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EXERCÍCIOS ECDÓTICOS
1 A lição de B é melhor. A construção "tẽer em coita" é habitual. "Tẽer em medo" não se conhece.
que me mostr’ aquel matador
ou que m’ ampare del melhor.
Direi-lhes ca ensandeci
pola melhor dona que vi;
direi-lhes ca ensandeci
pola melhor dona que vi.
Direi-lhes ca ensandeci
pola melhor dona que vi.
Direi-lhes ca ensandeci
pola melhor dona que vi.
9 A lição de B é melhor, mudando a copulativa "e" por "a", considerando que o trovador exprime na cantiga a impossibilidade de dizer a sua coita à sua senhor e
não de dizê-la a qualquer outra pessoa (cf. as estrofes seguintes: "não lho dizem", "que lhe soubesse dizer"). Aliás, se não for assim não faria sentido a
continuação "nem por mim home nado".
10 Decidido, determinado.
11 Há melhor prez pois fala melhor e em melhor razom.
Nom me fez Deus tal dona bem querer,
nem mi_a mostrou, se por aquesto nom:
por haver eu e-no meu coraçom
mui grave coita já mentr’ eu viver.
Porém, cativo!, mal dia naci
que viverei (mentr’ eu viver) assi
por que-no nunca per mim há saber.
12 A conjunção "se" aplica-se às 3 orações seguintes: "se mi_o home adevinhar puder, e (se) pois a vir, e (se) tal esforç’ houver..."
e vós das outras donas mais valer),
pois eu, cativo, desaconselhado,
se-no meu grado vos quero gram bem,
dizede-me: por que vos pesa ém,
quand’13 eu, senhor (que mal dia fui nado)
Se eu soubess’, u eu primeiro vi
a mià senhor e meu lum’ e meu bem,
que tanto mal me verria porém
como me vem, guardara-me log’ i
de a veer, amigos; pero sei
ca nunca vira, nem vi, nem verei,
tam fremosa dona com’ ela vi.
18 A lição de B é a correta. Comparar a morte com morrer não faz sentido. Aliás, a construção "viver como hoje eu vivo" é mui frequente em todo o corpus.
19 Por morrer ou por al que lh’ eu pedi.
20 A lição dos manuscritos é correta: hei pesar porque vos vi.
21 A lição se/xe dos manuscritos é errada, pois refere-se à primeira pessoa: não me queixo eu disso a vós.
que tanto mal me faz haver.
22 "Queixo-m’ em meu coraçom" não é correto, pois significa queixar-me dentro do meu coraçom, e não queixar-se a meu coraçom (=queixar-me a Deus, da
estrofe anterior), que é o que o trovador quer dizer.
23 Nos manuscritos "do". Mas o trovador refere-se a que sinte prazer por morrer, como se depreende dos versos anteriores.
24 A lição de B semelha a correta, pois na construção "fazer razom" rege a preposição "de".
25 No manuscrito "queria". O verbo seer em presente exige "querria". "Queria" por "querria" é habitual em B.
26 Em B é frequente o erro no que diz respeito aos verbos haver/veer. Só assim faz sentido a estrofe. Note-se que nas anteriores estrofes o trovador não nomeia
a senhor e, portanto, só no final revela qual é esse "lume e bem" que quereria ver antes de morrer. Elimina-se o pronome pessoal, desnecessário.
é mia senhor do mui bom parecer,
e que me faz mià morte desejar,
e que nunca mais veer poderei.
46 Verso hipométrico nos manuscritos. Cf. p. ex. B956/V543: "nom me dizedes o que i farei"
come vós, per que me muito mal vem;
e fez-vos Deus nacer por mal de mi,
senhor fremosa, ca per vós perdi
Deus e amigos e esforç’ e sem.
49 A lição de B é a correta, pois o trovador não se dirige à sua senhor nesta cantiga. "A mià senhor" funciona como objeto direto do verbo "dizer": porque me disse
a mià senhor que me partiss’ ém (da terra u ela é).
50 Nos manuscritos "a", seguramente por contato de duas consoantes nasais. A construção é sempre "viver em coita".
51 Nos manuscritos "e no-na vej’ amigos". A construção exige o infinitivo (como querer-lhe...e veê-la). "E no-na veer" faria o verso hipermétrico.
que me faço nem que digo (tant’ hei,
amigos, gram coita po-la veer).
