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Responsabilidade Civil: 1º Bimestre.

Dever Jurídico Originário e Sucessivo: A violação de um dever jurídico configura o


ilícito, que, quase sempre, acarreta dano para outrem, configurando um novo dever
jurídico, qual seja, o dever de reparar o dano. Há, assim, um dever jurídico originário,
cuja violação gera um dever jurídico sucessivo, passível de reparação.

Em seu sentido etimológico, responsabilidade exprime a ideia de obrigação, encargo,


contraprestação. > Essência: Ligado a noção de desvio de conduta, ou seja, ela vai
encontrar as contrárias ao direito e danosos a outrem.

CONCEITO: É um dever jurídico sucessivo que seja para recompor o dano decorrente
da violação de um dever jurídico originário. Sérgio Cavaliei Filho. (Majoritário)

Minoritária: A responsabilização sem uma obrigação originária. Ex: Fiador, não foi ele
quem deu origem a relação.

1.a) Obrigação: É sempre um dever jurídico originário. X 1.b)Reponsabilidade: é um


dever jurídico sucessivo consequente a violação do primeiro. “Exemplo: Se alguém se
compromete a prestar serviços profissionais a outrem, assume uma obrigação, um
dever jurídico originário. Se não cumprir a obrigação, vedará o dever jurídico originário,
surgindo daí a responsabilidade, o dever de compor o prejuízo causado pelo não
cumprimento”.

FATO JURÍDICO: somente o fato que tem repercussão jurídica. Esse fato é aquele
que se ajusta a hipótese prevista na lei (fato abstrato). Quando, no mundo real, ocorre
um fato que se ajusta a hipótese prevista na norma, a norma incide sobre esse fato,
atribuindo-lhe efeitos jurídicos. Fato jurídico,, é o acontecimento capaz de produzir
consequéncias jurídicas, como o nascimento, a extincáo e a alteração de um direito
subjetivo.
Podem ser:

a) naturais, quando decorrem de acontecimentos da própria Natureza, como o


nascimento, a morte, a tempestade etc.
b) voluntários, quando tém origem em condutas humanas capazes de produzir
efeitos jurídicos. Os fatos jurídicos voluntários, por sua vez, dividem-se em lícitos e
ilícitos. Lícito é o fato praticado em harmonia com a lei; ilícito, a contrario sensu, é o
fato que afronta o Direito, o fato violador do dever imposto pela norma jurídica.

ATO ILÍCITO: Fato gerador da responsabilidade civil.


a) Em sentido estrito, o ato ilícito é o conjunto de pressupostos da
responsabilidade - ou, se preferirmos, da obrigação de indenizar.
b) Em sentido amplo, o ato ilícito indica apenas a ilicitude do ato, a conduta
humana antijurídica, contrária ao Direito, sem qualquer referencia ao elemento
subjetivo ou psicológico. Tal como o ato lícito, é também urna manifestação de
vontade, urna conduta humana voluntária, só que contrária a ordem jurídica.

FUNÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL:


1. Reparação: Buscar a reparação do dano – ressarcitória/compensatória –
restabelecer o equilíbrio, o que procura fazer recolocando o prejudicado no
“status quo anti” por intermédio da reparação.
2. Punitiva: - sancionatória – retribuir o dano, proporcionalmente. Vítima suporte
os prejuízos causados. Colocar a vítima na situação anterior a lesão. PENA
PROPORCIONAL AO PREJUÍZO CAUSADO.
3. Preventiva: - dissuasória – possui caráter socioeducativa, a fim de
conscientizar outras empresas e etc, para que não repitam outros atos.
Desmotivando condutas prejudiciais futuras.
OBS: A função social da responsabilidade: Justiça Social, gestão dos riscos.
Visa restituição integral do “status quo” que o ofendido detinha antes de ser
lesado. Interesse de restabelecer o equilíbrio violado pelo dano.

ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADES:
a) Responsabilidade Subjetiva e Objetiva:
I. Subjetiva: O Código Civil de 2002, em seu art. 186 manteve a culpa como
principal pressuposto da responsabilidade civil subjetiva. A palavra culpa está
sendo aqui empregada em sentido amplo, lato sensu, para indicar não só a
culpa stricto sensu, como também o dolo. a vítima só obterá a reparação do
dano se provar a culpa do agente, o que nem sempre é possível na sociedade
moderna. ATO ILÍCITO + DANO + NEXO + CULPA
II. Objetiva: sem culpa, baseada na chamada teoria do risco, que acabou sendo
também adotada pela lei brasileira em certos casos, e agora amplamente pelo
Código Civil no parágrafo único do seu art. 927, art. 931 e outros.
ATO ILÍCITO + DANO + NEXO. Teoria do risco = não importa a conduta da
pessoa que assumiu a obrigação. Se causou dano, REPARA.

b) Contratual e Extracontratual :
I. Contratual: Se preexiste um vínculo obrigacional, e o dever de indenizar
é consequência do inadimplemento, temos a responsabilidade
contratual, também chamada de ilícito contratual ou relativo. OBS:Culpa
de regra é presumida, invertendo o ônus e o devedor provar que não
agiu com culpa. A vítima só prova nas que não foi cumprida. Então,
haverá responsabilidade contratual quando o dever jurídico violado
estiver previsto no contrato. Dano no contrato.
II. Extracontratual: Surge em virtude de lesão a direito subjetivo, sem que
entre ofensor e vítima preexista qualquer relação jurídica que ao
possibilite. Também chamada de ilícito aquiliana ou absoluta. Violação
direta da norma legal. OBS: Aqui a culpa deverá ser provada pela
vítima. Ex: acidente de trânsito.

5.PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA:


a) conduta culposa do agente, o que fica patente pela expressão "aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligencia ou imperícia";
b) nexo causal, que vem expresso no verbo causar; e
c) dano, revelado nas express6es ''violar direito ou causar dano a outrem".
Esses três elementos, apresentados pela doutrina francesa como pressupostos da
responsabilidade civil subjetiva, podem ser claramente identificados no art. 186 do
Código Civil.

5.1 Exclusão da Ilicitude: Nem todo ato danoso é ilícito, assim como nem todo ato
ilícito é danoso. Por isso a obrigação de indenizar só ocorre quando alguém pratica ato
ilícito e causa dano a outrem. O art. 927 do Código Civil é expresso nesse sentido:
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica abrigado a
repará-lo." E o art. 186, por sua vez, fala em violar direito e causar dano. O art. 188 do
Código Civil prevê hipóteses em que a conduta do agente, embora cause dano a
outrem, não viola dever jurídico não constituem ato ilícito os praticados no exercício
regular de um direito, em legítima defesa ou em estado de necessidade.

a) Exercício regular de um direito: Mas, se o direito tem que ser exercido


regularmente, pode se transformar em ato ilícito se e quando seu titular
exceder (manifestamente) os limites estabelecidos pela lei. Tem-se, então, o
abuso do direito, ato ilícito conceituado no art. 187 do Código Civil.

b) Legítima Defesa: O agente, usando moderadamente dos meios necessários,


repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Ninguém
pode fazer justiça pelas próprias mãos, essa é a regra básica. Em certos
casos, entretanto, não é possível esperar pela justiça estatal. O agente se vê
em face de agressão injusta, atual ou iminente, de sorte que, se não reagir,
sofrerá dano injusto, quando, então, a legítima defesa faz lícito o ato, excluindo
a obrigação de indenizar o ofendido pelo que vier a sofrer em virtude da
repulsa a sua agressão.

c) Estado de Necessidade: ocorre quando alguém deteriora ou destrói coisa


alheia, ou causa lesão em pessoa, a fim de remover perigo iminente.

RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL SUBJETIVA: Pressuposto Conduta


Culpável.

A Conduta: A culpa adquire relevância jurídica quando integra a conduta humana. É


a conduta humana culposa, vale dizer, com as características da culpa, que causa
dano a outrem, ensejando o dever de repara-lo. O art. 186 do Código Civil refere-se a
esse elemento ao falar em "ação ou omissão". Preferimos, todavia, o termo "conduta",
porque abrange as duas formas de exteriorização da atividade humana. Conduta
voluntária é sinónimo de conduta dominável pela vontade, mas não necessariamente
por ela dominada ou controlada, o que importa dizer que nem sempre o resultado será
querido. Para haver vontade basta que exista um mínimo de participação subjetiva,
urna manifestação do querer suficiente para afastar um resultado puramente
mecânico. Haverá vontade desde que os atos exteriores, positivos ou negativos, sejam
oriundos de um querer íntimo livre. Só não constituem conduta, portanto, os atos em
que não intervém a menor parcela de vontade, os chamados atas reflexos, como nos
casos de sonambulismo, hipnose e outros estados de inconsciência.

