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Essa negra Fulô Essa negra Fulô!

saiu na perna dum pinto


Essa negra Fulô! o Rei-Sinhô me mandou
Ora, se deu que chegou que vos contasse mais cinco”.
(isso já faz muito tempo) Ó Fulô! Ó Fulô!
no banguê dum meu avô (Era a fala da Sinhá) Essa negra Fulô!
uma negra bonitinha, vem me ajudar, ó Fulô, Essa negra Fulô!
chamada negra Fulô. vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô! Ó Fulô? Ó Fulô?
Essa negra Fulô! vem coçar minha coceira, Vai botar para dormir
Essa negra Fulô! vem Essa negrinha Fulô! esses meninos, Fulô!
ficou logo pra mucama “minha mãe me penteou
Ó Fulô! Ó Fulô! pra me catar cafuné, minha madrasta me enterrou
(Era a fala da Sinhá) vem balançar minha rede, pelos figos da figueira
vem me contar uma história, que o Sabiá beliscou”.
— Vai forrar a minha cama que eu estou com sono, Fulô!
pentear os meus cabelos, Essa negra Fulô!
vem ajudar a tirar Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
a minha roupa, Fulô!
“Era um dia uma princesa Fulô? Ó Fulô?
Essa negra Fulô! que vivia num castelo (Era a fala da Sinhá
que possuía um vestido Chamando a negra Fulô!)
vigiar a Sinhá, com os peixinhos do mar. Cadê meu frasco de cheiro
pra engomar pro Sinhô! Entrou na perna dum pato Que teu Sinhô me m

1. Os versos iniciais do poema são um modo folclórico de iniciar a narrativa, um registro da oralidade.
Quatro vozes desenvolvem a narrativa.
a) Qual é a contribuição de cada voz para esse poema narrativo?
b) Como elas estão linguisticamente marcadas?
2. Ao longo do poema, o eu poético compõe as relações de trabalho entre os senhores e a escrava. Explique
como elas se davam.
3. “Fulô” é corruptela de flor. A negra não tem nome, o que revela seu desprestígio naquela hierarquia
social. O eu poético emprega muitos pronomes possessivos “meu”, “teu” e “nosso”. Qual é a relação desse
emprego linguístico com a hierarquia social?
4. As imagens construídas ganham força com os recursos sonoros. Identifique-os. Em 1935, Murilo
Mendes e Jorge de Lima escreveram em parceria uma obra intitulada Tempo e eternidade, incorporando as
conquistas modernistas à produção religiosa

POEMA: SOLIDARIEDADE

Sou ligado pela herança do espírito e do sangue


Ao mártir, ao assassino, ao anarquista, Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,
Sou ligado Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,
Aos casais na terra e no ar, Ao santo e ao demônio,
Ao vendeiro da esquina, Construídos à minha imagem e semelhança.

Entendendo o poema:
MENDES, Murilo. Solidariedade. In:______. O menino Experimental:
01 – O poeta se mostra solidário às pessoas e aos seres mais díspares. Cite dois desses elementos que se opõem
radicalmente.
02 – Essa identificação do poeta com todo tipo de pessoa tem uma justificativa. Que justificativa é essa?

O versículo bíblico “criados à minha imagem e semelhança” foi retomado pela poeta, substituindo criados por
construídos. Qual pode ser o significado dessa alteração?

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