55 Porquanto = porque.
56 Nos manuscritos há uma sílaba a menos. Considerando que "que muitos" equivale a "quam muitos" aqui e segue-se um "que" relativo, o pronome átono "os" é
necessário.
E faço-m’ eu delas57 maravilhado:
pois m’ i nom ham conselho de põer,
por que morrem tam muito por saber
a dona por que eu ando coitado?
Nom lhe-la digo por esta razom:
ca por dizer-lha, se Deus me perdom,
nom m’ i58 porrám conselho, mal pecado!
Fazede-m’, e gracir-vo-l’-ei,
bem mentr’ ando vivo; ca nom
mi_o faredes, eu be-no sei,
pois eu morrer: por tal razom:
Diria-lh’ eu de coraçom
como me faz perder o sem
o seu bom parecer; mais nom
ous’; e tod’ aquesto mi_avém
71 No manuscrito "porque me log’ i". Exigido pelo verbo "quitar": quitar-se de algo/alguém.
72 A construção "quitei d’ u a nom visse" não faz sentido, e, se a substituirmos por "quitei d’ u a visse" os tempos verbais não concordam. O condicional sim
concorda com o imperfeito do conjuntivo: "me veeriam morte prender d’ u a nom visse". D’ u = quando = u.
73 No manuscrito "muiter".
74 No manuscrito "mais eu cuidei". A oração inicia-se no princípio da estrofe anterior com "pero que" (ainda que): Pero que eu soube entender...que me veriam
por ela morrer...e (pero) que o mal que hoje eu sofro receei...eu cuidei. Um copista, devido à complexidade sintática da oração, pudo ter acrescentado a
conjunção adversativa "mais" interpretando que esta começava na terceira estrofe e não na segunda (Muit’ er-temi, mais eu cuidei).
75 No manuscrito "A que a gram torto". Além de que o verso tem uma sílaba a mais, a oração ficaria inacabada, pois no terceiro verso da estrofe começa uma
nova oração.
Mais torne-se na verdade76, por Deus!;
ca vos nom disse verdad’, e o sei.
Log’ eu dela, e de mim, rogarei
a Deus, que vejam estes olhos meus!,
97 Nos manuscritos "faz". O correto deverá ser "fez", pois segue-se "e poi-lo entendi". Quer dizer, depois de que Deus lho fez entender, entendeu-o.
que farei já des que m’ eu d’ aqui for?
LAIS DE LEONORETA
229 (B244)
Senhor genta,
me tormenta
voss’ amor em guisa tal
que tormenta
que eu senta
outra nom m’ é bem nem mal,
mai-la vossa m’ é mortal.
Leonoreta98,
fim roseta,
bela sobre toda fror;
fim roseta,
nom me meta
em tal coita voss’ amor!
Leonoreta
fim roseta,
98 No encontro vocálico há ditongo, pronunciando-se o "e" átono como "i", do mesmo jeito que os pronomes átonos "me" e "te" se ditongan ante "a" ou "o".
bela sobre toda fror;
fim roseta,
nom me meta
em tal coita voss’ amor!
Mià ventura
em loucura
me meteu de vos amar;
é loucura
que me dura,
que me nom poss’ ém quitar,
ai fremosura sem par!
Leonoreta,
fim roseta,
bela sobre toda fror;
fim roseta,
nom me meta
em tal coita voss’ amor!
JOÁM LOBEIRA
99 No manuscrito falta a preposição "de", pois o trovador alude ao bem da dona e não a ela própria, como se depreende do resto da cantiga.
100 No manuscrito, o verso tem uma sílaba a menos.
poder101 em tanto, pero tanto val.
101 No manuscrito "pod’ el". O verso anterior acaba com "nom me deu" e não "nom mi_o deu". Portanto, falta o objeto direto do verbo dar "deu-me poder".
102 No manuscrito "houvi". O "e" átono é normalmente representado como "e" em Ajuda e como "i" nos apógrafos italianos. No encontro vocálico com a copulativa
"e" produz-se elisão.
103 No manuscrito "deo", com uma sílaba a mais no verso. O pronome "o" é desnecessário.
104 No manuscrito o verso tem uma sílaba a menos. Substituir "des que" por "des quando" não é ajeitado, pois produzir-se-ia elisão vocálica (des quand’ eu).