a) Conceito: Entende-se, pois, por conduta o comportamento humano voluntário


que se exterioriza através de urna ação ou omissão, produzindo
consequências jurídicas.
b) Ação: A ação é a forma mais comum de exteriorização da conduta, porque,
fora do domínio contratual, as pessoas estão abrigadas a abster-se da prática
de atos que possam lesar o seu semelhante, de sorte que a violação desse
dever geral de abstenção se obtém através de um fazer. Consiste, pois, a ação
em um movimento corpóreo comissivo, um comportamento positivo, como a
destruição de urna coisa alheia, a morte ou lesão corporal causada em alguém,
e assim por diante.
c) Omissão: tem-se entendido que a omissão adquire relevância jurídica, e toma
o omitente responsável, quando este tem dever jurídico de agir, de praticar um
ato para impedir o resultado, dever, esse, que pode advir da leí, do negócio
jurídico ou de uma conduta anterior do próprio omitente, criando o risco da
ocorrência do resultado, devendo, por isso, agir para impedi-lo.
d) A imputabilidade: imputabilidade é pressuposto não só da culpa em sentido
lato, mas também da própria responsabilidade. Por isso se diz que não há
como responsabilizar quem quer que seja pela prática de um ato danoso se, no
momento em que o pratica, não tem capacidade de entender o caráter
reprovável de sua conduta e de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
e) Menoridade: Os menores de 16 anos não são responsáveis porque são
incapazes, nos termos do art. 3l2, I, do Código Civil. Falta-lhes maturidade,
desenvolvimento mental suficiente para autodeterminar-se. Por eles
respondemos país (Código Civil, art. 932, I), se estiverem sob sua autoridade e
em sua companhia.

A culpa lato sensu: Pode-se conceituar a culpa como conduta voluntária contrária ao
dever de cuidado imposto pelo Direito, coma produção de um evento danoso
involuntário, porém previsto ou previsível.

Dolo e culpa – Distinção Em suma, no dolo o agente quer a ação e o resultado, ao


passo que na culpa ele só quer a ação, vindo a atingir o resultado por desvio acidental
de conduta decorrente de falta de cuidado.

Elementos da conduta culposa:


a) conduta voluntária com resultado involuntário; Na culpa não há intenção, mas
há vontade; não há conduta intencional, mas tencional.
b) previsão ou previsibilidade; Embora involuntário, o resultado poderá ser
previsto pelo agente. Previsto é o resultado que foi representado, mentalmente
antevisto. Não sendo previsto, o resultado terá que, pelo menos, ser previsível.
Este é o limite mínimo da culpa - a previsibilidade, entendendo-se como tal a
possibilidade de previsão. Embora não previsto, não antevisto, não
representado mentalmente, o resultado poderia ter sido previsto e,
consequentemente, evitado. Há dois critérios de aferição da previsibilidade: o
objetivo e o subjetivo. O primeiro tem em vista o homem médio, diligente e
cauteloso. Previsível é um resultado quando a previsão do seu advento pode
ser exigida do homem comum normal, do indivíduo de atenção e diligencia
ordinárias. Pelo critério subjetivo a previsibilidade deve ser aferida tendo em
vista as condições pessoais do sujeito, como idade, sexo, grau de cultura etc.
Não havendo previsibilidade, estaremos fora dos limites da culpa, já no terreno
do caso fortuito ou da forca maior.
c) falta de cuidado, cautela, diligencia ou atenção: Neste ponto, cabe urna
indagação: se o resultado foi previsto, por que o agente não o evitou? Se era
pelo menos previsível, por que o agente não o previu e, consequentemente, o
evitou? A resposta é singela: porque faltou com a cautela devida; violou aquele
dever de cuidado que é a própria essência da culpa. Por isso, vamos sempre
encontrar a falta de cautela, atenção, diligencia ou cuidado como razão ou
substrato final da culpa. Sem isso não se pode imputar o fato ao agente a título
de culpa, sob pena de se consagrar responsabilidade objetiva.

Espécies de culpa: culpa será grave se o agente atuar com grosseira falta de
cautela, com, descuido injustificável ao homem normal, impróprio ao comum dos
homens. E a culpa com previsão do resultado, também chamada culpa consciente,
que se avizinha do dolo eventual do Direito Penal. Em ambos há previsão ou
representação do resultado, só que no dolo eventual o agente assume o risco de
produzi-lo, enquanto na culpa consciente ele acredita sinceramente que o evento não
ocorrerá. Haverá culpa leve se a falta puder ser evitada com atenção ordinária, como
cuidado próprio do homem comum. Já, a culpa levíssima caracteriza-se pela falta de
atenção extraordinária, pela ausência de habilidade especial ou conhecimento
singular. Em suma, a gravidade da culpa está na maior ou menor previsibilidade do
resultado e na maior ou menor falta de cuidado objetivo por parte do causador do
dano.

