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Adam Smith (Escócia.

1723 – 1790), cientista social, foi o primeiro a elaborar um modelo abstrato


completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e do funcionamento do sistema capitalista.
A base de seus estudos estava nas relações entre as principais classes sociais, setores de produção, a
distribuição da riqueza e da renda, comércio, circulação da moeda, processos de formação dos preços e
processo de crescimento econômico.

Contexto histórico
Características socioeconômicas da Revolução Industrial (3 últimas décadas do século XVIII e começo
do XIX):

 1700 a 1770: rápido crescimento do mercado externo e menor para o interno, relativos aos produtos
ingleses;
 1700 a 1750: 7% de aumento da produção industrial interna e 76% para a externa.
 Resultado:
 Inovações tecnológicas em razão da busca do lucro, transformando radicalmente toda a
Inglaterra e consequentemente o mundo.
 Alto crescimento das principais cidades industriais (população de Manchester passou de 17.000
habitantes, em 1760, para 237.000, em 1831, e para 400.000 em 1851).
 A produção manufatureira foi quase duplicada, na segunda metade do século XVIII.
 Em 1801, quase 30% da mão de obra inglesa estava empregada na indústria e na mineração; em
1831, esse percentual tinha subido para mais de 40%.
 Transformação da Inglaterra em um país com grandes centros urbanos industriais (o sistema
fabril era dominante) conferindo-lhe a posição de maior potência econômica e política do século
XIX.
 Smith diante deste cenário: percebeu o alto o grau de divisão do trabalho, resultantes do aumento da
produtividade. Percebeu que os lucros se destinavam ao capital industrial: salários, aluguéis e os
lucros do capital comercial, resultando em três principais categorias funcionais de renda: lucros,
aluguéis e salários, correspondentes a três classes sociais do sistema capitalista de sua época:
capitalistas, proprietários de terras e operários “livres”, este último vivendo a partir da venda de sua
força de trabalho em troca de um salário.
Assim, elaborou uma teoria para explicar a evolução dessa forma de sociedade de classes e suas
respectivas relações de poder.

Teorias de história e sociologia


A partir da análise das origens e do desenvolvimento do conflito de classes na sociedade e da maneira
pela qual o poder era exercido na luta entre elas, delimitou seu objeto na questão de que, segundo ele, os
indivíduos agem de forma egoísta e em proveito próprio ou da classe à qual pertencessem, o conflito
individual e o resultado desse comportamento, justificava-se pelas “leis da natureza” ou da “divina
providência”, o que chamou “mão invisível”, cuja função era guiar a conduta humana que,
aparentemente, provocava conflitos, de modo a haver mais harmonia, ela não era um produto
individual, era um fator das leis naturais. Essa teoria sobre a “mão invisível” é considerada a maior
contradição de sua obra.
A chave para a compreensão dos estágios das instituições sociais e governamentais estava no
entendimento dos métodos de produção e distribuição das necessidades econômicas, a relação entre a
base econômica e a superestrutura social e política não era determinante. Todas as sociedades estavam
em algum estágio, não as obrigando a passarem de um estágio para o seguinte, uma ocorrência
sistemática se daria apenas diante de um conjunto de circunstâncias geográficas, econômicas e culturais
resultando em uma evolução social progressista.
O estágio da caça, como o estado mais baixo e rude da sociedade, tal como encontramos entre as
tribos nativas da América do norte. Nessas sociedades, a pobreza e a precariedade da existência
envolviam uma igualdade, na qual inexistia qualquer forma institucionalizada de poder ou
privilégios, porque a base econômica necessária para esses privilégios e para esse poder não existia.
Portanto, nesse estado de coisas, não existe, na verdade, soberanos ou comunidade. O estágio
imediatamente mais elevado era o do pastoreiro, um estado mais avançado da sociedade, tal como
encontramos entre os tártaros e os árabes. A economia permitia maiores agrupamentos sociais. A
produção baseava-se na domesticação de animais e a criação exigia uma existência nômade.
Uma vez que uma forma de riqueza pode ser acumulada – o gado. E com isso a necessidade de criar
uma proteção institucionalizada do privilégio e do poder. Para Smith o governo civil foi instituído para
defender o rico do pobre ou os proprietários daqueles que nada possuem, demonstrando que
propriedade de grandes áreas de terra era a fonte de poder social e político, dividindo as pessoas entre
governado e governantes.
Um novo ambiente político e de desenvolvimento social deu-se nas cidades, no qual os produtores
detinham maior liberdade, estendendo seus direitos de propriedade permitindo a criação de riqueza
própria e não para um senhor, desencadeando a vontade de acumular riquezas materiais, gerando a
ilusão de que a felicidade pessoal era fruto, principalmente, da riqueza material.
A vontade de comprar produtos levou os senhores a aumentar a eficiência, dispensando os colonos
desnecessários, o resultado foi o desenvolvimento da indústria, da agricultura (mais eficiente) e
consequentemente uma Sociedade Capitalista, considerada por Smith, a forma mais elevada e
progressista da sociedade humana. Embora esse resultado não tenha sido gerado intencionalmente, pois
mesmo tendo trazido resultados positivos quanto à economia, trouxe também grandes divisões de
classe, determinada pela propriedade e sua respectiva fonte de renda, gerando status de classe social,
desmerecendo o trabalho – dentre as três classes sociais – como o único criador de valor ou riquezas,
colocando no topo da pirâmide o Capitalista “Não foi com o ouro nem com a prata, mas com o trabalho,
que toda a riqueza do mundo foi comprada pela primeira vez”

