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CRIAÇÃO MUSICAL

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Claretiano – Centro Universitário
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Meu nome é Mariana Galon da Silva. Sou mestre em Educação


pela UFSCar (2015), licenciada em Educação Artística com
habilitação em Música pela USP (2006) e especialista em Arte
e Educação e Tecnologias Contemporâneas pela UNB (2012).
Tenho experiência com Ensino de Música na Educação Básica,
na qual atuei como regente de um coro infantil e coordenadora
da área de música. Atualmente, sou docente de um curso de
Artes Visuais, educadora musical (violoncelo) do Projeto Guri,
docente do curso de Licenciatura em Música do Claretiano –
Centro Universitário e tutora de um curso de Educação Musical.
Além disso, desenvolvo pesquisas na área de Criação Musical
Coletiva, Práticas Sociais e Processos Educativos como também
em Educação Musical Humanizadora.
E-mail: marianag.claretiano@gmail.com
Mariana Galon da Silva

CRIAÇÃO MUSICAL

Batatais
Claretiano
2016
© Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia
Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori
Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia
Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone
Rodrigues de Oliveira
Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus
Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni
• Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgareli • Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina
Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires
Botta Murakami de Souza
Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote
Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

781.3 S581c

Silva, Mariana Galon da


Criação musical / Mariana Galon da Silva – Batatais, SP : Claretiano, 2016.
111 p.

ISBN: 978-85-8377-463-1

1. Criação. 2. Criação musical. 3. Processos educativos. 4. Educação musical.


5. Humanização. I. Criação musical.

CDD 781.3

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Introdução à Liturgia
Versão: ago./2016
Formato: 15x21 cm
Páginas: 111 páginas
SUMÁRIO

CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS............................................................................. 13
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE................................................................ 14
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 15
5. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 15

Unidade 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E


DESDOBRAMENTOS
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 19
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 19
2.1. CONCEITO DE CRIAÇÃO E CRIATIVIDADE............................................... 20
2.2. A CRIANÇA COMO SER CRIADOR............................................................ 30
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 38
3.1. CRIAÇÃO E CRIATIVIDADE....................................................................... 38
3.2. CRIATIVIDADE NA INFÂNCIA E A ESCOLA COMO INIBIDORA DESSE
PROCESSO................................................................................................. 39
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 40
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 41
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 42
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 42

Unidade 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO


MUSICAL
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 47
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 48
2.1. CRIAÇÃO MUSICAL NO ENSINO DE MÚSICA......................................... 48
2.2. O MITO DO TALENTO: PROBLEMÁTICAS DE UM ENSINO TECNICISTA.59
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 63
3.1. CRIAÇÃO MUSICAL NO ENSINO DE MÚSICA......................................... 63
3.2. A PROBLEMÁTICA DO ENSINO TECNICISTA E DO MITO DO TALENTO.64
4. 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS................................................................... 65
5. 5. CONSIDERAÇÕES......................................................................................... 67
6. 6. E-REFERÊNCIAS............................................................................................ 68
7. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 69

Unidade 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA


PARA A FORMAÇÃO HUMANA
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 73
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 74
2.1. HANS-JOACHIM KOELLREUTTER E TECA ALENCAR DE BRITO:
DIÁLOGOS EM EDUCAÇÃO MUSICAL.......................................... 74
2.2. CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA COMO FERRAMENTA DE
HUMANIZAÇÃO............................................................................. 80
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 89
3.1. CRIAÇÃO MUSICAL HUMANIZADORA.................................................... 89
3.2. CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA................................................................. 90
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 91
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 92
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 93

Unidade 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL


NO FAZER DOCENTE
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 96
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 96
2.1. CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA EM PROJETOS SOCIAIS............. 96
2.2. CRIAÇÃO MUSICAL NO ENSINO TUTORIAL................................ 101
2.3. CRIAÇÃO MUSICAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA............................... 105
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 107
3.1. APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER
DOCENTE................................................................................................... 108
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 108
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 110
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 111
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 111
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
Potencial criador. Potencial criativo de percepção, da memória e das
motivações pessoais. Repertório pessoal: associações, simbolismos e
ordenações interiores. Arte como fazer criativo. Educação Musical em modo
menor. Criação musical e autonomia. Criação musical coletiva e dialogicidade.
As contribuições da criação musical para a Educação musical humanizadora.
Aplicação prática dos conceitos estudados nos ambientes educacionais.

Bibliografia Básica
BRITO, M. T. A. Koellreutter educador: o humano como objetivo da Educação Musical.
2. ed. São Paulo: Petrópolis, 2011.
SILVA, M. G. Criação musical coletiva com crianças: possíveis contribuições para
processos de educação humanizadora. 2015. 146 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – UFSCar, São Carlos, 2015.
SWANWICK, K. Ensinando música musicalmente. Tradução de Alda Oliveira e Cristina
Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.

Bibliografia Complementar
BEINEKE, V. As crianças estão compondo: como nós estamos ouvindo a sua música?.
In: HENTSCHKE, L.; SOUZA, J. (Orgs.). Avaliação em educação musical: reflexões e
práticas. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2003, p. 91-105.
______. Processos intersubjetivos na composição musical de crianças: um estudo
sobre aprendizagem criativa. 2009. 290 f. Tese (Doutorado em Educação Musical) –
UFRGS, Porto Alegre, 2009.
FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
Editora Unesp, 2000.
OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 2001.

7
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. Tradução de Marisa Fonterrada, Magda Gomes da


Silva e Maria Lúcia Pascoal. São Paulo: Editora Unesp, 1991.

É importante saber: –––––––––––––––––––––––––––––––––


Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que
deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes
necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os
principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os
procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua
origem?) referentes a um campo de saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente
selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou
disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdos
Digitais Integradores” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do
Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência
de mídias (vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto),
como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos
temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito
de avaliação.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

8 © CRIAÇÃO MUSICAL
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO
Prezado aluno, seja bem-vindo!
Iniciaremos os estudos sobre Criação Musical com o
objetivo de clarificar alguns conceitos sobre a temática e,
principalmente, esclarecer algumas questões como:
1) O que é criação musical?
2) Quem pode criar musicalmente?
3) Quais as contribuições da criação musical para o Ensino
de Música e para a formação humana do aluno?
4) Por que inserir a criação musical nas aulas de música?
5) Como trabalhar com atividades de criação musical em
diferentes espaços educativos.
A intenção deste estudo é oferecer subsídio teórico sobre
as potencialidades criativas dos seres humanos e também sobre
o despertar da criatividade no fazer musical, a fim de refletir
criticamente sobre os benefícios deste tipo de atividade. Embora
apresente uma vasta apresentação teórica, também procuramos
elaborar um conteúdo que apontasse como esses conceitos
poderiam ser aplicados na prática cotidiana do educador musical.

Criação
Inicialmente, devemos refletir: o que você entende por
criação? Você considera que todos são capazes de criar? Talvez
muitos responderão que criação é a descoberta e a elaboração
de algo novo, ou então que é um dom que algumas pessoas
possuem, o qual as levam a ter ideias originais.
Buscando a definição da palavra criação em alguns
dicionários, encontramos: “dar origem a”; “gerar, formar”; “ato ou

© CRIAÇÃO MUSICAL 9
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

efeito de criar”; “conjunto da obra do Ser supremo”; “fundação,


formação”; “obra, invento, produção”; “produção intelectual de
grande mérito”. Algumas definições como "conjunto da obra
do Ser supremo” e “produção intelectual de grande mérito" se
destacam (FERREIRA, 1986). A primeira porque remete o ato
de criar a uma divindade, ao um ser sobre-humano; a segunda
porque aponta que criação não é qualquer produção e, sim, uma
produção intelectual e que tem grande mérito.
Essas definições vão ao encontro do senso comum sobre o
que é criação e sobre quem pode criar, principalmente quando
mencionamos a criação artística (SCHROEDER, 2004). Muitas
vezes consideramos que a criação sempre precisa resultar em
uma grande obra de arte ou em um grande invento tecnológico
e, por isso só, uma parcela pequena dos seres humanos podem
criar.
Nos estudos da Unidade 1 veremos que, embora haja
um senso comum sobre o assunto, há muitos autores que se
debruçaram no estudo da criatividade humana, demonstrando
que o potencial criativo é uma característica própria do ser
humano. Também refletiremos sobre a criatividade das crianças,
público muito presente no cotidiano do educador musical.
Abordaremos a criação como essência ontológica do ser
humano, ou seja, todos nós somos capazes de criar e o fazemos
em diferentes situações do nosso cotidiano, sem nos darmos
conta disso. Após esses estudos, poderemos responder juntos, e
com propriedade, as questões expostas neste momento.

Criação musical
Após estudarmos e refletirmos sobre criação como uma
essência ontológica do ser humano, iniciaremos os estudos sobre

10 © CRIAÇÃO MUSICAL
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

a criação aplicada à arte musical com viés pedagógico, ou seja, a


criação musical realizada em espaços de Ensino de Música.
Pesquisas em Educação Musical vêm se ocupando da
investigação sobre a utilização da criação musical como prática
pedagógica/musical no cotidiano do Ensino de Música desde o
início do século 20.
Nas diversas pesquisas sobre a temática, as atividades de
criação musical aparecem com a denominação de "improvisação",
"composição", "arranjo" e também como "criação musical".
Neste estudo utilizaremos o termo criação musical por
considerar que ele abarca todos os fazeres musicais em que o uso
da criatividade se faz presente. Desse modo, compreendemos
como criação musical todos os processos em que há a apropriação
e a organização de sons pelos sujeitos de maneira autônoma,
consciente e intencional, nos quais os sons são compreendidos,
relacionados, apropriados, ordenados, ressignificados e
utilizados como forma de expressão e comunicação.
Consideramos que neste tipo de criação a música é
utilizada como linguagem na busca da livre expressão de quem a
cria (SILVA, 2015). No entanto, a escolha pelo uso da expressão
criação musical justifica-se por ser um termo que engloba de
maneira mais ampla as ações musicais em que há criação, das
mais simples às mais complexas.
Na Unidade 2 você terá a oportunidade de conhecer as
pesquisas que vêm sendo desenvolvidas sobre criação musical e,
por meio deste estudo, compreender porque a criação musical é
tão importante para um Ensino Musical significativo.

© CRIAÇÃO MUSICAL 11
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

As contribuições da criação musical para a formação humana


Quando pensamos em Educação Musical, refletimos
sobre de que maneira oferecemos conteúdos musicais de
modo qualificado aos nossos alunos, sem esquecer a sua
formação humana. No mundo atual, intervenções que levem
à formação de cidadãos conscientes, críticos e humanizados é
uma urgência. Como educadores, não podemos deixar de olhar
as potencialidades da Educação Musical como uma ferramenta
importante de humanização.
Pesquisas realizadas por Brito (2007), Koellreutter (1997)
e Silva (2015) demonstram que a criação musical pode favorecer
aos alunos nos quesitos musicais e também contribuir para a sua
formação humana.
Na Unidade 3 refletiremos juntos sobre como a criação
musical pode fomentar a autonomia, o diálogo, a alteridade, a
partilha e estimular a convivência pautada na amorosidade.
Por fim, depois de concluídos os estudos teóricos e
conceituais deste obra, faremos as pontes do que foi estudado
com o seu fazer docente.
Na Unidade 4 daremos exemplos de como incluir a criação
musical no Ensino de Música em diferentes espaços educacionais
como: Educação Básica, Ensino de Música coletivo e ensino
tutorial. Analisaremos juntos alguns casos ocorridos em cada
um desses ambientes para que você consiga visualizar, de modo
concreto, que é possível inserir as atividades de criação musical
em sua prática como educador e, especialmente, compreender
quão fundamentais elas são para a formação dos educandos.

12 © CRIAÇÃO MUSICAL
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida
e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados.
1) Criação: ato de criar, sendo basicamente dar forma a
algo novo em qualquer campo da atividade humana.
Consubstancia-se com o entrelaçamento das novidades
que se estabelecem na mente humana (OSTROWER,
2001).
2) Criação musical: todos os processos em que há a
apropriação e a organização de sons pelos sujeitos de
maneira autônoma, consciente e intencional, nos quais
os sons são compreendidos, relacionados, apropriados,
ordenados, ressignifcados e utilizados como forma de
expressão e comunicação (SILVA, 2015).
3) Humanização: palavra que aparece na literatura com
diferentes significados. Neste estudo utilizaremos o
conceito freiriano, que é a incessante busca de homens
e mulheres pela sua vocação ontológica de ser mais.
Ser mais é a própria vocação ontológica do ser humano,
de existir na História em plenitude de consciência e
práxis, se fazendo e refazendo no mundo de forma
crítica, tendo diante de si infinitas possibilidades que
essa constante busca lhe proporcionar enquanto
potencial transcendente. “Essa busca de ser mais, de
humanização do mundo, revela que a natureza humana
é programada para ser mais, mas não determinada
por estruturas ou princípios inatos” (ZITKOSKI, 2010,
p. 369).

© CRIAÇÃO MUSICAL 13
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

4) Ontologia: "Parte da filosofia que trata do ser enquanto


ser. Do ser concebido como tendo uma natureza
comum que é inerente a todos e a cada um dos seres"
(FERREIRA, 1986, p. 1569).
5) Teoria da Gestalt: "Gestalt é uma palavra alemã, que
significa forma, figura ou configuração. Palavra que
nomeou a teoria psicológica que surgiu na Alemanha,
no início do século XX, cujo objeto de estudo é a
percepção. Seus fundadores são K. Koffka (1886-1941),
Max Wertheimer (1880-1943) e W. Köhler (1887-
1967)" (JORGE, 2006, p. 73).

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos
conceitos mais importantes deste estudo.

Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Criação Musical.

14 © CRIAÇÃO MUSICAL
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRITO, M. T. A. Por uma educação musical do pensamento: novas estratégias de
comunicação. 2007. 288 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) – PUC, São
Paulo, 2007.
BERGSON, H. A evolução criadora. Tradução de Adolfo Casais Monteiro. Rio de Janeiro:
Opera Mundi, 1971.
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.
KOELLREUTTER, H.-J. Educação e cultura em um mundo aberto como contribuição
para promover a paz. In: KATER, C. (Org.). Educação Musical. Belo Horizonte: Atravez/
EMUFMG/FEA/Fapemig, 1997. p. 200-208. (Cadernos de Estudo, n. 6).
OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 2001.
SCHROEDER, S. C. N. O músico: desconstruindo mitos. Revista da ABEM, Porto Alegre,
v. 10, p. 109-118, mar. 2004.
SILVA, M. G. Criação musical coletiva com crianças: possíveis contribuições para
processos de educação humanizadora. 2015. 146 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – UFSCar, São Carlos, 2015.
ZITKOSKI, J. J. Ser mais. In: STRECK, D. R.; REDIN, E.; ZITKOSKI, J. J. (Orgs.). Dicionário
Paulo Freire. 2. ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

5. E-REFERÊNCIAS
ALENCAR, E. M. L. S.; FLEITH, D. S. Contribuições teóricas recentes ao estudo da
criatividade. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, jan./abr. 2003, v. 19, n. 1, p. 1-8.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v19n1/a02v19n1.pdf>. Acesso em: 4
nov. 2015.
JORGE, S. R. O processo de criação artística para Sigmund Freud e para Fayga Ostrower:
convergências e divergências. 2006. 144 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) –
PUC, Belo Horizonte, 2006. Disponível em: <http://www.pucminas.br/documentos/
dissertacoes_sandra_regina.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2015.

© CRIAÇÃO MUSICAL 15
© CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1
CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E
DESDOBRAMENTOS

Objetivos
• Compreender as diferentes visões sobre o conceito de criação.
• Compreender a criação como essência ontológica dos seres humanos.
• Refletir sobre como a criação se dá em diferentes situações cotidianas.

Conteúdos
• Conceito de criação.
• Conceito de potencial criador.
• Potencial criativo da percepção, da memória e das motivações pessoais.
• Repertório pessoal: associações, simbolismo e ordenações interiores.
• Criatividade na infância.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Não se limite ao conteúdo deste Caderno de Referência de Conteúdo;


busque outras informações em sites confiáveis e/ou nas referências bi-
bliográficas, apresentadas ao final de cada unidade. Lembre-se de que, na
modalidade EaD, o engajamento pessoal é um fator determinante para o
seu crescimento intelectual.

2) Busque identificar os principais conceitos apresentados e reflita de forma


crítica sobre eles.

17
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

3) Busque sempre relacionar os conteúdos estudados com suas práticas


educacionais.

4) Não deixe de ler os materiais complementares descritos no Conteúdo Di-


gital Integrador.

18 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

1. INTRODUÇÃO
Vamos iniciar a nossa primeira unidade de estudo?
Antes de entrarmos de fato no estudo sobre criação
musical, é importante que você, aluno(a), compreenda o que
entendemos por criatividade. Não somente a criatividade
artística, mas a criatividade de uma forma ampla, abordando
todo o contexto da palavra.
O século 19 se constitui como berço dos primeiros estudos da
Psicologia voltados para a compreensão da criatividade humana.
Embora esses estudos tenham apresentado contribuições
significativas em diferentes áreas do campo científico ao longo
dos séculos, ainda hoje não é possível traçar um consenso entre
os estudiosos sobre a definição de criatividade e os caminhos
que ela conduz ao ser humano. Embora haja muitas vezes
divergências nos conceitos, é comum a todos os autores que a
criatividade é uma característica de homens e mulheres.
Nesta primeira unidade de estudo você terá a oportunidade
de conhecer a abordagem da criatividade de alguns autores e
estudiosos desta temática. Apresentaremos também os conceitos
de criatividade e criação que adotamos como base deste estudo.
O entendimento do conceito escolhido é fundamental para a
compreensão dos conteúdos que serão abordados futuramente.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

© CRIAÇÃO MUSICAL 19
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

2.1. CONCEITO DE CRIAÇÃO E CRIATIVIDADE


Criar é tão difícil ou tão fácil como viver. É do
mesmo modo necessário (OSTROWER, 2001, p.
166).