Culpa concorrente: Fala-se em culpa concorrente quando, paralelamente a conduta


do agente causador do dano, há também conduta culposa da vítima, de modo que o
evento danoso decorre do comportamento culposo de ambos. Seu art. 945 esposou
esse entendimento, ao dispor: "Se a vítima tiver concorrido culposamente para o
evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua
culpa em confronto com a do autor do dano."

RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL SUBJETIVA : NEXO CAUSAL


Conceito: Em síntese, é necessário que o ato ilícito seja a causa do dano, que o
prejuízo sofrido pela vítima seja resultado desse ato, sem o que a responsabilidade
não correrá a cargo do autor material do fato. Daí a relevância do chamado nexo
causal. Cuida-se, então, de saber quando um determinado resultado é imputável ao
agente; que relação deve existir entre o dano e o fato para que este, sob a ótica do
Direito, possa ser considerado causa daquele.
Teorias:
I. Teoria da Equivalência dos Antecedentes: essa teoria não faz distinção entre
causa (aquilo de que urna coisa depende quanto à existência) e condição (o
que permite a causa produzir seus efeitos positivos ou negativos). Se várias
condições concorrem para o mesmo resultado, todas têm o mesmo valor, a
mesma relevância, todas se equivalem. Não se indaga se urna delas foi mais
ou menos eficaz, mais ou menos adequada. Causa é a ação ou omissão sem a
qual o resultado não teria ocorrido, sem distinção da maior ou menor relevância
que cada urna teve.
II. Teoria da Causalidade Adequada: Causa, para ela, é o antecedente não só
necessário, mas, também, adequado a produção do resultado. Logo, se várias
condições concorreram para determinado resultado, nem todas serão causas,
mas somente aquela que for a mais adequada a produção do evento. ”homem
médio”(Teoria acolhida no CC). De fato, o que esta ciência demonstrou,
irrefutavelmente, é que, para aferir a responsabilidade civil pelo “acidente”, o
juiz deve retroceder até o momento da ação ou da omissão, a fim de
estabelecer se esta era ou não idônea para produzir o dano. A pergunta que,
então, se faz é a seguinte: a ação ou omissão do presumivelmente responsável
era por si mesma, capaz de normalmente causar o dano?
Art. 403 - "Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só
incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato."
Com base nesse dispositivo, boa parte da doutrina e também da jurisprudência
sustenta que a teoria da causalidade direta ou imediata acabou positivada, teoria essa
que, em sua formulação mais simples, considera como causa jurídica apenas o evento
que se vincula diretamente ao dano, sem a interferência de outra condição sucessiva.
Embora o art. 403 fale em inexecudio, o que é próprio da responsabilidade contratual,
está consolidado o entendimento de que também se aplica a responsabilidade
extracontratual. No próprio âmbito da teoria da causa direta e imediata desenvolveu-
-se a subteoria chamada da causalidade necessária, que, por sua vez, sustenta que
o dano deve ser consequência necessária da inexecução da obrigação. A expressão
legal "efeito direto e imediato" indica liame de necessariedade e não de simples
proximidade;
Aplicação em casos concretos : Em ação objetivando indenização pela queda de um
muro, instaurou-se nos volumosos autos longa e acirrada discussão em tomo do nexo
causal e da culpa, envolvendo vários réus. A prova pericial apontava como causas
determinantes da queda do muro as seguintes condições:
a) construção de outro muro nos fundos do terreno de 'W', sem abertura para dar
passagem as águas pluviais;
b) falta, na ocasião, de urna galeria de águas pluviais na faixa de terreno destinado a
tal fim, de responsabilidade da Administração Pública;
e) aterro executado num terreno vizinho, de propriedade de "B";
d) má qualidade do muro que ruiu. Entendemos que foi o muro construído por 'W', nos
fundos do seu terreno, sem abertura para dar passagem de águas pluviais, pelas
seguintes razões,
Em tema de nexo causal é preciso argumentar com a realidade existente no momento
do evento, e não com hipóteses, isto é, com aquilo que teria acorrido se houvesse isso
ou aquilo. E a realidade é esta: antes do muro erigido pela segunda ré havia, no local,
escoamento natural de águas, através da faixa de servidão non aedificandi; essa
