Professional Documents
Culture Documents
Por isto são maus ouvintes os de entendimentos agudos. Mas os de vontades endurecidas ainda são
piores, porque um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios e vencer-se uma agudeza com
outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais,
porque quando as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. Oh! Deus nos livre
de vontades endurecidas, que ainda são piores que as pedras.
(Sermão da Sexagésima, de Pe. Antônio Vieira.)
(UFSM) Leia o seguinte fragmento do “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de
Holanda”, do Padre Antonio Vieira, para responder às questões 128 e 129:
“Enfim, Senhor, despojados os templos e derrubados os altares, acabar-se-á no Brasil a cristandade
católica; acabar-se-á o culto divino, nascerá erva nas igrejas, como nos campos; não haverá quem entre
nelas. Passará um dia de Natal, e não haverá memória de vosso nascimento; passará a Quaresma e a
Semana Santa, e não se celebrarão os mistérios de vossa Paixão. Chorarão as pedras das ruas como diz
Jeremias que chorava as de Jerusalém destruída: chorarão as ruas de Sião, porque não há quem venha à
solenidade. Ver-se-ão ermas e solitárias, e que as não pisa a devoção dos fiéis, como costumava em
semelhantes dias.”
O texto relaciona-se à invasão holandesa no Brasil, em 1640; nele, o orador:
a) considera os holandeses hereges e violentos com aqueles que não fossem seus compatriotas;
b) dirige-se a Deus e prevê o esvaziamento da religião católica, caso o Brasil fosse entregue aos
holandeses;
c) pede a Deus que evite a invasão de ervas nos templos, a fim de preservar o patrimônio da Igreja;
d) é um profeta e previu o que realmente aconteceria com a religião católica no Brasil, quase três séculos
depois;
e) dirige-se ao rei de Portugal, a fim de salvar o país da invasão holandesa, que já começava a destruir as
igrejas da cidade.
13. (Ufrgs 2014) Leia o trecho do Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda,
do Padre Antônio Vieira, e o soneto de Gregório de Matos Guerra a seguir.
Pede razão Jó a Deus, e tem muita razão de a pedir – responde por ele o mesmo santo que o arguiu –
porque se é condição de Deus usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória que adquire em
perdoar pecados, que razão tem, ou pode dar bastante, de os não perdoar? O mesmo Jó tinha já declarado
a força deste seu argumento nas palavras antecedentes, com energia para Deus muito forte: Peccavi, quid
faciam tibi? Como se dissera: Se eu fiz, Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não
fazer como Deus em me perdoar? Ainda disse e quis dizer mais: Peccavi, quid faciam tibi? Pequei, que mais
vos posso fazer? E que fizestes vós, Jó, a Deus em pecar? Não lhe fiz pouco, porque lhe dei ocasião a me
perdoar, e, perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a graça que me fizer, e
ele dever-me-á a mim, como a ocasião, a glória que alcançar.
(ENEM)
A preocupação com o exercício da pregação, com a sua clareza para levar o público à conversão, é o tema
do “Sermão da Sexagésima”, de Padre Antônio Vieira. Para elucidar como deve ser a elaboração de uma
prédica, o sermonista, em determinado momento, faz a seguinte consideração:
(UEM/2013) Assinale o que for correto sobre os sermões “Da sexagésima”, “Pelo bom sucesso das armas
de Portugal contra as de Holanda” e “Do bom ladrão”, bem como sobre seu autor, o Padre Antônio Vieira.
01) O Padre Vieira, por meio de seus sermões, representou um dos aspectos mais emblemáticos do
Barroco na literatura: a tentativa, a partir da doutrina católica, de colocar o homem no centro de todas as
coisas, defendendo o antropocentrismo em consonância com o pensamento do século XIV.
02) No “Sermão do bom ladrão”, no qual se encontra a célebre passagem do encontro de Alexandre
Magno
com um pirata, Vieira leva a cabo uma contundente crítica àqueles que tiram proveito de uma posição de
influência para enriquecer de maneira desonesta, como no caso do roubo.
04) O “Sermão da sexagésima”, cujo título faz referência à sexagésima capela fundada no Brasil (local onde
o sermão foi pregado pela primeira vez), constitui um dos raros momentos de euforia na produção de
Vieira, uma vez que destaca o caráter promissor da Igreja na colônia, tendo em vista sua disseminação no
território brasileiro.
08) No “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”, obra da maturidade de
Vieira, percebe-se, pelo tom ameno e conciliatório que se traduz no tom harmonioso do sermão (no qual
qualquer impulso belicoso surge atenuado por uma defesa do diálogo entre as nações), uma antecipação
das tendências do Arcadismo.
16) A meticulosa construção dos sermões de Vieira, com um raciocínio cuidadosamente desenvolvido por
meio de figuras de linguagem como metáforas, analogias ou hipérboles, capaz de seduzir por meio
de sua elaboração intelectual e de seu conteúdo, representa uma das principais correntes do Barroco: o
conceptismo.
A literatura brasileira nasceu sob o signo do Barroco, caracterizado nas letras pelo virtuosismo de ideias e
pelo rebuscamento formal. Essa arte exige raciocínio agudo, como se nota na retórica do padre Antônio
Vieira, portanto um "cérebro sarado".
Diz Vieira no seu ‘‘Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda’’:
[...] "Se eu [Jó] fiz, Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não fazer, como Deus, em
me perdoar?"
[...] E que fizestes vós, Jó, a Deus, em pecar? - Não lhe fiz pouco; porque lhe dei ocasião a me perdoar, e
perdoandome, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a graça que me fizer; e ele dever-
me-á a mim, como a ocasião, a glória que alcançar.
E se é assim, Senhor, [...] que em perdoar pecados se aumenta a vossa glória, que é o fim de todas as
vossas ações,
não digais que nos não perdoais, porque são muitos e grandes os nossos pecados, que antes porque são
muitos e grandes, deveis dar essa grande glória à grandeza e multidão de vossa misericórdia.