Desde que na cantiga já se aludiu à morte do trovador nos versos anteriores, pode-se conjecturar o advérbio "assi". Cf. B610bis/V213: "e pois em tal razom hei
por dona de prender mort’ assi".
eu creo que lhe falrá quem;
pero m’ ela tev’ em desdém
105 E (diria) dela com’ errou o sem = e (diria) como errou ela o sem (cf. p. ex. B1488/V1100: "ca vos direi do peom como fez"). No manuscrito "diria", com uma
sílaba a mais. A opção "e de como errou" não semelha ajeitada, porque: a) na construção "dizer como" não se usava a preposição "de". b) Elisão "com’ errou",
pois não há pausa.
106 Jogo de palavras. Na expressão "servir bem", o amigo entende "bem" como advérbio e a senhor entende "bem" como substantivo.
107 Uma sílaba a menos no verso. Dever gradecer = dever a gradecer. Cf. "deve mais a gracir" no refrão.
ca, se o bem dad’ é por o servir,
o servidor deve mais a gracir.
ROÍ QUEIMADO
121 Vingança.
246 (A140; B261; 148,2)
124 Falta uma sílaba à lição de A. Pode-se completar com a lição de B mudando "bõo" (que será erro) por "bem" (em verdade vos digo).
Pois que eu morrer, filhará
entom o soqueix’ e dirá:
VAASCO GIL
125 No manuscrito "el". A preposição "de" é necessária aqui. Cf. B1034/V624: "E ben sei del que non cataria".
126 No manuscrito "mais". Uma conjunção adversativa não faz sentido aqui. A razão desta estrofe é paralela à da seguinte estrofe com a conjunção copulativa "e":
"e cuidou-m’ a fazer mui gram pesar".
127 Poema mui provavelmente espúrio no final do cancioneiro de Roí Queimado. Precedido dum quadro com o nome "Cartuxo", que poderá ser o nome do autor.
Emprega-se a forma evoluída "minha" e não mià, rima vogal aberta/fechada, estrutura inusual, não há qualquer relação métrico-estilística com as cantigas de
Roí Queimado.
a mià senhor mui gram pesar,
ca lhe pesa de a amar.
doer-vos-íades de mi.
doer-vos-íades de mi.
doer-vos-íades de mi.
doer-vos-íades de mi.
128 Falar no mal que por vós hei des que vos vi.
129 No manuscrito "quanto", que não faz sentido aqui. Se eu vos ousasse mostrar como o meu coração não pensa senão em vós.
130 Em A "faç’ eu saber", em B "faç’ ém sabedor". Cf. B1579/V1111: "ca me fazem ém sabedor de vós que havedes bom sem".
Estes olhos meus hei mui gram razom
de querer mal enquant’ eu já viver,
porque vos forom, mià senhor, veer;
ca depois, nunca, se Deus me perdom,
131 No manuscrito falta a primeira letra da finda, que poderá ser "j" ou "c". O que se afirma na finda semelha que não é consequência da estrofe anterior. Cf.
A26/B119: "Ca já toda, per nulha rem, no-na poderia saber per mim".
132 Não posso fazer outra cousa, não depende da minha vontade.
133 Por meu mal e por mal destes olhos meus.
260 (A152; 152,16)
143 No manuscrito "pud’ i". É a maior coita do mundo e nom pode haver maior no mundo.
144 Não é porque o queira pensar por algum motivo (não é conjetura teórica), mas porque sei que é verdade (por experiência própria).
145 Do qual nom os pode guardar rem.
146 Nom me importo por tudo isto. Cf., p. ex., Demanda do Santo Graal: "De sa beldade, disse ela, nem m’ ém chal".
E, se m’ El aquesto nom quiser dar
que lh’ hoj’ eu rogo, rogar-lh’-ei assi:
que lhe possa, com’ ela quer a mi,
querer; ca esto me pode guardar
da mui gram coita que eu hei d’ amor;
e, se m’ esto nom der Nostro Senhor,
por que me fez El tal senhor filhar?
152 No manuscrito "eu entendo". Nesta posição na estrofe os hemistíquios têm 6 sílabas e são agudos.
153 Falha-me tudo o anterior e, além disso, Deus.
154 Não sei dizer todo o seu bem, embora não fale noutra cousa.
155 No manuscrito "falei". O verbo tem de estar no presente de subjuntivo e não no passado para fazer sentido.
todas as outras donas nom som rem
contra ela, nem ham já de seer.
156 No manuscrito há uma sílaba a menos. Estrutura paralela à da primeira finda: "Deus nem ar as gentes" vs. "mià ventura, meus olhos e ar Deus".