Não é possível abordar os conceitos de criação sem


tocar na questão da criatividade humana, pois ambos estão
intrinsecamente ligados.
Mas, o que é ser criativo? Por que razão o ser humano cria?
Embora haja muitas vertentes de estudos sobre criatividade,
não existe um consenso sobre o que significa ser criativo. A
própria definição de criatividade é um tema de pesquisa que
está em constante revisão, tendo em vista os debates científicos
atuais (LUBART, 2007b).
Consideramos o ato de criar como uma vocação originária
do ser humano, o qual não só modifica o ambiente ao seu redor,
mas também cria a si mesmo. Diferente dos demais seres vivos,
o ser humano tornou-se consciente de seu inacabamento, o
que possibilitou a invenção de sua existência, a modificação do
material que o cerca e a capacidade tanto de refazer seu espaço
quanto tomar decisões sobre as opções que lhe são apresentadas.
Os problemas e as necessidades diárias desencadeiam a
criatividade, que leva o ser humano, por meio de tomadas de
decisões, criar soluções.
Nesse processo, a curiosidade é fundamental no ato de criar,
pois ela traz inquietação, indagação, busca de respostas, fazendo
parte de um fenômeno vital do ser humano. Segundo Freire
(1996, p. 15), "Não haveria criatividade sem a curiosidade que
nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do
mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos".

20 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

A curiosidade nos leva a fazer perguntas, que frequentemente


são respondidas pela criatividade (SANTOS, 2010).
Na História vemos que vários inventos partiram de uma
problemática e de uma necessidade.
Conta-se que Santos Dumont, quando voava, tinha
dificuldades de cronometrar seus voos, porque era muito
arriscado retirar o seu relógio do bolso, já que para isso
precisava deslocar as mãos dos controles do avião. Perante tal
problemática, ele encomendou de seu amigo e joalheiro Louis
Cartier um relógio que ficasse preso ao pulso (Figura 1), para que
ele pudesse cronometrar melhor as suas experiências aéreas,
sem correr o risco de tirar as mãos dos controles do avião.
Você percebe como a solução era simples, mas a ideia só
surgiu quando houve a necessidade?

Figura 1 Santos Dumont e o relógio de pulso.

Conforme afirma Saramago (1999, p. 115) "Tudo no mundo


está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas".

© CRIAÇÃO MUSICAL 21
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

Essas perguntas surgem cotidianamente quando


precisamos resolver nossos imprevistos, por exemplo. Quando
preciso adaptar uma receita culinária porque está faltando algum
ingrediente, ou quando crio um novo caminho para o trabalho
por conta do congestionamento, é a minha criatividade que está
sendo utilizada. Nossa criatividade é ativada para descobrir as
respostas que o mundo nos dá e, assim, modificarmos o nosso
ambiente e, consequentemente, a nossa história.
A criatividade, a tomada de decisões e as escolhas são
características humanas. Há uma ligação entre o processo do
pensamento humano com o processo criativo, por isso essa
característica não é atribuída aos demais seres vivos. Dentro
desse contexto, acrescentamos que o homem é o único animal
dotado da capacidade de criar. Para os demais seres vivos,
falta-lhes o raciocínio, a liberdade de opção, de decisão e de
julgamento, fundamentais para o processo criativo. Os animais,
diferentes dos seres humanos, não constroem o seu mundo por
meio da criatividade desencadeada por alguma necessidade
(FREIRE, 1996).
Imersos no tempo, em seu mover-se no mundo, os animais
não se assumem como presenças nele; não optam, no sentido
rigoroso da expressão, nem valoram. Seres históricos, inseridos
no tempo e não imersos nele, os seres humanos se movem no
mundo, capazes de optar, de decidir, de valorar (FREIRE, 1981,
p. 35).

Essa possibilidade e necessidade de mudança é o que


torna o ser humano essencialmente criador, diferenciando-o
dos demais seres vivos. Os homens, ao terem consciência de sua
atividade e do mundo em que estão, ao atuarem nesse mundo
com alguma finalidade, ao tomarem decisões e modificarem o
mundo por meio de sua presença criadora, não apenas vivem,
mas existem no mundo (FREIRE, 2011). Essa capacidade contínua

22 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

de criação, que ocorre a todo momento na vida humana, é que


nos torna seres históricos.
No entanto, durante a História houve várias perspectivas
diferentes sobre o que é criação e criatividade. Durante muito
tempo houve a concepção de que a criação deveria estar ligada
aos grandes feitos científicos e artísticos, ignorando assim o fazer
criativo que ocorre na cotidianidade.
Nos tempos antigos a criação era vista como inspiração
divina. Por esse motivo, durante toda a Idade Média os Cantos
Gregorianos não eram atribuídos a um compositor e, sim, ao próprio
Espírito Santo. Havia uma mística que uma pomba, representando
o Espírito Santo, cantava as melodias do Canto Gregoriano para o
Papa Gregório Magno (Figura 2), que os escrevia.

Figura 2 S. Gregório recebendo inspiração do Espírito Santo.

© CRIAÇÃO MUSICAL 23
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

Embora já na transição da Idade Média para o Renascimento


haja uma concepção de autoria, a mística sobre a criatividade
prevalece e se mantém, principalmente no senso comum até os
dias atuais.
Alencar e Fleith (2003) analisaram no senso comum o que
as pessoas entendiam por criatividade. A constatação foi que
ainda predominavam ideias como: a criatividade é um dom divino
destinado a um grupo seleto de indivíduos, criatividade não pode
ser ensinada, as pessoas ou são criativas ou não, criatividade
não se aprende, a ideia criativa surge como um toque de mágica,
indivíduos muito criativos tendem a ter problemas psicológicos,
como a loucura.
Durante o século 19 as questões relativas à criatividade
passam a ser estudadas pela Psicologia, ainda de forma
embrionária, e começam a ganhar corpo no século 20 (CRAFT,
2003).
Entre o final do século 19 e o início do século 20, Sigmund
Freud, em seus estudos sobre a psique humana, abordou a
criatividade artística. Essa questão era vista como um enigma
para o estudioso e, por isso, exercia nele certa fascinação. Desse
modo, embora Freud não tenha publicado estudos específicos
sobre a criatividade, de tempos em tempos em seus escritos
encontramos reflexões sobre os mecanismos inconscientes e
pulsionais ao processo de criação (JORGE, 2006).
Freud realizou estudos com personalidades em que a
criatividade era eminente, como Leonardo da Vinci, Goethe
e Shakespeare. Por meio desses estudos, considerava que o
inconsciente humano era do qual se originava não só as neuroses,
mas também a criatividade. Desse modo, apontava que os

24 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

grandes trabalhos criativos na verdade eram uma sublimação de


complexos reprimidos.
Outra teoria que trouxe contribuições ao estudo da
criatividade foi a Gestalt. A Gestalt, ou Psicologia da forma, surgiu
no início do século 20 e até os dias de hoje suas bases fundantes
vêm sendo discutidas no cenário científico. Em relação ao estudo
da criatividade, os estudiosos da Gestalt deram início às pesquisas
sobre o insight, ou seja, o momento do processo criativo em que
surge uma nova ideia ou solução para um problema (ALENCAR;
FLEITH, 2003).
A partir do início do século 20 é possível perceber que,
até os anos 70, o objetivo desses estudos era delinear o perfil
do indivíduo criativo e desenvolver técnicas para favorecer a
criatividade. Desse modo, embora considerem que a criatividade
é uma característica do ser humano, os estudiosos apontam
que alguns indivíduos são mais criativos do que outros por se
destacarem nas descobertas de grandes feitos.
No entanto, é no início do século 21 que os estudos
que consideram a criatividade como fruto das interações e do
contexto cultural se fortalecem.
Entre o final do século 20 e o início do século 21, os estudos
sobre criatividade caminham em direção ao entendimento de
como os fatores sociais, culturais e históricos influenciam no
desenvolvimento da criatividade. A partir dessas contribuições
de natureza sociológica, concluem que a criação não pode
ser atribuída somente às habilidades pessoais e aos traços de
personalidade de quem cria, pois a forma de criar também sofre
a influência de elementos do ambiente onde esse indivíduo se
encontra inserido (ALENCAR; FLEITH, 2003).

© CRIAÇÃO MUSICAL 25
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

Apesar das divergências na visão sobre criação e


criatividade, uma das questões convergentes abordadas pelos
estudiosos é que a criatividade sempre envolve a necessidade de
algo novo, que pode ser uma ideia, uma solução ou um produto
em si que tenha uma relevância e cumpra a função pela qual foi
criado (ALENCAR; FLEITH, 2003).
Eysenck (1999), em suas pesquisas sobre criatividades,
divide o ato de criar em duas categorias: criatividade pessoal
e criatividade realizativa. Aponta que a criatividade pessoal é
a que leva a pessoa a produzir atos e objetos na cotidianidade.
Já na criatividade como realização, os resultados se constituem
como obras inéditas para o público em geral.
Nesse mesmo sentido, Lubart (2007a) utiliza as
terminologias criatividade cotidiana e criatividade eminente
para designar o ato cotidiano de criar (resolução de problemas,
estratégias criativas) das criações novas perante a humanidade
(descobertas científicas, obras de arte). Mesmo diferenciando os
tipos de criatividade, os autores atribuem a característica criativa
aos seres humanos.

Potencial criador
Após conhecer alguns autores que abordam a questão
da criatividade e, consequentemente, da criação, vamos
agora apresentar a concepção que servirá de referência para a
construção dos conteúdos aqui abordados.
Já apontamos que o ato de criar é uma vocação originária
do ser humano, o qual não só modifica o ambiente ao seu redor,
mas também cria a si mesmo. Definimos criação como todo ato
humano de modificar algo, seja a partir de tomadas de decisões
ou de manipulação de ferramentas que se apresentam no seu

26 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

cotidiano, ou mesmo de refazer o já feito. Desse modo, não


associamos a criatividade como uma ação restrita a algumas
pessoas que possuem faculdades específicas. Ao contrário disso,
consideramos que todos são capazes de criar, pois o fazem nas
pequenas ações do dia a dia.
Enfim, criamos o tempo todo, pois a ação criadora faz parte
da nossa vocação originária, o que nos coloca como produtores
de cultura e seres históricos. Essas concepções apresentadas
serão embasadas principalmente nos estudos de Fayga Ostrower.
A escolha desta autora se deu pelo fato de que ela não
somente pesquisou o problema da criatividade e dos processos
de criação, mas porque, como artista plástica, vivenciou
concretamente o fenômeno da criação. Fayga Ostrower (2001)
alicerça seus estudos na filosofia do francês Henri Bergson.
Baseada na filosofia de Bergson, a autora aponta que o
impulso vital dos seres humanos consiste numa exigência de
criação. Por impulso vital compreende a fonte de que nascem
todas as coisas. No homem, o impulso vital expressa-se na
atividade criadora.
Desse modo, considera a criatividade como um potencial
inerente ao homem e, mais do que isso, aponta que criar é uma
necessidade dos seres humanos.
A criatividade é a essencialidade do humano no homem. Ao
exercer o seu potencial criador, trabalhando, criando em todos
os âmbitos do seu fazer, o homem configura a sua vida e lhe dá
um sentido. Criar é tão difícil ou tão fácil como viver. É do mesmo
modo necessário (OSTROWER, 2001, p. 166).

A autora considera que o homem cria em todos os âmbitos


do fazer e, ao fazê-lo, significa a sua vida, por isso o que impulsiona
a sua vida é esse constante exercício de criar e recriar. Portanto,

© CRIAÇÃO MUSICAL 27
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

podemos concluir que a criação não se reduz somente à criação


artística, mas também aos demais fazeres que integram a vida
dos seres humanos.
Em nossa época, as artes são vistas como área privilegiada do
fazer humano, onde ao indivíduo parece facultada uma liberdade
de ação em amplitude emocional e intelectual inexistente nos
outros campos de atividade humana. Não nos parece correta
essa visão de criatividade. O criar só pode ser visto num sentido
global, como um agir integrado em um viver humano. De fato,
criar e viver se interligam (OSTROWER, 2001, p. 12).

A autora define os seres humanos como seres conscientes,


sensíveis, culturais e espirituais, que são dotados de
potencialidades. Entre as diversas potencialidades dos homens
e das mulheres está a criatividade, considerada um potencial
criador inerente, e que necessita de realização, porque é,
sobretudo, uma necessidade existencial (JORGE, 2006). Dessa
feita, considera que todos nós, homens e mulheres, temos
um potencial criador e que essa potencialidade é exercida nos
diversos aspectos da vida, de uma maneira global, como um agir
integrado em que "criar e viver se interligam" (JORGE, 2006).
Portanto, "o homem cria, não apenas porque quer, ou porque
gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser
humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando"
(OSTROWER, 2001, p. 10).
Ao definir a criatividade como necessidade existencial,
a autora diverge de alguns estudiosos apresentados nesta
unidade, pois, sendo a criatividade um potencial inerente a todo
ser humano, ela deixa de ser um atributo exclusivo de alguns
poucos homens privilegiados. Desse modo, criar não está ligado
somente à arte e às grandes descobertas científicas, mas, sim,
no formar novas coerências, novas relações de fenômenos. "O

28 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e


esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar"
(OSTROWER, 2001, p. 9).
O nosso potencial criador vem à tona sempre que
necessitamos, e ele é desengatilhado pela nossa intuição.
Desse modo, homens e mulheres criam, pois, ao fazê-lo,
ordena coerentemente, dá formas, faz novas relações, intui e
conscientiza, crescendo assim enquanto seres humanos. No
movimento dinâmico de ação no mundo, ao transformar a
natureza e o seu mundo o homem também se transforma, assim
sendo, “o homem não somente percebe as transformações,
como, sobretudo, nelas se percebe” (OSTROWER, 2001, p. 11).
O potencial criador dos seres humanos se manifesta nos
vários níveis da sua essência, na escolha dos múltiplos caminhos
em que o homem busca e nas suas diversas vivências.
Os caminhos podem cristalizar-se e as vivências podem integrar-
se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas
a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade
do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, se amplia
(OSTROWER, 2001, p. 29).

Assim aponta que o potencial criador tem a qualidade


fundamental de sempre se refazer. Desse modo, concluímos que,
embora a criatividade seja inerente ao ser humano, ela pode ser
ampliada por suas atividades sociais e vivências.
Fayga Ostrower reflete sobre o potencial criativo da
percepção do homem, da contribuição das suas memórias e das
suas motivações pessoais no ato criador, que o levam a fazer
escolhas e definir novos caminhos criativos, ampliando a sua
capacidade de criar.

© CRIAÇÃO MUSICAL 29
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

Com as leituras propostas no Tópico 3.1., você vai


aprofundar seus estudos sobre os diversos conceitos de
criação e criatividade. Antes de prosseguir para o próximo
assunto, realize as leituras indicadas, procurando assimilar o
conteúdo estudado.

2.2. A CRIANÇA COMO SER CRIADOR

Sabemos que o maior público do educador musical são as


crianças. Por esse motivo, é essencial que tragamos para a nossa
reflexão sobre a criatividade o fazer criativo na infância.
Se há uma dificuldade de o senso comum conceber que
todos podem criar, essa dificuldade se torna ainda maior quando
propomos que a criança é capaz de criar e produzir cultura.
Como já dissemos anteriormente, falar de criação e
criatividade não é uma tarefa fácil, uma vez que não há uma
definição única desses conceitos. No entanto, consideramos
a abordagem que escolhemos – a de que criar é uma
potencialidade inerente aos seres humanos – para tecermos
nossas considerações sobre a criação na infância.
A partir do conceito de criatividade explicitado como base
deste estudo, compreendemos a criança como um ser criativo,
que modifica seu espaço e seus conceitos, que se faz e refaz no
mundo, bem como consideramos a criança como sujeito de suas
ações, que faz escolhas, conexões, desenvolvendo, assim, sua
autonomia.

30 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

Rinaldi (2012, p. 213) compreende criatividade como


aptidão para construir novas conexões entre pensamento e
objeto, "trazendo inovação e mudança, tomando elementos
conhecidos e criando novos nexos". As crianças, ao brincarem,
constroem novas conexões e nexos entre pensamento e objeto
o tempo todo. Em suas brincadeiras, o lençol esticado se
transforma em uma casa, o cabelo da mãe, na crina do cavalo
que ela está galopando, e as ervas daninhas transformam-se em
comidas saborosas.
Desde a mais tenra idade tentamos produzir teorias,
questões e dar respostas, "o que constitui um dos aspectos
mais excepcionais da criatividade" (RINALDI, 2012, p. 206).
A ação criativa se apresenta já na primeira infância. A criança
demonstra a capacidade de reunir os elementos que possui e
começa, a partir daí, elaborar conceitos próprios, de modo
criativo (RINALDI, 2012).
No entanto, ao longo da História, a criança foi vista com
diferentes olhares, nem sempre como ser autônomo. O início
do século 20 viu surgir estudos e teorias sobre a formação do
pensamento psíquico que refletiram tanto na maneira como
conceber a infância quanto na educação das crianças (SOUZA,
2007).
Umas das teorias que surgiram neste período, chamada
de behaviorista, dedicou-se aos estudos das interações
entre as ações do indivíduo (suas respostas) e o ambiente (as
estimulações), considerando o processo de aprendizagem do
indivíduo mediante estimulações provocadas pelo ambiente. Os
preceitos dessa corrente científica compreendem a criança como
um ser passivo, receptora dos conhecimentos que o ambiente
lhes proporciona (BOCK, 2002).

