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ARTES CÊNICAS
PROJETO DE MESTRADO
1
Em conversas por e-mail com a atriz Isabel Teixeira (Bel), indaguei sobre o nome do espetáculo e se era
uma escolha estética ou uma função linguístico-artística, e eis a resposta: Me lembro que quando
estávamos decidindo o nome da peça, eu estava escrevendo as ideias num papel sobre a mesa da sala
de ensaio. Escrevi Rainhas. Cibele falou que topava ser esse o título, mas fazia questão do subtítulo, que
ela já tinha na cabeça: “duas atrizes em busca de um coração”. Fui rabiscando essas ideias no papel. E ao
mesmo tempo tentando pensar em tudo que estávamos fazendo. Aí eu coloquei o "s" entre parêntesis. Pois
se trata de duas rainhas para uma só coroa. Ou seja: só há lugar para UMA rainha na briga entre as elas.
Isso é histórico, faz parte da luta entre Elizabeth I e Mary Stuart. O “S” entre parêntesis, graficamente,
emprisiona o “s”, deixa ele preso. Reforcei a ideia com os colchetes. Duplo emprisionamento. O “S",
portanto, estaria preso duas vezes. Se Elizabeth prende Mary Stuart na torre, ela de alguma forma também
está presa no seu histórico dilema: matar ou não matar uma Rainha. Se ela abre o precedente, também
coloca a sua cabeça em risco, certo? Fora isso, o emprisionamento do “S” deixa o plural relativo. A Rainha
da peça é singular. Não há possibilidade de Rainha no plural. É isso que move a peça. Tudo isso para te
dizer que, na minha opinião, existe uma explicação nessa escolha. Fora que é um poema gráfico se
pensarmos assim, você não acha? É uma escolha estética E uma função linguístico-artística!
públicos diversos, de formas diversas. Na esfera do espectador presenciei criações
felizes em suas escolhas simbólicas, outras nem tanto, outras com pequenos detalhes a
serem acertados, outros com conjunto completo de acertos. Ainda busco um
aprimoramento do olhar técnico da diferenciação entre o trabalho do ator e o da direção
na encenação, acredito que seja um fazer crítico essencial na análise de espetáculos,
para que as palavras soltas não interfiram, de forma positiva ou negativa, na continuação
de qualquer trabalho.
O conceito de ma me veio através de um vídeo no YouTube
(https://www.youtube.com/watch?v=Kyp3YV2t0gQ&feature=youtu.be) no qual o
youtuber discorre sobre a importância do vazio na obra cinematográfica de cineasta
japonês Hayao Miyazaki (Meu amigo Totoro, A Viagem de Chihiro, O Castelo Animado,
A Princesa Mononoke, dentre outros). Desde então me pus a entender melhor esse vazio.
Nas minhas investigações percebo o ma como um local de possibilidade e contemplação,
ou seja, o vazio que permite que algo aconteça por ele, não como um fim em si mesmo,
como no ocidente. É procurar o espaço e aproveita-lo. É no espaço vazio que tudo pode
acontecer, tudo pode ser criado. Não há espaço só para a frente: procurem no alto,
embaixo. E mesmo retornando ao mesmo lugar, sempre há algo novo, um sentimento de
encontro e reencontro (ONO apud SINZATO, p. 105). Os artistas ocidentais vêm
utilizando este conceito e aplicando-o em vários objetos artísticos como no cinema, nas
artes visuais, na pop art, e outras áreas para dar conta de novas estéticas e objetos
artístico-culturais, reinventando olhares sobre obras já consagradas e as que ainda estão
por vir.
A relação do jogo entre atriz-personagem surgiu após o espetáculo Rainha[(s)], o
que antes era desconhecido até então. A interpretação das atrizes é de encher os olhos,
e o jogo proposto prende desde o primeiro minuto até o desfecho final da peça, o que me
chamava bastante atenção. Desde então passei a olhar mais atentamente a relação
ator/atriz-personagem em cena, e como isto se dava, todavia foi em Rainha[(s)] que esta
percepção é mais latente, e talvez por isso eu queira usá-lo como objeto de investigação.
