salinidade foi claramente
afetada numa extensão de 600 milhas de águas continentais, desde o delta até o Líbano, em direção
leste. Reduções de salinidade de mais de 25% foram registradas na costa de Israel (Oren, 1969).
Formações de fitoplâncton e zooplâncton ocorriam no período de descarga do Nilo (Oren, 1969). Estas
formações, na maioria das vezes, eram certamente conseqüência do acréscimo de nutrientes vindos
pelo rio.
Que este efeito era também fator importante na ecologia das espécies de peixes, evidenciou-se por
declínio imediato da captura de pescado após o fechamento da Represa de Assuã. Em 1964, último ano
em que as águas das cheia atingiram o mar, a captura total de pescado por barcos do Egito era de 135
mil toneladas. Em 1967 desceu para 85 mil toneladas (Anon, 1970). Antes de 1965, só a captura de
sardinhas atingia uma média de 15 mil toneladas/ano. Em 1968 caiu para 500 toneladas e, em 1971,
informou-se que a captura das sardinhas desaparecera por completo (Mayhew, 1971). Ainda que esteja
prevista a pesca em águas doces do Lago Nasser, calcula-se o suprimento apenas de 12 mil toneladas,
quando em plena atividade (Wagner, 1971). A perda destas capturas no mar constitui um sério
problema para o povo do Egito - país em que o consumo per capita de proteínas atinge somente 10 Kg
por ano (Anon, 1970).
O prognóstico e a solução de tais problemas requer sem dúvida, um conhecimento dos relacionamentos
ecológicos em vários níveis de complexidade. Exige o conhecimento de como os fatores ambientais
atuam para controlar a distribuição de determinadas espécies particulares, tais como os vetores da
esquistossomose e da malária. Requer o conhecimento das interações dinâmicas dentro e entre as
populações de diferentes espécies, por exemplo, do homem, dos esquistossomas e dos caramujos
aquáticos. Exige um conhecimento da dinâmica de agrupamentos complexos, tais como de fitoplâncton,
zooplâncton e peixes do leste do Mediterrâneo. De mais a mais, requer uma apreciação dos padrões de
acúmulo e do ciclo dos nutrientes, sais e minerais do solo, e uma apreciação de como eles controlam a
fertilidade básica das terras e das águas do Vale do Nilo. A Represa de Assuã é apenas um exemplo do
grau em que a tecnologia humana está atualmente modificando o meio natural.

2. SIMPLIFICAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS PELA ELIMINAÇÃO OU INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES


NAS BIOCENOSES

2.1. SIMPLIFICAÇÃO POR INTRODUÇÃO DE NOVAS ESPÉCIES


A introdução de novas espécies, animais ou vegetais, pode ser feita de forma deliberada ou
involuntária.
O transporte deliberado tem sido feito tanto para satisfazer um prazer sentimental de pessoas que
migram de um país para outro, como para aumentar a produtividade agrícola-pastoril das regiões onde
se estabeleceram.
O transporte involuntário ocorre graças à aceleração e aumento do volume do tráfico que caracterizam
os tempos modernos. Assim, tornaram-se muito freqüentes estas interferências involuntárias como a
introdução de sementes e esporas ou mesmo de animais pequenos, como roedores e insetos (ovos e
larvas).

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Convém salientar que muitas vezes o transporte deliberado é responsável por paralelas introduções
involuntárias. Como exemplo citamos o transporte de vegetais que em cuja terra que os acompanha
encontram-se animais e vegetais microscópicos que podem afetar a equilíbrio pedológico, ou seja, na
fertilidade e estabilidade do solo, em função da presença destes novos microrganismos.
É importante lembrar que uma espécie introduzida num ecossistema estranho, pode comportar-se como
um competidor mais robusto e mais bem armado que seus homólogos autóctones que assim são
eliminados. Esta espécie introduzida também pode modificar a seu modo de vida, inclusive o seu
regime alimentar. Esta modificação pode resultar de variações genéticas, devido ao numero reduzido de
genitores introduzidos, o que provoca uma redistribuição do patrimônio hereditário.
Através de alguns clássicos exemplos, procuraremos demonstrar os efeitos das introduções de novas
espécies, deliberadas ou involuntárias.