© CRIAÇÃO MUSICAL 31
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

Oposto a esse pensamento, o enfoque histórico-cultural,


que teve Vygotsky como seu principal representante, considera
que o desenvolvimento de capacidades especificamente humanas
(inteligência, personalidade, emoções, consciência) ocorre no
processo da vida social, de modo que o desenvolvimento cultural
constitui-se na atividade humana mediada pelas relações social
e historicamente produzidas (VYGOTSKY, 1988).
A partir desse suposto, a criança é reconhecida como
sujeito do conhecimento, considerando sua atividade na cultura
por meio das suas relações com o meio e a possibilidade de
interiorizar as qualidades humanas manifestas nessas relações.
A atividade da criança e as mediações com o seu entorno são
o que desencadeiam o desenvolvimento das suas capacidades.
Diante dessa abordagem, é possível afirmar que a criança não
é um receptáculo, mas constrói sua cultura, seu conhecimento,
emoções e personalidade ao relacionar-se com o mundo à sua
volta como sujeito – e não coadjuvante – de sua história (SOUZA,
2007).
Ao tratar sobre a criatividade das crianças, Vygotsky
contraria a crença de que a criatividade é um privilégio de poucos.
Para ele, a criatividade está presente sempre que a imaginação
humana combina, muda e cria algo novo. Compreende a
criatividade como resultado da interação entre a criança e o
contexto social.
O pensador russo discorre que a criança desenvolve e
apresenta a sua criatividade ao brincar. "Assim, a brincadeira da
criança não é uma mera reprodução, mas recria novas realidades
em resposta às suas necessidades" (MOZZER; BORGES, 2008, p.
8).

32 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

Não é leviano afirmar, portanto, que o brincar é uma das


atividades fundamentais para o desenvolvimento das crianças
pequenas. Através das brincadeiras, a criança desenvolve funções
psicológicas importantes, como: a atenção, a imitação, a memória,
a imaginação. Ao brincar, as crianças exploram e refletem sobre
a realidade cultural na qual vivem, incorporando e, ao mesmo
tempo, questionando regras e papéis sociais. Podemos dizer
que nas brincadeiras as crianças podem ultrapassar a realidade,
transformando-a através da imaginação (MOZZER; BORGES,
2008, p. 10).

Também considera que a imaginação criativa depende


das vivências dos indivíduos. Assim, quanto mais ricas forem
as experiências pessoais, mais material a imaginação terá à sua
disposição. Desse modo, considera que a capacidade de criar
de um adulto é maior do que de uma criança, uma vez que as
vivências de um adulto somam maior número (MOZZER; BORGES,
2008). No entanto, essa abordagem traz para nós educadores
uma grande responsabilidade, a de oferecer experiências
significativas para as nossas crianças, para que a sua capacidade
de criação seja ampliada.
Winnicott considera a criatividade como vital, ou seja,
é ela que dá sentido à vida humana. Ao discutir a criatividade
infantil, o autor afirma que “o impulso criativo é algo que […] se
faz presente em qualquer pessoa – bebê, criança, adolescente,
adulto ou velho“ (WINNICOTT, 1975, p. 100 apud MOZZER;
BORGES, 2008, p. 3).
“Podemos afirmar, então, que, para este autor, toda
expressão da vida humana, em relação à realidade externa, é
criatividade” (MOZZER; BORGES, 2008, p. 3).
Na primeira metade do século 20, o educador francês
Célestin Freinet apresentou um novo olhar para a escola e o

© CRIAÇÃO MUSICAL 33
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

fazer educativo. A partir de suas vivências e práticas pedagógicas,


Freinet elaborou suas concepções sobre a escola moderna e a
pedagogia do trabalho (FREINET, 1979). Considerou que a escola
deveria ser um espaço autogerido onde a autonomia fosse
construída por meio do livre trabalho, da livre expressão e da
livre pesquisa. A escola também deveria ser centrada na criança,
onde o papel do professor seria o de intermediar e ajudar a
construção de sua personalidade. Sua concepção de educação
valorizava a livre descoberta, dando destaque à importância da
livre expressão e da livre pesquisa (KANAMARU, 2014).
Dentro desse contexto a criança foi considerada como
um ser capaz de escolher e tomar decisões. Em sala de aula ela
encontrava oportunidades de exercer sua autonomia escolhendo
a atividade que desejava fazer, tendo livre acesso aos materiais
para realizar seus projetos, contribuindo para a elaboração do
plano de trabalho. Segundo Freinet (1996, p. 10),
não podemos, atualmente, pretender conduzir metódica e
cientificamente as crianças; ministrando a cada uma delas a
educação que lhe convém, iremos nos contentar com preparar e
oferecer-lhes ambiente, material e técnica capazes de contribuir
para sua formação, de preparar os caminhos que trilharão
segundo suas aptidões, seus gostos e suas necessidades.

Paulo Freire poucas vezes fez alusão direta às crianças em


sua obra, no entanto, partindo da compreensão dos conceitos
apresentados em sua produção bibliográfica, podemos
considerar uma concepção de infância que considere a criança
como sujeito, que tem escolhas e que também cria a sua história.
A partir de educadores como Freire, Freinet, Vygotsky,
entre outros, entendemos a criança como um sujeito de fato,
que tem muito a dizer e a contribuir. Entendemos, também, a
criança como produtora de cultura, assumindo seu papel criador.

34 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

Mas estou convencido, na minha prática, de que a


espontaneidade, a imaginação livre, a expressividade de si e do
mundo na criança; a inventividade, a capacidade de recriar o já
criado, para poder assim criar o ainda não criado, não podem,
de um lado, ser negadas em nome da instalação de uma cega
disciplina intelectual, nem, de outro, estar fora da própria
constituição dessa disciplina (FREIRE, 1982, p. 53).

Embora a criatividade seja vocação originária que pode ser


ampliada pelo uso da imaginação nas brincadeiras, nas tomadas
de decisões das crianças, a criação pode ser reprimida e sufocada
quando não é aceita e legitimada pelo outro. Muitas instituições
escolares fazem isso ao enquadrar o educando em currículos
rígidos, em que muitas vezes a manifestação da criatividade da
criança é vista como erro (RINALDI, 2012).
A criança cedo percebe que sua imaginação não joga: é quase algo
proibido, uma espécie de pecado. Por outro lado, sua capacidade
cognitiva é desafiada de maneira distorcida. Ela não é convidada,
de um lado, a reviver imaginativamente a estória contada no
livro; de outro, a apropriar-se aos poucos, da significação do
conteúdo do texto (FREIRE, 2008, p. 30).

Muitas vezes o sistema educacional submete as crianças a


um rigor sem limites da autoridade arbitrária. A criança passa,
então, a somente obedecer a regras sem refletir, escolher,
tomar decisões, ser autônoma. Sem autonomia não é possível
desenvolver seu fazer criativo, pois este exige tomada de decisões.
Sem o favorecimento da criatividade nas vivências escolares, as
crianças deixam de ampliar a sua capacidade criadora.
Nesse sentido, Freire se manifestou em prol de uma
escola que fosse centro de criatividade onde a criança tivesse
condições de aprender, criar, arriscar, perguntar e crescer
(PELOSO; PAULA, 2010). Ao fazer parte de uma escola que
estimula sua vocação originária como ser criador, a criança pode

© CRIAÇÃO MUSICAL 35
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

ampliar suas potencialidades criativas, se fazer e refazer no


mundo, desenvolver sua autonomia e pronunciar a sua palavra
como sujeito, aprender a não se calar perante as injustiças e
sobreposições.
No entanto, Freire alertou que estimular a criação da
criança e, consequentemente, a sua libertação não significa
uma educação em que a disciplina se faz ausente. A criança que
recebe uma educação que lhe fornece a liberdade, mas não
promove o entendimento do outro nesta relação, pode tornar-
se uma "tirana da liberdade", ou seja, a criança pode perder a
noção de limite, se esquecendo da existência do outro, que é
negado em suas atitudes (FREIRE, 2000).
A "tirania da liberdade", em que as crianças podem tudo: gritam,
riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade
complacente dos pais que se pensam, ainda, campeões da
liberdade [...]. Como aprender democracia na licenciosidade
em que, sem nenhum limite, a liberdade faz o que quer ou no
autoritarismo em que, sem nenhum espaço, a liberdade jamais
se exerce? (FREIRE, 2000, p. 18)

Desse modo, "é necessário que a criança aprenda que a


sua autonomia só se autentica no acatamento à autonomia dos
outros" (FREIRE, 2000, p. 59).
Freire (2008) defende um viver infantil em que não falte
o gosto da aventura, da ousadia, mas que não falte igualmente
a noção do limite, para que a aventura e a ousadia de criar não
virem irresponsabilidade licenciosa. Conclui que a relação da
autoridade e liberdade é tensa e dramática, mas imprescindível
na formação da criança. "É vivendo com lucidez a tensa relação
entre autoridade e liberdade que ambas descobrem não serem
necessariamente antagônicas uma da outra" (FREIRE, 2008,
p. 18). A criança consciente dos limites entre a autoridade e a

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UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

liberdade exercita a sua autonomia, sua capacidade de avaliar,


comparar, escolher, decidir e, finalmente, recriar e intervir no
mundo por meio de suas ações (SILVA, 2015).
Embora a essência curiosa e criadora do ser humano
se manifeste durante toda a vida, é na infância que, como
educadores, nós podemos intervir mais diretamente na
criatividade que virá a se manifestar no adulto. Crianças que não
encontram estímulos à sua criatividade tendem a serem adultos
pouco inventivos, com medo de criar.
Cabe a nós, educadores, a difícil tarefa de estimular
a criatividade das nossas crianças aplicando-a, mantendo a
consciência disciplinar e o respeito ao outro, sem cairmos, assim,
em uma “tirania da liberdade” (FREIRE, 2000).

As leituras indicadas no Tópico 3.2. tratam da criança


como ser criador e da escola como muitas vezes inibidora
desta potencialidade. Neste momento, você deve realizar
essas leituras para aprofundar o tema abordado.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone
Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o
nível de seu curso (Pós-graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo
de vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para
abrir a lista de vídeos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

© CRIAÇÃO MUSICAL 37
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. CRIAÇÃO E CRIATIVIDADE

Vimos que não há um consenso sobre o que é criação e


criatividade. Assim, nos textos selecionados a seguir você poderá
conhecer três olhares diferentes sobre criação e criatividade.
• ALENCAR, E. M. L. S.; FLEITH, D. S. Contribuições teóricas
recentes ao estudo da criatividade. Psicologia: Teoria
e Pesquisa, Brasília, jan./abr. 2003, v. 19, n. 1, p. 1-8.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v19n1/
a02v19n1.pdf>. Acesso em: 6 nov. 2015.
• JORGE S. R. O processo de criação artística para
Sigmund Freud e para Fayga Ostrower: convergências
e divergências. 2006. 144 f. Dissertação (Mestrado em
Psicologia) – PUC, Belo Horizonte, 2006. Disponível em:
<http://www.pucminas.br/documentos/dissertacoes_
sandra_regina.pdf>. Acesso em: 6 nov. 2015.
• VERAS, I. A. A criatividade como condição de ser humano.
Revista Filosofia Capital, Porto Alegre, v. 4, ed. 8, 2009,
p. 3-8. Disponível em: <http://www.filosofiacapital.
org /ojs-2.1.1/index.php/filosofiacapital/article/
view/91/67>. Acesso em: 6 nov. 2015.

38 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

3.2. CRIATIVIDADE NA INFÂNCIA E A ESCOLA COMO INIBIDO�


RA DESSE PROCESSO

A criança é um dos principais públicos do educador musical.


Portanto, é importante que você compreenda o funcionamento
e a importância do processo criativo na criança e, mais do que
isso, a veja como um sujeito de fato, capaz de tomar decisões,
fazer escolhas e proferir a sua própria palavra. Infelizmente, o
ambiente educacional muitas vezes impede a autonomia e a
capacidade criadora da criança.
Os artigos selecionados ajudarão você na reflexão sobre a
criatividade infantil e também na compreensão da importância
da nossa ação na ampliação da criatividade.
• ALENCAR, E. M. L. S. O contexto educacional e sua
influência na criatividade. Linhas Críticas, Brasília, v. 8, n.
15, jul./dez. 2002, p 165-178. Disponível em: <https://
www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&sou
rce=web&cd=1&ved=0CBwQFjAAahUKEwi2he3NnLHI
AhUCrB4KHVpUBSc&url=http%3A%2F%2Fperiodicos.
unb.br%2Findex.php%2Flinhascriticas%2Farticle%2Fdo
wnload%2F6477%2F5235&usg=AFQjCNHYMarzvmRO
DcaB0WvwQeoIsaGEBQ&bvm=bv.104819420,d.dmo>.
Acesso em 6 nov. 2015.
• MOZZER, G. N. S; BORGES, F. T. A criatividade infantil
na perspectiva de Lev Vigotski. Revista Inter Ação, UFG,
Goiânia, v. 33, n. 2, p. 297-316, dez. 2008. Disponível
em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/interacao/
article/view/5269>. Acesso em: 7 out. 2015.
• SAKAMOTO, C. K. O brincar da criança – criatividade
e saúde. Boletim – Academia Paulista de Psicologia,
São Paulo, v. 28, n. 2, dez. 2008. Disponível em:

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UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1415-711X2008000200014&lng=pt&nrm
=iso>. Acesso em: 6 nov. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) A criatividade é o que desencadeia o ato criativo. O que leva as pessoas a
serem criativas e capazes de criar?
a) Nascer com um dom especial.
b) A inspiração divina.
c) O potencial criador que todo ser humano possui.
d) O estudo sobre criatividade.
e) A alimentação saudável.

2) Estudiosos apontam sobre o senso comum nas questões referentes à


criação. Tendo em vista esses estudiosos, assinale a alternativa correta.
a) O senso comum aponta que todos podem criar.
b) O senso comum aponta que os muito inteligentes podem criar.
c) O senso comum aponta que somente as mulheres podem criar.
d) O senso comum aponta que somente as crianças são criativas.
e) O senso comum aponta que somente os dotados de talento criativo
nato podem criar.

3) Lubart (2007a) diferencia dois tipos de criatividade. Quais são elas?


a) A criatividade cotidiana e criatividade eminente.
b) A criatividade nata e a criatividade inata.
c) A criatividade nata e a adquirida.
d) A criatividade artística e a criatividade científica.
e) A criatividade racional e a criatividade emocional.

40 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

4) (Prefeitura Municipal de Nova Trento – Concurso Público n° 001/2007)


“Ela envolve um tipo de conhecer, que é um apreender o mundo externo
junto com o mundo interno, e ainda envolve, concomitantemente, um
interpretar aquilo que está sendo apreendido. Tudo se passa ao mesmo
tempo”. O texto de Fayga Ostrower refere-se a alguns aspectos da:
a) seletividade no processo criador.
b) intuição.
c) imaginação criativa.
d) percepção.
e) materialidade.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) c.

2) e.

3) a.

4) d.

5. CONSIDERAÇÕES
Caro aluno, nesta unidade você teve a oportunidade
de conhecer diferentes estudos sobre criatividade e criação,
identificando, também, linhas de pensamento responsáveis
pelos estudos que serão apresentados ao longo dessa obra.
É importante que os temas abordados até aqui sejam
aprofundados pelos artigos presentes no Conteúdo Digital
Integrador.

© CRIAÇÃO MUSICAL 41
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

Na Unidade 2 veremos que a arte é um fazer criativo.


Apresentaremos, também, os estudos sobre criação musical,
dialogando assim com autores da Educação Musical.

6. E-REFERÊNCIAS
ALENCAR, E. M. L. S.; FLEITH, D. S. Contribuições teóricas recentes ao estudo da
criatividade. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, jan./abr. 2003, v. 19, n. 1, p. 1-8.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v19n1/a02v19n1.pdf>. Acesso em: 6
nov. 2015.
JORGE, S. R. O processo de criação artística para Sigmund Freud e para Fayga Ostrower:
convergências e divergências. 2006. 144 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) –
PUC, Belo Horizonte, 2006. Disponível em: <http://www.pucminas.br/documentos/
dissertacoes_sandra_regina.pdf>. Acesso em: 6 nov. 2015.
MOZZER, G. N. S.; BORGES, F. T. A criatividade infantil na perspectiva de Lev Vigotski.
Revista Inter Ação, UFG, Goiânia, v. 33, n. 2, p. 297-316, dez. 2008. Disponível em:
<http://www.revistas.ufg.br/index.php/interacao/article/view/5269>. Acesso em: 8
out. 2015.
VERAS, I. A. A criatividade como condição de ser humano. Revista Filosofia Capital,
Porto Alegre, v. 4, ed. 8, 2009, p. 3-8. Disponível em: <http://www.filosofiacapital.org/
ojs-2.1.1/index.php/filosofiacapital/article/view/91/67>. Acesso em: 6 nov. 2015.

Lista de figuras
Figura 1 Santos Dumont e o relógio de pulso. Disponível em: <http://dilucious.com.br/
wp-content/uploads/2014/01/horah_relogiosmasculinos_f_001_Fotor_Collage.jpg>.
Acesso em: 5 nov. 2015.
Figura 2 S. Gregório recebendo inspiração do Espírito Santo. Disponível em: <https://
communioscj.files.wordpress.com/2012/06/gregc3b3rio-magno_04.jpg>. Acesso em:
5 nov. 2015.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, E. M. L. S.; FLEITH, D. S. Criatividade: múltiplas perspectivas. 3. ed. rev. ampl.
Brasília: Editora UnB, 2003.

42 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

BERGSON, H. A evolução criadora. Tradução de Adolfo Casais Monteiro. Rio de Janeiro:


Opera Mundi, 1971.
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo
de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2002.
BRITO, M. T. A. Por uma educação musical do pensamento: novas estratégias de
comunicação. 2007. 288 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) – PUC, São
Paulo, 2007.
CRAFT, A. The limits to creativity in education: dilemmas for the educator. British
Journal of Educational Studies, v. 51, n. 2, p. 113-127, jun. 2003.
EYSENCK, H. J. As formas de medir a criatividade. In: BODEN, M. A. (Org.). Dimensões
da criatividade. Porto Alegre: Artmed, 1999. p. 203-244.
FREINET, C. Pedagogia do bom senso. Tradução de J. Baptista. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
FREINET, É. O itinerário de Célestin Freinet: a livre expressão na pedagogia de Freinet.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1981.
______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 21. ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
______. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
Editora Unesp, 2000.
______. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. 19. ed. São Paulo: Cortez,
2008.
______. Pedagogia do oprimido. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
______.; GUIMARÃES, S. Sobre Educação (Diálogos). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
LUBART, T. Creativity across cultures. In: STERNBERG, R. J. (Ed.). Handbook of Creativity.
10th printing. Cambridge: Cambridge University Press, 2007a. p. 339-350.
______. Psicologia da criatividade. Tradução de Márcia Conceição Machado Moraes.
Porto Alegre: Artmed, 2007b.
KANAMARU, A. T. Autonomia, cooperativismo e autogestão em Freinet: fundamentos
de uma pedagogia solidária internacional. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 40, n. 3, p. 767-
781, jul./set. 2014.
OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 2001.