Comungo da ideia de GUINSBURG, p. 112, de que elas souberam manter, e que
conseguiram revalidar teatralmente o coração palpitante da suposta peça histórica: o do
embate entre duas mulheres igualmente fortes, cada uma a seu modo, de seus egos
avassaladores, sob a capa da majestade real, dos interesses políticos nela envolvidos,
e, na essência, no fundo, das irrecusáveis pulsões de suas feminilidades, sexualidades
e de seus super-egoismos, nas formas da simbologia histórica de seu tempo.
Percebia ali um local vazio, uma brecha no espaço-tempo preenchido pelo público,
na qual não se tinha nome nem fim, não era um vazio comum, era algo maior do que
nada, uma possibilidade. Fui encontrar no extremo oriente uma resposta, e o ma veio
solucionar essa lacuna. Não preencher mas ampliar esse vazio para que possamos olhar
com maior amplitude o que habita nesta relação entre atriz e/- personagem. O conceito
do ideograma ma, é usado aqui para definir esse vazio, ou esses espaços vazios entre
atriz e personagem, onde se cria uma indistinção, uma indiferenciação entre o que é da
atriz e o que é do personagem, o que torna indistinto a fronteira que os separa, já que,
em primeira análise, não sabemos o que é da atriz e o que é do personagem.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Analisar o conceito de Ma, como elemento de criação existente no jogo entre atriz-
personagem no espetáculo Rainha[(s)].
Objetivos Específicos:
•
Catalogar instrumentos de análise, tal como apontado por Patrice Pavis, para
maior aproveitamento do material coletado.
Uma garantia que tínhamos o tempo todo era de que as energias que seriam movidas
com esse trabalho seriam as do coração (FADEL, p. 130).
Isto é mais que interpretar um papel servindo-se de uma voz previamente escrita. Isto é
criar uma voz a partir das próprias entranhas e, num jogo com essas rainhas míticas,
reinar sobre a cena. Não é um plano de voo fácil, nem é para qualquer um (RAMOS, p.
189).
METODOLOGIA
6- PLANO DE TRABALHO
1 REL[AÇÕES]
1.1 ATOR/ATRIZ E/OU PERFORMER?
1.2 ATOR/ATRIZ-PERSONAGEM.
ANO 2018
ATIVIDADES PREVISTAS J F M A M J J A S O N D
Créditos das disciplinas obrigatórias
Créditos das disciplinas optativas
Levantamento Bibliográfico
Orientações
Elaboração da Entrevista
Levantamento da fortuna crítica
Aplicação da Entrevista
Sistematização do Material Coletado
Sumário Provisório
Qualificação
ANO 2019
ATIVIDADES PREVISTAS J F M A M J J A S O N D
Análise do Material Coletado
Orientações
Elaboração da Estrutura da Escrita
Redação da Dissertação
Entrega da Dissertação
Defesa da Dissertação
REFERÊNCIAS
FADEL, Georgette. Sala branca. Sala Preta, Brasil, v. 8, p. 127-130, nov. 2008. ISSN
2238-3867. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57360/60342>. Acesso em: 24 de Abril.
2018.
FORJAZ, Cibele. Cego guiando cegos. Sala Preta, Brasil, v. 8, nov. 2008. ISSN 2238-
3867. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57358/60340>.
Acesso em: 26 de Abril. 2018. doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v8i0p.
GUINSBURG, J.. Um mais um mais um igual a dois. Sala Preta, Brasil, v. 8, p. 111-119,
nov. 2008. ISSN 2238-3867. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57357/60339>. Acesso em: 24 de Abril.
2018.
RIOS, Jefferson Del. Teatro/crítica. Sala Preta, Brasil, v. 8, p. 193-194, nov. 2008. ISSN
2238-3867. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57369/60351>. Acesso em: 24 de Abril.
2018.
SINZATO, Alice Yumi. Ma, O vazio intervalar. Revista Ciclos: Transgressão. Santa
Catarina. v. 2, n. 4. 103-115. 2015.