passagem natural foi bloqueada pelo referido muro, constituindo- se na causa direta
ou adequada do evento, já que, com as chuvas, ocorreu um represamento das águas,
pressão sobre o muro da autora e, consequentemente, a sua queda. Importa isso,
dizer que a segunda ré jamais poderia construir o seu muro sem deixar passagem
para as águas pluviais ou sem que primeiro fosse construída a galeria para tal. Se
essa construção não era de sua responsabilidade, competia- lhe aguardar ou, se isso
a prejudicasse de alguma forma, compelir a fazê-la quem tinha por obrigação. Foi ela
que, por si só, isoladamente, deu causa ao resultado. “Assim não procedendo, criou
um anteparo ou obstáculo ao curso das águas, que, não tendo por onde escoar,
afluíram para o muro da autora, fazendo pressão sobre ele, que acabou por não
resistir e desabou em grande parte. Dúvida não há, assim, de que a causa adequada
para a queda do muro da autora foi a construção, sem vazadouro para as águas, do
muro da ré. Tivesse essa demandada deixado abertura no muro, por onde as águas
pudessem passar, não haveria o afluxo para o lote da autora, apesar do aterro do lote
14."
CONCAUSAS: Em outras palavras, concausas são circunstâncias que concorrem
para o agravamento do dano, mas que não tema virtude de excluir o nexo causal
desencadeado pela conduta principal, nem de, por si sós, produzir o dano.
Doutrina e jurisprudência entendem, coerentes com a teoria da causalidade adequada,
que as concausas preexistentes não eliminam a relação causal, considerando-se
como tais aquelas que já existiam quando da conduta do agente, que são
antecedentes ao próprio desencadear do nexo causal. Assim, por exemplo, as
condições pessoais de saúde da vítima, bem como as suas predisposições
patológicas, embora agravantes do resultado, em nada diminuem a responsabilidade
do agente. Será irrelevante, para tal fim, que de uma lesão leve resulte a morte por ser
a vítima hemofílica; que de um atropelamento resultem complicações por ser a vítima
diabética; que da agressão física ou moral resulte a morte por ser a vítima cardíaca;
que de pequeno golpe resulte fratura de crânio em razão da fragilidade congénita do
osso frontal etc.
Concausas supervenientes ou concomitantes: A situação da causa superveniente
é idêntica a da causa antecedente, que acabamos de examinar. Ocorre já depois do
desencadeamento do nexo causal e, embora concorra também para o agravamento
do resultado, em nada favorece o agente. A vítima de um atropelamento nao é
socorrida em tempo, perde muito sangue e vem a falecer; vítima de acidente de
trânsito vem a falecer de tétano como desdobramento do atropelamento (TACivRJ, Ap.
Cível 14. 786/92). Essa causa superveniente, embora tenha concorrido para a morte
da vítima, será irrelevante em relação ao agente, porque, por si só, nao produziu o
resultado, apenas o reforçou, só terá relevância quando, rompendo o nexo causal
anterior, erige-se em causa direta e imediata do novo dano; vale dizer, dá origem a
novo nexo causal chega a conclusão de que o fato superveniente só exerce influencia
quando o dano produzido resulta exclusivamente desse fato, ainda que idóneo para
produzir o mesmo resultado fosse o fato preexistente: porque só em tal hipótese - em
que o fato superveniente assume papel preponderante e absorvente – é que se pode
cogitar de interrupção do nexo causal. O mesmo tratamento deve ser dado a causa
concomitante que por si só acarrete o resultado, como no exemplo seguinte. Durante a
realização de um parto normal, a parturiente teve a ruptura de um aneurisma cerebral,
vindo a falecer. O marido da paciente ajuizou ação de indenização contra a
maternidade, cujo pedido foi acolhido pela sentença de primeiro grau, reformada pela
2ª Cámara Civil do Tribunal de justiça do Rio de Janeiro em apelação. Concluiu-se,
unanimemente, pela inexistencia de reladio de causalidade entre a morte da paciente
e o parto. Aneurisma cerebral é um edema ou hematoma no cérebro, que não guarda
nenhuma relação como parto.
Exclusão do Nexo Causal : Causas de exclusão do nexo causal são, pois, casos de
impossibilidade superveniente do cumprimento da obrigação não imputáveis ao
devedor ou agente. Essa impossibilidade, de acordo com a doutrina tradicional, ocorre