© CRIAÇÃO MUSICAL 43
UNIDADE 1 – CRIAÇÃO: CONCEITOS, REFLEXÕES E DESDOBRAMENTOS

PELOSO, F. C.; PAULA, E. M. A. T. Aspectos epistemológicos sobre infância, crianças


e Educação Infantil nas obras de Paulo Freire: alguns apontamentos. In: Reunião da
ANPED, 33, 2010, Caxambú, MG. Anais... Caxambú, 2010. p. 1- 17.
RINALDI, C. Criatividade como qualidade humana. In: ______. Diálogos com Reggio
Emilia: escutar, investigar e aprender. São Paulo: Paz e Terra, 2012. p. 203-217.
SANTOS, R. A. A perspectiva da criatividade nos modelos de conhecimento musical. In:
ILARI, B. S; ARAÚJO, R. C. (Orgs.). Mentes em música. Curitiba: UFPR, 2010. p. 91-111.
SARAMAGO, J. Memorial do convento. 24. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
SILVA, M. G. Criação musical coletiva com crianças: possíveis contribuições para
processos de educação humanizadora. 2015. 146 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – UFSCar, São Carlos, 2015.
SOUZA, M. C. B. R. A concepção de criança para o enfoque histórico-cultural. 2007. 154
f. Tese (Doutorado em Educação) – Unesp, Marília, 2007.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores. Tradução de José Cipolla Neto, Luis Silveira Menna Barreto e
Solange Castro Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

44 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2
A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO:
CRIAÇÃO MUSICAL

Objetivos
• Compreender a arte musical como um fazer criativo.
• Compreender a influência do ensino tecnicista musical para a dificuldade
de desenvolver um Ensino de Música criativo.
• Estudar as principais pesquisas sobre criação musical.
• Compreender a importância da criação no Ensino de Música.

Conteúdos
• A arte como fazer criativo.
• Crítica ao ensino musical tecnicista.
• Talento musical.
• Pesquisas em criação musical no Brasil.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Leia atentamente o conteúdo buscando relacionar os conceitos apresen-


tados com sua prática musical.

2) A leitura dos artigos presentes no Conteúdo Digital Integrador são de


grande importância.

3) Para conhecer mais sobre o pensamento de H.-J. Koellreutter, assista ao


documentário disponível no link a seguir. Por volta dos 24 minutos, você

45
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

terá a oportunidade de ouvir Teca Alencar de Brito, educadora musical que


foi aluna de Koellreutter e pesquisadora de seus métodos educacionais.
• Koellreutter e a música transparente (Documentário).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5lh_
qDqIP3I&feature=youtu.be>. Acesso em: 9 nov. 2015.

4) Assista a trechos de uma roda de conversa com Marisa Fonterrada e Teca


Alencar de Brito:
• A MÚSICA NA ESCOLA. A Educação Musical no Século XXI –
Experiências Criativas. Disponível em: <https://youtu.be/
kwqRykRGdPA>. Acesso em: 9 nov. 2015.

46 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

1. INTRODUÇÃO
Na unidade anterior vimos que a curiosidade e,
consequentemente, a criatividade fazem parte da essência
humana e do fenômeno vital do ser humano (FREIRE, 1996).
Esses traços se revelam ainda mais latentes na infância
quando a inquietação e as constantes indagações se apresentam
na busca de desvelar o mundo a todo instante por meio da ação
curiosa da criança. Por sua vez, é essa curiosidade que leva à
criatividade, que nos move a transformar o mundo que já existe
por meio do que fazemos de novo.
O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as
emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca
da perfilização do objeto ou do achado de sua razão de ser. Um
ruído, por exemplo, pode provocar minha curiosidade. Observo
o espaço onde parece que se está verificando. Aguço o ouvido.
Procuro comparar com outro ruído cuja razão de ser já conheço.
Investigo melhor o espaço. Admito hipóteses várias em torno da
possível origem do ruído. Elimino algumas até que chego a sua
explicação (FREIRE, 1996, p. 87).

Vimos, também, que a criatividade e o ato de criar se


manifestam em vários momentos e contextos de nossa vida.
Mas como a criatividade está ligada ao fazer artístico?
Antes de responder essa questão, cabe esclarecer que
consideramos os seres humanos como o único animal dotado
da capacidade de criar (JORGE, 2006). Assim, “criou a arte para
mostrar o seu pensamento e sentimento, para registrar os fatos,
para explorar diversas formas da natureza e para se comunicar
com os outros homens” (JORGE, 2006, p. 75).
Desse modo, a arte não só se manifesta como um fazer
criativo, mas também como um fazer essencialmente humano.

© CRIAÇÃO MUSICAL 47
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

Nesta unidade estudaremos a arte como um fazer humano


e criativo e focaremos os nossos estudos na criação musical,
nosso campo de pesquisa neste material. Abordaremos, também,
a problemática de desvincular a criação musical de uma parcela
específica da população, discutindo assim o "mito do talento".
Você também terá a oportunidade de conhecer os
principais estudos na área de Educação Musical que abordam a
questão da criação musical no Ensino de Música.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

2.1. CRIAÇÃO MUSICAL NO ENSINO DE MÚSICA

A criação musical existe desde os primórdios do tempo.


Estudos arqueológicos apresentam desde pinturas rupestres que
mostram o homem primitivo executando instrumentos musicais
até os achados em sítios arqueológicos, como flautas feitas de
ossos e instrumentos percussivos.
Mas que música esse homem primitivo executava?
Certamente a música que ele criava.
Esse ato de criar musicalmente percorreu toda a história
da humanidade, exemplo disso são os grandes compositores que
fazem parte da História da Música Ocidental. No entanto, o ato
de criar músicas ficou restrito a somente uma parcela de pessoas.

48 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

No século 20 a criação musical começou a ser vista como uma


ferramenta pedagógica importante.
Hoje, compreendemos que todos são capazes de criar
musicalmente, não somente os grandes compositores. Essa
concepção é resultado de pesquisas em Educação Musical que
vêm se ocupando da investigação sobre a utilização da criação
musical como prática pedagógica/musical no cotidiano do Ensino
de Música.
Neste material compreendemos como criação musical
todos os processos em que há a apropriação e a organização
de sons pelos sujeitos de maneira autônoma, consciente e
intencional, nos quais os sons são compreendidos, relacionados,
apropriados, ordenados, ressignifcados e utilizados como forma
de expressão e comunicação. Nesse sentido, a improvisação
livre, a composição de músicas inéditas, os arranjos e a criação
de paisagens sonoras estão no âmbito da criação musical (SILVA,
2015).
Estudaremos, então, a concepção sobre criação musical de
alguns autores importantes e significativos da Educação Musical.
Ao longo do século 20 músicos e teóricos, como Jaques-
Dalcroze, Murray Schafer, John Paynter e Keith Swanwick,
salientaram a importância das atividades de criação musical em
suas propostas pedagógicas.
Émile Jaques-Dalcroze (1869-1950) contribuiu para uma
nova metodologia de Ensino Musical, valorizando a integração
do desenvolvimento rítmico a partir de movimentos corporais.
Propõe um Ensino de Música pautado na euritmia, que é a
interligação de música e sentido, mente e corpo, dos quais os
aprendizados musicais derivariam. Dalcroze (Figura 1) considerava

© CRIAÇÃO MUSICAL 49
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

que a música acontecia em todo o corpo, de modo que a criação


em sua abordagem de ensino estava presente nas atividades em
que o educando podia se expressar individualmente de forma
espontânea. A criação era proposta por meio de movimentos
corporais, palmas, percussão e fala.

Figura 1 Émile Jaques-Dalcroze.

Murray Schafer (Figura 2) nasceu em 1933 no Canadá e


contribuiu para o campo da Educação Musical por meio da sua
proposta de escuta de paisagens sonoras, bem como processos
de criação baseados nelas. Aponta para a importância da escuta
dos sons do mundo no Ensino Musical, propondo que por meio
da escuta consciente o educando pudesse apurar a sua percepção
auditiva, fazendo uma "limpeza de ouvidos" (SCHAFER, 1991).
Schafer trabalha com o conceito de paisagens sonoras, que
se constituem como "qualquer campo de estudo acústico"
(SCHAFER, 1997, p. 23), ou seja, os sons que estão presentes em
diversos ambientes, sejam eles naturais ou artificiais.

50 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

Figura 2 Murray Schafer.

Inicialmente, o autor propõe que os educandos ouçam


esses sons e percebam os fenômenos ao redor como sons
musicais; em um segundo momento, o educando deve analisar
esses sons para, finalmente, transformar esse material sonoro
por meio da criação. A criação em sua proposta de Ensino Musical
é feita por meio da apropriação do som ouvido, do uso livre da
voz, produzindo assim estruturas musicais e músicas de caráter
programático (FONTERRADA, 2003).
Na Figura 3 podemos observar o compositor Messiaen
compondo a partir dos sons da natureza.

Figura 3 Compositor Messiaen, compondo a partir dos sons da natureza.

© CRIAÇÃO MUSICAL 51
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

Outro autor importante que propõe a criação musical como


fundamental no Ensino de Música é Keith Swanwick (Figura 4).
Nascido na Inglaterra em 1937, desenvolveu a teoria espiral do
desenvolvimento musical baseado na compreensão teórica do
desenvolvimento humano de Piaget. Propõe também um ensino
significativo de música baseado no modelo (T)EC(L)A, adaptação
da sigla inglesa C(L)A(S)P (Composition, Literature, Audition, Skill
Performance and Acquisition).
O educador reflete sobre a importância de o Ensino Musical
englobar atividades técnicas, de execução musical, ligadas à
literatura musical, e de criação musical, considerando inúmeras
possibilidades aglutinadoras de todos esses fazeres. Swanwick
aponta que assim é possível oferecer um ensino que promova
experiências musicais aprofundadas aos educandos. Para o
autor, as atividades de criação musical refletem a compreensão
musical do educando.

Figura 4 Keith Swanwick.

52 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

No Brasil, uns dos primeiros autores a trabalhar a criação


musical no contexto educacional foi Hans-Joachim Koellreutter
(Figura 5). O compositor e educador nasceu em 1915 na Alemanha
e chegou ao Brasil em 1937, onde se naturalizou brasileiro.
Koellreutter aponta que "sem o espírito criador não há
arte, não há educação" (KOELLREUTTER, 1997, p. 71).
Juntamente com seus alunos, Koellreutter desenvolveu
uma série de jogos com modelos de improvisação. A partir desses
jogos criativos os alunos vivenciavam vários aspectos musicais e
eram estimulados a refletir sobre a nova estética musical daquele
momento, a música contemporanea.
Koellreutter defendia que toda improvisação deveria ter
uma finalidade musical e também humana, ponto de vista que
aprofundaremos na próxima unidade.

Figura 5 Hans-Joachim Koellreutter.

© CRIAÇÃO MUSICAL 53
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

Outro importante nome da Educação Musical que refletiu


sobre a criação musical no Ensino de Música foi Violeta Hemsy
de Gainza (Figura 6). Em seus escritos, Gainza aponta para
a importância das atividades de criação musical na infância
musical.
Quando o Ensino Musical se apoia exclusivamente nos aspectos
intelectuais, concentrando-se na reprodução fiel de modelos
arquetípicos da arte ou da técnica musical, ele ficará como algo
"enviesado" na vida da pessoa e no processo de "crescimento
da infância musical", período tão importante como a própria
infância, caracterizado, em suas diferentes etapas, por condutas
específicas [...]. Infância musical implica em jogo, liberdade,
descoberta, participação e outras atitudes positivas que
determinarão decisivamente as condutas e o desenvolvimento
posterior do futuro músico ou aficionado musical (GAINZA, 1990,
p. 4).

Figura 6 Violeta Hemsy de Gainza.

Podemos compreender como infância musical o início do


aprendizado musical das pessoas, independente da sua idade. Os

54 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

músicos que não tiveram essas vivências em sua formação muitas


vezes são capazes de interpretar peças musicais complexas, mas
sentem grande dificuldade para improvisar ou manifestar a sua
criatividade musical.
A pesquisadora ainda afirma que a improvisação e os
jogos criativos permitem que o educando estabeleça contato
com seu universo sonoro internalizado, possibilitando o
relacionamento com a linguagem musical e com a expressão
musical, desenvolvendo assim a capacidade de manipular a
realidade sonora em que se encontra inserido e, mais do que
isso, comunicar-se por meio da linguagem musical de maneira
significativa (GAINZA, 2007).
Viviane Beineke (2010), educadora musical do Rio Grande
do Sul, desenvolveu pesquisas sobre criação musical focando
no Ensino Musical na escola de Educação Básica. Beineke
desenvolve as bases do seu pensamento sobre criação musical
a partir de autores como Burnard (2006) e Csikszentmihalyi
(1997) que consideram a natureza dessa atividade importante
por ser um meio de desenvolver a criatividade e a inventividade,
tão exigidas no mercado de trabalho atual. Em sua pesquisa, a
educadora musical lança olhares para a utilização da composição
para o desenvolvimento da criatividade, para a fixação de
conceitos e aprendizado de conteúdos musicais, considerando,
também, a composição uma ferramenta educativa, uma vez que
esta atividade musical leva a tomadas de decisões para além da
artisticidade.
Beineke (2010) defende que, metodologicamente, é
importante que o professor encontre o equilíbrio ao propor
atividades de criação musical em sala de aula, uma vez que
atividades que propõe estruturas prévias podem “engessar” os

© CRIAÇÃO MUSICAL 55
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

alunos, mas, por outro lado, atividades totalmente livres podem


deixar os alunos perdidos.
Pesquisadores da área da Pedagogia Musical também
consideram que a criação musical favorece o aprendizado
musical significativo (DUARTE, 2006). Quando o compositor,
instrumentista ou cantor modifica os materiais sonoros de
acordo com o significado que quer empregar a eles, buscando se
comunicar com o seu público, está concretizando um processo de
comunicação. Nesse processo, há tomadas de decisões, escolhas
musicais para que se crie sua própria música. Essa comunicação
por meio da música e as escolhas que estão implicadas nela
favorecem o aprendizado significativo e, por isso, é uma maneira
aceitável de se ensinar em todas as idades, dando voz e a
possibilidade de diálogo musical a quem cria.
Ainda sobre a importância da criação musical para a
aprendizagem significativa do educando, a educadora aponta
que "na aprendizagem criativa, a realização de tarefas de criação
colaborativa permite desenvolver e expandir a compreensão e
construção de significados pelos alunos" (BEINEKE, 2012, p. 54).

Criação musical na infância


A criação musical como recurso pedagógico é uma atividade
essencial na experiência musical das crianças. As crianças, como
seres curiosos, são dotadas de uma criatividade que as levam
a modificar o seu ambiente, bem como a música, por meio de
sua imaginação. Musicalmente, elas demonstram desde a sua
primeira infância que são capazes de articular sons utilizando
sua criatividade e o fazem em sua grande maioria de forma
espontânea, sem amarras ou entraves (BRITO, 2007).

56 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

Teca Alencar de Brito (Figura 7) foi aluna de Koellreutter


e, partindo de suas concepções educacionais e suas relações
com outros filósofos – como Deleuze – e também de sua prática
pedagógica com crianças em sua "oficina musical", realizou
pesquisas com o foco no fazer musical na infância.

Figura 7 Teca Alencar de Brito e Koellreutter.

Ao apresentar suas experiências junto às crianças (Figura


8), Brito salienta que elas tendem a ser inventoras. Elas interagem
com o ambiente sonoro, ouvindo os sons que estão ao seu redor,
produzindo música com sua voz e seu corpo, experimentando
novos sons, sendo assim capturadas pela música, nos mais
diversos sentidos (BRITO, 2007). Nesse fazer musical emergem
o seu contexto e a sua história de vida. A criança sonoriza suas
percepções, sentimentos e também reproduz os modelos que
estão à sua volta (BRITO, 2007).

© CRIAÇÃO MUSICAL 57
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

Figura 8 Teca Oficina de Música.

A criança é capaz de criar e faz isso o tempo todo. Brito


aponta que as crianças, ao elaborar ideias musicais por meio
da improvisação e da invenção, revelam a singularidade do seu
pensamento. Nesse processo de criação podemos observar
as suas descobertas e reflexões, que refletem o modo de
ser das crianças, possibilitando que possamos conhecê-las e
compreendê-las melhor (BRITO, 2007).
A autora ainda aponta para as construções de espaços
de convivência que ocorrem no ambiente educacional, onde a
criança aprende junto com os outros, desenvolve um fazer musical
que leva à conscientização por meio da música, desenvolvendo
o humano na criança. Desse modo, propõe uma reflexão sobre
fazer musical na infância partindo da seguinte perspectiva:
Música da infância não como repetição igual das notas da escala
ou treinos incessantes para identificar isto ou aquilo, mas sim,
como blocos de sensações que permitem ir e vir, construir e
desconstruir, brincar com o tempo e o espaço, pensar, conversar
e amar (BRITO, 2007, p. 2).

58 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

Por meio da criação musical a criança reinventa a sua música


e, ao fazê-lo, reinventa o que é como humana (BRITO, 2007).
Hoje, como vimos, muitas são as pesquisas que abordam a
criação musical no Ensino de Música em diferentes contextos.
Assim, concluímos que as atividades de criação musical
agregam benefícios musicais aos educandos; possibilita que
eles criem algo que está de acordo com seu nível técnico no
instrumento musical, manuseie o material musical, reconheça
a música como linguagem e compreenda a ação do compositor,
assumindo-se como tal. Na criação musical, o educando tem
autonomia para tomar suas próprias decisões, o que é fundamental
para o desenvolvimento de um pensamento crítico e reflexivo
(SWANWICK, 1979).
Apesar desses benefícios, na prática do dia a dia dos
educadores musicais ainda existe muita resistência às atividades
desta natureza.
Mas por que isso acontece? O que impede o educando de
criar? Refletiremos sobre essas questões a seguir.