157 No manuscrito "dereit’ hei". Mas o sentido aqui é "ser justo" (seer dereito) e não "ter razão" (haver dereito). Cf. B738/V339: "gram dereit’ é de lazerar porém".
158 Se me tivesse ido bem não tivesse dito que morria por alguém.
159 No manuscrito "e esto". A conjunção copulativa não faz sentido. Embora não disse mais acerca disso (disse que morria por alguém, mas não disse por quem),
prejudicou-me tê-lo dito.
271 (A163; B316; 79,43)
172 Construção "viver em..." (viver em coita, etc.). O trovador pode (e pudo) viver na medida em que cuida/cuidou em qual senhor viu.
173 A lição dos manuscritos é correta. Estrutura paralela à da estrofe seguinte: "tenho-m’ ém das coitas por pagado" vs. "m’ ém tenho das coitas por aventurado".
174 Em A "de o ende", em B "de o ém". "De o" deverá ser erro por "d’ eu", pois o pronome "o" não faz sentido.
175 Com saber/sabedor usa-se a preposição "de" e não "em". Cf. p. ex. A101/B208: "ca vos fez de todo bem sabedor".
se per i seu bem houvess’ a perder;
ca sem ela nom poss’ eu bem haver
e-no mundo, nem de Nostro Senhor.
177 Não há boa dona a quem devesse pesar tanto como isto, nem que devesse zangar-se com alguém (cf. B3: "se porém sanha tal filhou de mim") por isto que
vos vou dizer.
178 Lição de B. A lição de A não faz sentido. "Por quanto é que vos ora direi" = "Por quanto vos ora direi".
179 Não direi dela mais a este respeito do que a vi em mal dia.
180 De que ela soubesse o mal que me faz.
284 (A177; B328; 79,36)
184 Nos manuscritos "no-no". Semelha que o pronome é incorreto aqui. Nom ouso dizer atal coita.
185 Perdeu-se a primeira estrofe da cantiga (e só a primeira, pois a parte conservada começa com a primeira ocorrência do refrão).
186 Conjetural, seguindo o modelo das seguintes estrofes.
em187 que m’ houvestes188 de me mal querer?189
187 "Em" é complemento causal aqui. Cf. p. ex. B180: "em que tẽedes por razom de me leixar morrer d’ amor e me nom queredes valer?".
188 No manuscrito "vistes", o que não faz sentido. A pergunta concorda com a finda (quero saber por que me quisestes mal para o evitar no futuro e fazer-vos
pesar). Cf. p. ex. B952/V540: "ca já vos sempr’ haverei de querer bem".
189 Por alguma razão o copista não indicou no manuscrito a repetição do refrão.
289 (A182; 75,15; 157,38)
E o conselho já o eu filhei
que eu i porrei, ca ‘ssi me convém
ESTEVAM REIMONDO
217 Não me quer mal porque eu lhe queira bem (pois não acredita nisso).
218 Por a ver alguma vez e lhe falar.
Quando vos vi, fremosa mià senhor,
logo vos soube tam gram bem querer
que nom cuidei que houvesse poder,
per nulha rem, de vos querer melhor;
219 A lição de B é a correta. Em A "se a visse u sei", o que não faz muito sentido. Além disso, é inevitável a elisão vocálica neste caso. A estrutura "e o sei"/"eu o
sei" é mui habitual no corpus. Cf. p. ex. A129/B250: "nem ar-havia peor a estar dela do que m’ hoj’ estou, e o sei".
220 Nos manuscritos "que a mais grave". Se deslocarmos o verbo "seer" para o verso seguinte, este seria hipermétrico. O infinitivo "veer" não aceita sinérese.
a maior coita de quantas hoj’ hei
perderia se a viss’, e o sei.
221 Nos manuscritos "quisera-lhe", mas o pronome é necessário: quisera-lhe dizer quanto puge no coraçom.
222 Ela é meu mal e meu bem.
e nom amar mià senhor, que eu vi
tam fremosa, e que tam muito val,
e em que eu tanto bem entendi.
Pero que punha de me fazer mal,
223 Aqui a estrutura com "por" pode ser substituída por uma estrutura com gerúndio ou com a conjunção copulativa "e": não quereria amar a melhor das outras
donas e haver seu amor/havendo seu amor (o amor da outra dona). Cf. a cantiga A195/B346, do mesmo trovador.