2.1.1 - O Eucalipto e a Caturrita (Myiopsitta monachus)


O eucalipto, originaria do continente australiano, foi introduzido no Brasil entre os anos de 1855 e 1870.
Foi Edmundo Navarro de Andrade o grande divulgador do eucalipto entre nós. Ele reuniu aqui, a maior
soma de espécies, não havendo igual em nenhum outro país.
Entre as vantagens oferecidas pelo cultivo desta essência exótica podem-se citar as qualidades de
permitir regenerar as terras estragadas pelo desflorestamento e por práticas de cultivo perniciosas;
oferecer em curto prazo, uma quantidade apreciável de madeira e poupar matas naturais que seriam
sacrificadas para fornecer lenha e matéria prima para a indústria de papel e celulose. Para reforçar esta
última qualidade, é bom salientar que grande parte do desflorestamento é feito para suprir a
necessidade humana de papel. Para exemplificar, a tiragem dominical do “New York Times” consome o
equivalente ao crescimento ocorrido durante um ano numa área de 70 ha de floresta tropical.
Entre as desvantagens de seu cultivo citamos a substituição das espécies autóctones por extensas
plantações de eucalipto que afastam ou eliminam muitos componentes da fauna local. Condenam-se
também algumas espécies de eucaliptos pelo seu alto consumo de água. Deve-se evitar o cultivo
destas espécies com outras plantas que necessitam muita água como o cedro e a cana-de-açúcar.
Liberada para caça pelo extinto IBDF, a caturrita tem-se tornado uma praga em virtude da inclusão do
eucalipto em nosso ecossistema. Esta ave da família dos psitacídeos normalmente habitava os capões
de nossos campos e alimentava-se de sementes, frutos e outras partes de vegetais nativos.
O aumento da produção de milho a o cultivo de eucalipto nas regiões da campanha, encosta do sudeste
e depressão central do Rio Grande do Sul têm propiciado locais seguros para estas aves nidificarem.
Construindo seus ninhos em galhos altos do eucalipto, os ovos, filhotes e adultos ficam muito bem
protegidos contra a ataque dos inimigos naturais.

2.1.2 - Eichhornia crassipes, um aguapé brasileiro conquista o mundo


O aguapé, planta originaria da América Tropical muito comum no Brasil foi introduzida em várias regiões
quentes do mundo para ornamentar lagos públicos e jardins particulares. Infelizmente escapou desse
meio limitado, ocupando a adaptando-se à natureza selvagem.
Sua primeira aparição, fora de seu habitat normal, deu-se no sul dos Estados Unidos em 1884.
Atualmente é conhecida neste país com o nome de "Erva-dos-milhões-de-dólares" devido aos altos
custos dispensados para a sua erradicação. É encontrada de norte a sul daquele país, trazendo,
inclusive, problemas para a navegação no Mississipi.
Fora da América do Sul e dos Estados Unidos, hoje é encontrada na Indonésia, nas Filipinas, nas Ilhas
do Havaí, na Índia, no Ceilão e na África, sendo conhecida no mundo como o "Flagelo Verde".
A sua principal forma de reprodução é por estolhos, podendo uma planta produzir dezenas de novos
indivíduos em poucas semanas. Calcula-se que dez plantas-mãe podem produzir 650 mil novas plantas
em 8 meses.
Recentemente está se conseguindo uma erradicação relativa em alguns lugares dos mencionados,
através do uso de herbicidas caros como o 2,4 diclorofenoxiacético.

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E aqui no Brasil porque não é praga? Pelo fato de existirem no seu habitat natural espécies animais e
vegetais que através de doenças ou predatismo limitam seu crescimento.

2.1.3 - Anopheles gambiae, um mosquito africano já expulso do país


A introdução de insetos estranhos em uma comunidade biótica pode trazer profundas repercussões no
plano médico. O melhor exemplo, sem dúvida é o da malária no nordeste brasileiro.
No fim de 1929 um barco francês proveniente de Dakar (Senegal) chegava a Natal (RN) trazendo como
passageiros clandestinos alguns mosquitos da espécie Anopheles gambiae um dos principais vetores
da Malária na África que, além de não ocorrer no Brasil, goza do triste privilégio de estar intimamente
adaptado ao homem, de preferência no interior das habitações humanas.
As espécies nativas de Anófeles (A. arqyrotarsis, A.albimanus e A. tarsísmaculatus) não acorrem
normalmente dentro das habitações e por este motivo a Malária tem sido endêmica no nosso país,
Com a chegada do Anopheles gambiae, a malária passou para um caráter epidêmico e já no fim de abril
de 1930 esta doença transformou-se num problema sério: 10 dos 12 mil habitantes de Alecrim, um
subúrbio operário de Natal, haviam sido afetados. Em menos de dez anos ocorreram centenas de
milhares de casos e calcula-se que mais de 20 mil habitantes do nordeste morreram com a doença.
Com a ajuda da fundação Rockefeller o governo brasileiro iniciou uma campanha de bloqueio a
progressão do mosquito e a sua total eliminação foi conseguida em novembro de 1940. Toda a América
do Sul ficara protegida da ação patogênica do Anopheles gambiae.