Com as leituras propostas no Tópico 3.1., você vai


aprofundar seus estudos sobre criação musical na Educação
Musical. Antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as
leituras indicadas, procurando assimilar o conteúdo estudado.

2.2. O MITO DO TALENTO: PROBLEMÁTICAS DE UM ENSINO


TECNICISTA

No dia a dia do seu fazer o educador elege elementos


que deverão estar presentes nas aulas. No Ensino de Música

© CRIAÇÃO MUSICAL 59
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

não é diferente. Ao ensinar um instrumento, o educador


escolhe atividades que acredita ser de grande importância para
o aprendizado dos educandos. Infelizmente muitas vezes as
atividades de criação musical não são elencadas nestas escolhas.
Pesquisas demonstram que ainda há muita resistência por parte
dos educadores em desenvolver atividades de criação musical
em suas aulas.
Portanto, nossos alunos muitas vezes não criam, não por
falta de capacidade, mas porque não têm a oportunidade de
criar. Ao contrário disso, são imersos em um Ensino Musical
em que ele é levado a sempre reproduzir algo, normalmente
exercícios técnicos baseados na repetição.
Em suas pesquisas sobre a utilização da criação musical no
Ensino de Música, feita junto a professores de Música, Beineke
(2008) destaca que, embora haja um entendimento por parte
dos educadores musicais sobre a importância da criação musical
no Ensino de Música, os olhares sobre os objetivos e as funções
dessas atividades variam.
Mas por que existe tanta resistência em propor atividades
de criação musical aos nossos alunos?
Brito (2007) aponta que muito dessa dificuldade de
considerar a criatividade no Ensino Musical vem de uma tradição
ligada ao modelo de ensino conservatorial que influenciou
todos os tipos de Ensino Musical no Brasil. Esse modelo também
influenciou o Ensino de Música para crianças em que a prática
do aprendizado musical por meio da repetição se faz presente.
Hoje, podemos observar esse modelo sendo utilizado com muita
ênfase no estudo de instrumentos musicais, principalmente em
aulas individuais.

60 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

A primeira escola de Música de caráter profissionalizante


foi o Conservatório de Paris criado em 1794. O modelo de
ensino desse conservatório se espalhou pela Europa e América,
chegando ao Brasil em 1845. A proposta dos conservatórios
era o ensino individualizado, focado no desenvolvimento do
virtuosismo instrumental, rigor metodológico e, principalmente,
com fim profissionalizante:
As atividades de criação também ficam à margem do estudo do
instrumento, uma vez que, segundo a herança, a formação de
compositores se dá em outros espaços e planos. Isso tudo sem
contar o ranço da concepção inatista, que acolhe e/ou exclui
alunos segundo o reconhecimento (ou não) de seu talento
natural, decidindo por eles se “vale a pena” estudar música (em
função de um possível "futuro promissor") (BRITO, 2007, p. 58).

Cabe ressaltar que o ensino técnico é importante, mas ele


não pode ser o único foco de estudos como frequentemente
acontece. O fazer musical envolve a apreciação, a criação, o
aprendizado dos fatos históricos, teóricos musicais e também
técnicos.
Outra questão relevante é a herança do pensamento
europeu do século 19, em que o compositor é supervalorizado e
a palavra "gênio" se destaca, impedindo que o educador veja a
capacidade de criar dos educandos, bem como as potencialidades
e contribuições que esse processo traz para a sua educação
musical e formação humana.
O ideário romântico ainda é detectado na fala de muitos
artistas e professores de artes, de modo que expressões como
"gênio", "prodígio", "especial" são atribuídas aos raros seres
"dotados desta sorte". Essa visão está diretamente atrelada à
visão inatista da arte, aquela que considera que o artista já nasce

© CRIAÇÃO MUSICAL 61
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

com certas características que não decorrem de aprendizagem


(FIGUEIREDO; SCHMIDT, 2008).
A questão do talento para aprender música vem sendo
discutida por alguns especialistas em música. Há os que defendem
o talento como inato, condição para o aprendizado musical, e os
que demostram por meio de pesquisas que a musicalidade do
músico é construída socialmente (SCHROEDER, 2004).
Como vimos em nossos estudos, todos temos um potencial
criador, no entanto é preciso que ele seja estimulado. A criação
musical é possível para todo ser humano considerando sua fonte
vital como essência ontológica.
[...] o aluno deve ser incentivado a demonstrar o seu potencial
criativo [...]. A criatividade não é estigma dos gênios, muito pelo
contrário: ela é inerente a qualquer ser humano, só dependendo
dele e da educação que usufrui, a possibilidade de desenvolver
essa capacidade (RAPAZOTE, 2001, p. 219).

Como estamos inseridos em um sistema educacional


que não privilegia a autonomia, a tomada de decisões e a
criatividade, nossos alunos podem demostrar dificuldades para
criar suas músicas inicialmente. No entanto, quando as atividades
de criação musical passam a ser oferecidas e estimuladas
frequentemente, ocorre um processo educativo em que o aluno
passa a criar com cada vez mais facilidade, expandindo as suas
ideias e sua imaginação.
Por meio das pesquisas sobre criação musical no Ensino
de Música, hoje sabemos que essas atividades promovem a
autonomia, o pensamento crítico, a alteridade e o alargamento
da consciência. Por esse motivo, a Educação Musical vem se
ocupando em promover um processo de conscientização por
meio das pesquisas realizadas sobre a criação musical como

62 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

forma de prática pedagógica em ambientes educativos, escolares


ou não.

As leituras indicadas no Tópico 3.2. ampliam seus


estudos sobre o ensino tecnicista de música e sobre a questão
do talento musical. Neste momento, você deve realizar essas
leituras para aprofundar o tema abordado.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone
Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o
nível de seu curso (Pós-Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo
de vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para
abrir a lista de vídeos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. CRIAÇÃO MUSICAL NO ENSINO DE MÚSICA

Nos textos selecionados a seguir você poderá aprofundar


seus estudos sobre a criação musical no contexto do Ensino de
Música.
• BEINEKE, V. A composição no Ensino de Música:
perspectivas de pesquisa e tendências atuais. Revista da

© CRIAÇÃO MUSICAL 63
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

ABEM, Porto Alegre, n. 20, 19-32, set. 2008. Disponível


em: <http://www.abemeducacaomusical.org.br/
Masters/revista20/revista20_artigo2.pdf>. Acesso em:
10 nov. 2015.
• MAHEIRIE, K. Processo de criação no fazer musical: uma
objetivação da subjetividade, a partir dos trabalhos de
Sartre e Vygotsky. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8,
n. 2, p. 147-153, jul./dez. 2003. Disponível em: <http://
dx.doi.org/10.1590/S1413-73722003000200016>.
Acesso em: 10 nov. 2015.
• BORGES, A. H.; FONTERRADA, M. T. O. Abordagens
criativas: ensino/aprendizagem da música
contemporânea. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA,
17., 2007. São Paulo, SP. Anais... São Paulo, 2007, p. 1-6.
Disponível em: <http://www.academia.edu/6344642/
ABORDAGENS_CRIATIVAS_ENSINO_APRENDIZAGEM_
DA_M%C3%9ASICA_CONTEMPOR%C3%82NEA>.
Acesso em: 10 nov. 2015.

3.2. A PROBLEMÁTICA DO ENSINO TECNICISTA E DO MITO DO


TALENTO

Vimos que a herança europeia do século 19, tanto do


modelo de ensino musical tecnicista quanto do ideário do
talento, muitas vezes impede os educadores de compreender as
potencialidades das atividades de criação musical no Ensino de
Música.

64 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

Nesse sentido, os artigos indicados a seguir ajudarão você


na reflexão sobre o modelo conservatorial e também sobre o
talento musical.
• AMATO, R. C. F. Educação pianística: o rigor pedagógico
dos conservatórios. Revista Música Hodie, UFG, v.
6, n. 1, p. 75-96, nov. 2006. Disponível em: <http://
h200137217135.ufg.br/index.php/musica/article/
view/1866/11999>. Acesso em: 10 nov. 2015.
• FIGUEIREDO, S. L. F.; SCHMIDT, L. M. Refletindo sobre o
talento musical na perspectiva de sujeitos não-músicos.
In: SIMPÓSIO DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 4.,
2008, São Paulo, SP. Anais do SIMCAM. São Paulo, SP:
USP, 2008. p. 423-429. Disponível em: <http://www.
abcogmus.org/documents/SIMCAM4.pdf>. Acesso em:
10 nov. 2015.
• SCHROEDER, S. C. N. O músico: desconstruindo
mitos. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 10, p.
109-118, mar. 2004. Disponível em: <http://www.
abemeducacaomusical.org.br/Masters/revista10/
revista10_artigo13.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Como Murray Schafer propunha a criação musical em sua proposta
educacional?
a) Propunha a criação musical tendo em vista a formação do compositor,
trabalhando assim formas musicais fechadas.

© CRIAÇÃO MUSICAL 65
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

b) A criação em sua proposta de Ensino Musical é feita por meio da


apropriação do som ouvido (paisagem sonora), do uso livre da voz,
produzindo assim estruturas musicais e músicas programáticas.
c) Propunha improvisação livre envolvendo a percussão corporal.
d) Propunha o uso de arranjos de músicas folclóricas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

2) Para Violeta Hemsy de Gainza qual a importância de criação musical?


a) Considera que as atividades de criação musical são importantes na
“infância musical”.
b) Considera que os futuros compositores precisam iniciar a prática da
criação musical desde a infância.
c) Considera que a criação musical é importante para os alunos que
demostram talento nesta área.
d) Considera que a criação musical é secundária dentro do Ensino de
Música.
e) Todas as alternativas estão incorretas.

3) Como Teca Alencar de Brito considera o fazer criativo na infância?


a) Considera que ainda é um fazer muito rudimentar e, por essa razão,
deve ser iniciado com mais afinco na adolescência e vida adulta.
b) A autora acredita que a criança ainda não tem maturidade para criar
musicalmente, mas, por outro lado, consegue criar quando brinca.
c) Considera que algumas crianças talentosas conseguem criar
musicalmente, mas isso é uma exceção.
d) Considera as crianças inventoras. Aponta que elas interagem com o
ambiente sonoro, ouvindo os sons que estão ao seu redor, produzindo
música com sua voz e seu corpo, experimentando novos sons.
e) Nenhumas das respostas estão corretas.

4) Como a herança do pensamento europeu do século 19 pode prejudicar a


aplicação das atividades de criação musical?
a) A supervalorização do compositor, iniciada no século 19, pode impedir
que o educador veja a capacidade de criar dos educandos.
b) A herança do pensamento europeu não prejudica, ao contrário, só
vem a contribuir com a aplicação das atividades de criação musical.

66 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

c) Prejudica, pois as formas musicais desse período são muito difíceis de


serem utilizadas de maneira pedagógica.
d) Contribui com a aplicação dessas atividades, porque utiliza como
exemplo as crianças prodígios.
e) Todas as alternativas estão corretas.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) b.

2) a.

3) d.

4) a.

5. CONSIDERAÇÕES
Caro aluno, nesta unidade você teve a oportunidade de
conhecer algumas pesquisas sobre a criação musical no contexto
educativo. Você também foi convidado a refletir sobre as razões
às quais essas atividades ainda não estão presentes no dia a dia
dos nossos educandos.
Na Unidade 3 estudaremos como as atividades de criação
musical podem contribuir para a formação humana dos nossos
educandos. Assim, apresentaremos mais argumentos para
fortalecer a visão de que as atividades de criação musical são
fundamentais para o Ensino de Música de nossos alunos.

© CRIAÇÃO MUSICAL 67
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

6. E-REFERÊNCIAS
BEINEKE, V. A composição no Ensino de Música: perspectivas de pesquisa e tendências
atuais. Revista da ABEM, Porto Alegre, n. 20, 19-32, set. 2008. Disponível em: <http://
www.abemeducacaomusical.org.br/Masters/revista20/revista20_artigo2.pdf>.
Acesso em: 10 nov. 2015
BRITO, M. T. A. O humano como objetivo da Educação Musical: o pensamento
pedagógico-musical de Hans-Joachim Koellreutter. 2011. Disponível em: <http://
www.galileo.edu/esa/files/2011/12/3.-O-HUMANO-COMO-OBJETIVO-DA-
EDUCA%C3%87%C3%83O-MUSICAL-Teca-Brito.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2015.
FIGUEIREDO, S. L. F.; SCHMIDT, L. M. Refletindo sobre o talento musical na perspectiva
de sujeitos não-músicos. In: SIMPÓSIO DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS, 4., 2008,
São Paulo, SP. Anais do SIMCAM. São Paulo, SP: USP, 2008. p. 423- 429. Disponível em:
<http://www.abcogmus.org/documents/SIMCAM4.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2015.
JORGE, S. R. O processo de criação artística para Sigmund Freud e para Fayga Ostrower:
convergências e divergências. 2006. 144 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) –
PUC, Belo Horizonte, 2006. Disponível em: <http://www.pucminas.br/documentos/
dissertacoes_sandra_regina.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2015.
SCHROEDER, S. C. N. O músico: desconstruindo mitos. Revista da ABEM, Porto Alegre,
n. 10, p. 109-118, mar. 2004. Disponível em: <http://www.abemeducacaomusical.org.
br/Masters/revista10/revista10_artigo13.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2015.

Lista de figuras
Figura 1 Émile Jaques-Dalcroze. Disponível em: <http://www.kvl.cch.kcl.ac.uk/
THEATRON/biographys/Dalcroze01.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2015.
Figura 2 Murray Schafer. Disponível em: <https://tce-live2.s3.amazonaws.com/media/
media/6b0c3799-c41d-4728-8bc9-89afcfd945db.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2015.
Figura 3 Compositor Messiaen, compondo a partir dos sons da natureza. Disponível
em: <http://blogs.telegraph.co.uk/culture/lucyjones/100060033/messiaen-and-his-
birds-the-best-animal-species-to-inspire-music/>. Acesso em: 17 nov. 2015.
Figura 4 Keith Swanwick. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/img/
arte/229-falamestre.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2015.
Figura 5 Hans-Joachim Koellreutter. Disponível em: <http://imagens.musicodobrasil.
com.br/hansjoachinkollreuter/hjk-fotooficial.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2015.
Figura 6 Violeta Hemsy de Gainza. Disponível em: <http://www.fladem.org.ar/
articulos.art/img/articulos/44/violeta_thumb_01.jpg>. Acesso em: 17 nov. 2015.

68 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

Figura 7 Teca Alencar de Brito e Koellreutter. Disponível em: <https://encrypted-


tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTEdaLlhBtPyRXX63swInZb4RDZMxa6pY
3XGtK6q3Aq_1k8_8gA>. Acesso em: 11 nov. 2015.
Figura 8 Teca Oficina de Música. Disponível em: <http://avisala1.tempsite.ws/portal/
wp-content/uploads/2012/11/avisala_15_musica3.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2015.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEINEKE, V. A. Processos intersubjetivos na composição musical de crianças: um estudo
sobre aprendizagem criativa. 2009. 290 f. Tese (Doutorado em Educação Musical) –
UFRGS, Porto Alegre, 2009.
______. Aprendizagem criativa e Educação Musical: trajetórias de pesquisa e
perspectivas educacionais. Revista Educação, Santa Maria, v. 37, n. 1, p. 45-60, jan./
abr. 2012.
BRITO, M. T. A. Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral da
criança. São Paulo: Petrópolis, 2003.
______. Por uma educação musical do pensamento: novas estratégias de comunicação.
2007. 288 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) — PUC, São Paulo, 2007.
BURNARD, P. The individual and social worlds of children’s musical creativity. In:
MCPHERSON, G. (Ed.). The child as musician: a handbook of musical development.
Oxford: Oxford University Press, 2006. p. 353-374.
CSIKSZENTMIHALYI, M. Creativity: flow and the psychology of discovery and invention.
New York: Harper Perennial, 1997.
DUARTE, M. A. A interação social no processo de criação de trilhas sonoras: perspectiva
para o Ensino de Música. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E
PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 16., 2006. Brasília. Anais... Brasília, 2006. p 1-6.
FONTERRADA, M. T. O. O lobo no labirinto: uma incursão à obra de Murray Schafer. São
Paulo: Editora Unesp, 2003. v. 1.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 21. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
GAINZA, V. H. A improvisação musical como técnica pedagógica. In: KATER, C. (Org.).
Cadernos de Estudo: Educação Musical, n. 1, São Paulo: Atravez, 1990. p. 22-30.
GAINZA, V. H. La improvisación musical. Buenos Aires: Ricordi Americana SAEC, 2007.

© CRIAÇÃO MUSICAL 69
UNIDADE 2 – A ARTE COMO UM FAZER CRIATIVO: CRIAÇÃO MUSICAL

KOELLREUTTER, H.-J. O espírito criador e o ensino pré-figurativo. In: KATER, C. (Org.).


Educação Musical: Belo Horizonte: Atravez/EMUFMG/FEA/Fapemig, 1997, p. 71-77.
(Cadernos de Estudo, n. 6).
RAPAZOTE, P. Criatividade no meio escolar. In: PATRÍCIO, M. F. (Org.). Escola,
aprendizagem e criatividade. Porto: Porto Editora, 2001. p. 211-220.
SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. Tradução de Marisa Fonterrada, Magda Gomes da
Silva e Maria Lúcia Pascoal. São Paulo: Editora Unesp, 1991.
______. A afinação do mundo – Uma exploração pioneira pela história passada e pelo
atual estado do mais neglicenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora.
Tradução de Marisa Fonterrada. São Paulo: Editora Unesp, 1997.
SILVA, M. G. Criação musical coletiva com crianças: possíveis contribuições para
processos de educação humanizadora. 2015. 146 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – UFSCar, São Carlos, 2015.
SWANWICK, K. A basis for music education. London: Routledge, 1979.