224 Se nom lhe quero melhor ca nunca quis no mundo hom’ a senhor. O "a" de "assi" é frequentemente elidido. O copista pudo achar incorreto "si" e corrigi-lo por
"no".
me dé seu bem se lh’ eu quero melhor
ca nunca quis no mund’ hom’ a senhor.
228 O sentido é o seguinte: Porque me Deus já todo faz veer da mià senhor e do meu coraçom per quant’ eu logo devera morrer (cf. noutros versos: vejo pesar da
que quero gram bem, de quantos pesares vej’ ora de mià senhor). "Maravilho-me da mià senhor como nom moiro" não faz sentido (seria "maravilho-me da mià
senhor como nom me faz morrer", por exemplo).
poi-la nom vej’, e229 me vem
tanto mal que nom sei quem
mi_o tolha, pero m’ al dem;
mais Deus mi_a mostre porém
cedo, que a ‘m poder tem!
244 Nos manuscritos "se", o que não faz sentido: juro-vos eu que...
nem quitar-m’-ei245, enquant’ eu vivo for,
de vos servir, senhor, e vos amar.
249 O verso é hipométrico. Cf. na seguinte estrofe: "porque sabem que lhe quero gram bem".
250 Nos manuscritos "poder", (infinitivo ou futuro do conjuntivo), o que é incorreto neste caso.
251 Nos manuscritos "pois". "Pois" exprime causalidade, mas aqui a construção é adversativa. O normal é sentir o desejo de ver a sua senhor se cuidasse haver
bem dela, mais ele sente um desejo maior de a ver embora saiba que nunca jamais haverá bem dela.
como, se dela bem cuidass’ haver,
nom morreria mais po-la veer.
U a primeiramente vi
mui fremosa, se eu d’ ali
fugiss’ e nom ar-tornass’ i,
assi podera mais viver;
mais nom cuidei que foss’ assi,
i que farei?
(eu, que vos sempr’ amei)
i que farei?
(eu, que vos sempr’ amei)
255 O refrão pode dispor-se num verso (em função da métrica) ou em dous versos (em função da rima farei/amei). O verso é hipométrico. O termo "i" é empregado
por vezes nesta construção, significando "então, no que diz respeito a isso, etc". Cf. p. ex. A111/B224: "que me digades: que farei eu i?".
256 No manuscrito "vi". O tempo correto é o presente.
257 Conjetural. No manuscrito os versos não rimam (morrer/rem). Restaurar a rima supõe alterar consideravelmente um dos dous versos, sob a hipótese de um
deles ter-se perdido na transmissão da cantiga e ser acrescentado por um copista. O argumento do primeiro verso aparece noutras cantigas e não parece
possível manter o mesmo argumento achando uma palavra rimante em "em". Cf. p. ex. A275: "pero m’ assi vejo, per bõa fé, morrer por vós". A proposta de
Nobiling para o segundo verso é estranha e forçada: "queirades-me dizer".
258 Falta uma sílaba. A palavra "eu" (que semelha riscada no manuscrito) neste verso será erro, pois já está no príncipio do verso anterior.
Esto259 sei eu bem per mi;
ca vo-lo nom digo por al,
mais porque sei eu já o mal
que vem end’ a quem s’ end’ assi260
vai; ca muitas vezes porém261
perdi o dormir e o sem,262
cativo!, porque m’ ém parti.
265 A última estrofe desta cantiga são, na realidade, duas findas, pois a rima é a do refrão/última finda e não segue o esquema métrico das estrofes.
266 No manuscrito falta a conjunção copulativa. A pausa entre o verso anterior e este seria estranha. Aliás, o "a" de assi é frequentemente elidido após "já". Cf.
verso final da terceira estrofe.
267 Em cabo = finalmente, por fim. No manuscrito falta o sinal de nasalidade sobre o "e". Um demo acabou por me prender quando a fui ver. O sentido será similar
a "mal dia a fui ver".
268 Assim consta no manuscrito. A construção habitual é "mal dia fui nacer" e também é possível que aqui o manuscrito esteja errado. Mas também pode estar
correto, levando em conta que no refrão o trovador exprime que não poderá fazer outra cousa enquanto viver a senhor.
E sei de mim com’ há269 seer:
viver coitad’ e pois morrer.
PERO MAFALDO
279 As últimas palavras das estrofes (delimitadas por colchetes) são simultaneamente final da estrofe e começo do refrão.
se vos por mi, meu amigo, vem mal,
pesa-m’ ende, mais nom farei i al.