Teoria do Valor
Em todas as sociedades, o processo de produção pode ser reduzido a uma série de esforços humanos. Os
homens, em geral, vivem de maneira a transformar o ambiente natural de uma forma que lhes seja mais
conveniente. A contribuição do trabalho é a contribuição humana na produção. O produtor de um tear
contribui com uma das várias séries de despesas com o trabalho, que culminam na produção de tecido,
ou seja, o tear é uma espécie de produto intermediário que pode ser visto como uma determinada
quantidade de tecido produzida. Esse é o ponto de partida da teoria do valor-trabalho “o trabalho era o
primeiro preço, o dinheiro da compra inicial que era pago por todas as coisas”.
O pré-requisito para qualquer mercadoria ter valor era que ela fosse o produto do trabalho humano, este
valor é determinado pela quantidade de trabalho presente na mercadoria, seu preço de mercado era o
verdadeiro preço da mercadoria, regulado pela relação entre a quantidade que os vendedores queriam
vender e a quantidade que os compradores queriam comprar: oferta e da demanda. Uma procura
pequena, em relação à oferta, e o preço de mercado mais baixo do que o preço natural, fariam com que
os lucros ficassem abaixo da média socialmente aceita. Esses lucros baixos induziriam alguns
capitalistas a sair da indústria e investir seu capital em outras, nas quais a taxa de lucro fosse maior,
reduzindo a oferta e aumentando o preço da mercadoria, em um processo contínuo até o preço de
mercado ter sido elevado a ponto de atingir o preço natural. O preço natural era o preço de equilíbrio
(custos de produção), estabelecido pelas forças de oferta e demanda, assim, as flutuações do preço
tenderiam a ficar em torno do preço natural. A melhor medida do valor, era a quantidade de trabalho
que qualquer mercadoria poderia oferecer em uma troca.

Teoria do bem-estar econômico


Orientada para políticas, cuja preocupação era identificar as forças sociais e econômicas que mais
promoviam o bem-estar humano, dependente da quantidade do “produto do trabalho” anual e do
“número dos que deveriam consumi-lo”, podendo ser aumentado à medida que a composição do
produto a ser consumido correspondesse mais às necessidades e aos desejos dos que o comprassem e o
usassem.

A produção de mercadorias exigia:

 Três grupos de insumos: a terra (e os recursos naturais), o trabalho e o capital.