70 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3
As Contribuições da
Criação Musical Coletiva
para a Formação
Humana

Objetivos
• Refletir sobre a música como uma possível ferramenta de humanização.
• Compreender as propostas de Hans-Joachim Koellreutter e Teca Alencar de
Brito para a Educação Musical.
• Conhecer as contribuições da criação musical coletiva para a formação
humana.

Conteúdos
• Criação musical coletiva.
• Educação musical humanizadora.
• Educação menor.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

71
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

1) É importante que você buque identificar quais seriam as contribuições da


criação musical coletiva na sua prática educacional.

2) Procure compreender em sua plenitude o conceito de educação maior e


menor.

72 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

1. INTRODUÇÃO
Na Unidade 2 tivemos a oportunidade de conhecer
algumas pesquisas no campo de criação musical na Educação
Musical. Vimos, também, como o pensamento musical tecnicista
desvaloriza esse tipo de atividade e, muitas vezes, impossibilita
nossos educandos de criarem.
Mas qual seria o melhor caminho? Abandonar o ensino
técnico e trabalhar somente com atividades que estimulem
a criatividade e a escuta? O que acreditamos ser um Ensino
Musical de excelência?
Compreendemos que um Ensino Musical de excelência
não negligencia os conteúdos musicais – e aqui englobamos o
aprendizado técnico de um instrumento –, mas o faz levando em
conta a humanidade do educando. Desse modo, ele não separa
Ensino de Música e formação humana (SILVA, 2015).
Assim falamos de uma educação musical humanizadora, ou
seja, que conduz à humanização daqueles que estão envolvidos.
Nesta unidade apresentaremos brevemente o que
consideramos uma educação humanizadora e também
estudaremos de que maneira os autores Hans-Joachim
Koellreutter e Teca Alencar de Brito colaboram com esse
pensamento.
Veremos, também, como a criação musical coletiva pode
ser uma importante ferramenta de humanização no nosso fazer
docente.

© CRIAÇÃO MUSICAL 73
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

2.1. HANS-JOACHIM KOELLREUTTER E TECA ALENCAR DE


BRITO: DIÁLOGOS EM EDUCAÇÃO MUSICAL

Quando pensamos no Ensino de Música, temos uma


tendência a considerar que ele sempre favorece a formação
humana, já que traz muitos benefícios para quem está envolvido
nesta prática. Mas, se pararmos para lembrar das nossas
próprias práticas musicais com profundidade, provavelmente
recordaremos de momentos em que a vaidade e a competição
estiveram presentes. Dessa forma, é possível afirmar que as
práticas musicais podem gerar processos educativos agregadores
ou não. Essa vaidade e essa competição podem afastar os
indivíduos, mesmo que eles estejam fazendo música juntos,
levando a processos desumanizadores.
Um fazer musical que conduz à humanização é aquele em
que o diálogo, a autonomia, a amorosidade se fazem presentes.
Um fazer musical humanizador é feito no compartilhar, na
troca de experiências, na relação amorosa de quem participa,
favorecendo a convivência e o diálogo que, por sua vez, levam
os seus participantes a se educarem juntos, em uma educação
para além do aprendizado musical. Por outro lado, ela não nega
a formação musical em todos os âmbitos. Ambas as formações
caminham juntas em prol de um ensino de excelência.

74 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

Uma educação musical humanizadora não se fecha em si


mesma; ao contrário, partindo da perspectiva do educando, ela
está sempre em processo, se fazendo e refazendo. Esse tipo de
educação não se encerra em regras de como ser e fazer, estando
intrinsecamente relacionado com o vir a ser do educando,
sua realidade, seus anseios e necessidades, que só podem ser
levados em conta no seu processo de ensino, quando o educador
se abre para ouvir a sua voz.
Aqui é importante esclarecermos que considerar o vir a ser
do educando não é ensinar somente a música que ele aprecia
e, sim, oferecer conteúdos novos, fazendo “pontes” com a sua
realidade, isto é, um processo de ressignificação e transformação
desses conteúdos. Como aponta Freire (1994), não há educação
sem conteúdo, e o professor que somente “gira” em torno do
conhecimento do educando está desumanizando. Partir do
educando é partir do conhecimento já existente para além.
Em suas propostas sobre Educação Musical, Koellreutter
e Brito consideram que o humano é o objetivo da Educação
Musical e também propõem que a criação musical faz parte
desse processo de humanização por meio do Ensino de Música.

Hans-Joachim Koellreutter: o humano como objetivo da


Educação Musical
Na Unidade 2 você conheceu um pouco das propostas
de Koellreutter (1915-2005). Voltaremos nossa visão agora
para como ele considerava a formação humana no processo de
aprendizagem musical.
O compositor e educador defendia que o objetivo
da Educação Musical não é só o aprendizado de técnicas e
procedimentos necessários para a execução musical, mas de

© CRIAÇÃO MUSICAL 75
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

desenvolver a personalidade do educando como um todo.


Sugere que o mais importante nesse processo dialógico de
ensino/aprendizagem é a conscientização, que deve ocorrer no
seio do fazer musical.
Koellreutter define consciência como a capacidade do homem de
apreender os sistemas de relações que o determinam: as relações
de um dado objeto ou processo a ser conscientizado com o meio
ambiente e o eu que o aprende; não se refere à consciência
como conhecimento formal nem como mero conhecimento ou
qualquer processo de pensamento, mas, sim, como uma forma
de inter-relacionamento constante, como um ato criativo de
integração (BRITO, 2011, p. 47).

No Ensino de Música, a conscientização ocorreria na


relação entre o fazer musical e sua conexão entre corpo e mente,
prática e teoria, intuição e razão (BRITO, 2007).
O autor considera, ainda, que o verdadeiro processo de
educação se dá quando conscientizamos os conceitos. Desse
modo, é preciso que haja a integração entre as vivências dos
alunos com os conteúdos ensinados, em um movimento de
reflexão.
A proposta educativa de Koellreutter visava a formação de
"seres humanos para viver no (e o) 'novo mundo emergente'"
(KOELLREUTTER apud BRITO, 2007, p. 62), mas não exclui
o aprendizado musical como fundamental nesse processo.
Koellreutter considera que processos de Educação Musical
que tenham como objetivo a formação integral do ser humano
ocorrem quando há o respeito e estímulo dos educandos.
Nesse sentido, cabe ao professor proporcionar um ambiente
favorável ao desenvolvimento humano, levando seus educandos
a explorar, experimentar, sentir, pensar, questionar, criar,
discutir, argumentar, respeitando o seu universo, necessidades

76 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

e interesses (BRITO, 2011). Koellreutter afirma que o educador


deve fazer música com o educando, se autoeducar com ele, na
coletividade, por meio do diálogo (BRITO, 2011). Dentro dessa
perspectiva, o educador também propôs a utilização de um
currículo aberto e dinâmico, passível de transformações para
melhor atender a realidade dos educandos (BRITO, 2007).
Sobre as contribuições que a criação musical oferece
para a formação humana, Koellreuter aponta, que por meio do
trabalho de improvisação, aspectos como diálogo, autodisciplina,
tolerância, respeito, reflexão e partilha são desenvolvidos (BRITO,
2003), de modo que considerou as atividades que envolviam a
criatividade musical como fundamentais para a formação musical
e humana dos educandos, sempre salientando que "o objetivo
[maior] da Educação Musical é o humano" (BRITO, 2003, p. 7).
Koellreuter considera que a criação musical tem um
papel importante na inter-relação de um fazer musical em que
coadunam corpo e mente, pois permite a conscientização de
vários aspectos musicais. Assim sendo, assume a criação musical,
mais especificamente a improvisação como uma ferramenta
pedagógica fundamental no Ensino de Música. Para o autor
a improvisação possibilitava o diálogo e também introduzia
os conteúdos musicais essenciais para a formação do músico.
Afirmava que não havia nada que precisasse ser mais planejado
do que uma improvisação, deixando claro que improvisar não é
simplesmente fazer "qualquer coisa", exige um ato consciente
de quem faz.
Para improvisar é preciso definir claramente os objetivos que se
pretende atingir. É preciso ter um roteiro, e a partir daí, trabalhar
muito: ensaiar, experimentar, refazer, avaliar, ouvir, criticar etc.
[...] (BRITO, 2011, p. 5).

© CRIAÇÃO MUSICAL 77
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

Teca Alencar de Brito: educação musical menor


Em colaboração para a construção de uma proposta
de educação musical humanizadora está o conceito de uma
educação musical menor, entendida também como "educação
musical do pensamento", proposta por Brito (2007). A autora
e educadora propõe uma Educação Musical em que o objetivo
sejam os jogos infantis de construção dos planos de organização
musicais, a construção dos espaços de trocas musicais e afetivas,
em que a constante conexão entre música e mundo esteja
presente.
Um modo menor musical é um modo singular de lidar com as
ideias de música que reinventa relações e sentidos com o sonoro
e o musical, tornando-se, também, máquina de resistência ao
controle e aos modelos dominantes (BRITO, 2007, p. 7).

É importante esclarecer que os termos educação maior


e educação menor não se referem a questões qualitativas, em
que uma educação maior pode ser considerada melhor que uma
educação menor. Esses termos foram utilizados, inicialmente,
pelo filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) para definir a literatura
de F. Kafka e, posteriormente, Silvio Gallo, pesquisador brasileiro,
se apropriou dos conceitos para a Educação.
Mas o que seria uma educação musical menor?
Seria o Ensino de Música que vai além do treinamento de
competências necessárias às realizações musicais, ou seja, que
propõe novas conexões musicais, aprendizados que se dão a
partir do sentir, do produzir, da partilha com o outro. Outro ponto
importante apresentado pela autora é que a educação musical
menor não se limita aos currículos e programas fechados, ao
contrário, define o modo de seguir no fazer cotidiano juntamente
com os educandos, no qual há a possibilidade de vários caminhos

78 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

a serem seguidos. É no fazer conjunto que os diversos caminhos


futuros se apresentam.
Trazendo a vida para o espaço da Educação Musical, não
nos limitamos a preparar e a executar tarefas com vias a um
fazer musical futuro, mas fazemos música, em tempo real,
transformando em experiências musicais as experiências do
viver, as quais dão sentido aos outros fazeres e inclusive ao
musical. Nesse jogo, agenciamos planos de produção do fazer/
pensar, aprender/ensinar, ampliando conhecimentos e tornando
mais complexas as realizações musicais, e não só para as crianças
(BRITO, 2007, p. 267).

E a educação musical maior? O que seria?


A educação musical maior é aquela que praticamente todos
nós recebemos. Ela é normalmente oferecida pelas instituições
escolares, juntamente com a família, por meio das regras,
padrões, métodos e sistemas fechados que não consideram
o educando dentro do processo do fazer musical, fecham-se
somente na excelência do aprendizado do conteúdo musical.
Ao propor construções de espaços de convivência por
meio da música e o direito do educando em ser sujeito de
seu processo de construção de conhecimento exercendo sua
capacidade de pensar criticamente, a educação musical menor
corrobora para o que entendemos como Educação Musical que
conduz à humanização.
A autora também aponta para a importância das atividades
de criação musical dentro de uma proposta de educação musical
menor. Por meio dessa ferramenta educacional a criança
reinventa a sua música e, ao fazê-la, reinventa o que é enquanto
ser humano (BRITO, 2007).
Em sua tese, Brito apresenta vários exemplos dessas
atividades, feitas, na sua maioria, de forma coletiva. Em sua

© CRIAÇÃO MUSICAL 79
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

"oficina de música" as crianças são estimuladas a criarem juntas,


desenvolvendo, assim, também, suas potencialidades humanas.
Concluímos, então, que uma Educação Musical que tem
como objetivo final a humanização, como apresentadas nas
propostas de Hans-Joachim Koellreuter e Teca Alencar de Brito,
vai além do ensino de conteúdos musicais. Entendemos que, por
meio da música, é possível levar o educando a atingir todas as
suas potencialidades.

Com as leituras propostas no Tópico 3.1., você


poderá aprofundar seus estudos sobre educação musical
humanizadora. Antes de prosseguir para o próximo assunto,
realize as leituras indicadas, procurando assimilar o conteúdo
estudado.

2.2. CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA COMO FERRAMENTA DE


HUMANIZAÇÃO

A criação musical coletiva é quando mais de uma pessoa


se une para criar um material comum. Vimos, até aqui, que a
criação musical por si só beneficia os alunos tanto em relação
aos aspectos musicais quanto humanos. Quando propomos
que essas criações musicais sejam feitas em grupo, mantemos
o favorecimento musical, mas ampliamos ainda mais a
possibilidade de humanização.
Mas por que isso acontece? Qual a diferença de criar
sozinho e criar em grupo?

80 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

Quando propomos a criação musical coletiva – para chegar


a uma criação musical comum –, nossos alunos necessitam
dialogar com o outro, apresentar suas bases musicais oriundas
de suas vivências que ultrapassam o ambiente escolar, descobrir
as bases musicais de seus companheiros e fazer a intersecção
desse material em um processo em que há mais do que fatores
musicais envolvidos, de modo que os alunos se eduquem na
coletividade dessa prática (SILVA, 2015).
Se pensarmos no público infantil, perceberemos que
atividades que fomentem a autonomia, o diálogo e a amorosidade
seriam ainda mais necessários, e a criação musical coletiva pode
levar a esses processos educativos.
As crianças trazem consigo uma diversidade de vivências
musicais e de culturas múltiplas que serão defrontadas ao
tentarem criar algo em comum com o outro. No entanto, só
conseguirão criar juntas se aceitarem o seu companheiro como
igual, mesmo com as diferenças de gosto musical e vivência
cultural. Desse modo, a criação musical coletiva possibilitará
uma situação em que o individualismo não encontrará lugar.
Se prevalecer o pensamento individual, não será possível criar
junto, não obtendo o resultado esperado, ou seja, uma música
feita por todos.
Outro ponto importante é que, ao criarem algo novo
em grupo, os alunos precisam primeiro valorizar suas ideias.
É comum, ao propor esse tipo de atividade, que os alunos
manifestem insegurança e, mais do que isso, acreditam que tudo
que produzem está errado. Nesse sentido, cabe ao educador
motivar os alunos e explicar que quando falamos de criação
quem determina o que está certo ou errado é quem cria. Assim,

© CRIAÇÃO MUSICAL 81
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

com o tempo o aluno ganhará segurança e aceitará que suas


ideias são válidas e legítimas.
Concluímos, portanto, que só é possível criar coletivamente
algo novo quando os alunos valorizam a sua própria cultura,
entendendo-a como legítima – assim como as demais –, e
aceitam as diferenças culturais do outro.

Dialogicidade: por um caminho de produção e realização


humanizadora
Muitas vezes, em um ambiente que não favorece a interação,
em que cada educando pode desenvolver suas atividades
individualmente, a falta do diálogo respeitoso não é sentida. No
entanto, ao envolvermos nossos alunos em atividades em que
cada integrante do grupo é peça fundamental, eles poderão
perceber que atitudes individuais não bastarão para resolverem
os problemas que surgirem.
As atividades de criação musical coletiva só são possíveis
por meio do diálogo com o outro. A comunicação é o que
proporciona pensarmos juntos, criarmos juntos, sem que haja
superposição de uns sobre os outros, somente a fecundidade
das relações fundamentadas no diálogo (SILVA, 2015). Assim,
a educação dialógica é fundamental nesse processo em que o
objetivo é chegar a uma criação em comum ao grupo. Por meio
do diálogo é possível promover processos educativos musicais,
problematizar a experiência vivida, atuar nela, criando um
ambiente de aprendizagem estimulante e crítico por meio da
criação musical coletiva.
Embora pareça algo simples, as relações dialógicas são cada
vez mais raras, por isso podemos observar a crescente violência
no nosso mundo cotidiano. Por essa razão, a grande importância

82 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

de não só levar os nossos alunos a conseguirem chegar a um


acordo sobre o que criar por meio do diálogo, mas também a
refletirem sobre a importância dele nas nossas vidas.
Mas, conforme afirma Freire (1994), para que haja o diálogo
são primordiais o respeito e a amorosidade. Humberto Maturana
e Francisco Varela (1995), assim como Freire, manifestam que o
diálogo só é possível quando há amor.
O central na convivência humana é o amor, as ações que
constituem o outro como um legítimo outro na realização do
ser social, que tanto vive na aceitação e respeito por si mesmo
quanto na aceitação e respeito pelo outro (MATURANA, 1998,
p. 32).