2.1.4 - Austrália, ex-paraíso dos coelhos (Oryctolagus cunniculus)


Originários da Espanha e Ilhas do Mediterrâneo Ocidental, os coelhos foram levados da Inglaterra para
a Austrália em 1859 em número de 24 indivíduos. Devido a falta de predadores e a abundância de
alimentos, em pouco tempo estes conseguiram colonizar 2/3 da Austrália, tornando-se o maior flagelo
desse continente, tanto no plano científico como no econômico.
Para se entender o potencial de pululação do coelho devemos lembrar que uma fêmea pode gerar, em
média, oito ninhadas de seis filhotes por ano. Entra 1945 e 1949 foram exportados da Austrália 428
milhões de peles de coelhos.
Por outro lado, os mamíferos naturais da Austrália são, na sua maioria, marsupiais incapazes de
competir com rival tão bem armado. Estes, principalmente os herbívoros, sofreram uma queda na sua
população em função desta luta desigual.
Muito se fez para tentar erradicar o coelho da Austrália. Como exemplo pitoresco citamos a construção
de barreiras sob forma de grades que procurava impedir a progressão do coelho para o norte do
continente que no total somava 11.000 Km de extensão.
Da França levaram a "Raposa-da-Europa" predador natural do coelho no Velho Mundo. Infelizmente, na
Austrália, este carnívoro mudou de dieta preferindo marsupiais, até então desconhecidos, muito mais
dóceis. Em resumo, mais um desequilíbrio foi criado.
Entre muitas maneiras de contenção e eliminação de coelhos testados, realizaram-se batidas
organizadas de caçadores, uso de fumaça e gases tóxicos e, sobretudo, envenenamento com iscas
misturadas com arsênico e estriquinina que, aliás, contribuíram para a destruição de muitos marsupiais
atraídos por estas iscas.
Em 1950 surgiu a idéia de espalhar uma doença virótica que afetava os coelhos domésticos do Brasil: a
mixomatose (Vírus sanarelli), devida a um vírus especifica, sem perigo para o homem, que aqui existe
em estado endêmico nos coelhos do gênero Sylvilagus os quais, naturalmente, estão imunizados. Esta
virose assumiu enormes proporções, calculando-se que matou 4/5 dos coelhos da Austrália. O restante,
hoje, está sob controle.
Certas regiões, outrora virtualmente desérticas, cobriram-se de vegetação e, nos anos de 1952 e 1953,
o aumento da produção agrícola foi avaliado em 50 milhões de libras.

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2.2. SIMPLIFICAÇÃO POR ELIMINAÇÃO DE ESPÉCIES VEGETAIS NATIVAS
Aqui, nos deteremos mais nos aspectos nocivos resultantes do desflorestamento e conseqüente
eliminação de espécies vegetais autóctones.
Para entendermos como este desflorestamento interfere no equilíbrio dos ecossistemas, devemos
lembrar que esta atividade perniciosa elimina habitats e destrói nichos ecológicos de diversos
predadores de insetos fitófagos (estes predadores são principalmente morcegos, pássaros, anfíbios,
répteis e insetos entomófagos), cuja proliferação excessiva se volta contra a agricultura humana.
Numa floresta nativa, a variedade de espécies vegetais proporciona habitat para inúmeros tipos de
insetos fitófagos. Entretanto a densidade numérica extremamente baixa de cada espécie vegetal e a
sua esparsa disseminação, ou seja, a distância que separa um hospedeiro de outro, protege-os do
ataque de pragas dificultando a devastação trazida por uma eventual proliferação de insetos. Além
disso, a presença dos predadores, já citados, ajuda na manutenção deste equilíbrio.
A falta desta situação, produzida por um desflorestamento crescente para dar lugar a monoculturas de
plantas cultivadas, tem produzido a proliferação anormal de cartas espécies de insetos nocivos, que
devido ao seu ciclo vital curto, abundância de alimento disponível e ausência de predadores
específicos, crescem espantosamente num curto lapso de tempo.
Convém salientar que, além de muitas outras desvantagens da monocultura, as plantas cultivadas vêm
sendo selecionadas pelo homem através dos séculos, com o objetivo de aumentar sua palatabilidade e
produtividade. O preço pago pela hibridação e seleção dessas plantas tem provocado um
enfraquecimento de suas defesas químicas e mecânicas contra o ataque de insetos e organismos
patogênicos. As plantas nativas são muito manos vulneráveis às doenças a aos insetos porque dispõem
de defesas químicas contra esses inimigos (o quinino e a cortisona, por exemplo). A energia e os
recursos gastos pelas plantas silvestres na produção desses agentes químicos de defesa são
canalizados, no caso das plantas cultivadas, para as reservas alimentares. Esta substituição constitui
um arranjo ideal do ponto de vista dos insetos. Eles têm à sua disposição numa área inteiramente livre
de inimigos, uma abundante e uniforme fonte de alimentos, de acesso fácil e de ótima palatabilidade.
E como responde o homem? Com eficientes e caros pesticidas sintéticos, principalmente com os
organoclorados, como o DDT, que são ótimos inseticidas e excelentes homicidas.

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