nas hipóteses de caso fortuito, forca maior, fato exclusivo da vítima ou de terceiro.
Fato Exclusivo da Vítima: A culpa exclusiva da vítima - pondera Sílvio Rodrigues - é
causa de exclusão do próprio nexo causal, porque o agente, aparente causador direto
do dano, é mero instrumento do acidente (ob. cit., p. 179). Assim, se 'A', num gesto
tresloucado, atira-se sobas rodas do veículo dirigido por "B", não se poderá falar em
liame de causalidade entre o ato deste e o prejuízo por aquele experimentado. O
veículo atropelador, a toda evidência, foi simples instrumento do acidente, erigindo-se
a conduta da vítima em causa única e adequada do evento, afastando o próprio nexo
causal em relação ao motorista, e não apenas a sua culpa, como querem alguns. A
boa técnica recomenda falar em fato exclusivo da vítima, em lugar de culpa exclusiva.
Bem exemplificativo o fato acorrido no dia 13/9/2010 e noticiado pelo Globo: "Depois
de ser roubada, mulher é atropelada." Urna mulher foi atropelada após sofrer assalto
no Viaduto de Benfica, na Zona Norte (Rio de Janeiro). Assustada, ela abriu a porta do
carona, atravessou a pista correndo e foi atingida por um táxi. A toda evidência, não
há que se falar em culpa da mulher nas circunstancias em que o fato ocorreu, mas
também não há que se cogitar de responsabilidade do taxista uma vez que o
atropelamento decorreu da exclusiva conduta da mulher.
Fato de Terceiro: Na definição de Aguiar Dias (ob. cit., v. 11/299), é qualquer pessoa
além da vítima e o responsável, alguém que não tem nenhuma ligação com o
causador aparente do dano e o lesado. Pois, não raro, acontece que o ato de terceiro
é a causa exclusiva do evento, afastando qualquer relação de causalidade entre a
conduta do autor aparente e a vítima. Tome-se como exemplo o caso julgado pela 6ª
Câmara do nosso egrégio Tribunal de Aleada Civil do Rio de Janeiro na Ap. cível
776/91, da qual fomos relator. A mulher de um ciclista moveu ação de indenização
contra determinada empresa de ônibus por ter sido o seu marido atropelado e morto
quando trafegava em sua bicicleta. Alegou-se que o ônibus, invadindo a contramão de
direção, atingiu o ciclista em sua pista. A prova demonstrou, entretanto, que o ciclista
caiu em um buraco existente em sua pista justamente no momento em que o ónibus
passava em sentido contrário, vindo a ser atingido na cabeça pela roda traseira do
coletivo. O buraco na pista do ciclista havia sido aberto por urna empresa prestadora
de serviços públicos. A ação foi mal endereçada, Deveria ter sido dirigida contra o
verdadeiro causador da tragédia, a empresa que, imprudentemente, deixou aberto o
buraco na pista pela qual trafegava a vítima em sua bicicleta. Ressalte-se, urna vez
mais, que o fato de terceiro só excluí a responsabilidade quando rompe o nexo causal
entre o agente e o dano sofrido pela vítima e, por si só, produz o resultado. Em outras
palavras, é preciso que o fato de terceiro destrua a relação causal entre a vítima e o
aparente causador do dano; que seja algo irresistível e desligado de ambos. Se,
contudo o fato de terceiro, a conduta do agente também concorre para o resultado, já
não mais haverá a exclusão de causalidade. Assim, se o motorista, ao se desviar de
urna brusca fechada dada por um ónibus, sobe na calçada e atropela um transeunte,
não poderá invocar o fato de terceiro para afastar a sua responsabilidade, porque, na
realidade, a causa direta e imediata do atropelamento foi o seu próprio ato. Haverá no
caso o estado de necessidade que, embora exclua a antijuridicidade, nao afasta o
dever de indenizar. O art. 929 do Código Civil, como vimos, manda indenizar a pessoa
lesada se não for culpada do perigo. Confira-se: "Responsabilidade civil - Estado de
necessidade A - Ônibus - Freada que provoca queda de passageira. A empresa
responde pelo dano sofrido por passageira que sofre queda no interior do coletivo,
provocada por freada brusca do veículo, em decorrência do estilhaçamento do vidro
do ônibus provocado por terceiro. O motorista que age em estado de necessidade e
causa dano a terceiro que não provocou o perigo deve a este indenizar, com direito
regressivo contra o que criou o perigo" (REsp. 209.062-RJ, 4ª T. do STJ, rel. Min. Ruy
Rosado de Aguiar).
Caso Fortuito ou Força Maior:

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