 Três principais classes sociais do capitalismo: os proprietários de terras, os trabalhadores e os
capitalistas (cada uma das classes sociais recebia uma forma distinta de remuneração monetária:
aluguéis, salários e lucros, respectivamente).
O nível de produção de qualquer sociedade dependia do número de trabalhadores produtivos e do nível
de sua produtividade, que, por sua vez, dependia da especialização ou da extensão da divisão do
trabalho.
Como a acumulação de capital tem pela própria natureza das coisas, que anteceder a divisão do
trabalho, o trabalho pode ser cada vez mais subdivido, mas somente na produção do acúmulo de
capital. A quantidade de matérias-primas com a qual o mesmo numero de pessoas pode trabalhar
aumenta em grandes proporções, à medida que o trabalho se subdivide cada vez mais e à medida que
o trabalho de cada trabalhador se vai reduzindo gradativamente a um grau maior de simplicidade,
são inventadas várias máquinas novas para facilitar e abreviar o trabalho.
A acumulação de capital teria sido a principal fonte de progresso econômico, onde o trabalho era uma
fonte de lucros e de maior acumulação, logo uma fonte de progresso econômico. O autor propôs duas
definições de trabalho produtivo:
 Os trabalhadores eram produtivos, quando seu trabalho resultava em renda para os capitalistas,
suficiente para recuperar os custos dos salários, permitindo, ainda, que sobrasse lucro.
 Os trabalhadores cujo trabalho estivesse incorporado a uma mercadoria palpável e que pudesse ser
vendida eram produtivos.
Estas definições procuravam distinguir os trabalhadores que contribuíam para o processo de
acumulação de capital daqueles que meramente vendiam seus serviços a pessoas ricas ou ao governo,
sendo este uma espécie de “servidores inferiores”, cujos serviços, não resultavam na geração de lucros
nem na acumulação de capital, não promovendo o progresso econômico, era um trabalho improdutivo.
Depois da produção agrícola ter-se transformado num “sistema de liberdade natural”, o capital seria
destinado à indústria, trazendo desenvolvimento ao cenário industrial interno, que contribuiria mais
para o bem-estar humano, em lugar do comércio exterior. O fluxo de capital para a indústria interna
num “sistema de liberdade natural”, formulou a proposição de que em um mercado livre os atos egoístas
dos indivíduos são dirigidos, como que por uma “mão invisível”, para a maximização do bem estar
econômico.
Todo indivíduo que emprega seu capital na promoção da indústria interna esforça-se para que o
produto desta indústria tenha o maior valor possível. O produto da indústria é o que ela adiciona às
matérias primas por ela utilizadas. Na medida em que o valor desse produto seja grande ou pequeno,
os lucros do empregador serão grandes ou pequenos, mas é apenas visando ao lucro que alguém
emprega um capital na indústria, e portanto, ele sempre se esforçará para empregá-lo na indústria
cujo produto tinha probabilidades de ter o maior valor ou de poder ser trocado pela maior quantidade
de moeda ou de outros bens. A receita anual de toda sociedade, porém, é sempre precisamente igual ao
valor de troca de todo o produto anual de sua indústria. Portanto, quando o indivíduo se esforça o
mais que pode, não só para empregar seu capital na indústria interna, como também para que seu
produto tenha o maior valor possível, trabalha, necessariamente, no sentido de aumentar o máximo
possível a renda anual da sociedade. Na verdade, ele geralmente não pretende promover o interesse
publico, nem sabe até que ponto o está promovendo. Preferindo aplicar na indústria interna, e não na
externa, só está visando à sua própria segurança; dirigindo a indústria de tal maneira que seu
produto possa ter o maior valor possível, só está querendo promover seu próprio interesse e está,
neste e em muitos outros casos, sendo levado por uma “mão invisível” a promover um fim que não
fazia parte de sua intenção. Cuidando do seu próprio interesse, o indivíduo, quase sempre, promove o
interesse da sociedade mais eficientemente do que quando realmente deseja promovê-lo.
As atitude do governo quanto à intervenções, regulamentações, concessões de monopólio ou subsídios
especiais, tenderiam a investir mal o capital e a diminuir sua contribuição para o bem-estar econômico,
restringindo os mercados, reduzindo as taxas de acumulação de capital e diminuindo a extensão da
divisão do trabalho e ainda o nível de produção social. Os mercados livres e em concorrência dirigiriam
o emprego de capital para as indústrias em que ele fosse mais produtivo e fariam (através da “mão
invisível”) com que a maximização egoísta do lucro fosse para canais socialmente úteis, produzindo
mercadorias que as pessoas precisassem e mais desejassem.
Smith acreditava em uma economia de mercado concorrêncial, laissez-faire[1] e capitalista, o livre
mercado dirigia todos os atos egoístas, aquisitivos e voltados para o lucro para um “sistema óbvio e
simples”, socialmente benéfico e harmonioso “de liberdade natural”. O governo, segundo o autor, teria
funções pontuais:
O homem de governo que tentasse dirigir as pessoas dizendo como elas deveriam empregar seu
capital não só ficaria sobrecarregado com uma tarefa de todo desnecessária, como também assumiria
uma autoridade que não poderia ser confiada a uma única pessoa, nem mesmo a um conselho ou a um
senado, e que em nenhum outro lugar seria tão perigosa quando nas mãos de um homem que fosse
suficientemente louco e presunçoso para julgar-se apto para exercê-la.
As três funções do governo:

 Proteger a sociedade da violência e da invasão;


 Proteger, na medida do possível, todo membro da sociedade da injustiça e da opressão; e
 Fazer e conservar certas obras públicas, cuja criação e manutenção nunca despertariam o interesse
de qualquer indivíduo ou de um grupo de indivíduos.

Conflito de classe e harmonia social


A “mão invisível” solucionava automaticamente os conflitos superficiais ou aparentes para a felicidade
humana. O trabalho, como o único criador original de valor, em que os trabalhadores tinham de dividir
seus resultados com outras duas classes, que reivindicavam a propriedade garantindo-lhes “o direito de
colher o que não tinham plantado”. Os salários eram determinados por uma luta econômica, social e
política entre trabalhadores e capitalistas, sendo os últimos os maiores beneficiários, em razão da
atitude do governo de “proteger os ricos dos pobres”.

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