O amor, definido pelos autores como aceitação do


“outro como um legítimo outro” na convivência, é a emoção
fundamental nas relações sociais.
Mais uma vez salientamos que só é possível criar em
conjunto se aceito o outro como igual, dialogo com ele, partilho
as minhas bases e me abro para conhecer as dele, ouvindo a sua
voz.
Infelizmente, nossos alunos não estão habituados ao
diálogo e, sim, à competição. Muitas vezes, quando nunca
criaram coletivamente, entendem a ideia do outro como ordens
e afrontas não as aceitando. A competição, o desentendimento
e a ausência do diálogo faz, muitas vezes, com que os alunos
percam o foco – que é a música – e não consigam criar.
Essa situação se torna corrente pelo fato de o
desentendimento e a competição, como dissemos anteriormente,
fazerem parte do nosso cotidiano. Presenciamos, dia após dia,
cenas de violência geradas pelos desentendimentos, que tomam
o lugar desse encontro dialógico. Vivendo em uma sociedade

© CRIAÇÃO MUSICAL 83
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

em que as relações baseadas na competição são crescentes


e o conflito faz parte do cotidiano, dificilmente nossos alunos
poderiam agir de maneira diferente. Desse modo, a não aceitação
da opinião do outro ou o desacordo refletem a cultura dessa
sociedade patriarcal na qual estamos inseridos.
Carlos Rodrigues Brandão (2005) também reflete que
na busca por uma vida de qualidade acabamos travando
competições para termos mais, sermos mais sucedidos,
vencermos, porque acreditamos que só então seremos felizes. No
entanto, a competição e a prática da concorrência estabelecem
a desigualdade pela busca da superação do outro. Isso se
reflete em vários aspectos da nossa vida, inclusive nos jogos,
em que sempre deve haver um vencedor. O autor aponta para
a competividade proposta nos jogos eletrônicos e nos esportes,
em que só existe uma razão de ser por haver um ganhador e
vários perdedores. As crianças crescem e vivem nessa realidade
e a transferem aos demais ambientes, mesmo que neste outro
espaço elas não sejam estimuladas para a competitividade.
Muitas vezes, quando propormos atividades de criação
musical coletiva, elas não são concluídas, não porque houve
dificuldades musicais, mas, sim, pela ausência de diálogo e
entendimento. Mais uma vez o educador tem o importante
papel de estimular o pensamento crítico dos alunos, levando-
os a refletir sobre o motivo que os impossibilitou de concluir a
criação musical coletiva. Ao perceberem, por meio da reflexão, a
importância do diálogo, serão capazes de buscar uma mudança
de atitude frente ao grupo. Poderão perceber que
podemos jogar com as nossas diferenças não para vencermos os
outros, mas para sairmos todos como os que vencem juntos ao
criarem entre todos algo melhor do que faríamos se estivéssemos
“jogando com ideias”, sozinhos (BRANDÃO, 2005, p. 58).

84 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

Assim, passarão a substituir a competição pela cooperação.


É importante salientar que a busca pelo diálogo não é uma
tarefa fácil, pois, como Freire (1994) esclarece, para que o diálogo
aconteça há a necessidade de uma postura humilde, respeitosa
e amorosa por parte de quem está nele envolvido. Logo, "se não
amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens não me
é possível o diálogo" (FREIRE, 1994, p. 111). Por esse motivo é
tão importante buscarmos propostas como as de criação musical
coletiva, que fomentem o diálogo, para que ele parta das nossas
aulas de música para a vida cotidiana do aluno (SILVA, 2015).

Autonomia: consciência crítica e criativa do próprio fazer


Nas atividades de criação musical coletiva a autonomia
é um elemento fundamental para a sua realização. Para criar
algo novo necessitamos tomar decisões, e isso só é possível se
tivermos autonomia.
É comum as crianças terem dificuldades em tomar
decisões, em opinar, em pronunciar seus desejos e suas ideias
para o restante do grupo e para o educador. Como já estudamos,
as crianças são essencialmente criativas e demonstram isso
ao imaginar, improvisar, inventar (BRITO, 2007). No entanto,
o sistema educacional vigente muitas vezes impede esse
impulso criativo e autônomo das crianças. Elas são estimuladas
a reproduzir e não a criar, a obedecer e não a participar das
escolhas tomando decisões.
Frequentemente, quando propomos uma atividade de
criação coletiva a um grupo de crianças, observamos que elas
não se sentem seguras para criar, pois não estão acostumadas
a ter essa autonomia. É comum mostrarem, constantemente,
a música que estão criando, um mecanismo especulativo para

© CRIAÇÃO MUSICAL 85
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

terem a certeza de que estão no caminho certo. Elas precisam do


aval de uma autoridade, pois, nos outros ambientes educacionais
em que participam, é assim que o ensino ocorre.
Sobre a problemática do desenvolvimento da autonomia,
Freire (1994) aponta que a educação tem um papel importante
na formação de seres autônomos, conscientes e capazes de
pronunciar sua voz, sendo sujeitos de sua história.
Por que, por exemplo, não desafiar o filho, ainda criança, no
sentido de participar da escolha da melhor hora para fazer seus
deveres escolares? Por que o melhor tempo para esta tarefa
é sempre o dos pais? Por que perder a oportunidade de ir
sublinhando aos filhos o dever e o direito que eles têm, como
gente, de ir forjando sua própria autonomia? (FREIRE, 1996, p.
107).

Quando não há o estímulo para essa autonomia, cada dia


torna-se mais difícil adquiri-la, pois essa aquisição e conquista é
um processo pautado em experiências autônomas.
As crianças precisam crescer no exercício dessa capacidade de
pensar, de indagar-se e de indagar, de duvidar, de experimentar
hipóteses de ação, de programar e de não apenas seguir os
programas a elas, mais do que propostos, impostos (FREIRE,
2000, p. 58-59).

Em nossa pesquisa (SILVA, 2015) sobre criação musical


coletiva com grupos de crianças, após a realização de uma
atividade de criação musical coletiva, a educadora questionou
os alunos sobre as dificuldades que envolveram a elaboração
da criação musical. As crianças apontaram o início do processo
criativo como algo demorado e cansativo, trazendo uma
importante afirmação revelativa do modo como estão habituadas
a desenvolver suas tarefas: "quando a senhora já fala o que
é para fazer é mais fácil". Por fim, concluíram que é mais fácil
obedecer do que criar.

86 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

Figura 1 Crianças criando juntas.

Essa pesquisa demonstra claramente a dificuldade de as


crianças tomarem decisões na criação de algo novo, de exercer
a autonomia. A dificuldade de tomar decisões sozinhas é
fruto do sistema em que as crianças estão envolvidas, em que
isso não é estimulado. O costume de sempre obedecer a uma
autoridade, no caso o educador, torna-se mais natural, mais
confortável e comum. Ter autonomia exige pensar, agir, refletir,
se comprometer, enquanto obedecer só exige a reprodução de
algo imposto pelo outro. Essa atitude de passividade diante do
mundo parte do ensino escolar e é levada para a vida dessas
crianças (SILVA, 2015).
Diante dessa questão torna-se necessário um Ensino
Musical em que o educando tenha a possibilidade de construir
a sua autonomia dia após dia, em um ambiente educativo
que fomente escolhas e tomadas de decisões. Nesse sentido,
verificamos que as atividades de criação musical coletiva se
constituem como uma ferramenta importante na construção
desse processo autônomo.

© CRIAÇÃO MUSICAL 87
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

A mesma pesquisa nos apresenta dados de que, no decorrer


dos meses em que os alunos participavam de atividades dessa
natureza, as dificuldades de criarem sozinhos, sem precisar da
opinião da educadora a todo momento, foram se extinguindo. As
crianças passaram a confiar que o que produziam era bom.
A conquista da autonomia faz parte de um processo de
busca que deve ser estimulado. Se os alunos não são capazes
de criar em sala de aula por não conseguirem tomar decisões,
também terão dificuldades em suas vidas fora da escola.
Ao participarem de atividades de criação musical coletiva
os alunos são levados a tomar decisões e, além do mais, fazem
isso levando em conta seus companheiros. Sem perceber, essa
conduta colaborativa e humanizada começa a se tornar algo
natural. Postulamos, pois, que comportamentos dessa natureza
tomados frente à música são passíveis de se estenderem para a
vida.

As leituras indicadas no Tópico 3.2. ampliarão seus


estudos sobre a criação musical coletiva. Neste momento, você
deve realizar essas leituras para aprofundar o tema abordado.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone
Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o
nível de seu curso (Pós-graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo
de vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para
abrir a lista de vídeos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

88 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. CRIAÇÃO MUSICAL HUMANIZADORA

Durante o estudo dessa unidade, você pôde conhecer


o que consideramos uma educação musical humanizadora e a
importância dessa visão para o nosso mundo atual.
Os textos indicados a seguir contribuirão ainda mais para o
alargamento conceitual de humanização aplicado ao estudo da
música.
• BRITO, M. T. A. Por uma educação musical do
pensamento: educação musical menor. Revista da ABEM,
Porto Alegre, v. 21, p. 25-34, mar. 2009. Disponível em:
<http://www.abemeducacaomusical.org.br/Masters/
revista21/revista21_artigo3.pdf>. Acesso em: 12 nov.
2015.
• GALLO, S. Em torno de uma educação menor: variáveis e
variações. In: REUNIÃO NACIONAL DA ANPEd, 36., set./
out. 2013, Goiânia. Disponível em: <http://36reuniao.
anped.org.br/pdfs_trabalhos_encomendados/gt13_
trabencomendado_silviogallo.pdf>. Acesso em: 12 nov.
2015.
• GALON, M. S. et al. Por uma educação musical
humanizadora. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM
MÚSICA, 23. 2013. Natal. Anais... Natal, 2013, p.

© CRIAÇÃO MUSICAL 89
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

1-8. Disponível em: <http://www.anppom.com.br/


congressos/index.php/23anppom/Natal2013/paper/
view/2045/335>. Acesso em: 12 nov. 2015.

3.2. CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA


Nos textos indicados a seguir, você poderá conhecer
propostas para o Ensino de Música envolvendo a criação musical
coletiva.
• BEINEKE, V.; ZANETTA, C. C. “Ou Isto ou Aquilo”: a
composição na educação musical para crianças. Re-
vista Música Hodie, Goiânia, v. 14, n. 1, 2014, p. 197-
210. Disponível em: <http://www.musicahodie.mus.
br/14.1/24_Arrtigo%20Cientifico_141.pdf>. Acesso em:
12 nov. 2015.
• BRITO, M. T. A. Koellreutter educador – O humano
como objetivo da Educação Musical. 2. ed. São Pau-
lo: Peirópolis, 2001. Disponível em: <https://books.
google.com.br/books?id=uKUkCKTgPskC&pg=RA1-
-PA40&lpg=RA1-PA40&dq=koellreutter+educad
or+o+humano+como+objetivo+da+educa%C3%
A7%C3%A3o+musical&source=bl&ots=GvR8NR-
E1FS&sig=3hpFeXqqkJh_Hd_2tU6BNLELkls&hl=pt-
-BR&sa=X&ei=dPNuVcyIAsyzggT2mpDgBw&ved=0C
DgQ6AEwBA#v=onepage&q=koellreutter%20educa-
dor%20o%20humano%20como%20objetivo%20da%2-
0educa%C3%A7%C3%A3o%20musical&f=false>. Aces-
so em: 12 nov. 2015.
• SILVA, M. G. Criação musical coletiva com crianças:
possíveis contribuições para processos de educação
humanizadora, 2015. 146 f. Dissertação (Mestrado em

90 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

Educação) – UFSCar, São Carlos, 2015. Disponível em:


<http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado/
tde_busca/arquivo.php?codArquivo=8277>. Acesso
em: 12 nov. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.
1) O que é uma educação musical humanizadora?
a) Uma Educação Musical que prioriza a excelência musical, ou seja, o
aprendizado técnico de instrumentos musicais.
b) Aquela que prioriza somente a formação humana dos alunos utilizando
a música como ferramenta para chegar a essa humanização.
c) Uma Educação Musical que prioriza a excelência musical, ou seja,
não negligencia os conteúdos musicais, mas o faz levando em conta
a humanidade do educando. Desse modo, ele não separa Ensino de
Música e formação humana.
d) Aquela que abandona o ensino técnico musical e trabalha somente
com atividades que estimulam a criatividade e a escuta.
e) Todas as alternativas estão corretas.

2) Para Koellreutter, como ocorre o verdadeiro processo de educação?


a) Por meio da conscientização dos conceitos.
b) Quando o aluno consegue comprovar seu conhecimento por meio de
avaliações.
c) Quando o aluno é capaz de tocar com excelência um instrumento
musical.
d) Por meio da criação musical coletiva.
e) Nenhuma das alternativas estão corretas.

© CRIAÇÃO MUSICAL 91
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

3) Segundo Brito (2007), o que seria uma educação musical menor?


a) Uma Educação Musical direcionada somente para o período da
infância.
b) Uma Educação Musical que estimule o brincar na infância.
c) Um modo singular de lidar com as ideias de música que reinvente
relações e sentidos com o sonoro e o musical, tornando-se, também,
máquina de resistência ao controle e aos modelos dominantes.
d) A educação proposta pelas instituições, em que há regras e modelos
fechados a serem seguidos.
e) Todas as alternativas dizem respeito à educação maior.

4) De que maneira a criação musical coletiva favorece a humanização?


a) Tirando crianças carentes das ruas por meio do Ensino de Música.
b) Transformando alunos em futuros compositores de sucesso.
c) Colaborando para a formação cultural dos nossos alunos.
d) Por meio do fomento do diálogo, alteridade, partilha e autonomia.
e) Todas as alternativas estão corretas.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) c.

2) a.

3) b.

4) d.

5. CONSIDERAÇÕES
Caro aluno, nesta unidade você refletiu sobre o que
seria uma educação musical humanizadora e sobre como a

92 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

criação musical coletiva pode ser uma importante ferramenta


de humanização. Levamos você a pensar em como a atuação
do educador é fundamental para que tenhamos processos
educativos humanizadores.
Esperamos que você tenha compreendido a importância
de nossos alunos participarem de processos dialógicos, pautados
na alteridade, respeito, amorosidade, a partir dos quais busquem
o desenvolvimento da autonomia e da criticidade, ou seja, que
conduza à humanização. Que eles possam descobrir tanto a
sua própria voz quanto o poder transformador da pronúncia e
que leve esse aprendizado para os outros campos de sua vida,
tornando-se sujeito de sua própria história e assumindo-se como
agente transformador frente ao mundo.
Na próxima unidade daremos exemplos práticos de
como trabalhar com a Educação Musical em vários ambientes
educacionais.
Até lá!

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, C. R. A canção das sete cores: educando para a paz. São Paulo: Contexto,
2005.
BRITO, M. T. A. Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral da
criança. São Paulo: Editora Petrópolis, 2003.
______. Por uma educação musical do pensamento: novas estratégias de comunicação.
2007. 288 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) – PUC, São Paulo, 2007.
______. Koellreutter educador – O humano como objetivo da Educação Musical. 2. ed.
São Paulo: Editora Peirópolis, 2001.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 21. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

© CRIAÇÃO MUSICAL 93
UNIDADE 3 – AS CONTRIBUIÇÕES DA CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA PARA A FORMAÇÃO HUMANA

______. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:


Editora Unesp, 2000.
______. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 3. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
GALLO, S. Deleuze e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
MATURANA, H. Emoções e linguagem na Educação e na política. Tradução de José
Fernando Campos Fortes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
MATURANA, H.; VARELA, F. A árvore do conhecimento: as bases biológicas do
conhecimento humano. São Paulo: Palas Athena, 1995.
SILVA, M. G. Criação musical coletiva com crianças: possíveis contribuições para
processos de educação humanizadora. 2015. 146 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – UFSCar, São Carlos, 2015.

94 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 4
APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE
CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

Objetivos
• Conhecer exemplos práticos da aplicação das atividades de criação musical
em diferentes contextos educativos.
• Refletir sobre como acrescentar as atividades de criação musical no próprio
contexto e fazer docente.

Conteúdos
• Criação musical coletiva.
• Criação musical no ensino tutorial.
• Criação musical com crianças na Educação Básica.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) As atividades que serão apresentadas nesta unidade são somente


exemplos de aplicação do conteúdo estudado. Claro que você poderá
aplicá-las, lembrando-se sempre de adaptá-las ao seu contexto.

2) É muito importante que, a partir dos exemplos apresentados, você formule


suas próprias atividades.

3) Busque sempre relacionar o conteúdo apresentado até o momento aos


exemplos práticos.

95
UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

1. INTRODUÇÃO
Após estudarmos a fundamentação teórica sobre criação,
criação musical e humanização, chegou o momento de vermos,
por meio de exemplos práticos, como podemos utilizar a criação
musical no nosso fazer docente.
Serão apresentados casos em que a criação musical foi
utilizada para que você compreenda que é possível trabalhar
com essa ferramenta educativa nos mais diversos contextos.
É importante ressaltar que a intenção desta unidade não é
fornecer modelos prontos de aulas para serem reproduzidas e,
sim, de exemplificar situações para que, a partir daí, você elabore
suas próprias aulas segundo o contexto de seus alunos.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de
forma sucinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua
compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo
estudo do Conteúdo Digital Integrador.

2.1. CRIAÇÃO MUSICAL COLETIVA EM PROJETOS SOCIAIS

Hoje, observamos um aumento crescente nos projetos


sociais que oferecem o Ensino de Música gratuitamente. Em
sua maioria, esses projetos trabalham com o Ensino de Música
coletivo, por poder atender mais crianças com um menor custo
e também pelos benefícios sociais que ele traz.
As atividades de criação musical coletiva que serão
apresentadas neste momento foram realizadas em um projeto

96 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

social em que há a prática do Ensino de Música de instrumentos


musicais. Elas foram narradas em nossa pesquisa (SILVA, 2015) e
aqui traremos um panorama geral de algumas atividades.
Antes de iniciarmos, é importante contextualizarmos a
turma que realizou as atividades. Assim como a pesquisadora e
educadora planejou as atividades conforme o contexto da sua
turma de alunos, você também deverá partir da realidade de seu
ambiente de trabalho e alunos para elaborar suas propostas.
A turma selecionada para participar das atividades foi
uma com problemas de relacionamento, que nunca havia
feito atividades de criação musical coletiva, sendo adquirido o
conhecimento musical dentro do próprio projeto. Era uma turma
iniciante, formada por dez crianças – cinco meninos e cinco
meninas – com idades de sete a 13 anos. A maioria das crianças
morava em bairros de periferia, locais conhecidos pela violência
urbana, onde o tráfico de drogas é tido pela comunidade como
uma realidade constante.
A primeira proposta da atividade consistia na criação
de ritmos utilizando recursos como percussão corporal para
acompanhar o canto da escala diatônica.
Perceba que a atividade proposta era bem simples, já que
as crianças deveriam apenas criar sequências rítmicas em grupo
(cada grupo com cinco alunos). É interessante começarmos
com atividades simples e, no decorrer do tempo, quando os
alunos forem conquistando a sua autonomia, irmos oferecendo
propostas mais complexas, até chegarmos a criações totalmente
livres.
A pesquisadora relata que os alunos não conseguiram
realizar a criação proposta, pois se desentenderam por motivos

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UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

alheios à criação musical. Ao observar o ocorrido, foi proposta


uma roda de conversa e o desentendimento foi problematizado.
Antes de continuar a narrativa, é bom salientar a
importância de propor conversas com os alunos após a criação
musical. Nesse momento o educador deve conduzir a reflexão
dos alunos por meio de questões problematizadoras como:
• Como foi o início da criação? Como surgiram as ideias?
Foi difícil?
• Por que vocês escolheram esse som?
• Como vocês conseguiram juntar as ideias de todos?
Outras questões surgem do próprio diálogo com os alunos.
Esses momentos de reflexão são tão importantes quanto os
momentos de criação musical propriamente dito.
Voltando à narrativa: após conversarem, os alunos
concluíram que não conseguiram criar os rítmicos não porque
era difícil a atividade, mas porque não conseguiram dialogar.
Pediram para repetir a mesma atividade e, nessa repetição,
foram capazes de criar segundo a proposta da educadora.
No que relatamos (SILVA, 2015), destaca-se que no
decorrer dos meses os alunos foram adquirindo cada vez mais a
capacidade de opinar de maneira autônoma, de tomar decisões
e de dialogar.
Outra atividade realizada por esses mesmos alunos durante
esse processo tinha a seguinte proposta: criação de uma música
utilizando recursos sonoros com a voz, com os instrumentos
(violino, violoncelo e baixo) e com o corpo, sobre os temas
“Trem” e “Tempestade”.

98 © CRIAÇÃO MUSICAL
UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

Os alunos foram divididos novamente em dois grupos de


cinco alunos, e cada um deveria realizar uma criação sobre um
tema proposto. Assim, um grupo deveria criar sobre “Trem” e o
outro, sobre “Tempestade”, mas um grupo não sabia a temática
do outro. Após a criação musical ser concluída eles deveriam
apresentar as suas composições para o restante da turma, que
tentaria reconhecer qual era o tema dado pela pesquisadora ao
grupo.
Durante a criação a pesquisadora observou momentos de
troca muito ricas e significativas, e, mais do que isso, o esforço
de todos em tentar manter o diálogo para conseguirem concluir
a atividade.
Concluída a atividade, o primeiro grupo, cujo tema era
“Trem”, iniciou sua apresentação para o restante da turma. A
criação feita pelo grupo se iniciou com um glissando na corda
Dó do violoncelo (corda mais grave do instrumento) e, depois, as
crianças seguiram fazendo ruídos diversos nos instrumentos, até
que o educando do contrabaixo tocou duas notas longas. Após
o toque do contrabaixo os alunos tocaram uma sequência de
notas em staccato lentamente, enquanto uma criança batia os
pés e a caixa de giz, no mesmo ritmo. Esse ritmo foi aumentando
a velocidade progressivamente até parar e uma nota longa do
baixo ser tocada novamente.
No final da apresentação a pesquisadora perguntou para o
outro grupo se eles conseguiram perceber qual era o tema que
ela tinha proposto para aquele grupo. Todos responderam de
imediato “Trem!” Relataram que haviam percebido o apito do
trem e também quando o trem começou a acelerar.
Na hora do segundo grupo apresentar o tema
“Tempestade” os alunos iniciaram com uma criança tocando

© CRIAÇÃO MUSICAL 99
UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

na corda mais aguda do violino, mas, em vez de utilizar a crina


do arco, ele utilizou a madeira (col legno), produzindo um som
cheio de ar e rarefeito, como se fosse uma brisa. De repente,
todos bateram a mão no tampo do instrumento, e uma criança
bateu uma cadeira no chão. Todos começaram a bater os dedos
no tampo do instrumento em tempos diferentes. A velocidade
foi aumentando, alguns passaram a bater as mãos nas pernas,
enquanto havia aqueles que mantinham o som dos dedos no
tampo, e um outro que batia a cadeira com força no chão.
Quando indagados sobre qual seria o tema, os alunos do
primeiro grupo responderam “Chuva.” A pesquisadora disse que
era tempestade, mas que estava correto, já que tempestade é
uma chuva forte.
Nesta atividade podemos perceber o nível de abstração das
crianças tanto ao criar quanto ao ouvir uma música pragmática.
Percebemos, também, mais uma vez que o diálogo com a
educadora foi novamente um elemento muito importante para
clarificar o que estava sendo criado.
Salientamos, ainda, a importância de associar as atividades
de criação musical a outros fazeres musicais. No caso do primeiro
exemplo, os alunos criaram um rítmico para a escala que
estavam aprendendo. Na segunda atividade, os alunos criaram
uma música, mas também apreciaram e analisaram a criação dos
colegas.
A criação musical não é estanque: ela possibilita o trabalho
de vários conteúdos musicais e humanos – basta o educador
conduzir esse trabalho de maneira crítica e consciente.

100 © CRIAÇÃO MUSICAL


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

2.2. CRIAÇÃO MUSICAL NO ENSINO TUTORIAL

O ensino tutorial é aquele em que, ao contrário do


ensino coletivo, temos um educador para um educando. É o
que comumente chamamos de "aulas particulares" e que pode
ocorrer em escolas de música privadas, em cursos técnicos
musicais ou até mesmo ser oferecido na casa do aluno ou do
educador.
Normalmente, esse tipo de ensino foca na prática
instrumental baseada na técnica. Mas, como veremos no exemplo
a seguir, é possível trabalhar a criação musical no ensino tutorial
e agregar benefícios musicais e humanos a esses alunos.
Utilizaremos como exemplo um relato da educadora e
pesquisadora Cesca (2015).
A atividade foi proposta para uma aluna de violino, de sete
anos, de um conservatório de nível técnico, onde também havia
aulas de curso livre. Neste ambiente os cursos de instrumentos
são voltados para atender famílias que primam por um Ensino
Musical de excelência para seus filhos. Desse modo, as aulas
têm como enfoque conteúdos técnicos, prática de exercícios
específicos para desenvolver a habilidade do arco, de afinação,
sonoridade, expressividade, execução de peças de diferentes
estilos e períodos tanto quanto conhecimentos gerais sobre o
instrumento.
Mesmo dentro desse ambiente, a educadora Cesca
considera que as atividades de criação são fundamentais, pois
para o aluno vir a ser um bom violinista não necessita somente
tocar afinado, mas também pensar sobre música e ser criativo
para além da arte musical.

© CRIAÇÃO MUSICAL 101


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

Após uma aula de violino a educadora propôs à sua aluna


a seguinte "lição de casa": criar um solo para violino, podendo
ou não ser baseado em alguma cena do cotidiano, a partir dos
sons de sua casa, de sua escola, das ruas ou dos parques. A obra
deveria ser grafada segundo a escolha da aluna.
Na aula seguinte, a aluna levou para a aula seu instrumento
e um papel com sua composição. Após tocar sua obra a aluna
quis explicar cada detalhe do que havia feito, como as ideias
surgiram e como tomou as decisões.
Explicou que a sua composição era sobre o seu "banho". A
aluna apresentou sons de porta fechando, da torneira se abrindo,
da água do chuveiro, cantarolou representando aqueles que
cantam no chuveiro, até finalizar com o som da porta se fechando
novamente representando o final do seu banho. Todos os sons
foram produzidos no violino utilizando técnicas existentes ou
inventadas pela aluna para sanar as suas necessidades musicais
e criativas.
Na Figura 1 podemos conferir o resultado desse trabalho.

102 © CRIAÇÃO MUSICAL


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

Figura 1 Registro da obra “Solo para violino”.

A autora também salienta que, ao criar, a sua aluna, Maria,


fez uso de várias técnicas do violino que haviam sido trabalhadas
anteriormente. De modo diferente do que se possa imaginar em
um primeiro momento, as atividades de criação musical também
estavam relacionadas às experiências técnico-musicais vividas
anteriormente. Segundo o relato de Cesca, os recursos técnicos
usados por sua aluna em sua composição foram vivenciados
por ela em atividades anteriores a partir de materiais didáticos
pedagógicos elaborados pela própria professora.
As Figuras 2 e 3 apresentam uma mostra desse material.

© CRIAÇÃO MUSICAL 103


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

Figura 2 "Cartinhas": atividade pedagógica referente ao treinamento das técnicas de


arco.

Figura 3 "Cartinhas": atividade pedagógica referente ao aprendizado das expressões de


andamento.

104 © CRIAÇÃO MUSICAL


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

Sobre o processo criativo, Cesca (2015, p. 82) destaca que:


Da escolha do tema até a execução da obra, quanta coisa Maria
desbravou sozinha! Ela alçou voos por meio do diálogo implícito
que corria entre suas ideias e o material (seu próprio instrumento)
chegando a um resultado satisfatório, segundo seu julgamento
[...] Foi tentando, inventando, corrigindo, fazendo, refazendo e
relembrando outras vivências musicais que Maria obteve êxito, e
através da escolha de cada elemento esta jovem instrumentista e
compositora exibiu criatividade e estilo próprio.

Esse caso nos demonstra que a criação musical pode ser


aplicada em qualquer ambiente, cabe ao educador guiá-la e
relacioná-la com o contexto vivido.

2.3. CRIAÇÃO MUSICAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Sabemos que, após a aprovação da lei que tornou


obrigatório o ensino de conteúdos musicais nas escolas de
Educação Básica, esse lugar tornou-se um novo campo de
trabalho dos educadores musicais.
A realidade do educador que atua nesses locais é bem
diversa ao do educador que dá aulas em escolas especializadas
em música ou mesmo em projetos sociais que têm como objetivo
o Ensino de Música coletivo. Na maioria das vezes as escolas de
Educação Básica não oferecem ferramentas de trabalho, como
instrumentos musicais, por exemplo.
Como podemos, então, aplicar atividades de criação
musical dentro desse contexto?
A música é a organização dos sons instrumentais ou não.
Nesse sentido, os alunos podem criar utilizando os sons do seu
próprio corpo ou os sons gerados de objetos em geral.

© CRIAÇÃO MUSICAL 105


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

Relataremos uma experiência vivenciada por nós neste


material em uma escola de Educação Básica, em uma turma do
4º ano do Ensino Fundamental.
Nessa escola não havia instrumentos musicais disponíveis
para os alunos, a não ser as flautas doces pertencentes a eles.
Primeiramente, realizamos uma atividade de apreciação
do CD Do Corpo à Raiz (2009), do compositor Ivan Vilela. Os
alunos escutaram quatro músicas instrumentais, uma sobre cada
elemento da natureza. Discutimos juntos como os elementos
foram representados pelos sons da viola caipira, flauta doce e
percussão.
Na aula seguinte, foi proposta aos alunos a seguinte
atividade:
• Escolham um elemento da natureza (água, terra, fogo e
ar) e crie uma música sobre ele utilizando o corpo e os
objetos que estão ao seu redor.
Divididos em grupos, as crianças passaram a buscar
ferramentas para a sua criação.
O grupo que escolheu o elemento fogo, após experimentar
vários sons, passou a amassar folhas de caderno e pacotes de
bolachas, fazendo assim o som do fogo.
O grupo que escolheu água pegou as suas garrafinhas de
água e começou a balançá-las, enquanto outros passavam a água
de uma garrafa para outra. Alguns alunos também começaram a
bater as pontas dos dedos na carteira de estudo.
O grupo que escolheu ar desmontou a flauta e começou a
soprar muito lentamente, diretamente no corpo do instrumento,
sem o bocal. Alguns alunos também assobiavam agudo e
lentamente.

106 © CRIAÇÃO MUSICAL


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

Perguntei porque ninguém escolheu o elemento terra, e a


explicação foi a de que o elemento era muito difícil de representar.
Com esses exemplos vimos que os alunos refletiram sobre
os temas que poderiam escolher e exploraram o ambiente ao
seu redor, conseguindo concluir a atividade com êxito.
Percebeu que para criar musicalmente não se precisa de
muito? O mais importante é a compreensão do educador quanto
a importância dessas atividades.

Com as leituras propostas no Tópico 3.1., você vai


aprofundar seus estudos sobre o ensino tecnicista de música e
sobre a questão do talento musical. Antes de prosseguir para
o próximo assunto, realize as leituras indicadas, procurando
assimilar o conteúdo estudado.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone
Videoaula, localizado na barra superior. Em seguida, selecione o
nível de seu curso (Pós-graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo
de vídeo (Complementar). Por fim, clique no nome da disciplina para
abrir a lista de vídeos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmente
os conteúdos apresentados nesta unidade.

© CRIAÇÃO MUSICAL 107


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

3.1. APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO


FAZER DOCENTE

Nos textos indicados a seguir, você encontrará mais


exemplos de atividades de criação musical em diferentes
ambientes educacionais. É importante lembrá-los de que são
somente exemplos, o ideal é que na sua prática docente você
elabore as suas próprias atividades segundo o perfil do aluno.
• BEINEKE, V. Processos intersubjetivos na composição
musical de crianças: um estudo sobre aprendizagem
criativa. 2009. 290 f. Tese (Doutorado em Educação
Musical) – UFRGS, Porto Alegre, 2009. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/10183/17775>. Acesso em: 13
nov. 2015.
• BRITO, M. T. A. A barca virou: o jogo musical das
crianças. Música na Educação Básica, Porto Alegre,
v. 1, n. 1, p. 11-22, out. 2009. Disponível em: <http://
abemeducacaomusical.com.br/revista_musica/ed1/
pdfs/1_a_barca_virou.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2015.
• CESCA, S. C. Solo para violino: uma experiência
estética. Disponível em: <https://drive.google.com/
f i l e / d / 0 B - VQ D g 9 u 1 Y h R U 1 N m d m F 2 d 3 d m Vn M /
view?usp=sharing>. Acesso em: 13 nov. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em
responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos
estudados para sanar as suas dúvidas.

108 © CRIAÇÃO MUSICAL


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

1) A partir dos relatos apresentados sobre criação musical coletiva concluí-


mos que:
a) A criação musical coletiva sempre inicia com a discórdia dos
participantes.
b) Os alunos não são capazes de criarem em grupo. Somente os adultos
têm essa capacidade.
c) A melhora do desempenho nessas atividades é um processo de busca
pelo diálogo.
d) Os alunos não gostam desse tipo de atividade, por isso não se empe-
nham em sua realização.
e) Nenhuma alternativa está correta.

2) A partir dos relatos apresentados sobre criação musical coletiva concluí-


mos que:
a) A criação musical coletiva só é possível ser realizada em projetos
sociais.
b) A criação musical coletiva não é destinada ao ensino profissionalizante.
c) A criação musical coletiva não trabalha conteúdos musicais, somente
humanos.
d) A criação musical coletiva é importante por ser uma recreação
oferecida aos alunos.
e) Nenhuma alternativa está correta.

3) A partir do relato de Cesca (2015) concluímos que:


a) É possível desenvolver atividades de criação no ensino tutorial de
instrumentos musicais.
b) Não é possível desenvolver atividades de criação no ensino tutorial de
instrumentos musicais.
c) As escolas especializadas em música proíbem esse tipo de prática.
d) Quando está sozinho, o aluno não consegue criar.
e) Todas as alternativas estão corretas.

4) Em relação à utilização das atividades de criação musical em escolas de


Educação Básica, podemos dizer que:
a) Elas não ocorrem pela falta de recurso material.
b) Elas só podem acontecer em escolas que apoiam os professores,
oferecendo recursos materiais.

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UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

c) Elas só podem acontecer quando essas escolas também oferecem o


ensino da flauta doce.
d) Elas podem ser propostas a partir da utilização de elementos sonoros
variados.
e) Todas as alternativas estão incorretas.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões
autoavaliativas propostas:
1) c.

2) e.
3) a.
4) d.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim dos nossos estudos sobre criação musical
e espero que as reflexões proporcionadas possam levá-lo a um
novo olhar sobre esse tipo de atividade.
Esperamos que em nosso dia a dia em sala de aula possamos
refletir melhor sobre que música estamos construindo com os
nossos educandos, como eles estão experimentando a música,
como eles estão se comunicando por meio da linguagem musical
e, mais do que isso, que possamos viver o presente musical com
os educandos.
Por meio dos nossos estudos demonstramos como é
possível inserir as atividades de criação musical no nosso fazer
educacional e como a criação musical colabora para a formação
humana, tornando-se assim um fazer musical essencial e possível.

110 © CRIAÇÃO MUSICAL


UNIDADE 4 – APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES DE CRIAÇÃO MUSICAL NO FAZER DOCENTE

Que este trabalho o leve ao processo de pensamento


crítico sobre como estamos conduzindo nossas aulas, quais
escolhas estamos fazendo, como olhamos para a participação
dos nossos educandos e, o mais importante, que ressaltemos a
importância do papel da música na formação humana, uma vez
que ela pode proporcionar processos educativos humanizadores
e não desagregadores.

6. E-REFERÊNCIAS
CESCA, S. C. Solo para violino: uma experiência estética. Disponível em: <https://
drive.google.com/file/d/0B-VQDg9u1YhRU1NmdmF2d3dmVnM/view?usp=sharing>.
Acesso em: 13 nov. 2015.

Lista de figuras
Figura 1 Registro da obra “Solo para violino”. Disponível em: <https://drive.google.
com/file/d/0B-VQDg9u1YhRU1NmdmF2d3dmVnM/view?usp=sharing>. Acesso em:
13 nov. 2015.
Figura 2 "Cartinhas": atividade pedagógica referente ao treinamento das
técnicas de arco. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B-
VQDg9u1YhRU1NmdmF2d3dmVnM/view?usp=sharing>. Acesso em: 13 nov. 2015.
Figura 3 "Cartinhas": atividade pedagógica referente ao aprendizado das
expressões de andamento. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B-
VQDg9u1YhRU1NmdmF2d3dmVnM/view?usp=sharing>. Acesso em: 13 nov. 2015.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CESCA, S. C. Teoria della formatività: reflexões sobre a invenção e a produção artística
em diferentes contextos educativos. 2015. 132 f. Dissertação (Mestrado em Música) –
Unicamp, Campinas, 2015.
SILVA, M. G. Criação musical coletiva com crianças: possíveis contribuições para
processos de educação humanizadora. 2015. 146 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – UFSCar, São Carlos, 2015.

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